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e"REPOD ISSN 2058-8946 DOK: https://doi org/10,15595/REPOD-v1iniaz0 2 RESENHA JANTSCH, Ari Paulo; BIANCHETTI, Lucidio (org.). Interdisciplinaridade. para além da Filosofia do Sujeito, 9* ed, Petrépolis: Vozes, 2011. 208 p. Luri Braga Alonso! Universidade Federal de Goids Cleyton Ferreira de Souza* Universidade Federal de Goids Marcos Vinicius Ferreira Vilela® Universidade Federal de Goids A obra coletiva Inlerdisciplinaridade: para além da filosofia do sujeito & uma coletinca de textos escritos por importantes estudiosos do campo da Filosofia, da Epistemologia e da Pedagogia, que se propée a refletir sobre a relagio entre educacio e interdisciplinaridade No decurso dos dez. capitulos que compéem o livro, 0s estudiosos trazem importantes, contribuigdes para a elaboragio de uma concepgio critica de_ interdisciplinaridade Essa nova visio se contrapde a concepsao hegeménica que, segundo os autores, se consubstancia na “filosofia do sujeito”, a qual oth) tende a privilegiar a ago do sujeito sobre 0 : objeto do conhecimento, il: ia, Goids, Brasil. Licencianda em Cigncias Biolégicas na Universidade Federal de Goigs (UFG), Go loribraga@discente.ufg.br; Lattes: http:/ /lattes.cnpq.br/45927959s060¥724; ORCID: https://orcid.org/0000- (0001-6966-474X, * Licenciado em Ciéncias Biolégicas na Universidade Federal de Goiés (UFG), Goiinia, Golds, Brasil. E-mail: clsyton_ferreira@egressoufy.br; Lattes: _httpy//lattes.enpqbr/1038298399597434; ‘ORCID, utps:/ Joreid org/0000-0008- 1862-0 *Doutor em Educagio em Ciéncias e Matemética pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT/REAMEC}; professor do Programa de Pés-Graduacao em Educagto em Ciéncias e Matemtica da Universidade Federal = de—Goids.—(UFG), E-mail; marcosvilela@ufy ny Lattes: utp://lattes.enpg.br/ 687282108 1142967; ORCID: htips:/ /oreid.org/0000-000 1-8457-7046, Revista Educagao e Politicas em Debate ~ v. 11,n. 1, p. 494-501, jan./abr. 2022 494 "REPOD ISSN gosi-ass6 DOK: https://doi org/ 10.15598/REPOD-viiniaz A obra coletiva Interdisciplinaridade: para além da filosofia do sujeito (2011), em sua 9° edicao, nos convida a fazer uma anélise critica sobre as concepgdes que permeiam as discussdes a respeito da interdisciplinaridade no Brasil. Tais concepgdes, denominadas pelos autores de “hegemdnicas’, defendem a interdisciplina como alternativa ao problema da fragmentacao do conhecimento. Nesse sentido, por meio da pratica interdisciplinar, seria possivel fazer o ‘caminho de volta’ em busca da unidade do conhecimento perdida. Todavia, os autores entendem que essa ideia sobre interdisciplinaridade surge em decorréncia de uma equivocada “filosofia do sujeito”. Em oposigio a esse modo de conceber a interdisciplinaridade, ¢ que a maioria dos articulistas dessa obra elabora seus argumentos € expe as suas concepsoes. E importante aqui salientar que, apesar das criticas 4 concepgao hegeménica, os autores frisam que a obra nao tem o intuito de estabelecer polarizagées ou de chegar a um denominador comum sobre o objeto interdisciplinaridade. Ela tem, sim, o intuito de reforcar prinefpios da diversidade ¢ criatividade, estabelecendo um debate dentro da propria concepcao histérica externamente a ela Ari Paulo Jantsch e Lueidio Bianchetti, além de organizadores da obra, sao autores de trés capitulos: “Interdisciplinaridade para além da filosofia do sujeito (mesmo titulo do livro), “Imanéncia, Histéria e Interdisciplinaridade” e “Universidade e interdisciplinaridade”. Nesses capftulos, os autores defendem que, ao se falar sobre interdisciplinaridade, deve-se considerar fundamentalmente a materialidade histérica dos conhecimentos que se pretende religar. Afirmando que o carater a-histérico advém centralmente da filosofia do sujeito, os autores criticam a concepcio hegeménica, sobretudo, no aspecto em que essa concepsao leva ao entendimento de que a mera vontade de um sujeito coletivo seria o suficiente para motivar e sustentar a _—ocorréncia. de uma__pratica interdisciplinar, Ademais, afirmam que a necessidade de articulagio dos diferentes saberes impde-se pela materialidade histérica atual, e nao pela necessidade da recuperagao de uma unidade do conhecimento perdida a partir da Idade Moderna, Gaudéncio Frigotto contribui_com essa discussdo0 por meio do capitulo “A interdisciplinaridade como necessidade ¢ como problema nas ciéncias sociais’. Segundo o autor, nao seria possivel tratar do objeto interdisciplinaridade no campo da educagdo sem que esse proceso ocorra no ambito das ciéncias sociais. Desse modo, o autor propde o seguinte movimento para que se possa aprender o objeto interdisciplinaridade: “Trata-se de apreender a interdisciplinaridade como uma necessidade (algo que historicamente se pde como imperativo) © safio a ser decifrado)’ (FRIGOT como problema (algo que se impde como di , 2011, p. 35). Revista Educagdo e Politicas em Debate ~ v. 11,n. 1, p. 494-501, jan./abr. 2022 495 “"REPOD ISSN gosi-ass6 DOK: https://doi org/ 10.15598/REPOD-v1iniaz De acordo com o autor, a interdis iplinaridade torna-se necesséria visto que a investigagao de um determinado objeto nao pode ocorrer de modo apartado da realidade em que se insere. Nessa perspectiva, hé de se considerar as miltiplas dimensées que o constituem. De modo a ascender a essa totalidade, 0 autor prope que caminhemos metodologicamente do sinerético (realidade abstrata e caética) ao sintético (realidade conereta). Nesse interim, ao apreender a realidade concreta, em suas miltiplas relagdes © determinagées, estarfamos atuando de modo interdisciplinar. Todavia, ao mesmo tempo em que a interdisciplinaridade & apontada como uma necessidade, ela também se torna um problema quando assumimos o desafio de promover uma investigacdo ou uma prética pedagégica interdisciplinar. Segundo o autor, existem trés grandes obstaculos ao trabalho interdisciplinar: os préprios limites do sujeito na busca por estruturar o conhecimento a partir da realidade, a condi¢ao complexa dessa realidade e a sua materialidade histérica, De acordo com Frigotto, essas dificuldades sao amplificadas em decorréncia do estado de alienag’o do homem, inserido no interior de uma sociedade de classes estabelecida em decorréncia do sistema capitalista. Norberto Jacob Etges expressa a sua concepgao de interdisciplinaridade por meio do capitulo intitulado “Ciéncia, interdisciplinaridade e educagao". Por certo, consideramos que esse seja o capitulo mais denso da obra. Por meio de uma anélise minuciosa, 0 autor nos convida a uma rediscussio sobre as condigées concretas de construgao do conhecimento cientifico. Pa tges (2011), 0 conhecimento cientifico verdadeiro nao é aquele que representa, de forma inequfvoca, 0 mundo externo sobre o qual se busca aprender. Outrossim, a sua produgao nao ocorre por meio de uma contemplagao empirica do mundo, Para 0 autor, os constructos cientfficos sio “reorgani: des do mundo congruentes com o sujeito produtor” (ETGES, 2011, p. 66). Por esse lado, a validade de um constructo cientifico jo deve ser buscada por meio de uma verificagao empfrica do objeto, Essa legitimagao viré do consenso entre os sujeitos mediante o estabelecimento de comunicagdes construtivas democraticas entre eles. No que tange a interdisciplinaridade, Etges (2011) a concebe como uma forma de ‘transposigao ou deslocamento de um constructo cientifico para outro, Todavia, esse deslocamento es conhecimentos ou no estabelecimento de um saber nao deve resultar na homogeneizacao des: unitario, Por conseguinte, propde uma interdisciplinaridade construtiva, que incite a criagao de novas teorias para aumentar a liberdade efetiva dos homens frente ao mundo, fundada no trabalho dlos cientistas e que vé a Cigncia como a produgdo de novos mundos adequados aos sujeitos, como uma totalidade fechada e completa em si, cuja abertura é pela linguagem. Revista Educagdo e Politicas em Debate ~ v. 11,n. 1, p. 494-501, jan./abr. 2022 496 "REPOD ISSN gosi-ass6 DOK: https://doi org/ 10.15598/REPOD-viiniaz Ao defender que 0 ato interdisciplinar ocorre por meio da transposigao de um, constructo para outro, Etges (2011) propde que esse deslocamento seja feito por meio das seguintes estratégias: o “estranhamento” (tentativa de colocar seu constructo em contextos que The sfo estranhos) e 0 “esclarecimento” pelo método de outra ciéncia. A interdisciplinaridade, mediante a articulagao das diferengas entre os saberes, & a concepsao trazida por Roberto Follari (2011) em seus dois capitulos “Algumas consideracées praticas sobre interdisciplinaridade” e “Interdisciplina e dialética: sobre um mal-entendido”. Em seus textos, esse autor busca resgatar 0 contexto politico & econdmico, que resultou no surgimento do movimento interdisciplinar. Para 0 autor, o “interdisciplinar surge nos anos setenta como reagdo do capitalismo diante de seus préprios problemas de legitimacao” (FOLLARI, 2011, p. 124) © autor também busca a superagao de eventuais equivocos quanto as concepgées de interdisciplina © dialética, Nessa légica, entende-as como duas vertentes epistemolégicas necessdrias para uma correta compreensio da histéria social. Todavia, considera errénea a indistinta vinculagao entre elas. Isso porque, enquanto a dialétiea serve como método na ideia marxista da totalidade social, a interdisciplinaridade valoriza a especificidade das ciéncias na produgao e propagagtio do conhecimento, ¢ ndo almeja neces ariamente a anidade” objetivada pela dialética O autor também se dedica a indicar condigdes préticas as quais considera necessirias para a implementasao do trabalho interdisciplinar nas universidades. Nesse interim, indica que a interdisciplinaridade demanda uma organizacdo estrutural coerente para que possa funcionar. Caso contrério, 0 desenvolvimento de préticas pedagégicas e/ou pesquisas interdisciplinares em instituig6es organizadas em departamentos seria impossivel. Nessa légica, sugere uma organizacdo universitéria com base m projetos de pesquisa especificos, em que, ao invés de departamentos, os docentes seriam organizados a partir das necessidades e dos interesses inerentes a esses projetos. Ademais, Follari também se posiciona quanto ao modo adequado de se formar interdisciplinarmente os alunos, Nesse interim, afirma que existem dois tipos de carreiras: as que correspondem especificamente a uma Ciéneia, como o licenciado em Biologia, e, nesses casos, a aprendizagem sistematica dessa Ciéncia corresponde as necessidades epistemolégicas da profissao. Assim, a interdisciplinaridade entra nos Uiltimos anos de formacdo, apés amplo estudo da area a partir dos primeiros anos unidisciplinares ou pluridisciplinares. Por outro lado, as 4reas profissionais como Medicina ou Engenharia estéo no campo das aplicagdes. Nesse sentido, a formacao desses profissionais demanda a Revista Educagdo e Politicas em Debate ~ v. 11,n. 1, p. 494-501, jan./abr. 2022 497 "REPOD ISSN gosi-ass6 DOK: https://doi org/ 10.15598/REPOD-viiniaz contribuigao de diferentes ciéncias. Segundo o autor, para esses tipos de carreira, a interdisciplinaridade & considerada como constitutiva, devendo estar presente desde 0 inicio da formac&o ou vir imediatamente apés uma breve formagao disciplinar. Nesse ponto de vista, 0 critério fundamental para a escolha dos conteitdos curriculares 6 a pratica profissional. A partir dessa escolha, sera feita a opcio pelos momentos de formacao uni e interdisciplinar, devendo haver 0 predom{nio deste iltimo. Todavia, o autor chama a aten¢o para alguns obstéculos a uma formasao interdisciplinar. Dentre eles, destacamos a questo orgamentéria, visto que a implementagao de um empreendimento interdisciplinar “no é barata’ Fritz Wallner, por meio de seu texto “Sete princfpios da interdisciplinaridade no realismo construtivista , coaduna com a concepgio dos demais autores no sentido de conceber a pritica interdisciplinar como uma ago voltada & diferenciagdo, & contradigao e & autonomia da identidade dos sujeitos, que, de forma colaborativa, esto construindo saberes Nesse texto traduzido por Norberto Etges, Fritz aponta sete prinefpios que se constitufram como fundamentos teéricos para 0 seu projeto de pesquisa Formagao de Redes ¢ Contradigao. Por analogia, 0 autor considera que prinefpios também seriam fundamentais para o desenvolvimento da interdisciplinaridade Os princfpios apresentados pelo autor sfo: (1) auto-organizagao, (2) aprendizagem social, (3) estranhamento, (+) Ciéncia como meio de comunica abertura, (6) contradigo ¢ (7) formacao em redes. Como propde a concepgao realista inaugurada no século XIX, 0 autor reflete sobre os spectos do desenvolvimento do conhecimento ¢ da Ciéncia de maneira mais objetiva e racional, interpelando, assim, a visdo romantica ¢ idealizadora presente na proposigao da “unidade do saber", mas sem extinguir papel do sujeito e suas implicagdes sobre o objeto, visio defendida pelo construtivismo de Piaget. Anténio Joaquim Severino contribui com essa obra coletiva por meio do texto “O uno € 0 miltiplo: o sentido antropolégico do interdisciplinar”. Com base no pensamento de Marx, Engels e Gramsci, a partir de um enfoque antropolégico, coloca a interdisciplinaridade como uma possibilidade de equilfbrio entre o uno e 0 miltiplo, rompendo, entdo, com um saber puram nte relative com o ser ¢ 0 fazer (preocupacio epistemolégica). Por esse lado, traz ao debate um saber que penetra questdes de natureza ética e politica Segundo 0 autor, a educagao esté num contexto de mediagdes histérico-sociais, que manifestam e efetivam a existéncia humana na realidade e, desse modo, possui 0 papel de humanizagao, por meio da transmissio de conhecimentos cientificos e téenicos e, Revista Educagdo e Politicas em Debate ~ v. 11,n. 1, p. 494-501, jan./abr. 2022 498, "REPOD ISSN gosi-ass6 DOK: https://doi org/ 10.15598/REPOD-viiniaz principalmente, da mediago da apreensdo das redes politicas da realidade social, agindo como uma forga de transformagio da sociedade. Todavia, advoga que hé, historicamente, um caréter fragmentério da educagao, representado pela nfo integragao dos conteiidos dos componentes curriculares ¢ das, praticas didéticas, pela visdo de cultura como multiplicidade (sem unidade interna), pela falta de finalidade especifica na escola, pela desarticulasao da vida na escola com a vida da comunidade ete. Sendo assim, sustenta que a fragmentagio da prética da escola pode ser superada mediante 0 estabelecimento de um projeto educacional, com propostas e planos articulados de ages em fungio de intencionalidades, articulando e convergindo as agdes que eram isoladas, visando a escola como um sujeito coletivo. Com bi no arrazoado apresentado pelo autor, entendemos que a sua compreensao de interdisciplinaridade se afasta dos demais articulistas da obra, Esse entendimento se refere, sobretudo, & dicotomia estabelecida entre “unidade x fragmentacdo". Essa oposi¢ao, a nosso ver, se aproxima da concepeao hegemdnica de interdisciplinaridade, que vé, na multiplicidade e na fragmentagio do conhecimento, uma espécie de enfermidade, que, por sua vez, 86 pode ser curada por meio do retorno a unidade do saber. O ailtimo capitulo que compée a obra, denominado “Interdisciplinaridade, pesquisa e formasio de trabalhadores: as interagdes entre 0 mundo do trabalho e da educagio", tem, como autores, Rafael Rodrigo Mueller, Ari Paulo Jantsch e Lucidio Bianchetti. Nesse texto, ‘os autores discutem os fatores que foram determinantes para as transformagées sociais, econdmicas, de produgdo € da educagao nos diferentes momentos da histéria. Na visao dos articulistas, é preciso considerar tais momentos histéricos para compreender as diferentes perspectivas da produgo do conhecimento, da formagao profissional ¢ do trabalho, ora taylorizada, ora toyotizada. Nessa légica, consideram que a interdisciplinaridade foi concebida, em termos de discurso e de pratica, como um conceito ligado ao capitalismo, pois buscava a formagao de profissionais mais adequados ao mercado capitalista (flexfvel e adaptavel as mudancas). Essa concepgao coaduna com o entendimento apresentado por Follari, que também associa surgimento da interdisciplinaridade aos interesses do capitalismo, Desse modo, a interdisciplinaridade teria como finalidade mascarar as assimetrias existentes entre as diferentes classes sociais. Ademais, a formagao de trabalhadores, nese isciplinar’, tende a atender aos interesses do capital Revista Educagdo e Politicas em Debate ~ v. 11,n. 1, p. 494-501, jan./abr. 2022 499 “"REPOD ISSN gosi-ass6 DOK: https://doi org/ 10.15598/REPOD-v1iniaz Reforgando a pertinéncia dos aspectos histéricos ¢ da totalidade na determinagao dos modelos de produgao (educagao e trabalho), os autores citam um fragmento das falas dos personagens Lulu e Militinha, do filme A classe operdria vai ao paraiso (PETRI, 1971). Essa produgdo cinematogréfica narra a histéria de dois funciondrios de uma fabrica de esas que resolvem descobrir em que maquina sao usadas as pegas que eles produzem (onde se encaixa essa peca?). Trata-se de uma erftica clara ao modelo taylorista-fordista, que fragmenta o trabalho ¢ gera impactos diretos na produgao do conhecimento ¢ na educagio, haja vista a estreita relagdo entre ambos (trabalho e escola). A partir disso, os autores reforgam que a interdisciplinaridade tem sua génese imposta pela natureza das coisas, e nao por uma vontade prépria dos sujeitos. Para os autores, a perspectiva taylorista-fordista j4 no era satisfatéria sob nenhum ponto de vista para o mundo do trabalho, e € dessa realidade que emana a necessidade da interdisciplinaridade. Em outras palavras, a interdisciplinaridade no é somente uma panaceia para o problema da fragmentacao do saber (patologia do saber), mas uma resposta ‘a0 momento histérico em que as especializagdes passaram a impactar nas relagées dos diferentes campos do conhecimento. Concluindo, os autores respondem a questao de Kosisk (1976, p. 85): “que tipo de homem, dotado de que particularidades psfquicas, deve ser criado pelo sistema, a fim de que © proprio sistema possa funcionar?", Para os autores, 0 sistema pede um profissional generalista, 0 suposto trabalhador interdisciplinar, porque essa é a demanda do mercado capitalista. A nosso ver, os interesses do capital, que sustentam as iniciativas no campo educacional em prol da formacio de profissionais generalistas, um importante sinal de alerta para qual tipo de educagio efetivamente se almeja por meio da pratica interdisciplinar. F importante lembrar que o termo interdisciplinaridade é bastante recorrente nos documentos educacionais oficiais, sendo concebido a partir de uma perspectiva io de um modelo de ensino icional_ e salvacionista em defesa da supe! fragmentado. Todavia, na pratica, a interdisciplinaridade tem sido utilizada como justificativa para modificagdes curriculares que reduzem os contetidos ensinados nas disciplinas em favor de uma falsa “integragao de saberes” ‘Trazendo essa discussio para o campo da formagao de professores, hé de se ter especial atengdo as mudangas impostas aos cursos de licenciatura, em decorréncia da implementagao da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A BNCC, a nosso ver, tende a provocar nos curriculos uma perigosa superficializagao e homogeneizacao dos contetidos escolares, usando a interdisciplinaridade ¢ a integraco curricular como Revista Educagdo e Politicas em Debate ~ v. 11,n. 1, p. 494-501, jan./abr. 2022 500 n ISSN 2088-8036 e REPOD DOF tps://doong/10.14888/ REPOD vn ia2 justificativa para essas mudangas, Contudo, esse novo ‘modelo de escola ¢ de curriculo’ tende a reduzir a autonomia intelectual do professor e, em prol de um ensino interdisciplinar e por area do conhecimento pode reduzir e precarizar ainda mais os espagos de atuagdo profissional docente. Diante do contexto apresentado, torna-se fundamental a superacio de concepgdes distoreidas e/ou equivecadas sobre interdisciplinaridade. A nosso ver, a construgao de uma concepcao erftica de interdisciplinaridade proposta por essa obra tende a nos auxiliar nes: c proceso. Recebido em: 29 de outubro de 2021 Aceito em: 08 de novembro de 2021 Referéncias JANTSCH, Ari Paulo; BIANCHETTI, Lucidio (org). Interdisciplinaridade. para além da Filosofia do Sujeito, 9* ed. Petrépolis: Vozes, 2011. 208 p. PETRI, Elio. 4 Classe Operdria Pai ao Paraiso (La Classe Operaia Va in Paradiso, Italia, 1971). (Filme-VHS). Diregao de Elio Petri, Produgio de Ugo Tucci, Argumento e Roteiro de Elio Petri e Ugo Pirro. Euro International Films, 125 min aprox., cor, som. Revista Educagdo e Politicas em Debate ~ v. 11,n. 1, p. 494-501, jan./abr. 2022 501

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