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Maria Helena Capelato- Professora livre-docente do Departamento de Higa de Unie: de de Séo Paulo. 5 Getilio Vargas ao poder. Esse tipo de polftica, voltada para as ices sopilare, dbebotiela se “ho perfodo entre as guerras 4 partir das'criticas’a0 sistema liberal, considera do incapaz de solucionar os problemas sociais.-Nesses. anos mat iifestou-se na Europa, e em outras partes do mundo, uma crise do liberalistia: os impactos da Primeira Guerra ¢ da Revoli¢do Russa provocaram, segundo inumeros. autores, uma crise de consciéncia generalizada que; por sua'vez; resiiltou mi criticas A democracia represéntativa parlamentar ‘de cunho individualista. : Correntes intelectuais ¢ politicas antiliberais'¢ antidemocréticas, de diferen-" tes matizes, revelavain extrema Preocupagao com a. ‘questo sociale muito se = discutia sobre novas formas de controle‘das massas como intuito de evitdr a ecloséo de revolugées socialistas.,” Uma das solugdes propostas era.a.dé controle social através, da presenga de um Estado forte comandado por um‘fder carismatico, capaz dé conduzir’ as massas no caminho da ordem. Essa politica foi adotada em alguris pafses. europeus, assumindo caracteristicas especificas'em cada um deles. Regimes como o fascismo.na Itélia, o nazismo na Alemanha, 0 salazarismo em Portu--" gal ¢ o franquismo na Espanha foram constituidos nessa época. O sticesso. ~ das experiéncias italiana e alema servit de i indpiragéo pata reformas poltt icas que ocorreram em-alguns atses lesinoramericans : Brasil e Argent a espe- cialmente, Apesar de apresentar cairacterlticas peda oO o Estado Novo" ‘brasileiro st teve inegavel inspiragao européia. Um .trago comum foi a critica’ a liberal democracia ¢ a proposta, de organizacao de um Estado forte ¢ astorittio, 2 0 BRASIL REPUBLICAN cencarregado de gerat as mudangas consideradas necessérias para promover © progresso dentro da ordem. ‘© crescimento de movimentos sociais ¢ politicos na década de 1920 fea com que 0 fantasma da Revolugéo Russa assombrasse setores das elites inte- lectuais e politcas brasileias. A questio social passou a ser debatida intensa~ ‘mente e muitos questionaram as nstinuigbesliberas vigentes pela incapacidade de vencer 0 “straso” ¢ controlar a “desordem” reinante no pats. [Nesse conzexto, as dificuldades da economia brasileira, muito afetada pelo crack da bolsa de Nova York em 1929, serviram para acelerar 0 processo de mudanga que vinha sendo apregoado nos anos anteriores. A conjuntura de crise provocou revolugdes em vérios paises da América Latina: no Brasil ocorreu, em outubro, a Revolugio de 1930, que acarretou modificagées importantes no pals. Com a vit6ria dos “revolucionérios” de 1930, as correntes autoritérias foram se fortalecendo. Elas se opunham & Constituigio liberal de 1891, con- siderada mera c6pia de formulas estrangeiras e, portanto, inadequada 8 rea- lidade do pats; alegava-se que 0 povo brasileiro ainda nao estava preparado para 0 exercicio da democracia. Para os criticos do liberalismo, os erros da Primeira Repablica, que precisavam ser cortigidos, advinham dessa inadequacio. ‘A reform politica se deu a partir do golpe de 10 de novembro de 1937, sob lideranca de Getilio Vargas, com apoio do Exército ¢ de outras forgas antidemoctéticas. O povo foi comunicado do golpe a partir de informagSes ‘obtidas pelo ridio. A mudanga politica produtiu um redimensionamento do conceito de democracia norteada por uma concepeio particular de repre- sentacio politica ¢ de cidadania; a revisio do papel do Estado se comple ‘mentou com a proposta inovadora do papel do Ifder em relaglo &s massas € apresentagdo de uma nova forma de identidade nacional: a identidade na- cional coletiva, ‘Apés 0 advento do Estado Novo, dew-se a consolidacéo de uma politica de masses que vnha se preparando deseo ino da dead, Constituidos a partide um golpe de Estado, sem qualquer participagéo popular, os repre- sentantes do poder buscaram legitimacio e apoio de setores mais amplos da sociedade através da propaganda, veiculada pelos meios de comunicagio, 110 0 stave’ nove: 9 aui jnouxe over voltada para a sociedade, em geral, ¢ para as classes populares, em particu- Tar, Além da busca de apoio, a integracdo politica das massas visava 20 seu controle em novas bases. (© ESTADO NOVO NA VISAO 00S HISTORIADORES Oestudo do Estado Novo tem sido alvo de grande interesse dos historiado- tes a partir de meados da décads de 1980, época que coincide com a rede- ‘mocratizacio do pats. Supde-se que a motivagdo para o estudo desse perfodo ‘esteja relacionada as tentativas de compreeiisio’ mais aprofundada do fend- meno do autoritarismo no Brasil, ignorado peloé autores que, no passtdo, ‘haviam enaltecido o pais “cordial!” e“pactfico®. O regime militar cdntribuiu, para o questionamento desse mito einicentivou 6s estudiosos de nossa hist6- ria a revisitarem um passado ainda recente —a era Vargas —; buscando iden- tifcar, nesse perfodo, formulas autoritStiascujos tracos persisticam ria culeura politica brasileira, mestno depois do seu'fim, Reconstituir a dethocracia no Brasil implicava olhar para essa época com éutros élhos, buscando aspectos pouco analisados pelos trabalhos de pesquisa até entdo realizados sobre © perfodo. A tnfase recaiu nas décadas de 1930 ¢ 40 e 0 Estado Novo mereceu es- pecial atencio, Muitas pesquisas foram, » continiiam senda, realtredae enm © objetivo de colocar novas questbes a esse passado que levacam ao estudo de aspectos nao abordados até entio. Muitos temas se constitufram em obje- ‘Wdeinvestigagio. Cabe mencionéelos: culeura politicas mundo da trabalho; novas formas de controle social; papel da'policia politica ¢ formas de repres- ‘so; organizagio do Departamento de Imprensa'e Propaganda (DIP), suas priticas de propaganda ede censura; politica cultura’ do Estado atwando sobre produgSes artisticas como miisica, artes.plésticas, cinema; significado dos imagindrios sociais criados ¢ rectiados na época através da manipulacfo de simbolos, emblemas,sinas, criagio de mitos, cerimOnias civicas.e esportivas ‘edemais espetéculos do poder; imporcincia des meios de comunicacior seu uso politico, ¢, neste aspecto, foram realizados trabalhos sobre imprensa rédio, documentétios, revistas, livros e deinais publicacées do DIF; polticas i gragio; preconceitos racial e social; educagao ¢ ensino; atuacéo da Igreja te relacio'do catolicismo com’ tentatiya de sacralizagio da politica. ©” Além'de novos éstudos, a retomada desse perfodo suscitou um impor- tante debate accica das formas de interpretagdo sobre essa experiencia po- Itica} O coneeito de “populism” foi 0 alvo central da polémica.' Alguns autores passaram a questionar'a eficdcia do conceito para explicar o fend- meng enquanto outros'o reafirmaram actescentando novos dados as reflexbes, ae +.” Nota-se; também, que o debate sobre as questées interpretativas é infor- mado pelas visdes de mundo dos participantes. Para uns, o “varguismo” ou *getulisrao” (até na derigininagio hé diferengas) apresentou aspectos mais positivos do que negativos ¢’por isso a sua heranga é valorizada em termos das conquistas socials; para outros, ésse perfodo, sobretudo 0 do Estado Novo, é questionado miais a fundo pelo cardter autoritério dessa experiéncia, no 's6 no que.se refere a natureza do regime, mas também no que diz respeito a formulaggo da politica trabalhista, Neste caso, pretende-se que essa heranga seja superada, 9 “Aimportincia desses éstudos € ainda maior quando se leva em conta que, tho debate politico etual, 0 varguismo acabou se tornando, para uns, uma bandeira de luta contra a polftiea neoliberal, para outros, uma experiencia a/sef supetada completamente. ‘Como aste texto se vefere an Ratado Novo, muitas das interpretagSes mais igenéricas sobre o varguisino ido poderdo ser aqui contempladas. Interessam aperias as-quie se referém as-décadas de 1930 ¢ 40 ¢ nesse recorte preciso esclirecer alguns aspectos rélativos & periodizagio.* Em prinieiro lugar, a chamada primeira fase do governo Vargas, ou sea, “nos anos 30 ¢ 40, nao constitui um:bloco homogéneo, Cabe distingui-la, propondo uma divisio em dois niveis: 4) 1930.2 1937 foram os anos de indefinicho, quando intmeros projetos | propostasestavan sendo postos em pauia e quardo, também, a fociedade se mobilizou intensamente em torno deles: O campo de possibilidades, nessa ocasifo, era imenso e © governo se movia em terreno movedigo..- yi 0 ESTADO NOVO: 0 CUE TROUXE DF Novo? 2) 1937 a 1945 correspondem a vigtncia do Estado Novo, que se carac- terizoui pela introdugio de um novo regime politico orientado por novas regras legais ¢ politicas. No entanto, esse momento também do € homogtneo porque as circunstincias externas ¢ internas sio responsveis por mudangas significativas no jogo politico. A entyada do Brasil na Segunda Guerra constitui um marco de mudanga impor- tante nos rumos do Estado Novo. Por este motivo, propSe-se a divisio desse perfodo em dois momentos: a) 1937-1942: caracterizou-se pelas reformas mais significativas e pela ten- tativa de legitimagio do novo regimes b) 1942-1945: com a entrada do Br silna guerra, 20 lado dos aliados, as contradig6es do regime ficaram expicitas, Nesse perfodo, o governo se voltou, de forma mais deta, para as classes “Trabalhadoras, buscando apoio. Pretende-se mostrar que, nos des perfodos, o Estado Novo definiuse pelo autortarismo gragas a0 intenso controle politico, sociale cultural e pelo cerceamento das liberdades em muitos planos houve repressio ¢ violéncia extrema expressa nos atos de tortura, © perfodo se caracterizou também pelas significativas mudangas promovidas pelo governo. Elas ocorreram em varios nfveis: reorganizag4o do Estado, reordenamento da economia, novo dire- cionamento das esferas pilicae privada, nova relagéo do Estado com a s0- ciedade, do poder coma cultura, das classes sociais com poder, do Ider ‘com as massas. Além disso, a conjuntura internacional, marcada por aconte~ cimentos extremamente importantes, que culminarai com a ecloséo da Se sgunda Guerra, obrigaramo pats a redimensionar suas relagbesinternacionais assumie posigBes que se definiam a partir do complexo jogo milar ¢ di- plomético. Portanto, a conjuntura externa também ajuda a explicar as mu- ddangas ocorridas durante o Estado Novo, desde sua ascensio até a queda, ANTECEDENTES DO GOLPE ‘A.década de 1930, como jé foi dit, foi um perfodo de grandes mudangasno pals. Depois da “Revolugio”, abriuse um leque de possibilidades de cami- ana fo sansie a i sociais propunham medidas diferentes para solucionar caer anna sabre pals. Osco agri, apés 0 crack da ols de Nore York, debilirou-se muito. Amplo debate se estabeleceu em torno da questo do desenvolvimento do pais e sobre o melhor percurso a ser rls: dd para a superagio, nfo 96 da crise, mas também do “ataso” em relagio ‘aoe paises capitalistasavancados. Polémicas foram travadas acerca da ques tSo social e novas formas foram propostas para solucionar os conflitos so~ ais. As discusses em torno da natureza do Estado, tema amplamente [debitido na Esropa e em outros paises da América, polarizou posigées: har ‘van setores favordveds 2 manutengio de um Estado liberal descentralizado € com limitado poder de intervengio no plano ecoabmico, socal, politico € ccoltural e oures, seguindo as novas tendéncias internacionas, favordveis a tum modelo de Estado forte e intervencionista. No plano politico, os confli- t0s foram violentos em torno da questio da centralizagio politica versus auronomia dos estados. = ‘© Governe Provisécio deu inicio a uma politica centralizadora que aca- ava com a azronomia dos Estados. O federalismo, introducido com 0 regi- sme repuiblicano, acabara benefiiando as unidades mais préspera da federapio — Sag Paulo, principalmeate. Este foi um dos mores da Revolugio de 1930, ‘que ouxs ex seu bojo um projeto de centralizagio do poder. ‘As elizes pauliseas reagiram contra a perda de liderana do estado ¢, em tera contra o governo Vargas, exigiam a volta do regime liberal federativo, qe Thes garantia auronomia ante 0 poder central. Mesmo os que apoiaram 2 queda do governo de Washingzon Lufs, reagiram 8 perda de hegemonia ¢a revolugio de 1932 significon a resposta & nova sinagio. Sio Paulo foi der- porado ra “guerra”, mas.a pacifico s6 ocorreu quando o governo atendew as exigtncizs dos adversiros de convocar uma Assembléia Constituinte, pee ocorren ex 1933. ; ‘Na reatatira de apaziguamenco nacional, o governo permitin a organi go de uma Assembléia Constituinte encarregada de elaborar a nova Carta ‘Constinacional do pais. Mas, nesse ambito, também os conflitos foram in- tensos, demonstrando a existtncia de varios projetos para o fururo do Bra- ‘iL No plano ideolégico debatism-se as correntes iberais e antliberais; entre ‘estes marcavam presenga os nacionalistas oriundos do movimento tencatista, 4 0 Estapo wove: © gue Thouxe (08 catélicos ¢ os integraliseas, que, spesar dos pontos comuns, tinham reivin- dicagdes especificas. . . ‘Além das divergéncias entre a: elites politicas ¢ intelectssis, havia divi- so entre os trabalhadores: alguns setores apoiavam as novas medidas traba- Ihistas do governo ¢ outros se rebelarami contra elas porque 0 novo'tipo de politica implicava a auséncia de autonomia do movimento opéririo. Nesse infvel havia ainda diferencas entre grupos de esquerda composts por anat- -quistas, socialistas ¢ comunistas. . . “Todas as controvérsias vieram A tona nas discuss6es da Constituinte, que acabou, de uma perspectiva de consenso, procurando contemplar propostas contrérias. A Constituigio de 1934 foi considerada inviével por vérios auto- res porque tentava conciliar tendéncias inconcilidveis. Getilio Vargas administrara ¢ Brasil de forma provis6ria nos primeiros anos da década de 1930. Ao assumir 0 poder, tomou medidas que j4 anun- ciavam uma nova maneira de encarar 0 desenvolvimento do pafs dentro da ordem, Criou 0 Ministério do Trabalho, que se responsabilizon pela formu lagio de novas leis referentes ao mundo do trabalho e pela fiscalizaggo da observancia das que jé existiam; tais medidas significavam o atendimento de uma reivindicagao antiga dos trabalhadores brasileités, mas também 0 con trole do Estado nas relagdes entre patres ¢ operdriés: * Em 16 de julho de 1934, a nova Constituicas fot apresentada 20 pafs no dia seguinte, Gerilio Vargas foi eleito presidente constitucional-do Brasil por sufrégio indireto. Como o texto constitucional representou uma sintese de posig6es contrérias, nenhum dos grupos se séntiu plenamente vencedor. ‘Arf o golpe de 1937 havia grande efervesctncia de idéias qué se expres- savam num cenério de manifestag6es piiblicas de cunho politico ¢ social. A partir de 1935, com o levante comunista, a situagio radicalizou-se. ( levante comunista, denominado. de"“Intentona” pelos anticoministas, foi liderado pela Alianca Nacional Libertadora e derrotado a partir de uma forte represslo, que terminou por extinguir 0 movimento. O comunismo, considerado como © perigo mais ameacador & sociedade brasileira desde os, ‘anos 20, deu ensejo a uma forte campanha de propaganda anticomunisea que acebou servindo parajustficar ofortalecimento do regime. Jé noinico de 1935, ‘comegou a ser diseutido o projeto de lei de seguranca nacional; seus defenso- ANS LEANO nAsuL | res alegavam essa necessidade em fungdo da intensa agitagéo social que domi nara o pals depois de 1930. Previa d supressio dos sindicatos, associagbes pro- fssionals entidadesjarfdica, iter: que provocouireagdés contérias, Mas, ap6s ‘a“intentona®, mesmo alguns iberais a consideraram insuficente para enfren- far a amedia social.-O jornal © Estado de S. Paulo, expressio significativa do + liberalismo brasileiro, argumentou que os'atos de extrema violéncia e gravida- de era prova irrefucével'de que o texto constitucional fora insuficientemen- te forte para prevenir.as investidas contra a ordem vigente e, em vista disso, aplaudia a decisio do Congresso que, “com a consciéncia nftida do perigo que ‘nos ameaga, concedea.ao governo 0 estado de sitio”? estado de guerra foi decretado por trés meses ¢, no fim desse tempo, 0 ‘governo entendeu ser necesséria a sua prorrogagio.t 8 liberais'apoiaram as medidas de exce¢io adotadas pelo governo sob alegagio de que 0 combaie ao comunismo era a priotidade do momento; tals medidas acabaram por fortalecer 0 poder do governante, que, em 1937, iderou-0 golpe’ promotor do Estado Novo, que dissolveu o Congresso € outorgou:nove Csi CONSOLIDAGAO 09 ESTADD NOVO (1937-1942) ‘Acampanha pela Presdéncia da Repiblica, que se ‘candidaturas do paulista Armando de Sales Oliveira, candidato dos liberais, do paraibano José Américo, candidato de Gerilio Vargas, e Plinio Salgado, candidato doe integealists, foi definitivamente encerrada nese momento, {As inscicuig6es liberais foram extintas a partir do golpe de Estado. Qs generals Gois Monteiro, Daltro Filho e Eurico Gaspar Dutra, que foi noméado ministro da Guerta em 1936, apoiaram o golpe. Quando ele ocor- reu, o¢ integraliscas desfilaram pelas ruas com muito entusiasmo. “Apés golpe, como 0s partidos e o Parlamento foram abolidos, nfo har vvia mais inteemedirios entre as massag ¢ 0 governo, Este passou a intervir nos estados mediante a nonieacio de interventores, que assumiram o poder Executivo orientados pela nova Constituiglo. Pessoas de confianga de Gert lio Vargas foram escolhidas para‘as interventorias. 0 €stAv0 Hove: © QUE TROUXE DF Novo? Os interventores reproduziam nos estados a politica determinada pelo governd central, que terminou com o sistema federativo da Primeira Rept blica. Apés o golpe, apenas uma bandeira passou a existir para todos os es- tados ¢, para demonstrar que 0 sistema federativo tinha sido derrotado, realizou-se, no Rio de Janeiro, um ato simbélico: numa ceriménia civica ocorreu a queima das bandeiras estaduais para marcar a vit6ria do poder central sobre os estados. ‘A censura coibiu qualquer manifestago contréria 20 novo regime. Os articuladores do golpe definiram 0 episédio como um novo marco na histé- tia do pats. Francisco Campos, um dos ideélogos mais importantes do Esta- do Novo, interpretou o regime como uma decorréncia histérica e necesséria da Revolucio de 1930: “O 11 de novembro foi o elo final de uma longa cadeia de experiéncias {..] a Revolucio de 30 s6 se operou definitivamente ‘em novembro de 1937 [...}." Segundo 0 idedlogo, o Estado Novo suscitara no pafs uma “consciéncia nacional”, unificara uma nagio dividida, colocara ‘um ponto final as lutas econdmicas e impusera siléncio & querela dos parti- dos empenhados em quebrar a unidade do Estada.g, por conseguinte, a un dade do povo. Azevedo Amaral, outro ideélogo do Estado Novo, definiu 0 regime como uma “necessidade” e uma “inevitabilidade”, que vitia adequar as instituigdes as nossas realidades. Ambos consideravam que Vargas come- tera um grave erro ao permitic a reconstitucionalizagéo do pafs em 1934. Acreditavam que a partir de 1937 0 progresso se concretizaria rio Brasil ( tado em Capelato, 1989, p. 210-211), ‘ORGANIZAGAO DO PODER: ORDEM E PROGRESSO Como foi dito no infcio, a politica varguista teve como um dos objetivos principais a concretizagio do progresso dentro da ordem. Para atingir essa meta, tomou vérias medidas para promover o desenvolvimento econ6mico ¢ outras tantas para estabelecer 0 controle social em novas bases. Mas a pri- meira preocupagio do novo regime, oriundo de um golpe de Estado, foi assegurar sua legitimidade. Para isso utiizou duas estratégias: « propaganda politica e a repressio aos opositores, ay a 0 BRASIL REPUBLICANS Os meios de comunicagio, cerceados na liberdade de expresso, ficaram impedidos pela censura de externar suas opini6es, bem como de expressar as opiniées alheias contrérias a0 regime. Os érgios opositores foram silen- ciados e os adeptos do regime tiveram como missio enaltercer os atos do governo e divulgar a ideologia que o norteava. Nesse perfodo, muitos vefeu- los de comunicagio acabaram aderindo ao poder para continuar usufruindo de suas benesses; os que nao se dobraram a ele ficaram & merc do controle da censura. Aos meios de comunicagio cabia a tarefa de exaltar a figura de ‘Vargas, néo s6 como conciliador entre as classes € protetor dos oprimidos, mas também como realizador do progresso material, 0 que signficava ven- cer o atraso, As realizagées do governo no terreno econémico, no campo da legislacéo social e da organizacéo planificada do Estado foram enaltecidas. ( projeto econdmico do governo comecou a ser elaborado a partir da crise de 1929, que atingiu duramente a economia brasileira, baseada na ex- portagio de produtos primérios, sendo o café o principal deles naquela oca- sido. O novo governo, advindo da Revolugéo de 30, enfrentou problemas de superproducéo de café, esgotamento das reservas cambiais e crise das fi- nangas piiblicas. O comércio mundial ficou redusido em mais da metade, 0 prego do café baixou para um tergo do que era antes ¢ 0s estoques do produ- to aumentavam dia a dia nos portos brasileiros. Getilio Vargas procurou acudir os cafeicultores, mas novas providéncias deveriam ser tomadas para solucionar as dificuldades. Depois de esforcos feitos em varias frentes, a economia comegou a dar mostras de recuperacéo em 1933. O governo provis6rio procurou sustentar osetor cafeciro e adaptar-se A nova siruaglo do iercado mundial. Aliviada a situagio, esbocou-se um projeto de desenvolvimento econémico em bases novas, que procurou priorizar 0 avango do setor industrial com a panicipa- fo do Estado. ‘A partir de 1937 foi posto em pritica 0 projeto que preconizava o Esta- do como agente da politica econémica. A nova Constituigéo definiu a neces- sidade de intervengao do poder piblico na economia para “suprir as deficitncias da iniciativa individual e coordenar os fatores de produgio”. (Os ide6logos estado-novistas criticavam o liberalismo alienante, inadap- ‘vel A realidade brasileira. Oliveica Vianna preconizava a necessidade de umn a8 © estavo NOVO: O-QNE'TKOUXE DE KOVO) Estado forte para compensar'afragilidade da butguesia brasileifa, Azévedo Amaral considerava que ele deveria atular to jogo econdmico corrigindo abusos e reajustando situagdes prejudiciais ao interesse caletivo. O ditigismo econdmico, segundo o autor, tinha a vantagem de assegurar considerdvélli- berdade a iniciativa privada e, ao mesmo tempo, a de se adaptar As exigén+ ias do capitalismo modeino, que ele definia como capitalismo corporativo, © Estado corporativo deveria encarar o planejamento como um dos seus principais meios de intervencio. e 2 pe esse perfodo, os Conselhos Técni¢os substitufranr o Congresso ‘como, Grgio de representago. A énfase no papel da tecnocracia a frente dos neg6= cios paiblicos, em detrimento da lideranca politica, constituiu uma novidade introduzida pelo regime. 3 a O governo voltou as ateng6es para’ o mercado interrio; abolili os impos tos interestaduais, introduzindo um sistema tributdrio padtonizado, pata fa- cilitar a sua integragdo. Procurou estimular o desenvolvimento das inddstrias através de um sistema de substituigo-das iniportagdes que implicava 6 in- centivo & utilizagio da capacidade ociosa das indiistrias jd existentés no pats. Aindistria téxtil e outras acabaram se beneficianido com os obstéculs.colo~ cados as importagées de similares. Além disso hove isengdes para importa-. do de bens de capital. As inddstrias bsicas deseiivolveram-se de forma especial. . * Os industriis, mesmo os que haviam feito éposicéo do governo Vargas no seu infcio, foram, pouco a pouico, se aproximando do poder federal. Ti- ‘nham recusado a politica social do governo, mas’acabaram admitindo’a sua; necessidade. O boicote A legislagio trabalhista que entrou ¢m vigor a partir do fim de 1930, com a criacéo do Ministério do Trabalho, foi desaparecen- do ao longo da década, feeds ats Getilio Vargas tinha como meta principal superai o atraso e transférmar © Brasil num pats desenvolvide do ponto de vista ecoindmicg. © tema da modernizagéo ganhou destaque no teferido perfodo. Uma das justificativas para o golpe era a nétessidade de prodirzir mudangas capazes de'colocar 0° * pais num patamar de progresso material que pudesse.eqitipard-lo fs nag6es © mais présperas do mundo. A meta do progresso indicava a ordem como par- ceira: neste aspecto, a racionalizagio do mundo do ttabalio ¢ o controle a8" 20 Se @ UNASIL REPUBLICAN Social, tido como ameagado pelos agentes da subversto, constitufam outro pilar da politica estado-novista. < A legislacto trabalhista visava a regulamentar os conflitos entre pa- “tr6ep © operdrios é a cbatrolar ag atividades dos sindicatos até entdo in- dependentes, O objetivo maior consistia no impedimento de que conflitos sociais se expressassem na esfera publica. Foram, entio, criados érgios para cdordenar’as relacSes.de classe. Essa politica tinha inspiragéo na “Carta del Lavoro”; posta emi prética na Itdlia de Mussolini, Estabelecia 'o regime de sindicato nico controlado pelo Ministério do Trabalho * régulamentaya 0 imposto sindical a ser pago por todos os trabalhadores. Em 1942 foi institufdo 'o salério minimo, que os trabalhadores conside- raram insuficiente para o sustento de suas familias. Nesse ano 0 conjunto de leis referentes a0. munda do trabalho (salario m{nimo, férias, limita- gio de-horas de trabalho, seguranga, carteira de trabalho, justiga do tra=~ *'Ballio, trtela: dos sindicatos, pelo Ministério do Trabalho), promulgadas a0 lorigo dos anos, foi sistematizado pela Consolidagéo das Leis do Tra- pailo, Esta medida representou, de um lado, o atendimento das reivindi- cagGes operérias que foram objeto de intensa luta da categoria por varias décadas'e, de outro, o controle, através do Estado, das atividades inde- pendentes da classe trabalhadora, que acabou perdendo sua autonomia através do contréle estaral. ”” Bésa politica acabou por dividir 0’ movimento sindical. Uma parcela ihificativa mostrou-se sutisfeita ¢om as “benesses generosamente” concedi- rds peloichefe do governo, como’ ‘alardeava a propaganda governamental, € ‘outra parcela tentgu reagir a0 controle do Bstado ¢ & perda da liberdade po- litica, Mas essa correnté foi sufocada porque o regime autoritério impedia as manifestagdes dé oposigéo em todos os niveis. Com o pretexto de manter a ordem’eacabar com a sibyersio, muitos sindicalistas que se opuseram anova politica foram perseguidos, presos, torturados ou exilados durante o Estado Novo. = : ‘Atelagio dos trabalhadores cémn'o govérno era complexa e, por isso, gera ‘muitas cotntrovérsias entre os ingérpretes desse periodo. Para alguns autores, a atuagao de Vargas foi benéfica para os trabalhadores, mas outros salientam + 0 cardter autoritario-dessa politica que resultou na impossibilidade de atua- fab Peer EST: izo ave TROUXE oF Kovor ‘lo independente desse setor social. Os dois ados devem ser levados em conta para a compreensio desse fendmeno: os beneficios da legislagdo social que resultaram em direitos adquiridos ¢ protegdo mfnima no que se refere a ex- ploragéo que até entio caracterizou o mundo do trabalho sfo inegiveis. Além disso, 0 reconhecimento dos trabalhadores como sujeitos do processo hist6= rico ¢ cidadios ativos teve um importante impacto no que se refere A digni- dade do trabalhador, como bem mostra Angela Castro Gomes em sua andlise sobre esta questio, Segundo a autora, além da l6gica material, o discurso es- taal resgatava idéias, crengat valores ea atto-imagem construtda pelos pré- prios teabathadores na Primeica Reptblica, O Estado no se mostrava apenas como produtor de bens materiais, mas também como articulador das deman- das e tradig6es da classe operéria, e os apresentava como seus — além de ressaltar 08 beneficios sociais como tendo sido generosamente concedidos pelo chefe do governo, o que, em troca, exigia reconhecimento e retribuigio (Gomes, 1988). No entanto, esse politica concebida do alto, sem a participacéo efetiva dos interessados, representou uma nova forma de controle social; mais eft- ccaz porque recorreu a um imagindrio que encontrava terreno fértl entre os trabalhadores, Ela era, também, mais adequada as niovas condigSes interna cionais da ordem capitalista porque intcoduziu, com a legislagao social, um dom{nio mais dieto sobre as ades dos operérios, Cabe ainda esclarecer que, durante o Estado Novo, a justiga social, com resultados efetivos no que se refere & melhoria do ntvel de vida das classes populares, foi postergada para o futuro; os representantes do governo ale+ gavam que as reivindicagcs das classes trabalhadoras poderiam ser atendi- das, de forma mais efetiva, quando o progresso material se consolidasse. Na verdade, as condig6es econémicas do pats naquele periodo nio eram favord- veis a aumentos salariais para a populagéo de baixa renda. Cartas, telegra- mas, bilhetes dirigidos a Vargas demonstram descontentamento diante de baixos salétios, carestia de vida e falta de emprego. José Rogério da Silva mostra quie a carestia de vida foi constante e pro- igressiva ao longo do Estado Novo. O aumento de pregos atingiu patamares muito altos a partir de 1940. A situagio tornou-se dréstica em 1941, provo- cando imtimeras reclamagdes de trabalhadores. A intervengio do Estado na aat | | seine fo oaasit tcawo tentativa de controlar os pregos foi nule e 0 problema se agravou com a en trada do Brasil na guerra em 1942, (Os salftios eresceram pouco na maior parte das industria, enquanto © ceusto de vida mais que triplicou entre 1935 ¢ 1945. Em conseqléncia disso, as rendas reais cafram ¢ a maioria das famflias operdrias se viu obrigada a restringir a alimentagio, como mostram inimeras mensagens dirigidas a0 chefe da nagéo (Silva, 1992) Basa realidade & confirmada por Joel Wolfe, quando se refere ao fato de que as condigbes eram tho diffceis a ponto de inquietar os membros da Fede~ ragio das Indistrias do Estado de Sao Paulo (Fiesp)s 0s baixos salérios € 0 desemprego passatam a ser vistos como uma ameaga & ordem social. A Fiesp sugeriu cautela na construgio de casas e restaurantes luxuosos, a fim de evi- tar a ira dos inquietos desempregados (Wolfe, 1994, p. 42-43). © regime alardeava os beneficios da nova cidadania introduzida pelo regime — a cidadania do trabalho. Era considerado cidadao quem trabalha~ va, ¢ a carteira de trabalho assinada era o documento de identidade mais importante, No entanto, 0 mimero de desempregacios era muito alto; estes se sentiam, além de marginalizados do mercado de trabalho, exclufdos da condigio de cidadania. As cartas ¢ os bilhetes enderegados, em tom supli- ‘cante, 20 “pai dos pobres” (epiteto atribuido a Geeilio Vargas) demonstram © desespero de ampla parcela da populacio. "Mas Jorge Ferreira, em seu estudo sobre o mesmo tema, mostra, também através de correspondéncia enviada ao chefe do governo, que muitos traba- Ihadores se sentiam gratos a ele pelas benesses recebidas através da nova polftica trabalhista (Ferreira; 1997). ‘Como se pode observar, a politica trabalhistateve leivuras diversas por parte de seus destinatérios. Ito explica por que os intérpretes dessa politica até hoje divergem sobre seus resultados. PROPAGANDA POLITICA E PRODUGAO CULTURAL © governo procurou ampliar a base de apoio através da propaganda pollti- ‘ca, arma muito importante num regime que se volta para as massas. preci- 122 (0 ESTADO Novo: 0 QUE TROUXE Of NOVO? ' to lembrar que o regime nazista teansformoua num dos pilares do poder. © ministro Joseph Goebbels criou uma mAquina de propaganda que serviu de modelo a vétios governos em busca do apoio das massas como base de sus- tentagio de suas politicas. ey : ‘Antes do Estado Novo 0 governo brasileiro jé se preocupara com a orga- nizagdo da propaganda politica e da censura! “i : ‘Accriagio do Departamento de Imprensa ¢ Propaganda foi fundamental nesse sentido. Ele tinha 0 encargo de prodizit material de propaganda, centivando a produgio de cartazes, objetos, esperéculos, livros © artigos ‘enaltecedores do poder. erate tne (Os organizadores da propaganda se valeram de s{mbolos e imagens ria busca de consentimento e adeséo da sociedade: A bandeira brasileira ¢ a fi- sgura de Vargas foram os stmbolos mais exploradot nas representagoes visuals do Estado Novo. Muito significativo € o’cartaz no qual se desenha o inapa do Brasil, colorido de verde e, no centro, 2 bandeira brasileira coma ima- gem de Vargas desenbada na esfera azul; 20 lado hava 0$ dizeres. “Fortes ¢ tunidos, os brasileiros do Estado Novo sio guiados pela grande trindade na- al: nossa Patria, Nossa Bandeira, nosso Chefe.” A teferéncia a simbclogia ctisté da Santissima Trindade’é clara: a satralizacio dos simbolos, como bem mostrou Alcir Lenharo, emprestava maior forca a imagem (Lenharo, 1986). Havia um cartaz também bastante significativo. Nele aparecia a figu- ra paternal de Vargas acariciando as crianicas, seguida dos dizeres: “Crian- gas! Aprendendo no lar e nas escolas 0 culto & Patria, trareis para a vida pratica todas as probabilidades dé éxito” (Nosso Século, apsid Capelato, 1998, p. 48), : “ ees ‘As imagens ¢ os s{mbolos eram difundidos nas cscdlas como objetivo de formar a consciéncia do pequeno cidadio, Nas representacées do Estado Novo, a énfase no novo era constante: o-novo regime prometia criar 0 ho- mem novo, a sociedade nova ¢ 0 pafs novo. Q contraste entre o antes € 0 depois era marcante: © antes era representado pela niegatividade total e o de- pois (Estado Novo) éra a expressio do bem e do bom. Havia promeisas de um futuro glorioso. As criancas aprendiam o que significava'o novo através | de publicagées de textos em forma de diélogo: as perguntas e respostas ensi- navam didaticamente 0 sentido. das madangas. © -- 5 weruaucano: Nis publicagtsdeiinadas 3 formagio cfvica da erancas, como era 0 + caso do Catecismo cfvico'do Brasil. Novo, os pequenos aprendiam a impor- tancia dé principio da augoridade ¢ da ordem. No item referente ao “Prinet- pio da autofdade” eta posta segunte pergunt,Seguda de resposta Pergunta: 0 exercieio da sutoridade euprema por um chefe nio conteaia a ‘vontade.do pavo emi uma democricia? { Resposta: Absolutamenté, nfo. © Chefe do Estado, em um regime democré- * ‘eco vorio o que fai estabelecid6 no Brasil pela Constituigio de novembro, & + o expoente do povo,0 seu representante direto [..] Obedecendo, portanto, ap Cliefe que’o representa, 0 pavo, apenas, se conforma com aquilo que ele ‘ebprio deejae €exeewado pelo depositrio de uma autoridade por ele con feria, ‘Arbissca de legitimidade fica evidente neste texto. No livreto O Brasil é bom tema da educacéo aparecia da seguinte for- : “0, menino, para ser um bom brasileiro, deve também saber ler. Um homem sect instrugéo & um homem infeliz... Por isso 0 governo nao quer que haja brasileiros que néo saibam ler, Por que 0 governo néo quer? Porque © goverio € amigo dos brasileiros e néo gosta da ignordncia (..]” (apud Capelato, 1998, p. 219). “Muitas Biografias de Gevilio Vargas e obras laudatérias ao governo fo~ ‘tam publicadas na época. Nelas o chefe do poder era comparado ora a um sociélogo; porque Conhecia profundamente a sociedade, ora a um psicélo- 0, porque sabia interpreiar a alma brasileira, ora a Jesus Cristo, porque se sactificava pelo povo. "A’propaganda, além de enaltecer a figura do lider € sua relagéo direea, ‘com as massas, demonstrava a preocupagio do governo com a formagio de ‘uma identidade nacional coletiva, O sentimento'de agregacio e pertencimento foi muito valorizado através da associacio entre Estado, Pétria, Nagéo € povo, como bem mostra a licio 3 do livreto'O Brasil é bom: “Se todos os brasilei- 108 s4o iiméos, o Brasil é uma grande familia, Realmente, é uma grande fa- nila feliz. Uma familia € feliz quando hd paz no lar. Quando os membros no brigam. Quando nio reina a discdrdia [..] O chefe do governo é 0 chefe 0 ESTADO MOVO: © QUE TROUXE DE Novo? do Estado, isto & 0 chefe da grande familia nacional. O chefe da grande fa- mflia feliz (...).” ‘Amor, paz, felicidade, generosidade, conc6rdia constitufam os elemen- tos que compunham a estrutura afetiva organizada para propor a unidade ‘em torno de um todo harménico. Ao estimular esses sentimentos, pretendia- se neutralizar 08 conflitos através da formacso da identidade nacional cole- tiva (Capelato, 1998, p. 246-247). ‘A produgio artistica culeural engajada ficou a cargo do ministro da Edu- cag4o, Gustavo Capanema, responsével pela orientagao cultural no periodo. A politica cultural do varguismo foi coerente com a concepgio de Estado que orientou a atuagéo do governante. Em nome de valores politicos, ideo- 6gicos, religiosos e morais, os representantes do regime justificaram a proi- bigdo ou valorizagéo de produtos culturais. © poder politico definiu, em ‘iltima instincia, o que deveria ser produzido e incentivou certas obras em detsimento deoatras. A. defesa da intervengéo estatal na cultura, entendida como fator de unidade nacional e harmonia social, caracterizou esse perfo- do, A cultura foi entendida como suporte da politica e nessa perspectiva, cultura, politica e propaganda se mesclaram. © governo considerava importante a intervencdo do Estado na cultura, centendida como fator de unidade nacional. Nessa perspectiva, aarte eo saber descompromissados foram questionados por Getilio Vargas nos seguintes ter- ‘mos: “Nao tenho, como é moda, desdém pela cultura ou menosprezo pela ius- tragdo [...]. No perfodo de evolugéo em que nos encontramos, a cultura intelectual sem objetivo claro edefinido deve ser considerada, entretanto, luxo acessivel a poucos individuos ¢ de escasso proveito para a coletividade.”* Esse discurso enfatiza a necessidade de que a cultura atingisse setores cexclufdos desses beneficios, mas a referencia & coletividade explicita a pers- pectiva de que acultura tinha uma tarefa politica, ou seja, de contribuir para a unidade nacional (Velloso, 2003). regime varguista concebeu e organizou a cultura com os olhos volta- dos para as experiéncias européias nazi-fascistas, Na Alemanha e na Itdlia a cultura era entendida como suporte da politica. No Estado Novo brasileiro essa concepefo também orientou a politica cultural, mas os resultados fo- ram diferentes. 12s AMASIL REPUBLICANO | No Estado Novo a fungio do artista foi definida como socalizadora em nivel nacional ¢ unificadora em n(vel internacional. Deveria cumpri 2 mis- sio de testemunho do social, o que em muito ultrapassava a mera producio de beleza. A arte se vinculava ao nacional. Para exprimir os sentimentos $0- iais o artista deveria se inspirar em nossos temas € motivos mais tipicos (Goulart, 1990, p. 100). Nesse contexto, a arte se voltou para fins utilitarios ‘em vez de ornamentais e, através dela, buscou-se ampliar e divulgar a doutri- na politica do governo. "A parti dessas concepg5es, 0 varguismo atuou ante a producio cultural do periodo que se inseria num projeto politico. (0 apoio de intelectuais ¢ artistas ao Estado Novo ¢ a convivéncia “pacl- fica” dos que se opunham ao governo autoritério com o Ministério da Edu- cacéo, representado por Capanema, permitem explicar uma das: caracteristicas peculiares do regime. Segundo alguns autores, a postura controvertida de ‘Gustavo Capanema, que esteve 3 frente do ministério entre 1934¢ 1945, foi responsivel pela atiade conciliatéria ¢ ambigua do Estado Novo no plano dda cultura, que atf hoje causa perplexidade entre os analistas do periodo, O tministro tinha especial preocupacéo com 0 desenvolvimento da cultura ¢ procurava impedir que “a nacionalidade incipiente fosse ameagads por ow ee culturas eideotogias”. Pertencera, nos anos 20, ao grupo de intelectuals mineiros com os quais continuou mantendo contato nas décadas posteriores. ‘Como mostra Sérgio Miceli, personalidades de diferentes tendéncias ravitaram em torno do Ministrio da Educacio. © auor considers que ¢ gestao Capancina erigiu uma espécie de territ6rio livre infenso as salvaguar- das ideclbgicas do regime (Miceli, 1979, p. 161). Entre os nomes queoci pavam postos junto a esse ministério, muitos deles néo se identificavam ideologicamente com 0 regime, come era o caso do poeta minciro Carlos Deammond de Andrade, chefe de gabinete do ministro, que em 1945 decla- ou-se simpatizante do comunismo. Nao 96 a revista do DIP — Cultura Politica (dirigida por Almir de Andrade) —, mas também os jornais varguistas A Manha (dirigido por Cassiano Ricardo) e A Noite (dirigida por Menotti del Picchia) publicaram artigos de autores com posigées politico-ideol6gicas bem diversas: da extre- sma direita catélica aos comunistas, aie eusarrnmanaaeeiynt 0 es1i00 Novo: 0'QUE tAdUXE DE Novo? A produgio culeural, a exemplo do que dcortia no fascisine e no‘nazis- mo, era controlada pelo DIP. Os diferentes cainpos artisticos foram organi- zados e concebidos nos mesmos moldes. Cabja as divisbes do‘DIP organizat, estimular e divulgar a produgdo artistica, popuilar'e erudita; espérava-se que” as artes se transformassem em élementos formadores das mastas, Além da feigdo estética, essas iniciativas deveriam atingir of objetivos de educagio civica, colaborando para consolidat o sentimento de nacionalidade: O limite da tolerncia era a proibicio do exercicio da critica. Apesar dessa restrigSo, a proximidade de intelectiais independentes com érgaos de cultu- ra do Estado mostra que 0 espitito de conciliigéo predominow nas relagbes entre politica e cultura durante 0 Estado Novi. A politica de conciliagso.no campo da culrura permite afirmar que havis uma difetenca jmportante 46 regime brasileiro em relacéo aos modelos alemao ¢ italiano. : ‘O cinema, 0 teatro, a mtisica, as artes plasticas foram valorizados duran- te o Estado Novo, mas no da mesmna forma ou com igual intensidade. O cinema recebeu especial atenc&o porque nessa époéa a imagem passou a ser considerada como instrumento importante para a conquista das mas- 28, Os ideblogos do Estado Novo e o préprio Vargas demonstraram grande interesse nesse campo. O governante concebia‘o cinema como vefculo de instrugdo e, nesse sentido, declarou “o citie serd o livro de imagens lumino- sas em que nossas populag6es praiciras ¢ rurais aprendérao a amat o Brasil. Paraa massa de analfabetos, serdia distiplina pedagégica mais perfeitae fécil”?” Com 0 apoio do governo, a indiistria cinematogrAfica, até entio deficl- tiria, p6de equilibrar-se. Alguns cineastas batalharam para fazer do-Bstado 0 grande mecenas do cinema brasileiro, reivindicando, portanto, que ele de- sempenhasse um papel ativo e protetor deisa atividade caltural para fazer frente ao cinema norte-americano, muito bem situado no mercado braslel- ro. Atendendo aos apelos da classe, 0 goveino decretou, em 1932, alei de “obrigatoriedade de exibicio de filmes naciofais. Coni 0 apoio de Vargas, a inddstria cinematogréfica, até entio deficitéria, conseguiu equilibrar-se. Getilio Vargas foi considerado pela categoria beneficiada como 0.*pai do. cinema brasileiro”, Um “cinemat6logo” entusiasta enaltecen o govérnanté protetor do cinema nacional, argumentando que “..] 0 coitadinho era wo fedelho raquitico, enfezado, quase a morrer 3 mingua [.., mas Vargas dew saps tee, ‘existéncia'real ao cinema brasileiro: “Tonificou-lhe 0 anemizado organismo, injetou-lhe forga, energia, dessobriado, para isso, como se descobrisse um ovo de Cotombo, a majs benéfica e providencial das vitaminas: o ‘short’ bra- sileiro de exibicio obrigaséria, ebtabelecida pelo decreto n° 21.240, de abril de 193291 ee ee . Coibe ao Instituto National de Cinema Educativo a tarefa de organizar c editar filmes educativos brasileiros. A Divisfo de Cinema e Teatro do DIP ficou encarsegada de.realizdt @ censura prévia dos filmes ¢ a produgio do Cine Jornal Brasileiro. 98 20 ” Osdocumentirios cineimatogréficos, de exibigio obrigatéria, mostravam. as comemoracées ¢ festividaides piblicas, as realizagbes do governo e 0s atos das autoridades. A intensidade da produgdo de documentérios pelo DIP ge- rou protestos dos produtores, que a considecavam uma forma de concorréncia desproporcional, j4 que of exibidores preferiam cumpir a lei de obriga- toriedade com-os filmes produzidos, pelo governo. Havia concursos, com prémios em dinheiro, para os melhores documentérios, o que levava os pro- dutores a abordarem temas do agrado do regime (Garcia, 1982, p. 104-105). «Filmes de figgdo, como Argila, Romance proibido, Aves sem ninho Ca- minhos do cé, também foram tealizados no perfodo com o mesmo objetivo. ‘Mas elés no conseguiram competit com as produgées norte-americanas. mercado bratileiro, 8 época, jé era bom receptor dos filmes hellywoodianos, ‘Como mostra Claudio Aguiar Almeida, esse tipo de filme ndo cumpriu a ta- trefa de tornar-se “agitador das alias”, como pretendiam os incentivadores do cinema nacional. As “almas brasileicas continuaram entregues ao culto dos hertis, divas ideais veiculados por Hollywood” (Almeida, 1993, p. 203). ‘Os ideSlogos nacionalistas preoouparam-se também com a musica brasi- Jeira, Havia incentivo As miésicas cnjas letras fossem adequadas aos valores apregoados pelo regime, Comio era.o caso da exaltagio do trabalho ¢ da na- ‘Gonalidade. © melhar exiemplo neste sentido foi a “Aquarela do Brasil” de ‘Ary Barroso. Alguns autores foram pressionados a modificar a letra de sam- bas: a que enaltecia a malandragem teve de ser alterada. & bem conhecido 0 caso de Wilson Batista, “malandro” consagrado que acabou compondo, com ‘Ataulfo Alves, 0 samba “Bonde de Séo Janudtio”, em 1941, cuja letra afir- sma: “quem trabalha € quem tem razko/eu digo ¢ ndo tenho medo de errar/o © ESTADO Nove: 0 QUE TROUXE DE Hover bonde de Séo Januério/leva mais um operério/sou eu que vou trabalhar/anti- ‘amente eu ndo tinha jufzo, mas resolvi garantir 0 meu futuro/sou feliz, vivo zi bem/a boémia néo dé camisa a ninguémve digo bem” (Haussen, 1992, p.81). Heitor Villa-Lobos foi a grande personalidade musical associada ao Es- tado Novo, Seu trabalho visava a desenvolver a educagio musical atstica através do canto coral popular, ou seja, 0 canto orfeBnico. Segundo 0 com- ositor: “nenhuma arte exerce sobre as massas uma influéncia tio grande quanto a misica, Ela 6 capaz de tocar'os espiritos menos desenvolvidos, até ‘mesmo os animais. Ao mesmo tempo, nenhuma arte leva As massas mais subs- tncia”, Acreditava, ainds, que a falta de unidade de agio ¢ de coesko, neces- sétias a formagdo de uma grande nacionalidade, poderia ser corrigida pela educagio ¢ pelo canto: “o canto orfednico, praticado pelas criancas e por clas propagado até os lares, nos dard gerag6es renovadas por uma bela disci- plina da vida social, em beneficio do pafs, cantando ¢ trabalhando, ¢, a0 can- tar, devotando-se a patria”, O compositor saiu a campo para divulgar suas {déias; fez conferéncias e concertos pelo Brasil afora ¢ formou um coral de ddez mil vozes para o' canto de hinos patriéticos e educagio de sentimentgs ctvicos (Schwartzman, 1984, p. 90). No que se refere as artes plasticas, a pintura também foi concebida com instrumento de formagSo nacional. Os murais do Ministério da Educacio encomendados por Cepanema a Candido Portinari expressam a ideologia do regime, Cabe lembrar que 0 ministro, nessa ocasiéo, defendeu e protegeu Portinari contea as acusagbes de esquerdista e comunista, Os temas sugeri- dos para composigio dos quadros sio reveladores: eles mostam aspectos fandamentais da evolugio econdmica, da vida popular, os tipus nacionais como 0 gaticho, o sertanejo, o jangadeiro (Schwartzman, 1984, p. 95). ‘A arquitetura foi concebida, como na Alemanha e Itdia, com o objetivo de demonstrat a gandiosidade e a pujanga do poder. Nessa perspectiva fo- ram realizadas algumas construg5es de edificios péblicos, como o Ministério da Educagio ¢ Saiide, Ministério do Trabalho, Ministério da Guerra, Cen- tal do Brasil. Vargas, a0 inaugurar 0 Ministério do Trabalho, Indéstria ¢ Comércio, em 1938, associou a solider arquitesbnica da construgio & obra deintegragio social iniciada com a Revolugio de 1930 (Garcia, 1982, p. 109). 129 fo snasit ReruaLicANo Entre os ministros de Vargas, Capanema notabilizou-se pela extcema capacidade de concifiagdo. Sua atuacéo conferiu peculiaridade ao regime brasileiro pelo fato de ter acolhido intelectuaise artistas de diferentes ten- déncias ideolégicas num regime de natureza autoritéria, Genilio Vargas, por sha vez, era benquisto entre os “trabalhadores” do rédio, teatro € cinema em victude das leis que regulamentaram o exercfcio dessas profis- s6es. O depoimento de Mério Lago, & época comunista e opositor do Estado Novo, revela bem a relagdo amistosa do chefe do governo com a classe artistica: .] 0 Getilio tinka a admicagto des artistas por uma razio muito simples. Foi o autor da lei que praticamente regulamentou a profissio ¢ do direito autoral, que deu uma estrutura ao recebimento desse direito —a lei Gerélio ‘Vargas. Razio por que havia uma aura de ternura, de agradecimento, de gra- tidio deratista& sus figura (J Todo 31 de dezembro havia uma serenata 0 jardim do Palicio da Guanabara ¢ 0 pessoal ia voluntariamente[--] (Lago, citado em Haussen, 1992, p. 85). Evidentemente, nem todos tinham motivos para ser gratos ao regime ¢ 20 chefe do governo. Os que foram atingidos pela censura sentiram na pele as conseqincias do autoritarismo vigente. As press6es para produzir 0 que era interessante ao governo também deixavam clara a natureza politica dos pro~ jetos culturais. ‘A forma autoritéria do poder garantida pela Constituigéo de 1937 certa- meate impediu a divulgagao de obras criticas. ‘Durante o Estado Novo, alguns produtores de cultura foram vitimas da ‘censura e outras formas de repressio, mas houve aqueles que se sentiram beneficiados. Muitos intelectusis foram convocados a participar da organi- zagio do novo Estado e a teorizar sobre a “questio nacional” ou.a criar obras de artes, adequadas a0s propésitos do novo poder. Essa participagio, em ‘ltima inst&ncia, serviu para legitimar o Estado oriundo de um golpe con- ferit a0 regime uma “cara” mais benevolente, © E8TA00 over GuE,rROUXt'eE Rover” REPRESSAO € RESISTENCIA AO ESTADO NOVO, : A organizacdo da propaganda ¢ da repressio constitiiu os dois pilares de sustentacio do regime. wi A ye tm ‘A propaganda, fortemente inspirada no modelo instituldo navAlemanha pelo ministro Joseph Goebbels, tinha como objetve conquistar céragbere mentes para a nova politica e 4 polfcia exercia reptessio ads opasitores do regime, tendo como tarefa garantit anova‘ordem, oe “Houve repressio forte — pris6és, tortura, Sxflos, censura, qile atin- giu tanto 0s considerados subyersivos {comunistis, socialistas, anarquistas) ‘como os opositores liberais. . ? JJornais foram controlados e'O Estado.de S, Prulo acabou serido expro~ priado pelo governo. ; As vitimas da repressio no foram poucas. Bla jé mostéara suas gartas a partir de 1935 ¢ a Carta de 1937 conferiu-lhe legalidade.’ ‘Nas miastnorras.do. Estado Novo muitos permaneceram'piesos ¢ muitos foram tornurados. Os revolucionérios de 1935 foram torturados e reteberam penas altas.’Muitos foram espancados, tiveram 0s corpos queimados. A’ mulher do Ider comu- nista Lufs Carlos Prestes, Olga Bendrio, foi,entregiié aos alemfies e acabou morrendo num campo de concenitragao, ¢ Tribunal de Seguranga Nacional fora ctiado em 1936 para julgar os participantes do levante comunista de 1935, A partir do Estado Novo, tam= bém passou a julgar seus adversatios politicos. A polfcia politica do Distrito Federal foi chefiada por Fillnto Maller, um militar de carrcica. Plho Ha oli garquia mato-grossense, participou dos levantes tenentistaé emi 1922, 1924 eda Coluna Prestes. Foi exilado na Argentina ¢, a6 voltar a0 Brasil inte- grou-se na Revolugio de 1930. Foi chefe da Gucrda Civil do Rio de Jancito edo Departamento de Ordem Politica e Social. Como chefe da policiapolt- tica do Estado Novo, teve papel fundamental ne manutengto da ordem pa- blica e, como tal, fol responsivel pela repressio aos opositores do regime, Posteriormente nfo s6 admitin que houve tortura no Estado Novo, mas tamt- bém responsabilizou-se por ela, ae [Nao s6 os subversivos communists, mas tarrbéin os integtalists, foram alvo de repressio do Estado, Embora houvesse coincidéncia de pontos de a QERASLL REPUBLICANO i : ‘ a vista entre a ideologia estadd-novista ¢ a integralista, os camisas-verdes re- pretehtayam um partido que alinejava ascender ao poder. Getto Vargas prometera 0, Ministério da Educagio ao lider do movimento, Piinio Salga- ‘do, mas, além de ni4o cumprit a promessa, excluiu-o do poder por se tratar ‘de um movimento claramente identificado com os nazi-fascistas, com os quais ‘o governo tinha afinidades mas procurava no se identificar explicitamente.? ‘Também foram reprimidos og que tentaram organizat o nacional-socia- lisma, no Brasil” O golpe de 1937 colocou os nazistas na ilegalidade, mas les continuaram a agit clandestinamente. A repressio intensificou-se a pat tir da entrada.do Brasil na guerra contra o Eixo. Nesse contexto, no $6 0s nazistag, mas todas os alemées, passaram a set considerados inimigos da patria, “Apesar da intenéa repressfo ¢ austncia de liberdade de expressiio, a opo- siglo no regime e seuichefe, mesmo proibida, nao deixou de ser manifestada. Como exemplo, ethe mencionar o caso de professores e alunos do ensino supetior que procutaram organizar ums reaglo contra a ditadura, Na Faculdade de Direito de Sho Paulo desenvolveu-se, logo no infclo do Estado Novo, o faco mals significative de oposigio ao regime. John Foster Dulles deséreve, em detalhes, cise movimento"(Dulles, 1984, p. 87-88). ‘Viirlos politicos partiram para o exflio na exterior, como foi o caso de ‘Aninando de Sales Oliveira, que chegou a ser preso, Flores da Cunha ¢ Océ- vio Mangabeica, Exh Sto Paulo, passaram pela prisho Tiradentes os poltti- cos Piulo Nogueira Filho, AntOnio Pereira Lima e AntOnio Carlos de Abreu Sodré. ay ‘Também foram perseguidos jornalistas como Paulo Duarte ¢ Jilio de Mesquita Fillo, Bste dleimo éra propriettrio do jornal Q Estado de S. Rudo eum dos principais-articuladares di revolugfo de 1932, bem como da cam- jpanhn de Armando de Sales Oliveira para a Presidéncia da Replica. Julio de Mesquita Filho coluborara com Paulo Duacte na publicagto do Jornal clanidestino Brasil; Os dois jornalistas, bacharéis pela Sto Francisco, ‘ye juntararm Xluta dos universitérios: foram presos virias vezes ¢ acabaram se-exilando, antes do fechamento ¢ expropriagio do Estado de S. Paulo, em . 1940, por ordem da ditadura. | + A eptessio provocou resisituiclas. Sampaio Déria, advogado ¢ profes- sor de Direito, atacava a Carta Constitucional de 1937, recusando-se a con- aaa © ESTADO NOVO: 0 QUE TROUXE OE NOVO? sideré-la como digna de estudo em sala de aula; por isso, acabou desistindo de ensinar Direito Constitucional. Havia uma ligagdo entre politicos, jornalistas, professores e estudantes da Sto Francisco, Pedro Ferraz do Amaral jornalista do 2stado de S. Paulo, distribuiu panfletos contra o Estado Novo; era amigo dos estudantes de Di- eito ¢ conspirava com eles. Os professores Waldemar Ferreira, Vicente Rao ¢ Antbnio Sampaio Déria, considerados mais adversos ao regime, foram demitidos por orientagio de Getilio Vargas ¢ readmitidos em maio de 1941 Dulles, 1984, p. 110-111). - Em meados de julho de 1938 os estudantes tiveram conhecimento da vi- sita de Vargas a So Paulo, Alguns membros do Centro Onze de Agosto viram. af uma oportunidade para fazer com que o Centro declarasse o presidente persona non grata. Os estudantes de Direito conseguiram realizar a publica- fo de seis niimeros do jornal Folha Dobrada, Uma ilustracho Ti primeira pagina mostrava uma espada ¢ um capacete sobre um livio aberto, com uma de suas folhas parcialmente dobrada. Em editorial, exigiam representagio popular, sufrégio universal, iberdade de expresso ¢ uma “Constituigio do povo” (Dulles, 1984, p. 113-114), ‘Além da Faculdade de Direito de Sio Paulo, considerada principal foco de resisténcia a Vargas, outras organizaram movimentos contra a ditadura: nas faculdades de Direito do Distrito Federal e de Salvador a reagio foi ide rada por estudantes comunistas; nas Faculdades Policécaicas ¢ de Medicina de Sio Paulo houve participagio de comunistas e liberais. Em agosto de 1937 foi fundada a Unifio Nacional dos Estudantes (UNE), mantida ducante o Estado Novo, © Segundo Congreso Nacional dos Estu- dantes foi realizado em dezembro de 1938 em plena vigtncia da ditadura. A entidade manteve-se neutra até 0 momento que antecedes o posicionamento do governo brasileiro no confliro mundial. Apés 0 afundamento dos navios brasileiros, os estudantes, tendo a UNE a frente, fizeram manifestagSes em favor dos Aliados; 0 fpice foi a marcha de 4 de julho de 1942, ato inédito e de grande repercussto no Bstado Novo, ras 0 BRASIE REPUBLICAN 1942; UM DIISOR DE AGUAS NO ESTADO NOVO “Asmanifestagbes em favor da declaracSo de guerra ao Bixo se intensficaram recoe ano, Nas grandes cidades brasileiras, multid6es foram as ruas para pres- sionar 0 govern, "A Segunda Guerra Mundial teve info em 1° de setembro de 1939 com sa invasto da Poldaia pelos exéretos de Hitler" A partir dessa primeira vit6- tia muitas outras se sucederam. Mas 05 nazistas softeram grande derrota na Risa, o que serviu para mostrar que a invenciilidade apregoada pelo lider alemio era um mito. ‘0 governo Vargas mantinha-se como cbservador do conflite, sem decla~ rar preferencias por qualquer dos lados beligerantes. Mas, partir da derro- vada Alemanha e das pressdes do governo americano, bem como da populagio brasileir, comegou a prepararse para a entrada no conflito. “Antes da Guerra, o governo alemio procurara ampliar adrea de influén~ dana América Latina regio que jd se caracterizava pela forte presenga nor te-americana no plano econdmico ¢ politico. O mereado brasileiro foi um ddosalvos privlegiados da concorréncia da Alemanha com os EUA na rego. ‘Alem da importancia do mercado brasileiro, a presenga da colénia alem’ no pals explica o interesse deste pals pelo Brasil. ; ‘Os cesultados foram sgnificativos: nessa époes 0 comércio brasileiro com a Alemanka aumentou muito, chegando a ocupar o segundo lugar, enquazto ‘os BUA ocupavam o primeira. ‘Noinieio do conflite, como foi dito, ogovemo brasileiro procuroumanter ancutalidade, apesar das afinidades que OTepime vinha demonstrando com ccmrodelos fascistas (italiano ¢ aleméo). Getilio Vargas fez um jogo duplo cre os seus dois maiores parceiros comerciais, procurando trar proveito desea situagio, A neutralidade era vantajosa do ponto de vista comercial © além disso, o governo brasileiro mostrava-se cauteloso, procurando obser~ var o desenrolar dos acontecimentos. Entre os ideSlogos e funcionérios do governo havia divergéncias de po- sigBes. A la germanofila no governo era forte, O préprio Vargas se mostrara favordvel a uma aproximagéo com os alemfes em 1940, © ministro da Justi- a, Francisco Campos, elogiava abertamente Hitler, o chefe da policia pol 134 9 sstapo wovor 0.due TROUXE DE NovOr,, ” tica, Filinto Maller, eo diretor do DIB Lourival Fontes, eambém eram dessa tendéncia, © ministro da Guerra, general Euitico Gaspar Dutta, ¢ 6 general Géis Monteiro eram favordveis & Alemanha, pois, além das afinidades ideo- Tégicas, 0 cométcio de armas com aquele pale era importante nessa foc. ‘Mas havia os defensores dos BUA, coms era o caso do minisiro das Relacées Exteriores, Oswaldo Arana. Quando 6 Brasil declarou guerra a0 Eixo, os favordveis ao Eixo foram substitufdos no poder, : : ‘0 governo néo admitia semelhanga como os regintes nazi-fascistas, pro- curando enfatizar a originalidadé do Estado Novo. Mas compartilhava mui- tas das idéias postas em prética nesses regimes: legislagio social, propaganda politica, representagao corporativista, # aré mésmo 0 ‘anti-temitismo se fez presente em certas esferas, sobrenudo sia politica de imigracko. ‘Quando os BUA entraram na guerra, depois do ataque japonés a Pearl Harbor (Hava(), a presséo dos norte-ameticanios gobre'os paises Jatino-ame- ricanos para acompanié-los foi intensa, No infcio de'1942 houve uma con feréncia interamericana de chanceleres tio Rio de Janeiro, na qual o Brasil, representado por Oswaldo Aranha, propés fuptura diplomética ¢ comercial com o Bixo (em troca os EUA forneceriam armamentos ao pafs para a defesa do territ6rio). Chile e Argentina recusaram a proposta,. . ” Depois dessa conferéncia, a Alemanha reagiu e ordenou que riavios bea- sileiros fossem bombardeados. As manifestagbes de repidio ao Eixo se espa Tharam por todo o pafs. Alemfes ¢ japoneses passaram aiser hostilizados pela populacéo: estabelecimentos comérciais, emprésas, residéncias, escolas, clu- bes foram atacados pela populacio.em fiiria contra esses “estrangeiros”. Em 1942, a partir de fevereiro, foram bombardeados 211 navios brasilei- 0s. Com o afundamento dos navios pelos alemées, 0 clima de hostilidade contra o nazismo se acentuou no pafse a'sociedade se manifescou. Em junho desse ano comegaram as passeatas em favor da entrada do Brasil na guerra contra o Bixo. Em 31 de agosto o Brasil declarou.guerra a Alerhanha ¢ 8 Ied- lia e posicionou-se enh favor dos Aliados. A partir desses episédios, 0 apoio a Gertlio Vargas intensificou-se ¢ até mesmo.o Partido Comunista definiu-se pela “unio nacional” em torria do chefe do governo, i Em meados de 1944 a Forga Expedicionérie Brasileira (FEB) foi para a Itélia juntar-se as tropas norte-americanas: Tanto a ida quanto 4 volte ABIL WEEUBLICANG ‘dos pracinhas foram cetcadas de manifestagbes populares. O desfile da : yitéria no Rio de Jarieiro foi uma festa popular ¢ os pracinhas foram re- cebidos'como herdis, ¢ assim petmaneceram na meméria dos brasileiros da época, Mas a guerra no ¢ uma festa e os jovens pagaram em prego alco: permaneceram éeica’de dito. meses ne Itélia, uma terra desconheci- i, c enifrentacam um frio.rigoroso: Houve muitas mortes ¢ muitos volta- ram mutilados. 2.3. . 2 “. AS,CONTRADIGOES DA DITADURAE SUA QUEDA Com 4 vit6ria des Aliados foram postas erm xeque as ditaduras ¢ isso favore- cew of opositores de Vargas: As contradig6es do Estado Novo, um regime internamente autoritério e externamiente favordvel a democracia, tornaram- se explicitase isto enfeaquectu o prestigio do “ditador", que passou a ser alvo de opasigao mais sistemitica., ~ O'dilema enfrentado pela ditadura era o seguinte: como lutar pela de~ iodrdcia externamente e manter o Estado autoritério internamente, A pres- ‘sho popular, que exigiu a entrada do, Brasil na guerra com os Aliados, jé dera mostras dessa ténsdo, que se foi agravando até o fim do conflito. ; Havia sinais visiveis de que 0 regime se debilitava, O governo conseguin impedir que a imprensa divulgasse as primeiras maniféstagbes contrétias a cle tas em 1945 jf ndo podia abaft-las, Os liberais, pouco a pouco, reruPe™ faratd,a voz e 0s cooptados nao tardaram @ retirar o seu apoio ao regime. A fala apolapétca fot enbsiouda pela digeuso de oposigio,engavetado desde 987 E ee et SE eo ‘an contradicdo'pottico-ideolégiés, a entrada do Brasil na guerra tcrnois mals diicl a vida dos brasileiros. A falta de viveres, o aumento do soato des produtnessencais a necesidade dea classe média apelar para 0 « Ggmnbio negro produsita descontentamentos, a impopularidade do goves- ino cresceus, favorecendo.a organizagéo das oposighes (Carone,1976, p. 285- 298). esses ae ae de 1943 0 govertio, enfraguecido, enfrentou uma resisténcia sistemtica, que parti de virios setores da sociedade, No entanto, nos Pri= kas 9 ESTADO NOVO: © QUE TAOUXE DE Novo? meiros anos da ditadura, essa resistencia era muito limitada, tendo como principal expressio os estudantes ¢ professores do Largo de Séo Francisco, © advento do Estado Novo, fruto de um golpe apoiado por militares € plas forgas conservadoras da sociedade, ndo se originou de um movimento de massas nem se caracterizou pelo aspecto mobilizador, como ocorreu em outros patses nesse perfodo, Considerando o povo brasileiro inepto para a pparticipagdo politica (a grande massa de analfabetos servia de reforgo para esse argumento), 08 ideélogos do poder, que organizaram o Estado pelo alto, ti- ham a preocupagao de conquistar as elites, consideradas pegas importantes na construgdo de um novo pals, A proposta de consenso era mais dirigida a clas, No entanto, pouco a pouco, através de medidas que atendiam as reivin- dicagbes populares, os apelos para que dessem apoio ao governo foram fruti- ficando: entre os trabalhadores, Gertilio Vargas acabou ganhando muitos adeptos. A novidade da politica de massas consistia no fato de que esses atores foram chamados a estar presentes, ainda que sob controle, na cena politica, discurso estado-novista valorizava os setores populares, invertendo uma fala que sempre imputou ao povo a responsabilidad dos males do pafs; partir dos anos 30, as elites de outrora foram criticadas pelo seu distanci mento da “alma da nacionalidade”, deixando-se fascinar pelos exemplos alienigenas. Esse tipo de argumento justificava a intervengao do Estado na organizagio social, politica e culrural: ele era apontado como a tinica enti- dade capaz de comandar a construgéo da identidade nacional, Elaborou-se, ‘enti, um projeto palitico-pedagégico para educar as massas (Velloso, 1987, p. 46-48). Os getulistas acusaram os criticos do regime pela pretensio de fazer re- cuar 0 progresso, por quererem recuperar aspectos de um passado morto, por darem marcia & ré no tempo e sustarem o surto glorioso de uma evolu- ‘go. Para contestar os oposicionistas, ainda salientaram: “0 Brasil, mercé do governo Vargas, cresceu tanto em prestigio que se enquadra entre as seis grandes nagées do mundo." } Mas o enaltecimento dos feitos do Estado Novo nao impediu a queda do regime. Ao perceberem que o processo de redemocratizacio erairreversivel, 1s getulistas mudaram de tftica e passaram a atrbuir ao governo o mérito desse movimento. A imprensa governista afirmou que “..] 0 magnanimo 137 0 BRASIL REPUBLICAN benevoléncia e clarividéncia, concedeu a chefe, por um ato de generosidade, | ‘tores reconheciam que o chefe do democracia aos brasileitos"."” Os opos governo promoverao progresso material dentro da ordem mas nfo soubera concifiar a ordem com a liberdade. ‘As manifestagées em favor da liberdade foram acontecendo a partir de 1943: 0 “Manifesto dos Mineiros”, assinado por intelectuais, politicos € empresicios,alegava o seguinte: “Se lutamos contra o fascismo, ao lado das Nacées Unidas, para que a liberdade e a democracia sejam resttufdas a to- dos os povos, certamente nfo pedimos demais reclamando para nés mesmos tos direitos e as garantias que as caracterizam.” Esse argumento explicitava bem a contradigSe do governo. O jornal Resistencia, fundado em 1944, ci- culava clandestinamente exigindo redemocratizagéo do pais. Os oficiais da FEB pediram ao general Eurico Gaspar Dutra, entio ministro da Guerra, que foi vsité-los na Itilia, a volta da democracia. ‘0 ministro Oswaldo Aranha demitiu-se do posto de ministro em protes- to.contra a repressio promovida contra os que exigiam a volta da iberdade, 0, Em 1945, 0 1 Congres- Estudantes e politicos foram presos por esse motiv so Brasileiro de Eeritores, ocortido em Sao Paulo, exigiu a volta da legaliday dee do sistema elcitoral mediante surégio universal. general Gois Monteico ‘ranifestou-se em favor das eleig6es; em feversio, o governo assinou uma A> ‘Adicional, fixando eleig6es num prazo de 90 dias. (0 petiodo que se seguiu foi de intensa agtagfo. Em meio &s greves cone traa alt do custo de vida e os baixos saldrios, 8s manifestagbes pr6-anisti be partidos foran se consttuindo ¢ definindo candidatos & Presidéncia da Repiblica, A Unio Democrdtica Nacional, fundada em fevereiro, indicou 0 nome do brigadeiro Eduardo Gomes; 0 Partido Social Democritico (PSD), ‘riado em Minas Gerais, apoiou o nome do general Dutra. ‘© Partido Trabalhista Brasileiro estabelecew-se logo a seg, por inci a dos eorrligicnérios de Vargas, a ele cabendo a presdéncia do partido. Em julho, a diregio do PSD também convidou Gertlio Vargas pare assumit a presidéncia dessa agremiagio, A presidencia dos dois partidos evidencia a fovea potica de Ider do Estado Novo e eeu prestigiorornou-se ainda mais wiatvel a partir ds seguintes epis6dios: nesse mesmo més houve uma man Festagio dos comunistas realzada no estdio do Pacaembu, em Séo Paulo, © ESTADO nove: 0 Qué sRouxe.o€ novos nna qual o der Luts Carlos Préstes leigcia a caimpanha da “Consti oo em agosto surgiu o moviments “queremista”, andor lines ase funciondrios do Ministo do Trabalho, que, em passeaa pb, cay bain “Queremos Getilio! Quieremos Gersliol”, i ene ee movimento prosseguiu provecando a reaga 4 i de outubro, um golpe militaé depos Geilo vein diem yaad ‘no, retirando-se para sua terra fiatal’em So Borja. mat onsoeeee BALANGO FINAL ‘ Se tat ie O regime caiu sem resis i i : iy eo sine ca sem retistEncia. Masa histéria mostratia que.o derrotado eoes en vos nfo seu president, ‘que Yoltaria a0 poder.em 1951, bh coma preferéacia de aniplos setores sociais, popula. é a a r€$ sociais, popula. 7 etait Ate disso, Vargas mostravaforga polled na leigoes , quando elegeu para.a Presidéncia da Repabli i Eurico Gaspar Dutra, vencent i se i Cun Scar ido. candidato.da oposigo. udénista Eduar- a Foe ‘Novo se encerroit em 1945, mas a presen de Vargas na poll- : ee Tonge. A cra Vargas € sempre mericionada par admiradores 6 gfoores como um momento ere a isda brie, e Gili, Yen simpdscomo um dos rncpisexoene de polcabiii logias,ovarguisme-continua Sendo uma feferénciaessencial ee da historia Politica brasileira, Nio & por acaso que. canoe tiaores tim revista, com tnt intrest esa époc, mt cbretido 0 lan /0, que, apesar de exorcizado pelo seu aspecto claramiente autori- o,f © perfodo em que ocorreéam mudarigas importantes como a Con- solo das Leis do Trabalho, considecada a maior heranga do varguismo. esclarecer que, se, pér um lado; a legislagao social repr er a gislagdo social represent eeadineno 8 ii ang evade oe trabalho, 0 pier doe mnquista foi a perda de lib is 40,9 congue fle pre erdade domoviments operiro, que passoua ser aS finalizar, setia importante tentar responder & questo enunciada no lo deste texto, ou séja, © que trouxe de'novo o Estado Novo? 0 BRASIL RepunLicANo ‘Esse regime implicou perdas e ganhos para as classes populares. A ques to social deixou de ser um “caso de policia” como no perfodo anterior, mas ppassou a ser um caso de Estado e muitas lutas tiveram de ser travadas para que esse pasado fosse superado. No plano politico, o autoritarismo, que sempre marcou presenga na 60- iedade brasileira, foi reforcado nesse perfodo. Foi introduzida no pafs uma ‘nova cultura politica, que transformou a cidadania numa pega do jogo do poder. As liberdades relativas que existiam no perfodo anterior foram extin- tas nesse momento em nome do progresso dentro da ordem. progresso material, sindnimo de desenvolvimento econdmico, de fato ocorreu, demonstrando que a meta primeira do governo estado-novista foi tingida em parte. O Brasil, nessa época, deu um salto em termos de supera- ‘glo do “atraso”, mas os resultados no chegaram a beneficiar as classes po- pulares como um todo, pois o desemprego era apontado como um dos problemas mais sérios do momento. Além disso, a alta do custo de vida e os baixos salétios foram responsdveis pela insatisfagio daqueles que 0 governo elegera como os principais beneficifrios de sua politica, ‘Levindo em conta os aspectos positivos e negativos do regime de 1937, é posstvel concluie que as mudancas ocortidas nesse perfodo foram de enor- ‘me importincia para o futuro do pals. Esta é a razio que explica o grande interesse dos historiadores atuais pelo tema. NoTAS 1, Ver Feereira, Jorge (2001). 2. Retomendo a questio do conceito de “popalismo", que nfo se pretende abordar neste texto, énecessério apenas indicar um aspecto importante da critica que certos itutores fazem 28 andlises que o utilizam como referencial para interpretacto, Trata- te de um concsito muito abrangente, que nfo leva em conta mudangas conjunturais importantes. No caso do Brasil, alguns autores tomam como periodizacéo para @ definigio do populismo o periodo de 1930 a 1964, que ultrapassa sera Vargas; outros te referem 20 poptlismo relacionado apenas a0 varguismo, levando em conta as décadas de 1930 € 40 e 0 governo presidencial de 1951 4 1954, Outros ainda con- sideram apenas este perfodo como “populists”. 140 ! | ! © EETADO NOVO: 6 QUETAODKE DE-RovO? 3. 0 Bstado de S. Paulo, Sko Paulo, 27 de novembro de1935, 4. O estado de guerra foi prorrc ‘ininterruptament s ‘comunista st jt de B97 unde le as cers oe ne ae Soars decidvan por ante No ant em oubee de eee toda imintacla de ue ovo gopeconunia, em tude de ua plato rere, te descoberto, o Exceuio slitoa mais uma vera declarago do estado de gues, Tasso a Cte rd priests abl rermo como se fste verdadeiro com 0 intuito de protongar a exe Em 30descenbro de 1997, jin aotcatam queacedesaee dots dessbia um lino deine comuasta pate peo Coane cane do por um nome judsico, “Cohen”. As insteug6es teriam sido apreendidas pela licia do Partido Totegralista ¢ encaminhadas a unt oficial integeatista que’ eves ‘estado-maior do Exército, Pelas discusses realizadas na Camara; havia fortes ‘us. ae ‘a respeito da vetacidade'do planio'e alguns partamentares. seman Saar ite 4 questio em votaglo, a concessio do estads de guerra foi ‘prove por 138 votes conza $2 © domes ein de rete pare elpe ‘5. Em 1931 fo criado o Departarsento Oficial de Propagands, que se transformou em Hieestreal Neco de Leteaimpr inieetrated Bm 1939 foi ceiado, por reto do governoy o Departamento de Imprenma¢ Propaganda siorkinds a Paces Rpt ste came toa ei laaeet ee '@ propaganda nacional interna ou externa. Cabia «esse ea etd censura do teatro, do cinema, do ridio, da literatura, da imprensa, ds aides reccestvaseeaportvas, Devers também, promovete ptrociaat "nl ten patna enor eae oeaeee cere Para criangas, documentérios, jotnais nacionals, de ‘exibigho obtiga- Sieemsianechen ‘ODIP passou a ser dirigido pelo jornalista Lourival Fontes, Saasacy (08 ideais do Estado Novo, Em cada estado havia um. Departamento. Ss os ee /¢ Propaganda. Todos os jornalistas tinham de ter registro nes sn apn pacha ees Cs ee dazian dine ecccertatige daboeadon Por intelectuals orginicos que pro=. kre dro ona genes Boars en Piiblico seleto. A segunda era produzida por intelecruais de menor peso e se ditigia a0) Tie) Piiblico; caracterizou-se como “escola de 10", fazia proselitismo. ply nds ean Bato re tripe aa a ee intenso, pois, além da censura, o DIP ficou encarcegado de incor ior jornais, A Manha do Rio de Janeiro, dirigido por Cassiano Ricardo, em {1941 A Noite de Sto Paulo, em 1942, exprestavama vor do govern: Em mango le 1940 0 jornal O Estado de S, Paulo sofreu intervengéo ¢ passou a seguir a orien- em S/1/1940. Vargas, sl, p. 346, aay HICANO, eee 28 al amas nge 7 Gado em Batreo hs, Mell, Archit o Geto Vargas Rio de Jaci: DI 1941, 135-136” ; 8. Gado er idem, p19, ae 18. Um gripo de integealistas, em argo dé 1938, tentou dar um golpe, que foi cepii= imido pelas forgexdo governo, Holive vitis prises que logo foram relaxadat, Em 10/de malo ocorreu noya tentativa na Gusnabara, mas os rebeldes logo se rende- ac'ou fugiram, guns fOram fuzilados perto do palicio do governo ¢ cerca de 1.500 foram pretos no Rio. No.ano segulnte Plinio Salgado foi deportado para Portugal, =. 10, O primeito-nicteo dé Parsido Nacional socialise surgiu em 1931 em Porto Alegre ¢ chegow'a fundar iim Jornal dis i pandir-se em 1933 no sul do Brasil, onde praticavam atos de violéncia. Nesse ano a sede'do partido foi instalada no Rio de Jancico. Em 1934, conseguirem organizat lum foanifestagio no't* de maio com 6.000 pessoas em Porto Alegre, Fol criado, em 1935, 0 Circulo Teuto-brasileiro com o mesmo objetivo. 414, Na guerra, as fongaseftavam dividides por pases: compuseram o Bixo a Alemanh, ‘kilia eo Japio. O bloco dos Aliados foiliderado pela Inglaterca e Franca, poiado péla Ria e Estados Unidos, que entraram na gueira posteriormente. Em 1940 a8 tropaéalemds invadicam a Dinamarca e'Noruega os Paes Baixos, a Blgica ea Fran- ga O éxito das investidas alomds era sirpreendente, Em 1941 alemées, hingaros ¢ bilgacos tomaram @ Ingoilivia, A seguir, com o auxiio de tcopas romenas, hinga- as ¢ firlandesas, 0 Bxécicoalerato atseou a Unio Sovitica mas foi entdo que sofreu a primicica dertota signficativa 32, ANG io Bl, 28 erro 14, 13, Iden, BIBLIOSRAFIA imei, Claudio Agar. 1999/0 cinerd como “agtador das almas” Aria, wna cera + do Bstada Novo. Sto Paulo: FAPESP/Anna Blume, ‘Canceli, Elizabeth. 1993, O mando da violencia. A politica da era Vargas. Brasla: UnB, Capelato; Maria Helena, 1998, Multiddes em cena. Propaganda politica no varguismo € +. peronismo, Campinas: Papirus/S40 Paulo: FAPESP. ‘Carneivo, Maria Luiza Tucci. 1988. O anti-semitinto na era Vargas, Sho Paulo; Beasilense, Carone, Rdgas. 1976. Bstado Novo, Rio de Janeito; Difel. 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