You are on page 1of 26
Violagéo das garantias processuais brasileira praticadas pela Midia: uma analise do caso Escola Base/ 1994 Violation of procedural guarantees by the brazilian Media: an analysis of Case School Base/1994 Violacion de garantias procesales por la prensa brasilefia: un andlisis de Caso Escuela Base/1994 Thais dos Santos Souza Universidade do Porto, Faculdade de Direito htips://doi.org/10.14195/2183-5462_34_19 Resumo 0 propésito deste trabalho é analisar a violacdo das garantias processuais do Estado Democratico de Direito praticadas pelos meios de comunicacao, com énfa- se no Caso Escola Base, ocorrido no estado de So Paulo. Apresenta alguns princf- pios e garantias processuais ¢ direitos que compdem o direito da personalidade as segurado pelo Estado Democrético de Direito inerente ao tema. Analisa a aplicagdo dos principios processuais e dos direitos assegurados pela Dignidade da Pessoa Humana no Caso Escola Base, Retrata a influéncia da midia nas decisdes judiciais e administrativas, escecificamente no sistema juridico processual penal brasileiro e na atuacdo policial. A base para 0 estudo fol a doutrina que aborda o tema, além de reportagens publicadas na época. Palavras-chave garantias constitucionais processuais; direitos da personalidade; Estado demo. crético de Direito: infiuncia da midia: caso Escola Base. Abstract The purpose of this paper work is to analyze the violation of procedural guar- antees of the democratic State of law practiced by the media, with emphasis on Case Base School, held in state of So Paulo. Presents some principles and pro- cedural guarantees and rights that make up the personality law ensured by the Democratic State of Law inherent in the theme. Analyzes the application of the procedural principles and rights provided by the Dignity of the Human Person in the case Base School. Portrays the media influence in judicial and administrative decisions, specifically in the Brazilian penal procedural legal system and police action. The basic for the study was the doctrine that discuss the topic, in addition to reports in the season. ARTIGOS | 269 Keywords constitutional procedural guarantees; influence of the medial case School Base ersonality rights; democratic state of law; Resumen El propésito de este trabajo es analizar la violacién de garantias procesales del Estado democratico de derecho practicado por los medios de comunicacién, con énfasis en el caso escuela Base, ocurrido en el estado de Sao Paulo en Brasil. Pre- senta algunos principios procesales y garantlas y derechos que conforman la per- sonalidad derecha garantizada por el estado democratico de derecho inherente en el tema. Analiza la aplicacién de los principios y derechos previstos por la dignidad de la persona humana en el caso de la escuela Base. Retrata la influencia de los me- dios de comunicacién en las decisiones judiciales y administrativas, especificamente en el sisterna juridico procesal penal brasilefio y desempefio de la policfa. La base para el estudio era la doctrina que aborda el tema, ademds de los informes publica- dos en el momento, Palabras clave garantias constitucionales de procedimiento; derechos de la personalidad; estado democratico de derecho; influencia de los medios; caso escuela base 1 Introdugao O presente estudo tem por objeto de investigacao as garantias processuais no observadas no Caso Escola Base, ocorrido no estado de Sao Paulo em 1994, quan- do a midia produziu uma verdadeira histeria a partir de um Unico depoimento fren& tico da m&e de uma crianga que mudiou de vez o destino dos ficticios criminosos. A finalidade principal deste trabalho € 0 de expor e analisar a acdo do poder ju- diciério frente 4s agdes da imprensa, buscando averiguar a atua¢do do Estado no Caso Escola Base. Diante disso buscou responder ao seguinte questionamento: considerando as normas e principios processuais ¢ individuais amparados pelo Es- tado Democratica de Direito, houve manifestagao dessas garantias pracessuais as- seguradas pelo Estado Democratico de Direito no caso especifico da Escola Base? Com o intuito de expor uma andlise critica da violacdo das garantias processuais no Estado Democratico de Direito praticadas pelos meios de comunicag3o, os quais acabam, por vezes, condenando antecipadamente os supostos inimigos da socieda- de, convertendo-se em um juiz praticamente inquisitorial. A partir dessa dtica se pro- p6e analisar o fato ocorrido na Escola Base, em S40 Paulo, no ano de 1994, em que parte da midia invadiu as garantias processuais ¢ individuais dos acusados, anteci- pando tanto a atuacao policial quanto a do Ministério Publico e do Poder Judiciério. Entre as diversas abordagens, tomaremos como referencial tedrico os doutri- nadores Nucci (2014), Mendes (2008), Ribeiro (2003) e Fava (2005). Cabe ressaltar, que foram utilizados varios artigos de sites para aprofundar o conhecimento sobre © caso. A partir destas referéncias, procurou-se apresentar a influéncia da midia e sua responsabilidade civil no proceso. Em seguida, foi analisado o fato ocorride na 270 | MEDIA&JORNALISMO @ D Escola Base, observando a atuagdo da midia e do poder judicidrio frente aos direitos e garantias asseguradas pelo Estado Democratico de Direito. E é nesse cendrio que 0 presente trabalho estudou a violacao das garantias pro: cessuais praticadas pelos meias de comunicag&o e 0 poder punitivo da imprensa e sua responsabilidade civil nos casos judiciais, com 0 enfoque especifico sobre o caso da Escola Base, um dos maiores casos em que a imorensa brasileira desres peitou as normes constitucionais Ponderando assim, as garantias e direitos preservados constitucionalmente, ten- do de um lado a liberdade de imprensa e a liberdade de exoressdo sustentada pe- os adusos midiaticos € do outro lado, a presungSo de inooéncia, o devido processo legal, o contraditério e a ampla defesa, além da preserva¢o dos direitos tutelados pelo principio da dignidade da pessoa humana, como 0 direlto a intimidade, & ima- gem e 4 honra, propondo obter o necessario equilibrio entre os interesses conflitan tes no caso concreto. Nametodologia do trabalho, utilizou-se abordagens exploratéria e descritiva, o que consistiu na aplicacao das garantias e direitos assegurados pelo constituinte no Caso Escola Base. Para isso, foi preciso um levantamento e estudo bibliogréfico por meio de livros e artigos de sites, para posterior andlise qualitativa dos fatos no Caso Esco- la Base, tendo em vista a dificuldade de tratar o tema a partir de um estudo de caso. 2 As Garantias Processuais No Estado Democratico De Direito No Brasil Em uma sociedade modema, a imposic¢ao de normas gerais é fundamental para mantera ordem social. Caso haja conflito de interesses, perturbando a ordem social, 0 Estado pde-se no dever € no poder de julgar de forma imparcial a litigancia apre- sentada. E por meio do direito processual, o Estado desenvolverd entre as partes li tigantes e o agente politico (juiz) 0 exercicio da fungi jurisdicional Nesse sentido, para preservar o direito de todos os individuos, foram tutelados no rol do art. 5° da Carta Magna de 1988, direitos e garantias fundamentais. Do mesmo mado o Brasil é signatério do Pacto de Sao José cla Costa Rica, que compdeem seu teor diversas garantias judiciais que foram integradas no ordenamento juriaico inter- no, como bem retrata seu artigo 8°" em que o legislador se oreocupou em destacar * artigo 8°. Garantias judiciais: 1. Toda pessoa terd o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo rezoavel, por um juiz ou Tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lel, na apuragao de qualquer acusagao penal formulada contraela, ou na determinago de seus direitos e obrigacies decarater civil, trabalhista, fiscal ou de quelauer outre natureze. 2. Tode pessoa ecusaca de um delito tem dire'to a quese presuma sua inocéncia, enquanto nao for legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, as seguintes garantias minimas: a) direito do acusado de ser assistido gratuitamente por um tradutor ou intérprete, caso ndo compreenda au néo fale a lingua do jutzo ou tribunal; b) comunica¢o prévia e pormenarizada ao acusado da acusag3o formulada; c) concessdo ao acusado do tempo e dos meios necessérios & preparagdo de sua defesa; d) direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de ser assistido por um defensor de sua escolha e de comunicar-se, livremente 2 em particular, com seu defensor, 2) direito irrenunciével de ser assistido por um defensor proporcionado pelo Estado, remunerado ou nao, segundo a legislagao interna, se 0 acusado ndo se defender ele proprio, nem nomear defensor ARTIGOS | 271 detalhadamente os direitos, que consiste nos bens tutelados & pessoa e as garan- tias, que s4io os meios para obtengdo do direito tutelado. Essas garantias, direitos e principios destacados no presente artigo estdo tracados pela Constituicéio Federal Brasileira de 1988, com o intuito de resguardar as garantias fundamentais do réu, assegurando-Ihe um julgamento justo. Dentre esses direitos e garantias asseguradas pela Constituicdo Federal de 1988, esto os direitos do réu no processo penal, em que o Estado Democratico de Direito tern camo finalidade preservar essas garantias fundamentais do réu no proceso pe- nal como sendo de maior interesse da prestacao jurisdicional, para que as falhas na aco jurisdicional no causem prejulzo ao julgarnento. E tomando como refergncia as palavras de Vargas (1992, p.67), 0 autor pontua que“o processo é que assegura a efetivacdo dos direitos e garantias fundamentais do cidado, quando violados, com base nas linhas principiolégicas tragadas pela Constituigao’. Desta forma, em um Estado Democrético de Direito, 0 Direito Processual Penal deve-se pautarnas linnas mestras gravadas na Carta Magna, aplicando devidamente 08 principios tragados pela Constituigao Federal de 1988 cuja finalidade é preservar as garantias fundamentais do réu. Posto isto, é importante apresentar as principais garantias fundamentais do réu no Estado Democratico de Direlto que foram desres- peitados no caso da Escola Base. 2.1 Presun¢&o De Inoc&ncia O principio da presun¢ao de inocéncia, conhecido também como da no culpabi- lidade é a base do Estado de Direito, pois tutela a liverdade dos sujeitos, o que signi- fica dizer que todo acusado é inocente até que seja declarado culpado por uma sen- tenga condenatéria, com transito em julgado. conforme prevé o art. 5°, inciso LVIL da Constituigao Federal de 19882. Como se pode observar, o texto constitucional nao exime a culpa do sujeito, ou seja, ndo declara a inocéncia do acusado, mas, sim, a presungo de que o acusado ndo é necessariamente culpado da prética do fato que Ihe foi imputado, cabendo 20 Estado comprovar a culpabilidade do individuo. Esse direito é primordial no ordena- mento juridico pelo fato de garantir a0 acusado pela infragao penal um julgamento justo, conforme pontua a Convencdo para a protecao dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentals do Conselho da Europa em seu art. 6.2: ‘Toda a Pessoa dentro do prazo estabelecido pele lef) direito da defesa de inquirir as testemunhas presentes no Tribunal e de obter 0 comparecimento, como testemunhas ou peritos, de outras pessoas que possam lancar luz sobre os fatos, g) direito de no ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpade; ¢ h) direito de recorrer da sentenca a juiz ou tribunal superior. 3. A confissda do acusado 80 é valida se feita sem cago de nenhuma natureza, 4. 0 acusado absolvido por sentenca transitada em julgado ndo poder ser submetido a novo proceso pelos mesmos fatos. 5.0 processo oenal deve ser otblico, salvo no que for necessario oars preservar os interesses da justica. (Humanos, 1969). 2 Art. §. Todos sao iguais perante a lei, sem distingao de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilelros e aos estrangelras residentes no Pais a inviolabilidade do direito vida, 2 liber- dade, a igualdade, & seguranga e a propriedade, nos termos seguintes, (EC n° 45/2004) LVI ninguém sera culpado ate o transito em julgado de sentenga penal condenatéria. (Brasil, 1988) 272 | MEDIA&JORNALISMO Q acusada de uma infracdo presume-se inocente até ser provado culpado de acordo com a lei” (citado em Silva, 2011, p.3). E em conformidade com a secdo 11 (d) da Carta Canadense de Direitos e Liberdades: Quaiquer pessoa acusada de um delito tem o direito de ser presumido inovente até prova em contrario nos termos da lei em uma audiéncia justa e pblica por um tribunal independente ¢ imparcial (citado em Silva, 2011, 9.3). Diante desse instituto da presungao de inocéncia, no momento da instruedo processual, camo presuno&o legal da no culpabilidade, o énus da prove invertido, isto é, caberd 0 Gnus da prova 20 Ministério Publico e no defesa, tendo em vista © que Nucci (2014, 9. 64) aborda, as pessoas nascem inocentes, sendo esse o seu estado natural, razdo pela qual, para quebrar tal reara, tornando indispensavel que o Estado-acusago evidencie, com provas suficientes, ao Estado-juiz, a culpa do réu. Cabe ressaltar, que o principio em questo integra-se ao principio in dubio pro reo (orincipio da prevaléncia do interesse do réu), no qual garante que, em caso de divida, sempre prevalecerd o estado de inocncia, devendo o acusado ser absolvido. 2.2 Devido Processo Legal O principio do devido processo legal 6 considerado uma das pedras fundamen- tais de todo 0 funcionamento da jurisdigao (Holanda, 2008, p.19), pois envalve e in: corpora todos os demais principios, de forme que. ao ferir ou até mesmo respeitar determinado principio, estard, consequentemente, cumprindo e violando diretamente © principio do devido pracesso legal. Assegurado no texto constitucional, noart. 5°, inciso LIV, no qual expde que “ninguém seré privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal” Brasil, 1988), que vale dizer que ninguém poderd ser privado de sua liberdade ou de seus bens sem que haja um julgamento proferido legalmente para a solucdo de determinado conflito de interesses. O presente principio abrange, juntamente cam o direito & ampla defesa e a0 contraditério, direito a um 6rgdio julgador imparcial, direito de igualdade entre as partes ¢ 2 vedacao ao uso de provas ilicitas, com o fim de funcionar como garantias processuais basicas de uma sociedad justa e democratica (Barroso, 2012, p. 41). Nessa linha, cabe frisar a tese de Baracho (2008 citado em Holanda, 2003, p. 89), quando pontua que: O devido proceso exige que os litigantes tenham o beneficio de um juizo amplo e imparcial, perante os tribunais. Seus direitos ndo se medem por leis sancionadas para afeté-os individualmente, mas por disposigdes juridicas gerais, aplicdveis a todos aqueles que esto em condi¢ao similar. (Baracho, 2008 citado em Holanda, 2003, p. 89). Desta forma, o devido processo legal afasta argumentos de base autoritéria, geran- do decises legitimas e coerentes, exigindo assim, que todas as sentengas sejam mo- tivadas, justificadas e fundamentadas, visando um controle democratico da jurisdi¢ao. ARTIGOS | 273 @ D 2.3 Principio Do Contraditério E Da Ampla Defesa Assegurado no texto constitucional, no art. 5°, inciso LV, que diz que “aos litigan- tes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral, so assegura- dos o contraditério ea ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes" (Bra- sil, 1988), o que significa dizer que uma das partes tem o direito de se manifestar no processo contra toda alegagao ou exposigao de prova, se utlizando de todos os meios e recursos legais favoraveis a defesa de seus interesses e direitos postos em juizo. conforme ressalta Nucci (2014, p. 67) em que: A toda alegacdo fatica ou apresentacdo de prova, feita no processo por uma das partes, tem o adversério o direito de se manifestar, havendo um perfeito equilibrio na relagao estabelecida entre a pretensao punitiva do Esta- doe odireito & liberdade e & manutencao do estado de inoc&ncia do acusado (e.g. art. 5°, LV, Constituigao Federal de 1988) (Nucci, 2014, p. 67). Considerado o principio mais importante do ordenamento processual, visto que 08 atos processuais so pautados por uma bilateralidade em que se deve unir a pos- sibilidade do dire'to de aco com o direito de defesa, concedendo assim, tanto a acu- saco quanto & defesa, a efetiva oportunidade das partes participarem na formago do convencimento do juiz que proferird a sentenga. Desta forma, a parte se manifes- tard a cada fato novo suraido no processo, podendo 0 juiz decidir 0 caso conforme as teses desenvolvidas tanto pelo autor quanto pelo réu, como bem expde Cintra, Dinamarco e Grinover (2001, p.61) em que: A bilateralidade da ago gera a bilateralidade do processo. Em todo processo contencioso hd pelo menos duas partes: autor e réu. 0 autor (de- mandante) instaura a relaco processual, invocando a tutela jurisdicional, mas a relago processual $6 se completa e poe-se em condicdes de preparar o provimento judicial com 0 chamamento do réu a juizo. (Cintra, Dinamarco & Grinover, 2001, p.61) Esses principios implicam na necessidade de haver no processo 0 direito de ser ouvido; de acompanhar os atos processuais; de produzir provas; de ser informado re- gularmente dos atos praticados no proceso; de que as decisdes judiciais sejam fun- damentadas; de impugnar as decisées (Figueiredo, Alexandridis & Figueiredo, 2018). 2.4 Principio Da Dignidade Da Pessoa Humana Conforme define Awad (2006, p.1), a dignidade da pessoa humana é um valor supremo que atrai o contetido de todos os direitos fundamentais do homem, des- de o direito 4 vida. Ela resguarda o ser humano contra tudo o que Ihe possa levar a0 menosprezo. 0 Estado Democratico de Direito adota 0 principio da dignidade da pessoa humana como um valor basilar, uma vez que ele compée critério que retine todos os direitos fundamentais. 274 | MEDIA&JORNALISMO Q Segundo Alexy (1993, p. 105-109 citado em Mendes, Coelho & Branco, 2008, p. 151 O principio da dignidade da pessoa comporta graus de realizacdo, eo fato de que, sob determinadas condigdes, com um alto grau de certeza, pre- ceda a todos os outros principios, isso no Ihe confere carater absoluto, sig- nificando apenas que quase nao existem raz6es juridico-constitucionais que no se deixem comover para uma relacdo de preferéncia em favor da digni- dade da pessoa sob determinadas condigdes. Entretanto, uma tese como essa - de posigao central — vale também para outras normas de direitos fundamentais, sem que isso afete o seu cardter de principio. Por isso, pode- -se dizer que a norma da dignidade da pessoa nao é um princ'pio absoluto € que a impressdo de que o seja resulta do fato de que esse valor se expressa em duas normas - uma regra e um principio -, assim como da existéncia de uma série de condiges sab as quais, com alto grau de certeza, ele prece- de a todos os demais. (Alexy, 1993, p. 105-109 citado em Mendes, Coelho & Branco, 2008, p. 151). Repare que esse principio obtém critérios que precedam aos demais principios, porém a preferéncia no ordenamento juridico em favor da dignidade da pessoa hu- mana no o torna absoluto. Quanto ao seu caréter, ha dividas dele ser absoluto ou néo, alguns autores advertem que o caréter no € absoluto, como defende Alexy (1993 citado em Mendes, Coelho & Branco, 2008), isto porque, a idela de dignidade da pessoa humana nao pode servir, diretamente, de vetor para identificar direitos fundamentais. Todavia, esse principio contém critérios que identificam os direitos fundamentais, em especial o direito a vida, & liberdade e & igualdade de cada sujeito. Diante disso, os constituintes entendem que o ser humano é a base e 0 topo do direito, e que esse principio veio com o intuito de zelar pela dignidade de todos os seres humanos. A Constituigdo da RepUblica Federativa do Brasil de 1988 retrata em vatios momentos a importancia que tem a dignidade humana, para melhor ilustra- co. vejamos alguns artigos tutelados na Carta Magna de 1988, o qual retrata esse valor que olegislador dé 8 dignidade humana. Vejamos o preambule da Constituigo Federal do Brasil, o qual faz meng&o ao Estado Democratico de Direlto como forma de garantir 0 exercicio dos direitos individuais e sociais. Em seguida, em seu artigo 1°, le ll, © no caput do artigo 170, observarse @ obrigacao da ordem econémica em assegurar a todos uma existéncia digna Outros artigos que também advertem a garantia da dignidade humana é 0 arti- go 226, §7° da Constituicdo, o qual faz mengao a familia, como forma de garantir a dignidade da pessoa humana, e os artigos 3°, Ill e 0 artigo 23, X, que sao responsé- vels por apresentar os objetos fundamentais, isto é, a exterminagao da pobreza e das desigualdades sociais. Outro momento no qual o constituinte retrata a dignidade do individuo é no artigo 6°, que traz em seu texto o minimo que cada sujeito necessi- ta, como: educagao, salide, trabalho, moradia, lazer, seguranga, previdéncia social, a protegao 4 materidade e a infancia ea assisténcia aos desamgarados. Note que 0 constituinte ligou intimamente todos os direitos sociais citados aci- ma & dignidade da pessoa humana, isto, para que os direitos fundamentais protejam 0 individuo em sua dignidade. ARTIGOS | 275 2.5 Direito A Intimidade, A Imagem E A Honra A intimidade, a imagem e a honra sao direitos inviolévels conforme é positivado na Carta Magna em seu artigo 5°, X:"Sdo Invioldveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, direito a indenizagao pelo dano material ou moral decorrente de sua viclacao’ Brasil, 1988). A intimidade, por si s6, 6 0 nticleo no qual a pessoa ndo admite que outras aden- trem: é constituida por sentimentos, recordacGes mais intimas, e sobre a qual o titular do direito nao tem o desejo au a pretensdo de que outras pessoas venham a tomar conhecimento (Gongalves, 2007, p. 47). Jd no que tange & intimidade e & vida priva- da, Silva (2004. 9.205 citado em Andrade, 2014) pontua que o direito a intimidade & quase sempre considerado como sindnimo de direito & privacidade, havendo assim uma interligagdo entre ambos os direitos. Quanto aimagem.os direitos sao relativos prépria pessoa, corresgondenda ao modo como ela se apresenta perante a sociedade. Desta forma, conforme defende Andrade (2014), odireito a imagem vem proteger a reprodugo das caracteristicas fisiondmicase comportamentais do individuo, incluindo tamoém a pessoa juridica quanto aos atributos que detémna sociedade. Guerra (1999, p. 57 citadoemn Goncalves, 2007, p. 50) expe que: O direito 4 imagem sem divida alguma, é de vital importancia para as pessoas, pois consiste no direito que a propria pessoa tém sobre a projegdo de sua personalidade fisica ou moral em face da sociedade, incidindo assim em um conjunto de caracteres que vai identifica-1a no meio social. (Guerra, 1999, p. 57 citado em Gonsalves, 2007, p. 50) Jé ahonra obtém uma pequena ligagao coma intimicade, visto queela protegea inti- midade, vindo a resguardar o individuo de possiveis violagdes a sua famna, jd que é carac- terizada como um atriouto que compée a personalidade do sujeito. Guerra (1999, p. 49 citado em Goncalves, 2007, p. 44) ressalta que a protegdo a honra consiste no direito de no ser molestado, injuriado, ultrajado ou lesado na sua dignidade cu considerago social Cabe ressaltar, que além da Constituigdo Federal de 1988, 0 Cédigo Civil Brasileiro de 2002 também vem a proteger a intimidade, a honra ea imagem, em seus artigos 12.e 17, que fazem mengao & possibilidade de cessar a armeaga, ou a lesio a direl- to da personalidade, podendo ainda, reclamar perdas e danos e proibindo 0 uso do nome da pessoa em oublicacdes ou representagdes que @ exponham ao desprezo pliblico, mesmo que nao haja inteng&o difamatéria Postoisto, fica evidentea preocupacdo do legislador em proteger esses tr&s direitos (di- reito & intimidade, honra e imagem) que so direitos fundamentais com protecdo tantona esfera constitucional quanto na infraconstitucionall, sendo que sua violagaio resulta tanto no direito de resposta do ofendido, como também indenizagdo por danos materials e morais. 3 Meios De Comunicagao E Sistema Judicial A midia € 0 meio de comunicagao de massa (imprensa, televisdo, radio, inter- net, dentre outros) 0 qual se conceitua como sendo o conjunto total de meios de 276 | MEDIA&JORNALISMO Q divulgagao das mensagens publicitarias, tendo um poder de formacao da opiniao publica. (Ximenes, 2001, 9.584). Posto isto, ndo é de hoje que a midia possui uma forte influéncia no pensar € no agir das pessoas. A forma com que os fatos sao veiculados as imagens sao transmitidas pode acarretar na construgao de uma percep¢do equivocada quanto a determinado fato, principalmente os relacionados com 0 universo juridico, que nor- malmente, distorce @ realidade com o intuito de vender noticia. O problema maior de tudo isso € 0 resultado, pois 0 modo e a forma como s&o retratados os fatos aca- bam provocando indignagao moral, revolta, repulsa, dentre outros sentiments seme- Ihantes, interferindo diretamente na opinido das pessoas, podendo produzir efeitos condenatérios sobre determinados individuos, desencadeando assim, uma reagao social sobre determinado delito propagado. A influéncia gerada pela midia tem atingido tantos universos, que nem mesmo © universo juridico conseguiu ficar imune. Algumas decisées juridicas e administra- tivas, especialmente no sistema juridico processual penal brasileiro, como ocorreu no Caso da Escola Base, acaba sendo afetada pelo poder influenciador da micia no agir sobre o psiquismo do piblico, que eventualmente antecipa a atuacao do poder judicidrio. A consequéncia desse mecanismo é que ele ode antecipar a atuagao do sistema jucicial, atuando como possivel operador do Direito, convertendo-se em um juiz praticamente inquisitorial, vindo a proferir sentengas inapeldveis, sem qualquer suporte juridico, ndo imgortando se é culpado ou inocente, ferindo principios consti- tucionais como os da ampla defesa, do contraditério, da presungo de inocéncia, do. devido processo legal, da dignidade da pessoa humana, além dos sagrados direitos & intimidade, & honra ea imagem ea liberdade de expressao e a liberdade de imprensa. 3.1 Melos De Comunicagio E Imparcialidade Dos Julgamentos No Direito, 0 juiz deve assumir uma postura imparcial vindo a exercer sua fun- 0 respeitando 0 principio da isonomia, gue ensina que todos so iguais perante a lei, Desta forma, a imparcialidade do juiz, intimamente ligado com 0 principio do juiz natural, ndo vem a se comprometer com uma das partes e nem se influenciar por pressdes externas, tais como quesiées pessoals, valores morais e individuals e até mesmo por oressdes da imprensa. Entretanto, na pratica, ndo é bem assim que acontece, a imparcialidade do juiz muitas das vezes acaba sendo utdpica, ois acor- rem diversas interferéncias externas que influenciam no resultando do proceso. Amidia, por exemplo, é uma interferéncia externa que pode interferir nas decisdes judiciais, por ser uma forte formadora de opinido, assumindo, disfargadamente ou até mesmo sern escrtipulos, lados, julgando e opinando sobre determinado fato, se preocupando, nos casos penais, por exemplo, sempre com uma resposta’ a conde- nagdo. Ainda que a verdade no seja confirmada, os suspeitos estao sempre na mira da midia ou como culpados ou como inoventes, independentemente da verdade real Nao to diferente da justiga, o principio da imparcialidade também se faz pre- sente na profissao jomalistica, no devendo o jornalismo favorecer uma das partes, pois, conforme enuncia Beleza (2013, p.16) "aquele que noticia ndo deve tomar par- tido, expressar a opinido pessoal e nem observar tendendo a um dos lados”. No en- ARTIGOS | 277 Q tanto, a imparcialidade nao tern sido um principio fundamental do jornalismo, pois, eles usam as fontes como um meio de expressar 0 que, na verdade, é um ponto de vista proprio. Kovach e Rosenstiel (2008, 9. 122 citado em Beleza, 2013. p. 17) escla- recem bem quando dizem que: Imparcialidade deve significar que o jornalista esta sendo equanime e isento em relagao aos fatos, € ao entendimento que os cidados tem deles. Nao deve significar ‘estau sendo justo com minhas fontes, de forma que ne- nhuma delas ficard chateada?”. Tampouco deve o jornalista perguntar “sera que a minha matéria parece imparcial?”. Esses so julgamentos subjetivos que talvez afastem 0 jomalista da necessidade de checar mais ainda o seu trabalho. (Kovach & Rosenstiel, 2008, p. 122 citado em Beleza, 2013, 9. 17). E como consequéncia disso, hé influéncia jomalistica no processo judicial, forne cendo informago, expressando sugestées, agontando pistas, indicando suspeitos, permitindo a eliminagao de dlibis ou oferecendo elementos para uma andlise estru- tural da criminalidade (Rodrigues, 1999 citaco em Beleza, 2013. p. 18), ferindo assim, © principio da imparcialidade, camo ocorre no Caso Escola Base. E 0 efeito dessa conduta pode provocar erros e desvios da verdade real, interferindo no julgamento de um caso, por distorcer ou criar uma nova concepede da realidade € do que, de fato, esté ocorrendo. E como bem ressalta Rodrigues (1999 citado em Beleza, 2013, p.18): Seja por intencao deliberaca de quem veiculou os factos, seja pelomodo comoamensagem foi elaborada ou se repercutiu nosmeios depprova. As regras de produgdo da noticia e, designadamente, as formas, por vezes, precarias de escrutinio das fontes, podem levar a publicagdo de noticias que se repercutem negativamente na investigaco. (Rodrigues, 1999 citado em Beleza, 2013, p. 18). Além disso, no que diz respeito ao fornecimento de informagées trazidas sobre © mundo juridico, especialmente os casos criminais, um erro. um desvio da verdade do fato que vera manipular 0 pensar e o agir das pessoas, pode influenciar na dect 840 judicial, devido a maneira como os fatos so abordados, um novo rétulo é criado para 08 individuos; objeto de investiga¢ao, interferindo no julgamento e na opinio publica, Como se verd, 0 caso da Escola Base retrata bem a ndo manifestagéo do principio da imparcialidade, porque, ao que parece, 0 juiz teria se deixado influenciar por fatos externos, comprometendo o andamento justo do processo. Assim, osmeios de comunicacao tem o oder deinfluenciar resultados € pressionar os sujeitos do processo coma capacidade de manipulara opiniao publica, aimprensa ga- nha poder de silenciar um crime ou dealastré-lo, conformeo enfoque principal da midia, 3.2 Liberdade De Expressao John Milton (1644 citado em Furtado & Melo, 201 6) ja dizia: (Déem-me acima de to- das as liberdades a liberdade de saber, de falar ede discutir ivremente, de acordocoma minha consciéncia’. Essa passagem aborda bem o presente tema, pois tanto o pensar 278 | MEDIA&JORNALISMO Q quanto 0 se expressar é 0 que diferencia os seres humanos. E sendo um quesito indis- pensavel para a total realizacdo do homem, o texto constitucional retrata em seu arti- go 5° a liberdade de expressiio (incisos IV e IX), também conhecida como liberdade de pensamento por alguns doutrinadores, que vera garantira prépria literdade de pensar. 0 texto constitucional, em seu artigo 5° expde em seu inciso IV que “é livre a manifestacdo do pensamento, sendo vedado o anonimato” (Brasil, 1988), com refle- x0 no inciso IX, que ressalta que "é livre @ expressdo da atividade intelectual, artisti- ca, cientifica e de comunicaco, independentemente de censura ou licenca” Brasil, 1988). Cabe ressaltar que essa garantia também “abrange o direito de opinigo, de informa ¢ de escusa de conscigncia’ (Silva, Sobreira, Figueiredo, Penteado Filho e Cometti, 2012 p. 57), 0 que significa dizer que todo individuo tem direito a liberda- de de opinido e expresso, que implica na liberdade de manter as suas préprias opi- nides sem interferéncia e de procurar, receber € difundir informagGes e ideias por qualquer meio de expresso independentemente das fronteiras, conforme destaca a Declaragéio Universal dos Direitos do Homem, em seu artigo 19. Por fim, é importante esclarecer que hd limites & liberdade de exoressao, ndo de- vendo confundir limite a liberdade de expresso com a penalidade, visto que 98 limites fazem parte do direito 4 liberdade de expresso sendo ne- cessarios pera 0 exercicio pleno desse direito: sem limites n&o hé liberdade, e sim, arbitrariedade de ag6es. [..] J4 as penalidades referern-se ao desres- peito ao que estabelece alei, fazendo-se atuantes apenas a partir domomen- to em que se constata a violacdo do direito ao livre expressar, por omissao ou por abuso do mesmo: so, portanto, de atuacao efetiva ulterior ao delito (Furtado & Melo, 2016). 3.3 A Liberdade De Imprensa O direito de informar e ser informado s&o direitos assegurados no texto consti- tucional por meio da liberdade de imprensa, visto que é por meio dela que a veicula- G40 das informagdes pelos érgdios de imprensa é assegurada, sendo contemplada no artigo 220 da Constituigao Federal de 1988, que diz que: Art. 220. A manifestacéio do pensamento, a criagéio, a expresso ea informagdo, sob qualquer forme, processo ou veiculo nao sofrero qualquer restric&o, observadio o disposto nesta Constituicao. §1° Nenhuma lel conterd dispositivo que possa constituir embaragoa plena liberdade de informagdio jornalistica em qualquer veiculo de comunica- go social, observado o disposto no artigo 5°, IV, V, X, XIll e XIV. §2° E vedada toda e qualquer censura de natureza politica, ideolégica eartistica. (Brasil, 1988). Também, refletida no inciso IX do artigo 5° da Carta Magna, que exnde que “é li vre a expresso da atividade intelectual, artistica, cientifica e de comunicagao, inde- pendentemente de censura au licenga’ (Brasil, 1988). ARTIGOS | 279 @ D Como se vé, a liberdade de imprensa esté entre os direitos fundamentals de maior relevancia na ordem constitucional, e conforme ressalta Hungria (1953 cita- do em Fernandes, 2012) a liberdade de imprensa é o direito da livre manifestacéio do pensando pela imprensa, em que é preservado, de um lado, o direito individual & in- formagao, e do outro, o direito coletivo do acesso a informagao. Cave ressaltar que, mesmo tendo sua liberdade assegurada pela Carta Magna, a liberdade de imprensa no possui caréter absoluto, podendo sujeitar-se a restrigdes, como a privacidade e a honra das pessoas. 3.4 Censura E Controle Da Midia No Brasil Os meios de comunicagao estao sempre em busca de conquistar e atrair a aten- cdo das pessoas, de mado a garantir maior acessibilidade & populagao como tam- bém uma maior qualidade na veiculagdo da noticia. No entanto, para garantir essa acessibilidade e essa qualidade na propagagdo da noticia, muitos acabam violando direitos de outrem, ferindo as garantias fundamentais asseguradas n@ Carta Magna Presumindo essa possibilidade, o legislador constitucional garantiu a qualquer individuo a reparagao de um dano ocasionado pelos meios de comunicagdo. E mais, mesmo com essa gatantia, a Constituicdo Federal ainda proibe a censura aos meios de comunicagao, conforme se observa no artigo 5°, [X, que ressalta que “é livre a expresso da atividade intelectual, artistica, cientifica e de comunicagao, indepen- dentemente de censura ou licenga” (Brasil, 1988), como também no artigo 220 da ConstituigSo Federal, como demonstrado. Diante disso, S evidente o quanto a Constituigdo Federal é explicita ao proibir prati- cas de censura aos meios de comunicagdo. Por sua vez, antes de seguir adiante, cum- ote definir o que de fato é censura, trazendoo conceito afirmado pelos autores Donnini 2 Donnini (2002, p. 48 citado em Goncalves, 2007, 9.41), que pontuam quea censura é: LJ sistema ou pratica de censurar obras literdrias, artisticas ou co- municages escritas ou impressas. Cabe ao censor (do latim censore) o ato de opinar e examinar essas obras, manifestando, assim, sua posicéo quanto utilidade ou nao da oublicidade destas, determinando, a seu critério, a sua publicagao ou difusdo, através da imprensa. (Donnini & Donnini, 2002, p. 43 citado em Gongalves, 2007, p.41). Posto isto, conclui-se que a censura € 0 desejo de um sujeito em controlar por meio do poder que exerce, buscando assim, reprovar algo. Quanto no universo jurt dico, o sentido dado pelo constituinte ao vedar a censura foi exatamente o de proibir a criagdio de um érgao que venha a definir qual tipo de informacao, imagem ou pro- paganda vem a ser veiculada. Repate que o legislador resguarda o direito & liberdade de expresso, porém, tal direito ndo é absoluto, pois caso haja confronto entre direitos fundamentais, o Poder Judiciario buscaré solucionar da forma mais justa. No entanto, para que solucione esse confronto, 0 judiciario ira sacrificar um direito em beneficio de outro, conforme explica Gongalves (2007, p. 42). 280 | MEDIA&JORNALISMO Q Avedagéioa uma determinada matéria é imprescindivel, tendo em vista o resulta- do que tal noticia pode causar 8 coletividade, pois como jé dito anteriormente, aliber- dade de imorensa assegurada se no violados os direitos individuais. como a inti- midade, & honra, & imagem, & privacidad como também os direitos coletivos, como o interesse ptiblico e a seguranca. Posto isto, prevendo garantir eventuais excessos da imarensa, ocorre o chamado “controle da midia’, que funciona nao apenas para evitar esses excessos, como também garantira no influgncia dos meios de comuni- cacao ern determinado acontecimento, como, por exemplo, os resultados eleitorais, Em uma matéria publicada na revista eletronica Veja, Corréa (2014) aborda sobre a censure € 0 controle da midia, na qual ele explica que o ‘controle da midia’ funcio- na, ou pelo menos deveria funcionar como garantia tanto dos direitos da imprensa, quanto dos direitos individuals e coletivos, assegurando-os dos excessos e abusos da imprensa e também da influéncia que a midia pode causar em alguns casos es- pecificas. Corréa (2014) também discorre que uma coisa é 0 "controle" sobre o con- telido produzido pelos meios de comunicagdo, sejam quais forem suas op¢des € outra coisa, bem diferente, é a restri¢do legal a concentragao da propriedade de um grande numero de meios de comunicaco, nas mos de monopélio ou oligopélios. Em que, o primeiro retrata bern a censura e a segundo retrata o ‘controle da midia’. Diante disso, observa-se que na democracia brasileira, a censura ou qualquer tenta- tiva desta na produc&o de contetido deve ser negada, da mesma forma que os danose prejuizos causados pela ago da midia deve serressarcidos, preservando assim os di- reltos fundamentais tanto da imprensa quanto da coletividade e do sujeito em particular. 4. Andlise do Caso Escola Base As imagens exercem um grande poder na sociedade e é por meio delas que a midia constréi um espetaculo influenciador das relagdes sociais, fazendo com que entrem pelos olhos e alcangam o cérebro sem ser notados (Novaes, 2005 citado em Fava, 2006, p. 84). E é nessa dtica que o cendrio do Caso Escola de Educacao Infan til Base é construfde, por meio de imagens exageradas, transmitidas pelos meias de comunicago, o que velo a dificultar a percep¢ao entre o que seria real da ficcao. O caso comega quando Maria Aparecida Shimada (Cida) e sua prima Paula Milhin de Monteiro Alvarenga, juntamente com a ajuda de seu merido Mauricio de Monteiro Alva- renga, resolvern montar seu préprio negécio, mal sabiam eles que esse negécio ria mu- dar completamente suas vidas. Ribeiro (2003, 0.16-17), relata bern como tudo comegou Em setembro de 1992, interessaram-se por uma oferta de uma esco- linha na Aclimagao. Nunca tinham ido ao bairro antes, mas, como a escola estava em franca decadéncia, o prego nao era ruim. Fecharam negécio. Des- de o principio, as tarefas foram bem divididas: Cida Tomava conta da parte administrativa e Paula responsabilizava-se pela parte pedagégica. Foi neces- sario empatar um bom dinheiro para reerguer a escolinha. Levantaram uma edicule nos fundos, transformaram 4 casa modesta em um sobradinho de dois andares, cimentaram todo o quintal e construiram banheiros extemos. (Ribeiro, 2003, p.16-17). ARTIGOS | 281 Q Tudo estava indo muito bem, as Uiltimas obras estavam prontas no inicio de 1994. De fato, tudo indicava que o sacrificio navia valido a pena, jé que em menos de dois anos 0 nlimero de alunos havia passado de 17 para 72, conforme informa Ribeiro (2003, p.17). No entanto, a sorte da Escola Base comegou a mudar quando Fabio, um menino de quatro anos, que estudava nesta escola, enquanto brincava com sua mae (Lticia) comegou a fazer movimentos semelhantes a atos sexuais. Vendo aqui- lo, ame, de forma histérica, como se noticiou. iniciou varios questionamentos: de onde ele havia visto isso, quem o ensinou, concluindo assim, agés a indicagao de que © menino havia aprendido aqueles movimentos em uma fita de videocassete, de que seu filho havia sofrido abusos sexuais (Fava, 2005, p. 86). Ea partir dat, todo um enredo foi montado, o quel Ribeiro (2003, p.20-21) descreve bert Licia voltou ao quarto, ninguém presenciou a inquiri¢do, mas o fato é que ela saiu de Ié dizendo que o menino revelara barbaridades. A fita porno- gréfica, ele a teria visto na casa de Rodrigo, um coleguinha da Escola Base, Um lugar com portao verde, jardim na lateral, muitos quartos, cama redon- da e aparelho de televisdo no alto. Seria levado a essa casa em uma perua Kombi, dirigida por Shimada, - 0 Ayre, marido da proprietaria da escolinha Fabio teria sido beljado na boca por uma mulher de tracos orientais, 0 beijo fotografado por trés homens: José Fontana, Roberto Carlos € Saulo, pai do Rodrigo. Mauricio - marido de Paula, sécia da escolinha — teria agredido o pequeno a tapas. Uma mulher de tracos orientalis faria com que ele virasse de brugos para passar mertiolate e pomada em suas nddegas. Ardia muito, © que o garoto disse & me. E uma mulher e um homem ficariam ‘colados" na frente dele. Outros coleguinhas de Fébio teriam participado da orgiat Ira- cema, Rodrigo € Cibele. (Ribeiro, 2003, 9.20-21). Diante de tal imaginago fértil, Licia procurau Cléa, mae de Cibele, para ouvir a versdo de Cibele, que, por fim, apés varias indagacées, confirmou o que Fabio con- tara. Desde entdo, nfo havia duvidas, as criancas haviam sofrido abusos sexuais. Com isto, as duas mes denunciaram, por abuso sexual, os donos da escola, um Motorista do transporte escolar e os pais de um aluno. Diante disso, o delegado que recebera a denuincia; Antonino Primante, encaminhou as duas criangas ao exame de corpo de delito no Instituto Médico Legel (IML), além de expedir um mandado de busca e apreensdo para entrar na casa de Mara e Saulo, pais de Rodrigo, lugar onde supostamente ocorriam as orgias (Fava, 2005, p.87). Ao entrar na casa de Mara € Saulo, viram que nada parecia com a descrigéo dada pelas criangas, nada foi encontrado, salvo fitas cassetes do cantor Fabio Jre do Globo Repérter sobre ufologia. Logo depois, seguiram para a Escola de Educa- co Infantil Base, que estava rodeada de jornalistas € pais indignados. E apés revis- tar toda a escola, a Unica coisa apreendida foi uma colegdio de fitas de Walt Disney. Inconformadas com a conduta do delegado Primante, as maes decidiram apresen- tar 0 ovorrido para a Rede Globo, iniciando assim, o grande espetaculo, pois, foi s6 © repérter global Valmir Salaro chegar & Delegacia para que os primeiros acusados, isto é, Ayres, Cida, Maurilio e Paulo, fossem indagados informalmente, sofrendo uma grande press&o psicolégica. 282 | MEDIA&JORNALISMO Q Ribeiro (2003, p.40-41) discorre ainda que Paula afirma que a press&o ndo foi apenas psicoldgica, mas também fisica, conforme expée abaixo: Segundo sua verso, os policias a colocararn de joelhos no banhei- ro do distrito e, debaixo de pancadas, ameacaram mergulhar sua cabega no vaso sanitario. Segundo Paula, Salaro estava no distrito nesse momento e, se no presenciou a tortura, num dos intervalos do espancamento, ela teria segurado seu braco, pedindo socorto. (Ribeiro, 2003, p.40-41). Todavia, 0 espancamento no foi confirmado por nenhum dos demais acusados, porém, confirmam que os policials foram bastante duros no interrogatério. Mas a questo ndo é apenas se houve tortura ou ndo, mas sim, 0 fato do Jornal Nacional, da Rede Globo, no dia 29 de marco, divulgar a dentincia das maes, sem apresentar nenhuma versao dos acusados. E mais, eles haviam um telex do IML (Instituto M&- dico Legal) apresentando o resultado preliminar do exame de corpo delito de Fabio, no qual informa a possivel prética de atos libidinosos. Com isto, uma perseguigao aos acusados era iniciada, tanto pelos joralistas quanto pela sociedade. Plantes eram feitos na frente da casa de Mara e Saul, pe- los jomalistas e eram recebidos com ofensas pelos vizinhos. Diante disso, todos busceram manter-se escondides, por temerem um linchamento. E as redes de co- municag&o, conforme Fava (2005, p. 89) ilustra, mergulharam em uma cobertura sensacionalista, capitaneada, mormente pelas emissoras de televisdo que insistiam em transmitir 0 sofrimento das mées das vitimas. E por meio dessas noticias, mos trando 0 sofrimento de mes de criangas que teriam sofrido abusos sexuais, aca- bavarn dominando o ponto de vista de cada telespectador, afirmando e reafirmando que os acusados eram de fato culpados provocando assim, uma reacdo de revoita e clamor popular por justica. O jornalista Ribeiro (2003, p. 56-57) narra que a midia propagava continuamente, dentincia atrds de dentincia sobre o caso, sem ao menos uma prévia investigacao. Os jornais, portanto, aceitavam publicar qualquer dendincia, mesmo de pessoas nao identificadas. A imprensa no era mais movida pelo lanimus narrandi, ou intengao de narra. O que estava mais do que presente era o ani- mus denunciandi, ou compulséo por denuncier. Essa pratica é também cha- mada de "denuncismo". A cobertura na midia imprensa comegava a entrar no ritmo sensacionalista da televisao. A manchete da Folha da Tarde de quinta- -feirajé aceitava denuncias como fatos verdadeiros: "Perua escolar carregava criangas para orgia’. (Ribeiro, 2008, p. 56-57) E énesse cendrio de denUincias e mais dentincias escandalizadora que a Comis: so Parlamentar de Inquérito vern a pedir a quebra do sigilo bancdrio dos acusados, tendo em vista uma suspeita das mdes da provvel contarinagdio do virus HIV nas criancas. A quebra do sigilo bancario acabou sendo deferide, mesmo sem qualquer prova material do delito. Finalmente, no meio de toda aquelas dentncias infundadas, selvageria e saquea- mentos sofridos, os acusados resolveram falar com os jornelistas Florestan Jt., Chico ARTIGOS | 283 Q Verani e Regina Terraz. No entanto, dias depois, o delegado responsdvel pelo caso, Edélson Lemos se reine com os advogados que atuavam no inquérito eexige a apre- sentagdo dos acusados, pois queria ouvi-los, garantindo, antes de qualquer coisa, que estes nao seriam presos. Todavia, ndo foi isso que aconteceu, 0 juiz Galvao Bruno determinou a prisio dos envolvidos. E como somente Saulo e Mara compareceram delegacia para serem ouvidos, conforme queria o delegado Edélson Lemos, estes foram presos € os demais conseguiram escapar da priséo A imprensa, nesse mesmo dia, obteve a c6pia do lauda inconclusive do IML (Insti- tuto Médico Legal) referente ao menino Fabio, o qual cizia que as lesdes encontradas s&o comparadas tanto a coito anal quanto a problemas intestinais, sendo a segun- da causa confirmada algum tempo depois por meio de umn depoimento da prépria mae de Fabio que afirmava que o filho sofria de constipagao intestinal. Dias depois, 9 casal Mara € Saulo foi solto e o delegado que efetuou a prisdo; Edélson Lemos, afastado do caso, mantendo em siléncio as investigagées iniciadas. Era como se os noticidrios liderassem o rumo das investigagées (Fava, 2005, p. 94) Entretanto, esse siléncio ndo curou muito tempo, pois em virtude de uma denuin- cia anénima, um americano que residia no bairro da Aclimago foi detido por suspel- ta de pedofilia. Esse cenério foi o suficiente para que 0 caso da Escola Base voltas- se &s manchetes, retomnando o grande espetaculo, uma vez que ligaram 0 caso do americano com a Escola Base. Deoois de uma série de acareacées, a ligacdo entre as casos foi desfeita. Apés alguns meses de investigacao sobre o caso da Escola Base, o Delegado Gélson de Carvalho concluiu que os seis indiciados eram inocen- tes, por falta de provas, sendo 0 inquérito arquivado Vale enfatizar que mesmo depois de serem inocentadas, as marcas do ocorri- do ainda se fazem presentes, pois acarretaram problemas financelros e de satide nos envolvidos, como depressiio, sindrame do panico dentre outros. A escola de Educago Infantil Base esta abandonada, apés ser usada pela FEBEM (Fundacéo Estadual para o Bem Estar do Menor) por alguns anos. Os acusados ajuizaram vé- rias agdes de indenizagao com pedido de danos morais e materiais contra alguns veiculos de comunicacao que fizeram a cobertura do caso, os quais foram deferi- dos. Registra-se, par oportuno, que Icushiro Shimada e sua esposa, Maria Apareci- da Shimada, j4 morreram. 4.1 Desrespeito As Garantias Processuals Dos Acusados O meio mais eficaz e rapido para a construgéo de ideias € por meio dos meios de comunicagao, pois com seu poder de persuasao a opinigo publica é formada ge- rando uma espécie de controle social, principalmente quando se trata de noticias referentes a assuntos policiais. Entretanto, a violagdo a garantias constitucionais 20 individuo acaba sendo constante, tendo em vista o modo como é adquirida, formu- lada ¢ transmitida a noticia aos telespectadores. O abuso ao direito de Liberdade de Expresso, em especial nos casos de policia, vem invadindo as garantias asseguradas aos acusados, interferindo diretamente nes decisées € opinides das pessoas, criando um pré-julgamento sobre um determinado caso, condenando o suposto acusado antes do transito em julaado. 284 | MEDIA&JORNALISMO Q Para melhor entendimento, vejamos um caso concreto que ilustra a colisdo de di- reitos fundamentais assegurados pela Carta Magna de 1988, que mostra o controle social que a midia tem, de forma a interferir em decisdes judiciais, ofendendo direi tos que constituem a dignidade dos acusados. 0 caso da Escola Base retrata bem os conflitos entre 0 direito de Liberdade de Exoressio e de Imprensa, e os direitos que constituem a Dignidade da Pessoa Humana € os direitos e garantias processuais. A midia, ao noticiar o caso em questo, vem provocar uma reago de violenta que- bra da ordem (Mendes, Coelho & Branco, 2008, p.369), isto & produziu um falso alarme sobreo caso de abuso sexual contra crianga em uma escola de ensino infantil. A forma desresoeitosa € sensacionalista como a informacao sobre o caso fol divulgada, deore- tou de imediato a veracidade dos fatos antes mesmo da produgao de provas e da defe- sa dos supostos acusados. Com essa conduta antiprofissional por parte da imprensa acarretou em diversas ofensas aos direitos tanto processuais quanto individuais dos suspeitos, interferindo no julgamento destes, causando danos irrepardveis aos acusados. Passemos agora a entender o modo como esses direitos violados foram mani- festados no presente caso. Iniciaremos com a Liberdade de expressiio, que logo ja enconira limites previstos no texto constitucional, em que, havendo colisdo desse direlto com outros, a legislaco intervird, de modo a preservar um dos direitos. O constituinte proclama, no art. 220 da Carta Magna de 1988, a ndo restri¢ao a0 direito de manifestacdo de pensamento, criacdo, expressao e informacéo. acrescen- tando ainda, que nenhuma lei conteré dispositivo que possa constituir embarago a plena liberdade de informa¢do jornalistica em qualquer vefculo de comunicagao so- cial, desde que observados os dispositivos no art. 5°, IN, V, X, Xill e XIV (§12 do art. 220, da Constituicdo Federal de 1988). Por sua vez, admite a intervencao legislativa para, dentre essas normas do art. 5° da Constituigdo Federal, preservar a intimidade, a vida privada, a honra ea imagem das pessoas (X) e, para que se assegure a todos 0 direito de acesso & informacao (XIV). No caso da Escola Base, os meios de comunicagao usufruiram da sua liberdade de expressdo e de imprensa, tendo em vista que ambas referem-se ao direito de livre manifestac&o do pensando, para invadir os direitos da personalidade dos acusados, lesionando a intimidade, a imagem e @ honra dos suspeitos, vindo a desconstituir a imagem que tinham no meio social em que viviam. Ao caracterizar os acusados como monstros, a imorensa desconstituiu @ imagem, suas intimidades e honra que foi atingida em virtude da mé reprodugo que foi feita pelos meios de comunicago. Com sua fixa persegui¢do aos seis suspeitos, a midia veio degradando publicamen- te suas imagens, aniquilando suas carreiras, entregando-as & clandestinidade e al- terando para sempre suas historias (Fava, 2005, p.86) A conduta da imprensa teve como consequéncia a distorgao da imagem e da dignidade dos seis acusados, com um comportamento agressivo, hipnotizando a to- dos, inclusive o prdprio delegado do caso € 0 judiciério, que diante da histeria popular, desencadeada pelas acusagées mididticas, interferiu no préprio rumo das decisées judiciais, conforme pontua Fava (2005, p.92) Segundo Mendes, Coelho e Branco (2008, p.375): O ser humano nao pode ser exposto — méxime contra a sua vontade —& mera curiosidade de terceiros, para satisfazer instintos primérios, nem ARTIGOS | 285, Q pode ser apresentado como instrumento de divertimentos alheio, com vis- tas a preencher o tempo de écio de certo ptiblico. Em casos assim, ndo ha- vera exercicio legitimo da liberdade de exoressdio. (Mendes, Coelho & Bran- co, 2008, p.375). Observe que a midia nao tinha o direito de expor os acusados da forma como foram retratados, sem 0 devido consentimento desses, com 0 intuito vago de fazer noticia, abalando assim, a honra dos acusados e seus direitos. Todavia, nZo foram apenas direitos da personalidade dos seis acusados que foram violados pela impren- sa, 08 direitos € garantias processuais também néo ficaram imunes 4 influéncie da midia. Sem qualquer suporte juridico, a imprensa converteu-se zo papel de juiz pra- ticamente inquisitorial e proferiu sentengas inapeldveis, condenando os suspeitos sem ao menos ouvi-los, ndo se importando se sdo culpados ou inocentes. Parte da midia, conforme demonstra Fantecelle e Shutte (2013, p.6), ndo diferencia acusado de condenado, julgando os suspeitos com informagGes distorcidas de fontes nao confidveis, tudo para ter um “foco de noticia’. E importante frisar que a Constitui- Go Federal de 1988 prevé que os acusados sao considerados inocentes até que se- jam declarados culpados, mediante sentenga condenatéria, com transite em julgado Sendo assim, inadmissivel a condenacao dos suspeitos antes do transito em julgado. Diante disso, 20 extrapolar com informacSes inconcluses. a imprensa além de in- fluenciar a sociedade, acabou influenciando a atuagao policial e judicial no caso em questo. Isso porque, diante de toda a pressdo social, o judiciério ignorou a presungdo de inocéncia eo direito do contraditério € da ampla defesa eveioa atuar cam equivoco a0 expedir mandado de prisdo aos seis suspeitos, haja vista que nao havia exposi¢o de provas contra eles, e sim, varias acusacées infundadas e fontes ndo confidveis. Cabe frisar que é por meio do direito processual que o Estado desenvolve o exer- cicio da func&o juriscicional, para obter um eauilibrio entre os interesses conflitantes, E para no haver falhas na prestagdo jurisdicional ndio causando prejuizo ao réu, 0 Estado Democratico de Direito preserva garantias fundamentais ao réu no proces- so. Uma dessas garantias é a presuncdo da inocéncia, isto & “ninguém sera culpado até 0 transito em julgado de sentenga penal condenatéria’ (LVII do art. 5° da Consti- tuig&io Federal de 1988). Desta forma, a imprensa ao condenar antecipadamente os seis acusados, viola um dos direitos primordiais do ordenamento juridico, tendo em vista que garante aos acusados um julgamento justo, julgamento este que a midia suprimiu dos suspeitos Os seis suspeitos nem tiverama chance de se manifestar no processo contra toda aalegacdo ou exposiggo de provas contra eles. isto, mesmo 0 constituinte asseguran- do que todos que tiveram seus direitos fundamentais feridos pela midia tm o dire to de resposta, o que corresponde, segundo Mendes, Coelho e Branco (2008, p.363), & possibilidade de retrucar uma ofensa veiculada por um meio de comunicagao. Com isso, além de retirar 0 direito da presungo de inocéncia dos seis acusados, a imprensa tirou 0 direito dos acusados de retrucar tal condenagao, nocauteando os direitos e garantias constitucionais assegurados aos réus. Ademais, ao que parece, os acusados tiveram seus direitos de personalidade e processuais privados sem uma audiéncia justa realizada em um tribunal indegendente e imparcial, haja vista que o constituinte assegura no art. 5°, LIV, “que ninguém ser privado da sua liberdade ou 286 | MEDIA&JORNALISMO Q de seus bens sem o devido processo legal” Gras, 1988), isto é sem um julgamento proferido legaimente para solucionar o presente caso. Percebe-se o quanto a midia tem poder de persuadir. por meio de informagées sensacionalistas, causando panico e tenor na sociedade, vindo a confundir o traba- Iho da policia nas investigagdes do caso, quebrando o sigilo resguardado na Carta Magna de 1988, do inquérito policial, vindo assim a propagar informagoes do inqué rito antes da conclusdo da investigaco. provocando um grande tumulto no meio social e no meio juridico. A influéncia da midia pode trazer consequéncias graves a0 proceso, € no caso da Escola Base, as consequéncias foram irrepardvels, pois os suspeitos, mesmo depois de julgados inocentes, nao tiveram suas vidas de volta. Problemas de sade surgiram e abalaram a qualidade de vida destes. 4.3 A Responsabilizago Civil Dos Meios De Comunicagao Segundo Almeida (2007, p. 43), "se a midia influencia na modificagao do ordena- mento juridico, no é menos verdade que os meios de comunicacao podem causar prejutzos ao individuo acusado da pratica delitiva’, o que significa dizer que ndo é ape- nas 0 judicidrio que pode ser atingido pelas ordticas abusivas dos meios de comunica- ¢&0. 0s individuos envolvidos no delito também so prejudicados por esta influencia. O legislador, ainda que assegure 0 amplo exercicio da liberdade de imprensa, im- Ge alguns limites que tém como consequéncia a responsabilidade civil daquele que, mediante abuso desse direito, ofende direito individual de outrem. Com isso, mes- mo em nome da liberdade de imprensa, a midia tem o dever de reparar o prejuizo causado ao individuo, tendo em vista a responsabilidade civil gerada ao jornalista a0 noticiar um determinado fato. Essa responsabilidade provém do exercicio abusive da liberdade de imprensa, que, segundo a Constituigao Federal, em seu artigo 5°. V, assegura 0 direito de indenizagao por danos causados por terceiros, em que expoe que "é assegurado 0 direito de resoosta, proporcional ao agravo, além da indeniza- ¢&o por dano material, moral ou a imagem’ Grasil, 1988). O direito de resposta corresponde ao direito de retrucar uma ofensa veiculada por algum meio de comunicagao, jé 0 direito de indenizagao, tem como finalidade a reparagao pecunidria dos danos causados por essa veiculacao. A professora Urban (p. 43-44 citado em Ferreira, 2014) faz uma ressalva a respeito da responsabilidade jomalistica, o qual ela enuncia que: A facilidade de acesso 4 noticia ee quantidade de intormagées dispo- nibilizadas no mundo globalizado acerretou no surgimento de uma comuni- cago de massas. 0 comunicador passou assim a ser uma espécie de porta voz dos fatos havidos no mundo, o que fez aumentar a sua responsabilidade de passar a noticia de modo adequada aos valores constitucionais, legais € morais. Levando em consideragdo as consequéncias sociais, econémicas e politicas a que se pode chegar por conta da proliferacdo de uma noticia, e também considerando que com 0 desenvolvimento do capitalismmo as noticias passaram a ser repassadas como se fossem mercadorias, com mero intuito lucrativo, passou-se a dar especial destaque 4 questo da ‘responsabilidade ARTIGOS | 287 Q social da imprensa’. Significa a abrigagdio da imprensa, através dos meios de comunicagdo, de publicar a realidade dos fatos expostos, preservando 0s va- lores e principios institucionalizados, os costumes prevalentes na sociedade, bem como a ética no desencadeamento do processo de cidadania. (Urban, p 43-44 citado em Ferreira, 2014). Observe que 0 jornalista deve ser criterioso ao expor a privacidade alheia, além de cumprir religiosamente a lei, tendo em vista que é de sua responsabill- dade repassar a noticia, retratando a verdade dos fatos, respeitando os valores constitucionais e mais, se responsabilizando pelas consequéncias geradas pela noticia divulgada Vieira (2003, p. 265 citado em Ferreira, 2014) ilustra que A reportagem sobre crimes e atos judiciais deve ser 2 mais objetiva possivel. A crénica judiciaria que exalta ou denigre, utilizando-se de critérios unicamente subjetivos, é abusiva. A imprensa pode informar sobre uma in- vestigagao criminal em curso, porque o direito de ser informado abrange acesso as fintes de informagao. Deve, porém, respeitar o sigilo do inguérito policial, respeitar a dignidade do suspeito ou investigado, das vitimas e tes- temunhas. A imagem do investigado, preso ou ndo, podera ser divulgada se houver a anuéncia dele. A vitima deverd ser resguardada, evitando-se a divul- gacao de sua identidade. As testemunhas, se 0 caso exigir, por questdo de seguranca pessoal, nao poderdo ser identificadas. 0 jornalismo investigativo néo é vedado. Todavia, 0 jornalismo deverd ser prudente € comedido, procu- rando salvaguardar os valores éticos do ser humano. $40 abusivas as acu- sagées infundadas — inclusive aquelas feitas sobre uma dentincia andnima - contra um individuo e que ferem a presunc&o de inocéncia. Mesmo em bases sélidas, a afirmagao de prética delituosa contra alguém exige cautela. (Vieira, 2008, p. 265 citado em Ferreira, 2014). Assim, aimprensa precisa sempre harmonizar seus direitos com os do individuo, isto 6, deve haver equilibrio entre sua liberdade de expresso € as garantias indi duais do acusado, tendo em vista seu poder de influenciar no destino do acusado, podendo |he causar sérios danos. importante registrar que o presente estudo no questiona danos causados pela imprensa a pessoas publicas, mas sim a outras pessoas, haja vista que o cenério, no primeiro caso € um pouco diferente quando se trata de um particular. A responsa- bilidade de uma empresa jornalistica ao divulgar informagées acerca da intimidade ou da vida privada de um sujeito é muito importante, j4 que a exposi¢do errénea de tais informagoes € ainda sem autorizagao do individuo viola outros direitos funda- mentais tutelados pela Carta Magna. A titulo exemplificativo podem ser mencionados alguns casos concretos que ilustram essa responsabilidade civil da midia. Comecemos com o caso Isabella Nar- doni, um dos classicos casos brasileiro de forte influancia da midia, o qual retrata a histéria de uma crianga de 5 anos de idade que havia sido morta pelo pai e por sua madrasta. 0 caso, desde 0 inicio foi marcado por varias suoosi¢des, perfis dos acu- 288 | MEDIA&JORNALISMO Q sados foram tragados, 0 crime, reconstitufdo, e a imprensa, cam seu préjulgamen- to do caso, lesava a dignidade do casal que estava sendo acusado, sem nenhuma cautela. Tal conduta gerou um tumulto na sociedade, haja vista que as informacées sobre 0 julgamento foram usadas de forma errénea, vindo a prejudicar os acusados, possibilitando a ocorréncia de danos irrepardveis Note que a midia viola direitos e garantias asseguradas aos acusados, sem se preocupar com as consequéncias que tals agbes poderiam causar. A divulgagao de imagens e de informaces quanto ao perfil dos acusados agrediram diretamente a dignidade do casal, acarretando em possiveis danos a vida destes. 0 caso Suzane Von Richthofen ¢ irméos Cravinhos também teve sua repercus- sGo na midia, j4 que se trata da morte de um casal, cujos assassinos foram duas pessoas sendo uma delas © namorado da filha do casal, Suzane. No entanto, du- rante as investigagées foi comprovado o envolvimento da ordpria Suzane no caso. Outro caso, que é 0 foco desse trabalho, é o Caso Escola Base, que retrata bem © abuso dos melos de comunicagdo, com violag&o ao direito dos suspeitos, fatos distorcidos, com informaces infundadas, trazendo prejuizo tanto moral quanto ma- terial aos acusados. Observe que nos trés casos abordados, a midia aproveitou do exercicio da liber- dade de manifestago do pensamento e informagao, lesando os suspeitos com seu oréulgamento. Cabe ressaltar que no € 0 caso, julgar se S40 culoados ou inocen- tes, mas sim a responsabilidade civil da imprensa frente aos direitos individuais dos acusados. Os danos decorrentes dos meios de comunicagao se originarn da colisdo entre direitos fundamentais, o qual, segundo 0 Ministro Scartezzini, do Supremo Tri- bunal de Justiga (2005, p.267 citado em Barreiros, N/A) Aresponsabilidade civil decorrentes de abusos perpetrados por meio da imprensa abrande ¢ colisdo de dois direitos fundamentais: a liberdade de informagao ea tutela dos direitos da personalidade (honra imagem e vida pri- vada). A atividade jornelistica deve ser livre para informar a sociedade acerca de fatos cotidianos de interesse pliblico, em observancia ao principio consti- tucional do Estado Democrético de Direito; contudo, o direito de informagao n&o é absoluta, vedando-se a divulgac&o denoticias falaciosas, que exponham indevidamente a intimidade ou acarreta danosa honra € a imagem dos indivi- duos, em ofensa ao principio constitucional da dignidace da pessoa human? (Ministro Scartezzini, 2005, p.267 citado em Barreiros, N/A). Diante disto, a imprensa € obrigada a indenizar elos danos causados, sejam eles, morais e/ou materiais. A responsabilidade civil gerada & empresa jornalistica é © resultado da violagdo de uma norma jurfdica, que gera essa obrigagdo de reparar © dano causado a outrem, mediante indenizagao. Entretanto, ela nao se resume so mente na obrigagdo de reparar o dano causado a terceiros, mas também de garan- tir uma relagdo juridica equilibrada e ética. Maria Helena Diniz (2008, p.35 citado em Petroucic & Funes, 2008, p. 2) define que: 5 BRASIL. Alagoas. Superior Tribunal de Justica. REsp 719.592/AL, Rel. Ministro Jorge Scartezzini, Quarta Turma, julgado em 12.12.2008, DJ 01.02.2006 p. 567. ARTIGOS | 289 @ D A responsabilidade civil é a aplicaco de medidas que obriguem uma pessoa a regarar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razio de ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente au de simples imposig&o legal. (Diniz, 2003, p.35 cita- do em Petroucic & Funes, 2008, p. 2). Essa reparaco refere-se ao fato de permitir ao lesado 0 retomo ao status quo ante, o qual ird garantir a reparagao de suas perdas, preservando o direito de ter tan- to seu patriménio moral quanto material protegido em casos de agressao. Diante do exposto, fica nitido o grande poder que a imprensa possui, podendo causar danos a particulares, agredindo seus direitos individuais. O seu préjulgamen- to nos casos, a forma como descreve os acusados e sua intimidade acarreta numa lesdo direta a Constituigdo Federal, haja vista que ela assegura esses direitos aos acusades, tutelando ainda, uma indenizagao aos lesados, em caso de abuso de li perdade de expressdo e imprensa 5 Consideragées Finais Becceria (2011) jé dizia que "um homem nao pode ser considerado culpado an- tes da sentenga do juiz; ea sociedade apenas Ihe pode retirar a protecao publica de pols que seja decidido que ele tenha violado as normas em que tal protecdo Ihe foi dade’. Repare que essa assertiva, em regra, ndo € aplicada pelos meios de comu- nicagao, pelo contrério, parte consideravel da imprensa, especialmente os grandes meios de comunicagao, condena o susgeito com seu préjulgamento antes mesmo da sentenga condenatéria, agredindo diretamente seus direitos e garantias e inter- ferindo no processo. 0 caso da Escola de Educagao Infantil Base retrata a violagdo e o desrespeito aos direitos e garantias individuais dos sujeitos, tanto pela imprensa quanto pelo ju- dicidrio, em que a primeira abusou de sua liberdade de imprensa e de expressdo € 0 outro se deixou influenciar por este abuso da midia, acarretando em vérios erros no proceso. E indiscutivel que o fundamento principal do jornalismo ¢ relatar, reportar @ encaminhar fatos ocorridos & sociedade. No entanto, tal exercicio exige cautela, uma Vez que requer respeito 4s normas juridicas. E com sua capacidade de persua- dir os leitores e espectadores com suas reportagens, o jomalista cria opinides, esta- belecendo julgamentos e construindo principios, induzindo a consequéncias irrepa- raveis na vida dos envolvidos em determinado caso. Os meios de comunicagao comandaram e ditaram o rumo das investigagées, conduzindo ao grande espetdculo da Escola Base. A consequéncia desse processo foi a suoressao de alguns direitos processuais ¢ individuais dos acusados. Direitos estes que eram a base para um processo justo. Parte da midia, com sua conduta, antecipou tanto atuag&o policial, quanto a do Ministério Publico edo Poder Judicié: rio, desencadeando vérios erros, um atras do outro no decorrer proceso. O juiz com seu dever de respeitar o principio da isonomia e agir com imparcialidade, se deixou influenciar, comprometendo o processo do Caso Escola Base. A postura do judiciario frente ao caso foi imorudente e as falhas e erros da policia definiram o rumo da vida 290 | MEDIA&JORNALISMO Q dos suspeitos e da decisdo judicial. A consequéncia dessa conduta desenfreada foi © julgamento precoce tanto do puiblico quanto do préprio judiciario, o qual agrediu 08 direitos fundamentais consagrados na Constituigao Federal, como os direitos a imagem, & honra e a intimidade, e mais, desrespeitando os direitos processuais dos suspeitos, tais como a presungdo de inoc&ncia, 0 direito ao contraditério e a ampla defesa e um devido processo legal. Esse desrespeito retirou violentamente a dignidade dos suspeitos, repudiando seus direitos resquardados sem dar 0 direito de resposta e muito menos 0 direito da duvida. Os meios de comunicagaio nao utilizaram do bom senso e nem respeita ram os principios basics da constituicdo. ignorando as consequéncias que pode- riam ocorrer com seu desrespeito ao devido processo legal e a dignidade da pessoa humana. Dessa forma, quanto se refere a casos judiciais, 0 jornalista deve ser cau- teloso € relatar a real verdade dos fatos, haja vista que ele é formador de opinido o qual pode acarreta consequéncias duras que mudam a vida de todos os envolvidos. Além disso, o jornalista é responsavel por sua conduta, podendo o ofendido buscar na justica a reparagao do dano causado pela conduta do profissional de comunicacao. Posto isto, revelou-se as consequéncias que ocorre ao violar um direito de um individuo em particular e a forma como a sociedade € 0 préprio judicidrio reagem nessa situagao. O Estado tem o dever de julgar de forma imparcial a litigancia apre- sentada, exercendo um julgamento justo, respeitando todos os direitos dos acusa- dos, independente se so culpados ou inocentes, afinal, a Constituigao Federal asse- gura esses direitos ao sujeito, devendo 0 Estado Democratico de Direito preserva-lo e garantir sua aplicacao, Diante de todo o exposto, 0 Caso Escola Base retratou falhas tanto do poder ju- dicidrio quanto da imprensa, o qual trouxe 20s envolvides consequéncias que leva- ram para a vida toda. A falha do Estado em fazer cumprir as garantias processuais 08 direitos individuais dos acusados e 0 abuso da midia ao usufruir da sua liberda- de de imprensa e de expressdo foi extremamente antiprofissional. E fato que a im- prensa pode auxiliar e até completar a justiga, mas jamais fazer seu trabalho. Afinal, somente sera culpado aquele que for condenado em ultima instdncia pela justica. Bibliografia Andrade, A.C. G. PD. (2074). Apantamentos sobre a protecSo dos direitos de intimidads, honra e imagem na Constituigao Federal. Contetido Juridico. Brasilia - DF: 19 nov. 2014. Almeida, J. ® (2007). Os Meios de Comunicagdo de Massa € 0 Direito Penal: A influéncia da di- vulgag3o de noticias no ordenamento juridico penal 2 no devide processo legal. Ciéncia & Desenvolvimento-Revista Eletronica da FAINOR, 1(1), p-20. Awad, F. (2008). 0 prinefpio constitucional da dignidad= da pessoa humana. Revista Justica do Direito, 21(1), Barroso, C. E. F. (2012). Teoria geral do processo e processo de conhecimento (13*. ed.) S80 Paulo: Saraiva. Barreiros, YS. D. A. (N/A). Responsabilidade civil por danos causadis pela imprensa. Mono- grafias.com Retirado de: < http //or. monografias. comvtrabalhos909/responsabilidade-civil -imprensa/responsabilidade-civilimprensa.shtml>. ARTIGOS | 291 Q Beccatia, ©. (2011). De los delitos y ce las penas. Fondo de Cultura Econémica Beleza, A.C. L. (2013). A miaia como Tribunal: quando a imprensa condena antes da justi¢a. (Trabalho de concluso de curso de ComunicagSo Social, na érea de Jornalismo). Centro Universitario de Brasilia — Faculdade de Tecnologia e Ciéncias aolicadas. Brasilia — DF. Brasil. (2012). Cédigo civil (@.ed.) S40 Paulo: Saraiva Brasil. (1998). Constituigdo da Republica Federativa do Brasil d2 1988. Brasilia, DF: SenadoFederal Brasil. (1998). Decleragdo Universal dos Direitos Humenos. Disponivel em http://Awwn.ohchr. org/EN/UDHR/Documents/UDHR_Translations/por pdf Cora, W. (2014). Censura econtrole da midia. Revista eletronica VEJA. Disponivel em hitp://veja. abril com.br/blog/augusto-nunes/opiniao-2/censura-e-controle-da-midia-de-william-correa/ Fantecelle, G. IM. & Shute, TD. (2013), A influéncia da micia no proceso legal. Revista Cien- tifica da FENORD, Fava, A P. (2008). 0 poder punitivo da midia e a ponderago de valores constitucionais: uma anélise do caso Escola Base. Dissertacdo de Mestrado em Direito. Universidade Candido Mendes. Rio de Janeira Femandes, M. C. P. (2072). 0 poder judiciario e a linerdade de imprensa Site Migalhas. Disoont- vel em httpy/'www.migalhas.com.br/dePeso/16MI169836,101048-0+Poder+ Judiciariote+ atliberdadetdetimorensa Ferreira, C.D. L. G. (2014). A influéncia da midia no Processo Penal Brasileiro ¢ a ruptura dos direitos fundamentais sobre o acusado. Juns Way. Figueiredo, F. V; Alexandridis, G. & Figueiredo, . D. C. (2013). Colegéo OAB Nacional, 2*fase: direito civil. (2. ed , Vol). $80 Paulo: Saraiva Furtado, L. F. & Mela, S. M. (2016). Liberdade de Expressaio. Rede de Direitos Humanos. Gongalves, R. D. A. (2007). Liberdede de imprensa e dignidade da pessoa humana: uma dis- cussdo além de censura. (Monogrefia de concluséo de curso para obtengSo do grau de Bacharel em Direito) Universidades Integradas “Antonio Eufrasio de Toledo” - Faculdade de Direito de Presidente Prudente. Presidente Prudente, Sdo Paulo Holanda, M. |. D. V. (2003). Principios de pracesso civil na constituicga federal. (Monografia em Especializago em Processo Civil). Universidade Federal do Cearé - Escola Superior do Mr nistério Pablico. Fortaleza, Cearé. Humanos, ©. |.D.D. (1969). ConvengSo americane sobre direitos humanos, Assinade ns Confer cia especializada interamericana sobre direitos humanos San José, Costa Rice, em (Vol. 22). Mendes, G.F Coelho, .M., & Branco, P G. G. (2008). Curso dedireito constitucional. SS0 Paulo: Saraiva. Nues’, 6. D. 8. (2014), Manual de orocesso penal 2 execugS0 penal (11. ed. rev. e atual). Rio de Janeiro Forense Petroucic, M. Z., & Funes, G. P. FM. (2008). A Responsabilidade Civil Do Médico Anestesialo- gista. intertemas, 16(16). Ribeiro, A. (2003). Caso Escola Base: os abusos da imprensa (2a. e0., 99.20-21). S30 Paulo: Ecitora Atica. Silva, W. B.D. (2074). Principio da presungo de inocéncia: Caso dos Irmaos Naves. Revista da Catdlica Faculdade Catélica de Uberlandia. Silva, C. A. G, Sobreira, F T., Figueiredo, FV, Penteado Filho, N. S., & Comettl, M. T. (2012). Di- reito Constitucional E Direitos Humanas-Colegao Preparatoria Para Concurso De Delega- do De Policia. Editora Saraiva Vargas, J.C. (1992), Proceso penal e direitos fundamentals. Belo Horizonte Del Rey Ximenes, S. (2001). Diciondrio da Lingua Portuguesa (3* ed.). So Paulo: Ediouro. 292 | MEDIA&JORNALISMO Q Nota biogréfica Thafs Souza tem Bachatel em Diteito pela Universidade de Uberabe- UNIUBE, campus Uberlandia, Licenciada em Letras e Lingufstica pela Universidade Federal de Uberlandia - UFU. No presente momento esté a tirar Mestre em Criminologia na Universidade do Porto, Portugal, cujo tema de pesquisa incidiu sobre a “Exploracao do sentimento de inseguranga no Brasil a partir de uma abordagem qualitativa’. Possui experiéncia na érea de Letras, com énfase em Lingua Portuguesa, Literatura e Linguistica, pesquisa social quaiitativa, sentimento de insegu- ranga, andlise do discurso e midia. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4013-9256 Email: thaissouza4@yahoo.com Morada: Instituto de Comunicagao da NOVA, Av. de Berna, 26-C- Lisboa 069-061, Portugal * Submetido: 2018.06.04 * Aceite: 2018.10.20 ARTIGOS | 293 @ D

You might also like