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ELO 19 
A educação sexual nas escolas 
 

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Revista do Centro de Formação Francisco de Holanda 
 
Centro de Formação Francisco de Holanda 
Escola Secundária Francisco de Holanda 
Alameda Dr. Alfredo Pimenta 
4814‐528 Guimarães 
cfaecffh@cffh.pt 
www.cffh.pt 
253 513 073 

2  
 
FICHA TÉCNICA 
Diretor  Jorge do Nascimento Pereira da Silva 
   
Coordenador  Francisco Teixeira ‐ Jorge do Nascimento 
   
Conselho Científico  Almerindo Janela Afonso – Universidade do Minho 
  Carlinda leite – Universidade do Porto 
  Carla Serrão – Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto 
  Duarte Vilar – Associação para o Planeamento da Família   
  Fernando Ribeiro Gonçalves – Universidade do Algarve 
  Francisco Teixeira – Escola Secundária Francisco de Holanda 
  José Augusto Pacheco – Universidade do Minho 
  Manuela Esteves – Universidade de Lisboa 
   
Conselho Redatorial  Jorge do Nascimento Pereira da Silva 
  Agostinho Ferreira 
  António Oliveira Sousa 
  Francisco Teixeira 
  Maria Lucinda Palhares da Cunha Bessa 
   
Capa  Pedro Almeida 
   
Maquetagem  Francisco Teixeira 
   
Propriedade e edição  Centro de Formação Francisco de Holanda 
Escola Secundária Francisco de Holanda 
Alameda Dr. Alfredo Pimenta 
4814‐528 Guimarães 
cfaecff@cffh.pt 
www.cffh.pt 
253 513 073 
 
Depósito Legal  75362/94 
 
ISBN  972‐96465 
   
Impressão  Gráfica Covense, Ldª 
Polvoreira – Guimarães 
   
Número  Revista ELO 19 – Junho de 2012 
   
Tiragem 
 
500 Exemplares 
 
 
   

Apoios 
 
MEC 
 
 
   

Revisão por pares  Revisão por pares da responsabilidade do Conselho Científico 


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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ÍNDICE 
 
NOTA DE ABERTURA‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  9
Jorge do Nascimento Pereira da Silva, 
Diretor do Centro de Formação Francisco de Holanda 
 

TEÓRICOS 
 

A EDUCAÇÃO EM SEXUALIDADE E OS MÉDIA‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  15
Filomena Teixeira, 
Instituto Politécnico de Coimbra; 
Fernando M. Marques, 
Fundação portuguesa “A Comunidade Contra a Sida”  
 

O SEXO E A ONTOLOGIA DO HUMANO‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  23
Francisco Teixeira, 
Escola Secundária Francisco de Holanda 
A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES (AS) NO BRASIL E EM PORTUGAL: 
REFLEXÕES ACERCA DA EDUCAÇÃO SEXUAL NAS INSTITUIÇÕES ESCOLARES‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  35 
Célia Rossi, Departamento de Educação ‐ IB ‐ Rio Claro/ SP; 
Dilma Lucy de Freitas, Insituto de Educação da Universidade de Lisboa; 
Isabel Chagas, Insituto de Educação da Universidade de Lisboa 
 

EDUCAÇÃO SEXUAL E MASCULINIDADE‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  41
Duarte Vilar, 
Diretor Executivo da Associação para o Planeamento da Família 
 

EDUCAÇÃO SEXUAL PARA EDUCADORES DE CRIANÇAS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  47
Ana Cláudia Bortolozzi Maia, 
Bruna Belusse Demonico, 
Juliana Spinelli Ferrari, 
GEPESEC – Universidade Estadual Paulista 
 

EDUCAÇÃO SEXUAL E FORMAÇÃO CONTÍNUA DE PROFESSORES: 
UMA ESTRATÉGIA PARA A PRÁTICA PEDAGÓGICA EM SALA DE AULA‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  55 
Andreza Marques de Castro Leão, 
Paulo Rennes Marçal Ribeiro, 
Núcleo de Estudos da Sexualidade – Universidade Estadual Paulista 
 

EDUCACIÓN SEXUAL EN LA FAMILIA Y LA ESCUELA‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  63
Félix López Sánchez, 
Universidad de Salamanca 


 
EDUCAR A SEXUALIDADE OU EDUCAR PARA A SEXUALIDADE‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  75
Daniel Serrão, 
Universidade Católica Portuguesa ‐Porto 
 

LA EDUCACIÓN SEXISTA DE LOS VIDEOJUEGOS EN EL ÁMBITO ESCOLAR Y SOCIAL‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  83
Enrique J. Díez Gutiérrez, 
Universidad de León 
 

METODOLOGIA DE ENSINO PARA UMA SEXUALIDADE POSITIVA E RESPONSÁVEL‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  91
Teresa Vilaça, 
IE ‐ Universidade do Minho 
 

A EDUCAÇÃO SEXUAL DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL ‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐ 103
Ana Cláudia Bortolozzi Maia,
Faculdade de Ciências, Universidade Estadual Paulista 
O CAMINHO FAZ‐SE CAMINHANDO: A FORMAÇÃO DE PROFESSORES/AS EM EDUCAÇÃO SEXUAL‐‐‐‐‐  109
Carla Serrão,  
Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto 
 

ORIENTAÇÕES EUROPEIAS PARA A EDUCAÇÃO SEXUAL NAS ESCOLAS‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  115
Manuela Moura,  
Vice‐Presidente – Norte ‐ da Associação para o Planeamento da Família 
 

PINCELADAS SOBRE A ADOLESCÊNCIA‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐ 121
Milice Ribeiro dos Santos,
Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar 
EDUCAÇÃO SEXUAL: DA OBRIGATORIEDADE À REALIDADE‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  129
Alexandra Santos, 
Agrupamento dos Centros de Saúde de Guimarães – Vizela 
 
PRÁTICOS 
 
A EDUCAÇÃO SEXUAL NO AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE PEVIDÉM‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  133
Maria Fernanda Faria, 
Coordenadora do Projeto Educação para a Saúde do Agrupamento de Escolas de Pevidém 
 

A EDUCAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA: UMA ABORDAGEM PRÁTICA‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  137
Beatriz Costa, 
Coordenadora do Projeto de Educação para a Saúde do AVE Briteiros; 
Marta Araújo, 
Enfermeira Especialista de Saúde Infantil e Pediátrica 
 

6
 
A EDUCAÇÃO SEXUAL EM MEIO ESCOLAR NA PERSPETIVA DAS POSSIBILIDADES‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  145
Manuela Nunes, 
Coordenadora da Educação para a Saúde ‐ Agrupamento de Escolas Prof. João de Meira 
 

CRESCER NUMA SEXUALIDADE CONSCIENTE E SAUDÁVEL‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  149
Fernando Jorge Oliveira Novais Ribeiro, 
Coordenador de Educação para Saúde do Agrupamento de Escolas Mário Cardoso; 
Ana Paula Pimentel Monteiro 
Psicóloga do Serviço de Psicologia do Agrupamento de Escolas Mário Cardoso 
 

EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE/EDUCAÇÃO SEXUAL NO CURRÍCULO ESCOLAR‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  159
Alexandra Pereira,  
Coordenadora do projeto educação para a saúde/educação sexual –  
Agrupamento de Escolas D. Afonso Henriques  
 

PROJETO 5 SENTIDOS‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  163
Equipa do projeto de educação sexual,  
Escola Secundária Francisco de Holanda 
 

EDUCAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA ‐ COMO? PARA QUÊ?
PERFIL DO FORMADOR E MODALIDADES E TÉCNICAS DE IMPLEMENTAÇÃO‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  171 
Alexandrina Melo Silva, 
Escola Secundária das Taipas 
 

EDUCAÇÃO SEXUAL NO AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE ARÕES‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  175
Helena Sofia Dias Pereira, 
Sílvia Cristina Moreira Carneiro, 
Sílvia Maria Barros de Lemos, 
Professores do Projeto Educação Para a Saúde e Educação Sexual do Agrupamento de Escolas de Arões 
 

A EDUCAÇÃO SEXUAL NO AGRUPAMENTO VERTICAL DE ESCOLAS SANTOS SIMÕES‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  181
Equipa do Projeto de Educação para a Saúde, 
AVE Santos Simões 
 

IMPLEMENTAÇÃO  DE  UM  PROJETO  DE  EDUCAÇÃO  SEXUAL  NO  AGRUPAMENTO  DE  ESCOLAS 
PROFESSOR ABEL SALAZAR‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  189 
Sérgio Silva, 
Professor Coordenador da Equipa de Saúde Escolar; 
Sandra Fernandes, 
Professora formadora PRESSE; 
Helena Azevedo, 
Psicóloga 


 
PROJETO DE EDUCAÇÃO SEXUAL DO AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DAS TAIPAS‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  193
Beatriz Sousa, 
Coordenadora do PES do Agrupamento de Escolas das Taipas 
 

UMA PROPOSTA DE PROJETO DE EDUCAÇÃO SEXUAL‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  199
João António Fernandes Vieira, 
Professor do Agrupamento Vertical de Escolas de Briteiros 
 

A RESISTÊNCIA DOS PROFESSORES À EDUCAÇÃO PARA A SEXUALIDADE, NA ESCOLA‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  205
Natércia Daliana Leite da Silva 
AEDUCAÇÃO SEXUAL NO AGRUPAMENTO DE ESCOLAS PROFESSOR CARLOS TEIXEIRA‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  221
Adosinda Machado, 
Coordenadora do projeto de educação para a saúde do Agrupamento de Escolas Carlos Teixeira 
 

A TEATRALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO SEXUAL EM MEIO ESCOLAR 
COM RECURSO ÀS TIC‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  227 
Cláudia Arnaud Marques, 
Agrupamento de Escolas Padre Joaquim Flores 
 

CARINHOS, AFETOS E EMOÇÕES ‐ A FAMÍLIA DE SILVARES‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐  241
Sandra Leal, 
Agrupamento de Escolas de Silvares 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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NOTA DE ABERTURA 
 
Jorge do Nascimento, 
Diretor do Centro de Formação Francisco de Holanda 
 
 
A modernização da escola pública e a melhoria das aprendizagens dos alunos implicam profissionais 
em constante formação (life‐long‐learning). As exigências atuais num locus tão específico, heterogéneo e ético‐
culturalmente  “colorido”  como  é  a  sala  de  aula  obrigam  os  profissionais  da  docência  a  uma  constante 
atualização e aprofundamento do seu conhecimento científico e, por outro lado, a uma permanente reflexão 
sobre o seu modus operandi. 
Hoje,  à  escola  é  exigido  que  sejam  desenvolvidas  nos  alunos  um  vasto  leque  de  competências, 
nomeadamente  as  competências  técnico‐científicas,  culturais,  sociais,  éticas/morais,  cívicas,  tecnológicas,  de 
prevenção rodoviária, de educação para a saúde, de educação em sexualidade (…) que perpassam os currículos 
de todas as áreas disciplinares. 
A missão do CFFH é, em primeira instância, contribuir para o desenvolvimento dessas competências 
gerais  e  específicas  dos  profissionais  da  educação,  sempre  em  articulação  com  a  implementação  de  políticas 
educativas estruturantes e emergentes, decorrentes de processos de reformas  curriculares e organizacionais, 
implementando planos e projetos de formação capazes de capacitar os docentes para intervir nesse conjunto 
de áreas diversas que exigem uma continuada relexão e atualização. 
A revista Elo apresentou‐se no longínquo ano de 1994 como “um espaço de encontro de professores” 
e de “troca de saberes e de experiências”. Ao longo destes anos tem dado voz às escolas enquanto coletivos e 
aos  educadores  e  professores  e  demais  atores  educativos  individualmente.  Durante  muito  tempo  foi  uma 
revista eclética, reunindo artigos sobre temáticas muito diversificadas. 
Nos últimos anos, tomou‐se a opção de cada número incidir sobre uma temática específica. 
O ELO 16 centrou‐se na avaliação de professores, reunindo contributos de especialistas e das escolas; 
o ELO 17 na avaliação das escolas, através de um conjunto de textos de diversos autores; o Elo 18 foi dedicado, 
por  inteiro,  à  temática  da  cidadania  e  da  democracia  nas  escolas.  O  Elo  19  tem  como  temática  central  a 
educação sexual nas escolas. Portugal é um dos países da Europa comunitária com maior número de gravidezes 
entre  as  adolescentes.  Só  este  dado  justificaria  o  tratamento  da  educação  sexual  nas  escolas  (em  todos  os 
níveis de ensino). Mas essa não é a única razão pela qual se justifica a Educação Sexual. Bem pelo contrário. As 
questões identitárias e da construção da personalidade são, aliás, focadas logo na alínea a) do artigo 2 da Lei 
n.º  60/2009,  de  6  de  agosto  (em  que  se  definem  as  finalidades  da  Educação  Sexual),  ao  referir‐se  que  “A 
valorização  da  sexualidade  e  afetividade  entre  as  pessoas  no  desenvolvimento  individual”  é  um  dos  fins  da 
Educação Sexual em meio escolar.    


 
Assim, a Educação Sexual em meio escolar deve constituir uma educação integral e não meramente 
sanitária, centrada na compreensão reflexiva da natureza corporal e sexuada do humano, o que, aliás, também 
se indicia na mesma lei já citada.            
A  consciência  deste  processo  de  produção  da  corporalidade  humana  é,  pois,  decisiva  para  a 
autoconsciência  especificamente  humana.  Sem  a  consciência  dos  mecanismos  dessa  produção  dificilmente  a 
vida humana pode ser verdadeiramente prazenteira e, sobretudo, livre.              
Para  além  de  tudo  o  mais,  a  corporalidade  e  a  sexualidade  são  ainda  decisivas  na  construção  da 
identidade pessoal bem assim como nos equilíbrios emocional e físico, embora este equilíbrio não possa jamais 
ser integralmente alcançado.             
A infância e a adolescência são, como se sabe, os momentos determinantes (embora não os únicos) na 
construção  da  identidade  sexual,  e  isto  através  de  processos  interativos  envolvendo  uma  miríade  de 
condicionantes altamente complexas. Só o domínio teórico e prático adequado permitirá, então, ao educador, 
intervir nesse processo auxiliando o ou a jovem no processo de construção da sua identidade sexual e pessoal. 
Todas  as  disciplinas  e  práticas  educativas  veiculam  implícita  ou  explicitamente  valores  sexuais  e 
antropológicos.  O  que  é  fundamental  é  que  o  educador  tenha  consciência  desses  valores  e  não  se  faça  a  si 
mesmo  veículo  inocente  dessa  transmissão  mas  antes  veículo  reflexivo,  permitindo,  assim,  às  crianças, 
adolescentes e jovens uma construção de si igualmente livre e consciente. 
Na medida em que a sexualidade e a corporalidade lidam com a natureza humana mais profunda, que 
as crianças, adolescentes e jovens passam uma parte substancial do seu tempo nas escolas, que há dificuldades 
assumidas  por  parte  dos  educadores  na  abordagem  dessa  temática  bem  evidentes  no  levantamento  de 
necessidades de formação realizado, o CFFH, em sede de Comissão Pedagógica, decidiu implementar ações de 
formação  contínua  em  praticamente  todos  os  agrupamentos  de  escolas  e  em  escolas  não  agrupadas 
associados.  Foi  ainda  objeto de  decisão  unânime  desse  órgão  dar continuidade  à  publicação  da  revista  Elo  e 
eleger  como  temática  central  a  educação  sexual  nas  escolas,  reunindo  um  conjunto  de  artigos  que,  por  um 
lado, levassem a desconstruir opiniões, a esclarecer dúvidas relacionadas com a temática referida, a produzir 
informações, a ajudar a definir o papel da escola e do educador, dos media…, a formar e, por outro, levar as 
escolas/agrupamentos a partilharem as suas práticas na abordagem desta área. 
Deste modo, foram convidados a escrever neste número da revista mais de duas dezenas de autores 
(as)  ligados  (as)  a  universidades  portuguesas,  espanholas  e  brasileiras  e  ainda  a  diversas  instituições  como 
sejam a ARS Norte ‐ Programa Regional de Prevenção e Controle da Sida…, Associação Para o Planeamento da 
Família (APF), Centro Avançado da Sexualidade e Afectos do Porto, Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar, 
Fundação Portuguesa “A Comunidade Contra a Sida” (FPCCSIDA), Agrupamento dos Centros de Saúde (ACES) 
de Guimarães ‐ Vizela. 

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Este número 19 da revista ELO está organizado em duas partes: na primeira, encontram‐se 15 artigos 
de  caráter  científico  e  cujos  autores  são  especialistas  na  área  da  educação  sexual;  na  segunda  parte, 
encontram‐se 16 artigos que apresentam práticas das escolas/agrupamentos associados. 
Apesar do fio condutor ter a ver com a educação sexual, os artigos de carácter científico versam sub‐
temas muito diferenciados e que, de algum modo, se complementam: a formção de educadores e professores 
quer  em  Portugal,  quer  no  Brasil;  a  educação  sexual  e  a  masculinidade;  a  educação  sexual  nos  media  e  os 
videojogos no âmbito escolar e social; orientações europeias para a educação sexual na família e na escola; a 
educação  sexual  e  as  vivências  da  sexualidade  adolescente;  a  educação  sexual  de  pessoas  com  deficiência 
intelectual; da obrigatoriedade à realidade da educação sexual… 
Com os artigos que relatam experiências de boas práticas das escolas pretende‐se promover a partilha 
entre as diversas instituições escolares. No fundo, relevar o que pode e deve ser feito para aumentar a eficácia 
do trabalho na opercionalização do programa de educação sexual, quer no espaço escola, em geral, quer na 
turma/sala de aula, em particular. 
Por fim, deve manifestar‐se o nosso reconhecimento aos membros do Conselho Científico da Revista, 
pela confiança que têm demonstrado no nosso trabalho e pela qualidade, rigor e prestígio que acrescentam a 
esta publicação. 

 
 
 
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TEÓRICOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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A EDUCAÇÃO EM SEXUALIDADE E OS MÉDIA 
 
Filomena Teixeira, 
Instituto Politécnico de Coimbra; 
Fernando M. Marques, 
Fundação portuguesa “A Comunidade Contra a Sida”   
 
Nas  sociedades  contemporâneas,  os  média  têm  vindo  a  assumir  um  protagonismo  crescente  nos 
processos  de  socialização  e  de  construção  das  identidades  juvenis.  A  exposição  mediática  de  crianças  e 
adolescentes  é  hoje  incomparavelmente  maior  do  que  a  das  gerações  anteriores.  O  tempo  passado  em 
conexão  com  a  televisão,  internet,  videojogos,  telemóveis,  música,  cinema  e  revistas  tem  sido  objeto  de 
pesquisa em vários campos científicos, procurando compreender e mapear os seus efeitos psicossociais. 
Alguns desses estudos têm evidenciado a influência dos média na hipersexualização do espaço público 
1
e  na  reprodução  de  estereótipos  sexuais .  São  disso  exemplo  os  trabalhos  centrados  nos  conteúdos  sobre 
sexualidade e género veiculados em videojogos (Díez Gutiérrez, 2004), revistas juvenis (Rubio Gil et al, 2008; 
Teixeira  et  al,  2010),  programas  televisivos  (Fischer,  2002),  publicidade  (Zurinaga,  2001;  Teixeira,  Marques  e 
Martins,  2008;  Marques,  2010),  filmes  infantis  (Sabat,  2003)  e  recursos  pedagógicos  digitais  (Teixeira  e 
Marques, 2011). 
Por  influência  dos  estudos  culturais,  os  conceitos  de  currículo  cultural  e  pedagogia  cultural  tornam 
inteligível  a  natureza  construída  deste  tipo  de  mensagens  e  o  modo  como  se  inscrevem  nos  discursos 
mediáticos. Na perspetiva de Sabat (2001), o currículo cultural envolve um conhecimento organizado em torno 
de  relações  de  poder,  de  regulação  e  controle  que  se  concretizam  na  vida  quotidiana.  Esse  repertório  de 
significados está na base da construção de identidades hegemónicas, ensinando “modos de ser mulher e de ser 
homem, formas de feminilidade e de masculinidade”. 
Para Fisher (2002), o dispositivo curricular está muito para além dos programas e práticas escolares, 
relacionando‐se  diretamente  com  as  produções  e  significações  dos  diferentes  espaços  de  cultura.  No  seu 
vocabulário  crítico,  Silva  (2000)  aplica  o  conceito  de  pedagogia  cultural  a  qualquer  instituição  ou  dispositivo 
que,  tal  como  a  escola,  esteja  envolvido  no  processo  de  transmissão  de  atitudes  e  valores,  dando  como 
exemplos  o  cinema,  a  televisão,  as  revistas  e  os  museus.  Neste  quadro  teórico,  currículo  escolar  e  currículo 
cultural  participam  nos  jogos  de  poder  pela  supremacia  simbólica  em  torno  da  significação  sobre  o  mundo. 
Convergentes  ou  divergentes,  explícitos  ou  ocultos,  formais  ou  informais,  as  leituras  do  real  que  esses 
                                                            
1
Sobre a importância e atualidade desta questão ver ainda os seguintes documentos: Les exedans les médias : obstacle aux 
rapports égalitaires. Avis du Conseil du statut de la femme. Québec, 2008 e Entre le rose et le bleu: stéréotypes sexuels et 
construction sociale du féminin et du masculin. Étude du Conseil du statut de la femme. Québec, 2010. 

15 
 
currículos  supõem  ajudam  à  injunção  de  regimes  de  verdade.  Voltando  a  Silva  (2000),  onde  a  educação  e  o 
currículo são vistos como campos de conflito à volta de duas dimensões centrais da cultura: o conhecimento e 
a  identidade,  vemos  como  as  questões  de  sexualidade  e  género  disseminadas  pelos  média  jogam  um  papel 
decisivo no mapeamento das fronteiras que territorializa mas sociabilidades juvenis. 
Uma  educação  em  sexualidade  abrangente  e  igualitária  centra‐se  no  conhecimento  e  respeito  do 
corpo,  na  segurança  das  práticas  sexuais,  na  partilha  das  responsabilidades,  no  reconhecimento  das  pessoas 
como sujeitos sexuais de pleno direito, na ausência de estereótipos, violência, dominação ou constrangimentos 
2
de  qualquer  espécie .  Esta  perspetiva  confronta‐se  diariamente  com  as  representações  do  género  e  da 
sexualidade que os média fazem circular no espaço público. 
Desde  2009  que,  em  Portugal,  a  estrutura  curricular  dos  ensinos  básico  e  secundário  prevê  a 
obrigatoriedade  do  desenho  e  implementação  de  um  projeto  de  educação  sexual,  centrado  na  escola,  no 
quadro de uma educação para a saúde, envolvendo 6 ou 12 horas anuais em cada turma. Para o efeito foram 
3
definidos centralmente conteúdos mínimos por ciclos de ensino . 
Uma  análise  desses  conteúdos  evidencia  uma  fraca  articulação  com  a  problemática  do  currículo 
cultural. Tal facto descura a influência dos média na construção de identidades hegemónicas e na adoção de 
atitudes  sexistas  e  homofóbicas.  Esta  opção  de  política  curricular  diverge  de  orientações  emanadas  de 
organizações  internacionais  e  de  linhas  diretrizes  sobre  educação  em  sexualidade  adotadas  noutros  países 
ocidentais, como por exemplo Estados Unidos, Canadá e França. 
Uma  publicação  recente  da  UNESCO  (2010),  realizada  em  parceria  com  UNAIDS,  UNFPA,  UNICEF  e 
WHO,  apresenta  uma  proposta  consistente  e  fundamentada  para  apoio  à  elaboração  de  programas  de 
educação  em  sexualidade.  O  documento,  intitulado  Orientação  Técnica  Internacional  sobre  Educação  em 
Sexualidade:  uma  abordagem  baseada  em  evidências  para  escolas,  professores  e  educadores  em  saúde, 
desenha um currículo básico destinado a crianças e jovens, dos 5 aos 18 anos, com necessário prolongamento 
ao longo da vida. A estrutura assenta em seis conceitos‐chave, desdobrados em vários tópicos e objetivos de 
4
aprendizagem, adequados a quatro níveis etários . 
No conceito‐chave Cultura, Sociedade e Direitos Humanos inclui‐se o tópico Sexualidade e Média que 
propõe como objetivos de aprendizagem: i) a compreensão dos diferentes meios de comunicação e os níveis 
de  realidade  e  ficção  das  mensagens  que  veiculam;  ii)  o  reconhecimento  de  formas  de  representação  de 
homens  e  mulheres  associadas  a  diferentes  valores,  atitudes  e  normas  sociais  relativas  ao  género  e  à 
                                                            
2
  Veja‐se  a  propósito  do  desenvolvimento  do  conceito  de  sexualidade  igualitária  o  documento  Le  sexe  dans  les  médias: 
obstacle aux rapports égalitaires. Avis du Conseil du statut de la femme, Québec, 2008. 
3
 DR, I Série, Lei 60/2009 de 6 de Agosto e DR, I Série, Portaria 196‐A /2010 de 9 de Abril. 

16
 
sexualidade;  iii)  a  análise  de  estereótipos  embutidos  nas  imagens  referentes  à  sexualidade  e  aos 
relacionamentos amorosos; iv) a análise críticada influência dos média na saúde e a necessidade de mobilizar o 
seu  potencial  comunicativo  para  promover  comportamentos  sexuais  seguros  num  quadro  de  igualdade  de 
género. 
A  UNESCO  incorporou  neste  documento  experiências  de  terreno  em  várias  regiões  do  globo  e 
propostas curriculares oriundas de centros especializados nos domínios da saúde, educação e sexualidade. 
Um  desses  contributos  foi  o  documento  de  referência  Guidelines  for  Comprehensive  Sexuality 
Education:  Kindergarten  ‐  12th  Grade,  publicado  em  2004  pelo  SIECUS  –  Sexuality  Information  and  Education 
Council of the United States – para apoio à elaboração de novos programas de educação em sexualidade e à 
avaliação dos currículos existentes. A estrutura do programa proposto baseava‐se já em seis conceitos‐chave, 
desdobrados  em  diversos  tópicos,  de  complexidade  crescente,  em  função  da  idade,  estádios  de 
5
desenvolvimento e níveis de escolaridade . 
O  conceito‐chave  Sociedade  e  Cultura  integra  o  tópico  Sexualidade  e  média  com  fundamento  no 
impacto  destes  dispositivos  culturais  nos  valores  e  atitudes.  Os  temas  a  tratar  incidem  sobre:  os  níveis  de 
verdade  das  mensagens;  a  confusão  entre  ficção  e  realidade;  a  deturpação  e  efabulação  do  quotidiano;  a 
desadequação  de  alguns  conteúdos  televisivos,  filmes  e  websites  para  crianças;  a  influência  dos  média  nos 
pensamentos  e  nas  crenças;  as  mensagens  irrealistas  sobre  género,  amor,  parentalidade  e  casamento;  o 
recurso a estereótipos e preconceitos relativos a determinados grupos sociais; o papel das famílias e demais 
pessoas  adultas  na  elucidação  e  escolha  dos  conteúdos  destinados  às  crianças  e  jovens;  a  importância  da 
tomada de decisão; aprevalênciade normas heterossexuais; os riscos das redes sociais virtuais; a relevância dos 
modelos positivos de relacionamento e sexualidade; o reconhecimento da importância das reações cívicas aos 
estereótipos sexuais “naturalizados” no espaço público. 
Em  2008,  a  Agence  de  la  santé  publique  du  Canada  apresent  ao  documento  Lignes  directric 
escanadiennes  pour  l’éducation  en  matière  de  santé  sexuelle,  edição  que  revê  e  atualiza  as  linhas  diretrizes 
nacionais  de  2003.  Este  documento,  baseado  em  princípios  orientadores,  destina‐se  a  apoiar  os  esforços  no 
6
âmbito das políticas de planeamento, programação e avaliação da educação e saúde sexual .  
                                                                                                                                                                                          
4
  Os  conceitos‐chave  propostos  são:  1.  Relacionamentos;  2.  Valores,  atitudes  e  competências;  3.  Cultura,  sociedade  e 
direitos humanos; 4. Desenvolvimento humano; 5. Comportamento sexual; 6. Saúde sexual e reprodutiva. 
5
Os  conceitos‐chave  propostos  neste  caso  são:  1.  Desenvolvimento  humano;  2.  Relacionamentos;  3.  Competências 
pessoais; 4. Comportamento sexual; 5. Saúde sexual; 6. Sociedade e cultura. 
6
São  apresentados  cinco  princípios  organizadores:  1.  Uma  educação  em  matéria  de  saúde  sexual  acessível  a  todos  os 
canadianos;  2.  A  integralidade  da  educação  em  matéria  de  saúde  sexual;  3.  A  eficácia  das  abordagens  e  dos  métodos 
educativos; 4. Formação e apoio administrativo; 5. Planificação, avaliação e atualização de programas e desenvolvimento 
social. 

17 
 
A problemática das relações entre sexualidade e média emerge em vários dos seus princípios e linhas 
diretrizes, sendo clara a defesa do papel que os média deveriam assumir na criação de ambientes favoráveis à 
promoção da saúde sexual, em vez de se constituírem como obstáculos. 
Relativamente à eficácia das abordagens e dos métodos educativos é claramente explicitado o papel 
dos  média  na  educação  sexual.  Nesse  sentido,  defende‐se  que  uma  educação  eficaz  em  matéria  de  saúde 
sexual prevê uma formação em estudo crítico dos média como contributo à desconstrução das mensagens e 
dos estereótipos sexuais aí dissimulados ou evidentes. No domínio da formação assume‐se a importância das 
competências  dos  formadores  na  promoção  de  estratégias  reflexivas  e  no  desenvolvimento  de  ferramentas 
para avaliar os efeitos nefastos dos média. No que respeita à planificação e avaliação de programas, para além 
de  se  encorajar  o  marketing  social  na  promoção  da  saúde  sexual,  evidencia‐se  a  consciencialização  do  papel 
dos  média  na  adoção  de  determinados  comportamentos  sexuais.  As  encenações  mediáticas  induzem 
expetativas irrealistas sobre os relacionamentos amorosos e o desempenho sexual, na medida em que exercem 
uma forte influência sobre a perceção que as pessoas têm de si, dos outros e do mundo que as rodeia. 
A  importância  da  avaliação  crítica  do  impacto  dos  média  na  educação  em  sexualidade  requer  uma 
reflexão  partilhada  sobre  o  que  as  crianças  e  jovens  veem,  o  que  entendem  e  o  que  leem  nas  mensagens, 
estabelecendo simultaneamente relações com as diversas normas e práticas sexuais. 
No mesmo ano de 2008, o Ministère de L`Éducation Nationale de França publica dois documentos de 
suporte pedagógico à Educação em Sexualidade intitulados: Guide d’intervention pour les collèges et les lycées 
e Guide du Formateur. Os média são também aqui mencionados como um poderoso fator de socialização no 
domínio  do  género  e  da  sexualidade,  enquanto  difusores  de  normas  sexuais,  condutas  e  papéis  sociais.  Nas 
emissões para crianças e adolescentes, as linguagens, os códigos de vestuário e os universos ficcionais de séries 
televisivas,  campanhas  publicitárias,  videoclips  e  desenhos  animados  orientam  fortemente  um  certo  número 
de valores e de atitudes. A sexualidade é frequentemente apresentada sob uma forma fascinante, iludindo as 
eventuais consequências do ato sexual. Propõe‐se partir destas imagens e representações para falar de uma 
sexualidade  mais  quotidiana,  fundada  sobre  o  respeito  e  a  partilha  de  responsabilidades.  Podem  assim 
comparar‐se  as  implicações  dos  papéis  sexuais  propostos  nas  séries  televisas,  videoclips  ou  revistas  para 
adolescentes com a “realidade” dos projetos de vida. 
Com  base  nestes  pressupostos,  apresentam‐se  fichas  pedagógicas  sobre  diversos  temas,  como  por 
exemplo a exploração comercial da sexualidade nas mensagens publicitárias e videoclips, onde a violência e o 
sexismo têm forte expressão. 
Partindo  destas  propostas  e  de  diversos  outros  documentos  produzidos  em  fóruns  internacionais,  a 
7
Carta  de  Aveiro ,  aprovada  no  I  Congresso  Internacional  de  Sexualidade  e  Educação  Sexual,  realizado  em 
                                                            
7
Carta de Aveiro sobre Sexualidade e Educação Sexual. In Teixeira et al [org.] (2010) pp. 413‐416. 

18
 
Novembro de 2010, na Universidade de Aveiro, apela à promoção da saúde sexual, no respeito pela igualdade 
de  género,  multiculturalidade  e  diversidade,  manifestando  a  importância  de  uma  educação  em  sexualidade 
abrangente,  cientificamente  fundamentada  e  culturalmente  relevante,  baseada  no  respeito  pelos  Direitos 
Humanos. Aqui se alerta para a necessidade de regulação da produção de conteúdos veiculados pelos média de 
modo a evitar a difusão de informações erróneas e degradantes sobre sexualidade e género. 
Como fica patente, a proposta de conteúdos mínimos de Educação Sexual surgida em 2009, no nosso 
país, afasta‐se das abordagens mais atuais sobre sexualidade e género, não só pela ausência das problemáticas 
ligadas  à  sexualização  do  espaço  público,  mas  também  por  outras  razões  pertinentes,  como  sejam,  a  fraca 
articulação temática, a ausência de uma visão interdisciplinar e a cedência a um olhar ainda algo marcado pelo 
modelo biomédico da sexualidade.  
Para  preencher  estas  lacunas,  as  escolas  têm  de  saber  utilizar,  no  seu  quadro  de  autonomia,  os 
corredores de liberdade de que dispõem para a construção do currículo. Na elaboração do projeto de educação 
sexual,  as  comunidades  escolares  não  podem  deixar  de  enfrentar  criticamente  e  criativamente  estas 
realidades. Atendendo à dinâmica dos saberes científico‐pedagógicos, aos desafios dos contextos socioculturais 
e  à  matriz  ético‐política  dos  Direitos  Humanos,  devem  desenhar  os  percursos  de  aprendizagem  que  melhor 
capacitem os jovens para fazerem escolhas informadas, seguras e responsáveis nos seus relacionamentos e na 
sua vida sexual. 
Assumindo a abordagem crítica dos média como essencial na educação em sexualidade, temos vindo a 
desenvolver  investigação  sobre  a  hipersexualização  das  mensagens  mediáticas  com  a  finalidade  de  conceber 
recursos didáticos para trabalho em sala de aula que sejam úteis ao crescimento saudável de crianças e jovens. 
Entendemos  que  é  no  desenvolvimento  de  ferramentas  críticas  capazes  de  desconstruir  os  estereótipos 
sexistas difundidos pelos mediano espaço público que reside um dos maiores desafios para docentes e escolas. 
Uma outra aposta, que se liga estreitamente à anterior, centra‐se na formação inicial e contínua de 
professores/as,  já  que  a  melhoria  das  competências  científicas,  metodológicas  e  relacionais  é  crucial  nos 
programas de educação em sexualidade. A introdução de unidades curriculares de Sexualidade em Cursos de 
8 9
formação  de  professores/as   e  a  realização  de  Oficinas  de  Formação para  docentes  de  todos  os  níveis  de 
                                                            
8
 A Escola Superior de Educação de Coimbra tem oferta formativa das seguintes unidades curriculares: Sexualidade e Saúde 
no Curso de Educação Básica; Sexualidade, Saúde e Envelhecimento do Curso de Gerontologia Social e Sexualidade, Saúde, 
Cultura  e  Média  no  Mestrado  em  Educação  para  a  Saúde.  Os  programas  e  a  lecionação  destas unidades  curriculares  são 
assegurados por F. Teixeira desde 2007. 
9
 No quadro do projeto Sexualidade e Género no Discurso dos Media, em desenvolvimento no CIDTFF da Universidade de 
Aveiro,  acreditámos  junto  do  CCPFC  uma  Oficina  de  Formação  sobre  Sexualidade  e  Género  nos  Media:  desafios  éticos  e 
educacionais. As sessões têm como suporte guiões didáticos elaborados intencionalmente para uma abordagem crítica dos 
média  em  sala  de  aula,  incidindo  sobre  publicidade,  séries  televisivas,  videojogos,  revistas  juvenis  e  campanhas  de 
prevenção da infeção VIH/SIDA. 

19 
 
ensino,  fazem  parte  de  uma  estratégia  sustentada  de  qualificação  e  desenvolvimento  profissional  que 
gostaríamos  de  ver  mais  desenvolvida  e  também  alargada  à  formação  básica  de  todos  os  profissionais  de 
saúde. 
Num  país  com  elevadas  taxas  de  violência  de  género,  abuso  sexual,  gravidez  na  adolescência,  sexo 
comercial, tráfico de mulheres, adição à pornografia, infeção VIH/SIDA, institucionalização de crianças e jovens, 
pobreza, exclusão étnica ‐ às quais acresce, quer uma memória histórica saturada de hipocrisia e puritanismo 
sexual, quer uma reverência provinciana às formas tradicionais da masculinidade ‐ deparamo‐nos a cada passo 
com fenómenos desexismo, desigualdade de género e intolerância à diversidade sexual. 
Num  tempo  de  incertezas  e  de  ressurgimento  de  retrógradas  tendências  hegemónicas  que 
prescrevem a penitência, a humilhação e a culpa como meio eficaz de regeneração da sociedade, cada vez mais 
se torna claro que o campo da educação em sexualidade é incómodo e emancipador, primeiro, porque lembra 
felicidade  e  prazer  e  depois,  porque  exige  autenticidade,  ética  da  responsabilidade  e  pleno  respeito  pela 
singularidade de cada ser humano.  
 
BIBLIOGRAFIA 
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sobre Questões Curriculares e VIII Colóquio sobre Questões Curriculares. Florianópolis: UFSC, FAPESC, 2008.  

20
 
https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=explorer&chrome=true&srcid=0Bzof6gyAaUoMNDQzNzZm
MTEtNjU0ZS00ODM4LTkyN2EtYmQyNDVkNTQwNDNm&hl=en_US 
  Teixeira, F., Marques, F. M., Sá, P., Vilar ‐ Correia, M. R., Couceiro, F., Folhas, D., Portugal, S., Silva, I. V., 
Cardoso, S., Vilaça, T., Frias, A. & Lopes, P. (2010). Sexualidade e género nas revistas juvenis: o caso da Bravo. In 
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Teixeira, F., Martins, I. P., Ribeiro, P. R. M., Chagas, I., Maia, A. C. B., Vilaça, T., Maia, A. F., Rossi, C. R., 
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Braga: Edições CIEd ‐ Universidade do Minho. (Ebook)  
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O SEXO E A ONTOLOGIA DO HUMANO10 
 
Francisco Teixeira, 
Escola Secundária Francisco de Holanda 
 
 
1. SEXO, CISÃO E HUMANIDADE 
O  estudo  da  etimologia  é,  por  vezes,  notavelmente  esclarecedor das  raízes  dos  problemas,  uma  vez 
que  nos  conduz  para  momentos  originários  e  experiências  fundacionais.  Expor  o  modo  originário  como  as 
palavras  se  nos  ofereceram  pode  abrir‐nos  caminhos  até  então  perdidos  no  tempo  e  nas  suas  múltiplas 
criações  linguísticas.  Por  isso,  a  decisão  de  partir  da  análise  etimológica  da  palavra  "sexo".  A  palavra  "sexo" 
deriva  do  termo  latino  "seccare".  "Seccare"  quer  dizer  dividir,  partir,  cortar.  O  que  esta  etimologia, 
especificamente, nos quer dizer é que a palavra "sexo" transporta consigo a marca da divisão, do corte, logo, 
da incompletude. Platão, no "Banquete", alude a esta incompletude, através do mito do andrógino primitivo. 
Neste diálogo, Platão põe na boca de Aristófanes a construção de um discurso sobre o Amor, a sua origem e a 
sua natureza. Aristófanes narra‐nos a história de uns seres originários (os seres andróginos), de natureza dupla, 
com  quatro  pernas,  quatro  braços,  duas  cabeças,  dois  corações  e  dois  sexos.  Eram  seres  de  enorme  força, 
inteligência  e  orgulho,  pelo  que  decidiram  desafiar  os  deuses  na  sua  autoridade.  Os  deuses,  porém,  não 
podiam suportar a arrogância e o sentido de autonomia de semelhantes seres, pelo que, necessitando embora 
dos seus serviços e prebendas, decidiram cortá‐los ao meio, de modo a diminuir o seu poder e pôr fim ao seu 
orgulho. Nesta operação, na qual participou não só Zeus mas também Apolo, seu filho dilecto, "O umbigo que 
está constantemente abaixo dos seus olhos é a cicatriz dessa vivissecção constitutiva" (Brun, 1994: 174). Desde 
então, diz‐nos Aristófanes,  
 
 
"cada  uma  das  partes,  lamentando  a  outra  metade,  foi  à  procura  dela  e,  abraçando‐se  e 
enlaçando‐se umas às outras, no desejo de se fundirem numa só, iam morrendo de fome por 
inacção,  pois  nada  queriam  fazer,  umas  sem  as  outras.  Quando  morria  uma  metade  e  a 
outra sobrevivia, esta procurava logo outra e enlaçava‐se nela, quer fosse metade‐mulher (o 
que  hoje  se  chama  uma  mulher),  quer  fosse  metade‐homem  e,  deste  modo,  a  raça  ia‐se 
extinguindo. 
Se  o  amplexo  tivesse  lugar  entre  um  homem  e  uma  mulher,  estes  conceberiam  para 
perpetuar  a  raça  e,  se  tivesse  lugar  entre  dois  homens,  sobrevinha  a  saciedade  e,  depois 
disso, entregar‐se‐iam ao trabalho e proveriam às necessidades da existência. A partir deste 
                                                            
10
 Comunicação apresentada no “II Congresso Internacional de Pedagogia – Sexualidade e Educação para a a Felicidade”, Faculdade 
de Filosofia da UCP – Braga. 

23 
 
momento  aparece  o  amor  inato  que  os  seres  têm  uns  pelos  outros.  O  amor  tende  a 
reencontrar  a  antiga  natureza,  esforça‐se  por  se  fundir  num  só,  e  por  sarar  a  natureza 
humana. 
Cada  um  de  nós  é,  por  isso,  como  uma  téssera,  pois  fomos  cortados  em  dois,  como  o 
linguado  e,  de  um  só,  ficaram  duas  metades.  Assim,  cada  umprocura  a  metade  que  lhe 
corresponde" (Platão, 1968: 66‐67).  
 
 
Estranho étimo e estranho mito! Ambos nos indiciam de modo muito claro que a nossa natureza de 
seres humanos é uma natureza truncada, partida. Que a plenitude humana e sexual é não só impossível como, 
mais  estranho  ainda,  é  em  virtude  desse  corte,  dessa  perda  primordial,  que  a  humanidade,  e  a  sexualidade 
nela, se constitui.  
A  Humanidade  e  a  sexualidade  são,  pois,  essencialmente  incompletas,  imperfeitas  e  em  construção, 
sem  que,  porém,  se  vislumbre  qualquer  fim  para  esse  constante  progredir.  O  que  esta  etimologia  e  este 
belíssimo mito nos dizem é  que não só não há um lugar fixo (e correcto) para o que é sexualmente natural, 
como também não o há para o que é humano, se aceitarmos que a sexualidade é constitutiva do humano e, 
mais que isso, que a sexualidade é um sinal do modo constitutivo de ser humano. Este corte, este seccare, que 
se  transmuta  com  o  tempo  em  sexuar  e  em  sexo,  está  pois  na  origem  do  que  nos  faz  Humanos,  homens  e 
mulheres,  permanentemente  divididos  e  incompletos,  procurando  a  nossa  "cara‐metade",  dispersa  e 
confundida  entre  inumeráveis  outras  caras  metade  igualmente  perdidas  e  misturadas.  No  entanto,  o  que  é 
próprio desta busca é que ela é uma busca agónica, no sentido em que não se pode não buscar e não se pode 
senão ser frustrado nos seus resultados.     
Sem liberdade de procura (e de invenção dos caminhos da procura), não há, pois, sexualidade normal 
(não patológica) e, bem entendido, humanidade, já que a ausência de liberdade impediria o movimento para a 
completude que toda a sexualidade acarreta. E esse movimento para a completude é o desejo, pelo que é o 
desejo que instaura a liberdade, que é uma tensão de procura, de complemento para aquilo que é por natureza 
incompleto.  O  desejo,  enquanto  tensão  de  procura,  instancia  a  liberdade,  o  que  nos  permite  concluir  que, 
afinal, é porque somos essencialmente cindidos e incompletos que somos livres, isto é, que a liberdade deriva 
da imperfeição e a completude significa não tanto o saciar do desejo quanto o fim do humano. O humano só 
existirá,  assim,  enquanto  tensão  trágica  de  si,  sem  o  que  será  outra  coisa  mas  não  ser  humano,  enquanto 
agonia  e  sentimento  trágico  de  existir,  no  sentido  em  que  o  homem  é  projecto  irrealizável  e  que  é  nessa 
irrealização que se é humano.    
A estrutura do desejo é especialmente adequada, assim sendo, à estrutura do humano. O desejo é do 
domínio daquilo que se sente como uma ausência, a presença de ausência, uma falta que nos constitui e nos 
lança no infinito da indeterminação desejante.        

24
 
No entanto, mesmo o desejo está limitado pela geografia de onde parte, isto é, mesmo o desejo parte 
de  uma  configuração  prévia,  de  uma  tradição  desejante  que,  de  modo  amplo  embora,  estipula  as  suas 
possibilidades, o que é o mesmo que dizer que não há liberdade absoluta. No entanto, a razão pela qual não há 
liberdade absoluta não é a de que a nossa vontade seja estruturalmente limitada pela transcendência, seja a 
transcendência do real ou a transcendência divina. Tal coisa não faria sentido. A limitação da nossa liberdade 
advém  do  facto  de  toda  a  procura  livre,  de  todo  o  desejo,  partir  de  um  local  de  procura  e,  portanto,  ser 
constrangida por esse ponto de partida. Mesmo em liberdade somos obrigados a partir de um sítio qualquer. 
Ora,  esse  local  de  procura,  essa  topografia,  é  a  condição  limite  da  nossa  liberdade.  Mas  esse  sítio,  bem 
entendido,  não  é  um  sítio  puro  (para  lá  do  tempo  e  do  espaço)  de  onde  a  procura,  o  desejo,  o  impulso  da 
liberdade  parta.  Todo  o  contexto,  todo  o  sítio,  por  ser  no  tempo,  é  já  construído  e  em  construção, 
nomeadamente  pela  educação,  através  da  transmissão  de  valores  básicos  e,  mais  fundamentalmente,  de 
emoções básicas que modelam as nossas relações com o mundo e com os outros corpos.   
Entenda‐se, porém, que estes valores, muito em particular, e muito mais que as emoções básicas que 
nos  configuram,  têm  a  natureza  de  um  barco  que,  em  pleno  alto  mar,  como  na  imagem  de  Neurath,  vê, 
paulatinamente, cada prancha do casco ser substituída até ao ponto de o barco de partida não ser já o barco 
de  chegada.  Supor  que  é  possível  determinar  um  lugar  natural  que  cumpriria  a  cada  um  realizar  no  seu 
desenvolvimento  humano/sexual  é  não  só  um  erro  e  uma  estultícia  científica  e  moral,  como  uma  cegueira 
antropológica e ontológica.    
É,  pois,  na  determinação  do  local  de  partida  que  entra  a  educação  e,  particularmente,  a  educação 
sexual. Determinar a forma desse sítio inicial, as lógicas e modulações emocionais a realizar pela educação, é o 
grande problema do educador.  
Assim,  as  premissas,  ou  a  topografia  deste  local  da  partida,  da  educação  sexual  em  particular  e  da 
educação  humana  em  geral,  se  partirmos  daquele  mito  e  daquela  etimologia,  só  podem  ser  as  da  natureza 
sexuada do ser humano, da ausência de natureza sexual, da liberdade e da contextualização necessária: 
a) Quanto à natureza sexuada do humano, as coisas funcionam assim porque, como vimos, o desejo é 
a estrutura essencial do ser humano e porque o corpo humano é um órgão de desejo e de expressão física e 
mental integral (nos gestos, nos tons, nos olhares, nas palavras, todos vinculados a apegos físicos originários);  
b)  Quanto  à  ausência  de  natureza  sexual,  as  coisas  funcionam  assim  porque  a  sexualidade  é  uma 
deriva e uma construção, tal como o barco de Neurath, e não um já aí fisiologicamente reducionista e abjecto, 
como a genitalidade e a animalidade inumana;  
c) Quanto à liberdade, as coisas funcionam assim porque a liberdade é produzida pelo desejo e porque 
sem  liberdade  não  há  procura  nem  criação  autênticas,  mas  apenas  reconhecimento  de  um  já  aí  prévio, 
inumano, sem qualquer espaço, se quer, para a responsabilidade; 

25 
 
d) Quanto à contextualização necessária, as coisas funcionam assim porque toda a construção e toda a 
deriva necessita de um bornal de base que assegure um sentido prévio (não necessariamente ético‐moral, mas 
sobretudo emocional) sem o qual nenhum sentido posterior é possível.  
Ora, acontece que nada disto é do domínio do biológico ou do patológico, dos domínios da medicina, 
de  certa  psicologia  ou  da  emancipação  sexual,  que  é  por  onde  muitos  querem  encaminhar,  ou  por  onde 
querem  perspectivar,  a  educação  sexual.  É,  bem  pelo  contrário,  do  domínio  do  auto‐edificatório,  ou,  se 
quisermos, do domínio do dialógico/reflexivo.  
 
2. A EDUCAÇÃO SEXUAL PERSPECTIVADA COMO DO DOMÍNIO DO BIOLÓGICO  
A  perspectivação  da  educação  sexual  pelo  lado  da  biologia  parte  do  princípio  de  que  a  sexualidade 
humana  se  pode  reduzir  a  um  domínio  biológico,  sanitário,  médico  ou  reprodutivo.  Trata‐se,  nestas 
circunstâncias,  de  reduzir  a  sexualidade  a  uma  perspectiva  mecanicista,  em  que  o  corpo  é  visto  como  uma 
matéria  a  habitar  pelas  ideologias  de  dominação,  de  que  a  medicina  e  certa  psicologia  são  dois  exemplos 
primordiais, e de que uma bem conhecida moral repressiva foi, no passado, o principal expoente.  
Deste ponto de vista, o sujeito é expulso do corpo, que, por sua vez, passa a ser dominadopor uma 
carne puramente física, por sua vez habitada por terceiros, que o definem e instituem deste e daquele modos. 
É,  basicamente,  a  perspectiva  cartesiana/platónica,  para  quem  o  corpo  é  o  habitáculo  da  alma,  sendo  que  a 
violentação do corpo não compromete a violentação da alma. 
A perspectiva biológica, ou biologicista, é a perspectiva de que a sexualidade é uma coisa natural, tal 
como a humanidade seria uma coisa natural, predeterminada, realizada já antes de ser realizada, competindo 
ao homem apenas a descoberta ou o caminho de um auto‐reconhecimento. Mas se a humanidade é alguma 
coisa é um auto‐desconhecimento, um desconhecer‐se a si próprio enquanto desreificação, já que o humano é 
incompletude por definição, um sendo e não um ser.     
A  perspectiva  biológica  é  também,  regra  geral,  a  perspectiva  daqueles  que  são  contra  a  educação 
sexual na escola (ainda que a sua "educação biológica" seja já uma educação sexual). Ao fazerem do corpo e do 
discurso  sobre  o  corpo  algo  de  meramente  mecânico  e  naturalístico  ou,  em  alternativa,  moralístico  e 
repressivo,  supõem  desse  modo  obstar  à  reflexividade  sexual  e  aos  seus  frutos,  que,  amiúde,  sugerem  ser 
capaz  de  libertar  de  uma  Caixa  de  Pandora  todos  os  monstros  que  os  atormentam,  ao  seu  corpo  e  ao  seu 
poder.  
Reduzir a sexualidade à biologia é tapar com esqueletos, diagramas, funções e restrições mecânicas ou 
moralísticas, a possibilidade de a biologia se autodeterminar, pelo menos dos limites do seu ponto de partida, 
quer dizer, do seu contexto, até à  mais alta espiritualidade; é, no fundo, impedir a espiritualização do corpo 
através da mais profunda e reaccionária corporalização do espírito sexual que nos habita.  
 

26
 
3. A EDUCAÇÃO SEXUAL PERSPECTIVADA COMO DO DOMÍNIO DO PATOLÓGICO/PSICOLÓGICO 
Outra perspectiva é aquela que supõe ser a educação sexual do domínio do psicológico. O que aqui 
está  em  causa  é  a  perspectiva  pela  qual  a  sexualidade  se  configura  num  abismo  de  relações  pulsionais 
irracionais,  ameaçadoras,  dissolutoras  da  ordem  social  estabelecida,  que  convém  enquadrar  e  modelar  (um 
certo freudismo pode bem estar na origem desta concepção). É bem certo que há no corpo uma dimensão de 
absoluta indecisão, de absoluta cisão, que o étimo e o mito nos mostram. Ora, é esta cisão que assusta, que, 
tomada como uma espécie de pecado original, exige um renascimento e uma recomposição, que a psicologia 
seria capaz de, como ciência dessa cisão, providenciar.  
No  entanto,  não  só  esta  cisão  não  constitui  uma  ameaça  como,  pelo  contrário,  é  condição  de 
possibilidade  da  própria  liberdade,  não  constituindo  um  pecado  que  nos  constrange,  mas  antes  uma 
virtualidade, uma promessa, ou, se quisermos, constituindo um pecado que, ao invés de nos perder, nos salva.  
A  verdade  é  que  esta  promessa,  porque  é  uma  potência  pura  e  não  um  acto,  porque,  tanto  como 
alegria,  também  inspira  medo  do  futuro,  cria  a  oportunidade  para  que  uns  tantos  aproveitem  esse  horror  e 
esse medo para fazer do corpo uma oportunidade de poder. O enquadramento psicológico (enquanto suposta 
tecnologia daquela cisão fundamental) da sexualidade pode entender‐se como o desejo de contenção de uma 
pulsão tida como patológica, exorbitante, que se estabelece na pura potência da cisão originária. Deste ponto 
de  vista,  a  Psicologia  teria  os  meios  e  a  tradição  necessários  para  aceder  a  esse  lugar  de  phatos,  a  essa 
disfunção originária incapaz de se ater ao leito daquilo que o poder dominante entende como "natural". É no 
divã psicanalítico e no cognitivismo que se configura o normal e anormal, o natural e antinatura; é ali que se 
institui o sítio certo do corpo, já que é a partir de certa psicologia e das tecnologias de que ela dispõe que o 
lugar natural é escrutinado e, claro está, instituído.  
Não  que  uma  outra  certa  psicologia,  mais  dada  à  narratividade  e  ao  construtivismo,  não  pudesse 
ajudar a dobrar o corpo sobre si mesmo, de modo a que o olhar múltiplas vezes re‐flectido permitisse instituir 
uma  sexualidade  em  progresso.  Acontece  que  os  mitos  do  poder  da  psicologia,  mais  que  aos  próprios 
profissionais, é aos utentes e clientes que contagia, ainda deslumbrados (e portanto cegos) pela ideia de um 
lugar  natural  para  o  corpo  que  evitasse  o  esforço  (e  a  angústia)  da  re‐flexão  permanente  e  do  ser  pura 
potencialidade.  É  esta  exigência  de  lugar  natural,  de  contenção  tecnológica  do  phatos,  projectada  por  certa 
psicologia no senso comum, que faz dela, enquanto disciplina, inconveniente para a educação sexual, enquanto 
espaço de liberdade e reflexividade.  
 
4. A EDUCAÇÃO SEXUAL PERSPECTIVADA COMO DO DOMÍNIO DO PAN‐ERÓTICO 
Muito menos faz sentido uma educação sexual pan‐erótica, espécie de viagra dialéctico. A erotização 
da  vida  contemporânea  não  necessita  de  novos  estimulantes.  Pelo  contrário,  necessita  de  espaços  de 
reinvenção interior, de instrumentos de desestruturação do pan‐erotismo dominante, que só pode passar pela 

27 
 
devolução da sexualidade ao irredutível individual, ao projecto de vida para lá dos estereótipos que raptam a 
cada um o essencial da sua individualidade e o põe ao dispor dos poderes dominantes.  
É bem certo que face à alienação consumista e erótica  dominante pode parecer atraente uma nova 
erotização, desalienadora. O problema deste modelo é, porém, o problema de todas as derivas desalienadoras. 
É  que  não  se  sabe  quem  nos  pode  desalienar  dos  desalienadores.  Não  se  sabe  (embora  se  suspeite)  se  a 
desalienação não é mais que a substituição de um domínio por outro, dito vanguardista, ao abrigo da alienação 
e, por isso, dito puro. Acontece que toda a pureza é merecedora de suspeição de irreflexividade, princípio sob o 
qual não há desalienação possível. 
A salvação é sempre perigosa. Sobretudo se são outros a salvar‐nos. Ser salvo por terceiros significa 
ser‐se determinado, configurado pelo salvador.  
 
5. A EDUCAÇÃO SEXUAL PERSPECTIVADA COMO DO DOMÍNIO DO DIALÓGICO/REFLEXIVO 
A  minha  proposta  é  a  de  um  modelo  auto‐edificatório  ou  dialógico/reflexivo.  Como  alternativa  à 
emancipação proponho a construção. Uma das diferenças entre uma coisa e outra é que a emancipação resulta 
de uma alienação no outro, enquanto a construção aposta tudo na liberdade e, logo, no desejo que a motiva. 
Para  sermos  mais  rigorosos,  poderíamos  falar  de  uma  emancipação  própria  como  alternativa  a  uma 
emancipação alheia. Assim, a educação sexual deveria ser espaço de auto‐emancipação, de auto‐construção, 
do auto‐edificatório como, aliás, deveria ser a educação em geral.   
Está mostrado que não é por se dar mais informação que se diminui o número de gravidezes entre as 
adolescentes  ou,  simplesmente,  a  iniciação  sexual  precoce11.  A  informação  burocratizada,  as  técnicas,  os 
métodos, a biologia, as doenças, as patologias, de nada servem se não forem, por um lado, postas à disposição 
de  uma  narrativa  pessoal,  de  um  projecto  individual  e,  por  outro,  se  não  forem  o  resultado  de  uma 
investigação pessoal, reflexiva.  
Numa  altura  em  que  a  escola  manifesta  profundos  e  claros  sinais  de  atraso,  ou  falência,  face  à 
sociedade, a educação sexual pode ajudar a encantar a escola, a fazer dela um espaço de auto‐produtividade e 
de auto‐criação, se se fizer da educação sexual um espaço de pensamento, de diálogo e de criação. Ora, sabe‐
se bem como a criação tem dificuldade em lidar com o poder e, pelo contrário, exige de si própria que, num 
espaço da auto‐disciplina, se emancipe da vulgaridade, da alienação, da repetição ...e dos emancipadores. 
Mas esta emancipação de que agora falo não é a emancipação vanguardista, jacobina ou, pior ainda, 
reaccionária, dadora da sexualidade verdadeira, seja lá o que isso for, para lá de todo o erotismo alienante. É 
uma  emancipação  que  assume  o  cruzamento  de  mim  com  o  mundo,  mas  que  faz  do  mundo  um  espaço  de 
                                                            
11
KORNBLIT et all, 1996: pp. 245‐262. Este estudo (com uma amostra de estudantes entre os 15 e os 20 anos) mostra que a 
informação  sobre  condutas  contraceptivas  e  preventivas  relativamente  a  doenças  sexualmente  transmissíveis,  ainda  que 
sendo assimilada intelectualmente, muitas vezes não produz mudanças nos comportamentos sexuais de risco. 

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habitação e não do si mesmo um espaço de habitação do mundo. É uma emancipação que sugere a cada jovem 
e a cada ser humano a necessidade de se dobrar sobre si próprio e sobre o mundo de um modo contínuo e 
exaustivo, mas alegre e irónico, consciente da natureza contingente da sua natureza e das possibilidades que 
essa contingência lhe abre (embora também dos riscos).    
Falar  de  educação  sexual,  assim,  é  falar  do  mundo  que  me  estimula  e  me  determina,  de  modo  a 
resistir‐lhe e a determiná‐lo. É falar da publicidade, da moda, da história das religiões, do discurso político, da 
poesia, do romance, da filosofia, da mitologia, dos sistemas de poderes. É ver como pode um homem ser o que 
é  neste  cruzamento  de  cruzamentos;  como  pode  ser  um  ponto  numa  rede  de  relações,  constantemente 
reconstruídas.  Ora,  resumir  tudo  isto  ou  aos  genitais,  ou  à  contracepção,  ou  às  disfunções  sexuais,  ou  ao 
beatismo dos bons sentimentos morais (seja lá isso o que seja), inconsciente ou cego à pulsão/tensão criativa 
de si que a sexualidade instaura, é não querer as pessoas educadas mas antes ocupadas, como se ocupa um 
território numa batalha e se assegura o seu controle.  
 
6. EDUCAÇÃO SEXUAL E CURRÍCULO 
O problema de um modelo deste tipo, está bom de ver, é que não é compatível com um sistema de 
valores  esmagante  e  refulgente,  que  conduza  e  oriente  o  currículo  de  modo  mecânico  e  em  linha  recta,  da 
ignorância ao saber. Outro problema é o do perfil dos educadores.  
Assim sendo, o currículo da educação sexual não pode ser um currículo clássico, feito de problemas e 
soluções pré‐estabelecidos ou feitos à medida de ideologias dominantes. Pelo contrário, os problemas devem 
ser  dominantes  e  as  soluções  devem  ser  apenas  formais,  isto  é,  dizendo  apenas  respeito  às  formas  de 
investigação, de diálogo e de argumentação. Nada disto impede, naturalmente, que os formadores possam e 
devam  ter  opiniões  e  posições  sobre  os  vários  problemas  e  perspectivas  relativas  ao  humano  e  ao  humano 
sexuado  em  particular.  Mas  essas  opiniões  devem  derivar  de  uma  reflexividade  exaustiva,  tanto  quanto 
possível isenta de preconceitos não conscientes, muito menos obstinados.  
A sexualidade, problematizada, deve ser vista como um motivo de alegria e da natureza (já que há nela 
uma  pulsão  de  anulação  da  distinção  entre  o  homem  e  o  mundo),  embora  não  redutivamente  natural,  nem 
vulgar. Os problemas devem ser vistos como problemas humanos, não como desumanos, no sentido em que 
sobredeterminam  o  humano,  já  que  a  sexualidade  é,  pese  embora  a  negação  das  evidências,  algo  de 
banalmente humano, pelo menos no sentido em que o humano é algo banal. É algo que existe incrustado no 
corpo, configurando‐o.  
Ora, sendo assim, é preciso tratar a sexualidade com a normalidade do que é integralmente humano e 
temporal  e  não  do  que  nos  liga  ao  sobre‐humano  ou  ao  infra‐humano.  Percebe‐se  que  alguns  tratem  desse 
modo  a  sexualidade.  Isso  parece  ter  a  ver  directamente  com  a  incapacidade  de  encontrar  o  humano  em  si, 
dada naquela cisão estruturante, projectando‐se então em qualquer sobredeterminação. Mas a sexualidade é 

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humana.  Pelo  que  o  currículo  deve  ser  tratado  com  a  importância  da  importância  da  sexualidade,  mas  sem 
moralizações humanamente sobredeterminadas.  
E,  claro,  o  currículo  dos  problemas  deve  ser  interdisciplinar,  fazendo  justiça  à  natureza  global  do 
problema, aproveitando para permeabilizar a escola à sociedade, às suas competências e problemas, evitando 
todos os reducionismos descritos acima (embora, no caso, os reducionismos psicológico e médico, bem como 
um certo nível de erotização pedagógica posam ser úteis estratégias e motivos de reflexividade).  
 
7. O PERFIL DOS PROFESSORES DE EDUCAÇÃO SEXUAL  
O problema do perfil dos educadores da Educação Sexual é igualmente relevante. Os professores são 
diversos nas suas relações com o seu próprio corpo, quanto mais com o corpo alheio. Por isso, não pode ser 
deixado ao voluntarismo individual o tratamento do assunto, já que isso seria correr o risco de instituir uma 
feérica subjectividade (no caso, dos professores) como regra, como o valor. Por isso é que a solução actual, que 
é a da transversalidade da educação sexual, é uma muito má solução, correndo‐se o risco muito provável de 
fazer da escola um campo de batalha entre concepções contraditórias, susceptíveis de produzirem nos jovens 
uma sensação de caoticidade.  
A  educação  sexual  exige  um  altíssimo  nível  de  reflexividade  dos  docentes,  preparação  teórica  e 
experiência pedagógica (centrada numa finíssima inteligência analógica e não meramente proposicional) e uma 
elevada  capacidade  de  diálogo  interdisciplinar.  Manifestamente,  este  não  é  um  assunto  quer  para  o 
autodidactismo voluntarista, quer para a tecnologia médica, se aferirmos a capacidade de um e outro lidarem 
com os problemas da cultura, da imaginação, da mitologia e da história, imbricados na sexualidade.  
Sobretudo, não é possível pôrprofessores a lidar com a educação sexual que façam da sua docência 
um  acto  irreflexo  ou  da  sexualidade  um  exercício  de  ruborização,  de  medo  (que  não  de  impudor)  ou  de 
moralização.  
 
8. A EDUCAÇÃO SEXUAL E A FAMÍLIA  
Há  ainda a  relação  da  educação  sexual, na  escola,  com  a  família.  Primeiro,  há  que  explicar  à  família 
que a escola já dá educação sexual aos seus filhos. Que, porém, essa é uma educação sexual feita de silêncios, 
de interditos, de entrevistos, de exemplos, de rubores, maledicências e discriminações. A educação não formal 
é hoje, certamente, mais importante que a educação formal.  
Mas,  disto  isto,  as  famílias  tem  que  ser  parceiras  de  contrato.  Não  faria  sentido  retirar  à  família  a 
participação na educação e na modulação do corpo dos filhos (que mais não é que a modulação do espírito). 
Trata‐se, simplesmente, de nos apercebermos de que não é desejável educar os filhos contra os pais (embora 
seja possível e, por vezes, tentador) e que, por isso, é necessário introduzi‐los, de algum modo concreto, aos 
pais,  no  processo  de  reflexividade  pedagógica.  Mas,  para  dizer  a  verdade,  esta  tensão  não  é  diferente  das 

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outras  tensões  envolvendo  outras  componentes  do  currículo  e,  portanto,  quando  falamos  da  relação  da 
educação sexual, na escola, com a família, estamos a falar, no essencial, do magno problema da relação, em 
geral, da escola com a família. A sexualidade pode ser um domínio mais conspícuo da actividade pedagógica 
das escolas. Mas, que fique claro, há outros domínios igualmente conspícuos em que o conflito existe e não 
pode deixar de existir.  
A escola não pode ser apenas a média dos valores das famílias. Dada a natureza massificante e diversa 
das comunidades escolares, já não é possível pensar numa média moral para o ensino, da sexualidade ou do 
que  quer  que  seja.  Por  isso  é  que  a  educação  sexual  é  um  risco  (mas  o  que  não  o  será?).  Sócrates  morreu 
acusado pelas famílias (e pela Democracia) de corromper a juventude. E esse é sempre o risco de ser professor. 
Reflectir  implica  sempre  o  risco  da  destruição,  da  desconstrução  (mesmo  que  o  termo  soe  pós‐moderno).  A 
sexualidade,  assuma‐se  isso,  é  um  espaço  de  desconstrução  e,  claro,  da  reconstrução  identitária.  E  não  me 
parece que quer a escola, quer a família estejam a ajudar especialmente esses processos. É altura de a família 
assumir as suas responsabilidades e, enquanto não o faz, deixar que a escola assuma as suas. Contratualizando, 
claro;  conversando,  claro;  cruzando‐se,  claro,  mas  não  pedindo  à  escola  que  eduque  sexualmente  os  seus 
jovens através de não ditos, de silêncios, quando muito de interjeições, ou de esquemas maquinísticos, ou de 
fantasmas patológicos, quando o domínio da escola é o domínio da palavra e da reflexão, da educação formal, 
da interpretação e da criação, mesmo que sob o risco da cicuta, um risco sempre à mão, mas que dá à docência 
todo o seu valor, já que a responsabilidade do professor e o seu compromisso não é, primacialmente, para com 
a  família  dos  seus  alunos  mas,  antes  e  decisivamente,  para  com  esses  alunos  e  pessoas  concretas  com  que 
depara todos os dias. 
Por último, aquilo que se espera da família, em termos educativos, não é o mesmo que se espera da 
escola. A família é o domínio da educação e da reprodução etnocêntrica e doméstica, da construção de uma 
moral enquanto reduto de um particularismo emocional e ideológico. Já a escola visa mais alto. A escola visa 
uma ética universal, um espaço de reconhecimento, de construção e de respeito do humano que seja capaz de 
unir todas as famílias, uma ética universal onde o humano possa refulgir em todas as suas fragrâncias e não 
apenas  na  fragrância  particular  de  cada  lar.  Se  a  família  educa  para  um  projecto  particular  de  vida,  a  escola 
educa para um projecto de vida universal, em que os alunos sejam capazes de construir, a partir do seu lugar 
doméstico,  uma  relação  maximamente  humana  com  todos  os  homens,  de  todas  as  circunstâncias.  Assim 
sendo,  a  família  não  pode  aspirar  a  que  a  escola,  pelo  menos  a  escola  pública,  seja  uma  espécie  de  alter‐
família,  da  sua  alter‐família,  uma  família  em  ponto  grande,  em  que  é  o  olhar  dos  pais  o  lugar  natural  da 
configuração dos filhos. A escola pública, pelo contrário, procura dar aos filhos um outro horizonte de vida que 
amplie  o  seu  ponto  de  partida  e  que  permita  a  sua  livre  auto‐edificação,  até  à  completa  auto‐edificação 
humana e filial. Querer fazer da escola pública um contínuo da família é não perceber o que visa a educação ou 
querer  transformar  a  escola  pública  numa  escola  privada,  com  um  ethos  determinado  e,  quantas  vezes, 

31 
 
determinístico, que não passa, legitimamente, aliás, de uma extensão da própria família e do espaço doméstico 
próprio.                 
 
9. A EDUCAÇÃO SEXUAL E AS DIRECÇÕES ESCOLARES 
Claro,  bem  mais  difíceis  que  as  famílias  são  os  órgãos  de  gestão  das  escolas.  Amedrontados, 
encolhidos, cheios de movimentos tácticos, porque suspeitam que a educação sexual pode ganhar um lugar no 
imaginário dos jovens, que os poderes podem ser assaltados, as muralhas derrubadas, é frequente serem os 
órgãos  de  direcção  das  escolas  a  fazer  de  Velhos  do  Restelo.  Claro  que  existem,  para  além  destes,  alguns, 
mesmo dentro da escola, que não suportam a autonomia de professores e dos alunos, os que fazem de ensinar 
e aprender a procura do lugar natural, da posição certa, como se o universo tivesse um centro que não convém 
descentrar. É que o medo da educação sexual, não da educação biológica, patológica ou erótica, mas sexual, é 
basicamente  o  medo  da  destruição  desse  lugar  natural,  da  ideia  de  essência,  da  ideia  de  que  o  homem  e  a 
mulher têm lugares determinados e que, nessa voragem de descentração, também os lugares determinados da 
escola e da sociedade possam ser postos em causa.  
São  estes,  regra  geral,  os  que  fazem  do  argumento  da  transversalidade,  o  argumento  decisivo  para 
(não)fazer educação sexual na escola. Não que seja impossível fazer uma integração horizontal dos currículos 
no que neles diga respeito à educação sexual. No entanto, não deve ser essa integração o eixo estruturante do 
modelo,  uma  vez  que  essa  transversalidade  significa  lidar  com  um  número  de  variáveis  impossíveis  de 
coordenar, de harmonizar e, naturalmente, de responsabilizar.  
Não tenhamos ilusões. A transversalidade é sempre o argumento daqueles que não querem educação 
sexual nas escolas. Daqueles que querem diluir a sexualidade nos interstícios dos programas, dos seus ritmos 
impossíveis, das suas exigências avaliativas. De facto, pode dizer‐se que aquilo que no presente se manifesta é 
essa malfadada transversalidade, na qual a sexualidade podia e devia ser abordada em Português a propósito 
da poesia e do romance; em Filosofia a propósito de Platão e Descartes; em Artes a propósito da evidência; em 
Administração  Pública  a  propósito  da  gestão  médica;  em  Relações  Públicas  a  propósito  dos  materiais.  No 
entanto, não só nada disto é feito, como, pelo contrário, a sexualidade é (quase) constantemente diferida para 
o silêncio e para o medo: dos professores, dos alunos e dos pais.  
Apostar na transversalidade é matar a educação sexual na escola. É deixá‐la ao dispor dos poderes do 
costume. Dos antigos e dos novos. É também, e sobretudo, matar o encanto da descoberta do corpo, que é 
uma descoberta e uma invenção do espírito. 
Terminemos  ainda  com  o  mito  e  a  etimologia.  Num  como  noutro,  também  no  processo  mesmo  da 
instituição da educação sexual na escola, o que é necessário é um seccare, um corte, uma cisão que dê à escola 
algum encanto, algum pretexto para que se possa fazer dela alguma coisa de jeito. 
 

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KÜNG, Hans (1996), Projecto Para Uma Ética Mundial, Ed. Instituto Piaget, Lisboa.  
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES(AS) NO BRASIL E EM PORTUGAL: REFLEXÕES ACERCA DA 
EDUCAÇÃO SEXUAL NAS INSTITUIÇÕES ESCOLARES12 
 
 
Célia Rossi,Departamento de Educação ‐ IB ‐ Rio Claro/ SP; 
Dilma Lucy de Freitas,IEUL; 
Isabel Chagas, IEUL 
 
INTRODUÇÃO 
A formação continuada, neste momento, está na pauta de discussão na maioria dos países da Europa, 
da América do Norte e da América do Sul. Isto porque os desafios de uma sociedade em contínuo processo de 
mudanças  apresentam  novas  exigências  trazendo  um  movimento  de  formação  continuada  que  atinge 
empresas, indústrias, autarquias, órgãos governamentais e também as instituições escolares. 
Frente a estes novos desafios, os currículos escolares estão sofrendo grandes transformações, sendo 
alguns  conhecimentos  ultrapassados,  outros  reformulados  e  novos  conhecimentos  são  constantemente 
incorporados. E, neste movimento de superação e de adequação dos novos conhecimentos, há, por parte da 
escola  em  geral,  algumas  resistências  a  estas  mudanças.  Especialmente  quando  elas  se  relacionam  com 
aspectos polémicos, como é o caso dos temas ligados à sexualidade, à educação sexual e às relações de gênero 
que, até há bem pouco tempo, eram mesmo negados dentro do espaço escolar. 
Entendemos que muitas das dificuldades relacionadas com a inclusão destes temas dentro da escola 
têm sua origem na formação inicial dos(as) professores(as). Isto porque, tanto no Brasil quanto em Portugal, a 
maioria  das  Universidades  que  os(as)  formam  ainda  resiste  à  inclusão,  nos  seus  currículos  oficiais,  das 
temáticas  referentes  às  questões  anteriormente  mencionadas.  Razão  pela  qual  fica  por  conta  da  formação 
continuada a responsabilidade de preencher esta lacuna deixada na formação inicial. Neste sentido, este texto 
tem  como  objetivo  problematizar  a  formação  inicial  dos(as)  professores(as)  em  relação  à  educação  sexual  e 
refletir o papel que a formação continuada de professores(as), no Brasil e em Portugal, vem desempenhando. 
Este  texto  fará  um  recorte  da  formação  continuada  em  educação  sexual  nestes  dois  países  de  língua 
portuguesa,  porém  enfatizamos  que  a  maioria  dos  países  no  mundo  tem  buscado  transformações  neste 
âmbito.  Entretanto,  aqui,  pontuar‐se‐á  Portugal  e  Brasil  por  serem  países  que  estão  buscando  alternativas 
relevantes  para  a  diminuição  da  gravidez  não  planejada  entre  adolescentes,  o  risco  de  contaminação  pelas 
doenças sexualmente transmissíveis entre os jovens, menos violência na escola, menos preconceito e respeito 
às diversidades sexuais, situaçõesestas tão emergentes nestes dois países.  
 
                                                            
12
 Comunicação feita no Seminário “CAMINHOS PARA O FUTURO”, 17 de março de 2012, Fórum Cultural de Alcochete. 

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REFLETINDO SOBRE A CAMINHADA DE FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA: PORTUGAL E BRASIL 
  A  partir  da  análise  dos  currículos  de  formação  inicial  de  dezasseis  Escolas  Superiores  de  Educação 
(ESES) de Portugal, constatou‐se que em apenas cinco delas o tema da educação sexual apareceu. E, mesmo 
assim, diluído dentro da educação para a saúde, áreaesta em que a educação sexual em Portugal está afeta. 
Sem nos aprofundarmos na formação inicial de professores(as), pois este não é o foco principal deste 
texto,  podemos  afirmar  com  certa  segurança  que,  em  Portugal,  a  maioria  das  instituições  que  formam 
professores(as) e educadores(as) de infância não incluem em seus currículos formais a  discussão das temáticas 
ligadas  à  sexualidade,  à  educação  sexual  e  às  relações  de  género.  Consequentemente,  a  maioria  destes(as) 
profissionais  sente‐se  insegura  para  realizar  um  trabalho  intencional  de  educação  sexual  na  escola,  numa 
perspectiva histórica e cultural, conforme temos vindo a constatar nas formações que temos ministrado. 
No  Brasil,  apesar  de  haver  também  uma  grande  desfasagem  na  inclusão  das  temáticas  ligadas  à 
educação  sexual  nos  currículos  oficiais  da  maioria  das  instituições  de  formação  inicial  de  professores(as), 
aponta‐se que tal temática passa por momentos de profundas reflexões e alterações. Apela‐se, então, como 
em  Portugal,  para  a  formação  continuada  aos  professores(as)  do  1º  ciclo,  que  acabam  por  levar  para  a 
instituição escolar conhecimentos ligados a temas que, até há pouco tempo, causava estranhamento e censura 
por  parte  destes(as)  mesmos(as)  professores(as)  que,  apoiados  pelas  famílias,  entendiam  que  sexualidade,  a 
educação  sexual  e  as  relações  de  gênero  deveriam  ser  tratadas  somente  em  casa  ou  na  rua  e  nunca  nas 
escolas.  Mas,  por  meio  da  formação  continuada  foi  possível  iniciar  a  fomentação  e  a  discussão  em  todos  os 
níveis das unidades escolares, assim como nas secretarias e entidades de diferentes níveis (municipal, estadual 
e federal), criando grupos permanentes de estudos, retroalimentados pelos(as) professores(as) do 1º ciclo. 
As políticas públicas, juntamente com as universidades públicas do Brasil, estão iniciando estratégias 
de formação do(a) professor(a) investigador, dentro de uma perspectiva pós‐moderna de educação, de autoria, 
de leitura crítica e problematização. Neste sentido, o aproveitamento dos diferentes recursos pedagógicos, dos 
diferentes  médias,  das  Tecnologias  de  Informação  e  Comunicação  –  TIC  são  instrumentos  importantes,  para 
inserção  de  novas  práxis  quotidianas  de  sala  de  aula  a  respeito  das  temáticas  da  sexualidade  e  relações  de 
género,  diversidade,  raça  e  étnia,  pouco  discutidas  na  escola.  Consideramos  importante  destacar  que,  em 
muitos casos, os assuntos relativos à sexualidade e relações de gênero, quando discutidos na escola, “entram” 
por  um  viés  de  caráter  religioso,  com  cunho  moralista;  pelos  média,  com  um  cunho  mercantilista  ou  ainda 
através  da  disciplina  de  ciências  e  biologia,  com  cunho  meramente  biológico,  sem  considerar  as  questões 
sociais, políticas, históricas, culturais que envolvem a sexualidade e a educação sexual. 
Portanto,  no  Brasil,  a  formação  inicial  e  a  continuada  estão  possibilitando  problematizações  ao 
futuro(a)  professor(a),  bem como  para  o(a)  professor(a) que  já  está  na  escola,  formando uma  rede  social  de 
estudos,  proposições,  discussões,  com  leituras  e  criações  significativas  e  contextualizadas  de  atividades 
instigantes para os(as) alunos(as) de diferentes níveis escolares.  

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Em Portugal, a questão da formação continuada iniciou‐se há 20 anos. A sua criação regulamentada 
deu‐se no primeiro regime jurídico da formação contínua de professores, publicado a 9 de novembro de 1992, 
através do Decreto‐Lei n.º 249/92. Desde este momento, foram muitas as ações de formação promovidas por 
distintas entidades formadoras, nomeadamente as Instituições de Ensino Superior, Associações profissionais ou 
científicas, Serviços de Administração Central e Regional de Educação e Centros de Formação de Associação de 
Escolas (CFAE). As características que marcaram esta caminhada foram variadas e não cabe aqui ressaltá‐las. 
Gostaríamos,  entretanto,  de  nos  referir  ao  tipo  de  oferta  de  formação  continuada  que  é  oferecida  aos 
professores(as),  por  considerarmos  ser  este  um  ponto  importante  para  reflexão.  Para  o  professor  Antônio 
Canhão,  diretor  de  um  dos  CFAE,  as  entidades  formadoras  acabaram  por  “criar  listas  de  ações  para 
apresentação aos CFAE, passando de seguida à implementação de planos de extensão nacional, junto de todos 
os professores, praticando estes a sua escolha a partir de um “menu” pronto a usar”. Porém, segundo nossas 
experiências  e  contatos  com  os(as)  professores(as)  enquanto  formadora  e  professora  desta  disciplina  no 
Instituto de Educação da Universidade de Lisboa (IEUL), neste “menu”, a questão da educação sexual é ainda 
pouco priorizada. Isto, apesar de haver em Portugal uma legislação que legitima e que regulamenta o trabalho 
intencional de educação sexual na escola, quais sejam: a Lei nº 60/2009 de 06 de Agosto e a Portaria 196/2010, 
de 9 de abril.   
Nas  ações  de  formação  que  já  ocorreram  em  Portugal,  foram  muitos  os  depoimentos  trazidos 
pelos(as) professores(as), (para não dizer em quase cem por cento deles) manifestando a sua insatisfação com 
o  fato  de  haver  uma  legislação  que  os  “obriga”  a  trabalhar  com  temáticas  para  as  quais  não  se  sentem 
preparados(as).    Não  há,  por  parte  do  Governo,  um  investimento  real  na  formação  dos(as)  professores(as) 
nesta área. São poucas as formações oferecidas e, as poucas que acontecem, na sua maioria, estão voltadas 
para  questões  de  ordem  biológica  ou  higiênico‐sanitária,  como  já  falamos  anteriormente  e  como  coloca 
Nápoles (2002, p. 3): 
 
“Na  sociedade  portuguesa,  os  documentos  oficiais  apresentam  orientações  que  têm  por 
base,  essencialmente,  a  perspectiva  personalista.  Contudo,  a  tendência,  na  prática,  tendo 
em conta as actuais condições de integração da Educação Sexual na escola, é a restrição à 
higiénico sanitária, considerando que, de entre os poucos professores que procuram abordar 
temas relativos à sexualidade, a grande maioria acaba por ficar restrito à anátomo‐fisiologia 
humana, às doenças sexualmente transmissíveis e ao planeamento familiar”. 
 
A  perspectiva  personalista,  segundo  Nápoles  (ibidem),  é  aquela  que  “tem  como  objetivo  principal  o 
desenvolvimento  de  uma  sexualidade  construída  e  amadurecida  no  sentido  psicológico,  ético  e  espiritual”. 
Nesta perspectiva de trabalho, a educação sexual poderá efetivamente contribuir para superar mitos, tabus e 
preconceitos  relacionados  com  a  sexualidade.  Entretanto,  parece‐nos  que,  tendo  sido  a  maioria  dos(as) 

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professores(as)  educados  numa  cultura  repressora  do  sexo  e  tido  poucas  oportunidades  de  refletir  sobre  as 
questões  que  envolvem  a  sexualidade  e  a  educação  sexual  numa  perspectiva  personalista,  temos  como 
consequência  a  perpetuação  dos  tabus  e  preconceitos  e  a  tendência  dos(as)  professores(as)  em  fugir  de  um 
tema para o qual não foram e não se sentem preparados para discutir.  
Já  no  Brasil,  a  formação  continuada  em  educação  sexual  aparece  por  ter  uma  demanda  nas  várias 
instituições  escolares  do  país.  Tem  como  prioridade  e  necessidade  de  discutir,  entender  e  enfrentar  a 
homofobia,  o  sexismo,  a  violência,  o  preconceito,  o  bullyng  entre  as  relações  de  gênero,  que  tanto  se 
manifestam  nas  escolas,  apoiadas  pela  construção  que  a  sociedade  tem  exigido  com  referência  a  estas 
temáticas, devido à grande violência que o país atravessa. 
Evidencia‐se no Brasil a formação continuada em educação sexual e relações de gênero e se introduz 
pouco  a  pouco  temas  ligados  à  sexualidade  nos  cursos  de  licenciaturas,  para  que  o(a)  futuro(a)  professor(a) 
possa mediar por meio de outras propostas de ensino e aprendizagem, maneiras de atuar na escola, gerando 
possibilidades de lidar com a heterogeneidade, com a diversidade e com a diferença sexual na sala de aula. 
Sabemos que o  tema  da  educação  sexual e  relações de gênero  nas  várias  instituições  escolares  tem 
encontrado resistência de inserção nos currículos escolares e, segundo Camargo e Ribeiro (2003), ainda hoje, 
abordar tais temas é considerado como algo insalubre, já que poderia estimular precocemente a descoberta da 
sexualidade  em  crianças  e  adolescentes  de  forma  errónea.  Diferentemente  de  Portugal  que  possui  uma 
legislação  sobre  a  obrigatoriedade  da  educação  sexual  na  escola,  no  Brasil,  essa  temática  tem  garantido  sua 
inserção  nos  currículos  escolares  através  dos  Temas  Transversais,  que  integram  os  Parâmetros  Curriculares 
Nacionais (PCNs/1997). 
As políticas públicas federais, estaduais e municipais de educação no Brasil começam a criar espaços 
de reflexão e de novas aprendizagens acerca da sexualidade e das relações de gênero, abrindo para o debate 
pedagógico  outros  modos  de  atuar  na  escola,  olhando  e  respeitando  as  diferenças  sexuais.  Porém, 
considerando‐se  o  tamanho  e  a  diversidade  cultural  do  Brasil,  bem  como  a  complexidade  da  temática  da 
educação  sexual,  temos  a  consciência  que,  apesar  de  todo  o  empenho  do  governo  neste  sentido,  estamos 
ainda  longe  de  afirmar  que  já  temos  um  trabalho  generalizado  de  educação  sexual  intencional  numa 
perspectiva personalista.  
É por esta razão que consideramos que as formações continuadas que inserem a educação sexual e 
relações  de  gênero  dentro  de  uma  perspectiva  histórico‐cultural,  sejam  no  Brasil  ou  em  Portugal,  têm  uma 
grande  responsabilidade  no  desvelamento  de  maneiras  de  atuar  em  sala  de  aula.  Grande  parte  dos(a) 
professores(as)  que  não  tiveram  acesso  a  estas  discussões  na  sua  formação  inicial,  podem  conhecer  e 
aprofundar o tema e multiplicá‐los com seus pares, através das  formações continuadas.  
Por considerarmos importante, reforçamos aqui que as pesquisas atuais, tanto em Portugal quanto no 
Brasil, apontam para que a educação sexual e relações de género são permeadas de muitos mitos e tabus, que 

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acabam  por  gerar  alguns  medos  e  inseguranças  em  grande  parte  dos(as)    professores(as)  ,  dificultando  a 
presença de projetos intencionais de educação sexual nas escolas. Razão pela qual entendemos também que a 
investigação  sobre  formação  continuada  de  professores(as)  em  educação  sexual,  apesar  da  complexidade  e 
importância  do  tema  e  da  atual  multiplicação  de  ações  de  formação,  continua  sendo  um  campo  de 
conhecimento por desbravar em Portugal e no Brasil, por falta de entendimento da maioria da população, da 
importância desta temática na vida das pessoas.    
Com a legislação vigente em Portugal e os PCNs no Brasil, fica ao professor(a) o direito de poder atuar 
com a temática na escola de maneira legal, mas ainda falta a formação em todas as esferas educacionais da 
comunidade,  seja  na  formação  inicial,  no  1º  Ciclo  ou  na  educação  de  infância.  A  resistência  por  parte  de 
professores(as), de gestores e de famílias em levar para dentro das salas de aula os variados conhecimentos 
relativos  à  educação  sexual e  às  relações  de  género  ainda  é  grande  emuitos  são  ainda  os  caminhos  a  serem 
construídos no sentido de envolver  todos (as) no processo.  
Convém ressaltar que a inclusão destes temasnas instituições escolares não deve ficar restrita a uma 
abordagem  terapêutica,  mas  possibilitar  a  toda  a  comunidade  escolar  reflexões  de  abordagens  sociológicas, 
psicológicas e fisiológicas da sexualidade, oferecendo multiplicidade de papéis para os homens e mulheres na 
sociedade,  questionando,  problematizando  e  criticando  os  papéis  rigidamente  (pré)  estabelecidos  destes,  e 
(re)construindo  outras  possibilidades  de  entendimento das  diferentes  maneiras  que  os  géneros,  masculino  e 
feminino, se apresentam na sociedade. (VIANNA E UNBEHAUM, 2004). 
Vale destacar que o(a) professor(a) que insere a temática de género nas suas discussões na escola dá o 
primeiro passo para se apropriar de assuntos referentes à sexualidade, porque género é utilizado como uma 
“categoria útil de análise histórica”. Falar de género ajuda a entender as relações entre a história de homens e 
a história de mulheres, que não foram construídas separadas, mas em conjunto. (SCOTT, 1995). 
Portanto,  levar  as  discussões  sobre  género  para  a  escola  portuguesa  e  brasileira,  assim  como  para 
todas as escolas do mundo é romper com o longo silêncio da sexualidade, é criar possibilidade para o início da 
construção  de  respeito  às  diferenças,  que  são  trazidas  à  escola  e  quando  não  problematizadas,  entendidas, 
podem  tomar forma  com  a  vinda  da  violência,  dos  processos  de  exclusão,  preconceito,  marcas que  saem  da 
escola, para se fortalecer na comunidade. (ROSSI, 2010). 
Considerando a importância, a necessidade e a urgência de trabalhos intencionais de educação sexual 
numa  perspectiva  histórico‐cultural,  entende‐se  que  é  preciso  pensar  na  real  condição  de  trabalho  e  na 
qualidade  da  formação  profissional  do  professor(a),  seja  ela  inicial  ou  continuada,  possibilitando  a  este, 
maneiras eficazes de formação, levando assim, para dentro da escola, problematizações, discussão, reflexões, 
aprendizados,  provocando  situações  novas  no  olhar,  no  escutar  e  no  desvelar  a  sexualidade  e  relações  de 
género, pautadas em referenciais teóricos pertinentes com cada situação e cultura. 
 

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CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Por tudo que refletimos com o leitor neste texto, seja em Portugal ou seja no Brasil, a complexidade e 
multiplicidade de valores culturais, éticos, estéticos, morais e religiosos, no trabalho intencional de educação 
sexual  na  escola  numa  perspectiva  histórico‐cultural,  não  é  uma  tarefa  tranquila!  Atrelando‐se  a  estas 
dificuldades  temos  ainda  a  falta  de  formação  inicial  e  a  escassa  formação  contínua  de  professores  (as)  que 
fazem com que a situação fique ainda mais difícil. Situações estas ainda fortemente permeadas por crendices 
religiosas, por medos, preconceitos enraizados e que deixaram marcas difíceis de transformar.  
Parece‐nos,  a  curto  prazo,  que  a  formação  continuada  é  a  forma  mais  eficazde  enfrentar  as 
dificuldades  mencionadas,  uma  vez  que  elas  podem  abrir,  ao  professor(a)  de  sala  de  aula,  possibilidades  de 
atuar diferentemente com seus(as) alunos(as). Certamente o melhor seria que pudéssemos utilizá‐las apenas 
como  um  aprofundamento,  se  o(a)  professor(a)  já  tivesse  passado  por  uma  formação  inicial  em  educação 
sexual. Melhor seria que a formação continuada fosse apenas um aperfeiçoamento profissional na área. Mas, 
infelizmente ainda assim não o é.  
Resta  aos  dois  países,  pela  urgência  dos  acontecimentos  pontuados  neste  texto  e  como  forma  de 
amenizar  as  violências  que  estão  sendo  construídas  diariamente  por  falta  de  conhecimento  com  relação  às 
temáticas da sexualidade e relações de género, apostar na formação continuada dos(as) professores(as). Essa 
formação poderá possibilitar um avanço para o professor(a), valorizando‐o, pelo seu papel de provocador de 
estudos e criador de novas propostas de ações construídas dia‐a‐dia nas unidades escolares, acarretando em 
novas práxis cotidianas na sala de aula e favorecendo a toda a comunidade escolar. 
 
BIBLIOGRAFIA 
CAMARGO,  A.  M.  F.;  RIBEIRO,  C.  (2003).  Sexualidade(s)  e  Infância(s)  –  a  sexualidade  como  um  tema 
transversal. São Paulo: Moderna; Campinas: UNICAMP. 
NÁPOLES, A. (2002). A escola e a educação sexual. Uma aposta na formação de professores. Tese de 
Mestrado. Universidade de Lisboa, Lisboa.  (pp. 24‐34) 
ROSSI,  C.  R.  (2010).  “As  políticas  públicas  para  a  sexualidade  no  Brasil:  a  relevância  dos  grupos  de 
pesquisa  nas  universidades  públicas  para  implementação  de  ações  na  comunidade  escolar,  experiência  da 
UNESP”.  In:  Sexualidade  e  Educação  Sexual:  Políticas  Educativas,  Investigação  e  Práticas.  Orgs:  TEIXEIRA,  F. 
MARTINS, I.P., e outros. Ed. Aveiro‐ PT. 
SCOTT,  J. W.  (1995).  “Género:  uma categoria  útil  de  análise  histórica”. Educação  & Realidade,  Porto 
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VIANNA, C. P. & UNBEHAUM, S. (2004). “O género nas políticas públicas de educação no Brasil: 1988‐
2002”.Cad. Pesquisa, vol.34, n.121, pp. 77‐104. 
 

40
 
EDUCAÇÃO SEXUAL E MASCULINIDADE 
 

Duarte Vilar, 
Diretor Executivo da APF 
 

1. SOCIALIZAÇÃO, EDUCAÇÃO SEXUAL E PAPÉIS DE GÉNERO – UMA LIGAÇÃO IMEDIATA 
A  sexualidade,  assim  como  o  sexo  é,  em  primeiro  lugar,  uma  realidade  biológica.  Temos  um  corpo 
sexuado e, simultaneamente, temos um dimorfismo sexual. Somos machos e fêmeas, homens e mulheres. 
Mas  a  nossa  identidade  sexual  (o  que  pensamos,  sentimos  e  fazemos  com  a  nossa  sexualidade)  e  a 
nossa identidade de género (a maneira como nos sentimos e agimos como seres masculinos ou femininos) são 
construções  sociais,  mediadas  pelos  contextos  sociais  e  históricos,  pelas  ideias  e  pelos  papéis  que  são 
socialmente veiculados pelos micro e macro contextos da nossa socialização. 
A  construção  dos  papéis  de  género  e  as  normas  sociais  sobre  a  sexualidade  assentam  ambas  no 
dimorfismo  sexual  –  macho  e  fémea,  masculino  e  feminino  ‐  e,  por  isso,  identidade  de  género  e  identidade 
sexual estão indissociavelmente ligadas. 
A esta construção social da sexualidade, podemos chamar‐lhe socialização ou educação sexual que é 
feita em grande parte nos contextos e nas relações informais – com a família, com os pares, com a exposição 
aos  média  –  e  de  forma  formal,  através  da  escola  e  das  práticas  educativas  formais  como,  por  exemplo,  as 
práticas religiosas. 
 
2. AS MUDANÇAS EM CURSO NOS PAPÉIS DE GÉNERO – O DUPLO PADRÃO SUAVIZADO 
Vivemos  num  tempo  de  claras  mudanças  em  relação  aos  conteúdos  e  aos  contextos  da 
construção/socialização/educação da sexualidade e do género. 
Fruto  de  mudanças  sociais  estruturais  e  fruto  de  movimentos  sociais  específicos  em  torno  das 
questões do género e da sexualidade, foi posto em causa um modelo masculino de género e de sexualidade, 
assente na dominação das mulheres e na desigualdade de direitos sociais e sexuais e emerge um novo modelo 
de relação entre os homens e as mulheres em que, reconhecendo‐se as diferenças, o que está em causa é a 
igualdade de direitos, quer no plano social, político e até religioso, quer nas áreas de expressão mais íntimas e 
privadas, como as relações familiares, as relações amorosas e a sexualidade. 
Este modelo não é somente um modelo discursivo, uma nova maneira de falar politicamente correcta. 
É, sobretudo, uma mudança efectiva nas funções e papéis sociais das mulheres (e não dos homens), uma nova 
relação  de  força  que,  embora  conceda  ainda  o  domínio  masculino  no  Estado,  na  política,  é  cada  vez  mais 

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expressa  no  crescente  predomínio  feminino  em  sectores  especializados  da  actividade  profissional  e  em 
múltiplas posições de chefia ao nível básico e intermédio. 
Este é o discurso social actualmente dominante nas nossas sociedades, presente nomeadamente nas 
leis e nas políticas estatais e na grande maioria do espectro político‐ideológico. 
É  um  discurso  que,  fruto  das  circunstâncias  históricas,  passou  mais,  até  agora,  pela  crítica  e 
desconstrução do poder masculino, pela emergência de uma nova identidade feminina (não mais reduzida ao 
papel  de  mãe  e  de  esposa)  e  pela  exigência  da  igualdade  de  direitos,  e  menos  pela  emergência  de  uma 
identidade masculina alternativa. 
Os homens e as mulheres mudaram efectivamente: há hoje uma recusa clara por parte das mulheres, 
nomeadamente  das  mulheres  mais  jovens,  em  aceitarem  relações  onde  impera  a  dominação  masculina;  há, 
hoje, um maior envolvimento dos homens em esferas – como a guarda e a educação dos filhos ou a partilha 
das tarefas domésticas. Por outro lado, os homens não mais se relacionam com mulheres que aceitam ter um 
papel passivo na família, na profissão ou na sociedade, são pois, confrontados com um novo poder em todos os 
círculos da sua vida.  
Vivemos,  numa  época  de  transição,  de um  velho  modelo,  para  um  novo  modelo  que  ainda  está  em 
construção.  Os  modelos  e  as  ideias  tradicionais,  quer  em  relação  ao  género,  quer  em  relação  à  sexualidade, 
misturam‐se com elementos inovadores em proporções diversas. Daí o termos de falar em sexualidades, mas 
também em masculinidades e feminilidades. Daí também que Vasconcelos (1998) nos fale de um duplo padrão 
suavizado, que representa realmente esta mistura de velhos e novos elementos na construção da identidade 
sexual de género. 
 
3. OS VÁRIOS ACTORES DA SOCIALIZAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DO GÉNERO 
As famílias – os pais e as mães – reproduzem estas contradições: por um lado, fomentam a formação 
académica e profissional das raparigas e recusam maioritariamente o velho papel reservado às mulheres que as 
mães, entretanto, pela força das coisas e pelas mudanças ocorridas já rejeitaram; mas continuam a reproduzir, 
no  plano  das  tarefas  domésticas  e  da  educação  sexual  dos  filhos  e  das  filhas  –  o  duplo  padrão,  ainda  que 
suavizado.  O  estudo  que  tive  oportunidade  de  fazer  sobre  as  famílias  dos  adolescentes  demonstrou  esta 
situação – a centralidade da mãe, o maior envolvimento dos homens, no entanto, a aceitação da sexualidade 
dos  rapazes  e  as  dificuldades  ainda  que  paradoxais  da  aceitação  da  sexualidade  das  raparigas.  Ou  seja,  um 
espaço marcado por uma dupla diferenciação – a dos papéis domésticos e a dos discursos de género. Mostrou 
também  um  maior  afastamento  dos  rapazes  na  esfera  da  socialização  familiar,  de  facto,  dentro  do  sistema 
familiar são os filhos que mostram mais exterioridade. 
Os  mass‐média  ora  reproduzem  com  uma  lógica  crescente  das  mensagens  da  igualdade,  ora 
reproduzem  os  velhos  estereótipos  masculinos  e  femininos,  ainda  que  de  forma  confusa  e  misturada.  As 

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novelas e o discurso cor‐de‐rosa, os musculados e auto‐suficientes heróis dos filmes de acção, misturados com 
abordagens  já  diferentes  da  condição  feminina  e  masculina.  Mas  a  emergência  recente,  no  panorama 
português de espaços especificamente dirigidos aos públicos femininos e à discussão das temáticas femininas – 
por  exemplo,  a  SIC  Mulher  e  o  novo  Fórum  Mulher  na  TSF  –  demonstram  bem  a  tendência  dominante.  As 
mulheres  são um  segmento chave das  audiências,  e  a  maioria  das pessoas  que  produzem  e  organizam  estes 
programas são, também elas, mulheres profissionalizadas e emancipadas. A resultante deste processo é que os 
média, apesar da extrema confusão de mensagens que lhes é típica, acompanham e reforçam as mudanças na 
relação de forças entre homens e mulheres, claramente no sentido das segundas. 
Os  grupos  de  amigos  e  de  amigas  reproduzem  também  os  contextos  e  as  suas  modas  e  tendências 
dominantes. Muitas vezes, os espaços exclusivamente masculinos – nomeadamente os grupos desportivos, a 
tropa, os grupos de caça, as tertúlias do bar da esquina, os espaços profissionais maioritariamente masculinos 
(por  exemplo  as  empresas  de  construção  civil)  –  reproduzem  até  ao  absurdo  o  velho  estereótipo  e  a  velha 
solidariedade masculina, que se define a ela própria como diferente, às vezes oposta até à identidade feminina 
Assim, como os grupos femininos funcionam muitas vezes como espaços de comentário e crítica aos 
homens, enfim, como espaços de afirmação da identidade feminina por oposição à identidade masculina. Mas 
os  grupos  mistos  reproduzem  a  conflitualidade  entre  os  velhos  e  novos  modelos  de  masculinidade  e 
feminilidade.  É  nas  relações  de  amizade  e  nas  relações  amorosas,  que  mais  se  caldeiam  e  reformulam  os 
estereótipos tradicionais. 
Quanto à escola, apesar de aqui e ali se encontrarem ainda os velhos discursos – quer nos manuais 
escolares quer nas práticas pedagógicas – a tendência é também para a mudança, ou não fosse a maioria do 
corpo docente constituído por mulheres profissionalmente emancipadas. Por outro lado ainda, a escola não é 
somente um espaço de aprendizagens formais mas um importantíssimo espaço de encontro das crianças e dos 
jovens, um espaço de aprendizagens informais e de confronto de ideias e experiências, de diferentes histórias 
de  vida  e  de  relações  familiares.  E  como  se  disse,  é  nestes  espaços  que  se  reformulam  as  relações,  as 
identidades e os estereótipos. 
 
4. A EDUCAÇÃO SEXUAL E OS RAPAZES? 
Este processo de mudança das relações de poder entre homens e mulheres fez‐se, naturalmente – e 
com razão ‐ com uma forte crítica à identidade masculina tradicional. A intervenção profissional nesta esfera 
não se eximiu a este processo.  
Muitas vezes, no âmbito da educação sexual e da promoção da saúde, como referiu Ketting (2000), ou 
existe  um  discurso  crítico  que  atribui  aos  homens  determinados  atributos  negativos  –  por  exemplo,  a 
irresponsabilidade ou a violência menoriza os rapazes e homens em papéis claramente secundários, como por 
exemplo – era bom que os homens viessem com as suas companheiras às consultas de planeamento familiar. 

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O facto de os programas terem sido primeiramente centrados na contracepção – o que foi realmente 
uma necessidade – e o facto de a maioria dos métodos contraceptivos serem de utilização feminina; o facto 
ainda  de  a  maioria  das  profissionais  envolvidas  nestes  programas  serem  mulheres,  fez  com  que  o  alvo 
fundamental  destes  programas  fossem  as  mulheres  e  que,  mesmo  que  houvesse  acções  destinadas  aos 
homens,  estas  tinham  como  principal  objectivo  destruir  eventuais  barreiras  ao  pleno  acesso  das  mulheres  à 
contracepção. 
Por outro lado, as características típicas do processo de socialização masculina, em que os homens são 
educados  para  superarem  os  problemas  que  encontram  sem  pedir  ajuda  e  a  não  partilharem  as  dúvidas 
interiores  que  têm,  faz  com  que,  de  facto,  os  homens  tenham  sido  afastados  e  se  tenham  eles  próprios 
afastado muitas vezes dos programas de promoção da saúde. 
É  pois,  necessário,  que  os  profissionais  que  intervêm  em  educação  sexual  tenham  uma  percepção 
clara  de  que,  rapazes  e  raparigas  têm  diferentes  percepções  e  vivências  das  questões  da  sexualidade  e,  por 
isso, têm também diferentes necessidades que têm de ser atendidas.  
Por outro lado, é também claro que rapazes e raparigas têm todo o interesse em confrontarem as suas 
diferentes  percepções,  dúvidas  e  necessidades  uma  vez  que  é  entre  eles  que  se  estabelecem  relações  de 
amizade, relações amorosas e sexuadas. 
 
5. EDUCAÇÃO SEXUAL PARA OS RAPAZES 
Para quê? 
Para  dar  resposta  às  necessidades  específicas  de  um  dos  grandes  dois  grupos  humanos.  Porque  os 
homens  e  rapazes  têm  problemas  e  necessidades  específicas  e  porque  os  homens  e  os  rapazes  são  atores 
fundamentais em qualquer relação amorosa (tenha ela a orientação sexual que tiver). 

Quais os temas de interesse específicos? 
Os rapazes têm, à semelhança das raparigas, bastantes dúvidas e problemas em relação ao seu corpo, 
à sua imagem corporal e às modificações pubertárias (obesidade, acne, “defeitos”, tamanho e feitio do pénis). 
Têm  também  dúvidas  sobre  comportamentos  sexuais  como  a  masturbação  (a  sua  “normalidade”,  a 
frequência, as consequências) e o início das relações sexuais. A diferença fundamental, em relação às raparigas, 
é que a sexualidade dos rapazes é muito mais aceite e, por isso, encontram um ambiente exterior menos hostil. 
Mas esse mesmo ambiente exterior também os pressiona a desenvolverem um determinado tipo de 
imagem e desempenho sexual que é, muitas vezes, irrealista. 
Os  rapazes  têm  dúvidas  em  relação às  questões  de  orientação  sexual e,  nomeadamente,  os  rapazes 
com orientação homossexual têm dificuldades específicas em perceber e aceitar a sua orientação sexual, como 
sendo diferente da expressão sexual mais frequente – a heterossexualidade.  

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Os rapazes têm também, como as raparigas, embora muitas vezes os disfarcem e neguem, problemas 
de insegurança pessoal e de timidez face ao possível início de relações amorosas, face à abordagem amorosa. A 
diferença  em  relação  às  raparigas  é  que  a  identidade  masculina  projecta  a  ideia  de  um  homem  duro, 
experiente, decidido, de poucas falas, sem dúvidas ou com uma grande rapidez de decisão e, sobretudo, pouco 
dado  a  pieguices.  Há  que  trabalhar  a  diferença  entre  o  estereótipo  e  a  realidade,  mostrando  que  o  mesmo 
estereótipo não só corresponde à realidade, mas, muitas vezes, esconde uma atitude prepotente e autista, que 
não interessa ninguém e em, particular, não interessa aos homens. 
Os rapazes têm também problemas específicos ao nível da sua saúde sexual e reprodutiva: tal como as 
raparigas,  os  rapazes  podem  ter  de  enfrentar  gravidezes  que  não  desejam  e  situações  de  emergência 
contraceptiva  porque  o  preservativo  rompeu  ou  porque  não  usaram  nada.  A  paternidade  adolescente  é, 
portanto, um dos temas a abordar, assim como o é também toda a questão do uso da contracepção (e não só 
do uso do preservativo).  
Por outro lado, tal como as raparigas, os rapazes arriscam‐se a ser contagiados ou a contagiar alguém 
com  infecções  sexualmente  transmitidas  –  SIDA,  hepatites,  mas  também  outras  muito  menos  faladas.  Neste 
contexto, o uso do preservativo é um tema essencial, assim como é essencial o uso do método duplo. 
Sobretudo, há que trabalhar a questão dos riscos que se quer e se deve correr ou fazer correr alguém.  
Os  rapazes  também  têm  infecções  e  outros  problemas  nos  seus  órgãos  genitais.  Também  têm 
possibilidade de ter problemas oncológicos. Há que trabalhar os problemas de saúde tipicamente masculinos 
(livro do Vasco). 
E tal como nas raparigas, há que informar dos recursos disponíveis em termos de aconselhamento e 
apoio médico. 
Finalmente,  e  como  exemplo  da  sociedade  reflexiva  em  que  hoje  vivemos,  é  conveniente  discutir  e 
abordar a história do género, das masculinidades e feminilidades, as mudanças havidas e que estão a haver, 
para que os rapazes e as raparigas entendam o que é diferença e o que é desigualdade, o que é um dado e o 
que é uma opção. 
 
Os rapazes e a vida das mulheres 
E  como  foi  dito,  há  todo  o  interesse  em  que  os  rapazes  discutam  também,  para  além  das  suas 
questões, e das questões de homens e de mulheres, as questões específicas das mulheres. 
 
Meninos para um lado, meninas para outro 
A finalizar, talvez seja importante haver momentos em que os rapazes discutem só com rapazes e as 
raparigas discutem só com raparigas – os seus assuntos específicos, e também o que pensam uns dos outros, o 
que pensam sobre o que as outras ou os outros pensam. 

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EDUCAÇÃO SEXUAL PARA EDUCADORES DE CRIANÇAS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA 
 
Ana Cláudia Bortolozzi Maia, 
Bruna Belusse Demonico, 
Juliana Spinelli Ferrari, 
GEPESEC, UNESP 
     
     
INTRODUÇÃO 
Historicamente,  o  atendimento  educacional  à  criança  pequena  no  contexto  brasileiro  é  alvo  de 
discussões no sentido de definir sua finalidade social. Desde o surgimento das primeiras instituições, vinculou‐
se o serviço de creches ao atendimento exclusivo de crianças advindas de famílias de baixa renda. Assim, desde 
sua  implantação,  as  estratégias  de  educação  infantil  aparecem  com  a  finalidade  de  combate  à  pobreza, 
contando com poucos recursos, muita demanda e carência de formação dos profissionais envolvidos.  
Os  Parâmetros  Curriculares Nacionais  (PCN) atribuem  algumas diretrizes  para a  educação  infantil no 
Brasil  e,  entre  seus  objetivos,  os  conteúdos  ligados  às  expressões  de  sexualidade  também  são  mencionados, 
ressaltando a importância das discussões no ambiente educacional, uma vez que se propõe a compreender a 
sexualidade  como  um  processo  amplo  e  cultural;  além  disso,  a  sexualidade  como  algo  inerente  ao 
desenvolvimento  infantil  exige  que  o  professor  saiba  lidar  diante  das  ações  exploratórias  e  perguntas  das 
crianças. 
Apesar  de  previstas  nos  PCN,  as  discussões  em  educação  sexual  não  parecem  ser  realidade  dos 
contextos  das  instituições  de  ensino,  especialmente  as  de  educação  na  primeira  infância  (“creches”).  Alguns 
autores  como  Figueiró  (2006),  Nunes  &  Silva  (2000),  Maia  &  Spaziani  (2010)  e  Santos  (2010)  ressaltam  a 
formação deficiente dos profissionais que atuam na educação infantil como um dos impasses à inserção dos 
conteúdos ligados à sexualidade infantil no cotidiano de ação dos educadores. 
Outra  temática  bastante  complexa  proposta  pelos  PCN  para  ser  inserida  ao  trabalho  na  educação 
infantil  é  o  que  diz  respeito  às  questões  de  género  que  deveriam  ocupar  lugar  central  nas  discussões  em 
sexualidade. Segundo Maia &Maia (2009), o conceito de género deve compreender, para além das diferenças 
biológicas, as relações de poder e as representações sociais atribuídas ao masculino e ao feminino, além dos 
preconceitos e estereótipos ligados a estas representações.  
A  compreensão  crítica  dos  conceitos  de  sexualidade  e  gênero  na  educação  infantil  não  é  um 
movimento facilmente identificado na realidade das discussões e propostas das instituições de ensino. O que 
se  pode  perceber  na  realidade  educacional  é  um  afastamento  dos  educadores  de  ocupar  esse  lugar  na 
educação sexual das crianças pelas quais são responsáveis.  

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Para  que  se  possa  iniciar  um  processo  de  formação  de  educadoras,  há  necessidade  inicial  da 
configuração de uma demanda, ou seja, de que as educadoras sejam capazes de reconhecer seu “despreparo” 
para  trabalhar  como  educadoras  sexuais,  a  partir  de  processos  como  a  avaliação  de  suas  funções  enquanto 
categoria e a autoavaliação, além da revisão dos medos e anseios dessas educadoras na relação com alunos, 
pais e a comunidade escolar (Santos, 2010; Figueiró, 2006).  
Diante  do  exposto,  consideramos  pertinente  elaborar  e  desenvolver  um  projeto  de  intervenção  que 
teve por objetivo criar um campo de discussão e reflexão acerca de questões ligadas à sexualidade na infância, 
visando  promover  maior  esclarecimento  em  relação  às  mesmas,  capacitando  educadores  para  lidar  com 
situações  em  que  tais  questões  se  tornem  evidentes  e  fornecendo  suporte  técnico  e  teórico  para  o  que  o 
trabalho destes seja facilitado.  
 
A INSTITUIÇÃO 
O programa de educação sexual para educadores foi realizado em uma creche situada em um bairro 
de baixa renda de uma cidade do centro oeste paulista no Brasil. A creche tem caráter comunitário e atende 
115 crianças com idades entre 6 meses e 5 anos e 11 meses. São catorze funcionários que atuam na instituição, 
sendo tratados aqui de uma forma geral como educadores, entendendo que direta ou indiretamente a função 
desempenhada por cada um deles contribui para a educação das crianças. 
 
METODOLOGIA 
Participantes:  quatro  a  oito  educadores  da  instituição  escolar  eram  em  sua  maioria  mulheres,  com 
idade em torno de trinta anos e com o segundo grau completo.  
Materiais:  recursos  de  ensino‐aprendizagem,  exposição  de  vídeos,  dinâmicas  de  grupo  e  literatura 
expositiva. 
Procedimento:  Foram  realizadas  três  sessões  de  observação  e  catorze  encontros  com  o  grupo  de 
educadores,  todos  no  espaço  da  própria  instituição.  As  sessões  de  observação  ocorreram  durante  um  dos 
períodos da rotina escolar (manhã ou tarde) e cada encontro teve duração de aproximadamente uma hora.  
 
OS ENCONTROS  
Observações. As observações foram realizadas em três visitas à creche. A primeira delas ocorreu para 
o estabelecimento de um contato inicial com os funcionários e para oficializar o convite para a participação nos 
encontros.  A  segunda  e  a  terceira  visita  serviram  para  observar  e  compreender  as  reações  de  crianças  e 
educadoras diante de temas e situações ligados à sexualidade infantil a fim de compreender de que forma se 
dão  as  relações  entre  as  crianças  e  entre  as  crianças  e  as  educadoras  no  que  tange  às  expressões  da 
sexualidade infantil. Foi possível perceber a partir das visitas que as expressões de sexualidade das crianças são 

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frequentes  e,  geralmente,  repreendidas,  quando  não  ignoradas  pelas  professoras,  como  também  ressaltam 
Maia & Spaziani (2010), Maia, Pastana, Pereira & Spaziani (2011), Nunes & Silva (2000) e Laviola (2006). 
Formação do grupo. A criação e o fortalecimento de vínculos entre os participantes foram objetivos 
centrais  dos  três  encontros  iniciais.  Buscou‐se  esclarecer  expectativas  em  relação  ao  grupo,  evidenciando  os 
motivos da participação de cada um e promover a interação do grupo, criando um espaço de confiança para 
falar  dos  temas  propostos.  Foi  também  um  momento  destinado  para  iniciar  o  contato  com  o  tema  da 
sexualidade.  Para  isso,  no  primeiro  encontro,  utilizou‐se  uma  dinâmica  projetiva,  em  que  as  participantes 
foram  orientadas  a  relembrarem  e  desenharem  em  um  papel  aspectos  de  sua  infância  e  de  sua  sexualidade 
para  serem  discutidos.  No  segundo  encontro,  buscou‐se  fortalecer  a  identidade  grupal  a  partir  do 
direcionamento  de  uma  ação  coletiva  do  grupo  para  refletir  acerca  de  questões  referentes  ao  tema  da 
sexualidade  e  da  educação  sexual,  e  seus  valores  e  conceitos  implícitos.  Já  o  terceiro  encontro  teve  como 
objetivo  discutir  a  importância  de  respeitar e  considerar  as  diversas  formas  de  sentir e  pensar  a  sexualidade 
que  apareceriam  no  grupo.  As  educadoras  participaram  ativamente,  dividindo  com  o  grupo  considerações 
importantes  sobre  suas  noções  e  valores  referentes  à  sexualidade  e  suas  histórias  pessoais.  Notou‐se  a 
importância  da  religiosidade  na  formação  de  opiniões  das  educadoras  e  na  concepção  destas  sobre  alguns 
fenômenos e conceitos relacionados tanto a sexualidade infantil quanto a sexualidade de uma forma geral. 
 
TEMAS GERAIS EM SEXUALIDADE: CONCEITOS E VALORES 
Para  dar  início  à  discussão  e  ao  aprofundamento  dos  conteúdos  em  sexualidade  infantil  de  maneira 
mais específica, optou‐se pela discussão e definição anterior dos conceitos de infância e sexualidade (Maia & 
Maia, 2005). Discutiu‐se por meio de uma exposição dialogada de conteúdos, diferentes visões da infância em 
diversas  épocas,  além  da  concepção  de  cada  uma  sobre  o  tema,  refletindo  sobre  quais  as  referências  que 
marcaram e delimitaram esse período do desenvolvimento no decorrer da história geral e como isso se deu em 
suas histórias pessoais.  
Foi possível estabelecer contraposições e concordâncias entre as delimitações da infância durante as 
gerações e a concepção pessoal de infância das educadoras. Da mesma forma, pôde‐se discutir o lugar que a 
sexualidade infantil ocupou durante a história, e qual lugar ocupa sob a visão delas. O tema foi considerado de 
forma consensual como “incômodo” de se tratar, mas necessário, pois elas convivem no dia‐a‐dia da creche e 
em  casa  com  situações  de  expressão  da  sexualidade  infantil,  além  de  lembrar  situações  relacionadas  à 
sexualidade que vivenciaram quando crianças.  
Na sequência, discutiu‐se sobre o conceito de sexualidade e sobre as questões que estão envolvidas 
que vão além da relação sexual, como: gênero, corpo, valores, educação e experiência individuais. Permitiu‐se 
com  a  discussão  que  as  educadoras  reconhecessem  outros  temas,  não  tão  evidentes,  também  como  temas 

49 
 
relacionados  à  sexualidade.  Ao  tratar  do  tema,  evidenciou‐se  a  discussão  sobre  aspectos  biológicos  e  de 
desenvolvimento sexual e as questões de gênero.  
 
SEXUALIDADE E INFÂNCIA: MITO E REALIDADE 
A  fim  de  desmistificar  alguns  preconceitos  relacionados  à  sexualidade  na  infância,  desconstruir 
opiniões cristalizadas e esclarecer dúvidas relacionadas ao tema, optou‐se pela utilização da dinâmica “Mito e 
Realidade”. A dinâmica consiste na exposição de algumas sentenças que contenham definições de fenômenos 
e conceitos relacionados à sexualidade infantil, seguida de um julgamento do grupo acerca da veracidade da 
afirmação e de uma discussão sobre o que pode ser considerado certo ou errado em cada uma. Os conteúdos 
das  afirmações  englobavam  formas  de  expressão  da  sexualidade  pelas  crianças;  a  importância  de  o  adulto, 
enquanto educador, esclarecer as dúvidas e questões das crianças; a necessidade de um olhar atento para as 
ações e questões levantadas pelas crianças; e aspectos do desenvolvimento sexual infantil a partir do material 
de Maia & Maia (2005).  
As  discussões  mostraram‐se  esclarecedoras,  pois,  além  de  produzirem  informações  até  então 
desconhecidas pelas educadoras, permitiu‐se um desdobramento do julgamento das afirmações para além da 
dicotomia  certo/errado,  a  partir  de  contribuições  e  concepções  das  próprias  participantes.  As  educadoras 
mostraram‐se  resistentes  quanto  às  afirmações  que  tratavam  sobre  o  tema  da  homossexualidade, 
demonstrando um discurso enviesado pela religião, que não aceita essa condição como uma possibilidade de 
existência humana natural.  
 
ABUSO E VIOLÊNCIA SEXUAL 
Tendo  em  vista  o  compromisso  ético  e  humano  do  educador,  considerou‐se  de  fundamental 
importância  a  discussão  deste  tema,  evidenciando  a  necessidade  da  proteção  da  criança.  Buscou‐se,  assim, 
esclarecer  e  discutir  a  problemática  do  abuso  sexual  infantil,  suas  implicações  no  contexto  educacional  e  no 
trabalho  do  educador.  Para  isso,  iniciou‐se  o  encontro  com  a  exposição  de  relatos  de  crianças  que  sofreram 
abuso (Silva, 2007), e de um vídeode campanha contra o abuso e a violência sexual chamado “Ventriloquist”, 
criado  pelo  estúdio  britânico  Saatchi  &  Saatchi,  a  pedido  da  NSPCC  (National  Society  for  the  Prevention  of 
Cruelty to Children‐ http://www.youtube.com/watch?v=NqZ6uqXTnUA&feature=results_main&playnext=1&list=PL124C56816F4508BB). 
Na  sequência  foram  expostos  conteúdos  sobre  o  tema,  retirados  do  livro  citado  acima,  contendo:  a 
definição  do  termo  violência  sexual;  maneiras  de  identificar  comportamentos  frequentes  de  crianças  que 
sofrem  abuso;  informações  necessárias  sobre  o  contexto  em  que  ocorre  o  abuso;  e  uma  discussão  sobre  o 
papel da escola e do educador. A exposição permitiu a compreensão das educadoras sobre a necessidade da 
atenção ao ouvir, falar e observar a criança, além de alertá‐la para sua própria proteção. Além disso, suscitou o 
compartilhamento de algumas situações vivenciadas na creche e a revelação de uma das educadoras de uma 

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experiência pessoal de situação de abuso. A informação causou um impacto e teve de ser acolhido pelo grupo. 
Foi  um  dos  encontros  que  suscitou  maior  interesse  nas  educadoras,  e  a  partir  do  qual  elas  passaram  a  dar 
maior  atenção  para  a  necessidade  de  olhar  de  maneira  mais  crítica  e  menos  receosa  para  as  expressões  da 
sexualidade pelas crianças.  
 
QUESTÕES DE GÉNERO 
Pode‐se  evidenciar  as  questões  de  gênero  como  uma  das  que  mais  aparecem  na  educação  sexual 
formal e informal dentro do ambiente escolar, aparecendo desde a divisão das brincadeiras, por exemplo. Com 
isso,  procurou‐se  sensibilizar  e  refletir  sobre  essas  questões  e  temas  adjacentes,  como  educação  sexista  e  a 
influência dos modelos parentais e sociais. Inicialmente buscou‐se esclarecer acerca dos conceitos de gênero, 
diversidade  sexual  e  heteronormatividade  (Maia  &  Maia,  2005;  2009).  Quanto  aos  modelos  de  gênero,  as 
educadoras demonstraram uma visão inicialmente muito influenciada pelos estereótipos normativos, mas que 
gradativamente durante o encontro foram se desconstruindo. As participantes puderam reconsiderar algumas 
questões  relacionadas  aos  padrões  esperados  para  homens/mulheres,  meninos/meninas,  em  relação,  por 
exemplo,  à  escolha  do  parceiro  afetivo  e  às  brincadeiras  das  crianças.  O  encontro  permitiu  discussões  e 
reflexões  interessantes  sobre  a  educação  sexista,  tanto  por  meio  dos  relatos  sobre  as  próprias  vidas  quanto 
àqueles  relacionados  ao  dia‐a‐dia  na  creche.  Pode‐se  mostrar  a  contradição  em  alguns  discursos,  o  que 
mostrou  surtir  efeitos.  Porém,  a  discussão  final  acerca  da  homossexualidade,  mostrou‐se    mais  uma  vez 
limitada  pela  questão  da  religião,  o  que  acaba  impedindo  demais  reflexões  e  parecem  tornar  Psicologia  e 
Religião inimigas.  
 
SEXUALIDADE NA INFÂNCIA E MÉDIA 
Sensibilizar  e  questionar  o  papel  dos  média  na  educação  sexual  informal  aparece  como  um  tema 
fundamental,  levando  em  conta  o  fato  de  que  é  a  televisão  um  dos  veículos  mediáticos  que  estão  mais 
presentes  no  dia‐a‐dia  das  crianças.  Assim,  buscou‐se  discutir  a  forma  como  são  retratadas  questões  de 
sexualidade  e  sexualidade  infantil,  e  os  padrões  sexuais  transmitidos  explícita  ou  implicitamente  por  meio 
destes veículos mediáticos (Nunes & Silva, 2000). 
Inicialmente apresentou‐se uma série de comerciais publicitário, seguida da transmissão de uma parte 
do documentário “Criança, a alma do negócio” (Instituto Alana, 2008), que trata, entre outras questões, sobre 
a  erotização  da  infância.  Foi  possível,  a  partir  de  uma  discussão  sobre  os  vídeos  apresentados,  desmistificar 
alguns  conteúdos  sexistas  implícitos  nos  produtos  dos  média,  tornando  consciente  as  diversas  formas  de 
repressão  que  eles  apresentam.  Além  disso,  foi  possível  avaliar  criticamente  a  representação  da  sexualidade 
infantil por meio destes veículos. As educadoras evidenciaram a erotização infantil promovida pelos média e 
relataram algumas situações com crianças da creche que acreditam ser consequência deste tipo de educação 

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sexual informal, tais como: a imitação de danças sensuais, a utilização de roupas que erotizam o corpo infantil e 
o comportamento muitas vezes adultizados das crianças, como também observaram Maia & Spaziani (2010).  
 
DISCUSSÃO DE SITUAÇÕES QUOTIDIANAS  
Para  os  dois  últimos  encontros  foi  reservado  um  momento  para  se  discutir  algumas  situações 
quotidianas  do  ambiente  escolar  (Figueiró,  2006).  O  objetivo  foi  refletir  sobre  os  conteúdos  de  sexualidade 
implícitos  ou  explícitos  nas  situações  vivenciadas  em  ambiente  escolar  e  trabalhar  formas  assertivas  de 
educação sexual a partir dessas situações espontâneas. As situações relatadas continham os seguintes temas: a 
relação  da  criança  com  o  corpo  e  a  nudez;  percepção  e  relação  infantil  com  o  próprio  corpo;  conversas  e 
comentários sexistas das educadoras na presença de crianças; e questões sobre homossexualidade. Além disso, 
buscou‐se trabalhar algumas questões vivenciadas no dia‐a‐dia da creche em questão, que surgiam a partir da 
discussão  das  situações  retiradas  do  livro,  e  que  de  alguma  forma  geraram  certa  insegurança  por  parte  das 
educadoras para administrá‐las. 
Foi  um  momento  em  que  puderam  compartilhar  a  vivência  de  situações  em  que  muitas  vezes  não 
sabiam  o  que  dizer  ou  fazer,  e  que,  a  partir  das  discussões  no  grupo,  passaram  a  se  enxergar  capazes  de 
assumir  uma  postura  que  oriente  os  questionamentos  das  crianças,  ou  que  pelo  menos  não  funcione  como 
repressão  agressiva  ou  negligenciação  da  curiosidade  infantil.  As  educadoras  mostraram‐se  aptas  a  explicar 
dúvidas relacionadas à gestação e ao corpo mascullino e feminio, a falar sobre as denominações possíveis dos 
órgãos  sexuais  e  a  tratar  sobre  estes  de  maneira  natural,  como  se  trata  qualquer  outro  órgão  do  corpo 
humano.  Mais  uma  vez,  a  discussão  que  se  mostrou  limitada  esteve  relacionada  à  questão  da 
homossexualidade,  que  elas  julgam  como  uma  maneira  “errada”  de  se  comportar,  e  que,  por  isso,  não 
conseguiriam distanciar‐se destes valores ao educar as crianças.  
 
ENCERRAMENTO 
Por  fim,  realizou‐se  um  encontro  para  que  as  educadoras  respondessem  a  um  questionário  de 
avaliação acerca dos temas que foram trabalhados e a maneira que foi coordenado o grupo de discussões. As 
avaliações  se  deram  de  forma  positiva,  em  que  as  educadoras  demonstraram  sentirem‐se  à  vontade  nas 
discussões  e  estarem  mais  seguras  para  fornecer  respostas  a  alguns  questionamentos  das  crianças  e  mais 
atentas  em  perceber  atitudes  que  antes  não  acreditavam  estarem  relacionadas  com  a  sexualidade.    Todas 
ressaltaram a importância do processo de formação na área, como também defende Figueiró (2006). 
 
 
 
 

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CONSIDERAÇÕES FINAIS 
A  educação  infantil  é  um  campo  de  inúmeras  discussões.  Sua  função  social,  assim  como  a  de  seus 
educadores está imersa na confusão entre educar e cuidar. Nessa perspectiva, não é incomum que a instituição 
apresente  um  funcionamento  que  se  aproxima,  muitas  vezes,  de  um  modo  doméstico.  Nesse  contexto,  a 
relação dos educadores com as crianças pode aproximar‐se de um caráter maternal, de cuidador. Não se pode 
deixar  de  levar  em  consideração  inúmeros  aspectos  da  prática  dessas  educadoras,  como  a  quantidade  de 
crianças  que  atendem,  o  tempo  de  trabalho  e  a  formação  que  receberam  para  exercer  suas  funções.  Entre 
outras  temáticas  cuja  formação  é  deficiente,  os  temas  em  sexualidade  infantil  são  um  dos  mais  evidentes. 
Poucas  instituições  de  educação  infantil  apresentam  formação  de  seus  funcionários  para  lidar  com  essas 
questões  e  quando  o  fazem,  muitas  vezes,  desconsideram  a  história  de  vida  de  seus  funcionários,  seus 
conceitos e valores, assim como os das famílias e crianças que atendem. 
A  proposta  do  grupo  de  discussões  com  as  educadoras  de  uma  creche  surge  dessa  demanda  de 
formação, mas também, de espaço de escuta e discussão dos temas ligados à sexualidade infantil. A estratégia 
do trabalho em grupo permite que os participantes compartilhem suas histórias e valores, colocando‐se cada 
vez mais no papel de sujeitos de suas ações, que são progressivamente pensadas criticamente. 
Na  experiência  relatada  nesse  artigo  percebe‐se  algumas  características  das  participantes  como  a 
religiosidade  e  os  valores  heteronormativos  que  configuravam  sua  visão  em  relação  às  manifestações  de 
sexualidade  das  crianças.  Entre  as  preocupações  das  educadoras,  a  questão  da  homossexualidade  pode  ser 
considerada a mais “incómoda”, uma vez que, mesmo depois dos encontros, muitas manifestavam seus valores 
no sentido de considerar “errado”, “pecado”, ou ainda, algo “preocupante”. 
Apesar  disso,  destacam‐se  algumas  considerações  a  partir  do  projeto  realizado.  Inicialmente  as 
conversas das educadoras eram muito pautadas na relação delas com os próprios filhos, mas ao longo do ano, 
elas foram deslocando a sua responsabilidade na educação sexual das crianças atendidas na escola. Também, 
gradativamente,  as  reflexões  acerca  da  educação  infantil  foram‐se  tornando  mais  críticas,  especialmente 
quando trabalhamos padrões normativos de género e as questões relacionadas com os média e sua influência 
na formação heteronormativa de crianças, pais e das próprias educadoras. Entre os temas de grande relevância 
em  que  as  educadoras  se  mostraram  mais  envolvidas,  estão  a atenção ao  abuso  sexual  infantil  e  o papel do 
educador  e  as  questões  de  género  presentes  nas  brincadeiras  e  comportamentos  das  crianças.  Todavia,  os 
maiores obstáculos foram o distanciamento delas de seus valores pessoais e a religiosidade.  
Portanto, pode‐se concluir a necessidade de uma atenção maior para a formação de educadores deste 
período educacional, principalmente no que diz respeito à temática da sexualidade. É necessário também que 
se rompam alguns preconceitos e tabus relacionados à sexualidade na infância, sendo importante ressaltar a 
relevância  de  que  essas  desconstruções  se  deem  a  partir  da  formação  de  grupos  educativos  que  visem  a 
produção  de  sujeitos  educadores,  e  não  apenas  a  transmissão  de  conceitos  e  definições  científicas.  Assim,  o 

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relato desta experiência aponta um caminho de obstáculos que necessariamente devem ser superados quando 
se pensa em uma educação sexual digna e emancipatória desde a primeira infância. 
 
BIBLIOGRAFIA 
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http://www.fazendogenero.ufsc.br/9/resources/anais/1277391407_ARQUIVO_VeraMarquesFazendoGenero92
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Silva, M.C.P. (2007). Sexualidade na Infância. São Paulo: Casa do Psicólogo. 
 
 
 
 
 
 

54
 
EDUCAÇÃO SEXUAL E FORMAÇÃO CONTÍNUA DE PROFESSORES: UMA ESTRATÉGIA PARA A PRÁTICA 
PEDAGÓGICA EM SALA DE AULA 
   

Andreza Marques de Castro Leão, 
 Paulo Rennes Marçal Ribeiro, 
Núcleo de Estudos da Sexualidade – UNESP 

 
O  presente  estudo  tem  por  objetivo  mostrar  uma  iniciativa  do  governo  brasileiro  no  sentido  de 
propiciar estratégias para o trabalho pedagógico de professores que atuam em sala de aula. A partir de um sítio 
da Internet, localizado em http://portaldoprofessor.mec.gov.br/index.html, os professores têm acesso a várias 
sugestões  de  aulas,  com  recursos  multimídia,  vídeos,  animações,  áudios,  podendo  estudar,  pesquisar  e 
explorar os conteúdos.  
É  uma  possibilidade  que  propicia  aos  professores  conhecimento  e  troca  de  experiências  didático‐
pedagógicas  por  meio  de  ações  que  podem  ser  aplicadas  em  sala  de  aula  com  a  finalidade  de  subsidiar  a 
reflexão permanente na e sobre a prática docente. 
No  caso  específico  do  campo  da  Educação  Sexual,  a  utilização  do  Portal  pode  ampliar  a  noção  de 
sexualidade do professor e levá‐lo a refletir sobre as atitudes e comportamentos sexuais; debater a questão da 
sua  responsabilidade  enquanto  formador  de  opinião  sobre  questões  ligadas  às  práticas  sexuais  e  a  valores  e 
atitudes vinculados ao sexo; e instrumentalizá‐lo para que possa lidar com as dificuldades naturais resultantes 
dos tabus e preconceitos  inerentes ao sexo, ao gênero e à orientação sexual. 
A escola é um espaço sexualizado e, como tal, acolhe todo o tipo de manifestação sexual, ainda que, na 
maioria  das  vezes  de  forma  negativa,  vigorando  em  seu  espaço  a  dificuldade  de  se  lidar  com  quaisquer 
comportamentos  ou  atitudes  que  exprimam  curiosidade,  desejo  e  prazer  decorrentes  da  sexualidade  (Pinto, 
2007).  Esta  afirmação  é  complementada  por  Reis  &  Ribeiro  (2005,  p.  38)  quando  explicam  que  “a  escola, 
geralmente tem uma visão de que sexo só é perigoso para os alunos, pode causar doenças, transmite a SIDA, é 
responsável pela gravidez precoce e indesejada. Ou seja, [...] associando‐o às doenças ou problemas.” 
A sexualidade não só nasce com o ser humano, como acompanha‐o por toda a vida e é responsável 
inclusive pela sua saúde psicológica e emocional. Todavia, nas escolas, geralmente não é percebida como algo 
que faz parte do desenvolvimento infantil, mas sim como um problema a ser evitado e uma manifestação que 
precisa  ser  controlada:  para  muitos  professores  “a  sexualidade,  de  certa  forma,  é  inimiga  do  trabalho 
pedagógico” (Senatore & Ribeiro, 2001, p. 163). 
Existe um temor de corromper a candura da criança, embora, como argumenta Maia (2005b), ela tem 
contato com os diferentes temas da sexualidade desde os primeiros anos de vida, uma vez que está cada vez 
mais exposta a estímulos relacionados ao sexo nas distintas instâncias sociais, como, por exemplo, a mídia, que 

55 
 
visualiza  estas  questões  de  forma  intensa  e  repetitiva.  Não  obstante,  o  sistema  educativo  costuma 
desconsiderar a sexualidade como dimensão da própria existência humana (Camargo & Ribeiro, 1999; Ribeiro, 
Souza & Souza, 2004; Leão & Ribeiro, 2011).  
Outra temática importante para ser abordada na escola é o género. 
Desde a mais tenra idade ocorre nas distintas instâncias sociais um processo de ensinar a criança a que 
género  pertence  sob  a  ótica  sexista,  fato  observado  em  situações  quotidianas  como  a  escolha  das  cores  das 
vestimentas  para  os  meninos  e  as  meninas,  nos  brinquedos  e  brincadeiras,  nos  comportamentos  e  atitudes, 
estimuladas diferentemente para um  e outro sexo (Leão & Ribeiro, 2011). Quanto ao contexto escolar, Maia 
(2005a) expressa que há formas subtis empregadas para reforçar esta educação nas brincadeiras, brinquedos e 
atividades oferecidas às crianças, sempre em função do género: comportamentos mais ativos e agressivos para 
meninos, e passivos e contidos para as meninas, assim como valores determinados diferencialmente para cada 
género.  
No Brasil, uma diretriz educacional lançada em 1997, denominada Parâmetros Curriculares Nacionais 
(PCN),  destaca  a  questão  de  género  como  um  dos  elementos  curiculares  que  deve  ser  trabalhado  pelo 
professor em sala de aula. O género está presente não apenas em grande parte dos assuntos trabalhados nas 
disciplinas,  mas  também  (e  principalmente)  no  quotidiano  escolar,  nos  comportamentos  e  atitudes  de 
professores  e  alunos,  nos  corredores  e  salas  de  aula,  até  no  material  didático,  o  que  torna  essencial  sua 
abordagem  com  os  alunos,  de  forma  que  possam  construir  relações  de  gênero  pautadas  pela  equidade, 
compreensão  e  respeito  pelas  diferenças  (Brasil,  1997).  O  Referencial  Curricular  Nacional  para  a  Educação 
Infantil – RCNEI (Brasil, 1998), outro documento brasileiro, chama a atenção para o caráter social das questões 
de género e sexualidade, da importância dos valores de igualdade e respeito entre as pessoas, e lembra que a 
educação infantil não só cuida do corpo da criança, mas o educa. 
O estudo das relações de género põe em evidência o processo de construção histórica das distinções 
entre  homens  e  mulheres  através  da  sociedade  e  da  cultura.  Este  termo  marca  as  construções  sociais  de 
caráter  plural,  não  universal,  inconclusa  e  mutável  de  homens  e  mulheres  (Louro,  1997).  A  autora 
complementa dizendo que este conceito emerge da necessidade de se revelar a incoerência de se aportar no 
sexo, no sentido das características físicas do corpo, as diferenças entre homens e mulheres. 
São questões fundamentais para serem trabalhadas com crianças e adolescentes, sobretudo, porque 
os  estereótipos  nas  relações  de  género  insistem  em  se  perpetuar  na  sociedade  contemporânea  (Leão  & 
Ribeiro, 2011). A escola deve e precisa contribuir para erradicar tais estereótipos.  
Género  e  sexualidade  são conceitos culturalmente  construídos,  e  são  temas  que  se  complementam. 
Em nossa experiência, trabalhar com sexualidade implica em abarcar as relações de género. E a discussão das 
relações de género pede um diálogo com as atitudes, comportamentos e valores sexuais. Como a escola “não 
apenas reproduz ou reflete as concepções de género e sexualidade que circulam na sociedade, mas ela própria 

56
 
a produz” (Louro, 1997, p. 80‐81), é essencial que a Educação Sexual tenha espaço oficial na escola porque sua 
influência  é  grande  na  formação  dos  alunos,  que  lá  acabam  por  aprender  a  se  posicionar  sobre  contextos 
sociais que envolvem cidadania e direitos, onde se inserem questões de igualdade de género e homofobia que 
precisam ser tratadas de maneira crítica e reflexiva (Maia & Ribeiro, 2011). 
Considerando,  no  entanto,  que  muitos  dos  professores  apresentam  receios  e  desconforto  para  esta 
intervenção  (Figueiró,  2006;  Leão,  2009),  que  a  temática  sexual  acaba  se  envolvendo  em  uma  malha  de 
crendices  e  interditos  de  difícil  abrangência  para  a  maior  parte  destes  profissionais  (Leão,  2012)  e  que  há 
precariedade  em  sua  formação  que  possibilite  um  bom  preparo  para  uma  prática  pedagógica  em  educação 
sexual  (Leão,  2009;  Leão,  2012),  torna‐se  imperativo  o  investimento  na  educação  inicial  e  contínua  dos 
professores  com  a  inserção  de  métodos  e  técnicas  para  sua  ação  e  conteúdos  para  seu  conhecimento  e 
aprendizado, instrumentalizando‐os para entender e trabalhar com temas de sexualidade, género e educação 
sexual.    Uma  educação  sexual  possibilita  que  possam  se despir  de  seus  temores  e  tabus  e  reeconheçam  seu 
papel na transformação dos estereótipos sexistas presentes nas práticas pedagógicas e culturais da escola. 
 
OBJETIVO 
Este artigo tem por objetivo principal levar os professores a refletir sobre a importância e necessidade 
de  se  trabalhar  com  educação  sexual  no  espaço  escolar  a  partir  da  apresentação  de  um  instrumento  para  a 
prática pedagógica que pode ser utilizado em educação contínua por meio de aulas disponíveis em um espaço 
virtual em um sítio educativo governamental.  
 
DESENVOLVIMENTO   
O  Portal  do  Professor  (http://portaldoprofessor.mec.gov.br/recursos.html)  é  uma  ferramenta 
complementar no trabalho docente, onde estão disponíveis inúmeras aulas que versam acerca de distintos e 
importantes temas. O intuito deste sítio é auxiliar os professores no preparo e implementação de suas aulas, 
apresentando diferentes estratégias e ferramentas que podem ser empregadas, inclusive com um espaço em 
que ele pode comentar, fazer sugestões e criticar as aulas disponíveis no sítio. 
Pode‐se  dizer  que  este  sítio  atua  como  uma  ferramenta  de  formação  continuada  em  serviço  do 
professor, permitindo que ele tenha acesso a assuntos atuais que precisam ser abarcados em sala de aula e as 
estratégias de como o fazer. 
Selecionamos, como objeto de ilustração para este artigo, duas aulas que são disponibilizadas neste 
portal,  e  que  foram  elaboradas  visando  apresentar  aos  professores  modelos  de  como  eles  podem  trabalhar 
com a questão das relações de género em sala de aula. 
 
 

57 
 
Aula 1 ‐ Diferentes, mas não desiguais 
Sugerimos  para  o  início  da  aula  que  o  professor  apresente  figuras  de  homens  e  mulheres  para  os 
alunos. O intuito desta atividade é que eles possam perceber e mencionar as diferenças físicas existentes entre 
homens e mulheres. É importante que o professor anote na lousaos aspectos que eles apontam como sendo 
diferentes em ambas figuras.  
O professor pode também, durante esta atividade, interrogar os alunos: 
• O que vocês acham que o homem e a mulher têm de diferente? 
• Os homens são tratados de maneira diferente das mulheres na sociedade?  
Em  seguida,  o  professor  deverá  apresentar  figuras  de  mulheres  e  homens  realizando  atividades 
domésticas  sozinhos,  objetivando  desconstruir  a  ideia  de  que  compete  somente  às  mulheres  as  atividades 
domésticas. 
Neste  momento,  sugerimos  que  o  professor  promova  uma  discussão  com  os  alunos  sobre  as 
atividades  cotidianas  domésticas.  Neste  sentido,  abaixo  apresentamos  algumas  questões  norteadoras  da 
discussão: 
• O que vocês acham destas figuras? 
• O que lhes vem a mente ao vê‐las? 
• É comum um homem lavando a louça? E cozinhando? Passando roupa? 
• O que vocês acham disso? 
Após  as  discussões  feitas  anteriormente,  neste  momento,  o  professor  deverá  ler  para  os  alunos  os 
aspectos  apontados  por  eles,  indagando‐os  do  por  que  destes  aspectos,  a  fim  de  que  tenham  um  espaço 
aberto e acolhedor, de maneira a poderem manifestar suas dúvidas sem ser criticados pelos seus comentários 
ou opiniões. O intuito é que esta atividade possa desconstruir os papéis socialmente definidos para homens e 
mulheres desempenharem. 
Em seguida, os alunos deverão ser divididos em três grupos para a realização de uma dinâmica em sala 
de aula. Assim, um grupo irá defender que a mulher deve, de fato, exercer atividades domésticas; outro que 
argumentará que compete ao homem tais atividades, sendo que o terceiro grupo terá de conciliar estas ideias, 
mostrando que tanto homens quanto mulheres podem exercer estas atividades. 
A  fim  de  dar  fechamento  às  atividades  realizadas  nestas  aulas,  o  professor  deverá  solicitar  que  os 
alunos  elaborem  em  grupos  um  texto  jornalístico  sobre  a  temática  trabalhado  em  aula,  de  maneira  que 
consigam  traduzir  o  que  eles  puderam  refletir  sobre  a  mesma.  Este  texto  será  apresentado  oralmente  (em 
formato de um telejornal, por exemplo) pelos alunos em sala de aula.  
 
 
 

58
 
Aula 2‐ Géénero em pauta:P Panela lembra mullher? Futebol é coisa de homem? 
Como  iníício  da  aula  o  prrofessor  deverá  mostrar 
m aos  aluno os  figuras  contendo:  vassoura,  pan nela 
(
(utensílios  doméstticos),  pessoa  dirigindo  carro,  trocaando  fralda,  assisttindo  futebol  e/ou
u  lutas,  entre  outtros. 
A
Após,  deverá  indaagar  os  alunos  se  eles  percebem  estas 
e atividades  seendo  mais  comun ns  aos  homens  ou u  as 
m
mulheres  exercereem.  O  intuito  é  que  as  diferentess  opiniões  se  maanifestem,  permitiindo  que  as  crian nças 
e
expressem seus po ontos de vista. 
Feito  isso
o,  deve  promover  uma  discussão  co om  os  alunos  utillizando  as  questões  norteadoras  deeste 
d
debate:  
• É mais comum os h
É homens ou as mulh heres varrerem a ccasa?  E trocar as ffraldas de bebés?
• Em relação às mulh
E heres, elas dirigem
m? Há piadinhas qu uanto a isso? 
• Panela lembra mul
P her? Futebol é coiisa de homem?  
Independente  da  resposta  dos  alunos  o  pro ofessor  atuará  com mo  conciliador  e  facilitador 
f do  debbate, 
p
porquanto os alun nos podem manifestar opiniões divergentes. O intuito  desta atividade é  fazê‐los refletir so obre 
a
as questões de gén nero, instigar o sennso crítico. 
  Em  seguida,  os  alunos  devverão  escrever  em m  grupos,  numa  folha  de  papel  paardo,  as  vantagen ns  e 
d
desvantagens de p pertencer ao seu sexo. Após, o profeessor deverá solicitar as alunas, tam mbém em grupos, p para 
listarem as vantagens e desvantagen ns de pertencer aoo seu sexo. 
  Assim, o p professor lerá comm os alunos as carracterísticas citadaas, buscando a opinião dos mesmoss, se 
c
concordam  ou  não,  e  o  porquê.  Busca‐se,  com  estaa  atividade,  aguçaar  o  senso  crítico  dos  alunos  sobree  os 
a
aspectos tratados.  
Como  con ntinuação,  sugerimmos  que  o  professor  apresente  a  ttira  retirada  de  um
m  episódio  da  revvista 

“Turma da Mónica a” aos alunos, soliccitando que expliqu uem a razão do ceebolinha estar zanggado. 
 

(Disponíveel em: www.turmaadamonica.com.brr) 

  Em  seguid
da,  o  professor  poderá  solicitar  qu
ue  os  alunos  elabo
orem  em  grupo  um 
u outro  final  para  a 
t
tirinha, de modo qque tanto a Mônicaa quanto o cebolin nha fiquem felizes.

59 
 
O professor solicitará que os alunos se dividam em grupo (no mínimo quatro grupos por turma). Cada 
grupo  terá  como  atividade  compor  uma  música,  teatro  ou  ainda  um  texto  tendo  como  cerne  buscar 
desmistificar os preconceitos em relação à mulher e ao homem. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Estas  aulas  podem  ser  grandes  aliadas  no  trabalho  do  professor  em  sala  de  aula,  porquanto 
apresentam estratégias educativas dinâmicas, atrativas e de fácil compreensão dos docentes e dos alunos.  
No presente trabalho apresentamos duas delas como modelo ou exemplo, tendo escolhido aulas que 
abordam a questão de género, mas há diferentes temas no referido sítio (pedofilia, violência contra a mulher e 
contra a criança, puberdade, gravidez na adolescência, homossexualidade, entre outras), as quais podem ser 
aplicadas em sala de aula.  
É  preciso  esclarecer  que  ainda  há  muito  a  se  fazer  pensando  na  formação  plena  do  profissional  da 
educação para atuar com sexualidade. No entanto, este sítio é uma tentativa encontrada de auxiliá‐los para a 
prática  pedagógica  na  formação  em  serviço,  que  mostra  como  os  espaços  virtuais  de  aprendizagem  são 
extremamente úteis para a educação a distância. 
A sexualidade é um assunto indispensável de ser tratado em sala de aula, sendo o professor o principal 
profissional  para  a  implementação  da  educação  sexual.  Em  vista  das  dificuldades  e  da  falta  de  formação  de 
muitos destes, o portal do professor, ferramenta educacional do governo brasileiro, tem dado espaço para que 
educadores que atuam com a educação sexual postem aulas voltadas a esta temática. O que representa uma 
tentativa de instrumentalização dos profissionais da educação para a prática pedagógica. 
 
BIBLIOGRAFIA 
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60
 
possibilidades  para  sua  abrangência.  259  f.  Relatório  de  Pós‐Doutoramento  (Sexologia  e  Educação  Sexual), 
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61 
 
 

62
 
EDUCACIÓN SEXUAL EN LA FAMILIA Y LA ESCUELA13 

 
Félix López Sánchez, 
Universidad de Salamanca 
 

INTRODUCCIÓN 
Los problemas asociados a la forma en que adolescentes y jóvenes viven la sexualidad y las relaciones 
amorosas  hoy  día  son  muy  numerosos  y  bien  conocidos:  embarazos  no  deseados,  enfermedades  de 
transmisión sexual, abusos sexuales, frustración en las relaciones, etc. No se trata de problemas generalizados, 
pero sí demasiado frecuentes, especialmente el primero de los señalados. Afectan a los adolescentes y jóvenes 
y muy especialmente  y de manera aguda a los menores de edad. 
Por  conocidos,  no  nos  vamos  a  centrar  en  describirlos,  ni  en  cuantificarlos,  algo  ya  hecho  en 
numerosas publicaciones como puede verse en la bibliografía citada (López, Fernandez‐Rouco, Carcedo,  Kilani,  
y  Blázquez,  2010).  Lo  que  pretendemos  es  hacer  una  reflexión  sobre  sus  posibles  causas  y  la  forma  en  que 
deberían ser afrontados, especialmente por la familia, la escuela y los profesionales de la salud. 
A  nuestro  modo  de  ver,  entre  otras  causas,  merecen  ser  tenidas  en  cuenta  especialmente  las 
siguientes  causas  de  estos  problemas:  (a)  la  falta  de  información  legitimada  por  la  familia,  la  escuela  y  los 
profesionales de la salud, (b) las contradicciones de la sociedad en los planteamientos sobre la sexualidad de 
los  adolescentes  y  jóvenes,  (c)  los  nuevos  mitos  sobre  la  sexualidad,  (d)  los  escenarios  de  ocio  asociados  al 
alcohol y otras drogas, (e) la carencia de figuras de apego adecuadas, que sean modelo de relaciones amorosas, 
(f) la falta de una verdadera educación sexual en la escuela y (g) la no implicación de los profesionales de  la 
salud en la prevención y asistencia en este campo. 
 
1  ‐  ¿ESTÁN  BIEN  INFORMADOS  NUESTROS  ADOLESCENTES  Y  JÓVENES?  EL  ROL  DE  LA  FAMILIA,  LA 
ESCUELA Y LOS PROFESIONALES DE LA SALUD EN RELACIÓN CON LA INFORMACIÓN. 
  Los  adolescentes  y  jóvenes  tienen  mucha  información;  no  es,  por  tanto,  en  sentido  estricto,  un 
problema  de  información.  Incluso  puede  decirse  que  les  llega  demasiada  información  sexual  a  través  de  los 
amigos o amigas, Internet, medios de comunicación y productos culturales como el cine. Hace más de diez años 
                                                            
13
O conteúdo essencial deste texto pode ser encontrado de modo mais desenvolvido em Félix López (2011). Guía para el 
desarrollo de la afectividad y de la sexualidad de las personas con discapacidad intelectual. Valladolid: Junta de Castilla y 
León, Gerencia de Servicios Sociales, Conserjería de Familia y Asuntos Sociales. Puede encontrar la publicación completa en: 
http://www.jcyl.es/web/jcyl/Familia/es/Plantilla100Detalle/1246991411473/Publicacion/1284190278266/Redaccion 

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que,  con  colegas  de  diferentes  países,    hicimos  una  investigación  en  España,  Canadá  y  Francia;  en  los  tres 
países tenían una información bastante precisa de cómo evitar los riesgos asociados a la actividad sexual. 
¿Pero es esta información eficaz? La respuesta es también clara: no es eficaz en numerosos casos, de 
forma que hay, con frecuencia, una clara contradicción entre los conocimientos que tienen y su conducta. 
Y  ¿cuáles  son  lascausas  de  esta  conducta  tan  irracional?  Seguramente  muchas  y  no  tan  fáciles  de 
precisar, aunque intentaremos hacerlo en este artículo. 
Por  lo  que  se  refiere  a  los  conocimientos,  carecen  de  una  información  legitimada  por  la  familia,  la 
escuela  y  los  profesionales  de  la  salud.  Y  como  la  información  no  está  legitimada,  no  pueden  usarla 
abiertamente,  con  libertad.  La  información  que  tienen  sexual  se  oculta  a  la  familia,  a  los  educadores  y  a  los 
profesionales  y  la  usan,  por  tanto,  de  manera  furtiva  o  simplemente  no  la  tienen  en  cuenta.  También  la 
conducta  sexual  es  furtiva:  en  lugares  y  tiempos  que  se  ocultan,  en  formatos  precipitados,  con  alguna 
frecuencia bajo los efectos de alcohol, etc. 
Si  de  la  sexualidad  y  la  actividad  sexual  no  se  puede  hablar  en  familia  y  en  la  mayor  parte  de  las 
escuelas,  los  adolescentes  y  jóvenes  tienen  que  ocultar  lo  que  saben  y  lo  que  hacen.  Esto  no  favorece  la 
conducta responsable, especialmente en los más jóvenes, como indican todos los estudios. 
Si la familia no habla de estos temas abiertamente y con buena información, los hijos, especialmente 
en la primera adolescencia, no saben muy bien a qué atenerse. 
La familia debe hablar abiertamente con los hijos de estos temas y ofrecerle una primera información 
sobre ellos, a la vez que colabora con la escuela. Naturalmente que la familia tiene el derecho y el deber de 
transmitir los valores en que creen, salvo fundamentalismos, pero no debe negarle informaciones básicas a los 
hijos;  pueden  y  deben  darle  consejos,  pero  no  pueden  olvidar  que  tienen  que  prepararlos  para  que  sean 
responsables y autónomos. 
La  escuela  debe  ofrecer  una  información  sistemática  sobre  todos  los  temas  fundamentales  de 
sexualidad  (anatomía,  fisiología  sexual  y  de  la  reproducción,  afectos  sexuales  y  sociales:  deseo,  atracción, 
enamoramiento, apego, amistad y sistema de cuidados), anticoncepción, etc. En términos de valores la escuela 
puede y debe respetar los valores de la familia y cada alumno (salvo fundamentalismos) y transmitir valores 
éticos universales (como, por ejemplo: la ética del consentimiento, de la igualdad, del placer compartido, de la 
lealtad y de la salud), propuesta ética que hemos desarrollado en otras publicaciones. 
Los profesionales de la salud, en lugar de hacer objeción práctica casi generalizada, deberían incluir en 
sus entrevistas y en sus relación con los menores esta temática, en un clima de confianza, sin la presencia de 
los padres, de forma que les permitiera hablar con libertad y pedir informaciones concretas y ayudas. 
 
 
 

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2 ‐ LAS CONTRADICCIONES DE LA SOCIEDAD Y LAS CARACTERÍSTICAS DE LA ADOLESCENCIA 
Nuestra sociedad es muy contradictoria en relación a la sexualidad de los adolescentes y jóvenes:  
(a) Desde  un lado de la contradicción, se ha liberalizado la comercialización de todo tipo de productos 
con contenido sexual y se usa la sexualidad como reclamo asociado en la publicidad de numerosos productos. 
Los  contenidos  culturales  se  impregnan,  con  frecuencia,  de  sexualidad  con  el  único  objetivo  de  llamar  la 
atención, los programas de televisión inundan la pantalla de contenidos sexuales adultos muy explícitos y  se 
centran  en  los  trapos  sucios  de  las  relaciones  interpersonales  íntimas.  La  moda  propone  formas  de  vestir  y 
estar atrevidas tratando el cuerpo, especialmente el de la mujer, como un  objeto erótico, etc. 
De esta forma, los menores son incitados, excitados y hasta empujados a interesarse precozmente por 
asuntos adultos  y a tener actividad sexual. 
(b) Desde el otro lado de la contradicción, los agentes  socializadores (familia, escuela y profesionales) 
guardan  silencio,  asisten  perplejos  y  desorientados  a  este  espectáculo,  no  saben  que  hacer  y,  por  ello,  en 
muchos  casos,  se  sienten  sobrepasados  y  se  quedan  paralizados.  Todos  hablan  de  sexualidad  (los  productos 
culturales,  la  televisión,  Internet,  los  amigos,  los  medios  de  comunicación,  las  revistas,  las  publicaciones 
pornográficas,  etc.)  menos  los  que  tendrían  hablar    abiertamente,  con  informaciones  precisas  y  valores 
familiares (la familia), valores universales (la escuela y los profesionales). 
Es  así  como  hemos  pasado  de  la  represión  obsesiva,  la  prohibición  y  el  castigo  a  la  permisividad 
desorientada.  Padres,  escuela  y  profesionales  están  paralizados,  mientras  esta  sociedad  de  mercado  ha 
convertido la sexualidad en un negocio directo o en un mediador de numerosos negocios. 
En  medio,  los  adolescentes  sufren  la  contradicción  en  los  primeros  años  de  la  adolescencia  y 
adquirien, en no pocos casos, un atrevimiento irresponsable una vez se acercan a la mayoría de edad. Y esto les 
ocurre  además  en  una  edad,  que  por  razones  evolutivas  propias  de  cada  generación  adolescente,  la 
conciencia de riesgos es menor, el sentimiento de poder es mayor, la presión del grupo es muy significativa, 
el sentido de la experimentación y la aventura se acrecienta, a la vez que se ponen en cuestión las opiniones 
y consejos de los adultos. 
Por  ello,  podríamos  decir,  que  vivimos  en  una  sociedad  en  la  que  no  son  pocos  los  agentes 
socializadores que renuncian de hecho  a ayudar a los menores a vivir mejor la sexualidad. 
Con ello no queremos decir que la mayoría de las familias y todas las escuelas y profesionales lo estén 
haciendo mal y que la mayoría de los adolescentes asumen graves riesgos. La mayoría, eso dicen los estudios, 
son responsables retrasando la actividad sexual o teniendo actividades sexuales saludable. Pero sí afirmamos 
que son demasiados los que asumen riesgos graves y muchos más los desorientados, de forma que afrontar 
estos problemas  debería ser un asunto prioritario.   
 
 

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3 ‐ LOS NUEVOS MITOS SOBRE LA SEXUALIDADE 
También  los  científicos,  hijos  finalmente  de  la  misma  cultura,  han  guardado  silencio  sobre  la 
sexualidad, al menos hasta el siglo XX. Incluso durante siglos se limitaban a repetir los viejos mitos y las ideas 
sexofóbicas que han sido dominantes en nuestra cultura durante siglos. La sexualidad era considerada, antes 
que nada, un instinto peligroso que era necesario controlar. La actividad sexual era legitimada solo dentro del 
matrimonio heterosexual con el fin de procrear. Cualquier otra diversidad era etiquetada de desorden moral y 
natural.  La  masturbación,  por  poner  solo  un  ejemplo,  contra  toda  evidencia,  se  decía  que  producía  daños 
físicos y psíquicos de todo tipo. 
A  principios  del  siglo  XX,  con  los  planteamientos  de  Freud  y,  sobre  todo,  desde  mediados  de  éste 
mismo siglo, los científicos empezaron a hacer estudios que cuestionaron con éxito esa visión confesional de  la 
sexualidad. Hoy tenemos conocimientos bastante amplios sobre la sexualidad y, en general, se acepta que las 
personas pueden organizarse su vida sexual y amorosa de formas bien diversas, aún dentro de los criterios de 
salud sexual. 
Pero  estos  conocimientos  científicos,  incluso  los  más  básicos,  no  se  han  generalizado  entre  la 
población,  no  se  enseñan  en  la  escuela  y  muchos  profesionales  los  desconocen  o,  si  no  es  así,  se  sienten 
incómodos y poco formados para usarlos en su práctica profesional. La actitud predominante sigue siendo de 
miedo e incomodidad, guardando por ello, casi siempre, silencio. 
Mientras tanto, las nuevas libertades sociales, que en el mundo occidental empezaron después de La 
Segunda  Guerra  Mundial  y  en  España  en  los  últimos  años  de  la  dictadura  de  Franco  y  en  la  transición  a  la 
democracia,  han  creado  las  condiciones  para  que  se  comercialice  con  todo  tipo  de  productos  sexuales.  En 
esta sociedad de mercado en la que el valor dominante es vender y consumir, la sexualidad se ha convertido en 
un  producto  más,  presentado  de  forma  explícita  o  a  través  de  Internet,  programas  de  televisión,  productos 
culturales de todo tipo y publicaciones diversas. La publicidad recurre de forma generalizada y muy explícita, 
también a contenidos sexuales para vender todo tipo de productos. 
Industrias  específicas como  la  moda,  la  cirugía  estética,  la  cosmética,  la  alimentación,  la  salud    y  los 
cuidados  del  cuerpo  enfatizan  una  manera  de  vivir  en  la  que  resultar  atractivo  y  atractiva  sexualmente  son 
valores prioritarios. 
El estilo de vida de numerosas personas jóvenes y adultas reflejan este gusto por consumir y estar en 
le mercado de las relaciones siguiendo los nuevos cánones en relación al cuerpo y la sexualidad. 
El  mercado  y  las  revistas  de  moda  y  la  publicidad  y  buena  parte  de  la  población  han  construido  así 
nuevos  mitos  sobre  la  sexualidad,  una  vez  abandonados  y  hasta  ridiculizados  los  antiguos.  Mitos  que,  con 
frecuencia, comparten de forma más o menos explícita, algunos profesionales ya que han sido favorecidos por 
la ausencia de una adecuada formación en sexología. 

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¿Cuáles  son  estos  mitos?  No  siempre  son  fáciles  de  señalar  y  describir  porque  se  trata  de  un  pensamiento 
difuso,  que  aparece  aquí  o  allá,  de  forma  más  o  menos  explícita.  Aun  así  creemos  necesario  ser  capaces  de 
indicar  qué  ideas  se  acaban  haciendo  dominantes  en  una  sociedad,  aunque  no  se  sabe  muy  bien  quién  las 
propone  y  cómo  se  sostienen  y  cómo  se  usan.  Citaremos  algunas,  esperando  que  inciten  a  una  reflexión 
profunda y al estudio serio de lo que hoy sabemos sobre la sexualidad: 
 
a  ‐La  primera  de  ellas  es  la  creencia  en  que  “la  actividad  sexual  es  necesaria  para  la  salud”.  Reviste 
numerosas formas más o menos explícitas y suele referirse a diferentes manifestaciones sexuales.  
Según ella, por ejemplo, se puede uno encontrar publicaciones (incluso apoyadas por administraciones 
públicas) en las que en relación con la masturbación se dicen cosas como: “no te lo pierdas”, “parece lógico 
que  uno  se  conozca  a  sí  mismo  antes  de  conocer  a  otro”,  etc.  Hemos  pasado  de  de  un  viejo  mito  (“la 
masturbación es una conducta desviada que causa graves problemas) a un nuevo mito (“masturbarse es una 
condición para la salud general o sexual”). 
Coitar,  descargar  la  tensión  sexual  en  orgasmos,  fue  visto  como  una  condición  para  la  salud  por  W‐ 
Reich,  discípulo  que  siguió  al  pié  de  la  letra  al  primer  Freud.  Esta  creencia  está  hoy  bastante  extendida  en 
revistas de divulgación y se usa en la publicidad. Incluso no es raro escucharla de forma más o menos explícita 
en profesionales. De hecho es un mensaje que llega a muchas personas. Un señor de 75 años me dijo durante 
una de mis intervenciones: “No entiendo por qué tener relaciones sexuales, que antes estaba prohibido, era 
malo y pecado, desgastaba, etc., hoy es obligatorio”. 
La verdad es que la naturaleza de la sexualidad permite a los seres humanos organizar su vida sexual 
de formas muy diferentes, con o sin actividad sexual explícita, como hemos explicado tantas veces al exponer 
el  modelo  biográfico‐profesional  (López,  2005a).  Nos  ha  costado  descubrir  que  en  este  campo  podemos  ser 
más libres de lo que pensábamos en el pasado, ¿tiene sentido crear nuevas obligaciones? 
 
b ‐ La segunda afecta especialmente a los adolescentes y jóvenes. Aparece, sobre todo, en forma de 
práctica  profesional  en  bastantes  educadores  sexuales.  Consiste  en  intervenir  bajo  el  supuesto  (aunque  no 
suele  explicitarse)  de  que  “todos  los  adolescentes  y  jóvenes  tienen  o  es  conveniente  que  tengan  actividad 
sexual  (implícitamente  “coital”)”.  Algo  que  no  se  corresponde  con  la  realidad,  como  puede  verse  en  los 
estudios sobre las conductas sexuales de adolescentes y jóvenes, y que contribuye de forma directa o indirecta 
a presionarlos para que tengan actividad sexual. 
De esta manera, hemos pasado de un modelo moral que hace de la abstinencia un deber para todos 
los no casado heterosexualmente (legítimo discurso religioso, pero no modelo de educación sexual que pueda 
ser  aceptado  en  la  escuela  pública  de  un  país  no  confesional)  a  un  modelo  prescriptivo,  denominado  así 

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porque, de hecho, prescribe la actividad sexual para todos. Este modelo es peligroso, sobre todo, entre los más 
jóvenes, especialmente si va asociado el silencio y la permisividad familiar. 
¿Seremos  capaces  de  educar  en  libertad,  la  responsabilidad,  la  salud,  etc.,  dejando  de  proponer 
modelos obligatorios uniformes represivos o prescriptitos? 
 
4 ‐ LA FALTA DE FIGURAS DE APEGO ADECUADAS. LA FAMILIA EN CONFLICTO Y SILENCIOSA 
Finalmente, lo más importante de la educación sexual depende de la familia (López, 2005b). Y eso que 
llamamos “lo más importante” es ofrecer a los hijos una experiencia familiar en la que sus figuras de apego  se 
tratan con respeto, saben afrontar los conflictos y tienen una buena relación amorosa, a la vez, claro está, que 
son cuidadores adecuados de sus hijos. 
Varios aspectos, por tanto, son nucleares en la experiencia familiar: 
(a) Tener modelos de cuidadores que sepan tratarse bien, no solo evitar el maltrato, respetarse,  
cuidarse mutuamente y transmitir de una u otra forma que las relaciones amorosas valen la pena, son un valor 
fundamental, y pueden salir bien. Uno de los peligros actuales es que los menores de edad adquieran la idea de 
que las relaciones amorosas son conflictivas y no valen la pena. 
En el caso de que haya conflictos, que sepan afrontarlos y, si llegarán a separarse, lo hagan de mutuo 
acuerdo, cuidando el hacer sufrir a los hijos lo menos posible, sabiendo que no se separan de los hijos y que 
deben  seguir  colaborando  en  sus  cuidados.  En  una  publicación  muy  reciente  nos  ocupado  de  este  tema 
analizando los errores que se cometen y proponiendo cómo deben comportarse los padres en un proceso de 
separación (López, 2010).  

(b) Recibir  los  cuidados  esenciales.  Entre  ellos,  los  que  más  tienen  que  ver  con  la  educación 
sexual son: 
• Aceptar  a  los  hijos  incondicionalmente  de  forma  que  se  sientan  seguros,  sabiendo  que  sus 
padres  no  les van  a  fallar.  Aprenden  así  que  existen  las  relaciones  seguras  y  adquieren  una 
confianza básica fundamental en el ser humano y su capacidad de amar. 
• Estimar  a los hijos, para que se sientan valiosos, dignos de ser amados. 
• Interactuar  con  ellos  de  forma  íntima,  para  que  aprendan  a  usar  y  disfrutar  el  código  de  la 
intimidad (mirar y ser mirados, acariciar y ser acariciados, compartir el espacio de intimidad, 
expresar, entender y compartir emociones, etc.), tan importante en las relaciones amorosas 
adultas. 
• Ofrecerle  informaciones  básicas  sobre  sexualidad  respondiendo  a  sus  preguntas  de  forma 
abierta, hablando positivamente de las relaciones amorosas, haciendo una prevención básica 

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de  los  riesgos  sexuales  (abusos  sexuales,  embarazo  no  deseado,  etc)  y  colaborando  con  la 
escuela. 
 
La familia es el agente socializador más importante, también en todo lo que se refiere a las relaciones 
sexuales  y  amorosas.  Es  fundamental  que  los  padres  se  comuniquen  abiertamente  con  los  hijos  sobre  estos 
temas,  pero  lo  es  más  que  la  familia  sea  un  lugar  donde  un  grupo  de  personas  se  protegen,  se  apoyan  y  se 
quieren. Y donde, específicamente, se vida la experiencia de que los adultos emparejados se respetan, tratan 
con igualdad y se quieren. 
Es así como en la familia se adquieren dos cosas fundamentales que solo las figuras de apego pueden 
ofrecer:  la  confianza‐certeza  básica  que  los  seres  humanos  saben  tratarse  bien  y  quererse,  por  un  lado,  y  el 
código de  comunicación  necesario  a  toda  relación  íntima  (entre  padres  e  hijos  o  entre  los  miembros  de  una 
pareja sexual y amorosa). 
 
5 ‐ LA FALTA DE UNA VERDADERA EDUCACIÓN SEXUAL EN LA ESCUELA 
La  historia  de la  educación  sexual  en  la  escuela  española  es  la  historia  de  un  fracaso.  Las  diferentes 
propuestas  de  los  gobiernos  sobre  este  tema  han  sido  retóricas,  no  garantizando  una  verdadera  educación 
sexual en las escuelas. Solo en algunos centros muy concretos y, con frecuencia, fuera del horario escolar, se ha 
hecho una cierta educación sexual. 
En  otro  lugar  hemos  hecho  una  valoración  crítica  de  las  propuestas  del  gobierno  y  la  realidad  de  la 
educación sexual en España (López, 2005a). Los dos problemas mayores son que se han limitado a proponer la 
educación sexual como un contenido transversal y que no han formado a los educadores en este campo. Por 
ello, si la responsabilidad es de todos los profesores y de ninguno en concreto y, además, no se les forma para 
ello, el resultado no podía ser otro que un fracaso. 
La  última  propuesta  de  una  materia  de  educación  para  la  ciudadanía  no  solo  es  contraria  a  la 
propuesta  general  de  contenidos  transversales  (¿por  qué  la  educación  en  la  ciudadanía  no  es  un  contenido 
transversal?), cayendo en una contradicción evidente, sino que al incluir en ella la educación sexual reconocen 
el  fracaso  de  la  propuesta  transversal  general  aun  vigente.  Por  cierto,  esta  propuesta  de  educación  para  la 
ciudadanía también la hemoscriticado en otra publicación con más detalle (López, 2009b). 
¿Qué debería hacer la escuela?  
En  primer  lugar,  formar  a  los  educadores,  al  menos  a  algunos  de  ellos  de  cada  centro,  para  que 
puedan hacer educación sexual de forma específica. 
En segundo lugar, elaborar o adaptar programas de educación sexual para cada uno de los ciclos. 
En  tercer  lugar,  asignar  tiempos  específicos,  recursos  y  dedicación  de  algunos  profesores  para  este 
trabajo. Crear un área de Calidad de Vida, de Salud o de Promoción del Bienestar, con una hora de dedicación 

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semanal para todo aquello que la escuela puede hacer explícitamente con la educación formal para ayudar a 
los ciudadanos a vivir mejor,  es lo que hemos propuesto, siguiendo el modelo de algunos países. Desde este 
espacio se puede colaborar con las familias, los sanitarios y conseguir influir transversalmente todo el currículo 
educativo sobre contenidos como la salud, la sexualidad, el consumo, la ecología, la educación social, etc. 
En cuarto lugar, cuidar el currículo oculto escolar de forma que los valores asociados a la educación 
sexual  impregnen,  de  ésta  forma  sí,  transversalmente  la  vida  escolar.  La  colaboración  de  todo  el  equipo 
educativo sí es fundamental para cubrir este objetivo. 
De  esta  forma,  se  conseguiría  que  la  escuela  cumpliera  su  función  esencial  en  educación  sexual: 
ofrecer  conocimientos  profesionales,  programados  y  secuenciados,  sobre  la  sexualidad.  Aquellos 
conocimientos  que  son  esenciales  para  vivir  bien  la  sexualidad  y  evitar  los  problemas  asociados  a  las 
actividades  sexuales  de  riesgo.  Estos  conocimientos  deben  incluir  entre  otros  contenidos  los  siguientes: 
anatomía  básica,  fisiología  de  la  respuesta  sexual  humana  y  de  la  reproducción,  identidad  sexual  y  género, 
orientación del deseo, afectos sexuales (deseo, atracción y enamoramiento) y afectos sociales (apego, amistad 
y  sistemas  de  cuidado),  tipos  de  parejas  y  familias,  anticoncepción,  etc.  Una  propuesta  específica  de  estos 
contenidos, por ciclos, puede encontrarse en López (2005a). 
A estos contenidos hay que añadir la transmisión de una serie de valores éticos universales (ética del 
consentimiento,  ética  de  la  igualdad  entre  sexos,  ética  del  placer  compartido,  ética  de  la  lealtad,  ética  de  la 
salud, etc.), compatibles con un sistema social democrático no confesional y la diversidad sexual saludable. 
Nuestra  propuesta  es  aplicar  un  modelo  biográfico  y  profesional  que  respete  el  derecho  de  las 
personas  a organizar su vida sexual y amorosa y el derecho de las familias a transmitir los creencias y valores 
que consideren adecuados, a la vez que la educación sexual escolar (basada en conocimientos profesionales y 
valores universales) se considera un derecho de los menores que no puede ser cercenado por la familia. A lo 
largo de los años hemos conseguido que ésta propuesta no resulte conflictiva a creyentes o no creyentes, a las 
personas  conservadoras  o  a  las  personas  liberales.  Nos  alejamos  así  de  forma  muy  clara  de  los  modelos 
religiosos  que  defiende  “la  abstinencia  para  toda  persona  que  no  éste  casada  heterosexualmente” (esto  nos 
parece  una  propuesta  religiosa  muy  respetable,  que  puede  hacerse  desde  la  iglesia  o  la  familia,  pero  no  un 
modelo de educación sexual en la escuela aceptable en un país no confesional) y de los modelos prescriptivos 
que de una forma explícita o implícita trabajan con la idea de que todos los adolescentes tienen o van a tener y 
es conveniente que tengan actividad sexual, sin excluir el coito. 
En  definitiva,  creemos  que  la  naturaleza  humana  nos  permite  tomar  decisiones  sobre  nuestra  vida  sexual  y 
amorosa,  en  eso  nos  distinguimos  de  la  mayor  parte  de  las  especies,  y  que,  por  tanto,  caben  una  gran 
diversidad de formas de vivir la sexualidad. Promocionar que las personas puedan ser lo más libres posibles, a 
la  vez  que  responsables,  es  lo  fundamental.  Por  ello  concedemos  gran  importancia  a  los  conocimientos  y  la 

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ética de las relaciones amorosas. Los conocimientos y éstos valores, antes solo citados, ayudan a fomentar el 
bienestar personal y social, a la vez que permiten una gran diversidad de biografías sexuales y amorosas.  
Para  ello,  la  escuela  debe  colaborar  con  la  familia,  respetando  el  rol  de  cada  agente  socializador, 
siendo concientes de que finalmente se trata de preparar al cada niño y niña para que sepa tomar decisiones 
de  forma  responsable  en  el  campo  de  la  sexualidad,  concediéndole,  a  medida  que  avance  su  edad,  mayor 
autonomía. La educación finalmente debe intentar que las personas acaben siendo autónomas, libres, éticas y 
responsables de sus actos, entendiendo que de lo que se trata es de facilitarles aprendizajes para la vida que 
les eviten errores y las faciliten aciertos que les hagan más felices. 
 
6 ‐ LA FALTA DE IMPLICACIÓN DE LOS PROFESIONALES DE LA SALUD 
Los profesionales de la salud, especialmente los médicos de familia y todo el personal de los centros 
de  salud,  así  como  los  pediatras,  ginecólogos,  etc.,  salvo  un  grupo  muy  minoritario,  no  se  han  involucrado 
nunca  en  la  prevención  y  asistencia  en  relación  con  los  riesgos  asociados  a  las  prácticas  sexuales  de  riesgo. 
Menos aún en la ayuda para que vivan mejor la sexualidad, desde un enfoque positivo. 
Los  riesgos  consumados  los  ha  derivado  el  gobierno  a  clínicas  privadas  (caso  del  aborto)  y  la 
anticoncepción  de  emergencia  (píldora  del  día  después)  a  las  farmacias,  llegando  a  legislar  que  los  menores 
puedan  comprar  sin  receta  anticonceptivos  de  emergencia  e  incluso  abortar  sin  conocimiento  de  la  familia 
cuando la menor aduce problemas familiares. Tal manera de proceder expresa muy bien como los gobernantes 
tiran  por  la  calle  del  medio,  sin  afrontar  los  problemas,  promoviendo  que  familiares  y  sanitarios  se 
desentiendan de los temas relacionados con la sexualidad de los menores. 
Los  sanitarios  deberían  colaborar  con  la  familia  y  la  escuela  en  la  prevención  de  riesgos  y  el  la 
transmisión de conocimientos sexuales profesionales, abrir consultas específicas para adolescentes y jóvenes y 
tener  entrevistas  confidenciales  (sin  la  presencia  de  los  padres)  en  las  que  dentro  de  los  temas  de  salud  se 
ofrecieran informaciones y ayudas en este campo. En este caso, no se trata de alejar a los hijos de la familia, 
sino de crear un clima profesional de confianza, que los propios padres aceptan muy bien cuando se les explica 
el  sentido,  en  el  que  los  adolescentes  y  jóvenes  tenga  la  oportunidad  de  hablar  y  ser  ayudados  por  un 
profesional de la salud. 
Los programas comunitarios de prevención (con alternativas de vida y ocio saludables) en los que, por 
barrios o distritos de salud, los educadores, los profesionales de la salud y las familias colaboran pera prevenir 
los riesgos que amenazan la salud sexual y la salud en general (por ejemplo, el consumo de alcohol y tabaco u 
otras drogas, los accidentes de tráfico, etc.) es la propuesta más global y adecuada que deberíamos hacer para 
conseguir que adolescentes y jóvenes tengan un estilote vida saludable en todos los campos.  

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Sabemos, por tanto, lo que hay que hacer y cómo llevarlo a cabo, falta una verdadera conciencia social 
de lo que nos jugamos con este tema y una respuesta adecuada de las familias, la escuela y los profesionales de 
la  salud.  Para  ello  es  fundamental  que  los  políticos  se  tomen  en  serio  la  salud  de  nuestros  adolescentes  y 
jóvenes, cosa que no ha hecho ningún gobierno desde la transición. 

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EDUCAR A SEXUALIDADE OU EDUCAR PARA A SEXUALIDADE 
 
Daniel Serrão, 
 UCP‐Porto 
 
1.  Permitam‐me  que  escreva  um  texto  pessoal,  pouco  académico  e  com  a  intenção  de  ser 
comunicativo e concreto mais do que hermético e abstrato. 
Eu sei que, na esteira de Bernhard Fraling, a sexualidade humana pode ser analisada na perspetiva da 
antropologia filosófica e numa vertente predominantemente psicológica. 
E  logo  vem  à  colação  a  riquíssima  e  abrangente  concetualização  de  Sigmund  Freud  que,  ao  criar  o 
conceito de libido, intuiu que os seres humanos têm uma “pulsão” interior para o que lhes é exterior. O objeto 
escolhido  e  procurado  para  a  satisfação  deste  impulso,  deste  movimento  pessoal  para  um  outro,  pode  ser 
parte  do  mundo  natural,  inerte  e  cósmico,  pode  estar  no  mundo  vivo,  vegetal  ou  animal,  ou  pertencer  à 
categoria dos humanos. 
A procura deste objeto é o exercício da libido; e o seu achado e disfrute gera prazer pessoal. 
A libido, como impulso interior, nasce na pessoa, como um todo, tem um objecto definido e procurado 
e busca como fim a satisfação ou felicidade da pessoa. 
Já  Freud,  mas  especialmente  os  seus  discípulos  e  os  psicólogos  que  dele  divergem  não  reduzem  a 
libido à simples procura de prazer genital, nem consideram que a sexualidade humana se exprime apenas pela 
genitalidade e pelo prazer orgásmico. 
Temos de ter em conta, nesta brevíssima síntese da conceção freudiana, que Freud partiu da patologia 
sexual observada nos doentes psíquicos que o consultavam na sua clínica de Viena, para construir uma teoria 
causal das neuroses que tivesse capacidade explicativa e fundamentasse uma intervenção terapêutica. 
A descoberta, genial, de que o trabalho da libido na definição e busca do objeto sexual, o dito impulso, 
aconteceria, em grande parte, fora do controlo da consciência percetiva – e, até, podendo por esta, ser negado 
ou repudiado – está já amplamente confirmado pela moderna neurobiologia14. 
Analogicamente,  Freud  referia‐se  à  libido  como  uma  “energia”  psíquica;  os  neurocientistas 
atuaisexplicam  que  é  uma  “energia”  eletroquímica  que  percorre  as  redes  neuronais  e  se  manifesta 
quimicamente, nas sinapses. Em termos coloquiais, os jovens dizem que “é uma questão de adrenalina”. Não é 
rigoroso  atribuir  o  impulso  libidinoso  apenas  à  adrenalina  mas  serve  como  imagem  para  a  atual  explicação 
neurobiológica do conceito freudiano de libido. 

75 
 
Sei tudo isto mas reconheço que o que devemos a Freud está adquirido e atrevo‐me a resumir este 
adquirido  numa  frase  apenas:  a  sexualidade  é  uma  estrutura constitutiva  do  ser humano  e  manifesta‐se  nos 
quatro níveis principais da realização humana que são o corporal (biológico), o mental (cerebral), o espiritual 
(transcendente) e o cultural (social). 
A sexualidade não cabe, apenas, numa antropologia biológica porque ela invade a neurobiologia das 
emoções,  a  complexa  dinâmica  do  amor  humano  e  todos  os  aspetos  culturais  das  sociedades  humanas  que 
incluem a moralidade pública e a religiosidade.  
 
2. Haverá na sexualidade um lugar para a educação? 
É claro que há um lugar e importantíssimo. 
Vou distinguir entre educar a sexualidade e educar para a sexualidade. 
Educar  a  sexualidade  é  uma  tarefa  predominantemente  pessoal  e  configura  uma  responsabilidade 
autónoma. 
Cada  um  a  faz;  e  pode  fazê‐lo  bem  ou  mal.  Como  acontece  em  tantos  outros  aspetos  do 
desenvolvimento individual. 
Esta  educação  começa,  como  assinala  Freud,  e  bem,  pelo  reconhecimento  das  zonas  erógenas  do 
corpo, primeiro inconsciente, como o presumível prazer do nascituro que se amamenta e, depois, consciente 
no conhecimento dos órgãos sexuais individuais. 
Este  conhecimento  está,  em  regra,  completado  no  final  da  adolescência,  mais  cedo  na  rapariga,  um 
pouco mais tardio no rapaz. 
Com  ele  fica  construída  a  identidade  do  sexo  corporal  que,  por  força  da  programação  genética 
executada pelos cromossomas, divide os seres humanos em duas identidades corporais, uma masculina, outra 
feminina. 
Embora  o  conhecimento,  pelo  indivíduo,  da  morfologia  do  que  chamamos  carateres  sexuais 
secundários  seja  fácil  e  evidente,  pela  simples  observação,  a  sua  fisiologia  terá  de  ser  aprendida  pela  leitura 
e/ou por comunicação oral.  
Completada  esta  fase  de  conhecimento  do  próprio  corpo  como  corpo  sexuado  falta  saber  como,  a 
partir dele, cada um constrói a sua identidade sexual. E como, a partir desta identidade,  escolhe o objeto de 
desejo sexual corporal. 
                                                                                                                                                                                          
14
Não  tenho  dúvidas  de  que  se  esta  confirmação  do  inconsciente  como  um  estado  psíquico  mas  com  um  correlato 
morfológico e funcional no cérebro humano, tivesse sido provada em vida de Freud ele teria recebido um Prémio Nobel. 
Dizem alguns biógrafos que ele acalentou a esperança de o receber durante toda a sua vida.

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Se aceitarmos, como faz Clara Costa Oliveira, que, no interior de uma doutrina autopoiética, é muito 
difícil  atingir  um  conhecimento  isento  de  contaminações  subjetivas,  quando  o  observador  faz  parte  do  que 
fenomenologicamente observa, a dificuldade é manifesta. 
Neste  processo,  a  pessoa  observa  os  seus  próprios  órgãos  sexuais  secundários  e  atribui‐lhes  um 
sentido que o putativo educador externo não conhece, à partida, e que dificilmente conhecerá mesmo que se 
envolva num processo de educação da sexualidade do outro. 
A  educação  da  sexualidade  de  cada  um  por  cada  um  é um  processo que  cabe  no  conceito  de  auto‐
organização bem analisado por Clara Costa Oliveira. Como acentua esta especialista de educação para a saúde 
“A aprendizagem ocorre usualmente em processos dinâmicos nos quais os seres vivos são agentes e não atores 
passivos de informação externa a si próprios”. 
O  desconhecimento  do  sentido  ou  significância  que  o  sujeito  individual  atribui  ao  conhecimento 
progressivo das formas e das funções dos seus carateres sexuais secundários deixa‐nos sem uma metodologia 
adequada para a criação de um modelo didático de ensino/aprendizagem. 
Cristina Sá Carvalho, autora de um Guia para Professores em Educação da Sexualidade, livro que, no 
Prefácio  que  para  ele  escrevi,  considerei  “Necessário  e  Oportuno”,  propõe  como  método  didático  os 
Professores responderem às perguntas dos alunos e alunas, tendo na devida conta os fatores pessoais e sociais 
que tornam muito diferente os sentidos e significâncias que o jovem atribui ao conhecimento direto dos seus 
carateres sexuais secundários. 
O segundo passo na educação da sexualidade pessoal por iniciativa do sujeito individual é a escolha de 
um objeto sexual para que seja atingido um fim que é a felicidade e o prazer. 
Se  o  objeto  sexual  é  o  corpo  próprio  sexuado  desenvolve‐se  a  atividade  masturbatória  com  a 
manipulação dos órgãos genitais externos dirigida à finalidade da obtenção do prazer. 
O  prazer  é  um  resultado  complexo  que  tem  graus  diversos  e  que  se  exprime  nos  vários  níveis  de 
resposta cérebro‐motora aos estímulos externos. 
Como um orgasmo, apenas sensório‐motor, manifesta‐se em todos os animais pertencentes à espécie 
gonocórica, ou seja, com duas formas corporais, uma masculina outra feminina, e é promotor da união genital 
em ordem à procriação e conservação da espécie. 
Ao lado da memória biológica da compensação positiva resultante do coito, e que motiva a repetição, 
devemos ter em conta a multiplicidade de estratégias corporais eróticas desenvolvidas por machos e fêmeas 
para  provocarem  o  encontro  corporal  e  genital.  O  catálogo  é  extenso  em  todas  as  espécies,  umas  usando  o 
sentido visual – cores, formas, movimentos, posturas, etc. – outras, o sentido auditivo – os cantos nupciais, os 
sons prolongados do cio, etc. – e, em muitas, o sentido olfativo estimulado pelas feromonas. 

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Na espécie humana todos estes erotismos estão ativos – visual, auditivo, e olfativo – e porque é um 
animal sem penas e com poucos pelos fora das áreas genitais deve acrescentar‐se a erotização do contacto da 
pele e das mucosas de transição (lábios, língua, ânus e vulva). 
A  autoeducação  da  sexualidade  desenvolve‐se  a  partir  da  adolescência  com  a  prática  destas 
estratégias de sedução que passam pela exibição visual do corpo próprio ao outro, do mesmo sexo ou de sexo 
diferente, pelo contacto entre os corpos, pelo contacto dos genitais até ao coito completo. 
Esta evolução, que hoje é cada vez mais rápida a avaliar pelos inquéritos aos comportamentos sexuais 
dos  jovens  no  Ensino  Secundário,  sendo  na  sua  raiz  e  na  sua  finalidade,  uma  educação  pessoal  que  conduz, 
mais ou menos conscientemente, a uma decisão, dá espaço e tempo para a segunda educação que referi como 
educação para a sexualidade. 
Educar para a sexualidade é preparar a pessoa para decidir sobre os seus comportamentos sexuais. 
Não se trata, agora, de sexualidade em perspetiva individual mas em perspetiva dialogal – um eu e um 
outro que avançam para um cruzamento de sexualidades individuais. 
A tónica que proponho nesta edução para a sexualidade, entre muitas outras possíveis, mais abstratas 
ou mais concretas, é a tónica da educação para a saúde sexual. 
Porquê? 
Porque  ter  saúde,  viver  com  saúde  é  um  objetivo  comum  a  todos  nós  e  manifesta‐se  já  na 
adolescência. 
Fala‐se, hoje, cada vez mais, por causa da tragédia do síndroma metabólico ou obesidade patológica, 
na  necessidade  de  iniciar  muito  cedo,  pelos  10‐12  anos,  um  programa  escolar  de  educação  para  a  saúde 
nutritiva. 
Sem querer invocar outra vez Freud, que usou a fome como causa do impulso libidinoso do prazer de 
comer, direi que o impulso para a sexualidade deve ser visto pelos sujeitos como um caminho para a saúde e 
não para a doença. 
Temos aqui um vasto campo para a intervenção educativa. 
É preciso conseguir que os jovens percebam e interiorizem que os contactos sexuais não são apenas 
fomentadores da alegria do prazer dado e recebido. 
Podem  ser  causa  de  doenças  muito  graves,  algumas  das  quais,  como  a  papilomatose  vírica,  podem 
destruir a possibilidade de usar os órgãos genitais. Podem transmitir a sífilis, a gonorreia, a doença de Nicolas‐
Favre. Podem ser a causa de hepatite com evolução para a cirrose hepática e o cancro. E podem ser o meio de 
se  infetarem  com  o  vírus  da  SIDA,  até  há  pouco  uma  doença  mortal,  hoje,  uma  doença  crónica  muito 
incapacitante. 
É preciso falar abertamente aos jovens que já fizeram a educação da sua sexualidade, que a prática 
sexual tem de ter regras bem conhecidas e respeitadas. 

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A  primeira  é  a  de  que  o  sexo  promíscuo,  que  não  é  apenas  o  da  prostituição  e  pode  ser  até  o  de 
colegas  da  Escola,  é,  por  princípio,  um  sexo  sujo  e  perigoso.  E  que  a  única  atitude  inteligente  e  sensata  é  a 
proteção defensiva. 
Idealmente,  a  melhor  proteção  é  a  abstinência  de  coitos  ocasionais,  até  que,  o  mais  cedo  possível, 
inaugurem uma vida a dois, monogâmica e mutuamente fiel. 
Esta  é  a  sexualidade  limpa,  descontraída,  feliz  e,  principalmente,  é  uma  sexualidade  saudável  e 
promotora de saúde. 
Na  vida  moderna,  ou  já  pós‐moderna,  em  que  parece  predominar  um  egocentrismo  ou  egotismo 
dominante e tudo na vida pessoal se orienta para o princípio do prazer, esta proposta pode parecer absurda e 
votada ao fracasso. 
Mas não é verdade. 
Muitos milhões de jovens em todo o mundo, até em África, estão a perceber que o pequeno prejuízo 
de  terem  de  esperar  algum  tempo  até  iniciarem  uma  vida  conjugal  sexualmente  muito  rica,  segura  e 
compensadora, vale bem a pena. 
Esta opção assumida livremente pelos jovens resultou numa diminuição significativa de novos casos de 
SIDA nas mulheres jovens e nos seus companheiros, num país africano e em algumas regiões do Brasil, o que 
não  foi  conseguido  com  a  livre  e  intensiva  distribuição  de  preservativos;  o  preservativo  passa  a  dupla 
mensagem de sexo limpo e de sexo promíscuo que é sempre sexo sujo, que mantém a propagação do vírus HIV 
em todas as relações – e são muitas – em que o preservativo não é usado ou não funciona como barreira eficaz 
à transmissão do vírus. 
Limpar o mundo da tragédia da SIDA só se conseguirá quando se limpar a sexualidade. 
Não é saúde sexual a gravidez em adolescentes. 
Em Portugal, apesar da distribuição gratuita da pílula inibidora da ovulação e do preservativo, temos 
um número elevado  de gravidezes em adolescentes, o que deixa espaço para a promoção de abstinência de 
relações  sexuais  completas  antes  da  idade  própria  e  antes  do  desenvolvimento  físico  capaz  para  o  corpo 
suportar uma gravidez. 
Mas  se  a  jovem,  quando  foi  fazendo  a  educação  da  sua  sexualidade  decidiu  que  não  usaria  a  sua 
sexualidade para engravidar, então tem o dever ético de inibir a sua ovulação porque o preservativo não dá 
proteção absoluta. 
Do meu ponto de vista pessoal, para quem não opte pela abstinência durante a adolescência, todas as 
medidas  anticoncecionais  são  eticamente  mais  apropriadas  que  a  brutalidade  do  abortamento  em  que  uma 
nova vida humana é arbitrariamente destruída. 
 

79 
 
3. O último ponto que quero comentar neste texto que pretendo mais de comunicação pessoal que de 
reflexão académica, diz respeito a quem deverá fazer a educação para a sexualidade. 
Sempre se coloca, em primeiro lugar, a família: 
Mas qual família? 
A família nuclear – pai, mãe, filhos? 
A família alargada – avós, tios, primos? 
A família social – parentes afastados, amigos íntimos? 
E se a família é monoparental? 
E se a família é recomposta após divórcio, com um dos membros que não é pai ou mãe dos filhos que 
é suposto serem educados na família? 
E se a família é má, disfuncional, violenta e alcoólica? 
E se a família, além de disfuncional, é sexualmente perversa? 
Não  proponho  interrogações  abstratas,  refiro  situações  concretas  identificadas  no  nosso  país  pelos 
Tribunais  de  Menores  e  objetivadas  pelas  centenas  de  crianças  entregues,  diria  melhor,  abandonadas,  em 
Instituições  desadequadas  nalgumas  das  quais  predominam  sexualidades  perversas  (lembro  entre  muitos 
casos, a morte do infeliz travesti por jovens adolescentes que estavam numa dessas Instituições), e das muitas 
centenas entregues a famílias de acolhimento que recebem algum dinheiro por este serviço  e que pode ser 
péssimo para o desenvolvimento das crianças. 
Mas  vou  admitir,  com  estas  reservas,  que  uma  família  sexualmente  saudável  pode  educar  os  seus 
membros  jovens  para  uma  sexualidade  saudável.  Mas  se  numa  destas  famílias  que  vivem  uma  sexualidade 
(aparentemente)  perfeita  surge  um  caso  de  gravidez  na  filha  adolescente  ou  de  seropositividade  no  filho 
jovem, alguma coisa correu muito mal. 
E  pode  ter  sido  nas  condições  exteriores  com  as  quais  e  pelas  quais  o jovem  fez  a  educação da  sua 
sexualidade pessoal ou das ações diretas e indiretas com as quais a família pretendeu educar o seu membro 
jovem para a sexualidade. 
Se a família se assume como a educadora dos seus membros jovens para o exercício da sexualidade 
tem  de  fazer  uma  preparação  adequada  e  em  tempo  oportuno,  ou  seja,  antes  de  surgirem  os  problemas 
comportamentais15. 
A segunda estrutura apontada como educadora em matéria sexual é a Escola Secundária. 
                                                            
15
 Penso que o livro já referido de Cristina Sá Carvalho, destinado a Professores, pode ser um auxiliar precioso para os Pais 
que  queiram  fazer  com  seriedade,  competência  e  tempo  a  educação  dos  seus  filhos  para  a  sexualidade.  Sem  tabus  nem 
mentiras para não terem surpresas. 

80
 
Arriscando‐me  a  ser  excomungado  pelos  defensores  do  que  chamam  educação  sexual  nas  Escolas 
atrevo‐me a dizer que não consigo vislumbrar uma instituição mais desadequada para esta tarefa que a Escola 
Secundária. 
Vou argumentar. 
Como educador da sexualidade individual é inútil pois é o jovem que se encarrega pessoalmente de tal 
tarefa. 
É ele que se descobre, progressivamente, como corpo sexuado, ; é ele que vive o enamoramento à sua 
maneira ; é ele  que evolui no tempo, modificando‐se ao sabor das circunstâncias. 
Que vão ensinar os Professores? 
Dizer às meninas que vão perder algum sangue pela vagina todos os meses. 
Explicar aos rapazes que a ereção peniana é coisa boa; ou ensinar rapazes e raparigas adolescentes a 
masturbarem‐se? 
Já houve quem, no nosso sistema educativo, o propusesse com base na má atitude educativa dos Pais 
que escondiam estas “verdades” aos seus filhos e os proibiam de falar de sexo em casa. 
Tudo  isto  é  ridículo  e  só  passa  pela  cabeça  de  quem  não  tenha  contacto  com  os  jovens  fora  do 
ambiente escolar e do espaço familiar. 
Sobre genitalidade os jovens não têm hoje nenhuma ignorância. 
Os  grandes  educadores  da  sexualidade  são  os  jovens,  com  o  apoio  permanente  e  diversificado  de 
jornais,  revistas,  filmes,  vídeos,  programas  de  televisão,  redes  sociais  e  outros  meios  de  transmissão  de 
conhecimento. 
As  jovens  adolescentes  enviam  constantemente  aos  rapazes  fotos  em  poses  sexy  que  eles  se 
encarregam  de  divulgar  com  comentários  que  vão  do  jocoso  ao  obsceno,  consoante  a  fase  em  que  se 
encontrem da educação da sua sexualidade. 
É  no  ecrã do  computador  ou  do  telemóvel que nasce  o  impulso  sexual  e  a  libido  é,  essencialmente, 
internética. 
Deixem a Escola em paz e fora de qualquer tarefa de educação da sexualidade. 
Mas a Escola pode e deve fazer educação para a sexualidade. 
Desde  logo  informando,  em  abstrato,  dos  riscos  e  dos  benefícios  de  uma  sexualidade  saudável,  em 
geral e para todos os alunos de uma turma, de ambos os sexos. 
Porque este ensinamento não se dirige à sexualidade individual de nenhum aluno mas à prática sexual 
como um comportamento próprio dos seres humanos e que é estruturante da sua natureza de seres sexuados. 
E,  porque  a  Escola  é  o  espaço  privilegiado  de  socialização  dos  jovens  pela  via  do  enamoramento, 
poderá educar para os afetos e para o amor. 
Mas esta atividade educativa passa por dois pressupostos que são radicais. 

81 
 
O  primeiro  é  que  o  docente  que  vai  dedicar‐se  a  esta  atividade  tenha  conhecimentos  seguros  e 
corretos  de  psicologia  da  comunicação  entre  um  adulto  e  um  jovem,  no  mundo  atual.  E  que  esse  docente 
tenha,  ele  próprio,  uma  sexualidade pessoal  bem  equilibrada  e tranquila.  Um  docente  com uma sexualidade 
pessoal perturbada não deverá ser educador dos jovens para as emoções afetivas e amorosas, pois há o risco 
de  que  projete,  sobre  o  educando,  as  suas  dificuldades  pessoais,  as  suas  angústias  e,  eventualmente,  as 
perversões sexuais de que padeça. 
O  segundo  pressuposto,  que  é  complicado  face  à  atual  organização  didática  muito  esquemática  e 
rígida, é que esta atividade educativa tem de ser feita individualmente ou para um grupo pequeno, homogéneo 
e que manifeste interesse no diálogo conjunto. Esta atividade deve ser um serviço que se oferece e não uma 
disciplina  que se  impõe  e  o  ideal  é  que  a  sua  organização  e  desenvolvimento  fique  a  cargo de  um Psicólogo 
Clínico que deverá existir em todos os Estabelecimentos de Ensino Secundário. 
Dadas  as  muitas  situações  de  patologia  da  sexualidade  que  ocorrem  nestas  idades  da  adolescência, 
muitas delas criadas por famílias disfuncionais, a consulta de Psicologia Clínica é um equipamento escolar tão 
importante como o microscópio nas salas de biologia. 
Na  falta  destas  condições,  impor  às  Escolas  o  ensino  da  sexualidade  e  para  a  sexualidade  é  um 
absurdo que cria aos Professores dificuldades insuperáveis e perturba mais do que ajuda os jovens que, nesta 
idade, se abrem, nos planos biológico natural, psicológico e social, para uma sexualidade que todos desejamos 
segura, saudável e gratificante. 
 
BIBLIOGRAFIA 
Carvalho,  Cristina  Sá.  (2008).  Educação  da  Sexualidade.  Lisboa:  Fundação  Secretariado  Nacional  da 
Educação Cristã.  
Fraling, Bernhard. Ética Sexual. Gráfica de Coimbra 2 – Publicações, Lda. 
Oliveira,  Clara  Costa.  (1993).  A  autopoiesis  e  a  fundamentação  das  Ciências  Humanas.  Revista  de 
Educação Vol. III, nº 2 
Oliveira, Clara Costa. (2004). Auto‐organização, Educação e Saúde. Coimbra: Ariadne Editora. 
Serrão, Daniel. A magia e os labirintos da sexualidade, em www.danielserrão.com/gcal?id=96 
 
 

82
 
LA EDUCACIÓN SEXISTA DE LOS VIDEOJUEGOS EN EL ÁMBITO ESCOLAR Y SOCIAL 
 
     Enrique J. Díez Gutiérrez, 
Universidad de León 
 
Mientras que sexo  se  refiere  a  las diferencias  biológicas, género  alude a  las  diferencias  psicológicas, 
sociales  y  culturales  entre  los  hombres  y  las  mujeres.  Las  diferencias  en  el  comportamiento  de  hombres  y 
mujeres se desarrollan principalmente mediante el aprendizaje social de las identidades femenina y masculina. 
Los  videojuegos  contribuyen  de  una  forma  inconsciente  a  este  aprendizaje  temprano  de  la  diferenciación 
sexual en función del género. Un aprendizaje social que parece que consolida la cultura patriarcal. 
Nos  estamos  socializando  en  unos  valores  que  impregnan  de  manera  subliminal  el  inconsciente 
colectivo de nuestra sociedad y nuestra escuela. Valores ligados a la cultura patriarcal que legitima el dominio 
masculino, la violencia como estrategia de relación y sumisión, la competitividad y el triunfo sobre los demás 
como finalidad, el menosprecio hacia los débiles, el sexismo, etc. Esta asunción de la cultura patriarcal ligada a 
la violencia es un fenómeno estructural al que Galtung denomina ‘violencia cultural’ y que se transmite oculta 
en el proceso de socialización. 
Por eso hemos querido analizar los mecanismos que generan la violencia, las estructuras organizativas 
que  la  perpetúan  y  la  profundizan,  los  sistemas  sociales  que  la  alientan.  Parece  que  hay  un  acuerdo 
inconsciente entre los investigadores e investigadoras de este fenómeno para reducir o limitar el fenómeno de 
la violencia de género a la dimensión personal y al caso individual, olvidando las claves sociales, mediáticas e 
institucionales  que  han  creado  un  mundo  y  una  sociedad  tan  violenta  como  la  que  vivimos,  y  en  la  que  las 
personas jóvenes se convierten en receptores y consumidores de esa violencia que terminan reproduciendo en 
sus esquemas de comprensión de la realidad, en sus comportamientos y en sus pautas de relación. 
Consideramos  que  algunos  videojuegos  podrían  ser  una  de  las  claves  explicativas  de  esta  “violencia 
cultural”,  en  la  medida  en  que  pueden  potenciar  contenidos  y  valores  ligados  a  esa  cultura  patriarcal.  No 
tratábamos  de  demonizar  a  todos  los  videojuegos.  Pero  nos  hemos  encontrado  que,  tras  analizar  los  250 
videojuegos16 más vendidos, no ha habido ninguno que no exalte la violencia, el sexismo o el racismo. Todos 
ellos  reproducen  estereotipos  sexistas.  Están  hechos  por  hombres  y  para  los  hombres,  reforzando  el 
comportamiento y papel masculino e incluso, en ocasiones, con claras muestras de incitación al sexismo. Los 
juegos  están  pensados  para  un  imaginario  masculino,  y  responden  a  lo  que,  desde  la  representación  social, 
serían los deseos, las afinidades y las aficiones de los varones. Por eso son los chicos los que más juegan. 
                                                            
16
  Llegar  al  final  de  un  videojuego  conlleva  una  media  de  300  horas,  lo  que  equivale  a  la  duración  de  un  curso  escolar 
completo.  

83 
 
En  ellos  se  exalta  un  sexismo  explícito,  centrado  en  la  imagen  y  el  rol  de  la  mujer,  y  un  sexismo 
implícito, mucho más soterrado y larvado. El sexismo patriarcal del que están empapados los videojuegos no 
alude únicamente al rol que desempeña la mujer en estos videojuegos, o al lenguaje sexista que se emplea en 
los mismos, ni siquiera a la imagen de la mujer que en ellos se presenta, sino que hace referencia, también y 
muy especialmente, a la construcción de un mundo virtual basado en una idea distorsionada de lo masculino. 
Esta “cultura macho” es elevada a categoría universal y válida, en la que sólo se dan ‘valores’ como el poder, la 
fuerza, la valentía, el dominio, el honor, la venganza, el desafío, el desprecio y el orgullo. Por el contrario, lo 
femenino es asimilado a debilidad, cobardía, conformismo y sumisión.  
El  sexismo  explícito  es  obvio:  la  representación  femenina  en  los  videojuegos  es  mucho  menor, 
generalmente minusvalorada, y en actitudes dominadas y pasivas. Sus modelos corporales son tendentes a la 
exageración,  con  idealizaciones  de  personajes  sacados  del  cómic  o  hasta  del  cine  porno.  Sus  vestimentas  no 
responden  a  las  necesidades  del  momento,  de  la  historia,  del  trabajo  o  de  la  acción  que  se  realiza  en  el 
videojuego, sino a mostrarse “insinuantes” o “seductoras” hacia los hombres. Esto supone un fuerte impacto 
sobre la imagen que las niñas y adolescentes se construyen de ellas mismas y que contribuye especialmente a 
que  los  niños  y  jóvenes  asuman  pautas  de  comportamiento  respecto  a  la  mujer  elaboradas  a  partir  de  una 
visión estereotipada y limitada de lo femenino. De esta forma las chicas aprenden la dependencia y los chicos la 
dominación.   
Las  protestas  internacionales  ante  este  “machismo”  primario  y  burdo,  han  llevado  a  incorporar  un 
nuevo  tipo  de  personaje  protagonista  femenino  que  asume  un  rol  activo  en  el  desarrollo  del  juego.  No 
obstante, este nuevo tipo de personaje, de rasgos andróginos y comportamiento agresivo, no trae, salvo con su 
propia  presencia,  nada  nuevo.  Reproducen  los  esquemas  de  comportamiento  de  los  héroes  masculinos 
adornados  por  la  dureza,  el  afán  de  venganza,  el  desprecio,  el  orgullo,  etc.  Pero  eso  sí,  vestidas  o  más  bien, 
semidesnudas  con  trajes  escasísimos  de  tela,  con  pechos  y  culos  exagerados,  dejando  entrever  un  cuerpo 
escultural entre el armamento que portan. Es la masculinización de las mujeres y su incorporación a la defensa 
de esa cultura “macho”, reproduciéndola eficazmente. 
En  nuestra  civilización  jerarquizada,  los  que  están  arriba,  y  no  podemos  olvidar  que  los  hombres 
siempre  lo  han  estado,  son  los  que  han  ido  construyendo  un  modelo  en  el  que  lo  significante,  lo  valioso,  es 
aquello  que  se  ajusta  más  fácilmente  al  “esquema  viril”.  Es  el  denominado  “síndrome  de  John  Wayne”,  un 
código  de  conducta  explicito  aunque  no  escrito,  un  conjunto  de  rasgos  masculinos  que  hemos  aprendido  a 
venerar  desde  la  infancia  y  al  que  las  nuevas  protagonistas  femeninas  se  van  asimilando.  Esto  se  puede 
comprobar haciendo la “prueba de la inversión”: las mujeres pueden hacerse pasar por hombres y utilizar los 
mismos videojuegos, pero lo contrario es imposible. Lo masculino se ha convertido en la norma, en “el neutro” 
que engloba a los hombres y a las mujeres, mientras que lo femenino se asocia a la excepción, la ‘anormalidad’. 

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Pero lo más importante no es esta estereotipación explícita de la imagen y el rol de la mujer, sino los 
valores  implícitos  que  se  descubren  inmersos  en  el  diseño  y  desarrollo  de  estos  videojuegos,  con  estética 
“disney”, pero anclados en el “pensamiento único”. 
La violencia se ha convertido en el elemento básico de la acción en estos juegos. Cualquier máquina de 
destrucción  ha  recibido  su  versión  simulada:  hay  simuladores  de  barcos  de  guerra,  de  aviones  de  guerra,  de 
carros de combate, etc. Las revistas especializadas establecen una relación proporcional entre la violencia de 
un juego y su calidad17. Porque el verdadero problema es que la violencia vende. De hecho la violencia se ha 
convertido en uno de los elementos importantes de cualquier videojuego que quiere triunfar y ser número uno 
en ventas.  
Algunas autoras y expertos afirman que la violencia fantástica contenida en los videojuegos puede ser 
un espacio de catarsis, una válvula de escape para descargar tensiones y agresividad contenida en la vida real. 
La violencia de los videojuegos tiene una función catártica, pues permite “sacar afuera” todas las tensiones de 
la  vida  cotidiana,  lo  que  contribuye  a  reducir  la  agresividad  en  la  vida  real  de  los  jóvenes.  Esto  parte  del 
supuesto no demostrado y rechazado en psicología de que practicar la violencia simbólicamente es algo bueno 
o que hacerlo de forma ficticia conlleva que no se haga en la realidad. Lo que se ha demostrado es que eso te 
“habitúa”  a  la  violencia.  A  corto  plazo,  aumenta  la  capacidad  de  violencia  porque  pone  en  primer  lugar  las 
reacciones  agresivas  y,  en  segundo  plano,  las  reflexivas.  Mientras  que,  a  largo  plazo,  predispone  a  la 
agresividad al ver potenciada esa capacidad con el aprendizaje de técnicas de uso. Un segundo argumento es 
que los niños y niñas ven más violencia en la televisión y en la realidad, como si esto fuera una eximente. Un 
tercer argumento es que los niños y las niñas comprenden que la violencia que ven es ficticia: “si ves a alguien 
al que le han cortado la cabeza, sabes que no es real, es demasiado unidimensional, no huele, no lo tocas; en 
general, los niños lo encuentran divertido”, afirman. 
El problema es que trivializan la violencia real y que los niños y niñas acaban volviéndose inmunes a su 
horror. El mayor peligro no es la generación o no de comportamientos violentos, sino la insensibilización ante 
la  violencia.  Se  presenta  una  violencia  sin  consecuencias  para  la  persona  que  la  perpetra  o  para  la  víctima, 
enviando  el  mensaje  de  que  la  violencia  es  un  modo  aceptable  de  alcanzar  objetivos,  divertido  y  sin  daño. 
Como consecuencia no les extraña si sucede en la vida real. No lo ven como malo. Les parece que son prácticas 
normales,  que  las  hace  la  gente  a  diario  y  que  no  son  condenables.  Si  se  cometen  torturas  en  un  país 
                                                            
17
 El análisis del videojuego titulado “X‐Men: Mutant Academy” comienza con los siguientes términos: “un buen juego de 
lucha debería ser duro como una roca; tendrá que provocar tu rabia antes de un nuevo asalto. Tendrás que jugar sin parar 
hasta  que  alguien  te  arrancara  los  restos  deformados  y vapuleados  de  la  Game  Boy  de  tus  manos  temblorosas  llenas  de 
sudor” (revista Game Boy, 64). “Mortal Kombatt II, título genial, es una exaltación de la violencia más absoluta que jamás 
hayamos podido imaginar (...) Un cartucho único que con el tiempo será vital para entender la esencia de los videojuegos” 
(Super Juegos, 29). 

85 
 
determinado o las fuerzas de seguridad de un lugar maltratan a los inmigrantes, les parece normal. Como en el 
juego están acostumbrados a verlo a diario, no se dan cuenta de que está mal hecho. 
Las dificultades para probar la relación causa‐efecto entre la violencia virtual y la agresividad real con 
que  topan  las  actuales  investigaciones  recuerdan  mucho  a  las  que  tuvieron  los  científicos  para  vincular 
directamente  al  tabaco  con  el  cáncer.  Seis  prestigiosas  asociaciones  de  psicólogos  y  pediatras  de  Estados 
Unidos,  han  afirmado  recientemente  que  existe  un  lazo  incontestable  de  causalidad  entre  la  violencia 
mediática  y  el  comportamiento  agresivo  de  ciertos  niños.  Aquí,  la  Asociación  Española  de  Pediatría  ya  había 
alertado  sobre  las  consecuencias  del  alto  índice  de  contenidos  violentos  de  las  pantallas.  Lo  que  interviene 
como un factor determinante en las conductas masculinas violentas, apuntaba su informe. 
Lo  curioso  es  que  las  personas  jóvenes  encuestadas  y  entrevistadas18  creen  que  la  violencia  de  los 
videojuegos no les afecta en su comportamiento. No son conscientes de cómo influye en su concepción de la 
realidad, en sus creencias y valores, en sus comportamientos, en sus relaciones con los que les rodean. Tanto 
los  niños  como  las  niñas  reciben  mensajes  negativos  que  influyen  sobre  la  manera  en  que  creen  que  deben 
actuar y el aspecto que deben tener. Este tipo de retrato envía señales muy fuertes acerca de lo que significa 
ser  mujer  y  ser  hombre.  Muchos  de  los  chicos  jóvenes,  de  la  misma  manera  que  las  chicas  jóvenes,  pueden 
concebir  que  los  personajes  extremadamente  eróticos  representan  el  “símbolo  de  la  mujer  ideal”.  Estas 
imágenes pueden afectar a la capacidad de autoestima de las chicas, así como a la idea que ellas tienen de su 
puesto en el mundo. Además, estas imágenes también influyen en lo que esperan los chicos de las chicas y en 
como  se  relacionan  con  ellas.  Y  no  hay  influencia  más  marcada  que  aquella  que  no  es  consciente,  pues  no 
permite una racionalización de la misma, induce a creer que no es necesario generar mecanismos conscientes 
de defensa frente a ella. De esta forma, la mayoría de nuestros adolescentes y jóvenes se encuentran inermes 
ante los valores que transmiten y las actitudes que conlleva la utilización constante de estos videojuegos.  
Además hemos de ser conscientes de que los juegos de ordenador violentos son aún más peligrosos 
que las películas de igual signo y que las imágenes de violencia contenidas en televisión. El motivo es que no se 
limitan  a  mostrar  la  violencia  ante  un  espectador  pasivo,  sino  que  exigen  a  la  persona  identificarse  con  el 
personaje  y  actuar  por  él.  Además,  estos  juegos  exigen  a  quien  los  utiliza  ser  activo  o  activa  frente  a  las 
situaciones de violencia que representan. Si además, tenemos en cuenta que las consolas de juego son cada 
vez  más  potentes  y  están  incorporando  nuevas  tecnologías  que  permiten  una  calidad  de  imágenes  cada  vez 
mayor,  añadiendo  realismo  a  la  acción,  podremos  darnos  cuenta  de  hasta  qué  punto  son  peligrosos  en  el 
proceso de identificación de la fantasía con la realidad. 
                                                            
18
 Se han pasado 5.000 cuestionarios, se han analizado los 250 videojuegos comerciales más vendidos, se han realizado 22 
estudios  de  caso  con  44  participantes,  se  han  hecho  60  entrevistas  en  profundidad,  13  grupos  de  discusión,  20 
observaciones de campo, así como el análisis documental de 14 revistas durante los tres últimos años. 

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Estos  videojuegos  construyen  un  universo  dantesco.  Mundos  apocalípticos  y  terminales,  donde 
predomina la fuerza y las armas, donde están claramente delimitados el éxito –matar o ganar‐ y el fracaso –
morir  o  perder‐;  el  bien  –los  buenos,  nosotros‐  y  el  mal  –los  malos,  ellos,  los  distintos  a  nosotros‐.  En  estos 
videojuegos no hay historia ni contexto, sólo una amenaza y una necesidad de actuar. Todo vale para cumplir la 
misión  emprendida.  No  hay  “grises”,  ni  matices,  ni  circunstancias,  ni  explicaciones.  Esto  supone  una  visión 
maniquea de la realidad. Un universo en donde la única alternativa es matar o ser matado, comer o ser comido, 
ganar o perder. El ataque o la defensa se convierten en el único parámetro operacional, en el sustituto de la 
reflexión  y  del  juicio  personal.  Incluso  se  suprime  prácticamente  el  lenguaje  oral,  predominando  la  imagen 
visual  y  la  respuesta  mecánica,  el  instinto  y  los  reflejos.  Se  configura  una  visión  de  la  vida  y  del  entorno 
dominada  por  la  compulsividad,  por  la  inmediatez.  El  problema  es  que  las  estructuras  mentales  de  los  seres 
humanos  se  van  construyendo  en  función  de  los  instrumentos  que  utilizan.  El  tiempo  se  comprime  con  los 
nuevos “juguetes” que manejamos. Todo es acelerado y nuestra espera se convierte en angustia. 
En esta visión paranoide de la realidad, el otro diferente a mi, es siempre un enemigo que debe ser 
eliminado. Y es un enemigo “marcado”. Es decir, no es cualquier enemigo, sino supuestos enemigos creados en 
función de unos intereses sociales y culturales delimitados: se ha pasado del enemigo comunista, al enemigo 
terrorista  que  coincide  con  el  árabe  o  el  sudamericano.  Potenciándose  un  racismo  implícito  y  solapado  muy 
potente en la conformación de la visión ante el “otro” diferente. 
Estamos  así  acostumbrándonos  progresivamente  a  una  indiferencia,  incluso  a  una  cierta  mirada 
morbosa, ante la violencia, el sexismo y el racismo. Escudados en el latiguillo de que deben dar al mercado o a 
la gente lo que pide, los editores y los distribuidores de videojuegos se desligan de cualquier responsabilidad 
moral  o  ética  acerca  del  contenido  de  los  juegos.  Y  desplazan  la  responsabilidad  hacia  el  consumidor  o 
consumidora que decide con libertad en el mercado. Al final se convierte a las víctimas en culpables. 
Porque esto no es solamente un problema de la gente joven, sino que es un problema en general de la 
sociedad. Los valores comerciales o de lucro se ponen por encima de los derechos humanos, de la paz o de la 
justicia. El mercado se ha convertido en el gran regulador del consumo en función de la oferta y la demanda. Es 
el sujeto individual quien ha de decidir qué es bueno y qué es malo. Se ha pasado de una regulación social a la 
“libertad de mercado”. Se están hurtando a la discusión pública y política muchos problemas estructurales y 
sociales  actualmente.  Y  este  es  uno  de  ellos.  Se  tratan  de  remitir  a  la  decisión  individual,  a  la  libertad  de 
elección del consumidor o de la consumidora. Como si de ellas y ellos dependiera el apagar el televisor o dejar 
de jugar a los videojuegos. Mientras que lo que se oculta al debate social es qué contenidos y valores son los 
que tienen que promover esos videojuegos. 
Esto  significa  que  la  socialización  esta  siendo  dirigida  esencialmente  por  el  mercado.  Y  se  tiende  a 
responsabilizar a las familias de las salvajes condiciones que impone el dios contemporáneo: el mercado global. 
Es el sujeto quien tiene que combatir contra él. Porque el mercado se autorregula. Es la divinidad de la libertad 

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de mercado la que se nos impone y nos culpabiliza. Es la perversión que convierte a las víctimas en culpables, y 
les hace sentirse como tales.  
La tecnología tiene que estar al servicio de la comunidad, al servicio de la sociedad no al servicio del 
rendimiento  económico.  La  responsabilidad  está  antes  del  mercado,  antes  de  que  esos  productos  lleguen  al 
mercado.  ¿Y  si  hacemos  otros  productos  conforme  a  los  derechos  humanos  y  a  los  principios  y  valores  que 
defendemos, al menos teóricamente? ¿Y si ponemos el mercado al servicio de los seres humanos? 
Por  eso  las  propuestas  que  planteamos  se  centran  en  tres  ejes:  a)  Exigir  a  las  multinacionales  que 
diseñen  y  creen  videojuegos  con  un  enfoque  auténticamente  “valiosos”  (con  valores  sociales  positivos),  que 
tengan en cuenta todas las necesidades emocionales y de experiencias que tiene el ser humano, aportando a la 
suma  aquellas  características  que  injustamente  se  han  denominado  típicamente  femeninas.  b)  Establecer  un 
marco  legal  y  normativo  que  regule  el  mercado  de  los  videojuegos,  principalmente  en  lo  referido  a  la 
adecuación  de  los  contenidos  y  valores  de  los  productos.  c)  Promover  un  clima  de  apoyo  a  los  agentes 
educativos  fundamentales  (familias  y  escuelas)  para  que  eduquen  en  el  análisis  crítico  de  los  contenidos  y 
valores que transmiten estos videojuegos. 
De ahí que, fruto de esta investigación, se ha generado una guía didáctica y un material multimedia, un 
cd‐rom  interactivo,  para  trabajar  con  los  jóvenes  el  análisis  de  los  videojuegos  y  sus  consecuencias.  En  él  se 
sintetizan  las  conclusiones  de  esta  investigación  y  se  proponen  una  serie  de  actividades  interactivas.  Estas 
actividades se pueden incorporar también al curriculum de aula en las diferentes áreas, tanto en primaria como 
en  secundaria,  para  introducir  el  análisis  de  los  videojuegos  desde  una  perspectiva  no  sexista  en  el  ámbito 
escolar. La metodología de trabajo que se propone se basa en la experimentación, la reflexión y la actuación. 
Por eso hemos dividido las actividades en bloques que ayudan a “sumergirse” progresivamente en este proceso 
cada  vez  más  profundo  y  comprometido.  Partimos  de  aquellas  actividades  que  nos  ayudan  a  “aprender  a 
mirar”  los  videojuegos,  hasta  llegar  a  proponer  una  actuación  transformadora  que  provoque  un  cambio  de 
actitudes  y  de  valores.  Para  cada  una  de  las  actividades  se  especifican  las  áreas  en  las  que  se  pueden 
desarrollar, así como los niveles para las que son más adecuadas. Y en los bloques de actividades se concretan 
los  objetivos  de  aprendizaje  que  se  pretenden  en  función  del  currículo  establecido,  así  como  los  contenidos 
que se desarrollan y los criterios de evaluación que se pueden aplicar. Pues bien, tanto la investigación como la 
guía  didáctica  se  pueden  descargar  gratuitamente  de  la  web 
http://www3.unileon.es/dp/ado/ENRIQUE/Public21.htm. 
 
 
 
 
 

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BIBLIOGRAFÍA 
DÍEZ  GUTIÉRREZ,  E.J.  (Dir.). (2008). Investigación desde la práctica. Guía didáctica para el análisis de los 
videojuegos. Canarias: Instituto Canario de la Mujer. 
DÍEZ  GUTIÉRREZ,  E.J.  (Dir.).  (2004).  La  diferencia  sexual  en  el  análisis  de  los  videojuegos.  Madrid: 
CIDE/Instituto de la Mujer. 
DÍEZ  GUTIÉRREZ,  E.J.  &  TERRÓN  BAÑUELOS,  E. (2010). El sexismo en los videojuegos. En Filomena Teixeira y 
otros. Sexualidade e Educação Sexual: Políticas Educativas, Investigação e Práctica (241‐245). Braga (Portugal): 
Edições CIEd‐Universidade do Minho. 
DÍEZGUTIÉRREZ,  E.J., TERRÓNBAÑUELOS,  E.  &ROJO,  J.  (2001). Videojuegos:  cuando  la  violencia  vende. 
Cuadernos de Pedagogía, 305, 79‐83. 
 
 
 

89 
 
 

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METODOLOGIA DE ENSINO PARA UMA SEXUALIDADE POSITIVA E RESPONSÁVEL 

Teresa Vilaça, 
IE ‐ Universidade do Minho 
 

INTRODUÇÃO 
A  Educação  em  Sexualidade  é  um  processo  que  começa  cedo  na  infância  e  progride  até  à  idade  de 
ouro, promovendo uma aprendizagem ao longo da vida sobre as diferentes formas de valorização da evolução 
das  dimensões  da  sexualidade  física,  cognitiva,  emocional  e  social.  Para  crianças  e  jovens,  visa  apoiar  e 
proteger o seu desenvolvimento sexual, capacitando‐as gradualmente com informações, capacidades e valores 
positivos para compreenderem e apreciarem a sua sexualidade, terem relacionamentos seguros e cumprirem e 
assumirem a responsabilidade pela sua própria saúde e bem‐estar sexual e a dos outros. Para as pessoas mais 
idosas,  tem  como  principais  objetivos  acabar  com  os  mitos  e  estereótipos  negativos  sobre  a  sexualidade,  e 
promover atitudes de autorrealização sexual e a perceção de que a expressão sexual completa é parte de todas 
as fases da idade adulta.  Há amplas evidências a sugerirem que a Educação em Sexualidade para as pessoas 
idosas  leva  ao  desenvolvimento  de  atitudes  mais  positivas,  uma  vez  que  os  desejos  sexuais,  pensamentos  e 
ações continuam durante todas as décadas da vida. Vidas sexuais saudáveis, mesmo que integrem a avaliação e 
gestão  de  patologias  normais  do  envelhecimento,  evocam  sentimentos  de  romance,  alegria,  afeto,  paixão  e 
intimidade, ao passo que o desânimo e a depressão, muitas vezes, resultam de uma incapacidade de expressar 
a sua própria sexualidade.  
A UNESCO (2009b) descreve a Educação em Sexualidade como: 
 

"(...)  uma  abordagem  para  ensinar  sobre  sexo  e  relacionamentos,  adequada  à  idade  e 
culturalmente  relevante,  fornecendo  informações  cientificamente  precisas,  realistas  e  sem 
julgamentos. A Educação em Sexualidade proporciona oportunidades para explorar os seus 
próprios valores e atitudes e construir competências de tomada de decisões, comunicação e 
redução de riscos sobre muitos aspetos da sexualidade.“ (p.2) 

 
Esta definição realça a sexualidade como um potencial humano positivo e uma fonte de satisfação e 
prazer,  colocando  em  segundo  plano  a  necessidade  de  aumentar  o  conhecimento  e  desenvolver  as 
capacidades necessárias para evitar problemas de saúde sexual, nomeadamente de abuso e exploração sexual, 
gravidez  indesejada,  infeções  sexualmente  transmissíveis,  incluindo  VIH/SIDA,  discriminação  de  género, 
homonegatividade,  entre  outros.  Neste  sentido,  é  amplamente  reconhecido  e  aceite  que  a  Educação  em 
Sexualidade  ao  capacitar  as  pessoas  e  ao  desenvolver  a  sua  competência  para  agirem  no  sentido  de 

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controlarem  os  determinantes  da  sua  saúde  sexual  (competência  para  a  ação),  ajuda  a  atender  aos  direitos 
dos/as jovens, porque é um processo pelo qual eles/as podem adquirir a informação a que têm direito sobre os 
assuntos que os/as afetam, ter as suas necessidades atendidas e desenvolver as competências necessárias para 
desfrutar em pleno da sua sexualidade, nomeadamente nas suas relações com os/as outros/as. 
Com  o  objetivo  de  contribuir  para  a  operacionalização  desta  visão  positiva  da  Educação  em 
Sexualidade  nas  escolas  Portuguesas,  serão  apresentados,  em  seguida,  de  uma  forma  globalizante,  dadas  as 
limitações  que  um  artigo  neste  contexto  tem  subjacentes:  i)  as  linhas  orientadoras  internacionais  para  a 
Educação  em  Sexualidade;  ii)  as  finalidades  e  conteúdos  da  Educação  em  Sexualidade  mais  atuais;  iii)  a 
aplicação  da  abordagem  metodológica  IVAM  (Investigação  –  Visão  –  Ação  e  Mudança)  na  educação  em 
sexualidade e o desenvolvimento da competência para a ação nos alunos. 
 
1.  LINHAS  ORIENTADORAS  PARA  A  IMPLEMENTAÇÃO  DE  UMA  EDUCAÇÃO  EM  SEXUALIDADE 
HOLÍSTICA  
A  Orientação  Técnica  Internacional  sobre  Educação  em  Sexualidade  foi  desenvolvida  pela  UNESCO 
(2009a;  2009b),  juntamente  com  outras  instituições  parceiras  (UNAIDS/UNFPA  OMS,  UNICEF,  ONUSIDA),  e 
peritos independentes de países de todo o mundo que trabalham para reforçar a Educação em Sexualidade.  
De acordo com esta orientação técnica internacional (UNESCO, 2009 a), a Educação em Sexualidade 
deve  considerar  a  sexualidade  como  um  aspeto  fundamental  da  vida  humana  (que  inclui  aspetos  físicos, 
psicológicos  e  espirituais,  e  as  dimensões  sociais,  económica,  política  e  cultural),  entendê‐la  sempre  com 
referência  ao  género,  aceitar  a  diversidade  como  uma  das  suas  características  fundamentais  e  ter  em 
consideração  que  o  comportamento  sexual  difere  muito  entre  e  dentro  das  culturas,  não  devendo  nenhum 
comportamento  ser  excluído  do  debate  no  contexto  da  Educação  em  Sexualidade.  Nesta  perspetiva,  estes 
programas  devem  ter  vários  objetivos  que  se  reforçam  mutuamente  para:  aumentar  o  conhecimento  e  a 
compreensão  sobre  a  sexualidade;  explicar  e  esclarecer  sentimentos,  valores  e  atitudes;  desenvolver  ou 
reforçar as competências; e promover e manter comportamentos de redução de risco. Os programas deverão 
basear‐se  na  visão  que  a  ameaça  à  vida  e bem‐estar  das  crianças  e jovens  existe  numa  grande  variedade de 
contextos, nomeadamente na forma de relacionamentos abusivos, riscos de saúde associados com a gravidez 
indesejada  precoce,  a  exposição  às  ISTs,  incluindo  VIH  ou  o  estigma  e  a  discriminação  por  causa  da  sua 
orientação sexual.   
Estes princípios são reforçados pelas Linhas Orientadoras para a Educação em Sexualidade na Europa 
(WHO‐Europe & Federal Centre for Health Education, BZgA, 2010), que enfatizam a necessidade da Educação 
em  Sexualidade  ser  baseada  em  informações  cientificamente  precisas,  apropriada  à  idade  do  jovem  e 
corresponder à realidade da sua vida devendo, por isso, ser sensível ao género e à sua cultura, baseada numa 
abordagem  dos  direitos  humanos,  numa  visão  holística  que  inclui  o  bem‐estar  na  saúde  sexual,  estar 

92
 
firmemente  baseada  na  igualdade  de  género,  autodeterminação  e  aceitação  da  diversidade,  devendo  ser 
entendida  como  uma  contribuição  para  uma  sociedade  justa  e  compassiva  através  da  capacitação  dos 
indivíduos e das comunidades. 
De  acordo  com  a  UNESCO  (2009  a),  a  escola  ainda  deve  assumir  como  compromisso:  entregar  a 
educação em sexualidade a professores com formação; envolver os pais; organizar estratégias para responder 
às preocupações dos pais; apoiar alunas grávidas para continuarem nas aulas; tornar a escolaum ambiente de 
promoção da saúde com infraestruturas adequadas (ex., casas de banho limpas); agir em caso de violação das 
políticas de saúde sexual, por exemplo, no  caso de violação de sigilo, haver estigma e discriminação, assédio 
sexual ou assédio moral; e promover o acesso a serviços de saúde locais para a saúde sexual e reprodutiva e a 
outros serviços necessários, em conformidade com as leis nacionais. 
 
 
2. FINALIDADES E CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO EM SEXUALIDADE 
Atualmente  coexistem  programas  de  Educação  em  Sexualidade  de  vários  tipos:  i)  programas 
orientados para a abstinência até ao casamento (abstinence until marriage); ii) programas orientados só para a 
abstinência  (abstinence  –  only);  iii)  programas  orientados  para  a  abstinência  –  mais  (abstinence  –  plus);  e  4) 
programas compreensivos (comprehensive programs). 
Os  programas  orientados  exclusivamente  para  a  abstinência  até  ao  casamento  (abstinence  ‐  only 
education)  excluem  o  ensino  sobre  o  uso  da  contraceção  e  do  preservativo  na  prevenção  da  gravidez  na 
adolescência e do risco de ISTs e estão restringidos a proporcionar uma Educação em Sexualidade submetida a 
uma escala de valores onde é proibido ensinar sobre o comportamento sexual, preservativos ou contraceção, 
exceto para enfatizar como a contraceção falha frequentemente (Milton, Berne, Patton, Hunt & Wright, 2001). 
Estes programas são dirigidos para a prevenção de gravidez na adolescência e não discutem a prevenção do 
VIH e ISTs (Mabray & Labauve, 2002; Santelli, Ott, Lyon, Rogers, Summers & Schleifer, 2006).  
Na  Califórnia  surgiu  um  destes  programas,  o  “Postponing  Sexual  Involvement”  que  é  baseado  em 
informação sobre os riscos da atividade sexual, resistência à pressão dos pares e na construção de um clima de 
suporte para a abstinência. As 10 sessões de 45 a 60 minutos em que está organizado, incluem os seguintes 
temas:  1)“Sexualidade  humana”,  destinado  aos  adolescentes  mais  jovens  e  ensina  sobre  o  desenvolvimento 
dos adolescentes, saúde reprodutiva, contracetivos e ISTs; e 2)“Deixar para mais tarde o envolvimento sexual” 
utiliza as normas dos pares para favorecer o atraso da atividade sexual, analisa as mensagens dos media e as 
pressões psicológicas, inicia o desenvolvimento de competências para ajudar os alunos a resistir à pressão dos 
pares para se tornarem sexualmente ativos e ensina as técnicas de assertividade para ensinar os adolescentes a 
dizer  “não”  (Mabray  &  Labauve,  2002).  Bennett  e  Assefi  (2005)  designam  este  tipo  de  programas  por 
“abstinence  –  plus”,  porque  são  programas  orientados  para  a  abstinência  que  incluem  informação  sobre 

93 
 
contracetivos. 
Os programas de educação em sexualidade compreensivos têm uma abordagem multidimensional e 
visam  atingir  os  alunos  sexualmente  ativos  com  o  objetivo  de  diminuir  a  gravidez  não  desejada  na 
adolescência,  por  isso,  não  é  um  modelo  só  apropriado  aos  adolescentes  abstinentes,  mas  também  dirigido 
para  os  que  têm  sido  sexualmente  ativos.  Mabray  e  Labauve  (2002)  propõem  este  modelo  para  os 
adolescentes  de  12  a  16  anos,  como  oposição  às  abordagens  baseadas  só  na  abstinência  dirigidas  aos  pré‐
adolescentes,  pois  este  modelo  cobre  os  temas  da  abstinência  e  contraceção.  Goldman  e  Bradley  (2001) 
salientaram  que  estes  programas  incluem  a  abstinência,  pressões  para  se  envolver  prematuramente  em 
relações sexuais e o uso de contraceção e de outras medidas de saúde sexual.  
Como  foi  referido  na  primeira  parte  deste  artigo,  as  linhas  orientadoras  internacionais  e  Europeias 
defendem  um  modelo  compreensivo  para  a  educação  em  sexualidade  na  comunidade  escolar.  O  quadro  1, 
especifica  os  conceitos‐chave  que,  segundo  a  UNESCO  (2009b),  deverão  ser  trabalhados  numa  articulação 
vertical do currículo em espiral, organizados em quatro faixas etárias: 5 – 8; 9 – 12; 13 – 15 e 16 – 18 anos. 
Estes  tópicos  podem  fornecer  um  programa  abrangente  para  o  desenvolvimento  curricular  da  Educação  em 
Sexualidade. 
Quadro 1 
Visão geral dos principais conceitos‐chave e tópicos para a Educação em Sexualidade da UNESCO 
Conceito‐Chave 1:Relacionamentos  Conceito‐Chave 2: Valores, Atitudes e  Conceito‐chave 3: Cultura, Sociedade e 
Tópicos:  Competências  Direitos Humanos 
1.1 Famílias  Tópicos:  Tópicos: 
1.2 Amizade, Amor e Relacionamentos  2.1 Valores, Atitudes e Fontes de  3.1 Sexualidade, Cultura e Direitos Humanos 
românticos  aprendizagem sexual  3.2 Sexualidade e Media 
1.3 Tolerância e Respeito  2.2 Normas e Influência dos pares sobre o  3.3 Construção social do género 
1.4 Compromisso de longo prazo,  comportamento sexual  3.4 Violência de Gênero, incluindo abuso 
Casamento, e Paternidade/Maternidade  2.3 Tomada de decisão  sexual, exploração e práticas prejudiciais 
2.4 Comunicação, Recusa e Competências 
de Negociação  
2.5 Procurar Ajuda e Suporte 
Conceito‐Chave 4: Desenvolvimento  Conceito‐Chave 5: Comportamento Sexual Conceito‐chave 6: Saúde Sexual e 
Humano  Tópicos:  Reprodutiva 
Tópicos:  5.1 Sexo, Sexualidade e Ciclo de Vida  Tópicos: 
4.1 Anatomia e Fisiologia Sexual e  Sexual  6.1 Prevenção da gravidez 
Reprodutiva   5.2 Comportamento Sexual e Resposta  6.2 Compreensão, Reconhecimento e 
4.2 Reprodução   Sexual  Redução do risco de ISTs, incluindo VIH 
4.3 Puberdade  6.3 VIH e Estigma da SIDA, cuidados, 
4.4 Imagem Corporal   tratamento e apoio 
4.5 Privacidade e Integridade física 
 
Fonte: UNESCO, 2009 b, p. 7 
 

94
 
Em  paralelo,  as  linhas  orientadoras  para  a  europa  descrevem  um  conjunto  de  tópicos  para  ser 
abordado  em  cada  tema,  também  numa  articulação  vertical  do  currículo  em  espiral.  O  quadro  2,  a  título  de 
exemplo, descreve os tópicos para a componente informativa de dois desses temas. 

Quadro 2 
Exemplo dos temas e tópicos informativos para a Educação em Sexualidade na Europa 
Idade  Temas 
(Anos)  Corpo humano e desenvolvimento humano  Sexualidade 
0 – 4   Todas as partes do corpo e suas funções  Prazer ao tocar o próprio corpo, a masturbação da 
Diferentes corpos e sexos diferentes  primeira infância  
Higiene corporal  Descoberta do próprio corpo e os órgãos genitais  
A diferença entre si e os outros  O facto de que o prazer da proximidade física é uma 
parte normal da vida de todos 
Ternura  e  proximidade  física  como  uma  expressão  de 
amor e carinho 
4 – 6  Todas as partes do corpo e suas funções  Prazer  ao  tocar  o  próprio  corpo;  masturbação  da 
Diferentes corpos e sexos diferentes  primeira infância 
Higiene corporal  Descoberta do próprio corpo e órgãos genitais 
Diferenças de idade no corpo e no desenvolvimento  Significado  e  expressão  da  sexualidade  (por  exemplo, 
expressar sentimentos de amor) 
Linguagem sexual apropriada  
Sentimentos  sexuais  (intimidade,  prazer,  excitação) 
como  uma  parte  de  todos  os  sentimentos  humanos 
(estes devem ser os sentimentos positivos, pois eles não 
devem incluir a coerção ou dano) 
6 ‐ 9  Mudanças corporais, ejaculação, menstruação,  • Amor, estar apaixonado 
variação individual no desenvolvimento ao longo  • Ternura 
do tempo  • Sexo nos meios de comunicação (incluindo a Internet) 
Diferenças (biológicas)  entre homens e mulheres  • Prazer  ao  tocar  o  próprio  corpo 
(internas e externas)  (masturbação/autoestimulação) 
Higiene corporal  • Linguagem sexual apropriada  
• Relações sexuais 
9 ‐ 12  Higiene corporal (ejaculação, menstruação)  • Primeira experiência sexual 
Mudanças  iniciais  na  puberdade  (mudanças  • Orientação sexual 
mentais, físicas, sociais e emocionais e a variedade  • Comportamento  sexual  dos  jovens  (variabilidade  do 
possível)  comportamento sexual) 
Órgãos sexuais e reprodutivos internos e externos  • Amar, estar apaixonado 

95 
 
e funções  • Prazer, masturbação e orgasmo 
• Diferenças entre identidade de género e sexo  
12‐15  Conhecimento do corpo, imagem corporal e  • Expectativas  sobre  os  papéis  de  género  e 
modificação do corpo (mutilação genital feminina,  comportamentos  do  papel  de  género  em  relação  à 
circuncisão, hímen e reparo de hímen, anorexia,  excitação sexual e diferenças de género  
bulimia, piercings, tatuagens)  • Identidade  de  género  e  orientação  sexual,  incluindo 
Ciclo  menstrual;  as  características  sexuais  divulgação da orientação sexual/homossexualidade 
secundárias  do  corpo,  a  sua  função  em  homens  e  • Como  desfrutar  a  sexualidade  de  forma  adequada  (na 
mulheres e sentimentos que acompanham  altura certa para si) 
Mensagens de beleza nos media, mudanças  • Primeira experiência sexual 
corporais ao longo da vida  • Prazer, masturbação e orgasmo 
Serviços  onde  os  adolescentes  podem  ir  para 
problemas relacionados com estes temas 
> 15  • Alterações psicológicas na puberdade  •
Sexo como mais do que simplesmente o coito 
• Conhecimento  do  corpo,  imagem  corporal,  • Significado  do  sexo  em  diferentes  idades,  as  diferenças 
modificação do corpo  de género 
• Mutilação genital feminina, circuncisão, anorexia,  •
Sexualidade e deficiência, a influência da doença sobre a 
bulimia, hímen e reparo de hímen  sexualidade (diabetes, cancro, etc.) 
• Mensagens de beleza nos media, mudanças  •
Sexo  comercial  (prostituição,  mas  também  o  sexo  em 
corporais ao longo da vida  troca  de  pequenos  presentes,  refeições/noites  fora, 
• Os  serviços  onde  os  adolescentes  podem  ir  para 
pequenas  quantidades  de  dinheiro),  a  pornografia,  a 
dependência sexual 
obter ajuda com problemas relacionados com estes 
temas  •
Variações do comportamento sexual; diferenças no ciclo 
de excitação 
Fonte: Adaptado de WHO‐Europe& Federal Centre for Health Education, BZgA, 2010, pp. 38‐50 

O  programa deve  ser  trabalhado  a  nível  das  componentes  informativa,  das  competências  e  atitudes 
para os seguintes oito temas a serem abordados, em seis faixas etárias (0 – 4; 4 – 6; 6 – 9; 9 – 12; 12 – 15; 
superior  a  15  anos):  corpo  humano  e  desenvolvimento  humano;  fertilidade  e  reprodução;  sexualidade; 
emoções;  relacionamentos  e  estilos  de  vida;  sexualidade,  saúde  e  bem‐estar;  sexualidade  e  direitos; 
determinantes sociais e culturais da sexualidade (valores e normas).  
Estes  temas  foram  escolhidos  em  conformidade  com  os  grupos  de  idades  e  como  eles  espelham  os 
estágios  de  desenvolvimento  psicossexual,  embora  esses  limites  de  faixa  etária  devam  ser  usados  de  forma 
flexível. Os tópicos abordados em cada fase etária estão destinados a antecipar mais tarde a fase do próximo 
estágio de desenvolvimento, para que as crianças estejam melhor preparados para lidar com ele.  
A abordagem pedagógica preconizada a nível internacional e europeu para o desenvolvimento destes 

96
 
temas defende a utilização de uma abordagem holística, positiva e ampla da sexualidade, que visa desenvolver 
capacidades  essenciais  que  permitem  às  pessoas  autodeterminar  a  sua  sexualidade  e  as  suas  relações  nos 
diferentes estádios de desenvolvimento.  
Em  seguida,  analisam‐se  as  características  dos  programas  de  educação  em  sexualidade  que  se  têm 
mostrado  eficazes  e  a  abordagem  pedagógica  IVAM  enquadrada  no  Paradigma  de  Educação  para  a  Saúde 
Democrática. 
 
3. MÉTODOS E TÉCNICAS PARA A AÇÃO 
De  acordo  com  a  UNESCO  (2009  a),  os  programas  eficazes  são  aqueles  que  incluem  investigadores 
envolvidos no conteúdo e pedagogia da sexualidade humana, avaliam as necessidades em saúde reprodutiva e 
comportamentos  dos  jovens  para  desenvolver  um  modelo  lógico  no  seu  programa  educativo  e  especificam 
nesse programa: os objetivos de saúde; o tipo de comportamentos que afetam esses objetivos; os fatores de 
risco e fatores protetores que afetam esse tipo de comportamentos; as atividades para mudar os fatores de 
risco e de proteção. 
Nas  orientações  internacionais  (UNESCO, 2009  a; 2009 b),  são  também  reforçadas a  necessidade de 
incluir,  na  planificação,  atividades  que  sejam  sensíveis  aos  valores  da  comunidade  e  consistentes  com  os 
recursos  disponíveis  (ex.,  o  tempo  dos  professores,  as  suas  capacidades,  facilidade  de  espaço  e  materiais 
necessários),  testar  o  programa  educativo  e  obter  feedback  dos  alunos  sobre  como  é  que  o  programa  em 
desenvolvimento está a ir ao encontro das suas necessidades, focar‐se em objetivos claros na determinação do 
conteúdo, método e atividades do currículo, concentrar‐se estritamente em comportamentos sexuais de risco 
e de proteção específicos que levam diretamente a esses objetivos de saúde, abordar situações específicas que 
podem  levar  a  relações  sexuais  indesejáveis  ou  desprotegidas  e  como  evitá‐las  e  sair  delas,  fornecer 
mensagens claras sobre os comportamentos para reduzir o risco de ISTs ou gravidez e concentrar‐se em fatores 
de risco e de proteção específicos que afetam determinados comportamentos sexuais e que são passíveis de 
mudança pelo programa curricular (ex., conhecimentos, valores, normas sociais, atitudes e competências).  
Neste sentido, segundo a UNESCO (2009 a), durante a implementação do projeto educativo devem ser 
utilizados métodos de ensino participativos, que envolvam ativamente os alunos e os ajudem a internalizar e 
integrar informações, e ser implementadas múltiplas atividades destinadas a mudar cada um dos riscos alvo e a 
promover fatores de proteção. Nessas atividades têm que ser integradas informações científicas precisas sobre 
os riscos de ter uma relação sexual desprotegida e a eficácia dos diferentes métodos de proteção e devem ser 
abordadas as perceções de risco (especialmente a vulnerabilidade ao risco), os valores e perceções pessoais da 
família, e as normas de pares sobre o seu envolvimento na atividade sexual e/ou com múltiplos parceiros. 
A metodologia IVAM (Investigação, Visão, Ação e Mudança) (Figura 1), criada por Bjarne Bruun Jensen, 
um  investigador  dinamarquês,  no  âmbito  do  seu  trabalho  com  as  escolas  promotoras  de  saúde,  tem  sido 

97 
 
desenvolvida como um instrumento
d o prático que pode ser usado nas eescolas para estrutturar as atividadess de 
p
promoção  úde  e  facilitar  a  participação  doss/as  alunos/as,  co
da  saú om  o  objetivo  dee  desenvolver  a  sua 

“competência  parra  a  ação”,  isto  é, 
é a  habilidade  dos 
d alunos  para,  a  nível  da  educaação  em  sexualidaade, 
r
realizarem ações rreflexivas, individu ual ou coletivamennte, e provocarem mudanças positivvas nos estilos de vvida 
e
e/ou condições de e vida que levem à saúde sexual. 
 
Fig
gura 1 
Metodoloogia IVAM: Perspeetivas a trabalhar d dentro dos Projetoss de Educação em Sexualidade 
 

Este  instrrumento  assume  um  conjunto  de  perspetivas  que  podem  ser  trataadas  num  projeto o  de 
EEducação para a SSaúde (Jensen, 199 97; Simovska & Jeensen, 2003, 2008)) e, mais especificamente, de Educaação 
e
em Sexualidade (R Rodrigues & Vilaçaa, 2010 a, 2010b,  2011; Viegas & Viilaça, 2010, 2011;  Vilaça, 2006, 200 07 a, 
2
2007b 2008 a, 200 08b; Vilaça & Jense
en, 2009, 2010).  
A primeira fase do modelo – – Investigação (I) ‐‐ ilustra as questõees que deverão oriientar os/as alunos/as 
p
para que atinjam u uma perceção parttilhada (comum) ssobre o que é realm mente o problemaa atual com que esstão 
a trabalhar:  Por  que 
a  q é  que  este  problema  é  importtante  para  nós?  P Por  que  é  importaante  para  os  outrros? 
(
(consequências do o problema); Que iinfluência têm os eestilos de vida e/o ou as condições dee vida neste probleema 
d
de saúde? (causas  do problema). Os//As alunos/as têm que ser ativamente envolvidos na eescolha do problem ma e 
p
procurar  uma  resposta  sobre  por  que 
q razão  este  prroblema  é  importtante  para  eles/elas.  Também  deveerão 

9
98
 
trabalhar com a dimensão histórica pois, para serem capazes de concluir como é que as condições atuais ou um 
dado  desenvolvimento  é  influenciado,  é  importante  compreenderem  quais  são  as  determinantes  que 
contribuíram,  ao  longo  do  tempo,  para  o  desenvolvimento  dessas  condições  (Jensen,  2000).  Por  outras 
palavras,  é  necessário  olhar  para  o  problema  numa  perspetiva  histórica  e  incluir  as  ciências  sociais  para 
clarificar  as  causas  por  trás  do  problema,  sendo  aqui  importantes  os  métodos  de  observação  social  para 
mostrar  as  estruturas  económicas,  culturais  e  sociais  em  que  os  problemas  se  desenvolvem  (Jensen,  1995; 
1997; Simovska & Jensen, 2003; Vilaça & Jensen, 2010).  
A segunda fase – Visões ‐ trata do desenvolvimento das visões sobre como é que as condições em que 
se  trabalha  e  que  os/as  participantes  gostariam  de  mudar  poderiam  ser  vistas  no  futuro.  Esta  fase  trata  do 
desenvolvimento das ideias, perceções e visões dos/as alunos/as sobre o que desejam para a sua vida futura e 
a  sociedade  em  que  irão  crescer,  em  relação  ao  problema  em  estudo  (Simovska  &  Jensen,  2003;  Vilaça  & 
Jensen, 2010). 
Na terceira fase do projeto de educação em sexualidade, – Ação & Mudança ‐, é importante que haja 
espaço para que a população‐alvo use a imaginação e pense criativamente para propor uma grande quantidade 
de  ações  possíveis  relacionadas  com  a  possibilidade  de  atingir  algumas  das  visões  que  foram  anteriormente 
desenvolvidas (Jensen, 2000; Simovska & Jensen, 2003, 2008; 2009; Vilaça & Jensen, 2010). Pedagogicamente, 
é  muito  importante  que  se  tenha  em  consideração  na  discussão  das  ações  que  poderão  vir  a  ser  realizadas 
todas  as  sugestões  dadas  pelo  público‐alvo.  As  ações  poderão  ser  desenvolvidas  pelos/as  próprios/as 
participantes  ou  por  eles/as  com  a  colaboração  de  professores/as,  pais/mães  e  especialistas  da  comunidade 
local. Para cada ação proposta, deverão ser discutidos os seus potenciais resultados em relação às mudanças 
desejadas e as barreiras que podem surgir e impedir que a ação resulte nas mudanças de estilo de vida e/ou 
condições de vida desejadas. Finalmente, deverá ser tomada a decisão sobre qual deverá ser a primeira ação a 
realizar e fazer a sua planificação, incluindo a forma como vai ser avaliada em relação às mudanças desejadas. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
A saúde sexual não é influenciada só pelos estilos de vida (atitudes, valores e comportamentos) ou só 
pelas condições de vida (ambiente social e físico e a rede cultural e económica que afeta a vida das pessoas) 
mas pela sua interação. Utilizando a metodologia IVAM, os alunos experienciam que as condições de vida e a 
sociedade afetam as nossas possibilidades de ação imediata e ficam conscientes que podem agir para ajudar a 
mudar a rede social e os fatores que determinam a saúde sexual. Neste sentido, os seus projetos contribuem 
para  a  sua  capacitação  e  desenvolvimento  da  competência  para  a  ação,  tal  como  é  preconizado  pelas  linhas 
orientadoras nacionais e europeias e pela Rede Europeia de Escolas para a Saúde na Europa. 
 
 

99 
 
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102
 
A EDUCAÇÃO SEXUAL DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL  
 
Ana Cláudia Bortolozzi Maia, 
Faculdade de Ciências, UNESP 
 

INTRODUÇÃO 
A sexualidade é um conceito amplo e cultural na medida em que representa a expressão individual 
do  desejo  que  se  manifesta  em  diferentes  contextos  sociais;  envolve  diferentes  formas  de  sentir  afeto  e 
emoções  e  de  viver  as  práticas  sexuais  e  a  expressão  de  valores  (Anderson,  2000;  Maia,  2010;  Schwier  & 
Hingsburger, 2000).   
A  Educação  sexual  intencional  éum  processo  sistemático  e  organizado  que  ocorre  de  modo 
planejado  para  informar  sobre  questões  da  sexualidade  (Werebe,  1998).  Enquanto  no  quotidiano  uma 
educação  assistemática  ocorre  em  todas  as  instâncias  sociais  reproduzindo  conceitos  e  valores  sobre  as 
práticas afetivas e sexuais (Couwenhoven, 2007) a Educação Sexual intencional visa o aprendizado formal sobre 
sexualidade a partir de ações informativas e formativas para esclarecer sobre sexualidade (Maia, 2010; 2011).  
A educação sexual intencional de pessoas com deficiência intelectual é uma questão ainda omissa ou 
difícil para muitos professores e profissionais. Muitos comportamentos sexuais considerados inadequados nas 
pessoas  com  deficiência  intelectual  resultam  da  falta  de  informação  e  esclarecimento  que  eles  têm  sobre 
sexualidade. Por isso, Couwenhoven (2007) defende uma educação sexual preventiva em que os educadores 
percebam  as  pessoas  com  deficiências  como  seres  sexuados  e  os  preparem  para  uma  vida  adulta  saudável; 
além disso, que os educadores sexuais ofereçam a crianças e jovens com deficiência informações básicas sobre 
sexualidade de modo repetitivo ao longo de vários períodos da vida e em ampla variedade de situações reais, 
que os ensinem sobre conceitos de privacidade pessoal e social e, sobretudo, que os preparem para os estágios 
típicos do desenvolvimento sexual. 
Educadores, familiares e profissionais de pessoas com deficiência intelectual geralmente não estão 
preparados  para  lidarem  com  a  educação  sexual,  seja  porque  não  têm  o  devido  preparo  técnico  nem 
informações adequadas, seja porque também eles têm dificuldades pessoais na área da sexualidade humana. É 
bastante comum a propagação de vários mitos e preconceitos sobre a relação entre sexualidade e deficiências 
que acabam por justificar a ideia de que essas pessoas não teriam necessidade de acesso à educação sexual 
(Amor Pan, 2003; Anderson, 2000; Giami, 2004; Maia, 2006; Maia& Aranha, 2007; Maia & Ribeiro, 2010). 
Tais  mitos  referem‐se  às  crenças  de  que  pessoas  com  deficiência  intelectual  são  infantis  e 
assexuadas,  hiperssexuadas  e  incontroláveis,  incapazes  de  namorar  e  casar,  incapazes  de  gerar  e  cuidar  de 

103 
 
filhos, etc… (Giami, 2004; Maia, 2006; Maia & Ribeiro, 2010) desconsiderando o direito de todos à expressão e 
à vivência de sua sexualidade. 
Assim,  um  grande  mito  é  considerar  a  pessoa  com  deficiência  intelectual  como  assexuada,  sem 
pensamentos  e  desejos  sexuais.  Geralmente  isso  ocorre  porque  se  infantilizam  as  pessoas  com  deficiência  e 
atribuem a elas uma ideia de inocência e ingenuidade também sexual. Todos têm necessidade de toque, afeto 
e  relacionamentos  afetivos  significativos.  Outro  grande  mito  é  considerar  a  pessoa  com  deficiência  como 
hiperssexuada,  com  uma  sexualidade  exagerada,  mas  já  sabemos  que  muitos  comportamentos  sexuais 
considerados inadequados e aberrantes nessas pessoas decorem mais de uma educação sexual deficitária do 
que de algo inerente à deficiência em si (Couwenhoven, 2007; Maia, 2006; Maia & Ribeiro, 2010). 
Muitas  dificuldades  no  campo  sexual  de  pessoas  com  deficiência  acontecem  mais  por  motivos 
psicológicos  e  sociais,  como  problemas  de  autoestima,  timidez,  inabilidade  social,  preconceito  e  socialização 
restritiva  do  que  por  motivos  orgânicos  relacionados  à  deficiência  intelectual  ou  às  síndromes  associadas.  A 
puberdade e o desenvolvimento sexual ocorrem de maneira muito semelhante independentemente de déficits 
cognitivos.  Já dissemos outrora que: 
 
“(...)  deficientes  e  não  deficientes  são  alvos  das  mesmas  regras  sociais  que  incentivam  e 
cobram de todos que correspondam a um padrão “normal” e feliz de sexualidade. Isso pode 
resultar no desejo de corresponder aos padrões de masculinidade, feminilidade, de ter um 
corpo magro e esbelto, de namorar, casar e ter filhos. Nem sempre esses desejos refletem 
uma iniciativa própria do sujeito, mas sim, o desejo de sentir‐se “mais próximo da sociedade 
normal”  ou  do  que  a  família  e  as  pessoas  esperam.  Deficientes  e  não  deficientes  são 
sexuados  e  podem  viver  uma  vida  afetiva  e  sexual  gratificante.  Por  isso,  precisam  receber 
esclarecimentos  e  educação  sobre  saúde  sexual  e  se  prevenirem  do  contágio  de  doenças 
sexualmente transmissíveis e outras intercorrências da vida sexual ativa” (Maia, 2010, p.23). 
 

  Apesar de muitas pesquisas já ressaltarem que pessoas com deficiências são igualmente sexuadas e 
precisam  receber  uma  educação  sexual  formal  que  lhes  garanta  a  saúde  sexual  e  reprodutiva  bem  como  a 
possibilidade  de  viver  relacionamentos  afetivos  e  sexuais  significativos,  ainda  são  poucas  as  iniciativas  nesse 
sentido (Amor Pan, 2003; Maia, 2006).  
Como as pessoas com deficiência intelectual aprendem sobre sexualidade? O esclarecimento sobre 
sexualidade deve ocorrer de modo diferente quando há uma deficiência? Quais são os objetivos e propostas 
mais adequadas a essa população? 
Segundo  Couwenhoven  (2007),  as  crianças  e  jovens  com  deficiência,  ou  não,  aprendem  sobre 
sexualidade  no  dia‐a‐dia,  interagindo  com  o  mundo.  Aprende‐se  sobre  diferenças  do  corpo,  questões  de 
gênero e a expressão do afeto diante de relacionamentos no convívio entre familiares, pessoas na comunidade 

104
 
e  mesmo  pela  mídia.  Muitas  mensagens  são  transmitidas  informalmente  todos  os  dias  e  também  podem  (e 
devem)  ser  ensinadas  por  pessoas  preparadas  em  programas  formais,  estruturados  e  voltados  para  essa 
finalidade. De qualquer forma, sendo essas informações recebidas de modo formal ou informal, o aprendizado 
sobre sexualidade será mais efetivo quando nele está presente o lado positivo e favorável da sexualidade.  
Defendemos que é preciso ensinar sobre comportamentos preventivos visando a garantia da saúde 
sexual; entretanto, a prevenção não deve ser atrelada a noção de sexo‐pecado, sexo‐sujeira e sim ao sexo que 
pode ser vivenciado com prazer e responsabilidade.  
Crianças  e  jovens  com  deficiência  intelectual  aprendem  sobre  sexualidade  do  mesmo  modo: 
informalmente  e  formalmente;  no  entanto,  é  mais  comum  entre  essas  pessoas  haver  menos  acesso  a 
informação,  mais  atitudes  sociais  negativas  e  preconceituosas  em  relação  à  sua  sexualidade  e  atraso  na 
compreensão  de  conceitos  por  parte  deles  (Couwenhoven,  2007;  Schwier  &  Hingsburger,  2000).  Há  pouca 
oportunidade de aprendizado sobre sexualidade: poucos programas destinados a essa população ou programas 
com recursos pedagógicos inadequados e ineficientes. 
Além disso, geralmente também se pretende mais “controlar” a sexualidade dessas pessoas do que 
ajudá‐las  a  expressarem  e  a  viverem  sexualmente.  É  comum  quando  os  jovens  falam  sobre  o  assunto 
mostrarem uma noção assustadora do “sexo”, com informações distorcidas. A retenção de informações é um 
problema  comum  para  pessoas  com  dificuldades  cognitivas  por  isso  o  uso  de  informações  repetitivas  e  o 
trabalho  com  recursos  concretos  e  visuais  bem  como  situações  de  dramatização  são  fundamentais  como 
estratégias pedagógicas.  
A educação sexual para pessoas com deficiência intelectual deve ter os mesmos objetivos daquela 
educação destinada às pessoas não deficientes, embora, às vezes, os materiais pedagógicos utilizados possam 
ser adaptados (Maia, 2008; Maia & Camossa, 2003; Maia & Ribeiro, 2009). Para Couwenhoven (2007), alguns 
procedimentos básicos devem ser diferenciados,  como por exemplo: trabalhar com grupos menores, usar de 
instruções  individuais  (atendendo  as  necessidades  de  cada  sujeito  em  particular),  trabalhar  poucos  objetivos 
por sessão, falar pausadamente e usar repetições de conceitos e argumentos, focalizar em problemas comuns 
e  questões  do  dia  a  dia  da  pessoa  com  deficiência  e  ensinar  com  materiais  gráficos  e  concretos  (como 
ilustrações, desenhos, modelo e bonecos) e áudio‐visuais (como músicas e vídeos). 
Geralmente, a educação sexual inclusiva deve favorecer a promoção de condições em que se possa 
ensinar,  principalmente,  os  direitos  à  privacidade  (deles  e  a  de  outros),  preparar  os  jovens  para  o  seu 
desenvolvimento  sexual,  dialogar  e  esclarecer  sobre  relacionamentos,  alertando  para  situações  de  abuso 
sexual,  discutir  sobre  discriminação  de  gênero  e  questões  sociais  da  sexualidade  humana,  e  ensinar  sobre  a 
prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. No preparo de uma educação formal é preciso identificar as 
necessidades  dos  educandos,  preparar  o  processo  de  intervenção,  selecionar  objetivos,  ensinar/instruir 

105 
 
conceitos  e,  ainda,  avaliar  a  aprendizagem  (Couwenhoven,2007;  Glat  &  Freitas,  1996;  Maia,  2006;  Maia  & 
Ribeiro, 2009). 
Schwier & Hingsburger (2000) sugerem um guia geral para auxiliar em propostas de educação sexual 
para  pessoas  com  deficiências  em  diferentes  idades,  lembrando  que  se  deve  sempre  considerar  a 
especificidade  de  cada  aluno.  Entre  a  idade  de  3  e  9  anos  seria  interessante  esclarecer  sobre  as  diferenças 
entre meninos e meninas, a discriminação de lugares públicos e privados, a nomeação e função das partes do 
corpo  e,  ainda,  sobre  o  nascimento  de  bebês.  Na  puberdade  (entre  9  e  15  anos)  seria  bom  esclarecer  sobre 
menstruação,  polução  noturna,  mudanças  do  corpo,  modos  de  reconhecer  e  dizer  não  para  toques 
inadequados  de  outras  pessoas,  concepção,  desejo  sexual  e  masturbação.  Após  os  16  anos,  os  autores 
recomendam que se ensine sobre relacionamento amoroso e sexual, homossexualidade, diferenças entre sexo 
e  amor,  leis  e  consequências  sobre  abuso  e  violência  sexual,  métodos  contraceptivos,  doenças  sexualmente 
transmissíveis,  responsabilidades  de  um  casamento,  maternidade  e  paternidade.  Os  autores  ressaltam  ainda 
que seria importante ensinar esses conteúdos sobre sexualidade interagindo os aspectos físicos, emocionais e 
sociais relacionados. 
Ao eleger conteúdos importantes e metas de uma educação sexual inclusiva intencional, familiares e 
educadores precisam ter em mente alguns passos importantes: 
‐  Identificar  as  dúvidas  e  necessidades  dos  jovens  com  deficiência  intelectual:  o  que  eles  querem 
saber? O que eles já sabem? De onde vem esse conhecimento? 
‐Identificar  as  expectativas  e  interesses  dos  familiares  desses  jovens:  o  que  eles  esperam  com  a 
educação sexual destinada a seus filhos(as)? Como eles podem contribuir no processo? Que necessidades de 
esclarecimentos eles têm? 
‐ Eleger conteúdos significativos e relevantes. Que conteúdos são importantes que eles saibam? Por 
quem?  
‐  Planejar  como  serão  transmitidos  esses  conhecimentos?  Que  estratégias  utilizar?  Que  recursos 
pedagógicos seriam importantes? 
‐ Colocar em prática o ensino desses conteúdos utilizando informações pausadas, por meio de uma 
linguagem  acessível  e  não  excessivamente  técnica,  porém,  com  palavras  corretas,  sem  eufemismos  e 
infantilizações;  além  disso,  utilizar  materiais  concretos  que  ajudem  os  alunos  com  deficiência  intelectual  na 
compreensão  de  conceitos  abstratos,  como  por  exemplo,  brinquedos  pedagógicos  que  ilustram  o  corpo 
humano, bonecos sexuados que apresentam os órgãos sexuais e as características sexuais secundárias. Vários 
outros recursos podem ser usados, como figuras, desenhos, vídeos, músicas, enfim, recursos que podem ajudar 
o educador a trabalhar com seus alunos temas como o desenvolvimento sexual, namoro, nomeação de partes 
do corpo e reprodução. 

106
 
‐Avaliar a retenção do conhecimento entre os alunos e a generalização do aprendizado em situações 
cotidianas;  garantir  que  a  despeito  das  dificuldades  cognitivas  esses  jovens  possam  viver  a  sexualidade  de 
modo autônomo, prazeroso e responsável; 
‐  Dialogar  com  familiares  e/ou  a  instituição  responsável  pelos  jovens  de  modo  a  garantir  a 
continuidade do diálogo e do esclarecimento quando for necessário.  
  O  respaldo  da  instituição  e  dos  familiares  para  propostas  de  educação  sexual  é  fundamental.  O 
educador precisa tanto reconhecer a família como uma aliada no processo de educação sexual dos educandos 
e  ajudá‐la  na  mesma  tarefa  na  educação  cotidiana  e  não  intencional  dos  jovens  com  deficiência  intelectual 
(Amor Pan, 2003; Maia, 2006, 2010). No caso da instituição, é importante que a proposta de educação sexual 
faça  parte  do  projeto  político‐pedagógico  que  norteia  as  ações  que  nela  ocorrem  não  sendo  uma  iniciativa 
isolada e esporádica de profissionais, mas algo contínuo e permanentemente reciclado e melhorado. 
Com  a  família  e  a  escola  dando  suporte  ao  trabalho  do  educador,  é  preciso  acordar  o  que  se 
pretende trabalhar e as finalidades desse projeto, como se pretende abordar a questão e de quais recursos e 
procedimentos metodológicos serão necessários para que o trabalho seja eficaz. Já dissemos outrora: 
 

“As diferenças marcantes entre a sexualidade do deficiente e a sexualidade das pessoas não‐
deficientes parecem estar mais associadas ao tipo de educação sexual que eles têm do que 
às potencialidades de desenvolvimento de sua sexualidade que, em tese, poderia ser plena, 
uma fonte de prazer e realização pessoal. Atualmente há um grande esforço para oferecer 
melhores  oportunidades  educacionais  e  sociais  às  pessoas  com  deficiência  e  também  para 
tentar modificar preconceitos e valores sociais profundamente arraigados em nossa cultura. 
A dimensão sexual precisa ser considerada” (Maia, 2006, p. 247). 
   

  CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Não  existem  regras  que  direcionem  para  uma  proposta  ideal  de  educação  sexual  para  pessoas  com 
deficiência  intelectual.  É  preciso  estar  disposto  a  trabalhar  essa  questão  de  forma  criativa,  buscar 
conhecimento técnico e contar com colaboração dos agentes envolvidos. 
As  pessoas  com  deficiências  necessitam  de  participar  de  programas  específicos  de  educação  sexual 
porque têm os mesmos direitos de outros jovens, porque são vulneráveis e necessitam de acesso à prevenção 
e,  principalmente,  porque  crescem  com  poucas  informações  e  sofrem  preconceitos  sociais  que  desmerecem 
sua condição de “ser sexual”.  
A  educação  sexual  para  pessoas  com  deficiência  é  fundamental  para  diminuir  os  riscos  de  abuso  e 
violência sexual aos quais são vulneráveis; além disso, também ajudaria essas pessoas a terem mais habilidades 
para viver relacionamentos amorosos e sexuais satisfatórios, a se prevenirem de gravidezes indesejadas e do 

107 
 
contágio de doenças sexualmente transmissíveis. Uma educação sexual favoreceria aos jovens com deficiência 
intelectual  o  autoconhecimento  e  o  aumento  da  autoestima  e,  sobretudo,  favoreceria  a  todos  o 
reconhecimento de que essas pessoas não são “deficientes” em sua sexualidade.   
 
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108
 
O CAMINHO FAZ‐SE CAMINHANDO: A FORMAÇÃO DE PROFESSORES/AS EM EDUCAÇÃO SEXUAL 

Carla Serrão,  
Escola Superior de Educação do IPPorto 
 
A  vasta  demonstração  científica  relativamente  ao  impacto  positivo  e  efectivo  de  programas 
adequados  de  Educação  Sexual  (doravante  designado  de  E.S.)  em  meio  escolar,  tem  impulsionado  várias 
medidas  políticas  por  parte  do  Estado  Português,  nomeadamente  da  garantia  do  direito  à  E.S.  como 
componente  do  direito  fundamental  à  educação  (Lei  n.º  3/84,  de  24  de  Março  de  1984),  como  temática 
obrigatória  (Decreto‐Lei  n.º  259/2000,  de  17  de  Outubro  de  2000)  e  com  conteúdos  e  tempos  mínimos 
estabelecidos para a sua concretização (Portaria n.º 196‐A/2010, de 9 de Abril de 2010). Apesar de um quadro 
legal e normativo suficientemente amplo e claro, a sua implementação nas escolas, e em sequência da recente 
legislação publicada a este respeito, tem sido pautada por múltiplos questionamentos, nomeadamente sobre 
quem  deve  ser  o  professor  responsável  pela  sua  implementação,  em  que  áreas  curriculares  devem  ser 
desenvolvidos os conteúdos de E.S., com base em que pressupostos se deve desenhar o projeto curricular de 
turma em educação sexual, quais as estratégias que poderão ser levadas a cabo.    
Contudo,  não  são  somente  estes  questionamentos  mais  actuais  que  têm  modelado  os  processos  de 
concretização da E.S. em contexto escolar, mostrando que a implementação da E.S. é uma realidade complexa, 
onde intervêm muitas variáveis. De facto, vários estudos com o intuito de analisar a complexidade de que se 
reveste  a  implementação  da  E.S.,  têm  pesquisado  variáveis  sócio‐cognitivas  que  se  podem  constituir  como 
facilitadoras  ou  obstaculizadoras  do  envolvimento  dos  professores  na  E.S.,  designadamente  o  nível  de 
conhecimentos em relação a vários temas da Sexualidade, o grau de conforto na abordagem da temática (e.g., 
Anastácio, 2007; Ramiro & Matos, 2008; Reis & Vilar, 2004; Serrão & Barbosa, 2006), a disponibilidade para a 
abordagem de determinados temas (e.g., Serrão & Barbosa, 2006), as atitudes (Ramiro & Matos, 2008; Reis & 
Vilar, 2004), a religiosidade, os estilos de ensino (e.g., Reis & Vilar, 2004), as crenças acerca da Sexualidade e da 
reprodução  humana  (Veiga,  Teixeira,  Martins,  Meliço‐Silvestre,  2006),  crenças  sobre  a  oposição  dos  pais 
relativamente à E.S. (Teixeira, 1999), entre outras.  
Outro motivo habitualmente alicerçado à dificuldade na abordagem da temática da E.S. nas práticas 
educativas dos professores é a falta de preparação no âmbito da sua formação inicial. Deste modo, e com vista 
à concretização da E.S. formal, estruturada e intencional, vários investigadores salientam que o incremento da 
E.S.  na  escola  passa,  também,  pela  apropriada  formação  inicial  de  professores  (e.g.,  Anastácio,  2007)  pois, 
frequentemente,  estes  agentes  percepcionam‐se  com  baixas  competências  neste  domínio,  ainda  que 
considerem  ter  elevados  conhecimentos  nos  diversos  conteúdos  que  podem  ser  explorados  nesta  temática 
(Serrão  &  Barbosa,  2006).  A  intersecção  desta  temática  na  formação  inicial  de  professores  é  justificada,  na 

109 
 
medida em que os professores que tiveram preparação adequada no âmbito da Sexualidade se sentem mais 
competentes e confortáveis para abordar tópicos relacionados com a E.S. (Serrão & Barbosa, 2006). 
Os estudos são unânimes ao sustentarem que a E.S. continua a não fazer parte dos planos de estudos 
dos cursos de formação de professores (e.g., GTES, 2005; Serrão, 2009; Vilaça, 2006). Assim, na última década, 
em resposta a esta indigência de preparação dos professores nesta matéria, têm‐se verificado um aglomerado 
de ofertas formativas neste domínio, nomeadamente ao nível da formação contínua e mais recentemente ao 
nível da formação pós‐graduada.  
De  facto,  somos  da  opinião  que  a  formação  contínua  é  uma  variável  importante  para  desencadear 
processos de envolvimento dos/das professores/as na promoção da E.S.. Porém, concordamos que nem todos 
os  percursos  formativos  parecem  estar  em  consonância  quer  com  as  expectativas  dos/das  professores/as 
relativamente  ao  espaço  formativo,  quer  com  as  realidades  contextuais  onde  os  protagonistas  deste 
movimento terão de desenvolver o seu papel. Perante este cenário, qual será então o caminho a co‐construir? 
Qual  será  o  caminho  desejado  e  ideal  para  que  os  professores  desenvolvam  competências  efetivas  na 
promoção da E.S.? 
Tendo  como  premissa  que  “o  caminho  faz‐se,  caminhando”,  em  seguida  faremos  uma  reflexão, 
integrando dois tipos de estratégias conducentes ao envolvimento do professor em práticas de E.S., ou seja, 
estratégias de ordem macro e estratégicas de ordem microssistémica. 
No âmbito das estratégias macrossistémicas e percebendo‐se o efeito da formação, tanto inicial, como 
contínua,  para  o  envolvimento  do  professor  em  práticas  de  E.S.,  torna‐se  fundamental  priorizá‐las  enquanto 
estratégias  para  a  implementação  da  inovação,  dando  para  isso  as  condições  preambulares  para  que  o 
processo de envolvimento do professor se comece a construir. 
No  cenário  microssistémico,  um  conjunto  de  condições  se  impõe  para  a  concretização  da  mudança, 
operada através dos mecanismos de envolvimento dos professores em práticas de E.S.. 
 

1.POLÍTICA DE INCENTIVO E APOIO AOS PROCESSOS DE ENVOLVIMENTO 
Somos  da  opinião  que  as  escolas  devem  ter  uma  política  de  incentivo  e  apoio  aos  processos  de 
envolvimento,  podendo  tal,  ser  desencadeado  pelo  professor  coordenador  do  projecto.  Enquadrado  neste 
cenário, deve ser potenciado o trabalho em rede entre os professores, onde as realizações comportamentais e, 
ou experiências vicariantes operem como oportunidades de interacção entre os elementos que implementam a 
inovação e aqueles que ainda não a iniciaram. Tal processo poderá, numa fase inicial, ser incitado através da 
formação  contínua,  funcionando  esta  como  plano  praxiológico,  para  em  seguida,  ser  providenciada 
monitorização, supervisão e avaliação do gradual envolvimento dos professores nestas práticas (Serrão, 2009).  
 

110
 
2. PLANO FORMATIVO 
O  plano  formativo,  e  em  específico  no  âmbito  da  formação  contínua,  deverá  ser  enquadrado  num 
modelo  em  que  se  assume  um  papel  de  incitamento  à  análise,  à  indagação,  à  reflexão  sobre  a  realidade 
educativa (e.g., Cró, 1998; Estrela & Estrela, 2001; Tavares, 1997) e apoio para a mudança de práticas. Neste 
sentido, “os professores têm que ser protagonistas activos nas diversas fases do processo de formação (…): na 
concepção e no acompanhamento, na regulação e na avaliação” (Nóvoa, 1991, p.31).   
A  formação  de  professores  deve  constituir  uma  forma  globalizante  e  integradora,  valorativa  do  seu 
carácter  contextual,  organizacional  e  de  orientação  para  a  mudança,  considerando  um  conceito  vasto  do 
“desenvolvimento profissional dos professores”. Por conseguinte, deve ser concebida “como uma intervenção 
educativa” e “solidária dos desafios de mudança das escolas e dos professores” (Nóvoa, 1991, p.22).  
Ora,  qualquer  mudança  sustentada  por  práticas/realizações  comportamentais  requer  tempo,  desta 
forma  é  exigido  um  tempo  compatível  com  esta  mudança.  Tempo  para  a  investigação,  tempo  para  a  acção, 
tempo para a reflexão, tempo para a avaliação…   
Deve atender aos seguintes aspectos com o intuito de influenciar o comportamento de envolvimento 
do  professor,  sendo  eles:  aumento  da  informação,  o  desenvolvimento  de  competências  auto‐reguladoras  e 
auto‐promotoras,  o  aumento  do  conforto,  o  treino  de  competências  sociais  e  aumento  do  sentido  de  auto‐
eficácia (Bandura, 1993). 
A área dos conhecimentos deve ser bem planeada, pois é através dela que o professor vai conhecer, 
compreender  e  reflectir  sobre  o  conceito  de  Sexualidade  e  de  E.S.,  os  objectivos  e  conteúdos  da  E.S.,  as 
directrizes ministeriais existentes nesta matéria, as estratégias de intervenção e promoção, a necessidade de se 
diagnosticarem as necessidades e os interesses dos estudantes nesta matéria, etc. A discussão e reflexão sobre 
os diferentes modelos de saúde e sobre os factores envolvidos nas mudanças comportamentais e atitudinais, 
permitirá  minimizar  a  dissonância  entre  os  objectivos  da  E.S.  e  as  práticas  dos  professores.  Neste  sentido,  o 
aumento  da  informação  contribuirá  para  o  aumento  das  competências  de  auto‐eficácia,  permitindo  que  o 
professor se envolva gradualmente neste processo e reflicta sobre o trabalho diferenciado que a mesma exige. 
Com vista ao aumento do nível de conforto, torna‐se essencial facilitar a tomada de consciência das 
emoções associadas ao debate de diferentes temas, sendo este um passo importante para que a informação 
que elas contêm possa ser útil e para que estas possam ser modificadas. 
O processo de modelagem é facilitado ao pôr‐se em comum boas práticas, experiências de sucesso e 
insucesso,  ao  simularem‐se  situações,  facultando  o  desenvolvimento  de  competências  para  lidar  com  os 
imprevistos, antecipando acontecimentos que possam ocorrer no contexto de ensino‐aprendizagem (Bandura, 
1993) e desenvolvendo competências sociais e aumento do sentido de auto‐eficácia. 
A adopção por parte do professor de uma “orientação personalista”, sendo capaz de escolher e tomar 
decisões,  de  uma  “orientação  prática”,  sendo  capaz  de  produzir  conhecimento  através  das  suas  realizações 

111 
 
comportamentais e uma “orientação sócio‐reconstrucionista” (Marcelo, 1999), sendo capaz de transformar os 
sistemas  em  que  está  inserido  e  no  qual  participa,  ou  não  directamente,  devem  marcar  a  orientação  da 
dinâmica formativa.  
Em suma, acreditamos que ao serem providenciadas transformações tanto ao nível das estratégias de 
inovação (macrossistémicas, como por exemplo através de mais ofertas formativas e gratuitas), como ao nível 
das  estratégias  de  mudança  (microssistémicas),  criar‐se‐ão  cenários  tendentes  a  influenciar  as  crenças  do 
professor a vários níveis.  
 
CONCLUSÃO 
A participação do professor em settings formativos onde seja possível desencadear a experimentação 
e a representação de vários papéis (de professor, de estudante, de pai, de amigo…), a partilha de sucessos e 
insucessos na dinamização de ações de E.S.,a vivência do desconforto perante a discussão de temas polémicos, 
serão caminhos férteis para a co‐construção e redescoberta do Eu e dos sentidos e significados dos processos 
de ensino‐aprendizagem.  
Finalizamos esta reflexão assumindo que a formação pode e deve ser considerada o ponto de partida, 
na  medida  em  que  somos  da  opinião  de  que  só  o  quotidiano  do  professor  pode  contribuir  para  que  ele 
aprimore  o  processo  de  ensino‐aprendizagem.  Cabe  a  cada  um  de  nós  encontrar  o  caminho  e  a  forma  de 
ensinar a caminhar: 

 
“Tentei ensinar‐te formas de andar, mas nem eu nem ninguém tem o direito de te levar às 
costas.  Poderei,  apesar  de  tudo,  acabar  com  um  último  conselho?  Já  que  se  trata  de 
escolher, procura sempre escolher essas opções que depois te permitam o maior número de 
outras  opções  possíveis,  e  não as  que  te  deixem  entalado,  contra  a  parede.  Escolhe  o  que 
abre: aos outros, a novas experiências, a diferentes alegrias. 
Evita o que te encerra e te enterra. Quanto ao mais, boa sorte!” (Fernando Savater, in Ética 
para um jovem) 
 
 
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114
 
ORIENTAÇÕES EUROPEIAS PARA A EDUCAÇÃO SEXUAL NAS ESCOLAS 
 
Manuela Moura,  
Vice‐Presidente da APF Norte 
 
A  implementação  de  programas  formais  de  Educação  Sexual  em  contexto  escolar  sempre  levantou 
várias  questões  na  sociedade,  na  comunidade  escolar  e  no  poder  político  em  Portugal.  A  promoção  da 
Educação  Sexual  nas  escolas  encontra‐se  legislada  como  uma  obrigação  do  Estado  Português  desde  1984, 
através  da  Lei  3/84,  de  24  de  março.  Contudo,  apenas  em  2009,  a  Lei  60/2009,  de  6  de  agosto,  seguida  da 
Portaria  196‐A/2010,  de  9  de  abril,  vem  regulamentar  a  sua  obrigatoriedade  e  descreve  a  metodologia  e  os 
conteúdos curriculares que a Educação Sexual deverá contemplar. 
Atualmente,  várias  questões  voltam  a  ser  levantadas  com  as  novas  orientações  do  Ministério  da 
Educação  e  a  reforma  curricular  do  Ensino  Básico  e  Secundário,  nomeadamente  na  retirada  das  áreas 
curriculares não disciplinares. 
Tendo  em  conta  estes  factos,  pareceu‐me  oportuno  reforçar  a  pertinência  da  Educação  Sexual  e 
salientar  as  orientações  Europeias  recomendadas  recentemente,  quer  pela  Organização  das  Nações  Unidas 
para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO, 2010), quer pela Organização Mundial de Saúde (WHO, 2010). 
Entendemos  a  Educação  Sexual  como  um  processo  de  aprendizagem  que  envolve  os  aspetos 
cognitivos,  emocionais,  sociais,  físicos  e  relacionais  da  sexualidade.  A  Educação  Sexual  tem  como  principal 
objetivo capacitar as crianças e jovens de informação adequada, competências pessoais e valores positivos face 
à sexualidade, para que possam fazer escolhas saudáveis e responsáveis.    
Segundo a UNESCO (2009), a Educação Sexual é definida como o 
 
 
“ensino da sexualidade e dos relacionamentos, apropriado à idade, culturalmente relevante, 
através  da  informação  cientificamente  apropriada,  realista  e  isenta  de  julgamento.  A 
Educação Sexual proporciona oportunidades para cada um explorar os seus próprios valores 
e  atitudes  e  permite  a  tomada  de  decisões,  competências  de  comunicação  e  redução  de 
riscos acerca de muitos aspetos da sexualidade”.  
 
 
Entendemos  a  sexualidade  como  a  expressão  dos  afetos,  a  aceitação  do  corpo  e  o  reconhecimento 
das suas potencialidades, a capacidade de interação e de relacionamento com um outro, envolvendo o sexo, a 
identidade,  os  papéis  de  género,  a  orientação  sexual,  o  erotismo,  o  prazer,  a  intimidade  e  a  reprodução.  A 
sexualidade  é uma  componente do  ser humano  enquanto  pessoa biopsicossocial,  faz  parte  do  seu corpo, da 

115 
 
sua  personalidade,  da  sua  expressão  social.  Segundo  a  OMS  a:  “Human  sexuality  is  a  natural  part  of  human 
development through every phase of life and includes physical, psychological and social components […]”. 
É assim reconhecido que o ser humano é um ser sexual e que a sexualidade é uma componente que o 
acompanha ao longo da sua vida. A Educação Sexual poderá contribuir para um desenvolvimento pessoal mais 
positivo e relações interpessoais mais satisfatórias e autodeterminadas. 
O  direito  à  informação  e  à  educação  está  já  protocolado  em  vários  tratados  e  convenções 
internacionais, aos quais Portugal aderiu. Desde a Convenção dos Direitos da Criança até aos próprios Objetivos 
de Desenvolvimento do Milénio (ODM), inclui‐se o direito à Educação Sexual. É, pois, crucial o reconhecimento 
dos direitos básicos dos jovens, entre os quais:  
‐ Direito à informação em Saúde Sexual e Reprodutiva, Educação e disponibilização de Serviços; 
‐ Direito a participar como cidadão ativo e expressar o seu ponto de vista; 
‐ Direito a ter prazer e confiança na sua sexualidade e relacionamentos; 
‐ Direito a fazer as suas opções livre de exploração, opressão ou agressão física e emocional. 
A IPPF (Federação Internacional para o Planeamento da Família), na sua Carta Dos Direitos Sexuais e 
Reprodutivos  (1994),  promove  a  divulgação  dos  direitos  sexuais  e  reprodutivos  como  parte  integrante  dos 
Direitos  Humanos.  Mais  tarde,  na  sua  Declaração  dos  Direitos  Sexuais,  assume‐os  claramente  como  sendo 
questões  de  Direitos  Humanos,  nos  quais  se  inclui  o  direito  a  viver  a  sexualidade  com  prazer  e  o  direito  à 
informação e educação:  “Todas  as  pessoas,  sem  discriminação,  têm o direito  à  educação  e  à  informação  em 
geral,  a  uma  educação  sexual  completa  e  à  informação  necessária  e  útil  para  o  exercício  de  uma  cidadania 
plena de igualdade nos domínios privado, público e político”. 
A OMS alerta igualmente para o facto de todas as crianças e jovens terem o direito de aceder a uma 
Educação  Sexual  apropriada  à  sua  idade  e  que  esta  deverá  ser  baseada  em  Direitos  Humanos 
Internacionalmente aceites, em particular no direito ao conhecimento como forma de promoção da saúde. 
Nas  Standards  for  Sexuality  Education  in  Europe,  da  autoria  da  OMS  (2010),  são  identificados  sete 
princípios básicos para a Educação Sexual: 
1. A educação sexual deve ser adequada à idade, tendo em conta o desenvolvimento e capacidade de 
entendimento pessoal, responder às necessidades culturais e sociais e ser sensível ao género. Deverá, ainda, 
corresponder à realidade vivida pelos jovens; 
2. A Educação Sexual é baseada numa abordagem dos Direitos Humanos, sexuais e reprodutivos; 
3. A Educação Sexual segue uma visão holística de bem‐estar o qual inclui a Saúde; 
4. A Educação Sexual está firmemente baseada na igualdade de género, autodeterminação e aceitação 
da diversidade; 
5. A educação Sexual começa com o nascimento; 

116
 
6. A Educação Sexual tem de ser entendida como uma contribuição para uma sociedade justa através do 
empoderamento dos indivíduos e das comunidades;  
7. A Educação Sexual deve ser baseada em informações precisas e científicas. 
Num  trabalho  desenvolvido  pela  UNESCO,  do  qual  resultam  as  Orientações  Técnicas  Internacionais 
sobre Educação em Sexualidade (2010), encontra‐se uma revisão da literatura acerca do impacto da educação 
sexual sobre o comportamento sexual, envolvendo países em desenvolvimento, os Estados Unidos da América 
e outros países desenvolvidos, num total de 87 estudos. Desta análise aos diversos programas ressaltam várias 
recomendações para uma maior eficácia da Educação Sexual.  
Neste  estudo,  emergiram  as  características  comuns  aos  Programas  de  Educação  Sexual,  para  a 
prevenção do VIH/SIDA, IST´s e gravidezes não desejadas, que se revelaram ser mais efetivos na aquisição de 
maior conhecimento, promoção de valores e atitudes, facilitadores de competências e comportamentos: 
1. Envolvimento de especialistas, i.e., as pessoas envolvidas na elaboração e/ou seleção de currículos 
devem estar familiarizadas com as questões a abordar, reconhecer as problemáticas dos jovens em questão e 
identificar modelos teóricos e de intervenção mais adequados; 
2. Determinam as necessidades de saúde reprodutiva e comportamentos dos jovens, construindo os 
programas a partir do conhecimento, atitudes positivas dos jovens e competências existentes; 
3. Usam  uma  abordagem  de  modelo  lógico  que  especifica  os  objetivos  de  saúde;  identificam  os 
comportamentos específicos que afetam esses objetivos e que podem ser modificados; identificam os fatores 
de proteção e de risco e criam atividades para modificar ou reforçar cada um desses fatores; 
4. Concebem atividades sensíveis a valores comunitários e consistentes com os recursos disponíveis 
(como o tempo e competências da equipe, espaço das instalações,…); 
5. Fazem um teste piloto do programa e obtêm feedback contínuo dos alunos acerca do programa e 
da resposta às suas necessidades; 
6. Enfocam  objetivos  claros  ao  determinar  o  conteúdo,  a  abordagem  e  as  atividades  curriculares. 
Esses objetivos devem incluir a prevenção do VIH, outras IST’s e a gravidez não desejada; 
7. Têm  um  enfoque  restrito  em  comportamentos  protetores  e  de  risco  sexual  específicos  que 
conduzem diretamente a esses objetivos de saúde; 
8. Abordam  situações  específicas  que  podem  conduzir  a  relações  sexuais  indesejadas  ou  sem 
proteção, e estratégias para evitar e sair dessas situações; 
9. Transmitem mensagens claras sobre comportamentos para reduzir o risco de IST’s ou gravidez; 
10. Trabalham os fatores protetores e de risco específicos que afetam certos comportamentos sexuais, 
e  que  são  passíveis  de  modificação  pelo  programa  baseado  num  currículo  (como  conhecimentos,  valores, 
normas sociais, atitudes e habilidades); 

117 
 
11. Utilizam  métodos  participativos  de  ensino  que  envolvem  ativamente  os  jovens  e  ajudam‐nos  a 
internalizar e a integrar a informação; 
12.  Implementam múltiplas atividades educacionalmente sólidas, concebidas para modificar cada um 
dos fatores protetores e de risco alvo do programa; 
13. Fornecem  informações  cientificamente  corretas  sobre  os  riscos  do  sexo  sem  proteção  e  a 
efetividade de diferentes métodos de proteção; 
14. Abordam as perceções de risco (especialmente suscetibilidade); 
15. Abordam os valores pessoais, as perceções da família e as normas de pares sobre o envolvimento 
em atividades sexuais e/ou múltiplos parceiros; 
16. Abordam atitudes individuais e normas de pares em relação a preservativos e contraceção; 
17.  Abordam tanto as competências individuais, como a autoeficácia em usar tais competências 
18. Abordam todos estes tópicos numa sequência lógica. 
 
A  EDUCAÇÃO  SEXUAL  junto  dos  jovens  não  é  ainda  satisfatória,  sendo  de  todo  importante  focar  a 
Saúde Sexual e Reprodutiva (SSR) e promover um desenvolvimento saudável dos jovens através da informação 
e prestação de serviços que sejam apropriados, acessíveis e integrados num sistema sustentado e abrangente, 
que responda às suas necessidades. 
As  orientações  protocoladas  pela  UNESCO  recomendam  um  conjunto  de  pontos‐chave  como  boas 
práticas a serem implementadas nas escolas: 
1. Implementar programas com no mínimo doze sessões; 
2. Incluir sessões sequenciais ao longo de vários anos; 
3. Selecionar educadores capazes e motivados para implementar o currículo; 
4.  Fornecer formação de qualidade aos educadores; 
5. Fornecer gestão, supervisão e reflexão contínuas. 
 
Também a OMS (2010) realça alguns requisitos básicos para uma Educação Sexual eficaz: 
1. Participação sistemática dos jovens; 
2. Seguir os princípios do modelo interativo;   
3. Processo contínuo e baseada no entendimento de que o desenvolvimento da sexualidade ocorre 
ao longo de toda a vida; 
4. Recorre à complementaridade multisectorial, envolvendo parceiros dentro e fora da escola; 
5. É orientada para os diferentes contextos e responde às necessidades dos alunos; 
6. Estabelece uma estreita cooperação com os pais e a comunidade de forma a construir um suporte 
ambiental favorável; 

118
 
7. Tem  em  conta  as  questões  de  género  garantindo  uma  resposta  adequada  às  preocupações  e 
necessidades diferentes. 
O envolvimento dos jovens é igualmente um ponto forte e crucial para a eficácia dos programas em 
Educação  Sexual.  Nos  vários  trabalhos  consultados  e  manuais  internacionais,  reforça‐se  a  importância  do 
envolvimento dos jovens, quer na participação do desenvolvimento curricular, como no próprio planeamento e 
execução de atividades. 
Também  o  PROJETO  SAFE,  projeto  desenvolvido  numa  parceria  entre  a  IPPF  Europeia,  a  OMS  e  a 
Universidade  de  LUND  (Suécia),  que  contou  com  a  participação da  APF  Portuguesa  e  de  outros  25  membros 
associados da IPPF EN (European Network), aborda questões fundamentais para uma política de sucesso sobre 
a Saúde Sexual e Reprodutiva (SSR) direcionada para os jovens. 
Este projeto, que findou em 2007, teve como principais objetivos: obter uma imagem do que se faz na 
Europa na área dos Direitos em SSR dos jovens; desenvolver novas linhas de orientação ao nível da informação 
e serviços; promover novas políticas juvenis.  
Reforça‐se,  assim,  que  uma  política  em  Educação  Sexual  e  SSR  para  jovens  terá  que  ter  em  conta 
aspetos centrais como a informação apropriada à idade e adequada à realidade do jovem, na ajuda em fazerem 
escolhas  e  tomarem  decisões  em  SSR  no  respeito  por  si  e  pelo  outro  e  perspetivar  a  sexualidade  como  algo 
positivo e sem receios, no respeito pelo prazer e satisfação sexual. 
Pensamos,  assim,  que  nos  últimos  anos  o  esforço  vigente  da  promoção  da  Educação  Sexual  em 
Portugal, envolvendo diferentes atores das escolas, comunidades e poder político, espelha as recomendações e 
orientações  europeias.  O  percurso  efetuado  tem  permitido  um  crescimento  de  iniciativas,  reflexões  e 
generalização dos saberes.  
Um  retrocesso  neste  desenvolvimento  teria,  com  certeza,  severas  consequências  a  médio  e  longo 
prazo.  Não  nos  podemos  esquecer  que  uma  Educação  Sexual  eficaz  possibilitará  aos  adultos  de  amanhã, 
crianças  e  jovens  de  hoje,  a  capacidade  de  enfrentarem  os  desafios  do  desenvolvimento  afetivo  e  as 
competências de autonomia e negociação com os parceiros.  
 
BIBLIOGRAFIA 
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119 
 
IPPF European Network (2007) – Um guia para o desenvolvimento de políticas sobre Direitos e Saúde 
Sexual e Reprodutiva na Europa de Jovens. The SAFE Project. Bélgica. 
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Vilar, D.; Ferreira, P.M. (2009) ‐ A educação sexual dos jovens portugueses ‐ conhecimentos e fontes. In 
Educação Sexual em Rede, nº 5. APF 
WHO  Regional  Office  for  Europe  and  BZgA  (2010).Standards  for  Sexuality  Education  in  Europe.A 
Framework  for  policy  makers,  educational  and  health  authorities  and  specialists.Federal  Centre  for  Health 
Education, BZgA. Cologne  
 
LEGISLAÇÃO 
Lei  n.º  3/84  (1984).  Educação  sexual  e  planeamento  familiar:  Assembleia  da  República  Diário  da 
República, I Série, de 24 de março, n.º 71, 981‐983. 
Portaria n.º 196‐A (2010). Diário da República, 1.ª série — N.º 69 — 9 de abril de 2010. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

120
 
PINCELADAS SOBRE A ADOLESCÊNCIA 
 
Milice Ribeiro dos Santos, 
Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar 
 
Adolescência  é  continuidade  e  rutura,  reorganização,  movimento  em  espiral  de  construção  e 
desconstrução  em  que  buscando  no  passado  se  vive  o  presente  e  se  fantasia  o  futuro.  A  adolescência  traz 
transformações no corpo, na sexualidade, no pensar, nos afetos, no relacionar, nas tomadas de decisão, nos 
compromissos, no sonhar… Cada adolescente, nesta fase existencial, muda em todos os aspetos e com ritmos 
de  maturação  diferentes.  Frequentemente,  quando  a  criança  se  sentia  bem  consigo,  com  a  família,  com  os 
colegas, com os vizinhos, quando sabia quem era, surgem as manifestações pubertárias, sente um movimento 
interno  que  a  faz  estranhar‐se  com  o  que  se  está  a  passar  e  a  deixa,  muitas  vezes,  surpreendida,  confusa, 
encantada, alegre, triste, preocupada..... Assim, cada jovem tem no seu percurso de se (des)entender consigo 
mesmo:  saber  quem  foi,  compreender  o  que  se  passa  e  escolher  quem  se  quer  ser.  Na  adolescência, 
frequentemente,  sofre‐se,  vive‐se,  têm‐se  saltos  de  humor,  desejos  ambivalentes  de  continuar  criança  e  de 
crescer; é‐se psicoafetivamente vulnerável.  
A adolescência é a representação e a compreensão de si e de uma diferente e diferenciada aparência 
física,  com  uma  imagem  corporal  sexualizada.  É  o  tempo  do  assumir  uma  masculinidade  ou  feminidade;  é  o 
pensar enquanto pensador, é o ensaiar ser e perceber‐se como membro de uma comunidade.  
A  crise  de  adolescência  tem  sido  considerada  rutura  no  equilíbrio  homeostático.  O  conceito 
eriksoniano de crise dá esta dimensão de adaptação e de potencialidades, de flutuação, de transformação, de 
realização, de plasticidade e de resolução de problemas. Perspetivada como “crise normativa” cabe‐nos a nós 
questionar o que essa crise tem de desorganizadora e/ou organizadora. 
É  fundamental  precavermo‐nos  contra  os  riscos  das  generalizações  estereotipadas  pois  há 
adolescentes e adolescências. A normalização é insuportável, paradoxal, pois o movimento da adolescência é 
precisamente  este  processo  de  construção  de  uma  individuação/singularidade,  de  uma  identidade  pessoal, 
sexual e psicossocial. Uma identidade construída em diversificadas trajetórias e com modelos de identificação 
em  mudança.  Crescer  é  também  ultrapassar  identificações  infantis:  aos  pais  sucedem‐se  os  pares.  A 
identificação não é um modelo a copiar é um processo de diferenciação que implica a compreensão de si na 
relação com os outros significativos. 
Todavia,  a  adolescência  não  é  obrigatoriamente  uma  fase  perturbada  e  perturbadora  pois,  como 
muito  bem  sabemos,  muitos  dos  problemas  com  que  os  jovens  se  deparam  e  em  que  se  enredam,  com  o 
tempo,  normalmente,  são  resolvidos.  Daniel  Sampaio  analisa  no  Lavrar  o  Mar  (2006)como,  teoricamente,  a 
adolescência é considerada uma fase de tensão, desequilíbrio, conflito consigo e com os outros abordando as 

121 
 
implicações  de  se  apresentarem  os  adolescentes  como  atormentados  e  incompletos  “um  jovem  é  alguém 
inacabado, imperfeito, em busca de uma coisa melhor, a adultícia”. 
As dificuldades, as perturbações mesmo as que nos parecem graves integram‐se, na sua maioria, no 
processo idiossincrático de desenvolvimento. É bem perigoso um diagnóstico e uma classificação em termos de 
patologia,  dado  o  processo  de  adolescência  ser  complexo  e  diverso  com  tantas,  profundas  e  permanentes 
mudanças  existindo  manifestações  do  processo  adolescente  que  se  podem  facilmente  confundir  com 
patologias. 
Estas  conceções  são  reforçadas  pelas  representações  dos  media  que  apresentam  os  adolescentes 
como irreverentes, insolentes, inquietos, a precisarem de ajuda e de controlo. Em contrapartida, simultânea e 
paradoxalmente, temos a imposição de uma sociedade de anseios juvenalizados onde o que é jovem é o que 
está  a  dar,  bem  patente  nos  cânones  de  beleza,  no  que  é  considerado  atraente  e  valorizado  na  moda,  na 
publicidade, na vida urbana e social. 
Dias Cordeiro (1987) afirma‐nos: “Um dos maiores progressos no estudo do funcionamento mental do 
adolescente  foi  considerá‐lo  do  ângulo  da  saúde  e  não  da  doença”.  Na  verdade,  muito  mudou  quando  as 
investigações  em  psicologia  se  desenvolveram  fora  do  espaço  clínico  e  do  “adolescente‐problema”  e  as 
observações e recolha de dados foram obtidas nos contextos vivenciais e se deu a palavra ao adolescente.   
Não há um modelo único de se comunicar, de se relacionar, de se expressar, de se emocionar. Daí ser 
necessário um entendimento capaz de apreender cruzamentos, complexidades e diversidades. 
Os  jovens  socialmente  representados  como  problemáticos,  frágeis  e  imaturos  são  mais  objetos  de 
medidas do que seres de direitos e deveres, do que cidadãos e cidadãs.  
A adolescência traz mudanças biológicas, intelectuais, emocionais, afetivas e relacionais, na visão do 
mundo, nos valores, nas tomadas de decisão e de responsabilidades. Cada jovem tem a sua adolescência; há 
adolescências avançadas, retardadas, prolongadas, sofridas, bem vividas, harmoniosas, desarmoniosas... 
Podem  existir  irregularidades  entre  os  diferentes  níveis  de  maturação  nas  vertentes  de 
desenvolvimento  físico,  cognitivo,  social,  emocional  e  afetivo.  Estas  discrepâncias  podem  dificultar  uma 
compreensão  pessoal,  bem  como,  falsas  apreciações  de  idade  e  dificuldades  comunicacionais  por  parte  dos 
adultos. 
A sexualidade é inerente à vida, desde os pequenos hábitos de todos os dias até aspetos tão vastos 
como  as  nossas  opiniões,  entusiasmos  e  sensibilidades  acerca  dos  acontecimentos,  problemas  e  valores  do 
mundo. 
Assim,  a  par  das  mudanças  físicas  que  se  verificam,  irá  efetuar‐se  um  manancial  de  transformações 
psicológicas.  A  puberdade  tende  por  razões  alimentares  e  socioculturais  a  iniciar‐se  cada  vez  mais  cedo  e  a 
idade  adulta  é  atingida  cada  vez  mais  tarde,  sobretudo  devido  a  fatores  de  ordem  social  como  sejam  o 

122
 
alargamento  do  período  de  escolarização,  as  dificuldades  de  entrada  no  mundo  do  trabalho,  a  crise  da 
habitação. 
A  adolescência  é  mais  marcada  pelos  contextos  socioculturais  do  que  pelos  impulsos  biológicos.  É  a 
sociedade  que  define  as  expectativas,  os  padrões  comportamentais,  as  normas  e  a  normalidade,  que  dá 
significação  social  a  determinados  comportamentos.  O  comportamento  de  uma  rapariga  sueca  pode  ser 
considerado  delinquência  em  vários  outros  locais  da  Europa  e,  mesmo,  levar  à  prisão  em  muitos  países 
orientais. 
As vivências da sexualidade são muito marcadas por fatores sociais, culturais e geográficos como os 
contextos  culturais,  ideológicos  e  religiosos,  os  mitos  e  tabus,  os  hábitos  comunitários.  Fácil  é  pois  entender 
como a família, a escola e a comunidade podem criar climas repressivos e culpabilizantes (“legitimadamente” 
pois  é  para  o bem  deles), destruidores  da  espontaneidade  e  bem‐estar  fazendo  os  adolescentes  sentirem‐se 
mal com as curiosidades eróticas, com o corpo, as emoções e a vida. 
Os rapazes e as raparigas, nesta idade, são normalmente preenchidos por fantasias eróticas e desejos 
de índole sexual, de sentimentos intensos de paixão e enamoramento que podem causar sentimentos diversos 
como orgulho, alegria, tensão, vergonha, timidez. Todavia, a ausência destas manifestações pode, igualmente, 
trazer aos adolescentes tristeza e sentimentos de inferioridade. 
O  grupo  de  colegas  e  amigos  tem  uma  importante  função  estruturadora  funcionando  como  um 
espelho  onde  se  veem  crescer  apresentando  modelos,  linguagens  e  normas,  fazendo  descobrir  habilidades, 
prazeres  e  gostos  tais  como  de  música,  atividades  recreativas  e  desportivas.  No  entanto,  este  grupo  pode 
também  ser  muito  impositivo  desrespeitando  a  personalidade,  valores  e  opções  de  cada  um  e  forçando  os 
jovens a determinados comportamentos pela necessidade de conformidade grupal.  
Na questão da sexualidade, uma pressão frequentemente sentida pelo grupo dos coetâneos refere‐se 
à quase obrigação de ter relações sexuais nuns casos, e de noutros não as dever ter. Os projetos de educação 
sexual  na  escola  e  as  relações  com  adultos  podem  ser  muito  importantes  no  sentido  de  criticar  pressões 
facilitando processos de autonomização e de afirmação do que se quer, para si, na vida. 
O  corpo  dos  adolescentes  muda  profundamente  e  a  sua  interiorização  e  aceitação  de  uma  imagem 
corporal  diferente  e  sexualizada  não  é,  muitas  vezes,  nem  automática  nem  fácil.  Tem  sido  estudada  a 
importância da representação corporal de si no bem‐estar pessoal e referenciado como uma imagem corporal 
negativa  pode  causar  ansiedades,  sofrimentos  e  mesmo  levar  a  comportamentos  patológicos  de  rejeição  do 
seu  próprio  corpo  ou  de  partes  dele  (cabelos,  pele,  nariz,  nádegas,  ancas,  altura,  peso...  ).  Sublinhe‐se  quão 
importante é os adolescentes estarem rodeados por pessoas que se sintam bem consigo próprias, no seu corpo 
e com quem troquem empáticos olhares e com quem mantenham relações interpessoais satisfatórias.   
Quem contacta com adolescentes tem que ser sensível a estes aspetos pois é muito comum os adultos 
tecerem recriminações e discursos negativos sobre o corpo, a aparência, as roupas, os adereços, os gestos, a 

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forma  de  andar  e  de  se  movimentar.  Os  adolescentes  precisam  de  se  sentirem  autoestimados  e  confiantes, 
precisam precisamente de compreender que aquilo que os tornam pessoas atraentes, interessantes, e bonitas 
é o seu estilo personalizado de ser e de socialmente estar. 
A idade das primeiras relações sexuais alterou‐se nos dois sexos. A idade da primeira relação sexual 
das  raparigas  tem  vindo  a  diminuir,  verificando‐se  o  inverso  no  caso  dos  rapazes,  talvez  devido  ao  facto  das 
raparigas  estarem  mais  abertas  ao  erotismo  e  os  rapazes  valorizarem  mais  a  qualidade  afetiva  dos 
relacionamentos. É, atualmente, muito pouco frequente os rapazes terem a primeira experiência sexual com 
uma prostituta.  
Há  todo  o  interesse  na  abordagem destas temáticas com  os  jovens,  em  transmitir  a  ideia  de  que  as 
relações sexuais e protegidas apenas deverão ter lugar quando se está amadurecido, insistindo na necessidade 
destas corresponderem, de facto, aos desejos das pessoas envolvidas e não a quaisquer pressões do grupo, do 
meio ou do(a) parceiro(a). A abstinência deve ser apoiada como um direito de igual valor ao direito a relações 
sexuais ou a outras práticaseróticas.  
Também,  por  vezes,  os  adultos  adiantam‐se  aos  acontecimentos  e  evoluções  da  vida  e  tratam  os 
jovens como se eles já tivessem tido experiências sexuais (logo, o normal é as terem tido ) o que é uma outra 
forma de pressão e de não aceitação das opções feitas. 
Nem sempre são fáceis as vivências da sexualidade adolescente “As dúvidas e ambivalências sobre a 
forma como deve ser vivido um relacionamento emocional e/ou sexual são muitas. É o medo de se dizer o que 
se sente, de não se falar direito, o medo de não dar um beijo como “deve ser”, de não corresponder ao que se 
sente que o outro ou a outra espera. Estes medos geram, por vezes, muita ansiedade e evitamento.” Moita e 
Ribeiro‐dos‐Santos (2011). 
Os  adolescentes  fazem,  nesta  idade,  escolhas  sexuais,  sentimentais  e  emocionais  e,  como  sabemos, 
essas escolhas podem orientar‐se para pessoas do mesmo ou do outro sexo. Os estereótipos sociais, os rótulos 
de homossexual, heterossexual e bissexual são não só limitativos das opções e da realização pessoal como são 
perigosas  fontes  de  mecanismos  de  desvalorização  e  de  exclusão  de  tantos  jovens.  Chamo  a  atenção  para  o 
facto do direito das pessoas às suas orientações sexuais ser considerado um item civilizacional. 
A  escola  dos  adolescentes  influencia  marcadamente  os  jovens  na  autoestima  e  representação  de 
autocompetência, nas modalidades de comunicação, na capacidade de resolução de problemas e de gestão de 
conflitos,  nas  formas  como  se  vive  e  se  sobrevive  nas  instituições.  A  escola  abre  ou  fecha  horizontes:  a 
mobilidade social e os projetos de futuro estão, hoje, profundamente relacionados com o êxito escolar. 
As  crianças  e  jovens  permanecem  na  escola  entre  9  e  18  anos  e  entre  25  e  35  horas  semanais 
(podendo  elevar‐se  a  38  horas  nos  cursos  profissionais)  num  total  de  180  dias  de  aulas.  A  escola  dos 
adolescentes  atravessa  as  transformações  corporais,  as  novas  pulsões  sexuais,  as  descobertas  interiores,  as 

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paixões,  os  sonhos,  as  revoltas,  os  sofrimentos,  as  ambivalências,  a  desidealização  dos  pais,  as  grandes 
amizades, os projetos de vida, os processos de autonomização e de construção da identidade.   
Os  adolescentes  são  muito  sensíveis  ao  clima  envolvente,  às  relações  interpessoais.  Ora,  na  escola 
existe  uma  importante  filigrana  relacional  com  muitos  outros  jovens  e  adultos  de  ambos  os  sexos  e  de 
diferentes  idades.  O  universo  escolar  pode  contribuir  para  ultrapassar  as  identificações  infantis  permitindo 
escolhas  e  facultando  agradáveis  descobertas  de  pessoas,  de  figuras  de  identificação,  adultos  com  quem 
convivem ou mesmo personagens que encantam surgidas nos livros.  
A escola terá que se oferecer como um espaço/tempo de promoção da pessoa como cidadão e cidadã. 
Esta  instituição  socializante  é  um  lugar  privilegiado  de  aprendizagem  da  vida  social,  daí  a  importância  das 
crianças e jovens participarem ativamente na vida escolar. Este aspeto de protagonismo social dos jovens está 
consignado  na  Convenção  sobre  os  Direitos  da  Criança  embora  seja  um  dos  aspetos  mais  esquecido  pelos 
países signatários. 
Hoje,  que  há  tanta  informação  fora  da  escola,  esta  tem  que  assumir  um  papel  fundamental  de 
atividade reflexiva partilhada sobre esses saberes contribuindo para a sistematização, a crítica e a pesquisa. As 
capacidades  cognitivas  adquiridas  na  adolescência  –  pensamento  abstrato,  raciocínios  hipotético‐dedutivos, 
compreensão  das  discrepâncias  entre  o  real  e  o  possível,  descentração  da  sua  perspetiva  com  tomada  em 
conta do raciocínio dos outros, desenvolvimento de autorreflexão – permitem aos jovens interessarem‐se pelas 
questões éticas e ideológicas, pensar a vida pessoal, relacional e social de outra forma. 
Ora, o ensino está na generalidade muito desligado dos contextos sociais e culturais numa lógica de 
fechamento dos alunos em  disciplinas e de fechamento das escolas ao meio comunitário. A escola centra‐se 
mais nos conteúdos do que nas crianças e jovens, centra‐se no rendimento escolar e individual em vez de ser 
no desenvolvimento pessoal e na solidariedade de grupo. 
O  clima  da  escola  secundária  é  de  grande  competitividade,  as  dificuldades  de  entrada  no  Ensino 
Superior estão a adulterar a consistência deste ciclo de estudos, tornando‐a um degrau de passagem. A escola 
secundária pede aos alunos que não percam muito tempo a perder‐se … a entrada na universidade torna‐se, 
para muitos, incompatível com as crises da adolescência. 
Acrescente‐se  que  a  escola  nem  sempre  gere  bem  a  diversidade  existente  na  sua  população  e  nem 
sempre responde aos jovens com expectativas, motivações, projetos de futuro diversificados e em construção. 
Em  Portugal,  não  existem  a  nível  nacional,  salvo  honrosas  exceções,  políticas  de  juventude  que 
revitalizem os espaços comunitários de associativismo e de intervenção em redes de vida social.    
As  capacidades  cognitivas  e  de  raciocínio  social  dos  adolescentes,  de  pensar,  argumentar  e  debater 
criticamente  vai  permitir  à  escola  polemizaranimados  debates  sobre  questões  complexas  como  o  aborto,  as 
drogas,  as  religiões,  o  desemprego,  a  adoção  de  crianças  por  gays  e  lésbicas,  a  televisão,  o  facebook  e 

125 
 
comportamentos on‐line, a moda, questões sociais e políticas, problemáticas ecológicas... Os jovens necessitam 
de compreender o mundo contemporâneo e as suas caraterísticas, exigências, subtilezas, problemáticas.  
A  educação  sexual  na  escola  pode  contribuir  para  os  adolescentes  adquirirem  informações  e 
vocabulário, aprofundar reflexões sobre si e o mundo, sentirem‐se amadurecer especialmente na capacidade 
de  antecipação  dos  atos  e  de  autocontrolo.  Investigações  realizadas  evidenciam  que  os  jovens  que  tiveram 
educação formal sobre sexualidade e contraceção, tendem a iniciar as relações sexuais mais tarde, de forma 
mais confiante e consciente, prevenindo‐se mais contra as possíveis situações de risco. 
Os debates nas sessões de educação sexual podem contribuir para os jovens compreenderem como a 
vida  sexual,  o  erotismo,  estão  para  além  relações  sexuais  coitais,  em  todo  o  corpo,  aumentando  as 
possibilidades de realização e de ter prazer. Estamos a falar do “curtir” englobando manifestações sensuais tais 
como beijos, abraços, carícias, toques. 
A sexualidade está, como se sabe, envolta em ignorâncias e crenças erróneas (numa primeira vez não 
se fica grávida; o preservativo serve apenas contra o vírus da sida; não associarem gravidez e relação sexual; 
quem tem bom aspeto não transmite a sida; a contraceção de emergência só é eficaz nas 24 horas a seguir....) 
É  célebre  e  ilustrativa  dos  riscos  que  podem  correr  a  imagem  dos  três  “is”  com  que  os  adolescentes  se 
autorrepresentam: imunes, inférteis e imortais. 
Debater estas questões com os adolescentes tem uma importante função preventiva a desempenhar 
num  país  com  tão  grande  taxa  de  gravidez  adolescente  (a  segunda  maior  taxa  europeia  e  a  maior  nas 
adolescentes mais novas), de infeções de transmissão sexual, de comportamentos de risco e de violência nas 
relações amorosas, como muitos estudos têm revelado. 
Para  além  dos  conteúdos  tratados  na  educação  sexual  saliente‐se  a  importância  de  um  véu  que  se 
levanta  sobre  temáticas  sexuais  assunto  onde  reina  o  evitamento  e  a  ausência  de  diálogo,  é  a  relação  dos 
jovens com “adultos perguntáveis”. 
A  educação  sexual  na  escola  é  também  enriquecedora  para  os  adultos  (educadores,  professores, 
funcionários,  pais)  abrindo  importantes  e  profundas  reflexões  sobre  a  sexualidade  e  sobre  si  próprios  como 
pessoas, sobre a comunicação com os jovens, bem como, sobre a função da escola. Muitos adultos antes desta 
experiência não se sentiam preparados para ajudar os adolescentes a lidarem com as novas emoções nem em 
os alertar para as situações de risco a que estão sujeitos, nem sobre a forma de as evitar. 
Em  Portugal,  a  educação  sexual  decorreu  em  muitas  escolas  com  um  forte  cunho  de  inovação 
pedagógica envolvendo professores e alunos, escola e comunidade, alargando a outros espaços de interesse e 
de  participação,  criando  empáticas  interações  entre  todos,  assim  como,  de  novos  processos  de  aquisição  de 
conhecimentos e de pesquisa.  
Gostaria de terminar com uma nota de otimismo e de respeito pelos adolescentes, de confiança nas 
suas competências e potencialidades e de aposta numa escola humanizada e de sucesso; gostaria de terminar 

126
 
citando Freinet: “ Só a infância e a juventude são capazes de subir ousadamente aos cumes mas é preciso não 
os impedir”. 
 
BIBLIOGRAFIA 
Cordeiro, J.D. (1987). Os adolescentes por dentro. Lisboa: Salamandra. 
Erikson, E. (1976). Identidade, juventude e crise (2ª ed.).Rio de Janeiro: Zahar.  
Gomes,  C.  (2012).  “Adolescentes  do  Alentejo  e  Algarve  com  mais  comportamentos  de  risco”.  Jornal 
Público, 16‐03‐2012. 
Moita, G. & Ribeiro‐dos‐Santos, M. (2011). A Lua não fica cheia num dia. Porto: Afrontamento. 
Sampaio, D. (2006).Lavrar o mar.Lisboa: Caminho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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EDUCAÇÃO SEXUAL: DA OBRIGATORIEDADE À REALIDADE 
 
Alexandra Santos, 
Agrupamento dos Centros de Saúde de Guimarães ‐ Vizela 
 
Recentemente,a  educação  sexual  passou  a  ser  uma  realidade  impostaao  sistema  educativo.  A 
publicação da Lei 60/2009, de 6 de agosto e a subsequente regulamentação pela portaria 196A/2010 de 9 de 
abril,  definiram,  em  teoria,  o  essencial  para  a  aplicação  da  educação  sexual  em  meio  escolar.  Estamos  no 
terceiro  ano  de  implementação  nas  escolas,  no  entanto,  ainda  muitas  dúvidas  pairam  sobre  o  porquê  da 
obrigatoriedade da educação sexual nas escolas, como fazê‐lo e que resultados vamos obter. 
A  minha  curta  experiência,  ou  nem  tanto,  como  profissional  de  saúde  e  mãe,  leva  a  que  hoje  não 
tenhaa menor dúvida da importância da educação sexual, na escola, na construção do ser humano.  
Sabemos  que  uma  parte  importante  da  sociedade  continua  a  reproduzir  afirmações  díspares,  que 
ouve aqui e ali, sobre os alegados malefícios da educação sexual nas escolas, tais como “a educação sexual leva 
ao início precoce das relações sexuais”, “os pais são sempre os únicos responsáveis e melhores educadores dos 
seus  filhos  nas  questões  relacionados  com  a  sexualidade  e  os  afetos”,  “os  jovens  não  precisam  da  educação 
sexual na escola para desenvolverem uma sexualidade responsável”, “os jovens não querem a educação sexual 
nas escolas”, entre outras. No entanto, foi cientificamente comprovado que todas estas afirmações não tinham 
qualquer  fundamento.  Ao  longo  destes  anos  de  intervenção  em  meio  escolar,  vi,  muitas  vezes,  os  jovens  a 
solicitarem, quando lhes dávamos espaço para se manifestarem, a abordagem de temáticas relacionadas com a 
sexualidade e os afetos nas áreas curriculares não disciplinares ou disciplinares. É verdade que esta iniciativa 
parte, sobretudo, dos mais velhos mas, não será porque as dúvidas e angústias na área da sexualidade e dos 
afetos  é  uma  realidade  nestas  idades?  Depois,  quando  pedíamos  a  estes  jovens  que  colocassem  todas  as 
questões que gostariam de ver respondidas, quase sempre não valorizavam os seus sentimentos, a importância 
do respeito e demonstravam poucos ou nenhuns conhecimentos sobre o crescimento, a fisiologia do aparelho 
reprodutor,  a  reprodução,  os  métodos  anticoncecionais,  mas,  sobretudo,  não  conheciam  o  seu  corpo  nem 
cuidavam dos afetos. Esta situação conduz a comportamentos de risco, provenientes de uma decisão menos 
assertiva  e  objetiva  ou  mesmo  a  uma  má  decisão.  As  consequências  todos  as  conhecemos  ‐  gravidez  na 
adolescência,  infeções  sexualmente  transmissíveis,  violência  nas  relações,  entre  outras.  A  educação  sexual 
pretende contrariar a iliteracia da sexualidade e afetos. Relembramos o significado do conceito de literacia, que 
consiste  na  capacidade  do  indivíduo  em  obter,  processar  e  interpretar  informação  básica  em  saúde,  tendo, 
como finalidade, um adequado processo de tomada de decisão em saúde. É preciso abordar a sexualidade e 
valorizar  os  afetos  desde  a  infância,  de  forma  adequada  à  idade  ou  maturidade,  género,  e  mesmo  à 
individualidade de cada ser. Mas porque é que esta responsabilidade não pode ser só dos pais? A resposta é 

129 
 
simples!  A  escola  é  um  setting  importante  nas  idades  mais  jovens  porque  é  lá  que  passam  uma  parte 
importante do seu dia, porque é lá onde estão os amigos, onde se desenvolvem afetos. Depois são poucos os 
pais  que  abordam  com  os  seus  filhos  questões  relacionadas  com  a  sexualidade  e  muitos  até  se  consideram 
incompetentes  para  o  fazer. Assim,  facilmente  se  depreende  que  a  escola  poderá  preencher  esta  lacuna  tão 
importante  na  construção  do  ser  e  não  podemos  dissociar  esta  aprendizagem  da  aquisição  de  outros 
conhecimentos e saberes. 
Considero o meu filho um sortudo, pois, entre nós, não há assuntos tabus, mas, como profissional de 
saúde,  vejo  muitos  jovens,  muito  voltados  para  si,  sem  ter  com  quem  partilhar  angústias,  receios  e  dúvidas. 
Estamos numa sociedade em que todos podemos e devemos desempenhar os diversos papéis que temos na 
vida. 
Ultrapassada a primeira questão ‐ a do porquê da obrigatoriedade da educação sexual nas escolas ‐ 
surge uma outra: como fazê‐lo? Aqui é fundamental conseguirmos a envolvência de todos os atores, dos mais 
jovens, dos pais ou encarregados de educação, do pessoal docente e não docente. A formação pós‐graduada 
na  área  da  educação  sexual  dos  professores  é  necessária  mas  a  existência  de  um  grupo  de  trabalho 
pluridisciplinar de apoio é fundamental dada a complexidade de algumas temáticas. As escolas podem contar 
com  alguns  recursos  da  comunidade,  como  técnicos  das  Unidades  de  Saúde  ‐  médicos,  enfermeiros, 
psicólogos,… ‐ ou outras entidades credíveis como a APF, a Coordenação VIH/SIDA, entre outras. As temáticas a 
abordar já constam na regulamentação da lei da educação sexual. Mas será que 6 a 12 horas anuais, consoante 
o nível de ensino, são suficientes? Talvez não. A solução pode passar pela criação de uma área curricular, com a 
finalidade  de  melhorar  a  literacia  em  saúde  e  com  a  abordagem  de  temas  tão  diversos,  mas  igualmente 
importantes, como a alimentação, o consumo de substâncias lícitas e ilícitas, entre outras. Hoje, penso que o 
maior obstáculo na implementação da educação sexual nas escolas não é a falta de formação dos professores, 
nem a falta de recursos, mas a ausência de tempo e espaço para abordar essa temática de forma consistente e 
contínua.  Por  fim,  todos  temos  de  ultrapassar  o  grande  constrangimento  que  sentimos  quando  os  jovens 
abordam as questões mais íntimas da relação. O nosso papel, mais uma vez, é capacitá‐los para a procura e 
interpretação da informação de qualidade que os ajude a tomarem decisões adequadas. Ao ajudar os jovens a 
encontrar  respostas  para  as  suas  dúvidas,  ao  transmitir  novos  saberes,  ao  desenvolver  neles  competências 
sociais contribuímos para o desenvolvimento de uma sexualidade consciente e responsável. 
A educação sexual reveste‐se de importância fundamental na formação estruturada do ser humano e 
na construção da personalidade. Sabemos que quanto mais informação e formação dermos às nossos crianças 
e  jovens  na  área  da  sexualidade,  mais  tarde  eles  iniciam  a  atividade  sexual,  têm  menos  comportamentos  de 
risco e vivenciam melhor os seus afetos. Podemos dizer que com esses contributos podemos ter jovens mais 
responsáveis, mais saudáveis e, principalmente, mais felizes. 
 

130
 
 

 
 
 
PRÁTICOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

131 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

132
 
A EDUCAÇÃO SEXUAL NO AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE PEVIDÉM 
 
Maria Fernanda Faria, 
Coordenadora do Projeto Educação para a Saúde  
do Agrupamento de Escolas de Pevidém 

A  educação  para  a  saúde  deve  ter  como  finalidade  primordial  a  preservação  da  saúde  individual  e 
coletiva.  
Segundo a Organização Mundial de Saúde (1993), “a saúde é um recurso quotidiano que implica um 
estado completo de bem‐estar físico, social e mental e não apenas a ausência de doença e/ou enfermidade”. 
Em contexto escolar, educar para a saúde consiste em dotar as crianças e os jovens de conhecimentos, 
atitudes e valores que os ajudem a fazer opções e a tomar decisões adequadas à sua saúde e ao seu bem‐estar 
físico, social e mental, bem como à saúde dos que os rodeiam, conferindo‐lhes, assim, um papel interventivo, o 
que  implica,  desde  logo,  uma  abordagem  da  educação  para  a  saúde  em  todas  as  suas  vertentes, 
nomeadamente na da sexualidade. 
Segundo a OMS (1993) a sexualidade pode ser definida como  
 
 
“uma  energia  que  nos  motiva  a  procurar  amor,  contacto,  ternura  e  intimidade;  que  se 
integra no modo como nos sentimos, movemos, tocamos e somos tocados; é ser‐se sensual 
e ao mesmo tempo sexual, ela influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações e, 
por isso, influencia também a nossa saúde física e mental”. 
 
 
Parte  integrante  da  interação  do  indivíduo  com  o  meio  e  com  os  outros,  a  sexualidade  assume  um 
papel  fundamental  no  seu  desenvolvimento  pessoal  e  social,  afirmando‐se  como  parte  integrante  da 
existência,  não  podendo,  por  isso,  ser  indissociada  da  própria  personalidade.  Axiomaticamente  presente  na 
existência humana, acompanhando o indivíduo desde o nascimento até à morte, a sexualidade constituiu, ao 
longo dos tempos, uma temática polémica, controversa, durante muito tempo mesmo socialmente proibida. A 
pós‐modernidade,  as  influências  das  novas  tecnologias  e  a  própria  globalização  acabaram  por  alterar 
profundamente  tal  estado  de  coisas,  chamando  a  atenção  para  a  importância  da  sexualidade,  enquanto 
vertente fundamental da realização e interação humanas. 
Tal  consciência,  por  outro  lado,  tem  vindo  a  acentuar  a  importância  de  uma  efetiva  educação  no 
domínio da vivência e realização sexual, a exigir dos agentes sociais, nomeadamente da família e da escola, um 
papel  ativo  neste  processo.  E  se  é  certo  que  a  família  vem  alienando  cada  vez  mais  a  sua  quota‐parte  no 
processo  educativo  dos  seus  filhos,  não  deixa  de  ser  menos  certo  que  a  escola  vem  consciencializando  a 

133 
 
importância  de  assumir  a  educação  sexual  como  vertente  fundamental  de  uma  educação  integral,  de  uma 
educação para o bem‐estar e equilíbrio pessoal e social. 
Tal  papel,  no  entanto,  deve  apresentar‐se  como  comunitariamente  contextualizado  e  participado, 
numa  complementaridade  de  papéis  e  funções,  sem  a  qual  difícil  se  torna  a  superação  de  um  conjunto 
diversificado de constrangimentos alicerçados, muitas vezes, nas próprias raízes da cultura judaico‐cristã, que 
fundamenta  e  sustenta  as  vertentes  principais  da  nossa  axiologia  social  e  moral.  A  falta  de  tal 
complementaridade,  aliás,  poderá  constituir,  quiçá,  um  dos  fatores  explicativos  de  muitas  resistências  a 
projetos  de  educação  sexual,  de  pré‐conceitos  que  só  uma  interação  educativamente  cooperativa  e 
colaborativa torna capaz de desconstruir. 
Neste sentido, importante se torna uma formação adequada e específica de pais, professores, agentes 
de  saúde  e  outros  elementos  da  comunidade  educativa,  no  sentido  de,  em  conjunto  e  ancorados  por  tais 
conhecimentos, se delinearem estratégias e linhas educativas que motivem e consciencializem os jovens para a 
importância de uma séria e efetiva educação para a vivência da sexualidade. Tal formação, no entanto, deve 
assentar  numa  referência  ética  simultaneamente  clara,  abrangente  do  pluralismo  moral  e  promotora  do 
debate de ideias e valores. 
 Numa  época  em  que  a  família  se  afirma  e  alicerça  cada  vez  mais  na  e  pela  realização  afetiva, 
contrariamente  ao  peso  do  contrato  social  e  religioso  prevalecente  em  tempos  não  muito  distantes,  a 
sexualidade  e  a  afetividade  assumem  cada  vez  maior  importância  enquanto  componentes  essenciais  da 
intimidade  e  das  relações  interpessoais,  enquanto  fatores  ancoradores  de  um  harmonioso  desenvolvimento 
emocional. 
Tais pressupostos, alertam, desde logo, para a importância de projetos que motivem os elementos da 
comunidade para a consciencialização de tal problemática, que os dotem de conhecimentos específicos neste 
domínio, que contribuam para a desconstrução de pré‐conceitos, mais ou menos ancilosados, estereotipados, 
social, moral e educativamente ultrapassados. 
Foi no âmbito destes pressupostos que surgiu o projeto PRESSE. O PRESSE é o Programa Regional de 
Educação  Sexual  em  Saúde  Escolar  promovido  pela  ARS  Norte,  I.P.,  através  do  seu  Departamento  de  Saúde 
Pública,  em  parceria  com  a  DREN.  Apoia  a  implementação  da  educação  sexual  nas  escolas  de  uma  forma 
estruturada e sustentada. Tem como finalidades principais contribuir para a diminuição de comportamentos de 
risco e para o aumento dos fatores de proteção em relação à sexualidade dos alunos da região Norte. Ao apoiar 
a implementação da educação sexual nas escolas de uma forma estruturada e sustentada, o PRESSE promove 
um trabalho conjunto entre profissionais de saúde escolar e professores, apresentando‐se como uma resposta 
facilitadora  de  todo  o  processo  de  educação  sexual  através  de  formação  dos  profissionais  de  saúde  escolar, 
professores  e  psicólogos  em  sexualidade  humana,  educação  sexual  e  metodologias  pedagógicas  e 

134
 
disponibilização  de  recursos  pedagógicos  que  facilitam  a  aplicação  dos  conteúdos  curriculares  em  educação 
sexual previstos para os vários níveis de ensino. 
Consciente  da  importância do  contributo que  um  projeto  deste  jaez  poderia  trazer  para  a  educação 
dos seus alunos e restantes elementos da comunidade educativa, o Agrupamento de Escolas de Pevidém, em 
parceria com o Centro de Saúde de Urgezes, assumiu o compromisso de implementar este programa nas várias 
escolas do Agrupamento. 
O  desenvolvimento  do  projeto  foi  operacionalizado  em  três  fases  complementares:  uma  1ª  fase 
essencialmente votada à formação da coordenadora do PES e à enfermeira do Centro de Saúde que connosco 
estabeleceu parceria; uma 2ª fase, em que as duas profissionais anteriormente referidas ministraram formação 
aos professores titulares de turma do 1º ciclo e diretores de turma dos 2º e 3º ciclos. Foi um trabalho onde 
importa  destacar  a  colaboração  do  Centro  de  Formação  Francisco  de  Holanda,  que  coordenou  uma  ação  de 
formação  específica,  desenvolvida  numa  permanente  reflexão  na  e  sobre  a  ação,  o  que  acabou  por 
incrementar uma grande motivação e aderência ao projeto por parte dos professores, que se manifestou, entre 
outras vertentes, no desenvolvimento de projetos de interesse, tendo nos seus trabalhos práticos finais sido 
elaboradas planificações de trabalho para cada ano de escolaridade. Estes trabalhos/projetos, que passaram a 
fazer parte do projeto curricular de turma, revelaram‐se, posteriormente, uma mais‐valia, uma vez que foram 
facultados aos colegas diretores de turma que não tiveram a oportunidade de frequentar a referida formação, 
que  com  agrado  o  receberam,  e  com  o  apoio  e  colaboração  do  grupo  de  trabalho  PES  o  estão  também  a 
implementar nas suas turmas. É com imensa satisfação que constatamos que o Agrupamento está a trabalhar a 
100%; este trabalho está em realização em todas as turmas, abrangendo todos os alunos desde o 1º ao 9º ano 
de escolaridade. 
 Foi,  por  isso,  uma  ação  que  marcou  um  efetivo  ponto  de  viragem  em  todo  o  processo,  já  que 
contribuiu  para  a  desconstrução  de  muitos  constrangimentos,  anteriormente  sentidos  pelos  participantes  e 
que abriu novas perspetivas de interação e de linhas de rumo para o desenvolvimento do próprio projeto, para 
além de contribuir igualmente para a desmistificação do papel dos professores no âmbito da educação sexual 
e,  sobretudo, chamar  a  atenção  para  o  facto  de  tal  tarefa  não  dever  desenvolver‐se  de  modo  isolado,  antes 
integrar  os  pais/encarregados  de  educação/família  e  profissionais  de  saúde,  numa  prática  cooperativa  e 
colaborativa, como anteriormente se referiu. 
Ao dotar os professores de conhecimentos específicos neste domínio, tão sensível, a ação de formação 
em  questão  possibilitou  ultrapassar  não  só  a  insegurança  daqueles  docentes  e  o  consequente  receio  na 
participação  em  anteriores  tentativas  deste  âmbito  educativo,  como  os  motivou  para  o  desenvolvimento  do 
projeto,  numa  cabal  compreensão  da  sua  importância  educativa.  A  ação  em  referência  permitiu  assim  a 
consciencialização de que não é indispensável ser especialista em educação sexual para desempenhar a função 
de  professor  de  Educação  para  a  educação  sexual  em  saúde  escolar,  antes  deve  possuir‐se  uma  “genuína 

135 
 
preocupação com  o  bem‐estar  físico  e psicológico dos  outros;  aceitação  confortável  da  sua  sexualidade  e da 
dos  outros;  respeito  pelas  opiniões  das  outras  pessoas;  atitude  favorável  ao  envolvimento  dos  pais  e 
encarregados  de  educação  e  outros  agentes  de  educação;  compromisso  de  confidencialidade  sobre 
informações pessoais que possam ser explicitadas pelos alunos; capacidade para reconhecer as situações que 
requerem a intervenção de outros profissionais/técnicos para além dos professores” (Went, 1985, citado pelo 
M.E./M.S., 2000, p. 41). 
Foram  estes  valores  e  competências  que  a  formação  dos  professores  acima  mencionada  relevou, 
verificando‐se  que  aqueles  que  a  frequentaram  ficaram  muito  mais  motivados,  revelando  atitudes  mais 
positivas e atribuindo maior importância ao tema, sentindo‐se mais capazes de passar à execução da 3ª fase, 
que  consistiu  na  implementação  e  desenvolvimento  do  projeto,  atualmente  a  decorrer,  com  os  professores 
que receberam a formação a trabalhar com os seus alunos. 
Porque a escola que defendemos e preconizamos é uma escola‐comunidade educativa, perspetiva‐se 
já, neste momento, uma quarta fase de desenvolvimento do Projeto, que consistirá no alargamento de ações 
de formação específica aos Pais/Encarregados de Educação e Pessoal Não Docente, elos fundamentais em todo 
o  processo  educativo.  Para  tal,  ainda  neste  ano  letivo,  perspetiva‐se  uma  candidatura  ao  projeto,  neste 
domínio. 
Como  se  referiu,  o  projeto  propunha,  essencialmente,  nos  seus  objetivos  principais,  promover  uma 
educação para a saúde no contexto da sexualidade; promover transdisciplinarmente a abordagem da temática, 
de  modo  a  desenvolver  atitudes  de  auto  e  heterorespeito;  desenvolver  as  competências  emocionais  que 
sustentem  atitudes  e  respostas  adequadas  no  âmbito  da  sexualidade;  desenvolver  parcerias,  de  modo  a 
envolver  efetiva  e  cooperativamente  a  família  e  as  restantes  estruturas  comunitárias  na  implementação  e 
desenvolvimento  do  projeto.  Tais  objetivos  têm  sido  progressivamente  atingidos  culminando,  no  final  do 
presente  ano  letivo,  com  a  apresentação  dos  trabalhos/projetos  desenvolvidos  pelos  alunos  no  âmbito  da 
educação para a sexualidade em saúde escolar, os quais serão apresentados à comunidade educativa durante a 
III semana da saúde que decorrerá de 4 a 9 de junho no Agrupamento de Escolas de Pevidém. 
Deste  modo,  e  como  conclusão  geral,  cremos  poder  afirmar  que  o  trabalho  desenvolvido  com  a 
implementação  e  desenvolvimento  deste  projeto  de  educação  sexual,  pretendemos  não  só,  nem  sobretudo, 
transmitir  conhecimentos,  mas  antes  e  preferencialmente  promover,  desenvolver  e  consolidar  sentimentos, 
competências  e  atitudes  positivas  no  domínio  da  sexualidade,  a  par  das  competências  fundamentadoras  de 
bem‐estar  social  individual  e  coletivo  e  de  entre  as  quais  destacamos  a  capacidade  de  auto  e 
heteroconhecimento, a capacidade da gestão das emoções, a empatia e a assertividade. 
 
 
 

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A EDUCAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA: UMA ABORDAGEM PRÁTICA 

                    Beatriz Costa, 
Coordenadora do Projeto de Educação para a Saúde do AVE Briteiros; 
                    Marta Araújo 
Enfermeira Especialista de Saúde Infantil e Pediátrica 
 

INTRODUÇÃO 
A  educação  para  a  saúde  sexual  e  reprodutiva  dos  indivíduos  é  tida,  atualmente,  como  uma  área 
prioritária de atuação nos setores da Educação e da Saúde, sendo, de acordo com o atual quadro normativo, de 
inclusão  obrigatória  no  Projeto  Educativo  de  Escola  de  todos  os  estabelecimentos  do  ensino  básico  e 
secundário. Para uma implementação  organizada e estruturada da Educação Sexual na Escola, o Agrupamento 
Vertical de Escolas de Briteiros (AVEB) elaborou um Programa de Educação Sexual que está a ser implementado 
em  todo  o  Agrupamento,  respeitando  as  orientações  legais  e  tendo  em  conta  as  sugestões  de  todos  os 
intervenientes  neste  processo,  o  papel  dos  professores,  os  anseios  dos  alunos,  assim  como  as  preocupações 
dos pais/encarregados de educação. 
Com  este  artigo  pretendemos  revelar  como  o  AVEB  tem  exercido  o  seu  papel  através  da 
operacionalização    do  Programa  de  Educação  Sexual,  proporcionando,  desta  forma,  oportunidades 
estruturadas para que os seus alunos beneficiem de educação sexual (ES), explorem as suas atitudes e valores,  
pratiquem  a  tomada  de  decisão  e  as  competências  de  vida  que  necessitarão  para  serem  capazes  de  fazer 
escolhas informadas na sua vida sexual. 
 
1. DESENVOLVIMENTO DA SEXUALIDADE  
 

“A  sexualidade  é  uma  energia  que  nos  motiva  a  procurar  amor,  contacto,  ternura  e 
intimidade;  que  se  integra  no  modo  como  nos  sentimos,  movemos,  tocamos  e  somos 
tocados;  é  ser‐se  sensual  e  ao  mesmo  tempo  sexual;  ela  influencia  pensamentos, 
sentimentos,  ações  e  interações  e,  por  isso,  influencia  também  a  nossa  saúde  física  e 
mental.” (O.M.S. in Frade et al,2009).  

 
Esta  definição  de  Sexualidade  dada  pela  Organização  Mundial  de  Saúde,  reflete  a  complexidade  e 
multidimensionalidade  desta  temática,  que  abarca  dimensões  como  a:  biológica  (seres  com  corpo  sexuado), 
psicológica  (identidade  de  género,  atitudes,  comportamentos,  autoimagem,  relações  afetivas,…),  social 
(normas e modelos), religiosas e culturais (valores). 

137 
 
A sexualidade desenvolve‐se ao longo da infância sofrendo influência de fatores familiares, culturais, 
sociais e hormonais. É na interseção destes vários contextos e face às várias experiências e influências que se 
vai formando a identidade sexual, a par do amadurecimento biológico e psicológico. A sexualidade manifesta‐
se de diferentes formas conforme a etapa do ciclo de vida em que se encontra o sujeito e é na adolescência 
que encontra uma evolução mais significativa, consequência, das rápidas mudanças que ocorrem a nível físico, 
social, e necessariamente psicológico.  
 
2. PROMOÇÃO DA EDUCAÇÃO SEXUAL: O PAPEL DOS INTERVENIENTES  
A  ES  tem  como  objetivo  proporcionar  a  integração  das  diversas  facetas  da  sexualidade  humana, 
promovendo  a  aquisição  de  uma  postura  responsável,  flexível  e  gratificante  desempenhandoum  papel  de 
extrema importância na promoção da autoestima, afirmação pessoal e desenvolvimento da personalidade de 
crianças/jovens (APF, 2009). O contributo para a ES de crianças/jovens é tarefa e responsabilidade de todos os 
cidadãos,  mas  o  contributo  dos  intervenientes  educativos  é  imprescindível,  nomeadamente,  pais, 
educadores/professores e profissionais de saúde. 
 
2.1 O Papel da Escola  
O  papel  da  escola  é  criar  espaço  para  a  promoção  e  educação  para  a  saúde,  designadamente  na 
educação  sexual,  para  que  a  pluralidade  de  conceções,  valores  e  crenças  sobre  sexualidade,  se  possam 
expressar. Para que tal aconteça a ES não pode circunscrever‐se a um conjunto de conteúdos integrados numa 
ou mais disciplinas, mas sim numa dimensão interdisciplinar, plenamente integrada na organização e na vida da 
Escola  (APF,  2009).  Simultaneamente,  a  escola  não  pode  assumir  sozinha  um  processo  de  construção  de  um 
sistema  de  valores  e  condutas  neste  domínio,  devendo  haver  também  uma  corresponsabilização  da  família, 
pois a implementação, com êxito, da ES na escola, depende, em grande parte, do apoio dos pais/encarregados 
de  educação.  Sendo  assim,  cabe  à  escola  informar  os  pais/encarregados  de  educação  sobre  os 
conteúdos/competências e as atividades curriculares e não curriculares desenvolvidas no âmbito da ES. Desta 
forma, a atuação da escola será um complemento à educação dada pela família. 
 
2.2 O Papel do Professor/Educador 
O papel e o contributo do professor como educador/formador é necessário e essencial neste processo. 
Ao  professor,  como  ator  de  mudança  e  transformação,  de  transmissão  de  saberes  e  experiências  ou,  como 
refere  Teixeira  (1995),  “um  ser  de  relação  numa  profissão  de  relação”,  deverá,  também  no  campo  da 
sexualidade  humana,  assumir  essa  responsabilidade  e  compromisso.  O  papel  do  professor  em  ES  não  difere 
muito do papel que lhe é atribuído nas demais áreas do processo educativo. Será talvez necessário um apoio 
técnico que lhe permita refletir sobre os seus próprios valores e atitudes face àsexualidade. Este auxílio pode 

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ser o recurso à formação contínua dos professores e educadores ajudando‐os a desenvolver as competências 
necessárias  (APF,  2009).  O  modo  como  a  ES  é  operacionalizada  pelos  professores  pode  estabelecer  toda  a 
diferença. Os especialistas nesta área são unânimes em afirmar que são as metodologias ativas/participativas, 
tais  como  as  dinâmicas  de  grupo,  as  mais  adequadas,  pois  centram‐se  no  aluno  e  promovem  a  sua  própria 
aprendizagem. 
 
2.3 O Papel da Família  
A  família  é  a  instância  social  com  papel  mais  determinado  no  desenvolvimento  e  na  educação  da 
sexualidade  da  criança/jovem  quer  pela  importância  dos  vínculos  afetivos  entre  filhos  e  pais,  quer  pela 
influência destes modelos de observação quotidiana, nomeadamente enquanto casal (APF, 2009). É consensual 
para  vários  autores  que  os  pais  têm,  ou  devem  ter,  um  papel  ativo  no  que  concerne  à  ES  dos  seus  filhos. 
Contudo, e pelo facto do tempo efetivo de vivência familiar ser cada vez mais restrito, a escola deve ter, em si, 
responsabilidades acrescidas na ajuda e apoio a esta educação/formação. A escola deve ser a “parceira” ideal 
nesta aliança. Esta parceria pode passar por programas paralelos direcionados aos pais, para orientá‐los sobre 
o conteúdo do aprendizado de seus filhos e dotá‐los de competências que facilitem a comunicação entre eles 
sobre a sexualidade, de forma aberta e honesta, afastando os seus receios e apoiando os esforços da escola 
para fornecer educação em sexualidade de qualidade.  
 
2.4 O Papel da equipa de Saúde Escolar  
O Programa Nacional de Saúde Escolar é um programa de âmbito nacional definido pela Direção Geral 
da  Saúde  (DGS)e  que  tem  por  finalidade  a  melhoria  da  saúde  das  crianças  e  dos  jovens  e  da  restante 
comunidade educativa, com propostas de atividades assentes na vigilância e proteção da saúde e na aquisição 
de  conhecimentos,  capacidades  e  competências  em  promoção  da  saúde.  Uma  das  áreas  estabelecidas  como 
prioritárias pela DGS (Orientação 9/2010) foi a saúde sexual e reprodutiva/educação sexual, discriminando que 
o papel da intervenção  das  equipas  de  saúde  escolar passa por:   
• apoiar/colaborar na  concretização  de  projetos  de  ES;  
• ser   o   elo   de   ligação   entre   o   gabinete   de   informação   e   apoio   ao   aluno  (GIA)  do 
 agrupamento  de  escolas  e  as  unidades  funcionais  do  agrupamento  de centros de saúde; 
• disponibilizar‐se  para  integrar  o  GIA; 
• disponibilizar  ou  apoiar  a  elaboração  de  materiais  didáticos. 
 
A relação entre as equipas de saúde escolar dos centros de saúde e as escolas constitui um dos fatores 
primordiais para o sucesso da implementação da ES em meio escolar, sendo a qualidade das interações entre 
os profissionais de ambos os setores (saúde e educação) fundamental para uma efetiva parceria. 

139 
 
3. OPERACIONALIZAÇÃO DO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO SEXUAL DO AVEB 
O Programa de Educação Sexual do AVEB insere‐se no âmbito do Projeto de Educação para a Saúde e 
surge na sequência da publicação dos mais recentes normativos legais: a Portaria nº 196‐A/2010, de 9 de abril, 
que procede à regulamentação da Lei n.º 60/2009, de 6 de agosto, a qual estabelece a ES nos estabelecimentos 
do  ensino  básico  e  do  ensino  secundário  e  define  as  respetivas  orientações  curriculares  adequadas  para  os 
diferentes níveis de ensino. 
Segundo  a  UNESCO  (2010),  os  programas  de  ES,  geralmente,  têm  vários  objetivos  que  se  reforçam 
mutuamente: 
‐ aumentar conhecimentos para a tomada de decisões responsáveis; 
‐ explicar e esclarecer sentimentos, valores e atitudes; 
‐ desenvolver ou fortalecer habilidades;  
‐ promover e sustentar comportamentos de redução de risco. 
Neste sentido e para a prossecução das finalidades da ES previstas no quadro normativo atual, importa 
que os professores sejam capazes de desenhar um projeto de educação sexual na turma e de se organizarem 
para  a  sua  implementação.  Assim,  este  programa  pretende  facultar  à  escola  e  aos  professores  os  princípios 
orientadores  da  ES  em  meio  escolar,  os  conteúdos  da  educação  sexual  por  ciclo  de  ensino,  assim  como  um 
conjunto de recursos didático‐pedagógicos. 
O Programa de Educação Sexual do AVEB dirige‐se aos alunos do 1º, 2º e 3º ciclos do ensino básico, 
aplica‐se  de  forma  estruturada  e  sustentada  envolvendo  um  trabalho  conjunto  entre  os  profissionais  de 
saúde19 e os professores. 
 
3.1 Do Projeto Educativo de Escola ao Projeto de Educação Sexual de Turma 
Como  refere  o  art.º  6º,  da  Lei  nº  60/2009,  de  6  de  agosto,  “a  educação  sexual  é  objeto  de  inclusão 
obrigatória  nos  projetos  educativos  dos  agrupamentos  de  escolas  e  escolas  não  agrupadas,  nos  moldes 
definidos  pelo  respetivo  conselho  geral,  ouvidas  as  associações  de  estudantes,  as  associações  de  pais  e  os 
professores”. Assim, realizámos diversas ações conducentes à implementação da ES: 
 
 
 
a) Sessões (in)formativas para os pais e encarregados de educação 
Como já foi referido, a implementação da ES compreende a ação da escola como complemento à educação 
dada pela família. Sendo assim, cabe à Escola assegurar que os pais e encarregados de educação sejam ouvidos 
                                                            
19
 A Equipa de Saúde Escolar da UCC Sol Invictus – Unidade do Centro de Saúde das Taipas. 

140
 
em todas as fases de organização da educação sexual. Desta forma foram realizadas sessões formativas para os 
pais e encarregados de educação, promovidas pela Equipa de Educação para a Saúde do AVEB em colaboração 
com as Associações de Pais e Encarregados de Educação.  

b) Inclusão da área de ES no Projeto Educativo do Agrupamento 
No Projeto Educativo foram incluídas as orientações emanadas da Lei nº60/2009 de 6 de agosto e da 
Portaria nº 196‐A/2010 de 9 de abril, consubstanciadas no Programa de Educação Sexual do Agrupamento. 

c) Formação de Professores 
Foi  promovida  uma  ação  de  formação  para  professores:  “A  Educação  Sexual  no  Ensino  Básico: 
Conteúdos,  Recursos  e  Metodologias”.  Com  fundamento  nas  diferentes  dimensões  da  sexualidade, 
propusemos  ao  Centro  de  Formação  Francisco  de  Holanda  a  referida  ação  de  formação  e  os  respetivos 
formadores20: enfermeira, psicóloga, professora. Assim, foi possível constituir uma equipa de formadores que 
desenvolveram  a  formação  em  articulação  permanente,  possibilitando,  desta  forma,  a  implementação  da  ES 
numa perspetiva holística.  

d) O Projeto de Educação Sexual de Turma 
Segundo  o  nº  1,  do  art.º  7º,  da  Lei  nº  60/2009,  de  6  de  agosto,  o  diretor  de  turma  é  o  professor 
responsável pela implementação da ES, devendo elaborar o projeto de educação sexual da turma, no início do 
ano escolar, em articulação com os professores da turma no âmbito da transversalidade. Na ação de formação 
que referimos anteriormente, os docentes tiveram oportunidade de elaborar os projetos de educação sexual 
para  os  diferentes  anos  de  escolaridade,  os  quais  eram  constituídos  por  sete  componentes:  conteúdos; 
competências; atividades; metodologias; transversalidade curricular; calendarização das atividades; avaliação.  
Na  programação  das  atividades  em  ES,  a  metodologia  é  basicamente  a  mesma  de  qualquer 
planificação  pedagógica,  contudo,  o  tratamento  dos  temas  implica  sempre  a  garantia  da  transversalidade 
curricular; a definição de objetivos de aprendizagem ao nível dos conhecimentos, das atitudes e competências; 
a  definição  de  técnicas  e  jogos  a  utilizar  numa  perspetiva  de  participação  ativa  dos  alunos;  a  definição  de 
formas de avaliação das sessões. 
 
e) Gabinete de Informação e Apoio ao Aluno 
Recorremos, novamente, ao quadro normativo atual e refere o nº 1, do art.º 10º, da Lei nº 60/2009, 
de 6 de agosto que “os agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e 
                                                            
20
 A enfermeira e a psicóloga pertencem à equipa de Saúde Escolar da UCC Sol Invictus. A professora pertence à equipa do 
Projeto de Educação para a Saúde do AVEB. 

141 
 
do  ensino  secundário  devem  disponibilizar  aos  alunos  um  gabinete  de  informação  e  apoio  no  âmbito  da 
educação para a saúde e educação sexual”. Neste seguimento, o AVEB criou o GIA para atendimento no âmbito 
da Educação para a Saúde, incluindo a área de ES. O GIA garante respostas às questões e dúvidas dos alunos e 
funciona cinco horas/semana, sendo dinamizado pela Equipa de Educação para a Saúde em articulação com a 
Equipa  de  Saúde  Escolar  da  Unidade  de  Cuidados  na  Comunidade  (UCC)  Sol  Invictus  (Unidade  do  Centro  de 
Saúde das Taipas). 
 
3.2 Avaliação do Programa de Educação Sexual  
O  Programa  de  Educação  Sexual  iniciou  no  ano  letivo  2010/2011  com  aplicação  nas  28  turmas  dos 
docentes que concluíram a ação de formação que referimos. 
Dos Projetos de Educação Sexual de Turma desenvolvidos, podemos constatar que o número de horas 
e os conteúdos para cada ano de escolaridade corresponderam ao previsto – seis horas nos 1º e 2º ciclos, doze 
horas no 3º ciclo; a transversalidade curricular foi garantida, no 1º ciclo, nas áreas curriculares de Estudo do 
Meio e Língua Portuguesa; nos 2º e 3º ciclos, nas áreas curriculares de Língua Portuguesa, Inglês, Ciências da 
Natureza,  Ciências  Naturais,  Educação  Moral  e  Religiosa  Católica.  As  atividades  foram  realizadas  através  de 
estratégias  de  aprendizagem  ativo‐participativa  –  brainstorming,  trabalhos  de  pesquisa,  resolução  de 
problemas,  jogos  de  clarificação  de  valores,  dramatizações,  produção  de  cartazes,  exploração  de  vídeos  e 
outros meios audiovisuais, exploração de histórias, caixa de questões, debates, assembleias de alunos, fichas 
de trabalho e realização de exposições, entre outras. Em nove turmas, uma das atividades, foi promovida em 
parceria com a UCC Sol Invictus. 
No presente ano letivo, continua em curso a implementação do Programa e realizar‐se‐á uma segunda 
ação  de  formação  para  os  docentes  do  AVEB  que  ainda  não  tiveram  oportunidade  de  receber  a  formação 
necessária para a implementação da ES em contexto escolar.  
No final do ano letivo e com o objetivo de promovermos uma reflexão participada sobre o trabalho 
desenvolvido,  disponibilizaremos  um  questionário  de  avaliação  do  Programa  de  Educação  Sexual,  a  ser 
preenchido  pelo  professor  titular  de  turma/diretor  de  turma,  ouvidos  todos  os  intervenientes  no  processo, 
baseado nos seguintes parâmetros: 
‐ Número de horas estabelecidas para cada ciclo; 
‐ Conteúdos previstos para cada ano de escolaridade; 
‐ Impacto das atividades na aprendizagem dos alunos; 
‐ Feedback da Comunidade Educativa. 
4. CONCLUSÃO  

142
 
O Programa de Educação Sexual do AVEB conduziu à implementação da ES no Agrupamento, mediante 
uma abordagem transversal do currículo, da responsabilidade do professor titular de turma ou do conselho de 
turma, que articula as planificações das várias áreas curriculares, numa perspetiva interdisciplinar. 
De forma a continuar a permitir aos alunos conhecimentos para uma vivência mais informada, mais 
autónoma  e,  logo,  mais  responsável  da  sexualidade  na  esfera  dos  conhecimentos,  sentimentos,  atitudes  e 
competências,  pretendemos  que  o  Programa  de  Educação  Sexual  tenha  continuidade  nos  próximos  anos 
letivos. 

BIBLIOGRAFIA 
Associação para o Planeamento da Família (2009). Kit Educativo – saúde e sexualidade 2.º ciclo. Lisboa. 
APF 
Bastos,  A.  (2003).  Afetividade  na  Adolescência  –  Sexualidade  e  Educação  para  os  Valores.  Lisboa: 
Edições Paulinas. 
Departamento de Saúde Pública – ARS Norte, I.P. (2008). Programa Regional de Educação Sexual em 
Saúde Escolar. ARS Norte: Ministério da Saúde. 
Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular. (2008). Planeamento e Avaliação de Projetos 
– Guião Prático. Lisboa: DGIDC. 
Direção Geral de Saúde (2010). Educação Sexual em Meio Escolar. Orientação n.º 9/2010. Lisboa. DGS. 
Fonseca,  H.(2002).  Compreender  os  adolescentes,  um  desafio  para  pais  e  educadores.  Lisboa:  Edital 
Presença. 
Frade,  Alice,  et  al  (2009).  Educação  Sexual  na  Escola  –  Guia  para  Professores,  Formadores  e 
Educadores. 8.ª Edição.Lisboa: Texto Editora. 
Freitas,  F.  &  Pereira,  M.  (2001).  Educação  Sexual  ‐  Contextos  de  sexualidade  e  adolescência.  Lisboa: 
Edições ASA. 
Ministério da Educação; Ministério da Saúde; Associação para o Planeamento da Família e Centro de 
Apoio Nacional ‐ CAN Rede Nacional de Escolas Promotoras de Saúde (2000). Educação Sexual em Meio Escolar 
‐ Linhas Orientadoras. Lisboa: ME/MS/APF/CAN. 
UNESCO (2010). Orientação Técnica Internacional sobre Educação em Sexualidade ‐ Uma abordagem 
baseada em evidências para escolas, professores e educadores em saúde. Vol. I. France: UNESCO. 
 
 
 
 
 

143 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

144
 
A EDUCAÇÃO SEXUAL EM MEIO ESCOLAR NA PERSPETIVA DAS POSSIBILIDADES 
 
Manuela Nunes, 
Coordenadora da Educação para a Saúde ‐  
Agrupamento de Escolas Prof. João de Meira 
 
Como implementar a educação sexual em meio escolar? Como operacionalizar a lei n.º 60/2009 de 6 
de agosto e a sua regulamentação pela Portaria nº 196‐A/2010 de 9 de Abril? 
A  partir  da  experiência  do  trabalho  realizado  no  Agrupamento  de  Escolas  Prof.  João  de  Meira,  das 
orientações  dos  documentos  legais  e  da  formação  existente  nesta  área,  estruturámos  um  modelo  possível, 
entre um universo de possibilidades. 
A essência do nosso projeto assenta na partilha de trabalho já realizado por outros, na constituição de 
uma equipa com funções específicas, no traçar de objetivos gerais e específicos e no esclarecimento de uma 
série  de  prossupostos  teóricos.  Tudo  isto  permitiu  dar  os  primeiros  passos  no  sentido  de  operacionalizar  as 
questões  teóricas,  ultrapassar  obstáculos,  levantar  muitas  dúvidas  e  questionar  constantemente  o  percurso 
traçado. 
Definiram‐se  temas  por  nível  e  escolaridade,  do  pré‐escolar  até  ao  9ºano,  procuraram‐se  atividades 
adequadas a cada faixa etária, organizaram‐se as atividades num modelo definido de plano de aula, realizaram‐
se  reuniões  de  trabalho  com  os  representantes  dos  pais,  divulgaram‐se  as  atividades  junto  de  todos  os 
professores do Agrupamento.  
Parece fácil e simples mas,  de facto, foi mais complicado do que aparenta, embora mais simples  do 
que alguns fazem supor. As dificuldades existiram sempre e continuam a limitar muito o trabalho já planeado. 
A falta de formação específica dos professores é sempre um dos argumentos mais usados por quem procura 
argumentos contra esta temática. O Agrupamento iniciou um trabalho na área da formação de professores, em 
modelos distintos, mas sempre como formação acreditada para que esta pudesse ser tida como relevante no 
modelo  de  progressão  profissional  dos  docentes.  Nesta  formação,  procurou‐se  desmistificar  um  pouco  as 
ideias  e  preconceitos  existentes  e  demonstrar  através  de  exemplos  concretos  o  que  se  pretende  e  como  se 
pode trabalhar em contexto de sala de aula. Evidenciaram‐se os aspetos mais relevantes que podem pautar um 
crescimento saudável e a vivência de uma sexualidade sem fantasmas, em liberdade e com responsabilidade. 
Não  se  pretendeu  oferecer  receitas,  nem  fórmulas  de  sucesso  garantido,  antes  pelo  contrário,  procurou‐se 
sempre  articular  as  atividades  propostas  ao  contexto  curricular  das  diferentes  disciplinas  e  à  criatividade  de 
cada docente na planificação do trabalho a desenvolver. 

145 
 
A  partilha  dos  materiais  com  todos  os  interessados  e  em  especial  com  os  pais  e  encarregados  de 
educação foi um dos aspetos importantes deste projeto, permitindo assim clarificar todas as atividades que se 
pretendem desenvolver e eliminar todas as dúvidas ou suspeitas que pudessem ser levantadas.  
A delimitação de temas por ano de escolaridade foi também um aspeto importante para que os alunos 
não fossem obrigados a ver o “Philadelphia” repetidas vezes em disciplinas diferentes e em anos diferentes. 
As estratégias apresentadas também reúnem um conjunto diversificado de propostas que podem ser 
dinamizadas  em  contextos muito  diversos,  a  saber:  reuniões  de  coordenação com  professores,  realização  de 
atividades  com  os  encarregados  de  educação,  visionamento  de  filmes,  jogos  lúdico‐pedagógicos,workshops 
temáticos,  comemoração  de  datas  festivas,dinâmicas  de  grupo,participação  em  concursos,participação  em 
feiras,dramatizações,  inquéritos  e  avaliações.  Procurou‐se  sempre  dar  relevo  às  metodologias  ativas  que 
envolvem  os  alunos  no  seu  processo  de  formação  em  detrimento  de  exposições  teóricas,  assentes  numa 
perspetiva sanitária da temática. 
Outro aspeto pertinente é o estabelecimento de parcerias, pois a escola não tem meios próprios que 
lhe  permitam  dar  respostas  atempadas  a  todas  as  solicitações.  O  centro  de  saúde,  a  associação  de  pais,  os 
centros de formação de professores ou outras entidades próximas permitiram recrutar técnicos especializados 
que foram apoiando no desenvolvimento de algumas das atividades. 
Uma  das  grandes  dificuldades  prende‐se  com  a  falta  de  tempo;  a  Formação  Cívica  é  uma  área 
curricular não disciplinar  para  a  qual  se  remetem  múltiplas  atividades, propostas  de trabalho  e  resolução  de 
problemas, pelo que nem sempre é possível desenvolver o trabalho planeado de forma exemplar. 
Vários foram os constrangimentos encontrados ao longo deste percurso que já conta com seis anos de 
trabalho; em primeiro lugar, não posso deixar de referir a falta de orientações concretas por parte das equipas 
de  trabalho  na  direção  regional.  Como  coordenadora  da  Educação  para  a  Saúde  procurei  estar  presente  em 
todas  as  reuniões  e  encontros  de  trabalho  para  as  quais  fui  convocada  e/ou  convidada  a  estar  presente.  As 
orientações apelavam sempre para a autonomia da escola, para os seus recursos existentes e para a partilha de 
práticas. Penso que o trabalho destas equipas devia ter sido muito mais específico, orientador e mobilizador de 
recursos  e  meios  disponíveis.  Cada  diretor  nomeou  os  seus  coordenadores  de  acordo  com  critérios  muito 
diversos,  as  verbas  mobilizadas  para  esta  área  foram  sempre  diminutas  e  as  condições  criadas  para  os 
professores foram sempre manifestamente insuficientes. Achar que é possível coordenar tudo isto, com duas 
horas letivas no horário (como estava previsto até ao final do ano letivo anterior), é lirismo puro. Achar que a 
execução  de  tudo  isto  é  possível  na  componente não  letiva  (como  está  atualmente a  ser  considerado)  é  um 
convite  à  desistência!  A  outra  ideia  romântica  que  foi  surgindo  é  pensar  em  projetos  desta  natureza  a  ser 
implementados num ano letivo. Nenhum projeto consistente, organizado e planeado para todos os alunos de 
um agrupamento é possível de concretizar com as condições criadas atualmente. Há muito que os professores 
se  habituaram  a  fazer  o  impossível  sem  meios  e  recursos,  nesta  como  noutras  áreas.  Porém,  penso  que  o 

146
 
investimento realizado se irá dissipar nos próximos anos atendendo ao contexto atual em que vivemos e aos 
cenários que se afiguram. 
Não  posso  terminar  sem  referir  o  fator  de  maior  relevância  que  nos  permitiu  idealizar,  planear, 
trabalhar  e  por  em  prática  todo  este  projeto,  ou  seja,  o  grau  de  envolvimento  da  direção  do  agrupamento. 
Nesta como noutras áreas, nunca foram criados entraves ou dificuldades ao trabalho proposto. Pelo contrário, 
como coordenadora fui sempre incentivada a levar a cabo as ideias e a encontrar as soluções possíveis para a 
realidade do Agrupamento de Escolas Professor João de Meira; foi‐me dada a liberdade e a autonomia que me 
permitiram  continuar  a  trabalhar,  com  a  consciência  de  que  sem  esse  apoio  todo  este  trabalho  teria  sido 
impossível. 
Estamos conscientes de que este não é um projeto exemplar, no sentido em que há muito a fazer para 
ultrapassar as muitas dificuldades que se vão colocando, há muito a fazer para melhorar a articulação entre as 
várias disciplinas, há muito preconceito para derrubar, há muito trabalho para tão pouco tempo, mas sabemos 
que  com  os  meios  disponíveis,  com  os  recursos  existentes  encontramos  um  caminho possível,  que  podemos 
melhorar e que estamos sempre dispostos a partilhar!  
Apresentamos, de seguida, a estrutura do projeto “ Educação Sexual em Meio Escolar” implementado 
no Agrupamento de Escolas Professor João de Meira. 

147 
 
Coordenadora
Subcoorden
nadora
Coordenadorass dos DT´s
A. Paiss
Psicólogga 
Informáttico
Feiras Edital d
do ME
Página da escolaa Angariação de fundos
Jornal A. De Pais
Moodle
Seminário Equip
pa 
coordenaação

Apoio
os Financeiros

Divulgação

Estruturaa do 
Projeto
o

Parcerias

Avaliação

Formaçãão
Centro d
de Saúde
A. P
Pais
AD
DCL
Inquéritos UM
Relatórios Centro de Form
mação MS ormação MS
Centro de Fo
Formação in
nterna
A. Operacio
onais

Figgura 1‐ Esquema d
da estrutura do Pro
ojeto “ Educação Sexual em Meio Esccolar” 
 
 
 

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CRESCER NUMA SEXUALIDADE CONSCIENTE E SAUDÁVEL  
 
Fernando Jorge Oliveira Novais Ribeiro, 
Coordenador de Educação para Saúde do Agrupamento de Escolas Mário Cardoso; 
Ana Paula Pimentel Monteiro 
Psicóloga do Serviço de Psicologia do Agrupamento de Escolas Mário Cardoso 
 
INTRODUÇÃO 
A educação sexual na escola é um tema atual e pertinente que levanta muitas questões mas também 
muitas  dúvidas  sobre  a  forma  como  deve  ser  implementada.  É  um  assunto  que  reúne  múltiplas  visões  e 
diferentes perspetivas, para além de gerar alguma controvérsia. 
   O que pode e deve ser feito para aumentar a eficácia do trabalho desenvolvido dentro da sala de aula 
para  que  os  conhecimentos  científicos  se  transformem  em  comportamentos  saudáveis  e  responsáveis?  Os 
dados  recolhidos  até  agora,  a  partir  de  um  amplo  suporte  teórico  analisado  em  diferentes  perspetivas, 
sugerem a realização de atividades diversificadas que podem, e devem, ser um contributo para a introdução 
desta temática na escola. 
  A  educação  sexual  é  contextualizada  no  âmbito  da  educação  para  a  saúde,  já  que  as  investigações 
realizadas permitem concluir que os objetivos a atingir, bem como as metodologias e as estratégias a utilizar, 
são comuns às duas áreas. Naturalmente que a educação para a saúde não seesgota nesta temática: há outros 
temas importantes para abordar na escola, no âmbito da saúde individual e coletiva. 
  Uma breve análise sobre os problemas sociais dos nossos dias conclui que a saúde e a educação são o 
maior  de  todos  os  bens  que  as  sociedades  atuais  podem  desejar  para  os  seus  cidadãos.  Inverter  os  dados 
problemáticos  na  área  da  saúde  implica  uma  aposta  na  mudança  de  comportamentos,  o  que  exige  maior 
investimento em projetos educativos mais eficientes. 
  É  possível  estabelecer  uma  relação  entre  estado  de  saúde  e  comportamentos  de  risco.  Há 
comportamentos individuais que condicionam o estado de saúde individual e coletivo. Os acidentes rodoviários 
e o tabaco são exemplos de como o comportamento individual condiciona a saúde dos outros.  
21
  A saúde é determinada pelo meio ambiente, estilo de vida, biologia humana e assistência sanitária .A 
saúde, nesta perspetiva, é vista num prisma ecológico, onde o indivíduo se desenvolve harmoniosamente com 
o seu meio envolvente, fazendo parte integrante dum ecossistema mais vasto. 
 
 
 
                                                            
21
Cf. SALLERAS S. L. – Educación Sanitaria ‐ Principios, Métodos y Aplicaciones. Madrid: Ediciones Díaz de Santos, 1985, 20.  

149 
 
EDUCAR EM SAÚDE PARA FOMENTAR ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS 
Com o intuito de melhorar o estado de saúde das populações, foram estruturados alguns modelos de 
educação para a saúde que não atingiram os objetivos desejados, isto é, mais e melhor saúde para todos, uma 
vez  que  o  nível  de  conhecimentos,  só  por  si,  não  determina  o  tipo  de  comportamento  dos  indivíduos.  Os 
modelos  tradicionais  de  educação  para  a  saúde  pressupunham  que  a  transmissão  de  informação  por 
profissionais especializados conduziria a alterações de comportamentos. Tal não acontece sempre, porque são 
ignorados  os  contextos  em  que  as  pessoas  vivem,  criam‐se  dependências  em  relação  aos  técnicos,  não  se 
promove a autonomia e não se oferece a possibilidade de optar, configurando ao sujeito um papel passivo.(22) 
Acima de tudo, tais modelos não avaliam as causas que conduziram o indivíduo a determinado comportamento 
e  o  prazer  que  esse  comportamento  proporciona.  Quantos  médicos  fumam,  mesmo  conhecendo  todos  os 
malefícios do tabaco e lidando diariamente com doenças provocadas pelo tabaco?  
  A  educação  para  a  saúde  deve  centrar‐se  em  promover  estilos  de  vida  saudáveis,  o  que  implica  o 
desenvolvimento  de  competências  individuais  por  parte  dos  alunos  e  a  mobilização  dos  conhecimentos 
adquiridos,  no  sentido  de  os  integrar  no  seu  património  cultural.  Educar  para  a  saúde  é  provocar  alterações 
positivas  de  comportamento;  é  um  processo  que  envolve  a  participação  de  profissionais  oriundos  de  áreas 
distintas  no  sentido  de  ajudar  o  indivíduo  a  crescer,  melhorando  a  sua  autocompreensão  e  autoestima  e 
desenvolvendo respeito por si e pelos outros. 
A carta de Ottawasalienta que promover a saúde implica analisar as questões políticas e legislativas 
que  determinam  os  contextos  de  vida  e  as  vulnerabilidades  dos  mais  desfavorecidos.  Enfatiza  a 
responsabilidade  individual  e  coletiva  pela  promoção  de  percursos  que  desenvolvam  capacidades  pessoais  e 
sociais.Segundo os princípios enunciados naquele documento, “a saúde é entendida como um recurso para a 
vida  e  não  como  uma  finalidade de  vida”.(23).  Trata‐se  de preparar  os  alunos  para  procurar  o  seu  bem‐estar, 
dotando‐os  da  capacidade  de  tomar  decisões,  reduzindo  os  fatores  de  risco,  fixando  metas  realistas  e 
valorizando o domínio afetivo. 
 
PERSPETIVA DO PLANO DE EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE /SEXUALIDADE 
”A sexualidade é uma energia que nos motiva a procurar amor, contacto, ternura e intimidade; que se 
integra no modo como nos sentimos, movemos, tocamos e somos tocados; é ser‐se sensual e ao mesmo tempo 
                                                            
(22) 
Cf. NAVARRO, M. F – Educar para a Saúde ou para a Vida? Conceitos e Fundamentos para Novas Práticas. In PRECIOSO, J. 
[et al.]–Educação para a Saúde. Braga: DME, UM, 2ºed. 2000, 16. 
(23) 
A carta de Ottawa é um documento que resulta da 1ª Conferência Internacional sobre a promoção da saúde nos países 
industrializados. Realizou‐se no Canadá, entre 17 e 21 de novembro de 1986. Este documento procurava traçar as metas de 
saúde para todos no ano 2000, definindo condições e compromissos para atingir os objetivos propostos. 

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sexual;  ela  influencia  pensamentos,  sentimentos,  ações  e  interações  e,  por  isso,  influencia  também  a  nossa 
saúde física e mental.”, O.M.S. ‐ Organização Mundial de Saúde 
  A abrangência desta definição é sintomática da sua complexidade mas, por arrastamento, também das 
inúmeras  possibilidades  que  sugere  no  âmbito  de  atividades  que  se  podem  propor  numa  escola.  «Amor, 
contacto, ternura e intimidade»: os diferentes matizes do amor, as relações que se travam tanto no contexto 
familiar como no social, o sentimento de ternura e intimidade que se podem revelar em todas estas relações 
constantes  na  vida  do  dia‐a‐dia  de  qualquer  um.  Sexualidade  foge  ao  significado  denotativo  do  termo  que, 
muitas vezes, fica restringido às diferentes áreas da vida sexual do indivíduo. Sexualidade é muito mais do que 
isso,  como  a  OMS  a  quer  expor.  Sensuais  e  sexuais,  todos  querem  ser.  E  é  esta  atitude  que  vai  condicionar 
todos os demais comportamentos nas diversificadas situações da vida social, profissional e familiar.  
Tendo em conta a especificidade das crianças e dos jovens, deseja‐se, então, que a sua formação na 
área  da  educação  sexual  consiga  aumentar  e  consolidar  os  seus  conhecimentos  e  desenvolva  atitudes  e 
competências que os ajude a crescer de forma equilibrada e feliz. Assim, o Plano a implantar deve contemplar 
atividades diversificadas mas que nunca percam de vista o objetivo final, a Educação Sexual.  
 
EDUCAR EM SAÚDE/SEXUALIDADE ACARRETA ALTERAÇÕES POSITIVAS DE COMPORTAMENTO 
Tomando  ainda  como  referência  a  definição  proposta  pela  OMS  para  Sexualidade,  ela  «influencia 
pensamentos, sentimentos, ações e interações e, por isso, influencia também a nossa saúde física e mental». 
Ou  seja,  uma  consciência  assertiva  da  sexualidade  vai  orientar  de  uma  forma  positiva  os  comportamentos 
individuais e, por contágio, de grupo.  
Conhecer e lidar bem com o corpo, nos seus aspetos físicos e sociais, favorece um crescimento capaz 
de  lidar  com  maior  competência  as  diferentes  etapas  deste  crescimento.  As  crises  normais  de  qualquer 
adolescente  terão  respostas  mais  positivas  e  remediadoras  se  houver  uma  aprendizagem  capaz  da  sua 
sexualidade nos seus aspetos diversificados. 
 
ORGANIZAÇÃO DO PROJETO DE EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE NO AEAMC 
  O  esquema  organizador  da  educação  para  a  saúde  no  Agrupamento  AEAMC  baseia‐se  nas  leis 
emanadas  pelos  ministérios  da  tutela  (educação  e  saúde).  No  entanto,  e  de  acordo  com  as  especificidades 
socioeconómicas  onde  se  insere  o  Agrupamento,  o  esquema  organizador  decorre  de  reuniões  entre  vários 
elementos  da  equipa  de  educação  para  a  saúde,  coordenador  de  educação  para  a  saúde,  enfermeiras  da 
equipa de saúde escolar UCC Sol Invictus, serviços de psicologia e orientação da escola e alguns professores de 
diferentes níveis de ensino. 
Apresentamos, de seguida, um quadro organizativo contendo as dimensões dos projetos de educação 
para a saúde a serem explorados, no qual se insere a educação sexual. 

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Quadro organizativo  
Dimensões dos projetos de educação para a saúde a serem explorados 
CICLO/ANOS DE  PERÍODO DE 
TEMAS  DISCIPLINAS 
ESCOLARIDADE  ATUAÇÃO 

Alimentação saudável (Hábitos alimentares; Cuidados a ter  Ano Letivo 
Pré‐escolar   
com os alimentos; saber estar à mesa; significado social da  2011/2012 
alimentação). 
Alimentação saudável (Hábitos alimentares; Cuidados a ter 
 com os alimentos; saber estar à mesa; significado social 
da alimentação). 
Noção de corpo;   
1.º Ciclo 

 
O corpo em harmonia com a Natureza e o seu ambiente  
Ano Letivo 
 

social e cultural;  Todas 
2011/2012 
Noção de família; 
 Diferenças entre rapazes e raparigas; 
Proteção do corpo e noção dos limites, dizendo não às 
aproximações abusivas. 
 
Dimensões dos projetos de educação para a saúde a serem explorados 
CICLO/ANOS DE  PERÍODO DE 
TEMAS  DISCIPLINAS 
ESCOLARIDADE  ATUAÇÃO 
Higiene individual (pessoal, oral, mental e social).  
Alimentação "Bem‐estar para bem viver* ‐ Distúrbios  
alimentares (Obesidade; Anorexia; Bulimia; Hipertensão; 
 
Diabetes; etc.). 
Formação Cívica;  
2.º Ciclo 

5.º Ano  Diversidade e respeito;  Ano Letivo 


Atividades  
Sexualidade e género;  2011/2012 
de Estudo;  
Prevenção dos maus tratos e das aproximações abusivas;  Outras disciplinas. 
Dimensão ética da sexualidade humana. 

  Exercício físico (Como ocupar os tempos livres de forma  
saudável; promover hábitos de atividade física). 

152
 
 
Puberdade — aspetos biológicos e emocionais; 
6.º Ano  O corpo em transformação; 
Caracteres sexuais secundários; 
Reprodução humana e crescimento; contraceção e 
planeamento familiar; 
Compreensão do ciclo menstrual e ovulatório; 
Normalidade, importância e frequência das suas variantes 
biopsicológicas; 

 
Dimensões dos projetos de educação para a saúde a serem explorados 
CICLO/ANOS DE  PERÍODO DE 
TEMAS  DISCIPLINAS 
ESCOLARIDADE  ATUAÇÃO 
  Consumo  de  substâncias  lícitas  e  ilícitas  (Álcool;  Tabaco; 
Outras drogas). 
     
Dimensão ética da sexualidade humana: 
  Compreensão da sexualidade como uma das componentes     
mais  sensíveis  da  pessoa,  no  contexto  de  um  projeto  de 
  vida  que  integre  valores  (por  exemplo:  afetos,  ternura,     
crescimento e maturidade emocional, capacidade de lidar 
7.º Ano  com  frustrações,  compromissos,  abstinência  voluntária)  e     
uma dimensão ética; 
Violência na escola ”Bullying"  Ano Letivo  Formação  
 
3.º   Ci cl o 

Relações  interpessoais  (Amizade;  Solidariedade;  2011/2012 


Cívica;  
  Atividades de 
Desigualdade  social;  Descriminação  social;  Racismo; 
Estudo;  
xenofobia; Guerra; 
  Outras  
Paz). 
disciplinas. 
Conhecimento das taxas e tendências de maternidade e da 
8.º Ano  paternidade na adolescência e compreensão do respetivo 
significado; 
Conhecimento  das  taxas  e  tendências  das  interrupções 
voluntárias  de  gravidez,  suas  sequelas  e  respetivo 
significado; 
Compreensão  da  noção  de  parentalidade  no  quadro  de 
uma saúde sexual e reprodutiva saudável e responsável; 
Prevenção dos maus tratos e das aproximações abusivas. 

153 
 
 

Dimensões dos projetos de educação para a saúde a serem explorados 
CICLO/ANOS DE  PERÍODO DE  
TEMAS  DISCIPLINAS 
ESCOLARIDADE  ATUAÇÃO 
  Sexualidade (Prevenção e Métodos contracetivos). 
  Compreensão da fisiologia geral da reprodução humana; 
  Compreensão do ciclo menstrual e ovulatório; 
  Compreensão  do  uso  e  acessibilidade  dos  métodos 
contracetivos  e,  sumariamente,  dos  seus  mecanismos  de 
9.º Ano 
ação e tolerância (efeitos secundários); 
3º ciclo 

Compreensão  da  epidemiologia  das  principais  IST  em 


Portugal  e  no  mundo  (incluindo  infeção  por  VIH/vírus  da 
imunodeficiência  humana  —  HPV2/vírus  do  papiloma 
humano — e suas consequências) bem como os métodos 
de prevenção. Saber como se protege o seu próprio corpo, 
prevenindo  a  violência  e  o  abuso  físico  e  sexual  e 
comportamentos sexuais de risco, dizendo não a pressões 
emocionais e sexuais; 
 
Legenda: 
  ‐ Temas distribuídos de acordo com Lei nº 60/2009, de 6 de Agosto e regulamentada pela Portaria nº 196‐A/2010, de 9 
de Abril 
  ‐ Temas distribuídos de acordo com as carências identificadas na área geográfica onde se insere o Agrupamento. 
 
 
IMPLEMENTAÇÃO 
A  implementação  e  avaliação  periódica  do  Projeto  de  Educação  para  Saúde  são  realizadas  em 
Conselho  Turma  e  registadas  no  Projeto  Curricular  de  Turma.  A  implementação  do  Projeto  no  âmbito  do 
Conselho  de  Turma  permite  uma  adaptação  dos  temas  e  de  metodologias  moldadas  aos  alunos  a  que  se 
destinam, assim como às disciplinas, programas e Professores colaboradores.  
 
ATIVIDADES DESENVOLVIDAS 
As  atividades  desenvolvidas  decorrem  de  um  trabalho  conjunto  do  Grupo  do  GIAA  (gabinete  de 
informação  e  apoio  ao  aluno)  (professor  coordenador  e  professores  voluntários),  SPO  (psicóloga do 
agrupamento)  e  UCC  Sol  Invictus  (enfermeiras  da  unidade  de  saúde  familiar).  Para  uma  implementação 

154
 
sustentada da educação sexual, o agrupamento aderiu ao programa PRESSE (programa regional de educação 
sexual  em  saúde  escolar)  para  o  qual  foi  selecionado;  este  preconiza  a  formação  de  todos  os  agentes  da 
comunidade educativa (professores e pais), a implementação do GIA e o trabalho comunitário. 
De acordo com os objetivos definidos no início do ano letivo, foram levadas a cabo as seguintes ações 
para os concretizar:  
Formação: 
‐ Formação dos professores que iriam implementar o programa de educação sexual, 
‐ Reuniões semanais da equipa de educação para a saúde, 
‐ Uso da plataforma moodle para disponibilização dos recursos/prestação de esclarecimentos aos 
professores, 
GIAA: 
‐ Concurso do logotipo, 
‐ Elaboração de uma caixa de dúvidas em que os alunos colocariam lá as suas questões, 
‐ Criação de um blog com informação disponível e com as respostas às questões dos alunos, 
‐ Atendimento individual e confidencial de alunos neste gabinete. 
Trabalho Comunitário: 
‐ Organização de um “caça ao tesouro” com questões escondidas pela escola sobre vários temas da 
educação  para a saúde (um dos temas era a sexualidade). Os alunos tinham de encontrar as questões 
e devolvê‐las no gabinete,  
‐ Dinamização de uma página no jornal da escola, 
‐ Realização de uma “feira da saúde” com disponibilização de bancas informativas sobre a saúde e 
sexualidade, 
‐ Formação sobre a prevenção do abuso sexual para o 1.º ciclo, 
‐ Formação sobre “violência no namoro”, dirigida para os CEF da escola. Estes usufruíram, ainda, de 
outras palestras/trabalhos no âmbito do alcoolismo, sexualidade, drogas, etc.  
Outras atividades: 
‐ Rastreio de saúde oral, 
‐ Programa de saúde oral no 1.º ciclo, 
‐ Registo de acidentes escolares, 
‐ Organização dos pedidos de cheques dentista, 
‐ Formação dos assistentes operacionais sobre primeiros socorros. 
Existem  diversos  estudos  que  associam  a  sociabilização  da  sexualidade  ao  seu  ensino  intencional  na 
adolescência. Esta sociabilização é precursora de bons hábitos ao nível sexual e de integração na vida adulta. 
Esta sociabilização é feita por diversos agentes, mas assumem papel protagonista os pais e a escola. Cada um 

155 
 
destes  agentes  tem  a  sua  especificidade  neste  trabalho.  Ambos  contribuem  para  a  sociabilização  dos 
comportamentos e crenças associadas à sexualidade. Tendo em conta as problemáticas da área geográfica em 
que se inserem algumas escolas do agrupamento, temos consciência que nem sempre as famílias cumprem na 
totalidade  este  papel,  ou  porque  estão  centrados  noutros  problemas,  ou  porque  não  sabem  abordar 
determinados temas. Assim, cabe à escola o redobrar dos esforços sempre que sinalize uma turma que pelas 
suas  caraterísticas  necessite  de  uma  intervenção  mais  alargada  neste  âmbito.  Por  este  motivo  realizamos 
trabalhos mais específicos junto das turmas CEF do agrupamento. 
 
CONCLUSÃO  
A  sexualidade,  como  ficou  devidamente  expresso,  está  intimamente  ligada  à  vivência  de  todas  as 
pessoas,  desde  o  nascimento  até  à  velhice.  É  ela  que,  de  uma  forma  mais  ou  menos  consciente  acaba  por 
comandar a maioria dos comportamentos individuais e coletivos.  
A sexualidade humana aparece como um misto e um mistério, de sentido e de força. Tantas atitudes 
incompreensíveis  que,  às  vezes,  se  tomam,  são  reflexo  consciente  ou  inconsciente  da  nossa  sexualidade.  As 
múltiplas  formas  em  que  ela  se  manifesta  deverão  ser  tomadas  como  diretrizes  para  propor  atividades  de 
descoberta e de compreensão aos alunos, para que estes possam crescer física, psíquica e socialmente de uma 
forma harmoniosa, respeitadora, consciente dos seus direitos, mas sempre também com os olhos postos nas 
obrigações.  
As atividades a desenvolver neste contexto nunca devem esquecer todos os contextos em que o aluno 
se insere, para que ele, através delas e de uma forma mais ou menos  lúdica e aprazível, consiga absorver os 
ensinamentos que lhes estão inerentes. Conhecer a realidade da transformação pubertária, por exemplo, vai 
facilitar ao adolescente a passagem por essa fase tão complexa do crescimento humano e talvez facilitar‐lhe 
um conjunto de respostas que, de outra maneira, talvez não conseguisse obter. 
O ideal destas aprendizagens é que conduzam o aluno a olhar‐se como indivíduo no seu pleno, mas digno e 
consciente de que a multiplicidade das atividades que a vida lhe proporciona terão que ser vivenciadas sempre 
integradas no coletivo social a que pertence.  
 
BIBLIOGRAFIA  
ANASTÁCIO, Z.; SIMÕES, G.; PIERRE, C. ‐ Concepções  dos Professores de 1ºCEB sobre o Contributo da 
Educação Sexual para a Promoção da Saúde e sua Relação com a Formação. Repositório da Universidade do 
Minho. 2005. 
BANDURA, A. – Teoría del Aprendizaje Social.  3ª ed. Madrid: Espasa‐Calpe, 1987. 
Cf. BRITZMAN, D. P. – Sexualidade e Cidadania Democrática. In SILVA, L. H. Org.‐A Escola Cidadã no 
Contexto da Globalização. Petrópolis: Vozes, 1998 

156
 
Cf. NAVARRO, M. F – Educar para a Saúde ou para a Vida? Conceitos e Fundamentos para Novas 
Práticas. In PRECIOSO, J. [et al.]–Educação para a Saúde. Braga: DME, UM, 2ºed. 2000 
Cf. SALLERAS S. L. – Educación Sanitaria ‐ Principios, Métodos y Aplicaciones. Madrid: Ediciones Díaz de 
Santos, 1985 
CARTA DE OTTAWA PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE, 17‐ 21 de Novembro – 1ª Conferência 
Internacional sobre a Promoção da Saúde Ottawa, Canadá, 1986 
DIAS, A.M. [et al.] – Educação da Sexualidade no Dia‐a‐Dia da Prática Educativa. 1ªed. Braga: Edição 
da Casa do Professor, 2002. 
VAZ, J. M. – Educação sexual na Escola. Lisboa: Universidade Aberta, 1996. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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158
 
EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE/EDUCAÇÃO SEXUAL NO CURRÍCULO ESCOLAR 
 
Alexandra Pereira, 
Coordenadora do projeto educação para a saúde/educação sexual ‐  
Agrupamento de Escolas D. Afonso Henriques  
 
 
O  currículo  nacional  do  ensino  básico  integra  a  educação  para  a  cidadania  e  a  formação  cívica, 
enquanto disciplinas essenciais para aprender a viver em sociedade. Integrado no currículo escolar, o Projeto 
Educação para a Saúde deve ser desenvolvido de forma a dotar os alunos das competências necessárias para 
decidirem enquanto cidadãos responsáveis.  
De acordo com o Despacho do Senhor Secretário de Estado da Educação, de 27 de setembro de 2006, 
a  Educação  para  a  Saúde  pretende  assegurar  o  acompanhamento,  monitorização  e  desenvolvimento  das 
atividades da saúde em meio escolar, na vertente da Educação para a Saúde uma vez que, ”(...) à escola não 
cabe  apenas  a  transmissão  de  conhecimentos  organizados  em  disciplinas,  mas  que  entre  as  suas  múltiplas 
responsabilidades estão o desenvolvimento de competências capazes de sustentar a aprendizagem ao longo da 
vida.” In despacho nº 25995/2005, de 16 de dezembro de 2005. 
A Educação para a Saúde enquanto disciplina obrigatória integra‐se no Projeto Educativo da Escola, no 
âmbito  do  protocolo  estabelecido  entre  os  Ministérios  da  Educação  e  Ministério  da  Saúde  ‐  Despacho  nº  25 
995/2005,  de  16  de  dezembro  2005  e  Despacho  nº  2506/2007,  de  20de  fevereiro  2007.  Foi  aprovado  o 
Programa Nacional de Saúde Escolar, que consagra a orientação educativa do agrupamento de escolas ou da 
escola não agrupada, no qual se explicitam os princípios, os valores, as metas e as estratégias segundo as quais 
o  agrupamento  de  escolas  ou  escola  não  agrupada  se  propõe  cumprir  na  sua  função  educativa  ‐  artigo 
9ºdoDecreto Lei nº75/2008 de 22 de abril. 
Tendo em conta o despacho número 15 987 de 27 de setembro de 2006 são consideradas temáticas 
prioritárias,  a  alimentação  e  atividade  física,  consumo  de  substâncias  psicoativas,  sexualidade,  infeções 
sexualmente  transmissíveis,  designadamente  VIH  ‐  SIDA  e  violência  em  meio  escolar.  Cada  agrupamento/ 
escola  deve  nomear  um  coordenador  responsável  pela  prossecução  dos  objetivos  fixados  no  presente 
despacho. 
A  Educação  Sexual  constitui‐se  como  um  dos  temas  a  ser  privilegiado  no  âmbito  deste  projeto  da 
educação para a saúde, sendo de caráter obrigatório, como determina o decreto‐lei, acima referido. 
A  educação  para  a  saúde  tem  como  objetivos  centrais  a  informação  e  a  consciencialização  de  cada 
pessoa acerca da sua própria saúde e a aquisição de competências que a habilitem para uma progressiva auto‐

159 
 
responsabilização,  integrando‐se  por  lei  no  projeto  da  Educação  para  a  Saúde,  por  obedecer  ao  conceito  da 
promoção da saúde física psicológica e social. 
Na  sequência  e  reconhecimento  que  a  educação  sexual  é  uma  das  dimensões  da  educação  para  a 
saúde,  a  Assembleia  da  República  fez  aprovar  em  2009,  através  da  Lei  n.º  60/2009,  de  6  de  agosto,  e 
regulamentada  pela  Portaria  n.º  196‐A/2010,  de  9  de  abril  a  aplicação  da  educação  sexual  em  meio  escolar, 
conferindo‐lhe  o  estatuto  e  obrigatoriedade,  com  uma  carga  horária  adaptada  e  repartida  por  cada  nível  de 
ensino, especificada por cada turma e distribuída de forma equilibrada pelos diversos períodos do ano letivo. 
Estabelece‐se ainda que a educação sexual deva ser desenvolvida pela escola e pela família, numa parceria que 
permita respeitar o pluralismo das conceções existentes na sociedade portuguesa. 
Neste  sentido,  a  escola deve  proporcionar ao  aluno  atividades que  facilitem  e  tornem  prazenteira a 
abordagem  da  sexualidade  em  toda  a  sua  plenitude.  No  âmbito  do  projeto  da  Educação  Sexual  na  escola, 
pretende‐se criar um espaço, o gabinete de apoio ao aluno, onde seja possível aos alunos esclarecer as suas 
dúvidas acerca da sexualidade, nas suas diversas componentes e sem receio de serem censurados. 
Como  dinamizadores  do  projeto  Educação  Sexual  compete‐nos  uma  abordagem  das  diversas  áreas 
prioritárias e a implementação de diversas atividades que propiciem uma resposta afirmativa à política dos três 
“P’s”  –  Proteção,  Promoção  e  Prevenção.  Para  isso,  pretendemos  articular  as  diversas  atividades  com  a 
Comunidade  Escola  (Professores  de  Formação  Cívica,  Ciências  da  Natureza/Naturais,  Matemática,  Língua 
Portuguesa,  Educação  Visual  e  Tecnológica,  Educação  Física,  EMRC,  TIC,  Diretores  de  Turma,  Equipa  da 
Biblioteca  Escolar,  Pessoal  não  docente  e  alunos)  e  estabelecer  parcerias  com  a  Comunidade  Educativa 
(Instituto  Português  da  Juventude,  Cruz  Vermelha  Portuguesa,  Centro  de  Saúde  de  Guimarães,  Centro  de 
Coordenação do VIH/SIDA e outras). 
Da  avaliação  diagnóstica  realizada  na  escola,  verificamos  que  os  alunos  referiram  terem  grandes 
dificuldades em discutir a temática da sexualidade com os pais, que segundo um estudo recente da Associação 
para o Planeamento Familiar (APF), sobre a educação sexual dos jovens, mais de 50% nunca falaram com o pai 
sobre sexualidade, e mais de 30% nunca falaram com a mãe, e em que uma larga maioria assume ter já tido 
relações  sexuais.  Neste  sentido,  torna‐se  imperioso  um  papel  complementar  da  escola  em  matéria  de 
educação sexual, uma vez que os jovens portugueses e europeus passam cerca de dois terços do dia na escola. 
O elevado número de infetados de VIH/SIDA em Portugal (com mais de 30 mil portugueses infetados, dos quais 
15%  com  menos  de  25  anos),  a  elevada  taxa  de  gravidez  na  adolescência,  e  os  comportamentos  sociais 
discriminatórios em relação ao género e à orientação sexual.  
              Estes  pressupostos  constituiram  a  base  para  a  elaboração  do  projeto  de  educação  sexual, 
nomeadamente para estabelecer os objetivos gerais e as atividades a promover. 
Propomo‐nos a desenvolver os seguintes objetivos: 
 

160
 
• Valorizar a sexualidade e afetividade entre as pessoas no desenvolvimento individual; 
• Desenvolver competências nos jovens que permitam escolhas informadas e seguras no campo da 
sexualidade; 
• Melhorar os relacionamentos afetivo‐sexuais dos jovens; 
• Reduzir  as  consequências  negativas  dos  comportamentos  sexuais,  tais  como  a  gravidez  não 
desejada e as infeções sexualmente transmissíveis; 
• A  de proteção face a todas as formas de exploração e de abuso sexuais;  
• Promover o respeito pela diferença entre as pessoas e pelas diferentes orientações sexuais; 
• Valorizar uma sexualidade responsável e informada; 
• Promover a igualdade de género; 
• Reconhecer a importância de participação no processo educativo de encarregados de educação, 
alunos, professores e técnicos de saúde. 
 
Os objetivos serão desenvolvidos em articulação com as várias áreas curriculares disciplinares e não 
disciplinares,  elaboradas  em  conselho  de  turma.  Na  área  curricular  não  disciplinar  de  formação  cívica  serão 
desenvolvidos projetos, com horário estabelecido, por lei, para cada nível de ensino (1º e 2º ciclo ‐ 6 tempos 
letivos    e  3º  ciclo  ‐  12  tempos  letivos    desenvolvidos  na  área  curricular  não  disciplinar  de  Formação  Cívica, 
dividida equitativamente pelos três períodos).  
Procedeu‐se  à  criação  de  um  gabinete  de  apoio  ao  aluno,  que  está  em  funcionamento  12  horas 
semanais, distribuídas por 9 professores, 8 deles com formação em educação para a saúde/educação sexual. O 
seu funcionamento decorrerá num local condigno  e onde se assegura a confidencialidade. 
O  gabinete  de  informação  e  apoio  ao  aluno  articula  a  sua  atividade  com  as  respetivas  unidades  de 
saúde da comunidade local ou outros organismos do Estado, nomeadamente com a Equipa de Saúde Escolar 
do  ACES  Guimarães/Vizela,  o  Instituto  Português  da  Juventude,  a  coordenação  portuguesa  de  luta  contra  a 
sida, a Universidade do Minho, APF (Associação Planeamento Familiar), Assistência Social; CPCJ – Comissão de 
Proteção de Crianças e Jovens de Guimarães, Direção Geral da Saúde, Instituto de Apoio à Criança (IAC), DGIDC 
–  Direção  Geral  de  Inovação  e  de  Desenvolvimento  Curricular,  IPJ  (Linha  Jovem),  Liga  Portuguesa  de  Higiene 
Mental, Linha Vida – S.O.S. Droga (IPDT), Projeto de Apoio à Família e à Criança... 
  As  atividades  desenvolvidas  ou  em  desenvolvimento  ao  longo  do  ano  letivo  são:  Divulgação  do 
gabinete  com  recurso  à  elaboração  de  cartazes;  divulgação  nas  turmas;  contacto  formal  e  informal  com 
Professores,  Alunos,  Auxiliares  de  Ação  Educativa,  Pais  /  Encarregados  de  Educação;  a  divulgação  será 
direcionada a Alunos, Auxiliares de Ação Educativa, Pais / Encarregados de Educação; criação de um blog; uma 
disciplina na plataforma da escola; criação de um email acessível a todos; comemoração de datas importantes 
como o dia internacional de luta contra a SIDA; semana dos afetos, de 13 a 17 de fevereiro; levantamento de 

161 
 
problemas/questões/necessidades  (junto  dos  alunos)  através  de  “caixa  correio”  para  posterior 
encaminhamento;  criação  e  dinamização  de  espaços  para  afixação  de  notícias/trabalhos  dos  alunos  sobre  as 
diversas temáticas. 
No ano letivo transato e decorrente da inscrição no edital do ministério da saúde, a escola beneficiou 
de um pecúlio de 900 euros, 600 dos quais foram aplicados em formação de professores na área da educação 
sexual. Procedeu‐se também à inscrição da escola no projeto PRESSE (projeto regional de educação sexual em 
saúde  escolar.  A  coordenadora  do  projeto  de  educação  para  a  saúde  recebeu  formação,  no  âmbito  da 
educação  sexual,  e  replicou‐a  para  os  titulares  de  turma  do  1º  ciclo  e  diretores  de  turma  do  5º  e  7º  anos, 
turmas estas em que será aplicado o referido projeto.  
A  inscrição  da  escola  nestes  projetos  reveste‐se  de  importância  fundamental.  Para  além  do  apoio 
técnico  e  material  para  desenvolver  várias  atividades  no  campo  da  educação  sexual,  presta  formação  a 
professores  e  técnicos  da  saúde  que  articulam  com  a  escola,  de  forma  apromove  o  desenvolvimento  de 
competências e de conhecimentos promotores de atitudes positivas e responsáveis face aos problemas atuais, 
prevenindo, entre outros aspetos, comportamentos de risco que possam conduzir a valores indesejados. 
Para  a  prossecução  dos  nossos  objetivos,  realizaremos  uma  avaliação  sistemática  de  todo  o  projeto 
uma  vez  que  “A  avaliação  de  resultados  permite  analisar  se  os  objectivos  propostos  pelo  projecto  foram 
alcançados e seleccionar as iniciativas mais eficazes” (Hawe, 2000 cit in Dias, 2006). 
O projeto será avaliado de forma quantitativa e qualitativa. Na primeira, aplicaremos pré e pós testes 
e,  na  segunda,  serão  elaborados  inquéritos,  relatórios  das  várias  atividades,  sendo  tidas  em  conta  a 
participação, o empenho e o grau de satisfação dos intervenientes e, ainda, um relatório anual. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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PROJETO 5 SENTIDOS 
 
Equipa do projeto de educação sexual, 
Escola Secundária Francisco de Holanda 
 
Em  2009,  foi  sugerida  a  introdução  da  disciplina  de  Educação  Sexual  na  oferta  curricular  da  Escola 
Secundária Francisco de Holanda, justificando‐se esta inclusão por “constituir para os jovens/adolescentes da 
nossa escola um mecanismo de aprendizagem da sexualidade, entendida esta como componente da natureza 
humana absolutamente essencial para uma vida plena de significado”. 
Pensou‐se na construção de um programa que acompanhasse os jovens na construção e aquisição de 
um  conjunto  de  conhecimentos  e  valores  básicos,  próprios  do  senso‐comum  científico  e  do  senso‐comum 
moral das comunidades demo‐liberais, sendo que, apesar disso, cada jovem tivesse a principal palavra, fazendo 
a  promoção  da  liberdade,  da  responsabilidade  e  da  felicidade  individuais  e  comunitárias.  Em  termos 
estritamente pedagógicos este programa apostava, sobretudo, na educação sexual como espaço de construção 
da  identidade  pessoal  e,  simultaneamente,  de  reflexividade  cultural,  embora  também  apostasse  numa 
componente  biológica  como  mecanismo  de  desdramatização  e  banalização  (que  não  vulgarização)  da 
sexualidade humana. Tematizou‐se igualmente neste programa de estudos e atividades a natureza sexuada da 
totalidade  do  corpo  humano,  mostrando  como  as  relações  humanas  envolvem  integralmente  o  corpo 
enquanto instância dialógica básica, mesmo se inconscientemente.  
Do programa da disciplina de “Educação sexual” constava o seguinte: 
 
1. As bases biológicas do amor 
1.1. O comportamento sexual nos animais 
1.1.1. A escolha sexual 
1.1.2. Reprodução e sincronização 
1.2. Sexualidade humana 
1.2.1. Emancipação do controle hormonal 
1.2.2. Evolução e ligação macho‐fémea 
1.2.3. O significado humano do corpo 
2. O desenvolvimento dos papéis do sexo 
2.1. Os papéis do género 
2.1.1. Os estereótipos dos papéis do género 
2.1.2. Desvios dos estereótipos dos papéis do género   
2.2. Fatores constitucionais e diferenças de sexo 

163 
 
2.2.1. A agressão 
2.2.2. Os padrões das aptidões intelectuais 
2.2.3. O valor adaptativo das diferenças 
2.3. Os fatores sociais e as diferenças sexuais 
2.3.1. O medo do fracasso 
2.3.2. A reatribuição do sexo durante a infância  
3. A orientação sexual 
3.1. A aquisição da orientação sexual 
3.1.1 A aquisição da identidade sexual masculina 
3.1.2. A aquisição da identidade sexual feminina 
3.2. A incidência da homossexualidade e bissexualidade. 
3.2.1. A homossexualidade e a bissexualidade: uma diferença ou um estilo de vida diferente? 
3.2.2. O que causa a homossexualidade e a bissexualidade? 
4. A adolescência 
4.1. A natureza da transição 
4.1.1. A adolescência é sempre turbulenta? 
4.1.2. Tentativa para encontrar uma identidade pessoal 
5. A reprodução humana 
5.1. Órgãos genitais masculinos 
5.1.1 Externos 
5.1.2. Internos  
5.2. Órgãos genitais femininos 
5.2.1 Externos 
5.2.2. Internos 
5.3. A resposta sexual humana 
5.4. Bases fisiológicas do coito 
5.4.1. Lubrificação na mulher 
5.4.2. Ereção no homem 
5.4.3. Fases da excitação 
5.4.4. Orgasmo feminino 
5.4.5. Orgasmo masculino 
5.4.6. Papel das hormonas na sexualidade humana 
5.5. Bases neurais do coito 
5.5.1. O sistema nervoso e o seu envolvimento com o comportamento sexual 

164
 
5.5.2. Funcionamento do sistema nervoso durante o ato sexual 
5.6. Doenças sexualmente transmissíveis 
5.7. Disfunções sexuais 
5.8. Métodos contracetivos 
5.9. Gravidez e parto: o que fazer e não fazer 
5.9.1. Estarei grávida? 
5.9.2. Testes e procedimentos 
5.9.3. Questões frequentes 
5.9.4. Alimentação 
5.9.5. Exercício físico 
5.9.6. Complicações da gravidez 
5.9.7. Trabalho de parto e nascimento 
5.9.8. Reprodução medicamente assistida 
5.9.9. Situações especiais 
6. Problemáticas sociais emergentes da sexualidade humana 
6.1. A variabilidade das práticas de sexualidade humana 
6.2. O sexo pré‐matrimonial 
6.3. A prostituição 
7. Amor e sexualidade no Ocidente 
7.1. O amor em liberdade 
7.1.1. A literatura amorosa 
7.1.2. A homossexualidade na Grécia e em Roma. 
7.1.3. Os primórdios da contraceção 
7.2. O amor e o casal 
7.2.1. As núpcias do casal romano 
7.2.2. A rejeição do prazer 
7.2.3. A génese do casamento cristão 
7.2.4. A longa marcha do divórcio 
7.3. O prazer e o sofrimento 
7.3.1. Fetiches 
7.3.2 Disfunções sexuais 
7.3.3. A masturbação 
7.3.4. A sexualidade e a maternidade 

165 
 
Na  implementação  destes  conteúdos  decidiu‐se  por  uma  metodologia  ativa  e  nunca  por  uma 
meramente discursiva por parte do professor. 
A turma funcionaria como um grupo de trabalho de projeto em atividade permanente, sendo que a 
interdisciplinaridade  e  o  relacionamento  com  os  outros  professores  da  turma,  e  da  escola,  constituiriam 
estratégias de trabalho nucleares.  
A avaliação do trabalho desenvolvido, pelos alunos e pelo professor, teria em conta as ações concretas 
desenvolvidas (os trabalhos práticos), que seriam do tipo qualitativo e apresentadas pelo professor ao conselho 
de  turma  (ou  turmas)  respetivo,  ao  conselho  executivo  e  ao  conselho  pedagógico,  por  altura  das  avaliações 
regulares.   
Este programa ao ser apresentado em sede de conselho pedagógico foi chumbado. 
Com  o  aparecimento  da  Lei  n.º  60/2009,  de  6  de  agosto  que  estabelece  o  regime  de  aplicação  da 
educação sexual em meio escolar, regulamentado pela Portaria n.º 196‐A/2010, de 9 de abril, a escola sentiu 
grandes  dificuldades  em  implementar  e  dar  cumprimento  ao  legislado  (aliás  legislar  sempre  foi  mais  fácil  do 
que implementar medidas pedagógicas que se traduzam em aprendizagens significativas e mudanças efetivas 
de comportamentos e atitudes). 
A legislação em vigor determina que a carga horária, embora adaptável, não pode ser inferior a doze 
horas para o ensino secundário, distribuídas de forma equilibrada pelos diversos períodos do ano letivo (art.º 5, 
da Portaria n.º 196‐A/2010). Defendendo ainda que os conteúdos a ser abordados são a “Compreensão ética 
da sexualidade humana” nomeadamente uma reflexão sobre: 
 
1) “Compreensão/determinação do ciclo menstrual em geral, com particular atenção à identificação, 
quando possível, do período ovulatório, em função das características dos ciclos menstruais; 
2) Informação estatística, por exemplo sobre: 
• Idade de início das relações sexuais, em Portugal e UE; 
• Taxas de gravidez e aborto em Portugal; 
3) Métodos contracetivos disponíveis e utilizados: segurança proporcionada por diferentes métodos; 
motivos que impedem o uso de métodos adequados; 
4) Consequências  físicas,  psicológicas  e  sociais  da  maternidade  e  da  paternidade  de  gravidez  na 
adolescência e do aborto; 
5) Doenças e infeções sexualmente transmissíveis e suas consequências; 
6) Prevenção dos maus tratos e das aproximações abusivas.” 
 
Assim,  o  diretor  da  escola  constituiu  um  grupo  de  trabalho,  em  junho  de  2010,  com  docentes  das 
diferentes áreas disciplinares, nomeadamente, português, economia, biologia, filosofia e história, tendo como 

166
 
parceiros  privilegiados  os  serviços  de  SPO  da  escola,  o  Centro  de  Saúde,  a  Associação  de  Estudantes  e  a 
Associação de Pais/EE e o CFFH, tendo como principal objetivo a formação na área da Educação Sexual (e para 
a Saúde) de professores. 
O projeto “nasceu” com o título de “projeto 5 sentidos”, fundamentado na reflexão dos elementos do 
grupo de trabalho sobre as linhas orientadoras emanadas pelo Ministério da Educação24 e sobre um trabalho 
desenvolvido pelo núcleo de estágio de Educação Física, coordenado pela docente Manuela Brochado, no ano 
letivo  2009/2010,  junto  da  comunidade  discente  da  nossa  escola.  Esse  trabalho  de  inquirição,  com  uma 
amostra de 450 alunos, com o título “ Educação Sexual no Meio Escolar”, ajudou a equipa ao “fornecer pistas 
de  orientação  temática  de  seleção  do  público‐alvo”  e  a  “diagnosticar  a  realidade  escolar“  que  serviu  de 
orientação  na  implementação  e  na  definição  inicial  de  estratégias  de  intervenção.  A  título  de  curiosidade, 
destacamos os seguintes resultados: 
 
• 90% dos inquiridos achou pertinente a integração da Educação Sexual na escola; 
• 78% considerou estar bem informado sobre o assunto; 
• 95% considerou que aulas de Educação Sexual ajudariam à aquisição de competências; 
• 62%  pensou  que  os  principais  intervenientes  pedagógicos  para  as  aulas  de  Educação  Sexual 
deveriam ser profissionais de saúde; 
• A ser na escola, as três principais disciplinas a trabalhar a temática seriam AP (26%), Biologia (21%) e 
Psicologia B (20%); 
• As  principais  atividades  a  desenvolver  seriam  filmes‐debates  (20%),  perguntas/resposta  (14%)  e 
debates (11%); 
• 47% defenderam que o principal objetivo a atingir com Educação Sexual é prevenção;  
• 50% defendeu que as aulas deviam ter, no máximo, a duração de uma hora semanal; 
• Os alunos de 10º e 12º anos elegeram a sexualidade e relações amorosas como tema principal; 
• Os alunos de 11º ano escolheram o tema “Evolução e consequências das taxas de gravidez e aborto”. 
 
O  “projeto  5  sentidos”  iniciou‐se  no  ano  letivo  2010/2011,  com  a  finalidade,  para  além  das 
decorrentes da legislação em vigor, de contribuir para uma vivência mais informada, mais autónoma e, logo, 
mais responsável da sexualidade no âmbito dos conhecimentos, sentimentos, atitudes e competências, sendo 
que um dos seus pilares fundamentais é o total respeito para com os valores e ideologias, quer científicas ou 
religiosas, que cada aluno possui e que a sua família defende. 
                                                            
24
Guia Anotado de RecursosColecção “Materiais de Apoio ao Currículo – Guia Anotado deRecursos”, Ministério da Educação 
(2001). 

167 
 
Relativamente  à  modalidade  e  carga‐horária,  pretendeu‐se  que  cada  conselho  de  turma  através  do 
seu Projeto Curricular de Turma (mais ou menos formalizado) fosse o principal motor de aplicação da Educação 
Sexual,  responsabilizando‐se  pelo  desenvolvimento  de  uma  abordagem  transversal  às  diversas  disciplinas, 
articulando as planificações das várias áreas disciplinares e não disciplinares, numa perspetiva interdisciplinar, 
privilegiando sempre a avaliação formativa. 
 O esquema seguidamente apresentado foi objeto de trabalho e reformulação por cada conselho de turma: 
Nº Blocos 
Ano / Tema aglutinador  Disciplinas  Total 
1ºP  2ºP  3º P 
Português 
10º  A definir em sede de 
Educação Física  12h 
Sexualidade e Relações Amorosas  conselho de turma 
Filosofia/Área de Integração 
História A 
Geografia A 
11º 
Desenho A  A definir em sede de 
Anatomia  e  Fisiologia  ‐  Evolução  e  12h 
Inglês  conselho de turma 
consequências da gravidez 
Biologia e Geologia 
Física e Química A 

12º  Projeto interdisciplinar a definir pelo conselho de turma no 
 12 Horas 
Sentimentos, Gostos e Decisões  final do 1º período. 

 
A  avaliação  no  ano  letivo  anterior  (2010/2011)  foi  positiva,  tendo‐se  registado  apenas  alguma 
dificuldade  de  implementação  nas  disciplinas  sujeitas  a  avaliação  externa;  neste  ano  letivo,  há  novos 
constrangimentos à sua implementação, decorrentes da falta de espaço temporal para atividades não letivas, 
devido à pressão imposta pelo cumprimento dos conteúdos programáticos e pela supressão da disciplina área 
de projeto no 12º ano. 
 
BIBLIOGRAFIA 
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Boletim n.º 23 do Centro de Estudos, Documentação e Informação sobre a Criança 
Instituto de Apoio à Criança 
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168
 
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170
 
EDUCAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA ‐ COMO? PARA QUÊ? 
PERFIL DO FORMADOR E MODALIDADES E TÉCNICAS DE IMPLEMENTAÇÃO 
 
Alexandrina Melo Silva, 
Escola Secundária das Taipas 

Educar  é  um  processo  controverso  que  visa  orientar  comportamentos,  hábitos  e  atitudes, 
ultrapassando  amplamente  o  conceito  de  ensinar.  Estamos  permanentemente  a  educar  e  a  ser  educados, 
mesmo que não estejamos conscientes disso. Esta tarefa, educativa de âmbito escolar, familiar, social e global 
reveste‐se, ainda, de um caráter mais sensível quando pensamos na educação sexual. 
A  publicação  da  Lei  nº  60/2009,  de  6  de  agosto  e  da  Portaria  196‐A,  de  9  de  abril,  colocam  aos 
docentes o novo desafio de promover a educação sexual em meio escolar. Trata‐se de um assunto “polémico” 
que foi ignorado durante o nosso percurso escolar, ao longo do qual, fomos estudando os diversos aparelhos 
constituintes do organismo humano, sem nunca abordar o aparelho sexual! “Cortava‐se” o corpo pela cintura e 
só se “descobria” um pouco acima do joelho…. Considerava‐se que esta “ignorância assexuada” constituía uma 
fonte de virtudes e que falar de sexualidade era assunto tabu e “pecaminoso”. Agora, “mudam –se os tempos e 
as vontades” e é tempo de promover a educação sexual dos jovens… Mas, como podemos falar de sexualidade 
sem ofender a moral e os bons costumes? 
Inicialmente,  teremos  de  pensar  que  o  nosso  desenvolvimento  físico  e  sexual  constitui  uma  parte 
integrante do nosso desenvolvimento biológico e aceitar que a espécie humana é sexuada, pois só aos anjos foi 
concedido o “privilégio” de não ter sexo…. 
Acresce  que  a  formação  de  atitudes  e  valores  no  domínio  das  relações  afetivas  é  imprescindível  ao 
desenvolvimento integral do ser humano, como espécie humanizada e racional, e que a omissão da abordagem 
da  sexualidade  não  evita  que  os  jovens  sejam  diariamente  bombardeados  e,  socialmente  pressionados,  com 
informação publicitária, de novelas, filmes, etc. 
Como proceder neste contexto? 
Será  essencial  levar  os  alunos  a  refletir  sobre  o  seu  desenvolvimento  sexual,  responsabilizando‐os 
pelas  suas  opções,  consciencializando‐os,  sem  os  culpabilizar,  que  têm  oportunidade  de  escolher  o  seu 
percurso de vida… Isso implica que, ao iniciar a sua vida  sexual, devem ponderar a probabilidade de ocorrer 
uma gravidez e/ou contrair uma infeção sexualmente transmissível, logo devem refletir sobre a importância de 
desenvolver comportamentos preventivos. 
Devemos  considerar  as  suas  dúvidas,  receios  e  anseios  para  desenvolver  um  projeto  de  educação 
sexual de turma e perspetivar o debate e a isenção, para permitir aos jovens uma opção individual, consciente 
e saudável no seu percurso de vida afetivo…. Não pensar no que fomos ou o que decidimos no contexto em 

171 
 
que  vivemos,  mas  levar  os  jovens  a  pensar,  no  contexto  atual,  como  devem  proceder  sendo  detentores  do 
máximo de informação disponível. 
Não temos de saber “tudo de tudo”, temos “apenas” de ajudar os alunos a pensar… 
Contudo,  na  área  da  educação  sexual,  a tarefa  educativa  reveste‐se  de  suscetibilidades  e  obedece a 
princípios éticos, que devem ser devidamente clarificados com os alunos. 
Ao longo dos tempos, a implementação da educação sexual tem alcançado maior aceitação, quer por 
parte dos professores, quer por parte das famílias, que reconhecem existirem dificuldades em abordar estes 
assuntos no ambiente familiar. 
Reivindica‐se à escola uma formação na área da sexualidade, sobretudo, perspetivando um modelo de 
educação sexual médico‐preventivo ou biológico, no qual se privilegia uma abordagem centrada nos aspetos 
técnicos e fisiológicos na prevenção de riscos – gravidez não desejada, infeção pelo HIV (Sida) e outras Infeções 
Sexualmente  Transmissíveis.  Todavia,  este  modelo  educativo  revela  óbvias  limitações,  pois  não  “aborda  as 
componentes emocionais e relacionais da sexualidade e, muitas vezes, os professores são confrontados com as 
necessidades de informação e deformação dos jovens nestas matérias” (Marques, 2002). 
Surge  então um  modelo  educativo  mais  abrangente baseado  em  valores  essenciais  apresentado  nas 
declarações  internacionais,  nomeadamente,  a  Declaração  Universal  dos  Direitos  do  Homem  e  na  própria 
Constituição  da  República  Portuguesa.  Este  modelo  Biográfico  ou  de  Desenvolvimento  Pessoal  e  Social 
perspetiva  a  sexualidade  como  uma  fonte  potencial  de  vida  e  de  prazer,  reconhecendo  a  pluralidade  de 
posições  morais  a  ele  associadas.  Enfatiza  o  respeito  pelas  diferentes  orientações  sexuais  e  promove  a 
igualdade de direitos entre homens e mulheres, contribuindo para uma vivência saudável da sexualidade. 
O  novo  contexto  educativo  condiciona  o  perfil  do  educador  que  deve  evidenciar  respeito  pela 
pluralidade de opiniões, ser neutro e nunca emitir juízos de valores, ou, talvez, numa visão mais realista, ser 
tão  neutro  quanto  possível  e  evitar  emitir  juízos  de  valor.  Deve,  sobretudo,  promover  o  debate  e  a  reflexão 
possibilitando  aos  alunos,  a  identificação  de  valores  pessoais,  o  desenvolvimento  do  espírito  crítico  e  da 
capacidade  de  fazer  escolhas  livres  e  informadas,  que  lhes  permitam  o  desenvolvimento  da  sua  sexualidade 
num contexto de saúde e afetividade. 
O  bom  educador  é  aquele  que  gosta  de  aprender,  partilhar  reflexões  e  pensamentos  alcançando 
patamares de valores  educativos  e  cívicos congruentes, que possibilitem  novos  patamares  de  liberdade e  de 
felicidade na evolução da espécie humana. 
  Desenvolver este contexto educativo exige também um grande envolvimento dos alunos, que devem 
assumir um papel predominantemente ativo e participativo. A utilização da metodologia de projeto será a ideal 
para a implementação da educação sexual em meio escolar. Assim, devemos diagnosticar dúvidas, interesses e 
conhecimentos prévios dos alunos, aliciando‐os à descoberta de novos percursos de conhecimentos, atitudes e 
valores. 

172
 
  O recurso a técnicas de partilha de informação, como é o caso do brainstorming ou chuva de ideias, de 
questionários,  de  fichas  de  trabalho,  de  entrevistas  ou  de  palestras  com  visitantes  externos,  pode  facilitar  a 
interação com os alunos envolvendo‐os na construção dos seus próprios conhecimentos. 
  As técnicas de debate e clarificação de opiniões, valores e atitudes, utilizando, por exemplo, histórias 
valorativas, serão essenciais no domínio da educação sexual, uma vez que o esclarecimentos dos valores será 
primordial no modelo educativo de desenvolvimento pessoal e social. 
Salienta‐se, ainda, a utilização de técnicas de treino de competências específicas, pois para o debate 
de ideias é imprescindível saber ouvir e expressar opiniões e sentimentos. Ajudar os alunos a desenvolverem a 
sua autoestima e competências de comunicação de modo a defenderem o seu ponto de vista de forma clara e 
confiante, sem desrespeitar o outro, ou seja, tornando‐os assertivos, permite favorecer a sua interação com os 
outros e estabelecer relacionamentos interpessoais mais gratificantes, estimulando a sua realização pessoal. 
Adolescentes  e  jovens  felizes,  saudáveis  e  seguros  não  será  uma  utopia,  mas  um  caminho  que  se 
constrói passo a passo. 
 
BIBLIOGRAFIA 
CARPINTERO,  E.  (2004)  Prevenção  de  riscos  associados  ao  comportamento  sexual:  gravidez  não 
desejada, DST e SIDA.  Lisboa: APF. 
KOHNER, Nancy. (1999) Como falar às crianças sobre sexo. 2ª Edição. Lyon Edições. Mem Martins Lyon 
Edições. 
PEREIRA,  Manuela;  FREITAS,  Filomena.  (2001)  Educação  Sexual:  contextos  de  sexualidade  e 
adolescência. Lisboa: Edições Asa. 
SUPLICY, Marta (1995)– Sexo para adolescentes. (2ª Edição), Porto, Edições Afrontamento. 
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LÓPEZ, Félix; FUERTES, António. (1999) Para Compreender a sexualidade. Lisboa: APF. 
LÓPEZ, Félix [et al.]. (1986) Educación sexual en la adolescencia. Salamanca: Instituto de Ciencias de la 
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em: 02.03.2010 em: http://sitio.dgidc.min‐edu.pt/saude/Documents/GTES_RELATORIO_FINAL.pdf 
MIGUEL, Nuno; GOMES, Ana Maria Allen. (1991) Só para jovens! (2ª Edição). Lisboa: Texto Editora. 
 
 
 

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EDUCAÇÃO SEXUAL NO AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE ARÕES 
 
Helena Sofia Dias Pereira, 
Sílvia Cristina Moreira Carneiro, 
Sílvia Maria Barros de Lemos, 
Professores do Projeto Educação Para a Saúde e Educação Sexual do 
 Agrupamento de Escolas de Arões 
 

A educação para a saúde tem como objetivos centrais a informação e a consciencialização dos alunos 
acerca da sua própria saúde, assim como a promoção da aquisição de competências que os habilitem para uma 
progressiva  autorresponsabilização.  Precisamente  por  se  enquadrar  no  mesmo  conceito  de  abordagem,  a 
educação sexual é essencial para a promoção da saúde física, psicológica e social. 
No seguimento do definido pela Lei nº 60/2009 de 6 de Agosto e pela Portaria nº 196A/2010 de 9 de 
Abril,  que  estabelece  o  regime  de  aplicação  da  educação  sexual  nos  estabelecimentos  de  ensino  básico  e 
secundário, os diretores de turma, os professores responsáveis pela educação para a saúde e educação sexual, 
bem  como  os  demais  professores  envolvidos  na  educação  sexual,  elaboraram,  no  início  do  ano  escolar,  os 
projetos de educação sexual onde constam os conteúdos e temas a abordar e as iniciativas a desenvolver. 
A  maioria  dos  projetos  encontra‐se  ainda  em  fase  de  execução,  tendo‐se  decidido  que  os  produtos 
finais serão apresentados no terceiro período letivo. 
Pela  análise  das  planificações  apresentadas,  constata‐se  que  os  alunos  propuseram  conceber  diferentes 
tipos  de  produtos  finais,  como,  por  exemplo,  músicas  com  letras  originais,  coreografias,  apresentações 
eletrónicas,  bandas  desenhadas,  bilhetes  de  identidade  alusivos  às  infeções  sexualmente  transmissíveis, 
poemas e peças de teatro. 
A título de exemplo, apresentamos alguns dos trabalhos já concluídos e que resultam da abordagem 
dos conteúdos segundo as orientações curriculares emanadas dos ministérios da educação e da saúde.  
Ao nivel do 1.º ciclo, têm sido abordadas a noção de corpo e de família; o corpo em harmonia com a 
natureza; a proteção do corpo e a noção dos limites, dizendo não às aproximações abusivas.  
Nas  áreas  curriculares  de  Formação  Cívica  e  Estudo  do  Meio,  os  alunos  fizeram  o  seu  autorretrato 
ilustrado;  completaram  ilustrações  do  sistema  reprodutor;  exploraram  e  ilustraram  uma  história,  de  forma  a 
reconhecerem  a  importância  da  família  e  como  nasceram  (relação  sexual);  assinalaram  em  esquemas  os 
“toques  maus  e  os  bons”;  registaram  no  caderno  alguns  comportamentos  a  adotar  perante  estranhos  e 
exploraram atividades no site da Seguranet. 

175 
 
 

 
 

1
176
 
 

 
 

mos a alegria dos nossos pais” ‐ Escola Básica de Cepãães, 1.º ano 
Ilustraçãão da história “Som

No  segundo  ciclo,  5.º  ano,  foi  selecionado  o 


o tema  puberdade.  Os  alunos  têm  trabalhado 
t os  aspeetos 
b
biológicos e emoci ionais; as transform
mações do corpo ee os carateres sexu uais secundários.  
elhos  de  turma  deesenvolveram  nas  áreas  curricularess  de  Formação  Cívvica, 
As  atividaades  que  os  conse
E
Educação Física, Ed ducação Moral e R Religiosa Católica,  Português e Educação Musical, incluíram o visionameento 
d
de pequenos filme es sobre o tema esscolhido, seguindo‐se a discussão/deebate no grupo turrma e a elaboração o de 
u
uma letra e música a para uma canção o.  

177 
 
“Saber Crescer / Saber Viver”  
Refrão (bis) 
Logo que eu nasci, 
Nasci para aprender. 
Crescer sempre saudável, 
Com vontade de viver. 
I. 
Nesta idade tão bonita, 
Sinto o corpo a transformar. 
Os adultos me disseram: 
“Isso é fruto da idade”  
II. 
O meu coração palpita, 
Por uma cara metade. 
Mas que havemos de fazer, 
São as hormonas a pular. 
III. 
Para cuidar de mim, 
Devo os outros respeitar. 
Tudo o que me aparece, 
É do corpo a transformar. 
 
IV. 
Nesta fase de transformação, 
Vamos viver com alegria. 
Respeitar nossas mudanças, 
E crescer em harmonia. 
V. 
Se saudáveis crescermos, 
Longa vida iremos ter. 
Viver com muita alegria, 
Vendo os filhos a crescer. 
 
E.B. 2,3 de Arões | 5º A e 5ºB com o professor José Marinho (letra) 

178
 
No  3.º  ciclo,  9.º  ano,  e  no  âmbito  do  currículo  das  áreas  de  Ciências  Naturais,  Formação  Cívica  e 
Educação Moral Religiosa e Católicas têm sido abordados os temas seguintes: puberdade;morfofisiologia geral 
da  reprodução  humana;  contraceção;  infeções  sexualmente  transmissíveis;  interrupções  voluntárias  de 
gravidezes, as suas sequelas e respetivo significado. 
Da exploração transversal dos temas abordados resultaram a dramatização, em sala de aula, da peça 
“O encontro dos Gâmetas” e bilhetes de identidade das infeções sexualmente transmissíveis. 

 
“Herpes genital” ‐E.B. 2,3 de Arões | 9.ºA| Bruno Ribeiro, João Ribeiro, Rúben Costa 
 

179 
 
Numa lógica de promoção do desenvolvimento pessoal e social dos nossos alunos, visamos contribuir 
para  a  melhoria  dos  relacionamentos  afetivos  e  sexuais  entre  os  jovens,  para  a  redução  das  possíveis 
consequências  negativas  dos  comportamentos  sexuais  e  para  a  tomada  de  decisões  conscientes  na  área  da 
educação para a saúde – educação sexual. 
Seguindo  as  orientações  do  Conselho  Nacional  de  Educação  (CNE),  no  seu  Parecer  n.º  6/2005,  o 
trabalho desenvolvido neste âmbito, “uma área aberta ao pensar, ao diálogo e ao questionamento que integra 
a  formação  pessoal,  social  e  moral”,  pautou‐se  pela  transdisciplinaridade,  atendendo‐se  à  maturidade  dos 
alunos,  avaliando  as  suas  dúvidas  e  inquietações  e  respeitando  o  seu  enquadramento  cultural,  religioso  e 
familiar. 
É  crucial  a  preparação  das  crianças  e  jovens  para  a  adolescência,  marcada  por  profundas  alterações 
biológicas e na personalidade. Assim, esta formação, tão importante para o desenvolvimento harmonioso das 
nossas crianças e jovens e para o seu equilíbrio emocional, traduzir‐se‐á em claros ganhos no que respeita à 
diminuição  de  futuras  escolhas  ou  decisões  potencialmente  nefastas,  uma  vez  que,  com  informação, 
formaremos indivíduos capazes de refletir por si próprios, com poder de decisão e aptos para enfrentar com 
confiança os desafios. 
 
BIBLIOGRAFIA 
CNE (2005), Parecer n.º 6/2005 ‐ Educação sexual nas escolas. 
[http://www.cnedu.pt/files/cnepareceresmodule/Parecer_6_2005.pdf, acedido a 19.04.2012] 
CNE (2009), Parecer n.º 2/2009 ‐ Parecer sobre os projectos de lei relativos ao regime deaplicação da 
Educação Sexual nas escolas. 
[http://www.cnedu.pt/files/cnepareceresmodule/Parecer_2_2009.pdf, acedido a 19.04.2012] 
FERNANDES, Arménio (2006), Projecto SER MAIS ‐ Educação para a Sexualidade Online, Faculdade de 
Ciências, Universidade do Porto. 
 
LEGISLAÇÃO 
PORTUGAL  (2009),  Lei  n.º  60/2009,  de  6  de  Agosto.  [Estabelece  o  regime  de  aplicação  da  educação 
sexual em meio escolar] 
PORTUGAL  (2010),  Portaria  n.º  196A/2010,  de  9  de  Abril.  [Procede  à  regulamentação  da  Lei  n.º 
60/2009, de 6 de Agosto] 
 
 
 
 

180
 
A EDUCAÇÃO SEXUAL NO AGRUPAMENTO VERTICAL DE ESCOLAS SANTOS SIMÕES 
 
Equipa do Projeto de Educação para a Saúde, 
AVE Santos Simões 
 

A  promoção  da  Educação  Sexual  nos  estabelecimentos  de  ensino  em  Portugal  enfrentou  avanços  e 
retrocessos nas últimas duas décadas. Do ponto de vista legislativo, a preocupação com a lecionação desta área 
já remonta a 1984, ano em que assistimos à publicação da Lei n.º 3/84, de 24 de março. Posteriormente foram 
também publicados a Lei n.º 120/99, de 11 de agosto e o Decreto‐Lei n.º 259/2000, de 17 de outubro. Apesar 
dos  dois  primeiros  normativos  legais  apresentarem  um  carácter  mais  geral  especificaram,  no  entanto,  a 
obrigação do Estado Português integrar e promover a Educação Sexual nas escolas. Por sua vez, o Decreto‐Lei 
n.º  259/2000,  de  17  de  outubro,  forneceu  informações  mais  claras  sobre  como  esta  integração  deveria  ser 
feita, nomeadamente, no projeto educativo de cada escola e nas planificações de trabalho de cada turma. 
Pese embora a publicação dos normativos, os professores ficaram como que adormecidos, alheando‐
se um pouco da obrigatoriedade de lecionar Educação Sexual aos seus alunos. A aprovação da Lei n.º 60/2009, 
de 6 de agosto que “estabelece o regime de aplicação da educação sexual  em meio escolar” veio, mais uma 
vez,  reforçar  a  obrigatoriedade  desta  abordagem  em  contexto  de  sala  de  aula  de  uma  forma  explícita, 
intencional  e  pedagogicamente  estruturada.  Mais  recentemente,  pensamos  nós  que,  provavelmente,  pelas 
dificuldades sentidas na aplicação desta lei, é publicada, em 9 de abril de 2010, a Portaria n.º 196‐A, que veio 
regulamentar a aplicação da Lei n.º 60/2009, de 6 de agosto, no que respeita aos conteúdos que devem ser 
privilegiados no ensino da Educação Sexual em cada ano e ciclo de ensino. A Lei n.º 60/2009 clarifica, ainda, “a 
estrutura  organizativa  em  que  se  deve  basear  a  educação  sexual  nas  escolas,  assente  numa  equipa 
dinamizadora  e  nos  gabinetes  de  educação  para  a  saúde.”  (Frade  et  al,  2010:21).  Deste  modo  foi  criada,  no 
Agrupamento, a equipa do Projeto de Educação para a Saúde (equipa PES) constituída por docentes, psicóloga 
(Serviço de Psicologia e Orientação) e uma enfermeira da Unidade de Saúde Familiar de Urgezes. 
A  escola  tem  de  assumir  a  sua  responsabilidade  na  construção  do  currículo  dos  seus  alunos  e  isso 
implica que inclua,na sua oferta educativa, também, a Educação Sexual.  
Como  é  sabido,  a  alteração  de  práticas  pedagógicas  não  se  faz  por  imposição  legislativa.  Nesse  sentido,  a 
equipa PES constatou ser necessário auxiliar os docentes, procurando facultar‐lhes formação específica na área 
da Educação Sexual, por forma a colocarem em ação o que a tutela pretende. 
Tendo  por base  esta  preocupação,  agilizou‐se  a  candidatura  do Agrupamento  ao  Programa  Regional 
de Educação Sexual em Saúde Escolar (PRESSE), considerando‐se que seria um caminho para a promoção de 
ações  de  formação  e,  também,  uma  mais‐valia  para  desenvolver  um  trabalho  estruturado  e  sustentado  na 

181 
 
implementação  da  Educação  Sexual.  Uma  vez  aprovada  a  candidatura  ao  PRESSE  passou‐se,  de  imediato,  à 
estruturação de uma ação de formação, em parceria com o Centro de Formação Francisco de Holanda. 
Entendemos que a conquista dos docentes para darem início à lecionação da Educação Sexual deveria 
ser de forma gradual. Por essa razão, consideramos que a formação deveria ser destinada, prioritariamente, a 
todos  os  professores/diretores  de  turma  que  se  encontravam  a  lecionar  o  primeiro  ano  de  cada  ciclo.  Não 
obstante  esta  intenção  ‐  munir  os  docentes  de  informação  e  atividades  específicas  ‐  o  Projeto  de  Educação 
Sexual  foi  dirigido  e  aplicado  a  todos  os  níveis  de  ensino,  por  forma  a  envolver  todos  os  docentes  e  alunos, 
desde a educação pré‐escolar ao ensino secundário. 
Desta forma, foi implementada a Oficina de Formação PRESSE, num total de cinquenta horas (vinte e 
cinco horas presenciais e vinte e cinco horas de trabalho autónomo) visando, sobretudo, a implementação da 
Educação Sexual em todas as escolas do agrupamento de uma forma estruturada e sustentada. 
Através da Oficina de Formação, os formandos tiveram oportunidade de conhecer o PRESSE, ou seja, 
um precioso recurso para abordar e aprofundar os diversos conteúdos no âmbito da Educação Sexual de forma 
orientada. Sabemos que o PRESSE permite o envolvimento não só de professores e alunos, mas também dos 
pais/encarregados  de  educação  em  parceria  com  a  Unidade  de  Saúde  Pública,  possibilitando  que  os 
professores  fiquem  mais  informados,  confiantes  e  seguros  na  abordagem  dos  conceitos.  Nesta  matéria, 
também  se  pretende  que  os  professores  possam  ajudar  os  seus  alunos  a  crescer  de  forma  equilibrada, 
melhorando a sua compreensão e auto‐estima e desenvolvendo atitudes assertivas face à sexualidade. 
Na  Oficina  de  Formação  foi  possível  experimentar  algumas  atividades  em  contexto  de  sala  de  aula 
através  de  metodologias  ativas,  refletir  em  conjunto  sobre  as  dinâmicas  criadas  com  os  alunos  e  partilhar 
algumas  dificuldades  e  estratégias  de  resolução  de  problemas.  Permitiu,  sobretudo,munir  os  professores  de 
materiais e conhecimentos adequados para que a implementação da Educação Sexual em contexto curricular 
se  torne  mais  fácil  e  exequível.  Agora,  os  professores,como  agentes  promotores  da  Educação  Sexual  nas 
escolas,  têm  à  sua  disposição  um  conjunto  de  ferramentas  que  os  auxiliam  a  materializar  um  programa  que 
visa  levar  os  alunos  a  adquirir  competências  individuais  e  a  desenvolver  valores  fundamentais  à  vivência  da 
sexualidade de forma consciente e responsável.  
Nas sessões da Oficina de Formação, ao nível do 1.º e 2.º Ciclos do Ensino Básico, privilegiaram‐se o 
conhecimento  do  corpo  humano  e  a  educação  para  os  afetos,  adequando‐se  as  atividades  ao  currículo  e  às 
idades destes níveis de ensino. No 3.º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário, os temas da Educação 
sexual  foram,  igualmente,  ajustados  ao  currículo  de  cada  ano  de  escolaridade.  A  principal  abordagem  em 
contexto  de  sala  de  aula  prendeu‐se,  sobretudo,  com  o  conhecimento  da  sexualidade  em  todas  as  suas 
dimensões,  reconhecendo‐a  como  uma  das  componentes  mais  sensíveis  do  ser  humano.  Dentro  deste  tema 
foram, também, trabalhados o conhecimento e a prevenção de Infeções Sexualmente Transmissíveis (IST).  

182
 
Levar os alunos a refletir sobre o impacto da sexualidade humana (por exemplo,analisando as taxas de 
IST  e  de  gravidez  na  adolescência),  é,  também,  um  caminho  para  prevenir  a  maternidade  e  a  paternidade 
precoces e identificar as sequelas e significados de uma interrupção voluntária da gravidez, abordando, desde 
cedo, como se processa a reprodução humana e as várias fases do crescimento e conhecendo a importância 
dos métodos contracetivos e do planeamento familiar. Outra grande preocupação da equipa do PES tem sido 
privilegiar  ações  de  prevenção  de  maus  tratos  e  das  aproximações  abusivas,  reconhecendo,  neste  aspeto,  a 
importância do uso correto da Internet. 
As atividades propostas no âmbito da Oficina de Formação PRESSE estão, assim, a ser concretizadas de 
acordo com as planificações dos Projetos de Educação Sexual de cada turma. As propostas de planificações que 
servem de base a todos os docentes foram elaboradas pela equipa do PES e fazem parte integrante do Projeto 
de  Educação  para  a  Saúde,  por  forma  a  serem  do  conhecimento  de  todos  os  docentes  possibilitando,  deste 
modo, a articulação vertical entre todos os níveis de ensino. 
Uma  outra  vertente  do  PES  prende‐se  com  o  facto  de  que  a  escola,  como  meio  inclusivo,  deve 
proporcionar a todos os discentes a possibilidade de usufruírem de um lugar em que possam esclarecer as suas 
dúvidas,  procurar  aconselhamento  e  receber  todo  o  apoio  necessário,  bem  como  a  possibilidade  de 
encaminhar  os  alunos  para  as  devidas  instituições  que  poderão,  de  modo  adequado,  fazer  o  seu 
acompanhamento.  Nesse  sentido,  no  presente  ano  letivo,  na  escola  sede  e  após  a  renovação  do  espaço, 
reabriu o Gabinete de Apoio e Informação ao Aluno (GIA), destinado ao apoio e orientação dos alunos acerca 
de  dúvidas  relacionadas  com  a  escola,  com  a  família  e  outras  associadas  à  saúde  juvenil  e,  também, 
relacionadas  com  inseguranças  do  foro  sexual,  questões  que,  por  vezes,  necessitam  de  ser  tratadas  com 
confidencialidade. 
Com a abertura deste gabinete não se pretendeu substituir as consultas de planeamento familiar, ou 
similares, disponibilizadas pelos diferentes serviços de saúde. Pretende‐se sim, que este seja um elo de ligação 
entre estes últimos e os jovens, proporcionando meios de apoio através de uma comunicação mais eficiente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

183 
 
 

 
 
 
 
GABINETEE DE INFORMAÇÃO O E APOIO AO ALU UNO 
 
 
Neste gab binete tem sido, taambém, divulgado o o Espaço Saúde  Jovem que se enccontra a funcionar no 
e
edifício da antiga e estação da CP de G Guimarães, destinado aos adolescen ntes. Tem‐se verificado a procura deesse 
e
espaço por parte d de um significativo o número de alunos do Agrupamento o. 
De  salientar,  que,  neste  Agrupamento 
A de  Escolas, 
E o  Projetoo  de  Educação  paara  a  Saúde  está  em 
d
desenvolvimento  d
desde  há  três  ano
os,  no  início  com  mais  dúvidas  do  q m  mais  receios  do  que 
que  certezas,  com
s
seguranças. Atravé és deste projeto tê êm sido trabalhad dos de forma transsversal vários temas, nomeadamentte, a 
a
alimentação, a hig giene, o desporto  e a educação sexual. Contudo, no  presente ano letivvo a exploração deesta 
ú
última temática fo oi (e continuará a sser) seguramente mais aprofundadaa. Em parte, deve‐sse fundamentalmeente 
à tomada  de  con
à  nsciência  da  impo ortância  da  formação  dos  docentes  numa  área  quee  nem  sempre  reeúne 
c
consenso  por  susccitar  múltiplas  visõ
ões  e  diferentes  perspetivas 
p de  abordagem  e  consequentemente  algu uma 
r
resistência.  
Assim  a  necessidade  de  atualização  dos  conhecimentos  ee  de  haver  um  maior  m à‐vontade,   no 
t
tratamento  das  questões 
q desta  natureza, 
n perantee  os  alunos,  prinncipalmente  peran nte  os  adolescenntes, 
i
impulsionou  a  Forrmação  PRESSE  qu ue  proporcionou  uma 
u nova  dinâmicca  ao  nível  do  Agrrupamento.  Conforme 
a
algumas investigaç ções referem, os p professores que fazem formação em m Educação Sexual demonstram atitu udes 
m positivas  e  sentem‐se 
mais  s onfortáveis,  revelaando  um  maior  níível  de  conhecimeentos  do  que  aqueles 
mais  co
p
professores que nu unca fizeram formação nessa área (R Reis e Vilar, 2006). 

1
184
 
Como tem m vindo a ser referrido e reforçado ao o longo deste artiggo, a Oficina de Formação PRESSE do otou 
os  docentes  de  reecursos  técnico‐pe
o edagógicos  e  didátticos  atualizados  p para  poderem  imp plementar  a  educaação 
s
sexual em sala de  aula de forma orientada. Deve acreescentar‐se, que o os conteúdos abord dados no contexto o da 
f
formação,  suscitaram  grande  interresse  tendo  desencadeado  uma  p participação  ativa  e  grande  adesão o  às 
a
atividades  proposttas.  O  facto  de  oss  formandos  perteencerem  a  vários  níveis  de  ensino  e  e a  diferentes  gru
upos 
d
disciplinares, foi e nriquecedor por p permitir a partilha de diferentes exp periências e de práticas, com alunoss de 
d
diferentes  faixas  etárias. 
e Foi  visívell  o  elevado  grau  de  satisfação,  por  parte  dos  docen ntes,  relativamentte  à 
f
frequência  desta  ação,  quer  ao  níível  dos  objetivoss,  conteúdos,  mettodologias  quer  ao  a nível  dos  recursos 
d
disponibilizados.  A longo  das  sessõ
Ao  ões,  foi  possível  clarificar 
c a  ideia  de  que  as  questõees  relacionadas  com  a 
s
sexualidade,  que  as  crianças  e  os  jovens  colocam,  tal t como  todas  as  outras  perguntaas,  merecem  a  no ossa 
a
atenção  e  resposstas  claras,  verdadeiras  e  adaptad das  às  suas  idadees.  A  formação  possibilitou, 
p tambbém, 
c
consciencializar o  professor de que  não tem que ser u um especialista em m Educação Sexuall, mas um profissio onal 
d
devidamente  informado  sobre  a  sexualidade 
s humaana  que,  enquantto  educador,  deve  ser  capaz  de  criar  c
c
contextos pedagóg gicos adequados à abordagem do tema.  
Os  trabalhos  produzidos  e  as  dinâmicas  criadas  em  sala  de  aula,  eviden nciaram  ser  posssível 
i
implementar a Ed ucação Sexual em meio escolar sem m constrangimento os. Neste contexto o e a título ilustrattivo, 
a
apresentam‐se alg gumas imagens (a, b e c) que exemplificam o tipo de attividades que foram m dinamizadas.  
 
EXEMPLOS DEE ATIVIDADES PRÁ ÁTICAS REALIZADA AS NO CONTEXTO DA OFICINA DE FO ORMAÇÃO PRESSEE 
 
a) Conhecimento doo corpo humano nnas diferentes faixxas etárias, 1.º e 2.º CEB 
 
 

185 
 
 

 
b) Traabalho sobre “educar para os afetoss”, 2.º CEB 
 


“A discriminação m
magoa o coração.” 
A
Ana Margarida e Joã
ão Pedro 
 

“Somos todos igua
ais, apesar das nossas diferenças.” 
A
Ana Rita e Beatriz 
 

“Se uma pessoa tee contar um segred do, não te afastes ddela,  
a
apoia‐a.” 

“Não te deixes leva
ar pelo aspeto físicco, mas sim pelo q
que está 
n
no coração.” 
S
Sérgio e Rita 
 

“Encara a homosse
exualidade como u
uma coisa natural.”” 
B
Bárbara e Gabriel     
 
““Não deixes de serr amigo de uma peessoa pelas suas diferenças.  
N
Não rebaixes os coolegas mas sim ajuda‐os.” 
A isco 
Ana Cláudia e Franci
 
““Não julgues as peessoas pela sua apaarência.” 

“Faz com que sejam m teus amigos e dá‐te melhor com eeles.” 
I
Inês Sofia, João An
ntónio e João Dioggo 

1
186
 
c) Exposição de trabalhos dos aluno
os do Ensino Secun
ndário na escola sede 
 

 
 
Relativam
mente aos docentess que não tiveram possibilidade, nesste ano letivo, de ffrequentar a formaação 
P
PRESSE, tivemos a  preocupação de p planificar uma ativvidade que pudessse proporcionar o  debate, a reflexãoo e a 
a
atualização de con
nhecimentos no âm mbito da temática. Para o efeito, realizou‐se uma palessta com a presençaa de 
u na área de Educaçãão Sexual, que decorreu no 2º períod
uma especialista n do escolar e teve aa massiva participaação 
d
dos docentes de toodas as escolas do Agrupamento. 
 
 
 
 
 

187 
 
Palestra – “Metodologia de Ensino da Educação Sexual Orientada para a Ação” (08‐03‐2012) 
Para o sucesso de qualquer Projeto é importante apostar no trabalho colaborativo, cruzando saberes e 
experiências e estabelecendo Parcerias que possam enriquecer as iniciativas criadas. Assim, devemos valorizar 
a  partilha  de  informação  entre  Coordenadores  de  Educação  para  a  Saúde  de  diferentes  escolas,  a  parceria 
entre  o  Ministério  da  Educação  e  o  Ministério  da  Saúde,  nomeadamente  entre  a  ARS  Norte  e  a  DREN,  que 
sustenta o Programa “PRESSE”. Deve também ser referida a importante colaboração do Centro de Formação 
Francisco  de  Holanda,  que  ao  funcionar  como  entidade  promotora,  teve  um  papel  orientador/  facilitador  e, 
direta ou indiretamente, contribuiu para que os objetivos delineados na Oficina de Formação PRESSE fossem 
cumpridos, com êxito.  
Para  concluir  importa  sublinhar  que  a  aposta  na  formação  de  docentes,  em  matéria  de  Educação 
Sexual, constituiu ao longo deste ano letivo a principal prioridade do Projeto de Educação para a Saúde, para 
que  a  Educação  Sexual  possa  efetivamente  fazer  parte  integrante  dos  Projetos  Curriculares  de  Turma  e  ser 
implementada em sala de aula, conduzindo a uma visão positiva e responsável da sexualidade no contexto do 
crescimento equilibrado e da formação integral dos nossos alunos, com mais e melhor saúde para todos.  
 
BIBLIOGRAFIA 
Frade, A., Marques, A. M., Alverca, C. & Vilar, D. (2009). Educação Sexual na Escola. Guia para 
professores, formadores e educadores. Lisboa: Texto Editora. 
Reis, M. H. e Vilar, D. (2006) – Validity of a Scale to Measure Teachers – Attitudes Towards Sex 
Education. Sex Education 6:2. 
 
REFERÊNCIAS LEGISLATIVAS 
Lei 120/99, de 11 de agosto. 
Decreto‐Lei 259/2000, de 17 de outubro. 
Lei n.º 60/2009, publicada em Diário da República n.º 151 de 6 de agosto. 
Portaria n.º 196‐A/2010, publicada em Diário da República n.º69 de 9 de abril. 

 
 
 
 
 
 
 

188
 
IMPLEMENTAÇÃO DE UM PROJETO DE EDUCAÇÃO SEXUAL NO 
AGRUPAMENTO DE ESCOLAS PROFESSOR ABEL SALAZAR 
 
Sérgio Silva, 
Professor Coordenador da Equipa de Saúde Escolar 
Sandra Fernandes, 
Professora formadora PRESSE 
Helena Azevedo, 
Psicóloga 
 
INTRODUÇÃO 
A  entrada  em  vigor  de  um  quadro  legal  e  normativo,  que  aponta  a  educação  sexual  como  uma 
componente basilar da educação e da promoção da saúde, acarretou um desafio acrescido para as escolas em 
termos  de  articulação  interna  ao  nível  do  plano  de  atividades,  projeto  educativo  e  projetos  curriculares  de 
turma. As escolas são um contexto de intervenção privilegiado para a promoção da educação sexual, não só 
pelo  acesso  a  um  número  elevado  de  jovens  de  diferentes  faixas  etárias,  mas  também  porque  a  educação 
sexual pode ser abordada e deve ser assumida como parte integrante do projeto educativo, o qual compete 
também à escola definir.  
A educação sexual diz respeito ao processo através do qual a pessoa se desenvolve como ser sexuado 
e sexual, através de ações estruturadas e formais (educação sexual explícita) e, ao mesmo tempo, ações não 
estruturadas e informais (educação sexual implícita). É um processo que decorre ao longo da vida e não a partir 
do  início  da  atividade  sexual.  Acontece  em  diversos  contextos:  em  família,  com  os  amigos,  no  sistema 
educativo,  através  dos  media,  etc.  O  objetivo  primordial  da  promoção  de  educação  sexual  é  contribuir  para 
uma  vivência  mais  informada,  mais  gratificante,  mais  autónoma  e  mais  responsável  da  sexualidade.  (Luís, 
Gonzaga, Sousa, & Guimarães, 2011). 
A  Educação  Sexual  não  engloba  unicamente  a  simples  transmissão  de  informação  sobre  os  órgãos 
sexuais femininos e masculinos, a contraceção e as infeções sexualmente transmitidas (Luís, Gonzaga, Sousa, & 
Guimarães,  2011),  nem  deve  ser  encarada  como  uma  área  científica  destinada  a  ser  tratada  por  técnicos 
especializados  (Dias,  Ramalheira,  Marques,  Seabra,  &  Antunes,  2002).  Os  resultados  da  avaliação  da 
implementação  de  projetos  de  educação  sexual  em  meio  escolar  demonstram  que  a  mudança  de  atitudes  e 
comportamentos não se opera, primordialmente, através da informação e que esta, de forma isolada, poderá 
mesmo ter efeitos perversos (Pereira & Freitas, 2001). 
A  educação  sexual  não  se  pode  restringir  à  transmissão  de  informação  sobre  aspetos  biológicos  ou 
médicos,  na  medida  em  que  é  considerado  um  conceito  mais  amplo,  complexo  e  que  envolve  questões  de 
natureza  ética,  moral,  religiosa,  familiar,  cultural  e  social  (Luís,  Gonzaga,  Sousa,  &  Guimarães,  2011).  Desta 

189 
 
forma, a educação sexual em meio escolar assenta em três domínios: conhecimentos, atitudes e competências 
individuais (Frade, Marques, Alverca,& Vilar, 2003), com objetivos distintos, que apresentamos de seguida.  
  No  domínio  dos  conhecimentos,  pretende‐se  atingir  os  seguintes  objetivos:  as  várias  dimensões  da 
sexualidade;  a  diversidade  dos  comportamentos  sexuais  ao  longo  da  vida  e  das  caraterísticas  individuais;  os 
mecanismos da resposta sexual, da reprodução, da contraceção e da prática de sexo seguro; as ideias e valores 
com que as diversas sociedades foram encarando a sexualidade, o amor, a reprodução e as relações entre os 
sexos ao longo da história e nas diferentes culturas; os problemas de saúde ‐ e as formas de prevenção ‐ ligados 
à expressão da sexualidade, em particular as gravidezes não desejadas, as infeções de transmissão sexual, os 
abusos  e  a  violência  sexuais;  os  direitos,  a  legislação,  os  apoios  e  recursos  disponíveis  na  prevenção, 
acompanhamento e tratamento destes problemas. 
  No que concerne às atitudes, os objetivos que se pretende alcançar são os seguintes: uma aceitação 
positiva e confortável do corpo sexuado, do prazer e da afetividade; uma atitude não sexista; uma atitude não 
discriminatória  face  às  diferentes  expressões  e  orientações  sexuais;  uma  atitude  preventiva  face  à  doença  e 
promotora do bem‐estar e da saúde. 
  Os objetivos inerentes ao domínio das competências individuais centram‐ se no desenvolvimento das 
competências  para  tomar  decisões  responsáveis;  das  competências  para  recusar  comportamentos  não 
desejados ou que violem a dignidade e os direitos pessoais; das competências de comunicação; na aquisição e 
utilização  de  um  vocabulário  adequado;  na  utilização,  quando  necessário,  de  meios  seguros  e  eficazes  de 
contraceção  e  de  prevenção  do  contágio  de  infeções  de  transmissão  sexual;  no  desenvolvimento  de 
competências para pedir ajuda e saber recorrer a apoios, quando necessário. 
  A prossecução destes objetivos implica a articulação entre os vários agentes educativos, professores, 
psicólogos,  assistentes  operacionais,  pais  e  outros  representantes  da  comunidade  social  (Dias,  Ramalheira, 
Marques, Seabra,& Antunes, 2002). 
Assim, a implementação de programas de educação sexual em meio escolar implica a conjugação de um 
conjunto de fatores, tal como descrito nas Linhas Orientadoras para a Educação Sexual em Meio Escolar, dos 
Ministérios da Educação e da Saúde (2000), nomeadamente a formação dos agentes educativos, no sentido de 
serem capazes de agir de forma adequada e coerente face às dúvidas e manifestações das crianças e jovens 
relativas  à  sua  sexualidade;  abordagem  pedagógica  de  temas  da  sexualidade  humana,  feita  em  contextos 
curriculares  e  extracurriculares,  numa  lógica  interdisciplinar,  privilegiando  o  espaço  turma  e  as  diferentes 
necessidades  das  crianças  e  dos  jovens;  apoio  às  famílias  na  educação  sexual  das  crianças  e  dos  jovens, 
nomeadamente  através  do  seu  envolvimento  no  processo  de  ensino/aprendizagem  e/ou  promoção  de 
atividades  específicas  de  formação  dirigidas  aos  encarregados  de  educação  ou  dinamizadas  por  eles; 
estabelecimento  de  mecanismos  de  apoio  individualizado  e  específico  às  crianças  e  jovens  que  dele 

190
 
necessitarem,  através  da  criação  e  manutenção  de  parcerias  no  interior  da  escola  e  com  outros  serviços  da 
comunidade, nomeadamente os serviços de saúde. 
Neste  sentido,  e  de  acordo  com  o  quadro  legal  em  vigor,  a  promoção  da  educação  sexual  obrigou  o 
agrupamento  de  escolas  a  um  esforço  de  articulação  entre  os  vários  agentes  educativos  envolvidos  neste 
processo,  nomeadamente  professores,  psicóloga,  enfermeiras  e  pais/encarregados  de  educação,  de  forma  a 
integrar  a  educação  para  a  sexualidade nos  projetos  curriculares  das  turmas.  Os  projetos  foram  construídos, 
numa  lógica  de  ciclo,  de  forma  a  abranger  várias  áreas  temáticas,  nomeadamente  corpo  em  crescimento, 
expressões  de  sexualidade,  relações  interpessoais  e  saúde  sexual  e  reprodutiva.  Não  obstante,  cada  projeto 
inclui conteúdos e estratégias específicos, de acordo com as necessidades e especificidades de cada turma.  
Aquando da implementação dos projetos no Agrupamento de Escolas Professor Abel Salazar, a maioria 
dos  professores  relatou  algumas  dificuldades  e  inseguranças,  apesar  de  possuírem  formação  pedagógica 
adequada aos vários níveis etários e um conhecimento efetivo dos seus alunos. Deste modo, manifestaram a 
necessidade de formação nesta área e de materiais pedagógicos para trabalharem com os alunos.  
  Tendo em consideração esta necessidade, no final do ano letivo 2010/2011 foi realizada a candidatura 
ao  PRESSE  (Programa  Regional  de  Educação  Sexual  em  Saúde  Escolar).  Este  Programa  é  promovido  pela 
Administração Regional de Saúde do Norte, I.P. (ARSN), através do seu Departamento de Saúde Pública (DSP), 
em parceria com a Direção Regional de Educação do Norte (DREN), que apoia a implementação da educação 
sexual  nas  escolas,  de  uma  forma  estruturada  e  sustentada,  envolvendo  o  trabalho  conjunto  entre  os 
profissionais de educação e de saúde escolar.  
  O programa PRESSE dirige‐se a alunos e professores dos 1.º, 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e ensino 
secundário, envolvendo também pais, encarregados de educação, pessoal não docente e restante comunidade 
possuindo todos estes atores um papel ativo no desenvolvimento deste programa. 
O  PRESSE  apresenta‐se  como  uma  resposta  facilitadora  de  todo  o  processo  através  de  medidas  de 
intervenção  definidas  regionalmente  e  aplicadas  a  nível  local.  O  modelo  de  intervenção  PRESSE  assenta  na 
metodologia de projeto e promove a intervenção interdisciplinar. 
Desta forma, o programa PRESSE desenvolve‐se através de várias medidas, tais como: formação dos 
profissionais  de  saúde  escolar,  professores  e  psicólogos  em  sexualidade  humana,  educação  sexual  e 
metodologias  pedagógicas;  disponibilização  de  recursos  pedagógicos  (guiões  de  formação  de  professores, 
cadernos de atividades para alunos, jogos pedagógicos, entre outros) que facilitam a aplicação dos conteúdos 
curriculares  em  educação  sexual  previstos  para  os  vários  níveis  de  ensino;  promoção  de  iniciativas  de 
complemento curricular que contribuem para dinamização da educação sexual nas escolas tais como: teatro‐
debate, concursos, exposições, entre outras; apoio para a implementação de Gabinetes de Informação e Apoio 
(GIA), no âmbito da educação para a saúde e educação sexual. 

191 
 
Numa  primeira  fase  de  implementação  deste  programa  no  Agrupamento  (no  final  do  ano  letivo 
2010/2011),  uma  professora  da  Equipa  de  Saúde  Escolar  do  Agrupamento  frequentou  uma  formação  de 
formadores PRESSE, dinamizada por vários profissionais (psicólogos, médica, enfermeira).  
A fase seguinte, iniciou‐se, no presente ano letivo, com a dinamização de uma Oficina de Formação, 
com  a  duração  de  50  horas,  para  professores  dos  2.º  e  3.º  ciclos  do  Agrupamento.  Nesta  formação  foram 
abordadas,  recorrendo  a  diferentes  métodos  pedagógicos,  os  seguintes  temas:  sexualidade  como  realidade 
evolutiva, saúde sexual, expressões da sexualidade, relações interpessoais, psicossexualidade e construção de 
um projeto de educação sexual. No próximo ano letivo, pretendemos estender esta formação aos professores 
do  1.º  ciclo  e  organizar  ações  de  sensibilização  dirigidas  a  assistentes  operacionais  e  pais/encarregados  de 
educação. 
Podemos  considerar  que  a  implementação  do  projeto  de  Educação  Sexual  ainda  está  numa  fase 
embrionária, pelo que ainda não é possível fazer uma avaliação nem do processo nem do produto. O objetivo 
que pretendemos alcançar é contribuir para que os alunos adquiram conhecimentos, atitudes e competências 
que lhes permitam uma vivência saudável, responsável e feliz da sexualidade, tendo por base um modelo que 
defende  o  respeito  pelo  direito  à  diferença  e  pela  pessoa  do  outro,  nomeadamente  as  suas  características 
físicas,  os  seus  valores,  a  sua  orientação  sexual,  promovendo  a  igualdade  de  direitos  e  oportunidades  entre 
homens  e  mulheres,  recusando  expressões  da  sexualidade  que  envolvam  violência  ou  exploração  (Luís, 
Gonzaga, Sousa, & Guimarães, 2011). 
 
BIBLIOGRAFIA 
Dias,  A.  M.,  Ramalheira,  C.,  Marques,  L.,  Seabra,  M.  E.,  &  Antunes,  M.  L.  C.  (2002).  Educação  da 
sexualidade no dia‐a‐dia da prática educativa. Braga: Edições Casa do Professor.  
Frade,  A.,  Marques,  A.  M.,  Alverca,  C.,  &  Vilar,  D.  (2003).  Educação  Sexual  na  Escola.  Guia  para 
professores, formadores e educadores. Lisboa: Texto Editora.  
Luís, M. P., Gonzaga, M., Sousa, S., & Guimarães, C. (2011). Guião PRESSE. Formação para professores. 
Porto: Administração Regional de Saúde do Norte, Departamento de Saúde Pública. 
Pereira, M. M., & Freitas, F. (2001). Educação Sexual: contextos de sexualidade e adolescência. Porto: 
Edições Asa. 
 
 
 
 
 
 

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PROJETO DE EDUCAÇÃO SEXUAL DO AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DAS TAIPAS 
 
Beatriz Sousa, 
Coordenadora do PES do Agrupamento de Escolas das Taipas 
 
A Sexualidade está presente ao longo de todas as fases da vida humana, o que não significa que seja 
um tema fácil de abordar, mas é sem dúvida essencial. A educação sexual, além do ensino sobre a anatomia e 
psicologia da reprodução humana e demais aspetos do comportamento que se relacionam com o sexo, engloba 
também conteúdosrelacionados com a sexualidade, a discussão de valores, atitudes, preconceitos, sentimentos 
e  emoções.  De  acordo  com  a  Lei  n.º  60/2009,  de  6  de  agosto,  a  educação  sexual  é  objeto  de  inclusão 
obrigatória nos projetos educativos dos agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas, e, por este motivo, 
a sua implementação é determinante na prevenção e identificação de comportamentos de risco e no aumento 
dos fatores de proteção em relação à sexualidade dos alunos. 
Através  das  atividades  implementadas,  durante  o  ano  letivo  de  2010/2011,  no  âmbito  da  educação 
sexual  em  meio  escolar,  diagnosticámos  a  situação  e  pudemos  constatar  que  a  maior  parte  dos  alunos  que 
participou  nas  atividades  apresentava:  associação  exclusiva  da  sexualidade  à  sua  dimensão  física;  crença  em 
mitos  relativamente  à  sexualidade;  informação  incorreta  sobre  a  utilização  de  métodos  contracetivos; 
desconhecimento sobre possibilidade de gerar uma gravidez nas diferentes práticas sexuais; desconhecimento 
ou informação incorreta relativamente às formas de transmissão das principais IST conhecidas, inclusivamente 
o  HIV/SIDA;  informação  incorreta  sobre  as  formas  de  deteção  das  IST;  informação  incorreta  relativamente  à 
proteção conferida pelo preservativo na transmissão das IST; desconhecimentos da possibilidade de muitas das 
IST não apresentarem sinais/sintomas visíveis. 
Tornava‐se, pois, premente uma intervenção cuidada, tendo em vista as falhas detetadas. 
Assim, de uma forma concertada com o PES (Projeto de Educação para a Saúde), do qual é uma parte 
importante,  a  educação  sexual  foi  uma  preocupação  desta  equipa  no  decorrer  das  reuniões  semanais,  em 
articulação com a equipa de Saúde Escolar do Centro de Saúde de Caldas das Taipas, tendo feito uma reflexão 
sobre a forma de abordar temáticas e desenvolver o projecto, uma vez que já não existia a área curricular não 
disciplinar  ‐  Área  de  Projeto  ‐  onde  muitos  temas  deste  âmbito  eram  abordados.  E  decidiu‐se  por  uma 
abordagem  transversal  dos  mesmos  para  que  a  informação  fosse  interiorizada  e  que  houvesse  uma 
sistematização  do  que  devia  ser  transmitido  e  apreendido.  Apenas  o  tema  da  educação  sexual  foi  também 
abordado em Formação Cívica com  o número de horas estabelecido pela lei 60 de 8 de agosto de 2009, em 
todos os ciclos.  
O  projeto  foi  ambicioso,  na  medida  em  que  procurou  abarcar  os  vários  públicos  da  comunidade 
educativa:  alunos  dos  1º/2º/3º  ciclos  do  ensino  básico;  docentes  dos  1º/2º/3º  ciclos  do  ensino  básico; 

193 
 
assistentes operacionais e encarregados de Educação/Pais, tendo começado, precisamente, pela formação dos 
elementos  da    equipa  de  formadores  PRESSE,  recolha  de  material  de  apoio  para  utilização  na  dimensão 
curricular  e  elaboração  de  recursos  de  formação,  passando,  de  seguida,  para  a  formação  de  professores  e 
implementação das atividades previstas nos Projetos Curriculares de Turma. 
Assim,  no  início  de  2011‐2012,  o  grupo  de  educação  para  a  saúde,  em  parceria  com  o  Cffh, 
calendarizou  e  concretizou  uma  ação  de  formação  creditada  sobre  “Educação  sexual”  para  professores  e 
diretores  de  turma  realizada,  em  outubro  de  2011,  na  Escola  Básica  2,3  de  Caldas  das  Taipas,  tendo‐se 
realizado ainda uma outra ‐ “A Educação Sexual em meio escolar: metodologias de abordagem e intervenção” ‐ 
que fez parte plano de formação do Cffh, tendo decorrido em novembro e dezembro de 2011, para o mesmo 
público e no mesmo local. 
Desta forma, recorrendo aos recursos fornecidos pelo grupo de trabalho do PRESSE, a Kit’s da APF de 
educação sexual para cada nível de ensino, ao Kit da APF de métodos contraceptivos, o material de campanha 
da Prevenção da transmissão de HIV/SIDA e a bibliografia recolhida com conteúdos e atividades relativamente 
a cada nível de ensino, a equipa do projeto de educação para a saúde do agrupamento com o apoio da equipa 
de saúde escolar da UCC Sol Invictus do Centro de Saúde das Taipas procuraram implementar na sala de aula o 
PCT elaborado na formação, com inclusão de conteúdos tratados transversalmente; programar atividades com 
a comunidade escolar, englobando os Encarregados de Educação/Pais e promover reuniões com a comunidade 
escolar. 
O  projeto  focou‐se  em  objetivos  de  aprendizagem  que  exploraram  de  forma  gradativa  (conforme  o 
ciclo de estudos e os diferentes anos de escolaridade) e num crescendo os grandes temas da educação sexual. 
Pretendeu,  pois,  consolidar  conhecimentos  sobre  diferentes  componentes  anatómicas  do  corpo  humano,  da 
sua  originalidade  em  cada  sexo  e  da  sua  evolução  com  a  idade;  regras  de  higiene  pessoal;  fenómenos  de 
discriminação social baseada nos papéis de género; diversidade dos comportamentos sexuais ao longo da vida 
e  as  diferenças  individuais;  mecanismos  básicos  da  reprodução  humana,  compreendendo  os  elementos 
essenciais  acerca  da  conceção,  da  gravidez  e  do  parto;  cuidados  necessários  ao  recém‐nascido  e  à  criança; 
significado afetivo e social da família, das diferentes relações de parentesco e da existência de vários modelos 
familiares; adequação das formas de contacto físico nos diferentes contextos de sociabilidade; abusos sexuais e 
de outros tipos de agressão; infeções de transmissão sexual, formas de prevenção e tratamento; mecanismos 
da  resposta  sexual  humana;  as  ideias  e  valores  com  que  as  sociedades  foram  encarando  e  encaram  a 
sexualidade, o amor, a reprodução e a relação entre os sexos; recursos existentes para a resolução de situações 
relacionadas com a saúde sexual e reprodutiva; tipos de abuso sexual e estratégias dos agressores. 
Pretendia‐se, da mesma forma, desenvolver atitudes no sentido da aceitação das diferentes partes do 
corpo, das mudanças fisiológicas e emocionais próprias da idade e da imagem corporal; da aceitação positiva 
da sua identidade sexual e da dos outros; da aceitação da diversidade dos comportamentos sexuais ao longo da 

194
 
vida;  da  reflexão  face  aos  papéis  de  género;  do  reconhecimento  da  importância  das  relações  afetivas  na 
família;  do  reconhecimento  da  importância  dos  sentimentos  e  da  afetividade  na  vivência  da  sexualidade;  da 
valorização  das  relações  de  cooperação  e  de  interajuda;  da  prevenção  face  a  riscos  para  a  saúde, 
nomeadamente  na  esfera  sexual  e  reprodutiva;  da  aceitação  do  direito  de  cada  pessoa  decidir  sobre  o  seu 
próprio corpo.  
Era  igualmente  importante  para  o  projeto  que  o  aluno  desenvolvesse  competências  para  expressar 
opiniões e sentimentos pessoais; comunicar acerca de temas relacionados com a sexualidade; cuidar, de modo 
autónomo, da higiene do seu corpo; envolver‐se em atividades escolares e na sua criação e dinamização; atuar 
de modo assertivo nas diversas interações sociais (com familiares, amigos, colegas e desconhecidos); adequar 
as  várias  formas  de  contacto  físico  aos  diferentes  contextos  de  sociabilidade;  identificar  e  saber  aplicar 
respostas  adequadas  em  situações  de  injustiça,  abuso  ou  perigo  e  saber  procurar  apoio,  quando  necessário; 
tomar decisões e aceitar as decisões de outros; aceitar os tipos de sentimentos que podem estar presentes nas 
diferentes  relações  entre  as  pessoas,  incluindo  os  do  âmbito  da  sexualidade;  adotar  comportamentos 
informados em matérias como a contraceção e a prevenção das infeções de transmissão sexual; reconhecer as 
situações de abuso sexual, identificar soluções e procurar ajuda. 
 
TEMÁTICAS PARA O ANO LETIVO DE 2011/2012, nos 1º, 2º E 3º CICLOS DO ENSINO BÁSICO 
ANOS DE   TEMAS  PERÍODO DE  DISCIPLINAS 
ESCOLARIDADE  ATUAÇÃO 
 
  O corpo‐ Noção de corpo. O corpo em harmonia com a    Estudo do 
  Natureza. Diferenças entre rapazes e raparigas.    Meio 
  Identidade sexual‐ Género. Papéis sexuais.    Língua 
1º Ano  Sexualidade e sociedade‐ Sentimentos e emoções. Género.  Ao longo do ano  Portuguesa 
Papéis sexuais. Noção de família.    Expressões  
Sexualidade e relações interpessoais‐ Proteção do corpo e  Formação 
noção dos limites, dizendo não às proximidades abusivas.  Cívica 
Saúde sexual e reprodutiva‐ Higiene e saúde .   
  O corpo sexuado‐ A descoberta de si mesmo. A sua    Estudo do 
  identificação. O seu corpo. A saúde/segurança do seu    Meio 
2º Ano  corpo.    Língua 
Sexualidade e Sociedade‐ A Família  Ao longo do ano  Portuguesa 
Identidade sexual: sentimentos, gostos e sensações‐    Expressões  
Relações Familiares  Formação 
Sexualidade e Relações Interpessoais‐ Segurança do Corpo.  Cívica 

195 
 
  Identidade  Sexual  e  Papel  de  Género‐  Diferenças  entre    Estudo do 
  rapazes  e  raparigas.  Aceitação  positiva  da  própria    Meio 
3º Ano  identidade sexual e da dos outros.    Língua 
Segurança  e  bem  estar‐    Proteção  do  corpo  e  noção  dos  Ao longo do ano  Portuguesa 
limites dizendo não às aproximações abusivas.    Expressões  
  Formação 
Conhecimento e valorização do corpo‐ Mudanças do corpo.  Cívica 
      Estudo do 
  Conhecimento e valorização do corpo‐ Mudanças do corpo.    Meio 
  Relações interpessoal‐ Proteção do corpo e noções dos  Ao longo do ano  Língua 
4º Ano  limites, dizendo não às aproximações abusivas.    Portuguesa 
Sexualidade‐ Emoções e sentimentos.  Expressões  
Formação 
Cívica 
  1‐ EDUCAÇÃO SEXUAL     
  ‐Identidade e sexualidade‐ Sentimentos, gostos e decisões.     
  Auto Estima     
  ‐Corpo Sexuado‐ Mudanças pubertárias    Formação 
  ‐Sexualidade e relações interpessoais‐ Competências  Ao longo do ano  Cívica 
  relacionais   
5º Ano  ‐Sexualidade e Sociedade‐ As famílias 
Saúde sexual e reprodutiva‐ Higiene e saúde 
  1‐ EDUCAÇÃO SEXUAL     
  1.1     Ciências da 
  A adolescência e as transformações do corpo.     Natureza  
  ‐ Puberdade (aspetos biológicos e emocionais);    Educação 
  ‐ O corpo em transformação;    Moral e 
  ‐ Carateres sexuais secundários;    Religiosa 
  ‐ A Fisiologia e Morfologia dos aparelhos reprodutores.    Católica  
  ‐ Reprodução humana e crescimento.  Ao longo do ano  e 
  ‐ Compreensão do ciclo menstrual e ovulatório.    Formação 
6º Ano  1.2     Cívica 
‐ Dimensão Biológica (diversidade e respeito);    Formação 
‐ Identidade sexual (sexualidade e género);    Cívica 
‐  Sexualidade  humana  (prevenção  dos  maus  tratos  e  das     
aproximações  abusivas,  contraceção  e  planeamento     
familiar). 

196
 
  1‐ EDUCAÇÃO SEXUAL     
  Corpo sexuado‐ A sexualidade humana: introdução ao    Formação 
  conceito.    Cívica  
  Identidade e sexualidade‐ Mudanças Pubertárias.     
  Género.  Ao longo do ano  Educação 
  Sexualidade e relações interpessoais‐ Sentimentos, gostos    Moral e 
  e decisões.    Religiosa 
7º ano  Sexualidade e sociedade‐ Os diversos tipos de relações. As    Católica 
  famílias.     
  Saúde sexual e reprodutiva‐ Comunicação e sexualidade     
  /Higiene e saúde.  
  1‐ EDUCAÇÃO SEXUAL     
  Corpo sexuado‐ Conceção, gravidez e parto. Imagem     
  corporal.     
  Identidade e sexualidade‐ Género. Diversidade sexual.     
  Sexualidade e relações interpessoais‐ Sexualidade e     
  relações amorosas    Formação 
  Saúde sexual e reprodutiva‐ Doenças Sexualmente    Cívica 
  transmissíveis. Contraceção  Ao longo do ano    
  2‐  EDUCAÇÃO  SEXUAL  –  (Sexualidade  na  dimensão    Educação 
  comportamental, social e psicológica)     Moral e 
8º Ano  2.1    Religiosa 
  ‐ Dimensão ética da sexualidade Humana;     Católica 
  ‐ Compreensão da sexualidade como uma das componentes     
mais sensíveis da pessoa no contexto de um projeto de vida     
que integre valores.   
‐ Prevenção de maus tratos e das aproximações abusivas. 

197 
 
  1‐ EDUCAÇÃO SEXUAL     
  Expressões da Sexualidade e Diversidade ‐ Género.     
  Imagem Corporal    Ciências 
  Relações Interpessoais‐‐ Os meus amigos e a minha família    Naturais 
  Expressões da Sexualidade e Diversidade ‐ Sexualidade.     
9º Ano  Saúde Sexual e Reprodutiva‐‐ Sistema reprodutor (IST’s).    Formação 
Gravidez na adolescência    Ao longo do ano   Cívica 
 A dignidade da pessoa humana   
sexual  e  comportamentos  sexuais  de  risco,  dizendo  não  a  Educação 
pressões emocionais e sexuais.  Moral e 
‐  Compreensão  da  noção  de    parentalidade    no  quadro  de  Religiosa 
uma saúde sexual e reprodutiva saudável e responsável.  Católica 
‐Conhecimento  das  taxas  e  tendências  das  interrupções 
voluntárias  de  gravidez,  suas  sequelas  e  respetivo 
significado. 
 
Como  em  qualquer  projeto,  a  avaliação  esteve  presente  na  ficha  de  avaliação  de  conhecimentos  a 
aplicar  no  final  das  sessões  em  formação  cívica  ou  noutras  áreas  disciplinares;  no  questionário  sobre  DST  – 
aplicado ao 9º ano no final do projeto; no questionário sobre sexualidade a aplicar no início do ano letivo e no 
final do ano letivo de 2012/2013; na participação, interesse e empenho na realização das atividades ao longo 
das  aulas;  na  capacidade  de  reflexão  sobre  os  temas;  na  participação  oral;  no  interesse  demonstrado;  no 
desempenho nos trabalhos propostos. 
Os  objetivos  propostos  no  projeto  e  plenamente  atingidos  falam  por  ele:  melhorar  os 
conhecimentos/atitudes dos alunos dos três ciclos do ensino básico; conseguir que 100% dos alunos dos 1º e 
2º  ciclos  do  ensino  básico  tivessem  seis  horas  dedicadas  à  educação  sexual  em  meio  escolar;  conseguir  que 
100% dos alunos do 3º ciclo do ensino básico tivessem 12 horas dedicadas à educação sexual em meio escolar; 
melhorar os conhecimentos sobre Prevenção de IST e Gravidez nos alunos do 3º ciclo do ensino básico. 
 
 
 
 
 
 

198
 
UMA PROPOSTA DE PROJETO DE EDUCAÇÃO SEXUAL   

João António Fernandes Vieira, 
 Professor do Agrupamento Vertical de Escolas de Briteiros 
 

IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA 
Falar  da  sexualidade  em  ambiente  escolar  não  é  tarefa  fácil,  até  pelas  reações  das  pessoas  menos 
avisadas, mas já se percebeu a necessidade da implementação da Educação Sexual ou, mais propriamente, da 
Educação da Sexualidade nas escolas, desde o 1º ciclo ao ensino secundário. 
A educação da sexualidade é essencial para promover a formação integral da pessoa humana. 
Desde  muito  cedo,  as  crianças  contactam  com  imagens  e  linguagens  que  não  entendem,  mas  que 
interiorizam e as despertam precocemente. 
Os pais e encarregados de educação deixam os filhos e os seus educandos muitas vezes à deriva nas 
descobertas da sexualidade, porque não sabem, porque acham o campo perigoso, porque entendem que mais 
cedo ou mais tarde eles entendem “esse mundo”, ou porque concluem que a sexualidade é um campo que não 
é preciso ser ensinado. 
Os  tempos  modernos  e  a  velocidade  de  comunicação  e  aprendizagens  obrigam  a  que  os  jovens 
estejam  minimamente  preparados  e  atentos  às  solicitações  que  diariamente  se  lhes  deparam.  O  campo  da 
sexualidade  é  uma  delas  e  jovens  mal  informados,  mal  preparados  e  com  uma  formação  pessoal  pouco 
consistente podem ter o seu futuro comprometido por falta de informação e formação. 
É, pois, necessário, que o jovem reconheça a sexualidade integrada num conjunto de valores para a 
realização e desenvolvimento pessoal, onde se encaixam os sentimentos, os valores, as atitudes e os afetos. É 
necessário que adquira aptidões de autonomia e comportamentos responsáveis na busca da confiança para a 
resolução das dificuldades, descobrindo o valor da sexualidade e refletindo sobre o significado que ela tem na 
sua vida. 
É urgente a formação dos jovens sobre a sexualidade, para que haja uma mudança de atitude perante 
a ausência de conhecimentos nesta área.  
 
PROPOSTA DE SOLUÇÃO 
A vivência da sexualidade merece ser tratada com atenção e delicadeza, respeito e responsabilidade, 
pois,  se  for  mal  orientada,  se  não  for  orientada  no  sentido  do  amor  humano  autêntico,  pode  ser  fonte  de 
sofrimento. 
Os jovens têm de aprender a conduzir os seus desejos e possuir capacidade para escolher a alternativa 
mais conveniente para o seu desenvolvimento pessoal. 

199 
 
Apesar das certezas e incertezas, do consensual e não consensual, a educação da sexualidade deve ser 
objeto de intervenção pedagógica estruturada, intencional, assumida pelas escolas e por toda a comunidade 
escolar. 
É, então, necessário definir claramente os objetivos da educação da sexualidade, aferir e aumentar os 
conhecimentos, preparar um programa e treinar capacidades pedagógicas. 
Para assegurar estes objetivos, as atividades desenvolvidas com grupos pequenos, onde seja possível a 
participação ativa dos alunos, é a metodologia mais adequada. A partir daqui, pode‐se partilhar a informação, 
clarificar e adquirir valores e atitudes e treinar competências específicas. 
Para verificar a eficácia em termos de mudanças, é necessário avaliar o alcance dos objetivos, o grau 
de satisfação em relação à informação, à mudança de atitudes, ao conhecimento adquirido, à forma como se 
desenrolam  as  participações  dos  intervenientes.  Sem  uma  avaliação  constante,  não  se  pode  ver  o  grau  da 
mudança, o que modificar, o que aprofundar. 
 
PLANO DE AÇÃO 
  A  educação  sexual  tem  como  objeto  uma  área  complexa  e  sensível  dos  comportamentos  e  das 
relações  humanas.  Todos  os  intervenientes:  pais,  alunos  e  professores,  têm  uma  experiência  baseada  em 
conhecimentos certos e errados. 
  É  necessário  desenvolver  ações  que  ajudem  e  apoiem  o  jovem  ao  longo  de  todo  o  seu 
desenvolvimento físico, emocional, cultural, moral e espiritual. Que o ajude a desenvolver o sentido do valor e 
da  dignidade  da  vida  humana.  Que  o  oriente  na  aquisição  de  aptidões  de  autonomia  e  comportamentos 
responsáveis que lhes permita ultrapassar com confiança e sucesso as dificuldades com que se depara. Que o 
oriente na apropriação de valores e na formação de atitudes, na aquisição de conhecimentos fidedignos sobre 
a sexualidade, nomeadamente sobre o funcionamento e as transformações do corpo feminino e masculino ao 
longo da vida. 
  O plano de ação centrar‐se‐á nos alunos do terceiro ciclo por serem aqueles que já revelam alguma 
maturidade e onde os problemas relacionados com a sexualidade despertam com mais intensidade. 
 
OBJETIVOS 
  Neste sentido, este projeto tentará dar resposta aos seguintes objetivos: 
  ‐ reconhecimento de que a sexualidade, como fonte de prazer e de comunicação, é uma componente 
positiva e de realização no desenvolvimento pessoal e nas relações interpessoais; 
  ‐ valorização das diferentes expressões da sexualidade nesta faixa etária da adolescência; 
  ‐ respeito pela pessoa do outro, quaisquer que sejam as suas caraterísticas; 
  ‐ respeito pelo direito à diferença; 

200
 
  ‐ reconhecimento da importância da comunicação e do envolvimento afetivo e amoroso na vivência da 
sexualidade; 
  ‐  reconhecimento  de  que  a  autonomia,  a  liberdade  de  escolha  e  uma  informação  adequada  são 
aspetos essenciais para a estruturação de atitudes responsáveis no relacionamento sexual; 
  ‐ recusa de formas de expressão da sexualidade que envolvam manifestações de violência; 
  ‐ promoção da saúde dos adolescentes no campo sexual; 
  ‐ conhecimento do corpo como parte de si. 
 
METODOLOGIA  
A  metodologia  a  usar  deve  estar  adaptada  à  fase  de  desenvolvimento  psicossexual.  Os  interesses  e 
necessidades  dos  rapazes  e  raparigas  da  mesma  idade  são  diferentes  e  devem  ser  encarados  de  forma 
diferente. Os temas de interesse podem variar em cada ano escolar e ao longo do mesmo. 
A intervenção direta, através da participação no processo ensino/aprendizagem é a metodologia mais 
adequada. A estratégia mais adequada deve investir em atividades desenvolvidas no âmbito da turma com a 
participação ativa dos alunos, num clima geral de diálogo construtivo. 
A metodologia de aprendizagem ativa implica sempre a participação de dois intervenientes: o aluno 
que é o principal agente da sua aprendizagem e que deve ser capaz de construir o seu próprio conhecimento, 
nas suas diferentes dimensões – cognitiva, emocional e comportamental. O professor tem o papel de o apoiar 
e  acompanhar  nesse  processo  de  construção,  estando  atento  e  fornecendo‐lhe  os  meios  e  os  recursos 
necessários para a construção do seu processo de aprendizagem. 
Pode  recorrer‐se  a  uma  larga  gama  de  metodologias  ativas  e  participativas  com  três  objetivos 
fundamentais: 
‐ partilha de informação depois do trabalho de pesquisa; 
‐ clarificação e aquisição de valores e atitudes; 
‐ treino de competências específicas. 
Este trabalho pode ser desenvolvido em pequenos grupos, recorrendo à utilização de várias técnicas: 
‐ técnicas de descontração; 
‐ brainstorming; 
‐ fichas de trabalho; 
‐ recolhas documentais; 
‐ jornais de parede; 
‐ discussão de casos; 
‐ dramatização e trocas de papeis; 
‐ jogos de desenvolvimento pessoal. 

201 
 
INTERVENIENTES 
Os pais são os primeiros e os principais responsáveis pela educação dos filhos e, em princípio, os seus 
modelos,  até  na  vida  amorosa.  Por  isso,  devem  fazer  parte  deste  projeto,  até  porque  a  escola  não  pode 
ultrapassar as opções educativas defendidas pela família.  
A  escola  só  cativará  os  pais  se  lhes  der  oportunidade  de  participação  e  envolvimento  no  processo. 
Terão um papel muito importante se forem motivados e envolvidos, porque só assim motivarão os alunos e os 
professores. Se toda a comunidade estiver envolvida o projeto avança, porque têm todos o mesmo objetivo.  
Então que papel compete aos pais? Acima de tudo um papel de vigilância e de diálogo. Vigilância das 
atitudes dos educandos e diálogo com eles, com os professores e com as estruturas da escola. Também têm o 
papel de comunicador de experiências e de vivências que podem ser úteis no processo de aprendizagem dos 
alunos. 
Os  professores  possuirão  o  papel  fundamental,  porque  serão  eles  que  acompanharão  os  alunos  no 
evoluir da aprendizagem e que supostamente estarão mais bem preparados para esta tarefa. Aos professores 
exige‐se  que  conheçam  a  legislação  aplicável  ao  domínio  da  sexualidade.  Que  estabeleçam  os  objetivos  e  os 
conteúdos  das  atividades  a  desenvolver.  Que  tracem  as  linhas  de  atuação  e  definam  a  respetiva 
calendarização.  Que  invistam  na  sua  formação  a  nível  de  conhecimentos  e  a  nível  de  competências  éticas, 
afetivas,  relacionais,  de  comunicação  e  de  metodologias  participativas.  A  eles  compete  uma  cuidada 
planificação,  execução  e  avaliação  das  atividades,  bem  como  a  produção  e  a  seleção  criteriosa  de  meios 
pedagógicos auxiliares apropriados. 
Os profissionais de saúde também serão chamados a participar no projeto, não será uma participação 
constante,  mas  poderão  ser  chamados  sempre  que  a  temática  a  abordar  se  enquadre  dentro  dos  seus 
conhecimentos, nomeadamente na realização de ações sobre a saúde sexual. Poderão ser realizadas parcerias 
com instituições ou organismos que possam colaborar no desenvolvimento do projeto. 
Os  alunos  são  os  intervenientes  por  excelência.  Eles  são  o  sujeito  e  o  objeto  do  processo  da 
aprendizagem e devem ser motivados para a sua participação, usando pedagogias cativantes e participativas. 
Outros membros da comunidade escolar poderão dar o seu contributo. 
   
Recursos 
Os  recursos  utilizáveis  poderão  ser,  entre  outros:  revistas  temáticas,  folhetos,  desdobráveis,  vídeos, 
livros,  Internet.  Todos  os  materiais  pedagógicos  que  se  enquadrem  na  área  da  educação  sexual  poderão  ser 
usados. 
 
 
 

202
 
Calendarização 
O  projeto  tem  a  sua  aplicação  em  alunos  do  terceiro  ciclo,  desenvolvendo‐se,  por  conseguinte, 
durante três anos (  3º ciclo). 
Numa  primeira  fase  e  no  início  de  cada  ano  letivo  será  elaborada  a  planificação  dos  conteúdos 
programáticos a desenvolver durante o ano. No final de cada ano letivo será feito o relatório da avaliação do 
desenvolvimento do projeto. 
Como  sugestão  poderão  ser  abordados  ao  longo  do  ciclo  temas  relacionados  com  a  sexualidade  na 
adolescência: caraterísticas da sexualidade na adolescência; noção de sexualidade; eu e os outros; orientação 
sexual; a família, a contraceção; doenças de transmissão sexual; abusos sexuais, o namoro. 
 
Proposta de Avaliação 
A avaliação deve centrar‐se nos objetivos propostos. É importante que a todo o momento se avalie o 
impacto das intervenções. As atividades devem ser monitorizadas de modo a que não se afastem dos objetivos 
estabelecidos.  Após  a  sua  conclusão  deve  ser  verificado  em  que  medida  foram  alcançados  os  objetivos 
pretendidos e identificar as causas de eventuais fragilidades para as corrigir. 
A  avaliação  nem  sempre  se pode traduzir em  aspetos quantificáveis.  Sendo  este  projeto  qualitativo, 
não podemos contar com a avaliação quantitativa. 
Toda  a  avaliação  deve  distinguir  múltiplos  planos  (atitudes  e  valores,  conhecimentos,  aptidões  e 
comportamentos manifestos). Deve ser centrada sobre as mudanças de nível pessoal e não em meros dados 
estatísticos.  Os  encarregados  de  educação  poderão  verbalizar  a  mudança  de  atitude  dos  seus  educandos, 
nomeadamente  na  abordagem  de  assuntos  de  cariz  sexual  no  ambiente  familiar,  revelador  de  uma  abertura 
para  o  tema.  Outro  aspeto  a  analisar  será  a  adesão  ao  projeto:  boa  adesão  corresponde  a  interesse  pelo 
projeto. Também os alunos poderão dar informações sobre o andamento do projeto a partir do modo como 
abordam  os  temas  com  naturalidade,  de  uma  forma  adequada  e  responsável,  respeitando  as  opiniões  dos 
colegas, sabendo argumentar para sustentar as suas opiniões. 
O professor deverá ser o responsável pela avaliação, em parceria com a equipa do projecto, a partir de 
fichas de auto e heteroavaliação, da observação de comportamentos, da mudança de atitudes e da adesão dos 
participantes. 
Poderá dizer‐se que o projeto teve sucesso se os resultados alcançados não se afastarem dos objetivos 
anteriormente definidos. As grelhas de observação serão úteis na obtenção de dados. 
 
 
 
 

203 
 
BIBLIOGRAFIA 
DIAS, Alda Maria e al. Educação da Sexualidade no dia‐a‐dia da prática educativa. Braga, Edições Casa 
do Professor, 2002. 
DIAS,  Alfredo,  HAPETIAN,  Isabel,  Projectos  de  Turma,  Guia  mensal  para  professores  e  educadores. 
Colecção Educação Hoje, Texto Editora. 1996 
FRADE, Alice e al. Educação Sexual na Escola, Guia para professores. Formadores e Educadores, Lisboa, 
Texto Editora. 2001 
SANTOS, Ana Cristina e al. Educação da Sexualidade na Escola. Lisboa, Didáctica Editora. 2001 
VAZ, Júlio Machado, coord., A Educação Sexual na Escola. Lisboa, Universidade Aberta. 1966. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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A RESISTÊNCIA DOS PROFESSORES À EDUCAÇÃO PARA A SEXUALIDADE, NA ESCOLA 
 
Natércia Daliana Leite da Silva 
 
1. INTRODUÇÃO 
O  tema  da  educação  para  a  sexualidade,  na  escola,  relaciona‐se,  diretamente,  com  a  formação  das 
novas gerações, e por isso não pode deixar de ser especialmente considerado. 
Desde logo, diretivas e organismos internacionais responsáveis, como a Unesco, têm visado melhorar 
a  educação  para  a  sexualidade,  das  crianças  e  dos  jovens,  considerada,  em  muitos  casos,  pelo  menos 
"inadequada” (Jornal ‘i’, 28.08.2009). 
No  Relatório  intitulado  Princípios  Internacionais  sobre  Educação  Sexual  (Unesco,  2009),  são  focadas, 
como áreas a privilegiar: as relações pessoais, os valores, as atitudes e as qualidades, a cultura, a sociedade e as 
leis, o desenvolvimento humano, os comportamentos sexuais e a saúde sexual e reprodutiva. 
Por  sua  vez,  a  Organização  Mundial  de  Saúde  (OMS)  tem‐se  empenhado  em  esclarecer, 
generalizadamente, conceitos da área da saúde, como o de sexualidade, sexo, direitos e deveres envolvidos, 
procurando  fazer  com  que  a  compreensão  desses  aspetos  seja  um  primeiro  passo  para  a  implementação  de 
práticas eficazes. 
Com ‘informação’ e ‘formação’, defende a OMS, será possível, se não resolver de todo os problemas, 
pelo  menos  atenuá‐los  (OMS,  2000),  numa  intervenção  em  consonância  com  as  instituições  educativas  e  a 
cultura de cada país e região do mundo. 
Entre  nós,  desde  logo  a  Constituição  da  República  (art.º  73)  garante  o  acesso  de  todos  à  educação, 
realizada através da escola, nos mais diversos sentidos – e para isso contribui, profundamente, a educação para 
a sexualidade. 
Depois,  a  Lei  de  Bases  do  Sistema  Educativo  (versão  consolidada  com  a  Lei  nº  49/2005,  de  30  de 
Agosto)  determina  que  “os  planos  curriculares  do  ensino  básico  incluirão,  em  todos  os  ciclos,  e  de  forma 
adequada, uma área de formação pessoal e social, que pode ter como componente, entre outras, a educação 
sexual e a educação para a saúde (art.º 50, n.º 2). 
Na sequência disto, foram publicados diplomas legais que concretizam essas determinações, tendo o 
Ministério da Educação (ME) produzido normativos, visando a regulamentação, neste domínio, e a promoção 
da saúde sexual, através das escolas. 
No  Relatório  Final  elaborado  pelo  Grupo  de  Trabalho  de  Educação  Sexual  (GTES),  para  o  ME, 
recomenda‐se,  entre  outros  aspetos,  que  a  educação  para  a  saúde  seja  obrigatória,  em  todas  as  escolas, 
integrada  no  seu  projeto  educativo  e  dinamizada  por  professores  especializados  e  formados;  que  seja 
estabelecida  colaboração  com  instituições  e  organismos  da  especialidade;  que  sejam  abrangidas  as  áreas  da 

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alimentação e da atividade física; que se aborde o consumo de substâncias psicoativas, tabaco, álcool e drogas; 
que se trate da sexualidade e das infeções sexualmente transmissíveis, especialmente a Sida (GTES, 2007, pp.4‐
5). 
Também as orientações curriculares, a nível nacional, têm traduzido esta realidade. Nelas, se incentiva 
a  educação  sexual,  nas  escolas,  se  definem  os  objetivos  a  perseguir  e  os  conteúdos  científico‐curriculares  a 
considerar, se sugerem metodologias de ensino a praticar e processos avaliativos a aplicar – de modo que os 
jovens, também a este nível, sejam compreendidos, orientados, educados (Pereira & Freitas, 2001, pp.34‐35). 
Consciente  destas  realidades  e  da  sua  relevância,  na  formação  das  crianças  e  dos  jovens,  propomo‐
nos,  neste  trabalho,  focalizar  a  educação  para  a  sexualidade,  na  escola.  E  fazemo‐lo  sob  uma  perspetiva 
especial: a da ‘resistência’ dos professores perante a necessidade de ela aí ser focalizada. 
O problema que suscitamos é o seguinte: se os professores diretamente envolvidos em matérias das ciências 
naturais e da biologia não evidenciam, por regra, dificuldades na assunção da necessidade de tal tratamento, 
será que o mesmo se pode dizer relativamente às outras áreas disciplinares? 
Sabemos  que,  por  exigência  social/formativa  e  determinação  normativa  superior,  não  é  apenas  aos 
professores  da especialidade que é devido o envolvimento nas questões da educação para a sexualidade, na 
escola. Sendo esta, reconhecidamente, uma área de grande impacto e transversal aos currículos, importará que 
todos os professores (e não apenas os de ciências naturais e biologia) se envolvam, empenhadamente, nela, se 
sintam motivados e sejam devidamente formados e acompanhados para a exercer. 
O  que  pensamos,  e  nos  é  dado  a  conhecer  pela  realidade,  é  que,  muitas  vezes,  não  é  isso  que 
acontece, verificando‐se, por parte de professores e escolas, tomadas de posição de resistência, a este nível. 
É essa a hipótese de trabalho que  formulamos, para a nossa investigação, procurando compreender 
mais aprofundadamente o problema. 
Dentro das limitações de espaço que aqui nos são impostas, desenvolvemos esta temática, tomando 
como  referência  um  questionário  que  elaborámos  e  passámos  a  professores,  para  conhecermos  o  seu 
entendimento  sobre  conceções  e  práticas,  no  âmbito  da  educação  para  a  sexualidade,  sobre  as  quais 
refletiremos e procuraremos retirar conclusões. 
 
2. A EDUCAÇÃO PARA A SEXUALIDADE: OS CONTRIBUTOS DA SOCIEDADE, DA FAMÍLIA E DA ESCOLA 
Como  refere  Fernando  Salvater,  “não  basta  nascer  para  se  ser  homem:  é  também  necessário 
aprender” (Salvater, 2006:45). E continua esse autor: “a genética predispõe‐nos a que nos tornemos humanos, 
mas só por meio da educação e da convivência social conseguimos, efetivamente, sê‐lo” (idem, ibidem). 
Assim acontecendo com a educação, em geral, assim não pode deixar de acontecer com a educação 
para a sexualidade. 

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A educação para a sexualidade reveste‐se, no mundo de hoje, de grande importância e complexidade. 
Vivemos  num  mundo  marcado  por  constantes  apelos  sexuais  (através  da  rádio,  da  televisão,  da  internet,  do 
cinema, da imprensa…), daí decorrendo perigos a que a infância e a juventude poderão, sem ajuda, não saber 
resistir. 
Além disso, há a tendência para reduzir a sexualidade a aspetos particulares. 
Está nesse caso a transmissão de meros conceitos ou informações. Embora a educação sexual envolva 
conceitos e informações, ela não se pode reduzir a isso, devendo implicar a consideração de dimensões muito 
mais amplas, como opções, atitudes, sensibilidades, toda a personalidade humana (Conti, 1976, 118‐119). 
Está, também, nesse caso, a consideração da saúde reprodutiva, que a Organização Mundial de Saúde 
define como “um estado de completo bem‐estar físico, mental e social em todas as matérias concernentes ao 
sistema  reprodutivo,  suas  funções  e  processos,  e  não  a  simples  ausência  de  doença  ou  enfermidade”  (CIPD, 
1996, p.57). 
Embora  se  trate  de  um  conceito  muito  importante  (idem,  ibidem)  e  se  incluam,  nele,  direitos 
essenciais, como o direito à informação, o acesso ao planeamento familiar, o entendimento da saúde sexual 
com  a  finalidade  de  “melhoria  da  qualidade  de  vida  e  das  relações  pessoais"…,  o  certo  é  que  a  sexualidade 
humana também não se esgota nisso. 
Está, ainda, nesse caso a consideração das doenças sexualmente transmissíveis, os comportamentos 
de  risco,  a  violação  dos  direitos  individuais  relacionados  com  o  corpo,  as  transgressões  à  lei  a  esse  nível,  as 
interferências  culturais  e  ético‐religiosas  que  acompanham  a  existência  dos  indivíduos  e  afetam  a  sua 
sexualidade… que são áreas importantes e difíceis, que, exigem cuidados especiais, mas às quais também não é 
possível reduzir a sexualidade. 
A  Organização  Mundial  de  Saúde  definiu  a  sexualidade  como  “uma  necessidade  básica  e  um  aspeto 
inerente à realidade de ser humano que não pode separar‐se de outros aspetos da vida” (OMS, 2000, p.50). 
Segundo  essa  instituição,  a  sexualidade  “é  a  energia  que  nos  motiva  a  procurar  amor,  contacto,  ternura  e 
intimidade” (idem, ibidem), e interfere “nos pensamentos, nos sentimentos, nas ações, nas interações e, por 
essa via, sobre a nossa saúde mental e física”. 
A mesma instituição acrescenta que a sexualidade se reporta aos “significados individuais e sociais do 
sexo”,  “para  além  dos  seus  aspetos  biológicos”,  afetando  “elementos  complementares  da  nossa  natureza 
sexual” (idem, ibidem, p.9), e que “a capacidade humana para entender e atribuir significados, tanto simbólicos 
como concretos, a experiências e conceitos constitui a força de vinculação da sexualidade” (idem, ibidem). 
Por  aqui  se  vê  que  a  sexualidade  humana,  se  possui  uma  envolvência  genital,  fisiológica,  vai  muito 
além  dela,  implicando  outras  linguagens,  como  a  linguagem  afetivo‐sexual  e  a  linguagem  afetivo‐sexual‐
espiritual (Puerto Pascoal, 2009, pp.14‐20). 

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E  tudo  isto  desencadeia  responsabilidades  acrescidas,  para  a  sociedade,  a  família  e  a  escola.  E  se  a 
sociedade e a família têm um importante papel a desempenhar (Jordan, 1974, p.9 e p.13), um papel especial 
(delegado nela pela sociedade e pela família) está reservado aos professores e à escola. 
Mas,  na  escola,  a  educação  para  a  sexualidade  não  poderá  ser  confiada  apenas  aos  professores  da 
área específica da saúde (ciências naturais e biologia), mas a todos os professores – porque se trata de uma 
área transversal, e de educação, e todos os professores, e toda a escola, tem o dever de educar. 
Se o tratamento das questões da sexualidade, na escola, tem uma componente científica e de fundamentação, 
tem também uma outra de formação, e, como tal, o seu tratamento torna‐se extensivo a todos os professores. 
Compete, assim, a todos os professores, sem preconceitos nem deformações, mas sempre por uma via 
positiva,  observando,  refletindo,  compreendendo,  intervindo  (Cholette‐Pérusse,  1974,  p.10),  completar  e 
reforçar o papel da sociedade e dos pais neste importante domínio de formação. 
E  se  a  sociedade  e  os  pais  sentem  dificuldades  na  educação  para  a  sexualidade  das  crianças  e  dos 
jovens,  o  mais  natural  é  os  professores  não  lhes  ficarem  atrás  (Conti,  1976,  pp.112‐113).  Essas  dificuldades 
podem  ser  de  vária  ordem,  e  prendem‐se,  em  linhas  gerais,  com  a  desmotivação,  a  falta  de  formação 
específica,  os  valores  pessoais  e  os  entendimentos  particulares  assumidos  acerca  das  realidades  envolvidas 
(Dias, et al., 2002, p.14). 
Da  educação  para  a  sexualidade  farão  parte,  além  de  uma  adequada  focalização  terminológica  e 
conceptual,  aspetos  como  (Vilaça,  2006,  p.4):  “promoção  de  comportamentos  que  ajudem  os  indivíduos  a 
adquirirem  resultados  positivos  e  a  evitarem  resultados  negativos”;  “utilização  de  experiências  de 
aprendizagem”,  incluindo  “o  acesso  a  informação  apropriada  para  a  idade,  suporte  motivacional  e 
oportunidades para desenvolver as competências necessárias para a harmonização sexual dos indivíduos para 
terem relações interpessoais satisfatórias”; capacitação dos “indivíduos, os pares, as famílias e as comunidades, 
para  desenvolverem  conhecimento,  motivação  e  competências  comportamentais  necessárias  para 
aumentarem a saúde sexual e evitarem os problemas relacionados com a saúde sexual”; manutenção de “um 
diálogo aberto que respeite as crenças individuais” – e os professores devem preparar‐se (ser preparados) para 
tratar tudo isto. 
Exercida  sem  falsos  moralismos,  ainda  que  sem  ignorar  a  moral  (Puerto  Pascoal,  2009,  pp.12‐13),  a 
educação para a sexualidade, a praticar na escola, deverá contribuir para dotar cada criança e jovem de uma 
“personalidade  autónoma”  (Valinieff,  1975,  p.50),  equilibrada,  abrindo  portas  para  a  formação  de  adultos 
integrados e realizados, “capazes de amar, em todos os sentidos da palavra” (Cholette‐Pérusse, 1974, p.9). 
Por isso a educação para a sexualidade é tão importante e justifica todos os investimentos que, pela 
sociedade, pelas famílias e em especial pela escola, nela sejam feitos. 
 
 

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3. NORMATIVOS LEGAIS, AFETANDO A EDUCAÇÃO PARA A SEXUALIDADE, NA ESCOLA 
São  diversos  os  instrumentos  legais  publicados  sobre  educação  para  a  sexualidade,  que  envolvem, 
direta ou indiretamente, a função da escola. 
Refiramos alguns dos principais, que são importantes, não apenas pelos conteúdos que veiculam, mas 
ainda  por  apresentarem  propostas  de  intervenção  que  se  poderão  revelar  muito  úteis  no  trabalho  dos 
professores. 
 
‐ Lei n.º 3/84, de 24 de Março – Educação Sexual e Planeamento Familiar. 
Aí se pode ler, para além de diretivas sobre planeamento familiar, que “o Estado garante o direito à 
educação sexual como componente do direito fundamental à educação” (n.º 1 do art.º 1), e que “os programas 
escolares incluirão, de acordo com os diferentes níveis de ensino, conhecimentos científicos sobre anatomia, 
fisiologia, genética e sexualidade humanas, devendo contribuir para a superação das discriminações em razão 
do sexo e da divisão tradicional de funções entre mulher e homem” (n.º 2 do art.º 2). 
 
‐ Lei n.º 120/99, de 11 de Agosto – Reforço das garantias do direito à saúde reprodutiva. 
Determina‐se  que,  “nos  estabelecimentos  de  ensino  básico  e  secundário,  será  implementado  um 
programa  para  a  promoção  da  saúde  e  da  sexualidade  humana,  no  qual  será  proporcionada  adequada 
informação  sobre  a  sexualidade  humana,  o  aparelho  reprodutivo  e  a  fisiologia  da  reprodução,  sida  e  outras 
doenças  sexualmente  transmissíveis,  os  métodos  contracetivos  e  o  planeamento  da  família,  as  relações 
interpessoais, a partilha de responsabilidades e a igualdade entre os géneros (art.º 2, n.º 1). 
Os conteúdos a tratar serão “incluídos de forma harmonizada nas diferentes disciplinas vocacionadas 
para a abordagem interdisciplinar desta matéria, no sentido de promover condições para uma melhor saúde, 
particularmente  pelo  desenvolvimento  de  uma  atitude  individual  responsável  quanto  à  sexualidade  e  uma 
futura maternidade e paternidade conscientes” (art.º 2, n.º 2). 
Nesta  abordagem,  será  tida  em  conta  a  educação  para  a  saúde  sexual  e  reprodutiva,  que  “deverá 
adequar‐se aos diferentes níveis etários, consideradas as suas especificidades biológicas, psicológicas e sociais, 
e envolvendo os agentes educativos” (art.º 2, n.º 3). 
 
‐ Decreto‐Lei nº 259/00, de 17 de Outubro – Promoção da educação sexual, em meio escolar. 
Este Decreto‐Lei,  que  veio  regulamentar  a Lei  n.º  120/99,  de  11 de Agosto,  “reforça as  garantias do 
direito  à  saúde  reprodutiva,  fixando  condições  de  promoção  da  educação  sexual  e  de  acesso  dos  jovens  a 
cuidados de saúde no âmbito da sexualidade e do planeamento familiar” (do Preâmbulo). 
 

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‐  Despacho  n.º  19737/05,  de  15  de  Junho  –  Criação  de  um  grupo  de  trabalho  de  educação  para  a 
saúde. 
Através dele, “é criado, no Ministério da Educação… um grupo de trabalho incumbido de proceder ao 
estudo e de propor os parâmetros gerais dos programas de educação sexual em meio escolar, na perspetiva da 
promoção da saúde escolar” (art.º 1). 
 
‐ Despacho n.º 25995/05, de 16 de Dezembro – Consideração da educação para a sexualidade e para 
os afetos, numa dinâmica de promoção da saúde física, psicológica e social. 
Refere  o  Despacho,  entre  outros  aspetos,  que  “o  currículo  nacional  do  ensino  básico  integra…  a 
educação para a sexualidade e para os afetos, numa dinâmica curricular que visa a promoção da saúde física, 
psicológica  e  social”  (Preâmbulo),  atende  às  conclusões  do  relatório  preliminar  apresentado  pelo  grupo  de 
trabalho, criado para o efeito, e aprova e reafirma “os princípios orientadores das [suas] conclusões… no que se 
refere ao modelo de educação para a promoção da saúde” (art.º 1). 
 
‐  Despacho  n.º  2506/07,  de  20  de  Fevereiro  –  Instituição  das  funções  de  docente  coordenador  da 
educação para a saúde. 
Neste Despacho, considera‐se que “a educação para a saúde, para a sexualidade e para os afetos” se 
inclui “entre as múltiplas responsabilidades da escola atual”, e por isso é instituído um docente dos 2º ou 3º 
ciclos do ensino básico, por agrupamento, para exercer as funções de coordenador da educação para a saúde 
(n.º 1), na escola. 
 
‐ Despacho n.º 19308/08, de 21 de Julho – Define o alcance das áreas curriculares não disciplinares, no 
domínio da educação para a saúde e sexualidade. 
Este Despacho determina, entre outros aspetos, que (art.º 10), “ao longo do ensino básico, em área de 
projeto e em formação cívica, devem ser desenvolvidas competências” no domínio da educação para a saúde e 
sexualidade, ao lado de outros. 
 
‐  Lei  n.º  60/09,  de  6  de  Agosto  –  Estabelece  o  regime  de  aplicação  da  educação  sexual  em  meio 
escolar. 
Esta importante lei (e por isso a percorremos com cuidado), que “estabelece a aplicação da educação 
sexual nos estabelecimentos do ensino básico e do ensino secundário” (art.º 1), apresenta como finalidades da 
educação  sexual  (art.º  2):  “a  valorização  da  sexualidade  e  afetividade  entre  as  pessoas  no  desenvolvimento 
individual, respeitando o pluralismo das conceções existentes na sociedade portuguesa”, “o desenvolvimento 
de  competências  nos  jovens  que  permitam  escolhas  informadas  e  seguras  no  campo  da  sexualidade”,  “a 

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melhoria  dos  relacionamentos  afetivo‐sexuais  dos  jovens”,  “a  redução  de  consequências  negativas  dos 
comportamentos  sexuais  de  risco,  tais  como  a  gravidez  não  desejada  e  as  infeções  sexualmente 
transmissíveis”,  “a  capacidade  de  proteção  face  a  todas  as  formas  de  exploração  e  de  abuso  sexuais”,  “o 
respeito  pela  diferença  entre  as  pessoas  e  pelas  diferentes  orientações  sexuais”,  “a  valorização  de  uma 
sexualidade  responsável  e  informada”,  “a  promoção  da  igualdade  entre  os  sexos”,  “o  reconhecimento  da 
importância  de  participação  no  processo  educativo  de  encarregados  de  educação,  alunos,  professores  e 
técnicos de saúde”, “a compreensão científica do funcionamento dos mecanismos biológicos reprodutivos”, “a 
eliminação  de  comportamentos  baseados  na  discriminação  sexual  ou  na  violência  em  função  do  sexo  ou 
orientação sexual”. 
Estabelece a mesma Lei que (art.º 3), entre outros aspetos, que a educação sexual é transversal a todo 
o ensino; que a definição dos conteúdos curriculares (art.º 4) será da competência do Governo; que os projetos 
educativos de escola (art.º 6) terão de referir, obrigatoriamente, a educação sexual; que, em cada turma, será 
elaborado, no início do ano escolar, um “projeto de educação sexual da turma” (art.º 7); que (art.º 8) caberá ao 
professor‐coordenador da educação para a saúde e educação sexual de cada agrupamento coordenar a equipa 
interdisciplinar de educação para a saúde e educação sexual, nele formada; que, em cada turma (n.º 5), existirá 
“um  professor  responsável  pela  educação  para  a  saúde  e  educação  sexual”;  que  os  professores  não  estarão 
isolados no tratamento destes temas e desempenho destas funções (art.º 9); que será constituído (art.º 10) um 
Gabinete de Informação e Apoio, em cada agrupamento de escolas, para apoio aos alunos; que a formação na 
área da educação sexual” (n.º 3) será sobretudo da competência dos Conselhos Pedagógicos. 
 
‐ Portaria nº 196‐A/10, de 9 de Abril – Regulamenta a Lei nº 60/2009, de 6 de Agosto.  
Esta Portaria assume que (Preâmbulo), tendo a educação para a saúde subjacente “a ideia de que a 
informação  permite  identificar  comportamentos  de  risco,  reconhecer  os  benefícios  dos  comportamentos 
adequados  e  suscitar  comportamentos  de  prevenção”,  são  seus  objetivos  centrais  “a  informação  e  a 
consciencialização de cada pessoa acerca da sua própria saúde e a aquisição de competências que a habilitem 
para uma progressiva autorresponsabilização”. 
São  focalizadas,  na  Portaria,  modalidades  de  realização,  integração  no  projeto  educativo  da  escola, 
carga horária, intervenção do pessoal docente e sua formação, modos de organização, parcerias a desenvolver. 
Em  quadro  anexo  à  Portaria,  são  apresentados  os  conteúdos  que “podem  ser”  abordados  nas  áreas 
disciplinares ou nas áreas curriculares não disciplinares. 
 
Como se pode verificar, não será de normativos legais que nos encontramos carenciados. É certo que 
eles podem, sempre, ser melhorados; mas o que é necessário é tirar o melhor proveito dos que já existem. 

211 
 
Um ponto que merece observação é o resultante da revisão que sofreu a área de projeto, nos moldes 
em  que  existia,  sobretudo  a  partir  do  ano  letivo  2011‐2012  (jornal  Público,  de  15.07.2011;  Decreto‐Lei  n.º 
50/2011, de 08 de Abril; Decreto‐Lei n.º 94/2011, de 03 de Agosto). 
E importa considerar isto, porque o Despacho n.º 19308/08, de 21 de Julho, que define o alcance das 
áreas curriculares não disciplinares, no domínio da educação para a saúde e a sexualidade, apresenta (art.º 10) 
a área de projeto e a formação cívica como vias privilegiadas para se desenvolverem competências no domínio 
da educação para a saúde e a sexualidade. 
Ora,  o  Decreto‐Lei  n.º  94/2011,  de  03  de  Agosto  (que  republica,  no  seu  anexo  II,  o  Decreto‐Lei  n.º 
6/2001, de 18 de Janeiro), não deixa de falar em “área de projeto” (art.º 5), embora referindo (n.º 4) que “o 
desenvolvimento das áreas curriculares não disciplinares… [fica à] responsabilidade… do conselho de turma, no 
caso  dos  2.º  e  3.º  ciclos”  e  que  (n.º  5)  “as  escolas,  no  âmbito  da  sua  autonomia,  devem  desenvolver  outros 
projetos e atividades que contribuam para a formação pessoal e social dos alunos…”. 
As  alterações  efetuadas  no  desenho  curricular  vieram,  sem  dúvida,  também  a  este  nível,  exigir,  dos 
professores, esforços e disponibilidades acrescidos. 
 
4.  CONCEPÇÕES  E  PRÁTICAS  DOS  PROFESSORES,  NO  ÂMBITO  DA  EDUCAÇÃO  SEXUAL:  DADOS 
FORNECIDOS PELA REALIDADE 
Partindo  do  pressuposto  que  enunciámos,  pretendemos  conhecer,  com  o  fundamento  e  a  validade 
possíveis,  o  pensamento  dos  professores  sobre  aspetos  da  educação  para  a  sexualidade  –  para  o  que 
elaborámos, e fizemos responder, o seguinte questionário (apresentado, aqui, deste modo, por absoluta falta 
de espaço): 
1. Numa escala de 0 a 5, que nível de importância atribui à educação sexual, na escola? 
2. Numa escala de 0 a 5, que nível de importância atribui à educação sexual, no contexto educativo da 
disciplina que leciona? 
3. Com que periodicidade são tratadas questões relacionadas com a educação sexual, nas aulas que 
leciona? (Em todas as aulas, Uma vez por semana, Algumas vezes por período, Às vezes, Nunca). 
4. Qual é a recetividade/participação que verifica nos seus alunos perante as temáticas de educação 
sexual focalizadas? (Muito boa, Boa, Aceitável, Má). 
5. Como considera que deve ser trabalhada a educação sexual na escola? (Como disciplina autónoma, 
Integrada na área de projeto e/ou em formação cívica, Partilhada por várias disciplinas curriculares). 
6.  Que  modalidade  formativa/curricular  de  tratamento  considera  mais  adequada  para  a 
formação/desenvolvimento  de  competências,  no  domínio  da  educação  sexual,  por  parte  dos  alunos? 
(Tratamento  casual,  dependendo  das  circunstâncias  e/ou  das  solicitações  dos  alunos,  Como  intervenção 

212
 
planificada, mas sem programa, Com programa nacional e intervenção planificada, Com programa a nível de 
escola, definido com respeito pela sua autonomia). 
7. Em que moldes considera que a educação sexual deverá ser participada pelos alunos, na escola? (De 
participação obrigatória, De participação facultativa). 
8.  Que  conteúdos/temas  considera  que  deverão  ser  prioritariamente  focalizados?  (Dimensão  da 
saúde, Dimensão da sexualidade, Dimensão da saúde e da sexualidade). 
9.  Como considera  que deve  ser  avaliada  a  participação dos  alunos, no  âmbito da  educação  sexual? 
(Com  avaliação/classificação  autónoma,  Com  avaliação/classificação  integrada na  disciplina  que  leciona,  Com 
referência qualitativa autónoma, Desligada de qualquer ato avaliativo). 
10. Numa escala de 0 a 5, que necessidade de formação atualizada considera ter para o tratamento de 
questões relacionadas com educação sexual, na escola? 
 
O questionário foi passado a professores de duas escolas do norte do país, a lecionarem no 3º ciclo do 
ensino básico. 
Foram abrangidos 25 professores de cada escola, num total de 50 inquiridos. 
A escolha dos inquiridos foi feita de modo aleatório, dado que pretendíamos focalizar a globalidade 
dos professores e valorizar o caráter transversal que possui, na escola, a educação para a sexualidade. 
O questionário foi validado pela consulta a dois especialistas e a dois professores. 
Não se distinguiram as duas escolas, para efeitos de tratamento de dados, porque tal não foi achado 
relevante.  Foram  considerados  professores  de  duas  escolas,  e  não  apenas  de  uma,  para,  tratando‐se  de  um 
estudo de caso (Bogdan & Biklen, 1994, pp.88‐89), se alargar a representatividade dos resultados. 
Os  inquiridos  foram  considerados  na  sua  globalidade,  e  no  tocante  ao  género  (15  homens  e  35 
mulheres) e à experiência profissional (menos de 10 anos, de 10 a 30 anos e mais de 30 anos). 
Todavia,  por  motivos  de  limitação  de  espaço,  apenas  apresentamos  e  comentamos  os  resultados 
totais. 
 
Com  a  1ª  e  a  2ª  perguntas,  pretendemos  conhecer  a  importância  atribuída  (numa  escala  de  0  a  5), 
pelos professores (total de 50 inquiridos), à educação sexual – na escola e no contexto educativo da disciplina 
lecionada. 
Quanto à importância atribuída, pelos professores, à educação sexual, na escola, 46% dos inquiridos 
referem o nível 4, e 34%, o nível 3. No nível 5, situam‐se 20%. 
Quanto  à  importância  atribuída,  pelos  professores,  à  educação  sexual,  no  contexto  educativo  da 
disciplina lecionada, 46% posicionaram‐se no nível 3, 24% no nível 2, 16% no nível 4 e 14% no nível 1. 

213 
 
Ou seja: os professores consideram de grande importância a área da educação sexual, a ser trabalhada 
na  escola,  mas  já  a  consideram  bem  menos  quando  tiver  de  ser  (e  deverá  ser)  trabalhada  na  sua  disciplina. 
Desde  modo,  estão  a  desvalorizar  o  carácter  transversal  que  se  recomenda  que  tenha  o  tratamento  da 
educação para a sexualidade, na escola (Lei n.º 60/09, de 6 de Agosto). Ao mesmo tempo, isto pode indiciar 
que as disciplinas curriculares são entendidas, pelos professores, como “compartimentos”, fechadas a outras 
áreas da formação e do saber. 
 
Com  a  3ª  pergunta,  pretendemos  conhecer  a  periodicidade  com  que  os  professores  tratam  de 
questões relacionadas com a educação sexual, nas aulas que lecionam: em todas as aulas, uma vez por semana, 
algumas vezes por período, só às vezes ou nunca. 
O que obtivemos foi que ninguém o faz em todas as aulas, e uma vez por semana, apenas 2%; algumas 
vezes por período, fazem‐no 36%; às vezes, 44%; nunca, 18%. 
Predominam os professores que o fazem às vezes, 44%, e algumas vezes por período, 36%. 
Apesar de não revelarem grande gosto em trabalhar a educação para a sexualidade, na sua disciplina, 
e de tenderem a considerar pouco o carácter transversal a que ela deverá estar sujeita, a percentagem dos que 
o fazem às vezes e algumas vezes por período, ainda revela alguma expressão. Mas é preciso considerar que 
assim acontece abaixo dos 50%. 
Verifica‐se que a maior parte dos inquiridos não trata, com consistência, questões relacionadas com a 
educação sexual, nas aulas que leciona. 
 
Com  a  4ª  pergunta,  pretendemos  conhecer  qual  a  recetividade/participação  que  os  professores 
verificam nos seus alunos, quando desenvolvem assuntos da área da educação para a sexualidade: muito boa, 
boa, aceitável ou má. 
O  que  se  verifica,  pelas  respostas  obtidas,  é  que  a  maior  parte  dos  alunos  manifesta  uma 
recetividade/participação boa (46%) e muito boa (26%), só 22% a revelando aceitável, e 6% má. 
Isto poderá querer dizer que, apesar de os professores não terem na melhor conta o tratamento de temas da 
área da educação para a sexualidade, nas suas aulas, e de o fazerem abaixo daquilo que seria de desejar, os 
alunos aderem, genericamente, muito bem às temáticas, dessa área, que lhe são propostas. 
 
Com a 5ª pergunta, pretendemos conhecer como consideram os professores que deve ser trabalhada 
a educação sexual na escola: como disciplina autónoma, integrada na área de projeto e/ou de formação cívica, 
partilhada por várias disciplinas curriculares. 

214
 
Como  resposta,  obteve‐se  que  40%  dos  professores  preferem  a  área  de  projeto  e/ou  de  formação 
cívica, para o tratamento dessas temáticas; como disciplina autónoma, é a opção de 36%; a partilha por várias 
disciplinas curriculares é referida por 24%. 
Ao valorizarem a área de projeto e/ou de formação cívica, os professores estão a corresponder ao que 
é determinado na lei (Despacho n.º 19308/08, de 21 de Julho). Se, como já foi dito, se mantém, na escola, a 
possibilidade do trabalho com projetos, a alteração curricular introduzida pelo Decreto‐Lei n.º 94/2011, de 03 
de Agosto, como também já foi referido, não deixará de ter consequências no desempenho dos professores e 
das escolas, também a este nível. 
A  preferência  de  36%  dos  inquiridos  pela  disciplina  autónoma  e  a  sua  tendência  para  a  partilha,  no 
tratamento  das  questões  da  área  da  educação  para  a  sexualidade,  poderão  explicar‐se  pela  pouca  vontade, 
manifestada  por  parte  considerável  dos  mesmos  inquiridos,  de  integrar  essas  questões  na  disciplina  que 
lecionam. 
 
Com a 6ª pergunta, pretendemos conhecer a modalidade formativa/curricular de tratamento que os 
professores  consideram  mais  adequada  para  a  formação/desenvolvimento  de  competências,  no  domínio  da 
educação  sexual,  por  parte  dos  alunos:  um  tratamento  casual,  dependendo  das  circunstâncias  e/ou  das 
solicitações  dos  alunos;  como  intervenção  planificada,  mas  sem  programa;  com  programa  nacional  e 
intervenção planificada; com programa a nível de escola, definido com respeito pela sua autonomia. 
Pelas respostas dadas, verifica‐se que 42% dos inquiridos opta por um tratamento casual, dependente 
das  circunstâncias  e/ou  das  solicitações  dos  alunos.  A  intervenção  planificada,  mas  sem  programa,  recebe  a 
preferência de 28% dos inquiridos. O programa nacional e a intervenção planificada e o programa a nível de 
escola,  definido  com  respeito  pela  sua  autonomia,  são  indicados,  respetivamente,  por  16%  e  14%  dos 
questionados. 
Por aqui poderá ser inferido que os professores, na sua maior parte, desejam que o tratamento das 
questões relacionadas com a educação para a sexualidade seja feito sem plano nem organização prévia, poderá 
esta ser uma maneira de aligeirar o tratamento da temática, pelo improviso e o pouco empenhamento. 
Admitindo que o importante e essencial é a disciplina que lecionam, os professores parecem estar a 
dizer,  com  estes  resultados,  que  não  pretendem  despender  demasiadas  energias,  neste  âmbito  –  com  a 
agravante de se tratar de uma área com os melindres e a sensibilidade acrescida das temáticas que envolvem a 
educação sexual, e de os jovens serem, por natureza, inconformados e exigentes. 
 
Com a 7ª pergunta, pretendemos conhecer em que moldes, obrigatórios ou facultativos, consideram 
os professores que a educação sexual deve ser participada, pelos alunos. 

215 
 
Responderam  62%  dos  professores  que  essa  participação  deverá  ser  facultativa,  optando  38%  por  uma 
participação obrigatória. 
Estas respostas condizem com a leitura que vimos a fazer dos resultados ao questionário, visto que, 
sendo a participação dos alunos facultativa, e não desejando os professores envolver‐se profundamente nesse 
âmbito, ser‐lhes‐á mais fácil não serem objeto das pressões que seriam inevitáveis, caso a participação fosse 
obrigatória. 
Todavia, uma leitura de valorização da autonomia e da liberdade individual, por parte dos professores 
e  da  escola,  em  relação  aos  alunos,  sobretudo  em  área  tão  íntima  e  difícil  como  é  a  da  educação  para  a 
sexualidade, será igualmente possível. 
 
Com  a  8ª  pergunta,  pretendemos  conhecer  que  conteúdos/temas  consideram  os  professores  que 
devem  ser  prioritariamente  focalizados,  no  âmbito  da  educação  para  a  sexualidade:  a  dimensão  da  saúde,  a 
dimensão da sexualidade ou a dimensão da saúde e da sexualidade. 
Nas  respostas,  verificou‐se  que  a  dimensão,  simplesmente,  da  sexualidade  não  foi  preferida  por 
ninguém. A dimensão da saúde e da sexualidade foi a que recebeu mais adesões, com 92% das respostas. A 
dimensão apenas da saúde foi apontada por um número residual de inquiridos, 8%. 
A resposta prevalecente, obtida (dimensão da saúde e da sexualidade), inscreve‐se na consciência que 
os  professores  revelaram  acima  (pergunta  n.º  1),  acerca  da  importância  da  educação  para  a  sexualidade,  na 
escola. 
Os  desempenhos  que  evidenciam,  no  tratamento  destas  áreas,  podem  não  ser  os  que  mais  se 
desejam, mas isso não significa que não estejam convictos da sua importância e necessidade. 
 
Com a 9ª pergunta, pretendemos conhecer como consideram os professores que a participação dos 
alunos, no âmbito da educação para a sexualidade, deve ser avaliada: com avaliação/classificação autónoma; 
com  avaliação/classificação  integrada  na  disciplina  que  o  professor  leciona;  com  referência  qualitativa 
autónoma, desligada de qualquer ato avaliativo. 
A opção que aponta para uma avaliação/classificação integrada na disciplina que o professor leciona 
não recebeu qualquer resposta. 
Isto reforça o ponto de vista que estamos a seguir, segundo o qual os professores não desejam ver a 
sua disciplina/área do saber partilhada por outra e que a educação para a sexualidade deverá ser avaliada  à 
parte. 
E  na  verdade,  isto  é  coerente  com  a  preferência  pela  inclusão  do  tratamento  das  questões  de 
sexualidade na área de projeto e/ou de formação cívica, acima revelada (pergunta n.º 5), que se inscrevia, até à 
publicação do Decreto‐Lei n.º 94/2011, de 03 de Agosto, fora do alcance das disciplinas curriculares. 

216
 
Condizendo com o que é referido, uma avaliação ‘livre’ (desligada de qualquer ato avaliativo) recebeu 
78% das respostas. 
A  avaliação  com  uma  referência  qualitativa  autónoma  foi  preferida  por  16%  dos  professores 
questionados, e a avaliação/classificação autónoma foi pretendida por 6%. 
 
Com  a  10ª  pergunta,  pretendemos  conhecer  a  necessidade  de  formação  que  os  professores 
consideram ter. 
Na escala de 0 a 5, proposta, 4% dos professores posicionaram‐se no nível 2; 44%, no nível 3; 46%, no 
nível 4; 6%, no nível 5. 
Ou seja: independentemente de terem já recebido, ou não, formação (o que não procurámos saber), 
na área da educação para a sexualidade, focalizada, os professores reconhecem sentir necessidade dela, o que 
pode  ser  uma  das  explicações  para  algumas  das  tomadas  de  posição  indiciadas  nas  respostas  às  perguntas 
formuladas. 
 
Em  suma,  os  professores  mostram  reconhecer  a  necessidade  de  a  área  da  educação  sexual  ser 
trabalhada  na  escola,  mas  não  parecem  dar  muito  valor  ao  seu  carácter  transversal,  aceitando  que  ela  se 
integre na ‘sua’ disciplina. 
Por isso a trabalham pouco. 
Reconhecem,  porém,  que,  quando  o  fazem,  os  alunos  aderem,  genericamente,  muito  bem  às 
temáticas que lhes são propostas. 
Como espaço educativo para o tratamento dessas temáticas, aparecem valorizadas as áreas de projeto 
e de formação cívica, correspondendo, desse modo, ao que é determinado na lei (mas que corre riscos de ser 
afetado pelo desenho curricular em vigor). 
Os professores mostram desejar que o tratamento das questões relacionadas com a educação para a 
sexualidade  seja  feito  sem  plano  nem  organização  prévia,  o  que  poderá  indiciar  um  aligeiramento  no 
tratamento desta área. 
Pela opinião manifestada, a participação dos alunos deverá ser facultativa, e o trabalho desenvolvido 
deverá estar fora de qualquer ato avaliativo, o que reforça a possibilidade de os professores não pretenderem 
um grande envolvimento nesta área. 
Relativamente à formação, os inquiridos reconhecem que sentem necessidade dela, podendo residir aí 
uma  das  explicações  para  alguns  dos  desempenhos  menos  positivos,  indiciados  pelas  respostas  ao 
questionário. 
 
 

217 
 
5. CONCLUSÕES FINAIS 
Atendendo à área focalizada, em si mesma, e às circunstâncias do mundo de hoje, a educação para a 
sexualidade reveste‐se da maior importância. 
E os professores terão de assumir, no seu tratamento, a parte de responsabilidade que lhes compete, 
que é grande. 
Se  dos  professores  de  ciências  naturais  e  biologia  será  de  esperar  um  desempenho  adequado,  já  o 
mesmo  poderá  não  acontecer  por  parte  dos  professores  das  outras  áreas  curriculares,  a  quem,  igualmente, 
está confiado o tratamento destas matérias, vistas pelo prisma formativo, na escola. 
Formulado  o  problema,  o  estudo  que  realizámos,  ainda  que  sujeito  às  limitações  naturais  de  um 
estudo  de  caso,  permite  supor  que  uma  parte  considerável  dos  professores  portugueses  não  se  envolverá, 
como deveria, na escola, na educação para a sexualidade. 
Perante  os  resultados  nele  obtidos,  parece  ser  clara  a  necessidade  de,  junto  dos  professores,  se 
proceder  a  uma  aposta  renovada  na  motivação  e  na  formação  –  compreendendo  esta  informação,  reflexão, 
fundamentação,  debate,  seleção  de  modos  de  intervir,  consideração  da  legislação  existente  –,  de  modo  a 
tornarem‐se capazes de responder às necessidades existentes. 
Por outro lado, perante a resistência que se verifica, por parte de muitos professores, no tratamento 
da educação para a sexualidade, poderá concluir‐se que se justifica, igualmente, um maior atendimento a estas 
questões,  por  parte  dos  órgãos  organizativos  da  escola,  nomeadamente  o  seu  conselho  pedagógico, 
coordenando, consciencializando, motivando, promovendo a reflexão e o debate, dando à área em questão a 
relevância que ela merece. 
Além disso, se é da educação que depende, em grande medida, a formação das crianças e dos jovens, 
em idade escolar, mas cidadãos adultos futuros, que se deseja bem formados e individualmente realizados, dos 
cuidados que se tiver com eles dependerá, também, e em igual medida, o desenvolvimento do país. 
E  nesse  sentido,  a  educação  para  a  sexualidade,  integrando‐se  num  âmbito  educativo  específico,  e 
envolvendo  a  escola  e  os  professores,  mas  também  as  famílias,  as  instituições  e  a  sociedade  em  geral,  não 
poderá nem deverá ser esquecida. 
É para esse fim que esperamos contribuir com este trabalho. 
 
BIBLIOGRAFIA 
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do Minho. 
 
 
 
 

219 
 
 

220
 
A EDUCAÇÃO SEXUAL NO AGRUPAMENTO DE ESCOLAS  
PROFESSOR CARLOS TEIXEIRA 
 
 
Adosinda Machado, 
Coordenadora do projeto de educação para a saúde do 
Agrupamento de Escolas Professor Carlos Teixeira 
 
“No ensino básico, a educação sexual integra‐se no âmbito da educação para a saúde, nas áreas curriculares não 
disciplinares, nos termos a regulamentar pelo Governo.” 
Lei nº 60/2009, 6 de agosto 
 
Falar de Educação Sexual (ES) no contexto escolar não é fácil! Trabalhar esta temática com os alunos 
ainda  é  menos  fácil,  mas  não  é  impossível  e  até  se  podem  obter  excelentes  resultados.  Este  artigo  não 
pretende  desmistificar  a  ES,  nem  dar  lições  ou  apresentar  citações  de  estudiosos,  filósofos,  sexólogos, 
psicólogos,  técnicos  de  saúde  ou  outros  peritos  nesta  área,  nem  dizer  qual  a  sua  importância  nas  escolas, 
porque  está  mais  do  que  provada  a  sua  necessidade  no  dia  a  dia  escolar,  mas  sim  apresentar  um  pouco  do 
trabalho que tem sido feito no Agrupamento de Escolas Professor Carlos Teixeira.  
Desde o ano letivo 2007/2008, que o agrupamento integra, no seu Projeto Educativo, a Educação para 
a Saúde como projeto, com o compromisso dos elementos da comunidade educativa e do meio envolvente. Em 
2008,  o  Agrupamento  foi  selecionado  como  agrupamento  piloto  para  desenvolver  o  Projeto  Regional  de 
Educação Sexual em Saúde Escolar (PRESSE) e, assim, a ES passou a fazer parte do nosso Projeto de Educação 
para a Saúde, sendo definida como uma das suas áreas prioritárias, ao lado da Alimentação e Atividade física, 
Consumo de substâncias psicoativas e Violência em meio escolar/saúde mental.  
Mas qual foi o trabalho desenvolvido, perguntar‐se‐á? 
Na verdade, desde que iniciámos o projeto até hoje, a maior preocupação foi a formação estruturada 
e  completa  dos  alunos,  tornando‐os  indivíduos  responsáveis  pelas  suas  atitudes  e  comportamentos. 
Partilhávamos a ideia de que saber mais sobre sexualidade evita embaraços na adolescência e leva‐a a aceitar 
melhor  o  seu  corpo,  evitando  gravidezes  indesejadas,  doenças  infeciosas  e  abusos  sexuais…  Quanto  mais 
informados estão, menos vulneráveis se tornam e são capazes de tomar decisões inteligentes e responsáveis 
no  que  diz  respeito  ao  relacionamento  e  comportamento  sexual.  Não  falar  sobre  sexualidade  às  crianças, 
adolescentes e jovens leva‐os, quantas vezes, a procurarem informação de qualidade duvidosa! Para que esse 
processo  começasse  da  melhor  forma,  optámos  pelo  princípio  da  formação  dos  docentes.  Assim,  através  do 
Centro  de  Formação  Francisco  de  Holanda,  foram  acreditadas  duas  oficinas  de  formação  e  um  curso  de 
formação, que decorreram em Fafe e em Guimarães. A formação permitiu a setenta docentes partilhar medos, 
experiências  e  criar  ferramentas  para  enfrentar,  com  maior  segurança  e  assertividade  os  desafios  colocados 

221 
 
pelos alunos. Embora estas ações tenham sido acreditadas para docentes do ensino básico, no Agrupamento 
de  Escolas  Professor  Carlos  Teixeira,  os  docentes  do  ensino  pré‐escolar  também  foram  convidados  a  assistir 
para se envolverem no desenvolvimento deste projeto. Acresce ainda que a coordenadora do projeto realizou  
reuniões  periódicas  nas  unidades  de  ensino  pré‐escolar  com  o  intuito  de  dar  formação  nesta  área  às 
educadoras de infância. 
Para  complementar  a  formação  dos  professores  e  uniformizar  procedimentos  ao  nível  do 
Agrupamento,  foi  elaborado  e  disponibilizado  um  “Guião  de  Educação  Sexual”  com  a  informação  legislativa, 
metodologias de trabalho, exemplos de atividades a desenvolver, sites e bibliografia a consultar. 
  Este  foi  o  primeiro  passo.  Mas  havia  ainda  mais  caminho  a  percorrer.  Quando  saímos  do  que  é 
considerado  normal  no  meio  escolar  e  se  entra  em  “algo”  que,  para  alguns,  ainda  é  tabu,  ou  é  do  foro  da 
educação dos pais, há que ponderar o meio, a cultura, a religião, ou seja, toda a envolvência da comunidade.  
Para aferir procedimentos tiveram‐se reuniões com os pais para apresentar o projeto que se pretendia 
desenvolver  e,  ao  mesmo  tempo,  convidá‐los  a  colaborar  no  seu  desenvolvimento.  Foi  elaborado  e 
disponibilizado um “Guião Informativo aos Pais” contendo a informação sobre a legislação de ES e os subtemas 
a serem trabalhados com os alunos. Foi também disponibilizado um “Guião Informativo ‐ A Educação Sexual 
nos Deficientes”. Para se manter esta estreita relação e os pais terem acesso à maior informação e formação 
possível  foram  feitas  palestras  e  sessões  de  sensibilização,  num  total  de  18  horas,  durante  oito  dias, 
distribuídas pelas diferentes escolas do agrupamento, com a temática “Conhecer a sexualidade: uma questão 
parental”. O que se pretendia? Começar por promover uma mudança de atitudes com vista à introdução da ES 
nas  escolas,  despertar  nos  pais/encarregados  de  educação  a  necessidade  de  se  co‐responsabilizarem  com  a 
formação integral dos seus educandos e desmistificar os conceitos da ES. Assim, a coordenadora do projeto e 
um  psicólogo,  ao  longo  destes  dias  de  formação,  nas  suas  deslocações  às  escolas,  puderam  conhecer  as 
realidades  escolares  e  sentir  as  dúvidas  e  os  medos  dos  diversos  atores  educativos.  Foram  sempre  sessões 
muito  positivas  e  aliciantes,  confirmadas  pelo  grau  de  satisfação  e  do  envolvimento  dos  pais  durante  as 
sessões, sobretudo nos debates, onde havia sempre troca de ideias e levantamento de questões.  
O  trabalho  continuou  tendo‐se  num  outro  momento  feito  uma  palestra  sobre  “Educação  Sexual  em 
Meio Escolar”, dirigida ao pessoal docente e não docente e pais/encarregados de educação de uma escola do 
Agrupamento ‐ EB1/JI de S. Jorge. A coordenadora do projeto e a docente universitária especializada na área da 
ES, doutora Teresa Vilaça, falaram do desenvolvimento psicológico da criança ao longo dos primeiros anos de 
vida e da sua  sexualidade. Salientou‐se que esta deve ser encarada com realismo e que as crianças têm atos 
naturais que devem ser esclarecidos sem tabus ou medos. Foram apresentadas imagens e textos alusivos ao 
desenvolvimento  das  crianças  e  atitudes  naturais  que  vão  surgindo.  Foram  apreciados  e  contextualizados  os 
temas a serem trabalhados ao longo do ano com os alunos, tendo‐se o cuidado de referir que todos eles teriam 
de ser abordados tendo sempre em atenção as idades dos alunos que estavam à frente de cada docente, assim 

222
 
como sugestões do acompanhamento que deveria ser feito por parte dos encarregados de educação. Durante 
o discurso fez‐se questão de realçar o excelente trabalho que já estava a ser feito na escola em ES mostrando‐
se  alguns  diapositivos  que  representavam  trabalhos  elaborados  pelos  alunos,  que  abordavam  conteúdos 
relacionados com a temática. Os pais/encarregados de educação decidiram aplaudir esta iniciativa e, ao longo 
da palestra, mostraram‐se muito ativos e preocupados com o seu papel no âmbito desta temática que, muitas 
vezes, lhes passa ao lado.  
Falar  de  ES  com  pais/encarregados  de  educação  não  tem  de  ser  necessariamente  em  palestras  e 
sessões de formação formais. Assim, resolvemos, num outro momento, trazer à escolauma peça de teatro da 
atriz  Maria  Paulos  “Deixemos  o  Sexo  em  Paz”.  Esta  sessão  decorreu  à  noite  e  esteve  aberta  a  toda  a 
comunidade. Não esteve uma sala cheia, mas decorreu como se estivesse! Sentiu‐se muito calor humano e a 
motivação  da  atriz  era  tão  forte  que  contagiou  os  presentes.  Os  comentários  de  todos  os  que  estavam 
presentes  foram  muito  positivos!  Nem  eram  necessárias  palavras,  pois  os  sorrisos  e  as  faces  deslumbrantes 
diziam tudo. Verificou‐se que se pode ensinar e aprender de uma forma divertida! Conseguiu‐se desmistificar 
muitos mitos que ainda prevalecem. 
Também  se  abordou  o  Bullying!  Poder‐se‐á  questionar  qual  a  relação  com  ES  e  o  porquê  de  se  ter 
abordado. Na verdade, quando se trabalhou a orientação sexual surgiram algumas situações que poderiam ser 
consideradas como comportamentos situados no bullismo. Como todos saberão, é necessário “Conhecer para 
Prevenir”.  Foi  então  decidido  fazer‐se  três  sessões  de  três  horas  pois,  “Pais  informados,  serão  Pais  Ativos!”. 
Debateram‐se os pontos principais desta temática, desmistificando um pouco o sensacionalismo que tem tido 
e  dialogando  à  volta  de  frases  como:  “Bullying,  uma  nova  problemática  da  Sociedade?”,  “Crianças  e  Jovens 
mais  violentos?”  e  “Bullying,  um  problema  antigo!”.  Foram  notórias  e  grandes  as  dúvidas  e  confusões  a 
propósito deste conceito. Os media têm vindo a deturpar, com imagens e slogans, o seu verdadeiro significado, 
levando  a  pensar  que  qualquer  ato  ocasional  é  sinónimo  de bullying. Mais  uma  vez os  pais/encarregados  de 
educação corresponderam e sentiram que foi oportuno o momento para se debater esta temática e que, afinal, 
bullying  é “um  tipo de comportamento agressivo,  em  que  um  agressor  intencional  e repetidamente  provoca 
danos a uma vítima mais fraca física e psicologicamente”. 
Chegou  o  momento  de  falarmos  um  pouco  dos  atores  principais  deste  projeto  que  são  os  alunos  e 
que, ao longo destes anos, têm desenvolvido um excelente trabalho na temática da sexualidade. São eles que 
nos fazem concluir que, apesar de todas as dificuldades, se nos empenharmos, os resultados aparecem. 
Então, o que fizemos? Que resultados alcançámos?  
Ao nível dos conteúdos foi feita uma divisão pelos ciclos tendo em conta a sua articulação com os anos 
de escolaridade e seguindo as normas regulamentadas pela legislação em vigor. 
Estes  conteúdos  permitiram  aos  alunos  fazer  debates,  pequenas  peças  de  teatro,  canções,  poemas, 
cartazes, panfletos informativos, escrever artigos para o jornal da escola e para a página eletrónica da escola, 

223 
 
fazer  exposições  para  a  comunidade,  celebrar  os  dias  relacionados  com  a  temática  e,  sobretudo,  permitir  as 
suas interrogações e o direito às respostas das suas dúvidas mais importantes ‐ o saberem olhar‐se, conhecer‐
se respeitar‐se uns aos outros nas suas diferenças. 
Considerando os afetos essenciais nas relações humanas, foram sempre celebrados os dias do Pai e da 
Mãe,  trazendo  à  escola  a  família  para  ver  e  escutar  os  seus  filhos  com  os  seus  poemas,  as  suas  canções  e  o 
teatro, sempre com a colaboração de docentes e dos assistentes operacionais. Outros dias importantes foram 
celebrados, como o “Dia dos Namorados” com a construção de árvores de mensagens, em três línguas, com as 
cartas aos amigos e os debates (namorar, estar, andar, curtir, flertar); o “Dia Mundial da Luta Contra a SIDA”, 
com informações escritas e orais à comunidade, o dialogar com pessoas que vivem situações reais, o mostrar a 
realidade  aos  jovens,  o  ver  os  adolescentes  a  dialogar  com  os  mais  jovens  sobre  o  que  não  podem  ou  não 
devem fazer.  
Os  alunos  também  tiveram  direito  a  enriquecer  os  seus  conhecimentos  nesta  temática  através  de 
palestras e de teatro. Assim, com a colaboração de duas psicólogas ao serviço do IPJ de Braga, os alunos dos 5º 
e 6º anos de escolaridade puderam assistir a uma palestra sobre “Sou adolescente, e agora?...”. Durante duas 
horas viu‐se uma plateia atenta a todos os pormenores que eram transmitidos e quando chamados a intervir 
eram vários os braços levantados que solicitavam a palavra. Foi mais tarde feita uma segunda palestra, pelos 
mesmos elementos, aos alunos dos 7º e 8º anos de escolaridade sobre a temática “A minha sexualidade”. Mais 
uma vez foi possível observar o interesse que os alunos revelaram pela sua atenção, a sua participação ativa e o 
seu agrado. Num contexto mais lúdico puderam assistir à peça de teatro “Deixemos o Sexo em Paz”, de Maria 
Paulos. Foram feitas duas sessões dividindo‐se os alunos do 3º ciclo em dois grandes grupos, sendo necessárias 
duas sessões. As duas sessões de teatro foram muito apreciadas pelos alunos e pelos professores, onde todos 
se divertiram e aprenderam a dialogar sobre a temática da sexualidade, sem constrangimentos. 
Num outro momento, a psicóloga ao serviço da escola com a colaboração da coordenadora do projeto 
fez uma ação de sensibilização “Violência nas relações de Namoro”. Esta ação foi dirigida aos alunos dos 8º e 9º 
anos  de  escolaridade  e  decorreu  durante  uma  semana.  De  referir  que,  apesar  de  ser  um  tema  atualmente 
bastante  abordado  pelos  meios  de  comunicação,  a  maior  parte  dos  alunos  apresentava  ainda  crenças 
desajustadas relativamente ao que constituem atos de violência. Apresentavam‐se essencialmente focalizados 
na  violência  física,  negligenciando  outros  tipos  de  violência.  Revelaram  não  ter  noção  da  dimensão  do 
fenómeno entre as camadas mais jovens, sendo muitas vezes entendido como um tema que “só acontece nos 
casais  mais  velhos”.  Com  esta  ação  de  sensibilização  e  através  dos  slogans  e  quadras  elaboradas  pelos 
discentes,  pós  ação,  foi  possível  verificar  que  foram  interiorizadas  as  noções  debatidas  sobre  o  tema,  assim 
como também foram desconstruídas determinadas crenças desajustadas. Os alunos evidenciaram interesse e 
preocupação pela temática.  

224
 
Poder‐se‐ia  escrever  muito  mais,  pois  o  trabalho  desenvolvido  ao  longo  destes  quatro  anos  não  se 
pode  resumir  em  meia  dúzia  de  páginas.  Naturalmente  não  seria  uma  tese,  mas  daria  um  bom  livro  e, 
sobretudo,  constituiria  um  bom  volume  de  provas  para  comprovar  a  grande  importância  de  se  trabalharem  
temáticas que estão diretamente direcionadas aos alunos, à construção da sua identidade sexual e da sua vida.  
Para terminar é importante sublinhar que, no final de cada ano letivo, o Agrupamento abriu as portas 
a toda a comunidade para oferecer a grande “Festa da Saúde”. Uma festa com sentido pedagógico, refletida na 
mostra dos trabalhos desenvolvidos ao longo do ano, distribuídos pelas dezenas de barraquinhas construídas 
no recreio da escola, na partilha e na venda simbólica de produtos. À noite, recebemos milhares de pessoas, 
todos os anos, que encheram a escola para assistirem ao brilhar das luzes e ao espetáculo proporcionado pelos 
nossos pequenos grandes artistas em palco que, com as suas canções, músicas, danças e dramatizações, dentro 
da  temática  da  ES,  comunicaram  saberes  e  transformaram  o  silêncio  da  noite  em  estrondosos  aplausos  e 
sorrisos contagiantes.  

 
 

 
 
 
 
 
 

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A TEATRALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO SEXUAL EM MEIO ESCOLAR  
COM RECURSO ÀS TIC 
Cláudia Arnaud Marques, 
Agrupamento de Escolas Padre Joaquim Flores 
 

INTRODUÇÃO 
A Educação Sexual tem vindo a tornar‐se, nestes últimos anos, num motivo de debate, de controvérsia 
e  de  polarização  de  conceções  e  opiniões,  reflexo  das  medidas  legislativas  relativas  a  esta  temática, 
conducentes à sua introdução na escola.  
Ao  falar  de  Educação  Sexual  estamos  a  falar  em  sexualidade  e  afetos,  sendo  estes  fundamentais  na 
formação  estruturada  do  indivíduo,  tendo  a  instituição  escolar  também  uma  função  determinante  nessa 
construção do ser humano, em qualidade, particularmente pela desconstrução de mitos e tabus. Educar para 
esses assuntos, respondendo a questões, é também ter um papel pedagógico.  
Urge agir neste âmbito para que se aufiram proveitos, até por uma questão de cidadania e de justiça 
para  com  os  nossos  jovens  e  adolescentes.  Assim,  não  podemos  negligenciar  o  papel  da  escola  e 
dosprofessores  como  agentes  educativos  importantes  nesta  área.  Educar,  no  seu  sentido  mais  lato,  significa 
criar situações de aprendizagem, pequenos espaços em que cada um se sinta implicado e possa, assim, tornar‐
se individualidade.  
A  ideia  da  dinamização  de  um  clube  de  teatro  escolar  e  de  uma  peça  de  teatro  educativa  aliada  às 
Tecnologias de Informação e Comunicação, cuja temática se prende com a Educação para Saúde e Sexualidade, 
em  particular,  surge  a  partir  da  ligação  de  alguns  elementos  –  professores  –  ao  mundo  das  Artes  de  Palco, 
atividade  já  desenvolvida  com  alunos  do  agrupamento  ao  longo  de  três  anos  consecutivos,  com  temáticas 
diversas. Associar a experiência adquirida na arte cénica à atividade docente, valendo‐se das  mais‐valias das 
Tecnologias da Informação e Comunicação, aplicadas em contexto escolar, foi e é condição motivadora para a 
implementação deste projeto a que nos propomos dar continuidade. Na realidade e quanto a nós, uma peça de 
teatro nunca deve ser algo acessório, encenada apenas para uma apresentação pontual ou meramente festiva. 
Similarmente, a enorme e observável dificuldade de abordagem do tema em contexto de sala de aula 
e a originalidade intrínseca da temática (a teatralização da Educação Sexual) que, conjeturamos, dê novo alento 
aos desgastados projetos em contexto escolar, por um lado, e a escassez nas nossas escolas de projetos que 
superem as limitações dos tradicionais projetos “um professor da turma ‐ a turma” por outro, constituíram a 
motivação  necessária  para  avançarmos  com  a  criação  e  implementação  desta  peça  de  teatro  educativa, 
suportada por algumas ferramentas da Web,na Escola onde trabalhamos.  
Por  outro  lado,  os  meios  que  utilizamos  são,  quanto  a  nós,  entendidos  como  ferramentas  com 
potencial de uso educativo, que oferecem aos alunos ambientes de trabalho, onde podem servir‐se das suas 

227 
 
habilidades para desenvolver vários níveis de capacidades e facilitar a expressão e a criatividade, levando‐os a 
aprender  fazendo.  Neste  sentido,  podemos  dizer  que  estas  ferramentas  sustentam  e  promovem  o 
desenvolvimento dos processos cognitivos dos alunos de forma excecional, pois exploram potencialidades bem 
distintas daquelas que os recursos tradicionais, como o lápis e o papel, propiciam.   
Consideramos  relevante  mencionar  que  este  projeto,  com  as  características  supramencionadas,  é 
pioneiro  nas  escolas  do  concelho  onde  se  situa  a  nossa  instituição  (Fafe)  e,  pelo  que  nos  é  dado  conhecer, 
praticamente único nas escolas dos ensinos básico e secundário do país. 
A  peça  de  teatroSexu@l(idades),  apresentada  no  âmbito  do  Projeto  de  Educação  para  a  Saúde  e 
Sexualidade, teve a sua estreia no ano letivo 2010/2011, tendo sido idealizada, criada e escrita pelo grupo de 
professores, com  a colaboração dos alunos, do Clube de Teatro Escolar da Escola EBI/JI Padre Joaquim Flores, 
Revelhe.  
Os discentes integram turmas do oitavo e nono ano de escolaridade, com idades compreendidas entre 
os doze e os quinze anos. Aliada à construção cénica de palco surge a parte multimédia de som e imagem, com 
a projeção de vídeos, imagens fixas e música.  
Procedeu‐se,  previamente,  a  um  trabalho  de  pesquisa  de  informação  em  livros,  revistas,  filmes, 
documentários e sites temáticos, para a produção de um texto dramático coadunado com a temática. A peça 
consentânea com a cenografia digital resultou, pois, de uma criação coletiva, em que toda a dramaturgia é da 
autoria dos professores dinamizadores do Clube.  
O Clube de Teatro aceitou o convite e apresentou a peça (com a duração aproximada de quarenta e 
cinco  minutos),  noutras  escolas,  como  a  Escola  EB  2,3  Dr.  Flávio  Gonçalves,  da  Póvoa  de  Varzim,  tendo 
desenvolvido  esforços  logísticos,  conciliando  disponibilidades  de  alunos  e  professores,  para  responder  ao 
desafio proposto.  
No  final  do  ano  letivo,  o  teatro  teve  como  espetadores  privilegiados,  encarregados  de  educação, 
professores,  funcionários  e  elementos  da  direção  da  nossa  instituição  e,  ainda,  representantes  da  equipa  de 
saúde escolar do centro de saúde de Fafe.  
A apresentação da citada peça ao público escolar recebeu críticas bastante objetivas e construtivas, e 
teve a finalidade, para além de outras, de mostrar que a Educação Sexual pode ser apresentada “(…) como um 
aspeto de educação afetiva com influências na formação da personalidade, na socialização e na escolha de um 
conjunto de valores morais e pessoais” (Fuste, 1989, p.84). 
Porque educar para a sexualidade ou educar para uma sexualidade responsável transpõe o mero 
processo de transmissão‐receção de conteúdos:  

228
 
“A sexualidade abrange também a reprodução, os aparelhos reprodutores, a fecundação, a 
gravidez  e  o  parto,  a  maternidade  e  a  paternidade.  No  entanto,  a  sexualidade pode  trazer 
sensações desagradáveis como sejam as gravidezes não desejadas, que na maior parte das 
vezes levam ao aborto clandestino feito em condições impróprias, que por vezes acabam por 
prejudicar a mãe, o aparecimento de doenças sexualmente transmissíveis, que acontece na 
maior parte das vezes por falta de informação” (Who, cit. Frade, Marques, Alverca & Vilar, 
1999, p. 17). 

 
FUNDAMENTAÇÃO PARA A ABORDAGEM DA TEMÁTICA EM FORMATO TEATRALIZADO 
O  Homem,  desde  sempre,  demonstra  a  sua  necessidade  de  representar,  declarando  os  seus 
sentimentos,  as  suas  tristezas,  angústias  e  alegrias.  Inicialmente,fazia‐o  para  exaltar  e  glorificar  os  deuses, 
depois,  criando  atividades  dramáticas  culturais,  encenadas  por  diversos  povos.  Ofacto  é  que,  desde  tempos 
remotos, o teatro faz parte das nossas culturas. 
Desde  Platão  que,  na  civilização  ocidental,  o  teatro  é  abordado  com  o  propósito  de  educar. 
Factualmente, ações de expressão dramática eram estudadas suportando valores didáticos, ou seja, o teatro 
encarado  como  contributo  para  a  formação  da  personalidade  do  Homem.  Esta  arte  cénica  foi, 
indubitavelmente, um marcante instrumento educacional, nos tempos de Platão e Aristóteles, na medida em 
que difundia o conhecimento e representava para o povo o único prazer literário disponível na época. 
A palavra "teatro" deriva do grego "théatron" (θέατρον, teatro, lugar de reunião), lugar de ver, ver o 
mundo, do indivíduo se ver no mundo e de se perceber, de perceber o outro e a sua relação com este. Dessa 
forma, de acordo com a visão pedagógica, o teatro tem a função de mostrar o comportamento social e moral, 
através  da  interiorização  e  construção  de  valores  e  do  bom  relacionamento  entre  indivíduos,  da  partilha  de 
saberes e experiências. 
A expressão artística, desde as artes visuais como a Fotografia, o Cinema, a Pintura e o Design, até às 
artes  de  palco  ‐  como  o  Teatro  ou  a  Dança  ‐,  passando  pela  Música  e  Literatura,  sofreram  transformações 
significativas  com  o  surgir  de  novas  ferramentas  inovadoras,  fruto  do  crescente  desenvolvimento  das 
Tecnologias de Informação e Comunicação. 
Encontrando‐se  estas  tecnologias,  hoje,  facilmente  acessíveis,  quer  na  escola  quer  em  casa,  parece‐
nos ser indispensável que os professores não desenvolvam as suas atividades escolares à margem das mesmas, 
pois, quanto a nós, uma articulação entre as TIC e a Expressão Artística de Teatro poderá ser profícua e fecunda 
e  proporcionar  excelentes  resultados  no uso,  desenvolvimento  e  aprendizagem  das tecnologias  por  parte  de 
professores e alunos (Conferência Nacional de Educação Artística, 2007). 
Vigotsky  (1978),  refere  que  o  conhecimento  é  socialmente  construído,  na  extensão  das  relações 
humanas. Essa suposição tem por base, o desenvolvimento do sujeito como resultado de um processo socio‐
histórico, enfatizando o papel da linguagem e da aprendizagem nesse desenvolvimento, sendo essa teoria vista 

229 
 
como  histórico‐social.  Este  processo  acontece  na  relação  com  o  outro,  nas  trocas,  onde  o  professor, 
aprimorando a sua prática, constrói, consolida, fortalece e enriquece a sua aprendizagem.  
Porém, trabalhar teatro na escola, não é meramente fazer com que os alunos assistam a peças, mas 
também  e  primordialmente,  que  colaborem  na  sua  idealização,  conceção,preparação  e  representação.  Tal 
inclui  uma  série  de  vantagens  óbvias  para  o  aluno:  aprende  e  desenvolve  a  capacidade  de  improviso; 
desenvolve a competência da oralidade, da expressão corporal e da colocação de voz; aprende a interagir com 
as pessoas; desenvolve o vocabulário; trabalha o lado emocional; otimiza a pesquisa; estimula e desenvolve a 
redação;  trabalha  a  cidadania,  a  ética,  os  sentimentos  e  a  interdisciplinaridade;  incentiva  a  leitura  pelo 
contacto com textos, obras, fábulas e reportagens; ajuda a desinibir e a adquirir autoconfiança; desenvolve o 
trabalho colaborativo; possibilita a descoberta de habilidades adormecidas e ainda estimula a imaginação e a 
organização do pensamento.  
Quando  um  jovem  aluno  encarna  uma  personagem,  dramatizando  uma  situação  ou  toda  uma 
conjuntura, revela uma parte de si próprio, mostrando como sente, pensa e vê o mundo. Deve privilegiar‐se, 
desde o início, o trabalho do ator, de modo a que cada aluno‐intérprete se sinta plenamente confortável “na 
pele”  do  seu  personagem.  É  uma  atividade  artística  que  lhe  permite  expressar‐se,  explorando  praticamente 
todas  as  formas  de  comunicação  humana.  O  teatro  propicia  o  ampliar  das  perspetivas  e  horizontes  de  cada 
aluno, melhorando a sua autoimagem, tornando‐o mais crítico e aberto para o mundo em que vive.  
São incontáveis as vantagens de se trabalhar o teatro em meio escolar, não existindo, praticamente, 
temas impossíveis para o teatro dos dias de hoje, assim como não há uma temática preferencial. 
O teatro na escola vislumbra‐se como estratégia de ensino, sendo encarado como um processo para o 
desenvolvimento das atividades do currículo ou como oficina de apoio às atividades curriculares.  
Conforme  diz  Mbuyamba  (2007),  a  UNESCO  sustenta  que  a  Educação  Artística  pode  ser  um 
estimulante instrumento para enriquecer os processos de ensino e aprendizagem e tornar essa aprendizagem 
mais acessível e mais eficaz, como algumas experiências no campo da educação preventiva já demonstraram, 
em particular na educação sobre o HIV/SIDA. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Com  este  projeto  fica  patente  que  os  alunos  têm  a  possibilidade  de  trabalhar  e  criar  conteúdos,  de 
partilhar  conhecimentos,  de  desenvolver  novos  saberes  e  novas  experiências,  trabalhando,  professores  e 
alunos, praticamente em igualdade de circunstâncias. 
Pelo exposto, torna‐se evidente a necessidade de os professores assumirem, cada vez mais, um novo 
papel em que a sua atuação resulte do estudo da realidade específica em que se movimentam. 
Tendo em conta os objetivos propostos, esperamos continuar a concretizar o projeto de forma a que o 
mesmo seja gratificante por si próprio e, também, por ser motivador de novas estratégias e experiências.  

230
 
“Os  vários  episódios  produzidos  acabaram  por  proporcionar,  aos  alunos,  novas  formas  de 
aprendizagem dos conteúdos curriculares que normalmente são falados em contexto de sala 
de  aula.  Os  professores  envolvidos  no  projeto  mencionaram  que  a  experiência  foi 
interessante,  e,  mesmo  até,  uma  estratégia  de  motivar  os  alunos  para  a  abordagem  de 
novos conteúdos” (Diegues, 2010, p. 138). 
 
A avaliação de todo o processo e do produto inerentes ao projeto, com a devida instrumentação e os 
testemunhos dos implicados, foram e continuam a ser momentos de reflexão que determinam o prosseguir do 
projeto nos moldes supra descritos. 
Visando  a  divulgação  da  atividade  e  a  disponibilização  das  várias  etapas  dos  ensaios,  da  recolha, 
seleção  e  tratamento  de  imagens,  sons  e  músicas  e,  ainda,  da  edição  da  peça  de  teatro  em  si,  o  trabalho 
culminou,  na  sua  versão  final,  com  a  colocação  de  um  excerto  de  alguns  dos  atos  da  dramaturgia,  no 
Youtube25e no site26 do agrupamento, acauteladas as devidas autorizações. 
Pretendemos futuramente recorrer à criação de um Blog (espaço Web) cuja estrutura, de configuração 
simples e direta, permitirá o registo cronológico, frequente e imediato das opiniões, emoções, factos, imagens 
estáticas e vídeo, áudio e outro tipo de conteúdos partilhados.  
O espaço criado será usado para promover e registar o percurso e desenvolvimento da peça de teatro 
Sexu@l(idades), para o esclarecimento de dúvidas e, ainda, para a auscultação de opiniões, sugestões e críticas 
construtivas. 
Para  terminar,  é  nossa  pretensão  contribuir  com  uma  reflexão  sobre  a  construção  de  uma  escola 
voltada  para  a  formação  de  um  indivíduo  crítico‐reflexivo,  deixando  o  possível  contributo  que  o  papel  do 
teatro,  aliado  às  Tecnologias  de  Informação  e  Comunicação,  pode  desempenhar  no  contexto  escolar,  sendo 
que o teatro é uma das linguagens do conhecimento artístico responsável por promover experiências estéticas 
expressivas na formação humana, desenvolvendo a reflexão crítica do indivíduo sobre o Homem e o mundo.  
 

BIBLIOGRAFIA 
Conferência  Nacional  de  Educação  Artística  (2007).  Educação  Artística:  conceito(s)  e  terminologia(s). 
Coimbra, Instituto Português da Juventude. 
Diegues,  V.  (2010).  Educomunicação:  produção  e  utilização  de  Podcasts  na  dinamização  de  uma 
WebRádio.  (Dissertação  de  Mestrado  em  Educação,  Área  de  Especialização  em  Tecnologia  Educativa).  Braga: 
Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho. 
                                                            
25
http://www.youtube.com/watch?v=Piq06CRnYu4 
26
http://www.aepjf.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=133:sexualidades&catid=49:eb23pjf&Itemid=128

231 
 
Frade,  A.,  Marques,  A.M.,  Alverca,  C.,  &  Vilar,  D.  (1999).  Educação  sexual  naescola  (3.ª  ed.).  Lisboa: 
Texto Editora.  
Galego,  C.,  &  Gomes,  A.  A.  (2005).  Emancipação,  ruptura  e  inovação:  o  “focus  group”  como 
instrumento de investigação. RevistaLusófona de Educação, 55, 173‐184. 
Fuste, E. (1989). Os nossos Filhos: Guia dos pais para uma educação integral das crianças. Barcelona: 
Ediciones Nauta, S. A. 
Mbuyamba,  L.  (2007).  Sessão  de  Encerramento.  Conferência  Mundial  sobre  Educação  Artística: 
Desenvolver as Capacidades Criativas para o Século XXI. Lisboa, Comissão Nacional da UNESCO. 
Vigotsky, L. (1978). Mind in society – The Development of Higher Psycological Processes.Cambridge 
MA: Harvard University Press. 
 
 
ANEXO 
 
SCRIP (PARCIAL) DA PEÇA DE TEATRO 
SEXU@L(IDADES) 
Cláudia Arnaud Marques, Rui Quinteiro , Cristina Nogueira, 
Florinda Nogueira , Rosa Barbosa, 
 
Cena I 
Prelúdio 
 
Ambiente escuro e silencioso para projeção do vídeo inicial. 
Video: “Dull flame of desire” by Bjorg = 2’  
 
Cena II 
Namoro 
Viola e voz: Música ao vivo tocada por três alunos: “Aqui ao luar” do grupo Xutos e Pontapés 
Duas sombras chinesas por trás de um lençol branco: entram em cena duas personagens (masculina e 
feminina), fazendo de marionetas humanas, uma manipula a outra e vice‐versa, trocando afetos, simulando o 
namoro, ao som da música. 

Depois  e  continuando  ao  som  da  música:  quatro  casais  de  namorados  trocam  carinhosamente 
objetos entre si … almofadas coloridas e com formato de coração. 

232
 
Num  dos  extremos  do  palco,  o  narrador,  omnipresente,  contextualiza  o  namoro  e  observa.  Faz  o 
gesto de pedir silêncio ao público e fala em tom de surdina, como se contasse um segredo aos espectadores. 
 
Narrador: ‐ A Rita tem 14 anos e o João 15, andam aqui na escola, gostam muito um do outro e saem juntos há 
cerca de 6 meses. Ambos são bons alunos, gostam de praticar exercício físico e têm uma alimentação saudável 
e equilibrada. 
Quando  estão  um  com  o  outro  sentem‐se  muito  bem,  falam  das  suas  coisas,  dos  seus  problemas  e  alegrias, 
trocam carícias tímidas (mas só se atrevem a fazê‐lo por cima da roupa)! 
 
(As personagens saem de trás do lençol branco, tomam a palavra e interagem verbalmente) 
 
João:  ‐  Oh  Rita,  isto  para  mim  não  chega!  Cortas‐te  sempre!!!  QUERO  TER  ALGO  MAIS  ÍNTIMO 
CONTIGO… todos os rapazes da minha idade dizem que já tiveram. 
Rita: ‐ Olha, antes demais: os rapazes da tua idade são uns gabarolas. É só garganta! Adoram gabar‐se 
de coisas que não fizeram, só para dar o ar de que são uns homenzinhos. Além do mais, já te disse que não 
quero! NÃO ESTOU PREPARADA! É demasiado cedo para isso. Para mim a nossa relação está ótima assim! 
João: ‐ Pois… mas para mim… 
(Entra  a  Alice,  amiga  da  Rita  e  surpreende‐os.  João  é  apresentado  à  amiga  e  mostra  um  ar  muito 
interessado …  depois sai desculpando‐se) 
Alice: Olá Rita! 
Rita: Olá! João, esta é a Alice. 
João: Olá Alice!!! És muito gira … 
Alice: Hum … obrigada …  
João: ‐ Bem… tenho aulas, depois falamos. Dá‐me um toque ou manda sms! 
Rita: ‐ Ok! 
Alice: ‐ Está tudo bem? 
Rita: ‐ É o João que não pára de me stressar com a mania das relações mais íntimas… 
Alice: ‐ Alta seca… Os rapazes só pensam nisso!? Livra! 
Rita: ‐ Pois … tenho medo de o perder. Não sei o que fazer! 
Alice: ‐ Olha amiga, se ele gostar mesmo de ti, tem mais é que te respeitar! E saber esperar. Há tantas 
coisas interessantes para fazer … Olha, vamos mas é ao cinema! 
Rita: Sim, vamos lá. 
(Vão saindo de cena abraçadas, enquanto a projeção da cena seguinte começa) 
 

233 
 
Cena III 
Anatomofisiologia divertida 
(Papel do corpo humano: projeção de imagens com sistema reprodutor masculino e feminino) 
 
Cena IV 
A reprodução 
As DST 
Professor Estranho Amor: professor numa aula explica a um grupo de alunos o que é o ato sexual, a 
fecundação e como esta se processa. Animação vídeo em projecção: início 00.48’. 
(alunos discutem ao estilo das lições do Tonecas) 
 
Entra em cena o Professor, com ar sério, respeitoso e muito profissional. 
Professor: ‐ Bom dia, meninos! 
Alunos: ‐ Bom dia, Professor! 
Professor: ‐ Têm dúvidas sobre a matéria anterior? Não? Então, como sabem, na aula de hoje vamos 
abordar algumas questões e assuntos relacionados com a educação para a saúde e sexualidade. Querem fazer 
alguma questão em particular? 
Aluno 1: ‐ Sim!!! Como se faz um bebé? 
Aluno 2: ‐ O que é um espermatozóide? 
Aluno 3: ‐ O que é um óvulo? 
Aluno 4: ‐ E a fecundação o que é?! 
Professor: ‐ Calma! Vamos por partes … Antes de mais é preciso uma mulher e um homem! 
Aluno 1: ‐ Pois é, eles fazem festinhas um ao outro e o bebé nasce! 
Professor: ‐ Calma aí! Não nasce logo… 
Aluno 2: ‐ E tem de ser bem feito! 
Aluno 3: ‐ Então!? 
Aluno 1: ‐ Sei lá! Eles deitam‐se em cima um do outro e … fazem festinhas … e depois … fazem o bebé! 
(risinhos…) 
Entra em cena, batendo à porta da sala, uma Encarregada de Educação de um dos alunos presentes 
(muito humilde, simples e com pouca escolaridade) e dialoga com o Professor. 
 
‐ Interação entre professor e Encarregada de Educação 
 

234
 
Entra outra Encarregada de Educação (mais sofisticada e escolarizada) e interage com o Professor, 
com os alunos e com a 1ª EE que já se encontra em cena. 
 
‐ Interação entre os atores que se encontram em cena 
 
Entra  uma  3ª  Encarregada  de  Educação  (de  postura  semelhante  à  da  1ª  EE)  e  interage  com  o 
Professor, com os alunos, com a 1ª EE  ‐ que já se encontra em cena – e, ainda, com o público em geral. 
 
‐ Interação entre os atores que se encontram em cena e o público 
(gera‐se uma situação muito divertida e hilariante) 
 
(As Encarregadas de Educação ficam a assistir à aula e vão intervindo também) 
Exemplo: 
Falar da SIDA (vizinha e doença) 
EE1: ‐ SIDA?! Oh Miquelina, a SIDA é aquela nossa vizinha! Tu sabes quem é!  
EE3: ‐ Sei pois! É aquela que tem p’ra aí 10 filhos! Não sabe o que são preservativos!  
Professor: ‐ Oh minhas Sras. …Neste contexto, a SIDA é um síndrome e surge pela infecção do vírus 
HIV, que pode ser transmitido através de uma relação sexual sem proteção, mas não só! 
EE1: ‐ Ai é, Sr. Professor? E o Sr. já explicou bem isso aos meninos? Olhe que é muito importante que 
eles  estejam  bem  informados  e  conheçam  essas  coisas  da  “vida  sexxxxual”…    É  que  sabe…  foi  assim  que  eu 
engravidei! Não sabia nada da vida, sabe… 
EE3: ‐ No nosso tempo, ninguém nos dizia nada!  
 
(E o diálogo continua entre todos) 
(As Encarregadas de Educação saem de cena e o professor continua a aula com os alunos) 
 
Professor: ‐ Bem, continuando… onde estávamos mesmo?! 
Aluno 4: ‐ Então o homem e a mulher deitam‐se um em cima do outro e … fazem festinhas! 
Aluno 2: ‐ Não, não é só assim, deitados! 
Aluno 3: ‐ Pois não! 
Aluno 1: ‐ NÃO?! 
Professora: ‐ Vamos lá ver… O pénis do homem entra na vagina da mulher. 
Aluno 2: ‐ Vagina?! Ai é?! 
Aluno 3: ‐ Então o homem e a mulher têm relações sexuais… é isso?! 

235 
 
Aluno 4: ‐ E a mulher engravida! 
Professor: ‐ Só se o espermatozóide entrar no óvulo, ou seja, fecundar o óvulo. 
Aluno 1: ‐ Ah… então esses têm que se deitar em cima um do outroooooooooooooo… 
Aluno 2: ‐ Quem?! O óvulo e o espermatozóide?!  
Professor:  ‐  Nãoooo,  o  homem  e  a  mulher  é  que  têm  que  fazer  amor.  Ou  seja,  os  óvulos  estão  na 
mulher dentro de dois ovários e os espermatozóides estão nos testículos do homem. 
Aluno 2: ‐ Ovários?! 
Professor:  ‐  Sim.  Os  ovários  têm  milhares  de  óvulos.  Todos  os  meses  sai  dos  ovários  um  óvulo  que 
desce por um tubo, chamado trompa de Falópio, até outro sítio chamado útero. No mês seguinte sai do outro 
ovário. 
Aluno 3: ‐ E se não for lá nenhum espermatozóide ter com ele? 
Aluno 1: ‐ Ou se ninguém fizer amor? 
Professor: ‐ O óvulo “morre” e sai pela vagina, isso chama‐se menstruação. 
Aluno 2: ‐ Também é na vagina que o pénis do homem tem que entrar? 
Aluno 3: ‐ E os bebés também saem por lá? 
Professor:  ‐  Sim,  mas  só  há  bebés  se  aparecer  lá  algum  espermatozóide.  Senão,  as  mulheres  ficam 
com a menstruação alguns dias e têm de usar tampões ou pensos higiénicos e todos os meses é assim. 
Aluno 1: ‐ Ah … mas como é que se faz amor para nascerem bebés?! 
Professor: ‐ Como é que te hei‐de explicar… Ora bem, como já disse, os espermatozóides estão nos 
testículos do homem e saem como se ele fosse fazer “xixi”. 
Aluno 2: ‐ Então ele faz xixi quando faz amor? 
Professor: ‐ Não! Não se pode fazer xixi quando se faz amor. 
Aluno 3: ‐ Ai não? 
Professor: ‐ Ora vejam …  
(Projeção de vídeo) 
Professor:  ‐  Então  vimos  que  do  pénis  do  homem  sai  o  esperma  que  contém  milhões  de 
espermatozóides e entra no corpo da mulher. Sobem pela trompa de Falópio. 
Aluno 1: ‐ Vão a nadar! Têm uma caudinha! 
Aluno 2: ‐ Parecem peixinhos. 
Professor: ‐ E ficam muito tristes se o óvulo não aparece quando eles chegam lá. Mas se o óvulo lá 
estiver,  pode  ser  fecundado  por  um  dos  espermatozóides.  E  eles  fazem  uma  grande  corrida,  porque  só  um 
deles é que vai poder entrar. 
Aluno 4: ‐ Então o espermatozóide une‐se ao óvulo? 
Professor: ‐ Claro! Formando o ovo ou zigoto. 

236
 
Aluno 1: ‐ Então esse ovo é uma célula?! 
Professor: ‐ Sim! Vejo que começam a compreender. Essa célula vai‐se dividindo até chegar ao útero. 
Aluno 2: ‐ Quanto tempo demora a chegar lá? 
Professor: ‐ Cinco dias, desde a trompa ao útero. 
(Professor  vira‐se  para  os  alunos  e  plateia  e  pergunta  em  género  de  despedida:  ‐  Entendido? 
Perceberam tudo?) 
(Alunos responderem em coro: ‐ SIM! E aplaudem (palmas) 
Cena V 
A gravidez  
(em sequência da Cena IV) 
 
Sra. Enfermeira Parteira: a história de uma gravidez   
(continuação da projecção vídeo) 
 
(Sai o Professor e entra a Sra. Enfermeira Parteira, de bata e touca) 
Diálogo entre alunos e Sra. Enfermeira Parteira 
 (Projeção do vídeo da evolução da gravidez e tic‐tac) 
    ‐ O tempo passa e chega o 4º mês. 
      E o tempo passa… passa… 
      5º mês… e o tempo continua a passar. 
      6º mês! 
Aluno 3: ‐ Agora o pai do bebé já o sente a mexer! 
Sra. Enfermeira Parteira: ‐ E o tempo nunca mais passa. Já devem estar cansados de esperar. 
(CORO): ‐ 7º mês! 
Sra. Enfermeira Parteira: ‐ A cabeça do bebé vai ficar voltada para baixo. Está a preparar‐se para sair! 
Aluno 1: ‐ O bebé já podia nascer. 
Aluno 2: ‐ Há bebés que nascem ao 7º mês! 
Sra. Enfermeira Parteira: ‐ Pois há. Mas, são prematuros. O melhor mesmo é nascer ao 9º mês. 
(Projeção de Filme)   
(Coro e alunos): ‐ E o tempo passa … oh… 
           E continua a passar … oh… 
           E passa … 
           8º mês … 
           E… finalmente chega o 9º mês!!! 

237 
 
Sra. Enfermeira Parteira: ‐ Um dia, o saco onde está o bebé rompe‐se e o líquido começa a sair. 
Aluno 3: ‐ O bebé está quase a querer sair! 
Aluno 1: ‐ A mãe está a sentir umas contracções… 
Sra. Enfermeira Parteira: ‐ São os músculos dela que se contraem para ajudar o bebé a sair. Quando 
essas contracções são muito rápidas, é porque o bebé está quase a sair e os pais vão para o hospital. 
Aluno 2: ‐ Também se pode ter os bebés em casa! 
Aluno 3: ‐ Mas tem que ser com pessoas que sabem. 
Aluno 1: ‐ Uma parteira, por exemplo! 
Aluno 2: ‐ O que é uma parteira? 
Sra.  Enfermeira  Parteira:  ‐  É  o  que  eu  sou.  Uma  enfermeira  que  sabe  muito  de  nascimentos!  O  pai 
pode ajudar a mãe a respirar de uma certa maneira, para ela sentir menos dor durante as contracções. O útero 
alarga e ela tem de fazer força para expulsar o bebé! 
Aluno 4: ‐ E não dói muito?! 
Sra. Enfermeira Parteira: ‐ Dói um pouco, mas a vagina é elástica e alarga para o bebé passar… 
Aluno 1: ‐ E se o bebé não nascer naturalmente? 
Aluno 2: ‐ Sim… e se for muito grande? 
Aluno 3: ‐ Ou se estiver numa má posição? 
Aluno 4: ‐ Ou se houver risco para a mãe ou para o bebé? 
Sra.  Enfermeira  Parteira:  ‐  Os  médicos  podem  fazer  uma  cesariana  e  o  bebé  é  tirado  pela  barriga… 
Bem, então considerando que o parto é normal, a cabeça começa a sair … depois sai o resto do corpo, líquido e 
até um bocadinho de sangue.  
Aluno 3: ‐ O bebé está todo molhado… 
Aluno 1: ‐ Tem uma cor esquisita … 
Sra. Enfermeira Parteira: ‐ É gordura! É como um creme, senão a pele ficava toda engelhada por estar 
tantos meses no líquido amniótico. 
Aluno 2: ‐ É como os nossos dedos, quando estamos muito tempo na banheira! 
Sra. Enfermeira Parteira: ‐ Depois com o auxílio de uma pinça cortam o cordão umbilical. 
(Alunos gritam, em simultâneo, cada um para seu lado): ‐ Aiiiiiiiiiii! Isso dói! 
Sra. Enfermeira Parteira: ‐ Dói nada! Ao fim de alguns dias, o cordão cai. A seguir a mãe ainda tem 
mais contracções para expulsar a placenta. 
Aluno 3: ‐ O médico vê se ficou tudo bem. 
Aluno 1: ‐ Lavam o bebé e começa uma Vida nova! 
Aluno 4: Esperem! Mas, o bebé não chora mal nasce?! 

238
 
Sra. Enfermeira Parteira: ‐ Chora, para que o ar entre nos pulmões! É um choro que todos gostam de 
ouvir! 
(Choro do bebé – áudio) 
 
CENA VI 
MONÓLOGO DO PÉNIS 
Mr. Condom e o monólogo do pénis: a história do preservativo narrada pelo pénis… 
 
Eu sou o pénis! Venho convidar‐vos para uma breve viagem à história tumultuosa da minha polémica 
existência: 
A minha vida não tem sido fácil … ai, ai … 
  Na  Inglaterra  Vitoriana  do  século  XIX,  conservadora  e  austera,  o  povo  só  podia  ter  relações  sexuais, 
para procriação e com o consentimento do Rei. Era feito um pedido formal ao monarca e se ele autorizasse, era 
colocado um letreiro na porta da casa. 
  Ao  longo  da  história,  Portugal,  sempre  teve  relações  privilegiadas  com  a  Inglaterra.  A  Rainha  D. 
Catarina  de  Bragança,  foi  prometida  em  casamento  aos  oito  anos  de  idade,  ao  Rei  D.  Carlos  II  de  Inglaterra, 
para reforçar a aliança histórica entre os dois países. Foi uma rainha muito infeliz! 
  Porém, levou para Inglaterra hábitos novos que ainda hoje perduram: tomar chá, comer com talheres 
e  pratos  de  porcelana…  Os  ingleses  comiam  à  mão  e  em  pratos  de  metal.  Ela,  coitada,  reclamava  por  ter 
sempre a comida fria. 
  O  Rei  era  um  libertino  mulherengo!  Sempre  rodeado  de  amantes,  mas  nada  escondia…  D.  Catarina 
sabia de tudo e sofria em silêncio. 
  Na época a Sífilis era a doença sexualmente transmissível mais mortal. E por isso, diz‐se que a Rainha, 
com medo de ser contagiada, chamou à sua corte um famoso médico, de seu nome Mr. Condom.  
D.  Catarina  sabia  que  em  Portugal,  desde  a  Idade  Média,  se  usava  a  tripa  de  porco  como 
contraceptivo. Assim, a Rainha pediu ao médico para aperfeiçoar esta técnica, a fim de a colocar ao serviço de 
Sua Majestade, o Rei. Por isso, preservativo, em inglês, se diz Condom.  
E  desde  então,  em  dias  de  festa  é  assim  que  eu  me  visto  para  impedir  uma  gravidez  indesejada  e 
prevenir as infeções sexualmente transmissíveis, como a SIDA ou a Sífilis, entre outras.  
  Mas  atenção!  O  preservativo  masculino  deve  ser  usado  correctamente.  É  claro  que  existem  outros 
métodos anticoncepcionais, mas sobre eles falaremos numa próxima vez! 
  Posto isto, let’s party! 
 
 

239 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

240
 
CARINHOS, AFETOS E EMOÇÕES ‐ A FAMÍLIA DE SILVARES 

Sandra Leal, 
Agrupamento de Escolas de Silvares 
 
 
O  Agrupamento  de  Escolas  de  Silvares  localiza‐se  no  extremo  sul  do  concelho  de  Fafe,  na  fronteira 
com Felgueiras, e abrange as freguesias de Ardegão, Arnozela, Regadas, Seidões, Silvares S. Clemente e Silvares 
S. Martinho. Tem a sua sede na Escola Básica c/ Jardim de Infância de Silvares, cuja oferta educativa inclui a 
Educação Pré‐escolar e os 1º, 2º e 3º Ciclos do Ensino Básico, e inclui as escolas básicas de Regadas, Silvares (S. 
Clemente) e Seidões, cuja oferta formativa é o Pré‐escolar e o 1º Ciclo do Ensino Básico. 
O  nosso  agrupamento  recebe  alunos  desta  área  geográfica  bastante  restrita,  com  características 
sociais  e  económicas  muito  próprias.  Os  nossos  alunos  são,  de  uma  forma  geral,  familiares,  vizinhos  ou 
conhecidos de todos, como se de uma grande família se tratasse.  
A  população  escolar  do  nosso  Agrupamento  é  proveniente  de  uma  comunidade  que  apresenta 
carências diversas, constatando‐se a existência de graves problemas sociais e económicos que devem resultar 
de um baixo nível de habilitações literárias. 
Nesta  área  de  influência  destaca‐se  a  freguesia  de  Silvares  S.  Martinho  como  a  mais  industrializada, 
sendo que a sua economia reside na pequena indústria têxtil e de calçado, exploração de águas, construção e 
agricultura. As restantes freguesias são de cariz agrícola.  
Esta  é  a  nossa  realidade:  é  com  ela  que  nos  propusemos  trabalhar;  é  ela  a  base  do  nosso  Projeto 
Educativo; é o ponto de partida para todas as atividades a desenvolver. 
A  Educação  Sexual  está  prevista  nos  Parâmetros  Curriculares  Nacionais.  Cabe  então  à  escola  adequá‐la  ao 
currículo e dividir com os pais as expectativas e os objetivos a serem construídos pela filosofia da escola, nos 
moldes definidos pelo Conselho Geral. 
Determina o Projeto Educativo do Agrupamento que, face aos problemas detetados, as estratégias de 
atuação  assentem  nas  três  grandes  áreas  de  intervenção  prioritárias:  Sucesso  Escolar,  Desenvolvimento 
Pessoal e Saúde, indo assim a educação sexual de encontro aos segundo e terceiros pilares.  
Entendemos este trabalho como uma parceria com a família, que deve ser informada e (por que não?) educada 
para  entender  a  sexualidade  como  um  impulso  presente  em  todos  os  estágios  do  desenvolvimento  do  ser 
humano. 
Cada  professor,  torna‐se  um  educador  sexual,  mas,  deve  trabalhar  interiormente  todas  as  questões 
sexuais, procurando livrar‐se de preconceitos, superando os tabus e informando‐se sempre, de forma a ser um 
bom orientador e um formador de valores. 
 

241 
 
O NOSSO PROJETO 
A sexualidade apresenta‐se de distintas formas, transformando‐se ao longo o tempo e com o passar 
dos anos. Não está conectada somente aos órgãos genitais nem tampouco à relação sexual, mas compreende 
uma  série  de  processos  psicológicos  e  físicos  de  sensações,  sentimentos,  trocas  afetivas,  necessidade  de 
carinho e contacto e necessidade de aceitação. Aceitar a criança como um ser sexuado, ou seja, que apresenta 
uma  sexualidade  das  mais  diversas  formas  é  um  grande  passo  para  uma  educação  sexual  saudável  e 
consciente. 
A crença na universalidade do saber científico, na objetividade e na neutralidade marcou a história no 
seculo  XX  e  está  na  base  de  muitas  práticas  educativas  em  saúde.  A  prescrição  de  comportamentos 
tecnicamente justificados como únicas escolhas possíveis para o alcance do bem‐estar de todos os indivíduos, 
independentemente de sua história de vida é prática comum. 
Essa visão tem como finalidade convencer cada indivíduo a mudar seus comportamentos, a partir de 
alertas  sobre  os  riscos  para  a  saúde  e  a  transmissão  de  informações,  deixando  para  segundo  plano,  ou 
desvalorizando, a sabedoria prática dos indivíduos e das comunidades, suas experiencias prévias e sua situação 
social. 
Incorporamos  na  nossa  cultura  a  suposição  de  que  comportamentos  que  não  são  orientados  pelos 
padrões científicos são insuficientes, insalubres e inadequados, constituindo os chamados comportamentos de 
risco.  Segundo  essa  forma  de  entender  a  questão,  correr  riscos  é  sinal  de  ignorância,  fraqueza,  falta  de 
interesse no cuidado de si e na aprendizagem das formas “certas” de viver que depende da transmissão de um 
conhecimento  especializado  para  uma  população  leiga,  que  precisa  de  “desaprender”  grande  parte  do 
aprendido no cotidiano da vida. 
Para  nós,  o  impacto  de  programas  de  educação  sexual  voltados  para  crianças  e  adolescentes, 
aplicando estratégias de prevenção apoiadas nessa ideia pode não retardar a iniciação sexual, nem aumentar a 
utilização de métodos contracetivos, nem mesmo reduzir a gravidez na adolescência.  
Disponibilizar informação científica, embora seja um direito, não é uma verdade absoluta que orienta 
escolhas racionais, nem é suficiente para aumentar a liberdade de decisão individual. É necessário que sejamos 
capazes  de  dialogar  com  os  nossos  alunos,  tendo  em  conta  o  seu  saber  prático,  oferecendo  elementos  que 
façam sentido no universo cultural e nos projetos de vida deles.  
Desta forma, reavaliamos as potencialidades e os limites da educação sexual preventiva, questionando 
profundamente os seus objetivos e procurando referências e éticas mais eficazes na realização da prevenção e 
da educação em saúde e sexualidade.  
Quando se fala de sexualidade, pressupõe‐se falar de intimidade, uma vez que ela está estreitamente 
ligada às relações afetivas. A sexualidade, como atributo de qualquer ser humano, para ser compreendida, não 
pode  ser  separada  do  indivíduo  como  um  todo.  Ela  é  parte  integrante  e  intercomunicante  de  um  individuo 

242
 
consigo mesmo e com os outros. Portanto, é muito mais do que simplesmente ter um corpo desenvolvido ou 
em  desenvolvimento,  apto  para  procriar  e  apresentar  desejos  sexuais.  Trata‐se,  também,  de  uma  forma 
peculiar que cada indivíduo desenvolve e estabelece, para viver suas relações pessoais e interpessoais a partir 
de seu papel sexual. Assim, acreditamos que a sexualidade é um instrumento relacional importante, embora 
não seja o único, e que, partir do carinho, afetos e emoções, é a melhor forma de a transmitir. A recetividade e 
omanifesto interesse que os alunos têm revelado pela educação sexual faz‐nos crer que estamos a percorrer o 
caminho certo.  
Consideramos  ainda  que  a  educação  sexual  em  meio  escolar  é  uma  oportunidade  de  responder  à 
esperança de muitos pais e encarregados de educação que se esquivam do assunto quando estão com os filhos 
ou, pior, acreditam que falharam. Na escola, pensam eles, os professores poderão, com o saber que têm, dar a 
melhor orientação e as informações corretas sobre a sexualidade. Oxalá seja possível!  
Este  projeto  tem  como  pilar  de  construção  a  contribuição,  ainda  que  parcialmente,  duma  vivência  mais 
informada,  mais  autónoma  e,  logo,  mais  responsável  da  sexualidade  na  esfera  dos  conhecimentos, 
sentimentos, emoções, atitudes e competências. 
Desde sempre, o Agrupamento, como um todo, encarou a Educação Sexual como fundamental e alvo 
de  atenção  particular.  Atividades  dirigidas  aos  alunos,  formação  interna  de  docentes  foram  realizadas  com 
persistência. A partir da publicação da Lei 60/2009, que a determina como uma área de carácter obrigatório 
desde o 1º ciclo do ensino básico até à conclusão do secundário, a educação sexual passa a ser encarada de 
forma  ainda  mais  realista,  já  que  incluí  o  pré‐escolar,  e  de  um  modo  mais  estruturado  e  com  avaliação  das 
aprendizagens. 
No  sentido  de  melhorar  as  nossas  práticas,  procuramos  estabelecer  parcerias  com  diversas 
instituições,  a  saber:  Associação  de  Pais,  Centro  de  Saúde,  Hospital,  Câmara  Municipal,  Juntas  de  freguesia, 
Comissão de Proteção a Crianças e Jovens (CPCJ), Instituto Português da Juventude (IPJ) e organizações não‐
governamentais. 
A participação de técnicos da rede local de saúde em cada um dos grupos visa fortalecer os vínculos 
entre a escola e os serviços de referência em seu território. O envolvimento de profissionais da área da saúde 
não pressupõe, no entanto, uma participação enquanto especialistas, mas geradores de oportunidades para a 
aprendizagem  compartilhada,  numa  busca  conjunta  de  estratégias  para  a  concretização  e/ou  o 
aprofundamento de politicas, programas e projetos comuns. 
Em  virtude  da  abordagem  ser,  primordialmente,  levada  a  cabo  nas  Áreas  Disciplinares  Não 
Curriculares, como Formação Cívica e Área de Projeto, torna‐se necessário que os objetivos da educação sexual 
sejam consentâneos  comos perfis de competências gerais a desenvolver, preconizados para o Ensino Básico. 
Aplicamos  a  metodologia  de  “projeto”,  o  que  pressupõe  planear  e  estruturar  a  intervenção, 
corresponsabilizando  os  parceiros  na  definição  do  projeto.  Numa  dinâmica  de  pesquisa  e  ação,  este  projeto 

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engloba  uma  sequência  lógica  de  fases.  Partimos  do  diagnóstico  e  identificação  das  necessidades, 
estabelecemos objetivos, definimos estratégias e planificamos as atividades. 
No plano escolar, o incremento da educação sexual passa pela conjugação de quatros vetores essenciais: 

• Formação dos agentes educativos (educadores, professores, psicólogos escolares, auxiliares da ação 
educativa  …)  no  sentido  de  serem  capazes de  agir  de  forma  adequada e  coerente  face  às  dúvidas  e 
manifestações das crianças e jovens relativas à sua sexualidade; 
• Abordagem  pedagógica  de  temas  da  sexualidade  humana,  feita  em  contextos  curriculares  e 
extracurriculares, numa lógica interdisciplinar, privilegiando o espaço‐turma, as diferentes realidades e 
necessidades  das  crianças  e  dos  jovens,  baseada  noaprender  a  ser,  aprender  a  fazer,  aprender  a 
conviver; 
• Apoio  às  famílias  na  educação  sexual  das  crianças  e  dos  jovens,  nomeadamente  através  do  seu 
envolvimento  no  processo  de  ensino/aprendizagem  e/ou  promoção  de  atividades  específicas  de 
formação dirigidas aos encarregados de educação ou dinamizadas por eles;  
• Estabelecimento de mecanismos de apoio individualizado e específico às crianças e jovens que dele 
necessitarem,  através  da  criação  e  manutenção  de  parcerias  no  interior  da  escola  e  com  outros 
serviços  da  comunidade,  nomeadamente  os  serviços  de  saúde  –  materializadas,  por  exemplo,  no 
funcionamento adequado do Gabinete de Apoio ao Aluno,no atendimento nos Serviços de Psicologia 
nas escolas e no estabelecimento de formas de articulação estreita e dinâmica destes com os centros 
de saúde respetivos. 
 
Em  todas  as  circunstâncias,  os  protagonistas  do  projeto  de  educação  sexual  deverão  ser  sempre  os 
alunos, pois é para estes que a iniciativa existe. 
No ensino básico, a educação sexual integra‐se no âmbito da educação para a saúde.No caso concreto 
deste agrupamento, foi constituída uma Equipa Multidisciplinar de Educação para a Saúde e Educação Sexual, 
coordenada  pelo  professor‐coordenador  e  da  qual  fazem  parte  o  coordenador  dos  Diretores  de  Turma,  o 
coordenador  de  1º  ciclo,  o  coordenador  do  pré‐escolar  e  a  psicóloga  escolar,  uma  peça  fundamental  para  a 
concretização do projeto.  
Do projeto do agrupamento fazem parte os Projetos Curriculares das diferentes turmas, onde se faz 
referência  aos  temas  a  abordar,  às  atividades  a  realizas,  aos  intervenientes,  aos  objetivos  a  atingir  e  à 
distribuição da carga horária dedicada à educação sexual. Esta deve ser adaptada a cada nível de ensino e a 
cada turma, não devendo ser inferior a seis horas para o 1.º e 2.º ciclos do ensino básico, nem inferior a doze 
horas para o 3.º ciclo do ensino básico, distribuídas de forma equilibrada pelos diversos períodos e disciplinas 
ao  longo  do  ano  letivo.  Na  perspetiva  curricular,  damos  preferência  a  um  carácter  interdisciplinar, 

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demonstrando  adequação  e  aplicabilidade,  tendo  em  conta  a  possibilidade  de  tratamento  de  temas  de 
Educação para a Sexualidade ao nível dos currículos e ao longo de todo o processo de escolaridade. 
Na metodologia a adotar, deve‐se ter em conta a identificação de necessidades, já que em cada turma 
existe  uma  realidade  sociocultural  diferente,  o  que  se  reflete  numa  multiplicidade  de  padrões  cognitivos, 
atitudinais e comportamentais por parte dos alunos. Partimos da caracterização dos alunos ou das turmas de 
modo a ser possível detetar problemas ou deficiências, aos quais é preciso atender prioritariamente.  
As  metodologias  participativas  expressam  a  utilização  de  um  conjunto  muito  vasto  de  técnicas.  Não 
sendo  nosso  objetivo  descrevê‐las  exaustivamente,  parece‐nos  importante  referir  algumas  das  mais 
frequentemente  utilizadas,  Brainstorming  ou  «Tempestade  de  ideias»;  ABRP‐  Aprendizagem  Baseada  na 
Resolução  de  Problemas;  Jogos  de  clarificação  de  valores;  Role‐play  ou  dramatização;  Caixa  de  perguntas; 
produção de materiais de informação nos mais diversos suportes e meios audiovisuais. 
As  atividades  extracurriculares  são  ainda  um  campo  muito  explorado,  já  que  constituem  sempre 
momentos  para  os  quais  podem  contribuir  os  vários  elementos  da  Comunidade  Educativa  com  diversas 
atividades, como é o caso da celebração de datas de referência como os “Dias Mundiais”.  
Como disposto no ponto 4 do artigo 8º do Lei 60/2009, a todos os intervenientes deve ser garantida a 
formação  necessária  ao  exercício  das  suas  funções.  Por  tal,  procuramos  garantir  a  formação  contínua,  quer 
através  de  contactos  com  os  Centros  de  Saúde,  Centros  de  Formação  das  Escolas  e  outras  entidades;  quer 
através  de  recursos  da  própria  escola  aproveitando  os  professores  com  formação  sobre  estas  matérias.  É 
importantíssimo  referir  que,  atualmente,  mais  de  metade  dos  docentes  do  agrupamento  já  possuem  a 
formação exigida na área da educação sexual, proporcionadas pelo próprio agrupamento e em parceria com o 
Centro de Formação Francisco de Holanda.    
 
AS NOSSAS ATIVIDADES 
Todas as atividades desenvolvidas no agrupamento partem do mesmo pressuposto e são gizadas por 
uma  diretiva  comum  –  trabalhar  para  os  alunos  e  principalmente  com  os  alunos.  Eles  assumem  o  papel 
principal,  propondo  o  que  realizar,  como  levar  a  cabo,  quem  participa,  as  metas  a  atingir  e  também 
construindo  os  materiais  necessários  à  concretização  das  dinâmicas,  sendo,  deste  modo,  os  docentes  meros 
orientadores  e  facilitadores  das  descobertas.  Cada  grupo‐turma  define  o  seu  próprio  projeto  de  educação 
sexual,  escolhendo  as  temáticas  a  abordar,  atividades  a  realizar,  parcerias  a  estabelecer,  sendo  o  diretor  de 
turma o responsável por organizar a informação e por enquadrá‐la no PCT. 
Uma outra forma de desenvolver o projeto de educação sexual do agrupamento foi a criação do Clube 
da  Saúde.  Este  clube  funciona  em  horário  não  lectivo,  como  atividade  extra‐curricular,  e  com  inscrição 
voluntária.  Foram  desta  forma  criadas  condições de  espaço  e  tempo  para  promover  a  educação de  pares. O 
grupo  de  alunos  que  o  frequenta  recebe  formação  inicial  nesta  temática  e  passa  a  ser  agente  fulcral  no 

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desenrolar  do  processo,  é  responsável  por  promover  debates  e  sessões  de  esclarecimento  sobre  diversos 
aspetos  ligados  à  promoção  da  saúde  e  educação  sexual,  impulsionando  a  tomada  de  decisões  de  forma 
consciente e esclarecida, renovando os valores de cidadania, atitudes de solidariedade, cooperação e respeito 
mútuos.  Deste  trabalho  de  parceria,  acionado  por  estes  pequenos  educadores,  importa  salientar  algumas 
atividades que resultaram num grande impacto em toda a comunidade educativa. 
Jogo  dos  Afetos  –  cada  um  dos  elementos  do  grupo  é  responsável  pela  distribuição  de  afetos, 
procurando chegar a todos, num ambiente de partilha, em que se podem preencher necessidades afetuosas, 
em  quem  menos  se  espera,  até  mesmo  num  desconhecido,  quebrando‐se  barreiras  e  obstáculos  entre  os 
distintos parceiros da comunidade educativa. O ambiente de festa e naturalidade proporciona um despertar de 
emoções. 
Dramatizações  com  recurso  a  Role‐play  –  foram  levadas  a  cena  pequenas  dramatizações  escritas, 
encenadas,  representadas  e  promovidas  pelos  próprios  alunos.  Estas  pequenas  peças  desenrolavam‐se  e 
criavam momentos de escolha, de assunção de determinados comportamentos, cujo arbítrio cabe ao público, 
que,  no  final,  é  levado  a  ponderar  as  suas  próprias  decisões  mediantes  as  consequências  que  daí  decorrem. 
Pelo debate e contraponto de ideias, criámos condições de análise, reflexão dos comportamentos em situações 
reais. 
Realização  de  pequenos  vídeos  e  outros  materiais  audiovisuais  –  à  semelhança  das  dramatizações, 
nestes  instrumentos,  procuramos  divulgar  informações,  elucidar  algumas  temáticas  levando  à 
consciencialização  dos  riscos  e  oportunidades  na  adoção  de  comportamentos  impulsionadores  de  saúde  nas 
suas mais diversas formas. 
Porque os encarregados de educação e a restante comunidade escolar são por si educadores sexuais, 
consideramos necessário informá‐los e incrementar os seus conhecimentos para que ajam em conformidade 
com a escola e sejam mais um apoio para as nossas crianças e adolescentes. Desta feita, as sessões sobre “Falar 
de  Sexualidade  com  os  nossos  Filhos”  têm  sido  muito  dinâmicas  e  participadas,  onde  a  partilha  de  ideias  e 
experiências satisfaz quem nelas se envolve. 
 
GABINETE DE APOIO AO ALUNO 
No  gabinete  de  apoio  ao  aluno,  o  atendimento  e  funcionamento  respetivo  são  assegurados  por 
profissionais  com  formação  nas  áreas  da  educação  para  a  saúde  e  educação  sexual.  Para  tal,  foram 
estabelecidas  parcerias  com  as  respetivas  unidades  de  saúde  da  comunidade  local  ou  outros  organismos  do 
Estado, nomeadamente a Câmara Municipal (assistente social e programa InJovem), APF ou outras entidades 
devidamente credenciadas. 
Tendo isto por linha orientadora, consideramos que a implementação deste tipo de projeto acarreta a 
adoção de objetivos específicos a  fim de se atingirem melhores resultados futuros. A disponibilização de um 

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local  onde  os  alunos  e  famílias  podem  ser  ouvidos,  ajudados  e  até  mesmo  aconselhados  nas  suas  dúvidas, 
dificuldades e ansiedades foi o primeiro passo para a criação do GAA. 
Foi criado um grupo de trabalho que estabelece a ligação entre todos os elementos da comunidade 
escolar, que permite a abordagem de temas fora do âmbito meramente pedagógico, valorizando o contanto 
entre as pessoas e respeitando o pluralismo das conceções existentes na comunidade. 
Este gabinete destina‐se ao contacto direto com os alunos e suas famílias, porque consideramos que 
eles  são  elementos  preponderantes  no  estabelecimento  de  objetivos  mais  específicos  e  na  definição  das 
atividades a levar a cabo. 
Numa perspetiva de inclusão e de disponibilidade, os atendimentos e esclarecimentos são de carácter 
confidencial, sendo este, o local privilegiado. 
Garantimos e gerimos um espaço na Internet com informação que assegura, prontamente, resposta às 
questões colocadas pelos alunos, o Blog“sexualmente_nos”, bem como um perfil no facebook.  
A metodologia de divulgação e de acolhimento são preponderantes, já que a frequência dos alunos e 
respetivas  famílias  é  de  carácter  voluntário,  anónimo/confidencial.  Procurando  satisfazer  as  necessidades  de 
horário,  permanecemos  disponíveis,  à  hora  de  almoço  e  nos  intervalos,  acessíveis  a  quem  nos  procura  por 
iniciativa própria. 
 
A AVALIAÇÃO 
A avaliação é uma condição essencial para o desenvolvimento de qualquer projeto e, porque esta é 
uma  tarefa  sempre  difícil  e  inerente  ao  trabalho  desenvolvido,  deverá  ser  contínua  e  sistemática  e  com  o 
objetivo de acompanhar/controlar o desenrolar das actividades, de modo a que os objetivos propostos sejam 
atingidos.  
Assim,  a  avaliação  por  nós  realizada  tem  por  base  instrumentos  fornecidos  pelo  Ministério  da 
Educação ou produzidos pela equipa do projeto. É desenvolvida de forma mais evidente no fim de cada ano 
letivo,  tendo  em  conta  as  diferentes  dimensões,  pela  equipa,  através  de  relatórios;  pela  Direção  do 
Agrupamento, pelo Conselho Pedagógico, pelo Conselho Geral e pela restante comunidade educativa. 
Em  suma,  pretendemos  formar  cidadãos  mais  esclarecidos,  conscientes,  conhecedores  e 
participativos,  capazes  de  mobilizarem  os  seus  saberes  e  competências  na  preservação  da  saúde  e  no 
desenvolvimento psicossocial equilibrado que  alavanque a obtenção de uma boa qualidade de vida. 
Muitos afetos. 

 
 
 

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