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Aniilise de implicagdes: desafiando nossas priticas de saber/poder Cecilia Coimbra Maria Livia do Nascimento “Estar implicado (realizar ou aceilar a andlise de minhas proprias implicag6es) 6, ao fim de tudo, admitir que eu sou objetivado por aquilo_que_pretendo objetivar: fendmenos, acontecimentos, grupos, idéias, etc. Com 0 saber cientifico anulo 0 saber das mulheres, das criangas ¢ dos loucas - 0 saber social, cada vex mais reprimido como culpado e inferior. O intelectual (...) com sua linguagem de sabio, com @ manipulagio ou 0 consumo ostemsivo do. discurso institurdo © 0 jogo das interpretagSes miltiplas, dos “pontos de vista” e “niveis de andlise”, esconde-se atris da cortina das mediagies que se interpGem entre a realidade politica ¢ cle, O intelectual programa a separagio entre teoria ¢ Pe para_comer-te_melhor, minha filha (..) mas, esquece que € 0 Gnico que postula tal separagio, tal dosgarramento.” (René Lourau, 1975, pp. 88-89, grifos do ‘autor. A emergéncia do conceito de andlise de implicagao. Para pensar a andlise de implicagdes no cotidiano de qualquer profissional é importante trazermos sua emergéncia dentro do que Lourau (1993)' denominou “campo de coeréncia da Anilise Institucional”. Segundo esse autor a anslise de implicagdes se constitu no “escindalo da Andlise de Institucional”, por colocar em xeque © lugar is grado € as inquestiondvel dos chamados especi ferramenta surge da ampliagao, para 0 campo institucional, dos conceitos de transferéncia e contra-transferéncia utilizados pela psicandlise, emerge a partir do movimento da psicoterapia institucional, ocorrido na Franca durante o pés-guerra, nos anos de 1950. Em 1971, com a publicagio do livro “Para um conhecimento da sociologia”, René Lourau e Georges Lapassade nos apontam alguns tragos preliminares da nogio de implicaco. Entretanto, € s6 em 1973 que vemos esse conceito mais explicitado em suas publicagdes. Para isso contribuiram no somente os relatos das intervengdes socioanaliticas io da década de produzidas pelo grupo vinculado a esses autores, em especial durante o ini 1970, como também a influéncia fenomenol6; ‘a exercida por Merleau-Ponty sobre esse " René Louraty, Georges Lapassade, Rémi Hess, Antoine Savoye e outros fazem parte de uma abordagem teérica vinda da Franga nos anos de 1960 e 1970, que se convencionou chamar Anilise Institucional. Estes pensadores, através de diferentes experimentagdes, vao elaborando ferramentas que pensam criticamente as chamadas intervengoes socioanaliticas realizadas em pequenos e grandes grupos, em diferentes estabelecimentos. A andlise de implicagdes é uma dessas ferramentas, Sobre o tema consultar Coimbra (1995). gmupo. Naquele momento j4 se fazia uma critica radical ao positivismo e sua crenga na neutralidade cientifica. Segundo Merleau-Ponty, o socilogo chega a0 conhecimento nao sé pela observagdo de um objeto exterior, mas canalizando também sua propria implicagao no momento da observacdo (...) Merleau-Ponty vai mais longe do que aqueles que se detém na compreensdo das instituigdes por meio de uma anilise do vivido, Para cle, estudar o social € saber...) como pode ser p.38) em sie para nés. ( Lourau, 1975 A partir dessa influéneia fenomenolégica Lapassade e Lourau propuseram a pesquisa intervengiio, onde as _nogdes de sujeito e objeto, de pesquisador e campo de pesquisa sio colocadas em anélise. Segundo tal formulacao, essa nogdes se cri m ao mesmo tempo, num plano de imanéncia, onde as priticas produzem os sujeitos, os objetos, os pesquisadores € os campos de pesquisa, niio havendo determinagdes causais de uns sobre os outros. Assim sendo. teo € priticas so sempre priticas. A pesquisa-intervengao, ou apenas a intervengdo, como procedimento de aproximagio com o campo, mostra-nos que ambos - pesquisador pesquisado, ou seja sujeito © objeto do conhecimento - se constituem no mesmo momento, no mesmo processo. (Barros, 1994, p. 309) Opondo-se ao intelectual neutro-positivista, a Anilise Institucional vai nos falar do intelectual implicado, definido como aquele que analisa as implicagdes de suas pertengas © referencias institucionais, analisando também o lugar que ocupa na divisdo social do trabalho na sociedade capitalista, da qual € um legitimador por suas priticas. Portanto, analisa-se 0 ugar que se ocupa nas relagdes sociais em geral € nao apenas no Ambito da intervenga0 que esta sendo realizada; os diferentes lugares que se ocupa no cotidiano ¢ em outros locais da ria, vida profissional; em suma, na his Ainda, segundo Lourau, trata-se de encontrar um método de anilise das implicagdes nas redes de que, em cada particular, poss jes em geral, poder, em vez de nos fixarmos cristalizados numa posigao pseudo-cientifica, Tal andlise “no € dada a priori por meio de um esclarecimento ‘objetivo’ saido da manga do magico, surge na crise, na contradigao, na luta e nao na gindstica “dialética’ sobre papel branco” (Lourau, 1979, p.34). Os psicslogos, os psicanalistas, os politicos, os militantes, em suma, os chamados intelectuais psi e sociais apresentam um desprezo ou uma eGlera mal dissimulada quando nos referimos & andlise de nossas implicagdes. Para alguns deles, todas essas instituigdes? esto naturalizadas, neutralizadas e impermedveis & transversalidade “das relagdes sociais Na perspectiva de construir um novo campo de coeréneia onde a pesquisa no se separa da interveng3o © onde o campo de intervengao inclui tanto © pesquisador quanto o chamado objeto de sua pesquisa, Lourau, ao longo de toda sua obra, traz um debate metodolégico que interroga as implicagies do pesquisador/profissional. Assim & que, olhando sua trajetéria como intelectual, podemos perceber que a nogio de implicagio esta 0 todo tempo sendo construida constantemente presente em seus estudos, constantemente sendo dinamizada, ocupando um lugar de destaque em seu caminhar como pesquisador. A proposta de analisar nossas implicagdes € uma forma de pensar, cotidianamente, como vém se dando nossas diferentes intervengdes. Dentro de uma visio positivista que afirma a objetividade © a neutralidade do pesquisador/profissional, as propostas da Anélise Institucional tornam-se, efetivamente, um escdndalo, uma subversio. Colocar em andlise o lugar que ocupamos, nossas préticas de saber-poder enquanto produtoras de yerdades - consideradas absolutas, universais e etemnas - cus efeitos, o que elas pem em funcionamento, com o que elas se agenciam € romper com a légica racionalista ainda tio fortemente presente no pensamento ocidental. A anilise de implicagdes traz para 0 campo da andlise sentimentos, percepgdes, ages. acontecimentos até entao considerad S negativos, estranhos, como desvios ¢ erros que impediriam uma pesquisa/intervengao de ser bem sucedida. Implicado sempre se est, quer se queira ou nio, visto nio ser a implicactio uma questo de vontade, de decisio consciente, de ato voluntério Ela esté no mundo, pois é uma relacdo que sempre estabelecemos com as diferentes instituigdes com as quais nos encontramos, que nos constituem € nos atravessam. Por isso, a Andlise Institucional fala de anélise de implicagdes ¢ nao apenas de implicagao. Para a Andlise Institucional, o conceito de instituigao difere do de organizagdo ou estabelecimento. In 6 oespago onde as relagtes de producdo esto instituidas de maneira aparentemente natural ¢ eterna e nio onde 0 {juridico se manifesta, * O conceito de transversalidade é muito utilizado pela Andlise Institucional e representa a clareza que se tem dos entrecruzamentos, das pertencas e referéncias de todos os tipos (Politico, econdmico, social, cultural, sexual libidinal, etc.) que atravessam nossas vidas. As relagdes transversais so, em geral, inconscientes, no sabidas & desconhecidas. Colocar em pritica a utilizacao de tal ferramenta nos incluindo a remete a um processo de desnaturalizagio permanente das instituicde propria instituigao da andlise e da pesquisa (...) Ela inclui uma anélise do sistema de lugares, 0 inalamento do lugar que ocupa, que busca ocupar © do que Ihe é designado ocupar com os riscos que isto implica.” (Barros, 1994, p. 308-309), Dessa maneira, ao tomar a andlise de implicages como um dispositive para problematizar as priticas de qualquer profissional, estamos querendo afirmar 0 cariter politico de toda e qualquer intervencdo. Ao colocarmos em xeque os lugares instituidos de saber/poder que ocupamos em muitos momentos de forma natural e ahist6rica estamos afirmando nossa implicagio politica, dentre tantas outras implicagdes que nos atravessam A anilise de implicagio como um dispositivo (.) cuidavamos estar perto do porto, mas somos langados em pleno mar alto. (Deleuze) No sentido de ampliarmos a ferramenta anili de implicagdes iremos pensé-la segundo as contribuigdes trazidas por Deleuze (1996) a partir do conceito de dispositivo. Para ele, o dispositive € um conjunto de maltiplas linhas, de diferentes naturezas que seguem diferentes diregdes, formando processos sempre em desequilibrio. Cada linha encontra-se {quebrada e esté submetida as mais variadas diregdes, De um modo geral, os dispositivos estao sempre produzindo objetos, sujcitos, priticas ¢ Deleuze os pereebe como “maquinas de fazer ver e de fazer falar” (p.84). Ao comportar uma série de linhas de forgas, os dispositivos, ainda segundo Deleuze, “estabelecem 0 vai c vem entre 0 ver ¢ 0 dizer, agem come flechas, que nio cessam de entrecruzar as coi © as palavras, sem que por isso deixem de conduzir a batalha”” (p.85). Portanto, todas as linhas do dispositive sio linhas de variagio, visto trabalharem com forcas singulares, contendo uma multiplicidade de processos em marcha, que se entrecruzam, se mesclam, suscitando variagdes e mutagdes. Assim, Os diapositivos tém por componentes linhas de visibilidade, linhas de enunciagao, linhas de forca, linhas de subjetivacao, linhas de brecha, de fissura, de fratura, que se entrecruzam e se misturam, acabando umas por A autora aqui se refere ao conceito de instituigio segundo a Andlise Institucional. dar noutras, ou suscitar outras, por meio de variagSes ou mesmo mutagdes de agenciamento (Deleuze, 1996, p.89). Dessa concepeao de dispositive podemos apontar dois importantes efeitos. O primeiro refere-se ao “reptidio dos universais”, visto que ele nada explica e, segundo Deleuze, “é ele que deve ser explicado” (p.89). Esse reptidio aos universais enfatiza os processos singulares 4 multiplicidade que se encontram em cada dispositive, em nds € no mundo, Ao tomarmos a anilise de implicagdes como um dispositive, estamos recusando os universalismos, as totalizagdes ¢ unificagdes e afirmando as processualidades, singularidades e multiplicidades. Para tanto, & fundamental que possamos empreender uma anilise constante e cotidiana dos mc nos afetam em diferentes lugares por nés ocupados © das forgas que nos atrave: momentos, néio somente em nossos trabalhos de intervenciio como também em nossas vidas. Ou seja, queremos apontar que a an de implicagdes, tomada enquanto um dispositivo, & sempre micropolitica, € sempre um colocar em andlise nossos modos de existéncia que, segundo Espinoza e Nietzsche, devem ser pensados a partir de critérios imanentes, sem nenhum apelo a valores transcendentais. Assim, a anélise de implicagdes por ser micropolitica encontra-se no plano da imanéncia, no plano dos encontros onde se produzem as enunciagses, onde se presentificam 0 “fazer ver e o fazer falar”. Ou seja, utilizar a andlise de implicagdes € tomar visivel © audivel as forgas que nos atravessam, nos afetam e nos constituem cotidianamente. O segundo efeito de uma filosofia dos dispositivos refere-se a uma critica a orientagio positivista que nos npde a crenga no eterno € absoluto, A proposta é a apreensao do novo, do atual, entendido por Deleuze (1996) como nao sendo “(...) 0 que somos, mas aquilo em que vamos nos tornando, aquilo que somos em devir (...)" (p.92/93). Isto €, 0 “atual € 0 esbogo daquilo em que nos vamos tornando * (p.93). Pensar a andlise de implicagdes enquanto um processo que nos possibilita perceber este devir constante que somos é entendé-la como uma importante ferramenta de trabalho e de vida. E estranhar e recusar as esséncias, as naturalidades normalmente vinculadas ao eterno, & ahistoricidade. E, portanto, afirmar o diverso, as diferengas que esto em nds _¢ no mundo. Tais suportes filoséficos presentes no conceito de dispositive reafirmam a colocagio de Lourau (1993) de que a andlise de implicagdes tem sido o escindalo da Andlise Institucional por seu cariter desestabilizador © desnaturalizador de lugares confortaveis & acriticamente ocupados, de verdades instituidas e aceitas como universais © absolutas. Ou seja, a anilise de implicagdes nos retira dos portos seguros, dos caminhos lineares © conhecidos, da paz das certezas, nos jogando em alto mar, no turbilhio das diividas, da diversidade e dos contornos indefinidos. Um dos efeitos politicos presentes na ferramenta anilise de implicagdes & portanto, a problematizagdo das relagdes de saber/poder, visto que ela aponta para o lugar institufdo de onde falamos quando, com nossas priticas especialistas, legitimamos a divisio social do trabalho no capitalismo. Ou seja, fortalecemos essa divisto quando naturalizamos que hd aqueles que sabem, que detém a verdade cientifica, neutra objetiva — os specialistas e académicos = € de outro os que simplesmente devem executar ‘o que foi pensado/plancjado por esses iluminados, detentores do saber/poder. Se a andlise de implicagdes € micropolitica e encontra-se no plano da imanéncia, ela tem relagdes com o que Foucault (Apud Deleuze, 1996) denominou de “critérios de vida”. A ibilidade de se produzir cois quando, a0 contriio, se esta sendo langado em alto mar, apesar de, na contemporaneidade, saber, a pos novas no mundo, de se crer perto do porto, vivermos submetidos ao controle globalizado © ao biopoder hoje imperantes. Nao podemos nos esquecer que esta filosofia dos dispositivos desvia-se do eterno, do homogéneo, do modelar para aprender 0 novo em suas multiplicidades. Nossa aposta, entdio, € de que possamos nos tornar profissionais da Vida, fortalecendo sua potencia & medida que possamos analisar nossas implicagées no cotidiano, tema que desenvolvermos melhor mais adiante. 0 dispositive aniilise de implicagdes em uma intervengio O trabalho de intervengdo junto a professores da Escola de Auxiliar de Enfermagem da FAETEC, por nds realizado, foi ini ado sem que fizéssemos qualquer andlise da demanda apresentad , parte importante em noss anilise de implicagdes.Os impedimentos foram Varios: a aprovagao de nosso projeto pela FAPERI, sem que tivéssem s, enquanto equipe, tido tempo de fazer contato com todo o grupo com o qual irfamos trabalhar. Da mesma forma, © actimulo de tarefas em outros espagos ea correria do mundo. globalizado impuseram_ uma chegada ao campo de pesquisa-intervengao sem que tivéssemos realizado uma anélise de visto necessitarmos de um nossas implicagdes. Afinal de contas, a demanda inicial era nossa grupo onde pudéssemos pensar as questOes propos as EM nosso projeto apresentado a FAPERJ. Apesar de trabalharmos com alguns pressupostos da Anélise Institucional que enfatiza, niio sé a andi e de implicacgdes, mas também a andlise da demanda, a urgéncia e a escassez do tempo nao nos permitiram pensar e colocar em pritica essas ferramentas. Ocorreu apenas um contato inicial com a direcio da escola e alguns poucos professores que fariam parte do grupo. Nesse dmbito é que foram acertados hordrios, datas, prazos, periodos, local, interesses para a realizagio do trabalho. Por isso, nosso primeiro encontro com o grupo de professores da FAETEC, pelo desconhecimento que alguns tinham da proposta, foi pleno de diividas, surpresas, interesses diversos e, até mesmo, desconfianga. Naquele momento, que poderia ter sido aproveitado para iniciarmos tais andlises também nao as fizemos. S6 posteriormente, ao debatermos primeiro encontro no espago da equipe de intervengdo, comentando © mal estar que haviamos percebido no grupo € em nds, nos demos conta da falta de discuss sobre os diferentes grat is de implicagdo e diferentes demandas que estavam ali presentes. No primeiro encontro, de forma até mesmo invasiva, s demandas, a forma como irfamos apresentamos nossas propostas, quais eram as nos funcionar, sem debater com © grupo quais eram suas propostas, suas demandas e as formas como gostariam de trabalhar. Posteriormente, a partir do momento em que conseguimos iniciar uma anélise das demandas e implicagé Ii presentes, percebemos que aquele conjunto de situagdes pelo qual haviamos passado era também, dentre tantas outras forgas, um dos efeitos de nossas priticas, que poderiam estar sobreimplicadas. Segundo Lourau (2004) a sobreimplicacdo € a crenga no sobretrabalho, no ativismo da pritica, que pode ter como um de seus efeitos a dificuldade de se processar andlises de implicagées, visto que todo 0 campo permanece ocupado por um certo € tinico objeto. No mundo contemporaneo, a urgéncia invadiu nossas vidas e nos io exigidas agdes imediatas e instantaneas. Impde-se a todos nés a _necessidade de acelerar as tarefas, 0 tempo, pois s6 assim conseguiremos sobreviver ao ritmo imposto pelo rendimento maximo. © profissional sobreimplicado responde naturalmente a essa demanda institufda, ocupando o lugar que Ihe esta sendo designado, De um modo geral, a forma de perceber 0 que s deve fazer no dia a dia ocorre, quase sempre, em uma situaga0 lus que € colocada como urgente, ao mesmo tempo em que se € atravessado pela participacionista’. Assim, uma de nossas hipdteses € que a sobreimplicagdo de nossas priticas nos impossibilitou fazer a andlise de demandas € de implicagdes, tanto da equipe de intervencao quanto do. grupo de professoras e do proprio conjunto de nossa intervenga O debate ¢ as anilises produzidas no espago da equipe de intervengdo, nos permitiu que, a partir do segundo encontro, conseguissemos tornar mais claras algumas demandas relacionadas diretamente aos cotidianos de sala de aula das professoras. Ou seja, somente a partir do momento cm que produzimos em nés da cquipe um dispositive analitice, € que fazer ver ¢ fazer falar conseguimos © grupo de professores/interventores. De acordo com * A-esse respeito ver Coimbra e Nas mento (2004) Deleuze (1996) “cada dispositivo tem o seu regime de luz, uma maneita como cai a luz, se esbate © se propaga, distribuindo o visivel eo invisivel, fazendo com que nasca ou desaparega 0 objeto que sem ela ndo existe.” (p.84). Entendemos, assim como os filésofos aqui citados, que os diferentes. objetos, saberes e sujeitos que existem no mundo - € 0 préprio mundo - sao produtos das diferentes priticas sociais em diferentes contextos histéricos. Dessa forma, esses objetos, saberes € sujeitos ndo existem em si, ndo tém uma esséncia, sto inc O “fazer ver ¢ 0 fazer falar”, -ssante € continuamente produzidos pelas agdes dos homens. dependendo das especificidades do encontro produz diferentes manciras de como a luz iri cair, se esbater, se propagar, se distribuir, produzindo 0 nascimento, © fortalecimento, 0 desaparecimento, a fragilizagio de alguns objetos, saberes e sujeitos. Anilise de implicagdes: fortalecendo nossa poténcia Eu te invento, 6 realidade! Clarice Linspector A utilizagio da anilise de implicagdes na contemporaneidade se torna cada vez mais necesséria tendo em vista 0 novo regime que se impée, o do biopoder Como diz Foucault, nesse novo regime © poder & destinado a produzir forgas e as fazer crescer e ordena-las, ais do que a barré-las ou destrui- las. Gerir a vida, mais do que exigir a morte. E quando exige a morte, & em nome da defesa da vida que ele se en strar. arregou de adn Curiosamente, € quando m: ndveis e genocidas (..) ( Pelbart, 2003, p. 56). se fala de defesa da vida que ocorrem as guerras mais abom iam a0 corpo, ao homem-corpo, hoje, o biopoder se dirige a0 homem vivo, ao homem-espécie, 2 vida.. Entretanto, nesse poder sobre a vida ha também o poder da vida, sua poténcia politica de invengao. Questdes que se colocam para todos nés que trabalhamos com a produgio de subjetividade e utilizamos os dispositivos anilise de implicagdes ¢ sobreimplicagiio. Questdes como analisadores de que nao temos a pretensio de responder, mas que devem ser colocad: nossas priticas, tais como: O que significa a vida hoje? O que significa poder sobre a vida? Como entender poténcia da vida, nesse contexto? © que significa que a vida tonou-se um capital? © que uma tal situagao acarreta, do ponto de vista politico? De que dispositives concretos, minisculos e maitisculos, dispomos hoje para transformar o poder sobre a vida em poténcia da Vida, sobretudo num contexto militarizado? Como isso se conecta com 0 desa urgente de reinventar a comunidade? Como tais perguntas redesenham a idéia de resisténcia hoje, nos varios dominios? (Pelbart, 2003, p. 14), Entendemos que a utilizagio dos conceitos de anilise de implicagdes © sobreimplicagio podem nos potencializar nesses tempos de biopoder, no sentido que, mesmo micropolitics amos transformar as mutilagdes, os constrangimentos, os ante, po: adestramentos, os entorpecimentos que fazem parte de nosso cotidiano, em potencia de Vid: Vida entendida como virtualidade, diferenca, invengiio e poténcia. A Vida em sua imanéncia, enquanto acontecimento ético-politico que permita potencializar 0 cardter heterogéneo e miiltiplo dos diferentes modos de existéncia que se encontram no mundo. os) Nao agitento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa vdlvulas, que olha o relégio, que compra pao as 6 horas da tarde, que vai lé fora, que aponta ldpis, que vé a uva etc, ete. Perdoi Mas eu preciso ser Outros. od) (Manoel de Barros, 1998, p. 79) Referéncias bibliograficas BARROS, M. Retrato do artista quando coisa. Rio de Janeiro/Sao Paulo: Record, 1998. BARROS, R D.B. Grupos: a afirmagdo de um sinulacro. Tese de doutorado: PUCISP, 1994, COIMBRA, C. M. B. Os caminhos de Lapassade ¢ da Andilise Institucional: uma empresa possivel?”.In: Revista do Departamento de Psicologia UFF, vol. 7-1, 1996. COIMBRA, C. e NASCIMENTO, M. L. Sobreimplicagao prética de esvaziamento politico? Disponivel em www.slab.uifibr . Acesso em 01/12/2006, DELEUZE, G. O misiério de Ariana: cinco textos e uma entrevista de Gilles Deleuze, Lisboa: Estudo Vega / Passagens, 1996. LOURAU, R. A Andlise Institucional, PetrépoliRJ: Vores, 1975 LOURAU, R. Sociélogo em tempo integral, Lisboa: Estampa, 1979. LOURAU, R. Andlise Institucional e préticas de pesquisa, Rio de Janciro: UERJ, 1993 LOURAU, R. Implicagdo e sobreimplicag3o In: ALTOE, S. (org) René Lourau: Analista institucional em tempo integral. Rio de Janeiro: Hucitec, 2004. PELBART, P. P. Vida Capital: ensaios de biopolitica, Sio Paulo: lluminuras, 2003,

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