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A familia dentro de nds — genogramas Este capitulo abrange: + Padroes de familia © Roteiros de familia * Narrativas de familia _ * Construgao e uso de 41 "+ Um novo olhar para his DRGOES DE FAMILIA E ROTEIROS DE FAMILIA Somos todos influenciados pelas nossas familias de origem. Elas nos passam néo apenas 0s genes, mas também crencas, mitos e regras, implicitas ou explicitas. As vezes nos transmitem até algumas das suas doengas ou problemas. Quando nos unimos com um parceiro(a), levamos em consideracio a “bagagem familiar” dele(a) e, se temos filhos, sejam adotados ou biolégicos, podemos também passar essa bagagem para eles —e eles podem carregar parte disso durante a vida e trans- mitir para as proximas geraces. Padrdes de relacionamentos familiares também tendem a ser transmitidos de geracao para gera¢io. Nao esta sob nosso controle 0 fato de que somos influenciados pelo que vimos e vivenciamos nas nossas fami- lias de origem. Um pouco disso é mediado pela cultura. Um pouco é altamente idiossincratico dentro de uma dada cultura. Com nossos filhos, podemos cons- cientemente desejar fazer 0 mesmo — ou 0 contrario — daquilo a que fomos expos- tos quando fomos criados. Mas talvez nao nos demos conta sobre como repeti- mos 0s roteiros familiares - apesar de um intenso desejo consciente de nao fazé- -lo. E todos nds, individuos e casais, com ou sem filhos, ainda levamos todos os nossos padrdes de familia, crengas e “culturas” para cada minimo detalhe das nos- sas vidas: no modo como reagimos ao chefe, como tratamos nossos amigos e ini- migos, e na maneira como pensamos sobre lavar nossas maos! De uma forma ou de outra, levamos nossas familias para onde vamos. INCAS, MITOS E ROTEIROS FAMILIARES A maioria das familias possui seus proprios mitos, alguns aos quais se faz referén- cia abertamente, outros que nunca sdo identificados como mitos, mas que fazem ‘em integradas, partilhadas por tog, suas posigdes mituas na vige 08 Men Todos os envolVidos, apesar dag gig * mi, nificar (Ferreira, 1963), re | a série um elacionade & © or »incontestadas P: suis ivelmente sig! ‘da em familia. Esses mitos tendem a se relag; parte da grande pees de género, ideias sobre doengas, forcas a muitas quests g sistemas de crengas, NOssos desejos © preocupacie, V% da familia. Nossos modo como nos relacionamos uns Com os on agoes; nosis ante t igo previsivel, como se Fosse escrito Por Mios invisig isso oe Os roteiros de familias nado sao escritos, obviamente, Hee amrendidos, normalmente, por um periodo de muitos anos, Por mein a em comportamentos que dizem respeito a construc, ao. Esses roteiros prescrev‘ ‘ ouao rompimento de relacionamentos, ou a como criar filhos, quais sao os Papi dos parentes e 0 que é geralmente permitido ou nao. s filhos, em sua maioria, aprendem a ser pais a partir das experiéncias dir. tas que tiveram com seus préprios pais, que por sua vez aprenderam com os pais¢e. les, Uma geracao depois, isso pode resultar em roteiros de repetigdo, nos quais un estilo semelhante de paternidade e maternidade é adotado, ou em roteiros come- vos, nos quais sao feitas tentativas de corrigir os supostos “erros” das geragdes ante. riores (Byng-Hall, 1995). Nao importa se eles forem de repeticdo ou corretivos,os roteiros de familia podem ser como camisas de for¢a, mesmo se nao ha conbe mento consciente sobre a sua presenca ou sobre os seus efeitos restritivos. E aqu estd o fato interessante: sintomas fisicos ou psicolégicos sao frequentemente ostin- cos sinais de que as pessoas se fixaram nos seus papéis roteirizados. A doencaéum caminho para romper com padrées repressivos — mas isso tem um custo. Entao, quem ensinou vocé a se preocupar com as coisas da forma comovet Se preocupa?” * “Onde vocé . . oe rose aprendeu isso, a ficar sempre se desculpando por vocé mesmo! eve essa ideia sobre alimentacao da sua mae ou do seu pai?” eis manej Papéis desconfortiveis an de escapar de sermos “tipificados” € marta "as toma-se possi olhar mais de perto drama fa sivel exam) Perto as varias pessoas no eB gi 10 minutos para afamiia 99 causam os problemas atuais. Isso também permite que as historias do passado se- jam reescritas, com novas resolu¢Ges e novos finais. O genograma é uma ferramenta excelente para extrair histérias sobre as fa- milias, ou, colocando em palavras mais modernas, para criar “narrativas de fami- lia”, Ele ajuda a estabelecer a histéria da vida do paciente — e das suas doengas. A partir disso, novas investigagGes sao possiveis. A histéria nao tem que se repetir — embora a Sra. D esteja a ponto de aceitar um roteiro antigo. 0 préximo, por favor... A Sra. D, mae de Natalie, de 4 anos, solicitou uma reuniao com a enfermeira — que ela havia encontrado pela tiltima vez quando Natalie estava no seu primei- ro ano de vida. Ela disse que a filha Ihe dava muitas preocupacdes, ¢ que agora estava preocupada por pensar nao ser uma boa mie. Os exemplos que a Sra. D deu sobre o comportamento de Natalie nao pareciam especialmente preocu- pantes para a enfermeira. Sem saber muito sobre a familia, ela sentiu-se um pouco perdida, e perguntou a Sra. D, “Vocé se importa se eu perguntar um pouco sobre a histéria da sua familia?” A Sra. D falou sobre o marido e sobre a sua irma solteira. A enfermeira perguntou se ela poderia fazer uma “arvore da familia... para que eu possa entender quem esta por perto na sua vida, quem é ou foi importante”. Ao falar sobre os seus pais e avés, a Sra. D revelou que a sua avé havia morrido quando deu a luz sua mae. Ela disse que sua mae sempre ha- via se sentido “estranha” e que ela tinha muito pouca autoconfianga. Ela sofreu de depressao recorrente e precisou ser hospitalizada em diversas ocasides. Apos mais algumas perguntas, a Sra. D lembrou-se da primeira vez que a mae havia sido hospitalizada: “Eu tinha mais ou menos a idade que a minha filha tem agora”. A enfermeira nem precisou dar a deixa para a Sra. D fazer a conexao, pois ela mesma perguntou: “Vocé acha que isso tem alguma coisa a ver com 0 ‘comportamento da minha filha?” NARRATIVAS DE FAMILIA Ocampo da terapia de familia (White e Epston, 1990; White, 1997; Morgan, 2000) fez significativas contribuigdes que se aplicam a cendrios de Atengdo Primaria 4 Satide (APS). Ele est baseado na ideia de que todos tentam dar significado as suas experiéncias. Nossas vidas didrias so cheias de eventos pequenos e maiores, que tecemos juntos, ao longo do tempo, e que em algum momento formam uma his- toria. Terapeutas narrativos dizem que os eventos estao ligados em sequéncia ao longo do tempo e de acordo com uma trama. Poderia se dizer que nds compreen- demos e vivemos a nossa vida por meio de historias. Existem, obviamente, muitas histérias simultaneas — e as vezes conflitantes — que temos sobre nossas vidas e re- lacionamentos. Estas podem incluir hist6rias sobre aquilo em que somos bons ou no; histérias sobre nossas conquistas e fracassos; sobre nossas ambigées e habili- dades; sobre nossos interesses e coisas de que nado gostamos. Como interligamos 100 ‘Asen, Tomso! Young & Tomson 1 . ais v ptrias— quais areas so veradeiras~ depen essas hil terligamos 08 eventO8 ¢ que significados foram atribusdos a gj, | como intel 7 spedico: “Em quai historias sobre vocé mesmo € mais til acy a , oe ; Se voce acreditasse completamente nas historias dos seu Fe oct, 0 que iso significaria para voce? a ama éuma ferramenta potente para investigar historias q, O genogré A ir 1 dog " ‘o padroes passados vém a influe a, erelacionamentos, e sobre como P P Clar 0 presen 0 préximo, por favor-~ «Bons seu medic de faa devido alguns stoma uy, Ose em psiedade, Quando questionado sobre a familia de orgen, aa Mitos médicos existe toda uma categoria de mitos que se relacionam especificamente x crengas sobre doencas e sade e, dentro desta, ha uma categoria de mitos métioos § qual os profissionais, intencionalmente ou nao, contribuiram. Hardwick (1989) a aepyeu um relato muito itil sobre mitos médicos. Ele caracteriza varias diferent distorgées (talvez digamos, agora, ideias alternativas) que ocorrem: Sobre a presenga de um problema Sobre a gravidade de um problema Sobre a recuperacao ou auséncia de recuperagao de um problema Sobre a forma como um problema se manifesta Sobre a causa de um problema Sobre 0 tratamento de um problema Sobre a transmissao de um problema ‘Aqui estdo alguns dos mitos para agugar a sua curiosidade: “Se nés ndo cozinhéssemos comida especial para ele, ele morreria de fome’ ‘Se nao cedermos, ele vai ter um ‘ataque’ e pode morrer” “Deve-se sempre agasalhar uma pessoa com febre/ transpirar Pare colocar um resfriado para fora” Aqui esta outro mito conhecido: “Os médicos disseram que eu ter razido ate ” morrido se vocé nao tivesse me t a Pe aeceouets 0 aie omais familiar, "Os medicas no hospital cisseram que eu est¥6 ar seu conselho — eu estava a poucas horas da morte” Hardwick também da vari sygo inclui enter meitos e paranel 4a varios exemplos de mitos iatrogénicos (eiss0 incl Os pais ° médicg defeats um adolescente altamente ansioso, escutaram casuaimen'® mento. A Ares ieas *psicético” enquanto ele ditava uma carta de ene fe medicacao confirmou os medos da familia, 4® ue ai parecia-se co mum parente que tinha doenga mental. A familia tO"MOY-S asa assustada e montot ° 7 cee ° Que os sntoree ot am Vitia de 24 horas em cima de Stuart Nao gil ‘aumentaram, confirmando a necessidad® — Easemente Tente ident familia de origem. icar um mito médico nas consultas de amanha e outro em sua que era um “tpico filho do meio”, O irmao mais velho sempre foi visto por todos como 0 cérebro da familia, saindo-se bem na escola e na universidade. O irmao mais novo foi apelidado de“sr. Encantador’, fazendo todo mundo rir desde mui- to cedo. Ele seguiu uma carreira de sucesso no teatro. Quando perguntado se ele também havia adquirido um apelido na infancia, o Sr. B revelou, com um pouco de vergonha, que ele costumava ser chamado de “Fraquinho”. Quando lhe foi pe- dido que elaborasse um pouco sobre a sua hist6ria de ser um “fraquinho’,o Sr. B falou sobre como estava “bem no meio dos meus dois irmios fortes”, sendo um “alvo fraco” para as brincadeiras deles. Ele também lembrou que haviam lhe dito que ele era fraco no cérebro, e de alguma maneira isso havia ficado na cabeca dele. Quando questionado, referindo-se as diferentes pessoas em um diagrama da familia ~ 0 genograma -, quem na familia partilhava da visao sobre os irmaos, 0 Sr. B apontou, em tom de acusagao, seus pais, avés paternos ¢ varios tios¢ tas. O médico de familia perguntou, entio, sobre os avs maternos, e a voz do Sr. B quase falhou quando ele disse: “Eles eram diferentes”. Eles sempre me disseram que eu era forte... que eu era especial.” A historia dominante sobre o Sr. B no inicio da sua vida era a histéria de al- guém que era fraco, um alvo facil de vencer. Ao longo do tempo, mais e mais even- tos e experiéncias foram selecionados dentro da trama dominante, tornando-se, com isso, a “realidade” aparente. O Sr. B, em certo momento, acreditou nas histérias sobre ele. £ dificil escapar de tais tipificacées e tramas. Apesar disso, as nossas vidas. consistem em mais do que apenas uma histéria — diferentes histérias podem ser contadas sobre o mesmo evento. Se o Sr. B fosse solicitado a dar exemplos de even- tos que nao se encaixassem na historia de uma pessoa fraca e impotente, talvez ele tivesse dificuldades iniciais. Entretanto, se fosse questionado sobre 0 que os avés maternos tinham a dizer sobre ele, talvez ele tocasse em uma narrativa alternativa. MONTANDO A ARVORE DE FAMILIA Alguns servicos de satide pedem as pessoas ao se cadastrarem que preencham um formulério’ que contém uma drvore genealégica. Isso € itil para ajudar a equipe aver rapidamente quem esté na familia, e pode ser uma maneira efetiva de se re- lacionar com a(s) pessoas(s). Mas cuide para que isso nao se torne uma ferramen- ta de coleta de “fatos”, porque é o processo em si, de construir 0 genograma com a pessoa, que é uma troca criativa. O genograma: (o Brasil, em muitos locais, um primeiro genograma estrutural é realizado pelos agentes Comunitérios de satide por ocasiao da visita domiciliar para cadastrar a familia. ‘ason, TomsoN Yous "— _— 102 magoes biomédicas ¢ psicosociai mass de dados para referencia Futura interesse do profissional pelo contexto de vida das — vetorias inesperadas . aes entre eventos & pessoas aparentemente desconectados entre Myeraionais de doengas € OmPOTTAMENoS poy roblema apresentado em um contexto histérico a « Coloca 0 pr nei fissional sobre a pess Desperta novas curiosidades no pro! Pessoa e na pesos | 4 esa relagao a ela mesma ; - utico e diagndstico, da mesma forma em que cong Jlor terapél ji i ii ¥ wether relacionamento entre profissional e pessoa atendida, Uy mel | Para construir um genograma, € necessirio um pedaco de papel de bony smanko £0 médico de famfiaenfermeiro que desenha a érvore da familia com dada pessoa. O mapa em desenvolvimento torna-se 0 centro de interesse, 0 foc9, a Nicole Geovana Dias Diora Resienie = * . Jo Norie ‘Thiago Gomes da Trindade eis aaa edo Sul José Mauro Ceratti Lopes xe ~~ Robinson Cardoso Machado ondon Santa Catarina Marcela Dohms ; Zo Paulo Fernanda Plessmann de aoa Carvalho or Rubens Carvalho Tanta Raimundo Célio Pedreira D532 Dez minutos para a familia : intervengoes sistémicas em Atengao Primaria a Satide / Eia Asen ... [et al.] ; traducdo: Sabrina Mello Souza ; revisio técnica: José Mauro Ceratti Lopes. Porto Alegre : Artmed, 2012. 263 p.325.cm. ISBN 978-85-363-2773-0 1. Medicina de familia e co; I. Asen, Eia, munidade. 2, Atencio Priméria & Satide. CDU 614 Ci stalogacdo na publicacio: Ana Paula M. Magnus CRB 10/2052

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