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EDUCACAO. 0 ENSINO DE ASPECTOS HISTORICOS E FI OSOFICOS DA QUIMICA E AS TEORIAS ACIDO-BASE DO SECULO XX. Aéclo Pereira Chagas Instituto de Quimica Unicamp - CP 6154 - 13083-970 - Campinas - SP Recebido em 4/12/98; aceito em 5/499 THE TEACHING OF HISTORICAL AND PHILOSOPHICAL ASPECTS OF CHEMISTRY AND. ‘THE XX CENTURY’S ACID-BASE THEORIES. In this paper, an overview about philosophy of science, the concept of “theory” and some characteristics of a” go0 explanation of the facts, 2- proposal of problems, and 3- simplicity and funcion: introduced. Following, some historical landmarks of acidity and basicity and a summary of the ‘main acid-base theorles of the XX century (Archel us, solvent systems, protonic, electronic, Lux, Usanovich and ionotropic) are presented. Historical and conceptual relations between these theo- ries are discussed and the three characteristics of a "good" that the protonie and eletronic theories are the chemical education are presented too, Keywords: aci INTRODUGAO Uma tendéncia atual, no ensino da Quimica, tem sido a de enfatizar aos estudantes us aspectos sociais, num amplo sentido, ‘ssociados so desenvolvimento e apicapies desta Cigncis, B aqui se inelui obviamente a Histéria da Quimica, Independentemente ‘de qualquer ertiea que se possa fazer a esta tendncia, no tem havido uma boa compreensio da mesma, e quando hi, nem sem- pre a pritica corresponde & proposta. Hi por parte dos profess res uma grande diffculdade em se lidar com a Histria da Quie ‘nica, © que & compreensfvel, pois, como se costuma dizer: "His- (ria da Quimica é mais diffell que Quimica’. Entretanto, pate da difieuldade € devido aos assuntos que sio escolhidos, muitas veves relacionados com 0 desenvolvimento dos aspectos relat- vos 8 estrutura nuclear e eletrniea dos dtomos, temas mais com- plexos do ponto de vista histrio, Neste artigo pretende-se mostrar que hi um outro tema his- ‘rico que pode ser apresentado aos estudantes sem grandes ificuldades: & 0 desenvolvimento das teorias feido-base no séeulo XX" ‘Além do lado histético, & interessante que se diseuta tam- 'bém alguns aspectos da disciplina denominada Filosofia da Ciéncia, que procura estudar as Ciéncias em seus aspectos los6ticos: Iigico, epistemol6gico, esttico, ético ee.. A Filoso fia da Cigacia procura também determinar se um dado conhe- cimento pode ser considerado cientfico ow nfo. Esta questo, aque esté longe de ser resolvida satisfatoriamente, € muito im- Portante, face ao marcante impacto das ciéncias nas atividades hhumanas nos Ultimos duzentos anos. E comum ver na midia expressBes do tipo: "foi ciemificamente provado que o creme dental X combate as civies.".. Da mesma forma como se apela gs FeeBnditos desejos humanos do sexo, do poder ete.. para se Inceementae © consumo de alguma coisa, apela-se também para Ciencia, tendo em vista justamente sua importincia adquirida estes tltimos tempos. Isto por si s6 jf justfiea 0 estudo da Filosotia da Cigncia, ‘ail: aecio@iqnnicamp.be * arte deste trabalho foi apresentado na 21* Rewnido Amual da Soci ‘dade Brasileira de Quimica, Pogos de Caldas (MG). Livro de Re- Samos vol, 3, HQ.03 6 theory are applied. The results showed Some discussion of the implicati ‘base theories; "good" theories; history and philosophy of chemistry. Para se procurar uma earaterizagfo da Citncia, a Filosofia utlizou (e wiliza) muito da Historia da Cigneia, procuranda nalisar a produgio do conhecimento tido como cientfico © verifiear 0 que ele em de comum e no que ele difee de outros lipos de conhecimento. Esta andlise, de caréter mais légico epistemolégico, acabou por mostrar que no existe proptiamen- (e alguma coisa que se pode chamar de “método cientifico*, comum as Cigncias maduras (Fisica, Quimica e Biologia), ¢ ‘mostrou, por outro lado, a importincia das teorias na gnese deste conhecimento, Esta importincia epistemolégica das teorias & um dos raros ppntos de consenso entre os fl6sofos da eitncia, Por teora enten- esse agui, em uma primeira aproximaglo, um conjunto de co- nhecimentos devidamente organizados que procura ordnar,unifi- car, explcar, interpetar et, um certo dominio de fendmen0s ou acontecimentos. Na realidade a teria alguma coisa nova, quae Titativamente diferente do simples arranjar desses fatos Porém, os fildsofos da Ciéncia ainda esto Tonge de um con- senso na maioria dos outos pontos, De algumas décadas para c4, sufpiu também uma abordagem diferente, denominada "sociol6gi- fea", que provura caracterizar também a Cincia come uma ativi- dade humana, estudando a gnese do conhecimento através das relagées entre aqueles que slo reconhecidamente considerados cietistas” pela sociedade, a estrtura dos grupos que estes for- mam ete, Parace que a abordagem conjunta destes Vitis aspec- 10s, filosficose sociol6gicos, tem sido a mais promissor, quan- do eles convergem, pars a carscterizagio da Ciénci Esta pare da caracterizagio da Cigncia, em geral, nfo ser desenvolvida neste artigo. Para mais detalhes-o leitor pode consulta as referéncias eitadas, que foram selecionadas menos pela sua abrangéncia, mais por ser, em sua maioria, em Iingua Portuguesa e portanto mas Facil de ser enconteadas em biblio- tecas ¢ livearias Voltando-se 4 questo do creme dental © partindo-se do prinefpio de que o mesmo foi realmente testado no combate 3s ‘ities, estes testes podem ser considerados cienifices ou no. ‘Que critérios se pode adotar para tal? A resposta a esta questo passa pela caracterizacio do que é um conhecimento cientii- «0. Como ja foi dito isto nfo & uma tarefa facil e no presente caso qualquer tentativa de resposia € indeua, uma vez que no Sabemos realmente como foram feitos os testes. No entanto Juma anedota serve para @ letor pensar no assunto: Um certo ‘QuICA NOVA, 2911 (2000) cientista realizava, em seu laborat6rio, experiéncias com ara- ‘has, Tomou de uma delas, colocou-a sobre a mesa e disse em ‘bom tom; "Anda". E a aranha sai andando, Pegou-a, cortou ‘uma de suas pernas e colocou-a de novo sobre a mesa e tornou fa dizer: "Anda". E a aranha saiu andando, meio mancando. Procedeu da mesma mancira com a segunda pesna, com a te- ceira,alé a sétima, sendo que a aranha ainda conseguia mover- Se, Apds cortar oitava disse mais uma vez: "Anda". E a ara- hha mio andow, Concluiu entGo: "Aramha sem pernas ndo owe". Os aracnologistas dizem que as permas das aranhas si real- mente sensores de vibragbes muito sensiveis. Obviamente hi alguma diferenga entre sentir vibragdes, ¢ ouvir. Principalmen- te-em ouvie um imperativo como "anda". Muitas ~pesquisas cienifieas" sto como esta, as vezes publicadas em revista de Prestigio imernacional, e até divulgadas pela midi, CARACTERISTICAS DE UMA "BOA TEORIA" Mencionou-se acima a importincia das teorias na Ciéncia, ‘Como porém elas se comportam do ponto de vista do desenvolvi ‘mento hist6rico? A Cigncia tem um cariterprogressivo e as te: Fias vio se sucedendo, as "velhas" dando lugar is “novas". Cos- tumivse dizer que uma teoria ruin & suplantada por uma teoria boa. Como se realza este processo? Quando uma teria € aceita por uma comunidede de cintistas? Em outras palavras, quando tuma teoria € "boa" ou “ruim"? As caratertsticas de uma boa teoria €0 que se pretende mostrar aqui, neste antigo, e obviamen- tea teoria que nfo saisizer estes enitris serd uma teorla ruin. ‘As idéias aqui apresentadas sio uma sintese de vérias vie sbes sobre este assunto, existenes na literatura, ¢ procurou-se realgar mais o aspecto didatico, na Histéria da Quimica, que Propriamente o aspecto filox6tico, apresentando-se uma visio ‘esquemética e parcial do tema, Pode-se considerar que uma teoria é "boa quando satistaz C-L. Ordena e explica os fatos de seu dominio. Uma teo- ria tem dois aspectos, Um deles meio oculto, alo explicitado, {que considera um conjunto de fatos € nfo ovitos. B como so fosse um eritério de classifieagio, separando de todos 08 acon {ecimentos que se sucedem, aqueles que vio interessar. Muitas ‘eoncopgdes jf esto na base deste aspecto, permitindo que um ado Tato seja visto de uma determinada mancirn © nio de ‘utras, O outro aspecto da teoria 6 0 mais explicito, mais evi dente, mais cacional inclusive, que procura inicialmente classi- fiear, ordenar os fatos de seu dominio (aqueles previamente selecionadas), de acordo com critéios definidos, claros, © es- {es eritérios muitas vetes se confundem com um corpo de prin- cipios que compte a propria teoria, Apés deixar bem claro ‘mapeado o dominio dos fatos tatados, a teoria procura entfo cexplicar os fatos através de algum esquema, mecanismo, mo- ‘elo, metatora ete. Nao vamos detalhar o significado disto, 0 {gue Go importa no momento. O que importa & que a teoria ‘possa explicar, mostear racionalmente uma relagdo de causa e efeito ene as entidades ou conceites relativos aos fatos que la ordenou em seu préprio dominio. 2. Propde problemas. Como a Ciéncia é progressiva, esté sempre crescendo, uma boa teoria deve contribuir para isto, alimentando os cientistas com problemas que possam ser resol- vidos em seu Ambito. Por exemplo, a teoria atdmica proposta por Dalton, considerava que as relagdes entre as massas dos elementos encontradas na anilise quimica eram também as relagGes entre os pesos atdmicos. A determinagio acurada des- tes fol um dos problema mais importantes na Quimica do séeu- To XIX. Dentre os problemas que uma teoria pode propor, um tipo muito importante so aqueles que esto prevendo fatos novos, no dmbito da prdpriateoria, & claro. Sto as chamadas previsdes. Estes fatos, quando encontrados, ndo apenas contri- ‘buem para este lado progressivo, mas corroboram, testiicam 2 teoria, Muitos acham que este poder de previsio é uma das uitica nova, 291) (2000) imaiores forgas da Citncia, Por exemplo, quando Mendeleiey apresentou sua Classfieagao Periddica, ele previu, com base ‘na mesma, a exisneia de ts novos elementos e sia posterior descoberta mostrou a importincia e a certeza da Classifica. C3. Ser pritica, simples, funcfonal. As teorias sto para serem Usadas, Se elas no atenderem a estas caracteristicas ni0 serlo usadas para explicar, para resolver problemas, para pre: ver, Elas também devem utilizar conceitos condizentes com sua época. ExplicagSes “avangadas” para o seu tempo nfo tém ‘utlidade, Por outro lado, multas teorias jf foram abandonadas por nfo explicarem satisfatoriamente os Tatos de seu dominio, porém sua linguagem, sev esquema de raciocinio ainda perms: rhecem em uso devido a esta funcionalidade. Por exemplo, a teoria do calérico, ov se}, a teoria que considera o calor como tum fluido imponderdvel que se transfere para 0s corpos com Giferontes temperaturas, foi abandonada apés a primeira meta- de do século XIX. No entanto as equagGes de Fourier, conce- bidas dentro desta tearia e que permitem céleulos de wransfe- ‘ncia de calor, estio em uso e, em Nutrigio, a concepgio das "ealorias ingeridas nos alimentos, e que sto quelmadas", ainda € de uso corrente, No vocabulirio quimico ha palavras da épo- ca medieval: pureza, sublimagdo ete, (ver 0 tiem Origem de Alguns Termos e Alguns Fatos Histéricos Importantes) ‘Outras caractersticas podem ser acrescentadas, porém, como ji foi mencionado, no € nosso intento Tazer uma “leotia das teorias", mas apenas fornecer um esquema didético para ser Utlizado por professores e estudantes, Enquanto uma teoria for "boa", ou seja,satisfizer as carac- teristicas acima, ela permanece em uso, podendo ser deixada de lado quando estas caracterfsticas tendem a diminuir. A ‘maneira como uma teoria & apresentada e divulgads é também importante, principalmente por sua presenga nos textos didi 0s. O “polimento” dado 4 mesma pelos professores, geral- mente contribui para um aumento de C-3. Vale a pena fembrar uma afirmago de Einstein: "A marcha da Cigncia é mais de- terminada pelos autores dos livros didsticas que pelo trabalho daqueles que gunharam o prémio Nobel”® AS TEORIAS ACIDO-BASE: 0 QUE SIGNIFICAM Como sers visto mais adiante, o que se pode chamar de comportamento dcido-baze fo; reconkecida hi muito tempo. Desde que isto ocorreu os quimicos tm claborado teorias que procuram explicar este comportamento. Essas teorias procuram Aefinie 0 que seja um dcido e uma base e como reage de outros aspectos que podem ser considerados secundé interessante é que atualmente, segundo algumas teorias, grande parte das substincias conkecidas apresentam este comportamen- to, 0 que torna o tema interessante e fundamental também para © estudo da Quimica, Do ponto de vista histrico este tema, a ‘Rosso Ver, apresenta as seguintes vantagens: [As partes de seu desenvolvimento, que serio destacadas, ‘correram neste século, 0 que traz menos dificuldades no {que se refere ao entendimento do contexto cultural da época ‘Tem um desenvolvimento praticamente linear com 0 tempo (caso raro), 0 que facilita muito o seu entendiment. Pode ser cortelacionada facilmente com a parte quimica propriamente dia, inclusive na parte experimental. Permite discutir, com certa facilidade, 0 desenvolvimento das teoriss cientifeas, inclusive nos aspectos Idgicos e f1- losficos, se isto for @ caso. Permite mostrar que a Quimica € a associagZo de uma teoria uma prética, ou seja, um pensar em termos moleculares e lum proveder empiric, fenomenol6gico, pois um mesmo fato pode ser interpretado de varios pontos de vista, Cabe agui também um paréntese a respeito do que estamos chamando de teorias deido-base. Alguns autores preferem dizer defnigdo, 20 invés de teoria, pois em alguns casos temse definigdes do que seja um deido e uma base dentro dle uma teoria mais geral, como as definigbes de Arrhenius dentro de sua Teoria da Dissociagio Eletrolitia’. Estes au- tores mio deixam de ter razao, porém a nosso vera simples definigio tornou-se algo muito mais amplo com o passat do tempo, da mesma forma como determinadas hipsteses (como 1 hipétese de Avogadro) acabaram até por se tomar fatos, fapesar de muitos ainda continuarem valizando © nome de batismo, Utilzaremos a denominagio de ceoria para englo- bar a definiedo de deido © base e 0 conjunto de idéia, con- ceitos,procedimentos, experimentais inelusive, etc. ineren- tes 8 propria teoia, Esta visio corresponde 30 eonceito de teoria apresentado na Introdugio deste antigo. Serio, a seguir, apresentados: origens de alguns termos alguns fatos importantes antes do século XX, aspectos gerais do desenvolvimento das teorias Seido-base neste séeulo, um breve sumario de cada uma das teorias, aspectos ligicos ef losélicos das mesmas. ORIGENS DE ALGUNS TERMOS E ALGUNS FATOS HISTORICOS IMPORTANTES. Alguns dos termos que se utitizam ainda hoje 18m sua ori gem na Antiguidade ‘ACIDO: do latim acids, a, um, significando azedo, sido”, ‘ALCALI: do ‘abe af galiy, significando cinzas vegetas® SAL: do latim sel, safis, signficando sal marino, Para Pifnio, o Velho (see. I DC), 0 sal & 0 s6lido resultante da cevaporagao da égua, © que obviamente ineluio sal marinho, fe também outros mateciais que podem ser assim obtidos. BASE; termo. mais recente, introduzido pelo francés Duhamel dur Monceau em 1736, sendo depois adotado © popularizado por G. F. Rouelle (1754), Piinio, © Velho, 0 eélebre naturalsta romano supracitado, menciona, em seus escrtos, a caustificagdo da soda, Ou sea, & reagio entre © carbonato de s6dio natural (conhecido por hhatron, hoje denominado vulgarmente de soda ou barrilha) © 4 eal (hidrSxido de calcio), em solugdo aquose, precipitando cearbonato de eilelo e fieanda uma solugio de hidréxido de sédio (a vulgar soda edustica)". A equagio representaiva €: NaCOs(aq) + CaOH)3(a9) = CaCOx(s) + 2 NaCOHYaq) C1) Robert Boyle, em 1664, publica, na Inglaterra, o livro "Ex- perimental History of Colours", onde relata seu trabalho com As substincias eoloridas, cujas cores se alteram com a presenga de Scidos ou deals. Dentre as substincias que ele estuda esta © tomnassol eo corante vermelho exteatdo do. pau-brasil (Bracilwood). Ineressante & gue Boyle apresenta, também, re- sultados obtidos por estudiosos do século anterior’ No século XVII, jf se conhecia a reagio: fcido + fleali = sal ® {endo sido utilizads, por exemplo, por Glauber para preparar vérios compostor’ ‘Em 1754, Rouelle, conforme mencionado acima, comega a utilizar 0 termo base, ignificando os dlealis (NajCO}, KxCOs, NaOM), as terras (CaO, MgO) € 08 metais (Fe, Zn). As terras fram também denominadas cales ou cais (eal no singular) Conseqiientemente passow a se ter Acido + base = sal @ LW. Homberg, em 1699, realiza as primeiras tentativas de rmedir as quantidades relativas de deidos e bases, porém so- ‘mente em 1729, C. Geottroy realiza a primeira tituagto (soda, NaxCOs, com varios tipos de vinagee). W. Lewis, em 1767, tutliza pela primeira vez um indicador em uma tiulagio™. Como parte de seu Sistema do Oxigénio, que englobava também uma teoria da combustlo, A. Lavoisier, em 1789, aft- rmava que "2 oxlgénfo ¢ o principio aeidificante”. Em outeas palavras, dizia que todo decido deveria ter oxigénio. Enicetanto, Ji nesta época, C. Berthollet (1787), e depois H. Davy (1810), descreveram vérios geidos que nfo apresentavam 0 oxigénio: HCN, H:S, HCI ete, E interessante destacar aqui duas afimagdes fltas no sé lo XIX: ‘A. Ure, em 1823: ".ndo hd um principio [elemento] ‘acdificador, nem critério absoluio da escata de forga en tre os diferentes dcidos..{acidex e alcalinidade dependem mais] do modo como os constituintes gstdo combinados que dda nauureza dos consttuintes em si" J. Liebig, em 1838: "deidos sdo compostos de hidrogénio, nos quais 0 hidrogénio pode ser substvuido por metas" Estas duas posigSes irlo permear as discuss6es fcido-base no séeulo XX, a de Ure, afiemando que 0 comportamento feido-base algo dependente Jo modo que Os elementos estio combinados, 4h estrutura, como se diia hoje, a de Liebig, atribuindo a um dado elemento, o hidrogénio, ese comportamento dcido-base © séc. XIX marca também o desenvolvimento da. Teoria Molecular e este conceito de Liebig é 0 que prevalece. Por que prevalece este canceito e ado o de Ure? Estou certo que @ leitor enconirard a resposta ap6s a leitura deste artigo, Estes aspectos da quimica feido-base foram apenas para ser- vir de predmbulo a0 que nos interessa. Muitos aspectos hist6- ricos © quimicos interessantes foram deixados de lado. ASPECTOS GERAIS DAS TEORIAS ‘ACIDO-BASE NO SECULO XX 0 desenvolvimenta das teorias Scido-base, como o das ou- tras teorias, se fez (ese faz) no sentido de procurar sistemati- zar e explicar o maior nimero possivel de fatos quimicos, bem Como prever novos fatos ¢ resolver outros problemas quimicos ‘A primeira teoria a ser considerada & a reoria de Arrhenius (de 1887, que surgiu como parte da Teoria da Dissociagao Bletrotitica e que abrangeu um grande nimero de fatos conhe- fidos e possibilitou o surgimento de virias linhas de pesquisa, ‘A medida que estes novos resultados foram se acumulando, a teria foi se mosteando incape de dar conta dos mesmos, Da critica teoria de Arrhenius surgiram outras duas novas: a teoria pprotdnica (1923) e a teoria dos sistemas solventes (1920). Estas por sua vez se desenvolveram e passaram pela mesma situa- fo. Em 1923, Lewis apresentau a primeira proposta de sua {eoria écido-base, como parte de sua teoria do par eletrinico, criada para explicar a ligagio quimica, que apesar de mais geral nfo consegue, na época, cativar a maioria dos quimicos. Isto 6 foi possivel go ser reapresentada novamente, pelo préprio Lewis em 1938, Nesta mesma gpoca surge a teoria de Lux (1939), interessante para sistemas envolvendo dxidos e sais fundidos, ¢ a teoria de Usanovich (1939), que pretendeu ser uma teoria bastante geral, porém fracassou por umna série de eircunstincias, Em 1954, Lindgvist e Gutmann apresentaram @ leoria ionotrdpica, em que generalizatam as teorias protonicas, do sistema solvente e 2 de Lux. Vamos fazer um breve resumo de cada uma delas, pois nio haveriaespago para um desenvol- vvimento maior. O leitor interessado em maiores detalhes poder consular 0 excelente veo de Jensen © Obviamente oda Wworia quer ser “boa * Pode-se dizer que a Quimica do séevlo XX comega com a tora de ‘Avheuius, Alguns historiadores, como E, Hotsbawm, consderam que fo século XX iniiase com a queda da Bastiha em 1784 e orn com o aentalo de Saravejo, em 1914, lalclando-so af o séeulo XX ‘que termina na mesina cidade ein 1991, Em outa plaveas,oealew ‘Eno ndo coincide nocersramente com ae Spoca histrcas. ‘uiMIcA Nova, 23(t) 2000) ‘Teoria de Arrhenius Segundo esta teoria Acido & toda substincia que em gua produz fons He base € aquela que produz OH" A neutralizagio Seria a reaglo entre estas duas espécles iOnieas produzindo agua: HY(aq) + OH'(aq) = 100) (4.3) Note que esta definigfo de fcido & semethante A de Liebig, apesar de estarem em um contexto um pouco diferente. Esta teoria foi muito importante, pois além de dar conta de tum grande némero de fendmenos jf conhecides, provocou 0 desenvolvimento de Virias linhas de pesquisa, inclusive conti- buiu muito para se estabelecer as bases cientificas da Quimica Analitiea, Mencionemos alguns fatos: aplicagio da lei de ago ‘das massas a equilibrios iGnicos e a obtencio da lei de diluigdo dde Ostwald (Ostwald, 1887); a equagdo de Nernst, que relaci fona a forga eletromotriz das pilhas com a concentragd0 dos fons (Nernst, 1888.9); 0 elerrado de hidrogénio e a detecmina- fio da concentragio de fons H" (Le Blanc, 1893); 0 efeito Tampdo (Fermbach, 1900); 0 primeiro estudo quantitativo de ‘um indicador (Friedenthal, 1904); determinagio da constante {de dissociagto da dgua (Heydweller, 1909), 0 conceito de pH (Sorensen, 1909); extensto da teoria para a amOnia Nguida (Franklin, 1905) ete.. Apesar de todos estes avangos, desde 0 infeio storia mosirou-se restrita gua, sendo que em alguns casos foi possivel estendé-la a outros solventes (como a amé- nia iquida), porém em outros nfo. Em sistemas s6lidos, como slica,argilas, ete, no havia possibilidade de se apliedla™"™", As Critiens de Werner No periodo de 1895 a 1911, Alfred Werner, 0 fundador da Quimica de Coordenagio, teceu uma série de eritcas ds teorias feido base: a de Lieb, ainda em uso eorrente ea de Asthenius. Esta iltima, fora do contexto da dissociagio eletroitica, pode- ri ser considerada igual & definigho de Liebig. Werner chama- ‘yaa atengdo para a semelhanga funcional da noutalizagio com cuteas reagbes: BP, + KF = KB) @ PIC + 2 KCI = K2PiCle o 80; + K,0 = K,S0, © 60s + NagO = NasCOs @ Werner reinterpretou @ processo de neutralizaglo, nio como uma simples reaglo de adigzo, mas como uma reagio de trans- {feréncia, levando & formagto de espécies coordenadas. As re- ‘ages acima poderiam ser equacionadas como": BR, + KF = K* + [BF @ PICl, +2 KCI = 2 KY + [PICh o 50) + Kx0 = 2K + 1504" 19) CO} + HO = 2. HY + [COs an ‘Teoria dos sistemas solventes Esta teoria comegou a ser desenvolvida em 1905 por E. C. Franklin, principalmente para a NH; liquids, e depois por ve ios outros pesquisadores, por generalizagio da teoria do ‘Archenius. Pode-se dizer que € uma obra coletiva. Considera ‘que todo solvente sofre uma auto-ionizago, geranda um edtion (Gcido) e uma base CGnion): solvent ction + Anion a) ‘uWicA NoVA, 201) 000) Acido & tudo que faz aumentar a concentragio do cétion caracterfstico do solvente e base é 0 que aumenta a concentea- (io do dnion caracterstico, A neutraizagio & a formagio do Solvente a partir destes editions e Snions exrscteristicos 10° + OFF ay, NH? + NB ay 2 SO; = SO* + Sos* as) 2 POCI = POCI:" + POC! a6) Dezenas de solventes foram estudados, prinejpalmente vi- sando obter novas reagBes e novos compostos*. ‘Teoria proténica Foi proposta em 1923, independemtemente, por G. Lewis (UA), T Lowry (Inglaterra) ¢ J. Brgnsted (Dinamarca), 20 enianto foi este ditimo um dos que mais contribuiram para 0 ‘desenvolvimento da mesma. Segundo esta teoria, éeida’€ um doadar de prétons (seria 0 mesmo que 0 fon H", 0 niicleo do hidrogenio, porém esta denominagao & melhor, pois ajuda dis- ‘inguir da teoria de Arrhenius) e base um receptor de prétons. A reagio de neutralizagho seria uma transferéncia de pr6tons entre um dcido © uma base, ANS B=BHYA an Bxemplos HCI + NHs = NH! + Ct as) Whe + 1:0 = Hy0* + Ac a 10° + OH = 2 4,0 0) (Ac acetato) Bsta teoria permitiu 0 desenvolvimento de estudos em sistemas fortemente cidos (ido sulfrico como solvente), tem sistemas sides, o desenvolvimento de indicadores para estes relos (Hammett, 1928); estudos de catilise deido-base, com a respectiva equacio de Bronsted (Brensted, 1924); estudos de proton-afinidade em fase gasosa (propostas de Sherman 1932 e ‘medigbes iniciadss apenas. nos anos 60), ete. Apesar de alguns problemas internos, € uma teoria bastante ulizada e alual™ ‘Teoria de Lux Proposta por H. Lux em 1939, é, em sua forma, semelhante & teoria protdnica, considerando o Anion dxido (O*) a entidade teansfrida, a0 invés do prSton. Segundo Lux, dcido é um receptor dde O* e base, um doador. Uma reagio ene um éxido Scido (CO3) © um 6xido bisico (CaO) seria uma reap de neutaizagao €0; + C20 = Ca?* + CO; en SiO, + Kx0 = 2k? + Siow 2) Mostrou-se bastante dil para tratar de reagbes envolvendo liquidos iGnicos (sais e Sxidos fundidos), reagbes estas que focorrem na metalurgia, na fabricagio de vidros e cerimicas, nos sistemas geoquimices ete." ‘Teoria fonotrépica # uma generalizaglo da teoria protGnica, dos sistemas sol- votes e da de Lux, proposta por Lindqust e Gutmann em 1954. [As reagies dcido-base podem ser formuladas como: base + eétion caracteristico = deido es) base = Acido + Anion earacterstico 2) Exemplos de cations earacterstcos: H* (Bronsted), NH? em NH liguiday, SO (em $02 Hiquido) ete Exemplgs de fnions earacteristicos: OH" (em gua), OF (Lax), SOs" (em S02 liuido) ete." Esta teoria € um “passar a lipo” das teoria anteriores. Pouco inavou em termos de gerar alguma linha de pesquisa (problemas, previsdes et.) Seus prdprios autores fizeram pos- {erioemente contibuigSes valiosss para 0 desenvolvimento da teoriaeletronica!®”, ‘Teoria eletrdnica Como consequéncia de sua teoria do par eletrinico para explicar as ligagdes quimicas, G. N. Lewis, prope uma te- ‘ria deido base em 1923 (juntamente com a teoria proténica) Considerava que um ieido (A) & toda espécie quimica capaz e receber um par eletrénico e base (B), aquela capaz de ‘doar um par eleteSnico (representado por :). De uma manei va geral: A+B =A fcido base aduto, sal ete. 25) © composto A:B recabe somes diversos, conforme a cit cunstineia: aduto, sa, complexo, complexo éeido-base, com- plexo doador-acetador, ete, Aq, 25 representa uma reagio enéricd de nevtealizag3o Exemplos de reagies de neuelizagSo Haq) + OH (aq) = H200) 06) BE) + KF = K* + (BF en PIC +2 KCI = 2K" + [PICK co) $05 + Kz0 = 2 K* + [SO4I* @9) SiO} + KO = 2K* + SiO, Go) HCI + NHy = [INHaI" + Cr en Hac + H,0 = HO + Ac en, 0" + SO, SO: ep CO; + C20 = Ca + CO; oH BF) + :NHy = HyN:BF) os) Note que os exemplos sfo todas as reagdes anteriormente citadas,exceto a iltima (eq. 38) que agora € considerada uma reagHo feido-base, nfo englobada pela teorias anteriores. © produto formado pode sr também eepresentado por HsN->BF3 (Gseta, muita vezes utlizada, indica © sentido da doagio 40 par elesnicoy" Lewis no se apoiava somente em sua teoria do par eetrd- ico, mas também nas consideragdesfuncionais de Werner, que considerava como reagdes de. ncuralizagio_ a8 reapbes fexemplificadas nas eqs. 4 7. Alguns aspectos histricos da teoria do pat eletebnico podem ser encontrados em Davanzo © Chagas" e,principalmente, nas referéncias citadas. Tieressadestacar que a tcora ded base fi aplicadsiniei- mente no estudo de reagdes organicas (Lowry, Robinson, Ingold, Lapworth, na Inglaterra) e na Quimiea de Coordenagso ‘Gata crcunstincia muitos vores € mae de carter “social” que qu ‘nico, pois at denominagdes variam conforme a érea da Quimica nde se empregam os teemos (Sidwick, na Inglatera). Surgiram entio os termos doador € aceitador (Sidwick, 1929) € reagentes eleiroflicos e nucleo filicos (Ingold, 1933), Os termos cunhados por Ingold en- ‘volviam no apenas écidos © bases, mas também oxidantes redutores, generalizando assim os préprios conccitos é> Lewis. Poréin os diversos nomes e a generalidade excessiva ‘fo contribufram para popularizar a teoria, fieando a forma sgeneralizada por Ingold restita ao estudo dos mecanismos de ‘eap6es orgiinicas e a denominagio de Sidwiek, ao campo da ‘Quimica de Coordenagio, nfo figurando em textos mals ge- fais ov introdutsrios Em 1938, Lewis retoma ao tema scido-base, apresentando uma conferéncia, depois publicada®, onde especifica os erié- ros fenomenoldgicos (ou macroseépicos) parao comportamen- to feido base: 1) A reap entre um dodo uma base (neutalizag30) & ride 2} Um deido (ou uma base) pode deslocar um feido (ou uma base) mais fraco de seus compostos 3) Acids e bases podem ser titulados um com o outro por meio de indicadores 4) Acids e bases sio capazes de atuarem como catalisadores, Na realidade estes crtéros sf0 uma sintese brithante sobre 1 observacio dos fendmenos até aquela épaca (e até hoje, tal vez) conhecidos sobre 0 comportamento deido-base. Ainda ‘mais, neste artigo Lewis une estas observagies fenomenol6gi- cas com a interpretagio molecular (mieroscSpica). Depois dis- to sua teoria "decolou”, passou a ser vista em sua generalida- de, como uma teoria unificadora,saindo do contexto restito & aque estava antes. Em 1940, nos E.U.A. j4 houve um grande simpésio reunindo pesquisadores © professores interessados!® 2 atl da, muitos livros artigos sobre © tema foram P= biieados: vias Tinhas de pesquisa se desenvolveram ct. (© desenvolvimento posterior da teoria eletrOnica foi earsc- terizado principalmente pela sua quantffcacdo. Vamos citar apenas alguns dos estudos desenvolvidos: 0 Seido etilenodia~ mintetraacético (EDTA), © outros agentes quelantes (G. Schwartzenbach, 1940-50}, 0 estado de efeitos cstéricos em axdtos (H. Brown, 1940), os conceits de écidos duros e moles GR. Pearson, 1963), as equagdes EC para prever as entalpias de formagio de adutos dcido-base (R. Drago, a partir da década de 60), os conceitos de doabitidade (“donicidade”) e acitabi- Tidade suas medidas, bem como a correlaglo de fendmenos fcido-base e de 6xido-redugio (V. Gutmann, idem), a apica- 40 da Quimica Quintica ds reagdes dcido-base (Klopman, tom) a Quimica Supramolecular (Lehn, a partir da dscada de spena ‘Teoria de Usanovich Em 1939 © quimico sovigtico M. Usanovich apresentou ‘uma teoria muito geral através da qual pretendia generalizar todas as teorias existences, Definia acide como a espécie que reage com base para formar sais, doando eitions ou aceitando Anions ou elétrons, © base como a espécie que reage com 4cidos para formar sais doando Anions au elétrons, ou combi rando com cations", Estas definigdes so de um certo modo semelhantes aos conceitos de reagentes eletrofilicos e nucle. dofficos de Ingold. “Apesae de consiar por algum tempo em virios textos, ¢ ser eventualmente mencionada, praticamente no gerou nenhuma Tinha de pesquisa RELACOES CONCEITUAIS Nota-se que as teoria deido-base que foram surgindo, apr sentam uma tendéncia de cada uma generalizar a precedente e, (© que é interessante, de nfo se contrapor, de querer negar fron: talmente. Coda uma delas abarea um universo proprio de rea: 88 quimicas que vai se alargando, se ampliando, procurando ‘2ubuicA NOVA, 2011) (2000) abranger cada vez mais os fendmenos qulmicos conhecidos ¢ tada uma das teorias antigas vai se tornando caso particular das novas. A Figura | apresenta um diagrama de Veen que ‘mostra @ abrangencia conceitual de cada uma das teorias. Este diagrama foi bascado na Figura 2.2 do livro de Jensen Figura 1 Diagram de Veen mosirundo as relays concetuas entre las torias considera Outro aspecto interessante & o formatismo quimico associa do a cada uma das defnigdes de neuralizato. Na teota de ‘Artenius © na dos sistemas solvents, a neuializagdo € uma feagdo de sintese ou adigio (eqs. 3, 12 - 16). Na teoria protinica, na de Lux e na ionotedpica, a neutalizagao & uma reagSo de dupla toca ou de Wansferéncia de alguma espécic Gquimicn (eqs. 17 = 24). Na teoria eleaica incialmente a Aeutraliagao pode ser vista eomo um sintese (eq. 25) porém ‘os exemploscitados 0 pat eletrOnico pode ser compartinado (sites, eqs. 26, 35) o0 transferido (eqs. 27 ~ 29), conforme a ssirutura letra (igagao quimics) do produto resultant, Superando aparente oposio ente os dos esquemas formas. "A estrutura de todas 8s teoras & semelhante: compart uma detinigto de Acido e de base, que spresenta uma simetia ine versa, uma definigio de reagéo de neutralizagio (a reac tipo rire uim ido e ums base) c, evidentemente, uma heuristica fe una carustca® prépeiss da aplieaglo destes concetos 208 fatos jf conhecidos e por conbecer™ Sob este pono de vista cada uma das teorias & bem diferente, mesmo quando uma é considerada um easo particular da outa. Além do formalism das equapdes quimicas, jf mencionado, a apicagto das rela ges de equilirio (Lei de Agzo das Massa) também se trma tiferente. Da mesma forma, © papel do solvent em eada una das, uma ver que em umas ele € inerente (Arshents, sist tas solventes, 80 passo que em outas 0 solvente pode ou no estar presente (proténica, eletrica). ‘Algumas teria aprescntam algumas inconsisténcas 16g cas intemes, como por exemplo a definigfo de écido na teoria protdnie: dcido € um doador de protons. © préton é também Sima espécie quiniea ecabe perguntar eno se ele € um deido ou uma base? A definigdo, como estd, nfo pode responder, a ‘Mo ser que se adicione uma ressalva 8 mesma, Entetanto Ito tio € um problema grave, uma vor que a experignia acaba Por ressaltar que 0 prton & o deido, Esta mesma inconsistén- Gia se manifesta nas outras teorias de wansferencia (Lux € ionotpica) Tambémy na teria de Usanovi ha uma tautolgia Estamos entondendo estes vocdbulor como: heuriica € o conjmto de rise e mitodor que conduzem 8 descaborta 3 invengSo er: Solugdo de problemas e eusuizieu¢a discuss eeu alse dos cao ‘ent de wm determinado contcxto que podem lear & ampliogo da ‘ompresnsio dete cotetto clo esslarecimento de oso canoe, [Note que o conceit de teria formulado a ltsodugzo, em primeira sproximaga, esta sendo ampliado, com incluso de todos, mo dos, de apir © pensar, propos de cada tora ‘uineca NoVA, 2911 (2000) (circulo viciso) nas definigdes de dcido © base, quando diz que "iido é a espécie que reage com bases, .." ¢ "base & a espécie aque reage com écido,..". Esa tautologia pode see também re ‘movida, melhorando-se 0s enunciados. Estas falhas [6gicas sfo comuns nas teorias qufmicas © no constinuem um impedimento para que sejam "boas". Pelo con: Ueicio, tomaas mais lexiveis, permitindo ampliagbes e aplica- 8es a situagdes novas, Este ponto jé foi bem ressaltado por ‘Theobald e Hoffmann, RELAGOES HISTORICAS Come foi apontado anteriormente (item As Teorias Acido- Base: O que Significam?), 0 desenvolvimento das terias fcido- base € praticamente linear com o tempo, Isto pode ser melhor notado na Figura 2, baseada na Figura 2.3 do livro de Jensen’, {que mostra a5 relagbes histéricas das teorias expostas ao longo do século XX. S80 apresentadas duas vertentes. A primeira ver- tente (lado esquerdo da figura) estéassociada as idéias de Liebig, mencionada anteriormente (item 4), em que acidez esti associ- ada a um elemento ou espécie quimica. A segunda vertente (Lado dlireito) esté associada as idéias de Ure, associando a acidez- basicidade a uma earacteristica estrutural. Note também que hi uma espécie de convergencia das duas vertentes, abandonando progressivamente estas caracterfsticas exttemas e se aproxin do umas das outras. A teoria ionotrSpica ja nko se prende mais uma espéeie exclusiva, ea eletrnica, por outro lado, sai de tum certo relativismo inerente as iias de Ure, considerando um cetto “elemento estrutural"- 0 par eletrénico ou a sua vacincia ou orbital - responsivel pela acidez-basicidade. \ 7 [fm Figura 2. Diagrams mostrando us relapdet histricas das teorlae Aeidorbase no ade, XX Pode-se considerar 8 Quimica como uma associagio entre um fazer & um pensar. O fazer & 0 manuseio todo especial que © a, ransformando-a, modiicando-a pensar & 2 interpretagio, 0 raciocinio, a imaginagio das trans- {ormagdes da matéria em termos de Stomos e moléculas, ou Sea, fem termos da Teoria Molecular. A Quimica sempre foi assim, a associagio de uma teoria com uma pritics™. Na evolugio da ‘Quimica nota-e que a teoria tem sofrido mudangas bruscas com © passar do tempo, verdadeiras cevolugses, porém a prtica tem seimodificado de forma mais ov menos continua, as vezes mais ‘ipida ou mais lentamente, porém sem grandes saltos. Vale aqui ressaltar 0s critérios fenomenoldgicos de Lewis™, que resumem {oda a pritca éeido-base, desde, pelo menos, © sec. XVII, com Boyle, independentemente de sua propria teria. Em seu artigo, 4 apresentago clara e explicita de todos esses critérios © a 131 subseqiente demonstrago de que a teori eletrOnica era capaz de dar conta de todos os fendmenos,talvez tenha sido um fator importante para chamar a atengio sobre a mesma, fazendo com aque cla se tornasse “popular” entre os quimicos. AS "BOAS" CARACTERISTICAS DE CADA TEORIA Analisundo-se o desenvolvimento histrico de cada uma das teorias, através das caracteristiens de uma "boa" teoriaapresen {adas no inicio, observa-se que, 2 menos da teoria de Usanovich, todas satisfizeram C-1, C-2 elou C-3, em uma dada época. ‘A teoria de Arrhenius foi apresentada dentro a Teoria da Dissociagio Eletrolitica e, do seu langamento até por volta de 1910, satisfazia plenamenic as trés earacteristicas, Porém, difl> euldades com solventes ndo-aquosos, slides e outras situa- ses, Fizeram que deixasse de satistazer as C-1 e C-2, dando lugar ao surgimento de outeas teorias, sendo a primeira a teoria dos sistemas solventes. Esta € uma generalizagio da teoria de “Archenius para sistemas no aquosos, satisfazendo C-1 e C-3, sendo que C-2 foi fungio do solvente, pois determinados sol- vventes mostraram-se mals interessantes que ovtcos. {A teoria proténica foi apresentada também como uma gene- ralizago da teoria de Arrhenius, porém abrangendo aspectos no tratados pela teoria dos sistemas solventes, e satisfazendo C1, C2 C3. A teoria eleteBnica fol apresentada dentro da teoria do par eletronico © esteve ligada, até 1938, aos aspectos estaturals © mecanisticos, principalmente dentto da Quimica Orginica. ‘Apresentava as trés caracteristicas, porém de mancira indiret ‘Ap6s sua teapresentagio tornou-se & teoria mais em evidéncia, satisfazendo plenamente C-1, C-2 e C-3 A ‘woria do sovistico Usanovich foi apresentada em uma ccasito infeliz, pouco antes da 2 Guerra Mundial, nfo tendo a evida divulgsgio e aperfeigoamento, Apesar de pretender ser 1 mais geral das teorias deido-base, nfo satisfazia C-1 devido 3s inconsisténcias interna, j§ mencionadas, e portanto acabou por nio satisfazer C-2, Um outro aspecto é sua semelhanga com os conceitos de Ingold, que eomegaram a se popularizar © § ivalizar com os mesmos, AlGm do mais, consideragbes fun tionais relacionando reagies fcido-base (iransferéncia de pares elettbnicos) com reagoes de dxido-redugio (transferéncia de elgirons fo emparethados) mostraram-se mais interessantes para um tratamento quantitative que as definigGes amplas ‘A teoria ionotrdpiea, generalizagio da teoria dos sistemas soiventese protdnica, interessante quanto as C-1 e C-3, porém ‘fo intensa quanto 8 C-2. ‘Atwalmente, as 16s leorias mais destacsdas slo: Archenius, proténica ¢ elewénica, principalmente esta lkima Esse destague finda para a de Arrhenius deve-sepraticamente & C3, jusificando ‘ua presenga nos livros diditieos ou vice-versa As teoras protGnica elettniea continuam satisfazendo As ts caactristicas. ‘A Tabela | resume estes resultados, ‘Tabela 1. As “boas” caracteristicas das teorias cido-base. O sinal + indica que a respectiva teoria satisfaz a. determinada caracterstica, 0 sinal ~ indiea 0 contrdvio, O sinal +(-) indica que inicialmente a teoria satisfazia, porém depois deixou de Satisfazer, # significa meio termo e 0 sinal ? indica dGvida, "Teoria ci ca cs Presenga nos (expticar) (problemas) (funcional) iveos didaticos Antenus +) + + Sist.solventes +6) +0) + : Protonica + + : + Fonoteépiea + . + Eletronica : + + + Usanovieh + : +0 CONcLUSKO A respelto das teorias fcido-base, muitas considerayses de carSter histérico e filosstico podem ainda ser feitas, porém dstacaremos agora algumas de cariter mais pedagégico. Por faz8es que no momento no vamos evidar, muitos estu- dantes dos cursos médios trazem uma certa visio dualisica, Pra nfo dizer maniquefsta, da realidade. Para eles as coisas edo" 08 "nd ‘do hi meio termo, Em algumas vezes isto funciona, porém na maioriasabemas que alo. Muitos pro- fessores tm dificuldades em mudar um pouco a attude destes alunos. O lado pritico das teorias écido-base auxilia © profes- sor nesta taefa, pois sua wtiliaagao inicial & dualistic, sendo ‘que depois o proprio aluno verifia que este dualismo nio pode permanever. Vejamos:inicialmente todas as substincias ou so {cidos e bases ou no so nenhum dos dois. Isto pode ser tes- tado com indicadores. Depois as substincias podem ser classi- ficadas em Seidos e bases, conforme seu comportamento pe- ante os indicadores. E os produtos da reagio? Uma teotias irmam que sio também icidos ¢ bases, outras nio. E as subs- tncias anfoteras? Creio que isto pode ser bem aproveitado pelos professores* Por que se ensina a teoria de Arthenius, se ela atualmente ro satisfaz a C-1 © C-27 Ela € simples ¢ funcional, satisfaz & C3, conforme mencionado acima, No entanto, funcionalidade 6 algo também discutfvel, pois a teoria pode set funcional, mas 05 cursos onde elas so ensinadas podem nio ser, justamente pela sua presenga. A teoria protGnica, quando aplicada aos sis- temas aquoses, envolvendo os fons usuais e suas respectivas reag6es, faz da teoria de Arthenius um caso particular. Por que fentlo no ensinar desta maneita? Seré porque os livros si0 assim ou 0s livros sfo assim porque os professores assim en- sinam? Felizmente 0 efrculo vicioso esté sendo quebrado, pois ‘muitos livros editados recentemente trazem ainda a teoria de AArthenius, porém como uma noticia histérica dentro de uma introdugio a0 tema, e o estudo dos eidos e das bases em so- luglo aquosa € feito de scordo com a teoria protOnica. Oxalé a rmaioria dos textos passassem a seguir essa orientacio, AGRADECIMENTO Agradeyo 20 Prof. Dr. Silvio S. Chibene, do Departamento de Filosofia, IRCH-Unicamp, pelas valiosas critica e sugestbes. REFERENCIAS 1. Chalmers, A. Fi O gue & Cigncia Afinal? (28 ed.) Ba. Brasiliense; $50 Paulo, 1993. 2. Idem; A Fabricapao da Ciencia; Bd. da Unesp; Sto Pau- To, 1994, CCitien, CA Cigncia em Aedo Papiras Ea Campinas, 1994, Bachelard, Gs A Epistemologia; Ediges 70; Lisboa, 1984, Bent, H. As J. Chem Educ. 1980, 57, 395. Jensen, W, Bb; The Lewis Acid-base Concepis: John Wiley ‘& Sons; New York, 1980, Faria, Es Diciondrio Escolar Latino-portugués (6 ed); FAE-MEC: Rio de Janeiro, 1994, 7.Rancke-Madsen, E; The History of Indicators. In Indicators, Bishop, E., Ed; Pergamon Press; Oxford, 1972, 8. Rheinboldi, H.: Selecta Chimica 1945, 3, 1. Reimpresso in Rheinboldt, 1.; Histéria da Balancer, Nova Stella e Egusp; So Paulo, 1988. 9. 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