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61 Contribuigao para uma ética de investigacao educacional: Alguns exemplos e sugestdes Conceigao Almeida Universidade do Minho Nos tiltimos anos tem sido notéria e crescente a preocupagdo da comunidade cientffica em geral, particularmente dos educadores, com questdes éticas inerentes actividade cientifica e investigativa em geral, especialmente no que respeita a projectos de investigacdo. Procura-se neste trabalho sugerir algumas pistas ¢ situagdes que poderdo, eventualmente, servir de base a uma reflexdo sobre alguns direitos responsabilidades dos investigadores, bem como de outros agentes de investigacao educacional. Introdugao Poderé talvez parecer redundante, por desnecessdria, a afirmagiio deque qualquer investigagdo deve merecer do investigador sérias consideragdes de ordem ética. Nos \iltimos 20 anos, no entanto, tem-se acentuado a preocupagaéo da comunidade cientifica internacional, em particular dos educacionistas, com questées de ética relativas, quer aos participantes, quer aos patrocinadores de projectos de investiga- gio. ‘Até a década de 70, as preocupagées éticas dominantes tinham por objecto a definigéo de padrées técnicos que garantissem a validade ¢ a fiabilidade dos procedimentos e dos instrumentos de investigagdo. A estas preocupag6es, e sem de modo algum as minimizar, viriam juntar-se outras relativas a prinefpios éticos em investigagdes que envolvessem pessoas (Dockrell, 1988). Actualmente, qualquer universidade anglo-sax6nica dispée de uma comissio de ética cuja funcio essencial Quadrante, Vol. 4, N?2, 1995 2 € justamente velar por que tais princfpios éticos se cumpram com o méximo rigor: quem jé esteve envolvido num processo ou de mestrado ou de doutoramento numa dessas universidades, conhece as exigéncias relativamente aprovagio de um projecto de investigagdio por uma dessas comissdes, justamente porque ha que ter a garantia de que, no quadro da pesquisa, os procedimentos estarao de acordo com o quadro ético estabelecido, em particular no que respeita aos principios do respeito pelos direitos dos participantes 4 confidencialidade ¢ ao anonimato, Refiram-se, a titulo de exemplo, as normas éticas (Ethical Standards) adoptadas, em 1992, pela American Educational Research Association (AERA), coma finalidade principal de manter viva nos investigadores a preocupagao da integridade da sua investigagao, da sua comunidade cientifica e de todos aqueles com quem mantém relagdes profissi- onais (American Educational Research Association, 1992). Em Portugal tal tradigdo ainda nao constitui pratica corrente entre todos os que se dedicam & investigagao cientifica, pelo que talvez seja tempo de a universidade portuguesa, ¢ a nossa comunidade cientifica em geral, reflectir maduramente neste assunto. Dado que se trata de matéria complexa e dificil, pretende-se tao somente, neste trabalho, levantar algumas questdes ¢ sugerir algumas pistas que poderdo, eventu- almente, servir de ponto de partida para uma reflexio, porventura mais amplae mais aprofundada, sobrealguns dos direitos e deveres, quer dos participantes em trabalhos de investigagao, quer dos investigadores e/ou outros agentes de investigacio educacional. Alguns problemas éticos A integridade fisica e moral dos participantes Sio as investigagdes de natureza experimental as que mais tm preocupado a comunidade cientifica, e nfio seré demais acentuar a importancia de tais preocupa- des em estudos que, por definiga0, envolvem “manipulagdo” “controlo” de individuos. Outras situagdes tém merecido, no entanto, a atengZo dos investigadores como potenciadoras de possivel prejuizo para os participantes. A aplicagdo, por exemplo, de um teste ou de um questiondrio e a simples observagio de uma aula tém sido apontadas como possiveis fontes de problemas. Segundo alguns autores, oexcessivo stress provocado por um teste demasiado longo ou demasiado dificil constitui um Quadrante, Vol. 4, N® 2, 1995 63 problema, pois poderd néo 36 ser prejudicial ao respondente mas também condicio- nar 08 resultados, deturpando, assim, a realidade. © mesmo poderd dizer-se da inseguranga dos participantes devida a falta de esclarecimento em relagao quer 20s objectivos quer a utilizagao dos resultados de um questionério, ou do mal-estar provocado pela presenga de um observador, seja numa sala de aula seja em qualquer outra situagiio (Dockrell, 1988). Implicacées da publicagio de resultados Todavia, para além dos problemas éticos relativos a integridade fisica e moral dos participantes, outros hd que se prendem com as implicagées da publicagao de resultados, 0 respeito pela privacidade e pelo direito A confidencialidade e ao anonimato dos participantes, e, mais recentemente, 0 direito ao reconhecimento piiblico, e que tm merecido cuidada ateng&o por parte da comunidade cientifica intemacional. Como exemplo de uma situag&o eticamente problematica, atente-se no seguinte caso: o instrutor de um grupo restrito e perfeitamente identificdvel de professores apresenta publicamente algumas respostas a quest6es que haviam sido colocadas aos formandos em situacdo de aula. Obviamente, estas respostas podem no ser representativas do conjunto de todas as respostas obtidas e, portanto, podem induzir conclusées err6neas, dando uma ideia deturpada das concepgdes desse grupo de professores. Trata-se, evidentemente, de umcaso de enviezamento de extrapola¢ao (abusiva) em que se toma a parte (ou a mostra) pelo todo (pelo universo), J4 no que conceme ao enviezamento interpretativo, como recorda Merriam (1988), uma andlise de dados pode padecer de enviezamento, quando influenciada pelas convicgdes do investigador. E, acrescenta, ha a possibilidade de os leitores confundirem a interpretagdo que o investigador faz dos resultados que obteve com os préprios resultados. Quer dizer, numa situagio destas, 0 que é salientado no relatério da investigagao é a interpretacdo do investigador e esta, por poderenfermar de enviezamento de alguma espécie, pode nao ser a mais correcta, podendo no entanto, ser aceite pelo leitor como fidedigna. Outros autores chamam, também, a atengio para as implicagdes da publicagao de resultados de investigagao. Veja-se, por exemplo, o que Fennema (1981) diz no seu artigo “Women and Mathematics: Does Research Matter?”, a propésito da publica- Go de conclusées de resultados respeitantes a trabalhos de investigagio sobre as diferengas entre os sexos no desempenho em Matemdtica. Reconhecendo embora a existéncia de algumas diferengas entre rapazes ¢ raparigas no que respeita & realizagdo ¢ as atitudes em Matemitica, Fennema (1981) manifesta preocupagao pela publicagao de afirmagées nfo fundamentadas como, porexemplo, “as raparigas Quadrante, Vol. 4, N? 2, 1995 64 preferem aprender Matematica em discusses na sala de aula, enquanto que os rapazes preferem trabalhar individualmente”, “as raparigas sfio passivas ¢ os rapazes sdo activos”, “a ensinar Matemitica, as professoras so piores do que os professo- res”. Trata-se como € evidente de afirmagées de cardcter judicativo, que podem elas proprias radicar em preconceitos miségenos e que carecem de clarificagao, o mais que no seja pelas implicagdes que necessariamente tém no quadro de uma investi- gacao cientifica em tomo desta tematica. ‘Aquela autora alerta ainda para as possfveis consequéncias que advirdio de uma atribuig&o precipitada e infundada de causalidade, de que € exemplo a afirmagdo de que caracteristicas genéticas determinam diferencas entre os sexos no que respeita Arealizagao eme as atitudes face 4 Matematica. Afirma ela: “se a causa é interpretada como sendo devida a forgas sociais, estas podem ser modificadas ...” mas “caracte- risticas genéticas sio encaradas como imutdveis” (Fennema, 1981, p. 384). Quer dizer, aceitar este determinismo equivaleria a aceitar que as diferengas encontradas sempre existirdo e que nada hf a fazer. ‘A publicagiio de conclusdes como estas nao deixaré de ter implicagdes no que respeita A implementacio de situagSes diversificadas de ensino/aprendizagem que possam promover a igualdade entre os sexos no que toca ao desempenho em Matemiatica. A acreditar nas afirmagées feitas, perguntar-se-4 “valeré a pena? “Ainda a este propésito, Fennema afirma: A investigagdo importa de varios modos subtis. Os investigadores devem responsabilizar- se pelo impacto do scu trabalho na sociedade em geral, ¢ trabalhar na scnsivel drca das diferencas entre os sexos tem impacto. Qualquer autor que escreve ou qualquer editor que toma decisdes editoriais deve terem contaas implicagdes sociais doque é publicado. (p. 384) Poroutro lado, serdo ainda de salientar os problemas éticos que poderdo surgirem consequéncia de se apresentarem resultados ¢ conclusdes de trabalhos de pesquisa que no explicitam de forma clara e caracterizada, j4 0 contexto em que 0 estudo, os resultados e as conclusdes so obtidos, j4 os casos e as situagdes divergentes e contradit6rias eventualmente ocorridos e identificados. Relativamente a estudos de caso educacionais, Stenhouse (1988) defende que, visto terem como finalidade @ melhoria da prética educacional e, portanto, 0 beneficio dos préprios participantes, professores e alunos, poderé, pelo menos, pensar-se que caberd também a estes assumir alguma responsabilidade no que conceme a alguns riscos inerentes investigagtio em causa. Mas o consentimento dos participantes no que respeita a publicagdo de resultados, afirma Stenhouse (1988), no isenta o investigador de responsabilidades, visto os participantes nem sempre Quadrante, Vol. 4, N° 2, 1995 65 serem capazes de antever as implicagdes do seu consentimento. Cabe, portanto, a0 investigador nfo s6 certificar-se (em conjunto com os participantes, se necessério for) da exactidio dos dados e da correcgo da andlise feita, mas também tomar decisdes no sentido de néo usar os dados de forma que possa, de alguma forma, prejudicar as pessoas envolvidas no estudo. Direito dos participantes ao reconhecimento piiblico Recentemente, de acordo com novos paradigmas de investigacdio, os professo- restém vindo aassumirum papel activo em estudos sobre o ensinoe sobre a formagio de professores, desempenhando, ao mesmo tempo, o papel de participantes e de investigadores-colaboradores. Consequentemente, tende a surgir uma nova visiono que respeita aos direitos dos participantes, nos quais passam a incluir-se, tanto 0 direito 4 confidencialidade ¢ ao anonimato, como o direito ao reconhecimento piiblico, no caso de o desejarem. No entanto, existem, por vezes, outros interesses, como, por exemplo, os de instituigdes, que poderao colidir tanto com os dos participantes como com os do investigador. A especificidade, a variedade ¢ a complexidade das situagdes tormam dificil, se no mesmo impossivel, estabelecer regras gerais que as contemplem a todas, assim como a todos os deveres e direitos éticos de todos os participantes no processo. Como exemplo de uma destas situagdes éticas problematicas, atente-se no que ‘Shulman (1990) nos diz ao descrever uma série de dilemas surgidos num projecto de dois anos levado a cabo em colabora¢do com professores. O projecto consistiu na elaboragdo de dois livros de casos: um, de casos de interacedio com novos professores e com directores de escolas relatados por professores-orientadores; outro, de situagdes de ensino-aprendizagem relatadas por professores principiantes. O prop6- sito de tal trabalho era fornecer casos que pudessem vir a ser usados na formacio continua de professores-orientadores. Os professores-orientadores preferiram assumir a co-autoria do livro como um grupo, de forma a nfo serem identificados como autores de um determinado caso e, assim, evitarem problemas com outros colegas e com administradores, enquanto que alguns dos professores principiantes decidiram assumir individualmente a autoria dos seus casos. Posteriormente, a andlise dos casos revelou experiéncias tipicas de Até que ponto, e de que forma, deve o professor, neste contexto, publicitar os resultados da investigaco realizada na sala de aula? Convird nfo esquecer que o valor da investi gagio/acg4o para o progresso cientifico é muito limitado (Gay, 1988). O principal objectivo de um estudo deste tipo deve ser a melhoria de ensino, pertencendo os resultados da investigacdo tanto ao professor-investigador como aos Quadrante, Vol. 4, N* 2, 1995 er outros participantes da investigagao. Alguns centros de investigacdo vao mais longe determinando que, em iltima anélise, os dados de uma investigacdo pertencem inteiramente Aqueles a partir dos quais foram obtidos (Ball, 1988). Por outro lado, segundo Hopkins (1988), alguns prinefpios éticos devem nortear a investigagdo na sala de aula, devendo o investigador + responsabilizar-se por manter a confidencialidade; + defender o direito A publicagdo do relatério do trabalho, desde que os que foram envolvidosnoestudoestejam satisfeitos quanto’ imparcialidade, justeza e relevancia dos comentérios nele aduzidos; e desde que o relato nfo exponha desnecessariamente ou embarace os que fizeram parte da investigagio, os relatérios nio devem ser censurados ou arquivados por motivos de confidencialidade; + tomar obrigat6rios ¢ conhecidos de todos, os principios metodolégicos e processuais que devem orientar a investigagdo: todas as pessoas envolvidas no projecto de investigago-acgdo devem concordar com tais princfpios ¢ orienta- gGes antes de se iniciarem os trabalhos, bem como devem estar igualmente conscientes dos direitos que Ihes assistem. Estudos de caso, pela sua prépria natureza (estudo de um individuo, de um grupo ou de uma instituigio), podem implicar a identificagio do sujeito do estudo. Enquanto alguns defendem que a procura e publicitagio da verdade nao devem ser bloqueadas por consideragdes de ordem ética, outros levantam algumas questées, sobre as quais tem havido alguma controvérsia. Essencialmente, discute-se se os dados recolhidos pertencem aos participantes na investigagao, e deverdio, por isso, estar sujeitos ao seu controlo, ou se, pelo contrério, pertencem ao investigador que ‘os recolheu. Em geral, aqueles que acreditam que as pessoas que participam de uma investi- gagdo devem ter uma palavra a dizeracerca da utilizagdo dos dados recolhidos sobre as suas pessoas, procedem a uma negociago para estabelecerem um acordo prévio. Alguns principios éticos a salvaguardar As situagées descritas acima, embora limitadas, sugerem-nos que haverd consi- deragdes de ordem ética a respeitar em qualquer tipo de investigaco, quer, nome- adamente,no que toca realizaco doestudoem si, quernoquese refere & publicagao dos resultados. Assim, da preocupagiio com o respeito pela pessoa dos participantes, eque deveria sera primeira regraa seguir por qualquer investigador, adviria o direito das pessoas quer a privacidade, 4 confidencialidade € ao anonimato, quer ao Quadrante, Vol. 4, N?2, 1995 reconhecimento piblico. Qualquer destes direitos deveria merecer a atengdo cuidada do investigador. E objectivo deste artigo identificar algumas pistas que poderdo servir de ponto de partida para uma reflexdo sobre alguns dos direitos e deveres, quer dos participantes, em trabalhos de investigaciio, quer dos investigadores e/ou outros agentes de investigagdo educacional. Com base na experiéncia pessoal e na literatura consulta- da, donde safram, aligs, algumas das situages apresentadas, sugerem-se, a seguir, como ponto de partida para um debate mais fundo e mais amplo, alguns principios enormas de caracter ético e deontoldgico eventualmente norteadores da actuagao do investigador. O direito dos participantes a privacidade e 4 informacao + Observare estudar pessoas sem consentimento prévio destas é considerado eticamente reprovavel pela generalidade dos investigadores educacionais. + Para que seja salvaguardado o direito das pessoas a privacidade, a colaboragao dos participantes deve sernegociadaevitando situagdes de coacgfio ou de abuso de poder. + O investigador deve tomar conhecidos de todos, os principios metodolégicos € processuais que devem orientar a investigaco. + Todas as pessoas envolvidas no projecto de investigagao devem concordar com tais prinefpios e orientagdes antes de se iniciarem os trabalhos. O direito a integridade fisica e moral + Como primeira regra, de uma qualquer investigacdo ndo deverd advir para os participantes qualquer prejuizo fisico ou moral. + Se uma dada experiéncia envolver algum risco, os participantes, ou alguém poreles responsfveis, deverdo estar disso perfeitamente informados, competin- do ao investigador minimizar os riscos envolvidos. + Se a investigagdo envolver criancas de uma escola, é de toda a conveniéncia que 0s pais, ou encarregados de educacdo, sejam informados acerca, quer dos objectivos, quer dos procedimentos do estudo. O direito a confidencialidade, ao anonimato e ao reconhecimento piblico + O investigador deve estabelecer com os participantes um contrato que defina © que sera publicado e quando o ser. Quadrante, Vol. 4, N* 2, 1995 68 + Deve caber aos participantes decidir quanto ao anonimato e/ou ao reconheci- mento piiblico. * O investigador deve ter em conta que, por vezes, usar nomes ficticios nao impede que sejam identificados os participantes do estudo. + Mesmo tendo o consentimento dos participantes, no que respeita a publicagao de resultados, o investigador deve velar quer pela exactidao dos dados e pela correcefio da anflise feita, quer pelas decisGes quanto & sua correcta utilizagao de forma a nao haver prejuizo para os participantes do estudo. Cuidados a ter na publicagao de resultados + A publicagdo dos resultados deve levar em conta as implicagées, te6ricas ou pragmiticas, que ela possa determinar. + No que respeita a publicagiio dos resultados de uma investigagao, estes devem apresentar-se claramente distintos da interpretagdo que deles faz.o investigador, a par com a descrigiio pormenorizada do estudo e das suas limitagdes, as quais deverio ser salientadas e tidas em conta na apresentago das conclusdes. «Na generalidade das investigac6es, o investigador deveria, talvez, formular as suas conclusées de uma forma interrogativa e nao afirmativa e/ou conclusiva. + O investigador deve responsabilizar-se por manter a confidencialidade e/ou © anonimato, conforme haja sido acordado com os participantes. + O investigador deve defender o direito A publicagao do relatério do trabalho, desde que os que foram envolvidos no estudo estejam satisfeitos quanto & imparcialidade, justezae relevancia dos comentarios nele aduzidos, ¢ desde que niio fiquem expostos a embaragos desnecessérios. +O consentimento dos participantes no que respeita a publicacdo de resultados nao isenta o investigador de responsabilidades, cabendo-Ihe, em Ultima andlise, tomar decisées no sentido de no usar os dados de forma que possa haver prejuizo para as pessoas envolvidas no estudo. Nao deve esquecer-se que, mesmo que tenha a possibilidade de se valer de linhas de orientagdo e de regulamentos pré-estabelecidos, o investigadorndo fica totalmen- te liberto da responsabilidade de resolver questdes éticas que possam surgir no decorrer de um estudo, entre as quais estdo inclufdas as de confidencialidade e as de anonimato aquando da publicagao dos resultados. Cada tipo de investigagao, cada situagdo particular, pode dar origem a questdes de ética diversificadas que tém de ser respondidas/resolvidas uma a uma, tendo em conta as respectivas particularidades. Quadranie, Vol. 4, N* 2, 1995 co Comentarios finais Seja qual for o tipo de investigagdo, e seja qual for o paradigma em que esta se insira, os aspectos éticos de todo 0 processo nfo deveriam ser menosprezados, muito menos ignorados. A andlise de alguns exemplos mostra que tem surgido, em investigagao educacional, uma grande variedade de questées éticas que tm preocu- pado os investigadores. Implicagdes resultantes da manipulagao de varidveis em estudos experimentais, repercussdes da publicagaio de resultados, direitos dos participantes, relativos nfo s6 ao anonimato e & confidencialidade, mas também ao reconhecimento piiblico da sua participacdo, s4o apenas alguns dos aspectos que tm merecido a atengdo dos investigadores. Em qualquer tipo de investigagao educacional, o investigador, independentemen- te de a sua actuago poder pautar-se por regras pré-estabelecidas (institucionais ou outras) e/ou de princfpios éticos e deontolégicos gerais, tem a responsabilidade de tomar decisées relativas a questdes éticas que surjam no decorrer da investigacao, prevenindo situagdes de prejufzo para qualquer dos intervenientes e evitando situagdes de coacgdo ou de abuso de poder que colidam com os direitos dos participantes: em investigagdo educacional a colaborago voluntiria deve e, na grande maioria dos casos, pode ser conseguida, E necessério que a comunidade cientffica portuguesa reflicta sobre este assunto por forma a estabelecer-se um referencial ético-deontolégico que norteie com rigor e racionalidade as nossas actividades investigativas. A salvaguarda de prinefpios éticos deve ser uma das preocupagées dos investigadores e deveria estar patente em qualquer relat6rio de investigacdo e, em particular, nas teses, sejam elas de mestrado ou de doutoramento. Agradecimentos Um agradecimento: a0 Joao Pedro da Ponte pela disponibilidade ¢ pelos comentérios e sugestbes sempre pertinentes; a0 José Manuel Matos e equipa de revisores do Conselho Editorial da Quadrante pela contribuigao para o limar de (apenas) algumas das arestas. Referéncias American Educational Research Association (1992). Ethical Standards of the American Educa- tional Research Association. Educational Researcher, 21(1), 23-26. Quadrante, Vol. 4, N* 2, 1995 Os rere tet Ball, S. J. (1988). Participant observation. Em John P. Keeves (Ed.), Educational research ‘methodology, and measurement: An international handbook (pp. 507-510). Oxford: Pergamot Press. Dockrell, W. B. (1988). Ethical considerations in research. Em John P. 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Em John P, Keeves (Ed.), Educational research, ‘methodology, and measurement: An international handbook (pp. 49-53). Oxford: Pergamon Press. Conceigdo Almeida,R. Oliveira Monteiro, 148 habitacdo 11,4050 PORTO. Endereco electrénico: calmeida@iep.uminko pt. RESUMO. Perante o recente desenvolvimento da investigacdo educacional em Portugal, urge reflectir sobre questées éticas que se prendem com a reatizacao de projectos de pesquisa. Este artigo procura apresentar pistas que possam servir de base a uma reflexdo sobre alguns direitos edeveres dos investigadores bem como de outros agentes de investigacdo educacional. A andlise de alguns exemplos mostra que tem surgido, em investigacdo educacional, uma grande variedade de questoes éticas. Implicacées resultantes da manipulacdo de varidveis em estudos experimen- ‘ais, repercussces da publicacéo de resultados, direitos dos participantes, relativos ndo sé ao anonimato e a confidencialidade, mas também ao reconhecimento piiblico da sua participacdo, do alguns dos aspectos que tém merecido a atencdo dos investigadores. Em qualquer tipo de investigagdo educacional, compete ao investigador tomar decisdes relativas a questées éticas que surjam no decorrer da investigacdo, prevenindo situacdes de prejulzo para qualquer dos intervenientes e evitando situagdes de coaccdo ou de abuso de poder. Em investigacdo educaci- onal colaboracdo voluntdria deve e, em geral, podeser conseguida.A salvaguarda de principios éticos deve ser uma das preocupacées dos investigadores e deveria estar patente em qualquer relatério de investigacdo e, em particular , nas teses, sejam elas de mestrado ou de doutoramento. ABSTRACT. Given the recent growth and development of educational research in Portugal there is a growing need for the scientific community 10 ponder matters of ethics in research. In this Quadrante, Vol. 4, N?2, 1995 = ——______ mn paper an effort has been made in order to present a few ideas and clues which may function as a spring board to launch a discussion on research ethics and deontology. A cursive analysis of some situations and problems (namely, manipulation of variables in experimental design studies, results publishing repercussions, subjects rights to confidentiality and anonymity as wellas right to public recognition of their participation in studies) clearly shows that there is a wide spectrum of ethical issues regarding research that needs to be addressed. Among other things, it is up to the investigator to decide what to do with regards to ethical issues and problems that might occur within a given research process, preventing as much as possible any wrongdoing. For instance, voluntary cooperation on the part of the research subjects is a must. The safeguard of ethical principles must be one of the most constant preoccupations on the part of the researchers and should be clearly stated in any research report, particularly in Master thesis and PhD disserta- tions. Quadrante, Vol. 4, N®2, 1995

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