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Le —_ Edigio © preficio copyright © 1991 by Heloisa Buarque de Hollanda Organizagao de 5 HELOISA BUARQUE DE HOLLANDA. Dilteitos para a Kngua portuguesa reservados, 7 com exclusividede para o Brasil, & EDITORA ROCCO LTDA: Rua da Assembléla, 10, Gr, 5101 2245859 Printed’ in Brazil/Ispresso no Bresil Lg ar ll an Mh Dowes POS-MODERNISMO.E pout anisms Poa revisio Savona Pissano/Wenostt SerUaKt HHEsnique TARNAPOLSKY Vy j rP-Biasil. Catalogactonufonte Sindicato Navionel dos Editores de Livros, RJ. er ‘Pésmodernismo e politica / organizagio de Heloisa Buarque ¥ : peas. de Hollands, — Rio de Janciro + Reczo, 1991, : Bibtiografie, 1. Pésmodernismo. 2. Cultura, 1. Hollanda, Heloise Buarque de, 1959- ‘ CDD — 306. 709.4 cpu — 008 states 7.088 : Rio de. Janeiro — 1991 4 POSMODERNISMO E POLITICA Homi Bhabha analisa os processos de subjetificagso do discurso estercotipico, enquanto Edward Said, num ensaio onde reconsidera as colocagies de seu cléssico trabalho Orien- talismo, discute antropologia e a etnografia européias a partir Ga critica epistemol6gica das articulagSes do desenvolvimento do historicismo tradicional com as préticas atuais do imperia- Jismo cultural e econémico. A emergéncia de um “pensamento diferencial”, marcado pela preocupaggo em problematizar de forma radical o nexo que mantém ligados identidade ¢ lin- guagem, constitui a perspectiva central das estratégias de lei- tura dos atuais estudos sobre as diferengas raciais e sexuais. As discusses propostas por Jane Flax e Henry Louis Gates Jr evidenciant, neste sentido, em que medida as teorias feministas © 08 estudos étnicos podem atualmente ser considerados uma intervensio n&o apenas politica mas epistemolégica. Tora-se claro, a partir da leitura do conjunto destes en- saios, que a “situago de pésmodernidade”,, como a define Lacleu, abre, de forma irreversivel, um espaco discursivo onde © que € desafiado no € tanto a diferenciacao de identidades sociais, como ocoria na década de 60, quanto a légica ¢ 0 status de sua construgGo. A realidade pésmodema spresenta- se assim como realidade tética cuja eficécia é diretamente pro- porcional @ sua Juta contra a linguagem ¢ ao seu compromisso com a desarticulago dos vérios e sutis sistemas de dominagio ainda hegeménicos. © que parece, sobretudo, estar hoje em questéo (¢ que demande, sem divide, uma imaginago politica tinica na his- ‘t6ria) nfo ceria apenas a simples rejeiggo do projeto modero, mas, ainda segundo Laclau, a eficécia de uma modulagio ferente de seus temas ¢ categotias, de uma maior proliferasgo de seus jogos de linguagem © da ampliagfo radical do contetido © dos valores da modemidade, procurando responder assim & situagio concreta ¢ desafiadora do quadro politico gerado pelo surgimento de um felacioso pluralismo neoliberal e do exiguo espago disponivel para a -viabilizaggo de uma cultura demo- crética no contexto de uma cultura e de uma economia mul- tinecionats, MAPEANDO O POS—MODERNO* Andreas Huyssen Uma historia No verdo de 1982, visitei a sétima Documenta, em Kassel, na Alemanha Ocidental, uma exposicéo em que se represen- tam as mais recentes tendéncias da arte contemporinea 2 cada quatro ou cinco anos. Meu filho Daniel, entéo com cinco anos de idade, foi comigo e conseguiu, involuntariamente, fazer com que o mais recente em matéria de pés-modernismo se tornasse realmente pelpével para mim. Ao nos aproximarmos do Fride- ricianum, 0 mtiseu que abrigava 2 exposigio, vimos um grande € longo muro de pedras, aparentemente empithadas a0 acaso, 20 lado do museu. Era um traballio de Joseph Beuys, ume das principais figuras do cenério pés-moderno hé pelo menos uma década. Chegando mais perto, percebemos que milhares de enormes locos de basalto haviam sido arrumados em ap formagdo triangular, cujo angulo menor apontava para uina yore recentemente plantada — tudo isso como parte do que Beuys chama escultura social ¢ que, numa terminologia mais tradicional, teria sido considerado uma forma de arte apli- cada, Beuys havia dirigido-um apelo aos cidadios de Kassel, * “Mapping the postmodern” fot publicado em New German Critique, 1 33, Fall 1984, University of Wisconsin Press, Andreas Huyssen é professor de literatura comparada na Universidade de Coldmbis e autor de After the great divide. uma triste cidade provinciana reconsttuida em concreto apés os pesados bombardeios da dltima guerra mundial, para que sc plantasse uma drvore com cada uma de suas sete mil “pedras de plantio”. O apelo — pelo menos inicialmente — havia sido recebido com entusiasmo por uma populagio geralmente Pouco interessada nas dltimas gracas do mundo artistico. Da- niel, por sua vez, adorou as pedras. Eu o observei escalar e descer, ir e vir. “Isso € arte?”, perguntou ele de forma pro- saica. Faleilhe sobre a politica ecoldgica de Beuys e sobre a morte lenta das florestas alemas (Waldsterben) decorrente da chuva écida. Daniel continuava a brincar em volta das pe- dras, escutando distraidamente os poucos e elementares con- ceitos que eu buscava transmitir-lhe sobre como se faz arte, | sobre a escultura como monumento ou antimonumento, sobre | 8 arfe para ser escalada ¢, finalmente, sobre a arte destinads | a0 desaparecimento — as pedras afinal desapareceriam da | rea do muse tio logo as pessoas comegassem a plantar a frvores. Mais tarde, dentro do museu, contudo, as coisas tomaram rumo bem diverso, Nas primeiras salas, passamos por uma coluna dourada, na verdade um cilindro metélico inteiramente coberto por folhas douradas (de James Lee Byars) e uma erga perede dourada de Kounellis, com um cabide de rou- pas, incluindo chapéu e casaco, colocado a sua frente, Teria © attista, como um Wu: Tao-Tse dos dias de hoje, desapa- recido dentro da parede, dentro de seu trabalho, deixando para trés apenas seu chapéu e seu casaco? Nao importa quio su- gestiva pudéssemos achar a justaposicfo do banal cabide de roupas & preciosidade da brilhante parede sem portas, uma coisa parecia clara: “Am Golde hiihgt, zim Golde hangt die Postmoderne” (Do_ouro depende; pata ouro tende o pés. moderno). Algumas salas adiante, encontramos @ mesa espiral de Mario Merz, feita de vidro, ago, madeira e placas de srenito, com gelhos projetando-se para’ fora do pardmetro da forms- go espinal — mais uma vez, assim me parecia, tratava-se de uma tentativa de cobrir os tipicos matetiais duros da era} JPodemista, 0 vido, com outos mais flexes « *nae- lrais", no caso o arenito ea madeira. Havia conotagées de Stonehenge ¢ ritual, obviamente’ domesticados e trazidos para "as proporgées de uma sala de visitas, Eu estava tentando asso- ciar em minha mente o ecletismo dos materisis usados por +4 Merz com 0 ecletismo nostilgico da arquitetura pés-modema + § ow o pastiche de expressionismo na pintura dos neuen Wilden, [exibida com destaque em outro. prédio da mostra. Em outras palavras, estava tentando fiar uma linha vermelha através do labirinto do pés-moderno. Entio, num estalo, 0 padrdo se esclac! receu, Quando Daniel tentava sentir as superficies ¢ fissuras\ do trabalho de Merz, passando os dedos ao longo das pla- cas de pedra ¢ sobre o vidro, um guarda aproximouse rapi-| damente gritando: “Nicht berihhren! Das ist Kunst!” (“Nio| toque! Isso é arte!") Pouco depois, cansado de tanta arte, Daniel sentavase nos sélidos blocos de cedro de Carl André, } apenas para ser expulso dali com a admoestaglo de que arte! no servia para sentar. / Ali estava ela, de novo, a velha noglo de arte: no to- fue, nfo ultrapasse. © museu como templo, o artista como (fess ‘a obra como reliquia e objeto de culto, a aura res- ftaurada. De repente o privilégio dado ao ouro nesta expo sigdo passou a fazer muito sentido. Os guardas, evidentemente, apenas executavam o que Rudi Fuchs, o organizador da Do- cumenta, tfo bem informado das tendéncias atuais, tinha mente o tempo todo: “Desvencilhar_a_arte_das diversas. pres ies, 305s perversies soviis_aue ela tem enfrentado.”” Os debates dos limos 15 ou 20 anos sobre o modo de ver © experi- mentar a arte contemporinea, sobre imaginagio e producio de imagens, sobre as ligagdes entre arte de vanguarda, icono- grafia dos meios de comunicac&o e publicidade pareciam abo- lidos, deixando o quadro limpo para um novo romantismo. Mas isso encaixa perfeitamente bem, por exetiplo, com as celebragdes da palavra profética nos escritos mais recentes de + Cutélogo Documenta 7 (Kassel, Paul Dierichs, sd. (1982), pig. XV). 18 POSMODERNISMO E POLITICA Peter Handke, com'a aura do-“pés-moderno” no cenério artis- tivo de Nova York, com a autoestilizacéo do cineasta como auteur em Burden of dreams, documentério sobre a realizagéo de Fitzcarraldo, de Werner Herzog. Basta peniar nas imagens finais do filme, uma épera em um navio no Amazonas. Bateau jvre chegou a ser cogitado pelos organizadores da Documenta como titulo para a exposiso. Mas, enquanto 0 velho barco a vapor de Herzog era realmente um biteau ivre — a opera 1 na selva, um navio carregado ‘For sobre uma montanhe —, © Bateau ivre de Kassel estava apenas tornando-se mais mode- rado em sua pretensio. Considerese este trecho, tirado da introdugdo do catélogo de Fuchs: “Afinal de contas o artista € um dos tltimos praticantes da-distingéo individual.” Ou, novamente segundo Fuchs: “Aqui, eto, eomega nossa expo- sigdo; aqui esto a euforia de Hélderlin,-a légica serena de T.S.Eliot, © sonho inacabado de Coleridge. Quando 0 vie- jante francés que descobriu ab Cataratas do -Nidgara voltou a Nova York, nenhum de seus sofisticados amigos acreditou em F sua fantéstica histéria. Qual € a sua prova, perguntarem, apr fMinha prova, disse ee, € que eu as vi" S10) Cataratas do Nidgara e Documenta 7.— jé vimos tudo jpisso antes. Arte como natureza, natureza como arte. O halo C7 que Baudelaire certa ver perdeu mim movimentado bulevar “ jaf % Patis esté de volta, a aura réstaurada, Baudelaire, Marx ap (GE 7e, © Benjamin esquecidos. 0 gesto em tudo isso 6 patentemente V6 1%, 7 © antimoderno e entivanguardista, Decerto alguém poderia argu- DO" ° mentar que, com sua referéncia a Hélderlin, Coleridge ¢ Elict, 2, AL’ Buchs tenta: reviver o proprio dogma modemista — ainda é Outea fostalgia pésmoderna, outro retomo sentimental a um tempo em que a arte ainda era arte. Mas o que distingue essa nostalgia da propria coisa, ¢ 0 que a faz Am tiltima ins- tincia antimodemista, é sua falta de'ironia, reflexio ¢ divide iz relagio a si propria, seu entusiasmado abandono de ume } | i consciéncia critica, sua ostensiya _autoconfianca e a encena- gio de sua convieséo (visivel mesto’ nos arranjos espaciais dentro do Fridericianum) de que deve haver um dominio de 2 Thidem a boar ® 1 Pureza para a arte, um espago além daqueles infelizes “di- ‘ersas pressbes e perversies sociais” que a arte tem tido de enfrentar.” ‘A mais recente tendéncia na trajetéria do, pds-modernismo, corporificada, em minha opinifo, na Documenta 7, baseia-se uma quase total confusio de cédigos: Ala € antimodema ¢ altamente 2, HRS SE “Apresenta como um retorno & tre \ disse moderiisms ¢ antivanguarda por simpléstmente escolher desqualificar a preocupasao crucial da vanguarda com a cri : rd 1} $80_de uma nova arte numa sociedade -alternativay mas si vanguarda na sua apresentagio de tendéncies atuaigf num CERO sentido, é mesmo anti-pés-modema, jé que aban. dona qualquer reflexdo sobre SF -problemas que a exaustio do alto modernismo originalmente, suscitou,. problemas que a arte , pésmodera, em seus melhores momentos, tem procurado en- ;, frentar esseticamente ¢, em alguns momentos, mesmo politi- ‘\ camente/A Documenta 7 pode ser vista como o perfeito sim: ¢ | lacr0 exfético mo ombiriado com(@nanésia_estét | e@eliti6s de" grandezs> Ela representa o tipo de restauracal (P| posmoderna de um todernism> donctwant que parece estar ganhando terreno na era de Kohl-ThatcherReagen e corres | onde 20s ataques de movimentos politicos conservadores & cultura dos anos 60 que t8m crescido. em ‘volume © malicia { nestes dltimos at \ © problema Se isso fosse tudo o que pudesse ser dito sobre o pésmoder- nismo, nfo valeria a pena tetomar o assunto, Eu poderia muito | > Evidentemente, iso no tem intenso de ser uma avaliaeio “justa” da mos. ou de todos ot trabathos nela exibidos. Deve estar claro que (0 gue 1 interes aqui € a dramaturgia.de.mostta, 0 modo como ela | fol con : ida e apresentada ao pil a discusiso mais deta © thada d® Documenta 7, éonéulter: Benjamin H.’D. Buchioh, "Documenta 7: a Di onery''of Received Ideas* (October 1.22, outono de-1962, NN 0 -POS-MODERNISMO E POLITICA bbem parar por aqui e me juntar ao formidavel coro daqueles que lamentam a perda de. qualidade e proclamam o declinio das artes desde os anos 60, Meu argumento, contudo, seré diferente. A recente retérica dos meios de .comunicagfo sobre © péemodernismo em arquitetura ¢ nas artes, ao mesmo tempo que tem colocado o tema em evidéncia, vem igualmente ten- dendo a obscurecer longa ¢ complexe histéria da questio. Boa parte de minha andlise baseia-se na premissa de que, © que aparece em um certo nivel como a iltima tendéncia, auge publicitirio e espetdculo vazio, é parte de uma transfor- mag&o cultural que emerge lentamente nas sociedades ociden- tais, uma mudanga.da sensibilidade para a qual o termo “pés- modernismo” é realmente, pelo menos. por enquanto, inteira- mente adequado. A natureza e a profundidade dessa trans- formagio podem aié ser discutiveis, mas hé_uma_transforms., of do, Eu nao quero ser mal entendido, pois nao afirmo que } “exista uma total modificagéo no paradigma.das ordens cultu- “4 ral, social & econémicai® qualquer nesie sentido se- ‘tia claramente exagerada, Registra-se, contudo, em importante setor de nossa cultura, uma notdvel mudanca nas formacées de sensibilidade, das praticas ¢ de discurso que torna um conjunto pés-moderno de posigées, experiéncias e propostas { distingufvel do que marcava um periodo precedente,/O que precisa ser mais amplamente esclarecido é se essa_transfor- | mag&o tem gerado verdadeiramente(hovas formas es vérias_artes ou se ela_predominantemente fa t8er € \Cestratégias do proprio modernism®} reinscrevendo-as num con- CERO Ciltinal moditicado,y Evidentemente, ha boas razSes para tamanha resisténcia frente a qualquer tentativa de levar a sério o pésmoderno, em seus prOprios termos. & realmente tentador desqualificar muitas das manifestagSes correntes do pésmodernismo como uma fraude perpetrada contra um ptiblico crédulo pelo mer- + © Sobre es questfo, consultar © artigo de Frederic Jameson, “Post- modernism ofthe cultoral logic of capitalism” (New Left Review,'n. 146, julhoagosto de 1984, pégs. 3592), cuja tentatva de identficar 0 pis moderne com um novo estigio na logica de desenvolvimento, do capital, © meu ver, exagera. MAPEANDO © POS-MODERNO 2 cado de arte de Nova York; no: qual reputagdes so construf- das © engolidas em menos tempo do que. os pintores con- seguem pintar: testemunho disso sio as delirantes pinceladas J dos’ novos expressionistas. E também fécil argumentar. que + boa parte da cultura contempordinea de inter-arts, multimidia |e performances, que: jd parecet tio. vital, esté agora desaque- ‘ cendo os motores e se banalizando,.como se saboreasse a eterna \ Tepeticio do_déja vu. Com: boa, razio, devemos permanecer cAticos. em _relaggo. a0 renascimentno da - Gesamtkunstwerk wagneriana como- espetaculo -pésmoderno “nos “trabalhios de Syberberg ou Robert Wilson. ‘© atual culto. a Wagner pode mesmo ser um sintoma de uma afortunada fuséo entre a mega- Tommania. do pés-moderno e a ‘do pré-moderno no limiar do , modernismo. Parece que 2 procura do Santo Graal voltou weet Eee eee eee ‘Mas € quase fécil demais ridicularizar o pés-modernismo do atual cenério artistico ‘novaiorquino ou da Documenta 7. Essa _rejeigdo radical nos deixard cegos, contudo, pare pw Ceneial eres SORE MOAETAAIT,) que, “acredito, também T existe, embora possa ser dificil identificélos A nogéo de obra de arte como critica realmente constitu’ uma das mais inte- ligentes condenagSes do pésmodernismo, acusado de ter aben- donado a postura critica caracteristica do modernismo. Con- tudo, em décadas recentes as idéias familiares sobre o que constitui_uma_arte critica (Parteilichkeit e vanguardismo, ari engajé, realismo critico, ou a estética da negatividade, a re- cusa da representagio, a abstraco,.a reflexio) tém perdido muito de sua forga explicativa e norimativa. Esse & precisa- mente o dilema da arte numa era pés-moderna. Em todo ABO_VE|S aI pat itt total’ abandono da. hogdo de_arle> fitica) As présaves ‘iéste’ sentido néo so novas; tm sido Yormidaveis na cultura capitalista desde 0 romantismo, e, se nossa p6s-modernidade faz com que seja excessivamente di- | i { + Para uma distingSo entre pérmodemismo critica e posmodemismo afirmativo, yejase 4 Inirodupéo de Hal Foster para, The antiaesthetic (Port Townsend, Washington, Bay Press, 1984). © mais recente ensaio de Foster sobre este assunto, entretanto, indica uma mudanca de opiniso fem relagdo ao potencial critico do pésmodernismo. S 2 POSMODERNISMO & POLITICA ficil mantermo-nos apegados a uma antiga nogio de arte como ir as possibili- fier sew om ‘mesmo que ele patega cego a ‘aoe ) que nao adianta mais é louvar ow ridicularizar 0 pésmodernismo em seu conjunto. O pés: demo deve ser salvo de seus _defensores ¢ de. s seus Eenaiees, Em quase todo o debate sobre 0. pérmodemismo, um modo de pensar muito convencional tem se afirmado. Ou se diz que o p6smodemnismo esté em continuldade com 0 modernismo, caso em que todo debate que oponha os dois fendmencs passa a ser ilusério, ou se sustenta que hé uma ruptura radical, um corte em relagdo ao modernismo, que é entio avaliado em termos positives ou negatives, Mas a ques: ‘to da continuidade ou descontinuidade histérica simplesmente no pode ser discutida de modo adequado nos termos de ume " dicotomia de “ou isso ou aquilo". Ter questionado a vali dade desse padrio de pensamento dicot6mico é, como se sabe, uma das maiores contribuicdes da desconstrugio de Derrida. Mas a noglo pésestruturalista de textualidade infinita mutila, em iltima andlise, qualquer reflexio histérica significative so- bre unidades temporais menores do que, digamos, a longa onda metafisica de Platéo a Heidegger ou a difusio da mo- dernité de meados do século passado até 0 presente. O prov blema destes macroesquemas hisidricos com relagéo 20 pés- modernismo € que eles sequer permitem que o fendmeno seja enfocado. Tomarei, portanto, um caminho diferente. Nao tentarei definir aqui o que € pésmodernismo. O préprio termo “pés modefnismo” deve prevenirnos contra tal abordagem, j@ que estabelece 0 fendmeno como relacional. O modernismo do qual © posmodernismo se separa ‘permeriece itiscrito na propria palavra com a qual descrevemos nossa distancia do moder- nismo, Assim, mantendo em mente a natureza relacional do pésmodernismo, partirei -simplesmente da Selbstverstdndnis« -MAPEANDO 0 P6S-MODERNO 25 - do pésmoderno,. do modo como ele tem dado forma a vé- rios discursos desde os anos 60. O que espero produzir neste ensaio € algo como um mapa em escala ampla do pés-mo- derno, que cobre ‘vérios territérios ¢ no qual as diversas pré- ticas artisticas e criticas pés-modernas possam encontrar seu lugat estético-e politico. Distinguirei varias fases e diresée: ‘na trajet6ria do pés-moderno nos Estados Unidos. Meu pri meiro objetivo seré destacar algumas contingéncias ¢ presses ist6ricas que tém dado forma a debates estéticos ¢ cultu- rais recentes, mas que tim sido ignoradas ou sistematicamente bloqueadas na teorla @ Vamérieaine. Sempre fazendo referén- cia a realizagdes da literatura e¢ das artes visuais, dedicar- ‘me-ei principalmente ao discurso critico sobre 0 pés-moderno, ou seja, 20 pés-modernismo em relagio, respectivamente, 20 modernismo, & vanguarda, ao neoconservadorismo e 20 pés- estruturalismo. Cada uma dessas constelagSes representa uma espécie de camada do pésmoderno ¢ dessa forma seré apre- sentada, Finalmente, elementos centrais da Begriffsgeschichte do termo sero discutidos em relaco: a um conjunto mais amplo de questées propostas em recentes debates sobre 0 mo- dernismo, 2 modernidade ea vanguarda hist6rica’ A meu ver, © Em relagio a uma tentativa anterior de produzir uma Begriffsgeschichie do pésmodernisma na literatura, vejam-se os vérios ensaios publicados fem Amerikastudien (22:1, 1977, pégs. 9-46), que~inclui uma _valiosa bibliografia. Cr. igualmente thab Hassan, The dismemberment of Orpheus, fem sua segunda edisio (Madison, University of Wisconsin Press, 1982), sobretudo o novo “Postface 1982: toward a_concept of postmoden (pigs. 258.271). © debate sobre modernidade e modernizagio na historia fe nas cifnciss sociais & amplo demsis para ser documentado aqui; uma excelente pesquisa’ da literatura pertinente pode ser encontrada em Hans- Ulrich Wehler, Modernisierungstheorie und Geschichte (G8ttingen, Var- denhoeck & Ruprecht, 1975). Sobre a questio da modemidade © 25 artes, vers: Matei Calinescu, Faces of modernity (Bloomington, Indiana University Press, 1977); Marshall Berman, Tudo que & sdlido desman cha no ar: A aventura da modernidade (Companhia das Letras, 1987); Eugene Lunn, Marxism and modernism (Berkeley © Los Angeles, Uni- versity of California Press, 1982); Peter Biirget, Theory of the avantgarde (Minneapolis, University of Minnesota Press, 1984). Também importante Para’ este debate & 0 recente trabalho desenvolvido por historiadores a cultura sobre cidades especificas ¢ sua cultura, como, por exemplo, © trabelho de Carl Schorske © Robert Waissenberger sobre Viens n0 t { uma questio fundamental € até que ponio modernismo e van- guarda, como formas de uma cultura de oposigio, estiveram, entretanto, conceitual ¢ praticamente ligadas 8 modernizacéo capitalista e/ou ao vanguardismo comunista, esse irmio ge meo da moderizagio, Como espero que este_ensaio yenha @ mostrar, a dimensio critica do pésmodernismo reside pre- isamente em séu radical quéstionamento” daquelas pressupo- sigBes que ligaram 0 modernismo e a vanguarda aos propési- tos da _modernizagfo. A exaustio do movimento modernista Para comesar, alguns breves comentérios sobre a trajetéria © as migragSes do termo “pésmodernismo”..—Em critica lite- rétia, a expresso remonta a0 fim da década de 50, quando © termo foi usado por Irving Howe ¢ Harry Levin para la- mentar a queda de nivel do movimento modernist, Howe Levin olhavam nostalgicamente para o que jé parecia um pas- sado mais rico. “Pés-modernismo” foi usado enfaticamente pela primeira vez nos anos 60 por criticos literérios como Leslie Fiedler Thab Hassan, que sustentaram visGes amplamente divergentes do que fosse literatura pésmoderna, Foi somente no infcio até meados da décida de 70 que o termo ganhou um curso mais geral, aplicando-se primeiramente’ A arquitetura € depois & danca, a0 teatro, & pintura, ao cinema € A misica. Ac 'passo que a ruptura. pés-moderna com 0 modernismo clés- sico era razoavelmente visivel na arquitetura e nas artes vi- sais, 2 nocdo de uma ruptura pés-modema na literatura tem se mostrado bem mais dificil de determiner. Em algum mo- mento no fim da década de 70, a expresso “pés-modémnismo”, nfo sem 0 encorajamento norte-amieticeno, migrow para a Eu- fim do século passado, 0 de Peter Gay e John Willett sobre a Repiblica ‘de Weimar, e, para ume discussio do antimodemismo norte-smericano nna. virads do séeulo, T. J. Jackson, No place of grace (Nova York, Pantheon, 1981) Bm MAPEANDO © P6s.MoDERNO 2 ropa vie Paris ¢ Frankfurt. Kristeva e Lyotard a adotaram | na Pranga;, Habermas, na Alemanha, Nesse interim, jé os © sriticos norte-americanos haviam comegado ‘a discutir 0 ter- reno comum ao pés-modernismo € ao pds-estruturalistho fran- cés em sua peculiar adaptacio norte-americana, freqiiente- mente pressupondo que a vanguarda na teoria deve, de al- guma maneira, ser homéloga & vanguarda na literatura © nas artes. Enquanto 0 ceticismo sobre a lade de ume van- guarda estava em alta nos anos 70, a vitalidade da teotia, apesar de seus muitos inimigos, parece nunca ter sido seria. mente questionada. Para alguns, na verdade, era como seas " energias culturais que, nos anos 60, haviam abastecido os mo- 4 vimentos artisticos se dirigissem, na década de 70, para o + corpo da teoria, abandonando o empreendimento attistico Mesmo que, na methor das hipéteses, esta observagao tenha ‘© valor estritamente de uma, impressio e nfo faca justiga as artes, parece razodvel afirmar que, uma vez irreversivel a su- métia K6gica de expansio do pés-modernismo, 0 labirinto do Pés-moderno tornou-se ainda mais impenetrével. No inicio dos anos 80, a constelagdo modernismo/pés-modernismo nas artes, © @ constelagéo modernidade/pés-modernidade na teoria so- cial tinham 4 se transformado em um dos mais disputados ‘campos da vida intelectual das sociedades ocidentais. E 0 campo | € disputado precisamente porque hé muito mais em questio ~} do que a existéncia ou ndo de um novo estilo artistico, ¢ bern + mais do que simplesmente a “correta” linha teédrica Em nenhum outro lugar a ruptura com 0 modernismo parece mais dbvia do que na recente arquitetura norte-ameri- cana, Nada pode estar mais distente do funcionalismo das paredes de vidro de Mies van der Rohe do que o gesto de aleatSria citaglo histérica que prevalece em tantas fachadas pés-modernas. Tome-se, por exemplo, o arranhs-céu de Philip Johnson para a AT&T, adequadamente rompido por uma me- tade neocléssica, com colunatas romanas no térreo © um fron- ‘ao triangular de estilo Chippendale no topo. Na verdade, uma| crescente nostalgia pelas vérias formas de vida do passado, parece ser uma forte tendéncia subjacénte &-cultura dos anos, 70 © 80. E & tentador desqualificar'esse ecletismo hist6rico, | encontrado nfo somente na arquitetura como também nas ar- % POSMODERNISMO E POLitICA (es, .no cinema, na literatura ¢ na cultura de massas dos él-| timos anos, como equivalente cultural da nostalgia neoconser- | vadora dos velhos bons tempos e como um sinal_manifesio | do _decadente indice de criatividade no capitalismo_tardio. Mas essa nostalgia pelo passado, a busca muitas vezes delirante ¢ abusiva de tradigdes recuperdveis, e a crescente fascinacio pelas culturas pré-modernas e primitivas — serd tudo isso unicamente fruto da perpétua necessidade de espeticulo e de . frivolidade caracteristica das instituigGes’ culturais, e, nesse i { sentido, perfeitamente compativel com o status quo? Ou seré que telver expresse igualmente uma insatisfagio genufna © | native for a mais adequade, como pode a busca de tradigées alternativas, sejam elas emergentu< ou residuais, tomarse cul- turalmente produtiva sem fazer concessdes s“pressGes do con- seryadorismo que se aferra com unhas e dentes. 20 préprio conceito de tradigao? Néo estou argumentando que todas as manifestagSes da recuperago pdsmoderna do passado devam set bem-vindas por estarem de certa forma em sintonia com © Zeitgeist. Tampouco quero ser mal entendido, como se afirmasse que 0.tio atual repiidio pésmodernista da estética do alto modernismo e seu enfado com as proposigoes de Marx ¢ Freud, Picasso e Brecht, Kafke e Joyce, Schénberg e Stra- vinsky sfo de algum modo sintomas de um grande avanco cultural. Onde o pésimodemismo simplesmente descarta 0 ‘modernismo, ele esté apenas cedendo & demanda do aparelho| cultural para que se legitime como algo radicalmente novo e, com isso, fazendo reviver os preconceitos filisteus enfrentados|” pelo modernismo na sua propria época. Mas, mesmo se as propostas do pésmoderaismo — cor potificadas, por exemplo, nos edificios de Philip Johnson, Michael Graves © outros — no parecem convincentes, isso néo significa que uma continuidade na adesio a um conjunto mais antigo de propostas modernistas garantiria o surgimento de edificios ou obras de aite mais convincentes. A recente tentativa neoconservadora de reafirmar uma versio domesti- cada do modernismo como tinica verdade vélida da cultura MAREANDO © POS-MODERNO. 2 deste século.— manifesta, por exemplo, na exp reali zada em 1984 por Beckmann em Berlim e em muitos dos artigos reunidos no New criterion, de Hilton Kramer — é uma estratégia destinada a enterrar as criticas polfticas e estéticas de certas formas de modernismo que ganharam terreno desde fs anos 60. Mas o problema do modernismo no se restringe & possibilidade de sua integraggo a uma ideologia conserve- dora da’ arte. Afinal, isso:j4 aconteceu antes, ¢ em larga es cala; mos anos 507 A meu ver, 0 problema maior que po- demos reconhecer atualmente €°4 proximidade, em seu proprio tempo, das vérias formas de modernismo com os propésitos de modernizagio, cm verso capitalista ou comunista, Eviden- temente, 0 modernismo nunea foi um fenémeno monolitico: continha fanto a euforia da modernizacao, com o futurismo, © construtivismo ¢ 0 Neue Sachlichkeit, quanto algumas das mais duras criticas & modemizagdo, nas ,varias formas mo- demas do “anticapitalismo roméntico”*/A questio de que | trato neste ensaio néo se refere a0 que o modernismo real- | mente era, mas a como ele foi percebido retrospectivamente, que saber ¢ valores dominantes ele portava e como isso fun- cionou ideolégiea e culturalmente apés 2 Segunda Guerra Mun- dial,/Foi_uma_ imagem especifica do modernisme que se con- RO _pORO para os pos-modsmos, ¢ esta sm deve ser teconstruida se preiendemos entender a pro- A relacio do pésmodernismo com a tradigao moder- ome Bid eivindicagao” Ue diterencay 03 dé 0 mais palpavel exemplo das ques- tes em discussio. A utopia modernista corporificada nos pro- gramas de. construgéo da Bauhaus, de Mies, Gropius e Le Corbusier foi patte de uma tentativa hersica, apés a Grande Guerra e 2 Revoluggo Russa, de reconstruir uma Europa de- > Sobre a funeio politica ¢ ideolégica do modemismo nos anos 50, cf, Jost Hermand, “Modernism restored: West German painting in the 1950s" (New German Critique, n. 32, primavera e verio de 1984) e ‘Serge Guilbaut, How New York stole the idea of modern art (Chicago, ‘Chicago University Preis, 1985). © Para uma discussio deste conceito, ef. Robert Sayre & Michel Lévy, “Figures of romantic anticapitalism” (New German Critique, n. 32, primavera e verio de 1984). _sfade. Um novo Tu b vastada segundo a imagem do novo e de fazer da construgio de edificios uma parte vital da sonhada renovacéo da socie- ja um projeto racional para ‘ume sociedade racional, mas 2 nova racionalidade foi tomada por um fervor ut6pico que, por fim, levou-a a desviarse em diregéo 20 mito — 0 mito da modernizagio. A recuse impie- dosa do pasado era um componente tao essencial do movi- mento moderno quanto seu apelo A modemnizacgo através da padronizacio e da racionalizacéo/f sabido que a utopia mo- dernista naufragou ‘em suas proprias contradicbes internas e, © que € mais importante, ne politica ¢ na histériay’ Gropius, ies € outros foram forgados a se exilar, Albert Speer tomou seu lugar na Alemanha, Depois de 1945, a arquitetura mo- dernista foi privada de sua visio social e tornou-se cada vez mais uma arquitetura de poder ¢ representagdo. Em vex de representarem prentincios e promessas da nova vida, os pro- jetos habitacionais modernistas tornaram-se simbolos de alie- ago € desumanizagao, um destino compartithado com a linha de montagem, outro agente do novo saudado com exu- berante entusiasmo nos ands 20 tanto pelos leninistas quanto pelos fordistas. [ / charles Jencks, um dos mais conhecidos cronistas © di- vulgadores da agonia do movimento moderno e portavoz da arquitetura pdsmoderna, data a morte simbdlica da arquite- FP ture modema de 15 de julho de 1972 as 15:32h, Naquele { momento, foram implodidos varios blocos de sustentag3o do ‘ conjunto habitacional Pruitt-Igoe de St. Louis (construido por Minotu Yamasaki nos anos 50), € o evento foi dramatica- | mente exibido pelos telejornais. A moderna maquina de viver, | como Le Corbusier, com a euforia tecnolégica 120’ tipica dos } anos 20, havia denominado estas construgées, tinha se tor | nado inabitavel; a experiéncia modernista, obsoleta, ou assim 5 Para uma excelente diseussio da politica arquitetonics na Repéblica de Weimar, vejase 0 catélogo da exposigéo Wem gehért die Welt Kunst und. Geselschaft in der Weimarer Republik (Berlim, Neve Gesellschaft (Gr bildende Kunst, 1977, pags. 38157). Cf. igualmente Robert Hughes, “Trouble in Utopia”, in R. Hughes, The shock of the new (Nova York, Alfred A. Knopi, 1981, pégs. 164211) parecia. Jencks mostra certa dificuldade para distinguir a vi ( séo inicial do movimento modernista dos pecados posterior mente cometidos em seu nome/No entanto, ele concorda com aqueles que, desde os anos 60, tém criticado a velada depen- déncia do modernismo para com a metéfora maquinica © 0 peradigma da produgfo, bem como o fato de-o movimento ter tomado a fabrica como modelo bisico para todos os edi- [icios. Mem se tornando lugar-comum, em cfrculos pés-moder- i fesa_da reintrodugdo de dimensbes_simbélicas poli valentes na arquitetura, a mistura de cédigos, 2 apropriagio, [de vernéculos locais de tradigées regionais."/ Assim, Jencks ‘sugere que os arquitetos olhem simultaneamente “na direcio dos cédigos tradicionais de lenta mutacéo e dos significados étnicos particulares a uma comunidade e na diregao dos cé- digos rapidamente mutéveis da moda arquiteténica e do pro- fissionalismo”." Tal esquizofrenia, sustenta Jencks, ¢ sinto- mética. do momento pésmoderno na arquitetura; e se pode- ria muito bem perguntar se issp nfo se aplica & cultura con- temporfinea como um todo, que cada vez mais parece privi- Jegiar 0 que Bloch chamou de Ungleichzeitigheiten (dissincro- nias)," em vez de favorecer somente 0 que Adorno, o teérico do 'modernismo por exceléncia, descreveu como der foriges- chrittenste Materialstand der Kunst (0 mais avangado estado do material artistico). Onde tal esquizofrenia pésimoderna é ‘uma tensdo criativa que resulta em edificios ambiciosos e bem- sucedidos ¢ onde, pelo contrétio, cla se desvia em diresio a uma incoerente e arbitréria mistura de estilo, fica como questio para debate,/Nio devemos esquecer de que a mistura de o6- ', digos, a apropriagao de tradiges regionais e os usos de di- © © fato de que isis esiratégias possam evar a diferentes caminhos politicos é demonstrado por Kenneth Frampton em seu enseio “Towards 2 critical regionelism", publicado em The antiaesthetic (pAgs. 23-28) Charles A. Jencks, The language of postmodern architecture (Nova York, Rizzoli, 1977, pag. 97). 42 Em relagdo a0 conceito de Ungleichzeitigielt, cf. 0 texto de Emest Bloch. “Non-syncronism and the obligation to its dialectics”, bem como artigo’ de Anson Rabinbach, “Emest Bloch’s Heritage of our times and fascism”, ambos publicados em New German Critique, n. 11, pri mavera de 1977. 30 Pés.MOERNISMO E POLfTICA | mensies simbdlicas outras que no a da maquina’ séo orien- fx! tages que nunca foram inteiramente desconhecidas pelos ar- \"duitetos do Estilo Internacional. /Para chegar a seu pés-moder- nismo, Jencks ironicamente teve de exacerbar a prépria visio da arquitetura modernista que ele-persistentemente ataca. ‘Um dos mais reveladores documentos da ruptura do pés- modernismo com o dogma modemnista € um livro de Robert ‘Venturi, Denise. Scott-Brown Steven Izenour intitulado Learn- ing from Las Vegas. ‘Quando se relé esse livro junto com outros textos que Venturi escreveu entre os anos 60" ¢ os dias de hoje, fica patente o quanto as estratégias e solugSes de Venturi esto préximas da sensibilidade pop daqueles anos. Com freqiiéncia, os autores de Learning from Las Vegas se inspiram na ruptura da.arte pop com os austeros cfnones da pintura do alto modernismo ¢ na epropriagao acritica do ver- néeulo comercial da cultura de consumo pela arte pop. A pai- sagem de Las Vegas foi para Venturi e seu”"grupo o mesmo que 2 Madison Avenue foi para Andy Warhol, ou o-que as histérias em quadrinhos e os filmes. de faroeste foram para Leslie Fiedler. A ret6rica de: Learning from Las Vegas & be: seada na glorificaséo dos painéis Iuminosos ¢ do mau gosto da cultura dos cassinos. Nas irénicas palavras de Kenneth Frampton, o livro prope uma Ieftura de Las Vegas como “uma auténtica explosdo de fantasia popular”. Atualmente, acho que seria gratuito ridicularizar estas singulares nogées de populismo cultural. Embora haja algo patentemente absurdo nestas propostas, devemos reconhecer 2 forga que elas reuni ram para derrubar os seificados dogmas do modernismo e rea- brir um conjunto de questées que o evangetho modernista dos ( anos 40 e 50 havia posto de lado: as questées do omamento e da metéfora na arquitetura, da figuraco e do realismo na pintura, da histéria ¢ da representago no cinema, do corpo B Robert Venturi, Denise ScottBrown & Steven Izenour, Learning from Las Vegas (Cambridge, Mass., MIT Press, 1972). Cf. igualmente 0 festudo anterior de Venturi, Complexity and contradiction in architecture (Nova York, Museum of Modem Art, 1966). 4. Kenneth’ Frampton, Modern architecture: a critical history (Nova York © Toronto, Oxford University Press, 1980, pég. 290). | MAREANDO 0 RésMtODERNO 3 na miisica e no teatro. A arte pop, em seis sentido mais ‘amplo, foi © contexto-em que primeiro ganhou forma uma nogio do! pés-moderno, e, desde seu infcio, as tendéncias mais signifi- cativas do pés-modernismo t#m desafiado a constante hostili-) dade do modernismo para com a cultura de massas. Pés-modernismo nos anos 60: uma vanguarda norte-americana? Pass agora a apresentar uma distingfo histérica entre 0 pés- modernismo dos anos 60 ¢ 0 dos anos 70 e do infcio dos 80. Em linhas gerais, meu. argumento ¢ 0 seguinte: tanto 0 pés- ‘modernismo dos anos 60 quanto 0 dos anos 70 rejeitaram ou criticaram uma certa versio do modernismo. Contra 0 codi- ficado alto modernismo das décadas precedentes, o pésmo- dernismo dos anos 60 tentou revitalizar a heranga da van- guarda europtia ¢ darthe uma forma norte-americana 20 longo do que pode ser resumidamente chamado de eixo Duchamp- Cage-Wathol. Na década de 70, esse pésimodernismo van- guardista dos anos 60 havia esgotado seu potencial, embora algumes de suas manifestagSes tenham sobrevivido na nova década, O que havia de novo nos anos 70 era, de um lado, a emergéncia.de uma cultura do ecletismo, um. pés-modernismo amplamente afirmativo que abendonara qualquer reivindicagao de critica, transgressio cu negacdo; e, por outro, um pés-mo- denismo alternativo em que resistencia, critica e negago do status quo foram redefinidas em termos nio-vanguardistas ¢ ndo-modemnistas, que se adequavam mais efetivamente aos avan- 1905 politicos da cultura contempordnea do que as antigas teo- rias do modernismo. Permitam-me desenvolver 0 raciocinio, Quais eram as conotagies do termo p6smodernismo nos ancs,60? Em termos gerais, desde meados’ dos”anos 50, 2 lite- ratura’e as attes assistiram’&, rebelido,'de uma nova geracio de artistas, como Rauschenberg e Jasper: Johns, Kerouac, Gins- 32 POS-MODERKISMO E POLETICA berg ¢' 0s beats, Burroughs e Barthelme, contra o predominio do expressionismo abstrato, da miisica serial e do modernismo literério cléssico.5 A rebelido dos artistas logo aderiram criti cos-como Susan Sontag, Leslie Fiedler e Ihab Hassan, que vigorosamente, embora de'modos © em niveis diversos, toma- ram a bandeira do pés-modemo. Sontag defendeu o camp © uma nova sensibilidade. Fiedler louvou a literatura populer 0 iluminismo_genital. Mais préximo dos modernos do que 6s outros, Hassan props uma literatura do siléncio, tentando estabelecer uma mediago entre a “tradigio do novo” e os desenvolvimentos literdrios do pés-guerra. Por essa época, evi- dentemente o modernismo tinha sido convertido em canon na academia, nos museus ¢ nas redes de galerias. Neste cinon, a escola nova-iorquina do expressionismo abstrato represemtava a sfntese da longa trajetdria do modemo que, iniciada em Paris entre 1850 e 1860, havia inexorevelmente conduzido a‘Nova York — a vitéria cultural norte-americana sucedia 2 vitéria nos campos de batalha da Segunda Guerra Mundiel. Durante os anos 60, artistas e criticos compartithavam a visio de uma situagdo fundamentalmente nova. A pretendida rup- tura pés-moderna com o pasado era sentida como perda: as pretensées da arte € da literatura em relagéo & verdade ¢ 20s valores humanos pareciam esgotadas, ¢ a crenga na forga cons titutiva da imaginagio modema era apenas outra ilusfo, ov se fazia sentir como um atalho para ume liberagéo definitiva do instinto e da consciéncia, na aldeia global de McLuhan, © novo Eden da perversidade polimérfica, Paradise now como © Living Theater proclamou no paleo. Assim, os criticos do posmodemismo, como Gerald Graff, tém identificado ‘correta- mente’ duas vertentes de cultura p6smoderna dos anos 60: a vertenté apocaliptica desesperada e a vertente visiondria fes- 'S Eston preocupado aqui sobretudo com o que se denomina Selbstver- stindnis dos artistas © néo com saber se seus trabelhos realmente foram além do moderaismo ou se, quando foram, isso era, em todos os cas0s, politicaments “progressista”. Sobre 2 politica da rebelifo beat, of. Bar- ‘bara Ehrenreich, The hearts of men (Nova York, Doubleday, 1984, especialmente pégs. 52-67). Marzano 0 re MODERN 33 tiva, as quais, diz Graff, ja existiam, ambas, no modernismo.* Embora isso seja certaménte verdade, esquecese um aspecto importante. A ira dos pés-modernistas no era ditigida contra © modémismo como tal, mas sobretudo contra tima certa ima- gem austera do “alto modernismo”, como’ a’ langada pelos New Critics e por outros guardiges da cultura ‘modernista. Esta visio, que evita a falsa dicotomia de op¢o entre continuidade ¢ descontinuidade, encontra apoio’ em um ensaio retrospectivo e John Barth. Em uma matétia de 1980, publicada em The Aiantic ¢ intitulada “The literatire of replenishment”, Barth critica seu pr6prio ensaio de 1968, “The literature of exhaus- tion”, que naquela época parecia esbogar um resumo consis tente da linha apocaliptica. Em 1980, Barth sugeria que seu trabalho anterior na verdade versava sobre “a efetiva ‘exaus- to’ néo da linguagem ou da literatura, mas da estética do alto modernismo”.” E prosseguia definindo Stories and texts for nothing, de Beckett, e Pale fire, de Nabokov, como tatdias maravilhas modernistas, distintas de escritos pés-modernistas como os de Italo Calvino e Gabriel Garcia Marquez. Criticos da cultura como Daniel Bell, por outro lado, teriam afirmado simplesmente que 0 pésmodernismo dos anos 60 era a ‘cul minagao I6gica das intengdes modemistas”.* uma visio que reelabora 2 desesperancada observacio de Lionel Trilling de que os ativistas dos anos 60 estavam pondo o modemnismo em prética nas Tuas. Mes a minha questo aqui é precisamente a de que, em primeiro lugar, 0 alto: modernismo nao foi feito para ir as ruas, que seu inegivel papel contestatério anterior foi suplantado, nos anos 60, por uma cultura dé confrontagio absolutamente diversa, nas ruas ¢ nas obras de arte, ¢ que essa cultura de confrontacdo transformou as nogbes ideoldgicas her- dadas sobre estilo, forma & criatividade, autonomia artistica e © Gerald Graff, “The myth of the postmodern breakthrough”, ix G, Graff, Literature against itseif (Chicago, Chicago University Press, 1879, pags. 31-62) - John Barth, “The litersture of replenishment: postmodernist fiction” {Atlantic Monthly, vol. 245, n. 1, janeiro de 1980, pags. 65-71). 8 Daniel Bell, The cultural contradictions of capitalism (Nova York, Basie Books, 1976, pig. 51), c : 3 slants} POSMODERNISMO & POLITICA imaginagdo, as quais o modemismo j4 havia aquela altura sucumbido, Criticos como Bell e Graif viram a rebeligo do final dos anos 50 e dos anos 60 em continuidade com a nil ta e andrquice tendéncia moderista anterior; em vez de a per- ceberem como uma revolta pés-moderna contra 0 modernismo cléssico, interpretaramna como uma irrupgio de impulsos modernistas na vida cotidiana. E, de certo modo, estavam ab solutamente certos, a no ser pelo fato de que esse “sucesso” do modernismo alterava fundamentalmente os termos através [dos qusis 2 cultura modernista vinha sendo percebida (Nov: mente, meu argumento € que a revolta dos anos 60 nunca foi uma rejeico do. modernismo per se, mas uma revolta contra ‘a verséo do,modernismo que havia sido domesticada nos anos” 50, incorporada pelo consenso liberal-conservador da época ¢ transformada em arma de propaganda no arsenal cultural # politico da guerra fria anticomunista. O modemismo contra 0 > | qual os. artistas se rebelaram j4 no era mais percebido como “uma cultura de oposiggo. Nao mais se opunha a uma classe | dominante ¢ a sua visio de mundo, nem havia preservado sua | pureza programitica, livre da contaminagéo da industria cul- | tural. Em outras palavras, a revolta surgiu precisamente a pi j tir do. sucesso do mismo, do fato de na Al Nesse sentido, levo adiante meu argumento afirmando que a viséo global que trata os anos 60 como parte de um movi- mento moderno que se estende desde Manet ¢ Baudelaire, se- nao do romantismo, & atualidade nao ¢ capaz de dar conta do cardter especificamente “‘nort-americano do pés-modernismo. Afinal, o termo acumulou suas enféticas conotagées nos Es- tados Unidos e no na Europa. Sustento mesmo que ele- no poderia. ter sido inventado na Europa naquela época. Por vérias razbes, ele nifo teria feito qualquer sentido Id, A Alemanha Oci- dental estava ainda ocupada com a redescoberta de seus pré- prios modernos que haviam sido queimados e banidos durante © Terceiro Reich. Mais do que qualquer outra coisa, os anos 60 na Alemanba Ocidental produziram uma grande reorienta- so em termos de valorizacdo e de interesse, que tenderam a passar de um grupo de modernos para outro: de Benn, Kafka a Alemanha Oeldentat € fa Franca, 0 modernismo | se a ‘Sotivertetdo-se em ‘unia “forma de cultura itiva, — / ¢ MAPEANDO 0 Pés-MODERNO 38 e Thomas Mann para Brecht, para os expressionistas de esquer- da e para os esctitores politicos dos anos 20, de Heidegger ¢ Jaspers para Adorno e Benjamin, de Schénberg e Webern para Eisler, de Kirchner e Beckmann para Grosz ¢ Heartfield, Era uma procura de tradigGes culturais -alternativas dentro da mo- dernidade e, como tal, dirigida contra a politica de uma versao despolitizada do modernismo, que havia proporcionado & res- tauragdo de Adenauer a’muito nevesséria legitimacgo cultural Durante os anos 50, os mitos dos “dourados anos 20”, a “re- volugio conservadora” e a universal Angst existencialista, aju- daram bastante a bloquear ou a suprimir as realidades do pas- sado fascista. Das profundezas da barbérie e dos destrogos de suas cidades, a Alemanha Ocidental tentava reivindicar uma modernidade civilizada e encontrar uma identidade cultural sintonizada com 0 modernismo internacional que levasse os demais a esquecer o passado da Alemanha como predadora e paria do mundo moderno,/Nesse contexto, nem as variacdes | sobre o modernismo dos anos 50 nem a luta dos anos 60 por | tradigGes culturais alternativas democriticas e socialistas pode- | riam ter sido construfdas como pds-modernas. A prépria nogéo | de pésmodernismo s6 apateceu na Alemanha no fim da dé- | cada de 1970 e, mesmo entiio, nao em relago a cultura dos anos 60, mas estritamente em relacZo aos entio recentes avan- g08 arquiteténicos e, de forma mais importante talvez, no | contexto dos novos movimentos sociais e de sua critica radical | de modemidade.”/ 1 As ‘condtagdes especificas gle a nogio de péemodemidade vem assumindo nos movimentos pacifstas e antinucleares alemies bem como dentro do Partido Verde nfo seréo discutidas aqui, j8 que este ensaio ‘rsta_primordialmente do debate norteamericano, Na vida intelectual alemd, 0 trabalho de Peter Sloterdijk 6 extremamente relevante, embora Sloterdijk nfo use a palavra “péemoderno”; Peter Sloterdijk, Kritit der zynischen Vernunft, 2 vols. (Frankfurt am Main, Subrkanp, 1983). Igualmente pertinente é a peculiar absorgéo alema da teoria frencese, especialmente de Foucault, Baudrillard © Lyotard; cf, por exemplo, Der Tod der Moderne. Eine Diskussion (Tubingen, sar oth 1983), Cf. sinda, sobte o pésmodemo na Alemanha, 2 obra de Uirch Horstmann Das Untier. Korituren einer Philosophie der Menschenflutht (Viena ¢ Berlim, Medusa, 1985), cL ‘Também na Franca observowse, nos anos 60, antes um retorno ao modernismo do que um passo além dele, embora por razdes diversas daquelas dos alemdes, algumas das quais discutirei adiante, junto com o pésestruturalismo. No contexto a vida intelectual francese, o termo “pésmodernismo” sim- plesmente nfo estava em voga nos anos 60. Mesmo hoj , ele no parece envolver uma grande ruptura com 0 modernismo, 20 contrétio do que ocorre nos Estados Unidos. Gostaria agora de esbogar. quatro grandes caracteris- ticas da fase inicial do pésmodernismo, todas as quais inega- velmente apontam para a continuidade do pés-modernismo em relagdo & tradigo internacional do moderno, mas que — insisto esse ponto — também estabelecem o pés-modernismo norte- americano como movimento sui generis.” t Primeiramente, © pés-modernismo dos anos 60 era carac- | terizado por uma imagiriaclo temporal que mostrava um forte sentido do futuro e de novas fronteiras, de ruptura e de des- continuidade, de crise e de conflito de geragdes, uma ‘imagi- nacdo tributéria mais de anteriores movimentos europeus de vanguarda, como o Dadé ¢ 0 sutrealismo, do- que do alto mo- {dernismo, Assim, o ressurgimento de Marcel Duchamp como padrinho do pés-modernismo dos anos 60 nfo é um aci- { dente histérico. No entanto, a constelagio histérice em que o | pés-modernismo dos anos 60 se Jangou em campo (da Baia dos Porcos e do movimento pelos direitos civis as revoltas uni- Em segundo lugar, a fase inicial do pés-modernismo en- volveu um ataque iconcclastico contra o que Peter Birger tem tentado definir teoricamente como a “arte institucional”. Com ® Desenvolvo a seguir argumentos menos completamente elaborados fem met artigo anterior intitulado “The search for tradition: avantgarde and postmodernism in, the 1970s" (The New German Critique, n. 22, inverno de 1981, pags. 25-40). | | [MAFEANDO © FOS-MODERNO 7 essa expressdo, Biirger refere-se, primeiro e principalmente, aos modos pelos quais o papel da: arte na sociedade é percebido & definido c, em segundo lugar, 20 modo como a arte € produ- zida, divulgada, distribuida, comercializada e consumida, Em seu livro Theory of- the avantgarde: Birger argumenta que 2 principal meta da vanguards:européia hist6rica (Dadé, 0 sur- realismo inicial, a vanguarda -soviética,pOsrevolucionéria)™ foi ‘minar, atacar e transformar a arte institucional. burguesa e sua ideologia de autonomia e no; simplesmente mudar os modos de representagao artistica ¢ it A abordagem de Biirger da questio da arte como: instituigfo na-sociedade burguesa avanga bastante no sentido de.sugerir.valiosas distingSes entre modernismo ¢ vanguarda: que podem nos-ajudar a entender a ‘Vanguarda norie-americana.nos anos 60. Segundo a anilise de Birger, a vanguarda européia consistiu primordialmente em tum ataque & colocagdo da grande arte nas alturas © & sua sepa- ragdo da vida cotidiana, resultante do desenvolvimento do ‘esteticismo do século XIX e de seu repidio do realismo, Birger argumenta que a vanguarda tentou reintegrar arte e’ vida ou, para usar sua {sila hegelanommartise, neghr a ae, uaren do-a para a vida, ¢ ele vé essa tentativa de reintegragdo, a meu ver corretamente, como a principal ruptura com a tradi- ‘sao esteticista do final do século XIX. O valor da andlise de Biirger para os debates norte-americanos contemporaneos é que ela nos permite distinguir diferentes estégios e diferentes a{ Projetos na trajetéria do moderno, A equagéo que usualmente { se faz entre vanguarda e modernismo jé pode.ser mantida. _ Contrariamente & iniengéo “da vanguat ra de Tundit aie © vida, © modernismo sempre permaneceu preso & nog&o mais tree nal de obra de arte autGnoma, & construso de forma ¢ cor- tetido (a despeito de quio estranho ou ambiguo, deslocado ou indecifrével esse contetido possa ser) © 20 estatuto especiali- 2 Peter Barger, Theory of the avantgarde (Minneapolis, University of Minnesota Press, 1984). Para-o leitor norteamericano, o fato de Biirger reservar 0 termo vanguarda pera esses ttés movimentos pode parecer idicssincrétco ou dosneoeeariamente limitndo, a menos que se situe sua argumentasio dentro, da tradigio do pensamento estético.alemfo ~deste século, que vai de Brecht ¢ Benjamin 2 Adorno.

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