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Revista Brasilia de ISSN 1517-5545 Terapia Comportamental 2004, Vol. VI, n° 2, 183-199 Ce Controle de Respostas de Ansiedade em Universitarios em Situacées de Exposicées Orais! Control of Anxicty Responses in College Students in Of Oral Presentations Maria Aparecida de Oliveira? Angela Maria Menezes Duarte? Universidade Calica de Govisa Resumo presente estudo teve 0 objetivo de reduzir a ansiedade excessiva em universitérios durante exposigdes orais em sala de aula. E sabido que a ansiedade excessiva causa grande desconforto e tem conseqiéncias negativas no desempenho académico, podendo levar a evasao escolar. Cinco alunas universitarias de vai ,,com idades entre 20 e 40 anos, participaram da pesquisa. O nivel de ansiedade de cada participante foi avaliado por trés (a) Escala de Medo de Avaliacdo Negativa (Fear of Negative Evaluation-FNE); (b) IDATE - Inventario de Ansiedade Traco e Inventério de Ansiedade A-Estado; e (c) Medica de Freqiléncia Cardiaca em situacdes estruturadas. Controle experimental foi obtido utilizando um Delineamento de Linha de Base Mailtipla entre Participantes. A intervencao incluiu varios procedimentos: prelegio ¢ leitura de textos didaticos, treinamento em relaxamento, exercicios de respiracio, reestruturacdlo cognitiva, treinamento em habilidades sociais com énfase em habilidades para apresentacoes em publico € aprovacio social da adesiio as recomendacées. Os procedimentos ajudaram a reduzir todos os escores nas medidas de ansiedade utilizadas, com excecdo da medida fisiolégica da Freqdéncia Cardfaca que sofreu poucas alteracbes. Os relatos verbais das participantes foram registrados durante todo o estudo e indicaram que a terapia as ajudou a alcancar uma importante methora na qualidade de vida académica esocial. Palavras-chaves: Ansiedade excessiva, apresentages orais, estudantes universitérios. Abstract The present study had the objective of reducing excessive anxiety in college students during oral presentations in the classroom. It is known that excessive anxiety causes great discomfort and has negative consequences on academic performance and that it might lead to school evasion. Five female university students, 20 to 40 years old, from various courses, participated in the research, ‘The level of anxiety of each participant was evaluated through three measures: (a) Fear of Negative Evaluation (FNE); State-Trait Anxiety Inventory (STAI); and (c) Measure of Hearth Beat Frequency in structured settings. Experimental control was achieved using, a Multiple Baseline Between Subjects Design. The intervention included various procedures: Lectures and readings of academic texts, relaxation training, breathing exercises, cognitive restructuring, training in social skills with emphasis in skills for public presentations and’ social approval of adherence to the therapist’ recommendations. The procedures helped to reduce all scores in the measures of anxiety used, except the physiological measure of Hearth Beat Frequency that showed little change. The participant's verbal reports were taken regularly throughout the study and indicated that the therapy helped them to achieve importantimprovement in the quality of academic and social life. Key Words: Excessive anxiety, oral presentations, university students, (O presente trabalho se bascia na dssertagao de mestrado da primeira autora que aluou como terapeuta pesquisadora soba supervisso dasegundaautors Findereco para crrespondéncia drduarte@netgo.com be >ndereso para correspondeneia:cidatucg Pr 183, Maria Aparecida de Oliveira - Angela Maria Menezes Duarte A ansiedade tem sido objeto de interesse desde a antiguidade, mas estudos sistema- ticos se tornaram freqiientes a partir do século XIX (Peluso e Blay, 1994). A ansiedade conti- nua sendo estudada por autores de diversas abordagens, que a definem, estabelecem critérios para classificé-la de acordo com seu nivel normal ou patolégico e identificam vari- veis importantes em casos especificos como 0 daansiedade de falarem puiblico. ‘Skinner (1953/2000) define a ansiedade como uma condicao emocional complexa e aversiva que 6 condicionada como resultado de um emparelhamento de estimulos. Um tnico evento aversivo pode levar uma condigao de ansiedade a ficar sob 0 controle de estimulos incidentais. Desta forma, os reflexos emoci- onais condicionados podem ser ativados fre- quientemente. Os estimulos aversivos fortes quase sempre sao precedidos de estimulos caracteristicos que podem tornar-se geradores, deansiedade. Millenson (1967/1977) concorda que a ansiedade ¢ produzida através de um condi- cionamento resultante do emparelhamento de estimulos. Um estimulo originalmente nao aversive ¢ emparelhado com um estimulo aversive produzindo uma resposta condi- cionada. Acrescenta que a ansiedade pode ser medida observando-se seus efeitos nas ativi- dadesoperantes do organismo. A ansiedade normal é definida por Andrade e Gorenstein (1998) e por Amorim-Gaudéncio, C. e Sirgo, A. (1999), como uma resposta de adaptagao do organismo, propulsora do de- sempenho e com componentes psicolé-gicose fisiologicos. A ansiedade passa a ser patol6- gica quando a intensidade ou frequéncia da resposta no corresponde a situagiio que a desencadeia, ou quando nao existe um objeto especifico ao qual se direcione. De acordo com esses autores, essa classificagdo vai depender da situagao em si, das caracteristicas do individuo e da interpretagaio que ele faz. da situacao. Kaplan e Sadock (1990) definem a ansiedade patolégica como sendo uma resposta inade- 184 quada a um determinado estimulo, em virtu- de de sua intensidade ou duragao. Consi- deram que sentir ansiedade ou desconforto em situagdes de exposicao pessoal é normal e aceitavel. A patologia ¢ definida a partir do momento em que 0 sofrimento trouxer pre- juizo a pessoa em fungao dos compor- tamentos de fuga ¢ esquiva de situacdes importantes da vida académica, social e profissional do individuo. Alguns autores (Barlow, 1988; Zimbardo, 2002) enfatizam que para diferenciar ansie- dade normal da patoldgica é necessario consi- derar quanta ansiedade a pessoa experiencia em determinada situagao, quanto tempo dura © episédio, com que frequéncia ela ocorre e nimero de comportamentos evitativos dis- funcionais que sa0 provocados pela ansie- dade. Outro aspecto importante a ser conside- rado 6a avaliacao da propria pessoa que expe- riénciaaansiedade. De uma maneira geral, entende-se que o componente mais importante da ansiedadeéa apreensao em relacao ao futuro, influencian- do na percepeao, na aprendizagem, e no de- sempenho em geral (Drever, 1952; Murray, 1971; Wolpe 1958 citados por Genesci e Neves, 1980). Para Zimbardo (2002), a competicdo e a rea- lizagao individual, excessivamente valori- zadas nos dias atuais, podem dar origem a ansiedade social. Neste contexto, os indivi- duos desenvolvem atitudes que atendem as expectativas alheias para que possam ser aceitos, sob pena de sofrerem rejeigao e desva- lorizacao. Atendendo a um esquema no qual o sucesso é mensurado em termos de se ser “o melhor”, torna-se ficil compreender de que maneira se formam as expectativas de desempenho ele- vadas. Nao ser 0 melhor significa “fracasso” 0 quereforcaacrenca de que s6 ¢amado quem é competente e quem tem um desempenho brilhante. Craske e Barlow (1993/1999) sugerem que medo e a evitacdio decorrentes da ansiedade social prejudicam 0 funcionamento social e Rev, Bras de Ter, Comp, Cogn, 2004, Vo. Vin? 2, 188-199 Controle de Ansiedade em Exposicdes Orais ocupacional de um ntimero consideravel de individuos, comprometendo seu desempe- nhoacadémico e futuro profissional num grau significativo, Para Johnson (1998, citado por Escudero, 1999), as expectativas do mercado de trabalho com relagao aos novos profissionais sao de que tenham uma s6lida formagio académica, capacidade de andlise, de tomar decisoes, curiosidade intelectual, determinagao, lidera- nga, alto grau de motivacao e principalmente competéncia interpessoal Ciente dessas expectativas do mercado, 0 aluno comeca, ainda na universidade, a se sentir pressionado a preparar-se para uma atuagdo eficaz em seu campo profissional, Esta exigencia, aliada a certeza de que nem todos serao absorvidos pelo mercado de tra- balho, principalmente na realidade brasileira, pode gerar desconforto e ansiedade (Escu- deiro, 1999), Martinez et al. (2000), concordam que as exigéncias académicas de apresentagio de trabalhos ¢ semindrios em sala de aula ou mesmo exposicdo de opinides em grupo, sd0 bastante freqlientes na vida universitaria, podendo produzir alto nivel de ansiedade. Em pesquisa realizada no Brasil com estu- dantes universitarios, essas autoras encon- traram que 90,69% da amostra estudada apre- sentou preocupacées referentes ao medo de falar em pablicoe lidar com superiores. Quanto ao medo de avaliacao, Genescd ¢ Neves (1980) estudaram a influéncia das atitudes dos professores nos comportamentos dos alunos comparando a relacaio entre indice de respostas ansiosas e circunstancia ambiental particular (situacao-prova). Os resultados comprovaram que alunos apre- sentam maior indice de ansiedade em situagoes de prova com professores consi- derados como muito ansiogénicos do que, em iguais condigoes, com professores conside- rados como pouco ansiogénicos. Conclufram que hé uma grande influéncia da atitude do professor nas respostas de ansiedade dos alunos Rev, Bras de Ter. Comp. Cogn. 2004, Vol VI-n®2, 188-199 Para Skinner (1953/2000), os reforcadores usacios pelas escolas consistem em boas notas, promogées, diplomas, graus ¢ medalhas, todos associados com a aprovacao. Nao obs- tante, o professor pode punir com a retirada deaprovacio ou afeicao, definindo assim uma forma de controle aversivo. Os reforgadores positivos disponiveis nas escolas podem ser usacios como base para estimulacao aversiva condicionada na forma de ameaga de reprovagio ou expulsio (responda adequada- mente ou sera reprovadoe perder estima). Sidman (1989/2001) salienta que tirar notas altas pode nao significar necessariamente um esforco para obter reforco positive, mas ape- nas uma esquiva de notas baixas. Neste caso, a esquiva da punicao, representada pela repro- vacao, seria a base para atingir objetivos, uma vez que o erro é repreendido eo acerto ignora- do, Sidman aeredita que, ao fazer uso do controle aversivo, 0 professor coage os alunos a cumprir seu papel de assistir aula, apre- sentar trabalhos, realizar seminarios e provas, tornando a vida académica pouco gratificante ebastante ansiogénica. As situacdes que requerem que o aluno fale em piiblico, como durante a apresentagao de trabalhos e semindrios, avaliagées orais participacdo durante aulas, podem constituir priticas coercitivas sob controle aversivo que so provocadoras de ansiedade excessiva, Nestas circunstancias, 6 comum observar comportamentos de fuga ¢ esquiva (faltar aulas, recusar a participar das atividades) que acabam por prejudicar 0 rendimento acadé- mico do aluno ou mesmo aumentar os indices deevasaoescolar. Segundo Escudero (1999), o medo de falar em ptiblico em estudantes universitérios, pode transformar-seem um sofrimento muito gran- de por representar um aspecto bastante va- lorizado no meioacadémico. A ansiedade excessiva frente a situagdes de interacdo social e exposigao est relacionada a uma forte motivacao para causar boa impres- sdo nos outros, bem como a diividas acerca da propria habilidade em conseguir tal impres- 185 Maria Aparecida de Oliveira - Angela Maria Menezes Duarte so. Ao mesmo tempo em que o indivicuo quer causar boa impressiio, nao sabe como atingi-la; acredita que nao conseguira se enquadrar nas preferéncias dos outros; acha que parecer pouco competente; acredita que algum evento prejudicaré a auto-apresen- tagdo, levando-o a perder a consideragao piiblica (Falcone, 1995). As reacdes corpéreas experimentadas diante das situages de falar em piiblico podem incluir tremores, sudorese, gagueira, taqui- cardia, rubor, relaxamento dos esfincteres, falhas na meméria (branco) e vontade de escapar daquela situacao. Para Zimbardo (2002), a ansiedade experi- mentada frente ao piiblico afeta a atua-caio do individuo, a maneira como os outros 0 iro avaliar, o que por sua vez vai afetar aquilo que pensa desi mesmo. Osalunos com esse tipo de ansiedade tém dificuldades em parti-cipar de seminarios, nao fazem perguntas para tirar suas davidas durante as aulas e nao sdo capazes de pedir ajuda para seus proble-mas. A conseqiiéncia disso é 0 baixo desem-penho académico, reprovacoes, dividas quanto & escolha profissional ou até mesmo a desistencia do curso universitario. A literatura pertinenteapresenta varias suges- tes de intervencdes capazes de reduzir o grau de ansiedade em variados tipos de pessoas e situagées. O presente estudo nao pretende avaliar as diferentes formas de tratamento, mas sim testar um pacote de intervencoes que possa ser implementado no contexto de atendimento clinico estudantil, dentro da universidade, com © objetivo de reduzir a ansiedade excessiva relacionada a exposicdes orais. Método, Participantes Os participantes da pesquisa foram recru- tados por mei comunicacio internos e externos da Univer- sidade Catolica de Goias (Jornal Flash UCG - on-line e impresso, espagos da UCG nos Jor- de antncios nos meios de 186 nais “O Popular” e “Diario da Manha)". As inscrigdes foram feitas pessoalmente com 0 preenchimento de um questiondrio estru- turado que tinha 0 objetivo de identificar as situac6es e estimulos geradores de ansiedade, as respostas fisiolégicas, comportamentais eo grau de comprometimento académico do aluno. Dos71 candidatos inscritos -a maioria do sexo feminino - cinco alunas de diversos cursos fo- ram selecionadas para participar da pesquisa por atender todos os critérios de selecao pré- estabelecidos (por exemplo, alto nivel de ansiedade, hist6ria de reprovacdo académica, risco de abandono do curso e disponibilidade de tempo compativel com 0 da terapeu- ta/pesquisadora para atender as sessdes). Se alguns dos candidatos inscritos do sexo mas- culino tivessem atendido aos critérios de selecao, teriam sido incluidos na pesquisa para balancear quanto ao sexo, mas isso nao ocorreu. As participantes tinham de 20 a 40 anos e apresentavam queixa de ansiedade excessiva em situagbes académicas que exigiam o com- portamento de falar em piblico: apresen- tages ou avaliagdes orais em sala de aula e tirar dividas durante as aulas ou em pales- tras. Todas relataram que pensavam em deixar de estudar em fungao da ansiedade que sentiam. A seguir so apresentadas informa- Bes especificas de cada participante: Participante1-(P-1 Idade, condicao civil: 21 anos de idade, sol- teira. Situacdes ansiégenas: apresentacao oral nos seminarios universitarios. Sintomas mais comuns: taquicardia, tremor, sudorese principalmente nas extremidades, boca seca eagitacao. Participante2-(P-2) Idade e condicao civil: 32 anos de idade, casada, Situacdes ansiégenas: interagir com grupos de pessoas, conversar com autoridades, falar Rev, Bras de Ter, Comp, Cogn, 2004, Vo. Vin? 2, 188-199 Controle de Ansiedade em Exposicdes Orais em pablico formal e informalmente, expressar desagrado, ser observada quando estava escrevendo, fazendo avaliagao oral ou tirando duividas durante aulas ou palestras. Conside- rava-se ansiosa na maioria das situacdes, mesmo fora do ambiente escolar e atribuia tal estado ao fato de estar desempregadae ter que depender do esposo financeiramente. Sintomas mais comuns: taquicardia, tremor, sudorese, tonteira, tensio muscular, extremi- dades geladas ¢ amnésia temporaria. Aos 14 anos, comecou a tomar medicamento para combater a ansiedade (Valium) e apés um epis6dio de depressdo pés-parto, tomou fluo- xetina. Interrompeu o uso de medicamentos aproximadamente 16 meses antes do inicio de sua participacao neste estudo. Participante3-(P-3) Idade, condicao civil: 22 anos de idade, solteira. Situacées ansiégenas: apresentagao oral nos semindrios universitarios. tomas mais comuns: taquicardia, tremor, boca seca, nduseas, tonteira Participante4-(P-4) Idade, condicao civil: 20 anos de idade, sol- teira. Situacées ansiégenas: apresentagao oral nos semindrios universitarios. {tomas mais comuns: taquicardia, tremor, sudorese, extremidades geladas, boca seca e vontade de chorar. Anteriormente havia usa- do a fitoterapia e psicoterapia sem observar melhoras. Part ante! Idade, condicao civil: 39 anos de idade, casada. Situacoes ansiégenas: Considerava-se muito ansiosa desde a infan- cia ¢ atribuia o agravamento deste estado a alta exigencia do esposo que era percebido por ela como ansioso e perfeccionista. Ficava ex- cessivamente ansiosa ao conversar com pes- soas desconhecidas ou autoridadtes, falar em Rev, Bras de Ter. Comp. Cogn. 2004, Vol VI-n®2, 188-199 pUblico informalmente ou formalmente, ex- pressar desagrado, ser observada enquanto escrevia, fazer avaliagao oral ¢ tirar ditvidas tanto durante as aulas, quanto em palestras, Ficava muito ansiosa também quando come- tia erros minimos no transito, ou quando tinha que estacionar 0 carro em ruas movimen- tadas Sintomas mais comuns: taquicardia e sudo- rese. Ambientee Materiais A maior parte da pesquisa foi desenvolvida em um consultério psicol6gico de 5m x 5mde dimensao, contendo uma escrivaninha, 03 cadeiras almofadadas, uma poltrona recli- navel modelo “Cadeira do Papai”, um micro computador Pentium IIT de 210 Mbz e um aparelho de som micro-system. O consultério faz parte do Setor de Psicologia da CAE - Coordenacao de Assuntos Estudantis, que presta atendimento de orientagdo e aconse- Thamento aos alunos da Universidade Catolica de Goids. Alguns procedimentos en- volveram situacées estruturadas de exposicao e foram realizados fora do consultério, em salasdeauladaUCG. Para as Participantes 1, 2 5, as situagdes de exposicao em piiblico ocorreram na sala de espera da CAE, com audiéncia variando de 10 a 20 pessoas ¢ em salas de aula com até 30 alunos Para as Participantes 3 e 4, as exposicoes em ptiblico foram realizadas dentro do consul- torio, com audiéncia de 03 pessoas, incluindo a psicoterapeuta, pois inicialmente as partici- pantes nao aceitaram se expor em sala de aula, por ser uma situacao muito aversiva. As apre- sentagdes tiveram a duragdo de3.a5 minutose consistiram de avisos ou resumo de textos sobre temas variados escolhidos em comum acordocomaterapeuta. Os instrumentos de medida da resposta de ansiedade e 0s recursos pedagégicos e de terapia sao descritos no procedimento e in- cluiram questionsrios, inventérios, folhetos e textos explicativos, instrugdes, registros de 187 Maria Aparecida de Oliveira - Angela Maria Menezes Duarte automonitoramento e de frequiéncia cardiaca. Procedimento O nivel de ansiedade de cada uma das cinco participantes foi avaliado por meio de trés tipos de testes: (a) A Escala de Medo de Ava- liagao Negativa (Fear of Negative Evaluation- FNE); (b) 0 IDATE que 6 subdividido em Inventario de Ansiedade A-Tracoe Inventario de Ansiedade A-Estado; e (¢) Medida de Fre- qaencia Cardiaca A Escala de Medo de Avaliacao Negativa (Fear of Negative Evaluation-FNE) foi desen- volvida por Watson e Friend (1969, citado por Echeburtia, 1997). Segundo Echeburta (1997), esta escala tem 0 objetivo de avaliar 0 compo- nente cognitivo da ansiedade social, medindo grau de temor que as pessoas sentem diante da possibilidade de serem julgadas negati- vamente pelos demais. A escala é constituida de 30 itens do tipo “Verdadeiro” ou “Falso”, com escores que vao de 0 a 30. Um dos pontos. de corte propostos para diferenciar a popu- lagao “sa” da acometida por ansiedade social é de 24. Segundo Echeburtia (1997), esta escala tem validade cientifica comprovada e detecta as mudangas provocadas pela terapia. E um instrumento complementar rapido, voltado Para os aspectos cognitives da ansiedade social sendo considerado bastante til. E muito utilizado na avaliacio de fobia social por ser eficiente na previsao do progresso terapéuticoa longo prazo. Na situagao de teste, era solicitado as partici- antes que assinalassem cada uma das frases do inventério como Verdadeira ou Falsa considerando a forma como se sentiam frente Aavaliacdo das outras pessoas. O Inventario de Ansiedade Trago-Estado - IDATE (Spielberg, C. D., Gorsuch, R. L. & Iushene, R. E.,1979), foi traduzido eadaptado paraa populagao brasileira por Biaggio (1979). A escala IDATE A-Estado contém 20 afir- macoes e quatro niveis possiveis de respostas, As respostas indicam como os individuos se sentem em um determinado momento. Acre- 188 dita-se que essa escala pode indicar niveis reais de estados de ansiedade induzidos por manipulag6es experimentais. E também indi- cado para avaliar o grau em que estudantes sao perturbados por problemas neurdticos de ansiedade. A Escala A-Trago contém 20 afirmagoes, e nelas os individuos devem indicar como geralmente se sentem. Refere-se a diferengas na tendéncia de reagir a situagdes percebidas como ameacadoras com clevagio na inten- sidade do estado de ansiedade. Essa escala mede as disposicdes comportamentais adqui- ridas que predispdem um individuo a reacdes diante das situagoes reais. Nas aplicagées da Escala A-Traco, era soli- citado a cada participante que escolhesse a resposta para cada uma das afirmativas do inventario de acordo com a forma com que vinha se sentindo nos dltimos dias. Nas aplicacoes da Escala A-Estado, era solici- tado a cada participante que usasse, como referéncia para suas respostas, a tiltima apre- sentacdo oral em situacdo real, realizada na sala deaula. O n&mero de batimentos cardiacos foi aufe- rido e registrado com uso de um freqiienci- metro da marca Polar que ¢ um aparelho comumente utilizado por atletas para medira freqiiéncia cardiaca durante treinamento. Pre- so por uma fita que ¢ajustada a regiio toracica do individuo, um relégio registra e permite visualizar 0 namero de batimentos cardiacos por minuto, bem como a média obtida duran- teotempo de treinamento. O freqtiencimetro foi usado quatro vezes: na 1° sessdo de intervencao em um ensaio para familiarizacao das participantes com o apa- relho; ena 2°, 6 e 12° sessbes para registro da freqiiéncia cardiaca em tarefas que exigiam exposicao oral em pablico. Foi solicitado aca- da participante que preparasse um contetido Para uma apresentacao oral, que deveria du- rarde3.a5 minutos. O tema era escolhido pela participante com a ajuda da terapeuta. Foi também explicado 0 procedimento que seria adotaco, como o aparelho seria usado, ¢ a Rev, Bras de Ter, Comp, Cogn, 2004, Vo. Vin? 2, 188-199 Controle de Ansiedade em Exposicdes Orais finalidade de seu uso. Delineamento Experimental Devido ao delineamento experimental esco- Ihido - Delineamento de Linha de Base Malti- pla entre Participantes - os trés testes de ava- liagao foram aplicados trés vezes cada, sendo que a data de aplicacdo dos testes foi apro- ximadamente a mesma para todas as partici- pantes. Por meio de sorteio, as cinco participantes fo- ram distribuidas em dois grupos de forma que, trés delas iniciaram 0 tratamento imediatamente eas demais ficaram aguardan- do para inicio posterior. Para as Participantes 1, 2 ¢ 3 os trés testes de avaliacao foram aplicados uma vez na Linha de Base (1° Teste), uma vez ao final da 1 etapa da intervencao (2° Teste) e uma vez ao final da fase que incluiua2*etapa da terapia (3° Teste). Para as Participantes 4 e 5, os testes de ava- liagdo foram aplicados duas vezes na Linha de Base, e uma vez ao final da terapia que foi ‘composta pela combinacdo das etapas 1.¢2. A interveneao utilizada consistiu de um pa- cote de procedimentos, em sua maioria deri- vados da abordagem comportamental e com- portamental-cognitiva, com 0 objetivo de re- duzir respostas de ansiedade excessiva e ma- nejo dos problemas gerados por elas. Cada participante teve acesso a duas sessdes tera- peuticas individuais semanais, cada uma com 50 minutos de duracao. De uma maneira ge- ral, a terapia pode ser dividida em duas eta- pas: Tetapa 1) Descricao dos fundamentos teéricos e téc- nicas do tratamento, enfatizando a impor- tancia do compromisso com 0 proceso terapéutico que incluia varias tarefas de casa. A terapeuta sentava-se frente & par- ticipante, em uma mesa no consult6rioe,a0 mesmo tempo em que explicava os fun- damentos teGricos e téenicas da terapia, fazia esquemas em uma folha de papel, visando facilitar a compreensio. A partici- Rev, Bras de Ter. Comp. Cogn. 2004, Vol VI-n®2, 188-199 pante era encorajada a tirar diwvidas ¢ repetir o que foi explicado. Este procedi- mento visava estimular a expresso verbal da participante. Leitura e explicagdo oral do texto: Des- crigao da Fisiologia e Psicologia do Medo e da Ansiedade (Craske & Barlow, 1993/1999). ‘Treinamento em respiragio diafragmatica: Inicialmente era solicitado que a partici- pante observasse a propria respiracao e identificasse os movimentos de inspiracdo ¢ expiragdo, mantendo as maos tocando Jevemente o abdome ea regido peitoral. Em. seguida, a respiracdo diafragmatica era demonstrada pela terapeuta e a partici- pante praticava até conseguir imitar 0 mo- delo. A terapeuta pedia a participante para treinar em casa e descrever nos registros, como se sentia quando se engajava na res- piracdo diafragmatica. A participante era clogiada freqiientemente em uma tentativa de reforcar positivamentesuasacoes. Relaxamento Muscular Progressivo (Jacobson, 1934, citado por Vera ¢ Vila, 1996/1999). O procedimento de Relaxa- mento foi utilizado como técnica de inter vengio. Cada participante aprendeu a re- conhecer 0s primeiros sinais de ansiedadee usar o relaxamento para ativar o sistema nervoso parassimpatico, eliciando respostas biolégicas de tranquilidade e quiescéncia. Os exercicios de relaxamento eram realizados coma participante deitada em uma 'Poltrona do Papai' no consultério, ao som de mtisicas instrumentais apro- priadas para relaxamento. A terapeuta conduzia os exercicios que duravam em torno de 30 minutos, obedecendo a seqiiéncia de tensao e distensao muscular descrita em Vera e Villa (1999). Ao final de cada exercicio, era pedido a participante que atribuisse uma nota de zero a dez para co grau de relaxamento obtido. Como tarefa, 189 Maria Aparecida de Oliveira - Angela Maria Menezes Duarte a participante devia praticar o relaxamento em casa duas vezes ao dia. Um guia com instrugdes para o relaxamento (Guimaraes e Rangé, 1995) foi entregue a cada uma delas para facilitar a pratica em casa. Nas sesses subseqiientes, era feita uma avaliagao da pratica realizada em casa, com relato dos exercicios e das sensacées corpo- reas. A terapeuta elogiava o sucesso em realizarcorretamente osexercicios. Registro de Automonitoramento e Rees- truturacao Cognitiva. Registro diario siste- matico dos préprios comportamentos ptiblicos e encobertos que ocorriam em situaces geradoras de ansiedade, Os registros eram feitos em dois formularios proprios, elaborados pelas autoras com base em Beck, Rush, Shaw e Emery (1979/1997). Os formulrios diferiam ape- nas no grau de complexidade das infor- magges solicitadas. O primeiro formulario foi usado para treinamento parcial de identificacdo do comportamento-alvo, situagdo, emogaoe acao. O segundo formu- lério inclufa a solicitagao de uma descrigdo de pensamentos alternativos que substituiam os pensamentos disfuncionais. Cautomonitoramento serviu para comple- mentar 0 registro da freqiiéncia e intensi- dade da ansiedade, de varios comporta- mentos observaveis e também daqueles nao disponiveis para observacao externa (reacGes fisiolégicas, sentimentos e pensa- Mentos). Os registros foram realizados durante a fase de intervengio, Para cada situacdo registrada, as_participantes aprenderam a identificar a relacao exis- tente entre pensamentos, emocoes € comportamentos. Os pensamentos regis- trados eram checados com questio- namento socratico e investigados quanto a existéncia de dados de realidade que os confirmassem ou refutassem. Para cada pensamento automdtico inadequado, pensamentos alternativos eram buscados, © a emogado conseqiiente era identificada 190 Durante esse exercicio, buscava-se iden- tificar como as expectativas geradas por pensamentos automaticos e imagens catastr6ficas contribufam para a ocorréncia de resposta de ansiedade excessiva nas varias situagdes académicas das partici- pantes. Aqui foi dada énfase a importancia do automonitoramento para identificagdo das cognicdes negativas, imagens catas- troficas @ sensagoes fisicas que podiam desencadear ansiedadee medo. 6) Aprovacao Social. A terapeuta reforcava positivamente a atencdo e esforco das participantes em praticar no consultério, e depois seguir cada um dos procedimentos recomendados. A aprovacao social cor tia de comentarios e verbalizacdes posi- tivas, elogios, gestos e expressies faciais aprovadoras. is- Completada essa 1° etapa, os testes de medida de ansiedade (FNE, IDATE e Freqiiéncia Car- diaca) foram aplicados novamente em todas as participantes. Nesse ponto, as Participantes 1, 2 3 estavam na metade do tratamento (6* sessao), enquanto as Participantes 4 ¢ 5 se encontravam na fase do 2° teste de Linha de Base. Com a conclusao desse segundo teste, foi dado inicio a terapia para as Participantes 4 ¢ 5, eas Participantes 1, 2e 3 passaram para a 2* etapa da intervencao que deu continuidade a todas as técnicas da 1” etapa e passoua incluir as seguintes técnicas: 1) Treino de Habilidade Sociais. No treina- mento em habilidades sociais, foram enfatizadas as classes de respostas de falar em piblico, expressar opinides, tirar duividas pessoais e defender os préprios direitos. Através de ensaio comporta- mental, respostas socialmente adequadas em situagdes de interagiio com colegas professoras, bem como habilidades especificas para comportamentos de falar em pitblico, foram praticadas e reforgadas Rev, Bras de Ter, Comp, Cogn, 2004, Vo. Vin? 2, 188-199 Controle de Ansiedade em Exposicdes Orais positivamente pela terapeuta. Foi utilizado um texto de Caballo (1999) que foi adaptado para as situagdes de apresen- tages em sala de aula, descrevendo com- ponentes como postura corporal, contato de olho, expresso facial, gestos, volume e entonagao da voz, fluéncia, tempo da fala e contetido, O texto adaptado foi apresen- tado as participantes oralmente e por escrito. A terapeuta ensaiava as habili- dades sociais comas participantes, ajudan- do-as a identificar situacdes nas quais essas habilidadesseriam requeridas. 2) Treinamento em habilidades especiais para apresentaciio em puiblico e dicas para uso apropriado de recursos didatico-peda- Resultados As Figuras 1, 2, e3 mostram os resultados das avaliagdes subjetivas de ansiedade obtidas através das escalas e inventarios utilizados. De uma maneira geral, pode-se observar que houve uma redugao nos escores indicativos de ansiedade em todas as participantes da pes- quisa, e 0 delineamento utilizado permitiu demonstrar controle experimental. A seguir, sio apresentados os resultados das cinco par- ticipantesem cada um dos testes: Escala de Medo de Avaliacao Negativa - FNE Como foi citado no procedimento, a Escala de Medo de Avaliacao Negativa (Figura 1), tem o objetivo de avaliar 0 grau de temor que as pessoas sentem diante da possibilidade de serem julgadas negativamente pelos outros. Rev, Bras de Ter. Comp. Cogn. 2004, Vol VI-n®2, 188-199 gogicos. Utilizou-se um texto didatico ver- sando sobre 0 uso de recursos pedagégicos para orientar as participantes na prepa- racdo de apresentacdes de trabalhos em sala de aula. Nessas sessdes, a leitura do material que seria apresentado era ensaia- da e cada participante era orientada a usar adequadamente os recursos pedagogicos que facilitariam sua apresentacao, A intervengio para as Participantes 4 ¢ 5 reuniu de forma seqiienciada e ininterrupta, todasastécnicascitadasacima nasetapas 1 e2, num total de 12 sessdes. Ao final da fase de intervencao, os testes de medida deansiedade foram aplicados novamente a todas as parti- cipantes, Um ponto de corte nos escores que separa a pessoa com ansiedade normal daquela com ansiedade social é de24. Os resultados obtidos pelas cinco participantes so mostrados na Figura ‘Tanto a Participante 1 quanto a Participante 2 obtiveram escores de 26 pontos na Linha de Base, o que indica ansiedade social. Ao final da T’ etapa da intervencao (6* sesso) ambas obtiveram um escore de 23 pontos, ja dentro do nivel de normalidade. Ao final da 2* etapa da intervencao, que se encerrou na 12" sesso, a Participante 1 obteve 14 pontos ¢ a Participante 2 obteve 16 pontos, niveis de ansiedade consideradosnormais, AParticipante3 aleancou um escore de 28 e 26 nos testes de Linha de Base, ambos consi- derados como indicativos de ansiedade social. No teste 3 ap6s o término da intervengao 0 escorecaiu para9. 191 Maria Aparecida de Oliveira - Angela Maria Menezes Duarte PA te INTERVENGAO: | etapa Etapa 2 ao wo 2 2 2, ! 1“ i i ‘ore 0, i ° i vreste | Testo Teste P2 | 1B { INTERVENGAO: | etapat Etapa 2 0 i 2 220 ! 16 E10 ! of 1 vtete | Tote srTesta P33 ! i 30 28 i 220 | 8 | wo ! ° - { vente | 2 Teste 3 Teste a Pd tat Intervengio: tapas 1 2 ‘combinadas » a ge " $0 ° 4 Teste 2 Teste Intervencio: Etapas 1 © 2 ‘combinadas. 1 teste FIGURA 1- Resultado do Invent: 4092, io de Medo de Avaliacao Negativa Rev. Bras. de Ter, Comp, Cogn, 2004, Vol. Vien? 2, 183-199 Controle de Ansiedade em Exposigdes Orais Pal wT INTERVENGRO: | etapa Etapa2 nz | go { 46 Sao : (anestaod Boo | ° Teste 2 Teste 3 Teste P3 | | ‘Teste 2 Teste sTeste iB 2 oo, 2m Ba oo o +e Toste Teste Teste vr Teste P-5 ' at iz 1 terse: Etapas «2 i combinadss 16 7 ! ba H oo iw Eo i fo i ° | : vette pete |B Teste Figura 2 - Resultados do Inventario de Ansiedade A-Estado Rev. Bras de Ter. Comp. Cogn. 2004, Vol VI,n?2,188:199 Maria Aparecida de Oliveira - Angela Maria Menezes Duarte PA wt INTERVENGAO: | Etapas 4 Etapa2 0 : 6 | 2 60 : so 38 je i A-TRAGO| : | a ° 1. stesto | Teste Teste p2 : w | INTERVENGRO: ! etapa t Etopa 2 80 : 2 60 = : 50 a je | 20 : ° i seTosto | Teste 3 Testo P3 i we INTERVENGAO: ! Etapas 4 Etapa2 80 : 60 : 4 j bn i ° : seteste | Teste 3 Teste Pa 81 up tervengao: Etapas 1/© ‘combinadas 0, -o! st a7 os 3 40- a2 |__| ° : ‘s°Testo Teste ar Teste Ps i rr ipa Intervengio: Etapas 162 ‘combinadas 80 2 60 3 40 8 29 ° + Teste presto | 3 Testo Figura 3 - Resultados do Inventério de Ansiedade A-Traco Rev, Bras de Ter. Comp, Cogn. 2004, Vol. VI n?2, 188-199 Controle de Ansiedade em Exposicdes Orais A Participante 4 obteve escores de 27 e 25 pontos, respectivamente no 1° e 2° Testes da Linha de Base. Ao final da intervencao, no 3° Teste, 0 escore caiu para 11 pontos, indicando uma reducdo para patamares normais de ansiedade. A Participante 5 obteve escores de 28 e 26 pontos, respectivamente no 1° e 2° Testes de Linha de Base, e 15 pontos ao término da intervencao, no3° Teste. Portanto, todas as participantes obtiveram escores indicativos de ansiedade social nos testes de Linha de Base, e esses escores 56 foram reduzidos para niveis normais apés a intervencao. Inventario de Ansiedade Traco-Estado - IDA- TE Os resultados do IDATE sao apresentados nas, Figuras 2e3. Emambos os testes, a pontuacao maxima, 80, é indicativa de altos niveis de ansiedade. Na Figura 2, so mostrados os resultados do Inventario de Ansiedade A-Estado. De acordo com 0 manual do IDATE (1979), 0 escore médio para a populacdo de estudantes uni- versitarios brasileiros ¢ 40. Em situagao de exame, a média masculina ¢ 55 e a feminina 6 60. No Inventario de Ansiedade A-Estado (Fig.2), a Participante 1 obteve um escore de 72 na Linha de Base, 69 no 2° teste e 46 no 3° teste. Esses resultados indicam que tanto no 1° quanto no 2° teste, a participant experi- mentava um alto nivel de ansiedade, sendo que houve uma ligeira queda na pontuagao obtida no teste da Linha de Base para o teste que seguiu a 1° etapa de intervencao. Apés a conclusdio da 2* etapa de intervencio, seu escore de 46, ficou abaixo da média feminina universitaria em situacao de exame. A Participante 2 obteve escores 77, 44, ¢ 42 respectivamente nos testes de Linha de Base, 1° e 2° etapas de intervencao. Para ela, a pri- meira etapa de intervencao foi suficiente para trazer o nivel de ansiedade para niveis abaixo da média feminina universitéria, 0 que foi Rev, Bras de Ter. Comp. Cogn. 2004, Vol VI-n®2, 188-199 mantido até. final da terapia. A Participante 3 obteve escores 79, 48, ¢ 56 respectivamente nos testes de Linha de Base, 1 e 2 etapas de intervencado. Os escores indi- cativos das respostas de ansiedade desta participante estavam dentro de um nivel considerado muito alto também foi reduzido com a intervencao. O tiltimo teste apresentou um ligeiro acréscimo na pontuagdo, manten- do-se ainda dentro da média normal da populacio brasileira universitaria, As Participantes 4 e 5 tiveram dois testes de Linha de Base e um teste ao final da terapia quecombinouasetapas 1 e2. A Participante 4 obteve escores 77 ¢73 no 1’ e 2 testes de Linha de Base e escore 45 no 3 teste que foi administrado ao final da intervencao. Esses resultados indicam uma reducao consideravel no nivel de ansiedade regis- trado. Ao final da interveneao, o escore desta participante estava abaixo da média considerada normal. A Participante 5 teve resultados semelhantes, obtendo escores 76 ¢ 78no 1°e 2° testes de Linha de Base e escore 44 no3° teste ao final da intervencao. Dentro do delineamento experimental uti zado, esses resultados indicam que a redugao daansiedade esta relacionadaa intervengio. A Figura 3 mostra os resultados do Inventério de Ansiedade A-Trago, no qual a média entre universitarios do sexo femininoé41. Os resultados da Participante 1 indicam que houve uma reducao da ansiedade medida do 1° teste (56) para 0 2° teste (50), e uma reducao ainda maior na pontuagao alcangada no 3° teste (38) que foi realizado ao final da intervencao. A intervencao possibilitou a re- ducao do nivel de ansiedade para um nivel considerado abaixo da média de estudantes universitarios, A Participante 2 obteve escores 55, 50, e42ea Participante 3 obteve escores 70, 58, ¢ 41 res- pectivamente nos testes de Linha de Base, 1* etapa de intervencdo e 2° etapa de inter- veneao. Para ambas 0 nivel de respostas de ansiedade medida teve reducdo para a média (41) eproximoaela (42), 195, Maria Aparecida de Oliveira - Angela Maria Menezes Duarte A Participante 4 obteve escores 51, 47, e32ea Participante 5 obteve escores 53, 55, ¢ 43 respectivamente no 1° ¢ 2° testes de Linha de Base e no teste aplicado ao final da inter- veneao. Esses resultados indicam que também neste teste, o papel da intervengao ficou claro em favorecer a reducaio dos escores indicativos de nivel de ansiedade. A Participante 5, mesmo ficando 2 pontos acima da média teve uma reducao de 10 pontos no seu escore de ansie- dade. Em todos os trés testes (FNE, IDATE A-Estado e A-Traco), 0 delineamento experimental per- mite observar que a reducao no nivel de medo ow ansiedade s6 ocorreu com a implemen- tacdo da terapia. Os resultados das partici- pantes 4-e 5, que serviram de controle experi- mental por trés semanas, mostram que a melhora nao ocorreu apenas com a passagem do tempo e que a intervencao foi realmente responsdvel pela mudanca. Freqiiéncia Cardiaca Além das medidas subjetivas de respostas de ansiedade, analisadas acima, tentou-se cor- relaciona-lascom uma medida fisiol6gica facil de obter, a Frequiéncia Cardiaca (FC) medida através de um freqliencimetro. A Figura 4 mostra os resultados do teste de Freqaéncia Cardiaca (FC) para todas as participantes. As FC foram auferidas em si- tuacdes de teste de exposicao oral criadas para esse fim emostram resultados variados. A Participate 1 apresentou 138 batimentos por minuto no teste de Linha de Base, caiu para 117 no 2° Teste realizado apés a 1° etapa da interveneao, e subiu para 134 no 3° Teste ao final da intervencao. A Participante 2 obteve escores 147, 163, ¢ 161 respectivamente nos testes de Linha de Base, 1° ¢ 2 ctapas de intervencao. Houve um aumento da freqiiéncia cardiaca do 1°Teste de Linha de Base para o 2° Teste, mas no tiltimo teste, ao final da intervencdo, a freqiiéncia cardiaca diminuiu ligeiramente, mas ficou ainda superiora medida do 1° Teste. 196 A Participante 3 obteve escores 116, 116, e 114 respectivamente no teste de Linha de Base, 1 2 etapas de intervengao. A Participante 4 obteve escores 105, 108, e 88 respectivamente no 1° ¢ 2° testes de Linha de Base e no teste aplicado ao final da interven- cao. Neste caso, houve uma redugdo minima e gradual de um teste para o outro. A Participante 5 obteve escores 125, 142, e129 respectivamente no 1° ¢ 2° testes de Linha de Base e no teste aplicado ao final da inter- veneao. Mais uma vez FC ficou instavel. Como pode ser observado, as frequéncias cardiacas obtidas nos testes de Linha de Base, durante e aps a intervengdo mostram uma reducdo pequena nas Participantes 3 e 4 e instabilidade nas Participantes 1, 2e5. Discussao Pode-se afirmar que os procedimentos ados durante a intervencao favoreceram a diminuicdo dos escores de medida de ansie- dade utilizadas, com excegio da medida fisiol6gica da Frequéncia Cardiaca. Para Chaberman, Bagés e Chacén-Puignau (1993) uma diminuicao significativa na fre- qliéncia cardiaca em situacdes ansiogénicas, pode requerer um treinamento muito mais profundo e prolongado. Apesar de Frequen- cia Cardfaca ser uma das medidas comumente encontradas nos inventarios e escalas de estresse, futuros estudos devem investigar melhor como essa medida pode ser rela- nada com as medidas subjetivas de ansie- dade ou com medidas comportamentais diretamente observaveis. A educa nos escores da Escala de Medo de Avaliacao Negativa sugere que as pari pantes desenvolveram uma forma mais adaptativa de avaliar suas experiéncias, valorizando evidencias observadas na reali- dade com conseqiiente diminuicao do medo a critica e rejeicdo e aumento no reconhe- nento de qualidades pessoais. Talvez 0 automonitoramento e reestruturacdo cogniti- va tenham facilitado a identificacao dos esti- Rev, Bras de Ter, Comp, Cogn, 2004, Vo. Vin? 2, 188-199 Controle de Ansiedade em Exposicdes Orais mulos aversivos que estavam contribuindo para o alto nivel de ansiedade das partici- Pantes ¢estas tenham aprendidoa perceber os eventos de forma mais realista Os resultados nos escores dos Inventdrios de A-Estadoe A-traco para todas as participantes indicam que o nivel de ansiedade geral e nos momentos de exposicdo em sala de aula dimi- nuiu. Acredita-se que a aprendizagem das habilidades sociais especificas praticadas positivamente reforcadas durante a terapia tenha contribuido para essa melhora. Antes da intervencao, todas as participantes rela- taram que se esquivavam diante da neces- sidade de interagir com os professores para tirar dividas, reivindicar direitos ou serem avaliadas. O medo da punicao, fracasso e ridicularizacao dificultavam iniciativas de exposicio e, conseqilentemente, novas expe- rigncias que mudassem a aprendizagem esta- belecidaanteriormente. No decorrer da intervencao, ficou claro que algumas participantes percebiam o professor como um agente coercitivo. P-3, por exemplo, recebeu orientacao no sentido de sanar davi- das relacionadas ao contetido exposto pelo docente em sala de aula, mas deparou-se com uma atitude punitiva da professora que a criticou diante de seus colegas repreendendo- a pela natureza da pergunta. Para fugir dessa situacdo aversiva, P-3 abandonou a disciplina alegando que a docente e os contetidos minis- trados por ela tornaram-se intolervei Antes da intervencao, todas participantes relatavam que temiam situagdes que exigis- sem qualquer tipo de interacéo com seus professores. Realizar avaliacdes, principal- tirar davidas durante as aulas e reclamar direitos, provecavam ansiedade excessiva em todas elas. Seus registros de automonitoramento e relatos verbais suge- riam quea maioria dos professores eambiente escolar tornaram-se, ao longo de suas historias, eventos punitivos muito mais que reforcadores. A reacdo temerosa das participantes frente as exigéncias académicas e a interagaio com os Rev, Bras de Ter. Comp. Cogn. 2004, Vol VI-n®2, 188-199 professores confirmam a visio de que “a interagao coercitiva resulta em um repertério comportamental estreito, deixando o indivi- duo temeroso de novidades, com medo de explorar” (Sidman, 2001, p. 109). Os procedimentos de intervencao incluiram a pritica do Relaxamento Muscular Progres- vo associada com uma respiracaio diafrag- mitica que se acredita, contribuiram para os resultados positivos do estudo. Esses proce- dimentos foram utilizados em situacdes coti- dianas que produziam tensao e ansiedade. As participantes relataram sensacoes de quietude e bem-estar decorrentes dos treina- mentos em relaxamento e respiragao diafrag- mitica Otreino em habilidades sociais especialmente direcionado a situacao de falar em piblico, possibilitou um repertério mais rico e maior chance de sucesso e valorizacao pessoal, criando assim, situacdes reforcadoras gera- doras de ainda mais seguranca. Durante a intervengio, as participantes passaram pela experiéncia de oralmente apresentar_tra- balhos em sala de aula (falar em pablico) e realizar avaliagGes orais e escritas com gra- dual diminuigao dos sintomas de ansiedade. Relataram uma grande melhora em seu nivel de seguranea durante as apresentacées, e se sentiram mais 4 vontade em reunides sociais, familiares ¢ na interacdo com os colegas professores em sala de aula, Provavelmente a percepeao de sucesso em diferentes situacoes contribuiu para a adesdo as recomendacoes terapéuticas econtinuagao do tratamento. Os resultados reafirmam a importincia do apoio psical6gico, sem custo adicional, ofere- cido pela universidade a alunos universi- térios. O pacote de intervengées aqui utilizado foi eficaz em mudar a qualidade de vida das participantes desse estudo em um periodo de tempo curto. Em apenas dois meses, pucle- ram-se observar mudangas importantes na vida académica e social das alunas. De fato, a primeira autora continua utilizando com sucesso o mesmo conjunto de procedimentos aqui descritos para reduzir a ansiedade de 197 Maria Aparecida de Oliveira - Angela Maria Menezes Duarte grupos de alunos da universidade, favo- recendo 0 desenvolvimento de suas poten- cialidadese formagao profissional. ideal seria que um esforco preventivo no sistema escolar como um todo, fizesse dos estudos uma experiéncia prazerosa e refor- cadora, capaz de despertar e manter o inte- resse do aluno para 0 conhecimento sem uso de medidas coercitivas, tornando desneces- sdrias intervencdes terapéuticas para a redu- cao de ansiedade excessiva no meio acadé- mico. Referéncias. Amorim-Gaudéncio, C. & Sirgo, A. (1999). Ansiedade aos exames: um problema atual. Psico, 30, 75-80. Andrade, L. H.S. G & Gorenstein, C. (1998). Aspectos gerais das escalas de avaliacao da ansiedade. Revista de Psiquiatria Clinica:25, nov/dez. Barlow, D. (1988). Anxiety and its disorders. Nova lorque: Guilford. Beck, A. 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