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Principios Basicos Freudianos da Estruturacao e do Funcionamento do Psiquismo $s Cruzeirodo Sul Virtual aca ds Conteudista: Prof.? M.? Joana Alvares Revisdo Textual: Prof.4 Dra. Selma Aparecida Cesarin Objetivo da Unidade: + Introduzir 0 estudo da organizacao do aparelho psiquico para a Psicandlise. = Material Teérico Material Complementar Referéncias 13 Material Teérico Introducgao Nesta Unidade, entramos nos aspectos teéricos psicanaliticos, este capitulo é intitulado Principios basicos freudianos da estruturacao e do funcionamento do psiquismo, sendo que trabalharemos os principais conceitos freudianos para a constituigo da Psicandlise. Compreenderemos, também, de que forma Freud entendeu e dividiu o funcionamento psiquico e 08 aspectos influenciadores da formagao da personalidade. Assim, com o objetivo de facilitar sua ‘compreensio acerca desses conceitos, esta Unidade esté separada em diversos t6picos, quase que & moda de um glossario, mas que visa a explicar de forma simples e pedagégica, o contetido proposto. A teoria formulada por Freud no infeio do século XX é amplae densa. Como vimos anteriormente, ao tentar compreender o sofrimento psiquico de pacientes histéricas, Freud se da contae desenvolve diversos conceitos ligados a constituigo do psiquismo humano. Conceitos complexos, que so desenvolvidos nos quarenta anos de histéria da Psicanalise, ‘durante a vida de Freud ¢, ainda, em mais de cem anos de Psicandlise em que outros autores teorizam a partir dos constructos freudianos (CARLONI, 2011). Conceitos Basicos Freudianos e Estruturacao do Psiquismo por meio da Metapsicologia Existéncia das Pulsées Termo criado na Franga em 1625, derivado do latim, pulsio, para designar o ato de impulsionar. Segundo o Diciondrio de Psicandlise, de Roudinesco e Plon (1998), Freud empregou o conceit de pulsdo em 1905, tornando-se, assim, um grande conceito da doutrina psicanalitica, sendo definido por uma carga energética que se encontra na origem da atividade motora do organismo € funcionamento psiquico inconsciente do homem (ROUDINESCO; PLON, 1998, p.628).. A palavra pulsao, utilizada por Freud com o termo do alemao trieb, refere-se as necessidades biolégicas, com representacdes psicologicas (FREUD, 1996), que urgem em ser descarregadas (ZIMERMAN, 1999). 0 conceito de pulsao pode referir-se aquele que designa o limite entre o somitico e 0 psiquico, um conceito-limite ou conceito fronteirigo, segundo Honda (2011). Senés nos voltarmos agora para a consideragao da vida animica do ponto de vista biolégico, ento a "pulséo" nos apareceré [a] como um conceito-limite entre o animico eo somatico, [b} como a representante psiquica dos estimulos que provém do interior do corpo e alcangam a alma, e [c] como uma medida da exigéncia de trabalho imposto ao animico em consequéncia de sua relagao com o corporal (EREUD, 1996b, p.214).. Como é possivel compreender na definigdo de Freud, o conceito-limite ou conceito fronteirigo entre o psiquico e 0 somatico é apenas um dos significados do conceito de pulsao. 0 significado pode ser mais amplo e superficial e, por isso, veremos os trés possiveis significados, no sentido de entender a complexidade do conceito para a Psicanalise. Porém, antes, é importante salientar que pulso nao é sindnimo de instinto e, por isso, é necessério distingui-los. Instinto, termo empregado por Freud em alguns momentos da sua obra, esté mais relacionado a padres fixos hereditérios de comportamento animal, tipo de cada espécie, como, por exemplo, o instinto de sobrevivéncia buscando amenizar a fore. Voltaremos, agora, & definicdo de pulsao baseada nos trés sentidos dados por Freud, em 1915, a esse termo. Quando nos referimos a pulsao como conceito-limite entre 0 psiquico e o somatico, significa dizer que pulsdo esta a servigo da demarcagao da fronteira entre o mental e 0 corporal. Assim, pode-se compreender que a pulsdo vai demarcar, delimitar as fronteiras entre o psiquico @ 0 somatico, ou seja, ela ird estabelecer os limites daquilo que pode ser considerado psiquico e, portanto, investigado por métodos psicol6gicos, e ird anunciar e dar noticias sobre a natureza do psiquico assim demarcado e 0 tipo de relagao que estabelece com o corporal (HONDA, 2011). O segundo significado de pulsdo como representante psiquico dos estimulos corporais se refere a0 fato de eventos psiquicos que devem ser qualificados como eventos pulsionais e, assim, tais eventos representam outras coisas. Essas outras coisas representadas, diz Freud (1996b), so as excitagdes nascidas de alguma fonte corporal, originadas no interior do corpo. Entio, écomo se, por exemplo, a sede ou a fome corporal tivessem, no psiquismo, seu "representante", seu procurador, como aquele que traduz.e se apresenta no plano do animico, aquilo que tem aver com as demandas sométicas da fome ou da sede (HONDA, 2011). Ainda, de acordo com esse segundo conceito de pulsao, é preciso levar em consideracao 0 que Freud chama de componentes da pulsao (ZIMERMAN, 1999), que sao: . Fonte: do alemio quelle, relacionado ao érgao, a partes do corpo ou azonas erdgenas, de onde advém os estimulos; . Forga (ou intensidade, ou pressio): drang, no alemio, refere-se & quantidade de energia que busca descarga motora; . Finalidade (ou alvo, ou meta): satisfacao imediata, que sé pode ser obtida por meio da descarga motora ou pela climinagao de um estimulo de alguma fonte; el no alemao, consiste na necessidade de uma . Objeto: do alemao objekt, para Freud, aquilo em que a pulsao é capaz.de atingir sua finalidade. E, por iitimo, o terceiro significado de pulsdo, o de medida da exigéncia de trabalho imposta a0 psiquico em consequéncia de sua relagao com o corporal. Assim, a expresso "exigéncia de LUD, 1996b) e, pode trabalho" designa certa intensidade e coagao para aatividade psfquica (FI ser entendida como a expressao do nivel quantitativo, da intensidade de uma demanda erégena que ativa e pe em movimento o psiquismo (HONDA, 2011). Para Freud, as pulsdes eram de autoconservacao ou sexuais ([HBIGA), de autopreservagao da espécie, porém, com algumas modificacées tedricas ao longo dos seus estudos, e com o classico trabalho de 1920, Além do principio do prazer, Freud cria as denominagées de pulsao de vidae pulsao de morte, que coexistem e sdo fundidas entre si (ZIMERMAN, 1999). A IBA de vida e a pulsao de morte designam movimentos naturais para o limiar da existéncia. Enquanto uma se inclina preservacao, a outra faz 0 caminho oposto, de modo a erradicar uma existéncia. A todo o momento, cada uma da sinais de assumir 0 controle, desde agdes mais simples ou eventos determinantes. Glossario . Libido: éuma forca quantitativa que permite medir os processos eas, transformacdes da excitagao sexual; . Pulsao: nao é como uma forca momentanea de impacto. £ sempre uma forca constante. Saiba Mais Na sua teoria das pulsées, Sigmund Freud descreveu duas pulsées antagé6nicas: eros, uma pulsao sexual com tendéncia a preservacao da vida, ea pulsao de morte (tdnato), que levaria a segregaciio de tudo 0 que é vivo, a destruicdo. Ambas as pulsées nao agem de forma isolada, esto sempre trabalhando em conjunto segundo 0 principio de conservacao da vida. Como no exemplo de se alimentar, embora haja pulsao de vida presente — sendo a finalidade de se alimentar a manutengio da vida — ela implica-se a pulsao de morte, pois é necessario que se destrua o alimento antes de ingeri-lo. Ai presente um elemento agressivo, de segregacao, que se articula a primeira pulsao, como sua necessaria contraparte na funcao geral de conservacao. As , por pulsdo de vida, podemos compreender que ela é aquela que gera tanto ativacao, movimento, quanto excitacao no plano organico, Seu objetivo é preservar e motivar nossa sobrevivéncia, Exemplos de pulsao de vida, além da sobrevivéncia, so propagacao, sexo e outras pulses criativas e que sao produtoras de vida. Jé a pulsao de morte opera no sentido contrario a isso, sendo a pulsao em direcao a morte ea autodestruigao. Diante disso, o conceito de pulso como um conceito fundador serviria para consolidar nossa visdo sobre a natureza conceitual da metapsicologia, cuja elaboracao encontra-se presente desde os primeiros trabalhos de Freud (CAROPRESO, 2008). Por isso, trata-se do conceito basilar no qual Freud péde demarcar o alcance e o limite da psicandlise e circunscrever 0 campo passivel de investigacao pelo método psicanalitico. Leitura Os Dois Conceitos Freudianos de Trieb Clique no botao para conferir 0 contetido. Recalcamento Recalque ow repressao é um dos conceitos-chave da Psicandlise, desenvolvido por Freud. Comumente, recalque significa o ato de recuar ou de rechacar alguém ou alguma coisa. Para o entendimento de Freud e de acordo com o Dicionério de Psicanalise: “O recalque designa o processo que visa manter no inconsciente todas as ideias ¢ representacées ligadas as pulsdes e cuja realizacio, produtora de prazer, afetaria o equilfbrio do funcionamento psicolégico do individuo, transformando-se em fonte de desprazer.” ~ ROUDINESCO; PLON, 1998, p. 647 A repressao é um processo psicolégico pelo qual o sujeito rejeita certas representacdes, ideias, pensamentos, memérias ou desejos, enterrando-os no inconsciente, no esquecimento, o que evita conflitos perturbadores (FREUD, 2005). Para ele, significa um mecanismo de defesa mental contra pensamentos que nao concordam com ele. 0 contetido recalcado, longe de ser destruido ou completamente esquecido pela repressdo psiquica, porque esta ligado ao desejo, conserva seu efeito psiquico no inconsciente. Para Freud, 0 recalcado (ou recalque) forma parte central do inconsciente. Por meio da repressio, os processos inconscientes tornam-se conscientes apenas por meio de seus derivados - sonhos ou sintomas neuréticos. 0 autor divide as represses psicolégicas em dois tipos: a repressao primaria, na qual hé uma repressao que nao eli a gradualmente 0 inconsciente, mas a forma (trata-se de uma luta em que o inconsciente quer satisfazer seu desejo de prazer), ea repressao secundaria, em que a repressao é a negacao das representacdes inconscientes. Para Freud, a repressao funciona porque a gratificacao imediata de um sentimento SiH destinado a produzir prazer pode levar 3 insatisfacao, tornando-se dissonante, com outras estruturas psiquicas ou com as demandas do ambiente externo. Glossario Moco pulsional: segundo Laplanche e Pontalis, é a pulsao em ato, considerada no momento em que uma modificagao organica a poe em movimento” (1998, p. 364). No texto Die Verdringung ~ Repressao (originalmente publicado em 1915), Freud distingue trés, momentos da repressao: . Repressao original (Urverdriingung), que expulsa da consciéncia as primeiras representagées intolerdveis relacionadas ao desejo e marca a diviséo da vida psiquica, demarca éreas conscientes/conscientes e possibilita repressdes posteriores. 0 ponto de partida de Freud é que essas representacdes originalmente reprimidas devem atrair todas as representacdes para suprimi-las; . Recalque propriamente dito ou recalque secundatio, que desloca ao inconsciente e ai retém as representacées intoleraveis da consciéncia magnetizadas do Amago do inconsciente formado pelo recalque originario; . Oretorno do recalcado (Wiederkehr des Verdriingten), quando o reprimido expressa sua eficiéncia psfquica porque tende aatingir a consciéncia de alguma forma e obter alguma satisfacao por meio de formagdes inconscientes como sonhos, atos falhos ou formagées ou sintomas neuréticos. Video O Recalque — Glossario Freud Importante! Nao confun recalque com resisténcia. O termo resisténcia também aparece na obra freudiana, mas ira se relacionar mais especificamente a parte pratica psicanalitica, na qual se compreende o termo resisténcia, usado por Freud, para se referir aos obstaculos que se impuseram ao tratamento psicanalitico. Tais obstaculos eram apresentados, principalmente, por seus pacientes no decorrer do tratamento e impediam que o processo de andlise tivesse prosseguimento, assim muitas vezes compreendido por Freud que, em funcao dos elementos reprimidos dos pacientes, esses obstaculos se apresentavam. Principios do Prazer e da Realidade “L..] todo movimento psicofisico que atravessa o limiar da consciéncia esta dotado de prazer, na medida em que, acima de certo nivel, aproxima-se da estabilidade completa; contudo, além de certo nivel, estar dotado de desprazer, na medida em que se desvia da estabilidade completa; todavia, entre esses dois limites, que podem ser caracterizados como limiares qualitativos de prazer e desprazer, subsiste certa zona de indiferenga estética” FREUD, 2006, p. 136 Ambos os conceitos so importantes: a Teoria Psicanalitica e a Teoria Pulsional, inicialmente concebido por Freud como Principio do Prazer-Desprazer, pela tendéncia que o aparelho psiquico tinha de se livrar de qualquer estimulo que gerasse desprazer no sentido de reduzir a tensao energética, Posteriormente, Freud passaachamé-lo de Principio do Prazer, por compreender que os aumentos de tens%0, muitas vezes, poderiam também ser prazerosos. Esse principio tem como prerrogativa alcan¢ar a €@E@ pulsional, que é demandada por uma gratificacao imediata, muitas vezes, sem levar em conta tealidade exterior, ot seja, 56 busca 0 prazer por meio dessa gratificacao. Para exemplificar, podemos utilizar a formulacao de Freud sobre a “satisfacao alucinatéria de um desejo”, na qual o bebé substituiu o seio faltante pela succio do seu préprio polegar, buscando, assim, satisfagao e gratificagao. Outros exemplos, nos adultos, podem ser os devaneios, fantasias inconscientes, crencas ilusérias, a impulsividade etc. (ZIMERMAN, 1999). Glossario Catexia: 6 0 processo pelo qual a energia pulsional disponivel na psiqué de qualquer sujeito é vinculada a representacao mental de uma pessoa, ideia ou coisa ou é investida nesses mesmos conceitos, ou seja, como, por exemplo, ao sentirmos raiva de uma pessoa, podemos dizer que criamos uma catexia ou fixacao de energia na representacao mental dessa pessoa. Jao Principio de Realidade se refere a conexao que se faz.com a realidade externa, mesmo que se acredite que momentaneamente gere prazer. Essas crencas ilusdrias, muitas vezes, acabam sendo frustrantes para os sujeitos pelo fato de nao sustentarem ou suportarem as exigéncias e as necessidades reais, como, por exemplo, o caso de uma fome real que nao se satisfazcom a substituigao ea sucgio do polegar. Video Além do Principio do Prazer (1920) Principio da Constancia Buscando reduzir ou se livrar dos estimulos desprazerosos, mesmo quando dominado pelo Principio do Prazer, o psiquismo tenta encontrar um equilibrio perfeito das tensdes orgénicas provenientes de distintas partes do préprio organismo humano. A esse movimento chamamos de Psicanélise de Principio da Constncia, o qual, segundo Zimerman (1999, p. 78), visa obtengao da menor tensao psiquica possivel, tanto por intermédio do recurso da evitacao ¢ afastamento da fonte de estimulos desprazerosos quanto pela via de uma “descarga” que possibilite uma nivelacao equilibradora. Em muitas obras psicanaliticas, o Principio da Constancia também é conhecido como o Prinejpio de Nirvana, Porém, Zimerman aponta para a importancia de salientar uma pequena diferenga entre eles: “Assim, enquanto o primeiro deles faz referéncia a uma simples diminuigao da tensao psiquica, o principio de Nirvana alude a uma diminuicao de toda excitacao ao zero absoluto, o que, de fato, ver a configurar a “pulsao de morte” segundo a concepgao original de Freud, e que mais precisamente refere-se a uma volta da célula viva ao anterior estado inorgdnico, portanto, a um estado de morte.” ZIMERMAN, 1999, p.. 78 Narcisismo Primario e Secundario Oconceito de narcisismo, juntamente com a Teoria das Pulsdes, estabelece-se em um momento muito proveitoso da histéria da Psicandlise. Em sua anélise do caso Schreber, de 1911, Freud afirma “Investigagdes recentes chamaram nossa aten¢ao para um estadio na historia evolutiva da libido, que se cruza com o caminho que vai do autoerotismo ao amor objetal. Este estadio foi designado como narcisismo. Consiste no momento do desenvolvimento do individuo em que ele retine suas pulsdes sexuais de atividade autoerética, para ganhar um objeto de amor. Toma a si prdprio e o seu préprio corpo antes de passar para a escolha de um objeto que seja outra pessoa.” ~ FREUD, 1996b, p. 56 Assim, para Freud, 0 narcisismo nao é uma fase evolutiva, um estagio passageiro na historia libidinal do sujeito, mas sim uma estrutura permanente que continua a existir apesar das reestruturagdes libidinais posteriores. Podemos compreender que o desenvolvimento do narcisismo est envolvido na estruturagao do eu, unificando as pulsées parciais e autoeréticas (NASIO, 1999). Em 1914, em Uma introdugao ao narcisismo, Freud aprofunda essa perspectiva e introduz.o estudo sobre o narcisismo, sendo esse um dos pilates de sua teoria, De acordo com Laplanche e Pontalis (1998), no Vocabulério de Psicandlise, podemos compreender por narcisismo primédrio aquele que é um estado precoce em que a crianga investe toda a sua libido em si mesma, ou seja, a sujeito toma o seu préprio corpo como sendo uma fonte € um objeto da libido, ao mesmo tempo (ZIMERMAN, 1999). Eo narcisismo secundétrio, que se relaciona a um retorno ao eu da libido retirada dos seus investimentos objetais, isso é, aenergia pulsional estando investida em objetos externos (LAPLANCHE; PONTALIS, 1998). Para Freud, “um ser humano permanece narcisista em certa medida mesmo depois de ter encontrado objetos externos para a sua libido (FREUD, 2013, p.92). Leitura O Mito de Narciso Otermo narcisismo, empregado por Freud, tem origem na Mitologia, No Mito de Narciso. Narciso era tao belo e tao vaidoso que, depois de desprezar intimeras pretendentes, acabou se apaixonando pelo proprio reflexo. Morreu de fome e sede a beira da fonte de 4gua na qual via sua imagem refletida. Clique no botao para conferir 0 contetido. Processo Primario e Processo Secundario Como fomos aprendendo ao longo da Unidade, Freud considerava que o inconsciente é constituido por uma energia psfquica das pulsdes, que funcionam em conjunto com as representagdes que sao formadas pelo ego. Assim, dase o que chamamos de processamento psiquico, dividido em processo primério e secundario. 0 processo primario se caracteriza pela livre circulagao da energia psiquica (ZIMERMAN, 1999), fazendo com que ela tenha a tendéncia a se descarregar de forma imediata e estando ligada ao princfpio do prazer. Para Freud (1996c), nesse proceso, a energia é deslocavel e condensada, seguindo as leis do inconsciente. No processo secundario, acontece o contrério: a energia esté presae circula no aparelho psiquico de forma mais compacta (FREUD, 1996c), estando sempre ligada a alguma representagao psiquica situada no pré-consciente ou no consciente. Em resumo, como descrito por Zimerman (1999): “..] enquanto no processo primeiro as energias fluem livremente sem encontrar barreiras, porquanto seguem as leis que regem o inconsciente e o principio do prazer, no processo secundirio, as energias psiquicas, com as respectivas significagdes e representacao, operam diretamente ligadas ao principio de realidade e determinam uma légica do pensamento.” ZIMERMAN, 1999, p. 81 Funcionamento do Aparelho Psiquico: Ponto de Vista Econémico ‘Apés a descoberta sobre a existéncia do inconsciente e das pulsées como representantes das excitagdes advindas do interior do corpo até o psiquismo, Freud precisou desenvolver um modelo que desse conta de responder de que forma o aparelho psiquico dos sujeitos funcionava. Assim, 0 ponto de vista econémico da Teoria Freudiana é caracterizado pelo processo que gerae distribui a energia pulsional para as diferentes estruturas do aparelho psiquico. Essas estruturas também sao chamadas de instancias psiquicas, que iniciaremos e exploraremos mais futuramente. Em 1990, no “Projeto para uma Psicologia Cientifica”, Freud inicia sua construgao sobre o entendimento acerca da divisao e do funcionamento psiquico. Freud utiliza o termo aparelho para descrever uma organizacao psiquica dividida em sistemas, ou instancias, com fungdes especificas, interligadas entre si, e que ocupam um lugar na mente de cada um (ZIMERMAN, 1999). Freud utilizou o termo tépica para definir sua divisao do aparelho psiquico em duas etapas essenciais da sua elaboracao teérica. Hoje, consideramos a divisao do funcionamento psiquico em dois modelos, o tépico e o estrutural, que conheceremos a seguir. Segundo Roudinesco e Plon: “Na primeira concepcao tépica, chamada de primeira t6pica freudiana (1900- 1920), Freud distinguiu o inconsciente, o pré-consciente e o consciente; ena segunda concepcao, ou segunda tépica (1920-1939), fez intervirem trés instancias ou trés lugares, 0 isso (ou id), 0 eu (ou ego) e o supereu (ou superego). E, na hist6ria do movimento psicanalitico forneceu pelo menos duas leituras da segunda t6pica freudiana. Uma consiste em acentuar o eu, em detrimento do isso, e deu origem a Psicologia do Ego, enquanto a outra privilegia mais o isso, para repensar o estatuto do eu e Ihe acrescentar um si mesmo (self), como na Psicologia do Self.” ROUDINESCO; PLON, 1998, p. 755 Modelo Topografico (12 Tépica) Em grego, topos significa lugar. Assim, o modelo t6pico freudiano quer dizer um modelo de lugares. Essa nogao de aparelho psiquicos como conjunto de lugares (ZIMERMAN, 1999), surge com aanalogia feita por Freud no capitulo 7 de A Interpretacao dos Sonhos, de 1900, do psiquismo como um aparelho éptico, de como ele consegue processar a energia luminosa. Assim, 0 modelo tépico divide o aparelho psiquico em trés sistemas: 0 inconsciente (Ics), 0 pré- consciente (Pes) e 0 consciente (Cs). Com a metéfora de um iceberg, Freud descreveu a mente humana o seu funcionamento por meio desses sistemas, em que a parte visivel seria correspondente a consciéncia, a parte submersa, 0 pré-consciente e o inconsciente, que éa parte oculta, que abriga os desejos e as experiéncias reprimidas no psiquismo. Para Freud, o que est no consciente nao ¢ idéntico ao que esté no inconsciente. Logo, a finalidade do processo psicanalitico esté em trazer para a consciéncia o que esté reprimido no inconsciente. Consciente (Cs) 7 __ > Pré-consciente (Pcs) Inconsciente (Ics) Figura 1 — Modelo Topografico freudiano (1° topica) Fonte: Adaptada de Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: na Figura, de fundo azul claro, apresenta-se um iceberg, no quala ponta, nacor branca, est sendo representada pelo sistema consciente, a parte submersa dividida por uma linha branca e, em azul claro, 0 pré-consciente a parte imersa completamente representa o inconsciente. Modelo Estrutural (2? Tépica) Freud, insatisfeito com o seu primeiro modelo, por achar que nao conseguia explicar muitos fenémenos psiquicos, especialmente os relacionados a pritica clinica, desenvolveu uma nova concepgao, em 1920. No seu trabalho Além do Principio do Prazer, 0 autor estabeleceu uma forma definitiva de compreender o aparelho psiquico, conhecido como o modelo estrutural, ou. dinmico, apresentando, assim, sua 2° t6pica para o aparelho psiquico. Nesse modelo, Freud propde que a nossa mente esta separada por diferentes instancias, Id, Fgo e Superego, e que cada uma delas atua em um determinado nivel, formando, assim, uma estrutura de personalidade. Segundo Zimerman (1999), diferente da 1® t6pica, que sugere uma passividade entre as estruturas, a2 t6pica ¢ ativa, dinamica entre as instancias. Superego | Figura 2 — Modelo Estrutural freudiano (2* t6pica) Fonte: Adaptada de Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: na Figura, de fundo azul claro, apresenta-se um iceberg dividido em 3 partes. Na primeira representa-se o ego, abaixo do ego, encontra- seo id e, nalateral esquerda, o superego. Importante! Cabe salientar que, posteriormente, conheceremos de forma mais aprofundada as estruturas da 1° t6pica e as instancias psiquicas da 2" t6pica propostas por Freud. Leitura Psicanalise: uma Revisao Didatica sobre as Principais Contribuicées de Freud Clique no botao para conferir 0 contetido. Formacao da Personalidade Compreende-se que muitos fatores em constante interagao ¢ influéncia sao responséveis pela construcao da SRESOHANAAMB. De acordo com Zimerman (1999), isso se dé nao somente pela natureza genética, mas a personalidade é constituida durante um longo tempo, levando em conta fatores constitucionais inatos da crianga e os que sao adquiridos pela influéncia do meio ambiente exterior, principalmente, ligados a figura ea influéncia dos pais. Glossario Personalidade: compreendida como 0 conjunto de caracteristicas integradas de um individuo, forma tnica de agir, sentir e se relacionar com o meio. A personalidade é a unidade central e essencial de cada pessoa, expressa por meio da sua singularidade. Ela é 0 “jeito de ser” de cada um e envolve mais do que simplesmente o comportamento observavel. Inclui-se a identificacao de um padrao caracteristico e relativamente estavel de pensar, de sentir e de se relacionar. Para a Psicandlise, diversos sao os pontos importantes a serem considerados quando o assunto é formacao de personalidade, que vai desde a perspe: da evolucao da psicossexualidade do ser humano, que iremos aprofundar na préxima Unidade por meio da classica obra freudiana sobre Os trés ensaios sobre a teoria da sexualidade, de 1905, até fatores heredo-constitucionais como Zimerman (1999) cita. Inicialmente, para melhor apreciacao da Teoria Classica Psicanalitica, iremos nos valer da “equacao etiolégica” freudiana de 1916, na qual o autor postula trés fatores constituintes da personalidade dacrianga: . Heredo-constitucionais: aquelas que sao herdados geneticamente pela crianca dos seus pais e familiares; . As antigas experiéncias emocionais com os pais; . As experiéncias traumaticas da realidade da vida adulta. Cabe colocar, ainda, por meio de um outro ponto de vista tedrico, anecessidade de diferenciar conceitualmente os processos de maturacao e de desenvolvimento, Maturacao se refere aos processos de crescimento em fungdes organizacionais e neurofisiolégicas em um bebé e que sao relativamente independentes do ambiente externo, e desenvolvimento tem relacdo com a interagao dos processos de maturacao e as influéncias ambientais, que irdo determinar as diferencas individuais do aparelho psiquico de cada um. Segundo Zimerman (1999, p. 89), “Os fatores da predisposicao genética e inata e os ambientais, intimamente interligados de uma forma indissoci el, formam, conforme assevera Freud, uma unidade etiologica inseparavel”. Leitura ANogao de Trauma em Freud e Winnicott Clique no botao para conferir 0 contetido. Chegamos ao fim desta Unidade. E relevante que vocé siga as indicagdes € as sugestdes de leituras e videos para reforcar os contetidos trabalhados neste capitulo, além de poder praticar 0s conhecimentos obtidos aqui nas atividades ave Na préxima Unidade, seguiremos ampliando a compreensao acerca da obra freudianae psicanalitica, na qual falaremos sobre os estgios do desenvolvimento psicossexual, uma importante concepcao tedrica de Freud, desenvolvidos em 1905, no seu classico texto Os Trés Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade Infantil que, na época, gerou muita polémicae discussées acerca do que a Teoria Psicanalitica realmente propunha, principalmente, no que se refere & obra relacionada ao Complexo de Edipo. Além disso, também abordaremos mais contetido sobre as insténcias psiquicas 08 conceitos de consciente, inconsciente, pré-consciente e id, ego e superego. conhecidas nesta Unidade, e iremos desbravar a fundo Material Complementar Indicag6es para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Teorias da Personalidade HALL, C. S., LINDZAY, G., CAMPBELL, J. P. Teorias da Personalidade. Porto Alegre: Artemed, 1998. O que é a Metapsicologia Freudiana? 1 e 24 Topica do Aparelho Psiquico A Organizacao Psiquica e a Experiéncia de Privacao Precoce: uma Revisao a partir de Freud e Winnicott Clique no botao para conferir 0 contetido. 33 Referéncias CARLONI, P.R. A histéria ea constituigao da Psicanilis introdugao aos principais conceitos freudianos para entender a subjetividade humana. Revista UniAraguaia, [s..], v.27, 2011 Disponivel em: . Acesso em: 27/12/2022. CAROPRESO, F. Onascimento da metapsicologia. Sao Carlos: EDUFSCar, 2008, FREUD, S. Projeto para uma Psicologia Cientifica. In: FREUD, S. Obras psicolégicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1990. v.1 FREUD, S. Introdugao ao narcisismo In: FREUD, S. Obras completas: Introdug’ ao narcisismo, Ensaios de metapsicologia e outros textos (1914-1916). ‘Tradugao de Paulo César de Souza. Paulo: Companhia das Letras, 2013. p.13-50. v.12. FREUD, S. As pulsdes e suas vicissitudes. In: FREUD, S. Edicdo standard brasileira das obras psicol6gicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. XIV. FREUD, S.1916-17. 22, CONFERENCIA DE INTRODUCCION AL PSICOANALISIS. A, E.v. XVI FREUD, S. Além do principio do prazer. In: FREUD, S. Escritos sobre a psicologia do inconsciente. Traducao de L. A. Hanns. Rio de Janeiro: Imago, p.123~198, 2006. v. 2. FREUD, S. A Interpretaco dos Sonhos. In: FREUD, S. Obras Psicolégicas Completas de Sigmund Freud. Edi¢ao standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1996c. v. IV. FREUD, S. Notas psicanaliticas sobre um relato autobiografico de um caso de paranoia. In: FREUD, S. Edigdo standard brasileira das obras completas psicol6gicas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 199 6b. FREUD, S. A repressao. In: FREUD, S. Obras Completas. So Paulo: Companhia das Letras, 2005.p. 61-112. v.12, HONDA, H.0 conceito freudiano de pulsao (Trieb) e algumas de suas implicacées epistemolégicas. Fractal, Revista de Psicologia [on-line], v.23, n. 2, p. 405-422, 2011. Disponivel, em: . Acesso em: 11/01/2023, LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J.B. Vocabuldrio da psicanilise. 3. ed. So Paulo: Martins Fontes, 1998. NASIO, J. D. 0 prazer de ler Freud. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999. ROUDINESCO, E;; PLON, M. Dicionario de Psicanalise. Rio de Janeiro: Jorge Zaher, 1998, ZIMERMAN, D. E, Fundamentos Psicanaliticos: teoria, técnica e clinica: uma abordagem didatica, Porto Alegre: Artemed, 1999.

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