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Tema 6 - Sociologia e Trabalho
Tema 6 - Sociologia e Trabalho
Sociologia da infância
WITT, J.
Sociologia – 3.ed.
PRINCIPAIS AUTORES
NESTE LIVRO
*Livro em produção, mas que em breve estará à disposição
dos leitores em língua portuguesa.
Karl MARX Peter BERGER
Frederick ENGELS Herbert BLUMER
Émile DURKHEIM Herbert MARCUSE
Max WEBER Jürgen HABERMAS
Georg SIMMEL Jean-François LYOTARD
George Herbert MEAD Patricia Hill COLLINS
Robert K. MERTON Steven SEIDMAN
C. Wright MILLS W. E. B. du BOIS
Peter BLAU Joseph E. STIGLITZ
F223l Farganis, James.
Leituras em teoria social : da tradição clássica ao pós-
modernismo [recurso eletrônico] / James Farganis ;
tradução: Henrique de Oliveira Guerra ; revisão técnica:
Alexandre Barbosa Pereira. – 7. ed. – Porto Alegre : AMGH,
2016.
e-PUB.
1. Sociologia. I. Título.
CDU 316
Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094
nuou escrevendo sua obra-prima, O capital, trolam o processo produtivo. Embora Marx
incentivado por Engels e impulsionado por considerasse que a determinação do que a
sua visão de progresso histórico e transfor- labuta produz, de como a labuta produz e
mação revolucionária. Em 1863, Marx des- de como os produtos da labuta são distri-
cobriu novamente um público para sua obra buídos deveria ser feita pela classe operária,
com a fundação da Internacional, organiza- no capitalismo a burguesia paga um salário
ção que contava com representantes de di- aos trabalhadores e então se apropria do que
versos partidos dos trabalhadores europeus eles produzem e utiliza esses produtos. Em
e se dedicava a acabar com o sistema vigente outras palavras, as condições sob as quais a
de dominação econômica. Marx envolveu-se labuta produz são condições alienantes, na
ativamente com a organização, escrevendo medida em que os trabalhadores perdem
discursos e panfletos e, por fim, tornou-se o controle sobre o objeto de sua labuta, ou
líder, à medida que trabalhava incansavel- seja, seu produto. Todas as determinações
mente para forjar uma frente unida a partir importantes são feitas por outras pessoas.
dos diversos pontos de vista ideológicos Sem permissão para desempenhar as fun-
que eram representados. Quando o primeiro ções inerentes de um ente-espécie, ou mes-
volume de O capital foi publicado em 1867, mo para ver a força de seu trabalho como
foi bem recebido pelos socialistas russos e sua própria, o trabalhador sente-se desmo-
alemães e por todos os membros da Interna- ralizado e desumanizado.
cional, que celebraram Marx e sua obra como O capitalismo, na condição de modo
socialismo científico e lhe concederam posi- de produção, implica relações estruturadas
ção canônica. entre trabalho e capital que resultam na alie-
Conflitos internos ocasionaram a dis- nação dos trabalhadores dos aspectos mais
solução da Internacional em 1876, e Marx importantes de sua labuta. Primeiro, são
concluiu poucos trabalhos intelectuais de alienados de sua atividade produtiva. A for-
importância nos anos seguintes. Ele morreu ça de trabalho industrial é organizada na
em 1883 e está enterrado no Cemitério de linha de montagem, em que tarefas específi-
Highgate. cas, repetitivas e tediosas devem ser executa-
Marx acreditava que, por meio da labu- das. O trabalho torna-se um meio mecânico
ta (labor), a espécie humana seria capaz de para alcançar um fim, não exigindo inteli-
realizar seu “ente-espécie”, ou seja, seu po- gência nem imaginação, e o trabalhador é re-
tencial para as atividades criativas e signifi- vertido a uma condição sub-humana em vez
cativas por meio do trabalho (work). A labuta de ser elevado a realizar seu “ente-espécie”.
humana não era apenas energia gasta por Os trabalhadores também são alienados dos
subsistência, embora claramente isso aconte- produtos que eles produzem. Sua energia
cesse no capitalismo. O que Marx concebeu é congelada nesses produtos, mas os traba-
foi a utilização da labuta para o aprimora- lhadores não possuem o que produzem. Por
mento da vida humana além das necessida- fim, os trabalhadores são alienados de seus
des materiais, para a criação de uma socie- colegas de trabalho, à medida que os capi-
dade em que as necessidades estéticas, bem talistas promovem a competição entre eles
como as materiais, pudessem ser satisfeitas. para os postos de trabalho disponíveis com
A labuta tinha o potencial de fornecer essa salários de subsistência. Em vez de solidarie-
oportunidade, por isso permitia que as pes- dade e camaradagem surgidas no trabalho
soas exibissem atividades criativas e signifi- conjunto em um projeto coletivo, a força de
cativas, por meio de seu trabalho sob condi- trabalho é deliberadamente mantida em sa-
ções apropriadas. lários de subsistência, gerando grande medo
No capitalismo, porém, os proprietários nos trabalhadores de que não conseguirão
dos meios de produção, a burguesia, con- sobreviver caso percam seus empregos para
Devido ao amplo uso de maquinaria e à Assim que o trabalhador recebe seu salá-
divisão da mão de obra, o trabalho dos prole- rio em dinheiro, naquele átimo escapando da
tários perdeu todo o caráter individual e, por exploração pelo fabricante, então se depara
conseguinte, todo o encanto para o trabalha- com as facetas da burguesia: o dono do imó-
dor. Ele se torna um apêndice da máquina, vel, o lojista, o agiota, etc.
e dele se exige só a habilidade mais simples, Os estratos inferiores da classe média –
mais monótona e mais facilmente adquirida. pequenos comerciantes, lojistas e, em geral,
Portanto, o custo de produção de um traba- negociantes aposentados, artesãos e campo-
lhador é restrito, quase inteiramente, aos neses – todos se afundam gradativamente no
meios de subsistência de que ele necessita proletariado, em parte porque seu diminuto
para sua manutenção e para a propagação de capital é insuficiente para a escala em que a
sua raça. Mas o preço de uma mercadoria, e, indústria moderna é realizada e se atola no
portanto, também da mão de obra, é igual ao lodaçal da concorrência com os grandes capi-
seu custo de produção. Proporcionalmente, talistas, em parte porque sua habilidade es-
então, quanto mais repulsivo o trabalho, me- pecializada torna-se inútil devido aos novos
nor o salário. E não é só isso. À medida que métodos de produção. Assim, o proletariado
aumentam o uso da maquinaria e a divisão do é recrutado de todas as classes da população.
trabalho, o fardo da labuta também aumenta O proletariado passa por vários estágios
em igual proporção, seja por ampliação da jor- de desenvolvimento. Com seu nascimento
nada de trabalho, pelo aumento do trabalho começa sua luta com a burguesia. Primeiro,
exigido em determinado momento ou pelo a luta é conduzida por trabalhadores indivi-
aumento da velocidade das máquinas, etc. duais, depois pela força de trabalho de uma fá-
A indústria moderna transformou a pe- brica, depois por agentes de um comércio, em
quena oficina do mestre patriarcal na grande uma localidade, contra o burguês individual
fábrica do industrial capitalista. Massas de que diretamente os explora. Investem seus
operários, amontoadas na fábrica, são orga- ataques não contra as condições burguesas de
nizadas como soldados. E, na condição de produção, mas contra os próprios instrumen-
soldados do exército industrial, são coloca- tos de produção; destroem o equipamento
dos sob o comando de uma perfeita hierar- importado que concorre com o seu trabalho,
quia de oficiais e sargentos. Não são apenas despedaçam máquinas, incendeiam fábricas,
os escravos da classe burguesa e do Estado procuram restaurar à força a condição desapa-
burguês; eles são escravizados, todos os dias recida do trabalhador da Idade Média.
e todas as horas, pela máquina, pelo fiscal e, Nessa fase, os operários ainda formam
acima de tudo, pelo próprio fabricante bur- uma massa incoerente espalhada por todo o
guês individual. Quanto mais abertamente país e dividida por sua concorrência mútua.
esse despotismo proclama o lucro como seu Se em qualquer lugar eles se unem para for-
fim e objetivo, mais mesquinho, mais odioso mar grupos mais compactos, isso ainda não
e mais angustiante ele se torna. decorre de sua própria união ativa, mas da
Em outras palavras, quanto menores a união da burguesia, classe que, a fim de atin-
habilidade e a força aplicados ao trabalho gir seus próprios fins políticos, é compelida a
manual, mais se desenvolve a indústria mo- desencadear ações de todo o proletariado e,
derna, mais o trabalho dos homens é suplan- além disso, ainda é capaz de fazê-lo durante
tado pelo das mulheres. As diferenças de algum tempo. Nessa fase, portanto, os prole-
idade e sexo já não têm qualquer validade tários não combatem seus inimigos, mas os
social distintiva para a classe trabalhadora. inimigos dos seus inimigos, os remanescen-
Todos são instrumentos de trabalho, mais ou tes da monarquia absoluta, os proprietários,
menos caros de se usar, de acordo com sua os burgueses não industriais, a pequena bur-
idade e sexo. guesia. Assim, todo o movimento está con-
centrado nas mãos da burguesia; cada vitória tido político sofre contínuas e novas pertur-
assim obtida é uma vitória para a burguesia. bações pela concorrência entre os próprios
Porém, com o desenvolvimento da in- trabalhadores. Mas sempre se ergue nova-
dústria, o proletariado não só aumenta em mente, mais forte, mais firme, mais podero-
número; concentra-se em massas maiores, sa. Obriga o reconhecimento legislativo dos
sua força cresce, e essa força é sentida, cada interesses particulares dos trabalhadores,
vez mais. Os variados interesses e condições aproveitando-se das divisões entre a própria
de vida dentro das fileiras do proletariado burguesia. Assim foi aprovada a lei que li-
são cada vez mais equalizados, à medida mitava a jornada de trabalho de mulheres e
que a maquinaria oblitera todas as distin- crianças a 10 horas diárias.
ções de trabalho e reduz, quase em todos os No cômputo geral, os conflitos entre as
lugares, os salários ao mesmo nível inferior. classes da velha sociedade promoveram o
A crescente concorrência entre os burgueses curso do desenvolvimento do proletariado
e as crises comerciais resultantes instabili- em muitas maneiras. A burguesia encontra-
zam cada vez mais os salários dos trabalha- -se envolvida em uma batalha constante.
dores. A melhoria incessante da maquinaria, A princípio, com a aristocracia; posterior-
com evolução cada vez mais rápida, torna a mente, com aquelas parcelas da própria
subsistência dos trabalhadores cada vez mais burguesia cujos interesses se tornaram an-
precária; os conflitos entre os trabalhadores tagônicos ao progresso da indústria; e, em
individuais e o burguês individual assumem, todos os momentos, com a burguesia dos
cada vez mais, o caráter de conflitos entre países estrangeiros. Em todas essas batalhas,
duas classes. Por causa disso, os trabalha- a burguesia vê-se compelida a apelar ao pro-
dores começam a formar organizações (sin- letariado, a pedir sua ajuda e, assim, arrastá-
dicatos) contra a burguesia; eles se associam -lo à arena política. Portanto, a própria bur-
a fim de obter melhorias salariais; fundam guesia fornece ao proletariado seus próprios
associações permanentes a fim de programar elementos de educação política e geral; em
antecipadamente essas revoltas ocasionais. outras palavras, fornece ao proletariado as
Aqui e ali a luta irrompe em rebeliões. armas para combater a burguesia.
De vez em quando os trabalhadores são Além disso, como já vimos, camadas
vitoriosos, mas apenas por um tempo. O ver- inteiras das classes dominantes são, com o
dadeiro fruto de suas batalhas não reside no avanço da indústria, precipitadas ao prole-
resultado imediato, mas na união cada vez tariado, ou pelo menos ameaçadas em suas
maior dos trabalhadores. Essa união é apri- condições de existência. Essas camadas tam-
morada por melhores meios de comunicação, bém fornecem ao proletariado elementos re-
criados pela indústria moderna, que colocam novados de Iluminismo e progresso.
os trabalhadores de diferentes localidades Por fim, quando a luta de classes se apro-
em contato uns com os outros. Justamente xima da hora decisiva, o processo de disso-
esse contato era necessário para centralizar lução que acontece no seio da classe domi-
as numerosas lutas locais, todos do mesmo nante, na verdade no seio de toda a gama da
caráter, em uma luta nacional entre as clas- velha sociedade, assume um caráter tão vio-
ses. Mas toda luta de classes é uma luta po- lento, tão gritante, que uma pequena parte
lítica. Para atingir essa união, os burgueses da classe dirigente se desprende e se une à
da Idade Média, com suas estradas miserá- classe revolucionária, a classe que tem o fu-
veis, precisaram de séculos; por sua vez, os turo em suas mãos. Portanto, assim como em
proletários modernos, graças às ferrovias, a um período anterior parte da nobreza passou
alcançaram em poucos anos. à burguesia, agora parte da burguesia passa
Essa organização dos proletários em ao proletariado e, em particular, uma parce-
uma classe e, por conseguinte, em um par- la de ideólogos burgueses que se alçaram ao
nível capaz de compreender teoricamente o podem se tornar mestres das forças produti-
movimento histórico como um todo. vas da sociedade, exceto abolindo o seu pró-
De todas as classes que hoje se opõem prio modo anterior de apropriação e, assim,
face a face com a burguesia, só o proletaria- também todos os outros modos anteriores de
do é uma classe realmente revolucionária. As apropriação. Eles não têm nada próprio para
outras classes decaem e por fim desaparecem fixar e fortalecer; sua missão é destruir todas
em face da indústria moderna; o proletariado as seguranças e garantias anteriores à pro-
é seu produto especial e essencial. priedade individual.
A classe média baixa, o pequeno fabri- Todos os movimentos históricos ante-
cante, o dono da loja, o artesão, o campo- riores foram movimentos de minorias ou no
nês, todos esses lutam contra a burguesia, interesse de minorias. O movimento prole-
para salvar da extinção sua existência como tário é o movimento autoconsciente e inde-
frações da classe média. Portanto, não são pendente da imensa maioria, no interesse
revolucionárias, mas conservadoras. E ain- da imensa maioria. O proletariado, o estra-
da mais: são reacionárias, pois tentam retro- to mais baixo da nossa sociedade atual, não
ceder o curso da história. Se por acaso elas pode mexer, não pode se levantar, sem man-
forem revolucionárias, elas o são apenas em dar pelos ares todos os estratos superiores da
virtude de sua iminente transferência ao sociedade oficial.
proletariado; defendem, portanto, não seu Embora não em substância, mas em for-
presente, mas seus interesses futuros; elas ma, a luta do proletariado com a burguesia
abandonam seu próprio ponto de vista para é inicialmente uma luta nacional. Claro, o
adotar o do proletariado. proletariado de cada país deve, em primei-
A “classe perigosa”, a escória social ro lugar, ajustar as contas com sua própria
(Lumpemproletariat), essa massa em passiva burguesia.
putrefação descartada pelas camadas mais Ao descrever as fases mais gerais do de-
baixas da velha sociedade, pode, aqui e ali, senvolvimento do proletariado, rastreamos a
ser arrastada ao movimento por uma revo- mais ou menos velada guerra civil que fer-
lução proletária; no entanto, suas condições vilha no seio da sociedade existente, até o
de vida a preparam muito mais para o papel ponto em que a guerra eclode em revolução
de uma ferramenta subornada de intriga rea- aberta e em que a violenta derrubada da bur-
cionária. guesia estabelece as bases para a influência
As condições sociais da antiga socieda- do proletariado.
de deixarão de existir para o proletariado. Até então, todas as formas de sociedade
O proletário não tem propriedades; sua rela- baseiam-se, como já vimos, no antagonismo
ção com a esposa e os filhos já não tem nada das classes opressoras e oprimidas. Mas, para
em comum com as relações familiares bur- oprimir uma classe, certas condições devem
guesas; o trabalho industrial moderno, a mo- lhe ser asseguradas para que, ao menos, ela
derna sujeição ao capital, igual na Inglaterra consiga continuar a sua pródiga existência.
e na França, nas Américas e na Alemanha, O servo, no período da servidão, conseguiu se
despiu-lhe de todos os traços de caráter na- tornar um membro da comuna, tal qual o pe-
cional. Para o proletário, a lei, a moralidade e queno burguês, que, sob o jugo do absolutis-
a religião são múltiplos preconceitos burgue- mo feudal, conseguiu se tornar um burguês.
ses, atrás dos quais espreitam em emboscada O operário moderno, ao contrário, em vez
múltiplos interesses burgueses. de melhorar com o progresso da indústria,
Todas as classes anteriores que estiveram afunda-se cada vez mais abaixo das condições
no poder procuraram fortificar seu status já de existência de sua própria classe. Torna-se
adquirido, submetendo a sociedade às suas pobre, e a pobreza cresce com mais rapidez do
condições de apropriação. Os proletários não que a população e a riqueza. E aqui se torna