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Tendéncias do Mercado de Trabalho em Satide no Brasil Maria Helena Machado Blane dos Santos de Olvera? Neuza Mara Noguera Moyses? rodugao O Sistema Unico de Sade (SUS) € um dos maiores sistemas piblicos de saide do mundo, loo nico a garantirassstencia integral e completamente gratuita para a totalidade da lydo. Abrange us 5.564 nuuniaipios braskios, dstibuidlos pelos 27 estados das cinco _geogrifica. O sctorsaide & um ramo importante na economia brasileira — representa 36 da populagéo ocupada no pais, gerando mais de 10% da massa salarial do setor formal, torno de 3,9 milhdes de posto de trabalho (2,6 milhées vinculs formas, 690 mil sem ira assnada ¢611 mil profissionas autinomos (IBGE, 2009). Temos de considerar ainda Jamas de profisionais diplomados que ¢acrescida a este universo a cada ano, de acordo com dados do Ministrio da Educasio ¢ Cultura (MEC), referentes 0 ano de 2007: sio cerca de 10 mil médicos; 8,3 mil dentists; 32 mil enfermeiros; 11,9 mil Farmactuticos; 7.7 mil nasi Gionstas¢ 16 mil isioterapeutas que concluiram seus respectivos cursos, ttalizando 85,9 mil nandos, ou sea, 378 vezes maior que o total de 22.643 profssionais diplomados em 1992. eco: equator en Sabde Pica da Escola Nacional de Said Publica da Fundayio Oswaldo Cruz (ENS, Fic retra do Departament de esto eda Repulaao do Taba em Sabte do MS (DEGERTS/MS) esos esqusadracolaboradora do Mcleod Estudos «Pesquisas de Recursos Humanos em Sade d scala Noa Sade Pla da Funda Oswalo Cruz (ENSP/acu geet da stag de Taba da ENSP/Pncruz ® Seco, pesmusadora em Sade Pica da Escola Nalona de Sable Pubca Sean Arouca da Funtazso Oswaldo Cruz Concenacora ca Estado de Tablo da ENSP/ Foc (TRABALHO EH SAUDE: ABOROAGENS QUANTA EOUALTTUAS | 103 ara Helena Machado, Elan dos Santos Over, New Maia Noputia Moyses ‘Uma particularidade da érea da saide & 0 uso intenso e diversificado de mio-de-ok 1 que faz 0 setor absorver com muita rapider as transformagées do mercado de trabal cm geral Tentaivas de classificagio de estabelecimentos, no sentido de criar grupos mis hhomogéneos da forga de trabalho, tém-se mostrado uma tarefa nem sempre exitosa. O) ‘meiro motive &a falta de consenso, nacional ¢ internacional, sobre definigées e pontos clivagem das aividades exercidas pels diferentes categoras profissonais. O segundo & «a prépria natureza das mudangas teenolégicas, no interior dos servigos de saide que tet ‘com muita rapide um novo perfil profissional ~ caracterizado pela polivaléncia ¢ ampliagao de competéncias especificas ~, a0 mesmo tempo em que os ervigos de alta co plexidade demandam cada vez. mais profssionais com qualificagBes mais especializadas, ‘Acrescentam-se, ainda, as novas modalidades de tratamento, como 0s cuidados Imiciliares (os chamados home care) ¢ a Estratégia da Satie da Famflia (FSF), que conti bbuem paraa abercura de diversas formas de empregabilidade, como contratos de tra temporitios ¢ outras modalidades de vinculos quase sempre precitios. Diversas pesqui indicam que a irregularidade do vinculo de trabalho chega a aleangar metade ou mais trabalhadores na esfera municipal, sobretudo na ESF. Uma pesquisa patrocinada pelo Mi nistério da Saide evidenciou tal situagio de iregularidade no tocante ao médico: [As modaldads de contatas de médics corresponds m 34.5% da quips de fami, a contatostemporiros ccm 15.5% de presacio de sevigos. Somandose \kima mosalidade com ours formas de contrat qe poder er elaficadas comm ‘mais precirias (bls, contrat informal e contrat verbal), fi alcangado ut valor de 18, ds equipes pesquisa, Formas de contataso esti (xtatrio eC) corespondrs pad o pals, respectivamente 312.2% 13.2%, prfazendo um total de 254% nests d ‘modaidaes (GIRARDI, 2007) Essa situagao critica dos vinculos de trabalho no SUS tem sido denominada “p Fiedade do trabalho”, Para minimizar esta tendéncia, o Ministéio da Saide propds ut politica de “desprecarizacao" das relagSes de trabalho, especificamente na érea da st ‘com a instalagao das Mesas de Negociacao Permanente do SUS e, muito especialmente, «tiagio do Comité Nacional Incer-insttucional de Desprecariaagio do Trabalho. As d vas piblieas no campo da gestio do trabalho criadas no perfodo, que retinem tab Ihadores, gestores €o controle social, propiciaram um ambiente para a revisio dos proce de terceitizagio e precarizagao do trabalho em curso no setor saide e se revelaram ct ‘marco politico-insttucional decisivo do atual governo. © propésto deste texto é destacar os movimentos do mercado de trabalho em sui ‘no Brasil apds 20 anos de implantagao do SUS, evidenciando as principais tendéncias 04 | TRABALHO EM SAUDE: ABOROAGENS QUAMTITATAS EQUALTTVAS Tencéncias do mercado de trabalho em sale na Bras do tabalho. Usilizamos como material empirico os dados obtidos pelos estudos vidos pelo grupo de pesquisa da Estagio de Trabalho da Escola Nacional de Saide egios de pesquisas foram usadas para balizar as tendéncias, entre as quais se destacam: Instituto Brasileiro fia ¢ Estatistica (IBGE), Ministério do Trabalho e Emprego e Ministério da (DATASUS). licada Fiocruz. As informages disponiveis pelos fagao do mercado de trabalho em sade no Brasil fos ikimos 20 anos, grandes transformagdes ocorreram no sistema de satide, confi- , por assim dizer, “anos paradigmaticos” para a saide piblica do Brasil. A consti- do SUS representou para os gestores, rabalhadores ¢ usutios do sistema uma nova’ de pensar, estruturar, decavolver © produsie servigos e aasisténcia em save, uma que os principios da universalidade de acesso, da integralidade da atengio & sade, da lade, da partcipaco da comunidade, da autonomia das pessoas e da descentralizagio ram-se paradigmas do SUS. Algumas tendéncias sio identificadas nesse processo em ser destacalas, como por exemplo: 1) expansio da capacidade instalada; 2) mu- lizagio dos empregos; 3) ambulatorizagao dos atendimentos; 4) maior qualificagio ip: 5) Feminizacao da forca de trabalho; 6) flexibilidade dos vinculos, entre outras, ‘da capacidade instatada [No periodo, hé uma expansio intensa da rede de sade no Brasil. © setorcontava com extabelecimentos de sade, 544.357 leitos ¢ 1.438.708 empregos em 1992. Os niime- pasam para 77 mil estabelecimentos, 433.210 leitos ¢ 2.566.694 empregos, em 2005. ‘Quadro 1. Estabelecimentos por esfera administrativa ~ Brasil 49.676 27.092 45.089 664 1.387 uo [267 7043 | 1607_| 1496 788 1.662 | 36109 | 42549 1280 zase4 | 29239 | si | 413 IBGE, Pesquisa Assistncia Mélco-Santra (varios anos), (OTRABALNO EM SAUDE: ABOROAGENS QUANTATASE QUALTATNAS | 108, Mara Helena Machado, lane dos Santos de Olvera, Newa Mara Noqua Mayes [A variagio se resume da seguinte forma: o niimero de servgos de side cresceu 55! com mais énfase na esfera pblica municipal, que teve um incremento bruto de 128 za sua eapacidade instalada ~ passando de 18.662 para 42.549 estabelecimentos. O set ivado teve unta vatiaydo no perfodo de 41,39, acrescendo 9.331 estabelecimentos a rede. O grande ficio de mio da expansio foram os servigos estaduais ¢ 05 federais, apresentaram decréscimos acentuados de (78,8) ¢ (24.7%), respectivamente. No se privado, evidencia-se com mais clareza este movimento de desativagio (-28,1%), mas ai se mantém 3 frente em termos da oferta ~ nada menos que 66,4% do total. Para algumas especialidades, a redugio do niimero de leitos no setor privado foi res tante de politica governamenta: € 0 caso, por exemplo, dos leitos psiqudtticos. Por sua © sctor piblico eleva sua participagio em 10,6% no niimero total de leitos, sobretudo esfera municipal, que praticamente duplicou sua capacidade installa, passandy de 35. 170.078 leitos no periodo, respectivamente. Nota-se uma redugéo importante nos Ictos esfera federal (28,696) e na esferaestadual (179%), provocada pela desconcentragio servigos do SUS, e consequentemente, pela municipalizasio de hosptais federaise es ais, De qualquer mancira, 0 notivel erescimento do mimero de letos na esfera manic indicativo do vigor que a descentralizagio da gestio do SUS aleangou como politica pl ca bem-sucedida, ao longo do periodo. ‘Quadro 2. Letos por esfera adminstratva- Brasil (ieee [oe [tomes | Piiblico 135.080 146.319, 148.966 Federal 24072 | 17383 | 17489 Exadul | a7 | a7 | ae ado [ amar? | sas | aan Fonte: IBGE, Pesquisa Assstncia Mico Santi (varios anos) Em plena era tecnolégica, que se caracteiza pela redugio do uso de mio-de-obra tensva,o stor saide consegui ter um crescimento expressvo em todo o period ~ clevagio de 78,4% — 0 equivalente & geracio de 1.127.986 novos postos de trabalho. ddados do quadro 3 mostram que 0 mercado de trabalho em saiide passa de menos de ‘mil empregns na década de 1970 para cerea de um milhio e meio em 1992. € para mais dois ¢ meio milhées em 2005. 106 | oTmABiLn0 Eu SAUDE: ABoROAGENSQUAITTATAS E QUALTATIAS Tendecis do mercado de traato em sae no Bras 1. Evolugdo de empregos (*) de saide - Brasil, 1976-2005 1976 1977 39781979 19802981 19821983 19841985 19871992 19992002 2005 IBGE, Pesquisa Assiséncia Méico-Santria(vrios anos) luem os empregos administratos. 2, Evolugdo de emprogos (*) de saude por setor do stuagao-rail, 1980-2005 "= Pablico | 265.956 | 496.799 411 322 | 547 688 | 804.907 | 910.123 |L069.44 ‘Privado| 307 673 | 318.206 [331.237 | 496.680 | 744931 | 688.764 [826.734 InGe, Pesquisa Assistncla Medco-Santria (rari ans) ‘TRABALHO SAUDE: ABOROAGENS OUMNTIATNASEQUAUTATINS | 107 ‘Mara Helena Machado, Eanes Santos de laa, Newz Maria Noguta Moyses ‘A andlise feita por categoria profissionaiselucida melhor o comportamento da oferta cempregos de sade no pais. Por exemplo, em 1992, o Brasil contava com 307952 empreg ‘médicos, 41.501 de enfermeiros, 41.509 de odontélogos e 267.848 técnicos ¢ auxili Estes niimeros ve alteram fortemente uma década depois, regitranda em 2005: 5276 cempregos médicos, 116.126 enfermeiros, 71.386 odontélogos €:563 mil téenicos e auxili tes de enfermagem. ‘Municipalizagao dos empregos ‘A expansio sem precedentes dos empregos municipais muda definitivamenteo p da asistencia no pals ~a municipalizagio é grande marca do SUS no periodo, Em 1992 ‘0 stor pibicoestadual passou a ser responsivel por 315.328 empregos, ¢o municipal 306.505 empregos. A grande vada se dé apés a década de 1990, quando o setor municip assume alideranga dos empregos piblios,cotalizando cerca de um milhdo de empre em 2005. Quadro 3. Comportamento dos empregos de saide por esfera administrativa- Brasil Total 1.438.708 | 2.180.598 | 2.566.694 784 Publico 7asan0 | 1.193.463 | 1.448.749 369 Federal 113.987 | 96.064 | 105.686 73 Esadual 315.328 | 306042 | 345926 37. Municipal 306505 | 791377 | 997137 225.3 Privado 7on.sss | 987115 | 1.117945 59 Font: IBGE, Pesquisa Assistinca MéGico-Sanitria ris anos), Em 1992, os municipios representavam 41,69% da total de empregos publics & 2005, elevam sua partcipacio para 68,8%. No que tange &esferaestadual, contuda sinais de que se produziu uma defasagem em relagdo & capacidade de absorso apenas 9,7%, menos que o desevel,cendo em vista que ainda permanece nesta esfera ‘nero expressivo de hospitas de grande pore, principalmente no Rio de Jani, {sto tenha sido em parte compensado pelos mecanismos de contratagio ¢ convénios inicitiva privada, é 0 volume dos empregos federas perdeu a capacidade de ab rio-de-obra, decaindo (7,3%), ou sja, passa de 113.987 empregos em 1992, para 108 | TRABALHO SAUDE: ABOROAGEN UANTTATIA EOUALTATAS Teena 6 mercasa de wabato em sabe no Bas il postos de trabalho em 2005, Pode-se dizer que o setor federal, que sempre teve ia na prestagio ¢ na asistencia 3 populaglo, em apenas duas décadas torna-se 0 3° no ranking como empregador, invetendo a posigao com a esfera municipal. 0 dos empregos de saude tra consequéncia importante com a implementagio do SUS é o processo de am- inagio dos empregos ocortida no periodo. Em 1992, 05 empregos ambulatorais 512.299, ¢ 0s hospitalares, 926.409. Em 200, estes niimeros se alteram signi- jrmente, ou seja, os empregos ambulatoriais dobram, passando para 1.226.714, ¢ os palares, para 1.339980. ‘Quadro 4. Comportamento dos empregos de sale por tipo de atendimento - Brasil jars 926.409 | 1.210569 | 1.339.980 44.6 laorais 512.299 | 969999 | 1.226714 139.5 IBGE, Pesquisa Assstncia Médeo-Santria (varios anos), CConstaa-se uma elevacio bem intensa no periodo (139.5%), em consequéncia do en- nto dos empregos da rede hospitalar (44,69) e das mudangas na esfera pilica, ntes das estraégias de inducio do Ministéio da Satie, sobretudo em relagio 3 ja Sade da Familia (ESF) e do Programa de Satide Bucal, que permitiam a aber- de milhares de novos empregos no mercado de trabalho odontol6gico, incorporando logos ¢ auxiliares de sade bucal,configurando-se, assim, na “desospitalizacao” do que comegou a adotar uma nova orientago que prioriza aasssténcia ambulator a equipe A clevagio da escolaridade é outro fato positivo que ocorre no mercado de saide neste Em 1992, o Brasil contava com 1.438.708 empregos de satide. Se a anilise for ‘excluindo-se os empregos administrativos, 0 perfil do mercado se configura da se- forma: 451.303 (43,6%) de nivel superior, 310.219 (30%) de nivel ténico/auxiliar £846 (26,496) de nivel elementar.Jé em 2005, esses percentuais se alteram positiva- ; pasando para 45,69, 399% e 15.3%, respectivamente. (OTRABALNO EM SAUDE: ABOROAGENS QUAYTTATHASEQUALITTHAS | 109, ara lea Macao, Eliane dos Santos de Ova, Neuza Maria Noputa Moyses Quaéro 5. Varagao dos empregos de sae por escolaridade- Bras em = sisaasy Ga Ese oad aa cae [2002 | 2005 | Varagto 92-03 Superior 452303 | 729747 | 870.361 924 “Téenicofausliar sio29 |624ss1| 71730| 423 Blementar 2r.si6_|244.800| 294551 80 Fone: AGE, Pesquisa Assstncia Méico-Sanitriavrios anos), ( ggrau de escolaridade se elevou nao 6 com a ampliagio do quantitaivo de profisson de nivel superior, como os méicos eos odontSlogos, que tiveram um crescimento em «de 72% no periodo; os enfermeiros, que obtiveram 179.8%, quadriplicando seu quantita como também com outras novas profisses que tém sido inseridas na equpe de sade. A trodusdo do Programa de Formacao de Trabalhadores na Arca de Enfermagem (PROFAB ‘cao objetivo principal ra transformar os antigos arendentes de enfermagem (informaise buaixa qualificagio) em técnicos de enfermagem plenamente legitimados. Pode-se dizer que o PROFAE foi a grande alavanea para atingir esta plenitude, deter provocado a expansio do quanttativo dos ténicos ¢auxiliares de enfermagem 267.848 em 1992, para 563.089 empregos em 2005, 0 quantitativo de atendentesteve decréscimo de (-68%), configurando uma equipe com perfil mais qualificado. Isso sgn «a dizer que mais de 80% da forga de trabalho em saide tem escolaridade compatvel ca a complexidade das atividades. Figura 3. Evolugao de empregos de sade por nivel de escolaridade- Brasil, 1980-2005, Font: IBGE, Pesquisa Asssténcia Mélco-Saitria(virios anos) 10 | 0 TRABAL0 SADE ABOROAGEN QUANITIATHASEOUALTATHAS Tandecias co metcao de rabaho om sso Bas forma, a bipolaridade “médicos/atendentes de enfermagem”, stuagio vigente du- éeadas, que somava mais de 80% da forga de trabalho (GIRARDI, 1991), tende lificar rapidamente, Arualmente, 0 trabalho em saide tem sido desenvolvido por rmulkiprofisionais e multidisiplinares, requerendo cada vex mais a incorporasso -especialidades. A centralidade médica deu lugar interdiseiplinaridade, evocando atuarem em éreas nunca imagindveis. Para Machado (2000, p. 138): A equipeprofissionl que produ asnténcia 3 sade & hoje frmada em grande parte pela snipe de enfermagem, médica, odondogos,farmactticos, bilogs, psiclogos, uti nists iterapeuas,erapeutas ocupacionais, além das recemes ines dos engeniiros ‘més economists, silos, enteoutos que ito incorporate equipe Quadro 6. Evuiugav dos empreyos Ue Saude pur valegoras profissionals -Braslt _Deserigio /Ano woz | 307952 | 466.10 a3 4isor | 88.952 1798 41509 | 56.995 no aux. de enfermagem 267848 | 471.904 10,2 deenfermagem 142.356 _| 60639 68.0 IBGE, Pesquisa Asssténcia Médico-Sanitia (vio ano). algumas décadas, mostrando sua importincia nio s6 para compreender a expansio mundo do trabalho, como, ¢ principalmente, para melhor compreender as especifi- s do setor sade, que abriga um contingente expressivo de mulheres ~ represen- hhoje mais de 70% de toda forga de trabalho em saide. Em algumas profissées, processo de feminilizagio é mais recente e de forte impacto, como os médicos, exemplo: na década de 1970, as mulheres médicas eram apenas 119%, jé na década inte, este percentual eleva-se para 22%, chegando aos anos 90 com 33% de seu tingente feminino, Estima-se que nas préximas duas décadas este percentual deve git 80% (MACHADO, 2000, p. 137) (TRABALHO EM SAUDE: ADOROAGENS QUAMTTATNASE QUALTATWAS | 111 ara loa Machado, Eiane dos Sats de Ova, Neuza Maria Nusa Moyses| Figura 4 Participacdofeminina em algumas categoras profisionais- Brasil (em percentval) Fonte: IBGE, Censos Demogratico. Figura . Participagao por género em algumas categorias protissioais de saude - Brasil, 2000 Fonte: IBGE, Censo Demogrtien (2000), 112 | TRABALHO SAUDE: ABOROAGENS QUANTTATWASE QUALTATNS Tebcas 6 mercado de wabaho am site no Bast analsar os ilkimos dads censitérios do Brasil rlativo a forga de trabalho em sade, smos que do total de 709.267 profissionais com escolaridade universitéria, 61,7% mulheres. Entre os médicos, elas representam 35,9%; entre os dentstas, 50.9%; entre cio, 90% € entre oF nuticinistar, 95,386. Em relagso aos profissionais de is fcnico eauxiliar, que somam mais de 900 mil empregos, a feminizagio ¢ ainda mais , alcangando 73,7% do total, com 77,9% dos técnicos em fisioterapia ¢ afins, 8b dos atendentes de enfermagem, partiras€ afins, € 86,9% dos técnicos ¢ auxiliares fermagem sio do sexo feminino, (0 processo de feminizagso pode ser visualizado mesmo nas profisseshistoricamente linas,nocadamente entre 0s médicos, ciurgides-dentistas€ veterinitios, onde é pos- pereeber um aumento da partcipacao feminina nas faixas etérias mais jovens (WER INGER etal, 2010) precarizacéo dos vinculos Apesar dos avangos do SUS, a precarizagio ainda é um problema relevante para a soe parte dos municipios brasilecos,sobrecudo em relagdo aos médicos. Segundo Kal- rg (2009), a expansio do trabalho precétio em todo 0 mundo esté relacionada 20 mento da globalizagéo e do neoliberalismo, as mudangas tecnoldgicas ¢ 20 arre- nto da agéo sindical. No Brasil 0 aumento da precarizagio resultou em grande das rformas liberais que acompanharam a privatizagio e a desregulagio do traba- bem como da crise econdmica ocorrida nos anos 1990, em que se assistiu a pouco smismo do mereado de trabalho, acencuado desemprego ¢ ampliacio dos niveis de malidade (MATTOSO; POCHMANN, 1998). Nio sendo rigorosamente uma novidade, o problema é que o trabalho vem se tornando vez mais precério no mundo inteito,invadindo esferase setores antes relaivamente Sob renovadas formas, jd no respeita os limites da formalidade, tendo conta- mado inclusive o stor piblico,insinuando-se também para dentro do campo tradicio- Imentc protgido das chamadas profsséesliberais do a PRD de 208, 1% as més declaram o amprogo sem carta como princpl condo de ocparo. qu proporgi de abl precio ere os mcs parte dssepatamar mimo. Anes ds anos 2000 poporgo angi cerca eB dos meas. (TRABALHO SADE: AOROAGENSQUANTITATAS EQUALTATWAS | 113 ara Helena Machado lane dos Santos lve, Newa Mara Noquira Moyses Figura 6. Distribuigao dos municipios pesquisados segundo realizagao de contratagaodireta de Drofissionais da ESF, por ocupagdo e ano - Brasil, 2001 2009 Fonte: Nescon/UFMG -Estagdo de Pesquisa em Sinas de Mercado em Saude [AEN TEN —Auxliares de Enfermagem e Técnicos em Enfermagem. ‘ACS ~Agentes Comunitros de Saude ‘Tomamos como exemplo de referéncia a Estratégia Saide da Familia (ESF), pla is portincia do programa para a politica de saide atual, para mostrar 0 quadro de vineu precirios no Brasil. Segundo pesquisas de Monitoramento da Qualidade do Emprego Estratégia Satie da Familia realizadas pela Estagio de Pesquisas em Sinais de Merc «em Saiide (EPSM), os dados apontam um declinio da pritica de contratagao do taba precirio na ESF no periodo estudado (2001-2009). A maioria dos muniefpios pesquisa realizava contratagio direta pelas prefeiuras para todas as ocupages de saide,aleangar valores superiores a 90%. ‘A contratagio direta de agentes comunitirios de saide foi a que regstrou 0 maior mento, de 82,4% para 95,5% das administragdes municipais, o que reflete importa focalizagio no periodo no sentido de atenuar os efeitos da terceiizagio e do trabalho pr cirio nesta categoria. O decréscimo na proporgo de municipios que realizam contra terecirzada é observado para todas as ocupagSes e profssdes. Desta forma, pode-s di ‘que a pritca da terceirizagao da forga de trabalho na ESF dimin década: atualmente estd em torno de 6,9% para o caso dos médicos; 4% para os dents (GIRARDI ee al, 2009), u de forma vigoros. “104 | o TRABALHO EH SAD: AROAGENS UANTTATHAS EQUALS Tenncas do meraco de rabalo em sae no Bras consideragées para o momento atual e desatios tvel por sua amplitude e magnitude, o mercado de trabalho em saiide no Ambito ‘obteve muitos avangos nos iiltimos anos, com a institucionalizacio de politicas, at de gestio do trabalho pelo Ministério da Saide. No que concerne a0 rahalho io em said, Comité Nacional Interinsttucional de Desprecarizagio do Trabalho do Ministério da Saude, em documento de 2006, estimava em cerca de 600 mil 110 de trabalhadores precérios no SUS (249% dos postos de trabalho apontados pela de Asistencia Médico-Sanitéria do IBGE em 2005 e, em torno de 20 a 30% de 0s trabalhadores inseridos na Sade da Familia, &época, apresentavam vinculos pre- de trabalho, o que gerava inseguranca, alta rotatividadee insatisfacio profissonal, smetendo a dedicacio dos profissionais e a qualidade dos servigos. ‘ SUS tem hoje um quadro mais confortivel, como comentada anteriarmente, devide ne partes medidas de regularizacio das relacBes de tabalho no ambito federal, as- 1s, historicamente, a uma representacio do Ministério Pablico Federal contra o Go- Federal, ue resultou na assinatura de um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) por ikimo, em 2002 ~ porcanto, no ilkimo ano do governo Fernando Henrique. A partir 003, tanto em obediéncia a essa determinacio quanto por politica expicta, 0 atual no vem favorecendo uma ampla retomada do crescimento do estoque de servidores Um contingente crescente de trabathadores erceirizados e temporirios “informais” go federal ver sendo substituido por servidoreseftivos vle-safirmar que a politica de regularizacio se transformou numa vertente auronoma zero federal e vem se juntar a uma estratégia mais ampla de valotizagdo e moderniza- das careiras no setor pibico. Essa nova orientagio politica do Governo Federal forne- a indicagzo precisa de qual o caminho a seguir para aperfeigoar a gestio do trabalho |SUS. Nao por acaso, a questéo dos recursos humanos ganhou fama ao ser comumente ieradao “né gérdio" da gestio do SUS. grande desafio que se impdc hoje a0 setor € a necessidade de superar os obsticulos ios, politicos eécicoe quanto 3 qualidade dos servigos prestados 3 papulago uisud- do SUS. Crescer com qualidade, prestar sevigos com ética e compromisso social sio 0s 3 grandes e verdadeitos desafis. clas IL, Minis da Snide. Secretaria de Gest do Trabalho eda Educapo na Sade, Deparcamento de da Regulaso do Trabalho em Said, Comité Nacional Ineiastcucional de Desprecarizasio do ho no SUS, Programa Nacional de Deprecarizcto do Trabalho no SUS: Desprecaiza SUS, Prguntas © Bain: Edita do Miniséio da Sade, 2006, (0 TRABALHO EM SIDE: BOROAGENSQUANTTATASEQUALTATAS | 115 ara Helen Machado, lane oos Sans de Otnoa, Nowra Mata Noguera Moyes GIRARDI, 5, La fuerea de taba en el sector salud clement ics y evidencis empiias. Eu Média y Sl 25, 9.1, 37-7, 1991. GIRARDI, SN. (Coord) etal Paguie Nacional de Monitoremente da Qulidade do Emprego na Es ‘Side da Familia ESE. Relio de Pesquisa, Univeral Federal de Mins Gens Faculdade de Medic [Néclo de Eucasdo em Sade Coletiva, Esto de Pesquisa de Sinai de Mercado. Belo Horizonte, 2003 GIRARDI, S. N. (Coord) etal. 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