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Médulo de Ambientacao O Desafio dos Bandeirantes Os Quilombos da Lua Luiz Eduardo Ricon de Freitas GSA Créditos Criagao ¢ Desenvolvimento: Luiz Eduardo Ricon de Freitas Ediga0 e Colaboragao: Flavio Mauricio Andrade Revisio de texto: Flavio Mauricio Andrade Luiz Eduardo Ricon de Freitas Hustragao da capa: Eliane (Lilith) Bettocehi Tlustragées internas: Mario Proenga (Capitulos 1, 2, 3, 4.5) Eliane Bettocchi (Capitulos 4 ¢ 6) Diagramagao: Flavio Mauricio Andrade Grupo de teste: Carlos Eduardo Klimick Pereira Eliane Bettocchi Flavio Mauricio Andrade Julio Augusto Cezar Jénior Maya Reyes Agradecimentos: Carlos Eduardo Klimick Pereira Maya Reyes Ricardo Queiroz Victor Manuel Andrade Ygor Morais Esteves da Silva OS QUILOMBOS DA LUA - Médulo de Ambientagao de O Desafio dos Bandeirantes Copyright © by GSA Entretenimento Editorial, 1995 O RPG 0 Desafio dos Bandeirantes ¢ uma criagdo de Carlos Eduardo Klimick Pereira, Flavio Mauricio Andrade ¢ Luiz Eduardo Ricon de Freitas. GSA - Entretenimento E CGC 72.487.085/0001-95 Duvidas, reclamagées, sugestdes e informagSes, escreva para: GSA - Servigo de Atendimento a0 Consumidor Caixa Postal 34025 Rio de Janeiro - RI CEP 22492-970 Todos os direitos reservados, Nenhuma parte desta publicagao pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer processo de reprodugao sem a autorizagao prévia ou escrita dos autores e da editora. Essa é uma obra de ficgdo livremente inspirada no folclore, na Histéria e na cultura do Brasil Todos os personagens aqui retratados so ficticios e qualquer semelhanga com pessoas ou personagens de qualquer época tera sido mera coincidéncia. Esta obra no reflete as crengas pessoais dos autores, que condenam veementemente 0 racismo, a escravidao ¢ a intolerancia religiosa Apresentacao Os Quilombos da Lua é 0 primeiro de uma série de médulos de ambientagao que estamos preparando para O Desafio dos Bandeirantes. Pouco a pouco, esta série ira revelar alguns dos segredos do continente magico conhecido como Terra de Santa Cruz. Cada livro vai explorar uma regio, uma localidade ou um aspecto do mundo onde os seus personagens vivem incriveis aventuras. E, com eles, 0 mestre do jogo tera informagdes novas, mapas ¢ diagramas, regras inéditas, personagens prontos ¢ muitas idéias para criar novas € emocionantes histérias Neste primeiro livro, voeé ira conhecer um pouco mais sobre os quilombos, os povoados fundados por escravos fugidos. Vocé vai visitar 0 maior quilombo da Terra de Santa Cruz, 0 Quilombo da Lua. Na verdade, um conjunto de oito quilombos préximos uns dos outros, que formam um territério livre, onde 05 escravos fugidos reproduziram as organizacdes tribais do Continente Negro, adaptando-as a realidade da Terra de Santa Cruz. Tudo ilustrado com mapa, hist6rico e personagens principais, para o mestre do jogo poder ambientar melhor suas historias nesta regiao. Vocé conhecerd também os capitaes-do-mato, os cacadores de escravos fugidos. E vera como eriar um personagem capitdo-do-mato dentro das regras de O Desafio dos Bandeirantes, para usar como personagem nao jogador (PNJ) numa campanha onde os jogadores so escravos perseguidos, tentando desesperadamente chegar a0 Quilombo da Lua, ou para que 0s préprios jogadores sejam os capitaes-do- mato, em busca dos negros fugidos. Para finalizar, atendendo a muitos pedidos, apresentamos as regras especiais para a Capoeira, com explicagdes detalhadas ¢ os principais golpes ¢ movimentos, explicados passo a passo, para que vocé possa desenvolver melhor seu personagem negro, mesmo sem conhecer a fundo essa bela ¢ eficiente técnica de luta desarmada. Temos certeza de que, lendo esse e 05 préximos livros da série, vocé tera um material bem amplo e abrangente sobre a ambientagiio de O Desafio dos Bandeirantes, 0 que vai enriquecer cada vez mais as historias que vocé e seus amigos irao viver nesse mundo fantastico. Entdo, boa viagem e boas aventuras Nota: este livro contém partes que devem ser lidas somente pelos mestres de jogo e partes que interessam também aos jogadores. Para facilitar as coisas, as partes para uso exclusivo do mestre de jogo estarao identificadas no indice Como esses trechos contém as explicagdes sobre os personagens principais e sobre o que esti acontecendo em cada quilombo e fora deles, informagdes que o mestre do jogo ira utilizar para criar suas aventuras, os jogadores podem ficar tentados a dar uma espiadinha. Mas, acredite, isso ira estragar toda a emogao das histérias que o seu mestre ird criar a partir das idéias expostas aqui Portanto, se voes nao é o mestre do seu grupo, faga uma foreinha. Leia a introducao, a carta do jesuita, 0 primeiro capitulo e depois pule direto para a parte do Capitao-do-mato e da Capoeira, que so partes dedicadas aos jogadores. Colabore com seu mestre. Quem sai ganhando é vocé, INDICE Introdugao Cartas 4 Metrépole 1 Capitulo 1 Os quilombos 3 Capitulo 2 Os oito quilombos da Lua (s6 para mestre de jogo) 9 Capitulo 3 Regides proximas (sé para mestre de jogo) 19 Capitulo 4 Capitio-do-mato 24 Capitulo 5 Regras de Capoeira 27 Capitulo 6 Personagens prontos 34 Introducao ARTAS A METROPOLE Extraido das cartas do padre Bernardo Paes Freire a D. Gaspar de Braganga y Andrade, Arcebispo de El Rei. jogando as gracas ¢ as bengéios de Deus para \V Excia. e para todos 0s nossos irmaos, |prossigo em meus relatos sobre as coisas e lugares da Terra de Santa Cruz, misséio que | assumi com inconfesso femor mas com determinacao e alegria, pots que siroo a tao sagrada causa. Que de meus aponiamentos, espero, posse nascer & lue que gutaré a Companhia de Fesus na saloacao desta terra indspita e de seus inocentes habitantes. © tudo 0 que bumildemente rogo aos Céus. C.)Detenbo-me agora no relato acerca dos tao falados quilombos, que de muito se tem ounido contar fanio cé quanto na Corte @ polas bandas do Velbo Mundo. O Senbor Deus, mais ume vee, em Sua providéncta, me foe insirumento de Seu saber infindo, leoando-me, em minbas andancas, as cercantas de uma tal Serre da Qua, paragem mui bela e agreste, fincada no ceme de tmensa cadeia de montanbas. Pots que 14 estioe com um grupo mui cortez de aventurotros, aos quais acompanbava em suas ofagens pelas entranbas selvagens deste continente Viajéoamos a pé 6 havia longos dias quando, uma certa manbé, dia de S40 Bartolomeu, apés minbas oragdes malinats, pus-me a caminbar ao redor de nosso acampamonto enquanto todos ainda dormiam. A mata exalava o doce perfume do oroatho e das flores e fritas que coloriam as copas das éroores, ¢ os animatzinbos comriam dagui e dal. om sou constante farfalbar. De repente, de um galbo, sallou um péssaro como nunca o voi antes, mutfas o¢zes maior que um ford. dle plumagem de azutoi0o o de canto molodioso. Tomads pola curiosidade e, agora sel, gulado pala méo de Deus, pus-me a seguir o passaro pela florasta e, como era de se esperar. om pouco tempo encontret-me perdido. Acompanbar um grupo téo capaz de aveniureiros seroiu-me, entre outras coisas, para que aprendesse um ou dois truques de sobrentvéncia nas matas. Dai que, em pouco tempo, achei-me a beira de um rio claro como 0 dia, Milas, para minba surpresa, nao estava 56. Da outa margom, um grupo de negros vestidos om poles ¢ satofes de tecido trancado me fitaoam com um misto de interesse ¢ ameaca. Aprumet-me e, procurando ser cortez, esfendi-thes meus cumprimentos, ao que ouni a ordem para que os acompanbasse. De nada ediantaria resistir, eu sabia. Abés longa caminhada, durante a qual cruzamos com odrios grupos de guerretros negros como os que me escoltanam, me of diante de uma muralba de madeira, uma palicada com a altura de vdrios homens. Para dentro da palicada, diante de meus olbos, surgi ume aldeta chefa de vida e coathada de babitantes, fodos eles negros. de sorrisos abertos e trajes de cores alegres. Fui levado, entéo, & presenca de um negro de meia~ idade e de fisico imponente que parecia ser o lider, pois emanava uma clara aura de majestade. Seu nome era Ananié, ole me disse, 0 Rei dos Quilombas de Qua © como eu era um bomem santo, como ele me chamou, fui poupado ¢ poderia permanecer por algum tempo no quilombo. Até que eles decidissem sobre o meu destino, eu imaginava. Passei aquela noite numa tapera como as construtdas pelos indios, 36 que mats resisiente. Far alimentado e fralado com muita cortesia. E pude ouvir, durante toda a noite, 0 batugue ¢ 0s cAnticos incessantes, no que parecia sor um festojo de algum tivo Tenbo de confassar quo. de imediato, fui tomado pele curfosidade de conbecer tudo a respetto dessa aldeia de gente tao bela ¢ alegre, obviamente escravas fugidos dos engenbos ¢ oilas préximos. No dia seguinte, quando despertet e me dirigi ao terreira central. o Rei Ananté estava partindo ¢ eu, fomando coragem, pedi para acompanbé-lo. Como ele pareceu relutar, expliquet-tho que nada tinba a Jemer, expondo minba visio pessoal sobre a escravidéo dos negros, que jé causou afgumas discussdes enire este servo e U.Excia no passado, mas que, dessa vez, foi o que garantiv 0 sucesso de minba misséo. De qualquer modo, parece que minha argumentacéo foi conoincente, pots o Ret Ananté autorizou minba presence enire o seu séquito, composto por seu filbo umbi, um guerreiro forte e belo: Dandara, esposa de Ananté, uma negra de beleca extrema: alguns guerreiros que, pelo porte, pareciam dos mais poderosos; ¢ dois conselbeiras do rei Uanga, um oelbo sem uma das pemas, eKaruné, um babalorixé, 0 sacerdote dos Orixés como qual pude aprender um pouco mais sobre esse cullo pagéo Fo partirmos. perguntet a0 Rei Ananté para onde nos dirigiamos. Alo que ele respondeu : “Vou tbe mostrar meu reino e contar-tbe um pouco sobre 0 mex povo, para que os homens brancas enfondam o que aqui realizemos”. E 6 isso 0 que agora passo a narrar, para bonra e graca de Nvosso Senbor Deus.(...) Capitulo 1 A Serra da Lua Situada no brago leste da Serra das Bandciras ¢ a este da Serra dos Urupés, a chamada Serra da Lua é uma regio a prinefpio inéspita, de vege de imensos despenhadeitos ¢ rochedos, que dificultam bastante a movimentagdo de grandes tropas e caravanas. E também uma auténtica terra de ninguém, fronteira natural entre os territérios dos Lirupés e Taraupé hostis quer n violentamente qualquer invasdo, Além disso, por se localizar préxima & margem norte do Rio Sao Caetano do Sul, a Serra da Lua sempre foi uma rota muito atraente para os escravos fugidos das fazendas, engenhos e vilas préximas, como Vila da Rainha, Porto de Sao Tomé, Vila Nova e Vila da Boa Sorte. 0s quilombos A Serra da Lua tem aextensio de varios quilémetros. Ao sul, de onde vém a maioria dos exploradores e viajantes que por ali passam, ela ¢ formada por paredes ingremes & subidas acidentadas, sendo que, naquela regido, a tinica rmaneira de subira serra é seguir as antigas estreitas trilhas indigenas, abertas quando os iaraupés ainda habitavam aquele local. Nao é uma subida facil e, mais de uma vez, a tritha passa a0 largo de enormes abismos, onde um pequeno descuido pode ser fatal, principalmente na estagdo das chuvas, quando a ameaga de deslizamentos de terra aumenta (€ muito) o perigo da v Chegando ao alto da serra, 0 terreno deixa de ser to acidentado e passa a ser formado por planaltos ¢ campos rodeados por morros e colinas. Mas também cexistem varios picos rochosos de escalada dificil, alguns cobertos por estranhas névoas, a qualquer hora do dia ou da noite, Além disso, varios rios de tamanhos diferentes banham a Serra da Lua. Alguns sao rios largos e calmos que passam por vales verdejante riachos que correm entre pedras © qu. , outros so pequenos mais tarde, se langam em enormes quedas, formando belissimas cachoeiras, algumas com dezenas de metros de altura. A floresta que cobre quase toda a extensdo da serra, com excegao da regio dos campos e planaltos, pode se apresentar de varias maneitas diferentes. Em alguns locais, € uma floresta tranquila ¢ agradavel, com muita luz do sol, muitos péssaros e pequenos animais. Em outros, como nas encostas dos picos mais altos, ela é escura, sombriae silenciosa. E ao cair da noite, quando a sombra dos rochedos avanga sobre a mata, ela se torna fria © assustadora. E nessa hora que os predadores saem A caga andar sozinho pela mata passa a ser um risco terrivel. Durante toda a noite ¢ possivel se ouvir rosnados, gritos e rugidos das criaturas que habitam essa floresta. Muitas delas de natureza sobrenatural ‘Somente quando o Iuar ilumina a serra, ja no meio da noite, quando a lua esté alta, & que a mata fica menos perigosa. A luz de prata da lua, refletida nas folhas das, 4rvores, ilumina a floresta, tomando-a limpida bela. Foi por isso que os indios chamaram a regitio de faci-Ama, a Montanha da Lua, de onde se originou o nome da serra E foi nesse local, no alto da serra , onde se abrem planaltos e vales verdejantes, e onde repousam encostas, cobertas por uma mata rica em frutos e aga, que um, grupo de escravos fugidos encontrou o local ideal para estabelecer seu territério e construir seu sonho. Um lugar onde os negros pudessem viver livres ¢ em comunidade, comona sua terra distante, e onde pudessem manter vivas, as stas tradigdes: 0s Quilombos da Lua. A Origem Muitas lendas ceream a origem dos [Quilombos da Lua. Algumas dessas lendas sao verdadciras (pelo menos em parte), loutras sto apenas mistificagdes criadas pelos que sonham em um dia chegaraté este paraiso ou que planejam destrui-lo de forma lexemplar. De qualquer iodo, conta-se que no Continente Negro vivia um casal de principes, duas criangas cuja aldeia havia sido conquistada apés a traigito de um feit iro negro, fentes executados pelos guerreiros invasores. Somente foram poupados os dois principes, sendo todos os sobrevi porserem muito jovense jo representarem perigo, eum velho sabio, por ter ele conquistado a cleméncia do rei inimigo com suas belas € comoventes historias. Mesmo tendo sido criados como escravos, os principes Ananté e Nuala nfo perderam sua altivez ¢ irmeza de proposito, pois, secretamente, o velho N’kumbe Ihes visitava & noite para contar os feitos de sua tribo gora destruida, exaltando os grandes heréis e narrando as conquistas dos grandes reis do passado, especialmente de seu pai, o Rei Ozenga, um guerreiro espléndido e um, monarea justo e firme. Um dia, porém, um grupo lusitano de mereadores de escravos chegou a aldeia e levou os dois principes {juntamente com outros prisioneiros, para o Novo Mundo, a Terra de Santa Cruz Nos pordes infemais do navio negreiro, Ananté © Nuala, ja adolescentes, conheceram todo tipo de softimento. E viram muitos morrerem a sua volta, como haviam visto tribo. Mas novamente eles sobreviveram. Sua vontade de viver ¢ sua forga interior eram muito grandes porque sabiam que seu povo estaria sempre com eles. Que sua tribo dependia deles para continuar existindo, Viveram por muitos anosna senzala de um engenho, trabalhando e sofrendo dia a dia, secretamente preparando ‘um plano bem maior do que simples sonhos de liberdade. lccionando e treinando negros ¢ negras fortes ¢ altivos como eles, dando luz filhos robustos e sadios, herdeiros de sua tribo, ¢ passando adiante os ensinamentos de seu povo, os principes formaram uma tropa de fiéis seguidores. F com eles fugiram para o alto da Serra da Lua, guiados pelos Orixas através de sonhos. Lf chegando, trataram de dividir territério entre eles, Ananté reinaria sobre o quilombo principal, 0 Quilombo da Lua, e sobre todos os outros, como chefe do consetho dos reis. Nuala reinaria sobre o Quilombo de Angola, guardidi das tradigies e dos ritos religiosos. seus filhos e filhas receberiam cada qual um pedag. terra, onde deveriam erguer um novo quilombo. Desse modo, Zumbi, primogénito de Ananté, énito de Ni ‘beu o primeiro quilombo, Ozenga, primo; a, oscgundo, Hlé-Anga, segundo fillio de Ananté, escolhew uma regio bem afastada para erguer seu povoado, Em seguida foi a ver de Zabelé, filha de Nuala e guerreira fabulosa, escolher as terras onde ergueria seu quilombo guerreiro, As terras mais ao sul ficaram com Lumiar, terceira filha de Anant, que eriaria o pacifico e harménico Quilombo da Serra. Por diltimo, Oxani, filho de Nuala, recebeu as te as onde ergueria o Quilombo das Carrancas. Cada um deles com total independéncia, mas todos seguindo as leis ‘aiores criadas pelo Rei Ananté. E assim foi feito. Com o tempo, os vito povoados da Lua floresceram ¢ frutificaram, E as histérias sobre a ra dos quilombos comegaram a correr as senzalas, povoando 0s sonhos de milhares de escravos sem esperanga, Pouco a pouco, as fugas passaram a se tomar sais freqiientes, jé que agora, mesmo sem muita certeza, 5 fugitivos tinham para onde ir. Muitos deles nem se dirigir exemplo de Anant pelas setras ¢ matas, escondidos dos brancos e dos indios. m para a Serra da Lua, mas, inspirados pelo © Nuala, criaram outros quilombos 0s quilombos Com isso, a populagao dos Quilombos da Lua niio para de crescer. Quase que mensalmente chegam grupos de negros, mulatos, mestigos e até mesmo homens brancos, ¢ Indios pedindo abrigo em um dos povoados fundados por Ananté, Nuala ¢ seus filhos. Em pouco tempo, os quilombos ja contam com populagdes de fazer inveja a muitas das vilas espathadas pela Terra de Santa Cruz, 0 que, com certeza, comega a ineomodar terrivelmente a Coroa Lusitana, temerosa de que isso possa epresentar uma nova forga de resisténcia c desestabilizagao. E por 0 que jéestdo sendo organizadas bandeiras e expedigies de ataque 20s quilombos pelo interior, dando nove animo aos bandeirantes que se dedicavam a caga criminosa de indios para a escravidao, e que agora tm um novo € rentével (apesar de perverso) meio de ganhar a vida Os Oito Povoados da Lua NI SUOMI criacdo de animais, geralmente em ee 8 a : MME central, de onde o rei governa o quilombo aN X f¥casebres familiares; reas de plantio e encostas ou descampados; ¢ a area e onde se realizam as festas, ceriménias religiosas ¢ os eventos sociais e politicos. Cercando o quilombo ha geralmente uma paligada, ‘uma muralha de madeira bem alta, Nas areas a0 redor do povoado, escondidas na floresta, os quilombolas preparam, indmeras armadithas, destinadas a dificultar a aproximagao de grupos inimigos. De resto, as diferencas, entre um € outro quilombo se dar terreno ou pela finalidade especifica daquele povoado mais em virtude do dentro do reino fundado por Ananté e Nuala. Todos os quilombos da serra seguem as mesmas leis €0 seu dia-a-dia & mais ou menos mesmo. A terra ¢ as plantagdes so de propriedade de todos os habitantes que, de acordo com a distribuigdo das tarefas (efetuada pelo rei), irdo trabalhar coletivamente a terra, plantando, cultivando e cothendo, eriando os an mais, construindo casas e agudes, Os quitombos produzindo artesanalmente cestos e outros utensil armas e ferramentas ou cagando e pescando. O resultado das atividades produtivas € dividido entre toda a comunidade, tendo o rei o direito de escother a melhor parte para sua familia. Em seguida, os mais velhos escolhem. Os gue (0s tém direito a tereeira escolha sobre os alimentos, pois cumprem a importante tarefa de proteger 0 quilombo das invasGes e dos perigos da floresta. Apés os guerreiros, €a vez dos trabalhadores mais produtivos. Depois, as outras familias por ordem de idade de seus chefes. Por Ultimo, os forasteinos ainda nao aceitos como quilombolas. ‘Os homens e as mulheres dividem os trabalhos mais, ou menos igualment xendo que o trabalho da casa é sempre da mulher das filhas, Os filhos desde cedo aprendem ‘cava a lutare a trabalhar, assim como algumas meninas, também aprendem as artes da guerra, tendo as mais, destacadas a honra de servirna guarda de elite de Zabelé, ‘ Rainha Guerreira, filha de Nuala. O trabalho comega cedo, mal o sol se levanta, ¢ vai até 0 poente, com paradas para as refeigBes. Quando a noite vem, principalmente em noites de luar, os quilombolas se reiinem no terreiro central ou na porta de suas taperas para cantar, tocar set instrumentos, contar historias, bebere jogar a capoeira em volta das fogueiras Enessas ocasides que os ensinamentos mais importantes so passados pelos ancifios aos jovens. £ quando as tradigdes do Continente Negro sio relembradas e, mais uma vez, a tribo de Ananté e Nuala renasee. Leis ¢ Julgamentos As leis maximas dos Quilombos da L {foram anunciadas por Ananté ao grupo que Jo acompanhava quando eles chegaram finalmente a Serra da Lu: encontrando 0 local onde construiriam seu sonho. Cont 7 ZA se que o rei, apanhando uma tocha e uma AS aN! x WY al protego de Ogum, Orixa do ferro e do fogo ro, subiu numa rocha negra fez um circulo de fogo a sua volta. E entio, Jelevando sua voz aos Céus, invocando a Ananté, como que em transe ¢ usando o dialeto de sua antiga tribo, enunciou as seguintes leis 1-S6 so cidadaos do quilombo os filhos dos quilombolas ou pessoas por eles apresentadas ao rei. Os que chegam ao quilombo sem parentes ou indicagdes sero interrogados e postos sob observagdo e responsabilidade de alguma familia ou de algum guerreio, até se provarem dignos e serem aceitos na comunidade. 2-A proptiedade se limitard a casa da familia, tudo ‘© que ha dentro dela (roupas, utensilios e armas) € no terreiro (animais, plantas, ete.). O resto pertencera ao quilombo, isto é, pertencerd a todos, 3-0 rei € 0 juize decide sobre tudo, sobre a vida ea morte. Mas 0 rei sdbio escuta o seu povo e decide junto com ele. 4A itigaria € crime punido com rigor, até mesmo com a morte. Os feiticeiros sé trazem a desgraga e deverion ser expulsos do quilombo para sempre. Se alguém ocultar ou proteger um feitieciro, sera considerado ciimplice. ‘Além das leis maiores, existem leis que regem o dia- ‘a-dia, pois, como em qualquer comunidade, nos quilombos também ocorrem problemas, disputas envolvendo propriedades ¢ crimes diversos. Nos povoados da Lua. tudo € resolvido com a palavrado r 0 grande juiz, Todas as questdes silo expostas em piiblico no terreiro central com a atengdo do rei e seus conselheiros. O proprio reclamante ou acusador pode expor sua queina ou nomear |guém mais habil para fazé-lo, podendo 0 povo se manifestar a respeito. O acusado faz 0 mesmo. Depois de cexpostas as duas versGes, ore, apds te observado a vontade ‘expressa por seu povo e tendo analisado 6 caso junto com seus conselh itos, declara sua decisao, anunciando a pena, ara disputas e queixas simples (roubo de alimentos, nimais e pequonos utensilios) as penas sio de devolugao, retratacdo piblica (pedido de desculp: s) ou trabalho forgado em beneficio da pesson ou fami prejudicada, Em alguns casos, o rei pode determinar uma tarefa, uma missio {qualquer para o acusado ou para os dois lados Para questOes mais sérias, as penas podem ser de surras exemplares (as sovas), confinamento, execragao (apedrejamento, linchamento, humithagio piblica), banimento sm alguns casos, 0 julgamento pelo combate simples, sendo permitido ao reclamante € ao acusado homearem seus npedes. Somente para a feitigaria é reservada a pena de morte, sendo permitido também o julgamento pelo combate, que, neste caso, s6 se encerra com a morte de um dos contendores. Caso 0 feiticeiro seja 0 vencedor, ele ser banido do quilombo, tendo o direito de levar provisdese seus pertences. Religido e Magia Somente a magia dos Orixas & Be \ ueee da Lua. Os babalo: vas (sacerdoti aceita nos is ) s40 criados € ensinados no caminho dos lor inato ou quando seu potencial & deseoberto pelos mais velhos. Todas as demais formas Jde magia so consideradas criminosas € wcerdotes) © as talon dis desde que manifestam seu poder malditas, com excegiio dos feiticeiros de Os quilombes ferro © fogo, que sao considerados guerreiros santos a quem Ogum, o Orixé do fogo, do ferro e da guerra, deu seu poder. Mesmo assim, s6 podem usar seus poderes em beneficio dos quilombos. Qualquer outro uso de seus, poderes deverd ser justificado perante 0 conselho. Os feiti tos negros sio considerados como os maiores criminosos, pers: uidos e vigiados, sendo que, em muitos casos, quando uma crianga manifesta o poder de contato com os espiritos, ela é expulsa do quilombo para nunca mais voltar. Cada quilombo é dedicado a um Orixa guardiao, a quem sio feitas todas as honrariase oferendas, Hé também © culto a todos 0s outros Orixds maiores nas Casas de Santo, pequenos templos onde sao feitas oferendas rituais. Nas festas e cerimOnias, o terreiro é consagrado © Orixa homenageado recebe todos os festejos, mesmo no sendo o guardiao daquele quilombo. A lideranga religiosa é geralmente dividida entre 0s babalorixas e as ialorixas mais experientes, ficando a saverdotiza responsavel pelas ceriménias ¢ rituais ¢ 0 sacerdote pela manutengdo dos templos e dos costumes, oriemtando ¢ preparando seus aprendizes e iniciados, A Protecao dos Quilombos Diariamente, patrulhas de trés ou cinco Jauerreiros, rastreadores ou feiticieros redor do quilombo a procura de sinais de caravanas ou expedigdes de brancos, capitaes-do-mato eagando negros Hugidos, tribos de indios ou monstros e lcriaturas que possam ameagar seu povoado, Caso encontte algo, a patrulha deve investig: reportar-se ao quilombo e agir, fazendo a paz ou atacando 6s inimigos antes que cles possam oferecer perigo ao quilombo. As vezes, quando © inimigo esti em grande ero, 6 necessario o envio de reforgos, ¢ verdadeiras batalhas sao travadas nas florestas. As patrulhas também sto enviadas rio abaixo até os vilarejos mais préximos para comercializar os produtos do trabalho dos, ee ee eee Os quilombos quilombos, trocando-os por ferramentas, alimentos ¢ animais. E sempre muito arriscado tomar parte numa missao de comércio, pois a possibilidade de ser recapturado é enorme nesses casos. Mais proximo dos quilombos ficam as armadilhas, protegdes estratégicas contra a aproximago de grandes grupos. As armadilhas construfdas pelos quilombolas so basicamente de dois tipos : barreiras que se aproveitam das caracteristicas, do terreno (mundéus, algapSes com estacas, muralhas de estacas envenenadas, espinheiros, arbustos urticérios € outros mais) ¢ armadilhas escondidas na mata, geralmente mortais quando nao percebidas (troncos amarrados por cordas, estacas que perfuram 0 corpo, lagos e redes escondidas nas trithas, galhos retesados, © cobertos de farpas envenenadas ¢ coisas afins). E extrememente arr scado penetrar 0 territério quilombola sem a companhia de um rastreador experimentado, pois a habilidade de camuflar as armadilhas possuidas pelos negros da Serra da Lua ja € quase lendaria, rivalizando com as tribos de indios, mais astutos, © exéreito dos quilombos ¢ formado por guerreiros divididos pelotées, liderados pelos guerreiros mais experientes ou por feiticeiros de ferro € fogo. Suas armas, que eles mesmos fabricam, sto langas, azagaias, espadas, facdes, machados, tacapes com ponta de ferro (+1 de dano) e porretes. As armas de fogo sao proibidas pelo Rei Ananté, que procura preservar as tradigdes de seu povo. Para se protegerem, os quilombolas usam escudos de madeira reforgada e, sobre o corpo, vestem uma roupa de tecido cru, coberto com patha trangada em forma de um colete © um saiote até os joelhos. Essas roupas reforgadas nao atrapalham seus movimentos e lhes dio a protecao de um laude! e um colete de couro leve. Ha também pelotdes de capoeiristas (apesar de quase todo guerreiro dos quilombos lutar capoeira), Esses guerreiros sao treinados exaustivamente no Quilombo de Zabelé, tornando-se mestres da uta desarmada, Quando necessério, lutam com dois facdes, usando as técnicas do maculelé, 0 que os torna perigosissimos em combate singular. Geralmente, 05, capociristas protegzem 0 corpo com um um laudel ow vestem somente uma calga de algoddo, 0 que nao atrapalha seus movimentos. Na hora do combate, eles ficam a espreita, escondidos nos arbustos ou no alto das arvores, aguardando a chegada do inimigo logo aps a primeira linha de armadilhas. Nessa hora, eles, caem sobre seus atacantes gingando e dando saltos acrobiticos, desviando dos golpes € disparos © acertando violentos chutes ¢ golpes de facto que, em pouco tempo, derrubam qualquer oponente (ver Regras de Capoeira). Capitulo 2 Agora vocé vai conhecer o que esta por tris de cada quilombo. As historias dos reis e dos personagens principais, suas motivagoes, personalidades e alguns dos acontecimentos que marcaram a historia de cada povoado, © intuito € fazer com que os mestres se familiarizem com o ambiente dos Quilombos da Lua © possam criar suas aventuras a partir do que vamos mostrar neste capitulo. Mas atengao: 0 que vacé ira anchos" para encontrar sio apenas dicas, pequenos que voe6 trabalhe sozinho as suas idéias de aventura, pode, ¢ deve, criar um encadeamento logico entre venturas, construindo, aos poucos, O interessante seria escolher um foco central ¢ utilizar as outras jentro da ias campanha em aventuras répidas, que fossem se desenvolvendo € acrescentando novos elementos ao foco central da historia. Ah, € no custa lembrar que, se vocé nao é mestre de jogo, nfo tem nada que ler esta parte. Pule logo este capitulo e nao seja teimoso! Qs oito quilombos da Lua Quilombo da Lua Qui | forma o Quilombo da Lua, é muito dificil jimaginar como tudo comegou. E dificil perceber como o Rei Ananté ¢ seus iderados puderam erguer donada ndo se vé a enorme estrutura que Jgrandioso. Como um enorme descampado entre duas montanhas e cereado por uma densa floresta pode ter se transformado, Jem alguns anos, numa auténtica cidade- fortificada, protegida por uaritas de observagao, patrulhas constantes ¢ uma intrincada rede de armadilhas na mata Toda adrea do quilombo é cercada por uma enorme paligada de cerca de metros de altura, com estrutura reforgada por dentro, passarelas para sentinelas, set as improvisadas ¢ protegida da aproximagtio de grandes, ‘grupos por arbustos de espinheiros, cactus ¢ mundéus que terminam a uns 30 metros da paligada, onde uma muralha de estacas cruzadas ¢ envenenadas faz a diltima linha de defesa até a fortaleza. Para dentro da muralha, ha um enorme platé rebaixado onde fica 0 quilombo. Dividido em varias estruturas, 0 Quilombo da Lua é formado por um imenso descampado, a0 norte (onde nasce tum rio que fornece gua potavel), varias reas de pastos (bovinos, caprinos) ¢ plantagdes (mandioea, milho, cana- de-agiicar e hortas de subsisténcia)e areas onde os negros, construiram suas taperas, Elas se concentram em varios pontos diferentes, sendo que ha uma area central, onde esti 0 coragdio do Quilombo da Lua. E ai que se encontram a residéncia do Rei Ananté € 0 terreiro onde sio realizadas as festas religiosas, além de uma praga aberta onde sto anunciados os, eventos, julgados os crimes e efetuadas as punigoes. Essa praga é onde 0 povo do quilombo exerce seu poder, es do Rei Ananté, que sempre procura ouvir a voz de seu povo em manifestando-se a partir das deci ‘momentos importantes. Ha ainda estruturas onde se concentram as taperas dos guerreiros, os depésitos de armas, ferramentas e alimentos do quilombo, As personalidades mais importantes do © Rei Ana 8: UI Quilombo da Lua nté, sua esposa, Dandara, ¢ seus trés conselhe sébio que no tem uma das pernas; Mantuna, um feiticeiro de ferro ¢ fogo bastante experiente; e 0 babalorixa Karuné de Ogum. A populacao, composta Por negros ¢ mulatos, ¢ de aproximadamente 2000 pessoas e 0 quilombo € dedicado a Ogum Quilombo de Angola Se 0 Quilombo da Lua é 0 cérebro dos povoados da serra, Angola é 0 seu Brae aeAyuise concentra todo 6 laid espiritual e mistico dos quilombos. Nao importa onde se va, tudo o que se vé te um motivo religioso, uma razio magica para ser do jeito que é. A propria estrutura fisiea e politica do Quilombo de Angola esta ligada ao culto dos Orixés, seguindo a mesma estrutura de uma Casa de Santo. Além disso, Angola serve como uma grande escola para os sacerdotes negros. E para aqui que sto mandados todos 0s jovens que, nos outros quilombos, manifestam interesse em aprender e se aprofundar nos, ‘as. No Quilombo de Angola, eles so recebidos, avaliados ¢ orientados durante todo 0 caminhos dos Or seu aprendizado, podendo depois retornar ao seu antigo, quilombo ou correr mundo a caga de aventuras, usando © poder dos Orixas para ajudar seu povo. Muitos desses jovens retornam, depois de aly 1m tempo, para se tornar instrutores das novas geragdes, fechando assim o ciclo. Isso tudo ¢ influéncia da Rainha Nuala, uma, ialorixa poderosissima e uma protegida dos deuses. Em Angola, Nuala atua como guia espiritual, respeitada e reverenciada, mas também tratada com muito carinho, por todos. Quando ainda viviam na senzala, 0s escravos a chamavam de Mae Moga, pela sua pouca idade (na nenso saber. Os mais velhos ainda época) diante de tio achamam assi Mais do que um quilombo, Angola é na verdade um ge me terreiro dedicado a todos de templo, u ‘0s deuses negros, mas consagrado a Oxala, 0 Pai de todos os Orixis, de quem Nua la & devota e protegida. Por causa disso, o quilombo é dividido em duas partes uma para Oxaluta, a representagao de Oxalé mogo, vigoroso e valente, ¢ outra para Oxaguia, Oxald velho, experiente ¢ sdbio. Na porgdo de Oxalufa, fica a parte vigorosa do quilombo, com as plantagdes, criagdes, oficinas e forjas, enquanto que na de Oxaguia fica a parte dedicada a religio, aos cultos, treinamentos € estudos Cada um dos outros Orixés maiores também tem sua casa no Quilombo de Angola, onde seus filhos thes prestam homenagens e realizam cultos € ceriménias diariamente. Aqui, os sacerdotes ¢ as saverdotizas podem se especializar na reveréncia a0 seu Orixa protetor, estudando a fundo os seus rituais, ervas, guias, patuds ¢ poderes especiais. E assim aprendem a curar, proteger, encantar € a construir itens de gra de poder, como colares € outros objetos encantados Para ser aceito como diseipulo no Quilombo de Angola, o pretendente precisa cumprir algumas provas, determinadas por um dos ogas (sacerdotes-auniliares). Apés consular Ifa, © Orixd dos ordculos, 0 ogi decide se ele foi aceito ou nao como abid (um aprendiz). Quando ele ja tiver se iniciado na incorporagio dos Orixas, através de um ritual muito desgastante intenso, se torna um iyad (filho de santo). Apés sete anos de aprendizado, se torna um sacerdote negro, podendo usar livremente o poder dos Orixas, Mas nem tudo € harmonia no Quilombo de Angola. Existe muita intriga entre os ogis, cada um. defendendo e querendo mais destaque para o seu Orixa de devogiio, Com isso, as Casas de Santo vivem uma cespécie de guerra velada, onde intrigas, traigdes e brizas politicas so muito comuns. Infelizmente, a Rainha Nuala nada pode fazer, até porque sii seus conselheiros 8 primeiros a conspirar uns contra os outros, instruidos « incentivados pelo consorte de Nuala, o Principe Ketu, um guerreiro astuto que alimenta uma inveja doentia do Rei Ananté, a quem deseja destronar para reinar Os oito quilombos da Lua sobre toda a Serra da Lua. O conselho ¢ composto por quinze ogi, tendo um pai do consetho de Angola sao: um velho sacerdote de If’, de fala mansa ¢ objetivos terriveis. Secretamente alimenta a -ada Orixa, Os principais - Daomé inveja de Ketu, levando-o a conspirar contra Ananté. Marabs: sacerdote de Ogum, alto, forte e, apesar da meia-idade, um homem vigoroso, de temperamento explosive, mas leal a Nuala. + Kelé-Oru poderoso, é 0 fiel da balanga no conselho. Ligado rainha, de quem foi aprendiz na senzala, sabe do que acontece nos bastidores mas nada pode fazer sem sacerdote de Xango, jovem ¢ atingir Nuala, a quem devota lealdade cega ¢ um profundo ¢ secreto amor, - Exira: sa -erdotiza de Oxum, rival de Nuala antiga companheira de Ketu, que a deixou para se casar com a rainha do Quilombo de Angola. Secretamente, ainda se encontra com Ketu, de quem tem um filho adolescente, Ojé, que diz ser seu sobrinho. Planeja assassinar Nuala e assui ir 0 controle do quilombo, (Os demais sacerdotes nao sio ligados a nenhum esses, mas pendem ora para um lado, ora para o outro, sendo massa de manobra para os conselheiros mais influentes. © Quilombo de Angola tem populagio de cerca de 1000 habitantes, negros ¢ mulatos. Quilombo de Zumbi Conta-se que Zumbi, 0 primogénito de ‘Ananté, ao receber a missio de fundar um quilombo, caminhou durante varios dias a procura de uma arvore com 0 tronco dividido em dois, uma visao que tivera em seus sonhos. Um dia, quando Zumbi jG estava quase desistindo, veneido pelo cansaco, olhou para baixo e viu a sombra de uma arvore partida a0 meio, com dois troneos. Virando-se para o local onde a sombra comegava, ele viu duas arvores afastadas uma da outta. Mas o sol que se punha por tras delas fazia com que us sombras se unissem numa 6, como em seu sonho, 0s oito quilombos da Lua Zumbi, entdo, decidiu fundar ali o seu quilombo, tendo duas drvores como limites da aldeia. E voltou para reunir 0 grupo que 0 acompanharia, Mais tarde, a escotha de Zumbi se provaria is do que adequada. 0 local do quilombo, na yerdade um platé verdejante no alto de enormes rochedos, era bastante protegido. sendo que 0 tinico caminho possivel até cle cra a tritha que o ligava ao Quilombo da Lua. Rapidamente, © Quilombo de Zumbi cresceu bastante, tanto pela seguranga que representava como pela brilhante lideranga de s fe, homem severo, justo e bastante habil no trato com seus liderados. Fisicamente, o Quilombo de Zumbi se divide em duas grandes estruturas separadas por um pequeno rio. Vindo de uma eachoeira ao norte, 0 rio corta © quilombo segue até formar outra maior ainda nos rochedos ao sul. A primeira esteutura, mais proxima dos rochedos (@ portanto mais protegida), agrupa as taperas fa protegidas por uma paligada. E tamb iliares ¢ algumas plantagdes de subsisténcia, im onde existe 0 terreiro, no qual se realizam as festividades, e a tapera dedicada aos orixis, sendo Xangé o padroeiro do quilombo. Cruzando 0 rio por uma pinguela, chega-se & segunda estrutura, onde reside o Rei Zumbi ¢ seu séquito, formado por duas esposas ¢ um estreito cireulo de conselheiros, do qual participam o babalorixd do quilombo e alguns guerreiros de elite, Ba localizam as taperas de armazenagem de alimentos, da confianga de Zumbi também que se armas ¢ ferramentas, bem como as principais plantagdes do quilombo, Completa esta segunda estrutura um campo de treinamento para os guerreiros, sendo que os melhores sio mandados para 0 quilombo de Zabelé, onde serao treinados intensivamente para formarem o exército de elite de Ananté. A populagao, que conta com cerca de 1000 pessoas, é basicamente de n alguns mulatos. sos, sendo que ha também. 12 Quilombo de Ozenga Antes de se unir a Ketu. a Rainha Nuala teve trés filhos de seu primeira marido, Bant6, um feiticeiro de ferro e fogo muito corajoso, que morreu durante a fuga do AM engenho, sacrificando-se para que o grupo pudesse definitivamente escapar. O primogénito recebeu o nome de Ozenga jem homenagem ao pai de Nuala ¢ Ananté, porter act ianga nascido no dia da morte do antigo rei. Cerca de dois anos depois, nasceu Zabelé, ia a mais fabulosa guerreira de que se que se torn tem noticia. E, por fim, nasceu o jovem Oxana, que desde crianga provou ter herdado da mae a ligagdo com 08 Orinds, tornando-se um poderoso sacerdote negro Por ser o primogénito, Ozenga recebeu um excelente quinhio de terra, onde construiu seu quilombo co fez florescer em pouco tempo. Rapidamente, devido a habilidade do rei na organizagao e administragzo dos recursos, 6 Quilombo de Ozenga se tornou um grande celeiro de alimentos, com as mais produtivas plantages, de todaa Serra da Lua. E cresceu bastante com isso Porém, Ozenga cometera um erro fatal. Quando escalheu o local para erguer uma nova aldeia para 0 seu povoado, o jovem rei nao pereebeu que as taperas foram construidas num terreno que jé fora utilizado no passado, Somente quando, por acaso, se desenterrou um vaso de barto enorme, decorado com estranhos desenhos, ¢ quando se verificou que havia um corpo mumificado dentro da urna, Ozenga percebeu que construira sua cidade sobre um antigo cemitério indigena, o que, no mil 0, trazia maus pressigios Mas o rei resolveu ignorar o problema, pensando que, por ser 0 cemitério muito antigo, nada haveria de acontecer. E realmente nada aconteceu, ainda... Porém, em pouco tempo, os acontecimentos provardo que o Rei Ozenga estava errado. Numa noite de lua cheia, coisas estranhas comegam a acontecer. Objetos voam sozinhos, fogueiras se acendem, algumas, pessoas se comportam estranhamente, tendo convulsbes, ¢ falando de um jeito estranho, até que, por volta da Os oito quilombos da Lua meia-noite, no terreiro que separa as taperas, 0 chao arachar, mos descarnadas surgem do solo ¢ iio de mortos-vivos se ergue das trevas. Para terror dos quilombolas, eles percebero que construfram suas casas sobre um antigo cemitério cupendiepe (ver descrigio da tribo em O Desafio dos Bandeirantes, livro basico, pag. 90). E os mortos vivos, animados por uma poderosa e antiga maldig&o, abrirdo suas asas e voa meagadoramente sobre o quilombo, atacando a todos. Nao vai haver oportunidade melhor para seus personagens visitarem 0 Quilombo de Ozenga. Se voce nao concorda, pelo menos faga com que eles ougam, um preto-velho narrando essa histéria, De qualquer.modo, antes dessa noite maldita, 0 Quilombo de Ozenga tem cerca de 800 habitantes, negros e mulatos, existindo uma mestiga. O rei é solteiro, sem herdeiros e governa sem conselheiros. O quilombo é dedicado a Oxumaré, o Orixa serpente, 0 Quilombo Ilé-Anga Segundo filho homem de Ananté, um ano mais novo que Zumbi, 118-Angé eresceu a EM sombra do ima. Esforgande maximo jem tudo o que fazia, ele via toda a atengao MM lo pai voltar-se para o primogénito, que desde cedo se provou um guerreiro de muita fibra. 1 Af a involunt propésito em sua vida ser melhor do que tigado por essa competigao 1é-Angé tomou como éinico seu irmfo. Isso 0 levou a se tornarum mestre da capoeira, rivalizando até mesmo com Zabelé, sua prima e grande ira, por quem & apaixonado, Além disso, tendo sido criado na senzala do engenho, Il Angi aprendeu a utilizar as armas de fogo com um mestigo chamado Chico do Mato, q pesar de ser um dos feitores, tratava 0 menino como se fosse seu filho. Chico do Mato também Ihe ensinou tudo sobre a mata cos indios, inclusive sobre suas artes de guerra e sua magia Os oito quilombos da Lua Quando o grupo de Ananté fugiu da senzala para a Serra da Lua, Chico do Mato f atras. Sabendo que (© mestigo os seguia, Ananté ordenou que ele fosse morto. 1lé-Anga descobriu ¢ encontrou Chico ferido abandon do para morrer. Com a ajuda de seu primo Oxana, 11é-Anga conseguiu curar seu amigo, mas os dois tiveram de se separar, tendo Chico do Mato jurado vinganga contra Ananté Chegando a serra, Ilé-Anga procurou seu pai e os dois tiveram uma grande diseussao por causa do que ocorrera. Magoado, Ilé-Anga pediu que o seu quilombo fosse mais afastado de todos, no que foi atendido. Antes de partir, 11é-Anga declarou seu amor a Zabelé e pediu que ela o acompanhasse. Porém, ela tinha o dever de liderar seu proprio quilombo. Apds uma noite juntos, os dois se separar m Percorrendo as matas da Serra da Lua com um grupo de guerreiros figis, 1é-Angé encontrow pequeno morro onde decidiu fundar seu povoado. Era um belo e protegido refigio, bem distante do Quilombo da Lua ¢ livre da influéneia de seu pai. Ali, ele pretendia m deixar toda a tristeza e a dor para tras. Porém, um ano depois de instalados, os quilombolas descobriram estar no territdrio dos urupés, indios guerreiros € hostis. E logo a guerra comegou. Com a guerra, toda a estrutura do quilombo teve de ser modificada. Uma muralha dupla foi erguida, postos avangados foram construidos € os quilombolas foram treinados por Hlé-Angé no uso de armas de fogo, proibidas pelo rei Ananté, na: artes indigenas do arco e flecha e da zarabatana, € nos segredos da floresta, como a camuflagem, as armadilhas, o rastreamento ¢ a sobrevivéncia, tudo o que ele aprendera com Chico do Mato, Certo dia, Hé-Anga ¢ alguns companheiros estavam prestes a serem capturados (¢ mortos) pelos {ndios quando surgiu da mata um grupo de aventureitos que 05 salvou. Para demonstrar sua gratidao, 0 rei oferecen refiigio no quilombo. Mais tarde, descobriu que um deles era um feiticeiro negro ¢ outro um bruxo. Bas leis de Ananté eram bem claras. 11é-Anga, porém, 14 percebeu que a magia era uma valiosa arma em sua guerra c« 0 indios, possuidores de uma magia muito poderosa, Contrariando uma das leis maiores de seu povo, deu aos feiticeiros 0 mesmo tratamento que aos, demais quilombolas. Como 0 quilombo de Ilé-Anga é completamente isolado, 0s outros quilombos nada sabem sobre isso, ainda Oquilombo tlé-Anga, dedicadoa Oxéssi, tem 400 habitantes, sendo alguns mulatos e homens brancos. Quilombo Zabelé Dedicado a lansi, a Orixa guerre’ corajosa que expulsa os maus espiritos, o quilombo de Zabel 1m espelho de sua rainha e de sua padroeira. Uma aldeia laguerrida, bélica, onde toda a vida gira Jem torno do combate e da guerra. Desde muito cedo, o temperamento explosivo de Zabelé mostrou sua mie © ao seu pai que ela Sempre interesssada nos jogos e competi negava a sua Orixa protetora. fisicas, Zabelé, em pouco tempo, superou todos os seus, amigos, primos e irmaos em suas brincadeiras. Destacando-se no aprendizado da capoeira e das artes da luta, a pequena Zabelé foi, aos poucos, demarcando seu lugar e conquistando 0 respeito e a admiragao de todos, especialmente de seu pai, 0 feiticeiro de ferro e fogo Banté. Tornando-se uma mestre de capoeira sem igual, ‘Zabelé s6 tinha um rival a altura, o seu primo lé-Angé, De idades muito proximas, os dois eram grandes, companheiros € passavam horas € horas juntos treinando, se aperfeigoando ¢ competindo entre si. 1é- Angé ensinava a Zabelé tudo © que aprendia com 0 mestigo Chico do Mato € Zabelé 0 ajudaya em seu esforgo para superar seu irmao, Zumbi, Nao demorou muito ea bela amizade entre os primos se transformou numa ardente paixao, Mas, estranhamente, nenhum dos dois bravos guerreiros jamais te a coragem de declarar seu amor a0 outro. Principalmente porque seus pais jamais aceitariam uma unido entre primos, Eassim, passaram- se 08 anos e chegow a hora de realizar o sonho de Ananté Nuala, a hora da grande fuga do engenho. Perseguidos pelos feitores e Capities do Mato, ‘os negros chegaram a uma planicie onde sabiam que seriam alcangados ¢ muitos morreriam. Tomando uma decisfio herdica, Banté ficou para tris, combatendo sozinho os perseguidores, dando ao grupo o tempo de atravessar um rio e ssconder seu rastro, Arrasada com a morte do pai, Zabelé jurou que, quando chegassem a serra, treinaria tantos guerreiros que ninguém jamais morreria sozinho em batalha novamente enquanto ela vivesse. Na noi em que chegaram ao local escolhido, Zabelé presenciou uma grande discussao entre Ilé-Anga Zabelé ouyiu finalmente as palavras de amor com que tanto eeu pai, o Rei Ananté. Indo consolar seu primo, sonhara, S6 que agora era tarde demais. Ela tinha que seguirseu caminho, um caminho diferente de 118-Angé E ambos sabiam disso. Os dois amantes entao tiveram, apenas uma E, pela manha, os dois se separaram. noite para viverem a paixao de tantos anos. Deixando tudo para trés, Zabelé comecou a construgdo de seu quilombo guerreito. Em pouco tempo, uma tropa de elite foi treinada e mandada para 98 outros quilombos para selecionar jovens aptos a se tornarem soldados do exército de Ananté, protegendo ‘05 quilombos de seus inimigos. Na lideranga do quilombo, Zabelé conta com a ajuda de uma amiga inseparavel, a guerreira Samara, sua principal conselheira. Samara comanda a guarda de elite de Zabelé, uma tropa s6 de guerreiras, treinadas em todas as artes do combate. Além dela, Zabelé conta com o apoio de Abada, um eximio capoeirista que se juntou ao quilombo ¢ provou seu valor ao salvar a vida de Zabelé num combate com um Mapinguari Com o tempo, Abada se tornou um importante, lider no quilombo, tendo grande influéncia sobre 0 povo, que o elegeu como o consorte ideal para Zabelé. Sé que, fie 10 seu amor por Ilé-Anga, Zabelé recusa a corte de Abada, que nutre um profundo édio por I1é- Os oito quilombos da Lua ‘Angé, seu rival, sendo capaz de qualquer coisa para desonrar o preferido de Zabelé, Na verdade, Abada é um homem ambicioso, vaidoso ¢ profundamente nvejoso, que nao tem nenhum escrdpulo quando se trata de conseguir o que quer. E, 0 que ninguém sabe, E que ele foi amaldigoado no passado, se transformando num quibungo (ver deserigao da criatura em 0 Desafio dos Bandeirantes, livto basico, pag.109). Samara é uma bela ¢ inteligente mulher, que encontrou em Zabelé uma amiga e confidente. Eximia ladoso de Zabel, ela partilha da companhia da rainha quase que todo o tempo, inclusive morando na mesma tapera que Zabelé A amizade entre as duas vem do tempo da senzala, quando Samara estava sempre pronta a ouvir da amiga guerreira, gragas ao treinamento cui sobre seu amor por [lé-Angé. Mais tarde, algumas semanas depois que os dois se separaram, Zabelé descobriu que estava grivida. Meses depois, quando a gravidez comegou a fiear aparente, Samara ajudou Zabelé novamente: as duas partiram numa viagem de semanas pelas matas para que Zabelé tivesse o bebé em segredo, 0 que tornou as duas muito mais proximas Zabelé, apesar de nao aparentar, é uma mulher muito solitaria, para quem a vida sempre a afasta de quem ama, como seu pai e Ilé-Angé, Zabelé tem como animal de estimagao uma jaguatirica chamada Gandja , secretamente, tem uma filha de Ilé-Angé, a pequena Tana, que cria como se fosse uma drfa. © quilombo em si tem uma organizagao quase que militar. As familias sao obrigadas a ceder seus filhos e filhas mais aptos para que possam ser treinados exaustivamente, dedicando-se somente ds artes ¢ guerra. Os que nfo so aptos para se tonarem guerreiros trabalham a terra ¢ produzem os alimentos ou, como artesdos, produzem ferramentas ¢ utensilios para o resto da comunidade, Porém, apesar do que parece a principio. 05 no guerreiros, pois todos sao conscientes de que uns no podem viver sem os outros. O Quilombo de io ha discriminagao entre os guerreiros & Zabelé possui cerca de 500 habitantes, todos negros ¢ mulatos. Os oito quilombos da Lua Quilombo da Carranca Oxana, filho mais novo de Nuala, sacerdote negro protegido de Ossae, 0 (Orixa das plantas medicinais e da cura, recebeu seu pedago de terra com bastante € entusiasmo, pois seria o mais jovem de todos os reis dos Quilombos da Lua, Acompanhado por um babalorixa experiente que serviria como seu conselheiro, Oxa Z seguiu com seu grupo de quilombolas até um terreno inclinado na subida de uma montanha cujo topo lembra uma face humana, chamada Pedra da Carranca Esta montanha ¢ coberta por uma densa floresta eenvolta em brumas e névoas a qualquer hora do dia. Ali, Oxana construiu seu quilombo, usando as brumas como uma parede natural que impede a visibilidade na subida da montanha, o que atrapalha e muito qualquer tentativa de ataque. Porém, al nao estava planejado. Sem nenhuma explicacio, grupos exploratorios e patrulhy comeraram fa desaparecer dentro das brumas sem deixar pistas. E reapareciam dias depois, totalmente desorientados, contando estranhas historias sobre faces mosntruosas com bocas escancaradas que emitiam urros ensurdecedores Um bom momento para que os personagens dos jogadores cheguem ao quilombo ou sejam mandados 4 montanha dda carranca para investigar. La, om meio as brumas, distante do quilombo, encontrardo enormes carrancas de madeira. Sdo tétens de aproximadame ite 4 metros de altura, esculpidos em grossos troncos (1,5 a 2,5 metros de diametro), com faces de criaturas vagamente humandides, de bocas eseancaradas, mostrando presas como as de uma onga. Os troncos silo decorados com muitas inserigdes e pinturas estranhas, cobertos de colares de contas coloridas e penas. Ao longe, vistos dentro da bruma, parecerdo monstros prestes a atacar o grupo. Eo vento, passando por orificios nos troncos, fard sons aterrorizantes, como gritos, gemidos ou rugidos, ouvidos a centenas de metros dali, dentro da névoa 16 —_— Pie (Ulsan as HUI Na verdade, as carraneas sao itens de grande poder magico, deixados ali por alguma tribo muito poderosa da qual nao se tem mais noticia. Elas carregam o poder de centenas de amuletos magicos € sio ativadas quando alguém toca nelas ou as ataca. Os poderes das carrancas sto basicamente de criar ilusdes visuais e sonoras. Assim, o personagem vé a floresta se transformar a sua volta, avista espiritos horrendos circundando seu corpo, vé suas maos em chamas, ouve risadas demoniacas, gritos de terror, gemidos sussuros, vozes de criangas, canticos e o que de mais aterrorizante o mestre conseguir pensar. As carrancas sio praticamente indestrutiveis, nem mesmo um tito de canhao parecera afeta-las. Quando 0 personagem comegar a ser afetado pelas ilusdes, deverd fazer um teste de Inteligéncia. Se falhar, com ard a ficar nervoso © tomar decisdes precipitadas. Se permanecer na drea, deverd fazer, depois de algum tempo, um novo teste de Inteligéneia, desta ver dificil. Se falhar, estard tio atordoado, ou apavorado, que suas agdes se tornarao dificeis. Depois de mais algum tempo, deverd fazer um teste quase impossivel de Inteligéncia, Se falhar, perderé totalmente o senso de realidade, agindo de forma desorientada e inconsciente, podendo vagar dias pela serra até recuperar, aos poucos, o sentido das coisas. As Jembrangas Ihe serao confusas, As carrancas emitirio uma intensa aura magica, visivel como um clarde ofuscante, para quem detectar sua magia. E haverd sempre muitos espiritos formando uma roda em volta dos t6tens, protegendo-os no plano astral. Eles terdo a aparéncia de indios com estranhas vestes cerimoniais e nao se comunicardo com ninguém, Iguém tentar se aproximar de algum deles em forma astral, os espiritos parecendo em transe profundo. Se entrardo dentro das carrancas. Se 0 personagem, em forma astral, também tentar entrar, sera arremessado de volta para o seu corpo, sofrendo 10 pontos de dano direto na resistencia. ‘A magia atuante é muito forte para ser removide. © uso de Luz Divina tornara ainda mais forte a aura magica das carrancas. Por sinal, alguém possuido por um espirito maligno evitaré, instintivamente, chegar muito perto das carrancas. Se 0 fizer, sofrera fortes dores, recebendo 2 pontos de dano direto na resisténcia. Podera receber mais dan caso 0 contato seja prolongado. 0 feitigo de Aura fara com que 0 personagem. veja uma torrente muito forte de fazer um teste di imagens, tendo que il de Inteligéncia para no perder 5 oito quilombos da Lua os sentidos. Ele delas. Porém, a partir deste dia, quando encontrar conseguira aprender nenhuma qualquer manifestagio desta cultura, tera a impressio de jd té-la visto antes (avisaremos, em futuros médulos, quando isso sera aplicavel). Apés mapearem toda a montanha, sabendo a localizagao de cada carranca, o rei Oxana podera usar esta poderosa arma a seu favor, pois a magia desorientadora das carrancas afastard os supertic 308 € dificultard mais ainda 0 ataque de uma tropa ao quilombo, © quilombo da Carranca tem cerea de 250 habitantes, todos negros e mulatos. Quilombo da Serra aterceira fill ade Ananté, sempre Bl sonhou com o dia em que seria livre, quando nao precisaria mais viver na senzala suja ldo engenho. E, ao ouviras histérias de seu lpovo narradas por Ananté e por sua tia Nuala, Lumiar imaginava o Continente Negro como um paraiso, um lugar onde os negros eram livres e viviam em paz, felizes Je em harmonia, Lumiar sempre teve muito dio dos homens brancos pela crueldade © pelos maus-tratos com os escravos. E, quando soube que seu pai preparava uma fuga em massa do engenho, Lumiar achou que a paz Finalmente chegaria Porém, na noita da fuga, Lumiar assistiu aterrorizada os negros matarem muitos brancos, com tanta crueldade quanto a que os brancos haviam demonstrado. Chocada, cla se recusou a acompanhar 08 fugitivos, sendo levada a forga por Zumbi, seu irmao mais velho Deprimida, Lumiar passou dias sem comer ou dizer qualquer coisa. Preocupado com seu estado, Zumbi nao saiu de perto da irma um sé instante, até que, numa manha, Lumiar Ihe sorriu € disse 0 seu nome. ; | Qs ote quilombos da Lua ‘pds recuperar suas forgas, ajovem disse a Zumbi ‘que tinha tido uma idéia. Que, agora que teria seu reino, ela 0 construiria do jeito que imaginava em seus sonhos: um lugar de paz, onde nao houvesse violencia ou contito, onde a guerra e a morte estivessem longe, muito longe. Para isso, Lumiar escolheu as terras mais ao sul e se fixou com seu grupo ne alto de uma montana verdejante, onde fundou 0 Quilombo da Serra, dedicado a Oxum. Seguindoo planejamento de sua rainha, o Quilombo da Serra ndo possui muralhas, paligada ou qualquer tipo de protegio. Nao ha patrulhas, guerreiros treinando artes da guerra ou forjas para armas. Ha apenas cagadores, artesiios, lavradores, musicos, babalorixas, ete.E que Lumiar julgava que a Serra da Lua fosse um lugar t80 seguro que toda a preocupagao com a guerra e com a violéncia eram desnecessérias. Infelizmente, Lumiar estava errada. As terras onde as terras mais ergueu scu quilombo eram tambéi proximas da rota de uma bandeira organizada para atacar 08 Quilombos da Lua. Essa bandeira, liderada por Jeremias Lobo, um cruel bandeirante envolvido no trafico ilegal de indios escravos, ecusteada por grandes senhores de terra, retine os melhores capitaes-do-mato da regio, além de guerreiros poderos: rastreadores jaguaris e, seeretamente, alguns bruxos malignos, Fortemente armada, essa bandeira ir atacar 0 Quilombo da Serra numa noite sem lua, tocando fogo. nas plantagdes e esperando os homens chegarem para combater 0 fogo, abatendo-os com saraivadas de tiros de eseopetas © mosquetes. Em segu . os bandeirantes invadirdo 0 quitombo, matando ¢ massacrando homens € velhi . poupando apenas as mulh -s © as criangas ja grandes, pois 0s bebés sero abandonados na mata, Apenas um menino, de nome Damiao, um filho de Lumiar com grande potencial para se tomar um babalorixé, conseguird escapar, gracas ajuda dos orixds. E chegaré a0 Quilombo de Zabelé, onde contaré toda a histéria Os personagens dos jogadores poderiam estar no Quilombo da Serra na hora do ataque, ou poderiam chegar logo depois, encontrando os bebés abandonados, tudo queimado e, mais tarde, encontrando 0 menino Damiio, perdido na mata, apavorado. £ claro que um grupo de aventureiros ndo vai ser 0 bastante para deter uma bandeira to poderosa. O melhor sera avisar aos outros {quilombos, preparando um verdadeiro exército para atacar a bandeira. Mas isso fica para outras sessies de jogo € para o resto da campanha. “align So allt uN hina Capitulo 3 As Terras Iaraupés Os habitantes origi is da Serra da Lua eram os inraupés, que construiam suas aldeias desde o territorio, que hoje ocupam até quase o territorio urupé. Porém, aps uma guerra violenta contra os urupés, os iaraupés, detrotados, recuaram para 0 vale do rio So Caetano do Sul, onde hoje habitam as terras as margens do rio, ede uma imensa € nevoenta lagoa, que dizem ser a nrorada de espiritos do pasado. Essa lagoa possui uma ilha em seu centro, que fiea eternamente coberta pelas névoas, E, dizem as lendas, lé existem earrancas como as da Serra da Lua indicando que uma antiga nagao de indios poderosos, teria habitado aquela regido. Além disso, a itha tem muitos monstros ¢ criaturas, ¢ a lagoa € povoada por negros-d’ gua, boitinas ¢ minhocBes. No centro da ilha,, hum pogo de pedras negras cheio de agua esverdeada. No fundo do pogo hé um grande tesouro escondido, com pedras preciosas € objetos de ouro macigo. Esse tesouro é protegido por duas cumacangas, uma mie do ouro e, dentro do pogo, por uma dama do rio Por todo 0 vale do Sao Caetano do Sul, naquela regio, existem aldeias iaraupés. Os indios sio habeis, rastreadores e valentes guerteiros que nao apreciam, invasdes, Ha uma aldeia que se localiza proxima a uma enorme quantidade de cavernas subterrineas, interligadas por um labirinto de tiineis, Essas eavernas esto cheias ddemonstros e eriaturas sobrenaturais. Em certa época do ano, oS iaraupés realizam um ritual que con iste em caplurar guerreiros nas redondezas¢ liberti-los no interior da cave iardando nos timeis de saida pelos que sobreviverem aos horrores subterrancos. Fsses felizardos, que demonstraram ser guerreiros poderosos, tém a honra de serem devorados para que os iaraupés absorvam sua coragem ¢ habilidade. Nao € a época do ano mais agradavel para se conhec 6 territério iaraupé, mas. infelizmente, ningué sabe ao certo que época ¢ essa. fb por isso que se evita cruzar tertitério iaraupé. Mas nem todo mundo sabe disso. Na verdade, é muito di saber algo sobre os iaraupés. E quase impossivel ja ter ouvido falar das cavernas ou da ilha na lagoa Uma outra curiosidade sobre o territério iaraupe is subterrneas, de uma enorme aldeia cupendogali, os indios andes, albinos e canibais que vivem no subterraneo e atacam noite. Os iaraupés os chamam de “tatus brancos”, ¢ mantém sempre uma distancia segura de seu territrio. mais suave que a Serra da Lua. Os urupés habitam tanto as montanhas quanto os vales, chegando, inclusive, as regides costeiras e 4 margem do rio das pedras, proximo a Vila Nova, As florestas dessa regiaio stio conhecidas como amata dos espiritos, porque a superstigao indigena diz que nao ha no mundo um lugar onde existam mais espiritos vagantes do que ali, principalmente na margem norte do rio Sdo Caetano do Sul. Os urupés acreditam que Tupa, deus-trovao, descobriu que ali morava uma tribo que nao enterrava seus mortos por pura preguiga. Irritado com 0 desrespeito aos mortos, Tupa mandou uma cobra de fogo que destruiu toda a aldeia ¢ matou toda a tribo. (Os mortos, que nao foram enterrados, se transformaram, entao em espiritos do mal, como avasatis, juruparis, andiras, mauaris e mbai-aibs. E os indios, mortos pela cobra de fogo, se tornaram almas penadas, como indios, vagantes, bradadores, mortos-vivos € marajigoanas. destinados a vagar pelas matas para lembrar a todos que se deve enterrar e respeitar os mortos. Verdade ou superstigao, 0 fato & q e essas matas so mesmo cheias de espiritos. Muitas criaturas do mal rondam as matas, até mesmo na Serra da Lua, tornando as nites aterrorizantes. Além disso, hd um barranco jo abriu uma fenda de mais de trinta metros de altura, Os indios dizem que foi ali que Tupi guardou a cobra de fogo, que dorme enguanto o deus nao decidir desperté-la novemente. Essa fendaé 0 lar de dois boitatés enormes, que estéio em hibernagao. Se despertarem (0 mestre decide como), 05 monstros ‘enorme numa eneosta, onde a ero: atacario com muita ferocidade, queimando tudo em seu caminho, matando ¢ destruindo todos 0s que estiverem a sua frente, Esse barranco fica bem proximo ao sopé da poucos dias de viagem dos quilombos. E a bandeira de Jeremias Lobo vai seguir uma rota que passa, a largo da grande fends. Na Serra dos Urupés, ha uma aldeia que estava sob 0 ataque de centenas de espiritos malignos, que causavam doengas, maldigdes, possessdes e mortes. Os indios tentaram se mudar mas os espiritos malignos os, seguiram, Desesperados, os indios enviaram guerreiros em todas as diregdes em busca de ajuda, pois 0 paié, que ha ia sido possuido por um avasati, roubou 0 amuleto protetor da aldeia e se escondeu com ele na floresta, numa na onde habita uma andira, ces da me} noite, mauaris © um anhanga (de nivel avangado). Porém, nada impede que o mestre de jogo. faga sua propria lista de eriaturas, sé aconselhamos, que mantenha © anhanga, que ¢ quem da fama de maldita a caverna Essa ajuda chegou na forma de uma imagem santificada, uma representagao de Santa Luzia vinda do Velho Mundo, que se perdeu num naufragio a0 ser transportada de Vila Nova para Porto de Sao Tomé € foi encontrada pelos indios numa praia deserta. Essa, imagem abengoada te afastado os espiritos, que agora mantém uma distancia segura da aldeia. Os indios tratam a Santa com muita reveréncia, prestando-the homenagens e oferendas. Enquanto isso, 0 colégio jesuitico de Vila Nova organiza desesperadas buscas para localizar a Santa, contratando aventureiros de todas as partes, prometendo régio pagamento. Uma boa oportunidade para um grupo se embrenhar na regio préxima aos quilombos ¢ iniciar suas aventuras por aquelas terras. A Guerra entre os Urupés e 0 Quilombo Tlé-Anga Os urupés sao indios de indole neutra. Nao costumam atacar a nao ser quando provocados Procuram sempre evitar a guerra, que acreditam no ser boa pois causa muitas mortes desnecessirias, € ‘05 mortos podem ser transformados em espiritos malignos ¢ almas penadas. Seu povo ainda guarda a lembranga das sangrentas guerras contra os

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