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DIREITO

CONSTITUCIONAL

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CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

PREÂMBULO
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para
instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais,
a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores
supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e
comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias,
promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA
FEDERATIVA DO BRASIL.

[O direito é formado de normas, isto é, comandos que os cidadãos são obrigados a seguir. Essas
normas estão dispostas em uma hierarquia, em que a Constituição ocupa o lugar mais alto. Logo
abaixo vêm as leis e depois as chamadas normas infralegais (atos administrativos, como portarias,
regulamentos ou decretos). A diferença é que a Constituição e as leis são feitas pelo Legislativo,
enquanto as normas infralegais são feitas pelo Executivo, sem passar pelo Legislativo. Quando há
conflito entre as diferentes normas (uma estabelece algo que conflita com a outra), prevalece a de
hierarquia mais alta.
O preâmbulo é uma introdução ao texto da Constituição. Ele não é uma norma, não tem poder
normativo, isto é, poder de obrigar os cidadãos. Ele tem valor apenas como parâmetro geral de
interpretação da Constituição. A menção a Deus não muda o fato de que o Estado Brasileiro é laico
(sem religião oficial). Não é necessário decorar o preâmbulo.
OBS. Ao estudar as leis, é necessário prestar especial atenção para as exceções (“salvo se”),
pois elas é que são cobradas nos concursos. Também é necessário prestar atenção quando um artigo
faz referência a outro. É necessário ir ver o outro, pois essa referência é que será cobrada.]

TÍTULO I
Dos Princípios Fundamentais
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos: [Lembrar do Distrito Federal, que não é Estado e nem Município. Ele está entre um e
outro. Tem mais autonomia e poderes que um Município, porém menos do que um Estado. Não
confundir os fundamentos (art. 1º), os objetivos (art. 3º) e os princípios nas relações internacionais
(art. 4º)].
I - a soberania; [é a independência em relação a outros países e a supremacia interna em obrigar
os cidadãos a cumprirem as normas do Brasil].
II - a cidadania; [em sentido estrito, é a garantia dos direitos políticos (votar e ser votado). Em
sentido amplo, é a garantia dos direitos fundamentais do cidadão]

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III - a dignidade da pessoa humana; [é o direito a uma vida digna, que forneça à pessoa humana
condições para se realizar. É a base de todos os direitos fundamentais da pessoa humana]
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; [livre iniciativa é o direito de exercer
atividade empresarial e escolher como e quando fará isso]
V - o pluralismo político. [por isso no Brasil não há limitação ao número de partidos políticos,
como na época da ditadura. Garantem-se as diferentes formas de pensar, o pluralismo de ideias].
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos
ou diretamente, nos termos desta Constituição. [O poder é do povo, mas ele exerce esse poder de
dois modos: ou por meio de representantes eleitos (no Legislativo, fazendo as leis) ou diretamente
(plebiscito, referendo, inciativa popular ou ação popular)].
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo
e o Judiciário. [Vigora a independência harmônica entre os Poderes].
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação. [isso é um objetivo fundamental]
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes
princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos; [cada povo deve decidir o que é melhor para si]
IV – não-intervenção; [um país não deve intervir em outro: todos são iguais e independentes]
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; [isso é princípio nas relações internacionais. Não
confundir com o que é objetivo fundamental, no art. 3º].
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política,
social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-
americana de nações. [É o Mercosul].
TÍTULO II
Dos Direitos e Garantias Fundamentais
[Direitos fundamentais são os direitos mais essenciais para concretizar a dignidade da pessoa
humana. São os direitos humanos que foram garantidos no texto da constituição e das demais normas

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de um país. Há algumas classificações de direitos fundamentais.
Classificação da Constituição:
a) direitos individuais: segurança, igualdade, vida, liberdade, propriedade. São direitos de
cunho mais individualista, a fim de que o Estado não intervenha indevidamente nas liberdades e
direitos de cada um;
b) direitos coletivos: direito de reunião, direito de associação etc;
c) direitos sociais: educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia, lazer, segurança,
previdência social, proteção à maternidade e à infância, assistência aos desamparados. São direitos de
cobrar que o Estado faça coisas para garantir qualidade de vida às pessoas.
d) direitos políticos e partidos políticos: são direitos de participar da vida política, votar, ser
votado, se agrupar conforme as convicções políticas e expressá-las.
Classificação por gerações ou dimensões. O termo dimensão é mais aceito, pois “geração”
passa a ideia de que os diferentes tipos de direitos vieram um após o outro, o que não é totalmente
correto. De todo modo, tanto geração como dimensão são nomenclaturas aceitas.
a) Direitos de Primeira Geração ou Dimensão: são os direitos individuais e coletivos e os
direitos políticos e partidos políticos. São direitos de cobrar que o Estado não faça coisas que afetem
as liberdades de cada um (cobrar abstenções estatais). São os chamados direitos de liberdade.
b) Direitos de Segunda Geração ou Dimensão: são os direitos sociais e econômicos. São
direitos de cobrar que o Estado faça coisas para garantir uma melhor qualidade de vida para todos,
sobretudo os mais carentes (cobrar ações estatais). São os chamados direitos de igualdade (não a
igualdade de todos perante a lei, que é direito de primeira geração, mas sim a promoção da igualdade,
a redução das desigualdades, das carências etc).
c) Direitos de Terceira Geração ou Dimensão: são os direitos de toda a coletividade (direitos
transindividuais), como o meio ambiente equilibrado ou a honestidade na administração pública.
d) Fala-se também em Direitos de Quarta Dimensão (para alguns, os direitos decorrentes da
globalização; para outros, os da comunicação de massas). Fala-se, ainda, dos direitos de Quinta
Dimensão (a paz entre os Estados). Entretanto, estas duas últimas dimensões são menos referidas.
Diferença entre direitos e garantias: garantias são os meios de assegurar e concretizar os
direitos. Exemplo: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre
exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a
suas liturgias”. Aqui, o direito é a liberdade religiosa. A garantia é a proteção aos locais de culto,
para que as pessoas possam efetivamente exercer sua liberdade religiosa. Não precisa se preocupar
em diferenciar caso a caso o que é direito ou garantia. Basta saber essa diferença em termos gerais.]

CAPÍTULO I
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à

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igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [Direitos individuais: SILVP (quase
“Silva”). Segurança, Igualdade, Liberdade, Vida, Propriedade].
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; [Mas
isso não impede que a própria Constituição ou as leis criem direitos diferenciados, desde que seja
para compensar situações em que um deles tem mais dificuldades, como a licença maternidade, por
exemplo].
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; [isso
se chama princípio da legalidade. Somente a lei pode obrigar o cidadão a fazer coisas, ou então as
normas infralegais, mas desde que estejam embasadas na lei. Para o particular, a legalidade é ampla:
ele pode fazer tudo que a lei não proíba. Para o administrador público, a legalidade é estrita: ele só
pode fazer o que a lei expressamente permite.]
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; [Tem que se
identificar, para poder responder por eventuais abusos na manifestação do pensamento].
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano
material, moral ou à imagem; [em caso de abuso pela manifestação do pensamento, são 2
consequências: direito de resposta proporcional + indenização].
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos
cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e
militares de internação coletiva; [Exemplo: em quartéis tem de haver assistência religiosa. Não se
define qual é a religião, porque o Brasil é um Estado laico (sem religião oficial), mas tem de haver
alguma assistência de alguma religião].
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção
filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e
recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei; [Exemplo de obrigação legal a todos
imposta: serviço militar. Se a pessoa invocar crença ou convicção para se eximir da obrigação e
cumprir a prestação alternativa fixada em lei, não há problema. Porém, se se negar também a cumprir
a prestação alternativa, sofrerá as consequências, mesmo sendo por motivo de crença ou convicção,
porque aí será abuso de direito].
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença; [Não é necessária licença para expressão da atividade
intelectual. A censura também é proibida].
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; [Vida privada é
ainda mais pessoal do que a intimidade. Intimidade é a pessoa em sua vida familiar e círculo de
amigos mais próximos. Vida Privada é a pessoa em sua individualidade (lembrar da privada, no
banheiro, só :). Dano material é o prejuízo patrimonial que a pessoa sofreu. Dano moral é o

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constrangimento, o dano não-patrimonial (extrapatrimonial). Ele não é um prejuízo econômico, mas
termina sendo indenizado em dinheiro, na falta de outras possibilidades].
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento
do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia,
por determinação judicial; [É possível entrar na casa (isso sempre cai):
a) com consentimento do morador (de dia ou de noite); ou
b) sem consentimento do morador:
b.1) em flagrante delito (de dia ou de noite): se estiver ocorrendo um crime dentro da casa, pode
entrar para impedir, mesmo que o dono não queira;
b.2) desastre (de dia ou de noite): um incêndio, por exemplo;
b.3) para prestar socorro (de dia ou de noite);
b.4) por ordem judicial (somente de dia). De noite, não pode entrar na casa por ordem
judicial. Só se o morador consentir.
Fora desses casos, a polícia não pode entrar na casa das pessoas (para investigações, por
exemplo, não é permitido. Ela precisa pedir uma ordem judicial para isso).
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das
comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a
lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;
[Sigilo de dados é o sigilo bancário, fiscal, da data e hora das ligações telefônicas e dos números
discados e recebidos. Sigilo de comunicações telefônicas é o conteúdo (áudio) das ligações.
Portanto, sigilo de dados telefônicos é diferente de sigilo de comunicações telefônicas.
Tanto o sigilo de dados (fiscais, bancários, telefônicos etc) como o de comunicações telefônicas
podem ser quebrados, mas há uma diferença:
a) sigilo de dados: pode ser quebrado para investigar ilícitos em geral, não somente crimes;
b) sigilo de comunicações telefônicas (interceptação telefônica): só pode ser quebrado para
investigar crimes, não outros ilícitos.
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações
profissionais que a lei estabelecer; [tem que atender às condições da lei. Por isso, se vier
simplesmente “é livre o exercício de qualquer trabalho”, é falso.]
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando
necessário ao exercício profissional; [O jornalista tem o direito de resguardar o sigilo de sua fonte].
XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos
termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens; [Em tempo de guerra, não é livre a
locomoção em território nacional. Só em tempo de paz].
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público,
independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente
convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;
[É o direito de reunião. Não precisa de autorização, mas precisa:

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a) avisar antes à autoridade competente;
b) não frustrar outra reunião anteriormente marcada para o local;
c) ser pacífica e sem armas.
Do contrário, será proibida a reunião. A Constituição fala da reunião em locais públicos, mas é
óbvio que também é garantida a reunião em locais privados].
XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;
[São vedadas as associações: (a) para fins ilícitos; ou (b) paramilitares (exemplo: guerrilheiros)].
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de
autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento; [Não precisam de
autorização]
XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades
suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado; [Para suspender
uma associação ou cooperativa, basta uma decisão judicial. Para extingui-las, é preciso uma
decisão judicial transitada em julgado (ou seja, uma decisão da qual já não caiba mais nenhum
recurso, com processo encerrado)].
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado;
XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para
representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente; [Somente quando expressamente
autorizadas, as associações podem ajuizar ações ou fazer acordos ou outros atos fora do processo
judicial (extrajudiciais) em nome de seus associados. Só quando autorizadas pelos associados.]
XXII - é garantido o direito de propriedade;
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; [É garantido o direito de propriedade, mas a
propriedade tem de atender aos interesses de todos. Não pode ser um latifúndio improdutivo ou um
terreno baldio de que o dono não cuide, pois a função social da propriedade é produzir, é servir para a
moradia de alguém etc. O dono não pode fazer o que bem entender de sua propriedade. Ele tem de
dar a essa propriedade uma função social (moradia, produção etc). Senão, poderá haver
desapropriação. Por isso, diz-se que o direito à propriedade não é absoluto; é relativo. Esse é o
princípio da função social da propriedade.]
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade
pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os
casos previstos nesta Constituição;
[A desapropriação pode ser por: necessidade pública, utilidade pública ou interesse social
(reforma agrária, por exemplo).
Em todos esses casos, haverá indenização. A indenização sempre será justa, mas nem sempre
será prévia e em dinheiro. Essa é a regra, mas há exceções previstas na própria CF (Constituição
Federal): reforma agrária de propriedade improdutiva, desapropriação de imóveis urbanos não
utilizados, etc.
Há um caso, inclusive, em que a desapropriação não é indenizada. Por isso, a rigor, esse caso é

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chamado de confisco, expropriação ou desapropriação confiscatória. É quando o indivíduo está
cultivando drogas na propriedade.]
XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de
propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano; [Nesse
caso, não há desapropriação. Apenas se utiliza temporariamente a propriedade. A indenização
somente será paga se tiver havido algum dano (não é sempre); e, por isso mesmo, essa
indenização (se houver) será sempre posterior, e não prévia].
XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela
família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade
produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento; [Penhora é o ato pelo
qual o Judiciário, em um processo, toma um bem de uma pessoa e o vende, usando o dinheiro para
pagar uma dívida. Se a propriedade rural for pequena e familiar, ela não será penhorada para pagar
débitos decorrentes da atividade produtiva, mesmo que o devedor não tenha outros meios de pagar.
Nesse caso o débito ficará sem pagamento. Porém, isso é só para débito decorrentes da atividade
produtiva. Para outros débitos, poderá haver a penhora normalmente.]
XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de
suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar; [o autor cede esses direitos à
editora se ele quiser, mas o direito é dele (até morrer) e ainda passa para os herdeiros, por um certo
prazo. Depois desse prazo, as obras se tornam de domínio público, e não mais serão devidos direitos
autorais à família. É o caso das obras de Machado de Assis, por exemplo.]
XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz
humanas, inclusive nas atividades desportivas; [é o chamado direito de arena, o direito dos
jogadores de futebol por suas imagens reproduzidas nos jogos de futebol].
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que
participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações sindicais e associativas;
XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua
utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de
empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento
tecnológico e econômico do País; [Nas obras literárias e artísticas, o direito é de exclusividade, vai
até a morte e ainda passa para os herdeiros por um tempo. Já nos inventos industriais, o direito é de
mero privilégio e só dura um tempo fixo. Ademais, tem que atender ao interesse social e
desenvolvimento do país. Por isso é que pode haver, excepcionalmente, a quebra de patentes, como
no caso dos medicamentos da AIDS].
XXX - é garantido o direito de herança;
XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei brasileira em
benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei
pessoal do "de cujus"; [Se um estrangeiro casado com brasileira ou pai de filhos brasileiros tiver bens

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no Brasil, quando ele morrer, será aplicada, em relação à herança desses bens, a lei que seja mais
favorável ao cônjuge ou aos filhos brasileiros: quer seja a lei brasileira, quer seja a do estrangeiro. O
que importa é que seja a lei mais favorável aos brasileiros envolvidos na herança. É uma proteção aos
nacionais].
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; [Essa lei é o CDC]
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de
responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e
do Estado; [(1) É só do interesse particular da pessoa ou do interesse coletivo ou geral. Não do
interesse particular de outras pessoas. (2) Se a informação for de sigilo essencial para a segurança da
sociedade, não será fornecida.]
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou
abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de
situações de interesse pessoal;
[Mesmo que o indivíduo seja pobre e não tenha condição de pagar a taxa, ele tem direito de
petição (formular petição aos órgãos público para relatar que algo está errado ou requerer algo) e
direito de obter certidões. O órgão pode até cobrar taxas, mas, se a pessoa não tiver condição de
pagar, não pagará.]
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
[Esse é o princípio do acesso à justiça. Todas as violações a direitos podem ser levadas ao
Judiciário, mesmo que não tenha sido encerrada a discussão na esfera administrativa. A única
mitigação disso (nem chega a ser uma exceção, apenas uma mitigação) são as questões desportivas,
as quais precisam ser exauridas na Justiça Desportiva (que, apesar do nome, é um órgão
administrativo, e não uma Justiça propriamente dita) antes de serem levadas ao Poder Judiciário].
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;
[Direito adquirido é o direito que a pessoa já conquistou e já pode exercer. Ex.: funcionário que
já completou o tempo para se aposentar e só não se aposentou ainda porque não quis.
Ato jurídico perfeito é o contrato (“negócio jurídico”) que a pessoa já celebrou com a outra.
Coisa julgada é a decisão judicial da qual não cabe mais recurso, em um processo encerrado.
Nessas três situações, caso depois surja uma lei que contrarie o direito adquirido, o ato jurídico
perfeito ou a coisa julgada, essa lei não os afetará. Exemplo: se uma lei aumentar o tempo necessário
para se aposentar, o funcionário que já tinha direito adquirido à aposentadoria na data da lei (isto é,
que já poderia estar aposentado e só não estava porque não quis) continuará podendo se aposentar,
mesmo que não preencha os requisitos da nova lei.
Entretanto, direito adquirido é diferente de expectativa de direito. Se um outro funcionário
estava apenas a um dia de conquistar o direito à aposentadoria, e adveio a lei que aumento os

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requisitos, ele não tinha direito adquirido a nada (tinha apenas expectativa de direito), e terá de
cumprir o novo tempo exigido pela nova lei. Por isso, diz-se que não há direito adquirido a regime
jurídico, isto é: a pessoa não tem direito a que os requisitos das coisas (aposentadoria por exemplo)
continuem sempre os mesmos. Se ela já adquiriu o direito e já pode exercê-lo, a nova lei não lhe
prejudicará. Mas se estava quase adquirindo, terá de se sujeitar à nova lei, do mesmo modo que
aquele que entrou agora, sem nenhum direito especial.]
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção; [Juízo ou Tribunal de Exceção é um
tribunal estabelecido após um fato criminoso, especificamente para julgar esse fato ou essa pessoa.
Ex.: quando Suzane von Richtoffen praticou seu crime, ela foi julgada pelo Tribunal do Júri de São
Paulo, que era o órgão que já existia desde antes para julgar qualquer um que matasse outro naquela
cidade. Não se poderia criar um Tribunal específico para esse caso ou determinar arbitrariamente que
o Juiz A ou B é que o julgaria. Isso seria um Tribunal de Exceção.]
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei,
assegurados:
a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;
[(1) O júri atualmente conta com 7 jurados (Conselho de Sentença) sorteados dentre 21 jurados
pré-convocados, mas a lei pode mudar essa organização, aumentando ou diminuindo o número de
jurados pré-convocados ou integrantes do Conselho de Sentença. O número de jurados não está
definido na Constituição.
(2) As votações são sigilosas, e ninguém pode saber o que cada jurado votou.
(3) O que os jurados decidem nem o juiz e nem mesmo o Tribunal podem mudar. O juiz só fixa a
duração da pena, mas quem diz se o réu é culpado ou inocente são os jurados, por maioria. O que se
pode fazer é recorrer para o Tribunal, afirmando que os jurados julgaram contrariando a prova dos
autos. Então, o Tribunal poderá anular o júri e determinar a realização de um novo júri, com outros
jurados. De todo modo, o que importa é que, ao final, quem decide são os jurados (ainda que outros
distintos dos primeiros).
(4) Crimes dolosos contra a vida são os praticados com intenção de matar, e não por
imprudência, negligência ou imperícia (esses outros são os crimes culposos). Os crimes contra a vida
são:
a) homicídio: matar alguém;
b) induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio: estimular ou ajudar alguém a se suicidar. O
suicídio em si não é crime (o suicida, mesmo que não consiga, não é punido), mas o auxílio ao
suicídio é punido, mesmo que o suicida ao final não morra.
c) infanticídio: a mãe (somente ela) matar o filho sob o estado puerperal, durante o parto ou logo
após (só nesse momento. Depois é homicídio mesmo, que tem pena maior. E antes é aborto).

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d) aborto provocado pela mãe ou com o seu consentimento;
e) aborto provocado por terceiro, sem consentimento da mãe.
Todos esses crimes, quando são dolosos, vão a júri, mesmo que tenham sido apenas tentados,
sem a consumação do delito (ou seja, sem a morte da vítima). Se forem culposos, são julgados pelo
juiz, sozinho, sem júri (diz-se “juiz singular”). Todos os demais crimes que não os dolosos contra a
vida (ex: furto, roubo, sonegação fiscal, corrupção, lesões corporais) também são julgados pelo juiz
singular.
(5) Latrocínio (alguém matar outro durante um roubo ou logo após) não é doloso contra a vida
e não vai a júri. É um crime contra o patrimônio. (6) Lesões corporais seguidas de morte (ex:
alguém desfere um soco em outro sem intenção de matar, mas a vítima cai, bate a cabeça no meio-fio
e morre) não são crime doloso contra a vida e não vão a júri. Esse é um crime contra a
integridade física.
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;
[Cominação legal significa previsão legal, previsão em lei. Esse inciso traz alguns princípios do
Direito Penal, proteções ao réu para evitar punições arbitrárias:
a) Princípios da legalidade e da reserva legal: o crime tem de estar definido em lei, não em
portaria ou ato infralegal. No máximo, o crime pode estar definido em uma lei e fazer referência a
uma portaria. Ex.: tráfico de drogas. A lei diz: “é crime vender as substâncias definidas em portaria
como drogas”. A portaria é que define o que são drogas, mas a lei é que diz que vendê-las é crime.
Esse tipo de norma (em que a lei faz referência à portaria) é chamado de norma penal em branco e
não viola o princípio da legalidade, pois é a lei que define o crime, apenas fazendo menção à
portaria. O termo “princípio da legalidade” é mais amplo e geral. Enfoca mais a ideia de um Estado
sem arbitrariedades, de crimes democraticamente previstos. Já o termo “princípio da reserva legal” é
mais específico e enfoca mais a questão formal, de o crime ter de estar previsto em um ato formal
chamado lei, e não em outros. A verdade, porém, é que esses dois princípios, na prática, terminam
tendo significado bastante próximo.
b) Princípio da anterioridade: para que haja crime, ele tem de estar definido em lei anterior à
conduta. Se alguém faz algo hoje e somente amanhã surge uma lei afirmando que essa conduta é
crime, o indivíduo não será punido, pois, ao tempo da conduta, não era crime o seu ato.
c) Princípio da vedação da analogia in malam partem: analogia é utilizar uma lei que rege uma
situação para dar o mesmo tratamento a outra situação similar, análoga. No Direito Penal, a analogia
nunca pode ser utilizada contra o réu (in malam partem, “para o mau da parte”), somente in bonam
partem (a favor do réu). Assim, para afirmar que algo é crime ou para definir uma causa de aumento
de pena, é preciso que a conduta do réu se enquadre exatamente no que está previsto na lei para
aquela situação. Para outra situação não servirá. Se, por outro lado, for para diminuir a pena do réu,
pode-se utilizar analogicamente uma previsão feita para outro crime ou outra situação similar.]
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
[a) Princípio da irretroatividade penal ou da retroatividade benéfica: a lei penal nunca

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retroage para prejudicar o réu (definir uma conduta anterior como crime ou aumentar a sua pena),
mas sempre retroage para favorecer o réu (diminuir a pena ou deixar de definir uma conduta como
crime. Nessa última hipótese (conduta que era crime e vem uma lei posterior afirmando que não é
mais), o indivíduo não será punido, mesmo que, ao tempo da sua conduta, ela fosse criminosa. Esse
fenômeno da extinção do crime por uma mudança legislativa posterior à conduta se chama abolitio
criminis, abolição do crime. Nesse caso, é importante saber o termo em latim).
b) Sucessão de leis no tempo: Se o indivíduo pratica o crime na vigência de uma lei A, depois
vem uma lei B mais benéfica, e depois uma lei C mais benéfica que a A e menos benéfica que a B,
será aplicada a B, que, dentre todas, foi a mais benéfica. Enfim, para saber qual lei penal deve ser
aplicada, faz-se o seguinte: desconsideram-se todas as leis penais anteriores à conduta (elas não
valem mais, ainda que sejam mais benéficas. Elas já passaram e não têm mais validade para as
condutas posteriores). A partir da data da conduta, efetua-se a análise da lei que estava em vigor
nessa data e também de todas as leis posteriores, escolhendo-se, dentre todas, a que for mais
favorável.
c) Retroatividade da lei penal: é a característica que a lei penal tem de regular fatos ocorridos
antes de sua entrada em vigor, se for para beneficiar o réu.
d) Ultratividade da lei penal: é a característica que a lei penal tem de continuar regulando fatos
ocorridos durante a sua vigência, mesmo que posteriormente surja uma lei penal diferente, desde que
essa ultratividade seja para beneficiar o réu (isto é, desde que as leis posteriores sejam mais severas).
e) Exceções: lei penal excepcional e lei penal temporária. Lei excepcional é aquela que só
vigora durante uma situação específica (exemplo: o Brasil sofre uma seca absurda e vem uma lei
dizendo: “enquanto o Brasil estiver em seca, é crime desperdiçar água”. Mesmo depois que a seca
acabar, e não for mais crime desperdiçar água, quem praticou essa conduta nessa época será punido.).
Lei temporária é que vigora só durante um tempo específico (exemplo: “até o dia 12.07.2014, quando
acabará a Copa do Mundo do Brasil, é crime furar a fila dos estádios de futebol”. Mesmo após essa
data, quando a conduta deixar de ser crime, os que a praticaram durante o período excepcional serão
punidos. As leis excepcionais e temporárias são uma exceção aos princípios da retroatividade e da
ultratividade benéficas e sempre regularão as condutas ocorridas durante a sua vigência, mesmo que
depois surjam leis mais favoráveis. Do mesmo modo, também não retroagem para beneficiar os réus
que praticaram condutas anteriores, fora do período ou situação excepcional.
f) Retroatividade benéfica e normas penais em branco: veja-se o seguinte exemplo. No crime
de tráfico de drogas (norma penal em branco), se uma portaria que definia certa substância como
droga for revogada, isso equivale a dizer que não é mais crime vender aquela portaria, que ela não é
mais considerada droga, e por isso a alteração retroagirá para beneficiar todos os anteriormente
condenados por vendê-la. Isso já aconteceu com o lança-perfume, quando, por acidente, editou-se
uma portaria do Ministério da Saúde que relacionou as drogas e esqueceu de mencioná-lo. 3 dias
depois, corrigiu-se a portaria, mas o fato é que, por 3 dias, deixou de ser crime vender lança-perfume.
Por isso, todos os que haviam vendido antes desse período (mesmo os já condenados) tiveram de ser

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soltos e não puderam ser punidos. Por outro lado, suponha-se que haja um crime de “vender
mercadorias acima do preço tabelado em portaria”. É claro que, após certo tempo, será editada nova
portaria atualizando e aumentando os preços tabelados (por causa da inflação), mas nem por isso
quem vendeu antes, acima do preço anteriormente tabelado, deixará de ser punido. No primeiro
exemplo, houve uma alteração do conteúdo da proibição; no segundo, houve só uma atualização em
razão do tempo. Quando há alteração do conteúdo da proibição, a norma penal em branco mais
benéfica retroage; quando há mera atualização, não.]
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais;
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de
reclusão, nos termos da lei;
[(1) há penas de prisão simples, de detenção e de reclusão. Todas são privativas de liberdade, mas
a prisão é a mais branda (o indivíduo fica mais tempo do dia solto e menos tempo preso); e a reclusão
é a mais grave (mais tempo do dia preso e menos solto).]
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da
tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes
hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se
omitirem; [são os “3 T”: tortura, tráfico, terrorismo, mais os hediondos.]
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou
militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;
[Atenção: (a) racismo e ação de grupos armados contra o Estado: inafiançáveis e
imprescritíveis, mas aceita graça ou anistia. (b) tortura, tráfico, terrorismo e hediondos:
inafiançáveis e sem graça ou anistia, mas prescrevem. Não confundir as características de cada um.
1) Inafiançável é o crime que não admite fiança. Quando a pessoa é presa em flagrante, a
depender do caso, ela pode pagar um valor e responder o processo em liberdade. Essa é a regra, mas
alguns crimes não admitem esse pagamento para responder em liberdade, como os acima.
2) Imprescritível é o crime que nunca prescreve. A regra é que, se o indivíduo não for condenado
depois de um certo tempo (que depende da pena do crime), ele não poderá mais ser punido. Isso é a
prescrição. Porém, os crimes expostos acima não prescrevem nunca, são exceções.
3) Insuscetível de graça ou indulto. Graça e indulto são perdões pela prática de um crime, em
que, mesmo sendo culpado, o indivíduo é perdoado pelo governo.]
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o
dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e
contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;
[Esse é o princípio da intranscendência da pena. Se o pai matou, roubou e depois faleceu, o
filho não será condenado por isso. Entretanto, a obrigação de reparar o dano (indenização para a
família da vítima) e o perdimento de bens (devolução dos bens roubados ou obtidos por meio de
qualquer crime) não são consideradas penas (não são punições, são apenas efeitos naturais e
razoáveis da prática de um ato ilícito, para restabelecer a situação anterior, tanto quanto possível) e,

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por isso, se estendem aos filhos e demais herdeiros (sucessores). Mas há um limite: o herdeiro ou
sucessor só é obrigado a ressarcir até o limite do que ele recebeu de herança.]
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: [veja-se
que a lei pode estabelecer outras. Essas não são as únicas].
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;
[Há pena de morte no Brasil. Em caso de guerra, há. Então, caso se afirme apenas que “não
há pena de morte no Brasil”, isso será falso.]
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do
delito, a idade e o sexo do apenado;
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos
durante o período de amamentação; [somente durante esse período~, não depois de crescidos]
LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum,
praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;
[Extradição é a entrega de um indivíduo para ser julgado ou cumprir pena em outro país.
a) Estrangeiro: sempre pode ser extraditado, atendidos os requisitos da lei;
b) Brasileiro nato (em geral, o que nasceu no Brasil): nunca será extraditado, em nenhum caso;
c) Brasileiro naturalizado: pode ser extraditado por crime comum (só se ele tiver praticado o
crime antes da naturalização, quando ainda não era brasileiro) ou então por tráfico (aqui, o crime
pode ter sido antes ou depois da naturalização.
Por isso, se vier a alternativa “brasileiro não pode ser extraditado”, é falsa, pois o naturalizado
pode].
LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião;
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente; [princípio
do juiz natural: só quem pode condenar é a autoridade competente, a autoridade naturalmente (ou
seja, normalmente), é a legalmente prevista para aquele caso.]

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LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
[princípio do devido processo legal, isto é, o processo em que o réu pode se defender amplamente].
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; [princípios do
contraditório e da ampla defesa (direito do réu de contradizer o que o autor está afirmando e de se
defender amplamente). Esses princípios valem também para os processos administrativos (um
processo administrativo disciplinar de servidor público, por exemplo)].
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;
[Mesmo que se saiba que o indivíduo é culpado, se a prova foi obtida por meio ilícito, ela não
pode ser usada para condenar, ainda que isso termine resultando na absolvição de um culpado.
São também nulas as provas derivadas das ilícitas (uma prova que seria lícita, mas você só
obteve por causa de uma prova ilícita). Isso se chama teoria dos frutos da árvore envenenada
(fruits of the poisonous tree). A exceção (quando a prova lícita derivada da ilícita vale) é a fonte
independente. É a fonte que, por si só, seguindo os trâmites normais, já conduziria à prova, mesmo
sem a ilicitude anterior. Exemplo: se polícia espancar o ladrão para ele dizer onde enterrou o produto
do roubo, ele contar, e a polícia for lá, cavar e encontrar, essa escavação é uma prova ilícita por
derivação e não valerá. Entretanto, se a mesma coisa ocorrer, mas a polícia já estava promovendo
escavações naquela região e aquela área já seria mesmo uma das próximas a serem escavadas, a
escavação valerá mesmo tendo advindo do espancamento, pois ela já seria feita de qualquer modo.
Ou ainda: se surgir uma testemunha que também sabia onde a mercadoria estava enterrada.]
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória; [É o princípio da presunção de inocência ou da presunção de não culpabilidade.
Só é culpado com o trânsito em julgado, quando já não caiba mais nenhum recurso].
LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas
hipóteses previstas em lei; [Identificação criminal é a cena dos filmes em que o suspeito é
fotografado e tem suas impressões digitais colhidas. Se ele apresentar identidade, isso não poderá
ocorrer, em regra. Contudo, nas hipóteses da lei (ex: dúvida sobre a autenticidade do documento),
haverá identificação criminal, mesmo com a identidade civil.]
LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no
prazo legal; [Normalmente, a ação penal é pública, isto é, só o Ministério Público pode ajuizar a ação
penal. Entretanto, se o Ministério Público deixar passar o prazo legal para se manifestar e ficar inerte,
o cidadão comum pode ajuizar a ação penal, que, neste caso, será chamada ação penal privada
subsidiária da pública. Mas atenção: se o MP entender que não há crime e arquivar, isso não é
inércia, e o particular não poderá ajuizar a ação penal. Só pode se o MP não falar nada (nem que vai
ajuizar, nem que vai arquivar).]
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da
intimidade ou o interesse social o exigirem;
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de

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autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente
militar, definidos em lei; [Os civis podem ser presos em flagrante (sem ordem judicial) em então por
ordem judicial (mesmo sem flagrante). Não há prisão por ordem de delegado ou de ninguém mais
que não seja juiz. Só se for flagrante, porque aí qualquer pessoa (até um cidadão comum) pode
prender o outro que esteja, naquele momento, praticando o crime. Já os militares são uma exceção:
eles podem ser presos, mesmo sem flagrante e sem ordem judicial, se praticarem uma infração
militar. É uma prisão administrativa, extremamente comum para os militares].
LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados
imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada;
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-
lhe assegurada a assistência da família e de advogado; [se não tiver advogado, defensor público].
LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu
interrogatório policial;
LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária; [uma prisão que
foi legal, mas não é mais necessária, é revogada. Já uma prisão que foi ilegal é relaxada. Os termos
são distintos].
LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade
provisória, com ou sem fiança; [liberdade provisória é a soltura do preso em flagrante para que ele
responda ao processo em liberdade, quer pagando a fiança, quer até sem precisar pagá-la].
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento
voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;
[São os dois casos em que a CF admite a prisão por dívida: (a) não pagar pensão, mas só se o
não pagamento for voluntário e inescusável (isto é, injustificável). Não é simplesmente não pagar
porque não tem dinheiro. (b) depositário infiel: depositário é o que recebe uma coisa alheia para
guardar e depois devolver. Infiel é o que depois se nega a devolver. A CF permite a prisão civil nesse
caso, mas só se a lei previr; e, no Brasil, a lei não prevê, porque a única que tinha essa previsão de
prisão do depositário infiel foi revogada pela Convenção Interamericana de Direitos Humanos (Pacto
de São José da Costa Rica, tratado internacional firmado pelo Brasil e por vários outros países).
Por isso, o cenário atual é: a CF permite que as leis estabeleçam prisão civil do devedor de
pensão e do depositário infiel, mas as normas infraconstitucionais (leis e tratados internacionais) só
prevêem atualmente a prisão do devedor de pensão, não a do depositário infiel. Por isso, o
depositário, hoje, não pode ser preso, muito embora a Constituição autorize abstratamente essa
prisão.]
LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de
sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;

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[Aqui a CF prevê os remédios constitucionais, ou seja, ações especificamente previstas na
Constituição para proteger direitos individuais e coletivos, com uma relevância e uma prioridade
mais elevadas do que as ações comuns. Os remédios são: habeas corpus (HC), mandado de segurança
(MS), habeas data (HD), mandado de injunção (MI) e ação popular.
HC é só para liberdade de locomoção e nada mais. Pode ser repressivo (quando a pessoa já foi
presa) ou preventivo (quando está ameaçada de ser presa). Por isso, admite-se HC muitas vezes para
trancar (encerrar) um Inquérito Policial (IPL) ou um processo judicial, pois eles são uma ameaça de
que a pessoa seja presa.]
LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não
amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou
abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do
Poder Público;
[Direito líquido e certo é o que pode ser provado somente por documentos, junto com a petição
inicial da ação, sem precisar ouvir pessoas, fazer perícia etc. O MS só vale para quando o direito
ofendido não for de liberdade (porque aí é HC) e nem de acesso a informações sobre sua pessoa
(porque aí é habeas data). Inclusive, se o que se estiver negando for a emissão de uma certidão (e não
o acesso à informação em si), é MS, e não HD.
O MS pode ser impetrado (ou seja, ajuizado) somente contra autoridade pública (servidor
público) ou contra quem não seja servidor público, mas esteja trabalhando em uma empresa
contratada pelo governo para fazer atribuições do poder público (exemplo: uma concessionária de
serviço público, a empresa contratada pelo governo para gerenciar o ferry boat, a empresa que
mantém uma rodovia pedagiada).
Esse é o MS individual, pois é ajuizado por uma pessoa, para defender interesses individuais.]
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional; [tem que ter pelo menos um
deputado federal ou senador. Não basta representação em Assembleia Legislativa estadual].
b) organização sindical [qualquer uma], entidade de classe [qualquer uma] ou associação
legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de
seus membros ou associados; [sindicato ou entidade de classe não precisa estar funcionando há
mais de um ano, mas a associação precisa].
[Aqui trata-se do MS coletivo, pois se estão defendendo interesses de todo um grupo de pessoas,
por meio de órgãos representativos, ajuizando-se uma só ação para defesa de todos].
LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora
torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à
nacionalidade, à soberania e à cidadania; [O MI é utilizado quando a CF prevê um direito, mas a
lei não o regulamenta, de modo que o cidadão fica impedido de exercê-lo. Nesse caso, há algumas
posições na literatura (doutrina) e na jurisprudência sobre os efeitos do MI:
a) posição não concretista: o Judiciário apenas alerta o Legislativo sobre sua inércia;

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b) posição concretista pura: o Judiciário cria provisoriamente a regulamentação que falta e
concretiza o direito;
c) posição concretista intermediária: o Judiciário confere ao Legislador um prazo para
regulamentar o direito; e, caso o Legislativo permaneça inerte após esse prazo, o Judiciário cria
provisoriamente a regulamentação.
Tradicionalmente, o STF adotava a posição não concretista; mas, atualmente, em vários casos,
ele tem adotado a posição concretista intermediária.]
LXXII - conceder-se-á "habeas-data":
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes
de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público; [não é para
qualquer entidade. Somente entidades públicas ou privadas de caráter público (SPC, SERASA
etc)].
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou
administrativo; [o HD não é sigiloso. Então, o cidadão escolhe: ou faz a retificação de dados pelo HD
(sem sigilo), ou então por um processo comum, pedindo sigilo].
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato
lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo
comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;
[Aqui, o termo cidadão está usado em sentido estrito: é só aquele que tem título de eleitor e pode
votar. Pode até ser menor que 18 anos, mas tem de já ter tirado o título de eleitor para ajuizar ação
popular. O autor, em regra, não paga custas judiciais (uma taxa que se paga para ajuizar uma ação na
justiça) e, caso perca, não paga os ônus da sucumbência (o custo do processo, que geralmente quem
perde é obrigado a pagar). Mas esse benefício é só se ele não agiu de má-fé. Se agiu de má-fé
(ajuizando uma ação que ele sabia que não procedia), terá de pagar custas e sucumbência.]
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem
insuficiência de recursos; [somente a esses, e não a todos].
LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso
além do tempo fixado na sentença;
LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei:
a) o registro civil de nascimento;
b) a certidão de óbito;
[só são gratuitos para os reconhecidamente pobres. Para os outros, podem ser cobrados. Na
verdade, esse dispositivo nem era necessário, pois, acima já se afirmou que o direito de certidão
independe do pagamento de taxas, isto é, pode ser cobrado, mas se a pessoa não tiver como pagar
terá de ser concedido assim mesmo.]
LXXVII - são gratuitas as ações de "habeas-corpus" e "habeas-data", e, na forma da lei, os
atos necessários ao exercício da cidadania. [Só os habeas são gratuitos. O MS não necessariamente].

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LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do
processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004) [Essa norma foi incluída pela emenda constitucional 45 e vale também
para a esfera administrativa. É o princípio da razoável duração do processo].
LXXIX - é assegurado, nos termos da lei, o direito à proteção dos dados pessoais, inclusive
nos meios digitais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 115, de 2022)
§ 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.
[Esse é o chamado princípio da máxima efetividade das normas constitucionais.]
§ 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do
regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte. [A previsão dos direitos acima é apenas exemplificativa, e não
taxativa, isto é, o indivíduo não tem apenas esses direitos. Tem esses e mais todos os demais
previstos no ordenamento e nos tratados internacionais].
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos [somente estes, não outros]
que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional [no Senado e também na Cãmara],
em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às
emendas constitucionais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
[É preciso que, na Câmara, o tratado seja aprovado em 2 turnos (duas votações), por 3/5 de votos
em cada um desses turnos. Depois, no Senado, é preciso que ocorra a mesma coisa. Se for nesses
moldes, o tratado vai passar a valer no Brasil como se fosse uma norma da própria Constituição (uma
emenda constitucional, isto é, um acréscimo ou alteração feita à Constituição). Se o tratado de
direitos humanos for aprovado, mas não com essa votação expressiva, ele vai valer no Brasil, porém
com status de lei normal. Do mesmo modo, os tratados que versem sobre outras matérias que não
direitos humanos, quando aprovados sempre valem como lei normal (lei ordinária), qualquer que seja
a votação.
No Brasil, até o ano de 2014, a Convenção de Nova York sobre Proteção aos Deficientes e seu
Protocolo Adicional é o único tratado de direitos humanos aprovado com status de emenda
constitucional.].
§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha
manifestado adesão. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
CAPÍTULO II
DOS DIREITOS SOCIAIS
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o
transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 90, de 2015) [A moradia, a alimentação e o transporte foram incluidos por
emendas constitucionais posteriores].
Parágrafo único. Todo brasileiro em situação de vulnerabilidade social terá direito a uma renda

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básica familiar, garantida pelo poder público em programa permanente de transferência de
renda, cujas normas e requisitos de acesso serão determinados em lei, observada a legislação fiscal e
orçamentária (Incluído pela Emenda Constitucional nº 114, de 2021)
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria
de sua condição social: [os trabalhadores urbanos e rurais têm os mesmos direitos, e os direitos aqui
previstos não excluem outros previstos em outras normas].
I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos
de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos; [É a
indenização por dispensa sem justa causa. Essa indenização não é o único direito nessa hipótese, há
outros. A indenização deve estar prevista em lei complementar (que é uma lei com requisitos de
votação um pouco mais rigorosos que a lei ordinária, normal). Entretanto, até o momento, não foi
editada essa LC, e por isso vale uma norma provisória estabelecida pela própria CF, definindo a
indenização como os 40% do FGTS].
II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário; [Se pedir demissão não ganha].
III - fundo de garantia do tempo de serviço; [FGTS]
IV - salário mínimo, fixado em lei [não em portaria], nacionalmente unificado [não pode
haver salários mínimos regionais], capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua
família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e
previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada
sua vinculação para qualquer fim; [não se pode vincular o salário mínimo a índices oficiais, como se
fosse um reajuste automático, porque isso gera inflação. Também não se pode vincular nada ao
salário mínimo. Ex: não se pode “aposentar com 10 salários mínimos”, nem fazer um contrato que
estabeleça o aluguel como “2 salários mínimos”. Por fim, a previsão de que o salário mínimo deve
ser suficiente para atender a todas essas necessidades citadas é apenas uma norma programática,
isto é, um projeto, uma manifestação de intenções da constituição, mas não uma obrigação objetiva
que possa ser exigida imediata e objetivamente].
V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho; [É o chamado salário
mínimo profissional].
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo; [A
convenção ou o acordo coletivo de trabalho (acordos firmados pelo sindicato para a categoria ou um
grupo de trabalhadores) podem reduzir os salários].
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração
variável; [Quem recebe por comissão, quando vender muito, receberá o correspondente a sua
comissão. Entretanto, se vender muito pouco, e esse valor não for suficiente para chegar ao patamar
do salário mínimo, o trabalhador, nesse mês, receberá o salário mínimo (nunca menos)].
VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria;
IX - remuneração do trabalho noturno superior à do diurno; [É o adicional noturno. A CF não
diz qual é o percentual, mas assegura o direito].

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X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa;
XI - participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e,
excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei;
XII - salário-família para os seus dependentes;
XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos
da lei;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) [É só para o de baixa renda, não
para todos]
XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro
semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou
convenção coletiva de trabalho; [para compensar horários, não precisa de acordo ou convenção
coletiva, mas para reduzir a jornada sim].
XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento,
salvo negociação coletiva; [Turno ininterrupto de revezamento é a situação em que o trabalho não
pode parar nunca, e há turmas trabalhando de seis em seis horas, em que uma substitui a outra.
Ocorre em algumas fábricas em que as máquinas nunca podem ser desligadas].
XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos; [Não é
obrigatoriamente aos domingos, só preferencialmente].
XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinqüenta por cento à
do normal; [o adicional de hora extra é garantido pela CF como, no mínimo, 50%. Porém, pode ser
mais, se a lei fixar].
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário
normal;
XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e
vinte dias; [A lei é que estabeleceu que a licença pode ser de até 180 dias, mas a CF em si só
garantiu 120 dias].
XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei;
XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos
termos da lei;
XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos
termos da lei; [Não são sempre 30 dias, são no mínimo 30 dias. Antes, eram sempre 30 porque não
havia lei regulando. Porém, agora essa lei já foi editada, e o aviso prévio pode ser maior que 30 dias
em casos de longo tempo de serviço].
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e
segurança;
XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na
forma da lei; [São os adicionais de penosidade (condições difíceis de trabalho, com em fronteira ou
em lugares muito pobres), de insalubridade (riscos à saúde) ou periculosidade (risco de morte
imediata por um acidente). Atentar para a diferença entre insalubridade e periculosidade].

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XXIV - aposentadoria;
XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até seis anos de idade em
creches e pré-escolas;
XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de
idade em creches e pré-escolas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
[Atenção: antes, eram 6 anos, mas agora são só 5. A proteção se reduziu. Essas mudanças costumam
ser cobradas].
XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;
XXVII - proteção em face da automação, na forma da lei;
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a
indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa; [O seguro quem paga é o
empregador, e ele está sempre obrigado. Já a indenização só vai ocorrer em caso de dolo (intenção de
causar o dano) ou culpa (imprudência, negligência ou imperícia). O seguro não exclui a indenização,
quando ela é devida].
XXIX - ação, quanto a créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de:
a) cinco anos para o trabalhador urbano, até o limite de dois anos após a extinção do contrato;
b) até dois anos após a extinção do contrato, para o trabalhador rural;
XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional
de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção
do contrato de trabalho;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 28, de 25/05/2000)
a) (Revogada). (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 28, de 25/05/2000)
b) (Revogada). (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 28, de 25/05/2000)
[A prescrição trabalhista é assim. Até 2 anos após a saída do trabalhador, ele pode cobrar as
diferenças que entenda devidas em relação aos 5 anos anteriores ao ajuizamento da ação. Depois de 2
anos da saída, não pode cobrar mais nada. Exemplo: indivíduo trabalha de 2000 até 2010. Se ajuizar
ação em 2010, poderá cobrar de 2005 até 2010. Se ajuizar em 2012, poderá cobrar de 2007 (cinco
anos antes do ajuizamento) até 2010 (data da saída). Se ajuizar em 2013, não poderá cobrar nada,
pois está prescrito.]
XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por
motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;
XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do
trabalhador portador de deficiência;
XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os
profissionais respectivos;
XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre aos menores de dezoito e de
qualquer trabalho a menores de quatorze anos, salvo na condição de aprendiz;

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XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de
qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de
quatorze anos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
[14 anos – pode trabalhar como aprendiz. O contrato de aprendizagem é bem específico, tem de
ter uma supervisão intensa. Não é simplesmente empregar e dizer que é aprendiz;
16 anos – pode fazer qualquer trabalho normal e até os trabalhos penosos, mas não os noturnos,
insalubres e nem perigosos;
18 anos – pode fazer qualquer trabalho.]
XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o
trabalhador avulso [Avulso é o trabalhador que não tem carteira assinada, mas trabalha por meio de
um órgão gestor de mão de obra (OGMO) em atividades como estivador em portos ou carga e
descarga de caminhões (os chamados chapas). Esses trabalhadores têm todos os direitos do
trabalhador com CTPS (férias, descanso semana, 13º etc). Ao contratar o trabalhador por meio do
OGMO, o tomador de serviço já paga todos esses direitos embutidos.]
Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos
nos incisos IV, VI, VIII, XV, XVII, XVIII, XIX, XXI e XXIV, bem como a sua integração à
previdência social.
Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos
nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX,
XXXI e XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a simplificação do
cumprimento das obrigações tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação de trabalho e
suas peculiaridades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua
integração à previdência social. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 72, de 2013)
[É a PEC das domésticas, que ampliou bastante os direitos dessa categoria. São direitos das
domésticas: salário mínimo, irredutibilidade de salário, salário nunca inferior ao mínimo, proteção ao
salário, carga horária de 8 horas diárias e 44 semanais, repouso semanal, hora extra de 50%,
férias, licenças maternidade e paternidade, aviso prévio, redução dos riscos, aposentadoria,
reconhecimento das convenções e acordos coletivos, proibição de diferença de salários por cor,
sexo, idade ou estado civil, proibição de discriminação e deficiente, limites de idade para os
trabalhos (16 e 18 anos).
Os itens em negrito foram incluídos pela PEC das domésticas. Todos esses direitos valem de
imediato e não precisam de nenhuma regulamentação legal.
São direitos das domésticas, de acordo com a regulamentação que vier a ser feita pela lei:
proteção contra dispensa sem justa causa, seguro-desemprego, FGTS, adicional noturno,
salário família, creches e pré-escolas até os 5 anos, seguro e indenização contra acidentes de
trabalho, previdência social. Os itens em negrito foram incluídos pela PEC. Esse outro grupo de
direitos depende de lei a ser editada.
Não é preciso decorar tudo isso, pois são muitos direitos. Basta ler com atenção.]

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Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:
I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o
registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na
organização sindical; [Não pode exigir autorização, mas tem que registrar]
II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de
categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores
ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um Município; [É o princípio da
unicidade sindical. Em cada unidade territorial, só pode haver um sindicato para cada categoria nessa
unidade. O tamanho de cada unidade é definido pelos trabalhadores ou empregadores, mas ele é de,
no mínimo, um Município. Pode ter 2 ou mais municípios, não pode é ter menos].
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria,
inclusive em questões judiciais ou administrativas;
IV - a assembléia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será
descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva,
independentemente da contribuição prevista em lei; [São duas contribuições. A contribuição
confederativa é fixada pela assembleia e para custeio do sindicato. A contribuição sindical
(também chamada popularmente de “imposto sindical”) é fixada em lei e corresponde a um dia
de trabalho por ano].
V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato;
VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho;
VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas organizações sindicais;
VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da candidatura a
cargo de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o
final do mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei. [É a estabilidade sindical. A partir
de quando se candidatar, até a eleição, só pode ser demitido se for por justa causa (falta grave). Se for
eleito (ainda que suplente), a estabilidade vai até um ano após o término do mandato. Veja-se que
não é uma estabilidade absoluta, pois, se houver falta grave, há dispensa].
Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se à organização de sindicatos rurais e
de colônias de pescadores, atendidas as condições que a lei estabelecer.
Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a
oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. [Quem decide
sobre a greve é a própria categoria, mas tem de atender as necessidade inadiáveis da comunidade, e
os abusos serão punidos].
§ 1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das
necessidades inadiáveis da comunidade.
§ 2º - Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.

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Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos
órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão
e deliberação.
Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegurada a eleição de um
representante destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os
empregadores.
CAPÍTULO III
DA NACIONALIDADE
Art. 12. São brasileiros:
I - natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que
estes não estejam a serviço de seu país; [Esse é o critério principal de nacionalidade no Brasil: o
critério territorial, chamado de jus solii. Atenção: se nasceu no Brasil, mas os pais eram estrangeiros
e estavam a serviço do seu país, a criança será estrangeira, e não brasileira. Se os pais estrangeiros
estavam a serviço de um terceiro país que não o seu, a criança será brasileira].
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira [basta um, não são necessários
ambos], desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil; [É o critério
do jus sanguinis, que leva em conta a ascendência hereditária. Veja-se que essas crianças, mesmo
que nasçam no estrangeiro e nunca venham a morar no Brasil, serão sempre brasileiras natas, com
direitos idênticos aos dos que nascem no Brasil (inclusive nunca serem extraditados)].
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira [mesmo que nenhum
deles esteja a serviço do Brasil], desde que sejam registrados em repartição brasileira competente
ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de
atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira;
[Se um dos pais for brasileiro e estiver a serviço, não precisa nem registrar, nem residir no Brasil
nem optar. Já será brasileiro nato. Se um dos pais for brasileiro mas não estiver a serviço, é preciso
que haja uma dessas duas alternativas: (a) se os pais registraram no consulado brasileiro, já será
brasileiro nato, mesmo que nunca venha ao Brasil e nem faça opção; (b) se não registrar, aí será
preciso que a criança venha algum dia morar no Brasil e faça opção pela nacionalidade brasileira
(sendo que essa opção, para ser válida, só pode ser feita após os 18 anos).]
II - naturalizados:
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de
países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;
[Essa é a naturalização ordinária. É a que segue os requisitos da lei, os quais, em geral, são mais
simples. No caso dos países de língua portuguesa, a própria CF disse que a lei só pode exigir 1 ano e
idoneidade moral. Entretanto, essa naturalização o Brasil pode negar, se quiser. É uma livre escolha
do país].
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há

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mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade
brasileira. [Essa é a naturalização extraordinária. Se o estrangeiro passar 15 anos seguidos aqui, sem
condenação penal (civil tudo bem), ele tem direito a ser declarado brasileiro, e o Brasil não pode
negar. Essa é a diferença quanto à ordinária. Pequenas viagens não descaracterizam o requisito dos
15 anos ininterruptos.]
§ 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor
de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta
Constituição. [É o chamado brasileiro equiparado. O português só precisa de residência permanente
e já terá todos os direitos do brasileiro naturalizado (não do brasileiro nato). O mesmo direito o
brasileiro tem em Portugal, quando reside permanente lá].
§ 2º - A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos
casos previstos nesta Constituição. [A própria CF estabelece diferenças entre os brasileiros natos e
naturalizados. Uma é em relação à extradição. Outra é em relação aos cargos abaixo citados. Outra é
em relação à propriedade de empresas de radiodifusão (televisão).]
§ 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos:
I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados; [naturalizado pode ser deputado, mas não
presidente da Câmara]
III - de Presidente do Senado Federal; [naturalizado pode ser senador, mas não presidente do
Senado.]
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; [naturalizado pode ser do STJ, mas não pode ser
do STF. Veja que, ao contrário da Câmara e do Senado, todos os ministros do STF têm que ser
natos]
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas. [naturalizado pode ser praça, mas não oficial]
VII - de Ministro de Estado da Defesa [os outros Ministros podem ser naturalizados].
§ 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro [naturalizado, pois o nato nunca
perde a nacionalidade] que:
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao
interesse nacional;
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; [é o caso do descente
de espanhóis que tem dupla nacionalidade porque a própria Espanha reconheceu]
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado
estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos
civis;
Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil.
§ 1º - São símbolos da República Federativa do Brasil a bandeira, o hino, as armas e o selo

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nacionais.
§ 2º - Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão ter símbolos próprios.

CAPÍTULO IV
DOS DIREITOS POLÍTICOS
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto,
com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
I – plebiscito; [Faz-se uma consulta à população para que ela decida certo tema, sobre se deve ou
não ser editada uma lei em certo sentido]
II – referendo; [Edita-se a lei primeiro e depois faz-se a consulta à população sobre se essa lei
deve ou não valer]
III - iniciativa popular. [A própria população faz um projeto de lei, reúne várias assinaturas e
manda para o Congresso, que então deverá votar a lei para ver se a aprova ou reprova].
[Sufrágio é a participação política na vida do país. É universal, pois é possibilitado a todos.
O voto é direto porque as pessoas votam diretamente nos seus representas, ao contrário de outros
países (como os EUA), em que os eleitores votam em delegados eleitorais, que, por seu turno,
elegem o presidente.
O voto é secreto. É igual, pois não há votos com pesos diferentes. O voto é um instrumento de
democracia representativa.
Já o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular são instrumentos de democracia direta. Como o
Brasil combina instrumentos de democracia representativa com outros de democracia direta, diz-se
que é uma democracia semidireta ou participativa.
Não é em todos os casos que se faz plebiscito ou referendo; somente quando se entende que é
conveniente e necessário.
O voto é a capacidade eleitoral ativa (votar). Já a elegibilidade é a capacidade eleitora passiva
(ser votado). Todos os elegíveis podem votar, mas nem todos os que podem votar podem ser eleitos].
§ 1º - O alistamento eleitoral e o voto são:
I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
II - facultativos para:
a) os analfabetos;
b) os maiores de setenta anos;
c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
§ 2º - Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço
militar obrigatório, os conscritos. [Conscritos são os cidadãos durante a prestação do serviço
militar obrigatório].
§ 3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei: [requisitos para ser eleito]
I - a nacionalidade brasileira; [nato ou naturalizado, exceto para os cargos exclusivos de nato]
II - o pleno exercício dos direitos políticos; [poder votar]

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III - o alistamento eleitoral; [ter-se alistado para votar]
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; [não se pode ser eleito Senador por Alagoas tendo
domicílio eleitoral na Bahia, ou ser Prefeito de Salvador tendo domicílio em Ilhéus].
V - a filiação partidária; [não é possível se candidatar se não for por um partido]
VI - a idade mínima de:
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito
e juiz de paz;
d) dezoito anos para Vereador.
§ 4º - São inelegíveis os inalistáveis [(estrangeiros e conscritos)] e os analfabetos.
§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e
quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um
único período subseqüente.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 16, de 1997) [Só pode se
reeleger uma vez. Depois, pode sair, ficar um mandato fora e voltar novamente. Pode, inclusive,
nesse retorno, ser reeleito de novo. Só não pode é passar mais de 8 anos consecutivos].
§ 6º - Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado
e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes
do pleito. [Para tentar a reeleição, não precisa renunciar. Porém, se for para tentar ser Deputado,
Senador etc, precisa renunciar 6 meses antes.]
§ 7º - São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes
consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de
Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído
dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à
reeleição.
[Parentes consanguíneos de primeiro grau: pais e filhos (sobe ou desce um nível na árvore
genealógica). De segundo grau: irmãos (sobe um nível até o pai e desce um nível até o irmão,
perfazendo 2 níveis na árvore), avós e netos (sobe ou desce dois níveis na árvore).
Parentes afins de primeiro e segundo grau são os correspondentes do lado do cônjuge: sogro,
enteado, cunhado, pai do sogro ou filho do enteado.
Se o indivíduo é Prefeito de Salvador, seus parentes não podem se candidatar a nada em
Salvador, a menos que: (a) ele renuncie 6 meses antes do pleito; ou (b) seus parentes já sejam
titulares de um cargo e simplesmente concorram à reeleição. É claro que poderão se candidatar a
outro Município, mas não a Salvador.
Se o indivíduo é Governador da Bahia, vale a mesma regra. Seus parentes, claro, poderão se
candidatar a outro Estado, mas não ao Estado da Bahia e nem a nenhum dos Municípios na Bahia.
Se o indivíduo é Presidente, vale a mesma regra, e não há alternativas, porque o indivíduo é
presidente do país todo, não restando alternativas a seus parentes, a não ser a sua renúncia ou então

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que os parentes concorram a mera reeleição.]
§ 8º - O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições:
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade; [como tem pouco
tempo, sai logo]
II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito,
passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade. [como tem mais tempo,
conta com uma proteção maior]
§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação,
a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato
considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a
influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na
administração direta ou indireta. (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 4, de
1994) [É o caso da lei da ficha limpa]
§ 10 - O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze
dias contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico,
corrupção ou fraude. [E a AIME – ação de impugnação de mandato eletivo].
§ 11 - A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo de justiça, respondendo o
autor, na forma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé. [ação temerária é aquela em que o
autor sabe que não tem a menor prova e mesmo assim a ajuíza. É quase o mesmo que a ação de má-
fé, quando o autor sabe que não tem razão e mesmo assim a ajuíza].
§ 12. Serão realizadas concomitantemente às eleições municipais as consultas populares sobre
questões locais aprovadas pelas Câmaras Municipais e encaminhadas à Justiça Eleitoral até 90
(noventa) dias antes da data das eleições, observados os limites operacionais relativos ao número de
quesitos. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 111, de 2021) [Procedimento das consultas
populares: a Câmara Municipal aprova a consulta, encaminha para a Justiça Eleitoral, até 90
dias antes das eleições; e então a consulta será feita nas eleições, atendidos os limites do número de
quesitos (não podem ser muitos). Atenção: não tem propaganda eleitoral gratuita no rádio e TV
para essas consultas]
§ 13. As manifestações favoráveis e contrárias às questões submetidas às consultas populares
nos termos do § 12 ocorrerão durante as campanhas eleitorais, sem a utilização de propaganda
gratuita no rádio e na televisão. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 111, de 2021)
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos
de: [Cassação não existe nunca. Porém, perda ou suspensão podem existir nos seguintes casos:]
I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;
II - incapacidade civil absoluta; [não basta a incapacidade civil relativa, tem de ser a absoluta,
que é aquela em que o indivíduo é totalmente incapaz].
III - condenação criminal [não civil] transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos [é
só enquanto cumpre a pena];

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IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do
art. 5º, VIII; [é o caso da recusa ao serviço militar e à prestação alternativa; ou, ainda, recusa a ser
jurado e à prestação alternativa].
V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.
Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não
se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 4, de 1993) [A lei eleitoral entra em vigor na data da publicação, mas não
se aplica à eleição que ocorra até um ano depois. É o princípio da anterioridade eleitoral]
CAPÍTULO V
DOS PARTIDOS POLÍTICOS
Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a
soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa
humana e observados os seguintes preceitos:
I - caráter nacional; [não pode haver partido só estadual ou municipal]
II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou
de subordinação a estes;
III - prestação de contas à Justiça Eleitoral;
IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.
§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna e estabelecer
regras sobre escolha, formação e duração de seus órgãos permanentes e provisórios e sobre sua
organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações nas
eleições majoritárias, vedada a sua celebração nas eleições proporcionais, sem obrigatoriedade de
vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus
estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 97, de 2017)
§ 2º - Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil,
registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral. [Primeiro, os partidos se registram nos
cartórios civis, e é aí que eles adquirem sua personalidade jurídica (sua existência formal). Depois,
têm de se registrar no TSE, mas não é esse registro que lhes confere personalidade. Eles já tinham
personalidade desde o registro nos cartórios civis].
§ 3º Somente terão direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à
televisão, na forma da lei, os partidos políticos que alternativamente: [alternativamente, ou seja:
tem de preencher uma dessas duas condições (não precisa as duas). Esse dispositivo é a chamada
“cláusula de barreira”, que estabelece condições mínimas para os partidos políticos terem acesso
ao fundo partidário e ao rádio e TV. Atenção: se não alcançar esses requisitos, pode continuar
existindo, só não tem esses benefícios] (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017)
I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 3% (três por cento) dos
votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação, com um mínimo

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de 2% (dois por cento) dos votos válidos em cada uma delas; ou (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 97, de 2017) [decorar esses números]
II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputados Federais distribuídos em pelo menos um
terço das unidades da Federação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017)
§ 4º É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar.
§ 5º Ao eleito por partido que não preencher os requisitos previstos no § 3º deste artigo é
assegurado o mandato e facultada a filiação, sem perda do mandato, a outro partido que os tenha
atingido, não sendo essa filiação considerada para fins de distribuição dos recursos do fundo
partidário e de acesso gratuito ao tempo de rádio e de televisão. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 97, de 2017) [Essa é uma exceção, pois, de modo geral, quando os parlamentares se
desligam do partido pelo qual foram eleitos, perdem o mandato. Mas nesse caso não perdem].
§ 6º Os Deputados Federais, os Deputados Estaduais, os Deputados Distritais e os Vereadores
que se desligarem do partido pelo qual tenham sido eleitos perderão o mandato, salvo nos casos
de anuência do partido ou de outras hipóteses de justa causa estabelecidas em lei, não
computada, em qualquer caso, a migração de partido para fins de distribuição de recursos do fundo
partidário ou de outros fundos públicos e de acesso gratuito ao rádio e à televisão. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 111, de 2021) [Regra: quem se desliga do partido perde o mandato.
Exceções: não perde o mandato se: a) O partido não alcançou a cláusula de barreira para fundo
partidário, rádio e TV; b) o partido abandonado concordar; e c) outras hipóteses de justa causa
previstas em lei].
§ 7º Os partidos políticos devem aplicar no mínimo 5% (cinco por cento) dos recursos do fundo
partidário na criação e na manutenção de programas de promoção e difusão da participação política
das mulheres, de acordo com os interesses intrapartidários. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 117, de 2022) [5% para programas de participação política de mulheres]
§ 8º O montante do Fundo Especial de Financiamento de Campanha e da parcela do fundo
partidário destinada a campanhas eleitorais, bem como o tempo de propaganda gratuita no rádio e na
televisão a ser distribuído pelos partidos às respectivas candidatas, deverão ser de no mínimo 30%
(trinta por cento), proporcional ao número de candidatas, e a distribuição deverá ser realizada
conforme critérios definidos pelos respectivos órgãos de direção e pelas normas estatutárias,
considerados a autonomia e o interesse partidário. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 117,
de 2022) [fundo partidário e fundo de financiamento de campanhas: 30% vão para candidatas
mulheres. A distribuição desse valor é pelos critérios da direção e normas estatutárias do partido].

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