You are on page 1of 20
> O Cconseqiiente poder, entende-se que aquele s6 ser4 construido com pontes Oo eee eee Ce uu ca en eee Cone a et eae quando quer que se realizem, vio sendo inseridos, permanentemente, NC ee en een CR ee en vverdade, melhor se caracterizariam como campos de estudo € de prética, Du RC ei ee nod nia ee ee oe discutir como se constroem as disciplinas e as formas de integracéo ‘curricular, apresenta uma inegivel contribuicio para a discussdo sobre as. ‘elagées entré saberes, poderes e dominacio no campo do curriculo. ey ~~ DISCIPLINAS E_ INTEGRACA CURRICULAR: INI 3 SVWNIT1dIDSIC HISTORIA E POLITICAS ~ ALICE CASIMIRO LOPES ELIZABETH MACEDO UU ALEJANDRA VALERANI ALFREDO VEIGA-NETO EW WA DOMINIQUE JULIA JORGE CORNEJO JOSE AUGUSTO PACHECO LUCIANO MENDES DE F. FILHO. SINAN Ra J ES Fs 3 Fa iS fo) ry 4 3 2 6 5 2 = Fd g rs 4 FS i 2 ro a ) iS i pas essen Titulo Disciplinas e integeag&o curricular: histéria e politicas ‘Alce Cesiniro Lopes Elisabeth Macedo Revista de proves Daniel Seidl Silva DebettoC. Reis Projto grafico ¢ diagramagio Maria Gabriela Delgado « Gertncia de produgio ¢enpa Rodrigo Murtinho CIP-Buasit. Catalogagio-na-fonte Sindicato Nacional dos Eaitores de Liveos, R) 639) Disciplinas e integragio custicular: historia e politieas/ Alice Casimiro Lopes, Elizabeth Macedo (org). ~ Rio de Janeiro: DPSA, 2002, 14x21 cm: 224 p, Inelui bibliograia ISBN 85.7490-129-6 1. Curticulos 1 Lopes, Alice Casimir, I Macedo, Elizabeth cop sri.2i4 cpu 375, Allice Casimiro Lopes (org.) Elizabeth Macedo (org.) Disciplinas e integracao curricular: histéria e politicas Alejandra Valerani Alfredo Veiga-Neto Angela Aisenstein Dominique Julia Jorge Cornejo José Augusto Pacheco Luciano Mendes de Faria Filho Silvina Gvirtz DPEA editora Discipiinas ESCOLARES: OBJETIVOS, ENSINO E APROPRIAGAO" Dominique Julid Essa afirmagao nao quer dizer naturalmente que ela tenha nascido, tal como Minerva saindo do cérebro de Jipiter, toda armada, sem utilizar elementos da historiografia que a antecedeu. no qual nunca partimos do zero, e que devemos muito aos historiadores que nos precederam. Isso néo impede que na realidade tudo se passe como se os historiadores da educagio nao tivessem consciéncia, a néo ser tardiamente, dos desafios da andlise dos contetidos de ensino, ¢ isso sob a presséo da contemporiinea didatica as disciplinas. A histéria da educagao foi, em suas principais linhas, uma hist6ria politica e institucional, no tempo em que as lutas entre as Igrejas e os Estados eram mais violentas: tratava-se entdo de se posicionar pré ou contra os jesuftas, pré ou contra a Revolucéo Francesa e suas conquistas. Porém, mesmo nessa perspectiva, 0 proceso de transmissio de conhecimentos na escola permaneceu fora da andlise, como uma espécie de postulado geral estabelecendo a priori uma ‘Traduglo de Elizabeth Macedo e Alice Casimiro Lopes ~ Pesquisador do Centre de Recherches Historiques (CNRS) ¢ da Ecole Supérieur des Hautes Exudes en Seiences Sociales (Pats). 38 Discipunas €1wTEGRAGAO CURRICULAR: HISTORIA EPOLITICAS proximidade entre os valores ¢ os habitus das classes dominantes ou privilegiadas e os valores veiculados ou os habitus transmitidos pela escola, Se essa andlise em termos macroscépicos propicia elementos de compreensio ndo-negligencidveis, ¢ isso ndo é sem diivida inteiramente falso, ela faz pouco caso, todavia, dos funcionamentos internos especificos da escola e nunca se questiona sobre as priticas resultados que elas obtéi sintomatieo, que as pesquisas que, nos anos de 1960, estudavam as populagées «escolares em termos de “coortes” e mediam, ano apésano,asignficago das “safdas” do sistema escolar, tenham sido subgtitufdas dai em diante por pesquisas estabelecidas sobre amostras representativas de alunos, baseando-se, a cada ano, em uma série de exercicios realizada por eles nas matérias principais (matemética, francés), ‘o que permite medir mais precisamente as performances alcangadas em cada nivel escolar e cruzar 0s resultados obtidos com toda uma série de outras varidveis. E ao menos o que faz hd alguns anos a Diregio de Prospectiva do Ministério de Educagio nacional francés, esforcando-se, assim, para fornecer "aos que decidem” os instrumentos confiéveis para uma politica de luta contra o fracasso escolar. Ao mesmo tempo, essa avaliagao dos resultados da escola, a0 estabelecer precisamente as capacidades alcancadas pelos alunos, tanto em operagoes de raciocinio quanto no dominio da lingua ao término do processo de inculcagio, é um antidoto contra ‘a difusdo de todas as falsas ideologias, presentes mesmo no interior do corpo docente, Os professores, por exemplo, lamentam-se freqtientemente sobre a “queda” do nivel dos alunos ¢ fazem referéncia a uma idade de ouro ou mitica na qual o conjunto de alunos teria alcangado o dominio da lingua ou da matemitica. Ahist6ria dos contedidos de ensino foi concebida durante muito tempo como um processo de transmissio direta de saberes DDiscIPLINAs ESCOLARES: OBJETIVOS, ENSINO EAPROFRIACAO. 39 construidos fora da escola: esta tiltima, entendida, nesse caso, como ‘um instrumento neutro e passivo, tem funcionado como um filtro de simplificagéo onde as ciéncias de referéncia depositam suas esc6rias, deixando passar apenas o essencial. Tratava-se de uma “vulgarizagdo” para uso dos cérebros infantis, receptéculos ou cera mole pronta para receber uma marca de impressio, Quanto mais a fabricagao dos saberes escolares parecia proveniente de uma longa ttadicéo e do consenso sobre as finalidades do ensino, a despeito das modificagées regulares dos programas operadas pelas autoridades administrativas ¢ das polémicas recorrentes sobre 0 equilibrio entre as matérias de ensino, menos se interrogava sobre essa fabricagao, 0 que parecia Ihe conferir um carter de imutabilidade. A to longa duracdo da nogo de studia humanitatis, forjada no século XV pelos filélogos renovadores da peninsula italiana (¢ elaborada contra o sistema medieval das artes), tem ocultado as constantes modificagées intemnas de que tem sido objeto a cada periodo da hist6ria. Para além do fato de que a histéria literdria ou a historia das idéias centra-se nos “grandes” textos — € nao se rebaixa para analisar os manuais e as praticas escolares ‘como se estes fossem objetos desprovidos de valor -, é nos tempos decrise que se revelam as rupturas e nascem as duividas. A discordancia crescente entre a cultura escolar considerada “classica” e a cultura contemporanea, discordancia sentida mesmo entre as elites, assim como a modificagio profunda do alunado do ensino secundario, partir do momento em que esse nivel de ensino recebe, nos anos de 1960, um conjunto de alunos de idades variadas, desenvolveram toda uma reflexao profunda sobre a didatica das disciplinas, reflexio que 0s historiadores tém todo o interesse de aproveitar. O que, entio, foi convertido em objeto de andlise é que nao existe equivaléncia entre o trabalho pratico com um saber e a transmissio desse mesmo saber, na medida em que aquele, para poder ser interiorizado pelos alunos, deve ser transformado em objeto de ensino: uma transposigao diddtica & uma condigao prévia absoluta, ‘© que implica um retorno constante sobre o que foi ensinado para 40 DisciPLinAs ¢1WTEGRAGAO CURRICULAR: HISTORIA EPOLITICAS saber 0 que foi aprendido € como foi aprendido. © aluno nao “reinventa" o que ja sabe. A exposigao didética est submetida a toda uma série de condicionantes que pesam sobre ela. Citarei nessa introdugdo apenas alguns. Ela deve ter em conta a idade daqueles a quem é destinada, o que implica que ela deve se adaptar uma série de imagens e nogdes prévias, aceitar os compromissos contrétios & ruptura epistemolégica que caracteriza uma descoberta cientifica (cf. Bacitetano, 1937), na medida em que todo ensino deve partir do que € conhecido pelas criangas. Ao mesmo tempo, ela deve pretender uma apropriagio dos mecanismos ensinados. Trata-se de formar os esquemas operatérios, a tal ponto interiorizados que se tornem inconscientes: da o fato de que todas as aprendizagens se estabelegam na repetigio eno exercicio (0 que as diferencia da exposigéo tedrica de um saber). E sintomitico que raras sejam as autobiografias ou as memérias (sobretudo quando se trata de membros das classes dominantes) que, tratando do periodo da infanci se este houvesse sido produzido espontaneamente e sem nenhum esforgo. Enfim, o modelo escolar tem, apds muito tempo, imposto condicionantes institucionais &transmissao de saberes, estabelecendo as préticas de aprendizagem especializadas, organizando uma programacio das aprendizagens segundo seqiiéncias temporais, razoaveis, que supdem uma aquisi¢ao progressiva das expertises ¢ ‘um controle regulado dessas aprendizagens, segundo procedimentos de verificagio que permitem uma certificagio social dos conhecimentos adquiridos.' | evoquem 0 aprendizado da leitura ou do céleulo como Intui-se aqui o quanto a hist6ria das disciplinas escolares deve, para ser realmente operatéria, partir mais dos fenémenos ¢ dos mecanismos internas a escola do que da aplicagao de explicagdes, ‘externas, ¢ pouco convincentes, sobre essas mesmas escolas. Mas ela " Sobre todos esses pontos, cf. Verret (1975), especialmente p. 139-148, Sobre ‘uma aplicagio desses principios metodoldgicos a0 ensino de matematica, cf Chevallard (1985), DDiscirunas EScOLARES: OB/ETIVOS, ENSINO EAPKOPKLAGAO 41 deve levar em conta todos os componentes dos quais se constitui uma disciplina escolar € nao se limitar a um s6, sob 0 risco de interpretagbes hist6ricas equivocadas. Nos anos de 1970, a analise dos manuais escolares freqiientemente incorreu em simplificagdes ‘exageradas: importando, em uma perspectiva marxista, o modelo sociolégico de escola como modo de reprodusio, idéntico as relacées sociais a servico das classes dominantes, os autores procuraram evelar, no contetido dos discursos veiculados pelos manuais, 4 “ideologia” prépria que mantinha as classes subalternas no habitus de submissio. Um autor, por exemplo, apoiando-se nos métodos da lingtifstica contempordnea, dedicou-se a encontrar a coeréncia ‘coma “ideologia” da Terceira Repiiblica nos enunciados dos manuais de francés ou de histéria da escola priméria. Esses, em ltima instancia, veiculavam a imagem de um professor apéstolo de uma ova religido, encarregado de “disciplinar as crengas e, além disso, investir meticulosamente de racionalidade a totalidade do corpo social na multiplicidade de suas priticas mais secretas” (MaINGUENEAU, 1979, p, 340). Se se trata de mostrar que os contetidos dos manuais participam plenamente das representagdes de uma sociedade — quer dizer, de suas pressuposigées e de suas crencas, como, por exemplo, a missio civilizadora do povo colonizador frente aos “selvagens” que sio 0s povos colonizados (MAINGUENEAU, 1979, p. 149-230) © resultado nao é propriamente estupendo, O sistema educativo acha-se bem encerrado no interior dessas representag6es ¢ nio se espera desses manuais uma fungdo provocativa ou de dentincia, ‘menos ainda quando o controle que se exerce sobre sua redaco sua fabricagio— seja sob supervisio estrita do Estado ou das igrejas, u por “livre” iniciativa das editoras ou dos professores —desenvolve uma forma de autocensura, consciente ou inconsciente. Interrogados nos anos de 1960 por Jacques e Mona Ozouf, os professores franceses que haviam ensinado antes de 1914 confessam ter compartithado durante muito tempo a crenga nos beneficios da poténcia civilizat6ria: para eles, a colonizagao tinha por funcdo emancipar os indigenas da tutela dos bruxos e dos caciques locais e eles nao 42 DDISCIPLINAS E IVTEGRACAO CURRICULAR: HISTORIA EFOLITICAS tinham consciéncia, a nao ser tardiamente, da exploragdo das populagoes (Ozour ¢ OzouF, 1992, p. 283-285). Nisso nao hé nada de surpreendente € 0 historiador, se ele quer compreender, deve cuidar para ndo se transformar em justiceiro, mas sim em procurar reconstituir em sua organicidade a génese, a estrutura ea evolugao das disciplinas escolares. A exposicdo que se segue & sem pretensdes. Visa somente a valorizar as conclusdes recentes da pesquisa e extraira seus exemplos de referencia do periodo moderno, isto é, entre 0 século XVI e a primeira metade do século XIX, simplesmente porque esse é 0 periodo sobre o qual eu talvez tenha adquirido um grau de competéncia. Neste capitulo, inspirei-me fortemente nas pistas do trabalho de André Chervel (1988), em um artigo que jé se tornow cléssico, Seguirei aqui um esquema extremamente clissico: apés, tentar definir a nogio de disciplina escolar, examinarei sucessivamente as finalidades, os contetidos e os métodos e, enfim, 6s resultados, tal como podem ser medidos por meio dos trabalhos realizados pelos alunos. Tentativa de definicao ‘Uma primeira investigagio consistiria em seguir, nas diferentes linguas verndculas da Europa, como foi progressivamente imposto © termo disciplina escolar (discipline scolaire) no sentido que entendemos atual mente. Evidentemente, no conjunto das linguas romanas, a palavra provém do latim disciplina que, na Idade Cléssica, comporta miltiplos sentidos: nao significa, de fato, somente uma agio de ensinar, mas também matéria de ensino ou ‘tea de ensino, ou simplesmente ensino, método, doutrina ou sistema ¢, finalmente, educagio? Na lingua francesa, € provavel que, nos séculos XVI e XVII, o termo disciplina pudesse designar efetivamente as matérias de ensino, Rabelais, no Pantagruel (1532), escreve, em uma carta que Gargintua faz para seu filho, 0 elogio ditirambico da educacdo humanista que se desenvolve frente aos seus olhos: DisciPunas ESCOLARES:OMIETIVOS, ENSINO EAPROPRIACAO 43 “Agora, todas as disciplinas sio restabelecidas”.? © proprio Gargantua foi “educado e instrudo em toda disciplina conveniente”! Molitre, em Le mariage forcé (1664), fala de um “homem ignorante de boa disciplina, a ser banido da Replica das Letras”. Também se encontra, na lingua do século XVI, 0 verbo endiscipliner, que significa instruir; mas 0 termo nao parece ter tido uma posteridade duradoura.* Pouco a pouco, entretanto, parece que disciplina, no sentido de ciéncia ou de ramo de estudo, cedeu lugar a outro significado que tende a prevalecer no século XX: 0 de dirego moral, norma de conduta prépria de tal ou qual corpo profissional ou instituigao.* André Chervel, de forma muito pertinente, observa que 0 termo disciplina escolar designa, até o fim do século XIX, apenas tudo 0 que é relativo & organizagiio dos estabelecimentos ¢ & repressio das desordens que podiam se desenrolar. O que chamamos hoje de disciplina escolar era entio denominado “curso”, “objeto”, “matérias” de ensino (Cutsvet, 1988, p, 60-64). Somente no final do século XIX ~ seria preciso aqui poder medir até que onto o que se tem chamado de crise “alema” do pensamento francés (ap6s a derrota militar de 1871 frente & Alemanha) exerceu um Papel nesse sentido ~ 0 termo adquiriu o sentido de exercicio ou de “gindstica” intelectual, isto é, 0 ideal de um “desenvolvimento do juizo, da razio, da faculdade de combinagio e invengio’ 2 Rabelais, ntagrl, 1532, capitulo VIRL * Rabel, Garg, 1535, capo XE Rabe tyme design tab 2 lrego moral domeste rent ao seu aun “O esti de Gergana puna 2 dscplina de seus precepors sofas (Grint, cape XXI), some Garg foleductdo por Pondcats na elds que neo pods nena hora do ia" (Gono, cptalo XX * Segundo o Dine de Lange de XVie sie de Huguet, que ta una ado da Vie de Pos de Pataca, pl bp Genre de Sve. SE we 8 Eon gue ayer ome ten) nor een Fes verdad, 8 Chiron, que oct (como se coment) mento dsiiogs Péricles?”), " : " * Lic, em seu Dione de gern (1863) & um bom testemanho dessa evolu, que tao sentido de dpi pin como dotting oa ‘iene somente essa poo no eb 44 Discuruinas € IvTEGRAGHO CURRICULAR: ASTORIA POLITICAS (Cutavet, 1988, p. 63). Pouco a pouco, o termo perde sua forca e termina por se tomar uma rubrica que designa as diferentes matérias de ensino, significagio que conserva atualmente. Essa breve retrospectiva visa simplesmente mostrar o quanto seria importante um estudo de semintica histérica comparada, analisando a evolugdo dos termos empregados nas diferentes linguas vernaculas, para designar o objeto do qual nos ocupamos aqui. As novidades léxicas no sio jamais destituidas de sentido, ¢ as opgdes tomadas ppor cada lingua vernécula tém podido variar em fungio da cultura propria de cada sociedade e, mais particularmente, do lugar que vem sendo ocupado pelo desenvolvimento das cigncias da educagao na sociedade em questo. Pelo menos, seria desejavel poder datar precisamente os surgimentos dos termos ou as modificagées de sentidos de vocébulos antigos. Eles sio, quase sempre, ligados aos momentos de crise ou de mudangas profundasye uma andlise comparada permitiria, sem divida, identificar os empréstimos e as, transferéncias que foram produzidas de uma lingua a outra e, mais, amplamente, por quais canais elas foram desenvolvidas. Nao nos deixemos, contudo, envolver em uma disputa de palavras. Como o Bourgeois Gentilhomme de Moliéte, que fazia prosa sem o saber, as disciplinas escolates existiam muito antes do surgimento do préprio termo— que temos utilizado por comodidade. Apenas devemos estar atentos a definir com precistio seu estatuto de historicidade e tentar restituir os dispositivos disciplinares em sua coeréncia propria e em suas inter-relagées & €poca em que eles foram instalados, semi buscar revesti-los de grades anacronicas. ‘Trés tentagées importantes, desse ponto de vista, parecem-me que devem ser evitadas, A primeira é a de estabelecer genealogias enganosas, querendo a todo custo recuperar as “otigens” de uma disciplina em tal ou qual segmento antecédente. Ha mais de 40 anos, o padre de Dainville dedicou-se a mostrar quanto o Ratio ido € de Célestin Hippeau, Léucaion et lnstruton dans leurs rapports ‘ave bien étre social etl peretionnement de sprit humain, Pats, 1885, p. 300, Disciruinas eSCoLARES: OWIETIVOS, ENSINO EAPROPRIACHO 43 Studiorum jesuita dedicava espago ao ensino de hist6ria: se nio existiam cursos especificos de hist6ria, toda uma instrugao de hist6ria foi dispensada aos alunos sob a forma de eruditio, de praclectio, sendo legitimo falar da origem “humanista” do ensino ‘contemporaneo de histéria (Damnvittt, 1978a). Na realidade, ndo € porque se pode recuperar, em um curso manuscrito ou em um manual impresso, tal ou qual elemento que se classificaria hoje sob a rubrica da disciplina atual de hist6ria, que existe forgosamente linearidade de desenvolvimento de uns a outros. Isso seria escolher arbitrariamente, em fungio de nossa definigio contemporinea do que é a disciplina escolar hist6ria, um certo ntimero de segmentos de ensino que, nos séculos XVII e XVIII, se organizavam de forma muito diferente, Uma disciplina se define tanto por suas finalidades quanto por seus conteiidos. Mas a imbricagio extremamente estreita das diversas finalidades de ensino, tal como vem definidas no Ratio Studiorum jesuitico, no qual se misturam o objetivo retérico de dominio da lingua latina, primordial, mas também 0 conhecimento da Antigitidade e a preocupagio de formar os bons cristéos, impedia que a disciplina hist6ria adquirisse autonomia. Era dada prioridade ao texto antigo ¢ A sua interpretacio, Sem diivida existiam as prelegdes de textos histéricos, €a versio do Ratio Studiorum de 1591 fornece, de sua parte, o modelo de prelegao de um texto de Quintus Curcius. Sem divida, essas prelecdes de textos histéricos apelavam, em seu eruditio, A cronologia e a geografia (ainda que esta viesse essencialmente de textos também antigos como os de Plinio), mas o fundamental, além da concepgio de moral da historia como magistra vitae, & 0 estudo da particularidade da narragao hist6rica, a anélise do relato, como indicam, em 1582, as instrugdes para a classe de humanidades do colégio de Napoles, a saber: “para aprender qualquer coisa da Antigiiidade” e “pata aprender 0 modo de tecer a historia”, 0 que importa é a “qualidade da frase e 0 modo de dizer”,? as modalidades 7 Essas duascitagdesestio em italiano no original (N. do) 46 DisciptinAs €INTEGRACAO CURRICULAR: HISTORIA € POLITICAS da textura do relato.* E portanto iniitil desejar buscar a origem do ensino de histéria no Ratio Studiorum jesuita, Se fosse absolutamente necessério localizar 0 miicleo duro de uma génese da disciplina, seria preferivel procuri-lo no ensino menos formal do que nas classes, aquele que se reservava aos internos dos colegia nobilium (desde 0 principio do século XVII, na Franca, os colégios de La Fleche, em Anjou, de Clermont, em Paris, e de Pont-’-Mousson, em Lorraine): nas chambres ~o equivalente do que hoje chamariamos dormitérios, onde os internos estavam agrupados mais por suas idades do que seus niveis -, era dispensado, pelos ditetores dos pensionatos, um ensino de hist6ria moderna em francés. Essas instrucdes privadas (em oposigéo as classes piblicas dos nao- internos), que puderam tomar a forma de diélogos ¢ mesmo de jogos, visavam ensinar aos jovens nobres o estado presente dos principais principados da Europa, assim como a histéria nacional, inclusive a mais recente. Tratava-se na realidade de formar os futuros servidores do Estado que ocupariam, em sua vida adulta, 0s postos-chave da administragio, do exército e das embaixadas. No é por acaso que as catedras especificas de histéria aparece primeiro nos colégios cujo pablico € majoritariamente nobre (como em 1747, no colégio dos nobres de Bolonha, nos Estados pontificios, dirigidos pelos jesuitas, e no grande pensionato oratoriano de Juilly, desde 1752-1753) e nas escolas militares do século XVIII. E no momento em que a formacio dos futuros oficiais exige uma verdadcira profissionalizagio que aparece um par de disciplinas associadas destinadas a um belo futuro: a histéria e a geografia.? "CEL. Lukics, Monumenza Preiagyion Socctatis fs, t. VI. p. $20, “Ordine delle scuole peril collegio di Napoli", de Padre Nicol® Orlandini, anos 1582- 1583. Nés seguimos aqui a demonstragdo muito pertinente de Bruter (1997) 7 CF, Brizzi (1976, p, 242-246) e Compare ¢ Jus, (1988, p. 363-365), para © pensionato de July. Nao se deve tampouco esquecer que a geografia € uma isciplina escolar Gul aos negociantes instados a negociar e viajar por toda a Europa. Nesse sentido, W. Frijhof aponta que nas escolasditas“francesas” da Repibblica das Provincias-Unidas (porque elas se dstinguem do setor latino, 8 geografia é, a fim do século XVII, uma materia quase to ensinada quanto a aritmética (1995, p. 193), DDiscarunas ESCOLARES: OETIVOS, ENSINO E AMROPRIAGAO 47 ‘Além das falsas genealogias, a segunda tentacio a ser evitada € pensar que uma disciplina nao é ensinada porque ela nao aparece nos programas escolares, ou porque no existem citedras oficialmente com seu nome. Tomemos como exemplo a matemética na Companhia de Jesus: € claro que as cétedras oficiais da ‘matemiética aparecem essencialmente na primeira metade do século XVII, mais ainda a partirdos anos 1610-1620 (Damwvutte, 1978b; Fiscuer, 1978), e que de 1550 a 1580 os textos normativos no concedem mais que uma importancia secundaria a essa disciplina, Se 0 programa do colégio de Messina, na Sicilia, elaborado pelo Padre Joseph Nadal, em 1552, continha efetivamente um ensino de matemética muito desenvolvido," distribuido em trés anos sucessivos, as instrugdes dadas em 1570 sobre as “artes liberais”, no que se pode chamar 0 primeiro Ratio Studiorum jesuita, elaborado sob o generalato de Francois Borgia, sio muito mais modestas. Se todavia se previa para as universidades uma ligo “extraordindria” de matemética, nos outros colégios 0 ensino ministrado pelo professor de filosofia se limitava a um programa minimo para todos (nao-internos ¢ jesuftas): 0 conhecimento da “esfera”, isto é, unicamente da cosmografia, A matemética é aqui considerada apenas na medida em que “convém ao fim que nos propomos” € somente os “nossos” devem ser “exercitados” na dita ciéncia ~ isto , aqueles jesuftas que, por vontade dos superiores, si destinados € preparados para ensinar as artes liberais."' Esse recuo ests ligado wultaneamente a prioridade concedida ao ensino de Arist6teles em filosofiae & falta de formagao de professores especializados em matematica, em um momento em que o crescimento dos colégios € particularmente significativo. Pelo contririo, a versio definitiva do Ratio de 1599 conserva um vestigio ~ ainda que muito ténue ‘em relagio as ambigoes iniciais ~ da luta desenrolada no interior CEL Lakes, Momonenta Prelaggin Sait “De studi generals dispostione et ordin: "CE. L, Lukies, Monumenta Peedagogica Societats les, t. Ul, Roma, 1974, ‘De artium liberalium studs", $15, p. 256, feu, € 1, Roma, 1965, p. 148-149: 48 Discirunas © wrecRAcio CURRICULAR: IsTORA € FOLITICAS da Companhia pelo matematico e jesuita Christophe Clavius, professor do Colégio Romano, que se esforgou em propor ao mesmo tempo um programa didético e uma instancia de formagao specifica - uma academia interna — para os futuros professores da Companhia, requerendo essa disciplina, segundo Clavius, uma inteira disponibilidade por parte daqueles que a ela se dedicam.!® O que esté em questao nesse debate interno da Companhia, durante 05 anos 1580-1600, é nada menos que a certeza proveniente das demonstragdes matematicas, debate que desemboca em um questionamento da hierarquia das disciplinas, uma modificagio das relagées entre matematica ¢ filosofia, que nfo devem ser de subordlinagio, mas de complementaridade e de necessidade, ja que, para o professor de matemética do Colégio Romano, “a fisica no pode Ser compreendida corretamente sem a matemiética”." Nesse debate, Clavius nao logra visivelmente ganho de causa, como demonstra a reducao do lugar concedido & matemética pelo Ratio ‘Studiorum entre a primeira versio de 1586, que retoma certo niimero de propostas (em particular, sobre uma formagio especifica dos professores de matemdtica),¢ a dltima verstio de 1599, que prevé aexisténcia de um professor de matematica, mas limita seu piblico somente aos estudantes de fisica e seu programa aos Elementos de Euclides, & geografia, a esfera, ou “is outras matérias que habitualmente atendem”,"* Isso quer dizer que se textos oficiais e definitivos da Companhia nao previram um professor de matemitica, isto é uma cétedra especifica, no se ensinou essa 0 conjunto dos textos de Clavius relativos av ensino de matemitiea na Companhia foi redigido entre 1581 1594. Cr. L. Lukées, Monumenta Paedagogicn SocctatisIesu, VIL, Roma, 1992, p. 110-122. "Ibid. p. 116. tata-se de um texto de 1582," Modus quo discipline mathematica in scholis Societatis promoveri possint” “CEL, Lukics, Momunenta Piagyica Socitatis len. V, “Ratio atque Instituto Studiorum Societatis lesu” (1586, 1591, 1599), Roma, 1986, p. 109-110 (versio de 1586), p, 285-286 (versio de 1591), p. 402 (versio de 1599), Sobre o debate interno na companhia, ef. Cosentina (1970); Gatto, (1994), Romano (1996), DiscirunAs ESCOLARES: ONTOS, ENSINO E AMMOPRIAGAO 49 dlisciplina? As pesquisas ecentes mostram, a0 contrétio, que 0 ensino de matemédtica foi muito mais precoce e desenvolvido do que se acreditava, O cruzamento de dados prosopograticos, recolhidos a partir dos catlogos da Companhia, com a lista dos correspondentes que discutem questées matematicas com Christophe Clavius, fez parecer uma série de personalidades jesuitas que desempenharam tarefas administrativas no Instituto, mas que eram, ao mesmo ‘tempo, mateméticos de primeira linha, Observa-se, entio, que muito antes da criagio de cétedras oficiais, um ensino de matemética de alto nivel pode se desenvolver nos colégios. Para dar apenas um exemplo, quando a ordem foi expulsa da alcada do Parlamento de Paris, em 1594, em virtude do atentado de Jean Chatel, mais de 40 jesuitas parisienses se retiraram para o colégio de Pont-2- Mousson: ali, nos anos 1595-1610, constituiu-se privatim uma verdadeira academia de matemiticos que assegurou a formagio dos futuros professores de colégios que iriam ocupar posteriormente grande parte dos colégios da Franca do Norte (¢ entre os mais prestigiados, como o de La Fléche) (cf. Romano, 1995a; 1995b). partir dos anos 1610-1620. E provavel que se possa da mesma ‘maneira descobrir o progresso do ensino da disciplina matematica nas outras provincias da Companhia, ainda que os textos ¢ as fontes sobre essa questo sejam raros ‘Ao mesmo tempo, seria possivel fazer uma observacio paralela a propésito da introdugéo do francés como disciplina de pleno direito no curriculo escolar na Franga do século XIX. Como enfatiza Dan Savatovsky (1995), 0 uso do termo francés como vocabulo “genérico, servindo para designar o grupo de matérias de ensino que identificamos, hoje em dia, sob esse nome, impés-se muito entamente”. Isso remonta a 1870, para a educacio priméria, ea 1900, para a educagio secundaria. Apenas esporadicamente utiliza-se no discurso escolar corrente ou nos manuais de pedagogia, mas no nos programas oficiais e nas instrugées ministeriais: foi nos anos de 1920, para as escolas primérias, e nos anos de 1930, ara os liceus, que 0 termo apareceu com certa freqiiéncia nas 50 DISCIPLINAS E INTEGRACAO CURRICULAR: ISTORIA£ POLITICA instrugoes oficiais (ef. Savatovsky, 1995). Isso ndo significa, entretanto, que a “disciplina” frangais, com suas caracteristicas a0 ‘mesmo tempo instrumentais, frente aos outros saberes escolares, transversais, frente as demais categorias de ensino, ¢ formadoras, pela bateria de exercicios que ela desenvolve, nao existe desde endo: € certo que houve, durante o periodo 1870-1900, uma reorganizacao pedagégica profunda das aprendizagens fundamentais (na qual o plano de estudos de julho de 1882 exerceu ‘um papel essencial) e, em particular, do ensino da lingua francesa que resultou em uma verdadeira disciplina escolar.'? [Nao obstante, seria possivel, assim mesmo, fazer a observacao inversa: nfo & porque a finalidade de uma disciplina é explicitamente indicada nos textos normativos que ela existe no ensino real das salas de aula. André Chervel observa, muito pertinentemente, que certos objetivos do ensino de fingua francesa, indicados nas circulares relativas escola primédria datando dos anos 1833-1834 — por exemplo, a ortografia e a gramatica de uso corrente— nao se desenvolveram na realidade da maioria das escolas rurais, sendo 30 ou 40 anos mais tarde (Cienvet, 1988, p. 76). Essa constatagio leva-me, por outro lado, a uma observagio colateral: a necessidade de estar atento, em nossas anélises, a0 estatuto dos textos que utilizamos. Os historiadores da educacao trabalham mais, em geral, sobre os textos normativos (planos de estudos, regulamentos, circulares), simplesmente porque tais textos, na maior parte das vezes, tém sido mais bem conservados. Mas & necessério, em cada caso, tentar discernir a distancia entre os objetivos enunciados € 0 ensino realizado. Ao mesmo tempo, convém delimitar precisamente 0 estatuto exato das fontes selecionadas para andlise: certos textos que temos 0 habito de considerar, preguicosamente, apenas normativos sio, na realidade, a expressio de experiéncias pedagogicas efetivamente realizadas. 1 Remeto & excelente compl (1992-1995) 0 de textos editada e apresentada por Chervel Discapunas eScoLARES: OR/E7IVOS,ENSINO EAPROPRIACAO st © Ratio Studiorum jesuita, em sua versio definitiva de 1599, € 0 resultado de uma confrontacao de experiéncias, de trocas incessantes de informagées, de diretrizes e de programas de licoes entre todas as provincias da Companhia durante mais de 50 anos. ‘As normas que ali so promulgadas por editos remetem, portanto, 4 préticas efetivas, e tanto mais é assim que a versio anterior, a de 1591, foi posta em pratica em toda a Companhia ad experimentum, as provincias mandando suas observagdes a Roma apés essa experimentagdo (ef. JuttA, 1997). Uma iiltima tentacéo a ser evitada, que todavia é a mais constante, é imaginar um funcionamento das disciplinas escolares idéntico a antigamente, quando essas se designam pela mesma rubrica: a disciplina que nos aparece atualmente como a mais tradicional ~ a das humanidades cléssicas ~ tem, ao contrétio, sido submetida a transformagdes constantes, tanto em suas finalidades quanto em seus contetidos e métodos. Por isso resulta essencial relembrar que toda a histéria das disciplinas escolares, deve, em um mesino movimento, considerar as finalidades ébvias ou implicitas buscadas, os contetidos de ensino e a apropriacio realizada pelos alunos, tal como pode ser medida por meio de seus, trabalhos e exercicios. Ha uma interagdo constante entre esses trés, pélos que concorrem na constituigao de uma disciplina e estariamos incorrendo diretamente em graves erros se quiséssemos ignorar ou negligenciar qualquer um deles. O peso dos objetivos conferidos as disciplinas As finalidades das disciplinas nunca so untvocas. Procedem, normalmente, de arquiteturas complexas, nas quais estratos sucessivos, que se sobrepuseram a partir de elementos contradit6rios, se mesclam. Serdo considerados aqui apenas dois exemplos. Primeiramente, 0 processo plurissecular de disciplinarizaco dos saberes elementares que, no final do século XIX, desemboca em uma escola priméria relativamente homogénea, na qual triunfa a 52 Disciruinas € INTEGRACAO CURRICULAR: HISTORIA YOLITICAS trilogia ler, escrevere contar: esse 6 0 produto de herangas miltiplas para as quais vieram confluir modalidades de aprendizagem heterogéneas. Essas aprendizagens passavam anteriormente por outras sociabilidades ou por outras verdadeiras culturas priticas. Quando, no século XVI, os meios urbanos instauraram uma forma de colégio que substituiu a antiga Faculdade de Artes (quer diz © antigo dispositivo de formagao de clérigos), desejavam que os colégios passassem a cuidar também das classes abecedarias (demanda a que particularmente os jesuitas sempre desejaram resistir, sem éxito) (cf. Héorano, 1988). Nesse caso, a leitura se associa & aprendizagem do latim e & escritura, coma finalidade de se constituir em uma simples entrada, um acesso répido ao latim. lido, escrito ¢ falado, mesmo quando uma boa parte dos alunos restringia a sua educacio aos primeiros anos do curriculo,"* Quanto A cultura dos mercadores, ou seja, a arte da caligrafia, da aritmética pritica e da arte epistolar, ela parece ter sido escolarizada em datas muito diferentes na Europa. Ainda que a escola do aibaco seja um fendmeno muito comum nas cidades da peninsula italiana do século XVI (cf. Grenpuer, 1989), apenas no inicio do século XVIII surgem, na Franca, escolas em que esses saberes eram ensinados. ‘Também nio foi por acaso que a formagao cristé das criangas, ‘uma das finalidades essenciais das Reformas protestante e catdlica, € ocatecismo, nascido da concorréncia entre as confissées religiosas, se associaram a escolarizagao, Para Lutero, 0 contato com a Biblia deveria ser feito pela escuta, isto é, por uma mediagio oral A aprendizagem da leitura, que é antes de tudo uma exigéncia moral, poderia se realizar e se desenvolver na familia sem passar pelas formas escolarizadas. Os casos bastante conhecidos da Finlandia e da Suécia, onde a iniciagao na leitura é realizada em familia, cabendo ao pastor unicamente examinar as competéncias As conelusdes podem ser tiradas do reerutamento do Colléged'Auch em fins do século XVI (Fanos e Jus, 1975), Disciruinas escotares: OMETWVOS, exsINo €APROPRIAGHO 53 adquiridas tanto na leitura quanto no catecismo, servem de testemunho da posicdo defendida por Lutero. Em Neuchatel, a aprendizagem da leitura no meio familiar é um fenémeno banal no século XVILL, tanto nas classes instruidas como nas camadas populates (ef. Casraab, 1996). De sua parte, a Igreja Catélica teve, por longo tempo, muitas reservas quanto a0 uso do livro em sua catequese cristé. Como escreveram os redatores no Prefaicio do catecismo do Concflio de Trento (1562), a fé vem da escuta e a presenca de um intermediério autorizado entre a Palavra de Deus € 0 fiel € privilegiada: sto as pregagdes e os catecismos orais dos curas, enquanto pastores dos homens, que instruem os fiis. Por outro lado, néo foi pela letra impressa que os hereges souberam Propagar seu veneno fazendo aparecer “um grande nimero de Pequenos tratados que, sob as cores da verdadeira piedade, surpreenderam e extraviaram muito facilmente a boa fé dos homens sensiveis"?"” Na realidade, a catequese catélica, na época moderna, se fez segundo modalidades plurais, transformando-se muito cedo em verdadeira disciplina escolar nos colégios jesuttas. O sébado era totalmente dedicado ao seu estudo, e era utilizado um manual escolar, do qual os alunos deveriam memorizar as respostas depois de terem ouvido as explicagbes do regente."* Deve-se ressaltar que 4 primeira edigtio do Cateckismus minimus, de Pierre Canisius (Ingolstadt, 1556), tenha surgido dentro dos Principia Grammatices, do seu colega Hannibal Codret, que sao elementos de gramética latina “ue juventus non in ltteristantum sed etiam in Religione Dei ad Dei optimi maximique gloriam provebatur”. Instaura-se, assim, uma aprendizagem graduada com seqiienciagio dos diversos catecismos redigidos por Pierre Canisius: 0 Catechismus minimus para as duas classes inferiores de gramédtica; minor, a partir da terceira; " Gatéchisme du Concile de Tene. Tadugio francesa, Bouére, Dominique Martin Morin, 1991, p. 8.9, "CFL, Lukécs, Monumenta Pucdagoica Societatis lsu, t V,“Ratio..", op it, p. 416-417, 446, 34 DDIsciPLinas €INTEGRACAO CURRICULAR: HISTORIA EPOLITICAS reservando-se 0 Catechismus major as classes superiores de filosofia € de teologia. Muito cedo (1550-1560), portanto, foi elaborado um percurso didético calcado no programa de estudos do colegio (cf. BROGGEMANN € BLUNKEN, 1987). No que se refer : no entanto, a situagao € muito diferente. E verdade que, desde a segunda metade do século XVI, havia as escolas dominicais da doutrina, nas quais se memorizavam os livretos postos nas mos das criangas (pelo menos na Italia do Norte ou nos Paises Baixos) (cf. Toscant, 1984; Henaivaux, 1989). E também verdade que 0 Catechismus minimus de Pierre Canisius teve extraordinétia difusio, gracas a numerosas tradugdes na maior parte das linguas européias. No entanto, parece que, no inicio da época moderna e sem diivida até.a segunda metade do século XVII, a transmiss4o da doutrina se deu unicamente pela via oral e segundo uma aprendizagem de pura memorizagio, sem a presenga de escola® Seria, contudo, totalmente arbitratio, ¢ sobretudo anacrénico, negligenciar ou menosprezar essa modalidade de formagio, simplesmente porque as didéticas contemporineas apelam muito menos do que as do passado pela memdria. A memorizacio constituiu, ao longo de ‘getagdes, uma forma essencial de disciplinar os espiritos, sobretudo na educagio confessional, quando era essencial que cada pequeno cristo conhecesse as verdades de sua salvacéo, ‘Amudanga, pelo menos tal como pode ser observado na Franca, nasce de uma conjungéo da experiéncia pastoral dos padres das grandes capitais urbanas da Contra-Reforma catélica ~ que descobriram a ignordincia prodigiosa das criancas e se preocuparam ‘em afasté-las das influéncias perigosas das ruas e dos maus exemplos de sua prépria familia — com a difusio de uma cultura do impresso por uma densa rede de livrarias capazes de publicar um material escolar apropriado (folhas soltas contendo compéndios da fé ou dos sacramentos, imagens). Nasce, assim, uma escola aberta a todos esse foi o modelo inspirador, na Franca, dos fundadores das escolas de caridade, como Nicolas Barré, Jean-Baptiste La Salle ou Charles Démia -, na qual se articulam fortemente, desde entao, catequese DDisciPLNAs ESCOLARES: OETIVOS, ENSINO EAPHOPRINCAO 35 € aprendizagem de saberes elementares. Nelas, a leitura néo estava reduzida & simples memorizagao de preces ou do Decélogo, mas era ensinada a partir de uma série de textos diferenciados. Como escreveu Jacques de Batencout, padre da paréquia Saint-Nicolas du Chardonnet, em LEscole Paroissiale, livro publicado em 1654 que serviu de exemplo a todas as iniciativas caritativas: Sendo as pequenas escolas semindrios de cristianismo nos quais se ensina, principalmente, o fundamento da douteina e das virtudes ctistis, nos servimos da ciéncia ou dos prineipios da gramitica, latina e francesa, como meios para chegar mais facilmente e com mais perfeigao a esse fim. E muito mais facil instruir e aperfeigoar nna virtude uma crianga que sabe ler do que outra que nao sabe nada, especialmente porque os livros funcionam como mestees perpétuos daqueles que os utilizam.”” Em resumo, o dominio na leitura é considerado uma condicao necessdria & transmissio da fé, dependendo os contetidos da catequese, desde entéo, da cultura escrita, Essa nova articulagao entre instrugao profana e doutrina cristé desemboca em uma organizagao da escola elementar & qual é transferido certo niimero de dispositivos estabelecidos pela pedagogia dos colégios: no que se refere aos contetidos, uma didatica dos rudimentos das gramaticas latina e ‘uma fina gradago dos programas de estudos que os distribuem em classes sucessivas que sio também etapas progressivas de aprendizagem; no plano do material escolar, recursos diferenciados ¢ livros (ou partes de livros) distintos para cada etapa:*” no plano da “policia” dos estabelecimentos, a utilizagio de sistema de oficiais encarregados de vigiar os colegas ¢ de vetificar se eles estao se \cesa; no plano da distribuigdo de alunos, ® Barencour, J. de. UEsole Paossale ou la manire de bie instraire les enfants dans les petites exces. Pars: Perre Targa, 1654. Sobre a lio de eatecismo nesta obra, cf, Julié (1989), ® Os formulétios redigidos por Jacques de Batencour no seu Dnstrtions filles cor fore de se dividem em trés ou quatro partes que correspondem aos nivels de leitura em francés, cada grupo devendo aprender a que corresponde ao seu nivel, 56 Discivuinas €inTEGRAGAO CURRICULAR: HISTORIA E POLITICAS| apropriando corretamente das ligées do mestre, Em fins do século XVII e inicio do XVIII, Jean-Baptiste de La Salle ordenow, sistematizow e simplificou toda uma série de experiéncias herdadas, abandonando definitivamente, por exemplo, a lingua latina (visto que a escola de caridade €, por vocagao, destinada aos pobres) ¢ fazendo da aritmética centrada nas quatro operagées elementares, o.iltimo estiigio do lerescrever-contar (cf. La SaLtz, 1993). A educagao cristé - preocupada em “prevenir as desordens dos artesios e dos, pobres” que “provém principalmente do seu abandono a propria sorte e da baixa educacao que receberam quando pequenos”, 0 que € “praticamente impossivel de reparar em uma idade mais avangada porque os maus habitos contrafdos sio, muito dificilmente e quase ‘nunca totalmente, mudados” ~ aleanca perfeitamente seu principal objetivo, na medida em que os mestres, tendo seus alunos “da manha até a noite”, ensinam-lhes “a viver bef, 0s instruindo nos mistérios da nossa religido e inspirando-Ihes as méximas crist (La Satte, 1993, p. 3). Mas sua completa remodelacio em funcio da complexificagéo das culturas urbanas contemporaneas desembocou, simultaneamente, em uma organizacao seqiiencial das aprendizagens elementares que toma emprestados elementos de distintas tradig6es hetetogéneas que vio desde a cultura dos cleros até a dos comerciantes. Um segundo exemplo permitiré explicitar como as finalidades remodelam os contetidos de ensino e os exercicios a eles associados. As humanidades, ditas “cléssicas”, que constituiram durante varios séculos a estrutura central do ensino “secundario” derivam diretamente do que os homens da Renascenca chamavam rentemente studia humanitis ou studia humaniora (Compéne € Chenvet, 1997, p. 5-41), Por esse termo, eles designavam de uma s6 vez uma conformagao do espfrito& cultura humana ~o equivalente da paidéia grega - € 0 estudo das letras humanas e, portanto, profanas em relacio as letras sagradas. No cursus?! dos colégios, + Em latim no original, fazendo referéncia a programas de ensino (N. do T). DDiscarunas sCOLARES: OMIETIVOS,ENSINO EAPROPRIAGHO 37 as “humanidades” se situam entre os estudos preparatérios de gramética ¢ 0s estudos de filosofia, A extensio desse termo pode ter sofrido variagbes a0 longo do tempo: pode-se considerar a definicéo stricto sensu do Ratio Studiorum, que identifica as "humanidades” como a quarta classe do cursus, ou seja, como ano que precede diretamente a ret6rica, mas também se pode consideré-lo todo um ciclo de estudos que compreende varias classes que podem incluir a terceira, as humanidades (ou classe de poética) e a retérica No século XVIII, as humanidades tendem a se identificar com a denominagao das “belas letras” como testemunham as divisées do concurso criado em 1766 para o recrutamento de professores catedréticos da Faculdade de Artes de Paris. Os catedréticos das belas letras (professores de humanidades e retérica, na terceira classe) se distinguem dos catedraticos de gramética (da sexta & quarta classes) e dos catedriticos de filosofia, As finalidades desses estudos de humanidades sio miiltiplas. Elas sio, primeiramente, morais, pois os textos da Antigiidade deviam servir de modelos de conduta: os heréis da Antigtidade ainda so os exemplos de virtude que convém inculcar nos espiritos jovens e os que eles sio convidados a imitar, mesmo que seja necessario que esses herdis tenham sido cristianizados, £ aqui que retorna, com todo vigor, a ‘exegese que os padres gregos fizeram de uma passagem do Exodo (3, 22). Na De Doctrina christiana, Santo Agostinho retomou, Por sua conta, essa exegese, que sublinha que os cristaos se encontram na situagio do povo de Israel que, saindo do E; levam clandestinamente as riquezas retiradas dos egipcios A leitura dos autores pags é legitima, desde que se faga bom uso dela; é aqui que se enrafza a prética da expurgation dos textos antigos € de sua reescritura, coma finalidade de apagar todas as indecéncias ¢ impurezas e, pelo contrério, conservar todos os preceitos titeis. “Despojos dos egipcios”, os textos latinos utilizados pelos alunos foram, portanto, objeto de uma selecao - Teréncio “inexpurgivel”, se viu excluido do currfculo, assim como toda uma série de poetas elegiacos ~ e de uma censura (cf. Lemoine, 1997; Fare, 1995). 38 Discirunas €iNTEGRACAO CURRICULAR: HISTORIA £ POLITICAS Por outro lado, a outra finalidade essencial das humanidades, ‘0 dominio do discurso, visa formar o vir bonus dicendi peritus que estard apto a exercer as fungoes de direcéo nas administragées eclesidsticas, municipais ou estatais, num momento em que, no ‘século XVI, os burocratas da Igreja e do Estado tém um crescimento exponencial. A finalidade definida pelo Ratio Studiorum nas regras para o professor de humanidades é, aligs, muito clara: “O nivel desta classe consiste, quando os alunos sairam das classes de sgramatica, em preparar, por assim dizer, terreno para aeloguéncia; © que é feito de trés maneiras: pelo conhecimento da lingua, por uma certa erudigZo e por uma breve informacéo sobre as regras da retérica’” Essa finalidade comanda, ela também, uma série de exereicios que se modificarao progressivamente & medida que a lingua latina deixar de ser, na época moderna, yuma lingua de comunicacio (mesmo no meio da elite), abrindo todo o espaco & lingua vernécula. E claro que, sob a pressao das mudangas culturais, 6s professores das humanidades se véem obrigados a repensar 0 dispositivo das aprendizagens para adapticlo a cultura dos novos Plblicos que a escola passa a atender. Apresentamos aqui a arquitetura extraordinariamente complexa que sustenta o estudo das linguas antigas, disciplina aparentemente menos submetida as alteragoes da moda. O ensino das disciplinas A anélise do ensino de uma disciplina particular deve evidentemente levar em conta todos os elementos que a constituem ssem esquecer nenhum deles. No centro da anilise, esto a evolugio das modalidades de ensino ~ 0 que os jesuftas, no século XVI, chamavam de modus agendi~e as razdes que podem ser responséveis por tal mudanga ou por tal subversio, Sem divida, é necessério estudar os contetidos ensinados, mas é conveniente fazé-lo sempre * L, Lakics, Monumenta Paedagpien Secetate lent. V, “Rat.” op. et. p. 430. Discipunas ESCOLARES: OMIETIVOS, ENSINO & A>ROPRIACKO 39 em relagdo estreita com os métodos e as priticas, se se compreender 0 que se passa realmente e1 (Os pesquisadores jamais estéo seguros de deter a verdadeira solucéo: para perfodos como os séculos XIX ou XX, felizmente dispomos da imprensa pedagégica ou de relatos de inspegdo que permitem, muitas vezes, compreender sobre a vida pratica. Para periodos mais antigos, os textos normativos editados pelas congregacées, confrontados com os registros de correspondéncia entre as autoridades centrais ¢ as autoridades locais (reitores, prefeitos), entre os superiores dos colégios ¢ os pais, dos alunos, podem ser as fontes. Para dar um Gnico exemplo, € totalmente legitimo que um historiador das ciéncias se interrogue sobre a forma como os grandes sistemas filosoficos e as descobertas cientificas se insinuaram no interior dos velhos cursos de filosofia aristotélica: como Descartes e depois Newton foram sendo pouco a pouco adotados pelas diversas congregagoes de ensino e em que data? A pesquisa é, em si mesma, completamente apaixonante, porque ela permite desvelar em que momento as censuras ~ de ordem essencialmente teolégica - persistem e quando, ao conteaio, elas se esvaecem; ou por que um regente ou grupo de regentes as, desafiam deliberadamente (cf. Bkocktiss, 1987). Estudando um. manual de fisica, escrito por um regente jesuita do Colégio do Mont, em Caen (Normandia), Laurence Brockliss pode mostrar 0 aristotelismo eclético do seu autor, acompanhado por um conhecimento muito sutil da nova filosofia experimental: recusando-se a legitimar 0 esforgo concomitante para matematizar a natureza (como a mecinica cartesiana) e se esforgando por salvaguardar as afirmagoes centrais da teoria aristotélica, o manual integra os fundamentos da nova astronomia. Esse manual no era © inico a proceder dessa maneira. Nesse mesmo momento, no colégio de Clermont, em Paris, 0s professores expdem os novos conhecimentos sobre 0 vacuo, a partir dos resultados de Torricelli, 0 DiscirunAs E INTEGRAGAO CURRICULAR: HSTORIAE TOLITICAS com uma excelente qualidade de informagoes. Mas é necessétio perguntar também sobre a significacio da verdadeira bricolagem feita pelos regentes, que tiram suas demonstragées de sistemas heterogéncos: em que medida isto tem ligagio, também, com o Piblico de estudantes que assiste aos cursos? Esses estudantes apreciam vivamente as experiéncias que Ihes sio apresentadas e que so, de todo modo, objeto de debate no espaco piblico que constitui, por exemplo, as academias. A questio merece ser aprofundada (Brockuiss, 1987, p. 187-236). De qualquer forma, € sintomatico que 0s cursos mais bem instrufdos tenham sido ministrados na capital do reino, Com efeito, uma disciplina escolar se encontra presa entre os objetivos que Ihe sio conferidos e 0 piiblico ao qual se ditige: as, mudangas que intervém no dispositivo pepagdgico sio freqiientemente ligadas a modificagées das caracteristicas dos alunos. No século XIX, ainda que a finalidade do ensino dos elementos da lingua francesa continue a mesma a aprendizagem da ortografia -, os métodos de ensino e as gramaticas escolares se modificam, sob pressio do movimento de escolarizagio massificada No meio do século XIX, a gramética de Noél e Chapsal (publicada em 1823), muito apoiada ainda na gramética geral do século XVIII (em particular na teoria das figuras), é julgada muito abstrata e dificil em razio do jargéo que os alunos eram obrigados a utilizar para operar as transformagoes gramaticais. Por isso, ela foi abandonada em favor de granviticas mais concretas, suscetiveis de formular regras ¢ exercicios compreensiveis, no somente por um piiblico urbano limitado, mas por alunos rurais ainda fortemente impregnados por dialetos. Uma nova teoria sintatica € elaborada, sem dever nada as teorias cultas, mas respondendo as exigéncias de uma pedagogia destinada A maioria (CHesvet, 1977, p. 161- 254). A andlise da evolucéo dos manuais de gramética latina, do século XVI ao século XVII, nao €, como um estudo superficial dos conteddos faria imaginar, um percurso da confusio A simplicidade ¢ da obscuridade & claridade. Na realidade, 0 que se Discitinas eSCouAtes: ORJETIVOS,ENSINO EAPROPAIAGAO 6 pode ler, através das modificagdes que afetam a apresentacao da morfologia e da sintaxe e também da passagem do latim a lingua francesa (da qual o Nouvelle Méthode Latine de Port-Royal, redigido por Lancelot e Arnauld, é um exemplo dos mais célebres), é uma ‘modificagao nas finalidades do ensino de latim. O aluno do século XVI, de quem se esperava que adquirisse uma verdadeira competéncia lingtifstica no latim, lingua de comunicagao religiosa e-culta, era proibido de usar a lingua materna, mesmo se o latim io de figuras de Jinguagem que parecem inutilmente complexas. O aluno da segunda metade do século XVII e do século XVIII aprende uma lingua morta, sem dlivida de prestigio, mas jé nao se considera que deva saber latim, Espera-se, simplesmente, que seja capaz de traduzir textos do francés para o latim ou vice-versa (Covompar, 1993; 1997). A analise comparada das diferentes edigées e tradugées de um mesmo manual - como o Nowelle Méthode Latine de Port-Royal que teve muito éxito na Europa ~ poderia indicar, através das adaptagées, das omissdes € dos acréscimos, a relagio entre cada lingua verndcula e 0 ensino do latim. Da mesma forma, o estudo aprofundado de dois best-sellers da edicao escolar do século XVIII, publicados com 50 anos de intervalo ~ a Selectae e profanis scriptoribus, de Jean Heuzet (1727), € 0 De virisillustribus, do bispo Lhomond (1779), ambos professores na Universidade de Paris ~ € instrutivo. O primeiro retoca o texto de Tito Livio com supressées, diminuigdes de Frases julgadas muito complexas, transformagées nna ordem das palavras, alguns acréscimos ditados por uma preocupacio com o dominio da gramética. O segundo reescreve 0 texto antigo, resumindo-o e utilizando muitas outras fontes. O nico cuidado, nesse caso, € a motivagio das criangas quando tomam contato com uma latinidade que thes € estrangeira € 0 texto esté inteiramente escrito em uma lingua que pouco tem a ver com a de Tito Livio. Preocupa-se em formar criangas capazes de compor segundo os preceitos de suas gramticas, Entre os séculos XVI e XVII, ‘uso do latim escolar foi radicalmente mudado (ef. Bouguer, 1997) entio praticado perdesse sua pureza por interm

You might also like