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GUY DE MAUPASSANT
O CEGO
E OUTROS CONTOS
ATROZES
Tradução de Paulo Soriano et alii
2017
TRIUMVIRATUS
www.triumviratus.net
Sumário
SOBRE A COLETÂNEA
SOBRE A ÁGUA
O HORLA
PIERRÔ
O BÊBADO
UMA VENDETTA
O BANDIDO CORSO
O LOBO
NO MAR
A MORTA
O CEGO
CRÉDITOS
TÍTULOS E COLEÇÕES
SOBRE A COLETÂNEA
Henri René Albert Guy de Maupassant (Tourville-sur-
Arques, 5 de agosto de 1850 - Passy, 6 de julho de 1893)
cultivou variados gêneros literários, mas foi no conto que o
seu imenso talento reconheceu a forma inata de expressão.
Era ele essencialmente contista. Ao lado de escritores como
Allan Pöe, Tchekhov e O. Henry, elevou o gênero a
dimensões merecidamente extraordinárias.
Como contista, Maupassant explorou vários temas e
assuntos. E enveredou, com maestria, no ambiente
fantástico e terrível. Às vezes, o excêntrico, o insólito e o
sobrenatural imperam (Sobre a Água, O Horla, A Morta);
noutras, prevalece o horror que deriva das mais sombrias
imperfeições morais do gênero humano, como a avareza
(Pierrô, No Mar), a ira (O Lobo, O Bêbado), o rancor (O
Bandido Corso, Uma Vendetta) e a crueldade pura e
simples (O Cego), com suas atrozes consequências.
SOBRE A ÁGUA
No verão passado, aluguei uma casa de campo à
margem do Sena, a algumas léguas de Paris, na qual ia
dormir todas as noites. Depois de alguns dias, travei
relações com um vizinho, homem de 30 a 40 anos, o tipo
mais curioso que já conhecera. Era um velho remador,
sujeito fanático, que não saía da água. Deve ter nascido
numa canoa e com certeza há de morrer com os remos nas
mãos.
Numa noite em que passeávamos à beira d’água, pedi-
lhe que me contasse uma história de sua vida náutica.
Imediatamente, o meu amigo animou-se, transfigurou-se,
tornando-se eloquente, quase poético. Ele trazia no coração
uma grande, uma aguda e irresistível paixão pelo rio.
—Ah — disse-me ele —, quantas coisas eu sei a
respeito deste rio que corre junto a nós! Quem mora na
cidade não sabe o que é o rio. Ouça, porém, um pescador
que pronuncia esta palavra. Para ele, é uma coisa
misteriosa, profunda, o lugar das miragens e das
fantasmagorias, onde se veem, à noite, coisas que não
existem; onde se ouvem rumores ignotos, ou se treme sem
saber por quê, como quando se atravessa um cemitério. E,
de fato, é o mais terrível cemitério, onde não existem
túmulos.
Na sombra, quando não há lua, o rio não tem limites.
O marinheiro não experimenta no mar a mesma sensação
que o pescador no rio. O mar é grande, é leal: grita, uiva. O
rio é silencioso e pérfido. Não tem vagas. Corre sempre sem
rumor, e o eterno movimento da água que flui me apavora
mais que as ondas do oceano.
Certos sonhadores pretendem que o mar esconda em
seu seio grande cidades azuladas, onde os afogados
turbilhonam entre grandes peixes, em meio a estranhas
florestas e grutas de cristal. As profundezas do rio são
escuras. Entretanto, ele é belo quando esplende ao sol e
docemente murmura entre as margens cobertas de
sussurrantes caniços.
Um poeta[1], falando do oceano, disse:
II
O objetivo das Edições Triumviratus é levar ao leitor de língua portuguesa obras de clássicos da
literatura, sobretudo fantástica, escritas por grandes mestres da Literatura Universal. Muitos de nossos
livros eletrônicos contêm obras raras de grandes autores. As traduções são originais e exclusivas ou
de domínio público.
A Série Clássicos do Horror apresenta, a cada edição, uma antologia de contos de consagrados
autores do gênero, abrangendo determinado tema terrífico.
TÍTULOS E COLEÇÕES
SÉRIE MESTRES DA LITERATURA DE TERROR, HORROR E FANTASIA
OUTROS TÍTULOS
1. O CEMITÉRIO DE REGGOR E OUTROS CONTOS DE TERROR — Paulo Soriano.
2. CONTOS FANTÁSTICOS GALEGOS — Adela Figueroa, Ángeles Pacho, Ângelo
Brea, José Manuel Barbosa, José Manuel Nunes Vilar.
3.OS VAMPIROS ESTÃO SOLTOS —Paulo Valença.
[1]
Victor Hugo (1802 – 1885). Os versos citados por Maupassant sãos os
últimos do poema Oceano Nox, publicado em 1840.
[2]
Alfred de Musset (1810 — 1857), poeta, dramaturgo e novelista romântico
francês.
[3]
Personagens de Rebelais no romance Les horribles et épouvantables faits et
prouesses du très renommé Pantagruel Roi des Dipsodes, fils du Grand Géant
Gargantua ("Os horríveis e apavorantes feitos e proezas do mui renomado
Pantagruel, rei dos dipsodos, filho do grande gigante Gargântua"). A mãe de
Pentagruel, filho de Gargântua, faleceu ao dar à luz ao filho.
[4]
Ou seja, carbúnculo: afecção gangrenosa, que provoca lesões purulentas,
produzida pela inoculação de princípios pútridos de origem bacteriana.