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UNIDADE I –

SOCIEDADE, ESTADO E
DIREITO
ASPECTOS INTRODUTÓRIOS
Compreender o Direito não é questão das mais fáceis e estuda-lo
requer a percepção de que consiste num fenômeno, antes de tudo,
social e decisório, sem perder a sua dimensão política-histórica,
uma vez que se refere ao que deve ser feito por todos em uma
determinada SOCIEDADE, em um determinado espaço de tempo.
NOÇÕES TEÓRICAS SOBRE A SOCIEDADE
Em uma primeira aproximação ao termo sociedade, pode-se afirmar que o homem é um ser
social e, portanto, não sobrevive isolado, necessitando associar-se aos seus semelhantes.
Porém, também não se pode ignorar que “sociedade” é um dos conceitos da teoria política-
jurídica clássica mais usados no discurso contemporâneo. Inúmeras classificações têm sido
propostas pelos autores, e, desde a sua recuperação no período medieval através da obra “A
Política” escrita por Aristóteles, o conceito tem sido reformulado por vários filósofos
ocidentais significativos, passando por HOBBES, LOCKE, ROUSSEAU, A. Smith, Kant, F.
Hegel, Alexis de Tocqueville, Karl Marx, A. Gramsci e, contemporaneamente, Arato & Cohen.

Em que pese a dificuldade em oferecer uma definição exata a respeito do termo, cumpre-nos
investigar a questão da origem das sociedades apontada, de forma SISTEMÁTICA, pela doutrina:
ORIGEM DAS SOCIEDADES

❑ ESQUEMA GRÁFICO
TESE: A sociedade é uma
TEORIA NATURALISTA OU DO IMPULSO condição essencial da
ASSOCIATIVO NATURAL vida humana, inerente a
ela (Ex.: ARISTÓTELES)

ORIGEM DAS
SOCIEDADES
TESE: A sociedade é
produto de um acordo de
TEORIA CONTRATUALISTA (NEGATIVA
vontades devido a
DO IMPULSO ASSOCIATIVO NATURAL)
interesses comuns (Ex.:
Hobbes, Locke e Rousseau)
ORIGEM DAS SOCIEDADES

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:

❑Autores modernos (Ex: Ranelletti) se filiaram à corrente naturalista e entendem que o homem
é induzido fundamentalmente por uma necessidade natural, porque o associar-se com
outros é condição essencial de vida, pois só desta maneira é que será possível satisfazer as
suas necessidades. Assim, para estes autores, a sociedade é produto da conjugação de um
SIMPLES IMPULSO ASSOCIATIVO NATURAL e da COOPERAÇÃO DA VONTADE HUMANA.

❑ Por outro lado, e em oposição a essa corrente, tem-se o contratualismo. Para os adeptos
dessa doutrina, a sociedade é tão-somente produto de um ACORDO DE VONTADES, um
contrato hipotético celebrado pelos homens. Prevalece a aceitação no sentido de que a
sociedade nasce mediante um pacto estabelecido para a consecução de OBJETIVOS COMUNS.
ORIGEM DAS SOCIEDADES
•ARISTÓTELES E A SOCIEDADE NATURAL – “Só um indivíduo de natureza vil ou superior
ao homem procuraria viver isolado dos outros homens sem que a isso fosse constrangido”.
Nesta mesma ordem de ideias, pode-se mencionar São Tomás de Aquino que entende que o
homem é, por natureza, um ANIMAL POLÍTICO E SOCIAL e que precisa viver em multidão.

• O CONTRATUALISMO DE HOBBES, LOCKE E ROUSSEAU

a) HOBBES – “A sociedade/Estado é uma pessoa de cujos atos se constitui em autora uma


grande multidão, mediante PACTOS RECÍPROCOS DE SEUS MEMBROS, com o fim de que
essa pessoa possa empregar a força e os meios de todos, como julgar conveniente, para
assegurar a paz e a defesa comuns. O titular dessa pessoa se denomina soberano e se diz que
tem poder soberano, e cada um dos que o rodeiam é seu súdito.” (DALMO DE ABREU DALLARI).
ORIGEM DAS SOCIEDADES
B) LOCKE – “A única maneira pela qual uma pessoa qualquer pode abdicar de sua liberdade natural e
revestir-se dos elos da sociedade civil é concordando com outros homens em juntar-se e unir-se em
uma comunidade, para viverem confortável, segura e pacificamente uns com outros, num gozo
seguro de suas propriedades e com maior segurança contra aqueles que dela não fazem parte”. (LOCKE).

C) ROUSSEAU – “O único meio para que o homem social garanta sua liberdade é através de um
pacto legítimo. Pacto esse que forma um corpo político dirigido pela vontade geral e pela observância
das leis. Como corpo político, um homem não pode fazer mal a outrem sem que se venha prejudicar a
si mesmo. É impossível ao corpo desejar prejudicar a todos os seus membros, não podendo também
prejudicar a nenhum deles em particular. De igual modo, a lei é uma manifestação pública da vontade
do corpo político; e é sempre justa, já que o homem não pode ser injusto consigo mesmo”. (ULHÔA, 2003)
ELEMENTOS CARACTERÍSTICOS DA SOCIEDADE

• Pode-se afirmar, com certo grau de precisão, que em toda sociedade existe:

FINALIDADE OU VALOR SOCIAL

MANIFESTAÇÕES EM CONJUNTO ORDENADAS

PODER SOCIAL
ELEMENTOS CARACTERÍSTICOS DA SOCIEDADE

BREVE CONCLUSÃO: Os agrupamentos humanos caracterizam-se


como sociedades quando possuem uma finalidade (ou fim) próprio e,
para a sua consecução, promovem manifestações em conjunto
ordenadas e também se submetem a um poder social (leia-se: a
prevalência da vontade geral sobre a individual). Com relação a
sociedade humana, verifica-se que o propósito é atingir o bem comum.
COMPREENSÃO SOBRE ESTADO

UM POSSÍVEL CONCEITO - A palavra ESTADO tem sido usada com tão variados
sentidos. Entretanto, seria possível conceituá-la como sendo uma EXPRESSÃO HISTÓRICA
que descreve uma FORMA ESPECÍFICA DE ORGANIZAÇÃO POLÍTICA, caracterizada pela
CENTRALIZAÇÃO DO PODER do qual emana normas destinadas a garantir a convivência social.

Com o advento das Constituições escritas e a codificação de suas normas fundamentais, o estudo
acerca da organização de cada Estado demonstrou a ocorrência de elementos comuns e
permanentes, assim como as instituições que neles existem; sendo possível conceituá-las e
classificá-las. Assim, é possível destacar a nítida aproximação entre o DIREITO e a POLÍTICA.
TEORIAS SOBRE A ORIGEM DO ESTADO
Entre as teorias que procuram explicar o aparecimento do Estado (instituição
política complexa), as mais expressivas podem ser agrupadas do seguinte modo:

1. Origem familial ou patriarcal - Esta teoria situa o núcleo fundamental na


família. O Estado é o resultado da ampliação da sociedade familiar. (Aristóteles)

2. Origem Contratualista – Agrupam-se as teorias que justificaram o Estado


como de origem convencional, isto é, como produto da razão humana. Partem de
um estudo das primitivas comunidades em estado de natureza para concluir que
a sociedade civil (Estado organizado) se originou de um ACORDO DE VONTADES.
TEORIAS SOBRE A ORIGEM DO ESTADO

3) Origem em atos de força, violência ou de conquista – Esta teoria sustenta que a


superioridade de força de um grupo social permitiu-lhe submeter um grupo mais fraco,
nascendo o Estado dessa conjunção de DOMINANTES e DOMINADOS. (Hobbes, Trotsky e Weber).

4) Origem em causas econômicas ou patrimoniais – Esta teoria apoia-se na hipótese de que o


Estado teria sido formado para se aproveitarem os benefícios da divisão do trabalho,
integrando as diferentes atividades profissionais (motivo econômico), destinada a facilitar a
sobrevivência de todos. Nesse sentido, a posse da terra gerou o poder e a propriedade gerou o
Estado, sendo característica essencial deste último a SOBERANIA TERRITORIAL (Marx e Engels).
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ESTADO
• ESTÁGIO ATUAL: ESTADO CONSTITUCIONAL

O constitucionalismo tem suas raízes no desmoronamento do sistema medieval, passando por


uma fase de evolução que iria culminar no século XVIII, quando surgem os documentos
legislativos a que se deu o nome de Constituição. Sob influência do jusnaturalismo afirma-se a
superioridade do indivíduo, dotado de direitos naturais inalienáveis que deveriam receber a
proteção do Estado; desenvolve-se a luta contra o absolutismo dos monarcas, ganhando grande
força os movimentos que preconizavam a limitação dos poderes dos governantes. A influência do
Iluminismo (crença na razão) refletiu nas relações políticas através de uma racionalização do poder.
São estes, portanto, os grandes objetivos que, conjugados, iriam resultar no Estado Constitucional:
afirmação da supremacia do indivíduo, necessidade de limitação do poder dos governantes, proteção
a direitos e crença nas virtudes da razão em direção à busca pela RACIONALIZAÇÃO DO PODER.
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ESTADO

De um modo geral, podemos sustentar que o NÚCLEO ESSENCIAL das constituições


escritas é composto por normas de repartição e limitação do poder político, aí
abrangendo a proteção dos direitos fundamentais em face do Estado. A noção de
democracia somente viria a se desenvolver e a se aprofundar mais adiante, quando se
incorporam à discussão ideias como fonte legítima do poder e representação política.
Precisamente durante a segunda metade do século XX é que se verá os termos da
complexa equação que traz consigo o ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO: quem
decide (fonte do poder), como se decide (isto é, o procedimento adequado) e o que pode e
não pode ser decidido (conteúdo das obrigações positivas e negativas do poder do Estado).
FIM DA UNIDADE I

“O Estado é uma associação de toda ciência, de toda arte, de toda


virtude e de toda perfeição, uma associação não apenas entre os vivos,
mas também entre os mortos e os que irão nascer”

EDMUND BURKE (1729 - 1797)

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