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CONFLITOS FAMILIARES E OS DESAFIOS À PROMOÇÃO DA SAÚDE NO

ESPAÇO URBANO (UBERABA-MG).


FRANCISCON, Lucas de Souza1;
ARAGÃO, Ailton de Souza2;
FRANCO, Elton Ferreira3;
TOLEDO, Mariana4;
FERRIANI, Maria das Graças Carvalho5.

Resumo

No Brasil, os Conselhos Tutelares são instituições protetoras dos direitos das crianças e
adolescentes, previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), desde 1990, para
promoverem a doutrina da proteção integral, que compreende os mesmos como sujeitos de
direitos em oposição à doutrina da situação irregular, fundada no Código de Menores, de
1927. Porém, uma das formas de violação a essa doutrina é aquela que se processo em âmbito
familiar: a violência intrafamiliar. Assim, a pesquisa se justifica pela necessidade de
ampliarmos tanto a compreensão dos determinantes sociais do fenômeno – violência – quanto
o foco de ação das equipes de saúde no espaço urbano, sob a perspectiva da integralidade,
preconizada pelo ECA e pela Lei Orgânica de Saúde (LOS). O estudo reforça, ainda, um dos
princípios do Sistema de saúde brasileiro: a integralidade, dada a multicausalidade da
violência, bem como a relevância de ações intersetoriais.
A intervenção do Brasil republicano sobre as questões sociais preconizavam a disciplina e a
moralização das famílias consideradas “desestruturadas”, ou seja, aquelas em dissonância ao
padrão burguês de família. Para os filhos dessas “famílias”, a caridade assistencial privada ou
a força policial do Estado eram caminhos para uma higiene social. Assim, com vistas ao
ordenamento social e a produção de uma mão de obra saudável, justificava-se a imposição
legal de hábitos saudáveis de vida amparada pela cientificidade da tutela do Estado sobre
esses grupos, em especial, “os menores”, pois assim poderiam, individualmente, melhorar as
suas condições sociais de saúde, tornando-se futuros trabalhadores saudáveis. Essa ideologia
ocultou uma estrutura socialmente violenta, agravadora das questões sociais que, como
sabemos, são inerentes ao processo histórico de produção e concentração de riquezas. E, ao
mesmo temo, agravou a vulnerabilidade social das famílias pobres nas cidades brasileiras,
resultando em situações de violências, vitimando, sobretudo crianças e adolescentes. Esse
cenário reforçava a premência do trabalho no acesso à Previdência, pois somente o trabalho
formal garantiria o acesso aos serviços de assistência médica, o que promoveria, segundo a
classe jurídica e política, a ordem e o progresso social. Realidade essa que também manteve
inquestionadas as condições geradoras de pobreza e violência.
A pesquisa agrupou os dados secundários obtidos na consulta aos relatórios consolidados de
atendimento do Conselho Tutelar de 2000 a 2008 aliados às entrevistas semi-estruturadas com
os cinco conselheiros tutelares. As informações foram categorizadas e os dados agrupados e
analisados sob a perspectiva hermenêutico-dialética, pois compreendemos que a produção das
informações refletem as contradições e antagonismos dos próprios sujeitos que as produzem
em relação aos cenários de violência. Assim, os discursos produzidos pelos dados e pelos
1
Medicina. Universidade de Uberaba – UNIUBE (Uberaba-MG). lsfranciscon@hotmail.com .
2
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – EERP-USP; Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM
(Uberaba-MG)
3
Medicina. Universidade de Uberaba – UNIUBE (Uberaba-MG).
4
Medicina. Universidade de Uberaba – UNIUBE (Uberaba-MG).
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Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – EERP-USP
sujeitos, oriundos de múltiplas determinações, reconstroem as contradições sociais,
promotoras da violência social.6
O Conselho Tutelar local, criado em 1992, classifica a violência em 34 variáveis,
fundamentados no ECA. Dentre as violações os “conflitos familiares” têm maior
representatividade, 17%, em média. Para os entrevistados, ela é reduzida durante as férias
escolares (julho; dezembro e janeiro). Por sua vez, espancamento, abandono e agressão
mantêm uma constância (2,5%; 2,8% e 1,8%, respectivamente). Os anos de 2000 e 2005
apresentaram os maiores índices de denúncias de “conflitos familiares” (21%), a menor foi
verificada no ano de 2007 (8,2%; n.1534). Segundo a literatura, essas formas de violência
podem ser classificadas como “maus tratos”.
Para os sujeitos entrevistados, a produção e a reprodução da violência intrafamiliar pode estar
associada à precariedade da infraestrutura urbana nos bairros: a ausência de creches ou vagas
nas escolas, ou ainda, de qualquer projeto ou programa governamental ou não; associa-se,
ainda, a situação de desemprego dos adultos e/ou de litígio entre os pais, produtora de
situações de abandono ou negligência, por exemplo. Tais interpretações são relevantes, mas
não se dirigem às contradições de uma estrutura política, econômica e social que produz
violências e marginaliza aqueles em situação de vulnerabilidade.
Nesse cenário, a promoção da doutrina da proteção integral se apresenta no encaminhamento
das demandas para as instituições da rede de proteção. Essa integração revela que, dada a
multicausalidade do fenômeno, o princípio da integralidade e da intersetorialidade são
norteadores da construção de políticas e programas que promovam a superação da
fragmentação das ações, bem como da cultura de naturalização da violência.

Palavras-chave: Violência doméstica; Saúde do adolescente; Saúde da criança; Políticas


públicas; Saúde da família; Defesa da criança e do adolescente
Grupo apresentado: Estudos urbanos

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A pesquisa fora aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa, sob o CAAE 0021.0.227.000-08.

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