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De qualquer Angulo, porém, que este se enfoque, ha que levar em conta duas notas que o singularizaram: 7 © presente artigo condenta aspectos de um antsio de msior fleg0 aque o amor eit preprando accrea da avliaglo do proero de reconceptia xelo do: Servigo Socal. Dada a va infengho.carmente didaen, eta contensaplo aprocitase aécenariamente exqucmatisns..simplifieads tr "Aesintento Socal formado em Leta, atuaimente @ professor de Teoria do Socal mu PUCSP. I. “Dou por ssentado, aqui, um conbecimento misimo deve proceso. (© seu talango mais, incluivo. embora iiteular 0 que, se enconta no olume Coltve Dezfio al Sericio Sorkd, Butnos’Aire, od; Humanitas, 1976 2, Devewe evar stro de couserar 4 amériee Latina na ttaldade inegade “thew de dhortade poten gue cnt 0 conten Enprego s expresso, portant, apenas no seu sentido gepalitico coment. rae Gro due € neces Gating clartments Servigo Socal “lisea” 4 svg Soc “tice Seri Soa “lee eno eee ofislonal ta come, ft postulado pelo apenes protioesie diese ded {arama unr minimo de sistematiagSo, consituindo de {ato as fontes do Ser vigo Social (Mary Richmond ¢-¢-exemplo mais tice). Por Servi. Social 59 aS ) N: { | 8) 0 seu caniter heterdclito: na sua génese © no seu evolver © processo foi sempre uma mescla de tendéncias heterogéneas e até conflitantes; essencialmente, 0 projeto reconceptualizador debateu-se ‘numa ambigilidade que nunca foi clarficada: gravitou ora em torno de uma proposta de adequacio profissional as demandas_insttucio- nais (maderizagdo), ora em torno de uma alternativa que postulava uma pritica de natureza nova (ruptura); b) 0 lapso temporal extremamente reduzido em que se desen- rolou; ndo.mais que dez anos, o que € reconhecidamente pouco para que qualquer processo de transformacio ou de ruptura posse ter incidéncias que permitam uma avaliagdo minimamente_profunda. No préprio momento em que se comeca a registrar o seu reflu- xo (variavel dependente dos eventos sécio-politicos continentais), 0 processo de reconceptualizagio passa a ser objeto de reservas © cri- ticas ‘. Embora tais eriticas nfo tenham experimentado um desen- Volvimento rigoroso, & hoje possivel identificar, sumariamente, duas perspectivas fundamentals que podem conduzir a uma avaliagio da sua natureza e da sua significagdo para 0 Servigo Social como pro- fissao. ‘A CRITICA SUPERADORA Uma primeira vertente critica recolhe do proceso de recon- ceptualizagao os componentes que apontavam para uma _pritica de “tradicional” deve entender-se a prética empirisa, reterativa, paliativa e bu rocratizada que os agentes realizavam ¢ realizam fetivamente na América Latina, Evidentemente, ha um nexo essencial entre ambos: parametra-os_ uma. Glia liberal-burguesa¢ sua teleologia consiste na corresio — numa otica ‘laramente. funcionalista — de resultantes psicossociais considerados negatives fu indesejéveis, sobre o substrato de uma concepcio (aberta ou. velada) Iealista e/ou mecanicista da dinimica social, sempre pressuposta a ordenagio ‘apitalista da_vida como vm dado factual inelimindvel. Gostaria de’ ressall ue esla distingdo é instrumental: ela permite indicar que a prtica profisional laria a0. processo de reconceptualizagio dista_muito do. Servigo_ Social O” ~~ festa indicagio tem enorme significado heuristico, no deba ontempordneo. Por exemplo: a pritica postulada “classicamente” pelo case work (tal como explcitada por Richmond em 1917 e em 1922) supde uma "ede de’ arias sola ratnnes "noma aud ena, de. evo Cficientes. (publicos e privados), um aparato estatal eficaz e uma. sociedad Sivil complexa ¢ estruturada; ora, esta. pritica, entre nés, realizouse (e se Fealiza hoje, parcialments) na ausBacia, ou quase auséncia, destas précon- igies. Taf; 59 ee ica, € satin, Hoe, a rita da obra cds mw 60 7 i stitucional natureza nova, desbordando o Ambito do Servigo Social |-pilta-configurar um projeto de intervenedo-social respaldado em for- | fas SScio-politieas inseritas-nios-movimentos populares e de massa. Esta perspectiva nao € 0 objeto do presente artigo, mas é necessério dizer algo sobre ela. Sua premissa é a de que o processo de reconceptualizagio, expressando a conjuntura de transigfo social vivida na América Lati- nna, tinha a sua sorte hipotecada aos préprios rumos da revolugio social em escala continental. Ganhando impulso 0 movimento revo- lucionério, 0 projeto de uma nova pritica profissional encontraria suportes sociais reais e romperia com a propria nogio histérica do Servigo Social, entendido como instrumento de manipulagdo das de- mandas sociais das classes espoliadas em proveito do status quo: frustrado transitoriamente este movimento, (@ projeto em tela seria) enquadrado e reabsorvido nas pautas profissionais institucionais. Como a histéria imediata. do continente coneretizou a segunda via (as classes possidentes nativas e o imperialismo puderam locali- {AF solugdes provisdrias de bloqueio ao movimento revolucionério, que variam do militar-fascismo as ordenagdes de cariz, social-demo- Grata, estas tiltimas apresentando largas chances de viabilidade poli- tica), esta perspectiva vé condicionada a sua critica pelas limitagdes postas pela atual conjuntura de travagem politico-social. Ou seja f sua critica restringe-se a operagdes analitica. Resumidamente, esta critica incide sobre 118s niveis do processo de reconceptualizagio. Em primeiro lugar, 0 seu arcabougo fedricos ‘rata-se de desmontar.o.ccletisme que permeou o processo, resultante nna assimilagao mal-digerida. da teoria_marxiana — haurida no em fontes originals, mas na divulgagao rasteira, de tipo manualesco — 1 contrafagdes como a “teoria da dependéncia”, a “teoria do popu~ lismo" e quejandos. No mesmo plano, a tarefa é a de liquidar com © epistemologismo (clara marca althusseriana) € 0s equivocos dele Gerivados, tais como a postulagio de uma “teoria” propria ao Ser~ vvigo Social, bem como, ainda, a utiizacdo arbitréria ¢ indevida das propostas de Paulo Freire. Em segundo lugar, cabe pensar as suas fiternativas metodolégicas, desmistificando 0 formalismo metodolo- gista que freqiientemente encobrin um trago empirista a neopositi- vista, Anda aqui, cabe enfatizar a ingpcia no estabelecimento de ediagdes entre 0s objetivos estratégicos explicitos ¢ as formas prit tico-imediatas de intervengio. Enfim, a critica recai sobre © Ambito politico: cumpre desnudar a ingeniudade politica, oriunda tanto de Ineapacidade de conjugar andlise de estrutura/anilise de conjuntura quanto do basismo, que nunca dissimulou uma franca hostilidade para com as orgenizagdes operdrias de tipo tradicional (especialmente ol | ¥ vico Soci 0s partidos comunistas). deste Angulo que se indicara como ¢ por que, comumente, © processo de reconceptualizagio nio soube iden- tificar suportes s6cio-politicos efetivos para embasar seu projetos. que € importante, entretanto, é ressaltar que esta perspectiva critica procura altemativas ao processo de reconceptualizacao diri- ‘gindo-se para o futuro. seu sentido é claro: jogar no processo histérico como matriz para alterar medularmente o perfil protissional do Servigo Social. Isto Ihe propicia, por outro lado, compreender 6 estigio atual da profissiio: uma etapa de transigéo, ‘na qual com- ponentes do processo de reconceptualizacdo se integram no espago institucional ampliando positivamente as formas de intervencao. Nao esta, contudo, @ perspectiva que interessa considerar aqui; interessa, sim, pensar aquelas que configura uma critica con- servadora a0 processo de reconceptualizacao. A CRITICA CONSERVADORA Sem uma formulacéo explicita e clara, o elenco de criticas que os sctores profissionais refratérios a reconceptualizagéo dirigem 20 processo apresenta uma peculiaridade significativa: os _mticleos temé- ticos desta critica so literalmente idénticos aos elementos autocrit “cos que alguns promotores do processo de reconceptualizacao che- garam a esbocar® — e esta peculiaridade deve ser anotada. De qualquer maneira, no nebuloso arsenal de apodos de que se armam ais refratérios ao processo de reconceptualizacdo, & pos- sivel delimitar alguns daqueles micleos ¢ listar as reservas mais gerais que trazem consigo. Numa ordenagio aleatéria, vejamos estas apo- ras a contracritica que comportam. Primeira critica: a reconceptualizagdo conduziu a inseguranca, @ angistia e & desorientagdo profissional. A mela-verdade~con- tida nesta afirmaggo elide 0 contrabando da sua inteira mentira. Fla supde_que antes da “‘confusio” gerada pelo processo de recon- ceptializagao imperava na comunidade profissional um clima de segu- ranca, confianga e clareza. Mas este pressuposto é falso. © Ser- i tradicional jamais estabeleceu coerentemente o seu terreno “profissional, o seu objeto ¢ 0 seu instrumental. Objetivamente, isto Se traduziu, entre n0s, a dois nivels: 0 da formacao de quadros © 0 da intervengio profissional. Quanto ao primeiro, basta analisar 0 contetido real dos curriculos ¢ dos programas escolares para verificar 5. Vale a mesma observagio da nota anterior. 62 que sempre se transitow por uma zona de sombras; ademas, eram jé | otérias —~ para quem viveu aqueles “bons velhos tempos” — as ten- Sbes existentes entre as disciplinas de “formacao profissional” e aque- Tas “subsididrias” ou “complementares”, tensdes que, no limite da caricatura, levavam o altno @ “gostar” de Sociologia © @ “despre- zat” Servigo Social de Casos (como se vé, as tendéncias & “despro- fissionalizagio” so bem velhas...). No-que toca a intervencao | profissionais, quem possti o mais elementar conhecimento do funcio- hamento das nossas agéncias sabe perfeitamente que s6 cxistia (exis- te?) lareza_e definigao funcional no esquema.burocratico-formal | administragdo, regulamentos e/ou estatutos): ninguém sabia (sabe?) | exatamente "0 que ftz a (sic) assistente social Nesta situagio, 0 processo de reconceptualizagéo teve um tinico papel: produzin tum tipo de ambiéncia onde a inseguranga e a deso- Fientagio préptias do Servigo Social tradicional saltaram 2 Tuz_do dia, € verdade que com a forca acumulada por uma velha repress E-€ compreensivel que, fazendo-o sobre novas bases, o fenémeno latente no Servico Social tradicional adquirisse um perfil mais agudo, um cariz mais dramftico. Contudo, debitar ao processo de recon- ceptualizaciio um traco inerente ao Servigo Social enquanto institui- so 6, deliberadamente, promover a mistificago. Segunda ritiea: a reconceptualizagto cristalizou-se num modis ‘mo projissional, Como constatacdo factual, esta assertiva tem algun Galgos tha Tealidade: houve a “onda” da reconceptualizagio — du- ranie certo tempo, curto alids, foi de bom-tom posar comp reconcep- tualizador. No entanto, a ressalva é superficial, uma vez que isola aspectos epidérmicos — a linguagem empolada, a consolidagio de ‘um jargdo-tipo, uma ingénua irreveréncia para com 0 passado pro- fissional, etc.” — do periodo de afirmagio do proceso de reconcep- tualizagio. Todavia, a impugnagio que a assertiva pretende realizar 6 inécua: ignora o banalissimo fato, exaustivamente estudado pela sociologia da cultura, de que a dindmica e a légica dos processos de 6. A confusfio era tio flagrante que o antidoto chegava a ser divertido: certas escolas, ma disiplina Introdupdo_ ao Servio Social, desenvolviam uma Unidade programética, “Tnterpretagao do Servigo Social”, onde se dizia 20 dliscente que ainda era necessirio esclarecer a0 pessoal das agéncias ¢ 20 piblico fp que eta o Servigo Social”, para que no se Ihe acometessem “tarefas que nfo Ihe cabem”, Moral da’ historia: bastava uma “boa” interpretagto para ertadicar o$ eauivocos. 7. Aliés, 0 primeifo a detectar os cacoetes do_modismo_reconceptual zador foi justamente um dos. pioneitos na denincia do. Servigo Social tradi- ‘Gonal o Dr. Ezequiel Ander-Fe — ef. 0 seu artigo "Manias y achaques del Servicio Social reconceptualizado", in Selecciones de Servicio Social, Buenos ‘Aires, ed. Humanitas, 23, 1974, 63 alteragao de padrdes cientificos, tedricos ¢/ou profissionais se acom- panha, necessariamente, de adesdes apressadas ¢ até oportunistas. Mala!’ a genecaliaaclo Ge qualquer ovo padrso se opera através de pi tum proceso de divulgacio que, nos seus estigios iniciais, implica , mesmo uma vulgarizagao, que chega a ser assumida como signo istintive de vanguardismo. Ou seja: 0 “modismo”_é_uma_fase compulsoriamente_experimentada_ por qualquer instauracio_de_novos fader itelecuag' ptotasionesForiantc, € llegtimo asacat i contra 0 processo de reconcepiualizagio uma recorréncia que ndo é cexclusividade sua, mas uma caracteristica pertinente_aos_momentos iniciis de qualquer i iar. Por outro lado, & de assinalar 4 curiosa falta de memoria historica dos que, recorrendo ao rétulo “modismo”, buscam minimizar 0 processo de teconceptualizacio: es- quecem-se, por exemplo, de que a introdugo do Servico Social de Grupos no Ambito institucional do Servigo Social também foi, du- ante algum tempo, outro “modismo” (para no mencionarmos a voga origindria, entre nds, do Desenvolvimento de Comunidade) * { ‘Terceira eritiea: a reconceptualizacdo circunscreveu-se a pe nos grupos de elite (“capelinhas”). Parcialmente, esta & outa co je Talo, las que, em absoluto, no pode fundar qualquer juizo de valor sobre 0 contetido do proceso de reconceptualizagao. Todo movimento revolucionirio ou renovador se realiza, inicialmente, | engendrando uma estratificacio propria, reforcada, inclusive, pela so- | lidariedade que os seus pioneiros desenvolvem entre si. © que pode ser elemento judicativo € relagdo entre esses pequenos grupos, no seu processo de maturacio, e a comunidade profissional — € nao ha qualquer indicio confidvel de que os grupos reconceptualizadores tenham implementado politicas. sistemdticas de exclusdo*. Além isto, sabe-se também — 0 que & compreensivel — que a hist6ria do | Servigo Social tradicional no Brasil, a certo nivel, pode ser contada | igualmente como a histria de grupos muito pequenos ¢ influentes, sucedendo-se ¢ entremesclando-se no tempo. | | Quarta critica: @ reconceptualizacdo_afirmou-se_negativamente, | pela reeusa do passado projisional.. Esta sport mistieadora Gove | % Quem conhece « histria real do Servigo Sovak cisco sabe Peer eat Wermce Gol "motench ern k mcrameniie fed Series Socal = retormase’mesmo a tics ativideds indene de “modimos”, velba fiantropia’ prev 3°” No'pior dos casos, pode-seafirmar gue os grupos reconceptalzadores utearama"mesmn ioeda corrente ene om grupos do Serigo Sosa th. disional. 64 ser tratada com prudéncia, jé que também expressa uma notavel can- didez hist6rico-epistemolégica. Esta reside em supor que 0s pro- ceessos de renovacdo ¢ transformacao se desenvolvem sem rupturas ¢ dilaceramentos ". Todas as informagdes disponiveis sobre as cién- cias © os espacos profissionais modernos atestam, a0 contrario, que 1 sua afirmagio implicou a recusa das praticas imediatamente_ante-| cedenies ". O que se deve © pode questionar no processo de recon- “CepiualiZagio nfo foi a sua recusa do passado profissional — antes, fo a sun ineapeiade para. realizatma crc tee, radia det assado eee mesmo “minigde-critex do Servigo Socal instiucional (cssico tradiio- tal), on eaforgoe teconceptoalicadorch se initaram a intcapSex fe tandah, maa; Bo elASil| ples © tbetratnn, Por lato matty @ apodo peca até por insuficiéncia. Entretanto, ele ¢ mistificador quando deixa de colocar a questio referente 4s _propostas efeti Tats emia us ossine Oo toecetucnlesche, ote a io considerando 9 estrelto Tapso Temporal €m que se desenrolou, © oko feconeeplaslandor Mains naesnglerd wa ction lM do passado profisional — avatgou Modelos de tnterrenplo pros nal e explicitou filosofias para a sua prética profissional (elemento que, até entio, s6 operava tcltamente no Servigo Sceial). Outro problema é a discussio da validade, da coeréncia e da relevancia deste aporte do processo de reconceptualizagdo (problema ads fun- damental). Porém, o que importa frisar aqui é que a sua mera txstincla pe do maaifeno que'a critica aluidn & lmprocedeta Quinta critica: a reconceptualizacdo determinow a ideologizagio profissional (esta reserva vincula-se diretamente Aquela que mencio- narei a seguir). Mais do que em qualquer outra critica, € nesta que a Vulgaridade, a ingenuidade e a mé-fé mais se conluiam. £ hoje onto pacifico que © Servigo Social, clissico e tradicional — bem como qualquer modalidade de intervenca0 sécio-profissional —, sempre esteve matrizado por _pardmetros_ideolégicos_inequtvocos. Foi mérito do processo de reconceptualizacao, diga-se de passagem, trazer luz estes pardmetros que, antes dele, jamais tinham sido ipresentados eomo-Tals-Precistmente o-processo de reconcepttal zacio mostrou que o Servigo Social enquanto.profissio munca ulira 10, No fundo desta suposigio, o que aparece € mesmo a somby do velho Comte a nos preceituar © progresso na ordem. A prooriaemergicia_do_Servgo Sacal_listco comprov-g em Richmond ¢ Visivel e Comseteate © projet de-recusar 4 filantropin alearia TD, Caracersica esvetamenie-conestada ¥ amBiglidade, 4 Tele, que © processo de reconceptualizagio trazia coasigo. rangosa 65 E ele fez. ainda mais: ex- A critica, porém, possui um sentido preciso: quer sugerir que Dl ; deve-se dizer, heterdclitos e diferencia- f ‘0 Ambito profissional ‘desnaturou-se porque agentes da reconceptua- dos) valores ideoldgicos. “Ao faz8-lo, reconheceu cristalinamente lizagdo chegaram a fazer nitidas opgdes politicas (2s vezes, politico- que é impossivel pensar um Servigo Social sem suporte ideol6gico € partidérias). © equivoco € gritante:_o efeito (0 posicionamento “mosirou que o vérdadeifo problema nao consisie em integrar ou néo politico de profissionais) é tomado pelat causa (as solicitagdes sécio~ ‘componentes ideolégicos — consiste em qual componente ideolégico histéricas que o determiiam) — sequer se compreende que a proble- || {| deve ser integrado™. “A critica, pois, desfaz-se sem mais. matizacdo profissional foi posta pela realidade social ¢ néo pela agio || | P de umas poucas cabecas conspiradoras. Seg oe ee sar tistonaliana. 6 Savio Hi que enfrentar o fato indesmentivel de que 0 voluntarismo de Sovil pels vie da polieapdo, Como ex eporia resume elementos Jguns profissionais e estudantes afetos 20 processo de reconcep' fe varia ordem, tratemo-la com um pouco mais de cuidado. lizagao (movidos por um idealismo idilico e politicamente ineficaz, Na escala em que 0 processo de reconceptualizagao insereveu-se ‘mas eticamente superior & “neutralidade” cinica © oportunista dos num momento histérico em que as sociedades latino-americanas fra- corifeus tradicionais) contribuiu para reforgar 0 equivoco:freqiien- turavam-se diferencialmente pelo mecanismo de uma crise estrutural temente, esses profissionais © estudantes confundiam os nivels de (a prépria reconceptualizagio, aliés, é um dado desta fratura), era desempenho ¢ acabaram por transferir, para o debate profissional, inevitivel, quo‘ AMBIIG profisional fosve percorrido.peles fissures modalidades de comportamento mais adequadas ao confronto politi- quo trincaverns aiipeiatiga, Gotan um iodo". Pretender Gue_ apr co, Aquele equivoco, entretanto, nio teria maiores conseqiiéncias, fissiio_nfio_registrasse, em si mesma, as_incidéncias da Revolugdo mesmo levando-se em conta a confusio mencionada (e, época, | Cubana, Jo rotundo fracasso do programa modernizador e liberal comum em todas as esferas de formagio ¢ intervene profissionais), da Alianga para o Progresso, da guerrilha urbana e rural, dos novos se no contasse com 0 que, no caso especifico do Servigo Social, foi padres da-dominacao_imperialisia (que determinaram, nos. paises um decisive complicador: o carter “doméstico”, sectério, da comu-_ nidade profissional. Idiossinerasia inerente a universos reduzidos € _Techados, esse trago “doméstico” potenciou mistificadoramente “as tensOes que penetravam © corpo profissional, e comumente condu- das novas pauias culturais de comportamento, ec. (mil et.) — essa 2iu a subversio dos problemas reais: conflitos mesquinhamente_pes- pretenso nao merece mais que um sorriso de piedade, Neste sen- -Soais_adquiriram_uma_racionalidade-legitimadora_ao_serem_canaliza- tido, considerar "politizador” 0 provesso de reconcepiualizacdo_por- Te ee cata ke ee Sou iciae ¢ enka Mie ceatnista Loot ape Gate asia oierat ee tancamente, reconhecer a incapacidade do Servigo Social tradicional i para adequar-se & novas demandas sociais e fouvar no processo de Percorriam 2 comunidade profissional foram repostas no nivel do Feconceptualizagio o seu potencial de expressio das inéditas © deci- sivas realidades. TS, Disto chegou a resultar, de um lado, na efervesséncia das escola, um conflito mal equacionado entre estudantes mais dotados © professores “ta- ficionais” (a lagoletude dos primeiros vendo na incompeténcia c na intransi | séncla: dos segundos tum signo da “Iuta de classes") c, doutro, na. projegfo ‘de maior peso no continente, a emergéncia dos modelos militares- fascistas), da hipertrofia_urbana, da crise fundidria, do colapso e da renovacao de instituigdes tradicionais (como a Tgreja catélica), 13, No fundo, © que se contesta ao processo de reconceptualizasio no : ; “ter ideologia", mas “ter ideologia {eGrica, a. atribuglo de fungSes evidentemente enganosas a0 Servigo protons Tessas ae’ Wor UMase sets any fansite Gut Ctramsormepto do mundo) inns acerca dea confuse se ety mmencionam o “esquerdismo” reconceptualizador qualquer juizo sobre a "ideo- \"amem, Pata, Reconepmalicstn: ana laqud on America Lt logia” daqueles cujo &xito profissional foi e é variével dependente de 17 anos 16, & premente investigar os modelos de interapdo da nossa comunidade de. ditadura, boo Z profissional — algumas curiosas configuragdes comporiamentais viriam & luz. (ft, Fendmeno absoluamente “normal” © nade oreial na prdpria i 17. claro que, ausente este trago sectério, a impugnaglo, perde sentido. ria do Servico Social institucional. Quanto a isto, os Teffatfrios 0 processo [Ninguém, serismente, sustenta que os economistis do Direst “desprofissiona- de reconceptualizagao deveriam llustrar-se lnvestigando as polémicas ¢ 0s gitos tizam’ a Economia ou que, pela via da partcipagso polifes, Dalia Daftar, ‘que, por exemplo, marcaram a evoluglo profissonal nos’ Estados, Unidos na Osear Niemeyer e Carlos Gentile de Melo fazem o mesmo com o Direito, a década de trinta, no periodo da Grande Depressi © do New Deal Arquitetura e a Medicina, 66 67 profissional. © mais curioso, até pela sua reiteratividade, foi o fato “Ge a “politizagio” $6 ser rotulada como tal quando colidia com a legalidade (mais exatamente: com a ilegalidade) vigente. A “des- profissionalizagao” foi e & uma acusagao diigida exclusivamente aos profissionais que se “politizam” de forma a por em xeque o status Nao preciso que nos alonguemos mais: neste plano, a mula tudo, exceto a oo “desprofissionalizagao” € um biombo que dis Seana eae © que ainda deve merecer alguma atengdo, todavia, € 0 suposto Sorel qoetUbjagh Gait cttea! exstia wre preiesio quo o provesss de reconceptualizagao, “ideologizante” ¢ “politizador”, diluiria. A Inugen dio prutaeto| Go oe. proGasioanis retrace ac) procento Je Recon ta to grrgetncpactariz-s por um duplo aver exci quilguer plurdlano © € badeamente endice. Excl 9, pltralamo aquanto sugere que aa glodaikdedes de itervencio sio.mdependen- ten dos seus agenies, hovers e-ccTeMimats castaumental. op \ sonal wuts na fcmacin © (qOe ean TUG las seus Tape mentado homogeneamente (€ desnecessirio aduzir que esta nogdo Pica ater aaa ceree eeccs pcieoeal cae tica”). E estética na medida em que considera como especifica- Sorale pesteteinal a OPPs ae 6 fetinacondicnts mae mente desnecessario € acresentar que, entio, todo progresso profis- onal € percepcionado como anémalo). B na confluéncia de todos esses vetores que se configura a inép- cia da critica aludida: o que se acoimou de “desprofissionalizante” no processo de reconceptualizgto fol tanto a sua Tecusa dos valores polio que travejam 6 Servico Socal tradicional elisico quanto Pench do, muylial of abe proissonal ‘Gomi tncioesa| de prticas initiates, | confronto politico-ideoljgico ¢ dai projetadas_para_o_desempenho { Sétima critica: a reconceptualizacdo instaurou um riato entre os centros de formacao ¢ as agéncias-de_intervencao. “Esta € ovira aporia tnfundada. Observemos, inicialmente, que a relagio entre os centros de for- macio ¢ as agéncias de intervencao & assimétrica. Nao cabe aqueles simplesmente suprir a demanda real e imediata posta pelo mercado de trabalho, A formacao universitéria, pela stia natureza mesma. |. Da minha modesta experiéncia: conheso inimeros casos de assistentes socinis que, manifestando solidariedade militante a grupos politico-partidérios de esquerda, foram acussdos de “desprofissionaizar™ 0 seu desempenho. ‘Aguardo, com ansiedade, a mesma acusagso Aqueles que fizetam cursos na ADESG, elogiaram o “milagre” de alguns anos atrés, etc. Suponho que faguardarei em vio. 68 determina a superagio desta demanda real ¢ imediata: ela prepara quadros profissionais considerando tanto a realidade dada quanto detectando as tendéncias virtuais que condicionaréo novas demandas. K form ser Colocada a reboque das necessidades ime datas que, no nosso caso, sempre foram teduzidas as necessidades institucionais das agéncias de intervengéo. Imaginar uma relagio simétrica entre formagao ¢ intervencao é desconhecer quer as. fun- ‘ges nodulares (educativos-pedagégicas) da formacio, quer 0 cerne das suas conexdes dinimicas com a intervengio profissional. Estas conexdes, derivadas daquela assimetria, implicam entre centro de formagao e agéncia de intervengao um fluxo de méo dupla: do cen- tro para a agéncia, da agéncia para o centro. A garantia desta reci- procidade pode ser assegurada pelos mais variados mecanismos, dos quais os mais eficientes e provados slo os estdgios (através dos quais 9 centro chega a agéncia) ¢ a formacdo continua pela reciclagem (através da qual a agéncia confronta as suas experigncias e caréncias com o centro). Na moldura do Servico Social tradicional, este flu- xo duplo nunca existiu: a vinculagio efetiva (dado o caréter “do- méstico” da comunidade profissional) entre centro e agéncia se bilizava apenas pelo canal dos estigios ", porque a formagio conti- rua pela reciclagem sempre foi ave rara na nossa profissio. Tro- cando em mitidos: a critica dirigida ao processo de reconceptualiza- 640 cabe mesmo, como uma luva, ao Servi¢o Social tradicional, Os profissionais refratdrios a0 proceso de reconceptualizacio, no entanto, ao dirigir a este a critica referida, abstraem a complexi- dade do problema. Na verdade, o que tém em mente ¢ outra coisa: € 0 divércio entre os recursos humanos (0 pessoal) dos centros ¢ das agéncias — divércio vulgarmente conotado pela observacao de que 0s “reconceptualizadores” se limitaram A aco nos_cemtros,_a0 Basso. que_o5 “profislonais™concentam._-tak-aglncias. | Este divérclo, no sew mecanismo eencial, independe do processo de re- conceptualizagao: decorre da diferenciago que emerge necessari mente com a ampliagio da comuidade profissional, determinando estratificagSes ¢ novas especializagdes funcionais. Como 0 processo de reconceptwalizacio coincidim coma ampliaglo do universo de 19. E no € preciso sequer referir grau de complexidade com que tem ‘operado a esmagadora maioria das nossas agéacias de intervengio — no geral, fs exigencias insltucionais Teais que se péem a0 assstente social si0 to Ted. Zidas que € de se indagar se vale a pena manler cursos universitdrios para atende as, 'A propria concepsio de estigio era compativel com © modelo global 0 Servigo Social tradicional: um campo de instrumentalizacdo (intervengio) ‘dos conhecimentos estabelecidos (Feflexto). Nao é preciso dizer que a Felaglo entre teoria e pratica aparecia como unilateral e linear. 69 ‘quadros profissionais, atribuiu-se a cle algo que o transcende. Mas sta alribuio tom causes “doméstces”: disitmula ume disereta “uta Barge eat Rota teaes' oe, peinseaNttransice lords /“carater “doméstico”, sectério da comunidade profissional (ou, apa- Tentemente, antes do’ procesto de reconceptuslizacao), os mcsmos trupelhos protissionais contolavam ceattos e aghocias,” A simbiose fra tio completa que funcionava como sucedineo de uma correta relagdo centro/agéncia. A ruptura desta simbiose deu o “poder” 10s centros aos “Teconceptualizadores”e, nas aghncas, aos prot nais (“tradicionais”). E claro que a permanéncia deste divércio, que apenas inverte — sem superar — a relagao antiga, é extrema- mente prejudicial & profissio; mas, igualmente, é de enfatizar a ne- cessidade de distinguir rigorosamente centros de agéncias, na expli- citagao da assimetria mencionada. Neste dominio, nao se pode eximir 0 processo de reconceptua- lizagdo de erros que se cometeram. Em particular, hé que conta- bilizar_no_seu_passivo uma ponderdvel incapacidade para se relaci “nar _com_os segmentos profissionais mais atrasados. A atitude mais deploravel, entretanto, coube exatamente a estes ¢ a outros setores refratérios: constatando a inadequagio da preparagio fornecida pelos ‘centros face a pritica imediata das agéncias (pritica consabidamen- te burocratizada e rasteira), colocaram em xeque 0 projeto global formativo derivado do processo de reconceptualizacio — e come- ou a ter livre curso a lenda de que os novos quadros so ‘incom- etentes”#. Ora, ndo hd nenhuma evidéncia que infirme a tese de que, considerada a formacio como um todo, a incidéncia do processo de reconceptualizacao foi positive: comecou-se a produzir ‘um quadro profissional minimamente alfabetizado, versado no acer- vo da ciéncia social, capaz de recorrer as novas teorias sécio-polit cas ¢ econémicas, apto a compreender os fendmenos de microescala @ partir de um’ enquadramento sécio-hist6rico macrosc6pico. suficiente comparar o contedido real dos programas ¢ curriculos afe- tados pelo proceso de reconceptualizagio com os anteriores para 21. E de observar que os eriticos do processo de reconceptualizaglo, neste sentido ¢ especificamente no Brasil, demonstraram e demonstram uma extra: ordindria habilidade politica na montagem desta mistficagdo. E isto porque Subiraem da. discussso (para s6 tecer assaques a0 processo de reconceptual ) a efetiva queda na qualidade do ensino superior — mas nko s6. deste fendmeno difetamente felacionado A catastrofica politica educacional da fadura_ bra Contra esta gente, & tarefa dos. profissionais comprome- tidos com 0 processo de reconceptualizagio demonstrar que a incidéncia do processo.contribuiu decisivamente, no caso dos cursos de Servico Social, para Travar a fendéncia geral operante nos ltimos dezessete anos, ‘consistente ma ddegradacto da formagio académica. 70 aferir a alteragto qualitativa que ocorreu aqui. Os eriticos, todavia, no verificam nada disto: centram-se em aspectos téenicos verdadei- ramente menores — 0 controle de técnicas de entrevistas, relat6rios, fichérios, ete. (0 que, muitas vezes, de fato se deu na formacio afetada pelo pro: ‘e550 de reconceptualizagio), mas ha que combater a sua canonizs G0: a habilidade requerida’ para manipuli-los nfo demanda mais que bom senso ¢ habito, sendo inteisamente tolo fazer da sua even- tual caréncia uma cavalo de batalhd24é A énfase que os eriticos do proceso de reconceptualizagdo sempre colocam nesta questio se deve quer a sua prépria concepgdo do “especifico profissional” (que € to pouco especifico quanto profissional), quer, ainda, & sua pré- tica rotineira e burocratizada: 0 desconhecimento do ritual de cada agéncia particular serve-Ihes para identificar — e demarcar-se de — © “incompetente”, E, last but not least, a oltava eritica: « reconceptualizacao. nao Joi capaz de encetar uma prética profissional sistematica. Em. prin- cipio, estamos diante de outra constatacdo de fato. Mas apenas em principio: considerado 0 bloqueio institucional que os refratérios a0 processo de reconceptualizagio sempre promoveram & formagio ppor ele afetada e, ainda, o lapso temporal em que ele teve incidéncia (realmente, inferior a wma década), exigir que dele emergisse uma pratica sistemdtica & um absurdo IWgico ¢ teérico. Ainda aqui, os defensores do Servico Social tradicional reclamam dos promotores do proceso de reconceptualizagao aquilo que, efetivamente, nunca produziram, porque, em quarenta anos de profissio, com mais de duas décadas de reconhecimento legal-institucional, eles se mostra- ram incapazes para elaborar pardmetros profissionais consistentes solidos. Um exame da bibliografia brasileira de Servigo Social, mais @ anélise dos documentos aqui produzidos pelos assistentes sociais (nas agéncias, nos departamentos de estigio das faculdades, nos encontros e seminarios, etc.) bastam para encerrar qualquer polémica a respeito. Mas néo € secundério evocar, contra esta aporia, um dado: 0 novo papel conferido ao estigio pelo processo de reconceptualizacao. ‘A partir deste processo, 0 estigio adquiriu um estatuto central na formagao. Nem de longe estou sugerindo que 0 resultado das agbes 22. Nem de tonge estou sugerindo que tais aspectos sto desimportantes na formagio profissional. Tomé-los. porém, como 0 eixo dela €, realmente, ‘rofissio um estatuto subalterno: experiéncias j& demonstraram que ipulasio desse repertGrio “tnico™ & acessivel a qualquer cidadio cujos i se situam na faixa consensualmente recomhecida coma me- n € de se minimizar a importincia desses ae | | ‘empreendidas pelos estagidrios chegou sequer ao nivel do razodvel®; mas estou afirmando que a pritica do estagio foi investida de uma dimenséo nova: passou a constituir 0 objeto privilegiado da inte- gragio da formagao teérica*. Enquanto, outrora, 0 estigio era um “campo de verificacio”, na 6tica posta pelo proceso de recon- ceptualizagao ele foi situado como um “objeto problemitico” Por outro lado, embora nao disponhamos de informagées ¢ docu- mentagao suficientes, & possivel assegurar que experiéncias isoladas, de intervencdo reconceptualizada nao apresentaram nunca niveis de eficécia inferiores aqueles alcangados pela pritica tradicional. ‘A PREMISSA DA CRITICA CONSERVADORA Mencionei antes que a critica ao processo de reconceptualizagao gue se volta para a sua superacdo, buscando alternativas para 0 im- passe atual do processo na propria dinimica objetiva das nossas Sociedades, arranca da premissa segundo a qual as transformagoes do Servigo Social se inscrevem no contorno global dos contfitos sé- cio-politicos que matrizam a conjuntura latino-americana. Ora,_a_ premissa axial da critica conservadora € inteiramente diversa, cons- “ruindo-uum-horizonie profissional que propicia a articulacdo de uma clara tendéncia.restauradora no interior do Servigo Social. De Tato, a critica conservadora merece cuidados na medida exata em que ameaca, a partir da constatagio do refluxo do processo de reconcep- tualizagao, constituir-se no ponto de partida para uma regressdo| profissionai Realmente, verificando 0 visivel refluxo do processo de recon- ceptualizacao, os segmentos a ele refratérios apresentam-no como uma “fase” de extremismo na evolugio hist6rica do Servigo Social na América Latina. Agora — com o refluxo — é chegado o mo- waliar este processo segundo parimetros profissionais ‘corrigindo” os seus “exageros” © “aproveitando” 0 que trouxe de “positivo”. Nesta peculiar forma de “fazer a histéria” 23. A prépria sazonalidade dos estigios, bem como circulagio dos estagiérios (ambos derivados do cariter burocritica dor calendétios escolares), continuow contribuindo decisivamente para a problematizagao desses resultados 24, "Neste sentido, as experigncias de work shop (aller, em espanhol e, em traducio discutivel, para. nés ofieina), embora pouco sistematicns, guardam lum potencialpraticamente.inexplorado, 25. Uma das varias experiéncias que comprovam a relevincia deste giro (independentemenie de ouiros aspectos probleméticos) foi a realizada pela escola de Servigo Social de Belo Horizonte, nos inicios da década de setents, T2 do Servico Social, hd um suposto: o de que, antes do processo de econceptualizagao, havia um corpus articulado de conhecimentos que abalizava uma intervengao profissional organizada e sistemitica, Tudo se passa, eno, como se 0 processo de reconceptualizacao fora um elemento de perturbagio num espago profissional consen- sualmente determinado e reconhecido como tal. Nao € preciso acrescentar que uma “histéria” deste género encontra terreno pto- picio no efetivo desconhecimento da profissio que marca os jovens ue ingressam nos centros de formagio Ora, este suposto — ¢ munca seré demasiado insist nisto — & falso. Antes do processo de reconceptualizacao, a profissio como tal (isto é: a sua pritica social real) nao foi capaz de instituir um campo de intervencéo definido e s6lido: para alm da ret6rica, era tum agregado heterGclito de acOes intermitentes, inespecificas, sem um referencial te6rico minimo digno deste nome, reiterativas ©, é preciso dizé-lo, ineficientes. Mas, precisamente na medida em que este suposto nao & submetido & discussio, revela-se a instrumentali- zagio das criticas ao processo de reconceptualizagio, a sua manipu- Iago no sentido de concretizar a tendéncia restauradora que referi. Com efeito, as aporias ao processo de reconceptualizacdo, nesta cri- tica, funcionam exclusivamente para legitimar a reposigao, na for- ‘magdo e na pritica profissional, dos padres de formagio e inter- vengdo anteriores ao processo de reconceptualizacdo. Por isso mes mo, toda e qualquer concessio a eventuais “aspectos positives” deste processo mostra-se, nesta dtica, mera verbalidade: a curto pra- 2, 0 processo de reconceptualizagio seri enquadrado como uma “etapa” ut6pica e romantica do Servigo Social, um desvio que 0 ‘bom senso profissional aconselhou “ultrapassar”. LIMITES DA CRITICA CONSERVADORA Parece evidente que indicar as notas mais salientes da critica conservadora ao processo de reconceptualizagao nao é uma tarefa meramente académica ou negativa, assim como nio se reduz a uma simples “defesa” daquele proceso. Trata-se, antes, de uma opera- do necessiiria para assegurar as conquistas profissionais efetivas, os rogressos e os avangos que o Servico Social institucional est rea- lizando gragas & incidéncia do processo de reconceptualizagao ™ 26. € este 0 lugar para clavficar tals progressos. Entretant ve-se dizer, siteticamente, que. eles se constelam em torno uum. novo perfil de profissional, capaz de ampli significativamente 0 espayo institucional do Servigo Social (que este novo. profissionsl visualiza. como ma, 2B Trata-se, em suma, de travar as possibilidades de expansio daquela tendéncia restauradora que € posta pela critica conservadora. Esta operagdo deve ser encetada com tanto maior rigor quanto mais patentes sio os limites da critica conservadora. Eles sao cla~ tos quando se leva em conta que, de um lado, ela é incapaz de pensar analiticamente a tradic&o profissional ¢, de outro, é inepta para vulnerabilizar o processo de'reconceptualizacéo. Com efeito, ela deixa intocado 0 passado profissional — inclusive porque esta é tama condigio vital para a sta proposta restauradora — © 0 seu proprio inquisitorial a reconceptualizagio nao autdnomo (como vimos, ela retoma elementos autocriticos. avangados no desdobra- mento mesmo do processo de reconcepiualizagao). Estas duas no- tas da critica conservadora sio complementares: revelam-na medu- larmente refratéria A compreensio. do espaso institucional como campo balizado simultaneamente pelo acervo de priticas legtimadas (profissio) © pelo nivel de desenvolvimento das lutas ¢ conflitos de classes (Histéria). Numa palavra, para a critica conservadora 0 presente no existe enquanto Histéria, Mas a limitagdo desta critica nfo se poe somente no plano intelectivo ¢ refletivo. Seu limite mais flagrante aparece mesmo € no seu projeto restaurador — exaramente af reside a sua fragilidade. Embora_considerando 0 parasitismo burocritico engendrado pela hipertrofia do Estado capitalista no Brasil (€ ndo se pode es quecer que, entre nés, o Estado € 0 patrio par excellence do assis- tente social), os padrées de interven¢o do Servigo Social tradicio- nal sio incompativeis com 0 minimo de eficdcia que a modernizagao social implementada prussianamente desde 1964 pela ditadura bra- sileira exige. A tendéncia profunda da demanda que as agéncias colocam hoje ao quadro profissional marginaliza a limine o assisten- te social de corte tradicional: quer nos varios planos do aparato estatal, quer nos terrenos que a grande empresa privada Ihe oferece, 6 profissional requisitado atualmente tem pouguissimo a ver com 0 modelo de quadro e o referencial de intervencio construidos pelo Servigo Social tradicional. A verdade é que este profissional, ten- dencialmente, s6 poder alocar-se aos microorganismos mais irrele- Tecnologia que pode intervir no campo das politicas socials). Estamos face ‘um agente profissional de novo tipo, com Sbvia vocagio te6rica, que se ‘ispde & intervengio institucional. com a clara. conscigncia dos seus, limites. ‘A pritica que se consubstancia neste Servigo Social, autodenominado “eritico”, ‘nid se dé sem problemas; referido as componentes mais audazes © decisivas contidas no processo de reconceptualizagio, ele concretiza patentes recuos "mas como ais recuos sio determinados pela conjuntura.histérica, esta pritica institucional aparece como a mais avangada possive. 74 vantes da sociedade civil (instituigdes de benemeréncia, alguns ser- vigos médico-sanitarios e escolares, etc.) e as dependéncias mais insignificantes da burocracia pablica. Isto quer dizer que o limite da critica conservadora esté encravado na sua inferéncia pritica: 0 seu projeto profissional esta condenado ao fracasso porque no tem a menor chance de responder mesmo as demandas sociais imediatas. Como se constata, a critica conservadora ao processo de re-| conceptualizagio esta limitada objerivamente. Mas. seria enganoso nao conduzir contra ela uma polémica continua, articuladora de uma contracritica. E a razio é simples: na escala em que ela € seu projeto restaurador puderem encontrar, mesmo que num prazo ‘6rico muito curto, terreno de expansio, necessariamente 0 dese- ho de uma proposta renovadora de intervencio profissional seré obstaculizado ¢ problematizado. Com a experiéncia que temos, in- clusive do processo de reconceptualizacdo, sabemos jé que nao bas tam conjunturas hist6rieas favoraveis para que se dé a emergéncia de projetos sécio-profissionais aptos a articular respostas adequadas — neste Ambito, ndo hé automatismos. Por isto mesmo, desvelar a inépcia da critica conservadora reveste-se de um duplo sentido: resguardar a profissio dos danos realmente contidos na tendéncia restauradora e, a0 mesmo tempo, acumular 0 {6lego analitico de que 0 Servigo Social careceré, dado um novo movimento de afluxo das forgas comprometidas com a re- volugio social lat gimentos in jo-americana, para transcender os seus constran- cionais

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