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Psico © i reca.rgotsseroensea are 220 Porto Alegre, 2018; 9(4), 410-424 ARTIGO ORIGINAL Perspectivas e desafios da coordenagao de um programa de educacao conjugal Angélica Paula Neumann! Adriana Wagner? "Universidade Regional ntegrada do Alto Uruguaie das Mister ~Campus de Brechin, RS, Brasil wavsdade Fedora do Rio Grande do Sul RS. Braz! Resumo (© estudo investiga as perspectivas e os desafios em coondenaro programa psicoeducativo para casas “Viver a dois: Compastilhand este desafio”. Foram realizadas entrevistas em grupo com dez equipes de profssionais que conduzitam o programa, totalizando 28 participantes, Os dados foram analisados por meio de Andlise Temética no software NVivo. Os temas identificados denotam, ‘esatios na condugao deste programa, como o estabelecimento da alianga terapéutica eo mangjo de ocorréncias imprevisas durante asoficinas, bem como « manutengao do equlibrio entre o cumprimento das atividades conforme previsto pelo martual do programa 0 estilo priprio de cada moderador. O programa também foi avaliado como um espago que favoreee novas possibilidades de trabalho com easais, em um formato Tsdico e paticipativo. A possibilidade de oferecer uma intervengao de prevengao e promogo da sade conjugal amplia orepertrio de agdes disponiveis aos profiasionais que atuam nos mas diferentes contextos de trabalho, Palavras-ehave: Relaées conugas; Promacto da auido; Intervensio psicossoci Perspectives and challenges of coordinating a relationship education program. Abstract ‘This study investigates the perspectives and challenges about coordinating the marital education program “Viver a dois: Comparilhando este desafio™. Ten group interviews were completed with 28 health professionals who coordinated the progrezn. ‘Thematic analysis was performed with Nvivo software. Four themes were ideatified, The challenges were the establishment of ‘therapeutic alliance, the need to del with unexpected events and the need to keep a balance between the structured activities ofthe program and the eoordinator’s personal style. As perspectives the program filed a gop in psyehoeducational tools to work wit, Couples by offering active and playful possibilities forthe health professional who work with couples and families. The offer of interventions that focus on prevention and promotion of marital health broad the set of actions availabe to health professionals. ‘Keywords: Marital relations; Health promotion: Peychossocial intervention. Perspectivas y desafios de la coordinacion de un programa de educacién conjugal Resumen El estudio investiga las perpectivas y los desafios para coordinar el programa psicosducativo para parejas “Vivir en pareja: El ate de enffentar los coufictos”. Fusran realizadas entrevistas en grupo con diez equipos de profesionales que coordinaran el programa, totalizando 28 participates. El tratamiento de ls datos se hizo mediante andisis tematic en el software NVivo. Los temas ideatificados denotan desafios para la conduccida de ete programa, tales como el establecimiento de la alianza terapeutica y el mangjo de situacionesimprevistas durante los tlleres, asi como el mantenimiento del equilibio entre cumplir las actividades ‘seain lo previsto por el manval del programa y mantener estilo propio de cada moderador. El programa tambin fue evaluado como siendo favorecedor de nuevas posbilidades de trabajo con parejas, en un formato Tico y partcipativo. La posbilidad de oftecer una intervencién de preveucion y promocion de la salud couyugal amplia el sepestorio de acciones disponibles para los profesionales que actian en los mas diferentes contents de trabajo. Palabras clave: Relaciones de pareja: Promoci de sald Intervencin pscosecial eumam AP, Ware: A. 1 Passe sez x cna oe um wean de etic canaal 4il A educago conjugal consiste em um conjunto de estratégias destinadas a favorecer o aprimoramento das relagdes amorosas ¢ a fomentar relacionamentos mais saudaveis, satisfatorios e estiveis (Halford & Bodenmann, 2013). Tem sido desenvolvida por meio de programas estruturados e, usualmente, se baseia em dois pilares: o desenvolvimento de habilidades necessérias para a manutengao da qualidade da relacio conjugal ea divulgagao de conhecimentos sobre a vida a dois (Halford, Markman, Kline, & Stanley, 2003) Diferentemente das propostas psicoterapéuticas individualizadas, a maior parte dos programas de ‘educagaio conjugal se propde a trabalhar com grupos de casais, sob a coordenagao de um ou mais profissionais moderadores (Owen, Manthos, & Quirk, 2013). Desse modo, diversos temas so abordados, sendo os mais ‘comuns as habilidades de comninicagao, a aprendizagem da autorregulagao emocional, o manejo de conflitos e as conexdes positivas, tais como sexualidade, lazer e apoio (Wadsworth & Markman, 2012). A importiincia destes temas para a vida conjugal se effete diretamente na complexidade que os profissionais enfrentam ao trabalharem tais contetidos, com os casais. Além do conhecimento técnico e tebrico, € necessirio que eles se sintam preparados € confortiveis para abordar temas intimos de maneira imparcial, com casais que vivenciam diferentes formas de conjugalidade (Wagner et al., 2015). Por se tratar de um trabalho desenvolvido em grupo. também recai sobre 0s profissionais a necessidade de dominar e entender a dinimica que se estabelece entre os participantes, manifestada pelas mais diversas reagdes, especialmente frente a temiticas delicadas e que dizem respeito a intimidade conjugal (Neumann & Wagner, 2017), E evidente, assim, a relevaincia de atentar para os profissionais que coordenam as agdes de educagio conjugal. Na literatura intemacional, encontram- se alguns dados acerca das caracteristicas usuais e desejéveis dos moderadores desses programas. No que diz respeito A sua formacio, & comum que os programas de educas2o conjugal sejam coordenados por psicdlogos (Baucom et al., 2006), estudantes de psicologia (Markman, Floyd, Stanley, & Storaasli, 1988) e estudantes de pos-graduagao em psicologia clinica e aconselhamento psicolégico (Owen et al. 2013, Zemp et al,, 2017). Muitas intervengdes relataram, 4 participagao de dois moderadores, sendo comum a co-coordenagao de uma mulher e wm homem (Quirk, ‘Owen, Inch, France, & Bergen, 2014), Pesquisas demonstram que, quanto maior a alianga terapéutica entre moderador e participantes, melhores 05 resultados dos casais no que diz respeito Pe ere eg, 208; 49), 1021 comnunicaso positiva, ao nivel de comprometimento de cada membro do casal com o relacionamento com a diminuigtio de interagdes negativas entre 0 casal (Ketting et al. 2017, Quitk et al., 2014). Outro esto encontrou que @ similaridade entre 0 nivel educacional dos participantes e de, pelo menos, um. dos moderadores, foi um preditor de mudangas no fimeionamento individual dos participantes quanto 20 manejo dos confltos. a diminuigao dos indicadores de depressao e ao aumento do sentimento de autoeficdcia (Bradford, Adler-Baeder. Ketring. & Smith, 2012). ‘Nesse mesmo esitdo, identificon-se que a semelhanga entre 0 estado civil dos participantes e de, pelo menos. uum dos moderadores, também foi um preditor do nivel demudanga no fimeionamento conjugal. reverberando na qualidade do relacionamento, no sentimento de felicidade, nas interagdes positivas e no ajustamento conjugal Como se pode perceber. mais do que a formacao € 0 desempenho teérico-técnico dos profissionais moderadores, existem outros fatores relacionados & tarefa de coordenagao que infiuenciam nos resultados percebidos pelos casais participantes de programas de educacio conjugal. Considerando o ineditismo desse tipo de proposta no Brasil. é de grande relevancia conhecer a experiéncia dos profissionais brasileiros que coordenaram as oficinas que compéem o programa de educagao conjugal Viver a dois: Compartilhando este desafio (Wagner et al, 2015). Este programa tem como objetivo fomentar nos casais a ampliacao do leque de estratégias utilizadas no enfientamento de seus conflitos. E formado por seis oficinas realizadas em grupos de quatro a oito casais, com frequéncia semanal € duragdo variando entre 1h30 e 2h cada encontro, Os: temas abordados pelo programa so mitos conjugais. confiito conjugal (temas, fiequéncia, intensidade estratégias de resolugio), sexualidade e lazer a dois. Sia operacionalizacao envolve a participacao ativa dos casais por meio de tarefas interativas, liidicas e psicoeducativas. A Tabela 1 apresenta os objetivos sintese das atividades de cada oficina. As atividades stio conduzidas por profissiouais de nivel superior. com ‘ase em um manual que expliea 0 passo a passo de cada oficina (Wagner et al. 2015). Aleumas atividades podem ser realizadas individualmente no setting clinico, conforme recomendacao do manual, uma vez «que as técnicas disponiveis podem ser favorecedoras do processo de comunicacao e resoluigo dos conflitos em terapias de casal, Entretanto, neste estudo se investigou a perspectiva dos profissionais que coordenaram 0 programa em grupos de casais Explorar as percepgdes dos moderadores sobre 0 programa possibilita uma compreensio diferenciada eumam AP, Ware: A. 1 Passe sez x cna oe um wean de etic canaal 412 dos processos que acontecem durante a sta execugaio, e envolve investigar tanto as possibilidades quanto os desafios vivenciados pelos moderadores durante estas agdes, Estudos comprovam a capacidade do programa Viver a dois em aursiliar os casais no manejo de seus confitos (Neumann & Wagner, 2018), configurando-se, assim, como uma intervengao empiricamente sustentada ‘que pode ser aplicada em diferentes contextos. Sabe-se que o Sistema Unico de Satide, por exemplo, preconiza © trabalho com grupos como forma de propiciar intervengdes qualificadas a um maior mimero de indivicuos, fomentando também a criagao de redes de apoio entre 05 ustirios do sistema, Nesse sentido, 0 contextos de satide piblica. Apesar disso, 0 trabalho com a conjugalidade nestes espacos, especialmente em uma perspectiva de prevengdo e promogao de satide, nao possui tradic&o, Assim, explorar a experiéncia de profissionais que ja realizaram o programa Viver a dois pode se constituir como uma ferramenta para a capacitagio de profissionais que desejem conhecer efou aplicar 0 programa em seus contextos de trabalho, Frente a isso, este estudo tem como objetivo investigar as perspectivas e 0s desafios em coor- denar 0 programa psicoeducativo para casais “Viver a dois: Compartilhando este desafio”, segundo o relato de profissionais que trabalharam com tal tecnologia programa Viver a dois ¢ uma ferramenta aplicavel em social. TABELA1 Descrigio dos objetivos e atividades de cada oficina ‘OFTCTNA 1: Reconhiecimento da histérla do caval ea desconstrucao dos mitos conjugals| (Objerivos: Contibuir parn o resgate da hstria do cael: Favoresero conhesimerto sobre ainudncia dos mitos na conjugalidade, Asidade 1: Trasalhando o autoconhectmento do casa. Po mio de wma apresentasio, os participants rexgatam a histria do cael ‘Aslividade possbilita que os cdnjuges verbalizem rentimentos e emogdes que possvem acer do relasionamento. Arividade I: Expectarivas ¢ itas conjugast Disoute nitos socilmerte construidos acerea da relagdes conjugal. (OFICINA 2: O conflito nosso de cada dia (Objetves: Trabalhar a ieia de que os confitossio increntes a0 cotdiano conjugal: Identiicar quas os prncipas motivos de confito na vide a dois; Praporeionar 0 atoconhecimenta acerca do nivel de tolencia frente aos diferentes temas de confite que enfrentam: Promver senses sabre as dferengas entre as conjuigesqusato ae enfrentaments das confit, fomentandoo respeita a dterengas Anidade I O tommema dos conta. pari desta atividade, cada diade dialog sobre at motivas de conto que viveneiam no dia a dia « mensuram a infensidade com que cada dnjuge perecbe estes deventendimentos. Aividade 1: Nossos confits de cada dia. No grande grap, érealizada diseussto acerca da prevalénsia de detenminados temas de conto ‘no dia a dia conjugal. (OrTcT¥A 3: Como lidar com os conftos? As diferentes estratéglas (Objerivos:Tdetificar¢ desrever as extratéias de resolugto de confitos mais frequentes no coidiano conjugal; Favorece oexersicio de modulagio do afeto vinewlado aos contlidos ecorrentes nos confitos; Promover 0 reconhecimento deforma come cada membro do casal se comunia ea reverberagdo dessa comunicardo na conjugalidade _Atividade I: Quando brigamos.. Nesta atvidade se trabalbs a cotunicayto por meio da diferensiagdo entre o conteddo daguilo que é ‘erbalizado durante uma dscuselo a forma como este canteida & expresso Andade I Kdenicagaa das exvatégsasunlizadas pelo cazal. Por aici de atvidade dics, os parsipantes aprenden quatioextiatéias de rexolugto de conflitos e so instigadoe a identifica quas pevalecem em seus rlacionamnenton. COrtcrvs 4: Aptendendo a negociar: A importinela da fexibiidade (Objerivox: Amplian a pereapeaa de si, daa) pareio(a) e da quanto as caracteristias individuals se refftemn no relasouamento conjugal Deseavolverhablidades de empatia: Expandiro repertcio de estatégias de negociagto, Aividade : Gavhar-garhar.Exa atvidase mescla momeotos pscoedveativos sobre negociagho com tarefas nas quais cada dade precisa fetuar um acordo sobre tema importante para orelaionamento (Ortcrv4 5: Sexualidade: Um assunto para dois (Objerivon:Faverecer que 08 casissefitam sobre a seraldade conjugal ea saa vivéncia sexal com o seu(a) pareir(s) Eetimular que os cassis conversemn entre eles sobte a sextalidade,enfoeando os aspestospostivas eaqueles que speesentam dla, Aividade : Mitos arespito da sexualidade. Sao discuidos mitos socialmente consruidos acerca da vivénca da sexualidade. Atividade I: Conversando sobre sexo. Atividace incieda na ofcina que encaminha os casas, para, em casa, dialogar solv a forma como “svenciam a sexualidade em seu relaconamento Orrcrsa 6; Diversao a dois: A importincta do lazer na vida con) (Objerivos: Favoreoer a reflesao sobre a quantdade en qualidade do terapo que 0 casal passa junto: Refleir sobre a eapacidade de fazer cscolhas satistatras a ambos; Oportunizar a redefinigo do tempo de lazer que desfrvtan juntos. _Atsidade I: O que eu fago.com mei tempo, Pennie a visualizagio acerca da forma como cada membre do casal est ilizandoo sea tempo odiaa dia Aividade I: Crtigrama do casa. Possibilita 0 didlogo acerca das stividades de lazer que os cassis ealzam ou gostariam de realizar. “nndade ils Dempadida e conta de imtengdes. Feshasienta das cficinas por meio realizago de um contest de intenges que express com o que cada membro de casal se compromete no relacionamento Pe ere eg, 208; 49), 1021 eumam AP, Ware: A. 1 Passe sez x cna oe um wean de etic canaal 413 Método Participaram deste estudo 28 profissionais da drea da Psicologia, Educagto, Satide ¢ Assisténcia Social, do sexo feminino, que coordenaram dez grupos do Programa Viver a dois: Compartilhando este desafio, abrangendo um total de 65 casais heterossexuais, Para tanto. as profissionais atuaram em equipes formadas por 1rés integrantes, organizadas de acordo com os seguintes papeis: a) Moderadoras: profissionais que coordenaram as oficinas, assumindo tm papel ativo na explicagao das atividades e dos contetidos psicoeducativos, bem como na condugdo das discussdes grupais: b) Auxiliares: profissionais que auxiliaram as moderadoras na coordenagao, assumindo um papel de maior distanciamento para observar a dindmica do grupo. ‘mas com autonomia para intervir complementando as colocagdes das moderadoras ou ressaltando aspectos: que possam passar desapercebidos pela mesma: e ¢) Observadoras: profissionais que observaram o desenvolvimento das oficinas sem intervir em seu desenvolvimento. Dentte as patticipantes, 10 eram moderadoras, 9 eram auxiliares e 9 eram observadoras. ‘Uma ausiliar e observadora no puderam participar da entrevista devido a conflito de horarios. A selegao das equipes que compuseram a amostra ‘ocorreu por conveniéncia. As pesquisadoras divulgaram am stias redes de contato a busca por equipes de profissionais que atuassem nas areas da Psicologia, Educagao, Satide, Direito e Assisténcia Social, as quais tivessem disponibilidade para a realizagaio de um grupo do programa Viver a dois em seus locais de trabalho. As equipes que se candidataram foram entrevistadas para verificar a disponibilidade das mesmas e a viabilidade de realizagio do programa em seus contextos de trabalho. Assim, estavam habilitados a participar como moderadores, auxiliares ou observadores profissionais de diferentes Areas, devido ao entendimento de que 0 programa tem o potencial de ser utilizado em diferentes contextos. ‘AS equipes atuavam em Secretarias de Satide. Centros de Referéncia e de Referéncia Especializada em Assisténcia Social (CRAS € CREAS). Centros de Formagao em Terapia de Familia © Casal & Universidades, e estavam distribufdas em cinco cidades do sul do Brasil. Desta forma, houve participagio de equipes atuantes em contextos de metrépole, regitio metropolitana, cidades do interior com mais de 100 mil habitantes e cidades do interior com menos de 20 mil habitantes. Para participar do estudo, as equipes participaram de treinamento sobre o Programa ‘Viver a dois, com carga horiria de 10 Pe ere eg, 208; 49), 1021 As equipes foram formadas apenas por mulheres devido as possibilidades dos contextos de trabalho & do interesse dos profissionais. Todas as moderadoras possuiam curso superior e nove delas possuiam ou estavam fazendo pés-graduagio, sendo nove psicdlogas e uma pedagoga. Sua média de idade foi de 36 anos (DP= 10,35). Em sta maioria, eram casadas ou viviam em unio estavel (60%, n=6). No momento da pesquisa. uma estava namorando (10%) e trés se declararam como solteiras (30%), As auxiliares e observadoras possuiam curso superior (57.8%, n= 11) ou etam estudantes de graduagio (42.1%, n=8), atuando nas reas de psicologia, assisténcia social. enfermagem € gestdo piblica. As médias de idade foram de 33 anos para as auxiliares (DP=6,27) ¢ 29 anos para as observadoras (DP= 10,38). Também eram, casadas ou viviam em unigo estivel em sua maioria 52%, n=10), havendo uma parcela de participantes namorando (2! ), solteiras (15.7%, n=3) on separadas (5.2%, n=1). Em todas as equipes haviam profissionais que, em sta vida pessoal, possuiam ou jé ‘tinham possuido experiencia de coabitacao. Instrumentos Realizou-se uma entrevista em grupo de cariter exploratério com cada equipe coordenadora. A entrevista em grupo consiste no uso de questionamentos de mais de um individuo simultaneamente, e pode ser utilizada para avaliar experiéncias compartilhadas pelos membros do grupo (Fontana & Frey, 2005). Uma vez que as tres integrantes da equipe participaram conjuntamente das oficinas, optou-se por esta modalidade de entrevista para oportunizar a construgao conjunta dos dados. Este formato de entrevista permite que as respostas individuais sejam elaboradas a partir da resposta das demiis participantes, possibilitando a complementagao, € 0 enriquecimento na producao das informacées (Fontana & Frey. 2005). Este enriquecimento ocorre pela identificagao de concordincias e divergéncias nas espostas dos participantes, favorecendo a reflexao sobre o tema no aqui e agora da entrevista. A entrevista foi realizada com base em um roteiro pré-definido, que investigou a experiéncia de coordenar um programa psicoeducativo para casais, 0 relacionamento entre a equipe, 0 relacionamento com os casais e os desafios identificados. As profissionais participantes também. preencheram uma ficha de identificagio contendo informagdes sociodemogrficas Procedimentos Contextualizagdo. Este estudo integra uma investigagaio. maior, com o objetivo de avaliar os indicativos de eficdcia do programa Viver a Dois. Para eumam AP, Ware: A. 1 Passe sez x cna oe um wean de etic canaal 44 tanto, as profissionais responderam a um checklist apés cada oficina, na qual indicavam 0 quanto haviam realizado os procedimentos esperados para cada encontro, Além disso, mensuravam semanalmente indicativos de satisfagao a respeito das oficinas. Procedimentos de coleta de dados. Apos © término das seis oficinas, foi realizada uma entrevista em grupo com cada equipe coorde- nadora, totalizando dez entrevistas. As entrevistas foram realizadas conjuntamente com moderadora, auxiliar € observadora, possibilitando 0 compar tilhamento e a construgao conjunta das informagoes (Fontana & Frey, 2005). Todas foram conduzidas pela ‘mesma pesquisadora, uma das autoras deste estudo. As centrevistas foram audiogravadas, com a permissio das participantes Procedimentos de andilise dos dados, Apos a rea- lizagao das entrevistas, as mesmas foram transcritas na integra e revisadas, resguardando-se a identidade das participantes. Os dados foram analisados pelo método da Andlise Temética (Braun & Clatke, 2006), no software NVivo, versio 11. Foi realizada uma analise indutiva, de modo que 0 delineamento dos temas esteve diretamente relacionado aos dados do corpus. A anilise foi realizada conforme os seguintes passos: 1) Familiarizando-se com os dados: realizacio de leitura ativa do data-set, buscando significados € padrdes que indicassem possiveis temas. Nesta etapa, ‘buscou-se identificar o maior nimero possivel de temas, abordados pelas participantes nas dez entrevistas: 2) Gerando cédigos iniciais: com base nos indicativos a etapa anterior, realizou-se nova leitura do data-ser, desta vez, codificando o texto. Nesta etapa, cada trecho das entrevistas foi codificado conforme as temiéticas identificadas previamente; 3) Buscando temas: con- sistitt na anélise dos cédigos, que foram revisados exaustivamente na procura de similaridades e diferencas entre eles. até obter a formagao dos temas, com seus respectivos excertos. Para tanto, nao se considerou a quantidade de vezes em que tm mesmo tema tenha sido citado, mas sim os aspectos que caracterizavam aquela resposta como distintiva das demais temiticas e ‘com televancia para o escopo do estudo: 4) Revisando ‘os temas: envolven 0 refinamento dos conteiidos. por meio dos critérios de homogeneidade interna heterogeneidade extema. Foram realizadas das sub- fases: a) Os excertos de cada tema foram lidos e, quando necessitio, recodificados, até se considerar que formavam um padrao coerente: b) O dara-ser foi relido na integra, para verificar se os temas eram representativos do data-set e se havia alum outro dado que podia ter passado despercebido anteriormente: 5) Definindo e nomeando temas: consistit na descrigtio Pe ere eg, 208; 49), 1021 do escopo de cada tema; 6) Produzindo 0 report: envolveu a descricdo completa e detalhada dos temas, com a inclusao de excertos exemplificativos (Braun & Clarke, 2006). Consideragoes éticas Este estudo foi aprovado pelo Comité de Etica em Pesquisa do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob o nimero CAE 43881515.6.0000.5334. Todas as profissionais par- ticipantes assinaram um Termo de Consentimento Livre © Esclarecido, assim como os casais que participaram, dos grupos, Resultados A partir da Andlise Temética, foram delineados, quatro temas. O primeito deles, Desafios relacionais, diz respeito as percepgoes das equipes acerca do relacionamento com os casais. O segundo tema, Desafios ‘no cumprimento dos papeis, aborda os sentimentos das profissionais em telagdo ao desempenho dos papeis de moderadoras, auxiliares ¢ observadores. 14 © tema Desafios relacionados as reagdes dos casais reine as reflexdes acerca de situagdes consideradas, obstaculizadoras do desenvolvimento do programa. Por fim, o tema Possibilidades do programa caracteriza as potencialidades e perspectivas deste para 0 trabalho com casais, Desafios relacionais © tema Desafios relacionais diz respeito as percepgdes das equipes acerca do relacionamento estabelecido com os gmmpos de casais. De forma geral, as equipes reportaram que estabeleceram uma boa relagio com os participantes. No entanto, avaliaram. que esta relagao se deu conforme as caracteristicas de cada grupo. Aqueles com maior proximidade entre os participantes também foram aqueles que desenvolveram. maior proximidade com as coordenadoras: “Moderadora 8~(..)0 vineulo que se constituin foi ‘muito bom, de muito carinho mesmo. De verdade. Eutfiquet chateada com o fin. (..)” Por sua vez, os grupos que mantinham uma relacao mais reservada entre si mantiveram este tipo de funcionamento também com as coordenadoras “Observadora 7 — Eu acho que foi manguilo. (..) por exemplo, a... (patticipante, mulhet) veio pedir orientacao, wn outra casal também vei depois pedir orientagdo, entéto criou vinculo, né? (..) de eumam AP, Ware: A. 1 Passe sez x cna oe um wean de etic canaal 41s repente esse niio conseguir se aprovimar tanto (..) em fungi do jeito do grupo funcionar, né?” A dificuldade de vinculagio com o grupo de casais, apareceu no relato de uma das equipes investigadas. Por ‘um lado, este aspecto fi atribuido as caracteristicas do ‘grupo, Por outro, foi justificado pelo impacto negativo que a execucio de um programa estruturado gerou na espontaneidade da equipe moderadora. Uma vez que cada oficina possuia un roteiro bastante definido, com orientagdes claras acerca de quais aspectos deveriam ser abordados e discutidos, a equipe se sentit inibicia na condugio das atividades. impactando na vinculacio como grupo. Desafios no cumprimento dos papeis A petcepsao acerca dos papeis especificos de ‘moderadoras, auxiliares e observadoras, utilizados neste estudo, foi bastante discutida pelas profissionais participantes, que destacaram alguns desafios no seu ‘cumprimento. Tais desafios serao abordados em 118s subtemas correspondentes, quais sejam, Papel de moderador, Papel de auxiliar e Papel de observador Papel de moderador. A expetiéncia das profissionais, ‘que assumiram o papel de moderadoras dos grupos foi bastante diversificada. Um dos pontos que mais foi ressaltado pelas participantes se relacionow a0 cumprimento do roteito das oficinas, conforme assinalado anteriormente. Por se tratar de um programa estruturado, cada oficina posstia um roteiro que definia as atividades a serem realizadas, a sua ordem de realizagao e os aspectos que deveriam ser discutidos com © grupo a partir delas. Muitas moderadoras relataram dificuldades em relagao a isso, alegando que © fato de haver um roteito definido prejudicava a sua espontaneidade na condugao do trabalho: “Moderadora 2 — (..) porque eu tinha que cumprir com 0 manual, Entio muitas vezes eu gostaria de _fazer uma coisa e néo facia.” Apesar disso, ressaltaram a necessidade da exis téncia do roteiro para a manutengtio do foco das atividades: “Moderadora7— Mas 0 marual, assim, ele estrutura. E 0 maior desafio pra mim foi seguir a estrutura, néio fugir daquilo. Porque é muito facil. Eles puam um assunto, e (& muito facil) entrar naguilo.” Frente a esse impasse entre 0 estilo proprio e a presctigéo do manual, as moderadoras relataram a necessidade de adaptar as suas falas. expressando os Pe ere eg, 208; 49), 1021 conteitdos previstos de maneira propria e considerando, o perfil e as demandas dos grupos: “Moderadora 9 ~ (..) quando @ gente citava exemplos a gente colocava 0 que estava ali no ‘manual (..) ai a gente perguntava se as pessoas entenderam, e temtava ir mediando, fazendo uma aproximagao, 18?” As profissionais também falaram sobre o quanto se sentiram preparadas para coordenar as oficinas. Por um lado, denire as profissionais que nao posstiam formacao e experiéncia especificas para o trabalho com casais, algumas relataram ter sentido falta de maior suporte te6rico, por no ter subbsidios para aprofimdar a discuss *Moderadora 7 —(..) eu senti bastante dificuldade, por exemplo, eu sei que tinha o livro como aporte ‘eérico. Mas, por exemplo... Acho que na quaria coficina (...) complementar aquilo pro moderador teoricamente (seria importante.” Por outro lado, para as profissionais que possuiam formagdo e experiencia especificas para o trabalho com casais, o desafio era distinguir entre aquilo que deveriam compartilhar e discutir com 0 grupo e aquilo que, apesar de compreenderem. nao deveriam abordar: “Moderadora 5 — Eu vi isso como um lado bom e um lado ruim, de ser terapeuta (de casas): 0 lado ont é que eu me senti super d vontade no manejo, do que ia vir, ¢ realmente. fui supertranquila para «as oficinas. O outro lado é que, bom, dé vontade de explorar, e tu no pode, né? (..) E acho que © entendimento val pra além e tu tem que poder trabalhar isso ent ti, endo no grupo.” Papel de auciliar: Em geral, as profissionais que atuaram no papel de auxiliares se mantiveram em um papel mais operativo, apresentando uma interacao. ‘menor com o grupo: “Auxiliar 2 — Eu senti que ew poderia ter me exposto mais, Ter me posicionado mais, agido mais, atuado, falado mais com o grupo, porque eu G) me colocava realmente na posicéio de auxiliar sabe? Quando solicitava eu auxiliava, ou eu entrava em algum momento, mas (..) no final eu senti que eu poderia ter feito mais.” Este funcionamento se deu, em partes, & orientacao dada as profissionais no inicio da pesquisa acerca da eumam AP, Ware: A. 1 Passe sez x cna oe um wean de etic canaal 416 divisto dos papeis na coordenagio das oficinas, que permitia antonomia para as auxiliares, mas primando pela ceutralizagto da coordenagio nas moderadoras. Apesar disso, algumas profissionais nao se sentiram confortaveis neste papel, por nao conseguir delimitar claramente até onde poderiam intervir. A fala de ‘uma profissional que participou de dois grupos, primeiramente como auxiliar e depois como mode- radora, ilustra esse sentimento: “Moderadora 4 — Eu estava de auciliar antes (no primeito grupo) (..) e passei pra moderadora, (..) Agora eu consigo entender um pouco melhor qual €0 papel de fato de estar ali aucxiliando. Porque eu néo me colocava tanto, eu achava que (..) quando era pra auxiliar, eu tentava desaparecer. (..) pra nao sobrepor. E agora eu vejo que niio. Porque (..) a gente fica muito presa ali no roteirinko (enquanto moderadoras). (..) Entdo por mais que tu mude as palavras ou ndo, tu precisa colocar (0 que esté _previsto). Es veces nesse seguir 0 roteiro, twesquiece de reforcar coisas que podem ser importantes, né? E-eu acho que a Auniliar 4 fez isso brithantemente (no segundo grupo). De fazer 0 gancho com a fala deles. Eniéio eu acho que eu consige ver muito mats hoje 0 poder do auxilia (...) € de repente reforcar om pouguinho mais alguns assuntos que pro grupo sefam interessante, tu falar um pougiinho mais, se _prender em algumas questoes.” Papel de observador. Por sua vez. os observadores nao relataram dificuldades na compreenstio e desempenho do seu papel. porém, destacaram ter sido ‘um desafio permanecer mais afastados, sem interagir verbalmente com o gmpo: “Observadora 8 — O primeiro dia foi horrivel, eu estava sentada na mesa assim... (demonstra uma postura de aproximagio fisica a0 grupo). Na (oficina) dos bonequinhos eu fiquei muito angustiada, parecia que eu tinha que ir Ié ajudar. Nos outros, ai jé foi mais ranguilo (...). Eu acho que para mim foi um exercicio famtéstico, né? Muitas veces eu queria, ‘bah, mas dava para falar isso’, mas ai nao dava né? (..). Mas eu acho que eu vivi junto, acho que foi uma experiéncia legal nesse sentido, De estar de fora, mas vivenciando isso tudo. Acho que foi muito legal.” Apesar disso, valorizaram a oportunidade de observar os movimentos dos participantes de uma ‘maneita mais livre, sem a necessidade de dar conta das demandas da coordenagae Pe ere eg, 208; 49), 1021 “Observadora 4 — (..) nossa, dava pra ver muita coisa, né? Acho que pela leveca também do papel, 1né? Nao 16 ali cumprindo com 0 manual. Mas de poder observar 0 grupo, conto é que eles esto sentados, se estdo mais pertos, se estdo mais préximos, se esta mais jogadas, mais resistentes.” Em poucos grupos os observadores auxiliaram em alguma atividade pontual, tendo uma participagao um pouco maior. Apesar disso, os grupos de casais, 6s aceitaram bem. Alguns grupos demonstraram curiosidade em saber o que 0s observadores anotavam, mas, em sua maioria, aceitaram com facilidade o seu papel na equipe: *Moderadora 3 — Eu acho que pra eles também ficou uma coisa bem clara, eles munca pediram ‘alguma coisa do tipo, pra Observadora 3, eles se dirigiam pra nds (..). E também nao senti wma coisa persecutérla, de ficar observando assim, embora a Observadora 3 tivesse que observar, eu dizia ‘ah, ela té me observando, entao nao se preocupem, a gente tambén ta sendo avaliadas vocés estéio nos ajudando. Desafios relacionados as reacdes dos casais ‘Durante arealizacao do programa, diversas situacdes inesperadas aconteceram e foram consideradas pelas pfofissionais coordenadoras como obstacuilizadoras do desenvolvimento do programa, Dentre essas situagoes, duas ocorreram com mais frequéncia: a desvalorizacao do(a) parceiro(a) ¢ do relacionamento e a ocorrén- cia de comportamentos considerados socialmente inadequados. A desvalorizagao do(a) parceiro(a) © do relacionamento aconteceu em alguns grupos e foi marcada pelo relato depreciativo de alguns participantes sobre o seu stta) parceiro(a) ou sobre o relacionamento, ou pela exposigao de questdes de ordem privada e, por vezes, constrangedoras a0 grupo: ‘Moderadora 11 — Ela lavou a roupa suja no grupo. De menosprezar.” A ocoméncia de comportamentos considerados socialmente inadequados diante do grupo também foi um dos comportamentos mais frequentes considerados plas profissionais como obstaculizadores do processo. © que caracterizou tais comportamentos foi o no respeitar combinagdes de contrato de trabalho e/ou os demais participantes do grupo: *Moderadora 6 — Sairam para atender telefone du- ranteo grupo. Mesmo que a gente izesse 0 contrato, eumam AP, Ware: A. 1 Passe sez x cna oe um wean de etic canaal 47 assim, relembrasse que néo pode chegar atrasado, eles nao respeitavam muito. Essa quesiao de se sentir a vontade e no meio de uma fala nao respeitavam ‘mutito ¢ ian 1é pegar um café, servia, sentava. O modo de se sentar também, muito largado.” Outras cinco sittagdes ocorreram com menor frequéncia, mas também foram consideradas delicadas pelos moderadores. A primeira delas diz respeito fuga do tema de discussio, que ocomria especialmente em oficinas que abordavam temas densos, como sextialidade e conflito. Nessas sittagdes, alguns casais passaram a falar de filhos ou utilizar de humor para abordar 0 tema, mantendo a discussio em um tom superficial “Moderadora 4 — Por outro lado, como eles eram bastante falantes, a dificuldade de manejo mesmo, de tentar ficar voltando o tempo todo para o tema, porque eles, em alguns momentos, até quebravam assim (a discussio), ndo se se proposital ow nao, quando 0 tema mexia, né? Um tema que a gente senti mais, foi sexuatidade. (..) Entao até wma tentativa de desmerecer o tema, sabe? (..) Teve tum que contou uma piada, né? (...) Uma piada pejorativa’ A segunda situagao diz respeito aos casais que. am alguma oficina em especifico, vieram conflittados, desde casa, Esta situaco ocorreu pouicas vezes, mas foi considerada pelas equipes como bastante dificil de manejar. De acordo com as equipes. além de os demais casais perceberem o clima emocional do casal conflituado, um nivel alto de desentendimento dificultava que os parceiros conseguissem dialogar e refletir sobre os temas trabalhados: “Moderadora 6 — Dois casais que vieram, um dos casais veio mais de uma vez brigados, e outro que vei um dia. (Os casais) estavam presentes, mas dificultaram um pouco a atividade, porque ai tu vai propor atividade e eles, né, entre eles nao queriam ‘se comumicar. Observadora 6 —E 0 grupo sente também, né?” A centralizagaio da discussio por algum casal também foi considerada uma situagao de dificil manejo. Houve momentos em que algum casal do grupo centralizow a discussdo em tomo de questdes pessoais, interferindo na realizagao de tarefas coletivas. Nessas simtagdes, 0 préprio grupo passow a fazer movimentos para conter estes casais, dando-Ihes menos espago para falar sobre suas dificuldades: Pe ere eg, 208; 49), 1021 “Observadora 2 - (...) no inicio eles falavam mais deles, mais coisas pessoais (...). Entao tinha que (.)cortar eles para conseguir controlar a situacao. Nao deixar que eles se expusessem demais, mas também que nao se sentissem mal, né? Auxiliar 2 — Em alguns momentos, eu tinka a impressto de que alguns casais jé néio davam tanto espaco para que eles falassem. No inicio tinha mais escuta (...) € jd nos outros momentos ‘em que eles (..) falavam da prépria relagdo (...) e das dificuldades, os outros casais jé nao davam tanta abertura.” ‘Ouira situagao atipica e de dificil manejo ocomeu quando um casal rrouxe filhos pequenos durante a rea lizago dealgumas oficinas, especificamente, aquelas que tratavam de temas densos, como conflito e sexualidade. “Nesse sentido, os filhos foram percebidos pelas equipes como uma tentativa de dificultar a reflexao: “Moderadora 7—Nés rinhamos um casal que hd més encontros trasia um bebé de um ano € oito meses, né? Como é que tu vai falar sobre sexuatidade com um bebe? Aussiliar7—E assim, risivelmente para atrapathar: Por fim, outa sittagio considerada obstaculizadora foi a vinda de tma pessoa sozinha, sem 0 seu cénjuge. Mesmo com a combinagio de que a participagao na oficina poderia ocorrer apenas mediante o comparecimento de ambos os cénjuges. houve uma situagdo em que um dos parceiros chegou sozinho enquanto a oficina j4 acontecia, alegando que seu cOnjuge em breve chegaria: “Moderadora 6 ~ Ele chegou, e enirou, e chegou sozinho. E jd tinka uns 15 minutos de oficina. (..) Eeudisse ‘Ea (participante, mulher)? Lembra que a gente tinha combinado?’ E ele: ‘Nao, ela jé té indo’. Ai, eu fiquei assim ‘serd que eu tio ele da sala?’ Porque iria causar um desconforto (.... At eu falei ‘nao, mas ela jé té chegando mesmo ou ela vat demorar? Porque voces sabem que tem que fazer as atividades em conjunto’. E ai depois ela chegou. Mas foi um mionrento meio tenso, porque eu ndo sabia 0 que eu facia naquele momento.” Em decorréncia de situagdes como estas, 0s mode- radores foram, algumas vezes, demandados a prover auxilio e orientagao a alguns casais individualmente aps as oficinas, encaminhando situagdes particulares. Em alguns casos, foi necessério efetuar encaminhae ‘mentos para terapia de casal. eumam AP, Ware: A. 1 Passe sez x cna oe um wean de etic canaal 418 Possibilidades do programa Mesmo com a percepgio de diferentes desafios € obstaculos associados a coordenagao do programa ‘Viver a dois. as profissionais 0 avaliaram como uma tecnologia que proporciona uma gama de possibilidades na promogio de saiide dos casais, Em primeiro lugar, as participantes destacaram 0 programa como ma proposta inovadora, que permite novas maneiras de trabalhar com casas ~Observadora 8 — Eu acho que foi muito rico (..). Foi uma experiéncia para nds, muito interessante. Exatamente porque é 0 outro lado do baleao, (..) nds estamos sempre do outro lado (i.e. atendimento clinico). Para mim abriur uma possibilidade enorme de trabalho, de possibilidades. De coisas que a gente ndo tinha se dado conta que dava para fazer.” Nese sentido, as profissionais também ressaltaram, que o formato do programa, contando com atividades praticas e participativas, foi algo marcante: “Auxiliar 7 — A gente percebia nos casais, 0 material é bem elaborado. O fato, acho, de eles Lfazerem a atividade e néi ficarem s6 no expositiva, ‘acho que é nuito bom. (..) vocé colocar no papel e pensar, por mais que tenha resisténcia deles, eles ‘pensaram em algumas coisas, sem diivida.” Hai relatos acerca da importincia do espago propor- cionado pelo programa como uma possibilidade de reflexto sobre a conjugalidade e de promogao de saiide: “Moderadora 1 — Para mim ficou uma coisa muito nitida, do quanto & importante. De que seria importante todos os casais (patticiparem). A coisa da satide, entendeu? Para mim o que mais marcou (fot isso. (..) E eles falaram: “quase todo mundo deveria ter isso, a gente comenta nas rodas de amigos’” Esta possibilidade de intervir na vida conjugal dos casais, favorecendo o aprendizado de novas maneiras de vivenciar a conjugalidade, se estendeu a outros dominios da vida das profissionais. Blas destacaram a infiuéneia do programa na reflexdo sobre a sta propria conjugalidade, bem como nas possibilidades de trabalho em instituigdes de satide: “Auniliar 7 — (..) 0 programa é muito valido, ele é muito bom. Faz a gente pensar em coisas da gente, e também poder pensar sobre quem a gente Pe ere eg, 208; 49), 1021 16 atendendo. Porque assim, (..) a gente sabe que tem que trabalhar sexualidade, tem que trabalhar 1sso, tem que trabathar aquilo, mas néo existe nad cestruturado ainda para atender (...) desta forma, Discussao © telato das profissionais que coordenaram © programa de educagéo conjugal Viver a dois Compartilhando este desafio permitiu a identificagao de quatro temas concementes ao objetivo deste estudo, trés associados aos desafios da coordenagao de tais, programas e um associado as suas possibilidades. © tema Desafios relacionais abordou o impacto da relaclo estabelecida entre as equipes coordenadoras 08 casais no desenvolvimento do programa. Segundo a percepgio das moderadoras, o desenvolvimento do ‘vinculo foi permeado pelas caracteristicas dos arupos, havendo grupos com maior e com menor proximidade das equipes. O vinculo emocional & um dos trés componentes da alianca terapéutica, e diz respeito a0 cuiidado, confianga e conexito emocional entre clientes € profissionais (Bordin, 1979: McClintock, Perlman, MoCartick, Anderson, & Himawan, 2017). Os outros, componentes stio 0 compartilhamento de objetivos & a concordancia entre profissional e cliente a respeito das técnicas utilizadas no tratamento. Na experiencia relatada pelas equipes, 0 vinculo emocional parece tet sido o elemento com maior variabilidade entre os grupos, exigindo maior atengao © cuidado por parte das moderadoras. Entretanto, estudos indicam que as caracteristicas dos lideres coutribuem em grande parte na formagio da alianga terapéutica (Owen Rhoades, Stanley, & Markman, 2011). Nesse sentido, reitera-se a necessidade de que os moderadores se sintam preparados para o trabalho com grupos e com casais, de ‘modo que possam, dentro das circunstincias, manejar adequadamente aqueles que apresentam niveis mais baixos de vinculagao emocional. (© tema Desafios no cumprimento dos papeis diz respeito aos sentimentos das profissionais em relagdo aos papeis e demandas associadas a fiuneao de moderadoras. auxiliares e observadores. Para as, moderadoras, o cumprimento das atividades conforme havia sido proposto no manual do programa foi considerado um dos principais desafios, impactando na alianga terapéutica, Neste estudo, este aspecto parecet amplificado por questdes relacionadas 4 metodologia da pesquisa. Uma vez que a aplicagao do programa ‘Viver a dois estava associada a um estudo de eficdcia, havia a necessidade, e a consequente preocupagao pot parte das profissionais, de que as atividades fossem realizadas 0 mais proximo o possivel das eumam AP, Ware: A. 1 Passe sez x cna oe um wean de etic canaal 419 instrugdes contidas no manual do programa, Para que tal verificacio fosse possivel, logo apés o término de cada oficina, moderadoras, auxiliares e observadoras assinalavam, a partit de um checklist, quais atividades haviam conseguido realizar, dentre todas as previstas. Entende-se que tal procedimento, necessario na fase atual de pesquisas sobre o programa, contribuit: para a sensaco das moderadoras de se sentirem presas a0 protocolo. ‘Nesse sentido, por um lado, ressalta-se a im- portancia de seguir os passos apresentados no mantial para que se possa cumprir com a proposta do programa, uma vez que os estudos de validacdo comprovam a stia capacidade de produzir melhoras nos niveis de conflitos conjugais a partir deste modelo estruturado de intervengao (Neumann & Wagner, 2017; Neumann etal, 2018). Por outro lado, entende-se que atender a estrutura do programa nao deve se sobrepor 4 espontaneidade ea0 estilo pessoal dos moderadores. O estilo e a experiéneia de cada moderador € 0 que, muitas vezes, favorece 0 vinculo de confianga, pois faz a relacdio genuina, Tais caracteristicas ganham importéncia ao se considerar que a capacidade do moderador de estabelecer uma alianga terapéutica & mediadora dos resultados que os casais, ido obter em seu proprio relacionamento ao participar de ages de educagdo conjugal (Ketring et al., 2017, ‘Owen et al., 2011, Quirk et al. 2014), Assim, ao iniciar ‘um programa estruturado, tal como o Viver a Dois, uma das principais tarefas dos moderadores é a de conciliar ‘a normatividade inetente a esse tipo de programa com a sua subjetividade e com a demanda do grupo de participantes, ja que, inevitavelmente, cada profissional ira langar mao dos seus recursos pessoais para se ‘Vincular a0 grupo no desenvolvimento das tarefas. De fato, coordenar um programa estruturado de educagao conjugal envolve dar conta de uma grande variedade de elementos, que v4o muito além das atividades programadas. © trabalho com grupos de ‘casais pode originar uma grande variedade de respostas 2 reagdes por parte dos sujeitos (Neumann & Wagner, 2017), algumas das quais de dificil manejo. 0 que constitu 0 terceito eixo de desafios percebidos neste estudo, Diante disso, evidencia-se a importancia de que o trabalho seja realizado em equipes e que se faca ‘um acompanhamento com reunides sucessivas a fim de plangjar as estratézias e avaliar 0 processo. Um grande niimero de estudos corrobora tal perspectiva ao langar milo de, pelo menos, dois profissionais na coordenacio de programas de educagio conjugal (Hunwich-Reiss, Rindlaub, Wadsworth, & Markman, 2014), Destarte, ‘os resultados apontam para a importancia de que os auxiliares assumam um papel mais colaborativo € horizontal do que o proposto no presente estudo, o que Pe ere eg, 208; 49), 1021 pode contribuir para diminuir a sensagao de sobrecarga dos moderadores. ‘Outro aspecto de grande relevinncia destacado pelos moderadores diz respeito a formagao dos profissionais que coordenam o programa, Nesta amostra, a grande maioria das moderadoras eram psicélogas, havendo ‘uma moderadora com formagiio em pedagogia, Dentre as auxiliares e observadoras, a formagio era mais diversificada, Percebeu-se que. apesat da possibilidade de que profissionais de diferentes areas realizassem © programa, houve predomindncia de participagao Ge equipes que possniam psicélogas, sendo estas escolhidas como moderadoras sempre que estivessem presentes na equipe. A despeito de esta ser uma amostra muito pequena para efetuar generalizagdes, nao apareceram difetengas entre a equipe no que se refere 0 desempenho de seu papel, em decorréncia do tipo de curso de graduagao académica das moderadoras, Em estudos intemacionais, percebe-se predomindneia de moderadores que estio em formasaio em terapia de casal (Owen ef al., 2013, Zemip et al, 2017), embora alguns estudos relatem apenas que os moderadores foram treinados para aplicar © programa, sem especificar a sua formagio original (Lucier-Greer, Adler-Baeder, Ketring. Harcourt, & Smith, 2012). ‘No presente estudo, 2 maior diferenga observada neste aspecto diz respeito a formacao de pés-zraduagao, no caso, a especializagao em terapia de casal. Parte das profissionais que niio possum formagio em terapia de casal relataram a necessidade de maiores subsidios te6ricos. Jé as moderadoras que eram especialistas em terapia de casal nao relataram essa dificuldade, porém, ressaltaram a necessidade de estabelecer uma diferenciagao constante entre aqueles aspectos observados no grupo que deveriam ser abordados trazidos para a discussto, e aqueles que fugiam do escopo do programa, por adentrar em questdes da individualidade dos casais. mais caracteristicos 00 ‘trabalho clinico. Assim, 0 desafio para 0 especialista em terapia de casal é o de nao attar como clinico, mas sim focalizar a dinémica grupal buscando os aspectos transversais 20 grupo, objetivando uma perspectiva de promogao e prevengao de saiide, Por sua vez, pata os demais profissionais. evidencia-se a necessidade de maior preparagao para o desenvolvimento do programa, ‘Apesar da existéncia de desafios, as participantes também destacaram o programa Viver a dois como uma tecnologia que amplia as possibilidades de trabalho com casais. No Brasil, a maior parte das intervengdes coma casais ocorre com uni foco terapéutico, quando os problemas ja esto instalados, Por mais que a prevengo @ a promocao de sade sejam elementos chaves das politicas piblicas associadas ao Sistema Unico de eumam AP, Ware: A. 1 Passe sez x cna oe um wean de etic canaal 420 Satide e ao Sistema Unico de Assisténcia Social, ainda 1 pouco investimento em acdes que trabalhem nessa perspectiva e com foco nas relagdes. especialmente as conjugais Nesse sentido, a possibilidade de oferecer inter- vengdes com 0 foco na prevensio e promogio da saiide conjugal, em um formato que envolve atividades psicoeducativas e Itidicas, amplia o repertério de agdes disponiveis aos profissionais que atuam nos mais diferentes contextos de traballio. Pesquisas intemacionais tém reunido evidéncias da eficacia dos programas de educagao conjugal tanto para casais de niveis socioecondmicos médios e altos, quanto para casais em niveis baixos (McGill et al.. 2016. ‘Williamson, Altman, Hsueh, & Bradbury, 2016, Zemp et al., 2016). Estudos acerea do programa Viver a dois também tém demonstrado a sua capacidade em produzir nos casais o aprendizado de novas formas de resolucdo dos seus conflitos (Neumann et al.. 2018). Nesse sentido, investir na disseminagdo destas agbes. ‘bem como na capacitagao de profissionais para utilizar © programa, é uma forma de investir em promogao € prevengao de satide familiar Os relatos deste estudo dizem respeito & primeira experigncia de aplicagao do programa Viver a dois np Referéncias pelas equipes participantes. Apenas duas equipes entrevistadas haviam realizado o programa mais de tuna vez. Nesse sentido, os resultados aqui apresentados podem ser de grande utilidade para profissionais interessados em aplicar o programa Viver a dois em seus contextos laborais. uma vez que descrevem situagdes que podem ocorrer durante a aplicagao do programa, Da mesma forma, tais resultados podem set utilizados para refletir sobre a oferta de outras ‘modalidades de intervengao em grupo, especialmente intervengdes estrunuradas. Dentre as limitagdes desse estudo, ressalta-se que a amostra & de tamantio pequeno e se concentra na regio sul dopais. Assim, apesar de ter havido variacao nonivel socioecondmico e cultural dos casais participantes, 08 resultados ndo podem ser generalizados para toda a diversidade cultural brasileira, Também € necessério considerar que, em sta maioria, as equipes realizaram, apenas um grupo. Desta forma, estudos similares com, equipes mais experientes poderiam produzir resultados diversificados, Além disso, uma limitag’o importante € a presenga apenas de profissionais mulheres como partes das equipes, Considera-se que equipes mistas poderiam resultar em processos diferentes daqueles que apareceram nesse estudo. ‘Baucom, D. HL, Hahlweg, K., Atkins, D. C., Engl. J, & Thurmaier, F (2006). Long-term prediction of marital quality following a relationship education program: Being positive in a constructive way. Jownal of Family Psychology 203), 448-455. htpsi/doi.org10 1037/0893-3200.20.3. us ‘Bordin E. S. (1979). The generalizability of the psychoanalytic concept of the working alliance. Psychotherapy: Theor: ‘Research, & Practice, 16, 252-260. itps//do.org/10.1037/hO08S885 Bradford, A.B. Adler-Bueder, F, Ketring, S.A, & Smith, TA. 2012). 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