You are on page 1of 15

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E SAÚDE

CURSO DE GRADUAÇÃO DE PSICOLOGIA

ESTELA MACHADO FERNANDES


INGRID MONTEIRO LARSEN

AVALIAÇÃO DE NEUROPSICOMOTRICIDADE: ESTUDO DE CASO


CLÍNICO.

SANTOS
2023
AVALIAÇÃO - ANÁLISE DE CASO CLÍNICO

Ao analisar a anamnese do caso de M.J, é possível identificar uma


tendência familiar que se correlaciona com os sintomas apresentados pela
menina. Conforme descrito no caso, observam-se sintomas como dispersão,
irritabilidade e dificuldades de aprendizagem. Nesse contexto, podemos inferir
a presença de um fator genético que pode influenciar nas dificuldades
enfrentadas pela menina, especialmente no âmbito educacional.

A fim de obter uma compreensão mais aprofundada dos possíveis


comprometimentos fisiológicos, é recomendada a realização de exames de
audiometria e avaliação do processamento auditivo, visando inicialmente
descartar qualquer comprometimento físico. Portanto, esta avaliação considera
recomendável buscar um médico otorrinolaringologista.

Além disso, é aconselhável que os pais busquem a avaliação de


profissionais da fonoaudiologia para obter uma análise fonoaudiológica.
Paralelamente, é importante realizar uma avaliação neurológica para obter um
parecer especializado sobre algum possível transtorno do desenvolvimento.

A avaliação neuropsicológica de M.J que tem dificuldades de


aprendizagem, sobretudo com números, revelou alguns resultados que
sinalizam questões importantes sobre seu funcionamento cognitivo. Esses
resultados, obtidos a partir do teste WISC-IV, fornecem uma visão abrangente
do seu nível de desempenho em diferentes áreas.

No teste WISC-IV, o Quociente de Inteligência Total (QIT) da menina foi


de 100, o que indica um desempenho médio na escala de inteligência. Isso
sugere que ela possui habilidades cognitivas gerais dentro da média da sua
faixa etária. No entanto, ao examinar resultados específicos, observa-se que
sua memória operacional (IOP) apresentou um desempenho médio inferior,
com um resultado de 70. Isso pode indicar dificuldades em reter e manipular
informações de curto prazo, o que pode afetar sua capacidade de realizar
cálculos matemáticos complexos.

Por outro lado, seu desempenho na compreensão verbal (IMO) foi


avaliado como médio superior, com um resultado de 85. Isso sugere que ela
possui habilidades satisfatórias de utilização da linguagem, o que pode ser um
ponto forte a ser explorado em sua educação. No que diz respeito à velocidade
de processamento (ICV), a menina apresentou um desempenho médio inferior,
com um resultado de 70. Isso indica que ela pode ter dificuldades em processar
informações rapidamente, o que pode impactar sua eficiência na resolução de
problemas matemáticos que requerem rapidez mental.

Quanto ao raciocínio perceptual (1VP), seu desempenho foi avaliado


como inferior, com um resultado de 50. Isso sugere que ela tem poucas
habilidades para compreender e analisar padrões visuais, o que pode ter
influência nas suas habilidades matemáticas.

Além dos resultados do WISC-IV, outros testes foram aplicados. Na


avaliação da leitura de palavras e pseudopalavras isoladas, a menina
apresentou um desempenho inferior ao esperado para sua idade, o que indica
dificuldades específicas nessa área.

No teste de Figuras Complexas de Rey, seu desempenho na cópia das


figuras foi avaliado como médio, com 27 pontos. No entanto, sua memória para
essas figuras foi considerada inferior, com 24 pontos. Esses resultados podem
indicar que ela pode ter dificuldades em reter informações visuais de maneira
eficaz, o que pode afetar sua aprendizagem em diferentes áreas.
Além dos aspectos cognitivos, a menina também apresentou sintomas
moderados de depressão, conforme indicado pelo resultado do BDI, que foi de
28. Essa informação é relevante para compreender o contexto emocional em
que as dificuldades de aprendizagem estão ocorrendo, uma vez que a saúde
mental pode afetar significativamente o desempenho acadêmico.

No que diz respeito ao teste H.T.P. - Teste de desenhos de Casa, Árvore,


Pessoa (projetivo), o desenho da casa pode fornecer indícios sobre o grau de
afinidade do indivíduo com a convivência familiar. É relevante observar se ele
reforça sua preferência por atividades e brincadeiras mais solitárias, como a
leitura, jogar videogame e utilizar o computador. A forma como expressa o
descontentamento em relação às atividades em grupo deve ser uma
preocupação, pois pode indicar sintomas significativos relacionados ao
desenvolvimento de psicopatologias, como depressão e ansiedade.

Para Buck (2003), o teste projetivo parece estimular associações


subconscientes e inconscientes de forma mais intensa do que os outros dois
desenhos. Ele representa uma expressão gráfica do equilíbrio percebido pelo
indivíduo, levando em consideração sua visão sobre seus recursos de
personalidade para obter satisfação em relação a si e ao ambiente. A qualidade
do desenho da árvore pode refletir a capacidade do indivíduo de avaliar
criticamente suas relações com o ambiente e a realidade circundante.

As aplicações da neuropsicologia, em termos ontogenéticos, permite


conhecer minimamente como o cérebro se desenvolve, se estrutura e trabalha,
permitindo assim intervenções educacionais e terapêuticas na
neuropsicomotricidade, que possibilitam, por sua vez, ingerências nos
possíveis atrasos de desenvolvimento psicomotor e de aprendizagem.

Por meio de um conhecimento mais profundo dos fatores


neuropsicomotores, tornou-se possível uma compreensão mais efetiva para
aplicação correta e precisa de diagnósticos de casos clínicos, como o de M.J.,
por exemplo.

Os fatores neuropsicomotores, componentes vitais para o


desenvolvimento psicomotor e de aprendizagem da criança, consistem na
tonicidade, na equilibração, na lateralização, na noção do corpo, na
estruturação espaço-temporal, da praxia global e da praxia fina. A observação
desses fatores tem sido, portanto, utilizada como um instrumento de análise do
perfil psicomotor, bem como um dispositivo clínico que pode ajudar na
compreensão de problemas de comportamento e de aprendizagem de crianças
de 4 a 12 anos.

A tonicidade, em Luria, é equacionada com a função de alerta e de


vigilância que exige a mobilização de uma quantidade de energia essencial à
ativação dos sistemas seletivos de conexão, sem os quais nenhuma atividade
mental pode ser processada, mantida ou organizada. Está intimamente ligada
com o sistema neuroemocional e a comunicação não verbal. Trata-se da
estrutura básica que prepara e guia a atividade oestomotora, controlando a
modelação articular e garantindo o ajustamento plástico e integrativo da
amplitude dos movimentos.

A equilibração ou controle postural, na BPM, é uma função determinante


na construção do movimento voluntário, condição indispensável de
ajustamento postural e gravitacional, sem o qual nenhum movimento
intencional pode ser atingido. A equilibração está relacionada com a atenção, a
integração sensorial proprioceptiva e exteroceptiva e a regulação
comportamental. Tanto a tonicidade quanto a equilibração, que compõem a
primeira unidade funcional, formam o alicerce fundamental da organização
funcional da Psicomotricidade.

A lateralização, para Luria, respeita a progressiva especialização dos


dois hemisférios cerebrais como o resultado das funções sócio-históricas do
trabalho e da linguagem, denominando o hemisfério esquerdo de dominante e
o direito de subdominante. Na BPM, a lateralização retrata a organização
inter-hemisférica em termos de dominância: telerreceptora (ocular e auditiva),
proprioceptores (manual e pedal) e evolutiva (inata e adquirida). No ser
humano, tal especialização hemisférica está relacionada com a evolução das
praxias unilaterais, ou seja, com o desenvolvimento das aquisições linguísticas
e o potencial de aprendizagem.

A noção do corpo, por sua vez, no modelo luriano, ocupa o lóbulo


parietal como unidade especializada na integração das informações "sensoriais
globais e vestibulares", sendo uma região particularmente importante para a
integração dos movimentos globais associados ao espaço e à formação da
imagem corporal. Na BPM, a noção do corpo, também chamada de
somatognosia, ajusta-se perfeitamente à noção pavloviana de analisador
motor, onde são projetadas as informações intracorporais, cujo substrato
neuroanatômico compreende os lóbulos parietais.

A estruturação espaço-temporal, conforme Luria, ocupa as áreas


primárias, secundárias e terciárias dos analisadores visuais e auditivos. Na
BPM, a estruturação espacial envolve funções de recepção, processamento e
armazenamento (curto-termo) espacial, que requerem uma estruturação
perceptivo-visual. A estruturação temporal, por sua vez, põe em jogo, da
mesma forma, a recepção, o processamento e o armazenamento (curto-termo)
rítmico. Tem relação com a gnosia dos objetos, a gnosia localizacional e
posicional e concomitante orientação, monitorização temporal e pilotagem
espacial. Juntamente com a lateralização e a noção do corpo compõem a
segunda unidade funcional.

Por fim, configurando a terceira unidade funcional, tem-se a praxia


global e a praxia fina. A praxia global, conforme modelo luriano, compreende as
áreas pré-motoras que visam compreender tarefas motoras sequenciais
globais, da qual participam grandes grupos musculares. Está relacionada com
o investimento lúdico, a inteligência cinestésica e o desenvolvimento da
autoestima e da autoeficácia.
Já a praxia fina, consta de tarefas de dissociação digital e de preensão
construtiva com significativa participação de movimento dos olhos e da
coordenação oculomanual e da fixação visual, envolvendo-se diretamente com
a implicação, execução e monitorização da criatividade na aprendizagem não
simbólica e simbólica e na resolução de problemas.

Portanto, diante de todo o exposto e de todo o material disponível


trazido nas avaliações e entrevistas com toda a família e profissionais, tendo
como base a aplicação dos procedimentos de avaliação de Fonseca, por meio
dos 7 fatores psicomotores, a hipótese diagnóstica de M.J. consiste em
Dislexia, Discalculia, TDA do tipo misto e Dispraxia espacial e motora/postural.

Dislexia é um transtorno genético e hereditário da linguagem, de origem


neurobiológica, que se caracteriza pela dificuldade de decodificar o estímulo
escrito ou símbolo gráfico. Trata-se de um transtorno que compromete a
capacidade de aprender a ler e escrever com correção e fluência e de
compreender um texto. Em diferentes graus, os portadores desse defeito
congênito não conseguem estabelecer a memória fonêmica, isto é, realizar a
associação dos fonemas às letras.

A causa do transtorno é uma alteração cromossômica hereditária,


explicando a ocorrência em pessoas da mesma família. Os sintomas exibem
diferentes graus de gravidade e consistem em dificuldades para ler, escrever e
soletrar; dificuldade na compreensão do texto escrito; na identificação de
fonemas, associá-los às letras e reconhecimento de rimas e aliterações; em
decorar tabuada, reconhecer símbolos e conceitos matemáticos; na ortografia
no que se refere à troca de letras, inversão, omissão ou acréscimo de letras e
sílabas (disgrafia); na organização tempo-espacial e coordenação motora.

A Discalculia, diretamente ligada à dislexia, é um problema causado por


má formação neurológica que se manifesta como uma dificuldade no
aprendizado dos números. As crianças com discalculia apresentam uma
inabilidade para lidar com contagens, sequências e operações aritméticas. São
incapazes de identificar sinais matemáticos, montar operações, classificar
números, entender princípios de medida, seguir sequências, compreender
conceitos matemáticos, relacionar o valor de moedas entre outros. Tanto a
dislexia quanto a discalculia não são transtornos relacionados com nível
inteligência, e sim, com uma dificuldade no aprendizado.

Transtorno de Déficit de Atenção (TDA) é uma síndrome cuja principal


característica é a desatenção e a dificuldade de concentração. É uma condição
que costuma aparecer ainda na infância, dificultando a vida social da criança e,
por se tratar de uma inquietação além do normal, interfere profundamente em
sua rotina. Geralmente, o TDA é identificado na fase escolar, uma vez que é no
ambiente escolar que se exige um nível maior de foco e atenção para o
aprendizado.

O Transtorno de Déficit de Atenção pode ser do tipo desatento, do tipo


hiperativo (TDAH) ou do tipo misto. As características do tipo desatento
consistem em exemplos como falta de atenção aos detalhes; dificuldade em
manter a atenção e o foco em uma única atividade; não conseguir dar atenção
quando lhe dirigem a palavra diretamente; dificuldade de organização e
administração do tempo; relutância em realizar atividades que exigem esforço
mental prolongado; facilidade em perder objetos (inclusive os de grande valor);
distração excessiva; esquecimentos recorrentes, mesmo de atividades
corriqueiras e de palavras no meio de uma frase, por exemplo.

Enquanto o Transtorno de Déficit de Atenção (TDA) se caracteriza pela


desatenção, falta de foco e dificuldade de concentração, o TDAH ocorre
quando a síndrome vem acompanhada da hiperatividade. Nesse caso, o
indivíduo apresenta impulsividade e dificuldade em conter certas atitudes,
sendo inquieto e agitado, física e mentalmente. O TDA de tipo misto, por sua
vez, é o que apresenta sintomas de desatenção e hiperatividade ao mesmo
tempo.

Dispraxia ou Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação


caracteriza-se como uma disfunção neurológica que atua nas ações do
cérebro, no que diz respeito à coordenação motora. As partes afetadas são
aquelas que se referem aos aspectos motores, verbal e espacial. Trata-se de
um problema comum que ocorre na coordenação motora fina e grossa em
crianças e adultos. As pessoas com dispraxia são muitas vezes rotuladas como
preguiçosas, descoordenadas, desmotivadas, desajeitadas etc. Podem
desenvolver complicações secundárias, como dificuldades de aprendizagem,
bem como problemas sociais, emocionais e comportamentais.

Pode ser de três tipos, espacial, motor/postural e verbal. A espacial


caracteriza-se por uma desorganização do esquema corporal e da relação da
criança com o espaço; a motora/postural carateriza-se pelas dificuldades na
postura, que se refletem em movimentos pouco ritmados e sem fluidez; e
verbal caracteriza-se por ser uma perturbação do desenvolvimento da
linguagem.

A hipótese diagnóstica de Dislexia foi levantada através dos


depoimentos dos familiares relatando que M.J. possui dificuldade de
acompanhamento escolar desde a Educação infantil, comete muitos erros de
linguagem escrita, possui falhas na compreensão da leitura, bem como
linguagem oral infantilizada, além do fato de pai e tio também terem tido muita
dificuldade com a leitura, além de uma letra inelegível, corroborando com o
caráter genético e hereditário da doença.

Já a hipótese diagnóstica de Discalculia foi levantada também por meio


dos depoimentos colhidos na anamnese que informam que M.J. possui grande
dificuldade com Matemática, tendo demorado muito para saber os números,
uma vez que decorou-os, porém sem conseguir associá-los com quantidade.
Ademais, a menina também não sabe ver as horas em relógio convencional e
relatou não se sentir inteligente por não saber fazer continhas.

Por sua vez, a hipótese diagnóstica de TDA do tipo misto foi levantada
através dos depoimentos da família que contam que M.J. tem dispersão de
atenção desde pequena, tendo piorado com o tempo, além de dificuldade em
focar e se concentrar. De acordo com a anamnese, a menina só quer ver
televisão, porém, por dificuldade em se concentrar, não consegue assistir por
muito tempo. Assim como o tio, é uma menina que vive no mundo da lua,
sempre distraída. Ademais, trata-se de uma criança muito irriquieta, agitada e
ansiosa, que começou a gaguejar, quando em situações que a pegam
desprevenida. Outro fator importante se mostra no fato de o tio também ter
alguns destes sintomas e, ainda que a hereditariedade não seja um fator
determinante, crianças com parentes de sangue que possuem TDA/TDAH têm
maior probabilidade de desenvolver a condição.

Já a hipótese diagnóstica de Dispraxia espacial e motora/postural foi


levantada por depoimentos que dizem que M.J. é descoordenada no ballet e
possui dificuldade em seguir a coreografia, motivo pelo qual seus pais
contrataram uma professora particular para que conseguisse se apresentar no
espetáculo de final de ano. Além disso, é considerada uma criança
estabanada, dorminhoca e preguiçosa, sem muita motivação para atividades
físicas como a natação, por exemplo. Não gosta de desenhar nem aceita
realizar os hobbies da avó, todas atividades manuais, em decorrência da
dificuldade com sua orientação espacial. Ademais, M.J. enrola para fazer a
lição de casa e comete erros de escrita.

Tais hipóteses diagnósticas são corroboradas e justificadas pela


aplicação dos procedimentos de avaliação de Fonseca, baseados em alguns
fatores psicomotores, quais sejam: equilibração, lateralização, noção de corpo,
estrutura espaço-temporal, praxia global e praxia fina.

A equilibração está ligada ao controle postural e respostas motoras,


além da regulação comportamental e desenvolvimento emocional. Dessa
forma, as dificuldades de M.J. em relação ao ballet, bem como sua ansiedade e
agitação estão relacionadas à sua equilibração. Importante ressaltar que se o
desenvolvimento emocional e psicomotor estão comprometidos, as dificuldades
de aprendizagem tendem a eclodir.

A lateralização também está presente e diretamente ligada com a sua


dislexia e sua dificuldade de aprendizagem. A integração bilateral dos dois
lados do corpo é uma condição básica da motricidade humana e quando há
desintegração bilateral do corpo e a lateralização não se diferencia, os efeitos
na organização psicomotora e no potencial de aprendizagem são produzidos.

A noção do corpo é sintetizada por meio da experiência cultural,


integrando o emocional e o afetivo, o objetivo e o subjetivo, envolvendo toda a
noção do psíquico. As representações de corpo o transformam em um
instrumento do pensamento e da comunicação. De acordo com a
Neuropsicomotricidade, a noção do corpo centra-se no estudo de sua
representação psicológica e linguística e em suas relações com o potencial de
aprendizagem. O corpo apropria-se das emoções, sendo estruturalmente o
centro da linguagem emocional e interior que antecede a apropriação da
própria língua falada.

Nesse sentido, em relação à M.J., sua noção do corpo está


profundamente interligada a seu processo de aprendizagem, uma vez que a
menina possui dificuldades de orientação espacial, coordenação motora, além
de sobrepeso, o que influi em sua noção de tamanho. Tudo isso interfere,
consequentemente, em sua personalidade e emoções, refletindo em sua
autoestima.

A estrutura espaço-temporal é o fator psicomotor que permite à criança


a elaboração de sua dimensão extraespacial e intraespacial, o que lhe dá uma
noção de seu corpo no espaço. A inter-relação dos dados espaciais com os
corporais é o ponto de partida da construção de uma noção espacial estável,
sem a qual nenhuma função mental e complexa pode ser atingida. E a
capacidade para estruturar e organizar o espaço é essencial para qualquer
aprendizagem e, embora o acesso ao espaço seja proporcionado pela
motricidade, a visão é o sistema mais preparado para sua estruturação. Daí a
importância de um encaminhamento a um oftalmologista.

No que se refere à estruturação temporal, as tarefas que integram a


BPM resumem-se a apreciar a estruturação rítmica em termos de memória de
curto-termo e de reprodução motora. Portanto, a unidade de extensão da
dimensão temporal é o ritmo, que envolve a conscientização da igualdade dos
intervalos de tempo. O ritmo ocorre em várias áreas do comportamento: na
motricidade, que diz respeito à coordenação de movimentos, relacionando-se
com a dificuldade de M.J. de acompanhar as coreografias do ballet, bem como
suas dificuldades de orientação espacial e de coordenação motora; na audição;
na visão; e nas aprendizagens escolares, como leitura, escrita e cálculo, áreas
em que M.J. tem notada dificuldade.

A praxia global compreende as tarefas motoras sequenciais globais, ou


seja, do corpo todo e está relacionada à coordenação dinâmica geral e à
generalização motora, que integra postura, locomoção, contato, recepção e
propulsão de objetos, isto é, a integração sistêmica dos movimentos do corpo
com os movimentos do próprio envolvimento. No que se refere à hipótese
diagnóstica de M.J., a praxia global relaciona-se à sua falta de coordenação
motora. Segundo Luria, a criança dispráxica possui inadequada velocidade dos
movimentos com dissincronismo e ausência de sinergias, demonstrando
desintegração rítmica óbvia, ou seja, a perda da melodia cinética, como no
caso da dificuldade de M.J. em suas aulas de ballet.

Por fim, a praxia fina compreende as tarefas motoras sequenciais finas,


notadamente as atividades preensivas e manipulativas, isto é, aquelas
realizadas com a mão. Dessa forma, a praxia fina procura estudar na criança a
sua capacidade construtiva manual e a sua destralidade bimanual como um
componente psicomotor relevante para todos os processos de aprendizagem.
A coordenação precisa das suas mãos é essencial para o desenvolvimento da
criança, não só socialmente como escolarmente.

Nesse sentido, percebe-se a relação da praxia fina com o fato de M.J.


não gostar de desenhar tampouco realizar os hobbies da avó, que tratam-se de
atividades manuais como pintura, aquarela, artesanato e cozinhar. Além disso,
também há uma dificuldade na escrita. Como consequência, nota-se uma
grande dificuldade de aprendizagem enfrentada pela menina.
AUTO AVALIAÇÃO

Com base nas aulas e no conhecimento compartilhado ao longo do


sétimo semestre, tivemos a oportunidade de absorver valiosas contribuições da
neuropsicologia para a prática psicológica, com a orientação da professora Iara
Chalela. Esses conhecimentos nos permitiram compreender melhor as
intersecções científicas que formam a base do atendimento, especialmente no
contexto de crianças e jovens.

Durante esse período, adquirimos uma vasta experiência na área, sendo


capazes de observar os aspectos práticos da profissão. Além disso,
participamos de aulas em laboratório e a partir disso, tivemos acesso a
instrumentos importantes que auxiliam no tratamento de diversas questões
psicomotoras que estão no campo de intervenção da Neuropsicomotricidade. A
Neuropsicomotricidade é uma abordagem terapêutica que integra aspectos
neurológicos, psicológicos e motores no desenvolvimento e na aprendizagem
humana, portanto, muito valiosa para observar e tratar as intempéries do
desenvolvimento e auxiliar clínica infantil.

Como resultado, os ensinamentos foram extremamente enriquecedores


e deixaram uma marca significativa em nossa prática como psicólogos. Nossa
dedicação a essa formação foi intensa, reconhecendo sua importância para o
futuro. Portanto, avaliamos nosso desempenho nesse semestre como
excelente, com uma nota 10, devido ao esforço aplicado.

CONCLUSÃO

O caso de M.J bem como os resultados das suas avaliações


neuropsicológicas hipotéticas, indicam que uma série de prejuízos do
desenvolvimento que afetam a aprendizagem da menina, e seu modo de se
relacionar com o mundo. A presença de sintomas como dispersão, irritabilidade
e dificuldades de aprendizagem e o histórico familiar reforçam as possibilidades
de diagnóstico aqui levantadas.
Nesse sentido, a partir dos resultados e considerando as informações
obtidas, as hipóteses diagnósticas levantadas para M.J são Dislexia,
Discalculia, Transtorno do Déficit de Atenção (TDA) do tipo misto e Dispraxia
espacial. A Dislexia afeta sua capacidade de ler e escrever corretamente, a
Discalculia dificulta seu aprendizado de números, o TDA causa desatenção e
dificuldade de concentração, e a Dispraxia afeta sua coordenação motora e
percepção espacial.

Em síntese, buscou-se um tratamento integrado e multidisciplinar,


envolvendo profissionais da psicologia, fonoaudiologia, neurologia,
otorrinolaringologia e pedagogia, para auxiliar M.J em todas as dimensões de
seu desenvolvimento. A compreensão dos fatores neuropsicomotores e a
aplicação correta e precisa de diagnósticos são fundamentais para a produção
de terapêuticas apropriadas, visando superar as dificuldades enfrentadas por
M.J e promover seu potencial de aprendizagem e potencializar seu bem-estar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

● GUERRA, Márcia Martins. Avaliação neuropsicológica: um estudo de


caso. 2015.
● FONSECA, Vitor da. Manual de Observação Psicomotora: Significação
Psiconeurológica dos Fatores Psicomotores. Editora Wak. Segunda
Edição. Rio de Janeiro. 2012.
● FONSECA, Vitor da. Neuropsicomotricidade: Ensaio sobre as relações
entre corpo, motricidade, cérebro e mente. Editora Wak. Rio de Janeiro.
2018.

You might also like