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10 Carvalheira, Momentos histéricos e desdobramentos da ACB Momentos Histéricos e Desdobramentos da Agio Catélica Brasileira * Dom Marcelo Pinto Carvalheira, Bispo de Guarabira, PB Estamos celebrando, este ano, os 50 anos da fundacgao da Acdo Catélica Brasileira. Este movimento representou, no mundo e particularmente no Brasil, um acontecimento eclesial de grande significagdo. Sua influéncia foi decisiva na histéria da Igreja ¢ nos eventos eclesiais de nosso tempo. Alguns se perguntam sobre o que se fez da nossa gloriosa Aco Catélica. Permanecem vivos alguns vestigios. Mas parece a alguns que, tendo passado sua atualidade original, nada ficou ‘do impressionante impulso de vida que ela suscitou na Igreja. Sera mesmo assim? Tendo sido assistente eclesidstico da Agio Catélica Espe- cializada, na segunda metade da década de 50, e sendo chamado a comemorar, no Recife, o cingiientendrio da fundagéo da Acao Catélica no Brasil, eu me proponho no presente trabalho a indicar alguns marcos hist6ricos e alguns desdobramentos poste- riores, na Igreja, desse movimento providencial. . Apresentarei trés grandes etapas do itinerdrio histdrico da Acdo Catélica do Brasil, nestes 50 anos. Em cada etapa, além de aludir a dados histéricos, farei algumas achegas de ordem mais teolégica e pastoral. 1. A Ag&o Catélica Geral e 0 despertar do Laicato 1.1. A primeira etapa da Acao Catélica corresponde a fase da chamada Agdo Catdlica Geral. Ela se coloca sob 0 signo e a inspiracéo de Pio XI. Ele foi precisamente o Papa da Agao Catdlica, Pontifice marcado por fé€ corajosa, «Fides intrepida», Pio XI se sentiu desafiado pelas correntes ideolégicas, sécio-culturais e politicas do seu tempo, que ameacavam a influéncia da fé na vida das pessoas e da sociedade. O liberalismo se difundia, procurando separar sempre mais a religido da vida da sociedade. O materialismo se afirmava através da sua dupla vertente: 0 capitalismo com sua ganancia incontrolavel, sacrificando o trabalhador ao idolo do Jucro; e © comunismo com seu programa de ateismo, reduzindo * Texto da Reflexao, i i 12. ac no Bt; » no Recife, dia 11-12-1982, nos 50 anos da Revista Eclesidstica Brasileira, vol. 43, fasc. 169, Marco de 1983 11 © homem a um fator da producao material; enfim, os totalita- tismos de direita, 0 nazismo na Alemanha, ¢ o facismo na Italia, erigindo a raga e o Estado como valores supremos, Pio XI conclamou, entdo, os Ieigos do mundo inteiro para integrarem as fileiras da organizacio da Aco Catélica, isto é, para exercerem, de modo oficial e organizado, 0 apostolado no mundo contemporaneo. O ideal proclamado pelo Papa era o de levar tudo & influéncia de Cristo-Rei, «restaurar tudo em Cristo», a fim de que reinasse a «paz de Cristo no Reino de Cristo». 1.2. A implantacdo da Acao Catolica no Brasil vai tirar as linhas de sua orientagéo fundamental da primeira Enciclica de Pio XI, em 1922, «Ubi Arcano Deis. A esta Carta Pontificia, programa de um pontificado, ajuntam-se outros documentos, como discursos, alocugdes e mensagens epistolares do Papa a hierarcas de varios paises, sobre a Acdo Catélica.* A caracteristica fundamental da Ag&o Catélica de Pio XL consistiu no chamado oficial feito ao laicato. Os Icigos sao convocados a participar do apostolado hierarquico. Dai a célebre definigao que Pio XI dava sem se cansar, ajuntando que a recebera «nao sem inspiracdo divina»: a Acdo Catdlica, definia © Papa, é a «participacdo dos leigos no apostolado hierarquico». * Participar, ai, significava ter recebido um ¢mandato», um envio oficial, um reconhecimento explicito da Hicrarquia, conferindo ao apostolado do laicato organizado um carater oficial na Igreja. Na carta ao Cardeal Van Rocy, Pio XI lembrava que os leigos, ao participarem da missao propria da Igreja, se colocam «sob 1. Entre os intimeros discursos e alocugdes de Pio XI, merecem especial destaque, no que concerne as orientagdes sobre a Agio Catolica, 0 discurso por ocasiao da Assembiéia da junta da AC de Roma, a 9 de margo de 1924; 0 discurso aos dirigentes da AC de Roma, de 21 de abril de 1935; a’ alocugéo aos jornalistas catdlicos, de 26° de junho de 1929, Entre as cartas a varios bispos, ressaltamos a enviada ao Cardeal ‘Van Roey, arcebispo de Malinas, ‘em 1928, carta ay Cardeal Adolfo Bertram, arcebispo de Breslau, em novembro de 1928; a_ carta ao Episcopado ‘Argentino, a 4 de fevereiro de 1931; a carta ao Cardeal Segura y Saenz, a 6 de novembro de 1931; e, de modo especial, para nés, a carta ao’ Cardeal Sebastiéo Leme e ao Episcopado Brasileiro, a 27 de outubro de 1935, na festa de Cristo-Rei, 2. Cf. Pio XI, Discurso aos Dirigentes da Ac&o Catdlica de Roma, a 19 de abril de 1935. Padre Jodo Batista Portocarrero Costa, no sett livro Ado Catélica, 1937, Editora ABC Ltda, discorre longamente sobre © sentido dessa definicdo. Sao também da época aurea da Acao Catélica Geral os livros de Paul Dabin, S.)., L’action Catholique, e 0 de Mons. Civardi, Manuale di azione cattolica, tio manuseados também no Brasil. — Yves Congar, OP. no seu liveo falons pour une Théologie du Laicat, Editora Cerf, 3° ed., 1964, nos oferece uma reflexdo historica € teoligica sobre a definigao’da AC de Pio XI. 12 Carvalheira, Momentos histéricos e desdobramentos da ACB a condugao dos bispos, se poem a servico da Igreja e a aju- dam a cumprir integralmente seu ministério pastoral». 1.3. Duas figuras no Brasil estavam fadadas, de modo especial, a acompanhar o surgimento da Acdo Catdélica em nosso pais, e a imprimir-Ihe, na sua primeira fase, um impulso deci- sivo: o Cardeal Dom Sebastidéo Leme e 0 Padre Jodo Batista Portocarrero Costa.* Com uma distancia de idade entre ambos, de cerca de 20 anos, e com temperamentos muito diferentes, Dom Leme e Dom Costa tiveram alguns tragos comuns na sua vida e personalidade sacerdotal. Ambos eram dotados de grande sensibilidade apos- tolica, de uma fina inteligéncia e de uma admirdvel lucidez eclesiolégica. Um, sem diivida, era arrebatado e impetuoso, outro era sereno e comedido. Um e outro eram, no entanto, ardentes e contagiantes, Ninguém lhes era indiferente, Era preciso personalidades assim para iniciar e tocar para a frente o grande empreendimento da Ag&o Catélica em nosso pais. Como alunos do Colégio Pio Latino, na Italia, cada um a seu tempo, Dom Leme e Dom Costa assistiram de perto aos primeiros ensaios da Agdo Catélica no mundo.* Ambos foram tocados, sobretudo, pela mesma chama de Pio XI, com relagao A influéncia da fé na sociedade contemporanea e 4 convoca¢do oficial do laicato ao servi¢o apostélico na Igreja. Dom Leme criou o primeiro grupo de Acgdo Catdlica do Brasil, sob o titulo de «Juventude Feminina Catélicas, a 25 de novembro de 1932. Este seu gesto se concretizou apds seu constante empenho por realizar no Rio a Ac&o Catélica tao querida de Pio XI. De fato, em agosto daquele ano, a senhorita 3. Em geral a historiografia que ja se vai tornando ampla sobre a Igreja do Brasil apés a Republica e, de modo especial, sobre a Acdo Catdlica Brasileira, se refere abundantemente e com justica ao, Cardeal Leme, mas se omite inexplicavelmente com relacdo ao Padre Costa, do Clero de Olinda e Recife, que teve um papel impar na historia da nossa Acao Catdlica desde seu nascimento. Forrandase, em 1942, bispo de Mossor6 e, nos tiltimos anos de sua preciosa vida, arcebispo coadjutor da arquidiocese do Recife, Dom Jodo Batista Portocarrero Costa deu também um firme apoio e impulso decisivo a Ac&o Catélica Especializada, no Nordeste, nos iltimos anos da década de 50 até a sua morte a 6 de janeiro de 1959, com apenas 54 anos de idade, veunt Dom Costa, ‘no inicio do seu livro Acdo Cafélica, p. 9, evoca aS , ane vai tae dos grupos da Ago Catolica Italiana: «Assistindo Recife ca A Unido de Mocos Catélicos na Matriz de Sao José no Sonade a, chuvosa manha de 1928, evoquei, profundamente emo- cea a edificantes reunides dos dias de formagao da Juventude va de Livorno, que se realizavam, as vezes, na casa de {érias do Pontificio Coiégio Pio Lati } if i ino-Am mi nn : tuario da Madona de MoattoAmericano, & sombra do magnifico sam Revista Eclesidstica Brasileira, vol. 43, fasc. 169, Marco de 1983 13 belga Christine de Hemptine viera ao Brasil, com o apoio e as béncdos de Pio XI, e dirigira um famoso Curso, no Rio, sobre a Agao Catélica. Dom Leme via na Acao Catdlica que se implantava, uma maneira privilegiada de presenca atuante do leigo catélico na vida publica e social. Realizava-se, assim, uma parte importante daquele seu plano de acao, sonhado na sua célebre Carta Pastoral, de 1916, como arcebispo de Olinda, saudando seus diocesanos. A certa altura, dizia Dom Leme: «Obliterados, em nossa consciéncia, os deveres religiosos e sociais, chegamos ao absurdo de formarmos uma grande forca nacional, mas uma forca que nao atua, nao influi, uma forca inerte», Dom Leme sentia, portanto, a necessidade da acao organizada, do apostolado social. * 1.4. A outra grande personagem da histéria completa da Agio Catélica no Brasil foi Dom Jodo Batista Portocarrero Costa, o Pe. Costa, da arquidiocese do Recife. Desde 1928, recém-chegado de Roma, na Matriz de Sao José, no Recife, ele quis ver na tentativa da «Unido dos Mocos Catélicos» o primeiro esbogo de organizacao da Agao Catélica no Brasil. Mas, como ele mesmo afirma, foi a criagdéo da «Juventude Feminina Catélicas — a JFC — e sua erecio cand- nica, a 11 de dezembro de 1932, sob a presidéncia do veneravel arcebispo de Olinda e Recife, Dom Miguel de Lima Valverde, que propriamente veio a constituir a fundagéo da Agao Catdlica no Recife. * 5. A Acdo Catélica realizava o ideal de organizagio dos leigos, irradiando a. fé pelo apostolado social. Dom Leme, no_entanto, quis concretizar dois outros setores mais especificos de acio: no ’ plano cultural fundou com Jackson de Figueiredo o «Centro Dom Vital» revista A Ordem, desde 1922; e no plano mais especificamente polit criou a Liga Eleitoral Catélica — a famosa LEC — que desde 1934, com Alceu de Amoroso Lima & frente, interveio diretamente na po! sem Ser partido politico, pois como se dizia, a LEC estava fora e acima dos partidos, nao tinha’ candidatos, mas submetia candidatos € partidos a um questionario e, conforme o caso, recomendava seus nomes. Ha uma vasta bibliografia, sobretudo se considerarmos artigos e monogra- fias, sobre Dom Leme e sua atuagao, Devo mencionar aqui, de modo especial, © trabalho nao publicado do Pe. Oscar Beozzo, A Igreja entre a Revolugdo de 1930, 0 Estado Novo e¢ a Redemocratizasdo. Através do Pe. Beozzo, tive também oportunidade de consultar um alentado trabalho, de uma pesquisadora sobre a Agao Catélica Brasileira, Lamento nao citd-lo aqui, de modo mais exato e objetivo, nao 86 por nao ainda publicade, mas. também por nao télo em maos. Muitas das informagdes sobre a historia da Acao Catolica pude colher do estudo sério ¢amplo dessa pesquisadora. 6. Consultando antigas militantes da época, como Maria de Lourdes Morais, fomos informados com seguranga de que 0 grupo inicial das 21 jovens’ comecou a se reunir com o Seu assistente eclesistico, 0 Pe. Jodo Costa, no Colégio So José, das Irmas Dorotéias, a partir do dia 14 Carvalheira, Momentos histéricos e desdobramentos da ACB Sob a constante orientag¢io do Pe. Jodo Costa, com seu incansavel e sereno zelo, se foram, aos poucos, criando, no Recife, os outros ramos fundamentais da Agdo Catélica Geral: além da «Juventude Feminina Catélica» para as mocas, for- mou-se para os mocgos a «Juventude Catélica Brasileira» (os ramos de juventude comportavam segdes importantes para os jovens, de um e outro sexo, do setor operdrio, estudantil e uni- versitario) ; estruturaram-se também os ramos dos adultos, «Ho- mens da Acdo Catdlicax, e «Liga Feminina da Acdo Catdlicas.* Afinal, no Recife, arquidiocese vanguardeira da Ago Caté- lica no Nordeste, o Movimento se organizou oficialmente de acordo com os Estatutos da Acdo Catélica Brasileira, promul- gados pelo Episcopado Nacional, na festa de Pentecostes, a 9 de junho de 1935.* A Agdo Catélica tomava, em nosso pais, seu carater oficial, e os leigos eram chamados a receber 0 «mandamento» da hierarquia para o exercicio do apostolado, de modo ptiblico e organizado dentro da Igreja Reconhece 0 Pe. Costa, no seu livro, que foi a JFC, sobre- tudo, que, naqueles primeiros anos, deu no Recife excelentes resultados nos mais variados aspectos. Assim, por exemplo, no primeiro aniversario de fundacao, langou a revista «Para 0 Alto» que comegou a ser meio de expressio do movimento e laco de unido entre as primeiras associagées paroquiais. E, apds 5 anos, em 1937, a JFC contava, funcionando na cidade do Recife e paréquias do interior, cerca de 80 Circulos de Estudos, e as associacées paroquiais reuniam o total de mil e poucos sdcios.* memordvel 21 de junho de 1932, mas a erecéo candnica, como se disse, sé se realizou em dezembro do mesmo ano. Neste detalhe histérico, afirmam as testemunhas da época, ha um pequeno equivoco, quanto 4 preciséo_da data, no livro Agdo Catdlica, do Pe. Costa. 7. Grandes figuras do laicato catdlico de Pernambuco pertenceram as fileiras da Agao Catolica e foram seus fundadores, no Recife, tendo 0 Pe. Jodo Costa como assistente geral do movimento.’ Para citar alguns que ja morrerant, lembramos aqui os nomes de Maria Rocha, Maria do Carmo Carvallio de Mendonca, Andrade Bezerra, Rodolfo Aureliano, Luis Delgado. Por outro lado, o Pe. Costa, tendo sido diretor espiritual do Seminario de Olinda, moldou o espirito sacerdotal de muitos padres abertos ao movimento da Acao Catolica. 8. Abrindo o texto dos Estatutos da Acdéo Catélica Brasileira, havia expresso o . , ’ Pio XI ee C ASAT O.P., comentando a nova acentuagéo dada por melhor do inigao da Acéo Catélica, diz que «Pio XII poe em relevo, Tetoma, ‘cone enclavam os textos de Pio XI... que a Agio Catdlica pelos fiéls rte Wualifica, de modo novo, um “apostolado "ja_exercide Gla nao confag 4, base de sua {8 e do fervor de sua vida crista, mas novo, por ne 1 laa fi¢is um titulo de apostolado absolutamente Mas ‘no a de toe tePagdo a tima missio que seria a da hierarquia. le todo 0 corpo». Cf. oc. p. 513, Revista Eclesidstica Brasileira, vol. 43, fasc. 169, Marco de 1983 17 mos o centendrio do nascimento de ambos, numa conviccdo muito clara do que eles representaram para a caminhada do laicato na Igreja. Nao foi sem profunda repercusséo na Igreja a concepedo de Cardijn sobre a missao do trabalhador, partindo daquela viséo fundamental do apostolado do leigo dentro do seu meio social." Por outro lado, a nogdo cardijniana da «Revisio de Vida e da Acdo» com o famoso método do «Ver, Julgar e Agir> foi de certo modo revolucionaria para a pedagogia adotada pelos nossos movimentos missiondrios na Igreja.* Na sua Carta Enci- clica «Mater et Magistra», Joao XXIII, referindo-se a esse modo de proceder, como que consagrou o método cardijniano da Acdo Catélica Operaria: «E muito importante que os jovens n&o sé conhegam esse método, mas, quanto possivel, o empre- guem concretamente. Nao acontega que os principios assimilados permanegam apenas como idéias abstratas, sem conseqiiéncias praticas». “ Jacques Maritain, por sua vez, ndo foi apenas o filésoto que ficou no terreno puro das idéias abstratas. Ele desceu ao terreno concreto das realidades humanas, envolvendo-se em questdes de ordem social e politica. Assim ele influenciou pro- fundamente o mundo intelectual catdlico, e seu pensamento penetrou em nosso laicato e em nossa Agdo Catdlica, sobretudo através da JUC. Sua concepgéo sobre a agdo temporal do cristdo, dentro da esfera do profano com sua relativa autonomia, seu pensamento sobre «ideal histdrico concreto», enquanto 14. A JOC juntou, nestes tiltimos tempos, suas experiéncias, e pu- blicou uma declaragdo de principios. A certo momento se diz: «Nao podemos continuar com a ambigiiidade em que qualquer um utiliza fri separadas de Cardijn, para justificar tudo o que queira, Cardijn nao é uma ou outra frase, nem um conjunto de frases, Cardijn era um todo que nado se pode’ separar: um testemunho, um compromisso, uma mensagem, um ideal. Da mesma maneira, a JOC nao pode ser entendida a partir de um aspecto separado do outro, mas somente em sua globalidades. Cf. Declaragéo de Principios — JOC, Publicagio do Regional NE-II, 1982. 15. «No comego se chamava ‘Revisio de Vida Operaria’ e implic revisar nossa acio na vida operaria, e a nos mesmos dentro desta, acdo. Com o passar do tempo, foi-se deformando com o uso, € foi utilizada comumente com o nome'de Revisio de Vida. Seu conteddo, em muitos lugares dentro e fora da JOC, se converteu em uma revisdo de vida das pessoas. Por isso, 0 titulo de ‘Revisio da vida e da Agao Operaria’ quer ultrapassar_essa’ deformacao historica, e precisar 0 sentido do uso do _método da JOC». Cf. Documento da JOC sobre «Revisaio da vida e da fina Operariae aprovado pelo Conselho Mundial de Linz, Austria, abril de 1975 16. Cf, «Mater et Magistras n. 236 ¢ 237. — Este metodo indutivo. a partir da visao da realidade humana, foi, depois, usado no Concilio Vaticano Il. 18 Carvalheira, Momentos histéricos e desdobramentos da ACB esséncia realizavel dentro de um determinado clima_hist6rico, marcaram a linha de comportamento e a reflexdo tedrica dos militantes da Acdo Catdélica da época, especialmente no meio universitario do Brasil. * 2.2. Retomando, entretanto, o fio da histéria que vinha sendo antecipada com a alusdo 4s influéncias cardijniana e maritainista, podemos dizer que a Aco Catdlica Especializada, no Brasil, ja vinha se esbogando, no fim da primeira década da Ag&o Catdlica Geral. Ja em 1942, os Padres de Santa Cruz, vindos do Canada, se instalaram em Sdo Paulo, trazendo suas experiéncias em JEC e JOC. E-lhes confiado o trabalho com a Juventude Operaria, estudantil e universitaria. Nesse mesmo tempo, Frei Romeu Dale e Frei Rosario Jofily, ambos dominicanos, mantém contato com a experiéncia da Acao Catélica francesa e se ajuntam aos padres canadenses de S40 Paulo, na ajuda aos universitarios. No Rio, a JOC, como movimento especializado, teve suas origens ligadas a um grupo de jovens do meio independente, como Francisco Mangabeira, Odete Azevedo, Yolanda Bitten- court. Entretanto, essa experiéncia no Rio se firmou mesmo, a partir de 1946, com a presenga do Pe. José Tavora, que ja ‘mantinha ligagéo com os padres canadenses de Sao Paulo. Um momento decisivo dessa histéria foi a Segunda Semana da Agao Catélica Brasileira, em junho de 1946, preparada pelo Pe. Hélder Camara, a pedido do Cardeal Dom Jaime Camara. O entao Pe. Hélder manteve contato com os varios grupos de Acao Catdlica, e sentiu a necessidade de criar um secretariado 17. Na sua grande obra de filosofia da histéria, Humanismo Inte- gral, Jacques Maritain aborda os grandes temas da pratica social e po- litica dos cristéos, em vista da construgdo de uma «nova cristadade>. © Pe, Almery Bezerra, em 1959, em Belo Horizonte, assim se exprimia aos militantes da JUC, no Conselho Nacional: «& absolutamente neces- sario em vista de um engajamento cristéo eficaz ma ordem temporal, que se faga uma ampla e cuidadosa reflexdo sobre as realidades histo- ricas concretas (segundo tempo e lugar) a luz dos principios universais cristéos, em busca da fixacdo de certos principios médios, que expri- mem © que se pode chamar de ideal histdrico cristao». Cf. «Da neces- sidade de um Ideal Histéricos. — A partir sobretudo desse Conselho Nacional da JUC, em Belo Horizonte, muito se refletiu e debateu entre oe electuais e universitarios da Agéo Catdlica, a respeito de ¢ldeal bistoricos, © Regional Centro-Oeste da JUC chegou a publicar um texto Brasilien ae Diretrizes de um Ideal Histérico Cristéo para o Povo todon hates tan ae dizem os jucistas: «Proximamente seremos palmente neste Ms Julgar o passado € a projetar 0 novo futuro. Princi- vonogee yp ose, ndo poderemos faltar. Muito mais quando traze- mos toind faltar. Muito, ando, prdprio idniemyeiOS Que, sabemos, no sio episédicos. Principios do histérico eterion” que assumimos como um compromisso dualmente Revista Eclesidstica Brasileira, vol. 43, fasc. 169, Margo de 1983 19 que pudesse, por um lado, contar com a confianga dos bispos e. por outro, pudesse coordenar os varios ramos da Agao Catélica, afirmando-se em nivel nacional, * Na Segunda Semana da Agao Catdlica Brasileira foram promulgados os novos Estatutos. Havia dificuldades com as Congregagées Marianas e outras obras pertencentes a Confe- deracéo das Associagées Catdlicas. Os novos Estatutos deviam, entao, se apresentar de tal sorte que nao agravassem os atritos, nem suscitassem novos problemas entre a Acdo Catdélica e essas Associagées. Por outro lado, a Agdo Catélica Brasileira continuou ainda a vigorar, oficialmente, com os quatro ramos fundamentais. Entretanto se permitiam experiéncias auténomas para grupos especializados, por meios sociais. Podemos imaginar, nessa altura dos acontecimentos, a inquietude existente, sobretudo nos meios operdrio, universitario e estudantil, Houve, pois, todo um processo historico, preparando a Agao Catélica Especializada.” 2.3. Inspirando-se nas experiéncias francdfonas, em 1950. a Acao Catdélica Brasileira se organiza por meios sociais. Além das tentativas ja avancadas nos meios operario, universitario e estudantil, ja se encaminhavam as experiéncias no mundo da juventude agraria e do meio independente.™ Entretanto, a organizagao da Agdo Catélica Especializada sO é aprovada oficialmente na reuniao do Episcopado Brasileiro, em setembro de 1954, ficando assim a Acao Catdlica Brasileira dependendo do Departamento de Leigos da Conferéncia Nacional dos Bispos do Brasil.* 18. Esse Secretariado Nacional da Acéo Catélica vein a se conere- tizar em 1947. Alugou-se, entéo, um local, no centro do Rio de Janeir eram 8 pecas no 6° andar de um edificio, a Rua México, Ai, se elabo- raram muitos planos, e se viveram grandes momentos para a Igreja do Brasil. Cf. Dom Helder Camara, Les Conversions d'un Evéque, Entre- tien avec Joseph de Broucker, Ed. Seuil, Paris 1977, p. 108. 19. No Congresso Eucaristico Nacional de Porto Alegre, em outubro de 1947, & nomeado como vice-assistente nacional da Aco Catélica Brasileira o Pe. Hélder Camara, sendo assistente 0 Cardeal Dom Jaime Camara. Pe. Hélder estava se deparando com a crise da Ago Caidliva Entéo ele apoiou habilmente as novas experiéncias do Brasil, reconhe- cendo a. validace daquelas que se realizavam na Franca e que influen- ciavam fortemente os nossos grupos. . 20. Assim, além da JOC, JUC e JEC, se firmavam, de modo especial no Nordeste, as experiéncias de JAC ‘e de JIC. E,_nesse momento, tiveram especial atuagao Assistentes Eclesidsticos como’ Pes. Italo Coelho e Raimundo Caramuru. ; 21. & interessante observar que a Acao Catolica Brasileira esta na origem do surgimento da prépria Conferéncia Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB. Isso porque o secretariado Nacional da Acao Catolica, de que ja se falou em nota anterior, teve a iniciativa de realizar encon- 20 Carvalheira, Momentos histéricos e desdobramentos da ACB £ dificil com formulas e em rerlzido espago dizer o que foi a Ac&o Catélica Especializada no Recife e no Brasil, na década de 50 e no comego dos anos 60 até o Concilio Vaticano Il, Nesta hora, 0 testemunho de vida de Assistentes Eclesidsticos e militantes daquela época espalhados pelo Brasil valem mais que nossas frias referéncias histéricas. Sem diivida, seu mais elogiiente testemunho € sua presengca hoje inconfundivel nos mais variados setores da vida brasileira. Esses antigos militantes da saudosa Acao Catdlica Especializada sao pessoas evangeli- camente marcadas pelo senso do real e do humano considerados A luz da fé, eu diria, sio pessoas marcadas pelo mistério do Reino de Deus nas antecipagdes (sinais) da Histéria. Enfim, quem os aborda, sente neles o mistério da Igreja, percebe, a distancia, que «foram mordidos pelo mal da Agdo Catdlica». No seu livro Les Conversions d'un Evéque, Dom Heélder, que foi um dos assistentes mais qualificados da Acao Catélica Especializada, nos diz que «se a Agdo Catélica Geral ja des- pertava a atengdo pelos problemas humanos, a Ac¢ao Catdlica Especializada, mergulhando-nos no cora¢éo do mundo operario, do mundo agrario, do mundo estudantil, do mundo independente e do mundo universitario, e aplicando a trilogia de Cardij Ver, julgar e Agir — ia bem mais longe. Estavamos ja, antes que a palavra tivesse sido inventada, no pleno trabalho de conscientizacao».* 2.4. Apés duas décadas de marcante atuagao, a Acdo Caté- lica Especializada também entrou em sua crise. Crise, aqui, entendemos, € claro, como um momento do processo vital, como algo fecundo da evolugéo da realidade, que marcha para novas formas de realizagao. Essa crise da Ag&o Catélica no Brasil teve suas expressdes mais tipicas nos avangos e tensdes ocorridos na JUC, sobretudo no que diz respeito 4 missao especifica do leigo no mundo e na historia. No seu depoimento tao licido e cristo, a «Juventi ista Hoje», Herbert José de Souza confessa que : iene «foi no encontro eS ianeoot ae ene fo. Ba jazia a experién didlo tit Sa to let ta eae at tendo como subsecretaig de "Bqinsne® /NAVerdade, em 1932, Bio: Xl a "nossa, CNB Era ia. ot esttda, © Mons. “Giovanni Monti, aorovot fielder Chmar ar ec lay® future Concilio Vaticano Il em marcha, Cf. 22. Cf, Dom Helder Camara, oc. P. 108, como também de técnicos igos, junto ao Pe. Helder, Revista Eclesiastica Brasileira, vol. 43, fasc. 169, Marco de 1983 21 de dez anos de JUC, realizado em 1960, na Guanabara, que ficou marcada para os universitarios uma nova posicio diante do social, como exigéncia fundamental da prépria fidelidade ao Evangelho. Nao inovamos nada. Repetimos, com todos os Papas, a condenacao do capitalismo, a necessidade de uma estrutura mais justa e humana... Nossas teses expostas com a maior honestidade foram objeto de uma série de intrigas e de apelidos de infiltragdo marxista... Do que era para nés a descoberta de nossa vocacgdo no plano social... decorreu também a reacao contra a JUC, a imensa onda de intrigas, levadas A Hierarquia pelos mais variados meios».* Dom Hélder, referindo-se aos momentos dificeis da crise da Agdo Catdlica e, de modo especial, as tensdes e rupturas da JUC, diz com sua franqueza: «A juventude nao se embaraca em prudéncias, matizes e precaugdes, E normal que a juventude seja radical... Quando os pos, os padres, os assistentes retinem os jovens e lhes apresentam as grandes Enciclicas... eles pensam que essas conclusdes so para ser traduzidas na vida... Entao, a um certo momento, uma parte da hierarquia ficou preocupada pelo que Ihe parecia uma marxizagéo da juventude estudantil e universitdria».* O certo é que as graves tensées entre militantes da Acao Catélica, sobretudo universitaria, e membros da Hierarquia da Igreja, exprimiram o auge da crise e levaram muitos jovens a partir para outras experiéncias. «Se a juventude universitaria catélica se radicalizou, se ela criou a ‘Agéo Popular’ (AP), foi porque ela acreditava que as enciclicas sociais nao eram para ficar no papel... Esta radicalizagdéo da juventude univer- sitaria, da juventude estudantil, da juventude independente também, e da juventude operdria, esta radicalizagao tinha pri- meiramente por responsdveis diretos, a nds bispos que nao soubemos compreenders. * 23. O texto de Herbert José de Souza, (Constituigao pastoral sobre a Igreja na sua relacao com o mundo), com a «Apostolicam Actuositatem» (Decreto sobre 0 apostolado dos leigos), enfim, com 0 conjunto dos seus textos, como também as Conferéncias Episcopais Latino-Americanas de Medellin e Puebla com seus Documentos, consagraram, de modo solene e oficial, a vivéncia eclesiologica e missiondria da Agéo Catélica. A época do Concilio e do apés-Concilio na Igreja de nossos dias parece a grande desembocadura, provocada pelo Espirito do Senhor, de movimentos desencadeados na_ historia viva do povo de Deus em etapas precedentes. No tempo do Concilio Vaticano II, a Ag&o Catélica, no Brasil, ja contava trés, e, no mundo, ja tinha atravessado quatro décadas gloriosas. Para o laicato, ele foi o grande momento de definigdo do seu estatuto proprio e de reconhecimento oficial de sua pratica eclesial, abrindo, ao mesmo tempo, novas pers- pectivas. «O Concilio, diz um comentario teolégico, rasgou para © laicato catélico uma perspectiva amplissima de acao crista, € fundamentou uma atitude, em muitos pontos nova, como nova € a situagdo em que a Igreja deve exercer 0 seu apostolado». * O Concilio Vaticano I] e 0 pés-Concilio nao aconteceram como momentos estaticos, fixadores de um passado, por mais glorioso que ele tenha sido. Estes novos tempos vieram colher os frutos e levar adiante as conseqiiéncias fecundas dos movi- mentos eclesiolégicos anteriores. Mas o que 6, em nossos dias, que na Igreja, sem quebra do encadeamento dinamico, esta sendo a continuagdo surpreen- dente da Agao Catélica na caminhada da Histéria? 27. Cf. Constantino Koser, O.F.M., Cooperacio dos Leigos com a Hierarquia no Apostolado, da Obra Coietiva A igreja do Vaticano HM, Editora Vozes, 1965, p. 1022. 24 Carvalheira, Momentos histéricos e desdobramentos da ACB Sem pretender ser completo, eu citarei trés fendmenos eclesiolégicos, suscitados pelo Espirito Santo, como conseqiién- cia, hoje, do movimento da Acao Catélica. 3.2. O primeiro fendmeno da Igreja consiste nos movimentos de evangelizagéo — movimentos missiondrios de leigos — que surgem nos varios meios sociais, porém especialmente entre os pobres, procurando ser o fermento do Evangelho na renovacao da face da terra, A Acao Catélica, em varios de seus setores, submergiu em meio as novas formas de apostolado, diriamos que ela perdeu seu corpo como organizagdo, mas nao perdeu sua alma, foram- Ihe os anéis com as iniciais de seus nomes histéricos declinando todas as vogais, mas restaram-lhe as m4os laboriosas nos mili tantes leigos para o perene trabalho da missio do Evangelho. * E assim a obra do Espirito do Senhor nesta irrequieta Igreja peregrina O segundo fenémeno que apenas queremos citar é 0 dos leigos — em geral militantes da ex-Acdo Catélica organizada — leigos presentes nos mais variados setores da tessitura do mundo de hoje. Essa presenca, por um lado, é marcada pela compe- téncia profissional ou técnica e, por outro lado, é assumida como missdo, em vista de uma nova ordem humana, social e politica.” Na tarefa propria do leigo, como fermento, eles estao 28. Nao queremos afirmar que tenham desaparecido todas as expres- sides ou formas de Acéo Catdlica, porém nao so mais os tnicos e privilegiados movimentos missiondrios. Sabemos, quanto & continuacao de setores da Aco Catélica, da vitalidade da mesma entre os trabalhadores, como no caso da ACO, JOC e ACR. Em entrevista recente, assim falava Bartolo Perez, um antigo militante da JOC: «Somente aqui (no Brasil) € que a JOC sofreu ‘solugéo de continuidade. No ano passado na Bélgica, fizemos reunido dos antigos dirigentes internacionais da JOC. A intencéo é montar a historia da JOC internacional e de Cardijn, Pude sentir que 0 movimento continua do mesmo modo. Inclusive para sur: presa minha, a JOC de alguns paises cresceu muito desde a época em que eu estava na direcdo: a Africa de expressdo inglesa e a Italia, por exemplo. Mas o espirito de Cardijn permanece vivo em todas elas até hojes. Cf. O Séo Paulo, de 10 a 16 de dezembro de 1982: «JOC no Brasil, uma caminhada que recomegas, p. 5. 29. No seu depoimento, jé d s atra i it Joss te Senet age, j4 de anos atrés, assim se exprime Herbert Somos, incontestavelmente, uma presenca no movimento estudanti,. © em varios outros setores... Tentamos ser 0 organizagho, Some ne ainda capazes do didlogo e, ainda mais, da Nader a Sul a nye também uma presenga de Ambito nacional. De pectiva, sintonioadse i, &Nontramos companheiros com a mesma pers~ Be tantenuan oe na mesma disposigdo, marcados pelo mesmo tipo metropolitana dithah eg oy SOmes_umta escola, um centro, uma entidade Um Brupo nacionntged moda de como ser e se fazer cristianismo. Somos mae Te almente ligado». Cf. o texto «juventude cristé hoje», Revista Eclesidstica Brasileira, vol. 43, fasc. 169, Marco de 1983 25 a servigo da transformagao da sociedade, do novo mundo da criagdo e da graca. 3.3. Resta-nos o terceiro fendmeno hodierno, vergéntea florida da Acao Catélica, em nossos dias: trata-se das Comu- nidades Eclesiais de Base (as CEBs), de que tanto se fala hoje e que, segundo Paulo VI na «Evangelii Nuntiandis, sio um «lugar de evangelizagdo para beneficio das comunidades mais amplas, so uma esperanca para a Igreja universal». ” Nao fora a Acdo Catélica, e essas comunidades nao teriam surgido." A Ac&o Catélica foi a grande responsavel pela reno- vacao eclesiolégica — na qual leigos e padres aprendemos juntos — e essa renovacdo veio desembocar no Concilio Vaticano II." No apés-Concilio, a renovacdo desaguou no imenso oceano da Igreja, onde as Comunidades Eclesiais de Base constituem, talvez, a parte mais bonita e abundante desse mar de Deus. Por isso o Documento da Conferéncia Episcopal de Puebla registra o fato, dizendo de modo peremptério: «Destacamos com alegria, como fato eclesial e como ‘esperanca da Igreja’, a multiplicagiio das pequenas comunidades. Esta expressio eclesial nota-se mais na periferia das grandes cidades e no campo. Constituem elas ambiente propicio para o surgimento de novos servicos leigos. Nelas, se tem difundido muito a catequese familiar e a educagdo dos adultos na fé».* Certamente a Agao Catdlica nao se assusta diante desse fendmeno, e o satida com alegria, como ao rebento que se nutre da sua mesma seiva eclesiolégica. No seu recente Documento sobre as CEBs, a nossa CNBB lembra que «as CEBs nao surgiram como produto de geragdo espontanea, nem como fruto de mera decisdo pastoral. Elas sao o resultado da convergéncia de descobertas e conversdes pastorais que implicam toda a Igreja... As CEBs nasceram nutridas por estas idéias-chave, entre as quais se podem salientar: a Igreja como povo de Deus, no qual a cada um é dada a manifestagdo do Espirito para a 30. Ch. Paulo VI, Evangelii Nuntiandi, n, 58. 31, No depoimento’ do seu livro ja citado, Dom Hélder diz que choje nenhum leigo se preocupa somente em participar do apostolado da hierarquia. Os leigos sabem que sio a Igreja... As comunidades de base nos fazem descobrir possibilidades. Elas nos dao ligdess. Cf. Dom Hélder Camara, oc, p. 113. 32 Diz ainda Dom Héler: «Nos temos uma enorme gratidio pela Acéo Catélica. Ela foi nosso Seminario, nosso Noviciado, Ela formou alguns dos nossos melhores militantes. Ela preparou o Concilio... 0 Coneilio reconheveu © papel insubstituivel e especifico dos leigos. Ele nao se define mais pela negativa. Tem uma definigéio préprias. Cf. Dom Hélder Camara, oc, p. 112 33. Cf, Documenta’ de Pucbla, n. 629. 26 Carvalheira, Momentos histéricos e desdobramentos da ACB utilidade comum; a Igreja como Sacramento ou sinal e instru- mento da unido profunda com Deus e a unidade de todo o género humano; 0 papel insubstituivel do leigo e sua missao especifica na Igreja e no mundo». * 3.4. Antes de terminar, farei uma ligeira achega eclesiolégica. Nao resta diivida, insistimos, o Concilio Vaticano II e para nés, latino-americanos, as Conferéncias Episcopais de Medellin e Puebla estao levando as tltimas conseqiiéncias teolégicas ¢ pastorais, 0 grande despertar de Igreja, provocado pela Acdo Catélica. A grande intuigao inicial de Pio XI e da Acdo Catélica, nas décadas de 20 e de 30, e reforcada depois pela Acdo Catélica Especializada, chegou, na sua légica, a conseqiiéncia derradeira: © leigo nio é um clérigo mutilado, definindo-se pela auséncia de alguns atributos do padre e agindo apenas sob a tutela clerical. Nao. Mas ele tem o seu estatuto proprio. Sua condico fundamental 0 faz digno de constituir 9 povo de Deus, donde brotam os ministérios ¢ a cujo servico esta a hicrarquia cclesias- tica, Dentro das realidades terrestres e no coracio do mundo, trabalhando por uma nova ordem humana, o leigo — mesmo o que ainda nao conseguiu explicitar integralmente a sua fé catélica — esta construindo na histéria o Reino de Deus. A Igreja é o Sacramento deste Reino, Ela o sinaliza aqui e acolé, é sinal e instrumento da a¢gdo de Cristo e do Seu Espirito no meio do mundo. Ai, o leigo é 0 agente adequado, é o executor, por exceléncia, do designio de Deus na realidade da Hist6ria Humana, * 34. Cf, Documentos da CNBB, Comunidades Ectesiais de Base na Igreja do Brasil, novembro de 1982, n. 7 ¢ 12. Mais adiante, este mesmo documento afirma: «Essa maior participagéo dos leigos e 0 surgimento de novos ministérios sao dois frutos da maior significagéo na vida da Igreja. Isso nao quer dizer que as CEBs sejam um novo movimento de leigos. A CEB nao € movimento, € nova forma de ser Igrejas. Cf. idem, #5, Ch. Yves Congar, OP, em oc, na p. 642, Ele lembra que «os, I igos tém parte na dignidade do corpo mistico, na sua organizacéo oa eieia’ da. seumprimento, pelo, corpo mistico, do seu programa, € lisSa0. t é s los de sia vidas. Cl, idem, p. 631s, Pn AmPEM & Plenamente, nos Constantino Koser, O.F.M, 0c, p. 1023, diz que «para contornar da no resolvido problema da delinigio em termos nega- ee brasede 4 enumeracdo de caracteristicas positivas do Ieigo: si S, Isto é, pessoas incorporadas a Cristo pelo batismo, Sides Fave de Deus, pessoas que dum modo real e proprio par! participam tambem nner cot@l, profético e régio de Cristo e que assim pam também da misao de todo 0 povo cristéo na Igreja e 0 Revista Eclesiéstica Brasileira, vol. 43, fasc. 169, Marco de 1983 27 3.5. Outra contribuigdo decisiva, trazida pela Aco Catélica, foi de ordem metodolégica: a preocupacdo apostdlica com o que se passa no mundo, levou a Agdo Catdélica sempre mais a converter-se A realidade, para ai descobrir os apelos da Palavra de Deus. Na sua forma especializada, a Agdo Catélica chegou a adotar 0 método cardijniano da revisdo de vida, do Ver, Julgar e Agir. Método que veio a ser preconizado pelo Papa Joao XXIII e, na pratica, foi adotado, quanto a sua indole intuitiva, nos trabalhos e Documentos do Concilio Vaticano II e nos de Medellin e Puebla na América Latina. Ora, este método € explosive, nao deixa a gente no puro idealismo, pensando sem os pés no chao, mas nos leva a fazer a articulagdo dialética entre a f€ e a vida: devolve-nos ao mistério da encarnagao e 4 atualidade inquietante da Palavra de Deus viva e eficaz, penetrante como a espada de dois gumes. £ por tudo isso que somos levados a dizer que a Agao Catélica, no seu processo e nas suas expressdes mais avancadas, contribuiu potentemente para que a Igreja da América Latina identificasse a multidao dos pobres do nosso Continente e detectasse as causas estruturais da nossa miséria e do nosso subdesenvolvimento. Afinal de contas, entre as forcas, na histéria da Igreja, responsaveis pela consciente

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