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Riscos e Desafios Da Mudança Climática Análise Econômica DEPEC #88
Riscos e Desafios Da Mudança Climática Análise Econômica DEPEC #88
Introdução
Essa questão tem mobilizado cada vez mais atores relevantes da sociedade brasileira, e o BNDES
não é exceção. A ação contra a mudança global do clima faz parte dos Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável (ODS) perseguidos pelo Banco, onde foram desembolsados mais
de R$ 70 bilhões em projetos de mitigação climática entre 2015 e 2021. O AP/DEPEC buscará
contribuir para essa importante agenda a partir de uma série de artigos que visam disseminar
conhecimento sobre mudanças climáticas no BNDES, começando com esse overview do tema.
Contextualizando o problema
1
Gráfico 1: Variação de temperatura e concentração de CO2 nos últimos 800 mil anos
Fonte: IMFx
Uma característica interessante do padrão das emissões é que este não é geograficamente
equitativo. Europa e Estados Unidos respondem pela maior parte das emissões históricas e, se
correntemente alguns países emergentes – notadamente a China, que atualmente é o principal
emissor – geram uma parcela crescente das emissões, deve-se considerar que os bens
produzidos ali são em grande parte consumidos em outras partes do globo. Se atribuirmos as
emissões aos consumidores e não aos produtores, há um consumo de 22,5 toneladas de CO2e 2
anuais per capita nos EUA, 13,1 na Europa Ocidental, 7,4 no Oriente Médio, 6 na China, 4,4 na
América Latina, 2,2 no Sudeste Asiático e 1,9 na África. Ainda, dentro dos países os ricos
consomem muito mais CO2 do que os pobres. Em linhas gerais, vale a “regra do 50-10”, onde
10% da população mundial (os maiores poluidores) contribui com cerca de 50% das emissões de
CO2, enquanto 50% da população que menos polui contribui com cerca de 10%. 3
2 CO2e ou “CO2 equivalente por emissões” se refere a emissões de gases de efeito estufa expresso em uma unidade
comum, ao converter o montante dos demais gases estufa ao equivalente de CO2 em termos do efeito sobre
aquecimento global.
3 Chancel L.; Piketty, T. (2015) “Carbon and inequality: from Kyoto to Paris”.
2
com que cerca de 14% da população mundial esteja exposta a um evento de calor intenso ao
menos uma vez a cada cinco anos. Caso o aumento da temperatura seja de 2ºC, os recifes de
corais serão praticamente extintos e eventos de calor extremo atingirão 37% da população
mundial. Aumentos de temperatura acima de 2ºC podem ocasionar eventos catastróficos e
irreversíveis, como o derretimento das camadas de gelo na Groenlândia e na Antártida
Ocidental, e a transformação da floresta Amazônica em uma savana. 4
Para além de ocorrências futuras, vale ressaltar que o aumento de temperatura que já vem
ocorrendo é capaz de gerar custos, econômicos e não econômicos. O setor agrícola é
particularmente impactado por elevações na temperatura e oscilações no padrão de chuvas.
Trabalhadores na indústria tendem a ser menos produtivos em períodos de maior calor. No setor
educacional, crianças tendem a ter pior performance em anos escolares mais quentes. Além
disso, têm sido crescentes os custos – e a perda de vidas – associados a desastres naturais.5
Um estudo baseado em amostra de 125 países mostra que o aumento de temperatura de 1ºC
reduz a renda per capita em 1,4%, mas apenas nos países pobres.6 Uma consequência é que a
mudança climática deve ter um efeito importante sobre a desigualdade – de fato, esta já teria
sido responsável por aumentar em cerca de 25% a desigualdade entre países nos últimos 50
anos.
Em suma, o consenso atual é de que a mudança climática já é uma realidade que impõe diversos
desafios aos países e, embora seus piores efeitos sejam concentrados sobre os mais pobres, não
há país ou segmento da sociedade que não seja afetado. E a manutenção do padrão de emissão
atual deve causar elevações ainda maiores de temperatura capazes de gerar disrupções de
grande proporção nos ecossistemas terrestres.
De acordo com o IPCC, manter o aquecimento global limitado a 2ºC acima dos níveis pré-
industriais deve requerer uma trajetória decrescente de emissões de CO2e, atingindo-se
emissão líquida nula em 2070. Para limitar o aquecimento global a 1,5ºC (um nível considerado
mais seguro) o padrão de emissão líquida nula deve ser alcançado já em 2050. Obviamente,
4
IMFx (2022) “Inclusive Growth: Climate Change”. Curso disponível na plataforma edX. Acesso em janeiro de 2022.
5 Banerjee, A.; Duflo, E. (2019) “Good economics for hard times”. Capítulo 6.
6 Dell, M.; Jones, B.; Olken, B. (2012) “Temperature shocks and economic growth: Evidence from the last half century”.
3
quanto mais tarde se começar o processo de mitigação, maior a taxa anual de mitigação
necessária para o alcance das metas.
Conclusão
A despeito disso, persistem uma série de questões fundamentais. Qual deve ser a melhor
combinação de instrumentos de política pública? Qual seria o papel – e eventuais limites – de
soluções de mercado (p. ex. créditos de carbono)? Subsídios necessários para novas tecnologias
não poluidoras são necessários temporariamente para induzir ganhos de escala ou precisam ser
permanentes? Quais os skills necessários para que um trabalhador consiga migrar da “velha”
para a “nova” economia? Quais os desafios específicos da questão climática no Brasil? Como o
BNDES pode contribuir para mitigar a mudança climática e seus efeitos? Um melhor
entendimento sobre essas e outras questões correlatas serão essenciais para o enfrentamento
dos desafios da mudança climática, e serão objeto de discussão em futuras edições do Análise
Econômica AP/DEPEC.