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PSICOJOGIA O LUDODIAGNOSTICO E AS TECNICAS PROJETIVAS COMO INSTRUMENTO PSICOTERAPEUTICO 2018 Yan de Jesus Lopes Psiedlogo em formasio, discente do eurso de Psicologia das Faculdades Unificadas de Te6filo Otoni (FUTO) « Rede de Ensino DOCTUM. Pés-Graduando em Psicanilise; Saide Mental; Psicologia Juridica e Avaliago Psicolégica FAVENI - Rede FUTURA E-mail de contato: yanlopes33@hhotmail.com RESUMO, As técnicas lidicas e projetivas so meios eficientes para psicélogos e outros profissionais que necessitam de um trabalho indireto, seja para obtengdo de dados, intervengdes ou diagndsticos psicolégicos, Através do método qualitativo ¢ revisio de literatura, possibilita-se a compreensao do hidico e da projegdo como técnicas metodolégicas que minimizam a angistia no manejo de questdes que provocam desconforto nas intervengdes € na coleta de informagdes, como também, mit imiza as resisténcias ¢ bloqueios induzidos pelas agdes dos mecanismos de defesa do ego. Palavras-chave: Ludodiagnéstico, projegdo, desenho, brincar. Coovieht © 2018 “Thieworkisiensed under the Creative Commons Atvibuton Iteratonl Lines 40 tos /creativecommons org/cenaes/b 6-nd/0 OS Yan de Jesus Lopes 1 facebook comp PSICOJOGIA INTRODUCAO As defesas psiquicas sempre serdo umas das enormes dificuldades para os procedimentos psicolégicos desempenhados por profissionais da Psicologia. Compreendendo essa dimensio que impede o acesso a diversos contetidos pertinentes para intervengGes clinicas, a Psicologia se viu na necessidade de elaborar técnicas que pudessem inves gar os contetidos latentes que desempenham forte fonte propulsora de sintomas ¢ angistias ao sujeito. Frente a esta necessidade, surgiu os estudos das projegdes e do Iidico, das artes, do teatro das formas de expressdes que pude m contribuir ao desenvolvimento do sujeito nos atendimentos clinicos. Uma das fortes técnicas utilizadas amplamente por profissionais da Psicologia ¢ demais profissionais que recorrem a tais métodos como auxilio, o ludodiagnéstico, que se consiste em um instrumento técnico de investigacdo, que através de brincadeiras, brinquedos, desenhos e outras formas de expressdo, visa construir uma forma de extrair da crianga contetidos que colaborem para intervengGes das demandas impostas aos contextos clinicos pelos seus responsaveis, que no sabem lidar ou ndo sabem 0 que est acontecendo naquele momento e buscam por uma resposta e uma forma de intervengo ao suposto problema, METODOLOGIA Este estudo visa trabalhar de forma qualitativa as discussdes pertinentes ao tema que possuem cardter subjetivo ao manejo ¢ utilizagio da técnica, Dessa forma, tragando um discurso de cariter bibliografico para discutirmos de forma didatica uma compreensio introdutéria 4 técnica lidica € projetiva. A PROJECAO E O LUDODIAGNOSTICO Roudinesco ¢ Plon (1998) caracterizam a projecdo como uma defesa priméria do psiquismo humano comum a todas as estruturas psiquicas, a0 qual, o sujeito projeta em um objeto ou a outro sujeito desejos que provém do seu inconsciente e que, suas origens so desconhecidas ou negadas de sua consciéncia, atribuindo elementos préprios a uma alteridade que Ihe ¢ externa, Yan de Jesus Lopes PSICOJOGIA A projecdo aparece como principal mecanismo de trabalho na ludoterapia, projetar ao externo conteitdos intemnos sem a agdo efetiva e direta dos mecanismos de defesa do ego, possibilita uma coleta de informagdo ou uma intervengo que embora seja indireta se manifesta como pontual para demanda psicoterapéutica. As principais fungdes dos métodos projetivos em diagnésticos, possibilita ao sujeito, a evocagio de informagdes que mediante determinados processos de defesa no possuem ou no consegue expressar. Entretanto, em uma investigagdo clinica, € possivel se trabalhar como fonte de estimulago os desenhos, brinquedos e figuras na coleta de informagées, que proporcionam dessa forma, uma vasta possibilidade expressiva do sujeito sem a necessidade direta da fala Mesmo assim, & importante como regra geral das técnicas projetivas a solicitagio de alguns apontamentos que colaborem para interpretagdo das agdes livres, Por exemplo, apés 0 desenho importante realizar um inguétito com o sujeito sobre sua produgdo, seja por uma historia ou algumas perguntas semi-estruturdas que colaborem para a compreensio geral (Anzieu, 1978, citado por Affonso, 2011). A COLETA DE INFORMACAO ATRAVES DA TECNICA FE comum esbarrarmos em situagSes de atendimentos que o uso das defesas psiquicas passam a se constituirem como empecilho & compreensio de fatores ¢ elementos cruciais para o desenvolvimento de intervengdes mais especfficas ¢ pontuais a demanda do paciente, Com a intengio de proteger © sujeito do softimento abrupto ¢ as angustias agressivas, o psiquismo se articula sobe defesas que visam a manutengo do estado psiquico, més, embora as defesas se articulam para evitar 0 sofrimento psiquico, as mesmas se apresentam como resisténcias que impedem a evocacio de elementos cruciais ao manejo e intervengiio na queixa, ao qual, leva o paciente até o profissional da Psicologia. A possibilidade de analisar ndo somente a cadeia de significantes verbais, mas também as formas de brincar ¢ a relago do sujeito com o brinquedo, poderemos ter uma grande fonte de informagdes a respeito das representagdes subjetivas infantis do sujeito, que, de certa forma, implica uma possibilidade de compreensdo & sua relagdo com o ambiente, a dinamica familiar, 0 contexto sociocultural ao qual esti inserido, seus papeis dificuldades escolares, sociais ¢ afetivas, como também as pos (Affonso, 2016) sociais e representacionais, sua cis dimensdes psicopatologicas Muitos viabiliza a coleta de dados pela via lidica a criangas, embora sua aplicagao também se demonstra muito eficiente na coleta de dados com pacientes adolescentes ¢ adultos que demonstram dificuldades, resisténcias ¢ defesas que mascaram ou impossibilita seu acesso a Yan de Jesus Lopes PSICOJOGIA contetidos que podem se demonstrarem como conteiidos chave para obtengdo de elementos inconscientes e pré-conscientes inacessiveis por via direta e consciente, E importante a clareza sobre o método a ser utilizado para uma coleta de informagdes mais claras e precisas, dessa forma, 0 uso de brinquedos, pinturas, desenhos, massa de modelar, recortes € colagens, dentre outros meios indiretos de investigagdo, devem ser articulados a uma linha de pensamento e pressupostos que se articula 4 demanda do sujeito e a partir dos significantes produzidos pelo proprio paciente possam se articularem a significados nitidos. Dessa forma, & importante que o método nao seja somente aplicado e deduzirmos o que dele pode-se extrair, o que faz com que seja importante questionarmos o préprio paciente sobre suas produgées. Dessa forma podemos compreender a partir de um recorte hipotético e ficticio, para melhor compreensio: “Maria e Jodo levam seu fitho Pedrinho de 7 anos a psicdloga com uma queixa de que Pedrinho estava muito agressivo em casa ¢ na escola, um comportamento que o mesmo nito tinha anteriormente, nao estava se alimentando direito e também se demonstrava muito calado, deixando de interagir com seus amigos e familiares. Durante as sessdes pedrinho se mantinha em siléncio, quando respondia era vazio em suas respostas, e que néo dava informagées concretas para articulagées sobre 0 motivo dessas mudancas, nem como 0 mesmo se posicionava frente a algum fato relevante que tenha ocorrido ou alguma emogao que ndo estivesse conseguindo lidar. A psicdloga tenta extrair informagées dos pais para que pudesse ajudar na condugiio de suas entrevistas, més as tentativas eram frustradas. Na proxima sessio a psicéloga decide utilizar a técnica do desenho livre com Pedrinho, como é livre, a mesma também ndo poderia pedir com que o mesmo desenhasse algo ou algo que ‘fosse relevante para ele, entdo a psicdloga antes do atendimento prepara a sala para que isso pudesse ocorrer naturalmente sem um comando prévio, a mesma se embasava através da técnica de associagdo livre e projecao da Psicandlise, jé que as associacdes podem se dar para além da fala verbal, mas também pela fala escrita, a fala em desenhos etc. A psicéloga coloca varias folhas A4 para desenho, lapis de cor e tintas na mesinha que estaria 4 frente de Pedrinho durante a sesso, Durante a sessdo Pedrinho demonstra interesse pelos objetos para desenho e comeca a utilizar as folhas ¢ os lapis de cor. Na primeira folha Pedrinho fez varios riscos descoordenados ¢ aleatorios, na segunda folha ele escreve seu nome, o nome dos seus pais ¢ mostra a psicéloga, logo depois ele tenta escrever 0 nome da psicéloga na mesma fotha enquanto a mesma observa seu discurso, na terceira folha ele faz 0 desenho de um carro, na quarta folha ele desenha uma drvore e um sol. Logo apés os desenhos a psicdloga pergunta Pedrinho se ele queria desenhar mais alguma coisa, o mesmo responde que néo, logo depois, a psicéloga pede para que Pedrinho escolha uma das folhas, stvokcomfosopest Yan de Jesus Lopes 4 PSICOJOGIA e ele escolhe 0 desenho com o carro, a psicéloga pergunta: - Por que vocé desenhou um carro? Pedrinho responde: - Eu gosto de carros, gosto de brincar com carrinhos, meu pai sempre me dé carrinhos de brinquedo, quando crescer quero dirigir um carrito como meu ai, antes, meu pai me levava de carro para escola e quando voltava para me buscar sempre comprava sorvete, depois que ele brigou com a mamde nunca mais comprou sorvete. A psicéloga pergunta: - Seu pai brigou com sua mae? Pedrinho responde: - Sim! Ele nao mora mais com a mamée. Sinto falta do meu pai A psicdloga pergunta: - Vocés nito se veem mais? Pedrinho responde: - Ele se casou com outra mulher. Sé vejo ele quando a mamae reclama ou para vir aqui. A psicéloga pergunta: - E como vocé se sente com ele ter se casado com outra mulher? Pedrinho responde: - Me sinto muito mal, ele ndo me da mais atengdo. A psicéloga pergunta: - E quando isso aconteceu? Pedrinho responde: - Quando eu tinha 4 anos. Embora 0 ocorrido tivesse acontecido a trés anos atras nao era um contetido que os pais julgavam ser relevante ou que haveria alguma influéncia para mudancas de comportamento somente agora devido o tempo que jé se havia pasado.” Fonte: Autor. ios rabit Muitos se perguntariam nesse momento o que -0s, nomes, o desenho de um carro, uma Arvore ¢ um sol significaria e poderia ajudar a compreender a demanda do sujeito ¢ obter informagGes pertinentes para uma intervengdo. © que devemos compreender & que nenhuma téenica lidica ou projetiva dard um dado tao nitido, o que a técnica nos permite, é trabalhar aque questdes que as defesas e resisténcias nos atrapalham no manejo da psicoterapia e chegar ao que diriamos ser as “questdes chave” do problema. Dessa forma, ¢ nesse caso especifico pela técnica do desenho, a psicdloga possibilitou abrir um campo de investigagdo através dos significantes produzidos pelo proprio paciente. A partir destes significantes, os rabiscos, nomes, carro, érvore ¢ sol, a psivdloga pode pedir para que conte uma historia sobre aquele desenho, perguntar sobre © que significa aquele desenho para o paciente, o que ele sente quando vé 0 desenho, por que ele quis desenhar aquele desenho, se aquele desenho faz parte de algo da vida dele se é uma lembranga ou se estd vinculada ao campo dos desejos, ¢ ir explorando a partir de suas respostas até que o mesmo Van deteilope 5 rebocksomiseogast GJ PSICOJOGIA desencadeie associagdes que podem ou nao possuir relagdo direta com o desenho, mas que foram desencadeados a partir de uma cadeia de significantes que puderam ser acessadas pela via projetiva E de extrema importincia que possamos compreender o papel do significante que elicia uma cadeia de novos significantes que atualizardo para um sentido que anteriormente nao pode ser acessado diretamente, fazendo com que através dessa cadeia de significantes, possibilite a fluidez da associagdo livre, produzindo significados de conteiidos que anteriormente se apresentavam como inacessiveis devido a resisténcias, defesas ou pela propria via do recalque que impossibilita este acesso e dificulta o trabalho terapéutico em certos casos. Pois, assim como aponta Affonso (2011), © que é evocado dentro de uma sesso de ludoterapia ou ludodiagnéstico sera conteiidos de relagdes intemas e extemas do sujeito, dessa forma, ao possibilitar 0 contato do sujeito com estes elementos projetivos no setting clinico, & possivel que possamos possibilitar configuragdes de variaveis inconscientes da personalidade Dessa forma, na atemporalidade do inconsciente, é possivel que a crianga, por exemplo, atualize fantasias de relagd do funcionamento da estrutura psiquiea do sujeito, suas articulagdes de contetidos manifestos © objetais passiveis de andlise. Como também, serd relevante compreensio latentes que determina os sintomas e conflitos internos. O DESENHO E 0 BRINCAR Pra Freud “o brinquedo e 0 brincar sio os melhores representantes psiquicos dos processos interiores da crianga. Eles esto em significago, na busca do sentido dos atos” (Mrech, 2001, p.6, citado por Affonso; Teixeira, 2015, p.15). No ato do brincar possibilita os mecanismos da fantasia, criatividade e projeg%io expressar em ato e em formas o inconsciente, a causa, 0 ceme do sofrimento e da desordem que leva o paciente a clinica. Devemos nos ater a alguns apontamentos importantes como levantados por Affonso (2011), a0 qual, embora a técnica vena trazer elementos de brincadeiras infantis, 0 objetive do processo ‘nunca sera brinear com a crianga, o principal ponto sera possibilitar ao sujeito uma forma indireta de se expressar, de tomar evidentes os contetidos penosos ¢ de dificil acesso que geram sintomas manifestagdes de uma linguagem inconsciente provocadoras de desordens psiquicas ¢ comportamentais, requerendo assim, habilidades fundamentais do profissional para manuseio interpretagdes consistentes dos dados obtidos através do litdico. Dessa forma, nao é o bastante, 0 profissional facilitar e proporcionar um ambiente para o brincar, mas é necessirio que o mesmo assuma uma postura de conhecimento técnico sobre esse procedimento, que desvenda contetidos valiosos para compreensio dos sintomas ¢ conflitos internos, ao qual, com base nas andlises desse PSICOJOGIA brincar, o profissional com clareza de seus pressupostos proporciona uma intervengdo pontual ¢ eficaz. Através do proceso de brincadeiras lidieas ¢ do desenho, possibilita-se a crianga, como também aos adolescentes, adultos ¢ idosos, desempenhar um papel de expresso. Quando o sujeito estd em contato com um objeto extemo a ele, pudemos observar pelas vias projetivas como 0 mesmo encara suas questées internas, como seu inconsciente ¢ emogdes se externalizam ¢ se expressam pela via da linguagem lidica, Segundo M. Kl projetivas, expressa suas fantasias, experiéncias subjetivas e desejos em uma determinada forma (1932) em A Psicandlise de Criancas, a crianga em suas representagdes, simbélica nos jogos, desenhos e brincadeiras. Ao qual, na teoria freudiana o brincar se estabelece como uma linguagem do desejo e das questées inconscientes assim como nos sonhos (Affonso, 2016). A relagdo com 0 objeto ou com qualquer outra via de expresso, possibilita transformar 0 Jatente em manifesto, Permite expressar 0 sintoma em sua forma difundida, uma forma crua, mas, aceitivel a consciéncia. O interno se transforma em ato, em linguagem manifesta ao sujeito ¢ possibilita através de uma ago mais consistente a ago do psicélogo nas intervengdes, nos diagnésticos e prognésticos. CONCLUSAO Vemos que a via de projegdo nos processos lidicos representa uma importante via de exploragdo na técnica ¢ nas intervengdes psicoterapéuticas. A capacidade de acessar contetidos latentes, reprimidos ou impedidos por alguma instancia de censura ou defesa, possibilita um melhor posicionamento ¢ manejo nos trabalhos de psicoterapias, seja com criangas, adol adultos, a possibilidade de utilizagdo da técnica ndo se esgota para Psicologia, que possibilita um entes ou trabalho para além do que é evidente a escuta clinica, E importante que ao tratarmos questées psicolégicas no ambito clinico, nos asseguremos do manejo correto das questdes emocionais envolvidas, o que faz. com que a técnica projetiva através dos procedimentos litdicos seja uma via de minimizar consequéncias que podem nao ser previstas, e que podem ser trabalhadas de forma que no desencadeie crises ansiosas ete. Yan de Jesus Lopes stvokcomfosopest PSICOJOGIA REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS Roudinesco, F; Plon, M. (1998). Diciondrio de Psicanillise, Rio de Janeiro. Zahar. Affonso, R.M.L; Texeira, T. (2015). A ludoterapia como forma de intervengio em lutos infantis. Revista FACISA ON-LINE. vol. 04, n. 01, Barra do Gargas— MT. Affonso, R. MLL. (2011). A contribuigdo da andlise das nogdes de espago, tempo e causalidade ico ¢ desenho da figura humana. Psicologia. nas téenicas projetivas diagnésticas: Iudodiagn Teoria e Pritica, vol. 13. n. 1. Sio Paulo ~ SP. Affonso, R.M.L. (2016). Ludodiagnéstico: A dependéncia quimica ¢ a dindmica familiar. Psicologia. PT. KLEIN, M. (1932). Psicandlise de Criancas. Editora Imago. Rio de Janeiro, 1997. 8 facebook comp Yan de Jesus Lopes

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