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ALFABETIZACAO ee amyV EKO) Créditos Institucionais Fundador e Presidente do Conselho de Administragao: Jangué Diniz Diretor-Presidente: Janyo Diniz Diretor de Inovagao e Servigos: Joaldo Diniz Diretoria Executiva de Ensino: Adriano Azevedo Diretoria de Ensino a Distancia: Enzo Moreira © 2020 by Telesapiens Todos 0s direitos reservados A AUTORA IRIA HELENA DUARTE Ola, meu nome é Iria Helena Duarte. Sou formada em Pedagogia. Especialista em Metodologia do Ensino da Lingua Portuguesa e Estrangeira, com uma experiéncia técnico- profissional na area de ensino hibrido ha mais de 10 anos. Coneluinte em Psicopedagogia com especializagiio em Lingua Espanhola. Iniciei minha carreira como docente atuando em diversas escolas do Estado de So Paulo, Estado do Parana e de Santa Catarina na 4rea da Educagdo Infantil e Ensino Fundamental I. Em 2008, fui convidada por uma empresa em expansao em EAD para participar do departamento Pedagégico como Coordenadora Pedagégica em Ensino a Distancia, depois, como professora conteudista na area da Pedagogia e ensino de Linguas. Também trabalhei para algumas faculdades, atuando na elaboragao de trabalhos e materiais didaticos e preparatorios, como o ENADE. Atualmente, sou sécia de uma escola EAD de ensino de cursos técnicos, profissionalizantes e idiomas, também atuo como mediadora do curso de Pedagogia e tutora virtual da Universidade Virtual do Estado de Sao Paulo. Amo a minha profissio e sou apaixonada pelo meu trabalho. Estou sempre em busca de novos conhecimentos porque acredito no poder da educagio e da reciclagem. Adoro poder transmitir minha experiéncia para todos que esto iniciando em suas profissdes. Por isso, fui convidada pela Editora ‘Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar vocé nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte sempre comigo! ICONOGRAFICOS Ola. Meu nome é Manuela César. Sou a responsavel pelo projeto grafico de seu material. Esses icones irdo aparecer em sua trilha de aprendizagem significam: OBJETIVO OBSERVAGAO Breve descrigao do Uma nota explicativa objetivo de aprendiza- © _ sobre o que acaba de gem; ser dito; CITACAO RESUMINDO Parte retirada de um Uma sintese das tlti- texto; mas abordagens; TESTANDO DEFINICAO. ©) cxcrcictes para fxagao E once, do contetido; ° IMPORTANTE ACESSE O contetido em destaque Links uteis para fix- precisa ser priorizado; agao do contetidos ww DICA SAIBA MAIS 7 ‘Umatalho para resolver Informagées adicionais PB 's algo que foi introduzido sobre o contetido e temas = no contetido; afins; EXPLICANDO SOLUCGAO ty DIFERENTE Resolugao passo a passo Um jeito diferente e mais deum problema ou simples de explicaro que BAL Sure acaba de ser explicados EXEMPLO CURIOSIDADE Explicagao do contetido (2?) Indicagao de curiosidades ou conceito partindo de ¢ fatos para reflexo sobre o tema em estudo; um caso praticos PALAVRA DO AUTOR Uma opiniao pessoal e particular do autor da obra. REFLITA O texto destacado deve ser alvo de reflexao, SUMARIO Conceitos e definigdes sobre Alfabetizagao e Letramento..11 A Alfabetizacio. A Langa Falada 6 a. Lingua Eserita OLetramento. Definigdo de Letramento. Alfabetizado Letrado. Analfabetismo Funcional Hist6rico e evolugao das praticas de alfabetizagao. A Cartilha de Comenius Emilia Ferreiro Asala de aula como ambiente de alfabetizaga O papel do professor. A Psicogénese da Lingua escrita. O analfabetismo. lingua escrita... A pratica pedagégica do ensino da lingua escrita Lev Semyonovich Vygotsky. O papel do professor e do ambiente familiar na aqui lingua escrita... O letramento na aquisigio da escrita Praticas para o letramento da lingua escrita. Estratégias da leitura- Parte L........ A leitura como instrumentagio cultur: Aprendizagem cooperativa. Monitorara compreensio Estrutura do enredo......... Organizadores semanticos e graficos. Responder Perguntas. Resumo..... Alfabetrizagio ¢ Letramento | (7 UNIDADE INTRODUGAO A ALFABETIZAG AO E LETRAMENTO 8} [ Alfabetizagao ¢ Letramento INTRODUCAO Ainda nos dias de hoje, quando falamos em Alfabetizagio, muitos tem a ideia de um processo repleto de regras e praticas, 0 conceito real é muito mais amplo e deve ser discutido com muito cuidado. Procure lembrar da sua professora na primeira série do Ensino Fundamental. Vocé lembra das praticas que ela utilizou para alfabetiza-lo (a)? Quais foram os recursos que utilizou? Talvez ela tenha utilizado a famosa “Cartilha” na qual vocé sempre associava uma imagem com uma letra, até a formagao das palavras? Ou usufruiu de outros recursos no seu processo de alfabetizaga0? Eu me recordo na minha formagao, que a minha professora sempre utilizava o lidico dentro da sala de aula e era sempre muito divertido quando estavamos aprendendo a formar as palavras porque ela utilizava muitos recursos visuais. No processo de alfabetizagao é tudo muito magico para a crianga, porque elas percebem que as letras se tornam palavras, cada palavra é um encontro, um encantamento e, quando conseguem ir além, 0 descobrimento se torna real e, também, uma parte integrante do mesmo. Porém, cabe ao professor alfabetizador instigar a crianga ao novo, ser 0 facilitador, o mediador de uma etapa tinica na vida de cada um. Sempre fui muito grata aos tedricos e estudiosos da area porque se nao fossem por eles e suas experiéncias de vida, nao teriamos todo 0 conhecimento que temos hoje. O que ¢ ser alfabetizado para vocé? O que é ser letrado para vocé? Esses questionamentos, gostaria que vocé os fizesse antes de iniciarmos essa nova jornada. Anote em um papel 0 que voeé entende por Alfabetizagao e Letramento e depois no término deste e-book, te convido a fazer uma releitura do que escreveu e refletir sobre tudo o que aprendeu. Alfabetrizagio ¢ Letramento | (9 Ao longo desta unidade letiva vocé vai mergulhar neste universo de conhecimentos. Abordaremos a definigdo sobre 0 que é de fato Alfabetizagiio e Letramento. Te convido a retornar ao passado um pouquinho para que possa compreender todos os processos e os “porqués” de todos os questionamentos atuais. ‘Vocé estudara a importancia das praticas da Alfabetizagao e também a introdugao de estratégias de leitura. Bons estudos! 10} [ Alfabetizagaio ¢ Letramento OBJETIVOS Ola! Seja bem-vindo 4 Unidade 1, 0 objetivo desta unidade é auxiliar vocé no desenvolvimento das seguintes competéncias profissionais até o término desta etapa de estudos: Identificar os conceitos de Alfabetizag’io e Letramento no processo de ensino- aprendizagem. oan Compreender a importincia da historia da leitura, escrita e letramento, bem como sua evolugio até os dias atuais. No Reconhecer os processos educativos e suas metodologias de aquisigao de leitura e escrita. GS Conhecer as estratégias e os principais métodos utilizados para o melhor uso da leitura. SS Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Alfabetrizagfio ¢ Letramento | (11 Conceitos e definicdes sobreAlfabetizacao e Letramento Qual a definigo de fato sobre Alfabetizagio Letramento? Existe alguma diferenga entre os dois? Qual a importancia nos dias de hoje quando falamos em alfabetizagio e letramento? Ao longo desta aula iremos discorrer sobre todos esses questionamentos, as definigdes baseadas nas teorias dos maiores tedricos do assunto. Caso tenha ditvidas, nao se preocupe. Recorra ao forum de dtividas e discussdes para socializar 0 seu conhecimento e esclarecer todas as suas ditvidas. Depois, desenvolva as atividades e questdes sugeridas. Nos estamos a sua disposigao em caso de dificuldades! A Alfabetizacio Aalfabetizasao em sua principal definigao é 0 processo de aquisigao da leitura e escrita através do sistema alfabético e ortogrifico. Entendemos que esse processo nao é simples, pois inclui muitos fatores internos e externos. Felizmente, podemos afirmar que nos dias atuais, esse processo vem sendo altamente discutido por profissionais da educagio, pois ha muito tempo professores enfrentam diariamente problemas relacionados 4 alfabetizago como as dificuldades de aprendizagem, alto indice de reprovagio nas séries iniciais e também a evasio escolar. O termo é amplo e nio pode ser visto unicamente como um tinico processo, estamos falando de etapas multifacetadas, de uma grande diversidade de fatores e niio podemos nos limitar somente em uma tnica definigao. E o que sugere Soares, 2003, p.16: 12} { Alfabetizacao ¢ Letramento Nao parece apropriado nem etimolégica nem pedagogicamente que o termo alfabetizacao designe tanto o processo de aquisi¢ao da lingua quanto em seu desenvolvimento: etimologicamente 0 termo alfabetizagéo nao ultrapassa o significado de “levar a aquisigao do alfabeto” , ou seja, ensinar 0 codigo da lingua escrita, ensinar as habilidades de ler e escrever, pedagogicamente, atribuir um significado muito amplo ao processo de alfabetizagao seria negar- Ihe a especificidade, com reflexos indesejaveis na caracterizagao da sua natureza, na configuragao das habilidades basicas de leitura e escrita, na definigao da competéncia em alfabetizar. Figura |: Alfabetizagao infantil Fonte: Andros1234/Pixabay Vivemos na era da g lobalizagao. Ha comunicagao o tempo todo e de diversas maneiras diferentes. As pessoas tém acesso a informagao de uma forma muito rapida. Em contrapartida, ainda é muito comum vivenciarmos escolas com métodos de alfabetizagao antigos que nao se adequam aos dias de hoje e também nao séo compativeis com as necessidades reais do dia a dia. Alfabetrizacio ¢ Letramento | (13 Sabemos que nado existe uma metodologia perfeita, cada qual tem a sua caracteristica principal, porém também é certo afirmar que existem sim, muitos métodos de alfabetizagao que hoje funcionam e outros nem tanto. Infelizmente algumas escolas ainda tratam essa questo de uma forma nio muito articulada, com recursos empobrecidos e arcaicos. Essa defasagem conclui a incompeténcia da instituigao quando ela empobrece as miltiplas possibilidades de acesso na aquisigao da fala. leitura ¢ escrita. Segundo Cagliari, 1994, p.9: @ CITACAO Por fim, a falta de visio de muitos, associada 4 auséncia de conhecimentos linguisticos, tem atribuido o fracasso escolar ora ao ahmo visto como um ser ineapaz, carente cheio de deficiéncias, ora ao professor”. Para ampliarmos essa reflexfio recorremos as reflexdes de Soares (2003, p.15), que assim explica: Sem dirvida nao ha como fugit, em se tratando de um processo complexo, como aalfabetizagao, de umamuttiplicidade de perspectivas, resultante da colaboragao de diferentes areas de conhecimento, e de uma pluralidade de enfoques, exigida pela natureza do fenémeno, que envolve atores (professores e alunos) ¢ seus contextos cutturais, métodos, material e meios. Entretanto, essa multiplicidade de perspectivas e essa pluralidade de enfoques no trardo colaborago realmente eftiva enquanto nao se articularem em uma teoria coerente de alfabetizag’io que concilie resultados apenas aparentemente incompativeis, que articule andlises provenientes de diferentes éreas do conhecimento, que integre estruturadamente estudos sobre cada um dos componentes do proceso. Nesse sentido, é correto afirmar que 0 acesso ao processo de aquisigao de leitura ¢ escrita modificou-se e n&io mais atende as necessidades do passado. A leitura do mundo é outra. O que precisamos compreender & que © processo de alfabetizagio, na sua complexidade, interfere significativamente na vida educacional do individuo. “A alfabetizagaio 6 sem diivida, 0 momento mais importante da formagiio escolar de uma pessoa...” (CAGLIARI, 1994, p.10). 14} ( Alfabetizagio ¢ Letramento E fato dizer que uma das principais etapas do processo de alfabetizagao é a representagio de fonemas em grafemas e grafemas em fonemas, porém nio podemos descartar a importancia do cédigo da escrita através da compreensao. Essa expressdo de significados nos da uma ideia mais ampla e diretiva, pois o proceso nfo se destina exclusivamente no desenvolvimento dos cédigos e fonemas da leitura ¢ escrita, ele rege outras etapas que no podem ser descartadas. Segundo Magda Soares, uma das maiores pesquisadoras do pais sobre o tema, as etapas nfo sio tao simples como podemos imaginar e requerem muito cuidado, Nesse processo de aquisig4o de leitura e escrita, o individuo deve participar ativamente e nJo somente como um individuo que recebe as informagdes. A Lingua Falada e a Lingua Escrita Pense na sua lingua mie. Vocé acredita que a lingua escrita tem as mesmas caracteristicas da lingua falada? Ou seja, vocé escreve exatamente como vocé fala? E ébvio que nao! =) DEFINICAO =) O coneeito de lingua falada chega a ser até abstrato, pois existem tantas diversidades que a compdem e a cada dia, ela vem modificando. Podemos dizer que é uma lingua viva, que modifica e se adequa de acordo com a sua necessidade. Alfabetrizagao ¢ Letramento } [15 Figura 2: Lingua Falada ~~? Fonte: RyanMeGuire A lingua falada é viva e esta em constante adaptagao com o seu meio social. E o que explica com mais énfase Bagno, (2001, p.09) Temos de fazer um grande esforgo para nao incorrer no erro milenar dos gramaticos tradicionalistas de estudar a lingua como uma coisa morta, sem levar em consideragao as pessoas vivas que a falam. Nesse pressuposto, é correto afirmar que a lingua falada nao se enquadra nas regras da lingua escrita, pois 0 processo de aquisig&o dessa lingua, também é outro. Nossa intengio ¢ que vocé possa compreender a complexidade de todo o processo, portanto quando falamos em lingua escrita, nao estamos falando apenas em regras gramaticais pois ela nao deve ser vista apenas como um registro de fonemas da lingua oral, ha também a sua importancia sintatica, semantica e morfologica. E 0 que explica Soares, “nao se escreve como se fala, mesmo quando se escreve em conceitos informais.” (SOARES, 2003, p. 18) 16} { Alfabetizagao ¢ Letramento Figura 3: Lingua Escrita Fonte: StartUpStockPhotos/Pixabay Embora muitos ainda acreditam que 0 processo de alfabetizagdo é individual, nao podemos esquecer que ele também € social. Pensamos em duas escolas em regides completamente diferentes uma da outra. Supondo que uma escola esta situada em uma regiao rural e outra central, vocé acredita que os processos de alfabetizacgao das duas escolas se dao da mesma maneira? Mesmo que ambas utilizem do mesmo método alfabetizador o desenvolvimento seria igual? A sociedade tem um peso muito grande quando falamos sobre a alfabetizagao pois em algumas sociedades esse tema pode até parecer algo nao muito constante. Em algumas regides € muito comum as criangas serem alfabetizadas a partir dos 4 anos de idade, em outras a partir dos 7 anos, difere muito para cada regiao e sua cultura. Como vocé pode notar, alfabetizar uma crianga vai muito além do que transmitir a informagao a crianga na aquisigao de leitura e escrita. Depende de muitos fatores como por exemplo, culturais, econdmicos e tecnoldgicos. Alfabetrizagdo e Letramento ) ( 7 O Letramento Vocé aprendeu que a alfabetizacao é€ a aquisicao da lingua (seja ela oral e escrita) através de um sistema alfabético, ortografico e também cultural. Também vimos que 0 processo de alfabetizagao é complexo e depende de muitos fatores. Nao é somente ensinar a crianga a formar as palavras e depois partir para a leitura. O processo é lento, pratico e exige habilidades tanto da parte do professor quanto do aluno. Vocé também aprendeu a importancia da comunicagaio de forma rapida e pratica nos dias de hoje. O uso das tecnologias nos proporciona acesso rapido as informagées consequentemente nossa comunicagao caminha no mesmo sentido. Aquele que hoje nado acompanha toda essa evolugao tecnoldgica infelizmente nao consegue ter 0 mesmo dominio de comunicagao. Figura 4: Leitura Infantil Fonte: Victoria_Borodinova 18. ] [ Alfabetizagio ¢ Letramento Voos, professor dentro da sala de aula, se depara com um aluno do 3° ano do Ensino Fundamental I com algumas dificuldades na atividade de compreensio de texto. Na atividade, vocé pede para o aluno responder as perguntas simples sobre 0 texto que ele acabou de ler. O aluno faz a leitura diversas vezes e mesmo assim, ndo compreende nenhuma das perguntas. Ele somente consegue responder aquelas é6bvias como: Qual o nome do personagem principal? ou “Aonde se passa nossa historia? Perguntas mais complexas ele simplesmente nado consegue responder. O que vocé acha sobre isso? Pense agora em uma outra situagao: Na sala de aula do 5° ano do Ensino Fundamental I a professora pede para os alunos fazerem uma redagio sobre 0 descobrimento do Brasil. No final da atividade, ela percebe em um aluno a dificuldade em fazer a atividade escrita. Bla entio vai até esse aluno e nota que sua redagao é empobrecida, que o aluno nfo segue uma ldgica textual e que existem erros gramaticais ¢ ortograficos gritantes. Por que isso acontece? Essas duas situagdes sio muito comuns nos dias de hoje. Infelizmente, conforme anteriormente dito, ainda existem muitos problemas no processo de aquisigAo da leitura e escrita e aqueles que no atendem a demanda da rapidez tecnologica e da comunicagao na era da Globalizagaio, acabam sendo allamente prejudicados. Segundo Soares, 2003, p.20, “s6 recentemente passamos a enfrentar essa nova realidade social em que nao basta apenas ler e eserever, & preciso também fazer 0 uso do ler e escrever, saber responder as exigencias de leitura e escrita que a sociedade faz continuamente™. Alfabetrizap’o ¢ Letramento | ( 19 © interlocutor deve ter ¢ dominio nao somente dos cédigos como também uma visio ampliada, que seja capaz de compreender todo 6 discurso, na interpretagao de elementos histéricos, ideolégicos ¢ cientificos. Ele deve dominar todos os elementos da textualidade que constituem o uso discursive oral e esetito como os elementos de codifieagdo (letras sons). Figura 5: Professra Fonte: Jerrykimbrell/Pizabay Definicde de Letramento Em meados do ano de 1980, a invengao de letramento se deu no Brasil assim como simultaneamente em outros paises. A ideia era compreender os problemas enfrentados na aquisigio da lingua eserita e a sua deficiéncia. Porque algumas criangas simplesmente nfo conseguiam fazer uma simples interpretago de um texto ou até mesmo escrever um texto comum? Nos paises desenvolvidos foi constatada essa deficiéneia de sua populagiio, que embora al fabetizadas, no eram competentes o suficiente para fazer uma simples redagao ou leitura. 20} { Alfabetizagao ¢ Letramento Segundo Soares(2000, p. 18): “Letramento é, pois, o resultado da agao de ensinar ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a condig&io que adquire um grupo social ou um individuo como consequéncia de ter-se apropriado da escrita’ Para ampliar ainda mais essas ideias, citamos as reflexdes de Klein (2000, p.11), que assim relata: Nao ha divida que o letramento 6, hoje, uma das condigSes para a formagiio do cidadio: ela o insere num circulo extremamente rico de informagées, sem as quais, ele, inclusive nem poderia exercer livre e conscientemente sua vontade (...) 0 homem contemporiineo é afetado por outros homens, fatos e processos por vezes tio distantes de seu c jo que somente uma rede muito complexa de informagdes pode dar conta de situa-lo, minimamente, na teia de relagdes em que se encontra inserido. Neste universo, ta mais vasto e complexo, a escrita assume relevante fiangao, registrando e colocando ao alcance das informagSes que podem esclarecé-lo melhor” Nesse sentido, a definigao de letramento é vasta e esta intrinsecamente interligada 4 alfabetizagao, apesar de ocorrer distingdes entre os dois temas. Quando falamos de letramento, nos referimos as competéncias que o individuo deve possuir para construgiio do entendimento de leitura e escrita. E uma visdio mais ampla, mais minuciosa que exige do interlocutor um direcionamento mais preciso. Além de possuir competéncias linguisticas, ele deve também adquirir conhecimentos suficientes para a formagio de novos conhecimentos, sejam eles culturais, historicos, ideoldgicos e cientificos. Alfabettizagaoe Letramento | [21 De nada adianta saber apenas ler ¢ escrever ¢ no ter dominio sobre a leitura e escrita. Nao saber como escrever, como fazer uma interpretagio. Eo dominio do uso da lingua no seu sentido amplo, geral. Alfabetizado Letrado Alfabetizade letrado é aquele que conheee o sistema ¢ as regras ortograficas ¢ gramaticais ¢, ainda, se coloca como umn efetivo usuario da lingua em seu contexto social.De nada adianta saber apenas ler ¢ eserever ¢ no ter dominio sobre a leitura e eserita Nao saber como escrever, como fazer uma interpretagiio. E 0 dominio do uso da lingua ne seu sentide amplo, geral. Figura 6: Drivida de leitura Fonte: Victoria Borodinova/Pixabay Analfabetisme Funcional Anal fabeto funcional ¢ aquele que nao conseguc fazer o bom uso da leitura ¢ escrita nas atividades cotidianas. Ou seja, embora ele saiba ler e eserever, ndo consegue fazer uma interpretagao de um texto porque nao compreende toda a estrutura textual ¢ também tem muitas dificuldades em eserever. 22} { Alfabetizagao ¢ Letramento Lembramos do nosso aluno do 3° ano do Ensino Fundamental citado no inicio do tema. Ele nao consegue fazer a interpretagdo do texto que apresenta complexidade. Ele 1é, mas nao compreende. No segundo exemplo, o outro aluno no consegue fazer a redagio sobre o descobrimento do Brasil porque nao tem dominio sobre as palavras, simplesmente n&o consegue fazer 0 bom uso da lingua escrita. Faga uma reflexiio pratica sobre alfabetizagiio e letramento. Como voce, como professor, lidaria com alunos iletrados? Qual seria o maior desafio para vocé para lidar com uma situagao dessas? Estudamos que as definigdes tanto de alfabetizag4o como letramento sio muito mais amplas, complexas e trabalhosa. Em sintese, podemos concluir que: MAlfabetizagio & 0 processo de aquisigao da lingua (oral e escrita) por meio do sistema alfabético, ortografico e cultural; ® Letramento é 0 processo de desenvolvimento da lingua (oral ¢ escrita). O desenvolvimento de habilidades para uso da lingua em diferentes contextos, como por exemplo no contexto atual que é digital (tecnolégico). Histérico e evolucéo das praticas de alfabetizacao Vamos iniciar, neste capitulo, uma reflexao profunda sobre © desenvolvimento histérico e sua influéncia nos dias atuais. Faremos uma analise sobre Comenius e a sistematizag’o da aprendizagem por meio da cartilha e os pensamentos de autores que influenciaram diretamente para essa evolugio. Alfabetrizacio ¢ Letramento | (23 A Cartilha de Comenius Tudo se iniciou por um pastor protestante, chamado por Joio Amés Coménio, mais conhecido por Comenius, no qual foi considerado o pai da pedagogia moderna. Em meados do século XVII, Comenius fundamentou a escola que conhecemos até hoje, foi o precursor da organizagio do trabalho pedagégico baseado em elementos manufatureiros, presentes na sociedade da sua época. Com a ideia de “ensinar tudo a todos”, Comenius deu ao professor a sua primeira definig&o ¢ aderiu a ele, o material didatico pedagdgico como instrumento de trabalho. © livro didatico por sua vez, difere dos livros cientificos. A ideia era que 0 livro didatico nao fosse tio aprofundado de fontes originais, mas que fosse um direcionador de conhecimentos. Surge entio um livro exclusivamente pedagdgico que prope o ensinamento de ler e escrever através de figuras ou ilustragdes ao lado das palavras, das silabas e do alfabeto. E © que conhecemos de Cartilha, que ainda hoje é utilizada em muitas instituigdes de ensino. objetivo era que as criangas pudessem fazer associag’o tanto visual quanto motora das palavras. Note que a cartilha que conhecemos a crianga se depara com figuras referente as iniciais da letra que esta sendo estudada. Por exemplo: Na letra I, existe a figura de um Ipé. Ha essa associacao da palavra coma letra e depois a intengao que a crianga possa internalizar através de expresses motoras, como contomo da letra, fazer colagem sobre a letra, etc, Outro fato bastante interessante é a classe heterogénea, ou mais conhecida como instrugao simultanea. Os alunos aprendiam ao mesmo tempo em graus ¢ atividades diferenciadas. Isso facilitaria a aquisigo do conhecimento e pouparia esforgos. Colocaria em pratica ento, a ideia de ensinar “tudo a todos”. Segundo A.2001.p.11: “Comenius esta na origem da escola moderna. A ele, mais do que nenhum outro, coube o mérito de concebé-la, Nessa empreitada, foi impregnado pela clareza de 24) ( Alfabetizagao ¢ Letramento que o estabelecimento escolar deveria ser pensado como uma oficina de homens; foi tomado pela convicgao de que a escola deveria fundar sua organizag&o tendo como parametro as artes.” Para Comenius a didatica deveria ser foco principal de experimento porque acreditava que o proceso estava na pratica e€ 0 ensinamento deveria fazer parte desse pensamento. Apesar da sua fervorosa religiosidade ter interferido consideravelmente suas teorias, ele enfatizava o ensino como algo que deveria ser atingido por todos e que as pessoas deviam se capacitar para um novo conhecimento. Foi um dos primeiros a defender a ideia da educagao para criangas pequenas, coloca-las em um ambiente em que elas fossem expostas a todo o tipo de conhecimento, podemos dizer que surge a ideia do maternal. Ele acreditava que através do conhecimento, o ser humano poderia alcangar sabedorias divinas. Por esse motivo ele queria que todos tivessem uma educagao, porque além dos conhecimentos terrenos, eles também podiam adquirir uma ascensao nos céus. Figura7: Alfabetizagaio Fonte: Steveriot/Pixabay Alfabetrizacio ¢ Letramento | (25 Emilia Ferreiro Nenhum nome teve mais influéncia no que se diz respeito de alfabetizagio do que Emilia Ferreiro, uma psicolinguista argentina, aluna e companheira de trabalho de Jean Piaget, revolucionou a historia da alfabetizagao. Em meados de 1980 seus livros comegaram a ser divulgados no Brasil e causou um grande impacto na concepgao de alfabetizagao. Famosa pela obra: “Psicogénese da Lingua escrita”, © livro nao apresenta nenhuma metodologia pedagogica, apenas processos de aprendizados nas criangas, colocando em questio até entio, os métodos utilizados. Suas pesquisas revelam mecanismos relacionados 4 leitura e escrita e passa acurtir toda a sua teoria baseada em métodos construtivistas. Para Emilia, a crianga tem um papel totalmente ativo no processo de alfabetizagao, pois ela constréi o proprio conhecimento. Calcada em teorias ¢ praticas construtivistas, avalia 0 conhecimento através de experigncias na pratica. O aluno que é ativo no seu processo de formagao é mais exigente e também precisa ter o seu espago tinico para que ocorra o desenvolvimento. Por esse motivo, ha uma grande preocupagao pela escola, pois ela deixa de ser somente fonte de informagées ¢ passa ser cenario de um processo pratico de formagao. Quando falamos em alfabetizagao, para Emilia a crianga deve apropriar-se de todo o ambiente educacional, deve fazer parte de um todo e 0 professor é 0 facilitador deste processo. Antes de sua chegada, havia apenas uma grande preocupagio com a aprendizagem quando a crianga nado conseguia aprender, porém Emilia nos trouxe uma visio contréria. A preocupagao deveria acontecer desde o inicio, de quais fatores levaram aquela crianga aprender e como era esse processo. O importante era a trajetoria e no o resultado que se esperava. 26 | { Alfabetizagao ¢ Letramento Piaget outrora ja tinha citado que os principios do processo de conhecimento deveriam ser graduais, pois cada conquista cognitiva depende de uma assimilagao e acomodagiio desses processos e que levaria um tempo. As criangas nao apenas repetem o que ouvem, mas internalizam o aprendizado baseado nas experiéncias sejam elas boas ou ruins. Para a alfabetizag4o isso foi processo, pois até entao os erros eram vistos como algo a ser punido ou até mesmo escondido, Nao havia nenhum beneficio no ato de fazer algo de errado. Para o construtivismo, nada mais desafiador para a mente do que os erros, pois eles tornam em evidéncia a releitura do individuo com o mundo. O erro faz parte no processo de conhecimento e é ponte para os futuros acertos. Nesse pressuposto, Emilia sempre criticou a posigao tradicional da alfabetizagio, porque nao da condigdes para a real aquisigao da leitura e escrita. Na pratica tradicional a erianga é exposta a escrita por meio de avaliagio de percepsao e de motricidade. Nesse sentido, a crianga acaba por desenhar a letra, ao invés de apropriar-se da palavra. Os métodos tradicionais propdem aos alunos leituras com palavras simples e sonoras, como por exemplo: bebé, papa etc. O contato da crianga com a organizagio da escrita 6 colocado aps esse processo. Segundo Ferreiro, a alfabetizagio é também uma maneira de se apropriar das fungdes sociais da escrita. De acordo com suas reflexdes, 0 acesso a textos lidos e escritos desde os primeiros anos de vida influenciam muito mais do que simples processos pedagogicos repetitivos. Alfabetrizagao ¢ Letramento } [27 Figura 8: Sala de aula rica em recursos visuais, Fonte: Katrina_S / Pixabay A sala de aula como ambiente de alfabetizagao Um dos marcos de Emilia Ferreiro em nossas salas de aula foi o exterminio do uso das cartilhas. Segundo ela, a compreensiao social da escrita deve ser instigada com o uso de livros e periddicos da atualidade e o uso da cartilha além de nao desafiar a crianga para o conhecimento do novo, também oferecem uma instrucao desinteressante e artificial O ambiente se torna alfabetizador quando ele concede 4 crianga todas as ferramentas que ela precisa para usufruir daquele espago. Com o uso de livros e periddicos, a sala de aula passa ser ambiente real de alfabetizagao e estimula os alunos a conquistar novos conhecimentos. O processo deve ser utilizado por varios recursos e nao somente um unico recurso, como por exemplo, o uso da cartilha. 28} { Alfabetizagao ¢ Letramento O papel do professor Para Emilia Ferreiro 0 papel do professor é fundamental, pois ele é 0 guia para que o aluno possa atingir seus conhecimentos. Ele deixa de ser ativo no processo e passa a ser o mediador, aquele que ira auxiliar a crianga sem que a mesma perea a sua individualidade. Ela também enfatiza em muitas entrevistas que o docente deve estar sempre em processo de construgio de conhecimentos através da reciclagem. O novo se torna parte do desenvolvimento do docente. Imagine que vocé tenha um professor que n&o esté adaptado com os conhecimentos de hoje e ensinaria as criangas nos métodos antigos. Nos dias de hoje seria muito dificil lidar com docentes que n&o esto atualizados, mesmo que tenha muitos conhecimentos e nao consiga transmiti-los de maneira que todos consigam compreender, nada vale tais conhecimentos. Pense em algumas situagdes e baseado em todo material estudado até o momento faga uma andlise da situaga Sabemos que muitos so os fatores que desencadeiam os problemas da alfabetizagao e letramento, pego que vocé imagine dois cenadrios completamente distintos um do outro: 1- Uma sala de aula com 32 alunos da 4% série do Ensino Fundamental apresenta muitos problemas, porém o que mais preocupa a professora é que mais da metade dos seus alunos sao incapazes de fazer uma leitura de um texto de maneira que consigam compreendé-lo, Essa professora, com mais de 40 anos de magistério utiliza métodos antigos para instrui-los e os alunos para ela, devem ser receptores passivos. As atividades que ela realiza geralmente nao mudam, toda a semana é sempre a mesma atividade. Alfabetrizagdio ¢ Letramento } (29 ( TESTANDO (CONTINUACAO) A atividade de escrita ela realiza o ditado e também percebe que muitos alunos nao desenvolvem adequadamente. A gesttio da sua sala de aula é cadtica, no existe um padrao a ser seguido e utiliza do autoritarismo quando sempre acha que é necessirio. 2- Na mesma escola, uma outra professora com a mesma experiéncia do que a primeira citada também tem problemas parecidos com os seus alunos, porém ela analisa caso a caso para que possa tentar diminuir tantos analfabetos funcionais. Ela tem conhecimento que os alunos possuem essa deficiéneia e quando esta realizando alguma atividade, sempre foca nos alunos que mais precisam de atengao. Utiliza a tecnologia em sala de aula sempre que pode e permite que seus alunos sejam alivos no seu processo de conhecimento através de debates, exercicios que estimulam outras habilidades. Vocé, como aluno, gostaria de ter a professora da primeira historia ou a professora da segunda historia? Por que? O docente deve ser parte integrante na sala de aula, porém como papel de coadjuvante, pois o protagonista é 0 seu aluno. Nao pense nele como alguém que recebe as informagSes apenas, sim aquele que deve aprender a fazer questionamentos, que pode errar e encontrar no seu erro uma resposta, porque através do erro 0 aluno ¢ direcionado ao oculto, ou seja, errar também faz parte do processo. Quando ele erra, ele aprende outras habilidades procura todos os recursos para encontrar um acerto. Ao contrario do aluno passivo, para ele, 0 erro é algo muito ruim ¢ ele pode ser punido por isso. 30. } { Alfabetizagao ¢ Letramento Ana Teberosky Além de Emilia Ferreiro, Ana Teberosky é uma das pesquisadoras mais conceituadas quando falamos em alfabetizagio. Segundo Ana, a responsabilidade do fracasso escolar no que diz respeito 4 alfabetizagao é 0 proprio sistema e no apenas do professor. Quando a escola acredita que o processo de alfabetizacio se di em etapas, ou seja, primeiro a jungao das letras e palavras para depois a concepgao de escrita, ela mina o poder do conhecimento. Se ha a separagio entre ler e escrever, fica complicado fazer a ligagdo desses termos. A Psicogénese da Lingua escrita Na década de 70, Emilia Ferreiro e Ana Teberosky desenvolveram através de experiéncia 0 livro “A Psicogénese da Lingua Escrita”. O livro traz novos elementos para explicar © processo vivenciado pelo aluno que esta aprendendo a ler e escrever. Passa a compreender a alfabetizagao nio como um simples método, mas um processo complexo e multifacetado que ocorre quando a crianga tem a apropriagio do sistema da escrita alfabética. Nao prescreve uma metodologia milagrosa. A crianga internaliza e se apropria do seu proprio conhecimento, pois até entdo, o método tradicional impde a crianga técnicas e ritmos de aprendizagem. A ideia é que a crianga internalize e tenha a sua escrita espontaneamente. Para ambas tedricas, a crianga passa por varias hipdteses em relagio ao sistema da lingua escrita antes mesmo de compreender de fato o sistema alfabético. Todo o processo tem um inicio, um caminho a ser seguido e que a crianga passa a ser leitura antes mesmo de ter o dominio da leitura. Em seu aspecto construtivista, 0 individuo passa a ser sujeito da historia ¢ nao objeto em sua propria aprendizagem. Alfabetrizap’o ¢ Letramento | (31 Outra caracteristica muito importante € a ideia que a aprendizagem da escritando tem vinculos com a fala e mesmo que a crianga ja tenha uma relagdo entre esetita e fala, nio condiz a nenhuma ligagio. Figura 8 Leitura Fonte: SasinPixahay O analfabetismo Tanto o analfabetismo como o fracasso escolar nao sio problemas individuais e sim sociais. Enfatiza que a desigualdade social tem influéncia direta nesses problemas ¢ que podem provocar ainda mais desigualdades educacionais. Portanto, para as pesquisadoras, esses problemas podem ser melhorados através de outros métodos de ensino. ‘A reprovagio escolar € um exemplo desse fracasso ¢ nao deve ser analisada apenas em um contexto, mas em muitos. Existem solugdes para o fracasso escolar ¢ até mesmo a evasio, propée uma nova reflexio e estudo sobre o assunto e mudangas de comportamentos. Todos os individuos, independente de classe ou meio social possuem eapacidades suficientes para aprender, é 0 que explica em Ferreiro, 1986, p.22: 32 | { Alfabetizagio ¢ Letramento Os filhos do analfabetismo sto alfabetizdveis; nfo constituem uma populac&o com uma patologia specifica, que deve ser alendida por sistemas especializados de educagéo;, eles tem o direito a serem respeitados, enquanto sujeitos capazes de aprender. Figura 9 —Alfabetizagio Infantil Fonte: Lourdesnique/Pisabay Muitos outros fatores aconteceram durante todo o processo educativo e é claro, as contribui¢des de estudiosos sao intimeras, porém a ideia é que vocé tenha em mente que © processo evolutivo da alfabetizacio se deu ao longo dos anos, através de muitas teorias e também de experiéncias vividas. Nao estamos julgando aqui o certo ou o errado, apenas relatando marcos da histdria da alfabetizacio que nos Alfabetrizagdo e Letramento ) ( 33 influenciam até hoje. Cada profissional se adequa com um método, nisso nao ha nenhuma discussio, 0 que vocé, como futuro professor n&o pode esquecer € que, segundo palavras de Magda Soares, a alfabetizagao é “multifacetada”, isto é, nao existem apenas um conceito e sim diversos dentro desse universo de conhecimentos tao rico e vasto. A pratica alfabetizadora e os processos de apropriacao da lingua escrita Agora abordaremos praticas alfabetizadoras e os processos que norteiam a aquisi¢éo da lingua escrita. Iniciaremos com o pressuposto da importancia e complexidade da alfabetizacao, fatores e circunstancias que permeiam todo o desenvolvimento de linguagem escrita. Ja vimos que a aquisigaéo da lingua escrita se da por diversos conhecimentos, sejam eles internos ou externos. Figura 10 ~ Processo de escrita Fonte: Freepik 34} [ Alfabetizagao ¢ Letramento A pratica pedagégica do ensino da lingua escrita No tema anterior estudamos sobre alguns teoricos da area e também algumas ressalvas que fizeram ao longo de anos de estudos e de experiéncia. Quando falamos em pratica, nos referimos a toda instrumentagio utilizada para se obter um resultado final. Vimos que a primeira pratica pedagégica no processo de alfabetizagio foi o uso da cartilha. O uso da cartilha por sua vez foi considerado por muitos um processo limitador, pois exclui o ensino da lingua escrita e as produgdes textuais, ou seja, existe uma separagio entre a metodologia utilizada pela cartilha do ensino da lingua escrita e consequentemente a sua produgio. Segundo estudos de Emilia Ferreiro, a crianga aprende de fato com a interag%o com o real e no com o subjetivo. E um processo de ago com a lingua escrita na construgdo da fala e escrita) Em SOARES, 1999.p.52. a autora nos traz a seguinte reflexdo: Consideremos a interferéncia desses dois fatores — a influéncia da psicolinguistica ¢ a concepgio psicogenética da aprendizagem da escrita- em duas faces do processo ensino e aprendizagem da lingua escrita, aqui destacada para fins de melhor clareza da exposigio, j4 que nio Tepresentam momentos sucessivos , mas contemporineos, no sio processos independentes, mas inseparaveis: uma face é a aquisigao do sistema da escrita (...); a outra face é a utilizagao do sistema de escrita para a interagao social, isto é, o desenvolvimento de habilidades de produzir textos. Nesse sentido, a alfabetizagaio ¢ um processo estritamente hist6rico social e multidisciplinar. Nao podemos menosprezar as cigncias linguisticas da aquisigao, pois também faz parte. Alfabetrizacio ¢ Letramento | (35 A aquisigao de leitura e escrita é ampla ¢ esse proceso deve caminhar com ambas as especificidades. Lev Semyonovich Vygotsky Vygotsky foi um psicdlogo russo, protagonista do conceito de que o desenvolvimento intelectual das criangas se da pelo seu meio social, através das interagdes sociais e condigdes de vida. Segundo seus estudos. as fungdes patologicas sto bastantes complexas, por exemplo: a ato de respirar passa por muitos mecanismos e adequagdes dependendo de sua situagio real, quem dir quando falamos sobre o desenvolvimento psicolégico, no qual seria muito mais complexo ainda em pensarmos no homem em seu meio sociocultural, Quando se trata no processo da aquisigaio da lingua escrita, ‘Vygotsky afirma que é um fator social, de carater histérico e que deve envolver muita interatividade. A aprendizagem da escrita di-se por um conjunto de signos que sao utilizados como instrumentos das necessidades socioculturais. A escrita entio, deve ser considerada um produto cultural e nao somente um instrumento de aprendizagem escolar. Sabemos que em alguns casos nao é bem isso que acontece. Algumas escolas ainda estio muito distantes dessa realidade, simplesmente nao existe a funcionalidade da escrita. Vygotsky cita que: Até agora a escrita ocupou um lugar muito estreito na pratica escolar, em relagao ao papel fundamental que ela desempenha no desenvolvimento cultural na crianga. Ensina-se as criangas a desenhar letras e a construir palavras com elas, mas nio se ensina a linguagem escrita. Enfatiza-se de tal forma a mecdnica de ler 0 que esta escrito que acaba-se obscurecendo a linguagem como tal. (1998, p139) 30. } { Alfabetizagao ¢ Letramento A escola, no entanto, precisa pensar o processo de alfabetizagao como um processo dindmico. Pode-se perceber que o desenvolvimento da escrita na crianga esta relacionado as suas praticas do dia a dia. Oliveira nos da uma melhor posigdo sobre 0 assunt Por isso, é de fundamental importancia que, desde o inicio, a alfabetizagao se dé num contexto de interagao pela escrita. Por razdes idénticas, deveria ser banido da pratica alfabetizadora todo e qualquer discurso (texto, frase, palavra, “exercicio”) que nao esteja relacionado com a vida real ou o imaginario das criangas, ou em outras palavras, que nao esteja por elas carregado de sentido. (OLIVEIRA, 1998. pp.70-71) Segundo Vygotsky, algumas escolas no ensinam de fato a crianga a “ linguagem escrita”, o que elas fazem & simplesmente ensinar as criangas a desenhar as letras e na construgdo das palavras, mas, ndo ensinam a sua real funcionalidade. Vocé teve alguma experiéncia parecida ou conheceu alguma instituigio que promovesse essa pratica? Alfabetrizagio ¢ Letramento | (37 O papel do professor e do ambiente familiar na aquisicio da lingua escrita Vocé ja estudou a importancia do papel do docente em todo 0 processo educacional, porém nao falamos ainda sobre outro fator muito importante, que é a participagio do ambiente familiar. Ha alguns anos, quando falavamos de fracasso escolar, 0 problema estava praticamente todo relacionado ao professor, ow seja, ela era o grande responsavel pelo bom ou mau andamento dos seus alunos. Com o passar do tempo, vimos que sio intimeros os problemas que norteiam essa situagao e nao somente o despreparo ou incompeténcia de um professor. Sabemos que o docente pode ser um forte influenciador no desenvolvimento da crianga, mas nao é 0 Unico norteador. © professor é a pega principal nesse processo, cabe a ele ser 0 norteador do ambiente de alfabetizagao, porém nao podemos esquecer do ambiente familiar, que é tao importante quanto o ambiente educacional. Ja foi a época em que se acreditava que a crianca adquire conhecimentos somente através da escola. O ambiente familiar também tem cardter social e se dé também pela interagao, por isso a familia também € responsavel para o melhor desenvolvimento educacional da crianga. Dentro do contexto social e na familia da crianga podem ocorrer praticas da lingua escrita de forma natural espontanea. 38) ( Alfabetizacdo ¢ Letramento Figura 11—Leitura na infiineia Fonte: 2081671/Pixabay Quando fazemos uma simples leitura de uma historia para nossos filhos antes de dormir, nao somente estamos estimulando o desenvolvimento como direcionando a crianga ao seu aprendizado natural. Lembra quando Emilia Ferreiro disse que a crianga se torna leitora antes mesmo de ser? Isso mesmo, a leitura dentro do ambiente familiar impulsiona a crianga a ser um leitor antes de ser alfabetizado. Outro fator importante no ambiente familiar é 0 estimulo aos desenhos e suas representagdes ou até mesmo ensinar as criangas a escreverem seus proprios nomes, e também o conceito de numerais. Todo esse conhecimento adquirido dentro de casa pode ser o reflexo do que a crianga ira aprender no ambiente escolar. O letramento na aquisicao da escrita Se a pratica da lingua escrita é influenciada por diversos fatores, é fato que o letramento decorre dessa participacgao, Alfabetrizacio ¢ Letramento | (39 das praticas cotidianas, das vivéncias e situagdes reais de leitura e escrita. Atos costumeiros como ler revistas ou jornais, escrever um bilhete, ler um livro, contribuem para que as criangas possam aprender as diferentes formas do texto escrito. Kleiman afirma que: Assim, nesse contexto, o letramento é desenvolvido mediante a participagao da crianga em eventos que pressupdem o conhecimento da escrita e o valor do livro como fonte fidedigna de informagao e transmissio de valores, aspectos esses que subjazem ao proceso de escolarizagiio com vistas ao letramento académico, Note-se que para a crianga cujo letramento se inicia no lar, no processo de socializagao primaria, naio procede a preocupagdio sobre se ela aprender ou nao, muito presente, entretanto, nos pais de grupos marginalizados. (KLEIMAN, 1998.p 183) Quando fazemos uma reflexaio sobre o letramento na lingua escrita, podemos mencionar alguns fatores muito importantes que possam contribuir para que a crianga tenha o dominio do contetido e da informagio. Muitos pesquisadores sobre o assunto sio unanimes em dizer que quando se trata da linguagem escrita, ha ainda mais um empobrecimento nos dias atuais. Isso devido também ao uso abusivo da tecnologia, muitos jovens s&o incapazes de redigir um texto porque nfo possuem mais bases gramaticais suficientes para tal. A linguagem escrita entre eles é escassa e muitas criangas nao conseguem nem ao menos fazer uma simples redagao. O problema é tio grande que muitas criangas ndo conseguem fazer a leitura de um livro, mas conseguem ler um texto pequeno de uma revista de fofocas. 40) { Alfabetizagao e Letramento Prdticas para o letramento da lingua escrita F claro que existem muitas praticas que favorecem a boa utilizagdo da lingua escrita. Segundos alguns pesquisadores, as praticas mais estimulantes sao: 1- Leitura de um livro: embora essa pratica infelizmente n§o esteja enraizada em nossa cultura, essa é, sem duvida a melhor maneira de aquisig4o de escrita, ou seja, quando lemos um livro, apropriamos de novas palavras, novos vocabularios e até mesmo de regras ortograficas e gramaticais; 2- Leitura de periddicos: os jornais e revistas também sio fontes de muito conhecimento; 3-Eserever um e-mail: antigamente as pessoas passavam. horas escrevendo cartas umas para as outras. Todo 0 processo era muito prazeroso, pois criava-se uma expectativa desde o inicio. Era muito comum as pessoas escreverem varias paginas. Hoje em dia, sabemos que nao & bem isso que acontece e a comunicagao para quem esta distante é por e-mail. Escrever um e-mail pode sim, estimular o desenvolvimento da lingua escrita: 4- Escrever um bilhete: muitos professores ainda praticam com seus alunos 0 uso do bilhete na sala de aula, porque além da interagdo que ele propde entre os alunos, as criancas podem treinar técnicas e vivenciar sua lingua. Os bilhetes geralmente sio mais objetivos e por isso facilita o desenvolvimento da escrita Alfabetrizaggio ¢ Letramento } (41 @ CURIOSIDADE Em Nova York é muito comum as criangas passarem suas férias dentro de uma biblioteca. A leitura é muito estimulada em paises desenvolvidos, por isso é muito comum espagos destinados a publicos diferentes. No Reino Unido e em alguns paises da Europa mais da metade da populagao fazem o uso da leitura e leem mais de um livro por més. Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos 0 acesso a seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo: “Pratica pedagégica alfabetizadora: aquisigdo da lingua escrita como processo sociocultural” (BRITO, A.E). Acessivel pelo link:https://docplayer.com.br/1043960- Pratica-pedagogica-alfabetizadora-a-aquisicao-da- lingua-escrita-como-processo-sociocultural.html.(Acesso 21/01/19) Estratégias da leitura- Parte I Vamos dar inicio a algumas técnicas ou regras que podem ser usadas no uso da leitura dentro e fora da sala de aula ou até mesmo atividades sugeridas que facilitarao no processo de formagao. Vimos que a leitura é tio importante para a formagio do individuo e estimula também outros conhecimentos. O bom leitor dispde de muitos recursos e tem dominio sobre algumas regras e normas que s6 a leitura pode proporcionar. 42) { Alfabetizagao e Letramento Mesmo que nossa cultura nao estimule o uso da leitura, todos sabem quao importante é para nosso crescimento. Nesse pressuposto, vocé se considera um leitor assiduo? Reflita sobre isso. A leitura como instrumentacio cultural Sabemos que o ato de ler é um ato extremamente cultural. Quanto mais somos motivados a leitura, maiores sio as chances de nos tornarmos leitores fervorosos. Infelizmente, a grande maioria dos brasileiros no possuem o habito da leitura e os que possuem, muitas vezes nfo tem acesso aos materiais, sejam livros ou periddicos. A leitura é um processo ativo e dinamico, quem faz o bom uso da leitura esta sujeito a muitas possibilidades e tem a maior capacidade de criagao. Quanto menos o individuo Ié, menos ele é integrado no mundo letrado. A compreensiio da leitura é um processo que se inicia desde o nascimento, como as leituras de historias que nossos pais nos contam antes de dormir. Esse processo nio & automatico e precisa ser ensinado e praticado desde cedo. Ao longo de muitos anos, diversos pesquisadores da area persistiram em dizer que a leitura era um proceso individual, porém quando fazemos o uso da leitura em conjunto, 0 desenvolvimento pode ser ainda maior. Alfabetrizagio ¢ Letramento | [ 43 Figura 12: Frazer de ler Fonte: Pezibear, Pixabay, 2019. Existem estratégias que podem facilitar a compreensio de textos nas criancas e também em alunos mais velhos. E valido pensar quetodas as abordagens de lcitura séo utilizaveis © que podemos, como professores, fazer uma adaptacéo a cada uma delas de acordo com a nossa turma. Baseadas no texto da Universidade de Londres, e Roger Beard, faremos uma analise de algumas estratégias a seguir: Aprendizagem cooperativa Todos os alunos fazem uma leitura coletiva e depois discutem sobre a compreensdo do texto. Nessa abordagem, os alunos participam desde o inicio da leitura no seu modo colctivo. Trabalhei em uma escola construtivista em que era muito comum essa abordagem. Sentavamos todos no chio em circulo e cada aluna fazia a leitura de uma parte do texto. Apés o término do capitulo, discutimos sobre a compreensio da historia e davamos inicio novamente a leitura. Desta mancira, os alunos participavam ativamente da historia ¢ 4a) { Alfabetizagio e Letramento nao havia tempo nenhum tipo de distragao. A aprendizagem coletiva pode ser feita . Monitorar a compreensdo O leitor deve fazer uma compreensio do texto enquanto realiza a leitura, ele pode fazer uma releitura para melhorar a compreensio do texto. No processo de monitoramento, o leitor faz uma analise central do texto para depois usufruir de fato desse proceso. Estrutura do enredo Nessa estratégia 0 leitor é colocado em alguns posicionamentos nos quais deve responder ou perguntar: a quem; o qué; onde; quando; por qué. Apos o leitor fazer a leitura do texto, ele usufrui desse processo de forma mais regrada, ou seja, para a sua compreensdo, ele deve de fato responder as perguntas que ele mesmo indagou. Nao é muito comum essa abordagem nos dias de hoje porque demanda muito tempo de compreensio. Organizadores semanticos e graficos © professor pede ao aluno a representar 0 texto em forma de figuras, sejam graficos ou desenhos. Todas as formas de expressio so consideradas texto, até mesmo figuras ou desenhos. Nessa abordagem, o aluno deve criar dentro do contexto proposto o texto através da imagem que tiver em mente, ou seja, ele ira fazer uma representagio do texto através de figuras. E um texto em outra forma. Responder Perguntas Essa é a pratica mais comum utilizada nas escolas. O aluno deve responder as perguntas baseadas na compreensio do texto. Alfabetrizagdio ¢ Letramento } (45 Muitas escolas ainda adotam esse unico método de leitura. Geralmente as perguntas sao de facil compreensao dentro do texto ou muito dbvias. Caso vocé queira também utilizar esse método com seus alunos, faga perguntas que instiguem uma reflexio e que © aluno tenha que fazer uma releitura do texto. Muitas universidades utilizam essa forma de interpretagdo, porém a resposta esta intrinseca no texto e nado exposta. Resumo Muito usual também nas escolas. Apés a leitura o leitor deve colocar no papel as principais ideias contidas no texto. O resumo serve para que o aluno faga uma releitura e aponte os pontos principais do texto. Pode ser muito util em muitos casos, porém no podemos esquecer que muitos alunos se sentem desmotivados com essa pratica. Deve haver uma proposta diferente, uma inovagdo, s6 assim havera estimulo. Dentre as abordagens de leitura, qual vocé aplicaria mais vezes em sala de aula? 40) { Alfabetizagao e Letramento O uso da metodologia se dé pela forma como o docente passa a informagao ou atividade, portanto vale ressaltar que © que pode dar certo em uma sala, pode nio dar certo em outra. Vocé, como professor, devera conhecer seus alunos e s6 assim podera fazer uma separagao de abordagem. Algumas abordagens podem estimular alguns alunos enquanto outras podem simplesmente criar um panico de leitura para eles. Faga uma analise da turma, converse com eles, conte quais sio seus objetivos para tal posicionamento. Procure entendé-los e fazer com que eles falem a “mesma lingua” que vocé. Nao adianta vocé escolher uma abordagem muito criativa, se os alunos nao entenderem qual o verdadeiro objetivo dessa abordagem. Lembre-se que vocé é aquela pessoa que ira dar 0 leme para eles remarem, vocé no pode remar por eles, deixe os fazer isso sozinhos, cada uma seu tempo e sua individualidade. Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos 0 acesso & seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo: “Como estimular a leitura na alfabetizagao” (MANSANI,MARA). Acessivel pelo link:https://novaescola. org.br/conteudo/12674/blog-de-alfabetizacao-como- estimular-a-leitura-na-alfabetizacao-com-diferentes-textos (Acesso em 21/01/19) Alfabetrizagaio e Letramento } (47 REFERENCIAS CAGLIARI, L.C. Alfabetizagdo e Linguistica. Sao Paulo: Scipione, 19940m.br/site/techoje/categoria/detalhe_ artigo/1004 COMENIUS, J.A. Didatica Magna.: tratado da arte universal de ensinar tudo a todos. 3.ed. Lisboa:Fundagao Calouste Gulbekian, 1985 FERREIRO, E. Reflexdes sobre Alfabetizagio. Sao Paulo: Cortez, 1984 SOARES, M. Alfabetizag%io e Letramento. Sao Paulo: Contexto,2003 VYGOTSKY, L.S. Pensamento e Linguagem. So Paulo: Martins Fontes, 2001. SUMARIO A aquisicao da lingua escrita Lingua, fala e cultura ... A influéneia cultural para a lingua escrita Processos de apropriagao da lingua escrita .... As diferentes perspectivas A Psicogenética de Ferreiro e Teberosky..... Métodos de Alfabetizacao: Global e fonético Os métodos de alfabetizagio .. O método Fonético ou método sintético Método Global ou método analitico Os métodos e os desafio: Estratégias da Leitura- Parte II Antes da leitura. Durante a leitura Depois da Leitura... Consideragoes finais... O tradicional X O construtivista. Alfabetrizagao ¢Letramento 7 UNIDADE PROCESSOS E METODOS DE ALFABETIZACAO E LETRAMENTO 8 Alfabetizaptio e Letramento ) INTRODUCAO Prezado(a) aluno(a), Nosga jomada ainda nem comegou! Temos muito pela frente para que vocé possa compreender todos os meios que permeiam essa disciplina tio importante na sua formagdo. Na verdade, nossa intengéo ¢ que vocé nao somente se aproprie de toda estrutura tedrica, mas que possa fazer experimentagdo de todo contetdo quando estiver vivenciando na sua pratica pedagégica. Nesta unidade, serao abordados temas pertinentes 4 linguagem escrita e suas implicagées, faremos uma andlise sobre a aquisicao da lingua escrita, a importncia que essa pratica tem em nosso meio social ¢ para a crianga, assim como todos os processos que sio envolvidos nesta etapa. Falaremos. também, sobre como a erianga faz a apropriago dessa linguagem e quais os meios que ela percorre para chegar no que define-se como satisfatério. Além disso, precisamos ter o conhecimento sobre os métodos de alfabetizagdo no seu sentido global e fonético, nado somente baseados em teorias, mas em vivéneias dentro de sala de aula. Por fim, falaremos um pouco mais sobre as estratégias de leitura, agora mais focadas em ambientes especificos. Esperamos que vocé faga um bom uso desse material e que seus comhecimentos possam ser expandidos. Sugerimos que faca as atividades propostas, patticipe dos féruns, realize leituras extraclasse, enfim, seja parte integrante nesse processo! Bons estudos! | { Alfabetrizagao ¢Letramento 9 OBJETIVOS Ola, seja muito bem-vindo a nossa Unidade 2! Nosso objetivo é auxiliar vocé no desenvolvimento das seguintes competéncias profissionais até o término desta etapa de estudos: Entender © conceito sobre a aquisigto da linguagem escrita por meios filosdficos e tedricos. mn Adquirir conhecimentos especificas através dos processos que permeiam a apropriagéo da lingua escrita. No Compreender como so utilizados os métodos de alfabetizagio e quais suas _principais caracteristicas. Go Reconhecer as estratégias da leitura como parte integrante no processo de formagio do individuo. AW Entéo? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Aco trabalho! 10 Alifabetizagtio e Letramento ) A aquisicfo da lingua escrita Antes de iniciarmos, gostaria que vocé fizesse uma teflexio sobre esse conceito, com base em suas vivéncias pessoais. Tente recordar qual foi o provesso que sua professora utilizou com vocé para que chegasse a escrever? Houve alguma dificuldade ou algo que tenha te mareado? Voc’ vera que a aquisicao da lingua escrita nao é tao simples como podemos imaginar, temos que levar em conta muitos fatores que envolvem a realidade da crianga. Um dos fatores culminantes esta no que diz respeito ao meio cultural em que a crianga esta inserida. Infelizmente, ainda nos atuais muitos profissionais nao estéo preocupados sobre esse tema, isso porque simplesmente acreditam que os métodos de alfabetizagéo podem auxiliar nessa aquisigiéio. Muito pelo contrario, quanto mais informagées tivermos sobre a crianga, maior serA 0 proceso de aquisigao. Lingua, fala e cultura Na unidade anterior vocé estudou as diferengas entre lingua falada e lingua escrita. Enquanto a lingua falada é dindmica e sofre sempre modificagées, a lingua escrita é mais regrada e nao tem tantos dinamismos quanto a outra. Mas qual seria a relevancia disso no processo da aquisigdo da escrita? Vamos imaginar duas situagses: 1) Uma crianga de classe média alta, sendo alfabetizada em uma escola particular onde ela esta inserida em um projeto pedagégico findamentado na visio construtivista; 2) Uma erianga de classe média baixa, num processo de alfabetizacdo em uma escola publica em que seu método pedagdgico é fundamentado em meios tradicionais. A escola ainda utiliza a Cartilha para alfabetizar a crianga. Imaginou essas duas situagdes? | { Alfabetrizagao ¢ Letramento 11 Otimo! Ent&o procure responder, baseado em todo o material que estudou até o momento: Vocé acredita que ambas as criancas, inseridas em um meio social e cultural completamente diferentes, teraéo as mesmas condigées no que diz respeito aos métodos de alfabetizag’o e aquisigiio da lingua? Em 1970, Frank Smith propés que a crianga tem capacidade de aprender de forma tio natural quanto ao ato de falar. Esse processo depende também do meio social em que ela vive, pois isso seria muito significativo e determinante. Ele define um ambiente significativo”, destinado ao seu meio social em que a crianga esta inserida, esse ambiente pode — até mesmo — ser motivador para que ocorra 0 processo naturalmente. E o que ele mesmo diz em (SMITH,1989, p 237): Tudo que as criangas precisam para dominar a linguagem falada, tanto para produzi-la por si mesmas quanto, mais fundamentalmente, para compreenderem sua utilizagao pelos ontros, étera experiéncia de usar alingnagem em um ambiente significativo. As criangas aprendem facilmente sobre a lingua falada, quando esto envolvidas em sua utilizagao, quanto esta lhe faz sentido. E, da mesma forma, tentaréo compreender a linguagem escrita se estiverem envolvidas em sua utilizacio, em situagdes onde esta Ihes faz sentido e onde podem gerar e testar hipéteses 12 Alifabetizagtio e Letramento ) Figura 1: Alfabetizagao em contexto social Fonte: Pixabay Nesse pressuposto, & correto afirmar que o ambiente em que a crianga vive € facilitador desse processo. Voltamos, novamente, até as criangas 1 ¢ 2 do nosso exemplo. Perceba que, muitas vezes, nio depende da capacidade cognitiva das criangas na constmgio do conhecimento, mas sim, diversos fatores que influenciam a aquisigdo. Quando falamos em classe social, isso pode ter um impacto muito grande, ou seja, uma crianga menos favorecida financeiramente nfo tem acesso as mesmas informagées que uma erianga mais favorecida. Isso nao significa que a crianga menos favorecida financeiramente nao ira aprender, porém, ambas estado inseridas em realidades muito diferentes. Na mesma década, Kenneth Goodman propés umateoria bem parecida com a de Frank Smith. Ele ainda enfatiza os “porqués” da finalidade da linguagem escrila e afirma que o individuo faz a apropriacdo porque precisa dela em seu meio social. Segue a explicagéo de (GOODMAN, 1986, p.24): | { Alfabetrizagao ¢ Letramento 13 Por que as pessoas criam e apreridem a lingua eserita? Porque precisam dela! Come aprendem a lingua escrita? Da mesma forma que aprendem a lingua oral, usando-a em eventos de letramento auténticos que respondem a suas necessidades. Frequentemente as criancas enfrentam dificuldades na aprendizagem da lingna escrita na escola. Isso acontece nao é porque é mais dificil aprender a escrita que aprender a lingua oral, ou porque sio aprendizagens diferentes. Acontece porque ns tornamos a aprendizagem da lingua escrita dificil, tentando toma-la facil Coneluem, entio, que o ato de ler e escrever é um processo natural pois a crianga aprende, bem como ocorre na aquisigao da fala, So compreendides como dois processos diferentes, mas que ocorrem naturalmente. O que deve ser feito ¢ proporcionar um ambiente que seja favoravel para a crianga. Outra proposta pedagégica muito significativa foi a do Whole language, especificamente em paises que falam alingua inglesa, uma visdo muito parecida com isso, no Brasil, seria o método construtivista. Embora existam distingdes entre as duas visées, ambas acreditam que a aprendizagem se da por um processo natural. Segundo SOARES, 2014, p.41: “...em uum contexto em inserodo da crianga em situacdes em que haja raziio e objetivo para compreender e ser compreendido por meio da eserita”. Para Emilia Ferreiro, com base em sua obra, diz que lingua oral e lingua escrita sdo “atividades sociais frente as duas aprendizagens” (1992, p.29). Ferreiro ainda reitera que “no se aprende um fonema nem uma silaba e nem uma 14 Alifabetizagtio e Letramento ) palavra por vez, também a aprendizagem da lingua escrita nao é um processo cumulativo simples, unidade por unidade, mas organizagéo, desestruturagdo e reestruturagdio continua” (1992, p31). O processo ocorre naturalmente dentro de um contexto cultural em que o individuo esta envolvido, porém, é certo lembrar que cada um tem a sua especificidade porque nasceu em um ambiente diferente. Entio, duas criancas de classes sociais e culturas diferentes podem, sim, aprender de maneiras diferentes. Ainfluéncia cultural para a lingua escrita Vimos que nossa cultura faz parte de quem somos e vice e versa. E através dela que nos espelhamos como cidadaos, pois cada povo tem a sua maneira de expressar sens sentimentos. Quando falamos de “povo” ndo estamos falando apenas de diferengas entre paises, mas de comunidades, de familias. Cada um tem a sua cultura, o seu modo de expressio e de interpretagio. Devemos a cultura todo conhecimento com o social, 6 o meio pelo qual vocé esta inserido. Seus gostos, snas erengas, tudo vem do que vocé aprenden, do que seus pais te ensinaram e assim por diante. Pense no Brasil e em todo o seu povo. Perceba que cada regiao tem a sua caracteristica diferente. @ 1a Pense sobre nossa lingua matera. Todos os 200 mil habitantes da nossa nagio falam a lingua portuguesa porque fomos colonizados pelos portugueses e acabamos por herdar essa lingua to rica. Porém, todos falam da mesma maneira? | { Alfabetrizagao ¢ Letramento 15 Figura 2: Nossa lingua matema com suas diferengas eulturais. Fonte: Unsplash, FE claro que existem diferengas na nossa lingua. O Paulista nao fala como o Carioca, assim como o Nordestino nado fala como o Paranaense. Cada povo fala de uma maneira diferente e nfo ¢ s6 de estado para estado, de cidade para cidade também podem ocorrer muitas modificagdes na lingua. Essas mudaneas chamamos de regionalismo. Além disso, existem os dialetos © sotaques brasileiros, pois, em cada regido se fala de maneira diferente, tanto os sons das palavras quanto a entonagdo mudam. Outra caracteristica da lingua oral so as expressées. Pense na seguinte situagdo: 16 Alifabetizagtio e Letramento ) Uma crianga Paulista, recém-chegada 4 Bahia, diz que esta muito “bolado” com a professora. Para os Paulistas, “bolado” quer dizer preocupado. E claro que a crianga baiana nio ira. entender, considerando que essa ¢ uma expressdo tipicamente paulistana. Podemos citar imimeros exemplos de expresses eregionalismos de nossa lingua, porém a intengéio é que voc’ se atente & importdincia desses processos no desenvolvimento do individuo. No processo de alfabetizagdéo o caso nao é diferente. Muitos pesquisadores acreditam que um dos fatores do fracasso da alfabetizagdo é justamente nao conhecer essas facetas, pois alfabetizagiio no se restringe apenas ao nivel cognitivo, mas também psicoldgico e sociolégico Ontro fator importante 6 0 nivel socioeconémico. Como dito anteriormente, criangas de diferentes niveis sociceconémicos nao aprendem da mesma maneira porque também nado vivenciam a mesma experiéncia. Podemos refletir melhor com a posigao de SOARES, 2017: Assim, tanto no Brasil quanto em outros paises, os estudos linguisticos sobre a alfabetizagdo, partindo do pressuposto de que ha relacdo entre lingua e estratificag’o social, vém tentanda descrever os dialetos de comunidade de fala, correlacionando-os com variaveis sociais, particularmente com a variavel nivel socioeconémico, e contrastando-os com a lingua escrita, para encontrar, nesse contraste, explicagdes das dificuldades que falantes pertencentes a determinados grupos sociais enfrentam, no processo de aquisicao de lingua escrita. (SOARES, 2017, p. 92) | { Alfabetrizagao ¢Letramento 17 Amesma pesquisadora afirma, ainda, que ha uma grande importancia entre os aspectos funcionais e que esses tém a mesma relevancia que os aspectos estruturais, além disso, fala sobre a designagao da “fungao social da lingua escrita” em sua estrutura social e o desempenho que essa fungdo tem em sua sociedade. Portanto, néo podemos apenas olhar a aquisipao da eserita por meios mecanicos e estruturais, mas também através do seu processo social. Magda Soares reitera que deva existir uma certa urgéncia para essa perspectiva social da lingua escrita: “(...) é necessario conhecer o valor e a funcdo atribuidos a lingua escrita pelas camadas populares, para que se possa compreender o significado que tem, para as criangas pertencentes as essas camadas, a aquisigéo da lingua escrita- esse significado interfere, certamente, em sua alfabetizagao” (SOARES, 2017, p.4). Infelizmente, ainda nos dias de hoje, sio poncas as pesquisas sobre as finedes da lingua escrita em sna diferenciagéo social por todo o pais. A atribuigtio do uso da lingua ¢ diferente entre as classes sociais diferentes Comecemos pela hipstese de que essas classes sociais diferentes atribuem fungées diferentes ao uso da lingua. (...) Ou seja, ha uma diferenga de classe na relagao entre uso da lingua e as expectativas prévias do falante, a respeito do interlocutor e do contexto. SOARES, 2017, p.96) A pesquisadora Magda Soares, em sua obra “Alfabetizacao e Letramento”, apontou alguns exemplos de produgao de textos de criangas de classes econémicas diferentes. Sio textos de um mesmo grupo de alunos destinados a mesma turma, tendo a mesma professora, 18 Alfabetizagtio e Letramento ) ( porém suas produgdes so diferentes, Seguem dois exemplos (SOARES, 2017, p.99) Referente a uma menina de nivel socioeconémico médio-alto do 3° ano do ensino fundamental I. "Se eu fosse professora iria dar aula de mateméitica, comunicacdo, integracdo, ciéncias, treino e muitos outras coisas. Se precisar chamar atencao do almo é sé chamar Eu iria contar estérias para os akmos e facer jogos de matemdtica e, também, dar matérias novas para eles. Eu gostaria muito de ser professora, ensinar os meninos as matérias e isto é para o proprio bem deles”. Referente a uma menina de nivel sociceconémico baixo do 3° ano do ensino fundamental 1 “Se eu fosse professora eu mandaria ox alunos calarem a boca, fazerem os exercicios completos, ntio olhar um do outro porque se nao eles ndo aprenderiam nada. Eu ndio quer ser uma professora brava, eu quer ser uma professora que néo gritasse com os akmos, mas queria que os alunos coperasem comigo, porque se os alunos ndo coperasem comigo eu também nto podia coperar com eles. Vocés entenderam que professora eu queria ser?” | { Alfabetrizagao ¢Letramento 19 Perceba a distingao entre os dois textos. Ambas as meninas falam de um mesmo assunto, s6 que com perspectivas diferentes. Nao estamos nos atendo somente aos erros de concordancia, gramaticais e de ortografia Processos de apropriagio da lingua escrita Vimos que a aquisigdo da lingua escrita, para acontecer, dependera de muitos fatores, tanto internos como externos. Neste capitulo, estudaremos os processos de apropriagao da lingua e como esse método se desencadeia. Pensamos, entéo, no desenvolvimento e aprendizagem como parte intrinseea, pois pode ser originado em fases tanto por causas interas como externas. Por exemplo, quando citamos as causas externas, podemos relatar os processos linguisticos do individuo, nas causas internas podemos citar 9 contexto sociocultural. Toda fundamentagao teérica tem os seus prés e contras, mais uma vez reiteramos que a intengdéo nfo 6 propor as melhores perspectivas, e sim relacionar as fundamentagdes que mais evidenciam nesse processo. Varias siio as teorias que identificam a fase de desenvolvimento da crianga. Citaremos, entdo, as teorias mais vivenciadas nesse desencadeamento. As diferentes perspectivas Curiosamente, Vygotksky considerou como pré-histéria da linguagem escrita os deserihos, os rabiscos, os jogos de faz de conta, no qual seriam momentos iniciais da aquisigdo da escrita. Para ele, a crianga constroi sistemas de representagdio. E o que podemos notar em VYGOTSY: © brinquedo de faz de conta, o desenho e a escrita devem ser vistos como momentos diferentes de um processo 20. Alfabetizagaio ¢ Letramento ) essencialmente unificado de desenvolvimento da linguagem escrita. (VYGOTSY,1984, p .131) A. perspectiva para Vygotsky, fundamentalmente semiotica, continuou presente apés 6 décadas. Para essa perspeetiva, é proposto que estagios de desenvolvimento que antecedem formas de representagéo da fala e da forma grafica também. (..) Essa analise busca a pré-histéria da aprendizagem da escrita, para usar a expresso de Vygotsky, identificando os principios que regem a construgdo de significados pelas criangas, quando langam mio de uma mulliplicidade de formas de representacao, por meio de diferentes tipos de interagaéo com o mundo — nao sé por meio da visio, como na fala, mas também por meio do tato, do olfate, do paladar, dos sentimentos. (SOARES,2014, p. 58) Figura 3: Criangas no processo ctiativo. Fonte: Pixabay | { Alfabetrizagao ¢ Letramento 21 Umasegunda perspectivaacontece comAlexander Luria, psicélogo e especialista em psicologia do desenvolvimento. Luria findamentou sua teoria bem proxima a de Vygotsky, segundo Luria, quando uma crianga entra na escola, ela ja tem bagagens suficientes para possuir habilidades que a auxiliara a escrever em um tempo particularmente curso Iniciou uma experimentagéo com criangas de 3 a 5 anos que nao haviam aprendido a escrever. As criangas deveriam relembrar alguns ntimeros de palavras ou frases que Ihes eram passadas. Dentro dessas observagdes péde notar: (...) em que extensdo o pedago de papel, o lapis e os rabiscos que (a erianga) fazia no papel deixavam de ser simples abjetos que a interessavam, brinquedos, por assim dizer, e tornavam- se um instrumento, um meio para atingir algum fim: recordar um certo numero de ideias que Ihe foram apresemtadas. (LURIA, 1998, p.147-48) Luria apresentou nessa pesquisa, trés estagios: 1) No primeiro estigio, identificou-se que as criangas “anotavam” as frases por meio de rabiscos. Esse estagio & denominado pré-eserita. 2) No segundo estégio foram inscritos marcos nio direcionados nas paginas, nesse caso, as criancas lembravam uma ou outra frase, pois esse era exatamente 0 propésito 3) No terceiro estigio, refere-se a diferenciagao dos signos primdrios. As criangas utilizavam os rabiscos curtos para o registro de palavras e os longos para o registro de frases. © desenho era utilizado somente para que elas recordassem de algo e nfo como uma forma de reproducao. 22 Alfabetizagaio ¢ Letramento ) A Psicogenética de Ferreiro e Teberosky Vamos relembrar sobre essas teoras fantasticas e que nos trouxeram fundamentos riquissimos para nosso desenvolvimento como docentes? Como ja vimos, a obra de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky teve um impacto muito grande em nossa historia Elas néo somente contribuiram, bem como revolucionaram os processos de alfabetizacio que, até entio, estavam esquecidos no sistema tradicional da Cartilha. Houve uma diferenciagiio entre as pesquisas de Luria e de Ferreiro, O primeiro teve o foco na pesquisa entre criangas de3 a5 anos, ja Ferreiro e Teberosky fizeram experimentagio com criangas de 4 a6 anos. Eles diferenciam entre si o objeto do conhecimento: (..) diferenciam-se em relagéio ao objeto do conhecimento privilegiado: na pesquisa de Luria o foco ¢ posto nos grafismos utilizados pela crianca para apoio a meméria, ov seja, o objeto de conhecimento € 0 uso da escrita pela crianga como instrumento; na pesquisa de Ferreiro e Teberosky, © foco € posto nos processos cognitives da crianga em sua progressiva aproximagdo ao principio alfabético da eserita, ou seja, o objeto de conhecimento ¢ a escrila como um sistema de representacdo, que as pesquisadoras analisam sob a perspectiva da psicogénese no quadro da teoria piagetiana (SOARES, 2014, p. 62) | { Alfabetrizagao ¢ Letramento 23 As fases iniciais da psicogénese da lingua escrita dao- se: pelo desenvolvimento da leitura pela evolucao da escrita. Nessa perspectiva construtivista, a evolugdo da escrita é considerada um ato complexo e rico em oportunidades Os niveis de evolugdo da leitura sdo reconhecidos mais facilmente do que os niveis da leitura. Para Ferreiro e Teberosky, destacam-se alguns niveis: 1) Nivel pré-silabico: Nessa fase a crianga produz alguns desenhos 2) Nivel pré-silabico I: A criangaja reconhece algumas letras do alfabeto e tem capacidade de diferenciar gravuras de letras e nimeros. 3) Nivel silabico: Pode ser dividido entre silabico sonoro, silabico sem valor sonoro e alfabético. 4) Nivel silabico sem valor sonoro: Nesse estagio, a erianga nao leva em conta aos sons das letras e faz.a assimilagdo do alfabeto para escrever, mas nio a forma padréo da grafia tradicional, 5) Nivel silabico com valor sonore: Sao utilizado alguns simbolos graficos de maneira aleatéria, utilizando muitas vezes consoantes ou somente vogais. 6) Nivel silabico alfabético: Possui uma oscilagio tanto silabicamente como alfabeticamente. 7) Nivel alfabético: A crianga agora compreende que a escrita implica a necessidade da analise fonética das palavras. Vale lembrar que essas ideias séo de cunho constritivista, outros tedricos findamentaram suas teorias baseados em outras experiéncias. Muitas sdo as perspectivas e, com certeza, teriamos um e-book totalmente dedicado para a andlise dessas perspectivas, por isso sugerimos que vocé faca algumas pesquisas sobre as perspectivas de Gentry, Frith e Erhi, Este ultimo, tem uma semelhanga muito grande com a de Emilia Ferreiro. 24 Alfabetizagaio ¢ Letramento ) ( @ REFLITA Baseado em toda argumentagao teérica, vocé acredita que a fundamentagao da escrita pode ser iniciada com desenhos ¢ gravuras? Como voeé, professor, trabalharia com o seu aluno essa perspectiva de Vygotsky? Métodos de Alfabetizagao: Global e fonético Entende-se por métodos de alfabetizagdo um conjunto de valores, procedimentos que so baseados em teorias e principios com a intengao de orientar a aprendizagem que é iniciada pela leitura e escrita. Procuramos entender que nao existe um nico método no processo de alfabetizacao, pois se tratando de um assunto tio complexo, seria enganoso dizer que exista apenas um Unico método realmente eficaz. (..) a questio dos métodos mencionada neste livro nao & qual método on quais sio os melhores ou os mais adequados, a resposta que se pode inferir reverte og termos da expresso métodos de alfabetizacio para alfabetizar com método: orientar a crianga por meio de procedimento que, fundamentados em teorias e principios, estimulem e orientem as operagées cognitivas e linguisticas que progressivamente a conduzam a uma aprendizagem bem sucedida da leitura ¢ uma ortografia alfabética. (SOARES,2014, p.331)

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