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Apostila

Completa

Serviço de Acolhimento em Família


Acolhedora – Curso Básico:
Conhecendo o serviço,
seus benefícios e como
implementar

1
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Ficha catalográfica elaborada pela Seção de Catalogação e


Classificação da Biblioteca Central da Universidade Federal de
Viçosa – Campus Viçosa

Serviço de acolhimento em família acolhedora : curso básico


S491 : conhecendo o serviço, seus benefícios e como
2022 implementar [recurso eletrônico] / Claudia Gomes de
Castro … [et al], organizadoras ; Marcelo José Braga,
coordenador ; Janete Aparecida Giorgetti Valente ... [et al].
-- Viçosa, MG : UFV, IPPDS, 2022.
1 livro eletrônico (107 p.) : il. color.

Disponível em: http://www.mds.gov.br/ead/


Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-66148-33-6.

1. Direitos das crianças. 2. Crianças – Cuidado e


tratamento. 3. Crianças – Desenvolvimento. 4. Crianças –
Assistência em instituições – História. 5. Menores – Estatuto
legal, leis, etc. I. Castro, Claudia Gomes de, 1979-. II. Gomes,
Gabriela Santos, 1997-. III. Santos, Lauany Martins
Gonçalves dos, 1999-. IV. Kobayashi, Letícia Naomi, 2001-.
V. Braga, Marcelo José, 1969-. VI. Valente, Janete Aparecida
Giorgetti, 1959-. VII. Salvagni, Júlia Matinatto, 1987-.
VIII. Pinheiro, Adrian, 1968-. IX. Perez, Luciana Cassarino,
1985-. X. Naddeo, Lara, 1990-. XI. Melo, Ana Angélica
Campelo de Albuquerque e, 1971-. XII. Vidiz, Mônica, 1988-.
XIII. Brasil. Ministério da Cidadania. XIV. Universidade
Federal de Viçosa. Instituto de Políticas Públicas e
Desenvolvimento Sustentável. XV. Universidade Federal de
Viçosa. Coordenadoria de Educação Aberta e à Distância.

CDD 22. ed. 323.352

Bibliotecário responsável: Euzébio Luiz Pinto – CRB 6/3317

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Sumário
Apresentação e Guia de Estudos do Módulo 1 4
Aula 1 O Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora 6
Aula 2 Fundamentação jurídica e a preferência legal do acolhimento familiar 23
Aula 3 Os Benefícios do Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora 27
Aula 4 Benefícios do Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora para
quem Executa o Serviço de Acolhimento 32
Referências e Sugestões Bibliográficas 36
Normas: 36
LIVROS E ARTIGOS: 37
SITES E PROJETOS 37

Apresentação e Guia de Estudos do Módulo 2 38


Aula 5 Implantação do Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora 39
Aula 6 Instituição e Formação da Equipe Técnica do SAF e a Infraestrutura
Necessária 59
Aula 7 Plano de Mobilização e Preparação das Famílias, Lançamento,
Divulgação e Financiamento do SFA 65
Referências e Sugestões Bibliográficas 72
Normas: 72
Livros e Artigos: 72
Sites e Projetos 73

Apresentação e Guia de Estudos do Módulo 3 74


Aula 8 Temporalidade do Acolhimento 76
Aula 9 O Encaminhamento de Crianças e Adolescentes para o SFA 79
Aula 10 Equipe Profissional, Funções, Formação Continuada e Supervisão
Técnica 84
Aula 11 Fluxos com o Sistema de Justiça e Interlocução com a Rede
Intersetorial 95
Conclusão 101
Referências e Sugestões Bibliográficas 103
Normas: 103
Livros e Artigos: 104
Sites e Projetos 104

ATENÇÃO

O conteúdo deste material é baseado nos Cadernos


do GUIA DE ACOLHIMENTO FAMILIAR, de autoria de
Adriana Pinheiro (org.), Ana Angélica Campelo, Jane
Valente, Julia Salvagni, Lara Naddeo e Monica Vidiz e
realização da Coalização pelo Acolhimento Familiar.
Para aprofundar seus conhecimentos, sugerimos a
leitura integral dos referidos Cadernos!

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Apresentação e
Guia de Estudos do
Módulo 1
Neste módulo, buscamos apresentar o conceito e o
funcionamento do Serviço de Acolhimento em Família
Acolhedora (SFA), bem como a diferença entre esse serviço e
outras alternativas de atenção e cuidado viabilizadas pela Rede
de Proteção à criança e ao adolescente, como o Serviço de
Acolhimento Institucional – SAI, a Família Guardiã (guarda na
família extensa), o Apadrinhamento Afetivo e o instituto jurídico
da Adoção.

Além disso, demonstraremos os aspectos legais e os


dispositivos que priorizam o acolhimento familiar, destacando os
efeitos benéficos dessa modalidade para o desenvolvimento de
crianças e adolescentes sob medida protetiva de acolhimento.

Por fim, serão destacadas as vantagens do Serviço de


Acolhimento em Família Acolhedora para o órgão gestor e os
aspectos que podem gerar redução do custo do SFA quando
comparado aos custos do acolhimento institucional.

Para organizar os seus estudos, siga o guia abaixo:

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1. AULA 1
1.1. Leia, na apostila, a Aula 1 do Módulo 1.
1.2. Assista à aula narrada 1.
1.3. Assista ao vídeo sobre o Serviço de Acolhimento em Família
Acolhedora e sua contextualização no Brasil e no mundo.
1.4. Assista ao depoimento de Lumena e Ronaldo Mariconi.
1.5. Assista ao vídeo sobre as principais diferenças entre SFA, SAI, Família
Guardiã (guarda na família extensa), Apadrinhamento Afetivo e
Adoção.
1.6. Faça os exercícios de fixação da Aula 1 na plataforma.

2. AULA 2
2.1. Leia, na apostila, a Aula 2 do Módulo 1.
2.2. Assista à aula narrada 2.
2.3. Assista à entrevista sobre Preferência Legal e Prioridade do SAF.
2.4. Faça os exercícios de fixação da Aula 2 na plataforma.

3. AULA 3
3.1. Leia, na apostila, a Aula 3 do Módulo 1.
3.2. Assista à aula narrada 3.
3.3. Assista ao vídeo “O começo da vida: o caso dos Órfãos da Romênia”.
3.4. Assista ao vídeo “Vínculos emocionais no acolhimento – solução ou
problema?”.
3.5. Faça os exercícios de fixação da Aula 3 na plataforma.

4. AULA 4
4.1. Leia, na apostila, a Aula 4 do Módulo 1.
4.2. Assista à aula narrada 4.
4.3. Assista à entrevista com a técnica de um município que realizou a
substituição do acolhimento institucional para acolhimento familiar.
4.4. Faça os exercícios de fixação e de reflexão da Aula 4 na plataforma.

Bons estudos!

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Aula 1
O Serviço de Acolhimento em
Família Acolhedora
O acolhimento em família acolhedora ainda é uma
modalidade pouco conhecida no Brasil, apesar de haver algumas
experiências locais que funcionam há mais de 20 anos e de ser
utilizada há décadas em diversos países.

Para a melhor compreensão do cenário atual do Serviço


de Acolhimento em Família Acolhedora no Brasil, é necessário
retomar a história das políticas de proteção à infância e à
adolescência e o contexto histórico que levou à sua implantação.

1. BREVE HISTÓRICO DA INSTITUCIONALIZAÇÃO NO BRASIL


O Brasil tem um longo histórico de institucionalização de
crianças e adolescentes, com início no processo de colonização
do país. Como reflexo do modelo europeu, a igreja era a entidade
que assumia o cuidado de bebês e crianças órfãs, abandonadas
ou “indesejáveis”, além daquelas entregues aos religiosos pelos
pais para que recebessem cuidados básicos, cura para doenças
frequentes e para evitar, também, a morte prematura. O formato
para a atenção, assim como ocorria na Europa, baseava-se em
asilar em instituições de grande porte.

Como continuidade desse modelo de “proteção”, em


meados do século XVIII, instalou-se no país as chamadas
“rodas dos expostos”. Esses dispositivos, originários da Europa,
consistiam em mecanismos giratórios que ficavam nas paredes
ou muros das Santas Casas de Misericórdia e eram utilizados
para que bebês fossem depositados ali, sem que fosse possível
identificar a pessoa que os deixava. Bebês colocados nas rodas
eram encaminhados para as instituições de atendimento,
onde, junto com as crianças maiores, passavam a ter pouca ou
nenhuma convivência comunitária.

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Figura 1: Modelo de Roda dos Expostos

Foto de Claudia Gomes

Figura 2: Funcionamento da Roda dos Expostos

Fonte: Imagem disponível em: http://ainfanciadobrasil.com.br/seculo-xviii-os-enjeitados/

No final do século XIX, o país foi marcado pela queda da monarquia,


início do regime republicano, avanço do processo de industrialização e
fortalecimento de ideias higienistas. Ganhava força, nesse cenário, um
discurso de cientificidade, que discorria sobre a necessidade de olhares
específicos para as crianças, uma vez que havia uma responsabilidade em
“moldá-las” para exercerem, futuramente, lugares sociais de importância.

7
Foram, então, criadas instituições como as escolas de aprendizagem
para artesãos, os educandários, reformatórios, internatos e orfanatos.
Caracterizadas como “instituições totais” e fechadas, atendiam a um grande
número de crianças e adolescentes, sendo esses separados por sexo e por
idade. Todas as atividades aconteciam no local, evitando que as crianças
e os adolescentes circulassem em espaços comunitários, permanecendo,
assim, confinados na instituição, que tinha uma abordagem essencialmente
coletiva. A principal tarefa dessas instituições era “corrigir e controlar” os
filhos de adultos pobres, considerados “incapazes” de cuidar e educar os
filhos.
Figura 3:

Fonte: Revista A Cigarra, Ano VI, nº 121, de 1º de outubro de 19191.

Figura 4:

Fonte: https://www.fazendohistoria.org.br/blog-geral/2017/4/25/orfanatos-no-existem-ento-onde-
moram-ento-as-crianas-abandonadas

1 Imagem acessada em Museu de Imagens. Disponível em: <https://www.


museudeimagens.com.br/roda-dos-enjeitados/>. Acesso em 02 dez. 2021.
8
Enquanto mudanças aconteciam no panorama internacional, como a
Declaração de Genebra sobre os Direitos da Criança, adotada pela Liga das
Nações Unidas em 1924, e a Declaração Universal dos Direitos da Criança
da Organização das Nações Unidas de 1959, no Brasil, foi aprovado o primeiro
Código de Menores, de 1927, em vigor até a sanção de um segundo Código
de Menores - Lei n.º 6.697 de 1979.

O paradigma da situação irregular tomava forma no Brasil e foi


concretizado na legislação, delineada para um público específico, em outras
palavras, o “menor abandonado” e o “menor delinquente” das camadas
populares e que se encontravam em “situação irregular”. As poucas ações
do Estado, além de estigmatizar as famílias com poucos recursos, levavam à
separação das crianças de seus familiares com a justificativa de prevenção
à criminalidade, visando educar, recuperar e repreender condutas
consideradas destoantes.

1.2. Doutrina da Proteção Integral


No centro dos movimentos sociais nacionais e internacionais em defesa
da criança e do adolescente em situação de risco, que se ampliaram na
década de 80, a aprovação da Constituição da República Federativa do Brasil
(CF), em 1988, pode ser considerada um grande marco. Com essa, crianças e
adolescentes passaram a ser reconhecidos como sujeitos de direitos, sem
nenhuma forma de distinção, instituindo a Doutrina da Proteção Integral,
materializada no Art. 227 da CF:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao


adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Nesse mesmo período, o Brasil participava, concomitantemente, de


discussões internacionais sobre a proteção especial à criança e ao adolescente,
que culminaram na aprovação da Convenção sobre os Direitos da Criança
(CDC), adotada pela Organização das Nações Unidas em 1989 e ratificada pelo
Brasil em 1990, resultando, em âmbito nacional, na elaboração e instituição
do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), aprovado em 1990.

O Estatuto da Criança e do Adolescente regulamentou o Art. 227 da CF


e absorveu os preceitos da doutrina da proteção integral. O ECA também
foi inovador ao determinar prioridade absoluta no orçamento público; ao
apresentar um novo formato para a política de atendimento à infância e
juventude, com descentralização e municipalização de ações; e ao inserir a
participação da sociedade civil.

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Veja, no quadro abaixo, as principais diferenças entre o Paradigma da
Situação Irregular e a Doutrina da Proteção Integral:

PARADIGMA DA SITUAÇÃO IRREGULAR DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL

• Acolhimento como medida de


proteção.
• Acolhimento devido à “situação irregular”
• A falta ou carência de recursos
(ex.: pobreza).
materiais não é motivo para o
afastamento da criança e/ou
adolescente de sua família de origem.

• Inclusão da família em programas e


serviços de promoção e proteção no
• Inexistência de políticas públicas de
território.
atenção à família de origem, crianças e
adolescentes.
• Acolhimento como última medida a
ser aplicada.

• Acolhimento por tempo indeterminado. • Acolhimento excepcional e provisório.

• Acolhimento em pequenas unidades,


• Acolhimento em grandes unidades e
com diferentes modalidades de oferta.
separação de irmãos (devido à diferença de
idade e sexo)
• Não separação de grupos de irmãos.

• Acolhimento na comunidade ou na
• Unidades de acolhimento distantes da
região (com garantia de acesso à
localidade de moradia da família de origem.
família).
• Afastamento e/ou interrupção da • Preservação e fortalecimento dos
convivência com a família de origem e vínculos familiares (sempre que
extensa. possível).

• Ausência de convivência comunitária. • Garantia de convivência comunitária.

• Predominância da modalidade de • Preferência pela modalidade de


Acolhimento Institucional. Acolhimento em Família Acolhedora.

Fonte: PINHEIRO et al, 2021.

Com base nessas importantes normativas, desde 1999, começou a ser


organizado e construído um amplo Sistema de Garantia de Direitos da
Criança e do Adolescente, com o objetivo de efetivar a proteção integral
de crianças e adolescentes em todas suas dimensões. O SGD/CA, a saber, é
estruturado em três eixos: Promoção, Defesa e Controle Social.

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1.3. Histórico do Acolhimento Familiar no Brasil
Nesse contexto, algumas iniciativas de "programas'' de acolhimento em
família acolhedora foram surgindo no Brasil, mas é a partir do início dos anos
2000, dentro de uma perspectiva inovadora, que estudos e discussões sobre
o tema começam a ganhar força.

Destacou-se, então, a realização de encontros e intercâmbios nacionais e


internacionais, na busca do fortalecimento teórico e metodológico da prática.
Assim, reuniam-se argumentos que traziam segurança e credibilidade para
a criação da cultura do cuidado e da proteção em famílias acolhedoras. Foi
também um período de intenso progresso político normativo na área da
política pública da assistência social, com a aprovação da Política Nacional
de Assistência Social (PNAS), em 2004, primeiro documento no país que
apresentou o acolhimento em família acolhedora como um Serviço,
incluindo-o dentre as ofertas do Sistema Único de Assistência Social (SUAS).

Na mesma década, entre 2001 e 2006, acirraram-se as discussões sobre


a violação de direitos da convivência familiar e comunitária e, com ampla
participação nacional, institui-se uma importante e democrática proposta -
o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças
e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (PNCFC), aprovado
e publicado em 2006 por meio da Resolução Conjunta CNAS/CONANDA nº
01/2006.

O PNCFC priorizou a temática da Convivência Familiar e Comunitária,


incentivando a formulação e implementação de políticas públicas que
assegurassem esse direito, constituindo um marco para o enfrentamento à
cultura de institucionalização de crianças e adolescentes no país, com ênfase
em três áreas temáticas:

→ Políticas de apoio à família e prevenção da ruptura de vínculos;

→ Reordenamento do acolhimento institucional e implementação


de novas modalidades de acolhimento, com destaque para famílias
acolhedoras;

→ Adoção centrada no interesse da criança e do adolescente.

Desde esse período, há um esforço de diferentes atores para implementar


as ações previstas no PNCFC, dentre elas a ampliação do Serviço de
Acolhimento em Família Acolhedora.

Durante as discussões para a elaboração do PNCFC, foi formado o


Grupo de Trabalho Nacional Pró-Convivência Familiar e Comunitária (GT)
- composto por representações governamentais e da sociedade civil de
quase todos os estados brasileiros - que tinha por objetivos aprofundar
as discussões relativas ao direito à convivência familiar e comunitária,
difundir experiências inovadoras sobre a temática e novas modalidades de

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acolhimento (como o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora - SFA),
criar consensos sobre a forma de oferta dos serviços, produzir e socializar
metodologias. O GT Nacional, criado em 2005, deu origem, em 2014, ao
Movimento Nacional Pró-Convivência Familiar e Comunitária (MNPCFC),
que realiza articulação nacional de Organizações da Sociedade Civil atuantes
na temática da Convivência Familiar e Comunitária, tendo como principal
objetivo fomentar a implementação do PNCFC e sua interface com o Plano
Decenal dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes.

Em julho de 2020, somada a essas ações, começou a se organizar no


país uma “Coalizão pelo Acolhimento Familiar”, da qual fazem parte atores
governamentais e não governamentais que buscam unir esforços para
formular e implantar estratégias capazes de promover a ampliação do
Acolhimento em Família Acolhedora no Brasil, rumo a uma realidade em
que a priorização de atendimentos em SFA, já prevista em lei, torne-se mais
efetiva .

Como relatado até aqui, atualmente, a cultura do acolhimento em


família começa a ganhar espaço no Brasil. Esse movimento já ocorreu em
muitos países, impulsionado pelas experiências e pesquisas, que revelaram
a importância dos vínculos e da convivência familiar e comunitária para um
desenvolvimento saudável.

É importante salientar, contudo, que, nos lugares onde essa modalidade


de acolhimento familiar já predomina, o acolhimento institucional não foi
extinto. Esse segue sendo aprimorado e cumprindo uma função importante
para situações específicas, nas quais se vislumbra que a institucionalização é
a medida mais adequada. No entanto, cabe destacar que, nesses municípios,
o acolhimento em família acolhedora é o que recebe a maioria das crianças
e adolescentes em medida protetiva. Independente da situação, o que se
busca é, sobretudo, atender, de forma qualificada, às necessidades de todas
as crianças e adolescentes.

Assim, para que em um futuro breve seja possível oferecer no Brasil


contextos mais favoráveis de desenvolvimento a todas as crianças e
adolescentes afastados de suas famílias de origem, é essencial que gestores
municipais e estaduais, equipes técnicas, juízes, promotores e outros
profissionais do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente
(SGD/CA) estejam conscientes da mudança cultural que a ampliação do
acolhimento em família acolhedora carrega consigo. Eles são atores-chave
para a ampliação do número de crianças e adolescentes acolhidos por
famílias no país e, com o envolvimento e participação de todos, será mais
fácil seguir avançando.

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Para conhecer o contexto apresentado e ampliar conhecimentos
sobre pesquisas e estudos realizados sobre o tema, acesse materiais
complementares no link:
www.familiaacolhedora.org.br/guia/107

Agora que já aprendemos uma parte da história do acolhimento familiar


no Brasil, vamos estudar e compreender um pouco mais sobre esse modelo
de acolhimento? Aprofundando, você será capaz de perceber por que ele é
tão importante para a garantia do direito à convivência familiar e comunitária
de crianças e adolescentes. Vamos lá?

2. O QUE É O SERVIÇO DE ACOLHIMENTO EM FAMÍLIA ACOLHEDORA


(SFA)?

O SFA é um serviço do Sistema Único de


Assistência Social responsável por organizar
e acompanhar o acolhimento temporário de
crianças e adolescentes em residências de
famílias acolhedoras, previamente selecionadas
e capacitadas pela equipe técnica do Serviço, até
que possam retornar para sua família de origem.
Quando isso não for possível, as crianças e/ou os
adolescentes deverão ser encaminhados para a
adoção.

O Serviço propicia que o acolhimento ocorra em ambiente familiar,


proporcionando, assim, atenção individualizada, construção de relações
de afeto, constância de cuidados e convivência comunitária, elementos
essenciais para o desenvolvimento integral e saudável de crianças e
adolescentes.

O encaminhamento para uma família acolhedora ocorre quando o


juiz expede uma medida protetiva, direcionando para o SFA uma criança
ou adolescente em situação de abandono ou afastado do contexto familiar
por ameaça ou violação de direitos, possibilitando assim que seja recebido e
cuidado temporariamente na casa de uma família acolhedora.

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De acordo com o Art. 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente
- ECA (LEI 8.069/1990): “É direito da Criança e do Adolescente ser
criado e educado no seio da família e, excepcionalmente, em família
substituta, assegurando a convivência familiar e comunitária, em
ambiente que garanta seu desenvolvimento integral”. (BRASIL, 1990)

Assim como ocorre nos casos de acolhimento institucional, o


acolhimento familiar é uma medida provisória e excepcional aplicada
apenas após se esgotarem as possibilidades de manutenção segura
da criança ou do adolescente em sua família de origem. Com isso, a
permanência na família acolhedora não deverá se prolongar por mais de
18 meses, devendo ser reavaliada a cada 3 meses, com possibilidade de
prorrogação somente para atender necessidades que tenham em vista o
melhor interesse da criança e do adolescente (ECA, Art. 19, § 1º e § 2º).

Diferentemente do Acolhimento Institucional, o Acolhimento em


Família Acolhedora é uma modalidade que depende do envolvimento da
sociedade civil. Por isso, é fundamental, para a concretização do Serviço, a
noção de corresponsabilidade entre o Estado e a sociedade, por meio da
participação das famílias acolhedoras no cuidado e na proteção das crianças
e adolescentes afastados temporariamente de suas famílias. Outra condição
para que o SFA seja bem sucedido é a sua articulação em rede junto a outros
serviços socioassistenciais, como os de saúde e educação, além das demais
políticas públicas que se fizerem necessárias e a fundamental conexão com
o Sistema de Justiça.

Para a execução do Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora,


é instituída uma equipe profissional, composta por coordenador e equipe
técnica (assistente social e psicólogo, entre outros). Entre suas atribuições,
está o processo de seleção, formação e acompanhamento das famílias
acolhedoras para que possam desempenhar adequadamente sua função,
oferecendo atenção adequada para cada criança e adolescente que
permanecer sob seus cuidados e proporcionando uma experiência de
segurança e afeto, até que possam retornar para sua família de origem ou,
quando isso não for possível, serem encaminhadas para adoção.

O acompanhamento das famílias acolhedoras é realizado de forma


contínua pela equipe profissional do SFA e tem como objetivo oferecer
suporte para o desenrolar dos desafios e descobertas de cada acolhimento.
Cada família acolhedora recebe uma criança ou adolescente por vez, exceto
quando acolhe um grupo de irmãos, e, ao longo dos anos, espera-se que
possa realizar diversos acolhimentos.

A equipe também realiza o acompanhamento das crianças e


adolescentes acolhidos, das suas famílias de origem e/ ou extensa, além do
trabalho articulado e corresponsável com a rede de serviços e a comunicação
permanente com o Sistema de Justiça, incluindo o envio de relatórios
periódicos para o Judiciário.

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Por se tratar de uma medida de proteção, o SFA deve realizar um trabalho
psicossocial, levando sempre em consideração o caráter excepcional e
provisório do acolhimento. Enquanto a criança ou adolescente permanece
acolhido pela família acolhedora, um intenso trabalho é desenvolvido
com a família de origem, visando o seu fortalecimento e organização,
com o propósito de preparação para uma reintegração familiar protegida,
sempre que isso for possível e representar o melhor interesse da criança e
do adolescente. Considera-se família de origem não só os pais biológicos,
mas também outros parentes próximos (família extensa) com os quais
mantenham vínculos de convivência e afetividade.

A equipe técnica do SFA e a rede de serviços precisam, juntos com a


família, buscar alternativas que permitam o resgate da responsabilidade do
cuidado e da proteção dos seus filhos. Para isso, é imprescindível acompanhar
de perto e de forma sistemática todas as partes envolvidas (família de origem,
família acolhedora, criança e/ou adolescente). Esse acompanhamento
também deve envolver o Sistema de Justiça para que, com qualidade, as
ações ocorram o mais rapidamente possível, evitando danos às crianças e
adolescentes.

Findado o acolhimento e realizada a reintegração, todo o grupo familiar


continua sendo acompanhado pela rede de serviços articulada, em conjunto
com o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora. Na impossibilidade de
retorno à família de origem e/ou extensa, deve-se realizar o encaminhamento
para uma família por adoção, garantindo, assim, o direito à convivência
familiar e comunitária. Enquanto a adoção não é concretizada, a criança ou
o adolescente pode permanecer na família acolhedora.

Com base nesses pressupostos, os principais objetivos do Serviço de


Acolhimento em Família Acolhedora são:

Principais objetivos do Serviço de Acolhimento em Família


Acolhedora
• Cuidado individualizado da criança ou do adolescente, proporcionado pelo
atendimento em ambiente familiar;
• Rompimento do ciclo de violência e vivência de outros modelos de relação
familiar;
• A preservação do vínculo e do contato da criança e do adolescente com sua
família de origem, salvo em casos de determinação judicial em contrário;
• Investimento no potencial das famílias de origem, favorecendo a superação
dos motivos que ensejaram a medida protetiva, viabilizando, prioritariamente,
o retorno dos filhos sempre que possível;
• Realização de trabalho em rede, articulado e intersetorial;

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• Fortalecimento dos vínculos da criança ou do adolescente, favorecendo o
contato com a comunidade e a utilização da rede de serviços disponíveis;
• Preservação da história da criança ou adolescente, contando com registros e
fotografias, organizados pela equipe técnica do SFA e pela família acolhedora;
• Formação permanente das famílias acolhedoras, aprimorando suas
competências para desenvolver o papel de proteção e cuidado reparador
durante o período de acolhimento;
• Desenvolvimento, de forma corresponsável, da preparação da criança e
do adolescente para o desligamento e retorno à família de origem ou seu
encaminhamento para a adoção;
• Permanente comunicação com a Justiça da Infância e da Juventude,
informando à Autoridade Judiciária sobre a situação das crianças e
adolescentes atendidos e de suas famílias.
Fonte: PINHEIRO et al, 2021.

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SAIBA MAIS

O SFA é um Projeto, um Programa ou um Serviço?


É um SERVIÇO continuado previsto na Política
Nacional de Assistência Social (PNAS) 6 (2004) e
inserido na Proteção Social Especial de Alta
Complexidade (PSEAC) do SUAS. Antes de 2004,
surgiram experiências brasileiras inovadoras e
alternativas que resultaram na criação de projetos e
programas de acolhimento familiar em alguns
municípios do país. Isto quer dizer que, apesar dessas
iniciativas terem sido regulamentadas como políticas
complementares em seus municípios, ainda não
possuíam o caráter de política pública de incidência
nacional e pertencentes ao SUAS. A partir da PNAS, o
Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora passou
a ser reconhecido como política pública no Brasil.
Portanto, é entendido hoje como um SERVIÇO.

Agora que conhecemos um pouco do Serviço de Acolhimento em


Família Acolhedora, que tal uma breve diferenciação entre o SFA e outras
situações na proteção à criança e ao adolescente?

2.1. Diferenças entre o SFA e outras situações na proteção à criança e/ou


adolescente
No Brasil, diversas modalidades de atendimento e de proteção à criança,
ao adolescente e às suas famílias devem ser ofertadas na tentativa de
superação de vulnerabilidades e situações de risco, inclusive para prevenir
a necessidade da medida protetiva de acolhimento. Busca-se, dessa forma,
garantir a convivência familiar da criança e/ou adolescente em seu núcleo
familiar e, sempre que necessário, o encaminhamento da família de origem
para projetos, benefícios, programas, serviços e ações de promoção e
proteção.

Muitas crianças e adolescentes, diante de dificuldades vivenciadas pelos


genitores em determinados momentos do ciclo de vida, passam a conviver
com a família extensa, que assume seus cuidados, evitando medidas
de afastamento do núcleo familiar. Nesse sentido, o ECA, desde a Lei n.º
12.010/2009, ampliou o conceito de família em seu Art. 25:

Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou


qualquer deles e seus descendentes.
Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou ampliada aquela
que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade
do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou
adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade.

17
Familiares próximos e que convivem com a criança e/ ou adolescente,
como avós, tios, primos, irmãos mais velhos, entre outros, ao assumirem a
guarda legal e ampliarem as responsabilidades de cuidado no seu cotidiano,
por vezes, necessitam de apoio das políticas públicas para vivenciar mudanças
nas relações familiares e arcar com as despesas oriundas da chegada de
novos moradores na família. Nesse sentido, é importante que seja realizado
o acompanhamento sociofamiliar e, quando necessário, ofertado apoio
material a essas famílias.

Para dar resposta a essa questão, alguns municípios têm criado


programas específicos, que são comumente denominados programa
Família Guardiã ou Guarda Subsidiada na Família Extensa, que não devem
ser confundidos com o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora.

Por outro lado, quando há a necessidade de afastamento temporário


da criança e/ou adolescente, via medida protetiva de acolhimento, a política
de assistência social deve oferecer, de acordo com a realidade e com as
necessidades de crianças e adolescentes, possibilidades diferentes de
proteção por meio dos Serviços de Acolhimento Institucional (abrigo e
casa-lar) e Acolhimento Familiar (SFA).

O trabalho inicial dos Serviços de Acolhimento, seja institucional ou


familiar, será o de esgotar todas as possibilidades de reintegração da
criança e do adolescente à sua família de origem e/ ou extensa, favorecendo
a superação da situação que motivou o acolhimento e potencializando as
famílias para retomarem suas funções parentais. Mas, na sua impossibilidade,
e buscando atender ao melhor interesse da criança e do adolescente, deverá
ser garantido o encaminhamento para uma família por adoção. Nessa
situação, o instituto jurídico da adoção dará à criança e ao adolescente a
condição de filho, com igualdade de direitos com o filho biológico, numa
família definitiva, cortando todo o vínculo legal com sua família de origem.

Outra ação importante para favorecer a convivência familiar e


comunitária de crianças e adolescentes durante sua permanência em
Serviços de Acolhimento, principalmente enquanto aguardam uma família
por adoção, são os programas de apadrinhamento. Esses programas visam
favorecer vínculos e relações fora do ambiente da instituição, possibilitando a
convivência com uma figura de referência afetiva (padrinho e/ou madrinha)
de forma individualizada e permanente.

Confira as características que diferenciam as situações de proteção


aqui descritas:

• Acolhimento Institucional
É um Serviço da Proteção Social Especial de Alta Complexidade do SUAS
(PSEAC/SUAS), que pode ser ofertado nas modalidades de Abrigo e Casa-lar.
Oferece acolhimento provisório em unidades institucionais para crianças e

18
adolescentes em medida protetiva, em
função de abandono ou cujas famílias ou
responsáveis encontrem-se temporaria-
mente impossibilitados de cumprir sua
função de cuidado e proteção, até que
seja viabilizado o retorno ao convívio com
a família de origem ou, na sua impossibili-
dade, encaminhamento para família subs-
tituta. O serviço deve se assemelhar a
uma residência, atender pequenos gru-
pos, estar inserido na comunidade e fa-
vorecer o convívio familiar e comunitá-
rio.

• Acolhimento em Família Acolhedora


É um Serviço da Proteção Social Especial de
Alta Complexidade do SUAS (PSEAC/SUAS)
que oferece acolhimento provisório em resi-
dências de famílias acolhedoras, previamen-
te selecionadas e preparadas, para crianças e
adolescentes afastados do convívio familiar por
medida protetiva, em função de abandono ou
cujas famílias ou responsáveis encontrem-se
temporariamente impossibilitados de cumprir
sua função de cuidado e proteção, até que seja
viabilizado o retorno ao convívio com a família
de origem ou, na sua impossibilidade, encami-
nhamento para adoção. Propicia o atendimen-
to em ambiente familiar, garantindo atenção
individualizada e convivência comunitária e
a continuidade da socialização da criança e/
ou adolescente.

• Família Guardiã ou Guarda Subsidiada


É um Programa complementar da rede socioassistencial de média
complexidade, que oferta apoio às famílias extensas de crianças e
adolescentes quando os pais não conseguem oferecer os cuidados e a
proteção necessários. Pode prevenir a medida protetiva de acolhimento
ao formalizar a guarda na família extensa, com apoio profissional e subsídio
financeiro quando necessário, e, ainda, viabilizar, nos casos em que a
criança ou adolescente já estiver sob medida protetiva de acolhimento, a
sua reintegração junto a familiares interessados na guarda que não estejam

19
envolvidos na situação que deu origem ao acolhimento. O programa pode
garantir o direito à convivência familiar e comunitária, pressupõe vínculos
preexistentes e a possibilidade de longa permanência.

• Apadrinhamento Afetivo
É um Programa complementar,
regulamentado pelo ECA no Art.19-B, que
visa o fortalecimento da convivência familiar
e comunitária de crianças e adolescentes
que vivem em serviços de acolhimento, que
têm poucas chances de voltar a morar com
suas famílias de origem ou serem adotados.
Busca a construção de vínculos entre
crianças e adolescentes acolhidos e pessoas
da comunidade que se tornam padrinhos
e madrinhas afetivos, proporcionando a
ampliação de suas experiências familiares e
comunitárias.

• Adoção
É um Instituto jurídico, disposto no Art. 39 do
ECA, pelo qual se estabelece vínculo de filiação
por decisão judicial, em caráter irrevogável, que
dá à criança ou adolescente adotado os mesmos
direitos de um filho biológico, rompe os laços
jurídicos com a família de origem e torna os
adotantes seus pais para todos os efeitos legais.
É uma medida excepcional, tomada quando
não for possível a manutenção da criança ou
adolescente em sua família natural ou extensa
ou quando houver entrega voluntária do filho
para adoção pelos genitores.

20
As modalidades Acolhimento Institucional e Família Acolhedora
(SFA) seguem diretrizes e prazos iguais, expressos no ECA e nas normativas
existentes, contudo apresentam especificidades na metodologia de trabalho
e na forma de oferecer cuidado e proteção. Na tabela abaixo, é possível
visualizar algumas características que diferenciam essas duas modalidades
de acolhimento:

Acolhimento Institucional Serviço de Família Acolhedora


A criança e/ou adolescente mora A criança e/ou adolescente mora na casa
em uma casa com várias outras de uma família que a acolhe (ambiente
crianças e/ou adolescentes familiar / perspectiva individual).
acolhidos (ambiente institucional /
perspectiva coletiva).

A rotina é adaptada para o A rotina é semelhante ao cotidiano de


atendimento coletivo. qualquer família.

Os cuidadores/educadores se As figuras de cuidado convivem


revezam em turnos de trabalho, o cotidianamente com a criança e/ou
que pode dificultar a formação de adolescente, favorecendo a formação de
vínculos próximos e estáveis. vínculos e a construção de uma relação
de confiança.
Maior desafio na adaptação do Configuração mais favorável à
atendimento para responder às adaptação do atendimento para
demandas específicas de cada responder às demandas específicas de
criança e adolescente, tendo em cada criança e adolescente.
vista o caráter grupal/coletivo.
A convivência comunitária tende A convivência comunitária tende a
a ser um desafio, por conta da ser favorecida, devido à inserção em
inserção em contexto institucional. contexto familiar.
Fonte: PINHEIRO et al, 2021.

Pode-se inferir que a convivência familiar oferecida a partir de um


serviço de acolhimento em família acolhedora atende a importantes
aspectos inscritos no necessário desenvolvimento humano: é
possível compreender que a política pública precisa repensar a
prática oferecida às crianças e adolescentes inseridos nos serviços de
acolhimento institucional, para que o direito possa ser exercido para
além das necessidades de alimentação, de moradia, de vestuário, e
atingir o necessário desenvolvimento expresso a partir do cuidado e
da proteção, com vistas no exercício do pertencimento social, que se
inicia no reduto da convivência doméstica.

IN: VALENTE, J. Família acolhedora: As relações de cuidado e de proteção no serviço


de acolhimento. São Paulo: Paulus, 2014. Disponível em: <https://sapeca. campinas.
sp.gov.br/publicacoes/fam-lia-acolhedora-rela-es-de-cuidado-e-de-prote-o-no-
servi-o-de-acolhimento> Acesso em: 01 jul.2021

21
DE OLHO NA TELA

Assista, na plataforma, aos vídeos com


especialistas que irão reforçar o conteúdo
apresentado. Além deles, você vai se emocionar com o
depoimento de Lumena e Ronaldo.

Na próxima aula, vamos compreender o significado de preferência legal


e a prioridade do acolhimento familiar.

22
Aula 2
Fundamentação jurídica
e a preferência legal do
acolhimento familiar
Desde a década de 1990, iniciativas pontuais de acolhimento
em famílias acolhedoras já ocorriam no Brasil, motivadas por
necessidades e oportunidades locais. Tais experiências organizaram-
se como projetos ou programas. Em 2004, a Política Nacional
de Assistência Social (PNAS) inseriu o Serviço de Acolhimento
em Família Acolhedora (SFA) na Proteção Social Especial de Alta
Complexidade. Segundo a PNAS:

Os serviços de proteção social especial de alta


complexidade são aqueles que garantem proteção
integral – moradia, alimentação, higienização e
trabalho protegido para famílias e indivíduos que
se encontram sem referência e/ou em situação de
ameaça, necessitando ser retirados de seu núcleo
familiar e/ou comunitários.

A inclusão do acolhimento familiar no marco legal brasileiro


veio, em 2009, com a publicação da Lei nº 12.010, que modificou o
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Com isso, o SFA passou
a ser reconhecido como um instituto jurídico, ganhando segurança
legal para sua execução e regulamentação (ECA, Art. 101, VIII):

Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art.


98, a autoridade competente poderá determinar, dentre
outras, as seguintes medidas:
(...)
VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar.

Esse reconhecimento veio acompanhado da determinação


de que as crianças e adolescentes afastados de suas famílias de
origem por medida protetiva de acolhimento devem ser inseridas
prioritariamente na modalidade de acolhimento familiar, ou seja,
a inclusão da criança ou adolescente em acolhimento familiar terá
preferência ao seu acolhimento institucional (ECA, Art. 34, § 1º).

23
Art. 34 O poder público estimulará, por meio de assistência jurídica,
incentivos fiscais e subsídios, o acolhimento, sob a forma de guarda,
de criança ou adolescente afastado do convívio familiar.
§ 1º. A inclusão da criança ou adolescente em programas de
acolhimento familiar terá preferência a seu acolhimento institucional,
observado, em qualquer caso, o caráter temporário e excepcional da
medida, nos termos desta Lei.

As alterações no ECA apontam que crianças e/ou adolescentes que


necessitarem de medida protetiva de acolhimento deverão ser
encaminhados, PREFERENCIALMENTE, para um SFA.

Ainda em 2009, outros dois documentos que incluíam o SFA no “car-


dápio” de Serviços de Acolhimento foram aprovados. As Orientações Técni-
cas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes (Resolução
CONANDA/CNAS nº 01/2009) apresentam os parâmetros de funcionamen-
to das diferentes modalidades de Serviços de Acolhimento, enquanto a Ti-
pificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (Resolução CNAS nº
109/2009) descreve e caracteriza o SFA enquanto um dos serviços do SUAS.
O SFA é uma MODALIDADE DE ACOLHIMENTO que compõe as
ofertas do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e conta com
parâmetros de funcionamento expressos em documentos nacionais
desde 2009:
Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e
Adolescentes:
https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/
Cadernos/orientacoes-tecnicas-servicos-de-alcolhimento.pdf

Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais


https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/
Normativas/tipificacao.pdf

24
Outro avanço importante no Brasil foi o compromisso firmado na
elaboração do Projeto de Diretrizes das Nações Unidas sobre emprego e
condições adequadas de cuidados alternativos com crianças. Ratificado pelo
Brasil em 2009 e atualizado em 2019, o documento, dentre outras diretrizes,
prevê que, quando for necessária a separação da criança de sua família,
especialmente aquela menor de três anos de idade, o cuidado provisório
deve ser realizado por outra família.

Em 2016, outra importante mudança no ECA ocorreu com a aprovação da


Lei nº 13.257, que determinou a implementação de Serviços de Acolhimento
em Família Acolhedora como política pública, prevendo a possibilidade
de utilização de recursos federais, estaduais, distritais e municipais para a
manutenção dos serviços de acolhimento em família acolhedora e facultando
o repasse de recursos para a própria família acolhedora. Essa lei determinou
ainda que a família acolhedora não poderia estar no Sistema Nacional de
Adoção, diferenciando o papel do acolhimento familiar em relação a outras
formas de proteção (ECA Art.34, § 3º e § 4º).

§ 3º. A União apoiará a implementação de serviços de acolhimento


em família acolhedora como política pública, os quais deverão dispor
de equipe que organize o acolhimento temporário de crianças e de
adolescentes em residências de famílias selecionadas, capacitadas e
acompanhadas que não estejam no cadastro de adoção.
§ 4º. Poderão ser utilizados recursos federais, estaduais, distritais e
municipais para a manutenção dos serviços de acolhimento em
família acolhedora, facultando-se o repasse de recursos para a própria
família acolhedora.

Outras alterações no ECA foram promovidas pela Lei n.º 13.509 em


2017, que, entre as mudanças, estabeleceu novos prazos e procedimentos,
determinando que a permanência de crianças e adolescentes em Serviços
de Acolhimento não deverá se prolongar por mais de 18 meses, devendo ser
reavaliada a cada 3 meses, com possibilidade de prorrogação somente para
atender necessidades que tenham em vista o melhor interesse da criança e
do adolescente (ECA, Art. 19, § 1º e § 2º).

Veja, a seguir, uma representação com as principais conquistas legais:

25
Lei n.º 12.010 – altera o ECA

Orientações Técnicas: Serviços


de Acolhimento para Crianças e
Adolescentes (OT)

Tipificação Nacional de Serviços


Socioassistenciais (TN)

Convenção sobre os Política Nacional Projeto de Diretrizes das Nações


Direitos das Crianças de Assistência Unidas sobre emprego e condições
(CDC)- ONU Social (PNAS) adequadas de cuidados Lei n.º 13.509 –
alternativos com crianças - ONU altera o ECA

1988 1990 2005 2006 2016 2019

1989 2004 2009 2017

Lei n.º 13.257 – Marco


Estatuto da Criança e Legal da Primeira
do Adolescente (ECA) Infância – altera o ECA

Constituição Sistema Único de Sistema de Garantia de Projeto de Diretrizes


da República Assistência Social Direitos da Criança e do das Nações Unidas
Federativa (SUAS) Adolescente (SGD/CA) – sobre emprego e
do Brasil (CF) CONANDA condições
Grupo de Trabalho adequadas de
Nacional Plano Nacional de cuidados
Pró-Convivência Promoção, Proteção e alternativos com
Familiar e Defesa do Direito de crianças – ONU -
Comunitária (GT) Crianças e Adolescentes atualizado
à Convivência Familiar e
Comunitária (PNCFC)

Na próxima aula, vamos compreender os benefícios do acolhimento


familiar para o desenvolvimento infantil, com base nas descobertas da
ciência a esse respeito. Enquanto isso, fique “DE OLHO NA TELA”.

DE OLHO NA TELA

Para finalizar esta aula e complementar seus


estudos, assista, na plataforma, aos vídeos indicados no
seu Guia de Estudos

26
Aula 3
Os Benefícios do Serviço
de Acolhimento em Família
Acolhedora
Nos últimos anos, diversas pesquisas
têm demonstrado os benefícios do
cuidado em ambiente familiar, em de-
trimento do cuidado institucional de
crianças e adolescentes que precisam
de medidas de proteção. Atualmente,
sabe-se que a institucionalização pode
impactar negativamente o desenvolvi-
mento, a saúde mental e o bem-estar
das crianças e adolescentes que vivem
nessa condição.

Crianças e adolescentes que sofreram violações de


direitos e precisam ser acolhidos podem lidar com diferentes
consequências em seu desenvolvimento, seja devido às vivências
que culminaram no acolhimento, seja pelo impacto da aplicação
da medida. Nesse sentido, a qualidade dos cuidados que recebem
no acolhimento e a possibilidade de que esses lugares ofereçam
um olhar individualizado para cada criança e adolescente podem
minimizar ou potencializar os impactos da violência sofrida.

Oferecer estabilidade no acolhimento deve ser um dos


principais objetivos de todos que trabalham na área. Deve-se evitar
ao máximo as transferências de serviço e de família acolhedora,
buscando que a criança e/ou adolescente permaneça no mesmo
ambiente e desenvolva a noção de pertencimento, sentimentos
de segurança e confiança.

Por mais qualificado que seja o ambiente institucional,


há aspectos intrínsecos de seu funcionamento, como a
rotatividade de funcionários, que dificultam a continuidade dos
cuidados e a estabilidade da rotina, aspectos importantes para
o desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes. Esses
aspectos podem ser facilmente assegurados dentro da rotina
de uma família acolhedora, onde a oferta de apoio e cuidado é
sempre realizada pelos mesmos adultos.

27
O acolhimento em família acolhedora possibilita um cuidado
individualizado e vivências familiares e comunitárias significativas em
um período de vida fundamental. Os benefícios, apontados por diversas
pesquisas realizadas em diferentes países, são muitos: vínculos afetivos
estáveis, maior bem-estar subjetivo, melhor autoestima, melhores índices de
desenvolvimento físico e de aprendizagem, entre outros. Estudos também
têm apontado que, além desses benefícios, crianças e adolescentes em
acolhimento familiar estão menos expostos a situações de risco, como abuso
físico e sexual, do que aqueles acolhidos em instituições.

Um marco nos estudos sobre os impactos da institucionalização é o


Projeto de Intervenção Precoce de Bucareste (BEIP), um estudo longitudinal
realizado em instituições de acolhimento da Romênia e liderado pela
Universidade de Harvard. A pesquisa acompanhou 136 crianças, inicialmente
com idades entre seis meses e dois anos e meio até que completassem
dezesseis anos, com avaliação periódica de seu desenvolvimento cognitivo
e emocional e sua saúde mental. Os resultados revelaram que crianças que
cresceram em instituições apresentaram significativos atrasos em seu
desenvolvimento cognitivo, emocional e mental. Constatou também que
as crianças que foram transferidas para famílias acolhedoras apresentaram
uma melhora significativa em seu desenvolvimento. A pesquisa concluiu
ainda que quanto mais novas as crianças eram transferidas para o ambiente
familiar, maiores eram os índices de recuperação delas.

Embora as condições das instituições romenas onde estavam as


crianças e adolescentes participantes da pesquisa fossem bastante
precárias, muito diferentes das condições das instituições brasileiras dos
dias de hoje, essa pesquisa traz importantes contribuições para pensarmos
a relevância da convivência familiar no nosso contexto. Por serem estudos
que acompanharam grande quantidade de crianças e adolescentes
institucionalizados, durante muitos anos, seus resultados são especialmente
relevantes ao evidenciarem que um longo tempo de institucionalização é
prejudicial para o desenvolvimento, principalmente na Primeira Infância.

A Primeira Infância, período que vai da gestação aos seis anos, é um


intervalo de grande importância para o desenvolvimento. Nos primeiros anos
de vida, o ser humano estabelece mais de mil novas conexões neuronais
a cada segundo, formando uma importante base para as próximas etapas
de seu desenvolvimento. Ou seja, a qualidade das experiências oferecidas
nos primeiros anos importa muito, pois é nesse período que se constrói
a arquitetura cerebral, ou seja, a base para o desenvolvimento posterior. O
que se adquire nesse período irá seguir com a criança ou adolescente no
curso de sua vida e impactará em seu desempenho escolar, habilidades
sociais, recursos socioafetivos, entre outros. Tudo isso reforça a relevância da
atenção individualizada e de um ambiente estável e afetivo para o curso do
desenvolvimento infantil, experiências essas que são facilitadas no contexto
do acolhimento familiar.

28
Diversos estudos, com destaque para o do economista James Heckman,
ganhador do prêmio Nobel de economia, apontam para o alto retorno, tanto
social quanto econômico, dos investimentos feitos na infância, em especial
nos primeiros anos. Segundo Heckman, "o melhor investimento é na
qualidade do desenvolvimento na primeira infância, desde o nascimento até
os seis anos, para crianças carentes e suas famílias”. De acordo com sua tese,
cada dólar investido em políticas de qualidade voltadas à primeira infância
irá gerar um retorno enorme tanto para a criança ao se tornar adulto quanto
para toda a sociedade.

Em consonância com essa teoria, Venâncio destaca:

Evidências apontam que o investimento feito em programas


de qualidade para a primeira infância tem alta taxa de retorno
para a sociedade. Além disso, o investimento na primeira
infância é a melhor maneira de reduzir as desigualdades,
enfrentar a pobreza e construir uma sociedade com condições
sociais e ambientais sustentáveis. (VENÂNCIO, 2020, p.1)

Para além dos ganhos proporcionados pelo SFA para as crianças


menores, o acolhimento em família acolhedora traz benefícios para todas
as faixas etárias, visto que crianças mais velhas e adolescentes também se
beneficiam significativamente com relações estáveis, afetivas e com olhar
individualizado que o ambiente familiar pode proporcionar.

A adolescência representa outro período importante para o


desenvolvimento. Mudanças no corpo e no cérebro, em especial no
sistema hormonal, têm grandes desdobramentos no comportamento,
nas configurações neurológicas e na maneira como os adolescentes se
relacionam. A adolescência é também um período importante de construção
de identidade e autonomia, processos esses que podem ser particularmente
difíceis em contextos de privação da convivência familiar e comunitária.

A colocação de um adolescente em SFA proporciona o suporte, por meio


da segurança afetiva e do olhar individualizado, para que tantas mudanças
e transições sejam vivenciadas e acompanhadas de perto. Exemplos disso
são as negociações de regras de convivência, o contato cotidiano com as
rotinas domésticas, o planejamento financeiro, os diálogos e trocas de
experiência sobre diferentes percepções de mundo, a proximidade cotidiana
com referências afetivas durante os "altos e baixos". Todas essas questões
são vivências importantes para os adolescentes de maneira geral, mas se
tornam ainda mais relevantes quando pensamos em jovens que passaram
por violações de direitos e situações adversas, impactando a forma de
se relacionarem com o mundo, podendo minar a confiança em si e nas
relações de uma forma geral. A adolescência é um momento de inspiração
em modelos e de consolidação da relação com o mundo. Nesse contexto, o
ambiente familiar oferecido pelo SFA é muito favorável ao desenvolvimento,
especialmente se comparado ao acolhimento institucional.

29
VÍNCULOS FAMILIARES E COMUNITÁRIOS
A vivência familiar e social, os laços com a comunidade e a noção
de pertencimento são de extrema importância para a construção da
individualidade e da identidade. Somos seres sociais e nos constituímos a
partir das experiências com os outros e com o mundo à nossa volta.

Sabe-se que, para as crianças e adolescentes, os vínculos formados


dentro da família oferecem segurança para que possam investir em outras
relações, tanto com adultos de referência (professores, psicólogos, médicos,
entre outros) como entre pares (amigos da escola, colegas da rua). As
experiências de trocas na interação família-comunidade permitem à criança
e ao adolescente construir modelos e “ensaiar” como relacionar-se em
ambiente social. Acompanhar os adultos em uma ida ao mercado ou observar
uma conversa cotidiana com os vizinhos, apesar de serem experiências de
certa forma banais, servirão para construir ou ampliar o repertório social e
relacional das crianças e adolescentes.

Devido ao afastamento do ambiente familiar, em muitos casos, a criança


e/ou adolescente também perde o contato com sua comunidade e com a
escola. Isso significa que o acolhimento em si já é uma medida que fere o
direito à convivência familiar e comunitária, um cenário que se agrava no
caso do acolhimento institucional.

A rotina e as regras necessárias ao funcionamento de um abrigo ou


casa-lar dificultam que a criança e/ou adolescente faça parte da maioria dos
afazeres cotidianos, como, por exemplo, fazer compras no mercado. A pouca
quantidade de educadores e a grande quantidade de acolhidos também
dificulta os momentos de convivência e partilha na comunidade. Uma
simples ida à festa de um amigo da escola, uma ida ao cinema ou teatro, um
passeio no bairro implicam uma logística muito mais complexa para garantir
que as crianças e/ou adolescentes acolhidos participem. Por outro lado, a
criança e/ou adolescente em família acolhedora irá circular pelos espaços
de convivência daquela família, como casa de amigos, igreja, museus,
supermercados, restaurantes, entre outros, favorecendo a convivência
comunitária.

Um outro ponto a ser considerado é que o cuidado institucional pode


favorecer ou até reforçar situações em que as crianças e adolescentes são
rotulados e sofrem discriminação. Como ainda existe muito desconhecimento
e preconceito em torno do acolhimento, são corriqueiros os relatos de
profissionais e dos próprios acolhidos sobre situações no ambiente escolar,
na vizinhança e em outros espaços em que as crianças e/ou adolescentes
são chamados de “meninos do abrigo” e, por isso, sofrem algum tipo de
discriminação. Nesse cenário, pode-se considerar a medida de acolhimento
em família acolhedora como um fator de proteção para a construção de laços
sociais e comunitários e a construção do senso de pertencimento social, pelo
fato dessa evitar o estigma da institucionalização.

30
Por fim, é importante para a criança e para o adolescente desenvolver o
senso de pertencimento e autonomia, conhecer a cidade, o bairro, o comércio
local, as tradições de sua cidade e comunidade. As pequenas vivências
cotidianas nesses contextos favorecem o desenvolvimento humano e a
construção da cidadania, pois possibilitam exercitar, entre outras coisas, a
solidariedade, a autonomia e a responsabilidade.
Fluxograma dos benefícios do acolhimento em família acolhedora:

Proporciona
maior
desenvolvimento
escolar, social e
afetivo

Maior Acompanhamento
provisoriedade da família de
origem

SERVIÇO DE
FAMÍLIA
ACOLHEDORA

Estabilidade e Vínculo familiar e


cuidado convivências
individualizado comunitária

Ambiente e
rotina familiar

Fonte: Elaboração própria, baseado-se nas informações contidas em PINHEIRO et al, 2021

Na Aula 4, continuaremos nessa temática com a apresentação dos


benefícios do SFA para quem executa o serviço de acolhimento, com
destaque para a questão dos custos.

DE OLHO NA TELA

Não deixe de assistir, na plataforma, à palestra do


Prof. Jesus Palácios e ao emocionante documentário
“O começo da Vida: O caso dos Órfãos da Romênia”.

31
Aula 4
Benefícios do Serviço de
Acolhimento em Família
Acolhedora para quem Executa
o Serviço de Acolhimento
Outra vantagem da modalidade de Acolhimento em
Família Acolhedora está no custo que esse Serviço implica para
o município. A Rede Latino-americana de Acolhimento Familiar
(RELAF) realizou, em 2019, um estudo sobre o financiamento do
acolhimento institucional e familiar em seis países da América
Latina e Caribe: Argentina, Guatemala, México, Panamá, Paraguai
e Uruguai. Esse estudo traz algumas constatações:

• O cuidado no acolhimento institucional é mais caro do


que o cuidado no acolhimento em família acolhedora;

• As despesas com recursos humanos nas duas


modalidades são altas, mas, em termos de custos,
o montante alocado no acolhimento em família
acolhedora é menor (requer número menor de
profissionais contratados);

• O atendimento prestado no acolhimento institucional


é igual para todas as crianças e adolescentes, sem
considerar as necessidades individuais (não há atenção
personalizada);

• Tanto o acolhimento institucional quanto o familiar


contam com financiamento público e privado, mas
destina-se um montante maior de financiamento
público para o acolhimento institucional;

• Existem Serviços de acolhimento familiar que


disponibilizam recursos para subsidiar as famílias
acolhedoras.

Assim, para quem executa o Serviço de Acolhimento os


benefícios são:

32
Menores custos se comparados aos do Acolhimento Institucional, pois
não há despesas oriundas da oferta ininterrupta do serviço, como tarifas
de água, luz, aluguel, manutenção do imóvel, pagamento de pessoal
permanente (educadores, cuidadores, auxiliares, serviços gerais), entre
outros custos;

Maior possibilidade de investimento da equipe técnica na atuação


psicossocial, por meio de estudos de caso e articulação da rede de servi-
ços no território, uma vez que há menos demandas de caráter institu-
cional;

Otimização de custos com recursos humanos e demandas de gestão


de pessoas, visto que, no caso do SFA, a equipe profissional é reduzida,
por ser mais voltada às funções de coordenação e técnicas e menos
àquelas operacionais e de cuidado com as crianças e adolescentes
(desempenhadas pelas famílias acolhedoras);

Diminuição das demandas relacionadas à manutenção do cotidiano


institucional: alimentação, transporte, vestuário, organização da rotina
das crianças e adolescentes, entre outras.

Principais diferenças entre os insumos necessários para o Acolhimento


Institucional e o Acolhimento em Família Acolhedora:
Acolhimento Institucional X Acolhimento em Família Acolhedora

Crianças e adolescentes acolhidos


Crianças e adolescentes acolhidos
moram temporariamente com uma
moram no abrigo ou na casa-lar.
família acolhedora do SFA.
• Requer imóvel próprio ou alugado • Requer imóvel com estrutura que
para acolher as crianças e comporte apenas salas de atendimento
adolescentes, com estrutura ampla e desenvolvimento do trabalho da
e adequada para moradia, e com equipe técnica com os acolhidos e
espaços para o trabalho da equipe famílias.
técnica com os acolhidos e famílias.
• Equipe profissional suficiente para o • Equipe profissional suficiente para o
atendimento ininterrupto - inclusive atendimento dos processos de trabalho;
acompanhamento hospitalar - de crianças e/ou adolescentes são cuidados
crianças e adolescentes que moram na casa da família acolhedora.
no abrigo ou na casa-lar.

33
Crianças e adolescentes acolhidos
Crianças e adolescentes acolhidos
moram temporariamente com uma
moram no abrigo ou na casa-lar.
família acolhedora do SFA.
• Equipe poderá ser formada pelos • Equipe poderá ser formada pelos
seguintes profissionais: coordenador, seguintes profissionais: coordenador,
assistente social e psicólogo, assistente social e psicólogo, pedagogo e
pedagogo e outros, educadores/ outros, auxiliar administrativo, motorista,
cuidadores em número suficiente auxiliar de serviços gerais e vigilantes.
para o cuidado ininterrupto,
24h por dia; cozinheiros, auxiliar
administrativo, motorista, auxiliar de
serviços gerais e vigilantes.
• Equipe de profissionais (técnicos e • Equipe profissional estabelece rodízio de
de apoio) trabalha em turnos para plantão para situações emergenciais fora
atenção e cuidados durante 24 horas. do horário de expediente. Necessita de
horas extras para atividades de formação
permanente das famílias acolhedoras.
Famílias prestam os cuidados diretos
à criança ou adolescente e não
apresentam vínculo empregatício com o
SFA ou com o órgão executor.
• Outros gastos, considerando o • Outros gastos, considerando apenas
atendimento de até 20 crianças salas para o trabalho da equipe e para o
e adolescentes (abrigo) ou até 10 atendimento: material permanente para
crianças e adolescentes (casa-lar), salas de atendimento e coordenação;
espaço para o trabalho da equipe água, luz, telefone, internet apenas para
e para o atendimento: material as atividades técnico-administrativas;
permanente para a moradia e para manutenção da infraestrutura da parte
salas de atendimento e coordenação; técnico-administrativa; material de
água, luz, telefone, internet, limpeza e higiene para as atividades
tanto para as atividades técnico- técnico-administrativas; material
administrativas quanto referentes de expediente e escritório; material
ao uso ininterrupto de todos os didático, pedagógico, esporte, recreação;
acolhidos e cuidadores; manutenção transporte - aluguel e/ou combustível;
da infraestrutura da moradia subsídio financeiro mensal durante
dos acolhidos e da parte técnico- o período de acolhimento da criança
administrativa; alimentação; material e adolescente (de acordo com Lei
de cama, mesa e banho; material Municipal).
de limpeza e higiene, tanto para as
atividades técnico-administrativas
quanto referentes ao uso ininterrupto
de todos os acolhidos e cuidadores;
utensílios de cozinha; vestuário;
material de expediente e escritório;
material didático, pedagógico,
esporte, recreação; vale-transporte
para os usuários; transporte - aluguel
e/ou combustível.

Conforme exposto, o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora


apresenta um custo menor de operacionalização, pois exigirá menos
profissionais para o desenvolvimento do trabalho, dispensando a necessidade
de imóvel para moradia, de modo que os gastos mensais com manutenção
também serão consideravelmente inferiores à modalidade institucional. As

34
crianças e adolescentes residem temporariamente com famílias acolhedoras
do SFA, que recebem, conforme lei municipal, um subsídio para os cuidados
com os acolhidos durante a medida protetiva. Ainda, em municípios de
pequeno e médio porte com um baixo número de crianças e/ ou adolescentes
acolhidos, os gastos com o subsídio financeiro também serão pequenos.

DE OLHO NA TELA

Para finalizar este Módulo, assista, na plataforma, à


entrevista com a técnica de um município que realizou
a substituição do acolhimento institucional pelo Serviço
de Acolhimento em Família Acolhedora. Inspire-se!!!

Concluímos este Módulo 1 com a expectativa de que você, cursista,


esteja mais familiarizado com o funcionamento e a importância do Serviço
de Acolhimento em Família Acolhedora. No próximo Módulo, daremos mais
um passo para a implantação e gestão deste importante Serviço.

O conteúdo deste módulo é baseado no Caderno 1 do GUIA DE


ACOLHIMENTO FAMILIAR. Para aprofundar seus conhecimentos,
sugerimos a leitura integral do referido Caderno.

35
Referências e Sugestões
Bibliográficas
Normas:
BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988.
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional
Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar,
o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma
sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social
e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das
controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO
DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. [online]. Brasília: DF. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em:
20 nov. 2021.

BRASIL. Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança


e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União de 14 de julho
de 1990 [online]. Brasília: DF, 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 20 nov. 2021.

BRASIL. Conselho Nacional de Assistência Social. Resolução nº 109, de 11 de


novembro de 2009. Aprova a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais.
Brasília, 2009a. Disponível em: https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/
assistencia_social/Normativas/tipificacao.pdf. Acesso em: 20 nov. 2021.

BRASIL. Lei nº 8.069, de 03 de agosto de 2009. Dispõe sobre adoção; altera as


Leis nos 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente, 8.560,
de 29 de dezembro de 1992; revoga dispositivos da Lei no 10.406, de 10 de janeiro
de 2002 - Código Civil, e da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo
Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943; e dá outras providências. Diário Oficial
da União de 04 de agosto de 2009 [online]. Brasília: DF, 2009b. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12010.htm#art2.
Acesso em: 20 nov. 2021.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria


Nacional de Assistência Social. Política Nacional de Assistência Social (PNAS).
Brasília, 2004. Disponível em: https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/
assistencia_social/Normativas/PNAS2004.pdf. Acesso em: 18 de nov. de 2021

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria


Especial dos Direitos Humanos. Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento
para Crianças e Adolescentes. Resolução conjunta n.º 01, de 18 de junho de
2009. Brasília, CNAS, CONANDA, 2009. Disponível em: https://www.mds.gov.br/
webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/orientacoes-tecnicas-
servicos-de-alcolhimento.pdf. Acesso em: 18 de nov. de 2021

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Projeto de diretrizes das Nações Unidas


sobre emprego e condições adequadas de cuidados alternativos com crianças.
ONU, 2009. Disponível em: http://www.neca.org.br/programas/ivdiretrizes.pdf.
Acesso em: 18 de nov. de 2021

36
LIVROS E ARTIGOS:
DEL PRIORE, M. História da Criança no Brasil. São Paulo: Contexto, 2004.

PINHEIRO, Adriana (org). et al. CADERNO 1 Guia de Acolhimento Familiar:


Implantação de um serviço de acolhimento em família acolhedora. [s.l.]. 2021.

VENÂNCIO, S. I. Por que investir na primeira infância? Revista Latino-Americana de


Enfermagem [online], v. 28, 2020. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/rlae/a/bv5zZdjNh79spvnL9H7jkLm/?lang=pt Acesso em:
20 de jan. 2022

VALENTE, J. Família acolhedora: As relações de cuidado e de proteção no serviço


de acolhimento. São Paulo: Paulus, 2014. Disponível em: https://sapeca.campinas.
sp.gov.br/sites/sapeca.campinas.sp.gov.br/files/publicacoes/Livro%20Familia-
acolhedora.pdf Acesso em: 01 jul.2021.

SITES E PROJETOS
MUSEU de Imagens. Revista A Cigarra. Ano VI, nº 121, de 1º de outubro de 1919.
Acesso em 02 dez. 2021.

INSTITUTO Geração Amanhã. Acolhimento Familiar. 2021. Disponível em: https://


acolhimentofamiliar.com.br. Acesso em: 20 nov. 2021.

37
Apresentação e
Guia de Estudos do
Módulo 2
Neste módulo, vamos apresentar as ações necessárias para a
implantação do Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora
no município, elucidando as formas de execução e a oferta
regionalizada do serviço. Ademais, disponibilizaremos os modelos
de normativas para auxiliar na criação do serviço em seu município
ou região.

Além disso, conheceremos os aspectos operacionais para


iniciar o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora, tais como
a formação da equipe técnica, a organização da infraestrutura
necessária e como promover o lançamento do serviço e sua
apresentação à comunidade.

Por fim, aprenderemos a elaborar o plano de mobilização e


preparação das famílias.

Para organizar os seus estudos, siga o guia abaixo:

1. AULA 5
1.1. Leia, na apostila, a Aula 5 do Módulo 2.
1.2. Assista à aula narrada 5.
1.3. Assista ao vídeo sobre o processo de implantação do SAF e a
importância de articulação da rede.
1.4. Faça o exercício de reflexão e os exercícios de fixação da Aula 5 na
plataforma.
1.5. Assista aos vídeos com as entrevistas sobre oferta regionalizada.

2. AULA 6
2.1. Leia, na apostila, a Aula 6 do Módulo 2.
2.2. Assista à aula narrada 6.
2.3. Assista ao vídeo sobre a importância da seleção e formação da equipe
técnica (e seus desafios) e do serviço contar com a infraestrutura
necessária.
2.4. Faça os exercícios de fixação da Aula 6 na plataforma.

3. AULA 7
3.1. Leia, na apostila, a Aula 7 do Módulo 2.
3.2. Assista à aula narrada 7.
3.3. Assista ao vídeo com atores locais com boas experiências em
divulgação do SAF e mobilização das famílias.
3.4. Assista ao vídeo com depoimentos de famílias acolhedoras sobre
como ficaram sabendo do serviço e o que fez com que se
interessassem em ser uma família acolhedora.
3.5. Faça a atividade reflexiva e os exercícios de fixação da Aula 7 na
plataforma

Bons estudos!
38
Aula 5
Implantação do Serviço de
Acolhimento em Família
Acolhedora

Como vimos no Módulo 1, o Serviço de Acolhimento em


Família Acolhedora (SFA) é um serviço ofertado pelo Sistema
Único de Assistência Social (SUAS), de modo que compõe a rede
socioassistencial local e tem grande relevância para garantir
a proteção social de crianças e adolescentes em situação de
abandono ou outras violações de direitos.

Adiante, veremos como implementar esse serviço nos


municípios.

5.1. O PRINCIPAL RESPONSÁVEL PELA IMPLEMENTAÇÃO,


SENSIBILIZAÇÃO E ARTICULAÇÃO DA REDE DE PROTEÇÃO
PARA A IMPLANTAÇÃO DO SERVIÇO

O principal responsável pela implementação do Serviço de


Acolhimento em Família Acolhedora deve ser o Órgão Gestor da
Política de Assistência Social no território (Secretaria de Assistência
Social ou congênere). A abrangência da oferta desse serviço
é municipal – com possibilidade de implantação em cidades
de pequeno, médio, grande porte e metrópoles –, podendo,
também, ser ofertado de forma regional para atender municípios

39
de pequeno porte que não possuam demanda suficiente ou condições de
manter um SFA próprio.

As experiências de SFA já consolidadas no país têm mostrado alguns


pontos de partida possíveis:

→ O gestor público (Secretário Municipal de Assistência Social) designa


um coordenador e, quando possível, uma equipe técnica, que estará
à frente da implantação do SFA. Essa equipe fomenta discussões
com os membros do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do
Adolescente (CMDCA) e do Conselho Municipal de Assistência Social
(CMAS) e com outras secretarias de governo, principalmente as de
educação e de saúde. O gestor público apresenta a proposta para os
órgãos de defesa de direitos, Vara da Infância e da Juventude (VIJ),
Ministério Público (MP), Defensoria Pública (DP) e Conselho Tutelar
(CT), visando o engajamento de todos. Poderá ser incluída, neste
momento, a participação de Organizações da Sociedade Civil (OSCs) e
de atores estratégicos locais.

→ Em alguns municípios, estados e regiões existem iniciativas de


estímulo para a implantação do SFA, a partir de ações do Ministério
Público, Vara da Infância e da Juventude e da Defensoria Pública.
Mesmo assim, a propositura para implantação e execução deverá ser
do Poder Executivo e, como citado no item anterior, as competências
dos órgãos devem ser preservadas.

É importante ressaltar que independente do órgão que se responsabiliza


pela iniciativa, o sucesso do SFA está intimamente ligado à construção
coletiva de conceitos e à forma escolhida para sua operacionalização, como:
a metodologia, a definição de papéis, as atribuições e competências de
todos os envolvidos.

A implantação do SFA deverá envolver profissionais, serviços, os diversos


atores do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente
(SGDCA), a comunidade e seus principais representantes. Cada representante
dessa rede terá um papel importante, colaborando com a implantação e a
execução do novo Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora. Vejamos
a seguir alguns atores cujas contribuições são fundamentais na implantação
e consolidação do Serviço:

40
QUADRO: ATORES DO SGDCA NO PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DO SFA

EIXO ÓRGÃO FUNÇÃO


Promoção dos direitos Secretaria Municipal de É responsável pela execução do SFA. Deve prover a equipe de referência e a formação
humanos da criança e Assistência Social (ou órgão necessária dos profissionais para o desenvolvimento adequado de suas funções. É a
do adolescente congênere) principal encarregada de promover a mobilização dos atores que precisam ser envolvidos
no processo de implantação e na execução desse Serviço.
Rede socioassistencial O Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e o Centro de Referência Especializado
de Assistência Social (CREAS) devem atuar de forma corresponsável com os Serviços de
Acolhimento no atendimento e encaminhamento das famílias de origem e das próprias
crianças e/ou adolescentes acolhidos. Sua atuação junto às famílias é fundamental para
a superação das situações que levaram à necessidade de acolhimento. É importante,
também, que os demais serviços da rede socioassistencial conheçam o SFA e as
especificidades de seu funcionamento.

Secretarias de Saúde, São responsáveis por políticas públicas de atenção a crianças, adolescentes e famílias,
Educação, Trabalho, entre por meio de um trabalho intersetorial e articulado. É importante que conheçam o
outras SFA e as especificidades de seu funcionamento para a efetivação de um trabalho
corresponsabilizado. Isso facilita o diálogo e o estabelecimento de fluxos que contemplem,
por exemplo, a garantia de matrícula em escola e de atendimento em unidades de saúde
mais próximas à casa da família acolhedora. Os fluxos podem definir também as situações
em que o atendimento à criança e/ou adolescente ou aos integrantes da família de origem
deve ser priorizado.
Defesa dos direitos Poder Judiciário É o responsável pela aplicação da medida de proteção, pela concessão de guarda provisória
humanos de crianças e às famílias acolhedoras, pelo acompanhamento de todo o processo de acolhimento e pela
adolescentes fiscalização da execução do SFA no município. Envolver o Poder Judiciário no processo de
implantação do Serviço, sensibilizando os juízes e construindo uma relação de parceria com
suas equipes é fundamental para a efetivação do SFA.
Ministério Público Tem atuação próxima aos Serviços de Acolhimento, avaliando e requerendo medidas
protetivas ao Judiciário, quando necessário. Fiscaliza todos os programas e serviços
no âmbito da infância e juventude da localidade e fomenta, monitora e acompanha
a implantação do SFA. Sua mobilização é necessária para o sucesso do processo de
implementação, efetivação e consolidação.
Defensoria Pública e Ordem Atua principalmente na defesa de direitos da família de origem e/ou extensa durante o
dos Advogados do Brasil (OAB) acolhimento da criança e/ou adolescente. É muito importante que ambos entendam o
Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora. Em alguns lugares do país, a Defensoria
Pública tem fomentado a implantação do SFA.
Conselhos Tutelares Atuam em situações de violação dos direitos da criança e/ou adolescente, nos
acolhimentos emergenciais, na articulação da rede de serviços e nos encaminhamentos
às diversas políticas de atendimento. Dessa maneira, é importante que compreendam o
funcionamento do SFA para que exerçam ações articuladas.

41
EIXO ÓRGÃO FUNÇÃO
Controle da efetivação Conselhos Municipais de Operam a partir de instâncias públicas colegiadas de forma paritária na participação dos
dos direitos humanos Assistência Social e dos Direitos órgãos governamentais e organizações sociais. São os propositores e fiscalizadores das
da criança e do da Criança e do Adolescente políticas públicas e da identificação das prioridades em cada realidade. O SFA precisa ser
adolescente inscrito, registrado e aprovado nos Conselhos Municipais para funcionar regularmente.
Comunidade e outras Atores da sociedade civil organizada que atuam na defesa dos direitos da criança e do
organizações adolescente, especialmente aquelas organizações envolvidas em ações de promoção
do direito à convivência familiar e comunitária, como Centros de Defesa da Criança e do
Adolescente, Pastoral da Criança, grupos que ofertam acompanhamento sociofamiliar,
grupos de apoio à adoção, além de outras que se destacam pela atuação na comunidade,
como instituições religiosas, grupos comunitários, associações de bairros, sindicatos,
empresas e órgãos de classe.
Poder Legislativo É o principal fórum para deliberar, debater e aprovar leis. Considerando que, para a
implantação do SFA, é importante a aprovação de uma lei municipal, é fundamental buscar
o apoio do Legislativo. Portanto,, é essencial informar os parlamentares sobre o Serviço e
envolvê-los nas etapas que antecedem a apresentação do Projeto de Lei pelo Executivo
para que eles estejam cientes da importância do Serviço de Acolhimento em Família
Acolhedora no momento dos debates e votações relacionados.

Fonte: Elaboração própria, com base nas informações contidas nos Guias de Acolhimento Familiar (Caderno 02, 2021).

42
Observado o quadro apresentado, podemos verificar que a
implementação do SFA exige o fortalecimento e articulação da rede de
proteção (FERREIRA; TITO; CERUTTI, 2020) e estratégias para mobilizar e
promover a articulação dos atores que compõem essa rede, tais como a
criação de uma Comissão de Implantação e a realização de um seminário.
Essas ações podem impulsionar o processo de implementação do SFA.

5.1.1. Constituição de Comissão de Implantação


A instituição de uma comissão de trabalho para implantar o SFA não é
obrigatória, mas tem sido avaliada como uma experiência positiva. A Comissão
de Implantação poderá ser instaurada por iniciativa do gestor da política de
assistência social e formada por representantes do SGDCA local. Seu objetivo
é elaborar o planejamento das etapas iniciais e o estabelecimento dos fluxos e
procedimentos necessários à implantação, destacando as responsabilidades
de cada órgão. Após a implantação do SFA, a continuidade dessa Comissão
poderá garantir espaços de discussão, reflexão e articulação dos diversos
atores do SGDCA, buscando a qualificação continuada do Serviço. A escolha
dos representantes para compor a Comissão de Implantação deve considerar
as especificidades da rede de proteção do território e contar tanto com atores
já cientes da importância do SFA quanto pessoas que desconhecem ou que
ainda precisam ser sensibilizadas sobre seus benefícios.

A realização de um Seminário sobre o tema é uma das ações iniciais


que pode ser organizada pela Comissão de Implantação e se constitui como
estratégia de sensibilização e mobilização dos atores do SGDCA. O Seminário
deverá contar com a presença de apoiadores, mas também daqueles que se
mostram contrários ao SFA, possibilitando discussões ampliadas sobre o tema
e promovendo o esclarecimento de dúvidas, a apresentação dos benefícios
e de experiências de acolhimento familiar, além de outras estratégias de
sensibilização. Dentre os objetivos do Seminário estão o alinhamento de
conceitos e a formalização dos representantes da Comissão de Implantação.
A partir daí, os membros da Comissão poderão planejar as ações coletivas de
forma mais efetiva.

Agora que já conhecemos os aspectos iniciais do processo de


implementação do Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora e seus
responsáveis, vamos direcionar nosso estudo para as etapas e orientações
que compõem o processo de implantação do referido serviço.

5.1.2. Elaboração do Cronograma de Implantação


A discussão das etapas necessárias para a implantação do SFA deve ser
delineada pelo órgão gestor da assistência social do município em conjunto
com a Comissão de Implantação, quando houver. A definição das ações
necessárias, com metas, prazos e responsáveis, facilitará o acompanhamento
e a avaliação da trajetória de implantação do Serviço de Acolhimento em
Família Acolhedora.

43
Cada município possui necessidades e realidades diferentes,
apresentando configurações diversas na gestão da assistência social, na
oferta de serviços no território e na organização do SGDCA. Portanto, o
cronograma para a implantação do SFA deverá considerar as especificidades
locais, seguindo as ações do “PASSO A PASSO” como exemplo:

PASSO A PASSO PARA A IMPLEMENTAÇÃO DO SFA:


Constituição de Comissão de Implantação;
Definição das ações necessárias para a implantação, com metas, prazos
e delimitação das responsabilidades e competências;
Realização de ações de sensibilização e de articulação com atores
estratégicos;
Definição da forma de execução no município;
Elaboração de Projeto de Lei (PL) pelo Executivo Municipal, referente à
criação e regulamentação do Serviço, e envio para a Câmara de
Vereadores para sua aprovação;
Inscrição do SFA ou registro da Organização da Sociedade Civil
executora, quando for o caso, nos Conselhos Municipais (Conselho
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e Conselho
Municipal da Assistência Social);
Cadastramento no Cadastro Nacional do Sistema Único de Assistência
Social (CadSUAS);
Registro prévio no Cadastro Nacional de Entidades de Assistência Social
(CNEAS), caso a execução seja por meio de parceria com OSC;
Definição do orçamento necessário e da origem dos recursos que serão
utilizados na implantação e execução;
Inclusão, como meta, nos Planos Municipais existentes (Plano Municipal
de Assistência Social, Plano Municipal de Promoção, Proteção e Defesa
do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e
Comunitária e Plano Municipal pela Primeira Infância);
Designação de equipe técnica e de coordenação do Serviço;
Definição da sede, com espaço e infraestrutura necessários para o
desenvolvimento das atividades inerentes ao trabalho;
Realização de formação inicial da equipe técnica;
Apresentação do SFA e dos profissionais para a rede de serviços e
comunidade;
Elaboração de um Plano para mobilização, seleção e preparação das
famílias da comunidade que se candidatem ao acolhimento;
Evento de lançamento;
Cadastramento no CadSUAS das famílias acolhedoras que concluíram a
formação inicial;
Início do encaminhamento de crianças e/ou adolescentes para o Serviço.

Fonte: Guia de Acolhimento (Caderno 02) (2021).

44
Vejamos, a fim de sintetizar esse conteúdo, um fluxograma desse “passo a passo”:

IMPLEMENTAÇÃO DO SERVIÇO DE ACOLHIMENTO EM FAMÍLIA ACOLHEDORA


Constituição de Definição das ações necessárias para a Realização de ações Definição da forma
Comissão de implantação, com metas, prazos e de sensibilização e de execução no
Implantação delimitação das responsabilidades e de articulação município
competências

Registro prévio no Cadastro Nacional Inscrição do SFA ou registro da Organização da Sociedade Elaboração de Projeto de Lei (PL) pelo
Cadastramento no Cadastro
de Entidades de Assistência Social Civil executora, quando for o caso, nos Conselhos Municipais Executivo Municipal referente à criação
Nacional do Sistema Único de
(CNEAS), caso a execução seja por (Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do do Serviço e envio para a Câmara de
Assistência Social (CadSUAS);
meio de parceria com OSC; Adolescente e Conselho Municipal da Assistência Social) Vereadores para sua aprovação

Inclusão como meta nos Planos Municipais existentes (Plano Municipal de Designação de Definição da sede, com espaço
Definição do orçamento necessário e
Assistência Social, Plano Municipal de Promoção, Proteção e Defesa do equipe técnica e de e infraestrutura necessários
da origem dos recursos que serão
Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária e coordenação do para o desenvolvimento das
utilizados na implantação e execução
Comunitária e Plano Municipal pela Primeira Infância) Serviço atividades inerentes ao trabalho

Elaboração de um Plano para


Cadastramento das famílias Apresentação do SFA e dos
Evento de mobilização, seleção e preparação Realização de formação inicial da
acolhedoras que concluíram a profissionais para a rede de
lançamento das famílias da comunidade que se equipe técnica
formação inicial no CadSUAS serviços e comunidade
candidatem ao acolhimento;

Início do encaminhamento de
crianças e/ou adolescentes
para o Serviço

Fonte: Elaboração própria com base nas informações contidas em Guia de Acolhimento (Caderno 02) (2021).

45
Ressaltamos, novamente, que esse “passo a passo” é um exemplo que
deve ser adequado às realidades locais. Além disso, alguns dos pontos
contidos serão aprofundados ao longo do nosso curso.

Vamos entender agora quais seriam as formas de execução do Serviço


de Acolhimento em Família Acolhedora?

5.2. FORMAS DE EXECUÇÃO


Seguindo as orientações legais, a execução de um Serviço de Acolhimento
em Família Acolhedora poderá ocorrer de duas formas:

→ Execução Direta: Quando o SFA é executado pelo órgão gestor


municipal ao qual está alocada a Política de Assistência Social. Esse
órgão será o responsável direto pela organização e oferta do SFA,
incluindo a contratação/designação dos profissionais, infraestrutura,
manutenção e demais aspectos necessários ao seu funcionamento;

→ Execução Indireta: Quando o órgão gestor de assistência social


faz parceria com uma Organização da Sociedade Civil e essa passa
a ser responsável pela execução do SFA. O Marco Regulatório das
Organizações da Sociedade Civil (MROSC) – Lei Federal n.º 13.019/2014
- , estabelece como regra a realização de chamamento público para
seleção/formalização de parceria com a OSC que melhor atender
às exigências do edital, devendo ser observados os requisitos
estabelecidos na Resolução CNAS nº 21/2016. No caso em questão,
sendo um serviço socioassistencial tipificado, em que a gestão pública
firma parceria para execução de atividades de sua competência e
responsabilidade, deverá ser formalizado um Termo de Colaboração.

Nessa situação, será selecionada a OSC com as condições e capacidades


técnicas necessárias para integrar a rede de atendimento municipal. Ao
gestor público cabe a gestão, monitoramento e avaliação durante o período
de vigência do termo.

Continuaremos, na sequência, tratando das normativas importantes


para criação do SFA.

46
5.3. NORMATIVAS MUNICIPAIS PARA A CRIAÇÃO E REGULAMENTAÇÃO
DO SERVIÇO
O Serviço de Acolhimento em Família
Acolhedora é regulado por normativas
nacionais e deve contar com a aprovação de
Lei Municipal para sua implantação em cada
município. A iniciativa para a propositura da
Lei é do Executivo municipal, normalmente
representado pela Secretaria de Assistência
Social ou congênere, que elabora o Projeto
de Lei e o encaminha para a Câmara de
Vereadores. A proposta de Lei Municipal, além
do que está disposto na legislação nacional
pertinente, deverá considerar as necessidades
e características locais, o público-alvo para
atendimento, a rede de serviços e fluxos.

É muito importante considerar discussões já existentes sobre a


implantação da modalidade, envolvendo profissionais, serviços e o SGDCA.
Recomenda-se, para evitar dúvidas e questionamentos posteriores sobre o
funcionamento do SFA, que alguns critérios e aspectos relacionados à sua
forma de execução sejam contemplados na Lei Municipal, conforme segue:

QUADRO X: ASPECTOS DA LEI MUNICIPAL DO SFA

ASPECTO DESCRIÇÃO
Objetivos Citar os principais propósitos, baseados em parâmetros
nacionais, a serem alcançados com a efetivação da modalidade,
tais como: a garantia do direito à convivência familiar e
comunitária da criança e/ou adolescente; a manutenção e/
ou o fortalecimento dos vínculos familiares; o atendimento
individualizado em ambiente familiar; o investimento na família
de origem e extensa, de forma corresponsável com a rede de
serviços, com vistas à reintegração familiar segura ou, quando
isso não for possível, o encaminhamento para família por adoção
devidamente habilitada; e a articulação com o SGDCA.
Gestão Municipal Apresentar a Secretaria de Assistência Social (ou órgão
congênere) como o órgão gestor responsável pelo SFA do
município e mencionar a necessidade de articulação com o
SGDCA, citando todos os atores envolvidos.
Público-alvo Informar que a modalidade se destina a crianças e adolescentes
em medida protetiva, residentes no município. Apontar que,
preferencialmente, cada família deve acolher uma criança ou um
adolescente por vez, excetuando grupos de irmãos, conforme
Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças
e Adolescentes (OT) (2009), mas que situações diferentes e/ou
excepcionais poderão ser avaliadas pela equipe técnica do SFA.
Recursos Informar que a Lei deverá observar as fontes de recursos que
Financeiros poderão ser utilizadas.

47
Atuação do Mencionar expressamente que a competência da
Executivo operacionalização é do Poder Executivo municipal, por meio
do órgão gestor da assistência social. Explicitar que a oferta
poderá se dar tanto por execução direta do órgão gestor da
assistência social como por meio de parcerias com organizações
da sociedade civil; além disso, apresentar que o referido órgão
gestor tem competência para editar normas e procedimentos
de execução e monitoramento do Serviço de Acolhimento em
Família Acolhedora.
Equipe Técnica e Fornecer informações sobre a composição da equipe e as
Coordenação do principais atribuições de cada profissional, conforme as
SFA Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças
e Adolescentes e a Norma Operacional Básica de Recursos
Humanos do SUAS (NOB-RH/SUAS, 2006).
Famílias Apresentar o conceito; destacar a natureza voluntária do trabalho
Acolhedoras (sem vínculo empregatício); enumerar os principais critérios
de inscrição, etapas de seleção, avaliação, formação inicial,
continuada e acompanhamento; listar atribuições e obrigações
gerais da família acolhedora; apresentar motivos e formas de
desligamento.
Subsídio Definir o valor e o índice de reajuste automático do subsídio
Financeiro financeiro destinado ao custeio das despesas da família
acolhedora com o acolhido, tais como: alimentação, vestuário,
transporte, lazer, entre outros; informar a periodicidade do
pagamento do subsídio - valor recebido durante o acolhimento
da criança e/ou adolescente; definir como será efetuado o
repasse mensal. Recomenda-se que a lei municipal apresente
a previsão de um acréscimo do valor desse subsídio caso a
criança e/ou adolescente possua alguma necessidade especial,
como situações de deficiência física ou mental, doenças graves,
dependência química, entre outras, definindo o responsável por
avaliar a pertinência do valor ampliado.
Outros Benefícios Especificar, na Lei, a concessão de eventuais benefícios às
famílias acolhedoras durante o período em que estiverem
vinculadas ao SFA, tais como: isenção do Imposto Predial e
Territorial Urbano (IPTU); descontos nas contas de água, luz e na
utilização do transporte urbano; fornecimento de cestas básicas,
entre outros.
Fiscalização Ressaltar os órgãos com atribuições de monitorar, avaliar e
fiscalizar o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora,
esclarecendo que a fiscalização deve ser direcionada para
ações de gestão e atendimento. A responsabilidade do
acompanhamento das crianças e adolescentes acolhidos pelas
famílias acolhedoras é da equipe técnica do SFA.
Fonte: Elaboração própria, com base nas informações contidas no Guia de Acolhimento (Caderno 02)
(2021).

48
Observamos que a Lei deve abordar um vasto conteúdo a fim de
esclarecer quaisquer pontos acerca do SFA e, assim, evitar equívocos.

Após a elaboração pelo executivo municipal, o Projeto de Lei deverá


ser encaminhado para a Câmara de Vereadores para análise, discussão e
posterior votação. A articulação entre a rede de serviços e os outros atores
do SGDCA, promovida pelo órgão gestor e pela Comissão de Implantação
do SFA, é fundamental nessa fase. É necessário disponibilizar informações
e apresentar dados quantitativos e qualitativos para que o Legislativo seja
adequadamente sensibilizado sobre a importância do SFA, compreendendo
como está inserido na rede de proteção à criança e ao adolescente do
município. Esse movimento deve ser iniciado antes do encaminhamento do
Projeto de Lei para a Câmara, de modo a facilitar os trâmites desde o início e
evitar entendimentos equivocados.

Uma sugestão é a mobilização e realização de audiência pública


antes da votação do Projeto de Lei, possibilitando um espaço ampliado de
participação popular, informando e esclarecendo os vereadores e, ao mesmo
tempo, divulgando e publicizando o SFA, podendo contar, quando possível,
com a apresentação de experiências já consolidadas em outros municípios,
com falas de técnicos, gestores e famílias acolhedoras. Toda essa etapa e a
anterior poderão, inclusive, ser divulgadas nos meios de comunicação, como
forma de disseminação do acolhimento familiar à população.

Após a aprovação da Lei Municipal, um decreto deverá ser expedido pelo


Poder Executivo local. O Decreto é a norma jurídica que irá pormenorizar as
disposições gerais e abstratas que constam da Lei, visando a sua fiel execução.
Essa normativa deve dispor sobre aspectos relativos à operacionalização
do SFA, tais como: critérios de inclusão e/ou desligamento de famílias
acolhedoras, etapas de seleção e formação inicial e/ou continuada dessas
famílias, trâmite local para pagamento do subsídio financeiro, entre outros.

SAIBA MAIS

Modelos de Leis Municipais de SFAs


Para ampliar seus conhecimentos sobre o assunto,
veja alguns modelos de Leis Municipais de Serviços de
Acolhimento em Família Acolhedora já em vigor no país
https://familiaacolhedora.org.br/guia/202/

49
SAIBA MAIS

Modelos de Decretos Municipais de SFAs


Acesse, pelo link abaixo, modelos de alguns decretos
de SFAs que regulamentaram as leis municipais
aprovadas.
www.familiaacolhedora.org.br/guia/203

A seguir, aprenderemos um pouco mais sobre a importância do registro


e/ou inscrição do SFA nos conselhos municipais de Assistência Social e de
Direito da Criança e do Adolescente, que é um aspecto fundamental para o
funcionamento do serviço.

5.4. INSCRIÇÃO NOS CONSELHOS


O Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e o
Conselho Municipal da Assistência Social (CMDCA) são órgãos de natureza
colegiada, permanentes, deliberativos, orientados pelo princípio da paridade,
garantindo a representação e a participação de diferentes segmentos sociais
e do Poder Executivo local.

O Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora deverá ser inscrito e


reavaliado de acordo com prazos fixados pelo CMDCA, como aponta o Art.
90 do ECA:

§ 1o. As entidades governamentais e não governamentais deverão


proceder a inscrição de seus programas, especificando os regimes
de atendimento, na forma definida neste artigo, junto ao Conselho
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o qual manterá
registro das inscrições e de suas alterações, do que fará comunicação
ao Conselho Tutelar e à autoridade judiciária.
(...)
§ 3o. Os programas em execução serão reavaliados pelo Conselho
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, no máximo, a cada
2 (dois) anos, constituindo-se critérios para renovação da autorização
de funcionamento.

Além da inscrição do Serviço, se o SFA for executado por uma Organização


da Sociedade Civil (OSC), por meio de Termo de Colaboração, a organização
deverá registrar-se no CMDCA, conforme Art. 91 do ECA:

50
Art. 91. As entidades não-governamentais somente poderão funcionar
depois de registradas no Conselho Municipal dos Direitos da Criança
e do Adolescente, o qual comunicará o registro ao Conselho Tutelar e
à autoridade judiciária da respectiva localidade.

As entidades de atendimento governamentais são dispensadas de


registro por serem diretamente vinculadas a um órgão público e estarem
inseridas na rede de serviços do município, sendo necessária apenas a
inscrição do SFA, de acordo com o artigo 90 do ECA.

Em se tratando de oferta indireta, isto é, o SFA ofertado por uma OSC,


temos de nos atentar também para a necessidade de inscrição da entidade
no Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS) ou no Conselho de
Assistência Social do Distrito Federal, conforme o caso, de acordo com o
previsto no Art. 9 da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS):

Art. 9º O funcionamento das entidades e organizações de assistência


social depende de prévia inscrição no respectivo Conselho Municipal
de Assistência Social ou no Conselho de Assistência Social do Distrito
Federal, conforme o caso.

Diante do que foi apresentado, observamos que um dos primeiros passos


para a operacionalização do SFA é a articulação com esses dois conselhos,
que precisam ser envolvidos no processo de implantação do SFA.

5.4.1. Cadastramento do Serviço no CadSUAS


O Cadastro Nacional do Sistema Único de Assistência Social é um
sistema do Ministério da Cidadania que organiza a rede socioassistencial
em âmbito nacional e centraliza todas as informações cadastrais dos órgãos
gestores municipais, estaduais e do Distrito Federal, dos Fundos e Conselhos
de Assistência Social, da rede socioassistencial e, ainda, informações sobre
os trabalhadores do SUAS em todo o território brasileiro.

Assim que o SFA for implantado, o órgão gestor de assistência social tem
como responsabilidade o cadastramento do Serviço no CadSUAS - seja ele
de execução direta ou por OSC parceira, assim como a atualização mensal
dos dados (se o SFA for regionalizado pelo estado, quem deverá realizar o
cadastro é o órgão gestor estadual).

A partir do cadastramento do SFA, o município também deverá preencher


anualmente o Censo SUAS, que possui um questionário específico a ser
respondido sobre cada unidade executora do Serviço de Acolhimento em
Família Acolhedora. O Censo SUAS é um processo de monitoramento que
coleta informações sobre os padrões de serviços, programas e projetos, por
meio de um formulário eletrônico preenchido pelas Secretarias e Conselhos
de Assistência Social dos estados e municípios.

51
SAIBA MAIS

CadSUAS e o SFA
O CadSUAS foi instituído pela Portaria n.º 430/2008
do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome (MDS) e é base de outros dois Sistemas do
Ministério da Cidadania: o Registro Mensal de
Atendimentos e o Censo SUAS.
Conheça documentos que apresentam de forma
detalhada como gestores e profissionais devem efetivar
o preenchimento desses importantes Sistemas.
Acesse o material pelo link:
www.familiaacolhedora.org.br/guia/205

Veremos, em seguida, que o SFA também pode ser ofertado de forma


regionalizada. Quando e como isso é possível?

5.5. OFERTA REGIONALIZADA


A oferta regionalizada do Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora
destina-se a atender a população de municípios de pequeno porte que
não possuem demanda suficiente que justifique a implementação de um
serviço municipal, assegurando o acolhimento da criança e/ou adolescente
próximo à sua comunidade e evitando o seu encaminhamento para Serviços
de Acolhimento fora da sua comunidade ou muito distantes de sua cidade
de origem.

Assim, o SFA regionalizado deve obedecer a todas as normativas que


orientam a oferta do Serviço de Acolhimento, como o ECA, a Tipificação
Nacional de Serviços Socioassistenciais, as Orientações Técnicas: Serviços
de Acolhimento para Crianças e Adolescentes e as NOBRH/SUAS, devendo,
portanto, contar com a mesma equipe e estrutura que os SFAs municipais e
considerar os aspectos sobre a implantação e o funcionamento detalhados
neste curso. Contudo, na implementação de um SFA regionalizado, é
importante conhecer e levar em consideração algumas especificidades,
tais como:

52
→ A equipe técnica deverá ficar no "município-sede", escolhido
conforme o diagnóstico da demanda da região, a centralidade em
relação aos demais municípios, ser sede de comarca ou outros
critérios definidos localmente;

→ Deve contar com famílias acolhedoras em todos os municípios


para garantir o acolhimento da criança e/ou adolescente,
preferencialmente, em seu local de origem;

→ A seleção, formação e acompanhamento da criança e/ou


adolescente, da família de origem e as ações de articulação de rede
podem contar com atividades desenvolvidas no município-sede.
Porém, é imprescindível que ações como visitas domiciliares às
famílias e reuniões com as redes locais de cada município estejam
previstas e sejam desenvolvidas em todos os municípios de sua
abrangência;

→ Há a necessidade de previsão de veículos e combustível para o


deslocamento da equipe técnica nos diferentes municípios;

→ Na escolha dos municípios a serem atendidos pelos Serviços


regionalizados, é importante analisar a proximidade e a facilidade
de deslocamento entre os municípios parceiros e a sede, que,
preferencialmente, não deve ser superior a 2 (duas) horas ;

→ Necessidade de composição de equipe de referência compatível


com o número de famílias acolhedoras e com as distâncias a serem
percorridas;

→ Maior atenção no desenho e pactuação de fluxos e


procedimentos, especialmente com o Sistema de Justiça, CT e rede
de atendimento dos municípios;

→ A previsão de estratégias para assegurar a proximidade entre


crianças e adolescentes e suas famílias e comunidades de origem.

→ A necessidade de articulação prévia e o comprometimento


dos órgãos gestores de assistência social e demais atores da
rede de atendimento e defesa de direitos de todos os municípios
abrangidos pelo SFA;

→ A corresponsabilização dos municípios de abrangência do SFA


regionalizado.

A oferta regionalizada do SFA deve ser organizada a partir da iniciativa e


responsabilidade do órgão gestor estadual da assistência social (Secretaria
Estadual). Também existem, no país, experiências a partir da iniciativa

53
e auto-organização de um grupo de municípios vizinhos, por meio de
consórcios públicos intermunicipais, convênios de cooperação ou outro tipo
de contratualização, conforme legislação pertinente.

5.5.1. Regionalização Organizada pelo Estado


Quando se trata de oferta regionalizada organizada pelo Estado, faz-se
necessária uma regulamentação estadual dispondo sobre a organização,
coordenação e prestação do SFA, inclusive quanto aos subsídios destinados
às famílias acolhedoras.

SAIBA MAIS

LOAS, Regionalização de Serviços e Competências


do Estado
Sobre a responsabilidade dos Estados na oferta de
Serviços regionalizados, a Lei Orgânica da Assistência
Social (Lei nº 8.742/93) expressa suas competências,
conforme segue:
Art. 13 - Compete aos estados:
(...) V - prestar os serviços assistenciais cujos
custos ou ausência de demanda municipal
justifiquem uma rede regional de serviços,
desconcentrada, no âmbito do respectivo estado.
Em consonância com a LOAS, a Norma Operacional
Básica do SUAS também aponta que cabe ao estado a
regionalização do serviço de acolhimento:
Art. 15 - São responsabilidades dos estados:
(...) IV - organizar, coordenar e prestar serviços
regionalizados da proteção social especial de
média e alta complexidade, de acordo com o
diagnóstico socioterritorial e os critérios
pactuados na Comissão Intergestores Bipartite
(CIB) e deliberados pelo Conselho Estadual de
Assistência Social (CEAS).

Deve-se considerar, ainda, as diferentes formas de prestação de serviços


regionalizados sob a responsabilidade estadual:

54
Execução indireta Execução regionalizada
Execução direta do Estado
O serviço é executado O serviço é executado
O serviço é executado pelos
pelo estado mediante em regime de
órgãos e entidades da
parceria com cooperação com os
administração pública
organizações da municípios da área de
estadual;
sociedade civil abrangência.

Vale ressaltar que em todas as formas de prestação de serviço


regionalizado são imprescindíveis o envolvimento e a articulação com os
municípios vinculados, que devem participar do planejamento das atividades
a serem desenvolvidas e assegurar o atendimento, de forma articulada com o
SFA, às famílias na rede local , de modo a possibilitar a reintegração familiar
segura, sempre que possível.

Deve-se discutir previamente com os municípios envolvidos para


detalhar os fluxos e responsabilidades de cada ente, buscando que o desenho
da regionalização seja fruto de consenso entre os envolvidos.

Cabe destacar, ainda, o papel importante do estado na integração


operacional dos órgãos gestores da assistência social com o Sistema de
Justiça (Ministério Público, Poder Judiciário e Defensoria Pública) e com o
Conselho Tutelar.

A oferta regionalizada de SFA organizada pelo estado deve ser orientada


pelos seguintes passos:

Realização de Diagnóstico
Socioterritorial, a fim de identificar
microrregiões que necessitem de
serviços regionalizados, dentre
outros aspectos.

Desenho da Proposta de
Regionalização (em articulação
com os municípios), identificando
o município com maior potencial
para ser sede do serviço e
possíveis municípios vinculados
para cada SFA regionalizado, a
forma de prestação de Serviço e a
devida articulação com a rede de
cada cidade participante.
Discussão e atuação
regionalização na Comissão
Intergestores Bipartite (CIB).

55
SAIBA MAIS

Documentos Informam e Orientam Sobre


Regionalização de Serviços
A Comissão Intergestores Bipartite é um espaço de
articulação e interlocução entre os gestores municipais
e estaduais da Política de Assistência Social e de
negociação e pactuação quanto aos aspectos
operacionais da gestão do SUAS. A NOB/ SUAS, nos Art.
136 e 137, apresenta sua conceituação, composição e
competências.
O documento Orientações para pactuação de
regionalização dos serviços de média e alta
complexidade nas Comissões Intergestores Bipartite —
CIB21 (2014), publicado pelo Ministério do
Desenvolvimento Social, traz orientações detalhadas
quanto à regionalização dos serviços de média e alta
complexidade do SUAS.
A Resolução CNAS n.º 31/201322 aprova princípios e
diretrizes da regionalização no SUAS, e dentre outros, os
parâmetros para a oferta regionalizada do Serviço de
Acolhimento para Crianças, Adolescentes e Jovens de
até 21 anos.

Conheça os modelos de lei e as resoluções da CIB que foram


organizados por alguns estados brasileiros. Acesse o material pelo
link: www.familiaacolhedora.org.br/guia/207

5.5.2. Oferta Compartilhada entre Municípios


Apesar de ser mais indicado que o Estado esteja à frente da oferta
regionalizada do SFA, esta ainda pode ocorrer por iniciativa e auto-organização
de um grupo de municípios vizinhos, por meio de consórcios públicos
intermunicipais, convênios de cooperação ou convênios administrativos
intermunicipais, ou outro tipo de contratualização entre os municípios
participantes, conforme legislação pertinente para cada instrumento ou
modalidade, ou ainda, por meio de parceria com OSCs.

Para municípios de pequeno porte, essa estratégia de atuação conjunta


possibilita, ao mesmo tempo, a proteção, o atendimento das demandas
de acolhimento de crianças e adolescentes e a redução dos custos para as
cidades participantes.

Para a viabilização desse formato de contratualização é preciso


considerar, entre outros aspectos:

56
A iniciativa dos órgãos gestores da
Assistência social municipal,
preferencialmente em diálogo com o
Ministério Público e Poder Judiciário local;

A identificação das demandas locais - municípios de pequeno


porte apresentam demanda pouco expressiva, mas, ao
mesmo tempo, não possuem modalidade de acolhimento e
dependem de vagas em instituições em outras cidades;

A definição do número de municípios que


firmarão parceria;

As mesmas orientações sobre a forma de


funcionamento expressas para a execução
de um serviço regionalizado pelo estado.

Os municípios próximos ou contíguos que buscarem a implantação


conjunta do SFA deverão seguir todas as etapas descritas, mas também
precisarão se preparar para atender algumas especificidades de um Serviço
de Acolhimento Regional.

A operacionalização de um SFA nesse formato também exigirá algumas


adaptações e flexibilidade nas ações, tais como:

• Cada município deverá aprovar a lei de implementação do SFA e,


posteriormente, em conjunto, seguir os trâmites legais de cada
tipo de instrumento ou modalidade escolhida pelos gestores
municipais (consórcios, convênios ou parcerias);

• Independente da modalidade de parceria formalizada, cada


município deve assumir a corresponsabilidade na organização e
administração do Serviço, que será vinculado técnica, administrativa
e financeiramente às Secretarias Municipais de Assistência Social
participantes;

• Deverá ser definido qual município disponibilizará o local físico


para a sede, quais profissionais serão designados em cada
município, como funcionará a aquisição de materiais, equipamento
e transporte e, ainda, o aporte dos recursos financeiros para a
execução e manutenção do Serviço.

57
• Reuniões de rede nos municípios parceiros para fortalecer a rede
de proteção e atendimento, sensibilizar os profissionais sobre o
acolhimento familiar e realizar, sempre que necessário, estudos de
caso;

• Ações de divulgação ampliadas que abranjam a comarca;

• Diálogo constante com os órgãos gestores dos municípios parceiros


para que as ações sejam organizadas e articuladas em conjunto,
evitando fragmentações que possam fragilizar as ações do SFA;

• Manutenção da infraestrutura adequada, de veículo e da equipe


técnica exclusiva, de acordo com as definições do instrumento
pactuado entre os municípios para o planejamento de ações e a
execução qualificada do SFA.

Amplie seus conhecimentos. Veja o que a lei dispõe sobre convênios


e consórcios públicos. Acesse o link abaixo:
www.familiaacolhedora.org.br/guia/208

Acesse o link e conheça um modelo de lei municipal que aprovou a


execução de um SFA entre três municípios brasileiros:
www.familiaacolhedora.org.br/guia/209

Na próxima aula, veremos como constituir e formar a equipe técnica do


SFA e a infraestrutura necessária. Até lá!

DE OLHO NA TELA

Assista, na plataforma, aos vídeos e


depoimentos/entrevistas que irão reforçar o conteúdo
apresentado. Ah, e não deixe de fazer a atividade
reflexiva sugerida.

58
Aula 6
Instituição e Formação da
Equipe Técnica do SAF e a
Infraestrutura Necessária
Na aula anterior, conhecemos algumas diretrizes para
implantação do Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora
em um município ou região. Para que o SFA cumpra com os
seus propósitos, é necessário que se tenha uma equipe técnica
capacitada e infraestrutura adequada. É isso que vamos aprender
nesta aula.

6.1 - A INSTITUIÇÃO E FORMAÇÃO DA EQUIPE TÉCNICA

A NOB-RH/SUAS define que a equipe de referência para o


atendimento no SFA deve ser formada por um coordenador,
um assistente social e um psicólogo, todos com nível superior
completo, para o acompanhamento de até 15 famílias acolhedoras
e até 15 famílias de origem. A formação da equipe deve considerar
ainda o número de famílias e indivíduos referenciados, o tipo de
atendimento prestado e as aquisições que devem ser garantidas
aos usuários acompanhados. O documento Orientações Técnicas:
Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes destaca
que deverá ser respeitado o número mínimo de profissionais
necessários, a carga horária mínima e o cumprimento das
atribuições de cada profissional.

59
A equipe mínima, a escolaridade, carga horária e número de famílias
referenciadas são assim definidas:

ESCOLARIDADE QUANTIDADE NÚMERO


FUNÇÃO DE FAMÍLIAS
REFERENCIADAS

Coordenador Nível superior 01

Assistente Social Nível superior 01 dupla de Para


profissionais acompanhamento
Psicólogo Nível superior
de até 15 famílias
Carga Horária acolhedoras e até 15
Mínima famílias de origem
Indicada: 30/h dos usuários nesta
semanais. modalidade.

A instituição da equipe técnica pode ocorrer mediante concurso público


ou processo seletivo, quando o SFA for de execução direta; também pode ser
contratada pela OSC parceira, quando de execução indireta. A seleção para a
contratação de profissionais ou a elaboração de editais de concursos públicos
para o provimento de cargos deve garantir pessoal com perfil adequado,
com experiências anteriores congêneres, habilidades e conhecimentos
técnicos, conforme sugestão das OT.

Alguns conhecimentos técnicos, habilidades e competências desejáveis:

Coordenador:

Conhecimentos Habilidades e Competências

- Gestão, seleção e desenvolvimento - Capacidade de liderança e gestão


de RH; da equipe de trabalho;

- Trabalho em equipe; - Capacidade de análise crítica,


resolução de conflitos e tomada de
- Famílias, crianças e adolescentes em decisões;
situação de vulnerabilidade social e
risco; - Capacidade de organização e
gerenciamento dos processos de
- Articulação e trabalho em rede; trabalho;

- Legislação e normativas nacionais e - Capacidade de comunicação e de


internacionais sobre a área; representatividade;

- Estrutura e funcionamento da - Atitude condizente com o


Política Nacional de Assistência Social; conhecimento técnico acerca da
condição de famílias, crianças e
- Normativas sobre serviços de adolescentes em vulnerabilidade
acolhimento para crianças e social, evitando a discriminação e
adolescentes; culpabilização dessas.

- Sistema de Garantia de Direitos.

60
Equipe técnica:

Conhecimentos Habilidades e Competências

- Violência, exclusão social e - Abertura e disponibilidade para o


violência doméstica contra a criança trabalho interdisciplinar;
e adolescente;
- Capacidade de escuta e empatia;
- Saúde mental;
- Capacidade de manejar situações
- Separações, perdas e traumas; complexas;

- Vínculo e apego; - Iniciativa, autonomia e capacidade


de intervenção em situações de
- Desenvolvimento infantojuvenil; conflito e crise;

- Atendimento a crianças, - Assertividade e capacidade de


adolescentes, famílias e rede social; comunicação

- Experiência em metodologia de - Capacidade crítica e autorreflexiva


serviços de alta complexidade do da prática, com abertura para
SUAS; aprendizagens constantes;

- Trabalho em grupo; - Atitude condizente com o


conhecimento técnico acerca da
- Articulação e trabalho com a rede condição de famílias, crianças e
de serviços; adolescentes em vulnerabilidade
social, evitando a discriminação e
- Conhecimento e acesso a serviços, culpabilização desses.
programas, projetos e benefícios;

- Legislação e normativas nacionais


e internacionais sobre a área;

Deve-se considerar, ainda, que a equipe técnica do SFA, assim como as


demais equipes de referência do SUAS, deve ser constituída por profissionais
que seguem as orientações e princípios éticos das suas respectivas categorias,
de modo a garantir o conhecimento técnico e o compromisso ético-
político no atendimento das crianças, adolescentes, famílias de origem e
famílias acolhedoras.

Outros aspectos importantes a serem observados são:

(i) a estabilidade da equipe técnica que provê às crianças e adolescentes


em acolhimento e às famílias experiências de segurança, continuidade e
confiança em suas referências profissionais e afetivas. Mudanças frequentes
na equipe podem reforçar experiências anteriores de separação e ruptura,
dificultando o processo de acompanhamento e o desenvolvimento das
ações do plano de atendimento; e

61
(ii) a necessidade de flexibilização do horário de trabalho, de modo
a permitir o desenvolvimento de ações fora do horário de expediente para
atendimentos emergenciais, sendo necessário que haja, 24 horas por dia e
todos os dias da semana, um profissional em esquema de sobreaviso (plantão)
para as demandas urgentes referentes às crianças e aos adolescentes
acolhidos. Dessa forma, é preciso disponibilidade dos profissionais e previsão
de pagamento de horas de sobreaviso à equipe técnica, como previsto na
legislação.

De acordo com as OT e a NOB-RH/SUAS, os profissionais que trabalham


em Serviços de Acolhimento, seja o coordenador, a equipe técnica ou a
equipe de apoio, principalmente aqueles que atuam diretamente com as
crianças e/ou adolescentes e famílias, devem receber formação inicial e
continuada para a aquisição de novos conhecimentos, habilidades, atitudes
e qualificação permanente em relação aos processos de trabalho. Logo após a
instituição da equipe técnica, uma formação inicial deverá ser oferecida para
a equipe e repetida sempre que novos profissionais sejam incorporados. Essa
formação pode ficar sob responsabilidade da gestão municipal, podendo
contar com o apoio do coordenador do SFA e com a parceria de profissionais
externos com experiência na temática e com as peculiaridades do trabalho.

A organização da formação deve considerar a previsão de local,


participantes, número de encontros, assuntos importantes e demandas,
as características do município e/ou região e a rede de proteção existente.
Alguns temas iniciais podem ser priorizados:

Apresentação do SFA, suas Princípios do Serviço de Acolhimento em


especificidades e regras de Família Acolhedora;
funcionamento;
Marcos legais: Constituição Federal O SGDCA e as políticas públicas;
de 1988; ECA e alterações; PNAS;
SUAS; PNCFC; OT; Tipificação
Nacional (TN);
Vínculo, apego e desenvolvimento Famílias em situação de vulnerabilidade
infantil; e risco social inseridas na Proteção Social
Especial de Alta Complexidade, com
crianças e/ou adolescentes em medida
de proteção;
Crianças e adolescentes acolhidos Fluxo de atendimento da criança,
– separações, lutos e experiências adolescente e sua família;
reparadoras;
Metodologias de trabalho com Construção do Plano Individual
famílias de crianças e adolescentes de Atendimento (PIA), relatórios
acolhidos e suas histórias de vida; de acompanhamento e demais
instrumentais necessários ao
atendimento da criança e/ou adolescente
e famílias de origem/ extensa.
Articulação e trabalho em rede; Formação inicial e continuada das
famílias acolhedoras, atribuições e o
acompanhamento da família;

62
Além dos encontros de formação inicial, a coordenação e a equipe
técnica poderão utilizar outras estratégias que possibilitem a aquisição
de informações e conhecimentos, como discussões técnicas e processos
reflexivos entre os profissionais. Algumas sugestões são: a organização de
grupos de estudo, com rotinas e assuntos definidos pela equipe técnica;
participação em eventos e cursos; contatos e visitas a outros SFAs que já
executam a modalidade.

6.2 - A INFRAESTRUTURA
As Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento
para Crianças e Adolescentes listam os espaços físicos
mínimos para a execução do Serviço de Acolhimento
em Família Acolhedora, a sugestão do seu uso
adequado e salientam que esses devem funcionar em
área específica para o desenvolvimento de atividades
técnico-administrativas. Os espaços listados são:

• Sala para equipe técnica: com espaço e mobiliário suficientes


para desenvolvimento das seguintes atividades: elaboração
de relatórios, atendimentos, reuniões, com independência e
separação de outras atividades e/ou programas que a instituição
desenvolva;

• Sala de coordenação/Atividades administrativas: com espaço e


mobiliário suficientes para desenvolvimento de atividades das
áreas contábil/ financeira, documental, logística etc. O espaço
deve ter área reservada para guarda de prontuários das crianças
e adolescentes em condições de segurança e sigilo;

• Sala de atendimento: com espaço e mobiliário suficientes para


atendimento individual e/ou familiar com privacidade;

• Sala/ Espaço para reuniões: com espaço e mobiliário suficientes


para a realização de reuniões de equipe e de atividades grupais.

As Orientações Técnicas também apontam a necessidade de


disponibilizar meio de transporte para a realização de visitas domiciliares
e reuniões com os demais atores do SGDCA e com a rede de serviços. Da
mesma forma, a Tipificação determina que devem ser disponibilizados
ambientes físicos condizentes com as atividades da equipe técnica, além de
recursos materiais como veículo, material permanente e de consumo.

As experiências acumuladas e relatadas por Serviços de Acolhimento


em Família Acolhedora, já em funcionamento, sugerem que outros espaços

63
e materiais sejam agregados à estrutura, facilitando e qualificando o
atendimento prestado às crianças, adolescentes e famílias:

• Recepção: espaço condizente e preparado para a acolhida das


famílias em acompanhamento, dos profissionais da rede de
serviços, dos parceiros e de pessoas interessadas em conhecer a
proposta;

• Brinquedoteca/ Biblioteca: com mobiliário adequado, livros,


brinquedos, jogos, materiais didáticos e lúdicos para as diversas
faixas etárias. O espaço pode ser utilizado para atendimentos
de crianças e/ou adolescentes com a equipe técnica; para
encontros entre a família de origem e/ou extensa e as crianças e
adolescentes acolhidos; e para atividades com grupos de crianças
e adolescentes;

• Meio de transporte: Disponibilização de veículo e motorista


permanente para realização de atividades da equipe técnica,
tais como: visitas domiciliares; reuniões com serviços da rede
e do SGD/CA; encontros entre as crianças e adolescentes em
acolhimento e suas famílias; ações de divulgação do SFA, entre
outras. A falta de veículo disponível pode restringir e dificultar
a agilidade necessária que um trabalho dessa natureza exige,
principalmente quanto ao atendimento das necessidades das
crianças e adolescentes e do acompanhamento da família de
origem e/ou extensa.

• Materiais Permanentes: Para o trabalho são necessários


equipamentos como computadores, impressoras, telefones e
acesso à internet. A divulgação do SFA e a mobilização de novas
famílias para acolhimento também têm como porta de entrada as
redes sociais, os sites e contatos telefônicos;

• Materiais de Consumo: Oferta de jogos, brinquedos, livros,


materiais de escritório, utilizados nas salas de atendimento e
durante reuniões, atividades grupais e nas formações iniciais e
continuadas de famílias acolhedoras.

DE OLHO NA TELA

Assista, na plataforma, ao vídeo com o especialista


para ampliar seu conhecimento.

64
Aula 7
Plano de Mobilização e
Preparação das Famílias,
Lançamento, Divulgação e
Financiamento do SFA

7.1. PLANO DE MOBILIZAÇÃO, LANÇAMENTO, DIVULGAÇÃO


Uma das etapas do cronograma de implantação do SFA no
município ou região é a elaboração de um plano de divulgação,
mobilização e preparação de famílias acolhedoras. Caso a
localidade tenha constituído um Grupo de Trabalho ou Comissão
de Implantação, os representantes deverão ser envolvidos nas
discussões sobre as ações de divulgação e de formação inicial de
famílias.

A divulgação do Serviço é de responsabilidade do órgão


gestor da política de assistência social do município, sendo
parte fundamental da implementação e consolidação do SFA
em um município ou região, uma vez que a participação da
comunidade, por meio das famílias acolhedoras, é imprescindível
para a realização do trabalho, devendo ser promovida por meio
da articulação com os profissionais que compõem o SFA, assim
como os atores do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do
Adolescente (SGD/CA) e a comunidade.

Existem diferentes setores da sociedade que podem


contribuir para a divulgação da modalidade de acolhimento
em família acolhedora. Em algumas localidades, o diálogo
com universidades pode ser uma via, assim como parcerias
com emissoras de TV e rádio, organizações da sociedade civil e
empresas privadas. Líderes comunitários, conselheiros tutelares,
juízes e/ou promotores também podem ser grandes parceiros
nas ações de divulgação. A própria articulação com a rede
intersetorial, atividade permanente das equipes técnicas, oferece
excelentes oportunidades de disseminação da modalidade e
mobilização de novas famílias. Quanto mais parceiros o SFA tiver,
maior o alcance e a eficácia das ações de divulgação.

Além disso, como o SFA é diretamente responsável pelo


processo de seleção e formação das famílias candidatas ao

65
acolhimento, é necessário planejar as etapas e os critérios de avaliação
quanto ao potencial e ao perfil para atuar como família acolhedora, bem
como um processo de formação que possa desenvolver habilidades
e competências para a função e, ainda, definir como se dará o
acompanhamento sistemático das famílias acolhedoras pela equipe
técnica do SFA durante os acolhimentos. Esse conjunto de ações, delineado
com atenção, será imprescindível para a realização de acolhimentos de
qualidade e que atendam às necessidades de cada criança e adolescente
em medida protetiva.

7.2. LANÇAMENTO DO SERVIÇO E APRESENTAÇÃO À COMUNIDADE


Um dos eventos que deve constar no Plano de Mobilização é o
lançamento do SFA para a comunidade. Além de formalizar o início de
funcionamento do SFA, esse evento de lançamento é também uma grande
oportunidade de apresentação e divulgação da proposta, proporcionando
visibilidade, reunindo profissionais de diversas políticas públicas, do
Sistema de Justiça, demais atores do SGDCA e a população do município
ou região. O órgão gestor, a Comissão de Implantação e a equipe do Serviço
de Acolhimento em Família Acolhedora poderão preparar o evento de
lançamento considerando, entre outros aspectos:

• O local e horário de sua realização;

• O formato do evento (seminário, palestra, confraternização);

• O mapeamento e a definição de quais serão os convidados para


falas ou apresentações (como líderes comunitários e religiosos,
autoridades locais, profissionais com experiência na temática e
famílias acolhedoras);

• A preparação de materiais de divulgação como folders e outros


para distribuição no evento e a socialização de ferramentas e
formas de contato (como site, redes sociais, WhatsApp, telefone);

• O convite e a articulação com os meios de comunicação locais;

• A publicação de um “edital de chamamento público” para


mobilização de famílias acolhedoras ou outras formas de inscrição
das famílias interessadas, sendo realizada a comunicação
à comunidade durante o Lançamento Oficial do Serviço de
Acolhimento em Família Acolhedora.

66
7.3. DIVULGAÇÃO DO SAF E MOBILIZAÇÃO DAS FAMÍLIAS
Como vimos, a divulgação é parte fundamental da implementação e
consolidação do SFA em um município ou região, uma vez que a participação
da comunidade, por meio das famílias acolhedoras, é imprescindível para a
realização do trabalho. Para que tal divulgação apresente resultados efetivos,
ela deve abranger dois objetivos importantes:

• A disseminação da modalidade para a comunidade em geral;

• A mobilização de famílias interessadas em acolher.

A equipe técnica deve estar engajada na divulgação do SFA, visto


que possui a experiência prática, podendo assim ajudar a informar sobre
os objetivos e o funcionamento do SFA, além de contribuir nas discussões
sobre as melhores estratégias e formatos para uma campanha. A junção da
gestão local, de profissionais de comunicação e da equipe técnica do SFA
irá qualificar e potencializar o processo de divulgação. Além de estabelecer
parcerias, a equipe precisa definir objetivos de divulgação condizentes com
suas necessidades, bem como estratégias viáveis que permitam alcançá-los.

Ao planejar as estratégias de divulgação do SFA, a equipe profissional


deve considerar que pode ser necessário alcançar muitas pessoas até que
se tenha o engajamento esperado. Na Espanha, por exemplo, país com
anos de experiência no acolhimento familiar, estima-se que apenas 10% das
pessoas que tiveram contato com alguma ação de divulgação tornaram-se
efetivamente acolhedoras. Essa estimativa reforça que as campanhas devem
ocorrer com frequência e utilizar os mais diversos meios de comunicação
para atingir resultados efetivos.

67
SAIBA MAIS

DICAS PARA DIVULGAÇÃO DO SFA NOS MUNICÍPIOS


Desenvolvimento de uma marca do SFA, logotipo e/ou slogan para estampar as ações de
divulgação. Existe uma marca nacional para divulgação do acolhimento familiar, que tem sido
utilizada e está disponível no site do Ministério da Cidadania e, também, o kit de peças produzido
pela Coalizão pelo Acolhimento em Famílias Acolhedoras (mais informações no próximo box);
Campanhas publicitárias para veiculação em TV, rádio e mídia impressa;
Campanhas publicitárias com figuras públicas e pessoas reconhecidas, com credibilidade para
apresentação da proposta;
Anúncios publicitários aplicados em mobiliário urbano, tais como: outdoors, busdoors (anúncio em
vidros traseiros de ônibus), totens, relógios etc;
Distribuição de material promocional com a identidade visual e contatos do SFA, tais como:
chaveiros, lixocar, canetas, blocos de anotação, sacolas, jogo americano personalizado em
restaurante, entre outros;
Colocação de cartazes informativos com os contatos do Serviço de Acolhimento em Família
Acolhedora em espaços de grande circulação na comunidade, como unidades de saúde, de
assistência social, nas escolas, espaços de esporte e lazer, estabelecimentos comerciais etc;
Matérias e entrevistas para TV, rádio e mídia impressa, que informem sobre a existência e
funcionamento do SFA, esclareçam dúvidas da audiência, convidem famílias que já acolhem para
falar sobre suas experiências, entre outros;
Filmes curtos para veiculação em aberturas de eventos e outras ocasiões pertinentes;
Panfletagem e/ou adesivagem utilizando flyers, folders, folhetos, adesivos e/ou cartilhas
informativas;
Evento de lançamento do SFA, com a participação de prefeito, vereadores, secretários, juízes,
promotores, outras autoridades e a sociedade civil;
Dia, semana ou mês do acolhimento familiar previsto em calendário municipal, com atividades
diversas relacionadas ao tema;
Site com informações sobre o SFA, contendo material para consulta sobre acolhimento familiar
nacional e internacional, depoimentos de famílias, crianças e adolescentes, links para cadastro etc;
Perfis em redes sociais (Facebook, Instagram, Twitter, entre outros) com postagens contínuas
sobre acolhimento familiar, no intuito de atrair seguidores e gerar engajamento;
Abertura de “edital de chamamento público” para novas famílias interessadas no acolhimento.
Esse edital torna oficial e pública a abertura do processo de inscrição, seleção e preparação de
famílias interessadas, de acordo com Lei Municipal de implantação do SFA;
Busca ativa por famílias com perfil para acolher, por meio de visitas a bairros e comunidades,
contatos telefônicos, grupos de WhatsApp, conversas informais em reuniões e/ou encontros;
Palestras breves e informativas nos mais diferentes contextos: igrejas, associações de moradores,
centros comunitários, empresas, espaços da comunidade e com usuários do Sistema Único de
Saúde (SUS) e Sistema Único de Assistência Social (SUAS), por meio de participação nas reuniões
do Bolsa Família, do Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF), de agentes de
saúde, grupos de idosos, entre outros.

Materiais de Divulgação Disponíveis Gratuitamente


O SFA do seu município não possui material gráfico para divulgação
da modalidade?
Existem peças publicitárias da Campanha Família Acolhedora
disponíveis para download no site do Ministério da Cidadania.
Conheça também o kit de peças que a Coalizão pelo Acolhimento
em Famílias Acolhedoras produziu e disponibilizou para uso. Acesse
o link e conheça esses materiais:
www.familiaacolhedora.org.br/guia/402

68
7.4. DESTINAÇÃO DE RECURSOS PARA IMPLANTAÇÃO,
IMPLEMENTAÇÃO, MANUTENÇÃO E QUALIFICAÇÃO DO SERVIÇO
O poder público, seja por meio dos municípios, do Distrito Federal, dos
estados ou da União, tem o dever de formular e executar políticas públicas
direcionadas à população infantojuvenil. Para isso, faz-se necessária a
busca pela composição de fontes de recursos financeiros para viabilizar
a implantação, a implementação, a qualificação e a manutenção do
SFA. Os entes federados - municípios, Distrito Federal, estados e União
- são corresponsáveis pelo financiamento (cofinanciamento) das ações
continuadas e planejadas, onde se insere o SFA.

A principal fonte para a manutenção do SFA é o Fundo de Assistência


Social, sendo as demais indicadas para captação de forma complementar,
voltadas ao aprimoramento e qualificação do atendimento às crianças e
adolescentes.

Dessa forma, sugere-se que a gestão municipal realize o planejamento


adequado das ações necessárias à implantação e manutenção do SFA e as
previsões nos devidos orçamentos e, dentre as possíveis articulações, busque
a inserção e captação de recursos junto aos organismos competentes,
conforme as respectivas fontes:

7.4.1. Fundos de Assistência Social

→ A principal fonte de financiamento do SUAS se dá por meio dos


Fundos de Assistência Social dos municípios, Distrito Federal, estados e
União.

→ A possibilidade de obtenção de cofinanciamento federal regular para


a oferta do SFA (assim como o de qualquer outro serviço do SUAS)
ocorre durante os processos de expansão e reordenamento das vagas
cofinanciadas pelo governo federal. Esses processos têm como objetivo
a implantação de novos Serviços de Acolhimento e a qualificação dos
já existentes.

7.4.2. Fundos para a Infância e Adolescência ou Fundos dos Direitos da


Criança e do Adolescente
Mesmo que em caráter complementar, os recursos dos Fundos para
a Infância e Adolescência (FIA), de todos os níveis da federação, podem e
devem ser direcionados ao SFA. Os recursos do FIA podem ser utilizados para
a implantação, implementação, divulgação, adequação e, especialmente,
qualificação do SFA, observados parâmetros e finalidades para sua utilização,
conforme previsto na Resolução CONANDA nº 137/2010.

69
→ As deliberações quanto à destinação dos recursos alocados nos
Fundos cabem aos Conselhos de Direitos locais, entretanto devem
observar as determinações estabelecidas pelo ECA, o qual determina,
no Art. 260, § 2º, que parte dos recursos do FIA deverão ser aplicados
necessariamente no incentivo ao acolhimento, sob forma de guarda,
de crianças e adolescentes.

Os recursos também podem ser direcionados para o pagamento do


subsídio às famílias acolhedoras.

Atenção: os recursos do FIA não devem ser a única base para a


manutenção do SFA, pois são de natureza complementar.

7.4.3. Emendas Parlamentares

→ São importantes instrumentos de alocação de recursos públicos


por parlamentares, seja na esfera municipal, estadual ou federal. Há a
possibilidade de participação ativa e direta desses representantes na
indicação de ações e projetos por meio de emendas parlamentares
à Lei Orçamentária Anual (LOA), desde que compatíveis com o Plano
Plurianual (PPA) e Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) do respectivo
ente federado e, assim, viabilizar ou fortalecer políticas públicas
essenciais à população.

Como se trata de recurso pontual, recomenda-se que sua utilização seja


para complementariedade, apoio na implantação e qualificação, mas não
para sua manutenção permanente, pois o SFA tem caráter continuado e
deve estar previsto nos planos plurianuais e demais peças orçamentárias e
financeiras para garantia de sua continuidade.

7.4.4. Recursos Ordinários (Fonte 100)


Para além dos recursos próprios que podem e devem ser alocados nos
fundos específicos (FMAS e FMDCA/FIA), os recursos ordinários (fonte 100
– tesouro) não estão vinculados a nenhum fundo ou programação e estão
disponíveis para livre aplicação.

→ O gestor público pode canalizar esses recursos para potencializar,


aprimorar e qualificar o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora
em seu município ou ainda direcioná-los para a implantação, podendo
aplicar sua utilização na aquisição de imóvel e adequação de espaço,
nos gastos como aquisição de equipamentos permanentes, veículos
ou para a obtenção de materiais necessários ao funcionamento das
atividades, ações de formação e divulgação, dentre outros.

70
Os municípios que recebem recursos do Fundo Nacional de Assistência
Social (FNAS), destinados ao cofinanciamento dos serviços de acolhimento
para crianças e adolescentes e os estejam utilizando para a oferta de
acolhimento institucional, podem realizar a transição de modalidade e passar
a utilizá-los para oferta do Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora,
a partir da proposição do órgão gestor de assistência social e da aprovação
do CMAS.

Além da utilização com despesas para a manutenção do SFA (pagamento


da equipe de referência, aluguel, água, luz, dentre outras), os recursos do
FNAS também podem ser empregados no pagamento do subsídio destinado
às famílias acolhedoras, visando a manutenção das crianças e adolescentes
durante o período de acolhimento, conforme Art. 2º da Portaria MDS nº
223/2017.

Para conhecer melhor a Portaria MDS nº 223/2017, acesse o link a seguir:


https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/
content/id/19116946/do1-2017-06-14-portaria-n-223-de-8-de-junho-
de-2017-19116937

No próximo módulo, vamos conhecer os parâmetros de funcionamento


do Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora. Até lá!

DE OLHO NA TELA

Assista, na plataforma, às entrevistas com atores


locais com boas experiências em divulgação do SAF e
mobilização das famílias e aos depoimentos de famílias
acolhedoras sobre como ficaram sabendo do serviço e o
que fez com que se interessassem em ser família
acolhedora. E não se esqueça da atividade reflexiva!

O Conteúdo deste módulo foi retirado do Caderno 2 do GUIA DE


ACOLHIMENTO FAMILIAR. Para aprofundar seus conhecimentos,
sugerimos a leitura integral do referido Caderno.

71
Referências e Sugestões
Bibliográficas
Normas:
BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988.
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional
Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar,
o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma
sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social
e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das
controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO
DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. [online]. Brasília: DF. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso
em: 20 nov.. 2021.

BRASIL. Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança


e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União de 14 de julho
de 1990 [online]. Brasília: DF, 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em 20 nov. 2021.

BRASIL. MINISTÉRIO DOS DIREITOS HUMANOS/CONSELHO NACIONAL DOS


DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. Resolução nº 113, de 19 de abril de
2006. Dispõe sobre os parâmetros para a institucionalização e fortalecimento do
Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente, Brasília: CONANDA,
2006. Disponível em: <https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=104402>.
Acesso em: 12 nov. 2021.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria


Nacional de Assistência Social. Política Nacional de Assistência Social (PNAS).
Brasília, 2004. Disponível em: < https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/
assistencia_social/Normativas/PNAS2004.pdf> Acesso em: 18 de nov. de 2021

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria


Especial dos Direitos Humanos. Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento
para Crianças e Adolescentes. Resolução conjunta n.º 01, de 18 de junho de
2009. Brasília, CNAS, CONANDA, 2009. Disponível em: < https://www.mds.gov.
br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/orientacoes-tecnicas-
servicos-de-alcolhimento.pdf> Acesso em: 18 de nov. de 2021

Livros e Artigos:
FERRERA, Miguel Angel Montiel. TITO, Cláudia Roberta Costa. CERUTTI, Neusa
Eli Figueiredo. Guia de implementação do Serviço: Família Acolhedora.
Macapá: Ministério Público do Amapá – Centro de Apoio Operacional da Infância,
Juventude e Educação (CAOP-IJE), 2020.

PINHEIRO, Adriana (org). et al. CADERNO 2 Guia de Acolhimento Familiar:


Implantação de um serviço de acolhimento em família acolhedora. [s.l.]. 2021.

72
REZENDE, Propércio Antônio de. Considerações sobre o Sistema de Garantia
dos Direitos da Criança e do Adolescente – SGDCA. [s.l], 2014, 17p. Disponível
em: < https://livredetrabalhoinfantil.org.br/wp-content/uploads/2016/11/
consideracoes_SGDCA-1.pdf>. Acesso em 12 nov. 2021.

Sites e Projetos
Instituto Geração Amanhã. Acolhimento Familiar, 2021. Disponível em:
<. https://acolhimentofamiliar.com.br>. Acesso em: 20 nov. 2021.

73
Apresentação e
Guia de Estudos do
Módulo 3
Neste módulo, vamos aprender a diferenciar a temporalidade
do acolhimento em SFA, incluindo as especificidades de
acolhimentos de curta, média e longa duração. Além disso,
entenderemos como se dá o encaminhamento de crianças e
adolescentes para o SFA e como adotar o Termo de Guarda e
Responsabilidade.

Também detalharemos um pouco mais sobre as funções


e atividades da equipe profissional do SFA e a importância da
formação continuada e da supervisão técnica.

Por fim, aprenderemos a organizar o fluxo com o Sistema


de Justiça na operacionalização do SFA, compreendendo a
importância da interlocução com a rede intersetorial para a oferta
do SFA.

Para organizar os seus estudos, siga o guia.

74
1. AULA 8
1.1. Leia, na apostila, a Aula 8 do Módulo 3.
1.2. Assista à aula narrada 8.
1.3. Assista depoimentos de profissionais que atuam em SFA com
acolhimento de curta, média e longa duração e com acolhimento de
emergência
1.4. Faça os exercícios de fixação da Aula 8 na plataforma.

2. AULA 9
2.1. Leia, na apostila, a Aula 9 do Módulo 3.
2.2. Assista à aula narrada 9.
2.3. Assista à entrevista sobre encaminhamento para a família acolhedora
e Termo de Guarda e Responsabilidade.
2.4. Faça os exercícios de fixação da Aula 9 na plataforma.

3. AULA 10
3.1. Leia, na apostila, a Aula 10 do Módulo 3.
3.2. Assista à aula narrada 10.
3.4. Assista à entrevista com especialista, com experiência em
coordenação de SFA, sobre as funções a serem desempenhadas pela
equipe técnica e a importância da formação continuada e da
supervisão técnica da equipe para o exercício das suas funções.
3.5. Assista ao vídeo com o depoimento de profissional da equipe técnica
sobre a importância de formação específica para atuar no serviço.
3.6. Faça os exercícios de fixação da Aula 10 na plataforma.

4. AULA 11
4.1. Leia, na apostila, a Aula 11 do Módulo 3.
4.2. Assista à aula narrada 11.
4.3. Assista ao vídeo sobre os fluxos com o Sistema de Justiça.
4.4. Assista ao vídeo com depoimentos de técnicos de diferentes SFAs
sobre a articulação com a rede intersetorial.
4.5. Faça os exercícios de fixação da Aula 11 na plataforma.
4.6. Faça a atividade avaliativa na plataforma.

Bons estudos!

75
Aula 8
Temporalidade do
Acolhimento
Como vimos no Módulo 1, o Serviço de Acolhimento em
Família Acolhedora (SFA) é um serviço previsto no Sistema
Único de Assistência Social (SUAS), de modo que compõe a rede
socioassistencial local e tem grande relevância para garantir
a proteção social de crianças e adolescentes em situação de
abandono ou outras violações de direitos. Já no Módulo 2,
conhecemos como se dá a Implantação e Gestão do Serviço de
Acolhimento em Família Acolhedora.

Nesta aula, vamos iniciar o Módulo 3, buscando compreender


as especificidades da temporalidade do acolhimento em Família
Acolhedora. Mas o que é Temporalidade? Ao utilizar esse termo,
estamos nos referindo à duração, ao tempo de acolhimento
característico do SFA.

De acordo com o ECA, Art. 101, §1º, a medida protetiva de


acolhimento, institucional ou familiar, é sempre excepcional e
provisória. O Art. 19, § 2º. estipula ainda que a permanência da
criança ou do adolescente no Serviço de Acolhimento não deverá
se prolongar por mais de 18 meses, salvo comprovada necessidade.
Durante esse período, os esforços devem ser direcionados para
viabilizar a reintegração à família de origem e/ou extensa. Apenas
ao se esgotarem as possibilidades de uma reintegração familiar
segura, será sugerida a destituição do poder familiar para garantia
do direito à convivência familiar em família por adoção.

A importância de estabelecer um tempo limite para o


acolhimento está atrelada ao objetivo principal da medida
protetiva, que é o de reintegrar a criança e/ou adolescente à sua
família de origem e/ou extensa ou inseri-lo em família por adoção.
Porém, tendo-se em mente que cada caso é único e que o melhor
interesse da criança ou do adolescente deve nortear o trabalho, o
acolhimento pode ocorrer por poucos dias, por algumas semanas,
meses ou, excepcionalmente, até durar anos, nos casos em que
não for possível a reintegração familiar ou a adoção.

Com o avanço do acolhimento familiar em vários países e com


as experiências acumuladas no Brasil, a discussão sobre a duração
do acolhimento tem se ampliado. Algumas alternativas estão se
tornando cada vez mais comuns em função das demandas do

76
local, das necessidades das crianças e dos adolescentes e do Projeto Político
Pedagógico (PPP) de cada SFA. Veja alguns exemplos:

→ Acolhimentos de Emergência: Extremamente curtos, podendo


durar apenas uma noite/dia, final de semana ou alguns dias. Nesse
formato, as famílias acolhedoras participantes do SFA permanecem
disponíveis para receber a criança e/ou adolescente em qualquer
horário. Ocorre principalmente em municípios onde o acolhimento
em família acolhedora é a única modalidade de atendimento e, em
situações emergenciais envolvendo a família de origem, quando o
único responsável pela criança e/ou adolescente não possui uma rede
de apoio.

→ Acolhimentos de Curta e Média Permanência: Nesses casos, a


medida protetiva pode durar algumas semanas ou meses. Enquanto
isso, a equipe técnica do Serviço de Acolhimento realiza estudo,
avaliação e desenvolve um plano de atendimento com a família de
origem e/ou extensa para superar os motivos que culminaram no
acolhimento. O objetivo inicial do trabalho é viabilizar a reintegração da
criança e/ou adolescente à família de origem ou extensa o mais breve
possível. Caso sejam esgotadas as possibilidades de uma reintegração
familiar segura, será então sugerida a destituição do poder familiar
para garantia do direito à convivência familiar em família por adoção.
Esse formato é o que mais se pratica no Brasil, estando de acordo com
o Art. 19, § 2º, do ECA, que busca a resolutividade da situação em até 18
meses.

→ Acolhimentos de Longa Permanência: Acolhimentos com duração


de vários anos, ocorrendo apenas nos casos em que, por diferentes
motivos, a criança ou adolescente não pode ser reintegrado à família
nem encontra família por adoção. O acolhimento familiar, nesses casos,
possibilita que o cuidado e a proteção ocorra em ambiente familiar,
evitando-se longos períodos de institucionalização, como previsto no
Art. 50, § 11, do ECA:

Cada uma dessas possibilidades de atendimento no SFA apresenta


especificidades, por isso é necessário que o Projeto Político Pedagógico (PPP)
do Serviço contenha diretrizes para o atendimento a tais especificidades,
especialmente em relação a:

• Atenção a ser oferecida à criança e/ou ao adolescente;

77
• Acompanhamento das famílias de origem ou extensa;

• Seleção, formação e orientação da família acolhedora.

Será necessário investir na formação da equipe técnica e na formação e


acompanhamento das famílias acolhedoras, a fim de que tenham condições
de atender às demandas que poderão surgir nos diferentes formatos de
acolhimento. Também será importante atentar para o perfil de cada família
ao selecioná-las para um acolhimento de curto, médio ou longo prazo.

Diferentes Formatos de Acolhimento Familiar para Crianças e


Adolescentes
Conheça mais sobre a organização e a metodologia de trabalho de um
SFA que atende acolhimentos de curta/média e longa permanência.
Acesse o material por meio deste link:
www.familiaacolhedora.org.br/guia/302

Conhecidas as modalidades de acolhimento, na próxima aula, vamos


aprender como e quando ocorre o encaminhamento de crianças e
adolescentes para o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora.

DE OLHO NA TELA

Assista, na plataforma, aos vídeos sobre acolhimentos


de curta, média e longa duração. Também disponibili-
zamos um depoimento de um SFA que possui acolhi-
mento de emergência.

78
Aula 9
O Encaminhamento de
Crianças e Adolescentes para
o SFA
De acordo com a realidade local e a legislação vigente, o
órgão gestor da assistência social, o SFA, a rede de serviços e o
SGDCA deverão discutir e pactuar, formalmente e com todos
os envolvidos, o fluxo e os procedimentos de encaminhamento
de crianças e adolescentes para os Serviços de Acolhimento
existentes no município ou região.

O fluxo elaborado deverá apresentar passos bem definidos


didaticamente, mas os profissionais devem considerar que
as etapas precisam ocorrer com celeridade para atender às
necessidades específicas e preservar a criança e/ou adolescente
que será acolhido. Veja, na sequência, um exemplo de um fluxo
básico que contempla as etapas necessárias a serem discutidas
e acordadas:
Imagem: Modelo de Fluxo Básico de Encaminhamento para o SFA

Solicitação de
medida protetiva

Contato com o
Solicitação de
Estudo órgão gestor local
Acolhimento no
Diagnóstico Prévio da assistência
SFA
social

Acolhimento
Emergencial
Consulta de
Família Acolhedora
com perfil

Encaminhamento
da criança e/ou
adolescente para o
SFA

Acolhimento

Processos de
trabalho do SFA

Fonte: Elaboração própria, com base em informações contidas em Guias de


Acolhimento Familiar (Caderno 03) (2021).

79
Agora, vejamos, de forma mais detalhada, cada etapa desse fluxo:

→ Estudo Diagnóstico

A aplicação de medida de proteção deverá ser precedida de um estudo


diagnóstico, encaminhado para a autoridade judiciária competente. De
acordo com o documento Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento
para Crianças e Adolescentes, trata-se de uma avaliação profissional
realizada por equipe interdisciplinar, caso a caso, envolvendo os serviços que
já atendiam à situação familiar na rede de proteção local. A recomendação
técnica deverá considerar indicadores criteriosos que apontem, entre outros,
os riscos a que estão expostos a criança e/ou adolescente, as condições de
vulnerabilidade e o potencial de superação de violações apresentados pela
família de origem.

→ Solicitação de Medida Protetiva

O Ministério Público, com base nas informações e indicadores do estudo


diagnóstico apresentado pela rede de serviços, promoverá a ação que dará
origem ao procedimento de acolhimento da criança ou adolescente e, a
partir das argumentações e provas do MP, o juiz responsável poderá propor
ação de suspensão ou destituição do poder familiar, destituição de tutela ou
guarda, ou ainda, determinar o afastamento apenas do agressor da moradia
(conforme previsto no Art. 130 do ECA e Art. 21, inciso II, da Lei nº 13.431/2017).

→ Acolhimento Emergencial

Em situações emergenciais, o Conselho Tutelar (CT) pode encaminhar


para Serviços de Acolhimento das crianças e/ou adolescentes que não se
encontrem em companhia de seus pais ou responsável, como crianças
ou adolescentes perdidos, por exemplo, ou que estejam em situação de
flagrante violação de direitos. Nessas situações, o CT deve comunicar o
fato imediatamente à autoridade judiciária ou ao Ministério Público. Após
manifestação do MP, a autoridade judiciária avaliará a necessidade de
manter ou não a medida de proteção. Quando o acolhimento emergencial
em SFA for necessário, é fundamental que o Serviço de Acolhimento em
Família Acolhedora se organize para atender à demanda. A referência para
o encaminhamento da situação e para a acolhida inicial da criança e/ou
adolescente será sempre a equipe técnica do SFA, e não a residência de
uma família acolhedora. A rede de serviços deve estar ciente desse fluxo.

Nessas situações, o diagnóstico deverá ser realizado posteriormente para


avaliar a manutenção ou não do afastamento da criança e/ou adolescente
de sua família de origem.
80
→ Contato com o Órgão Gestor da Assistência Social

Sugere-se que as solicitações de vagas para acolhimento de crianças


e adolescentes sejam encaminhadas à área ou ao profissional definido
pelo órgão gestor. Essa área, por sua vez, deve responsabilizar-se pela
identificação do Serviço de Acolhimento mais adequado para o atendimento,
bem como pelo levantamento do maior número possível de informações
sobre a situação da criança e/ou adolescente que necessita de proteção, tais
como: nome, data de nascimento, motivos do afastamento da família de
origem, endereço, situação familiar e demandas específicas da criança e/ou
adolescente.

Poderão também ser recebidas solicitações de vagas para crianças e/


ou adolescentes para quem a transferência para o SFA garantirá um melhor
atendimento das suas demandas, segundo avaliação técnica.

Nesses casos, todos os envolvidos deverão receber informações sobre


a transferência. A situação deverá ser anunciada e a família de origem e/
ou extensa deverá ser informada, sendo apresentadas as justificativas
necessárias; a equipe de referência deverá facilitar a mudança do
acompanhamento da família de origem e/ou extensa para o SFA; e a família
acolhedora e a equipe do SFA deverão conhecer e se aproximar da criança
e/ou adolescente, oferecendo esclarecimentos, acolhimento e escuta,
facilitando, assim, o processo de transferência, realizado de forma gradual
e que favoreça uma melhor vinculação.

→ Solicitação de Acolhimento no SFA

O órgão gestor municipal, com base nas informações recebidas do


judiciário, de outros Serviços de Acolhimento ou, emergencialmente,
do CT, entrará em contato com o Serviço de Acolhimento e solicitará aos
profissionais do SFA uma vaga para inclusão da criança e/ou adolescente,
repassando as informações recebidas.

Consulta de Família Acolhedora com Perfil

Recebida a solicitação do órgão gestor e com base nos dados recebidos,


os profissionais do SFA discutirão a solicitação em equipe e identificarão
famílias acolhedoras com perfil para o atendimento da criança e/ou
adolescente.

Em seguida, os profissionais entrarão em contato com a família


acolhedora identificada e a consultarão sobre a possibilidade do acolhimento,
compartilhando informações existentes sobre o caso. Com o retorno positivo

81
da família acolhedora, o Serviço de Acolhimento informará o órgão gestor
municipal sobre a disponibilidade desse atendimento.

→ Encaminhamento da Criança e/ou Adolescente para o SFA

Definida a vaga no SFA, a criança e/ou adolescente será encaminhado à


sede do Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora. Se o acolhido já estiver
em outra modalidade de acolhimento e houver solicitação de transferência
para o SFA, a transferência só ocorrerá mediante encaminhamento de
relatório, justificando a mudança de Serviço de Acolhimento, e após a devida
autorização judicial.

→ Acolhimento

A chegada da criança e/ou adolescente no SFA é um momento que


demanda atenção e cuidados especiais da equipe técnica para que a acolhida
seja realizada com afeto e duração necessários. O local e os profissionais de
referência serão apresentados e a equipe técnica, nesse primeiro contato,
deverá conversar com a criança e/ou adolescente, considerando seu grau de
desenvolvimento e respeitando seu tempo, sobre os motivos da medida de
proteção, de que forma serão mantidos os contatos com a família de origem
e quem irá cuidar temporariamente dele. Em um segundo momento, a
família acolhedora e a criança e/ou adolescente serão apresentados pela
equipe do SFA, que facilitará a aproximação e fornecerá as informações e
orientações no momento da chegada. Imediatamente após o acolhimento,
inicia-se também os processos de trabalho do SFA, com o atendimento da
família de origem; da criança e/ou adolescente; da família acolhedora; e a
articulação com a rede de serviços.

9.1 - TERMO DE GUARDA E RESPONSABILIDADE


Na modalidade de acolhimento em família acolhedora, a criança e/ou
adolescente permanecerá sob a responsabilidade do SFA e sob a guarda
provisória da família acolhedora cadastrada.

O Termo de Guarda e Responsabilidade (TGR) deve ser solicitado pelo


Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora à autoridade judiciária
imediatamente após o início do acolhimento, com a indicação da família
acolhedora que assumirá os cuidados da criança e/ou adolescente (caso seja
um casal, é indicado que o TGR seja expedido em nome de ambos). Sugere-
se que o documento seja expedido com um “adendo” ou complemento,
condicionando expressamente a validade do Termo à manutenção e
à permanência da família no SFA. Também é de responsabilidade do
Serviço de Acolhimento solicitar o cancelamento do TGR quando ocorrer a
finalização do acolhimento ou se, por algum motivo, a família não puder dar
continuidade ao acolhimento da criança e/ou adolescente.

O TGR permite que a família acolhedora, parceira do serviço de


acolhimento, assuma os direitos e deveres legais do acolhido, ofereça

82
assistência adequada à criança e/ou adolescente, seja responsável por
sua matrícula e acompanhamento escolar, tenha acesso à rede de saúde,
consiga inserção nas demais políticas públicas necessárias e possa transitar
legalmente com a criança e/ou adolescente dentro do território nacional.

A elaboração de um fluxo para solicitação e concessão do TGR, que inclua


documentos necessários, prazos e sigilo das informações, é imprescindível.
Esse deve ser construído pela rede local, com o objetivo de agilizar e priorizar
a emissão do documento e ainda oferecer segurança aos envolvidos no
processo de acolhimento. A autoridade judiciária poderá construir com
a rede de serviços local uma Portaria (veja os exemplos disponibilizados)
específica que estabeleça parâmetros de funcionamento para o município
em questão.

Dependendo do fluxo pactuado na rede local, em alguns municípios, as


famílias acolhedoras comparecem à Vara da Infância e Juventude (VIJ) para
assinatura do TGR, em outros locais, o TGR é retirado pelo próprio SFA, que
se responsabiliza por coletar as assinaturas e devolver ao judiciário.

Uma questão relevante é o sigilo das informações contidas no


TGR: os dados pessoais e endereço da família acolhedora devem ser
resguardados quando necessário. Algumas VIJs inserem todos os TGRs
do SFA em “pasta” própria e não no processo da criança e/ou adolescente
acolhido. Recomenda-se que esse procedimento seja discutido, para garantir
a segurança da criança e/ou adolescente acolhido e o sigilo de seu endereço
de moradia.

A solicitação do TGR é uma das muitas atividades realizadas pela


equipe do SFA. Na próxima aula, vamos detalhar um pouco mais as funções
e atividades da equipe profissional do SFA e ressaltar a importância da
formação continuada e da supervisão técnica.

DE OLHO NA TELA

Assista, na plataforma, à entrevista sobre encaminha-


mento para a família acolhedora e Termo de Guarda e
Responsabilidade.

83
Aula 10
Equipe Profissional, Funções,
Formação Continuada e
Supervisão Técnica
Entende-se por equipe profissional o conjunto de pessoas
que trabalham diretamente na sede do Serviço de Acolhimento
em Família Acolhedora. Essa modalidade deve ter em seu quadro
profissional, minimamente, o coordenador e uma ou mais duplas
psicossociais (assistente social e psicólogo) a depender do
número de atendimentos que o SFA realiza. Mas a equipe pode
também contar com profissionais de diferentes formações, como
educadores sociais, pedagogos, advogados, entre outros, a fim
de qualificar o trabalho de forma interdisciplinar.

Além do coordenador e dos técnicos, também podem


compor a equipe prof issionais de apoio como recepcionista,
auxiliar administrativo, motorista, auxiliar de limpeza,
segurança, entre outros, conforme a necessidade. Cada
um desses membros terá uma função específ ica, nem
sempre relacionada diretamente ao acompanhamento dos
casos, mas todos têm um papel fundamental na qualidade
das ações desenvolvidas. Cumpre notar que todos os
prof issionais da equipe devem receber formação ampliada
para compreenderem os objetivos do SFA, sua função
nesse e a importância de agir em conformidade com os
seus valores e princípios, com respeito, ética e acolhimento,
independentemente das atribuições de seu cargo.

84
10.1 - FUNÇÕES DE CADA MEMBRO DA EQUIPE TÉCNICA
O trabalho no SFA é amplo, com diversas frentes, públicos (crianças
e adolescentes, famílias acolhedoras, famílias de origem) e interlocutores
(equipe do judiciário, dos demais serviços de assistência social, de saúde,
instituições de educação, entre outros). A divisão de funções entre os membros
da equipe técnica é condição fundamental para um trabalho organizado
e otimizado. No entanto, cabe destacar a importância da articulação entre
os membros da equipe, que devem estar alinhados quanto aos objetivos a
serem buscados para cada caso, quanto às estratégias de trabalho, além de
se apoiarem para o enfrentamento de desafios e busca de soluções.

As reuniões sistemáticas da equipe do SFA, bem como reuniões para


tratar de temas ou casos específicos, são espaços importantes para garantir
que o trabalho aconteça, de fato, em equipe. O diálogo e a colaboração entre
os membros da equipe técnica permitem a união de esforços no mesmo
sentido, a ampliação de perspectivas e o bom aproveitamento do trabalho
de cada um, o que se traduz em melhores resultados.

Sendo um dos serviços da Proteção Social Especial de Alta Complexidade


do SUAS, o trabalho do SFA exige acompanhamento especializado, com
horas dedicadas exclusivamente às funções relacionadas ao acolhimento
(neste caso, familiar), flexibilidade e disponibilidade para atendimentos
emergenciais fora do horário comercial.

O quadro a seguir descreve as principais funções dos membros de uma


equipe de profissionais do Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora.
Na primeira divisão, elenca-se as funções de acordo com as Orientações
Técnicas – Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes (OT)
(2009). Na divisão seguinte, são elencadas contribuições complementares,
baseadas nas experiências vivenciadas e registradas por Serviços de
Acolhimento em Família Acolhedora em funcionamento no país nos últimos
20 anos, detalhando e aprofundando as anteriores e incorporando outras
atribuições ao coordenador e à equipe técnica.

85
COORDENADOR(A)

Orientações Técnicas

Gestão e supervisão do funcionamento do SFA;


Organização da divulgação do SFA e mobilização das famílias
acolhedoras;
Organização da seleção, contratação de pessoal e supervisão dos
trabalhos desenvolvidos;
Organização das informações das crianças e adolescentes e respectivas
famílias;
Articulação com a rede de serviços;

Articulação com o Sistema de Garantia de Direitos.

Contribuições Complementares

Coordenação administrativa, financeira e logística do SFA;

Representação institucional:

• Elaboração de documentos (internos e externos);


• Articulação com os serviços da rede (assistência social, saúde,
educação, habitação e outros) e com o Sistema de Justiça;
• Criação de espaços de trocas com outros serviços;
• Participação nas ações do Conselho Municipal dos Direitos da Criança
e do Adolescente (CMDCA), Conselho Municipal de Assistência Social
(CMAS), e afins;
• Interlocução junto ao gestor da política municipal da assistência social,
quando vinculado diretamente à Secretaria Municipal ou enquanto
entidade executora do Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora;
Disseminação da modalidade de acolhimento familiar e divulgação do
SFA, visando a mobilização de novas famílias para o acolhimento, além de
parceiros para elaboração e implementação de projetos:
• Participação em congressos, encontros e outros eventos;

• Contato com mídias diversas;


• Busca por novos espaços de divulgação.

Elaboração de Avaliação Anual e Planejamento Estratégico, envolvendo


todos os profissionais, técnicos e de apoio, do Serviço de Acolhimento em
Família Acolhedora;
Gestão do trabalho técnico: acompanhamento e avaliação continuada do
trabalho da equipe psicossocial, por meio de:
• reuniões de equipe periódicas para discussão de casos;
• revisão periódica de fluxos, procedimentos e formulários de trabalho
existentes.

86
Mobilização, seleção e formação de novas famílias acolhedoras, em
conjunto com a equipe técnica do SFA, por meio da realização de
encontros de apresentação, entrevistas, encontros de qualificação e
definição de famílias selecionadas;
Acompanhamento das famílias acolhedoras, em conjunto com a equipe
técnica do SFA, por meio de:
• supervisão grupal das famílias acolhedoras, realizando encontros
mediados e reuniões temáticas de formação continuada;
• avaliação semestral ou anual das famílias sobre o desenvolvimento
das ações do SFA;
• acompanhamento individual das famílias acolhedoras, mediante
atendimentos, visitas domiciliares e suporte remoto, sempre que
necessário.

Organização e realização de eventos, encontros ou outras atividades


de integração, com participação das famílias de origem e/ou extensa,
famílias acolhedoras, famílias por adoção, crianças, adolescentes e jovens
acompanhados, profissionais e voluntários do SFA;
Definição de atividades desempenhadas por estagiários e voluntários e
acompanhamento dessas quando necessário.

EQUIPE TÉCNICA

Orientações Técnicas
Acolhida, avaliação, seleção, capacitação, acompanhamento,
desligamento e supervisão das famílias acolhedoras;
Articulação com a rede de serviços e Sistema de Garantia de Direitos;
Preparação e acompanhamento psicossocial das famílias de origem, com
vistas à reintegração familiar;
Acompanhamento das crianças e adolescentes;
Organização das informações de cada caso atendido, na forma de
prontuário individual;
Encaminhamento e discussão/planejamento junto a outros atores
da rede de serviços e do Sistema de Garantia de Direitos da Criança
e do Adolescente (SGDCA) sobre as intervenções necessárias ao
acompanhamento das crianças e/ou adolescentes e suas famílias;
Elaboração, encaminhamento periódico e discussão com a autoridade
judiciária e Ministério Público (MP) de relatórios sobre a situação de cada
criança e adolescente, apontando: 1) possibilidades de reintegração
familiar; 2) necessidade de aplicação de novas medidas; ou, 3) quando
esgotados os recursos de manutenção na família de origem, a
necessidade de encaminhamento para adoção;
Construção, com a participação da família e serviços da rede de proteção,
de um plano de acompanhamento da família de origem, nuclear ou
extensa, que objetive a superação dos motivos que levaram à necessidade
do afastamento da criança e/ ou adolescente e consequente reintegração
familiar;

87
Providenciar encaminhamentos jurídico-administrativos junto à rede de
educação, saúde, dentre outros que se fizerem necessários;
Possibilitar situações de escuta individual, ao longo de todo o tempo de
acolhimento, a qualquer um dos envolvidos (família de origem, família
acolhedora e acolhido)

Contribuições Complementares
Participação na disseminação da modalidade e divulgação do SFA para
mobilização de famílias para o acolhimento;
Atuação na formação e seleção de novas famílias acolhedoras;
Acompanhamento da criança e/ou adolescente durante e, se possível,
após o período de acolhimento.
• Acompanhamento individual, oferecendo escuta, acolhimento,
facilitando a apropriação de sua história, promovendo sua participação
em questões relativas à sua vida e facilitando os processos de transição
(como chegada e desligamento do Serviço de Acolhimento);
• Articulação e mobilização da rede de relações pessoais e de serviços
envolvida em cada caso, para discussão e planejamento conjunto de
intervenções com a criança e/ou adolescente;
• Realização de encaminhamentos, quando necessários;
• Abertura e atualização permanente do prontuário da criança e/ou
adolescente acolhido e das famílias acolhedoras participantes;
• Construção do PIA inicial, a partir da entrada da criança e/ou
adolescente no Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora, com a
participação da criança e/ou adolescente acolhido e de todos os atores
envolvidos em seu acolhimento.

Acompanhamento sistemático da família acolhedora


• Acompanhamento individualizado, oferecendo orientações sobre
cuidados com cada criança e/ou adolescente, troca de informações
sobre o trabalho técnico com a família de origem e/ou extensa, suporte
para a solução de demandas que se apresentarem e para a preparação
para os processos de transição (como chegada e desligamento do
Serviço de Acolhimento);
• Contato de forma remota ou presencial, inclusive por meio de visitas
domiciliares;
• Supervisão e apoio à família acolhedora na execução de projetos
e atividades que garantam a preservação da história de vida e
experiências da criança e/ou adolescente, antes e durante o período de
acolhimento;
• Preparação e participação em encontros e reuniões com as famílias
acolhedoras.
Acompanhamento sistemático e estreito da família de origem e/ou
extensa.
• Encontros e atendimentos na sede do SFA;

• Visitas domiciliares;
88
• Encaminhamentos e acompanhamento junto aos serviços da rede
durante e após a saída do SFA;
• Acompanhamento e suporte nos encontros da família de origem e/ou
extensa com a criança e/ou adolescente;
• Busca ativa pela família de origem e/ ou extensa, sempre que
necessário, com mapeamento do território de cada uma delas;
• Avaliação da família de origem e/ou extensa, esgotando todas as
possibilidades de reintegração familiar da criança e/ou adolescente
acolhido.

Orientação à família pretendente à adoção, oferecendo informações


relevantes sobre a criança e/ou adolescente e facilitando seu processo de
aproximação com ele(a);
Participação em reuniões semanais de equipe e supervisão com
profissional externo;
Providências jurídico-administrativas:
•Encaminhamento de documentação para subsídio financeiro das
famílias acolhedoras;
• Solicitação do Termo de Guarda e Responsabilidade (TGR) ao
judiciário;
• Solicitação, se necessário, de documentos da criança e/ou adolescente
acolhido e familiares atendidos;
• Preenchimento de formulários;
•Encaminhamento, aos órgãos solicitantes, de planilhas estatísticas
com dados do SFA, dos acolhidos e das famílias acompanhadas;
•Elaboração de documentos (internos e externos) para
acompanhamento dos casos;
• Atualização de sistemas informatizados e pesquisas.

Articulação com o judiciário:

•Fluxos para discussão de casos;


•Envio de relatórios, ofícios, documentação, Plano Individual de
Atendimento (PIA) e informes dos processos de reintegração familiar
ou de colocação da criança e/ou adolescente em família por adoção.
Participação na organização e realização de eventos, encontros ou outras
atividades de integração, com a presença de famílias de origem e/ou
extensa, famílias acolhedoras, famílias por adoção, crianças, adolescentes
e jovens acompanhados, profissionais e voluntários do Serviço de
Acolhimento em Família Acolhedora;
Acompanhamento de estagiários e/ou voluntários em suas atividades;

Formação continuada em temas relacionados à prática profissional.

89
10.2 - FORMAÇÃO CONTINUADA E SUPERVISÃO TÉCNICA
Devido ao atendimento de situações que envolvem extrema
vulnerabilidade, situações de risco e violação de direitos e fragilidade
individual e familiar, a equipe do SFA precisa estar bem preparada para
exercer sua função com qualidade. O atendimento de situações familiares
complexas, que envolvem omissões e/ou violações dos direitos de crianças
e adolescentes, demanda investimento de todos os profissionais do Serviço
de Acolhimento: coordenador, equipe técnica e funcionários de apoio. Todos
vivenciam sentimentos diversos e precisam dispor de repertório adequado
para uma atuação condizente com a função exercida.

O documento Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento


para Crianças e Adolescentes (2009) recomenda que a equipe técnica
selecionada para o trabalho tenha experiências anteriores na proteção à
criança e ao adolescente e no acompanhamento de famílias em situação
de vulnerabilidade social. Também salienta que, enquanto estiverem
trabalhando em Serviços de Acolhimento, os profissionais, mesmo que
experientes, devem qualificar-se permanentemente.

A formação continuada proporcionará aos profissionais a aquisição de


novos conhecimentos, competências e habilidades. As ações executadas
cotidianamente, por sua vez, agregarão experiências e reflexões que podem
ser compartilhadas com outras equipes e profissionais mais experientes. A
troca de vivências, de desafios e de estratégias para enfrentá-los fortalece
a metodologia utilizada e amplia o olhar para a execução de novas ações e
propostas.

É fundamental que a formação continuada esteja prevista no Projeto


Político Pedagógico do SFA, com períodos pré-determinados para sua
execução. Deve-se levar em consideração as observações, sugestões e
apontamentos levantados por todos os profissionais, num processo de
construção colaborativa que contemple as principais demandas de cada
equipe e suas realidades.

A participação da equipe e de atores diretamente relacionados ao SFA


(juízes, promotores, conselheiros tutelares, gestores da assistência social,
entre outros) em palestras, seminários, congressos e eventos similares
também proporciona espaços de qualificação e acesso a outras realidades
e iniciativas. A participação em eventos tem a vantagem de favorecer,
simultaneamente e em um curto espaço de tempo, contatos com diversos
profissionais que se encontram em momentos diferentes da experiência
com acolhimento em família acolhedora.

Outro elemento fundamental para os profissionais é a supervisão


técnica, realizada por profissional com experiência na área e que possibilita
que gestores e profissionais disponham de um tempo, dentro da
organização do trabalho (preferencialmente semanal ou quinzenal), para

90
reflexão e estudo. No Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora, a
supervisão é um recurso que pode viabilizar a revisão da prática profissional,
novas aprendizagens e estratégias de intervenção e articulação em rede,
construções coletivas e, ainda, momentos de reflexão pessoal e grupal,
discussões e compartilhamento de angústias e dúvidas.

SAIBA MAIS

Espaço de Supervisão no SFA: A Resolução CNAS n.º


06/201610 estabelece parâmetros para a supervisão
técnica no âmbito do SUAS.
Sugere-se que a supervisão externa seja realizada
por um profissional experiente na operacionalização de
um Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora. Em
encontros de supervisão externa são trabalhadas
diversas dimensões com a equipe, como
conhecimentos relativos ao tema, teorias, métodos,
ética, competências necessárias para a resolução de
problemas e crescimento pessoal e profissional.
A construção metodológica da supervisão deve ser
colaborativa e recomenda-se que as reuniões tenham
duração de até duas horas e que sejam semanais,
quinzenais ou mensais. Acesse o documento na íntegra
pelo link:
https://familiaacolhedora.org.br/guia/303/

10.3 - ATIVIDADES PERMANENTES DA EQUIPE TÉCNICA


A equipe técnica do SFA desenvolve diversas atividades - seja com o/a
acolhido/acolhida, com a Família Acolhedora ou com a família de origem e/
ou extensa – que, em conjunto, compõem o seu processo de trabalho. Na
sequência, estudaremos algumas dessas atividades.

a) Construção do Plano Individual de Atendimento

De acordo com as Orientações Técnicas para Elaboração do Plano


Individual de Atendimento de Crianças e Adolescentes (PIA) em Serviços de
Acolhimento (2018):

O PIA é um instrumento que norteia as ações a serem realizadas para


viabilizar a proteção integral, a reinserção familiar e comunitária e
a autonomia de crianças e adolescentes afastados dos cuidados
parentais e sob proteção de serviços de acolhimento. É uma estratégia
de planejamento que, a partir do estudo aprofundado de cada caso,
compreende a singularidade dos sujeitos e organiza as ações e
atividades a serem desenvolvidas com a criança/adolescente e sua
família durante o período de acolhimento (2018, p.07).

91
A necessidade de elaboração de um PIA para cada criança e adolescente
acolhido está prevista no ECA, nas Orientações Técnicas: Serviços de
Acolhimento para Crianças e Adolescentes e no Provimento n.º 32/2013 do
Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

A escuta individualizada da criança e do adolescente deve garantir-lhes


o acesso a informações sobre seu processo e viabilizar sua participação direta
nas discussões relacionadas às decisões sobre sua vida e de sua família, de
acordo com a faixa etária e seu estágio de desenvolvimento. Portanto, o
planejamento contido no PIA deve, necessariamente, incluir a participação
e opinião dos protagonistas do processo: as crianças e os adolescentes. Além
desses, todos aqueles envolvidos no processo devem participar, ou seja, a
família de origem e/ou extensa, pessoas significativas identificadas, família
acolhedora, equipe técnica do SFA e a rede de serviços.

A participação ativa de cada um desses atores na construção do PIA


é especialmente importante quando consideramos que ele envolve a
pactuação de compromissos e/ou a execução de propostas.

O PIA terá sempre como objetivo final a garantia da oferta de cuidado


e proteção adequada à criança ou adolescente, conforme estabelece o
ECA, e a superação dos fatores que levaram ao acolhimento, buscando
viabilizar, sempre que possível, a reintegração familiar segura da criança
e/ou adolescente. Nesse sentido, deve constar no PIA a determinação de
objetivos, ações e metas a serem alcançadas, considerando-se, ainda, os
prazos e os responsáveis por cada ação.

Para conhecer as Orientações Técnicas para Elaboração do Plano


Individual de Atendimento de Crianças e Adolescentes em Serviços
de Acolhimento (2018), acesse o documento pelo link:
www.familiaacolhedora.org.br/guia/508

b) Acompanhamento da criança e/ou adolescente

É dever tanto da equipe do SFA quanto da família acolhedora


proporcionar um ambiente seguro e de afeto para a criança e/
ou adolescente, além de espaço para a expressão e acolhimento de
sentimentos e pensamentos relacionados à situação que está sendo
vivenciada. Por meio de um processo contínuo de escuta individual, a
equipe técnica proporcionará o entendimento da criança e/ou adolescente
sobre os motivos da medida de proteção e de seu afastamento da família
de origem, bem como das dificuldades dos familiares de origem no
cuidado e proteção adequados.

É papel da equipe, ainda, esclarecer que tipo de apoio será oferecido


a ele ou ela e quais serão os objetivos do trabalho técnico. Embora o
acompanhamento precise ser pensado individualmente, de acordo com as

92
necessidades de cada criança e/ou adolescente, estratégias de escuta em
grupo podem ser muito bem-vindas, visto que podem propiciar um espaço
para troca de vivências, expressão de medos e dúvidas e discussão de temas
de interesse comum.

A elaboração do plano de trabalho e escolha de estratégias de


intervenção e escuta devem considerar e se adequar às diferentes faixas
etárias e etapas de desenvolvimento, assim como devem considerar
as necessidades específicas de cada acolhido, inclusive aqueles
com deficiências intelectuais, físicas ou questões de saúde mental.
Independentemente da idade e da condição da criança e/ou adolescente,
ele ou ela sempre deve ser ouvido(a). Mesmo em se tratando de crianças
muito pequenas, o diálogo deve ser construído e mantido durante todo o
período de acolhimento.

c) Formação e Acompanhamento das Famílias Acolhedoras

Após as etapas de seleção e formação, quando a família é considerada


apta para acolher e é incluída no SFA, começa sua participação efetiva
nas atividades realizadas pelo Serviço de Acolhimento, como por exemplo,
sua presença no acompanhamento em grupo. A cada início de um novo
acolhimento, ou no caso de algum momento mais delicado, a equipe técnica
deve se dedicar, também, ao acompanhamento mais próximo e contínuo da
família, a fim de garantir o atendimento das necessidades da criança e/ou
adolescente e da própria família acolhedora.

As famílias que acolhem são parceiras imprescindíveis do SFA e,


mediante a complementaridade de seus papéis, equipe técnica e famílias
poderão garantir acolhimentos de qualidade. Para que isso ocorra, um
plano de acompanhamento com estratégias variadas deve ser discutido
e estabelecido entre os envolvidos. Vejamos abaixo duas estratégias de
acompanhamento:

Acompanhamento individual Acompanhamento em grupo

O acompanhamento individual tem


como objetivos oferecer escuta, O acompanhamento em grupo, reunindo
reflexões e elaboração das experiências mais de uma família e mediado pela equipe
vivenciadas, reconhecimento dos técnica do SFA, será outra estratégia
sentimentos mobilizados pela essencial, funcionando como uma formação
convivência diária e a retomada do continuada das famílias acolhedoras. Os
papel da família acolhedora, quando encontros podem oferecer espaço de
necessário. É, ainda, um momento reflexão, apoio emocional, troca entre as
para discussão de questões objetivas famílias participantes e aprendizagem de
relacionadas ao cuidado cotidiano e novas habilidades e competências para o
ao encaminhamento de demandas da acolhimento de crianças e/ou adolescentes.
criança e/ou adolescente, de informação Em algumas reuniões, pode-se contar,
sobre o trabalho realizado com a inclusive, com a presença de outros
família de origem e/ou extensa e sobre profissionais para a apresentação de temas e
o andamento do processo na Vara da assuntos relacionados ao trabalho.
Infância e Juventude.
93
d) Acompanhamento das Famílias de Origem

Assim que uma criança e/ou adolescente é acolhido, a equipe de


referência do SFA deve iniciar o acompanhamento da situação familiar,
entendendo que a medida protetiva é excepcional e provisória e que os
atendimentos ao grupo familiar deverão buscar a reintegração sempre que
essa for possível e representar o melhor interesse da criança ou adolescente.

No primeiro momento, o foco será a apresentação e o esclarecimento


sobre a proposta e os objetivos do acolhimento temporário, que possivelmente
envolverá muitas dúvidas e fantasias por parte da família, podendo essa,
inclusive, responsabilizar o profissional do SFA pelo afastamento da criança
ou adolescente. Portanto, são fundamentais a acolhida respeitosa, a escuta
qualificada e o oferecimento de orientações pertinentes pela equipe do SFA.
Uma boa vinculação nesse momento contribui de maneira extraordinária
para o desenvolvimento de todo o trabalho.

A equipe técnica deve viabilizar espaços de atendimento com a família


de origem e/ou extensa que possibilitem o estabelecimento de uma relação
de respeito e de confiança mútua. Dependerá da qualidade dessa relação
a abertura para reflexões sobre a medida protetiva, o levantamento das
dificuldades vivenciadas e a construção conjunta de um plano de ação
que considere as necessidades, desejos e escolhas para a superação da
problemática que motivou o afastamento da criança e/ou adolescente.

A equipe do SFA deverá realizar um diagnóstico psicossocial


inicial e, posteriormente, com o estabelecimento da rotina estreita de
acompanhamento, definir as ações e estratégias mais adequadas para o
acompanhamento e em que momento elas serão necessárias.

Encerrando este módulo, em nossa última aula, compreenderemos os


fluxos com o Sistema de Justiça e a importância da interlocução com a Rede
Intersetorial.

DE OLHO NA TELA

Assista, na plataforma, à entrevista sobre as funções a


serem desempenhadas pela equipe técnica e a impor-
tância da formação da equipe para o exercício das suas
funções. Também disponibilizamos um vídeo com o
depoimento de profissional de equipe técnica de SFA
sobre a importância da formação específica para atuar
no serviço.

94
Aula 11
Fluxos com o
Sistema de Justiça e
Interlocução com a
Rede Intersetorial

11.1 - FLUXOS COM O SISTEMA DE JUSTIÇA


O ECA, especialmente após as alterações efetuadas pelas
Leis n.º 12.010/2009 e n.º 13.509/2017, especifica procedimentos e
prazos importantes relacionados ao trabalho direto do Serviço de
Acolhimento, seja institucional ou familiar, e da rede de serviços
envolvida, especialmente na relação com o Sistema de Justiça.
Vejamos algumas dessas alterações:

Art. 19 § 1º: Toda criança ou adolescente que estiver inserido


em programa de acolhimento familiar ou institucional
terá sua situação reavaliada, no máximo, a cada 3 (três)
meses, devendo a autoridade judiciária competente, com
base em relatório elaborado por equipe interprofissional
ou multidisciplinar, decidir de forma fundamentada pela
possibilidade de reintegração familiar ou pela colocação
em família substituta, em quaisquer das modalidades
previstas no art. 28 desta Lei. (Redação dada pela Lei n.º
13.509, de 2017);

Art. 19 § 2º: A permanência da criança e do adolescente em


programa de acolhimento institucional não se prolongará
por mais de 18 (dezoito meses), salvo comprovada
necessidade que atenda ao seu superior interesse,
devidamente fundamentada pela autoridade judiciária.
(Redação dada pela Lei n.º 13.509, de 2017);

As mudanças que ocorreram no Art. 19, § 1º e 2º, dadas pela Lei


nº 13.509/2017, estão relacionadas, respectivamente, ao período de
reavaliação da situação de acolhimento (qualquer modalidade) e
ao tempo de duração máxima do acolhimento institucional.

Essas modificações reduziram o período entre avaliações da


situação (de 06 para 03 meses) e o período máximo em que a

95
criança e/ou adolescente pode permanecer em acolhimento institucional
(de 24 para 18 meses).

A situação de cada criança ou adolescente deverá ser reavaliada a cada


três meses, no máximo, conforme o Art. 19, § 1º, do ECA. No entanto, informações
importantes como questões de saúde da criança e/ou adolescente e
ocorrências com os familiares (mudanças de endereço, doenças, acidentes,
falecimentos, detenção e outras) devem ser comunicadas ao judiciário assim
que a equipe tiver conhecimento delas. Relatórios informativos podem ser
elaborados e encaminhados sempre que se fizer necessário.

Art. 101 § 3º: Crianças e adolescentes somente poderão ser


encaminhados às instituições que executam programas de
acolhimento institucional, governamentais ou não, por meio de uma
Guia de Acolhimento, expedida pela autoridade judiciária, na qual
obrigatoriamente constará, dentre outros: (Incluído pela Lei nº 12.010,
de 2009)
I - Sua identificação e a qualificação completa de seus pais ou de
seu responsável, se conhecidos;
II – O endereço de residência dos pais ou do responsável, com
pontos de referência;
III - Os nomes de parentes ou de terceiros interessados em tê-los
sob sua guarda;
IV - Os motivos da retirada ou da não reintegração ao convívio
familiar.

Conforme o Art. 101, § 3º, do ECA, a Guia de Acolhimento é um


documento expedido pela autoridade judiciária e imprescindível na
chegada de uma criança e/ou adolescente ao SFA. A Guia reúne informações
como a identificação da criança e/ou adolescente, a qualificação dos pais
ou responsável, o endereço de residência da família, nomes de parentes
interessados na guarda e os motivos da retirada ou da não reintegração
familiar.

Além disso, deve vir acompanhada dos relatórios da rede, com o


diagnóstico prévio da situação, possibilitando o reconhecimento imediato
dos serviços de referência. Essas informações permitirão uma melhor
compreensão da situação e maior agilidade nos contatos da equipe
profissional com os demais serviços que já atenderam a família. Essa agilidade
é muito importante, considerando o exíguo tempo que se tem, conforme o
ECA, especialmente para acompanhamento dos casos mais complexos.

Art. 101 § 4º: Imediatamente após o acolhimento da criança ou do


adolescente, a entidade responsável pelo programa de acolhimento
institucional ou familiar elaborará um plano individual de atendimento,
visando à reintegração familiar, ressalvada a existência de ordem
escrita e fundamentada em contrário de autoridade judiciária
competente, caso em que também deverá contemplar sua colocação
em família substituta, observadas as regras e princípios desta Lei.

96
(Incluído pela Lei n.º 12.010, de 2009)

Ainda no Art. 101, é previsto que a partir da colocação da criança e/ou


adolescente no SFA e com a Guia de Acolhimento em mãos, a equipe de
referência deverá iniciar, imediatamente, a elaboração do PIA, atendendo ao
Art. 101, § 4º, do ECA. O PIA deve ser encaminhado ao judiciário nos primeiros
30 dias do acolhimento.

Art. 101 § 9º: Sendo constatada a impossibilidade de reintegração


da criança ou do adolescente à família de origem, após seu
encaminhamento a programas oficiais ou comunitários de orientação,
apoio e promoção social, será enviado relatório fundamentado ao
Ministério Público, no qual conste a descrição pormenorizada das
providências tomadas e a expressa recomendação, subscrita pelos
técnicos da entidade ou responsáveis pela execução da política
municipal de garantia do direito à convivência familiar, para a
destituição do poder familiar, ou destituição de tutela ou guarda.
(Incluído pela Lei n.º 12.010, de 2009);

Art. 101 § 10: Recebido o relatório, o Ministério Público terá o prazo


de 15 (quinze) dias para o ingresso com a ação de destituição do
poder familiar, salvo se entender necessária a realização de estudos
complementares ou de outras providências indispensáveis ao
ajuizamento da demanda. (Redação dada pela Lei n.º 13.509, de 2017);

Art. 163: O prazo máximo para conclusão do procedimento será de 120


(cento e vinte) dias, e caberá ao juiz, no caso de notória inviabilidade
de manutenção do poder familiar, dirigir esforços para preparar a
criança ou o adolescente com vistas à colocação em família substituta.
(Redação dada pela Lei n.º 13.509, de 2017)

Está expresso no Art. 101, § 9º, do ECA, que o parecer conclusivo ou


a recomendação do Serviço de Acolhimento e da rede implicada no
atendimento deverá ser enviado com informações pormenorizadas e
detalhadas de todo o processo de acompanhamento, seja para sugestão de
reintegração ou destituição do poder familiar.

Os relatórios sobre a situação da família de origem e/ou extensa deverão


continuar sendo encaminhados, tanto para situações de acompanhamento,
após a reintegração familiar, quanto de andamento da ação de destituição
do poder familiar. Esses documentos devem conter informações atualizadas
e direcionadas ao objetivo de cada acompanhamento.

O ECA ainda apresenta prazos referentes ao andamento dos processos.


Espera-se, por exemplo, que o MP ingresse com a ação de destituição no
prazo de 15 dias (após a indicação técnica de que esse é o melhor caminho
para o caso) e que a ação de destituição do poder familiar seja concluída em
120 dias, Art. 101, § 10 e Art. 163, respectivamente.

97
Apesar dos prazos expressos em Lei, eles podem sofrer alteração,
considerando algumas necessidades. O trabalho poderá se estender
conforme cada situação, diante dos relatórios de acompanhamento que
continuarão sendo encaminhados ao judiciário pelo SFA e rede de serviços
e com a defesa apresentada pela família de origem e/ou extensa no referido
processo de destituição do poder familiar.

Acompanhar esses prazos, informar e orientar todos os envolvidos,


as crianças e adolescentes, seus familiares, a família acolhedora e a rede
de serviços, são tarefas essenciais da equipe técnica, objetivando que
providências sejam tomadas e encaminhamentos realizados com a agilidade
necessária em cada situação de acolhimento.

Diante dos procedimentos e prazos citados (que demonstram que o


SFA tem uma grande interface com o Sistema de Justiça), faz-se importante
ressaltar o Art. 88 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que apresenta,
no inciso VI, uma das diretrizes da política de atendimento:

Art. 88 São diretrizes da política de atendimento:


VI - integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério
Público, Defensoria, Conselho Tutelar e encarregados da execução
das políticas sociais básicas e de assistência social, para efeito de
agilização do atendimento de crianças e de adolescentes inseridos em
programas de acolhimento familiar ou institucional, com vista na sua
rápida reintegração à família de origem ou, se tal solução se mostrar
comprovadamente inviável, sua colocação em família substituta, em
quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei; (Redação
dada pela Lei nº. 12.010, de 2009)

Considera-se, então, que, para o bom funcionamento do SFA, é


necessário, entre outros aspectos, o cumprimento dessa diretriz por meio da
articulação permanente dos órgãos corresponsáveis pela garantia do direito
à convivência familiar para todas as crianças e adolescentes, atuando, dessa
maneira, na busca de soluções mais adequadas para cada caso, a partir
da discussão, elaboração e implementação de fluxos, procedimentos de
trabalho e políticas públicas intersetoriais de atendimento.

11.2 - INTERLOCUÇÃO COM A REDE INTERSETORIAL


O Serviço de Acolhimento de Crianças e/ou Adolescentes (seja
institucional ou familiar) integra o SUAS e deve, obrigatoriamente, articular-
se com os demais serviços da rede socioassistencial e com os demais
órgãos do SGDCA. As Orientações Técnicas – Serviços de Acolhimento para
Crianças e Adolescentes (2009) esclarecem essa diretriz por intermédio do
princípio da incompletude institucional.

Entende-se que um único serviço, de uma única política pública, não

98
será capaz de lidar com a complexidade que envolve famílias em situação
de risco e violação de direitos, principalmente sob medida protetiva. A rede
socioassistencial local, assim como programas e serviços de outras políticas,
deve ser articulada e corresponsável pelo processo de atenção à família,
à criança e/ou adolescente e pela inserção deles nos serviços necessários
identificados em cada caso.

O desenvolvimento de um trabalho articulado, intersetorial, com


o planejamento de ações que ficarão sob a responsabilidade de cada
profissional e serviço, a rotina de reuniões para troca de informações, avanços
e redirecionamentos do acompanhamento garantirão um atendimento de
qualidade e favorecerão os processos de reintegração familiar.

De acordo com a pedagoga Isa Guará, no trabalho em rede não existe


um “chefe” ou um “coordenador”, pois, para cada situação atendida, cabe a
determinado serviço a centralização do trabalho. O serviço que centraliza
a articulação representa o que Guará chama de “ancoradouro da rede” e,
neste caso, é o SFA, que dialoga, organiza e, muitas vezes, remete à Vara da
Infância e da Juventude, além dos seus relatórios, os demais que compõem
os serviços da rede articulada para cada caso. É comum que o SFA exerça
esse papel, uma vez que é o responsável pela criança e/ou adolescente e
funciona como referência para os órgãos da Justiça, cumprindo prazos
preestabelecidos em Lei. O Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora
também aciona diversas políticas públicas (de assistência social, de saúde,
de educação, de habitação, de cultura, de esporte, de lazer, de trabalho e de
renda) e órgãos como o Conselho Tutelar, a Defensoria Pública e o Ministério
Público, além de agilizar o envio de relatórios que demonstram o trabalho
realizado.

Imagem: O Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora como “Ancoradouro da Rede”

CAPS I
Família
Acolhedora

VIJ
Escola

Conselho
Tutelar SFA

CRAS
CAPS

Família de Família
CREAS
Origem Extensa

Centro de
Habilitação
Saúde

99
Para fortalecer a ação articulada com a rede de serviços e órgãos de
defesa de direitos, é importante que o papel de gestão e articulação seja
exercido pelo órgão gestor da Assistência Social. Como exemplo dessa
atuação, alguns municípios, por intermédio da gestão da política de
assistência social, realizam reuniões, encontros para discussão de fluxos
e processos de articulação do trabalho em rede, bem como formações,
seminários, trocas de experiências municipais, entre outros. Essas
estratégias contribuem com o alinhamento de conceitos e propostas que
beneficiam o trabalho em rede como um todo. O Serviço de Acolhimento em
Família Acolhedora deve realizar ações permanentes de aproximação com
os profissionais das principais políticas públicas. Esses espaços permitem
o esclarecimento da proposta do SFA (que ainda é pouco conhecida) e
favorecem discussões em prol da corresponsabilização do atendimento da
medida protetiva, garantindo a proteção integral e a prioridade absoluta.
Caberá ao coordenador e à equipe técnica identificar quais estratégias
deverão ser utilizadas para a manutenção das diferentes políticas sociais
necessárias ao trabalho “ancoradas” ao SFA.

DE OLHO NA TELA

Assista, na plataforma, ao vídeo sobre os fluxos com o


Sistema de Justiça e aos depoimentos de técnicos de
SFA sobre a articulação com a rede intersetorial.
Também é o momento de fazer a avaliação e testar
seu aprendizado.

100
Conclusão
A história do acolhimento de crianças e adolescentes no
Brasil foi marcada pelo assistencialismo e por uma perspectiva
higienista, que juntos propunham a internação de crianças e
adolescentes em instituições totais, onde os internos realizavam
todas as suas atividades (SANTOS, 2011). É com o advento
da Constituição Federal de 1988 e com a promulgação do
Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990 que a Doutrina
da Proteção Integral foi implementada em nosso país.

Tal doutrina aponta, em especial, para dois aspectos:


1) o reconhecimento de crianças e adolescentes como
sujeitos de direitos e de sua condição peculiar de pessoas
em desenvolvimento; e 2) a corresponsabilidade na proteção
de crianças e adolescentes, de modo que cabe à família, à
sociedade e ao Estado assegurar proteção a esses sujeitos.

É nesse sentido que diversas políticas públicas passam a


se definir em relação à infância e à adolescência, buscando
efetivar os seus direitos. Dentre essas, emerge, no âmbito da
Política de Assistência Social, o Serviço de Acolhimento em
Família Acolhedora, como uma modalidade de acolhimento
que depende da participação da sociedade civil, reafirmando
a corresponsabilidade entre o Estado e a sociedade civil no
cuidado e proteção de crianças e adolescentes.

A modalidade de acolhimento em Família Acolhedora


busca assegurar à criança e/ou adolescente o seu direito à
convivência familiar e comunitária, bem como o respeito a sua
individualidade. Trata-se de um formato de acolhimento que
apresenta benefícios (como estudamos) e que é prioritário em
relação ao acolhimento institucional. Contudo, apesar disso,
ainda pouco difundido em nosso país.

Este curso, além de buscar capacitar atores que atuam


no atendimento e proteção de crianças e adolescentes – em
especial, aqueles que se encontram em situação de risco
pessoal e social - trata-se, também, de uma estratégia de
sensibilização quanto à importância do serviço de acolhimento
em família acolhedora e seus benefícios para crianças e
adolescentes. Esperamos que ambos os objetivos tenham
sido alcançados e que possamos somar na luta em defesa dos
direitos da criança e do adolescente brasileiros.

101
Afinal, para que, em um futuro breve, seja possível oferecer no Brasil
contextos mais favoráveis de desenvolvimento a todas as crianças e
adolescentes afastados de suas famílias de origem, é essencial que gestores
municipais e estaduais, equipes técnicas, juízes, promotores e outros
profissionais do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente
(SGD/CA) estejam conscientes da mudança cultural que a ampliação do
acolhimento em família acolhedora carrega consigo. Eles são atores-chave
para a ampliação do número de crianças e adolescentes acolhidos por
famílias no país e, com o envolvimento e participação de todos, será mais
fácil seguir avançando.

O Conteúdo deste módulo foi retirado do Caderno 3 do GUIA DE


ACOLHIMENTO FAMILIAR. Para aprofundar seus conhecimentos,
sugerimos a leitura integral do referido Caderno.

SAIBA MAIS

O site www.familiaacolhedora.org.br é um portal que


contém informações de fácil acesso e recursos de
apoio para a implementação dos Serviços de
Acolhimento em Família Acolhedora.
Acesse e compartilhe!

102
Referências
e Sugestões
Bibliográficas
Normas:
BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE
1988. Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia
Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático,
destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a
liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e
a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista
e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida,
na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das
controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. [online].
Brasília: DF. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 20 nov.. 2021.

BRASIL. Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto


da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da
União de 14 de julho de 1990 [online].. Brasília: DF, 1990. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm> Acesso em 20
nov.. 2021.

BRASIL. MINISTÉRIO DOS DIREITOS HUMANOS/CONSELHO


NACIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.
Resolução nº 113, de 19 de abril de 2006. Dispõe sobre os
parâmetros para a institucionalização e fortalecimento do Sistema
de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente, Brasília:
CONANDA, 2006. Disponível em: <https://www.legisweb.com.br/
legislacao/?id=104402>. Acesso em: 12 nov. 2021.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.


Secretaria Nacional de Assistência Social. Política Nacional de
Assistência Social (PNAS). Brasília, 2004. Disponível em: < https://
www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/
Normativas/PNAS2004.pdf> Acesso em: 18 de nov. de 2021

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.


Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Orientações Técnicas:
Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes. Resolução
conjunta n.º 01, de 18 de junho de 2009. Brasília, CNAS, CONANDA,
2009. Disponível em: < https://www.mds.gov.br/webarquivos/
publicacao/assistencia_social/Cadernos/orientacoes-tecnicas-
servicos-de-alcolhimento.pdf> Acesso em: 18 de nov. de 2021

103
Livros e Artigos:
FERRERA, Miguel Angel Montiel. TITO, Cláudia Roberta Costa. CERUTTI, Neusa
Eli Figueiredo. Guia de implementação do Serviço: Família Acolhedora.
Macapá: Ministério Público do Amapá – Centro de Apoio Operacional da Infância,
Juventude e Educação (CAOP-IJE), 2020.

PINHEIRO, Adriana (org). et al. CADERNO 2 Guia de Acolhimento Familiar:


Implantação de um serviço de acolhimento em família acolhedora. [s.l.]. 2021.

REZENDE, Propércio Antônio de. Considerações sobre o Sistema de Garantia


dos Direitos da Criança e do Adolescente – SGDCA. [s.l], 2014, 17p. Disponível
em: < https://livredetrabalhoinfantil.org.br/wp-content/uploads/2016/11/
consideracoes_SGDCA-1.pdf>. Acesso em 12 nov. 2021.

Sites e Projetos
Instituto Geração Amanhã. Acolhimento Familiar, 2021. Disponível em: <. https://
acolhimentofamiliar.com.br>. Acesso em: 20 nov. 2021.

104
CONTEÚDO E IDENTIDADE VISUAL DA APOSTILA DESENVOLVIDO A PARTIR DO
“GUIA DE ACOLHIMENTO FAMILIAR” ELABORADO POR:

REALIZAÇÃO
Coalizão pelo Acolhimento em Família Acolhedora
Movimento Nacional Pró Convivência Familiar e Comunitária (MNPCFC)
Secretaria Nacional de Assistência Social do Ministério da Cidadania (SNAS)

DESIGN E DIAGRAMAÇÃO
Designeria
Renata Figueiredo

105
106
MINISTÉRIO DA CIDADANIA
Ministro da Cidadania
Ronaldo Vieira Bento

Secretaria Executiva
Luiz Galvão
Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação
Ronaldo França Navarro

Departamento de Formação e Disseminação


Bruno Baranda Cardoso

Coordenação Geral de Disseminação:


Cícero Araújo de Sousa Júnior

Equipe técnica:
Graciele França Suemori
Natália da Silva Pessoa
Secretaria Especial de Desenvolvimento Social
Robson Tuma

Gestora de Projetos:
Sandra Mara Bessa

Secretaria Nacional de Assistência Social


Maria Yvelônia dos Santos Araújo Barbosa

Departamento de Proteção Social Especial


Heliodoro Daltino Jeronimo Santos

Coordenação-Geral de Serviços de Acolhimento


Juliany Souza dos Santos

Equipe técnica:
Ana Angélica Campelo de Albuquerque e Melo
Flávia Teixeira Guerreiro

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA


Coordenação e Gestão Financeira:
Marcelo José Braga – Diretor e Professor do Instituto de Políticas Públicas e Desenvolvimento
Sustentável (IPPDS/UFV)

Suporte Técnico, Edição de Conteúdo e Gestão Financeira:


Karinne Nogueira Galinari - Instituto de Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável (IPPDS/
UFV)

Coordenação e organização de Conteúdo:


Claudia Gomes de Castro – Pesquisadora do Instituto de Políticas Públicas e Desenvolvimento
Sustentável (IPPDS/UFV)
Gabriela Santos Gomes - Pesquisadora do Instituto de Políticas Públicas e Desenvolvimento
Sustentável (IPPDS/UFV)
Lauany Martins Gonçalves dos Santos - Bolsista do Instituto de Políticas Públicas e Desenvolvimento
Sustentável (IPPDS/UFV)
Letícia Naomi Kobayashi - Bolsista do Instituto de Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável
(IPPDS/UFV)

Projeto Gráfico e Diagramação:


Adriana Helena de Almeida Freitas – Jornalista e Editora do Instituto de Políticas Públicas e
Desenvolvimento Sustentável (IPPDS/UFV)

Ilustração, Produção e Edição de Vídeos:


Elisa Vieira Martins – Coordenadoria de Educação Aberta e a Distância (CEAD/UFV)

Produção e Edição de Vídeos:


Raphael Baía Nicolato - Coordenadoria de Educação Aberta e a Distância (CEAD/UFV)

Capacitação, Produção, Locução e Edição de Vídeos:


José Timóteo Júnior - Coordenadoria de Educação Aberta e a Distância (CEAD/UFV)

Desenvolvimento de Conteúdo Interativo:


Roberto Turbay de Mello - Coordenadoria de Educação Aberta e a Distância (CEAD/UFV

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