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FISIOLOGIA

GERAL E DO
MOVIMENTO
PROF.a SYLVIA CHEDID SEIDINGER
Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior


A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma
ação integrada de suas atividades educacionais, visando à
geração, sistematização e disseminação do conhecimento,
para formar profissionais empreendedores que promovam
a transformação e o desenvolvimento social, econômico e
cultural da comunidade em que está inserida.

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salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a
emissão de conceitos.
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SUMÁRIO
AULA 01 METABOLISMO, FONTES DE ENERGIA E 05
EXERCÍCIO FÍSICO

AULA 02 BIOENERGÉTICA 16

AULA 03 METABOLISMO NO EXERCÍCIO 27

AULA 04 SISTEMA CARDIOVASCULAR 39

AULA 05 SISTEMA RESPIRATÓRIO 52

AULA 06 SISTEMA CARDIOPULMONAR E EXERCÍCIO 60

AULA 07 SISTEMA ENDÓCRINO E EXERCÍCIO FÍSICO 76

AULA 08 EXERCÍCIO FÍSICO E O CONTROLE HORMONAL 85


DA MOBILIZAÇÃO DE SUBSTRATOS

AULA 09 CONTROLE NERVOSO DO MOVIMENTO HUMANO 93

AULA 10 SISTEMA NEUROMUSCULAR E EXERCÍCIO I 103

AULA 11 SISTEMA NEUROMUSCULAR E EXERCÍCIO II 113

AVALIAÇÃO DO CONDICIONAMENTO FÍSICO E 124


AULA 12 DO DESEMPENHO

EQUILÍBRIO ÁCIDO-BÁSICO E 134


AULA 13 TERMORREGULAÇÃO

EXERCÍCIO FÍSICO, AMBIENTE E SISTEMA 143


AULA 14 IMUNE

AULA 15 SAÚDE, CONDICIONAMENTO FÍSICO E 153


DESEMPENHO
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INTRODUÇÃO

O tema central da disciplina é a regulação da homeostase durante o exercício físico,


com o objetivo de fornecer um conhecimento atualizado sobre a fisiologia do exercício.
Por meio de uma discussão detalhada sobre as vias de sinalização envolvidas na
manutenção da homeostase corporal, bem como as principais adaptações que ocorrem
nos diversos sistemas corporais com a prática de exercícios físicos, com um enfoque
maior para a adaptação da musculatura esquelética ao exercício. Bons estudos!

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AULA 1
METABOLISMO, FONTES DE
ENERGIA E EXERCÍCIO FÍSICO

Objetivos da aula: aprender temas associados à bioenergética, como o conceito


de homeostasia, a estrutura celular e os nutrientes usados como combustíveis para
o exercício físico.

1. Introdução
Para a manutenção da vida são necessários processos que vão desde o nível
micro até o macroscópico. Como o movimento humano faz parte desses processos
é importante aprender os principais aspectos relacionados a ele.

1.1. A estrutura celular

ara estudar bioenergética é necessário entender um pouco a estrutura e função


das células. O cientista inglês Robert Hooke foi quem descobriu a célula no século
XVII, e os avanços científicos desde então possibilitaram a evolução nos conceitos
biocelulares. A célula é como uma fábrica extremamente organizada, pois é responsável
pela síntese de compostos necessários para todas as funções celulares e corporais.
Dessa forma, a célula é considerada como a unidade funcional básica do corpo
humano. Nem todas as células são semelhantes ou responsáveis pelas mesmas
funções, mas basicamente possuem a mesma estrutura. Em geral, a estrutura celular
é dividida em três partes principais: a membrana celular, o citoplasma e o núcleo.
Nas células musculares a membrana também pode ser chamada de sarcolema e o
citoplasma de sarcoplasma.

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Título: Estrutura interna de uma célula animal.


Fonte: Célula Humana Membrana Celular - Foto gratuita no Pixabay

• Membrana celular: circunda todos os componentes intracelulares, atuando


como uma barreira semipermeável responsável por separar a célula do meio
extracelular, além de controlar a passagem de inúmeras substâncias para dentro
e fora da célula.
• Citoplasma: é a parte líquida da célula, que se encontra entre a membrana e
o núcleo. É constituído de várias estruturas (também chamadas de organelas)
responsáveis por funções celulares específicas. A mitocôndria é uma organela
bem conhecida, e participa da conversão oxidativa dos alimentos em energia
utilizável pelas células.
• Núcleo: apresenta-se como um corpo amplo e de formato arredondado que
está situado dentro da célula. Em seu interior estão os genes celulares, que
são os responsáveis por regular a síntese proteica que controla a atividade e
composição celulares. Diferentemente da maioria das células, que apresentam
somente um núcleo, as células musculares esqueléticas apresentam vários
núcleos em seu interior (multinucleadas).

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Título: Célula do músculo esquelético em seu formato tubular e seus vários núcleos.
Fonte: Vetores de O Músculo Esquelético De Fibras e mais imagens de Musculoso - iStock (istockphoto.com)

1.2. Homeostasia corporal e metabolismo

A palavra homeostasia se origina do conjunto das palavras gregas homoios (o


mesmo) e stasis (ficar ou permanecer), e pode ser definida como “a manutenção de
um ambiente interno relativamente constante” (POWERS; HOWLEY, 2014, p. 51). Então,
a homeostase de um organismo é a habilidade em manter seu meio interno em um
equilíbrio quase constante, independentemente das mudanças no ambiente externo. 
Para manter sua homeostasia, o corpo humano age por meio de diversos mecanismos
complexos de controle para regular uma variável fisiológica em busca de um valor
constante. Isso pode acontecer tanto em repouso quanto frente a estressores como
exercícios físicos ou estresses térmicos. Quase todos os sistemas do corpo agem para
auxiliar a manutenção da homeostasia. Um bom exemplo de mecanismo de controle
está dentro da própria célula: os meios de controle celular trabalham produzindo
energia, sintetizando e degradando proteínas e mantendo quantidades adequadas
dos nutrientes armazenados.
Para a homeostasia corporal é essencial a capacidade de as células constatarem
alterações em seu ambiente interno e responderem adequadamente a elas. Com
isso, surge o conceito de sinalização celular que se refere à comunicação entre as
células com o objetivo de coordenar as atividades celulares. Assim, a todo o momento
acontecem milhares de reações bioquímicas por todo o corpo humano. Entre essas
reações estão as reações responsáveis pela síntese de moléculas (vias anabólicas)
ou pela degradação delas (vias catabólicas). O conjunto de todas essas reações é
denominado metabolismo.
Essas reações bioquímicas que ocorrem no corpo são controladas por proteínas
catalisadoras, chamadas de enzimas, que possuem o papel fundamental de regular a

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velocidade em que uma reação ocorre. Elas são assim denominadas, pois catalisam
as reações bioquímicas, o que significa que elas são responsáveis por diminuírem a
energia necessária para uma reação começar. As enzimas, portanto, não fazem uma
reação bioquímica acontecer, apenas regulam a velocidade em que essa reação irá
ocorrer.

1.3. Nutrição e exercício

Toda energia existente na Terra advém do Sol. As plantas utilizam a energia luminosa
do Sol para realizarem reações bioquímicas responsáveis por formar carboidratos na
forma de açúcares simples, pelo processo denominado fotossíntese. É pela fotossíntese
que as plantas sintetizam esses nutrientes a partir da interação entre gás carbônico
(CO2), água e energia solar. O ser humano e os animais se alimentam de vegetais e
outros animais para sobreviverem, e assim ingerem carboidratos, gorduras e proteínas.
Todas as células do corpo humano têm uma constante necessidade de energia
e, por isso, são capazes de converter esses nutrientes dos alimentos em energia
biologicamente utilizável. Esse processo celular que transforma os nutrientes presentes
nos alimentos em energia utilizável pelas células é conhecido como bioenergética.
A energia se apresenta em vários tipos (química, elétrica, térmica, mecânica) e
cada uma delas pode ser convertida em outra. A transformação dos nutrientes dos
alimentos em energia utilizável pelo corpo somente ocorre por conta dessa capacidade
de conversão de uma energia em outra. O corpo então utiliza os nutrientes como as
gorduras, proteínas e carboidratos para fornecer energia necessária à manutenção
das atividades das células, tanto em repouso quanto em exercício.
Para realizar uma atividade como pular ou correr, por exemplo, as células musculares
esqueléticas convertem a energia química desses nutrientes ingeridos em energia
mecânica a ser utilizada nas contrações musculares, para dar continuidade à realização
dos movimentos. Em casos assim, as gorduras e os carboidratos são os nutrientes
primários utilizados para a obtenção de energia durante o exercício, sendo que as
proteínas contribuem somente com uma pequena parte da energia total utilizada.
Quando o corpo utiliza energia para realizar um trabalho, há liberação de calor. A
produção de calor pelas células acontece por meio da bioenergética e do trabalho celular.
A taxa de produção de calor é proporcional à taxa metabólica de um indivíduo. Nesse
sentido, a medida da produção de calor de um indivíduo, fornece a mensuração direta
da sua taxa metabólica. A unidade mais comumente utilizada para mensurar energia
do calor é a caloria. A caloria é definida como a quantidade de calor necessária para
elevar a temperatura de um grama de água em 1°C (POWERS; HOWLEY, 2014). Pelo
fato de a caloria ser muito pequena, o termo quilocaloria (kcal) é mais utilizado para

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designar o gasto e o valor energético dos alimentos, já que uma kcal é equivalente a
mil calorias.

1.4. Combustíveis para o exercício

O corpo humano é composto basicamente de quatro substâncias bioquímicas básicas:


oxigênio (65%), carbono (18%), hidrogênio (10%) e nitrogênio (3%). Esses elementos
compõem aproximadamente 95% do corpo humano e, entre os outros 5%, encontram-
se os elementos como o sódio, ferro, zinco, magnésio, cloreto, potássio e cálcio. Todos
esses elementos formam moléculas ou compostos através de ligações químicas entre
si. Aqueles compostos que contêm o elemento carbono são denominados compostos
orgânicos e aqueles sem carbono são denominados inorgânicos. Os carboidratos,
as proteínas e as gorduras, contêm carbono em sua composição e, portanto, são
considerados compostos orgânicos.

1.4.1. Carboidratos

Os carboidratos são compostos por átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio.


Um grama de carboidrato pode oferecer quatro kcal de energia. Os carboidratos se
classificam em:

• Monossacarídeos: são carboidratos simples como a glicose, a galactose e a


frutose. A frutose é encontrada no mel e nas frutas, a galactose no leite e a
glicose em diversos tipos de alimentos. Todo monossacarídeo é composto de
seis átomos de carbono, 12 de hidrogênio e seis de oxigênio, dispostos em
estrutura anelar de seis carbonos em arranjos diversos.

Título: Fórmula estrutural da glicose.


Fonte: Adaptado de Kraemer, Fleck e Deschenes (2016, p. 54).

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Dissacarídeos: são formados por dois monossacarídeos. A sacarose (também


conhecida como açúcar de mesa) é composta por glicose e frutose, enquanto que a
maltose é composta por duas moléculas de glicose.

Título: Fórmula estrutural da maltose, a partir de duas moléculas de glicose.


Fonte: Adaptado de Kraemer, Fleck e Deschenes (2016, p. 55).

• Polissacarídeos: são carboidratos complexos compostos de, pelo menos, três


monossacarídeos. Tanto os polissacarídeos quanto os dissacarídeos precisam
ser degradados em monossacarídeos pelo trato digestivo para serem absorvidos
pela corrente sanguínea. As formas mais comuns de polissacarídeos vegetais
são o amido e a celulose. O amido pode ser encontrado em grãos e na batata.
A celulose constitui parte das fibras da dieta e é excretada como matéria fecal,
já que o corpo não tem a capacidade de utilizá-la como fonte de energia.
O glicogênio é o polissacarídeo armazenado no tecido animal. As moléculas de
glicogênio geralmente são amplas, contendo centenas ou milhares de moléculas de
glicose. As células podem armazenar glicogênio para suprir futuras necessidades
de energia. As células musculares, por exemplo, transformam o glicogênio muscular
em moléculas de glicose (processo denominado glicogenólise) para serem utilizadas
como fonte de energia para a contração muscular. Os estoques de glicogênio totais
no corpo são pequenos, e, portanto, em exercícios prolongados eles são depletados
em poucas horas.
Dietas com baixa ingestão de carboidratos podem comprometer a síntese de
glicogênio muscular (glicogênese). O fígado também possui estoques de glicogênio
e libera glicose na circulação sanguínea (via glicogenólise) para ser transportada pelo
corpo quando necessário. Assim, os carboidratos armazenados fornecem energia a
ser disponibilizada de forma rápida.

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Título: Longas cadeias de glicose que formam uma molécula de glicogênio. Cada uma das estruturas vermelhas é uma molécula de glicose.
Fonte: Adaptado de Kraemer, Fleck e Deschenes (2016, p. 55).

1.4.2. Gorduras

As gorduras também são compostas por carbono, hidrogênio e oxigênio, porém,


a proporção de carbono:oxigênio é relativamente maior do que a encontrada nos
carboidratos. Cada grama de gordura rende cerca de nove kcal de energia, portanto, a
gordura corporal armazenada se torna o combustível ideal para exercícios prolongados.
Geralmente, as gorduras são encontradas em quatro formas:

• Fosfolipídios: são responsáveis pela integridade estrutural das membranas


plasmáticas celulares e como bainha isolante que envolve fibras nervosas.

Título: Fosfolipídio da membrana plasmática.


Fonte: Banco de imagens científicas para apresentações - FCiências (fciencias.com)

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• Esteroides: o esteroide mais comum é o colesterol, que compõe todas as


membranas celulares e tem importante papel na síntese de hormônios sexuais
como a progesterona, testosterona e estrogênio.

Título: Colesterol na membrana plasmática.


Fonte: Estruturas Celulares e Organelas citoplasmáticas - Com vídeos e imagens. (planetabiologia.com)

• Ácidos graxos: tipo primário de gordura utilizado pelas células musculares para
obtenção de energia. Cada ácido graxo apresenta em sua composição um número
par de 4 a 24 átomos de carbono ligados em cadeia, um grupo ácido (COOH)
e um grupo metila (CH3).

• Triglicerídeos: são compostos por três moléculas de ácidos graxos mais uma
molécula de glicerol. São armazenados em maior quantidade nas células adiposas
(adipócitos), mas também são encontradas na musculatura esquelética. Em
casos de necessidade, a molécula de triglicerídeo inteira é útil como fonte de
energia para o corpo, sendo quebrada pelo processo chamado de lipólise, e os
três ácidos graxos são utilizados como substrato energético pelos músculos e
tecidos e o glicerol é utilizado pelo fígado para sintetizar glicose (gliconeogênese).
Os estoques de gordura são bem abundantes em qualquer indivíduo, e, portanto,
não há depleção total dos estoques durante o exercício, mesmo durante eventos
prolongados.

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Título: Composição de um triglicerídeo.


Fonte: Adaptado de Kraemer, Fleck e Deschenes (2016, p. 57).

1.4.3. Proteínas

Os aminoácidos são moléculas que se unem através de ligações peptídicas para


formar proteínas. As proteínas são compostas basicamente de carbono, hidrogênio,
oxigênio e o que as diferenciam dos carboidratos é a presença de nitrogênio em sua
estrutura. São necessários, pelo menos, vinte tipos de aminoácidos para formar os
diversos tecidos corporais, as enzimas, as proteínas, e assim por diante. Entre esses
vinte aminoácidos, nove são considerados essenciais, mas não são sintetizados pelo
corpo, portanto devem ser ingeridos via alimentação. Os aminoácidos não essenciais
são aqueles que o corpo sintetiza e compõem mais da metade dos aminoácidos
existentes.
Cada grama de proteína pode oferecer cerca de quatro kcal. As proteínas podem
ser utilizadas como substratos para energia durante o exercício por dois modos.
No primeiro, o aminoácido chamado alanina é convertido no fígado em glicose
que, consequentemente, pode ser utilizada para síntese de glicogênio. No segundo
modo, alguns aminoácidos são convertidos em compostos que podem participar
diretamente da bioenergética nas células musculares, participando de forma direta
como combustível.

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ANOTE ISSO
• Lipólise: processo de quebra de triglicerídeos em ácidos graxos e glicerol.
• Glicogênese: as moléculas de glicose podem se combinar, no fígado ou na
musculatura esquelética e formar glicogênio.
• Gliconeogênese: formação de glicose a partir de outras substâncias que não os
carboidratos (lactato, glicerol, aminoácidos). Esse processo geralmente acontece
no fígado.
• Ciclo de Cori:
O ciclo de Cori tem início com a produção de lactato pelo músculo
esquelético ou outros tecidos, o qual chega ao sangue e é
transportado para o fígado, onde é usado para sintetizar glicose.
Em seguida, a glicose recém-formada pode servir para manter os
níveis de glicose sanguínea ou para sintetizar glicogênio hepático
(KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016, p. 85).

• Ciclo alanina-glicose: exercícios prolongados e/ou dietas com baixa ingestão


de nutrientes favorecem a utilização de proteínas para a produção de
energia durante o exercício. Nesses casos, o aminoácido alanina, derivado da
musculatura esquelética durante exercício, vai até o fígado para ser convertido
em glicose (via gliconeogênese). Essa glicose será utilizada como fonte de
energia pela musculatura esquelética. Além disso, esse processo ajuda a manter
a glicemia para suprir as necessidades do sistema nervoso durante o exercício
(MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).
• Glicogenólise: quando há necessidade de energia para a contração muscular,
o glicogênio muscular é quebrado em glicose. O fígado também pode realizar a
glicogenólise, liberando glicose na circulação sanguínea para ser transportada
pelo corpo.
Resumindo:

Título: Processos de formação e degradação da glicose.


Fonte: Adaptado de Powers e Howley (2014, p. 55).

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Todos os aminoácidos apresentam a mesma estrutura básica, composta de uma


molécula de carbono central, um grupo amino, um grupo ácido e um grupo lateral
único, que é o que irá diferenciar um aminoácido do outro, conforme ilustrado a seguir:

Título: Estrutura dos aminoácidos.


Fonte: Adaptado de Kraemer, Fleck e Deschenes (2016, p. 57).

CONCLUSÃO

Para sobreviver, realizar atividades e manter sua homeostasia o corpo humano


necessita de energia. Essa energia vem da transformação da energia química dos
alimentos (carboidratos, proteínas e gorduras) em energia mecânica, para a contração
muscular. A produção de energia pelo corpo é um processo complexo, que envolve
vários mecanismos e sistemas corporais que serão vistos no decorrer dos capítulos
seguintes.

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AULA 2
BIOENERGÉTICA

Objetivos da aula: aprender sobre os fosfatos de alta energia e entender as vias


metabólicas para produção de energia.

2. INTRODUÇÃO

Existem várias vias para a produção de energia para a contração muscular no corpo
humano. Essas vias são responsáveis por produzirem a molécula de ATP (trifosfato
de adenosina) aeróbia ou anaerobiamente, de forma lenta ou de forma rápida. Esse
ATP será degradado liberando energia para a contração muscular.

2.1. A molécula da energia

O trifosfato de adenosina, mais conhecido como ATP, não é a única, mas é a molécula
de energia mais importante das células e, por isso, costuma ser chamada de doador
de energia universal. O ATP é a fonte de energia imediata para a contração muscular.
Sua estrutura é composta basicamente de adenina, ribose e três fosfatos. A adenina
e a ribose, quando combinadas também são chamadas de molécula de adenosina,
que juntamente com os três fosfatos formam o trifosfato de adenosina ou ATP.

Título: Fórmula estrutural do ATP.


Fonte: Banco de imagens científicas para apresentações - FCiências (fciencias.com)

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A formação do ATP acontece pela combinação do difosfato de adenosina (ADP) e


um fosfato inorgânico (Pi). A junção da ADP com o Pi requer uma grande quantidade
de energia, que é armazenada na ligação química entre esses dois elementos. Quando
há necessidade de realização de trabalho (contração muscular, por exemplo) a enzima
ATPase quebra essa ligação e libera essa energia para ser utilizada.

Título: Formação do ATP.


Fonte: Adaptado de Kraemer, Fleck e Deschenes (2016, p. 60).

2.2. Produção de ATP

As células musculares armazenam ATP em quantidades limitadas, e como para


a realização do exercício físico é necessário um suprimento constante de ATP para
fornecer a energia da contração muscular, as células devem possuir vias capazes de
produzir ATP de forma rápida. Essa produção ocorre por meio de uma ou da combinação
de três vias:

• Sistema fosfagênio ou ATP-CP: formação de ATP pela quebra de fosfocreatina


(também chamada creatina fosfato);
• Glicólise anaeróbia: formação de ATP pela degradação de glicose ou glicogênio;
• Formação oxidativa de ATP, com a participação das mitocôndrias.

A formação de ATP pelas vias ATP-CP e glicólise são denominadas vias anaeróbias,
pois não necessitam do uso de oxigênio (O2). O sistema ATP-CP, por não necessitar de
O2 e não ter como produto final o lactato, também pode ser chamado de metabolismo
anaeróbio alático. A glicólise também é anaeróbia, porém, tem como um dos produtos
finais a formação de lactato e por isso pode ser chamada de metabolismo anaeróbio
lático. Já a formação oxidativa de ATP é denominada aeróbia, pois envolve o uso de
O2 e também pode ser chamada de metabolismo aeróbio..

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O sistema ATP-CP é utilizado para gerar ATP para substituir aquele usado durante
o exercício físico. Nesse caso, o grupo fosfato da fosfocreatina (PC) é transferido
para o ADP para formar ATP. Esse sistema tem a capacidade de manter um exercício
por cerca de 30 segundos apenas. Conforme o exercício continua, a glicólise será a
responsável por repor o ATP por, aproximadamente, três minutos.
A formação oxidativa de ATP se torna dominante para exercícios com mais de três
minutos. Dessa forma, as duas vias anaeróbias são as principais fontes de energia em
atividades com duração curta e intensidades elevadas, com um sprint, por exemplo.
A via aeróbia se torna a principal fonte de energia em atividades prolongadas, como
uma caminhada.

ANOTE ISSO

Antes de se aprofundar nas três vias metabólicas envolvidas na produção de


ATP, é necessário entender melhor e saber diferenciar os conceitos de potência
e capacidade. Potência é um termo usado para “descrever quanto trabalho é
realizado por unidade de tempo” (POWERS; HOWLEY, 2014, p. 37). Essa palavra
descreve a velocidade em que um trabalho é realizado. A capacidade diz respeito à
quantidade de energia disponível para ser liberada.
As vias metabólicas anaeróbias fornecem a maior parte do ATP necessário para
realizar exercícios físicos de alta intensidade e curta duração, o que significa que
são vias com grande potência, pois disponibilizam bastante energia em um curto
período de tempo. Já a via aeróbia provê grande parte do ATP necessário para a
prática de exercícios de baixa intensidade, porém com durações prolongadas, o que
faz dessa via uma via altamente capaz, pois fornece energia por grandes períodos
de tempo.
Exemplificando:

Título: Potência e capacidade das vias energéticas.


Fonte: Adaptado de Powers e Howley (2014, p. 55).

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2.3. Produção anaeróbia de ATP

2.3.1. Sistema ATP-CP

É o sistema mais simples e rápido para produção de ATP. Conforme o ATP é quebrado
em ADP + Pi em decorrência do exercício, ele já é ressintetizado por meio da doação de
um grupo fosfato da fosfocreatina e de sua energia de ligação ao ADP. Essa reação é
catalisada pela enzima chamada creatina quinase. Essa reação vem ilustrada a seguir:

Título: Formação de ATP pela fosfocreatina.


Fonte: Adaptado de Powers e Howley (2014, p.51).

A fosfocreatina é armazenada em pequenas quantidades na célula muscular, limitando


a formação de ATP por essa reação. Essa via fornece energia para o exercício com
duração de cinco até 30 segundos aproximadamente. A reposição de fosfocreatina
requer ATP e ocorre durante a recuperação ou intervalo do exercício. Essa via pode
ser apreciada considerando-se atividades esportivas que requerem apenas poucos
segundos para serem concluídas e, com isso, necessitam de suprimento imediato de
ATP como o salto em altura, levantamento de peso ou um sprint no futebol.

2.3.2. Glicólise anaeróbia

É a segunda via que produz ATP rapidamente e sem a participação do O2. Por meio
dela a energia de ligação da glicose é transferida para juntar o Pi ao ADP. Essa via
acontece no sarcoplasma da célula muscular, e a glicose a ser utilizada advém de
reservas sanguíneas de glicose e também dos estoques intramusculares de glicogênio.
É uma via que envolve uma série de 10 reações químicas e algumas enzimas que
serão responsáveis pela quebra do glicogênio ou da glicose para formação de duas
moléculas de ATP, e duas moléculas de piruvato ou lactato para cada molécula de
glicose. A glicose é uma molécula composta de seis carbonos, enquanto o piruvato e
o lactato são moléculas compostas por três carbonos cada, por isso, a produção de
duas moléculas de piruvato ou lactato a partir de uma molécula de glicose. Quando
o glicogênio é utilizado, o saldo líquido da glicólise são três ATP.

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Se considerarmos a glicólise de maneira detalhada, as reações que ocorrem entre a


glicose até a formação do piruvato podem ser consideradas em duas fases distintas:
uma fase de investimento de energia, e a segunda de geração de energia. A primeira
fase, a de investimento de energia envolve cinco reações em que se utiliza ATP para
formar fosfatos de açúcar a partir da glicose. Em dois momentos no início dessa
via ocorre a adição de ATP para que a glicólise seja continuada. As últimas cinco
reações da glicólise são consideradas como a fase de geração de energia, em que
são produzidas as moléculas de ATP.

Titulo: Esquema que resume a glicólise anaeróbia. PFK: enzima fosfofrutoquinase.


Fonte: Adaptado de Kraemer, Fleck e Deschenes (2016, p. 81).

Após a divisão da cadeia de seis carbonos da glicose em duas cadeias de três


carbonos, ocorre a remoção de hidrogênio de cada uma das cadeias de três carbonos.
Esse processo é importante, pois são necessários hidrogênios para produzir a maioria

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do ATP pela via aeróbia. Esses hidrogênios podem ser aceitos por uma molécula
carreadora de hidrogênios chamada nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD+)
originando uma molécula, o NADH, que transporta os hidrogênios para a mitocôndria
para serem utilizados na via aeróbia.
Com as quantidades adequadas de O2 presentes na célula, a glicólise produz uma
molécula chamada acetil-CoA que pode penetrar na mitocôndria e participar da produção
aeróbia de ATP. Se o metabolismo aeróbio não entrar em ação, os hidrogênios do NADH
se juntam ao piruvato que se transforma em lactato. O metabolismo anaeróbio fornece
a maior parte do ATP em exercícios físicos de curta duração e elevada intensidade. Com
o decorrer do exercício, acontece maior dependência da glicólise e do metabolismo
aeróbio para fornecimento do ATP necessário.
Conforme a duração do exercício vai além de três minutos, a sua intensidade diminui
e há maior dependência do metabolismo aeróbio para obtenção do ATP necessário.
Alguns exercícios obtêm a maior parte do ATP necessário de uma via em particular,
porém sempre há uma grande interação entre as três vias. Nenhuma fonte de produção
de ATP é desligada, e todas as fontes suprem parte do ATP a todo o momento, o que
acontece é que o metabolismo aeróbio ou o anaeróbio pode fornecer a maioria do
ATP para determinado exercício.
Para exemplificar, aproximadamente 90% da energia necessária para uma corrida
de 100 metros rasos, é fornecida por fontes anaeróbias, com grande parte da energia
proveniente do sistema ATP-CP. Para uma corrida de 400 metros rasos, cerca de 70-
75% da energia é fornecida por fontes anaeróbias, com a glicólise suprindo a maior
parte do ATP para essa atividade. Em um evento como uma maratona, que envolve
correr 42 quilômetros, é a produção aeróbia de ATP que atenderá à quantidade de
energia necessária.

Título: Contribuições de cada via energética de acordo com a duração do exercício.


Fonte: Adaptado de Kraemer, Fleck e Keschenes (2016, p. 68).

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ISTO ACONTECE NA PRÁTICA

“O desempenho aeróbio pode ser definido como a habilidade de correr 5 km ou uma


maratona, e a capacidade de sprint pode ser definida como aquela de realizar sprint
repetido ou um único” (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016, p.67).

2.4. Produção aeróbia de ATP

As principais características dessa via são a existência de O2 adequado, produção


relativamente lenta de ATP, porém, capacidade de gerar muito ATP. Isso faz com que
dependamos do metabolismo aeróbio não somente durante exercícios de longa duração
e intensidade leve a moderada, mas também durante o repouso. O produto final da via
glicolítica vista anteriormente é o piruvato e o destino dele dependerá da quantidade
de O2 existente na célula.
Quando não há O2 adequado, o piruvato é convertido em lactato, o que pode elevar
a acidose intramuscular devido aos íons de hidrogênio produzidos. Este ambiente
ácido pode ser limitador de desempenho e estar associado à fadiga. Com o aporte
adequado de O2, o piruvato entrará na mitocôndria para participar do metabolismo
aeróbio (ciclo de Krebs e cadeia de transporte de elétrons, respectivamente), o que
previne a formação de condições ácidas na fibra muscular.
Enquanto o metabolismo anaeróbio utiliza somente carboidratos, o metabolismo
aeróbio utiliza carboidratos, gorduras e proteínas como substrato para gerar ATP. O
resultado final do metabolismo aeróbio é ATP, gás carbônico (CO2) e água. O ATP será
utilizado como energia para as funções celulares corporais, o CO2 será transportado
pelo sangue para ser expirado pelos pulmões e a água será utilizada pelo corpo para
qualquer função que a exija.
O processo de produção aeróbia do ATP acontece no interior da mitocôndria e
envolve a interação de duas vias: o ciclo de Krebs e a cadeia de transporte de elétrons.
O ciclo de Krebs ou ciclo do ácido cítrico tem a função de completar a remoção de
hidrogênio (processo chamado de oxidação) dos carboidratos, gorduras ou proteínas
usando NAD + e FAD como transportadores de hidrogênio.
Pelo fato de os hidrogênios possuírem elétrons, eles contêm energia em potencial
que pode ser usada na cadeia de transporte de elétrons para formar ATP com a
junção de ADP e Pi. O oxigênio não participa do ciclo de Krebs, mas é quem vai aceitar
o hidrogênio no fim da cadeia de transporte de elétrons, onde ocorre a formação de
água (H2 + O = H2O).

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ANOTE ISSO

O ciclo de Krebs é assim denominado em homenagem a Hans Krebs, bioquímico


responsável pela pesquisa pioneira que ampliou os conhecimentos sobre esse ciclo
complexo.

Título: Ciclo de Krebs.


Fonte: Vetores de Ilustração Em Vetor Do Ciclo De Krebs Cítrico Ácido Tricarboxílico Rotulado Esquema e mais imagens de Ciclo - iStock (istockphoto.com)

Para cada molécula de glicose que entra na glicólise anaeróbia, são formadas
duas de piruvato, e com a presença de O2 o piruvato é convertido em duas moléculas
de acetil-CoA. O acetil-CoA é uma molécula de dois carbonos, portanto, o carbono
remanescente é liberado na forma de CO2. A seguir, a acetil-CoA combina-se com o
oxaloacetato, formando citrato. Conforme vai ocorrendo a remoção, no decorrer do
ciclo de Krebs, dos hidrogênios dos diversos substratos e da energia a eles associada,
são formadas três moléculas de NADH e uma molécula de FADH2. Além disso, após
essa série de reações ocorre a formação de oxaloacetato novamente para o ciclo de
Krebs se reiniciar. O NADH e o FADH2 seguirão caminho e passarão pela cadeia de
transporte de elétrons para a produção final de ATP e água.

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ANOTE ISSO

O oxaloacetato é a molécula que se combina com o acetil-CoA para entrar no ciclo


de Krebs, e também é produzido na última reação desse ciclo. É por isso que o ciclo
de Krebs é chamado de ciclo.

O ciclo de Krebs, resumidamente, termina a oxidação dos carboidratos, proteínas ou


gorduras, produz CO2 e disponibiliza elétrons para a cadeia de transporte de elétrons que
fornecerão energia para a produção de ATP, de forma aeróbia. A cadeia de transporte de
elétrons pode ser chamada de cadeia respiratória ou cadeia de citocromo e tem como
objetivo fazer os elétrons passarem por uma série de citocromos (transportadores de
elétrons) e disponibilizar energia para impulsionar a produção de ATP na mitocôndria.
Para esse fim, cada elemento da cadeia de transporte de elétrons passa por reações
de oxidação-redução, em que o último citocromo é oxidado pelo O2. O oxigênio (captado
originalmente pela respiração) é responsável por aceitar dois elétrons derivados da cadeia
de transporte de elétrons, a partir do NADH e FADH2. Com a sua molécula reduzida, o
oxigênio se liga a dois prótons (H+) para formar água.
O rendimento total da produção aeróbia de ATP é de 32 ATP e água, quando da quebra
da glicose, e de 33 ATP e água, quando da quebra do glicogênio. O processo de produção
aeróbia do ATP, mais especificamente a cadeia de transporte de elétrons é chamado de
fosforilação (adição de um grupo fosfato a outra molécula) oxidativa (remoção hidrogênios
e elétrons).
Em resumo, o metabolismo aeróbio envolve três processos principais: as reações que
produzem moléculas que conseguem adentrar no ciclo de Krebs, a oxidação das moléculas
que nele adentraram (processo que produz pouco ATP), e a produção de ATP na cadeia
de transporte de elétrons por fosforilação oxidativa (produz o restante do ATP).

Titulo: Esquema que resume a produção aeróbia de ATP dentro da mitocôndria. CTE: cadeia de transporte de elétrons.
Fonte: Adaptado de Powers e Howley (2014, p. 56).

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Durante atividades de baixa intensidade, as fibras musculares utilizam principalmente


a glicose do sangue. Em exercícios moderados, é utilizada tanto a glicose sanguínea
quanto o glicogênio intramuscular. Quando a glicose sanguínea está baixa, o fígado
reduz seus estoques de glicogênio e libera glicose na corrente sanguínea (glicogenólise).
Quando a glicose sanguínea é elevada, ou será utilizada no metabolismo ou armazenada
na forma de glicogênio muscular ou hepático (glicogênese).
Além do glicogênio hepático e intramuscular e da glicose sanguínea, o lactato
pode ser uma fonte para o metabolismo do carboidrato utilizado durante o exercício,
e até mesmo durante o repouso. No ciclo de Cori, o lactato que chega ao sangue
é transportado para o fígado e é utilizado para sintetizar glicose (gliconeogênese).
Essa glicose pode ser utilizada para sintetizar glicogênio hepático ou para manter as
concentrações de glicose no sangue.
Foi detalhado até agora, o papel dos carboidratos na formação do acetil-CoA para o
ciclo de Krebs. A partir de agora, esclareceremos o papel das gorduras e das proteínas.
As gorduras são quebradas (lipólise) formando ácidos graxos e glicerol. Os ácidos
graxos podem passar por um processo repleto de reações chamado beta-oxidação,
e formar acetil-CoA para entrar no ciclo de Krebs.
Os ácidos graxos podem apresentar até 24 pares de moléculas de carbono e, por
isso, produzem mais ATP do que os carboidratos. São as reservas de triglicerídeos nos
adipócitos que liberam os ácidos graxos a serem usados no metabolismo aeróbio. O
glicerol não é uma fonte de combustível direta e imediata para a musculatura durante
o exercício.
As proteínas podem contribuir somente com cerca de 2 a 15% do combustível
durante o exercício, não sendo consideradas como uma fonte importante de
combustível para tal. As proteínas quebram-se em aminoácidos e podem entrar
nas vias bioenergéticas em diferentes locais, e isso vai depender dos aminoácidos
envolvidos. Existem aminoácidos que serão convertidos em glicose ou piruvato
enquanto outros em acetil-CoA.
Dietas hipocalóricas (ingestão calórica muito baixa) podem fazer com que
os aminoácidos sejam captados dos tecidos, inclusive o muscular, para serem
metabolizados e produzirem energia, o que resulta em perda de tecido muscular. Já
as dietas com ingestão elevada, porém, não excessiva, de proteínas podem levar a
um maior uso de proteínas para a produção de energia.

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2.5. Controle da bioenergética

O metabolismo é regulado pela atividade enzimática. A maioria das vias metabólicas


tem uma enzima que determina a velocidade em que essas vias ocorrerão. Essas
enzimas, denominadas limitadoras de velocidade, são sempre encontradas nas fases
iniciais de uma via metabólica. No sistema ATP-CP a quebra da fosfocreatina é regulada
pela atividade da creatina quinase. Entre vários fatores que podem controlar a glicólise,
a enzima limitadora mais importante é a fosfofrutoquinase (PFK).
Ao iniciar o processo de glicólise ela é convertida em glicose-6-fosfato e depois em
frutose-6-fosfato. A PFK catalisará a frutose-6-fosfato em frutose-1,6-bifosfato, para
dar continuidade ao processo de glicólise. Outras duas enzimas da glicólise estudadas
com frequência são a glicogênio fosforilase, que catalisa a degradação de glicogênio
intramuscular em glicose e a lactato desidrogenase (LDH) que é responsável por
catalisar a conversão de piruvato em lactato. As enzimas limitadoras de taxa do ciclo
de Krebs e da cadeia de transporte de elétrons são a isocitrato desidrogenase e a
citocromo oxidase, respectivamente.

CONCLUSÃO

O metabolismo energético é essencial para a realização de exercícios físicos.


Porém, tanto a predominância como a interação dessas vias metabólicas dependem
da intensidade e duração do exercício, conforme será visto na próxima aula.

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AULA 3
METABOLISMO NO EXERCÍCIO

Objetivos da aula: aprender sobre as principais adaptações metabólicas ao


treinamento e entender a relação da intensidade e duração do exercício com as vias
mais implicadas para a produção ATP nesses casos.

3. INTRODUÇÃO

O organismo tem respostas fisiológicas diferentes quando em repouso ou em


exercício, além de um programa de treinamento físico realizado ao longo prazo promove
adaptações nas vias metabólicas.

3.1. Adaptações metabólicas ao treinamento

Com relação ao sistema ATP-CP, o aumento na atividade das principais enzimas


envolvidas nesse metabolismo (creatina quinase, por exemplo), pode resultar em uma
regeneração mais rápida do ATP, podendo otimizar o desempenho em exercícios breves
e intensos. Além disso, maiores concentrações de ATP e fosfocreatina intramusculares
podem otimizar esse tipo de exercício. Essas adaptações podem ser conquistadas
via treinamento de sprints e também de resistência (endurance).
Com relação às adaptações do treinamento na glicólise anaeróbia estão a intensificação
da atividade de algumas enzimas, o aumento das reservas intramusculares de glicogênio
e a elevação da capacidade de tamponamento intramuscular. O tamponamento
muscular diz respeito ao tamponamento dos íons de hidrogênio produzidos durante
a glicólise anaeróbia. Esse mecanismo é uma forma de melhorar o desempenho e
também a recuperação em exercícios em que ocorre a acidez intramuscular.
Um sistema de tamponamento envolve o bicarbonato, pois este se combina com os
íons hidrogênio formando ácido carbônico, que é um ácido mais fraco. O bicarbonato
de sódio intracelular pode agir como tampão muscular, mas a musculatura esquelética
possui outros tampões como as proteínas e os grupos fosfato. Tanto treinamentos de

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endurance quanto treinamentos de sprints podem ser capazes de melhorar a capacidade


de tamponamento. Com a capacidade de tamponamento melhorada, é possível otimizar
o desempenho, pois mais ATP será produzido antes que a elevação na acidose reduza
a produção de força e potência muscular.

ANOTE ISSO

O aumento da acidez interfere na produção de força e potência muscular porque,


entre outras coisas, pode afetar a capacidade do retículo sarcoplasmático liberar
e captar o cálcio, o que compromete a ligação do cálcio com a troponina e reduz
a atividade da enzima ATPase da miosina e, consequentemente, a capacidade do
músculo de contrair-se.

As adaptações aeróbias podem acontecer na atividade das enzimas, mas também na


disponibilidade dos substratos. Os treinamentos físicos de intensidade submáxima e longa
duração são os responsáveis por melhorar a capacidade do organismo em produzir ATP
aerobicamente. Entre as principais adaptações aeróbias ao treinamento, estão:
• Atividade enzimática exacerbada no ciclo de Krebs e da cadeia transportadora
de elétrons;
• Aumento do número e/ou da densidade das mitocôndrias;
• Aumento da concentração de mioglobina (proteína responsável pelo transporte
de oxigênio nos músculos);
• Aumento do número de capilares sanguíneos;
• Aumento dos estoques de glicogênio e lipídio intramusculares;
• Aumento da dependência do metabolismo de ácidos graxos, o que pode resultar
em menor utilização de carboidratos e menor chance de acontecer acidez
intramuscular.

3.2. Metabolismo em repouso e exercício

3.2.1. Principais conceitos

Segundo Powers e Howley (2014, p. 16) trabalho é “o produto da força pela distância
em que a força atua”, onde: Trabalho = força X distância. A unidade de medida utilizada
para a força é Newton (N), enquanto a distância é o metro (m).

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Durante um exercício é possível calcular o débito de trabalho humano e a eficiência


do exercício realizado. Por exemplo, o cicloergômetro, um ergômetro bem popular
em laboratórios de fisiologia do exercício, é uma bicicleta estacionária que permite
mensurar a quantidade de trabalho realizada em um exercício. Outro exemplo é a
esteira ergométrica.

Título: Bicicleta ergométrica.


Fonte: Bicicleta Ergométrica Treino - Foto gratuita no Pixabay

Mensurar o gasto energético de um indivíduo em repouso ou exercício possui grande


aplicabilidade dentro da fisiologia do exercício. Uma forma de mensuração desse
gasto é por meio da calorimetria, que nada mais é do que medir a produção de calor
de um indivíduo. Como a taxa de produção de calor é proporcional à taxa metabólica
de um indivíduo, medir a produção de calor equivale à mensuração direta de sua
taxa metabólica. Existem duas técnicas utilizadas para tal: a calorimetria direta e a
calorimetria indireta.
A calorimetria direta é um procedimento mais elaborado e caro que exige a utilização
de uma câmara hermética denominada calorímetro. O indivíduo adentra o calorímetro,
que é isolado do meio ambiente por meio de revestimento de água ao redor da câmara.
O calor do corpo do indivíduo faz com que a temperatura da água que circunda a
câmara se eleve e é possível mensurar a alteração da temperatura do indivíduo por
unidade de tempo e, consequentemente, a quantidade de calor produzida.

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O calor produzido pela pessoa na câmara pode ser calculado medindo


o aumento da temperatura do compartimento de água. Conhecer o
calor produzido possibilita o cálculo direto da taxa metabólica. O fluxo
de ar pela câmara acontece para que a troca de oxigênio e dióxido
de carbono possa ocorrer e os cálculos possam ser corrigidos para
o resfriamento evaporativo do suor (KRAMER; FLECK; DESCHENES,
2016, p. 103).

Título: Câmara de calorimetria direta.


Fonte: Kraemer, Fleck e Deschenes (2016, p.103).

A calorimetria indireta consiste na medida do consumo de oxigênio produzido, já


que existe relação direta entre o oxigênio consumido pelo organismo e a quantidade de
calor produzida. Dessa forma, a mensuração do consumo de oxigênio fornece estimativa
da taxa metabólica do indivíduo. Estima-se que um indivíduo que consome dois litros
de oxigênio por minuto durante o exercício, gaste em torno de dez quilocalorias de
energia a cada minuto.
Nesse sentido, a mensuração mais válida do condicionamento cardiovascular é
o consumo máximo de oxigênio ou VO2 máximo (VO2máx). O VO2máx é a “capacidade
máxima de transporte e utilização de oxigênio durante o exercício” (POWERS; HOWLEY,
2014, p. 76). O teste mais utilizado para mensurar o VO2máx é o teste incremental, em
que, após realizar o aquecimento, o indivíduo é submetido a uma taxa de trabalho,
que é aumentada geralmente a cada 1-3 minutos, até não conseguir realizar mais a
atividade. Esse teste geralmente acontece em uma esteira ou cicloergômetro.

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O VO2máx pode ser expresso em valores absolutos pela unidade de medida litros por
minuto (L/min) ou em valores relativos, pela unidade mililitros de massa corporal por
minuto (mL/Kg/min). Este último é mais adequado para exercícios como a corrida ou
o ciclismo em ladeira, pois é preciso carregar o próprio peso corporal.

Título: Gráfico hipotético que demonstra as alterações no consumo de oxigênio durante o exercício incremental, em que o platô representa o VO2máx.
Fonte: Adaptado de Powers e Howley, (2014, p. 76).

Enquanto o VO2máx é o maior volume de oxigênio que se consegue captar, transportar


e utilizar por unidade durante o exercício, o VO2pico é o consumo máximo de oxigênio
atingido antes de haver estabilização da quantidade de oxigênio captado. É possível
identificar no gráfico acima o VO2pico como o consumo máximo de oxigênio antes
de aparecer um platô (POWERS; HOWLEY, 2014). Durante testes incrementais para
determinar o consumo de oxigênio, atletas altamente treinados geralmente conseguem
atingir o VO2máx, enquanto indivíduos treinados ou sedentários geralmente atingem o
VO2pico, pois não conseguem manter a intensidade de exercício para que o consumo
atinja o platô.
Durante as fases iniciais de um exercício incremental, grande parte do ATP produzido
advém de fontes aeróbias e conforme a intensidade aumenta, os níveis de lactato no
sangue começam a se elevar exponencialmente. Essa elevação é considerada como um
ponto em que há dependência crescente da glicólise anaeróbia para produção do ATP
necessário para a continuidade do exercício. Nesse sentido, Powers e Howley (2014,
p. 77) se referem a limiar de lactato como a “elevação súbita dos níveis sanguíneos
de lactato durante o exercício incremental”.

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O limiar do lactato ainda pode ser definido como “a intensidade do exercício na qual
o ácido láctico sanguíneo começa a se acumular acima da concentração de repouso”
(KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016, p. 94). O limiar de lactato de indivíduos sem
treinamento geralmente acontece entre 50-60% do VO2máx. Já para indivíduos treinados
aerobicamente o limiar de lactato pode ocorrer aproximadamente entre 65-80% do
VO2máx. Isso quer dizer que o limiar de lactato representa “a intensidade do exercício que
pode ser mantida por um longo período” (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016, p. 94),
pois permite a realização de exercícios mais intensos sem elevação da concentração
sanguínea de ácido lático.

ANOTE ISSO

Ácido lático e lactato são moléculas relacionadas. Lactato diz respeito ao sal do
ácido lático. Após a dissociação e liberação dos íons de hidrogênio pelos ácidos, a
molécula que resta se chama base conjugada do ácido, portanto, lactato é a base
conjugada do ácido lático. Em um pH corporal normal o ácido lático se dissocia e
rapidamente o lactato é formado.

É importante lembrar que a concentração de ácido lático pode não ser a responsável
direta pela elevação da acidez sanguínea e muscular. A degradação de ATP produz um
íon de hidrogênio, conforme a intensidade do exercício aumenta a acidez metabólica
também aumenta, afinal mais ATP são degradados. A acidez metabólica (redução do
pH) interfere na capacidade do músculo de gerar força, o que pode contribuir para
incapacidade de manutenção de determinada intensidade de exercício.

Título: Gráfico hipotético para demonstrar concentrações de lactato durante exercício incremental.
Fonte: Adaptado de Powers e Howley (2014, p. 77).

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O limiar de lactato é quando há elevação abrupta das concentrações de lactato,


que no caso do gráfico acima, ocorreu aproximadamente em 50% VO2máx. O limiar de
lactato pode ser explicado por um ou pela combinação dos seguintes fatores: baixas
concentrações de oxigênio muscular, glicólise elevada (via adrenalina e noradrenalina),
recrutamento de fibras musculares rápidas ou ainda diminuição da taxa de remoção
de lactato.

ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

Antigamente, o limiar de lactato era chamado de limiar anaeróbio (Lan) devido à


óbvia ligação existente entre o metabolismo anaeróbio e o surgimento do lactato.
No entanto, argumentos a respeito da terminologia sugeriram um termo mais
neutro, o que permitiu que limiar de lactato começasse a ser utilizado. Para mais
informações a esse respeito consulte: Powers e Howley (2014, p. 76-79).

3.2.2. Necessidades metabólicas no repouso e exercício

3.2.2.1. Utilização da energia em repouso

O termo taxa metabólica basal (TMB) “é a taxa metabólica determinada em decúbito


dorsal, 12 a 18 horas após uma refeição, imediatamente após acordar e em ambiente
termoneutro” (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016, p. 106). A TMB é responsável
por, aproximadamente, 60-75% do total de calorias metabolizadas em um dia. Taxa
metabólica de repouso (TMR) “é a taxa metabólica cerca de 4 horas depois de uma
refeição leve e após aproximadamente 30 a 60 minutos de repouso sossegado”
(KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016, p. 106).
Ambas são influenciadas por inúmeros fatores, a saber:
• Idade: a TMB diminui com a idade;
• Sexo: homens podem apresentar TMB mais alta do que mulheres devido à maior
quantidade de massa corporal magra;
• Área de superfície corporal: quanto maior a área de superfície corporal, maior a
perda de calor, o que resulta em uma maior TMB.
• Temperatura corporal: aumentos na temperatura corporal podem elevar a TMB;
• Estresse: elevados níveis de estresse podem elevar a TMB.

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3.2.2.2. Utilização da energia durante exercício

As reservas intramusculares de ATP e fosfocreatina e a glicose da corrente sanguínea


são fontes de energia anaeróbia. As proteínas e os triglicerídeos não são usados para
produção de energia de maneira anaeróbia, o que faz com que durante uma atividade
anaeróbia, as proteínas e os triglicerídeos não sejam metabolizados significativamente
para produção do ATP necessário. Durante atividades aeróbias, a maior parte do ATP
necessário é obtida do metabolismo de carboidratos ou triglicerídeos, a depender da
duração e da intensidade do exercício.
A energia utilizada para manter as funções corporais em repouso é produzida quase
100% pelo metabolismo aeróbio, o que significa que os níveis de lactato em repouso
são baixos e estáveis. A mensuração do oxigênio (O2) consumido pelo corpo é um
índice que reflete a produção aeróbia de ATP. Um indivíduo em repouso apresenta
necessidade de energia relativamente baixa. Um homem adulto com peso corporal
de 70 quilos consome 0,25 litros de O2 por minuto.
O exercício físico aumenta as necessidades energéticas de um indivíduo, com o
gasto energético corporal aumentando cerca de 25 vezes acima do gasto de repouso.
Similarmente à mensuração do consumo de O2 em repouso, a medida do consumo
de O2 em exercício também fornece informações sobre o metabolismo aeróbio, porém
agora em exercício.
Considere a situação em que você está em pé, em repouso. Se você realizar apenas
um salto e voltar à posição inicial, a fonte de energia para esse movimento será o ATP
intramuscular. Caso você precise começar a caminhar, a cada passo, seus músculos
aumentam a taxa de produção de ATP a partir da quantidade requerida à permanência
em pé para a quantidade requerida para a caminhada.
Então, ao se iniciar um exercício, quais são as alterações metabólicas necessárias
no músculo esquelético para o fornecimento adequado de energia para a continuidade
do exercício? Na transição repouso-exercício o consumo de O2 aumenta rapidamente
atingindo um estado estável entre 1-4 minutos aproximadamente. Pelo fato de o
consumo de O2 não aumentar de forma instantânea para um valor estável, significa
que a produção geral do ATP no início do exercício vem da contribuição das fontes
anaeróbias.

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ANOTE ISSO

Estado estável: este termo pode ser definido como um ambiente interno constante,
mas não necessariamente o ambiente interno está em repouso e normal. Quando o
organismo se encontra em estado estável, quer dizer que “foi atingido um equilíbrio
entre as demandas impostas ao corpo e a resposta deste a essas demandas”
(POWERS; HOWLEY, 2014, p.33).

O termo déficit de oxigênio diz respeito à “diferença entre o consumo de oxigênio


nos primeiros minutos de exercício e um período equivalente após o estado estável
ser alcançado” (POWERS; HOWLEY, 2014, p. 91). O fato de o consumo de O2 não
aumentar instantaneamente ao se iniciar um exercício significa que as vias anaeróbias
contribuem para a produção do ATP no início do exercício e somente depois que um
estado estável é alcançado que a produção de ATP ocorre via metabolismo aeróbio.

ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

Indivíduos treinados têm uma capacidade aeróbia mais desenvolvida, devido às


adaptações cardiovasculares e musculares ao treinamento de endurance, o que
permite que esses indivíduos atinjam um estado estável de VO2 mais rapidamente
comparado a indivíduos não treinados ou sem treinamento. Nestes dois últimos, o
déficit de oxigênio é menor.
Em termos práticos, a produção de ATP pela via aeróbia em treinados está ativa
antes mesmo do início do exercício e acarreta uma menor produção de lactato e de
íons de hidrogênio, em comparação ao indivíduo sem treinamento.

3.2.2.3. Recuperação do exercício

Considere agora mais uma situação: você está correndo em esteira ergométrica de
maneira confortável há aproximadamente 30 minutos, e então resolve sair da esteira.
O seu consumo de O2 não diminui instantaneamente para os valores de repouso, ele
continuará alto por vários minutos imediatamente após o exercício. A magnitude e
a duração do consumo de O2 após exercício são influenciadas pela intensidade do
exercício realizado.

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Nesse sentido, débito de oxigênio é o termo utilizado para o “consumo de oxigênio


elevado (acima dos níveis de repouso), após o exercício“ (POWERS; HOWLEY, 2014,
p.92). Vários pesquisadores argumentaram que o termo débito de oxigênio deveria
ser eliminado da literatura, pois o consumo de O2 elevado subsequente ao exercício
não parece ser totalmente devido a um «empréstimo» de O2 a partir das reservas
corporais de O2. Nos últimos anos, foram sugeridos diversos termos para substituição.
Um desses termos é o EPOC (excess post exercise oxygen consumption), que indica o
«consumo excessivo de oxigênio pós-exercício».
Vários aspectos contribuem para o consumo excessivo de O2 pós-exercício como,
por exemplo:
• Um pouco do O2 utilizado no início do período de recuperação é usado para
ressintetizar fosfocreatina no músculo e repor as reservas de O2 sanguíneas e
musculares;
• A temperatura corporal elevada;
• A quantidade de O2 necessária na gliconeogênese (conversão do lactato em
glicose);
• Concentração sanguínea elevada de adrenalina e noradrenalina.

Título: Déficit de oxigênio e consumo excessivo de oxigênio pós-exercício (EPOC).


Fonte: Kraemer, Fleck e Deschenes (2016, p. 100).

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3.2.3. Intensidade do exercício e seleção do combustível

As gorduras e os carboidratos são as principais fontes de energia durante o exercício


em indivíduos saudáveis e com uma dieta equilibrada. As proteínas contribuem com
menos de 2% em exercícios com até uma hora de duração. Porém, o papel das proteínas
como fonte de combustível pode aumentar em até 3-5% durante exercícios prolongados,
com duração entre 3 e 5 horas.
Vários são os fatores que determinam se a fonte primária de combustível para
a atividade será gordura ou carboidrato, como, por exemplo: a dieta, a duração e a
intensidade do exercício e a realização prévia de exercícios de resistência. Dietas
pobres em carboidratos e ricas em gorduras resultam em alta taxa do metabolismo de
gorduras. Em exercícios prolongados (30 minutos ou mais) e de intensidade moderada
(40-59% do VO2máx) acontece um deslocamento gradual do metabolismo de carboidratos
para um uso crescente do metabolismo de gorduras.

Título: Gráfico ilustrativo da seleção do combustível conforme a duração do exercício.


Fonte: Adaptado de Powers e Howley (2014, p. 82).

Exercícios intensos usam prioritariamente o carboidrato como combustível, enquanto


em exercícios de baixa intensidade, a gordura é o combustível primário a ser utilizado.
Em exercícios prolongados e de baixa intensidade (30% do VO2máx), ocorre um aumento
progressivo da gordura utilizada pelos músculos e os carboidratos são o combustível
durante exercícios de alta intensidade (70% VO2máx). À medida que a intensidade do
exercício aumenta, ocorre aumento progressivo do metabolismo de carboidratos e
uma diminuição do metabolismo de gorduras.

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MOVIMENTO
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Título: Gráfico ilustrativo da seleção de combustível conforme a intensidade do exercício.


Fonte: Adaptado de Powers e Howley (2014, p. 80).

CONCLUSÃO

Após compreender a integração entre as vias energéticas bem como as suas


principais adaptações ao treinamento físico, é fundamental saber como os sistemas
corporais respondem à realização de exercícios.

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AULA 4
SISTEMA CARDIOVASCULAR

Objetivos da aula: descrever a estrutura geral e organização do sistema cardiovascular


bem como as suas principais funções.

4. INTRODUÇÃO

Exercícios físicos impõem grande demanda muscular de oxigênio, o que resulta em


um desafio para a homeostase corporal. Para obter êxito nesse desafio é necessária
a atuação dos vários sistemas corporais. A seguir, será visto como o sistema se
constitui e suas principais funções para, posteriormente, ser possível compreender
como esse sistema reage frente ao exercício físico.

4.1. Organização do sistema cardiovascular

O propósito principal do sistema cardiovascular é eliminar resíduos que foram


formados nos tecidos do corpo e distribuir oxigênio e nutrientes em quantidades ideais
para esses mesmos tecidos. Fora isso, esse sistema também ajuda no tamponamento
da acidose e no controle da temperatura corporal, além de fazer o transporte de
hormônios e de células do sistema imune como as plaquetas e os leucócitos.
O sistema circulatório e o respiratório (ou sistema “cardiopulmonar”) trabalham
de forma conjunta ao atuarem para manter a homeostasia de oxigênio e dióxido
de carbono nos tecidos. O sistema respiratório traz oxigênio para o corpo e remove
dióxido de carbono do sangue, enquanto o circulatório distribui sangue oxigenado e
nutrientes para os tecidos corporais conforme a necessidade.
Por meio do sistema circulatório o sangue circula pelo corpo, passando por todos os
tecidos corporais. Esse sistema é formado pelo coração, sangue e vasos sanguíneos. O
coração ao agir como uma bomba muscular é o responsável pela pressão hidrostática
que faz o sangue circular pelo corpo. Ao sair do coração o sangue arterial (repleto de
oxigênio) corre pelas artérias para ser distribuído pelo corpo e faz o caminho contrário,
indo do corpo de volta ao coração, pelas veias.
As artérias ramificam-se extensivamente até se tornarem microscópicas, formando
uma árvore de vasos menores chamados arteríolas. As arteríolas se desenvolvem
em vasos chamados capilares, que são os menores, porém mais numerosos, vasos

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do corpo. As trocas gasosas e de nutrientes entre o sangue e os tecidos acontecem


através dos capilares. Após isso, o sangue passa para pequenos vasos chamados
vênulas e conforme as vênulas seguem em direção ao coração levando o sangue
venoso (sangue com quase nenhum oxigênio e repleto de dióxido de carbono), elas
aumentam de tamanho e transformam-se em veias.
O sangue venoso cai diretamente dentro do lado direito do coração, no átrio direito.
O lado direito do coração bombeia o sangue venoso para dentro dos pulmões onde o
dióxido de carbono é liberado pela expiração e o oxigênio passa para o sangue. Esse
circuito é chamado de pequena circulação ou circulação pulmonar. O sangue oxigenado
volta para o coração, desembocando no átrio esquerdo, e depois no ventrículo esquerdo,
para ser bombeado para o corpo. Esse circuito é chamado de grande circulação ou
circulação sistêmica.

Título: Circulação sistêmica e pulmonar.


Fonte: www.planetabiologia.com/sistema-circulatorio

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O coração está dividido em quatro câmaras: átrio e ventrículo direitos (formando a


bomba direita, responsável pela circulação pulmonar) e o átrio e ventrículo esquerdos
(formando a bomba esquerda, responsável pela circulação sistêmica). Então se pode
dizer que o coração consiste em duas bombas em uma. O que separa o lado direito
do coração do lado esquerdo e impede que o sangue de ambos os lados se misturem
é uma parede muscular chamada septo interventricular.

Título: Câmaras do coração.


Fonte: Heart_physiology.ppt (live.com)

O sangue percorre o coração sempre em um único sentido, indo dos átrios para
os ventrículos. Para evitar o movimento retrógrado do sangue para os átrios, existem
válvulas de mão única, as valvas atrioventriculares esquerda e direita. A valva
atrioventricular esquerda impede que o sangue retorne do ventrículo esquerdo para o
átrio esquerdo e é denominada valva bicúspide (Conforme ilustrado na figura Sistema
Condutor do Coração). A valva atrioventricular direita que impede que o sangue retorne
do ventrículo direito para o átrio direito é denominada valva tricúspide (Conforme
ilustrado na figura Sistema Condutor do Coração).
Ao sair dos ventrículos, o sangue é bombeado para dentro das artérias, para ir
para o pulmão ou para o corpo. O fluxo de volta do sangue das artérias para dentro
dos ventrículos é evitado pela valva semilunar pulmonar no ventrículo direito e pela
valva semilunar aórtica no ventrículo esquerdo (Conforme ilustrado na figura Sistema
Condutor do Coração). A parede do coração possui três camadas, sendo uma camada

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externa (ou epicárdio), uma camada muscular média (ou miocárdio) e uma camada
interna (ou endocárdio).

Título: Camadas da parede do coração.


Fonte: Heart_physiology.ppt (live.com)

O miocárdio ou músculo cardíaco é responsável por contrair e impulsionar o sangue


para fora do coração e, por isso, apresenta alta demanda de oxigênio e nutrientes,
mesmo durante o repouso. O seu suprimento sanguíneo é de responsabilidade das
artérias que se ramificam da aorta e circundam o coração, que são chamadas de
artérias coronárias esquerda e direita.
Acompanhando lateralmente essas artérias estão as veias coronarianas que drenam
o sangue coronariano para o seio coronário que é uma veia maior que deposita o sangue
dentro do átrio direito. As artérias e veias coronárias são encontradas na superfície
externa do coração, para que elas não sejam comprimidas durante a contração cardíaca,
permitindo fluxo constante de sangue para suprir o coração.

Quando uma câmara cardíaca passa pela sístole, o músculo cardíaco,


como todos os músculos, se contrairá em todas as direções,
comprimindo os vasos sanguíneos dentro do tecido e ocluindo, ou
parcialmente ocluindo, o fluxo sanguíneo. Assim, o tecido cardíaco
recebe boa parte do seu suprimento sanguíneo durante a diástole.
Uma adaptação ao treinamento aeróbio ou cardiovascular é uma
diminuição da frequência cardíaca durante o repouso, bem como
durante um exercício submáximo. Com uma frequência cardíaca
menor, a fase diastólica do ciclo cardíaco é maior. Assim, a frequência
cardíaca menor durante um exercício submáximo ajuda a garantir
suprimento sanguíneo suficiente para o tecido cardíaco. Essa é
uma razão pela qual a frequência cardíaca menor é uma adaptação
positiva ao treinamento aeróbio ou cardiovascular (KRAEMER; FLECK;
DESCHENES, 2016, p. 216).

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Título: Artérias coronárias e veias coronarianas.


Fonte: Heart_physiology.ppt (live.com)

ANOTE ISSO

Quando o fluxo de sangue para o miocárdio é interrompido, por algum bloqueio


sanguíneo coronariano, mesmo que por alguns poucos minutos, o coração pode
sofrer danos permanentes. Esses danos ou lesões que culminam na morte de
células do miocárdio são mais comumente chamados de ataque cardíaco ou
infarto do miocárdio.

4.2. Ciclo cardíaco

Um ciclo cardíaco diz respeito ao padrão repetitivo de contração (sístole) e


relaxamento (diástole) do coração. O coração tem ação de bombeamento em duas
etapas: os átrios direito e esquerdo contraem-se juntos, esvaziando sangue para
dentro dos ventrículos, que irão se contrair juntos para distribuir o sangue pulmonar
e sistêmico. A contração atrial (ou sístole atrial) ocorre enquanto os ventrículos estão
em diástole, e no relaxamento dos átrios, os ventrículos estão em sístole (ou sístole
ventricular). É essa dinâmica que irá determinar a frequência cardíaca em repouso
de um indivíduo. Uma mulher saudável de 21 anos de idade apresenta frequência
cardíaca em torno de 75 batimentos por minuto, aproximadamente.
Quando os átrios estão relaxados o sangue advindo da circulação venosa flui para
dentro deles. Conforme os átrios se enchem, a pressão em seu interior se eleva.
Aproximadamente 70% do sangue que entra nos átrios relaxados flui diretamente
para dentro dos ventrículos passando pelas valvas atrioventriculares. Na sístole atrial,

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a pressão dentro dos átrios sobe, forçando os 30% restante do sangue ali presente
para dentro dos ventrículos.
Durante o enchimento dos ventrículos, a pressão dentro deles é baixa. A pressão dos
ventrículos vai sofrendo elevação discreta durante a contração dos átrios, e conforme
os ventrículos vão se contraindo a pressão dentro deles aumenta abruptamente, o que
faz com que as valvas atrioventriculares se fechem para evitar o refluxo de sangue
para os átrios. Dessa forma, a pressão dentro dos ventrículos ultrapassa a pressão
das artérias aorta e pulmonar e as suas respectivas valvas se abrem levando o sangue
para as circulações sistêmica e pulmonar, respectivamente.
Quanto mais grossa for a parede de uma câmara cardíaca, maior será a força com
que ela ejetará o sangue. O ventrículo esquerdo bombeia sangue para todo o corpo
contra uma pressão arterial mais alta, e, dessa forma, certa resistência ao fluxo, por
isso, ele tem maior espessura de parede. Durante exercícios físicos, principalmente
os treinos de força que são realizados contra uma alta resistência, a pressão arterial
sistêmica se eleva. A realização do treinamento físico por algumas semanas pode
resultar em um espessamento da parede ventricular esquerda facilitando para que o
ventrículo esquerdo supere essa elevação de pressão arterial durante realização da
atividade mais facilmente.
A hipertensão arterial crônica também pode aumentar a espessura da parede
ventricular esquerda, porém muitas vezes ultrapassando um aumento que é considerado
normal (13 mm aproximadamente), o que pode prejudicar a quantidade de sangue a
ser ejetada pelo ventrículo. Com isso, existem diferenças na magnitude da alteração
da espessura ventricular esquerda quando comparada a adaptação ao treinamento
e a alteração pela hipertensão.

Com o treinamento causando a hipertrofia fisiológica no coração, a


vasculatura coronária também se adapta, aumentando o tamanho das
artérias principais e a capilarização do miocárdio. Entretanto, quando
a massa ventricular esquerda aumenta em virtude da adaptação
patológica à hipertensão crônica, as mudanças na vasculatura não
ocorrem, demonstrando novamente que existe uma diferença entre as
adaptações patológica e fisiológica do miocárdio (KRAEMER; FLECK;
DESCHENES, 2016, p. 221).

4.3. Controle do ciclo cardíaco

4.3.1. Controle intrínseco

São necessários mecanismos anatômico-fisiológicos para garantir que a contração


dos átrios aconteça antes da contração ventricular. O controle intrínseco da atividade

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do coração, portanto, diz respeito a estruturas internas do coração que possibilitam


que as câmaras contraiam em uma ordem específica que assegure que o sangue se
mova na direção correta do coração em direção às circulações sistêmica e pulmonar.
O tecido nervoso que inerva a musculatura cardíaca em conjunto com as próprias
fibras musculares cardíacas são capazes de iniciar o impulso próprio para contração.
Essa capacidade de contração a intervalos de tempo relativamente determinados, é
denominada automatismo cardíaco.
O nodo sinoatrial (nodo SA) é “uma área de tecido nervoso especializado na porção
superior do átrio direito que tem a taxa mais rápida de automatismo” (KRAEMER; FLECK;
DESCHENES, 2016, p. 218), atuando como um marca-passo cardíaco. O estímulo para
contração se espalha pelos átrios, que se contraem, e com isso o impulso se espalha
para outras áreas do tecido nervoso especializado localizado na parte inferior do átrio
direito, chamada de nodo atrioventricular (nodo AV). A passagem do impulso pelo
nodo AV atrasa o impulso por, aproximadamente, 1/10 de segundo antes de propagar
o impulso para os ventrículos, e isso permite que a sístole atrial ocorra antes da sístole
ventricular, para que os ventrículos se encham com o sangue dos átrios.
O nodo AV conecta os átrios aos ventrículos por meio de um par de vias condutoras
denominadas feixes direito e esquerdo. Os feixes direito e esquerdo ramificam-se em
fibras menores ao chegarem aos ventrículos, denominadas fibras de Purkinje. As
fibras de Purkinje são responsáveis por espalharem a onda de contração por toda
extensão dos ventrículos, de modo que todo o tecido cardíaco seja contraído durante
cada batida, em um curto período, porém de maneira bastante sincronizada. Esse
mecanismo garante que o sangue seja bombeado pelos ventrículos de forma muito
eficiente, pois utiliza o mínimo possível de energia.
Um dos registros da atividade elétrica do coração durante o ciclo cardíaco é chamado
de eletrocardiograma (ECG). O ECG registra o “movimento dos íons (ou seja, corrente
elétrica) durante um ciclo cardíaco, e pode ser utilizado para determinar se um coração
está funcionando normalmente ou se há uma anormalidade dentro do ciclo cardíaco”
(KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016, p. 224).

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Título: Sistema condutor do coração.


Fonte: Adaptado de Powers e Howley (2014, p. 197)

4.3.2. Controle extrínseco

No controle extrínseco (externo ao coração) do ciclo cardíaco, estão dois fatores


principais que influenciam a frequência cardíaca em repouso ou em exercício: os
componentes simpático e parassimpático da divisão autonômica do sistema nervoso.
Fibras nervosas parassimpáticas que inervam os nodos SA e AV se originam no centro
de controle cardiorrespiratório localizado no bulbo e chegam ao coração como parte
do nervo vago.
Nos nodos SA e AV, essas fibras nervosas parassimpáticas liberam acetilcolina, que é
responsável por diminuir a atividade de ambos os nodos, o que resulta na diminuição da
frequência cardíaca. Dessa forma, aumentos na estimulação parassimpática diminuem
a frequência cardíaca enquanto a inibição da estimulação parassimpática resulta em
elevação na frequência cardíaca.
As fibras nervosas simpáticas chegam ao nodo SA e AV e ao miocárdio como parte
dos nervos aceleradores cardíacos. Nos nodos SA e AV essas fibras simpáticas liberam
norepinefrina, responsável por aumentar a frequência cardíaca. A norepinefrina também
age aumentando a força de contração do coração, elevando o volume de sangue
bombeado por ele a cada contração. Assim, um aumento na atividade simpática eleva

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a frequência cardíaca e a remoção da estimulação simpática diminui a frequência


cardíaca. Portanto, a frequência cardíaca, depende do balanço entre as estimulações
simpática e parassimpática.
Se no repouso a pressão arterial na aorta aumenta acima do normal, ocorre
estimulação parassimpática, enquanto há diminuição na estimulação simpática,
resultando em decréscimo na frequência cardíaca e na força contrátil do miocárdio.
Consequentemente, há menor volume de sangue bombeado a cada batimento cardíaco
e retorno da pressão arterial aos valores normais de repouso. Ao se iniciar um exercício,
há redução na estimulação parassimpática, e consequente elevação da frequência
cardíaca. Essa informação nos leva à hipótese de que a diminuição da frequência
cardíaca de repouso como adaptação a exercícios aeróbios tem como causa o aumento
da estimulação parassimpática e a redução da estimulação simpática.

4.4. A pressão arterial

O sistema circulatório atua como um sistema de “alça fechada” contínua, em que o


fluxo de sangue acontece devido a diferenças de pressão entre as duas extremidades
do sistema. Assim, o sangue flui da região de maior pressão (artéria aorta) para a
região de menor pressão (átrio direito) e conforme ele vai passando pela aorta, depois
pelas artérias, capilares e, finalmente, pelas veias, a pressão diminui a cada passo
adiante nesse ciclo.
A contração do coração para o bombeamento do sangue cria pressão, forçando
o sangue para as circulações pulmonar e sistêmica. O sangue então exerce pressão
ao passar por todo o corpo, e junto às artérias essa pressão se torna mais intensa. A
pressão arterial é classificada como a “força exercida pelo sangue contra as paredes
arteriais e é determinada pela quantidade de sangue bombeada e intensidade da
resistência ao fluxo sanguíneo” (POWERS; HOWLEY, 2014, p. 194).
A pressão arterial é medida e usada como indicador da condição de saúde de um
indivíduo. O aparelho usado para aferir a pressão arterial é o esfigmomanômetro, que
pode ser manual ou digital. Em homens adultos saudáveis a pressão arterial gira em
torno de 120/80 milímetros de mercúrio (mmHg) e em mulheres adultas saudáveis
em torno de 110/70 mmHg. E o que significam esses números? O número maior, que
vem expresso primeiro, é a pressão arterial sistólica (pressão gerada nas artérias
pelo sangue vindo do coração durante a sístole ventricular). O número menor, que

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vem expresso depois do maior, representa a pressão arterial diastólica (durante a


diástole ventricular a pressão nas artérias diminui).
Exemplificando, em termos práticos: na sístole do ventrículo esquerdo, a pressão
aumenta e a válvula aórtica se abre. O sangue flui para a artéria aorta e consequentemente
para as artérias de distribuição. A pressão nas artérias aumenta (120 mmHg). Ao final
da sístole ventricular esquerda, a válvula aórtica se fecha e o sangue armazenado nas
artérias flui para os vasos. Antes que o ventrículo se contraia novamente, a pressão
cai para 80 mmHg.
Ao passar dentro das artérias o sangue encontra uma resistência (pressão)
provocada pelo atrito. Quanto mais estreita é a artéria, maior é a resistência (pressão) à
passagem do sangue. A força do coração para bombear o sangue é a pressão sistólica.
A resistência que a artéria oferece à passagem de sangue é a pressão diastólica. A
pressão 12/8 mmHg significa que a força exercida pelo coração para empurrar o
sangue pelas artérias é igual a 12 mmHg e a pressão (resistência) que as artérias
estão oferecendo à passagem de sangue é de 8mmHg.

Título: Esfigmomanômetro digital e manual, respectivamente.


Fonte: Sangue Pressão Monitor - Foto gratuita no Pixabay

ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

Valores alterados de pressão arterial podem indicar problemas de saúde. A


hipertensão arterial (pressão arterial alta) é determinada em valores superiores
a 140/90 mmHg. Esse quadro clínico pode ser um fator de risco para o
desenvolvimento de outras doenças.

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4.5. Resistência vascular

O sangue é composto de dois componentes principais: células e plasma. O plasma


é a porção aquosa do sangue, com íons, proteínas e hormônios, enquanto as células
que constituem o sangue são as hemácias, plaquetas (responsáveis pela coagulação)
e leucócitos sanguíneos (responsáveis pela prevenção de infecções). As hemácias
contêm hemoglobina que é a responsável por transportar oxigênio no sangue. A
viscosidade do sangue, determinada grandemente pela quantidade de hemácias,
aumenta o grau de dificuldade com que ele passa pelo sistema circulatório. Então
quanto mais hemácias, maior a viscosidade sanguínea.
“Resistência vascular total consiste na soma da resistência ao fluxo sanguíneo
exercida por todos os vasos sanguíneos sistêmicos” (POWERS; HOWLEY, 2014, p.
196). A resistência ao fluxo sanguíneo é diretamente proporcional à viscosidade do
sangue e ao comprimento do vaso, porém, a resistência vascular é determinada
principalmente pelo diâmetro do vaso sanguíneo. Isso significa que um aumento do
comprimento do vaso ou da viscosidade sanguínea aumenta proporcionalmente a
resistência, porém, a diminuição do raio de um vaso pela metade pode implicar em
aumento de aproximadamente 16 vezes sua resistência (POWERS; HOWLEY, 2014).
A velocidade do fluxo sanguíneo é proporcional à diferença de pressão ao longo
do sistema circulatório, mas é inversamente proporcional à resistência. Isso significa
que um aumento de duas vezes na diferença de pressão elevaria o fluxo sanguíneo
duas vezes, enquanto um aumento de duas vezes na resistência reduziria o fluxo
pela metade. Dessa forma, o fluxo sanguíneo pode ser elevado por um aumento da
pressão arterial ou por uma diminuição da resistência. As elevações do fluxo sanguíneo
durante exercícios acontecem, sobretudo, pela diminuição da resistência com um leve
aumento da pressão arterial.
A capacidade de variar o fluxo de sangue em um órgão ou tecido acontece pelo
aumento ou diminuição do raio dos vasos em tecidos específicos. A maior resistência
vascular ao fluxo de sangue acontece nas arteríolas, onde há queda da pressão arterial
em cerca de 70-80%. As artérias, ao se ramificarem em um número maior de vasos
formando as arteríolas e depois os capilares, criam uma maior área total para um dado
volume de sangue, que faz com que a velocidade do fluxo de sangue seja reduzida e
também a pressão exercida na parede interna dos capilares.

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Na vasodilatação há um aumento no raio do vaso e, consequentemente, menor


resistência ao fluxo e maior fluxo sanguíneo para o tecido. Na vasoconstrição ocorre
diminuição do raio do vaso, o que resulta em resistência ao fluxo aumentada e, com
isso, a diminuição do fluxo para o tecido. Esse fato força o fluxo sanguíneo na direção
de outros tecidos em que a resistência ao fluxo seja menor.

4.6. Débito cardíaco

Débito cardíaco (DC) é a quantidade de sangue bombeada pelo coração por minuto,
e é determinado através do produto da frequência cardíaca (FC) pelo volume sistólico
(VS), então: [ DC = FC x VS ]. Volume sistólico (VS) é a quantidade de sangue bombeada
por batimento cardíaco. Dessa forma, o DC pode aumentar em decorrência da elevação
da FC, do VS, ou de ambos. O DC apresenta valores geralmente entre 4,0 a 5,0 L/min
em indivíduos saudáveis em repouso.
Indivíduos treinados e não treinados apresentam valores diferentes tanto de FC,
quanto de VS e, consequentemente, de DC. Por exemplo, uma mulher saudável não
treinada e em repouso, pode apresentar um VS de aproximadamente 60 ml e uma FC
de 75 batimentos por minuto e, com isso, um DC de repouso de 4,5 L/min e um DC
em exercício de 18,0 L/min. No entanto, uma mulher treinada tem um DC de 4,4 L/min
e 23,8 L/min em repouso e em exercício, respectivamente. Geralmente, o VS e o DC
são diferentes também entre homens e mulheres devido às diferenças do tamanho
corporal existentes entre os sexos.
Se o DC aumenta, a pressão no sistema arterial aumentará para que maior quantidade
de sangue seja ejetado para as artérias. Por isso, a pressão arterial sistêmica se eleva
durante o exercício porque o DC é elevado. O aumento na pressão pelo aumento no
DC é compensado parcialmente pela elasticidade das artérias periféricas saudáveis,
permitindo que elas se dilatem quando mais sangue é ejetado em seu interior pelo
ventrículo esquerdo. Essa capacidade de elasticidade das artérias de se dilatarem
conforme mais sangue é ejetado nelas, resulta em um menor aumento de pressão
quando há elevações no DC.
Indivíduos treinados, principalmente os de endurance, apresentam FC menores em
repouso quando comparados a indivíduos não treinados, porém ambos apresentam
aproximadamente o mesmo DC. Isso acontece devido ao fato de que os treinados
têm menor pressão arterial em repouso, e um VS maior, afinal, como adaptação ao

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treinamento o coração bate menos vezes, porém, consegue ejetar maiores quantidades
de sangue a cada batimento, pois fica mais eficiente.

ANOTE ISSO

Dentro da fisiologia cardíaca existe um mecanismo conhecido como Lei de


Frank-Starling para se referir à capacidade intrínseca do coração de se adaptar a
alterações do volume sanguíneo modificando o seu desempenho e contratilidade.
Ou seja, quanto maior a distensão do miocárdio durante o seu enchimento, maior
será a força de contração e, consequentemente, mais sangue será bombeado para
a aorta (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016).

CONCLUSÃO

O sistema cardiovascular é extremamente importante para a manutenção


homeostática, e sofre extensas alterações com a realização de exercícios físicos. Esse
sistema atua em conjunto com o sistema respiratório. Nessa atuação conjunta, ambos
os sistemas ficam conhecidos como sistema cardiopulmonar. Para compreender as
principais alterações e adaptações do exercício no sistema cardiopulmonar, é necessário
entender como o sistema respiratório atua e se apresenta.

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AULA 5
SISTEMA RESPIRATÓRIO

Objetivos da aula: compreender de forma geral a estrutura e função do sistema


respiratório.

5. INTRODUÇÃO

O sistema respiratório é importante, pois por meio da respiração e das trocas


gasosas nos alvéolos ele auxilia no fornecimento de oxigênio para as células bem
como na expulsão do dióxido de carbono do corpo. Durante a prática de exercícios
a ventilação pulmonar se altera e, por isso, é fundamental compreender como esse
sistema se constitui e como ele funciona em repouso para entender a influência do
exercício em suas estruturas.

5.1. Estrutura e função

5.1.1. Função

A respiração pulmonar é a ventilação e a troca de gases (oxigênio e dióxido de


carbono, mais especificamente), nos pulmões. O propósito principal do sistema
respiratório é permitir um meio de troca gasosa entre o corpo e o ambiente externo.
Assim, o indivíduo é capaz de repor oxigênio (O2) e eliminar o dióxido de carbono (CO2)
do sangue. O sistema respiratório também tem papel fundamental na regulação do
equilíbrio acidobásico durante a realização de exercícios intensos.
O sistema respiratório humano é composto por inúmeras passagens pelas quais o
ar passa para ser filtrado, aquecido, umidificado e transportado até os microscópicos
sacos aéreos dos pulmões, os alvéolos, para as trocas gasosas acontecerem. Fazem
parte da respiração dois processos: a ventilação e a difusão.
Ventilação pulmonar é o processo mecânico de deslocamento de ar para dentro e
para fora dos pulmões” (POWERS; HOWLEY, 2014, p. 219). A difusão é o movimento

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das moléculas de forma aleatória de uma área mais concentrada para uma de menor
concentração. Nos pulmões há maior concentração de O2 do que no sangue e a
concentração de CO2 no sangue é maior do que a dos pulmões. Dessa forma, ocorre a
difusão de gases entre o sangue e o pulmão devido a esse gradiente de concentração.
A taxa de difusão é determinada pelo tamanho da superfície e pela diferença de
pressão, assim, quanto maior a área de superfície e a pressão condutora, mais facilitada
será a difusão. O pulmão apresenta uma área de superfície total disponível para difusão
bem ampla e a membrana dos alvéolos é extremamente fina, dessa forma, o pulmão
é projetado para que a difusão de gases ocorra através da membrana alveolar, para
dentro e para fora da circulação sanguínea de forma eficiente.

5.1.2. Estrutura

Os órgãos do sistema respiratório são: nariz, cavidade nasal, faringe, laringe, traqueia,
árvore brônquica e os pulmões. Ao ser inalado, o ar passa pela chamada zona condutora
e depois pela zona respiratória. Fazem parte da zona condutora todas as estruturas
anatômicas (traqueia e árvore brônquica, por exemplo) pelas quais o ar passa até
chegar à zona respiratória. A zona respiratória é a região pulmonar onde acontecem
as trocas gasosas e, por isso, inclui estruturas como os bronquíolos respiratórios e
os sacos alveolares.

• Zona condutora: essa zona funcional do sistema respiratório não funciona


somente como passagem para o ar, mas também é responsável por filtrá-lo
e umedecê-lo, para que chegue aos pulmões aquecido e saturado com vapor
d’água. Em repouso, os indivíduos respiram pelo nariz, e o ar entra na traqueia
pela faringe (garganta). A faringe recebe ar tanto da cavidade nasal quanto da
oral. Em exercícios intensos, a boca se torna a principal via para a passagem
do ar.
• Zona respiratória: a difusão acontece de forma rápida, devido a dois fatores.
Primeiro, a extensa área existente para as trocas gasosas acontecem por meio
de 300 milhões de alvéolos delgados, aproximadamente. Segundo, a distância de
difusão é pequena entre o sangue e os gases, afinal os alvéolos e os capilares
têm somente uma única camada celular de espessura cada um. Dessa forma,
a troca de gases ocorre por meio de duas camadas celulares apenas.

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O ar ao entrar ou sair da traqueia, passa pela epiglote, que é uma abertura parecida
com uma válvula que fica localizada entre as cordas vocais. Os brônquios são
ramificações da traqueia e dividem-se em direito e esquerdo, e entram um em cada
pulmão, respectivamente. Os brônquios ramificam-se então em árvore brônquica, depois
em pequenos ramos da árvore brônquica, os bronquíolos. A árvore brônquica constitui-
se de passagens responsáveis por conectar a traqueia aos alvéolos. Os bronquíolos
ramificam-se extensivamente até formarem os ductos alveolares. Os ductos alveolares
levam aos sacos alveolares e à zona respiratória.

Título: Órgãos do sistema respiratório e suas respectivas zonas funcionais.


Fonte: https://www.freepik.com/free-vector/human-respiratory-system-illustration-cartoon-medical-design-man-body-with-lungs_3266676.htm

ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

O líquido surfactante presente no meio intersticial alveolar é uma lipoproteína que


aumenta a estabilidade do alvéolo. Esse líquido é produzido pelos pulmões e facilita
as trocas gasosas. Além disso, ele reduz a tensão superficial do alvéolo impedindo
que ele colasse, ao diminuir a força empregada para os pulmões se expandirem.
(POWERS; HOWLEY, 2014).

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5.2. Mecânica da respiração

A inspiração acontece porque a pressão interna dos pulmões é inferior à pressão


atmosférica. A expiração ocorre quando a pressão interna dos pulmões ultrapassa
a pressão atmosférica. O diafragma é o músculo esquelético mais importante na
inspiração. Ao se contrair, o diafragma força o conteúdo abdominal para baixo e para
frente, e as costelas são erguidas para fora. Como resultado acontece a expansão dos
pulmões e diminuição da pressão intrapulmonar em relação à pressão atmosférica,
e o fluxo de ar vai para dentro dos pulmões.
Em repouso, o diafragma é responsável pela maior parte do trabalho da inspiração.
Nesse caso, a expiração é passiva, afinal, não há esforço muscular para que ela ocorra,
pois os pulmões e as paredes do tórax são elásticos e têm a tendência de voltar
à posição inicial após sua expansão na inspiração. Em exercício há requisição de
músculos auxiliares da inspiração: intercostais externos, peitoral menor, músculos
escalenos e o esternocleidomastóideo, que ajudam o diafragma a aumentar o volume
do tórax e favorecer a respiração. A expiração em exercício passa a ser ativa e os
músculos mais importantes são os encontrados na parede abdominal: reto abdominal
e oblíquo interno, que ao se contraírem, empurram o diafragma para cima e as costelas
são puxadas para dentro e para baixo e o ar é expirado.

ANOTE ISSO

Para saber mais sobre os músculos que participam da respiração consulte: Powers
e Howley (2014, p. 223) e Kraemer, Fleck e Deschenes (2016, p. 261).

5.3. Conceitos principais

Antes de compreendermos melhor as respostas que ocorrem durante o exercício


no sistema respiratório e os seus principais mecanismos de controle, é necessário
aprender alguns conceitos ventilatórios.

5.3.1. Volumes e capacidades pulmonares

Os volumes pulmonares podem ser medidos por meio de uma técnica chamada
espirometria. Nesse procedimento “o paciente respira dentro de um dispositivo que

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é capaz de medir os volumes de ar inspirado e expirado” (POWERS; HOWLEY, 2014,


p. 225). Técnicas mais modernas utilizam tecnologia computadorizada para medir os
volumes pulmonares, mas também a velocidade do fluxo de ar expirado. A espirometria
é útil para diagnosticar doenças pulmonares, como a doença pulmonar obstrutiva
crônica (DPOC), por exemplo.

Tabela 1. Volumes e capacidades respiratórias


VOLUMES RESPIRATÓRIOS Definição
Volume corrente (VC) Volume de ar inalado ou exalado em uma respiração tranquila.
Volume de reserva inspiratório Volume de ar em excesso do VC que pode ser inspirado por um
(VRI) esforço máximo.
Volume de reserva expiratório Volume de ar em excesso do VC que pode ser expirado com um
(VRE) esforço máximo.
Volume residual (VR) Volume de ar que se mantém nos pulmões após expiração máxima.

CAPACIDADES RESPIRATÓRIAS Definição


Quantidade de ar que por ser expirada de forma voluntária após
Capacidade vital (CV)
uma inspiração máxima.
Quantidade de ar que por ser inspirada voluntariamente depois de
Capacidade inspiratória (CI)
uma expiração tranquila.
Capacidade residual funcional É o ar que se mantém nos pulmões depois de uma expiração
(CRF) tranquila.
Capacidade pulmonar total (CPT) É o ar que permanece nos pulmões após uma inspiração máxima.
Fonte: Adaptado de Powers e Howley (2014, p. 226).

ANOTE ISSO

O treinamento físico não exerce impacto sobre a capacidade pulmonar total, volume
residual ou capacidade vital (POWERS; HOWLEY, 2014).

5.3.2. Pressão Parcial

Conforme a lei de Dalton, “a pressão total exercida por um gás em uma mistura é
igual à soma das pressões exercidas independentemente por cada gás” (POWERS;
HOWLEY, 2014, p. 227). Portanto, a pressão que cada gás exerce independentemente
pode ser obtida pelo produto da composição fracionada do gás pela pressão absoluta

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(pressão barométrica). “Pressão barométrica é a força exercida pelo peso do gás contido
na atmosfera” (POWERS; HOWLEY, 2014, p. 227), e ao nível do mar vale 760 mmHg.
O ar é composto basicamente de oxigênio, nitrogênio e dióxido de carbono (gás
carbônico). O oxigênio ocupa aproximadamente 20,93% dessa composição em uma
fração de 0,2093. Portanto, a pressão parcial de oxigênio (PO2) ao nível do mar pode
ser calculada da seguinte forma: PO2 = pressão barométrica do ar multiplicada pela
fração de O2 no ar. Então: PO2 = 760 x 0,2093 = 159 mmHg. Dessa maneira, a pressão
parcial de O2 é de 159 mmHg. A pressão parcial do dióxido de carbono (PCO2) pode
ser calculada da mesma forma.

5.3.3. Difusão de gases

A PO2 do sangue que entra nos pulmões é de 40 mmHg e a PCO2 é de 46 mmHg,


enquanto a PO2 alveolar é de 105 mmHg e a PCO2 é de 40 mmHg, aproximadamente.
Dessa forma, a PO2 no sangue é menor do que a PO2 dos alvéolos, e a PCO2 no sangue,
é maior do que a PCO2 nos alvéolos. Então os gases movem-se ao longo da interface
hematogasosa nos pulmões, por difusão simples, como consequência dessa diferença
de pressão parcial. O CO2 vai do sangue para dentro dos alvéolos e o O2 sai do interior
dos alvéolos e vai para o sangue circulante.

Título: Troca gasosa nos alvéolos.


Fonte: 566 MELHORES IMAGENS, FOTOS E VETORES DE Alvéolo Pulmonar | Adobe Stock

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5.3.4. Transporte de O2 e CO2 e equilíbrio acidobásico

O O2 e CO2 são transportados na corrente sanguínea na forma de gases, mas a


maior parte acontece por meio da combinação com a hemoglobina, com o CO2 sendo
transformado em bicarbonato. O CO2 pode ser transportado no sangue como CO2
dissolvido (10%), CO2 ligado à hemoglobina, formando a carboxiemoglobina (20%)
e na forma de bicarbonato (70%). O CO2 é convertido em bicarbonato nas hemácias
sendo catalisado pela enzima anidrase carbônica. Ao chegar aos alvéolos pulmonares
se dissocia até formar CO2 e H2O, e o CO2 é liberado pela expiração.
Esse processo exerce fundamental papel na remoção do íon hidrogênio do sangue,
evitando alterações do pH sanguíneo, já que um aumento nas concentrações de CO2
no sangue e nos líquidos do corpo, resulta em acúmulo de íons de hidrogênio e, por
consequência, a diminuição do pH. A remoção do CO2 diminui a concentração de íons
hidrogênio e, consequentemente, aumenta o pH. Dessa forma, a ventilação pulmonar
auxilia no equilíbrio acidobásico do corpo.
A hemoglobina é uma proteína das hemácias e cada molécula de hemoglobina
pode transportar quatro moléculas de O2. A combinação do O2 à hemoglobina acontece
nos capilares alveolares do pulmão formando a oxiemoglobina e é dessa forma que
cerca de 99% do O2 do sangue é transportado para os tecidos. As fibras do músculo
esquelético e do miocárdio tem uma proteína ligadora de oxigênio, que é responsável
por transportar o O2 da membrana celular para a mitocôndria, chamada mioglobina.
A mioglobina tem estrutura semelhante à hemoglobina, porém, apresenta maior
afinidade com o O2 do que a hemoglobina. Isso é importante, pois a mioglobina consegue
liberar O2 mesmo em valores muito baixos de PO2, como é o caso da musculatura
esquelética. As reservas de O2 da mioglobina podem servir como uma reserva de O2
na transição do repouso para o exercício. Nesse caso, o O2 da mioglobina antes do
início da atividade serve para suprir as necessidades de O2 da musculatura até que
os sistemas pulmonar e cardiovascular consigam atender à demanda de O2. Com a
finalização do exercício, as reservas de O2 devem ser repostas, o que implica em um
consumo de O2 acima dos níveis de repouso e contribui para o débito de O2.
Durante o exercício físico, mais oxigênio é necessário para os músculos ativos. A
acidez intramuscular, a temperatura corporal e a pressão parcial dos gases podem estar
elevadas, então, o transporte de O2 e CO2 é afetado. Nesses casos, há um deslocamento
da curva de dissociação da oxiemoglobina para que a hemoglobina reduza a sua
afinidade com o oxigênio, liberando-o nos tecidos ativos:

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Nos pulmões, onde a PO2 é elevada, a hemoglobina se liga ao oxigênio,


formando a oxiemoglobina, e se torna 100% saturada com oxigênio.
Quando a hemoglobina está 100% saturada com oxigênio, ela está
transportando o máximo de oxigênio possível. Nos tecidos em que
o oxigênio é utilizado para o metabolismo aeróbio e a PO2 é baixa, a
hemoglobina libera o oxigênio e se torna menos de 100% saturada,
com a hemoglobina sendo convertida a desoxihemoglobina. A curva de
dissociação da oxihemoglobina é sigmoide, ou seja, tem um formato
de “S”. Esse formato oferece vantagens para que a hemoglobina se
torne tanto oxihemoglobina nos pulmões quanto desoxihemoglobina
no nível dos tecidos (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016, p. 270).

CONCLUSÃO

O sistema respiratório é capaz de corresponder às necessidades metabólicas


corporais em repouso e exercício, adaptando a ventilação pulmonar para tal. Por isso
é um sistema extremamente importante e é necessário compreender como essas
adaptações ocorrem e quem as controla.

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AULA 6
SISTEMA CARDIOPULMONAR
E EXERCÍCIO

Objetivos da aula: descrever as principais respostas circulatórias bem como os


principais ajustes ventilatórios ao exercício.

6. INTRODUÇÃO

O sistema cardiopulmonar é essencial para a homeostase corporal tanto em


repouso quanto em exercício. O sistema circulatório atua levando oxigênio para os
tecidos e eliminando dióxido de carbono e metabólitos, enquanto o sistema respiratório
auxilia o circulatório na difusão dos gases além de participar do equilíbrio acidobásico
corporal. Esses ajustes cardiopulmonares que acontecem são regulados por diferentes
mecanismos de controle que devem ser descritos para facilitar a compreensão de
como esse sistema atua em resposta ao estímulo do exercício físico.

6.1. Respostas circulatórias ao exercício

6.1.1. Principais mecanismos

Em relação ao repouso, a necessidade metabólica de oxigênio em exercício é maior.


Para atender essa maior demanda muscular de oxigênio durante o exercício, são
necessários alguns ajustes no fluxo sanguíneo como o aumento no débito cardíaco e
uma redistribuição do fluxo sanguíneo dos órgãos inativos (fígado, trato gastrointestinal
e rins, por exemplo) para os músculos esqueléticos que estão sendo exercitados.
Porém, enquanto as necessidades musculares são atendidas, existem outros tecidos
que não podem ficar sem receber fluxo sanguíneo, como é o caso do encéfalo. “Estas
necessidades são atendidas por meio da manutenção da pressão arterial, que constitui
a força motriz por trás do fluxo sanguíneo” (POWERS; HOWLEY, 2014, p. 189).

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Durante o exercício, seja em um indivíduo treinado ou não, há necessidade


de balancear os efeitos dos vários fatores na pressão arterial para manter
pressão suficiente para que o fluxo de sangue ocorra em todos os tecidos
e haja aumento no fluxo de sangue para o tecido muscular ativo. Esses
fatores são o aumento do débito cardíaco, que eleva a pressão arterial
em todo o sistema arterial; a vasodilatação dentro do tecido ativo, o que
aumenta o fluxo de sangue para o tecido ativo, mas diminui a pressão
arterial; e a vasoconstrição dentro do tecido inativo, que diminui o fluxo de
sangue para o tecido inativo, mas aumenta a pressão arterial. O resultado
final é um aumento no fluxo sanguíneo e, logo, aporte de oxigênio para o
músculo ativo (KRAEMER; FLECK, DESCHENES, 2016, p. 245).

Vários fatores contribuem para a redistribuição do fluxo sanguíneo durante o


exercício, e essa redistribuição só acontece se for possível diminuir e aumentar o fluxo
de sangue para diferentes sistemas do corpo. A capacidade de variar o fluxo para um
órgão ou tecido acontece pela vasoconstrição e vasodilatação em tecidos específicos.

Título: Vasoconstrição e vasodilatação


Fonte: Arteries_physiology.ppt (live.com)

O fluxo de sangue para os capilares de um tecido depende da vasoconstrição e da


vasodilatação da arteríola que alimenta o leito capilar e do estado contrátil dos anéis
musculares na entrada do leito capilar, os esfíncteres pré capilares. Esses esfíncteres
são capazes de aumentar e diminuir o diâmetro interno dos capilares e, assim, controlam
o fluxo para o leito capilar.

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Título: Esfíncter pré capilar


Fonte: Arteries_physiology.ppt (live.com)

Título: Leito capilar


Fonte: Arteries_physiology.ppt (live.com)

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Os esfíncteres pré capilares respondem a mudanças locais ou intrínsecas, como


o aumento na pressão arterial, a concentração de oxigênio e dióxido de carbono
sanguíneos, mas também respondem ao controle neural ou extrínseco. O controle
extrínseco da vasoconstrição e da vasodilatação dependem do balanço entre a
estimulação neural simpática de epinefrina e norepinefrina.
A norepinefrina é o principal neurotransmissor liberado pelos nervos simpáticos
que inervam os vasos sanguíneos periféricos, e é responsável principalmente
pela vasoconstrição. A epinefrina estimula tanto a vasoconstrição quanto a
vasodilatação. Para promover o aumento necessário do fluxo sanguíneo para o
tecido ativo, o controle extrínseco da vasoconstrição e da vasodilatação precisa
agir em balanço com o controle intrínseco.
O controle intrínseco da vasoconstrição e da vasodilatação é chamado de
autorregulação. Alterações dentro da própria musculatura esquelética durante
o exercício alertam os quimioceptores dos vasos sanguíneos resultando na
vasodilatação e no fluxo sanguíneo direcionado para a contração muscular
esquelética. Dessa forma, o balanço entre os controles intrínseco e extrínseco,
além de contribuir para a redistribuição do fluxo sanguíneo, garante o fluxo de
sangue para órgãos vitais e também mantém a pressão arterial.
O efeito final dessas mudanças é a redistribuição do fluxo sanguíneo para fora
dos tecidos inativos e em direção à musculatura em atividade. Em exercícios
com intensidade entre 25 a 50% da capacidade máxima, a estimulação neural
simpática tanto para os tecidos ativos quanto os inativos começa a aumentar
de forma progressiva, conforme a intensidade de exercício aumenta até chegar
ao máximo.
O aumento do fluxo sanguíneo para os músculos esqueléticos e a diminuição
do fluxo para as vísceras muda de forma linear em função do percentual do VO2máx.
Durante o repouso, de 15 a 20% do débito cardíaco total é direcionado para a
musculatura esquelética. Já durante exercícios máximos, cerca de 80 a 85% do
débito cardíaco total é destinado para os músculos esqueléticos em contração.
Durante exercício físico o débito cardíaco aumenta proporcionalmente a taxa
metabólica necessária para a realização da atividade, e, por isso, ele apresenta
uma relação linear com o consumo máximo de oxigênio.

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ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

O débito cardíaco aumenta em exercícios realizados em posição vertical (como a


corrida) em decorrência do aumento do volume sistólico e da frequência cardíaca.
Porém, em indivíduos não treinados ou moderadamente treinados, o volume sistólico
não aumenta além de uma carga de trabalho de 40-60% do VO2máx. Assim, a elevação
do débito cardíaco destes indivíduos durante taxas de trabalho superiores a 40-60%
do VO2máx acontece por conta somente da elevação da frequência cardíaca.

Durante a realização de exercícios, as alterações na pressão arterial e na frequência


cardíaca refletem a intensidade, a duração e as condições ambientais em que a atividade
foi realizada. No início do exercício acontece rápida elevação do volume sistólico, da
frequência cardíaca e, consequentemente, do débito cardíaco. Se a taxa de trabalho
estiver abaixo do limiar de lactato e se mantiver constante, tanto o volume sistólico,
quanto a frequência cardíaca e o débito cardíaco atingem um platô de estado estável
por volta de 2 a 3 minutos.
Tanto em repouso quanto durante o exercício, o sangue que não retorna para o
coração não pode ser bombeado para a circulação pulmonar ou para a sistêmica.
Após o sangue passar pelos capilares teciduais, a sua pressão arterial média é baixa
(entre 10-20 mmHg) e, embora a gradiente de pressão seja suficiente para levar o
sangue de volta ao coração, ele não é suficiente e transporta o fluxo de sangue em
direção ao coração de forma bem lenta. Vários são os fatores que contribuem para
o retorno venoso tanto em repouso quanto em exercício, para ajudar a aumentar o
volume sistólico adequado e, assim, o fluxo sanguíneo para os tecidos. Entre esses
fatores estão a venoconstrição, a bomba muscular e a bomba respiratória.
A venoconstrição (constrição de veias) das grandes veias, por meio da estimulação
simpática, estimula o retorno venoso para o coração, mas esse mecanismo pode
não se aplicar à musculatura esquelética. Somente veias localizadas em outros
tecidos, que não a musculatura esquelética, auxiliam o aumento do retorno venoso
por venoconstrição. Na musculatura esquelética, o aumento do retorno venoso ocorre,
em grande parte, pela ação da bomba muscular.
A bomba muscular “aumenta o retorno venoso por causa da compressão das
veias pela expansão dos músculos durante a contração e pela presença de válvulas
unidirecionais nas grandes veias” (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016, p. 244)
que funcionam com uma “ordenha” para que o sangue retorne ao coração. A bomba

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muscular é ativada assim que o exercício se inicia e permanece ativa no decorrer de


toda a atividade. O que contribui para o aumento do débito cardíaco necessário para
manter a atividade.

Título: Bomba muscular


Fonte: Veins.ppt (live.com)

A bomba respiratória aumenta o retorno venoso por causa dos “aumentos


e das diminuições na pressão intratorácica durante a expiração e a inspiração,
respectivamente” (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016, p. 244). Esse mecanismo
contribui para o retorno venoso no repouso, e durante o exercício está aumentado
por conta da taxa e intensidade elevadas da respiração.

6.1.2. Respostas circulatórias ao exercício incremental

Em exercícios incrementais, a frequência cardíaca e o débito cardíaco se elevam


proporcionalmente ao consumo de oxigênio. Isso acontece, pois o fluxo de sangue para
a musculatura aumenta para suprir a necessidade de síntese de ATP e de quantidade
de oxigênio para contração muscular. Porém, a frequência cardíaca e o débito cardíaco
atingem um platô por volta de 100% do VO2máx.

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Aumentos na intensidade do exercício incremental resultam em aumentos da


frequência cardíaca e da pressão arterial sistólica (PAS), o que resulta em aumento na
carga de trabalho imposta ao coração. Exercícios máximos, realizados no VO2máx podem
elevar a carga de trabalho do coração em 500% em relação ao repouso (POWERS;
HOWLEY, 2014). Esse aumento da demanda metabólica do coração durante exercícios
incrementais pode ser estimado pelo exame do produto duplo que é calculado pela
multiplicação da frequência cardíaca pela pressão arterial sistólica (PD = FC x PAS).

ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

Aplicação prática do produto duplo:


Medida utilizada como guia para se prescrever exercícios físicos para pacientes com
bloqueio de artéria coronária. Em determinada intensidade de exercício, o paciente
pode desenvolver dor torácica (angina de peito), decorrente de uma isquemia
(redução da passagem de sangue) miocárdica, a um produto duplo de 30 mil.
Diante desse fato, o profissional recomendaria exercícios para esse paciente que
resultassem em um produto duplo igual a 30 mil, pois diminuiria o risco do paciente
desenvolver angina de peito por consequência de uma demanda metabólica alta
sobre o coração (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016; POWERS; HOWLEY, 2014).

6.1.3. Respostas circulatórias a exercícios prolongados

Com relação a exercícios prolongados, conforme a duração do exercício aumenta, o


volume sistólico declina e a frequência cardíaca se eleva. Em exercícios prolongados
quando realizados em condições ambientais quentes e úmidas, a recuperação do
exercício é bem mais lenta. Nesses casos, a temperatura corporal elevada retarda a
recuperação da frequência cardíaca após o término do exercício.

6.1.4. Respostas circulatórias a exercícios intermitentes

Em exercícios intermitentes, ou seja, treinos com intervalos, a recuperação da


frequência cardíaca e da pressão arterial entre as séries de exercícios irá depender
do nível de condicionamento do praticante, da temperatura e umidade do ambiente,
e da duração e intensidade do exercício. Em exercícios intermitentes intensos ou
exercícios intermitentes realizados em ambientes quentes e/ou úmidos há um aumento

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cumulativo da frequência cardíaca entre os esforços e, com isso, a recuperação do


exercício não é completa.
Dessa forma, a natureza desse tipo de atividade determina um número limitado de
esforços a serem tolerados. Contrariamente, exercícios com séries repetidas, porém
leves, permitem a realização de muitas repetições, afinal há, em geral, uma recuperação
completa entre os esforços em poucos minutos.

6.1.5. Respostas circulatórias a exercícios leves

Para exercícios de baixa intensidade e curta duração, geralmente, a recuperação é


rápida. A frequência cardíaca, o volume sistólico e o débito cardíaco caem rapidamente
ao seu respectivo valor de repouso após o término do exercício. Indivíduos treinados
apresentam recuperação mais rápida desses três fatores do que aqueles não treinados.
Os treinados, não atingem frequências cardíacas tão elevadas quanto aqueles sem
treinamento, por isso, a sua recuperação é mais rápida.

6.1.6. Exercício de braço X Exercício de perna

Ao se comparar exercícios para os braços e exercícios para as pernas, durante


esforços com um mesmo VO2máx, a frequência cardíaca e a pressão arterial são maiores
durante um exercício para braço do que para um exercício de perna. O aumento da
pressão arterial no exercício de braço deve-se à vasoconstrição dos grupos musculares
inativos, sendo que quanto maior for o grupo muscular envolvido na atividade, mais
arteríolas (vasos de resistência) serão dilatadas.

6.1.7. Treinamento aeróbio (endurance) e treinamento com pesos

Ambos quando realizados a longo prazo diminuem a pressão arterial em repouso


e em exercícios submáximos (caminhadas, pedaladas e musculação, por exemplo).
Após o treinamento de longo prazo, o fluxo sanguíneo para a musculatura em exercício
aumenta, como resultado do débito cardíaco elevado e da redistribuição do fluxo mais
eficiente, e também por conta de adaptações do sistema circulatório como um todo.
O treinamento de endurance, por exemplo, tem como adaptações o aumento no
número de hemácias e aumento no volume plasmático. Esse aumento no volume de

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sangue é importante, pois aumenta a quantidade total de oxigênio que pode chegar
aos tecidos metabolicamente ativos possibilitando que os atletas se saiam melhor
tanto em esforços máximos como submáximos.

6.2. Regulação dos ajustes cardiovasculares ao exercício

Cerca de um segundo após o início do exercício a descarga elétrica (via nervo vago)
para o coração cessa, e se segue um aumento da estimulação simpática do coração. Ao
mesmo tempo ocorre a vasodilatação das arteríolas na musculatura esquelética ativa
e um aumento na resistência dos vasos em locais menos ativos. Em consequência,
há aumento do débito cardíaco, para que o fluxo de sangue atenda às necessidades
metabólicas dos músculos.
Ao início do exercício a atividade cardiovascular pode ser modificada por
mecanoceptores cardíacos e musculares, quimiceptores musculares, e baroceptores
das carótidas e do arco aórtico. Os quimiceptores musculares são sensíveis à elevação
da concentração de metabólitos musculares e enviam informações para o centro de
controle cardiovascular no bulbo para que as respostas cardiovasculares ao exercício
ocorram. Os mecanoceptores musculares, como o fuso muscular e o órgão tendinoso
de Golgi, são sensíveis à força e à velocidade do movimento muscular (POWERS;
HOWLEY, 2014).
Assim como os quimioceptores musculares, os mecanoceptores musculares enviam
mensagens aos centros cerebrais superiores para que os ajustes cardiovasculares ao
exercício ocorram. Os baroceptores são receptores sensíveis às alterações da pressão
arterial, e também se comunicam com o centro de controle cardiovascular para auxiliar
na modificação das respostas cardiovasculares ao exercício. Os baroceptores são
importantes, afinal regulam a pressão arterial em torno de uma pressão sistêmica
aumentada durante exercício (POWERS; HOWLEY, 2014).

ANOTE ISSO

Para compreender mais sobre a regulação dos ajustes cardiovasculares ao exercício


consulte: Powers e Howley (2014, p. 215)

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O ajuste fino da resposta cardiovascular ao exercício pode ser realizado por essa série
de feedbacks a partir dos receptores musculares e arteriais. Porém, existe também a
teoria do comando central, aceita como o principal impulso para aumentar a frequência
cardíaca durante exercício, que propõe que o sinal no início do exercício advém dos
centros cerebrais superiores (POWERS; HOWLEY, 2014). Essa teoria diz respeito a um
sinal motor desenvolvido junto ao encéfalo e propõe que:

as alterações cardiovasculares iniciais que ocorrem no começo da


execução do exercício dinâmico [...] são decorrentes dos sinais motores
cardiovasculares centralmente gerados, que estabelecem o padrão geral
da resposta cardiovascular (POWERS; HOWLEY, 2014, p. 215).

6.3. Principais respostas ventilatórias ao exercício

A ventilação pulmonar durante o exercício é 10-20 vezes maior do que no repouso.


O fluxo de ar pode aumentar sempre que houver aumento do gradiente de pressão ao
longo do sistema pulmonar, ou se houver diminuição da resistência oferecida pela via
aérea. Então exercícios aumentam o fluxo de ar, exercícios máximos principalmente,
pois a taxa de captação de oxigênio (O2) e a produção de dióxido de carbono (CO2)
podem aumentar 20-30 vezes acima da condição de repouso.
As doenças pulmonares obstrutivas também aumentam o trabalho respiratório,
mas porque aumentam a resistência oferecida pela via aérea, já que esta geralmente
se encontra obstruída.

Título: Alvéolos pulmonares com bronquite crônica


Fonte: Respiratory_system.ppt (live.com)

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ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

Um indivíduo do sexo masculino em repouso, com aproximadamente 70 kg,


apresenta ventilação de 7,5 L/min, uma frequência respiratória de 15 respirações/
min e um volume corrente de 0,5 litros. Durante o exercício máximo, a ventilação
pode chegar a 120-175 L/min, com uma frequência de 40-50 respirações/min e um
volume corrente aproximado de 3-3,5 litros.

A quantidade de O2 ou CO2 presente no sangue depende da temperatura do sangue,


da pressão parcial do gás e da solubilidade do gás. Durante o exercício o que determina
a quantidade de gás dissolvida no sangue é a sua pressão parcial, afinal a temperatura
do sangue não sofre alteração significativa durante o exercício e a solubilidade do gás
permanece constante.

6.3.1. Exercício submáximo constante

Na transição do repouso para o exercício submáximo (abaixo do limiar de lactato)


e constante, a ventilação expirada aumenta abruptamente no início da atividade. No
decorrer do exercício ocorre uma elevação mais lenta em direção a um valor de estado
estável. A pressão parcial de O2 (PO2) arterial diminui e a pressão parcial de CO2 (PCO2)
arterial aumenta discretamente, o que indica que a ventilação alveolar no início desse
tipo de exercício não aumenta tão rapidamente quanto aumenta o metabolismo.

6.3.2. Exercício submáximo prolongado

Em exercícios submáximos e constantes, porém prolongados, a ventilação pulmonar


tem a tendência de elevar-se quando realizados em ambientes quentes e úmidos.
Essas condições impedem o corpo de perder calor e há um aumento da temperatura
corporal o que afeta diretamente o centro de controle respiratório. O aumento da
ventilação nesse tipo de exercício acontece em grande parte por conta do aumento
da frequência respiratória e da ventilação do espaço morto, e nem tanto pela elevação
na PCO2.

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ANOTE ISSO

A respeito do conceito de espaço morto, Powers e Howley (2014, p. 224) afirmam


que:

É importante entender que nem todo ar que passa pelos lábios chega
ao compartimento de gases alveolar, onde as trocas gasosas ocorrem.
Parte de cada respiração permanece nas vias aéreas condutoras
(traqueia, brônquios, etc.) e, desta forma, não participa das trocas
gasosas. Essa ventilação «não utilizada» é denominada ventilação de
espaço morto (Vm), e o espaço ocupado por ela é conhecido como
espaço morto anatômico.

6.3.3. Exercícios incrementais

Durante exercícios incrementais a ventilação aumenta linearmente em relação à


captação de O2 até aproximadamente 75% do VO2máx. A partir daí, a ventilação começa
a aumentar exponencialmente. O ponto de inflexão na ventilação é chamado de limiar
ventilatório (LV). O LV é definido como a carga de trabalho em que há aumento do
equivalente respiratório de O2 (Ve/O2), sem mudanças no equivalente respiratório de
CO2 (Ve/VCO2), e um aumento da PO2 corrente final.
Equivalente respiratório de O2 e de CO2 são indicadores para o volume de ar ventilado
necessário para obter um litro de O2 ou expirar um litro de CO2, respectivamente. Esses
equivalentes respiratórios, e consequentemente o LV, podem ser usados para estimar
o limiar de lactato, e ao mesmo tempo indicar aspectos que auxiliam a controlar a
ventilação pulmonar.
O aumento Ve/VO2 sem alterações na Ve/VCO2, ou seja, o momento em que ocorre
o LV, diz respeito a mudanças metabólicas que ocorrem no momento ou após o limiar
de lactato. Com a ultrapassagem do limiar de lactato, a acidez plasmática começa se
elevar, devido a maior dependência das vias anaeróbias de produção de energia, o que
aumenta a concentração plasmática de íons de hidrogênio. Além disso, o ácido lático
produzido na glicólise anaeróbia é tamponado pelo bicarbonato de sódio, o que resulta
na produção de CO2. A produção de CO2 e íons hidrogênio aumentadas estimulam
quimiceptores periféricos o que resulta em aumento da ventilação pulmonar.

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Título: Alteração na ventilação (VE) de um maratonista altamente treinado durante exercício incremental e o respectivo ponto de inflexão (limiar ventilatório)
em aproximadamente 75% do VO2máx.
Fonte: Adaptado de Powers e Howley (2014, p. 236).

ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

Cerca de 40-50% de maratonistas sadios altamente treinados, e do sexo masculino,


apresentam hipoxemia (valores baixos de PO2 arterial) ao realizar um trabalho quase
máximo. Esses indivíduos apresentam uma diminuição de 30-40 mmHg na PO2
arterial para esse tipo de atividade, enquanto valores normais de PO2 em repouso
equivalem a 10-12 mmHg (POWERS; HOWLEY, 2014).

6.4. Controle das respostas ventilatórias ao exercício

A regulação das trocas gasosas é importante, pois em repouso mantém a homeostase,


e em exercício, mantém as necessidades de O2 arterial em concentrações normais,
remove o CO2, além de manter o equilíbrio acidobásico do corpo. Grande parte desse
controle acontece por regulação involuntária da ventilação pulmonar. Os centros
respiratórios localizados no tronco encefálico, mais especificamente no bulbo e na
ponte, que controlam involuntariamente a respiração ao produzirem um padrão rítmico
de inspiração e de expiração, agindo como um “marca passo” respiratório.

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Título: Ponte e bulbo, onde está localizado o centro de controle respiratório do tronco encefálico.
Fonte: https://view.officeapps.live.com/op/view.aspx?src=https%3A%2F%2Fsmart.servier.com%2Fwp-content%2Fuploads%2F2016%2F10%2FNervous_system.
ppt&wdOrigin=BROWSELINK

A frequência e a profundidade da respiração podem ser alteradas por informação de


centros cerebrais superiores (comando central), por quimioceptores do próprio bulbo
e também por outras informações periféricas para conseguir atender às demandas
de troca gasosa no repouso e durante o exercício. A ventilação acontece basicamente
pela contração e relaxamento do diafragma, e no exercício pela ação também de
músculos auxiliares. Em exercício, impulsos nervosos que saem do córtex motor (via
comando central), podem controlar a musculatura respiratória e aumentar a ventilação
proporcionalmente ao número de unidades motoras recrutadas, ou seja, a quantidade
de trabalho que está sendo realizado no exercício.
Existem áreas do corpo e do sistema nervoso central que auxiliam o controle
ventilatório pelo monitoramento das concentrações de PO2, PCO2 e íons hidrogênio no
sangue ou no líquido cerebrospinal (fluido que circula entre o crânio e o córtex cerebral).
Enquanto uma PO2 aumentada junto a PCO2 e a concentração de íons de hidrogênio
diminuídas resultam em ventilação pulmonar diminuída. Diminuições na PO2 e aumentos
na PCO2 e na quantidade de íons hidrogênio elevam a ventilação pulmonar. Este último
caso é o que acontece durante o exercício.
Em exercícios submáximos a elevação da ventilação acontece devido a uma interação
da estimulação neural e quimioceptora dos músculos em trabalho com o centro de
controle respiratório, formando um meio de compatibilizar de forma precisa a ventilação
com a quantidade de CO2 que está sendo produzida pelo metabolismo. Porém, durante
o exercício os mecanismos neurais dos centros cerebrais superiores (comando central)
é que fornecem o impulso primário para a respiração durante a atividade.

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De forma geral, a estimulação neural refere-se à estimulação do centro de controle


respiratório por neurônios excitados via estímulos não transmitidos pelo sangue. Esses
neurônios ou quimioceptores centrais estão localizados no bulbo e são sensíveis a
mudanças químicas no líquido cerebrospinal, principalmente mudanças nos níveis de
íons hidrogênio ou de pH. Esses estímulos fazem os quimioceptores centrais enviarem
informações para o centro respiratório para aumentar a ventilação.
Durante o exercício, a concentração sanguínea elevada de íons de hidrogênio pode
ser devido à acidez aumentada secundária ao metabolismo anaeróbio e a PCO2 elevada
resultando da reação com bicarbonato. As membranas dos capilares cerebrais são
bastante permeáveis ao CO2, e com a PCO2 aumentada, o CO2 difunde-se rapidamente
para o líquido cerebroespinhal o que aumenta também a concentração de íons hidrogênio,
devido mais uma vez, à reação de bicarbonato. O excesso de íons de hidrogênio no
líquido cerebrospinal estimula a elevação na ventilação pulmonar para eliminar o CO2
do corpo.
Os quimioceptores periféricos estão localizados nas artérias carótidas e no arco da
aorta. Ambos respondem a alterações na PCO2 e na concentração de íons de hidrogênio
(H+), mas os quimioceptores das carótidas respondem também a mudanças na PO2
arterial e na concentração de potássio sanguíneo. Porém, as alterações na PCO2 são
um estímulo mais forte para mudar a ventilação pulmonar em exercício.
Durante o exercício, o aumento da ventilação é linearmente proporcional ao aumento
da PCO2 arterial. Nesse caso, para atender às maiores necessidades de O2 e de remoção
do CO2, a troca gasosa nos alvéolos e no tecido muscular aumenta. Para que essa
demanda seja atendida, o fluxo sanguíneo nos leitos capilares dos alvéolos e no tecido
muscular deve aumentar também. Para que o fluxo sanguíneo aumente, é fundamental
que o sistema circulatório atue aumentando o débito cardíaco e, consequentemente, a
redistribuição do sangue para fora do tecido inativo e na direção do tecido muscular ativo.

No repouso, a pressão parcial do dióxido de carbono no sangue é


controlada rigorosamente; essa regulação provavelmente se deve
às alterações nas concentrações de H+ em oposição à pressão
parcial de dióxido de carbono A ventilação tem 3 fases durante o
trabalho submáximo: fase 1, de ventilação aumentada devido a
informações dos centros cerebrais superiores; fase 2, de ventilação
aumentada por causa do efeito contínuo da atividade do córtex motor
e da retroalimentação dos músculos ativos e dos quimiorreceptores
periféricos; e fase 3, do platô da ventilação predominantemente
por causa das informações dos quimiorreceptores periféricos
e centrais Acima de cerca de 50 a 60% do pico de consumo de
oxigênio, há aumento desproporcional da ventilação por causa da
acidez aumentada, bem como por outros fatores (KRAEMER; FLECK;
DESCHENES, 2016, p. 281).

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Conforme a intensidade do exercício aumenta do repouso até intensidades


submáximas ou máximas, a ventilação pulmonar passa pelas três fases descritas
acima. No entanto, em exercícios máximos (50-60% do consumo de O2), ocorre aumento
desproporcional da ventilação em relação ao aumento da intensidade do exercício.
Nesse caso, o indivíduo ventila mais ar para conseguir um litro de O2. Como a atividade
está acima do limiar de lactato, a acidez está elevada e o pH diminuído pela alta
concentração de íons hidrogênio. Esse fato estimula os quimioceptores periféricos
a aumentar a ventilação pulmonar por serem mais permeáveis aos íons hidrogênio.
Existem outros fatores que podem contribuir para essa elevação desproporcional da
ventilação pulmonar em exercícios máximos ou próximos ao máximo. Concentrações
de norepinefrina e de potássio aumentados no sangue também contribuem para a
ventilação pulmonar aumentada em exercício. A temperatura corporal elevada, como
é o caso de exercícios em ambientes quentes e/ou úmidos, também pode elevar a
ventilação pulmonar.

CONCLUSÃO

Seria quase impossível realizar tanto exercícios aeróbios quanto anaeróbios se


não fosse por essa notável capacidade que o sistema respiratório tem de igualar
a ventilação pulmonar conforme as demandas metabólicas do corpo em repouso
e em exercício. Também pela sua capacidade de se adaptar ao treinamento, afinal
os músculos respiratórios podem se adaptar ao treinamento físico de longo prazo
apresentando menor fadiga muscular respiratória durante o exercício físico.

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AULA 7
SISTEMA ENDÓCRINO
E EXERCÍCIO FÍSICO

Objetivos da aula: compreender as principais funções do sistema endócrino.

7. INTRODUÇÃO

O sistema endócrino e o sistema nervoso são os principais sistemas de comunicação


do corpo, afinal são responsáveis por enviar mensagens que influenciam respostas e
adaptações fisiológicas. Em essência, esses dois sistemas são uma série de glândulas
e substâncias por elas liberadas com o objetivo de controlar a fisiologia celular.

7.1. O sistema endócrino

O sistema endócrino é responsável por modular uma ampla rede de atividades


corporais que vão desde a função celular e o metabolismo até estados de humor e
processos sexuais e reprodutivos.

7.1.1. Os hormônios

O desempenho do sistema endócrino depende basicamente das glândulas e dos


hormônios. Uma glândula é um grupo de células organizadas que funcionam como um
órgão, pois secretam substâncias químicas: os hormônios. Um hormônio é liberado por
uma glândula como forma de sinalização em direção a um receptor específico de célula.

A liberação dos hormônios ocorre a partir de sítios celulares específicos


em diferentes órgãos e glândulas que produzem hormônios. Em
geral, eles são sintetizados por uma série de reações químicas,
armazenados e então liberados do local de armazenamento pelos
sinais mecânicos, neurais ou hormonais. Os sinais estimulatórios
permitem uma regulação bastante específica e o controle de quanto
hormônio é liberado (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016, p. 299).

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Muitos hormônios podem apresentar em seus padrões de liberação flutuação regular


ou ciclos circadianos. Alguns hormônios têm pouca mudança no decorrer das 24
horas do dia, e respondem apenas a tensões precisas, como o exercício físico, por
exemplo. Alguns outros hormônios começam com baixas concentrações no período da
manhã e alcançam o pico mais tarde, à tarde ou à noite. Outros hormônios ainda têm
altas concentrações pela manhã e diminuem no decorrer do dia. Então, as respostas
fisiológicas ao exercício realizado em momentos distintos do dia mostram variabilidade
semelhante de horário do dia.
Uma função hormonal endócrina é aquela em que o hormônio é secretado diretamente
no sangue até a célula-alvo. Uma função hormonal parácrina é quando o hormônio “é
liberado em uma área para interagir com outras células-alvo vizinhas sem o transporte
pelo sangue” (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016, p. 299). A função autócrina diz
respeito à liberação hormonal pela célula para a subsequente estimulação dela própria
por esse hormônio.

ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

Um exemplo de sinalização autócrina é quando o estímulo mecânico de produção


de força na contração muscular faz com que as fibras musculares do músculo
exercitado liberem IGF-I (fator de crescimento semelhante à insulina) e MGF (fator
de crescimento mecânico). Esses dois hormônios se unem aos receptores de IGF-I
das mesmas fibras musculares que os liberaram, e começam a sinalizar a síntese
proteica (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016; POWERS; HOWLEY, 2014).

A meia-vida de um hormônio é a quantidade de tempo necessária para que “a


concentração do hormônio no sangue reduza à metade de seu valor de pico, o que
determina sua potência para produzir um sinal na célula-alvo desejada” (KRAEMER;
FLECK; DESCHENES, 2016, p. 300). Depois de certo tempo, ou após interagir com seu
respectivo receptor, o hormônio é clivado e degradado, finalizando sua sinalização no
sangue. Cada hormônio tem uma meia-vida específica, e muitos deles podem se ligar
a proteínas, moléculas ou células no sangue com a finalidade de aumentar a duração
de suas meias-vidas.
O controle da secreção dos hormônios é influenciado por diversos sistemas de
retroalimentação que controlam, em parte, a quantidade de hormônio que será liberado
pela glândula. Na retroalimentação negativa (feedback negativo) o “hormônio que

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é formado estimula a glândula ou a estrutura que secreta a substância a reduzir a


quantidade de secreção ou a função fisiológica estimulada pelo hormônio” (KRAEMER;
FLECK; DESCHENES, 2016, p. 301).
Na retroalimentação positiva (feedback positivo) “o hormônio que é formado estimula
a glândula ou a estrutura que secreta a substância a aumentar a quantidade de secreção
ou a função fisiológica estimulada pelo hormônio” (KRAEMER; FLECK; DESCHENES,
2016, p. 301). Por último, nas influências múltiplas de retroalimentação os sinais são
baseados em diversos sistemas hormonais, e não em um hormônio apenas.

7.1.2. Os receptores

Receptores são “mediadores dos sinais hormonais para o DNA da célula ou sua
maquinaria bioquímica” (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016, p. 304). A ligação
hormônio-receptor é complexa além de ser diferente para cada tipo de hormônio. Os
hormônios são classificados de acordo com a sua estrutura química e os três principais
tipos de hormônios são os esteroides (derivados de esteroides), peptídeos (derivados
de proteínas e peptídeos) e aminas (derivados de aminoácidos). Os receptores de
esteroides interagem diretamente com o DNA celular, já os receptores de hormônios
peptídicos dependem de sistemas mensageiros secundários para retransmitir os seus
sinais para o DNA.

7.2. Glândulas endócrinas e exercício

Os hormônios mais bem caracterizados são aqueles secretados por glândulas


endócrinas. As principais glândulas endócrinas do corpo são: glândula pineal, hipotálamo,
hipófise, glândula tireoide, glândulas paratireoides, timo, glândulas suprarrenais, rim,
pâncreas, ovários (nas mulheres) e testículos (nos homens).

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Título: Principais glândulas do sistema endócrino


Fonte: Sistema Endócrino - Imagens grátis no Pixabay

7.2.1. Hipotálamo e hipófise

O eixo hipotálamo-hipófise é um dos principais eixos hormonais do corpo humano.


Na endocrinologia a palavra eixo se refere a quando, para produção e liberação de um
hormônio, é necessária a interação em sequência de mais de uma glândula endócrina.
Dessa forma, o eixo hipotálamo-hipófise diz respeito à íntima relação dessas duas
glândulas na função e coordenação de uma infinidade de hormônios que impactam
a grande maioria dos sistemas orgânicos.
O hipotálamo controla a função da hipófise, e os hormônios por ele secretados tanto
estimulam quanto inibem a liberação de hormônios pela hipófise. O hipotálamo poderá
promover a liberação de um hormônio pela hipófise (pela secreção de um hormônio
liberador), ou inibir a liberação de um hormônio pela hipófise (pela secreção de um
hormônio inibidor). Dessa forma, o controle efetivo da hipófise e seus respectivos

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hormônios vêm do hipotálamo. A hipófise possui influência sobre inúmeras funções


fisiológicas distintas no corpo e, por isso, é considerada uma glândula mestra.
A adeno-hipófise (hipófise anterior) secreta hormônios que são importantes para
a função fisiológica de todo o corpo e que são responsivos ao exercício. A prática de
exercícios estimula a liberação do hormônio do crescimento (GH) pela adenohipófise.
O GH possui diversos efeitos diretos e influências nas funções fisiológicas, incluindo
crescimento tecidual e metabolismo. Ele atua desde a estimulação da síntese proteica
muscular e óssea até a estimulação de quebra de triglicerídeos nos adipócitos.

ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

O GH já foi utilizado como anabolizante no meio esportivo, com objetivo de melhora


de desempenho, pois durante muitos anos ele não era detectável no doping.

7.2.2. Glândula tireoide

Hormônios liberados pela tireoide, basicamente a tiroxina (T4) e triiodotironina


(T3), tem papel no aumento da taxa metabólica basal, além de serem importantes
para reações de síntese de proteínas, com funções vitais para o crescimento e o
desenvolvimento de células. Esses hormônios desempenham a função de hormônio
permissivo por possibilitarem que outros hormônios exerçam suas funções completa
e adequadamente. O hormônio T4 desempenha papel importante em mudanças na
função cardiovascular, como elevação do débito cardíaco e da frequência respiratória.

7.2.3. Hormônio paratireoidiano

O hormônio paratireoidiano (PTH), ou paratormônio, é secretado pelas glândulas


paratireoides, localizadas na superfície da glândula tireoide. Esse hormônio é responsável
por estimular o aumento das concentrações de cálcio no sangue. Para isso, o PTH
tem três regiões-alvo: o osso, onde estimula a liberação de cálcio; os rins onde eleva a
reabsorção de cálcio; e os intestinos, onde ele eleva a absorção de cálcio ao elevar a
produção de vitamina D e regular enzimas consideradas como chave nesse processo.
O PTH é regulado por retroalimentação negativa, na qual elevadas concentrações de
cálcio resultam na redução da produção do hormônio.

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7.2.4. Hormônios suprarrenais

As glândulas suprarrenais estão localizadas acima de cada um dos rins, e secretam


hormônios que influenciam o desempenho e a recuperação do estresse do exercício
físico. Cada glândula suprarrenal tem duas partes funcionais, cada qual com um
conjunto distinto de hormônios que são secretados: o córtex e a medula suprarrenais.
O córtex da medula suprarrenal cerca a medula suprarrenal. A liberação hormonal pela
medula suprarrenal é causada por estimulação do sistema nervoso simpático, via nervo
esplâncnico. O sistema nervoso estimula a medula suprarrenal para uma resposta
rápida, enquanto hormônios estimulantes promovem a liberação dos hormônios do
córtex suprarrenal.

Título: Córtex e medula suprarrenais


Fonte: Adaptado de McArdle, Katch e Katch (2016 p. 652).

O córtex da glândula suprarrenal produz mineralocorticoides como a aldosterona, e


os glicocorticoides como o cortisol. A aldosterona desempenha um papel fundamental
ao regular fluidos e eletrólitos pelo estresse do exercício. A intensidade e o volume
do exercício físico são pontos chave para a liberação de aldosterona, afinal com a
realização de exercícios mais intensos há aumento de demandas fisiológicas e maior
solicitação regulatória de eletrólitos e água.

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O cortisol é o principal glicocorticoide em seres humanos, e a sua liberação é


estimulada pelo hormônio ACTH (adenocorticotrofina), que é liberado pela hipófise.
Por volta de 10% do cortisol se encontra livre, e, portanto, bioativo, enquanto o restante
se encontra ligado a proteínas plasmáticas, com o intuito de aumentar sua meia vida
plasmática. O cortisol interage com os receptores de glicocorticoides, que podem ser
encontrados em praticamente todas as células do corpo, mas também interage com
outros receptores, como os receptores de androgênios para bloquear a sinalização
da síntese proteica.
O cortisol é conhecido como o principal hormônio catabólico do corpo, pois ele age
para preservar o glicogênio enquanto eleva a produção de glicose fornecendo outros
substratos básicos para sua síntese. Esse hormônio inibe a sinalização molecular
para síntese proteica para tentar evitar o uso do glicogênio ou da glicose muscular,
favorecendo a clivagem de proteínas, para que os aminoácidos resultantes possam
ser usados como combustível energético. Novamente, para preservar o glicogênio e a
glicose, o cortisol pode desempenhar um papel anti-inflamatório por reduzir a atividade
das células imunes, que utilizam glicose como o principal substrato energético.
A medula suprarrenal compõe aproximadamente 10% da massa total da glândula
suprarrenal e é responsável por secretar as catecolaminas (epinefrina, norepinefrina
e dopamina). Cerca de 85% da produção de catecolaminas na medula suprarrenal
é de epinefrina (ou adrenalina). A norepinefrina (ou noradrenalina) e a dopamina
complementam o percentual restante. A noradrenalina e a dopamina têm funções
de neurotransmissores em neurônios específicos do sistema nervoso.

O estímulo e a liberação de catecolaminas pela medula suprarrenal


constituem uma resposta adrenérgica do corpo reservada geralmente
para a resposta imediata ao estresse, incluindo o exercício. Essa
resposta adrenérgica afeta todos os tecidos no corpo que tenham
receptores adrenérgicos. Ela aumenta a quebra de glicogênio em
glicose no fígado e a liberação de ácidos graxos pelo tecido adiposo;
promove a vasodilatação das pequenas artérias dentro do músculo;
e aumenta a pressão arterial e o débito cardíaco (KRAEMER; FLECK;
DESCHENES, 2016, p. 327).

7.2.5. Hormônios pancreáticos

O pâncreas secreta os hormônios insulina, glucagon e somatostatina, mais


especificamente em suas células especializadas: as ilhotas de Langerhans. Em um

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pâncreas adulto, cerca de 60-80% das células das ilhotas são células beta, responsáveis
por sintetizar insulina. As células alfa compõem de 15-20% e são responsáveis por
sintetizar glucagon. As células delta compõem os 5-10% restantes e secretam
somatostatina, que inibe a liberação endócrina de insulina e glucagon.

Título: Pâncreas e Ilhotas onde ocorre a produção de insulina, glucagon e somatostatina.


Fonte: Diabetes.ppt (live.com)

O glucagon auxilia a elevar a glicose do sangue quando ela começa a diminuir. A


insulina é responsável por fazer as células captarem a glicose sanguínea quando ela está
elevada. A interação entre a insulina e o glucagon para o controle das concentrações
de glicose plasmática, é um exemplo clássico do mecanismo de retroalimentação
endócrina. Esse mecanismo é uma das funções homeostáticas mais importantes do
corpo.

7.2.6. Androgênios

Os hormônios esteroides sexuais ou androgênios são os reguladores mais importantes


de funções fisiológicas sexuais em homens (testosterona) e mulheres (estrogênio). O
estrogênio nas mulheres influencia diferentes funções do ciclo menstrual. A testosterona
é o hormônio anabólico mais importante nos homens e tem papel na produção de
suas características androgênicas durante a puberdade e posteriormente, na formação
dos músculos. Em mulheres, além das células de Leydig, a testosterona é produzida

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nos ovários e no córtex da glândula suprarrenal e as concentrações desse hormônio


são de 10 a 30 vezes menores do que nos homens.

7.2.7. Fatores de crescimento semelhantes à insulina

Os fatores de crescimento semelhantes à insulina (IGFs) constituem uma superfamília


de peptídeos. IGF-I e IGF-II são os principais dentro dessa família. Eles são secretados
por diversos tipos de células e apresentam efeitos nas células-alvo via liberações
endócrinas (fígado), parácrinas (adipócitos) e autócrinas (músculo esquelético). O
IGF-I, por exemplo, estimula a síntese proteica pela interação com um receptor na via
de sinalização chamada mTOR/AKT.

CONCLUSÃO

Esse capítulo abordou um panorama básico sobre os principais hormônios, seus


receptores e glândulas, bem como as suas respectivas funções. O sistema endócrino é
um sistema extremamente complexo. Dessa forma, no próximo capítulo será possível
compreendermos a respeito dos principais hormônios relacionados com a prática de
exercícios físicos.

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AULA 8
EXERCÍCIO FÍSICO E O
CONTROLE HORMONAL DA
MOBILIZAÇÃO DE SUBSTRATOS

Objetivos: compreender as principais alterações hormonais durante exercício.

8. INTRODUÇÃO

As demandas do exercício físico, bem como o estresse físico associado a sua


realização, podem requerer além do aumento na produção de força muscular máxima,
aumentos no metabolismo cerca de 10 vezes ou mais em relação ao repouso. Assim,
as respostas agudas, a recuperação do estresse do exercício e o reparo tecidual pós-
exercício estão ligados a respostas hormonais. De certa forma, os hormônios e seus
receptores intercedem tanto no desempenho quanto na recuperação e nas adaptações
ao treinamento físico.

8.1. Utilização do glicogênio muscular

A intensidade de um exercício, que é inversamente proporcional a sua duração, é a


responsável por determinar a velocidade de utilização do glicogênio muscular como
substrato. Ou seja, quanto mais intenso o exercício, mais rápida será a glicogenólise
(degradação do glicogênio). Essa glicogenólise pode ser iniciada pelo mecanismo
cálcio-calmodulina ou pelo AMP cíclico (AMPc). Ambos são segundos mensageiros
que ativam as proteínas quinases musculares para que a glicogenólise muscular
aconteça. A seguir, discutiremos sobre esses dois processos.
Mecanismo do AMPc: A adrenalina plasmática, quando ligada aos seus receptores
beta, estimula a formação do AMPc (molécula importante na transdução de sinal em
uma célula) que estimula a glicogenólise.

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Mecanismo do cálcio-calmodulina: Com a contração muscular há liberação de


cálcio (Ca++) do retículo sarcoplasmático no interior da célula muscular. Alguns desses
íons Ca++ são usados para iniciar eventos relacionados à contração, enquanto outros
se ligam à calmodulina que, por sua vez, ativa proteínas quinases necessárias para
a glicogenólise. Dessa forma, a liberação de glicose como substrato para o exercício,
acompanha a ativação da contração muscular.

8.2. Homeostase da glicose sanguínea em exercício

Título: Resumo para relembrar a atividade da insulina e do glucagon na homeostase da glicose.


Fonte: insulin-and-glucagon-vector-illustration-diagram-vector-id904816338 (458×612) (istockphoto.com)

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Um ponto chave dos processos de controle hormonal é a manutenção das


concentrações de glicose sanguínea. Nesse caso, as reservas energéticas do corpo
são utilizadas para a remoção acelerada da glicose sanguínea em situações de
jejum, inanição (onde há ingestão inadequada de carboidratos), ou em exercício. São
os hormônios que auxiliam nesse processo para enfrentar a carência das reservas
energéticas corporais.

ANOTE ISSO

A glicose é fundamental para manutenção da atividade do sistema nervoso central


e das hemácias, já que é o único substrato energético a ser utilizado por ambos.

A manutenção da concentração plasmática de glicose durante exercício ocorre


através de quatro processos que têm o mesmo objetivo: disponibilizar combustível
para o exercício enquanto mantém a concentração plasmática de glicose. Cada um
desses processos é controlado por mais de um hormônio, e todos os quatro sofrem
adaptações ao treinamento físico. Esses hormônios podem agir de maneira permissiva
e de ação lenta, enquanto outros são de ação rápida. Entre os quatro processos estão:
• Mobilização da glicose das reservas de glicogênio hepático;
• Mobilização de ácidos graxos livres (AGL) plasmáticos do tecido adiposo;
• Síntese de glicose a partir de aminoácidos, lactato e glicerol (gliconeogênese);
• Bloqueio da entrada de glicose nas células como maneira de forçar a utilização
de AGL como substrato.

Basicamente, durante o exercício a glicose plasmática é mantida devido ao aumento


da mobilização da glicose hepática, a utilização de AGL plasmáticos, ao aumento da
gliconeogênese e a diminuição da absorção de glicose pelos tecidos. A queda da insulina
plasmática e a elevação de adrenalina, noradrenalina, hormônio do crescimento (GH),
glucagon e cortisol plasmáticos são responsáveis por controlar esses mecanismos
para manutenção da concentração de glicose. Quando comparado a uma situação de
repouso, a glicose é absorvida de 7-20 vezes mais rapidamente durante o exercício,
mesmo com a diminuição da insulina plasmática.

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Hormônios permissivos e de ação lenta: os hormônios T4, cortisol e GH funcionam


de maneira permissiva, ou seja, em auxílio à ação de outros hormônios durante o
exercício.
• Hormônios da tireoide: durante o exercício, há aumento da T3 livre. Sem T3, a
adrenalina quase não teria efeito na mobilização dos AGL do tecido adiposo.
Além disso, durante o exercício, T3 e T4 são removidos do plasma pelos tecidos
com maior velocidade. Dessa forma, há aumento da secreção de TSH (hormônio
tireoestimulante) pela adeno-hipófise para estimular a secreção de T3 e T4 pela
glândula tireoide, para a manutenção de seus níveis plasmáticos. T3 e T4 em
baixas concentrações podem interferir na capacidade de outros hormônios de
mobilizar combustível para o exercício.
• Cortisol: o cortisol estimula a mobilização dos AGL do tecido adiposo, mobiliza
proteínas dos tecidos para produção de aminoácidos para serem utilizados na
síntese de glicose hepática (gliconeogênese) e diminui a velocidade de utilização
da glicose pelas células. Assim, como o T4, o efeito permissivo do cortisol
na mobilização do substrato durante o exercício agudo permite que outros
hormônios de ação rápida, como a adrenalina e o glucagon, se ocupem com
a mobilização da glicose e dos AGL. Diante de um aumento na intensidade do
exercício, pode-se esperar por um aumento da secreção do cortisol.
Resumindo,

o cortisol, como um glicocorticoide, está envolvido com o metabolismo


de glicose, já que estimula vários processos que, juntos, ajudam a
aumentar e a manter as concentrações normais de glicose no sangue.
Essas ações incluem a gliconeogênese, que é a síntese de glicose
a partir de aminoácidos e lipídios. O cortisol aumenta as enzimas
envolvidas com esse processo metabólico. Ele também estimula
a liberação de aminoácidos para o uso na glicogênese. Além disso,
o cortisol limita a captação de glicose para o músculo e o tecido
adiposo. Tudo isso é feito para conservar a glicose, que é a fonte
primária de energia para o encéfalo e o sistema nervoso. O cortisol
preserva glicogênio e glicose fornecendo substratos alternativos para
a síntese de glicose (p. ex., aminoácidos, glicerol) (KRAEMER; FLECK;
DESCHENES, 2016, p. 329).

• Hormônio do crescimento (GH): esse hormônio diminui a absorção da glicose


pelos tecidos, aumenta a mobilização dos AGL e promove a gliconeogênese
hepática. O efeito final de suas ações é a preservação da concentração de glicose

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plasmática. O GH, assim como o cortisol, pode ser influenciado por uma gama
de estressores físicos, químicos e psicológicos, portanto descrever a resposta
do GH e do cortisol ao exercício é uma tarefa difícil. A concentração de GH
plasmático se eleva ao longo de um exercício de 60 minutos a 60% do VO2máx.

ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

Exercícios prolongados (>90 minutos) e/ou ingestão calórica inadequada e


insuficiente, principalmente dietas com baixa ou nenhuma ingestão de carboidratos
podem não ser benéficos para o organismo. Situações como essa, favorecem a
proteólise (quebra de proteínas) pelo cortisol, para manutenção da glicemia e da
energia para a continuidade da atividade, o que pode resultar em perda de massa
muscular. Por isso é extremamente importante que exercícios sejam realizados com
acompanhamento de profissionais como educadores físicos e nutricionistas, para a
adequada dosagem da intensidade, duração e recuperação do exercício, bem como
uma ideal ingestão calórica.

Hormônios de ação rápida: são aqueles hormônios de resposta muito rápida cujas
ações fazem com que a glicose plasmática retorne rapidamente ao normal.
• Adrenalina e a noradrenalina: já foi relatada, na aula anterior, a ação desses
hormônios na mobilização de glicogênio muscular. Porém, esses hormônios
também estão envolvidos na mobilização da glicose hepática, na mobilização
de AGL do tecido adiposo e na absorção de glicose pelos tecidos. A adrenalina
é a principal catecolamina para a mobilização da glicose hepática e dos AGL
do tecido adiposo.
As concentrações plasmáticas dessas duas catecolaminas aumentam
linearmente em relação à duração do exercício, devido a necessidade de ajustes
cardiovasculares como aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial,
mas também para a mobilização do combustível para a atividade. A mobilização
do combustível envolve a mobilização da glicose e dos AGL para manter a
concentração de glicose plasmática.
Durante exercício a adrenalina e noradrenalina geralmente aumentam em cerca
de 50% do VO2máx e conforme a intensidade do exercício vai chegando próximo
ao máximo, essas catecolaminas aumentam exponencialmente. A adrenalina

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tem uma meia vida aproximada de apenas dois minutos e, por isso, ela retorna
aos níveis de repouso dentro dos primeiros minutos da recuperação do exercício.
Quando o estresse físico gerado é grande o bastante, como em protocolos
de treinamento resistido com intervalos curtos, a adrenalina pode se manter
elevada por até cinco minutos após o término da atividade. As adaptações
das catecolaminas ao exercício “mostram reduções nas respostas do exercício
submáximo, de modo semelhante às respostas da frequência cardíaca, com
respostas maiores durante o exercício máximo” (KRAEMER; FLECK; DESCHENES,
2016, p. 329).

• Insulina e glucagon: embora respondam aos mesmos estímulos, ambos


apresentam ação oposta com relação à mobilização da glicose hepática e dos
AGL do tecido adiposo. Esses dois hormônios são responsáveis pela maior parte
da gliconeogênese hepática durante exercício de intensidade moderada-intensa. A
insulina é o principal hormônio envolvido na absorção e armazenamento de glicose
e AGL, enquanto que o glucagon além de aumentar a gliconeogênese, promove
a mobilização da glicose e AGL para fora de seus locais de armazenamento.
Durante o exercício, a absorção de glicose pela musculatura esquelética
aumenta de 7 a 20 vezes em relação ao repouso. Considerando-se que a insulina
está envolvida de forma direta com a absorção de glicose pelos tecidos, o que
acontece com a insulina durante o exercício?
Em exercícios com intensidade crescente, a concentração desse hormônio
diminui, afinal se ocorresse aumento da insulina, a glicose plasmática seria
absorvida por todos os tecidos, incluindo o adiposo, a uma velocidade elevada,
o que causaria um quadro de hipoglicemia no indivíduo. Essa diminuição das
concentrações de insulina durante exercício facilita a mobilização da glicose
hepática e dos AGL do tecido adiposo, visto que ambos são necessários para
a manutenção da concentração de glicose plasmática.
Em exercícios moderados e prolongados a insulina diminui e o glucagon
aumenta para favorecer a mobilização de AGL do tecido adiposo e da glicose
hepática, além de um aumento da gliconeogênese.

Em suma:

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Em geral, as respostas recíprocas de insulina e glucagon favorecem a


manutenção da concentração plasmática de glicose em uma ocasião
em que o músculo está utilizando maior quantidade de glicose
plasmática. A redução da insulina e o aumento em todos os demais
hormônios favorecem a mobilização da glicose hepática e dos AGL
do tecido adiposo e a gliconeogênese no fígado; ao mesmo tempo,
inibem a absorção de glicose. Essas ações combinadas mantêm a
homeostase em relação à concentração plasmática de glicose, para
que o sistema nervoso central e os músculos possam contar com
o combustível que necessitam (POWERS; HOWLEY, 2014, p. 117).

Título: Resumo das respostas hormonais ao exercício gradativo.


Fonte: Adaptado de Powers e Howley (2014, p.119).

Título: Resumo das respostas hormonais ao exercício moderado prolongado.


Fonte: Adaptado de Powers e Howley (2014, p.119).

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8.3. Regulação do metabolismo de gordura durante exercício

Conforme já visto, a oxidação dos ácidos graxos livres é essencial principalmente


para exercícios de endurance. Afinal, durante esse tipo de exercício as reservas de
carboidratos são depletadas e o metabolismo de gorduras passa a atuar intensamente
para a produção de energia. Quando as reservas de glicogênio muscular e de glicose
sanguínea estão baixas, o sistema endócrino acelera a lipólise (metabolização de
gorduras) para suprir as necessidades energéticas da musculatura esquelética. O
processo de lipólise também pode ser aumentado pela liberação de catecolaminas
(adrenalina e noradrenalina).
Os AGL podem ser armazenados nos adipócitos bem como nas fibras musculares.
Os triglicerídeos do tecido adiposo necessitam ser degradados (pela atividade da
enzima lipase) em três moléculas de ácidos graxos e uma de glicerol para serem
transportados até a fibra muscular em atividade. O aumento da concentração de AGL
sanguíneos aumenta a sua captação pelas células musculares. A taxa de degradação
dos triglicerídeos determina, em parte, a velocidade com que a célula muscular utiliza
as gorduras como fonte de energia durante o exercício.
O cortisol, as catecolaminas e o GH ativam a atividade da enzima lipase. As
concentrações de cortisol plasmático atingem um pico por volta de 30-45 minutos
de exercício, e após isso diminui até níveis próximos do normal. Porém, a concentração
sanguínea de AGL continua a se elevar no decorrer do exercício, o que significa que
outros hormônios ativam a atividade da lipase. Esses hormônios são as catecolaminas
e o GH.

CONCLUSÃO

Neste capítulo foi possível compreender os processos fisiológicos, mais


especificamente a atuação do sistema endócrino, que acompanham o exercício físico. O
enfoque foi na regulação do metabolismo de glicose e de gorduras para a manutenção
de energia durante a atividade. Dessa forma, foi destacada a importância do sistema
endócrino para a realização de exercícios físicos, e a partir de agora, será possível
compreender o controle nervoso do movimento humano.

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AULA 9
CONTROLE NERVOSO DO
MOVIMENTO HUMANO

Objetivos da aula: identificar a organização geral do sistema nervoso.

9. INTRODUÇÃO

O sistema nervoso recebe constantemente mensagens advindas de receptores de


todo o corpo com informações sobre alterações no ambiente interno e externo. Esses
receptores (ou órgãos dos sentidos) têm a capacidade de perceber estímulos como
toque, dor, mudanças de temperatura e estímulos químicos, portanto, enviam essas
informações de alteração do ambiente interno ao sistema nervoso central. Este pode
responder por meio da alteração na taxa de liberação hormonal pelo sistema endócrino
ou simplesmente com um movimento involuntário. Esses movimentos involuntários
também conhecidos como reflexos são um meio de o corpo reagir de forma rápida
e inconsciente a alguns estímulos.

9.1. Funções gerais e organização do sistema nervoso

O sistema nervoso “é o meio que o corpo tem de perceber e responder aos eventos
que ocorrem nos ambientes interno e externo” (POWERS; HOWLEY, 2014, p. 140). Esse
sistema controla o movimento voluntário, integra as atividades corporais ao controlar
o ambiente interno, além de ser responsável pela memória e pelo aprendizado.
De forma anatômica, o sistema nervoso é dividido em duas partes principais: o
sistema nervoso central (SNC) e o sistema nervoso periférico (SNP). Fazem parte
do SNC o encéfalo e a medula espinal, e do SNP as células nervosas localizadas fora
do SNC, que são responsáveis por conectar as partes do corpo com o SNC.

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ANOTE ISSO

Inervar diz respeito ao suprimento de nervos para determinado órgão.

Título: SNC (encéfalo e medula espinal) e SNP (nervos cranianos e espinais)


Fonte: Nervous_system.ppt (live.com)

O SNP pode ser dividido em:


Parte sensorial: transmite impulsos neuronais, a partir de órgãos receptores até o
SNC, por meio de fibras nervosas sensoriais, também chamadas de fibras aferentes.

A parte motora é subdividida em:

Parte motora somática: responsável por controlar as funções que estão sob o
controle voluntário consciente. Inervam a musculatura esquelética;

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Parte motora autonômica: responsável por inervar órgãos efetores involuntários


(musculatura lisa involuntária - intestinos, musculatura cardíaca e glândulas).

As fibras nervosas que conduzem os impulsos do SNC para o corpo são chamadas
de fibras eferentes.

Título: Relação entre componentes motores e sensitivos


Fonte: Adaptado de Kraemer, Fleck e Deschenes (2016, p. 182)

9.1.1. Sistema nervoso autônomo

O sistema nervoso autônomo (SNA) tem importante papel na manutenção da


constância do ambiente corporal interno (homeostasia), afinal esse sistema inerva
órgãos efetores que geralmente não estão sob controle voluntário. Ainda de forma
involuntária, o SNA está associado a emoções, como a elevação da frequência cardíaca
em situações de medo ou excitação.
O SNA é dividido anatômica e funcionalmente em: sistema nervoso autônomo
simpático e sistema nervoso autônomo parassimpático. Esses dois sistemas
geralmente, mas nem sempre, trabalham em oposição. Os órgãos, em sua maioria,
recebem inervação de ambas as divisões. O ramo simpático, liberador de noradrenalina,
têm a tendência de ativar a atividade de um órgão (elevar a frequência cardíaca, por
exemplo).
O ramo parassimpático, liberador de acetilcolina, predomina em situações normais
ou de repouso, afinal possui impulsos que tendem a inibir a atividade de um órgão
(diminuir a frequência cardíaca). Já que o SNA simpático ativa e prepara o corpo para
atividade muscular intensa, estresses e emergências e o SNA parassimpático diminui
o excitamento, é de se esperar, que exercícios intensos culminem em aumento da
atividade autônoma.

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Título: SNA simpático


Fonte: Nervous_system.ppt (live.com)

Título: SNA parassimpático


Fonte: Nervous_system.ppt (live.com)

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9.1.2. Os neurônios

Os neurônios são a unidade funcional do sistema nervoso. Essas células são


consideradas como tecidos excitáveis especializados que transportam e respondem
a um sinal elétrico (impulso nervoso). Anatomicamente os neurônios são subdivididos
em:
• Corpo celular: onde está localizado o núcleo e, portanto, é o centro operacional
do neurônio.
• Axônio: é o responsável por transportar o impulso elétrico do corpo celular até
outro neurônio ou órgão. Essa estrutura também é chamada de fibra nervosa
e possui comprimento variável indo de milímetros até um metro.
• Dendritos: estendem-se do corpo celular e são capazes de conduzir a mensagem
elétrica em direção a ele.

Título: Estrutura do neurônio


Fonte: Free Vector | Stem cell diagram on white background (freepik.com)

Cada neurônio tem somente um axônio que pode se dividir em ramos que terminam
em outros neurônios, células ou glândulas. Os pontos de contato entre o axônio de um
neurônio e o dendrito de outro neurônio são denominados sinapses. Quando um axônio
é muito amplo, como pode acontecer com aqueles que inervam músculos esqueléticos,
ele é coberto por uma camada isoladora de células, as células de Schwann.

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As membranas dessas células possuem grande quantidade de mielina, uma


substância lipoproteica que forma uma bainha de revestimento externo no axônio.
Por ser uma bainha descontínua de revestimento, com espaços entre os segmentos
de mielina ao longo do axônio, os impulsos nervosos são conduzidos de forma mais
rápida do que em fibras que não a possuem.

Título: Sinapse e liberação de um neurotransmissor


Fonte: Neural_cells.ppt (live.com)

ANOTE ISSO

“Um neurotransmissor é um mensageiro bioquímico que os neurônios usam para se


comunicar entre si” (POWERS; HOWLEY, 2014, p. 144). A acetilcolina é um exemplo
de neurotransmissor.

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9.1.3. Condução dos impulsos nervosos

Os dendritos recebem impulsos (informações) e repassam para o corpo celular,


que é o local onde as informações recebidas serão processadas. Assim, sinais são
enviados do corpo celular pelo axônio para outro neurônio ou para o receptor do tecido
alvo (fibras musculares, por exemplo).
Para que essas informações passem pelo axônio um limiar de estímulo deve ser
recebido pelos dendritos. Em determinado momento, esse limiar de estímulos é
alcançado, fazendo com que o neurônio comece e envie uma carga elétrica (potencial
de ação) para fora do seu corpo celular.
Um impulso se origina em um neurônio e percorre seu axônio para transmitir a
informação contida no impulso nervoso: ou para outro neurônio ou para seu tecido
alvo. Um impulso nervoso (ou potencial de ação) em forma de energia elétrica é o
estímulo que provoca a contração muscular, por exemplo.
Na condução de um impulso, existe uma disposição de cargas positiva e negativa
(íons) separadas pela membrana neuronal. Ou seja, dentro dos neurônios existe uma
carga negativa, enquanto que na sua parte exterior há carga positiva, o que determina
o chamado potencial de repouso de membrana.
As principais moléculas responsáveis pelo potencial de membrana são o sódio (Na+) e
o potássio (K+). A disposição desses íons consiste nos íons Na+ predominantemente do
lado externo do neurônio, e os K+ dentro do neurônio. Acrescido a isso, há predominância
de outras partículas negativamente carregadas dentro do neurônio. Durante o potencial
de repouso, a membrana se encontra impermeável aos íons, porém quando um impulso
está sendo conduzido pelo dendrito ou axônio a membrana celular do neurônio se
torna permeável para o Na+ e o K+.
Quando o potencial de repouso atinge o limiar de excitação, devido a impulsos
somados que alcançam os neurônios pelos dendritos, um impulso nervoso acontece.
Cada íon apresenta um gradiente eletroquímico próprio, que quando a membrana se
torna permeável, serve como sua força direcional. Quando acontece o impulso nervoso
os canais de Na+ da membrana se abrem e esse íon adentra a célula (despolarização).
Após um breve atraso, os canais de K+ se abrem e esses íons saem do interior do
axônio, ao mesmo tempo em que os canais de Na+ se fecham (repolarização). Os
movimentos de despolarização e repolarização duram milissegundos, e são chamados
de potencial de ação e, muitas vezes, de impulso nervoso.

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Meio intracelular Potássio (K+)

Sódio (Na+)

Meio extracelular
(a)

Potássio (K+)
Meio intracelular
Sódio (Na+)

Estímulo limiar

Meio extracelular
(b)

Potássio (K+)
Meio intracelular
Sódio (Na+)

Meio extracelular
(c)
Título: (a) Potencial de repouso. (b) Membrana atinge o limiar, abertura canais de sódio e despolarização. (c) Abertura de canais de potássio e
repolarização.
Fonte: Adaptado de Receptors_channels.ppt (live.com)

Na repolarização, a membrana se torna pouco mais negativa do que no potencial de


repouso, o que estimula a bomba dependente de energia para restaurar a separação
de cargas, a bomba de sódio e potássio (bomba Na+ - K+). Nesse processo, três íons
Na+ são enviados para fora, enquanto dois íons K+ retornam para dentro do neurônio.

Título: Bomba sódio e potássio


Fonte: Receptors_channels.ppt (live.com)

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Conforme dito anteriormente, uma sinapse é o local de comunicação entre um neurônio


e outro. A sinapse é um pequeno espaço de 20 a 30 nanômetros, aproximadamente,
localizado entre o neurônio pré-sináptico e um dendrito de um neurônio pós-sináptico.
O impulso nervoso resulta na transmissão de neurotransmissores entre o neurônio
pré-sináptico e a membrana pós-sináptica.

Título: Sinapse e condução do impulso nervoso


Fonte: www.planetabiologia.com/impulso-nervoso

Os neurotransmissores contidos nas vesículas sinápticas são liberados na fenda


sináptica e se conectam aos receptores na membrana pós-sináptica. Essa conexão
resulta em uma série de despolarizações nos dendritos e corpo celular. Se quantidades
suficientes de neurotransmissores forem liberadas, ocorre a despolarização do neurônio
pós-sináptico até o limiar e um potencial de ação é gerado.

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Título: Impulso nervoso


Fonte: www.planetabiologia.com/impulso-nervoso

ANOTE ISSO

Lei do “tudo ou nada” dos potenciais de ação: não há diminuição da voltagem do


impulso nervoso ao percorrer toda a extensão do axônio, o impulso permanece tão
forte quanto era no seu ponto inicial.

CONCLUSÃO

O controle neural do movimento é responsável pela produção de força e de


movimento, porém, outros sistemas corporais estão envolvidos para contribuir com
esse mecanismo e também para manter a saúde, conforme será visto nos próximos
capítulos.

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AULA 10
SISTEMA NEUROMUSCULAR
E EXERCÍCIO I

Objetivos da aula:
• Identificar e reconhecer os proprioceptores musculares
• Reconhecer e diferenciar os três tipos de músculo do corpo humano
• Identificar a estrutura e função do músculo esquelético
• Constatar e comparar os tipos de ação muscular bem como os tipos fibras de
musculares

10. INTRODUÇÃO

A musculatura esquelética é responsável pelo movimento humano, e média de


forma impressionante o desempenho humano. Entender o movimento humano, bem
como elaborar programas de treinamento para melhora da saúde ou desempenho só
são possíveis graças à plena compreensão de como esse sistema atua e funciona.

10.1. Proprioceptores musculares

A musculatura esquelética tem vários tipos de receptores sensoriais, responsáveis


por enviar informações ao SNC (via neurônios sensoriais) sobre alterações do ambiente
interno e externo. Os receptores que fornecem informações sobre a posição do corpo são
chamados proprioceptores ou receptores cinestésicos, e incluem os fusos musculares
e os órgãos tendinosos de Golgi. Os órgãos tendinosos de Golgi (OTG) fornecem
informações sobre a tensão desenvolvida no músculo, e os fusos musculares sobre
o comprimento muscular.
Existem também os receptores sensíveis às alterações bioquímicas nos músculos
ou quimioceptores musculares. Conforme visto em aulas anteriores, os quimioceptores
musculares têm função importante na regulação cardiorrespiratória durante exercício,
afinal são terminações nervosas sensíveis a alterações das tensões de oxigênio e dióxido
de carbono. Além disso, os quimioceptores musculares também enviam informações
ao SNC quando há alteração do pH muscular e dos níveis de potássio extracelular, ou
seja eles informam o SNC sobre a taxa metabólica da atividade muscular.

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Fuso muscular: estão na maioria dos músculos locomotores do corpo humano, e


em músculos que necessitam de um grau de controle mais apurado, como os da mão,
por exemplo, os fusos estão presentes em maior densidade. Os fusos apresentam
como função a regulação do movimento e a manutenção da postura.
São os fusos musculares os responsáveis por entenderem que estiramentos rápidos
da musculatura esquelética culminam em contração reflexa (reflexo de estiramento
ou reflexo miotático).

O fuso muscular é composto por várias células musculares delgadas


(denominadas fibras intrafusais) circundadas por uma bainha de
tecido conjuntivo. Assim como as fibras musculares esqueléticas
normais (chamadas fibras extrafusais), os fusos musculares se
inserem no tecido conjuntivo localizado junto ao músculo. Dessa
forma, os fusos musculares seguem paralelamente às fibras
musculares (POWERS; HOWLEY, 2014, p. 149).

Cada fuso muscular tem dois tipos de terminações nervosas sensoriais, as primárias
e as secundárias. As primárias são sensíveis a alterações dinâmicas do comprimento
muscular enquanto as secundárias são responsáveis por enviar informações ao SNC
sobre o comprimento estático da musculatura. Além desses neurônios sensoriais,
motoneurônios gama inervam os fusos, e são responsáveis por estimular as fibras
intrafusais a se contraírem ao longo das extrafusais.

ANOTE ISSO

Para maiores informações sobre o reflexo de estiramento e reflexo miotático


consulte Powers e Howley (2014, p. 149); McArdle, Katch e Katch (2016, p. 626) e
Kraemer, Fleck e Deschenes (2016, p. 137).

Órgãos tendinosos de Golgi (OTG): são localizados junto aos tendões e, com isso,
encontram-se em série com as fibras extrafusais. Os OTG têm função de prevenir
tensões ou forças excessivas em contrações musculares. Para que isso ocorra, eles
enviam, via neurônios sensoriais, a informação para a medula espinal que, por sua
vez, excitam os neurônios inibitórios para evitar que neurônios motores disparem. Isso
diminui a produção de força, e protege a musculatura esquelética de possíveis lesões.

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10.2. Tipos de músculos

Existem três tipos diferentes de músculo no corpo humano: o cardíaco, o liso e o


esquelético. Cada tipo apresenta diferenças tanto anatômicas quanto funcionais. A
musculatura lisa é aquela encontrada nas vísceras e na parede dos vasos sanguíneos.
Essa musculatura não possui aparência estriada, mas assim como o músculo cardíaco
tem regulação involuntária, sob o comando do sistema nervoso autônomo. Já a
musculatura esquelética atua sob o controle voluntário no qual um indivíduo consegue
controlar a velocidade, a amplitude e as repetições de um movimento.

Título: Tipos de músculos


Fonte: https://www.freepik.com/free-vector/type-muscle-cells-health-education-infographic_11575343.htm

O músculo cardíaco (miocárdio) é aquele presente apenas no coração e tem algumas


semelhanças com o músculo esquelético, já que ambos quando vistos ao microscópio,
apresentam aparência estriada, além de se contraírem e relaxarem de forma similar.
Assim como as fibras de contração lenta do músculo estriado esquelético, as fibras
do miocárdio possuem alta densidade capilar e numerosas mitocôndrias.

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Diferentemente do músculo esquelético, as células polinucleadas do miocárdio


se interligam via discos intercalados, formando um tipo de treliça. Assim, o impulso
nervoso de uma célula somente, distribui o potencial de ação através do miocárdio
para todas as células, fazendo com que ele se contraia como uma unidade (MCARDLE;
KATCH; KATCH, 2016).

Título: Células musculares cardíacas e os discos intercalados.


Fonte: Heart_physiology.ppt (live.com)

ANOTE ISSO

Para compreender mais sobre as características funcionais e estruturais e o modo


de ativação dos três tipos de músculos, consulte McArdle, Katch e Katch (2016, p.
503).

10.3. Estrutura básica da musculatura esquelética

Mais de 600 músculos esqueléticos compõem o corpo humano, representando


cerca de 40 - 50% do peso corporal total. Em suma, o músculo esquelético tem como
funções principalmente gerar força para a respiração, para a locomoção e para a
manutenção postural, além de produzir calor em estresses térmicos como o frio.
A musculatura esquelética é aquela ligada a um osso em ambas as suas extremidades.
Os músculos esqueléticos apresentam uma relação funcional bastante próxima com

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os nervos e, com isso, juntos, ficaram conhecidos como sistema neuromuscular. O


músculo conecta-se ao osso pelos tendões em cada uma de suas extremidades.
Os tendões são tecido conjuntivo fibroso e forte. O movimento acontece quando
os músculos se contraem, exercendo força por intermédio dos tendões e os ossos
produzem o movimento.
Um músculo é formado por fascículos. Um fascículo é um pequeno feixe de fibras
musculares. As fibras musculares são células longas e multinucleadas, responsáveis
por produzir força. Uma fibra muscular é formada por miofibrilas, que são compostas
por miofilamentos finos (actina) e grossos (miosina). Actina e miosina são também
conhecidas como as proteínas contráteis do músculo. O esquema a seguir demonstra
essa constituição do músculo esquelético.

Título: Estrutura do músculo esquelético.


Fonte: www.planetabiologia.comr/estrutura-dos-musculos

Um músculo individual é mantido em posição e está separado de outro por um tecido


conjuntivo chamado fáscia. Existem três camadas separadas de tecido conjuntivo.
Cada fibra muscular é envolvida individualmente pelo endomísio. Cada feixe de fibras
musculares é coberto pelo perimísio. Um músculo inteiro é recoberto pelo epimísio.
Esse tecido conjuntivo é fundamental, pois auxilia na sustentação e estabilização dos
componentes organizacionais da musculatura. Por isso, é extremamente importante
para o desempenho físico.

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Título: Tecido conjuntivo muscular.


Fonte: Muscles-1.ppt (live.com)

Por formarem o componente elástico da musculatura essas camadas de tecido


conjuntivo contribuem para produção de força e potência. Dessa forma, quando
ocorre lesão ou dano nesse tecido a potência e força musculares são diminuídas.
Esse componente elástico é fundamental, pois contribui para o ciclo alongamento-
encurtamento do músculo. O ciclo alongamento-encurtamento envolve alongamento
muscular controlado, ou também chamado de ação excêntrica, seguido de encurtamento
muscular rápido ou ação concêntrica.
Ações isométricas são comuns na musculatura postural do corpo, que atuam
mantendo a posição corporal estática do indivíduo em pé ou sentado. Ação isométrica
é uma contração muscular estática, ou seja, ela gera força, no entanto, o comprimento
da fibra muscular não sofre alteração. Em suma, na ativação muscular há produção
de força e o músculo pode encurtar (ação concêntrica), resistir ao alongamento (ação
excêntrica) ou permanecer no mesmo comprimento (ação isométrica).
Ainda, com relação à ação muscular, os músculos podem ser classificados em
agonistas e antagonistas. Agonista é aquele músculo que realiza o movimento desejado,
como o bíceps braquial em uma flexão de cotovelo. Antagonista é o “músculo que
desempenha o movimento oposto ao do agonista” (KRAEMER; FLECK; DESCHENES,
2016, p. 133), como o tríceps braquial na flexão de cotovelo. Durante o movimento de
flexão do cotovelo, o bíceps se contrai enquanto o tríceps deve permanecer relaxado.

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Título: Ação do bíceps e tríceps braquial na flexão do cotovelo.


Fonte: https://www.freepik.com/free-vector/movement-process-arm-muscle-biceps-triceps_12735581.htm#page=1&query=musculo&from_
query=musculatura&position=15&from_view=search

10.4. Actina e miosina

A actina é o filamento fino, formada por duas hélices de moléculas de actina


entrelaçadas. Cada molécula de actina tem um sítio ativo que é onde a cabeça da
miosina entra em contato para o encurtamento do músculo. Em volta do filamento
de actina encontram-se duas moléculas proteicas regulatórias, a troponina e a
tropomiosina.
A molécula de miosina apresenta uma cabeça globular, uma base e uma cauda
fibrosa. A cada duas moléculas de miosina são formadas as ligações cruzadas.
Essas ligações são a parte do filamento de miosina que interagirá com a actina para
desenvolver força e tracionar os filamentos de actina sobre os outros filamentos de
miosina.

Título: Actina e miosina.


Fonte: Muscles-1.ppt (live.com)

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10.5. Sarcômero

O sarcômero é a unidade funcional contrátil do músculo esquelético, afinal é capaz


de se contrair e produzir força. O arranjo de filamentos proteicos do sarcômero é que
dá um aspecto estriado à musculatura esquelética quando vista pelo microscópio
e, por isso, o músculo esquelético também pode ser chamado de músculo estriado
esquelético.

Em cada extremidade do sarcômero estão as linhas Z. No repouso,


existem duas áreas claras distintas em cada sarcômero: a zona H no
meio do sarcômero, que contém miosina, mas não actina; e as bandas
I, localizadas em ambas as extremidades do sarcômero e que contêm
apenas filamentos de actina. Essas duas áreas parecem claras em
comparação com a banda A, que contém filamentos de actina e de
miosina sobrepostos. A linha M, encontrada no meio da zona H, é
importante, pois suas proteínas mantêm os filamentos de miosina no
lugar (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016, p. 121).

Título: Visão microscópica de sarcômeros. Um sarcômero vai de uma linha Z até outra linha Z.
Fonte: File:Human skeletal muscle tissue 2 - TEM.jpg - Wikimedia Commons

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Conforme o sarcômero encurta, os filamentos de actina deslizam


sobre os filamentos de miosina. Isso faz com que a zona H diminua
de tamanho conforme os filamentos de actina deslizam para ela
e conferem a ela um aspecto mais escuro. As bandas I se tornam
mais curtas à medida que actina e miosina deslizam uma sobre
a outra, trazendo a miosina para a banda I conforme as linhas Z
se aproximam dos finais dos filamentos de miosina. Quando o
sarcômero relaxa e retorna para seu comprimento original, a zona H
e as bandas I retornam para seus tamanhos e aparências originais,
visto que há menor sobreposição de miosina e actina. A banda A não
muda de comprimento durante o encurtamento ou o alongamento
do sarcômero, indicando que o comprimento dos filamentos de
miosina não muda durante os processos de encurtamento e de
retorno ao comprimento de repouso quando a fibra relaxa. Isso
também é verdade para os filamentos de actina (KRAEMER; FLECK;
DESCHENES, 2016, p. 121).

Título: (a) Sarcômero relaxado. (b) Sarcômero contraído.


Fonte: Muscles-1.ppt (live.com)

10.6. Tipos de fibra muscular

O músculo esquelético é formado por diferentes tipos de fibras musculares e cada


uma apresenta força, potência e capacidades metabólicas diferentes. Os dois principais
tipos de fibras (tipo I e tipo II) são estabelecidos após o nascimento, e podem sofrer
sutis mudanças ao longo da vida. Tais mudanças podem estar relacionadas ao tipo de
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atividades realizadas, concentrações de hormônios e o processo de envelhecimento.


O treinamento físico é um estímulo bastante potente para o processo de conversão
dos tipos de fibras.
As fibras musculares do tipo I ou fibras de contração lenta possuem uma alta
capacidade para o metabolismo oxidativo, uma vez que são bastante irrigadas e dotadas
de mitocôndrias. Como consequência, são fibras resistentes à fadiga e continuam
contraindo durante longos períodos de tempo, com pouco decréscimo na produção
de força. São fibras adequadas para o desempenho em treinos de endurance.
As fibras musculares do tipo II ou fibras de contração rápida possuem alta
capacidade de produção de força de forma rápida. Essas fibras não têm extensa
irrigação sanguínea nem muitas mitocôndrias e, por isso, apresentam tendência à
fadiga. Nos seres humanos existem dois subtipos de fibras rápidas. As fibras do tipo
IIx possuem pouca capacidade aeróbia e alta capacidade anaeróbia, afinal são ricas
em enzimas glicolíticas. As fibras do tipo IIa são também chamadas de intermediárias
pois apresentam características bioquímicas e de fadiga intermediárias entre as fibras
do tipo IIx e tipo I. As fibras IIa são consideradas uma mistura de características das
fibras IIx e I.

ANOTE ISSO

Para saber mais sobre os tipos de fibra muscular e suas características, consulte
Kraemer, Fleck e Deschenes (2016, p. 124-127).

CONCLUSÃO

Pelo papel desempenhado pelos músculos no desempenho esportivo, a compreensão


de sua estrutura e função permite o entendimento sobre sua atuação no movimento
humano e suas adaptações com a realização do treinamento físico.

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AULA 11
SISTEMA NEUROMUSCULAR
E EXERCÍCIO II

Objetivos:
• Compreender o conceito de unidade motora e junção neuromuscular
• Compreender a cadeia de eventos durante contração muscular
• Aprender quais são as principais adaptações neuromusculares ao treinamento

11. INTRODUÇÃO

Sem a contração muscular não seria possível a realização de movimentos. A


contração muscular envolve a atuação de diversos sistemas corporais como o nervoso
e o muscular, por exemplo. Já compreendemos como o sistema nervoso e também
o muscular se organizam e quais suas principais funções, agora compreenderemos
como eles atuam em conjunto (sistema neuromuscular) no processo de contração
muscular. Também aprenderemos como o treinamento físico influencia o sistema
muscular.

11.1. Unidade motora

A parte somática do sistema nervoso periférico (SNP) envia informações neurais


da medula espinal até a musculatura esquelética, com mensagens para a contração
muscular acontecer. O neurônio somático que inerva as fibras musculares é chamado
de motoneurônio alfa. O corpo celular desses neurônios está na medula espinal e o
axônio sai da medula espinal como nervo espinal e se estende até o músculo que irá
inervar. Chegando ao músculo, o axônio se divide em ramos colaterais que irão inervar
uma única fibra muscular cada. Cada motoneurônio e todas as fibras musculares por
ele inervadas formam uma unidade motora.
A quantidade de fibras musculares inervadas por um único motoneurônio varia
de um músculo para outro. Em músculos da perna, que executam movimentos mais

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amplos, um único motoneurônio pode inervar até 2000 fibras musculares, enquanto
músculos que executam controle motor fino (músculos do olho, por exemplo), um
motoneurônio inerva aproximadamente 23 fibras musculares apenas (MCARDLE;
KATCH; KATCH, 2016).
Quando um motoneurônio é ativado todas as respectivas fibras por ele inervadas
são estimuladas a contrair. Uma das formas que o sistema nervoso central (SNC)
aumenta a força de contração muscular é elevando a quantidade de unidades motoras
recrutadas. O conceito de recrutamento de unidades motoras diz respeito à ativação de
um número crescente de motoneurônios. Quanto mais unidades motoras recrutadas,
mais fibras musculares são ativadas e, consequentemente, maior a força de contração
voluntária de um músculo.
Geralmente, as unidades motoras são recrutadas de acordo com o princípio do
tamanho, que nada mais é do que o recrutamento ordenado e sequencial em função
do tamanho da unidade motora. Ou seja, primeiro os motoneurônios menores são
ativados progredindo para motoneurônios cada vez maiores.

Título: Motoneurônio e unidade motora


Fonte: www.freevector.com

Outro conceito da regulação da produção de força muscular é o que diz que:

quando o limiar de ativação é alcançado pelo neurônio motor


de uma unidade motora específica, todas as fibras musculares
naquela unidade motora são ativadas. Se o limiar não é alcançado,
então nenhuma das fibras musculares naquela unidade motora
será ativada (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016, p. 193).

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Esse princípio é conhecido como lei do tudo ou nada. Essa lei é válida somente
para unidades motoras individuais dentro de um músculo, e não para os músculos
inteiros, como o quadríceps, por exemplo. Assim, se uma unidade motora é recrutada,
somente uma quantidade muito pequena de força é desenvolvida. Já, se muitas
unidades motoras são ativadas, maior força é desenvolvida.

11.2. Junção neuromuscular

Para iniciar este subtópico será necessário recordar que “o conjunto composto
pelo motoneurônio e todas as fibras musculares por ele inervadas é denominado
unidade motora” (POWERS; HOWLEY, 2014, p.168). O estímulo vindo dos motoneurônios
inicia a contração muscular, e o local em que o motoneurônio e a célula muscular se
encontram é denominado de junção neuromuscular. Nesse local de junção o sarcolema
(membrana da célula muscular) forma um “bolso” chamado de placa motora terminal.

Título: Junção neuromuscular e placas motoras terminais.


Fonte: Neural_cells.ppt (live.com)

A parte terminal do motoneurônio não se encontra fisicamente em contato com a


fibra muscular, existe uma fenda que os separa. Essa fenda pode ser chamada de fenda
sináptica ou fenda neuromuscular. Na chegada do impulso nervoso na extremidade do

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motoneurônio, há liberação de acetilcolina, que se difunde pela fenda neuromuscular


e se liga aos sítios receptores na placa motora terminal. O sarcolema aumenta sua
permeabilidade ao sódio, culminando em uma despolarização ampla o suficiente para
ultrapassar o limiar e enviar o sinal para a contração muscular se iniciar.

Título: Sinapse neuromuscular e liberação de acetilcolina.


Fonte: Neural_cells.ppt (live.com)

Ao se propagar pela membrana da fibra muscular o impulso chega nos túbulos


transversos (túbulos T), que são túbulos que adentram até o interior da fibra muscular,
indo até o retículo sarcoplasmático. O retículo sarcoplasmático encobre cada miofibrila
dentro da fibra muscular e atua como um depósito de cálcio (Ca++).
Conforme o impulso avança pelos túbulos T ocorre a excitação de proteínas
sensores de voltagem que, por conseguinte, excitam receptores de membrana do
retículo sarcoplasmático que agem como canais. Esses canais quando estimulados
pelos sensores de voltagem dos túbulos T, permitem a liberação de Ca++ de forma
abrupta do retículo em direção ao sarcoplasma (citoplasma da célula muscular).

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Título: Retículo sarcoplasmático e túbulos T.


Fonte: Muscles-1.ppt (live.com)

11.3. Teoria dos filamentos deslizantes

O movimento é produzido graças à contração muscular. A teoria dos filamentos


deslizantes fornece evidências de que o músculo encurta a interação das fibras
musculares e, com isso, produz força. A essência da teoria dos filamentos deslizantes
diz que alterações no comprimento dos músculos são causadas pelos filamentos de
actina e de miosina “deslizando uns sobre os outros para produzir força sem que esses
filamentos mudem os próprios comprimentos” (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016,
p. 130). A quantidade de interações entre actina e miosina é que determina quanta
força será produzida.
Durante o repouso, os sítios ativos de actina estão cobertos por filamentos da
tropomiosina, e por isso não há interação entre os filamentos de actina e miosina e,
consequentemente, o encurtamento muscular. Os filamentos de tropomiosina precisam
ser deslocados para exporem os sítios ativos. Esse deslocamento é possível com
o aumento da concentração de Ca++ no sarcoplasma da fibra muscular. O Ca++ se

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liga à troponina C do complexo proteico da troponina, o que provoca uma mudança


conformacional da tropomiosina, deixando os sítios ativos da actina expostos. Com
os sítios expostos, as cabeças das ligações cruzadas de miosina iniciam o processo
de ligação com a actina, para o encurtamento da fibra muscular e produção de força.
Assim a contração muscular ocorre, pois as cabeças da miosina puxam a actina em
direção ao centro do sarcômero, encurtando o sarcômero e aproximando as linhas Z. O
ATP, produzido via metabolismo energético é essencial para a contração muscular, pois
para que a cabeça da miosina se desligue do sítio ativo, uma molécula de ATP precisa
se ligar a ela para desfazer a ligação com a actina. Após isso, o ATP é hidrolisado e
a cabeça da miosina se liga a um novo sítio ativo mais próximo da linha Z. A cabeça
da miosina repete o mesmo ciclo toda vez que se liga a um sítio ativo.
Esse ciclo continua a se repetir até que não haja mais excitação pelo sistema nervoso.
Assim, não há mais liberação de Ca++, e ocorre a bomba de Ca++ para mobilizá-lo de
volta para o retículo sarcoplasmático. Então as concentrações de Ca++ de repouso
são retomadas. Com a queda do Ca++, a troponina não se desloca mais na fita de
tropomiosina e os sítios ativos voltam a ser encobertos e a contração muscular é
interrompida.

Título: Disposição da actina e miosina no movimento de contração muscular


Fonte: Muscles-1.ppt (live.com)

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11.4. Adaptações neuromusculares ao treinamento

Nas primeiras semanas de um programa de treinamento, as adaptações neurais são


as responsáveis pelo aumento na força. Isso acontece, pois o treinamento físico pode
melhorar a sincronização de disparos de uma unidade motora. Essa sincronização
aumentada reduz o tempo para que o pico de força e potência aconteça. Além disso,
o treinamento promove aumento nas vesículas pré-sinápticas e nos receptores pós-
sinápticos da junção neuromuscular. “Em geral, as adaptações na fase inicial ao
treinamento de resistência refletem uma resposta hormonal que medeia as adaptações
do sistema neuromuscular que irão aprimorar a força muscular” (MCARDLE; KATCH;
KATCH, 2016, p. 659). Com o decorrer do programa, a hipertrofia muscular auxiliará
nos ganhos de força.
A concentração de testosterona no sangue é um indicador do estado anabólico
do organismo. Afinal, este hormônio apresenta efeitos diretos na síntese de tecido
muscular e está intimamente relacionado com o conteúdo de proteínas musculares,
promovendo a liberação de GH. Essa liberação de GH aumenta a produção de força
muscular além de estimular a secreção e liberação de IGF no fígado. Esse último
fato está relacionado com a síntese proteica. “Testosterona e GH são dois hormônios
primários que afetam as adaptações ao treinamento de resistência” (MCARDLE; KATCH;
KATCH, 2016, p.688).
Além disso, a testosterona pode interagir com receptores neurais que são responsáveis
por elevar a liberação de neurotransmissores, o que resulta em modificação proteica
estrutural, que altera o tamanho da junção neuromuscular. Os efeitos neurais da
testosterona liberada pelo treinamento físico aprimoram a capacidade de produção
de força da musculatura esquelética, o que pode ser mais importante do que qualquer
efeito anabólico desse hormônio. Uma sessão aguda de treino com pesos (resistido)
pode induzir a elevação de testosterona plasmática e diminuição do cortisol. Essa
resposta é maior em homens do que em mulheres (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).

11.4.1. Endurance (treinos de longa duração)

É importante lembrar que somente fibras recrutadas durante um exercício é que


se adaptarão ao seu estímulo. As primeiras adaptações ao treino de endurance estão
relacionadas com a necessidade de otimizar o uso do oxigênio e aumentar a resistência

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muscular. As fibras musculares do tipo I serão primeiramente recrutadas e conforme a


intensidade do exercício de endurance aumenta, as fibras musculares do tipo II serão
recrutadas segundo a necessidade.
As fibras do tipo I são as mais adequadas para o desempenho nesse tipo de exercício
por conta de sua elevada densidade de mitocôndrias e extenso suprimento sanguíneo.
Quanto mais fibras do tipo II forem recrutadas durante esse tipo de exercício, menos
eficiente e efetivo será o desempenho na atividade, sobretudo se sua duração aumentar.
Ao realizar um exercício de endurance adaptações irão acontecer em todas as
fibras musculares recrutadas para realizar essa atividade. Então, basicamente, o que
acontece tanto nas fibras tipo I quanto nas do tipo II, quando elas são recrutadas na
realização de um exercício de endurance? Ocorre um aumento no número de capilares
sanguíneos por fibra muscular, com o objetivo de elevar o suporte de oxigênio para a
musculatura. Isso promove aumento na densidade capilar induzida pelo exercício. As
fibras do tipo I podem desfrutar de maiores aumentos dos que as do tipo II.
Outra adaptação a esse tipo de treinamento é o aumento do tamanho e quantidade
de mitocôndrias nas fibras musculares, o que consequentemente otimiza a capacidade
do metabolismo aeróbio. O aumento no número de mitocôndrias, também aumenta
as enzimas do ciclo de Krebs e dos citocromos da cadeia de transporte de elétrons.
Além disso, a mioglobina (facilitadora da difusão de oxigênio do sarcolema para a
mitocôndria da fibra muscular) também aumenta em resposta ao treinamento de
endurance. Por conseguinte, a difusão do oxigênio também aumenta.
Todos esses fatos em conjunto, auxiliam em um maior aporte de oxigênio para a
célula além de uma maior capacidade de utilizá-lo para produção de ATP. Com mais
oxigênio sendo entregue para o músculo e mais resíduos e calor sendo removidos,
pelo aumento do suprimento sanguíneo, há um aumento da eficiência e da velocidade
dos processos do metabolismo aeróbio. Com isso, um melhor desempenho em treinos
de endurance.

11.4.2. Treinamento resistido

Treinos resistidos são aqueles treinamentos com peso, como a musculação por
exemplo. A função do músculo é que determina o tamanho e a distribuição de suas
fibras, porém todos os músculos, independente de função ou composição, possuem
a capacidade de aumentar em resposta ao treinamento resistido. Esse crescimento

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acontece principalmente pelo aumento do tamanho das fibras individuais do músculo


(processo conhecido como hipertrofia). O treinamento resistido pode elevar a frequência
e a amplitude da secreção de testosterona e de GH, proporcionando um ambiente
hormonal positivo para o crescimento muscular por hipertrofia. Esse efeito é mais
observado em homens do que em mulheres.

ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

A resposta da testosterona ao treinamento resistido depende da ativação de


grandes grupos musculares, com elevada intensidade (85-95% de uma repetição
máxima - 1RM) ou elevado volume. Esse tipo de treinamento, quando realizado em
longo prazo, aumenta as concentrações de repouso da testosterona em homens.
Esse fato se correlaciona com a melhora da produção de força com o decorrer do
tempo (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).

Título: Hipertrofia muscular


Fonte: Músculo Sistema Muscular Anatomia - Imagens grátis no Pixabay

A hipertrofia acontece, pois em resposta a programas de treinamento resistido


há um acréscimo de miofibrilas novas às fibras preexistentes, pois são adicionadas

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proteínas miofibrilares a elas, o que resulta em aumento do tamanho da fibra muscular.


Embora o tamanho da fibra esteja aumentando, o tamanho das miofibrilas preexistentes
parece não ser alterado com o treinamento resistido, nem a densidade miofibrilar.
Dessa forma, a área transversal do músculo também aumenta, pois os sarcômeros
são adicionados em paralelo um ao outro.
Treinamento com peso convencional provoca um grau maior de hipertrofia em
fibras tipo II do que as do tipo I. Além disso, ambos os tipos de fibra parecem sofrer
hipertrofia por mecanismos diferentes. Nas fibras tipo I parece que o aumento da taxa
de síntese proteica é que causa hipertrofia já nas fibras tipo II, ocorre uma queda na
taxa de degradação proteica.
A aquisição de núcleos pela fibra muscular (mionúcleos) é necessária para manter
um aumento do tamanho da fibra muscular. Esse aumento dos mionúcleos acontece
graças a células-satélites localizadas entre o sarcolema e a lâmina basal da fibra
(camada fina externa de tecido conjuntivo que reveste a fibra). O estresse do exercício
ou algum outro tipo de dano (doenças, por exemplo) ao tecido conjuntivo que isola as
células-satélites, são responsáveis por expô-las a agentes mitógenos. Esse processo
contribui para o aumento na quantidade de mionúcleos, e para o aumento do tamanho
da fibra muscular.
Existem subtipos de fibra muscular em humanos, que vão do tipo I até o tipo IIa e
IIx. Uma adaptação comum ao treinamento resistido é a transformação de um tipo de
fibra muscular para outro, como a do IIx para o IIa, por exemplo. Com o recrutamento
das fibras do tipo IIx começa um procedimento de transformação para um perfil mais
parecido com IIa. Isso acontece por um alteração das características das proteínas
e também pela expressão de isoformas da miosina adenina trifosfatase (mATPase),
uma enzima envolvida na hidrólise do ATP para permitir a contração muscular. Já as
alterações do tipo II para o tipo I são menos comuns em acontecer.

Assim, o perfil do tipo básico de fibra de um músculo é determinado


pela genética, e, embora seja possível realizar transições entre os
subtipos de fibras I e II devido à realização de treinamento de força
ou de endurance, a distribuição dos tipos de fibras, relacionada com as
categorias abrangentes de fibras do tipo I versus do tipo II, é basicamente
determinada no nascimento (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016, p.
150).

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Devido a dificuldades metodológicas, ainda é necessário consolidar se os músculos


aumentam também o número de suas fibras musculares em resposta ao treinamento
resistido, processo conhecido como hiperplasia. A hiperplasia resulta em aumento
total do músculo também. Apesar de esse procedimento ter sido demonstrado em
animais, o potencial de hiperplasia em humanos ainda não está resolvido, pois é
praticamente impossível retirar um músculo humano inteiro para experimentação.
Mesmo que a hiperplasia ocorra, provavelmente ela seria responsável por pequena
parcela do aumento muscular, de 5-10% aproximadamente.

CONCLUSÃO

Treinos de força (resistido) e de endurance são ótimas formas de otimizar a saúde


e o desempenho atlético, então é essencial entender algumas das adaptações
desses treinamentos na musculatura esquelética. Diante desse capítulo foi possível
compreender os principais aspectos envolvidos na contração muscular e produção
de força e movimento. Feito isso, foi possível compreender as principais adaptações
do sistema musculoesquelético frente a realização de exercícios. Após compreender
então como o sistema neuromuscular atua e funciona, será mais fácil entender alguns
métodos de avaliação da força e potência muscular.

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AULA 12
AVALIAÇÃO DO
CONDICIONAMENTO
FÍSICO E DO DESEMPENHO

Objetivos: descrever brevemente os principais métodos e técnicas utilizados para


avaliação do condicionamento físico e do desempenho.

12. INTRODUÇÃO

No geral, são duas as formas principais de avaliação do desempenho físico: testes


de condicionamento físico geral que mensuram as demandas básicas do desempenho,
e avaliações laboratoriais de capacidades fisiológicas (VO2máx e potência anaeróbia,
por exemplo). Os testes de condicionamento físico são mais indicados para adultos
saudáveis que iniciarão um treinamento ou que já treinam. Afinal, esse tipo de avaliação
geralmente não fornece informações em detalhes sobre o nível de condicionamento,
bem como os pontos fracos de um atleta envolvido ativamente em um esporte de
competição. Para tal, existem testes mais especializados que trazem informações
fisiológicas de desempenho em eventos esportivos específicos.

12.1. Avaliação do condicionamento físico geral

Os testes físicos que podem ser utilizados para mensurar o condicionamento


cardiorrespiratório (CCR) exigem do indivíduo esforços submáximos ou máximos. Esses
testes podem ser realizados em laboratório com equipamentos sofisticados ou “em
campo” (pista de corrida, por exemplo) somente com um cronômetro. É imprescindível
que o sujeito passe por uma triagem antes da realização do teste. É interessante que
ele esteja liberado pelo seu médico para a prática de exercícios físicos, e que o seu
treinador realize uma anamnese para conhecer o perfil do seu cliente. As etapas a
serem seguidas antes da realização do teste incluem revisão do histórico clínico para

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doenças, principalmente doenças cardiovasculares, e determinação do tipo de teste


e do nível de supervisão necessário.
O CCR pode ser representado pela determinação do consumo máximo de oxigênio
(VO2máx) por meio de testes de esforço progressivo. Mas, também, pela monitoração
da frequência cardíaca (FC), da percepção subjetiva de esforço (PSE) e da pressão
arterial (PA) em diferentes cargas de trabalho submáximas. A PSE é uma escala de
percepção de esforço subjetiva do indivíduo, e proporciona escores que podem ser
utilizados como indicadores do esforço percebido pelo indivíduo.
A PSE nada mais é do que um modo quantitativo de acompanhar a evolução do
indivíduo no teste ou em um exercício, e até mesmo a intensidade do exercício. Assim,
é possível saber quando o sujeito está próximo da exaustão. A escala vai de 0 -10,
na qual 0 indica repouso ou esforço quase mínimo e 10 indica esforço próximo do
máximo, esforço máximo ou estado de fadiga. Assim, o indivíduo deve apontar durante
a realização do exercício, em que estágio se encontra, classificando o esforço em um
número que vai de 0 a 10.

CLASSIFICAÇÃO DESCRITOR
0 Repouso
1 Muito, muito fácil
2 Fácil
3 Moderado
4 Um pouco difícil
5 Difícil
6 Difícil
7 Muito difícil
8 Muito difícil
9 Muito difícil
10 Máximo
Título: Escala de percepção subjetiva de esforço.
Fonte: Adaptado de Powers e Howley (2014).

Um teste de esforço progressivo máximo pode ser realizado em esteira ergométrica


e cicloergômetro. Dessa forma, o VO2máx pode ser estimado com base na última carga
de trabalho atingida no teste. Ao se escolher um teste de esforço progressivo, deve-
se pensar na população a ser avaliada e seu nível de saúde e condicionamento. A

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carga inicial de trabalho e a velocidade de mudança ou de carga imposta devem


ser adequadas às capacidades da população em questão. Além disso, as condições
ambientais devem ser controladas para que a estimativa do VO2máx seja razoável e
reprodutível.
A FC deve ser mensurada a cada estágio do teste, indo desde um esforço leve
até um percentual preestabelecido de FC (70 ou 85% da FC máxima, por exemplo).
O teste também pode ser conduzido até a exaustão voluntária máxima, e aí sim, ser
interrompido. Ou ainda, ser interrompido na ocorrência de sintomas e sinais específicos
como alterações na pressão arterial, dispneia (falta de ar) e angina de peito. Nesses
casos considera-se como resultado do teste o último estágio alcançado. Para maiores
informações acerca de critérios de interrupção consulte Powers e Howley (2014, p. 337).
Existem testes de CCR que não são máximos, como o teste de Cooper que determina
o modo de corrida da pessoa adulta em um tempo preestabelecido de 12 minutos.
Aqui, o objetivo é determinar a velocidade média que pode ser mantida durante o tempo
estabelecido. Esse teste de campo apresenta vantagem pela fácil aplicabilidade e baixo
custo, além de poder ser aplicado em muitos indivíduos ao mesmo tempo. Além disso,
é um teste que apresenta correlação moderada-alta com o VO2máx, afinal existe uma
relação linear entre a velocidade de corrida e o custo de oxigênio da corrida (VO2máx).
No entanto, em testes de campo é difícil monitorar respostas fisiológicas, além
disso, o teste não é progressivo e sim de esforço máximo, então o resultado depende
muito da motivação do sujeito. Dessa maneira, esse tipo de teste deve ser aplicado
somente em indivíduos que já passaram por um programa de exercícios de intensidades
menores. O VO2máx (mL/Kg/min) estimado por meio de testes de corrida de resistência
é influenciado pelas condições ambientais, e pela função cardiovascular e gordura
corporal do indivíduo. Existem equações específicas para se determinar o VO2máx quando
a velocidade de corrida é conhecida. Para mais informações consulte Powers e Howley
(2014, p. 332).

12.2. Testes laboratoriais

Os testes laboratoriais para avaliação do desempenho físico em atletas exigem o


entendimento de aspectos envolvidos para o sucesso dentro do esporte em questão.
Para eficácia dos testes fisiológicos é necessário que eles sejam relevantes e específicos
para o esporte, validados e confiáveis, padronizados e repetidos regularmente. Além

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de passíveis de interpretação conjunta pelo treinador/professor e seu aluno/atleta.


Basicamente, o desempenho físico é determinado pelos seguintes fatores em conjunto:
força muscular; máxima produção de energia; aspectos psicológicos; coordenação
motora e economia de movimento.

12.2.1. Testes diretos de potência aeróbia máxima

Consumo máximo de oxigênio (VO2máx): Testes para determinar o VO2máx geralmente


iniciam com um aquecimento de 3 a 5 minutos, com intensidade submáxima. Feito
isso, o nível de potência é aumentado de alguma dessas formas:
I. A taxa de trabalho seja aumentada até um nível considerado representativo de
uma taxa próxima da máxima prevista para o sujeito;
II. A carga pode ser aumentada de forma gradativa minuto a minuto, até que o
sujeito atinja um ponto em que não consiga manter o nível de potência;
III. A carga pode ser elevada gradativamente a cada 2-4 minutos, até que o sujeito
não consiga manter a taxa de trabalho desejada.

Embora em qualquer um desses três procedimentos, quando adotados rigorosamente,


o VO2máx seja mais ou menos o mesmo, é preferível que um protocolo de esforço não
exceda 10 a 12 minutos. A ocorrência do platô para o consumo de oxigênio, mesmo
com um novo aumento na taxa de trabalho, em um esforço progressivo é considerado
como o principal critério para saber se o VO2máx foi alcançado ou não.
Geralmente, é raro indivíduos não treinados atingirem um platô no VO2máx durante
esse tipo de teste. No entanto, isso não significa necessariamente que o indivíduo não
alcançou o seu VO2máx. Essa é uma possibilidade, porém é possível que o indivíduo
tenha alcançado seu VO2máx na última taxa de trabalho, mas sem conseguir completar
o estágio com a próxima taxa de trabalho, portanto, o platô não é observado. Devido
a esse fato, para a validade do teste de VO2máx é recomendado que sejam utilizados
vários outros critérios.

12.2.2. Testes laboratoriais para previsão do desempenho de resistência

Limiar de lactato: testes laboratoriais para determinar o limiar de lactato são os


mais comuns para estimar a máxima velocidade em estado de equilíbrio. Como esse

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limiar representa a intensidade de esforço em que o lactato sanguíneo começa a


aumentar de forma sistemática, e a fadiga está associada a níveis elevados de lactato
sanguíneo e muscular, o limiar de lactato está relacionado com o desempenho em
esforços de resistência com duração maior do que 12 minutos.

Determinação direta do limiar de lactato: esses tipos de teste devem ser específicos,
simulando os movimentos da modalidade ou da competição em questão. Os protocolos
baseiam-se em um aquecimento submáximo entre dois a cinco minutos, seguido por
um pequeno e gradativo aumento da taxa de trabalho a cada 1-3 minutos.
Para se determinar a concentração de lactato sanguíneo, amostras de sangue
são coletadas a cada taxa de trabalho, e após o término do teste as amostras são
analisadas em laboratório. Feito isso, a concentração de lactato em cada estágio é
lançada em um gráfico com o consumo de oxigênio no momento de cada coleta.
Como o limiar de lactato é o ponto após o qual há elevação contínua e sistemática
do lactato sanguíneo, o procedimento mais usado é observar no gráfico o momento
em que há esse “ponto de virada” nas concentrações do lactato. Geralmente esse
procedimento deve ser realizado por duas pessoas experientes e independentes, para
que, por meio de dois pontos de vista diferentes, chegue-se a uma conclusão.
Uma forma mais prática é utilizar uma régua e “pelo traçado de uma linha reta que
passa pelas concentrações de lactato em algumas das primeiras taxas de trabalho”
(POWERS, HOWLEY, 2014, p. 465). O último ponto nessa linha é o limiar de lactato.
Apesar de ser um método simples, nem todos os especialistas concordam com
a utilização desse procedimento, sugerindo que nem sempre promovam resultados
válidos e confiáveis. Nesses casos, para uma previsão mais acurada é proposta a
utilização de programas de computador ou que seja usado um valor fixado para a
determinação do limiar de lactato (4 mM, por exemplo).

ANOTE ISSO

OBLA (início do acúmulo de ácido láctico no sangue): é confundido com o termo


limiar de lactato. Porém, OBLA é a intensidade do exercício em que a concentração
sanguínea de ácido lático no sangue atinge 4,0mM.

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Previsão do limiar de lactato: esse procedimento foi criado na intenção de utilizar


métodos não invasivos, mas que muitas vezes requerem aparelhos sofisticados.
A utilização do limiar ventilatório é um deles. O protocolo do teste é similar ao de
determinação direta do lactato, porém, ao final do teste a ventilação por minuto é
lançada no gráfico em função do consumo de oxigênio. O ponto em que a ventilação se
eleva rapidamente é considerado o limiar ventilatório, que é utilizado como estimativa
do limiar de lactato, afinal, o aumento nas concentrações sanguíneas de lactato até
o limiar estimula a ventilação pela influência dos íons de hidrogênio.

Mensuração potência crítica: “baseia-se na noção de que os atletas podem manter


um nível submáximo de potência específico sem fadiga” (POWERS; HOWLEY, 2014, p.
465). Potência crítica é o nível de potência em que a curva de velocidade de corrida/
tempo alcança um platô, ou seja, é a taxa de trabalho (velocidade de corrida, por
exemplo) que pode ser mantida indefinidamente. No entanto, na prática, quando atletas
se exercitam na taxa de trabalho de sua potência crítica, geralmente entram em fadiga
em torno de 30 a 60 minutos de atividade.
O protocolo para esse teste baseia-se na realização em laboratório de 5 a 7 esforços
cronometrados até à exaustão. Geralmente, são necessários alguns dias de testes até
se determinar o ponto de platô. Esse ponto é determinado por observação subjetiva,
após o lançamento dos dados em gráfico, em que a potência ou taxa de trabalho
consta no eixo x e o tempo no eixo y. Esse procedimento pode ser utilizado para vários
esportes de resistência, além da corrida, como o ciclismo e o remo, por exemplo.

Título: Conceito de potência crítica.


Fonte: Powers e Howley (2014, p. 465).

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Pensando de forma isolada, o VO2máx ainda é considerado o melhor preditor do


desempenho de resistência. Porém, como a potência crítica depende do VO2máx e do
limiar de lactato, para eventos que se prolongam por aproximadamente 30 minutos,
a capacidade de prever desempenho tanto do VO2máx, quanto do limiar de lactato ou
da potência crítica se equivalem. Em suma, um sujeito com VO2máx e limiar de lactato
altos, também apresentará potência crítica elevada.

12.3. Determinação potência anaeróbia

Além da especificidade do teste quanto à utilização dos mesmos grupos musculares


envolvidos com a modalidade em questão, deve-se pensar também nas vias
bioenergéticas utilizadas. Lembrando que esforços inferiores a 10 segundos utilizam
prioritariamente a via ATP-CP para produção de ATP e eventos com duração entre
30-60 segundos tem como principal via bioenergética para síntese de ATP a glicólise
anaeróbia. Aqui, serão explanados dois dos principais testes a curto prazo, que avaliam
a capacidade anaeróbia geral, pois mensuram tanto a capacidade máxima de produção
de ATP pela via ATP-CP quanto pela glicólise anaeróbia.

Wingate: é um teste de esforço máximo no ciclismo, com elevada reprodutibilidade,


desenvolvido por pesquisadores do Instituto Wingate de Israel. Determina a potência
anaeróbia de pico e o nível de potência médio ao longo de 30 segundos. O atleta deve
aquecer brevemente (2-4 minutos) no cicloergômetro para elevar a frequência cardíaca
até 150-160 batimentos. Feito isso, deve descansar por 3-5 minutos.
Após o repouso, o atleta deve pedalar na maior rapidez possível, sem realizar
resistência ao volante. Aproximadamente em 2-3 segundos a velocidade máxima
de pedalagem é atingida, e deve-se aumentar a resistência ao volante até a carga
determinada previamente com base no peso corporal do atleta, para exceder entre
20-60% do VO2máx. Para maiores detalhes deste cálculo consulte Powers e Howley
(2014, p. 471).
O atleta deve continuar pedalando na maior rapidez possível, enquanto o administrador
do teste registra a frequência de pedaladas a cada cinco segundos de duração do
teste. A potência mais elevada durante os primeiros segundos do teste é a potência
pico, considerada a velocidade máxima do sistema ATP-CP. Já o declínio na potência
com o decorrer do teste é indicativo do índice de resistência anaeróbia, supostamente
a capacidade máxima de produção de ATP pelo sistema ATP-CP em conjunto com
a glicólise anaeróbia. Geralmente, o nível de potência mais baixo é registrado nos
últimos cinco segundos do teste.

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Rast: também conhecido como teste anaeróbio de corridas de velocidade. É um teste


de fácil aplicabilidade e elevada confiabilidade, e pode ser utilizado para determinar a
melhora na corrida de um mesmo sujeito em resposta a um programa de treinamento
específico. O teste baseia-se em uma série de seis corridas máximas (tiros ou sprints)
em 35 metros, com um intervalo de recuperação entre elas de 10 segundos.

Cada tiro de velocidade é cronometrado, sendo calculada a potência


de pico (potência = [massa corporal x distância²]/tempo³) para cada
um dos tiros de velocidade. Em seguida, é calculada a potência média,
como a média da potência de pico das seis corridas. Foi demonstrado
que o nível de potência médio obtido com esse teste é um previsor
moderadamente bom do desempenho de corridas de 100, 200 e 400
m (POWERS; HOWLEY, 2014, p. 471).

ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

Podem ser criados testes anaeróbios para qualquer esporte, desde que atendam às
necessidades da modalidade em questão O tempo ou a distância coberta podem
ser mensurados ao invés da medida direta do nível de potência.

12.4. Avaliação da força muscular

Avaliar a força muscular é comum em esportes como arremesso de peso e


halterofilismo. Testes de força podem ser utilizados na reabilitação de lesões ou para
monitorar a evolução do treinamento. Para a seleção de um teste de força deve-se
pensar na especificidade, na facilidade de aquisição e análise dos dados além do custo
e da segurança da técnica, principalmente. A força muscular pode ser avaliada por três
procedimentos principais: teste isométrico, teste com pesos livres e teste isocinético.
O teste isométrico apresenta uma aplicação simples e segura. Um aparelho para
mensuração da tensão, chamado tensiômetro computadorizado, mede e registra a
força gerada. A mensuração desse tipo de força geralmente é feita em vários ângulos
articulares, com dois ou mais experimentos de contração máxima em cada ângulo
articular, e o melhor resultado é considerado a medida da força.
O teste de uma repetição máxima (1RM) é o teste com pesos livres mais comum. O
teste de 3-6 repetições também vem sendo muito utilizado. Esses testes mensuram a
força dinâmica, que é uma atividade muscular durante um esforço com uma resistência
(pesos livres ou aparelhos) externa constante durante todo o movimento.

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O método de 1RM consiste na quantidade máxima de peso a ser levantada durante a


realização de somente uma repetição dinâmica completa do movimento (agachamento
ou supino, por exemplo). No protocolo deste teste, após um aquecimento leve e
específico, o atleta seleciona um peso inicial aproximado para 1RM, caso ele consiga
completar uma repetição, o peso é incrementado, e se inicia uma nova tentativa.
Esse procedimento continua até que o maior peso levantado durante uma repetição
seja alcançado. É um teste que exige certa preocupação com a segurança, além de
experiência do praticante. Por isso, ultimamente, tem sido substituído pelo teste de 3-6
repetições. A ideia é que o peso seja levantado em até no máximo três ou seis vezes.
Além do uso de pesos livres e aparelhos, dinamômetros também podem mensurar
a força dinâmica. Dinamômetros são aparelhos capazes de medir a força e vêm
sendo utilizados há vários anos para avaliação da força. Os mais comuns são os
dinamômetros de preensão manual que mensuram a força de preensão. São testes de
baixo custo e a força é dinamicamente aplicada, o que simula os esforços do esporte.

Título: Dinamômetro preensão manual


Fonte: File:Hand dynamometer.jpg - Wikimedia Commons

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Para a avaliação isocinética da força é utilizado um dispositivo assistido por


computador chamado dinamômetro isocinético de resistência variável, que:

é um instrumento eletrônico-mecânico que mantém velocidade


constante de movimento, ao mesmo tempo em que ocorre variação da
resistência durante determinado movimento. A resistência oferecida
pelo instrumento é uma resistência de acomodação, planejada para
equilibrar a força gerada pelo músculo (POWERS; HOWLEY, 2014, p.
474).

Enquanto o teste de 1RM nos fornece o resultado final da força, não passando
informações sobre diferenças na geração de força durante toda a amplitude do
movimento, o instrumento isocinético computadorizado, além de altamente confiável,
calcula a força média e o ângulo articular ao longo de toda a amplitude de movimento.
Porém, apesar dessa vantagem sobre o teste tradicional de 1RM, o isocinético é um
procedimento mais caro.

CONCLUSÃO

Os testes e avaliações disponibilizam para o treinador e atleta um feedback sobre o


nível atual de condicionamento físico do atleta, podendo auxiliar tanto na prescrição
de intensidades de esforços de programas subsequentes como na comparação do
nível de condicionamento após certo tempo de treinamento.

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AULA 13
EQUILÍBRIO ÁCIDO-BÁSICO
E TERMORREGULAÇÃO

Objetivos: entender os principais mecanismos de tamponamento em repouso e


exercício, e o conceito de termorregulação.

13. INTRODUÇÃO

Exercícios intensos podem produzir íons hidrogênio (H+) o que limita o desempenho
nesse tipo de atividade, por que os H+ inibem as vias metabólicas de produção do
ATP ou ainda interferem no processo muscular contrátil. Além disso, a regulação da
temperatura corporal é essencial, já que estruturas celulares bem como o metabolismo
podem ser afetados por mudanças na temperatura corporal central.

13.1. Ácidos, bases e pH

Um íon é um átomo que ganhou ou perdeu elétrons. O átomo de hidrogênio é o mais


simples, pois contém apenas um próton que orbita um elétron. Quando o hidrogênio
perde o seu elétron ele forma um íon hidrogênio. Existem moléculas que liberam íons
hidrogênio, e elas são denominadas ácidos. Os ácidos aumentam a concentração de
íons hidrogênio acima dos níveis normais em uma solução. Por outro lado, existem
moléculas que estão prontamente dispostas a se combinarem com os íons hidrogênio,
e elas são denominadas bases. Portanto, as bases diminuem a concentração de íons
hidrogênio de uma solução.
A concentração de íons hidrogênio pode ser expressa por unidades de pH, em escala
de 0-14. Soluções com valores de pH < 7 são consideradas ácidas e aquelas com
valores de pH > 7 são básicas. Os líquidos do corpo humano devem sempre buscar
a homeostasia de seu pH, ou seja, o seu equilíbrio ácido-básico, afinal alterações nas
concentrações de íons hidrogênio modificam a atividade enzimática, a função de
proteínas celulares, além da integridade celular, alterando consequentemente, diversas

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funções corporais. O ph normal do sangue, por exemplo, é 7,4 e alterações nesse pH


bem como falhas em manter a sua homeostasia podem ter consequências letais,
pois podem promover anormalidade na atividade elétrica do miocárdio, e distúrbios
em seu ritmo.

13.2. Sistemas de tamponamento

Uma das maneiras mais importantes de o corpo controlar o seu estado ácido-
básico é com o auxílio de tampões. Um tampão em geral é um ácido fraco e sua base
associada. Os tampões resistem a mudanças do pH, pois removem H+ quando as
concentrações desse íon aumentam e o liberam quando sua concentração está baixa.
Entre os tampões intracelulares mais comuns estão as proteínas e os grupos
fosfatos. E no sangue estão três principais sistemas tampões extracelulares: proteínas,
hemoglobina e bicarbonato. As proteínas estão em pequenas concentrações, portanto,
sua utilização durante o exercício é limitada. Quanto a hemoglobina, sua forma de
desoxiemoglobina é mais eficiente do que a oxiemoglobina, portanto a desoxiemoglobina:

se toma mais capaz de ligar os íons hidrogênio formados com a


entrada no sangue do CO2 oriundo dos tecidos. Assim, a hemoglobina
ajuda a minimizar as alterações de pH causadas pelo carregamento
do sangue com CO2 (POWERS E HOWLEY, 2014, p. 275).

Por último, o sistema de tamponamento de bicarbonato, considerado o sistema


tampão mais importante do corpo. O íon bicarbonato (HCO3-) é uma base forte (base
que ioniza mais fortemente) e é encontrado em grandes quantidades no sangue. Esse
íon tem a capacidade de se combinar aos H+ para formar um ácido fraco conhecido
como ácido carbônico (H2CO3).

ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

O sistema respiratório auxilia no equilíbrio ácido-básico, atuando na regulação do pH


sanguíneo de forma rápida, ao controlar a quantidade de dióxido de carbono (CO2)
no sangue. Com o aumento da quantidade de CO2 no sangue, a quantidade de H2CO3
também aumenta, o que eleva a quantidade de ácidos no sangue e diminui o seu pH.
Já quando o CO2 no sangue diminui, ao ser expirado pelos pulmões, o pH sanguíneo
se eleva, pelo fato de a quantidade de ácidos diminuir.

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13.3. Regulação ácido-básica durante o exercício

Os músculos em atividade podem produzir H+ por meio de diversas fontes incluindo a


produção aumentada de CO2; a produção elevada de ácido lático e lactato; e a liberação
de H+ durante a quebra de ATP. Somente exercícios de intensidade moderada a intensa
que desequilibram o equilíbrio ácido-básico durante a sua realização.
A quantidade de H+ produzido depende da quantidade de massa muscular envolvida,
bem como da intensidade e duração do exercício. Tanto no músculo quanto no sangue,
o pH tem comportamento similar durante exercício incremental. Porém, a concentração
de H+ é um pouco maior no músculo do que no sangue, enquanto que a capacidade
de tamponamento é menor na musculatura do que no sangue.
A primeira linha de defesa contra a elevação dos íons H+ está na própria musculatura
esquelética em atividade. Por volta de 60% da capacidade do tamponamento nesse
caso, está na responsabilidade de proteínas intracelulares. Cerca de 20-30% é oriunda
do bicarbonato muscular, enquanto que os 10-20% restantes advêm de grupos fosfatos
intracelulares. Como a capacidade de tamponamento muscular é limitada, o sangue
principalmente, também atua para tamponar os H+. A hemoglobina e as proteínas
do sangue auxiliam no tamponamento dos H+ durante exercício, mas o tampão mais
importante nesse caso é o bicarbonato.
Outra defesa contra as mudanças de pH durante exercício é a compensação
respiratória para a acidose metabólica:

a aproximadamente 50 a 60% do VO2máx o pH sanguíneo começa


a declinar em consequência da elevação da concentração de íons
hidrogênio no sangue. Esse aumento da concentração sanguínea de
íons hidrogênio estimula os corpos carotídeos que, então, sinalizam
para o centro de controle respiratório no sentido de aumentar a
ventilação alveolar (i. e., limiar ventilatório; ver Cap. 10). Um aumento
da ventilação alveolar acarreta a diminuição da PCO2 do sangue e,
portanto, atua diminuindo a carga de ácidos produzida durante o
exercício (POWERS; HOWLEY, 2014, p. 257).

13.4. Regulação da temperatura

A temperatura corporal central é de 37°C, e a sua regulação é extremamente


importante e deve ser cuidadosamente regulada por seus respectivos mecanismos

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de controle. Afinal, alterações de temperatura podem afetar as células bem como as


vias metabólicas. A elevação da temperatura corporal (principalmente >45°C) pode
liquidar a estrutura proteica das enzimas, da mesma forma que temperaturas inferiores
a 34°C diminuem a atividade metabólica e cardíaca. Ambas as situações podem levar
à morte.
Homeotermos são aqueles animais que conseguem manter sua temperatura
corporal central em constância e para isso é necessário que a sua perda de calor seja
correspondente à sua taxa de produção de calor. O ser humano é considerado como
homeotermo por possuir diversos mecanismos neuroendócrinos para a regulação
térmica que controlam a taxa metabólica e a quantidade de calor perdida frente às
alterações corporais de temperatura. O objetivo principal da regulação da temperatura
é prevenir o superaquecimento ou super-resfriamento do corpo.
Se a temperatura corporal central se mantiver constante a quantidade de calor
perdida deve ser equivalente à quantidade de calor ganha. Se a produção for maior
que a perda de calor, a temperatura corporal irá se elevar, da mesma forma que se a
perda de calor for maior que a produção, a temperatura corporal cai. Dessa maneira,
a regulação da temperatura ocorre por meio da conservação e da geração de calor,
e nem tanto pela capacidade de resfriamento:

Isso significa que a temperatura corporal é ajustada perto do limite


máximo da faixa da sobrevida e mantida constante por uma contínua
produção de calor metabólica acoplada a uma perda de calor pequena,
todavia contínua (POWERS; HOWLEY, 2014, p. 261).

Em situações de desequilíbrio o corpo pode ganhar ou perder calor. Nesse sentido,


em exercício a regulação da temperatura ocorre por conta de ajustes na quantidade
de calor perdida. O sangue é bastante importante nesse caso, já que o sistema
cardiovascular apresenta como uma de suas funções o transporte de calor. O
sangue apresenta capacidade de armazenar calor, e quando o corpo tenta perder
calor, o fluxo de sangue aumenta em direção a pele para evitar que o calor corporal
se perca para o meio externo. Da mesma forma que quando há necessidade de
evitar a perda de calor o fluxo sanguíneo se direciona para o interior do corpo, e
se distancia da pele.

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ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

A contração muscular produz grande quantidade de calor tornando exercícios


prolongados, principalmente quando realizados em ambientes quentes e úmidos,
um grande desafio homeostático para o corpo (POWERS; HOWLEY, 2014).

O hipotálamo, localizado no cérebro, é o centro de controle da temperatura afinal atua


como um termostato. Essa área do cérebro é responsável por elevar a produção de calor
quando a temperatura diminui e aumentar a perda de calor quando há aumentos na
temperatura corporal. O corpo produz calor em consequência de processos metabólicos
normais. Existem mecanismos químicos e físicos envolvidos na regulação corporal
da temperatura. A produção de calor em repouso é baixa e involuntária, enquanto
durante exercícios intensos ela aumenta e se torna voluntária.

ANOTE ISSO

Termostato é um aparelho que detecta alterações na temperatura além de corrigir


essas variações, mantendo a temperatura dentro de uma faixa aceitável.

O hipotálamo anterior é o responsável por reagir às elevações da temperatura


corporal, e o hipotálamo posterior lida com as diminuições no calor corporal. Receptores
térmicos da pele percebem alterações (de calor e frio) na temperatura externa e enviam
impulsos nervosos para o centro regulador hipotalâmico que iniciará a resposta
adequada, para manter a temperatura corporal em torno de 37°C. Da mesma forma,
existem neurônios sensíveis ao calor e ao frio na medula espinal e no hipotálamo que
percebem alterações na temperatura corporal central.
Com a elevação da temperatura central acima de 37°C, o hipotálamo estimula as
glândulas produtoras de suor (sudoríparas) para a perda de calor por evaporação
aumentar. Ao mesmo tempo, ocorre a vasodilatação dos vasos cutâneos que resulta
em um aumento do fluxo de sangue para a pele, para auxiliar a perda de calor. Quando
a temperatura central é regulada, o estímulo para sudorese e vasodilatação cessa (via
feedback negativo).

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ANOTE ISSO

Feedbacks negativos (ou retroalimentação negativa) estão entre os mecanismos


mais importantes para a manutenção da homeostasia corporal. A maioria das
secreções hormonais é regulada por meio desse mecanismo. Esse mecanismo
promove respostas responsáveis por reduzir o estímulo inicial. Por exemplo,
com o aumento do CO2 no sangue há um aumento da ventilação pulmonar para
expulsá-lo do corpo, e com isso o CO2 sanguíneo diminui. Isso significa que a
concentração elevada do gás provoca a sua redução, tornando-se uma alteração
contrária em relação à mudança inicial. Outro exemplo é o controle da glicose
sanguínea.

No caso de ambientes frios, há uma vasoconstrição dos vasos sanguíneos


periféricos com o objetivo de diminuir a perda de calor. Se a queda da temperatura
corporal central for significativa, ocorrem os tremores involuntários para aumentar a
produção de calor corporal. Também ocorre a produção de tiroxina e noradrenalina
para aumentar a produção de calor das células bem como a taxa de metabolismo
celular, respectivamente.

Título: Centro de controle da temperatura: o hipotálamo.


Fonte: Nervous_system.ppt (live.com)

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O procedimento de perda de calor envolve:


• Irradiação: “transferência de calor a partir da superfície de um objeto para a
superfície de outro, sem que haja contato físico” (POWERS; HOWLEY, 2014, p.263)
e resulta em ganho ou perda de calor a depender de condições ambientais.
• Condução: “transferência de calor do corpo para moléculas de objetos mais frios
que entram em contato com a superfície corporal” (POWERS; HOWLEY, 2014,
p.264), como é o caso de quando sentamos em um local como um banco, por
exemplo, mais frio que a superfície corporal e o corpo transfere calor para o
banco até a temperatura de ambos se igualar. O corpo perde pouca quantidade
de calor dessa forma.
• Convecção: é um jeito de perder calor por condução. “O calor é transmitido
às moléculas de ar ou água que entram em contato com o corpo” (POWERS;
HOWLEY, 2014, p.264). Quando nadamos em água mais gelada do que a
temperatura corporal, ocorre perda de calor por convecção, as moléculas de
água são aquecidas e se afastam da fonte de calor (no caso, o corpo), sendo
substituídas por outras moléculas mais geladas.
• Evaporação: é a principal maneira de perda de calor durante exercícios. A
evaporação em exercício acontece da seguinte forma:

quando a temperatura corporal fica acima do normal, o sistema nervoso


estimula as glândulas sudoríparas a secretarem suor sobre a superfície
cutânea. Conforme o suor se evapora, o calor vai sendo perdido para
o meio ambiente, o que por sua vez abaixa a temperatura cutânea
(POWERS; HOWLEY, 2014, p.264).

ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

A evaporação acontece devido a um gradiente de pressão de vapor. Em exercício,


a pressão de vapor cutânea tem que ser maior do que a pressão de vapor do ar
para ocorrer o resfriamento do corpo por evaporação. Essa pressão de vapor é
dependente da temperatura e da umidade relativa do ar. Dessa maneira, em dias
quentes e úmidos o resfriamento por evaporação é menor do que em dias frios e
com umidade mais baixa. Durante o exercício (exceto natação) em ambientes frios
a evaporação é a principal forma de perder calor corporal. Já quando o exercício
acontece em ambientes quentes, em que a temperatura externa é maior do que a
corporal, a evaporação se torna a única maneira de perda de calor.

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Título: Perda de calor por evaporação durante exercício.


Fonte: obese-young-man-running-treadmill_3446-437.jpg (626×626) (freepik.com)

13.4.1. Regulação da temperatura durante exercícios constantes realizados em


ambientes com baixa umidade e temperatura ambiente

A produção de calor durante exercícios acontece por conta da contração muscular e é


proporcional à intensidade do exercício. A circulação venosa na musculatura exercitada
consegue distribuir o excesso de calor pelo centro corporal. Assim, os sensores térmicos
do hipotálamo detectam a elevação da temperatura central, resultando em ações
(sudorese e vasodilatação) para aumentar a perda de calor e reduzir a temperatura
corporal.
À medida que a taxa metabólica aumenta, a temperatura corporal central aumenta
de forma linear. Conforme a temperatura externa sobe, a taxa de perda de calor por
convecção e irradiação diminui, que é compensada pelo aumento da perda de calor
pela evaporação, e a temperatura central permanece constante.

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CONCLUSÃO

A manutenção do equilíbrio acido-básico bem como a regulação da temperatura


auxiliam na manutenção da homeostase corporal, principalmente durante exercícios.
Compreender como ambos os processos acontecem bem como os mecanismos a eles
associados, principalmente durante exercício, é fundamental no estudo da fisiologia
do exercício, além de facilitar a compreensão do capítulo seguinte que discutirá a
influência ambiental na realização de exercícios.

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AULA 14
EXERCÍCIO FÍSICO,
AMBIENTE E SISTEMA IMUNE

Objetivos: refletir sobre os efeitos do treinamento físico no sistema imune, e também


entender as influências ambientais na prática de exercícios.

14. INTRODUÇÃO

O corpo humano é constantemente atacado por agentes estranhos (patógenos)


que podem causar infecções. O sistema imune se torna importante nesse caso, pois é
responsável por reconhecer, atacar e destruir esses agentes causadores de infecções
que podem ser vírus, bactérias ou fungos. O exercício físico pode produzir efeitos
positivos e negativos sobre o risco de infecções. Além disso, o exercício sofre influências
ambientais como, por exemplo, frequência cardíaca elevada em ambientes quentes
e/ou úmidos.

14.1. Sistema imune

O sistema imune tem importante papel na manutenção da homeostasia corporal


e atua por meio da ação conjunta de dois ramos, o sistema imune inato e o sistema
imune adquirido (ou adaptativo). Os seres humanos nascem com o sistema imune
inato e é ele que confere ao corpo defesas internas (células especializadas) e externas
(mucosas) contra os patógenos. A primeira linha de defesa do organismo é a pele e
as mucosas que revestem o trato respiratório, intestinal e urogenital.
Caso o patógeno ultrapasse alguma dessas barreiras externas, ele encontrará uma
segunda linha de defesa composta de células especializadas para atacar e destruir
esse invasor, como os fagócitos e as células natural killer. Além disso, a defesa interna
é composta também por proteínas que atuam juntas para destruir os patógenos. Essas
proteínas estão no sangue e nos tecidos e são chamadas de sistema complemento.

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Tanto os fagócitos quanto as células natural killer são membros da família de


células sanguíneas brancas, conhecidas como leucócitos. Os fagócitos (macrófagos
e neutrófilos) englobam os patógenos por fagocitose. Os macrófagos podem ainda
produzir proteínas sinalizadoras que regulam o sistema imune, as citocinas. As células
natural killer encontram-se no fígado, baço ou sangue e são destruidoras versáteis de
agentes estranhos.
O sistema imune adquirido constitui-se de procedimentos e células altamente
especializados para prevenir e eliminar patógenos invasores. Esse sistema é outra
camada de proteção contra doenças, protegendo o organismo principalmente contra os
vírus. É por meio da resposta imune adaptativa que o organismo reconhece patógenos
específicos, gerando imunidade e também promovendo ataques mais fortes em contato
com patógenos reincidentes. Por isso, muitas vezes, é necessária a aplicação de duas
doses de vacinas contra esse tipo de patógeno.
As principais células desse sistema adquirido são as células (ou linfócitos) B e T, e
ambas também são da família dos leucócitos. As células B são fábricas de anticorpos
(imunoglobulinas), que são proteínas responsáveis por combater substâncias estranhas
chamadas de antígenos. Existem cinco classes gerais de imunoglobulinas (Ig), cada
qual com uma função diferente: IgG, IgA, IgM, IgD e IgE. As outras células desse
sistema, as células T não produzem anticorpos e são especialistas no reconhecimento
e remoção dos antígenos do organismo.

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Título: Imunoglobulinas
Fonte: Blood_immunology.ppt (live.com)

ANOTE ISSO

Antígenos são quaisquer substâncias responsáveis por estimular a produção de


anticorpos pelo organismo. Como exemplo de antígeno estão os patógenos, mas
também substâncias conhecidas como alérgenos que podem incluir desde o pólen
das flores até o pelo dos animais.

14.2. Exercício e sistema imune

Infecções do trato respiratório superior (ITRS) são as infecções mais comuns que
acometem as pessoas. Elas podem ser causadas por 200 tipos de vírus diferentes e
apresentam sintomas como congestão nasal e febre, sendo comumente chamadas
de resfriados.
O risco de ITRS em função da intensidade e duração do exercício foi proposto
pelo professor Dr. David Nieman como uma “curva em J”. Esse modelo sugere que
indivíduos praticantes de exercícios moderados e regulares apresentam menor risco
para o desenvolvimento de ITRS, quando comparados a indivíduos sedentários ou

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àqueles envolvidos em exercícios intensos e/ou prolongados, como uma maratona,


por exemplo.

Título: Modelo da curva em J, proposto por David Nieman.


Fonte: Powers e Howley (2014, p. 133).

Praticantes de exercícios aeróbios moderados e regulares apresentam menos


ITRS. Para a promoção de um efeito benéfico sobre o sistema imune deve-se realizar
exercícios como caminhada, ciclismo, natação, dança, jogos esportivos, com a duração
de 20-40 minutos e intensidade entre 40-60% VO2máx (leve-moderada), por pelo menos
2-3 vezes na semana. Ainda existe muita discussão sobre o porquê desse tipo de
exercício induzir proteção contra ITRS, porém, existem vários possíveis motivos.
O exercício aeróbio moderado e agudo pode causar aumento na concentração de
células natural killer, neutrófilos e anticorpos. No entanto, esse efeito é transiente, com
as concentrações retornando a níveis pré-exercício dentro de três horas. Como cada
série de exercício melhora a função imunológica contra patógenos por esse breve
período, há menor risco de infecções.
Os praticantes regulares desse tipo de exercício ainda podem se beneficiar de uma
melhora no bem estar, menos estresse emocional, bom estado nutricional e qualidade
de sono, e de forma geral um estilo de vida mais saudável. Todos esses fatores, em
conjunto com o menor risco de infecção, podem representar uma ligação entre a
prática regular de exercícios e o risco diminuído de ITRS. Com relação ao treinamento
resistido, ainda não há tantas evidências sobre a sua relação com a função imunológica.
Exercícios aeróbios intensos (>75% VO2máx) e prolongados (>90 minutos) apresentam
um risco aumentado para o desenvolvimento de ITRS. Esse risco aumentado pode

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preocupar atletas e treinadores, afinal, pequenas infecções ou infecções prolongadas


estão associadas a fadiga persistente, e podem comprometer o desempenho nos
exercícios e a capacidade de manter elevadas intensidades durante os treinamentos.
Esse tipo de exercício produz efeito depressivo, porém temporário, sobre a função
imunológica, e pode diminuir a capacidade do sistema imune de defender o organismo
contra patógenos:
• Redução das células B, T e natural killer do sangue;
• Função diminuída das células T e natural killer;
• Redução níveis nasais e salivares de IgA;
• Elevação citocinas pró e antiinflamatórias.

Essa imunossupressão que ocorre após uma maratona, por exemplo, é responsável
por criar um período de “janela aberta” no qual o organismo fica mais suscetível à
ação de patógenos, o que aumenta o risco de infecção. O motivo mais plausível para
isso está relacionado a efeitos imunossupressores de hormônios do estresse, dentre
eles o cortisol. Exercícios extenuantes contam com a elevação significativa do cortisol
circulante, e o cortisol pode deprimir a função do sistema imune. Altos níveis de cortisol
podem inibir a função de células natural killer e a produção e função de células T.
Atletas envolvidos nesse tipo de exercício podem apresentar também falta
de sono, estresse mental, dieta inadequada, excesso de viagens, contato com
aglomerações em competições, que podem contribuir para o risco aumentado de
infecção. É interessante lembrar que a função imunológica volta ao normal entre
3-24 horas após exercícios físicos intensos e prolongados, então não ocorre um
estado crônico de imunossupressão. Em repouso, a função imunológica desses
atletas não difere de não atletas.

ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

Quando a pessoa apresentar resfriado, com sintomas somente de corrimento e


congestão nasal e dor de garganta leve, é razoável que ela pratique exercícios.
Porém, não é aconselhável exercitar-se quando há febre, fadiga geral, dores
musculares, congestão torácica, tosse e dor de estômago (POWERS; HOWLEY,
2014).

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14.3. Exercícios em condições ambientais extremas e o risco de infecção

A prática de exercícios em ambientes quentes eleva as concentrações de hormônios


do estresse, mas esse tipo de ambiente não prejudica a função imune. Embora seja
crença popular, as pesquisas não sustentam que exercícios em ambientes frios
prejudiquem a função imunológica ou aumentem o risco de infecção. Altitudes elevadas
combinadas com exercícios podem aumentar o risco de ITRS, mas somente em casos
de exposição prolongada, como, por exemplo, em indivíduos que vivem nas montanhas.

Título: Exercício na natureza


Fonte:https://www.freepik.com/free-photo/man-running-park-forest-against-trees_10521453.htm#page=1&query=cross%20country&position=5&from_
view=search

14.4. Influências ambientais no exercício

14.4.1. Altitude e desempenho

A elevação da altitude gera grandes estresses para o corpo, geralmente na capacidade


de captação de oxigênio pelos tecidos do corpo. O principal problema de altitudes
elevadas é a diminuição associada à pressão barométrica, com a redução da PO2, o
que causa hipóxia (comprometimento da disponibilidade de oxigênio para os tecidos).

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A capacidade aeróbia, por exemplo, é prejudicada conforme a elevação da altitude.


Altitudes de 700 metros ou mais já apresentam um impacto negativo no metabolismo
oxidativo, com os prejuízos crescendo de forma curvilínea em relação ao aumento
da altitude.
Em altitudes acima de 2200 metros o prejuízo mais dramático é no consumo de
oxigênio. Na altitude, além da diminuição do consumo máximo de oxigênio há redução
também do débito cardíaco, frequência cardíaca máxima e volume sistólico. No entanto,
a frequência e o volume ventilatórios aumentam para tentar disponibilizar maiores
quantidades de oxigênio. Por fim, com a elevação da altitude a radiação do Sol é maior,
devido ao fato de as ondas eletromagnéticas solares percorrerem uma distância mais
curta. O que pode ser um fator extra que prejudica o desempenho no exercício.

14.4.2. Estresse térmico e desempenho

14.4.2.1. Ambientes quentes e úmidos

Ambientes quentes e úmidos se tornam um desafio extremo à homeostasia corporal,


pois impedem a perda de calor por irradiação, convecção e evaporação, o que implica
em uma temperatura corporal central e sudorese elevadas. Essas condições ambientais
podem comprometer o desempenho durante exercícios prolongados submáximos
e também exercícios intermitentes e intensos, devido a alterações no metabolismo
muscular, no equilíbrio hidroeletrolítico, na função do sistema nervoso central e do
sistema cardiovascular.

ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

A sudorese (perda de líquidos) excessiva em conjunto com a temperatura corporal


central muito elevada aumentam o risco de o indivíduo desenvolver hipertermia
(temperatura corporal alta) e, consequentemente, lesão por calor. A lesão por
calor apresenta sintomas como náusea, cefaleia, tontura, diminuição da sudorese
e dificuldade na capacidade de raciocínio. Ao apresentar esses sintomas deve-
se interromper o exercício, resfriar o corpo e ingerir líquidos, com eletrólitos
principalmente.

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As possíveis explicações para a fadiga muscular induzida pelo calor são a elevação
do metabolismo de carboidratos e do acúmulo de lactato; a produção acelerada
de radicais livres durante o exercício; tensão cardiovascular e diminuição do fluxo
sanguíneo muscular devido à competição entre o fluxo sanguíneo para a musculatura
e para a pele; e o comprometimento do sistema nervoso central pela hipertermia e
desidratação. Os atletas podem evitar essas situações ao ingerirem líquidos antes e
durante os exercícios, principalmente os prolongados e aclimatando-se ao calor.

ANOTE ISSO

Os radicais livres são moléculas que possuem um elétron


não pareado na órbita mais externa, tornando-as altamente reativas.
Ou seja, os radicais livres reagem rapidamente com outras moléculas
presentes na célula, e essa combinação ocasiona dano à molécula
que se combinou com o radical (POWERS; HOWLEY, 2014, p.59).

14.4.2.2. Ambientes frios

Título: Prática de exercícios em ambiente frio


Fonte: Homem Correndo Em Terra Coberta De Gelo · Foto profissional gratuita (pexels.com)

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Indivíduos que realizam exercícios prolongados em águas frias (<15°C) ou ambientes


frios podem desenvolver a hipotermia (extensa diminuição da temperatura corporal
central), afinal a produção de calor não acompanha a perda de calor. Um caso de
hipotermia grave pode gerar perda de consciência e aumenta a chance de lesão por
frio. Já exercícios não tão prolongados realizados nesse tipo de ambiente podem
auxiliar a capacidade do indivíduo de perder calor, e reduzir as chances de lesão por
calor. Nesse caso, a produção de calor e o aquecimento ocasionado pelas roupas
adequadas impedem a hipotermia.
Durante exercícios realizados no frio o indivíduo pode apresentar dificuldade em
realizar atividades com as mãos, perdendo a capacidade de lançar ou pegar alguma
coisa, devido à diminuição do fluxo sanguíneo e da taxa de transmissão neural para
as mãos. Além disso, extensas exposições ao frio podem levar a úlceras causadas
pelo frio.

ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

Tecido adiposo subcutâneo em grandes quantidades, como é o caso de indivíduos


com um percentual de gordura elevado, podem garantir uma camada maior de
isolamento térmico contra o frio.

14.4.3. Poluição e desempenho

A poluição do ar inclui uma variedade de gases e partículas que são


produtos da queima de combustíveis fósseis. A «fumaça» resultante
da alta concentração desses poluentes pode ter um efeito prejudicial
à saúde e ao desempenho. (POWERS; HOWLEY, 2014, p.585).

Esses gases diminuem a capacidade de transporte de oxigênio e aumentam a


resistência das vias respiratórias e, por isso, podem afetar o desempenho durante
a realização de exercícios. Além disso, esses gases podem causar sintomas como
ardência ocular e dor no peito, que são responsáveis por alterar a percepção subjetiva
de esforço do indivíduo.
Os quesitos principais que influenciam as respostas fisiológicas são a concentração
do poluente (ozônio, dióxido de enxofre e monóxido de carbono, principalmente), a
duração da exposição ao poluente e o volume de ar inalado. A exposição ao ozônio

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pode reduzir o consumo máximo de oxigênio bem como a função respiratória. O


dióxido de enxofre é mais prejudicial para asmáticos, causando broncoconstrição. E
o monóxido de carbono se liga à hemoglobina, reduzindo o transporte de oxigênio.

Título: Poluição do ar
Fonte: https://www.freepik.com/free-vector/air-pollution-with-two-girls-dirty-smoked-city_5597197.htm#page=1&query=pollution&from_query=polui%C3%A7%C3%
A3o&position=29&from_view=search

CONCLUSÃO

Exercícios físicos influenciam os diversos sistemas corporais, inclusive o sistema


imune. Além disso, exercícios são um desafio à homeostase corporal, podendo ser um
desafio maior ainda dependendo do ambiente em que são realizados. Dessa maneira,
o corpo se utiliza de diversos mecanismos para a manutenção da homeostase nessas
situações.

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AULA 15
SAÚDE, CONDICIONAMENTO
FÍSICO E DESEMPENHO

Objetivos da aula: diferenciar atividade física de exercício físico; conceituar o


sedentarismo e aprender a sua relação com o desenvolvimento de doenças hipocinéticas;
conhecer os princípios do treinamento físico além de compreender aspectos gerais
envolvidos na fadiga central e periférica e o conceito overtraining.

15. INTRODUÇÃO

O avanço da tecnologia e dos meios de comunicação atrelados a novos hábitos


geridos pela sociedade contribuem para o sedentarismo, o sobrepeso e a obesidade.
Um estilo de vida sedentário juntamente com a falta de prática de atividades ou
exercícios físicos, influenciam na qualidade de vida das pessoas e podem apresentar
riscos à saúde.

15.1. Saúde e condicionamento físico

Atualmente, a inatividade física está no mesmo patamar que o tabagismo, a


hipertensão arterial e o colesterol sérico elevado, sendo considerada um fator de risco
primário para o risco pessoal de desenvolvimento de doença coronariana. Portanto, o
sedentarismo e a inatividade física podem ser considerados como um problema de
saúde pública, então é fundamental uma mudança de comportamento da população,
com aquisição de um estilo de vida mais ativo.

Atividade física (AF) pode ser definida como qualquer forma de atividade muscular
que resulta no gasto energético proporcional ao trabalho muscular, estando relacionada
ao condicionamento físico. Condicionamento físico é definido como um conjunto
de atributos que as pessoas têm, ou desenvolvem, relacionados à capacidade de
realizar AF. Exercício representa um subgrupo da AF que é planejado com o objetivo
de melhorar ou manter o condicionamento (POWERS; HOWLEY, 2014, p. 352).

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Por outro lado, condicionamento esportivo é definido como a “melhora do


desempenho mediante o aumento da força/potência muscular, da eficiência muscular
e/ou da resistência muscular” (POWERS; HOWLEY, 2014, p. 505). Então, atividades e
exercícios físicos podem ser praticados com o intuito de rendimento ou de manutenção
ou melhora da saúde.
Para McArdle, Katch e Katch (2016) saúde não é somente a ausência de doenças,
mas também o bem-estar físico, mental e social. Estes autores também definem aptidão
física como atributos relacionados com a forma pela qual se pratica uma atividade
física e com isso, aptidão física relacionada à saúde diz respeito à condição física
nas capacidades relacionadas principalmente à qualidade de vida dos indivíduos ou
prevenção de doença: flexibilidade, resistência aeróbia, força e composição corporal.
Dessa forma, para que os benefícios da AF relacionados à saúde aconteçam,
indivíduos adultos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), devem praticar
entre 150-300 minutos/semana de AF de intensidade moderada ou 75-150 minutos/
semana de AF intensa, ou optar pela combinação dessas duas estratégias. Para
treinamento de força a recomendação é de, no mínimo, dois dias (não consecutivos)
na semana, realizando entre 8-10 exercícios com 8-12 repetições.

Título: Pirâmide de atividade física.


Fonte: Powers e Howley (2014, p. 366).

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15.2. Princípios do treinamento

“A estimulação das adaptações estruturais e funcionais para aprimorar o desempenho


em tarefas físicas específicas continua sendo o principal objetivo do treinamento físico”
(MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016, p. 704). Tais adaptações, porém, só se tornam
possíveis com a adesão minuciosa a programas de treinamento que seguem certas
diretrizes no que diz respeito à frequência, duração, intensidade, tipo de treinamento,
intervalos de repouso, calendário de competições, entre outras. Tais diretrizes dependerão
dos objetivos, da condição física e do desempenho do indivíduo.
O profissional de educação física é quem deve ser o responsável pelos programas
de treinamento, e não um indivíduo que simplesmente tenha experiência com a prática
esportiva. O profissional de educação física é quem possui conhecimentos teóricos,
técnicos e científicos necessários à elaboração e acompanhamento dos treinamentos.
No entanto, é fundamental que o profissional esteja constantemente se atualizando,
adquirindo novos conhecimentos e informações pautadas cientificamente sobre a
área esportiva.
Dentro da preparação esportiva existem princípios que regem o treinamento físico
desportivo que nada mais são do que diretrizes e/ou etapas que devem contemplar um
programa de treinamento para o êxito esportivo, além de objetivarem evitar a instalação
de condições de fadiga e excesso de treinamento, prejudicando o desempenho do
indivíduo. Os princípios do treinamento são:
• Individualidade biológica;
• Sobrecarga e adaptação;
• Reversibilidade;
• Volume e intensidade;
• Continuidade;
• Especificidade e
• Variabilidade.

A individualidade biológica diz que cada indivíduo possui características únicas


e específicas determinadas geneticamente, quanto às suas capacidades físicas,
motoras, táticas e cognitivas. É imprescindível que isso seja considerado durante um
planejamento desportivo, para não elaborar treinamentos que fogem às capacidades do
indivíduo que irá realizá-lo. A continuidade dita que para mudanças crônicas ocorrerem
no organismo é necessário uma progressão gradual das cargas por longos períodos.

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Os princípios da sobrecarga e adaptação pregam sobre provocar estímulos suficientes


para que mudanças morfofisiológicas aconteçam no organismo dos indivíduos, evitando
um platô no desenvolvimento. O estresse provocado pelos estímulos deve ser suficiente
para promover alterações morfofisiológicas, via comprometimento da homeostase.
Após isso, oferecer períodos de recuperação e restauração da homeostase antes de
um novo estímulo, que podem variar segundo o grau do estímulo provocado e da
individualidade biológica do indivíduo.
Interdependência volume-intensidade significa que aumentos na intensidade
interferem no volume total e vice-versa, em que estímulos de longa duração são
realizados em menores intensidades, e estímulos intensos são mantidos durante
períodos mais curtos. Esse princípio baseia-se no conceito de volume que diz respeito
ao trabalho total realizado na sessão/na semana/no mês. Ou seja, volume nada mais
é do que o número de repetições, de séries, de exercícios, de distância e de tempo
percorrido durante o treino. E também no conceito de intensidade pode ser definida a
partir da velocidade, da carga e da amplitude do movimento.

ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

Para compreender o conceito da interdependência volume-intensidade basta pensar


em duas pirâmides em que na pirâmide 1 está representado um treino intenso
e, por isso, na base da pirâmide (mais larga) está a intensidade e no topo da
pirâmide, o volume. A pirâmide 2 ilustra um treino volumoso, na qual, na base está
representado o volume do treino e no topo, a intensidade.

O próximo princípio, o da especificidade diz que atletas de basquetebol, por


exemplo, devem treinar com base nas exigências a que serão submetidos durante
um jogo ou campeonato. Então, os treinos devem ser pensados e elaborados segundo
características específicas exigidas pela modalidade a ser praticada. A variabilidade
diz respeito ao treinamento de todas as capacidades motoras por meio de estímulos
diversificados, com intuito de ótimo desempenho em todas elas. Ainda usando o
basquetebol, deve-se trabalhar conceitos técnicos e táticos, mas também utilizar-se
de treinos mais gerais, como de coordenação e resistência.
Por último, mas não menos importante, está o conceito de reversibilidade. É
fundamental que um treinamento tenha continuidade, para que as adaptações almejadas

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aconteçam e seja possível mantê-las pelo tempo necessário, pois caso os estímulos
do treinamento diminuam ou cessem, os benefícios e adaptações subsequentes a
ele, podem ser perder.

15.3. Fadiga muscular e overtraining

Título: Fadiga
Fonte: Academia Pesos Labuta - Imagens grátis no Pixabay

15.3.1. Fadiga muscular

Exercícios intensos e/ou prolongados resultam em fadiga, o que pode limitar o


desempenho. A fadiga quando induzida pelo exercício pode ser devido a fatores
centrais ou periféricos. Os fatores centrais envolvem centros encefálicos superiores
e/ou motoneurônios e os fatores periféricos dizem respeito à fadiga junto a fibras
musculares esqueléticas. A contribuição de fatores centrais ou periféricos para que
a fadiga aconteça depende de condições ambientais e do tipo, intensidade e duração
da atividade.

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A fadiga muscular pode ser definida como “a redução da produção de potência


muscular que pode ocasionar uma diminuição, tanto da geração de força como da
velocidade de encurtamento do músculo” (POWERS; HOWLEY, 2014, p. 173). Essa
fadiga é reversível em algumas horas de repouso ou descanso. A fadiga central resulta
em diminuição do débito motor para os músculos esqueléticos ativos. Esse tipo de
fadiga pode ocorrer devido a depleção de neurotransmissores excitatórios do córtex
motor, que limita a ativação de motoneurônios e as fibras musculares que eles inervam.
A “teoria do regulador central” prega que a fadiga induzida pelo exercício é regulada
pela ação do encéfalo, que controla o desempenho no exercício, com o objetivo de
proteger o corpo contra perturbações catastróficas da homeostasia. Com a promoção
da fadiga, o indivíduo é obrigado a parar o exercício antes da ocorrência de algum dano.
A fadiga periférica ocorre devido a contrações musculares prolongadas ou intensas
que comprometem a capacidade das fibras musculares de produzirem força, uma vez
que perturbam a homeostase muscular. Ainda, existem controvérsias com relação às
causas da fadiga periférica, porém o estado nutricional, condicionamento do indivíduo,
tipo de fibras e intensidade e duração do exercício são fatores que afetam o processo
de fadiga. E independentemente da causa, o resultado é sempre comprometimento
da produção de força ao nível de pontes cruzadas (cabeça da miosina se ligando aos
filamentos de actina) da musculatura.
De forma geral, as causas da fadiga muscular dependem do tipo de atividade realizada.
O acúmulo de metabólitos (lactato, íons hidrogênio, radicais livres, entre outros) no
músculo ativo em resposta a exercícios intensos e de curta duração (aproximadamente
60 segundos) pode prejudicar a homeostasia do local ao prejudicar a quantidade de
pontes cruzadas ligadas à actina. Esse evento pode ocorrer também em esforços
prolongados, com duração de mais de duas horas. No entanto, exercícios desse tipo
envolvem também perturbações da homeostase eletrolítica muscular e extracelular,
e depleção de glicogênio muscular.

ISSO ACONTECE NA PRÁTICA

Com o decorrer do treinamento físico, pode acontecer a alternância no


recrutamento de músculos envolvidos em um mesmo movimento, o que ajuda a
prevenir a fadiga e elevar a performance (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).

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Título: Fatores que podem afetar o desempenho.


Fonte: Adaptado de Powers e Howley (2014, p. 443).

15.3.2. Overtraining

Conforme o princípio do treinamento da sobrecarga deve haver um aumento


planejado no treinamento para melhora no desempenho esportivo. Esse aumento deve
ser sistemático e progressivo, bem combinado com o princípio da interdependência
volume-intensidade e com períodos de recuperação adequados. Assim, o princípio
da adaptação acontece e há melhora no desempenho. Se mal administrados esses
princípios pode ocorrer uma sobrecarga excessiva não planejada, que acarreta
desempenho precário em treinamento e competições.
Se observada em tempo essa sobrecarga não planejada, ou overreaching, pode
desaparecer com intervenções a curto prazo, com recuperação que dura de poucos
dias até duas semanas. Segundo Powers e Howley (2014, p. 481) overreaching é “um
acúmulo de estresse de treinamento que resulta em um decremento (a curto prazo) na
capacidade de desempenho em chegar/não chegar aos sinais e sintomas fisiológicos
do sobretreinamento”.
Quando o overreaching não é tratado, ele provoca redução do desempenho a longo
prazo e então a síndrome do overtraining se instala. O overtraining é definido como

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um “acúmulo do estresse de treinamento que compromete a capacidade do atleta


de realizar sessões de treinamento, resultando, em longo prazo, em decrementos do
desempenho” (POWERS; HOWLEY, 2014, p. 481).
O overtraining (ou sobretreinamento, em português) acomete de 10-20% de atletas
de alto rendimento. A redução na capacidade de treinamento e os demais problemas
associados ao overtraining podem exigir maiores períodos de recuperação, com treinos
reduzidos ou algumas semanas/meses de ausência de treinamento. Por estar associado
a sintomas fisiológicos, mas também psicológicos, em alguns casos, quando instalado
o quadro de overtraining há necessidade até de intervenções médicas.
Os atletas podem apresentar dificuldade em se adaptar ao treinamento, com
dificuldade de treinar de forma intensa e de se recuperar de uma sessão de treinamento. O
overtraining também está relacionado com maior incidência de lesões, dores musculares
persistentes, mal estar global, fadiga crônica nas sessões de treinamento e nos períodos
de recuperação, além de sintomas associados como má qualidade de sono, padrão
de apetite alterado, funções reprodutivas alteradas e distúrbios de humor.

As condições clínicas preexistentes; carboidratos insuficientes ou


desidratação; o estresse ambiental de calor, umidade, altitude; e as
pressões psicossociais (p. ex., treinamento monótono, competição
frequente, conflitos pessoais) costumam exacerbar as demandas do
treinamento e aumentar o risco de desenvolvimento da síndrome do
overtraining (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016, p. 750).

Todos esses fatores podem resultar na perda do interesse em treinar em alto


nível e declínio do nível competitivo. O overtraining é difícil de diagnosticar em seus
estágios mais precoces. A indicação é que, além de se atentar para o equilíbrio entre
as cargas de treinamento e recuperação, se observe “deterioração no desempenho
físico, as alterações no estado de humor, razão cortisol/cortisona relativamente alta
e, possivelmente, variabilidade reduzida na frequência cardíaca noturna” (MCARDLE;
KATCH; KATCH, 2016, p. 750).
Não há estratégia específica para determinar a recuperação completa após um
quadro de overtraining. Porém, parece que os atletas em sua maioria reconhecem
intuitivamente quando podem retomar com sucesso os treinamentos. Além, é claro,
de uma concordância conjunta entre os especialistas envolvidos no processo de
treinamento, como os treinadores, fisiologistas, médicos, psicólogos e fisioterapeutas.

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ANOTE ISSO

Especialização precoce e síndrome de burnout: pode ocorrer em crianças e


adolescentes envolvidos em programas de treinamento esportivo voltados para o
rendimento e participação em competições. Programas com um mínimo de três
sessões semanais e poucos períodos de recuperação juntamente com a cobrança
pela competitividade podem gerar fadiga física e estresse psicológico.

CONCLUSÃO

Exercícios físicos podem ser realizados com o objetivo de saúde ou desempenho,


além de serem uma ferramenta extremamente importante no combate ao sedentarismo
e ao desenvolvimento de doenças. Porém, independentemente do objetivo é interessante
seguir diretrizes para evitar quadros de fadiga ou até mesmo de excesso de treinamento.

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CONCLUSÃO

A Fisiologia estuda as funções dos tecidos, órgãos e sistemas, enquanto a Fisiologia


do Exercício proporciona uma visão abrangente sobre esse tema, ao avaliar o efeito
do exercício (agudo ou crônico) nesses mesmos tecidos, órgãos e sistemas. Portanto,
ao final dessa disciplina de Fisiologia Geral e do Movimento, foi possível entender
as principais respostas ao treinamento físico, realizado em diversos ambientes e
condições distintas. Assim, fica mais fácil compreender a habilidade do corpo humano
em responder e adaptar-se ao exercício físico.

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ELEMENTOS COMPLEMENTARES

WEB

Sequência de vídeos sobre todos os mecanismos envolvidos na contração muscular,


desenvolvido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

A Contração Muscular (Parte 1 de 4) - YouTube


A Contração Muscular (Parte 2 de 4) - YouTube
A Contração Muscular (Parte 3 de 4) - YouTube
A Contração Muscular (Parte 4 de 4) - YouTube

Vídeo que demonstra um teste de calorimetria indireta, com analisador de gases,


realizado pelo Grupo de Estudos em Prescrição do Exercício.

Calorimetria Indireta (Análise de trocas ventilatórias) - VO2000 - GEPrEx - YouTube

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REFERÊNCIAS

KRAEMER, William J., FLECK, Steven J., DESCHENES, Michael R. Fisiologia do


exercício - teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. [Minha Biblioteca].

MCARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. I. Fisiologia do exercício, energia, nutrição


e desempenho humano. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. [Minha Biblioteca].

PITHON-CURI, Tania Cristina. Fisiologia do exercício. Rio de Janeiro: Guanabara,


2013. [Minha Biblioteca].

POWERS, Scott K., HOWLEY, Edward T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação


ao condicionamento e ao desempenho. São Paulo: Manole, 2014. [Minha Biblioteca].

RASO, Vagner. POLLOCK; et al. Fisiologia clínica do exercício. Barueri: Manole,


2013. [Minha Biblioteca].

ROWLAND, Thomas W. Fisiologia do exercício na criança. São Paulo: Manole, 2008.


[Minha Biblioteca].

SANTOS, Nívea Moreira. Anatomia e fisiologia humana. São Paulo: Érica, 2014.


[Minha Biblioteca].

WILMORE, Jack H.; et al. Fisiologia do esporte e do exercício. Barueri: Manole,


2013. [Biblioteca Virtual Universitária]

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