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O eterno presente que marca a infancia transforma-se na adolescéncia; é quando o jovem se vé frente a frente com a condi¢ao de sua existéncia e, para lidar com o porvir ainda incerto, ancor: a-se em fantasias e em comportamentos ansiosos e impulsivos Por Carlos Eduardo Carvalho Freire, psicdlogo 4 se tomou lugar-comum afirmar que a adolescéncia é um fendme- no “sociocultural”; entretanto, tal determinacio nao é privilégio dese momento da vida; afinal, qualquer com- portamento humano é influenciado pela cultura e pela sociedad. Desde a publicagio de Adolescéncia em Samoa, da antropéloga cultural americana Margaret Mead (1901-1978), em 1928, ficou claro que a safda da infancia nao tem de ser um periodo de tempestade e tenséo, ‘como quis boa parte da psicologia da ado- lescéncia (ver quadro na pag. 50). Mead des- creve a entrada na adolescéncia em Samoa, ra Polinésia, como um processo tranqiilo, sem grandes conflitos ou maiores tensées. Em seus primeiros trabalhos, descartou ndo 6 as determinacdes biol6gicas da adoles- céncia como as psicokigicas erigicas sobre elas; sto é, a chegada dos horménios ndo necessariamente implicava conflitos psico- légicos, incontinéncias comportamentais ‘ou maior impulsividade, ‘A pesquisadora atribuiu isso ao fato de ‘a uma crianga samoana jamais ser ensinado algo que, mais tarde, nao fosse compativel com a realidade da pessoa madura. Suas descrigées de como na infancia samoana somente se aprendia 0 que depois seria asst rmilado de modo harmonioso pelo universo adulto tornaram-se cléssicas. Permitiram que percebéssemos como nés, ocidentas, cridvamos as criangas em um mundo que, para dar lugar & maturidade, teria de ser parcialmente destruido por ser incompa- tivel_com as regras © exigéncias dessa nova condigdo. A tese de Mead que essa descontinuidade no desenvolvimento, no processo de obtencio de independéncia do ser humano, ocasiona uma adolescéncia tempestuosa e tensa. Nos dias atuais, entretanto, os jovens urbanos vivern suas crises tipicas: mudam com freqiiéncia de opiniao, questionam a autoridade dos pais, opdem-se ao status quo, andam em grupos, sonham com um mundo diferente, possuem Idolos © ves- tem-se de forma caracteristica. Vivenciam suas escolhas com tamanha intensidade que nos fazem lembrar do conhecido bindmio “adolescéncia igual a tempestade e tensdo”. Cabe entao perguntar: 0 que significa nossos adolescentes passarem por esse periodo de turbuléncia? Que questées vivern, sem que necessariamente tenham consciéncia? A que respondem com sua impulsividade e impaciéncia? Para compreendermos a impulsividade, as dividas, as tensées ou qualquer fendme- ESPECIAL | OLHAR ADOLESCENTE 49° ® TEMPORALIDADE 2 9 PESO DA CULTURA No alto, a antropéloga 3 americana Margaret Mead, B uma das ploneiras do Fecurso fotogréfico para 2 documentar pesquisas ‘etnogréficas. Em seus trabalhos em Samoa, com os povos agrafos da Oceania e sobre as sociedades contemporaneas, entre outros eixos tematicos, voltou-se para a infancia € adolescéncia, sob o viés da psicologia e da cultura, bem como para a sexualidade, Foi presidente da Associacdo Americana para o Progresso da Ciencia em 1973, Acima, pescadoras da regiao do Pacifico 50 As idéias de Margaret Mead e Ruth Benedict (1887-1948) representam o que a antropologia cultural, no final dos anos 20 e parte dos 30, produziu de mais significativo para a psicolo- gia da adolescéncia. Trata-se de estu- dos de campo em sociedades tribais que vieram a desafiar algumas teorias psicolégicas do desenvolvimento, que em geral tomavam 0 padrao ocidental como universal e Gnico, Uma das idéias mais discutidas por Mead e Benedict em seus trabathos foi ada adolescéncia como um perfodo de turbuléncia, As investigacdes das duas antropélogas revelaram que, em cultu- ras nas quais a transi¢ao entre infancia la adulta é feita gradualmente, & pos- sivel atravessar a puberdade em diresao A maturidade sem grandes conflitos, em um processo continuo e harmonioso. no da adolescéncia, é fundamental entender- mos sua articulago com 0 tempo. Aqui no se trata do tempo cronolégico, que podemos medir em nossos relégios, nem do chamado momento histérico, mas sim daquele que nos € concedido para realizarmos nossos empreen- dimentos e vivermos. Trata-se do tempo com ‘© qual contamos para descansar, estudar, casar € assim por diante. Do ponto de vista da feno- menologia existencial (ver quadro na pag. 53), ara entender um acontecimento humano deve-se levar em conta sua temporalizacao. No caso do adolescente, analisar como se d& seu acontecer temporal desde a infancia AQUI E AGORA ‘Acrianga bem pequena vive de tal forma apenas © presente que ignora possuir tanto passado como futuro. Pensemos no momento em que chora devido a uma queda € nao consegue parar: para ela € como se a dor durasse a vida inteira, Ainda nio conhecendo o mais adiante, dado que seu futuro ainda € muito restrto colado no agora, nao pode outra coisa sendo aguardar a repeticao do momento presente. MENTEE:CEREBRO : www,mentecerebro.com.be De acordo com a antropologia cultural, a adolescéncia pode ser um momento vivido sem grandes conflitos Na década de 80, entretanto, cinco anos apés a morte de Mead, 0 antropé- logo americano Derek Freeman colocou em questo aspectos da obra da antro- pologa, gerando grande polémica, com suas acusagdes sobre a seriedade dos trabalhos dela em Samoa - alguns dados de campo foram colocados em xeque, mas as idéias principais de Mead perma- eceram. Entre outras coisas, afirmou que a vida sexual das jovens samoanas nao era livre como Mead retratara. © que estava em jogo era o embate entre duas visées de ser humano: a culturalista que defende a prevaléncia da cultura, seus <édigos e regras na determinagéo do comportamento e 0 determinismo biolégico, enfatizando a Importancia dos fatores biolégico-cons- titucionais sobre os habitos e atitudes dos seres humanos. Resultado: essa dor passa a absorver todo seu ser De fato, temos a impressiio de que a crian- 62, rmuitas vezes, no conta com a possibilidade de seu sofrimento passar. Da mesma forma, 6 diffel interrompé-la durante uma atividade prazerosa. & que a hora futura em que retoma- 1 seus jogos ainda nao Ihe é acessivel. Ela até pode ter a informacdo de que o tempo passa, ‘mas 0 que acontece € que “esse tempo que ; passa” ainda nao & seu. Quanto mais nova for, mais forte ser a vigéncia do presente imediato @ absoluto. Sem divida, uma crianga de 3 anos jé ouviu falar no dia de amanha, na hora de sar assim por diante; 6 que para ela esse amanha @ a hora de sair ainda ndo se tomaram seus. Dispor de tais nocées néo significa que o futuro jf se abriu para ela como possibilidade, como algo que the diz respeito e que de uma forma ou de outra é um assunto seu Portanto, o acontecer da infancia é, em gran- de parte, determinado pelo contigio da crianca pelo instante que ela vive: um presente absolut. ‘Quanto mais nova, mais intenso esse contigo do instanténeo. Se o ser humano, no inicio de sua Vida, ndo tio impuisivo quanto 0 adolescente, porque nao tem a mesma autonomia compor- tamental, Sem divida, porém, as criangas 580 tipicameente de uma impaciéncia impr. Na adolescéncia 0 contigio do instantaneo, tipico da infancia, sofreré grandes mudangas. jovem seré apresentado de forma mais desim- pedida, mais tansparente, aquela condigdo que sempre foi sua: a exsténca. Mas, afinal, o que & exist? Para a andlse do Dasein (ver quadro na pig. 53), as coisas So e apenas o ser humano existe, Exstr significa, nesse contexto, estar aber- to-20 pr6prio ser e, dessa forma, tomi.to como questo. Nosso ser niio € algo que contempla- ‘mas indiferentemente com os olhos ou com o mero entendimento intelectual. £ uma questao {quenos toca e na qual nos empenhamos de uma forma mais ou menos esclarecida. Nossa condigio humana nao algo pronto ¢ acabado, £, antes, uma histéria por aconte- cer que nos diz respeito, uma questao que nos dirigida como assunto de nossa responsabi- lidade, Podemos ser indiferentes a uma série de coisas, mas nunca & nossa prépria vida. E ‘como a historia “dessa vida" no esté decidida desde o prinefpio, o nosso ser — “essa histéria que somos” — est em jogo, é uma questdo que temos de enfrentar. Ocorre que a con- digo humana nao é mais uma das questées dentre as varias com que lidamos: hé uma espécie de prioridade na ordem dessas coisas. Em outras palavras, para que haja questées € necessdrlo que © ser humano esteja aqui. & “esta espécie de prioridade” que ird atingir © adolescente, Sua vida, como um todo, seré sua grande questao. Ser capaz de compreender a si préprio como uma hist6tia por acontecer ¢ comegar a sentir-se responsdvel por isso é 0 aconte- cimento que iré marcar © final da infancia © dar inicio & adolescéncia. Neste momento o ser humano é apresentado a sua condicdo de sempre: a existéncia, CONDICAO DE EXISTIR E © que permitiré & crianga tornar-se adoles- cente? A chegada do futuro serd 0 aconteci- mento determinante de todo esse processo. ‘O adolescente deve ser visto como aquele que foi expulso do presente etemo da infancia, tendo ganho um futuro e um passado. Ele se Ve de fora, vislumbrando seu passado infantil JA nao consegue entregar-se aos jogos infantis sem sentir certa vergonha ou aché-los desin- teressantes. Por no se encontrar totalmen- ABOLA ROLA A crianga pequena é contagiada pelo instante que vive e, ainda que venha a ter conhecimento do futuro, nao se apropriou dele. Prazer ou sofrimento se eternizam € 0s fatos so vivenciados de modo intenso e absolute TEMPO E ESPACO Na adolescéncia tudo se expande, 0 corpo no espace, 0 circulo de amigos, 05 planos e as escolhas. Todo movimento visa a0 futuro, ea percepsao dessa nova temporalidade desperta sonhos ¢ também traz pesadelos. Ao lado, trabatho fotogritico de Thomas Eakins, Double jump, 1884, que busca capturar a seqiiéncia temporal e a espaciatidade de uma ago humana ESPECIAL 'O OLHAR ADOLESCENTE 57 MEE TEMPORALIDADE FALSO RECONHECIMENTO Estranhamento é a sensagio tipica da adolescéncia. Além do corpo que se agiganta sob seus othos perplexos, 0 jovem se debate com as idéias, que ainda no reconhece como suas. As fantasias tornam-se ponto de apoio fundamental nesta fase. Por meio delas, procurara domesticar o futuro, tornando-o prazeraso & methor que 0 presente. Por outro lado, Hludido quanto a seguranca e mortalidade, pode partir para comportamentos de risco te envolvido no instante imediato podemos dizer que 0 futuro alcancou. Se na infancia ‘inhamos apenas a informacdo de que um dia crescerfamos, assemelhando-nos a nossos pais, nna adolescéncia adquirimos liberdade em rela- ‘G80 ao presente e teremos esse futuro como questo. Assim comegamos a fazer planos a sonhar com tudo aquilo que imaginamos fazer, no entanto essa nova condigao também pode nos trazer pesadelos. Sem davida, 0 ser humano a0 entrar na adolescéncia experimenta uma significativa ‘expansio: comega a sair s6 ou com novos amigos, em geral conhece algum tipo de rela- so amorosa e se lanca em novas escolhas. A abertura para o futuro e poder responsabilizar- se por si proprio ampliam bastante as possibi- lidades do jovem, mas iréo colocé-lo ante uma questo para a qual no tem resposta: a morte ‘Ao descobrit-se mais livre, o adolescente tam- bém descobriré que Id “no futuro, no futuro de seu futuro” hd algo estranho, de que ja oun falar anteriormente, mas que em geral manti- vera a uma distancia segura, |4 que vivia sob 0 impacto do presente vivo. A questo da morte também se coloca para as criancas, mas acaba sendo enfrentada de uma forma parecida com 52 MENTESCEREBRO ‘ wnww.mentecerebro.com.br aquela em que havia subitamente decidido tomar-se bombeiro ou jogador de futebol: a crianga “decide-se”, isto €, deixa-se tomar pelo presente concreto em que vive. Na infancia, 0 ser humano conseguia, de alguma forma, manter-se indiferente ao préprio ser € & sua finitude. Iss0 era assunto dos adultos 0u algo tdo distante que nao merecia ser pen- sado. © adolescente, tendo ganho 0 futuro, terd como tarefa fazer frente & sua existéncia, ‘agora mais fnita e irevogavelmente sua. Neste sentido, ele € apresentado & condigao de exisir, a0 seu ser em jogo. O futuro no é mais para © adolescente apenas 0 que ndo ocorreu © pode ser ignorado. Nosso adolescente passa a ter como companhia constante duas questées para as quais sua inféncia nao traz respostas: 0 ‘que fazer ante esse futuro que nao chega con- ccretamente, mas no 0 deixa em paz e 0 que fazer com essa vida que um dia acaba? Por um lado, € a indeterminagio de sua vida que exige uma resposta e, por outro, a chegada da pergunta pelo fim da vida e pelo sentido "disso tudo”. Possivelmente o joven samoano da primeira metade do século pas- sado nao enfrentou essas duas perguntas de modo téo despreparado como nosso jovem urbano que veio posteriomente, pois seu futu- ro resultava de uma continuidade harmoniosa do que vivera na infancia. Se aos 7 anos saia remando para pescar nas proximidades, mais velho iria pescar um pouco mais longe peixes maiores de acordo com sua forga fisica. Por sua vez, as questées da morte e do sentido da vida, nas chamadas sociedades primitivas, nndo ficam a cargo do individuo. Em geral, uma espécie de mito que narra a origem da vida e do mundo e explica por que as coisas so e devem ser de determinado modo fazem sentido e dirigem a vida da comunidade. ENIGMAS DO AMANHA No caso do nosso adolescente devemos lem- brar que sua condigao 0 coloca ante ques- tées que nao sabe responder ou enfrentar. Desalojado da condicao infantil sem, contu- do ser um adulto, é um “estranho dentro de sua propria casa”. Estranha seu corpo que cresce mais répido que sua capacidade de conhecé-lo, estranha idéias que chegam até ele — pois nao as reconhece como suas —e assim por diante. Para enfrentar essa solido z518 fencial”, “analise do Dasein” ou “Daseinsanalyse” de maneira geral podem ser tomadas como sinénimas. Elas se referem basicamente a proposta de psicoterapia e psicopatologia desen- volvida pelo psiquiatra e psicoterapeuta suigo Medard Boss (1903-1990), com apoio nas idélas do filésofo alemao Martin Heidegger (1889-1976). ‘A fenomenologia foi 0 método de investigacao filoséfica da condicio humana empregado por Heidegger, a fim de compreendé-la como existéncia ¢ como lugar e possibilidade privilegia- dos para 0 aparecimento das coisas em sua realidade, isto 6, em seu ser. Por essa razao, denominou o ser humano com 0 termo alemao Dasein, que significaria “lugar do ser” e costuma ser traduzido Para o portugués como “ser-ai e sensacdo de isolamento, andaré em grupo; a similitude com seus pares atenuaré a sen- sacdo de estranheza. Como esse futuro indspito (que ainda nao aconteceu mas 0 espreita como uma tarefa nao conclufda), néo pode ser modificado, a0 joven resta “pavimenté-lo", tentar torné-lo mais suportével, confortdvel. © grande recur- 0 do adolescente nessa empresa seré a fan- tasia. Por meio dela, desenhard sua condicao de maneira a torné-la mais prazerosa. Entao ‘esse futuro que inicialmente surgira com uma fisionomia ameacadora por sua indetermina- ‘cdo poderd aparecer ao jovem como a possi- bilidade de ser o que quiser, ibertando-se de todos os seus limites: a fantasia preencheré as lacunas “garantindo” a ele que 0 futuro seré ‘como deseja, sempre mais rico ¢ melhor. A fantasia desempenha 0 papel de um doma- dor que domestica um futuro originalmente indspito e ameacador, transformando-o em um animal inofensivo com o qual € feito que se quer. Nessa medida, veremos muitos jovens adotando comportamentos de risco uma vez que sua fantasia Ihes garante a sen- sagdo de seguranca e imortalidade. A esta altura, podemos refletir sobre a Boss criticou a psicologia em geral, por esta conceber 0 ser humano como dotado de um aparelho psiquico regi: do por leis deterministas e mecanicas. Tal concepgao “coisificante”, de acor- do com ele, distorce e desfigura 0 agir 0 viver humanos. impulsividade a instabilidade emocional que caracterizam a chamada sindrome nor- mal da adolescéncia, O adolescente, ao deixar a infancia por ter ganhado um futuro, perde algo daquela con- sistencia que possufa anteriormente. Tudo 0 que ele 6, de alguma forma, passa a depender do que vird a ser. Ele, mesmo nunca tendo sido atingido pelo futuro desse modo, ainda que sem consciéncia disso, compreende seu ser como uma tarefa, como algo a realizar. Uma tatefa, sabemnos, implica ter coisas pela frente, é algo a ser feito e requer espera, um pouco de paciéncia, Mas esse ser humano, até hd pouco tempo, conhecia somente o presente em que brincava, magicamente, transformando uma vassoura num cavalo, uma cadeira num castelo, Seu problema atual & no saber comportar-se diante desse futuro que custa a chegar. Como fazer para que chegue logo, de preferéncia, agora mesmo? Este & 0 sentido da ansiedade, da impulsivida- de na adolescéncia. me ‘© AUTOR CARLOS EDUARDO CARVALHO FREIRE é psicélogo, professor de teoriae técnica psicoterdpica da PUC-SP e membro da Associacao Brasileira de Daseinsanalyse PRECURSORES Ao lado, a esquerda, Medard Boss, articulador da analise do Dasein, no VI do ser e da existéncia foi decisiva para criagSo desse método psicoterapéutico Congreso Intemacional de Psicoterapla, 1964. Acima, Martin Heidegger, cuja filosofie sobre ontologia won sesh Adolescencia, sexo y cultura en Samoa, M. Mead. aia, 1972 Angistia, culpa ¢ libertagao. M, Boss. Duas Cidades, 1975. Daseinsanalyse. Revista da Associagao Brosileira de Daseinsanalyse, Vérios autores, vol. 1 (1974), 2 (1976) © 4 (1978) ESPECIAL © OLHAR ADOLESCENTE 53

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