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A Sociedade em Rede: do Conhecimento 4 Politica Manuel Castells Compreender a Transformagio Social nosso mundo esti em processo de wane formagio estrutural desde hi duas décadas. £ um processo multidimensional, mas esté associado a emergéncia de um novo paradigma tecnol6gico, baseado nas tecnologias de comunicagio ¢ informagio, que comegaram a tomar forma nos anos 60 e gue se difundiram de forma desigual por todo 0 mundo. Nés sabemos que 8 tecnologia nio determina a sociedade: & a sociedade. A sociedade & que di forma & tecnologia de acordo com as necessidades, valores ¢ interesses das pessoas que uslizam as tecno: logias. Além disso, as esenologias de comunicagio e informagio sio paricularmente sensiveis aos efeitos dos usos sociais da propria tecnologia. A histéria da Internet for- nnece-nos amplas evidéncias de que os utlizadores, partcularmente os primeiros milha res, foram, em grande medida, os pradutores dessa tecnologia. Contudo, « tecnologia é condigéo necesséria mas nso sulicente para a emergéncia de uma nova forma de organizagio social baseada em redes, ou sea, na difusio de redes em todos os aspectos da acuvidede na base das redes de comunicagio digital Este processo pode ser relacionada com o papel da electsicidade ou do motor eléctrico na dfusio das formas orgonizacionais da sociedade industrial (por exemplo, a grande fabriea induswial ¢ a sua rlagio com o movimento laboral) na base das novas tec- nologias geradas e distibuidas elecuicamente, Pode argumentarse que, actualmente, a sade, o poder a geragio de conhecimento estio largamente dependentes 6a capa cidade de organizar a sociedade para captat os beneifcios do novo sistema teenolé- co, enraizado na microelecuénica, nos computadores e na comunicagio digital, com uma ligagio crescente a revolugio biolbgica e seu derivado, a engenbaria genética Ji teorizei sobre como a estruura social de uma sociedade em rede resulta da inter acgio entre o paradigma da nova tecnologia e a organizagio social num plano geral Hrequentemente, a sociedade emergente tem sido caractertzada como sociedade de informagio ou sociedade do conhecimento. Eu nao concordo com esta terminologia 'Nio porque conhecimento ¢ informagio nio sejam centais na nossa sociedade, Mas porque eles sempre o foram, em todas as sociedades historicamente conhecidas. O eue E novo € facto de serem de base microcleeuSnica, através de redes teenoldgicas que fomecem novas capacidades a uma velha forma de organizagio social: as redes. AS redes a0 longo da histéra tém conatituido uma grande vantagem e um grande pro blema por opesigéo a outras formas de organizagio social. Por um lado, sio as for- sas de organizagio mais flexiveis e adaptavels, seguindo de um modo muito efiiente ‘ caminko evolutivo dos esquemas socitis humanos. Por outro lado, muitas vezes no aes Cats EE A Sociedade om Rees do Comber ln conseguiram maximizar ¢ coordenar os recursos necessétios para um trabalho ou pro- jecto que fosse para além de um determinado tamanho e complexidade de organiza- go necessiria para a concretizagio de uma tarefa. Assim, em termos histéricos, as redes eram algo do dominio da vida privads, enquanto © mundo ds produgio, do poder e da guerra estava ocupado por organizacées grandes e verticals, como os esta dos, as igrejas, os exércitos € as empresas que consegulam dominat vastos pélos de recursos com um objectivo definide por um autoridade central. As redes de tecnologias digitais permitem a existéncia de redes que ultrapassem os seus limites histéricos Epodem, ao mesmo tempo, ser flexiveis e adaptiveis gragas & sua capacidade de des centralizar a sua performance ao longo de uma rede de componentes aurénomos, enguanto se mantém capazes de coordenar toda esta actividade descentalizada com fa possibilidade de parilhar a tomada de decisdes. As zedes de comunicagio digital so a coluna vertebral da sociedade em rede, tal como as redes de poténcia (ou redes energéticas) eram as infra-estruturas sobre as quais a sociedade industrial fol cons trulda, como demonstrou 0 historiador Thomas Hughes. Na verdade, a sociedade em rede manifesta-se de diversas formas, conforme a cultura, as instituigées e a trajecté ta histérica de cada sciedade, tal como a sociedade industrial englobou realidades tio diferentes como os EUA a Uniio Soviética, a Inglaterra e 0 Japio, que partilha vvam algumas caractersticas fundamensais que permitiam a sua definicio, dentro do industialismo, como uma forma distintiva de organizagio humana nio determinada pelas tecnologias industiais, mas impensdvel sem elas. Além disso, a comunicasio em rede transcende fronteiras, a sociedade em rede é alobal, é baseada em redes globais. Entéo, a sua légica chega a paises de todo 0 pla neta e difunde-se através do poder integrado nas redes globais de capital, bens, servigas, comunicagio, informagio, ciéncia e tecnologia. Aquilo a que chamamos globalizacio € outa manera de nos referirmos & sociedade em rede, ainda que de forma mais des ctitiva e menos analitica do que o conceito de sociedade em rede implica, Porém, como as redes so selectivas de acordo com os seus programas especificos, e porque conseguem, simultzneamente, comunicar e nao comunicar, a sociedade em rede difunce se por todo o mundo, mas nio inclui todas as pessoas. De facto, neste inicio de século, ela exclui a maior parte da humanidade, embors toda a humanidade seja afec tada pela sua légica, e pelas relagdes de poder que interagem nas redes globais da corganizagio socal. Compreender a transformacio estrutural morfologicamente, significa que o apare cimento da saciedade em rede como um tipo especifico de estrutura social, iberta a aanilise da sua estrutura de Prometiana, © deixa em aberto o julgamento valorative do significado da sociedade em rede para o bem estar da humanidade. Nés estamos men talmente formatadas para uma visio evolucionista do progresso da humanidade, visio que herdimos do luminismo e que foi reforgada pelo Marxismo, para quem a huma nidade, comandads pela Razio ¢ equipada com a Tecnologia, se move da sobrevi vvéncia das sociedades rurais, passando pela sociedade industrial, e finalmente para uma sociedade ps-industial/da informagio/do conhecimento, a montana esplendo rosa onde o Homo Sapiens vai finalmente realizar o seu estado dignificante. Porém, ‘mesmo um olhar superficial sobre a histéria desafia este conto de fadas do progresso ‘humano: os Holocaustos Naai e Estalinista sio testemunhas do potencial destrutivo da Fra Industrial, © as maravilhas da revolusio tecnolégica coexistem com o processo auto-destrutivo do aquecimento global e com o ressurgir de epidemias & escala do planeta etter UIE] A Side Rede De rn Ae rab Assim, 3 questio nio € como chegar 8 sociedade em rede, um sito-proclamado estigio superior do desenvolvimento humano, A questto € reconhecer os contomos do nosso nove terreno histérco, ou sea, o mundo em que vivemos. $6 entio seré possivel identicar of meios através dos guts, socedades especticas em contextoe tspectcos, podem atingir os seus objecvos e realizar os seus valores, fzendo uso das novas oportunidades geradas pela mais extaordindria revolugao tecnol6gica da humanidade, que €capaz de wansformar as nossa capacidades de combnicagio, que permite a aeragio dos nossos cédigos de vida, que nos fomece as feramentas para realmente contolaos as nosss proprias condies, com todo o seu potencial des trativo e todas as implicagdes da sua capacidade crtiva £ por iso que dina Intemet ou colocar mais computadores nas escolas, por si s6, nfo constituem neces- sariamente grandes mudangas socks. Iso depende de onde, por quem ¢ para qué so usadas as teenologis de comnicagio e informagio. O que nés sabemos € que esse paradigma tecnoldgico tem capacidades de performance superires em relagio 208 anteriores sistemas tcnoldgicos. Mas para saber utlizélo no melhor do seu potencial, ¢ de acordo com of projectos © a8 decisdes de cada sociedde, preisamos de conhe- cer a dinimia, os constangimentos e as possolidades desta nova estrutura social due Ihe esti assocada: a sociedade em rede No que di respeita ao concito aca de soredade em rede enquanto estrus social, ire agora concentrarme no que a investgngio académica jf sabe sobre este assunt. ‘A Sociedade em Rede para Id dos Mitos: As Descobertas da lnvestigagio Académica Nos primeiros anos do século XX), a sociedade em rede nio é a sociedade emer gente de Era da Informagio: ela i configura 0 nicleo das nossassociedades, De facto, ‘és temos jf um considerével corpo de conhecimentor recolhidos na dltima décadn por investigadoresacadémicos, por todo o mundo, sobre as dimensdesfundamentas da sociedade em rede, incluindo estudos que demonsizam a exiséncia de factores comuns do sew micleo que stravessam cults, assim como diferencas cults eins titucionais da sociedade em rede, em varios contextos. £ pena que or media, os poli tcos, 08 actores socas, os lderes econémicos ¢ os decisores continuem a falar de sociedade de informagio ou sociedade em red, 0 sea 0 que for que queiram chamar she, em termes de futurologia ou jornalismo éesinformago, como se esses transfor ThagGes esvesse ainda no futuro, e como se a tecnologia fosse uma fora independents «que deva ser ot dentncinds ot adorada, Os intelecrinistadiconais, cada vex mais incapazes Ge compreender 0 mundo em que vivem, e aqueles que estfo minados no seu papel pblico, sie particularmente ctcos a chegada de um novo ambiente tecnoidpico, sem na verdade conhecerem muito sabre of processos acerca dos quis elaboram discursos. No seu ponto de vista, as novas teenologis destroem empregos, a Interne isola, nés softemos de excesso de informag cxclusio socal © Big Brother ments a sua vigilincia gragas a teenologis digits mais potentes, 0 desenvolvimento tecnolégice € contiolado pelos militares, o tempo das hossas vides € persisteniementeaceerado pela tecnologia, a biotecnologia leva a clo ragem humana © aos maiores desastes ambien, os paises do Tercero Mundo no preclzam de tecnologia mas da satisiagio das suas necesidades humana, a criangas So cada vez mais ignorantes porque estio sempre a conversar ¢ a tocar mensagens ‘ info-exclusio aumenta & Mane Cate IVE Societe en Ree Coben & Fite, em vee de lerem livros, ninguém sabe quem & quem na Internet, aefiiéncia no srabalho é sustentada em tecnologia que nao depende da experiéncia humana, o crime e a vio lncia, ¢ até 0 tertorismo, usam a Internet como um medium prvilegiado, € n6s esta mos rapidamente a perder a magia do toque humano. Fstamos alienados pela tecnologia. Ou entéo, nés podemos reverter tudo 0 que eu acabei de escrever exactamente para © seu sentido oposto, e entraremos no paraiso da realizagio e da criatvidade plena do ser humano, induzidas pelas maravilhas da tecnologia, na versio em espelho da ‘mesma mitologia, desta vez propagada por consultores e futurologistas, muitas vezes, em representagio de um dado papel para empresas de tecnologia F contudo, nés conhecemos razoavelmente bem os contomos da sociedade em rede, Existe de facto um grande hiato entre conhecimento e consciéncia piiblica, imediada pelo sistema de comunicacio e pelo processamento de informagio dentro das nossas smolduras» mentais. A sociedade em rede, em termos simples, € uma estrutura social baseada em redes operadas por tecnologias de comunicagio e informagio fundamentadas na microelec. trdnica e em redes digitais de computadores que geram, processam e distribuem infor ‘magio @ partir de conhecimento acumulado nos nés dessas redes, A rede é a estrutura formal (vide Monge e Contractor, 2004). E um sistema de nds inteligados. E os nés sio, em linguagem formal, os pontos onde a curva se intersect a si propria. AS edes so estruturas abertas que evoluem actescentando ou removendo nés de acoréo com as mudangas necessérias dos programas que conseguem atingir os objectives de per formance para a rede. Estes programas sao decididos socialmente fora da rede mas a partir do momento em que si0 inscritos na légica da rede, a rede vai seguir eficien temente essas instrugdes, acrescentando, apagando e reconfigurando, até que um novo programa substtua ou modifique os cédigos que comandam esse sistema operative. (© que a sociedade em rede & actualmente nio pode ser decidido fora da observagdo empirica da organizagio social e das préticas que dio corpo & légica da rede. Assim, itei resumir a esséncia daquilo que & investigagio académica (sto é, a produgio de conhecimento reconhecida como tal pela comunidade cientifica)jé descobriu em varios ‘Vamos comesar pela economia. A economia em rede (conhecida até esta altura como ‘8 nova economias) é uma nova e eficiente forma de organizacio da producio, dist buigio « gestio, que esti na base do aumento substancial da taxa de erescimento da produtvidade nos EVA, ¢ em outras economias que adoptaram estas novas formas de organizacio. A taxa de crescimento da produtividade nos EUA entre 1996-2005 mais do que duplicou em relagio ao periodo de 1975-95. Uma observacio semelhante pode ser aplcada a algumas economias europelss, como a Finlandia ea Irlanda, que rap damente adoptaram uma forma similar de organizagio tecno-econémica, apesar de 0 terem feito em contextos insttucionais muito diferentes (por exemplo, mantendo 0 wel fare sute — 0 estado-providéncia). Alguns estudos, ineluindo a investigagao. spresen tada por Dale Jorgensen neste livo, mostram que a taxa de crescimento da produtividade, em outzas economias europeias e no Japio, podem ter aumentado também, uma vez aque as categorias estatistcas estdo adaptadas as condigées de produsio numa econc- ‘mia que [6 ultrpassou a Era Industrial na qual estas categorias foram criadas. Por todo © mundo, economias em desenvolvimento que se articulam a si préprias com 0 ntcleo dinimico ds rede da economia global, mostram taxas de crescimento da produtividade ainda maiores (por exemplo os sectores industiais da China e da India). Além disso, © aumento da produtividade € © indicador empitico mais directo da tansformagio de Dette EID] 4 Scie Ree De rn Ae rab sua esruara prod, Os investgadoresacreditam que o crescimento da prod dade, nnquee period, esti associndo a ués processos, todos eles condicbes necessi- ras pata que 0 crescimento da produtividade acontega: geragio e difusio de novas tecnologias micoslecdnicas/digts de comunicagio e informagio, com base em inves tigagio cietificaeinovagio teenolgica: wansformagio do tabalho, com o crescimento de tabalho alamente qualifcado, auténomo, capaz de inovare de se adapta a mudan sas globaisconstantese & economia loca; difusio de uma nova forma de organizagio fm tomo de redes. $6 quando estas us condigoes se cumprem numa empresa, num Sector, numa regiio ou num pais, & que a produtvidade aumentasubsancialmente, © 56 quando isto acontece € que € potsvel sustentar a competitvidede a longo prazo. {As orgaizagSes em rede sfo critica, tal como foi erin o processo de integragio vertical da predugio num grande némero de onganizagdes da Era Industial. As redes doperam a0 longo ée virios processor que se reforgam uns aos outros desde os él tos vine cinco anos: grandes empresas que se descentlizam a i prdprias enquanto redes de unidades semi-auténomas, pequenas e médias empresas que formam redes de negécios, mantendo s sus autonomia « flenbiidade enquanto rornam possivel 8 utlizagio conjunta de recursos para ating @ massa critica, conseguindo assim com- petir no mercado; pequenas e médias redes de negécios que se tomam fomecedores ¢ subconsrtados para ama séie de grandes empresss, grandes empresss, a8 sine redes ausliares, comprometidas em parcerias estatégicas em vitios projectos relat vos a produtos, processes, mescados, funges, recursos, sendo cada umm destes pro estos espectfies, e contudo, constrain ma rede espectfica em roo de determinado projecto,a rede dissolve-se e cada um dos seus componentes forma outas redes em torno de outros projctos. Assim, num determinado ponto no tempo, a acividade conémica € reliada por redes de redes, constufdas em tomo de projetos de negs- cio especficos. A empresa continua a ser uma unidade legal e uma unidade para acummulagio de capital, mas a unidade operacional é a rede de negécios, aquilo a que cu chamo a empress em rede para enfaizar o fcto de a rede se focat na concretira «fo de um projecto. Alm disso, uma vez que a acumulagio de capital acontece real Tente no mercado financeir global, a empresa €simplesmente o n6 de ligagdo entre as redes de produgio construidas & volta de projectos de negécio e de redes de acum Iagio organizadas em tomo as finangas globais. Estas redes sfo quem contraia e despede wabalhadores a uma excala global. Seguemn 4 instabildade global do mercado de tabalho em todo 0 Indo, a necessidade de le xcbilidade do emprego, mobilidade do wabslho e constante requalifiagio da respec- tva forg. A nogio de uma careta profissional estvel, previsivelentrou em erosdo, 1 medida em que as relagSes entre capital e vabalho foram individulizadase a rela 6es contatuas do segundo excapam 3 negociagao colectiva, Em, conjunto com a femi- nizagio da forga de vabalko, podemos dizer, esumindo diversos estudos, que és cvoluimos do shomem da orginizagio» para a emule flexivels. Contido, este pro- cesso de individualizagio e fragmentagio da forga de uabalho nto sigifica que os contrats a longo prazo ¢ os empregos estives tenham desapareido. & uma estab lidade construiéa centro da floxbalidade.& existem diferengas consideriveis par as vias categoria de uabalhadorese nivets de quaifiagdes, Os desenvolvimentos-chave para a wansformagio do wabalho e do emprego sio + as mudangas tecnolégicas néo provocam desemprego no mercado de trabalho agregado. Embora alguns uabalhadores sejam dispensados e algumas ocupagies ars Cant BIE Side om Redes do Coben otc. sejam postas de lado (por exemplo as wadicionaissecreinas-dactilgrafa), apa zecem outs ocupacées (por exemplo assstentes administativas em vez de secre Lirias), sfo criados mais empregos, e mais uabalhadozes nio colocados sio reempregados, excepto aqueles que sto demasiado velhos para se adaptarem, sendo 0 seu destino decidide a partir das politicas publicas de cada sociedade De facto, quanto menos tecnologicamente avangada for a empresa, a regiio ou © pais, mais se encontra exposta a0 despedimento colectvo dos seus tabalha ores, uma vez que nio consegue acompanhar a compettvidade. Assim, existe uma corelagio entre inovagio tecnolégica e emprego, também enue inovagio tecnolégica, organizacional e niveis de vida dos tabalhadores. A capacidade de wabslhar autonomamente e ser um componente activo de uma rede tormou'se uma méxima na nova economia. Isto € o que eu conceptualize! como trabalho autoprogramado. As empresas procuram conservar este tipo de tra balhador © mais possivel, porque ele é a maior fonte da sua produtvidade e capa cidade de inovagio. Isto parece ir conta a nogio de instabiidade da forga de trabalho. Contudo, 0 tabalhador autoprogramado € quem tem poder negocial no mercado de trabalho. Entio, 0 seu contato pode ser de tipo estéve, mas a sua continuidade no emprego tende a ser eduzida em relagio a outas classes de ta bathadores, porque cle/la esti sempre em movimento, a procura de novas opor tunidades, E nio necessariamente para aumentar os seus rendimentos mas para sganbar mais liberdade, tempo mais Hlexvel ou maiores oportunidades exiavas ‘A maior parte dos tabalhadores ainda no esté num emprego que aproveite © sximo das suas capacidades, mas sio meros executantes a0 longo de linkas de disciplina industeial wadicional. Neste caso, eles sio tabalho genético, e podem ser substituidos por miquinas ou por trabalho mais barato no préprio pas (i gzantes, mulheres, minorias) ou por todo o globo. Nestas condigées, as empre sas tendem a limitar os compromissos a longo prazo com 0 wabalho genético, ‘optando por subcontatr, por empregar temporariamente ot: por wabalho a tempo parcial. Por outto lado, estes tabalhadores tendem a endurecer o seu poder de negociagio através da negociagio colectva e da sindicalizagio. Mas send a forga de abalho mais vulneravel, cada vez mais enfrentam a batalha da deslocalizagio da mio-de-obra industrial € do wabalho rotinizado. Existe uma contradigio crescente entie autonomia e eapacidade de inovagio, necessiia para tabalhar em empresas em rede, ¢ 0 sistema de gestio/elagées de uabalho alicercados nas instuigdes da Era Industial. A capacidade de relor sar ese sistema condiciona a wansigio oxganizaciona e social em todas as socie dades. Muito fequentemente, a necessiia adapragio da forga de trabalho as novas condigdes de inovagio € produtividade & manipulada pelas empresas para sus propria Vantagem. B uma estaségia auto-inibidora da gestio, pois os taba Jhadores 86 podem usar a sua autonomia, para ser mais produsivos, se tiverem interesses adquiridas na compettividade da empresa, Esse interesse comega com ‘a estabilidade dos seus empregos, ea possibilidade de tomatem as suas propriat decisées na operacionalizagio da rede (s sindicatos nfo desaparecem na sociedade em rede. Mas, dependendo das suas cstatégias, podem tomarse focos de zesisténcia A mudanga tecnolégica e eco némies, ou entio poderosos actores de inovagao no novo significado do taba Iho e criagio de rendimentos, num sistema de producio baseado na flexibilidade, na autonomia ¢ na criatidade. Organizar o trabalho, numa sede de redes, tem 1 Side om Red De rn Ae Fb cexigéncias muito diferentes de organizar o eabalho num processo socializado de uuabalho, numa grande empresa, Enquanto as mudangas na forca de wabalho no mercado de trabalho sio estruturais, ligadas a evolugio da sociedade em rede, as mudangas no papel dos actores sociais depende das suas praticas, © da sua possibilidade de posicionar os interesses que defendem em novas formas de pro- ducio e de gestio. {A sociedade em rede também se manifesta na wansformagéo éa sociabilidade (© que nés observames, nfo a0 desaparecimento da interacgio face a face ou a0 acréscimo do ssolamento das pessoas em frente dos seus computadores. Sabemos, pelos estudos em diferentes sociedades, que a mor parte das vezes os villzadores de Inemet so mas socidves, dm mais amigos e contactose sio socal epolticamente ris actos do que os nfo walizadores. Além disso, quanto mais wsam a Intemet, mais se envolvem, simultaneamente, em interacgées, face a face, em todos os domi- ios das suas vides, Da mesina mancia, as novas formas de comunicagio sem fs, desde 0 telefone mével aos Sis, 0 Wie Wiles, fazem asmentarsubstancialmence 4 socisbilidade, paricularmente nos grupos mais ovens da populagio, A sociedade fem rede € uma sociedade hipersocal, ndo uma sociedade de isolamento. As pessoa, na sua maior, no dstargam a sin idensidade na Internet, excepto alguns adoles centes a fazer experiénciae de vida, As pessoas integraram as teenologias mas suns vidas, ligando a realidade viral com a virtualidade real, vivendo em virias formas teenolégicis de comunicagio, ateulando-as conforme ar suas necesidades Contudo, existe uma enorme mudanga na socabilidade, que nfo é uma conse- quéncia da Ioieret ou das novas tecnologias de comunicagéo, mas uina mudanga que Eroralmente suporeads pela logic propria das redes de comunicasio. a emergéecia do individvalismo em rede (enguanto a estutura social e a evolugao histérica induz 2 emergéncia do indviduaismo como cultura dominante das nossas sociedades) e as rnovas teenologins de comunicagio adaptam-se perfstamente a8 form de constr sociabiidades em redes de comtnicagio autoelectvas,ligndas ou desligadas depen- dendo das necessidades ou dsposigGes de cada individuo. Ent, a sociedade em rede Ea sociedade de indivduos em rede ‘Uma caracteriica central da sciedade em rede € a transformagio da dread com cag, ineuindo os media. A comunicagio censtitui o espago publco, ou sea, 0 spago cognitivo em que as mentes das pessoas recebem informacio © formam oF seus pontos de vista auavés do processamento de sinis da sociedade no seu con- junto. Por outas pales, enquanto a comunicagio interpessoal & uma zelagéo pri vada, formads pelos actores da imeracgi0, of sistemas de comuniagio mediiticos criam os relacionamentos ente insttuigbes e organizagées da sociedade e as pessoas ho seu conjunto, ndo enquanto individuos, mas como receptores colectivos de infor. rmigio, mesmo quando a informagio final éprocessada por cada indviduo de acordo com as suas propris carctristicas pessoais.& por isso que a estrutra ea dinimica da comunicagio social éessencial aa formagio da conseincia eda opinifo, ea base do processo de decisio politica Neste sentido, 0 novo sistema de comunicagio é definide por ués grandes tendéncias ‘+ a comunicagio em grande medida organizada em tomo dos negécios de media aglomerados que sio globais locais simultaneamente, e que incluem a televi- Ho, a tidio, a imprensa escrita, a produgie audiovisual, a publicagio editorial, ars Cants IIE A Side om Redes do Coben otc. A indistria discogréfica © a distibuigio, © as empresas comercias online. Estes aglomerados estioligados s empresas de media em todo o mundo, sob diferentes formas de parceiia, enquanto se envelvem, a mesmo tempo, em ferozes compe tugdes. A comunicagio é simultaneamente global ¢ local, genérica e especializada, dependente de mercados e de produtos. ( sistema de comunicagio esté cada vez mais digializado e gradualmente mais interactivo. A concentragio do negécio, néo significa que exista um processo comunicatvo unificado e unidieccional, As sociedades tém vindo @ movimen- tarse de um sistema de mass media pata um sistema mukimédia especializado e fragmentado, em que as audiéncas sio cada ver mais segmentadas. Como o sis tema é divesiicadoe flexivel, cada vez mais inclusivo de todas as mensagens cnviadas na sociedade, Por ouuas palavia, a maleabilidade tecnolégica dos novos media permite uma muito maior integragio de todas as fontes de comunicegio no mesmo hipertexto, Logo, a comunicagio digital tomou-se menos organizada centalmente, mas absorve na sua logica uma parte cescente da comunicagio social ‘Coma difusfo da sociedade em rede, ¢ com a expansio das redes de novas tec nologias de comunicagio,dé-se uma explosio de redeshorizentais de comunicagio, bastante independentes do negécio dos media ¢ dos governos, © que permite a emergéncia daquilo a que chamei comunicasfo de massa autocomandada, £ comi- nicagio de massas porque é difundida em toda a Inemnet, podendo potencial mente chegar a todo o planeta. f aurocomandada porque geraimente & iniciada por indviduos ou grupos, por eles prépuos, sem a mediagfo do sistema de media Acexplosio de blogues, viogues (video-blogues), padding, seaming e outas for: ras de interacuvidade. A comunicagio entte computadores cxiou um novo sis tema de redes de comunicagéo global e horizontal que, pela primeira vez na hhistsia, permite que as pessoas comuniguem umas com as outras sem utlizar cos cana eriados pelasinstiuigdes da sociedade para a comunicagio socalzante Assim, a sociedade em rede constitul comunicagio socializante para li do sistema de mass media que caracterizava a sociedade industrial. Mas nao representa o mundo de liberdade entoada pelos profetas da ideologia libertéria da Internet. Ela & consti tuida simultaneamente por um sistema oligopolista de negécios multimédia, que con trolam um cada vez mais inclusivo hipertexto, e pela explosio de redes horizontals de comunicagao local/global. Z, também, pela interacgdo entre os dois sistemas, num padrio complexo de conexdes ¢ desconexdes em diferentes contextos. Contudo, 0 gue resulta desta evolugao € que a cultura da sociedade em rede é largamente estru turada pela roca de mensagens no compésito de hipertexto electsSnico criado pelas redes, ligadas tecnologicamente, de modes de comunicagio diferentes. Na sociedade em rede, a virtualidade € a refundacio da reslidade através de novas formas de comu: nicagio socializavel Uma vee que a politica ¢ laggamente dependente do espago piiblico da comunicagio em sociedade, © processo politico € tansformado em fungio das condigées da cultura da virtualidade real. As opinides politicas e © comportamento politico sio formados no espago da comunicagio. Nao significa isto que tudo o que se diga neste espaco deter mine 0 que as pessoas pensar ou fazem. De facto, a teoria da audiéncia interactive, apolada por investigagdes em vérias culturas, determinou que os receptores de mensa [gens processam essas mensagens nos seus prSprios termes, Ou seja, née nio estamos tates EE] 4 Side Rede De rn Ae rab no universo de Orwell, mas num mundo de mensagens diversificadas, que se recombi- nam ene si no hipertexto electSnico, e que sio pracessadas nas nossas mentes com uma crescente autonomia das Fontes de informagio. Contudo, « dominagio do espace redistico, sobre as mentes das pessoas, trabalha com base num mecanismo fundamen- tal presenca/auséncia de mensagens no espago mediftico. Tudo e todos os que estio ausentes dest espago nio podem chegar is mentes do publico, pelo que se tomar uma no entdade.Fste modo binario da palita medistica tem consequéncias exxraordinsias ro processo politico e nas institigées socais. Também implica que a presenga nos media € essencial para constuir uma hegemonia poliea ou uma conta-hegemonia — e no somente durante as campanhas eletoras: Os media uadicionais,e paniculamente a televisio, ainda dominam o espaco medi- fico, apesat das répidas mudangas. Como a linguagem da televisio é baseada em imagens, e a imagem politica mais simples € uma pessoa, a competigéo politica é construida em tomo dos lideres politicos. Poucas pessoas conlsecem realmente o8 pro- grams dos partidos politicos. E os programas sio constuidos a parts das sondagens da opinigo piblica, focando aquilo que as pessoas gostariam, por isso tendem a ser muito parecidos, pelo menos no tipo de linguagem. As pessoas pensam através de rmetiforas, ¢ cram essas metiforas com imagens. Confianga e caricter sie consteuides A volta da imagem de uma pessoa. Por cause disto, 0 assassnio de carécter (0 dene- sr da imagem de alguém) tomou-se uma possibilidade ente as armas politicas. Men- sagens negasivas sio normalmente mais eficazes do que as mensagens positivas. E a Jmagem mais negativa é minar a confianga das pessoas no seu potencial lider difun- indo, fabrcando ou manipulando informacio comprometedora Politicos medisticas « politicos de imagem levam ao escindalo politico, 0 tpo de politea & Kente do pro cesso politico pratcamente em todo © mundo ‘Mas existe uma tansformagio ainda mais profunda nas insttuigées poltcas na sociedade em rede: o apatecimento de uma nova forma de Estado que gradualmente vai substituindo os estados-nagio da Fra Industral. Isto estérelacionado com a glo- balizagio, ou seja, com a formagio de uma rede de redes globais que ligam selectiva- mente, em todo o planeta, codas as dimensées funcionsis da sociedade. Como a sociedade em rede € global, o Fstado da sociedade em rede no pode funcionar tnica ou primeiramente no contexto nacional. Esté comprometido num processo de gover- nagdo global mas sem um governo global. As razées para a nio existincia de um governo global, que muito provavelmente nao exstiré num futuro prevsivel, estio ensaizadas na inércia histrica das instuigées, e nos interesses socaise valores imbui- dos nessas mesmas inssituigSes. Colocando a questio de forma simples, nem os acsuais actores politicos nem a as pessoas em geral querem um governo mundial, portanto no dnd acontecer. Mas uma vez que a goveragio global de algum tipo é uma necessidade funcional, os estados-nagio estio a enconvar formas de fazer a gestio conjunta do processo global que afeca a maior parte dos assuntos relacionados com a pritca gover- nativa, Para o fazer, aumentaram a parilha de soberania enguanto continuam a agitar corgulhosamente as suas bandeisas. Formam redes de estados-nagio sendo a mais sig. nificaiva, ¢ integrada, a Uniao Europela. Mas existem por todo 0 mundo uma série de associagdes entre estados, mais ou menos intepradas nas suas insiuigdes e nas suas prdscas, que estruturam processos especficos de governagio wansnacional. Para além do mais, os estados-nagéo comprometeram-se em insticuigées formas e informal, inter nacionais e supranacionais que, realmente, govemam 0 mundo. Néo s6 as Nacées Unidas, e visas aliangas militares, mas também o Fundo Moneviio Internacional e @ ae Cate EE A Sociedade om Rees do Combes ln sus agéncia auilar, © Banco Mundial, o clube dos paises lideres mundiais, 0 G-8 (com ‘ permissio da China), e uma série de agrupamentos ad foc. Além disso, para ligar o global e o local, os estados-nagio chegaram — ou dese jam-no — a um processo de descentralizagio no sentido dos govemos regionais © locais, ¢ mesmo das ONG's, muitas vezes associadas & gestio politica. Assim, o sis tema actual de governagio no nosso mundo nao é centrado em torno do estado-nagio, apesar de os estados nao izem desaparecer de todo. A governagio € realizads numa rede, de instituigdes politicas que parilham a soberania em varios graus, que se recon- figura a si pzSpaia numa geometsia geopoliica variivel. Denominel isto como con ceito de Estado em rede. Nao € 0 resultado das mudangas tecnolégicas, mas a resposta | consradigio esurutural entre o sistema global e o Estado nacional. Contudo, & glo balizagio € forma que toma a difusio da sociedade em rede a uma escala planetita, as novas tecnologias de comunicagao e tansportes fornecem a infa-estrutura neces sitia 20 processo de glabalizagio. As novas tecnologias de comunicagio também auni- liam a operacionalias, na actualidade, um complexo estado em rede, mas é mais uma ferramenta de perfomance do que um factor determinante. A transigio de um estado nagio para um estado em rede & um processo organizacional e politico langado pela uransfo:magio da gestio politica, representagio e dominagio nas condigées da soce dade om rede. ‘A sociedade em rede nio € 0 futuro que devemos alcancar como o préxima estédio do progresso humano, a0 adoptarmos © paradigma das novas teenologias. E a nossa sociedade, em diferentes graus, ¢ com diferentes formas dependendo dos paises e das culturas. Qualquer politica, estatégia, projecto humano, tem que parr desta base Nic € 0 nosso destino, mas o nosso ponto de parida para qualquer que sea o snosso» caminho, sejs 0 cfu, 0 inferno ou, apenas, uma casa remodelada Aspectos Politicos-Chave na Sociedade em Rede As pessoas, 0s actores sociais, as empresas, os politicos, no tém que fazer nada para atingir ou desenvolver a sociedade em rede. Nés estamos na sociedade em rede, apesar de nem todos, nem todas as coisas estarem incluidas nas redes. Assim, do ponto de vista politico, a questio-chave é como proceder para maximizar as hipéte ‘ses de curnpri os projectos individuais e colectivos expressos pelas necessidades sociais e pelos valores, em novas condigdes estruturais. Por exemplo, uma cobertura total de comunicagdo digital em redes de banda larga, por cabos ou sem fios, é certamente uum factor condicionante para os negécios poderem trabalhar dentro de um modelo de redes de empresas ov para a formacio virtual ao longo da vids, um aspecto essencial ‘numa organizagio social baseada no conhecimento. Contude, a intiodugio da tecno logia $6 por si ndo assegura nem a produtividade, nem a inovagio, nem melhor desen- volvimento humano. Quando, no ano 2000, a Unite Europela aprovou uma estatégia conhecida como a Agenda de Lisboa, para acompanhar os EUA em termos de com: pettividade econémica, enquante fortalecia o modelo social europeu, a énfase foi colo- cada principalmente na actualizagio tecnolégica e no melhoramento das capacidades de pesquisa. A infr-estutura tecnolégica europeia melhorou consideravelmente, mas 1 efeitos na produtividade, na formaso, na criatividade e na iniciativa empresarial, foram muito limitados. Isto aconteceu porque agiz no desenvolvimento potencial espe cifico da sociedade em rede necessita da combinagio de iniciaivas em sectores como tte NIG Side Ree De rn Ae rab tecnologia, 0s negécios, a educagio, «cultura, a reesrusaagio espacial, 0 desenvol vimento de infraestruturas, a mudanga organizacional e a reforma institucional. £ na Sinenga entre estes procestos que as acgGes tém capacidade de mudar os mecanismos ds soviedade em rede Com esta perspective em mente, observando a experiéncia europeiae internaco- nal nos primeiros anos do século 40, alguns aspectos parecem ser condicionantes pam o desenvolvimento da produtividade, da eratvdade © da equidade noma soci dade em rede, Por outas palvras, as politics que apoiaram estas estatéias parecem caminhar para poliicas-chave a fim de deliberadamente melhorarem © bem-estar humane num novo contexts histérice, De modo muito selectivo e certamente sub- jectivo, uma vez que abandono a apresentagio de pesquisas para entar no debate police, aqui esto que eu consider factores-chave + 0 sector piblico 6 actualmente o actor decisivo para desenvolver e moldar a sociedade em rede. Individuos inovadores, comunidades contraculturais © empresas de negocios, jf fizeram o seu trabalho ao inventar uma nova sociedade © a0 difundi-la por tdo © mundo, A moldagem ¢ a conducio desta saciedade est, como esteve sempre no caso das outras, nas mios de sector pablico, apesar do discurso ideolégico que pretende esconder esta realidade. Contudo, o sector pliblica é a esfera da sociedade em que as novas tecnologias de comunicagio esto menos difundidas e os obsticulos & inovagio € ao funcionamento em rede io mais pronunciados. Assim, a reforma do sector piblico comanda tudo 0 resto, no processo de moldagem produtiva da sociedade em rede. Isto inclui a difusio da e-governagdo (urn conceito mais vasto do que o governo eleetzénico — porque inclui a participagéo dos cidadios ¢ @ tomada de decisdes politicas}; said, ¢-formagdo,e-seguranga, ete; € um sistema de regulagio dinimica da indis- tia de comunicagao, adaptando-se aos valores e necessidades da sociedade. Todas estas transformagées requerem a difusso da interactvidade, multiplicando as redes em fungio da forma organizacional do sector pablico. Isto € equivalente a uma reforma do Estado. De facto, © modelo burocritico racional do Estado da Era Industrial est em completa contradigso com as exigéncias e os processos da sociedade em rede. 1+ Na base de todo o processo de mudanga social esté um nove tipo de tabalhader, © trabalhador autoprogramads, ¢ um novo tipo de personalidade, fundada em valores, uma personalidade Hexivel capaz de se adaptar as mudancas nos modelos calturais, ao longo de ciele de vida, porque tem capacidade de dobrar sem se partir, dese manter auténoma mas envolvids com a sociedade que a rodeia. Este Inovador ser humane produtivo, em plena crise do paarcalismo e da familia wadicional, requer uma reconversio total do sistema educativo, em todos os seus niveis e dominios. Isto refere-se, certamente, a novas formas de tecnologia © pedagogia, mas também aos conteiidos e organizagao do processo de apren- dizagem, Io dificil como parece, as sociedades que nio forem capazes de lidar com estes aspects irfo enfrentar maiores problemas sociais e econémicos, no actual processo de mudanca estrutural. Por exemplo, uma das grandes razbes para o sucesso do Modelo Finlandés na sociedade em rede reside na qualidade do seu sistema educative, em contraste com outras zonas do mundo. Outro exemplo sio os BUA, ende uma grande parte da populagio esté alheada do sistema de gestio do conhecimente, largamente getado no seu proprio pais. A politica ars Cats BESS om Redes do Coben ten ceducacional é central em todos os aspectos. Mas nao é qualquer tipo de educacéo ‘ou qualquer tipo de politica: educacio baseada no modelo de aprender a apren der, ao longo da vida, e preparada para estimular a eriatividade e & inovagio de forma a —¢ com 0 objectivo de — aplicar esta capacidade de aprendizagem a todos os dominios da vida social e profissional, © desenvolvimento global permite hoje em dia, em grande medida, aos paises «as suas populagées a possibilidade de funcionar produtivamente na economia global e na sociedade em rede, Isto implica a difusio de tecnologias de infor magdo € comunicagio, por todo 0 mundo, para que as redes cheguem a todo o lado. Mas também implica a producio de recursos humanos necessérios para operar neste sistema, © a distibuigao de capacidade de gerar conhecimento e informagio para a gestZo. © novo modelo informacional de desenvolvimento redefine a condigao de crescimento partilhado no mundo. De facto, centenas cde milhares de pessoas tém beneficiado da competigio global motivada pelo dina mismo destas tedes. Areas consideriveis da China, India, Leste e Sudeste Asié tico, Médio Oriente ¢ algumas zonas da América Latina (0 Chile, c ‘mas também algumas regiées de outtos paises) estio agora integradas produti vamente na rede da economia global. Porém, estio mais pessoas desligadas des tas redes do que as que estio incorporadas. A segmentagio global da sociedade em rede, precisamente por causa do seu dinamismo produtivo, esté a colocar uma parte significativa da humanidade em condigdes de ittelevincia estutural Nao € apenas a pobreza, € que a economia global e a sociedade em rede trabalham mais eficientemente sem centenas de milhares de coabitantes deste planeta, Temes, assim, a maior das contadigdes: quanto mais desenvelvemos a elevada produti vidade, os sistemas de inovagio da produsio ¢ da organizagio social, menos pre cisamas de uma parte substancial de populagio marginal, e mais dificil se torna para esta populagio acompanhar esse desenvolvimento, A conecgio deste pro cesso de excluséo massivo requer uma politica publica intemacional, concertada, que actue nas raizes do nave modelo de desenvolvimento (tecnologia, infra-estru turas, educagdo, difusdo e gestio do conheciments) em vez de simplesmente pro: videnciar a satisfacéo das necessidades, que surge da exclusio social, sob forma de caridade. Criatividade e inovagio sio of factores-chave da eriagio de valor e da mudanga social nas nossas sociedades — ou melhor, em todas as sociedades. Num mundo de redes digitais, 0 processo de criatividade interactiva é contrariado pela legis- lagio relativa a direitos de propriedade, herdados da Era Industial, Muitas vezes, devido a grandes empresas terem criado a sua riqueza e poder gragas a0 con uuolo desses direitos de propriedade, apesar das novas condicées de inovacio, empresas € governos estio a tornar a comunicagio da inovagio ainda mais diliel do que era no passado. A «casa» da inovagio, por um mundo de negécios inte lectualmente conservador, pode muito bem tavar as novas ondas de inovacio ddas quais a economia ctiativa e o sistema redistributive da sociedade em zede dependem ainds mais a um nivel planetitio, conforme os direitos de propriedade intelectual se tornam um factor-chave para os que s6 agora chegaram & compe ticle global. Acordos internacionais para a redefinigio dos direitos de proprie dade intelectual, que comegaram com a ja enraizada pritica do software de fonte aberta, sio fundamentais para a preservagio da inovacio e para a dinamizacio da criatividade das quais depende o progresso humano, antes e agora Dette EE] A Scie Ree De rn Ae rab Dilemas do Nosso Tempo: Criatividade versus Capitalismo de Rendimentos; Democracia da Comunicagao versus Controlo Politico Neste inicio do século 201 estamos numa encrusilhads do desenvolvimento da sociedade em rede, Estamos a testemunhar uma crescente contradigfo entze relagdes sociais tadicionals de produgio e a potencial expansio de Forgas produtivas form diveis, Esta pode ser a cima contibuigéo da teoris manista cléssica. © potencial, hhumano envolvido em novas tecnologias de comunicagio e de genética, em redes, em novas formas de organizagio social e de invenglo cultural, é verdadetamente extaor dinfrio, Contudo, sistemas socias existentes travam a dinimica da criatwidade e, se desafiados pela competigéo, tendem a implodi, Fot este 0 caso do sistema estatisea da Unio Sovietica (Castells e Kiselyova, 1998). Agora, o capitalism de rendimentos do tipo da Microsoft parece estar a bloquesr 0 desenvolvimento de wma nova fron- teita de expansio e inovagéo em contraste com outros modelos de negécio do capi- talismo, come por exemplo, a recém-nascida 18M, Assim, a reforma do capitalismo também é possivel neste dominio, ineuindo novos modelos de direitos de proprie- dade intelecwal, ¢ a difusio de um desenvolvimento tecnolégico que responda as necessidades humanas de todo o planeta, £ por isso que a questio dos direitos de propriedade intelectual, ou direitos de autor, é tio importante em termos estatégicos Mas hi ainda outa cols: a emergéncia de comunicagio sem obstéculos e auto-orge- nizagio ao aivel sociopolitic, ulurapassando a mediagio do sistema de media e desa faando a politica formal. Este fo! 0 aso das campanhas poltcas de revols, como a campanka de Howard Dean, nos EUA em 2003-2004, ou das mentiras de José Maria ‘Aznar sobte o tetorismo, expostas por milhares de jovens expanhéis, elemdbilizados com os seus teleméveis, ¢levando & derrotaeletoral dos conservadores espanhéis em Marco de 2004. £ por isso que de facto os governos sfo ambiguos em relacio 20s usos da Internet © das novas tecnologia. Eles apreciam os seus beneficios, porém temem perder © controlo da informasio © da comunicagio em cujo poder sempre se apoiazam, ‘Aderindo & democtacia da comunicagio concorda-se com a democracia direct, algo que nenhum estado aceitou a0 longo da histéria, Admisir o debate para redefinir os direitos de propriedade acerta em cheio no coragio da legiimidade capitalists, Aceitar que of uulizadores sio produtores de tecnologia desafia © poder do expecialista. Ento, uma politics inovadors, mas pragmatics, terd de encontrar © meio caminko entre 0 que € social e polidcamente exequivel, em cada contexto, ¢ a promogfo das condi- Ses culturals © orgenizacionals para a ciiavidade na qual a inovagio, © poder, a riqueza e a cultura se alcergam, na sociedade em rede Maras Cats EE A Sida Redes do Coben ten Now * A andlise aqui apresentada baselase num vasto corpo de pesquisa que pode ultapassar largamente os argumentos apresentados se for totalmente atado neste texto, Assim, tome 8 LMberdade de refers ao letor os meus tabaltos mais recentes sobre o atsunto, apesar de nso basear a anilise apenas na minha biblografia porque ae minhas mais recentes publicagées ‘contim uma extenss e sistemsticabiblogrsfia de diferentes zanas da mundo, que devers set ‘onsideradae como referénciae genésicas desta andlie, Com esta ressalva,o leitorinteressada pode consultar as fontes incluidas noe livros segulntes de Mane) Castells «A Era da ator magio: Economia, Sociedade e Cultutae, i boa, Fundagio Calouste Gulbenkian, 2002 200; «A Calis Inernet, Lisboa, Fundagio Calouste Gulbenkian, 2004;

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