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<= ad =) i=] oe PI 7 c=] a Filosofia da Educacao A dedicagdo que se deve ter aos problemas filosbficos da educagio € uma questdo de responsabilida- de intelectual e moral da profissio, docente, nia medida em que vive- mos em sociedades de informacio © mudanga constante, As pergun- fas ¢ ax respostas também se reno- vam © precisam ser retomadas a cada geracio. Como: suporte para areflexiode temas tio prementes, a Filosofia da Educagdo ¢ uma drea necessdria nde apenas para profes- sores-e professoras em formugao. Ela € valiosa pata todas as pessoas que se envolvem nos processos ¢ nas atividades de transmiseio ge- racional dé’ valotes, habilidades © conhecimentos, mas suas mais diversas facetas, no ambito fami- liar, escolar, politico, social e ins- icucional. Esta obra incroduvdria apresenta questécs fundamentais da Filosofia da Educacio, além de textos complementares com refle- xbes de grandes pensadores, Const da ealin Jon Sérgio Fonseca de Carvatha Magela Soares Marlucy Alves Parabsa Rildo Casson &: Proibida 2 reprodugio taal ou parcial em qualquer micia nem a aurorirayso escrivi da editors, ‘Ov infiauores esti sojeltos Bs penas a le |\ Edlitora nao é responsivel pelo eantetide deste livre, © Autor conhece.0s fares nanrauiy, pelos quais & rexponsivel, ‘assim coma se responsabiliea pelos julien emvinidos, ‘Consalte asso eatlogo imple © Gltimos linganmcntos Em warw edlvoracomiesto Gombe RONAI ROCHA Filosofia da Educacao editoracentexto _ Tipps © 2023 de Autor exh on iit deve gio eeacrados 4 Pez ome tito Py Lad Fave de cape Adumn Wingee Usps Monagen deca ligromats Gusev $, Vil Boas Penn ‘ian Agno Posie Mariana Carvtho Teitcra Dados Rocha, Real Fossa da Bdacagie Ral Rocha ~ Sto Paulo: iclonals de Catalogayio na Publicagto (CIF) Biblia ISBN 978.65-554)-1713 1 Halu ~ Filo fia 2, Dic |. Tilo DD 3701 Angslica Hlacqua~ Biblionecsia—cHB-8/7057 Eni para cadlagn ster ico: A Educa ~ Filowafin mai Heirons Coxe Dineen fav maby Fae. Fd Fl, 520 Ae di O8-05)-StaBaksoan A ane: (1) 38809838 Caterers cembc wom alentnnrewn cob Se Sumario Filosofia e Edueagao.___ Educagio e transformagio.. (Os fildsofas ¢ o desenvolvimento humane. As variedades do conhecimento...... Os partais simbdlicos APedagogia Didatica oat Acscola = Curriculo. Politica Bibliogeafia O autor, NI 39 53 itt 89 _103 15 133 wd 45 157 159 Filosofia e Educa¢ao educagio éum assunto ficil ediffcll. £ fa- cil porque todos nés sabemos identiflcar uma pessoa mal-educada..A dificuldade & traduzir em midds a nossa compreenstio dela. Saber muito, por exemplo, nio é sinénimo de ceducagio. Suber envolve a telagio das pessoas com os conhecimentos. Ha quem saiba muito ¢ mal- trate os outros. A educacio diz respeito as relagoes centre as penoas, ¢ fazemas isso como podemos, lidando como imprevisivel. Educamos na cs digao semelhante 2 alguém que precisa reformar a casa onde mora ¢ nao pede sair dela, Queremos dar boa educacia, procuramos fazer boas coisas com 0 que sabemos, mas nem sempre estamos'se- sguros de saber ¢ fazer isso bem, Nio fax muita tempo que as tabuinhas de madeira — as palmatérias — eram usadas na sala de aula, como forma de castigo da crianga. Isso ainda acontece em alguns lugares. Uma amiga contow que foi morat; faz poucos anos, em wm pais do sudeste asiitico ¢ pediu macricula para seu filho em uma escola A matrfcula foi recu- sada, ¢ a explicacéa foi que os ocidentais mio 7 Fino da tducagho aceitavam que os ptofessores batessem nas mos das criangas com umy yarinha de castigo. Outra esco! as aulas. No final do ane, ence de despedida para a professora, “Uma “dela jd esta mutto velhinha.” E possivel a concedeu a matricula e 0 menino fo feliz na época de retormar ao Brail, ele pediu pera dar um pres varinha nova”, cle disse. cla se perguntou? boa educacia mediante arinudes rispidas igo? Ha comportamentos da crianca que pedem cone 19 sempre com canversa amigi vel ou hd. momentos em que a nossa voz deve Ser alrerada, que 6 toxto precisa endurecer? Uma pessoa chega 2 set educada pot suas proprias forgas ou isso depende das inveragées familiares ¢ sociais dela? As pal- masdrias desapateceram por aqui, mas persiste 0 desafle de mantet o “controle da classe”, como sé costuma dizer, Querer o bem de uma. ar sobre come se chepa a ele, Aqui comegam alguns dem para wma crianga? Respeltar uma Ja decida por ela mesma sobre © que, castigo com carinho, F, possivel chegar a uma ow por meio de algum ripe de cas sco. Podemos farer iss erlanga exige pen problemas: 0 que é mesmo 0 crianga significa deixar que € quando, onde, como, aré-que porto? Alige, oquela das aventuras no Pais das Maravilhas, disse, para al gquéim com quem discuti, que as pessoas nin poder fazer que as palais digatns coitas diferentes daguito que clas significam. A pessoa. reconheceu Gg algvanaspalavrassio muito-orgulhasas © que nem Sempre é possivel aoe elas 0 que queremos. Certos verbos sio muito argulhosos: ela admitiu, Quero comear sugerinde isso: “educar” é um dos -verbos mais orgulhosos que existe, ¢, s© fosse uma pessoa, seria como aquelas que sao, ag mesmo tempo, importantes e simples. AFILOSOFIA DA EDUCAGAO E NECESSARIA E FASCINANTE Quero mostrar a voo’s que a Filosofia da Edueacdo € uma area fascinance da Filosofia. Mais do que isso, quero mostrar que 4 Filosofia da Educagio € necessiria, néo apenas para nés, professores € professo- ras em formagio. Ela ¢ valiosa para todas as pessoas que s¢ envolvert nos processos ¢ nas atividades de transmissio geracional de valores: iit Lag habilidades ¢ conhecimentas, nas suas mais diversas facctas, no Ambito familiar, escolar, politico, social e institucional, Allista dos temas © problemas da Filosofia da Educagio é imensa, Ela inelui questécs aparentemente insoliiveis, ¢ outras mais hem delimi« tadas ¢ mais priticas, Para muitos filésofos, a maior questio € 0 debate sobre os abjetives ou finatlidades da cducagio, O tema ¢ importante, mas sua abrangéncia pode ser desanimadora, especialmente quando € apresentade por meio de perguntas como “que tipo de ser humano-¢ de sociedade queremos construir com a educagio?”. A educagio seria um tipo de engenharia social para “construit" uma saciedade? Por ai come- ga uma conversa interminavel sobre o que ¢ “educar”. Vamos cxaminar essas questoes:com cuidado. “Educagio” € uma cexpressio que diz respeito, em primeiro lugar, as relagdes entre uma geracio adulca e uma geracio de criangas, mas também 2s relagbes entre adultos, entre a pessoa ¢ ela mesma, encre as geragoes¢ 0 conheclmento humano. Ela inclui a busca de sabedoria sobre a-arte de discutir esses assuntos, ¢ todas as questdes de fundo sobre as relagdes entre as tradi« des culturais ¢ as teansformagées sociais, culturais, cognitivas, éticas, politicas. Neste livro vamos discutir temas centrais © abrangentes, mas também nos ocuparemos com problemas filoséficos mais delimitados Uma das inspiracdes para este livro é uma afirmagio de Hannah Arende; "A educagao esui entre as atividades mais elementares © neces- sdrias da sociedade humana, que jamais permanece tal qual é, porém s¢ renova continuamente através do nascimento, da vinda de novos se- res humanas” (Arendt, 1972: 234), Voltarel a essa formulagio, pois ela ajuda a compreender melhor a complexidade ¢ as ambiguidades tipicas das conversas filosdficas sobre a educacio, Ela nos permite ver melhor as razdex pelas quais a Filosofia da Educacio é uma diseiplina que esta sempre se renovando. A Filosofia da Educagia procura pensir sobre problemas muito basicos, como os fins da educagio, a marurera das aprendizagens eas mudangas nas relagdes humanas. © modo:como vi- vernos, em certo sentido, ¢.a nossa educagio. E par essa rario que ox fildsofos dizem que; se nao remos uma filosofia da educagéo, nio deve- mos duvidar que ed tem a gente. latin daiducagdo A dedicagao que devemos ter aos problemas filoséficos dy ‘ids gio é uma questio de responsabiliclade intelectual ¢ moral da Profiag, docente; na medida em que vivemos em sociedades de informaci, anudanga constant. As perguntas © 35 sexposis ambi sermon, precisam ser retomadas a cada geracia, 4 PROBLEMAS FILOSOFICOS NA EDUCACAO AA dien de estudos da Filosofia da Educagio € ampla. Vamos cy. megar distinguindo dois niveis, Ha estudos que procuram descrerey« compreeiidet 08 aspectos universais da educaga0. Sao aquelas catacteris. ticas da experiéncia humana presentes na transmissio das habilidades, das técnicas ¢ dos conhecimentos, de geragao para geragao, 20 longo y historia, E preciso compreender bem esse nticleo de compromissos peda. gdgicas que sao indiferentes a0 conresto histéricos mde ha socieidaa by. mart sem eransmissio de combectmentos, ¢ hd tma arte nisio, A Filosofia sugere que ha algumas nogdes centrais ¢ substantivas no pensamento humano, camo “causa’, “tempo”, “espac”, “coisi", “Faro”, "socledade” etc. Nessa lista precisamos incluir as capacidades sociais de imitacio ¢ censino que sie fundamentais para a transmissao do-saber env as gero- des. Nesse nivel de estudo temas as discusses sobre a natureza hum na, sobre as caracteristicas bisicas do conhecimento, sobre os priccipins fundamentais de informagio, comunicagao, linguagem ¢ socializacio humana. Os moradores da caverna de Chauvet, no sul da Franga, 30 mil anos acris, cram cagadores, desenhistas ¢ pedagogos, pois trans mitiam as habilidades ¢ as artes que deminavam. O segundo nivel de problemas na Filasofia da Educacao sio 98 temas que esto ligados a contextos histériens, particulares. Pense agi em tépicos como a distingao cntre o ensino leigo ¢ o ensino religi so. Como podemos canciliar os valores religiosos com os ideais leigos? Deve haver esa conciliacio? Avé onde vai a autoridade da familia ¢ como ela pade ser conciliada com a aucoridade da escola? Um sistem! escolar nacional deve privilegiana formagio geral ou a formagio prof sional? Uma outea questio filosétfica ligada a uma situagio historict € 10 roast tench a dos cutriculos, Os curriculos devem ser nacionails, regionals, munici- Pals, familiares? Quem decide sobre isso ¢ como ¢ feivat Os limites enere os temas mais gerais (come o debate sobre 2 plasticidadeda natureza humana) ¢ as problemas mais praticos (como o debate sobre os direitos dos pais sobre os filhos) nem sempre s40 nitidos © precisos, A lista de problemas nos dois niveis é aberta € hi temas que transitam entre eles. Um exemplo é a questio da import cla das atividades de imitagdo ¢ treinamento na educagao. Hi mai a educagao tem finalidades que transcendem 0 contexco histérico cm que esta inserida? Pademos aplicar conceitos come “classe soc “dominacio" em eventos pedagdgicas que se passim em uma caverna, nna pré-histéria da humanidade? Um conceita come o de “pessoa bem- educada” estd sujeita a variagdes culrurais profundas ou possui um néicleo transculnural, cosmopolita? Com esas perguntas quero ilustrar o que eu disse no comeso: sabemos bem o que é a educagdo até o momento em qué surgem questéex que exigem maior clareza de expresso. Pense no tema dos direitos das eriangas, pense na. situagio em que precisamos corrigir uma conduca e nos sentimes insegwras, Uma parre dessa inseguranga éde tipo conceitual, O universo da educagio tem muitas dessas di- ficuldades priticas ¢ conceituais. Pademos nos desviar delas algunas vezes, mas essa estearégia nio faz com que desaparegam. As conversis de Filosofia da Educaeao.comegaram com a humanidade © seguem sem previsio de terminar. Hii outra questio que devemos enfrentar. A Filosofia da Educacio uma fonte de prescrigées e plancjamentos? Ela ¢ um estudo de com- preensto ¢ desctigio ou pode também prescrever ¢ recomendar progra- mas de acho? O problema é dificil e ser abordade mais adiante, Agora quero dizer apenas dvas coisas, A primeira delas & que, por um lado, 6 avango que temos na compicenuto de um problema inspira as nossas decisées, amplia a nossa visio, De outre lado, a tarefa do fildsofo da educacao nao éa de orientar a pritica de pais, maes.¢ governantes. O. proceso educative nio € nem apenas tedrico, nem apenas pritica, € nao faz sentido pensar que exista a teoria da edueagio. A educacio ¢ uw Filosofia da faucagae ‘um process que acontece em una tegiio intermedia eng 2 pritica. Ela nao est baseada em um saber completo ¢ tra tampouco é uma agao cega. A reflexio filoséfica pode exclarccep i rar, mas ela no prescreve e planeja. = ___ A Filosofia da Educagio & uma disciplina delicada porque sy jeto & complexo e nossas capacidades si Frageis. Os processoy eds, = ‘vos ocortem universalmente, mas sio solug6es histéricas concreta, . ticulars. fifi descrever um quadro tho amplo ¢ hcio de deh A variedade da experiéncia cducacional ¢ grande, e isso exige cu para que a gente possa bem descrevé-la e compreendéla, especialmens. porque 0 esforgo de descricio da expetigncia humana deve sec acamy, nhado pelo. compromiséo ético com a verdade. Nie podemos confindi, os conceitas com a realidade, Em uma discussio sobre o exercicio da psicanilise, Fret disse que “analisar uma pewoa’ era usa tarefa impossivel, parecida com “ove. nar” e“educar”, A razao dessa impossibilidade profissional era simples intuitiva: Os professares, bem como os terapeutas € os governantes, nig rém come garantir que suas agées cheguem sempre a bons resultados. Freud pensava.que o objetivo da educagio era orientar e assistir’s cian- cas, oferecendo alguma protegdo contra 68 extravids que a vida reser, A parte que a escola rem nessa carcla ¢ importante, mas nio. deve ser FCA ten, © mapa cxagerada, pois a vida da erianca nfo acomtece apenas em contato com osadultos. Hi, entre outros farores, a prépria erianga, as outras cranes eas coisas da vida. AFILOSOFIA E UMA PARADA ‘Quando vestimos a camiseta da educagio, temos que pensat sobre esses temas. Precisamos estar 4 altura de nossas responsabilidades pro fissionais, mas precisamos também ter prudéncia sobre quando ¢ gua precisamos de Filosofia da Educagio. ‘Una comparagao com a Medicina ¢ a terapi médico quando precisa. Da mesma forma, devemos vestir a camist on Filosofia quando precisamos dela, Ha situagdes em que nos seatlimos ajuda, A gente val20 12 perdides em nossos pensamentos ¢ nio sabemos bem para que lado in, Uma representagio popular da Filosofia é a estinua O Pensador, de Rodin: um ser humano imével, que parece ocupado em examinar seus pensamentos, A estitua sugere que filosofar ¢ uma espécie de purrada. Temos que mos retirar do coméreia das horas para ter o tempo de pensar em alternativas, imaginar consequéncias ¢ avaliar conceitos. Para isso, contamos com ferramentas que vieram junto om o nosso aprendizado da lingua materna. Flas sao muito bisicas, mas servem para um comc- go. Vejamos um exemple do uso deltas, Sacrates é um dos simbolos-da Filosofia. Ele gostava de conversar com artigos ¢ conhecidos ¢ trazia para a roda assuntos que as pessoas nem sempre tinham examinado bem: @ que é ser um bom filho? © que & ser leal ou corajaso? A conversa raramente chegava a uma con- clusio, mas o resultado compensava, pois o tema flcava mais claro, mais orgenizado. Em uma dessas situagées, um amiga disse que ia processar 0 pai porque ele era impiedoso. Depois de saber os deralhes, Sécrates levow para a conversa a pergunta sobre, afinal de contas, 0 que € mesmo a piedade? Essa conversa entre Sécrates © Eutifron éconrada por Platao no diélogn Eurifion. Eutifron disse que ia processar scu pai porque ele havia feito uma coisa condendvel. O pai de Eutifron havia causado, por uma atirade negligente, a morte de um escravo, A preecupasio de Séctates nao foi julgar s¢ a decisto de Eurifron de denunciar o pai era certa ou errada, Ele queria saber, antes de mais: nada, 0 que Eurifron centendia por “piedade” Vamos ver outro exemplo, Jada diz para Maria que a ama, Uns tarde, ele dias depois cle trata Maria com rudeza, ¢, alguns dias mé repete a dose. Maria comega a pensar néo mais em quem ama quem, mas, afinal de contas, @ que é amar? O amor & compativel com maus- tratost “Joie ama Maria’, “meu pai ¢ impiedoso” sao frases nas quais afirmames algo sobre alguém. Quando dizemos que “amar é uma do- ago continua” ou “a piedade consiste em respeitar Deus" deixamos-de falar sobre pessoas, coisas, instituigdes, ¢ passamos a falar de comceitos. B ‘losota da Eeueagde a espe ings tm pen renga entre falar sobre cou fe sobreconcetn. Or pine cies ects lsh piety es nites: Quand sigide bém ey palevra nova cu quanda diz algo.e no petoebernor qual fl inenga Kio, pesos, € moral penguna "eq? ge die cm sw P Veja que hi uma difeeng en falar sce cosas (ou sb mee son) flr sobre a pri linguagen. Hiro express qu 7S pura indicar ene mecanismo: “meacognsao”, *metlingvagen’, rude teérica” Essa expresses indica, em algum senio, 2 dig, entre pensar sobre fatos, coisas, process0s, eventos, © permar sobre 0 pemer . Quand filamos sobre sonhose desejs, sobre pao vinho, pres ¢ esperancas, faras, coisas, evens, processos, abéboras, carpe ¢ toda as ates coisas do mundo, fzemos airmacdes sobre 0 mundo No outts caso, quando nos referimos propia lingmaget teen objetivo, porassim dite, gonhecer o canhecimento, ¢ isso inclul arefle io floséfiea, E por essa rario que-a Filosofia é uma. dimensto davis humana na qual as criancas entram com facilidade, quase que obrigaio- vremenge, dede que camesam a falar com alguma fuéncia. AFILOSOFIA £ UMA CONVERSA [A flosofia & um esforgo de onginizagio « reoryanizacio de assy ideias, F uma parade no ritmo da-vida, para conversir melhor sobre.s di- freuldades conceituais que encontrames desde cangas, Scrat s ap sentava como uma especie de parteiro, ¢ dizia que queria apenas aajudar pessoas a traer para a luz do dix deias que esta cxaraviadas, ‘Vamos comparar mais uma vez 0 trabalho do fildsofa com 0 do ocuramos & médico quando vemos sm pr dos os dias. A mesma coisa se Pa dilemas morais ou que gente médico ou do terapeura, Pre salide, ¢ isso nda acontece 10% Nio-€é todo dia que temos lides ¢ dramas conceituais. A 19 € conversar seriament hd conversa pense é, simulrancamen blemade sa coma filosofia. frentamos paradoxos, ambiguid: Filosofia quando precisa. E.a fornia de fazer is Hi conversa fiada, & toa, para passar © tempo: € ficadas. A Filosofia para valer. Hi conversa quale 4 uma parade no ritmo da vida, € uma conversa ealma e qualificada, qual pesamos as palavras ¢ renuimos argumentar melhor, sem quéter simplesmence ganhar uma discussao, Na Filavofia a gente fica exposte 0 tempo-€ a0 vento dos argumentas. © que cu quero dizer aqui é que toda pessoa que fala é capaz de fi- losafar. A consequéncia disso é imensa, Voltareta esse tema mais adian- te, quando tratarmos dos aspectos do desenvolvimento humane que incluem 0 dominio da linguagem ¢ o ingresso no mundo das metiforas, Podemos agora voltar 3 perguntay guaran devemos nes acupar com Filosofia da Educacio? A respasta ¢ simples: sempre que for preciso, sempre que uma situagio educacional nos surpreenda. Vou dar um exemplo, A crianga se alimenta com aquilo que the dio. Um dia cla olha para a.coxa de frangp e se pergunta por que meine deve comera came de um animal que a encanta, no quintal da casa. Uns diss depais dle pergunta, durante a refigio, por qual rizio meyeto a outta fianca, na casa virinha, tem pouca coisa para comer, Vamos ampliar a lista de questdes, pensando mais na cena educacional. Onde termina 0 “conhecimento objetivo” ¢ comeca a “doutrinagio"? Qual € 2 diferenca entre comhecimento ¢ ideologia? E verdade que rudo ¢ politica, ineluindo a prdpria aficmagae- que tudo € politica? Quais sio os compromissos civic lizatérios que a educagio publica deve assumir? Deve existir um sistema pliblico ¢ leigo de educagia? Come devern ser tratados temas'como a ceducagio religiosa, a inchrsto cultural ¢ social, a tolerancia, 0 sexo, 0 gé- eto, 0 respeito & diversidade e dezenas de outros que, pela complexidade inerente a eles, rido sae da mesa das conversagies? Precisatnos fairer Filasofia da Educagio sempre que esses temas se- jam relevances para nés, por alguma causa, motivo ou razto, Isso acon- rece a tode momenta. Nao precisamos fllosofar todo 0 tempo, mas devemos, por respeito a nés mesmos, dar & fllosofia 0 tempo que ela precisa, sempre que precisamos dela, A Filosofia ¢ encontrada nas criangas, a partirda idadeem que elasse tomam capazes de manter uma conversa com comego, meio c fim. Esse dorninio da linguagem permite que elas prestem atengio, nfo apenas as pessoas © nas coisas, mas também nos exquemas de pensamento ¢ 5 ews ia GRC de agtes que elas usam, Ha sempre @ dia no qual a crianga trop, conclui que, ja que ela é um Ser Vivo, que 4, = deverd também ver um fim, da mesma fn, al da cast. A ctiana nip oy seus pensamentos ¢ comeco no EMP os passarinhos as galinhas no quine ; venta em descobrir sua mortalidade, Ela descobre, com igual gp. a mortalidade dos que a rodeiam. E, coma se isso nao bastarse, ms mesma linha de descobertas, ela se pergunta ve ese fim Emesmy gj de tude ou se hé algo além. O adulco que a escuta pode fazer Ue cog, que nfo vé esse pequeno safrimento ¢ centar desconversar,oferecer tuma resposta improvisada. ¢ previsivel, mas pode também, para rn, da crianga, prestar atengio nessa curiosidade © seguir a conversy f. dificuldades vio reaparecer na vida da crianga em outros momen, formas, A Filosofia ¢ uma atividade reflexiva que se apresenita com ing tos disfarces © acompanha a humanidade 10 varejo dos dias As criangas tropegam também nas agbes, delas € dos auto, Ey comparam suas pequenas experiéncias de comer, mas também comm, sama queas adultos dizem com o.que os adultos fazem, assim pry dem sobre.a moralidade humana ¢ a falta dela. ATACADO E VAREJO NA FILOSOFIA Hi verses da Filosofia que oferecem idelas por atacado, em gray des partidas: ha teorias da educagio, da histéria, da sociedade, teotiasy bre reorias. Algumas vezes as teorias brigam entre si. Hé quem diga, por exemplo, que o ensina deve ser baseado nos sentidos, nas experincin eno prazer do aprendizado, H4 quem defenda uma maior importa para o softimento ¢ a disciplina. As palavras-chave de alguns tedricot sia liberragio ¢ emancipario, mas hd outros que dizem que a educase comeca mais modestamente, com as imitagdes, com a formacao de hi- bitas. Nesse momento deveros abrir nossa ¢caixa de ferramentas faci Perguntas inspiradas no estila de Sécrates: o que quer dizer isso. que? educagio ¢ emancipacio? Por acase isso significa que a ctianga nie pr cisa treinar ums quantas coisas, por meio de repeticgdes e correniest Pov acaso isso quer dizer que-a crianea nao deve ser induzida a repetir cet 16 Revco comportamentos ¢ a evitat outros? Nao é evidente que certs eompor- samentos devem ser incentivadas © outros devem ser desencorajados? Por quais meios incentivamos as priticas morais que consideramos ade- quadas, como a de nao faltir ao respeito para com os demals? Socrates fazia seu trabalho no varejo da vida ¢ néo poupava de seu interrogatorio aqueles que apresemtavam ideias muico afastadas da realidade. A Filosofia, niessa versio pedestre c socritica, pode ser considerada a conversa intermindvel que precisamos ter sobre ox aypectos estruturantes da vida humana. Essa conversa cuidadosa diz respeito ae fimciomamenta 2 @ mumutencio dos meror de nossa compreensio € agio: a linguagem, 0s conceitas, os acordas culturais € soeiais, a meméria afetiva ¢ cognitiva. Qualquer mero precisa de manurengio: a faca deve set aflada de- pois de um certo tempo de uso, a casa precisa de limpeaa a cada tanto de dias. O que quero destacar aqui € que qualquer coi pode ser um meio ow um. fina. Queremos uma fca apenas para aumentar 9 coleso. a casa propria é um sonho de vida, De forma semelhance, a linguagem, os acordos culturais e sociais ¢ os conhccimentas acumulados sio mesos que temos para tocar a vida, mas ni sio meras cedias. Sao também tesouros que precisamas manter ¢ melhorar, € que, em cettas cireuns- tancias, se cransfarmam em migangas ¢ enfeites. Assim, os cuidados da Filosofia incluem o dever que ela tem de culdar de si mesma. As ideias ¢ as teorias is veres so usadas como feitigos ¢ adornos. (Os aspects estruturantes ¢ essenciais da vida humana sie poucos. O filésofo Immanuel Kane sugeriu que eles se agrupam em torne de pperguncas sobre 0 que polenos saber 0 que devemas fazer, 0 que pedlemos cspener. Essas perguntas sugerem wm. programa de reflexio sobre as nos- sas capacidades de conhccimento, sobre a moralidade e sobre a religido, Elas se resumem na pergunta sobre 0 que somos nds, os seres humanos, especialmente quando nos comparamos com as pedras, ax plantas, os animais. Parece ficil entender 0 que sio as pedras. Flas ficam paradas ¢ isso facilita o cxame delas. As plantas também nao oferecem gran- des dificuldades, pois elas fica ali, quere paradas, todo o tempo. Ji com os bichos surgem complicagées. Eles pulam, correm, veam, pl- cam. Alguns, como cachortos e vacas, conversamos com eles, matamos, v7 ’ hese enc Mas cheya o moment 10 qual nose dy ting SomPuea,. assamos © comer entender 0 quadro: geral da coisa today 0 que some com as pedras, as plantas ¢ os animais? Depais de alguns mitéy, reflex, todas as respostas que vemos sobre esos rides perpuny poueas. provisérias ¢ humildes, © que mals importa aqui é cuidae de como pensamos sobre aquilo que nos importa pensar ¢ Fila, Eu comecei dizendo que a Filosofia da Educagio, mais do que tng disciplina académica, € unit conversa secular sobre os aspectos fund, mentais da experigncia formativa humana. E bem verdade que a coy, cemos como uma ttadigao que comeca na Grécia, com Socrares, Phage, fe Aristiteles, ¢ vem: até as mais diversas correntes contempoting,, Mas ela ests presente, de forma mais ou menos explicita, cm tody, 5 tradi¢des culrurais, nos textos sapienciais, religiosos © literitios, Cy, getacao precisa retomar essa conversagao, pois a experiéncia acumulas, recebe sempre o impacto dos desafios que resultam das novas realy. es politicas, sociais, tccnolégicas ¢ espirituais. Uma boa conversa exige una parada. Ela nos permite pensar um pouco mais ¢ nos daa chanee de agir melhor Sdcrates nfo parara x pessoas na rua para direra elas 0 que deveriam fares, mas queria que pe. sassem melhor sobre seus pensamentos ¢ aces. Ha outras formas, nao se caiticas, de comprcender a Filosofia. Hé quem entenda que o filésofo dey propor ‘ears sobre a educagio e a sociedade; por exemplo, Mas 6 fill néo é um cientista que ria experimentos, reine dados, fax. cratamenns estatisticos € propée tcorias. O filésofo explicita conhecimentos, suger: mudangas no modo de ver as coisas, suscita perguntas, Essas habilidads Sdo poucas ¢ frigeis € isso deve ser um lembrete para o comedimento. A fragilidade nia é um defeito, como nos lembra os fabricantes de crisal Vamos fazer uma camparagéo entre Jean-Jacques Rousscen ¢ lax Newton, Newron queria explicar alguns aspectos do funcionamento do mundo, porque estava convencido de que tinha chegado a uma melhor campreensio de certos fenémenos do mundo fisico. Rousseau, depois de muito Jer e pensar sobre © comporament® humano, queria expor suas idcias, queria conversar € convencet a5 po soas a educar as criancas de outra maneira. 18 Pow ise Newtot tinha tcorias pertencia’, tradicio de pens Galilei e Johannes Keplee Part explicar o funcionamento do mundo. Ele ‘mento decientistas como Arquimedes, Galileu Avda See do mundo fisico ¢ astrandmicn. 1 so ch iSttom amen re @ edticacio pertence a uma tridigio de : 05 ¢ Filésofos, como Lack plicaslores de-gente-e de sisuacées subte as auaic en Comenius, ex- ne IS quais prati ‘ Hoa Gi eee 4quais praticamente todas as neo como a educagae das criangas. O Emilio de Rous Petimento de pensamento, no qual ele expe 0 que yensa sobre é i ie © que €o ser humano ¢ como deveriamas eriar nossos fi- Ws. AS Sugestées dele, no entanta, 80 apenas 0 que sia: crengas mais ‘ou menos informadas, fates iC 1 Pensamentos mais ou menos entretidos, ideias mais it ‘ou menos qualificadas; nenhuma delas é a conclusto de um longo estudo de caso; clas visam, no final, propor acées também imagindrias, Kepler, Galileu © Newton nia queriam propor agées. O objerive principal deles era o-de descrever melhor certos estados de coisas, Se eles convencessem alguém sobre a vetdade do que estavam dizendo, tanto melhor, Rousseau, a0 comtririo, queria inspirar uma outta visto sobre as criangas € a educacio delas ¢ teve muito sucesso na empreitada, mas isso 30 fae do Emitio um livro de regras de acho. Eniio € uma visio. EXISTE UMA TEORIA DA EDUCACAO? Essa forma de pensar sobrea Filosofia tem consequéncias importan- tes para os temas que tratarei neste livro, A mais importante delas é que nao haverd aqui a defesa de uma teoria da edueagio, pela simples tazio de que ndo existe teoria da educagia, a nao set como uma licenga de ex- pressio, Hi renrias que sio propastas para explicar a evolucio humana, a compbustio, as placas tectOnicas, a relatividade especial ¢ geal, 0 big dang, a lei da gravitacio universal, as leis da termodinimica, o heliocentrismo, a luz, as células, Ha teorias na Psicologia, na Biologia, na Fisica. As teorias sto, por assim dizer, exforgns de exploracao ¢ explicagfo de aspectos da nealidade que estio sujcitos a pesquisas empiricas validagao. A educagao io & um aspecto particular di realidade, mas sim um enorine eonglo- merado de processos de formacio gericional, com derenas de aspectos. 19 ‘loa da Eeuragae. Mas, vocés ditto, nao se fala na teoria da educacio de cou de Piages? Sim, hd usos como esses, mas Sio 40s de cen f° pressio, que indicam apenas visto de Rousset, de Mare oy ie Mtontewart sobre educacao, Nesse sentido, hé denenay de “yy educagio”, ¢ nenhuma delas, na qualidade de visde, ¢ thelhor 4 do que a outa; hd ure meas, no entant, ando, cm men combos e precrgacs, encontramos decries Falisa, que rag desgasce do tempo. As ceorias gemufnas visum explicar algun fx ie * ow aspecto peculiar da realidade, e mio é disso que se tra esse kee campo. E inegivel que a rea da educagio muita se benelicia de oud, de Neurologia, Biologia, Psicologia. Sociologia ¢, nessas disciplinas j; sim, teorias, O que estou dizendo é que é init procurar pela ae educagio. “Fducagao” indica um enorme -conjunto de aces ¢ proceso, relagdes, mérodos, treinamentos, eanherimentes, desenvolvineny somente. podemas filar na “tearia de Fulano sobre eslucasio” pony essa palavra, “teoria”, No seul sentido mais informal, quer discr “visi Podemos ter uma teoria sobre a educagio ou sobre 0 camaval, mas ig ero modo de dizer que semos opinies sobee mula nsx Opinifo, no entanto, nto &jnformagio ou conhecimenn Hd assuntos que naturalmiente se prestam para polémicas dive, géncias. Quando estamos no ambito de uma discussao sobre tigi, surgem questies complicadas. Por cxemplo, s¢ a religiosidade hum, na necessariamente implica um deus, As religiées tefstas entendem discurem a naturera dele. Se Deus € bom, como pode Haver 9 mal eo sofrimenco ne mundo, pergunta-se. Quando esana no campo dos estudos lingulsticns, nos vemos as vols com alam questécs fundamentals, por exemplo, como € que, cam to powce estimulo ¢ variagio de aprendizado, uma crianga adguire logo cede ma vida a capacidade de dizer coises novas todos os dias? Hi agus dispositive inato em nds ou rudo é uma questéo de aprendizade pot Na Mavemética ha também questoes bibles Eles sfo criados ou descobertos? Est Je er bow! é apenas 0 que sim, estimulos © contato? como a nacureza dos nameros, questées fundamentais, no cntanto, nao nas impedem di lade, de falar sem parar c fazer com ceri crencas religiosas ¢ exercer a pi coretamente, Desde a infincia aprendemos a conviver 60! 20 iach #faeng 0 ignorincias. Nao saber algo ¢ apenas uma parte da condigio humana, €ndo um impedimento para seguir no jogo da vida, Cada pai, cada mic, cada educadar, fiz 0 que pode com aquilo que sabe, Sabemos Pouce ¢ fragilmente sobre educagia, nio temox teorias definitivas 80- bre cla, mas quando conseguimos organizar melhor ¢ de forma realista © pouco que sabemos, issa € muito c bom, A fiagilidade do saber nas humanidades néo deve nos abater, AS pessoas que ocupam posigbes Impartantes no processo eduucacto- nal pertencem 4 comunidade des usustios de uma lingua natural. Essa co- munidade & a0. mesmo tempo, real e imagin la é real porque somos falances da lingua pormuguesa, mas é imaginsria porque lingua portugue- sa, como qualquer outra lingua natural, tem uma parte passada ¢ passiva € uma parte presente ¢ viva, Hendamas os conceitos que usamos, mas, len tamente, ax geragées introduzem mudangas em alguns deles. Herdamos nao apenas os conceitos, portanso, mas também um sentido de cuidado, -com 0 uso de deles, Estamos expostos a situagbes nas quals ocorrem gene- ralizacées indevidas, vaguezas propositais, ambiguidades calculadas, me- ciforas pounce apropriadas, pequenas disfuncionalidades de comunicagio. Precisamos saber lidar com essas situagSes. Nosso dominio des conceitos, partir de certa idade linguistic, inclui nde apenas a capacidade de aplica- los, mas também ade pensar methor sobre cles. A Filosofia, nessa visio, faz parte dos recursos que temos para pensar melhor, Textos complementares A linguagem co esforgo humano (Clarice Lispector) A realidade é 2 matéetacprima, a Jinguagem & 0 modo como vou busei-la—e coma niio acho. Mas édo buscar ¢ no achar que nasce fo que cu néa conhecia, © que instantancamente reconhego. A lin- guagem & meu esforco humano. Por destino cenho que it buscar © ppar destino volto com as maos vaaias. Mas— volo com o indizivel © indizivel s6 me paclerd ser dudo através do fracasso- da minha Linguagem. $8 quando falha a construg30, é que obtenbo o que ela nio conseguiu. (1986: 172) 21 roi ds ECORI Quem pode educar (Cecilia Meireles) ‘Quem trabalha com essa honestidade profissional ae he Sti, pre pondo em evidéncia 0 tamanho de sua repitilay he sional sabe que educar € problema grave « dificil : slice Mariy Rilke ja 0 dia: “Eductr? Quem pode eae ce Solna? Quem exist, no mundo, caper de missio de tal onde? p verdade, 0 que Fazcmos so teratativas: ee Para. cneaininhay as eriangas, da sua condigio de criangas 4 le homens em tg perturbarmos as passibilidades,ibertanda-as todos os dias do, jp, das circunstincias que poderiam impedir uma perfcita evoluci, (2017, ». 3: 108) Pedagogia e Medicina (Cornelius Castoriadis) 22 Educar uma ctianga (quer como pai au como pedagogo), pode sp fcito som uma consizncia uma lasidee mais ou menes grandes, sas € por dfnigo impose que iso poss ser feito » pari de una elacdagdo tral do yer da cxianga € da telaio pedagogy, Quando um médica ou, melhor ainda, unm analisea inicia urn rq, tamento, pensamas em pedi-the que, previamente, enquadtre sx paciente em conceitas, qué trace 0s diagramas de suas extruturas conflianicso desenvolvimento sem varias do tratamenca? Agu como no caso da pedagogs, trata de algo bem diferente de tm, ignorincia proviséria ou de um silencio “terapéutico”. A doenea ¢ 6 docnte ado s80-duus coisas nha cdntendo a oucra (assim coms 0 fumueo da erianga nao é uma coisa contida na coisa crianga} culay sstdncas e relagbes reeipracas podetiamos definir, sob a conudigha A investigago mais completa ela é uma maneira de ser do diene, cul vida imtelra, passada © também fucura, esté-¢m joge [..]. O ssiencil do tratamena, asim como o esencial da educagiay, cor sesponcl propria rélasio que se id estabelecer entre 0 paciente o médica, ou enttenerianga «adult, e 4 evolucao desta rela, se depende do que ume outra fara, Nem ao pedagogo, nem ae madi pede-se uma teora completa de stn atividade, que als cles seriam incapazes de Tornecer, Nao dinemios por isto que se urate de atividades cegas, que educar uma ctianga ou tracar um doente sa jogarna roteta, (1982: 92) Educacdo e transformacao emos: agora uma nogio de que ¢ possi- T=: farer com a caixa de ferramentas da Filosofia, Vamos avangar um pouco mais na investigagdo do conceito de educagio, © que queremos dizet com expresses como “boa (ma) educagio"? “Bort” “mau” significam apenas “bom pane mim”, “mau do wtew panto de vista? Quande clogiamos uma pessoa, dizendo que ela tem “boa educagic”, dizemos somente que nox agrada a forma come a pessoa se comport? E flcil ver que nao pode ser apenas isso, “Bom” também uma palavra normativa, que usarios para avaliar situagées objetivas, Um bom par de sapatos niio. deve machucar os pés; um bom médice deve estar atualizado cm sua drea; uma boa pessoa nao deve fazer para ag outras aquilo que nio quer para ela. Por mais que seja dificil definir esses usos de “bom, podemos ver que quando usames a palavra “bom” em sentido de estamos deixando: implfcico algo mais do que. simplesmente “bom para mim”, pois hi uma certa norma ou padrao de “bom” que vai.além do gosto pessoal: @ bom par de cira caminhada, sapatos nio deve estragar na pt 23 micsann one? médica mo deve recomendar remedios ineficar tbo a bom enrende od ado popular, quem corte balo nao dev - her cmether 2 ft “Bow nest rer tiie. a EEA Guat in| * s le am, eject normative € i880 significa qe : Segue IC xing Mea. comnum de avalingie entre as pessoas. Hi ou MttOs ¢ On Ke am paid 1 filosofia da educagio, a comegar to, Pel pe sivas importantes M nor mpcieo ceeds" Es resume quando dizemos que uma determinada agg, umov a encersder quea pesoa se comporta de acorde com 1580. ba, Prxdrbcy be daquilo que 105 agrada, Para entender melhor j dds de dais degeans. Quando estamos no a ane sto” ou “eu nto gosto”, sobre uma Fru, imino de plo. Q do degrau, dizemos “esta foot No primeiro degrau importa apenas s¢ fata nos dé algum pr: é bag 44 do feito que est, meio verde ou meio m sherk que estamos dizendo mais. No segun if dame mas sim sea fruta est de acorda colina esto ale imaginaruum esta gander 98 “20 6 wuando subimos © segun gosamos de segundo egrets importa se gostamos oH nie, padres de deenvolinionte Imagine aqui a pessoa que trabalha em uma empress de benef i café, fizendo a prova da bebida. Ela nio precisa oer ag habilidades de diseriminagio € i auensgek aprender 08 eritérios de uma boa fruta de café. Quando chen, safia de café est hoa, nosso gosto pessoal nio esta em jogo. Ha mee figs abjerivos para isso, que sao reconhecides mediante a ag specials, Ness caso, como dizer 6 filésofos, ha uma poe validade objetiva. E assim que as coisas se passam com o cultivo do cae. Ecom a educagio? Tudo ¢ uma questio de preferéncia pessoal ¢ cabjedva ou também podem falar em “boa educagio” com uma pre cersin de validade objetiva? Como seria essa obje tividade? , ijamento d café para devente 0 PRIMEIRO DEGRAU: DESCREVER “EDUCACAQ™ no qual nio po “Educar", «¢ i rr 0, como vimos, um verbo orgulhose, de educa? boa definigio de lemos mandar de qualquer jeito. Uma ay cage inner enriquece os usos que ja Frzemos dessa expression, mas dificilmente pode contradizé-los, Seria muito estranho que alguém eomegasse falar em educagdo das animais, por exemplo, 2 Educamos pessoas, cdu- camos a nds mesmas, mas No 05 cies ¢ 05 gatos, que apenas podem set treinados. Conceitos coma “cultura’, “erenga” “conhecimento” “informagao”, “valores” também sto expressaes comuns, que Uisamos com facilidade, mas que nem sempre sabemos defini. © envendimen- to desses conceitos fica ainda mais dificil se desprezamos-o faro de que gles possticm usos. comuns, aos quais no podemos dar as costas. Nao mandamos nas significagdes. De nada adianta alguém dizer que “edu cat” ¢ ensinar alguém a ser mau, Nao podemos fazer bullying com as palavras, Umia definigae de “educagio” supée uma boa descrigdo dela. Veremos que educar ¢ um conceito uormazive, isto é, um conceit que sup6e certo ideal a ser alcangado. ‘Volto aqui ao que disse no comeco, © conccito de educagio no std essencialmente ligado a0 dominio de conhecimentos ou aprendi zados complexos, em especial aqueles das culturas letradas, A educagio, no seu nivel mais bisico, diz respeito ds formas de relacionamento entre as pessoas, do olha para o olho, da boca para oe ouvido. Os aprendizados complexns nos remetem part a relagio da pessoa com conhecimencos. (Ong, 20022: 99). Nao é correto pensar que a educagio, no seu sentido mais amplo, esté ligada ao mundo da escrita ¢ dos livros. Isso ¢ equivo- cado, pois cquivale a dizer que os analfabetos e as povos primitives sto desprovides de educagio. E por isso que precisamos fazer essa distingao entre o coneeito de educagio, em sentido amplo, e conceito de apren- dizagens complexas, ligadas ao letramento. Se é verdade que niio temas uma definigao tinica ¢ preciss de edu- caio, hé, a9 menos, alguns usos comuns dessa expressio que podem nos orientar. Ninguém. quer mal educar seus filhos, Veja que temos esse ponto de partida: “edueat” é um verbo que tem implicagies normativas.¢ morais, Nem tudo que ¢ normative é moral. As normas para a confeccao de um bom sapato sto téenicas, pois dizem respeito ao manuseio de uma coisa. As normas para uma boa cducagio sto de natureza moral, pois dizcm respcito aos cuidados que devemas ter com a formagao de pessoas. a5 ost da ocacdo Neste livro estamos procurando nos situar no ponte de vig : emake de aula c quer farer ma parad no rahar Sa quem que est ball, bre conversar #0 338 ‘el constrangimento diante da dificuldade de gy dh poucas palavras: oque € educagan? Isso nos levou a alguns 8elarec;, = tos distingbes: que reomnaremos 205 poueas, Me, ‘Vamos lembrar 05 ptincipais aspects que JAvimas, 4, dificy, Ma de conceituar a educagao comega com © fare de que estamos ha dade socia) bisica. Hd uma palavta boa para jy, ~ Fla indica que uma coisa OU PESO Esti presen, jodos os lugares a0 mesmo tempo. Aprendetiot site conceitg tess faremos formagio religioss, po's ele designa a capacidade de im : amar presente em toda pare, ¢ Ws & 0 MESO EMO, mig s emaseador, Ha mistrio e susto no campo da educacio, Ela é npg ¢ continua. O ser humeng tem uma individualidade biotic, pessoa € ima espécie de instituicto, ¢ é na educagio que seres humaag, tminsformamesc em pessoas. fo conceito de educagio, Fol por isto que coy, My com © poss de uma ativ sybiquidade” mi NEM TEORIA, NEM PRATICA Hannah Arendr disse, como vimos, que a educagao é uma ari. vidade elementar ¢ necessitia, € que o surgimento de scres huang, fio mundo faz da educagio um proceso que se fenova contingy. mente, Isso'¢ assim porque a nossa pessoalidade nao é um fato dy naturcea, Voltarel a isso mais adiante. Agora quero apenas acrescen. tarque o fat de a educagto ser elementar, ubiqua © processual nx impede de pensar que ela é uma questi ow de teoria aw de prtia, Aqui as palavras parecem falhar. O importante ¢ perceber que aqui (que fazemas com as criangas ¢ sempre um tipo de pedtica inforineda, isto é, guiada pelo saber que as pessoas dispaem. Foi por isso que eu disse que no hd a teoria da educagéo. Hi visées, enfoques. ¢ ™ medida em que alguns aspectos da educagio séo bem particulates sole até mesmo haver ivorias, Mas antes de tudo hd a urgenciae* Pritica da vida que se renova, Neste livro estamos nos inspirande 26 (aca ranatrmac® na valorizagdo da matalidade, como o fez Hannah Arendt. Fol por isso que enfatizamos, em primeiro lugar, as urpéncias derivadas da dimensio geracional da cducagio, AS ATIVIDADES ORGANIZADAS Acexperiéncia humana tem muitas faces, Os fildsofos dizem que temos reliagdes com 0 mundo, redagies com ournas pessoms © relatgées COR ads anesmas, Essas relagdes, por mais que se misturem, sie sepanivels uma das outras. A gente se relaciona com o mundo de muitas formas: ¥es- tindo, comendo, cheirando, tocando, olhanda, serrando, conhecendo ‘o mundo. Veja que nesses casos hi um objeto tridimensional car- respondente, Vestimas uma roupa, comemos um alimento, serrames uma madeira, A relagio-com oucras pesions ¢ intrigamee © paradox, pois ouera pessoa ¢ outro ev, Se eu traro alguém como uma coi- sa, isso me rebaixa também, néo? A relagdo que temes com a gente mesmo também é muito intrigance. Quem é mesmo essa pessoa com {quem conversamos tanto, todos. dias, ew mento? Alguns psicslogos, coma Henei Wallon (1879-1962), sugerem que ela € 0 nosso s6clo majoritirio, com quem remos longas conversas ¢ acettos de contas Temos relagées com esse outro eu que é a gente mesmo, mas rambém com nossa corporalidade, com a imagem que temos dela, com a for- ma come fosso corpo se compart no mundo ¢ nas relagdes com os ‘outros e af por diante. Cada um de nds é muitas. Ha uma mulcidao dentro da genre, come jd foi dite na poesia. As relagées que temos com @ mundo, com as pessoas € com a gente mesmo acontecem de muitas formas ¢ algumas delas dependem de capacidades lingufsticas e da imaginacio. Certas emogSes primuiias, como o meio ligado 20 som do trovia, nao dependem da linguagem, ‘mas isso nao se aplica na parce mais significativa da nossa vida afer va, que ¢ fortcmente ligada aos simbolas, Quando nos colecamos na ponto de vista da vida de um bebé, tudo muda. Desde que nascemos'e durante muito tempo, é preciso que-alguém cxride nds, que nos alcance 27 ae nett ema de roups, bebida. comida, © yy, hd um aspecto essencial: ha seqy, ssas formas de sociat;, ‘ling pets do mrs ja, mas rote vary : —_ explicits que organizam € ca, Pe ia ee leon ocupa-se também com & COMPreen sig fe A Fi meno devas formas de organizasio humana, f de ae eiited ela em uma primeira aproximagio, yy." ane dessa ou daquela teoria, mas como o estudo dag anda oe deegaizagin da comprare DARE ue aera, iy formas sadgmente, a vetinwidade tas habilidadesconbecinentas oy. ee cereot 400 cde gerayin ptr gente. ‘EDUCACAO PELAS PARTES quai so exis atvidades formas de organza630 do compen, enyo humane na educagio? Para apresentar €s5€ POnCO You lembya, , definigso de-educagio oferecida por Kant. No comeco de um Peqiueng livro chamado Padagegia, ele disse que “o homem €4 tinica Sriatiia Que pena ser elucads’ Ent equtncla, ele acrescentou que “por ady testo entende-se 0 cidade de sua infincia (a conseroacio, o tnt), Aciplina ea instr cons aformagde” (Kan, 1996: 11, grifos massa) Com ess frase, ele desmembrou uma coisa complexa, 2 educacio, em pares menores € manuseiveis. Com ess estrarégia surgiu uma agenda dediscussio sobre o que é infincia ¢ o desenvolvimento humano e so. beo que devemos entender por cuidado, conservacio, trato, disciplina, sobre diferenga entre instruir¢ format, Kant disse que a arte de educar é dificilima'e controversa, ¢ isso suegere que a arte de entender a educagio pode scr ainda mais dificil, mas fel fazer is80 por partes. A estratégia de Kant considera 0 tépico “educacdo” uma espé- oe de guarda-chuva que abriga atividades mais facilmente definiveis, como cuidad, at, conserongio, disciplina, inserugsa e formaao, Esses "picas tém abrangéneia menor ¢ dio materialidade e visibilidade Ss conceito maior, “educagio", Eu penso que esse procedimenta de ant ¢reoforeme, do ponte de vista do exercicio da profisio do 28 edlucador. Vainos pensar em alguém que se dedica semsinar clang mas que ndo s¢ considera capaz de definireduicagio, © que haveria de errado nisso? Por acaso o sucesso dela depende disso? f evident que nao. © éxito profissional da professora esti nay habilidades de bom sata e de boa instrayio das criangas, Voltarei a esse exemplo no proxime capitulo. Cuidar, tratar, conservar, disciplinar, instruir © formar, diz Kane. sio partes da arte que praticamos para que um ser humane reecba edu- cagio de outros, que recebem de outros e assim por diante, ery tm movimento:continuo de realimentagio e reorganizagio: “os conheci- mentos humanos dependem da educagio © a educagia depende dos conheeimentos humanos” (Kant, 1996; 20), Ele propée que adotemos como comece de compreensio do fendmeno educacianal uma visio pa norimica, que leve em conta a responsabilidade que una geragia rem ‘com as demais. Sita lista de attes de euidado pode ser ampliada, corti- gida, melhorads. Por outro lado, esse desmembramento do conceite de cducagio em partes menores é uma espécie de ferramenta para lidar com a dificuldade de se falar de educagio “em geral”, Os eanceitos sio camo redes,'s¢ as malhas forem muita grandes, 06 caem nelas os pelxes gratidos, A nossa vida profissional acontece no melo da gente mitida. O uso de grandes conceitos em lugares poqucnos deve ser comedic, pars que cles no desloquem 05 conceitos menores que precisamos para 0 trabalho com a criangada, Quando Kant diz que “por eclucacao cntende-se cuidado, traro, digeiplina’, ele se vale de uma propriedade dos conceitos. Eles séo instrumentos de classificagio. Desde crianga aprendemos a fazer 0 que Kane fer, quando entendemos a diferenga catre “banana” ¢ “fruta", a saber, que toda banana ¢ frat, mas nem toda fruta # banana — € ascim, quando queremos comer bananas, devemos pedir “bananas”. A abrangéncia de “frura” & maior do. que a abrangéncia de “banana” Accrianga esta aprendendo a organizar coisas em classer de coisas, Ela organiza uma sequéncia qué pode ser esta: magi, fruta, vegetal, ali- mento. Estamos farendo algo parecido eam o conceit de educagio = sealgo educacio, esse algo ¢ cuidado, teato, disciplina. Os conccitos 29 poets toe nride, oaprendizade da linguaper ¢ - ado clansificadones e» neste aprendivage™ de onganinagae (0 meama procedimento € invariavelmente encontrada na m, oes nas quae a expressio: “educagiio” é weeada erp mae "Je habilidades, aqulsigdo de campeténcias € conhec tid de eatiner, cultive de veruibilidade, David Winona fy uundo fila sobre educagio. Uma das caraeterizag at Jucagio significa sangbes € implantagio dos v: secs parte do creseimeno ¢ amadurecimento OL 1983; 94), Veja que cle rambént recorreti a cl hive como “sancionar® ¢ “implancar” das definig treinamento co, formagae algo parecido 4 che di € corn: “Edt cia ow dos pais cerianga” (Winnicott. ide aces mais expecifieas. FORMAL E INFORMAL ode Hannah Arendt: a educagio é uma atv dria, Vamvos partir dessa afirmagio para exam. tre atividades educacionais informais Ha quem prefira falar em educagio 0 institucionalizadd (Bourdieu ¢ sugetir que a familia nfo € uma a distingéo entre “nao e- ruigdo cardia, do ponto de epucacAd, Lembro aqui o dit dade clementar e necers sna distingae tradicional, ct ‘formals, HU outs classifi cages familiar, ducacao dif € educagi Passeron, 2008: 26), mas isso pode instituigie, Nao vou usar nesse Momento pois a escola é uma insti colar” ¢ “escolar”, vista arendtiano: Vou levar em conta aqui algumas observacées do fildsafo Ales Noé sobre as caractetistieas de atividades humanas bisicas, como am amentar, vestir-se ¢ comer, Vou ligar as observagies dele coma frase de Fhenah Arendt para dizer algo ivi ¢ surpreencente: axividades humanas basicas, elememtares, 50 organizadas. Hannah Arendt falaer™ natalidade e Alva Nog fala em amamentagio- Poueas coisas sio mais elementtares do que jcadas, A natalidade, diz Arendr, politico, jd que ela é uma candigae pa"#? raz junto 2 possibitidade e, Veja com? nar ui nascer ¢ mamas poucts podem ser mais compl é uma cate” ria central no pensamento existéncia humana, Nascer, no entanto, morte nu hora seguince se no nos cuidam adequadament 30 Ages 4 waraboomacto © cuidado aparece aqui, mesmo sem set chamado. Se nascer é com plicado, mamar nao: fica atris. A crianga nao mama sem @ seio ou a mamadeira, ¢ ¢ preciso 0 leite. Com essas coisas envolvidas, am bebe, uma pessoa, um liquido, é nceesséria alguma organizayao, O bebé vou chamé-le de Julieta — precisa ser segurado dle determinada maneira, em certo Jingulo;o Icite deve estar no ponto ¢ na ponta; o seio deve estar na posigio adequaday as atengoes tém que convergir para uma espécie de acordo ticito. A mamada comeca. Os mavimentos © os tempos de cada um, ax iniciativas, sio negociados, quase sempre com delicadera, por veves com estranhamento. Quando dizemos que algo € basico, elementar, necessirio, na vida humana, isso nio quer dizer que nao seja organizado, complexe, como, mostea 6 exemplo da amamentacio, A wbigadddade da educacio Faa mais sentido agora. Basta lembrat que as mies ¢ os pals pensam bem ances de permitir que alguém segure 0 bebé. E porque ha organizagto nisso- A essa altura vocés devem estar espetando que eu explique melhor o que € uma “atividade organizada”. Vou comesar falando de atividades desorgienizadas. A expresso parece melo absurda, porque uma atividade & uma apa ese € ardoy ha 4 intenpda de alguém. Uma acto desorganizada nao tira a responsabi- lidade da gente, Os juristas usam a expressio “culposo” para indicar iso, "Culposo” quer dizer que a pessoa jez algoy mas nao tinka # in- tengio de fazé-lo, nao deliberou, foi uma questio de falta de cuidados ¢ atencio fs circunstincias. ‘Observe 0 caso do pum, O pum pode ser considerado uma ativida- de desorganizada? Temos controle dele? Eles, por assim dizer, aeontecem na gente, ¢ por isso séo um exemplo de grau zero das ages humanas, das coisas que acontecem na gente sem que tenhamos a intengio de au- toria, Qutro caso sio os movimentos reflexos, como quando csticamos a perma, se um objeto duro aringe uma certa regio do joelho. Essas coisas sia anfiupessoais. Ficamos envergonhados ao dar um pum, mas contames com a compreensio das pessoas porque nao foi a gente, mas algo em nds, que no controlamos, que fer isso. Depois des aconteci- mentos inveluntirios do corpo, comega a vasta regido da deliberagio, 31 eyo gaucoce das capacidades da vontade ou do que, : rer da mente que no se separa de corpo, tades onganizadas, bisicas, como man, hang AGU a, ol, onde precisamos falar no, ¢ isso quer diver= mega a eBiae das ativid escutar, conversa ‘Ser humane é ser organizado. 0 ds coisas, cm um certo am ros ¢ recnologias, desde as cavernas desde a primeira mamada, ¢ organizado, Quando Ey, ‘Arendt diz que a educagdo uma atividade elementar e neces eee também quer dizer) wna acividade organizada, Todas as ashidae humanas tém uma Cert forma ou estrutura: amamentar, vest, ah, gar, rem esrumuras eventualmente mais simples do que alfabetiar 4 palavea “educagio” indica néo apenas esses conjuntos de atividad, corganizadas, mas também a diregio deles. Assim, educar & uma a vidade difusa, mas ndo € vaga Oem confusa, Ela se materializa nese, momentos operacionais. que por sua Yez esto ligados a fascs do de. senvalvimento humano, Depois desses esclareeimentos, so informal e formal. Aqui cerlamos que jadesde a primeira mamada, nao ha nada in- al” indica o “esol” Somos sempre a BENE © outgy 1 7 iow biente, manuscande insigy tn remotas, © comport, ig humano, retomemtos a distingio enix er que nda hii eda. educac: capo informal, pois, formal na hummanidade. Se dizemos que “form “informal” designa o que aprendemas fora da escola, isso ¢ pois mesmo as atvidades mais“ Formais” wm uma estruvura ¢ uma organizacdo. Essa observacio set na discussdo sobre a escola, Dico isso, nao bd ueagdo escolar” ¢ “educacio informel: Uma solucio interessante ilo amplo ¢ em sentido « neutras 60 ¢ que apenas um habito de expressio, retomada mais adiante, problema em se falar em “ed pois é 0 caso de uma licenga de expressio. aqui é fazer distingéo entre educagio em set restrite, Essas expressées, “amplo" “restrito”, sio mai “formal” ¢ “informal”. Q sentido restrito ou escol: jar envolve & que surgimento de um wiingulo representado pelo desafio de domit# determinado corpo de conhecimentos, A edueaiio, vores deve oy entre pessoas tar lembrados, é muito mais uma questio de relaga 32 educagio escolar inclui a relagio das pessoas com cviuas, a saber, €0- nhecimentos, aprendizados, habilidades que nao se conf aS pessoas. O conhecimento € um bem. ndem com ESTUDAR HISTORIA, ESTUDAR PROBLEMAS Quero insistir na importineia de uma distingio entre dois ni- veis de arencio no estudo filosifico da educagao. Um deles é 0 da histdria da filosofie da celveapio. Os filésofos tes, mas o brilho do pensamento nic deve ser confundido com a verdade dele, Precisamos valorizar a histéria da filosofia porque 0 conhecimento dela garante a riquera de nossa reflexio, mas 0 vi- gore a verdade dela dependem de outros farores, O outro nivel de atengio ¢ 0 estudo dos problemas filosdficos de educacao. A area da educagio, na forma come existe hoje, no século XXI, tem fromrciras abertas com muitas ciéncias particulares que trazem contribuigées imporcantes, como & o caso de Psicologia, Linguistica, Biologia, Neurologia, ciéncias histéricas, socials ¢ politicas, sem esquecer 0 vasto campo dos estudos matemdticos ¢ estatisticos. © estoque das problemas filoséficos nfo depende apenas dos fi- Késofos, depende também da realidade. Alguns problemas sito muito antigos, como as perguntas sobre se é possivel ensinar a virtude, como podemos separar 2 educagio da doutrinagie, quais si0 os fins da educa~ io. Esces problemas seculares sempre volcam para a roda de conversa, lizem coisas fascinan sho refrascados requalificados & luz de outros sabetes. para que pos- samos discuti-los mais facilmente, Nessas retomadas, nile € rare que 0 filésofo procure a ajuda dessa ou daquela ciéncia particular. [sso nos lembra que a Filosofia em uma vida duple e, por isso mesmo, tensa. Seus temas so comuns ¢ estio presentes na vida cotidiana, masa farma como cla procura trati-los deve ser a mais organizada possivel, ¢ isso quer-dizcr que os fildsofs precisam argumentar coma maxima clarera © consisténcia, Sempre que é 0 caso, precisamos respeitar as evidéncias emplticas. A filosofia tem tint pé no cho do mundo, o outro deve estar > rowcta a Cou ciéncias ea. mesina cola acontece comt Filosofia dao hoje, A natuireza elementar € necessiria da edicagig : -a todos os dias, ¢ algo de Filosofia sempre est, aa Novas questées surgem, antigas questo, ee ‘ede situagdes inesperadas. Nav podemos ee blemas filoséficos. = perto das nas dias de aque ela acontep ela, como jd vimos ser retomadas, diant 4 histéria da Filosofia com os prol ia formagio do fildsofe por vezes comers pela atenyo que ce tana obra de autores jd reconhecidas. E quando descobrimos, por Pres oe bi um gyande mercado de elas ¢ soe tennis fer escolhas. Com o que eontamos nessa hort, além de nosso ide, ramento? E nesse moment que descobrimos também a al lade de usos dessa palavess “educate”. Além de distinc se go em formal ¢ informal, abre-se uma ofena i procédimentos ¢ metodologias crite, ‘emancipadoras, libertarias ¢ progressistas de um lado; de outro, libs ‘tradicfonalistass esses eétulos no exgoram o candi piagetianas, montessorianos, freirianos, ny ‘en ity iy com susto, ¢ temper que separa a educa “educagio” ligada a contetidos, rais, conservaderes, pio, pois ha correntes auroras frocbclianos, waldorflanos, marxistas, Jassalianos ete. © que devernos fazer, enquanta estudantes, diante desse exten- so cardipio® Podemos ceder ans argumentos dos professores, a0 nos inclinagdes pessoais c polfticas ¢ finalmente sso nfo apaga 0 faro de que cada um «autores ow correntes procura esclarecer um ceFt0 problema Por nar com os problemas educacionais apenas diem? Afinal, eu tenho diante de mim, e osso, minha escola, + fa de aula. rempcramemto, As nossts decidir-nos pela corrente #t ou b. desses que deveriamas stos relacio' por meio: do que as autores tanto quanto cles, criangas, sociedade que nos rodeia, 05 assuntos (O que é que nos impede de, por nossa conta, gio na reatidade educacianal do que nos autores ¢ nas assim que o pelisamento se renova? Pense, por exemplo, na questéo de alfabetizagdo. Se ha virias abordagens possiveis, moss uma metodologia deverd ser bem-informada, © que vam conta? O prestigio de minha professora, os argumentos pessoas de carne cde que tratamos em sal voltar a prestar mais ater ‘correntes? Nio& da escolha de uma metodologis decisio por favoriveis € 34 _———l tage etrumntomago contri , determinada a a0 sobre a qu nosfera tedrica? £ possivel que uma retle ade da aprendizagem de meus alunos me leve mudar os procedimentos em sala de aula, Alfabetizar ¢ dificil, mas ler ¢ escrever sio habilidades facilmente mensuriveis, ¢ as estatisticas nal escolares podem me ajudar a pensar sobre meu aicesso profiss ou a fal que depen vel, bisico, eu conduzo atividades de alfabetizagao; no segundo nivel, de investigagio ¢ avaliagso, dele, Aqui estamos diante de um caso tipice de reflexio le apenas dessa distingao entre dois niveis. Ne primeiro ni- transformo a minha atividade em obj No caso das propostas educacionais mais abrangentes € menos men- suriveis do que alfabetizacio, a avaliagio ¢ mals dificil, porque hi uma distincia maior entre 0 que podernos furer na sala de aula € 0 harizente da mudanga maior que experames. A Filosofia ¢ uma oporrunidade de reorganizagio de nesses pensa~ mentos ¢ ages. Os fildsofos que jd existiram sio referéncias imporrantes nessa tarefa, ¢ precisamos conhecé-los bem. Mas a Filosofia nda consiste apenas na reveréncia'a Platéo ou Aristételes. Mais do que amigo dos fildsofos, temos que ser amigos da verdade, temos que ter alhos para a realidade, As nossas preferéncias ¢ escolhas intelectuais ndo deve obe- decer apenas ao principio do prazes teérieo. A vida cognitiva obedece também ¢ principalmente ao principio da realidade, Ha muitas dificuldades e polémicas sobre a definigao de educa~ cio, A reflexie filosdifica que estamos fazenda aqui sugere que deve- mos € pademos conviver bem com essas incerteras. A atitude mais recomendavel é pensar que as definicdes a que os filsofos rém chega- do séo instrumentos de trabalho que devem ser cantinuamente aper- feigoados. A complexidade do conccito de cducaio fax parte do jogo em que'estares metidos, pela prépria natureza do tema. A educacio nio € nem um objeto tedrico © tampouco uma pritica cega, mas sim um processo interminivel ¢ multidimensional, com muicas tapas, que vio das mamadas iniciais e dos cuidados-aré nosea formagao, vida adulta e morte. Cada geragao retama esses cuuidados em algum ponto em que foi deixada, ¢ avanga coma pode, em meio a recuas, desvios, retrocessos « retomadas, 35 rican én aca 8? Textos com pier Aveducagio é usm asso in 36 mentares esgotivel (John Stuart Mill) ampla, € UM assunco inesporin) cem seu sentido unto sobre 0 qual any ita um OUtro AS8 venharn ect waiados bios, ainda assim @ clucacin tam campo vast pars pessoa de menre aberta, mentes ainds 1 desorientadas pel invasio de ideias alheias, tal come aquels doy peimeitos expediciondrios da educagti, Por mais que ideias ergy, Jenees a respeica dessexema f enhan sido suscitadas, nenhum jp pensante que vishumbre coisas ainda a serem ditas, quer seiam com. pilicadas, quer sejam simples. quet estejam esperando para sera Frais bem elaboradas, deisard de persegui-las. Akém disso,» ed. cagio & um dos temas que mais exige, em sua esséncia, diferentes smnences pensantes em seus variados pantos de vista. De todas as ts- saints laters, a educasao €a que comtemt maior méimero de laden, Niels; ni vishambratnes apenas 0.que fazemtos.a nds-mesmos, ou 0 fos fzem a nds, uma vex que o propésito fundamental ‘ese em nos aproximar, de alguma = ade nowsa narureza: inclusive, ema sua vast compreensio, a cilucagio “ai alm, produtindo efzcos em novo eariter € em HORN facal- “Fades humanas atavés de mecanismes cus objenivos diretos sin bastante diferences— plas Ils, pelas formas de govern, pelasamtes industri, pelos modos le vida em sociedade. E, sim, até mesmo fetaresfisicos qve independem da vontade humans: Pet lima, ee locaizagto. Tudo o que ajude a formar o set humana, = fae do individuy 0 que ele é, ou o impega de set 0 que nao ¢, far parr muito riim. Por vere: desuaeducagdo, sendo ela, frequentemente, a inteligéncia e a vontade ‘do cultivadasde modo a newtralizar so insintos. Peguemos um exemplo dbvio: a escases da ‘Naturecaem alguns lugares, que faz com que roddas as energias do ser humane volte para preservagia da vida. 4 em ourras lugares agents: sidade do universo proporciona uma espacie de subsisne!S bral Bova, quase nenhuma necesshdade de <0? ws faculdades & necessiia ness = espontineo €° cscalnqut A cdducagioe Embora dificilmente ei ro 08. mais que os aut daeducagio: em termos muito par parce do ser hunnano & st criando um ambiente desfavordvel ao cresciment desenvolvimento da- mente: € sho nesses dois extremos dt \eaveagnon irantorragbo ‘enoontramos as sociedades humanas na estado de sais completa selvageria, No entanto, irei me conter ao sentido mais estrito de edlucacio: a cultura que cada geracio oferea propositalmente que: les que serio seus sucessores, a fim de qualifick-los para, pele me- ros, manter €, se possivel, elevar @ nivel de melhoria ji alcangado. (1984: 215. Tradusio de Roberta Santurio) ‘Os enfoques da educagao (Bertrand Russell) A educagio pode ser vista por muitos enfoques: 0 do Estado, 0 da Igreja, 0 do mestre-escola, a dos pais ow até mesmo (embora isso ueja com frequéncia esquecido) o da prépria crianga. Cada um desses pontos & parcial; cada um detex coneribui com algo para o ideal da educagao, mas também contribui com elementos negatives. (2008; 171) A-educagao nao traz felicidade (Iris Murdoch) No comera do fidrwe Uris (Ricluard Eyre, 2001), hd soma vena wa qpustl wt personargem central, a fildsofia Iris Murdoch, € apresentada ata psiblico ‘de tum anditdrio em Oxford, onde elt uai falar sobre a imporidneia dt eclucagiia, A fixks atvilindala a cla & essa: Aeducacio nie nos corna felizes. Tampouco a liberdade faz isso. Nés nio nos tornamos felizes apenas porque somos livres — se nds 0 somos. Ou porque fords educadas ~ se temos educacio, Mas sim porque a educagia pade set © meio pelo qual percebemos que somos felizes. Ela abre os nossos olhos, as nassos ouvidos, nos diz onde as delicias estio a espreita, nos convence de que hi apenas uma liberdade que conta, a liberdade da mente, ¢ nos di a certeza— aconflanga = para percorrer 0 caminhe que a nossa mente, a nossa mente educada, aferece, 7 Os filésofos eo desenvolvimento humano os capitulos anteriores examinamos al- guns aspectos da Filosofia ¢ da educa- io, em sentido amplo. Com a ajuda de Hannah Arendt e Kane, procurel indicar algumas dificuldades que encontramos para dar uma boa caracterizagio dessa expressao. Neste capinulo, va- mos aprofundar um pouco mais nossa compreen- tio filosdfica da educacao, incrodusindo o tema do desenvelvimenco humano. Os debates educacionais frequentemente aparecem na forma de conflitos de concepgées: progressistas, conservadores, criticos, tradicionais travam verdadeiras guerras conceituais, ndo ape- nas sobre os grandes temas comoas finalidades da educagio, mas também sobre questées mais pon= is, camo se devemox ou mio centralizar deci- ses sobre curriculos, objetivos de aprendizagem, métodos pedagdgicos © avallagbex nacionais. Ha conilivas internos nas disciplinas, sobre a escolha eulares © métodos de ensinos dhe coneetidos eam hha discusidies interminiiveis sobre o quanco a edu cago deve estar voltada para ambientes € realida- des mais imediatas ou mais gerais ¢ cistantes, 0 a9 Rosella da Cavsagto quanto ela deve estar proxima ou distant de valores politic Fase quadro de polémicas € uma boa jusificativa para se gg 8 importincia a Filosofia da Educagio. pois todos temos a panto, Mig, do atingimos una melhor compreensio canceitul desses peo, conversa sobre.a educagio vem 2 idade da humanidade ¢ loa i Educagio ¢ tuma mao valiosa na roda dessa conversa, a Hi disciplinas dedicadas a0 exame dos fundamentos da ed Essa expressio, “fandamento”, lembra as metiforas de consin: sugere que a cducacio deve ser sustentada por algum tipo de “ee ao ofeecda pela Flosala, mas também pls sicologs, Scion.” Gutnas eiéncias, incluindo a Biologia. Essa € a razdo pela qual vatneg 5 deter um pouco na forma como a Filosofia, a partir da moder mn cocupou-se com 0 tema da justifieacio de propostas educations sentide amplo da expressio, mas também no sentido restrito, dee cago escolar. 06 FILOSOFOS E 0 DESENVOLVIMENTO HUMANO Houve umia época na qual a Psicologia era uma parte da Filosofia, pefildsoforespeculavam sobre. deseavalvimenco humano, Mantign, por exemplo, escrven 0 ensaio nocivel “Da eduagio das ting! (1580), no qual estio antecipadas algumas das nog6es mais imporanes dda Pedagogia moderna. Uma delas € que os professores ceveriam rg laro seu andar pedagégico pelo nivel de desenvolvimento da crang.£ dificil, diz ele, “colocar-se no nivel ca crianga’, mas sem esse euidado» ensino nao teri “sentido e substincia™. Os conhecimentos nie poder ser enfiados na cabeca da crianga por simples autoridade, sem que dt cntenda e assimile 0 novo a0 que ela jd sabe. Ela precisa ser afasudi do pals, viver ao ar lire e ser acostumada 3 rudeza da vida, Educir st crianga nao € ensinar daras ¢ lugares importantes, ¢ sim apreset a0 grande mundo, & diversidade:de costumes € opinides. A edaiggit de Montaigne inelui a recomendagio de exercicios fisicos, da dane. da-caca, dos estudos de Ligica ¢ Fisica, Nao educamos ama <8 corpos, diz Montaigne, educamas um ser humano. File nao se dee 40 Da bea como fari Rousseau um pouco depois, ne exame do comportament de bebés c criang devem se inspitar no melhor conhecimento possivel deles. Ele ¢ ainda atual, como se vé pela descrigio de métode de aprendizado de linguas por imerséo, 20 qual fai submetido por seu pai, que Ihe proporcionow © aprendizado de latim sem chicote nem Ligrimas. Montaigne condenou o castigo das criangas por meio de chico tadas. John Locke, pouco mais de cem anos depois, no livre Alguas pensaincentos referentes it edvcagito (1693), ainda aceitava a aplicagio do . mas deixa bem claro que os métodas ee ensino “remédio supremo” como tiltime recurso. Em defesa do. chicote, ele recomendou que o castigo nao fosse aplicade imediatamente depois da falta da crianca, para que a odlera do castigador esfriasse. O chicore de veria ser aplicado algum tempodepois, com calma, Ele sugeriu tambem que as chicoradas fossem rerceirizadas, que no fosscm aplicadas pelos pais, Ele insistiu que isso somente deveria acantccer em. casos EXTTEMOS, como na desobedigncia, na mentira, na preguiga nos estudos de lacim © ‘gfego € apenas nos primeiros sete anos de vida da crianga. Pela extensio ‘com que 0 tema foi tratado no livro fica claro que naquela época ain da havia acolhida para a fundamentagio filosdfica dos castigos fisicas. Apesar de chicote, seu livro desempenhou um papel importante na lite rarura educacional do sfculo XVII e fer parte da bibliografla citada por Reusseais, junto ao ensaio de Montaigne. © Emilio ou Di educiigdo, de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), um dos textos fundadares da Pedagogia moderna, Nao ha chico- te nele, Se Locke trarou a mentira como um delito a ser castigado, Rousseau aferecew um estudo sobre a capacidade de a crianga mentir. Ble tefleti sobre'a mentira infantil a partir de uma exposi¢ao sobre 0 desenvolvimento humano, O Emilio & 0 primeivo escrito na Filosofia moderna no qual os conselhos ¢ as sugestocs pedagdgicas estao organi- zados como um livro sobre desenvolvimento e aprendizagem, a partir -de uma caracterizaciio de fases de descnvolvimento humane, As segées cstio dispastas em uma sequéncia que comega com a vida do bebe, seguida do seu crescimento como crianga, das vivéncias da adolescéncia edo inicio da vida adulta, Rousseau excreve sobre a desenvolvimento al presen tee stir de suas “reflexes € observagies”, COM a Cony ace a infincias come ele dit no ine ; i i, or @ imporcance are hoje NA Pedagogias mas 0 quadro any OE oon Desenvolvimento fz com que o j te my conhecimmencos na icolOEl# do onieen ‘ a seja visto comme mt documento inaugural, pols gens cia sio reliquias da época em que & infincia estava sendo descoberr, jy, por exemplo, que os movimentos do bebé a0 nascer eram of rfeitos. umano 2 Pa ca nao conbh ppensavs i qos mecinicos de Orgaos impet : A partir do: século XX, a Psicologia infantil, os estudes sobre desenvolvimento humano © aprendizagem résceram € Conquistaram, um espago proprio. ‘Aeducagio tem hoje adisposi¢zo outra € melhor Psicologia infant ue a Filosofia no pode con ribuir para 0s cil, sso ndo quer dizer q ude do desenvolvimento humano ¢ ds aprendizige, pois esses etap2s da vida também dio origem & problemas filosifices, ‘coma veremos. ANTES: de seguir nesse tema, vamos ficar um pouce mais ‘com Rowsseau, com tema dt educacio e scus fandamentos filoséficos, EQUACAO DE ROUSSEAU Vou lemibear una ideia que Rousseau expés no preficio do Emilie He din que # que fae com as eriangas et Figuala ao modo como ss vemos, He rconhece que os conselhos educactonals que apresenis livro, sobre # gue fltzer Com ats erietgas, podem niio ser os melhores, mx scredita que dew o melhor desi para sera que d win eriangay¢ que oS cols depende da ourra. Essa equagio entre o ser da crfansa © 9 deers fre com eas & uma fonce de diffculdades filossficas Suige aqui com roda'a clareza a dimensio ética da educacéo. Como ¢ possive tclicionato er com o diverse? Printeito, deveriamos tet clareza sobe 9 cued uma eanca; depois diso e baseadostisso, & que podemos pens sobreo quederemorea que nao devemos Fazer com elas. Esse problema fees ae ae se a forma, nas propostas na Sse n gace anes sane Re pase ae pea leva dirctamente ao problema de com es que tomamos-nesse campo- 4a ‘SUMO en desemratiments Reman Postos em davida, nfo tém esse problema de jus que adotam. Nas sociedades tradicionals, os dos basicamente pela oralidade, ficagso das pedapngias oO ores culturais, sustente- ; iflellmente 446 ameagades em sua ho- ae sii Essas sociedades, que sio também chama- " + Possiiem uma identidade coletiva sustentada por mitose relatos que asseguram a continuidade de suas formas de vida. No horizonte historico das sociedades miedernus, a justificagio das Tegras morais torna-se um problema filoséfico dificil. Vamos entender aqui essa expressio, “modernidade”, como indicadora de um conjunto de intensas cransformagées politicas, econdmicas ¢ soci ce na época da Revolugio Francesa de 1789 ¢ na Revolugio Industrial inglesa, que comega, simbolicamente, em 1760, com a expansio-e con- solidagio de novas técnicas de fundigao do ferro, Costuma-se dizer que as sociedades Mistéricas so aquelas que do- minam a tecnologia da escrita, Paderiamos sustentar, portanto, que a modernidade, em sentido muito amplo, comegou com a escrita, pois ¢ dificil imaginar as revolugées politicace industriais sem o letramenta da Isso aconte- sociedade. Veremos isso mais adiante, OS BEBES PROFESSORES (Os bebés nao vém ao mundo com manual de instrugées. Temos que escrevé-los, apsendendo a cuidar deles com os mais velhos © com 05 proprios bebés, o que far com que as criangas sojam também nossas professoras e professores. As sociedades tradicionais ndo questionam o manual que seguem desde sempre. As sociedades modernas enfrentam 6 problema da comparagio entre manuais conflitances, As pessoas via~ jam, entram cm contato com outras tradigées culturais © esti eriada a confusio: palmatéria ou nao? Asdificuldades crescem, pois a populagio é cada ver mais heteroginea, torna-se mais cosmopolita © mio € mais possivel recorrer a um fundamento religiose universal. 43 Ftosefa da EducugBo ] Quando levamos esses aspectos para 0 campo da cducacio, cil ver por que surgem as perguntas pelos fiandamentos da edys- Diente de um deyue de valores passtvelsy quals devecion eyeap Come podemos justificé-los? Quais sao os fatos sobre a crign, = sobre o ser humano que devemos accitar como bisicos, income, versos, que devem servic como pontes de partida? De que mag, podemos relacionar fatas, por exemplo, “que 0 cértex pré-fronca) ‘ forma tardiamente na crianga” com valores como.o de “que devs. mos ser mais tolerantes com eriangas”? Quais sto os fatos bisicgs incontraversos sobre natalidade, bebés e criangas que podemos in. vocar como justificativa para fundamentar uma propesta pedagdyi -la em nome de algum planejamento social oy politico? Podemos ver a educagao das eriancas como um meio para a realizacio dos nossos descjos? A Filosofia da Educacao tem visoes conflitantes sobre esses temas. ESTUDAR MEDICINA, ESTUDAR PEDAGOGIA Ha, na internet, um video sobre alguns animais que querem atravessar um riacho. Eles estio em divida sobre se o objeto diante deles, dentro da égua, é um jacaré ou um tronco. Se for um tronco, os animais podem pisar nele ea travessia estard garantida. Se for um jacaré, sera morte certa. As pessoas assistem 20 video e tiram dele as mais diversas conclusdes. A ligéo que eu gostaria de tirar, para iluserar a equacio de Rousseau, é esta: a gente fida com as coisas de acorde com o que pensa sobre elas; 0 que pensamos sobre-as coisas & em certo sentido, nosso jeito de ver a tealidade. Vocés devem estar lembrados que no primeira capitulo eu disse que deveriamos ter cuidado com o uso da palavra “teoria”, As ciéncias que possue™ métodos expetimentais de controle de conhecimento, como a Fisiek ou 2 Biologia, falam com naturalidade em tcorias. A Econom a ologia ¢ a Sociologia sio ciéncias que tém uma forte dimcnsio reflexiva ¢ especulativa, mas também desenvalvem estudos empi ricos controlados, € assim podemss falas em teorias econdmics 44 (Teta ocenemcmrimente humane psicolégicas © sociais, Sem lativa predomina em uma sentido fraco, como “visio”, Pre que a dimensio reflexiva e especu- ciéncia, a expressio “teoria” € usada em + “concepgio” Hai uma tradigao de bom sense no campo educacional, que diz que seducar pessoas nio & uma questio tedrica ou pritica, A edueagio nao pede ser vista como uma ciéneia come a e jologia € tampouco é sensato izer que se trata de uma arte como a pintura, Ela ocupa, na vida hu- mana, uma pasisao intermedidria, somence dela, ¢ isso € © minimo que podemos dizer para fazer justiga & sua natureza “elementar ¢ necessiria”, como escreveu Hannah Arendr. A Medicina ¢ uma ciéncia? Quando Julieta vai estudar Medicina, a formagio dela nao consiste apenas em estudar Biologia, Anatomia, Fisiologia, junto a outros estudos de patologias, seguidos de estudos de farmacologia ¢ por ai adiante. Ha, na vida de Julieta, o paciente, Por mais que ela faca diagndstices baseados em muitos exames, de doengas bem conhecidas, cada paciente € anico, ¢ cla deve sempre procurar o melhor ajuste possivel entre © que ela sabe ¢ 0 caso con= ereto diante dela, A bea Medi bascia-sc em evidéncias cientificas, mas o diagnéstico médico nao € a conclusie de uma operagao ma- temitica. A Medicina, pode-se dizer, ¢ uma arte baseada em muitas cigncias, ¢ ela di salcos sempre que hd avangos nos conhecimentos empiricos nos quais ela se baseia. A pritica médica, no entanto, ocorre em circunstincias um pouco mais particulares do que a pritica pe- dagogica. Educar uma crianga, no sentido sugeride por Kant — 0 de proporcionar a cla cuidados, disciplina, instrugio formativa — um evento ocasional, como uma febre elevada, ia & UMA ATIVIDADE INFORMADA Rousseau dizia que o seu Emilio somente deveria ia a0 médi- co em tiltimo caso. A Medicina de entio néo gozava de boa fama. Ela avancou muito desde a proposigio da “teoria dos germes’, por Louis Pasteur. Nao ha nada parecido no campo educacional, mas isso mostra por que a comparagao entre Pedagogia ¢ Medicina nao é boa. 45 rasan CvenBO ic fldsofs € torias. Quand, ais sablam. Ela ng hegada a do jeito que 8eus P: iro menos a forma de ser tratada por cles, ot peas a Forma como Julleta & cx ficientemente boa, com ou sem dado de criangasy ¢ grande, Quando Julicta curss Psicologia do Desenvolvimento € da cagnicio, métodos de ensino-ap rendizagem, politicas esses eseudos a quiaificam muito, mas ly foi crianca um dia, sempre soube algo sobre Elas so, no entanto, um novo come. por mais que tenhamos 10 espera pela cl A educagio ni Ja foi educadla Julieta mascetl. ¢ escolheu pale mae: s ‘lucacto, no sensido amplo, € 4 dada. A chance da mae dela ser su manuais sobre cui Pedagogia, ela estnda Antropologia, Sociologia: piiblicas ¢ por ai adiante ao comeca do nada. Ela ceriangas, éassim com todos nbs nncontramos ém uma escola, ¢ quando as et fae para novos desaflos. feivo estigios, precisamos estar prontos EDUCAR € HIBRIDO, TENSO E ABERTO Educar, em sentido amplo ou no sentido escolar, ¢ uma atividade informada peo saber disponivel pelos educadores, mas € cambém um processo cula incencionalidade ¢ difusa. Com essa expresso, “intencio- nalidade difusa", quero dizer que as intengdes ¢ as vontades que cercam jetianga nem sempre sao harmOnicas ¢ convergentes ¢ que ha mais do ae ess intengoes em torn dels. Como disse Rousseau, cada um de nés ¢ objeto de mis educagies: somos educados pelos seres humanos que nos cercam, pelas coisas ¢ pela natureza. A cada um desses educadores corresponde uma relacio peculiar Na relacio da crianga com os adultos prevalece o fato de que ela esta su- jeita as intengées ¢ As responsabilidades inerentes ao mundo adulto. O crescimento da crianga depende dessa relagio, que gera uma hierarquia natural. A mamads é wma relacdo entre dois seres humanos, mas o leite © as roupas, as coisas da mundo, vém pela mao da mae. ___Arelagio da crianga consiga mesma, com sua pripria nacuresa, wees seeps sobre © qual pouco podemos agit atenenunt a la mundo interferem nessa histéria, ¢ temos hum controle disso. A subjetividade surge a partit de 46 Ox notin ea eseavitamanta humane uma tcia de subjetividades ¢ das relagdes com as coisas, © isso cria uum mundo intersubjetivo, Ha uma educagao que nos chega por melo dos es! humanos, ¢ hi outra que provém das pedras edos eventos em que NOs enredamos. Hi outra educagao, ainda mais complexa, que vem de dentro da gente mesmo, Assim, a educagio humana é uma situagio hibrida, tensa, aberta, Nas situagdes educacionais acontecem aies € intengéer bumanas, mas ha também eventos © processos sobre os quais nio temos controle, © cachorrinho de Julieta motre; ela percebe que a carne que hi em seu prato é uma coxa de galinha, ¢ ela ama as gali- nhas; ocorre uma tempestade na festinha mais experada do ano € wude cancelado; Julieta leva um tombo € ganha-uma cicatriz ne rosto: os mestres de Julieta estio por coda a parte e usam disfarces. A bos educagio, sugere Rousseau, ¢ aquela na qual conseguimos equilibrar as ligdes que recebemos dos outros, das coisas eda natureza. Sempre que um desses mestres predomina sobre as demais, estamos em risco. podemos ir muit para um lado e virar © barquinho. O balango da vida € delicado, € um equilibrio que rende sempre ao desequilibrio, Assim, para camplicar ainda mais 0 conceito de educacao, chega um momento na vida que a educagda também é aurocducacao. E quase tudo com a gente, pois seguimos no mundo da vida, no meio das agées ¢ intencdes humanas, dos precesras do mundo ¢ daqueles que surgem rcor dos seres em nés mesmos, sem conyite, As informacées que sao valiosas para a educagao surgem de muitas fontes e lugares. Quando Julieta estuda Pedagogia, ela é apresentada as ciéneias da educacio: Péicologia, Historia, Sociologia, Econom Politica cre. Sto ciéneias poderosas, que vido eariquecer a formacio dela, Sem elas a formagao profissional fica aquém das possibilidades de trabalho que existem hoje. Essas cigncias tém uma earacteristica que precisamos examinar mais dé peito, Flas estéo muite proximas da vida cotidiana, ao contririo do que ocorre com a Fisica e a Quimica. Precisamos aqui de uma classificacio das ciéncias. Vou propor um modelo no qual as ciéncias estdo situadas a partir da proximidade que tém com os sabetes cotidianos. Nesse modelo, as ciéncias mais ar Fiona da ucaco abstratas ¢ formais, como a Légica e a Matematica, estio distant vida cotidiana, A Fisica, a Quimica ¢ a Biologia ocupam uy Spay intermediinio, Hea Psicologia ea Sociologia por exemplo, sig ign” que estio muito préximasdo diaadia, Explico de outra forma. Suponha que dois paises tenham Sister politicas ¢ econdmicos em conllico. Eles disputam prestigio np Mindy € querem, por exemplo, langar um sarélite no espago ou mandap Ste, bumanos 4 Lua. Paraiso precisam construir méquinas poderosas«j rer calculog ¢ previsées sofisticados, Usam muita Matemética, Fis , engenharia de ponta, Os paises sto ideologicamente diferentes, Mhasg Matematica e a Fisica sio as mesmas. Essas dreas do conhe: IMD tip sio coloridas pela politica. Figura a ~ As clénclas ea vida cotidiana Mundosdawida cotidiana Quimica Bloiogia Algo parecido se passa na Biologia © na Quimica. O remédio que Sura os habitantes de um pais cura também os moradates do outro Pols © virus desconhece as franteiras nacionais, campo das ciéncias humanas, nelas ndo ha essa separagao fo Quando entramos no a8 coisas s80 mais complicadas, pois te entre sujeite € objeto, Os ciencistas navurais estudam coisas cuja existéncia independe deles, O psicélogo, em certo sentido, investiga cle mesmo, um ser humano, Nas cién ‘a sorlais ¢ humabas, tanto os cicmtiseas quanto ox seus objetos = 8 Beate — passucm uma dimensio histories, cultural, social, valorative- 48 OU Mba ene De uma forma simplificada pode-se dizer assim: as ciénci i earsai certos fendmenos sob o aspecto de causas-e Glsos Nea lin- cias humanas, além da dimensio de causas, & preciso considerat o agente humano tem morinapées ¢ razbes. Ns wy falamos do me entre Romeu e Julicta, por exemplo, como um eventa eansado por algum proceso natural, bioquimico. " ___ Em resume: as ciéncias humanas esto prsximas do mundo da vida cotidiana € a consequéncia disso é que os ideais de objetividade amor a verdade tipicas das ciéneias sio ainda mais desafiadores las. Os fisicos de um pais nao podem manipular as leis da nacureea para facilitar a viagem dos seus foguctes, Q mundo natural exerce um controle externe implacavel, J4 o filésofo enamwrado por um sistema politico corre © risco de que as paixdes politicas enviesem sua visto das relagdes humanas, Isso é algo da natureza humana. com © que precisamos conviver. Néo fossc a capacidade humana de questionar hibitos de pensamento ¢ convicedes politicas, Romen ¢ Julieta nto teriam seguido 0 namoro. As ciéncias sio uma questo de ner ben a realidade. Isso é:mais difi- cil em algumas siruagSes do que em outras, mas & dessejeiro que somas. “As ciéncias humanas sao mais porosas aos impactos do mundo da vida, quando comparadas com a Matematica outa Fisica, Hi diferengas de vyisdes na Pedagagia, como todos sabemos, ¢ seri terrivel o dia em que ndo houver mais isso. Nossa fragilidade € nosso encanto ¢ as criangas exercem um controle externo que devemos reconhecer. ne= FATOS EVALORES, TEORIAS E PRATICAS ‘A essa altura deve ficar claro que as relagoes entre fates ¢ valores sém tudo a ver com 6 rema do desenvolvimento ¢ da aprendizagem humana, Como disse Rousseau, as decisdes (inspiradas por valores) ligadas & forma como sobre o que devemos fazer com as criangas ¢stio Seu voeabulirio em “teotia” e “pritica”. as vemos. Rousseau nao falava cipal era sobre o estado deplocivel era mais modesto € sua queixa pri do saber sabre as criangas. 49 sflosoha 0» desarutvimento humane De uma forma simplificada pode-se dizer assim: as ciencias natu estudam certas fendmenos sab o aspecto de causas ¢ efeitos. Nas cién~ clas humanas, além da dimensio de causas, € preciso considerar que agente humano tem motivagies © razes, Nos nio falamos do amor entre Romeu ¢ Julieta, por exemplo, como um evento cassado por algum proceso natural, bioquimico. Em resumo: as ciéncias humanas estio proximas do mundo da vida cotidiana © a consequéncia disso ¢ que os ideais de objetividade c amor 4 verdade tipicos das ciéncins séo ainda mais desafladores ne- las, Os fisicos de um pais nio podem manipular as Ieis da natureza para facilitar a viagem dos seus foguetes, O mundo nacural exeree um controle externo implacivel. Jé 0 fildsofo enamorado por um sistema politico corre 0 risco de que as paixdes politicas enviesem sua das relacées humanas. Isso é algo da narureza humana com © que precisamos conviver. Nio fosse a eapacidade humana de questionar habitos de pensamento e convicgdes poliricas, Romeu € Julieta nao teriam seguido o namero. As cigncias'sto'uma questio de ver bem a realidade. Isso € mais difi- cil em algumas situagGes do que em outras, mas é desse jeito que somos, As-ciéncias humanas sto mais porosas aos impactos do mundo da vida, quando comparadas com a Macemitica ow a Fisica. Ha difetengas de visdes na Pedagogia, come todos sabernos, ¢ send terrivel o dia em que nio houver mais isso. Nossa fragilidade & nosso encanto ¢ as criangas exercem uni controle externo que devemos reconhecet. FATOS E VALORES, TEORIAS E PRATICAS Avessa altura deve ficar claro que as relagdes entre fatos © nalores tém tude a ver com a tema do desenvolvimento ¢ da aprendizagem humana, Como disse Rousseau, as decisder (inspiradas por valores) sobte « que devemos fazer com as criangas estio ligadas & forma como as vernas, Rousseau no falava.em “teoria’ e “pritica”, Seu vocabulério cera mais modesto ¢ sua queixa principal era sobre o estado deplorivel do saber sobre as criangas. ao fsa da emcee conhecimentos sobre 2 infing, Rousseau se quefxava da falta de ude sobre o desenvolvimento hy, Filo & entre outros aspectos, Wm eS mano em apoio a propostas peda ogieas Ele regonhee, 10 enti, que a crianga estf rodeada por mult gente ¢ vive no micio de muity, ‘coisas, assim nao podemos pensar que temes um controle completo dy sua educacio, A educacto, come as artes, pode ter resultados impr siveis: A diseincia encre a visio © a decisio, ‘entre a teoriae a pritica ery cara para Rousseau. Kane era urt leitor encusias mado de Rousseau ¢ det aulas de Pedagogia inspirado ncle. Suas ligdes nfo so longas € exaustivas como ve de Rousseau, mas segue 6 mesmo-esquema, que consist em suger principios negeas pedagégicas depois de ua -expasigaio sobre as carag, teristicas basicas dos seres humanos. Eo conhecimento das caracteris. treas do desenvolvimento human que nos permite pensar na arte PA educacio. As “disposigdes naturais” do ser humano, por sua vez, nio se desenvolvem por si mesmas, A educagao de cada um de nés é um traba tho de arte de nassas pais, de nossos cuidadores, das escolas, Assim, diz Kane, a Pedagogia deve tornar-se um estudo, E hoje? Depois de um século ¢ meio de investigagées sobre desen- volvimento ¢ aprendizagem, 0 quadro € outro, Nesse mesmo periods, 4 Pedagogia incorporou aovas fortes de reflexto. O que devemes face com as informagbes que temos hoje sobre bebés, criangas, adolescents ‘Como e em que medida esses conheclmentos podem ou dene oriemtar nossa pritica docente? Néo parece haver diivida de que aquile qu sabemos deve apoiar aquilo que fazemos, mas as coisas nao sto assim tip Rlecis, a educagio € um mundo de muitas vores ¢ visbes. As com cepgies educacionais sao por vezes divergentes, competem entre sis © nada sugere que as polémicas tenham fim. F nossa abrigagio sen compreender melhor esa hstéria, Para isso, precisamos et ums visi tmais rica ¢ abrangente de algumas das caractersticas das ciémcias © 4% conhecimentas humans, §0

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