You are on page 1of 21
« loin Rogina Castello be Fala. 2008 Divovlon tosorvados desta edigao: Universidade Federal do Rio Grande do Sul Capa 6 Projeto grdfico: Airlon Cattani Luciana Balbueno Sabrina Motta MareeVisval a Regina Castello (icastello@ters.com.br) Professors Titular em Urbanism da Facul- cide de Arguitetura da UFRCS. Arguiteta pela UFRGS, onde também recebeu o diploma dle Urbaista, £ M.Phil. in Urban Design and Regional Planning, pela Univesity of Vnburgh, Reino Unido, com bolsa de estos do The British CounellRealizou Curso de "specializagto da Orgenizagio dos Estados Americonos - OFA, na Escuela Nacional de Acministracion Pablica da Venezuela e progtema de estudos de pos-graduagio na University College London da Inglaterra, Na UFRGS foi Chefe do Departamento de Uba- nso, Coordenadore do Programa de Pés-Gracungio em Plangjamento Urbano e Regi. bal (Prop) edo Curso de Espeializacfo em Plancjmento Urbano Partcipo da organ ‘asio de enconroscientfcos sobre atematica das fontelrase, postesiormente da orga ‘ago das poblicagGes Fronts ro Mercvsl (1998), Prices de eg ws Fontes (3) ¢ Froneras na Amiri Latin: Expos om Transform (197), todos ca Eton da UFRCS ide do Grupo de Pesquisa em Promogao Regional, Panejamento e Gestao Ambiental CNPq/UFKGS que, atualmente,abrign projto vinculado ao crescimentoe eonfigurasio do espac urbane centrado nas “figures” do loteamento edo condominio. pesquisadorn dio Observatrio das Mttjpoes, Nuceo de Porto Alegre. CS Canale, ia Regn "air Intamons &condemniorelsentos para oot denoyestertrios babitaionais ia Rogina Cast. Porto Alege: ltrs da UFRCS, 208, Bop. ie: Ziszlem Reipresso em 2010, {Sere Pesqusacrnsulade Asis). ‘bra acompantada de CD-ROM Incl eerie hell Figures, imagens, quadrase ates, 4. Arquitetwra. 2. Usbaniemo. 3. Planejamento urbane « regional. 4 CComenidaderresdencals~Fapaco urbana & Hating 6, Costa antlena- 7 spago unbuno ~ Crecimento Conviguragio ~ Loleamento ~ Condominio, Modelo espacial contempordnco. 8. Espace urbane ~ Estraten do expaso "essen 1 Solo urbano ~Patelamento = Configursgio espacial. {Carl Tote Regis tt Tea Sse cou mua ‘C1inoil Dados tnternacionals de Catalogesae na Publicagio Uno Lucia Wagner ~ Bibllotessria responssivel CRBIO/1996) Ith 978 FON Elementos de Composigao: odelos Espaciais Contempordneos jetos de areas residenciais conectadas ao tecido urbano. Para isso, inicia pela reapresentagao das concepgdes clas- sivas de Cidade-Jardim ¢ de Unidade de Vizinhanga, conside- Fonilo que esses dois modelos te6ricos, derivados no inicio do século 20, compéem as bases coneeituais da maior parte dos pro- lo de reas habitacionais implantados nas cidades ao longo slo» ullimos cem anos, Argumenta-se que alguns dos elementos «Je maior visibilidade desses modelos, considerados inicialmen- lv {deine inovadoras, foram recorrentemente reinterpretados Incotporados nos projetos de todas as correntes urbanisticas que prodluziram o atual sistema urbano mundial. Caracteristica inerente a todo o corpo te6rico pioneiro, tais inodelos earregam conceitos e principios gerais nas suas formas joradoras, elementos esses largamente utilizados, algumas ve- mente, sem passar pelas necessérias adequagies ou alé reproduzidos exatamente como foram formulados; em ou- vos casos passanclo por revises ¢ adaptagdes apressadas, mas E: se capitulo explora alguns exemplos selecionados de pro- 208 0 43 BAIRROS, LOTEAMENTOS E CONDOMINIOS. Elementos para o Projeto de Novos Torritérios Hobitacioncis a 3 3 g Z 3 SAO n 4 merce NO VISES Cements: = PUP RE DK OKO toro AROS, LOTEAMENTOS ECONDOMINIOS sempre refletindo, nas mais diversas realidades sociais e cultu- ras, padres de composicio urbanistica e de organizacio espacial concebidos a partir da observacao de uma realidade especifica ‘A formulago desses modelos representou um novo direcionamento para a disciplina urbanistica e para as praticas de planejamento como um todo que, em um periodo de apenas 30 anos, viram-se enriquecidas por um s6lido corpo teérico, com potencial de fazer frente nova realidade urbana mundial que estava, entio, se delineando. E um dos maiotes desafios do pla- nejamento urbano do século 20 foi o de reestabelecer 0 equilibrio das cidades por meio de planos, programas e projetos que visa~ vam a provisdo de areas de moradia saneadas, conectadas e de qualidade adequada para os seus habitantes. Como decorréncia, 0 uso de alguns dos elementos e critérios embutidos nas diias formulacées teéricas pareceu um caminho promissor, imediata- mente seguido tanto pelo planejamento puiblico como pelos pro- fissionais projetistas de novas parcelas das cidades. ‘Apés recapitular os aspectos mais relevantes das duas for- mulagdes tedricas, 0 capttulo se estende com a apresentagéo de exemplos selecionados de éreas de moradia projetadas seguindo principios preconizados pela Unidade de Vizinhanca e ou, alter- nativamente, pela Cidade-Jardim. O objetivo, nessa segunda se- ‘0, 6, par de tracar um perfil esquemético da evolucao do parce- lamento e projeto de comunidades residenciais no tiltimo sécu- Io, evidenciar os princfpios teéricos que fundamentaram esses projetos. Modelos tedricos de comunidades tradicionais ‘A modelagem das reas destinadas & moradia das populagdes urbanas comecou a ser sistematicamente trabalhada como um conjunto urbanistico articulado a cidade jé no século 20. Até en- #80 a majoria das zonas residenciais das cidades ia aparecendo como wm complemento, sem qualquer planejamento integrador, a medida que a cidade crescia e surgia a demanda por novos Elomentot de Composigao: Modelos Espocais Contampordnaos espacos habitacionais. A presenca de parcelas urbanas organiza das especificamente para a moradia das pessoas nao é, portanto, ‘uma prética projetual muito antiga, Bla comeca a tomar corpo quando, em fungio da grande mudanca trazida pelo processo de industtializagio, a cidade 6 escolhida como local preferencial de moradia, revertendo uma tendéncia locacional milenar da hu- manidade e, conseqiientemente, desorganizando o sistema ur- ano entao existente. £ nessa nova situacao urbana, apresentada no século 19, que tém inicio estudos e experiéncias visando re- compor as cidades como estruturas adequadas & vida humana, para que essas possam acomodar os novos contingentes populacionais urbanos em ambientes limpos, saneados e com boa acessibilidade: Esses experimentos e reflexdes pioneiros legaram referéncias importantes para os estudos que, jé no limiar do sé- culo 20, formaram o embasamento do que veio a constituir 0 cor- po teérico do urbanismo e do planejamento contemporineos.* Cidade-jardim acres *pronPhauede Mas é a partir da publicagio do cldssico de Ebenedét Flo: Tomorrow: a Peaceful Path to Real Reform, em 1898, que a qualida- de do espaco residencial passa a ser um item importante no ‘% idedrio do urbanismo. Howard, estendgrafo e repérter londrino, engaja-se no 1 iento socialista britinico onde participa de discussdes criticas sobfp a caética situagao da nova cidade in- dustrial, enfatizando as condigdes inadequadas de ocupacio saneamento das éreas centrais, a falta de oportunidade e a desi- gualdade no acesso a terra urbana ¢ a auséncia de critérios de planejamento urbano como um todo, Entendia qu para uma nova sociedade, onde a eqitidade predomi ‘© caminho se, esta ria na organizagio do espago comunitério em uma perspectiva coletiva e, mesmo sem qualquer formagao em urba no ou pla- nejamento, comegou a dar forma a seu sonho de criar um plano, que eventualmente resultou em um modelo tedrico de organiza- cao do espaco visando a estimular a emergéncia de uma civiliza- 5 Bale ad deca cs ore ch “Un pip geperanone dori dda 0, art Soke Selatan aspen’ alam ato Goa Sechrest ban Sqseulandrecto cease siabe erocora erence tan gm ptr eos pas nn covets bce entre rnticoo fst ‘ronsoece eer Naw army Matra Eds Une eta pn prince loeatichos oo Che Favte gpm Seater ora eacage fo orneae A, fs fmt eo Gina oat dno \ tort l,m nan a goomston, beaaasa neato dots mae pag e reocirado com o equaccn il Se qustsa cnasase radi como sunearetlo 0 fronsio de morass, 28 erperna no ests eso terioas decade eice oe formato de ropoaas do ‘ergata devi opus, e cidade de talc ffs pra of do cul 1 do ‘garden sus" overs ubarzadas que pessoa a 3 comandad Fs classes pvtegiadss BenevO 163) +s alts ential dese period de emai dn {pa lntrea encore no estucee do austiaco Colo Sto, epoottmerta ra sus bre Constuyao cs lcs 2 "pundo soos piace artists, enfatizao papal do ‘Bajos azerten pablens ns conigureeso des espace ux Foferomadside Geade nea, do utara exparhol A) ‘Senay Hala, que aprocorn eager de fru organz (Gv odre paar ee detente am sonia com oes ‘mento pop.acana’ na reposts Cidade insta or ‘rove pol argateoo uni tata Try Gar, onde pela primera vez aparece sleramentc 0 zonearnento fipotande nseparagso das fungsocurbaras,e€ proposloo tev doconeeto tatoo do vara eteagoes macon taco do Cldadee Jardin, propocea pelo rico Ebenezer mare (hs 088). ina 1 Sistema de Cidades-Jarcim, mostran- 19s conoxbes viria e a interagéo urbano-tural BAIRROS, LOTEAMENTOS ECONDOMINIOS gio mais equilibrada (Castello, 2005). Seu esquema tinha por objetivo dar conta de trés conjuntos de idéias: redirecionamento dos fluxos migrat6rios das areas industriais conturbadas para as novas cidades-jardim; nova estrutura de propriedade da terra urbana, viabilizada por um sistema de consércio, uma parceria que permitiria a pessoas ou grupos privados deter a posse de parcelas do territério, de propriedade municipal; e, formalmen- te, um desenho muito detalhado da Cidade-Jardim, estrutura planejada com tamanho maximo limiitado em 32.000 habitantes (Thomas; Cresswell, 1973). © Modelo Tedrico de CidadeJardim, como ficou mundial- mente conhecido, engloba na verdade uma visto muito mais abrangente e complexa de sistema urbano. A CidadeJardim € apenas uma parte dessa engrenagem, que prévé uma constela- ‘cdo de cidades interconectadas ¢ interdependentes gravitando zno entorno de uma rea urbana central concentradora daqueles Servicos e equipamentos de maior porte, que seriam facilmente acessados por todos os moradores através de um sistema de cir- culacao eficiente. E esse conjunto de cidades conectadas estaria em interagao permanente com uma zona rural de produgo agri cola e prestacao de servicos que demandasse grandes extensdes territoriais. E claramente definido um modelo teGrico de sistema urbano, organizado por uma unidade central dominante, prove- dora de atividades ¢ equipamentos e por estruturas urbanas sa- télites de pequeno porte, localizadas estrategicamente em terre- nos rurais adquiridos a baixo custo ~ e, por conseqiiéncia, com baixo custo de urbanizacao ~ as Cidades-Jardim, para onde seria redizecionado o crescimento das populacdes urbanas, re~ vertendo a tendéncia de concentragéo urbana entéo observa- da (Figura 1) Coma modelagem desse sistema de cidades, Howard pro- cura atender a seus tr8s conjuntos de idéias com estratégias dife- rentes. A questo do acesso e propriedade da terra é aproximada por um controverso sistema de direito de uso por pessoas ou grupos privados guardides da terra em nome da municipalidade, © ped Sw Jey 46 Elementos de Composig6o: Modlos Espacais Contemporénaos que é a verdadeira proprietaria da cidade. £ seu entendimento que esse sistema evitaria a disputa por ferra urbana, garantindo, assim a sua distribuigao eqiiitativa, em conformidade com o pla- no formulado para a cidade, evitando-se o congestionamento especulagio. Para redirecionar o fluxo migrat6rio rural-urb; liberar a pressdo demografica das cidades industriais, consiclera que a definigao e localizacao das Cidades-Jardim, aliadas a politica de controle do crescimento das reas urbanas centrais, seriam instrumentos importantes na reversao da tendéncia de concentragao urbana. Somada a esas decisoes de cunho loca- cional ¢ politico, destaca, ainda, que a idéia de morar proximo a0 ‘campo, mas com os beneficios, os servigos e a acessibilidade ofe- recidos-pela cidade, pode ser altamente atrativa para as pessoas. Descreve a Cidade-Jardim como uma estrutura capaz de potencia- lizar tanto as vantagens da cidade como as do campo, minimi- zando as desvantagens de ambas asestruturas, o que é sintetiza- do no grafico dos trés imas que a define como Cidade-Campo (Figura 2). ‘Mas 0 que mais chama atencéo no trabalho de Howard 6a preciso com que ele formaliza seu modelo de Cidade-Jardim. ‘Adota a forma citcular, com o centro dominado por um jarcim, também circular, contomnado pelos edificios que compdem o cen- tro civico-administrativo (prefeitura, biblioteca, hospital, teatro, museu e sala de concertos). A ocupagao se da em anéis concén- tricos, em um esquema centro-periferia, com a érea central reser~ vada aos usos coletivos, o importante parque central abragando 0 centro civico-administrativo e se estendondo até o anel de co- mércio 0 crystal palace ~ que também ¢ previsto para funcionar como rea coberta de recreacao no inverno e por isso mesmo faz, © contomo do parque em toda a sua extensdo, os anéis reserva~ dos aos quarteirdes residenciais interrompidos pela grande ave- nida parque, um enorme espaco aberto povoado de equipamen- tos comunitérios tais como igreja ¢ escola, além de varios tipos de pracas, playgrounds, jardins e reas de jogos. O anel exteno, reservado ao uso industrial, é atendido por uma linha férrea cir- a7 BE k crew? / ware ee sey tm aimee acwers, | Figura 2 Grito dow Hs mds Howard suge- re que a unit oni Ciacla @ Campo geraa ole ‘mento Cidade Campo apo a captarar as vanta- gens clo ambos @ nenhuma ds donvantagjens, Figura 6 - Uma fata, ou disito, da Cidade-Jar- ‘im segundo Ebenezer Howard. * 0 cancato ca Unidas de Viertanga 8 psc sen mere zaco a pai oe 1928, psa publican da otra do clita sais smeeana Carence Pry, clas prov sog80 “Comune Rodan ce Uso Mito do concetoe tovarados pois coveno ubaisisa corhanda corso New Urbanism, rgd res Estados Uncos ra ososda de 1060, Suas principals consbulge o alguns axempos de pro jetos do Comunidades Residences srdo opresenadys tra adie neste capita. BAIRROS, LOTEAMENTOS ECONDOMINIOS. cular com pontos de parada nas interseogées com as avenidas radiais. E importante enfatizar que Howard tinha absolutamen- te claro que estava propondo um modelo teérico e que qualquer plano de cidade dependeria de um estudo profundo do sitio aon- de esta se assentaria. Isso é esclarecido nas notas de cada ilustra- ‘do de seu livro, quando afirma que o desenho é apenas um dia- grama c que o plano deve depender do local selecionado para 0 projeto. ‘Omodelo ¢ dividido em seis fatias, de forma triangular, os istritos, limitados pelas citadas avenidas radiais (Figura 3). Se considerarmos que cada uma das seis fatias pode atingir uma populaco de 6,000 habitantes, pocle-se muito bem assumir que cada distrito contém uma Unidade de Vizinhanga?, ou até mes- mo admitir que um distrito de Howard seria uma Comunidade Residencial de Uso Misto', delimitada por duas avenidas radiais ea avenida perimetral localizada no anel externo industrial. Bietivamente, as icléias de Howard antecipam em varios ‘anos alguns elementos importantes da Unidade de Vizinhanga, Entre esses vale destacar: ‘io dos usos residencial e comercial; + afacilidade de acesso a servigos ¢ equipamentos de todas 1s partes da dea residencial evitando, porém, o trafego de passag + a localizagao dos equipamentos comunitarios - escola, reja e espacos abertos ~ junto as dreas residenciais, ser- indo aos moradores; + a localizagao dos equipamentos de uso coletivo - comér- 40, administragao e cultura — junto as areas centrais, ser- vindo ao conjunto de unidades residenciais e cidade como um todo. +a separ m; Unidade de Vizinhanga ‘A nogio de vizinhanga nao pode ser considerada um atributo urbano surgido com a revolugao industrial. De certa forma, ela 48, Elomentos de Composigeo: Modelos Espaccis Contemporaneos esteve sempre presente nas cidades e vilas. A cidade medieval, como bem lembra a obra seminal de Lewis Mumford (1998, p. 332-839), era de tal forma dividida em bairros, cada qual com sua igreja e alguns incorporando mercados locais, que consti- tufam espacos onde se estabeleciam relagées de vizinhanca, por- tanto, genusnas unidades de vizinhanca. Entretanto, fi Clarence Perry, um! planejador-socisto aprofundat a investigacdo Sobre a influéncia do arranjo espaci smericano, quem se dispOs a no comportamento dos grupos sociais ¢ nas relagées e préticas sociais estabelecidas no ambiente residencial das cidad« estudo fundamentou-se no prin Esse sociolégico de que a orga- nizagio comunitéria facilitaria o desenvolvimento de conscién- cia politica nos moradores de éreas residenciais e que a provi io de equipamentos comunitarios em localizagées estratégicas se ria um meio eficiente de ativar a comunicagio ¢ a parti Talvez 0 grande estimulo recebido por Perry sua pesquisa sobre o contetido de uma Unidade de twnha sido seu local de moradia, inhanga, m Forest Hills Gardens, no bairro do Queens, Nova York, Iniciada em 1908 com projeto e bientagio paisagistica da firma Olmsted Brothers, essa é uma ‘lay primeiras comunidades residenciais suburbanas planejadas ‘no Estados Unidos, certamente a primeira representante ameri~ ‘cana do movimento pré Cidade-Jardim langado por Howard. Vale igor que o trabalho de Howard, sobretudo 0 modelo espacial bana Cidade-Jardim, foi muito bem recebido, ¢ Jruvnou a ver largamente utilizado ou simplesmente copiado, tanto 4 Inglaterra como nos Estados Unidos, Morador de Forest Hills, Poy (sou essa comunidade planejada, dotada de servigos co suniliriog, ras locais com transito restrito e parques vicinais, Sonn laboratorio paraa der ivagio de sua teoria da vizinhanga, que Jo: oalqiente apresentacaem 1929 no documento Neighborhood and Seunuuuly planning, publi We York anid ite Environs, R Very define seis prinetpios ba lo como volume VI do Regional Plan of sional Surocy® Ds para a organ zacao de 9) Whbbede dle vieinhanga, relacionados d localizagio relativa 49 Taldacunsnio, qu pode sr cide coro Yanan e ‘pnsjmerto comuntino comurina o ole Vi db etido Pants regina de Nova lave e seu ent, 2 {gn agonal. enoorandada no ic da deca do 1920 po Fosse Sage Farnasten 0 taba aesbeu por go Varta tna em ura etre reestgago do car ubano0g0 Ta meomraneo dosages @progéstios lato para a Sado de Nova locus oo pan papas connie 0 tren de nian do Warhato, BAIRROS, LOTEAMENTOS ECONDOMINIOS dos equipamentos complementares e & distribuigo espacial e hierarquizagao do sistema viario: + Escola ~ 0 tamanho da escola determina o tamanho da Unidade de Vizinhanga, Em outras palavras, a populagao nao deve exceder Aquela que sustenta uma escola de ensi- no fundamental, a época aproximadamente 5,000 habitan- tes, A escola é 0 ponto focal da unidade, deve estar locali- zada em posicio central em meio a um parque, junto com ‘outros equipamentos comunitérios que tenham érea de influéncia equivalente ao tamanho fisico da unidade; + Espacos Abertos ~em cada Unidade de Vizinhanga 10% da dea deve ser destinada a espagos abertos, incluindo pra- as, jardins, parques esportivos e playgrounds; * Equipamentos Comunitérios ~ denominados por Perry cediffcios institucionais, as igrejas, centros comunitarios, clubes e bibliotecas clevem ser agrupados no entorno da ptaga central da unidade, junto a escola; * Areas Comerciais ~ devem ser previstos equipamentos comerciais compativeis com o tamanho da clientela na pe- riferia de cada unidade, preferencialmente em cruzamen- tos de vias arteriais, permitindo que parte da populagao de outras unidades faga uso conjunto do equipamento; tetiais e rotas de grande fluxo nao devem ‘cruzar comunidades residenciais. Ao invés disso, essas vias ever constituir 0s limites fiscos das unidades de vizinhanga; * Vias locais ~ as ruas da unidade devem apresentar pa- drGes de desenho co: com as condigdes de circu Iago e deslocamento em uma comunidade residencial, fa- cilitando a circulagéo interior, mantendo um baixo fluxo Vidrio e desencorajanco o tréfego de passagem, ‘O modelo de Uniclade de Vizinhanga pretendia, em sinte- se, apresentar uma eélula de viver bem, um espaco habitacional tranqtiilo, mas totalmente equipado com um grupo de ativida- 50 Elomentos de Composio: Models Espaciais Contamporanaos des complementares, dispostas e organizadas segundo regras especificas de localizacao ¢ distribuicdo, criando um ambiente resicencial qualificado ¢ estimulador de espirito gregério e da participagao comunitéria, Ao estabelecer como primordial a re- lagdo entre a habitagao e o equipamento de uso cotidiano ~ a escola fundamental ~ colocando-0 em uma posigao central, Perry sugere também o tamanho fisico da Unidade de Vizinhanea, dado ‘pela drea de influéncia de tal equipamento (Figura 4). Ponderan- do que a freqiiéncia a escola demanda deslocamentos diarios de uma populagao infantil, estabelece que a distancia maxima a ser percorrida por esta nao deveria exceder a um quarto de milha (aproximadamente 400 metros), dimenséo que corresponderia ao zaio de influéncia do estabelecimento de ensino, dos outros equi- pamentos comunitérios agrupados junto ao parque na rea cen- tral,.e-ao raio da propria Unidade, que foi modelada com uma forma circular (Figura 5). Comunidades residenciais conectadas ao tecido urbano: exemplos de projetos Nesta see foram selecionados parcelamentos planejados repre- sentativos do urbanismo residencial do século 20, Nao é inten- do apresentar um conjunto homogéneo nem, tampouco, des- crever apenas aqueles projetos que se sobressafram pela quali- dade do espago gerado. O objetivo é mostrar a recorréncia do uso de elementos funcionais e formais introduzidos pelos mode- los de Cidade-Jardim e de Unidade de Vizinhanga nas areas hhabitacionais urbanas implantadas ao longo dos tiltimos cem anos. Observe-se que os exemplos respondem as mais variadas situagdes, desde areas residenciais localizadas em cidades pla- nejadas, passando por reconversdes ou refuncionalizacao de éreas degradadas, porém conectadas & cidade tradicional, até peque- nas intervengdes e arranjos espaciais espectficos em quarteirdes residenciais de cidades de diferentes tamanhos, localizadas em 51 Figura 4 — Uma Unidade de Vizinharga oxbo ‘gada por Perry que ocuparia, de acordo corn sau esquema geral, cerca de 64ha, com doris dade aproximada de 25 familas por hoot 128hab/ha, Figure 5 — 0 modolo todrico do Uniclado co Viet ‘Mhanga, segundo Glaronce Perry, 1929. BAIRROS, LOTEAMENTOS ECONDOMINIOS diferentes latitudes, em diferentes momentos hist6rieos e com diferentes niveis de desenvolvimento. O destaque dado a secao se explica pelo entencimento de que a sistematizacdo da disciplina urbanistica é uma caracteris ca do século 20 e que essa se beneficiou de préticas projetuais alicergadas nas modelagens tedricas jé explicitadas, sobretudo no que diz respeito a produgao de comunidades residenciais, sem desqualificar projetos de areas de moradia implementados ante- riormente. Nesse sentido vale lembrar as intervengSes urbanisti- cas da cidade de Bath, Inglaterra, no século 18, realizadas pelos arquitetos John Wood, pai e filho, uma tentativa de recriar na paisagem urbana a arquitetura Palladiana. Os projetos das éreas habilacionais af desenvolvidos incluiram as “figuras” da via em semicfrculo ou em curva formando um arco ~ 0 crescent ~e da via em anel ou oval, o circus, configuradas por habitagdes em fita, ao lado de extens6es considerdveis de areas destinadas a argues e pracas arborizadas, elementos que vieram a ser inter- nacionalmente conhecidos como The Royal Crescent e Circus, E também no século 19, na érea central de Londres, onde o arquite- to John Nash realizou suas intervengdes, percebe-se onovo dite cionamento dado a configuracio dos nticleos residenciais, com as residéncias organizando-se no entorno de espagosas pracas na zona burguesa de May air. Em contrapartida, outros projetos de areas residenciais nao demonstram o mesmo cuidado, como é © caso dos inximeros nticleos habitacionais implantados nas ci- dades briténicas para acomodar a nova classe operaria surgida quase que da noite para o dia em fungio da revolugao industrial, Ainda que os conjuntos contassem com todas as condicées sanita- rias requeridas para a adequada vida urbana, as formas de parce- Jamento ¢ 0s elementos considerados no projeto urbanfstico so exclusivamente quarteirdes iguais, parcelados em lotes de igual tamanho, limitados por um sistema viério indiferenciado. Nao hanenhuma previsdo de espaco aberto, drea para equipamentos de uso coletivo ou qualquer elemento com um gran minimo de diversidade. a) Elomontos de Composigo: Madalos Espacals Contempordnans Letchworth, Inglaterra Projeto de 1903, da dupla de arquitetos ingleses Barry Parker ¢ Raymond Unwin, foi o primeito a adotar os principios preconi- zados no modelo te6rico de Howard, inaugurando 0 movimento Cidade-Jardim. Interessa aqui destacar o tratamento dado as pri: :meiras reas residenciais implantadas com a colaboracao de di- versos arquitetos britanicos, que participaram, jé em 1905, de concurso organizado para a producdo de moradias. Ao se engajar na competicio Cheap Cottages Exhibition’, dispondo-se a ceder 0 espaco para a montagem dos protétipos das unidades concor- rentes e sediar a exposigdo, a First Garden City Ltd, empresa for- mada para desenvolver a primeira Cidade-Jardim da Inglaterra, enxergou uma excelente oportunidade de tornar Letchworth mai conhecida e visitada, além de visualizar que 0 potencial habita- ional aportado, quando terminada a exposicao, poderia viabi- lizar a demanda posta pelos novos moradores, os operarios cons- trutores da cidade. Também era seu objetivo, em linha com as intengdes da exposicdo, estimular o estudo de alternativas técni- cas ¢ métodos construtivos que viabilizassem a produgio de ha- bitagGes de alta qualidade com o barateamento do custo da cons- trucdo civil e, ainda, abrir novas oportunidades para a insergio de arquitetos jovens e inovadores no mercado de trabalho, O conjunto de habitagdes projetadas pelo arqquiteto Geoffry Lucas nos terrenos que conformam 0 cul-de-sac de Paddock Close, vencedor desse primeiro concurso na categoria Grupo de Peque- has Habitagées, exemplifica bem as possibilidades de dim ‘cio de custos pela composicao de unidades, utilizagdo de mate- imples e desenvolvimento arquitet6nico adequado. Quan- lo ao parcelamento do solo das dreas residenciais, de Parker & Unwin, é possivel destacar alguns arranjos espaciais meritérios na da cidade que fot inicialmente desenvolvida. O parcela- mento de Bird’s Hill, por exemplo, privilegia as caracteristicas haturais do terteno e seu entorno, a0 posicionar os lotes em fun- «lo da melhor vista do meio rural (Choay, 1969, p.79). Dessa de- ria 53, A Bxtighe do Chale de ato Cito ee ergnay em una ssrads canosrra pralstca ect a carci eprooaroca {a demaradn norm ra brtiion. sports m0 ‘0 tna iniabilzado a produ do habitation adc. de, preos eanpolies, co on recursos evra lado. Prema incites pases chef oal 7 ‘Spectator os para in dese aos profesals burn. ‘be barluamarto da conavugo plo etuda de sri Tecrodgtas, pea mestgarso oa roves maces db wa. ro, palo us do novos atrial cei do rumerios de cortle legal, coma pxcdu30 do nic ‘ab omnto ce tt 150 eras eatrnas ‘acelamento Bira’s Hil, Letchworth ty, projeto Parker & Unwin, Ocupagtio brados corn telhas ceramics, for- nu nansardaa, diminuindo 0 custo da cons- " por sorom esas mais econémicas que Projeto de Vi Dunkeriey. Parcolamento Pimore, Letchworth 1y_projoto Parker & Une, 1907-1908, BAIRROS, LOTEAMENTOS ECONDOMINIOS cisio resulta um loteio bastante irregular, com lotes dispostos em diferentes Angulos, com forma e tamanho variéveis, criando diversidade morfoldgica no ambiente resiciencial. Esses so par- cialmente ocupados pelo conjunto de casas projetadas por V. Dunkerley, em 1905, para a Exibigao de Chalés de Baixo Custo, complementadas por habitagdes de 1906 dos préprios autores do projeto (Figura 6). JA parcelamento de Pixmore, iniciado em 1907, adota a descentralizacio e diversificagao do sistema de espagos abertos, com jardins, pracas ¢ dreas de esportes dispersos junto aos lotes residenciais e um sistema vidrio rigorosamente hierarquizado, com separacdo da circulacao veicular e de pedestres dentro do parcelamento, e a via arterial contornando a urbanizagdo, ele- mentos avancados por Howard no modelo de Cidade-Jardim (Figura 7). A Inglaterra, como 05 Estados Unidos, vé no movimento Cidade-Jardim uma possivel estratégia de ordenagio do proces- so de expansio metropolitana e de ocupagao das periferias, en- ‘80 em curso. Na mesma linha dos parcelamentos residenciais adotados para Letchworth e, posteriormente, para Welwyn Garden City, comegam a aparecer os subtirbios-jardim, sendo o primeizo, e talvez mais conhecido exemplo, o Hampstead Garden Suburb, implantado em 1907 a nordeste de Londres. Vale desta- car no projeto, também de autoria de Barry Parker e Raymond Unwin, o sistema de circulagio hierarquizado, com vias exclusi- vas para pedestres e a presenca de cuilsde-sac, objetivando criat um ambiente comunitério tranqitilo e seguro que permitisse enfa- tizar as relagdes diretas e a interagio social. Radburn, New Jersey, EUA A importancia da comunidade de Radbum ¢ atribuida basica- mente 2 sua furndamentasao te6rica e histérica, Projetada pelos arquitetos Clarence Stein e Henry Wright (Figura 8), objetivando traduzir tanto os prinefpios preconizados pelo movimento Cida- 5 A lementos de Composicdio: Modelos Espaccis Contemporéneos de-Jardim como os critérios compositivos definidos no conceito de Unidade de Vizinhanca, foi fundada no ano de 1929 com a pretensio de tornar-se a primeira cidade projetada espe te para receber e acomodar o vefculo automotor, Efelivamente, Radburn consolidou a nogio de hierarquia vista, tornando mun- dialmente conhecidas duas novas figuras urbanisti ma de circulagio com separacao entre pedestre ¢ vefculo ¢ as ruas sem safda, 08 culs-de-sac. Com 0 uso sistemitico cesses cle- ‘mentos foi possivel tracar um circuito totalmente independente pera a circulacéo de pedestres dentro das zonas residenciais~as Unidades de Vizinhanga — permitindo aos moracores 0 desloca- mento para escola, igreja e comércio sem ertizat vias utilizadas por automéveis (ver esquema de cir Figura 9). resultado de todo esse esforgo de tracuizir e articular os ialmen- 1st 0 esque dois modelos, transformando-os em uma produgio conereta adaptadaa um territério especifico, acabou tendo um efeite muito mais simbélico do que real. Na verdade, a implantagio de Radburn no distrito de Fair Lawn, estado de New Jersey, em drea situada aproximadamente 20 km a noroeste da ilha «le Manhattan, cruzando 0 rio Hudson, iniciou po ncle depres- sio de 19297, o que determinow a pronta interrupgao das obra um legado urbanistico inconcluso. A previ tuma cidade modelo, um experimento completo para cerca de 25,000 habitantes, ficou restrita 4 ocupagio residencial de pouco mais de 3.000 pessoas. A propalada cidade moldada para a ida- dle do veiculo automotor acabou nao se concretizando, 0 impac- lo urbano de Radburn nao foi maior que a ocupagao periférica do nordeste de Londres, Hampstead Garden Suburb, na primei- 1a década do século 20, F observe-se que esses mesmos elemen- tos urbanos consolidados em Radburn ~ a circulagio de pedes- \ves eo cul-de-sac—jé tinham sido delineados em Hampstead mais le vinte anos antes. De qualquer maneira, 0 valor e o legado de Radburn, de seus projetistas e de sua fundamentagao teérica, nao podem ser subestimados: eles passam & hist6ria do urbanismo do século 20, dando visibilidacle e mostrando com clareza possi p antes da ge 10 original de langar Figura 8 - Radburn, Cidade-Jarcim, projeto Clarence Stein & Henry Wright, 1929, com Uni- ‘dades oo Vizinhanga, seguindo modelo indica. do por Perry vias locais ~]habitagio [trea tore para pedestres === caminhos de pedastees ‘niu 9 = A interpretagao de Colin Buchanan (194 do prinefpio de planojamento adotado em Habu, prorat poto Patment trio, cont pra del rova rece ogee rept poi de Now Tan BAIRROS, LOTEAMENTOSE CONDOMINIOS bilidades alternativas de utilizacdo de elementos estruturadores do espago residencial, configurando arranjos urbanisticos ino- vadores, pelo menos & 6poca de sua divulgacao. As New Towns briténicas (Os projetos agrupados e apresentados na seqiiéncia representam a experiéncia de planejamento e desenho urbano briténico do és-guerra e resultam de medidas tomadas imediatamente apés © término da Segunda Guerra Mundial, visando estabelecer, no Reino Unido, uma politica de desenvolvimento regional, contro- le do crescimento e/ou recuperacao urbana, de ambito nacional. Tal politica foi sintetizada no New Towns Act*, promulgado em 1946, que teve como efeito quase que imediato a designagao de varias cidades novas articuladas as principais metr6poles brit4- nicas, sobretudo Aquelas em situagao mais precéria, como Lon- dres, que tinha sofrido particularmente os efeitos da guerra, seja pela enorme destruigao causada pelos bombardeios, seja pela intensa migracdo rural-urbano resultante da situacéo de instabi- lidade. Nao ¢ objetivo deste texto estender-se em avaliagdes so- bre a efetividade dessa politica, mas antes investigar as bases conceituais ¢ apontar as estratégias de distribuicao do uso do solo com separagio de fungées dos planos das novas cidades ¢, especialmente, examinar os arranjos espaciais adotados para os bairros ¢ reas de moradia, A primeira geracio de cidades novas teve infcio em 1946, logo ap6s a promulgacio da lei, com a desig- nacio de Stevenage, seguida logo em 1947 por Harlow, Aycliffe, Hemel Hempstead e Crawley, todas na area de influéncia de Londres. Na Escécia, a decistio de implantar East Kilbride na periferia da velha cidade industrial de Glasgow, ja em 1947, ti- nha também como prineipal objetivo contribuir para o equacionamento da crise do setor habitacional, particularmente grave naquela parte do Reino Unido. primeizo grupo de cidades apresentava modelos espa- ais simples, estruturas previstas como satélites da metrépole, ala eactiagto do Frengise Tomadasna debt lo nbarema ox aber nalstae rooze BAIRROS, LOTEAMENTOSE CONDOMINIOS 90mx250m, é © médulo de circulagdo dos pedestres no interior das comunidades residenciais. Comunidades residenciais planejadas em Porto Alegre Mas nao sé 0 mundo desenvolvido sorvia os ensinamentos ¢ apli- cava em seus projetos de expansio urbana as influéncias trazidas pela nova forma de ver a cidade e suas reas residenciais, No Brasil, e até no mais recéndito sul do pais, a nova ordem estava sendo acompanhada com interesse, e nao tardou para que fosse posta em pratica, em projetos de categorias bem diversas. Os dois exemplos de dreas residenciais planejadas sinteti- zados posteriormente tinham caracteristicas, objetivos e perfil de clientela completamente distintos, comecando pela localizacio, um na zona norte, jé bastante urbanizada, outro na zona sul ra- refeita, um em terreno ondulado de 60 hectares, outro em terre- no dividido metade plano, metade escarpado, com 120 hectares. Um voltado para o mercado imobilidrio privado de rendas mé- dias, outro procurando viabilizar a caréncia de moradia do traba- Ihador industrial através dos Institutos de Aposentadorias ¢ Pen- sdes—IAP’s, Um parcelando a terra e colocando os lotes a venda no mercado € outro constituindo 0 espago como um conjunto habitacional, incluindo parcelamento, urbanizacao e produgio da moradia, Reconhecendo essas diferencas na sua génese, suge- re-se também que 0s dois espagos mantém em comum alguns Pontos, ou mesmo curiosidades, a seguir enunciados: a época de sua implantagéo - década de 1940; 0 prenome- Vila;¢ a corrente urbanistica que norteou cada um dos projetos de urbanizagao — Ro caso 0 urbanismo culturalista, cujo mentor era Ebenezer Howard, desde que teve a ousadia a chamar as pessoas de volta a uma vida mais simples, com a proposta de uma nova estrutura fisica, a Cidade-Jardim, que pudesse aliar os beneficios das duas formas de vida? O primeiro, simplesmente para seguir a or dem cronolégica dos fatos, 6 0 loteamento da Vila Assungao, que se localizou na periferia sul da cidade de Porto Alegre, a 62 Elomentos de Compesigéo: Modelos Epacials Cantemporéneos partir de 1937. A outra rea a ser apresentada é 0 Conjunto Residencial do Passo d’ Areia, hoje conhecido como Vila do IAPI, iniciado em 1946. Vila Assungéo A Vila Assungao, parcelamento residencial de baixa densidad, com 120 hectares, junto ao Lago Guatba, & o resultado de uma parceria entre uma familia proprietéria de terras, a familia As- sungao, ¢ a empresa incorporadora Di Primo Beck. Atrov um acordo, a referida empresa assumiti o controle das terras na década de 1930, comprometendo-se a encaminhar um projeto de urbanizacao para a gleba reservando, evidentemente, alguns ter renos para 0 uso da familia. Localizada em drea periférica, na zona sul de Porto Alegre, um tradicional lugar de veraneio e de acomodagées de fim de semana, a chacara dos Assungéo tinha, no entanto, a vantagem de ser relativamente perto do centro da cidade — cerea de dez quilémetros — além da boa acessibilidade, © que explica a sua répida insercao no mercado de terras urbano. projeto urbanistico (Figura 14), claborado pelo engenheiro Ruy de Viveiros Leiria para a Imobilidria Vila Assungio, empresa constituida especialmente para administrar 0 empreendimento, {foi iniciaclo imediatamente, no ano de 1937. Desde sua constitui- ‘do percebem-se similaridades com as praticas de parcelamento de dreas periféricas, vigentes na Inglaterra e Estados Unidos, ou seja: forma-se uma companhia para administrar a urbanizacao de terras periféricas, porém conectadas ao tecido urbano, adqui- ridas a terceiros; contrata-se um profissional de alto nivel para desenvolver © projeto de parcelamento em conformidade com 0s principios difundides pelo movimento Cidade-Jardim, A urbanizacio da érea tinha por objetivo atrair uma clien- tela de classe média que estivesse dlisposta a mudar seus habitos, passando a realizar deslocamentos mais extensos para trabalho © comprasem uma época em que 0 automével particular era uma rvalidade para poucas familias abastadas. Entre as vantagens ofe- de 63 Figura 14 ~ Projelo urbanistico da Vila Assun- a0, Porto Alegre, de 1937, por Ruy do Viveitos Lora, Figura 15 - Equipamento comorcial da Vill Al sungo, um supermercad, implant. exala ‘mente no mesmo iolo provislo No projela We 1997. pHa Equipamento ce recreagao infantil, atte lo sistema de espagos abertos artculado 1s do padestres, 4 igita 17 Equipamento escolar e sua interface 0 espago pablico mediada per muros de \gioinha da Vila sung, rele feqiuipamonto cultural da 6o- BAIREOS, LOTEAMENTOSE CONDOWINIOS recidas situavam-se, além da boa acessibilidade garantida por ‘um acesso direto ~ uma “faixa de conereto” conectando 0 centro da cidade & zona sul -, a possibilidade de morar préximo ao tio ‘em area com mais de dois quilmetros de litoral, com paisagens ¢ vistas deslumbrantes, ¢ uma urbanizagao de alta qualidade, baixas densidades, tranqtiilidade e moradias potencialmente con- fortaveis. terreno apresenta duas morfologias bastante diferencia- das, sendo de um lado praticamente planoe, na outra parte, uma encosta bastante acidentada, com declividades e cortes abruptos que, em alguns pontos, criam dreas inadequadas para a urbani- zacio. O projeto mostrou-se bastante competente no tratamento dado a essas duas éreas tio diversas, localizando a via de acesso a0 loteamento justamente no limite entre a zona alta e a zona baixa, ctiando uma conexio entre elas pelo sistema de espagos abertos. O espago aberto 6 sem divida, o elemento estruturador do parcelamento, usado intensivamente ¢ criando um sistema hierarquizado e articulado através de passagens de pedestres, inchrindo ainda pequenas pragas localizadas no interior dos quar- teirdes (que 0 autor denomina play-lots, equivalentes a play- grounds) com acesso através das citadas passagens. Sao também. Previstos equipamentos comerciais, igreja e duas escolas, uma localizada junto ao centro comercial e outra proxima ao acesso do loteamento (Figuras 15 a 18). Sem divide a urbanizagio da drea da Vila Assungio me- rece ser examinada em detalhe, pela evidencia, que até hoje nos passa, de uso adequado do sitio ¢ de suas condigdes topografi- cas. Destaque € dado para o sistema vidrio o qual, em nenhuma situagio, atinge declividades superiores a 10%, mesmo nas éreas de encosta mais ingreme. F bem verdade que, entre os objetivos maiores do projeto, esto: tirar partido das condigées topografi- cas, explorando 0 terreno do ponto de vista paisagistico evitan- do, porém, movimentos desnecessdrios de terra, tanto cortes como aterros; proporcionar o escoamento aclequado das aguas de su- perficie; faclitar a livre circulagao dos moradores no interior da ot Elomenios de Composgdo: Modelos Espacicis Cantempordincos unidade residencial (Leitia, 1940, p.17). Evidentemente, ajustar ‘um terreno com topografia acidentada a uma proposta de ocu- pacdo residencial com esses objetivos implica em realizar estu- dos de otimizacao de tragados vidrios, que devem ter pautado 0 desenvolvimento do projeto do loteamente. Vila do IAPI A Vila do IAPI, localizada no bairro Passo d’Areia em Porto Ale- gre, resultou de um projeto desenvolvido entre os anos de 1942. 1946, que visava prover moradia de qualidade para os operérios industriais, no bojo da legislacio social introduzida para as éreas urbanas pelo governo brasileiro, a partir da década de 1930, As- sentada sobre uma érea periférica, todavia bem conectada ao tecido urbano, e relativamente préxima a zona industrial da metrépole em formacao, 0 projeto se inscreve entre outras inicia- tivas realizadas com fundos dos institutos de aposentadoria ¢ pensio." So 67 hectares de terreno, parcelados para a ocupacéo residencial, acompanhando de algum modo os principios embu- tidos na vertente culturalista do urbanismo (Figura 19). O enge- nheito Marcos Kruter, autor do projeto urbanistico final do TAPI, afirma nao ter tido conhecimento prévio do modelo de Cidade- Jardim, ou de alguma das cidades realizadas & época a partir daqueles conhecimentos tedricos" e que sua motivagio maior era aportar uma comunidade plasticamente atraente e tecnica- mente adequada. E complementa argumentando que o bom sen- so Ihe pareceu um indicador seguro da pertinéncia de localizar equipamentos comunitarios no interior da unidacie (Fayet & Equi- pe, 1994, p.25). De qualquer maneira, observe-se que o resultado espacial revela um modelo bem estruturado, com 0 uso intensi- vo de areas verdes centralizadas pelo grande espaco central re- servado para a prética de esportes (Figuras 20 ¢ 21). Com 0 inicio das obras da Vila do IAPI, em 1946, houve uma mudanga significativa na configuracao do bairro Passo d’Areia, no que diz respeito ao grau de urbanizacgo. Emulada Figura 19 ~ Projeto final da Vila do IAPI, 1048, por Marcos Kruter "© Cutos peace emlares 20 IAP, xaeuadoe no reso ~ pariodo, 200.0 Canhrto Roaencisl do Rasengo, fl do ‘ros Fredron Ferrera, pln «part d 180 co sfraao © pierevo bios habiaconal modern; 9 CoN) 9 Foscdancdl Pecoguho, Ri, do 1947, por Aonco Eh) Fey poets da Vla Gra, er Sto ANG, SP 109). de Canoe Ferera;o Corpo Habiacona de 00, dt 1954 por Rac, © Conjunto Resdencl de Via inkl 1855 Ge Franelssa Berna, Errata dada & equ que eakcu tab cord ela Secretaria do Planojamert nip PPA do av fo da Ula do IPI oem, pare stearic, rb 9 ee Sonazio do wcut Caos Maven Faye, om 1004 'BAIREOS, LOTEAMENTOS ECONDOMINIOS pelo projeto, reconhecidamente moderno e inovador, toda a drea passa por um processo de densificagio acelerado. A prépria Vila do [API se organiza rapidamente como um parcelamento do solo com a producéo da habitagio, tecnicamente falando, como um conjunto habitacional, oferecendo moradia para quase 2500 fa- milias de operdrios industriais, Foram exploradas varias tipolo- gias habitacionais, introduzindo, jé na segunda fase de desen- volvimento do projeto sob a responsabilidade do engenheiro Edmundo Gardolinski, tipologias multifamiliares visando a aco- modar um ntimero maior de familias. Na versao final, finalmen- to estruturador do projeto date implementada, os edificios de apartamentos foram convenien- 11.180" espace aberto cerita pars #pré-_temente localizados junto as vias de acesso e maior fluxo vidrio \ echitdt poplddgho es bate 8 do novo Conjunto Residencial (Figuras 22 e 23). A qualidade do espago habitacional gerado ¢ indiscutfvel. A antiga vila do operariado industrial é hoje reconhecida como ‘um importante patriménio urbanistico da cidade de Porto Ale- ‘gre, cultuado por todos, no entanto ameacado de degradagio (Lapoli, 2006). E essa qualidade decorre de suas caracteristicas projetuais, embasadas na interpretag2o de valores de urbanidade que séo reconheciveis na cidade tradicional, que incorporam elementos culturalmente sensiveis, e, respeitando 0 sitio acidentado, dialogar com os movimentos da natureza. As construgées, por sua vez, s30 ‘mo- demas’, arejadas, eficientes. (Andrade, 1994, p. 149) As diferengas entre as duas areas habitacionais planejadas em Porto Alegre no decarrer da décadla de 1940 ficam evidentes nas descricées apresentadas. Enquanto que a Vila Assungao é uma iniciativa do mercado imobilidrio, a Vila do [API é vaestatal; a clientela da primeira ¢ a classe média em seu proces- so de suburbanizagao e a da segunda é 0 novo operariado indus- trial demandando moradia; a urbanizagao, parcelamento do solo Poquonas dteas alardinadas quai. “Por meio de um loteamento, praticada na Assungo contrasta oulorno residencial @ cram diversicade com 0 conjunto habitacional implantado no LAPI; e, finalmente, ® yosayomn urbana destaca-se a acentuada diferenca entre os terrenos examinados, 66 Elomontes de Composé: Modelos Espacais Contomporéneos pelo tamanho, peculiaridades do sitio e caracteristicas do entor- no. A gleba onde foi implantada a Vila Assuncao é uma extensa rea (120ha) protegida por um relevo particularmente irregular ¢ banhada por mais de 2500 metros da orla do Lago Guaiba, lo- calizada na zona sul, érea de ocupacao rarefeita, enquanto que a Vila do IAPI localizou-se em um terreno bastante ondulado e amplo (67ha), mas assim mesmo representando pouco mais de metade da area do primeito, na zona norte da cidade, vetor de crescimento e drea em densificagio permanente em virtude da conexao com a regiéo metropolitana, Estas diferencas néo desqualificam quaisquer avaliagdes que possam ser feitas sobre areas e comunidades residenciais planejadas no transcurso do século 20, £ absolutamente legitimo afirmar que o planejamento urbano desse século foi largamente embasado em elementos do conceito de unidade de vizinhanga e de cidade jardim, utiliza- dos indistintamente por sociedades de todos os continentes, ideo- logias e nfveis de desenvolvimento. A interpretacdo de Unidades de Vizinhanca no movimento moderno. A aproptiagio do conceito de Unidade de Vizinhanga, de fato, no conheceu fronteiras, nem ideologias, tampouco correntes urbanisticas. © préprio movimento moderno que antecipava um mundo conduzido pelo “homem universal”, e em seu nome pen- sava a nova cidade, advogando como solugéo para as mazelas urbanas 0 estrito zoneamento funcional das atividades huma- nas, adota a nocio de vizinhanga no desenho das éreas residen- ciais. Essa interpretagao modernista de Unidade de Vizinhanga é percebida desde 0 pioneiro Plan Voisin de Paris, esquematizado em 1925 por Le Corbusier. Argumenta-se que o plano, primeira manifestagao do arquiteto suico de por em pratica seus estudos e observagdes eriticas sobre a estrutura urbana, tem suas bases conceituais na experiéncia vivida em La Chaux-de-Fonds, sua ci- dlade natal, Esse micleo, surgido como pequena vila de monta- 7 Figura 22 - Tipologias unifamilares, projoto de Edmundo Gardolinek. Figura 23 -Tipologias multifamilares, projeto de Edmundo Gardolinski, localzadas junto ds vi Ge rraior fuxo vidio.

You might also like