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owen " PORQUE O "EMBALAR" TRANQUILIZA 0 BEBE E, ENTRO, ELE ADORMECE?" Ruy Luis de Andrade Cleto " Porque o 'embalar' tranquiliza o bebé e, entao, ele adormece? " £ essa quest&o que quero aqui responder. Comecei a pensar sobre ela depois do nascimento de meu primeiro filho em fevereiro Ultimo. Nao é, de fato, uma questo interessante? Acredite que todos, mesmo aqueles que nfo tem filhos j& observaram que isso ocorre. 0 que vocé faria se te dessem um bebé nos bragos? Que gesto vo- c€ usaria se tivesse que transmitir para outra pessoa a palavra "bebé" num jogo de mimica? Lembra-se da coreogra~ fia feita por Bebeto, Romario e Mazinho na iltima Copa do Mundo de Futebol, apés o segundo gol do Brasil no jogo con tra a Holanda, em Homenagem ao filhinho dele, Bebeto, que acabara de nascer? Pois bem, "embalar" e "bebé" sao duas palavras intimamente associadas e responder a essa questZo talvez seja uma tarefa muito interessante. E mais: espero que, ao final do ensaio, se possa ver como, de uma questao aparentemente simples pode-se refletir sobre tantas coisas a respeito do ser humano. Afinal, aprender com as criangas €, especialmente com o bebé, talvez seja a forma mais rica de compreendermos algo a respeito da psicologia humana. E é por isso que desde j& agradego ao meu filhinho Leonardo por ter me ensinado tudo isso que aqui vou relatar. Uma das curiosidades sobre o "embalar" é que ele, desde muito cedo ja tem esse poder de tran.quilizar o bebé. Assim que chegamos em casa, vindo da Maternidadg, ja pude observar que esse método era eficaz. 0 Leonardo contava 3 dias de idade e chegou em casa chorando. Imediatamente eu © peguei em meus bracos e o “embalei", Em poucos minutos ele estava dormindo... Vé-se, assim, que estou tratando de algo muito original e profundo. E talvez, até mais... Sim, porque me parece que esse fendmeno pode ser observado até mesmo na vida intra uterina, Minha mulher relatou que, du- rante a gravidez, toda vez que ele se deitava, sentia o ne- né chutando. No entanto, quando caminhava, nfo sentia. Ora, sera que nBo era justamente o seu caminhar que funcionava como um "embalar" intra Gtero? E que, quando ela se deita~ va, © "embalar" cessava e o bebSrespondia com os chutes? Talvez, talvez... Mas eu no vou muito longe com essa ar- gumentagao, nao. & muito dificil argumentar sobre fendme- nos que ocorrem na vida intra uterina, uma vez que sao de dificil observagdo. Fica sé a minha desconfianga... Outra coisa curiosa sobre o "embalar" é que ele no precisa necessariamente ser feito nos bragos. Se assim fosse, poderiamos supor que é o contato com a mamae ou o papai, com o calor de seus corpos que faz o bebé se tran- quilizar. Se assim fosse, poderia parar o meu ensaio por aqui mesmo e dar uma explicagio bioldégica ao fenémeno di: zendo que quando o bebé sente a temperaturagterna seme- Inante 4 que sentia intra itero,ele se tranquiliza pois te- vive o estado "nirvanico" outrora experimentado na barriga da mamae. Mas nao é assim. 0 "embalar" podeser feito nos bragos, é verdade, Mas também num carrinho de bebé, ou nu- ma rede de dormir, ou no banco de trAs de um automével e por ai vai, £ o mcvimento que caracteriza o "embalar", nao © calor do corpo ou o cheiro da me. 6 bebé se tranquiliza quando sente-se em movimento, isso é 0 essencial, E que tipo de movimento? Um movimento,de preferéncia, mcnétono, vocé me responderia. £, um movimento monétono parece bom para embalar... Nas, vejamos bem: um movimento pode ser,.em si, mondtono? Nao seria a monotonia uma vivéncia psicolégi- ca? © movimento, em si, pode ser repetitivo, isso sim. Nos é que dizemos que esse movimento é mondtono. E dizemos isso porque outrora ja fomos embalados e nos sentimos como o be- bezinho, com sono. 0 bebé nao sabe o que é monctonia. Ele apenas experimenta a sensagdo de movimento, Nos, adultos, é que diremos que um movimento é monétono, pois temos a revi- ss r vescéncia do embalar. AliaS, nesse ponto, surge essa outra curiosa ques— +80: SerA que é apenas o bebé que se tranquiliza e adormece com o “embalar"? Creio que nao. Quantos de nés, adultos, j& nZo nes sentimos "embalados" pelo balango de uma rede ou de uma cadeira de balango? E o que dizer daquelas viagens de Gnibus em poltronas leito? Enfim, o “embalar" funciona como tranquilizante desde aquela época até hoje. Afinal, nunca deixamos ou deixaremos de ser bebés! Partindo desse pressuposto, de que o "embalar" também atua no adulto, levanto outra interessante questo nfo seria a técnica hipnética uma forma simbolicamente di ferenciada do “embalar"? Quando se movimenta um objeto, co- mo um relégio ou uma vela & frente dos olhos do sujeito a ser hipnotizado e ele adormece, nao seria essa uma forma diferenciada do "embalar"? Sim, uma forma mais evoluida do ponto de vista mental, uma vez que o movimento nao é expe- mentado no proprio corpo, mas captado pelo olhar e, entdo, simbolizado como um "embalar" genuino, Mas, ainda assim, um “embalar". Agora, o "embalar" provoca o sono? Nao, me parece que nao. 0 sono é, antes, uma imperiosa necessidade natural. Dirfamos que o "embalar" favorece, auxilia no sentido de se alcangar o sono. E porque? Como disse acima, porque ele tranquiliza. E o que é tranquilizar? £ diminuir a uma quantidade minima o nivel de excitagSes provocadas pelos estimulos desagradéveis. Podemos diferenciar: tais estimulos entreos de origem interna e os de origem externa. Assim, teriamcs, no primeiro grupo, a dor, a fome, a falta de ar, entre outros. E no segundo, uma luz forte, um som muito al- to, o frio e o calor entre outros. A presenga de um ou mais desses estimulos desagradaveis pode ser suficiente para in- tranquilizar o beb& e dificultar o seu sono. £ verdade que @ quantidade de excitacdes necesséria para intranquilizar o bebé variar4 de um para outro, bem como de um momento pa- rao outro. Mas me parece certo) afirmar que, se 0 bebé se mostra intranguilo, algum est{mulo desagradavel o incomoda, Portanto, eu diria que o “embelar" atua no sentido de mini- mizar 0 efeito de algum desses estimulos. (Qual seria, entSo? / Certamente n&o sobre a fome ou a dor. Nem mesmo sobre uma luz forte ou um som alto. 0 bebé pode ter dificuldade em dormir mesmovestandc alimentado, trocado e. sem nenhuma complicagao organica que acarrete dor. 0 que sera, entao. que incomoda o bebé nesse caso? Alias, novamente: sera que 130 falo aqui de algo que.ocorre mesmo conosco, adultos? Sem pensar em algo patolégico, come a insénia, mas antes mesmo em situagdes "normeis", Nao é comum que @ pessoa pro- cure algo ccm que se "distrair" (esse termo é provisério) na hora de ir dormir? Um livro de cabeceira, uma T.V. ou rAdio ligados, um abajur aceso ou mesmo contar carncirinhos (se bem que eu duvide que realmente alguém faz isso ou fez alguma vez). Enfim, o:que quero dizer com tudo isso é que n&o é re@imente uma tarefa muito facil entregar-se ao sono, nem para o bebezinho nem para nés adultos. E porque? Espe- ro ter esclarecido a questao ao final de meu ensaio. Por ora, os: incomoda quero deixar no ar essa pergunta: que ser4 que e, eu presume aqui, também o bebezinho na hora de ir dormir, ou melhor dizendo, atte que se sente 0 sono chegando com a sua imperiosa exigéncia? Alias, o sono tema peculiaridade interessante que se segue: (vocé talvez a reconhega enquanto ma vivéncia infantil e também me relagSo ao banho). £ difi- cil se entregar a ele, mas, uma vez entregue, é também mui- to dificil sair. Agora, quero aqui abrir um parénteses para colocar algumas questdes que suponho possam aparecer como objegées. As respostas, por enquanto devem ser insuficientes. No en- tanto, talvez, ao final,irdo se esclarecer ainda mais. Vocé pode estar pensando: "Mas o meu bebé, 4s vezes nao se tran- quiliza com o embalar". £ verdade, também j& percebi que is+ so ocorre, No entanto, todas as vezes, pude encontrar algum estimulo desagradavel presente no bebé nessa hora: Como ja disse, sobre a dor ou a fome o embalar é indquo. Também sou bre 0 calor, o fric e-outros. 0 que muitas vezes pode acon= tecer, principalmente entre pais de primeira viagem, é uma dificuldade em reconhecer tal est{mulo. De qualquer forma, © bebé deve mesmo experimentar muitas coisas desagradaveis no princ{pio de sua vida. Tudo é desconhecido, tudo é novo e, principalmente, tudo pede parecer muito assustador. Enfin de tudo isso, quero deixar a idéia de que o "embalar" n3o é 100% eficiente. Mas ele cumpre uma fungao sobre algo espe- effico e, nem por isso menos importante. Outra quest3o: "Nem sempre o bebé adormece quando é embalado", £, isso é verdade. Mas, como j4 disse, o "em- balar" nZo provoca o sono. Ele apenas auxilia que aquele se instale. Se n3o houver sono, nado ha "embalar" que faga o be- bé dormir, Mais: " 0 meu beb& dorme sem 'embatar' ", £, pode acontecer. Principalmente se o bebé§4 est& nd mitas horas sem dormir, Como jA disse, o sono é uma imperiosa necessida- de natural. O:beb& pode brigar com o sono até um limite; de- pois o império da natureza é tiranico e fara valer as suas: leis. Bem, mas supendo que nao seja esse:.o caso. 0 bebé esta h4 poucas horas acordado e, mesmo assim, adormece sem a "em- balar". Algumas providéncias podem funcionar como:um -"emba lar", nad t@o eficientes, mas também positivas. Uma musica, © som de um aspirador de pé, o tic tac de um reldgio, uma 4 luzinha, etc... ( Veremos mais tarde-eles podem se asseme~ lhar ao “embalar"). Mas, ainda supondo que nada disso ha. Poucas horas sem dormir, siléncio e escuriddo absolutes, e, mesmo assim, o bebé adormece. Que rara situagao! Mas pode ocorrer. Suponho, assim, que nao haja nenhum estimulo desa- grad4vel presente e, pricipalmente, aquilo sobre o que o "em balar atua est4 minimizado.(J&, j4 falarei sobre esse "aqui- lo") Bom, fecho ‘aqui o parénteses e torgo para que essas insuficientes respostas que até aqui apresentei se tornem mais completas até o final do texto. Voltemos agora 4 questao: "Porque o ‘embalar' tran quiliza o bebé e, entdo, ele adormece?" Jé desenvolvi os to- picos do "embakar", do tranquilizar e do bebé. Vamos nos
    lamento.da vida(...) ", Ele sempre procurou afastar a hipd-- tese de que a angustia surgisse como uma reagdo do instinto de auto-conservac4. Mesmo outros psicanalistas, como Laplan, che ou Melanie Klein, que divergem em termos de Freud, nao tocarao na questo por esse prisma. " Nesse sentido, a des— erig&o dos existencialistas ndo est4 t& mal focalizade, mesmo que deva ser corrigida. "Angustia de minha liberdade", dizem eles; nés dirfamos: angistia de meu desejo, angistia, outra face de meu desejo(...) A angistia seria o aspecto ineoneiloavel do desejo(,:.) " ( J. Laplanche - " A Angistia" pg 142 - L. Martins Fontes ).“M. Klein falaré de angistia persecutéria. 0 ego procura fugir do desprazer, do descon- forto. Nao hd meng&o de que ele estaria fugindo pela vida. E ent3o? Com qual das visdes ficamos? Seria ocaso de aderir a uma e ignorar a outra? Afinal, o que é isso, a angistia? IIr ” Porque o embalar tranquiliza o bebé e, ento, ele adormece?" Essa é a questdo original de meu ensaio. Para res- pondé-la, disse que antes presis4vamos saber o que é a angus- tia. Percorremos, ent&o, as visdes da Psicandlise e da filo- sofia existencial. Vimos que élas tém visdes diferentes e, até, antagénicas. Perguntamo-nos, entao, de qual das visdes nos aproximariamos. E a pattin:daqui, comego a descrever qual aiminha visao sobre a origein’e a esséncia da angistia. Comegarei o meu caminho pela questao da dor. Todes semertad. concordaremos que essa é a primeira sensagacVpelo ser humano ao nascer. Ja se sabe que a entrada de ar nos pulmées é muiz @olorésa e é por isso que o bebé chora."0 choro seria, ent&o, a express&o do descenforto causado pela dor.~“Concordamos nisso? Mas ainda nfo fomos longe o bastante. Ainda resta nos perguntarmos: porque a dor acarreta desconforto? 0 que é, en- fim, a dor? A dor, como sabemos, é uma reagdo do organismo a alguma lesdo, & um “aviso" de que algo nao esté indo bem. Vé- se que eu estéu falando aqui da dor organica, da dor original, da dor natural. Diz-nos a fisiologia que um impulso elétrico é enviado ao cerébro através do sistema nervoso e é aquele que vai decodificar tal impulso e, ent&o, re-enviar a men- sagem ao érgao, procurando uma reagao adequada. Nao é dife- rente com outras sensagdes, como, por exemplo, Um carinhow 0 que faz, ent&o, com que a dor seja diferente de um carinho? Ou, em ortras palavras, porque a dor é, a principio, descon- fortavel, desprazeiros e o carinho, pelo contr4rio é, a pricipio, agradayel, prazeiroso? Nao é exatamente porque este conduz 4 vida, enquanto que aquele conduz a morte? A dor é 0 aviso de que algo vai mal no organismo, algo esta ameagado, algo vai morrer! Sim, algo vai morrer, ou j4 morreu. N&o fa— lamos em necrose de érg&0? Se se tem uma dor de dente, con- sequéncia de uma infecg%o no canal, 0 nervo ficaré necrosado, ou seja, o nervo morreu. Agora, oque est4 ameagado de morte no caso do beb&? Pois a entrada de ar nos pulmSes nfo acarretar4 a morte des- se 6rgio, pelo contrério. E verdade, mas ainda assim podere- mos chegar & mesma conclus&o seguindo dois pontos de vista. Primeiro: a dor pode ser decorréncia da pressao que o ar faz nos pulmdes. Ora, uma forte pressdo pode fazer com que o pul- m&o exploda. Mas antes que isso aconteca, o organismo ja se protege, enviando o sinal da dor, Segundo: pode ser a repen- tina mudanga no tipo de funcionamento do sistema o que acar- reta a dor. Seria como se nos surgissem repentinamente guel- ras de peixe e fdssemos atirados ao mar. A entrada de 4gua nos pulmées deve ser muito dolorosa, mesmo que depois nem o érgdo nem o individuo morressem. Enfim, chegamos 4 conclusao de que a dor é sempre © aviso de que uma parte (um tecido, um 6rgao ou ou sistema) ou todo o individuo est4 ameagado de morte. Veja que curiosa consequécia tem esse ponto de vista, Na sala de parto, na ho- ra em que o bebé vem a luz, para todos em volta ha alguém nascendo. Menos para ele préprio, aquele que esta de fato nascendo, Sim, pois para ele, a vivéncia é a de que deve estar morrendo, temanhas dores que sente! Dores que, alids, jamais havia experimentado. Mas, ainda n&o fomos longe o bastante. Resta ainda saber porque a dor é desconfortével e, em tiltima instancia, Porque os individuos procuram a todo custo escapar da morte. Enfim, o queéo instinto de auto-preservagao que est4 presente inegavelmente em todos os seres vivos? Porque fugimos da morte? A resposta mais imediata é a de que temos medo do desconhecido. Mas isso nfo é o bas- tante. Sempre hd, realmente, em algum grau, o temor pelo des— conhecido. Mas nenhum desconhecido & t&éo temido quanto esse. Além do mais, observemos os crente$ religiosos, que créem mesmo profundamente na existéncia da vida pés morte. N&o uma vida qualquer, mas sempre a expectativa de uma vida melhor que essa.Temem eles menos a morte? Racionalmente, alguns, talvez. Instintivamente, n&o. Se assim fosse, teriamos hoje mais suicidios do que os que hoje ocorrem. 0 que impede que os homns se matem gratuitamente, que fujam pela vida ou que © instinto de vida prevalega? 0 que 6 isso que causa um des- conforto, n&p explicdvel,muitas vezes, racionalmente, na emi- néncia da morte? Ou até, o que faz com que o gamo fuja do le 4o, © cordeiro do lobo? A angistia, nos diré M. Boss. E é aqui que qUero dar a minha contribuig&o no sentido de ampliarmos a definig&o. Eu diria: " A angistia é uma espécie de mecanis— mode defesa, n&o do ego, mas do self, ante a ameaca da morte." £ ela quem faz com que a dor seja desconfortavel. f ela que faz do desconforto um desprazer, algo indesejavel, algo a ser afastado. Ou, em outras palavras, Por tras de toda sensagdo de desprazer hd o sentimento da angistia. ( Assim como por tras de toda sensagSo prazeirosa ha o sentimento do amor, Mas deixemos isso para um otro ensaio) £ o Império da Natureza exigindo que o ser se mantenha vivo. Agora, porque a Natureza exige isso, ainda me parece obscuro. Parece, portanto, que acabei me aproximando mais do ponto de vista de M, Boss, NO entanto, quero aqui resaltar que n&o incorreria no erro de afirmar serem erradas as outras visdes que estudamos aqui. Pelo contrario. HA de fato que se considrar a angistia de castracdo de Freud, a angistia.do 82 més de Spitz e a angustia persecutéria de M. Klein. No entanto, se prosseguimos 0 raciocinio até a dltima instancia, veremos que todas elas chegam ao mesmo denominador comum. Pois senao vejamos: medo de perder o pénis, medo de perder © drgao s{mbolo da poténcia, medo de perder a poténcia, en- fim, medo de perder a vida; Medo de perder a mae, objeto pro- tetor, objeto que alimenta, que preseva a vida, enfim, medo de perder a vida; Medo de objetos fantasmAticos hostis, que causam desconforto, que ameagam a vida, enfim, medo de perder a vida. A inica posigao . . a que vou objetar frontalmente é ade Spitz, que nos diz: " Durante o perido neo natal, na primeira semana ou logo apés o parto, encontramos manifesta— gdes de desprazer ocorrendo em situagdes que, numa idade mais avangada, poderiam causar angistia, Essas manifeste- ges de desprazes nao constituem a angistia(...) Chama-las de angustia é um equivoco. Embora tenham todas as caracte- risticas de estados de tens3o fisiolégica, com fenémenos de descarga fisica difusa, elas nao tem contetido psicolégico" ( R, Spitz - " 0 Primiro Ano de Vida " - pg 112 - Livraria Martins Fontes ) Ora, isso 6 o mesmo que dizer que uma coisa tem todas as caracteristicas préprias dessa mesma coisa, 50 que n3o é a coisa em si. Qual o significado, entao, do choro, da tens&0, da dor do recém nascido? N3o ha contetide psicold— gico? Onde est4 entdo a psique do bebé? Nesse sentido, me a~ proximo da vis&o de Melanie Klein, que afirma que o psiquis- mo do bebé existe e opera desde o nascimento, inclusive com a sua divisdo em id, ego e superegos arcaicos. E, no meu ponto de vista, a angistia ja est4 14, desde o nascimento, Protegendo o recém nascido contra as ameagas de morte, Por isso mesmo, cabe afirmar: a angtstia é o sentimento mais original do ser humano. Iv Acredito que podemos, agora, responder 4 questao inicial: " Porque o 'embalar' tranquiliza o bebé e, entdo, ele adprmece? " J& temos sudsidios suficientes para isso. Lembre de como eu propus uma definig&o " simbdlico-existenci” al" para o dormir, dizendo como ele se aproximava do morrer. Bem, partindo deste ponto de vista, e também da minha concei- tuagdo da angiistia, torna-se claro como a angistia se ins- tala quando vé aproximar-se um estado semelhante 4 morte. Mas, sabe 14 o bebezinho que, entregando-se ao sono, esta- ria também entregando-se simbolicamente 4 morte? Parece um absurdo. Porém eu diria que sabe, sim, Nao racionalmente, é evidente. Nao como nés, adultos. 0 ego nao sabe, mas o self sabe, 0 inconsciente sabe, baseado em tragos deixados filoge- neticamente, Quantos de nossos antepassados n3o dormiram e viram seus semelhantes dormindo? Quantos deles nao viram seus semelhantes morrerem? E, enfim, quantos deles n3o fizeram es— Sa mesma associagao, entre dormir e morrer? Bem, ent&o eu afirmo, é a angiistia que causa um desconforto na hora de dormir, quando n3o ha outros est{- mulos desagradaéveis presentes, mais evidentes, como fome e dor. 0 'embalar' atua exatamente sobre a angiistia, minimi- zando o desconforto causado por ela.E de que forma? Lembremo-nos que o aspecto essencial do 'embalar' é © movimento. POis bem, da mesma forma como se aproximam sim- bolicamente dormir e morrer, também se aproximam movimento e anos de idade, aprendendo quais sdo os seres vivvos e os se- res inanimados. Ela provalvelmente dira que a arvore é um ser inanimado, enquanto que o automével é um ser vivo. A associa- gdo entre vida e movimento é intuitiva, assim como entre nérciae morte. ~ Pois bem, dessa forma chegamos ao ponto. Quando o bebé sente o movimento, sente-se vivo.Se ele pudesse pensar como nés, adultos,e se pudéssemos ler seus pensamentos, pro- vavelmete ouviriamos algo assim: " Eu estou me movendo; logo, estou vivo! Eu posso, entdo, adormecer sem medo de estar.me entregando a morte. " A angustia nao tem porque atuar. 0 bebé se tranquiliza e adormece. © movimento é o mais eficaz método de tranquilizer © bebé. No entanto, h& outras possibilidades. Pelo mesmo raciocinio simbélico: siléncio=morte/som=vida. Cantamos para adormecer; deixamos a TV ligada na hora de dormir. Ou: escuridao: jorte/luz=vida. Deixamos um abajur acesso na hora de dormir; deixamos a luz do corredor acessa. E por af vai... Bem, me centrei no aspecto tranquilizador do movi- mento, NO entanto, cabe resaltar ( e talvez tenha af um tema Para outro ensaio mais) que ha ainda o prazer do movimento. Talvez em decorrécia daquele, talvez o contrério. Ou ainda, ambos sdo o mesmo. A verdade é que seria impossivel negar que haja esse prazer. Sen36 como justificar o sucesso dos parques de divers0? H& o prazer em sentir-se em movimento, bem como © de observar-se o movimento, Nos esportes com bola, por e- xemplo, mais profundo do que o prazer pela disputa, o prazer sexual sublimado, est& o prazer em ver a bola rolar. Nao é a penas 0 ser humano que se encanta com o movimento da bola, também os animais, Basta que observemos um gatinho ou um ca- chorro. Est@o eles sublimando seus desejos sexuais? Nao, creio que nao. Est@o sentindo o prazer de ver a bola em movi- mento... Deve haver um enorme prazer em controlar a angustia, em controlar a morte, tanto nos animais como em nds, animais humanos. Bem, chego, assim, ao final de meu ensaic. Reconhego a precariedade de minhas observagdes e as limitagds de meus conhecimentos. No entanto, tenho profunda convicgao des ques tudo aquilocque disse aqui é acertado e corresponde 4 verdade. Objegdes nao deverao faltar... De qualquer modo, espero estar contribuindo pare © debate 4 respeito da angustia.

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