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PRM-RONDONOPOLI-MANIFESTAÇÃO-1388/2023

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL


PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO DE RONDONÓPOLIS-MT
GABINETE DO 3º OFÍCIO DE CIDADANIA / REFORMA AGRÁRIA

AO JUÍZO DA 1ª VARA FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE SINOP/MT

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Autos nº 1000465-52.2018.4.01.3603 (ACP)

Requerente: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL


Requerida: COMPANHIA ENERGÉTICA SINOP S.A.

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da República
signatário, vem, em cumprimento ao ato ordinatório de id. 1707749469, apresentar
manifestação acerca do laudo pericial complementar, bem como requerer a juntada de
parecer dos assistentes técnicos ministeriais (PARECER TÉCNICO Nº 901/2023 – SPPEA,
em anexo), nos termos que seguem.

Trata-se de ação civil pública com pedido de tutela provisória de urgência


antecipada, proposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL em face da
COMPANHIA ENERGÉTICA SINOP S.A. - CE S, objetivando a declaração do vício de
lesão dos negócios jurídicos firmados entre a CES e os interferidos do Projeto de
Assentamento - P.A. Wesley Manoel dos Santos, em Sinop/MT, com a consequente revisão
contratual e a condenação da ré ao pagamento de indenização suplementar aos afetados, além
de requerimento de indenização por dano moral.

Em síntese, após a anulação da primeira perícia em razão da suspeição do


expert, foi designado novo perito neste processo, Sr. Cláudio Luís da Silva, cujo laudo foi
juntado aos autos em 24 de novembro de 2022 (id. 1408161746 e seguintes), com a seguinte

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conclusão (id. 1408161748 - Pág. 44):

14.0 - CONCLUSÃO
O imóvel foi avaliado com fulcro em valores reais de mercado, todos os
imóveis que compuseram a avaliação situam-se na mesma região e foram
devidamente homogenizadas com base na situação e no percentual de áreas
produtivas.
Foram avaliados os 214 lotes em 03 (três) épocas diferentes, 2017/2018,
levando em consideração informações dos últimos 5 anos e valor atual.
Resultando num valor médio de R$7.861,58 para 2017/2018, R$16.648,95
para a aferição considerando as informações dos últimos 5 anos e R$

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26.155,43 para 2022.
Considerando impactos de difícil reparação financeira e o estudo dos
dados, este profissional optou por utilizar o limite superior do campo de
arbítrio.
[g.n.]

Na sequência, apresentaram impugnação ao laudo o INCRA (id. 1517820865),

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a Companhia Energética Sinop - CES (id. 1518958865) e o Ministério Público Federal
(id. 1533809395).

As insurgências foram apreciadas pelo perito judicial em laudo complementar


(id. 1707380469), sobre o qual foram as partes intimadas a se manifestar.

Breve síntese.

O laudo complementar debruçou-se sobre as impugnações apresentadas,


acolhendo-as ou refutando-as em extensa fundamentação, analisadas separadamente a seguir.

I - DA IMPUGNAÇÃO DO INCRA

Embora o INCRA reconheça que o perito judicial é "experiente e conhecido",


que o laudo pericial é "claro e objetivo" e que "os valores resultantes dos cálculos são
coerentes com a amostragem", a autarquia chama de inusitada a escolha de fatores para

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homogenização e análise, eis que a perícia não teria observado normas técnicas (NBR) da
ABNT para avaliação de imóveis rurais, em especial quanto à utilização da variável
"percentual de área aberta" em detrimento da Nota Agronômica, na qual se combinam a
"classe de capacidade de uso" e "situação" do imóvel.

O perito refutou a discordância da autarquia sustentando que o parecer do


assistente técnico baseou-se, provavelmente, na avaliação de imóveis para fins de reforma
agrária, o que é inadequado no caso sob exame e prejudicial à justa indenização dos
assentados, bem como que a adoção do percentual de área antropizada tem lastro na realidade

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do mercado e inclui-se dentre as variáveis independentes previstas na NBR-14.653-3, donde
se extraiu a metodologia utilizada na perícia.

Nesse sentido também, a análise efetuada pelo assistente técnico do MPF no


PARECER TÉCNICO Nº 901/2023 – SPPEA (documento anexo):

9. O INCRA questionou principalmente os critérios técnicos utilizados pelo

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perito judicial. O assistente da autarquia demonstrou grande objeção à
utilização da variável área aberta/consolidada, que não estaria prevista na
norma técnica da ABNT. Defende em seu lugar a utilização da variável
capacidade de uso das terras.
10. Ocorre que a norma técnica traz no tópico B.3 apenas alguns dos
fatores que podem ser utilizados: fator fonte, fator classe de capacidade
de uso, fator de situação. Na sequência, em B.3.4 traz outros exemplos
como a localização, dimensão, disponibilidade de recursos hídricos e
posse. Entretanto, nada impede que o profissional de engenharia de
avaliações utilize variáveis não mencionadas na norma.
11. A norma traz alguns exemplos de fatores/variáveis, mas existem dezenas
de outros que podem ser importantes e que variam conforme a região.
Certamente não está entre os objetivos da norma citar um por um todos os
fatores que eventualmente podem ser importantes para explicar a formação
dos preços no mercado imobiliário.
12. Além disso, a variável área aberta/consolidada foi confirmada por
metodologia científica por ocasião da elaboração do laudo do MPF. Foi feita
a modelagem dos dados por meio da regressão linear múltipla e essa
variável, após submetida aos testes estatísticos, foi validada. Ou seja, é uma
variável importante para explicar a formação dos preços dos imóveis na
região de Sinop/MT. [g.n.]

Os valores apresentados pelo INCRA como comparativo também foram


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descartados pelo expert, pois servem somente de referência e levam em consideração a área
produtiva enquanto a perícia deveria fixar apenas o valor da terra nua.

Ademais, constata-se que o técnico da autarquia agrária questionou os valores


indenizatórios tomando por parâmetro preços divulgados pelo "Relatório de Análise do
Mercado de Terras", sem levar em consideração a especificidade dos imóveis avaliados nestes
autos, consoante destacou-se no já citado parecer técnico do MPF:

13. Quanto aos valores sugeridos pelo INCRA, que foram extraídos de

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planilhas referenciais de preços, verificou-se que são apresentados valores
de terras de pastagem em Diamantino e Nova Mutum obtidos da revista
IEG/FNP. Entende-se que são de regiões diferentes e sua extrapolação
para Sinop, como sugere o INCRA, é temerária.
14. Da mesma forma, aplicar a planilha referencial interna do INCRA
também não é adequado. Essas planilhas, quando bem elaboradas,
refletem tendências de mercado e podem embasar a tomada de algumas
decisões, mas não se prestam para definir o valor de um imóvel
específico. Para um imóvel ou conjunto de imóveis específicos, o laudo

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de avaliação é soberano. [g.n.]

Assim, merece ser rejeitada a impugnação oferecida pelo INCRA.

II - DA IMPUGNAÇÃO DA COMPANHIA ENERGÉTICA SINOP


(CES)

As alegações infundadas da CES quanto a serem os substituídos meros


possuidores das terras alagadas, desconsideração de supostas benesses concedidas pela
concessionária na transação extrajudicial e ausência de avaliação de benfeitorias já foram
rechaçadas pelo Parquet em manifestação anterior (id. 1533809395), à qual se reporta nesta
oportunidade para se evitar repetição dos argumentos.

Em acréscimo, contudo, vale destacar que, apesar da insistência da requerida,


não prosperam também as argumentações de que seriam impertinentes a avaliação dos
imóveis em três períodos distintos e o cálculo de lucros cessantes.

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Como ressaltado pelo expert, a indicação de valores para épocas diferentes é
decorrente da quesitação homologada e a apuração dos lucros cessantes visa auxiliar o
Magistrado no arbitramento da justa indenização, sem que com isso esteja obrigado a acatar
as conclusões do laudo.

Ganha destaque ainda a insurreição da CES quanto à decisão de se fixarem os


valores indenizatórios no limite superior, devidamente justificada pelo perito em razão da
venda forçada, de os danos serem de difícil reparação e de haver bastante procura por
áreas consolidadas semelhantes as que são objeto destes autos.

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Nesse ponto, ressaltou-se no PARECER TÉCNICO Nº 901/2023 – SPPEA
(documento anexo):

30. A CES também contestou o fato de que o perito utilizou o limite


superior do campo de arbítrio. Entretanto, o perito apresentou a justificativa
dos vários fatores que o levaram a decidir dessa forma, sendo eles: “tratar de

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venda forçada, de os danos serem de difícil reparação e de haver bastante
busca pelas áreas semelhantes àquelas objeto da transação dos autos pelo
fato de serem consolidadas” (fl. 23).
31. Entende-se que foi uma decisão exclusiva do perito judicial. Por outro
lado, não pode ser entendido como algo totalmente estranho porque
existe previsão na norma 14.653-3:2019, item 8.1.6.1:
O campo de arbítrio pode ser utilizado quando variáveis relevantes
para a avaliação do imóvel não tiverem sido contempladas no modelo,
por escassez de dados, por inexistência de fatores de homogeneização
aplicáveis ou porque essas variáveis não se apresentaram
estatisticamente significantes em modelos de regressão, desde que a
amplitude de até 15 %, para mais e para menos, seja suficiente para
absorver as influências não consideradas e que os ajustes sejam
justificados.
32. Ressalta-se que o perito deixa a cargo do juízo decidir sobre qual o valor
será o mais adequado, não se opondo ao uso do valor médio, mas lembrando
que nos cálculos da terra nua não foram computados os valores referentes à
perda de área produtiva dos lotes (fl.38). [g.n.]

Também não avançam as alegações da ré em relação à avaliação de lotes que


se encontram em litígio, ocupados irregularmente ou outras situações diversas, já que o Juízo
determinou a avaliação de todas as parcelas. Ademais, eventuais ações individuais em trâmite
ou alterações dos ocupantes dos lotes não prejudicam o reconhecimento do dever de indenizar
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nesta ação coletiva.

A Concessionária levanta, ainda, insustentável hipótese de cerceamento de


defesa porque o perito não respondeu ou respondeu inadequadamente seus quesitos. Em
verdade, o expert simplesmente avaliou a terra nua, conforme determinou a autoridade
judicial. Não cabe ao profissional nomeado estender a avaliação para as benfeitorias e outros
benefícios concedidos "graciosamente" pela empresa aos assentados ou deduzir suposto
abatimento por se tratarem as ocupações de mera posse.

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O que pretende a ré em última análise é que o técnico acolha a descabida tese
defensiva em detrimento das conclusões que ele próprio chegou ao realizar extensa análise
documental e trabalho de campo, nos limites do objeto da perícia, os quais não foram
ultrapassados, frise-se, pela colheita da percepção dos interferidos sobre a formação do lago
da UHE Sinop, como quer fazer crer a CES, já que é etapa sabidamente relevante para se
mensurar o impacto socioambiental da obra e constituem-se em fator importante para o livre
convencimento do Juízo acerca do pedido de condenação.

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Quanto à realização de pesquisa de preços de negócios relativos a imóveis
localizados dentro do PA Wesley Manoel dos Santos, em paralelo à avaliação de áreas da
região, o perito bem salientou a diferença entre uma desapropriação regular, na qual o
expropriado perde definitivamente o domínio do bem e uma negociação ilegal ocorrida dentro
do assentamento, sem anuência do INCRA, e que, por isso mesmo, não pode ser adotada
como parâmetro de mercado.

Aqui, vale sublinhar, novamente, os apontamentos no parecer do assistente


técnico do MPF (documento anexo):

41. Segundo o perito, a CES contestou a resposta dada ao quesito 8 (fl. 42),
que versava sobre suposto abatimento de 40% no valor da terra nua devido
ao fato das áreas serem consideradas de posse, visto que se tratava de um
assentamento rural que ainda não estava com suas terras definitivamente
regularizadas para os assentados.
42. Nesse contexto, os técnicos da usina argumentaram que esse tipo de
imóvel, por sua própria natureza, teria um valor abaixo do mercado regular,
dado que as negociações seriam diferentes daquelas propriedades com a

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documentação em dia.
43. Entende-se que essa posição da usina não deva ser acatada, pois o
assentamento não está irregular e não se trata da área devoluta. Ao contrário,
o PA é diretamente ligado ao INCRA, está regular e possui matrícula
registrada no Cartório de Registro de Imóveis de SINOP/MT (Mat. 66.523)
(fl. 42).
44. Devido a essa regularidade, não é cabível a aplicação de um fator
depreciativo com vistas exclusivamente a reduzir o valor a ser
indenizado. Essa posição vai ao encontro com a opinião do perito judicial.
Assim, o perito acertou ao não considerar os lotes como sendo área de
posse, tendo, por conseguinte, feita a avaliação como propriedades
regulares.

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4 5 . Ademais, se a CES considera os assentados simples posseiros,
deveria então indenizar o INCRA que era o titular da área antes do
desmembramento da gleba em lotes. Mas nesse aspecto a CES se
manteve silente, querendo apenas reduzir a indenização em 40%.
[...]
54. Entende-se que o expert se posicionou de forma correta ao não utilizar
os
elementos solicitados sob a justificativa de que se tratava, à época, de
comércio irregular de lotes e que devido a essa situação os valores seriam

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muito inferiores aos praticados no mercado regular de imóveis rurais.
5 5 . A pesquisa deve retratar o mercado comum, pois os lotes e os
assentados estavam regulares do ponto de vista legal, não podendo ser
prejudicados pela existência de um comércio ilegal realizado por poucos
beneficiários, que optaram por repassar sem a anuência do INCRA seus
lotes a terceiros, estranhos ao público-alvo do programa de reforma
agrária. Resta claro que essa posição da CES é mais um artifício para
manter os valores indenizatórios abaixo do preço de mercado. [g.n.]

O risco assumido por quem "transmite" terras públicas afetas à reforma agrária
é, de um lado, a rescisão do documento titulatório do assentado que cede a exploração e, de
outro, a retomada do bem de quem o adquiriu. É, nessa toada, uma transmissão insubsistente,
caduca, que se reflete no preço do negócio, abaixo do que comumente se vê no mercado,
diferente da expropriação em favor da CES, que está amparada pela legislação e não sujeita a
concessionária às cláusulas resolutivas próprias dos contratos de reforma agrária.

Não é demais rememorar que a desapropriação e posterior formação do lago da


UHE de Sinop para exploração do potencial de energia hidráulica pela CES constituiu-se no
marco interruptivo do exercício do domínio sobre o terreno pelos assentados ou da legítima

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expectiva em vir a exercê-lo, estando então a ré obrigada a indenizar os afetados nesses
termos.

São essas, portanto, as razões para se afastar a impugnação da CES.

III - DA READEQUAÇÃO DOS DADOS IMPUGNADOS PELO


MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

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Em sua manifestação sobre o laudo pericial (id. 1533809395), este Parquet
Federal já ressaltou a substancial validação do resultado obtido pela perícia judicial à
pretensão do autor, impugnando somente alguns erros materiais na transposição de dados,
conforme indicado pelo assistente técnico (Parecer Técnico nº 199/2023 – SPPEA - id.
1533838846), o que foi prontamente corrigido no laudo complementar, com a retificação das
tabelas de valores das áreas expropriadas para o ano de 2018 e para a evolução dos últimos
cinco anos com utilização do limite superior.

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Da análise de ambos os laudos conclui-se que a prova pericial consagra a
alegação ministerial de que os montantes pagos pela CES como indenização pela terra nua
estavam muito abaixo do real valor de mercado na época das desapropriações (2017/2018):
enquanto a ré indicou o valor médio de R$ 3.903,36/ha, o perito judicial avaliou o hectare,
para o mesmo período, em R$ 7.861,58.

Nesse sentido, ficou evidente o vício de lesão nos negócios firmados


extrajudicialmente entre a CES e os interferidos, uma vez que o preço médio pago pela
requerida é manifestamente desproporcional à avaliação do perito judicial, correspondente a
quase o dobro do indicado pela concessionária, que se aproveitou da premente necessidade e
inexperiência dos assentados (art. 157, Código Civil).

Além da avaliação no período das desapropriações, o expert trouxe a evolução


do preço nos últimos cinco anos e também na data da perícia (novembro de 2022), quando
alcançou-se o valor médio de R$ 26.155,43/ha.

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O aspecto temporal é relevante porque os valores relativos à época da
desapropriação confirmam o vício de lesão, enquanto aqueles obtidos na data da perícia serão
adotados para o cálculo da indenização devida, consoante a legislação e entendimento
jurisprudencial consolidado já citados no parecer ministerial sobre o primeiro laudo.

O contexto autoriza, portanto, seja efetuada a adequada suplementação da


contraprestação desproporcional, conforme dispõe o §2º do artigo 157 do Código Civil,
considerando a inviabilidade da anulação dos negócios jurídicos diante da formação do lago
da UHE Sinop.

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IV - CONCLUSÃO

Ex positis, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL pugna pela juntada do


PARECER TÉCNICO Nº 901/2023 – SPPEA e, considerando a correção dos erros materiais
apontados na manifestação ministerial sobre o laudo pericial (id. 1533838849), pelo regular

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prosseguimento do feito.

Rondonópolis/MT, data da assinatura eletrônica.

assinatura eletrônica
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PROCURADOR DA REPÚBLICA
(em substituição neste Ofício)

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