You are on page 1of 74
© processe de urbanizacae no Brasil CSABA DEAK SUELI RAMOS SCHIFFER (ORGANIZADORES} FUPAMS= Fa Uma contribuicdo para a histéria do planejamento urbano ne Brasit FLAVIO VILLACA A historia do planejamento urbane no Brasil std sendo objeto de aten- 80 por parte de varios pesquisadures e 96 pode ser Trato de trabalho coletive e-de vévias pesquisas, Assit, em muitos sontides. este texto & apenas uma contribuigdo para esse trabalho « dual mas tambs oletivo: no s6 por ser ui trabalino indivi n por privilegiar as experiéncigs paulistana e carioca. Apesar creditames que o material empitico coligido foi suficien- te para avangar ne sentido da formulugao de algumas hipsteses explicativas dessas limitag: Ss dequela historia, visando superar 6 simples relato de faros, Este texto tem, portato, uma preocupaggo teérica, Enguanto investize- pao histérica, seu objetivo ultimo é comproencer jamento urbsnu no Brasil dus déeadas recentes, principaimente sua natures: presente, no case o plane seu verdadeiro papel, sua sobrevivencia ¢ suas transformagies, Em sumo, sua producdo e sua reproducio. © Estudo brasileiro tem atwado sobre as cidades, enquanto organissn0s fi sicos, de vétias maneiras: tem instalade redes de abastecimento de aus e de coleta de esgotos; tem construide avenidas. puryves & casas populares: tem ‘© PROCESO De UNBANIZAGCAO He BRASIL regulamentado 2 delimitactio de zonas urbanas, # abertura de foteamentos € & constragio de edilicios pela iniciutiva privada: tem ofereeido ou regailedo & oferta de transporte urbano ete. ‘Talvez nfo tenha havido agéo estatal que tenha afetado mais o espaco ur bano de nossas cidades grandes ¢ médias, nos anes 70 € 80, do que a seo do governo federal os campos do saneamento, transportes ¢ habitagao. Pergun- Lasse entiio: cssu ago real do Estado brasileiro sobre o urisano insere-se no Ambito do que tem sido recentemente chamiacto no Brasil de planejamento u ‘bano? Nesta obra & resposta é negative, pois o objetivo dos plano federais de saneamento, transportes ou habituto ndfo foi ~ e nem podia ser = a organizes io do espago intra-urbano, © conceite deminante de planejamento urbano centre nds tem como especificidade 4 organizsgio do espago urbano fembora 1possa nfo se limitara isso) e aplica-se ao plano de uma cidade individualmen- te, Nesse sentidu, pode-se dizer, por exentglo, que 0 Serthau pretendeu (sera conseguir) estimular o planejamento urbane no Brasil, pois quis estimular 0s planos individuais de cads cidade. Sua atvagdo insere-se, se no na prética (ja que a maioria dos planos néo. sai do papel), pelo menos sss idéias referentes a planejamento urbana. O mesmo, eniretanto, nao pode ser dite com relacgo ao Plano Nacional de Sa- heamento-tPianasa} ou & atuago Ge BN, Embora terham tid enorme im pacto sobre 0 espaco das cidades brasileiras, as agikes do Plamasa ¢ do BNE 10 tinham csse objetivo. Nao tinham por objetivo a organizacio do espaco Uurbano € néio foram formuladas e/ou aplicedas para cada cidade individual mente. Tais ages embora tenham afetado 0 espaca de nossas cidades — nao sao enguadradas aqui no Ambito do que chamamos de planejamento webano Jéu Lei Federal 6766/79, que togula foteamentos, é cnais proaima do que aqui chamamos de planejamento urbano, pois trata-se de uma lei especifiea- mente espacial. Seu objetivo 6 2 ongunizaede do espaco. Entretunta, ainda no € uma lei tipica de plancjamento urbano, pois refece-se apcuas a loteamentos individualmente ¢ n0 a0 eoajuaco da cidade, Nao organizard necessariamen- te 0 conjunto do espaco urbano, por exemplo, se a prefeitura no tiver e/ow no fornever ao Joteadlor as necesséries diretrizes que asseyurariam e988 OF8a- nizago, Entretanto, como veremos mais adiante, nfo adotaremos nentam cconjuunto de critérios para 2 defimitugie sfgid de objeios de estado, mas sinn im [UWE CONTRIBUYCAO Pata & HISTORIA DO PLANFIAMENTO URBANO NG BRASIL critérios flexivels gue indiquem as varacteristicas “mais tipicas” ou “menos Lipleas” de tum objeto que pode ser até ideal. Nesse sentido, caracteriza-se um conceite pelo seu micleo (mais ipico x menos tipics mais prsiximne X menos pi6xitnn), endo pela deseriglo de seus limites ov de seu perfmetro. Com hase uesse eritério, concluimos enti que # Lei Fedetal 6 766/79 se insere mais-no conceit de planejamento urbane do que 0 Planasa, sem conciuir que um se insere ¢ o outro niio, Resumindo e concluindo, este texto nic inelot as agdes ¢ discursos de Estado sobre a rede urbana, sobre a esinatura urbana das regiées ou sobre o processo de urbanizago. Nosso objeto se imita Aquelas agdes e diseursas do Estado que incluam no minimo a organizagao do espago urhano ou 2ailo que éredundantemente chamado de espago intra-trhano, uma vez que 0 conecite de planejaments urbano atuslmente dominante no Brasil nto abrange toda agdo do Estado sobre o urbano e sabre 0 processo de urbanizagae, 0 objeto Sendo este urn trabalho de hist6ria, cabe caracterizar © ponte de partida do percurso historica, Esse ponto € nosso objeto de estado. ou seja, o pla nejamiento urbano atual, tal como se apresenta h nossa bservactio. Nao se trata de definir o qe nds particutarmente chamantos de planejaienta arba- no. nem de criar uma definicho nova para esse conceito. Trats-se de un raba~ Ibo de deserigdo de um objeto observado, Acima, jf comecamos a montar a descriglo desse objeto ap afitmamnos que aguilo que nas ditimas décadas tem sido denominada pfanejament urbana te que nas décaues de 30 40 se ch mava de urbanism ¢ u acao do Estado sobre a organizagio do espuge intru- urban, Uma séria dificuldude que se apresenta para a construgae da histéria do planejamento urbatio no Brasil é que nele, comumente, discurse e prética se mesclam de tal forma que é dificil separdeios. E comum entte ns. por exem- plo, va de sua ayo sobre © urbano. Assim, alguns se refercin ao discus do considerar como send politics publica urbana o aiscurso do Estado acer- Serfhau sobre plunejamenta usbann core a palitice publica do governo fe- 1 (© PROCESSO BE URSAMIZACAD WO BRASIL deral no campo do planejumente urban. Mesmo nos casos do BNE ou Planasa, hi que se Considerar com cuidado a diferenga entre 0 discurso e a Agdo seal do Estado, cujos objetivos, alids, fregllentemente séo ocultcs. Ovita dificuldade devorre das vérias formas possiveis de planejamento urhae ‘no, zoneamenio, planos setotiais. planos dirctores, projeto de cidades novas ete. Prossigamos na delimitagio do objeto de estudo. Trata-se agora de dis- tinguir plano de projeto. Aqui também, tal come fizemos anteriormeme, ca- racterizaremos o objeto de estado pela definigte de sev niicleo, daguil tie € uipico, e nfo pela definigau de Kinites rigidas. ‘Una determinads pratica e/ou discurse do Estado sobre © espaga urbane estard to mais préxima do conceito de plano (portante mais afastada da idéia de projeta) quanto mais forte e simultaneamente estiverem presentes es se- guinles Componentes ou caracteristicas: + Abrungéncia de todo 0 espaco urbano e apenas desse espaco e sens vé- rips elementos constitutivos no tocante aos ebjelivos ta urganizagio e que equipamento desse espaco), mas ado nacessariamente no locante 20 diagndstieo feito para fundamentar a intervencao. + Continuidade de execugao e necessidade de revis6es ¢ atualizagées, + Interferencia da ago sobre « maiosia ou grancics comtingentes da popu- Jago. * Papel ¢ importincis das decisses politicus, especialmente dos organis- x00 politicos formats, com maior patticipacéo dos organismos muni- cipais e menor-dos federais e estaduais. Com base nesses critérios € posstvel — mas nao vamos faz6-Io aqui ~cons- nit uma tabels com esses componentes, atribuindo-se pesos a cada um detes coin base nestes sepurar o que seria plano (ou discurse sobre plane) daquilo que seria projeto (ow diseurse sabre projeto}. A escolha do limite para tal se paragio €, evidentemente, arbitratia ¢ corresponde a uma conveacéu Para realizar tal separaefo, sugerimas a seguintelistagem, que, em seu cov- Junto, constitui o campo gue chamaremos de planejamento wrbano lato sensu: + O PDI de Sao Paulo de 1971 + O plano de Brasilia + Plano de Saneamento ds Grande So Paulo, + Zoneamento et vigor no municipio do Recife. 14 Plano de transportes para Fortalezs. Plano de Pereica Passos para a Rio de Janeito, * Plano di * Plano de Agache pata o Rio de Janeiro. Plano do Metro de Sao Paulo de 1968, + Plano de Satumnino de Brito para Santos, aro Reis para Belo Horizonte. an 0. + Plano diretor de 1992 para o Rie de iw Paulo, + Plano de avenidas de Presies Maia (1930) para em Se Palo, + Plano Bouvard para © Vale de Anat * Plato da Companhia Cantareira ¢ Esgotos para abusievimento de gua da cidade de S80 Paulo 1881), Usando os componer $ ou earacteristicas acima enemeiados foram iden- fificadas as se aintes cinco corremtes — ou tipos particulares constitutivas de planejamento urbano faro serie, que incliem tant os diseursos como as pride ticas, Da listagem acima foram eliminados apenas os planos de infra-estratt- raurha gue Lorain considerados projetos, * Planejamento urbano stricto sensit, ou Seja, a cortente qué teve come eixo as atividades e diseursos que vieram a desombovar nos atuais pla- nos dirctores, + Ozoneamento, *+ Oplanejamento de cidades novas, + Ochammulo “urbanisme sanitari A hisicria que se pretende investigar neste texto refere-se apenas ao pri meiro dos plane} mmientos acim indicados. Jessa correntes tem suas especificidades. Embora todas se relacionem entre si ~ afinal todas se referem 4 priticas e discusses ligadas a agies de responsabilidade do Estado sobre o espago imtra-urbano em cits des brasileiras elas 8m suas historias praprias, $6 emtendendo minima mente cad uma dessas histdrias serd passivel, muna segundo momento, cobs- ji, a historia de planejamento urbane (ate sensi Coastitui importante questo metodolégica saber qual procediniet menos sujeito a riscos: se partir de eral para © particular (ou simplesmente 0 PROCESSO DE URBANIZACAO NO BRASIL como un Lodo, sem decompé-lo em suas corremtes constitativas) ou, a0 con- t pois fundi-les nu hist6ria do planejamento laio sensi. A nosso ver € to graa- de adiferenga entre aquelas varias corremes (por maiores que sejam suas so melhangas) que € impossivel estndar a histéria do planejamento urbane lato io. estudar minimamente a historia de cada uma dessas corremtes € s6 de~ sensu sem antes ter estudado cada uma de sas formas constitutivas. Com efi to, $6 assim € possivel fazer a hist6ria como deve ser feita, ou seja, indo do presente para o passado e 36 depois de assim definir o percurso real da histé- ria fazé-lo do passado para 9 presente, Comecar do passado e prosseguir em direcdo ao presemte significaria sempre escolher arhitrariamente 0 infeie do processo ¢ admitir, exroneameate, que a partir desse ingeio o percurso histéri- co 86 poderia ter sido aquele que efetivamente ocorreu, No entanto, a partir de um ponto inicial a histéria poderia ter seguido varios percursos, diferentes daquele que realmente ocorreu. Outra questéo metodoldgica tao importante quanto dificil € a de fazer- se a histria de um objeto que se altera ao longo do sempo. Como fazer a historia do planejamento urbano (de agora em diante sera sempre stricto sensu a ndo ser que se diga 0 contrario) se planejamento urbano 86 existe no Bra- sil a partir mais ou menos da década de 1950? Se for mantido 0 conceito atual (partindo-se entdo da década dle 1950), nilo estariamos fazendo histé- sia, pois a histéria consiste precisamente no estude das mudenrgas. Se deli- mitarmos um perfode com base em um critério de imutabilidade, niio esta- remos fazendo histéria, pois impusemos a condigio de nao haver mudanga. A grande questo que se coloca ao se fazer a histéria do planejamento u:- bano precisamente esta: o que deu origem ao plano diretor ¢ ao tipo de planejamento urbano (na verdade discurso) hegeménico hoje 20 Brasil? O que. ao se transformar (ao mudat), dew origem @ esse planejamento? As- sim, nao 56 se inicia 0 estndo da historia do presente para o passado (para 86 depois partir do pasado para o presente) mas também se caracteriza 0 objeto de estudo no passado. S6 assim se resolve a dificil questo de este- daz a historia de uma pré nao existiam no pasado. ica c de um discurso que, tal como existem hoje, 1%6 O planejamento urbane stricto sensu A partir de década the 1950 desenvolve-se no Brasil um discurse que passa ar anecessidade de integragio entte os varios objetivos (e apres “bes paraatin gi los) dos planos urbanos. Esse discurso passou a centrar-se (mas nip neces receber mu década de satiamente a se restring 1960, o nome de plane amido. A consciéneta da n ir) na figura do plano diretor e a amento urbano ou plinejamento urbane (ou Jocal) inte ssidade dle in cilo na verdade pode ser detee desde o inicio deste século e passou a ser o denominador comum desse tipo de planejamento, Isso nio quer dizer que a imtegragtio tena sido cons ela: muito pelo eontririo, na quase totalidace dos easos nao fo} alera do curso, excegio feita 0 zoncamento, que aqui é considerato outra conente. O zoneamento ry go urbano, No Brasil, « zoncamento tem inicio no Rio de Janeiro e em Sie tltimas décadas do séeulo passado, O projeto apresemada a Ca- mura do Rio de Janeiro em 1866 por José Pereira Rego (Benchimol, 1992, Entende-se por zoneamento a Ie 10 urbanistica que varia no espa- Paulo p. 131 ere sem ddivida de zoneamento, mas fol arquivade. Contudo, em ju nho de 1878 a“|...] Canara deliberou 1 conceder mais licenga p aneirg |..." embo- ra munea tenha sido capaz de executar essa determinacao (Benchimol, 1992, coms: trtigdo ou reconstiucdo de cortigns no centro do Rio de p. 133), No final do séenlo passado. eram freqilentes as leis que proibiam contigos ou. vilas operdrias apenas em algumas partes dat cidade, mas no em outras (Villuga, 1986, p, 41: Queiroz Ribeiro & Pechman, 1983. p. 613. Tals dispasitivos ja represcntavam os rudimentos de am zoneumento, Este tem uma hist6ria bastante destacuda da dos pianos diretores, inelusive cosn mai tenha existido nos influéneia estrangeira ~ se & que est come mos: tra 6 projeto de 1866 acima meneionado, Assim, tum pliso de zoneamento nao € aqui considetado plano diretor, emtbora todo plano diretor — no dis- curso convencional ~ deva ineluir um plano de oncamento (0 que na verda- mar-se-um plano de 20- de quase minea ocorreu) ¢ extibora nfo seja rare ch neamento de “plano diretor 0 PROCESSO DE WEBANIZACAO NO BRASIL © zoneamento — a0 contririo do planejamento urbano stricto sensu — st ge no Brasil som qualquer claboragdo teérica, sem a participagdo de intelec- tuais estudiosos da cidade e sem a influéncia do pensamento estrangeizo. Re- cozde-se que no final do século XIX, quando se inicia no Brasil, o zonenmento mal ensaiava os primeiros passos na Aleman)ia e nos Estados Unidos. 0 que se iniciz no Brasil comesponde (¢ vonsinuard comespondeado} a intcresses © sasileiras. Mesmo recentemente, na maioris Solugies especificos das elites t dos planos diretores brasilciros 0 zoneamtento aparece apenas como principios vagos e niio-operacionais. Ao contritio, as leis especificas de zoneamento, separadas dos pianos diretotes sio operacionais, aprovadas nas CAmaras Mu- nicipais e execuiadas (evidentemente com as percalgos tipicos da execugio de tantas leis no Brasil) A histériado zoncamento é totalmente distinta da histéria do planejamen- to urbano stricia sensu, ¢ até hoje predomina o zmeamento separade do pla no diretor (embora no discurse, se afitme gue © zoncamento é parte integran- te de um plano diretos)!, Esta é a razto pela qual o zoneamento é a prética de planejamento urbano lato sensie mais difundida no Brasil, Nos seus quase cem, anos de cxisténcia entre nds, quase gue exclusivamente serviu para atender 9 interesses claios e especifices, particularmente os dos bainras da populagao de mais alta ronda, 2) Oprajetoe construpio de cidades novos Pode-se considerar como inicio dessa prética 4 inauguragae de Belo Ho- ia 12.de dezombro de 1897, Esse projeto reflete a absorcao. pelos nossos engenieiros, do urbanismo monumental e embelezador de origem bar Tova, manifestado nos projetos de Versalhes, no de Washington e na Paris de ‘Haussmann. Belo Horizonte ~ ao contrézio dos pianos diretores © do zonca- Fizonte no 1. Bx ounstatago To eta em nova Uiscipine Planeumientn Uctuno eKelogie gue Wé dee anos aa trams do ran de oe geaduugia de Pecwdnd de ArqoNet0r © Urberiome da Universidade de Sty Plo nn ql foram slits pelos ures dezanss de panes dvecres das mais diversas cies ‘eases, de Dinos a Reif, le Cuahé 2 Belém, de Compo Grande a Viera 02 Rio de Huei, uz So Pre exporagbo entre ¢ zoneamenio eos plane dretore pode se vista em Suab Feldman, 1966, Sto Paulo 1987-1972: Plenejamenio « Zoneaneto. eno Je doutnra egnecontxta &Pocaldade ie Arguiqnoa anisms da Univesdace de So Pasi we UWA CONTIIELIC AG FARE a HISTORIA BO PLAREIAMEND URBANO HO BRASIL mento ~ ndo é abra de um governo municipal e nde é nem preteade ser ativ clade continas de tal governo. Afasta-se portanto do plano tipicu e tem algae mas das earacteristicas de projet O planejamento de cidades novas foi e continva sendo muito dissemtina- do no Brasil, com os casos de Goidinia, Volla Redonda, Loadrina, Maringé & inumeras cidades do Norte puranaense. Brasilia e varias cidades na Amazonia (Palnias, TO: Barcarens., RA ete.) 4) O urbanigme saaritariste Esta é a mais restrita de todas as correntes. pois praticamente se extingue por volta da década de 1930, Tem entietanto sua importineia pelos trabalhos significativos que realizou, dentre os quais se destaca a cidade de Santas, sP. Resume-se praticamente na obra de Sauurnino de Brito. Ainds faltam slgumes considerucdes para que se coneina # caracterizacko do curnpo do planejamento urbano srriero sense, que € nasso objeto de estudo, Em seu livro 4 Cirleura dos Cidades, Lewis Munford (1961. p. 61) apre~ senta um item: intitulado "Peineipios de Planejamento das Cidedes Medie vais” jo Lem af nada em comam com a acepetio que esta- nos udvlando, pois nao se refere nem & ago nem aa discurso do Estado s0- A palovra planejonente n bre o espuco urbuno, Na verdade o que Munford trata nesse item € da forma da cidade medieval. especialmente 0 tragudo de suats tuas, sttpostarnente “de- sorden Fig Qu nde una criagao do Renascitnente, Essa questao, tal come o projeto de ciddacles novas. nada ren a ver com o plancjamente que surge no sécule XIX ¢ do”. e debate a questo de saber se o reténgulo no espago urbano, se- que ¢ objeto desta andlise. E diferente. entretanto, quando o mesmo autor. na quele mesmo item, se refere & Comissio de Planejamemio Urbano de Nova ‘York. de 1811 que definiu o wagude ortagonal das rvas da cidade ~ de Man- hattan —que permanece wlé hoje, Trata-se equi clarsmente de uma acto plane- jada do Estaco sobre 0 espace urbano. O planejamento urban ¢ os planos dirctores no devem ser idemiticados com as planos de cidades novas. Estes existem hi séeulés, enquanto o plane- jamento whano (no striez sense que convenctonamos atribuir a essa expres: sho} tem algo como um seule e melo no maximo. 1 Por otro lado, ¢ au contririo de autras andilises, planejamento urbano nfo Gagni considerado sindnimo de tworias on pensamentos sobre o “urbano”, nem questio urbana” ¢ muito menos sobre a agdo nito- das varias “formulacdes d planejada do Fstado sobre 0 “urbana”. Parece-ni0s evidente que 96 podem ser ia esfera do “planejamento urbano” apenas aquelas a consideradas Estado sobre © urbano que tenham sido objeto de alum plano, por mais am plo que seja 0 conceite de pluno, Assim, ndo so objets desta andlise as agdies sem plano, embore o sejam os planos sen a E precise atentar para uma possthitidade de confusdo quando surge a pa- lavra srhanisme, Esta pode ier irés sentiios. O primeiro correspond ao co junto de Kéenicas e/ou discursos referentes i agdo do Estado sobre a ci corresponde, em inglés. wo city ploming, ao francés urbanismee ao porngnes uybanismo, ao sentido antigo. Esse sentido existe no Brasil desde seu op cimento na Franga, no inicio deste século, O segundo corresponde aum estilo de Vida (Wirth, 1973, publicado em 1938), sendo designado, em inglés, por urbanism: finalmeme o terceiro refere-se a ts ste tltinio sentido s6 passou a ser utili zado.no Brasil env déoalas recentes. mjunto das eigneia —@ Supos- ciénciay — que estudam © urbano: identificar o urbanismo en, Neste aspeeto & preciso cvidado para nia to mero discurs conjunicr de ciéneias e supostas cigneias (ideologia) com las devem ref politicas urbanas. se 2s Teais acdes ¢ is propostas conse- lo sobre o urban, Ins glientes de acto do Es sm-se ne campo da politica Aquele, comio retoriea, insere-se no campo da ideologia, As politicas publi cas urhanas, enquanto real ago do Estado sobre les, sd ainda de diffe estude, pois permanecem predominantemente ignoradas, uma ver que tamentos sobre tals aedes: note-se adits que elas envolvem jossas ci poucos S40 05 leva os tres niveis de zovemo, Devetn abordr principalmente as polttioas de sane menty e ambiente, transportes ¢ habitagdo, Qu manlo ao wrianisme en quanto discurso, enquanto vigneias, estilo de vids ou ideologia, estes sto mais visiveis, esto nos livros e nos artigos de revistas e— no Brasil — nos “planos diretores", Como veremos adianic. no se deve considera que, no Brasil. os planos diretores corresponttain & politicas piiblicas municipais. Com vin 0 gonsamente fica fora desta historia, por unis estranho que cso possa parever, pois tats-se sem divida de uma forma (siriete sensi) de 120 planejamento urbano fare sennsit,alids das inais freqiientes, Isso porque 0 20- neamento tem umn hist6ria propria, com determinacdes diferentes das dos planos diretores. embora no discurso convencional das tilimas décudas seja considlerado parte indispensiivel de tal pkino. Na verdade, pouco antes dos anos 90 teve inicio uma tendéncia no seniide de se fundir realmente (e nto aper no discurso) 6 zoneamento aos planos diretores. 0 metodo Como deve ser sempre estudada a histéria, parte-se do presente para 0 passadoe noo contriirio, Parte-se do planejamento urbano tal come tem side apresentado pelo discurso dominante contemporiineo, sua concepetio maiscon. vencional. ¢ procura-se entender o se. proceso de constituigao, suas deter nagdes. Nao sito aceitos sem critica ~ embora se parta deles ~ os conceitos de plano diretor e planejamento urbano tal como so apresentados pelo discurse. convencional, ou seja, através de suas earacteristicas ou propriedades (que ve- 10s logo adiante). Estas siio entendidas como a aparéncia a partir da qual se Procura chegar aos pianos ¢ ao planejamento urban como realidade concreta Para percorrer essa marcha & ré na histiria, procurou-se identificar os an- tecessores do “plano diretor” convencional atua] como que pereorrendo um rio em diregao a sua nascenie, O fio condutor desse percurso oi constituido, de wm lado, pels idéis de “plano” e, de outro, pelas de “global”. eral” ine tegral” ou de “conjunto™, Essas idéias foram identificadas comp sendo nio $6 fundamentais como também invariantes no discurso convencional, dando- se-the unidade. Por isso foram selecionadas como fie condutor do pereurso hist6rico em diregao ao passado. A partir da pakavra plano foi escolhida a ex- pressio planejamenta urbane para designar essa forma especilica de cao ou de discurse ~ do Estado sobre © espa ico urbano, caracterizada por uma su posta visto geral ow de conjumto. No pereurso histérico de volta, « partir do ponto identifieads como de origem da nossa historia, foram detectadas diversas formas histéricas de pla nejamento arbano, ov melhor, de tipos particulares de discurso elou agi do Estado sobre « espace urbane, ora indicando um produto, ora um processe. 1G PROCESSD DE URBANITACAD NO BRASIL 6 quatre twérice A tese deste texto & que somente entondida, enquanto ideologia, é possi- vel compreender 2 produgdo ¢ principalmente a veprodugao no Brasil. nos timos 50 anos, do planejamento urbano, cristalizado na figura do plano dite- tor. Sustenta-se também que as constantes mudangas de nome, de metodolo- gia de elaboragain e de contetido dos planos ao longo de sua historia, foram: estratagemas dos quis as classes dominaates langaram mfo para renovar a jdeologia dominante e com isso contrabalangar a endéncia de enfrequecimen- to de sua hegemonia, contribuindo assim para sua sanutencdo no poder e para o exercfcio da dominachio. Portanto, pelo menos a partir das décadas de 1940 ¢ 1950, apolitica pow co ou nada tem a oferecer para a compreensio daqiele tipo especifice de pia. agjamento usbano. A esfera politica é indispensiivel para a compteensio do oneamento, dvs planos nacionais de desenvolvimento, dos planos setoriais, estaduais ou nacionais, de saneamento ou eneugia ¢ da a¢d0 ndo-planejacia do. Estado sobre 0 espace urbano, mas no para a compreensac do plano cirelor «1m suas varias formas histéricas. Nossa histéria, como seri mostrado mais adiante, comega em 1875. De Mialé hoje ela pode ser dividida em trés grandes periodos. O que vai até 1930, ‘© que vai de 1930 até a década de 1990 0 que se inicia nessa década, E: poriodes serio subdivididos em subperiodes. 1920» © primeiro periodo ¢ marcado pelos planos de melhoramentos e embele- zamento ainda herdeiros da forma urbana monutuental que exaltava a burgue: sia e que desiruiu a forma urbana medieval (¢ colonial, no caso do Brasil). E ourbanismo de Versalhes, de Washington, de Haussmann e de Pereira Passos. O segundo, que s¢ inicia na década de 1930, ¢ marcado pela ideologia do pla nejamento enguante técnica de base cientilica, indispensavel para a soluglo dos chamados “problemas urbanos”. Finalmente o titimo, que mal esti co- megando, é 0 perindo marcado pela reacdo ao segundo. Mais adiante fularemos desses periados. No momento vamos destacar 0. segundo, porqué ele sobrevive nas concepedes ainda dominantes de planeja- mento urbano sirieta sensi. Por isso, ¢ pelo fato de estar sencto aqui sugerido © seu deelinin e 0 ini 10 de uma nova etapa, sua compreensio suscita mais interesse ¢ polémiea, Esse period representa o presente. O primeiro perfowo represent o pasado e o lereeiro 0 future. Desde a dé, munde urbano segundo a qual os problemas que crescentemente se muni- caila de 1930, yem-se desenvolyendio no Bresil uma visio do nuns cidades s fest mento 10 causados pelo seu eres aGticy ~ sem plane: jumento ~, ¢ que um planejamento “integrado” ou “Ue conjunto”, segundo tecnicos ¢ métexios bemdefinidos, seria indispensével para solicioné-os. 6a esséncia da ideologia do planejamento que ainda perdura, Ha décadas nossas classes dominantes vem desenvolvendo interpretagdes sobre as origens dos problemas soc! iais que se manifestam agudamente em nossas cidades — especialmente os de bubitagdo, transportes, suncamento e meio ambiente beat come sobre o papel de planejamento urbano na solueao desses pro! fas visam ocull _ mas. Tais \S verdadeiras origens daqueles problemas assim como 0 m isso icasso daquelas classes e do Estado em resolvé-los. C domi ada. Fatende-se a idcologia como © conjunto de idgias fundamentais lesen volvi ilitar a dominagio, ocultando-s pela classe dominante visando fa Segundo Chaus (1981, p. mlens creisim que suas vidas do © que si em decorréncia da ago de cerias 7), “a ideologia nasce para fazer com que os ho= entidades ¢a Natureza. os denses ov Deus, a Rurao on a Cigncia, a Sociedade, 0 Estado) que esistem em si e por sie is quis & legitime ¢ legal que se sub= nietam’”, No case do planejamento urbano, os destagues sfc para & uz cigneia eo Estado. A ideologia precisa ser analisada historieamente em termos de filosofia da pravis? come superestrutura (Gramsci. 1983, p. 376), pois “enn pra’ ess known ty Hs conmsston sath sth By by Amtcow 70, p20), Para Gracie speaueos eisepalne 0 PROCESSO DE URBANERGA NO BRASIL houver um conhecimento da histéria real enyuante a tearia no mostrar o sig~ nificade da pratica imediata dos homens, enquanto a experiéncia comum de vida for mantidla sem critica e sem pensamento, a ideologia se manters” (Chaus, 1981, p. 87) Pretende-se assim investigar como uma determina ideotogia se consti- ‘tai enquaato realidade buscando suas determinagdes, entendende-se © coneeiin de determinagio ne come sindnimo de onjunto de propriedades ou de ca- racteristicas, mas coro os resultades que coustituem uma reslidade no processo pelo quit (Chau: Acheson cout uid de que € previzoemender como por qe a eolopia donnie ee cae {Gui e qual vee papel aa hice | dominagio}. No basta costar @cecelag ene o sau celal ss (dSas, com faz a“saciofogia da cooherimente"€ meso Mianbeim om vologi «Utopia. Tem am nto ast clasfiatedascrever as iias com faz Pleminar. E precvo fasta daca mats ‘ivi, desvendar eu papel ms hiss Como dst Likes (1989, , 63) solve a “fsa consencia” 3 gue erofee Engels ems cara 2 Motrin: “[.]o mode dali wo nse parte far por sim ples consttaeo de “alsdade' dessa conssinei pr tna ops igda do verdadein ed fale. Buse, pelo condo, que essa “alsa conscencia” sls oxtudads eoncitaiante emo ment da toad flsiries a gue pertzo2e: com etapa do process histricy ex gus desempenhs © a pape”, Poo ‘poled, o conceit ample (ns alto") ée ideologia ato se coca mecessaviamente coms concetos mas ssn, siznifieanda "eorpo ce Ids" com idecloatastotuites, ideas polis, ieclgia eral es. Ete tro, no entazto, um pier explestiva mito testo, Cabo ag um comensiio gre pith de ua tismasde de Maca e Hngele, 0 oan Vereghvocedatenteextiea yor Aintse: 4. 72), Rave auter cites agueles por cansilratem aideciogia "pur hasty, pu reo, ite 6, oad”, como os axtoresanterienes 2 Froud conrderavama 0 Salo, iso, oimaginasiovazi,e wll, ‘em ‘uuldo arbicariameme, 90 seas, on cess du inca alae ela e posi, 9 20 a”. A “fal coossiénci «gue se refeye Bagels em sua carte a Mehng. Nesse sentido ap eet histris, ner ser wit, Uesvinculade de real secs. NO estante, Marx 6 Exgele nla x6 eigen clare 0 vi ros ds iotagin coi relidad Soci] come dizem ave 38 Molar (a moral, a rei, a mest Sica) “penlem todas parbici grifo nase) de atone. NS ow bist, 230 en revise”, 4, p25), © quo exams tontande fac neste eet €precivarmence descobxir as dceminages stl 54 46 plaotamenio urbane engeania ideals. Finaknente cae destacar a eonerpp de formato da consitncia de clasae come momterzo catnbiamede conse aproimagts da teal istics, Seguro Fiedeico (1979, 28), por esse itso Lukies “pode ela cess fomia de cocina come seo as pias ce wna petepyin da tnalsade Cesascigacia verde") » wits mais day ‘es, moe psses&ideclogia ds clase deminane lsh consid, Fans e verdatlita consciéacin no lp igos ideas" mas montenlositegrantes © reczucriac da proceso de frag da eonscian ia de clase opwieis™. Quanto aes conceit ds classe dxgeatse heeinana, sai se snaesios ‘Geamsel: "The signee of social group manifest wen Owo WHYS, 28 “emir and 2 ate~ (esr) and nora eaderip[..} social roup can, wd indeed must already exercise leadhip before vntnp goer powe ins bueod is one oF Ua picepal nahn fre wicing such ower; {i satcequently Tecores dorian shen it exes power, bu ven fi Folds iy ie aep, rt contine to ‘ond a well”, © gies de hlrangs e ura clevse Jats ay longo de hist haven ‘0 diferentes nivel de idecanga, ques ela esis o poder ou no. Flan fidetengas pe bre suns “esnatos eine” ou sume cabs, Aina agi, ver“Algwns Tema de Ouestio Meriional” 184 cle € produaida. Oa sefa, engpianto 6 conveito de pivpiriedades ou de canacterst supe 0 08j ludo © acaba, © conceito de deter naga pressupsne ume 1981. pA. grit nossa -nos 0 planejamento urbane e a oposigto entre, de tm lado, suas pro. priedades ou caractertsticas ¢. de outro, suas determinagd ices € metamor A ideologia softe continuas transform: joses, que sio adlaptagdes para enfrentar novas situagses ou mais freqilemiemente, o agrava- mento de tendéneiiis; com isso efa assegura x sobrevivducia dia hegemonia da classe dominate, Isso ¢ particular ente verdade no ease de um pais come o Brosil. onde, dadas as violentas disparidude sociais. econdmicas e de poder politico, « tendéncia de declinio da hegemonia da classe dontinante € cons- ante ¢ exige, para sna manutengdo, coniinuas refermulagoes da ideologia, O espage.. como disse Le Sobrevivencia do capitalismo (Soja, 1980, p. 2141, Assim sendo, nao & sure presa que uma cate febvve. tem sido um campo fundamental para a pago~o urhano joria exeepcionalmente importante de seja privilegiads na produgio de ideologias, “Space is politieal and ia, 1980, p. 210), Isso € qe vet ocorrendo hi muitas déeadis no Brasil (¢ provavelmente em tod, qua | inclusive através de contimuas transfor Jealogical Tis & product literally filled with ideologies” (So América Latinay, durante ¢ + 0 planejamento urbano tem sido ussulo com ideolo ies de sua aparncia ao mes, formas, contetidos), O Luminismo, como fruto do capitalismo, foi ums filosofia revolucionsé rit enquanto foi utilizado para destruir o mundo medieval, Pregando o.uso da a7 pars dit'gir 0 progresse em toxins os aspectos, colaboron para o fim da sce feudal, enguamlo esta representava a autoridede a ser destavita por wan bascente ¢ revolucionsrin modo de productio, Entretamto, na medida em que o ipitalismo se iampais, mm ito do conhecimento que produiu tansmudow-se en ideologia. com rani se descotou dir social, Pam nds. de esp interesse 6 enorme tespelto social atribuide plas sociedades caphalistas Aguile que v capitalismio entende como conhecimento tecnico ¢ cientifigo e de outro no desprezo com que nossa sociedade passou a trata formas nao “cientificas de agae sobre a realidade (acupunty ou homeopatia, apenas para citar alguns plos), Como ideclogix © Hhimainismne domimon n mevksrnistne¢ portan 0 PROCESO DE LRBANTZACAO NO BRASIL 6 planejamento urbuno por ele produzido. A vinculagao entre © Tuminismo & o moderaismo é formulada por Harvey (1993, p. 23) nos seguintes tetmos: Emboru 0 termo “moderno” tenha tma hist6ria bem mais antiga, o que Aberramos (1983. p. 9) chama de prajeto de modemidade entrow em fovo durante o séeulo XVTIL. sve projeto equivalia a um extraordindcio esforyo intelectual dos pensadores dluministas 7 “para desenvolver a cigneia objetiva. # moralidade e « lei uniiversais € a arte ant6noma | nos fermos da prpria Adyica interna destas” [grifo nassoj [..] © desenvolvimento de for. 2 mas racionais de organizagao social e de modos racionais de pensamento prometia aH 3 beriagto das itrecionulidudes do mito, da religido, da supersticao, liberacao do uso arbi- tmisio do poder, bom como do lado sombrio da nossa prépria natureza humana E..) Eseritores como Condoreet, prossegue Harvey, citando Habermas, estavam possuidos “da extravagante expectativa de que as artes ¢ as cieucias irkam pro- mover nao somente o controle das Forgas naturais como também a compreenséo do mundo e do en, o progress moral, a justiga das instituighes e até a felici- dade dos seres humanos” Harvey, 1993, p. 23). Veremos,.por exemplo, que idéias como a de “plano diretor” ou “planejamento urbano” tém-se mantido ¢ difundido com base em sua “Iogica interna” ¢ como adotam um discurso que propée “formas racionais de organizagao social” (como a da Cidade-jar- dim ou a Cidade Saiélite pregadas por Agache no Rio). Mais adiante Harvey nos ajuda a entender @ sobrevivencia, até no: 0s dias, daquilo que é a ques- tao central deste texto, ou seja, a ideologia da supremacia da razdio, base da tecnocracia ¢ do planejamento urbano atual. Diz ele que parece que 0 modemnismo, depois de 1843, exa em larga medida wm fenémeno wrbano,_, tendo existido num relacionamento inquicto, mas complexo, com a experigacia do cres- cimento urbano explosiv [..] da forte migraefo peta 0s centros urbanos, di indus lizacto, da mecanizagio, da reorganizacio maciga dos ambientes constznios e de movi- entos uibanos de base politica [..) A erescente necessidade de enfrentar os problemas psicaldgicos, scciolégicos. cécnicos, orgnaizacionais » pollicos da mbanizastio macig foi um dos canteiros cm que flerescerum os movimentos modemistas, © modemismo era uma “arte das cidades” © evidentemente encontrava "seu habitat natural nas cidades” (Harvey, 1993, p. 33} E catio compreensivel que as cidades, foco do mundo nove que surgia, te- ham sido privilegiadas pela ideologiz dominante, 186, UIdA CONTRIELICAG PARA & HISTORIA 20 MANEIAMENTO LROAMG NO BRASIL Todo o pensamento uriatistico produzido pelos soctalistas ut6picos (Owen on Fourier) « pelos teenoeratas, como Ebenezer Howard, Le Corbusier, Agache. Doxiuids. ou pela Carta de Atenas. que veio nuttira ideotogia de pla- no diretor. todo esse pensamenta haseia-te na erenga de que na ciéneia (dis iistivo © 0 progndstivo cientificos} ¢ na técnica (o plano diretor) é que estava a chave da solugto dos ditos “problemas urbanos™, - “plane diseror” se difende ne Brasil a partir da década de 1940, mas oi substituido por outeos nomes a partir da déeada de 1960, No final da déca- da de 1980 esse nome foi ressuscitado pela Constituicdo Federal, porém 0 comteido que esse vocdbulo designa se alterou, como purie de suas muites ‘wansmutaghes, Essa forma hist6rica foi. ¢ ainda & caracterizada por esse nome ¢ pelo contetide (caracieristicas ou propriedades) que ele desi sumatiado, Embora questioneda por algomas minotias a partir do inicio dos anos de 1990, a forma tradiclonal de plano direvor Vida por nossa sociedade que sobrevive ainda, embalsamada em muitos mies, gna, « seguir fio fortemente dlifundida e absor- como universidudes, Grgios monicipais ¢ metropolitanas de planejamento, ingios imebilidvins ¢ em Grgios de classe ligados 3 engenhavia e & arquitetura, Pontos de partida Em algans casos, os pontos de partic de nosso racioc ino sa premissas, outros. indagacbes « serem esclareeidas, Comecemos por ama premissa, conceite-chave de “plana diretor’. gue cau um pouco no ostracisma entre as

You might also like