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Ce av JOTECA DE FILOSOFIA * STORIA DAS CIENCIAS JURANDIR FREIRE costa ORDEM MEDICA | E NORMA FAMILIAR t 48 Edigso ' IN “6444 EE] 2 Eat: 198 iris adguiios para angus portapvess por EDICOES CRAAL LTDA | [ise ermeney io Baron, 1A — Gla 20241 Ride apciro Hd ~ Bal Fone 52.8582 ©Copyright by Jara Fre Conte Tres no ashi eas 1999 (UNESP ASSiS - BIBLIOTECA Tous | ASSN | Petit, | sont | any] C62 | Saran figs VC 4 CHP-Bras. Cutan mafoote | (C8790 Grocin médies enor familar / Jurands Frise Covi. — Rio ‘iica desta «hie dae lca: 28) seca "Fab fost. Talo, Se ‘A meméria do Dr. Philippe Paumelle bie os primeiros mestres, ae Paulo Sette ¢ José Lins de Almeida rans jee Sal eete A Célia, Cecilia e Tiago ‘Aos amigos, em especial, a Jackie, Esta pesquisa contou com o apoio financeiro da FINEP ¢ 0 apoio institucional do Instituto’ de Medicina Social da UBRI. Participaram como assistentes: Alfredo. Schechtmat, Daniola ‘Ropa, Paulo Gadelha e Renato Veras ‘Agradecemos, de modo especial, a colaboragio de Alfredo Schechiman, Angola Loureiro, Calla Leite Costa, Daniela Ropa Roberto Machado, ‘Agradecemos, sinda, a todos aqueles que com ethics, sugestoes indicagdes bibliogrticascontriburam para a realza ‘80 deste trabalho. Em paricular: Carlos Roberto Olivera, Flavia Martins, Joe! Birman, Madeleine Siqusira, Malvine Zale berg, Paulo Femando Siqucira, Ricardo Miller e Scbastizo Usha Leite iNDICE INTRODUGAO ... Capitulo 1: A MEDICINA DAS CIDADES Capitulo 2: A CIDADE FAMILIAR .. 1. A anatomiafuniliar do espaso urbano colonial 2.0 governo familar da cidade 3. A teologia do poder familar 440 universo do smesmo» na cidade familar Capitulo 3: A HIGIENE DAS FAMILIAS 1. Aleie norma 2 Urbanizagio da Fain, estatizagio dos individuos 3. Amor da faniia, amor a9 Estada Capitulo 4: DA FAMILIA COLONIAL ‘A FAMILIA COLONIZADA |. Fama colonial lugar e formas de convivéacia A rrecepcéd colonial: 0 contato com 0 mundo 2. Familia colonizada: medicalzagioe dscpling a domieilo . : A casa hitiénica ‘A discipina doméstica: da promiscuidade (20 sintinismo» : 2 uw 3 ” 9 6 ” 2 see no no ns Capitulo 5: ADULTOS E CRIANCAS 1. Direito do pai, more aos fihos 2. protegio da infncia A fara nfasta O cultvo da infincia A disciplina do corpo 0 adestramentofsico no espaco da ordem O espaco da onlem O tempo discplinar 0 fico disciplinado A regulagdo do sexo 4 dlsciptina intelectual A disciplina moral 3A inna seduidas 44. Conscgneia de este, conseiéneia de raga, ‘conseigncia nacional Capitulo 6: HOMENS E MULHERES 1.0 conteato conjugal 2, 0 easamento como insituigio higinica 5, Seno e amor no casa dsciplinado 440 pai: manoquim higiéico do homen Libertinos,celibatdrios« homoscexuats Machismo e pateridade S.A mie ea mulher A mde higignica: amante dos hos, ‘liad dos médicos Prostinutas € mundanas ‘A mulher enervoras cliente dos médicos, Inimiga do homem BIBLIOGRAFIA CITADA is m m 0 05 181 1 14 7 ws ww 2s 215 20 226 240 20 209 ass ass mm 275 ixrropucho, No presente momento, tormov-se banal consatar que & familia vai mal, As explicagées dadas a Tato mutiplicamsse. A desestruturagio da faiia € sueessivamente imputada x0 afou- “Tamento dos lagos conjugss; o eafraquecimento da avtridade dos put, a emaneipagao.da mulher, 20 conservadorismo do bomen: febeldia da adolescéncia; A repessio da infincia; a0 fexcesto de protegio abs flhos; & auséncia de amor para com les, ec. Em suma, of individuosestariam como que desapren: endo as eegras de convivéncia que mantinham a fala coess, Cada um deles parece asirar justamente aqulo que se opde 40 tireito ou as aspragaes do outro. A independéncia reclamada pelos adultos implica 0 abandono das crangas; & autonomis os filha, no cerceamento da iberdade dos pas: a emancipacio ‘de mulher, em atrtos com 0 poder do homem assim por diane. Os membros da familia, em vex de alias, estariam se tomando inimigos. 0 lar_modero deixou de cumprir sss fnligas fungdes., Ao invés “de propiiar carinho © proterio, ‘estariafomentando a guera entre seX0s egeragies. "A familia estariavivendo. em rue impasse. Perdew seus antigos valores sem conseguir evar nada que pudesse substi los. A mobildade s6cio-oltural do universo ctadiao peivou-a de Sus vinculostradicionaise, a0 mesmo tempo, da possibildade e estabelecer novos felacionamentos slides. Sem ano, pot u tanto, ela estaria perdia, Sem cuidados expecilizndos, aio tencontrariasaida para os confitos em que se debate ‘Estes pressupostos, com pequenas variates, informam a imaioria das propostes stuns de reabiitagso familar. Portindo eles, pedagogos, psicoteapeutas e profissionaisafins revezam- Se na tarefa de assisténcin an famfias desequilibradas. Assistén- ia que, nos grandes ceatros urbanos brasleitos, ating, em hossos dias, proporeées inusitades. No hé como negar esta tvidencia: 0s individuos pertencentes & pequena, media em ‘menor escala, grande burguesa urbanas parecem ter renunciado 40 direto. de resolver, por coala prCpria, suas difculdades familiares. Cada dia mais apelam para especaista, em busca de solugdes para seus males doméstcos ntretanto, 20 consirio do que pode parecer, est posigio de depengéncia para com agentes educativo-terapéuticos no & festranha histGria da Tamla burguesa, No sézulo XIX, sua fnlecessora, a familia oitocentsta de elite, foi submetia a uma {Wiela do. mesmo género. A medicina social, através de sua politica higignia, reduaiu fama este estado de dependée fi, recerrendo, o que € mais signifleaivo, x argumentos seme: Thantes aos atvas. Fol também preextando salvar os individuos do caos em que se encontravam que a higiene isinuov'se na Intimidade de suae vides ‘A partir of tects década do século pasado, a feiia ccomegou & ser mals incsivamente defnide ‘como lncapaz de roteger a vida de criangas e adultos Valendoste doe alts Indices de moralidade infantil e dat preciriss condigoes de Gide dos adultos, a higiene conseyuiv impor a fama uma ‘educagio fisca, moral, intelectual e sexual, ipirada nos prece tos sanitirios da época, sta edveagio, dings sobretudo is cviangas, devera revoluconar os costumes familiares, Por set Intermedio, 0s individuos aprenderam a cultivar © gosto pela Sade, exterminando, assim, &-desordem higiénca dos velhoe habits colonia Retrospectivamente, no entanto, not-se que a agdo desta pedagogia medica exttavasou os limites da side individual Arigiene, enquantoaltrava 0 peel suntiio-é fara, modi fou também sua feigio social. Contrbuiu, justo com outras n instincias sociais, para transforméla na instiuigéo conjugal € nuclear caractritiea dos nossos tempos. Convereu, além do mais, 0s predicados fsicos, psiquices e sexunis de seus indivi- duos em insignias de classe social, fara nuclear e conjugal, higienicamente trata e repulads, tomou-se no mesmo movi mento, sindnimo histérico de Tula burgusa Mediante esta titca, vida privada dos individuos foi avrelada ao destino politico de uma determinada classe social, a bburguesia, de dias’ maneiras histaricamente india, Por um Jado, © corpo, o sexo € os sentimentos conjugais, parents © filiaispassaram a Ser programadameate usados como istrumen- tot de’ dominagio politica sinais de diferenciagao social daque In classe. Por outro lado, a ética que ordena © convivo social bores modelou o convivio familar, reprodurinda, no interior das: casas, os conilios e antagonismos de classe existent. na Sociedade, As relagSes intrafumiliares se tornaram uma répisa das relagdes entre classes socials ‘A dindmica deste processo & mais visivel quando se analisa ‘os resultados obtidos pels educagio higénica, Neste cso, vése {te que ponte chegou a fusdo entre aqusigia de saide indivi ‘dual sauisipfo de status social e manipulago.poliico-econd mica da vide dos individuos. ‘A educagio fies defendia pelos higienists do séeulo XIX crow, de fato, 0 corpo ssudivel. Corpo robust harmonios0, frganicamente oposto ao corpo relapso. Mico © doentio do Individuo colonial. Mas, foi este corpo que, eleito representante de ums classe e de ums raga, servi para incentivar 0 racismo © fs preconceitos socias a et igados Para explorare manter ex plorados, em nome da superiondade racial e socal da burguesia branea, todas of que, por suas singularidades étnicas ot pel Imarginalizagao s6cio-eondmica, mio logravam conformar-se ao ‘modelo anatdmico construid pela higiene (© euidada higiénico com 0 corp fez do preconcito racial um elemento constitutive da consclenca de classe burguess. O racismo no € um acessério ieokigico, acidentamente colado fo ethos burgués. A canscincia de caste lem, na conscizncia dds esuperiorlladewbiolgico-social do corpo, um momento indi pensivel & sua formagio, O indivduo de extrapio burgvesa B - desde a infincin, aprende a julgar-se ssuperior» aos que se Stuam abaino dela na escala ieolGpia de valores sécioracias. or isso mesmo, admite com mais Taclidade e, as vezes, com imarcante insensibildade a stagio de iferiordade sécio-eon6- “que geralmente estio rubmetigos os banidos da elite Fraica: scigulose, sparatase, scaiiras» ele. Por isso mesmo, fquando, por vezes, conseBue despojar-se da ideologa politica de va classe social, continua avallando pejoratvamente 0 corpo, fs gestos, a fala, 0. modo de ser e viver dos mabnascidos Continan, malgré li, Tarcinado pelo corpo burguts, higienca- mente urbanizado e dseplinado, ‘A educagio mora foi, do mesmo modo, bem sueedida Secularizou medicamente as mentalidades. Extinguu das casas ¢ colegio a violencia punitiva dos castigs fisicoseolonais. Cid 4 figura do individvo contide. poli, sbem educadon, cuja hhorma ideal € 0 comportamento reprimido ¢ disciplinado do entleman, do petit-hourgeois europen. Mas, a8 custas de uma frescente tendénci & autoculpalizagdo, que se tornou marea fesistrada do sujeito -civiizados e sburguesada, Do sijelto forgado a exercer um autocontoletirinio sobre si mesmo. Do Sujeito ensinado a reagit com extrema intolencia as meaores falhas morais — reais ou Imagindrias, was ov de seus pares — falhas estas, responséveis, em mutissimas ocasies, plo sot mento psiguico que ele experiment, 'A edveagio intelectual condizida pela higiene ajudou a refinar e 8 culivar centifeamente a primitiva sociedsde colo- Dial, Mas, desde entio, 0 nivel de instrugio e a eapacidade intelectual entraram na era da competi, eavcionada no 36 pele ofdem econdmice mas também pela cigncia médica, Os Figienistas colaboraram no processo de hierarqulzagio social da inteliggnca, criando a ila de. que 0 iadviduo.mcultos era fuperior #0 sincullos. Difundiram, simollanearente. 0 precon feito de que 0 cérebro do homem espacio para as pri Stes intelectoni, enquaato © da mulher sé the permiia exercer atividades doméstcas "A educagao sexual que, segundo a higene, deveria transfor. mar homens mulheres em reprodutores e guardides de pres sis aragas purase conseguiu, em grande parte, estes objetivos Ms ‘A sanidade fisiea da familia de lite aumentou, na medida em ‘que a5 condutas sexuais masculina e feminina foram seado fespectivamente reduzidas as fungoes séciosentimentais do “pai > € da smies, Em contapertida, esta mesma edvcasso eseneadcou Uma epidemia de repressio sexual intrafamiliar ‘que, até bem pouco tempo, tansformou a casa burguesa numa, Yerdadeira fiat da’ «policia médica. Instgados pela higiene, homens passaram a oprimir mulheres com @ machismo; rol res a irnizar homens com o snervosismar: adultos, bataliar eniangas que se masturbavam; casados, a humlharsolteros que fio casavam; heterossexuais, @ reprinie homossexuas ete. O sexo tornau-se emblema de respeto © poder socais. Os indi duos passaram a usilo como arma de prestgio, vinganga © punigao, Finalmente, © amor ene pais ¢flhos,sonhado pela hgie- ne, coneretizou-se. Na fafa conjagal modersa os pais dedi- famese as crangas com um desvelo inconceivel nos tempos colonials. No entanto, e este um aspecto fundamental, de ‘maneira permanentementeinsaisfatira, Perante 0s novos téea- 08 em amor familiar, 05 pais, via de regra, continuam sendo Vistos como ianorantes, quando nio =doentess, Hi sempre um ‘a maise a corgi, um +a menose a trata. Amare euldar dos fihos tornou-se um trabalho sobrehumano, mais precisamente, scientific. Na fara burguesa os pais jamais esti seguros do ave sentem ou fazem com sues eriangas. Nunca sabem se esto ‘tindo certo ou ervado. Os especialstas estio sempre no Indo, Fevelando 08 excess0s ¢ defieitneins do amor patero © mater Em resume, quando observamos os resultados da edueacio higiénia, uma conclusio se impoe: a norma familiar produzida pela ordem médica solcta de forma consiante 4 presenga de Intervenges disciplinares por parte dos agentes de normalize ‘oD Tato, mpltos dos fendmenos apontads, hoje em dis, Como cqusas dt desagresasao -familiar, nada mais s80. que consequéncas histéricas da educagio hipgnica. Em outros ter ‘mos, as familias se desestruturam por terem seguido a rsca as formas de sade e equiv que ies forum impostas, Esta constaagao & importante, pois elicida a provivel razio da persisténeia bistriea do mecanismo de tuela fair 5 través da atvidade terapéutia. A nosso ver, 0 controle educa: Tivo-erapéutico insturado pela higiene iniciow um modo de regulagdo politica da vida dos individuos, que, até hoje, vem Se Imostrando eficiente. Atrvés da tuela terapéutica 0 corpo, 0 sexo e a8 relagies aftivas entre os membros da fails, como ji vines, passaram a ser usados, de modo sistemiicoe ealeulado, como meio de manutengo ¢ reprodugio da order social but guest, Todavi deste tipo de tuels vai_mas. lem, Recupera of efctos imprevistos desta manipulagio, ocultando- lhes a origem e o carter polico-scial gH Tine ta ar mame ee ae Bere be Set 6 da norma educativoterapéutica nio se faz através de nenhuma incueagio ideoligics, Hlosdica ou poitea que leve (0 individsos a mudarem suas visSes de mundo. prim ‘Bimo desta erica dispensa comentirios. Seria also afirmar {todos of profissionais afetos & area de assisténcla fai sio politicamente conservadores, A normulizacio das condutas e Eentimentor opera em outro nivel. Bla procade de forms opost ‘despoitizanda o cotiiano e inscrevendo-o nas mieropreocupa ‘e8 em toro do corpo, do sexo e do intimismo psicoloico. E través da polrizago da conscincia Gos indviduos sobre estes ‘bjetos parcais de sins existéncias sbcioemocionais que a forma terspévtica xe implant e passa a age. Ba mecénica deste procedimento que a histéria da higiene familar ilustra de manei+ Fr ineguivocs e exemplar ‘Que a familia sofve e precisa Ser ajudada, nio hi divida! Nao se tata de negar a desorientagéo e 0 sofsimento emocional que perseguiem os indviduos urbanos as volts com seus dlemas familiares. A'dlvida coasiste em saber se os remédios propos: tos, a0 invés de sanarem o mal, no irdo perpetuas a doenga. O prublema comesa quando percebernos que a luidez eiestifca ‘as terapduticas diigidas ds famflas estondem, mutas vezes, ‘uma grave miopi politica. Miopia que tende aboli, no registro do simbélico, 0 real adjetivo de classe exstene em todas estas Tigdes de amor e sexo dadas foil capiTULo 1 A MEDICINA DAS CIDADES, A partir do século XVIII administrapio portuguesa desen volvew um nov tipo de interesse plas cidades bases, Com fa descoberta do ouro, cidades igadas& extragio e comercilizae (0 do produto cravam-se ou expandiam-se. Paalelamente, fit uma elite rolativamente diferenciada dos interesses do ino. Negociantes, homens de letras, militares, funcioniti piblicos, feligioros © outras camadas sociais comecaram a se opor 3 textorsio econdmica de Portugal. Os epsédios de sabotagem evondmica erebeldia politica multpicaram-se. Portugal. alé entto negligente na politica de poveamento © urtanizagio do Brasil, deve conta da imporincia do problema ‘A cidade tomarase um foco permanente de contestgio do poder teal e precisava ser dominada (0 exemplo mais signfieativo desta situagio foi o Rio de Janeiro. 0 Rio tornara-se © principal entreposto comercial 60 fouro. A diversifeagso do comércio ¢ dos servgos stra a opulagio em busea de maiores oporunidades de emprego. Essa ova massa citadina prestava-se, fasilmente, & manipulagio subvesiva dos opositores da mettOpoe. Com as invasoes espa nholas do sul, a siluagio se agraveu. © Governotinha que en fentar dos inimigos,& agresseoestrangeira ea desordem iter na. A transferéncia do’ Viee-reinado. da Bahia para 0 Rio ddeveu-se em parte a esas ameasas. Os relatrios dos Viee-reis¢ ‘outros homens pblices referem-se constantemente iguelse dif culdades dessa éf0ca os primeiros exforgos sstemiticos para controlar a cidade e @ populagio em fungio dos interesses do Estado, Rio, por sua posigio estratégica do ponto de vista fecondmico e militar, val converterse em lsborstério dessa experiéncas Até meados do século XVIII as cidadestinam sido pratca ‘mente abandonadas por Portugal. A ocupagio do tetério bras lei fez-se através da inicativa privada dos clones. Enquanto ‘0s interesses politicos © econdmicos desses colons coineiiram om 0s d9_teind, as cidades se comportaram conforme. a expeciativa do Estado. No século XVII, com a mudanga de Slagdo, metrepote precisouintervir aim dereconduzt os tidades & ordem ‘colonial. As medidas derestabelesimento da fordem comegaram entso Ser tomadas ‘Todavia, essa tenfaivas de contole orientavam-se pel percepgéo colonial do que era ordem, le, justiga transpressio © pnigio. Os governantes procuraram dominar a cidade staves da leyalidadeinserta nas Ordenagbes. As inragbes eram punt fas pela justioa pela polsia com a tuculéacia earacteristicn da época: enforcamento, exfio, asoite, etc... Os iastrumentos hhomeostticos da lei colonial restrngianse 80 aparetho jurid- co-poliial. ‘Ora, esse sparelho, pouco a poueo, tornouse incapar Je conter 0 ¢a0s urbano. A estratéga punitiva da Colénia esgotou suas possbilidades de agio, em modiiear © perfil insurreto da populasio citadina. O sécvio XIX reecbeu a desordem urbana Virios fatores explicam o insvcesso do controle colonia Um deles era a incoeréncia intema. do insteumentajuriico- Policial, A jusiga pies, por exemple, comraiava violent mente sua versio tedrics, No cotdiano, debaiase na submis: So confliante a0 pier do Estado, do cleo e das familias. O Rio de Janeiro fol cenario de disputas continuas entre Cover- adores, Igrea ¢ Senado da Camara, este tltino, represen- fant dos potentados ruris © dos. grandes negoctants," Cada uma dessas instancias_procura manipular a justga em seu be- neficio. Ouvidores e juizes mio dspunham, 3s vezes, da me ‘or autoriomia e limitavamese 8 defender o grupo com que se identifeavam. Muitos criminosos eram sbertamente protegidos pelo clero ot por amiss importantes.” Mutat gBes poiias © ‘econdmicas contra o Estado partiam dos senhores de terrae dos Feligiosos. Diane disso, a justica do Rei ov se tomava cimplice ‘A policla por sua vez, enfrentava o mesmo tipo de pro bem, ‘Tendo que cumprr sei era, no enlanto, obrigada 4 se curvat aos interesses privados. Além do mais constiuigio Fragmeotar de sua orgtnizagdo agravava suas defciéncias, Ate 1788, 0 policiamento das cidads era feito pelos aquadrieieo. ssa instiuigdo. eriada em 1626, recrutava seus membros na populagdo evi, que acetava, mais ou menos espontineamente ‘os encargos de vgilincine punig.""Apesar de terem ums che fia propria e dependerem formaimente da justia, 0s quad: ‘0s subordinavan-se freqientemente & altordade pessoal dos Governadares ov 40 Senso da Camara, Nao havia um comando Siico tem uma lel sfcientemente clart que orentase a agg policial aum sentido mals preciso, A cragao das quardss muni Cine, em 1788, apenas det! novo nome & antiga stuagio. Ate & a criagio da Imendéncia Geral, em 1808, autoridades poticais Coatineavam pulverzadas em cheles de quadiheieos, alaiges mores e menores, capities mores de estrada ¢ assis, todas com o legitino direito de prender.“A. Imendéncla, cragio do Principe Regente D. Jogo, centralizou as decisbes repressivas © fortalecev a polica. No entanto, esse fortalecimento teve seu lado negative para o Estado. Em fungio da divisio social do Itabalho vigente, 2 pois competa construir ponte, drenar paintanos, cage ruas, consrur redes de esgotos e abasiecimen- fo de gua, ete, Por vezes, também, organizar estas populares, promover a imigragio ¢ # pacipar de inimeras tarefas civico ocins Este papel administrativo politizou a polca e levou-a a tomar partido em ocasies de lutas pelo poder. Os acontecimen: tos de'I3 de julho de 1831 foram alguns destes momentos de Tetome do aparelho poicial contra 0 poder que deveria defer- er. A poliia aden as forgas que se opuseram a Fei e foi ‘issolvida. Desta forma, poiciae justiga, carentes de coesio em termos de hierarqus, comando efonte de poder agam anarquica ‘04 ineicientemente ‘Um segundo motivo da improdutividade do. mecanismo Juridico-plicial devise & sus Wlenrepressiva,Jsticae poica Timitavam-se & punir A represséo colonial era essencalmente punitive, Ela apontava face da Hegalidade quando a infragio fi hava ocorrido, Naquele perodo, «idea de prevengio do crime fu dt Feintegragao do criminovo 4 sociedade sinda nao exisia. A populagio punidareinediasistematicamente. O governa perce bia que uma das causes da eeincidéncia dlivosa era a 0cios dade e a vagabundagem, Entretanto, no sabia como oeapar os individuos, O atraso econbmico ¢ cultral do Brasil, deliberada- mente mantido por Portugal, impedia que disciplina do trabalho, da escols ou da familia gudasse 0 Estado no controle da marpinalidage, Os goverantes davam-se conta de que no bastava punir, era preciso prevenic. mas nao sabia como fxar (of indviduos em locals de fae reconhecimenta. A existéneia js fisicose soca era necessri para que a onduta da populisio padesse ser observada antes e depois do ‘Sem poder dispor de instrmentos de controle que implics- sem no desenvolvimento econdmica © social do pals, 0 Bstado eve que butear nas instiuigdes existentes a solugéo para 0 impasse 'No panorams legal © punitiva da Colina, dua instuigdes tinham constrido (enieas de contol eiientes dos indviduos A Tgroa © 0 exército. A primera através do formidivel empo diseipinar que fol 8 pedagogiajesuta a segunda, através da ratureza do servigo mills A utilzagio da igre pelo Estado tstava praticamente excluids. Durante todo 0 perio colonial, © tlero ou defendeu seus proprios ineresses ou associou-se Famfias conta a metrSpole, Raramente a politica cleral cone liga seus objetivos com os do Estado. No caso dos jesitas essa ‘constatagio & particularmente visvel. Os atritos entre os jesus £2 Coroa Portuguesa impediam os governantes de se utlizarem 4o dlispostivo lsciplinar dos primeros em benefiio do ino. ‘Além do mais, a edveagio jesutica pressupunha 0 desenvolvi- mento da instragio e dt essoluri2agi, {ato palico-cltural que Ccontrariava & estratéyia do Governo, A pedagogta jesus, por fees molivos, no 40 Ser evilada, mas combatia. Os obsti- ‘culos 2 sua expansio 86 serlo transpostos no século XIX, com 0 trande movimento de intemagio dis eriangas, coordenado pela pedagorialeiga ea higiene médica, ‘Desta forma, 0 Estado procurou na ailitrizagéo © auxio indispensivel ao controle da cidade. E, dente seus representa tes, coube a0 Marques de Lavradio os louros da descoberta © temprego sistemitico da diciplina militar no combate & desorder paltica INO relutrigy de transmissio de sun adminiseagio (1760 179) a0 Vieetei D. Luiz de Vasconcelos, Lavracio expe as diffeuldades que enconirou na implentagio do nove dispostiva te controle. A velht ordem coloni resistin & inovagio dis Ciolinar. ‘Ao assumir 0 Vice-reinado, © Marqués de Lavradioativou a formagio dos stergos auxliarese, que seu antecessor, o Conde 4a Cunha, nunca Nava organizado na prtice. Os tergos eram tropas avtliaes do corpo regular do exérctee caracterizavam- fe pela menor exigéncia de discpling fsieae ocupagio do tempo der soldados. A solugio dos tercos, do panto de vist esta tmente militar, respondia as fugas dos individuos ao ‘Além do mais representava uma grande economia para o reino, pois, a0 contririo das tropas reguares, os recruta fardavam-se rdpris custas, nao reeebiam soldo'© pagavam as armas que ihe eram fornecidas. A populagio preferissevir nos tergos pot mmotivos de prestitio © poder, pelo menor tempo que Thes ers txigido ¢ pelas eventuais vantagens econdmicas de que podiamn lnufruie. Sabesse, através do relatsro do Viee-tel, que os cheles das tropas auxilares efam Fequsitados entre «os negociantes © pessoas mais abundantes da capital, pra que eles (os soldados) Wissen que agueles ofcais nio s6\nio haviem de extorquie eles, o que costumavam praticar os mais ofcais de auxiiares, mas ave pelo contririo, eles seri capazes de os socorter nas Suas precisées © ajdésios & uns nos seus negécies, e a outros nos seus ofiioss." © interesse evonémico € militar do Estado haemonizavarse com as interesses privados da populuglo. Layradio pereebeu 0 Walor de dominagdo que essa eoncordincia posia ter. Queda. dose do estreto espirito de corporagio que levava parte dos militares ase opor a esta espécie de mica civil, ele afiemava fm sou relatério: «Além de V. Excia. ver, pelo que tenho 2 hhonra de repetirihe, a uldade gue podem ser os tergos auxii: res para a defesa e seguranga deste estado, devo dizer V. Eels. que pars mim € uma razio mais forte para formar com todos os povos, assim os tergos auxliares com todos aqueles individuos que estio em idade, forgase agldade para poderern tomar armas, como os dss ordenangas, com aqusles que estio tals impossibilitados, e vem a ser a razio que € redir todos testes povos em pequenss dvisdes e etarem fjeltor a um certo fnumefo de pessous, que se devem escolher sempre dos mals “ capazes offciais, que estes gradualmente se vio ponde no costume da subsrdinagéo, até chegarem a conhecé-los todos na pessoa que S.M. tem determinado para os governar. Estes povos fm um pals to dilatado, to abundant, Wo reo, componda-e a Imsior parte dos mesmo povos de gente de por edveayao, de lim caster o mais liberiao, como ss0 negros, mulats, eabras, Iestigs e outras gentes semelhantes, nao sendo sueivos ‘que a0 Governador ¢.s0% magistrados, sem serem primero ‘Separados acostumados a cohecerem mais juntos, assim ‘outros superiores que graduslmente vio dando exemplo uns 208 ‘outros de obedidncia e rexpeito, qe sio depostrios das leis © frdens lo. Soberano, fies sendo imporsivel 0 poder governs sem sossego © sijelo # uns povor semelhantes, At experién- fias © tem mostrado, porque’ em todas as pares onde tem havido de veduzic 0s povos & esta orden, tem sido as desordens ‘e inguietagdes imenses,e anda depois de cansado o executor da alia Justiga de fazer execugdes nos a quem lel tem condenado pelos seus delitos, nem isto tem bastado para eles se di Fem, e pelo contrrio, se tem visto que naguelas partes onde 06 povos estio reduzidos a esta ordem, tudo se conserva com muito maior sossego, e slo menos fealentes as desordens, © siio mais respeitiveis as leis. Fago a V. Excia. estas eellexdes pela grande oposigio que V. Excia. hi de achar na conrervagio estes corpos. O Tenente General tem grandlsiesinvela dels, sem olhar para a grande utlidade de que eles sio, eustithe Yer homens que ele reputa paisanos com fardas e que se foga istingao dos oicinis daqueles corps, do mesmo modo que os pagos, sem se lembrar de que estes 16mm us pagas de seu servo 2 remuneragio, © que os OuLOs servem de rapa, elrgundo a8 ‘suas casas e interesses ver, quando & preciso, servi tanto come (os outros, € pelo que respeita 4 oposio dos particulares, como (© que doselam € viver em toda a liberdade, sem sueigio ‘enhuma, empregam todas as fogas que podem para sacudirem (© jugo que os tem sujetes, come & preciso até para o seU beneficio? 2s A cstttégia de Laveaio ora prfeitamente explicit em seus jevos. © conole militar contatava fanca do dispositive Juric police propunha a repressio preventive icemadora emo aiferaalivs. A ponies legal fahava, em primer lugar, por ser ekeesivamentepredstria,unsteral, sem Troco nem ontaparia. Em segundo lugar, por exercerse em bloo, de ‘modo indierenciao. ‘primeira fala foi contornad pela eiltarizasio, quando Laviado entendeu que & condi para que a dominagio se imantivesse era partha do poder. A poplasio engsada nas Topas aulars ental benefice ezondmicos (poteyao. nos tegovios, preservagio do tempo em fungio dos interessespriva dow) © de poder (participa na tepressio). O apelo A orden ‘dose fazia apenas através da leplidade soberen, volta cusvamente para os intersses‘do Govern. Acs soldados Sinilares ea prometigo um certo nimero de favors. A legal dade srg como portadora de vantagens pessoas. A sabotapem conimies e subverio pla convertase en rime lsat opulgio. Detindendoo Estado» poplag scediava defene Fora sl mesma O carter excesivo da joniga real eta, asim, Stenuodo. A repreasio ocltava seu lado punitive e expan su fase intgrador 1 segunda razio da ineiccia de jstiga punitva era sua deiconiade e308 ao gendric. A mllarizagio atau ste tsquema de suelo eoloeando on indviduos em conto perma fente, diteio © diferensiado com 0. poder. Como. afimava Lavradio, er preciso hablar ov indivigves a eespeitarem em Pequenos gripos, em pequenos momentos, as pequenss autor Uades, a im de que, propresivae comlinuamete, a obedénca $0. Rei emergtse Como satural. A"inoperinia dh repress punitva nacia de aus descomimuidads. © Ret s6 era Tembrado fa antecimara da fore. Ast se fziaevocar por espasms Tavratio observou que pouco adantve ressusla, de tempos fm tempos, um poder que no dia a dia sum na desordem e no ‘los, A miltarizgio aulzava pemarenememe © poet. ora Stbmetendo or Indvidvos 4 avtondade de mancra commun; or tmowtandores como o poder promin os qe dele partcipam. A iegaldade dava mostas vstels papives, dra, de sun 26 cxvénca. A obedinca € o respeto proferavam nas. ormas {um ver snereto no noe cimones Je una fe abtrta 'A miltarzagdo, contd, permaneess hada e paaliada em meio os dsposivos pukivor da Colla, A tmider de mua Expansio explica se plas Unitagbesininecas aos tus mesa. numos de-contole da populagéo © a restigio que o sistema Socio-econdmico da Colona Ihe impunta. O eerstamento ie dia apenas sobre uma pequens parla dos inaviduos, os ho- tens ovens da camada soil mals pobre, Mulberes, cana Welos, escravos,relgiosor e toda a elie econdmica e social Sbiralamsse& obrigagio milter. Alsm do mais 0 serigomiltar Tetnha os homens por um tempo mut cut. For ds ropes, cles volavam a convver com # ndeipina urban. As inst {bes cis, heterogéneas no seu modo de funcinamento dnd tna das tropa, nio prolongavam os efeitos de adem prod dos pela miltarzagio. Finalmente, um motive tas forte tibia aleane do dispositive tar: Na Coli, 0 poder pico ere Alivdido ent o Estado, as famine eo lero. Ax relagdes estes {eos poderes sempre foram tens, sobrtsdo na segunda mete do seeulo XVII Naquele periodo, os antagoismos etre os fepresentantes de mettopole, cro «fafa brass sleangou Pontos altamente delcados A expusSo dos jesus solcionos palalnente a quedo ene & metpolee are, Perssam, ‘Ho enlanto, st dergincias entre ete brasisira¢ a Coroa qu 6 se equiltraram com a abdiagio de Pedro es implantagio da hegemonia poten dos polentados russ "Ate rendncia de Pedro 1 esses antagoniamas peneeavam socitdade brasileira em todos 0s sntdos. A eoporagio militar to escapou 80 conlito, Alguns millares envalveramse em Gispuas polices conta’ o Gover porugis cm favor det ‘ausas emancipatcias” Neste sentido, srmar a populagéo repre Sentava um grande nace. A miltarzaga, enbore efter, 30 polis Utrapassa eros lnites, sob pena de pera reste 0, poder ” © Governo colonial, por sus fraglidade politica, erara um sobsticuloirremovivel a0 controle da cidade e sua populagto. Av lnstincias efieazes ndo se identificavam totalmente com 0 sts do e a vetha engrenagem jurdiso-poical nao conseguia ordenat ‘© meio urbano, Foi esse 0 problema gue 0 Estado nacional representante da elite agra, tve que resolver: como implantat 4 mecinica de sujegdo militar sem erar soldados nem distribu armas ov, em outros termos, como levar os individuos a ‘compactusrem com a ordem estatal sem of rscos da insureigio armada, Esse problema foi responsivel pelo estabelecimento de uma nova estatéia onde novos agentes de coergd foram aliciados, coavertidos, manipulados ou reorentados nos seus mais dive 0s interessese formas de agit. Este fi o momento de inseryao da mena hiiénica no governo potico dos indviguos, ’A medicina que, desde oiniio do século XIX, lutava conta 2 tutelajuriicoadministativa herdada da Cldns, deur argo asso sm diregio a sua independincia, lindo. a0) novo Sistema contra a amiga ordem colonial. Este progreso forse através da higiene, que incorporou a cidade e's populagio a0 campo. do saber medico. Administrando.anigas tecnias. de submis, female sovsconston ces, soma ‘ns e utes em tics do inervengio, a higne conreso0 tarmoniosamente intreses da corporagao médica © obetivos dielge agent fase supérfuo molar que ao hovve intencionalidade finals'no mantsel reciproco dense intereess. Mecsina © Estado convergicam, mas também dvergitam, por vets, ia © estrategicamente. Nem sempre os dols poderes reconhecetam © Yalor da alianga’ que haviam estabelecdo, SB histoicamente & possvelperceber que em melo ator frees, intansgen Glas © concesses, estabizau-se um compromisto: 0 Eslado ‘Ee ad tm Nest ei tee ‘she asst Macho, Roberto ws Dany do orn Gr on 8 8 aceitou medicalzar suas agGes poltica, reconhecendo o valor politico das agdes médias, ‘A-nogio chave deste acordo fo a salubrigade. A qustio da alubridade levantada pela medicinaligou-se, de imediato, ao eresse do pas. As epidemias, as febres, os focos de infeosio fe conligio doar © dh gua sompee foram fantasmas para a ‘administragio colonial. A populagio' era dizimada por ocasito ‘dos surtos epidémicos ¢ nos periodos interertcos apresentava tums taxa de’ mortalidade elevada, A burocracia era impotente para debelar © caos santiio, pois fo dispunha do. apoio econdmico da. metrépole para’ drenar péntanos, caljar ous, regulamentar o coméreio de alimentos, construir esgotos, ete, ‘em possula recursos técnicos de controle ds populagso, ‘Com a chegada da Core a situagdo sofreu uma modiicagio significative. A famfia real, com sev séquito de aristocrats, faumentou em quase um tergo 2 populagio do Rio de Janeiro ‘Além disso, com ela, instalou-se Um importante coningente de ‘iplomatas, comerelantes estrangeitos e familias ruris que co- megaram a tansferirse para a metropole. A pressio populacio- nal e's exigeneis higiéneas da nova camada urbana eelerazam as necessidades de modanga. A medicina passou a ser solictada inaiyinsistentersente, E, pelo fata de possuir métodos,abjetivos fe téenieas mais aprimoradas suplantou, dentzo em’ breve, @ Inoperineia da burcracia, nize os trunfos. da. superoridade médica, wm dos mais importantes foi's tZenicn de. higlenizagio. das populagées. ‘Na Colénia, a conduta antihiginiea dos habitantes era um dos tempocihos fundamentals & saide da cidade. A adminstacio procurava atacar a dificuldide com 0 auxilo de almotacés de Tinpeza. Esta ago. vigilante da justiga operava no mesmo Universo de ponisio que earacertava a represilla eos mat nals. Fla era descontinus, fragmentar e, acima de tudo, no sabia prevent. A prépria relagio numérica almotaé-populagéo texeluia& possibiidads de um sontrole permanente. A medina, Servindo-se de tenicas andlogas as da miltarizagio, contornou feta situagio, Suseitoy o interesse do individeo por sua prépria Salide. Cada habitante tomou-se seu préprio almotacée, em sequida, almotacé de sua casa e da vizinhanga. A desconiau 2” dade no controle © a inferioridade numérica de seus agentes Tram, deste modo, superadas. Por outro lado, a. medicina contava com 2 participagio do Estado na sustetasio de sia politica de sade. Enguanto que, na Conia, a visio caitaive- fssstencial da religto reduin a asisténciamédicas a uma atividade social marginal e supérfua, no Império, a étca liga fos higenistas fez ver que saide da populagéo e do Estado Coincidiam. A sade da populago inserevise, assim, na poll tica de Estado. Por meio dessas nogies € agGes a medicina apossou-se do cespago urbano e imprimiuthe as maress de seu pode. Matas, pintanos, ros, alimentos, esgotes, gua, ar, cemitéros, quarts, fescolay, prostbulos, fabricas, maiadouros e casas foram aguas {os ingimeros elementos urbanos atrados para a Srbita médica ‘A higiene revelava a dimensio médica de quase todor estes fendmenos fisicos, humanos e socials e construla para cada um deles ums ttien especiica de abordagem, domiaio e tansfor magao. entre estas poltcas especies, uma tomou como avo a familia. 0 Estado braileio sempre encontrou na familia un dos mais fortes obsticulos& sua consolidagio. Na Coldna, 0 comba- tea familia obedecia 8 dtica esttamentepunitiva legal. Cada er que 0 poder familiar se insurgia era fulminado. A maquina Tepressiva agin, nos perodos de erse, através da confrontacio Gireta buseanda’ a vitéra, 0 exterminio ov a rendigio. Em Spocas de paz 0 compromisso mantinha de modo latente os interesses antaginicos até que novo paroxismo desencadeasse tuma outra ofensiva. A geografia do poder faciitava a manuten ‘cdo desta distincia eres. A administragdo folava-se no literal {a5 familias na zona rural No final do periodo colonial a cidade ‘aproximou 08 opostores, © 0s confltos pussaram a ser cons- tantes ‘A medica, em sua stuagio hignica, recebeu a heranga desta oposigao. A higienizapio das eidades,estrtégia do Estado ‘maemo, esbarrava feqlentemente nos hibits e condutas que repeliam a wadigio familar e Tevavam 6 individoos 4 no’ se stborinarem aos objtives do Governo, A reconversio das 0 familias a0 Estado pela higiene tomou-se wma tarefaurgente dos médicos. Neste trabatho, a medicina reconsiderou a estratépa colonial de combate & familia depurando-a de seus equivocos. A fama ‘io podia ser tratada como um adversiro politico-iitar em stu agio de guerra. Seu lado guerrero, embora mais exuberant, no crm o mals ofensvo. Ela dspunka de mecanismos de poder bem ins ousados e que nio se dobravam & punigso. Os Componen- tes do poder familiar slo entio submetios & nova avaliagio © classifica, Em sepuida, so criadas tonics de persuasio © ‘manobras de atague. Ao conjunto deste dspositivo a medicina social daré0 nome de higlane fra. Rompendo com a tradigfo punitive da leglidade colonial foram postas em prticalitieas de assalto& fama, que obede- clam as seguintes reras 'a)em lugar de provacar blogusio extero, sho, pressio, provocat a dstensio, Fazer prolferar em vex de reduzi; diver Soar em vez de unifear. Criarinteresses contradiros, dvi ‘bes infinitas ene 0s membros da fama. Nio mais consie- Fila um bloco inico, compacio, extensio pura e simples do poder e do nome paternos: mas uma rede complexa de adultos © riangas, homens e mulheres, pals e flhos, recémmascdos © adoleseentes, ete. byem vez de ameaga de destrigée, promessa de transfor: rmagio, Nao. se tatava, de amedrontar com armas jurdieas € policiais; nem de espoliar, saquear, confiscar. Ao contriio, Matava-se de mostrar 0s ganhos e benefcios que podiam ser cextmilos da prition de sujisao: ©) nio mais cultivar o medo da morte, ou pelo menos, 36 eanimélo em casos exteemos, O fundamental era alimentar © oslo pela vida, Mostrar ¢ demonstrar, exaustiva ¢ reiterad fente, que a submisio tem um prémio: a persistncia da pole ‘0 prolongamento da sade Felicidade do compos, 6) finalmente, em vez de tomar todos os membros da familia por inimigos, selecionar os alados, converter os volnerives, fabricar os aquinta-colunase que, do interior, se encarregassem de falta s politica adversiria, u Deserts estes termes, a plo médin sobre a fafa pode parece’ Horeamente inst, E provivel que se venha 2 ‘roca o nivel de beneicos rele exrados do process cen {io que repesenou o avango gine, Tabet pose que fe aponte pra olde rvalciondrioracionaista, que last ‘9s medconfanceses, come fungamento ost fmt rat Iengbe mds Tl conidrgs, nor lens, mre em ser devidamene analisades to papel que eles (eh neste ier al Ime ee reso ao popes clic dhe, sat beneiios para os indvduos sioincpivels- Nao te ia de nega ou desvaloriza a inportincadeses aioe. © gue Impots eMroar que‘ propria eficencie cienien Ja higles fneonoe como aunt pa polieg. de trusformio os indvluce ck Fingéo das raates de Estado. Fol porue a mein erty Je fato,enpiia econcetualente cet que sus apo police foi ais operate. Diante de um aber colonial esto em nogGes médias dos sézuloe XVI, XVII e XVItl peexperiner tig ecm sus ese tlalidade floifas v copciavans higine surgi arasadoramente convincente, No enn, pre. Subliar que sua fora fol Impalonnd pelo eres pollico do Estado na sie da populagaoy No caso basins fa vinci &icnistive. © Estado alto ge nace om 0 abicacio ¢ 0. motopropulor do sible real higlene, A avidade médiea cancda © eeforgave a solide de Sel poder, porno reebeu seu apoio ‘Guano nos fandumentosreveaconsos da hse, notse gue, mesmo na Euroa, log se diva © drt lea un deseo de iterengao no socal, sustestao, no melhor dot 808, por um humanismo fisopico bastante diverso do ulpia sviadora da Polisi médien" No Bras, em especl, mene ot 2 te huranismo vai serentertado pea ideolopia da lie agra Kutn'primelo nivel quando, em aome do homem ou da hunaai- sue Prsene defende a consis de um inidoo pure da aus a servgo da enatgn mai ela do Estado, Ram segundo ne, pela sdapagfo do humaaismo © doin Sualaon europeus so'chamado liberalism escvagisa ‘Kins paste sere qe, no proceso de defingéo de fame’ hie digese excusvamente as fanilas do Ghigo etistas Nao intresave a0 Esa modesto patio {uit don esc ae deveram contiuar cbedeendo 20 Cddgo puntivo de sempre. Estes dkimos,juntanente com os Gevlniiendos Je todo tipo, sero razios a ona mln como izcos na Tat conta a teelda familar, Ezraos, mendigos, iniSos, vagabuno, iganon capes, ste sero de a orm, devesone de inion 6s Wo Gondas cures poliias médias, Fol sobre a eles que a cnn fx indir sua polenta criicando «fai ‘ional nos seus evines conta a sade, A camada dos em finns vl continua entrgue& poll, so reerutamento aiitar Ciao copagos de Sepreggao,Renzndos como prises © I curso do Sepindo Impéro, sobretuo, a mena social vai dips tanta sburguera cain, procurando modiear conde fieay intelectual, mora sexual soz dos seus tremors com vistas sua adaptagi a0 stems econtmieo © oA ‘nosso ver, essas sio algumas das matrizes da estrutura fur urbora do Brasil aul, Sio essa eapas de transforma Gio. medicament deseras como hone da fail, ue ten ‘eros ever em alguns dese tagosfandamentas, 2 ‘caPtruLo m ‘A CIDADE FAMILIAR No Brasil, « hiienizagio da fama progrediv em reas ireta com 0 desenvolvimento urbano. Historeamente este pro= ‘esso foi mais pereeptivel no Rio de Taneio, por razdes evide tea Os encargos populacionals, ccondmieos, politicos, militares Coctas de sede lo Govern exgiam uma modernizagio mais ‘celerada do Rio, Como conseaiénca, foi exgido de seus habi- tantes todo o cortejo de mudangas descritas como efeitos da Urbanizagdo:.seculai2agéo dos costumes, racionalizagio das tondutas,funcioalidade nas relagSes pessoas, maior esfiamen: to das relagdes aftivas iterpessoais, etc. Tals modificagoes nto Se izeram, entretanto, sem resisténcia, Constatapio banal que Sssume maior relevo quando se observa a gigantesca aparela= jgem montada para transformar os sujltos em ciadios metro politanes ‘Como afirmamos, © dispostivo médico foi uma das pegas fundamentals desse equipimento, A taela dos higieistas® era a 8 de converter 0s sueitos & nova ordem urbane. Ordem estana 0 antigo modo de viver colosial que, a todo moment, a repelia ¢ procurava deter seu progresso. Hsia ordem, contudo, precise ‘ia ser accta, pols dela dependia a prosperkdade das tltes © © progresso do Estado. "A ingeréncia médica na famfla persegula este objetivo tomar o estranho, familiar. E para que se posta melhor apreciar fs energla despendida nessa operagio 6 necessirio observar a Telagio. cidadeTufia no periodo colonial. Esta relagio foi Constitutiva de uma e outra instincia, Universo familar e uni Vero citadino inerpenetravamese, modelavame mutuameste, hnuma esteitaligagdo de simbiose e dependéncia. Dependéncia fave tendia a favorecer familia, Dependéncia que encontrve Sas orgens na forma como 0 Brasil fo colonizado e civilizado. ‘A politica esondmica de Portas fol decisiva na organize: io da familia colonial brasileira. A estratéglamereanilista {rouxe como consegizncia 8 multiplicagso de favores e prvi los aos senhoresruris. A metcépol, interessada no lero facil sem iavestimentos,insigou Inciava privada dos colonos Sue trataram de impor a ordem socil e econdmea que mals thes Deneficasse, Bmbora esta autonomia tvesse limites e se enquae Grasse na poliea de interesses de Portgal, na prica permitiv ‘208 proprietirios de tera reinarem e governarem sozinhos no {tes primelros aéeulos de colonizagio. A Coroa limitowse a intervic, viando os excessos, Desta forma, a fama latfund frie agumulov uma massa de poder que, em breve, comets ‘com o préprio poder da metrSpoe. ‘Essa pottncla real mo tardou a subjogar e redone 0 fig meio ambiente & seu mundo de valores. Habitando um espapo ‘Soci aparentemente homogéneo i soa natueza, ela crow uma gen cy ry hi 36 represcatagio dos direitos, deverese Finalidades que nfo a Giscordinclas ‘ou contestagdes. No Brasil Colonia, «fam: Sou a set sinbaimo de organizagio familiar «latfundiria ‘Foda formagSosocial que pudesse fraturar © mito de sun wr alidade era sistematicamente aniqulada. A familia eserava fo ‘estrlda pela violEniafsica ea dos homens livres pobres, pela tomupgio, pelo favor e pelo elientelism. 16 mei social da Colbwa repetiy,reproduziu ou prolongou a fama senhorial, mas povco se distinguu dla. Os mecanismos Ge instauragio desse poder foram extraordinaramentevariados ‘Oscllavam da posse fsica do meio urbano até o controle biolée- SOaee Sobordloados, pela assimlagio dos bastardos ao exéreito ‘Sacasngrande ‘Neste universo do semelhante, do indifeenciado, a familia rural consolidos suas relagSes com a cidade. Cidade que tam- bém reeditou a familia tornando-se, para 0 senhorito, uma cidade familiar 1. A anatomia familiar do espaco urbano colonial ‘A génese familiar do espago urbano fol 0 ponto de parila do absblutisimo pateaceal sobre n cidade. Os primeiros nileos ‘Se povoamento’ do Brasil foram criados pelos senhores ru is PS patcrnidade ploneie convertese em apropriagio. A Fandlia colonial imprimit as marcas de sua ascendénela nas vs fC eidades que construin, A snatomia urbana da Colin mostra ‘Somo a casa, ocupanda todo o ote, delimitava a ru. O privado Simpunase a0 piblica", Com excegio da praca em que se situa Wain de modo geraly u Ciara, a cadeia ea irea, a cidade era Tomade pels propriedades privadas. AS mesmo as menos ices, eopavam o exemplo dos Senhores que instalavary ” suas residéncias onde thes parecesse mais cémodo, Ax pequenas reapies do poder piblico nto paeciam obter qualquer efeto. As posturss municipals contendo obrigacées de aiohamento e arr mento eram sisematicamente desrespetadas <2 postura Seave ‘os papéispiblicos,e cada qual construia a sua casa corria & ‘a corea fa feigdo de suas comodidades einteresses.»? 'Na infragao as normas de limpeza percebe-se 0 mesmo des- revo pelos locas coletivos. Em registfos da Camara de Salva- ‘dor, por exempo, as ques cootea 08 proprietiios que lange Yam toda sorte de dejetos nat rins, repetomse a0 longo de todos os séeulos XVI e XVII Alpda no século XIX as postr fas da Cimara tentavam, debalée, regulamentar 0 despejo de Hixoe outros detritosnas vias piblicas® A rua ere considerada 0 cconfim da casa, coma senzala era 0 quarto de despeo da casa trande. Os senhores rurais modelavam a cidade segundo 0 ‘exemplo do engenho ou da fazenda 'No curso da tempo quase todas as famflas urbanasassimi- Jaram esse comportamento. Passarama& desprezar a ru, inchsi= ve porque a freqlentavam muito pouco. Fora das grandes festas ‘ivieas €reiglosss permaneciam eaclausuradas, uanspondo para © meio ctadino a reserva do. viver rural. Donde a feigio eguittGnicn das casas. Entre 0s ricos, rtulas egelosias defe iam a familia propriotria da indscrecZo da plebe e dos esta ios; entre os pobres, as tscas urupemas fingiam preservar os ‘que nada tiaham a protege ‘Mas a estreita dependéncia da cidade para com a familia senhoral fa além do tragado das runs e das fachades das casas Essa superficie era sintoma de um vinculo mais profundo. O proprio crescimento ¢ viulidade das cidades obedeciam aos los da produgso rural, A expansio lmobiliria altemava-se ‘conforme as oscllagées nos pregos dos produtos apricolas. Por bpeasizo da queda no prego deses produtos os senhores aprovel- Pegs ev tn tn a a tavam a dispoaibilidade da. mio-de-ob Mam a consrugio das casas. A ocupas varlvel da economia ‘Como também a futuago demogrifis. A populagio perma rents dos primeitos centros Urbanos compunha-se dos eseassos funcioniros pblicos, pequenos comercantes,reigosos, milita- es e ofciis mecinicos, Os demals habitants empregavam-se nos por oeaskio das -moagens eno procuravam Tigagdes mais frmes com a ckade, Esta dima destinava-se, pratcamente, ao uso das Farias ruras qe tnham nela «0 meio [e alicmagao em face do ambiente novo, como camada e como gas? “Além da regulagéo da concentragio imobiliria © popuacio- nal, as famfias também tatervinham no fhyxo econdmico da Cidade. Transportnde os programas de autosufciéncia na pro- tiogao de alimentos outros bens reduziam, signiistivamente, © mudimentar mercado urbano. As residéncas dos grandes pro- peetirios porsulam pomares, horas, eriago de anima, ete, n0 fue foram initadas por auras eamadss da populagio.* ‘A eidade funcionava, por constgulate, como extensio da propriedade e dat familias urais. Nab apenas em sus ordenacic Econbmiea, arquiteténiea e demogefica, mas também na reguse ‘ho juridien, polticae administativa, cexcrava ¢ impulsions- ido solo era uma 2. 0 governo familiar da cidade © monopétio das familias rurale sobre © governo das muni= ciplidades 4 vie afirmagio conseasual entre os historidores ‘As vergéncias quanto 2 época em que o «mandonismo» poiti- fo comegou a decrescer no Regam a importincia do fendmeno ft histne dos municipios eda familia brasileira ‘A elite ecdndmica organizou seu poder juridico-poltico sobre a cidade, fundamentada na legislagdo municipal portugue 3» sa! Com base neste arcabougo comegou a ser feta a discrimina- ho dos individuos com direito & partcipagio politica. Os dois {randes instrumentos de dominasao politica dos municipios, as Gimars ¢ as Juntas Gerais, oraran-se monopélio das famfias propretiriss, As Juntas, istincias mais deseontinuas, agiam os casos urgentes © graves, Eram formadas pelis Cimaras, homens bonss (nobreza, mili, clero) © ovtras autoridades Como governadores, capities-mores e oficiais de jstga fazen- ae “Todavia, o poder efetvo pertencia & Cimara ¢ seus oficias Na selec ¢ legtimasao destesiltimos os interesses dos senho- res surgiam clarameate: «Nao podiam ser eleitos membros das Gimaras pestons mecinicas, mercadores,filhos do reno, gente Se nagio’ Gude), soldados nem degregados, sim nobres Somente, naturals da terrae descendentes dos conquistadores, ‘Segundo’ diveraos alvards ¢ cartas réplas que vio de 16 4 THM." A exclusio da populagfo «nfo-atiundiériar do pod ainda preservava os potentados da maioria das sangdes a que se Submetian as outras camadas socais: Os ofcais da Cimara {ozavam de importantes prvilégios tis como de nfo poderem Ser presos, processados ou suspensos por ordem régia, ov do Inibunal que ae confirmava; as Cmaras azo podiam ser etadas Sem provisio do Desembargo do pago (lvaré de 26 de Fevereiro de I77Le 9 de fevereiro de 1975). ‘A impos destesprivlégios ea quase absolta. As Juntas Gerais, instincias juridieamente superiores, eram meros conse- thos eonsultivos sem poder deliberative, Depeadiam da Gover rnador que antes de tomar decisdes escutava os ehomens bons? O circuito do poder fechava-te, no fim da linha, em torno dos slatifundiérioge, Os shomens bons» terminavam por aalizar 0 a oan nt pt aia ho ii vein, a ee bey 8, Hi, a espotsmo das Cimaras. O Estado tent, através des Ordena eee stato poder senhoral hen meramente ecg © ‘Hey [uu tendo av conseqiéocas da atonominpoliea dos manips. Novenlant, esta linitasgo leg, como nota Vitor Nunes eal nfo determina na pitica 9 comportanento das Cima: Leth Nie € posses contd, saber'o que era as Cimaras cil pc simpls exame da leplagi splive. Durant les bem longo — ea tro final Caio Prado Jini sua Pemtados do seco XVII — at Cimaras exeteram imenso sree se deseqvlven bmarger dos textos legis © mutes Peeer cone eles. Nio var, prem, 9 Coron saconara vAurp- sere setisaas atraves das Clara pelos onpotetesseotes ey Pegaanvarse, asin, ums situgio cocreta, sbveriva {ait leilado, mas em plea comespondenia com a ord eben sei extabslece nesta lnginguasparages, Seria SERaI"Coner cosas maniestages do. poder prvado em uma ‘Ristom cue uidage fundamental —-que lnpiniao seu slo Sovconjunto das demalsistiigdes —era 0 extenso dominio ‘as evpniente mooclor ¢sosido sobre oto “ho lado desses mecenisos formas ¢ legis de controle polio ede cera forma tates dls, anfinsenhotl eon Terumesion informs de eforgo, Manutsnsso © dlataio do ‘Bul poder, Nao bastava oar outas clases e rags do aces S$ Ginars, quer como eletors, quer como titles, Era ‘ecendro que os indvigoosdesconhecessem appr natureza follico-econdmica da ontem que ot rep. Essa inornci fo Epuda trace do anafaetiena, evientemente, mas sobretudo por melo da crgao de dspostivs parlels de poder apoio fe pureneaco, Lsses. isposivesIsentavam os invguoe dos UTecton e deveres jurdleos de edadios para obi a ar oF feast sepondo oF pues emocional © petsonalstas dat rela Shen de parentesco. Um desis mezaamos fo a wsoliaredade 4 ang, jutiicad pela opin deresponablidede dor membros consanguineos, leghimos ou néo, através do parentesco expirtual e moral, riod sas de ipods fvorecios, ua ia de esa Jo inleresse dos senhores. Os athados, compadres e agregados tinham a lusio de que, defentindo o siaitindiow, defendiam a prépria fama. Politica, justica © adminstragio gassaram, ex- io, a se tomar uma questio de vinganga, suboro, corrupsio, fssussinato ¢ toda sorte de violEnciat perpetradas contra os ‘postores do patriarea rural, A submissio pela forga somou-se & Stjeigao afetiva dos dependentes para com os senhores. Eset de pal-patro para com flho-empregado, 0 elaifindis exporiou de seus engenhos e fazendas para a cidaes. ( compadsio © seus sub-produtos, como a assimilagio da politica e da justiga ao dmbito da Itas familiares, no devxaréo {be repereutic nos costumes da fur slatundirian. Para man tera ilusfo da edigidade e humanidade» do parente dominado, tela terd que abdicar de certas marcas de distingo social!” Essa ‘convivencia fatima com tragos eatributos da plebe vio, por sua Yer, determina seu modo de ser emocional e social, Tal cara: terfatica val opor resisténcas & modifica fair imposta pela vurbanizagéo. No momento, entretanto, © que interessa ressltar & a smaneira como a ordem poles da eidade duplicava sua fisiono tia argileturl ¢ econémica no sentido da confirmagio do [poder familia, Espago Tsico e politico congregavanse ¢refor {Gavam 0 jugo patriacal sobee a cidade, (0 tripe de manvtengio e teforgo do despotismo slatifndié Flow completouse pelo prestiio que Ihe foi dado pela religit, Bas a phd are. Hm, Bre eden rte ascintte 2 Com 0 sustenticulo reigiogo, s familia associow a autoridade apritual aos seus poders isics politicos. 3. A teologia do poder familiar. ‘As relagies entre familia religiio ma Coldnia sio_ por emis complexas para serem descnias analisadas partir de ‘Um Unico denominador comum. O eatlicismo no Basil nunca fi Homogéneo em suas manifestagSes doutindras ¢insitucionas. (© comportamento do clero regular muita vezes dvergi do seu fcongenere secular, Por outro lado, esses instiuigdes religionas fnodificaram sues conviegdes Goutidrias segundo as circunstio~ Clas eva propria evolugio histériea, Basta que se compare a Situagio de um jesuita e de um cape de engenho, para que as idferengas de condula entre membros de uma mesma Tgeja tliante do senhor rural mostrem suas diserepincias ‘Contudo, io obstante estas © outras divergincias, todos cles patihavam um certo nimero de erengas comuns que foram Sufclentes. para justifear teologicameate 0 mandonismo. dos Senhores. Uma. desias premissas teolgicas er ada miss vangcizadora impictamente associada & politica de eoloiza- ‘io. Hoornaert observa que «é por demais conhecido 0 fato de aque toda empresa martina fol expressa pelos contemporineos es inguagem relgiosa © mals anda, missonéria.»® A coloiz (io do Brasil no fugu a esta regra. Para os monares portugue EES evangelizar e aportuguesar eram singnimos. A Igrejacaucio- fava essa pretensSes, Vieira afirmava repetidas vezes em seus Sermdes que todos o8 portagueses cram missionris, visio que ‘se assemelhava em tudo & dog res coloizadores.* ‘Dos colonos pioneiros ad latfundiros fazendeitos 0 porto e unido nevessino esufelene foi a qualidade de ver porugués, ‘Os senhores portugveses e seus sucessores brasileiros desenvol., “8 veram o mito original da tarefa evangelizadora para explrarfa- dios, escraves e-brancos pobres. Possudores da legitinidade, por assim dizer, eandnica, tentaram em seguida, através da onstrugdo de una série de imagens e representagées mental modifear a natureza do poder que detisham "A asimilagdo da fafa senhorial & seagrada familias fol um destes procedimentos. A transposigio de figuras ¢ formas da divina farlia para o interior do slatfindi foi Taclitada pelo patemnalismo stbjacente 40 eatoliismo europev, O Brasil clo- fal no teve o privlégio de justificar a unidade familiar apelan- do para ‘a sagrada Tamia, No entanto, este fatornéo deixou de colaborar ma poténcia de mando das famflas propeetras Vieira, em um de reus sermies afirmava: we sorte que 0 Po hi de dar conta de toda a edstandade, o Rel de toda a ronarquia, © Bispo de toda a diocese, © Governador de toda & provincia, o Piroco de toda a freguesa, 0 Magistrado de toda & Cidade 0 caboya da casa de todas famlia>™ A. ordem {eoldgica que justiieava a organizagio sécio-cconsmica da Colé- nia era a mesma onde se inscrevia a fungdo patzrna. Desta forma o lugar religioso que de drcito cabia a fama. era reforgado. Pois, © que se silinta neste texto nio € tanto 0 fato Go pal comandar a casa, mas a aceitasio implcta do modslo de forganizagio da famila'portuguess colonizadora. O lugar ¢ 0 {ireto do pal sto inquestionives,e, por conseguine, também ‘0 de todos os outros membros da fais, ‘A partir destes principios patemalists, o catolcismo no Brasil evoluiv para a crag de figuras rtd e Iconogitins ‘que adaptavam continvamente a relipifo aos interesses do pa ‘ado ral. Nas pinturase escultras, Deus-pal é eqUestomen- fe apresentado de forma que sua imagem sein associada a0 “latitundidrio» paternal e bondoso, mum procedimento deserto por Hoomaert como «sacralzagso do renhor do engenhos."!O mesmo acontecia com S, Jos, tanbim associado a0 chele de “4 familia, e que teve ma famosa represeatagio do «S, José de Bota soa expresso male ingnan¢ stave, Sant Ana ¢ Vwem Mana também serviam aos mesos propéstos. Santa Ne fe Trequentemente spresentada ensinando 0 eatecsmo a Maria, recompondo 0 elima doméstico de educapio familiar © raliando figura da senhora de engenho, esposa do pariarea.?” Sesus Cristo, por sua vez, portava os sinus do deseo aistocrit- go dos senhores. © Cristo era quase sempre louro, de olhos Souls, com posturas que revelavam os ideais de pureza, raga e ihagem da fama européia.® Mas & fara Inifundiria era evangelizadora no s6 por atabuigio real e delegagio mistica, como também mediante ‘Gvas de forge conereta, Os eapelies de engenho e 08 pérocos Ss pequenas vias © eldades ou eram pagos pelos senhors, Cond of primetos, ou deles receblam favores, como os segun- on Toravam-se assim devedores de beneficos que procura- vam pagar como podlam. Nos sermbes, confssbes e consultas Waigigsss preguvam, reteradamente, x legitmidade do. poder familar, O. principio que afirma que «quem manda na regio ‘manda também na roigios, aplicouse perfeltamente a0 caso brarlleio, Os padres submetiamse aos interesses da familia © Consolidavam a imagem rligiosa que ela queria ter de si mes. "Este mecanismo de esptagio de religosos para 0 Interior da famia fortaieceu'se com a instivigio do Thopadre. * Cada familia, sobretudo as mais importantes, praticamente determin ‘aque’ um dos filhos seria sacerdote, A preseaga fis, real, do Stcerdote Impregnava do relgisidade as aparéncias da vida familiar ‘Ao lado destes elementos, outras fungbes ds familia reals ‘vam sia missio religiosae, por extens, seu poder exprtal. O patentesco religiso era tido pela Igrea como quase to impor {ante quanto 0s Vincvlos consanguieos. A obrigagéo de orientar 4s espiritulmente of afthados e zelar pela religiosidade dos mes ‘mos também cooperou na formagio do mito da natureza itrin- ‘leamente rligiosa da estrutura da fartia Finalmente, esta asimilagio dt natureza social da famtia 0 universe religioro, somov-te a atitide mista da Igreia que, iravés da diseriminasio de negro, mulatos © mestigos slinton ‘0 parentesco entre exclsiviemo éico e mandato religioso. A familia branca detinha 0 prviigio racial do ministério © da palavradivinos 4.0 universo do «mesmo» na cidade familiar. ominando 0 universo urbano fisic, police e expirtual- mentee, a familia senborial merglhow tres séculos num eurioso Mundo do semelhante. As investdas do Estado, as insures da plebe, as rbeldias de stores da Tre, nunca foram bastante fortes para abalar aquelaharmonia, O satifindiosimpunha seu ‘controle leitimado por cus terra, Cidade e polite, religio e popilagéo portavam marcas de intimidade e reconhecimento de Seu poder. Essa famiiardade do ambiente io era, evidente- mente, obtida sem diiculdade. O-ssenhor rural’ vivia em Permanente estado de guerra com o meio. Este estado, ais, 20 mesmo temjem que delerminava a supremacia do poder fumiiar no mundo externo, era responsivel por sia coesio interna, ‘Quanto mais coesa, mals forte era familia. O poder se exeria fora e dentro, Elfcieia externa e inlerna multpicavam seus iituos efeitos. A familia tendeu a erar mecanismos de vincula- ‘Gio dos membros entre si, decisivos na sua organizasio emocio- nal © primero foi auto-eferéncia. Os interesses do grupo & da propriedade excluiam & possbiidade de que of membros da familia orientassem suas. condutes, dessjos e aspirayies om angio de outros pardmetros. Cirando em torno da autopreservar io, 4 familia foncionava como um bloco compacto.Voltado «6 ‘exclusivamente para 0 cli. Essa polarizagdo autodirigia grow tina introversio social prejudicial os intresses do Estado. A familia nfo formava cidadios, e sim parents. A. participagio estes indviduos ma sociedade resuminse a defesa'do grupo ‘que pertenciam, Donde a oposiao que o Estado soria quando Gs convocava para o clmprimento de tareis nacionas. Esse fpelo era estranho a0 sentimento familiar. Os individuos estar ‘Yom habituados @ ver nos limites da‘ease-grande, as fronteras do mundo. ‘0 seundo mocanismo de vineulagio entre os membros da familia colonial era & dopendéncia do pai. O pai, chefe do ca, Concentrava funpdes militares, empresariais © afetivas, como ‘xigin a estrutura social da Coldnia. Volta ele proprio para & ‘elesa da propridade e da fama, conduzia, com mio de fer0, (0s projetos e anseios do grupo. Seu desejo © seu nome davam Unidade a aspiragées dos individuos. Hava quase um vicvo de Jnteresses. proprio no retante dos membros. O dessjo coreto cra 0 desejo do palo interesse justo era o da manutengio do patrimdnio, Essa indiferenciaséo emocional também fol respon- ‘ivel pela impermeabiidade dos individuos as solcitagdes do stad. Habituados a defender o- pai para sobreviverem, os membros da familia demoraram a acreditar que a sociedade pudesse oferecerthes meios de autonomia econémica, socal € pricolipica. A conversio a ess tuela do Estado fo outro obje- Tivo de igiene [Nao se imagine, contudo, que esse modo de organizaio familiar era privilgio do patrciado rural. Na medida et que ele dominavao'meio brbano, reduzia as outras camadas sovais @ seu modo de ser. Na Colénia, onde quer que se encontre uma familia constituida e foncionante ela sera senhoral, mesmo sem term, meamo sem propriedades, Isto & paricularmente verdade: ro no que diz rexpeito nos setores médios da populagio. Peque- nos comercantes, militares, profissionas liberais, ele, model ram sts fami de acordo com os cdnones senhorisis, Nests famfias, 0 comportamento’ dos pais para com os flhos, do homem para com a mulher, dos adultos para com as criangas, vai repetir, quate nos mesmos termes, soidaiedade familiar os senhores, a i Por esta razio, sempre que nos referirmos familia senbo rial, estaremos indssociavelmente includ todo o extrato mais favorecido da Sociedade, A famia «latifundiriae fol tomada como protétipo da fami colonial por ter sido a primeira a fixat as regras deste tipo de ordem intema c, em conseqinca, também ter dedicado o maior nimero de iestemunhos de sua evolu. Foi dela que se ocuparam historisdores, artistas, lite- Fatos e viajantes. Foi ela que, com seus emblemss, impregno documentos e monumentos da época colonial, No entanto, & preciso se ter em vista que tudo © que for afirmado sobre as felagSes da familia com o Estado e com a medicina é extensivo ‘2 toda populagio com direite a participagio econdmica e politica nha Sociedade brasileira daquele periodo, "Nao teremos, por conseguint, « preocupaso de ressaltar cada momento esta dstingio. Familia proprietira ou Tuncior ia, fama comerciante ou letrada, toda ela vat portar os tragos fcomuns, desenvolvides 20 longo’ do tenpo, pelo seahorato rural, Uma e outta distingvemse apenas quanto & mussa de poder politico econdmico que detinham no social. Intemamen- fe, a ofdem ¢ a hierarquia do poder eram a8 mesmas, A opost ‘0 0 Estado, mutars mutandis, fazi-se em nome dos mesos Yalores dos mesmos prinipos. 'A medicina vai se drgit a essa cama, indisriminadamen- {c, sem levar em conta os nives de esrieasio. Meamo por ‘que o que se buscava cra @ univeraizagio de novos valores, como a convieyio de que 0 Estado era mais importante que o frupo familiar. A higiene percebia que, por tris dos antago ‘mos de scastas, residues de ordem colonial, a unidade burgucss estava se consttuindo emibora sem ser econhecida "Nesta agio transformadora components de antigos disposi tivos de controle, como a militariaagdo e a pedagopa jesuia, serio reaproveltados e ovientados para novos fins. Outros serio criados. Todos eles, no entanto, vao abandonarprogressivamente © terreno da lei para entrarem no eepayo da norma. A ordem médica vai produzir uma norma familie capaz de formar cidadios individuaizadoe, domesticados e colocados & disposi fo da cidade, do Estado, da stein “8 captruto mt AIIGIENE DAS FAMILIAS 1A lei ea norma Através da anise histSrica dos pequenos poderesatuantes a sociedade ocidental, Foucault distingiv os agentes responsi Weis pela crigio dos padres de comportamento social em legaie e normativos, Esta distingSo por vezes coincide e recobre ‘as noses unis dadas 4 estes termos pela sociologa.’ Mas ‘iferencia-se destas pela Enfase posta na mecinica interna do poder que informa, ‘cioaa e caracteriza, respectivamente, as ‘dens da lel e da norma.” a eng here sce nro do mt Sa *° ‘A ondem da lei impe-se por meio de um poder essencia mente punitivo, coereitivo, que age exclindo, impondo barrel fs, Seu) mecanisme fundamental 0 da repressio. A lei € tori camente fundada na concepcio «jurdicodiseursivas do poder © bistérieo-politcamonte erie pelo Estado medieval eclissico, A forma, pelo contro, tem seu fundamentos histérico-plticas fos Estados modernos dos séeulos XVIII e XIX, e sua compre- ‘ensio terica explictada pela nosio de eispostivor, Os dispo Sitvos sio formados pelos conjuntos de piticas discursivas © nig discursivas que agem, & margem da lei, contra ou a favor elas, mas de qualguer modo empregando uma tecnologia de sujelgéo propria ‘As priticas discursivas que os integram compBemse dos elementos tedricot» que feoream, no nivel do conhecimento e da racionalidade, ae tonics de dominagio, Estes elementos sio triados a partir dos saberes disponiveis — enuneiados cent. os, concepgées Moséfies, figuras iteraras, principos relisi~ 08) ele, articulados sequndo as tities € 0 objetivas do poder. As pritieas nio-discursivas sio formadas pelo conjunto {Se insirumentos que materalizam o dispositive: téenicas 4d tempo dos individuos ou insiuigbes; tenicas de organizagio larquitetOniea dos espagos; técnicas de criagio de necessiades fisieas e emocioais ete ‘Da combinagio destes discuss tericos e destasregras de gio pritica o dispostvo extra seu poder normalizador. lei, através da repressio, busca principalmente nega, desqualificar, fobstruir a vin de acesso do indesejive. A norma, embora poss {ncluir em sua titiea o momento represivo, visa piortariamente 4 prevenir 0 Virlal, produzindo fatos novos. A reglagio € 0 inecaniemo de controle que estimula, iacentiva, dversific, ex- trai, majora ov exalta comportamentos e sentimentos até entio Inexistentes ov imperceptiveis. Pela regulgio os individuos sio fadaplados & ordem do poder io apenas pela abolicio das ‘conduits inacetives, mas, sobretudo, pela prougio de novas ‘aractristicas corpora, sentimentas¢ sociis. ‘Segundo Foucault, 0 século XIX assstiv& invasio proges- siva do expago da lei pela tecnologia da norma, Estado * rmoderno procurou implantar seus interesses servindo-se, predo- Mninantemente, dos equipamentos de normalizaglo, que sio Sempre inventados para solucionar urgncias politics. TAplicando essas nogSes ao estudo do controle da fafa & da lovcura, Castel e Donzelot mostram como, num momento historco preciso, estes mecanismos sio acionados inervém no socal) 'No trabalho de Castel, a ago normalizadora sobre os Joucos se desencadeia pare preservar a integridade do contrato Social democritco-bargués. 0 louco, por sua conduts insana, Gra levado a romper, freqientemente, 0 contrato social. NO ntanto, era considerado iresponsivel , em canseqiénca, sua ‘unio inftingiria os princpios do liberalism. Mas, como 0 Bomportamento tratsgressor no podia permanccer impune, © ispostiva médico & posto em marcha e, por inerméslio da tute psiguidtica, a loveura & peaalizada Sem que © humanismo sea ferido Donzeiot mostra como a familia teve umn destino politico semelhante. O Estado moderno, votado para o desenvolvimento industrial, tina necessidade de um controle demogrtio e pol tico da populago adequado Aquelafinalidade. Esse controle, texercido junto ts familias, buseava discipina a priica ancrquic ‘a da concepgae dos cuidados fisicos dos filhos, lem de, no ca 0 dos pobres, prevenit as peigosas conseaiéncias politicas da miséria © do pauperismo, No entanto, nao podialesar as liberds- ‘kes individais, sustentéculo da ideolopa liberal. Crise, as- ‘im, dois tipos de intervencio normativa que, defendendo a ade fsica'e moral das familias, executavam a politica do Ertado em nome dos dieitos do bomen. "A primeira desea intervengSes dev-se através da medina ddomésticn. Esta modicina, no interior de burguesia,estimulava a poltice populacionist, reorganizando as famlias em torn0 da onservagso e educagdo das eriancas. A segunda, drgiu-se is familias pobres sob a forma de campanhas de moralizaglo > SSI, eg peice bans a” mM Osh st higione da coletividade. A flantopia, « asisténcia social € a ‘medicina concertaran-se para munobrar of lagor de solidaricdae e familiar © usi-os, quando preciso, na represilia aos indivi {duos insubordinados e nsatisfeits, Exe ntervengdes demogr ficas junto 205 ricos e demografco-paliiais sobre os pobres permitiam a proliferagéo ca lberagio de uma mio-deobra poltcamente décil para o livre jogo do mereado de trabalho. A pf médico-lantropico-ssstencial-condvzia vida privada Sem desrespeitar 0 pacto soca 'No caso dos loucos, como no da famfia, a norma desenvol- ‘yeuse para compensar as falhas da lel. No primero caso, 0 agente da infrapdo ndo podia ser purido porque era iresponsie vel: no segundo, o contrat socal nao previa © aZo poi nclar 2 conduta infatora na categoria do crime, Por razdes desta ‘rdem, a normalizagio tormot-seindispensivel ao funcionamen to do Estado e tendeu a crescer e ertablizarse num campo proprio de poder e saber, 0 do sdesvion, da sanormalidader® "Este esguema compreensivo nos dev’ as chaves fundamen {ais para a interpretagdo das relagoes entre fama, medicina © Estado no Brasil do sée. XIX. A higiene da elite familar bast Jeira seguiu de pert este runo, integrand 4 série de meshes sormalzadoss qv biscavam oranar = ssedade imps ents, 2, Urbanizacio da familia, estatizagdo dos indviduos. A normalizagio médica da familia brasileira operou-se em estreita correspondéncia com 0 desenvolvimento urbana ea cri. ‘940 do Bstado nacional. O period joanino marca o inci deste processo, s problemas demogrificos criados pela chegada da Corte © © ritmo eondmico imprimido ao Brasil elo capitalise curo- peu, especialmente o inglés, acentuaram as defciznciss urbana 4o Rio, Os aristocratastinham habito de consumo, laze, higie 32 ou ug nde Mans de denen, i ee ne, moradia, ete... que no encontravam satisagio no bisonho cionamento da cktade. Por outo lado, indistra e comércio Internacional precisavam modernizara rede de servigs urbanos a roti de subsisténcia da populagio a fim de escoarem seus produtos. A modificagso do. compertamento familiar era um {ado importante nessa estratégia. No seu apego & tradigéo, a fimila colaborava. na manutengio da inérea que banhava o mundo colonial. Suas relagbes com o meio citadino © suas formas internas de coeséo eram profundamente conservadoras. |Até fins do perodo colonial a administragio nfo encontrara rmeios de dominara interferéncia do grupo falar sobre o meio fextemo, O Governo, paraisado pela politica da metrépoe, ransigin diante dos interesses privads, demonstrando a fag dade de seu poder. Com a chegada de D. Jodo esse equloro de orcas mouficowse. A arstocraia portuguesa e a burguesia ceuropéia, unidss, dtinham um pederincomparavelmente supe ioe ao das familias naivas. A cidade, em conseqiéncia, nio podia continuar obedecendo a seus antigos dono. ‘A ssecuropeizagion da sociedade brasileira, segundo a ex- pressio de Gilberto Freyre, narra a trajeltria deise deslocamen- {ode poder Toda a série de mudancas dos hibitos colonia fque o autor desereve como a progressive ecidentalizagio das Yelhasinfluéncas orienta na cidade e aa populasso, mostra 0 Teance dessas modifeagoes, Do nosso ponto de vista, contudo, linporta apenas notar como esta substiuigso reprcuti sobre a familia e de que-forma e com que meios ea fol promovide € executada, Neste sentido, observa-se uma forte ientidade entre os mecanismor de coergio empresados pelo Estado porgués se- diado-no Brasil © os instrumeatos coerctivos da administracio 8 colonial, Ambos utlizaram preferencialmente ale, a punigio © 0 sparelho juridico-poicial como instincia e pardmetro de corre: Ho. Dois episétioslustram es ttica: 0 dale das aposentado- riag eo da ordem de abolicio das rls, Peta lei das aposenta- ddoras os membros da adminstragio real tinham o-dieito de Tequisitar casas partculares para suas estaias em cidades onde lam realizar inspeses joridleas, fscas, etc... Na Colin esta Tei parece ter sido aplicada com parcimonia. Nio se conhecem ‘coos histricos de sun utlizagéo abusiva naquele periodo. Com D Jodo 2 situagio midou. Aristocrats © servgais da, Corte pastaram a fazer uso da lel, satematiea eineserupalosamente. O Fnepcit real permit que inimerasresidéncias fssem toms. dds a seus proprietirios, que no tinham direito a inder fessarcimento de qualquer sort AS familias lesadss, natural mente as mais reas, nada podlam fazer para contr 0 arbi, ‘36 havia um caminho a seguir, curvarse & vontade do Principe. A aboligio das rétuas © gelosas processou-se de um modo idéntico, Estes elementos arqutetaicos, sina da cultara frabe na constrgio portuguesa, eram abunéantemente empress ‘dos nas residencies coloias. Fm particular, nos sobrados € ‘casas das classes mas abastads, Com 0 allo de aristocrats portugueses, politicos e comerciantes europeus, sublamente se Tornaram sintoma de ataso cultural e sbarbice» esttica, donde ‘tordem de extingdo. Naturalmente 0 pudor estético escondia futiasintengBes. Ax rétulas permitiam dos habitants das casas fe sobrados verem o movimento das ruas sem serem visios. Era fell & uarda de seguranga do Rei zelar pea integridade fisica {do Monaren ede outs arstoratas naquelas condies. Alem ‘isso, eram fabricadas em madeira, e 4 indistra europea inte restava comercaizar grades de fero e vidragas. Para Gilberto Freyre, a melhor prova dests interesses econémicos na ordem de aboligGo das rotulas € que a medida estenda-se apenas sos Sobrados e casas da populagdo mais ria. Os pobres, que no Aispunhann de recursos park comprar of produtos industriliza ‘808, podiam continuar ferindo a sensiblidade artistica da cid st 4e.0 escindso extn, no fund, viva a preven osaenta- dos politicos © econémicos i Come quer qe seh 08 dais exemplos mostra de que rmancira a Urbaizago. condi pelo Estado iso abetevse Sobre famfiaO' pole alacoon,ntlmenter, destuindo ilo que pubicamenterefstia seu poder. Arps com iris fot lead 8 ato sem nenkom reaper pb extn Socio pla conven jricn. Tvidentemente, nem too ete perc fi pnt por solavanor dese jo: May sea igo pensar gorse so Sou pens através Ga snvidade terion do spt 6 intgice ou ap sfeiton de demonsragion como qorem sgus store. 0 Contato do poder com ov inion pode set tea, periete, ecient mais temo. od ngcente Eases istanet aos Fecal de modo sinticos ones eral ue fl dada Scmisio dat fafa el Estado. O gover do Principe no te preva cm Inghinar pnt opine rains Ov etl Shrowrtico do sates imped © parba’e + dutbuigt do or A tansformasio do espeso urbno prociriva sender, Sccinivuncaie, a bones eargueinnao de nea: ‘Sh poragoess edo cape europe este pono qe strata jana cine com a Spica dos governor colonia, © ron familar fo oben a tit Sos daa senbores som proms de tenes, © equivoco do sada repetase ‘Na Colin es ca predatraj havia dado prov de sun Inet.” Amiltaiayio- propo por Lave tka emonstado como on expedicntes paves eexosves bse loge rgeanva east Obi, No catty x paso elas medias vtenta on suth ma, de aque fom, Inte voltados pra om itr rei, vllow a reo host de descents» stiagao ov acedinos ek ue Heng fot sde e pretends pela vlha mecinica do poder tober. ss sta estreiteza de métodos e objetivos explica as caracteris- ticas da urbanizagio familar dos prinelros tempos. A.femia delxov-se modelar pela cidade mas no se convertev so Estado, Pelo contri, aprendeu a serviese da mudanga e a usé-la como arma,contra o adversirio. A aberura para o desenvolvimento feconbmico e cultural spagov da supertcl urbana os emblems do poder familiar mas remanejou, pouco ou quase nada, sua forca de agdo centripeta. Quanio mals as famfias secularieavam feus costumes, racionalizavam suas condutas e administravam melhor suas riguezas, mais reorgavam seus vinculos de solids. tiedide nema, O aburguesamento citadiao equipot-as. com instramentos de combate aos portugueses. A. espoliagdo eos (lo da cidade, Em 1832 este grupo obtém ume vtéria exresiva mn seus avangos para o poder, Naquela data a sugestes cont ‘das nos flatgros da Comissio de Salubrided, setor da Socie- ade, slo incorporadas 30 Cédigo de Posturas Municipals do Riode Janeiro, Aproximadamente vinte anos depois, em 1851, 0 Estado cria a Junta Central de Higiene Piblica, que confirma & cestende paricipagdo da higiene nos cuidados da populacio.? reconhecimento pblico do, valor da higlee correspondia a interesse.da elite agrira pela unidade politica do pals © @ Yersailidadettica de seu poder. Uma vez afastados os portugueses, a eamada dominante procured consolidar sua hegemonia dininvindo 0 fosso que Separava as fais do poder central. Essa csio manifestavase 4 fodo momento, de allo a baixo, na escala social. Entre os Seahores rurls cla era especialmente vsivel. Durante as Iutas pela Independéncia, os slstifundirios» ealigaramse contra ot portugueses, mas ogo ap6s a abdicasio esta frente ampla comegou a desfazese, Naquela époea multiplcaram-se os mo- vimentos secessionists que, nas provincia, exprimiam as disp tas entre as facpbes da elite rural pela posse do controle politico Toeal ot nacional Na Corte as desordens eepetiam-se entre 0s setores médios , de «nacionalidade brasil ra recebeu um enorme impulso no séc. XIX. Fenbmeno quase ‘desconhecido entre a ees, a auséacia de nacionalismo era Um reflexo do sistema colonial. Os primeiros colonos sempre se consideraram portgueses, eomo de fito 0 eram. Nada os unia terrae & gente nativas exceto a explorasio voraz das riquezas naturais. No decorrer da colonizagao este afastamento atenvow- fe, Contudo, no conseguin ultrapassar as ligagoes. imedit 01m 0 meio crcunvizinho. Quando muito as elagoes dos prime tos poveadares com o ambiente sécio-poliio fam até os confine das provinciss. © monopdlio das decisdes potico-administrati ‘vas mantida por Portugal fazin com que o intercimbio entre a8 regles se tomasse quase desnecessitio, quando nio proibido. ‘AS grandes distincas geogrfices facitavam ainda mals essa Aispersio. Em funcio dessa pulverizagio econdmice, politica teto- rial as. populagdes foram constmuinde modelos de Wentidade politica sem o trago comum de nacionaldade. Até o séc. XVINL, poca em que as ids emaneipatérias ganham forge, 05 habi 8 ‘antes do pais nfo haviam incorporado & eonsciénca civics 0 sentimento de patria ov nao. 4 lingua portuguesa ¢ a religgo catia, embora tenham criado uma certa homogeneidade eultal, nao foram velculos de formacio ob expresso do senlimento nacional, Pelo contririo, rmuitas vezes acentuaram a distineia entre colonizadores colo. nizados, elite plebe, instaurando uma dicetomia em se funcio- famentoe iilizac social, 'No que diz respeto lingua observa-se uma cara distingio ‘entre regrasemintic-sinition dos portuguese braneos, po ca e culturalmente ligados & metropole, e regra mestigt, aba tardada e socialmente desqualiicada, que era a fala dos negros mestigos e indos. Gilberto Freyre i fer tar com perinencia as Tensdes culturais que na populagio como um todo e part- fularmente entre ae famliae clatitindiria era producidas pelos constantes deslzes da norma cult linguistics, Os med bros das grandes familias que, no contro com a escravaria ou 4 plebe livre, tendiam a falar e-exprimiese na forma vulgar do portugués cram corsigidos pelos mesires recondizidos 40 Universo cultural da metrépote, ‘A lingua, por conseguinte, nfo estimulava 0 fortalecimento do sentimento nacional. Mesmo porque, divtlgada e ensinad Ssobretudo pelos relgiosos, seguia & iniexio dada por eles & religido. Os jesuitas, para tomar o exemplo mais expresivo do edueador no Brisi-Coldnia, preocupavamse em difundit una fultura que, como o eatolicismo, voltava-se oxtensivamente para fos abstratos interesses da crtandade ou para os conctctos interesses da Ordem. Seusdicipilos ou eram levados #0 1e00- necerem na tarefa evangelizadoa da coloizagéo portuguesa ou entio a defenderem os objtives da corporagfo, Quando alguns eles convertiamse os ineresses das familias poderosas passa. ‘vam a cultivar um catoliismo e uma instrgao sbertamente preocupados em inculear a submissio e o sevilsmo aos valores “latfundirioss. Essa drenagem do movimento da cultura em Funpio das finlidades de um estamento em nada ajvdou © ‘rescimento de uma consciécia polticn nacional E interessante notar como’ o arsenal seinintico exprimia realidade sGcio-ultural. A palavra sbraeron, por xen 9 plo, era empregada no inicio da colonizagio para designar a profissio de quem recolhia paubras. Erase brasiciro como se fra earpntsito ou pedrero,* Até 0 sée. XVIII 0 uso do termo fem sus acepeio atdal era relativamente eseasso. A idetificagio Sécio-eltural dos Individuos raramente fia apelo & «nacional dla brasileira como marca de indexagio ou singularzagio. A palavea ert pouco utlizada porque » profisio praieamente se Extingura e conotagde moderna ainda nio estava establizada. ‘hs pessoas no se identiicavam por suas origens nacionais ma preferencialmente, por suas orgens regionals, geogrtias, eta as ou tligiosas. Ov indivguos erm denominados de minelos, paulstas, Baianos, ete (rigem fepional); ou, de indios, negros, ‘mamelucos,cabras, molatos, et, (orgem étnica); ou, mazombos {coulos, reinda(origem étnicogeogritiea, ov, finalment, crs toe velhos, erstdos novos, judeus, setardins, mouros,gentios, ce, (origem religiosa) (O mesmo fato observase a propésto do uso da palav snagios. Nos sécilos XVI, XVII © mesmo no XVIII a palav rnagio era reservada aos judeus ou a outras mioria, a quem se ttatava por «gente de nagion.”A anagios da Coldaia era porta: to um conceito discriminatério que nada tem a ver com sua Fepresentagao palitico-unificadora da atvlidade. ‘$6 nas titimas décadas do sée, XVIII a lingua ea eligi, ‘através do nativismo, passam a integrar a corrente cultural em favor do sentimento nicional. Mesmo assim, a insisténcia com ‘que no sée, XIX 0 nacionalismo € detendido e exalado, faz Supor que o patriotsmo natvita do sec. XVI foi insfielente pata implantar 0 espiito nacional na sociedade brasileira. A Sependéncia politica c econémica de Portugal, as relagdes de trabalho e convivio social nio permitram o desenvolvimento do expiito nacional. A relasao com 0 ambiente proximo delimitava © universo de dificuldades, problemas e aspragdes e dispensava 1 ideologn nacionalista como imperative de ordenasio politic ® Exsesresiduos do passado colonial inflraram-se na soci dade independente do sé. XIX, contaminando 0 espaso cultural fe chocando-se contra a diteso politica do Estado agirio, 'Nas comédias de Martins Penna, 0 confront entre 0 parr ticuariemo dos inteesses dos indivduos e as amplasestratéias| hacionals aparece em um dos seus aspectos vii, a mobilizagao Iltar contra 0s contestadores do poder central. Em um techo de O Juiz de poz da roga s questio transparece no seguinte loge: “Escrivio — dentro: Di lcensa, Senhor Manoel Yio? “Manoel Joao: O senhor por aqui a estas horas & novidade rerio: Vento da parte do senhor juiz de par intindlo para levar um recruta cidade. Manoel Joao: 0 homem, no Ai mais minguém que sirva para isto? [Bscrivio: Todos se recsam do mesmo modo e 0 serviga no tanto hi de se fazer ‘Manoel Joao: Sim, os pobres € que o pagum. Escrivio: Mew amigo ito falta de patiotismo. Vos bem sabeis que’ é preciso mandar gente para © Rio Grande; quando no, perdemos essa provincia. Manoel Joo: E que me imparto eu com isso? Quem os ‘gue os desarmes," Em outra pega: Ar desgracas de uma erianca, 0 problema ressurge: «Pacifico: Queixa-te da minha mi fortuna, Se aio fosse diabo do recrutamento, que me deu com os ostos ‘a cidade, debaixo desta mada farda, hoje pod ‘estar eas contigo, ‘Madalena: E bem sabes que esse erao teu deve. Pacifica: Mas assim no quis 0 servigo do Estado, Quem reerola néo quer saber se © homem esté para ‘casar, 00 g¢ deve casarse, Vai agarando a tro € ‘taiteto. Bums tram»! 61 | | i Nas duas sities » amenga & itegridadeteritoriale poltica do pais nfo sensiilzava os personagens convocados para servir 0 exército nt Guerra dos Farrapos. Os interesses de trabalho, Ae Sobrevivencia moral e material superavam de muito o culdsdo ‘com a unidade nacional. Esse potencal de desobediénci civil, notavelmente concen trado nas redes de relagSes famllares,’ vai ser atacado pela propaganda nacionlista em todo o sé, XIX. Ataque obvianen- te comandado por politicos, mas frtemente auxin por terse tose pelos novos agentes de domesticagio familiar, os médicos. 3. Amor da familia, amor ao Estado, © dispostivo médicoinseri-se na politica de tansformagio familiar compensando ax deficigncls da le. Virios motivos faziam com que-o governo estatl dor indviduos nfo pudesse se fealizarexclusivamente por meiosIegas. Em primero lugar, os Alesacertos da administagdo portuguesa no podiam ser repe dos. As incureGes pirat A propriedade privada e & aulonomia vidual doviam ser evitadas na medida do possvel. Viléncias jrdicolegas desta ordem plsoteavam a medula Meolégica do ‘acionalismo, A longo prazo essa politica sera letal aos inter 08 do Estado. ‘Em segundo lugar, a leglidad juries, come jf fol obser- ‘vedo, era incompetente para introduzirse no convivo fntimo da farnfias Soa natureza ere avesta & natureze das ligagées itrafa- mnliares; sua inromisdo provacava sempre atitos eirstaces, ‘Aida privadn nia se deixava codiicar plo vocabulirio jurdica, ‘Nao obstantealgumas de suas mais importantes fungoes posse Fem um estatut juridco bem defnido, a fora que as movin a femanava da lel. B © e480, por exemple, do direito esmagador do hhomem sobre a mulher & proe, O poder pateno colonial a Imentavase da dice reliiosa e do dominio do «latifindiow sobre fo meio cultura, Foi neste terreno baldio da order social que o poder do pat cresceu e futlfeos. E, com ele, toda a série de comportamentose sentmentos que formavam a intimidade fem Tar. Em conseqincla, estes hibites nso podiam ser etquetados e legais ou legais. les poderiam ser uteis ou noeivo, tas a nunca redutivels ao territrio da justia. S6 as instincias que Cnuncassem os julgamentos em termos mors poderiam ser Stetas, Form desses parkietos, toda intromissio seria fobica iments tratada pela firfia como estranhe & sua substincia. O Instrumente adequado 20 controle da vida fatima deveria, por- tanto, ostentar insignias de poder e saber sobre a mora Em tercelro lugar, os meios juridicolegais aio disponkam de agentes suficientemente numerdsos para manter a viglinia © fo controle necessrios. A questao da salubidade das ciades fa emonstrara a iaviabiidade do controle da sade através dos fiseais de justiga. Os agents de transformacio deveriam podet tispensar estes catalizadoresexternos, A propria fara doveria fnimar a produgio de seus Nacals. A operagto deveria ser Agi, Fnslmente, juriys no sabla como clare perenizar me- canistioe de pracer que’ se combinassem aos projetos de mu thnoa, seduindo te families tornando-as amantes do Estado. [A assmilagho efieas 60 coreetvo estatal no. dependia apenas de seu grav de slubiidede. Alle de acetével ele deveria ine hx efetos graifeantes duradouros. AS fanillas deveriam tent-se recompensadas e nto punidas pela intervencho do. Es Indo, A mudanga tinha que stenar, antes de mals nada, com promesss de hiro capazes de provecar reagBes em cadela, que se Ssiendesem 0 longo ds geragbes "Ao conjunto dessas exigéncas, a medicin respondeu com a higiene. Mdealmente, a familia projetada pels higieistas deixar sora manipular sereditando-se respeitada; abandonariaantigos privlégios em toca de novos beneicios, auto-egularsess, fomando cada um dos seus membros, mim agente da said individual eestatal. Desenvolvendo uma nova moral da vide ¢ do. corpo, a medicina contorou as vicissitudes dale, clssficando as con dutaslesa-Estado como antinaturais e anormais, Todo trabalho ‘de persuasio higinica desenvolvido no sée. XIX vat ser monts do sobre a idéia de que a sade ¢ a prospeidade da familia Aependem de sua sueigdo a0 Estado ‘Bem entendido, esta nio fo a nica meta dos hgienistas. Como i afiemammos © procuraremos demonstrr, 2 conversio do o

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