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CDU 574.63
Versão impressa
desta obra: 2016
2016
Obra originalmente publicada sob o título Wastewater Engineering: Treatment and Reuse, 5th Edition.
ISBN 0073401188 / 9780073401188
Original edition copyright ©2013, The McGraw-Hill Companies, Inc., New York, New York 10020. All rights reserved.
Portuguese translation edition copyright ©2016, AMGH Editora Ltda., a Grupo A Educação S.A. company. All rights
reserved.
Editoração: Techbooks
IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
Sobre os autores
moção biológica de nutrientes e avaliação de redução de gases de efeito estufa a partir de proces-
sos de tratamento de águas residuais. É coautor do livro Water Reuse: Issues, Technologies and
Applications. Ele é coordenador técnico de práticas para equipe de liderança de reúso de água da
AECOM. Ryujiro Tsuchihashi é membro da Water Environment Federation, Sociedade Americana
de Engenharia Civil e da Associação Internacional da Água. Ele trabalha há 10 anos naAECOM,
onde desenvolveu diversos projetos nos Estados Unidos, na Austrália, na Jordânia e no Canadá.
Franklin Burton foi vice-presidente e engenheiro-chefe da região ocidental da Metcalf & Eddy,
em Palo Alto, Califórnia, por 30 anos. Aposentou-se da Metcalf & Eddy em 1986 e tem atuado
na iniciativa privada em Los Altos, Califórnia, especializando-se em avaliação de tecnologias de
tratamento, revisão de projeto de estações, gerenciamento de energia e engenharia de valor. É ba-
charel em Engenharia Mecânica pela Universidade de Lehigh e mestre em Engenharia Civil pela
Universidade de Michigan. Ele foi coautor da terceira e quarta edições do livro de Metcalf & Eddy
Wastewater Engineering: Treatment and Reuse. É autor de mais de 30 publicações sobre água e
tratamento de águas residuais e de gestão de energia em aplicações de água e de águas residuais. É
engenheiro civil registrado na Califórnia e membro vitalício da ASCE, AWWA e da WEF.
Mohammad Abu-Orf é líder em práticas de biossólidos e diretor de águas residuárias da AE-
COM na América do Norte. É bacharel em Engenharia Civil pela Universidade de Birzeit, na
Cisjordânia, Palestina, e mestre e Ph.D. em Engenharia Civil e Ambiental na Universidade de De-
laware. Ele trabalhou com a Siemens Water Technology e Veolia Water como diretor de pesquisa
e desenvolvimento em biossólidos. É o principal inventor de cinco patentes e é autor e coautor
de mais de 120 publicações específicas sobre condicionamento, desidratação, estabilização e re-
cuperação de energia a partir de biossólidos. Foi premiado com o primeiro lugar para Ph.D. na
competição de publicações de alunos pela WEF por dois anos consecutivos, em 1993 e 1994. Ele é
coautor de manuais de boas práticas e relatórios para a Water Environment Research Foundation.
Ele trabalhou como editor do Grupo de Gestão de Lodo da Associação Mundial Internacional por
seis anos e atuou no conselho editorial do boletim técnico de biossólidos da WEF. Mohammad
Abu-Orf trabalha na AECOM há 6 anos.
Gregory Bowden é um líder técnico da AECOM. É bacharel em Engenharia Química pela
Oklahoma State University e doutor em Engenharia Química pela Universidade do Texas em Aus-
tin. Ele trabalhou para a Hoechst Celanese (Celanese AG) por 10 anos como engenheiro de proces-
sos sênior, apoiando as operações das instalações de tratamento de esgoto em fábricas de produção
química na América do Norte. Ele também trabalhou como gerente de projetos no Centro de Tecno-
logia Norte-Americano da US Filter/Veolia. Suas áreas de especialização incluem o tratamento de
efluentes industriais, tecnologias de remoção físico-química e biológica de nutrientes e modelagem
de processos biológicos. Greg Bowden é membro da WEF e trabalha na AECOM há 9 anos.
William Pfrang é vice-presidente da AECOM e diretor técnico de sua Divisão Metropolitana de
Águas em Nova York. Começou sua carreira profissional na Metcalf & Eddy Inc. como engenheiro
civil em 1968. Durante sua carreira, se especializou em projeto de estações de tratamento de esgo-
tos municipais incluindo planejamento mestre, avaliações de processos alternativos e projeto con-
ceitual e detalhado. Em nível global, ele tem sido o principal engenheiro de projetos de tratamento
de esgotos nos Estados Unidos, no Sudeste da Ásia, na América do Sul e no Oriente Médio. É ba-
charel e mestre em Engenharia Civil pela Universidade Northeastern. Ele é engenheiro profissional
registrado, membro da Academia Americana de Engenheiros Ambientais e WEF. William Pfrang
trabalha na AECOM há mais de 40 anos.
Agradecimentos
Este livro é uma homenagem aos engenheiros e cientistas que continuam a alavancar as práticas e
tecnologias da indústria de águas residuais. Esses avanços continuam a oferecer ao mundo recursos
hídricos mais limpos e fornecimento sustentável de água. O livro não poderia ter sido escrito sem
os esforços de muitos indivíduos, incluindo os autores principais, autores colaboradores, especia-
listas, revisores técnicos, revisores externos e profissionais que contribuíram com experiências de
vida real.
Autores colaboradores da AECOM incluem: Dr. Mohammad Abu-Orf, que revisou e atualizou
os Capítulos 13 e 14, o Dr. Gregory Bowden, que escreveu o Capítulo 15 e o Sr. William Pfrang
que revisou e atualizou o Capítulo 5. A ajuda deles é reconhecida com gratidão. O Dr. Harold Leve-
renz, da Universidade da Califórnia em Davis, recebe reconhecimento especial pelas contribuições
extraordinárias para o desenvolvimento dos gráficos utilizados ao longo do texto, pela revisão do
Capítulo 6 e por ter escrito seções específicas. Nosso reconhecimento especialtambém para: Sr.
Russel Adams, um consultor ambiental que revisou os Capítulos 3, 11 e 12; Dra. Heidi Gough da
Universidade de Washington, que escreveu a seção de biologia molecular do Capítulo 7; Dra. April
Gu, da Universidade Northeastern que ajudou a escrever e forneceu material para Capítulo 9; se-
nhorita. Emily Legault, da HDR Engenheiros, que teceu comentários atenciosos e abrangentes nos
Capítulos 2, 3, 7, 8, 11 e 12; Sr. Mladen Novakovic, da AECOM, que contribuiu para o desenvol-
vimento do Capítulo 5; Sr. Terry Goss, da AECOM, que contribuiu amplamente para o desenvolvi-
mento dos Capítulos 13 e 14; e Sr. Dennis Totzke, de Tecnologias Aplicadas, que teve participação
significativa no desenvolvimento do Capítulo 10.
A revisão do manuscrito foi fundamental para manter a qualidade do texto. Revisores externos,
que forneceram comentários críticos foram: Dr. Onder Caliskaner, da Kennedy/Jenks Consultores,
pela avaliação de partes do Capítulo 11; Dr. Robert Cooper, dos Laboratórios Biovir, por ter revisa-
do a seção sobre microbiologia no Capítulo 2; Senhorita Libia Diaz, da Universidade da Califórnia
em Davis, por rever os problemas de casa; Dr. Robert Emerick, da STANTEC Engenheiros, que
revisou a seção sobre a desinfecção por UV no Capítulo 12; Dr. David Hokanson, da Trussell Te-
chnologies, pela avaliação de partes do Capítulo 11; Senhorita Amelia Holmes, da Universidade
da Califórnia em Davis, por rever os problemas de casa; Dr. Kurt Ohlinger, da Divisão Regional
de Saneamento do Condado de Sacramento, pela crítica para a recuperação de fósforo. Dr. Edward
Schroeder, professor emérito da Universidade da Califórnia em Davis, pela avaliação de partes dos
Capítulos 1 e 2.
Engenheiros e ex-membros da AECOM contribuíram para o desenvolvimento do trabalho,
fornecendo informação de projeto e analisando partes específicas do texto. Listados em ordem
alfabética (de sobrenome) são:
Por fim, a produção deste livro não poderia ter sido concluída sem a orientação e assistência
das seguintes pessoas: Sr. William Stenquist, Editor Executivo e Sra. Lorraine Buczek, Editora
de Desenvolvimento da McGraw-Hill Book Company, Sra. Rose Kernan e Sra. Erin McConnell
de Serviços Editoriais RPK, Inc. pelo serviço de alta qualidade ao trabalhar com os autores para
produzir o livro didático. Os esforços coletivos desses indivíduos foram inestimáveis e muito apre-
ciados.
George Tchobanoglous
H. David Stensel
Ryujiro Tsuchihashi
Franklin Burton
Prefácio
Desde a conclusão da quarta edição deste livro, o campo de tratamento de efluentes tem evoluído
em ritmo acelerado. Algumas das mudanças mais significativas incluem:
1. Nova visão das águas residuais como fonte de energia, nutrientes e água potável
2. Requisitos de lançamento mais rigorosos relacionados a nitrogênio e fósforo
3. Melhor compreensão da microbiologia fundamental e fisiologia dos micro-organismos respon-
sáveis pela remoção de nitrogênio, fósforo e outros componentes
4. Apreciação da importância do tratamento separado das vazões de retorno em relação ao cum-
primento de normas mais rigorosas para remoção de nitrogênio e oportunidades para a recupe-
ração de nutrientes
5. Maior ênfase no tratamento de lodo e gestão de biossólidos
6. Aumento da consciência dos impactos da pegada de carbono e emissões de gases de efeito de
estufa, e ênfase no desenvolvimento de Estações de Tratamento de Esgotos com balanço neutro
ou positivo de energia por meio do uso mais eficiente de energia química e calor nos esgotos
A quinta edição deste livro foi preparada para acompanhar estas mudanças. O aumento da impor-
tância dos processos de pré-tratamento é abordado no Capítulo 5. Avanços no tratamento biológico
são abordados nos Capítulos 7 a 10. Novos processos de desinfecção são abordados no Capítulo 12.
A gestão de lodo e de biossólidos está nos Capítulos 13 e 14. O tratamento das vazões de retorno é
abordado no Capítulo 15 e a gestão de energia, no Capítulo 17. A ênfase desta edição é apresentar
um projeto prático e dados operacionais, mantendo uma discussão teórica sólida de tecnologias e
suas aplicações. Engenheiros de processo da AECOM e revisores externos foram procurados para
fornecer ao leitor uma fonte de informações práticas do mundo real de uma forma que não está
disponível em qualquer outra fonte de referência.
DESTAQUES
Nesta edição, foi dedicado um capítulo especial aos fundamentos da análise de processos, in-
cluindo uma introdução para a preparação de balanços de massa e cinética de reação. Disciplinas
introdutórias de análise de processos e modelagem fazem parte de muitos cursos; por isso, esse
conteúdo está condensado nas Seções 1-7 da Parte 1-11 no Capítulo 1. O material da análise de
processos foi mantido como uma fonte de referência para os alunos que já cursaram uma disci-
plina específica sobre modelagem e como uma introdução para aqueles que não tiveram contato
com o assunto.
Mantendo a didática da edição anterior, estão incluídos inúmeros recursos para compreensão,
ilustração e aprimoramento de habilidades analíticas: mais de 150 exemplos de problemas traba-
lhados em detalhes, dados e informações apresentados e resumidos em mais de 400 tabelas, mais
de 850 ilustrações, gráficos, diagramas e fotografias, 120 desenhos, 375 problemas de lição de casa
e tópicos de discussão, além de extensas referências .
Nesta edição é utilizado o Sistema Internacional de Unidades. O uso de unidades do SI é coe-
rente com a prática de ensino na maior parte das universidades norte-americanas e na maioria dos
países. Em geral, os conjuntos duplos de unidades (SI e usual dos EUA) foram utilizados para as
x P Prefácio
tabelas de dados. Quando isso não foi possível, fatores de conversão foram incluídos em nota de
rodapé. Para aumentar ainda mais a utilidade deste livro, foram incluídos vários anexos com con-
teúdo adicional para consulta.
Para um curso de um semestre em processos físicos e químicos unitários, a ementa abaixo é suge-
rida. Observa-se que a ementa descrita a seguir pode ser complementada com exemplos adicionais
de tratamento de água.
Jekabs P. Vittands
Vice Presidente Sênior AECOM
Sumário
Tipos de misturadores utilizados para manter sólidos Absorção de gases em condições turbulentas 401
em suspensão em tratamento de esgoto e em Absorção de gases sob condições quiescentes 403
mistura química 323 Desorção (remoção) de gases 405
Tipos de misturadores utilizados para floculação em
5–11 Sistemas de aeração 406
tratamento de esgoto 327
Transferência de oxigênio 406
Tipos de misturadores utilizados para mistura
contínua em tratamento de esgoto 330 Avaliação do fator de correção alfa (a) 408
Novos desenvolvimentos na tecnologia de Tipos de sistemas de aeração 411
mistura 332 Aeração por ar difuso 411
Aeradores mecânicos 423
5–4 Teoria da separação por gravidade 332
Requerimentos de energia para mistura em sistemas
Descrição 332
de aeração 426
Teoria da sedimentação de partículas 334
Geração e dissolução de oxigênio de alta
Sedimentação de partículas discretas 338 pureza 427
Sedimentação de partículas floculentas 340 Pós-aeração 430
Sedimentação em placas e tubos inclinados 344
Problemas e tópicos de discussão 435
Sedimentação (zona) retardada 347
Sedimentação por compressão 351
6 Processos unitários químicos 441
Separação por gravidade em um campo de
escoamento acelerado 351 6–1 Função dos processos unitários químicos em
tratamento de esgoto 444
5–5 Remoção de areia 353
Aplicações de processos unitários químicos 444
Características da areia de esgoto 353
Considerações sobre o uso de processos unitários
Separadores de areia para esgoto 358
químicos 445
Separadores de areia para coletores unitários
(esgoto e águas pluviais) 366 6–2 Fundamentos da coagulação química 446
Lavagem da areia 367 Definições básicas 447
Secagem da areia 368 Natureza das partículas do esgoto 447
Disposição da areia 369 Desenvolvimento e medidas de cargas
superficiais 448
Desareamento de sólidos (lodo) 369
Interações partícula-partícula 450
5–6 Sedimentação primária 369
Desestabilização e agregação de partículas com
Descrição 369 polieletrólitos 452
Desempenho de decantadores 378 Desestabilização de partículas e remoção com íons
Considerações sobre projetos 380 de metal hidrolizados 453
Características e quantidades de sólidos (lodo) e de
6–3 Precipitação química para melhoria do desempenho
escuma 384
de estações de tratamento 459
5–7 Clarificação de alta taxa 385 Reações químicas em aplicações de precipitação de
Floculação de partículas melhorada 385 esgoto 459
Análise da floculação de partículas com lastro e Tratamento primário quimicamente assistido
sedimentação 385 (TPQA) 462
Aplicação do processo 387 Tratamento físico-químico independente 463
5–8 Flotação 390 Estimativa das quantidades de lodo de precipitação
Descrição 390 química 463
Considerações sobre projetos de sistemas de 6–4 Remoção química de fósforo 466
flotação por ar dissolvido 393 Produtos químicos utilizados para a remoção de
5–9 Novas abordagens para tratamento primário 395 fósforo 466
Micropeneiramento de esgoto bruto 395 Remoção de fósforo de correntes líquidas com sais
de metais 471
Flotação com bolhas carregadas eletricamente 396
Remoção de fósforo de correntes líquidas com
Filtração de efluentes primários 397
cálcio 474
5–10 Transferência de massa gás-líquido 398 Estratégias para remoção química de fósforo do
Desenvolvimento histórico das teorias de esgoto 475
transferência gasosa 399
A teoria de transferência de gases de dois
filmes 399
Sumário P xvii
6–5 Formação química de estruvita por remoção de Tipos de processos biológicos para tratamento de
amônia e fósforo 477 esgoto 538
Química da formação de estruvita 477 7–2 Composição e classificação de micro-
Medidas de controle e/ou de mitigação da organismos 543
formação de estruvita 480 Componentes de células 543
Formação melhorada de estruvita para a remoção Composição da célula 545
de nutrientes 480 Fatores ambientais 546
6–6 Precipitação química para a remoção de metais Classificação e identificação de micro-
pesados e de substâncias dissolvidas 482 organismos 546
Reações de precipitação 482 Uso de ferramentas moleculares 549
Co-precipitação com fósforo 484 7–3 Introdução ao metabolismo microbiano 552
6–7 Oxidação química convencional 484 Fontes de carbono e de energia para crescimento
Aplicações para oxidação química microbiano 552
convencional 485 Requerimentos de nutrientes e de fator de
Oxidantes utilizados em processos de oxidação crescimento 554
química 485 7–4 Crescimento bacteriano, energética e
Fundamentos da oxidação química 486 decaimento 554
Oxidação química de constituintes orgânicos 492 Reprodução bacteriana 554
Oxidação química da amônia 492 Padrões de crescimento bacteriano em um reator
Limitações do processo de oxidação química 493 batelada 555
6–8 Oxidação avançada 493 Crescimento bacteriano e síntese de biomassa
Aplicações da oxidação avançada 494 (yield) 555
Processos de oxidação avançados 496 Medindo o crescimento da biomassa 556
Considerações básicas sobre processos de oxidação Estimando a síntese de biomassa (yield)
avançados 501 e requerimentos de oxigênio por
estequiometria 556
Limitações do processo de oxidação
avançado 503 Estimando a síntese de biomassa (yield) com
bioenergética 559
6–9 Fotólise 504
Estequiometria de reações biológicas 566
Aplicações de fotólise 505
Síntese de biomassa (yield) para diferentes
Processos de fotólise 505 condições de crescimento 567
Considerações sobre processos de fotólise 506 Decaimento da biomassa 568
Limitações do processo de fotólise 509 Síntese celular observada e real 568
6–10 Neutralização química, controle da incrustação e 7–5 Cinética do crescimento bacteriano 569
estabilização 511
Terminologia da cinética de crescimento
Ajuste de pH 512 bacteriano 569
Análise do potencial de incrustação 513 Taxa de utilização de substratos solúveis 569
Controle da incrustação 518 Outras expressões de taxas para utilização de
Estabilização 518 substrato solúvel 571
6–11 Armazenamento de produtos químicos, dosagem, Taxa de produção de substrato solúvel de matéria
tubulações e sistemas de controle 518 orgânica particulada biodegradável 571
Armazenamento e manuseio de produtos Taxa líquida de crescimento de biomassa 572
químicos 519 Coeficientes cinéticos para utilização de substrato e
Sistemas de alimentação a seco de produtos crescimento de biomassa 573
químicos 519 Taxa de assimilação de oxigênio 574
Sistemas de alimentação líquida 521 Efeitos de temperatura 574
Sistemas de alimentação a gás 524 Sólidos suspensos voláteis totais e biomassa
Mistura química inicial 524 ativa 574
Problemas e tópicos de discussão 526 Síntese de biomassa (yield) líquida e síntese de
biomassa observada 575
7 Fundamentos do tratamento 7–6 Modelando processos de crescimento suspenso 577
biológico 533 Descrição dos processos de tratamento de
crescimento suspenso 577
7–1 Revisão do tratamento biológico de esgoto 537
Tempo de retenção de sólidos 577
Objetivos do tratamento biológico 537
Balanço de biomassa 578
A função dos micro-organismos em tratamento de
esgoto 537
xviii P Sumário
8–4 Tipos de seletores e critérios de projeto 710 8–10 Análise da separação sólido-líquido para processos
Tipos de seletores e critérios de projeto 710 de lodo ativado com clarificadores 864
Características de sedimentação ruins, mesmo com o Separação de sólidos por clarificadores
uso de seletores 713 secundários 865
Avaliação das características de adensamento de
8–5 Considerações sobre o projeto de processos de lodo
lodos 867
ativado 713
Projeto do clarificador com base na análise do fluxo
Abordagem de projeto em regime permanente 714
de sólidos 869
Uso de modelos de simulação 716
Projeto do clarificador com base na análise do
Modelo de matriz, componentes e reações 718
ponto de estado 876
Aplicações de outros modelos de simulação 722
8–11 Considerações sobre o projeto de clarificadores
8–6 Processos para remoção de DBO e nitrificação 723 secundários 882
Revisão dos processos de remoção de DBO e Tipos de clarificadores secundários 882
nitrificação 723
Profundidade útil 885
Aspectos gerais sobre o projeto do processo 725
Distribuição de vazão 886
Projeto de processo de lodo ativado completamente
Projeto da alimentação dos clarificadores 886
misturado 726
Localização dos vertedores e taxa de
Projeto do processo em reator batelada
aplicação 888
sequencial 742
Remoção e gerenciamento da escuma 888
Projeto do processo de lodo ativado em
estágios 753 8–12 Separação de sólidos nos reatores com
Processos alternativos para a remoção de DBO e membranas 889
nitrificação 757 Parâmetros de projeto 889
Propriedades das membranas 890
8–7 Processos para remoção biológica de nitrogênio 769
Projeto e características operacionais da unidade de
Desenvolvimento do processo 769
membranas 892
Revisão dos tipos de processos para a remoção
Utilização de membranas 893
biológica de nitrogênio 770
Aspectos relacionados à ocorrência de depósitos
Aspectos gerais sobre o projeto do processo 775
nas membranas 894
Processos de desnitrificação pré-anóxicos 777
Processos de desnitrificação pós-anóxica 805 Problemas e tópicos de discussão 896
Processos de nitrificação/desnitrificação com baixa
concentração de OD e cíclico 807 9 Processos biológicos de
Configurações alternativas de processos para a tratamento com crescimento
remoção biológica de nitrogênio 812 aderido e combinados 917
Desnitrificação com a utilização de uma fonte 9–1 Introdução aos processos com crescimento
externa de carbono 823 aderido 919
Controle e desempenho do processo 835 Tipos de processos com crescimento aderido 919
8–8 Processos para a remoção biológica de fósforo 836 Limitação na transferência de massa nos processos
Desenvolvimento do processo 836 com crescimento aderido 923
Visão geral do processo de remoção biológica de 9–2 Processos com crescimento aderido não
fósforo 837 submerso 923
Aspectos gerais sobre o projeto dos processos 846 Descrição geral do processo 924
Fatores operacionais associados à remoção Classificação e aplicações dos filtros
biológica de fósforo 854 percoladores 926
Projeto do processo de remoção biológica de Vantagens e desvantagens dos filtros
fósforo 855 percoladores 930
Previsão de adição química 855 Principais componentes dos filtros
Controle e otimização do desempenho do percoladores 930
processo 859 Considerações sobre o projeto das instalações
8–9 Do tanque de aeração para os processos de lodo físicas 934
ativado 860 Considerações sobre o projeto de processos para
Sistema de aeração 860 remoção de DBO 945
Tanque de aeração e acessórios 861 Análise do processo para remoção de DBO 949
Análise do processo para nitrificação 956
xx P Sumário
11–2 Tecnologias utilizadas para a remoção de material Estudos em escala-piloto para aplicação dos
particulado e dissolvido presente no efluente processos de separação por membranas 1190
secundário 1099 Gerenciamento do concentrado 1192
Operações unitárias por transferência de 11–8 Eletrodiálise 1194
massa 1099
Descrição do processo de eletrodiálise 1194
Transformações baseadas em processos químicos e
Eletrodiálise reversa 1195
biológicos 1099
Consumo de energia 1196
Aplicação das operações e processos unitários para
a remoção de contaminantes residuais 1099 Aspectos operacionais 1199
Eletrodiálise ⴛ osmose reversa 1200
11–3 Operações unitárias para a remoção de material
particulado e dissolvido 1100 11–9 Adsorção 1201
Diagramas de processos típicos 1101 Aplicações da adsorção 1201
Estimativa do desempenho dos processos 1102 Tipos de adsorventes 1201
Fundamentos dos processos de adsorção 1204
11–4 Introdução à filtração em profundidade 1103
Obtenção das isotermas de adsorção 1204
Descrição da operação de filtração 1106
Adsorção de múltiplos contaminantes 1209
Características hidráulicas dos filtros
profundos 1111 Capacidade de adsorção 1209
Modelagem da operação de filtração 1119 Testes de adsorção em escala reduzida 1217
Análise do processo com carvão ativado em pó em
11–5 Filtração em profundidade: critérios para seleção e tanques de contato 1220
dimensionamento 1120
Sistema de lodos ativados com adição de carvão
Tecnologias de filtração disponíveis 1121 ativado em pó 1221
Desempenho dos diferentes tipos de filtros Regeneração do carvão 1222
profundos 1121
Limitações dos processos de adsorção 1222
Considerações sobre o dimensionamento e a
operação de sistemas de filtração 1133 11–10 Extração com gás (gas stripping) 1222
Seleção da tecnologia de filtração 1134 Análise da extração com gás 1223
Critérios e parâmetros de projeto para filtros com Dimensionamento de torres de extração 1233
meio granular 1138 Aplicações do processo de extração 1235
11–6 Filtração superficial 1148 11–11 Troca iônica 1238
Tecnologias de filtração superficial Materiais para troca iônica 1239
disponíveis 1148 Reações típicas das resinas de troca iônica 1239
Descrição da operação de filtração em Capacidade de troca das resinas 1240
superfície 1149 Equilíbrio químico no processo de troca
Desempenho dos filtros superficiais 1154 iônica 1243
Critérios de projeto 1156 Aplicações do processo de troca iônica 1247
Ensaios em escala-piloto 1156 Aspectos operacionais 1252
11–7 Processos de separação por membranas 1157 11–12 Evaporação 1253
Terminologia utilizada nos processos de separação A operação de evaporação 1253
por membranas 1157 Desempenho dos sistemas de evaporação para
Classificação dos processos de separação por recuperação de água 1255
membranas 1158 Problemas operacionais 1256
Estrutura de contenção das membranas 1162 Disposição final do concentrado 1256
Modos de operação para os sistemas
Problemas e tópicos de discussão 1256
pressurizados 1165
Análise dos processos com membranas de MF e
UF 1166
12 Processos de desinfecção 1268
Estratégias operacionais para sistemas de MF e 12–1 Introdução aos agentes de desinfecção utilizados no
UF 1168 tratamento de efluentes 1271
Análise do processo de osmose reversa 1169 Características de um agente de desinfecção
Ocorrência de depósitos (fouling) 1174 ideal 1271
Controle de depósitos 1177 Agentes e métodos de desinfecção 1271
Aplicação e desempenho dos processos de Mecanismos utilizados para explicar a ação dos
separação por membranas 1180 agentes de desinfecção 1273
Osmose direta (forward osmosis): um processo Comparação entre os desinfetantes 1273
emergente 1187
xxii P Sumário
12–10 Desinfecção por pasteurização 1404 Métodos para aumentar a carga de lodo e o
Descrição do processo de pasteurização 1404 desempenho do digestor 1492
Cinética da desinfecção térmica 1405 Produção, coleta e utilização do gás 1492
Eficiência germicida da pasteurização 1408 Aquecimento do digestor 1497
Exigências legais (EUA) 1408 Digestão anaeróbia avançada 1502
Aplicação da pasteurização para Pré-tratamento do lodo para digestão
desinfecção 1409 anaeróbia 1505
Codigestão com outros materiais orgânicos 1510
Problemas e tópicos de discussão 1409
13–10 Digestão aeróbia 1513
13 Processamento e tratamento Descrição do processo 1514
de lodos 1421 Digestão aeróbia convencional com ar 1515
Digestão dupla 1521
13–1 Fontes, características e quantidades de lodo 1424
Digestão aeróbia termofílica autotérmica
Fontes 1424
(DATA) 1521
Características 1426
Sistemas DATA avançados 1525
Quantidades 1429
Digestão com oxigênio puro 1526
13–2 Legislação para reúso e disposição de lodo nos
Problemas e tópicos de discussão 1526
Estados Unidos 1433
Aplicação no solo 1434
Disposição na superfície 1434
14 Processamento de biossólidos,
Redução de patógenos e atração de vetores 1434 recuperação de recursos
Incineração 1435 e usos benéficos 1531
13–3 Diagramas de processo de unidades de 14–1 Condicionamento químico 1534
processamento de lodos 1438 Polímeros 1534
Fatores que afetam o condicionamento de
13–4 Bombeamento de lodo e de escuma 1439
polímeros 1535
Bombas 1439
Determinação da dosagem de polímero 1535
Cálculo da perda de carga em sistemas de
Mistura 1536
bombeamento de lodo 1447
Preparação, condicionamento e alimentação 1537
Tubulação de lodo 1453
14–2 Desaguamento 1537
13–5 Preparação do lodo para processamento 1453
Descrição das tecnologias de desaguamento 1538
Trituração 1454
Centrifugação 1541
Peneiramento 1454
Prensas desaguadoras 1544
Remoção de detritos 1455
Prensa rotativa 1547
Mistura 1455
Extrusora 1550
Armazenagem 1456
Filtros prensas 1552
13–6 Adensamento 1459
Eletrodesaguamento 1555
Aplicações 1459
Leitos de secagem de lodo 1558
Descrição e projeto de adensadores de lodo 1460
Leito de plantas 1561
13–7 Processos de estabilização de lodos 1469 Lagoas de secagem 1562
13–8 Estabilização alcalina 1471 14–3 Secagem térmica 1563
Reações químicas na estabilização com cal 1471 Métodos de transferência de calor 1563
Geração de calor 1472 Descrição do processo 1565
Aplicação do processo de estabilização Características e uso de produto 1569
alcalina 1472 Transporte e armazenagem do produto 1570
13–9 Digestão anaeróbia 1475 Risco de incêndios e explosões 1570
Fundamentos do processo de digestão Controle da emissão de odores e poluição do
anaeróbia 1475 ar 1571
Descrição do processo de digestão anaeróbia 14–4 Processos avançados de oxidação térmica 1572
mesofílica 1477
Conceitos básicos sobre combustão
Projeto do processo para digestão anaeróbia completa 1573
mesofílica 1478
Incinerador de câmaras múltiplas 1576
Definição das características do digestor e do
Incinerador de leito fluidizado 1578
sistema de mistura 1484
xxiv P Sumário
15–8 Processos de nitrificação e desnitrificação 1666 16–4 Controle das emissões de compostos orgânicos
Aspectos fundamentais do processo de nitrificação- voláteis 1732
desnitrificação 1667 Propriedades físicas de alguns COVs de
Processos de tratamento 1669 interesse 1733
Emissões de COVs 1733
15–9 Processos de nitritação e desnitritação 1672
Coeficientes de transferência de massa para
Aspectos fundamentais sobre os processos 1672
COVs 1734
Processos de tratamento 1675
Transferência de massa de COV nos processos por
15–10 Processo de nitritação parcial e oxidação anaeróbia aeração superficial ou com ar difuso 1736
de amônia (deamonificação) 1675 Estratégias para controle de COVs 1739
Aspectos básicos do processo 1676 Tratamento dos gases de exaustão 1739
Processos de tratamento 1681
16–5 Emissões resultantes da combustão de gases e
15–11 Critérios de projeto dos processos biológicos de sólidos 1742
tratamento 1681 Fontes de combustíveis 1742
Características da corrente secundária e objetivos Sistemas de combustão utilizados em estações de
do tratamento 1681 tratamento de efluentes 1743
Carga de projeto e carga de equalização 1682 Emissões de interesse pelos sistemas de
Pré-tratamento das correntes secundárias 1683 combustão 1744
Volume do reator específico 1683 Queima do gás de digestão 1745
Sistema de aeração 1686
16–6 Emissões de gases de efeito estufa 1749
Tempo de retenção de sólidos e concentração de
Estrutura para a redução de gases de efeito
sólidos em suspensão no licor misto 1687
estufa 1749
Demanda de produtos químicos 1687
Protocolos de avaliação 1749
Temperatura e pH de operação 1688
Oportunidades para a redução da emissão de GEE
pH de operação 1689 em estação de tratamento de efluentes 1755
Balanço de energia para verificar a necessidade de
Problemas e tópicos de discussão 1757
resfriamento do reator 1689
Problemas e tópicos de discussão 1693 17 Consumo de energia no
gerenciamento de efluentes 1760
16 Emissões atmosféricas das
17–1 Fatores que levam à necessidade de gerenciamento de
unidades de tratamento de
energia 1762
efluentes e seu controle 1702 Potencial para a redução de custos 1762
16–1 Tipos de emissões 1704 Confiabilidade da fonte de energia 1763
16–2 Exigências legais 1704 Aspectos de sustentabilidade 1763
Qualidade do ar ambiente e condições de 17–2 Energia nos efluentes 1763
conformidade 1704 Energia química 1764
Programas de permissão pré-construção e Energia térmica 1767
operação 1706
Energia hidráulica 1768
Exigências tecnológicas para o controle de emissões
por fontes estacionárias 1706 17–3 Fundamentos de balanço de energia 1770
Conceito de um balanço de energia 1770
16–3 Controle de odor 1707
Elaboração de um balanço de energia 1771
Tipos de odores 1707
Fontes de odores 1707 17–4 Uso de energia nas estações de tratamento de
Medida do nível de odor 1710 efluentes 1772
Modelagem da dispersão de odores 1711 Tipos de fontes de energia utilizadas em estações de
tratamento de efluentes 1773
Movimento de odores das unidades de tratamento
de efluentes 1711 Uso de energia para o tratamento de
efluentes 1773
Estratégias para o gerenciamento de odores 1712
Uso de energia pelos processos individuais de
Métodos de tratamento de odores 1716
tratamento 1773
Seleção e projeto de unidades para controle de
Tecnologias avançadas e novas tecnologias de
odores 1725
tratamento de efluentes 1774
Considerações sobre o projeto de lavadores de
gases químicos 1725
Considerações sobre o projeto de biofiltros para
controle de odor 1727
xxvi P Sumário
REFERÊNCIAS 55
GLOSSÁRIO
Termo Definição
Águas pluviais Parte da precipitação que ocorre em correntes superficiais. É o mesmo que uma
corrente não afetada por diversões de vazão artificiais, retenção em reservatórios ou
por outras obras efetuadas em canais de escoamento.
Análise de balanço de massas Uma avaliação de massas internamente a um ponto definido, antes e após a
ocorrência de reações e conversões.
Biossólido Lodo oriundo de processos de tratamento de esgoto, estabilizado e atendendo aos
critérios estabelecidos no regulamento 40 CFR da USEPA, e que, portanto, pode ser
utilizado para fins benéficos.
Características, esgoto Classes gerais de constituintes do esgoto, tais como constituintes físicos, químicos e
biológicos.
Coeficiente de difusão molecular O movimento de moléculas desde uma região de alta concentração para uma de
baixa concentração.
Coeficiente de temperatura Coeficiente utilizado para corrigir as constantes das taxas de reação em relação à
temperatura.
Escoamento ideal Um regime de escoamento no qual todas as partículas fluidas são retidas em um
reator durante um período de tempo equivalente ao tempo de detenção teórico.
Escoamento não ideal Um regime de escoamento no qual uma porção das partículas de fluido é mantida no
reator por tempo diferente do tempo de detenção teórico.
Esgoto Água usada proveniente de habitações, comércio, cidades, indústrias e agricultura.
São utilizados sinônimos, como esgoto municipal, esgoto industrial e águas pluviais.
Estequiometria Proporções nas quais elementos químicos combinam ou são produzidos e as relações
de peso em qualquer reação química.
Capítulo 1 Introdução ao tratamento de esgotos e à análise de processo P 3
Termo Definição
Lodo Qualquer material (i.e., lodo) produzido durante tratamento primário, secundário ou
avançado de esgotos que não tenha sido submetido a qualquer processo visando à
redução de patogênicos ou vetores (ver também Biossólido).
Ordem de reação Um coeficiente empírico utilizado para descrever a relação entre taxa de reação e
concentração de um determinado composto em uma determinada reação.
Processo unitário Parte de um sistema de tratamento no qual a conversão de constituintes é efetuada
por forças físicas (como a sedimentação gravitacional) ou por reações químicas ou
biológicas.
Reação heterogênea Reações que ocorrem entre um ou mais constituintes, que possam ser identificados em
sítios específicos.
Reação homogênea Reações que ocorrem uniformemente através do fluido, mantendo o potencial de
reação constante em qualquer parte do fluido.
Reator Um vaso ou tanque no qual ocorrem reações físicas, químicas ou biológicas.
Reator batelada Um vaso no qual não ocorre entrada ou saída de vazões durante o período de
reação.(Reator estático)
Reator completamente misturado (RCM) Um reator no qual ocorre mistura completa instantânea e uniformemente, conforme as
partículas líquidas adentram o reator.
Reator tubular (RT) Um vaso com o objetivo de transportar partículas de fluido de maneira que essas
saiam do reator na mesma sequência na qual entraram.
Regime permanente Condição que ocorre quando a concentração de um constituinte não se altera com o
tempo.
Reúso de água O uso de esgoto tratado para fins benéficos, como irrigação agrícola ou ornamental,
e para reúso potável direto ou indireto.
Taxa de reação A taxa de mudança (acréscimo ou decréscimo) do número de moles de uma
substância reativa por unidade de volume e por unidade de tempo (para reações
homogêneas) ou por unidade de área superficial e por unidade de tempo (para
reações heterogêneas).
Tratamento de esgoto Remoção de constituintes de maneira que o efluente tratado possa retornar ao meio
ambiente ou ser reutilizado com segurança.
Esgoto é, essencialmente, a água de abastecimento de uma comunidade após o seu uso em uma
variedade de aplicações, contendo constituintes que, sem tratamento, a tornam imprópria para a
maioria dos usos. Quando esgoto bruto é acumulado e se torna séptico, a decomposição do material
orgânico nele contido leva a condições desagradáveis, incluindo a produção de gases com maus
odores. Além disso, esgotos brutos contêm diversos organismos patogênicos que se desenvolvem
no intestino humano. Contêm, também, nutrientes que podem estimular o crescimento de plantas
aquáticas e impedir o desenvolvimento de compostos tóxicos ou compostos potencialmente mu-
tagênicos ou carcinogênicos. Por essas razões, a imediata e segura remoção de esgotos de suas
fontes de geração (ver Fig. 1–1), seguida de tratamento, reúso ou disposição final é necessária para
a proteção da saúde pública e do meio ambiente.
A engenharia de esgotos é o ramo da engenharia ambiental no qual os princípios básicos de
ciência e engenharia são aplicados para resolver temas associados à coleta, ao tratamento e ao
reúso de esgotos. O objetivo básico da engenharia de esgotos é a proteção da saúde pública e
ambiental, em associação direta com aspectos econômicos, sociais e políticos. Este capítulo tem
dois objetivos. O primeiro é o de introduzir e discutir brevemente (1) a evolução do tratamento de
esgotos, (2) a evolução das regulamentações associadas à gestão de esgotos, (3) as características
gerais dos esgotos, (4) a classificação dos métodos de tratamento, (5) a aplicação dos métodos de
tratamento e (6) as características do tratamento de esgotos nos Estados Unidos.
4 P Capítulo 1 Introdução ao tratamento de esgotos e à análise de processo
Coletor lateral
de esgoto sanitário
Residências, apartamentos,
edifícios corporativos, Superfície
Bacia de coleta estabelecimentos comerciais, etc. Extravasamento de
impermeável
de águas pluviais águas pluviais para
bacias de infiltração, Ponto de acesso
reservatórios
Extravasamento de ou águas superficiais
esgoto combinado para
bacia ou água superficial
Coletor principal
de esgotos para a
estação de tratamento
FIGURA 1–1 Diagrama esquemático da infraestrutura de sistemas de coleta de esgotos: (a) sistema de coleta combinado (esgo-
tos e águas pluviais) e (b) sistema separado de coleta de esgotos e de águas pluviais. (Cortesia de H. Leverenz)
O material contido nas primeiras cinco seções deste capítulo visa à introdução ao tema de
tratamento de esgotos e às bases para a análise dos processos unitários que serão introduzidos nos
capítulos subsequentes.
O segundo objetivo deste capítulo é apresentar uma revisão e uma introdução para (1) os fun-
damentos de análise de processos, (2) os reatores utilizados em tratamento de esgotos, (3) a mode-
lagem de reatores de escoamento ideal, (4) a cinética de processos e (5) a modelagem dos processos
de tratamento. O material apresentado nas cinco últimas seções deste capítulo é uma revisão para
aqueles que já tenham algum conhecimento de análise de processos e para introduzir os iniciantes
ao tema. Manuseando, em primeiro lugar, os conceitos básicos (p.ex., balanço de massas e análise
de reatores), será possível aplicá-los (sem repetição de detalhes) nos demais capítulos.
Objetivos do tratamento
De uma maneira geral, entre aproximadamente 1900 e o início dos anos 1970, os objetivos do
tratamento eram associados a (1) remoção de sólidos suspensos e flotáveis, (2) tratamento de or-
1–1 Evolução do tratamento de esgotos P 5
TABELA 1–1 Resumo das regulamentações federais que afetaram a gestão de esgotos nos Estados Unidos
Regulamentação Descrição
Decreto Federal sobre Controle da Poluição A primeira lei de importância emitida pelo Congresso para abordar os
da Água (FLUPCA) (P.L. 80-845, 62 Stat. problemas de poluição da água nos Estados Unidos.
1155) de 1948
Decreto da Água Limpa (CWA) (P.L. 92-500, Institui o Sistema Nacional de Eliminação de Emissões Poluidoras (NPDES), um
Emendas de 1972 ao Decreto Federal sobre programa que estabelece permissão para cada emissão com base em padrões
Controle da Poluição da Água) mínimos uniformes e tecnológicos.
Decreto da Qualidade da Água de 1987 Reforça as regulamentações federais sobre qualidade da água, proporcionando
(WQA) (Emenda ao CWA) alterações sobre permissões e adiciona penalidades significativas para
violações de permissões.
Adiciona emendas sobre o programa de controle de sólidos, enfatizando a
identificação e a regulamentação de poluentes tóxicos no lodo de esgotos.
40 CFR Parte 503 (1993) (Regulamentos Regulamenta o uso e a disposição de biossólidos originados em estações
sobre lodos de esgotos) de tratamento de esgotos. As limitações são estabelecidas para itens como
contaminantes (principalmente metais), organismos patogênicos e potencial de
atração de vetores.
Diretrizes Nacionais sobre Extravasamento Coordena o planejamento, a seleção, o projeto e a implementação das
de Coletores Unitários de Esgotos (CSO) práticas e dos controles de gestão descritos nas Diretrizes Nacionais para o
(1994) Extravasamento de Coletores Unitários de Esgotos (CSO – Combined Sewer
Overflow) para atender aos requerimentos estabelecidos no CWA. Um mínimo
de nove controles e desenvolvimentos dos planos de controle de longo prazo
das CSO são requeridos para imediata implementação.
Decreto da Água Limpa (CWA) de 1970 e Estabelece limites para poluentes atmosféricos específicos e institui a prevenção
emendas de 1990 de deterioração significativa da qualidade do ar. É requerida a melhor
tecnologia de controle disponível para os 189 produtos químicos relacionados,
oriundos de “fontes principais”, isto é de plantas emitindo pelo menos 60 kg/d.
40 CFR Parte 60 Estabelece limites de emissão atmosférica para incineradores de lodo com
capacidade superior a 1000 kg/d em base seca.
Carga Máxima Total Diária (TMDL) (2000) Requer que os Estados desenvolvam uma lista de prioridade de corpos hídricos
Seção 303(d) do CWA poluídos ou ameaçados e estabeleçam quantidade máxima de poluentes (TMDL
– Total Maximum Daily hoad) que um corpo hídrico pode receber, atendendo
aos padrões de qualidade da água (U.S. EPA, 2000).
desenvolvimento de um “lodo limpo” (U.S. EPA, 1992). Os regulamentos que descrevem o reúso e
a disposição de sólidos são abordados no Capítulo 13.
Carga total diária máxima. O programa relativo à carga total diária máxima (CTDM) foi
promulgado em 2000, mas não se tornou efetivo até 2002. A regra CTDM objetiva a proteção da
qualidade da água ambiental e representa a quantidade máxima de um poluente que um corpo hídri-
co pode receber e ainda manter os padrões de qualidade da água. A CTDM é a soma de (1) a carga
de esgotos individuais relativa a fontes pontuais, (2) cargas relativas a fontes difusas, (3) cargas
naturais e (4) uma margem de segurança (U.S. EPA, 2000). Para implementar a regra, um programa
completo de gestão da qualidade da água em toda a bacia de drenagem deve ser desenvolvido para
identificar e controlar fontes difusas em adição às fontes pontuais tradicionais. Com a implantação
do regulamento CTDM, o foco em qualidade da água se altera de controles baseados em tecno-
logia para a preservação da qualidade de água ambiental. O resultado final é uma metodologia de
planejamento integrado que transcende limites jurídicos e força diversos setores, como agricultura,
sistemas de água e de esgotos e gestores de escoamento superficial, a cooperar. A implementação
do regulamento CTDM poderá variar dependendo dos objetivos específicos de qualidade de água,
estabelecidos para cada bacia de drenagem, e, em alguns casos, poderá exigir a instalação de siste-
mas avançados de tratamento.
Emissões atmosféricas. Estações de tratamento de esgotos são fontes potenciais de odores
e outras emissões gasosas. Compostos orgânicos voláteis (COV) são de interesse particular, uma
vez que muitos deles são considerados carcinogênicos. Foram desenvolvidos regulamentos para
poluentes atmosféricos perigosos (PAPs), constituindo um grupo de 188 químicos regulamentados
especificamente pela U.S. EPA, que são conhecidos ou considerados causadores de efeitos sobre a
saúde humana quando em doses superiores aos níveis especificados. Os regulamentos estão espe-
cificados em 40 CFR61.
e Saúde Ocupacional (DSSO), que aborda as provisões de segurança que devem ser incluídas
nos projetos de estações de tratamento de esgotos. Os regulamentos estaduais, regionais e locais
devem incluir padrões de qualidade de água para proteção da saúde pública e usos benéficos de
corpos receptores, padrões de qualidade do ar para regulamentar de emissões atmosféricas (in-
cluindo odores) de estações de tratamento e regulamentos para disposição e reúso de sólidos e de
biossólidos.
Fontes de esgotos
Quando recebidos na estação de tratamento, as características dos esgotos de uma comunidade de-
pendem dos componentes que os formam e das alterações que ocorrem na rede coletora. As fontes
mais comuns de esgotos incluem:
Esgoto doméstico. Esgoto oriundo de residências e de instalações comerciais, institucionais e pú-
blicas. O esgoto doméstico é também conhecido como esgoto sanitário.
Esgoto industrial. Esgoto no qual predominam efluentes industriais.
Infiltração/vazão externa (I/I). Água que adentra a rede de coleta através de meios diretos ou indi-
retos. A infiltração é a água externa que adentra a rede de coleta através de juntas danificadas
e de fraturas ou ruptura das tubulações. Vazão externa é a água pluvial que adentra a rede de
coleta através de bocas de lobo (bacias coletoras), descarga de telhados, drenos de fundações e
de porões, e através de tampas de postos de visita.
Águas pluviais. Escoamento superficial resultante de chuvas ou de neve derretida.
Constituintes do esgoto
Os constituintes do esgoto podem ser caracterizados em termos de suas propriedades físicas, quí-
micas e biológicas. Os principais constituintes do esgoto e de suas origens estão relacionados na
Tabela 1–3. Deve-se observar que muitas das propriedades físicas e dos constituintes químicos e
biológicos apresentados na Tabela estão interelacionados. Por exemplo, a temperatura, uma pro-
priedade física, afeta tanto as quantidades de gases dissolvidos quanto a atividade biológica do
esgoto.
Constituintes importantes. Embora a lista de constituintes apresentada na Tabela 1–3 seja
extensiva, os padrões para tratamento secundário de esgotos, conforme apresentado na Tabela 1–2,
são baseados na remoção de orgânicos biodegradáveis, de sólidos suspensos totais e de pH. Pa-
drões mais restritivos podem ser aplicados dependendo do uso que será feito do esgoto tratado. Por
exemplo, quando o esgoto for reusado para abastecimento potável, poderá ser necessário remover
nutrientes, metais pesados, organismos patogênicos e poluentes prioritários em níveis significa-
tivamente menores do que normalmente requerido. Dependendo das condições locais, pode ser
necessário remover até os sólidos orgânicos dissolvidos.
Recursos recuperáveis do esgoto. Como mencionado, o foco do desenvolvimento em tra-
tamento de esgoto no século XX foi em relação à remoção de constituintes considerados contami-
nantes quando dispostos no meio ambiente. No século XXI, ocorreu uma mudança de paradigma
em relação ao esgoto. Esgoto é, agora, considerado uma fonte renovável e recuperável de energia,
de recursos e de água (Tchobanoglous, 2011). Dentro dessa nova visão, o foco do tratamento de
esgoto vem se modificando. Novos processos estão sendo desenvolvidos, tornando possível re-
cuperar energia, recursos e água de maneira mais eficaz. De fato, é razoável assumir que, em um
futuro não muito distante, as estações de tratamento de esgotos se tornarão exportadoras e não mais
consumidoras de energia. As energias calorífica e química do esgoto são abordadas no Capítulo 2.
Característica Fontes
Propriedades físicas:
Cor Esgoto doméstico ou industrial, decomposição natural de material
orgânico
Odor Esgoto em decomposição, esgoto industrial
Sólidos Abastecimento de água doméstico, esgoto industrial, erosão do solo,
vazões externas/infiltração
Temperatura Esgoto doméstico e industrial
Constituintes químicos:
Orgânicos
Carboidratos Esgotos doméstico, comercial e industrial
Compostos orgânicos voláteis Esgotos doméstico, comercial e industrial
Fenóis Esgoto industrial
Gorduras, óleos e graxas Esgotos doméstico, industrial e comercial
Outros Decomposição natural de materiais orgânicos
Pesticidas Esgoto agrícola
Poluentes prioritários Esgotos doméstico, comercial e industrial
Proteínas Esgotos doméstico, comercial e industrial
Surfactantes Esgotos doméstico, comercial e industrial
Inorgânicos
Alcalinidade Esgoto doméstico, abastecimento de água doméstico, infiltração de
água subterrânea
Cloretos Esgoto doméstico, abastecimento de água doméstico, infiltração de
água subterrânea
Enxofre Abastecimento de água doméstico, esgoto doméstico, comercial e
industrial
Fósforo Esgotos doméstico, comercial e industrial, escoamento superficial
natural
Metais pesados Esgoto industrial
Nitrogênio Esgotos doméstico e agrícola
pH Esgotos doméstico, abastecimento de água doméstico, infiltração de
água subterrânea
Poluentes prioritários Esgotos doméstico, comercial e industrial
Potássio Esgotos doméstico, comercial e industrial
Gases
Metano Decomposição de esgoto doméstico
Oxigênio Abastecimento de água doméstico, infiltração de água superficial
Sulfeto de hidrogênio Decomposição de esgoto doméstico
Constituintes biológicos:
Animais Cursos de água abertos e estações de tratamento
Helmintos (vermes) Esgoto doméstico
Plantas Cursos de água abertos e estações de tratamento
Protista
Arqueobactéria Esgoto doméstico, infiltração de água superficial e estações de
tratamento
Eubactéria Esgoto doméstico, infiltração de água superficial e estações de
tratamento
Vírus Esgoto doméstico
12 P Capítulo 1 Introdução ao tratamento de esgotos e à análise de processo
sedimenta. A adição de oxigênio à água para manter reações aeróbicas é o exemplo mais comum de
transferência de gases. Outro processo unitário químico é a utilização de cloro para desinfecção do
esgoto, processo que vem sendo praticado há mais de um século.
Processamento do esgoto
Para a remoção de constituintes, alguns processos unitários são agrupados para formar o que é co-
nhecido como tratamento primário, secundário, terciário ou avançado (ver Tabela 1–4). De maneira
geral, o termo primário se refere à aplicação de processos unitários físicos; secundário, a processos
unitários químicos e biológicos, e terciário, à combinação dos três. Deve ser observado que esses
termos são arbitrários e, em muitos casos, sem valor significativo. Um critério mais racional seria o
de estabelecer o nível de remoção do constituinte (tratamento) requerido antes que o esgoto possa
ser reusado ou dispersado no meio ambiente. Os processos unitários necessários para obter o nível
de tratamento requerido podem, então, ser agrupados, com base em condições fundamentais.
Os constituintes do esgoto de maior interesse e os processos unitários ou métodos utilizados
para a remoção desses constituintes são mostrados na Tabela 1–5.
Conforme definido pela U.S. EPA, o tratamento secundário é dirigido principalmente para a
remoção de orgânicos rapidamente biodegradáveis e de sólidos suspensos. Para melhor proteger
o meio ambiente em áreas críticas, padrões mais restritivos têm sido dirigidos para a remoção de
nutrientes e de organismos patogênicos e para obter menores níveis de demanda de oxigênio do
que é atualmente possível com técnicas de tratamento. Quando se pretende reusar o esgoto, os pa-
drões podem incluir requerimentos para orgânicos refratários, metais pesados e sólidos orgânicos
dissolvidos. Em geral, a complexidade do diagrama de vazão do processo de tratamento dependerá
de quais constituintes deverão ser, necessariamente, removidos e dos níveis de remoção requeridos.
Processamento de residuais
Os métodos de tratamento relacionados na Tabela 1–5 são geralmente utilizados para tratar a por-
ção líquida do esgoto. De igual, senão de maior importância no projeto integral do sistema de
tratamento são os processos ou sistemas correspondentes utilizados para tratar o lodo removido da
porção líquida do esgoto. Os principais métodos que são utilizados atualmente são relacionados na
Tabela 1–6.
TABELA 1–5 Processos unitários utilizados para remover constituintes de importância encontrados no esgoto
Tratamento
Tratamento Tratamento Tratamento terciário Desinfecção
preliminar primário secundário convencional (opcional)
Gradeamento Equali-
zação Sedimentação Sedimentação
Esgoto Vazão e trituração Remoção Tratamento
de areia (opcional) primária aeróbio secundária Filtração
bruto de retorno
Efluente
terciário
Efluente
terciário
Reciclagem interna
Efluente
Retorno do secundário
(b) Água de lavagem de
lodo ativado Excesso filtros para a entrada do
de lodo sistema de tratamento
ativado
Tratamento avançado Condicionamento
e purificação da água
Água
purificada
Concentrado para a entrada Concentrado para
do sistema de tratamento evaporação ou dispersão
(c)
Digestão
Lodo primário anaeróbia
Excesso de e escuma (biogás para
lodo ativado Espessamento [ver (a)] o gerador) Desaguamento
Polímero Polímero
[ver (a) e (b)]
Biossólidos para
Tratamento da uso final
vazão de retorno
(opcional)
Retorno à
entrada do sistema Água de espessamento
de tratamento e desaguamento
(d)
FIGURA 1–2 Diagramas de vazão típicos para o tratamento de esgotos e de biossólidos: (a) tratamento biológico convencio-
nal, (b) remoção biológica de nutrientes, (c) tratamento avançado após tratamento convencional ou tratamento com remoção de
nutrientes e (d) tratamento anaeróbio de lodo oriundo do decantador primário e de excesso de lodo biológico.
1–6 Situação do tratamento de esgotos nos Estados Unidos P 17
jetada em um aquífero subterrâneo, do qual, após um tempo de residência adequado, é retirada para
abastecimento público (Asano et al., 2007).
Processando sólidos grosseiros, lodo primário e lodo secundário oriundos do tra-
tamento de esgoto. Partículas sólidas de esgoto bruto são produzidas por gradeamento e re-
moção de areia, lodo primário é produzido na sedimentação primária do esgoto bruto, e lodo se-
cundário é produzido no sistema biológico de tratamento. Cada uma dessas frações sólidas requer
processamento adicional. Partículas grosseiras e areia são, tipicamente, dispostas em aterros. O
lodo resultante da decantação primária é combinado com sólidos secundários oriundos do trata-
mento biológico e tratados posteriormente por diferentes processos, sendo a digestão anaeróbia o
mais comum. Lodos estabilizados são denominados biossólidos. Um diagrama de vazão típico de
processamento de sólidos é mostrado na Figura 1–2(d). Deve ser observado que os processos mos-
trados na Figura 1–2(d) são representativos dos diferentes processos para tratamento de lodo, con-
forme mostrado na Tabela 1–5. Também é mostrada na Figura 1–2(d) a opção de tratar as diversas
vazões de retorno de vários equipamentos de processamento de sólidos. O tratamento das vazões
de retorno é importante quando é necessário atender a padrões restritivos para nutrientes a fim de
evitar que o excesso de nutrientes deva ser tratado uma vez mais (ver Capítulo 15).
Tendências
Comparando a vazão total entre 1996 e 2008, a vazão per capita decresceu, porque, no mesmo
período, a população aumentou de aproximadamente 266,5 milhões para 305 milhões de pessoas.
Também é interessante notar as mudanças que ocorreram nos níveis de tratamento. O número de
estações de tratamento que tratavam a níveis inferiores ao nível secundário decresceu de 176 para
30. Além disso, o número de estações com tratamento superior ao secundário passou de 4.428 a
5.071. Pode-se prever que as tendências observadas nessas tabelas continuarão, especialmente o
18 P Capítulo 1 Introdução ao tratamento de esgotos e à análise de processo
TABELA 1–7 Número de estações de tratamento de esgotos nos Estados Unidos, classificadas por vazão em 1996a
e 2008b
Limites de vazão Número de instalações Vazão, m3/s
Levantamento Levantamento Levantamento Levantamento
Mgal/d m3/s de 1996 de 2008 de 1996 de 2008
0,000–0,100 0,000–0,00438 6.444 5.703 12,6 11,3
0,101–1,000 0,0044–0,0438 6.476 5.863 101,8 94,2
1,001–10,000 0,044–0,438 2.573 2.690 340,9 374,0
10,001–100,00 0,44–4,38 446 480 511,1 562,8
100,00 4,38 47 38 443,3 374,7
Outrasc 38 6 — —
Total 16.204 14.780 1.409,7 1.417,0
a
Adaptado de U.S. EPA (1997).
b
Adaptado de U.S. EPA (2008); dados de Alaska, Dakota, Rhode Island, Samoa e Ilhas Virgens não estão incluídos.
c
Dados de vazão desconhecidos.
TABELA 1–8 Número de estações de tratamento de esgotos nos Estados Unidos por nível de tratamento em 1996a
e 2008b
Número de instalações Vazão, m3/s
Nível de tratamento 1996 2008 1996 2008
Menos que secundário 176 30 133,8 18,5
Secundário 9.388 7.302 777,0 575,7
Maior que secundárioc 4.428 5.071 877,0 734,9
Sem lançamentod 2.032 2.251 62,3 79,5
Total 16.024 14.780 1.850,1 1.408,6
a
Adaptado de U.S. EPA (1997).
b
Adaptado de U.S. EPA (2008); dados de Alaska, North Dakota, Rhode Island, American Samoa e Ilhas Virgens não estão incluídos.
c
Estações de tratamento que apresentam padrões de efluentes superiores aos mencionados na Tabela 1–3.
d
Estações que não fazem lançamento em corpos de água e que dispõem os efluentes para reúso industrial, irrigação ou por evaporação.
decréscimo da vazão per capita (discutido com mais detalhes no Capítulo 3) e a mudança no nível
de tratamento para níveis superiores ao nível secundário.
(1–1)
O balanço material de massa é composto pelos quatro termos mencionados. Dependendo do regime
de escoamento ou do processo de tratamento, um ou mais dos termos podem ser iguais a zero. Por
exemplo, em um reator fechado (sem vazão de entrada ou de saída), o segundo e o terceiro termos
serão igual a zero. Na análise das características hidráulicas de reatores, assim como na análise
dos processos de separação discutidos na Seção 1–4, o quarto termo, a taxa de regeneração rc, será
igual a zero. Na Equação (1–2), o sinal positivo é utilizado para o termo da taxa de geração, porque
o sinal necessário para o processo operativo é parte da expressão da taxa (p.ex., rc – kC para um
decréscimo do reagente ou rc kC para um acréscimo do reagente).
Preparação do balanço de massa. Na preparação de um balanço de massa, é importante
que os seguintes passos sejam obedecidos, especialmente à medida que as técnicas envolvidas
sejam dominadas:
1. Prepare um esquema simplificado ou um diagrama de vazão do sistema ou do processo para o
qual o balanço de massa será preparado.
Agitador
Q, Co Q, C
V, C
FIGURA 1–3 Esquema para a aplicação da análise de um balanço material de massa para um reator completamente misturado
com entrada e saída. O agitador é usado para representar que o conteúdo do reator está completamente misturado.
20 P Capítulo 1 Introdução ao tratamento de esgotos e à análise de processo
2. Desenhe uma área de contorno para definir os limites nos quais o balanço de massa será apli-
cado. A seleção adequada da área de contorno é extremamente importante porque, em muitos
casos, será possível simplificar os cálculos do balanço de massa.
3. Relacione todos os dados e hipóteses pertinentes que serão utilizados na preparação do balanço
de materiais em relação ao esquema simplificado ou ao diagrama de vazão.
4. Relacione todas as expressões de taxas para as reações biológicas ou químicas que ocorrem no
processo.
5. Selecione uma base adequada sobre a qual os cálculos numéricos poderão se desenvolver.
É recomendado que esses passos sejam seguidos rotineiramente para evitar erros que ocorrem co-
mumente na preparação de análises de balanço de massa.
(1–3)
(1–4)
Antes de tentar resolver qualquer expressão de balanço de massa, faça uma checagem de unidades
para garantir que as unidades das quantidades individuais sejam consistentes. Por exemplo, se as
seguintes unidades são substituídas na Equação (1–4)
1–8 Reatores utilizados em tratamento de esgoto P 21
V m3, L
dC/dt g/m3s, mg/Ls
Q m3/s, L/s
Co, C g/m3, mg/L
k 1/s
a checagem das unidades fornece
Os procedimentos analíticos adotados para a solução de equações de balanço de massa são, usual-
mente, determinados (1) pela natureza da expressão da taxa, (2) pelo tipo de reator em considera-
ção, (3) pelo formato matemático da expressão final do balanço de massa (i.e., equações ordinárias
ou parcialmente diferenciais) e (4) pelas condições limites correspondentes. O balanço de massa
para um reator tubular, conforme será ilustrado na próxima seção, leva a uma equação diferencial
parcial. Uma variedade de procedimentos para a solução de equações, tanto ordinárias quanto par-
cialmente diferenciais estão disponíveis na literatura.
Simplificações em regime permanente. Felizmente, em muitas aplicações do setor de tra-
tamento de esgoto, a solução das equações de balanço de massa, tais como a da Equação (1–4),
pode ser simplificada considerando que a concentração em regime permanente (i.e., de longo pra-
zo) é a variável mais importante a ser considerada. Se for assumido que apenas a concentração de
efluentes em regime permanente é a variável requerida, a Equação (1–4) pode ser simplificada con-
siderando que, em regime permanente, a taxa de acumulação é zero (dC/dt 0). Então, a Equação
(1–4) pode ser escrita como:
(1–6)
A solução da Equação (1–5) dependerá da natureza da taxa (p.ex., zero, primeira ou segunda or-
dem).
Tipos de reatores
Os tipos principais de reatores utilizados em tratamento de esgoto, ilustrados na Figura 1–4, são (1)
o reator batelada, (2) o reator completamente misturado [também conhecido como reator agitado
de vazão contínuo (RAVC) na literatura da engenharia química], (3) o reator tubular, (4) reatores
completamente misturados em série, (5) reator de leito fixo e (6) reator de leito fluidizado.
Reator batelada. Em um reator batelada [ver Figura 1–4(a)], não há escoamento entrando ou
saindo do reator (i.e., o líquido entra, é tratado, é descarregado, e o ciclo é repetido). O conteúdo
líquido do reator é completamente misturado. Por exemplo, o teste de DBO discutido no Capítulo
22 P Capítulo 1 Introdução ao tratamento de esgotos e à análise de processo
2 é efetuado em um reator batelada (i.e., o frasco de DBO, conforme mostrado na Figura 2–21 do
Capítulo 2), embora deve-se notar que o conteúdo não é completamente misturado durante o pe-
ríodo de incubação. Reatores batelada são comumente utilizados para misturar produtos químicos
ou para diluir produtos químicos concentrados.
Reatores completamente misturados (RCM). Em reatores completamente misturados [ver
Figura 1–4(b)], assume-se que a mistura completa ocorre instantânea e uniformemente em todo o
reator conforme as partículas adentram o reator. As partículas fluidas saem do reator na proporção
de sua população estatística. A mistura completa pode ser obtida em reatores circulares ou quadra-
dos se o conteúdo do reator for uniforme e continuamente redistribuído. O tempo real para obter
condições de mistura completa dependerá da geometria do reator e da energia introduzida.
Reator tubular (RT). As partículas do fluido passam através do reator com pouca ou nenhuma
mistura longitudinal e saem do reator na mesma sequência em que entraram. As partículas man-
têm a sua identidade e permanecem no reator um tempo igual ao tempo de detenção teórico. Esse
Agitador Agitador
(a) (b)
V1 V2 Vn
(e)
FIGURA 1–4 Esquema de diferentes tipos de reatores utilizados em tratamento de esgoto: (a) reator
batelada; (b) reator completamente misturado; (c) reator tubular aberto; (d) reator tubular fechado; (e) rea-
tores completamente misturados em série; (f) reator de leito fixo com vazão descendente; (g) reator de leito
fixo com vazão ascendente; (h) reator de leito expandido de vazão ascendente.
1–8 Reatores utilizados em tratamento de esgoto P 23
tipo de escoamento é característico de tanques abertos com uma relação comprimento-largura, nos
quais a dispersão é mínima ou nula [ver Figura 1–4(c)], ou de reatores tubulares fechados [p.ex.,
tubulações; ver Figura 1–4(d)].
Reatores completamente misturados em série. Uma série de reatores completamente
misturados [ver Figura 1–4(e)] é utilizada para modelar o regime que ocorre entre escoamentos
hidráulicos ideais, correspondendo a reatores completamente misturados e reatores tubulares. Se
a série é composta de um único reator, prevalece o regime completamente misturado. Se a série
consiste de um número infinito de reatores em série, prevalece o regime de reator tubular.
Reator de leito fixo. O reator de leito fixo é preenchido com um tipo de material, como pedra,
escória, cerâmica ou, o que é agora mais comum, plástico. Com relação ao escoamento, o reator de
leito fixo pode operar tanto em modo descendente como em modo ascendente.
A alimentação pode ser contínua ou intermitente (p.ex., filtros biológicos). O preenchimento
em reatores fixos pode ser contínuo [ver Figura 1–4(f)] ou distribuído em estágios múltiplo, com a
vazão ocorrendo de um estágio para outro. Um reator de leito fixo anaeróbio (sem oxigênio) com
vazão ascendente é mostrado na Figura 1–4(g).
Reator de leito fluidizado. O reator de leito fluidizado é similar ao reator de leito fixo sob di-
versos aspectos, mas o material de enchimento é expandido pelo movimento ascencional do fluido
(ar ou água) através do leito [ver Figura 1–4(h)]. A porosidade do leito fluidizado pode ser variada
por meio do controle da vazão do fluido.
(1–7)
Injeção pontual
do traçador
Agitador
Vazão afluente
Injeção pontual do
Vazão Vazão traçador vazão efluente
efluente efluente
Vazão afluente
Co Co
ideal
Concentração
Concentração
não ideal
ideal, e –t /t
não ideal
t t
Tempo Tempo
(a-1) (b-1)
Co
Injeção
Agitador
contínua vazão efluente
Co
Vazão Injeção
afluente Vazão efluente
contínua
Vazão afluente
ideal
Co não ideal Co
Concentração
Concentração
não ideal
ideal, 1 e–t /t
t t
Tempo Tempo
(a-2) (b-2)
FIGURA 1–5 Curvas de reposta de traçadores de reatores sujeitos a carga instantânea (injeção
pontual): (a-1) e (a-2) reator completamente misturado e (b-1) e (b-2) reator tubular.
1–9 Modelando reatores com escoamento ideal P 25
TABELA 1–9 Principais aplicações de tipos de reatores utilizados para tratamento de esgoto
Uso de reatores
As principais aplicações de reatores utilizados em tratamento de esgoto estão relacionadas na Tabe-
la 1–9. Os fatores operacionais que devem ser considerados na seleção do tipo de reator ou reatores
a serem utilizados no processo de tratamento incluem (1) a natureza do esgoto a ser tratado, (2) a
natureza da reação (i.e., homogênea ou heterogênea), (3) a cinética de reação que governa o pro-
cesso de tratamento, (4) os requerimentos de desempenho do processo e (5) condições ambientais
locais. As reações e cinéticas de reação homogênea e heterogênea são discutidas na Seção 1–9. Na
prática, os custos de construção, operação e manutenção também afetam a seleção do reator. Como
a importância relativa desses fatores varia de acordo com o caso, cada fator deve ser considerado
separadamente, quando o tipo de reator é selecionado.
2. Equação simplificada:
(1–10)
(1–11)
(1–12)
A resposta correspondente para injeção contínua do traçador [ver Figura 1–5(a-2)] que é instanta-
neamente misturado é dada por
Pode-se notar que a Equação (1–14) apresenta o mesmo formato que a equação de DBO ver Capí-
tulo 2, Eq. (2–60).
Figura 1-5(b-2), seria adequado preparar um balanço de materiais para um reator tubular ideal (sem
dispersão axial), no qual a concentração, C, de um traçador não reativo é uniformemente distribu-
ída ao longo da seção tranversal do volume de controle. O balanço de materiais para um traçador
não reativo para o elemento diferencial de volume mostrado na Figura 1–6 pode ser escrito como
segue:
1. Equação geral:
2. Equação simplificada:
(1–17)
A alteração de concentração com o tempo (C/t) é escrita como parcial diferencial porque a
concentração também varia com a distância (i.e., a alteração da concentração é uma função de am-
(a) (b)
(1) QC x +Δx
ΔC )
(2) (QC – D –––
Δx x + Δ x
x x + Δx
(1) QC x
ΔC )
(2) (QC – D –––
Δx x Área da seção transversal, A
(c)
FIGURA 1–6 Vistas de reatores batelada e esquemas de definição: (a) vista de reator de processo de
lodos ativados, (b) vista de uma câmara de contato para cloro vazia no formato de reator batelada com
canais longos e estreitos, e (c) esquema de definição para a análise hidráulica de um reator batelada com
(1) apenas advecção e (2) com advecção e dispersão axial.
28 P Capítulo 1 Introdução ao tratamento de esgotos e à análise de processo
bos, o tempo e a distância). Substituir a forma diferencial pelo termo QC|xx na Equação (1–17),
resulta em
(1–18)
Substituir A¢x por ¢V, onde A é a area da seção transversal na direção de x, e simplificar, resulta em
(1–19)
(1–20)
(1–21)
Como ambos os lados da equação são iguais (observe que t x/y), com exceção do sinal negati-
vo, a única maneira de satisfazer à equação é que a mudança de concentração seja igual a zero com
a distância. Assim, a concentração no efluente deve ser igual à concentração no influente, o que é
consistente com a representação mostrada na Figura 1–5(b-2).
Tipos de reações
Os dois tipos principais de reações que ocorrem em tratamento de esgoto são classificadas como
homogêneas e heterogêneas (não homogêneas).
Reações homogêneas. Nas reações homogêneas, os reagentes são distribuídos uniformemen-
te ao longo do fluido, de maneira que o potencial de reação em qualquer ponto do fluido é o
mesmo. As reações homogêneas são, geralmente, efetuadas em reatores batelada, completamente
misturados e tubulares [ver Figuras 1–4 (a), (b), (c), (d)]. As reações homogêneas podem ser tanto
reversíveis como irreversíveis.
Exemplos de reações irreversíveis são:
1. Reações simples
ASB (1–22)
1–10 Introdução à cinética de processo P 29
AASC (1–23)
aA bB S C (1–24)
2. Reações paralelas
ABSC (1–25)
ABSD (1–26)
3. Reações consecutivas
ABSC (1–27)
ACSD (1–28)
(1–29)
(1–30)
Como será discutido na sequência, a taxa de reação, tanto para reações irreversíveis quanto reversí-
veis, deve ser uma consideração importante no projeto de instalações nas quais essas reações serão
efetuadas. Atenção especial deve ser dada ao projeto de unidades de mistura, especialmente quando
ocorrem reações rápidas.
Reações heterogêneas. Reações heterogêneas ocorrem entre um ou mais constituintes que
possam ser identificados em lugares específicos, como a em uma resina de troca iônica, na qual um
ou mais íons são substituídos por outro íon. Reações que requerem a presença de um catalisador de
fase sólida também são classificadas como heterogêneas. Reações heterogêneas são, usualmente,
efetuadas em reatores de leito fixo ou em reatores de leito fluidizado [ver Figura 1–4(f), (g), (h)].
Essas reações são mais difíceis de serem estudadas devido ao número de passos inter-relaciona-
dos que podem estar envolvidos. A sequência típica desses passos, conforme referido por Smith
(1981), é:
1. Transporte de reagentes do corpo do fluido para a interface fluido-sólido (superfície externa da
partícula de catalisador)
2. Intratransporte de reagentes internamente à partícula de catalisador (se ela é porosa)
3. Adsorção de reagentes a sítios interiores da partícula de catalisador
4. Reação química dos reagentes adsorvidos a produtos adsorvidos (reação superficial)
5. Desorção de produtos adsorvidos
6. Transporte de produtos de sítios interiores à superfície externa da partícula do catalisador
Taxa de reação
Taxa de reação é o termo utilizado para descrever a mudança (decréscimo ou acréscimo) no número
de moles de uma substância reativa por unidade de volume e por unidade de tempo (para reações
homogêneas), ou por unidade de área superficial ou massa por unidade de tempo (para reações
heterogêneas) (Denbigh e Turner, 1984).
Para reações homogêneas, a taxa de reação r é dada por
(1–31)
(volume)(tempo)
30 P Capítulo 1 Introdução ao tratamento de esgotos e à análise de processo
Se N é substituído pelo termo VC, onde V é o volume e C é a concentração, a Equação (1–31) fica
(1–32)
Se o volume permanece constante (i.e., condições isotérmicas, sem evaporação), a Equação (1–32)
é reduzida a
(1–33)
(1–34)
(área)(tempo)
Para reações envolvendo dois ou mais reagentes com coeficientes estequiométricos diferentes, a
taxa, expressa em termos de um reagente, não será a mesma para os outros reagentes. Por exemplo,
para a reação
aA bB S cC dD (1–35)
(1–36)
Assim, para reações nas quais os coeficientes estequiométricos não são iguais, a taxa de reação é
dada por
(1–37)
r kCA (1–38)
(1–39)
1–10 Introdução à cinética de processo P 31
(1–40)
(1–41)
Solução
1. Resolva a Equação (1–41) para a energia de ativação. A equação necessária é
(continua)
32 P Capítulo 1 Introdução ao tratamento de esgotos e à análise de processo
(continuação)
Comentário
Embora utilizado como uma constante, o valor da energia de ativação, E, variará conforme a
temperatura, de acordo com a equação dada. Entretanto, o campo de variação da temperatura
no qual os processos de tratamento de esgoto operam é relativamente limitado. Ocorre varia-
bilidade muito maior nas taxas de reação medidas.
(1–42)
(1–43)
Substituir o termo, eC, na Equação (1–43) pelo coeficiente de temperatura, u, fornece a equação:
(1–44)
A Equação (1–44) é comumente utilizada em engenharia sanitária para ajustar o valor da constante
de taxa operacional para refletir o efeito da temperatura. Entretanto, deve-se notar que, embora o
valor de u seja assumido como constante, ele pode, com frequência, variar consideravelmente com
a temperatura. Por isso, é importante tomar cuidado para selecionar valores apropriados de u para
diferentes campos de temperatura. Valores típicos para vários processos, para diferentes campos
de variação de temperatura, são apresentadas, quando disponíveis, nas seções em que tópicos in-
dividuais são discutidos. Valores para u relativos a alguns sistemas de tratamento biológico variam
aproximadamente entre 1,020 e 1,10.
Ordem de reação
As taxas nas quais reações ocorrem são, usualmente, determinadas pela medida da concentração
de um reagente ou de um produto quando a reação é finalizada. Os resultados medidos são, então,
comparados aos resultados correspondentes obtidos de diversas taxas de reação padrão pelos quais
a reação em consideração deverá se desenvolver.
A ordem de reação com relação a um composto específico é igual ao coeficiente estequiomé-
trico para esse composto. Por exemplo, na reação a seguir, a ordem de reação para o composto A é
a, para o composto B é b, e assim sucessivamente.
aA bB … S pP qQ … (1–45)
(1–46)
1–10 Introdução à cinética de processo P 33
onde a e b são as ordens de reação em relação aos reagentes A e B, e n é a taxa geral de reação
(n a b ... p). A soma dos expoentes aos quais a(s) concentração(ões) está(tão) elevada(s) é
conhecida como a ordem de reação. Diversas expressões de taxas de reação com diferentes ordens
de reação são como segue.
A aplicação das diversas taxas de reação em tratamento de esgotos é descrita nas próximas seções.
TABELA 1–10 Processos comuns de conversão e separação de constituintes (i.e., processos terminais) no meio
ambiente e os contituintes afetados
Processo Comentários Constituintes afetados
Adsorção/desorção Muitos constituintes químicos tendem a agregar ou a ser adsorvidos Metais, traços de compostos
a sólidos. A importância para descargas de esgoto é que uma fração orgânicos, NH4,
substancial de alguns produtos químicos tóxicos são associados a PO34
sólidos suspensos contidos no efluente. A adsorção combinada à
sedimentação de sólidos resulta na remoção de constituintes da coluna
de água, que, de outra maneira, poderiam não sofrer degradação.
Síntese de algas Síntese de tecido celular de algas utilizando os nutrientes disponíveis NH4, NO3, PO43, pH, etc.
no esgoto.
Conversão bacteriana Conversão bacteriana (aeróbia e anaeróbia) é o processo mais DBO5, nitrificação,
importante de transformação de constituintes liberados ao meio desnitrificação, redução
ambiente. Os processos de DBO e de demanda de oxigênio nitroso de sulfato, fermentação
(DON) são os exemplos mais comuns de conversão bacteriana anaeróbia (em sedimentos
encontrados na gestão da qualidade de água. A redução de oxigênio de fundo), conversão
na conversão aeróbia de esgotos orgânicos é também conhecida de poluentes orgânicos
como desoxigenação. Os sólidos encontrados em esgoto tratado são prioritários, etc.
parcialmente orgânicos. Após sedimentação, eles se decompõem
bacteriologicamente, tanto aeróbia como anaerobiamente,
dependendo das condições locais. A transformação bacteriana de
compostos orgânicos tóxicos também é de grande importância.
Reações químicas Reações químicas importantes que ocorrem no meio ambiente incluem Desinfecção química,
hidrólise, reações fotoquímicas e de oxidação-redução. As reações decomposição de compostos
de hidrólise ocorrem entre contaminantes e água. orgânicos, troca de íons
específicos, substituição de
elementos
Filtração Remoção de sólidos suspensos e coloidais por filtração (mecânica ou SST, partículas coloidais
por contato), sedimentação, interceptação, impactação e adsorção.
Floculação Floculação é o termo utilizado para descrever a agregação Partículas menores e
de partículas menores em partículas maiores, que podem ser coloidais.
removidas por sedimentação ou filtração. A floculação é efetuada
por movimento Browniano, gradientes de velocidade diferenciais e
sedimentação diferencial, na qual as partículas grandes se agregam
a partículas pequenas, formando partículas maiores.
Absorção de gases/ O processo no qual um gás é integrado a um líquido é conhecido O2, CO2, CH4, NH3, H2S
desorção como absorção. Por exemplo, quando a concentração de oxigênio
dissolvido em um corpo de água com superfície livre está abaixo da
concentração de saturação, ocorre uma transferência de oxigênio
“líquida” da atmosfera para a água. A taxa de transferência
(massa por unidade de tempo e por unidade de área superficial) é
proporcional à quantidade na qual o oxigênio dissolvido está abaixo
da concentração de saturação. A adição de oxigênio à água é,
também, conhecida como re-aeração. A desorção ocorre quando
a concentração do gás no líquido excede o valor de saturação,
ocorrendo uma transferência do líquido pra a atmosfera.
Degradação natural Na natureza, os contaminantes se degradam devido a uma Plantas, animais, algas,
variedade de razões, incluindo mortalidade, no caso de bactérias, fungos, protozoários,
e foto-oxidação para certos constituintes orgânicos. Degradação eubactéria (principalmente
natural e radioativa seguem, normalmente, cinética de primeira bactérias), arqueobactéria,
ordem. vírus, substâncias radioativas,
massa plantar
Reações fotoquímicas A radiação solar é conhecida como causadora de diversas reações. Oxidação de compostos
A radiação na escala próxima à radiação ultravioleta (UV) e na orgânicos e inorgânicos
escala visível é conhecida como causadora de quebra de diversos
compostos orgânicos.
(continua)
1–10 Introdução à cinética de processo P 35
0,8
kC
Taxa de reação, r
r
K C
0,6
com k 1eK 1
0,4
0,2
0
0 10 20 30 40 50
Concentração, C, mg/L
FIGURA 1–7 Taxa de reação versus concentração para uma expressão do tipo saturação. Acima de
aproximadamente 20 mg/L, a taxa de reação é essencialmente de ordem zero.
36 P Capítulo 1 Introdução ao tratamento de esgotos e à análise de processo
TABELA 1–11 Exemplos de expressões de taxas para os processos de conversão e de separação relacionados na
Tabela 1–10a
Processo Expressão de taxa Comentários
Processos de conversão
Conversão bacteriana rc kC rc taxa de conversão, M/L3 T
k coeficiente de taxa de reação de primeira ordem, 1/T
C concentração de material orgânico remanescente, M/L3
Reações químicas rc k nC n rc taxa de conversão, M/L3 T
k n coeficiente da taxa de reação, (M/L3)n1/ T
C concentração do constituinte, (M/L3)n
n ordem de reação (p.ex.; para segunda ordem, n 2)
Decaimento natural rd kdN rd taxa de decaimento, número/T
kd Coeficiente da taxa de reação de primeira ordem, 1/T
N quantidade de organismos remanescentes, número
Processos de separação
A área, L2
V volume, L3
Cs concentração de saturação de constituinte líquido, M/L3 (ver
Eq. 2–49)
C concentração do constituinte no líquido, M/L3
do que aproximadamente 6 mm (0,25 in.), são removidos por gradeamento (i.e., peneiramento).
A força de gravidade é utilizada para efetuar a separação (remoção) de areia ou outros materiais
sedimentáveis. Constituintes muito leves, como óleos e graxas, também são removidos pela força
da gravidade ou por flotação, porque suas densidades são inferiores às da água. Os constituintes
particulados menores que não podem ser removidos por gravidade podem ser removidos por fil-
tração, na qual o esgoto passa através de um meio filtrante com a aplicação de força na forma de
pressão.
1–10 Introdução à cinética de processo P 37
0
Distância, x ou tempo, t
FIGURA 1–8 Esquema para ilustrar a mudança que pode ocorrer no coeficiente da taxa de remoção
em função da distância ou do tempo, quando um esgoto influente com uma distribuição de tamanhos de
partículas como a mostrada é aplicado a um filtro granular ou a um banhado (wetland) construído.
Constituintes dissolvidos. Os constituintes dissolvidos podem ser removidos da água por con-
centração em uma superfície sólida (p.ex., adsorção em carvão ativado e troca iônica). Uma consi-
deração importante na modelagem de um processo de separação do tipo adsorção é que, devido à
reação ser assumida como instantânea após o constituinte ter atingido a superfície relevante, a taxa
de reação é controlada pelo transporte do constituinte ao ponto de reação. A transferência de massa
por difusão molecular em sistemas estacionários pode ser representada pela seguinte expressão,
conhecida como primeira lei de Fick:
(1–54)
onde r taxa de transferência de massa por unidade de área e por unidade de tempo, ML2T1
Dm coeficiente de difusão molecular na direção de x, L2T1
C concentração do constituinte sendo transferido, ML3
x distância, L
O sinal negativo na Equação (1–54) denota que a difusão se desenvolve na direção da concentração
decrescente. Deve ser, também, notado que o gradiente de concentração (C/x) é assumido como
constante. Na literatura da engenharia química, o símbolo J é utilizado para indicar transferência
de massa em unidades de concentração, símbolo N denota a transferência de massa expressa em
moles.
O coeficiente de difusão molecular se relaciona ao coeficiente de atrito de uma partícula, de
acordo com a lei de difusão de Stokes-Einstein. Para partículas esféricas, o coeficiente de difusão é
dado pela expressão seguinte (Shaw, 1966).
(1–55)
A partir do cálculo apresentado, é fácil verificar que, conforme as partículas ficam menores, ocorre
um aumento do coeficiente de difusão molecular. Dependendo do regime de escoamento, o coe-
ficiente de difusão molecular da Equação (1–55) será substituído pelo coeficiente de dispersão
turbulenta, conforme descrito com mais detalhes no Apêndice I.
Muitos processos de separação importantes utilizados em tratamento de esgotos envolvem
transferência de massa pela interface gás-líquido (p.ex., aeração) ou a remoção de constituintes in-
desejáveis (p.ex., extração). Por exemplo, a taxa de fluxo de um gás levemente solúvel do gás para
a fase líquida (taxa de transferência de controle de filmes líquidos; ver discussão na Seção 5–10),
baseada na primeira lei de Fick, pode ser aproximada como segue:
onde r taxa de massa transferida por unidade de área e por unidade de tempo, ML2T1
KL coeficiente geral de transferência de massa líquida, LT1
Cs concentração em equilíbrio com o gás de acordo com a lei de Henry, ML3
Ct concentração no corpo líquido no tempo t, ML3
TABELA 1–12 Métodos de integração e diferencial utilizados para determinar coeficientes de taxas de reação
Co
– In ( C /C o )
Declividade –k Declividade k
C
t t
(a) (b)
k/K
Declividade k
Declividade –1/ K
1/ t ln ( C o /C t )
1/ C
1/ C o
t (C o – C t )/ t
(c) (d)
FIGURA 1–9 Análise gráfica para a determinação da ordem de reação e dos coeficientes das taxas de
reação: (a) reação de ordem zero, (b) reação de primeira ordem, (c) reação de segunda ordem, (d) reação
do tipo saturação.
40 P Capítulo 1 Introdução ao tratamento de esgotos e à análise de processo
Concentração,
Tempo, d C, mol/L
0 250
1 70
2 42
3 30
4 23
5 18
6 16
7 13
8 12
1,2
0,08
1,0
–log (C/Co)
0,8 0,06
1/C
0,6 0,04
0,4
0,02
0,2
0,0 0,00
0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0
Tempo, d Tempo, d
1–10 Introdução à cinética de processo P 41
A declividade da curva
k 0,010/d
Tempo, d C, mol/L
0 250
1 70
2 42
3 30 (23 42)/2 9,5
4 23
5 18
6 16 (13 18)/2 2,5
7 13
8 12
(1–57)
(1–58)
Antes de prosseguir, seria instrutivo explorar a diferença entre a taxa de mudança que aparece
como parte do termo de acumulação e o termo da taxa de geração ou utilização ou de decaimento.
Em geral, esses termos não são iguais, com exceção do caso especial de um reator batelada no qual
não ocorre vazão de entrada ou vazão de saída do volume de controle. O aspecto importante a lem-
brar é que, quando não ocorre escoamento, a concentração por unidade de volume varia de acordo
com a expressão da taxa utilizada. Por outro lado, quando ocorre escoamento, a concentração no
reator está, também, sendo modificada pela vazão de entrada e de saída do reator.
Se a taxa de reação é definida como de primeira ordem (i.e., rc kC), integrar entre os limi-
tes C Co e C C e t 0 e t t fornece
(1–59)
A expressão resultante é
(1–60)
A Equação (1–60) é a mesma que a equação de DBO, Equação (2–59) apresentada no Capítulo 2.
1–11 Introdução à modelagem de processos de tratamento P 43
(1–61)
Assumindo cinética de remoção de primeira ordem (rc kC), a Equação (1–61) pode ser rearran-
jada e escrita na forma seguinte:
(1–62)
onde C dC/dt
b k Q/V
Para resolver a Equação (1–62), ambos os lados da expressão são multiplicados pelo fator de inte-
gração bbt:
(1–63)
O lado esquerdo da expressão acima pode ser escrito como um diferencial, conforme segue:
(1–64)
(1–65)
(1–66)
(1–67)
(1–68)
Substituindo por K na Equação (1–68) e simplificando, tem-se a seguinte expressão, que é a solu-
ção para regime não permanente da Equação (1–61):
(1–69)
44 P Capítulo 1 Introdução ao tratamento de esgotos e à análise de processo
A solução para a Equação (1–61) sob condições de regime permanente (i.e., o termo da taxa de
acumulação é igual a zero [dC/dt 0]) é dada a seguir
(1–70)
Deve-se notar também que, quando t S ∞, a Equação (1–69) se torna igual à Equação (1–67).
(1–71)
Assumindo cinética de remoção de primeira ordem (rc kC2), a Equação (1–71) pode ser rear-
ranjada e resolvida por C2, produzindo
(1–72)
(1–73)
(1–74)
(1–75)
Considerando, por exemplo, três reatores em série completamente misturados, cada um com um
volume de 1000 m3, com uma vazão 100 m3/d e cinética de primeira ordem com um valor do coe-
Vi Vi Vi
(1–76)
Solução gráfica. A solução gráfica para 3 (ou para n) reatores em série é obtida como segue.
Para um único reator, a Equação (1–71) pode ser escrita assim:
0 Q Co Q C1 rcV (1–77)
O primeiro passo para efetuar uma solução gráfica é fazer um gráfico de rc versus C (ver Figura
1–10). Para plotar rc versus C, a Equação (1–77) é agora reescrita como:
(1–78)
A equação acima pode ser representada graficamente por uma linha reta traçada a partir do ponto
rc 0 e C 100 mg/L com uma declividade de 1/t. Essa linha interceptará a curva de rc ver-
sus C em rc 5,0 e C1 50 mg/L, conforme mostrado na Figura 1–11. O valor C1 50 mg/L
é a solução da Equação (1–78) para um reator único para as condições utilizadas para derivar
a solução analítica anteriormente efetuada. Se o procedimento é repetido para um segundo ou
para um terceiro reator, a concentração do efluente final do terceiro reator será 12,5 mg/L, que
é a mesma da solução analítica determinada anteriormente. A solução gráfica é especialmente
útil para resolver processos de separação como previamente descrito na Seção 1–9. Para utilizar
o procedimento gráfico, o coeficiente da taxa de reação deve ser uma função de uma variável
única (p.ex., C). O uso dos métodos analítico e gráfico está ilustrado no Exemplo 1–3. Detalhes
adicionais da solução gráfica de equações de projetos podem ser encontrados em Eldridge &
Piret (1950) e Smith (1981).
10
8
–rc = kC = (0,1/d)(100 mg/L)
6
– rc = kC
Declividade 0.1 d –1
Slope== – 1/t = 0,1
4
2
C3
C2 C1
0
0 20 40 60 80 C0 = 100
Concentração, C, mg/L
FIGURA 1–11 Análise gráfica utlizada para determinar a concentração de efluente em uma série de
reatores completamente misturados.
46 P Capítulo 1 Introdução ao tratamento de esgotos e à análise de processo
Solução
1. Determine a concentração do efluente da série dos dois reatores completamente mistura-
dos analiticamente.
a. Em regime permanente, o balanço de massa para o primeiro reator completamente
misturado é:
0,8
rC = 0,01C 2
0,6
rC = kC 2
0,4
0,2
0
0 20 40 60 80 100
Concentração C, mg/L
c. No gráfico apresentado, desenhe uma linha reta do ponto rc 0 e C 100 mg/L com
uma declividade de Q / V igual a 0,5/d [(500 m3/d)/1000 m3]. A linha desenhada
intercepta o gráfico rc versus C em rc 0,25 e C1 50 mg/L.
Repetindo esse procedimento, a concentração final do efluente do segundo reator é de
30 mg/L, que é o mesmo valor determinado na solução analítica.
(1–79)
(1–80)
(1–81)
(1–82)
Se condições de regime permanente são assumidas (0C/ 0t 0) e a taxa de reação é definida como
rc kC n, integrando entre os limites C Co e C C e x 0 e x L, resulta
(1–83)
A Equação (1–83) é a solução da equação do balanço de materiais para um reator tubular sem dis-
persão. Se for assumido que n é igual a um, a Equação (1–83) fica
(1–84)
TABELA 1–13 Volumes de reatores requeridos expressos em termos de Q/k para uma série
de reatores completamente misturados e para um reator tubular, para diversas
eficiências de remoção em cinética de primeira ordema
Volume do reator V ⴝ K(Q/k)
Eficiência de remoção, %
Número de
reatores em série 85 90 95 98
1 5,67 9,00 19,00 49,00
2 3,16 4,32 6,94 12,14
4 2,43 3,11 4,46 6,64
6 2,23 2,81 3,89 5,52
8 2,14 2,67 3,63 5,05
10 2,09 2,59 3,49 4,79
Tubular 1,90 2,30 3,00 3,91
a
O volume individual de reatores é igual aos valores da tabela dividido pelo número de reatores em série.
30
98%
Volume total do reator V = K (Q/k )
25
Volume do reator individual = V/n
20
Constante K
95%
15
10
90%
5
85%
0
0 2 4 6 8 10
FIGURA 1–12 Esquema do volume total requerido versus o número de reatores completamente mistura-
dos, para diversas eficiências de remoção. O valor K no eixo vertical é multiplicado pela vazão e dividido
pelo coeficiente de reação para obter o volume total requerido. O volume de um reator individual é igual
ao volume total dividido pelo número de reatores em série.
1–11 Introdução à modelagem de processos de tratamento P 49
Solução
1. Calcule o volume requerido para um reator completamente misturado em termos de
Q/k.
a. Em regime permanente, o balanço de massa para um reator completamente misturado é
RCM
RT
1,0 1,0
Ideal
Reator
plug
tubular
flow ideal Reator
Idealtubular
plug flow
ideal
C/C o
C/C o
0,5 Curvas
Nonideal 0,5 Nonideal
Curvas
response
não response
não
ideais
curves curves
ideais
0 0
0 0,5 1,0 1,5 2,0 0 0,5 1,0 1,5 2,0
u u
(a) (b)
FIGURA 1–13 Curvas não ideais teóricas e genéricas para um reator tubular com dispersão axial.
50 P Capítulo 1 Introdução ao tratamento de esgotos e à análise de processo
para os dois reatores serão os mesmos. O uso de um reator tubular, ou de células mistas em série,
normalmente auxilia no controle de crescimento de organismos filamentoso (ver discussão no
Capítulo 7).
(1–85)
Para facilitar o uso da Equação (1–85) para o projeto de processos de tratamento, como lagoas de
estabilização e sistemas naturais, Thirumurthi (1969) desenvolveu a Figura 1–14, na qual o termo
kt é plotado contra C/Co para fatores de dispersão variando de zero para um reator tubular ideal ao
infinito para um reator completamente misturado. O uso da Figura 1–14 é ilustrado pelo próximo
exemplo.
8
ECsocm
d=
oapmle
d=
4
etnetlyo
7 d=1
2
d=
m
coixme
1
d=
pdleftlo
6 =
d
0,.5
0,.
am
25
wedn
t=e xm
d=
Valor de k t
5
d = 0,.1
istur
0.,0
62
ad
5
PT
od=
4 luugb
fulolaw
rd
=
x
0
3
2 3 4 6 8 10 20 40 60
Porcentagem remanescente, C/C o
FIGURA 1–14 Valores de kt na equação de Wehner e Wilhelm (Equação 1–85) versus a porcentagem
remanescentes para diversos fatores de dispersão e cinética de primeira ordem para um reator tubular.
(Adaptado de Thirumurthi, 1969)
1–11 Introdução à modelagem de processos de tratamento P 51
Solução
1. Estime a porcentagem de remoção de um reator tubular ideal utilizando a Equação
(1–84).
a. O DBO remanescente é:
b. A porcentagem de remoção é
kt (0,5/d 5 d) 2,5
b. A porcentagem remanescente obtida na Figura 1–14 é igual a
kt 4,6
t 4,6/0,5 9,2 d
Comentário
Claramente, a dispersão axial pode afetar o desempenho previsto de um processo de tratamento
projetado para funcionar como um reator tubular ideal. Devido à dispersão axial e a efeitos de
temperatura, o desempenho real de um processo de tratamento será menor do que o esperado.
52 P Capítulo 1 Introdução ao tratamento de esgotos e à análise de processo
Influente Influente
Efluente Efluente
Reator Reator
A reciclagem A reciclagem
pode ocorrer antes pode ocorrer antes
Reciclagem ou após outro processo Reciclagem ou após outro processo
de tratamento de tratamento
(c) (d)
FIGURA 1–15 Regimes de escoamento comumente utilizados em tratamento de esgotos: (a) entrada
direta com escoamento em “by-pass” (reator tubular ou completamente misturado), (b) entrada direta com
vazão de reciclagem (reator tubular ou completamente misturado), (c) entrada escalonada com reciclagem
(a vazão reciclada é misturada ao influente, reciclagem tipo 1), (d) entrada escalonada com reciclagem
(vazão de reciclagem introduzida na parte entrada do reator, reciclagem tipo 2).
de escoamento mostrado na Figura 1–15(a) é utilizado para obter níveis intermediários de tra-
tamento por meio da mistura de diversas quantidades de esgoto tratado e não tratado. O regime
utilizado na Figura 1–15(b) é adotado usualmente para obter uma controle maior do processo e será
tratado especificamente nos Capítulos 9 e 10, que abordam o tratamento biológico de esgoto. O re-
gime mostrado na Figura 1–15(c) é utilizado para reduzir a taxa de carga aplicada ao processo. Na
Figura 1–15(d), o esgoto reciclado não é misturado com o efluente, mas é introduzido na entrada
do reator para obter uma diluição inicial maior do esgoto a ser tratado. Cada um desses regimes
hidráulicos será tratado mais detalhadamente nos capítulos seguintes.
Entre os diversos tipos de combinações de reatores que são possíveis e que têm sido utilizados,
duas combinações, utilizando um reator tubular e um reator completamente misturado, são mos-
tradas na Figura 1–16. No arranjo mostrado na Figura 1–16(a), o reator completamente misturado
vem em segundo lugar; no arranjo mostrado na Figura 1–16(b), ele vem em primeiro lugar. Se não
ocorre reação e os reatores são utilizados apenas para equalizar a temperatura, por exemplo, os
resultados serão idênticos. Se, entretanto, ocorre reação, o resultado final dos dois reatores pode ser
diferente. A utilização desses sistemas de reatores híbridos dependerá de requerimentos específi-
cos. Detalhes adicionais relativos à análise desses processos podem ser encontrados em Denbigh e
Turner (1965), Kramer e Westererp (1963) e Levenspiel (1972).
(a)
(b)
FIGURA 1–16 Sistemas de reatores híbridos: (a) reator tubular seguido de reator completamente mistu-
rado e (b) reator completamente misturado seguido de reator tubular.
Problemas e tópicos de discussão P 53
Concentração, mg/L
Tempo, t, min Número do reagente
1 2 3 4
1–16 A taxa de reação de um substrato catalisado por uma enzima em um reator tubular pode ser descrita
pela seguinte relação
Qual é o valor da relação de volumes requerida para cada uma dessas taxas quando C 0,25 mg/L
e Co 1,0 mg/L?
1–23 Resolva o Problema 1–22 para os seguintes valores: C 0,17 mg/L e Co 1,25 mg/L.
1–24 Se cinética de segunda ordem é aplicada (r kC2), determine a concentração do efluente para cada
sistema de reatores mostrados na Figura 1–16. Para simplificar os cálculos, assuma os dados seguin-
tes:
k 1,0 m3/kgd
Q 1,0 m3/d
VRT 1,0 m3
VRCM 1,0 m3
Co 1,0 kg/m3
Explique os resultados encontrados. O que ocorreria se fosse utilizada cinética de primeira ordem?
1–25 Uma porção da vazão de saída, ␣Q, de um reator tubular ideal é reciclada ao redor do reator onde
␣ 0. Assuma que a taxa de conversão possa ser definida como rc kC.
a. Desenhe a curva de conversão genérica versus a relação de reciclagem.
b. Desenhe uma família de curvas mostrando o efeito da relação de reciclagem, ␣ no gradiente de
concentração longitudinal.
c. Se um reator completamente misturado substituísse o reator tubular, que efeito a reciclagem teria
na conversão?
1–26 Determine o efeito da reciclagem no desempenho de um reator completamente misturado para rea-
ções de primeira e de segunda ordem.
1–27 Derive uma expressão que possa ser utilizada para calcular a concentração do efluente de um sis-
tema de banhado (wetland) construído em superfície livre, projetado como um reator tubular ideal,
assumindo que a remoção do constituinte em questão possa ser descrita por uma equação de segunda
ordem retardada. Assuma que o expoente n do termo de retardamento seja igual a um. Se o valor do
coeficiente de retardamento rt é igual a 0,2, compare a concentração do efluente com e sem retarda-
mento. Assuma que os valores seguintes também possam ser utilizados: Co 1, k 0,1 e t 1.
REFERÊNCIAS
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56 P Capítulo 1 Introdução ao tratamento de esgotos e à análise de processo
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Washington, DC.
Características do esgoto
REFERÊNCIAS 174
GLOSSÁRIO
Termo Definição
Absorvência Uma medida da quantidade de luz, com um comprimento de onda específico, que é absorvida
pelo constituinte em solução.
Anticorpos Proteínas utilizadas pelo sistema imunológico para neutralizar materiais estranhos específicos, tais
como bactérias e vírus.
Antígeno Qualquer substância que estimule o sistema imunológico a produzir anticorpos para protegê-lo.
Bactérias Organismos microscópicos com comprimentos variando tipicamente entre aproximadamente 0,5
e 5 mm. Esgotos municipais podem conter uma grande variedade e concentração de bactérias,
incluindo aquelas que são patogênicas a humanos.
Bactérias do grupo Bactérias do grupo coliforme incluem diversos gêneros de bactérias pertencente à família
coliforme Enterobacteriaceae.
Organismos coliformes são comuns no ambiente e em fezes de animais de sangue quente. Membros
do grupo coliforme incluem Escherichia, Enterobacter, Klebsiella e Citrobacter, entre outros.
Coliformes fecais Um subgrupo termotolerante do grupo total de coliformes encontrado no trato intestinal de
humanos e de animais de sangue quente.
Compostos antropogênicos Compostos químicos produzidos por seres humanos, comumente resistentes à biodegradação.
Compostos disruptores Compostos sintéticos ou naturais que mimificam, bloqueiam, estimulam ou inibem hormônios
endócrinos (CDEs) naturais nos sistemas endócrinos de animais, inclusive de seres humanos. As origens de CDEs
incluem pesticidas, produtos farmacêuticos quimicamente ativos (PFQAs), produtos de higiene
pessoal (PHPs), herbicidas, compostos químicos industriais e subprodutos da desinfecção.
Compostos farmacêuticos Produtos químicos sintetizados para objetivos médicos (p. ex., antibióticos).
quimicamente ativos (CFA)
Contaminantes emergentes Constituintes identificados na água considerados para ações reguladoras dependendo de
informação adicional sobre impactos sobre a saúde e o meio ambiente.
Elementos traços Uma classificação diferente de constituintes encontrados em baixas concentrações em esgoto
bruto e que não são facilmente removidos por tratamento secundário convencional.
Escherichia coli (E coli ) Uma espécie do grupo de coliformes totais específico do trato intestinal de humanos e de animais
de sangue quente, comumente associados com contaminação fecal. Embora a maioria dos E. coli
não seja patogênica, algumas cepas (seriótipos), tais como o E. coli O157:H7, podem causar
doenças sérias.
Helmintos Um grupo de germes parasitários. Em nível mundial, os helmintos são um dos principais agentes
causadores de doenças humanas. Helmintos e ovos de helmintos apresentam ocorrência crescente
em esgotos brutos municipais nos Estados Unidos.
Nanopartículas Pequenos objetos ou partículas, com tamanhos variando entre 1 e 100 nm, que se comportam
como unidades inteiras no que tange às suas propriedades e ao seu transporte.
Patógenos Micro-organismos capazes de causar doenças com gravidades diversas.
Poder calorífico superior A quantidade de calor produzida por combustão completa de uma quantidade unitária de
(PCS) combustível.
Poder calorífico inferior O valor calórico inferior é obtido deduzindo o calor latente de vaporização do vapor de água
(PCI) formado pela combustão do PCS.
Poluentes prioritários Constituintes orgânicos e inorgânicos identificados pela Environmental Protection Agency – EPA –
como carcinogênicos ou potencialmente carcinogênicos, mutagênicos, teratogênicos, ou altamente
tóxicos, que devem ser regulamentados por padrões de descarga por categoria.
Produtos de higiene pessoal Produtos tais como shampoo, condicionadores, desodorantes e loções corporais.
Protozoários Protozoários são organismos unicelulares que não possuem paredes celulares. Ocorrem em águas
doces e marinhas, e alguns são capazes de se desenvolver em solo ou em outros habitats.
Subprodutos de Uma variedade de compostos orgânicos formados no esgoto tratado quando um oxidante forte
desinfecção (SPDs) utilizado para desinfecção, como cloro ou ozônio, se combina com a matéria orgânica residual.
Traços de compostos Compostos orgânicos detectados em concentrações de nanograma ou micrograma por litro em
orgânicos esgoto bruto ou tratado utilizando instrumentação laboratorial sofisticada.
Vírus Vírus são agentes infecciosos capazes de se multiplicar apenas dentro de uma célula hospedeira.
Vírus entéricos Um parasita intracelular que é um patógeno obrigatório do ser humano, o que significa que pode
se replicar apenas no portador humano.
60 P Capítulo 2 Características do esgoto
Amostragem
Programas de amostragem são realizados por razões diversas, como para obtenção de (1) dados
operacionais de rotina sobre a operação geral da estação de tratamento, (2) dados que podem ser
utilizados para documentar o desempenho de um determinado processo, (3) dados que podem ser
utilizados em novos programas propostos e (4) dados necessários para relatar o atendimento aos re-
gulamentos. Para alcançar os objetivos do programa de amostragem, os dados coletados devem ser
1. Representativos: Os dados devem representar o esgoto ou o ambiente que está sendo monitorado.
2. Reproduzíveis: Os dados obtidos devem ser reproduzíveis por terceiros que seguem os mesmos
protocolos analíticos e de amostragem.
3. Defensáveis: A documentação deve estar disponível para validar os procedimentos de amostra-
gem. Os dados devem ter níveis conhecidos de acurácia e de precisão.
4. Úteis: Os dados podem ser utilizados para atender aos objetivos do plano de monitoramento.
(Pepper et al., 1996).
Como os dados obtidos por meio de análise das amostras servem fundamentalmente como base
para a implementação de sistemas de programas e de gestão de esgoto, as técnicas utilizadas em
um programa de amostragem de esgoto devem ser tais que amostras representativas sejam obtidas.
Não existem procedimentos universais para amostragem; programas de amostragem devem ser
elaborados individualmente para atender a cada situação (ver Figura 2–1). Procedimentos especiais
são necessários para solucionar problemas de amostragem que ocorrem quando a composição dos
esgotos varia consideravelmente.
64 P Capítulo 2 Características do esgoto
(a) (b)
FIGURA 2–1 Coleta de amostras para análise: (a) coleta de amostra de liquor misto da parte final de um reator tubular de lodos
ativados e (b) vista superior de um posto de monitoramento aberto equipado com saídas de amostra de quatro profundidades do
poço. As amostras são coletadas em cada profundidade para monitorar um sistema de injeção de água no aquífero.
Antes que um programa de amostragem seja iniciado, deve ser desenvolvido um protocolo
detalhado em conjunto com um projeto de plano de garantia da qualidade (PPGQ) (anteriormente
conhecido como garantia de qualidade/ qualidade controle, GQ/QC). No mínimo, os itens seguin-
tes devem ser especificados no PPGQ (Pepper et al., 1996). Detalhes adicionais sobre amostragem
podem ser encontrados no Standard Methods (2012).
1. Plano de amostragem: Número de pontos de amostragem, número e tipo de amostras, interva-
los de tempo (p. ex., tempo real e/ou tempo retardado).
2. Tipos e tamanhos de amostras: Amostras simples, amostras compostas ou integradas, amostras
separadas para análises diferentes (p. ex., para metais). Tamanho da amostra (i.e., volume)
requerido.
3. Etiquetagem e cadeia de responsabilidade: Etiquetas, selagem das amostras, livro de notas de
campo, anotação da cadeia de responsabilidade, folhas de requisição de análise de amostras, entre-
ga de amostras no laboratório, recibo e anotação da amostra, e indicação da amostra para análise.
4. Métodos de amostragem: Técnicas específicas e equipamento que serão utilizados (p. ex., ma-
nual, automático ou amostragem por sorção).
5. Armazenamento e preservação de amostras: Tipo de frascos (p. ex., vidro ou plástico), méto-
dos de preservação, tempos permitidos entre a coleta e a análise.
6. Constituintes da amostra: Lista dos parâmetros a serem medidos.
7. Métodos analíticos: Lista de testes e procedimentos de campo e de laboratório a serem utiliza-
dos e os limites de detecção para cada um dos métodos.
Se as integridades física, química ou biológica das amostras não são mantidas durante os pe-
ríodos entre a coleta e a análise, um programa de amostragem cuidadosamente elaborado seria
inútil. Uma quantidade considerável de pesquisa sobre o problema da preservação de amostras não
conseguiu elaborar um tratamento universal ou um método, ou formular regras fixas aplicáveis a
todos os tipos de amostras. A análise imediata é, sem dúvida, a garantia mais positiva contra erros
devido à deterioração de amostras. Quando condições analíticas e de testes impõem um intervalo
entre a coleta e a análise, como no caso em que uma amostra composta de 24 horas é coletada,
provisões devem ser estabelecidas para preservação das amostras (ver Figura 2–2). Os métodos
2–2 Amostragem e procedimentos analíticos P 65
(a) (b)
FIGURA 2–2 Amostrador típico automático e refrigerado para coleta de amostras compostas utilizado
para coletar amostras de processos e de efluentes durante um período de 24 horas: (a) amostrador com
contêiner único utilizado para obter uma amostra composta de 24 horas e (b) amostrador utilizado para
coletar amostras individuais a cada hora durante um dia. As amostras individuais podem ser compostas
em função da vazão para obter as taxas de carga de massa proporcionalmente. (Cortesia de Teledyne
Laboratory & Field Instruments.)
Métodos de análise
As análises utilizadas para caracterizar o esgoto variam de precisas determinações químicas a de-
terminações biológicas ou físicas mais qualitativas. Os métodos quantitativos de análises são gravi-
métrico, volumétrico ou físico-químicos. Nos métodos físico-químicos, outras propriedades além
de massa e volume são medidas. Métodos instrumentais de análises, como turbidimetria, potencio-
metria, polarografia, espectometria de adsorção, fluorometria, espectroscopia e radiação nuclear,
são representativos das análises físico-químicas. Detalhes relativos às várias análises podem ser
encontrados no Standard Methods (2012), a referência consagrada que detalha a elaboração de
análises de esgoto.
Independentemente do método de análise utilizado, o nível de detecção deve ser especificado.
Limites de detecção diversos são aqui definidos e listados em ordem de níveis crescentes (Standard
Methods, 2012).
1. Nível de detecção instrumental (NDI). A concentração do constituinte que produz um sinal
maior que cinco vezes a relação sinal/ruído do instrumento.
2. Menor nível de detecção (MND). Concentração do constituinte na água que produz um sinal (2
1,645s) acima da média das análises de “branco”, onde s é o desvio padrão.
3. Nível de detecção do método (NDM). Concentração do constituinte que, quando processado
por meio do método completo, produz um sinal com 99% de probabilidade que ele é diferente
do “branco”.
4. Nível de quantificação (NDQ). Concentração do constituinte que produz um sinal suficien-
temente maior do que o “branco” que possa ser detectado dentro de níveis especificados por
bons laboratórios, durante condições de operação de rotina. É tipicamente a concentração que
produz um sinal 10s acima do sinal “branco” reagente.
5. Nível mínimo reportado (NMR). Concentração mínima do constituinte que pode ser reportado
como um valor quantitativo.
66 P Capítulo 2 Características do esgoto
(2–1)
gravidade específica do fluido
Em sistemas diluídos, tais como aqueles encontrados em águas naturais e esgoto, nos quais um litro
de amostra tem o peso aproximado de um quilograma, as unidades mg/L ou g/m3 são intercambi-
áveis com ppm. Os termos partes por bilhão (ppb) e partes por trilhão (ppt) são intercambiáveis
com mg/L e ng/L, respectivamente. Gases dissolvidos, considerados constituintes químicos, são
expressos em partes por milhão, por volume (ppmv), g/m3 ou mg/L. A conversão da concentração
de gases entre ppmv e g/m3 é dada pela Equação (2–45), a lei universal. Gases produzidos como
subprodutos do tratamento de esgoto, como dióxido de carbono e metano (da decomposição anae-
róbia), são medidos em termos de L ou m3 (ft3). Parâmetros como temperatura, odor, íon hidrogênio
e organismos biológicos são expressos em outras unidades.
(2–2)
Solução
1. Determine a fração molar do oxigênio utilizando a Equação (2–2) escrita como segue:
(continua)
68 P Capítulo 2 Características do esgoto
(continuação)
b. Determine os moles de água.
Peso molecular, g
Peso equivalente, g/eq (2–4)
onde Z (1) valor absoluto da carga do íon, (2) o número de íons H ou OH com os quais uma
espécie pode reagir ou produzir uma reação ácido-base ou (3) o valor absoluto da mu-
dança de valência ocorrendo em uma reação de oxidação-redução (Sawyer et al., 2003).
A Equação (2–3) pode ser utilizada para checar a acurácia das análises químicas levando em conta
a diferença porcentual definida como segue (Standard Methods, 2012):
π cátions π ânions
Diferença porcentual 100 (2–5)
π cátions π ânions
(2–6)
2–2 Amostragem e procedimentos analíticos P 69
Solução
1. Prepare um balanço cátion-ânion.
Cátion Conc., mg/L mg/meqa meq/L Ânion Conc., mg/L mg/meqa meq/L
Ca2 82,2 20,04b 4,10 HCO3 220,0 61,02 3,61
Mg 2
17,9 12,15 1,47 SO 2
4 98,3 48,03 2,05
Na 46,4 23,00 2,02 Cl 78,0 35,45 2,20
K 15,5 39,10 0,40 NO 3 25,6 62,01 0,41
π cátions π ânions
Diferença porcentual 100
π cátions π ânions
Para uma concentração total de ânions entre 3 e 10 meq/L, a diferença aceitável deve ser igual
ou menor do que 2% (ver a tabela acima), assim, a análise apresenta acurácia suficiente.
Comentário
Se o balanço cátion-ânion não apresentar acurácia suficiente, o problema poderá ser analítico
ou causado pela não consideração de um constituinte significante.
o valor numérico da relação dos produtos em relação aos reagentes é conhecido como constante
de equilíbrio K e é escrito como
(2–7)
Para uma determinada reação, o valor da constante de equilíbrio se altera com a temperatura e a
força iônica da solução. Deve-se observar, também, que na Equação (2–7) foi assumido que a ativi-
dade de íons individuais é igual a um.
Na Equação (2–7), são utilizados parênteses para indicar concentrações molares. O uso de
concentrações molais (ver Tabela 2–3) é, teoricamente, mais correto, mas para soluções diluídas
encontradas em aplicações relativas a esgotos são utilizadas concentrações molares. Concentrações
molais devem ser utilizadas para soluções salobras e águas marinhas. Para abordar condições não
ideais devido às interações íon-íon, um novo termo de concentração designado atividade é utiliza-
do. A atividade de um íon é definida como segue:
(2–8)
Se a Equação (2–7) for escrita em termos de atividade e do coeficiente de atividade, e não em ter-
mos de concentrações, a expressão que resulta é:
(2–9)
Força iônica. A força iônica de uma solução é a medida da concentração dos constituintes quí-
micos dissolvidos, podendo ser estimada utilizando a seguinte expressão:
(2–10)
A força iônica pode, também, ser estimada com base na concentração de sólidos totais dissolvidos,
utilizando a expressão seguinte:
(2–12)
Essa relação, sem o termo 0,3I, é usualmente utilizada para soluções com forças iônicas que não
sejam superiores a 0,1 M. Diversas outras relações similares são encontradas na literatura. O cál-
culo do coeficiente de atividade é ilustrado no Exemplo 2–3 considerando a discussão sobre força
iônica e solubilidade.
Produto de solubilidade. A constante de equilíbrio para uma reação envolvendo um precipi-
tado e seus íons constituintes é o produto de solubilidade. Por exemplo, a reação para carbonato de
cálcio (CaCO3) é
(2–13)
É importante notar que o valor da constante de equilíbrio mudará com a temperatura da solu-
ção. Escrita em termos de coeficientes de atividades, a Equação (2–14) fica
(2–15)
Solução
1. Determine a força iônica do esgoto utilizando a Equação (2–10).
a. Prepare uma tabela para determinar o termo de somatória da Equação (2–10) utilizan-
do os dados do Exemplo 2–2.
(continua)
72 P Capítulo 2 Características do esgoto
(continuação)
2. Determine os coeficientes de atividade para Ca2 e CO2 3 . Como ambas as espécies pos-
suem valência (carga) igual a 2, a atividade será a mesma.
a. Para íons monovalentes
g2 [C 2] Ksp
b. Resolva para a concentração C.
a região do país. A gravidade específica e o peso são propriedades inerentes à água natural. As
demais propriedades físicas do esgoto são derivadas de constituintes adicionados durante o uso,
descargas comerciais e industriais, e constituintes encontrados em água infiltrada e infiltração de
água subterrânea.
Sólidos
O esgoto contém diversos materiais sólidos, variando de trapos a material coloidal. Na caracteri-
zação do esgoto, geralmente os materiais grosseiros são removidos antes que as amostras sejam
analisadas para sólidos. As diversas classificações de sólidos estão identificadas na Tabela 2–4. A
relação entre as diversas frações de sólidos encontradas no esgoto é ilustrada graficamente na
Figura 2–3. O teste padrão para sólidos sedimentáveis consiste em colocar uma amostra de esgo-
to em um cone Imhoff de 1 litro (ver Figura 2–4) e anotar o volume de sólidos em milímetros que
sedimentam após um determinado período de tempo (1h). Tipicamente, cerca de 60% de sólidos
suspensos em um esgoto municipal são sedimentáveis. Sólidos totais (ST) são obtidos pela evapo-
ração de uma amostra de esgoto até secagem completa e medindo a massa dos sólidos residuais.
Conforme mostrado na Figura 2–3, a etapa de filtração é utilizada para separar os sólidos suspensos
Testeb Descrição
Sólidos totais (ST) O resíduo remanescente após uma amostra de esgoto ter
sido evaporada e secada a uma temperatura especificada
(103 a 105°C)
Sólidos voláteis totais (SVT) Os sólidos que podem ser volatilizados e queimados
quando os ST são incinerados (500 50°C)
Sólidos fixos totais (SFT) O resíduo que permanece após os ST serem incinerados
(500 50°C)
Sólidos suspensos totais (SST) Parte dos ST retidos em um filtro (ver Figura 2–3) com um
tamanho de poro específico, medido após ter secado a uma
temperatura determinada (105°C). O filtro mais comumente
utilizado para a determinação de SST é o filtro de fibra de
vidro Whatman, que tem um tamanho de poro nominal de
aproximadamente 1,58 mm.
Sólidos suspensos voláteis (SSV) Os sólidos que podem ser volatilizados e queimados
quando os SST são incinerados (500 50°C)
Sólidos suspensos fixos (SSF) O resíduo que permanece após os SST serem incinerados
(500 50°C)
Sólidos dissolvidos totais (SDT) (ST SST) Os sólidos que passam através do filtro, sendo, então,
evaporados e secos a uma temperatura especificada. Deve
ser notado que o que é medido como SDT é composto de
sólidos coloidais e dissolvidos. Os tamanhos típicos de
coloides variam de 0,001 a 1 mm.
Sólidos voláteis dissolvidos totais (SVDT) Os sólidos que podem ser volatilizados e queimados
quando os SDT são incinerados (500 50°C)
Sólidos dissolvidos fixos (SDF) O resíduo que permanece após a ignição dos SDT (500
50°C)
Sólidos sedimentáveis Sólidos suspensos, expressos em mililitros por litro, que
sedimentam após um período de tempo especificado (ver
Figura 2–4)
a
Adaptado de Standard Methods (2012).
b
Com exceção de sólidos sedimentáveis, todos os valores relativos a sólidos são expressos em mg/L.
74 P Capítulo 2 Características do esgoto
Sólidos Cone
Amostra Evaporação ST
sedimentáveis Imhoff
Filtro Filtrado
(fibra de vidro)
ST = sólidos totais
SST = sólidos suspensos totais
SDT = sólidos dissolvidos totais
Evaporação Evaporação SSV = sólidos suspensos voláteis
SSF = sólidos suspensos fixos
SVD = sólidos voláteis dissolvidos
SDF = sólidos dissolvidos fixos
SVT = sólidos voláteis totais
SST SDT SFT = sólidos fixos totais
Mufla Mufla
SVT SFT
ST
FIGURA 2–3 Inter-relação entre sólidos encontrados na água e no esgoto. Na maior parte da literatura
sobre qualidade de água, os sólidos que passam através de filtros são designados como sólidos dissolvidos
(Tchobanoglous e Schroeder, 1985).
1L 1L 1L
FIGURA 2–4 Cone Imhoff utilizado para determinar sólidos sedimentáveis no esgoto. Sólidos que se
acumulam no fundo do cone após um período de sedimentação, referidos como mL/L.
2–3 Propriedades físicas P 75
totais (SST) dos sólidos dissolvidos totais (SDT). O aparelho utilizado para determinar SST é mos-
trado na Figura 2–5.
Sólidos suspensos totais. Como é utilizado um filtro para separar os SST dos SDT, o
teste de SST é mais ou menos arbitrário, pois depende do tamanho do poro do papel de filtro
utilizado para o teste. Filtros com tamanhos nominais de poros variando de 0,45 mm a aproxi-
madamente 2,0 mm têm sido utilizados para o teste de SST (ver Figura 2–6). Quantias maiores
de SST serão medidas conforme o tamanho dos poros do filtro é reduzido. Logo, é importante
se referir ao tamanho do poro do papel de filtro utilizado, na comparação de valores de SST.
É também importante considerar que o teste de SST não é, por si só, de significância
fundamental. As razões principais pelas quais o teste não possui uma base fundamental são:
1. Os valores medidos de SST são dependentes do tipo e do tamanho dos poros utilizado nas
análises.
2. Dependendo do tamanho da amostra utilizada para determinação de SST, pode ocorrer
a autofiltração, na qual os sólidos suspensos que foram interceptados pelo filtro também FIGURA 2–5 Apare-
operam como filtro. A autofiltração captura partículas menores do que as que seriam pos- lho de filtração a vácuo
utilizado para a determi-
síveis capturar de outra forma, o que poderia acarretar um aumento aparente no valor
nação de sólidos suspen-
medido de SST, que pode estar acima do valor real. sos totais. Após a amos-
3. Dependendo das características do material particulado, partículas pequenas podem ser tra de esgoto ter sido
removidas por adsorção no material já retido pelo filtro. filtrada, o papel de filtro
4. Como o número e a distribuição dos tamanhos das partículas associadas ao valor medido previamente pesado é
são desconhecidos, o SST pode ser considerado um parâmetro composto. colocado em uma cápsu-
la de alumínio para se-
Apesar disso, os resultados de testes de SST são frequentemente utilizados para avaliar o car antes da pesagem.
desempenho de processos convencionais de tratamento e a necessidade de filtração do efluen-
te em aplicações de reúso. O teste de SST é um dos dois padrões de efluentes universalmente
utilizados (junto com a DBO) pelos quais o desempenho de sistemas de tratamento são avaliados
para finalidades regulamentárias de controle.
Sólidos dissolvidos totais. Por definição, os sólidos contidos no filtrado que passam através
de um filtro com tamanho nominal de poro de 1,2 mm ou menos são classificados como dissolvidos
(Standard Methods, 2012). Entretanto, é sabido que o esgoto contém uma grande fração de sólidos
coloidais. A dimensão de partículas coloidais no esgoto varia tipicamente entre 0,01 e 1,0 mm.
Deve-se considerar que alguns pesquisadores classificaram o tamanho de partículas coloidais va-
riando de 0,001 a 1,0 mm e outros de 0,003 a 1,0 mm. A variação dos tamanhos de partículas coloi-
dais adotada neste texto é de 0,01 a 1,0 mm. O número de partículas coloidais contidas em esgoto
bruto e após sedimentação primária varia, tipicamente, entre 108 e 1012/mL. Como a distinção entre
(a) (b)
FIGURA 2–6 Micrografia de dois filtros de laboratório utilizados para medidas de sólidos suspensos no
esgoto: (a) filtro de membrana de policarbonato com dimensão nominal de poros de 1,0 mm e (b) filtro de
fibra de vidro com dimensão nominal de poros de 1,2 mm.
76 P Capítulo 2 Características do esgoto
partículas coloidais e material verdadeiramente dissolvido não vem sendo feita rotineiramente,
existe confusão nas análises do desempenho de estações de tratamento e no projeto de processos
de tratamento.
Sólidos voláteis e fixos. Materiais que podem ser volatilizados e queimados quando incinera-
dos a 500 50°C são classificados como voláteis. Em geral, sólidos voláteis (SV) são assumidos
como matéria orgânica, embora algumas matérias orgânicas não queimem e alguns sólidos inorgâ-
nicos se decomponham a temperaturas elevadas. Sólidos fixos (SF) são os resíduos que permane-
cem após a incineração de uma amostra. Assim, ST, SST e SDT correspondem tanto a sólidos fixos
quanto a sólidos voláteis. A razão entre SV e SF é, usualmente, utilizada para caracterizar o esgoto
em relação à quantidade de matéria orgânica presente.
Os métodos mais comumente utilizados para estudar e quantificar as partículas no esgoto são (1)
filtração em série, (2) contagem eletrônica de partículas e (3) observação microscópica direta. Os
principais tipos de materiais que compreendem sólidos filtráveis e não filtráveis no esgoto tratado
e a variação aproximada de suas dimensões são relacionados na Figura 2–7.
Filtração em série. A filtração em série pode ser utilizada para determinar uma distribuição de
tamanhos de sólidos suspensos aproximada baseada em massa (Levine et al., 1985). No método fil-
tração em série, uma amostra de esgoto é passada sequencialmente através de uma série de filtros de
membranas (ver Figura 2–8) com aberturas circulares de diâmetros conhecidos (tipicamente 12, 8, 5,
3, 1 e 0,1 mm), sendo medida a quantidade de material particulado retido em cada filtro medido. Re-
sultados típicos dessa metodologia são mostrados na Figura 2–9. É interessante observar na Figura 2–9
que uma quantidade significativa de material coloidal é encontrada entre 0,1 e 1,0 mm. Apesar de se ter
obtido alguma informação sobre a dimensão e a distribuição de tamanhos de partículas em amostras de
esgoto, pouca informação está disponível sobre a natureza de partículas individuais.
Analisadores eletrônicos de dimensões de partículas. Para entender mais sobre a nature-
za e a distribuição de partículas no esgoto, medidas não destrutivas de dimensões de partículas e de
distribuição de dimensões de partículas são agora bastante comuns. Entretanto, deve-se notar que
medidas de partículas e técnicas de contagem não podem ser utilizadas para determinar a fonte ou
o tipo de partículas (p. ex., distinção entre um cisto viável, um cisto não viável ou uma partícula de
silte com tamanho semelhante).
Sais aquosos
Sólidos sedimentáveis
quantificar partículas encontradas
Contador de partículas
Dispersão a laser
Microscopia à luz
Microscopia eletrônica
Microscopia de varredura em túnel Visão humana
típicos de processos
Limites operacionais
Ultrafiltração
Nanofiltração Sedimentação
Osmose reversa Filtração profunda e superficial
Amostra
de água
12 mm
8 mm
Filtragem processada
utilizando sequência de 5 mm
filtros com dimensões de
poros menores
3 mm
1 mm
0,1 mm
FIGURA 2–8 Esquema para determinação da distribuição de dimensões de partículas (por massa) utili-
zando filtração em série com filtros de membranas.
Na contagem eletrônica, as partículas são contadas diluindo-se uma amostra de esgoto tratado
e, então, passando-se a amostra diluída através de um orifício calibrado ou através de um feixe
de laser [ver Figuras 2–10(a) e (b), respectivamente]. Conforme as partículas passam através do
orifício, a condutividade do líquido se altera devido à presença das partículas. A mudança da con-
dutividade é correlacionada à dimensão de uma esfera equivalente. De maneira similar, conforme
uma partícula atravessa o feixe de laser, ela reduz a intensidade do laser devido à reflexão da luz. A
intensidade reduzida é correlacionada ao diâmetro da partícula.
Os campos de dimensões quantificáveis por meio de diferente tipos de contadores de dimen-
sões de partículas foram relacionados previamente na Tabela 2–5. Muitos contadores de partículas
utilizados em estações de tratamento de esgotos para avaliar o desempenho dispõem de sensores
com campos de variação de dimensões diferentes, tais como 1,0 a 60 mm ou 1 a 350 mm, dependen-
do do fabricante e da aplicação.
25
Concentração de massa de partículas contida
10
0
0,1 a 1,0 a 3,0 a 5,0 a 8,0 a >12,0
1,0 3,0 5,0 8,0 12,0
Faixa de variação de tamanhos de partículas,
determinada pelo diâmetro do poro do filtro, mm
FIGURA 2–9 Dados típicos da distribuição de sólidos filtráveis obtidos em dois testes de efluente de filtro
biológico, utilizando filtração em série. Observe que a grande fração de sólidos não medidos entre 0,1 e
1,0 mm utilizando teste convencional de SST.
2–3 Propriedades físicas P 79
Detector
Fluido contendo as
partículas a serem Intensidade
contadas escoando
através do orifício
Saída da
(a) (b) amostra
FIGURA 2–10 Determinação da distribuição de dimensões de partículas: (a) contador de partículas, a diferença de voltagem,
conforme as partículas passam através do orifício, é utilizada para determinar a dimensão de uma partícula esférica equivalente;
(b) contador de dimensões de partículas a laser a dimensão de uma partícula esférica equivalente é baseada na intensidade redu-
zida e na reflexão de luz conforme as partículas passam através do feixe de luz.
Contadores de partículas que não detectam partículas inferiores a 1 mm podem ser uma li-
mitação, em muitos casos. Tipicamente, medidores de partículas medem e registram campos de
variação de aproximadamente 10 a 20 tamanhos (p. ex., 2 a 5 mm) chamados de canais (ou caixas)
do campo de variação do sensor escolhido. Um contador de partículas comum utiliza 128 canais. O
tamanho dos canais podem ser aritméticos, logarítmicos ou arbitrários, dependendo do objetivo da
medida. Utilizando uma escala logarítmica, o canal limite superior é igual ao canal limite inferior
vezes um fator de escala. Uma análise de dimensões de partículas típica com um contador do tipo
laser com 128 canais é mostrado na Figura 2–11(a).
Para estudos de desinfecção, as dimensões dos canais são, geralmente, escolhidas em corres-
pondência com os campos de variação de dimensões de interesse, por exemplo, Cryptosporidium
(2 a 5 mm) e Giardia (5 a 15 mm). Com contadores de partículas que utilizam um número elevado
de tamanhos de canais pequenos, a interpretação dos dados produzidos é mais difícil. Quando são
utilizadas dimensões de canais extremamente pequenas, é recomendável que os dados sejam agre-
gados em tamanhos de câmaras adequadas [ver Figura 2–11(b)]. Além dos dados de número de
partículas por dimensões, podem ser apresentados dados referentes à área superficial e ao volume;
a fração de volume correspondente a cada campo de variação de dimensões de partículas, também
pode ser calculada, se considerado necessário (Standard Methods, 2012).
Observação direta. Para a visualização de partículas que são menores do que as visíveis a olho
nu, devem ser utilizadas técnicas microscópicas. A utilização de observações microscópicas permite
a contagem de dimensões de partículas e, em alguns casos mais rigorosos, a identificação da origem
das partículas, não obtida com outras técnicas de análises. Na observação microscópica, um volume
medido de amostra é colocado em uma célula de contagem de partículas, e as partículas individuais
podem ser contadas, frequentemente, com a utilização de um corante para melhorar o contraste da
partícula. A faixa de variação de dimensões quantificáveis utilizando diversas técnicas microscópi-
cas é apresentada na Tabela 2–5. Em geral, a contagem microscópica de partículas é impraticável
em condições de rotina, devido ao número de partículas por mL no esgoto. Entretanto, este método
pode ser utilizado para avaliar quantitativamente a natureza e as dimensões de partículas no esgoto.
(2–16)
80 P Capítulo 2 Características do esgoto
102 103
102
101
101
100 100
1 10 100 1 2 5 10 15 100
Dimensão média da partícula, dp, mm Dimensão média da partícula, dp, mm
(a) (b)
5
b = 2,6
4
log [(DN/Δ(dpi)]
1 b = 3,2
b = 2,5
0
-1
0 0,5 1 1,5 2
log (dp)
(c)
Com efeito, o termo da direita da Equação (2–16) é utilizado para normalizar os dados e permite
a comparação entre distribuições de tamanhos de partículas. Tomando o log de ambos os lados da
Equação (2–16), resulta na seguinte expressão, que pode ser plotada para determinar os coeficien-
tes desconhecidos A e b:
(2–17)
relativo de partículas em cada faixa de variação de dimensões. Assim, se b for menor do que um,
a distribuição de dimensões de partículas é dominada por partículas maiores, se b for igual a um,
todas as dimensões das partículas são representadas igualmente, e se b for maior do que um, a dis-
tribuição de tamanhos de partículas é dominada por partículas pequenas (Trussell and Tate, 1979).
Como valores diferentes de declividade serão obtidos, dependendo da seleção dos tamanhos das
câmaras, deve-se tomar cuidado ao interpretar os resultados. A análise dos dados obtidos por um
contador de dimensões de partículas é mostrada na Figura 2–11(c); os passos necessários para o
cálculo estão ilustrados no Exemplo 2–4.
Solução
1. Crie uma tabela para determinar a informação necessária para plotar os dados.
(continua)
82 P Capítulo 2 Características do esgoto
(continuação)
2. Prepare um gráfico do logaritmo da média geométrica do diâmetro da partícula, dp, ver-
sus o número normalizado de partículas para o tamanho correspondente da câmara,
log[ N/ (dpi)].
6
Intersecção = 5,16
5
4
log[^N/^(dpi )]
–1
–2
0 0,5 1 1,5 2 2,5
log (dp)
Comentário
Como o valor de é maior do que um, a distribuição é dominada por partículas pequenas, o
que é consistente com os dados reais. É importante notar que a declividade da linha que ajus-
ta melhor os dados plotados variará em função das dimensões das câmaras selecionadas para
a análise. Deve-se notar também que a linha utilizada para definir pode não ser linear, de-
pendendo das características da suspensão e dos valores máximos e mínimos das dimensões
das partículas, o que é uma característica do instrumento específico utilizado para a análise.
As dimensões dos canais de 2–5 e 5–15 mm foram selecionadas para determinar se o número
de Cryptosporidium ou de Giardia determinados analiticamente podem ser correlacionados
com medidas de dimensões de partículas.
Nanopartículas e nanocompósitos
Nanopartículas, originárias de processos naturais e antropogênicos, são pequenos objetos ou partí-
culas, com dimensões entre 1 e 100 nm, que se comportam como uma unidade inteira com relação
a suas propriedades e transporte. Como as nanopartículas podem formar estruturas diversas, como
nanoesferas, nanotubos ou nanofolhas, pelo menos duas de suas três dimensões devem estar entre 1
e 100 nm. As nanopartículas também são chamadas de partículas ultrafinas. As nanopartículas for-
mam uma ponte entre materiais inteiros e estruturas moleculares ou atômicas. Os nanocompósitos,
formados por dois ou mais materiais dissimilares, são desenvolvidos para produzir novas estruturas
com propriedades diferentes, mas controláveis. Nos nanocompósitos, pelo menos um dos materiais
(fases) deve ter uma dimensão em nanoescala.
2–3 Propriedades físicas P 83
Turbidez
Turbidez é uma medida das propriedades de reflexão de luz de uma solução contendo partículas
suspensas e coloidais. Medidas de turbidez requerem uma fonte de luz (incandescente ou diodo
emissor de luz) e um sensor para medir a luz refletida. Conforme mostrado na Figura 2–12(a), o
sensor de luz refletida fica localizado a 90 graus em relação à fonte de luz. A turbidez medida au-
menta conforme a intensidade da luz refletida aumenta. A turbidez medida é expressa em unidades
nefelométricas de turbidez (UNT). A distribuição espacial e a intensidade da luz refletida, ilustra-
das na Figura 2–12(b), dependerão do tamanho da partícula em relação ao comprimento de onda da
Fotodetector a
90 graus para a
Luz incidente medida da turbidez
Luz refletida
Abertura
Luz transmitida
Fotodetector em
linha para a medida
da transmitância
Fonte de luz Lentes
Amostra de água
(a) em célula de vidro
(i)
(ii)
Luz incidente
(iii)
Padrões de
Partículas
(b) luz refletida
suspensas
FIGURA 2–12 Determinação da turbidez por reflexão de luz: (a) esquema de um aparelho para medir
a turbidez, (b) padrões típicos de reflexão para partículas pequenas (i), intermediárias (ii) e grandes (iii).
84 P Capítulo 2 Características do esgoto
fonte de luz (Hach, 1997). Para partículas menores que um décimo do comprimento de onda da luz
incidente, a reflexão da luz é bem simétrica [ver Figura 2–12(b)(i)].
Limitações das medidas de turbidez. Conforme a dimensão das partículas aumenta em re-
lação ao comprimento de onda da luz incidente, a luz refletida de diferentes partes da partícula cria
padrões de interferência que são aditivos na direção frontal [ver Figuras 2–12(b)(ii) e (iii)]. A in-
tensidade da luz refletida também varia com o comprimento de onda da luz incidente. Por exemplo,
a turbidez de uma solução de negro de fumo será, essencialmente, igual a zero. Com base nessas
considerações, as medidas de turbidez tendem a ser mais sensíveis para partículas com campos de
variação de comprimentos de onda entre 0,3 a 0,7 mm para luz visível.
Assim, duas amostras de esgoto filtrado com valores de turbidez quase idênticos podem ter
distribuição de dimensões de partículas muito diferentes. Outra complicação relativa a medidas de
turbidez é que algumas partículas absorvem a maior parte da luz e refletem somente uma pequena
quantidade da luz incidente. Também, devido às características de reflexão de luz de partículas
grandes, algumas dessas partículas não serão detectadas na presença de muitas partículas pequenas.
Ainda, alguns medidores de turbidez em linha utilizados para monitorar o desempenho de unidades
de microfiltração são afetados pelo ar utilizado para limpar as membranas.
Não há, portanto, uma relação fundamental entre a turbidez e a concentração de sólidos sus-
pensos totais, e a turbidez, isoladamente, não é uma boa medida para atestar que o esgoto pode ser
desinfetado efetivamente. Como resultado, é praticamente impossível comparar valores de turbidez
citados na literatura. Entretanto, os valores de turbidez de uma estação de tratamento específica
podem ser utilizados para o controle do processo.
O valor específico do fator de conversão irá variar para cada estação de tratamento, dependendo,
principalmente, da operação do processo de tratamento biológico. Os fatores de conversão para
efluentes secundários sedimentados e para efluentes secundários filtrados através de filtro profundo
com granulometria média variará, tipicamente, entre 2,3 a 2,4 e 1,3 a 1,6, respectivamente.
Cor
Historicamente, o termo condição foi utilizado em conjunto com composição e concentração
para descrever o esgoto. O termo condição se refere à idade do esgoto, que é determinado quan-
titativamente por sua cor e odor. Esgoto fresco apresenta, usualmente, uma cor marrom acinzen-
tada clara. Entretanto, conforme o tempo de passagem no sistema de coleta aumenta, ocorrendo
condições mais anaeróbias, a cor do esgoto se modifica, passando de cinza para cinza escuro
e, finalmente, para negro. Quando a cor do esgoto é negra, é comumente descrito com séptico.
Alguns esgotos industriais também podem adicionar cor ao esgoto doméstico. Em muitos casos,
as cores cinza, cinza escuro e negro são decorrentes da formação de sulfetos metálicos, que são
formados quando os sulfetos, produzidos sob condições anaeróbias, reagem com os metais pre-
sentes no esgoto.
2–3 Propriedades físicas P 85
Absorção/transmitância
A absorbância de uma solução é uma medida da quantidade de luz, com um comprimento de
onda específico, que é absorvida pelos constituintes da solução. A absorbância é medida utilizan-
do um espectrofotômetro com caminho ótico fixo (usualmente 1,0 cm) com um comprimento de
onda de 254 nm. A absorbância segue a lei Beers-Lambert, como mostrado na Equação (2–19):
(2–19)
Quando o lado esquerdo da Equação (2–19) é expresso como um logaritmo natural, o lado direito
da equação deve ser multiplicado por 2,303, porque o coeficiente de absorbância é determinado na
base 10. O termo do lado direito da Equação (2–19) é definido como absorbância, A(l), que não
possui unidades, mas que é frequentemente apresentado em unidades de cm1, que corresponde à
absortividade k(l). Se o espaçamento de luz é de 1 cm, a absortividade é igual à absorbância.
(2–20)
Transmitância, (2–21)
T 10A(l) (2–22)
Assim, para uma solução perfeitamente transparente A(l) 0, T 1 e para uma solução perfeita-
mente opaca A(l) S q, T 0.
As principais características da água que afetam a transmitância porcentual incluem: compos-
tos inorgânicos (p. ex., cobre, ferro), compostos orgânicos (p. ex., corantes orgânicos, substâncias
húmicas e compostos aromáticos como benzeno e tolueno) e pequenas partículas coloidais (
0,45 mm). Detalhes adicionais relativos a compostos que afetam a transmitância são apresentados
na discussão sobre desinfecção por UV, no Capítulo 12. Valores típicos de absorbância e trans-
mitância para esgoto após níveis diversos de tratamento são apresentados na Tabela 12–29, no
Capítulo 12.
86 P Capítulo 2 Características do esgoto
Solução
1. Use a Lei de Beers-Lambert [Eq. (2–19)] para determinar a intensidade média.
a. O esquema representativo desse problema é apresentado abaixo:
Intensidade
0 Io
0
Profundidade da amostra
dx I = Ioekx
Iavg d
d
Comentário
A equação desenvolvida no passo 1 é utilizada para a análise da dose de UV no Capítulo 12.
Temperatura
A temperatura do esgoto é, normalmente, maior do que a da água de abastecimento devido à adi-
ção de água morna oriunda de residências e de atividades industriais. Como o calor específico da
água é muito maior do que o do ar, as temperaturas locais observadas durante a maior parte do ano
são superiores às temperaturas locais do ar e inferiores somente durante os meses mais quentes do
verão. Dependendo da localização geográfica, a temperatura média anual nos Estados Unidos varia
de aproximadamente 3 a 27°C (37 a 81°F); o valor representativo é de 15,6°C (60°F). Temperaturas
muito elevadas, como 30 a 35°C (84 a 98°F), têm sido relatadas em países da África e no Oriente
Médio. A variação que pode ser esperada nas temperaturas de esgoto influente é ilustrada na Figura
2–3 Propriedades físicas P 87
2–13. Dependendo do local e do período do ano, as temperaturas de efluentes podem ser maiores
ou menores que os valores correspondentes do esgoto afluente.
Efeitos da temperatura. A temperatura da água é um parâmetro muito importante face aos
seus efeitos em reações químicas, taxas de reação e vida aquática, e na adequabilidade da água
para usos benéficos. O aumento da temperatura, por exemplo, pode causar alteração nas espécies
de peixes existentes em corpos de água receptores. Estabelecimentos industriais que utilizam águas
superficiais em torres de resfriamento preocupam-se, particularmente, com a temperatura nas to-
madas de água.
Além disso, o oxigênio é menos solúvel em água morna do que em água fria. O aumento na
taxa de reações bioquímicas associado ao aumento de temperatura e combinado com o decréscimo
da quantidade de oxigênio presente em águas superficiais pode, frequentemente, causar depleções
sérias nas concentrações de oxigênio dissolvido durante os meses de verão. Quando quantidades
significativas de água aquecida são descarregadas em corpos receptores naturais, esses efeitos po-
dem ser ampliados. Também deve ser considerado que uma mudança brusca de temperatura pode
resultar em uma taxa elevada de mortalidade da vida aquática. Além disso, temperaturas excessi-
vamente elevadas podem promover o crescimento de plantas aquáticas indesejáveis e fungos do
esgoto.
Temperaturas ótimas para a atividade biológica. As temperaturas ótimas para atividades
biológicas estão entre 25 e 35°C. A digestão anaeróbia e a nitrificação são interrompidas quando
a temperatura chega a 50°C. Quando a temperatura desce até aproximadamente 15°C, as bactérias
produtoras de metano se tornam inativas. A aproximadamente 5°C, as bactérias nitrificantes au-
totróficas praticamente param de funcionar. A 2°C, mesmo as bactérias quemoheterotróficas, que
atuam sobre material carbonáceo, se tornam essencialmente dormentes. Os efeitos da temperatura
no desempenho de processos de tratamento biológico são aprofundados nos Capítulos 7 e 8.
Estimativa dos efeitos de temperatura nas taxas de reação. As constantes de equilí-
brio de produtos de solubilidade e as constantes de taxas específicas de reação são todas dependen-
tes da temperatura. A dependência da temperatura das constantes de taxa e de equilíbrio é baseada
na relação van’t Hoff-Arrhenius, conforme descrito no Capítulo 1.
Se o coeficiente de taxa, digamos, k1, é conhecido para uma determinada temperatura, o coe-
ficiente da taxa, k2, pode ser estimado em outra temperatura utilizando a Equação (1–44), aqui
35 35
El Paso, TX
30 30
Wahiawa, HI
Martinez, CA
Temperatura do esgoto, °C
Temperatura do esgoto, °C
25 25
Ma'an, Jordânia
20 20
Greenville, AL
15 15
Tóquio, Japão
Burlington, VT
10 10 Thessaloniki, Grécia
Ouray, CO 5
5
0 0
Ago
Ago
Nov
Dez
Nov
Dez
Mar
Mar
Out
Out
Fev
Fev
Jan
Jun
Jun
Abr
Abr
Jan
Mai
Mai
Jul
Jul
Set
Set
FIGURA 2–13 Típicas variações mensais de temperaturas de esgoto influente em (a) várias partes dos Estados Unidos e
(b) países selecionados.
88 P Capítulo 2 Características do esgoto
repetida por conveniência. A obtenção da Equação (1–44) pela relação de van’t Hoff-Arrhenius é
apresentada no Capítulo 1, Seção 1–6.
(1–44)
Entretanto, deve-se notar que, embora o valor do coeficiente de temperatura, u, seja assumido
como constante, ele variará com a temperatura. Portanto, deve-se ter cuidado na seleção de valores
adequados para u para diferentes valores de temperaturas (ver Exemplo 1–1). Valores típicos para
vários processos a diferentes escalas de temperatura são dados, quando disponíveis, nas seções
cujos tópicos individuais são discutidos.
Condutividade
A condutividade elétrica (CE) da água é uma medida de sua habilidade de conduzir uma corrente
elétrica. Como a corrente elétrica é transportada por íons em solução, a condutividade aumenta
conforme a concentração de íons. Com efeito, o valor medido da CE é utilizado como um parâ-
metro sub-rogado da concentração de sólidos dissolvidos totais (SDT). Atualmente, a CE da água
é um dos parâmetros mais importantes utilizados na verificação da adequabilidade para uso na
irrigação. A salinidade do esgoto tratado para uso na irrigação é estimado pela medição da condu-
tividade elétrica.
A condutividade elétrica em unidades SI é expressa em milisiemens por metro (mS/m) e em
micromhos por centímetro (mmho/cm) nas unidades americanas usuais. Deve-se notar que 1 mS/m
é equivalente a 10 mmho/cm. A Equação (2–24) pode ser utilizada para estimar os SDT de uma
amostra de água com base na medida do valor de CE (Standard Methods, 2012).
Essa relação não se aplica necessariamente a esgoto bruto ou a efluentes industriais altamente
concentrados. Ela também pode ser utilizada para checar a aceitabilidade de análises químicas (ver
Standard Methods, 2012).
2–4 Constituintes orgânicos não metálicos P 89
A condutividade elétrica pode, ainda ser utilizada para estimar o valor da força iônica de uma
solução, utilizando a seguinte relação (Russell, 1976)
A Equação (2–25) é utilizada para estimar a força iônica de esgoto tratado em aplicações de recarga
de aquíferos (ver Capítulo 13).
ra
sa (2–26)
Tanto a densidade como a gravidade específica do esgoto são dependentes da temperatura e varia-
rão com a concentração de sólidos totais do esgoto.
O peso específico de um fluido, g, é o seu peso por unidade de volume. O peso específico é
expresso como kN/m3 em unidades SI e como lbf /ft3 em unidades usuais americanas. A relação en-
tre g, r e a aceleração da gravidade, g, é g rg. Em temperaturas normais, g é aproximadamente
9,81 kN/m3 (62,4 lbf /ft3). Valores de densidade e de peso específico em função da temperatura no
sistema SI e em unidades americanas usuais estão relacionados no Apêndice C.
pH
Como a concentração da maior parte dos constituintes químicos é dependente da concentração
de íons hidrogênios em solução, a concentração de íons hidrogênio é um importante parâmetro
de qualidade das águas naturais e do esgoto. A maneira usual de expressar a concentração de íons
hidrogênio é na forma de pH, que é definido como o logaritmo negativo da concentração de íons
hidrogênio:
pH log10[H] (2–27)
(2–28)
(2–29)
onde os colchetes indicam a concentração dos constituintes em moles por litro. Como a concentra-
ção da água em sistemas aquosos diluídos é essencialmente constante, essa concentração pode ser
incorporada à constante de equilíbrio K para dar
[H][OH ] Kw (2–30)
Kw é conhecido como constante de ionização ou produto iônico da água, sendo igual a aproxima-
damente 1 1014 à temperatura de 25°C. A Equação (2–30) pode ser utilizada para calcular a
concentração do íon hidroxila quando a concentração de hidrogênio é conhecida e vice-versa.
Com o valor de pOH, que é definido como o logaritmo negativo da concentração do íon hidro-
xila, pode-se observar pela Equação (2–30) que, para a água a 25°C,
pH pOH 14 (2–31)
O pH de soluções aquosas geralmente é medido com um medidor de pH (ver Figura 2–14). Diver-
sos papéis e indicadores de solução que alteram suas cores a valores definidos de pH também são
utilizados. O pH é determinado pela comparação entre a cor do papel ou da solução e uma série de
padrões de cor.
Cloretos
O cloreto é um constituinte de importância no esgoto, uma vez que ele pode afetar as aplicações
para reúso final do esgoto tratado. Cloretos de águas naturais resultam da lixiviação de rochas e
solos com os quais a água entra em contato e em áreas costeiras por intrusão salina. Ainda, esgotos
agrícolas, industriais e domésticos constituem-se em fontes de cloretos quando lançados em águas
superficiais.
A excreta humana, por exemplo, contém aproximadamente 6 g de cloretos por pessoa por dia.
Em áreas com água de dureza elevada, aparelhos domiciliares de remoção de dureza, do tipo de
regeneração, também adicionam grandes quantidades de cloretos. Como os tratamentos conven-
cionais de água não removem cloretos em níveis significativos, concentrações superiores às usuais
2–4 Constituintes orgânicos não metálicos P 91
FIGURA 2–14 Aparelho típico utilizado para medição de pH e concentrações de íons específicos.
podem ser tomadas como uma indicação de que o corpo de água é utilizado para disposição de
esgotos. A infiltração de águas subterrâneas salinas em coletores de esgoto também é uma fonte
potencial de altas concentrações de cloretos e de sulfatos.
Alcalinidade
A alcalinidade do esgoto se deve à presença de hidróxidos [OH], carbonatos [CO32] e bicarbo-
natos [HCO3 ] de elementos como cálcio, magnésio, sódio, potássio e amônia. Desses, os bicarbo-
natos de cálcio e magnésio são os mais comuns. Boratos, silicatos, fosfatos e compostos similares
também podem contribuir para a alcalinidade. A alcalinidade da água auxilia na resistência às
alterações de pH causadas pela adição de ácidos. O esgoto é normalmente alcalino, recebendo a
alcalinidade através do abastecimento de água, água subterrânea e materiais adicionados durante
usos domésticos. A concentração de alcalinidade na água é importante quando são utilizados tra-
tamentos químicos e biológicos (ver Capítulos 6 e 7, respectivamente), em remoção biológica de
nutrientes (ver Capítulo 8) e quando amônia é removida por extração por ar (ver Capítulos 11 e 15).
A alcalinidade é determinada por titulação contra um ácido padrão; os resultados são expressos
em termos de carbonato de cálcio, mg/L como CaCO3. Para a maioria das finalidades práticas, a
alcalinidade pode ser definida em termos de quantidades molares, como
Alc, eq/m3 meq/L (2–32)
Assim, 3 meq/L de alcalinidade pode ser expresso como 150 mg/L como CaCO3.
como
92 P Capítulo 2 Características do esgoto
Nitrogênio
Os elementos nitrogênio e fósforo, essenciais ao crescimento de micro-organismos, plantas e ani-
mais, são conhecidos como nutrientes ou bioestimulantes. Quantidades traços de outros elementos,
como ferro, também são necessários para crescimento biológico, mas nitrogênio e fósforo são,
na maioria dos casos, os nutrientes mais importantes. Como o nitrogênio é um bloco construtivo
essencial para a síntese de proteínas, serão necessários dados sobre nitrogênio para avaliar a tratabi-
lidade do esgoto por processos biológicos. Quantidades insuficientes de nitrogênio podem exigir a
adição de nitrogênio para tornar o esgoto tratável. Os requerimentos de nitrogênio para tratamento
biológico de esgotos são discutidos nos Capítulos 7 e 8. Quando for necessário efetuar o controle
do crescimento de algas em corpos receptores, pode ser desejável a remoção ou a redução de nitro-
gênio do esgoto antes do lançamento.
Fontes de nitrogênio. As principais fontes de nitrogênio são (1) compostos nitrogenados de
origem animal ou vegetal, (2) nitrato de sódio e (3) nitrogênio atmosférico. A amônia derivada da
destilação de carvão betuminoso é um exemplo de nitrogênio obtido de material vegetal decom-
posto. O nitrato de sódio (NaNO3) é encontrado, principalmente, em depósitos minerais no Chile e
em fezes originadas de berçários de pássaros marítimos. A produção de nitrogênio da atmosfera é
denominada fixação de nitrogênio. Como a fixação é um processo biologicamente mediado e como
os depósitos de NaNO3 são relativamente raros, a maioria das fontes de nitrogênio no solo e na
água subterrânea é de origem biológica.
Formas de nitrogênio. A química do nitrogênio é complexa devido aos diversos estados de
oxidação que o nitrogênio pode assumir e ainda pelo fato de que mudanças no estado de oxidação
podem ser causadas por organismos vivos. Para complicar ainda mais, as alterações dos estados de
oxidação causados por bactérias podem ser positivas ou negativas, dependendo da prevalência de
condições aeróbias ou anaeróbias. Os estados de oxidação do nitrogênio estão resumidos a seguir
(Sawyer et al., 2003):
(2–37)
As formas mais comuns e mais importantes de nitrogênio no esgoto e os seus estados de oxidação
no ambiente solo/água são a amônia (NH3, III), o íon amônia (NH4 , III), o gás nitrogênio (N2,
0), o íon nitrito (NO2, III) e o íon nitrato (NO3 , V). O estado de oxidação da maioria dos com-
postos de nitrogênio é III.
O nitrogênio total, conforme mostrado na Tabela 2–6, é composto de nitrogênio orgânico,
amônia, nitrito e nitrato. A fração orgânica é constituída de uma mistura complexa de orgânicos,
incluindo aminoácidos, açúcares aminados e proteínas (polímeros de aminoácidos). Os compostos
que integram a fração orgânica podem estar na forma solúvel ou particulada. O nitrogênio desses
compostos é rapidamente convertido em amônia, através da ação de micro-organismos nos meios
aquáticos ou terrestres. A ureia, que é rapidamente convertida em carbonato de amônia é raramente
encontrada em esgotos municipais brutos.
O nitrogênio orgânico é determinado analiticamente utilizando o método Kjeldahl. A amos-
tra aquosa é, inicialmente, fervida para extrair a amônia, sendo digerida em seguida. Durante a
digestão, o nitrogênio orgânico é convertido em íon amônia pela ação de calor e de ácidos. O ni-
trogênio Kjedahl total (NKT) é determinado da mesma maneira, como nitrogênio orgânico, com
exceção de que a amônia não é extraída antes da fase de digestão. O nitrogênio Kjeldahl total é,
portanto, o total de nitrogênio orgânico e amônia. Um método alternativo é o procedimento por
digestão em persulfato, no qual o nitrogênio orgânico é oxidado a nitrato a temperaturas elevadas
(100–110°C em uma autoclave, durante uma hora) após a adição de sulfato de potássio e hidróxi-
do de sódio. Se a amostra contém N–NH4, N–NO2 e N–NO3, suas concentrações são determina-
das por outros meios, de maneira que essas concentrações possam ser subtraídas da concentração
de nitrogênio total, obtida a partir da digestão do persulfato, para determinar a concentração de
nitrogênio orgânico.
2–4 Constituintes orgânicos não metálicos P 93
TABELA 2–6 Definição dos diversos termos utilizados para definir as diversas espécies de
nitrogênio
Forma do nitrogênio Abreviação Definição
Gás amônia NH3 NH3
Íon amônia NH4 NH4
Amônia nitrogênio total TAN a
NH3 NH4
Nitrito NO2 NO2
Nitrato NO 3 NO3
Nitrogênio inorgânico total NITa NH3 NH4 NO2 NO3
Nitrogênio Kjeldahl total NKTa Orgânico N NH3 NH4
Nitrogênio orgânico Orgânico N a
NKT (NH3 NH4)
Nitrogênio total NTa Orgânico N NH3 NH4 NO2 NO3
a
Todas as espécies expressas como N.
O nitrogênio amoniacal, em uma solução aquosa, pode existir tanto como o íon amônia (NH1)
ou na forma gasosa (NH3), dependendo do pH da solução, de acordo com a seguinte reação de
equilíbrio:
(2–38)
(2–39)
(2–40)
100 100
80 80
+
Porcentagem de NH 4
+ +
NH 4 NH
NH43
Porcentagem de NH 3
60 60
40 40
pK = 9,25
20 20
0 0
5 6 7 8 9 10 11 12 13
pH
FIGURA 2–15 Distribuição de amônia (NH3) e do íon amônia (NH4) em função do pH a 25°C.
94 P Capítulo 2 Características do esgoto
tilação da amônia com o vapor produzido quando a amostra é fervida e condensação do vapor que
absorve a amônia gasosa. A medida é feita colorimetricamente, por titulação ou com eletrodos de
íons específicos.
O nitrogênio nitrito é relativamente instável e é facilmente oxidado para a forma nitrato. Ele é
um indicador de poluição prévia no processo de estabilização e raramente excede 1 mg/L no esgoto
ou 0,1 mg/L em águas superficiais ou subterrâneas. Embora presente em concentrações baixas,
o nitrito pode ser muito importante em estudos relativos a esgoto ou poluição de águas, uma vez
que é extremamente tóxico à maioria dos peixes e outras espécies aquáticas. Nitritos presentes em
efluentes de esgotos são oxidados por cloro e por isso aumentam as doses de cloro necessárias e os
custos de desinfecção.
O nitrogênio nitrato é a forma mais oxidada de nitrogênio encontrada no esgoto. Quando
efluente secundário é recuperado para recarga de aquíferos, a concentração de nitrato é importan-
te. Os padrões de qualidade de água da U.S. EPA (U.S. EPA, 1977) limitam-no a 10 mg/L como
N–NO3 devido aos ocasionais e sérios efeitos fatais em bebês. As concentrações de nitrato variam
entre 0 e 20 mg/L como N. Assumindo que ocorra nitrificação completa, a concentração típica em
efluentes tratados varia entre 15 e 25 mg/L como N.
O óxido nitroso (N2O) é um gás associado ao efeito estufa com um impacto de aproximada-
mente 300 vezes o do CO2 (U.S. EPA, 2008). A principal fonte geradora de N2O proveniente da
atividade humana é a agricultura, embora outras fontes antropogênicas incluam queima de com-
bustíveis fósseis e manufatura de nylon (Maier et al., 2009). O óxido nitroso também pode ser con-
vertido fotoliticamente em óxido nítrico (NO), que contribui para a depleção da camada de ozônio
na terra. A produção de N2O e de NO em processos de nitrificação e desnitrificação biológicas em
tratamento de esgoto é importante e será abordada no Capítulo 7. O dióxido de nitrogênio (NO2) é
um gás tóxico com coloração marrom avermelhada que pode ser formado a temperaturas elevadas
pela oxidação de N2 por oxigênio, sendo as principais fontes os motores de combustão interna e as
usinas elétricas.
Frações de nitrogênio no esgoto. À medida que a remoção biológica de nutrientes se
torna mais comum, a informação sobre as diversas frações orgânicas se torna importante. As
frações principais são as de material particulado e material solúvel. Em estudos sobre tratamento
biológico, as frações de nitrogênio orgânico associadas a particulados e a solúveis são, ainda,
fracionadas para avaliar a tratabilidade do esgoto (ver discussão na Seção 8–2 do Capítulo 8).
As frações que têm sido utilizadas incluem (1) amônia (ionizada e livre), (2) nitrogênio orgânico
biodegradável solúvel, (3) nitrogênio orgânico particulado biodegradável, (4) nitrogênio orgâni-
co solúvel não biodegradável e (5) nitrogênio orgânico particulado não biodegradável. A presen-
ça de formas de nitrogênio não biodegradável tornam frequentemente difícil, senão impossível,
atingir limites de nitrogênio extremamente baixos para descarga sem que sejam adicionados
outros processos de tratamento. Infelizmente, dispõe-se de poucos parâmetros para a definição
de nitrogênio orgânico solúvel versus particulado (ver discussão sobre sólidos na Seção 2–3).
Quando é utilizada a técnica de fracionar a amostra, a distribuição relativa entre nitrogênio orgâ-
nico solúvel e particulado variará em função da dimensão do poro do filtro utilizado. Em muitos
casos, nitrogênio orgânico coloidal tem sido classificado como solúvel ou dissolvido. A falta
da definição de padrões também afeta outros constituintes agregados (i.e., demanda química de
oxigênio e carbono orgânico total).
Em áreas onde a qualidade de águas superficiais tem sido prejudicada devido à eutrofização,
requerimentos mais restritivos para efluentes são impostos e uma meta da concentração de nitrogê-
nio total (NT) que 3,0 g/m3 tem sido comumente aplicada. Nesses casos, a concentração de nitro-
gênio orgânico solúvel (NOS) pode equivaler a mais do que 40% do NT do efluente. Além disso, o
NOS não biodegradável se mantém em processos biológicos avançados de remoção de nutrientes,
crescendo com o aumento dos períodos de aeração (Makinia et al., 2011). As formas inorgânicas
de nitrogênio estão prontamente disponíveis para o crescimento de algas, mas apenas recentemente
o impacto de NOS sobre seu crescimento tem sido investigado. Por meio de trabalhos de bioen-
saios, Haizhou et al. (2012) mostraram que 20 a 40% da concentração de NOS do efluente não está
2–4 Constituintes orgânicos não metálicos P 95
prontamente disponível para o crescimento de algas; a porção não disponível possivelmente está
associada a compostos mais hidrofóbicos e húmicos de elevado peso molecular.
Transformações do nitrogênio na natureza. As diversas formas de nitrogênio presentes
na natureza e os caminhos da sua modificação no meio aquático são mostrados na Figura 2–16.
O nitrogênio presente no esgoto bruto está primariamente combinado com matéria proteinácea e
ureia. A decomposição efetuada por bactérias altera rapidamente a forma orgânica para a forma de
amônia. A idade do esgoto é indicada pela quantidade relativa de amônia presente. Em um ambien-
te aeróbio, bactérias podem oxidar a amônia a nitritos e nitratos. A predominância de nitrato no
esgoto indica que o esgoto foi estabilizado em relação à demanda de oxigênio. Entretanto, nitratos
podem ser utilizados por plantas e animais para formar proteína. A morte e a decomposição de
proteínas animal e vegetal por bactéria gera amônia novamente. Assim, se nitrogênio na forma de
nitrato pode ser reusado para produzir proteína para algas e outras plantas, poderá ser necessário
remover ou reduzir o nitrogênio presente para prevenir esses crescimentos.
Fósforo
O fósforo também é essencial para o crescimento de algas, para a produção agrícola e para outros
organismos biológicos. Ao contrário do nitrogênio, o fósforo não tem uma forma gasosa que possa
ser transferida à atmosfera. Devido ao crescimento prejudicial de algas em águas superficiais, há
atualmente um grande interesse em controlar a quantidade de compostos de fósforo que adentram
águas superficiais por meio da descarga de efluentes domésticos e industriais e de escoamento
superficial. Além disso, a característica insustentável da mineração de fósforo e a potencial defi-
Ambiente atmosférico
Fixação
Volatilização
Assimilação
Ambiente aquático
Nitrogênio orgânico NO 3
–
Desnitrificação Volatilização
NH3 /NH+4
proteináceo
Assimilação
Nitrogênio orgânico
Amonificação NH3 /NH+4 Nitrificação Desnitrificação
proteináceo
Solo
–
Adsorção Adsorção NO 3
Legenda
Forma de Transformação/ Lixiviação
nitrogênio processo de remoção
Enxofre
O íon sulfato ocorre naturalmente em muitos sistemas de abastecimento de água e também no
esgoto. O enxofre é necessário para a síntese de proteínas, sendo liberado por ocasião de sua de-
gradação. Em condições anaeróbias, o sulfato é reduzido biologicamante a sulfeto, que, por sua
vez, pode combinar com hidrogênio para formar sulfeto de hidrogênio (H2S). As seguintes reações
genéricas são típicas:
(2–42)
Se ácido lático é utilizado como um composto precursor orgânico, a redução de sulfato a sulfeto
ocorre como segue:
(2–43)
ácido lático
2–4 Constituintes orgânicos não metálicos P 97
O sulfeto de hidrogênio gasoso, que se difunde para o espaço livre acima da linha de esgoto contido
na rede coletora que não está escoando à seção plena, tende a aderir na parte superior da tubulação.
O H2S acumulado pode, então, ser oxidado biologicamente a ácido sulfúrico, que é corrosivo a tu-
bos de concreto. Esse efeito corrosivo pode ameaçar seriamente a integridade da tubulação (ASCE,
1989; U.S. EPA, 1985a).
Os sulfatos são reduzidos a sulfetos em digestores de lodo e podem prejudicar o processo
biológico se a concentração de sulfeto exceder 200 mg/L. Felizmente, essas concentrações são
raras. O H2S gasoso, que é produzido e é misturado com o gás de esgoto (CH4 CO2), é corrosivo
à tubulação de gás e, se queimado em motores a gás, os produtos de combustão podem danificar o
motor e corroer severamente o equipamento de recuperação de calor do gás gerado, principalmente
se ocorrer resfriamento abaixo do ponto de condensação.
Gases
Os gases comumente encontrados no esgoto bruto incluem nitrogênio (N2), oxigênio (O2), dióxido
de carbono (CO2), sulfeto de hidrogênio (H2S), amônia (NH3) e metano (CH4). Os três primeiros
são gases da atmosfera e são encontrados em todas as águas expostas ao ar. Os últimos três são
derivados da decomposição da matéria orgânica presente no esgoto e são importantes no que se
refere à saúde e segurança de operários. Embora não sejam encontrados em esgoto bruto, outros
gases com os quais o engenheiro ambiental deve estar familiarizado são cloro (Cl2), ozônio (O3)
(para desinfecção e controle de odor) e os óxidos de enxofre e de nitrogênio (em processos de com-
bustão). A discussão que segue se restringe àqueles gases que são de interesse em esgoto bruto. Na
maioria dos casos, a amônia estará presente em esgoto bruto como íon amônia (ver “Nitrogênio”).
Entretanto, antes de apresentar os gases individualmente, será útil revisar a lei ideal dos gases, para
considerar a solubilidade de gases em água, e rever a lei de Henry aplicada a gases de interesse.
Solubilidade de gases na água. A quantidade de gás que pode estar presente em solução
é governada pela (1) solubilidade do gás, conforme definida pela lei de Henry, (2) pressão parcial
do gás na atmosfera, (3) temperatura e (4) concentração de impurezas na água (p. ex., salinidade,
sólidos suspensos, etc.).
A lei ideal dos gases. A lei ideal dos gases, derivada da lei de Boyle (o volume de um gás, à
temperatura constante, é inversamente proporcional à pressão) e a lei de Charles (o volume de um
gás, à pressão constante, é diretamente proporcional à temperatura) é
PV nRT (2–44)
Utilizando a lei universal dos gases, é possível mostrar que o volume de gás ocupado por um mol
de gás à temperatura padrão [0°C, (32°F)] e pressão (1,0 atm) é igual a 22,414 L.
A relação seguinte, baseada na lei ideal dos gases, é utilizada para converter as concentrações de
gás expressas em ppmv a mg/m3.
98 P Capítulo 2 Características do esgoto
(2–46)
É importante lembrar que na Equação (2–46) a fração molar de um gás corresponde à pressão
parcial ou à fração de volume do gás. Se a pressão parcial do gás é utilizada, a Equação (2–46) é
escrita como segue:
Pg Hxg (2–47)
Solução
1. Calcule a concentração em mg/L utilizando a Equação (2–45).
O peso molecular de H2S [2(1,01) 32,06] 34,08
de
de
2. A concentração em mg/L é
Comentário
Se as medidas de gás, expressas em mg/L, são efetuadas sob outras condições, a concentração
deve ser corrigida para condições padrão, utilizando a lei ideal de gases, antes de converter
para ppm.
2–4 Constituintes orgânicos não metálicos P 99
TABELA 2–7 Constantes da lei de Henry a 20°C, constantes adimensionais da lei de Henry a
20°C e coeficientes de temperatura
Coeficientes de
Constantes
temperatura
Constantes de de Henry,
Parâmetro Henry, atm adimensionais A B
Ar 66.400 49,68 557,60 6,724
Amônia 0,75 5,61 10 4
1887,12 6,315
Dióxido de carbono 1420 1,06 1012,40 6,606
Monóxido de 53.600 40,11 554,52 6,621
carbono
Cloro 579 0,43 875,69 5,75
Dióxido de cloro 1500 1,12 1041,77 6,73
Hidrogênio 68.300 51,10 187,04 5,473
Sulfeto de 483 0,36 884,94 5,703
hidrogênio
Metano 37.600 28,13 675,74 6,880
Nitrogênio 80.400 60,16 537,62 6,7392
Oxigênio 41.100 30,75 595,27 6,644
Ozônio 5300 3,97 1268,24 8,05
Dióxido de enxofre 36 2,69 102 1207,85 5,68
a
Adaptado, em parte, de Crittenden et al. (2012), Cornwell (1990) e Hand et al. (1998).
Na prática e na literatura, a constante da lei de Henry é comumente referida como atm, integrando
a fração molar. A constante da lei de Henry é uma função do tipo de gás, temperatura e natureza
do líquido. Valores de constantes da lei de Henry para diversos gases da água a 20°C são dados na
Tabela 2–7. É importante notar que os valores das constantes da Lei de Henry citados na literatura
variarão dependendo da data da referência e do método específico utilizado para avaliar a constan-
te. A utilização dos dados da Tabela 2–7 é ilustrada no Exemplo 2–7.
A variação da constante da lei de Henry com a temperatura pode ser estimada utilizando a
seguinte equação empírica, derivada através da relação de van’t Hoff-Arrhenius:
(2–48)
Valores de A e B para gases de interesse em tratamento de esgoto são apresentados na Tabela 2–7.
Deve-se notar que os valores relatados na Tabela 2–7 para A e B são aproximados e variarão depen-
dendo da fonte e do método utilizado para derivá-los.
Forma adimensional da lei de Henry. Na literatura, a forma adimensional da lei de Henry
é comumente utilizada para calcular a solubilidade de gases traços na água ou no esgoto. A forma
adimensional é, usualmente, escrita como
(2–49)
100 P Capítulo 2 Características do esgoto
A forma adimensional é obtida considerando que à pressão de 1,0 atm e 0°C, o volume ocupa-
do por 1,0 mol de ar é 22,414 L. Em outras temperaturas, 1,0 mol de ar é igual a 0,082 T L de ar,
onde T é a temperatura em graus Kelvin, K (273,15 °C). Utilizando essas conversões, a forma
adimensional da lei de Henry é
(2–50)
(2–51)
Como o número de moles de gás dissolvido em um litro de água é muito menor do que o
número de moles de água,
ng 55,6 ⬇ 55,6
e ng ⬇ (55,6)5,11 106
ng ⬇ 2,84 104 moles O2/L
Hu 30,75
b. Utilizando a Equação (2–49), o valor de Cs é
Comentário
Os valores calculados (9,09 e 9,08 mg/L) são, essencialmente, os mesmos que os valores
apresentados no Apêndice E (9,09 mg/L). Deve-se observar que os valores da constante da
lei de Henry mostrados na Tabela 7 variarão dependendo da fonte e do método utilizado para
determiná-los. Além disso, a relação a diferentes temperaturas não é linear.
Como as taxas de reações bioquímicas que utilizam O2 aumentam com o aumento da tempera-
tura, os níveis de oxigênio dissolvido tendem a ser mais críticos nos meses de verão. O problema
se agrava nos meses de verão porque as vazões de corpos receptores são usualmente menores e a
quantidade total de O2 disponível também é menor. A presença de OD no esgoto é desejável porque
previne a formação de odores desagradáveis. A função do O2 em tratamento de esgoto é discutida
nos Capítulos 5, 7, 8 e 9.
Sulfeto de hidrogênio (H2S). O sulfeto de hidrogênio, conforme mencionado, é formado pela
decomposição anaeróbia da matéria orgânica que contém enxofre ou pela redução de sulfetos e
sulfatos minerais. Ele não se forma na presença de quantidades significativas de oxigênio. Esse gás
é incolor e inflamável, com um odor característico de ovos podres. O sulfeto de hidrogênio também
é tóxico; concentrações elevadas de H2S podem afetar as glândulas olfativas, causando uma perda
da capacidade da função cheiro. Essa perda de função pode levar a uma sensação falsa de seguran-
ça que é muito perigosa. O escurecimento do esgoto e do lodo de esgoto resulta, usualmente, da
fomação de H2S combinada com o ferro presente na forma de sulfeto ferroso (FeS). Vários outros
sulfetos metálicos também são formados. Embora o H2S seja o mais importante gás formado sob
o ponto de vista de odores, outros compostos voláteis, como indol, escatol e mercaptanas, que
também podem ser formados durante a decomposição anaeróbia, podem causar odores muito mais
ofensivos do que aqueles causados por H2S.
Metano (CH4). O principal subproduto da decomposição anaeróbia da matéria orgânica pre-
sente no esgoto é o gás metano (ver Capítulos 10 e 13). O metano é um gás inflamável, formado
de hidrocarbonetos, sem cor e sem odor, de alto valor como combustível. Normalmente, não são
encontradas no esgoto grandes quantidades de CH4 porque mesmo pequenas quantidades de oxi-
gênio tendem a ser tóxicas aos organismos responsáveis pela produção de CH4. Entretanto, oca-
sionalmente, como resultado da degradação anaeróbia em depósitos de fundo, o CH4 é produzido.
Como o metano é altamente inflamável, apresentando perigo elevado, o acesso a poços de inspeção
e junção de tubulações ou câmaras de conexão, onde existe a possibilidade de acúmulo de gás, deve
ser ventilado com um soprador portátil durante e antes das equipes de operação executem trabalhos
de inspeção, substituição ou reparo. Nas estações de tratamento, o CH4 é produzido pelo processo
de tratamento anaeróbio, utilizado para estabilizar o lodo (ver Capítulo 13). Em estações de trata-
mento onde é produzido CH4, avisos devem ser afixados alertando sobre os perigos de explosão, e
os operários devem ser orientados sobre as medidas de segurança a serem tomadas quando traba-
lhando dentro ou nas imediações de estruturas onde CH4 possa estar presente. O metano também
é um importante gás gerador de efeito estufa, com um impacto de mais do que 25 vezes o impacto
do CO2 (U.S. EPA, 2008).
Odores
Os odores que ocorrem no esgoto doméstico são, usualmente, causados por gases produzidos pela
decomposição da matéria orgânica ou por substâncias adicionadas ao esgoto. O esgoto bruto tem
um odor distinto, um tanto desagradável, que é menos indesejável do que o odor do esgoto que
sofreu digestão anaeróbia (sem oxigênio). A característica principal de esgoto amanhecido ou
séptico é o do sulfeto de hidrogênio, que é, como discutido anteriormente, produzido por micro-
-organismos anaeróbios que reduzem o sulfato a sulfeto. Esgoto industrial pode conter compostos
odoríficos ou compostos que produzam odor durante o processo de tratamento de esgoto. A gestão
de odores presentes em estações de tratamento de esgoto é considerada no Capítulo 16.
Preocupação pública. Odores têm sido considerados a maior preocupação pública com rela-
ção à implantação de estações de tratamento de esgotos. Ao longo dos últimos cinco anos, o con-
trole de odores tem sido a principal consideração nos projetos e na operação de sistemas de coleta,
tratamento e de instalações de lançamento, principalmente com relação à aceitação pública dessas
instalações. Em muitas áreas, os projetos têm sido rejeitados devido à preocupação com a ocor-
rência potencial de odores. Considerando a importância de odores na área de gestão de esgotos, é
2–4 Constituintes orgânicos não metálicos P 103
TABELA 2–8 Principais compostos odoríficos associados a esgotoa e seus limiares de odor
apropriado considerar os efeitos que eles produzem, como são detectados e como são caracteriza-
dos e medidos.
Efeitos de odores. A importância de odores, a baixas concentrações, em termos humanos,
está mais relacionada ao estresse psicológico produzidos por eles do que aos danos corporais que
provocam. Odores ofensivos podem causar perda de apetite, consumo reduzido de água, respi-
ração reprimida, náusea, vômito e perturbação mental. Em condições críticas, odores ofensivos
podem levar à deterioração da satisfação (orgulho) de funcionários e da comunidade, interferir nas
relações humanas, desencorajar investimentos de capital, reduzir o status econômico e impedir o
crescimento. Além disso, alguns compostos odoríficos (p. ex., H2S) são tóxicos a concentrações
elevadas. Esses problemas podem levar a um declínio de mercado e de valores de aluguéis, de ren-
das provenientes de taxas, de funcionários e de vendas.
Detecção de odores pelo sistema olfativo humano. Os compostos odorosos responsáveis
pela produção de estresse psicológico em seres humanos são detectados pelo sistema olfativo, mas
o verdadeiro mecanismo envolvido não é, na verdade, bem compreendido. Desde 1870, mais de
30 teorias foram propostas para explicar o fenômeno do olfato. Uma das dificuldades tem sido a
falta de uma explanação adequada da razão pela qual compostos com estruturas similares podem
apresentar odores diferentes e porque compostos com estruturas muito diferentes podem ter odo-
res similares. Atualmente, parece haver um consenso de que o odor de uma molécula deve estar
relacionado à molécula inteira e não a algum grupo funcional anexado à molécula. Ao longo dos
anos, diversas tentativas têm sido feitas para classificar os odores de uma maneira sistemática. As
características principais de odores ofensivos e os compostos envolvidos estão listados na Tabela
104 P Capítulo 2 Características do esgoto
TABELA 2–9 Fatores que devem ser considerados para a caracterização completa de um odor
Fator Descrição
Caráter Relacionado às associações mentais feitas causadas pelo tema ao sentir o odor. A
determinação é bastante subjetiva. Descritores típicos de odor estão relacionados na
última coluna da Tabela 2–8.
Detectabilidade O número de diluições necessárias para reduzir um odor à sua concentração limiar
(também limiar) mínima detectável (CLMD).
Prazer (tom) A satisfação ou insatisfação relativa do odor sentido pelo tema.
Intensidade A força relativa do odor sentida acima do limiar de detecção. Usualmente, é medida
pelo olfatômetro de butanol ou é calculada por D/L (relação entre diluições e o limiar)
quando a relação é estabelecida.
Persistência A taxa na qual a intensidade do odor se altera com a concentração.
A persistência pode ser representada como uma função dose-resposta.
2–8, associados aos limiares e valores de odores correspondentes. Todos esses compostos podem
ser encontrados ou podem se desenvolver em esgoto doméstico, dependendo das condições locais.
Caracterização do odor. No passado, quatro fatores independentes foram identificados como
tipicamente necessários para a completa caracterização de um odor: caráter, detectabilidade, prazer
e intensidade (ver Tabela 2–9). Mais recentemente, o fator a persistência, foi adicionado à lista (ver
Tabela 2–9). Detectabilidade e persistência são considerados a seguir.
Detectabilidade. Conforme mostrado na Figura 2–17, os odores podem ser medidos (detectados)
por métodos sensoriais e concentrações odorosas específicas por métodos instrumentais. A aplicação
de ambos os métodos de detecção de odores é considerada a seguir. Em métodos sensoriais, pessoas
(geralmente um painel de analistas) são expostas a odores previamente diluídos com ar sem odores, e
o número de diluições necessário para reduzir um odor a uma concentração limiar mínima detectável
(CLMD) é observado. A concentração de odor detectável, reportada como diluições ao CLMD, co-
mumente chamada de diluições ao limiar (D/L) é dada pela seguinte expressão:
Assim, se quatro volumes de ar sem odor devem ser adicionado a um volume de ar com odor para
reduzir o odor a seu CLMD, a concentração de odor deve ser reportada como 4 D/L. Deve-se
observar que diversas outras medidas devem ser utilizadas para definir a intensidade de um odor,
inclusive o valor ED50, que representa o número de vezes que uma amostra de ar com odor deve
ser diluída até que uma pessoa média (50 percentil) possa detectar levemente um odor na amostra
diluída. Até agora, a detectabilidade é o único fator que tem sido utilizado para o desenvolvimento
de regulações estatutórias para odores desagradáveis. A aplicação dos valores de D/L para acessar
impactos de odores é abordada na Seção 16–3 do Capítulo 16.
O odor limiar de uma amostra de água ou esgoto é determinada pela diluição da amostra com
água sem odores. Dependendo da natureza dos constituintes odoríferos, a amostra diluída pode ser
aquecida para melhorar a liberação de constituintes olorosos diluídos. O número de odor limiar
(NOL) corresponde à maior diluição da amostra com água sem odor que é percebido. O tamanho
de amostra recomendado é de 200 mL. O valor numérico do NOL é determinado do seguinte modo:
NOL (2–53)
O odor que emana da amostra líquida é determinado, conforme visto, utilizando pessoas (geral-
mente um painel de analistas). Detalhes desses procedimentos podem ser encontrados em Standard
Methods (2012).
Persistência. A persistência corresponde à taxa na qual a intensidade do odor detectado é reduzi-
da à medida que o odor é diluído. A intensidade do odor é, tipicamente, definida como
I kC n (2–54)
Para estabelecer a dose-resposta, três medidas de intensidade a diluições diferentes são utilizadas.
Quando a Equação (2–54) é linearizada e plotada, a inclinação da linha de melhor ajustamento
corresponde a n. Assim, conforme a declividade da linha diminui, o odor é mais persistente. A
aplicação da Equação (2–54) é ilustrada no Exemplo 2–8.
Medidas sensoriais de odores. Tem sido demonstrado que, sob condições cuidadosamente
controladas, a medida sensorial (organolética) de odores pelo sistema olfativo humano pode pro-
porcionar informações significativas e confiáveis. Portanto, o método sensorial é, frequentemente,
utilizado para medir odores emanados em estações de tratamento de esgotos. A disponibilidade
de um medidor para a medição direta de sulfeto de hidrogênio, descrito em seguida, que pode ser
utilizado para detectar precisamente concentrações de até 3 ppb e, com precisão menor, 1 ppb, é um
desenvolvimento significativo.
Olfatômetros de campos. A determinação sensorial de concentrações limiares mínimas está
sujeita a diversos erros. Adaptação e adaptação cruzada, sinergismo, subjetividade e alteração da
amostra (ver Tabela 2–10) são os erros principais. Para evitar erros na alteração da amostra durante
estocagem em contêiners coletores, foram desenvolvidos olfatômetros de campo para medir odores
na fonte, sem o uso de contêiners de amostras.
O olfatômetro é um aparelho portátil no qual o ar com odor passa sequencialmente através de
uma série de orifícios graduados e é misturado (diluído) com ar previamente purificado passando
através de carvão ativado. Os orifícios são tipicamente dimensionados para proporcionar valores de
D/L de 2, 4, 7, 15, 30 e sucessivamente. As razões de diluição são determinadas pela relação entre
a dimensão dos orifícios de ar odoroso para ar purificado. Dois dos olfatômetros portáteis mais uti-
lizados, o Scentometer® (Barnebey-Cheney, 1987) e o Nasal Ranger® (St. Croix Sensory, 2006),
são mostrados na Figura 2–18. Os olfatômetros portáteis são muito úteis para efetuar determina-
ções de odores em grandes áreas ao redor de estações de tratamento. Geralmente, um laboratório
móvel para medição de odores, que contém diversos tipos de equipamentos olfativos e analíticos
em um único veículo, é utilizado para estudos de campo.
106 P Capítulo 2 Características do esgoto
Peças nasais
Leito de carvão
ativado
Ar purificado
para diluição
(a)
Filtros
de carvão
Ar ativado
Ar misturado para
Série de orifícios
a máscara nasal
graduados
em sequência
para controlar a
mistura de ar
(b)
FIGURA 2–18 Exemplos de olfatômetros portáteis utilizados para estudo de odores no campo: (a)
esquema do Scentometer® e vista frontal das peças nasais (5 in 6 in 2,5 in, de Barnebey & Sutcliffe
Corp.), (b) esquema e foto do Nasal Ranger® (de St Croix Sensory Inc.).
2–4 Constituintes orgânicos não metálicos P 107
1 2 3 4 5 6
Frasco de amostragem
equipado com três orifícios
de amostragem
Ar para o vaso
de n-butanol
1 2 3 123456
4 5 6
n-butanol líquido
(a) no vaso (b)
(c) (d)
FIGURA 2–19 Exemplos de olfatômetros de laboratório: (a) esquema do olfatômetro triângulo de esco-
lha, forçado dinamicamente (b) analista do painel cheirando um dos três orifícios de amostras, (c) vista
da Roda de Butanol, (d) analista do painel cheirando um dos orifícios de amostras. [Figuras (b), (c) e (d)
Cortesia de RK & Associates, Inc.]
108 P Capítulo 2 Características do esgoto
Solução
1. Linearize a Equação 2–54 e determine o logaritmo dos dados fornecidos.
a. A forma linearizada da Equação 2-54 é
log D/L
Log I Amostra A Amostra B
3 0 0
2 1,4 0,5
1 2,5 1,0
0 3,5 1,5
3. Plote log I versus log C e determine a declividade n para identificar qual é a amostra mais
persistente.
a. Os dados plotados são os mostrados abaixo
3,5
Intensidade de odor n-butanol, ppm
2,5
2 Amostra A
n = –0,84
1,5
1
Amostra B
0,5 n = –2,0
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4
Diluição ao limiar, D/L
FIGURA 2–20 Medidor portátil de H2S utilizado para estudos de odor no campo. (de Arizona Instru-
ment Corporation, Jerome Instrument Division.)
110 P Capítulo 2 Características do esgoto
Importância de metais
Os metais de importância no tratamento, no reúso e na disposição de efluentes tratados e de bios-
sólidos estão listados na Tabela 2–12. Todos os organismos vivos requerem quantidades variáveis
(macro e micro) de elementos metálicos, como ferro, cromo, cobre, zinco e cobalto para cresci-
mento adequado. Embora quantidades macro e micro de metais sejam necessárias para o cresci-
mento adequado, os mesmos metais podem ser tóxicos quando presentes em concentrações ele-
vadas. Conforme cresce o uso de efluentes de esgoto tratado para irrigação de culturas e irrigação
paisagística, a presença de uma variedade de metais deve ser determinada para acessar os efeitos
adversos que poderão ocorrer. Cálcio, magnésio e sódio são importantes para a determinação da
razão de adsorção de sódio (RAS) que é utilizada para acessar a adequabilidade de um efluente
tratado para uso na agricultura (ver Asano et al., 2007). Quando um composto de lodo é utilizado na
agricultura, as concentrações de arsênico, cádmio, cobre, chumbo, mercúrio, molibdênio, níquel,
selênio e zinco devem ser determinadas.
TABELA 2–11 Esgotos metálicos típicos produzidos por atividades comerciais, industriais e agrícolas classificados
como poluentes prioritários
Nome Uso Efeitos
Arsênico As Aditivo de ligas metálicas, especialmente chumbo e cobre, grades Carcinogênico e mutagênico. Longo
de baterias, cobertura de cabos, tubos de caldeiras. Grau de alta prazo – pode causar fadiga e perda
pureza (semicondutor). de energia; dermatite.
Bario Ba Ligas de Getter em tubos a vácuo, desoxidante para cobre, metais Inflamável a temperaturas ambientes
Frary, lubrificantes para rotores de anodo em tubos de raios X, quando em forma de pó. Longo
ligas para velas, prazo – aumento da pressão arterial e
bloqueio de nervos.
Cadmio Cd Revestimentos eletro depositados e por imersão em metais, Inflamável na forma de pó. Tóxico por
rolamentos e ligas de fusão baixa, ligas de enchimento com inalação de poeira ou fumaça. Um
temperatura pouco acima da temperatura de fusão (ligas brazing), carcinogênico. Compostos solúveis de
sistema de proteção de incêndio, baterias de níquel-cádmio, cabos cádmio são altamente tóxicos. Longo
de transmissão de energia, fósforo fluorescente de TVs, base de prazo – concentra-se no fígado, rins,
pigmentos utilizados em esmaltes para cerâmicas, esmalte para pâncreas e na tiroide; efeito suspeito
máquinas, fungicidas, fotografia e litografia, retificadores de de hipertensão.
selênio, eletrodos para lâmpadas de vapor de cádmio e células
fotoelétricas.
Cromo Cr Elementos de liga e revestimento sobre peças de metal e de Compostos de cromo hexavalente são
plástico para resistência à corrosão, aços com cromo e aço carcinogênicos e corrosivos a tecidos.
inoxidável, revestimento protetivo para equipamentos e acessórios Longo prazo – sensibilização da pele
automotivos, pesquisa nuclear e de alta temperatura, constituintes e danos aos rins.
de pigmentos inorgânicos.
Chumbo Pb Baterias, aditivos de gasolina, cobertura de cabos, munição, Tóxico por ingestão ou inalação de
tubulações, revestimentos de tanques, ligas de solda e ligas poeira ou fumaça. Longo prazo –
fusíveis, redução de vibração em construção pesada, ligas danos ao cérebro e aos rins; defeitos
para chapas, ligas de metal branco (babbit) e outras ligas para de nascença.
rolamentos
Mercúrio Hg Amálgamas, aparelhos de catálise elétricos, catodos para a Altamente tóxicos por absorção
produção de cloro e de soda cáustica, instrumentos, lâmpadas de na pele e por inalação de fumaça
vapor de mercúrio, revestimentos de espelhos, lâmpadas de arco, ou vapor. Longo prazo – tóxico ao
caldeiras sistema nervoso central, pode causar
defeitos de nascimento.
Selênio Se Equipamentos eletrônicos, placas xerográficas, câmeras de TV, Longo prazo – manchas vermelhas
fotocélulas, centrais de computadores magnéticos, baterias solares, nos dedos, dentes e cabelo; fraqueza
(retificadores, relés), cerâmicas de aço e cobre (colorante para geral; depressão; irritação do nariz e
vidros), aceleradores de borracha, catalizadores, elementos traços da boca.
em alimentos de animais.
Prata Ag Manufatura de nitrato de prata, brometo de prata, foto químicos; Metal tóxico. Longo prazo – coloração
revestimento de contêiners e de outros equipamentos para reatores cinza permanente da pele, dos olhos e
químicos, destilação da água, etc.; espelhos, condutores elétricos, das membranas mucosas.
revestimento de prata de equipamentos eletrônicos; esterilizantes,
purificação da água, cimentos cirúrgicos, catalisadores para
hidratação e oxidação, baterias especiais, células solares,
refletores para torres solares, ligas de baixa temperatura, talheres
de mesa, joias, equipamentos dentais, médicos e científicos,
contatos elétricos, metais para rolamentos, enroladores para
ímãs, amálgamas dentais, prata coloidal utilizada como agente
nucleante em fotografia e medicina, frequentemente combinados
com proteínas
112 P Capítulo 2 Características do esgoto
relacionados na Tabela 2–13. A fim de atender às regulações da U.S. EPA, muitos estados adotaram
padrões mais restritivos para proteger usos benéficos específicos.
TABELA 2–13 Limites de descarga típicos para constituintes tóxicos encontrados em efluentes
secundários
Valor médioa
Constituinte Unidades Diário Mensal
Arsênico mg/L 20
Cádmio mg/L 1,1
Cromo mg/L 11
Cobre mg/L 4,9
Chumbo b
mg/L 5,6
Mercúrio mg/L 2,1 0,012
Níquel b
mg/L 7,1
Selêniob mg/L 5,0
Prata mg/L 2,3
Zinco b
mg/L 58
Dieldrinc mg/L 0,0019 0,00014
Lindane mg/L 0,16 0,063
Tributiltin mg/L 0,01 0,005
HPAs d,e
mg/L 0,049
a
Os limites se aplicam a concentração média de todas as amostras coletadas durante o período correspondente
(diário – período de 24h; mensal – calendário mensal).
b
A limitação do efluente deve ser obtida em 4-d médio. Se o atendimento deve ser determinado em uma média de
4-d, então a concentração para 24h de quatro amostras compostas devem ser registradas assim como a de quatro
médias.
c
O atendimento deve ser baseado no nível de quantificação prática (NQP), 0,07 mg/L.
d
HPA hidrocarbonetos poliaromáticos.
e
O atendimento deve ser baseado no nível de quantificação prática (NQP) para cada HPA, 4 mg/L.
Fonte: Bay Area Regional Water Quality Control Board, Oakland, CA.
gênio dissolvido utilizado por micro-organismos durante a oxidação bioquímica da matéria or-
gânica. Apesar do uso universal do teste de DBO, ele apresenta diversas limitações, conforme
discutido em seguida nesta seção. Espera-se que, por meio dos esforços contínuos de pesquisa-
dores nesse campo, uma das outras medidas do conteúdo orgânico ou, talvez, uma nova medida
possa, finalmente, ser utilizada em seu lugar. Por que, então, se o teste apresenta diversas limi-
tações, mais espaço é dedicado a ele neste texto? A razão é que os resultados do teste de DBO
são atualmente utilizados para (1) determinar a quantidade aproximada de oxigênio necessária
para estabilizar, biologicamente, a matéria orgânica presente, (2) determinar as dimensões de
estações de tratamento de esgotos, (3) medir a eficiência de alguns processos de tratamento e
(4) determinar o atendimento às permissões de descarga de esgoto. Como é possível que o teste
de DBO continue a ser utilizado por algum tempo, é importante conhecer os detalhes do teste e
suas limitações.
Bases para o teste de DBO. Se a quantidade de oxigênio disponível for suficiente, a de-
composição aeróbia de um esgoto orgânico continuará até que que todo o esgoto seja consumido.
Ocorrem três atividades mais ou menos distintas. Inicialmente, uma porção do esgoto é oxidada
a produtos finais para obter energia para manutenção celular e para síntese de novos tecidos celu-
lares. Simultaneamente, parte do esgoto é convertida em novos tecidos de células utilizando parte
da energia liberada durante a oxidação. Por fim, quando a matéria orgânica é utilizada, as novas
células começam a consumir seus próprios tecidos celulares para obter energia para manutenção
própria. Esse terceiro processo é chamado de respiração endógena. Usando o termo COHNS (que
representa os elementos carbono, oxigênio, hidrogênio, nitrogênio e enxofre) para representar o es-
goto orgânico e o termo C5H7NO2 para representar o tecido celular, os três processos são definidos
pelas seguintes reações:
COHNS O2 bactéria S CO2 H2O NH3 outros produtos finais energia (2–55)
Reação de síntese
Respiração endógena
Se é considerada apenas a oxidação do carbono orgânico presente no esgoto, a DBO final é o oxi-
gênio necessário para completar as três reações mostradas. Essa demanda de oxigênio é conhecida
como demanda carbonácea final ou DBO de primeiro estágio, sendo usualmente designada como
DBOF.
Conforme será discutido posteriormente, a amônia produzida pela energia de reação na Equa-
ção (2–55) pode ser oxidada a nitrito e a nitrato. Assim, o teste de DBO representa apenas a quanti-
dade de oxigênio necessária para oxidar o material carbonáceo contido em uma amostra.
Descrição do teste de DBO. O teste de DBO padrão [ver Figura 2–21(a)] envolve a colocação
de uma pequena amostra de esgoto em uma garrafa de DBO (volume 300 mL). Em seguida, a
garrafa é preenchida com água de diluição saturada de oxigênio e contendo os nutrientes neces-
sários para crescimento biológico. Para assegurar que os resultados obtidos sejam significativos,
a amostra deve ser adequadamente diluída com uma água de diluição especialmente preparada de
maneira que nutrientes adequados e oxigênio estejam disponíveis durante o período de incubação.
Normalmente, são preparadas diversas diluições para cobrir uma faixa completa de possíveis va-
lores. Antes de fechar a garrafa, a concentração de oxigênio deve ser medida (ver Figura 2–22).
Quando forem testadas amostras de esgoto com concentrações baixas de micro-organismos, é efe-
2–6 Constituintes orgânicos agregados P 115
Nutrientes Ar
Amostra a ser testada, Vs,
essenciais contendo matéria orgânica e
(N, P, K, Fe, etc.) um número adequado de bactérias
e outros (o volume da amostra de teste
aditivos Água depende do valor estimado para o DBO)
de diluição
(300 ml, Vs)
Contêiner
de vidro
(~ 20 L)
Água Garrafa de DBO com
destilada tampa (volume = 300 mL)
Pedra para
distribuição
de ar Garrafa de DBO preenchida
com a amostra de teste mais água
Água de de diluição sem sementes
diluição sem (teste de amostra sem sementes)
sementes
(a)
Água
destilada
FIGURA 2–21 Procedimento para a montagem de garrafas para teste de DBO: (a) com água de dilui-
ção sem sementes e (b) com água de diluição com sementes (Tchobanoglous and Schroeded, 1985).
tuado um teste de DBO com sementes de organismos [ver Figura 2–21(b)]. Os organismos contidos
em efluente de decantador primário são, comumente, utilizados como sementes para o teste de
DBO. Organismos sementes podem, também, ser obtidos comercialmente. Quando a amostra con-
tém uma grande população de micro-organismos (p. ex., esgoto bruto), não é necessário adicionar
sementes de micro-organismos.
O período padrão de incubação é, usualmente, de cinco dias a 20°C, mas outros períodos de
tempo e temperaturas podem ser utilizados. Após a incubação por um período de cinco dias a 20°C,
a concentração de oxigênio dissolvido é medida novamente. A DBO da amostra é a diferença entre
as concentrações de oxigênio dissolvido, expressa em miligramas por litro, dividida pela fração
decimal da amostra utilizada (Standard Methods, 2012). O valor calculado da DBO é conhecido
como a demanda bioquímica de oxigênio durante 5 dias a 20°C. A incubação durante 5 dias se
originou devido à utilização do teste de DBO para avaliar poluição de rios na Inglaterra nos anos
de 1800. Como o tempo máximo de escoamento de qualquer rio da Inglaterra é de 5 dias, desde as
cabeceiras até o oceano, o tempo de 5 dias foi adotado para o teste.
Períodos maiores (tipicamente sete dias), que correspondem às escalas usuais de trabalho, são
constantemente utilizados, especialmente em pequenas estações nas quais as equipes de labora-
tórios não estão disponíveis nos finais de semanas. A temperatura, entretanto, deve ser constante
durante todo o teste. A temperatura de 20°C utilizada representa um valor médio para rios se des-
locando lentamente em climas temperados e é facilmente duplicada em um incubador. Valores
116 P Capítulo 2 Características do esgoto
Agitador
(a) (b)
FIGURA 2–22 Medição de oxigênio em uma garrafa de DBO: (a) com uma sonda de OD equipada
com uma mecanismo de mistura, (b) foto do misturador.
diferentes devem ser obtidos a temperaturas diferentes, uma vez que as taxas de reação bioquímicas
são dependentes da temperatura.
Modelagem da reação de DBO. A taxa de oxidação em testes de DBO (“exerção”) é mo-
delada com base na hipótese de que a quantidade de material orgânico remanescente a qualquer
tempo, t, é governada por uma função de primeira ordem (ver Capítulo 1).
DBO
DBO
(2–58)
onde DBOr quantidade de esgoto remanescente no tempo t (d) expresso em oxigênios equiva-
lentes, mg/L
DBOF DBO carbonáceo total ou final, mg/L
k1 constante da taxa de reação de primeira ordem, 1/d
t tempo, d
A Equação (2–60) é a expressão padrão utilizada para definir a DBO para esgoto. A base para essa
equação é discutida na Seção 1–5 em conjunto com a análise de um reator batelada. Deve-se obser-
var que, na literatura referente à caracterização de esgoto, os termos L e DBOf são constantemente
utilizados para indicar a DBO carbonácea final (DBOF).
A oxidação bioquímica leva, teoricamente, um tempo infinito para ser completada porque a taxa
de oxidação é assumida como proporcional à quantidade de matéria orgânica remanescente. Em um
período de 20 dias, a oxidação da matéria orgânica carbonácea é completada em aproximadamente
95 a 99% e, em um período de 5 dias, utilizado para o teste de DBO, a oxidação varia entre 60 e 70%.
Coeficientes das taxas de reação de DBO. O valor de k1 para esgoto bruto está, geralmen-
te, entre 0,12 e 0,46 d1 (base e), com um valor típico de aproximadamente 0,23 d1. A faixa de
valores de k1 para efluentes de processos de tratamento biológicos está entre 0,12 e 0,23 d1. Para
um determinado esgoto, o valor de k1 a 20°C pode ser determinado experimentalmente observando
2–6 Constituintes orgânicos agregados P 117
a variação do oxigênio dissolvido com o tempo em uma série de amostras incubadas. Se k1 a 20°C
é igual a 0,23 d1, a demanda de oxigênio em 5 dias é de aproximadamente 68% da demanda final
de último estágio. Ocasionalmente, a constante da taxa de reação de primeira ordem será expressa
em unidades log (base 10). A relação entre k1 (base e) e K1 (base 10) é como segue:
(2–61)
(1–44)
Solução
1. Determine a DBO carbonácea final
Para água e esgoto poluídos, um valor típico de k1 (base e a 20°C) é 0,23 d1 (K1, base 10,
0,10 d1). O valor da constante da taxa de reação varia significativamente com o tipo de esgoto
considerado. A faixa pode variar de 0,05 a 0,3 d1 (base e) ou mais. Para uma mesma DBO final, o
oxigênio assimilado variará com o tempo e com valores diferentes de constantes de taxas de reação
(ver Figura 2–23).
118 P Capítulo 2 Características do esgoto
1
k = 0,3/d
0,8
k = 0,2/d
k = 0,1/d
0,6
DBO/DBOF
0,4
0
0 5 10 15 20 25
Time, d
FIGURA 2–23 Efeito da constante de taxa k1 em DBO (para um valor unitário de DBOF).
Nitrificação em teste de DBO. Matéria não carbonácea, como amônia, é produzida durante a
hidrólise de proteínas. É sabido atualmente que diversas bactérias são capazes de oxidar a amônia
a nitrito e, subsequentemente, a nitrato. As reações gerais são como segue:
Demanda bioquímica de
A nitrificação ocorre, usualmente
oxigênio carbonácea, DBO
entre 5 a 8 dias após o início do
ou DBOC
período de incubação.
Tempo, d
FIGURA 2–24 Esquema para a exerção da demanda bioquímica de oxigênio carbonácea e nitrogeno-
sa em uma amostra de esgoto.
2–6 Constituintes orgânicos agregados P 119
bactérias nitrificantes é baixa, demora, usualmente, de 6 a 10 dias para que sejam atingidos núme-
ros significantes para exercer uma demanda de oxigênio mensurável. Entretanto, se um número
suficiente de bactérias nitrificantes está presente no início, a interferência causada pela nitrificação
pode ser significativa.
Quando ocorre nitrificação no teste de DBO, podem ocorrer interpretações errôneas dos dados
obtidos no sistema de tratamento. Por exemplo, o DBO do efluente de um processo de tratamento
biológico é 20 mg/L sem nitrificação e 40 mg/L com nitrificação. Se o DBO influente ao processo
de tratamento é 200 mg/L, então a eficiência de remoção de DBO correspondente seria relatada
como 90 e 80% sem e com nitrificação, respectivamente. Então, se ocorre nitrificação que não é
identificada, pode-se concluir que o processo de tratamento não está com bom desempenho, quan-
do na verdade ele está operando muito bem.
Demanda bioquímica de oxigênio carbonácea. Quando ocorre nitrificação, o valor me-
dido de DBO será maior do que o valor verdadeiro devido à oxidação do material carbonáceo (ver
Figura 2–25). Se for necessário obter uma porcentagem de remoção determinada da demanda bio-
química de oxigênio carbonácea (DBOC), a remoção deve ser tal que atenda imediatamente aos li-
mites regulatórios quando a nitrificação possa causar um problema sério. Os efeitos da nitrificação
pode ser contornado utilizando produtos químicos diversos para suprimir a nitrificação, ou tratando
a amostra para eliminar os organismos nitrificantes (Young, 1973). Pasteurização e cloração/des-
cloração são dois métodos utilizados para eliminar organismos nitrificantes.
Quando a nitrificação é suprimida, a DBO resultante é conhecida como demanda bioquímica
de oxigênio carbonácea (DBOC). De fato, a DBOC é a medida da demanda de oxigênio exercida
pelo carbono oxidável presente na amostra. O teste de DBOC, no qual a reação de nitrificação é
suprimida quimicamente, deve ser utilizado em amostras que contenham pequenas quantidades de
carbono orgânico (p. ex., efluente tratado). Às vezes, foram observados erros em valores de DBO
em testes de DBOC utilizados em esgoto contendo quantidades significativas de matéria orgânica,
tal como em esgoto bruto.
Análise de dados de DBO. O valor de k é necessário se a DBO5 é utilizada para obter a
DBOF, a DBO final ou a DBO de 20 dias. O procedimento usual seguido quando esses valores são
desconhecidos é determinar k1 e o DBOF por meio de uma série de medidas de DBO. Há diversas
maneiras de determinar k1 e a DBOF através de uma série de resultados de medidas de DBO, inclu-
sive o método dos mínimos quadrados, o método dos momentos (Moore et al., 1950), o método da
diferença diária (Tsivoglou, 1958), o método da relação rápida (Sheehy, 1960), o método de Tho-
mas (Thomas, 1942, 1950) e o método de Fujimoto (Fujimoto, 1961). Os métodos dos mínimos
quadrados e o método de Fujimoto são ilustrados na 4ª edição desse livro texto. (Tchobanoglous
et al., 2003).
Efeito de tamanhos de partículas nas taxas de reação de DBO. Se uma técnica de
separação e análise, como a filtração por membrana (ver Figuras 2–4 e 2–8), é utilizada para quan-
tificar a distribuição de tamanhos de sólidos no esgoto influente, as várias frações de tamanhos
podem ser correlacionadas às taxas observadas de assimilação de oxigênio (DBO), determinadas
utilizando um respirômetro. Conforme mostrado na Tabela 2–14, os coeficientes das taxas de rea-
ção observados são significantemente afetados pelo tamanho das partículas do esgoto. Com base
nos dados apresentados na Tabela 2–14, fica claro que o tratamento de um esgoto pode ser afetado
pela alteração da distribuição de tamanhos de partículas. Além disso, esgotos com distribuição de
tamanhos de partículas diferentes responderão diferentemente, dependendo do método de trata-
mento (p. ex., em banhados construídos).
Limitações do teste de DBO. As limitações do teste de DBO são as seguintes: (1) uma con-
centração aclimatada e ativa de bactérias sementes é necessária; (2) o pré-tratamento é necessário
quando trabalhando com esgotos tóxicos, e os efeitos de organismos nitrificantes devem ser re-
duzidos; (3) somente os orgânicos biodegradáveis são medidos; (4) o teste não tem validade este-
quiométrica depois que a matéria orgânica solúvel presente em solução tiver sido utilizada (Figura
2–25); (5) o tempo relativamente longo para obter os resultados do teste. Das limitações relatadas,
talvez a mais séria seja a de que o período de 5 dias pode ou não corresponder ao ponto no qual toda
120 P Capítulo 2 Características do esgoto
Oxigênio consumido
(p. ex., DBO exercido)
Quantidade
de esgoto
orgânico
remanescente
Massa bacteriana
(tecido celular)
Fase morta
(a)
Real
unidades de DBO
Idealizada
DBO = DBOF – DBOr
DBOr
t
DBOr
Tempo, t
(b)
FIGURA 2–25 Análise funcional do teste de DBO: (a) inter-relação do esgoto orgânico, massa bac-
teriana (tecido celular), esgoto orgânico total e oxigênio consumido no teste de DBO; (b) representação
idealizada do teste de DBO (Tchobanoglous and Schroeder, 1985).
TABELA 2–14 Efeito do tamanho de partículas biodegradáveis do esgoto nas taxas de reação
de DBOa
Fração Faixa de tamanhos, mm k (base 10), dⴚ1
a matéria orgânica solúvel presente tenha sido utilizada. A falta contínua de validade estequiomé-
trica reduz a utilidade dos resultados dos testes.
(2–65)
onde
Embora possa ser esperado que o valor da DBO carbonácea final seja tão elevada como a DQO,
isso raramente ocorre. Algumas das razões dessa diferença observada são: (1) muitas substâncias
orgânicas difíceis de ser oxidadas biologicamente, como a lignina, podem ser oxidadas quimica-
mente, (2) as substâncias orgânicas que podem ser oxidadas pelo dicromato aumentam o conteúdo
orgânico aparente da amostra, (3) certas substâncias orgânicas podem ser tóxicas aos micro-orga-
nismos utilizados no teste de DBO e (4) valores elevados de DQO podem ocorrer devido à presença
de substâncias orgânicas com as quais o dicromato pode reagir. Do ponto de vista operacional,
uma das principais vantagens do teste de DQO é que ele pode ser efetuado em aproximadamente
2,5 horas, comparado a 5 dias ou mais para o teste de DBO. Para reduzir ainda mais o tempo, foi
desenvolvido um teste de DQO rápido que é efetuado em apenas 15 minutos.
Como novos métodos de tratamento biológico têm sido desenvolvidos, especialmente com res-
peito à remoção biológica de nutrientes, tornou-se mais importante fracionar o DQO. As principais
frações da DQO são as particuladas e as solúveis. Em estudos de tratamento biológico, as frações
particulada e solúvel são ainda fracionadas para acessar a tratabilidade do esgoto (ver discussão
no Capítulo 8, Seção 8–2). Frações que têm sido utilizadas incluem (a) DQO solúvel rapidamente
biodegradável, (b) DQO coloidal e particulado (agregado), (c) DQO solúvel não biodegradável e
(d) DQO coloidal e particulado não biodegradável. O DQO solúvel rapidamente biodegradável é
comumente fracionado em DQO complexo que pode fermentar a ácidos graxos voláteis (AGV) e
AGV de cadeia curta (ver Figura 8–4 no Capítulo 8). Infelizmente, como observado anteriormen-
te, há pouca padronização na definição entre DQO solúvel e particulado. Quando a filtração é a
técnica utilizada para fracionar a amostra, a distribuição relativa entre DQO solúvel e particulado
variará muito dependendo da dimensão dos poros do filtro. Um método alternativo utilizado para
determinar a DQO solúvel envolve a precipitação de sólidos suspensos e uma porção do material
coloidal. A DQO do líquido clarificado corresponde à DQO solúvel.
Base de
classificação
Carbono
orgânico dissolvido Concentração
Caráter
Ácidos Neutros Bases Ácidos Neutros Bases ácido-base
FIGURA 2–26 Procedimento para a caracterização de frações orgânicas que integram o COT.
2–6 Constituintes orgânicos agregados P 123
Solução
1. Escreva as reações de balanço para a demanda de oxigênio carbonácea.
3. Determine a DOT.
TABELA 2–15 Comparação das relações de diversos parâmetros utilizados para caracterizar
o esgoto
Tipo de esgoto DBO/DQO DBO/COT
tados para sua estabilização. A relação DBO/COT correspondente, para esgoto bruto, varia entre
1,2 e 2,0. Utilizando essas relações, é importante lembrar que elas mudarão significativamente o
nível de tratamento que for efetuado no esgoto, como mostrado na Tabela 2–15. As bases teóricas
para essas relações são apresentadas no Exemplo 2–11.
Solução
1. Determine a DQO do composto utilizando a Equação (2–57).
500
DOT ou DQO
Cultura de
200 sementes
100
Necessário
aclimatação
0
0 20 40 60 80 100 120 140
Tempo, h
(a) (b)
FIGURA 2–27 Um respirômetro e as curvas de resposta: (a) respirômetro comercial de espaço livre (cortesia de Respirometer
Systems and Applications, LLC) e (b) curvas típicas de assimilação de oxigênio em amostras de esgoto com características de
biodegradação diferentes (Young and Cowan, 2004).
metros de Gilson ou de Warburg (Tchobanoglous and Burton, 1991), são (1) a utilização de uma
amostra grande (1-L) que minimiza os erros de coletar a amostra e a diluição por pipetagem e (2)
o consumo de oxigênio é medido continuamente, proporcionando, portanto, mais detalhes sobre o
progresso da reação biológica.
Aplicações respirométricas. Inicialmente utilizados para a determinação da DBO e de
constantes de taxas, a respirometria é, atualmente, utilizada para aplicações diversas na área de
tratamento de esgotos, incluindo (1) monitoramento da assimilação de oxigênio nas câmaras de
aeração de lodos ativados, (2) acessar a biodegradabilidade e a tratabilidade de esgotos indus-
triais 3) acessar a toxicidade de compostos químicos industriais aos processos de tratamento de
esgotos e (4) avaliação de deficiências de nutrientes (Young and Cowan, 2004). As características
da biodegradação podem variar de acordo com compostos químicos ou com as fontes de esgotos,
conforme ilustrado na Figura 2–27(b). A curva designada como “controle” representa a assimila-
ção de oxigênio de substâncias rapidamente biodegradáveis. A curva designada como “inibição”
é característica da assimilação de oxigênio por compostos químicos que podem ser tóxicos ou
que tenham baixas taxas de biodegradação. Quando é necessária a aclimatação, ocorre atraso na
assimilação de oxigênio, mas as taxas iniciais de assimilação de oxigênio serão similares àquelas
da cultura com sementes. Outra formas de curvas podem ocorrer, dependendo do tipo de estresse
imposto à cultura com sementes.
Óleos e graxas
O termo gorduras, óleos e graxas, como comumente utilizado, inclui gorduras, óleos, ceras e ou-
tros constituintes a eles relacionados encontrados no esgoto. O termo GOG, anteriormente utiliza-
do na literatura, foi substituído pelo termo óleo e graxa. O conteúdo de óleo e graxa em um esgoto
pode ser determinado por diversos métodos baseados na extração líquido-líquido e adsorção em
fase sólida seguida por extração em líquido (Standard Methods, 2012). Após o passo de extração,
o solvente utilizado na extração é evaporado e o conteúdo residual de óleos e graxas é determinado
gravimetricamente. Outras substâncias incluem óleos minerais, como querosene, lubrificantes e
óleos de rodovias. Óleos e graxas são quimicamente muito semelhantes; são compostos (ésteres) de
álcool ou glicerol (glicerina) com ácidos graxos. Os glicerídeos de ácidos graxos que são líquidos
à temperatura ambiente são chamados de óleos, e aqueles que são sólidos são chamados de graxa
(ou gorduras).
Se a graxa não é removida antes da descarga de esgoto tratado, ela pode interferir na vida
biológica em águas superficiais e desenvolver camadas de aspecto ruim. A espessura de óleo neces-
sário para formar um filme translúcido na superfície de um corpo de água é de aproximadamente
0,0003048 mm (0,0000120 polegadas), conforme mostrado na tabela seguinte.
126 P Capítulo 2 Características do esgoto
Gorduras e óleos contribuem para o esgoto doméstico na forma de manteiga, bacon, margarina e
gorduras e óleos vegetais. As gorduras também estão presentes em carne, na parte germinativa de
cereais, em sementes, nozes e certas frutas. A baixa solubilidade de óleos e graxas reduz suas taxas
de degradação biológica. Entretanto, são atacadas por óleos minerais, resultando na formação de
glicerina e ácidos graxos. Na presença de álcalis, como hidróxido de sódio, a glicerina é liberada
formando sais de ácidos graxos. Esses álcalis são conhecidos como sabões. Sabões comuns são
fabricados pela saponificação de gorduras com hidróxido de sódio. São solúveis na água, mas, na
presença de dureza, os sais de sódio se transformam em sais de ácidos graxos de cálcio e de mag-
nésio, chamados de sabões minerais. Esses são insolúveis e são precipitados.
Querosene, lubrificantes e óleos de rodovias são derivados de petróleo, alcatrão de carvão e
contêm, essencialmente, carbono e hidrogênio. Esses óleos podem adentrar os sistemas de coleta
de esgotos em grandes volumes oriundos de lojas, garagens e ruas. Geralmente, eles flotam no
esgoto, embora uma parte seja carregada para o lodo de sólidos sedimentáveis. Muito mais do que
gorduras, os óleos, sabões e óleos minerais tendem a formar filmes na superfície. As partículas
interferem na atividade biológica causando problemas de manutenção.
Surfactantes
Surfactantes, ou agentes tensoativos, são grandes moléculas orgânicas levemente solúveis na água
e que causam formação de espumas em estações de tratamento de esgotos e em águas superficiais
nas quais o efluente é descarregado. Os surfactantes são mais comumente compostos de um grupo
hidrofóbico forte combinado com um grupo hidrofílico forte. Tipicamente, o grupo hidrofóbico é
um radical de hidrocarboneto (R) constituído de 10 a 20 átomos de carbono. São utilizados dois
grupos hidrofóbicos: os que ionizam e os que não ionizam na água. Surfactantes aniônicos são
negativamente carregados [p. ex., (RSO3N)Na]; surfactantes catiônicos são positivamente carre-
gados [p. ex., (RMe3N)Cl]. Surfactantes não ionizantes (não iônicos) contêm, comumente, um
grupo polioxietileno hidrofílico (ROCH2CH2OCH2CH2… OCH2CH2OH, geralmente abreviado
como REn, onde n é o número médio de unidades de -OCH2CH2- do grupo hidrofílico). Também
existem compostos híbridos desse tipo. Nos Estados Unidos, os surfactantes iônicos correspon-
dem ao total de dois terços utilizados e os não iônicos a aproximadamente um terço (Standard
Methods, 2012).
Os surfactantes tendem a assimilar, através da interface ar-água, e os grupos hidrofílicos da
água e os grupos hidrofóbicos do ar. Durante a aeração do esgoto, esses compostos aderem à super-
fície de bolhas de ar, formando uma espuma bastante estável. Antes de 1965, o tipo de surfactante
presente em detergentes sintéticos, chamado de alquil-benzeno-sulfonato (ABS), era especialmente
problemático, uma vez que resistia à degradação biológica. Como um resultado da legislação de
1965, o ABS de detergentes foi substituído pelo linear-alquil-sulfonato (LAS), que é biodegradá-
vel. Como os surfactantes são produzidos basicamente a partir de detergentes sintéticos, o proble-
ma da espuma foi bastante reduzido. Deve-se observar que os chamados detergentes “duros” são
ainda extensivamente utilizados em muitos países.
2–6 Constituintes orgânicos agregados P 127
São utilizados dois testes para determinar a presença de surfactantes na água e no esgoto. O
teste SAAM (MBAS) (substâncias ativas ao azul de metileno) é utilizado para surfactantes aniôni-
cos. A determinação de surfactantes é efetuada através da mudança de cor em uma solução padrão
do corante azul de metileno. Surfactantes não iônicos são medidos utilizando o teste SATC (CTAS)
(substâncias ativas ao tiocianato de cobalto). Surfactantes não iônicos reagem com o SATC produ-
zindo um produto contendo cobalto que pode ser extraído na forma de um líquido orgânico e, en-
tão, medido. Deve-se notar que o método SATC requer sublimação para remover não surfactantes e
troca iônica para os surfactantes catiônicos e aniônicos (Standard Methods, 2012).
(continuação)
Fração em
Componente Coeficiente Peso molecular Massa molecular peso
Carbono 7,9 12 94,8 0,50a
Hidrogênio 13 1 13 0,07
Oxigênio 3,7 16 59,2 0,31
Nitrogênio 1 14 14 0,08
Enxofre 0,04 32 1,28 0,01
Cinza 0 0,03
182,28 1,00
a
(94,8/182,28) 0,97 0,50.
PCS (MJ/kg fração orgânica) 34,91 (0,50) 117,83 (0,07) 10,34 (0,31)
1,51 (0,08) 10,05(0,01) 2,11 (0,03)
PCS (MJ/kg fração orgânica) 17,45 8,25 – 3,21– 0,12 0,10 0,06 22,41
2. Determine a DQO da fração orgânica.
a. Escreva uma reação balanceada para a oxidação química da biomassa, sem considerar
o enxofre.
b. A DQO do biossólido é
Comentário
Como o PCS é difícil de ser recuperado na prática, o PCI é comumente utilizado em subs-
tituição a ele. Se assume-se uma diferença de 8% entre PCS e PCI, o valor correspondente
de PCI da fração orgânica e biossólidos é de 13,74 MJ/kg da fração orgânica e 14,38 MJ/ kg
DQO de biossólido.
Poluentes prioritários
Inicialmente, a U.S. EPA identificou 129 poluentes prioritários em 65 classes para serem regula-
mentados por padrões por categoria de descarga; três foram removidos em 1981 (Federal Register,
1982). Os poluentes prioritários (inorgânicos e orgânicos) foram selecionados com base em co-
nhecida ou suspeita carcinogenicidade, mutagenicidade, teratogenicidade, ou elevada toxicidade
aguda. Muitos dos poluentes prioritários orgânicos são classificados como compostos orgânicos
voláteis (COVs). Dois tipos de padrões são utilizados para controlar a descarga de poluentes a es-
tações de tratamento de esgotos públicas (ETEPs). O primeiro, “padrão de descargas proibidas,” se
aplica a todos os estabelecimentos comerciais e industriais que descarregam ETEPs. Esse padrão
restringe a descarga de poluentes que possam criar perigo de incêndio ou explosão em redes de co-
leta ou em estações de tratamento, que sejam corrosivos (pH 5,0), que obstruam o escoamento,
que prejudiquem os processos de tratamento ou que aumentem a temperatura do esgoto entrando
na estação acima de 40°C. “Padrões por categoria” se aplicam a descargas industriais e comerciais
em 25 categorias (“indústrias por categorias”) e objetivam restringir a descarga de poluentes prio-
ritários. Antecipa-se que essa lista continuará a ser complementada no futuro.
Subprodutos da desinfecção
Quando o cloro é adicionado à água contendo matéria orgânica, formam-se diversos compostos
orgânicos contendo cloro. Esses e alguns outros compostos são coletivamente chamados de sub-
produtos da desinfecção (SPDs). Embora geralmente presentes em concentrações baixas, eles me-
recem atenção porque sabe-se ou suspeita-se que muitos deles são potencialmente carcinogênicos.
As classes típicas desses compostos incluem trihalometanos (THMs), ácidos haloacéticos (AHAs),
triclorofenol e aldeídos.
Na última década, a N-Nitrosodimetilamina (NDMA) vem sendo encontrada em efluentes de
estações de tratamento de esgotos. Como um grupo de compostos, as nitrosaminas estão entre os
compostos carginogênicos mais potentes conhecidos (Snyder, 1995). Esses compostos são também
considerados carcinogênicos a diversas espécies de peixes a concentrações muito baixas. O limite
estabelecido pela U.S. EPA para a NDMA é de duas partes por trilhão. Baseado em resultados de
estudos recentes, a NDMA parece ser formada durante o processo de cloração. No efluente tratado,
o íon nitrato pode reagir com ácido clorídrico, presente como resultado da desinfecção por cloro,
para formar ácido nitroso. Na sequência, o ácido nitroso pode reagir com dimetilamina para for-
mar NDMA (Hill, 1988). O composto dimetilamina é comum no esgoto e em águas superficiais,
sendo encontrado em urina, fezes, algas e tecidos de plantas. A dimetilamina também é parte de
alguns polímeros utilizados para tratamento de água (como a polidialil dimetilamina) e para íons
de resinas de troca iônica. A formação de NDMA sob condições básicas e alcalinas foi referida por
Wainwright (1986).
2–7 Compostos orgânicos individuais P 131
Devido à preocupação sobre a formação de SPDs e NDMA, tem-se dado maior atenção ao
uso de desinfecção por radiação ultravioleta (UV) como um possível substituto para o cloro. Além
disso, tem-se dedicado atenção considerável a modificações dos processos convencionais de trata-
mento para melhorar o tratamento desses compostos e a processos avançados de tratamento para
a remoção dessas substâncias. A utilização de radiação UV para a desinfecção e destruição de
NDMA é tratada no Capítulo 12.
(continua)
132 P Capítulo 2 Características do esgoto
TABELA 2–17 Classes típicas de compostos orgânicos cujos componentes são identificados
como compostos individuais
Nome Ocorrência/fonte Preocupação
Compostos orgânicos Águas superficiais e subterrâneas Potencialmente teratogênicos ou
voláteis carcinogênicos a humanos
1,2-Dibromoetane Água subterrânea de abastecimento, Efeitos detrimentais sobre a saúde
(DBE) e 1,2-Dibromo-3- especialmente onde esses compostos humana
Cloropropano (DBCP) foram utilizados como fumegantes
Trihalometanos (THMs) Na maioria de sistemas de Subproduto da desinfecção.
abastecimento de água com cloração Potencialmente carcinogênico a
humanos
Solventes orgânicos Abastecimento com água bruta, Potentialmente carcinogênico a
clorados resultando de contaminação industrial humanos
Ácidos halocéticos (AHAs) Cloração de matéria orgânica natural Subproduto da desinfecção.
(ácidos húmicos e fúlvicos) Potencialmente carcinogênico a
humanos
Triclorofenol Cloração de matéria orgânica natural Subproduto da desinfecção. Ácidos
(ácidos húmicos e fúlvicos) Dicloroacético e Tricoloroacético
são carcinogênicos a animais
(continua)
134 P Capítulo 2 Características do esgoto
Fontes de radionuclídeos
Materiais radioativos podem estar presente no esgoto originado de fontes naturais, instalações
médicas e de usuários de material radioativo, regulamentado pelo Decreto de Energia Atômica.
2–8 Radionuclídeos no esgoto P 135
Radionuclídeos naturais são as fontes mais comuns de radioatividade ambiental sendo formados
por dissolução de formações rochosas contendo minério de urânio e gases liberado das pro-
fundezas da crosta terrestre. A fonte principal de radionuclídeos é o minério de urânio (U3O8),
sendo a sua abundância na crosta terrestre de 1 parte por 1012 partes. Radionuclídeos de ocor-
rência natural podem adentrar o sistema de coleta por (1) sistemas de abastecimento de água,
principalmente aqueles com quantidades predominantes de água subterrânea; (2) infiltração de
água no sistema de coleta; e (3) residuais oriundos de sistemas de purificação de água. A entrada
de águas de escoamento superficial em galerias de águas pluviais também pode ocorrer devido
à precipitação de radioatividade global, como aquela resultante do desastre da usina nuclear no
Japão, em 2011.
Os radionuclídeos antropogênicos originam-se de fontes como usinas nucleares utilizadas para
geração de energia, instalações médicas que operam com medicina nuclear e serviços de raios X,
instalações acadêmicas e de pesquisa utilizando materiais nucleares, produtos comerciais, como
televisões e detectores de fumaça, e armas nucleares (Crittenden et al., 2012). O Conselho Nacional
de Pesquisa (NRC) estima que mais de 9000 dos 22,000 de usuários regulamentados têm potencial
para liberar materiais radioativos para sistema de coleta de esgoto doméstico (Bastian, 2011).
Unidades de medidas
O tempo de vida de um radionuclídeo na água e no esgoto é medido pela sua meia-vida. A meia-
-vida é medida em termos de probabilidade. É o tempo no qual um valor suposto de entidades que
degradaram é igual à metade do número original. A unidade de expressão de concentrações de
radionuclídeos na água é picocuries por litro (pCi/L).
Forma de
Isótopo Meia-vida decaimento Fontes possíveis
Berílio-7 53 dias Gama Be-7 é um radioisótopo de ocorrência natural produzido por interações da
(Be-7) radiação cósmica na atmosfera superior. O Be-7 pode adentrar sistemas
de esgoto através de abastecimento de água, entrada de escoamento
superficial em um sistema unitário ou em água de lavagem que tenha
acumulado poeira.
Césio-137 30 anos Beta, Gama Cs-137 é um produto de fissão produzido em reatores e explosões nucleares. É
(Cs-137) encontrado praticamente em todo o mundo como resultado de testes de armas
nucleares. Pode ser encontrado em sistemas de esgotos pelo abastecimento de
água (com exceção de abastecimento por poços), escoamento superficial em
sistemas unitários e por pessoas através da cadeia alimentar.
Cobalto-57 270 dias Gama Co-57 é produzido por aceleradores. A fonte de Co-57 detectada no lodo
(Co-57) não é aparente, embora o Co-57 seja utilizados em alguns procedimentos
médicos.
Cobalto-58 71 dias Gama Ver Co-57.
(Co-58)
Cobalto-60 5,2 anos Beta, Gama Co-60 é usualmente produzido em reatores nucleares quando advém de
(Co-60) átomos de Co-59 em aço. Não é imediatamente aparente de onde se origina o
Co-60 encontrado em sistemas coletores.
Beta total NA Beta Beta total é uma ferramenta de rastreamento para determinar se são
necessárias análises complementares de isótopos Beta emissores. Os testes
subsequentes de isótopos são caros e demandam muito tempo para serem
realizados.
Iodo-131 8 dias Beta, Gama I-131 pode ser criado como um produto de fissão de um reator ou arma nuclear,
(I-131) ou por irradiação de uma material em reator acelerador. Também é utilizado
em diversos procedimentos médicos. I-131 encontrado em lodo se origina,
aparentemente, de procedimentos médicos.
Manganês-54 312 dias Mn-54 é um produto de ativação produzido em reatores nucleares.
(Mn-54)
Potássio-40 1,2 109 anos Beta, Gama K-40 é um isotópo de ocorrência natural; aproximadamente 0,01% de todo
(K-40) o potássio é K-40. K-40 no lodo é atribuído principalmente a excrementos,
embora possa ser originado de escoamento superficial de fertilizantes
utilizados em irrigação paisagística ou na agricultura.
Estrôncio-89 51 dias Beta Sr-89 é um fragmento de fissão produzido em reatores nucleares ou em
(Sr-89) explosões. É, algumas vezes, utilizado para procedimentos médicos.
Estrôncio-90 230 anos Beta Sr-90 é um fragmento de fissão produzido em reatores nucleares e em
(Sr-90) explosões. É encontrado no ambiente devido à precipitação de testes de armas
e pode se inserir na cadeia alimentar.
Tecnésio-99 213.000 anos Beta Tc-99 é criado como um fragmento de fissão quando um átomo de urânio é
(Tc-99) dividido. Tem, também, diversos usos médicos.
Tálio-201 3 dias Gama Tl-201 é produzido em aceleradores e utilizado para exame de funções
(Tl-201) coronárias.
Urânio total U total pode ocorrer naturalmente ou por processamento em um reator nuclear.
(U Total) O urânio em sistemas de esgoto pode se originar de abastecimento de água
(especialmente de poços) ou por escoamento superficial em sistemas unitários,
e de água de lavagem de instalações processadoras de urânio.
Zinco-65 243,9 dias Zn-65 é um produto neutro de ativação, usualmente associado a reatores
(Zn-65) nucleares.
a
Adaptado de WDOH (1997).
2–9 Constituintes biológicos P 137
humano. Outras fontes incluem atividades comerciais e industriais, infiltração de água superficial
e infiltração direta. Embora um grande número de micro-organismos esteja sempre presente no
esgoto, outros podem estar presentes somente durante a erupção de doenças provocadas por uma
doença específica, eventos e ocorrências específicas. A concentração de micro-organismos de uma
erupção de doenças dependerá do número de pessoas eliminando micro-organismos (em fezes) e a
duração do período de eliminação.
Classificação geral. Um sistema de três domínios para classificação de micro-organismos foi
proposto em 1990 (Woese et al., 1990); são eles: Bactéria, Archaea e Eucária (ou Eukária). A
relação entre esses três domínios em conjunto com os principais filos dentro de cada domínio, é
ilustrada a Figura 7–8 do Capítulo 7. As Bactérias e Archaeas são organismos monocelulares e
classificados como procariotos, que não contêm seus cromossomas dentro do núcleo. A Eucária
podem conter organismos mono ou multicelulares, tendo o cromosoma dentro do núcleo. As Ar-
chaeas são separadas das Bactérias devido à composição de seu ácido desoxirribonucléico (DNA)
e química celular especial, como diferenças nas paredes celulares e estrutura do ribossoma. Muitas
Archaeas podem crescer sob condições extremas de temperatura e salinidade e, ainda, incluem
micro-organismos produtores de metano, dentro do filo Euriarchaeota, importantes em tratamento
anaeróbio, e populações oxidantes de amônia, dentro do filo Crenarchaetota. São, também, conhe-
cidos micro-organismos patogênicos dentro da Archaea. Algumas das diferenças principais entre
micro-organismos Bactérias e Archaeas (procariotos) e eucariotos estão resumidas na Tabela 2–20,
e um esquema de suas estruturas é mostrado na Figura 2–28. Claramente, os eucariotos são muito
mais complexos contendo tanto células multicelulares como monocelulares e animais, incluindo
algas, protozoários e fungos. Ainda, os eucariotos são muito maiores do que os procariotos. Infor-
mação adicional sobre a estrutura e composição celular, as funções e importância do DNA e do
ácido nucleico ribinucleico (RNA) são apresentadas no Capítulo 7.
Vírus são, obrigatoriamente, agentes infecciosos intracelulares capazes de obrigar a maqui-
naria metabólica de uma célula hospedeira a duplicar a sua estrutura molecular. Embora os vírus
contenham a informação genética (DNA ou RNA) necessária para se autorreplicar, eles são incapa-
Cromatina Núcleo
(circundado por
Nuclíolos membrana nuclear)
Retículo
endoplásmico
Nucleoide DNA
Citolplasma inclui:
RNA, grânulos de volutina
(polifosfatos, enxofre), Plasmídeos
produtos estocados
(glicogênio, lipídios)
Microtubos
Retículo Centríolos
endoplásmico
macio
Flagelo Lisosoma
Mitocôndrio Cílio
(a) (b)
FIGURA 2–28 Estrutura típica de células de micro-organismos: (a) procariótica e (b) eucariótica.
zes de se reproduzir quando fora de uma célula hospedeira. Os vírus são compostos de um núcleo
de ácido nucleico (DNA ou RNA) cercado por uma capa externa de proteína e glicoproteína. An-
tigamente, os vírus eram comumente classificados de acordo com o hospedeiro infectado. Bacte-
riófagos, como o nome implica, são vírus que infectam bactérias e são constituintes microbianos
comumente encontrados no esgoto.
Descrição geral. Uma descrição geral dos micro-organismos encontrados no esgoto é apresen-
tada na Tabela 2–21 na terminologia introduzida nos parágrafos anteriores. Dados sobre a forma,
forma de resistência e os tamanhos de micro-organismos de interesse são apresentados na Tabela
2–22. Informações sobre os tamanhos de micro-organismos, especialmente nas formas de resistên-
cia, é necessária a fim de determinar o tipo de tratamento necessário para tratá-los ou removê-los.
Uma característica importante de alguns micro-organismos é a habilidade de gerar formas de
células resistentes. Por exemplo, algumas espécies selecionadas de bactérias podem formar en-
dósporos (formados no interior das células), cujas estruturas são extremamente complexas. Os
endósporos contêm toda a informação necessária para a reprodução e são cobertos com diversas
camadas de proteínas. Os endósporos são extremamente resistente a calor, dissecação e compos-
tos químicos desinfectantes. Tem sido especulado que os endósporos permanecem dormentes por
décadas, talvez por séculos. Um esporo pode se tornar viável em ambiente adequado por meio de
um processo em três estágios: ativação, germinação e autocrescimento (Madigan et al., 2009). As
formas resistentes de protozoários são conhecidas como cistos ou oocistos. Formas resistentes de
helmintos são ovos ou oocistos.
O termo parasita é usado para descrever um organismo que vive às custas de outro organismo.
Parasitas que vivem na superfície de um organismo hospedeiro são ectoparasitas. Parasitas que vi-
vem internamente ao hospedeiro são conhecidos como endoparasitas (Roberts and Janovy, 1996).
TABELA 2–22 Dados típicos sobre a forma, dimensões e formas de resistência de classes de
micro-organismos e espécies selecionadas encontradas no esgoto
Forma ambientalmente
Micro-organismo Forma Dimensões, Mma resistente
Bactéria
Bacilos bastão 0,3–1,5 D 1–10 L endósporos ou células
dormentes
Bacilos (E. coli) bastão 0,6–1,2 D 2–3 L células dormentes
Coco esférico 0,5–4 células dormentes
Espirila espiral 0,6–2 D 20–50 L células dormentes
Vibrio bastão, curvo 0,4–2 D 1–10 L células dormentes
Protozoários
Criptosporidiumb
Oocistos esférico 3–6 oocistos
Esporozito lágrima 1–3 W 6–8 L
Entoameba histolítica
Cistos esférico 10–15 D cistos
Trofozito semiesférico 10–20
Giardia lambliac
Cistos ovoide 6–8 W 8–14 L cistos
Trofozito piriforme 6–8 W 12–16 L
Helminths
Ovos de Ancylostoma 36–40 W 55–70 L larva filariforme
duode nale
Ovos de Ascaris limão ou oval 35–50 W 45–70 L ovo embrionado elítico ou
lumbricoides oval
Ovos de Trichuris trichiura elítico ou oval 20–24 W 50–55 L ovo embrionado
Vírus
MS2 esférico 0,022–0,026 virion
Enterovírus esférico 0,020–0,030 virion
Norwalk esférico 0,020–0,035 virion
Polio esférico 0,025–0,030 virion
Rotavírus esférico 0,070–0,080 virion
a
D diâmetro, L comprimento, W largura.
b
Membro do filo Apicomplexa.
c
Membro do filo Sarcomastigophora, ordem Diplomonadida.
de culturas, (3) métodos fisiológicos, (4) métodos imunológicos e (5) métodos baseados no ácido
nucleico. Descrever todos os testes individuais utilizados em cada método ocuparia diversos livros,
o que não é objetivo aqui. Os métodos principais para enumerar vários micro-organismos asso-
ciados ao tratamento de esgotos estão na Tabela 2–23. Esses métodos são discutidos brevemente.
Uma consideração sobre os métodos utilizados para enumerar e identificar micro-organismos é
importante para avaliar o significado dos dados relatados na literatura. Detalhes adicionais sobre os
métodos descritos na Tabela 2–23 podem ser encontrados no Standard Methods (2012) e em Maier
et al. (2009). Como os métodos vêm evoluindo rapidamente, especialmente os novos métodos mo-
leculares, a literatura atual deve ser consultada.
142 P Capítulo 2 Características do esgoto
TABELA 2–23 Métodos representativos utilizados para enumerar e identificar micro-organismos e para acessar o
desempenho de diversos processos de tratamentoa
Teste Descrição Aplicação típica
Observacional
Microscopia Usado para a observação da morfologia e do tamanho de células. Contagem de células,
convencional Diversos corantes podem ser utilizados para melhorar a visualização e caracterização de
identificação. Contagem direta pode ser obtida utilizando uma câmara bactérias filamentosas
de contagem de Petroff-Hauser.
Citometria de Detecção por varredura e por fluorescência com o escoamento de Contagem de células
escoamento partículas individuais através do detector permite uma contagem rápida
de células. Número e dimensões de células relacionados à alteração da
condutividade elétrica. Comum para enumeração de algas.
Microscopia eletrônica Microscopia eletrônica inclui tipos de transmissão e por varredura, Visualização de
sendo capazes de ampliação de aproximadamente 10.000.000 vezes. micro-organismos
Entretanto, o processo de obter imagens com microscópios eletrônicos
pode ser muito caro e demandar muito tempo.
(continua)
2–9 Constituintes biológicos P 143
Métodos fisiológicos
Gases repiratórios Medida da taxa de consumo ou de produção de gás, i.e., consumo de Atividade microbiana e
oxigênio, evolução de dióxido de carbono e evolução de metano. conversão de substrato
Microeletrodos Sondas ultrafinas são inseridas em um amostra microbiana Atividade microbiana
acompanhada por uma medição continua de diversas atividades,
incluindo a assimilação de oxigênio e redução de nitrato.
(continua)
144 P Capítulo 2 Características do esgoto
Métodos imunológicos
Rotlamento imuno Um anticorpo é marcado com um corante fluorescente. Uma vez marcado, Distribuição especial de
fluorescente um anticorpo adere a um antígeno associado a um micro-organismo; antígeno, detecção de
a amostra pode, então, ser examinada utilizando-se um microscópio bactérias, protozoários,
de fluorescência. O isocianato de fluoresceína (ICF) é o corante helmintos
fluorescente mais utilizado.
Ensaio imuno sorbente Uma sonda de anticorpo enzimático é adicionada a uma amostra Quantificação de
associado a enzimas contendo um antígeno. Após a ligação, o substrato da enzima é biomassa em biofilmes,
(ELISA) adicionado à amostra, resultando em uma alteração de cor. diversos ensaios
Métodos ácido-nucleicos
Clonagem O processo de clonagem consiste na inserção de um fragmento isolado Replicação de material
do DNA de interesse em uma célula hospedeira, tipicamente E. coli. genético
A célula hospedeira, ou clone, gera, então, replicantes idênticos do
fragmento de DNA. Os fragmentos de DNA são, tipicamente, analisados
por sequenciamento.
Sondas de ácido Uma sonda de ácido nucleico é uma molécula que possui uma interação Identificação de
nucleico forte com uma sequência genômica complementar conhecida específica micro-organismos
do(s) organismo(s) alvo(s) e que possui capacidade de detecção. Os específicos, incluíndo
métodos típicos incluem (a) hibridização fluorescente in situ (HFIS), (b) distribuição em flocos
detecção de DNA ou RNA em geles seguidos de eletroforese, e (c) e biofilmes
teste de rastreio de genes utilizando uma matriz de sondas de genes
conhecida como micromatriz.
Reação de polimerase Amplificação do DNA do genoma dos micro-organismos sendo Amplificação de material
em cadeia (RPC) testados por meio da utilização de fragmentos complementares de DNA genético
conhecidos como material de partida (“primers”) para se ligar ao DNA
alvo do vírus. O material de partida dispara uma reação que resulta na
produção de muitos milhões de cópias do DNA do micro-organismo.
Exemplos incluem transcrição inversa RPC (TR-RPC), RPC interno, RPC
múltiplo PCR, RPC de cultura integrada de células (CIC-RPC), e RPC
quantitativo em tempo real (qRPC).
Sequenciamento O código de material genético pode ser determinado através do Identificação de
processo de sequenciamento, o que, geralmente, ocorre em laboratórios micro-organismos
comerciais. A sequência do DNA pode, então, ser comparada a um isolados
banco de dados para determinar a relação do material genético a outro
organismo que já tenha o seu material genético já sequenciado. A região
de sequência 16S rRNA é considerada a mais útil pra determinar a
identidade de organismos isolados.
(continua)
2–9 Constituintes biológicos P 145
em 1893 (Smith, 1893). O método é baseado no princípio da diluição por extinção como ilustrado
na Figura 2–32. Inicialmente, os resultados obtidos pelo método de tubos múltiplos eram identifi-
cados como número indicado. O nome foi modificado para método dos tubos múltiplos nos anos
1930. As concentrações de coliformes fecais são, tipicamente reportadas com número mais prová-
vel por 100 mL (NMP/100mL). O NMP é baseado na distribuição de Poisson para valores extre-
mos, para análise do número de resultados positivos e negativos obtidos quando testando porções
múltiplas de mesmo volume e constituindo uma série geométrica. É enfatizado que o NMP não é
um valor absoluto da concentração de micro-organismos presentes, mas apenas uma estimativa
estatística dessa concentração.
Diluição
bacteriana
FIGURA 2–29 Esquema dos métodos de culturas em placas utilizados para a contagem de bactérias: (a)
placa vertendo (b) placa esparramada.
146 P Capítulo 2 Características do esgoto
Placas de fagos
FIGURA 2–30 Esquema da técnica utilizada para a enumeração de colifagos: (a) o esquema, (b) desen-
volvimento de colifagos sobre camada de E. coli. Os pontos claros correspondem a colônias de colifagos
(ver nota de rodapé b, Tabela 2–23).
FIGURA 2–31 Unidade de filtro de membrana utilizado para testar bactérias em águas relativamente
limpas. Após centralizar a membrana no suporte do filtro, o funil superior é colocado e a amostra de água
a ser testada é vertida no funil. Para auxiliar o processo de filtração, uma linha de vácuo é ligada à base
da unidade filtrante. Após a filtragem da amostra, a membrana é colocada em um disco de Petri, contendo
o meio de cultura, para incubação e posterior enumeração de bactérias.
2–9 Constituintes biológicos P 147
1 mL 1 mL 1 mL 1 mL
9 mL 9 mL 9 mL 9 mL
Presença de gás,
assumido como Tubo de fermentação
teste positivo interno
(a)
1 mL 1 mL 1 mL 1 mL
9 mL 9 mL 9 mL 9 mL
30 * 103 3 * 10 4
FIGURA 2–32 Ilustração esquemática dos métodos utilizados para obter a contagem bacteriana: (a)
técnica dos tubos múltiplos de fermentação utilizando um meio líquido, (b) método de contagem em placa,
utilizando um meio sólido.
Methods (Standard Methods, 1905). O método PCH pode ser efetuado utilizando (1) o método de
verter sobre a placa, (2) o método de esparramar sobre a placa, ou (3) o método do filtro de mem-
brana, como descrito. No teste PCH, são medidas colônias de bactérias, que tenham derivado de
pares, cadeias, agrupamentos ou células individuais. Os resultados são reportados como unidades
formadoras de colônias por mililitro (UFC/mL).
Teste presença/ausência. O teste presença/ausência (P-A) para organismos coliformes é uma
modificação da técnica de fermentação em tubos múltiplos, descrita acima. O teste é dirigido a
amostras coletadas em sistemas de distribuição de água ou em estações de tratamento de esgotos.
Ao contrário de utilizar diluições múltiplas, uma amostra única de 100 mL é testada para orga-
nismos coliformes no método P-A utilizando a triptose lauril sulfato em caldo de lactose, como
utilizado para o teste NMP. Organismos coliformes estarão presentes se é formada uma nítida
coloração amarela, indicando que a fermentação da lactose ocorreu na amostra. O teste se baseia
na consideração de que nenhum organismo deve estar presente na amostra. Esse teste tem sido uti-
lizado em amostras de esgoto altamente tratadas. Os métodos enzimáticos são também utilizados
no teste P-A.
Métodos fisiológicos. Métodos fisiológicos são utilizados para acessar processos metabólicos
efetuados por uma comunidade microbiana. Medidas da atividade microbiana podem ser utilizadas
para estimar a quantidade de biomassa ativa, a resposta de um sistema microbiano a um distúrbio, e
148 P Capítulo 2 Características do esgoto
Substratos reagentes de
enzimas específicos
100 mL
Garrafas
incubadas
a 35º por
24 horas
Amostra Amostra de água Reagentes Ausência de Cor amarela Cor amarela e
de água adicionada a químicos cor indica indica a fluorescência
100 mL /garrafa adicionados à ausência de presença de indica a presença
reagente garrafa de 100 mL coliformes coliformes totais de E. coli
(a)
Amostra de água
Amostra Reagentes
adicionada a 100 mL de
de água químicos
amostra contida na
adicionados à
garrafa (e.g, a diluição Células amarelas Células amarelas e
garrafa de A amostra de água com
da amostra é de 100 mL no Quanti-Tray fluorescentes no
100 mL os reagentes é adicionada
adicionada a 90 mL de indicam a presença Quanti-Tray indicam
à Quanti-Tray
água deionizada) de coliformes totais a presença de E. coli
(b)
FIGURA 2–33 Esquema do teste de substrato específico de enzima para coliformes totais e E. coli: (a) teste de presença/
ausência utilizando garrafas de 100 mL, e (b) teste de quantificação utilizando o aparelho Quanti-Tray. Note que as diluições
das amostras podem ser preparadas conforme necessário para uma determinada amostra (a diluição mostrada é apenas para
exemplo). Ao utilizar o aparelho Quanti-Tray, o número de coliformes totais ou E. coli presentes na amostra pode ser determinado
contando as células positivas e, então, utilizando a tabela IDEXX de números mais prováveis (NMP).
para a determinação das condições de um processo biológico projetado, como o tratamento biológi-
co de esgoto ou a compostagem de resíduos orgânicos. Exemplos comuns de métodos fisiológicos
incluem a medida da taxa e tipo de utilização de substrato, a taxa de assimilação de oxigênio, ou a
formação de produtos de respiração.
Métodos imunológicos. Métodos analíticos que utilizam um anticorpo para a detecção ou
a quantificação de um antígeno alvo são conhecidos como ensaios imunológicos. Um elemento
básico de um ensaio imunológico é a visualização da interação anticorpo-antígeno. A etapa de vi-
sualização é tipicamente efetuada pelo uso de moléculas indicativas, que podem ser projetadas para
ser detectadas por diversos mecanismos, incluindo mudança de cor, fluorescência, e radioatividade.
Moléculas indicativas podem ser agregadas a anticorpos diretamente, processo conhecido como
rotulagem direta, ou a molécula indicativa pode ser adicionada após a agregação do anticorpo, pro-
cesso conhecido como rotulagem indireta. A rotulagem indireto utiliza um anticorpo indireto para
se agregar ao anticorpo primário, que já está agregado ao antígeno alvo. Enquanto que a agregação
inespecífica seja a principal desvantagem de muitos ensaios imunológicos, a habilidade de visuali-
zar o arranjo espacial de organismos alvos é uma vantagem poderosa.
Métodos baseados em ácidos nucleicos. Métodos moleculares são baseados no uso de se-
quências específicas (DNA ou RNA) para identificar micro-organismos, e no uso de procedimentos
de amplificação de DNA ou de RNA (p. ex., reações de polimerase em cadeia, RPC) para detectar
concentrações extremamente baixas de ácido nucleico. A técnica RPC foi desenvolvida pelo Dr.
2–9 Constituintes biológicos P 149
Kary B. Mullis, em 1983, enquanto trabalhava como químico na Cetus Corporation. Ele recebeu
o Prêmio Nobel em 1993 pela sua invenção. Desde 1983, o procedimento original tem sido me-
lhorado e modificado para incluir uma série de procedimentos, conforme citadas na Tabela 2–21.
Detalhes adicionais podem ser encontrados em Madigan et al. (2009) e Maier et al. (2009). As
aplicações de alguns desses procedimentos para identificar e acompanhar populações microbianas
e atividades são apresentadas no Capítulo 7.
Cisto
FIGURA 2–34 Esquema de (a) cisto de Giardia lamblia e de trofozito, e (b) oocisto de Cryptosporidium
parvum e esporozito.
152 P Capítulo 2 Características do esgoto
Esporozitos/trofozoides
habitam o intestino grosso;
multiplicam asexualmente
Oocisto/cistos
Oocisto/cistos passam infectivos resistentes e
para o pequeno intestino; esporozitos/trofozooides
ocorre excistação passam para
as fezes
Humano ingere
oocistos/cistos
infectivos transmitidos Estágio de
por fezes, dedos, diagnóstico
alimentos, fomites
e moscas Estágio
infectivo
Método de
infecção
lamblia são presentes no ambiente. Além disso, nem todos os oocicstos e cistos presentes são viá-
veis, em termos de suas habilidades, para causar doenças. Para determinar o risco potencial desses
organismos, devem ser conduzidos estudos de infectividade.
Erupções de doenças causadas por protozoários patogênicos têm sido significativas, tornadas
célebres pela erupção de criptosporidiose em Milwaukee, em 1993, na qual se estimou que mais de
400.000 pessoas ficaram doentes e que ocorreram outras erupções de ciclosporidióse em outros dez
estados. Como mostrado na Tabela 2–22, esses protozoários podem causar sintomas que incluem
diarreia severa, cãimbra de estômago, náusea e vômitos com longos períodos de duração. Apesar de
testes intensivos em humanos e animais, nenhum tratamento intensivo foi encontrado para criptos-
poridiose (Roberts e Janovy, 1996). Os oocistos de Cryptosporidium parvum e os cistos de Giardia
lamblia são as formas mais resistentes (ver Tabela 2–22). Esses organismos são de interesse par-
ticular porque são encontrados em quase todos os esgotos e porque as técnicas convencionais de
desinfecção utilizando cloro não se mostraram efetivas em sua inativação ou destruição. Entretanto,
foi verificado que a desinfecção por radiação UV é extremamente efetiva na inativação de oocistos
de Cryptosporidium parvum e de cistos de Giardia lamblia.
Helmintos. O termo helminto é utilizado para descrever vermes parasíticos coletivamente. Nos
Estados Unidos, como resultado de melhorias na provisão de saneamento e estações de tratamento
de águas e em práticas de manuseio de alimentos, a prevalência de infecções por helmintos decres-
ceu significativamente nos últimos séculos. Entretanto, devido aos níveis crescentes de imigração
de pessoas de países onde vermes são endêmicos, a transmissão de helmintos por esgoto e, parti-
cularmente, por biossólidos, permanece uma preocupação. De fato, ovos de vermes são encontra-
dos no esgoto em todo os Estados Unidos. Nematodos pequenos não parasitários estão presentes
universalmente, mesmo nas torneiras de água potável (Cooper, 2012). Como verificado na Tabela
2–21, os vermes são, em nível mundial, um dos principais agentes causadores de doenças humanas.
É estimado que o número de infecções humanas causadas, coletivamente, por helmintos está na
ordem de 4,5 bilhões (Roberts e Janovy, 1996).
A maioria dos helmintos estão incluídos em três filos principais: Nematoda (roundworms),
Platelmintos (flatworms) e Anelida (vermes segmentados). A maior parte das infecções humanas
são associadas a nematodos e platelmintos, enquanto que os vermes segmentados são, primaria-
mente, ectoparasíticos, como as lesmas. O filo Nematoda representa, coletivamente, um dos mais
abundantes grupos de animais na terra, sendo a maioria inofensivos a humanos. Incluídos entre
2–9 Constituintes biológicos P 153
seus membros patogênicos estão o redondo e grande verme Ascaris lumbricoides, o Trichuris tri-
chiura (whipworm), o Necator americanus e Ancylostoma duodenale (hookworms) e o Strongyloi-
des stercoralis (threadworm). O Ascaris lumbricoides é considerado a infecção parasítica mais
prevalente do mundo com mais de um bilhão e meio de pessoas infectadas (Crompton, 1999; Maier
et al., 2009; Roberts e Janovy, 1996). Foi estimado que existem, nos Estados Unidos, aproximada-
mente 4 milhões de casos (Khuroo, 1996).
O filo platelmintos incluem as teníases Taenia saginata (tênia da carne), Taenia solium (te-
nia do porco) e espécies de Schistosoma. A Taenia saginata, transmitida primariamente pela in-
gestão de produtos de carne infectada, é a mais comum das tênias encontradas em humanos. Os
trematodos Schistosoma mansoni, S. haematobium e S. japonicum, também conhecidos como
sanguessugas, são membros de importância médica da classe trematoda. Mais de 200 milhões
de infecções são atribuídas a esses vermes em todo o mundo. É estimado que mais de 400.000
indivíduos infectados, a maior parte infectada no exterior, vivem nos Estados Unidos (West and
Olds, 1992).
O estado infeccioso a humanos por helmintos é variável; em algumas espécies, ele é o organis-
mo adulto ou a larva, enquanto que em outras espécies são os ovos, mas são primariamente os ovos
que estão presentes no esgoto. Ovos de helmintos com dimensões entre aproximadamente 10 mm
e mais de 100 mm, podem ser removidos por muitos dos processos de tratamento comumente utili-
zados como sedimentação, filtração e lagoas de estabilização. Entretanto, alguns ovos de helmintos
são extremamente resistentes a estresses ambientais, podendo sobreviver aos procedimentos usuais
de desinfecção de esgoto e de lodo. A desinfecção com cloro e a digestão anaeróbia mesofílica, por
exemplo, não são efetivas na inativação de muitos ovos de helminto. Tem sido constatado que ovos
de Ascaris podem sobreviver por até dez anos em sedimentos de lagoas de estabilização (Nelson,
2011). Os longos períodos de sobrevivência de Ascaris e de outros ovos de vermes são de importân-
cia particular na gestão de biossólidos.
Vírus. Mais de 100 tipos diferentes de vírus entéricos capazes de produzir infecção ou doenças
são excretados por humanos. Os vírus entéricos se multiplicam no trato intestinal e são liberados
na matéria fecal de pessoas infectadas. Do ponto de vista de saúde, os vírus entéricos mais impor-
tantes são os enterovírus (polio, echo coxsackie), calicivírus incluindo norovírus (formalmente
conhecidos como agentes Norwalk), rotavírus, reovírus, adenovírus e o vírus da hepatite A. Entre
os vírus que causam diarreia, somente o vírus Norwalk e o rotavírus têm se mostrado como os
maiores patogênicos de origem hídrica. Os reovírus e os adenovírus, que causam doenças respira-
tórias, gastroenterite e infecções do olho, têm sido isolados do esgoto. Não há evidência de que o
vírus da deficiência imunológica humana (VII), o patógeno que causa a síndrome da deficiência
imunológica adquirida (AIDS), possa ser transmitido através de uma rota aquática (Crook, 1998;
Madigan et al., 2009; Maier et. al., 2009; Rose e Gerba, 1991). A biologia de vírus é delineada em
Voyles (1993).
Príons. Os príons consistem de pequenas moléculas de proteinas que possuem forma extrace-
lular diferente, mas não contêm DNA nem RNA. Eles podem causar doenças em animais, como
a doença da vaca louca e o tremor epizoótico em ovinos, e podem infectar humanos também. Os
príons podem existir em duas formas: não patogênicos e patogênicos. A forma não patogênica é
encontrada na maioria dos animais. A forma patogênica entra no hospedeiro, que contém príons
não patogênicos, e se replica pela conversão de príons não patogênicos presentes no hospedeiro
à forma patogênica. Não há atualmente, um modelo que explique como os príons patogênicos
subvertem os príons não patogênicos a príons patogênicos. Uma descrição sobre a saúde públi-
ca de doenças associadas a príons em humanos pode ser encontrada em Belay e Schonberger
(2005).
Uma forma de doença de príons tem sido observada em humanos que consomem carne con-
taminada de gado infectado com príons patogênicos (Johnson et al., 2011). Príons patogênicos
também podem ser transferidos a fezes de animais, havendo, portanto, um potencial para príons
estarem presentes no esgoto oriundo de instalações de produção de animais, como matodouros,
onde tecidos infectados podem estar presentes. Com relação a tratamento de esgoto, a preocupa-
ção deve-se ao fato que príons são difíceis de serem inativados por meios convencionais. Tem-
154 P Capítulo 2 Características do esgoto
peraturas superiores a 100°C são consideradas como uma estratégia de tratamento efetiva (Kir-
chmayer et al., 2006). Como eles têm sido encontrado em biossólidos digeridos, há, também, a
preocupação sobre seu impacto potencial em animais de criação, como resultado da aplicação de
biossólidos no solo.
Sobrevivência de organismos patogênicos. Na gestão de organismos causadores de doen-
ças é de grande importância conhecer a capacidade desses organismos de sobreviver no ambien-
te. Dados típicos de sobrevivência de micro-organismos no ambiente são apresentados na Tabela
2–26. Embora os dados apresentados nessa tabela possam ser utilizados como um guia básico,
numerosas exceções têm sido relatadas na literatura.
Uso de organismos indicadores. Como o número de organismos presentes no esgoto e na
água poluída é muito pequeno e difícil de ser isolado e identificado, outros organismos, em maior
número e facilmente detectáveis, são comumente utilizados como organismos sub-rogados (i.e.,
indicador) para o(s) patógeno(s) alvo(s). As características gerais de um organismo indicador ideal
e o uso de bactérias e outros indicadores é, brevemente considerado na discussão seguinte.
Características de um organismo indicador ideal. Um organismo ideal deve possuir as
seguintes aracterísticas (adaptado de Cooper 2012; Maier et al., 2009):
1. O organismo indicador deve estar presente quando contaminação fecal está presente.
2. O número de organismos indicadores presentes deve ser igual ou maior do que os micro-orga-
nismos patogênicos alvos.
3. O organismo indicador deve ter, no ambiente, características de sobrevivência iguais ou supe-
riores ao organismo patogênico para o qual ele é sub-rogado.
4. Os procedimentos de isolamento e quantificação do organismo indicador devem ser rápidos,
simples e de menor custo que os do patógeno alvo.
5. O organismo deve ser um membro da microflora intestinal de animais de sangue quente.
Alguns autores estabelecem como a principal característica que “o indicador deve estar pre-
sente quando o patógeno alvo estiver presente”. Infelizmente o(s) patógeno(s) alvo(s) pode(m)
não estar presente(s) durante todo o ano, porque a taxa de excreção de organismos patogênicos
2–9 Constituintes biológicos P 155
não é uniforme durante o ano. É, então, importante que o organismo indicador esteja presente
quando houver contaminação fecal, considerando a proteção da saúde pública. Até hoje, nenhum
indicador ideal foi encontrado. Os micro-organismos que têm sido propostos como indicadores
de contaminação fecal estão relacionados na Tabela 2–27. Os organismos indicadores que tem
sido utilizados para estabelecer os critérios de desempenho para vários usos da água estão na
Tabela 2–28.
Uso de organismos coliformes como indicadores. O trato intestinal de humanos contém
uma grande população de bactérias em forma de bastonete coletivamente conhecidas como bacté-
rias coliformes. Cada pessoa elimina de 100 a 400 bilhões de bactérias coliformes por dia, além de
TABELA 2–27 Organismos específicos que têm sido utilizados ou propostos para uso como
indicadores de contaminação fecal
Organismo indicador Características
Coliformes totais Espécies de bastonetes gram-negativos que fermentam lactose com
produção de gás (ou que produzem uma colônia característica dentro
de 24 2 h a 48 3 h de incubação em um meio adequado)
a 35 0,5°C. Existem cepas que não correspondem a essa
definição. O grupo total de coliformes incluem quatro gêneros na
família Enterobacteriaceae: Escherichia, Citrobactor, Enterobacter e
Klebisella. De todo o grupo, o gênero Escherichia (E. coli) aparenta
ser o melhor representante de contaminação fecal.
Coliformes fecais O grupo de coliformes fecais foi estabelecido baseado em sua
habilidade de produzir gás (ou colônias) a uma tempeatura de
incubação elevada (44,5 0,2°C durante 24 2 h).
Klebisella A população de coliformes totais inclui o gênero Klebisella. A
termotolerante Klebisella está, também, incluída no grupo de
coliformes totais. A cultura desse grupo é efetuada a 35 0,5°C
durante 24 2 h.
E. coli O E. coli é um dos membros da população de bactérias coliformes,
sendo mais representativo de fontes fecais do que qualquer outro
gênero de coliformes.
Bacteroides Bacteroides, um organismo anaeróbio, tem sido proposto como um
indicador humano específico.
Estreptococo fecal Este grupo tem sido utilizado em conjunção com coliformes fecais
para determinar uma fonte de contaminação fecal recente (do homem
ou de animais de criação). Diversas cepas parecem estar sempre
presentes não podendo ser distinguidas do verdadeiro estreptococo
fecal, em procedimentos analíticos usuais, o que inibe sua utilização
como um organismo indicador.
Enterococos Duas cepas de estreptococos fecais, S. faecalis e S. faecium, são os
membros humanos mais específicos do grupo de estreptococos fecais.
Pela eliminação de outras cepas através de procedimentos analíticos,
as duas principais cepas, conhecidas como enterococos, podem ser
isoladas e enumeradas. Os enterococos podem ser encontrados em
quantidades menores do que outros organismos indicadores. Exibem,
entretanto, sobrevivência maior em águas salinas.
Clostridium perfringens Este organismo é uma bactéria anaeróbia persistente, formadora de
esporos; estas características a tornam um bom indicador quando é
empregada a desinfecção e quando a poluição pode ter ocorrido no
passado, ou quando o intervalo anterior à análise é prolongado.
P. aeruginosa e A. hydrophila Estes organismos podem estar presentes no esgoto em grande
número. Ambos podem ser considerados organismos aquáticos e
podem ser recuperados na água na ausência de fontes de poluição
imediatas.
156 P Capítulo 2 Características do esgoto
outros tipos de bactérias. Assim, a presença de bactérias coliformes em amostras ambientais tem
sido considerada, ao longo dos anos, uma indicação de que organismos patogênicos associados a
fezes (p. ex., vírus) podem, também, estar presentes. A ausência de bactérias coliformes é tomada
como uma indicação de que a água está livre da presença de organismos geradores de doenças.
O grupo de coliformes totais inclui quatro gêneros na família Enterobacteriaceae: Escheri-
chia, Citrobactor, Enterobacter e Klebisella. As bactérias coliforms possuem atributos bioquími-
cos e morfológicos comuns. Tipicamente, esses organismos são gram-negativos, não formadores
de esporos com formato de bastonetes. (ver Figura 2–36) que fermentam lactose em 24 a 48 horas
a 35 0,5°C (Standard Methods, 2012). O termo gram-negativo se refere ao procedimento de
coloração para identificar grupos diferentes de organismos. Os três grupos de organismos coli-
formes que têm sido utilizados como indicadores bacterianos são coliformes totais, coliformes
fecais e E. coli.
Coliformes totais. O grupo coliforme de bactérias é comumente encontrado no solo ou na ve-
getação, e nos intestinos e nas fezes de humanos e de animais de sangue quente. De uma maneira
geral, os coliformes não são patogênicos. Quando coliformes totais são detectados na água potável,
a presença é considerada uma indicação de que organismos patogênicos causadores de doenças es-
tão potencialmente presentes. Neste caso, são coletadas amostras adicionais para verificação e uma
investigação é efetuada para determinar se houve algum rompimento nos sistemas de tratamento e
de distribuição de água e para localizar a fonte de contaminação, se ela existente.
Coliformes fecais. Os coliformes fecais, subgrupo de coliformes totais, são encontrados em gran-
des quantidades nos intestinos e nas fezes de humanos e em animais de sangue quente. A presença
de coliformes fecais na água potável indica um maior risco, em comparação à presença de colifor-
mes totais, de que organismos causadores de doenças também podem estar presentes. Se forem
detectados coliformes fecais, os mesmos procedimentos discutidos para coliformes totais são se-
guidos, para identificação e eliminação da fonte de poluição, se existente.
2–9 Constituintes biológicos P 157
E. coli. O organismo Escherichia coli (E. coli), específico de intestinos e de fezes de humanos
e de animais de sangue quente, tem sido, historicamente, o organismo alvo utilizado para o teste
de coliformes fecais. Embora muitas cepas de E. coli sejam inofensivas a humanos, o serotipo
O157:H7 pode causar envenenamento de alimentos e, em muitos casos, se tornar uma ameaça à
vida. Antigamente, verificou-se que o teste de coliformes não era específico para coliformes fecais
ou E. coli e que uma variedade de outros organismos coliformes estavam incluídos nos resultados
do teste. Recentemente, estão sendo desenvolvidos testes que fazem a distinção entre coliformes
totais, coliformes fecais e E. coli, e todos os três são usualmente relatados na literatura. A presença
de E. coli na água potável indica um grande risco, em comparação à presença de coliformes fecais
ou totais, de que organismos patogênicos causadores de doenças podem estar presentes. Se orga-
nismos E. coli forem detectados, os mesmos procedimentos adotados para coliformes totais devem
ser seguidos para identificar e eliminar a fonte de contaminação, se existente.
Como uma nota histórica, o nome Escherichia coli (E. coli) é originário do pediatra alemão
Theodor Escherich (1857–1911), o primeiro a descobrir essas espécies em fezes de crianças sau-
dáveis, reportando os seus achados em 1885. Ele foi, inicialmente, designado como Bacterium coli
commune porque foi encontrado no colon. Após uma revisão do domínio Bacteria no final dos anos
de 1890, ele foi reclassificado, em 1895, como Bacillus coli. Em 1919, ele foi designado como
Escherichia coli em homenagem ao seu descobridor original (Castllani and Chalmers, 1919). O
nome Escherichia coli foi adotado pelo Standard Methods em 1958. Um dos desenvolvimentos
mais importantes na evolução do teste de coliformes é a capacidade de identificar e de quantificar o
E. coli através do uso de temperaturas elevadas e um meio de cultura específico 4-methylumbelli-
feryl-b-D-glucuronide (MUG). Quando organismos E. coli estão presentes, eles são capazes de
separar o substrato fluorogênico MUG do meio de cultura porque possuem uma enzima específica
(b-glucuronidase). A ocorrência de uma fluorescência azul brilhante é assumida como uma respos-
ta positiva para E. coli.
Outros organismos indicadores. Embora possam estar presentes organismos coliformes e
E. coli, não foi ainda demonstrado que eles são indicadores da presença de vírus entéricos e de
protozoários. Além disso, preocupações com organismos patogênicos emergentes, que podem se
originar de reservatórios não humanos (p. ex., E. coli, patogênico, Cryptosporidium parvum e Giar-
dia lamblia), levaram ao questionamento sobre o uso desses indicadores que se originam, prima-
riamente, de contribuição fecal. Em um estudo recente, foi concluído que bactérias coliformes são
indicadores adequados para a presença potencial de bactérias patogênicas e de vírus, mas inade-
quados como indicadores de protozoários de origem hídrica. Erupção de doenças de origem hídrica
158 P Capítulo 2 Características do esgoto
tem ocorrido em sistemas de água potável que não violaram os seus padrões microbiológicos de
qualidade de água (Craun et al., 1997).
Dadas as limitações relativas à utilização de organismos coliformes como indicadores de po-
luição potencial por esgoto, a atenção é, agora, focada no uso de bacteriófagos como um indicador
e, mais especificamente como indicadores de vírus entéricos. Bacteriófagos são vírus que podem
infectar células procarióticas. Existem seis famílias principais de bacteriófagos, cinco das quais
são baseadas em DNA e uma que é baseada em RNA. Dos cinco bacteriófagos com base em DNA,
três possuem dois filamentos e dois possuem apenas um filamento. Os bacteriófagos que infectam
o E. coli são conhecidos como colifagos. Os colifagos que aderem diretamente às células são co-
nhecidos como somáticos. Os que infectam apenas cepas machos de E. coli (possuem pelos) são
conhecidos como colifagos específicos de machos (F1). As fezes são consideradas como a única
fonte de fagos especificamente machos.
A família específica de machos contém quatro serótipos. Os grupos II e III são, primariamente,
de origem humana, os grupos I e IV são de origem animal, com a exceção de porcos, que podem
conter grupos II e III. O interesse em utilizar colifagos como indicadores de enterovírus é baseado
no fato de que os fagos têm tamanhos aproximadamente iguais à maioria dos vírus entéricos de
interesse (p. ex., pólio), são de origem fecal, e estão sempre presentes em esgoto municipal bruto.
Os colifagos têm sido extensivamente utilizados em estudos de desinfecção (ver Seção 12–9 no
Capítulo 12).
2–10 TOXICIDADE
O esgoto contém diversos constituintes e muitos deles podem causar impactos diversos se descar-
regados no ambiente. Toxicidade é uma medida do grau dos constituintes individuais ou múltiplos,
que podem estar presentes no esgoto bruto ou tratado, podem causar impactos negativos (danos)
à saúde humana e animal, à biota aquática sensível e aos ecosistemas. Para uma introdução geral
ao tema toxicidade e a testes de toxicidade será útil considerar os tópicos seguintes: (1) fontes de
toxicidade em esgoto bruto e tratado, (2) a evolução e aplicação de testes de toxicidade, (3) proce-
dimentos de testes de toxicidade, (4) a análise dos resultados de testes de toxicidade, (5) a aplicação
dos resultados de testes de toxicidade e (6) os métodos que podem ser utilizados na identificação da
toxicidade de constituintes específicos.
Fontes de toxicidade
As fontes de toxicidade em esgoto bruto e tratado advém de constituintes adicionados durante o
uso, o tratamento e a desinfecção com agentes químicos.
Constituintes adicionados durante o uso. Quando é utilizada a coleta de esgotos em siste-
mas separados, os constituintes adicionados durante o uso podem incluir (1) propriedades físicas,
como temperatura elevada e SDT, (2) constituintes não metálicos orgânicos, como amônia e sulfeto
de hidrogênio, (3) constituintes metálicos, como cromo, mercúrio e prata, (4) constituintes orgâni-
cos agregados, como produtos de limpeza e de uso pessoal, (5) compostos orgânicos individuais,
como os identificados na Tabela 2–16. Quando é utilizado um sistema de coleta de esgotos unitário,
2–10 Toxicidade P 159
uma fonte adicional de toxicidade é originada pelo escoamento superficial. Constituintes do escoa-
mento superficial que podem causar toxicidade incluem pesticidas e nutrientes oriundos de pátios,
decoração urbana e de terras agrícolas, e metais pesados e constituintes orgânicos e inorgânicos (p.
ex., sais) oriundos de ruas e de rodovias.
Constituintes adicionados durante o tratamento. Constituintes adicionados durante o tra-
tamento que podem gerar problemas de toxicidade incluem auxiliares de floculação que contêm
contaminantes, produtos químicos para a precipitação de fósforo, contaminantes químicos adicio-
nados para o controle de espumas e produtos químicos adicionados para controlar o crescimento
de algas.
Constituintes adicionados durante a desinfecção. Uma das fontes de toxicidade mais im-
portantes advém de subprodutos da desinfecção formados durante a desinfecção de esgoto tratado,
utilizando produtos químicos como cloro, dióxido de cloro e ozônio. A formação e o controle de
subprodutos de desinfecção de cloro, dióxido de cloro e ozônio é considerada nas Seções 12–3,
12–4 e 12–6 do Capítulo 12, respectivamente.
FIGURA 2–37 Arranjo típico utilizado para efetuar testes de toxicidade total de efluentes, no qual a
mortalidade é o objetivo final do teste.
Testes de toxicidade
Termos comumente utilizados na elaboração de teste de toxicidade e na análise, interpretação e
aplicação dos resultados de testes estão na Tabela 2–29. Como os termos citados na Tabela 2–29
estão sujeitos a alteração, conforme métodos de toxicidade novos e melhorados são desenvolvidos,
é imperativo que as últimas versões do Standard Methods e protocolos da U.S. EPA sejam revistos
antes de se efetuar qualquer teste de toxicidade.
Os testes de toxicidade são classificados de acordo com (1) duração (curto termo, termo in-
termediário, ou longo termo); (2) método de adicionar as soluções de teste (estático, recirculação,
renovação ou escoamento); (3) tipo do teste (in vitro, testes em discos de petri ou em tubos, ou
in vivo, testes de toxicidade utilizando a organismo completo); e (4) objetivo (requerimentos da
NPDES, determinação de zonas de mistura, etc.). O teste de toxicidade in vitro tem sido larga-
mente validado.
Embora os organismos variem em termos de sensitividade à toxicidade de efluentes, a U.S.
EPA tem documentado que (1) a toxicidade de efluentes se correlaciona bem com as medidas de
toxicidade em corpos receptores quando efetuadas as medidas de efluentes diluídos e que (2) as
previsões dos impactos de testes de toxicidade, tanto de efluentes como de águas receptoras, se
comparam favoravelmente com as respostas das comunidades ecológicas de corpos receptores.
A U.S. EPA tem efetuado, em todo o país, testes em ecossistemas de águas naturais, de estuário
e marinhas. Os métodos incluem tanto exposições à toxicidade aguda como crônica. Métodos de
testes de toxicidade crônica de curto prazo são mostrados na Tabela 2–30. Testes contemporâneos
detalhados e protocolos de análises estão sumarizados no Standard Methods (2012) e nas publica-
ções da U.S. EPA (U.S. EPA, 1985b, c, d, e).
TABELA 2–30 Exemplos típicos de métodos crônicos de testes de toxicidade de curto prazo
utilizando espécies aquáticas de água doce e águas marinhas/estuarinasa
Espécies/nome comum Duração do teste Final dos testes
Especies de água doce
Cladoceran Aproximadamente 7 dias Sobrevivência, reprodução
Ceriodaphnia dubia (até que 60% do controle tenha
3 ninhadas)
Fathead minnow 7 dias Crescimento larval, sobrevivência
Pimephales promelas 9 dias Sobrevivência embrio-larval,
porcentagem de eclosão,
porcentagem de anormalidades
Algas de água doce 4 dias Crescimento
Selenastrum capricomutum
Espécies marinhas/estuarinas
Ouriço do mar 1,5 horas Fertilização
Arbacia punctulata
Macro alga vermelha 7–9 dias Produção de cisto carpa
Champia parvula (fertilização)
Mysid 7 dias Crescimento, sobrevivência,
Mysidopsis bahia fecundidade
Sheepshead minnow 7 dias Crescimento larval, sobrevivência
Caprinodon variegatus 7–9 dias Sobrevivência embrio-larval,
porcentagem de eclosão,
porcentagem de anormalidade
Inland silverside 7 dias Crescimento larval, sobrevivência
Menidia beryijina
a
Adaptado de S. EPA (1988, 1989).
subletal (p. ex., imobilização, fadiga ao nadar, “evasão”) corresponde ao final do teste, é, tipi-
camente definido como toxicidade aguda (Stephen, 1982). Um arranjo de bioensaio típico uti-
lizando peixes, quando a mortalidade corresponde ao final do teste é mostrado na Figura 2–37.
Um aquário é utilizado para acessar efeitos subletais. Um peixe é colocado em uma câmara no
qual a velocidade de passagem pode ser aumentada até que o peixe seja jogado fora da câmara.
A velocidade de passagem que elimina o peixe é comparada à velocidade correspondente na
unidade de controle.
Como o valor da CL50 é o valor médio, é importante proporcionar alguma informação na varia-
bilidade da população teste. Os valores de LC50 podem ser determinados graficamente ou analiti-
camente utilizando os métodos de movimentação média Spearman Karber, binomial, e estimativa.
Os limites de confiabilidade de 95% são especificados usualmente. A maior parte de programas
estatísticos disponíveis para computadores incluem programas de análises de estimativas (análises
de probit). A determinação de valores de LC50, tanto graficamente como por meio de análises de
probit, é ilustrada no Exemplo 2–13. Os valores de LC50 são, tipicamente, computados com base em
sobrevivência durante exposições de 48 e 96 horas.
Dados de toxicidade crônica. Resultados de testes de toxicidade crônica são, comumente,
analisados estatisticamente para determinar a concentração do menor efeito observado (CMEO), a
concentração de efeito não observado (CENO), e o valor crônico (VC). O significado estatístico é,
geralmente, assumido ao nível p 0,05. O valor crônico (VC) é calculado como a média geomé-
trica entre CMEO e o CENO.
Os limites de toxicidade crônica podem, no final do teste, ser especificados tanto como CENO
ou como VC. O termo concentração tóxica máxima aceitável (CTMA) é, usualmente, usado inter-
2–10 Toxicidade P 163
Solução
1. Plote a concentração de esgoto em porcentagem por volume (escala logarítmica) contra
os animais de teste que morreram, em porcentagem (escala de probabilidade). O gráfico
requerido é mostrado abaixo.
100
Concentração do efluente, em porcentagem
48 h
96 h
10
96-h LC50 = 8,2%
1
0,01
0,1
5
10
20
30
50
70
80
90
95
99
99,9
99,99
Mortalidade porcentual
Comentário
Embora os valores de LC50 obtidos utilizando a análise gráfica sejam aproximados, eles estão
muito próximos dos valores obtidos através da análise de probit e servem como uma boa verifi-
cação. Para obter os limites de confidência, deve ser efetuada uma análise de probit, ou similar.
164 P Capítulo 2 Características do esgoto
cambiando com o valor crônico. Similarmente aos dados de toxicidade aguda, a concentração letal
(CL) ou os valores da concentração efetiva (CE) podem ser utilizados com os dados de toxicidade
crônica para descrever os níveis de tolerância da toxicidade crônica. Recentemente, o conceito de
concentração inibitória (CI) foi introduzido para caracterizar os efeitos de testes crônicos. Diversos
métodos estatísticos não paramétricos e paramétricos são disponíveis para determinar CENOSs,
CMEOs, CLs, CEs e CIs (Standard Methods, 2012).
Unidade tóxica crônica (UTc). A UTc é definida como a recíproca da concentração do efluente
no qual os efeitos medidos, no final do período de exposição crônica, não sejam diferentes daqueles
do controle.
Dependendo do uso a ser feito dos resultados de testes de toxicidade, diversos valores nu-
méricos diferentes são utilizados para UTa e UTc como base para acessar a adequabilidade de
um determinado efluente para ser descarregado no ambiente. Por exemplo, para proteger contra
toxicidade aguda foi sugerido que o CMPT deve ser menor do que 0,3 UTc. Como os valores
limites variam de local para local, os padrões regulatórios atuais devem ser revistos quando apli-
car resultados de toxicidade. A aplicação dos resultados de teste de toxicidade está ilustrada no
Exemplo 2–14.
Porcentagem de efluente
Exposição do Sobrevivência,
Espécies controle, horas % CL50 ou CE50a CENO
Mysidopis bahia 96 100 18,66 10,00
Cyprinodon variegatus 96 100 100 50,00
Champia parvula 48/168 100 2,59 12,25
a
Resultados de CE50 baseados na redução da produção de cistocarpas.
2–10 Toxicidade P 165
Porcentagem de efluente
Exposição de Sobrevivência,
Espécies controle, em dias em % CENO CMEO
Mysidopis bahia 7 82,0 6,0 10,00
Cyprinodon variegatus 7 98,8 15,0 15,00
Champia parvula 7 100,0 1,0 2,25
Solução
1. Cheque a conformidade comos requerimentos de toxicidade aguda.
a. Com base nos dados da espécie mais sensível testada, o número de unidades tóxicas
agudas (UTa), baseado na Equação (2–67), é
Amostra
Filtração
FIGURA 2–38 Técnicas de separação que podem ser utilizadas para fracionar uma amostra de esgoto.
(Adaptada de Eckenfelder, 1999.)
TABELA 2–31 Descrição de técnicas de separação que podem ser utilizadas para fracionar
uma amostra de esgotoa
Técnica de separação Descrição
Filtração para sólidos Geralmente, a filtração é efetuada em primeiro lugar para determinar
suspensos se a toxicidade é associada à parte solúvel ou insolúvel da amostra.
Tipicamente, filtros de fibra de vidro de 1 mm que foram previamente
lavados com água ultra pura, são utilizados. A parte insolúvel deve ser
ressuspensa em água de controle para assegurar que filtração, e não
adsorção no meio filtrante tenha removido a toxicidade.
Filtração para sólidos Um filtro de 0,1-mm deve ser utilizado para determinar se a fração coloidal
coloidais é responsável pela toxicidade.
Troca iônica A toxicidade inorgânica pode ser estudada utilizando resinas de troca
iônica catiônica e aniônica para remover compostos inorgânicos ou íons
potencialmente tóxicos.
Classificação de peso A avaliação da distribuição de pesos moleculares do influente e da
molecular toxicidade de cada faixa de pesos moleculares pode, usualmente, reduzir
a lista de contaminantes suspeitos.
Teste de biodegrabilidade O tratamento biológico controlado de amostras de efluentes em laboratório
pode resultar em oxidação quase completa da porção de biodegradáveis
orgânicos. Análises de bioensaios, podem, então, quantificar a toxicidade
associada a componentes não biodegradáveis, assim como a toxicidade
obtida pelo tratamento biológico.
Redução de oxidantes Oxidantes químicos residuais trazidos por um processo (p. ex., cloro
e cloraminas utilizados para desinfecção, ou ozônio e peróxido de
hidrogênio utilizado em condicionamento de lodos) podem ser tóxicos a
muitos organismos. Uma redução simples em batelada desses oxidantes a
diversas concentrações, com um agente como tiosulfato de sódio, pode ser
utilizada para acessar a toxicidade de qualquer oxidante remanescente.
Quelação de metais A toxicidade da soma de todos os metais catiônicos (com exceção do
mercúrio) pode ser determinada por quelação das amostras, utilizando
concentrações variadas de ácido etilenodiamino tetra-acético (EDTA) e
avaliar a mudança de toxicidade.
(continua)
Problemas e tópicos de discussão P 167
Cátion 1 2 3 Ânion 1 2 3
Ca 2
121,3 76,0 190,2 HCO 3 280,0 128,2 260,0
Mg2 36,2 27,2 84,1 SO42 116,0 240,0 64,0
Na 8,1 22,9 75,2 Cl 61,0 37,2 440,4
K 12,0 18,7 5,1 NO3 15,6 2,0 35,1
Fe2 — 2,1 0,2 CO32 — — 30,0
2–2 Determine a fração molar de Ca2, Mg2 e SO42 para um dos seguintes efluentes de esgoto tratado (a
ser selecionado pelo instrutor).
Cátion 1 2 3 Ânion 1 2 3
Ca2 206,6 161,4 226,1 HCO3 525,4 438,7 476,6
Mg 2
95,3 47,5 62,1 SO 2
4 219,0 153,2 483,2
Na 82,3 71,4 46,2 Cl 303,8 163,8 20,6
K 5,9 2,2 3,5 NO 3 19,2 8,1 9,3
Fe2 3,1 CO32
2–3 Determine a força iônica e os coeficientes de atividade dos constituintes para um dos efluentes de
esgoto no Problema 2–1 ou 2–2 (a ser selecionado pelo instrutor).
168 P Capítulo 2 Características do esgoto
2–4 Estime os SDT para uma das amostras de água no Problema 2–1 ou 2–2 (a ser selecionada pelo
instrutor) utilizando a Equação (2–11) e efetuando a soma das espécies iônicas individuais. Como se
comparam os valores calculados?
2–5 Utilizando a fórmula seguinte, adequadamente modificada, determine a concentração de sólidos totais
e voláteis, expressos em mg/L, para uma das amostras de esgoto (a ser selecionada pelo instrutor).
Peso, g
Número da amostra
Item Unidade 1 2 3 4
Tamanho da amostra mL 90 100 120 200
Massa da tara do disco evaporante g 22,6435 22,6445 22,6550 22,6445
Massa do disco evaporante mais g 22,6783 22,6832 22,6995 22,6667
mais o resíduo após a evaporação
a 105°C
Massa do disco evaporante mais o g 22,6768 22,6795 22,6832 22,6433
resíduo após incineração a 550°C
2–6 Os resultados de testes seguintes foram obtidos de uma amostra de esgoto tomada na uidade de
tratamento preliminar de uma estação de tratamento de esgotos. Todos os testes foram efetuados
utilizando uma amostra de 50 mL. Determine a concentração de sólidos totais, sólidos voláteis totais,
sólidos suspensos totais, sólidos suspensos voláteis e sólidos dissolvidos para uma das amostras (a ser
selecionada pelo instrutor) (referente à fórmula dada no Problema 2–5).
Peso, g
Número da amostra
Item 1 2 3 4
Massa (tara) do disco de evaporação 53,5435 53,5434 53,5436 53,5433
Massa do disco de evaporação mais o resíduo 53,5765 53,5693 53,5725 53,5793
após evaporação a 105°C
Massa do disco de evaporação mais o resíduo 53,5515 53,5489 53,5495 53,5523
após ignição a 550°C 1,5433 1,5435 1,5436 1,5434
Massa (tara) do filtro de Whatman GF/C
Massa do filtro Whatman GF/C 1,5533 1,5521 1,5635 1,5541
mais o resíduo após secagem a 105°C
Massa do filtro Whatman GF/C mais o resíduo 1,5457 1,5455 1,5456 1,5457
após combustão a 550°C
2–7 Os dados seguintes foram obtidos por uma série de testes de filtração de um efluente sedimentado
após tratamento biológico. Prepare uma tabela de uma das amostras (a ser selecionada pelo instrutor).
Qual seria o erro na medida de sólidos suspensos totais e de sólidos coloidais se a dimensão do poro
nominal do filtro, utilizado para determinar os sólidos suspensos totais, fosse de 1,2 mm em compa-
ração com um filtro com poro nominal de 0,1 mm?
Problemas e tópicos de discussão P 169
Número da amostra
Dimensão nominal
do poro, mm 1 2 3 4
12 20,2 29,4 22,5 25,1
8 8,8 11,5 8,0 15,1
5 4,1 3,5 4,9 2,2
3 7,5 5,1 11,6 8,9
1 15,1 13,5 21,2 25,0
0,1 9,9 15,1 24,9 17,5
2–8 Determine os coeficientes A e b da Equação (2–16) para os seguintes dados de dimensões de partícu-
las, utilizando um contador de partículas com canais de arranjo aritmético.
Número de partículas
Número da amostra
Dimensão da canal, mm 1 2 3 4
1–2 27.000 3980 25.119 1000
2–5 9029 1690 4979 599
5–10 4050 450 561 199
10–15 1418 100 123 100
15–20 405 60 45 45
20–30 203 40 26 40
30–40 36 20 8 20
40–60 16 9 20
60–80 8 5 10
80–100 5 3 6
100–140 4 2
2–9 Se a intensidade média de radiação UV a qual uma amostra foi exposta é 5, 10, 15 mW/ cm2 (a ser se-
lecionada pelo instrutor), determine a intensidade de UV medida na superfície da água de um disco de
Petri. A profundidade da água o disco de Petri é de 8, 10 ou 12 mm (a ser selecionada pelo instrutor.
Assuma que a absortividade, k(l 254 nm), seja igual a 1,25 cm1.
2–10 Estime a alcalinidade em mg/L de CaCO3, para uma das amostras de água do Problema 2–1 (a ser
selecionada pelo instrutor).
2–11 Qual é a massa molar de um gás a 20°C assumindo que o gás tenha uma densidade de 0,68 g/L em
condições padrões de temperatura e pressão (STP)?
2–12 A que valor de pH 95% de amônia está presente em um gás? Aplique a Equação (2–40) e apresente a
constante de ionização (dissociação) a 25°C.
2–13 Compare as concentrações de saturação de O2, N2 e CO2 entre San Francisco (nível do mar) e Taos,
NM (elevação 2150 m), Denver, CO (elevação 1600 m) ou La Paz, Bolívia (elevação 4270 m) (cidade
a ser selecionada pelo instrutor).
2–14 Utilizando a lei de Henry, determine a concentração de saturação de O2, N2 ou CO2 (gás a ser sele-
cionado pelo instrutor) na água a 0, 10, 20, 30, 40 e 50°C. Construa um gráfico da concentração de
saturação em função da temperatura de O2, N2 ou CO2.
2–15 Determine a concentração de oxigênio na fase líquida de uma estação de tratamento de esgoto de
lodos ativados coberta e operando com oxigênio puro sujeita a 2, 2,5 ou 3 atmosfera de pressão
(pressão a ser selecionada pelo instrutor). Para as finalidades deste problema neglicencie quaiquer
170 P Capítulo 2 Características do esgoto
reações ocorrendo no sistema. A composição do gás no espaço superior, acima do esgoto, é de 80%
de oxigênio, 15% de nitrogênio e 5% de dióxido de carbono, por volume.
2–16 Água com gás engarrafada é produzida pelo aumento da pressão e do conteúdo de dióxido de carbono.
Para uma garrafa com uma pressão de gás total de 2 atmosferas, determine o pH da água a 25°C. A com-
posição do gás no espaço superior, acima da água, é de 95% de dióxido de carbono, por volume.
2–17 Medidas de intensidade foram efetuadas a diluições diferentes para três amostras de medição de odor.
Utilizando os dados fornecidos, determine qual dos três odores é o mais persistente.
Amostra
Intensidade de odor
de n-butanol, ppmv 1 2 3
10.000 0 0,0 0
100 25 3,2 11
10 316 10,0 56
0 3160 32,0 265
2–18 Volumes de 175, 200, 225 mL (volume a ser determinado pelo instrutor) de água destilada sem odor
foram necessárias para reduzir o odor de uma amostra de esgoto tratado com 25 mL a um nível que é
apenas perceptível. Qual é o número limiar do odor (NLO)? Qual é o valor correspondente expresso
em D/L (diluições ao limiar)? Assumindo que o composto com odor seja o sulfeto de hidrogênio,
determine a concentração do sulfeto de hidrogênio na amostra original de esgoto tratado. Assuma que
a amostra está em equilíbrio com a atmosfera. Assuma que os dados da Tabela 2–8 é adequada.
2–19 O Distrito de Poluição do Ar local tem ameaçado multar e penalizar a agência local de gestão de
esgoto, devido a queixas constantes de residentes que recebem o ar advindo da estação de tratamento.
O gerente da instalação, um funcionário em tempo integral na estação de tratamento, afirma que não
há problemas. Ele prova seu ponto de vista por encontrar, consistentemente, menos que 5 diluições ao
CLMD no limite da estação utilizando um olfatômetro de diluição de cheiro portátil que é empregado
pelo Distrito de Controle de Poluição do Ar local. Você, entretanto, vive na direção dos ventos e tem,
frequentemente, detectado odores oriundos da estação de tratamento. Qual é a causa da existência
dessas duas opiniões? Como você poderia resolvê-las objetivamente?
2–20 A agência de gestão de esgotos, sua cliente, reclama que o sistema tem falhado para desempenhar de
acordo com as especificações. O engenheiro que instalou o sistema argumenta que as especificações
não foram adequadas.
Em sua investigação você verifica que a agência contratou um consultor de odor renomado para
desenvolver as especificações de um sistema de controle de odores. O consultor utilizou o Método do
Painel da ASTM (American Society of Testing Materials) para medidas de odor, utilizando cilindros
de vidro evacuados para coleção de amostras. Foram efetuadas diversas medidas, e o máximo valor
observado foi dobrado para se desenvolver as especificações do sistema de controle. Desta maneira
foi estabelecido um requerimento de 90% de remoção de odor para atender ao limite de emissão final
de odor de 2,8 104 unidades de odor por minuto (o produto do escoamento do ar em m3/min e o
número de diluições ao CLMD).
Utilizando um olfatômetro de leitura direta, você verifica que o sistema de controle remove 99%
do odor e que, a uma taxa de 106 unidades de odor por minuto, a emissão final de odor é 106 unidades
de odor por minuto. Quais argumentos poderiam explicar os seus achados? Como você resolveria o
problema?
2–21 Em uma determinação de DBO, 6 mL de esgoto são misturados com 294 mL (o volume total de uma
garrafa de DBO é de 300 mL) de água de diluição contendo 9,1 mg/L de oxigênio dissolvido. Após
5 dias de incubação a 20°C, o conteúdo de oxigênio dissolvido da mistura é de 2,8 mg/L. Calcule a
DBO do esgoto. Assuma que a concentração de oxigênio dissolvido inicial no esgoto é igual a zero e
que a equação seguinte se aplique:
Problemas e tópicos de discussão P 171
DBO, mg/L
Número da amostra
Tempo, dias 1 2 3 4
0 0 0 0 0
2 18 30 45 36
4 26 43 75 58
6 30 52 95 70
8 33 58 114 80
10 56 60 135 90
12 69 90 144 98
14 77 104 149 102
16 82 114 151 145
18 84 120 152 170
20 87 125 152 182
25 90 135 170 210
30 91,5 142 239 222
35 92,5 147 260 233
40 93 148 268 239
45 94 149 271 240
50 94.5 150 272 241
172 P Capítulo 2 Características do esgoto
2–27 Se os coeficientes da taxa de reação de primeira ordem da DBO carbonácea observados são 0,23 e
0,28 dia1 a 20 e 30°C, 0,22 e 0,15 dia21 a 20 e 12°C, ou 0,15 e 0,30 dia1 a 10 e 20°C (a ser selecio-
nado pelo instrutor), estime a energia de ativação para a reação. Sugestão: ver Exemplo 1–1.
2–28 Compute a demanda de oxigênio carbonácea e nitrogenosa de um esgoto representado pela fórmula
C6N2H4O, C9N2H6O2, C10N2H8O2 ou C12N4H6O2, (fórmula a ser selecionada pelo instrutor). Assuma
que N é convertido a NH3 na primeira fase.
2–29 Os dados seguintes foram obtidos para cinco amostras diferentes. Estime a quantidade total de oxi-
gênio em mg/L que deve ser fornecida para estabilizar completamente uma das amostras de esgoto (a
ser selecionada pelo instrutor). Quais são as correspondentes DQO e a DOT para o esgoto?
Amostra de esgoto
Item Unidade 1 2 3 4 5
DBO mg/L 400 375 225 185 325
k (base e) d1 0,29 0,23 0,027 0,025 0,023
NH3 mg/L 80 65 75 67 83
2–30 Um esgoto industrial contém apenas glicina (C2H5O2N), glucose (C6H12O6) e ácido esteárico
(C18H36O2). Os resultados de uma análise de laboratório para quatro amostras são como segue. Para
uma das amostras (a ser estabelecida pelo instrutor), determine a concentração e cada um dos cons-
tituintes em mg/L. Baseie a sua resposta em 105 L de maneira que o número de moles seja maior que
um.
a. nitrogênio orgânico 11 mg/L, carbono orgânico 130 mg/L e DQO 425 mg/L. Determine
a concentração de cada um dos três constituintes em mg/L.
b. nitrogênio orgânico 13 mg/L, carbono orgânico 109 mg/L e DQO 440 mg/L. Determine
a concentração de cada um dos três em mg/L.
c. nitrogênio orgânico 9 mg/L, carbono orgânico 123 mg/L e DQO5 625 mg/L.
Determine a concentração de cada um dos três constituintes em mg/L.
d. nitrogênio orgânico 12 mg/L, carbono orgânico 143 mg/L e DQO 425 mg/L. Determine
a concentração de cada um dos três constituintes em mg/L.
2–31 Quantos mg/L de Cr2O2
7 são consumidos se a DQO de amostra de esgoto é igual a 300, 375, 450 ou
525 mg/L (valor a ser selecionado pelo instrutor)?
2–32 Se a composição química de um esgoto de indústria de produção de alimentos é C21.53H34.21O12.66N1.00S0.07,
estime o conteúdo de energia química com base em DQO. Expresse os resultados em MJ/kg QOD
calculado como PCS em base seca. Como o conteúdo de energia calculado para esgotos de alimentos
se compara à do esgoto conforme determinado no Exemplo 2–12? Qual quantidade de energia foi
removida do esgoto de alimentos?
2–33 As bactérias possuem diâmetros equivalentes de 2 106 mm e densidades de aproximadamante 1
kg/L. Sob condições ótimas as bactérias se dividem a cada 30 min. Determine a massa de bactérias
que se acumula em 72 horas sob condições de crescimento ótimo contínuo. Isso pode ocorrer? Expli-
que.
2–34 Se bactérias encontradas em fezes possuem um volume médio de 2,0 mm3, determine a concentração
de sólidos suspensos que seria representada por uma densidade de bactérias igual a108 organismos/
mL. Assuma que a densidade de bactéias é de 1,005 kg/L.
2–35 Utilizando a seguinte equação conjunta de probabilidade, baseada na distribuição de Poisson, derive
uma expressão que pode ser utilizada para computar o NMP baseado em uma amostra única compos-
ta de 5 tubos de fermentação. Qual é o NMP se o volume da amostra é de 0,1 mL e 3 dos 5 tubos de
fermentação são positivos?
y 1/a[(1 e nl)p(enl)q]
Problemas e tópicos de discussão P 173
Número da amostra
Volume da
porção, mL 1 2 3 4 5 6 7
100,0 5/5 5/5 5/5 5/5 5/5
10,0 4/5 4/5 5/5 5/5 5/5 5/5
1,0 4/5 5/5 5/5 5/5 5/5 5/5 5/5
0,1 3/5 3/5 3/5 2/5 1/5 2/5 5/5
0,01 1/5 2/5 2/5 3/5 2/5 2/5 5/5
0,001 0/5 1/5 1/5
2–37 Discuta as vantagens e desvantagens de utilizar coliformes fecais e estreptococos fecais para indicar
contaminação bacteriológica. Cite pelo menos três referências da literatura.
2–38 Um teste de vírus colifágo utilizando MS-2 foi efetuado para determinar o título de uma amostra
não diluída. Durante o teste, um mililitro de cada diluição foi adicionado a cada placa. Os resultados
da contagem de placas são mostrados na tabela abaixo. Com base nos resultados, calcule o título da
cultura na amostra não diluída.
Contagem/placa
Amostra
2–39 Utilizando os dados seguintes de um teste de toxicidade, determine os valores de LC50 para 48 e 96
horas, em porcentagem por volume.
174 P Capítulo 2 Características do esgoto
2–40 Utilizando o seguinte teste de toxicidade, determine os valores de LC50 para 48 e 96 horas em porcen-
tagem por volume
REFERÊNCIAS
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Vazões de esgoto e cargas
de constituintes
REFERÊNCIAS 253
GLOSSÁRIO
Termo Definição
Águas pluviais Escoamento resultante de águas pluviais e de derretimento de neve.
Bacias de equalização O amortecimento da oscilação de vazões, para obter vazões constantes ou aproximadamente
constantes, usualmente por meio de uma bacia de retenção (equalização).
Esgoto doméstico Esgoto residencial, comercial, institucional e instalações similares, incluindo infiltração.
Esgoto industrial Esgoto não doméstico no qual predominam esgotos industriais.
Extravasamento de sistema Uma estrutura de extravasamento em um sistema coletor misto que permite que o excesso de
unitário (ESU) água coletado durante períodos de chuva seja descarregado antes de adentrar o interceptador,
estações de recalque, ou a estação de tratamento.
Fator de pico A relação entre a vazão de pico e a vazão média.
Fluxo de massa O produto da vazão multiplicado pela concentração do constituinte.
Fluxos de massa Taxas de carga de massa constantes ou excedidas por um período de tempo (p. ex., 1 hora,
sustentáveis 1 dia ou 1mês).
Infiltração Água adentrando um sistema de coleta por acessos diversos, incluindo conexões de serviço, e
água subterrânea atravessando juntas defeituosas, conexões ou rupturas em paredes de poços
de visitas.
Influentes Água de origem externa que adentra o sistema de coleta, como águas pluviais de telhados,
drenagem de pátios, de tampas de poços de visitas, de conexões cruzadas e de bacias de coleta
de águas pluviais, e de sistemas mistos.
Sistema de esgoto sanitário Um sistema de coleta no qual a maior parte do esgoto é de origem doméstica.
Sistema de esgoto unitário Um sistema de coleta que veicula tanto o esgoto sanitário, constantemente, como o escoamento
(SEU) superficial de águas pluviais durante os períodos de chuva e, ainda, volumes oriundos de
derretimento de neve.
Transbordamento do sistema A perda de esgoto do sistema de coleta sanitário causado por refluxo, obstrução ou por
de coleta sanitário (TSS) sobrecarga hidráulica.
Vazamento Escoamento saindo de um sistema de coleta através de trincas nas paredes dos tubos, juntas e
conexões defeituosas, ou rupturas nas paredes de pontos de acesso à rede (poços de visita).
Vazão de entrada uniforme Água descarregada de porões e drenos de fundações, descargas de torres de resfriamento e
drenos de fontes e de áreas pantanosas.
Vazão de pico instantânea A maior vazão registrada ocorrendo durante um período de tempo consistente com o equipamento
de registro. Em muitas situações a vazão de pico registrada pode ser consideravelmente inferior ao
valor do pico real devido às limitações do equipamento de medida e de registro.
Vazões diretas Vazões de escoamento de águas pluviais que têm uma conexão direta ao sistema de coleta e
que causam aumento quase imediato nas vazões de esgoto.
Vazões retardadas Águas pluviais que podem demandar muitas horas ou dias para drenar através de sistema de coleta.
Vazões sustentadas Vazões que são igualadas ou excedidas durante um número específico de dias consecutivos,
com base em dados operacionais anuais.
3–1 Fontes e vazões de esgoto P 179
TABELA 3–1 Usos municipais de água e as quantidades típicas nos Estados Unidosa
(a) (b)
Voltagem induzida
proporcional à vazão
Campo na tubulação
magnético
Bobinas do
Escoamento campo magnético
na entrada do
medidor de vazão Eletrodos nas
paredes da
Condutor não
tubulação
magnético
(c) (d)
FIGURA 3–1 Exemplos de equipamentos utilizados para medidas de vazão de esgoto: (a) esquema de
sensor ultrassônico do tipo área/velocidade para medida de vazão, (b) esquema de sensor de radar do
tipo área/velocidade para medição de vazão. A velocidade é medida utilizando um Radar Doppler e eco
ultrassônico para medir a profundidade do escoamento, (c) vista de um medidor de vazão magnético, e (d)
esquema de um medidor de vazão magnético. Quando um fluido condutivo se move através de um campo
magnético é gerada uma voltagem; a magnitude da voltagem é proporcional à vazão.
similares. Esses dados são especialmente úteis em outras partes do mundo nas quais o uso de água
para irrigação de áreas ornamentais é limitada a 90% ou mais da água utilizada que se transforma
em esgoto. Nos Estados Unidos, médias de 50 a 90% (p. ex., de grandes prédios de apartamen-
tos) do consumo per capita se converte em esgoto. As porcentagens mais elevadas se aplicam aos
estados do norte durante o inverno e as mais baixas se aplicam às regiões semiáridas do sudoeste
dos Estados Unidos, onde a irrigação ornamental é praticada extensivamente. Quando os dados de
consumos de água são utilizados para estimar vazões de esgotos, a quantidade de água consumida
para finalidades como irrigação de áreas ornamentais (que não retornam aos sistemas coletores),
vazamentos de adutoras e tubulações de serviço, ou água de produção que é utilizada por estabele-
cimentos de manufatura, deve ser cuidadosamente avaliada.
Áreas residenciais. As vazões de esgotos para áreas residenciais são comumente determinadas
com base na população e na contribuição per capita média de esgoto. Em áreas residenciais onde
182 P Capítulo 3 Vazões de esgoto e cargas de constituintes
são previstos grandes crescimentos, é comumente recomendado adotar vazões com base em usos
do solo e densidades previstas de população. Onde possível, essas vazões devem ser baseadas em
valores reais de vazões selecionados de comunidades similares, preferencialmente da mesma re-
gião. No passado, os estudos de projeções de populações para estimar vazões de esgoto, em geral,
eram feitos por engenheiros, mas, atualmente, os dados para projeções de população estão disponí-
veis em agências de planejamento locais, regionais e estaduais.
As vazões de esgoto podem variar em função da quantidade e da qualidade da água de abas-
tecimento, a estrutura tarifária para água potável, o nível das medidas de conservação de água,
a localização geográfica, as taxas de infiltração/vazamento e outras características econômicas e
sociais de uma comunidade. Em um relatório publicado pelo U.S. Geological Survey (Kenny et al.,
2009), o uso médio de água per capita variou de um valor elevado de 715 L/capitadia (189 galões/
capitadia) a um mais baixo de 193 L/capitadia (51 galões/capitadia). A média do país foi de 375
L/ capitadia (99 galões/capitadia), que é consistente com os dados relacionados na Tabela 3–1. Se
é assumido que 50 a 90% da água abastecida se transforma em esgoto, a média das vazões de esgo-
tos variariam entre 188 a 338 L/capitadia (50 a 89 galões/capitadia). A razão pela qual uma faixa
de valores médios seja fornecida é que não há uma estimativa acurada do nível em que medidas de
conservação tenham sido implementadas, o que varia de comunidade para comunidade. A faixa de
médias típicas reflete uma estimativa atual (2013) de medidas de conservação de água que foram
implementadas em diversas regiões do país.
Dados de valores típicos de vazão de origem residencial nos Estados Unidos como função
do número de residentes com o nível atual (2013) de conservação e com conservação significa-
tiva é apresentado na Tabela 3–2. Os dados da Tabela 3–2 foram plotados na Figura 3–2. Como
mostrado na Figura 3–2, conforme o número de pessoas por habitação cresce, a vazão média de
esgotos decresce. No caso onde ocorrem medidas de conservação significativas, o valor per capita
se aproxima de 150 L/capitadia (39,6 galões/capitadia). Atualmente, este valor assintótico repre-
senta uma estimativa razoável que pode ser atingida com medidas extensivas de conservação e de
aparelhos de uso doméstico. Assumindo uma taxa de ocupação de 3,3 pessoas por residência, a
faixa prevista de vazão de esgotos variará de, aproximadamente, 250 a 175 L/capitadia (66 a 46
galões/capitadia). O valor de 250 L/capitadia (66 galões/capitadia) está dentro da faixa típica dos
valores acima relacionados. Com o passar do tempo, prevê-se que a curva do lado direito da Figura
3–2 se deslocará para a esquerda. Estima-se que atingir conservação pode necessitar mais do que
20 anos. O consumo reduzido em domicílios não modificará apenas a quantidade de esgoto, gerado
mas, também, as suas características.
TABELA 3–2 Vazões típicas de esgotos de fontes residenciais urbanas nos Estados Unidos
10
residência (pessoa/habitação)
8 Com conservação
6 Com conservação
significativa de água
2
280 390
0
100 150 200 250 300 350 400
Vazão per capita (L/capita • dia)
FIGURA 3–2 Vazão per capita de residências individuais em função do número de residentes.
comunidades. Além disso, pessoas preocupadas com conservação têm instalado, por conta própria,
esses aparelhos como um meio para reduzir o consumo de água. Novos modelos de lavadoras
de roupa, com carregamento frontal, também oferecem redução significativa do uso de água, ou
seja, da ordem de 50 a 75%, em relação aos modelos antigos. Uma comparação do uso residencial
interior de água (e de vazões per capita de esgotos resultantes) é apresentada na Tabela 3–9 para
residências com os níveis atuais de conservação e com a utilização de aparelhos e equipamentos
que proporcionam conservação extensiva de água. O potencial de redução de consumo utilizando
aparelhos selecionados de conservação de água é ilustrado no Exemplo 3–1.
3–1 Fontes e vazões de esgoto P 185
TABELA 3–4 Vazões de esgotos típicas de fontes institucionais nos Estados Unidosa
TABELA 3–5 Vazões de esgoto típicas de instalações recreacionais nos Estados Unidos a
TABELA 3–6 Vazões típicas consumidas por diversos tipos de equipamentos e aparelhos nos Estados Unidos
TABELA 3–7 Distribuição típica de uso de água residencial interno nos Estados Unidosa
Comentário
Três dos aparelhos e equipamentos mais utilizados em residências estão descritos neste exem-
plo. O uso de água interior e a geração de esgoto pode ser reduzida significativamente em
uma grande instalação comunitária com a instalação maciça de aparelhos e equipamentos efi-
cientes, reduzindo, assim, as vazões a serem recebidas pelo sistema coletor e pela estação de
tratamento de esgoto. Quando ocorre uma infiltração elevada no sistema coletor, se torna di-
fícil ou impossível avaliar os efeitos benéficos gerados por aparelhos conservadores de água.
TABELA 3–9 Comparação entre usos típicos de água interna em residências com os níveis de conservação atuais e
com práticas e aparelhos de conservação extensiva, nos Estados Unidos
Vazão, galões/capitadia Vazão, L/capitadia
Com o nível Com Com o nível Com
atual de conservação atual de conservação
Uso conservaçãoa,b,c intensivad conservação intensiva
Banho 1,2 (30) 1,2 (30) 4,4 4,5
Máquina de lavar 15,0 (30) 9,5 (20) 56,6 36,0
roupas
Lavadora de pratos 0,9 (10) 0,7 (8) 3,4 2,6
Torneira 10,4 (3) 6,9 (2) 39,4 26,1
Chuveiro 11,7 (4) 6,9 (2,5) 44,3 26,1
Descarga em 18,2 (3,3) e
8,2 (1,6) 68,9 31,0
toaletes
Outros, domésticos 1,4 (3) 1,4 (3) 5,4 5,3
Vazamento 6,2 6,0 23,6 22,7
Total 65,0 40,8 246,0 154,4
a
As vazões de uso interno de água são baseadas nos valores apresentados na Tabela 3–7.
b
O nível atual de conservação foi assumido de acordo com os valores de meados de 2013.
c
Os números entre parêntesis refletem o uso atual de água para usos diversos e para diversos aparelhos, conforme apresentado na Tabela 3–6.
Por exemplo, o número entre parêntesis para banho é de 30 galões/uso (114 L/uso).
d
Os números entre parêntesis correspondem ao uso de água com conservação extensiva, com base nos dados apresentados na Tabela 3–6.
e
Média estimada de toaletes instaladas até o presente.
de detenção ou de bacias de equalização. Para indústrias com reciclagem interna ou com programas
de reúso, pode-se assumir que 85 a 90% cento da água utilizada em diversas operações e em pro-
cessos, se converterão em esgoto. Para grandes indústrias com programas de reciclagem interna,
devem ser efetuadas estimativas separadas, com base nos dados de consumo de água reais A média
de esgoto doméstico (sanitário) produzido por instalações industriais por funcionário pode variar
de 30 a 95 L/capitadia (8 to 25 galões/capitadia).
200 200
Porcentagem da vazão média
Dias da semana
100 100
Entre 1905-1910
50 50
0 0
0 4 8 12 16 20 24 0 4 8 12 16 20 24
Meia-noite Meio-dia Meia-noite Meia-noite Meio-dia Meia-noite
Horas do dia Horas do dia
(a) (b)
200 500
Porcentagem da vazão média
400
150 Variação diurna
devido à tempestade
300
Variação diária
100 Grande típica diurna
200
50
100
Pequena
0 0
0 4 8 12 16 20 24 0 4 8 12 16 20 24
Meia-noite Meio-dia Meia-noite Meia-noite Meio-dia Meia-noite
Horas do dia Horas do dia
(c) (d)
FIGURA 3–3 Variações típicas de dados de vazões influentes normalizadas, de sistemas de esgoto
doméstico: (a) padrão diurno generalizado para dias de semana e para fins de semanas na parte final do
século XX, para uma comunidade de tamanho intermediário (40.000–400.000 m3/dia), e a curva corres-
pondente observada na parte inicial do século XX (entre 1905–1910); (b) variação de vazões observadas
para a cidade de Davis (65.000 habitantes), baseada em medidas de vazões a cada meia hora (cortesia
de West Yost and Associates); (c) variações de vazões generalizadas para pequenas (4000–40.000 m3/
dia) e grandes (>400.000 m3/d) comunidades; e (d) efeito ilusório de infiltração de excesso de águas
pluviais, com base em medidas de vazões horárias (note a mudança da escala vertical).
Variações industriais. Descargas de efluentes industriais são difíceis de serem previstas. Mui-
tas instalações de manufatura geram vazões relativamente constantes durante a produção, mas que
variam consideravelmente durante a parte de limpeza e de encerramento de atividades. Embora a
alteração de processos internos possa levar a vazões reduzidas, a expansão das unidades e o aumen-
to da produção pode levar a um aumento na geração de esgoto. Quando instalações de tratamento
são construídas na própria indústria deve ser dada atenção especial às projeções de vazão, no caso
em que elas sejam projetadas pela própria indústria ou em conjunto com a equipe do município, ou
por um engenheiro consultor. Descargas industriais são mais problemáticas em pequenas estações
de tratamento, nas quais há capacidade limitada de absorver cargas de choque.
Variações sazonais. As variações sazonais dependem do local e das características da comu-
nidade. Na parte leste dos Estados Unidos, onde a tendência é chover durante todo o ano, ocorrem
menos variações sazonais nas vazões, em comparação com a região oeste, onde há períodos úmidos
(novembro até abril) e períodos secos (maio até outubro). O derretimento de neve é um fator sig-
nificativo em áreas com taxas elevadas de infiltração, que ocorre em cada primavera, devido aos
elevados níveis sazonais do lençol aquífero no nordeste e em outros cinturões de neve em alguns
estados. A diferença entre vazões medidas é ilustrada na Figura 3–4. É importante notar que os
192 P Capítulo 3 Vazões de esgoto e cargas de constituintes
padrões gerais e a magnitude das vazões mostradas na Figura 3–4 variarão consideravelmente, com
precipitações maiores ou menores que resultarão das mudanças climáticas globais.
As variações sazonais nas vazões de esgoto doméstico são comumente observadas em áreas de
turismo, em pequenas comunidades com campi colegiais, e em comunidades que tenham ativida-
des comerciais e industriais sazonais. A magnitude das variações esperadas depende do tamanho da
comunidade e dos tipos de atividades sazonais.
50
Período Período Período Período Período
seco úmido seco úmido seco
40
Vazão m3/dia x 10-3
30
20
10
0
J J D J J D J J D
FIGURA 3–4 Variações sazonais observadas nos estados do oeste dos Estados Unidos nos períodos se-
cos (maio a outubro) e nos períodos úmidos (novembro a abril). Em algumas áreas, não há mais distinção
entre períodos secos e úmidos devido ás mudanças climáticas globais.
3–1 Fontes e vazões de esgoto P 193
População
q1 q1 q1
qvar qvar qvar
q3 q3 q3
(i) (ii) (iii) (i) (ii) (iii) (i) (ii) (iii)
FIGURA 3–5 Variações de vazão medidas em cidades dos Estados Unidos com (a) população cres-
cente, (b) população constante e (c) população decrescente. Os três períodos de tempos descritos nessas
figuras são os seguintes: (i) até 1990, aproximadamente, com implementação de medidas de conservação
de água relativamente limitadas, (ii) período após 1990, quando a vazão per capita decresceu como
resultado da grande implementação de aparelhos com menor consumo e conscientização pública, e (iii)
período após a implementação máxima de ações de conservação da água. O tempo de implementação
das ações de conservação máxima da água variará de acordo com cada comunidade.
a projeção do nível máximo de conservação de água que é esperada, e o possível uso futuro de siste-
mas de reúso descentralizados. Sistemas de reúso descentralizados, incluindo sistemas individuais
de águas cinzas, desviam o esgoto para aplicações de reúso locais e reduzem, efetivamente, a vazão
de esgotos para as estações de tratamento centralizadas. (Tchobanoglous and Leverenz, 2013).
Infiltração/influentes
Vazões externas aos sistema coletores, descritas como infiltração e influentes, estão ilustradas na
Figura 3–6 e definidas como segue:
Infiltração. Água adentrando um sistema de coleta através diversos pontos, incluindo conexões de
serviço e do solo, através de tubulações, juntas de tubos, conexões ou de paredes e juntas de
poços de visitas.
Influente permanente. Águas descarregadas de porões e drenos de fundações, descargas de torres
de resfriamento, e conexões diretas de fontes e áreas pantanosas. Este tipo de contribuição é
constante e é identificada e medida em conjunto com a infiltração.
Influente direto. Entradas que resultam de conexões diretas de escoamento superficial de águas
pluviais aos sistemas de coletas sanitários ou unitários, causando um aumento quase imediato
das vazões de esgoto. Fontes possíveis são coletores de águas pluviais, drenagem de pátios,
tampas de poços de visitas, conexões cruzadas, conexões com drenos de águas pluviais e,
embora tipicamente associadas a sistemas unitários, bacias de acumulação. Intrusão de rios, de
marés extemporâneas, ou de comportas são outras fontes de entradas diretas.
Vazão total. A soma da vazão direta de entrada em qualquer ponto do sistema mais qualquer vazão
saindo da parte inicial do sistema através de transbordamento de sistema de coleta sanitário
(TSS), extravasamento de sistema unitário (ESU), desvios de estações de bombeamento, e
similares.
Influente retardado. Entradas retardadas, que não são causadas pelas conexões diretas relaciona-
das, podem incluir drenos de fundações, descargas de bombas de drenagem de porões, e a lenta
entrada de água superficial em poços de visitas, em áreas alagadas.
Nos Estados Unidos o ímpeto inicial para definir e identificar infiltração/influente se originou
de emendas do decreto da Federal Water Pollution Control, de 1972. Como condição para receber
recursos para o projeto e construção de estações de tratamento de esgoto, os candidatos tiveram
que demonstrar que seus sistemas coletores não estariam sujeitos a infiltração/influentes excessi-
vos. Os diversos benefícios à comunidade que são proporcionados pela “vedação” do sistema de
coleta e redução das taxas de infiltração/influente incluem (1) reduzir refluxo de esgoto e EES em
sistema de coleta separados (sanitário) e reduzir ESUs em sistemas de coleta mistos (ver Figura
1–2 no Capítulo 1), (2) aumentar a eficiência operacional de estações de tratamento de esgoto, e
(3) melhorar a capacidade hidráulica de sistemas coletores para esgotos que requerem tratamento,
ao contrário da infiltração/influente. Como a compreensão dos efeitos de infiltração/influente é
importante para determinar vazões para estações de tratamento, uma discussão sobre esse tópico é
incluído nesta seção.
Infiltração em sistemas de coleta. O escoamento superficial devido às águas pluviais pode
ser dividido em três componentes para uma determinada área: uma porção escoa rapidamente para
o sistema de coleta de águas pluviais ou a outros canais de drenagem, outra porção é absorvida
3–2 Impacto de sistemas de coleta nas vazões de esgoto P 195
Período de chuvas
1 2 3 4 5
Tempo, d
pela vegetação, e a restante percola no solo, tornando-se água subterrânea. A proporção de águas
pluviais que percola no solo depende das características da superfície e da formação do solo, e da
taxa e distribuição da precipitação. Qualquer redução de permeabilidade, como as devidas a edi-
fícios e pavimentos, ou congelamento, decresce a oportunidade da precipitação de se transformar
em água subterrânea, aumentando, correspondentemente, o escoamento superficial. A quantidade
de água subterrânea que escoa varia de uma quantidade negligível em águas altamente imperme-
áveis, com subsolo denso, a 25 ou 30% da água pluvial para uma área semipermeável, com solo
arenoso, que permite passagem rápida da água. A percolação da água no solo, oriunda de rios e
outros corpos de água, tem, às vezes, efeitos consideráveis nos níveis de águas subterrâneas, que
sobem e descem continuamente.
Impacto de níveis elevados de água subterrânea. A presença de níveis elevados de água sub-
terrânea resulta na entrada de influentes ao sistema coletor, no aumento da quantidade de esgoto
e nos custos correspondentes de transporte e de tratamento. Essa ocorrência é de importância par-
ticular no nordeste, quando ocorre o derretimento de neve, na primavera. A quantidade de vazão
que pode entrar em um sistema de coleta por infiltração de água subterrânea pode variar de 0,01 a
1,0 m3/diamm-km (100 a 10.000 galões/diapolegada.-milha) ou mais. O número de milímetros-
-quilômetros (polegadas-milhas) em um sistema de coleta de esgotos é a soma dos produtos do diâ-
metro da tubulação, em milímetros (polegadas), vezes os comprimentos, em quilômetros (milhas),
de tubulações de diâmetros correspondentes.
Estimando a infiltração. Infiltração também pode ser estimada com base na área servida
pelo sistema de coleta e pode variar de 0,2 a 28 m3/hectaredia (20 a 3000 galões/acredia)
(Metcalf & Eddy, 1981). A variação nos volumes de infiltração consiste em uma grande faixa
de valores, porque as dimensões das áreas de lotes podem variar, o que afeta o comprimen-
to e a dimensão do sistema de coleta. Durante chuvas pesadas, quando pode ocorrer aces-
so pelas tampas dos poços de visitas, ou influentes e infiltração, a taxa pode ser superior a
500 m3/hectaredia (50.000 galões/acredia).
Fatores que afetam a infiltração. A infiltração/influente é uma parte variável da vazão de es-
goto e depende da qualidade do material e da mão de obra empregada na construção do sistema de
coleta, da montagem das conexões, da idade do sistema, do programa de manutenção e do nível da
água subterrânea em relação ao sistema de coleta. A taxa e a quantidade de infiltração depende do
196 P Capítulo 3 Vazões de esgoto e cargas de constituintes
comprimento do sistema de coleta, da área servida, do solo e condições topográficas e, até certo
ponto, da densidade populacional (que afeta o número e o comprimento das ligações domiciliares).
Embora o nível do lençol freático varie com a quantidade de chuvas e da neve derretida que percola
no solo, o vazamento através de juntas defeituosas, de concreto poroso e de trincas, tem sido, em
alguns casos, suficiente para abaixar o nível freático ao nível do sistema de coleta.
As juntas de tubulações, em muitos sistemas de coleta, construídas durante a primeira metade
do século XX eram feitas com argamassa de cimento ou com compostos betuminosos a quente. Os
poços de visitas eram construídos com tijolos. A deterioração de juntas de tubulações, de tubos de
acesso a postos de visitas e a permeabilidade de estruturas de tijolos resultou em um grande poten-
cial de infiltração nesses sistemas de coletas antigos. A utilização de tubos de qualidade elevada,
com paredes densas, poços de visitas construídos com seções pré-moldadas e juntas seladas com
borracha ou com gaxetas sintéticas é prática padrão em projetos de sistemas de coleta modernos.
A utilização desses materiais melhorados reduziu significativamente, tanto as taxas de infiltração
como de vazamentos de sistemas de coletas recentemente construídos. Entretanto, à medida que
os sistemas novos envelhecerem, a infiltração aumentará ao longo do tempo, porém, a taxas muito
menores do que as de sistemas antigos.
Conforme referido acima, um fator básico na taxa de infiltração, tanto de sistemas de coleta
antigos como nos novos, é a qualidade real da instalação. Mesmo alguns sistemas de coletas novos
exibem, entretanto, taxas de infiltração superiores às esperadas, e, em alguns, também de efluentes,
devido às más praticas construtivas ou à falta de supervisão e inspeção durante a construção.
Solução
1. Determine os componentes de infiltração e de influente durante a estação úmida.
a. Como a infiltração é baixa durante os períodos secos, a infiltração elevada é
600
500
Vazão, 103 m3/dia
400
300
200
100
0
0 12 24 36 48 60 72 84
Tempo decorrido, horas
Comentário
Neste exemplo, a vazão de pico durante o período de ocorrência da tempestade foi de 4,7
vezes a vazão média do período seco. Como será discutido mais tarde neste capítulo, o fator
vazão de pico é elevado para um sistema desta dimensão. Como a vazão influente representa
acima de 50% da vazão de pico e requer um superdimensionamento da capacidade hidráulica
da estação de tratamento, devem ser investigados métodos de redução da carga hidráulica no
sistema de coleta e na estação de tratamento.
dução de influentes /infiltração em sistemas de coleta pode contribuir para reduzir vazamentos,
removendo as ameaças potenciais a sistemas de abastecimento de água e à saúde pública. Os
efeitos potenciais adversos de vazamentos, sobre a qualidade da água superficial, são ilustrados
no Exemplo 3–3.
Solução
1. Para resolver este problema deve ser efetuado um balanço de concentrações (ver Capítulo
1 para detalhes adicionais sobre balanços de massa e de concentrações). O balanço de
concentração necessário é o seguinte:
Número total Número total Número total
de organismos de organismos de organismos
na mistura no vazamento na água de diluição
Comentário
Como o esgoto bruto contém uma concentração elevada de organismos coliformes, mesmo
nas condições assumidas de que o vazamento é bem misturado, o corpo receptor conterá
níveis elevados de concentração. Essas concentrações elevadas devem ser tomadas como in-
dicadores de que um perigo potencial de saúde pode ocorrer. Portanto, neste exemplo, como
o vazamento do sistema de coleta é significativo, os objetivos de qualidade de água do corpo
receptor serão difíceis de ser mantidos.
3–2 Impacto de sistemas de coleta nas vazões de esgoto P 199
16
12
10
0
M 2 4 6 8 10 N 2 4 6
Horas do dia
(a)
1,2
Vazão na bacia de drenagem, m3/s
0,8
0,6
0,4
0,2
0
M 2 4 6 8 10 N 2 4 6
Horas do dia
(b)
1,4
Vazão na estação de tratamento, m3/s
1,2
0,8
0,6
0,4
0,2
0
M 2 4 6 8 10 N 2 4 6
Horas do dia
(c)
FIGURA 3–7 Variações de vazão em um sistema coletor unitário durante o tempo de chuva; (a) histo-
grama da chuva, (b) vazão típica na bacia de drenagem, (c) vazões registradas na estação de tratamento.
3–2 Impacto de sistemas de coleta nas vazões de esgoto P 201
tos operados por bateria, para medição de profundidade e velocidade [ver Figura 3–1(a) e (b)].
Similarmente, as amostras de água são coletadas utilizando amostradores programáveis, também
operados por baterias. Esses amostradores podem medir vazões ou níveis de água e são programa-
dos para coletar amostras em intervalos de tempo pré-determinados.
Monitoramento de vazão permanente. Instalações de monitoramento de vazão permanen-
te são utilizadas em alguns sistemas para obter dados de vazão contínuos em pontos críticos. Essas
instalações podem, ainda, permitir o controle centralizado das instalações do sistema de transporte
para maximizar o armazenamento de esgoto unitário no sistema ou para controlar a vazão que
escoa para a estação de tratamento localizada a jusante. Os dados registrados em um determinado
ponto podem ser recuperados periodicamente, de maneira manual, ou podem ser enviados teleme-
tricamente a uma unidade central para análise dos dados ou como dados de entrada em sistemas de
controle em tempo real.
Necessidade de coletar dados de chuvas. Para entender como a vazão e as características
de um sistema unitário respondem a um evento de precipitação elevada, é imprescindível obter da-
dos de chuvas. Portanto, é comumente necessário instalar um sistema de monitoramento de águas
pluviais temporário bem próximo da área de drenagem tributária ao local da unidade de monito-
ramento. Medidores de registro contínuo de chuva, capazes de monitorar a altura da precipitação
ao longo do tempo, devem ser utilizados. O pluviômetro de caçamba oscilante é um tipo de pluvi-
ômetro que pode ser utilizado para registrar a chuva continuamente, em incrementos de 0,25 mm
(0,01 polegada), sobre um gráfico movido por um relógio. Se o sistema unitário sendo monitorado
drena uma área grande, a instalação de diversos medidores podem ser necessários para registrar a
variação espacial das características da chuva em toda a área. Sistemas de radar sofisticados para
medição da chuva são, atualmente, utilizados para grandes sistemas regionais, onde o monitora-
mento de EES ou ESU é essencial para o plano de mitigação.
Solução
1. Determine as natureza da distribuição plotando os dados em papel de probabilidade arit-
mética e em papel de log-probabilidade.
a. Prepare uma tabela de análise de dados como descrito abaixo.
i. Na coluna 1, coloque o número de série começando com o número 1
ii. Na coluna 2, coloque a posição de plotagem de probabilidade (ver Apêndice D)
iii. Nas colunas 3 e 4, coloque as vazões semanais em ordem crescente
(continuação)
a
Posição de plotagem, , onde n 26 [Equação (D–10), Apêndice D].
5
10
20
30
50
70
80
90
95
99
99,9
99,99
99,999
0,01
0,1
5
10
20
30
50
70
80
90
95
99
99,9
99,99
9,999
Período Mg P84,1 sg
Com base no valor do desvio padrão geométrico, pode-se concluir que a variação obser-
vada é grande.
3. Estime a vazão máxima semanal anual provável durante os períodos seco e úmido.
a. Determine o fator de probabilidade.
b. Determine a vazão por meio da figura da etapa 1b, com um percentil de 96,3
Vazão de pico em período seco 35.948 m3/semana
Vazão de pico em período úmido 44.900 m3/semana
3–3 Análise de dados de vazão de esgoto P 205
Comentário
A análise estatística dos dados é importante para estabelecer as condições de projeto de esta-
ções de tratamento. A aplicação de análise estatística para a seleção de vazões de projeto e de
cargas de massa é considerada na seção seguinte.
Fatores de pico são aplicados frequentemente para determinar a vazão de pico horária. Por exem-
plo, o fator de pico sustentado de uma hora relativo à vazão média da vazão diária, dado na Figura
3–8 é 1,72 [(183 m3/dia)/(106 m3/dia)]. Quando dados de vazão estão disponíveis, dados de pelo
menos três anos devem ser analisados para definir o fator de pico em relação ao valor de pico médio
diário. O fator de pico é bastante útil para estimar as condições hidráulicas máximas que podem
ocorrer e que devem ser consideradas. Os fatores de pico podem, também, ser aplicados a cargas
de massa.
TABELA 3–11 Parâmetros utilizados para quantificar variações de vazão observadas e de concentrações de
constituintesa
Parâmetro Descriçãob
Vazão média de período seco A média de dados de vazões diárias em períodos secos.c
Vazão média de período úmido A média de dados de vazões diárias em períodos úmidos.c
Vazão média diária A vazão média que ocorre durante 24 horas baseada em dados de vazões anuais
totais.
Vazão de pico instantânea A maior vazão registrada que ocorre durante um período consistente com o
período de registro de dados do equipamento de medição. Em muitas situações o
valor de pico registrado pode ser consideravelmente inferior ao pico real, devido às
limitações dos equipamentos de medida e registro.
Vazão de pico horária O pico sustentado horário que ocorre durante 24 horas, baseado nos dados
operacionais anuais (ver, também, Vazão de pico instantânea).
Vazão máxima diária Vazão máxima diária durante 24 horas, baseada em dados operacionais anuais.
Vazão máxima mensal A vazão máxima sustentada durante um período de 1 mês, nos dados examinados.
Na prática, a máxima mensal é, tipicamente, o valor máximo de 30 dias que
ocorre no período de documentação requerido para a liçença do NPDES. Embora
não seja estatisticamente correto, este é o valor relatado.
Vazão mínima horária A vazão mínima horária sustentada ocorrendo durante 24 horas, com base em
dados operacionais anuais.
Vazão mínima diária A vazão mínima que ocorre em 24 horas, baseada em dados operacionais anuais.
Vazão mínima mensal A vazão mínima diária que ocorre durante um período de 1 mês, baseada em
dados operacionais anuais (ver a máxima mensal acima).
Vazão ou carga sustentadas A vazão ou carga de massa sustentada ou excedida para um período especificado
de tempo (p. ex., 1 hora, 1 dia ou 1 mês) baseado em dados operacionais anuais.
a
Adaptado em parte de Crites e Tchobanoglous (1998).
b
As definições podem, também, ser aplicadas à carga de massa de constituintes.
c
Em algumas partes do país, a distinção entre períodos úmidos e secos está se tornando indefinida devido aos efeitos das mudanças climáticas.
250
Vazão de pico instantânea = 187,5 m3/dia
150
Vazão m3/dia
100
Vazão máxima sustentada
de 13,5 h = 125,0 m3/dia
50
Vazão mínima horária = 19,5 m3/dia
FIGURA 3–8 Identificação de parâmetros de vazão com base em variações de vazões observadas
durante um dia de semana típico.
3–3 Análise de dados de vazão de esgoto P 207
TABELA 3–12 Faixas de desvios padrões geométricos (sg) para vazões de esgotos
influentes e constituintes selecionados, observados em estações de
tratamento pequenas, médias e grandes
Faixas de valores sg para estações de tratamento de esgotos típicasa
Pequenasb Médiasc Grandesd
Parâmetro Faixa Típica Faixa Típica Faixa Típica
Vazão 1,4–2,0 1,6 1,1–1,5 1,25 1,1–1,2 1,15
DBO 1,4–2,1 1,6 1,3–1,6 1,3 1,1–1,3 1,27
QO 1,5–2,2 1,7 1,4–1,8 1,4 1,1–1,5 1,30
SST 1,4–2,1 1,6 1,3–1,6 1,3 1,1–1,3 1,27
a
Excluindo sistemas com infiltração significativa no sistema coletor.
b
Vazão de 4000–40.000 m3/dia (1–10 milhões de galões/dia).
c
Vazão de 40.000–400.000 m3/dia (10–100 milhões de galões/dia).
d
Vazão >400.000 m3/dia (>100 milhões de galões/dia).
Conforme discutido no Apêndice D, quanto maior o valor numérico de sg, maior é a faixa obser-
vada de valores medidos.
Os fatores de pico estão, também, relacionados ao sg através da especificação de um valor de
frequência. O fator de pico é calculado como o valor a uma determinada frequência dividido pelo
valor médio. Por exemplo, o valor do pico diário, que corresponde a um evento por ano, é o valor
que ocorre com uma frequência de 99,7% [(364/365) 100]. As faixas típicas de valores observa-
dos de sg para vazões influentes de estações de tratamento com capacidades pequenas, médias ou
grandes são apresentadas na Tabela 3–12. A relação entre valores sg e os fatores de pico para picos
diários, semanais ou mensais pode ser determinada utilizando as curvas apresentadas na Figura
3–9. Um exemplo do uso do valor sg e as curvas dadas na Figura 3–9 é ilustrado, subsequentemente,
no Exemplo 3–9.
2,2 1,5
2
Desvio padrão geométrico de
1,4
Desvio padrão geométrico de
processo de tratamento, sg
processo de tratamento, sg
Pico mensal
1,8 Pico semanal
1,3
Pico diário
1,6
1 1
1 2 3 4 5 6 7 8 1 1,2 1,4 1,6 1,8 2
Relação entre o pico e a média Relação entre o pico e a média
(a) (b)
FIGURA 3–9 Relações de valores sg a fatores de pico para picos diários, semanais e mensais: (a) dia-
grama para instalações com grandes picos em relação às variações médias e (b) porção expandida do
diagrama (a) para instalações com pequenos picos em relação às variações médias.
208 P Capítulo 3 Vazões de esgoto e cargas de constituintes
(a) (b)
FIGURA 3–10 Amostradores utilizados para coletar amostras de esgoto: (a) amostrador interno re-
frigerado e fechado, utilizado para a coleta de amostras de conformidade de efluentes de estações de
tratamento (ver Figura 2–2 para visualizar a operação interna do amostrador), e (b) amostrador portátil
utilizado para coletar amostras individuais ao longo de um dia para acessar o desempenho de processo e
para estudar benefícios potenciais de modificações de processos (cortesia de Hach Company, www.hach.
com). Amostradores portáteis são, também, utilizados para efetuar avaliações de sistemas de coleta.
3–4 Análise de constituintes de esgoto P 209
te na discussão sobre vazões, as vazões per capita vêm decrescendo como resultado de aparelhos
e equipamentos de conservação de água. O uso de medidas atuais de valores de concentração para
projeções futuras pode ser enganosa porque os valores futuros de concentração serão reduzidos,
devido aos impactos da continuidade do progresso atual de conservação de água. Um critério mais
racional seria considerar a taxa de descarga de constituintes com base em valores per capita. Com
a disponibilidade desses dados, as concentrações correspondentes no esgoto podem ser facilmente
determinadas. A seguir, massas típicas de constituintes são apresentadas para os Estados Unidos e
diversos outros países.
Descargas de massa de constituintes per capita, nos Estados Unidos. Dados típicos
da massa total de esgoto descarregada por pessoa, por dia (por peso, em base seca) de residências
individuais são relacionados na Tabela 3–13. Nessa tabela, os dados apresentados foram coletados
de diversas fontes, e os valores relacionados representam os valores combinados de fezes e de
urina. A razão pela qual a faixa de valores para constituintes individuais é maior do que valores
observados em outros países (ver Tabela 3–14) é atribuída ao fato de que aproximadamente 37,5%
de todos os indivíduos adultos nos Estados Unidos são classificados como obesos (Ogden et al.,
2012). O número total de organismos patogênicos descarregados dependerá se o indivíduo estiver
doente e eliminando patógenos. Se um ou mais membros de uma família estão doentes e eliminan-
do patógenos, o número de organismos medidos pode aumentar por diversas ordens de magnitude.
Os dados apresentados na Tabela 3–13 serão utilizados em seguida para determinar a concentração
de constituintes com base em diversos volumes de água. É antecipado que, no futuro, a massa de
constituintes per capita, conforme mostrado na Tabela 3–13, será utilizada como base para determi-
nar concentrações esperadas de constituintes tanto para a melhoria de estações de tratamento como
para novos projetos.
Descargas de massas de constituintes per capita em outros países. A quantidade
de esgoto descarregada individualmente em outros países pode variar significativamente devido a
TABELA 3–13 Quantidade de esgoto descarregado per capita, em base seca por peso, nos Estados Unidosa
TABELA 3–14 Dados típicos de taxas de esgoto descarregados per capita em diversos paísesa
Valor, mg/Lc
Constituinte Fórmula Faixa Típico
Moléculas orgânicas
Uréia CON2H4 9.000–23.000 20.000
Creatinina C4H9N3O2 900–1.200 1.000
Ácido úrico C5H4N4O3 200–400 300
Traços orgânicos
Elementos inorgânicos
Amônia NH4 400–600 500
Bicarbonato HCO3 20–600 300
Cálcio Ca2 100–300 150
Cloreto Cl 1.600–8.000 1.900
Magnésio Mg2 80–120 100
Potássio K 1.200–1.700 1.500
Sódio Na 5.000–7.000 6.000
Compostos inorgânicos
Sulfatos SO42 1.600–2.000 1.800
Fosfatos H2PO , HPO
4
2
4 1000–1500 1.200
PO43
Composição geral
Uréia CON2H4 16.000–24.000 20.000
Compostos orgânicos vários 4.000–8.000 6.000
Sais orgânicos de amônia vários 4.000–6.000 5.000
Sais inorgânicos vários 12.000–16.000 15.000
Outros vários 2.500–6.000 4.000
Sólidos % 4–7 5
Água % 93–96 95
Densidade g/mL 1.002–1.030 1.010
a
Adaptado em parte de Putnam (1971); Ryan (1966); Gotaas (1956); e diversas outras fontes.
b
Os valores na tabela são considerados como aproximados porque a composição da urina varia para cada
indivíduo dependendo da quantidade de água ingerida, da quantidade e da composição dos alimentos ingeridos,
da hora do dia, da saúde geral, da pressão arterial e da temperatura.
c
A quantidade per capita de urina descarregada por dia varia entre 0,8 a 1,3 L/capitadia.
Solução
1. Utilize as seguintes contribuições médias de constituintes dados na Tabela 3–15:
a. DBO 50 g/capitadia
b. SST 62 g/capitadia
c. N-NH3 4 g/capitadia
(continua)
212 P Capítulo 3 Vazões de esgoto e cargas de constituintes
(continuação)
2. Calcule a concentração da DBO.
Comentário
Em muitas partes do mundo, onde o consumo de água é baixo, as concentrações dos cons-
tituintes DBO e SST podem chegar a até 1000 g/m3 (mg/L). No exemplo acima, as concen-
trações de DBO e de SST são, aproximadamente, de 2 a 4 vezes as concentrações de DBO e
de SST tipicamente encontradas nos Estados Unidos (ver Tabela 3–16). As concentrações de
nitrogênio amoniacal (N–NH3) podem, também, ser altas, talvez na ordem de duas ou mais
vezes maiores do que nos Estados Unidos.
municipal, devido ao consumo doméstico de água, são relacionados na Tabela 3–17. O aumento do
conteúdo mineral do esgoto pode ser causado, em parte, pela adição de água altamente mineraliza-
da de poços privados e água subterrânea e de uso de água na indústria. Os removedores de dureza
domésticos e industriais também contribuem significativamente para o aumento do conteúdo mi-
neral e, em algumas áreas, podem representar a fonte principal. Ocasionalmente, águas de poços
privados e de infiltração de água subterrânea podem (devido às suas qualidades elevadas) servir
para diluir a concentração mineral do esgoto.
Concentraçãob
Constituinte Unidade Baixa Média Alta
Sólidos totais (ST) mg/L 537 806 1612
Sólidos dissolvidos totais (SDT) mg/L 374 560 1121
Fixos mg/L 224 336 672
Voláteis mg/L 150 225 449
Sólidos suspensos totais (SST) mg/L 130 195 389
Fixos mg/L 29 43 86
Voláteis mg/L 101 152 304
Sólidos sedimentáveis mL/L 8 12 23
Demanda bioquímica de oxigênio, mg/L 133 200 400
5-d, 20°C DBO
Carbono orgânico total (COT) mg/L 109 164 328
Demanda química de oxigênio (DQO) mg/L 339 508 1016
Nitrogênio (total como N) mg/L 23 35 69
Orgânico mg/L 10 14 29
Amônia livre mg/L 14 20 41
Nitritos mg/L 0 0 0
Nitratos mg/L 0 0 0
Fósforo (total como P) mg/L 3,7 5,6 11,0
Orgânico mg/L 2,1 3,2 6,3
Inorgânico mg/L 1,6 2,4 4,7
Potássio mg/L 11 16 32
Cloretosc mg/L 39 59 118
Sulfatoc mg/L 24 36 72
Óleo e graxa mg/L 51 76 153
Compostos orgânicos voláteis totais mg/L 100 100–400 400
(COVs)
Coliformes totais No./100 mL 106–108 107–109 107–1010
Coliformes fecais No./100 mL 103–105 104–106 105–108
1 1
Oocistos de Cryptosporidium No./100 mL 10 –10 1
10 –10 2
101–103
Cistos de Giardia lamblia No./100 mL 101–102 101–103 101–104
a
Adaptado de Tchobanoglous et al. (2003).
b
Concentração baixa é baseada em uma vazão aproximada de esgoto de 570 L/capitadia (150 galões/
capitadia). Concentração média é baseada em uma vazão aproximada de esgoto de 380 L/capitadia (100
galões/capitadia). Concentração alta é baseada em uma vazão aproximada de esgoto de 190 L/capitadia (50
galões/capitadia).
c
Os valores devem ser aumentados pela quantidade de constituintes presentes na água de abastecimento.
Nota: mg/L g/m3.
300 0,3
Concentração
de DBO
250 Concentração 0,25
Concentração de constituinte, mg/L de SST
200 0,2
Vazão
Vazão, m3/s
150 0,15
100 0,1
50 0,05
0 0
0 4 8 12 16 20 24
Meia-noite Meio-dia Meia-noite
Horas do dia
FIGURA 3–11 Variações horárias típicas observadas em vazão e concentrações de DBO e SST em
esgoto doméstico.
manhã. A amplitude das variações de DBO e de SST depende do tamanho e das características da
comunidade. O horário no qual os picos ocorrem variam em função dos dias da semana e dos dias
de final de semana [ver Figura 3–3(b)].
Variação sazonal das concentrações de constituintes. Considerando apenas esgoto
doméstico, e negligenciando os efeitos da infiltração, a unidade de carga (per capita) e a concen-
tração do esgoto oriundo da maioria das fontes sazonais, como instalações de turismo, perma-
necerão sem variação em base diária, durante todo o ano, embora haja variação da vazão total.
A massa total de DBO e de SST no esgoto, entretanto, aumentará diretamente em função da
população servida.
A infiltração/influente, conforme discutido anteriormente neste capítulo, são outras fontes de
contribuição ao sistema de coleta. Em muitos casos, a presença dessas águas externas tendem a
decrescer as concentrações de DBO e de SST, dependendo das características da água que entra na
tubulação. Em alguns casos, as concentrações de alguns constituintes inorgânicos podem aumentar
quando a água subterrânea contém níveis elevados de constituintes dissolvidos.
Variações de esgotos industriais. A composição de esgoto de operações industriais varia
largamente dependendo da função e da atividade de cada indústria, particularmente. Exemplos da
variabilidade da concentração de constituintes são ilustrados na Tabela 3–19. Desses exemplos,
pode ser observado que os valores de vazão e as medidas de qualidade de água podem variar por
diversas ordens de magnitude durante o período de um ano. Devido a essa variação, geralmente é
difícil definir “condições típicas de operação” para atividades industriais.
As concentrações de DBO e de SST, assim como uma larga gama de outros constituintes de
esgoto industrial, podem variar significativamente durante o dia. Por exemplo, as concentrações de
DBO e SST oriundas de indústrias que processam vegetais excedem, durante o período de lavagem
que ocorre ao meio-dia, àquelas oriundas do período normal de operação. Problemas com cargas
elevadas de curto prazo ocorrem comumente em pequenas estações de tratamento que possuem
capacidade de reserva limitada para manusear as chamadas “cargas de choque.” O impacto sazonal
de esgotos industriais, como nas indústrias de enlatamento, podem provocar o aumento de vazão e
de cargas de DBO de duas a cinco vezes em relação às condições médias.
Se esgotos industriais são descarregados em um sistema de coleta para tratamento em uma
estação de tratamento municipal, será necessário caracterizar o esgoto adequadamente, para, então,
216 P Capítulo 3 Vazões de esgoto e cargas de constituintes
de DBO e de coliformes fecais na água de chuva são, significativamente, menores que no esgoto.
As características de esgoto unitário e de águas pluviais, em comparação com esgoto municipal,
são mostradas na Tabela 3–21.
Diferentemente da DBO e de coliformes fecais, as concentrações de SST sobem moderada-
mente durante a chuva e permanecem constante após ela, indicando que as concentrações de SST
do escoamento de águas pluviais e do esgoto são similares. A pequena elevação da concentração
de SST durante a vazão de pico pode ser atribuída a um fenômeno comum a muitos sistemas uni-
tários conhecido como “primeiro fluxo”. O fenômeno de primeiro fluxo tem sido observado após
a fase inicial de uma precipitação, na qual a maioria dos contaminantes acumulados na superfície
são carregados para dentro do sistema unitário. Em sistemas unitários, as vazões maiores podem
ser capazes de ressuspender o material depositado anteriormente, durante períodos de pequenas
vazões.
Considerados em conjunto, o material ressuspenso e os contaminantes oriundos de lavagem de
superfícies, resultam em concentrações elevadas de contaminantes. Os fatores considerados como
contribuintes da magnitude e da frequência do efeito de primeiro fluxo, incluem declividades de
sistemas unitários, frequência de limpeza e características de projetos, intensidade e duração da
chuva e acúmulo de entulho e de contaminantes na superfície.
Esgoto de sistemas unitários contém, usualmente, mais matéria inorgânica do que esgoto de
sistemas sanitários (separador absoluto) devido à grande quantidade de águas pluviais de escoa-
mento superficial que adentram os sistemas unitários. Essa observação é particularmente verda-
deira no cinturão de estados com muita neve, nos quais utiliza-se areia para tratar as ruas durante
eventos de neve e de gelo.
218 P Capítulo 3 Vazões de esgoto e cargas de constituintes
0,45 0
0,30 10
Vazão, m3/s
Vazão
0,15
0
2 AM 3 AM 4 AM 5 AM 6 AM 7 AM 8 AM
Horas do dia
150 60
Sólidos suspensos
totais
100 40
50 Coliformes fecais 20
DBO
0 0
2 AM 3 AM 4 AM 5 AM 6 AM 7 AM 8 AM
Horas do dia
FIGURA 3–12 Variações típicas de vazão, DBO, SST e coliformes fecais em um sistema unitário durante
um evento de chuva.
TABELA 3–21 Comparação das características de esgoto unitário com outras fontesa
Escoamento
Parâmetro Unidade Chuva superficial da chuva Esgoto unitário Esgoto municipal
Sólidos suspensos totais, SST mg/L 1 67–101 270–550 120–400
Demanda bioquímica de oxigênio, mg/L 1–13 8–10 60–220 110–350
DBO
Demanda química de oxigênio DQO mg/L 9–16 40–73 260–480 250–800
Nitrogênio (como N)
Nitrogênio Kjeldahl total, NKT mg/L 0,40–1,00 4–17 20–70
Nitrato, NO3 mg/L 0,05–1,0 0,48–0,91 0
Fósforo (total como P) mg/L 0,02–0,15 0,67–1,66 1,2–2,8 4–12
Metais
Cobre, Cu mg/L 27–33
Chumbo, Pb mg/L 30–70 30–144 140–600
Zinco, Zn mg/L 135–226
Coliformes fecais NMP/100 mL 103–104 105–106 105–108
a
Adaptado de Tchobanoglous et al. (2003).
Média simples
A média simples ou média aritmética de diversas medidas individuais é dada por
(3–2)
Para analisar os dados de DBO e de SST mostrados na Tabela 3–6, por exemplo, o procedimento
usual é dividir os dados do dia em 24 incrementos de 1 hora, somar as médias horárias dos 24 va-
lores individuais e dividir por 24. Embora as médias aritméticas sejam ainda utilizadas, elas não
têm muito valor, porque a magnitude da vazão na hora da medida não é considerada. Se a vazão
permanece constante, o uso da média simples é aceitável.
(3–3)
220 P Capítulo 3 Vazões de esgoto e cargas de constituintes
Sempre que possível, as concentrações de constituintes associadas às respectivas vazões devem ser
utilizadas, porque são uma representação mais acurada da concentração real do esgoto a ser tratado.
A determinação de uma média aritmética simples e de uma média associada à vazão de concentra-
ções de constituintes é mostrada no Exemplo 3–6.
Solução
1. Construa uma tabela para calcular os valores de vazão com colunas para tempo, vazão,
DBO, SST, q DBO e q SST. Entre com os intervalos de tempos (p. ex., meio-dia – 1
hora) na coluna 1. A tabela solicitada é apresentada acima.
2. Para cada período de tempo, calcule o valor da vazão média durante o intervalo e coloque
o valor na coluna 2. Por exemplo, o valor médio da vazão durante o primeiro intervalo
(12 horas–1 hora) é
Vazão média
Os valores médios da vazão para cada intervalo de tempo sucessivo são colocados na
coluna 2.
3. Coloque os valores de DBO e de SST nas colunas 3 e 4, respectivamente.
4. Para cada período de tempo, multiplique o valor médio da vazão (coluna 2) vezes o valor
médio da DBO (coluna 3), e coloque os resultados na coluna 5.
3–5 Análise de dados de carga de massa de constituintes P 221
5. Para cada período de tempo, multiplique o valor médio da vazão (coluna 2) pelo valor
médio de SST (coluna 4), e coloque os resultados na coluna 6.
6. Calcule a soma e média aritmética simples para as colunas 2 a 6.
7. Divida a soma dos valores das colunas 5 e 6 (q DBO e q SST, respectivamente) pela
soma dos valores da coluna 2 (vazão) para obter as médias associadas às vazões de DBO
e de SST. Os valores resultantes são apresentados nas duas últimas linhas da tabela.
a
711,96/3,346 212,8.
Comentário
Quando comparada a computação dos valores de uma média simples com uma média asso-
ciada a vazões, as diferenças podem ser significativas. Neste exemplo, se as médias simples
fossem utilizadas, a carga de DBO seria reduzida por 17,7 mg/L (8,3%), e a carga de SST por
16,7 mg/L (8,1%). Se as médias simples tivessem sido utilizadas para estabelecer processos
associados a valores de carga, a estação de tratamento teria sido subdimensionada, neste caso,
por aproximadamente 8%.
222 P Capítulo 3 Vazões de esgoto e cargas de constituintes
Para projetar processos de tratamento que funcionem adequadamente sob várias condições de car-
ga, devem ser disponíveis dados para as taxas de cargas de massa de pico sustentado dos consti-
tuintes esperados. No passado, essa informação era raramente disponível. Quando não se dispõe de
dados, curvas similares às da Figura 3–13 podem ser utilizadas. As curvas para DBO, SST e NKT
(nitrogênio Kjeldahl total), NH3 (amônia), e fósforo foram derivadas de uma análise de dados de
mais de 50 estações de tratamento, em todo país. Deve ser notado que variações significativas serão
observadas entre estações, dependendo do tamanho do sistema, da porcentagem de esgoto unitário,
do tamanho e da declividade dos interceptadores e dos tipos de contribuintes à rede coletora.
O procedimento para elaborar curvas de taxas de cargas de massa, mostradas na Figura 3–13 é
como segue. Inicialmente, é determinada a taxa de carga de massa média para o período dos dados
disponíveis. Depois, os dados são revisados para a maior e a menor taxa sustentada de um dia, da
carga de massa. Esses valores são divididos pela taxa de carga de massa média e os números são
plotados. Em seguida, os mesmos procedimentos são efetuados para as cargas sustentadas, para
dois dias consecutivos, três dias consecutivos, etc., até que os valores da razão sejam encontrados
para o período de interesse (usualmente de 10 a 30 dias).
As taxas de carga de massa para as diversas estações foram desenvolvidas utilizando dados
horários e a expressão seguinte:
(concentração, g/m3)(vazão, m3 /dia)
Taxa de carga de massa diária, kg/d (3–5a)
EXEMPLO 3–7 Cálculo de valores de taxas de cargas de massa sustentadas para DBO
Elabore uma curva de cargas de massa de pico de DBO sustentado, para uma estação de tra-
tamento com uma vazão de projeto de 1 m3/s (22,8 Mgal/dia), utilizando os fatores de taxas
de cargas de pico sustentado da Figura 3–13(a). Assuma que a concentração média de DBO
de longo prazo é de 200 g/m3.
Solução
1. Calcule o valor da taxa de carga de massa diária para DBO.
2. Faça uma tabela de computação para coletar a informação necessária para elaborar a
curva de carga de massa de pico de DBO sustentado (ver tabela seguinte).
3. Utilize os fatores de taxas de cargas de pico de DBO sustentado da Figura 3–13(a), e
determine as taxas de cargas de massa sustentadas para vários períodos de tempo [ver
tabela, colunas (1), (2) e (3)].
4. Elabore os dados para a curva de carga de massa sustentada e plote os dados resultantes
(ver figura seguinte).
Taxa de carga de
Período de pico Fator de massa de pico Carga de massa
sustentado, dia picoa para DBO, kg/d total, kgb
(1) (2) (3) (4)
1 2,4 41.472c 41.472
2 2,1 36.288 72.576
3 1,9 32.832 98.496
4 1,8 31.104 124.416
5 1,7 29.376 146.880
10 1,4 24.192 241.920
15 1,3 22.464 336.960
20 1,25 21.600 432.000
30 1,21 19.872 596.160
365 1,0 17.280
a
Da Figura 3–13a.
b
Coluna 1 coluna 3 col. 4.
c
41.472 17.280 2,4.
600 3
Carga de massa total de DBO, 103 kg
400 Fator de
Fator de pico
pico 1,8
300
1,2
200
0,6
100
0 0
0 5 10 15 20 25 30
Período da carga de pico sustentado, dia
Comentário
A interpretação da curva neste exemplo é como segue. Se o período de carga de pico susten-
tado se mantivesse durante 10 dias, a quantidade total da DBO que seria recebida pela estação
de tratamento durante os 10 dias seria de 241.695 kg. As quantidades correspondentes para
períodos de picos sustentados de 1 e 2 dias seriam 41.401 e 72.451 kg, respectivamente. Os
cálculos para um exemplo deste tipo são efetuados, normalmente, com um programa de pla-
nilhas (Excel, por exemplo).
224 P Capítulo 3 Vazões de esgoto e cargas de constituintes
Valor típico
2
0
0 5 10 15 20 25 30 35
Número de dias consecutivos durante o período de retorno
no qual a taxa de carga de massa foi sustentada
5
Relação entre a média do pico susten-
4 (b) SST
Valor típico
2
0
0 5 10 15 20 25 30 35
Número de dias consecutivos durante o período de retorno
no qual a taxa de carga de massa foi sustentada
4
Relação entre a média do pico susten-
P N-NKT
2 N-NH 3
N-NH 3 e P
0
0 5 10 15 20 25 30 35
Número de dias consecutivos durante o período de retorno
no qual a taxa de carga de massa foi sustentada
FIGURA 3–13 Informação típica da relação entre o pico médio e a média de valores baixos a médios,
de taxas de cargas de massa para: (a) Demanda bioquímica de oxigênio, DBO; (b) sólidos suspensos
totais SST; e (c) nitrogênio amoniacal, N-NH3, nitrogênio Kjeldahl total, NKT, e fósforo, P.
300 0,3
Concentração
de DBO
200 0,2
Vazão
Vazão,m3/s
200 150 0,15
Taxa de carga de
massa de SST
Taxa de carga de
massa, kg/hora
150
100 0,1
0 0 0
0 0 4 8 12 16 20 24
Meia-noite Meio-dia Meia-noite
Horas do dia
2580 2138
1000 2000
Concentração de DBO e de STT, mg/L
DBO
800 1600
Taxa de carga de massa de
SST e de DBO, kg/dia
600 1200
SST
400 800
DBO
200 400
SST
0 0
0 5 10 15 20 25 30
Dias do mês
FIGURA 3–15 Exemplo de variações de concentrações de SST, DBO e de taxas de cargas de massa
durante um mês.
visualizado nos efeitos sobre a operação de sistemas biológicos de tratamento. A taxa de carga
de DBO máxima horária pode variar de 3 a 4 vezes a taxa de carga mínima horária de DBO em
um período de 24 horas. Em períodos de tempos maiores, as taxas de carga de massa podem,
também, variar bastante (ver Figura 3–15). Esses tipos de variações têm que ser considerados no
projeto de sistemas de tratamento biológico. Em casos extremos, a equalização de vazão ou de
carga pode ser necessária.
são influenciadas por vazões, características do esgoto, concentrações de constituintes, e uma com-
binação entre vazão e concentração (carga de massa). As condições que devem ser consideradas
incluem vazões hidráulicas de pico e vazões mínimas, valores máximos e mínimos, e taxas susten-
tadas de carga de massa de constituintes de processos de tratamento. A importância das vazões de
esgoto no projeto e na operação é considerada nesta seção; as cargas de massa são discutidas nas
seções seguintes.
Adicionalmente, no período inicial de operação, as vazões e cargas baixas que ocorrem devem
ser consideradas no projeto. Os fatores de vazão e de cargas de massa importantes para o projeto
e a operação de estações de tratamento de esgotos são descritos na Tabela 3–22. O objetivo básico
do tratamento de esgoto é prover um sistema que seja capaz de responder a uma larga gama de
condições prováveis de esgoto, e, ao mesmo tempo, atender integralmente aos requerimentos de
desempenho da estação de tratamento.
TABELA 3–22 Fatores de vazão e de cargas de massa típicas utilizadas para o projeto e a
operação de estações de tratamento de esgotoa
Fatores Finalidade do projeto e operação
Vazão
Vazão média diária Desenvolvimento de razões de vazão para estimar custos de recalque e de
produtos químicos. Também utilizada para estimar as necessidades de pessoal.
Hora de pico Dimensionamento das instalações de recalque e de condutos; dimensionamento
dos processos unitários físicos: caixas de areia, decantadores e filtros;
dimensionamento dos tanques de contato de cloro. Utilizar a vazão de pico
horária em toda a estação de tratamento, evitando alagamento de canais, e
vertedores é um dos desafios principais na elaboração do projeto. É, também,
importante, no desenvolvimento de estratégias de controle de processos.
Máxima diária Dimensionamento de bacias de equalização, tubulações e vertedores dos
efluentes de decantadores, tanques de contato de cloro e sistemas de recalque
de lodo. É, também, importante desenvolver estratégias de controle de processos
para manusear grandes vazões.
Máxima mensal Arquivamento de dados e preparação de relatórios; seleção do número máximo
de unidades necessárias para operar durante períodos de grandes vazões;
estratégias operacionais para vazões elevadas sustentadas; e dimensionamento
de almoxarifado para armazenar produtos químicos.
Mínima horária Projetar a redução de bombeamento de instalações de recalque e de sistemas de
dosagem de produtos químicos, e determinar a faixa inferior do(s) medidor(es) de
vazão da estação.
Mínima diária Dimensionar os canais influentes para controlar a deposição de sólidos;
dimensionar sistema de recirculação de efluentes de filtros biológicos.
Mínima mensal Selecionar o mínimo de unidades para operar que são necessárias durante
períodos de vazão baixa; programar a parada da estação para serviços de
manutenção.
Cargas de massa
Mínima mensal Requerimentos para interromper (ou reduzir a operação de) processos.
Mínima diária Dimensionamento das taxas de recirculação de filtros biológicos.
Máxima diária Dimensionamento dos processos unitários selecionados.
Máxima mensal Dimensionamento de armazenamento de lodos; dimensionamento de requisitos
para compostagem.
Máxima de 15 dias Dimensionamento de digestores aeróbios e anaeróbios.
Carga sustentada Dimensionamento dos processos unitários selecionados e de respectivos
equipamentos auxiliares.
a
Adaptado de Tchobanoglous et al. (2003).
3–6 Seleção de vazões e de cargas de massa P 227
Vazões de projeto
A caracterização e a previsão de vazões são necessárias para determinar a capacidade e os reque-
rimentos hidráulicos do sistema de tratamento. As vazões devem ser caracterizadas tanto para o
projeto do período inicial de operação, como para o projeto para condições futuras. A consideração
de vazões durante os primeiros anos de operação é comumente ignorada, resultando em super-
dimensionamento de equipamentos e de operação ineficiente. O foco da discussão seguinte é na
caracterização das diversas vazões necessárias para o projeto.
Critérios para a seleção de vazões. Os critérios para a seleção de vazões são baseados em
considerações hidráulicas e processos de tratamento. Como mencionados, processos unitários e
tubulações devem ser dimensionados para veicular as vazões de pico antecipadas que passarão
através da estação de tratamento. Devem ser feitas provisões para garantir que não ocorra desvio de
esgoto, tanto no sistema de coleta como na estação de tratamento. Muitos dos processos unitários
são projetados com base no tempo de detenção ou na taxa de escoamento superficial (vazão por
unidade de área superficial), para obter as taxas planejadas de remoção de DBO e de SST. Como o
desempenho dessas unidades pode ser afetado significativamente em função de variações de vazões
e de carga de massa, as vazões mínimas e de pico devem ser consideradas para o projeto.
Previsão de vazões. Na determinação de vazões de projeto, os elementos a serem conside-
rados são (1) vazões de base existentes; (2) vazões futuras estimadas de fontes residenciais, co-
merciais, institucionais e industriais; e (3) infiltração/influentes não excessivos. As vazões de base
existentes são iguais às vazões medidas menos a infiltração/influentes excessivos (definidas como a
infiltração/influentes que podem ser controlados através de melhorias de custo-efetivo, no sistema
de coleta).
A escala pela qual a vazão de base de tempo seco pode ser medida, quando a infiltração não é
excessiva, é de 420 L/capitadia (110 galões/capitadia). Essa vazão de base inclui 230 L/capitadia
(60 galões/capitadia) de vazões domésticas, 40 L/capitadia (10 galões/capitadia) de vazões co-
merciais e de pequenas indústrias, e 150 L/capitadia (40 galões/capitadia) por infiltração.
Uma técnica útil para prever vazões é a análise de probabilidades, discutida anteriormente
neste capítulo. Quando dados de vazões são disponíveis, preferivelmente por pelo menos dois anos,
vazões de projeto futuras podem ser previstas com segurança aceitável. Um exemplo de análise
probabilística de vazões, assim como de concentrações de DBO, de SST e de carga de massa, é
mostrado na Figura 3–16. A análise de probabilidades pode ser utilizada para estimar ocorrências
de vazões e de cargas de massa, e para estabelecer uma base para selecionar vazões e cargas de pro-
jetos. Por exemplo, uma máxima que ocorre em um dia pode ser determinada com base em 99,7%
de probabilidade; o valor não será igualado ou excedido no período de tempo analisado. O valor
da probabilidade, como o de 95 percentil, pode, também, ser estabelecido para prever as cargas de
projeto que atendam às imposições legais.
Vazões mínimas. Conforme mostrado na Tabela 3–22, vazões baixas devem, também, ser con-
sideradas no projeto de estações de tratamento, principalmente durante os primeiros anos de opera-
ção, quando a estação está operando muito abaixo da capacidade de projeto, e no projeto de estações
de recalque. Em casos em que se espera vazões noturnas muito baixas, provisões para reciclar o
efluente tratado podem ser necessárias a fim de manter o sistema funcionando (p. ex., em processos
de tratamento biológico como filtros biológicos, e para manter vazões ótimas através de sistemas de
desinfecção por radiação ultravioleta). Na ausência de dados de vazões medidas, as vazões mínimas
diárias podem ser assumidas na faixa de 30 a 90% das vazões médias para comunidades pequenas e
de grandes dimensões, respectivamente [ver também Figura 3–3(c)] (WEF, 2010).
Vazões sustentáveis. Vazões sustentáveis são aquelas que são igualadas ou ultrapassadas du-
rante um número de dias consecutivos, com base em dados operacionais anuais. Os dados de va-
zões sustentadas podem ser utilizados para dimensionar bacias de equalização e de outros compo-
nentes hidráulicos. Um exemplo de curva de vazão sustentada e de pequenas vazões é mostrado na
Figura 3–17. Ao se elaborar curvas similares à da Figura 3–17, deve ser utilizado o maior período
disponível.
228 P Capítulo 3 Vazões de esgoto e cargas de constituintes
104
102
DBO
SST
Vazão
101
100
0,01 0,1 1 5 10 20 30 50 70 80 90 95 99 99,9 99,99
Porcentagem de valores iguais ou menores do que o valor indicado
Fatores de picos de vazão. Os fatores de picos de vazão (a relação entre o pico de vazão e a
vazão média) utilizados com frequência em projetos são aqueles de hora de pico e de máxima diá-
ria (ver Tabela 3–22). As vazões de pico horária são utilizadas para dimensionar o sistema de trans-
porte hidráulico e outras instalações, como tanques de sedimentação e tanque de contato de cloro,
onde se dispõe de pequenos volumes para amortecimento da vazão. Outros fatores de pico, como
o máximo seminal ou o máximo mensal, podem ser utilizados em estações de tratamento como
as lagoas de estabilização que têm grandes períodos de tempos de detenção, ou para dimensionar
instalações de processamento de sólidos e biossólidos, que também possuem grandes tempos de
detenção ou amplo armazenamento. Fatores de pico podem ser desenvolvidos de dados de vazões
ou baseados em curvas publicadas, ou em dados de comunidades similares.
Se os dados medidos de vazão são inadequados para desenvolver fatores de pico, podem ser
utilizadas informações publicadas. Muitas fontes de dados de fatores de pico são disponíveis em
4
Relação entre médias de picos sustentados e
de vazões pequenas a vazões médias
Faixa de valores
2
Vazão média
1
FIGURA 3–17 Relações típicas entre picos médios sustentados e de pequenas vazões diárias a vazões
diárias anuais, para períodos de tempo de até 30 dias.
3–6 Seleção de vazões e de cargas de massa P 229
4,5
4
Relação entre a vazão de pico
horária e a vazão média
3,5
2,5
1,5
1 10 102 103
População em milhares
FIGURA 3–18 Curva de fator de pico (relação entre o pico horário e a vazão média diária).
agências estaduais, municípios e distritos especiais, que oferecem serviços de sistemas de coleta
de esgotos e serviços de tratamento, além de publicações profissionais de organizações nacionais
como a Water Environment Federation e a American Society of Civil Engineers. (Um exemplo de
curva de fator de pico é apresentada na Figura 3–18, que pode ser utilizada para estimar vazões
de pico horárias oriundas de fontes domésticas.) A curva mostrada na Figura 3–18 foi elaborada
através da análise de dados de diversas comunidades dos Estados Unidos. A curva é baseada nas
vazões médias residenciais, excluindo infiltração/influentes, e exclui pequenas quantidades de va-
zões comerciais e efluentes industriais.
No desenvolvimento de fatores de pico de vazões horárias, as características do sistema coletor
que alimentam a estação de tratamento devem ser cuidadosamente consideradas. Melhorias ou reabi-
litação do sistema coletor, podem, também, aumentar ou reduzir os fatores de pico. Para vazões recal-
cadas, quando não se dispõe de dados medidos confiáveis, os aspectos a serem considerados incluem:
• Entrevistas com operadores com relação à observações de condições operacionais
• Revisão dos dados de bombeamento (dados históricos sobre número de bombas em operação e
períodos de operação, se disponíveis)
• Rotação operacional das bombas
• Condições das bombas através de dados operacionais (a vazão da unidade será menor se os
rotores estão desgastados)
Testes de campo em instalações de recalque também podem ser efetuados para medir a vazão de re-
calque simulada de um evento histórico de grande vazão. A concessionária de energia local oferece,
comumente, assistência para desenvolvimento dos testes.
Quando a vazão influente à estação de tratamento é efetuada por gravidade, a vazão de pico
pode ser avaliada com base no seguinte:
• Capacidade da tubulação influente
• Investigação nos poços de visitas de montante para determinar se uma marca de água em po-
sição elevada é visível
• Entrevistas com a equipe de operação e análise de quaisquer dados de campo documentados
Previsão de vazões de projetos, incluindo a utilização de fatores de pico, é ilustrada na Figura 3-8.
Controle da vazão de pico a montante. Planejar estações de tratamento para operar com
vazões de pico pode envolver outras considerações, incluindo (1) melhorias do sistema de coleta
para reduzir as vazões de pico associadas à infiltração/influentes (I/I) e (2) construir sistemas de
equalização de vazão para proporcionar armazenamento, tanto no sistema coletor como na estação
de tratamento. Outras alternativas para o controle de vazões de pico em estações de tratamento, ou
seja, provisão de sistemas divisores de vazão ou instalações de desvio, são discutidas na Seção 3–7.
230 P Capítulo 3 Vazões de esgoto e cargas de constituintes
Solução
1. Calcule as vazões de esgoto per capita atuais e futuras
a. Calcule, para as condições atuais, a vazão média doméstica excluindo a infiltração e o
uso municipal.
i. Calcule a infiltração
b. Calcule a vazão per capita atual dividindo a vazão doméstica atual pela população
atual.
(4400 m3/dia)
Vazão per capita 0,29 m3/capitadia
15.000 pessoas
3–6 Seleção de vazões e de cargas de massa P 231
Vazão, m3/dia
Vazão Atual Mais 10 Mais 20
Da população atual 4.400 3.960 3.520
Da população futura (5.000 0,232 m /capitadia)
3
1.160
Da população futura (10.000 0,232 m /capitadia)
3
2.320
Subtotal residencial 4.400 5.120 5.840
Vazão industrial 1.000 1.000 1.000
Infiltração (15.000)(100 L/capitadia)(1 m /10 L)
3 3
1.500
Infiltração (20.000)(100 L/capitadia)(1 m /10 L)
3 3
2.000
Infiltração (25.000)(100 L/capitadia)(1 m3/103 L) 2.500
Municipal (15.000)(40 L/capitadia)(1 m3/103 L) 600
Municipal (20.000)(40 L/capitadia)(1 m /10 L)
3 3
800
Municipal (25.000)(40 L/capitadia)(1 m /10 L)
3 3
1.000
Vazão média total 7.500 8.920 10.340
Vazão média per capita 0,50 0,45 0,41
Vazão, m3/dia
Vazão Atual Mais 10 Mais 20
Vazão de pico residencial (4.400 3,0) 13.230
Vazão de pico residencial (5.120 2,5) 12.800
Vazão de pico residencial (5.840 2,0) 11.680
Vazão de pico industrial 1.500 1.500 1.500
Infiltração (15.000)(150 L/capitadia)(1 m /10 L)
3 3
2.250
Infiltração (20.000)(150 L/capitadia)(1 m /10 L)
3 3
3.000
Infiltração (25.000)(150 L/capitadia)(1 m /10 L)
3 3
3.750
Municipal (15.000)(60 L/capitad)(1 m3/103 L) 900
Municipal (20.000)(60 L/capitadia)(1 m3/103 L) 1.200
Municipal (25.000)(60 L/capitadia)(1 m /10 L)
3 3
1.500
Vazão de pico total 17.880 18.500 18.430
Vazão de pico per capita 1,19 0,93 0,74
(continua)
232 P Capítulo 3 Vazões de esgoto e cargas de constituintes
(continuação)
4. Calcule a vazão mínima
Vazão, m3/dia
Vazão Atual Mais 10 Mais 20
Vazão residencial mínima (4.400 0.35) 1.323
Vazão residencial mínima (5.120 0.40) 2.048
Vazão residencial mínima (5.840 0.45) 2.628
Industrial (instalações fechadas durante a noite) 0 0 0
Infiltração (15.000)(100 L/capitadia)(1 m3/103 L) 1.500
Infiltração (20.000)(100 L/capitadia)(1 m3/103 L) 2.000
Infiltração (25.000)(100 L/capitadia)(1 m3/103 L) 2.500
Municipal (600 0.35) 210
Municipal (800 0.40) 320
Municipal (1000 0.45) 450
Vazão mínima total 3.033 4.368 5.578
Vazão de pico mínima per capita 0,2 0,22 0,22
Comentário
Nesse exemplo, infiltração/influentes contribui aproximadamente 50% da vazão mínima, e
20% da vazão média, o que consiste em uma ilustração da influência de vazões externas no
projeto de estações de tratamento. Se os dados de escoamento de esgoto não são adequados
ou são indisponíveis, a vazão diária média futura pode ser calculada com base na população
futura e nas vazões de esgoto unitárias, mostradas na Seção 3.1. Ajustes adequados devem ser
efetuados para considerar quaisquer condições especiais, como redução de vazão, permissão
para infiltração/influentes e vazões industriais. Quando vazões de pico de mais de um compo-
nente de vazão forem calculadas, algum ajuste na vazão de pico total deve ser efetuado se os
picos dos componentes não ocorrerem simultaneamente.
A melhoria de sistemas de coleta pode envolver um processo longo e custoso, e pode não
apresentar um efeito imediato na redução significativa de picos e vazão. Em alguns casos a redução
de vazão proporcionada pela reabilitação do sistema coletor tem sido menos antecipada, particu-
larmente se a infiltração é um componente significativo da vazão total. Sob condições não usuais,
as vazões têm aumentado após a finalização do programa de melhoria do sistema coletor. Portanto,
fatores associados à segurança devem ser considerados quando for avaliada a possível redução da
vazão de pico, através de melhorias no sistema coletor.
A equalização de vazões pode ser uma medida efetiva para regularização de vazões. Os be-
nefícios obtidos pela equalização de vazões à montante incluem (1) carga hidráulica reduzida
em sistemas coletores já sobrecarregados, (2) extrasamento reduzido de sistemas coletores (e
ameaças à saúde pública também reduzidas) e (3) carga hidráulica de pico reduzida na estação
de tratamento.
A equalização depende do volume disponível e pode ser pouco efetiva em condições de pi-
cos de vazão extremos. A locação de sistemas de equalização no sistema de coleta é geralmente
difícil, devido ao limitado espaço disponível em lugares compatíveis com o sistema hidráulico.
Pode ser, também, difícil efetuar a operação e a manutenção do sistema, principalmente em
áreas remotas. A facilidade de operação, manutenção e controle de fatores ambientais são as
principais razões pelas quais muitos sistemas de equalização são instalados em estações de tra-
3–6 Seleção de vazões e de cargas de massa P 233
Determine o valor máximo dos parâmetros do influente para o dia de máximo e para o mês de
máximo. Comente sobre a importância dos resultados.
Solução
Parâmetro
Tamanho da estação Vazão DBO DQO SST
Pequena 1,6 1,6 1,7 1,6
Grande 1,15 1,27 1,30 1,27
2. Insira o valor de sg selecionado na Figura 3–9 para uma frequência dada e determine o
fator de pico correspondente.
Utilizando os valores de sg determinados na etapa 1, os valores correspondentes dos
fatores de pico diário e pico mensal podem ser obtidos da Figura 3–9(a) para uma insta-
lação pequena e na Figura 3–9(b) para uma instalação grande. Os fatores de pico estão
listados na tabela seguinte.
(continua)
234 P Capítulo 3 Vazões de esgoto e cargas de constituintes
(continuação)
3. Para obter os valores máximos para uma determinada frequência, multiplique os fatores de
pico determinados na etapa 2 pelo valor médio da tabela dada no enunciado do problema.
a. Para a vazão de pico diário para a instalação pequena, o fator de pico é 3,70 e o valor
médio de projeto é 10.000 m3/dia:
Valores de projeto
Estação pequena Estação grande
Parâmetro Unidade Médio Pico dia Pico mês Média Pico dia Pico mês
Vazão m3/dia 10.000 37.000 23.500 500.000 740.000 645.000
DBO mg/L 250 925 587.5 250 487.5 387.5
DQO mg/L 600 2.640 1.590 600 1.320 972
SST mg/L 200 740 470 200 390 310
Comentário
Como mostrado na tabela sumário, apresentada na etapa 3, a instalação menor deve ser pro-
jetada para tratar uma grande faixa de parâmetros do esgoto influente, em relação à estação
maior.
Escoamento
Dreno de
superficial de ruas
telhados
Tubulações de Água decantada
coleta de esgotos descarregada na baía
e no oceano
Esgoto
doméstico
Legenda
Conduto forçado
Estação de recalque
Estação de tratamento
Tanques de estocagem
Túneis de transporte
Emissário
N
1000 m
(b)
FIGURA 3–19 Detalhes do sistema de coleta unitário da Cidade de San Francisco, CA. (a) esgoto do-
méstico, águas de drenagem de telhados e escoamento superficial de ruas são coletados em um sistema
coletor unitário. O excesso de água pluvial é descarregado em grandes reservatórios ou túneis de trans-
porte/acumulação. Quando a vazão de chuva diminui e a estação de tratamento se torna disponível, o
esgoto estocado é tratado antes de ser descarregado na Baia de San Francisco ou no Oceano Pacífico, e
(b) localização dos túneis e tanques de estocagem ao longo da periferia da cidade. (cortesia da cidade
de San Francisco, CA.)
Grade Medidor
Influente Remoção de vazão
Bacia de Tratamento Tratamento Efluente
de equalização primário secundário
areia
Estação de
(a) recalque com
vazão controlada
Estrutura de
Grade transborde Medidor
Influente Remoção de vazão
Tratamento Tratamento Efluente
de primário secundário
areia
(b)
FIGURA 3–20 Diagramas de fluxo típicos de estações de tratamento de esgoto com equalização de
vazão: (a) equalização linear e (b) equalização não linear.
lização. Embora a necessidade de recalque seja minimizada neste arranjo, o amortecimento das
concentrações de constituintes é consideravelmente reduzido. A equalização não linear é, às vezes,
utilizada para captar o “fluxo inicial” de sistemas coletores unitários.
Os principais benefícios que podem derivar da utilização de sistemas de equalização de vazão
são (1) o tratamento biológico é melhorado, porque as cargas de choque são eliminadas ou mini-
mizadas inibindo substâncias que podem ser diluídas, e o pH pode ser estabilizado; (2) a quali-
dade do efluente e a capacidade de espessamento de decantadores secundários após o tratamento
biológico são melhorados através de uma melhor consistência de carga de sólidos e a eliminação
de surtos de vazão; (3) na filtração do efluente, ou em qualquer outro sistema de tratamento terci-
ário, ocorre uma redução de área superficial ou volumétrica, e o desempenho é melhorado, e em
sistemas de filtração podem ocorrer ciclos mais uniformes de lavagem de filtros, devido às cargas
hidráulicas menores; e (4) no tratamento químico, o amortecimento de cargas de massa melhora
o controle da dosagem de produtos químicos e a confiabilidade no processo. Além de melhorar
o desempenho da maioria das operações e processos de tratamento, a equalização é uma opção
atrativa para melhorar o desempenho de estações de tratamento operando com sobrecarga. As des-
vantagens da equalização da vazão incluem (1) a necessidade de áreas relativamente grandes para
a instalação, (2) a operação e manutenção adicional, (3) o potencial para formação de odores e (4)
o aumento de custos de capital. A utilização, benefícios, vantagens e desvantagens da equalização
de vazão em sistemas de esgoto municipais foram revisados em uma publicação anterior da U.S.
EPA (Ongerth, 1979).
Diagrama
Volume de vazões influentes acumuladas, m3
de massa
influente
Diagrama
de massa
Vazão
influente
média
diária
Vazão
média
diária
Volume
requerido para Volume
equalização requerido para
equalização
M N M N M
Horas do dia
(a) Padrão de vazões A (b) Padrão de vazões B
FIGURA 3–21 Diagrama esquemático de massas para a determinação do volume requerido da bacia
de equalização para dois padrões típicos de vazões.
238 P Capítulo 3 Vazões de esgoto e cargas de constituintes
média diária. A bacia continua a encher até se tornar completamente cheia à meia-noite. No padrão
de vazões B, a bacia está cheia no ponto superior de tangência.
Na prática, o volume da bacia de equalização será maior do que o valor determinado teorica-
mente, devido aos fatores seguintes:
m3 35,3147 ft3
mg/L g/m3.
Solução
1. Determine o volume da bacia linear requerido para a equalização da vazão.
a. O primeiro passo é determinar volumes cumulativos da vazão em metros cúbicos. O
volume cumulativo é obtido convertendo a vazão média (qi) de cada período horário
em metros cúbicos utilizando a expressão seguinte, e, então somando cumulativamen-
te os valores horários para obter o volume cumulativo de vazões.
V1 990 m3
Ao final do segundo período, 1–2:
(continuação)
A vazão acumulada para todos os períodos horários são computados de maneira simi-
lar (veja dados derivados na tabela).
b. O segundo passo é o de preparar uma curva do volume de vazões acumuladas, como
mostrado no diagrama seguinte. Como pode ser notado a declividade da linha traçada
da origem até o ponto final do diagrama de massa influente representa a vazão média
para o dia, que é, neste caso, igual a 0,307 m3/s.
30.000
25.000
Volume acumulado, m3
20.000
15.000
10.000
Volume de equalização
requerido = 4110 m3
5.000
0
0 6 12 18 24
Meia-noite Meio-dia Meia-noite
Horas do dia
c. O terceiro passo é determinar o volume linear, que é determinado traçando uma linha
paralela à vazão média, tangente ao ponto mais baixo do diagrama de massa influente.
O volume requerido é representado pela distância vertical do ponto de tangência até a
linha reta que representa a vazão média. Assim, o volume requerido é
Carga
Concentração de massa
Volume Volume Concentração de DBO da DBO
de vazão armazenado média da equalizada equalizada
durante o ao final de DBO durante durante o durante o
Período de período de cada período o período de período de período de
tempo tempo, m3 de tempo, m3 tempo, mg/L tempo, mg/L tempo, kg/h
8–9 1278 172 175 175 193
9–10 1476 542 200 197 218
10–11 1530 966 215 210 232
11–Meio-dia 1548 1408 220 216 239
N–1 1530 1832 220 218 241
1–2 1458 2184 210 214 237
2–3 1386 2464 200 209 231
3–4 1260 2618 190 203 224
4–5 1170 2680 180 196 217
5–6 1170 2746 170 188 208
6–7 1188 2828 175 184 203
7–8 1314 3036 210 192 212
8–9 1440 3370 280 220 243
9–10 1440 3704 305 245 271
10–11 1368 3966 245 245 271
11–Meia-noite 1242 4102 180 230 254
Meia-noite–1 990 3986 150 214 237
1–2 792 3972 115 196 217
2–3 594 3160 75 179 198
3–4 468 2522 50 162 179
4–5 378 1794 45 147 162
5–6 360 1048 60 132 146
6–7 432 374 90 119 132
7–8 738 0 130 126 139
Média 213
Nota: m3 35,3147 ft3
kg 2,2046 lb
g/ m3 mg/L.
(continua)
242 P Capítulo 3 Vazões de esgoto e cargas de constituintes
(continuação)
b. O segundo passo é computar a concentração média de saída da bacia. Utilizando a
expressão seguinte, que é baseada na hipótese de que o conteúdo da bacia está com-
pletamente misturado, a concentração média da saída da bacia é
0,5 500
Taxa de carga de
0,3 300
Vazão, m3/s
Vazãoo
equalizada
qualiza
0,,307 m3/s
0,2 200
Taxa de carga de massa
de DBO equalizado
0,1 100
0 0
0 4 8 12 16 20 24
Meia-noite Meio-dia Meia-noite
Meia-noite
Comentário
Quando bacias de equalização lineares são utilizadas, um amortecimento adicional da taxa de
carga de massa da DBO pode ser obtido, através do aumento do volume das bacias. Alternati-
vamente, bacias não lineares podem ser utilizadas para reduzir ainda mais a variação da taxa
de carga de massa da DBO que chega ao processo de tratamento biológico. Embora a vazão
influente à estação de tratamento tivesse sido equalizada neste exemplo, a equalização seria
utilizada, mais realisticamente, em pontos onde ocorre grande infiltração/influentes, ou de
vazões de pico de águas pluviais.
lados interiores pode variar entre 3:1 e 2:1. A seção transversal de uma bacia de terra é mostrada
na Figura 3–22(a). Na maioria das instalações é necessário efetuar um revestimento para prevenir a
contaminação por águas subterrâneas [ver Figuras 3–22(b) e (c)]. A profundidade das bacias variam
em função da disponibilidade de área, do nível da água subterrânea e da topografia. Se é utilizado
um revestimento em áreas com níveis elevados de água subterrânea os efeitos de pressão hidráulica
sobre o revestimento deverão ser considerados. A borda livre necessária depende da área superficial
da bacia e das características de ventos locais. Se são utilizados aeradores flutuantes para propor-
cionar mistura e prevenir a formação de condições sépticas e de odores, uma profundidade mínima
é necessária para proteger o aerador. Tipicamente, a profundidade mínima de água pode variar de
1,5 a 2 m (5 a 6 ft). Com aeradores flutuantes, uma placa de concreto deve ser instalada no fundo
da bacia e abaixo do aerador, para minimizar a erosão. Para prevenir a erosão causada pelos ventos,
nas partes superiores da bacia, poderá ser necessário proteger as laterais internas com ripa rap (co-
bertura de pedras), solo cimento, ou uma camada parcial de concreto. Cercas devem, também, ser
colocadas para evitar o acesso do público às bacias.
Em áreas de níveis freáticos elevados devem ser providenciadas instalações de drenagem para
evitar ruptura dos taludes laterais da bacia. Para assegurar, ainda mais, a estabilidade dos taludes,
a superfície dos diques devem ter áreas superficiais adequadas. A construção de diques adequados
facilita o uso de equipamentos mecânicos para manutenção, reduzindo, ainda, os custos de constru-
ção, especialmente quando equipamentos mecânicos de compactação são utilizados.
Requerimentos de mistura e de aeração. A operação adequada de bacias de equalização linea-
res ou não lineares geralmente requer mistura e aeração. O equipamento de mistura deve ser di-
(a) (b)
(c) (d)
FIGURA 3–22 Bacias de equalização típicas: (a) seção transversal típica de uma bacia rasa de equalização, (b) e (c) bacia de
terra rasa revestida e (d) bacia profunda de concreto.
3–7 Equalização de vazão e de carga de constituintes P 245
mensionado para misturar o conteúdo e para prevenir o depósito de sólidos no fundo da bacia. Para
minimizar os requerimentos de mistura, unidades de remoção de areia devem, quando possível,
preceder as bacias. Os requerimentos de agitação para misturar um esgoto municipal de concen-
tração média (ver Tabela 3–18), com uma concentração de sólidos suspensos de aproximadamente
210 mg/L, variam entre 0,004 a 0,008 kW/m3 (0,02 a 0,04 hp/103 galão) de esgoto armazenado.
A aeração é necessária pra evitar que o esgoto fique séptico ou com odores. Para manter condi-
ções aeróbias, o ar deve ser fornecido a uma taxa a 0,01 a 0,015 m3/m3minuto (1,25 a 2,0 ft3/103
galãominuto). Em bacias de equalização situadas após a sedimentação primária, e que operam
com baixos tempos de detenção (menos do que duas horas), a aeração pode não ser necessária.
Quando aeradores mecânicos são utilizados pode ser necessário o uso de cortinas para asse-
gurar uma mistura completa, principalmente em tanques de configuração circular. Para proteger
os aeradores no evento de um grande abaixamento de nível, controles de desligamento por nível
devem ser utilizados. Como pode ser necessário esvaziar as bacias de equalização periodicamente,
os aeradores devem ser equipados com pernas ou tubos de sucção que permitam que se apoiem no
fundo da bacia, sem danos. Diversos tipos de difusores de ar podem, também, ser utilizados para
mistura e aeração, incluindo tubos estáticos, jatos e aeradores de sucção (ver Seção 5–12).
Acessórios operacionais. Entre os acessórios ou equipamentos que devem ser incluídos no pro-
jeto de bacias de equalização estão (1) instalações para eliminar quaisquer sólidos ou graxa que
possam se acumular nas paredes das bacias, (2) um extravasor de emergência para o caso em que
ocorram falhas de bombas de recalque, (3) uma saída de água na altura da superfície para a remo-
ção de flotáveis e de espuma, e (4) jatos ou “sprays” para evitar a acumulação de escuma nas late-
rais da bacia e para auxiliar na sua remoção. Os sólidos removidos de bacias de equalização devem
retornar ao tratamento preliminar das estações para ser processados.
Bombas e controladores de vazão. Como a equalização de vazões necessita de uma cota adi-
cional na estação de tratamento, instalações de recalque são frequentemente necessárias. O bom-
beamento pode ser efetuado antes ou depois da bacia de equalização, mas o bombeamento para a
bacia é geralmente melhor para manter a confiabilidade da operação da estação de tratamento. Em
alguns casos, se torna necessário efetuar o bombeamento tanto do influente à bacia como da vazão
equalizada. Em bacias de equalização não lineares, projetadas para o controle de picos de vazão
de períodos úmidos, as configurações para bombeamento do influente podem apresentar requeri-
mentos e custos muito elevados. Se a linha piezométrica permite, uma configuração de entrada por
gravidade e bombeamento na saída é o conjunto que apresenta melhor custo/benefício. Bombas
utilizadas para esvaziar uma bacia para equalização para vazões de pico não linear geralmente são
muito menores do que as bombas necessárias para recalcar as vazões para as bacias.
Um equipamento de regularização de vazão controlado automaticamente será necessário quan-
do a descarga por gravidade for empregada. Quando bombas de efluentes de bacias são utilizadas,
deve ser providenciada uma instrumentação para controlar a taxa de equalização previamente se-
lecionada. Independentemente do método de descarga utilizado, um equipamento de medição de
vazão deve ser instalado na saída da bacia para monitorar a vazão equalizada.
totalmente utilizados, tipicamente, no final da tarde e nas primeiras horas da manhã. Operacional-
mente, deve estar disponível informação sobre as variações típicas de vazão e de concentração de
constituintes. A medida de vazões é empregada de forma rotineira. Atualmente, são disponíveis
medidores em linha de sólidos suspensos. A quantidade de vazão que deve ser desviada precisa ser
baseada em uma estratégia de controle, utilizando medidas de vazões e de SST em conjunção com
um algoritmo apropriado.
Desenvolvimentos recentes. Um critério novo para equalização de cargas é efetuar a filtração
do efluente primário, uma ideia antiga, que voltou a ser considerada devido à disponibilidade de no-
vas tecnologias de filtração. Operacionalmente, a filtração do efluente primário seria utilizada apenas
durante períodos nos quais a concentração de constituintes no esgoto influente está aumentando,
como é o caso durante a metade até o final da manhã, ou nas primeiras horas da noite. Os sólidos,
principalmente orgânicos, na água de lavagem dos filtros seriam dirigidos a uma pequena instalação
de armazenamento. Os sólidos orgânicos da instalação de armazenamento seriam, então, retornados
ao processo de tratamento durante os períodos nos quais o equipamento de aeração está sendo sub-
utilizado, conforme descrito acima. Os sólidos orgânicos desviados poderiam, também, ser enviados
a um digestor para a produção de ácidos graxos voláteis, necessário para ativar a remoção de fósforo.
Proposta
3–3 Estime as vazões médias e máximas de uma área recreacional (a ser selecionada pelo instrutor) com
as instalações seguintes. Apresente todas as suas hipóteses claramente.
Área recreacional
3–4 Um complexo de dormitórios colegiais, com quatro dormitórios separados, está planejando estabe-
lecer um programa de conservação de água para reduzir as vazões de esgoto. Utilizando os dados
fornecidos abaixo, desenvolva um programa de conservação de água que atinja a meta de redução de
vazão para um dos dormitórios (a ser selecionado pelo instrutor).
Dormitório
Características Unidade 1 2 3 4
Vazão de esgoto m /dia
3
125 105 140 160
Número de leitos Número 300 250 300 350
Vazões de aparelhos:
Toaletes L/uso 9 10 11 11
Chuveiros L/minuso 18 20 23 23
Torneiras L/capitadia 10 8 9 11
Redução de vazão requerida % 15 20 25 25
248 P Capítulo 3 Vazões de esgoto e cargas de constituintes
3–5 Compute as concentrações de vazão-massa de DBO e SST para um dos seguintes regimes de vazão (a
ser selecionado pelo instrutor).
Vazão, m3/d
Regime de vazão
3–6 Os dados da tabela abaixo consistem de valores populacionais de uma cidade, e da média mensal de
vazões influentes à estação de tratamento local, de 2007 a 2010. A cidade está localizada em uma área
na qual ocorrem níveis elevados de água subterrânea. Utilizando esses dados responda às seguintes
questões.
a. Qual é a característica da distribuição dos valores de vazões mensais? Utilize o método empre-
gado no Exemplo 3–4 [ver Equação (D–10) no Apêndice D] para plotar os valores influentes
mensais, vezes as probabilidades correspondentes para cada ano, em papel aritmético e papel
log-probabilidade, e verifique para linearidade.
b. Qual é a vazão média anual, a vazão média de tempo seco (VMTS) e a vazão média de tempo
úmido (VMTU) para cada ano? Se os dados são distribuídos aritmeticamente, utilize a média
aritmética; se os dados são distribuídos log-normalmente, utilize a média geométrica (ver Tabela
D–1 no Apêndice D). Assuma que a estação seca ocorra de junho a outubro e que a estação úmida
ocorra de novembro a maio.
c. Qual é a contribuição per capita de atividades comerciais e de indústrias leves?
Assuma que a contribuição residencial para a vazão de tempo seco seja de 260 L/capitadia, e que
as atividades comerciais e industriais leves correspondam à vazão remanescente.
d. Qual é a contribuição per capita de infiltração e de influentes para cada ano?
Assuma que a diferença de vazões que ocorrem entre períodos úmidos e secos seja devido à
infiltração e influentes.
3–7 Considere a cidade descrita no Problema 3–6. Assuma que a população futura da cidade é de 16.000
pessoas, e que a vazão de esgoto residencial será de 300 L/capitadia. A vazão comercial em 2010
(1000 m3/dia) é de 80% do que será futuramente. Devido aos valores elevados das taxas de infiltração
e influentes (I/I), um programa de reparação do sistema coletor será implementado. A contribuição
I/I será de 500, 400, 300 ou 200 L/capdia (a ser selecionada pelo instrutor), dependendo do nível de
reparação obtido. Estime a VMTS, a VMTU e a vazão média anual que será recebida pela estação de
tratamento local. Justifique o uso da VMTU como o valor para a capacidade nominal da estação de
tratamento.
3–8 Considere a estação de tratamento para a cidade descrita no Problema 3–6. Utilize o método ilustrado
no Exemplo 3–4 [ver Equação (D–10) no Apêndice D] para plotar os valores de efluentes mensais
vezes as probabilidades correspondentes para cada ano. Determine a natureza da distribuição plotan-
do os valores em papéis aritméticos e log-probabilidade e verifique a linearidade. Se a vazão média
anual futura na entrada da estação de tratamento for estimada em 8000 m3/dia, qual será a vazão de
pico mensal? (Sugestão: a vazão média anual ocorre na linha de 50% no gráfico de probabilidades.
Utilize a declividade do ano mais úmido para passar a linha através da linha de 50% em 8000 m3/dia,
e tome o valor da vazão para o mês mais alto do gráfico.
3–9 Utilize os dados seguintes de influentes a uma estação de tratamento de esgoto para efetuar a análise
estatística, descrita no Problema 3–6, passos a, b, c, d. Se os dados da tabela abaixo não são distribuí-
dos tanto aritmeticamente-normais ou log-normais, sugira um método para determinar os parâmetros
necessários.
População da comunidade e vazão influente média mensal para o período de 2007 a 2010
3–10 Está sendo planejada a instalação de uma estação de tratamento em um espaço turístico que possui
uma área de camping para 200 pessoas, alojamentos e cabinas para 100 pessoas e apartamentos para
150 pessoas. Assuma que os hóspedes dos alojamentos utilizem o restaurante para 3 refeições por dia
e que foi construída uma cafeteria com 50 assentos, 4 funcionários e um número estimado de 200
clientes por dia. A frequência diária de visitantes ao centro de visitas é de 500 pessoas. Outras insta-
lações incluem uma lavanderia com 10 máquinas, um bar com 20 assentos e três postos de gasolina
(1100 L/dia por posto). Determine a vazão média de esgoto em L/dia, utilizando vazões unitárias e
assumindo que as instalações operem à capacidade máxima.
3–11 Obtenha um relatório anual ou de dados de um ano de vazão e de DBO para a estação de tratamento
de esgoto de sua comunidade. Com esses dados, prepare curvas de probabilidade para a vazão e as
cargas de massa. Determine os valores com 50 e 95% de probabilidade.
3–12 Dos dados de vazão obtidos no Problema 3–11, determine a média e o desvio padrão.
3–13 A estação de tratamento de esgoto tem recebido vazões elevadas de esgoto durante os meses úmidos.
As vazões médias mensais para quatro regimes de escoamento são apresentadas na tabela abaixo (re-
gime de vazões a ser selecionado pelo instrutor). O crescimento rápido de vazões durante os meses de
inverno é devido, principalmente, ao aumento de infiltração/influentes. A infiltração é estimada com
67% da vazão de excesso. Os comprimentos do sistema coletor que necessitam reparos são, também,
listados abaixo. O custo médio de reparação é de $200.000/km (aproximadamente R$ 440.000,00/
km) e permitirá uma redução efetiva de 30% da infiltração. Quantos anos, a partir de hoje, serão ne-
cessários para recuperar o custo do programa de reparação do sistema coletor, com base na economia
anual nos custos de tratamento, assumindo que as vazões anuais futuras serão iguais àquelas da tabela
abaixo? O custo atual de tratamento é de $1,50/m3 (aproximadamente R$ 3,30/m3) e o custo futuro
do tratamento é estimado a aumentar 6% ao ano. Assuma que a reparação do sistema coletor estará
completa em três anos para as áreas 1 e 2, e em quatro anos para as áreas 3 e 4.
Regime de escoamento
Mês 1 2 3 4
Janeiro 293.000 410.000 460.000 470.000
Fevereiro 328.000 459.000 440.000 485.000
Março 279.000 391.000 515.000 560.000
Abril 212.000 296.000 333.000 400.000
Maio 146.000 204.000 230.000 300.000
Junho 108.000 151.000 170.000 225.000
Julho 95.000 133.000 150.000 200.000
Agosto 89.000 125.000 141.000 188.000
Setembro 93.000 130.000 140.000 165.000
Outubro 111.000 155.000 167.000 192.000
Novembro 132.000 185.000 200.000 240.000
Dezembro 154.000 215.000 225.000 215.000
Comprimento do sistema coletor, km 300 400 450 600
3–14 Dados de vazão foram coletados em uma nova estação de tratamento, durante nove meses. A inspeção
dos dados indica que as vazões em finais de semana tendem a ser mais elevadas do que em dias de se-
mana. Foram feitas as médias das vazões durante os dois períodos e organizadas em ordem crescente
como mostrado na tabela a seguir. Elabore gráficos de probabilidade aritmética e logarítmica para os
dias de semana e dias de finais de semana para o regimes de vazões 1 ou 2 (a ser selecionado pelo ins-
trutor) e comente a assimetria dos dados. Determine os valores da média e do 95 percentil para cada
grupo de dados de vazões, e determine a vazão máxima provável de um dia. Discuta o significado da
análise de dados.
Problemas e tópicos de discussão P 251
3–15 A ocupação de áreas em um novo empreendimento é mostrada na primeira tabela a seguir. Está sendo
construída uma nova escola para 1.500 estudantes. A vazão média é de 75 L/estudante, e o fator de
pico (relação entre a vazão de pico e a vazão média) é 4,0. Vazões médias e fatores de utilizados por
outros empreendimentos são mostrados na segunda tabela. Determine o pico de vazão para uma das
áreas (a ser selecionada pelo instrutor).
252 P Capítulo 3 Vazões de esgoto e cargas de constituintes
Área, ha
Tipo de empreendimento 1 2 3 4
Residencial 125 150 150 160
Comercial 11 10 15 16
Escola 4 4 4 4
Industrial 6 8 20 10
3–16 Utilizando os dados de vazões apresentados abaixo (cidade a ser selecionada pelo instrutor), estime
o volume de uma bacia de estabilização não linear para reduzir a variação da vazão. A vazão máxima
horária adentrando o sistema de tratamento não pode exceder 1,25, 1,5 e 1,75 vezes a vazão média
diária (relação a ser selecionada pelo instrutor).
3–17 Utilizando a informação dada na tabela do Exemplo 3–10 determine (a) o volume de armazenamento
não linear necessário para equalizar a vazão, e (b) o efeito da equalização da vazão na taxa de carga
de massa na DBO. Como a curva da taxa de carga de DBO determinada neste problema se compara à
curva do passo 2d do Exemplo 3–10? Na sua estimativa, a diferença na taxa de carga de massa justi-
fica o custo de uma bacia de equalização maior, requerida para armazenamento linear?
3–18 Utilizando a informação dada na tabela do Exemplo 3–10, estime o volume linear requerido para
reduzir a variação da vazão na taxa de carga de massa de DBO entre o valor de pico e o valor mínimo
da relação de 25.8.1:1 para um valor de pico de 5:1.
Referências P 253
REFERÊNCIAS
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4 Seleção, projeto e implementação de
estações de tratamento de esgoto
REFERÊNCIAS 293
GLOSSÁRIO
Termo Definição
ACC Análise de componente crítico. Método utilizado para determinar quais componentes
mecânicos da estação de tratamento de esgoto terão o impacto mais imediato sobre a
qualidade do efluente, no caso de ocorrência de falhas.
Avaliação da engenharia Uma revisão intensiva de um projeto para determinar o melhor valor, ou a melhoria do
valor, que possa ou não resultar em uma redução de custo. Efetuada, tipicamente, quando o
projeto atinge de 20 a 30% de sua execução.
Balanço de sólidos A identificação da quantidade de sólidos entrando ou saindo de cada processo unitário.
Biossólidos Lodo de processos de tratamento que tenha sido estabilizado para atender aos critérios do
regulamento 40 CFR 503 da U.S. EPA, podendo ser utilizado para fins benéficos.
Biossólidos Classe A Biosssólidos que contenham um número mais provável de coliformes inferior a 1000
coliformes fecais por grama (NMP/g), menos do que 3 NMP/4g de bactérias Salmonella,
e que atenda a uma das seis alternativas de estabilização do 40 CFR 503. O material
necessita, também, atender aos limites de poluentes e os requerimentos de redução de
atração de vetores, também estabelecidos no 40 CFR 503.
Confiabilidade, processos de Probabilidade de desempenho adequado, durante um período de tempo e sob condições
tratamento. específicas, ou a porcentagem de tempo no qual as concentrações do efluente atendem aos
requisitos legais estabelecidos.
Critério de projeto de processo Os critérios utilizados como base para dimensionar processos unitários individuais e seus
sistemas de suporte.
Diagrama de fluxo A representação gráfica de uma combinação particular de processos unitários, utilizada
para obter objetivos específicos de tratamento.
ENRCCI Engineering News-Record Construction Cost Index utilizado para ajustar informações sobre
custos de construção.
Estudos-piloto Estudos realizados em escalas maiores do que testes de bancada, para estabelecer a
adequabilidade de um processo no tratamento de um esgoto específico, sob condições
ambientais específicas, e para obter dados a serem utilizados no projeto definitivo.
ETE Estação de Tratamento de Esgotos.
Fator de pico Um fator que é, usualmente, aplicado sobre médias de longo prazo (tipicamente valores de
vazão e de taxas de carga de massa) para determinar valores máximos.
Layout da estação O arranjo especial das unidades físicas da estação de tratamento identificada no diagrama
de fluxo.
NPDES National Pollution Elimination Discharge System (NPDES), estabelecido com base nos valores
tecnológicos uniformes mínimos, com os quais cada ponto de descarga deve cumprir.
Perfil hidráulico Uma representação gráfica de cotas de superfícies livres e da linha de gradiente hidráulico
do esgoto, conforme ele escoa através das diversas unidades de tratamento.
Poluentes prioritários Compostos orgânicos e inorgânicos definidos na Seção 307 do Decreto da Água Pura
(Clean Water Act) e relacionados no Code of Federal Regulations no 40 CFR 401,15.
Os poluentes prioritários são selecionados com base em suas carcinogenicidade,
mutagenicidade, teratogenicidade, ou toxicidade aguda, conhecidas ou suspeitas.
256 P Capítulo 4 Seleção, projeto e implementação de estações de tratamento de esgoto
Termo Definição
Privatização Sistema de posse, operação de instalações e prestação de serviços pelo setor privado,
utilizado por entidades governamentais na realização de suas funções públicas.
Testes de bancada Testes efetuados em laboratórios com pequenas quantidades de amostras para responder a
questões sobre o tratamento.
Variabilidade, inerente Com base nas leis da probabilidade todos os processos de tratamento, físicos, químicos e
biológicos, apresentam certo grau de variabilidade, com relação ao nível de desempenho
que pode ser obtido. A variabilidade é uma realidade inerente em processos biológicos de
tratamento.
Desde o início dos anos 1900, quando o setor de engenharia Ambiental estava em sua infância, nos
Estados Unidos, ocorreu uma evolução e desenvolvimento constantes nos métodos utilizados para
tratamento de esgoto. A descrição de diversos métodos e suas variações que foram testadas até o
presente preencheria uma grande quantidade de volumes. A metodologia seguida neste livro é a
identificar e discutir os princípios básicos e suas aplicações ao tratamento de água. A finalidade
deste capítulo é apresentar uma perspectiva de como os princípios apresentados nos Capítulos 1 a 3
e 5 a 18, associados a outros temas não discutidos em detalhes neste livro, se encaixam no projeto,
na construção, na operação, na manutenção e na implementação de sistemas de gestão de estações
novas e existentes. Os temas abordados são os seguintes: (1) considerações sobre o planejamento
para estações de tratamento de esgoto, (2) seleção de processos, (3) confiabilidade nos processos
de tratamento e seleção de parâmetros de projeto, (4) elementos de projetos de processos, (5) im-
plementação de programas de gestão de esgoto e (6) financiamento.
mento deverão, também, ser aprimoradas do ponto de vista estético para minimizar odores, ruídos
e impactos visuais às comunidades vizinhas.
Considerações sobre as mudanças climáticas são, também, preocupantes, especialmente com
relação aos alagamentos frequentes, devido a eventos de chuvas de curta duração e alta intensidade.
A elevação do nível do mar em conjunto com picos de águas pluviais em consequência da cana-
lização de correntes, ameaça, atualmente, as estações de tratamento em comunidades costeiras,
localizadas em áreas baixas. Os temas associados à elevação do nível do mar se tornarão mais
preocupantes no futuro e, claramente, deverão ser considerados no aprimoramento de estações de
tratamento, pois vão além das especificações de projetos de processos de tratamento.
Grade Ar Tanque de
fina aeração
Influente Efluente
Desinfecção
Sólidos
Reciclagem Lodo
(b)
interna
Reciclagem
Lodo Lodo
(c)
Alimentação de nitrato
Decantador Decantador
primário secundário
Influente Aeróbio/ Efluente
Anóxico Desinfecção
nitrificação
Reciclagem
Decantador Decantador
primário secundário
Influente Anae- Efluente
Anóxico Aeróbio Desinfecção
róbio
FIGURA 4–1 Diagramas genéricos de fluxo de processos para processos de tratamento típicos, incluin-
do desinfecção para controle de organismos patogênicos: (a) lodos ativados para remoção de SST e de
DBO e de nitrificação; (b) reator de biomembranas para remoção de SST e DBO e para nitrificação; (c)
Filtros biológicos para remoção de SST e de DBO; (d) tratamento biológico com biomassa suspensa para
remoção de SST, DBO e de nitrogênio; e (e) tratamento biológico com biomassa suspensa para remoção
de SST, DBO, nitrogênio e fósforo.
4–1 Planejamento para projetar estações de tratamento novas e para melhorar estações existentes P 259
TABELA 4–1 Considerações importantes para melhorar e para projetar novas estações de tratamento de esgoto
Tema Descrição
Processamento da fase líquida
Variabilidade de constituintes e de Novos processos de tratamento devem ser projetados para atender aos limites de
processos de tratamento emissão, levando em consideração a variabilidade de constituintes e de processos de
tratamento.
Equalização da vazão Desempenho melhorado através da eliminação de picos de vazão ao longo das
unidades de tratamento, especialmente de vazões de períodos úmidos, tipicamente
necessários para produzir água renovada com credibilidade.
Equalização de cargas orgânicas Desempenho melhorado para equalizar as taxas de cargas orgânicas aos processos
de tratamento, ao longo do dia.
Controle automático de processos Proporcionar instalações e condições para controle automático da concentração de
oxigênio dissolvido e do tempo de retenção de sólidos (TRS).
Desinfecção melhorada para reúso Tecnologias e alternativas melhoradas para desinfecção e para controle de
subprodutos da desinfecção.
Processos avançados de tratamento Processos para a remoção de constituintes e de resíduos de constituintes não
removidos por tratamento convencional.
Processos de oxidação convencionais e Remoção de constituintes específicos que podem requerer processos de oxidação
avançados avançados.
Processos combinados para Para atingir limites de emissão restritivos, dois ou mais processos podem ser utilizados
constituintes específicos com arranjo em série.
Reúso de água Temas associados à identificação de riscos devem ser considerados.
Tratamento de vazões de tempo úmido Custos menores tratando na ETE em relação a instalações individuais localizados em
pontos de vazões elevadas.
Gestão da energia Implementação de instalações físicas suficientes, como equalização de vazão, para
permitir a utilização de energia em horas de baixo consumo, no tratamento de
esgoto.
Processamento de sólidos
Gradeamento melhorado Melhoria do gradeamento para remover materiais indesejáveis que poderiam se
anexar a biossólidos ou equipamentos para odores, como difusores de aeração.
Remoção de areia Remoção de areia que pode sedimentar em decantadores primários e em digestores.
Melhoria do controle de patógenos A melhoria do controle de patógenos é necessária para produzir biossólidos de
classe A.
Melhoria do controle de vetores A melhoria de controle de vetores é necessária para produzir biossólidos de classe A.
Tratamento separado de vazões de Para melhorar o desempenho da fase líquida, principalmente com respeito à remoção
retorno de nitrogênio.
Controle de odores
Controle de odor em sistemas coletores Implementação de programa de controle na fonte para minimizar os odores gerados
no sistema coletor. Uso de oxigênio puro (ver Figura 16–3 no Capítulo 16).
Formação de odor nas estações de Cuidado ao realizar o projeto hidráulico para evitar zonas mortas em relação à vazão
tratamento e ao manuseio de vazões de retorno das instalações de processamento de sólidos.
Contenção de odor Cobertura de unidades de tratamento para eliminar odores.
Tratamento de odor Tratamento separado ou combinado de gases odorosos em unidades geradoras de
odores.
Controle de processos
Modelos de simulação Desenvolvimento de estratégias operacionais melhoradas através de modelos
computadorizados matemáticos de simulação.
Teste em unidades-piloto Programas em desenvolvimento para testar novas tecnologias.
260 P Capítulo 4 Seleção, projeto e implementação de estações de tratamento de esgoto
(a) (b)
FIGURA 4–2 Instalações típicas de controle de odor para estações de tratamento de esgoto novas e
existentes: (a) decantadores primários cobertos; (b) purificadores químicos (scrubbers) para remover odo-
res de decantadores primários.
4–1 Planejamento para projetar estações de tratamento novas e para melhorar estações existentes P 261
(3) prover unidades de tratamento de uso intermitente que possam processar o excesso de vazão de
períodos úmidos, que é misturado com o efluente processado através de processos convencionais
de períodos secos na estação de tratamento. Instalações intermitentes de tratamento para tratamento
de vazões de períodos são considerados na Seção 18–5 do Capítulo 18.
Controle de emissões. Conseguir aceitação pública para localizar estações de tratamento de
esgoto dependerá, principalmente, do atendimento às preocupações das comunidade relativas a
odores. A prevenção, o controle e o tratamento de odores são, atualmente, aspectos mandatórios no
projeto de qualquer estação de tratamento de esgoto (ver Figura 4–2). Com planejamento e gestão
de odores adequados, a necessidade de controle dos aspectos associados a odores, após a ocor-
rência e restauração da confiança pública na operação da estação de tratamento, pode ser evitada.
Considerações importantes no controle de emissões são discutidas na Capítulo 16.
Requisitos do proprietário
Um fator comumente desconsiderado na seleção de um processo de tratamento são os requisitos
do proprietário das instalações. Eles podem tomar a forma de limitações de custo e da capacidade
de pagar pelo projeto, isto é, uma capacidade operacional onde equipes existentes serão utiliza-
das, haverá preferências por processos de tratamento, justificadas por experiência profissional,
haverá preocupações relativas à utilização de processos ou equipamentos consagrados que não
sejam experimentais, e, ainda, preocupações associadas a possíveis impactos ambientais. Requi-
sitos de proprietários são especialmente importantes em pequenas comunidades, onde se dispõe
de um histórico limitado de construção e de operação de novos sistemas de tratamento. Para
projetos, tanto grandes como pequenos, é importante que o engenheiro do projeto e o proprietá-
rio cheguem a um entendimento mútuo dos objetivos e metas, de maneira que os requisitos do
proprietário sejam satisfeitos, e os processos de tratamento selecionados atinjam as finalidades
básicas para as quais foram designados, isto é, atendendo aos regulamentos de descarga de esgo-
to ou de reúso de efluentes, de maneira efetiva em termos de custo e de mitigação de impactos
ambientais adversos.
A gestão de recursos é um processo gerencial que visa minimizar o custo total de possuir e de
operar a infraestrutura do sistema enquanto estiver fornecendo níveis de serviço adequado. Embora
não seja necessário implementar gestão de recursos nos Estados Unidos, os benefícios de longo
prazo, têm sido reconhecidos, e muitas organizações têm promovido a utilização de gestão de re-
cursos. A gestão de recursos é discutida em mais detalhes no Capítulo 18.
Considerações ambientais
Os impactos ambientais de uma estação de tratamento de esgoto proposta são tão ou mais importan-
tes do que as considerações sobre o custo. Em adição aos impactos ambientais devidos à descarga de
efluentes no ambiente aquático, esforços crescentes têm sido efetuados considerando a emissão de
gases do efeito estufa emanados pelas estações de tratamento. Essas considerações são incluídas nas
condições de base triplas (CBT) que avalia aspectos (1) econômicos, (2) ambientais e (3) sociais do
projeto, como parte do processo de tomadas de decisões. Embora os procedimentos de revisão am-
biental não sejam considerados neste livro, as emissões de gases do efeito estufa são consideradas
no Capítulo 16, e as condições de base tripla são brevemente discutidas no Capítulo 18.
National environmental policy act. O protocolo para avaliação de impactos ambientais está
estabelecido no National Environmental Policy Act (NEPA) de 1969 (42 USC 4321–4347, emen-
das incluídas). As avaliações ambientais devem ser focadas em critérios sociais, técnicos, ecológi-
cos, econômicos, políticos, legais e institucionais (STEEPLI).
A aplicação dos regulamentos do NEPA requer a preparação de um Estudo de Impacto Am-
biental (EIA) para quaisquer ações federais propostas que possam ter um impacto significativo
sobre o ambiente humano. A elaboração de um EIA é controlado pelos regulamentos do Council
on Environmental Quality (CEQ) para implementar as Provisões Processuais do National Environ-
mental Policy Act (40 CFR 1500-1508).
262 P Capítulo 4 Seleção, projeto e implementação de estações de tratamento de esgoto
aos sistemas tarifários complexos utilizados pelas instalações. Em climas frios, onde os processos
unitários são cobertos, há um elevado custo de capital e operacional para ventilação e aquecimento.
Custos de energia elétrica. Os custos de energia elétrica são, normalmente, avaliados com
base no uso de energia, em fatores de carga, e na demanda. Os custos relativos a fatores de car-
ga são importantes para estações com grandes equipamentos operados por motores. Os custos de
demanda são avaliados pelas companhias concessionárias quando estas se comprometem a gerar
energia suficiente para atender à demanda total do sistema de tratamento. Um pico de energia de
apenas 15 minutos pode estabelecer um custo de demanda para um período superior a 12 meses.
Em alguns casos, os custos de demanda podem ser reduzidos através da instalação de geradores na
própria estação de tratamento. A recuperação e o uso de gases gerados em digestores para atender
às necessidade de energia e reduzir a demanda, é um exemplo de como os custos do usuário e de
demanda podem ser reduzidos, resultando na redução de custos na estação de tratamento. O uso de
gás gerado em digestores é discutido em mais detalhes no Capítulo 13. Como parte da avaliação
do custo de energia, deve ser considerada uma análise de sensitividade para acessar os impactos
de futuras variações de custos de energia no custo global de operação de estações de tratamento.
Custo atual
Valor atual do índice Custo estimado (4–1)
Valor do índice na época da estimativa
Quando possível, valores de índices devem, também, ser ajustados para refletir custos atuais locais.
Tanto os índices do ENRCCI como os da EPA incluem custos para diversas regiões geográficas. O
ENR publica índices para 20 cidades. Ao utilizar-se os dados do ENRCCI, se o mês do ano no qual
a instalação foi construída não for citado, é prática comum utilizar o valor do índice correspondente
ao final do mês de junho. Para projetar o custo para o futuro, a seguinte relação pode ser utilizada.
O valor futuro do índice é, usualmente, projetado em correspondência a um terço ou à metade do
período de construção.
Entretanto, deve ser notado que atualizar ou projetar custos para períodos maiores do que 3 a 5
anos pode resultar em erros grosseiros, principalmente se o índice tiver crescido ou decrescido
significativamente.
Estimativas de custos de operação e de manutenção. Os custos anuais de operação e
manutenção (O&M) são fatores importantes na avaliação de processos alternativos de tratamento.
Os elementos principais dos custos de O&M são mão de obra, energia, produtos químicos, mate-
riais e suprimentos. Quando possível, cada um desses elementos deve ser estimado separadamente
porque os custos individuais podem aumentar a taxas diferentes. Os custos de energia devem ser
avaliados com base nos consumos de energia estimados para os equipamentos de processo e para a
taxa de energia fornecida pela concessionária. Os custos de produtos químicos devem ser compu-
tados similarmente, com base nas quantidades consumidas estimadas e os preços unitários corres-
pondentes. Materiais e suprimentos devem ser incluídos e estimados com base nos usos previstos.
Comparações de custos. Na avaliação de fluxoramas de processos de tratamento alternativos,
os custos podem ser comparados utilizando o valor presente, os custos anuais totais, ou os custos
de ciclos de vida. Na análise do valor presente, todos os gastos futuros são convertidos ao valor
presente correspondente ao início do período de planejamento. Uma taxa de desconto é utilizada na
análise, representado o valor do dinheiro ao longo do tempo (a capacidade do dinheiro de auferir
juros). Numa comparação de custos totais anuais, os custos de capital são amortizados com base
em taxas de juros prováveis de obrigações e pela duração de emissão de obrigações. O custo fixo
anual (amortizado) é adicionado aos custos anuais de operação e manutenção para determinar o
custo total anual. Os custos de ciclo de vida são utilizados para determinar o custo total de uma
instalação ao longo de sua vida útil (até 50 anos para as estruturas) e inclui o custo de capital e os
custos de operação e manutenção. Os custos de ciclo de vida são particularmente úteis para compa-
ração de custos de uma instalação recuperada com uma instalação nova. Entretanto, para comparar
custos entre alternativas de tratamento, deve ser considerado o nível de acurácia da estimativa. Por
exemplo, se a acurácia da estimativa de custo está associada a uma contingência de 40%, e todas as
outras opções estão dentro de 5 a 8% de cada uma delas, então as opções podem ser consideradas
como equivalentes.
Alguns dos processos mais complexos requerem níveis elevados de controle automático utili-
zando equipamentos e aparelhos eletrônicos (ver Capítulo 18). Instrumentação e controles adequa-
dos podem economizar mão de obra e permitir que pequenas instalações operem automaticamente.
Entretanto, instrumentação e controles complexos requerem equipes de técnicos de instrumentação
altamente capacitados. Pode ser difícil recrutar e manter especialistas em instrumentação devido à
demanda elevada de técnicos bem-qualificados. A extensão e a complexidade de sistemas de con-
trole e os níveis de pessoal necessários devem ser cuidadosamente avaliados.
TABELA 4–2 Fatores importantes que devem ser considerados na avaliação e seleção de processos unitários
Fator Comentário
1. Aplicabilidade do A aplicabilidade de um processo é avaliada com base na experiência acumulada, dados de
processo estações de tratamentos existentes, dados publicados e estudos-piloto. Se condições novas ou
não usuais são encontradas, os estudos-piloto serão essenciais.
2. Faixa de vazões O processo deverá atender às faixas de vazões esperadas. Por exemplo, lagoas de estabilização
aplicáveis não são adequadas para vazões extremamente grandes em áreas densamente povoadas.
3. Variação de vazões A maioria das operações e processos deve ser projetada para operar com uma faixa larga de
aplicáveis vazões. Muitos processos operam melhor a uma vazão relativamente constante. Se a variação
de vazões é muito grande, pode ser necessário efetuar a equalização de vazões.
4. Características do As características do esgoto influente afeta os tipos de processos a ser utilizados (p. ex.,
esgoto influente químicos ou biológicos), assim como os requerimentos para suas operações adequadas.
5. Constituintes inibitórios Quais constituintes presentes podem ser inibitórios ao processo de tratamento? Quais
e que não são afetados constituintes não são afetados durante o tratamento?
6. Restrições climáticas A temperatura afeta a taxa de reação da maioria dos processos químicos e biológicos.
Pode, também, afetar a operação de unidades físicas de tratamento. Temperaturas elevadas
podem acelerar a geração de odores e, também, limitar a dispersão atmosférica.
7. Dimensionamento de O dimensionamento de reatores é baseado na cinética de reação e em coeficientes cinéticos. Se
processos com base nos as equações cinéticas não são disponíveis, são utilizados os critérios de carga de massa. Dados
critérios de cinética de relativos aos critérios de equações cinéticas e de carga de massa são, usualmente, derivados da
reação e de carga de experiência, da literatura e de resultados de estudos-piloto.
massa
8. Dimensionamento de O dimensionamento de reatores é baseado em coeficientes de transferência de massa. Se
processos com base em as taxas de transferência de massas não são disponíveis, são utilizados critérios de carga
taxas de transferência de massa disponíveis. Dados de critérios de coeficientes de transferência e de processos de
de massa ou de carga carga de massa são, geralmente, derivados da experiência, da literatura e de resultados de
de massa estudos-piloto.
9. Desempenho Geralmente, o desempenho é medido em termos da qualidade do efluente e da sua
variabilidade, que deve ser consistente com os requerimentos de descarga de efluentes.
10. Tratamento de residuais Os tipos e quantidades de resíduos sólidos, líquidos e gasosos produzidos devem ser
conhecidos ou estimados. Geralmente, estudos-piloto são utilizados para identificar e quantificar
resíduos.
11. Processamento de lodo Existem restrições que tornem o processamento de lodo inviável ou muito caro? Como a
reciclagem de lodos provenientes do processamento afeta as operações e processos unitários
da fase líquida? A seleção do sistema de processamento de lodo deve ser efetuada em conjunto
com a seleção do sistema de tratamento da fase líquida.
12. Restrições ambientais Fatores ambientais, como a direção de ventos predominantes, a direção do vento e a
proximidade à áreas residenciais podem restringir ou afetar alguns processos, principalmente
aqueles que geram odores. Ruído e tráfico podem afetar a seleção de uma área para a
estação. Corpos receptores podem apresentar limitações especiais, requerendo a remoção de
constituintes específicos, como nutrientes.
13. Requerimentos químicos Quais são os recursos e as quantidades respectivas que devem ser alocadas por um grande
período de tempo para permitir a operação adequada de operações e processos unitários? Que
efeitos a adição de produtos químicos teria nas características dos residuais do tratamento e
sobre o custo do tratamento?
14. Requerimentos de Os requerimentos de energia, assim como os prováveis custos futuros de energia devem ser
energia conhecidos, caso sistemas de tratamento efetivos em termos de custo precisem ser projetados.
15. Requerimento de outros Quais recursos adicionais, se necessário, deverão ser alocados para o sucesso da
recursos implementação do sistema da tratamento proposto, utilizando as operações e processos
unitários em estudo?
16. Requerimentos de Qual é o tamanho da equipe e quais as respectivas habilidades serão necessárias para executar
pessoal as operações e processos unitários? Esses profissionais estarão disponíveis a tempo? Qual é a
quantidade de treinamento necessário?
(continua)
4–2 Considerações sobre a seleção de processos P 267
Fator Comentário
17. Requerimentos de Quais os requerimentos de operação e manutenção deverão ser proporcionados? Quais peças
operação e manutenção de reposição serão necessárias e quais são as suas disponibilidades e seus custos?
18. Processos Quais processos de suporte serão necessários? Como eles afetam a qualidade de efluentes
complementares principalmente quando ficam fora de operação?
19. Confiabilidade Qual é a confiabilidade de longo prazo das operações e processos unitários em consideração?
As operações e processos são facilmente desequilibradas? Elas podem suportar choques de
carga? Nesse casos, como essas ocorrências poderiam afetar a qualidade do efluente?
20. Complexidade Qual é a complexidade das operações e processos unitários em condições de rotina ou em
condições de emergências? Que níveis de treinamento os operadores devem ter para executar o
processo?
21. Compatibilidade As operações e processos unitários podem ser utilizados com sucesso nas instalações existentes?
Há facilidade para expansão da instalação?
22. Adaptabilidade O processo pode ser modificado para atender a requerimentos futuros?
23. Análise de ciclo de vida A avaliação de custos deve considerar os custos de capital iniciais e os custos de longo prazo
de manutenção e operação. A instalação com custo de capital inicial menor pode não ser
a mais efetiva em relação a custos de operação e manutenção. As característica dos fundos
disponíveis podem, também, afetar a escolha do processo.
24. Disponibilidade de Há espaço suficiente disponível, tanto para a instalação das unidades atualmente consideradas
áreas como para possíveis expansões futuras? Há disponibilidade de uma zona tampão para
proporcionar um espaço que minimize impactos visuais e outros tipos de impactos?
mas, assim como uma grande quantidade de experiências práticas. Detalhes adicionais sobre esses
temas são apresentados nos capítulos subsequentes.
(a) (b)
FIGURA 4–3 Exemplos típicos de instalações de bancos de teste onde diversas tecnologias diferentes
podem ser testadas em escala-piloto: (a) banco de testes (também conhecido como planta-piloto) para
Estudo de Vírus em Pomona, e operado pelo County Sanitation Districts of Los Angeles County (cerca de
1975–1977) e (b) instalação de banco de testes, em Toranto, Itália.
4–2 Considerações sobre a seleção de processos P 269
mento de estudos-piloto para tratamento de esgoto são apresentados na Tabela 4–3. A importância
relativa dos fatores apresentados na Tabela 4–3 dependerá de aplicações específicas e das razões
que levam à elaboração de um programa de testes. Por exemplo, o teste de sistemas de desinfecção
por UV é, especificamente, efetuado (1) para verificar as alegações de desempenho de fabricantes,
(2) para quantificar os efeitos dos constituintes da água tratada sobre o desempenho do processo
de UV, (3) para acessar o(s) efeito(s) do sistema e da hidráulica do reator sobre o desempenho do
processo de UV, (4) para acessar o(s) efeito(s) da filtração de efluentes no desempenho do processo
de UV e (5) para investigar a ocorrência de fotorreativação e de impactos.
Item Consideração
Razões para efetuar pilotos Testar novos processos
Simular outros processos
Prever o desempenho de processos
Documentar o desempenho de processos
Otimizar o projeto do sistema
Satisfazer os requerimentos da agência de controle
Satisfazer requerimentos legais
Dimensão da unidade-piloto Modelos de bancadas ou de laboratório
Testes em escala-piloto
Escala de testes real (protótipo)
Fatores não físicos de projeto Recursos, prazo e mão de obra disponíveis
Nível de inovação e de motivação envolvidos
Qualidade da água ou do esgoto
Local das instalações
Complexidade do processo
Experiência de testes similares
Variáveis dependentes e independentes
Fatores físicos de projeto Fatores de escala
Dimensões do protótipo
Variações de vazão esperadas.
Instalações e configuração de instalações e equipamentos requeridos
Materiais de construção
Projeto do programa de testes Variáveis dependentes, incluindo faixas
Variáveis independentes, incluindo faixas
Prazo requerido
Instalações para os testes
Protocolos de testes
Projeto do programa estatístico de coleta de dados
Configuração gradual para ajustagem de protocolo conforme os
dados são coletados e analisados
270 P Capítulo 4 Seleção, projeto e implementação de estações de tratamento de esgoto
80 1000
70
50 Mg = 245 mg/L
Dados de vazões Sg = P84,1 / P50
Vazão m3/dia
5
10
20
30
50
70
80
90
95
99
99,9
99,99
0,01
0,1
5
10
20
30
50
70
80
90
95
99
99,9
99,99
Porcentagem de valores iguais ou Porcentagem de valores iguais ou
menores do que o valor indicado menores do que o valor indicado
(a) (b)
FIGURA 4–4 Distribuição de probabilidades de características diárias de esgoto influente, coletadas durante um ano: (a) vazão
e (b) demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e sólidos suspensos totais (SST).
constituintes DBO, DQO e SST no influente são dados na Tabela 4–4 em termos do valor de sg. A
faixa de variação de valores de sg dados na Tabela 4–4 corresponde à faixa de valores citados na
literatura e na experiência dos autores.
Variabilidade inerente dos processos de tratamento de esgoto. Todos os processos
de tratamento, físicos, químicos e biológicos apresentam alguma margem de variabilidade com
relação ao desempenho que pode ser obtido. Faixas médias de valores de constituintes que podem
ser obtidos através de diversos processos de tratamento biológico mostrada na Tabela 4–5. A faixa
de variabilidade que pode ser observada no desempenho de DBO e de STT no efluente de diversos
processos de lodos ativados é ilustrada graficamente na Figura 4–5. Além disso, como ilustrado na
Figura 4–5 e discutido no Capítulo 8, as características físicas dos efluentes de decantadores se-
cundários podem ter um impacto significativo no desempenho do processo de lodos ativados. A va-
riabilidade dos valores de DBO, SST e de turbidez, em termos de valores de sg, nos três processos
apresentados na Tabela 4–5 estão indicados na Tabela 4–6. A faixa de valores de sg é representativa
dos valores citados na literatura. A utilização dos dados da Tabela 4–6 é ilustrada ano Exemplo 4–1.
TABELA 4–4 Faixas de desvios padrões geométricos (sg) para parâmetros influentes
observados em estações de tratamento pequenas, médias e grandes
Faixa de sg para estações de tratamento típicasa
Pequenab Intermediáriac Granded
Parâmetro Faixa Típica Faixa Típica Faixa Típica
Vazão 1,4–2,0 1,6 1,1–1,5 1,25 1,1–1,2 1,15
DBO 1,4–2,1 1,6 1,3–1,6 1,3 1,1–1,3 1,27
DQO 1,5–2,2 1,7 1,4–1,8 1,4 1,1–1,5 1,30
SST 1,4–2,1 1,6 1,3–1,6 1,3 1,1–1,3 1,27
a
Excluindo sistemas com infiltração elevada nos sistemas coletores.
b
Vazão de 4.000–40.000 m3/d.
c
Vazão de 40.000–400.000 m3/d.
d
Vazão ⬎400.000 m3/d.
272 P Capítulo 4 Seleção, projeto e implementação de estações de tratamento de esgoto
100 100
Faixa típica Faixa típica
10 10
Típico da estação
Mínimo obtido utilizando com decantador
grande períodos de profundo (~4,5 m)
retenção de sólidos e Valor obtido com
decantador profundo decantador profundo (~6m)
1 1
0,01
10
20
30
50
70
80
90
95
99
99,9
99,99
0,1
0,01
10
20
30
50
70
80
90
95
99
99,9
99,99
0,1
1
5
1
5
a
Do Capítulo 3, Tabela 3–12 e 3–14.
b
Tratamento secundário convencional, definido como tratamento por lodos ativados com nitrificação.
c
RBN é definido como remoção biológica de nutrientes para a remoção de nitrogênio e fósforo.
d
Com o processo RBN.
e
Unidades formadoras de placas.
f
Por exemplo, drogas prescritas e não prescritas.
4–3 Confiabilidade do processo de tratamento e seleção de valores de projeto P 273
Tanto a distribuição aritmética como a log-normal pode ser utilizada para modelar o desempe-
nho de processos de constituintes inorgânicos, como SDT, que não são significativamente alterados
por tratamento biológico. Ainda, onde a variabilidade do desempenho não é elevada, tanto a distri-
buição aritmética como a log-normal pode ser utilizada para modelar o desempenho observado. A
distribuição de Weibull (Kokoska and Zwillinger, 2000) se mostrou, também, ser útil na análise de
processos avançados e no tratamento de esgoto (WCPH, 1996, 1997).
Confiabilidade de processos mecânicos. Além da variabilidade da vazão e das caracte-
rísticas do esgoto influente e a inerente variabilidade de resposta dos processos de tratamento, a
variabilidade associada aos equipamentos mecânicos utilizados nas estações de tratamento, deve,
também, ser considerada na análise de valores de projetos e a quantidade de equipamentos de re-
serva que deve estar disponível para atender a parâmetros restritivos com valores de confiabilidade
especificados (p. ex., 99 ou 99,9%). Diversas abordagens são disponíveis para analisar a confiabi-
lidade mecânica de uma estação de tratamento, incluindo (WCPH, 1996):
1. Análise de componente crítico (ACC)
2. Análise de efeitos e tipos de falhas
3. Árvore de análises de eventos
4. Árvore de análises de falhas
Todas essas quatro abordagens são, frequentemente, citadas na literatura, sendo utilizadas por mui-
tas indústrias. A análise de componente crítico (ACC) foi desenvolvida pela U.S. EPA para deter-
minar a credibilidade operacional, a sustentabilidade e a disponibilidade operacional de compo-
nentes críticos selecionados utilizados para tratamento de esgoto (U.S. EPA, 1982). O objetivo da
ACC é o de determinar quais equipamentos mecânicos utilizados na estação de tratamento teriam
um impacto imediato na qualidade do efluente, caso ocorra uma falha. Os parâmetros estatísticos
mais comumente utilizados na aplicação do método ACC, conforme definido na Tabela 4–7, são
tempo médio anterior à falha (TMAF), tempo de espera anterior à falha (TEAF), disponibilidade
inerente (DI) e disponibilidade operacional (DO).
274 P Capítulo 4 Seleção, projeto e implementação de estações de tratamento de esgoto
Solução
1. Selecione os valores de sg para DBO e SST da Tabela 4–4 que correspondam ao DBO e
SST do efluente para um processo de lodos ativados convencional. Da Tabela 4–4, utilize
os valores típicos de sg de 1,5 e 1,4 para DBO e SST, respectivamente.
2. Determine a distribuição de probabilidades dos valores efluentes de DBO e de SST.
a. Utilizando os valores de sg, calcule os valores de DBO e de SST correspondentes à
posição da curva em P84,1 (ver a nota b na Tabela 4–6).
i. Para DBO
Distribuição dos
valores efluentes de
SST com P50 = 15 e
sg = 1,4
P84,1 = 21 mg/L
10 P = 15 mg/L
50
Distribuição dos
valores efluentes de
DBO com P50 = 15 e
sg = 1,5
1
0,01
10
20
30
50
70
80
90
95
99
99,9
99,99
0,1
1
5
3. Calcule os valores efluentes de DBO e de SST que ocorrem com as frequências dadas.
a. A probabilidade de ocorrência de um evento determinado com a frequência de uma
vez por ano é (1/365) ⫻ 100 ⫽ 0,3%. Portanto a porcentagem de eventos ocorrendo
menos do que uma vez por ano é 100 ⫺ 0,3 ⫽ 99,7%. Utilizando a curva desenvolvida
no passo 2, os valores de DBO e de SST correspondentes a 99,7% são
i. Para DBO
Comentário
Conforme visto no passo 4, os valores efluentes de DBO e de SST excederão os limites de
descarga de 30 mg/L em aproximadamente 4,5 e 2,0% do tempo, respectivamente. Se a DBO
e o SST não devem ultrapassar o limite de efluente, então, ou o processo deverá ser projetado
novamente para uma média inferior, ou algum tipo de filtração deverá ser adicionado para
atingir os limites de descarga com confiabilidade. O impacto de se adicionar alguma forma de
filtração é considerado no Capítulo 11.
Uma análise completa de credibilidade de processo foi efetuada para um sistema de tratamento
projetado para produzir 3800 m3/dia (1,0 Mgal/dia) de água tratada. A estação inclui tratamento
preliminar (grade grossa e remoção de areia), tratamento primário (tambor rotativo e filtros de
disco), tratamento secundário (lagoas de aguapé) e tratamento terciário (uma estação compacta
consistindo de coagulação, remoção de dureza, sedimentação e filtração). O tratamento avançado
consiste de desinfecção por radiação ultravioleta, osmose reversa, extração por ar, e adsorção em
carvão ativado granular. Hipoclorito de sódio é utilizado para desinfecção de efluente, sendo o
tempo de contato requerido efetuado ao longo do sistema de distribuição. Os resultados da análise
de confiabilidade do processo são apresentados na Tabela 4–8. Como mostrado, o processo de
tratamento preliminar apresentou o menor TMAF. Problemas típicos que ocorrem em instalações
de tratamento preliminar incluem: queda do disjuntor, vazamento e falha na caixa de engrenagens.
276 P Capítulo 4 Seleção, projeto e implementação de estações de tratamento de esgoto
TABELA 4–8 Sumário de estatísticas sobre credibilidade mecânica para Aqua IIIa,b
Medida estatísticac
90% CL
Item TMAF, ano TMAF, ano DO DI
Tratamento preliminar 0,35 0,57 0,9953 0,9998
Primário 0,82 0,65 0,9967 0,9981
Secundário 2,12 1.75 0,9757 0,9953
Estação compacta 2,24 1,78 0,9994 0,9995
Desinfecção por UV 0,58 0,25 0,9991 0,9984
Osmose reversa 1,22 0,99 0,9900 0,9903
Torre de aeração 1,16 0,50 0,7835 0,9995
Torre de carbono 1,86 1,02 0,9963 0,9999
Efluente 0,56 0,45 0,9771 0,9964
a
Adaptado de WCPH (1997).
b
Dados da Aqua III 09/10/94 a 30/09/95.
c
Ver Tabela 4–7 para definição das medidas estatísticas.
Com exceção de três processos de tratamento, a DO do sistema remanescente foi maior do que
0,99. O DI foi maior do que 0,99 para todo o sistema de tratamento. A informação apresentada na
Tabela 4–8 pode ser utilizada para determinar as escalas de manutenção e os requerimentos para
peças e componentes de reposição (WCPH, 1996, 1997).
100
Cu = 10 mg/L a 99,9 %
Cobre total, mg/L
(b)
10
(a)
Média de projeto para CU = 2,1 mg/L
0
0,01
0,1
5
10
20
30
50
70
80
90
95
99
99,9
99,99
Porcentagem de valores iguais ou
menores do que o valor indicado
FIGURA 4–6 Distribuição de probabilidades: (a) cobre total mensal no efluente (Cu), amostras coletadas
durante um período de dois anos, e (b) distribuições correspondentes para atingir 99,9% de atendimento
com um limite de cobre de 10 mg/L, traçadas com o mesmo desvio padrão geométrico da distribuição
original.
EXEMPLO 4–2 Estimativa das concentrações efluentes de projeto para DBO e SST
com base nas condições de confiabilidade
Uma estação de lodos ativados deve ser expandida e melhorada para atender a novos reque-
rimentos de emissão. Os novos requerimentos para efluentes são dados abaixo. Determine a
média do valor de projeto para as concentrações de DBO e SST no efluente, para atender a
um nível de confiabilidade de 99% para o padrão mensal e de 99,9% para o padrão semanal,
utilizando o método gráfico de log-probabilidades. Os dados médios de concentrações men-
sais de DBO e SST no efluente da estação existente para um período de um ano são, também,
apresentados abaixo
(continua)
278 P Capítulo 4 Seleção, projeto e implementação de estações de tratamento de esgoto
(continuação)
Solução
1. Plote os dados mensais de DBO e de SST em um papel de log-probabilidade. As curvas
requeridas para DBO e SST são mostradas abaixo.
60 DBO 60 SST
Padrão semanal
50 50 Padrão semanal
(20 mg/L à confiabilidade de 99,9 %
(20 mg/L à confiabilidade de 99,9%
Concentração de DBO, mg/L
11 mg/L 12 mg/L
10 10
9 9
8 10 mg/L 8 10,5 mg/L
7 7
0,01
0,1
5
10
20
30
50
70
80
90
95
99
99,9
99,99
0,01
0,1
5
10
20
30
50
70
80
90
95
99
99,9
99,99
Porcentagem de valores iguais ou Porcentagem de valores iguais ou
menores do que o valor indicado menores do que o valor indicado
2. Estime as concentrações de efluentes de projeto para DBO e para SST para (a) 99%
de confiabilidade para o padrão mensal e (b) 99,9% de confiabilidade para o padrão
semanal.
a. Determine as concentrações de projeto para as concentrações de DBO no efluente. As
concentrações de DBO são determinadas traçando linhas com a mesma declividade
dos dados medidos, através dos pontos de 15 mg/L e 99% e 20 mg/L e 99,9%, anotan-
do os valores correspondentes a 50%. Os valores determinados são
Comentário
Quando o conceito de confiabilidade é utilizado, os valores médios selecionados para projeto
serão significativamente inferiores aos requerimentos permitidos. Loge et al. (2001) demons-
traram como o coeficiente de variação é reduzido (i.e. a variabilidade do processo) quando
são utilizados processos em série em relação à desinfecção do efluente tratado com radiação
ultravioleta. Baseado em diversos projetos existentes na Inglaterra e na Europa, foi verificado
que, para atingir os limites prescritos a um nível de probabilidade de 95%, o valor médio de
projeto deverá ser igual a aproximadamente 50% do limite estabelecido.
4–3 Confiabilidade do processo de tratamento e seleção de valores de projeto P 279
a um valor de confiabilidade de 99,9%, esse valor é plotado e, uma linha com o mesmo desvio
padrão geométrico é traçada através desse ponto. O valor a uma probabilidade de 50% sobre a linha
traçada através do limite permitido corresponde ao valor médio de projeto requerido, neste caso de
2,1 mg/L. Para diversos outros constituintes, será verificado que o valor médio de projeto requerido
não pode ser atendido com o processo existente. Por exemplo, no caso em que o valor médio de
projeto não pode ser atendido com um único processo, poderá ser necessário utilizar dois ou mais
processos de tratamento em série. Os valores típicos de desvio padrão geométricos dados na Tabela
4–6 podem, também, ser utilizados para o projeto de novas estações de tratamento, se os limites
permitidos de descarga são conhecidos.
Turbidez efluente do filtro, UNT ⫽ 0,5 UNT ⫹ 0,2 (turbidez influente ao filtro, UNT)
Solução
1. Para determinar os valores de SST após a filtração, utilize as relações seguintes, dadas no
Capítulo2.
a. SST do efluente secundário, mg/L ⫽ (2,3 mg/L/UNT) (turbidez do efluente, UNT)
[Equação (2–18)]
b. SST do efluente do filtro ⫽ (1,4 mg/L/UNT) (turbidez do efluente do filtro, UNT)
[Equação (2–18)]
2. Utilizando as relações dadas acima determine os valores correspondentes a 50% e 84,1%
(um desvio padrão) após filtração
a. A 50%
i. Turbidez do efluente secundário ⫽ (15 mg/L)/(2,3 mg/L/UNT) ⫽ 6,52 UNT
(continua)
280 P Capítulo 4 Seleção, projeto e implementação de estações de tratamento de esgoto
(continuação)
ii. Turbidez do efluente do filtro ⫽ 0,5 UNT ⫹ 0,2(6,52 UNT) ⫽ 1,8 UNT
iii. SST do efluente do filtro ⫽ (1,4 mg/L/UNT) (1,8 UNT) ⫽ 2,52 mg/L
b. À porcentagem de 84,1% utilize a Equação (D-9) do Apêndice D ]
i. P84,1 ⫽ P50 ⫻ sg ⫽ 15 mg/L ⫻ 1,25 ⫽ 18,75 mg/L
ii. Turbidez do efluente secundário ⫽ (18,75 mg/L)/(2,3 mg/L/UNT)
⫽ 8,15 UNT
iii. Turbidez do efluente do filtro ⫽ 0,5 UNT ⫹ 0,2(8,15 UNT) ⫽ 2,13 UNT
iv. SST do efluente do filtro ⫽ (1,4 mg/L/UNT) (2,13 UNT) ⫽ 2,98 mg/L
3. Plote o SST do efluente secundário e a turbidez do efluente do filtro e o SST e prepare
uma tabela sumário de dados atendidos.
a. gráfico de log-probabilidade
100
TSS, mg/L e turbidez, UNT
10
Efluente do filtro
Limite de
turbidez = 2 UNT
NT
0,1
5
10
20
30
50
70
80
90
95
99
99,9
b. Tabela sumário
Comentário
Como mostrado na tabela sumário acima, para seis valores excedentes por ano de SST (o que
corresponde à probabilidade de 98,3%) a concentração de SST seria igual ou maior que 2,6
mg/L, para três valores excedente por ano (99,2% de probabilidade) a concentração de SST
seria igual ou maior do que 2,9 mg/L e para um evento excedente em três anos (99,9% de pro-
babilidade) a concentração de SST seria igual ou maior do que 4,2 mg/L. Se para aplicações
de reúso uma turbidez de 2 UNT deve ser atendida, o limite de 2-UNT seria excedido durante
25% do tempo, sem o uso de tratamento adicional.
processos, (4) dimensionar preliminarmente as unidades, (5) preparar o balanço de sólidos, (6) fazer as
considerações sobre o esquema do local de instalação, (7) avaliar a hidráulica do sistema (perfil hidráu-
lico) e (8) gerenciar a energia. Cada um desses elementos são introduzidos e discutidos nesta seção.
Período de projeto
O período de projeto corresponde à data na qual a capacidade do projeto da instalação é atingida.
Tais períodos podem variar para componentes individuais, dependendo da facilidade ou dificulda-
de de expansão. Períodos de projeto típicos, para diversos tipos de instalações, são mostrados na
Tabela 4–9. Períodos maiores são preferidos para estruturas e sistema hidráulicos, que não podem
ser facilmente expandidos. A seleção de períodos de projetos depende das características de cres-
cimento populacional, das considerações ambientais e da disponibilidade e fontes de fundos para
a construção.
Influente Efluente
Extravasamento do adensador
Desaguamento
Digestor de sólidos Sólidos desaguados
Sobrenadante anaeróbio para aterro
Biossólidos
Filtrado
(a)
Caixa de Edifício de
areia aerada processamento
de sólidos Digestor
anaeróbio
Edifício central
(administração e operação)
Decantadores
secundários
Câmara de
contato de cloro
Decantadores
primários
Tanques de
aeração
(b)
FIGURA 4–7 Estação de tratamento de esgoto projetada para atender aos padrões de tratamento secun-
dário da U.S. EPA, (ver Tabela 1–2) (a) diagrama de fluxo e (b) layout da instalação.
Dimensionamento preliminar
Após o estabelecimento dos critérios de projeto, o passo seguinte é determinar o número e as
dimensões das instalações físicas necessárias. Por exemplo, se o período de detenção hidráulico
na caixa de areia mostrada na Figura 4–7(a) deve ser de 3,5 minutos na vazão de pico, o volume
correspondente da caixa de areia pode ser calculado. Considerando o tamanho, as restrições físicas
devem ser avaliadas: por exemplo, a área disponível poderia acomodar tanques de sedimentação
circulares ou retangulares? Considerações operacionais como repartição de vazões e balanceamen-
to de cargas deverão ser avaliadas, particularmente, em sistemas de processos que combinem di-
versos tipos de processos unitários – por exemplo, dois decantadores e três tanques de aeração.
Fatores associados à manutenção devem ser considerados na seleção do número de unidades para
possibilitar que uma das unidades seja retirada de operação para manutenção ou reparos. No caso
4–4 Elementos de projeto de processos P 283
de instalações pequenas com apenas uma unidade, a sua manutenção pode se tornar um problema,
a menos que sejam previstos reservatórios temporários.
Balanço de sólidos
Após o estabelecimento dos critérios de projetos e o dimensionamento preliminar estar finalizado,
deve ser preparado um balanço de massa para os diagramas de fluxo de cada processo. Eles de-
vem ser elaborados para a carga média com fatores de picos adequados para as cargas máximas.
Essa informação deve estar disponível para dimensionar (1) o sistema de espessamento de lodo e
instalações de armazenamento, (2) os digestores de lodo, (3) as instalações de desaguamento de
lodo, (4) os sistemas de redução térmica, (5) as instalações para compostagem e (6) as tubulações
e equipamentos de recalque de lodo, além de instalações acessórias. O balanço de sólidos para o
diagrama de fluxo mostrado na Figura 4–7(a) é apresentado na Figura 4–8. Os detalhes envolvidos
na preparação do balanço de sólidos são ilustrados no Capítulo 14.
Legenda
Vazão m3/dia 21.600 21.600 22.033 21.942 21.600
DBO, kg/dia 8100 8100 8373 5610 412
SST, kg/dia 8640 7776 8423 2527 475
Caixa
de areia Decantador Tanque de Decantador Desinfecção
Grade aerada primário aeração secundário por UV
Influente Efluente
Lodo Retorno de
90,7
primário lodo ativado
Vazão –– 335
de retorno 5443 38,5 Excesso de
––
–– lodo ativado
Lodo 432
Tanque de 1540
445,7 336,5 adensado
mistura
285 107 Adensador por
674 171 flotação
Extravasamento
do adensador
Biossólidos 129,2
40,2 –– 86,2 17,2
40 6983 –– ––
201 4310 Desaguamento 4008
de sólidos
Sobrenadante
Sólidos desaguados
69,0 para aterro
Digestor Gás =
138 2862 kg/d
anaeróbio
302
Filtrado
FIGURA 4–8 Resultados de balanço de massa de sólidos para o diagrama de processo de tratamento
mostrado na Figura 4-7. Os detalhes computacionais são apresentados na Seção 14–7 do Capítulo 14.
284 P Capítulo 4 Seleção, projeto e implementação de estações de tratamento de esgoto
computador, são, normalmente avaliados antes de que uma decisão final seja tomada. Entre os
fatores que devem ser consideradas quando efetuado um esquema da estação de tratamento estão:
(1) geometria dos locais considerados, (2) topografia, (3) condições do solo e de fundações, (4)
locação da tubulação influente, (5) locação do ponto de descarga, (6) planta hidráulica, preferivel-
mente com caminhos de escoamento lineares entre as unidades para minimizar perdas de carga e
proporcionar simetria para repartição de vazões, (7) tipos de processos envolvidos, (8) desempenho
e eficiência de processos, (9) acesso ao transporte, (10) acessibilidade das equipes de operação,
(11) confiabilidade e economia de operação, (12) estética, (13) controle ambiental e (14) provisão
para expansão futura da estação de tratamento, incluindo área adicional. Os layouts físicos de es-
tações de tratamento pequena e grande são mostrados nas Figuras 4–7(b) e 4–9, respectivamente.
O layout mostrado na Figura 4–7(b) corresponde ao diagrama de fluxo mostrado na Figura 4–7(a).
O layout mostrado na Figura 4–9 é da grande estação de tratamento de esgoto de Blue Plains, em
Washington, DC, que inclui diversos processos de tratamento avançados.
Instalações de filtração e
tanques de desinfecção
Centrífugas de deságue
Estação de recalque do liquor
misto de desnitrificação Hidrólise térmica
Espessadores por flotação
Decantadores de dupla finalidade
Sedimentação da nitrificação
Emissário 1
Decantadores secundários
do lado leste Instalação de clarificação melhorada
Edifício administrativo
FIGURA 4–9 Esquema (layout) avançado de tratamento de esgoto da Blue Plains, com uma capacidade de 16,2 m3/s (370
Milhões de galões/dia) servindo a área de Washington, DC e áreas vizinhas. (Coordenadas: 38,8178 N, 77,0220 O, (vista de
uma altitude de 4 km. É, também, mostrada na capa deste livro.)
4–4 Elementos de projeto de processos P 285
médias e de pico. Os cálculos hidráulicos são efetuados para dimensionar os condutos e canais co-
nectores das unidades e para calcular as perdas de carga através da estação. Faixas típicas de perdas
de carga na estação são dadas na Tabela 4–10. No projeto do sistema hidráulico da estação deve-se
consider (1) fazer a equalização da divisão de vazões entre as unidades de tratamento, (2) prover o
desvio de vazões das unidades de tratamento secundário, quando da ocorrência de picos extremos
de vazão, para evitar a perda de biomassa, (3) prover a suspensão de operação de instalações de
tratamento durante vazões baixas sustentadas e (4) minimizar o número de mudanças de direção de
escoamento do esgoto em condutos e em canais.
Os perfis hidráulicos são elaborados por três razões: (1) assegurar que o gradiente hidráulico
seja adequado e possibilite o escoamento do esgoto por gravidade ao longo das instalações, (2)
estabelecer os requerimentos de cotas para as bombas no caso do recalque ser necessário e (3) asse-
gurar que as instalações não sejam inundadas ou apresentem refluxos durante períodos de picos de
vazão. O perfil hidráulico para o diagrama de fluxo mostrado na Figura 4–7 é mostrado na Figura
4–10. Na preparação de um perfil hidráulico são utilizadas escalas verticais e horizontais diferentes
para representar as instalações físicas.
Os cálculos de perfis hidráulicos envolvem a determinação de perdas de carga conforme o
esgoto escoa através de cada uma das instalações físicas, incluídas no diagrama de fluxo. Os proce-
dimentos computacionais específicos podem variar dependendo de condições locais. Por exemplo,
se uma condição de descarga de jusante for o ponto de controle, alguns projetistas elaboram o
perfil hidráulico de trás, a partir desse ponto de controle. Outros projetistas preferem trabalhar par-
tindo do início da instalação. Outros preferem partir da parte central indo para ambas as direções,
ajustando as cotas ao final dos cálculos. A utilização de modelos matemáticos e de computadores
digitais permite que muitas condições hidráulicas sejam analisadas.
Gestão da energia
Estações de tratamento de água e de esgotos dos Estados Unidos consomem aproximadamente 2
a 4% da quantidade total de energia produzida (WEF 2010a). Tipicamente, 30% dos custos ope-
Caixa de
areia aerada Decantadores primários Tanques de aeração
26
Topo da
Sa máximo parede Topo da Topo da
El 24,16 El 24,64 Sa máximo parede parede
El 23,93 Sa máximo
El 23,35 El 23,17
El 22,59
24
Vertedor,
Elevação, m EL 23,95
22
Vertedor triangular, Crista do vertedor
EL 23,30 EL 22,50
20
Para os
decantadores
secundários,
continua abaixo
18
Decantadores Tanques de
16
secundários contato de cloro
26
Frequência de 42 anos,
sa EL 23,01 (para
Topo da parede, Topo da parede
tratamento primário
El 22,71 El 23,32
e cloração)
24
El 23,17
Elevação, m
22
Sa máximo,
Do tanque
El 22,13
de aeração
Sa máximo,
El 21,64
20
Vertedor
EL 21,56
18
Linha de gradiente
hidráulico para a vazão de
45.000 m3/dia, sa EL 21,12
(tratamento secundário completo)
16
racionais de uma estação de tratamento são associados ao uso de energia. Durante os próximos 20
a 30 anos os requerimentos de eletricidade para tratamento de esgoto nos Estados Unidos estão
previstos para aumentar mais 30 a 40%. Numa época onde há preocupação com a adequação dos
suprimentos de combustíveis, com o custo da energia e os crescentes níveis avançados de tratamen-
to, que resultam em maiores consumos de energia, o projeto e a operação de estações de tratamento
se concentram, cada vez mais, na melhoria da eficiência do uso da energia elétrica e na redução dos
custos do tratamento. Assim, a importância da compra e do uso de energia para tratamento de esgo-
to não pode ser subestimada. Referências sobre uso e gestão de energia são temas constantemente
abordados neste livro. Uma análise completa da utilização de energia em tratamento de esgoto,
assim como as medidas a serem adotadas para aumentar a eficiência da energia, são apresentadas
no Capítulo 17.
4–5 Implementação de programas de gestão de esgoto P 287
Planejando as instalações
O plano de instalações é um documento elaborado para analisar sistematicamente os fatores técni-
cos, econômicos, ambientais e financeiros necessários para selecionar um plano de gestão de esgo-
to efetivo em termos de custos. Como o plano para grandes instalações pode incluir uma avaliação
de impacto ambiental, essa avaliação é, geralmente, um documento separado. O escopo do plano
das instalações inclui: (1) definir o problema; (2) identificar a vida útil dos elementos principais
(usualmente 20–25 anos para equipamentos e 50 anos para as estruturas); (3) definir, desenvolver
e analisar as alternativas de sistemas de tratamento e de disposição final; (4) selecionar um plano e
(5) esquematizar um plano de implementação de arranjos financeiros e um cronograma para o pro-
jeto e a construção. O objetivo principal do plano de instalações é a produção de um projeto bem
definido, efetivo em termos de custos e ambientalmente adequado, capaz de ser implementado e de
ser aceitável pelos contribuintes e pelas autoridades regulatórias. Mais informação sobre a prepara-
ção de um plano de instalações pode ser obtida no documento U.S. EPA (1985).
Projeto
Após o planejamento das instalações, a abordagem geralmente aceita para o projeto consiste de
projeto conceitual, projeto preliminar, estudos especiais e o projeto final. O projeto conceitual é
utilizado para finalizar os critérios do projeto preliminar utilizados no plano de instalações, para
estabelecer layouts preliminares e para definir as investigações de campo necessárias, como le-
vantamentos e estudos geotécnicos. O projeto preliminar é uma expansão do projeto conceitual,
definindo todas as instalações a serem incluídas no projeto, de maneira que o projeto final seja
elaborado. Estudos especiais podem incluir estudos de campo ou de testes necessários para o de-
senvolvimento dos critérios e projeto. O projeto final envolve a produção do plano detalhado de
contrato e de especificações utilizados para licitação e construção. Medidas mitigatórias podem,
também, ser incluídas no projeto para reduzir ou amenizar impactos ambientais indesejáveis. Como
a abordagem de projeto varia de acordo com o tipo e a dimensão do sistema, este livro apresentará
apenas um esboço geral de projeto do processo.
Engenharia de valores
Engenharia de valores (EV) é uma revisão intensiva de um projeto para determinar o melhor valor,
ou a melhoria do valor, que pode ou não resultar numa redução de custo. A finalidade da análise
de EV é obter o melhor projeto ao menor custo, sem sacrificar a qualidade ou a credibilidade. De-
pendendo da dimensão e da complexidade do projeto, o esforço dedicado à EV pode variar de uma
equipe e a uma sessão de revisão, até a diversas equipes e a diversas revisões. Em grandes projetos,
duas sessões de revisão são geralmente efetuadas, cada uma com duração de uma semana: uma a
aproximadamente 20 a 30% da finalização do projeto e outra a 65 a 75% do desenvolvimento. Os
membros da equipe de EV são profissionais seniores que não estão envolvidos com o projeto do
sistema. Para informações detalhadas sobre o processo de EV pode-se consultar o documento U.S.
EPA (1985).
288 P Capítulo 4 Seleção, projeto e implementação de estações de tratamento de esgoto
Construção
A qualidade dos planos de projetos e de especificações, são, geralmente medidos por (1) facilidade
de integração das novas instalações em locais existentes, (2) clareza de apresentação que permi-
ta aos empreiteiros submeter propostas com permissões pequenas para condições indefinidas ou
imprevistas, (3) especificação de materiais de alta qualidade para garantir uma longa vida útil das
instalações, (4) término do trabalho dentro do cronograma e (5) minimização de solicitações de
alterações durante a obra. Algumas considerações sobre técnicas de construção e de gestão são
discutidas a seguir.
Considerações sobre a construção. Na preparação de planos e especificações finais, o enge-
nheiro de projeto deve considerar os diversos detalhes de construção. Algumas das considerações
principais são (1) como a instalação será construída, (2) como será a interface com as instalações
existentes e (3) quais serão os materiais de construção. A edificabilidade de um conjunto de planos
será refletida no preço da proposta e no número de alterações que deverão ser efetuadas durante
a construção. Um grande número de alterações pode resultar na alteração de custos. Integrar uma
nova instalação a uma existente pode apresentar problemas em (1) manter a operação durante a
construção, (2) manter o tratamento a um nível que não viole os requerimentos de permissão de
descarga e (3) evitar perigos associados à segurança de pessoal. O contrato para a construção deve-
rá definir claramente como esses aspectos serão considerados.
Na seleção de materiais de construção, três princípios são fundamentais ao engenheiro em
instalações designadas a processos de engenharia: (1) durabilidade—a vida útil do equipamento
deve ser, pelo menos, de 20 anos ou mais e de até 50 anos para as estruturas; (2) confiabilidade—
materiais e equipamentos de boa qualidade para minimizar a manutenção e a substituição; e (3)
adequabilidade ambiental—considerando que o esgoto e os produtos químicos utilizados podem
ser corrosivos. Por essas razões, a maior parte das estruturas de processos é construída de concreto
armado, e outros materiais de construção são selecionados com base em suas propriedades anti-
corrosivas. Para informações sobre materiais de construção para estações de tratamento de esgoto
consulte o documento WEF (2010a).
Construção e programa de gestão. As técnicas utilizadas para garantir os prazos de exe-
cução do projeto, de acordo com as especificações, incluem programas de gestão da construção
e a gestão do programa. A gestão da construção proporciona, geralmente, revisão dos planos e
especificações do contrato e de falhas nas operações do empreiteiro. As finalidades da gestão da
construção englobam (1) verificar a adequabilidade técnica, operacional e construtiva dos planos
e especificações antes do início da construção; (2) estabelecer cronogramas de construção consis-
tentes com os objetivos do programa e otimizar os recursos financeiros; (3) rever as operações do
empreiteiro para garantir conformidade com os planos e especificações e; (4) controlar as ordens de
alterações e possíveis reinvindicações relativas à construção. A gestão do programa difere da gestão
da construção uma vez que proporciona uma fonte única de responsabilidade e de autoridade (por
conta do proprietário) para a gestão, planejamento, engenharia, permissões, financiamento, cons-
trução e operações de partida de todo o programa de gestão de esgoto. A gestão do programa é, usu-
almente, utilizada em projetos muito grandes ou em projetos que são privatizados (ver Seção 4–6).
4–6 FINANCIAMENTO
Conforme discutido anteriormente neste capítulo, as fontes tradicionais de financiamento de esta-
ções de tratamento de esgoto se modificaram. O Governo Americano proporcionou fundos para a
construção de instalações de tratamento durante mais de 40 anos. O Water Quality Act, de 1987,
incluiu um programa de transição, que excluiu o programa de subsídios para construção, e incluiu
um programa de fundos de empréstimos estaduais rotativos. O programa de fundos rotativos co-
bre apenas uma parte dos custos e as agências de esgoto devem prover a parte restante. Portanto,
cidades grandes e pequenas e comunidades devem investigar cuidadosamente suas opções de fi-
nanciamento para determinar quais são os métodos de financiamento mais adequados. Métodos de
financiamento alternativos, comumente utilizados, incluem (1) financiamento de débito municipal
de longo prazo (com ou sem financiamento ou empréstimos federais), (2) financiamento sem débi-
tos, (3) leasing e (4) financiamento privado (privatização). A gestão de ativos, conforme descrito no
Capítulo 18, pode ser adotada para maximizar os benefícios de longo prazo do investimento, mas
mantendo os mesmos níveis de serviço proporcionados. Como o financiamento está se envolvendo
mais amplamente com o projeto, construção e operação de sistemas de tratamento, uma breve dis-
cussão dos métodos de financiamento é incluída nesta seção.
método de financiamento pode ser limitado a pequenos projetos, dependendo da quantia de fundos
que possam ser auferidos por essas técnicas.
Leasing
Leasing é uma forma alternativa de financiamento de instalações que tem aplicação limitada para
estações de tratamento de esgoto. O sistema leasing é complexo, envolvendo benefícios de taxas
para o financiador e pagamento de taxas pelo financiado. Os decretos de taxas de 1984 e de 1986
reduzem substancialmente os benefícios de leasing associados a taxas. Portanto, as consequências
legais associadas a taxas devem ser investigadas cuidadosamente antes de efetuar um contrato de
leasing. Em alguns casos, eles podem ser atrativos para agências municipais como um meio de ad-
quirir instalações e equipamentos necessários quando limitações de débitos restringem as compras
diretas e a posse. Muitos sistemas de leasing incluem uma opção para efetuar a compra ao final do
contrato como uma última alternativa para efetuar a posse.
Privatização
A privatização se refere à posse e à operação pelo setor privado das instalações e serviços utilizados
por entidades governamentais para a execução de suas funções públicas (SERC, 2004). O termo
privatização entrou em voga depois das emendas do imposto de renda federal, de 1981. O decreto
sobre taxas dirigiu a atenção aos benefícios que poderiam ser partilhados com o setor público, re-
duzindo, assim, os custos de instalações do setor público e reduzindo as taxas dos usuários. Além
das economias no custo, a privatização pode oferecer vantagens na eficiência da construção e da
operação e no atendimento de padrões de emissão. A eficiência na construção pode ser obtida pela
redução de tempo de obra e maior flexibilidade no ajuste do dimensionamento às vazões, atenden-
do ás necessidades atuais e o uso crescente de projetos modulares.
O resultado geral da privatização é, em muito casos, a redução do custo de ciclo de vida. Re-
duções ao nível de 20 a 30% têm sido obtidas em relação ao financiamento convencional de pro-
jetos de operação e manutenção. Eficiências operacionais, sob operação privada e administração
centralizada, permite a aquisição por atacado de produtos químicos e de suprimentos, e a utilização
compartilhada de funcionários especializados em diversas instalações. A garantia de atender aos
padrões do efluente pode ser proporcionada por meio de recursos disponíveis pelo operador priva-
do, como a capacidade de gestão requerida e equipes de operação treinadas.
uma estação de tratamento de esgoto de 4000 m3/dia, utilizando os custos de energia elétrica de sua
localidade.
4–6 Faça uma busca na literatura e encontre 3 gráficos de probabilidade de características de efluentes.
Como as confiabilidades relacionadas se comparam com os valores da Tabela 4–6?
4–7 Um superintendente de uma estação de tratamento de esgoto solicitou à sua equipe coletar e analisar
6 amostras de efluentes de um constituinte específico para submissão a uma agência reguladora. Se
a agência reguladora, por sua vez, estabelece que o valor máximo a não ser excedido (i.e., 99,9%)
permitido para descarga do efluente é o valor medido nas 6 amostras, há um potencial de que o supe-
rintendente dê um tiro no pé? Explique e faça uma ilustração de sua análise.
4–8 Utilizando os dados da Tabela 4–5, estime o número de logs removidos de colifagos através de um
processo de tratamento composto de lodos ativados seguido de microfiltração e osmose reversa para
concentrações influente de colifagos de 20.000, 40.000, 28.000, 50.000 ufp (unidades formadoras de
placas)/100 mL (valor a ser selecionado pelo instrutor). Assuma que não ocorre remoção de colifagos
através do microfiltro e que a remoção de logs obtida, particularmente, com a membrana de osmose
reversa utilizada é de 2, 3,2, 3,0, ou 3,7 (valor de remoção de logs a ser selecionado pelo instrutor).
Qual é a remoção obtida com confiabilidade de 99 e 99,9%?
4–9 As concentrações dos constituintes seguintes foram obtidas de 4 estações diferentes de tratamento
por lodos ativados existentes. Cada uma dessas estações deve ser substituída por uma nova esta-
ção para o atendimento a novos e mais restringentes requerimentos de descarga. Para uma dessas
estações (a ser selecionada pelo instrutor), determine o valor médio de projeto, assumindo que os
seguintes limites máximos mensais permitidos devem ser atendidos: (a) DBO e SST ⫽ 15 mg/L a 99
e 99,9% de confiabilidade, (b) DBO e SST ⫽ 10 mg/L a 99 e 99,9% de confiabilidade. (c) DBO ⫽
5 mg/L e SST ⫽ 8 mg/L a 99 e 99,9% de confiabilidade. Em média, qual a porcentagem de melhora
seria necessária para atender às novas permissões de descarga? Na sua opinião, essa porcentagem de
melhoria é razoável?
1 2 3 4
4–10 Dados mensais médios de desempenho foram coletados por um período de um ano de um processo
de lodos ativados tratando esgoto primário sedimentado seguido por filtros profundos operando em
paralelo. Utilizando esses dados estime qual é a remoção total média mensal esperada com o processo
de lodos ativados e um dos filtros profundos (a ser selecionado pelo instrutor), assumindo que a con-
centração do influente é 150, 200, 275 ou 300 mg/L (a ser selecionado pelo instrutor).
292 P Capítulo 4 Seleção, projeto e implementação de estações de tratamento de esgoto
Remoção %
Tratamento biológico 1 2 3
80 65 45 41
98 65 50 44
80 65 49 49
84 65 55 45
90 65 58 47
85 65 68 45
78 65 70 43
93 65 40 46
88 65 45 45
92 65 57 43
94 65 61 48
89 65 54 42
4-11 Uma estação de tratamento de lodos ativados de esgoto convencional, com uma capacidade de
15.000, m3/dia está considerando melhorar as suas instalações de processamento de sólidos para
incluir digestão aeróbia ou anaeróbia. Liste os fatores que o engenheiro de projeto deverá conside-
rar na seleção dos processos e comente sobre as implicações energéticas associadas à seleção do
processo.
4–12 Desenvolva um perfil hidráulico para condições de vazão média e de pico para a porção esquemática
da estação de tratamento mostrada abaixo. Assuma que o lodo reciclado retorne ao tanque de aeração
diretamente, que vertedores triangulares de 90° são utilizados ao longo da periferia dos decantadores
primários e secundários e que o decantador de extravasamento no tanque de aeração é do tipo Francis
com duas contrações no final. Outros dados e informações pertinentes são como segue:
Qmédia ⫽ 4000 m3/dia mais 100% de lodo reciclado
Qpico ⫽ 8000 m3/dia mais 50% de lodo reciclado
Qbaixa ⫽ 2000 m3/dia mais 100% de lodo reciclado
Espaçamento dos decantadores triangulares ⫽ 600 mm
Largura do decantador de efluente do tanque de aeração ⫽1,400 mm
520 El
El 519,50 El El
519,17 519,00 519,10
519 El
El
518,26
518,00
518
Elevação, m
13,75 m
400 mm dia
517
El 15 m
46,5 m 516,00
516
515
El
514 514,00
480 mm dia.
38 m
Decantador Tanque de Decantador
primário aeração secundário
4–13 Com referência à porção da estação de tratamento dada no Problema 4–12, elabore o perfil hidráulico
para condições de vazão de pico e de vazão baixa para as condições seguintes:
Referências P 293
REFERÊNCIAS
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ponents, EPA 600/2-82-044, U.S. Environmental Protection tion, WEF Press, Alexandria, VA.
Agency, Washington, DC.
5
5–1 GRADEAMENTO 298
Classificação de grades 299
Processos unitários físicos
REFERÊNCIAS 439
GLOSSÁRIO
Termo Definição
Absorção O processo pelo qual átomos, íons, moléculas e outros constituintes são transferidos de uma
fase e são distribuídos uniformemente em outra fase (ver, também, adsorção).
Adsorção O processo pelo qual átomos, íons, moléculas e outros constituintes são transferidos de uma
fase e se acumulam na superfície de outra fase (ver, também, absorção).
296 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
Termo Definição
Aeradores mecânicos Equipamentos utilizados para agitar a água para promover mistura com o ar atmosférico ou
oxigênio puro em tanques de lodos ativados operando com ar ou com oxigênio puro.
Areia Areia, pedras, cinzas, outros materiais orgânicos pesados e, também, matéria orgânica
como cascas de ovos, pedaços de ossos, sementes e grãos de café.
Bacias de sedimentação (também Tanques circulares ou retangulares que proporcionam condições de pequena turbulência
chamadas de clarificadores) para permitir a sedimentação de partículas sólidas.
Caixas de areia Tanques projetados para a remoção de areia do esgoto, por sedimentação gravitacional,
escoamento helicoidal ou por centrifugação.
Classificador de areia (também Um equipamento mecânico que utiliza um parafuso inclinado ou uma grade de movimento
chamado de lavador de areia) reciprocante para eliminar matéria orgânica putrescível da areia.
Curto-circuito Irregularidades dos padrões ideais de escoamento em tanques, resultando na redução dos
tempos de detenção e no aumento do carreamento de sólidos.
Desorção A remoção do gás de um líquido.
Difusores Equipamentos utilizados para dispersar ar em um líquido.
Dinâmica de fluidos Uma série de algoritmos e cálculos para prever ou validar o comportamento de líquidos ou
computacional (DFC) gases escoando sobre ou através de superfícies.
Extração por ar A remoção de contaminantes voláteis e semivoláteis de um líquido através da passagem de
ar e líquido em contracorrente através de uma torre com preenchimento.
Floculação Um processo pelo qual pequenas partículas em suspensão aumentam de tamanho como
resultado de colisões de partículas; a floculação é, geralmente, efetuada por agitação
moderada.
Floculação com lastro Um processo no qual um auxiliar de floculação e um agente agregador, tipicamente
microareia de sílica, são utilizados para formar microflocos densos, que sedimentam
rapidamente.
Flotação por ar dissolvido (FAD) A remoção de material particulado por agregação de partículas a uma camada de bolhas
de ar ascendente em um tanque de flotação projetado especialmente.
Flotação por dispersão de ar A remoção de óleos e graxas, principalmente de efluentes industriais, pela indução de
(também chamado flotação por ar por uma ação de bombeamento descendente; óleos e sólidos se aderem às pequenas
ar induzido) bolhas, subindo à superfície de onde são removidos.
Grades Equipamentos utilizados para a retenção de material grosseiro (material gradeado) contido
no esgoto; tipos de grades incluem grades grossas, grades finas e microgrades.
Material gradeado Material grosseiro maior do que 6 mm (0,25 polegadas) formados por entulho como
pedras, galhos, pedaços de madeira, folhas, papéis, plástico, garrafas, latas e trapos.
Mistura A agitação de suspensões líquido-sólidos com o objetivo de misturar e manter os sólidos em
suspensão, mistura de gases, ou para acelerar uma reação química.
Moedores Equipamentos utilizados para a redução de tamanho de sólidos grosseiros após terem sido
removidos do esgoto, usualmente, através de grade de barras.
Perda de carga Energia dissipada por um fluido se deslocando através de uma tubulação, estrutura ou
grades, causada por atrito e/ou turbulência.
Sedimentação de alta taxa Um processo de tratamento físico-químico que emprega sistemas de floculação e
sedimentação especiais para permitir sedimentação acelerada; floculação com lastro, tubos
ou placas inclinadas são usualmente utilizados.
Sedimentação lamelar Um processo de sedimentação em contracorrente no qual uma série de placas inclinadas
aceleram a separação de sólidos do líquido (sobrenadante).
Sedimentação primária É, usualmente, a primeira etapa do tratamento de esgoto na qual quantidades significativas
de sólidos suspensos são removidas por sedimentação.
Sopradores Compressores de ar de baixa pressão que são utilizados para carrear grandes quantidades
de ar para tanques de aeração para dar suporte à atividade biológica.
Transferência de massa A transferência de massa de uma fase homogênea a outra fase; aeração, extração por ar, e
adsorção são exemplos de transferência de massa.
Capítulo 5 Processos unitários físicos P 297
Termo Definição
Tratamento preliminar Etapas de tratamento (p. ex., trituração, gradeamento, remoção de areia e pré-aeração)
para preparar o esgoto influente para as etapas posteriores de tratamento.
Trituradores Moedores em linha utilizados para fracionar sólidos grosseiros presentes no esgoto.
Os processos utilizados para tratamento de esgoto nos quais as mudanças são causadas por meio
ou através da aplicação de forças físicas são conhecidos como processos unitários físicos. Como
eles derivaram de observações do mundo físico, foram os primeiros métodos a ser utilizados. Atual-
mente, os processos unitários físicos (mostrados na Figura 5–1) se constituem na maior parte dos
sistemas de tratamento de esgoto. Os processos unitários físicos mais comumente utilizados em
tratamento de esgoto incluem alguns ou todos dos seguintes (1) gradeamento, (2) redução de sóli-
dos grosseiros (trituração, maceração e moagem de material gradeado), (3) mistura e floculação,
(4) separação por gravidade, (5) remoção de areia, (6) sedimentação primária, (7) sedimentação de
alta taxa e (8) flotação. Esses tópicos são tratados nas próximas seções.
Novas abordagens para tratamento primário envolvendo processos unitários físicos são intro-
duzidas na Seção 5–9. Os aspectos fundamentais de transferência de gases discutidos na Seção
5–10 e os sistemas de aeração discutidos na Seção 5–11 são de importância crítica no tratamento
biológico de esgoto discutido nos Capítulos 7, 8 e 10 que seguem. Os processos unitários físicos
que são aplicados a sistemas de tratamento de esgoto como filtração profunda e superficial, siste-
mas de separação por membranas e extração de amônia são discutidos separadamente no Capítulo
11. Processos unitários associados com o processamento de sólidos e de biossólidos (lodo) são co-
bertos no Capítulo 13. As aplicações principais desses processos e os equipamentos de tratamento
utilizados em sua implementação são resumidos na Tabela 5–1.
Aeração
Grades
Filtração do Mistura Tanque de
efluente de cloro contato de
cloro
Biossólido
Reciclagem de biossólidos
descartado Legenda
Vazão de retorno do espessador Operações unitárias
Espessamento
de biossólido Processos unitários
Biossólidos concentrados descartado
Escoamento do esgoto
Correntes de reciclagem
ou de sólidos
Para as instalações de
processamento de sólidos
e de biossólidos (ver Capítulo 14)
FIGURA 5–1 Posição das operações unitárias físicas em um diagrama de fluxo de uma estação de tratamento de esgoto con-
vencional.
298 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
TABELA 5–1 Processos unitários físicos tipicamente utilizados para tratamento de esgoto
5–1 GRADEAMENTO
O primeiro processo unitário geralmente encontrado em estações de tratamento de esgoto é o gra-
deamento. Uma grade é um equipamento com aberturas de dimensões uniformes que é utilizada
para reter sólidos grandes contidos no esgoto influente à estação de tratamento ou em sistemas
coletores unitários sujeitos a descargas, especialmente, de águas pluviais. A função principal do
gradeamento é a remoção de materiais grosseiros do esgoto, que podem (1) danificar ou obstruir
equipamentos de processos subsequentes, (2) reduzir a confiabilidade e a eficiência de todo o pro-
cesso ou (3) contaminar as tubulações. Algumas vezes, grades finas são utilizadas no lugar de ou
após grades grosseiras, quando é necessária a remoção de grandes quantidades de sólidos para (1)
5–1 Gradeamento P 299
proteger os equipamentos mais sensíveis a sólidos, como os reatores de membranas, e (2) eliminar
materiais que possam prejudicar o reúso benéfico de biossólidos.
Todos os aspectos do material gradeado, do transporte e da disposição devem ser considerados
na escolha de grades, incluindo (1) o nível de remoção necessário devido aos efeitos potenciais nos
processos e equipamentos de tratamento subsequentes, (2) a saúde e segurança de operadores, uma
vez que o material gradeado contém organismos patogênicos e atrai insetos, (3) potencial de gera-
ção de odores, (4) requerimentos para manuseio e para transporte antes da disposição (i.e., remoção
de compostos orgânicos por lavagem e redução do conteúdo de água por pressão) e (5) opções
para disposição. Assim, uma abordagem integrada é necessária para obter uma gestão efetiva dos
processos de gradeamento.
Classificação de grades
Os tipos de grades comumente utilizados em tratamento de esgoto estão identificados na Figura
5–2. Dois tipos genéricos de grades, grades grossas e grades finas, são utilizados no tratamento
preliminar. Grades finas podem, também, ser utilizadas como um processo alternativo de trata-
mento primário ou para a remoção de sólidos orgânicos de correntes de lodo antes de seu proces-
samento. As microgrades são utilizadas, principalmente, para a remoção de sólidos residuais de
efluentes tratados.
As grades podem ser compostas de barras paralelas, varas ou cabos, grades, arame trançado
ou placas perfuradas, com orifícios de quaisquer formas, mas geralmente as aberturas têm forma
circular ou retangular. Uma grade composta de barras ou de varas paralelas é comumente chamada
de grade grosseira e é utilizada para a remoção de sólidos grosseiros. As grades finas são equipa-
mentos construídos com placas perfuradas, elementos de arame em quadro, e tecidos de arame
com aberturas menores. Os materiais removidos por esses equipamentos são denominados material
gradeado.
Material gradeado
TABELA 5–3 Informação sobre as características e quantidades típicas de material removido do esgoto por
diversos tipos de grades
Volume de material gradeado
pé3/Mgal L/1000 m3
Dimensão da Conteúdo Peso específico,
Operação abertura, mm de água, % kg/m3 Faixa Típico Faixa Típico
Grade fina 12,5 80–90 900–1100 6–15 10 44–110 75
Grade de arame estática 9,0 80–90 900–1100 5–12 8 37–85 60
Tambor rotativoa 6,0 80–90 900–1100 4–8 6 30–60 45
a
Após grade grosseira
Nota: mm 0,3937 polegada
kg/m3 8,3492 libra/1000 galão
5–1 Gradeamento P 301
Barras grosseiras
Em tratamento de esgoto, as grades grosseiras são utilizadas para proteger bombas, válvulas, tu-
bulações e outros acessórios contra danos e entupimentos por trapos e objetos grandes. Grades
grosseiras, geralmente, são colocadas antes de grades finas para protegê-las de danos provocados
por entulhos de grandes dimensões. As estações de tratamento industriais podem não necessitar de
grades grosseiras, dependendo das características dos esgotos que geram. De acordo com o método
de limpeza adotado, as grades grosseiras são projetadas para ser limpas tanto manualmente como
mecanicamente. O manuseio, o processamento e a disposição do material gradeado são discutidos
após o estudo sobre tipos de grades.
Grades grosseiras limpas manualmente. Grades grosseiras limpas manualmente são, ge-
ralmente, utilizadas antes de bombas, e, às vezes, na entrada de estações de tratamento de esgoto
pequenas ou de tamanho médio. São, geralmente, utilizadas como gradeamento de reserva em ca-
nais de desvio, que entram em operação durante períodos de grandes vazões durante a manutenção
de grades limpas mecanicamente ou em caso de queda de energia. Grades limpas mecanicamente,
são, normalmente, utilizadas no lugar das limpas manualmente para minimizar mão de obra de
limpeza e para reduzir alagamento que ocorre com grades limpas infrequentemente.
Quando utilizadas com limpeza manual, o comprimento das barras não pode ser maior do que
a distância que pode ser convenientemente gradeada, ou seja, de aproximadamente 3 m (10 pés).
As barras das grades são soldadas espaçadamente, na parte posterior, fora da posição dos dentes
da grade. Uma placa perfurada de drenagem deve ser colocada na parte superior da grade, onde as
barras podem permanecer temporariamente para efetuar a drenagem.
O canal da grade deve ser projetado pra evitar a acumulação de areia e outros materiais pesados
antes e depois dela. O fundo do canal deve ser horizontal ou com declividade na direção da grade
sem que ocorram bolsões para reter sólidos. É desejável construir cantos arredondados na base das
paredes dos canais. O canal deve, preferencialmente, ser linear e com direção perpendicular à grade
para permitir uma distribuição uniforme dos sólidos a serem gradeados, tanto no esgoto como através
da grade. Informação sobre projetos de grades limpas mecanicamente é apresentada na Tabela 5–4.
Grades limpas mecanicamente. O projeto de barras limpas mecanicamente tem evoluído ao
longo dos anos para reduzir os problemas de operação e manutenção e para melhorar a capacida-
de de remoção de materiais. Muitos dos projetos modernos incluem o uso extensivo de materiais
resistentes à corrosão, incluindo aço inoxidável e plásticos. As grades limpas mecanicamente são
divididas em quatro tipos principais: (1) operadas com correntes, (2) reciprocadoras, (3) catenárias,
e (4) banda contínua. Barras operadas com cabos foram utilizadas extensivamente no passado,
mas, atualmente, foram substituídas por outros tipos de grades para muitas aplicações em sistemas
TABELA 5–4 Informação sobre projetos típicos de grades limpas manualmente e mecanicamente
de esgotos. Entretanto, barras operadas com cabos são ainda utilizadas em aplicações específicas,
como grades à montante de estações de bombas de desaguamento em túneis profundos, utilizados
para armazenamento ou transporte de vazões de períodos úmidos, oriundos de sistemas coletores
unitários. Informação típica sobre grades limpas mecanicamente é, também, incluída na Tabela
5–4. Exemplos dos tipos diferentes de grades limpas mecanicamente são mostrados na Figura 5–3
e as vantagens e desvantagens de cada tipo são relacionadas na Tabela 5–5.
Grades operadas com correntes. Grades operadas mecanicamente podem ser divididas em ca-
tegorias conforme sejam limpas pela parte anterior (à montante) ou pela parte posterior (à jusante),e
se as barras retornam à parte inferior da grade pela parte anterior ou pela posterior. Cada tipo tem as
suas vantagens e desvantagens, embora o modo operacional seja similar. Em geral, as grades com
limpeza e com retorno na parte anterior [ver Figura 5–3(a)] são mais eficientes em termos reter os
sólidos capturados, mas elas são menos robustas e susceptíveis a bloqueio por sólidos coletados na
base. Nas grades com limpeza na parte anterior e retorno na parte posterior, as barras retornam ao
fundo da grade na parte de jusante, passam pelo fundo e limpam a grade conforme as barras sobem.
O potencial de bloqueio é minimizado, mas a placa articulada, necessária para selar o rebaixo abai-
xo da grade, também apresenta um potencial para bloqueio.
Nas grades que são limpas na parte posterior, as barras protegem o raspador contra danos
causados pelo entulho. Entretanto, uma grade limpa na parte posterior é mais susceptível de car-
rear sólidos para a parte de jusante, principalmente quando os dentes do raspador se desgastam. O
raspador de grade limpas e com retorno na parte posterior é menos robusto que os demais tipos,
porque não há suporte no topo da grade para permitir a passagem dos dentes raspadores. A maior
Barra
Direção do
Direção do
escoamento
escoamento
(a) (b)
Motor
Elementos de aço
inoxidável da grade
Cobertura de
proteção do
influente
Montagem
da lâmina
Guia
Barras do
raspador Direção do
escoamento
Direção do
escoamento
(c) (d)
FIGURA 5–3 Grades grosseiras limpas mecanicamente: (a) de corrente, com limpeza e retorno na parte
anterior, (b) reciprocadora, (c) catenária e (d) banda contínua.
5–1 Gradeamento P 303
parte das grades de correntes apresenta, também, a desvantagem de possuir rodas dentadas submer-
sas que requerem atenção frequente de operadores e que são de difícil manutenção. Desvantagens
adicionais incluem a ajustagem e o concerto de correntes pesadas, além da necessidade de esvaziar
os canais para inspeção e conserto de peças submersas.
Grades reciprocadoras (ascendentes). A grade reciprocadora [ver Figura. 5–3(b)] imita o movi-
mento de uma pessoa raspando a grade. O raspador se movimenta para a base da grade, engata nas
barras e leva o material gradeado para cima, de onde ele é removido. Muitos projetos utilizam um
mecanismo de roda dentada para o raspador. São utilizados motores submersos dos tipos elétricos
ou hidráulicos. A vantagem principal é que todas as partes que requerem manutenção estão acima da
água, podendo ser inspecionadas ou reparadas sem esvaziar o canal. As características de limpeza e
retorno na parte anterior minimizam o carreamento de sólidos para jusante. A grade utiliza apenas
um raspador no lugar dos vários que são utilizados em outros tipos de grades. Como resultado, a
grade reciprocadora pode ter capacidade limitada para manusear cargas elevadas de material, prin-
cipalmente em canais profundos que demandam um grande “alcance” do raspador. Por exemplo,
quantidades elevadas de folhas que ocorrem durante o outono, em grades servindo sistemas coleto-
res unitários, podem causar entupimento, devido aos grandes períodos de tempo entre cada passa-
gem do raspador. A necessidade de uma elevada altura livre acima do nível de água, necessária para
a instalação do mecanismo da grade, pode limitar o potencial de melhorias do sistema de tratamento.
Grade catenária. Uma grade catenária é do tipo de corrente, com limpeza e retorno na parte an-
terior, e não possui rodas dentadas submersas. Conforme mostrado na Figura [5–3(c)], o raspador
é mantido junto à grade pelo peso da corrente. Se objetos pesados obstruírem as barras, o raspador
passa sobre eles sem causar obstrução. Entretanto, a grade possui uma faixa operacional grande,
requerendo muito espaço para instalação.
Grade de banda contínua. É uma grade de operação contínua autolimpante que pode ser utiliza-
da para remover tantos sólidos pequenos como sólidos grosseiros. [ver Figura 5–3(d)]. Um número
elevado de elementos limpantes (raspadores) é anexado às correntes; o número de elementos raspa-
dores depende da profundidade do canal da grade. Como a dimensão das aberturas da grade variam
entre 0,5 a 30 mm (0,02 a 1,18 polegadas), poderá ser utilizada tanto uma grade fina como uma
grade grosseira. Quando utilizada como grade fina se torna mais adequada para remover sólidos
grosseiros, não sendo necessário a utilização de sistemas protetores à montante. Ganchos salientes
instalados nos elementos da banda contínua proporcionam a captura de sólidos grandes como latas,
gravetos e trapos. A grade não possui rodas dentadas submersas. Os projetos modernos de grades
de bandas contínuas e rotativas, alimentadas internamente, utilizando unidades de arame em vez de
telas, são mais rígidas do ponto de vista estrutural.
Projeto de instalações de grades grosseiras. As considerações sobre projetos de insta-
lações de grades grosseiras incluem: (1) local da instalação; (2) velocidade de aproximação; (3)
espaçamento entre barras ou dimensões de malhas; (4) perda de carga através da grade; (5) manu-
seio, processamento e disposição do material gradeado e (6) controles. Como a finalidade de grades
grosseiras é remover objetos grandes que possam danificar ou bloquear equipamentos de jusante,
elas devem ser instaladas, na maioria dos casos, à montante das caixas de areia. Se as caixas de
areia foram instaladas antes das grades, trapos e material fibroso podem danificar os mecanismos
coletores da caixa de areia, enrolar em tubulações de ar e sedimentar junto com a areia. Se a areia
for bombeada, pode, ainda, ocorrer a incrustação ou o desgaste das bombas.
Em instalações limpas manualmente é essencial que a velocidade de aproximação seja limita-
da a aproximadamente 0,45 m/s (1,5 pé/s) sob condições de vazão média, para permitir uma área
adequada para a acumulação de material gradeado entre as operações de gradeamento. Uma área
adicional para limitar a velocidade pode ser obtida, alargando o canal junto à grade e instalando a
grade a um ângulo menor, para aumentar a área submersa. Conforme o material gradeado se acu-
mula, bloqueando a grade parcialmente, o nível de montante aumenta, criando novas áreas para a
passagem da vazão. O projeto estrutural da grade deve ser adequado para evitar o colapso do siste-
ma no caso em que a grade for totalmente obstruída.
Na maioria das grades grosseiras limpas mecanicamente devem ser instaladas duas unidades
de maneira que uma delas possa ser retirada de operação para efetuar os trabalhos de manutenção.
5–1 Gradeamento P 305
Devem ser instaladas no canal comportas ou reentrâncias para a inserção de “stop logs”, antes e
depois de cada grade, de maneira que a área de instalação da grade possa ser esvaziada para ma-
nutenção ou conserto. Se apenas uma grade é instalada, se torna essencial instalar um canal lateral
de desvio contendo uma grade limpa manualmente para uso emergencial. Se a grade limpa meca-
nicamente ficar inoperante, principalmente durante a ausência de operadores, deve ser previsto um
estravasor para direcionar a vazão à grade limpa manualmente. Em condições normais de operação,
a passagem para o canal lateral deve ser evitada por uma comporta de inserção vertical. O canal
da grade deve ser projetado para evitar a sedimentação e a acumulação de areia e outros materiais
pesados. Uma velocidade de aproximação de ao menos 0,4 m/s (1,25 pé/s) é necessária para mi-
nimizar a deposição de sólidos no canal. Para prevenir a passagem de entulhos em condições de
vazão de pico, a velocidade através da grade não deve exceder 0,9 m/s (3 pé/s).
A velocidade através da grade pode ser controlada pela instalação, à jusante, de um aparelho
de controle de nível, como um vertedor Parshall, ou, para grades localizadas à montante de uma
instalação de recalque, através de controle do nível do poço de recalque. Se a velocidade no canal é
controlada pelos níveis dos poços de recalque, velocidades menores podem ser toleradas permitindo
arraste de sólidos sedimentados que ocorre durante condições normais de operação.
A perda de carga através grades grosseiras limpas mecanicamente é, geralmente, limitada a
aproximadamente 150 mm (6 polegadas) através de controles operacionais. Os raspadores da grade
são, normalmente, operados com base na perda de carga diferencial através da grade ou períodos
de tempo. Em operações com períodos de tempo, é recomendado um ciclo de aproximadamente 15
minutos; entretanto, tanto unidades de contato de nível ou de diferencial de carga elevados devem
ser instalados para colocar a grade em operação quando necessário. Algumas grades limpas me-
canicamente são projetadas para operar em condições de velocidades e de vazões elevadas ou em
condições de vazões diferenciais, também elevadas.
A perda de carga através de grades depende da velocidade de aproximação e da velocidade
através das barras. A perda de carga através de grades grosseiras pode ser estimada utilizando a
equação seguinte:
(5–1)
(continuação)
Solução
1. Calcule a perda de carga através da grade limpa utilizando a Equação (5–1).
Comentário
Quando são utilizadas grades grosseiras limpas mecanicamente, o mecanismo de limpeza é
disparado pelo aumento da perda de carga. A perda de carga é determinada medindo o nível
de água no canal, antes e depois da grade. Em alguns casos, a grade é limpa a intervalos e
tempos determinados, ou a um valor máximo da carga diferencial.
Embora a maioria das grades utilize barras retangulares, formatos opcionais como “lágrima” e
trapezoidal estão disponíveis. Nesses formatos adicionais a dimensão mais larga é situada na parte
frontal da grade, para facilitar o desalojamento do material retido entre as barras. Esses formatos
alternativos também reduzem a perda de carga através das barras.
Grades finas
A aplicabilidade de grades finas varia bastante. incluindo tratamento preliminar (colocadas após
grades grosseiras), tratamento primário (como substituto de decantadores primários) e tratamento
de vazões de extravasamento de sistemas coletores unitários. As grades finas podem, também, ser
utilizadas para remover sólidos de efluentes primários que podem causar problemas de obstrução
em filtros biológicos ou em membranas de biorreatores de membranas. Poderiam, também, ser
utilizadas para a remoção de sólidos de correntes de lodo antes do tratamento posterior correspon-
dente (biossólidos).
Grades para tratamentos preliminar e primário. As grades finas utilizadas para trata-
mento primário são (1) estrutura de arame estática (fixa), (2) tambor rotativo (3) banda contínua, e
(4) telas de passos. As aberturas variam, tipicamente, de 0,2 a 6 mm (0,01 a 0,25 polegadas). Exem-
plos de telas finas estão ilustrados na Figura 5–4, informação descritiva é apresentada na Tabela
5–6, e informação adicional é dada abaixo.
Grades finas podem ser utilizadas no lugar de decantadores primários em pequenas estações
de tratamento de esgoto, com capacidades de até 0,13 m3/s (3 milhões de galões/dia). Taxas tí-
picas de remoção de DBO e de SST estão relacionadas na Tabela 5–7. Malhas de aço inoxidável
ou barras especiais em forma de cunha são utilizadas como telas de grade. É feita provisão para a
5–1 Gradeamento P 307
(b)
Tela de arame em forma de cunha
Escoamento através da tela, os
sólidos são retidos na superfície.
(a) (c)
(c)
(d) (e)
FIGURA 5–4 Grades finas típicas: (a) arame em cunha estática, (b) tambor com tela de arame em
cunha, (c) seção através de uma tela de arame em cunha, (d) grade de banda contínua e (e) grade em
passos.
remoção contínua dos sólidos coletados, complementado com jatos de água para manter as telas
limpas. A perda de carga através das grades pode estar na faixa de aproximadamente 0,8 a 1,4 m
(2,5 a 4,5 pé).
Grades estáticas de arame em forma de cunha. Essas grades [ver Figura 5–4(a)] têm usual-
mente aberturas entre 0,2 a 1,2 mm (0,01 a 0,06 polegada), e são projetadas para vazões de aproxi-
madamente 400 a 1200 L/m2minuto (10 a 30 galões/pé2minuto) de área de tela. A perda de carga
varia entre 1,2 a 2 m (4 a 7 pé). A grade arame consiste de pequenas barras de aço inoxidável em
forma de cunha com a parte plana da cunha voltada para montante. É necessário um espaço apre-
ciável para a montagem, e as telas devem ser limpas uma ou duas vezes por dia com água quente
de alta pressão, com vapor ou desengraxante para evitar o acúmulo de graxa. Esse tipo de grade é,
geralmente, utilizado em pequenas estações ou em instalações industriais.
Grades de tambor com telas de arame em forma de cunha. Nas grades de tambor com tela de
arame em forma de cunha [ver Figura 5–4(b) e (c)], o meio filtrante é montado em um cilindro que
gira em um canal no qual o esgoto escoa. A construção do sistema varia, principalmente, de acordo
308 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
Superfície de gradeamento
Faixa de tamanhos
Tipos de equipamentos Classificação
de gradeamento de tamanhos polegadas mma Material da tela Aplicação Ver Figura
Inclinada (fixa) Médio 0,01–0,1 0,25–2,5 Aço inoxidável Tratamento 5–4a
tela de arame em primário
cunha
Tambor (rotativo) Grosseiro 0,1–0,2 2,5–5 Aço inoxidável Tratamento 5–4b
tela de arame em preliminar
cunha
Médio 0,01–0,1 0,25–2,5 Aço inoxidável Tratamento
tela de arame em primário
cunha
Fino 0,00024–0,0014 6–35 m Aço inoxidável e Remoção de 5–6
telas de poliester sólidos suspensos
residuais
de efluente
secundário
Horizontal
reciprocadora Médio 0,06–0,17 1,6–4 Barras de aço Extravasamento 5–5a
inoxidável de coletores
unitários/águas
pluviais
Tangencial Fino 0,0475 1200 m Malha de aço Extravasamento 5–5b
inoxidável de coletores
unitários
a
A menos que seja indicado de outra maneira.
com a direção do escoamento através das telas. Nos arranjos mais comuns, o esgoto escoa tanto por
um extremo (entrada única) do tambor, e daí para fora através da tela, como através da tela chegan-
do de ambos os extremos (entrada dupla) para dentro do tambor. Em ambos os casos o material é
coletado na superfície interna. Conforme a tela gira, o material coletado na parte interna da grade é
elevado do piso operacional para a parte superior de funis coletores de material, colocados dentro
da estrutura da grade, sendo lavados por uma série de jatos de água. O material coletado e a água
de lavagem são encaminhados para sistemas de manuseio de sólidos. Em outro formato, o esgoto é
descarregado no topo da unidade e passa para o interior com os sólidos coletados na face exterior.
Esse aranjo, entretanto, deve ser utilizado apenas para pequenas vazões.
Grades de banda contínua. Grades de bandas contínuas [ver Figura 5–4(d)] são utilizadas em
grades finas para o esgoto influente na entrada da estação ou para efluentes secundários anterior-
mente a sistemas terciários por sistemas de membranas. Em aplicações típicas, o esgoto sendo
gradeado passa através de uma abertura na frente da grade e depois, da parte interna da grade, passa
para a parte externa através de painéis da grade, separando, totalmente o influente do efluente.
Conforme a banda de painéis da grade gira, o material coletado na parte interna da grade é elevado
acima de uma plataforma por elevadores, onde é lavado em um canal de material retido dentro da
parte superior da grade. Através do canal, o material retido descarrega, por gravidade, no equipa-
mento de manuseio de sólidos. As grades são controladas, automaticamente ou manualmente, no
próprio local da instalação.
Grade de passos. Grades de passos consistem de dois conjuntos de grades compostos de placas
verticais finas, uma fixa e outra móvel [ver Figura 5–4(e)]. As placas fixas e as móveis se alternam
5–1 Gradeamento P 309
TABELA 5–7 Dados típicos de remoção de DBO e de SST por grades finas
utilizadas para substituir a sedimentação primáriaa
Tamanho das aberturas Remoção percentual
Tipo de grade polegada mm DBO SST
Parabólica fixa 0,0625 1,6 5–20 5–30
Tambor rotativo 0,01 0,25 25–50 25–45
a
O valor de remoção correto depende do sistema coletor de esgoto e do período de tempo de
deslocamento do esgoto até a estação de tratamento.
ao longo da largura de um canal aberto, formando, juntas, uma única grade. As placas móveis giram
em um movimento vertical. Em função desse movimento, os sólidos capturados na face da grade
são automaticamente elevados ao passo fixo seguinte, sendo, eventualmente, transportados para o
topo da grade de onde são descarregados no funil coletor. O movimento circular das placas móveis
proporciona uma ação de autolimpeza em cada passo. As faixas normais de espaçamento entre as
duas placas são de 3 a 6 mm (0,12 a 0,24 polegadas); entretanto, espaçamentos de até 1 mm (0,04
polegadas) são disponíveis. Os sólidos retidos na tela criam, também, uma “camada filtrante” que
aumenta o desempenho da remoção de sólidos. Além de efetuar o gradeamento do esgoto, as grades
de passos podem ser utilizadas para a remoção de sólidos de esgoto séptico, de lodos primários ou
de biossólidos digeridos.
Grades finas para extravasamento de sistemas coletores unitários. Foram, também,
desenvolvidas grades especificamente para a remoção de flotáveis e outros sólidos de extravasa-
mento de sistemas coletores unitários. Tipos básicos incluem grades reciprocadoras horizontais,
grades de escoamento tangencial e grades em tambores. A grade reciprocadora horizontal é um
sistema rígido montado em um vertedor, composta de barras estreitas de aço inoxidável instaladas
ao longo de seu comprimento [ver Figura 5–5(a)]. As barras da grade são paralelas à direção do es-
coamento e são projetadas em turnos contínuos, sem suporte intermediário para a coleta de sólidos.
Conforme sobe o nível de água no canal, o esgoto começa a passar através das aberturas das grades
da barra. Os sólidos são retidos na grade e, com a elevação do nível no canal devido à retenção de
sólidos, um raspador hidráulico é automaticamente ativado para a remoção de sólidos da grade. O
raspador se move para a frente e para atrás através da grade, removendo os sólidos retidos. Os den-
tes do raspador carreiam os sólidos a uma extremidade da grade para disposição, ou no canal que
encaminha os esgotos para a estação de tratamento ou para um poço de coleta de sólidos.
Na grade de escoamento tangencial, a tecnologia é baseada no escoamento tangencial para
reter sólidos. O processo de separação é efetuado utilizando uma tela de malha fina cilíndrica,
sem partes móveis [ver Figura 5–5(b)]. Conforme a água adentra a câmara de separação, é gerado
um movimento circular que é projetado para fazer a água passar através de uma tela cilíndrica,
forçando os sólidos a circular em direção ao centro da câmara. A circulação da água é regulada de
maneira que o escoamento tangencial ao redor da câmara seja maior do que a força radial que tende
a empurrar os sólidos para fora. Assim, a acumulação de sólidos na tela é minimizada. Os sólidos
sedimentam em um poço central de onde são removidos. Os sólidos flotáveis são retidos na câmara
de separação até que o escoamento termine, podendo, então, ser removidos.
Mais recentemente, telas em forma de tambores, como acima descrito, têm sido desenvolvidas
para essa função. Atualmente, estão disponíveis telas em forma de tambores com entrada única,
capazes de enfrentar vazões de enchentes muito elevadas.
Projeto de instalações de grades finas. As grades finas, geralmente, são precedidas de
grades grosseiras limpas mecanicamente. Uma instalação deve ter, no mínimo, duas grades em
paralelo, cada uma com capacidade para manusear vazões de pico. Deve haver água disponível no
local, de maneira que o acúmulo de graxa e de outros sólidos possa ser removido periodicamente.
Em climas frios, água quente ou vapor são mais efetivos na remoção de graxa.
310 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
Extravasamento para
Nível de água normal o canal lateral através
durante vazão de da tela da grade
períodos secos
Coletor da vazão de
extravasamento na saída
Coletor de esgoto do canal lateral da
sanitário na saída da câmara de extravasamento
câmara de extravasamento
Influente Efluente
Tela de
separação Saída
Poço
Cesto do poço
(opcional)
Material retido
na grade
(b)
FIGURA 5–5 Equipamentos utilizados para gradeamento de extravasamento de coletores unitários: (a)
vista de uma grade horizontal, durante a instalação. O mecanismo de limpeza se move horizontalmente,
para frente e para trás ao longo das barras. A tela pode girar para aumentar a área de limpeza exposta
à vazão e (b) equipamento de escoamento tangencial com tela de separação.
5–1 Gradeamento P 311
O cálculo da perda de carga de grades finas difere do cálculo utilizado para grades grosseiras.
A perda de carga de água limpa, através de grades finas, pode ser obtida de catálogos de fabrican-
tes, ou pode ser calculada utilizando a Equação (5–2):
(5–2)
Microgrades
As microgrades incluem tambores rotativos com velocidades variáveis de baixa rotação (até 4 revo-
luções/minuto) e com contralavagem contínua operando à gravidade (ver Figura 5–6). Os tecidos
filtrantes possuem aberturas de 10 a 35 micrômetros instalados na periferia do tambor. O esgoto
entra pela parte interna do tambor e escoa para fora através do tecido filtrante. Os sólidos coletados
são lavados em contracorrente através de jatos de alta pressão e encaminhados a um canal inserido
dentro do tambor (veja também na seção 11–5 os tecidos para a superfície dos filtros utilizados em
sistemas avançados de tratamento). As aplicações principais de microgrades são para a remoção de
sólidos suspensos de efluentes secundários e para efluentes de lagoas de estabilização.
A remoção de sólidos suspensos típicas de microgrades varia de 10 a 80%, com uma média de
55%. Os problemas associados a microgrades incluem remoção incompleta de sólidos e incapa-
cidade de manusear variação da concentração de sólidos. A redução da velocidade de rotação dos
tambores e a frequência de limpeza das telas resulta em aumento da eficiência, mas com redução
da capacidade.
(a) (b)
FIGURA 5–6 Microgrades utilizadas em tratamento de esgoto como substituição do tratamento primá-
rio: (a) tipo de disco com tecido de aço inoxidável e (b) micrograde do tipo tambor com tecido de aço
inoxidável e com contralavagem contínua. A dimensão das aberturas da tela em forma de disco é de 250
m (0,010 polegadas). (Cortesia de Xylem.)
312 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
O projeto funcional de uma micrograde envolve (1) caracterização dos sólidos suspensos em
relação à concentração e ao nível de floculação, (2) seleção de parâmetros de projeto que garan-
tam, não apenas a capacidade para atender às taxas de cargas hidráulicas máximas, com sólidos de
características críticas, mas, também, o desempenho operacional dentro da faixa de taxas de carga
hidráulica e de sólidos e (3) instalações de lavagem e de limpeza para manter a grade operando sob
capacidade máxima. Devido ao desempenho variável de microgrades, é recomendada a realização
de estudos-piloto, principalmente se as grades serão utilizadas para remover sólidos de efluentes de
lagoas de estabilização, que podem conter quantidades significativas de algas.
(a) (b)
FIGURA 5–7 Sistema de esteira para sólidos grosseiros: (a) esteira de banda, e (b) transporte hidráulico.
5–2 Redução de sólidos grosseiros P 313
Calha de
descarga
Funil de
alimentação Tubulação
de material
Unidade gradeado
motora
(a) (b)
FIGURA 5–8 Equipamentos típicos utilizados para compactar material gradeado: (a) esquema, (b) vista
de dois compactadores com canal de descarga superior.
Os meios de disposição do material gradeado incluem (1) remoção por transporte para áreas
de disposição (aterros) incluindo codisposição com resíduos sólidos municipais, (2) queima
no próprio local da estação de tratamento (apenas pequenas instalações), (3) incineração em
separado ou em combinação com lodo e areia (apenas grandes instalações) e (4) descarga em
trituradores ou maceradores onde são moídos, retornando ao esgoto. O primeiro método de dis-
posição acima apresentado é o mais comumente utilizado. Em alguns estados, é requerido que
o material gradeado seja estabilizado com cal para o controle de organismos patogênicos antes
da disposição em aterros. A trituração do material gradeado e o retorno à corrente de esgoto
apresentam muitas das desvantagens mencionadas no item sob fragmentadores, conforme será
visto na seção seguinte.
ou em estações de recalque de influentes muito profundas, nas quais a remoção de material gra-
deado é muito difícil ou apresenta custos elevados. Opções que poderiam ser empregadas seriam
as de utilizar bombas trituradoras ou de instalar trituradoras à montante das estações de recalque
(ver Seção 13–4).
Fragmentadores
Fragmentadores são usualmente utilizados em pequenas estações de tratamento, ou seja, com va-
zões inferiores a 0,2 m3/s (5 milhões de galões /dia). São instalados em canais de esgotos para
triturar materiais à dimensões entre 6 a 20 mm (0,25 a 0,77 polegadas), sem, entretanto, remover
os sólidos triturados da corrente de esgotos. Um fragmentador típico utiliza uma grade estacionária
horizontal para interceptar o fluxo de esgoto (ver Figura 5–9) e um braço rotativo ou oscilante que
contém dentes cortantes em contato com a grade. Os dentes cortantes e a barra de cisalhamento
fracionam o material grosseiro. As partículas pequenas passam, através da grade, para o canal de
jusante. Fragmentadores podem gerar materiais em forma de cordas, principalmente de trapos, que
podem ser coletados nos equipamentos de tratamento à jusante. Devido a problemas operacionais
e à necessidade de manutenção frequente, demandada por fragmentadores, instalações novas utili-
zam, geralmente, trituradores ou maceradores, como mostrado a seguir.
Maceradores
Maceradores são trituradores de rotação baixa que geralmente utilizam dois conjuntos com lâminas
girando em sentidos contrários [ver Figura 5–10(a) e (b)]. Os conjuntos são montados verticalmen-
te no canal de entrada. As lâminas ou dentes de cada conjunto rotativo apresentam uma pequena to-
lerância entre si, para, efetivamente, triturar o material que passa pela unidade. A ação de trituração
reduz o potencial para a produção de cordas de trapos ou de plástico que poderiam ser coletados
pelos equipamentos de jusante. Maceradores podem ser utilizados em tubulações para triturar sóli-
dos, principalmente antes de estações de recalque de esgoto e de lodo, ou em canais, em pequenas
estações de tratamento de esgoto. As dimensões para aplicação em tubulações variam, geralmente,
entre 100 a 400 mm (4 a 16 polegadas) de diâmetro. Trituradores para aplicações a sólidos (lodo)
são discutidos no Capítulo 13.
Outro tipo de macerador utilizado em canais é uma tela conjugada móvel que permite a passa-
gem do esgoto através dela, enquanto redireciona o material gradeado a um triturador localizado
em um dos lados do canal [ver Figura 5–10(c)]. Tamanhos padrões desse equipamento são disponí-
veis para canais largos, com estas variando de 750 a 1800 mm (30 a 72 polegadas) e profundidades
de 750 a 2,500 mm (30 a 100 polegadas). A perda de carga é inferior do que a das unidades de
lâminas girando em sentidos contrários, mostradas na Figura 5–10(a).
Fragmentador
(a) (b)
FIGURA 5–9 Fragmentador típico utilizado para redução da dimensão de sólidos em estações peque-
nas: (a) vista de uma unidade instalada e (b) esquema de uma instalação típica.
5–2 Redução de sólidos grosseiros P 315
Grade diversora
rotativa horizontal
Motor
Conjunto
Conjunto com lâminas
com lâminas girando em
girando em sentidos
sentidos contrários
contrários
Trituradores
Trituradores de alta velocidade, geralmente referidos como moinhos de martelo, recebem material
gradeado de grades de barras. Os materiais são pulverizados por um conjunto rotativo de grande
velocidade que corta o material ao passar pela unidade. As lâminas cortantes forçam o material
gradeado através de uma tela estacionária ou persiana que cobre o conjunto rotativo. Usualmente,
é utilizada água de lavagem para manter a unidade limpa e para auxiliar no transporte do material
para a corrente de esgoto. A descarga do material do triturador pode ser efetuada à montante ou a
jusante da grade de barras.
TABELA 5–8 Equipamentos típicos para mistura e floculação, tempos de mistura e aplicações de aparelhos de
mistura utilizados em estações de tratamento de esgotos
Equipamento de mistura Tempos de mistura típicos, s Aplicações/observações
Equipamento de mistura
Misturadores estáticos em linha 1 Utilizado para produtos químicos que requerem mistura
instantânea como alúmen (Al3), cloreto férrico (Fe3),
polímero catiônico, cloro (Cl2)
Misturadores em linha 1 Utilizado para produtos químicos que requerem mistura
instantânea como alúmen (Al3), cloreto férrico (Fe3),
polímero catiônico, cloro (Cl2)
Misturadores de indução de alta 1 Utilizado para produtos químicos que requerem mistura
velocidade instantânea como alúmen (Al3), cloreto férrico (Fe3),
polímero catiônico, cloro (Cl2)
Jatos de água pressurizada 1 Utilizado em tratamento de água e para tratamento de
água tratada para reúso
Misturadores de turbinas e de 2–20 Utilizado em reatores para a mistura de alúmen em
hélices coagulação por varredura. O tempo real depende da
configuração do reator no qual a mistura ocorre. Mistura
de produtos químicos em tanques dosadores de soluções.
Bombas 1 Produtos químicos a serem misturados são introduzidos
na tubulação de sucção da bomba
Outros misturadores hidráulicos 1–10 Ressaltos hidráulicos, vertedores Parshall, etc.
Equipamentos de floculação
Misturador estático 600–1800 Utilizado para floculação de partículas coloidais
coaguladas.
Misturadores de hélices 600–1800 Utilizado para floculação de partículas coloidais
coaguladas.
Misturadores de turbinas 600–1800 Utilizado para floculação de partículas coloidais
coaguladas.
Mistura contínua
Aeradores mecânicos Contínuo Utilizados para prover oxigênio e para manter os sólidos
suspensos do liquor misto em suspensão em processos de
tratamento biológico com crescimento suspenso
Misturadores hiperboloides Contínuo Utilizados para manter os sólidos suspensos do liquor
misto em suspensão em processos de tratamento
biológico com crescimento suspenso
Mistura pneumática Contínuo Utilizados para prover oxigênio e para manter os sólidos
suspensos do liquor misto em suspensão em processos de
tratamento biológico com crescimento suspenso
5–3 Mistura e floculação P 317
Microfloculação Macrofloculação
t=0
t=t
(a) (b)
FIGURA 5–11 Ilustração esquemática dos dois tipos de floculação: (a) microfloculação (devido ao
movimento Browniano, também conhecida como floculação pericinética e (b) macrofloculação (também
conhecida como floculação ortocinética) devido a (i) ações de cisalhamento e (ii) sedimentação diferencial.
(Adaptado de Pankow, 1991; Logan, 2012.)
318 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
mentação diferencial. As partículas podem ser postas em contato (i.e., floculadas) pela aplicação de
gradientes de velocidade em um fluido que contém as partículas a ser agregadas. Como ilustrado na
Figura 5–11(b), partículas que se movem rapidamente colidem com partículas de movimento lento
em um campo de velocidade. Se as partículas que colidem se agregam, uma partícula maior será
formada, que poderá ser mais facilmente removida por sedimentação.
Em macrofloculação por sedimentação diferencial [ver Figura 5–11(b)], partículas maiores se
agregam a partículas menores durante a sedimentação. Quando duas partículas colidem e se agre-
gam é formada uma partícula maior que sedimenta a uma velocidade maior do que a da partícula
existente, antes da colisão entre ambas. A sedimentação floculante na ausência da gradientes de
velocidade é considerada na seção seguinte.
Note que a floculação provocada por gradientes de velocidades não é efetiva, até que as partí-
culas coloidais atinjam dimensões de 1 ou 2 mm através de contatos provocados pelo movimento
Browniano. Por exemplo, a macrofloculação não pode ser utilizada para agregar vírus que possuem
dimensões de 0,1 mm ou menores, até que eles sejam microfloculados, ou adsorvidos ou enredados
em flocos ou partículas de maiores dimensões.
Mantendo material em suspensão. Operações de mistura contínua são utilizadas em proces-
sos de tratamento biológico, como o processo de lodos ativados, para manter os sólidos do liquor
misto em suspensão. Em sistemas de tratamento biológico os equipamentos de mistura podem ser
utilizados para tranferência de oxigênio necessário para o processo. Neste caso, o equipamento de
aeração deve prover o oxigênio e fornecer a energia necessária para manter as condições de mistura
no reator. São utilizados tanto aeradores mecânicos como de inserção de oxigênio dissolvido. Tanto
em digestão aeróbia como anaeróbia a mistura é utilizada para homogeneizar o conteúdo do digestor,
para acelerar o processo de conversão e para distribuir uniformemente o calor gerado pelas reações
de conversão biológica ou de fontes externas de aquecimento, como circulação de água aquecida.
(5–3)
(5–4)
Valores típicos de G utilizados para diversas operações de mistura estão relacionados na Tabela
5–9. A energia necessária para os diversos tipos de misturadores é considerada na discussão seguin-
te. A utilização da Equação (5–3) é ilustrada no Exemplo 5–2.
Solução
1. Determine a energia teórica necessária a 15°C utilizando a Equação (5–3) rearranjada
como segue.
P G2mV
m a 15°C 1,139 10 3 Ns/m2 (ver Apêndice C)
P (100/s)2(1,139 10 3 Ns/m2)(2800 m3)
31.892 W
31.9 kW (23.524 pélibraf /s)
2. Determine a energia teórica necessária a 5°C
de velocidade não pode ser considerado como efetivo para microfloculação pode ser obtida consi-
derando a seguinte relação desenvolvida por Kolmogoroff (1941), para descrever a dimensão dos
vórtices formados, como resultado da introdução de energia a um fluido (Davies, 1972).
(5–5)
(5–6)
A Equação (5–6) pode, agora, ser utilizada para estimar o menor vórtice que pode ser produzido
por um valor médio de G. Por exemplo, se G 1000/s e n 1,003 10 6 m2/s a 20°C, o valor
correspondente do comprimento da microescala é 31,7 mm. Portanto, partículas menores do que
31,7 mm não serão afetadas. Se o valor de G fosse de 10.000/s, o comprimento da microescala
correspondente seria de 10,0 mm. Com base nessa análise, fica claro que, se partículas menores
que 1 a 10 mm deverão ser removidas, elas deverão, primeiramente, ser desestabilizadas e ser mi-
crofloculadas por movimento Browniano. Pode-se considerar que a mistura efetiva é importante
para manter as partículas em suspensão, de maneira que as colisões possam ocorrer por movimento
Browniano (Han e Lawler, 1992). Além disso, como o valor de G é um valor médio, a eficiência
da mistura, que depende das características de agitação do misturador e da geometria do tanque de
mistura, deve ser cuidadosamente avaliada.
Tempo de mistura
O tempo estabelecido para a duração da operação de mistura é importante no projeto e na opera-
ção de sistemas de mistura. Por exemplo, se a taxa de reação entre as substâncias a ser misturadas
em um líquido for rápida, o tempo de mistura é extremamente importante. Para substâncias que
reagem lentamente, o tempo de mistura não é tão crítico. Os critérios para tempos de mistura para
diversos produtos químicos é considerado no Capítulo 6. Valores típicos de tempos de mistura
podem ser encontrados na Tabela 6–24 do Capítulo 6. Conforme citado nessa tabela, os tempos de
mistura recomendados para coagulantes, como alúmen ou sais de ferro, e para a dispersão de cloro
e hipoclorito em solução, são inferiores a 1 s. Tempos de mistura típicos adequados para diversos
equipamentos de mistura estão relacionados na Tabela 5–8. Note que a aplicação de tempos de
mistura extremamente pequenos se torna cada vez mais difícil conforme a vazão aumenta. Em
algumas aplicações, é preferível utilizar equipamentos de mistura múltiplos para obter tempos de
mistura ótimos.
Turbulência causada
Dosagem de produtos
pela placa de orifícios
Palhetas em ângulo químicos diluídos
e bocal de descarga
promovem turbulência
Alimentação de
produtos químicos
concentrados
Turbulência causada
Produtos químicos Dosagem de produtos pela placa de orifícios
são injetados em químicos concentrados e bocal de descarga
quatro pontos Misturadores de
hélice ou turbina
Dosagem de produto
químico através
de tubo flexível Dosagem de
produto químico
O produto químico é
Bomba
induzido por ação de
bombeamento ou por
hélice de alta rotação
FIGURA 5–12 Misturadores típicos para mistura rápida utilizados em tratamento de esgoto: (a) mistu-
rador estático em linha com palhetas internas, (b) misturador em linha com orifício, utilizado para criar
turbulência interna para a mistura de produtos químicos diluídos, (c) misturador em linha com pás ou tur-
binas, (d) misturador em linha com orifício e pás internas, (e) misturador de indução de alta velocidade e
(f) misturador de jato de água pressurizado.
322 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
Em misturadores estáticos com palhetas em linha, quanto maior for o comprimento dos
elementos de mistura, melhor será a mistura; entretanto, a perda de carga aumenta. Deve ser,
também, considerado que a taxa de arraste e a escala (i.e., dimensão) de vórtices formados em
misturadores estáticos com palhetas são mais limitados quando comparados com as grandes fai-
xas de variação de valores, obtidos com misturadores mecânicos. A mistura também ocorre com
regimes de reatores tubulares em misturadores estáticos em linha. Os tempos de mistura em
misturadores estáticos são bastante pequenos, tipicamente inferiores a 1 s. O tempo de mistura
atual varia com o comprimento do misturador, que depende do número de elementos de mis-
tura utilizados e do volume interno ocupado pelo elemento de mistura. Pelo fato de a natureza
da mistura que ocorre em misturadores estáticos ser muito diferente da que ocorre em reatores
mecânicos a utilização do conceito de gradiente de velocidade [ver Equação (5–3)] é inadequada
para misturadores estáticos.
Para misturadores estáticos, o nível de mistura é relacionado à perda de carga (i.e., queda de
pressão) através do misturador. A perda de carga através do misturador pode ser estimada utilizan-
do a seguinte expressão:
(5–7)
onde h perda de carga dissipada conforme o líquido passa através do equipamento de mistura, m
k coeficiente empírico relativo às características da mistura
velocidade de aproximação, m/s
KSM coeficiente geral para o equipamento de mistura, s2/m
g aceleração da gravidade, 9,81 m/s2
Os valores típicos para KSM variam de aproximadamente 1,0 a 4,0, sendo o valor de 2,5 considerado
como típico para misturadores utilizados em tratamento de esgoto. Entretanto, como a geometria
específica das palhetas internas utilizadas nesses misturadores varia conforme o fabricante, as cur-
vas de perda de carga, ou de queda de pressão, devem ser utilizadas para estimativas. A energia dis-
sipada por equipamentos de mistura estáticos pode ser computada utilizando a seguinte equação:
P Qh (5–8)
rística importante do projeto de misturadores a jato de água é que a velocidade do jato que contém
o produto químico a ser misturado deve ser suficiente para provocar mistura em toda a parte da
tubulação (Chao and Stone, 1979; Pratte and Baines, 1967). Conforme mostrado na Figura 5–12(f),
um reator tubular foi adicionado para obter mistura efetiva. Com misturadores a jato pressurizado,
a energia de mistura é proporcionada por uma fonte externa (i.e., a bomba dosadora da solução).
P NPrn3D5 (5–9)
Capacidade de
Tipo de pá Escoamento Arraste bombeamento Aplicação
Turbina de lâmina plana Radial Alto Baixo Mistura rápida de fluxo vertical, suspensão
vertical de sólidos, dispersão de gases
Turbina de disco Radial Alto Baixo Mistura, dispersão de gases
Hiperboloide Radial Muito baixo Alto Suspensão de sólidos, floculação, mistura,
dispersão de gás
Hélice de superfície Radial Alto Moderado Transferência de gases
Turbina de lâmina inclinada Axial Moderado Moderado Mistura rápida horizontal, suspensão de
(45 ou 32° TLI) sólidos
Hidrofólio de baixo arraste Axial Baixo Alto Mistura rápida de escoamento horizontal,
suspensão de sólidos, mistura, floculação
Pá Axial Muito baixo Alto Mistura rápida de escoamento horizontal,
suspensão de sólidos, mistura, floculação
a
Adaptado, em parte, do Philadelphia Mixer Catalog.
324 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
(a) (b)
(c) (d)
FIGURA 5–13 Pás típicas utilizadas para mistura: (a) hélice em forma de disco, com escoamento radial,
(b) hélice de lâminas anguladas com escoamento axial (tipicamente de 45º), (c) hélice do tipo hidrofólio
com escoamento axial e (d) misturador de hélice.
Vazão da bomba
Qi NQnD3 (5–10)
(5–11)
5–3 Mistura e floculação P 325
TABELA 5–11 Números de potência e de vazão típicos para diversos tipos de hélices
D L
FIGURA 5–14 Esquema para instalação de cortinas para limitar a formação de vórtices em tanques de
misturas e em reatores.
326 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
5–14 e 6–33(b)]. Essas cortinas promovem uma efetiva ruptura do movimento de rotação do líqui-
do e promovem a mistura vertical.
Parâmetros típicos de projetos para operações de mistura, conforme mostrado na Tabela 5–12,
incluem (1) o gradiente de velocidade G, já considerado previamente, (2) a velocidade de rotação,
e (3) a relação entre o diâmetro da hélice e o diâmetro equivalente do tanque. A rotação pode variar
consideravelmente, dependendo se o escoamento através do misturador for horizontal ou vertical
(ver Figura 5–15).
Misturadores hiperboloides. Misturadores hiperboloides são utilizados em processos de trata-
mento de água e de esgoto em diversas aplicações, incluindo a mistura de compostos químicos, em
floculação, suspensão de sólidos em tanque anaeróbios e anóxicos, e para aeração em sistemas de
lodos ativados e em bacias de lodo (ver Figura 5–16). Misturadores hiperboloides são usualmente
projetados com um eixo vertical operado com um redutor de velocidade e um motor elétrico. As
dimensões das pás hiperboloides e a rotação dependem do tamanho e da geometria do tanque. Esses
misturadores têm a vantagem de ser montados próximos ao fundo dos tanques, o que permite que
a introdução da energia exatamente onde ela é mais necessária, para suspender os flocos de lodo.
Dosagem de
Dosagem de produto químico
produto químico
Localização
típica do afluente
FIGURA 5–15 Esquema de sistemas de mistura rápida em um tanque ou canal (tempos e mistura típicos
são de 10 a 30 s): (a) escoamento horizontal através de um tanque de mistura equipado com uma hélice
de escoamento axial e (b) escoamento vertical através de um tanque de mistura equipado com uma hélice
de escoamento radial.
5–3 Mistura e floculação P 327
(a) (b)
FIGURA 5–16 Misturador hiperboloide: (a) esquema e (b) vista do misturador (os difusores de ar abaixo
do misturador foram cobertos para o misturador operar adequadamente).
(5–12)
(5–13)
328 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
Pás
(b)
Misturador de turbina
FIGURA 5–17 Misturadores típicos utilizados para floculação em estações de tratamento de esgoto: (a)
reator com fluxo passando por baixo e por cima das cortinas, (b) misturador de pá em tanque com cortinas
e (c) misturador de turbina em um tanque com cortinas.
Solução
1. Determine o requerimento teórico de energia utilizando a Equação (5–3), rearranjada
como mostrado abaixo.
(5–14)
(a) (b)
(c) (d)
FIGURA 5–18 Misturadores utilizados em reatores biológicos anóxicos: (a) horizontal, hélice submersa,
(b) hélice submersa com carcassa, (c) misturador aerofólio (d) misturador hiperbólico. (Os difusores de ar
abaixo do misturador foram cobertos. Este tanque foi designado para utilização como misturador ou como
difusor de ar.)
Descrição
A sedimentação é utilizada para a remoção de areia, SST em decantadores primários, remoção de
flocos biológicos em tanques de sedimentação de sistemas de lodos ativados, e para remoção de
5–4 Teoria da separação por gravidade P 333
Tipos de fenômenos
de separação Descrição Aplicação/ocorrência
Sedimentação de partículas Se refere à sedimentação por gravidade de Remoção de partículas de areia do
discretas partículas em suspensão com baixa concentração esgoto.
de sólidos em um campo de aceleração constante.
As partículas sedimentam individualmente, sem
que ocorra interação significativa com partículas
próximas.
Sedimentação floculenta Se refere a uma suspensão de partículas diluídas Remoção de uma parcela de SST de
que coalesce ou flocula durante a sedimentação. esgoto bruto em decantadores primários,
Através de coalescência ocorre um aumento de e nas partes superiores de decantadores
massa das partículas que sedimentam a uma taxa secundários. Remove, também, flóculos
maior. químicos em tanques de sedimentação.
Sedimentação floculenta Se refere à adição de um lastro inerte e um Remoção de uma parcela de SST em
com lastro polímero a uma suspensão parcialmente floculada esgoto bruto, em esgotos de sistemas
para promover a sedimentação rápida e para a unitários, e de efluentes industriais.
melhoria da redução de sólidos. Uma porção do Também reduz DBO e fósforo.
lastro inerte é reciclada de volta para o processo.
Sedimentação retardada Se refere a suspensões de concentrações Ocorre em decantadores secundários
(também chamada de intermediárias, nas quais as forças entre partículas utilizados em instalações de tratamento
sedimentação zonal) são suficientes para retardar a sedimentação biológico.
de partículas próximas. As partículas tendem a
permanecer em posições fixas entre si, e a massa
de partículas sedimenta como uma unidade. Uma
interface sólidos-líquido se forma no topo da massa
que sedimenta.
Sedimentação por Se refere à sedimentação na qual as partículas Geralmente ocorre nas camadas inferiores
compressão estão em um nível tão elevado de concentração que de uma massa profunda de sólidos ou
formam uma estrutura, e sedimentação posterior só de biossólidos, como no fundo de um
pode ocorrer por compressão de toda a estrutura. A decantador secundário profundo e em
compressão ocorre devido ao peso das partículas, instalações de espessamento de sólidos.
que são, constantemente adicionadas à estrutura de
sedimentação, saindo do líquido sobrenadante.
Sedimentação gravitacional Remoção de partículas em suspensão por Remoção de partículas de areia do
acelerada sedimentação gravitacional em um campo esgoto.
acelerado.
Flotação Remoção de partículas em suspensão que são mais Remoção de graxa e óleos, material leve
leves do que a água por flotação a ar ou a gás. flotável, espessamento de suspensão de
sólidos.
(5–17)
(5–18)
100,000
––––––––
r(y 2/2) A
Disks
Discos
Fd
10,000
1000
Coeficiente de arraste, CD
Esferas
Sphere
100 Cylinders
Cilindros
10
1,0
0,1
0,0001 0,01 1,0 100 10.000 1.000,000
ydr
Número de Reynolds, NR –––
m
transição (NR 1 a 2000), e turbulenta (NR 2000). Embora a forma da partícula afete o coefi-
ciente de arraste, para partículas que são aproximadamente esféricas, a curva da Figura 5–19 é
aproximada pela equação seguinte (limite superior de NR 104):
(5–19)
(5–20)
(5–21)
(5–22)
FD 3pdp (5–23)
A lei de Stokes [Equação (5–22)] pode, também, ser derivada igualando a força de arraste dada pela
lei de Stokes ao peso real da partícula [Equação (5–16)].
Sedimentação na região de transição. Na região de transição, a forma completa da equa-
ção de arraste [Equação (5–19)] deve ser utilizada para determinar a velocidade de sedimentação,
conforme ilustrado no Exemplo 5–4. Devido à natureza da equação de arraste, a determinação da
velocidade de sedimentação é um processo iterativo. Como um suporte para visualizar a sedimenta-
ção na região de transição, foi preparada a Figura 5–20, que cobre a região laminar e a de transição
para dimensões de partículas de interesse na engenharia ambiental.
336 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
10.000 10
NR = 2000
1.000
NR = 2000 1
NR = 1000
100
10 NR = 10
NR = 10
0,01
NR = 1 NR = 1
1
A
A
B A gravidade específica = 2,65 A gravidade específica = 2,65
0,001
Esfericidade = 1,00 Esfericidade = 1,00
B
0,1
B gravidade específica = 2,65 B gravidade específica = 2,65
Esfericidade = 0,85 Esfericidade = 0,85
C
C gravidade específica = 1,30 C C gravidade específica = 1,30
0,0001
0,01 Esfericidade = 1,00 Esfericidade = 1,00
D D gravidade específica = 1,05 D gravidade específica = 1,05
Esfericidade = 1,00 D Esfericidade = 1,00
0,001 0,00001
0,01 0,1 1 10 100 0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro da partícula, mm Diâmetro da partícula, mm
(a) (b)
FIGURA 5–20 Velocidades de sedimentação para vários diâmetros de partículas em condições diver-
sas: (a) velocidade de sedimentação em mm/s versus dimensão da partícula em mm e (b) velocidade de
sedimentação em ft/s versus dimensão da partícula em mm (Crites e Tchobanoglous, 1998).
(5–24)
Solução
1. Determine a velocidade terminal de sedimentação utilizando a lei de Stokes (Equação
5–22).
5–4 Teoria da separação por gravidade P 337
2. Verifique o número de Reynolds com a Equação (5–21), que inclui o fator de esfericida-
de, c.
A utilização da lei de Stokes não é adequada para números de Reynolds > 1,0. Portanto, a lei
de Newton (Equação 5–18) deve ser utilizada para determinar a velocidade de sedimentação
na região de transição (ver Figura 5–20). O termo do coeficiente de arraste na equação de
Newton é dependente do número de Reynolds, que é uma função da velocidade de sedimen-
tação. Como a velocidade de sedimentação não é conhecida, uma velocidade inicial deve
ser assumida. Essa velocidade é utilizada para computar o número de Reynolds, que, então,
é utilizado para determinar o coeficiente de arraste, que é aplicado à equação de Newton
para calcular a velocidade de sedimentação. Uma solução é obtida quando a velocidade de
sedimentação assumida é aproximadamente igual à velocidade de sedimentação resultante da
equação de Newton. A solução é um processo iterativo, como mostrado abaixo.
3. Para a primeira velocidade assumida, utilize a velocidade de sedimentação da lei de
Stokes calculada anteriormente. Utilizando o número de Reynolds resultante, também já
determinado, calcule o coeficiente de arraste
Como a velocidade inicial assumida (0,224 m/s) não é igual à velocidade de sedimenta-
ção calculada pela lei de Newton (0,109 m/s), é necessário uma segunda iteração.
5. Para a segunda iteração assuma um valor da velocidade de sedimentação de 0,09 m/s,
e calcule o número de Reynolds. Utilize o número de Reynolds para calcular o coe-
ficiente de arraste, e coloque-o na equação de Newton para calcular a velocidade de
sedimentação.
Q Ac (5–25)
Portanto, a velocidade crítica é equivalente à taxa de escoamento superficial. Uma base comum
para o projeto de sedimentação de partículas discretas reconhece que a capacidade de vazão não
dependente da profundidade do decantador.
Para sedimentação de vazão contínua o comprimento do decantador e o tempo no qual uma
unidade de volume de água permanece no decantador (tempo de detenção) deve ser tal que todas as
partículas com velocidade de sedimentação de projeto c sedimentarão até o fundo. A velocidade de
projeto, o tempo de detenção e a profundidade do decantador se relacionam como segue:
(5–26)
Na prática, elementos de projeto devem ser ajustados para compensar efeitos de turbulência na
entrada e na saída, curtos-circuitos, acumulação de lodo e de gradientes de velocidade causados
pela operação dos equipamentos de remoção de lodo. Esses elementos de projeto são discutidos na
Seção 5–6. Na discussão anterior foram assumidas condições ideais de sedimentação.
A sedimentação ideal de partículas discretas em tipos diferentes de decantadores é ilustrada na
Figura 5–21. Partículas que tenham uma velocidade de sedimentação menores do que c não serão
totalmente removidas durante o tempo de detenção. Assumindo que partículas de tamanhos diver-
sos estejam uniformemente distribuídas ao longo da profundidade do decantador, na entrada, pode
ser visualizado pela análise da trajetória das partículas da Figura 5–22 que partículas com uma
velocidade de sedimentação inferiores a c serão removidas de acordo com a relação
(5–27)
L R2
R1
As Saída
yh
Zona de entrada
Zona de entrada
Zona de entrada
yr
Zona de entrada
yc
Zona de
saida Zona de lodo
Zona de lodo
Área plana As
(a) (b) (c)
FIGURA 5–21 Esquemas de sedimentação ideal de partículas discretas em três tipos de decantadores:
(a) retangular, (b) circular e (c) de fluxo ascendente (Crites and Tchobanoglous, 1998).
5–4 Teoria da separação por gravidade P 339
Linha de escoamento
Partículas de partículas com velocidade
de sedimentação, sc
Zona de entrada
h
Zona de saída
s
h
Zona de sedimentação
sc
Zona de lodo
Q c A (5–28)
somente aquelas com velocidade de sedimentação maiores do que c serão completamente remo-
vidas. As partículas restantes serão removidas de acordo com a relação p /c. A fração total de
partículas removidas de uma distribuição contínua é dada pela Equação (5–29).
Pontos de R1
amostragem h1
h1 h2
Curvas de
mesma remoção
h3 percentual
h2
Profundidade
h4
R5 R4 R3 R2
h4
0,5 m
h5
150 mm t1 t2 t3 t4 t5
Tempo
Total 500
5–4 Teoria da separação por gravidade P 341
Solução
1. Faça uma tabela para calcular a porcentagem de remoção para cada tamanho de partícula.
Entre com as faixas de velocidades de sedimentação na coluna (1).
Fração removida
Onde o resultado for maior do que 1,0, entre com esse valor, porque todas as partículas
são removidas.
5. Determine o número de partículas removidas multiplicando o número de partículas in-
fluentes pela porcentagem de remoção [coluna (3) coluna (4)]. Coloque os valores na
coluna (5).
6. Calcule o número de partículas remanescentes subtraindo as partículas removidas do
número de partículas influentes [coluna (3) coluna (5)]. Coloque o resultado na co-
luna (6).
7. Compute a eficiência de remoção calculando a soma das partículas removidas e dividin-
do a soma pelo número total de partículas no influente.
(continua)
342 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
(continuação)
5
Número de partículas por litro 10
Influente
100 Efluente
80
60
40
20
0
5
0
0
0,
1,
1,
2,
2,
3,
4,
3,
0-
5-
0-
5-
0-
0-
5-
5-
0,
0,
1,
1,
2,
3,
3,
2,
Velocidade de sedimentação de partículas, m/h
rer sob condições tranquilas. A duração do teste deve ser equivalente ao tempo de sedimentação
proposto para o tanque.
Após o tempo de sedimentação, o material acumulado no fundo da coluna é removido, o lí-
quido remanescente é misturado, e o SST do líquido é medido. O valor de SST do liquido é, então,
comparado com uma amostra colhida antes da sedimentação para obter a porcentagem de remoção.
O método mais tradicional de determinar as características de uma suspensão é utilizar uma
coluna semelhante à acima descrita, mas com pontos de amostragem inseridos a intervalos de
aproximadamente 0,5 m (1,5 ft). A durante diversos períodos de intervalo são retiradas amostras de
cada ponto e analisadas para sólidos suspensos. A porcentagem de remoção é calculada para cada
amostra analisada, sendo plotadas como um número, contra o tempo e a profundidade, conforme
as alturas são plotadas em grade. As curvas de porcentagens de remoção iguais são plotadas como
mostrado na Figura 5–23. As curvas mostradas na Figura 5–23 permitem a determinação da taxa de
escoamento superficial para várias sedimentações, anotando o valor onde a curva intercepta o eixo
x. A velocidade de sedimentação c é
(5–31)
(5–32)
Solução
1. Determine o percentual de remoção.
Percentual de remoção
2. Para as curvas mostradas na Figura 5–23, o total de remoção para sedimentação quies-
cente é de 65,7%. Segue o cálculo.
hn Rn Rn1 Porcentagem
h5 2 de remoção
18,00
8,25
9,75
29,70
65,70
SSTn SSTn1
h
2 Média SST
2,00
2,75
5,25
24,30
34,30
A porcentagem de remoção é
Rt 100 34,30 65,70.
(continua)
344 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
(continuação)
Comentário
Para considerar as condições inferiores às ótimas encontradas em campo, a velocidade de
sedimentação ou a taxa de escoamento superficial obtida de estudos de coluna é, usualmente,
multiplicada por um fator de 0,65 a 0,85, e os tempos de detenção são multiplicados por um
fator de 1,25 a 1,5.
Líquido
Vertedores de orifícios
clarificado
submersos coletando o efluente
Influente Efluente
Sólidos
Influente sedimentados Módulos de sedimentadores
liberados de placas inclinadas
(a) pelo tubo (b)
Efluente clarificado
Influente
Efluente
Módulos de tubos
cruzados inclinados
FIGURA 5–24 Decantadores de placas e de tubos: (a) modulo de placas inclinadas, (b) placas insta-
ladas em um decantador retangular, (c) módulo de tubos cruzados e (d) tubos cruzados instalados em um
decantador retangular.
5–4 Teoria da separação por gravidade P 345
tribuição de vazão uniforme a cada sedimentador e para coletar os sólidos sedimentados sem permitir
ressuspensão. Os sistemas inclinados são, geralmente, construídos de três maneiras, com respeito à
direção do líquido em relação à direção da sedimentação de partículas: (1) em contracorrente, (2) na
direção da corrente e (3) com escoamento cruzado. Esses três padrões de fluxo são mostrados esque-
maticamente na Figura 5–25 em conjunto com os esquemas para a análise de escoamento.
Sedimentação em contracorrente. Com escoamento em contracorrente a suspensão de es-
goto no decantador passa, em sentido ascendente, através dos módulos de tubos ou placas saindo
na parte superior dos módulos [ver Figura 5–25(a)]. Os sólidos que sedimentam dentro das placas
ou tubos, se movem, por efeito da gravidade, indo para o fundo do decantador. Os sedimentadores
de tubos são os mais utilizados no sistema de contracorrente.
Na sedimentação em contracorrente, o tempo t, para uma partícula sedimentar através da dis-
tância vertical de duas superfícies paralelas inclinadas é:
(5–33)
(5–34)
Rearranjando essa equação, todas as partículas com uma velocidade s e maiores serão removidas se
(5–35)
Líquido
Líquido
Sólidos Sólidos
Líquido Sólidos
d d
d
u
u
L L u ys
ys
y
ys y x y x z
x
L
FIGURA 5–25 Padrões de escoamento alternativos e esquemas correspondentes para a análise de sedi-
mentadores de tubos e de placas: (a) escoamento em contracorrente com relação ao movimento de sólidos,
(b) vazão concorrente com relação ao movimento de sólidos e (c) escoamento cruzado.
346 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
(5–36)
Orifícios de
distribuição
da vazão Vertedores de descarga
Caixa de saída Caixa de alimentação
do efluente
Tanque de floculação
Tanque de
mistura rápida
Tubulação Auxiliar de
de saída floculação
do efluente
Tubulação de
entrada do
influente
Placas
Funil de lodo
Material
sedimentado
(lodo)
(a) (b)
FIGURA 5–26 Exemplo do sedimentador de placas Lamella: (a) esquema (cortesia de Parkson Corporation) e (b) unidade típica
para estudos-piloto.
5–4 Teoria da separação por gravidade P 347
necessária, Lp, entretanto, tem que ser baseado no escoamento do fluido para baixo e não para
cima, conforme segue:
(5–37)
(5–38)
(5–39)
(5–40)
SA
Profundidade da interface
H SR
SR
ST
ST
SC SC SC
SC
(a) t=0 t = t1 t = t2 t = t3 t = t4
Declividade = velocidade
Profundidade da interface
de sedimentação
Sedimentação retardada
(zona) SR
Sedimentação de transição ST
Sedimentação de compressão SC
t1 t2 t3 t4
(b) Tempo
FIGURA 5–27 Esquema de sedimentação retardada (zona): (a) coluna de sedimentação e (b) curva de
sedimentação.
tes devem ser expandidas ou modificadas. Entretanto, eles são, raramente, utilizados no projeto de
pequenas estações de tratamento.
Requerimento de área com base em resultados de um único teste de sedimenta-
ção. Para projetos, a taxa de escoamento superficial selecionada deve ser baseada nos fatores se-
guintes: (1) a área necessária para clarificação, (2) a área necessária para espessamento e (3) a taxa
de remoção de lodo. Os testes de colunas, como anteriormente descritos, podem ser utilizados para
determinar a área necessária de sedimentação direta e livre. Entretanto, como a área requerida para
espessamento é, usualmente, maior que a área requerida para sedimentação, a taxa de sedimentação
livre, é, raramente o fator de controle. No caso do processo de lodos ativados onde flocos dispersos,
leves e fofos podem estar presentes, é possível que a velocidade de sedimentação dessas partículas
seja o fator de controle para projeto.
O requerimento de área para espessamento é determinado de acordo com o método desenvolvi-
do por Talmadge e Fitch (1955). Uma coluna de profundidade Ho é preenchida com uma suspensão
de sólidos de concentração uniforme Co. A posição da interface no decorrer do tempo e a suspensão
sedimentada são dadas na Figura 5–28. A taxa na qual a interface desce é, então, igual à declividade
da curva naquele ponto correspondente ao tempo. De acordo com esse procedimento, a área reque-
rida para espessamento é dada pela Equação (5–41):
(5–41)
Profundidade da interface H1
C2
H2
Hu
t2 tu
Tempo
FIGURA 5–28 Análise gráfica das curvas da interface de sedimentação retardada (zona).
(5–42)
Solução
1. Determine a área requerida para espessamento utilizando a Equação (5–42).
a. Determine o valor de Hu
.
(continua)
350 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
(continuação)
0,6
Curva de sedimentação da interface
0,5
0,4 C2
0,3
H u = 0,188 m
0,2
0,1
t o = 47 minutos
0
0 20 40 60 80 100
Tempo, minutos
3. A área de controle é a área de espessamento (165 m2) porque ela excede a área necessária
para clarificação (129 m2).
4. Determine a taxa de carga de sólidos, que é computada como segue:
Comentário
Uma abordagem alternativa para dimensionar os decantadores secundários utilizando a velo-
cidade de sedimentação inicial do lodo é dada na Seção 8–10 do Capítulo 8.
(5–43)
Câmara superiorMR
Entrada
Velocidade tangencial
Vista superior 0,9 m/s (3 pé/s)
4000 m
Vista lateral
(a) (b)
FIGURA 5–29 Separador de gravidade acelerado: (a) esquema geral e (b) detalhes do separador. (de Hydro International.)
topo, saindo através de uma abertura na parte superior da unidade. O líquido é removido na super-
fície e a areia é removida através de uma abertura no fundo da unidade.
Como o topo do separador está incluído, o escoamento de rotação cria, internamente, um vór-
tice livre. A característica mais importante do vórtice livre é que o produto entre a velocidade tan-
gencial e o raio é uma constante:
Vr constante (5–44)
O significado da Equação (5–44) pode ser ilustrado pelo exemplo seguinte. Assuma que a
velocidade tangencial em um separador com um raio de 1,5 m (5 pé) é 0,9 m/s (3 pé/s). O produto
entre a velocidade e o raio medido na borda externa do separador é igual a 1,35 m2/s (15 pé2/s). Se
o orifício de descarga tem um raio de 0,9 m (3 pé), a velocidade tangencial na entrada do orifício de
descarga é de 4,5 m/s (15 pé/s). A força centrífuga exercida sobre a partícula dentro desse campo de
escoamento é igual ao quadrado da velocidade dividida pelo raio. Como a força centrífuga é, tam-
bém, proporcional ao inverso do raio, uma redução do raio de cinco vezes resulta em um acréscimo
de 125 vezes da força centrífuga.
Devido às grandes forças centrífugas próximas do orifício de descarga, algumas partículas,
dependendo de suas dimensões, densidade e arraste, ficam retidas no vórtice livre junto ao centro
do separador, enquanto que outras partículas são arrastadas para fora da unidade. As partículas de
areia serão retidas, enquanto que as partículas orgânicas são eliminadas da unidade. As partículas
orgânicas com a mesma velocidade de sedimentação da areia serão de 4 a 8 vezes maiores. As
forças de arraste dessas partículas orgânicas serão entre 16 a 64 vezes maiores. Como resultado, as
partículas orgânicas tendem a se mover com o fluido sendo transportadas para fora do separador.
As partículas retidas no vórtice livre pela força da gravidade acabam por sedimentar no fundo da
unidade. As partículas orgânicas que sedimentam esporadicamente consistem, geralmente, de óleos
e graxas agregados às partículas de areia.
5–5 Remoção de areia P 353
Água contendo
Lavagem
matéria orgânica
da areia
removida da areia
Lama
Areia
FIGURA 5–30 Um sistema completo de remoção de areia, incluindo separação, lavagem e desagua-
mento. (Adaptado de Wilson et al.,2007.)
354 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
65% e, conteúdo volátil entre 1 a 56%, com uma larga faixa de gravidades específicas. Usualmente,
grandes quantidades de compostos orgânicos estão presentes na areia, de maneira que pode ocorrer
putrefação rápida se não for adequadamente manuseada após a remoção do esgoto.
Dimensões de partículas de areia. Com base na limitada informação disponível, a distri-
buição granulométrica de areia coletada mostra uma grande variação devido às diferenças de ca-
racterísticas de sistemas de coleta, assim como a variação das eficiências de remoção (ver Figura
5–31). Geralmente a maior parte de partículas de areia removidas são retidas em peneiras de 0,15
mm (100-mesh) chegando, em alguns casos, a aproximadamente 100% de remoção; entretanto, as
dimensões das partículas podem variar significativamente. Em áreas urbanas com ambientes de
densidade elevada, a areia do esgoto tende a ser mais grosseira. Em regiões costeiras, com menor
densidade, a areia tende a ser mais fina. No sudoeste dos Estados Unidos, onde a areia fina, conhe-
cida como “areia açúcar”, constitui uma porção da areia, há muitos casos em que menos de 60% da
areia é retida em uma peneira de 0,15 mm (100-mesh).
Quantidades de areia. As quantidades de areia variam bastante de uma localidade para ou-
tra, dependendo do tipo do sistema coletor de esgoto, das características da área de drenagem, das
condições do sistema coletor, da frequência com que a areia de ruas entra em contato com gelo,
dos tipos de efluentes industriais, do número de residências com equipamentos de trituração de ali-
mentos e dos volumes de infiltração em áreas com solos arenosos. O carreamento de areia de praias
em cidades costeiras é, também, um contribuídor importante. Outro fator associado a sistemas de
esgotos unitários é a ocorrência da primeira descarga por ocasião de eventos de chuva. As maiores
vazões associadas a períodos úmidos ressuspende a areia que sedimenta no sistema coletor durante
períodos secos. Portanto, as cargas maiores de areia ocorrem nas estações de tratamento de esgotos
imediatamente após a ocorrência de chuvas pesadas.
Os dados de remoção de areia são difíceis de interpretar porque a areia é pobremente carac-
terizada, não existindo dados sobre eficiências relativas de remoção. A informação sobre carac-
terísticas de areia deriva do que foi coletado e não da areia que chega à estação de tratamento.
As análises de peneiras não são normalmente efetuadas em caixas de areia influentes e efluentes.
Por essas razões, as eficiências de remoção de areia não podem ser comparadas. Uma compara-
ção das quantidades disponíveis de areia removida de sistemas unitários e separados de coleta é
apresentada na Tabela 5-15.
99,99
99,9
ou menores do que o valor indicado
99
Limite para sistemas de
Porcentagem de valores iguais
0,1
0,01
10 100 1000
Dimensão da partícula, m
FIGURA 5–31 Faixa típica de distribuição de dimensões de partículas de areia. A região sombreada
corresponde à faixa de dimensões de partículas medidas em diversas estações de tratamento de esgoto.
(Adaptado de Wilson et al., 2007.)
5–5 Remoção de areia P 355
Carga de
areia suspensa
Depositada
relaciona a velocidade de sedimentação da areia do esgoto àquela da areia limpa, como na Figura
5–33(c). Como mostrado, uma partícula de areia de esgoto (recoberta com ATAs), com a mesma
dimensão física que uma partícula de areia, terá uma velocidade de sedimentação menor do que
uma partícula de areia limpa. A DEA de uma partícula de areia do esgoto é a dimensão equivalente
da dimensão da partícula que tenha a mesma velocidade de sedimentação.
Velocidade de sedimentação da areia do esgoto. O nível de areia que precisa ser removi-
da deve ser decidido caso a caso. Depende das características da areia de esgoto adentrando a esta-
ção de tratamento e do nível de remoção que é requerido para proteger os processos e equipamentos
de jusante. Enquanto que as práticas anteriores se concentravam nas partículas limpas de 0,225
mm, os sistemas modernos exigem, tipicamente, uma DEA muito menor. Sistemas de remoção de
areia de alta eficiência são projetados com uma DEA entre 0,075 a 0,150 mm.
Partícula de
Areia areia recoberta Dimensão
equivalente da
Mesmo areia (DEA)
diâmetro
físico
Velocidade de sedimentação
Velocidade de da areia recoberta com ATAs
sedimentação da e dimensão da areia equivalente
areia com a
mesma dimensão
da areia de esgoto
(c)
FIGURA 5–33 Velocidades de sedimentação de partículas adentrando uma estação de tratamento: (a)
areia limpa, (b) areia espumosa recoberta com agentes tenso-ativos, (c) dimensão equivalente de partículas
de areia recoberta em comparação a partículas de areia limpas (Adaptado de Wilson et al., 2007).
5–5 Remoção de areia P 357
Sempre que possível, um estudo de remoção de areia deve ser conduzido para determinar o
DEA da areia do esgoto e estabelecer o DEA de projeto para atingir o nível desejado de remoção de
areia. Se um estudo de remoção de areia não é viável, dados regionais podem ser utilizados como
um substituto. Quando dados não são disponíveis, o projeto pode ser baseado em uma avaliação
quantitativa do sistema de coleta. A dimensão física das partículas de areia do esgoto com seus
valores associados de DEAs, devido ao impacto de ATAs, medidos em diversos locais são compa-
rados na Figura 5–34(a). A dimensão física e o DEA da areia do esgoto começa a divergir em 0,106
mm com a diferença aumentando conforme a dimensão física aumenta. Por exemplo, a dimensão
de uma partícula física de 0,210 mm, pode ter um DEA variando entre 0,106 a 0,210 mm. Conse-
quentemente, para remover partículas com uma dimensão física de 0,210 mm, um DEA tão baixo
como 0,106 mm pode ter que ser utilizado como base para projeto.
Um projeto baseado em um DEA de 0,106 mm resultará em 90% de remoção de areia para
a maioria dos sistemas de coleta. Entretanto, nos sistemas de coleta, nos quais seja possível a
presença de silte fino, a eficiência de remoção de areia pode ser significativamente menor (50 a
65%). Se o objetivo é de remover 90% de areia, pode ser requerido um DEA tão baixo quanto
0,075 mm.
Uma vez que o DEA de projeto tenha sido estabelecido, a taxa de escoamento superficial
(velocidade de sedimentação) da partícula-alvo pode ser determinada utilizando as características
de sedimentação da areia limpa [ver Figura 5–34(b)]. Para um DEA de 0,106 mm, a taxa de es-
coamento superficial é 0,49 m/min (12 galões/pé2minuto). Para um DEA de 0,075 mm, a taxa de
escoamento superficial é de 0,24 m/min (6 galões/pé2minuto), a qual dobra a dimensão do sistema
requerida para remoção de areia.
600
500
equivalentes da areia, m
400
200
100
0
0 100 200 300 400 500 600
(a) Dimensão física mediana, m
1000
Taxa de escoamento
superficial, m3/h•m2
100
10
1
10 100 1000
Diâmetro da partícula equivalente de areia limpa, m
(b) (gravidade específica da areia limpa = 2,65 em água a 20º C)
FIGURA 5–34 Informação sobre o projeto de processo de remoção de areia para unidades de remoção
do tipo vórtice: (a) comparação entre diâmetro físico médio e DEA em diversas estações de tratamento de
esgotos nos Estados Unidos (adaptado de Hydro International) e (b) taxa de escoamento superficial para o
dimensionamento de unidades de remoção de areia do tipo vórtice, com base na Equação (5–18).
358 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
TABELA 5–16 Informações típicas sobre projetos para caixas de areia de escoamento horizontal
A remoção de areia de caixas de fluxo horizontal é, usualmente, obtida por uma esteira com
raspadores, baldes ou um rastelo. Esteiras de parafuso sem fim ou baldes elevadores são utilizados
para alçar a areia removida para lavagem ou disposição. Em estações pequenas, são, às vezes, lim-
pas manualmente.
Caixas de areia quadradas de escoamento horizontal. Caixas de areia quadradas de escoa-
mento horizontal, como a mostrada na Figura 5–35, estão, também, em uso por mais de 60 anos.
O influente a essas unidades é distribuído pela seção transversal da caixa por uma serie de com-
portas ou aberturas, e o esgoto distribuído escoa em linha reta através do tanque, escoando por um
vertedor de descarga livre. Quando são utilizadas caixas de areia quadradas, é, geralmente, reco-
de areia, m
Rotação Tanque Comprimento da
coletor parte em declive 8,0 9,0 10 12,0
Coletor
do lavador, m
Dimensões aproximadas
Lâminas Bolsa de
Tubulação de
Efluente
descarga
de areia retorno de Redutor e
orgânicos velocidades Guarda corpo
Motor
Declive
(a) Nota: m × 3,2808 = pé; m3/s × 22,8245 = Milhões de galões/dia; mm × 0,03937 = polegada
(b) (c)
FIGURA 5–35 Caixa de areia quadrada de escoamento horizontal típica: (a) esquemática, com informação sobre projeto
baseada em areia limpa com gravidade específica de 2,65, (b) vista de uma bacia vazia. Os dois raspadores são utilizados para
levar a areia sedimentada para a periferia, para remoção, e (c) vista de uma caixa de areia retangular.
360 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
mendado utilizar duas unidades. Esses tipos de caixas de areia são projetados com base na taxa de
escoamento superficial que é dependente da dimensão das partículas e da temperatura do esgoto.
Tipicamente, essas unidades tem sido projetadas para remover 95% de partículas com 0,15mm de
diâmetro à vazão de pico. Curvas de projeto típicas são mostradas na Figura 5–36. Os ATAs devem
ser utilizados para determinar a área de sedimentação requerida.
Em caixas de areia quadradas, os sólidos são removidos por um mecanismo raspador rotativo
para a um poço coletor na lateral do tanque (ver Figura 5–35). A areia sedimentada pode ser alçada
ao longo de uma lateral inclinada por meio de uma pá reciprocadora ou um parafuso sem fim incli-
nado. A areia pode, também se recalcada do tanque através de um ciclone desarenador para separar
o material orgânico remanescente e concentrar a areia. A areia concentrada pode, então, ser lavada
novamente em um classificador utilizando uma pá reciprocadora submersa ou um transportador de
parafuso sem fim inclinado. Qualquer que seja o método, os sólidos orgânicos são separados da
areia, retornando à caixa, gerando uma areia limpa e mais seca.
Caixas de areia aeradas. Em caixas de areia aeradas, o ar é introduzido por um dos lados de
um tanque retangular para criar um padrão de escoamento espiral, perpendicular ao escoamento
através do tanque (ver Figura 5-37). O esgoto, conforme mostrado na Figura 5–37(b), se move em
uma espiral através do tanque fazendo duas ou três voltas pelo fundo dele em condições de vazão
máxima e um número maior de voltas na vazão média. As partículas de areia mais pesadas sedi-
mentam no fundo do tanque; as partículas mais leves, principalmente as orgânicas, se mantêm em
suspensão passando através do tanque. A velocidade de rotação ou de agitação governa a dimensão
das partículas de uma gravidade específica que será removida. Se a velocidade for muito alta, a
areia será carregada para fora do tanque; se for muito baixa, o material orgânico será removido em
conjunto com a areia. A quantidade de ar é facilmente ajustada. Com ajustagem adequada, quase
100% da areia sedimentável será removida e a areia ficará bem lavada.
Considerações sobre projetos. As caixas de areia aeradas são projetadas para remover partí-
culas com 0,21 mm de diâmetro ou maiores, com períodos de detenção de 2 a 5 minutos, durante
vazões de picos horários. A seção transversal dos tanques é similar àquela utilizada para circulação
espiral em tanques de aeração de sistemas de lodos ativados, com exceção de que o funil de coleta
3,2
3,0
Área de sedimentação requerida, m2/103m3 • d
2,8
10 °C
2,6
15 °C
2,4
20 °C
2,2
2,0
1,8
1,6
1,4
1,2
1,0
0,8
0,106 0,15 0,21
(140) (100) (65)
Dimensão da partícula, mm
(Designação de peneiras padrões americanas)
FIGURA 5–36 Efeito da temperatura do esgoto sobre a área requerida para sedimentar partículas com
gravidade específica de 2,65 em uma caixa de areia quadrada com fluxo horizontal.
5–5 Remoção de areia P 361
Difusor oscilante
na posição elevada Monotrilho suporte Padrão de escoamento
helicoidal do líquido
Junta oscilante
Tubulação de ar
Nível máximo de água
Tubulação de suporte Vertedor efluente
Conjunto do Influente
difusor oscilante superior
Ligação articulada
Tubulação de
Conjunto do tubo difusor
suporte inferior
Fechamento da tubulação
Trajetória das
partículas de areia
(a) (b)
FIGURA 5–37 Caixa de areia aerada típica: (a) seção transversal através da caixa de areia e (b) esquema do padrão de
escoamento helicoidal através de uma caixa de areia aerada.
Solução
1. Calcule a vazão de pico para o projeto. Assuma que a caixa de areia aerada será projetada
para a vazão de pico sustentada de 1 dia. O fator de pico da Figura 3–11 é igual a 2,75 e
a vazão de pico de projeto é
Volume da caixa de areia, m3 (cada uma delas) (1/2)(1,38 m3/s)(3 min)(60 s/min)
124,2 m3
3. Determine as dimensões de cada caixa de areia. Utilize uma relação largura/profundi-
dade de 1.2:1 e assuma que a profundidade é 3 m.
a. Largura 1,2 (3 m) 3,6 m
b.
4. Determine o tempo de detenção médio em cada caixa de areia na condição de vazão média.
Comentário
Em projetos de caixas de areia, devem ser fornecidos métodos para regular a vazão de ar para
controlar a remoção e a melhoria da limpeza da areia.
Em grandes instalações estão sendo utilizados coletores de areia de ponte móvel, como mos-
trado na Figura 5–38. As bombas de areia são submersas nas caixas de areia e se deslocam ao longo
de todo o comprimento, bombeando a areia em um canal estacionário de coleta de areia. As bombas
podem operar continuamente ou ser programadas para operar em ciclos em função do tempo ou da
vazão. Uma variante desse sistema utiliza uma bomba de “air lift” instalada na ponte móvel para
cada caixa de areia em vez de bombas de areia. Em outra variante, é utilizada uma lâmina raspadora
com bombas de “air lift” conectadas à ponte móvel, encaminhando grandes acumulações de areia
para um poço situado na parte final da caixa de areia, de onde é removida através de uma bomba
5–5 Remoção de areia P 363
Canais
de areia Ponte móvel
Linha de
descarga
Linha de ar da bomba
de areia
Difusor
Bomba
de areia
(a) (b)
FIGURA 5–38 Caixa de areia aerada com sistema de remoção com ponte móvel: (a) bombas montadas na ponte móvel para
remoção de areia do funil de areia [os difusores criam um escoamento helicoidal, conforme mostrado na Figura 5–37(b)] e (b)
vista da caixa de areia aerada equipada com a ponte móvel.
Influente Efluente
Graxa
Canal de
descarga de areia
Canal de Coletor
Para a da graxa de graxa
caixa de areia
(a)
Canal de
Ponte descarga de areia
móvel
Linha de sucção
de areia com
bomba submersa Parede
divisória
Linha de ar
e difusor
Cortinas
(b) (c)
FIGURA 5–39 Caixa de areia aerada com remoção de GOG e escuma para estações de tratamento
pequenas e de tamanho intermediário: (a) planta (b) seção transversal típica e (c) vista da caixa de areia
(adaptado de Schreiber).
364 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
aerada. A cortina se estende abaixo do nível de água e separa a caixa em dois canais paralelos; um
canal de areia e um canal de graxa. O ar ascendente suspende a graxa contida no esgoto, trazendo-a
para a superfície onde um cilindro em espiral transporta a graxa através da cortina longitudinal. As
partículas leves de graxa se movem através da cortina para o canal de graxa. As partículas pesadas
sedimentam, sendo coletadas pelo funil do canal colocado no fundo, como em uma caixa de areia
aerada convencional. A graxa coletada no canal é continuamente transportada através de jatos de
água e ar para a parte final de descarga do canal, onde a graxa coletada é removida através de um
parafuso sem fim.
Emissões de caixas de areia aeradas. O esgoto influente pode conter constituintes que, quando
sujeitos à agitação por ar, podem ser extraídos do esgoto. Quando o esgoto tiver sido retido por um
longo tempo no sistema coletor, especialmente em climas quentes, sulfeto de hidrogênio e outros
gases odorosos podem ser liberados de caixas de areia aeradas. Em áreas onde o sistema coletor re-
cebe efluentes industriais, a liberação de compostos orgânicos voláteis (COVs) deve ser considera-
da, uma vez que esses compostos, em quantidades significativas, constituem risco de saúde para os
operadores de estações de tratamento de esgotos. Quando essas emissões são significativas, devem
ser providenciadas coberturas das unidades ou utilizar caixas de areia não aeradas.
Caixas de areia do tipo de vórtices. A areia, também, pode ser removida em equipamentos
que utilizam padrões de escoamento do tipo de vórtices. Três tipos de equipamentos são mostrados
na Figura 5–40 e discutidos abaixo.
Vórtices induzidos mecanicamente. Em vórtices mecanicamente induzidos, ilustrados na Fi-
gura 5–40(a), o esgoto é encaminhado à unidade de vórtice através de um canal de entrada longo
e direto projetado para direcionar o escoamento ao vórtice, enquanto a areia é desviada para
baixo. O movimento toroidal causado pela entrada tangencial é ampliado por uma hélice rotativa
interna à unidade, que faz com que a areia se mova através do fundo plano para a parte central,
onde passa sob uma placa separadora dirigindo-se ao funil de lama de areia, enquanto que os
materiais orgânicos mais leves são mantidos em suspensão, sendo encaminhados à superfície
e saindo da unidade através de uma saída tangencial. O conteúdo do funil de areia se mantém
fluidizado pela hélice de escoamento axial ou por jatos de água suplementares. A areia pode
ser removida por uma bomba de lama de areia ou por um sistema de “air lift”. Dados típicos de
projeto são apresentados na Tabela 5–18. Se são instaladas mais do que duas unidades, serão
necessários arranjos especiais para divisão da vazão, para evitar a decantação da areia na parte de
montante dos canais.
Vórtices induzidos hidraulicamente. Em uma unidade de vórtice induzido hidraulicamente,
ilustrada na Figura 5–40(c), o vórtice é gerado pelo escoamento entrando na unidade sem equipa-
mentos rotativos mecânicos. O esgoto é dirigido à unidade através de um canal longo e direto que
entra tangencialmente na unidade cilíndrica, fazendo com que o líquido gire lentamente ao redor do
eixo vertical. O líquido gira em espiral para a parte baixa do cilindro, fazendo com que as partículas
de areia sedimentem. Os componentes internos dirigem o escoamento principal para longe do perí-
metro e de volta para a parte central, onde o efluente desarenado é descarregado nas proximidades
do centro da unidade, em um canal efluente. A areia pesada se move para baixo em um movimento
espiral dirigindo-se à parte central, onde passa por baixo de um cone central, encaminhando-se ao
funil da lama de areia.
A perda de carga na unidade é uma função do tamanho da partícula a ser removida, aumen-
tando significativamente para partículas muito finas. As unidades de remoção de areia do tipo de
vórtice são dimensionadas para as vazões de pico com até 0,3 m3/s (7 Mgal/dia) por unidade. A
areia é removida da unidade através de uma esteira com ganchos. Devido à sua altura, esse siste-
ma de remoção de areia requer uma base profunda, ou uma unidade de recalque, se for instalada
acima do solo.
5–5 Remoção de areia P 365
Esgoto
gradeado
Influente
Areia
sedimentada
Efluente da
lama de areia
(c) (d)
Vertedor do efluente
Efluente
desarenado
Separador
de bandejas
Areia sedimentada múltiplas
para a bomba
de areia
(e) (f)
FIGURA 5–40 Caixas de areia do tipo de vórtice: (a) esquema do separador de areia da marca Pista® (adaptado de Smith
& Loveless), (b) vista de uma instalação típica (cortesia de Smith & Loveless), (c) esquema do separador da marca Eutek TeaCup®
(adaptado de Hydro International), (d) vista do separador da marca Eutek TeaCup® (cortesia de Hydro International), (e) seção
transversal do separador de areia com sete bandejas, da marca Eutek HeadCell® e (f) vista do separador de areia de bandejas
da marca Eutek HeadCell (cortesia de Hydro International).
366 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
TABELA 5–18 Informação típica para projeto de caixas de areia do tipo de vórtice
H H
J K
I
G H A
F
B
E
C
D
Extravasor
para a câmara
de descarga
Dreno de fundo
Legenda
A Canal influente F Cortina retentora de escuma
B Defletor de vazão G Vertedor de extravasamento
C Canal de descarga de sólidos H Cortinas
D Canal coletor de sólidos I Tubo de descarga do extravasor
E Tubo de descarga de sólidos J Placa retentora de escuma
K Retentor de escuma
FIGURA 5–41 Separadores típicos de vórtices utilizados para remoção de sólidos de extravasamento
de sistemas de esgotos unitários.
5–5(b)] envolve um escoamento único e tem apenas um ponto de saída, enquanto que outros tipos
de separadores por vórtice descarregam a vazão por cima e pelo fundo das unidades. As condições
de vazão internamente à câmara de separação do SDC possuem um perfil de velocidade diferente.
A velocidade superficial aumenta conforme aumenta a distância do centro da câmara de separa-
ção da unidade SDC, contrariamente ao que normalmente se observa em separadores por vórtice
convencionais. A separação de sólidos é aumentada por uma grande placa de aço inoxidável que
atua como uma tela de filtro com uma saída externa em forma helicoidal. As perfurações existentes
na tela de separação possuem forma alongada e são alinhadas ao longo do eixo maior, na direção
vertical. A tela de separação é instalada de maneira que a extremidade de cada orifício se estenda na
corrente líquida da câmara de contenção. A dimensão dos orifícios da tela oscilam de 1200 a 4700
mm (0,0475 a 0,185 polegadas). O equipamento SDC é mais adequadamente utilizado para captu-
rar o “fluxo inicial” e arranjado para separar vazões superiores a um determinado limite. Em testes
efetuados por Wong (1997), foi reportada a captura de mais de 90% de sólidos tão pequenos como
900 micra (ver Figura 5–42). A perda de carga através da unidade de separação varia em função da
vazão e das dimensões dos orifícios da tela.
Lavagem da areia
Como uma parte de material orgânico mais pesado ainda permanece, lavadoras de areia são uti-
lizadas para proporcionar um segundo estágio de separação de sólidos voláteis. A areia separada
da corrente principal de esgoto é transportada na forma de lama para um processo de lavagem de
remoção do material orgânico. A areia, antes da lavagem, pode conter 50% ou mais de material
orgânico putrescível, apresentando um odor distintamente desagradável, que pode atrair insetos e
roedores. O objetivo da lavagem é obter uma areia limpa e com baixo conteúdo de sólidos voláteis.
Um sistema típico de lavagem de areia pode permitir uma areia limpa com conteúdo de sólidos
voláteis inferior a 20%, retendo, pelo menos, 95% da areia sedimentável.
368 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
FIGURA 5–42 Captura de sólidos em separador de deflexão contínua (Wong, et al., 1997).
Dois tipos principais de sistemas de lavagem de areia são disponíveis. Um dos tipos opera com
um raspador inclinado submerso que proporciona a agitação necessária para a separação da areia
de materiais orgânicos e, ao mesmo tempo, eleva a areia lavada a um ponto de descarga acima da
superfície da água (similar à rampa inclinada mostrada na Figura 5–35). Outro tipo de lavador de
areia (ver Figura 5–43) utiliza um parafuso sem fim inclinado para mover a areia para o topo da
rampa. Ambos os tipos são equipados com jatos de água para auxiliar a ação de limpeza. Separado-
res de Hidrociclone são, usualmente, instalados na entrada do lavador para melhorar a separação da
areia e a remoção de material orgânico.
Secagem da areia
A areia limpa deve ser desaguada para remover toda a água livre antes da disposição. Tipicamente,
a areia é disposta em aterros sanitários e, dependendo dos regulamentos locais, pode ter que passar
por um teste líquido de filtro de tinta de filtro. O objetivo do processo de secagem é obter uma areia
limpa e seca com uma concentração de sólidos totais superior a 60% e reter, pelo menos, 95% da
areia sedimentável.
Motor
Areia desaguada
Saída para
material orgânico
Unidade de rolamentos
(a) (b)
FIGURA 5–43 Exemplo de uma unidade de separação e lavagem de areia: (a) esquema e (b) vista de uma instalação típica.
5–6 Sedimentação primária P 369
Disposição da areia
O método mais comum de disposição de areia é efetuar o transporte a um aterro. Em algumas
estações grandes, a areia é incinerada em conjunto com os sólidos. Assim como com o material
gradeado, alguns estados exigem que a areia seja estabilizada com cal antes da disposição em um
aterro. Em todos os casos, a disposição deve ser efetuada de acordo com os regulamentos ambien-
tais correspondentes. Em grandes estações, onde caminhões são utilizados para transferir areia,
unidades de armazenamento elevadas devem ser instaladas, com comportas de carregamento pelo
fundo. As dificuldades encontradas para fazer com que a areia escoe livremente das unidades de
armazenamento têm sido minimizadas utilizando declividades elevadas nos funis de descarga, atra-
vés da aplicação de ar abaixo da areia e do uso de vibradores nos funis. Sistemas de drenagem para
a coleção e disposição do vazamento que ocorre no fundo de comportas de descarga são desejáveis.
Baldes de coleta operando em um sistema de monotrilhos podem, também, ser utilizados para car-
regar os caminhões diretamente das caixas de areia. Esteiras pneumáticas são às vezes, utilizadas
para carrear a areia em distâncias pequenas. As vantagens do transporte pneumático incluem (1)
não há necessidade de sistemas de reserva elevados e (2) os possíveis problemas de odores associa-
dos com armazenamento são eliminados. A desvantagem principal é o considerável desgaste nas
tubulações, especialmente em curvas.
Descrição
Quase todas as estações de tratamento que possuem sedimentação primária utilizam tanques padrões,
circulares ou retangulares, com limpeza mecânica (ver Figura 5–44). A seleção do tipo de unidade de
sedimentação para uma aplicação determinada é governada pelo tamanho da instalação, por regras e
regulamentos de autoridades locais de controle, pelas condições locais e pela experiência e avaliação
370 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
(a) (b)
FIGURA 5–44 Tanques de sedimentação típicos utilizados em estações de tratamento de esgotos: (a)
circular, com vertedores triangulares periféricos, e (b) retangulares, com vertedores triangulares internos.
do engenheiro projetista. Devem ser previstos dois ou mais tanques de maneira que o processo possa
permanecer em operação enquanto um fica fora de serviço para manutenção ou para reparação. Em
grandes estações, o número de tanques é definido, principalmente, pelas suas dimensões.
Tanques retangulares. Tanques de sedimentação retangulares podem utilizar coletores de
sólidos tanto de correntes como de pontes móveis. Um tanque retangular que utiliza um coletor
de correntes é mostrado na Figura 5–45. Tanques retangulares múltiplos requerem áreas menores
do que tanques circulares múltiplos, sendo aplicados onde há pequena disponibilidade de espaço.
Os tanques retangulares podem ser integrados a tanques de pré-aeração e a tanques de aeração de
sistemas de lodos ativados, permitindo dessa maneira paredes comuns e, consequentemente, redu-
zindo os custos de construção. Eles são, também, utilizados quando é necessário implantar unida-
des cobertas. Embora apresentem custos menores, os coletores de correntes utilizados em tanques
retangulares, geralmente, requerem manutenção maior do que os mecanismos coletores de lodo
rotativos utilizados em tanques de sedimentação circulares. Aspectos importantes relativos a tan-
ques retangulares incluem (1) remoção de lodo, (2) distribuição de vazão e (3) remoção de escuma.
Remoção de lodo. Equipamentos para remoção de sólidos sedimentados geralmente consistem
de um par de removedores de correntes sem fim, manufaturas em liga de aço, ferro fundido, ou
de termoplástico. Anexado às correntes, a intervalos de aproximadamente três metros (10 pé), são
instalados raspadores de madeira ou de fibra de vidro, estendendo-se ao longo de todo o tanque [ver
Figura 5–45(d)]. Os sólidos que sedimentam no tanque são raspados a funis de sólidos em tanques
pequenos e sobre canais transversais em tanques grandes. Os canais transversais são equipados
com mecanismos coletores (coletores transversais), usualmente, tanto com corrente suspensa ou
com coletores do tipo de rosca, que carreia os sólidos a um ou mais poços coletores. Em unidades
muito compridas (acima de 50 m), dois mecanismos de coleta podem ser utilizados para encami-
nhar os sólidos aos pontos de coleta próximos à metade longitudinal do tanque.
Quando possível, é recomendável locar as instalações de recalque de sólidos junto aos poços
coletores. Quando coletores transversais não são disponíveis, devem ser instalados funis de coleta
múltiplos. Os poços coletores de sólidos apresentam dificuldades operacionais, principalmente em
relação a acumulação de sólidos nas laterais e nos cantos, e formação de estruturas de arco nas tubu-
lações de remoção de sólidos. O esgoto pode, também, ser removido através dos poços de sólidos,
passando lateralmente parte dos sólidos acumulados, resultando em um efeito de “buraco de rato”.
Um coletor transversal é mais recomendado, exceto, possivelmente, em pequenas instalações, por-
que permite a retirada de sólidos uniformes e mais concentrados, e muitos dos problemas associados
aos poços de coleta podem ser eliminados. Os decantadores retangulares também podem ser limpos
por um mecanismo de ponte que se desloca para a frente e para trás sobre rodas de borracha ou sobre
trilhos colocados ao longo dos passeios laterais. Uma ou mais lâminas raspadoras são colocadas
suspensas na ponte. Alguns dos mecanismos de pontes são projetados de maneira que as lâminas
raspadoras podem ser levantadas acima da camada de sólidos quando se deslocam para trás.
5–6 Sedimentação primária P 371
Poço de
escuma
Canal do efluente
Cortina Coletor
Aletas
de escuma
Canal influente
Canais do
Decantador primário efluente
(a)
Coletor Motor
transversal do coletor Crista do vertedor
Vertedor do efluente
Passeio
Vertedor do (ajustável)
Cortina
influente
Coletor de escuma
Canal
influente
Tubulação
influente
(c) (d)
FIGURA 5–45 Tanques retangulares típicos de decantadores primários: (a) planta, (b) seção, (c) vista de um tanque de sedi-
mentação retangular grande, com vertedores similares àqueles mostrados em (b), e (d) vista de um tanque vazio com o mecanismo
de remoção de lodo.
372 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
Linhas de escoamento
do líquido clarificado
Vertedor do efluente Superfície da água
Cortina Cortina
Lodo
Lodo transportado
para o centro através Influente Lodo
de raspadores espessado
(não mostrados)
(a) (b)
Linhas de escoamento
do líquido clarificado
Superfície da água
Influente
Lodo
Lodo transportado espessado
para o centro através
de raspadores
(não mostrados)
(c) (d)
FIGURA 5–46 Tanques de sedimentação circulares típicos: (a) esquema do alimentador central, (b) vista
da unidade de alimentação central, (c) esquema de alimentação periférica e (d) vista de uma unidade de
alimentação periférica.
pensa por uma ponte, ou embutido no concreto, abaixo do fundo do tanque. No centro do tanque,
o esgoto entra em um poço circular projetado para fazer uma distribuição equalizada da vazão, em
todas as direções [ver Figura 5–46(a)]. O poço central tem um diâmetro típico entre 15 e 25% do
diâmetro total do tanque e oscila entre 1 a 2,5 m (3 a 8 pé) de profundidade e deve possuir uma
entrada com dissipação de energia tangencial internamente ao poço de alimentação.
Dissipação de energia. A função do equipamento de dissipação de energia (ver Figura 5–47)
é coletar o influente no centro da coluna e descarregá-lo tangencialmente na profundidade de
0,5 a 0,7 m do poço de alimentação. As aberturas de descarga são dimensionadas para manter
uma velocidade de 0,75 m/s sob vazão máxima e de 0,30 a 0,45 m/s sob vazão média. O poço de
alimentação deve ser dimensionado de maneira que a velocidade máxima para baixo não exceda
0,75 m/s. A profundidade do poço de alimentação deve se estender a aproximadamente 1 metro
abaixo do dissipador de energia das aberturas de entrada (Randall et al., 1992). Uma abordagem
alternativa à dissipação de energia é reduzir o tubo elevador da entrada de maneira que o tubo
aumente de dimensão de baixo para cima. Uma coluna central de concreto pode proporcionar
essa configuração. A saída do tubo elevador deve terminar abaixo do nível da superfície da água.
Suportes verticais se estendendo para cima a partir da coluna central são utilizados para suportar
o motor central do mecanismo coletor de lodo. A entrada reduzida com saída submersa provoca
o efeito de reduzir a velocidade de entrada da vazão para o poço de alimentação, dissipando,
portanto, a energia de entrada.
Em projetos de alimentação periférica [ver Figura 5–46(b)], uma cortina circular suspensa
forma um espaço anular no qual o esgoto influente é descarregado em uma direção tangencial. O
esgoto escoa em forma de espiral ao redor do tanque e por baixo da cortina, e o líquido clarificado
374 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
Canal de
distribuição
Poço do influente
Abertura de saída
FIGURA 5–47 Dissipador de energia e entrada de distribuidor de vazão típicos de um tanque de sedi-
mentação com alimentação central. O anel interno é utilizado para criar um padrão de vazão tangencial
(Randle, et al., 1992).
é removido nos vertedores em ambos os lados de um canal localizado na parte central. A graxa e
a escuma ficam confinadas na superfície do espaço anular. Os tanques de alimentação periférica,
geralmente, são utilizados para decantação secundária.
Remoção de lodo. Tanques circulares com diâmetros de 3,6 a 9 m (12 a 30 pé) possuem o equi-
pamento de remoção de sólidos suportados por vigas ao longo de todo o tanque. Tanques com
diâmetros de 10,5 m (35 pé) ou maiores possuem um ancoradouro central que suporta o mecanismo
e é acessado por um passeio ou uma ponte. O fundo do tanque tem uma declividade de 1 para 12
(vertical:horizontal) para formar um cone invertido, sendo os sólidos raspados até um poço relati-
vamente pequeno localizado no centro do poço. Bombas de “air lift” também podem ser utilizadas
para remover o lodo, minimizando os custos associados com a manutenção e a operação das bom-
bas de lodo.
Combinação decantador-floculador. A combinação de decantadores com floculadores é,
usualmente, utilizada em tratamento de água e, outras vezes, em tratamento de esgotos, princi-
palmente em casos nos quais é necessária a sedimentação melhorada, como para tratamento de
5–6 Sedimentação primária P 375
Circulador de
Vertedor de escoamento axial de
difusão para Canal do
baixa velocidade Comportas tangenciais vertedor efluente
mistura rápida Influente
alternativo
Decantador radial
Câmara de
floculação
Braços
de arraste
de lodo
Influente
Raspador alternativo Retirada
Poço anular de lodo
(a) (b)
FIGURA 5–48 Decantador-floculador típico: (a) esquema e (b) vista de um tanque vazio. Em alguns projetos, misturadores de
turbinas ou de hélices são incluídos na câmara de floculação.
376 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
Tubulação de ar
Vertedores do efluente
Canal de escuma Canal influente
Canal de escuma
Canal do efluente
Cortina
Tubulação Vertedores
do efluente
de retirada Escoamento
de lodo Direção das aletas
Escoamento
do
Lo
Lodo
Escoamento Cortina
do Escoamento
Poço de lodo Corrente e aletas
Poço de lodo
(a)
Vazão Cortina
Vazão
Direção das aletas
do
Lo
Corrente e aletas
Tubulação
Vazão Cortina Vazão
de retirada
do lodo Direção das aletas
Lodo
Lodo
FIGURA 5–49 Seção típica através de um decantador de fundo múltiplo: (a) escoamento em série e (b)
tipo de escoamento em paralelo utilizado na Estação de Tratamento de Deer Island, Boston, MA. Nota: No
tipo de escoamento paralelo, os vertedores de escoamento superior servem ambos os decantadores. Ca-
nais para a descarga de efluentes de ambos os decantadores são colocados em cada lado do mecanismo
coletor de lodo, no decantador superior.
(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
Desempenho de decantadores
A eficiência de decantadores em relação à remoção de DBO e de SST é reduzida por (1) redemoi-
nhos formados pela inércia do líquido influente, (2) células de recirculação formadas em tanques
descobertos, (3) correntes de convecção térmica, (4) água quente ou fria, causando a formação de
correntes de densidade que se deslocam no fundo das bacias e água quente ascendendo e escoando
através da superfície do tanque, e (5) estratificação térmica em climas quentes e áridos (Fair and
Geyer, 1954). Os atores que afetam o desempenho de decantadores são considerados na discussão
que segue.
Remoção da DBO e de SST. Dados típicos de desempenho relativos à remoção da DBO e de
SST em decantadores primários, em função do tempo de detenção e da concentração de constituin-
tes, são apresentados na Figura 5-51. As curvas mostradas nessa figura são de derivadas de obser-
vações de desempenho real de decantadores. As relações em curva mostradas na figura podem ser
modeladas como hipérboles retangulares utilizando a relação seguinte (Crites and Tchobanoglous,
1998):
(5–45)
Item b a
DBO 0,020 0,018
SST 0,014 0,0075
70
SST, 200-300 mg/L
60
SST, 100-200 mg/L
40
DBO, 100-200
– mg/L
30
20
10
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Tempo de detenção, horas
FIGURA 5–51 Remoção típica da DBO e de SST em decantadores primários (Greeley, 1938).
5–6 Sedimentação primária P 379
Escoamento de densidade
(a) (b)
FIGURA 5–52 Padrões de escoamento típicos observados em decantadores retangulares: (a) escoamen-
to ideal, (b) efeito da densidade ou de estratificação térmica (a água no tanque é mais quente do que o
influente), (c) efeito da estratificação por diferença de densidade (o esgoto influente é mais quente do que a
água do tanque) e (d) formação de células de circulação provocada por ventos (Crites and Tchobanoglous,
1998).
380 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
seu desempenho será errático (Fair and Geyer, 1954). O método de distribuição da vazão influente,
conforme antes discutido, também afetará as condições de curtos-circuitos. Os efeitos de curtos-
-circuitos no desempenho de decantadores e de outros reatores foram examinados extensivamente
por Morrill(1932), que, baseado em sua pesquisa, desenvolveu o Índice de Dispersão de Morrill
(IDM) para avaliação do desempenho de decantadores (ver Apêndice H). A aplicação do método
IDM de análise é ilustrada no Exemplo 12–8 do Capítulo 12.
TABELA 5–20 Dados de dimensões típicas de decantadores retangulares e circulares utilizados para tratamento
primário de esgoto
Unidades americanas Unidades SI
Item Unidade Faixa Típica Unidade Faixa Típica
Retangular:
Profundidade ft 10–16 14 m 3–4,9 4,3
Comprimento ft 50–300 80–130 m 15–90 24–40
Larguraa ft 10–80 16–32 m 3–24 4,9–9,8
Velocidade das aletas ft/min 2–4 3 m/min 0,6–1,2 0,9
Circular:
Profundidade ft 10–16 14 m 3–4,9 4,3
Diâmetro ft 10–200 40–150 m 3–60 12–45
Declividade do fundo in./ft 3/4–2 1,0 mm/mm 1/16–1/6 1/12
Velocidade das aletas rev/min 0,02–0,05 0,03 rev/min 0,02–0,05 0,03
a
Se as larguras de tanques retangulares limpados mecanicamente forem maiores do que 6 m (20 pé), devem ser utilizados segmentos múltiplos
com equipamentos de limpeza individuais, permitindo, assim, tanques com larguras de até 24 m (80 pé) ou mais.
Temperatura, °F
35 40 45 50 55 60 65
2,00
Multiplicador do tempo de detenção
1,75
Multiplicador e–0,03t
e–0.03
Multiplier 1.821,82 t
1,50
1,25
1,00
0,75
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Temperatura, °C
FIGURA 5–53 Curva utilizada para aumentar o tempo de detenção requerido a temperaturas mais
baixas para obter o mesmo desempenho de sedimentação obtido a 20ºC.
382 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
belecida, o período de detenção do tanque passa a ser uma função da profundidade da água. Taxas
adotadas atualmente resultam em períodos de detenção nominal de 2,0 a 2,5 horas, com base na
vazão média de projeto.
O efeito da taxa de escoamento superficial e do tempo de detenção sobre a remoção de sólidos
depende fundamentalmente das características do esgoto, da proporção de sólidos sedimentáveis e
de outros fatores. Deve ser ressaltado que as taxas devem ser estabelecidas em valores suficiente-
mente baixos para garantir desempenho satisfatório sob condições de vazões de pico, que podem
variar acima de três vezes a vazão média em estações pequenas a 2 vezes a vazão média em esta-
ções grandes (veja discussão sobre vazões de pico no Capítulo 3).
Taxas de carregamento de vertedores. Em geral, as taxas de carregamento de vertedores
têm efeitos pequenos sobre a eficiência de decantadores primários e não devem ser consideradas
quando for efetuada a revisão da adequabilidade do projeto do decantador. Com a finalidade única
de fornecer informações, as cargas de carregamento de vertedores são apresentadas na Tabela 5–19.
A colocação de vertedores e de cortinas em decantadores secundários é discutida na Seção 8–8
do Capítulo 8. As cortinas devem ser colocadas antes dos vertedores do efluente de decantadores
primários para reduzir curtos-circuitos hidráulicos. As cortinas servem, também, para evitar a des-
carga de escuma no efluente do decantador.
Velocidade de arraste. Para evitar a ressuspensão (arraste) de partículas sedimentadas, as
velocidades horizontais através do tanque devem ser mantidas a níveis suficientemente baixos.
Utilizando os resultados de estudos efetuados por Shields (1936) e Camp (1946) foi desenvolvida
a equação seguinte para a velocidade crítica.
(5–46)
Solução
1. Calcule a área superficial necessária. Em condições de vazão média a área requerida é
.
.
Taxa de escoamento superficial
Tempo de detenção
.
4. Determine o tempo de detenção e a taxa de escoamento superficial sob condições de
vazão de pico.
.
Taxa de escoamento superficial .
Tempo de detenção
.
5. Calcule a velocidade de arraste (Equação 5–46), utilizando os valores seguintes:
Constante de coesão: k 0,05
Peso específico: s 1,25
Aceleração da gravidade: g 9,81 m/s2
Diâmetro das partículas: d 100 m 100 10 6 m
Fator de atrito de Darcy-Weisbach: f 0,025
(continuação)
Remoção da DBO
Remoção de SST
Remoção da DBO
Remoção de SST
Grão de
Grão de areia
areia
Grão de Camada de
areia polímero
Partículas
do floco
FIGURA 5–54 Esquema de partículas de flocos com lastro de microareia. Uma camada de polímero é
utilizada para absorver os flocos químicos nos grãos de areia. (Adaptado de Kruger.)
386 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
Tipo de partícula
Características da partícula Floco com lastro Esférica Partícula de esgoto
Diâmetro equivalente, m 200 150 500
Peso específico 2,6 2,65 1,4
Fator de forma, 2,5 1 18
Solução
Utilizando a Equação (5–22) e o mesmo procedimento de cálculo do Exemplo 5–5, calcule a
velocidade de sedimentação para uma partícula de floco com lastro e compare às partículas
de flocos esféricas e de esgoto.
1. Determine a velocidade de sedimentação terminal para a partícula de floco com lastro.
Como o número de Reynolds > 1,0, a Lei de Newton [Equação (5–18)] deve ser utilizada
para determinar a velocidade de sedimentação na região de transição (ver Figura 5–20).
Siga o procedimento iterativo descrito no Exemplo 5–5.
3. Para a primeira velocidade de sedimentação assumida, utilize a Lei de Stokes para a ve-
locidade de sedimentação calculada acima. Utilizando o número de Reynolds, também
determinado previamente, calcule o coeficiente de arrasto.
Comentário
Embora as velocidades de sedimentação das partículas apresentem grande variação em fun-
ção das características das partículas (peso específico, forma e tamanho), como ilustrado
neste exemplo, devido à formação de partículas de flocos com lastro a velocidade de sedi-
mentação pode ser melhorada significativamente. O aumento de tamanho e da densidade das
partículas de esgoto através de diversos métodos de utilização de lastros, é uma das premissas
da floculação de alta taxa. Como é necessário um processo iterativo para calcular as velo-
cidades de sedimentação na zona de transição, um programa com planilha de cálculo pode
facilitar o processo de cálculo, permitindo que diversas velocidades assumidas possam ser
consideradas para obter concordância com a velocidade computada.
Aplicação do processo
São utilizados três tipos básicos de processos para clarificação de alta taxa: (1) floculação com
lastro com lamelas de clarificação, (2) floculação em três estágios com lamelas de clarificação e (3)
floculação de sólidos/densos floculação/clarificação com clarificação em lamelas, como ilustrado
na Figura 5–55. Cada um desses processos pode operar com vazões elevadas permitindo uma signi-
ficativa redução nas dimensões das unidades de sedimentação. Um sumário das características prin-
cipais de cada processo de clarificação de alta taxa é apresentado na Tabela 5–22. As aplicações para
clarificação de alta taxa incluem (1) proporcionar tratamento primário avançado, (2) tratar vazões
de períodos úmidos e de extravasamento de sistemas unitários, (3) tratar águas de lavagem de filtros
e (4) tratar vazões de retorno de instalações de processamento de sólidos. Faixas de taxas de escoa-
mento superficial e de remoção de DBO e de SST no tratamento de vazões que ocorrem em períodos
úmidos (esgoto doméstico mais infiltração/entrada) são relacionadas na Tabela 5–23 (Sawey, 1998).
Floculação com lastro. A floculação com lastro emprega um processo patenteado mostrado
na Figura 5–55(a), no qual um auxiliar de floculação e o agente de lastro (tipicamente uma mi-
388 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
Descarga de lodo
Retorno de microareia e lodo
Hidrociclone
Microareia Sedimentadores
Polímero de lamelas
Coagulante- Efluente
Sulfato
Férrico
Clarificador
Águas pluviais
Coagulação Injeção Maturação
Raspador de lodo
(a)
Polímero
Floculação em três estágios
Coagulante-
Sulfato Efluente
Férrico
Espessador
Raspador de lodo
(b) Lodo
Tanque de
Coagulante-
Tanque de floculação
Sulfato
areia e
Férrico
coagulação Sedimentadores
de lamelas Efluente
Águas pluviais
Areia
Descarga de lodo
Raspador de lodo
Reciclagem
(c) de lodo
FIGURA 5–55 Processos de clarificação de alta taxa: (a) floculação com lastro, (b) clarificação em
lamelas e (c) lodo denso.
croareia de sílica) são utilizados para formar partículas densas de microflocos. As partículas de
microflocos resultantes são, então, “lastreados” e sedimentam rapidamente. O sistema de trata-
mento consiste de três compartimentos ou zonas: uma zona de mistura, uma zona de maturação
e uma zona de sedimentação. Dependendo do fabricante do equipamento, compartimentos em
série separados podem ser utilizados para executar as funções do processo, ou as funções podem
ser combinadas em um único reator. Podem ser utilizados tanto sedimentadores de lamelas como
sedimentadores por gravidade.
5–7 Clarificação de alta taxa P 389
Processo Características
Floculação com lastro de microareia e • A microareia proporciona núcleos para formação
clarificação [Figura 5–55(a)] de flocos.
• O floco é denso e sedimenta rapidamente
• A clarificação em lamelas, quando utilizada,
proporciona altas taxas de sedimentação em
tanques de pequenos volumes,
Adição de produtos químicos, floculação de • A floculação em três estágios melhora a formação
estágios múltiplos e clarificação em lamelas [ver dos flocos
Figura 5–55(b)] • A clarificação em lamelas proporciona altas taxas
de sedimentação em tanques de pequenos volumes.
Zona de mistura com ar com separação de • Os sólidos de lodo sedimentados são reciclados
areia e adição de produtos químicos seguido para acelerar a formação de flocos.
por floculação em dois estágios com lodo • São formados flocos densos que sedimentam
condicionado reciclado e clarificação em lamelas rapidamente.
[ver Figura 5–55(c)] • A clarificação em lamelas proporciona altas taxas
de sedimentação em tanques de pequenos volumes.
Tipicamente, esgoto gradeado é introduzido ao reator da floculação com lastro onde um coagu-
lante químico (geralmente um sal de ferro) é injetado para desestabilizar os sólidos. Em seguida, o
esgoto adentra uma zona de mistura onde a microareia e um polímero são injetados para maximizar
a eficiência da floculação e melhorar a sedimentação dos sólidos suspensos. Na zona de mistura
o polímero atua como um agente de ligação, aderindo os sólidos desestabilizados à microareia.
Em seguida, a zona de maturação é utilizada para manter os sólidos em suspensão enquanto que
as partículas de flocos continuam a se desenvolver e a crescer. Uma vez formadas, as partículas de
flocos com lastro sedimentam rapidamente para o fundo do decantador. A areia e as partículas de
flocos removidas da água clarificada são bombeadas para um separador de ciclone (hidrociclone)
para a separação da areia. A areia separada retorna ao tanque de injeção, sendo que os sólidos do
5–8 FLOTAÇÃO
A flotação é uma operação unitária utilizada para separar partículas sólidas ou líquidas de uma
fase líquida. A separação é efetuada através da introdução de bolhas finas de um gás (usualmente
ar) na fase líquida. As bolhas aderem ao material particulado e a força de empuxo das partículas
e bolhas de gás combinados é suficientemente forte para provocar a ascensão das partículas para
a superfície. Partículas com densidades maiores do que o líquido são, então, capazes de subir. A
ascensão das partículas com densidades inferiores às do líquido podem, também, ser facilitadas
(p.ex., suspensão de óleo na água).
Em tratamento de esgoto, a flotação é utilizada principalmente para remover matéria suspensa
e para concentrar biossólidos (ver Capítulo 14). As vantagens principais da flotação sobre a sedi-
mentação são que partículas leves ou muito pequenas, que sedimentam lentamente, podem ser re-
movidas mais completamente em um menor período de tempo. Uma vez que as partículas tenham
sido flotadas para a superfície, elas podem ser coletadas por uma operação de raspagem.
Descrição
A prática atual da flotação, conforme a utilizada para tratamento de esgoto, está confinada à utiliza-
ção de ar como o agente de flotação. Bolhas de ar são adicionadas ou formadas por (1) injeção de ar
enquanto o líquido está sob pressão, seguido por liberação da pressão (flotação por ar dissolvido), e
(2) aeração sob pressão atmosférica (flotação por ar disperso). Nesses sistemas, o nível de remoção
pode ser melhorado pela utilização de diversos aditivos químicos. No tratamento de esgotos muni-
cipais é, frequentemente, utilizada a flotação por ar dissolvido, especialmente para espessamento
de biossólidos.
5–8 Flotação P 391
Linha de
alimentação
Extravasor Cortina
Produtos químicos com material
Bomba dosadora espessado
de produtos
químicos Efuente do
Tanque de flotação
sobrenadante
Mistura
Tanque
(a) de pressão
Extravasor Cortina
com material
espessado
Linha de
alimentação Efluente do
Tanque de flotação
sobrenadante
Produtos
Mistura
químicos Coletor de lodo de fundo Sobrenadante
Válvula de reciclado
controle de Ar
pressão Conexão de reciclagem
Saída de auxiliar (decantador
sólidos primário ou efluente
sedimentados da estação)
Tanque de Bomba
mistura de alimentadora de
produtos produtos Tanque Bomba
químicos químicos pressurizador pressurizadora
(b)
FIGURA 5–56 Esquema de sistemas de flotação por ar dissolvido: (a) sem reciclagem, na qual toda a
vazão passa através do tanque pressurizador e (b) com reciclagem, na qual apenas a vazão de recicla-
gem é pressurizada. A vazão pressurizada é misturada com o efluente antes de ser liberada no tanque de
flotação.
392 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
Flotação por ar disperso. A flotação por ar disperso (às vezes designada de flotação por
indução de ar) é raramente utilizada em tratamento de esgotos, por outro lado, utiliza-se em apli-
cações industriais para a remoção de óleos emulsionados de grandes vazões de esgoto ou de águas
de processamento. Em sistemas de flotação por ar disperso, bolhas de ar são formadas através da
introdução da fase gasosa diretamente na fase líquida por meio de uma hélice rotativa. A hélice
rotativa atua como uma bomba, forçando o fluido através de aberturas de dispersão e criando um
vácuo na tubulação de entrada (ver Figura 5–57). O vácuo aspira o ar (ou gás) para a tubulação
misturando-o completamente com o líquido. Conforme a mistura gás/líquido passa através do dis-
persador, uma força de mistura é criada, forçando o gás a formar bolhas bem pequenas. O líquido
se movimenta através de uma série de células antes de deixar a unidade. As partículas de óleo de
sólidos suspensos se agregam às bolhas conforme elas sobem à superfície. O óleo e os sólidos sus-
pensos se acumulam em uma densa escuma na superfície que é removida por pás raspadoras. As
vantagens do sistema de flotação por ar disperso são (1) dimensões compactas, (2) menores custos
de capital e (3) capacidade de remover óleo relativamente livre e sólidos suspensos. As desvan-
tagens da flotação por ar induzido incluem requerimentos de energia superiores aos de sistemas
pressurizados, o desempenho depende de um controle hidráulico estrito, e menor flexibilidade de
floculação. As quantidades de material flotados são significativamente maiores do que das unida-
des pressurizadas: 3 a 7% da vazão influente em comparação com menos do que 1% para sistemas
de ar dissolvido. (Eckenfelder, 2000).
Aditivos químicos. Aditivos químicos são geralmente utilizados como auxiliares no processo
de flotação. A maioria desses compostos químicos atua para formar uma superfície ou estrutura
que possa, facilmente, absorver ou agregar bolhas de ar. Compostos químicos inorgânicos, como
sais de alumínio ou férricos e sílica ativada, podem ser utilizados para agregar material particulado
e, assim, criar uma estrutura que possa agregar bolhas de ar com facilidade. Diversos polímeros
orgânicos podem ser utilizados para modificar a estrutura da interface ar-líquido ou da interface
sólido-líquido, ou de ambos. Esses compostos usualmente se aderem à interface, para produzir as
alterações desejadas.
Tubulação de entrada
Porção superior do rotor
carreia o gás para baixo
para dispersão no líquido
Tomada de gás
Dispersador fraciona o
Funil de dispersão ar em pequenas bolhas
Coifa de dispersão
Pás
raspadoras
Canal receptor
Dispersador
Rotor
Material Material
flotado Porção baixa do rotor flotado
aspira os sólidos para cima
através do próprio rotor
FIGURA 5–57 Unidade de flotação por ar disperso. O ar é induzido e dispersado no líquido através de
uma ação de bombeamento de indutores. (Cortesia de Eimco.)
5–8 Flotação P 393
(5–47)
Temp., °C 0 10 20 30
sa, mL/L 29,2 22,8 18,7 15,7
Medidor de
Válvula de liberação de pressão
pressão Cilindro
Fonte de ar de
graduado de
alta pressão
1.000 mL
Câmara de Mangueira
pressão de borracha
Esgoto
Peso no
Válvula final da
mangueira
Conjunto
de suporte
Lodo
concentrado
(5–48)
Comentário
Alternativamente, a vazão de reciclo poderia ter sido estabelecida e a pressão determinada.
Em projetos reais, os custos associados com o bombeamento da vazão de reciclo, sistemas
pressurizados e a construção de tanques devem ser avaliados para determinar a combinação
mais econômica.
Microtela
de tecido
Influente vindo
do tratamento Efluente
preliminar primário
(a) Sólidos
(b) (c)
FIGURA 5–59 Tela em tecido utilizada para a filtração de esgoto bruto: (a) esquema, (b) vista do filtro
de tela de tecido com a tampa frontal aberta, (c) excesso de água acumulada na esteira, sendo removido
por gravidade.
Gerador de
bolhas
Coagulante carregadas
Surfactante
Tanque de
coagulação/floculação Água Raspador de
sólidos flotados
Esgoto
sem areia
Tanque Efluente
de flotação clarificado
Suspensão
de bolhas
Polímero carregadas Agitador Zona de
Sólidos floculação
(a) flotados (b)
FIGURA 5–60 Processo de flotação com bolhas carregadas: (a) diagrama de fluxo, (b) vista de uma unidade-piloto montada
em um trailer.
tanque de flotação onde entram em contato com os sólidos do esgoto. O esgoto floculado é intro-
duzido no tanque de flotação onde o material sobe à superfície, sendo removido pelo raspador, e
o efluente clarificado passa por baixo de uma cortina e sobre um vertedor, caindo em um canal
coletor. Dados típicos de desempenho de remoção de DBO e de SST do esgoto são de 50 a 70
e 70 a 99%, respectivamente, dependendo do tipo dos condicionantes químicos utilizados e as
dosagens correspondentes.
O processo FBC utilizado para esgoto gradeado, pode substituir três processos unitários: re-
moção de areia (exceto as partículas maiores e mais densas), clarificação primária e manuseio de
escuma primária. Esse processo pode, também, ser empregado como uma alternativa da clarifica-
ção primária melhorada quimicamente ou de filtração primária de efluentes. Outras aplicações do
processos FBC são em clarificação secundária, espessamento de excesso de lodos, clarificação de
esgotos contendo algas (especialmente como pré-tratamento para filtração terciária) e espessamen-
to de lodo digerido. As vantagens principais do processos FBC incluem uma menor pegada (menos
do que um quinto de um decantador primário convencional), menor requerimento de energia, ha-
bilidade de manusear concentrações elevadas de sólidos suspensos (até 15.000 mg/L) e eficiência
elevada de separação de sólidos.
Clarificação Filtro do
primária efluente primário
Efluente
Influente vindo primário
do decantador filtrado
primário
FIGURA 5–61 Filtração de efluente primário: (a) diagrama de fluxo, (b) e (c) vistas de unidades-piloto.
Informação sobre os sistemas de testes de filtros de Schreiber e WesTech podem ser encontrados na Seção
11–5 do Capítulo 11.
TABELA 5–24 Aplicações principais sobre as operações e processos de transferência de massa em tratamento de
esgoto
Tipo de reação Equilíbrio de fase Aplicação
Absorção Gás → líquido Adição de gases à água (p.ex., O2, O3, CO2, Cl2, SO2), NH3
lavagem em ácido
Adsorção Gás → sólido Remoção de compostos orgânicos com carvão ativado
Líquido → sólido Remoção de compostos orgânicos com carvão ativado,
descloração
Desorção Sólido → líquido Lavagem de sedimentos
Sólido → gás Regeneração de carvão ativado saturado
Secagem (evaporação) Líquido → gás Secagem de lodos
Extração de gás Líquido → gás Remoção de gases (p.ex., CO2, O2, H2S, NH3, compostos
(também conhecida como desorção) orgânicos voláteis, NH3 de sobrenadante de digestores)
Troca iônica Líquido → sólido Remoção seletiva de constituintes químicos, desmineralização
a
Adaptado de Crittenden, et al. (2012).
5–10 Transferência de massa gás-líquido P 399
Interface
Escoamento Escoamento
turbulento turbulento
P Transferência
ou concentração
Pressão parcial
C
Filme Filme
(a) gasoso líquido
Interface
Escoamento Escoamento
turbulento turbulento
Transferência C
ou concentração
Pressão parcial
Ci
Fase gasosa Fase líquida
(corpo) dg dl (corpo)
Pi
Filme Filme
gasoso líquido
(b)
FIGURA 5–62 Esquema da teoria de transferência gasosa de dois filmes: (a) absorção e (b) desorção.
400 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
fluxo de massa para cada fase para absorção (adição de gás) é escrito como segue (Lewis and
Whitman, 1924):
onde r taxa de transferência de massa por unidade de massa por unidade de tempo
kG coeficiente de transferência de massa do filme de gás
PG pressão parcial do constituinte A no corpo da fase gasosa
Pi pressão parcial do constituinte A na interface, em equilíbrio com a concentração Ci do
constituinte A no líquido
kL coeficiente de transferência de massa no filme líquido
Ci concentração do constituinte A na interface, em equilíbrio com a pressão parcial Pi do
constituinte A no gás
CL concentração do constituinte A no corpo da fase líquida
Deve ser notado que os coeficientes de transferência de massa dos filmes gasoso e líquido de-
pendem das condições existentes na interface. Os termos (PG Pi) e (Ci CL) representam as forças
que causam a transferência na fase gasosa e líquida, respectivamente. Se os termos (PG Pi) e (Ci
CL) forem divididos por seus respectivos valores de espessuras de filmes ( G e L), a força pode ser
expressa em termos de unidade espessura. Assim o nível de transporte de massa pode ser melhorado
pela redução da espessura do filme, dependendo daquele que for o filme de controle.
Coeficientes de transferência total de massa. Como é difícil medir os valores de kG e kL na
interface, é comum utilizar os coeficientes totais KG e KL, dependendo se a resistência de transferên-
cia de massa ocorre no lado gasoso ou no lado líquido. Se assume que, essencialmente, toda a resis-
tência à transferência de massa é causada pelo filme líquido. Então a taxa de transferência de massa
pode ser definida como segue, em termos do coeficiente total de transferência de massa líquida:
onde r taxa de massa transferida por unidade de área por unidade de tempo
KL coeficiente total de transferência de massa líquida
Cs concentração do constituinte A na interface em equilíbrio com a pressão parcial do cons-
tituinte A no corpo da fase gasosa
CL concentração do constituinte A no corpo da fase líquida
Se as duas expressões dadas pelas Equações (5–50) e (5–49) acima forem igualadas, a relação se-
guinte pode ser derivada entre o coeficiente total de transferência da massa líquida e os coeficientes
dos filmes gasoso e líquido:
Como foi assumido que, essencialmente, a resistência à transferência de massa é causada pelo
filme líquido, as relações seguintes, baseadas na lei de Henry (ver Capítulo 2) devem se aplicar à
interface:
PG HCs e Pi HCi
Deve ser notado que a força motora total (Cs – CL) da Equação (5–51) pode ser escrita como
(5–53)
5–10 Transferência de massa gás-líquido P 401
De maneira similar pode ser mostrado que a relação seguinte é correta, se a transferência de massa
é controlada pelo filme de gás:
(5–54)
(5–55)
Deve ser notado que, nas Equações (5–54) e (5–55) os coeficientes de transferência total incluem
a resistência à transferência de massa causada por ambas as fases gasosa e líquida. O fato de que
a resistência total à transferência de massa é a soma das resistências das fases gasosa e líquida
foi, inicialmente, demonstrado por Lewis e Whitman (1924). Com referência à Equação (5–53), é
interessante notar que, se a constante de Henry é grande, então a resistência da fase líquida, tipi-
camente, controlará o processo de transferência de massa. Na transferência de moléculas de gás
da fase gasosa para a fase líquida, gases pouco solúveis (p.ex., O2, N2 e CO2 na água) apresentam
resistência primária para transferir do filme líquido, e gases muito solúveis (p.ex., NH3 na água)
apresentam a resistência primária para transferir do filme gasoso. Gases de solubilidade interme-
diária (p.ex., H2S na água) apresentam resistência significativa de ambos os filmes.
Fluxo de um gás pouco solúvel. Para estimar o fluxo de um gás pouco solúvel, da fase gaso-
sa para a fase líquida (o filme líquido controla a taxa de transferência), a Equação (5–50) pode ser
aproximada substituindo Ct por CL como segue:
onde r taxa de massa transferida por unidade de área e por unidade de tempo, ML 2T 1
(5–57)
onde rV taxa de transferência de massa por unidade de volume e por unidade de tempo, ML 3T 1
Profundidade Profundidade
t1
Liquido em t2
condições t3
turbulentas t1 t2 t3 t4 t5 Líquido em t4
condições t5
quiescentes
0 CS 0 CS
Mudança do oxigênio Mudança do oxigênio
dissolvido com o tempo, mg/L dissolvido com o tempo, mg/L
(a) (b)
FIGURA 5–63 Esquema da absorção de um gás: (a) sob condições turbulentas no qual a concentração do gás nas fases líquida
e gasosa é uniforme e (b) sob condições quiescentes. (Adaptado de Tchobanoglous e Schroeder, 1985.)
2. Equação simplificada:
(5–60)
(5–61)
(5–62)
5–10 Transferência de massa gás-líquido P 403
temos
(5–63)
Na Equação (5–63), o termo (Cs Ct) representa, como acima mostrado, o grau de subsaturação
à qualquer tempo t e o termo (Cs Co) representa o grau inicial de subsaturação. A aplicação da
Equação (5–63) é ilustrada no Exemplo 5–12.
Solução
1. O tempo requerido para que a concentração de oxigênio aumente de 1,5 a 8,5 pode ser
estimado utilizando a Equação (5–63).
2. O tempo requerido é
a. O valor para a, a área interfacial para transferência de massa por unidade de volume:
Comentário
A importância da área exposta à atmosfera é ilustrada neste exemplo. Quanto maior a área em
relação à profundidade, maior será a taxa de transferência de oxigênio. No tratamento bioló-
gico de esgoto pequenas bolhas liberadas no fundo de um reator são utilizadas para transferir
oxigênio para a biomassa ativa, como pequenas gotas de água contendo a biomassa ativa são
dispersadas na atmosfera para maximizar a taxa de transferência de oxigênio.
C
– Dm
z z
z + z
C
– Dm
z z + z
FIGURA 5–64 Esquema da absorção de um gás sob condições quiescentes, devido à difusão molecular.
para o volume de controle mostrado na Figura 5–64, a transferência quiescente de um gás pode ser
modelada como segue:
Inicialmente, um balanço de massa é escrito para a bacia aberta, como segue:
1. Equação genérica:
2. Equação simplificada:
(5–66)
(5–67)
A Equação (5–67) é, também, conhecida como a segunda lei da difusão de Fick (Crank, 1957).
Valores típicos do coeficiente de difusão molecular de gases de baixa solubilidade são relacionados
na Tabela 5–25. Deve ser notado que o mecanismo de adsorção de gases moderadamente solúveis
na água foi extensivamente estudado por Lewis e Whitman (1924), mencionado previamente, e
por Adeney e Becker (1919), e Becker (1924) entre outros, e que seus trabalhos são ainda válidos
atualmente. Soluções da Equação (5–67) para diversas condições limites podem ser encontradas
em Carlslaw e Jaeger (1947), Crank (1957), Danckwertz (1970) e Thibodeaux (1996).
5–10 Transferência de massa gás-líquido P 405
Nitrogênio, N2 6,4 10 2
34,0 1,019 T 20
⬃2 10 3
Ar 32,1 1,019T 20
⬃2 10 3
a
Adaptado de Adeney e Becker (1920), Becker (1924).
(5–68)
onde o termo (Ct – Cs) representa o grau de supersaturação a qualquer tempo t. Se a Equação (5–68)
é integrada entre os limites C Cs e C Ct e t 0 e t t, a forma integrada da Equação (5–68)
correspondente à Equação (5–63) para a volatilização de um gás de um líquido super saturado é
dada por
(5–69)
Na Equação (5–69), o termo (Co – Cs) representa o grau inicial de supersaturação. A aplicação da
Equação (5–69) é ilustrada no exemplo 5–13.
Solução
1. Se é assumido que a concentração do produto químico volátil específico não seja comum
na atmosfera local, então Cs ⬃ 0, e a Equação (5–69) pode ser escrita como segue:
(continua)
406 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
(continuação)
3. Utilizando um valor de KLa de 0,144 m/h para o benzeno, o tempo necessário para dissi-
par 50% da concentração inicial é
Transferência de oxigênio
Os equipamentos comerciais utilizados para transferência de oxigênio são avaliados de acordo com
procedimentos de testes estabelecidos utilizando água limpa e identificados em termos de transfe-
rência de oxigênio sob condições padrão. A definição de condições padrão varia de acordo com os
fabricantes e com diferentes áreas geográficas. A definição estabelecida neste livro é especificada
como segue:
Onde: TTOf taxa de transferência de oxigênio no campo, estimada para o sistema operando sob
condições de processo a uma concentração média de DO, C, e temperatura, T, kg O2 /h
TTOP taxa de transferência de oxigênio sob condições padrões (20°C, 1 atm, C 0 mg/L),
kg O2/h
fator de correção de temperatura C *st /C *s20
C *st concentração de saturação de oxigênio dissolvido na superfície na temperatura de
operação, mg/L (ver Apêndice E)
C *s20 concentração de saturação de oxigênio dissolvido na superfície à temperatura pa-
drão (20°C), mg/L (ver Apêndice E)
DO relativa de saturação em água limpa, tipicamente 0,95 a 0,98
C * (esgoto) / C * (água limpa) (ver discussão seguinte)
C concentração de saturação de DO em regime permanente obtida por análise de re-
*
gressão não linear de resultados de testes com água limpa (também disponíveis de
fabricantes de equipamentos de aeração.)
fator de correção de pressão
Pb / P s
Pb pressão barométrica no local de testes, m, kPa (ver Apêndice B)
Ps pressão barométrica padrão (1,00 atm, 10,33 m, 101,325 kPa)
C * ,20 valor de saturação de oxigênio ao nível do mar e temperatura padrão (20°C) para
aeração difusa, mg/L. Esse valor de saturação é maior do que Cst porque é afetada
pela transferência de oxigênio de bolhas sob pressão na coluna de água. O valor de
C * ,20 pode ser estimado utilizando a equação seguinte (U.S. EPA, 1989):
de fator de correção à profundidade média; pode variar na faixa 0,25–0,45 (0,40)
Df profundidade dos difusores na bacia, m
C concentração média de oxigênio dissolvido no volume total de água de processo,
mg/L
fator empírico de correção de temperatura, tipicamente 1,024 (ver a discussão
seguinte)
T temperatura de campo, °C
Ts temperatura padrão, °C
taxa relativa de transferência de oxigênio na água de processo versus água limpa
(ver discussão seguinte)
KLaf 20(esgoto) /KLa20(água limpa)
F fator de incrustação, tipicamente 0,65 a 0,9 (para aeradores superficiais, F 1)
Note que os valores de TTOf e TTOP dados acima podem, também, ser expressos com eficiências
de transferência. O fator de incrustação F é utilizado para levar em consideração a incrustação
interna e externa de difusores de ar. A incrustação interna é causada pela formação de impurezas
no ar comprimido, enquanto que a incrustação externa é causada pela formação de depósitos bio-
lógicos e de precipitados inorgânicos. O oxigênio necessário para processos biológicos pode ser
suprido utilizando ar ou oxigênio puro. Três métodos comumente utilizados para introduzir oxigê-
nio no líquido contido em tanques de aeração são (1) aeração mecânica, (2) injeção de ar difuso e
(3) injeção de oxigênio com alto grau de pureza. A aplicação da Equação (5–70) para aeração de
sistemas biológicos de tratamento é ilustrada no Exemplo 8–3 do Capítulo 8.
408 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
(5–71)
(5–73)
KLa(T) KLa(20°C)T 20
(5–74)
Solução
1. Para analisar os dados de campo, reescreva a Equação (5–63) em uma forma linear.
(continua)
410 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
(continuação)
10
1
0 5 10 15 20 25
tempo, min
Comentário
O valor de KLa determinado neste exemplo é aproximado porque foi utilizada uma análise de
regressão linear. Para obter um valor mais acurado de KLa deve ser utilizado o método não
linear descrito em ASCE (1992).
5–11 Sistemas de aeração P 411
(5–75)
onde alfa ( ) é o fator de correção. Valores de a variam com o tipo do equipamento de aeração, a
concentração de SSVLM, a geometria da bacia, o nível de mistura, e outras características, con-
forme discutido acima. Valores de a variam de aproximadamente 0,3 a 1,2. Valores típicos para
equipamentos de aeração difusa ou mecânica, discutidos na seção seguinte, estão na faixa de 0,4 a
0,8 e 0,6 a 1,2, respectivamente. O manual de projetos da EPA – Sistemas de Aeração com Poros
Pequenos (U.S. EPA, 1989) inclui valores de a obtidos durante testes efetuados em escola real com
sistemas de aeração com poros pequenos. Se a bacia na qual o equipamento de aeração é utilizado
for significativamente diferente daquela utilizada pelo equipamento de teste, deve ser tomado bas-
tante cuidado na seleção do valor de a adequado.
Avaliação do fator de correção beta (). O fator de correção é utilizado para corrigir a
taxa de transferência de oxigênio do sistema de teste para as diferenças de solubilidade do oxigê-
nio, devido a constituintes presentes na água, como sais, material particulado e substâncias tenso
ativas (surfactantes):
(5–76)
Essa relação pode variar de aproximadamente 0,8 a 1,0 e é, geralmente, próxima a 1,0 para esgotos
municipais. Como essa relação não pode ser medida por uma sonda de membrana e porque muitos
esgotos contêm substâncias que interferem com o método úmido (método de Winkler), é difícil de
efetuar a medida acuradamente. Por essa razão, o valor de é calculado como a relação entre a
concentração superficial de saturação na água de processo e a concentração superficial de saturação
na água limpa. Os valores dados no Apêndice E podem ser utilizados para Cs em água limpa com
diversos valores de salinidade e de altitudes.
TABELA 5–26 Descrição dos equipamentos comumente utilizados para a aeração de esgoto
não são, entretanto, bastante claras, mas elas continuam a ser utilizadas. A preferência atual é ca-
tegorizar os sistemas de aeração difusa pelas características físicas do equipamento. São definidas
três categorias: (1) difusores porosos ou de pequenos poros, (2) difusores não porosos e (3) outros
equipamentos de difusão, como aeradores de jatos, aeradores aspirantes e aeradores em forma de
tubos em U. Os diversos tipos de equipamentos de ar difuso são descritos na Tabela 5–27.
Difusores porosos. Difusores porosos são feitos em formas diversas, sendo os mais comuns
discos, cúpulas, placas, tubos e membranas. São, também, utilizados tubos. Placas cerâmicas já
foram muito populares, mas apresentam custos altos de instalação e são difíceis de manter. As cú-
pulas e discos porosos de cerâmica, e membranas, discos e tubos suplantaram largamente placas de
cerâmica em instalações modernas (ver Figura 5–65). Diversos fabricantes de difusores de placas
utilizando membranas estão no mercado atualmente.
Difusores de cúpula, discos ou de tubos são montados ou parafusados nas linhas de ar podendo
ocupar todo o comprimento do tanque, próximo ao fundo e ao longo de um ou de dois lados. Linhas
curtas podem, também, ser montadas em tubos móveis em um dos lados do tanque. Difusores de
cúpula e de disco podem ser instalados em um padrão de grade no fundo do tanque de aeração para
proporcionar aeração uniforme em todo o tanque (ver Figura 5–66).
5–11 Sistemas de aeração P 413
(a) (b)
Disco de polietileno
Seção da cunha
mecânica para Disco suporte Conexão Anel de fechamento
Orifício de controle e de polipropileno rosqueada de aço inoxidável
conectar à base
válvula de retenção
(c) (d)
FIGURA 5–65 Difusores de ar típicos: (a)vista de um difusor de disco cerâmico, (b) vista de uma cúpula
de cerâmica, (c) seção transversal de um difusor de disco de polietileno e (d) membrana perfurada.
414 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
FIGURA 5–66 Tanque de aeração tubular, equipado com aeradores de disco de cerâmica.
Diversos materiais têm sido utilizados na manufatura de difusores porosos. Esses materiais
caem, geralmente, na categoria de cerâmicas rígidas e de plásticos flexíveis, borracha, ou tecidos.
Os materiais cerâmicos de partículas de minerais arredondados ou de forma irregular são interliga-
dos para produzir uma estrutura de passagens interconectadas através das quais escoa o ar compri-
mido. Conforme o ar emerge dos poros superficiais, a dimensão dos poros, a tensão superficial e a
vazão de ar interagem para produzir bolhas de certas dimensões. Plásticos rígidos porosos são simi-
lares aos materiais cerâmicos porque os plásticos contêm diversos canais interconectados ou poros
através dos quais o ar comprimido pode passar. Folhas finas e flexíveis feitas de plástico mole ou de
borracha sintética foram desenvolvidos e adaptados a discos, tubos e placas. As passagens de ar são
feitas perfurando pequenos buracos nas folhas. Quando o fluxo de ar é ligado, as folhas expandem
e cada orifício atua como uma abertura variável; quanto maior a vazão de ar, maior será a abertura.
Painéis ou faixas retangulares que utilizam folhas flexíveis de poliuretano (ver Figura 5–67)
são, também, utilizados em aeração de lodos ativados. Os painéis são construídos com uma mol-
dura de aço inoxidável e são colocados no fundo, ou próximo do fundo do tanque, e ancorados. As
vantagens dos painéis de aeração são (1) bolhas ultrafinas produzidas que melhoram, significativa-
mente, a transferência de oxigênio e a eficiência energética do sistema, (2) grandes áreas do fundo
do tanque podem ser cobertas, o que facilita a mistura e a transferência de oxigênio e (3) materiais
incrustantes podem ser desalojados por “colisão”, i.e., aumentando o fluxo de ar para flexionar a
membrana. As desvantagens são (1) perdas de cargas elevadas que as membranas apresentam, o
que poderá afetar o desempenho dos sopradores no caso de melhorias e (2) necessidade de maior
filtração do ar dos sopradores para evitar incrustação interna.
Em relação a todos os difusores porosos, é essencial que o ar fornecido seja limpo e livre de
partículas de poeira que possam obstruir os difusores. Filtros de ar, consistindo, geralmente, de
tipos de restrições viscosas e de barreiras secas de ar são comumente utilizados. Filtros de manga
previamente revestidos e filtros eletrostáticos são, também, utilizados. Os filtros devem ser instala-
dos na entrada de ar dos sopradores.
Difusores não porosos. São disponíveis diversos tipos de difusores não porosos (ver Figuras 5–68
e 5–69). Difusores não porosos, também conhecidos como difusores de bolhas grossas, produzem
bolhas maiores do que difusores porosos e, consequentemente, possuem menor eficiência de aeração;
já as vantagens estão associadas a menor custo, menor manutenção, e o não requerimento de ar muito
puro pode suplantar a eficiência de transferência de oxigênio e os custos de energia. Esquemas típicos
de difusores de orifício são muito parecidos a esquemas de difusores de cúpula e de disco; entretanto,
esquemas com espirais simples e duplas utilizando difusores de bandas estreitas ou largas são os mais
5–11 Sistemas de aeração P 415
Membrana de
poliuretano
Corpo difuso de
10 cm (4 polegadas)
(a) (b)
Painel de
aeração
flexível A
Vedação
entre placas
A
Folha de membrana
Moldura superior perfurada
de suporte
Seção A-A
Folha de membrana Cavidades
inferior não perfurada de ar
(c) (d)
FIGURA 5–67 Aeradores de membranas com poros ultrafinos: (a) esquema de painel de aeração
(adaptado de Xylem Water Solutions), (b) vista de painéís de aeração no fundo de um reator de lodos
ativados (cortesia Xylem Water Solutions), (c) esquema de painel de aeração (adaptado de Parkson) e (d)
vista de painéis colocados no fundo de um reator de lodos ativados (cortesia de Parkson).
comuns. As aerações de difusores de orifícios e de tubos incluem caixas de areia aeradas, aeração de
canais, mistura em tanques de floculação, digestão aeróbia e efluentes industriais (WEF, 1998b).
No aerador de tubo estático [ver Figura 5–69(a)], o ar é introduzido no fundo de um tubo cir-
cular que tem altura variável entre 0,5 a 1,25 m (1,5 a 4,0 pé). Os tubos são equipados internamente
com placas de deflexão colocadas alternativamente para aumentar o contato do ar com o esgoto. A
mistura é efetuada porque o tubo aerador funciona como uma bomba de “air lift”. Os tubos estáti-
cos, são, normalmente, instalados na forma de uma grade cobrindo o fundo do tanque.
Outros equipamentos de difusão de ar. A aeração a jato [ver Figuras 5–69(b) e (c)] com-
bina o bombeamento do líquido com a difusão do ar. O sistema de recalque recircula o líquido na
bacia de aeração, ejetando-o com ar comprimido através de um sistema de bocais. Esse sistema é
particularmente adequado para tanques profundos (8 m). A aeração aspirante [ver Figura 5–69(d)]
consiste de uma bomba de sucção acionada por um motor. A bomba aspira o ar através de um tubo
e o injeta sob a água onde a ação da velocidade alta e de uma hélice cria turbulência e difunde
as bolhas de ar. O equipamento de aspiração pode ser montado em uma estrutura fixa ou em um
suporte flutuante. A aeração por tubos em U consiste em um eixo profundo (“deep shaft”) que é
dividido em duas zonas (ver Figura 5–70). O ar é adicionado ao esgoto influente no tubo interno de
descida sob alta pressão; a mistura se desloca para o fundo do tubo retornando, em seguida, à su-
Difusor de aço
inoxidável
Orifício de controle
Orifício de
controle
Descarga de ar
(tipicamente 4 orifícios)
(a) (b)
FIGURA 5-68 Difusores não porosos de bolhas grossas: (a) orifício e (b) tubo.
416 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
Câmara
Fluido de mistura Ar
Fluxo do arrastado
jato vertical pressurizado
Tubulação de
Base de suprimento de ar
concreto
Tomada de ar
Entrada de ar
Entrada de ar
(por trás)
Ar injetado
na água
Hélice
Saída de ar e água
(c) (d)
FIGURA 5–69 Outros equipamentos utilizados para a transferência de oxigênio: (a) misturador de tubo
estático no qual o ar é introduzido na base do aerador que contém elementos de mistura, (b) reator a jato
no qual ar pressurizado e líquido são combinados em uma câmara de mistura (conforme o jato é feito, o
líquido ao redor é arrastado para aumentar a transferência de oxigênio), (c) aerador a jato incluído em
uma tubulação e (d) aerador aspirante.
Compressor de ar
Reciclagem
Entrada
de lodo
Saída
Ar de partida
Eixo de entrada
(descida)
Ar de processo
Subida
Revestimento
do eixo
perfície. A grande profundidade à qual a mistura ar-água é submetida resulta em eficiência elevada
de transferência de oxigênio porque a pressão elevada força todo o oxigênio a entrar em solução.
A aplicação de aeração em tubos em U tem aplicação particular em esgotos muito concentrados.
Desempenho de difusores. A eficiência de transferência de oxigênio depende de diversos
fatores, incluindo tipo, tamanho e forma do difusor, vazão de ar, profundidade de submersão, geo-
metria do tanque (incluindo a locação da tubulação de acesso de ar e do difusor), e das caracte-
rísticas do esgoto. Equipamentos de aeração são, usualmente, avaliados com água limpa sendo os
resultados obtidos ajustados às condições operacionais de processos através da utilização de fatores
usados universalmente. As eficiências típicas de transferência em água limpa e vazões de ar para di-
versos equipamentos de ar difuso são reportados na Tabela 5–28. Tipicamente, a eficiência padrão
de transferência de oxigênio (EPTO) aumenta com a profundidade; as eficiências de transferência
mostradas na Tabela 5–28 são relativas à profundidade de 4,5 m (15 pé), que é a profundidade de
submergência mais comum. Dados sobre a variação da EPTO com a profundidade da água para
diversos tipos de difusores podem ser encontrados em WPCF (1988). A variação das taxas de trans-
ferência de oxigênio com diversos tipos de difusores e respectivos arranjos são, também, ilustrados
TABELA 5–28 Informação típica sobre transferência de oxigênio em água limpa de diversos
tipos de sistemas de ar difuso
Vazão de ar /difusor
EPTO (%) a 4,5 m
Tipo de difusor e localização ft3/min m3/min (15 pé) submergênciaa
Discos cerâmicos – grade 0,4–3,4 0,01–0,1 25–35
Cúpulas cerâmicas – grade 0,5–2,5 0,015–0,07 27–37
Placas cerâmicas – grade 2,0–5,0b 0,6–1,5c 26–33
Tubos plásticos rijos porosos
Grade 2,4–4,0 0,07–0,11 28–32
Em espiral duplo 3,0–11,0 0,08–0,3 17–28
Em espiral simples 2,0–12,0 13–25
Tubos plásticos não rijos porosos
Grade 1,0–7,0 0,03–0,2 26–36
Em espiral simples 2,0–7,0 0,06–0,2 19–37
Tubos de membranas perfuradas
Grade 1,0–4,0 0,03–0,11 22–29
Distâncias de um quarto 2,0–6,0 0,6–0,17 19–24
Em espiral simples 2,0–6,0 0,6–0,17 15–19
Painéis de membranas perfuradas N/A N/A 38–43d
Aeração a jato
Tubulação lateral 54–300 1,5–8,5 15–24
Difusores não porosos
Espiral duplo 3,3–10 0,1–0,28 12–13
Meia largura 4,2–45 0,12–1,25 10–13
Espiral simples 10–35 0,28–1,0 9–12
a
EPTO Eficiência Padrão de Transferência de Oxigênio. Condições Padrão: água limpa 20°C (68°F); a 101,325
kN/m2 (14,7 lbf /in.2); e oxigênio dissolvido inicial 0 mg/L.
b
As unidades são ft3/ft2 de difusormin.
c
As unidades são m3/m2 de difusormin.
d
Comunicação pessoal, Parkson Corporation.
N/A Não aplicável.
418 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
na Tabela 5–28. Dados adicionais sobre os efeitos do arranjo de difusores na eficiência da transfe-
rência são reportados em U.S. EPA (1989).
A transferência de oxigênio (TO) de difusores porosos pode, também, decrescer com o uso de-
vido à obstrução interna ou incrustação externa. A obstrução interna pode ser devida a impurezas do
ar comprimido que não tenham sido removidas pelo filtro de ar. A incrustação externa pode ser de-
vida à formação de filmes biológicos ou de precipitados orgânicos. O efeito da incrustação na TO é
descrito pelo termo F na Equação (5–70). A taxa com a qual F decresce com o tempo é designada fF,
que é expressa como uma fração decimal da TO perdida, na unidade de tempo. A taxa de incrustação
depende das condições operacionais, alteração das características da água e do tempo de serviço. As
taxas de incrustação são importantes na determinação da perda da TO e da frequência esperada de
limpeza do difusor. Incrustação e taxa de incrustação podem ser estimados por (1) efetuar testes em
escala real de TO durante um determinado período de tempo, (2) monitorar a eficiência do sistema
de aeração (ver Figura 5–71) e (3) efetuar testes de TO de difusores usados e novos.
Sopradores. Há quatro tipos de difusores comumente utilizados em aeração de esgoto: centrí-
fugo de estágio único, centrífugo de estágios múltiplos, turbo de alta velocidade e de deslocamento
positivo. Sopradores centrífugos [ver Figura 5–72(a) e (b)] são utilizados universalmente onde a
capacidade unitária é maior do que 425 m3/min (15.000 pé3/min) de ar livre. As pressões de des-
carga variam, normalmente, entre 48 a 62 kN/m2 (7 a 9 lbf /in.2) para sopradores centrífugos de
estágio único e até 138 kN/m2 (20 lbf /in.2) para sopradores centrífugos de estágios múltiplos. Os
sopradores centrífugos têm características operacionais similares às bombas centrífugas de baixa
velocidade. A pressão de descarga sobe a até aproximadamente 50% quando desligado, caindo to-
talmente em seguida. O ponto de operação de um soprador é determinado, assim como nas bombas
centrífugas, pela intersecção da curva de capacidade-altura com a curva do sistema.
Em estações de tratamento de esgotos, os sopradores devem prover uma faixa larga de va-
zões de ar com uma faixa de pressões relativamente estreita sob diversas condições ambientais.
Usualmente, um soprador é capaz de suprir, eficientemente, a apenas um conjunto de condições
operacionais. Como é necessário atender a uma faixa larga de vazões de ar e pressões em uma es-
tação de tratamento de esgoto, devem ser incluídas no projeto do sistema de sopradores provisões
para regular ou reduzir a rotação. Os métodos para regular ou reduzir a operação são (1) desvio ou
divisão do fluxo de ar, (2) estrangulamento da entrada, (3) difusor de descarga ajustável, (4) motor
com rotação variável e (5) operação paralela de diversas unidades de sopradores. Estrangulamento
da entrada ou um difusor de descarga ajustável são aplicáveis apenas para sopradores centrífugos;
motores de rotação variável são mais comumente utilizados em sopradores de deslocamento po-
sitivo. Desvio ou divisão do fluxo de ar são métodos efetivos de controlar o disparo de soprador
centrífugo, um fenômeno que ocorre quando o soprador opera, alternativamente, em capacidade
Analisador do Analisador
gás de saída de oxigênio Saída de
Vácuo Ar dissolvido gás da
Saída de gás cúpula de
coleta
Sonda de
medidor de Bacia de
oxigênio aeração
(a) (b)
FIGURA 5–71 Cúpula de aeração utilizada para medir as taxas de transferência de oxigênio em um
reator de tratamento biológico de esgoto : (a) esquema da unidade de medição. A composição dos gases
retidos na cúpula é analisada para avaliar o desempenho do sistema de aeração (adaptado de Rosso et
al., 2011) e (b) a cúpula é colocada em diversos locais de cada bacia para obter os dados médios de
desempenho.
5–11 Sistemas de aeração P 419
Saída
Hélice de
alumínio
Entrada
Caixa de
seção
Rolamentos
(a) (b)
Saída de ar
Motor síncrono de
alta velocidade
permanentemente
Barbatanas de magnetizado para Rolamento
Rolamento
resfriamento resfriamento do ar rotativo
Rotor do de ar
motor Ventilador de
resfriamento Vazão
de ar
Hélice
Rolamentos
Entrada Hélice do
Capa da de ar
de ar tipo turbina Ventilador de
hélice Barbatanas
rolamento resfriamento
de resfriamento
de ar
(d) (e)
(c)
Descarga
Hélice de
lóbulo
Entrada
(f) (g)
FIGURA 5–72 Sopradores típicos utilizados para aeração por ar difuso: (a) esquema de um soprador
centrífugo de estágios múltiplos, (b) vista de um soprador centrífugo de estágios múltiplos, (c) esquema
de um soprador turbo de alta rotação (adaptado de APG Neuros), (d) seção transversal esquemática de
um soprador turbo de alta velocidade (adaptado de APG Neuros), (e) vista de um soprador turbo de alta
rotação instalado em um redutor de ruído integrado, (f) esquema de um soprador de deslocamento positivo
tipo lóbulo e (g) vista de um soprador rotativo tipo lóbulo de deslocamento positivo.
magnetizados (MSPM), capazes de atingir rotações de até 75.000 rotações/min (resfriados com ar e
água), (3) rolamentos de ar que eliminam engrenagens e contato entre o estator e o eixo motor e (4)
motores com frequência variável integrada. Essas unidades podem, portanto, operar eficientemente
em uma grande faixa de condições operacionais, quando comparadas com sopradores construídos
com tecnologia convencional. Sopradores turbo de alta rotação são fornecidos com capacidades de
até 567 m3/min (20.000 pé3/ min) e pressões de 103 kN/m2 (15 lbf /in.2). Tem sido reportada uma
economia de energia de até 40%.
Para aplicações com pressão de descarga acima de 55 kN/m2 (8 lbf /in.2), para aplicações com
pressão variável de descarga (como em reatores estáticos sequenciais) e para capacidades inferiores
a 425 m3/min (15.000 ft3/min) de ar livre por unidade são comumente utilizados sopradores do tipo
lóbulo com deslocamento positivo [ver Figuras 5–72(f) e (g)]. O soprador de deslocamento positivo
é uma máquina de capacidade constante e pressão variável. As unidades podem ser estranguladas,
mas o controle da capacidade pode ser obtido através do uso de unidades múltiplas ou com motores
de velocidades variáveis. Entradas robustas e silenciadores de descarga são essenciais.
Sopradores com difusores variáveis de cortinas guias internas reduzem alguns dos problemas
e considerações associados a sopradores centrífugos padrão. O projeto é baseado na operação de
um soprador centrífugo para a posição das cortinas internas de entrada e de difusores variáveis para
variar a vazão de ar e otimizar a eficiência. Os sopradores são, especificamente, indicados para ca-
sos de flutuações médias e elevadas de temperatura de entrada, pressão de descarga e de vazão. As
capacidades de sopradores variam entre 85 a 1700 m3/min (3.000 a 60.000 pé3/min) em pressões de
até 170 kN/m2 (25 lbf /in.2). Taxas de redução de até 40% da capacidade máxima são possíveis sem
redução significativa da eficiência, em uma grande faixa operacional. As desvantagens principais
são o custo inicial elevado e a necessidade de um sofisticado sistema de controle computacional
para garantir uma operação eficiente.
A curva de desempenho de um soprador centrífugo, na qual a pressão é plotada versus o vo-
lume de ar, é similar à curva de uma bomba centrífuga. Tipicamente, a curva de desempenho é do
tipo decrescente, onde a pressão decresce conforme o volume de entrada aumenta. Sopradores são
especificados sob condições padrão de ar, à temperatura de 20°C (68°F), à pressão de 760 mm
Hg (14,7 lbf /in.2) e umidade relativa de 36%. O ar padrão possui um peso específico de 1,20 kg/
m3 (0,0750 lb/pé3). A densidade do ar afeta o desempenho de um soprador centrífugo; qualquer
variação na temperatura do ar de entrada e da pressão barométrica mudará a densidade do ar com-
primido. Quanto maior a densidade do gás, maior será o aumento da pressão. Como resultado, será
necessária maior energia para o processo de compressão (ver Figura 5–73). (Valores típicos do peso
específico do ar ambiente são apresentados no Apêndice B.) Os sopradores devem ser selecionados
para possuir capacidade adequada para um dia quente de verão, além de um motor com energia
adequada para as condições mais frias do inverno. O requerimento de energia para compressão
adiabática é dado pela Equação (5–77).
150 150
–18 °C
ºC
Aumento percentual da pressão
Porcentagem de energia
–18 °C
ºC
125 125
37 °C
ºC
37 °C
ºC
100 100
75 75
0 0
25 50 75 100 125 25 50 75 100 125
Porcentagem de volume de entrada Porcentagem de volume de entrada
(a) (b)
(5–78)
O fator de atrito para tubos de aço que veiculam ar pode ser aproximado pela Equação (5–79)
(McGhee, 1991).
(5–79)
(5–80)
T To(P/Po)n (5–81)
Aeradores mecânicos
Aeradores mecânicos são, normalmente, divididos em dois grupos com base na maioria de proje-
tos ou características operacionais: aeradores com eixo vertical e aeradores com eixo horizontal.
Ambos os grupos são subdivididos em aeradores de superfície ou aeradores submersos. Com os
aeradores de superfície, o oxigênio é assimilado da atmosfera; nos submersos, o oxigênio é assimi-
lado da atmosfera, e alguns tipos, do ar ou de oxigênio puro introduzidos no fundo dos tanques. Em
qualquer dos casos, a ação de bombeamento ou de agitação dos aeradores contribui para manter o
conteúdo dos tanques de aeração misturados. Na discussão seguinte, os diversos tipos de aeradores
serão descritos, incluindo o desempenho e a energia requerida para mistura.
Aeradores mecânicos de superfície com eixo vertical. Aeradores mecânicos de super-
fície com eixo vertical são projetados para induzir vazões para cima ou para baixo através de uma
ação de bombeamento (ver Figura 5–74). Aeradores de superfície consistem de hélices submersas
ou parcialmente submersas conectadas a motores montados em estruturas flutuantes ou rígidas. As
hélices são fabricadas em aço, ferro fundido, ligas não corrosivas e plástico reforçados com fibra de
vidro, sendo utilizados para agitar vigorosamente e inserir ar no esgoto para causar uma alteração
rápida da interface ar-água e facilitar a dissolução de ar. Os aeradores superficiais podem ser clas-
sificados de acordo com o tipo de hélice utilizada – centrífugos, radiais-axiais ou axiais, ou, ainda,
de acordo com a velocidade de rotação da hélice: rotação baixa ou alta. As hélices centrífugas
pertencem à categoria de rotações baixas; os aeradores com hélices de escoamento axial operam a
rotações altas. Nos aeradores de baixa rotação, a hélice é acionada através de um redutor por um
motor elétrico [ver 5–74(a)]. O motor e o redutor são montados usualmente em uma plataforma,
que é suportada por pilares apoiados no fundo do tanque ou por vigas que atravessam o tanque. Os
aeradores de baixa rotação podem, também, ser montados em flutuadores. Nos aeradores de alta
rotação, a hélice é montada e acoplada diretamente aos elementos rotativos do motor elétrico [ver
Figura 5–74(c)]. Aeradores de alta rotação são, quase sempre, montados em flutuadores. Essas
unidades foram inicialmente desenvolvidas para utilização em lagoas onde há flutuação do nível de
água ou onde um suporte rígido seria impraticável. Aeradores superficiais podem ser obtidos em
tamanhos com 0,75 a 100 kW (1 a 150 hp).
(a) (b)
(c)
(d)
FIGURA 5–74 Aeradores mecânicos típicos: (a) esquema de aerador de superfície de baixa rotação,
(b) vista de um aerador de superfície de baixa rotação montado em flutuadores utilizados em tratamento
biológico, (c) esquema de um aerador de superfície de alta rotação e (d) vista de um aerador de superfície
de alta rotação montado em um digestor aeróbio de terra revestido.
Aeradores mecânicos submersos com eixo vertical. A maioria dos aeradores mecânicos
são do tipo de vazão ascendente que dependem de agitação violenta da superfície e de assimilação
de ar para serem eficientes. Entretanto, através de aeradores mecânicos submersos, ar ou oxigênio
puro podem, também, ser introduzidos no esgoto por difusão, abaixo da hélice ou para baixo de
aeradores radiais [ver Figura 5–75(a)]. A hélice é utilizada para dispersar as bolhas de ar e para
misturar o conteúdo do tanque. Um tubo de tiragem pode ser utilizado tanto com modelos de fluxo
ascendente como descendente para controlar o padrão de escoamento do líquido circulante dentro
do tanque de aeração [ver Figura 5–75(b)]. O tubo de arraste é um cilindro, usualmente com extre-
midades abertas, montado concentricamente à hélice. O comprimento do tubo de sucção depende
do fabricante do equipamento. Aeradores mecânicos submersos desse tipo podem ser obtidos em
tamanhos variando de 0,75 a 100 kW (1 a 150 hp).
O aerador/misturador hiperboloide [ver Figura 5–75(c)] consiste de uma hélice de escoamento
descendente com suprimento de ar ou gás através de um soprador ou de um sistema de pressão.
A separação de misturas, dispersão de gás ou alimentação de gás, resulta em eficiências signifi-
cativamente mais elevadas em comparação a aeradores autoinduzidos. OS aeradores/misturadores
hiperboloides são disponíveis em tamanhos variando entre 7,5 a 37 kW (10 a 50 hp).
Aeradores mecânicos com eixo horizontal. Os aeradores mecânicos com eixo hori-
zontal são divididos em dois grupos: superficiais e submersos. O aerador de superfície foi
padronizado com base no aerador de escova original Kessener, um equipamento utilizado para
proporcionar aeração e circulação em valos de oxidação. O aerador do tipo de escova contém
um cilindro horizontal com as cerdas montadas pouco acima da superfície da água. As cerdas
são submersas na água e o cilindro gira rapidamente, acionado por um motor elétrico, esparra-
mando o esgoto através do tanque, promovendo a circulação e assimilando ar ao esgoto. Can-
toneiras de aço, unidades de aço de outras formas, ou barras ou lâminas plásticas são, agora,
5–11 Sistemas de aeração P 425
Eixo da turbina
Turbina
Hélice
Direção do
Tubo de
escoamento
sucção
Cisalhador de ar e
mecanismo de estabilização Tubo de entrada de ar
FIGURA 5–75 Aeradores mecânicos submersos típicos: (a) tipo de turbina com alimentação suplementar de ar ou de oxigênio
introduzidos abaixo da turbina, (b) aerador do tipo de turbina equipado com um tubo de sucção com um dispersor de ar (adapta-
do de Philadelphia Mixer), (c) aerador/misturador hiperboloide (cortesia de INVENT Env. Technologies, Inc.).
utilizadas no lugar das cerdas. Um aerador superficial de eixo horizontal típico é mostrado na
Figura 5–76.
Aeradores submersos de eixo horizontal são, em princípio, similares a aeradores de superfície
com exceção de que discos ou pás conectados aos eixos rotativos são utilizados para agitar a água.
Os aeradores de discos têm sido utilizados em aplicações diversas para aeração de canais ou de
valos de oxidação. Os discos são submersos no esgoto por aproximadamente um a três oitavos do
diâmetro, penetrando na água de maneira contínua e não pulsante. Os recessos do disco introduzem
o ar retido abaixo da superfície conforme o disco gira. O espaçamento dos discos varia em decor-
rência dos requerimentos de oxigênio e de mistura do processo. Requerimentos de energia típicos
são reportados como 0,1 a 0,75 kW/disco (0,15 a 1,00 hp/disco) (WPCF, 1988).
Desempenho de aeradores. Aeradores mecânicos são avaliados em termos de taxas de trans-
ferência de oxigênio espressos em quilogramas de oxigênio por kilowatt-hora (libras de oxigênio por
cavalo vapor-hora) em condições padrão. As condições padrão correspondem à temperatura de 20°C,
o oxigênio dissolvido é 0,0 mg/L e o líquido de teste é a água limpa. O teste e a classificação são,
normalmente, efetuados em condições de regime não permanente utilizando água doce, e o líquido é
desaerado com sulfito de sódio. Aeradores de superfície comerciais variam, em termos de eficiência,
entre 1,20 a 2,4 kg O2/kWh (2 a 4 lb O2/hph). Os dados de transferência de oxigênio para diversos
tipos de aeradores mecânicos estão relacionados na Tabela 5–32. Especificações de eficiências do
desempenho de aeradores devem ser aceitas pelo engenheiro projetista apenas quando for suportado
por dados de testes reais para o modelo e dimensões específicas do aerador em consideração.
(a) (b)
FIGURA 5–76 Aeradores de eixo horizontal: (a) escova rotativa (também conhecida como escova de
Kessener) e (b) aeradores de discos.
426 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
TABELA 5–32 Faixas típicas de capacidades de transferência de oxigênio por diversos tipos de aeradores
mecânicos
Taxa de transferência, lb O2/hph Taxa de transferência, kg O2/kWh
Sistema de aeração Padrãoa Campob Padrãoa Campob
De superfície com baixa rotação 2,5–3,5 1,2–2,4 1,5–2,1 0,7–1,5
De superfície com baixa rotação e tubo 2,0–4,6 1,2–2,1 1,2–2,8 0,7–1,3
de sucção
De superfície com alta rotação 1,8–2,3 1,2–2,0 1,1–1,4 0,7–1,2
Turbina submersa com tubo de sucção 2,0–3,3 1,2–1,8 c
1,2–2,0 0,6–1,1
Turbina submersa 1,8–3,5 1,1–2,1
Turbina submersa com espalhador 2,0–3,3 1,2–1,8c 1,2–2,0 0,7–1,0
Rotor horizontal 1,5–3,6 0,8–1,8 1,5–2,1 0,5–1,1
a
Condições padrão: água limpa 20°C (68°F); a 101,325 kN/m2 (14,7 lbf /in.2); e oxigênio dissolvido inicial 0 mg/L.
b
Condições de campo: esgoto, 15°C (59°F); altitude 150 m (500 pé), 0,85, 0,9; oxigênio dissolvido de operação 2 mg/L.
c
Os valores de podem ser inferiores a 0,85; faixas reportadas variam de 0,3 a 1,1.
Alimentação Pós-
-resfriador
de ar
Resfriador
de água H2O
Oxigênio
produzido
Vaporizador
N2
Coluna
Turbina
superior
Armazenamento
de oxigênio
De B
líquido
Vaporizador “Driox” Super
aquecedor Condensador
principal
N2 descartado
Para A
Produto
Oxigênio produzido
Coluna
Tanque de inferior
equilíbrio de
B
pressões
Coletor
Pós- de gel
Abrigo do -resfriador A
filtro de sucção
Ar de
alimentação
Trocador de calor reversível
Compressor
de ar Caixa fria
Água de
reposição
Resfriador Compressor
(b) de água de ar
livre e a absorção eficiente de oxigênio não é relevante. Entretanto, devido ao custo de oxigênio
comercial, as instalações utilizadas para sua dissolução devem ser projetadas para absorver efi-
cientemente o oxigênio comercial e, também, para minimizar o consumo de energia das unidades.
Esses requerimentos eliminam as alternativas de equipamentos de aeração mais comuns.
Tempo para dissolução. Uma característica importante que deve ser considerada em um sis-
tema comercial de dissolução de oxigênio é o tempo de retenção de oxigênio. Para otimizar a ab-
sorção de oxigênio puro foi verificado que é requerido um tempo de detenção de aproximadamente
100 segundos. Além disso, duas fases de escoamento devem ser mantidas para evitar a coalescência
das bolhas de oxigênio e manter a eficiência de absorção. Infelizmente, alguns sistemas de dissolu-
ção de oxigênio puro consomem tanta energia para dissolver uma tonelada de oxigênio puro como
aeradores superficiais padrões consomem para dissolver uma tonelada de oxigênio do ar.
Cone de Speece (contator de bolha de fluxo descendente). Um sistema que incorpora
tempo de contato prolongado entre bolhas de oxigênio e taxas elevadas de transferência de oxigê-
nio é uma câmara em forma de cone, ou seja, um aerador de contato de bolhas com escoamento
descendente, designado de cone de Speece [ver Figura 5–78(a)]. A água adentra o cone pelo vértice
com uma velocidade de aproximadamente 3 m/s (10 pé/s). Essa velocidade de entrada proporciona
a energia para manter uma grande quantidade de bolhas de duas fases no cone, assegurando uma
elevada interface bolha/água e resultando em uma taxa de transferência de gás proporcionalmente
elevada. A seção transversal crescente do cone reduz a velocidade descendente da água para menos
de 0,3 m/s (1 pé/s). Como as bolhas possuem uma velocidade nominal de flutuação de aproxima-
damente 0,3 m/s, se a velocidade descendente da água é reduzida para abaixo da velocidade de
flutuação das bolhas, elas permanecerão indefinidamente no cone, satisfazendo, dessa maneira, o
tempo de detenção requerido. Entretanto, a água tem um tempo de detenção de aproximadamente
10 s, refletindo o volume relativamente pequeno do cone de reação. Esse sistema incorpora as
características necessárias de tamanho relativamente pequeno, taxa elevada de transferência de oxi-
gênio, e tempo de permanência de bolhas mais do que adequado (Speece e Tchobanoglous, 1990).
Contator de tubo em U. O outro sistema de transferência de oxigênio, que incorpora as ca-
racterísticas desejáveis para dissolução eficiente de oxigênio comercial com baixo consumo de
energia, é o tubo em U [ver Figura 5–78(b)]. A uma profundidade de 30 m (100 pé) e uma veloci-
dade de circulação de 2,5 m/s (8 pé/s), o tempo de detenção é de 25 s. Como o tempo de contato
de 25 segundos é baixo, a reciclagem do gás de saída no sistema pode ser utilizada para aumentar
o tempo de contato para aproximadamente 100 segundos, durante o qual ocorre a absorção. Os
Entrada de oxigênio
Reciclagem
de oxigênio
Coletor do
gás de saída
Entrada de
Esgoto rico
oxigênio
em oxigênio
Nuvem de
bolhas
(a) (b)
FIGURA 5–78 Sistemas de dissolução de oxigênio puro: (a) cone de Speece (contator de bolhas de
fluxo descendente) e (b) contator de tubo em U (Speece and Tchobanoglous, 1990).
430 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
requerimentos de energia são baixos porque a mistura bolha/água é bombeada através de um tubo
em U que é hidrostaticamente pressurizado devido à sua configuração vertical. O uso do tubo em U
melhora significativamente a transferência de gás. O consumo de energia é de aproximadamente 54
kWh/Mg O2 (60 kWh/ton) quando produz um efluente com concentração de oxigênio de 60 mg/L
(Speece e Tchobanoglous, 1990).
Aeração difusa convencional. A aeração difusa convencional, ou por aeradores de super-
fície, deve operar em um espaço fechado para absorver oxigênio comercial eficientemente. Uma
cobertura é, geralmente, colocada sobre o tanque de aeração para enclausular o espaço acima do
nível de água.
Pós-aeração
O requerimento para sistemas de pós-aeração foi desenvolvido recentemente com a introdução
de permissões e padrões de efluentes que incluem níveis elevados de oxigênio dissolvido (5 a 8
mg/L). Os níveis de oxigênio dissolvido se tornaram padrões para a descarga em seções de corpos
receptores com qualidade de água limitada e em águas contendo efluentes. A intenção regulatória é
garantir que níveis baixos de oxigênio dissolvido no efluente tratado não causem depressão imedia-
ta após a mistura às águas do corpo receptor. Para atender aos requerimentos de pós-aeração, três
métodos são comumente utilizados: (1) ar difuso, (2) aeração mecânica, (3) aeração em cascata e
(4) o cone de Speece, descrito anteriormente, pode, também, ser utilizado para pós-aeração e para
reaerar reservatórios de água recuperada.
Aeração por ar difuso. Em grandes estações de tratamento, pode ser mais apropriado utilizar
sistemas de aeração difusa [ver Figura 5–79(a)]. Podem ser utilizados difusores de bolhas finas ou
de bolhas grossas. Dependendo da profundidade de submergência, as eficiências de transferência
de 5 a 8% podem ser obtidas com difusores não porosos, e 15 a 25% com difusores de poros finos.
Após o tratamento secundário, os fatores alfa devem oscilar de 0,85 a 0,95 para sistemas não poro-
sos e de 0,70 a 0,85 para sistemas de poros finos.
FIGURA 5–79 Sistemas de pós-aeração: (a) ar difuso, (b) aeração em cascatas com degraus e (c) cone de Speece.
5–11 Sistemas de aeração P 431
(continua)
432 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
(continuação)
5. Reescreva a equação derivada no item 4 em um formato mais prático. Note que a densi-
dade do ar é 1,23 kg/m3 e que o ar contém aproximadamente 23% de oxigênio por peso.
A taxa de massa na qual o oxigênio é introduzido, expressa em g/s, é
Solução – Parte 2
6. Estime a quantidade de ar requerido utilizando a expressão desenvolvida no item 5.
Comentário
O valor de Qa é, usualmente, multiplicado por um fator igual a 1,1 para considerar que o valor
de saturação de oxigênio no esgoto é de aproximadamente 95% da água destilada e para levar
em conta a diferença nas taxas de transferências.
5–11 Sistemas de aeração P 433
TABELA 5–34 Informações típicas para projeto de sistemas de pós aeração em cascata
Aeração por cascata. Se restrições locais e condições hidráulicas permitem escoamento por
gravidade, o método mais barato para aumentar os níveis de oxigênio dissolvido é através da uti-
lização de um sistema de aeração por cascata [ver Figura 5–79(b)]. A aeração por cascata consiste
em utilizar a carga disponível para criar turbulência conforme o esgoto cai na forma de filmes finos
sobre degraus de concreto. O desempenho depende do nível inicial de oxigênio dissolvido, do nível
de oxigênio dissolvido requerido para a descarga e da temperatura do esgoto. Informação típica so-
bre projetos é apresentada na Tabela 5–34. Nos casos nos quais a instalação de aeração por cascata
é conectada à câmara de contato de cloro, a estrutura de pós aeração pode ser construída igual à
largura da bacia de contato de cloro, para facilitar a construção.
O método mais comumente utilizado para determinar a altura requerida para a cascata é ba-
seada nas seguintes equações desenvolvidas por Barrett (1960).
unidades SI (5–83a)
(continuação)
Solução
1. Determine a concentração do oxigênio dissolvido de saturação nas temperaturas do esgoto.
a. Do Apêndice E, o oxigênio dissolvido a 20°C 9,09 mg/L e 8,26 mg/L a 25°C.
2. Calcule a altura da cascata para T 20°C utilizando a Equação (5–83a).
a. Calcule a relação de déficit.
R relação de déficit
Comentário
O aumento da temperatura do esgoto aumenta a relação de déficit de oxigênio dissolvido afe-
tando, portanto, a altura da cascata. As temperaturas máximas do esgoto devem ser verifica-
das para garantir que a altura da cascata não seja subdimensionada. A dimensão física de cada
degrau dependerá das condições locais, devendo ser dimensionada em relação aos valores
típicos dados na Tabela 5–34. Se fosse selecionada uma altura de 300 mm (12 polegadas), o
número requerido de degraus seria igual a 12.
Aeração mecânica. Para pós aeração são comumente utilizados dois tipos principais de equipa-
mentos: aeradores de superfície de baixa rotação e aeradores de turbina. Aeradores de superfície de
baixa rotação são preferidos porque são, usualmente, os mais econômicos, exceto quando taxas ele-
vadas de transferência de oxigênio são requeridas. Para taxas elevadas de transferência de oxigênio
são preferíveis as turbinas submersas. A maioria das instalações consiste de duas ou mais turbinas
dispostas em tanques retangulares. Os tempos de aeração para pós aeração, utilizando tanto aeradores
mecânicos como de ar difuso, são, usualmente, de 10 a 20 minutos em condições de vazões de pico.
Aeração com o cone de Speece. Em pós aeração com um cone de Speece uma parte da va-
zão é oxigenada e, em seguida, misturada novamente com a descarga principal. Em reservatórios
abertos para armazenamento de água recuperada, podem ocorrer problemas devido à estratificação
térmica, baixas concentrações de oxigênio dissolvido e liberação de maus odores, principalmente
de sulfeto de hidrogênio (ver Seção 13–4). O cone de Speece, que apresenta uma taxa muito ele-
vada de transferência de oxigênio e é mostrado na Figura 5–79(c), é adequado para a aeração de
reservatórios e para evitar estratificação térmica. Para a aeração de reservatórios pode ser utilizado
ar comprimido no lugar de oxigênio de alta pureza.
Problemas e tópicos de discussão P 435
5–6 Se o efluente de um reator completamente misturado, em regime permanente, utilizado como flocu-
lador, contém 3 partículas/unidade de volume, determine a concentração de partículas no efluente 5
min após o início do processo e antes que condições de regime permanente sejam atingidas. Assuma
que o influente contenha 10 partículas/unidade de volume, o tempo de detenção no reator é igual a 10
min e se aplica cinética de primeira ordem (rN kN).
5–7 Projetar um sistema de floculação por ar. Se for utilizado um valor de G de 60 s 1, estime a vazão de
ar que será necessária para uma câmara de floculação com 200 m3. Assuma que a profundidade da
câmara de floculação será de 4 m e que o ar é liberado a 0,25 m acima do fundo do tanque.
5–8 Determine a vazão de ar requerida para efetuar a operação de floculação do Exemplo 5–3 pneumati-
camente. Assuma que o ar será liberado a uma profundidade de 3 m.
5–9 Derive a lei de Stokes igualando a Equação (5–23) à massa de partículas.
5–10 Determine a velocidade de sedimentação em m/s, de uma partícula de areia com peso específico de
2,65 e diâmetro de 1 mm. Assuma que o número de Reynolds é 275.
5–11 Prepare uma tabela para computar a velocidade de sedimentação de uma partícula esférica para os
dados fornecidos no Exemplo 5–4. Quais são os valores do número de Reynolds e os coeficientes de
arrasto necessários para fazer com que as velocidades assumidas estejam de acordo com as velocida-
des calculadas?
5–12 Projete uma instalação de remoção de areia do tipo vórtice para uma vazão de pico de 40.000 m3/d.
Não foi efetuado qualquer programa de amostragem e o projeto deve ser baseado na remoção de par-
436 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
tículas de areia com um valor assumido de DEA (dimensão equivalente da areia) de 106 m. Se essa
instalação fosse localizada em uma área que apresenta areia fina, qual seria a porcentagem esperada
de areia removida? Para conseguir 90% de remoção de areia, quais ajustes seriam necessários no
projeto da instalação?
5–13 Projete uma caixa de areia aerada para uma estação com vazão média de 15.000 m3/d e uma vazão
de pico horário de 40.000 m3/d. Determine a quantidade de ar necessária e a pressão na descarga dos
sopradores. Permita uma perda de 250 mm nos difusores, acrescente a submergência e mais 400 mm
correspondente à perda na tubulação e nas válvulas. Determine a energia necessária. Utilize uma efi-
ciência de soprador de 70%. Calcule a conta mensal de energia, assumindo uma eficiência do motor
de 90% e um custo de energia de $0,12/kWh.
5–14 Projete uma câmara de areia aerada para uma vazão média de esgoto de 0,3 m3/s e uma vazão de pico
de 1,0 m3/s. Assuma que o tempo de detenção à vazão de pico é igual a 3,0 min, 4,0 min, e 5,0 min
(tempo de detenção a ser selecionado pelo instrutor). Determine as dimensões das caixas de areia e a
quantidade total de ar requerido.
5–15 Discuta as vantagens e desvantagens de caixas de areia aeradas versus caixas de areia do tipo vórtice.
Cite três referências.
5–16 Determine a eficiência de remoção de uma bacia de sedimentação com uma velocidade crítica Vo de
2 m/h, tratando um esgoto contendo partículas cujas velocidades de sedimentação são distribuídas
conforme mostrado na tabela abaixo (número da amostra a ser selecionada pelo instrutor). Plote o
histograma para o esgoto influente e efluente.
Número de partículas
Amostra
Vmédia, m/h 1 2 3
0,0–0,5 10 20 20
0,5–1,0 29 100 40
1,0–1,5 47 130 80
1,5–2,0 65 100 120
2,0–2,5 74 70 100
2,5–3,0 60 45 70
3,0–3,5 28 28 20
3,5–4,0 13 16 10
4,0–4,5 5 7 3
5–17 A taxa de vazão através de um clarificador ideal é de 8000 m3/d, o tempo de detenção é de 1 h e a pro-
fundidade é de 3 m. Se uma bandeja horizontal móvel disposta ao longo do clarificador é colocada a 1
m abaixo da superfície da água, determine a porcentagem de remoção e partículas com velocidade de
sedimentação de 1 m/h. A eficiência de remoção do clarificador poderia ser melhorada modificando
a posição da bandeja? Se for possível, onde a bandeja seria colocada e qual seria a eficiência máxima
de remoção? Que efeito teria movendo a bandeja se a velocidade de sedimentação da partícula fosse
igual a 0,3 m/h?
5–18 No Exemplo 5–4, as velocidades de sedimentação de partículas, assumidas e calculadas, não apresen-
taram os mesmos resultados. Continue o processo de iterações para determinar a verdadeira veloci-
dade de sedimentação.
5–19 Determine, para uma suspensão floculenta, a eficiência de remoção em uma bacia de 3 m de profun-
didade com uma taxa de escoamento superficial Vo igual a 3 m/h utilizando os dados de sedimentação
coletados em laboratório, apresentados na tabela seguinte.
Problemas e tópicos de discussão P 437
5–20 Uma bacia de sedimentação foi melhorada através da instalação de placas quadradas inclinadas com
2,0 m (6,6-pé) espaçadas de 75 mm (3,0 polegadas). O ângulo de inclinação das placas pode ser de
40, 50 ou 60°. Assumindo que a operação da bacia de sedimentação pode ser feita tanto no sentido da
corrente como em contracorrente, determine qual é o arranjo mais eficiente.
5–21 Os dados abaixo foram obtidos através de um teste efetuado em um cilindro de 3 m. A concentração
inicial de sólidos era de 3600 mg/L. Determine a área requerida de espessador para uma amostra (a
ser selecionada pelo instrutor) para a concentração Cu de 11.000 ou 12.000 mg/L (a ser selecionada
pelo instrutor) com uma vazão de 1500 m3/d.
Altura da interface, m
Amostra
Tempo, min 1 2 3
0 3,0 3,0 3,0
5 2,0 2,2 2,3
10 1,35 1,6 1,75
20 0,75 1,0 1,25
30 0,5 0,7 0,9
40 0,35 0,5 0,7
50 0,25 0,4 0,6
60 0,2 0,32 0,5
5–22 Projete um tanque de sedimentação circular com fluxo radial para uma cidade com população pro-
jetada de 45.000. Assuma que a vazão de esgoto é de 400 L/capitad. Projete para um tempo de
detenção de 2 horas a uma vazão média. Determine a profundidade e o diâmetro do tanque para
produzir uma taxa de escoamento superficial de 36 m3/m2d para a vazão média. Assuma dimensões
padronizadas para o tanque utilizar mecanismos fabricados com diâmetros incrementais de 1,0 m e
com profundidades incrementais de 0,5 m.
5–23 Um tanque de sedimentação retangular tem uma taxa de escoamento superficial de 30 m3/m2d e
dimensões de 2,75 m de profundidade por 6 m de largura e 15 m de comprimento. Determine se partí-
culas com diâmetros de 0,1 mm e um peso específico de 2,5 serão ou não arrastados do fundo. Utilize
f 0,03 e k 0,04.
5–24 Determine o aumento percentual nas taxas de cargas hidráulicas e de sólidos de decantadores primá-
rios de uma estação de tratamento quando 200 m3/d de excesso de lodos ativados sedimentado con-
tendo 2000 mg/L de sólidos suspensos é descarregado nas instalações primárias para espessamento.
A vazão média da estação é de 20.000 m3/d e a concentração de sólidos suspensos é de aproximada-
mente 350 mg/L. A taxa de escoamento superficial de projeto para os decantadores primários sem
receber os sólidos para adensar é de 32 m3/m2d e o tempo de detenção é 2,8 h. A taxa adicional de
carga irá afetar o desempenho das instalações de sedimentação primária? Documente as bases para a
sua resposta.
438 P Capítulo 5 Processos unitários físicos
5–25 Prepare uma tabela e compare os dados de, no mínimo, de três referências relativas aos seguintes
parâmetros de projeto de tanques de sedimentação primária: (1) tempo de detenção (com e sem
pré-aeração); (2) remoção da DBO esperada; (3) remoção de sólidos suspensos esperada; (4) velo-
cidade horizontal média; (5) taxa de escoamento superficial em m3/m2d; (6) taxa de descarga do
vertedor efluente por unidade de comprimento; (7) tamanho da partícula orgânica removida; (8)
relação de comprimento para largura (tanques retangulares); (9) profundidade média. Relacionar
todas as referências.
5–26 Uma estação de tratamento de tamanho médio está em fase de projeto, sendo considerados tanques de
sedimentação circulares e retangulares. Que fatores devem ser considerados na avaliação e seleção do
tipo de tanque? Selecione as vantagens e desvantagens para cada tipo. Cite pelo menos três referên-
cias (após 2000).
5–27 Compare flotação por ar dissolvido e sedimentação discutindo os parâmetros seguintes: (a) tempo de
detenção, (b) taxa de escoamento superficial, (c) uso de energia, (d) eficiência e (e) aplicação mais
favorável para cada tipo.
5–28 Utilizando um dos três conjuntos de dados (a ser selecionado pelo instrutor), projete um sistema de
espessamento por flotação por ar dissolvido para espessar os sólidos a 4% de concentração.
Conjuntos de dados
1 2 3
5–29 Os dados seguintes foram obtidos através de um programa de testes projetados para avaliar um siste-
ma novo de aeração por ar difuso. Utilizando esses dados, determine o valor de KLa a 20°C e a con-
centração de oxigênio dissolvido em equilíbrio no tanque de testes. O programa de testes foi efetuado
utilizando água limpa a uma temperatura de 24°C.
5–30 Se o volume do tanque de testes utilizado para avaliar o sistema de aeração relatado no Problema
5–29 fosse igual a 100 m3 e a vazão de ar fosse igual a 2 m3/min, determine a eficiência máxima de
transferência de oxigênio a 20°C e 1,0 de atmosfera.
5–31 Utilizando a equação desenvolvida no Exemplo 5–15, estime a vazão de ar, em m3/min, requerida
para aumentar o conteúdo de oxigênio do efluente clorado de zero a 4 mg/L. A vazão do efluente é
igual a 20.000 m3/d. Assuma que a eficiência de transferência seja 6% e a temperatura 15°C. Qual é o
requerimento de ar quando a temperatura é 25°C?
Referências P 439
5–32 Equipamentos alternativos de aeração por ar difuso estão sendo considerados para instalação com
uma submergência de 4,5 m em um tanque de aeração de uma estação de tratamento de lodos ativa-
dos. O oxigênio requerido para tratamento biológico é 7000 kg/d. Determine a taxa padrão de trans-
ferência de oxigênio e o requerimento teórico de ar para difusores de cúpula de cerâmica, instalados
em um padrão de grade, em comparação a difusores não porosos, que são instalados em um sistema
de espiral duplo. A temperatura do esgoto é de 20°C e os fatores são 0,64 para cúpulas de cerâmica
e 0,75 para difusores não porosos, respectivamente.
5–33 Utilizando os dados do Problema 5–29 e uma temperatura do esgoto no inverno de 10°C, determine
os requerimentos teóricos de ar para operação em condições de inverno. Como a seleção do equipa-
mento será afetada quando estiver submetida a ambas as condições de verão e de inverno?
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Processos unitários químicos
REFERÊNCIAS 529
GLOSSÁRIO
Termo Definição
Absorção Processo pelo qual átomos, íons, moléculas e outros constituintes são transferidos
de uma fase e distribuídos uniformemente em outra fase (ver também adsorção).
Adsorção Processo pelo qual átomos, íons, moléculas e outros constituintes são transferidos
de uma fase e se acumulam na superfície de outra fase (ver também absorção). As
substâncias se acumulam na fase sólida devido a diversas forças de atração física
e de ligações químicas.
Adsorvente Material sólido no qual ocorre a adsorção.
Adsorvido Composto em suspensão em uma fase líquida ou gasosa que é depositado na
superfície de um material adsorvente.
Carvão ativado Substância comumente utilizada em processos de adsorção para a remoção de
diversos constituintes da água e do ar. Carvão ativado é derivado de um material
de base orgânica, preparado (ativado) utilizando um processo de pirólise a
temperatura e pressão elevados, resultando em propriedades que permitem
transferência de massa.
Capítulo 6 Processos unitários químicos P 443
Termo Definição
Coeficiente de extinção Fração de radiação UV atenuada conforme a luz UV passa através da água que
contém substâncias dissolvidas que absorvem energia. O coeficiente de extinção
é, também, conhecido como absortividade molar.
Compostos orgânicos sintéticos (COSs) Compostos de origem sintética utilizados extensivamente em processos industriais,
integrando numerosos produtos de consumo manufaturados. A presença de
COSs na água potável, assim como em água tratada, é preocupante devido à
toxicidade e a efeitos desconhecidos.
Constituinte traço Classificação diversa de constituintes encontrados em concentrações baixas em
esgoto bruto e que não são facilmente removíveis utilizando tratamento secundário
convencional, sendo, portanto, encontrados em efluentes tratados e em sistemas
ambientais de água. Constituintes traços são preocupantes devido à toxicidade
conhecida ou suspeita associada a muitos desses compostos, que devem,
eventualmente, ser removidos durante a recuperação da água, dependendo dos
requerimentos de reúso.
Desorção Liberação de um gás volátil de uma fase líquida, como em extração por gás, ou a
liberação de um composto previamente adsorvido de um material adsorvente.
Expurgadores (scavengers) Em sistemas de oxidação avançada, substâncias que reagem preferencialmente
com espécies e radicais oxidantes, reduzindo, tipicamente, a taxa de degradação
do composto de interesse e a eficiência geral do processo.
Extinção O uso de meios físicos ou químicos para interromper uma reação química.
Extração de gás Processo que remove um constituinte volátil de uma fase líquida, como a remoção
de amônia da água em uma coluna com enchimento, utilizando ar como a fase
gasosa.
Fotólise Processo utilizado para o tratamento de constituintes orgânicos traços, onde
uma fonte de luz UV é utilizada para fornecer prótons que são absorvidos pelo
constituinte e subsequentemente se torna instável e reage ou se divide.
Isoterma Função matemática utilizada para relacionar a quantidade de um determinado
constituinte adsorvido da água por concentração de adsorvente, a uma
determinada temperatura.
Matéria orgânica natural (MON) Parâmetro sub-rogado utilizado para descrever a matriz complexa de constituintes
orgânicos de origem biológica encontrada na água, tipicamente quantificada
como carbono orgânico total (COT). Ver, também, o Capítulo 2.
Matriz de água Termo utilizado para uma determinada água e a todos os seus constituintes que
definem as propriedades, físicas, químicas e biológicas da solução
Mineralização Oxidação e conversão completa de substâncias orgânicas a formas inorgânicas,
como dióxido de carbono, água e ácidos minerais, através da ação de reações
redox químicas e biológicas.
Osmose reversa (OR) Rejeição de constituintes dissolvidos por difusão preferencial utilizando uma
membrana semipermeável operada sob pressão (ver Capítulo 11).
Oxidação avançada Processo de oxidação química que depende do radical hidroxila (OH) para a
destruição de constituintes orgânicos encontrados na água. Diversos processos
identificados são capazes de produzir OH, incluindo combinações de ozônio,
peróxido de hidrogênio e luz ultravioleta.
Potencial elétrico Força motora para a troca de elétrons entre constituintes durante uma reação
redox, expresso em volts, com relação ao eletrodo de hidrogênio padrão.
Processos de separação Processos físicos e químicos de transferência de massa utilizados em recuperação
de água, que efetuam o tratamento pelo isolamento de constituintes específicos.
Os constituintes isolados são concentrados em uma corrente de esgoto que deve
ser submetida a ações subsequentes (ver Capítulo 11).
Reação redox Reação total resultante da combinação de uma reação de redução e de oxidação.
Reações de oxidação Componente de uma reação de redox envolvendo a perda de elétrons. A reação
de oxidação pode ser obtida de meias-reações tabuladas (por convenção, meias-
reações são consideradas como reações de redução) pela inversão da direção da
meia-reação e multiplicando o potencial elétrico por 1.
444 P Capítulo 6 Processos unitários químicos
Termo Definição
Reações de redução Componente de uma reação redox envolvendo o ganho de elétrons. A reação de
redução pode ser obtida diretamente de meias-reações tabuladas.
Reativação Desorção de um constituinte de um material adsorvente seguido pela combustão
dos constituintes adsorvidos remanescentes, resultando em restauração da
capacidade adsortiva.
Regeneração Desorção de constituintes de um material adsorvente por restauração parcial da
capacidade adsortiva.
Rendimento quântico Quantidade utilizada para descrever a frequência com a qual a absorção
de fótons resulta em uma reação de fotólise e é específica ao composto e ao
comprimento de onda.
Troca iônica Processo utilizado para a remoção de constituintes orgânicos dissolvidos quando
íons de uma determinada espécie são removidos de uma fase sólida por íons de
uma espécie diferente de uma solução.
Processos utilizados para tratamento de esgoto nos quais a alteração é efetuada por reações químicas
são conhecidos como processos unitários químicos. Na área de tratamento de esgoto, os processos
unitários químicos são, comumente, utilizados em conjunção com os processos unitários físicos,
discutidos no Capítulo 5, e os processos unitários biológicos, discutidos nos Capítulos 7 a 10, para
atender a objetivos específicos de tratamento. A finalidade deste capítulo é apresentar e discutir (1)
a função dos processos unitários químicos no tratamento de esgoto, (2) os fundamentos da coagu-
lação química, (3) as reações de precipitação que ocorrem quando diversos produtos químicos são
adicionados para melhorar o desempenho das instalações de tratamento de esgoto, (4) as reações
químicas envolvidas na precipitação de fósforo do esgoto, (5) a precipitação de amônia e de fósforo,
(6) a precipitação de metais pesados e de substâncias orgânicas dissolvidas, (7) a oxidação química,
(8) a oxidação avançada, (9) a fotólise, (10) a neutralização química, controle de incrustação e esta-
bilização, e (11) a estocagem de produtos químicos, dosagem, tubulações e sistemas de controle. A
troca iônica e a adsorção, algumas vezes classificadas como processos unitários químicos, mas que,
de maneira mais correta, devem ser classificadas como processos de separação, uma vez que são ba-
seadas em transferência de massa, são consideradas no Capítulo11. A desinfecção química, um pro-
cesso unitário químico importante e muito utilizado, é considerada separadamente no Capítulo 12.
FIGURA 6–1 Instalação típica de clarificação com cal após tratamento secundário (utilizado como pré-
-tratamento) para tratamento avançado de esgotos com osmose reversa. O armazenamento da cal é feita
no silo mostrado na parte posterior do edifício, que é utilizado para a dissolução da cal, e as unidades
de osmose reversa são utilizadas para o tratamento avançado. Filtros profundos de material granular são
mostrados à direita do clarificador de cal na parte anterior da figura.
aumentados. Similarmente, quando cloro é adicionado ao esgoto, o SDT do efluente aumenta po-
dendo aparecer subprodutos da desinfecção. Se o esgoto tratado será reusado ou se existem limites
estritos de descarga para constituintes específicos, o aumento em constituintes dissolvidos poderá
ser um fator importante. Esse aspecto aditivo está em contraste com as operações unitárias físicas e
os processos unitários biológicos, que podem ser descritos como subtrativos, no qual os constituin-
tes do esgoto são removidos sem que ocorra um aumento correspondente de constituintes dissolvi-
dos. Uma desvantagem potencial dos processos de precipitação química é o manuseio, o tratamento
e a disposição do lodo que é produzido. Outra desvantagem dos processos unitários químicos é que
o custo da maioria dos produtos químicos está relacionado ao custo de energia. Como resultado, o
uso de produtos químicos afeta a pegada total de carbono do processo de tratamento de esgoto de-
vido à energia requerida para produzir e transportar produtos químicos. Os impactos da utilização
de produtos químicos na pegada de carbono e a sustentabilidade total do processo são considerados
no Capítulo 16. Em alguns casos, como o de atender a limites restritos de descarga em relação a
nutrientes ou a constituintes específicos, o uso de produtos químicos será inevitável.
cipitação química devem, apenas, ser consideradas como aproximações, uma vez que as reações
não se desenvolvem, necessariamente, como indicado.
As reações de coagulação são, constantemente, incompletas, e diversas reações laterais com
outras substâncias presentes no esgoto podem ocorrer, dependendo das características da matriz de
água, que varia diariamente e sazonalmente. Para introduzir o tema de coagulação química os tópi-
cos seguintes são discutidos nesta seção: (1) definições básicas de coagulação e de floculação, (2)
natureza das partículas no esgoto, (3) desenvolvimento e medida das cargas superficiais, (4) consi-
derações sobre interações partícula-partícula, (5) desestabilização de partículas com íons potencial-
mente determinantes e eletrólitos, (6) desestabilização de partículas e agregação com polieletrólitos
e (7) desestabilização de partículas e remoção com íons de metal hidrolisados. A discussão seguinte
tem o objetivo de servir como uma introdução à natureza do fenômeno e dos processos envolvidos
no processo de coagulação.
Definições básicas
O termo coagulação química, utilizado neste livro, inclui todas as reações e mecanismos envol-
vidos na desestabilização química de partículas e na formação de partículas maiores através da
floculação pericinética (agregação de partículas com dimensões entre 0,001 e 1 mm). Coagulante
e floculação são termos que também são encontrados na literatura sobre coagulação. Em geral,
um coagulante é um produto químico que é adicionado para desestabilizar as partículas coloidais
do esgoto, de maneira a produzir formação do floco. Um floculante é um produto químico, tipica-
mente orgânico, adicionado para melhorar o processo de floculação. Coagulantes típicos incluem
polímeros orgânicos naturais e sintéticos, sais de metais, como alúmen ou cloreto férrico, e sais de
metal pré-hidrolisados, como cloreto de polialumínio, cloreto de poliferro e cloreto de polidialil-
dimetilamônea (poliCDADMA). Floculantes, principalmente polímeros orgânicos, são, também,
utilizados para melhorar o desempenho de filtros granulares e no desaguamento de biossólidos di-
geridos. Nessas aplicações, os floculantes químicos são identificados como auxiliares de filtração.
Note que substâncias inorgânicas, como bentonita, são utilizadas para melhorar o desempenho de
sistemas de filtração em algumas aplicações industriais.
O termo floculação é utilizado para descrever o processo no qual a dimensão das partículas au-
menta como resultado de colisões de partículas. Como visto no Capítulo 5, há dois tipos de flocu-
lação: (1) microfloculação (também conhecida como floculação pericinética) na qual a agregação
de partículas é efetuada pelo movimento térmico aleatório de moléculas do fluido, conhecido como
movimento Browniano, e (2) macrofloculação (também conhecida como floculação ortocinética)
na qual a agregação de partículas é efetuada através da introdução de gradientes de velocidade e
mistura no fluido contendo as partículas a serem floculadas. Outra forma de macrofloculação é efe-
tuada por sedimentação diferencial na qual grandes partículas assimilam pequenas partículas para
formar partículas maiores. A finalidade da floculação é produzir partículas por meio de agregação,
que possam ser removidas por meio de procedimentos baratos de separação de partículas como
sedimentação gravitacional e filtração. Uma vez mais, como no Capítulo 5, a macrofloculação é
inefetiva até que partículas coloidais atinjam uma dimensão de 1 a 10 mm através de contatos pro-
duzidos por movimento Browniano e agitação lenta.
(1) número e dimensões de partículas, (2) forma e flexibilidade das partículas, (3) propriedades
de superfície, incluindo características elétricas, (4) interações partícula-partícula e (5) interação
partícula-solvente (Shaw, 1966). A dimensão e número de partículas, a forma e flexibilidade de
partículas e as interações partículas-solvente são consideradas abaixo. Devido à sua importância, o
desenvolvimento e a medida da carga superficial e interações partícula-partícula são consideradas
separadamente.
Dimensão e número de partículas. A dimensão de partículas coloidais no esgoto consi-
derada neste livro varia, tipicamente, entre 0,01 e 1 mm. Como notado no Capítulo 2, alguns pes-
quisadores classificaram as dimensões de partículas coloidais nessa faixa. O número de partículas
coloidais em esgoto bruto e após sedimentação primária está tipicamente na faixa de 106 a 1012/
mL. É importante saber que o número de partículas irá variar em função do local onde a amostra é
coletada na estação de tratamento. O número de partículas, conforme será discutido mais tarde, é
importante em relação ao método a ser utilizado para a sua remoção.
Forma e flexibilidade das partículas. As formas de partículas encontradas em esgoto po-
dem ser descritas como: esféricas, semiesféricas, elipsoidal de formatos diversos (p.ex., prolatos
e oblatos), bastões de diversos comprimentos e diâmetros (p.ex., E. coli), discos e semelhantes a
discos, cordas de comprimentos diversos e espirais aleatórios. Moléculas orgânicas grandes são,
constantemente, encontradas em formas de espirais que podem ser comprimidas, desenroladas ou
quase lineares. A forma de algumas partículas de flocos grandes é, comumente, descrita como
fractal. A forma das partículas será variável dependendo do processo de tratamento que está sendo
avaliado no local. A forma das partículas afetará as propriedades elétricas, as interações partícula-
-partícula e as interações partícula-solvente. Devido às diversas formas de partículas encontradas
no esgoto, o tratamento teórico das interações partícula-partícula é, no máximo, uma aproximação.
Interações partícula-solvente. Há, em líquidos, três tipos genéricos de partículas coloidais:
hidrofóbicas ou repelentes de água, hidrofílica ou atrativas à água e coloides de associação. Os dois
primeiros tipos são baseados na atração da superfície da partícula por água. Partículas hidrofóbicas
possuem atração relativamente pequena pela água, enquanto que partículas hidrofílicas possuem
uma grande atração pela água. Entretanto, deve ser notado que, até certo limite, a água pode inte-
ragir mesmo com partículas hidrofóbicas. Algumas moléculas de água geralmente adsorvem em
superfícies hidrofóbicas típicas, mas a reação entre água e coloides hidrofílicos ocorre de manei-
ra muito maior. O terceiro tipo de coloide é conhecido como coloide de associação, constituído,
tipicamente, de agentes tenso ativos, como sabões, detergentes sintéticos e corantes que formam
agregados organizados, conhecidos como micelas.
A dupla camada elétrica. Quando o coloide ou a superfície fica carregada, alguns íons de
carga contrária (conhecidos como contraíons) aderem à superfície (ver Figura 6–2). Os íons são
mantidos na superfície por forças de atração eletrostáticas e de van der Waals, fortes suficiente-
mente para sobreporem-se à agitação térmica. Envolvendo essa camada fixa de íons se forma uma
camada difusa de íons que é incapaz de formar uma dupla camada compacta devido à agitação tér-
mica, conforme ilustrado na Figura 6–2. A camada elétrica dupla é uma camada compacta (Stern)
na qual o potencial decresce de co a cs, e de uma camada difusa na qual o potencial decresce de cs
a 0 no corpo da solução.
Medida do potencial superficial. Se a partícula é colocada em uma solução eletrolítica, e
uma corrente elétrica passa através da solução, a partícula, dependendo de sua carga superficial,
será atraída a um ou a outro dos eletrodos, arrastando com ela uma nuvem de íons. O potencial na
superfície da nuvem (chamada de superfície de cisalhamento) é, algumas vezes, medida nas opera-
ções de tratamento de esgoto. O valor medido é comumente chamado de potencial zeta. Entretanto,
o potencial zeta deve corresponder, teoricamente, ao potencial medido na superfície que encerra a
camada fixa de íons agregada à partícula, como mostrado na Figura 6–2. A utilização do potencial
zeta medido é limitado porque ele varia com a natureza da matriz da água.
+ Plano de cisalhamento
– +
+ –
– – –
+
–
+ –
– – +
+ +
–
+ +
+ – – –
–
+ –
+ –
– + + +
+
+
+ – +
–
+
co
Plano de cisalhamento
Potencial
cs
Potencial
de Nernst
z
Potencial
de Stern
Potencial
Zeta
Distância
Interações partícula-partícula
As interações partícula-partícula são importantes por provocar agregação através do movimento
Browniano. A teoria que foi desenvolvida para descrever as interações partícula-partícula é baseada
na consideração da interação entre duas placas planas carregadas e entre duas esferas carregadas
(Deryagin e Landau, 1941; Verwey e Overbeek, 1948). Como nenhum desses desenvolvimentos
são aplicáveis diretamente a partículas encontradas no esgoto, como previamente descrito, a análise
das duas placas planas será utilizada para finalidades ilustrativas. A interação entre as duas placas
é ilustrada na Figura 6–3. Como mostrado, as duas forças principais envolvidas são as forças de
repulsão, devido às propriedades elétricas das placas carregadas e às forças de van der Waals de
atração. Deve ser notado que as forças atrativas de van der Waals não são exercidas até que as duas
placas sejam colocadas bem próximas uma da outra.
A energia total líquida mostrada na Figura 6–3 pelas linhas sólidas é a diferença entre as forças
de repulsão e de atração. As duas condições, relativas às forças de repulsão, são ilustradas na Figura
6–3. Sendo assim, para a condição 1, as forças de atração serão predominantes a distâncias curtas
e longas. A curva de energia líquida para a condição 1 contém um máximo repulsivo que deve ser
superado se as partículas, representadas pelas duas placas, tiverem que ser mantidas juntas pela
força de atração de van der Waals. Na condição 2, não existe barreira de energia para ser superada.
Claramente, se partículas coloidais devem ser removidas por microfloculação, as forças repulsivas
devem ser reduzidas. Embora partículas de flocos possam se formar a longas distâncias, conforme
mostrado pela curva de energia líquida na condição 2, a força líquida que mantém essas partículas
juntas é uma força fraca, e as partículas de flocos formadas podem ser rompidas facilmente.
Desestabilização de partículas com íons e eletrodos determinadores de poten-
cial. Para obter agregação de partículas através de microfloculação, devem ser tomadas me-
didas para reduzir a carga de partículas ou anular o efeito dessas cargas. O efeito de carga pode
ser anulado por (1) adição de íons determinadores de potencial, que serão agregados ou que re-
agirão com a superfície do coloide para diminuir a carga da superfície e (2) adição de eletrólitos
que possuem capacidade de reduzir a espessura da camada elétrica difusa, reduzindo, assim, o
potencial zeta.
Curva de repulsão 1, c R 1
(p.ex., N = 10–3, z = 1)
Repulsão
Curva de repulsão 2, cR 2
(p.ex., N = 10–2, z = 2)
Energia potencial
Energia líquida 1, cR 1 – cA
Energia líquida 2, cR 2 – cA
Atração
FIGURA 6–3 Esquema da interação partícula-partícula com base na repulsão devido à carga superficial
da partícula e às forças de atração de van der Waals. N concentração, z carga.
6–2 Fundamentos da coagulação química P 451
, , (6–2)
+ co
Approximate location
Local aproximado of shear
do plano de plane
cisalhamento
Effect
Efeito of
doincreasing
aumento dasolution
concentração
Energia potencial da superfície
deelectrolyte
eletrólitosconcentration
da solução
Contraíons
Adsorbed adsorvidos
counterionsna on
superfície
particle
surface results
de partículas resultainem
lowering
reduçãotheda
surface
carga charge
da superfície
Efeitos
Effects de contraíonscounterions
of adsorbed adsorvidos nas
on surface properties
propriedades of particle
superficiais de partículas
Contraíons adsorvidoson
Adsorbed counterions naapsuperfícienda
ap
surface
partícularesults
resultainem
charge re de carga.
reversão re
– co
Distância
FIGURA 6–4 Esquema dos efeitos da adição de contraíons e de eletrólitos a soluções contendo partícu-
las coloidais carregadas.
452 P Capítulo 6 Processos unitários químicos
+ co
Carga superficial
Energia cinética térmica, kT
da partícula
0
– co
100
residual, %
Turbidez
0
Dosagem de contraíons
FIGURA 6–5 Esquema de reversão da carga superficial da partícula devido à adição de contraíons.
dição 2 da Figura 6–3 e na Figura 6–4. A concentração de um eletrólito que é necessário para
desestabilizar uma suspensão coloidal é conhecida como concentração de coagulação crítica
(CCC). O aumento da concentração de um eletrólito indiferente não resultará na reestabilização
das partículas coloidais. Como no caso de adição de íons determinadores de potencial, o uso de
eletrólitos também não é viável em tratamento de esgoto. Conforme será discutido posteriormen-
te, alterações na carga da partícula ocorrerão quando produtos químicos forem adicionados para
ajustar o pH do esgoto, visando otimizar o desempenho de íons hidrolisados de metal utilizados
como coagulantes.
FIGURA 6–6 Esquema de formação de pontes entre partículas com polímeros orgânicos.
a remoção de partículas precisa ser efetuada pela formação de pontes entre polímeros, a mistura
inicial do polímero e do esgoto contendo as partículas a serem removidas deve ser efetuada em
poucos segundos. A mistura inicial instantânea não é usualmente requerida quando os polímeros
já estão formados, o que não é o caso com polímeros formados por sais de metal (ver discussão
sobre íons de metal hidrolisados apresentada adiante). Como referido, a intensidade de mistura
deve ser suficiente para permitir a adsorção do polímero às partículas coloidais. Se a mistura for
insuficiente, o polímero eventualmente se enrolará em si mesmo, não permitindo a formação de
pontes de polímeros.
Neutralização de cargas e formação de pontes de polímeros. O terceiro tipo de ação
exercida por polieletrólitos pode ser classificado como neutralização de cargas e formação de pon-
tes, que resulta do uso de polieletrólitos com elevado peso molecular. Além de reduzir a carga
superficial da partícula, esses polieletrólitos também formam pontes, como acima discutido.
(6–3)
454 P Capítulo 6 Processos unitários químicos
Com o nível de dissociação dependendo do ânion associado com o metal e nas características físi-
cas e químicas da solução. Foi, também, proposto que, com a adição suficiente de base, a dissocia-
ção poderia prosseguir para produzir um íon negativo (Thomas, 1934), como
(6–4)
Os compostos complexos dados nas Equações (6–3) e (6–4) são conhecidos como compostos de
coordenação, que são definidos como um íon de metal central (ou átomo) agregado a um grupo
de moléculas envolventes, ou de íons, por ligações covalentes coordenadas. As moléculas ou íons
envolventes são conhecidos como ligantes, e os átomos ligados diretamente ao íon do metal são
chamados de átomos doadores de ligantes (McMurry and Fay, 2011). Compostos ligantes de inte-
resse em tratamento de esgoto incluem: carbonatos (CO32) cloretos (Cl), hidróxidos (OH),íon
amônia (NH4 ) e água (H2O)
Além disso, diversos compostos de coordenação são, também, anfotéricos porque podem exis-
tir tanto como ácidos como bases fortes (McMurry e Fay, 2011). Por exemplo, o hidróxido de
alumínio se comporta como segue em soluções ácidas ou básicas:
Em ácido: (6–5)
Em base: (6–6)
espécies espécies
polinucleares polinucleares
(6–7)
precipitação de íon aluminato de
espécies espécies
mononucleares mononucleares
6–2 Fundamentos da coagulação química P 455
Antes da reação prosseguir ao ponto onde um íon aluminato negativo é produzido, ocorrerá,
usualmente, a polimerização, conforme descrito na fórmula seguinte (Thomas, 1934).
(6–8)
Como ilustrado pelas Equações (6–7) e (6–8), as possíveis combinações dos vários produtos de
hidrólise são muito grandes, e a sua enumeração não consta do escopo deste livro. Entretanto, o que
é importante é a consideração de que um ou mais dos produtos de hidrólise e ou polímeros podem
ser responsáveis pela ação observada de alumínio ou de ferro.
Além disso, como as reações de hidrólise se realizam através de um processo paulatino, a efi-
cácia do alumínio e do ferro variarão com o tempo. Por exemplo, uma lama de alúmen que tenha
sido preparada e estocada se comportará diferentemente de uma solução recém preparada quando
adicionada ao esgoto. Para uma revisão mais detalhada da química envolvida, os excelentes ar-
tigos sobre o tema preparados por Stumm and Morgan (1962) e Stumm and O’Melia (1968) são
recomendados. Detalhes adicionais sobre a química de alumínio e ferro podem ser encontrados em
Benefield et al. (1982), Morel and Hering (1993), Pankow (2012), Snoeyink and Jenkins (1980),
Sawyer et al. (2002) e Stumm and Morgan (1981).
Ação de íons hidrolizados de metal. A ação de íons hidrolisados de metais para causar a
desestabilização e a remoção de partículas coloidais pode se dividida nas três categorias seguintes
1. Adsorção e neutralização de carga
2. Adsorção e pontes interpartículas
3. Emaranhamento em floco formado por varredura
A adsorção e a neutralização de carga envolve a adsorção de espécies hidrolisadas de metais
mononucleares e polinucleares [ver Equação (6–7)] às partículas do esgoto. Deve ser notado que
é, também, possível produzir reversão de carga com sais e metal, conforme anteriormente descri-
to, com a adição de contraíons (ver Figura 6–5). Adsorção e formação de pontes entre partículas
envolve a adsorção de espécies hidrolisadas de metais polinucleares e espécies de polímeros [ver
Equação (6–7) e (6–8)], os quais, por seu turno, formarão, finalmente, pontes entre partículas,
como descrito previamente. Conforme o requerimento de coagulante para adsorção e neutralização
de carga é satisfeito, os precipitados de hidróxido de metais e produtos solúveis de hidrólise de
metais se formarão, como definido pela Equação (6–5). Se uma concentração suficiente de sal de
metal é adicionada, se formarão grandes quantidades de flocos de hidróxido de metal. Logo após
a macrofloculação, serão formadas grandes partículas de flocos que sedimentarão rapidamente. À
medida que esses flocos sedimentam, eles efetuam varredura da água contendo partículas coloidais.
As partículas coloidais que se emaranham nos flocos serão, então, removidas do esgoto. Na maio-
ria das aplicações em esgoto, a floculação por varredura é a mais comumente utilizada no caso em
que as partículas devem ser removidas por sedimentação.
A sequência de reações e eventos que ocorrem na coagulação e na remoção de partículas é
pictoriamente ilustrada na Figura 6–7. Na zona 1, não foi adicionado coagulante suficiente para de-
sestabilizar as partículas coloidais, mesmo que tenha ocorrido redução da carga superficial devido à
presença de Fe3 e algumas espécies hidrolisadas mononucleares. Na zona 2, as partículas coloidais
já foram desestabilizadas pela adsorção de espécies de hidrólise mono e polinucleares, e, se ocorrer
floculação e sedimentação, a turbidez será reduzida, como mostrado. Na zona 3, conforme mais co-
agulante é adicionado, a carga superficial das partículas foi revertida devido à contínua adsorção de
espécies de hidrólise mono e polinucleares (ver Figura 6–7). Como as partículas coloidais ficaram
positivamente carregadas, elas não poderão ser removidas por floculação pericinética. Conforme
mais coagulante é adicionado, chega-se à zona 4, na qual grandes quantidades de flocos de hidró-
xido serão formados. Conforme as partículas de flocos sedimentam, as partículas coloidais são
removidas por ação de varredura, e a turbidez será reduzida como mostrado. A dose de coagulante
456 P Capítulo 6 Processos unitários químicos
100
Zona 1 Zona 2 Zona 3 Zona 4
Turbidez residual, %
0
Dosagem de alúmen
FIGURA 6–7 Esquema relativo aos efeitos da adição contínua de um coagulante (p.ex., alúmen) na
desestabilização e floculação de partículas coloidais.
requerida para atingir qualquer das zonas depende da natureza das partículas coloidais, do pH e da
temperatura do esgoto. Constituintes especificos (p.ex., matéria orgânica) terão, também, um efeito
sobre a dose de coagulante.
É importante notar que o exemplo de sequência de reações dado pela Equação (6–7), e o pro-
cesso de coagulação ilustrado na Figura 6–7, são dependentes do tempo. Por exemplo, se for ne-
cessário desestabilizar as partículas coloidais do esgoto com espécies mono e polinucleares, é de
extrema importância que a mistura inicial do sal de metal e das partículas do esgoto a serem deses-
tabilizadas seja efetuada de maneira rápida e intensa. Se a reação continua até a formação do floco
de hidróxido do metal, será difícil colocar o produto químico e as partículas em contato. Como será
discutido, estima-se que a formação de espécies mono e polinucleares e de hidróxido de polímero
ocorrem em uma fração de segundo.
Solubilidade de sais de metal. Para avaliar melhor a ação de íons de metais hidrolisados será
útil considerar a solubilidade de sais de metais. A solubilidade de diversas espécies de alumínio
[Al(III)] e de ferro [Fe(III)] são ilustradas nas Figuras 6–8(a) e 6–8(b), respectivamente, nas quais
as concentrações log molar foram plotadas em função do pH. Na preparação desses diagramas,
apenas as espécies monomoleculares para alúmen e ferro foram plotadas. As diversas espécies mo-
nonucleares para alúmen e ferro são dadas na Tabela 6–2, juntamente com as faixas corresponden-
tes de produtos de solubilidade ácida reportados na literatura. A formação de algumas das espécies
mononucleares é, também, ilustrada na Equação (6–7). Hayden e Rubin (1974) compararam valo-
res experimentais e previstos, concluindo que Al(OH)2 não é uma espécie mononuclear importan-
te. Dessa forma, Al(OH)2 não foi incluído no desenvolvimento da Figura 6–8(a). As linhas sólidas
indicam a concentração aproximada total de alúmen residual solúvel [ver Figura 6–8(a)] e de ferro
[ver Figura 6–8(b)] após a precipitação.
Hidróxido de alumínio e hidróxido férrico são precipitados acima da linha realçada, e as espé-
cies polinucleares e poliméricas são formadas fora, a valores de pH altos e baixos. A região interna
às caixas quadradas é onde a maioria das precipitações ocorrem quando esses coagulantes são utili-
zados, como no modo de operação de varredura. Como visto, a região operativa para a precipitação
de alúmen é de uma faixa de pH de 5 a aproximadamente 7, com o mínimo de solubilidade ocor-
rendo em um pH 6,0, e entre aproximadamente 7 e 9 para precipitação de ferro, com a solubilidade
mínima ocorrendo em um pH 8,0.
Regiões operacionais para ação de sais de metal. Como a química das diversas reações
é tão complexa, não há uma teoria completa para explicar a ação de íons metálicos hidrolisados.
Para avaliar quantitativamente a aplicação de alúmen em função do pH, considerando a ação do
alúmen como descrito acima, Amirtharajah e Mills (1982) desenvolveram o diagrama mostrado na
Figura 6–9. Embora a Figura 6–9 tenha sido desenvolvida para aplicações em tratamento de água,
a sua utilização foi considerada razoavelmente aplicável para diversos empregos relativos a esgoto,
com pequenas variações. As regiões aproximadas, nas quais os diferentes fenômenos relativos à
remoção de partículas em processos de sedimentação convencional e filtração são operativos, estão
6–2 Fundamentos da coagulação química P 457
10 0
Concentração de metal, mol/L
10 –2
[Al(OH)3(s)]
10 –4
10 –6
[Al(OH)4– ] [Fe(OH)3(s)]
10 –8 2+
[AlOH ] [Fe(OH)–4 ]
10 –10
3+ 3+
[Al ] [Fe ]
[Fe(OH)+2 ]
10 –12 2+
[FeOH ]
10 –14
0 2 4 6 8 10 12 14 0 2 4 6 8 10 12 14
pH pH
FIGURA 6–8 Diagrama de solubilidade para alúmen [Al(III)] e ferro[Fe(III)]. Deve ser notado que apenas
as espécies mononucleares foram plotadas. As espécies polinucleares são extremamente dependentes da
química do esgoto. As espécies mononucleares Al(OH)2 não foram incluídas no desenvolvimento da Figura
6–8(a). Além disso, devido às grandes variações na solubilidade e nas constantes de formação para os
diversos óxidos de metais, as curvas apresentadas nesta figura devem somente serem utilizados como um
guia de referência.
plotadas na Figura 6–9 em função da dosagem de alúmen e do pH do efluente tratado após o alú-
men ter sido adicionado. Por exemplo, a remoção ótima de partículas por varredura ocorre na faixa
de pH entre 7 e 8 com uma dosagem de alúmen de 20 a 60 mg/L. Para muitos esgotos efluentes, que
possuam valores de pH elevados (p.ex., 7,3 a 8,5), as dosagens baixas de alúmen, na faixa de 5 a 10
mg/L, não são, geralmente, efetivas. Com controle adequado de pH é possível operar com baixas
dosagens de alúmen. Como as características do esgoto variam de uma estação de tratamento para
outra, testes de bancada ou unidades-piloto devem ser conduzidos para estabelecer as dosagens
químicas adequadas.
Importância da mistura química inicial com sais de metal. Possivelmente, o fato sobre
adição química menos considerado é a importância de uma mistura inicial rápida dos produtos
químicos com a água a ser tratada. Em um artigo de 1967, Hudson and Wolfner (1967) notaram
que “coagulantes hidrolisam e iniciam a polimerização em uma fração de segundo após serem
adicionados à água”. Hahn and Stumm (1968) estudaram a floculação de dispersões de sílica com
Al(III). Eles reportaram que o tempo necessário para a formação de espécies de hidróxido mono
e polinucleares parece estar na ordem de 103 s. O tempo de formação de espécies de polímeros
foi da ordem de 102 s. Verificaram, ainda, que a etapa limitante no processo de coagulação foi o
tempo requerido para a etapa de transporte do coloide produzido por movimento Browniano (i.e.,
floculação pericinética) que foi estimado na ordem de 1,5 a 3,3 103 s. A importância da mistura
rápida inicial é, também, discutida por Amirtharajah and Mills (1982) e Vrale and Jorden (1971).
Com base na literatura e em avaliações reais de campo, é bem claro que uma mistura instantânea
rápida e intensa de sais de metais é de importância crítica, especialmente quando os sais de metais
são utilizados como coagulantes para reduzir a carga superficial de partículas coloidais. Deve-se
atentar que, embora seja normalmente difícil conseguir tempos de mistura adequados em grandes
estações de tratamento, tempos ideais de mistura podem ser obtidos utilizando múltiplos mistura-
dores. Tempos de mistura típicos para diversos produtos químicos são relacionados na Tabela 6–24,
na seção 6–11.
458 P Capítulo 6 Processos unitários químicos
TABELA 6–2 Reações e constantes de equilíbrio correspondentes para espécies de alumínio e ferro em equilíbrio
com hidróxido de alumínio e hidróxido de ferro a
Constantes de equilíbrio ácido
Constante de Utilizado na
Reação equilíbrio Faixaa Figura 6–8
Alumínio, Al(III)
*Ks0 9,0 –10,8 10,8
Ferro, Fe(III)
*Ks0 3,2–4,891 3,2
*Ks1 0,91–2,701 1,0
*Ks2 0,779– (2,5) 2,5
–2 0
Alúmen como AL2(SO4)3 . 14,3 H2O, mg/L
Coagulação
–2 por varredura 3+
Al(OH) Fe Coagulação por
Férrico como FeCl3. 6 H2O, mg/L
–3 – 300 –2 varredura
Al(OH)4
100 270
–4 Zona de 30 –4 27
log[Fe], mol/L
(fronteira de 10 2,7
trocas com Combinação
–5 coloides) (varredura e 3 –6 2+ Desestabilização 0,27
adsorção) Fe(OH)
por adsorção
1 Zona de
Desestabilização Neutralização de carga reestabilização Fetotal
–6 por adsorção ao potencial zeta igual 0,3 –8 (trocas com
a zero com Al(OH)3 (s) coloides ou áreas
Altotal superficiais) –
Neutralização de carga com Fe(OH)4
4+ Alx(OH)yn+/Al(OH)3 (s) +
–7 Al8(OH)20 –10 Fe(OH)2
3+
Al
–8 –12
0 2 4 6 8 10 12 14 0 2 4 6 8 10 12 14
pH da solução misturada pH da solução misturada
(a) (b)
FIGURA 6–9 Faixas típicas de operação para coagulação com (a) alúmen e (b) cloreto férrico. (Adaptado de Crittenden et al.,
2012; Amirtharajah and Mills, 1978.)
6–3 Precipitação química para melhoria do desempenho de estações de tratamento P 459
Os números acima das fórmulas químicas são os pesos moleculares combinados das diferentes
substâncias, denotando, portanto, a quantidade envolvida de cada uma. A reação de precipitação
dada acima, também ocorre com a adição de cloreto de alumínio (AlCl3). O hidróxido de alumínio
insolúvel é um floco gelatinoso que sedimenta lentamente através do esgoto, varrendo o material
suspenso e produzindo outras alterações. A reação é exatamente análoga quando o bicarbonato de
cálcio é substituído pelo sal de cálcio.
Como a alcalinidade mostrada na Equação (6–9) é expressa em termos de carbonato de cálcio
(CaCO3), cujo peso molecular é 100, a quantidade de alcalinidade requerida para reagir com 10
mg/L de alúmen é
460 P Capítulo 6 Processos unitários químicos
Se menos do que essa quantidade de alcalinidade é disponível, mais alcalinidade deve ser adiciona-
da. A cal hidratada é comumente utilizada para essa finalidade quando necessário, mas é raramente
necessário em tratamento de esgoto.
Cal hidratada (hidróxido de cálcio). Quando cal hidratada é adicionada isoladamente como
precipitante, os princípios da clarificação são explicados pelas seguintes reações com ácido carbô-
nico [Eq. (6–10)] e alcalinidade [Eq. (6–11)]:
(6–10)
Ácido Hidróxido Carbonato
carbônico de cálcio de cálcio
(Solúvel) (Pouco (Consideravelmente
solúvel) solúvel)
(6–11)
Carbonato
de cálcio
(Consideravelmente
solúvel)
Uma quantidade suficiente de cal hidratada deve, portanto, ser adicionada para combinar com todo
o ácido carbônico livre e com o ácido carbônico dos bicarbonatos (ácido carbônico com meia liga-
ção) para produzir carbonato de cálcio. Uma quantidade muito maior de cal hidratada é, geralmen-
te, requerida quando é utilizada isoladamente, comparada ao sulfato de ferro quando é utilizado em
conjunto (ver a discussão seguinte). Quando efluentes industriais introduzem ácidos minerais ou
6–3 Precipitação química para melhoria do desempenho de estações de tratamento P 461
sais de ácidos no esgoto, estes devem ser neutralizados antes do início da precipitação. Instalações
típicas de clarificação com cal hidratada foram mostradas na Figura 6–1.
Sulfato ferroso e cal hidratada. Na maioria dos casos, o sulfato ferroso não pode ser utiliza-
do sozinho como um precipitante porque deve ser adicionada cal hidratada para formar um precipi-
tado. Quando sulfato ferroso apenas é adicionado ao esgoto ocorre a reação seguinte:
(6–12)
(6–13)
(Solúvel)
O hidróxido ferroso pode ser oxidado pelo oxigênio dissolvido na água ao hidróxido de ferro, que
é a forma final desejada. A reação é
(6–15)
ferroso
(Insolúvel)
O hidróxido férrico insolúvel é formado como um floco volumoso e gelatinoso, similar ao floco de
alúmen. A alcalinidade requerida para uma dosagem de 10 mg/L de sulfato ferroso [ver Equação
(6–12)] é
(6–16)
Cloreto férrico e cal hidratada. Se cal hidratada é adicionada para suplementar a alcalinida-
de natural do esgoto, pode-se assumir que as reações seguintes ocorrem:
(6–17)
Sulfato férrico e cal hidratada. A reação completa que ocorre quando sulfato férrico e cal
hidratada são adicionados ao esgoto pode ser representada como segue:
(6–18)
TABELA 6–4 Taxas de escoamento superficial para tanques de sedimentação para diversas
suspensões químicas
Taxa de escoamento superficial
m3/m2d gal/ft2d
Suspensão Faixa típica Hora de pico Faixa típica Hora de pico
Floco de alúmena 30–70 80 700–1.700 2.000
Floco de ferroa 30–70 80 700–1.700 2.000
Floco de cal hidratada a
35–80 90 900–2.000 2.200
Esgoto bruto 30–70 80 700–1.700 2.000
a
Misturado com sólidos suspensos no esgoto bruto e coloidal ou outros sólidos suspensos varridos pelos flocos.
Nota: m3/m2d 24,5424 gal/ft2d.
Reser-
Água de lavagem de filtro
vatório de
equilíbrio Lagoa
de
Mistura equalização
Opcional Cloro
rápida e Decantador
Esgoto floculação
bruto Carvão
Filtração ativado
granular
Triturador e Recarbonetação
remoção (se cal
de areia hidratada for Carvão
Coagulante(s) Lodo utilizada)
Regeneração
Carvão
do carvão
Espessador Desaguamento ativado
de lodo do lodo
(opcional)
Concentrado Descarga do lavador
Descarga do
ou filtrado e água de lavagem da
espessamento
coluna de carvão
de lodo
Solução
1. Calcule a massa de SST removida com e sem produtos químicos.
a. Determine a massa de SST removida sem produtos químicos.
6–3 Precipitação química para melhoria do desempenho de estações de tratamento P 465
Fe(OH)3 formado
3. Utilizando a Equação (6–17), determine a massa de cal clorada requerida para converter
o cloreto férrico a hidróxido férrico Fe(OH)3.
6. Determine o volume total de lodo sem precipitação química, assumindo que o lodo tenha
um peso específico de 1,03 e uma umidade de 94%.
7. Prepare uma tabela resumo da massa e volume de lodo produzido com e sem precipitação
química.
Lodo
Tratamento Massa, kg/d Volume, m3/d
Sem precipitação química 132,0 2,13
Com precipitação química 213,4 2,71
Comentário
A magnitude da disposição de lodo quando utilizada a precipitação química é evidente com
os dados apresentados na tabela resumo do item 7. Mesmo volumes maiores de lodo são
produzidos quando cal hidratada é utilizada como precipitante primário (ver Exemplo 6–2).
466 P Capítulo 6 Processos unitários químicos
(6–19)
(6–20)
Infelizmente, essas reações são muito simples e, geralmente, não são aplicáveis. Foi verificado
que o fosfato férrico ocorre a um pH próximo 3,5 e que não ocorre acima de 5 (Smith et al., 2008).
Além disso, qualquer reação de precipitação deve ser considerada sob o ponto de vista de diversas
reações e suas constantes de equilíbrio associadas, concorrentes além dos efeitos da alcalinidade,
pH, elementos traços e ligantes encontrados no esgoto. Com base em estudos mais recentes (Se-
dlak, 1991; WEF, 2011) parece que a seguinte reação completa pode prover uma descrição melhor
do que realmente acontece quando sais de metais são adicionados para a remoção de fósforo.
(6–21)
–3 –3
AlPO4(s ) FePO4(s)
Fe(PO44))((xx–3)/3 (OH)x(s))
Al(PO4)(x–3)/3 (OH)x (s)
–4 –4
Log molar de fósforo solúvel
Fe(PO
–5 –5
–6 –6
Fe(OH)3(s )
Al(OH)3(s )
–7 –7
3 5 7 9 2 4 6 8
Valor do pH Valor do pH
(a) (b)
FIGURA 6–11 Concentração de fosfato férrico e de alumínio em equilíbrio com fósforo solúvel (a) Al(III)-
-fosfato e (b) Fe(III)-fosfato.
468 P Capítulo 6 Processos unitários químicos
fosfato tem sido efetuada através da adição de cal clorada à montante de decantadores primários
para atingir um pH de aproximadamente 9.
(6–22)
Como a cal hidratada reage com a alcalinidade do esgoto, a quantidade de cal hidratada requerida
dependerá, em geral e primariamente, dessa alcalinidade (ver Figura 6–12).
Estimativa do requerimento de produtos químicos para remoção de fosfato. O re-
querimento de produtos químicos para a remoção de fosfato com sais de metais e cálcio se deter-
mina como segue.
Para alumínio e ferro.
A doses de alumínio ou de ferro correspondem à quantidade total que seria adicionada para a
remoção de ortofosfato ao longo da estação de tratamento. As relações molares para alumínio e
ferro são dadas na Figura 6–13 para diversos níveis de ortofosfato residual. Tipicamente, as doses
de sais de alumínio e ferro na base estão, usualmente, na faixa de 1 a 3, se o fósforo residual do
efluente secundário é da ordem de 0,5 mg/L. A taxa exata de aplicação é determinada através de
testes efetuados no local e varia com as características do esgoto e sua variabilidade planejada de
remoção de fósforo.
Para cálcio. A quantidade de cal hidratada requerida para precipitar o fósforo contido no esgoto
está, tipicamente, no entorno de 1,4 a 1,5 vezes a alcalinidade total expressa em CaCO3. Quando
cal hidratada é adicionada a esgoto bruto ou a efluente secundário, o ajuste de pH é, usualmente,
requerido antes do tratamento subsequente ou de disposição. A recarbonetação com dióxido de car-
bono (CO2) é utilizada para reduzir o valor do pH. Devido ao custo adicional associado ao uso de
cal hidratada, os sais de metais são, atualmente, mais utilizados para a remoção química de fósforo.
600
500
Cal hidratada [Ca(OH) 2] para elevar
400
o pH a 11, mg/L
300
200
0
0 100 200 300 400
Alcalinidade, mg/L como CaCO3
FIGURA 6–12 Dosagem de cal hidratada para elevar o pH a 11, como função da alcalinidade do
esgoto bruto.
6–4 Remoção química de fósforo P 469
7
Teste de bancada ou estudo-piloto para
(Medose:Pinicial), mol/mol
estabelecer as relações molares nesta região
6
solúvel inicial
5
Al(III)
4
Fe(III)
3
0
0,01 0,1 1 10
Concentração de fósforo solúvel
residual (CP,residual), mg/L
FIGURA 6–13 Remoção de fósforo solúvel através da adição de alumínio e ferro. (Adaptado de Szabo
et al., 2008.)
Solução
1. Determine o peso de ferro requerido para remover o ortofosfato.
a. Da Figura 6–13 para um efluente com concentração PO43 de 0,1 mg/L,
a relação molar (Fe/P) é de aproximadamente 3,3.
b. Utilizando a Equação 6–24, a dose requerida de cloreto férrico é
(continuação)
9. Prepare uma tabela resumo das massas e volumes de lodo, sem e com a precipitação quí-
mica.
Lodo
Tratamento Massa, kg/d Volume, m3/d
Sem precipitação química 501,6 8,1
Com precipitação química 886,9 11,3
Comentário
As remoções adicionais de DBO e de SST proporcionadas pela adição de produtos quími-
cos no tratamento primário podem, também, resolver problemas de sobrecarga a jusante dos
sistemas biológicos ou permitir uma nitrificação sazonal ou anual, dependendo do projeto
do sistema biológico. Alternativamente, a quantidade total de cloreto férrico poderia ter sido
adicionada em diversos locais do sistema de tratamento.
Adição de
produtos químicos
Primário Secundário
Processo
biológico
(a)
Fósforo
insolúvel e/ou
(b)
Fósforo
insolúvel
(c)
Fósforo
insolúvel
Filtro
(d)
Fósforo
insolúvel
Filtração em
dois estágios
(e)
Fósforo
insolúvel
FIGURA 6–14 Adição de produtos químicos em um ponto único de dosagem em diversas locações,
para remoção de fósforo: (a) antes da sedimentação primária, (b) antes e/ou após o tratamento biológico,
(c) após tratamento secundário, (d) adição de produtos químicos antes da filtração de estágio único e (e)
adição de produtos químicos antes da filtração de estágio duplo.
Adição de
produtos químicos
e/ou
(a)
Fósforo Fósforo
insolúvel insolúvel
Filtro ou
decantador
e/ou
(c)
Fósforo Fósforo Fósforo
insolúvel insolúvel insolúvel
e/ou Filtro
e/ou Filtração em
dois estágios
(e)
Fósforo Fósforo Fósforo
insolúvel insolúvel insolúvel
FIGURA 6–15 Adição de produtos químicos a pontos múltiplos de dosagem em um processo de trata-
mento, para remoção de fósforo: (a) antes do primário e antes e/ou após tratamento biológico; (b) antes
do primário e após o tratamento terciário; (c), (d) e (e) em pontos diversos de um processo de tratamento
(conhecido como “tratamento por divisão”).
Descarga de água
de lavagem
Auxiliares
de filtração
Efluente Esgoto
secundário tratado
Mistura
Floculador Decantador Recarbonetador Filtro
rápida
Queimador Dióxido
de cal de carbono Centrado Sobrenadante
Lodo
Linha de
reposição Calcinador Centrífuga Espessador
Descarga de
Disposição
cal hidratada
de lodo
(a)
Descarga de água
de lavagem
Efluente Auxiliares
secundário de filtração
Esgoto
Mistura tratado
Floculador Decantador Recarbonetador Decantador Recarbonetador Filtro
rápida
FIGURA 6–16 Diagrama de fluxo de um processo típico de tratamento para remoção de fósforo: (a) sistema de estágio único,
e (b) sistema de dois estágios.
Recalcinação da cal clorada. Embora a recalcinação da cal clorada reduza os custos de pro-
dutos químicos, ela é uma alternativa viável somente para grandes instalações. Quando um sistema
de recuperação de cal clorada é requerido para permitir uma operação viável em termos de custo,
ela inclui uma instalação de regeneração térmica, que converte o carbonato de cálcio presente no
lodo para cal clorada, através de aquecimento a 980°C (1.800°F). O dióxido de carbono gerado
neste processo ou em outra chaminé de gás local (contendo 10 a 15% de dióxido de carbono) é,
geralmente, utilizado como uma fonte para recarbonetação para ajuste do pH do esgoto.
FIGURA 6–17 Grande reator clarificador utilizado para precipitação de cal clorada de efluente se-
cundário. O efluente sedimentado é, posteriormente, tratado por microfiltração antes de ser reusado para
aplicações industriais.
TABELA 6–6 Estratégias de dosagens única e múltipla para a remoção de fósforo de correntes líquidas com sais
de metala
Ponto de aplicação Vantagens Desvantagens
Pontos únicos de aplicação (ver Figura 6–14)
Primário Aplicável à maioria das estações; remoção Pode ser necessário adicionar polímeros para
melhorada de DBO e de sólidos suspensos; floculação; lodo mais difícil de desaguar do que
pode obter boa remoção do fosfato o lodo primário; deve deixar P residual para o
influente a relações Me:P de 0,5 a 1. processo biológico.
Biorreator secundário Melhoria da estabilidade do lodo ativado; Dose muito elevada de metal pode causar
sem necessidade de polímeros. toxicidade a pH baixo; com esgotos de baixa
alcalinidade, pode ser necessário um sistema
de controle de pH; não pode utilizar cal clorada
devido ao pH muito alto; sólidos inertes são
adicionados ao liquor misto do sistema de lodo
ativado, reduzindo a porcentagem de sólidos
voláteis.
Decantador secundário Melhoria da sedimentação no decantador O carreamento de metais pode impactar a
secundário. desinfecção com UV.
Decantador terciário Baixa concentração de fósforo no efluente, Custo de capital elevado.
obtida com relações Me: P elevadas.
Filtro terciário Baixo custo; pode ser combinado com a Pode ocorrer redução do corrida do filtro com
remoção de sólidos suspensos residuais filtração de estágio único. Custos adicionais com
processo de filtração de dois estágios.
Múltiplos pontos de aplicação (ver Figura 6–15)
Dois pontos (p.ex., esgoto Melhor controle sobre a concentração de Custo de capital elevado, porque duas estações
bruto e sedimentação fósforo no efluente. O método de doses de dosagens são requeridas. O carreamento de
secundária, ou efluente múltiplas é mais adequado para locais com metais pode impactar a desinfecção com UV.
secundário antes da filtração) limites restritivos de descarga de efluentes.
Três ou mais pontos. Como acima. Como acima.
a
Referir, também, à Tabela 6–5. Adaptado, em parte, de U.S. EPA (1976).
6–5 Formação química de estruvita por remoção de amônia e fósforo P 477
(6–25)
Embora a reação da estruvita seja muito simples, o processo é complexo, dependendo da força
iônica, pH, alcalinidade e temperatura do esgoto. Uma vez iniciado o crescimento dos cristais de
estruvita, isso continuará a ocorrer até quando condições favoráveis existirem, incluindo a presença
dos três constituintes em uma relação molar de 1 : 1 : 1 de Mg2 : NH4 : PO3
4 . A constante do pro-
duto de solubilidade para a estruvita é dada pela reação seguinte,
(estruvita) (6–26)
2,1 2,1
7,2 7,2
12,3 12,3
2,56 2,56
0,45 0,45
2,91 2,91
4,8 4,8
12,6–13,26 13,0
21 21
21,9–23 22,0
(6–27)
A fração de ionização é definida como a relação entre a concentração do constituinte livre de mag-
nésio, amônia e fosfato e a concentração total em solução (p.ex., a [Mg2]/CT, Mg). Expressões
para a concentração total de magnésio, amônia e fosfato em solução, são dadas na Tabela 6–7.
Utilizando a equação (6–27), as equações e os valores correspondentes de pK dados na Tabela 6–7
para as diversas relações de equilíbrio, a solubilidade mínima da estruvita, conforme ilustrado na
Figura 6–19, ocorre a um pH de aproximadamente 10,3 (Ohlinger et al., 1998).
A curva limite de solubilidade de estruvita mostrada na Figura 6–19 pode ser utilizada para
determinar se a formação de estruvita poderá ocorrer. O valor de Ps é calculado através das concen-
trações analíticas de magnésio, amônia e fosfato utilizando o lado esquerdo da Equação 6–27, e,
em seguida, plotando em associação à curva de solubilidade limite, correspondente à força iônica
relevante. Se os valores de Ps caírem fora da área limitada pela curva, então não é esperada a for-
mação de estruvita.
O sistema químico composto de espécies e de constantes de equilíbrio apresentadas na Tabela
6–7 pode ser modelado utilizando programas de especiação química como MINEQL ou MINTE-
QA2. A saída do modelo, consistindo de dados de concentrações de constituintes pode, então, ser
utilizada para computar Ps com o lado direito da Equação 6–27. O programa MINTEQA2, utilizado
para a geração da Figura 6–19, foi desenvolvido pela U.S. EPA e é disponível para download em
http://www.epa.gov/ceampubl/mmedia/minteq/. Detalhes sobre o desenvolvimento e uso da equa-
ção do produto de solubilidade podem ser encontrados em Snoeyink and Jenkins (1980) e Ohlinger
et al. (1998). A aplicação da curva dada na figura 6–19 é ilustrada no Exemplo 6–3.
6–5 Formação química de estruvita por remoção de amônia e fósforo P 479
–3 0
–10
4 6 8 10 12 14
pH
FIGURA 6–19 Gráfico da curva de solubilidade limite da estruvita e da fração de ionização desenvolvi-
da utilizando MINTEQA2 com um valor de força iônica estabelecido como constante a 0,1 (Ohlinger
et al., 1998).
Solução
1. Calcule o produto de solubilidade condicional como o produto das concentrações analí-
ticas para cada uma das amostras de lodo utilizando o lado esquerdo da Equação 6–27:
(continuação)
–4
Lodo digerido
Log (produto de solubilidade)
Lodo bruto
–5
–7
–8
–9
–10
4 6 8 10 12 14
pH
Comentário
Conforme mostrado na figura apresentada na Etapa 2, a amostra de lodo bruto não está dentro
da região onde seria esperada a precipitação da estruvita. Entretanto, ambos o lodo digerido e
o lodo digerido diluído estão sujeitos a precipitação potencial de estruvita. Uma maior dilui-
ção do lodo digerido ou redução do pH do lodo pode ser recomendado para inibir a formação
de estruvita.
TABELA 6–8 Métodos utilizados para controlar e/ou limitar a formação de estruvita
Método Descrição
Adição de alúmen Utilizado para precipitar fósforo. Como a adição de alúmen reduz a alcalinidade, é
[Al2(SO4)314H2O] adicionada cal clorada para chegar à alcalinidade necessária. Pode ser adicionado antes
da digestão anaeróbia, em digestores anaeróbios, e após a digestão anaeróbia.
Adição de cloreto férrico (FeCl3) Utilizado para precipitar fósforo. Como a adição de compostos férricos reduz a
alcalinidade, a cal clorada é adicionada para se obter a alcalinidade necessária. Pode
ser adicionado antes da digestão anaeróbia, em digestores anaeróbios e após a digestão
anaeróbia.
Adição de cloreto ferroso (FeCl2) Utilizado para precipitar fósforo. Pode ser adicionada antes da digestão anaeróbia, em
digestores anaeróbios, e após a digestão anaeróbia.
Adição de Sulfato férrico Utilizado para precipitar fósforo. Geralmente não recomendado devido ao seu potencial de
[Fe2(SO4)3] formar sulfeto de hidrogênio durante o processo de digestão.
Adição de cal clorada [Ca(OH)2] Utilizado para precipitar fósforo e para ajustar a alcalinidade.
Adição de produtos químicos Produtos químicos patenteados também são disponíveis para evitar a formação de estruvita.
patenteados O destino do fósforo é desconhecido.
Adição de anti-incrustantes Anti encrustantes patenteados são disponíveis para evitar a formação de estruvita.
redução de pH Ácidos ou dióxido de carbono (CO2) podem ser adicionados para reduzir o pH do esgoto.
É melhor utilizar o dióxido de carbono do que o ácido por razões de segurança e porque
fica difícil aplicar uma superdose.
Minimização da liberação de Dióxido de carbono pode ser liberado em pontos de turbulência nas tubulações dos
dióxido de carbono processos. Quando é liberado, o pH sobe e a precipitação de estruvita pode ocorrer.
Manutenção de rotina Dependendo do local de ocorrência, a formação de estruvita pode ser controlada através
da descarga de jatos de alta pressão das linhas de processo.
tais de estruvita em um reator de leito fluidizado de fluxo ascendente (ver Figura 6–20). Como
mostrado nessa figura, a formação de cristais de estruvita é acelerada pela adição de excesso de
Mg2 que é adicionado ao esgoto a pH e temperatura elevados. Outras tecnologias empregam
reatores completamente misturados com configurações diversas. Com base em diversas citações
bibliográficas, as condições ótimas para a emoção de fósforo (e de amônia) ocorre quando a
relação molar Mg2: PO34 está entre 1,1 e 1,6, com o pH entre 9 e 10,5, e a temperatura de
aproximadamente 25°C.
Os valores específicos dependem da composição química e da força iônica do esgoto e das
condições locais. A remoção de nutrientes é abordada com mais detalhes no Capítulo 15.
Efluente tratado
retornando ao
tratamento
preliminar
Os cristais de estruvita
crescem em cristais Linha de
previamente formados reciclagem
Retorno de
cristais de
tamanhos
menores
Reações de precipitação
Metais de interesse incluem arsênico (As), bário (Ba), cádmio (Cd), cobre (Cu), mercúrio (Hg),
níquel (Ni), selênio (Se) e zinco (Zn). A maioria desses metais podem ser precipitados como hidró-
xidos ou sulfetos. Os produtos de solubilidade para concentrações de metais livres em equilíbrio
com precipitados de hidróxidos e sulfetos são reportados na Tabela 6–9.
Em estações de tratamento de esgoto, metais são, geralmente, precipitados como hidróxidos
de metal através da adição de cal clorada ou cáustica a um pH de solubilidade mínima. Entretanto,
diversos desses compostos, como anteriormente discutido, são anfotéricos (i.e., capazes de aceitar
ou de ceder um próton) e exibem um ponto de solubilidade mínima. O valor do pH à solubilidade
mínima varia com o metal em consideração, conforme ilustrado na Figura 6–21 para precipitação
de hidróxido. A linha sólida mostrada na Figura 6–21 representa o metal total em solução, em
102
AgOH
Ag(OH)
Cr(OH)3
101
Zn(OH)2
10–1
Cu(OH)2
10–2
Cd(OH)2
10–3
10–4
0 2 4 6 8 10 12 14
pH
FIGURA 6–21 Concentração residual de metal solúvel em função do pH para a precipitação de metais
na forma de hidróxidos. Devido à grande variação da solubilidade e de constantes de formação para os
diversos hidróxidos de metais, as curvas apresentadas nesta figura devem ser utilizadas apenas como um
guia de referência (ver, também, Tabela 6–9).
equilíbrio com o precipitado. As curvas foram desenvolvidas com base em espécies de hidróxido
mononucleares utilizando os mesmos procedimentos ilustrados na Figura 6–8 para Al3 e Fe3. É
importante recordar que a localização do ponto de solubilidade mínima irá variar, dependendo dos
constituintes do esgoto. As curvas mostradas na Figura 6–21 são úteis para estabelecer as faixas de
pH para testes.
Metais podem, também, ser precipitados como sulfetos, como ilustrado na Figura 6–22. Os
níveis mínimos de concentração em efluentes que podem ser obtidos por precipitação química
de metais pesados são reportados na Tabela 6–10. Na prática, as concentrações mínimas de metal
100
PbS
10–2
ZnS
Concentração de metal, mg/L
10–4 NiS
CdS
10–6
Ag2S CuS
10–8
10–10
10–12
0 2 4 6 8 10 12 14
pH
FIGURA 6–22 Concentração residual de metal solúvel em função do pH para a precipitação de metais
na forma de sulfetos. Devido à grande variação da solubilidade e de constantes de formação para os di-
versos sulfetos de metais, as curvas apresentadas nesta figura devem ser utilizadas apenas como um guia
de referência (ver, também, a Tabela 6–9).
484 P Capítulo 6 Processos unitários químicos
residual que podem ser obtidas dependem, também, da natureza e da concentração de matéria or-
gânica no esgoto, assim como da temperatura. Deve ser notado que alguns metais, como Hg e As,
possuem estágios múltiplos de oxidação, que podem impactar a eficiência da precipitação. Devido
às muitas incertezas associadas à precipitação de metais, devem ser efetuados estudos de bancada
em laboratórios ou estudos-pilotos.
constituintes orgânicos e compostos específicos, que não podem ser facilmente oxidados por oxi-
dantes convencionais, são discutidos na Seção 6–8.
(6–28)
A ação do radical hidroxila, HO, discutido em detalhe na Seção 6–8, é brevemente introduzi-
do aqui com base na sua formação através da ozonização. De todos os oxidantes convencionais, o
ozônio é mais efetivo para a destruição de compostos orgânicos, tanto por reações diretas com O3
como por reações indiretas com HO, conforme mostrado na Equação (6–29).
(6–29)
A reação de ozônio com matéria orgânica natural (MON) para produzir HO está entre os meca-
nismos mais importantes utilizados para destruir compostos alvos (Elovitz e von Gunten, 1999;
Westerhoff et al., 1999). Entretanto, remoções substanciais de resíduos farmacêuticos em água
recuperada, com baixa concentração de carbono orgânico dissolvido, são possíveis com ozonização
direta, mesmo com baixas dosagens de ozônio (Huber et al., 2005). Vistas de contactores de ozônio
utilizados para avaliação em escala de bancada e em plantas-piloto são mostradas na Figura 6–23.
A transformação de alguns produtos farmacêuticos é, também, possível durante a desinfecção com
cloro. Entretanto, a eficiência dependerá da estrutura do composto químico, da forma do cloro, do
tempo de contato e da aplicação de desclorinização (Pinkston e Sedlak, 2004).
486 P Capítulo 6 Processos unitários químicos
(a) (b)
FIGURA 6–23 Contatores utilizados para a avaliação da oxidação química utilizando ozônio (a) esca-
la de bancada e (b) escala-piloto.
(6–30)
Nesta reação o cobre (Cu) muda de 2 a um estado zero de oxidação e o zinco (Zn) muda de zero
a um estado2. Devido à perda e ao ganho de elétrons, as reações de oxidação-redução podem
ser separadas em duas meias-reações. A meia-reação de oxidação envolve a perda de elétrons,
enquanto que a meia-reação de redução envolve o ganho de elétrons. As duas meias-reações que
compreendem a Equação (6–30) são como segue:
(6–31)
(6–32)
TABELA 6–12 Produtos químicos que tem sido utilizados para a desinfecção de esgoto, com
suas meias-reações de oxidação e potencial de eletrodo padrão a
Potencial de
Desinfectante Meia-reação oxidaçãob, V
Ozônio 2,07
Peróxido de hidrogênio 1,78
Permanganato 1,67
Dióxido de cloro 1,50
Ácido hipocloroso 1,49
Ácido hipoidioso 1,45
Cloro gasoso 1,36
Oxigênio 1,23
Bromo 1,09
Hipoclorito 0,90
Clorito 0,76
Iodo 0,54
a
Derivado, em parte, de Bard (1966) e Black and Veatch Corporation (2010).
b
Valores reportados variam dependendo da fonte. O potendial elétrico ou voltagem (V) é comumente utilizado para
caracterizar diversas reações de oxidação-redução.
(i.e., voltagem) da meia-reação é mais comumente utilizado. Assim, cada meia-reação envolvendo
uma oxidação ou uma redução possui um potencial padrão E° associado com ela. Os potenciais
para as meias-reações dadas pelas Equações (6–33) e (6–34) são como segue:
(6–33)
(6–34)
Os potenciais para diversas meias-reações são dados na Tabela 6–13. O potencial de meia-reação
é uma medida da tendência da reação a se deslocar para a direita. Meias-reações com grande po-
tencial positivo E°, tendem a se deslocar para a direita. Ao contrário, meias-reações com grande
potencial negativo, E°, tendem a se deslocar para a esquerda.
Potenciais de reação. O potencial de meias-reações, acima considerados, podem ser utiliza-
dos para prever se uma reação, composta de duas meias-reações, vai ocorrer conforme foi escrita.
A tendência de uma reação ocorrer é obtida através da determinação de E°reação para a reação total,
conforme dado pela expressão seguinte.
Po exemplo, para a reação entre cobre e zinco (ver Equação 6–30) o E°reação é determinado como
segue:
1,776
2,07
2,87
a
Adaptado, em parte, de Bard (1966) e Benefield et al. (1982).
b
Valores reportados podem variar dependendo da fonte. O potencial elétrico
ou voltagem (V) é, comumente, utilizado para caracterizar diversas reações
de oxidação-redução.
490 P Capítulo 6 Processos unitários químicos
O valor positivo para E°reação é tomado como uma indicação de que a reação irá ocorrer conforme
escrito. A magnitude do valor, como será ilustrado em seguida, pode ser considerada como uma
medida da extensão com a qual a reação irá ocorrer como está escrita. Por exemplo, se a Equação
(6–30) foi escrita como segue:
(6–38)
E°reação (6–39)
Como o valor de E°reação para essa reação é negativo, a reação irá ocorrer na direção oposta da qual
foi escrita.
Constantes de equilíbrio para equações redox. A constante de equilíbrio para reações de
oxidação-redução é calculada utilizando a equação de Nernst abaixo definida.
(6–41)
(6–42)
Solução
1. Determine a reação total através da adição das duas meias-reações.
Solução
1. Determine a constante de equilíbrio para a equação seguinte utilizando a Equação (6–42).
Conforme calculado acima, o valor de E°reação para a reação é 1,1 volts, e o número de
elétrons trocados é 2. Utilizando essa informação, o valor de K é determinado como segue:
Do Exemplo 6–4, o valor de E°reação para a reação acima é de 1,92 volts. O valor da
constante de equilíbrio é
492 P Capítulo 6 Processos unitários químicos
Produtos finais
simples (6–43)
p.ex. p.ex.
As flechas múltiplas na direção da reação são utilizadas para indicar que diversas etapas são
envolvidas na sequência da reação total. A utilização de agentes oxidantes como cloro, ozônio e
peróxido de hidrogênio é designada “oxidação simples”. Em geral, as taxas de reação completa
são muito lentas para serem aplicadas amplamente na remoção de DQO recalcitrante, durante o
tratamento de esgoto (SES, 1994). Os processos de oxidação avançados (POA), que envolvem o
uso do radical hidroxila para a oxidação de moléculas orgânicas complexas, são considerados na
Seção 6–8.
As dosagens químicas típicas, tanto para cloro ou ozônio, para a oxidação de compostos orgâ-
nicos no esgoto são reportadas na Tabela 6–14. As dosagens aumentam com o nível de tratamento,
o que é razoável quando se considera que os compostos orgânicos remanescentes do tratamento
biológico são, tipicamente, polares de baixo peso molecular e de compostos orgânicos complexos
anexados a estruturas de anel benzênico.
É recomendado desenvolver estudos de bancada ou de plantas-piloto, quando cloro, dióxido
de cloro ou ozônio tiverem que ser utilizados para a oxidação de compostos orgânicos. Como a
ozônio é, geralmente, gerada em estações de tratamento que utilizam oxigênio de pureza eleva-
da no processo de lodos ativados, é previsto que o seu uso se torne mais comum nessas estações
no futuro.
Embora a teoria e a prática da cloração ao breakpoint seja descrita em detalhes no Capítulo 12,
é importante verificar se a reação é viável utilizando os conceitos de oxidação-reação antes apre-
sentados. As meias-reações pertinentes são como segue:
(6–44)
(6–45)
(6–46)
(6–47)
Como o valor de E°reação para a reação é positiva, então, ocorrerá conforme está escrita. A relação
estequiométrica de massa de cloro, como Cl2 para amônia como N, calculada utilizando a Equação
(6–47) é 7,6:1. Na prática, a relação varia entre 8:1 a 10:1.
conhecidos por afetar sistemas endócrinos (Rosenfeldt and Linden, 2004). Efluente tratado após
tratamento terciário, contém, tipicamente, diversos compostos químicos orgânicos, sintéticos ou
naturais a concentrações baixas, que devem ser removidos ou destruídos para proteger a saúde e o
ambiente, especialmente em aplicações para reúso potável. Os oxidantes convencionais descritos
na Seção 6–7 são capazes de remover alguns constituintes de interesse; entretanto, há incerteza
com relação à formação de subprodutos tóxicos em função da oxidação química convencional.
Além disso, alguns constituintes traços podem ser encontrados no permeado de tratamento por
osmose reversa.
A vantagem da oxidação avançada é a habilidade de gerar concentrações elevadas do radical
hidroxila (HO), um oxidante forte capaz de efetuar a oxidação completa da maioria dos compos-
tos orgânicos produzindo dióxido de carbono, água e ácidos minerais (p.ex., HCl). O ponto que
aparece no radical hidroxila serve para denotar que um elétron isolado está presente na órbita ex-
terna da molécula. Devido ao elétron isolado, os radicais hidroxilas são pilhas elétricas (atrativos a
elétrons) que reagem rapidamente com quase todos os compostos orgânicos ricos em elétrons. As
reações com o radical hidroxila são de segunda ordem porque elas dependem da concentração do
constituinte que é oxidado e da concentração do radical hidroxila. As constantes de taxa de segunda
ordem do radical hidroxila, para muitos compostos orgânicos dissolvidos, estão na ordem de 108 a
109 L/mols (Buxton and Greenstock, 1988), ou seja, três a quatro ordens de magnitude superiores
às constantes de taxas de segunda ordem para outros oxidantes.
Potencial
Oxidante Formas Aplicaçõesa Métodos de aplicação elétrico, V
Flúor Não utilizado — Não utilizado 2,87
Radical hidroxila Gerado em reatores especializados A, B, C, D Ver Seção 6–8 2,80
no momento do uso devido à sua
vida curta
Ozônio Ozônio é um gás gerado no próprio A, B, C, D Ozônio é aplicada à água na 2,08
local passando ar seco comprimido forma gasosa. A transferência de
ou oxigênio puro através de um massa é um aspecto importante
eletrodo de alta voltagem e contactores de ozônio utilizam
usualmente difusores de bolhas
finas e águas profundas para
garantir eficiência elevada.
Ácido peracético Solução líquida estabilizada A, D Solução concentrada misturada com —
a água a ser tratada
Peróxido de Solução líquida A Solução concentrada misturada com 1,78
hidrogênio a água a ser tratada
Permanganato Disponível na forma de grânulos A, B Adicionado como composto 1,67
químico a seco utilizando
um dosador ou uma solução
concentrada (não mais do que
5% por peso devido à sua baixa
solubilidade)
Cloro livre Gás cloro, solução de NaOCl A, D Ventúris a gás e pulverização por 1,36
jatos
Cloro combinado Adição de amônia, amônia gás A, D Ventúris a gás, dosadores de —
(cloraminas) anidro, sulfato de amônia, aqua compostos químicos a seco,
amônia (solução amônia de 20 a pulverização a jato.
30%)
Dióxido de cloro Dióxido de cloro na forma de gás é A Ventúris a gás 1,27
produzido no local, utilizando uma
solução de clorito de sódio a 25%.
A solução reage com os seguintes
constituintes para formar ClO2 (g) : (1)
cloro gasoso (Cl2), (2) cloro aquoso
(HOCl), ou ácido (usualmente ácido
clorídrico, HCl)
Oxigênio Gás e Líquido — Oxigênio puro ou oxigênio do ar é 1,23
aplicado na forma de gás
a
A Oxidação de espécies inorgânicas reduzidas, como metais solúveis, espécies de metais complexadas e destruição de compostos
causadores de odor.
B Oxidação de compostos orgânicos como os compostos tóxicos, cor, redução de COT e de MON.
C Coagulação melhorada.
D Utilizado como biocida no controle de algas em reservatórios e bacias para desinfecção e para controlar crescimento em sistemas de
distribuição.
496 P Capítulo 6 Processos unitários químicos
hidrogênio, (3) transferência de elétron e (4) combinação de radicais (SES, 1994) como abaixo
descrito.
1. Por adição do radical:
A adição do radical hidroxila a um composto alifático insaturado ou aromático orgânico (p.ex.,
C6H6) resulta na produção de um composto orgânico radical que pode ser posteriormente oxi-
dado por compostos como oxigênio ou ferro ferroso para gerar produtos finais oxidados es-
táveis. A adição do radical é muito mais rápida que a abstração do hidrogênio. Nas reações
seguintes a abreviação R é utilizada para denotar o composo orgânico reagente.
A reação de HO com compostos orgânicos por reações de adição de radical com ligações
duplas e de abstração de hidrogênio estão entre os processos mais comuns. Em geral, a reação
de radicais hidroxila com compostos orgânicos, produz, quando completada, água, dióxido de
carbono e sais minerais; este processo é, também, conhecido como mineralização.
Desinfecção. Como foi reconhecido que radicais livres gerados por ozônio são mais potentes
do que apenas ozônio, foi considerado que radicais livres de hidroxila podem ser utilizados efe-
tivamente para oxidar micro-organismos no esgoto. Infelizmente, como a meia-vida dos radicais
livres de hidroxila é curta, na ordem de microssegundos, não é possível produzir radicais hidroxila
em concentrações elevadas. Com concentrações extremamente baixas, os tempos de detenção re-
queridos para a desinfecção de micro-organismos, com base no conceito CRt (ver Capítulo 12), são
proibitivos. Entretanto, POAs que incorporam altas dosagens de energia UV (1000 a 2000 mJ/cm2)
para iniciar reações de fotólise podem ter intensidade suficiente para efetuar níveis significativos
de desinfecção. Testes utilizando estudos-piloto ou efetuados em escala real utilizam-se para deter-
minar o nível real de desinfecção obtido.
de H2O2 requeridos para gerar os radicais hidroxila. Das tecnologias relacionadas na Tabela 6–16,
os POAs comercialmente disponíveis para recuperação de água são ozônio/ UV, ozônio/peróxido
de hidrogênio e peróxido de hidrogênio /UV.
As vantagens e desvantagens de diversos POAs são, também, apresentadas na Tabela 6–16.
Deve ser notado que, após a oxidação, constituintes que eram, previamente, resistentes à degrada-
ção, podem ter sido transformados em compostos biodegradáveis, que requerem tratamento bioló-
gico posterior.
Ozônio/UV. A produção de radicais livres de HO com luz UV pode ser ilustrada pelas reações
seguintes relativas à fotólise de ozônio (Glaze et al., 1987; Glaze and Kang, 1990). O primeiro
passo do processo ozônio/luz ultravioleta (O3/UV) é a formação de H2O2 por fotólise de ozônio.
Como mostrado na Equação (6–52), a fotólise de ozônio em ar úmido resulta na formação de ra-
dicais hidroxila. Na água, a fotólise de ozônio leva à formação de peróxido de hidrogênio, que é,
subsequentemente fotolisado, ou que reage com O3 para formar radicais hidroxila. O processo ozô-
nio/UV pode degradar compostos através de ozonização direta, por fotólise ou por reação com o
radical hidroxila, resultando em um processo que é mais efetivo quando os compostos de interesse
podem ser degradados através de absorção da irradiação UV ou através da reação com os radicais
hidroxila. Os componentes básicos do processo de ozônio/ UV incluem a geração de gás ozônio,
instalações de injeção de ozônio e reatores de fotólise de UV. Um diagrama esquemático de fluxo
de um processo de oxidação típico com ozônio/UV é ilustrado na Figura 6–24.
Embora seja possível fracionar H2O2 a HO por luz UV o coeficiente de extinção de O3 é
maior do que o de H2O2 a l254 nm. Portanto, utilizar ozônio para produzir H2O2, que, por sua vez,
TABELA 6–16 Vantagens e desvantagens de diversos processos de oxidação que produzem radicais hidroxiaa
Processos de oxidação
avançados Vantagens Desvantagens
POAs comercialmente disponíveis para recuperação de água
Peróxido de hidrogênio/ H2O2 é bem estável e pode ser temporariamente H2O2 tem pequena característica de absorção
luz ultravioleta armazenado no local, antes do uso de UV e, se a matriz de água absorve a energia
da luz UV, então a maior parte da entrada de
luz nos reatores será perdida.
São requeridos reatores especiais projetados
para iluminação com UV
O residual de H2O2 deve ser removido
Potencial para deteriorar a lâmpada UV
Peróxido de hidrogênio/ Águas com baixa transmissão de luz UV podem Produção de O3 pode ser um processo caro e
ozônio ser tratadas ineficiente
Não são requeridos reatores especiais A ozônio gasosa presente na saída de gás do
projetados para iluminação com UV contactor de ozônio deve ser removida
Compostos orgânicos voláteis serão extraídos Determinar e manter as dosagens adequadas
do contactor de ozônio (CVOs podem requerer de O3/H2O2 pode ser difícil
tratamento) pH baixos são detrimentais ao processo
Ozônio/UV Não há necessidade de manter doses exatas É necessário utilizar O3 e luz UV para produzir
de O3/H2O2 H2O2, que é o meio primário de produzir
Oxidante residual degrada rapidamente (meia- HO e utilizar O3 para produzir H2O2 é muito
vida típica de O3 é de 7 minutos) ineficiente em comparação à adição de H2O2
(continua)
498 P Capítulo 6 Processos unitários químicos
Processos de oxidação
avançados Vantagens Desvantagens
Ozônio absorve mais luz UV do que São requeridos reatores especiais para
uma dosagem equivalente de peróxido iluminação com UV
de hidrogênio. (~200 vezes mais, a um
comprimento de onda de 254 nm)
Compostos voláteis serão extraídos do processo Ozônio deve ser removida da saída de gases
(CVOs podem requerer tratamento) Potencial para incrustação na lâmpada UV
Outros POAs selecionados
Ozônio/UV/H2O2 São disponíveis processos comerciais que São requeridos reatores especiais para
utilizam a tecnologia iluminação com UV
H2O2 promove a transferência de massa de Ozônio deve ser removida da saída de gases
ozônio
Compostos voláteis serão extraídos do processo Potencial para incrustação na lâmpada UV
(COVs podem requerer tratamento)
Reações de Fenton (Fe/ Alguns efluentes podem conter Fe suficiente O processo requer pH baixo
peróxido de hidrogênio, para alimentar a reação de Fenton
Foto-Fenton ou Fe/ozônio)
São disponíveis processos comerciais que
utilizam a tecnologia
Dióxido de titânio /UV Ativado com luz próxima à de UV; Pode ocorrer degradação do catalisador
consequentemente é obtida maior transmissão Quando utilizado em forma de lama, TiO2 deve
de luz ser recuperado
Potencial para incrustação na lâmpada UV
Ozônio a pH elevado Não requer a adição de luz UV ou de peróxido Ozônio deve ser removida da saída de gases
(8 a 10) de hidrogênio O ajuste de pH não é prático em muitas
aplicações em esgoto
Não estão disponíveis aplicações comerciais
O processo não gera uma destruição apreciável
de contaminantes pelas razões apresentadas na
Seção 6–7
a
Adaptado de Crittenden et al. (2012).
reage com O3 para produzir HO, não deve ser o meio mais eficiente para produzir radicais HO
devido à grande quantidade de energia requerida para formar ozônio no próprio ponto de uso. Os
processos envolvendo dosagem de ozônio e UV na faixa de 16 a 24 mg/L e 810 a 1610 mJ/cm2,
respectivamente, mineralizam uma porção de COT e reduzem o potencial de formação de sub-
produtos da desinfecção em comparação com o uso, tanto de UV como da ozônio separadamente
(Chin e Berube, 2005). Em todos os processos empregando UV, os depósitos sobre os evólucros
das lâmpadas UV, os custos de substituição das lâmpadas e o consumo de energia são considera-
ções importantes.
Ozônio/peróxido de hidrogênio. Em compostos que não adsorvem UV ou quando a trans-
mitância da água a ser tratada inibe a fotólise, os POAs utilizando ozônio/H2O2 podem ser mais
efetivos do que os que utilizam ozônio/UV. Processos utilizando O3/H2O2 têm sido utilizados para
reduzir a concentração de determinados COVs, compostos de petróleo, solventes industriais e pes-
ticidas na água (Karimi et al., 1997; Mahar et al., 2004; Chen et al., 2006). A reação total para a
produção de radicais hidroxila utilizando peróxido de nitrogênio e ozônio é a seguinte.
6–8 Oxidação avançada P 499
(a) (b)
FIGURA 6–24 Processos de oxidação avançados envolvendo o uso de ozônio e radiação UV (a) representação esquemática
(contactor de ozônio é mostrado sem chaminés. Ver, também, o Capítulo12) e (b) vista de uma instalação em escala industrial.
De acordo com essa equação, 0,5 moles de H2O2 são necessários para cada mol de O3 ou uma
relação de massa de 0,354 kg de H2O2 é necessária para cada quilo de O3. Entretanto, há diversos
aspectos que impactam as dosagens adequadas de H2O2 e de O3. Inicialmente, O3 tende a ser mais
reativo na presença de matéria orgânica e espécies inorgânicas do que com H2O2. Como resultado,
a dosagem de O3 requerida será maior do que o valor estimado por estequiometria. As concentra-
ções típicas de ozônio e peróxido de hidrogênio variam de 5 a 30 mg/L e 5 a 15 mg/L, respectiva-
mente. Usualmente, são efetuados estudos-piloto para determinar a dosagem química requerida
para remoção de um determinado nível de constituintes traço. Entretanto, um excesso de dosagem
de O3 leva ao potencial de desperdiçar O3, formando subprodutos da oxidação (p.ex., bromato) e
eliminando radicais HO como mostrado na reação seguinte:
O escoamento
Vaso do continua para
Água com H2O2 reage com reator
constituintes
H2O2
O3 para formar HO . o reator
subsequente
traços
.
HO reage
O3 para oxidação com constituintes
direta de postos traços.
orgânicos e formação H2O2 reage com
de radicais hidroxila hipobromita para
Misturador evitar a formação de
estático bromato por ação da ozônio
(a) (b)
FIGURA 6–25 Processos de oxidação avançados envolvendo o uso de ozônio e peróxido de hidrogênio (a) esquema do reator
HiPOx® e (b) vista do reator descrito em (a) (cortesia de Applied Process Technology, Inc., Pleasant Hill, CA.).
500 P Capítulo 6 Processos unitários químicos
O radical HO2 formado de acordo com a Equação (6–54), pode reagir para formar radicais
HO adicionais. Para evitar o problema de formação de subprodutos e redução de HO, projetos
novos de reatores têm incorporado a adição de H2O2 ou O3 em diversos pontos em um único reator
e pelo uso de múltiplos reatores em série. Um diagrama de fluxo esquemático e uma vista do reator
utilizado para reagir peróxido de hidrogênio e ozônio é mostrado na Figura 6–25. O excesso de
H2O2 é, também, detrimental ao POA com H2O2/O3 porque ele pode remover HO. Além disso, o
residual de H2O2 pode ser mais problemático do que a ozônio, porque o peróxido de hidrogênio é
mais estável que ela, e em algumas aplicações, poderá ser necessário remover o peróxido de hidro-
gênio antes de reusar o efluente. O peróxido de hidrogênio reage rapidamente com hipoclorito para
formar água, oxigênio e íon cloreto.
Peróxido de hidrogênio/UV. Radicais hidroxila são, também, formados quando água conten-
do H2O2 é exposta à luz UV (200 a 280 nm). A reação seguinte pode ser utilizada para descrever a
fotólise de H2O2.
Em alguns casos, o uso do processo de peróxido de hidrogênio/UV não é viável porque o H2O2 tem
um coeficiente de extinção menor, requerendo concentrações elevadas de H2O2 e grandes dosagens
de UV. Um diagrama de fluxo esquemático e uma instalação típica do processo de peróxido de
hidrogênio /UV é mostrado na Figura 6–26.
Os elementos básicos do processo de peróxido de hidrogênio/luz ultravioleta (H2O2/UV) inclui
a injeção de peróxido de hidrogênio e mistura, seguido de um reator que é equipado com lâmpadas
UV (ver Figura 6–26). Configurações típicas de reatores de H2O2/UV incluem reatores em linha
de aço inoxidável com baixa pressão (baixa e alta intensidade) ou lâmpadas UV de pressão média
arranjadas paralelamente ao escoamento, perpendicularmente ao escoamento ou em colunas ascen-
dentes com lâmpadas cruzadas, orientadas perpendicularmente à direção do escoamento.
O processo H2O2/UV não tem sido utilizado para tratamento de água potável porque produz,
normalmente, um efluente com concentrações elevadas de H2O2. Entretanto, o peróxido de hidro-
gênio residual não representa problemas em recuperação de água. As concentrações elevadas de
H2O2 no efluente ocorrem porque dosagens iniciais elevadas de H2O2 são requeridas para utilizar
a luz UV eficientemente e produzir radicais hidroxila. O residual de H2O2 consumirá cloro inter-
Água
Placa para
tratada
distribuição da vazão
Reator UV
com 1 metro
de diâmetro 0,4 m (típico)
15 lâmpadas de pressão
Suprimento média (15kW) com
de energia paredes de quartzo e
e suporte com mecanismo de
para limpeza de lâmpadas.
lâmpadas As lâmpadas são
colocadas
H2O2 perpendiculares às
outras
Água a ser
Placa para distribuição
tratada
da vazão
(a) (b)
FIGURA 6–26 Processos de oxidação avançados com peróxido de hidrogênio e radiação UV (a) dia-
grama esquemático (de Crittenden et al., 2012) e (b) fotografia de um reator típico de UV com escoamento
vertical.
6–8 Oxidação avançada P 501
ferindo com a desinfecção. Em alguns casos, quando doses elevadas de UV são requeridas para
fotólise de NDMA (N-Nitrosodimetilamina) (ver Capítulo 2), pode ser adicionado H2O2 para obter
oxidação avançada de outros constituintes que são, unicamente, resistentes à fotólise (Linden et al.,
2004). Esse método de operação está sendo utilizado atualmente em diversas aplicações de recupe-
ração de água. Os detalhes necessários para modelar o processo H2O2/UV podem ser encontrados
em Crittenden et al. (1999). Conforme discutido no Capítulo 12, os processos de UV estão sujeitos
à formação de depósitos na estrutura das lâmpadas, a custos de substituição de lâmpadas e a custos
elevados de consumo de energia elétrica.
Outros processos. Outras reações que produzem HO incluem as reações de H2O2 e UV com
reagentes Fenton e a adsorção de UV por óxidos de semimetal condutor como TiO2 suspenso na
água, que age como catalisador. Outros processos estão, ainda, em desenvolvimento.
a
Adaptado de Crittenden et al. (2012).
502 P Capítulo 6 Processos unitários químicos
pendem da concentração de radicais hidroxila e do composto a ser oxidado. A reação entre HO e
um composto orgânico de interesse, R, é representada como segue:
A lei da taxa de segunda ordem, rR, correspondente à reação mostrada na Equação 6–56, é dada
pela expressão seguinte.
rR KRCHOCR (6–57)
A meia-vida de compostos orgânicos alvos pode ser calculada assumindo que HO é constante
e igual a um valor típico de campo ou igual à especificação do fabricante. A expressão para a meia-
-vida de um composto orgânico é obtida pela substituição da lei de taxa por um balanço de massa
em um reator estático, cujo conteúdo esteja completamente misturado, e resolvendo e arranjando o
resultado, como segue:
(6–58)
(6–59)
Solução
1. Desenvolva uma expressão da concentração de NDMA em função do tempo em um rea-
tor batelada completamente misturado (RBCM). Note que o tempo de residência em um
reator tubular ideal é equivalente ao tempo de residência de um reator batelada completa-
mente misturado.
a. Utilizando a Equação (6–58), a expressão da taxa para um RECM, onde CR representa
a concentração de NDMA é dado por
onde k9 kRCHO
b. A forma integrada para a expressão da taxa para um RECM é:
6–8 Oxidação avançada P 503
2. Calcule o tempo necessário para obter uma concentração de 20 mg/L utilizando a equa-
ção desenvolvida na etapa 1.
a. Rearrange a equação acima para resolver para t.
b. Resolva para t.
O valor de k', da etapa 1 é
Comentário
O processo de oxidação avançado para a remoção de NDMA parece ser viável devido ao
pequeno tempo de contato requerido para a reação. Como alguns compostos orgânicos de
interesse reagem muito lentamente com HO, esses compostos requerem maiores tempos
de reação e/ou concentrações elevadas de HO. A presença de matéria orgânica, carbonatos,
bicarbonatos e pH também reduzem do POA e devem ser considerados durante o projeto do
processo. Conforme discutido no Capítulo 4, testes em escala de bancada ou estudos-piloto
serão requeridos para determinar o projeto específico do sistema em consideração e respecti-
vos parâmetros operacionais.
dação avançada. Íons de bicarbonato e carbonato são conhecidos como eliminadores de radicais
HO reduzindo, significativamente, a taxa de destruição de compostos orgânicos Infelizmente as
concentrações de HCO3 e CO32 são, frequentemente, três ordens de magnitude superiores aos
compostos orgânicos visados para destruição. Mesmo alcalinidades baixas (50 mg/L) reduzem a
taxa de destruição de TCE por um fator de 10 a um pH de 7 (Crittenden et al., 2012). Entretanto,
em pHs elevados uma alcalinidade determinada é mais detrimental porque a constante de taxa de
segunda ordem com CO2 3 é muito maior do que HCO3 . Esgoto com pH e alcalinidade elevados
são mais difíceis de serem tratados utilizando POAs. Para superar essas dificuldades e melhorar a
eficiência de POAs, processos de pré-tratamento, como redução da dureza ou de osmose reversa,
são utilizados para remover a alcalinidade.
Impacto do pH. O pH afeta o desempenho de POAs porque determina a distribuição das espé-
cies de carbonatos, HCO3 e CO32, conforme discutido. O pH controla, também, a concentração de
HO2 (H2O2 tem um pKa de 11,6), o que é importante nos processos de oxidação avançados do tipo
H2O2. Por exemplo, no processo H2O2/UV, HO2 tem, aproximadamente 10 vezes a absorbância de
UV a 254 nm (228 L/molcm) do que o H2O2; consequentemente, o processos H2O2/UV pode ser
mais efetivo a valores mais elevados de pH. Elevando o pH para melhorar o desempenho do pro-
cesso seria prático apenas se o pH fosse elevado para outras finalidades, como a redução de dureza.
Finalmente, o pH afeta a carga dos compostos orgânicos se esses forem bases ou ácidos fracos. A
reatividade e as propriedades de absorção de compostos podem ser afetadas por suas cargas, uma
observação que deve ser considerada no projeto de POAs (Crittenden et al., 2012).
Impacto de íons de metais. Íons de metais em estados de oxidação reduzidos como Fe(II) e
Mn(II), podem consumir quantidades significativas de oxidantes químicos e assimilar radicais HO
Consequentemente, a concentração de íons de metais reduzidos deve ser medida como parte de
qualquer estudo de tratabilidade e as dosagens de oxidantes necessárias devem incluir a DQO das
espécies de metais reduzidos.
Impacto de outros fatores. Outros fatores que podem afetar o processo de tratamento in-
cluem o material suspenso (que afeta a transmissão da luz), o tipo e a natureza do COT e DQO do
residual. Por exemplo, material não orgânico (MNO), que reage com radicais hidroxila, pode ter
uma grande influência na taxa de reação. Como a química da matriz da água é diferente para cada
água recuperada, testes de bancada ou estudos-piloto são, quase sempre, requeridos para verificar
a viabilidade técnica, para obter dados e informações úteis de projeto e para obter experiência ope-
racional com um POA específico.
Meios de superar as limitações do processo. Para superar os problemas acima referidos,
os processos de oxidação avançados são, tipicamente, utilizados após o tratamento por osmose
reversa. Além disso, se tempos de reação adequados são proporcionados, > 99% dos constituintes
orgânicos (medidos através de um balanço de massa em termos de COT) serão mineralizados (Ste-
fan e Bolton, 1998; Stefan et al., 2000).
6–9 FOTÓLISE
Fotólise é um processo pelo qual os constituintes são quebrados por exposição e adsorção de fótons
de uma fonte luminosa. Como com os POAs, o uso primário de fotólise é para a remoção de com-
postos orgânicos traços em aplicações de reúso de água. Em sistemas naturais, a luz solar é a fonte
de luz para as reações de fotólise, entretanto, em sistemas projetados, lâmpadas ultravioleta (UV)
são utilizadas para produzir a energia fotônica. Os fótons adsorvidos fazem com que os elétrons
das órbitas externas de alguns compostos se tornem instáveis dividindo-se ou se tornando reativos.
A eficiência do processo de fotólise depende, em parte, das características da água recuperada, da
estrutura dos compostos, do projeto do reator de fotólise e da dose e comprimento de onda da luz
aplicada. A taxa da fotólise pode ser estimada em função da taxa na qual o composto absorve luz e
da eficiência fotônica da reação (rendimento quântico).
6–9 Fotólise P 505
(a) (b)
FIGURA 6–27 Vista de reatores de fotólise de oxidação avançada para a remoção de constituintes,
como NDMA de esgoto reclamado: (a) três reatores em série contendo, cada um, 72 lâmpadas UV e (b)
fiação das 72 lâmpadas mostradas com a tampa da parte final do reator removida.
Aplicações de fotólise
A fotólise pode ser utilizada para a remoção de diversos compostos, como o NDMA (ver Capítu-
lo 3) e outros constituintes orgânicos traços. Deve ser notado que muitos compostos não são re-
movidos utilizando unicamente fotólise, e que a adição de peróxido de hidrogênio pode estimular
a degradação desses constituintes. Entretanto, a adição de peróxido de hidrogênio pode reduzir a
fotólise de certos compostos, como o NDMA (Linden et al., 2004). Conforme descrito na Seção
6–8, a fotólise de peróxido de hidrogênio, resultando na formação de radicais de hidroxila, é um
processo de oxidação avançado conhecido por sua eficiência na remoção da maioria dos compos-
tos orgânicos.
Processos de fotólise
Reações programadas de fotólise são efetuadas em reatores especialmente projetados e otimizados
em relação às doses de UV. Reatores de fotólise compreendem, tipicamente, uma coluna ou tubo
de aço inoxidável contendo lâmpadas UV arranjadas paralelamente ou perpendicularmente à dire-
ção do escoamento, ou em um padrão cruzado, perpendicularmente à direção do escoamento. Um
exemplo de um reator utilizado para fotólise é mostrado na Figura 6–27. Os depósitos que podem
ocorrer na parte externa da capa protetora de quartzo podem ser removidos utilizando um sistema
de limpeza automática que consiste de um anel que se move periodicamente ao longo da lâmpada
para remover os precipitados e para interceptar materiais. Quando utilizado em conjunto com o
pré-tratamento por osmose reversa, os compostos químicos utilizados para reduzir o pH e controlar
a incrustação nas membranas reduzem, também, o potencial de precipitação nas lâmpadas UV.
As reações de fotólise são causadas por emissão de luz na faixa ultravioleta (200 a 400 nm, ver,
também, Figura 12–33 no Capítulo 12). Há três tipos de lâmpadas UV utilizadas para processos de
fotólise: (1) baixa pressão e baixa intensidade, (2) baixa pressão alta densidade e (3) pressão média
e alta intensidade. Lâmpadas de baixa pressão emitem a maioria de sua energia no comprimento
de onda de 254 nm, enquanto que as lâmpadas de pressão média emitem energia a comprimentos
de onda múltiplos (ver Figura 12–33 no Capítulo 12). O tipo de lâmpada utilizada e a configuração
do reator dependem do constituinte a ser removido, assim como da matriz da água e de condições
específicas locais.
506 P Capítulo 6 Processos unitários químicos
(6–61)
(6–62)
Solução
1. Converta a concentração em massa do NDMA em solução para mol/L.
Utilizando a tabela periódica da parte interna da capa ao final deste livro, o peso molecu-
lar de NDMA é 74,09 g/mol. A concentração é determinada como segue:
Comentário
Devido à baixa concentração de NDMA na água, a absortividade é, também, baixa. Se a
fotólise foi planejada para a remoção de NDMA, outros constituintes presentes na matriz de
água que absorvem fótons também necessitam ser considerados, assim como a absorbância
de fundo da matriz de água.
508 P Capítulo 6 Processos unitários químicos
(6–63)
Embora a análise acima seja satisfatória para uma avaliação teórica, o desempenho real de um fo-
torreator deve ser menor do que o valor computado pela Equação (6–63) devido à luz que é absor-
vida pelas paredes do reator ou bloqueada pelo precipitado que se forma no envoltório da lâmpada.
Embora um fator de segurança específico para um determinado sistema possa ser aplicado para
compensar essas deficiências, são utilizados estudos-piloto para obter critérios de projeto mais
confiáveis.
Taxa de fotólise. A taxa na qual um composto é fotolisado depende da taxa e da frequência de
absorção do fóton. A taxa volumétrica de absorção de fótons, derivada da Equação (6–62), é:
(6–64)
Onde Iv taxa na qual fótons são absorvidos por volume de solução, em um ponto determinado
einstein/cm3s
(l) coeficiente de extinção na base e ou absorvidade molar de luz do soluto absorvente no
comprimento de onda l 2,303e(l), L/molcm
Outros termos como anteriormente definidos.
O rendimento quântico é a quantidade utilizada para descrever a frequência na qual a absorção
de fóton resulta em uma reação de fotólise e é específico do tipo de composto e do comprimento de
onda. O rendimento quântico, f(l), é definido como sendo igual ao número de reações de fotólise
dividido pelo número de fótons absorvidos pela molécula, como segue
taxa de reação
(6–65)
taxa de adsorção de fótons
Como regra geral, o rendimento quântico cresce conforme o comprimento de onda decresce (ener-
gia fotônica crescente). Rendimentos quânticos selecionados no comprimento de onda de 254 nm
são sumarizados na Tabela 6-18.
Tipicamente, a absorção de luz pelo componente alvo para ser removido é menor em compa-
ração à absorção de luz pela matriz de água (Crittenden et al., 2012). A lei da taxa de pseudo de
primeira ordem para a reação de fotólise é
6–9 Fotólise P 509
(6–66)
Após a obtenção da lei da taxa, ravg, um reator de modelo adequado pode ser utilizado para a deter-
minação do desempenho esperado.
Eficiência elétrica. O requerimento de energia elétrica para reações fotolíticas é significante,
devido às deficiências do processo. Consequentemente, é importante comparar a eficiência do pro-
cesso com base na utilização de energia elétrica por quantidade de destruição de composto. Essa
medida é a eficiência elétrica por ordem log (EE/O) de destruição de composto (Bolton and Cater,
1994). A definição de EE/O é a energia elétrica (em kWh) requerida para reduzir a concentração de
um constituinte de uma ordem de magnitude para 3.785 L (1.000 U.S. galões) de água.
Para um Sistema de escoamento contínuo, a introdução de energia pode ser dividida por EE/O
para obter uma estimativa da vazão que pode ser tratada em uma determinada reação e obter uma
redução de uma ordem de magnitude em termos de concentração. Consequentemente, EE/O é uma
medida conveniente porque pode ser utilizada para estimar a energia que é requerida para reduzir a
concentração do contaminante de uma ordem de magnitude.
Devido à variabilidade das características do esgoto, o valor requerido de EE/O para a redução
de um log (i.e., 100 para 10) de NDMA pode variar de 21 a 265 kWh/103 m3ordem log (0,08 a 1,0
kWh/103 galão. ordem log) com uma dose de 5 a 6 mg/L de H2O2, embora devam ser conduzidos
testes para determinar se há necessidade de adicionar peróxido (Soroushian et al., 2001).
Solução
1. Calcule a entrada de energia fotônica por unidade de volume do reator.
a. Calcule a potência total das lâmpadas.
O valor calculado de EE/O é baixo em comparação à faixa típica para águas subterrâneas
e superficiais devido à alta qualidade do efluente do processo de OR. A osmose reversa
remove ou reduz muitos dos constituintes que interferem com a fotólise de constituintes
específicos e pode produzir efluentes com absorbância baixa, melhorando a eficiência do
processo de fotólise.
6. Estime a quantidade diária total de energia consumida pelo processo.
Para os três reatores operacionais, a utilização de energia estimada é
Comentário
Os reatores de fotólise dimensionados no exemplo representam uma dimensão mínima não
incluindo fatores de correção para escoamento não ideal, variabilidade na emissão das lâmpa-
das e outras ineficiências. Estudos de bancada ou piloto são sempre requeridos para determi-
nar os parâmetros reais para projeto.
bloquear a transmissão de luz. Para alguns constituintes, o desempenho dos processos de fotólise
direta têm sido melhorados pela adição de peróxido de hidrogênio (Linden et al., 2004), como
descrito na Seção 6–8. Para superar as limitações associadas com os processos de fotólise relativos
à absorbância da energia de UV por constituintes que não tenham interesse em reúso de água, o
pré-tratamento com osmose reversa deve ser utilizado para remover a maioria dos compostos in-
terferentes e melhorar o desempenho total do processo. Estudos-piloto devem ser efetuados para
identificar a eficiência esperada do processo de fotólise, assim como a taxa e as características da
formação de depósitos nas estruturas das lâmpadas.
química, geralmente, é requerida para esgotos altamente tratados para controlar a agressividade em
relação à corrosão. Esses temas são considerados brevemente adiante.
Ajuste de pH
Em diversas operações e processos de tratamento de esgoto, há, frequentemente, a necessidade de
ajuste do pH. Como existem muitos produtos químicos utilizados para uma aplicação específica, a
escolha depende da adequabilidade de um determinado produto e do custo correspondente. Infor-
mação geral sobre os compostos químicos mais utilizados para ajuste de pH é dada na Tabela 6–19.
Esgoto ácido pode ser neutralizado com diversos produtos químicos básicos, como relacionado na
Tabela 6–19. Hidróxido de sódio (NaOH, também conhecido como soda cáustica) e carbonato de
sódio, embora um pouco caros, são adequados e largamente utilizados em pequenas estações ou
quando quantidades pequenas são suficientes para tratamento. Cal hidratada, que é barata, mas um
pouco menos conveniente, é o composto químico mais amplamente utilizado. Ela pode ser adquiri-
da como óxido de cálcio ou cal hidratada dolomítica com alta concentração de cal e em diferentes
formas físicas. Calcário e calcário dolomítico são mais baratos, mas mais difícil de ser utilizados e
têm taxas de reação mais lentas. Como eles podem ser revestidos em determinadas aplicações de
tratamento de esgoto têm uso limitado. Compostos químicos de cálcio e de magnésio geralmente
formam lodos que requerem disposição.
Esgotos alcalinos são menos problemáticos do que esgotos ácidos, mas, geralmente requerem
tratamento. Se vazões de esgotos ácidos não são disponíveis ou não são adequadas para neutralizar
esgoto alcalino, é utilizado ácido sulfúrico. Em algumas estações de tratamento é utilizado dióxido
TABELA 6–19 Produtos químicos mais comumente utilizados para controle do pH (neutralização)
Disponibilidade
Composto químico Fórmula Peso molecular Peso equivalente Forma Porcentagem
Para aumentar o pH
Carbonato de cálcio CaCO3 100,0 50,0 Pó esmagado 96 a 99
Hidróxido de cálcio (cal Ca(OH)2 74,1 37,1 Pó em grânulos 82 a 95
clorada)
Óxido de cálcio CaO 56,1 28,0 Agregado, pedra, solo 90 a 98
Cal hidratada [Ca(OH)2]0.6 67,8 33,8 Pó 58 a 65
dolomítica [Mg(OH)2]0.4
Óxido de cálcio (CaO)0.6(MgO)0.4 49,8 24,8 Agregado, pedra, solo 55–58 CaO
dolomítico
Hidróxido de magnésio Mg(OH)2 58,3 29,2 Pó
Óxido de magnésio MgO 40,3 20,2 Pó granulado 99
Bicarbonato de sódio NaHCO3 84,0 84,0 Pó granulado 99
Carbonato de sódio Na2CO3 106,0 53,0 Pó 99,2
Hidróxido de sódio NaOH 40,0 40,0 Floco sólido, 98
(soda cáustica) solo, líquido
Para reduzir o pH
Ácido carbônico H2CO3 62,0 31,0 Gás (CO2)
Ácido clorídrico HCl 36,5 36,5 Líquido 27,9, 31,45, 35,2
Ácido sulfúrico H2SO4 98,1 49,0 Líquido 77,7 (60° Be)
93,2 (66° Be)
a
Adaptado, em parte, de Eckenfelder et al. (2009).
6–10 Neutralização química, controle da incrustação e estabilização P 513
de carbono (CO2) na forma gasosa para neutralizar esgoto alcalino, como ilustrado pelas reações
seguintes
(6–69)
(6–70)
Com base na dose de cloro utilizado para desinfecção, o pH do efluente desinfetado será menor do
que o permitido para aplicações de reúso e para dispersão no ambiente. Nesses casos, a neutraliza-
ção é controlada por instrumentos automáticos, utilizando um circuito de retorno, e o pH final do
efluente é registrado. Dependendo da sensitividade do ambiente, pode ser requerido dois estágios
de neutralização. Os reagentes químicos podem ser dosados automaticamente, na forma de solu-
ções, pastas, ou materiais secos. Se a taxa de reação é baixa, o projeto do sistema de controle e a
instrumentação devem considerar esse fator.
Índice Forma geral da relação Sistemas subsaturados Sistemas saturados Sistemas supersaturados
Índice de agressividade IA pH log10[(Ca)(Alk)] IA 10 10 IA 12 IA 12 Não agressiva
(IA)a,b Ca e alcalinidade expressos como mg CaCO3/L Altamente agressiva Moderadamente agressiva (i.e.. protetiva)
Índice de saturação de cálcio ISC pH Tf Af Cf 12,1 ISC 0,3 ISC ⬃ 0 ISC 0
(ISC)b onde Tf temperatura, Af alcalinidade, Pode incrustar A água está balanceada A água não incrusta
Cf fatores de cálcio tomados de tabelas
Potencial de precipitação de Modelo de computação complexo modela a solução
carbonato de cálcio (PPCC)c,b
Índice de força motriz IFM IFM 1 IFM 1 IFM 1
(IFM)d,b e expresso como mg CaCO3/L
514 P Capítulo 6 Processos unitários químicos
a
Millette et al. (1980), bTemkar et al. (1990), cStandard Methods (2012), dMcCauley (1960),
e
Langelier (1936), fLarson and Skold (1958), gPuckorius and Brooke (1991), hRyzner (1944), iDye (1952).
6–10 Neutralização química, controle da incrustação e estabilização P 515
Exemplo:
0°C (32°F) 2,9
Temperatura = 20°C Constante
TDS K em
constant "K"função da
pH = 8,19 temperatura e de SDT 4.4°C (40°F)
4,4°C 2,8
Ca2+ = 800 mg/L como CaCO 3 2,7
10°C (50°F)
HCO3 = 774,8 mg/L como CaCO 3 2,6
TDS = 7853,6 mg/L (usar 5.000 mg/L) 15.6°C (60°F)
15,6°C
2,5
pCa = 2,10
constante k
1,8
4,0 1,7
lineCa 2+
Ca2+ de
Linha
3,0
Linha de HCO3–
2,0
1,0
1 2 3 5 10 20 30 50 100 200 500 1000 5000
Ca2+ e HCO 3– como CaCO 3 e TDS, mg/L
FIGURA 6–28 Quadro para determinar o valor do Índice de Saturação de Langelier. (Adaptado de
DuPont Company, 1992.)
516 P Capítulo 6 Processos unitários químicos
Constante de equilíbriob
Temperatura, °C Ka1 107 Ka2 1011 Ksp 109
5 3,020 2,754 8,128
10 3,467 3,236 7,080
15 3,802 3,715 6,02
20 4,169 4,169 5,248
25 4,467 4,477 4,571
40 5,012 6,026 3,090
a
Adaptado de Snoeyink and Jenkins (1980) e Pankow (2012).
b
Os valores reportados foram multiplicados pelo expoentes indicativos. Assim, o valor K2 a 20°C é igual a 4,169
1011.
(6–73)
O coeficiente de atividade pode ser estimado utilizando a Equação (2–10) ada no Capítulo 2.
(2–10)
A força iônica pode ser estimada utilizando a Equação (2–12) dada no Capítulo 2.
(6–74)
Valores de K1, K2 e Ksp para o sistema carbonato são dados na Tabela 6–21 em função da tem-
peratura. A aplicação dessas equações é ilustrada no Exemplo 6–9.
6–10 Neutralização química, controle da incrustação e estabilização P 517
Concentração
Constituinte g/m3 mol/L
Ca 2
5 0,125 103
HCO3 10 0,164 103
TDS 20
pH 7,7
Solução
1. Estime a força iônica da água tratada utilizando a Equação (2–11).
b. Para bicarbonato
(continua)
518 P Capítulo 6 Processos unitários químicos
(continuação)
Comentário
Embora ambos os índices sejam utilizados, o índice de Langelier é mais comum no campo de
água e esgoto, enquanto que o índice de Ryzner é mais utilizado em aplicações industriais.
Controle da incrustação
Usualmente, o controle de incrustação de CaCO3 pode ser obtido utilizando um ou mais dos méto-
dos seguintes:
• Acidificação para reduzir o pH e a alcalinidade
• Redução de concentração de cálcio por troca iônica ou redução da dureza da cal clorada
• Ação de um composto químico inibidor de incrustação (anti-incrustante) para aumentar a esta-
bilidade aparente do CaCO3 na corrente concentrada (ver Capítulo11)
• Redução da taxa de recuperação de OR (ver Capítulo 11)
Como não é possível prever o valor do pH da água tratada por osmose reversa é, usualmente, ne-
cessário efetuar estudos de bancada ou piloto utilizando os mesmos módulos que serão utilizados
nas instalações em escala real.
Estabilização
Efluente de esgoto que é desmineralizado por osmose reversa requer, geralmente, ajuste de pH
e de carbonato de cálcio (estabilização) para prevenir corrosão metálica em tubulações e em
equipamentos. A corrosão ocorre porque material de sólidos é removido (solubilizado) para
satisfazer os diversos produtos de solubilidade. A água desmineralizada é, tipicamente, estabi-
lizada pela adição de cal hidratada para ajustar o ISL, utilizando o procedimento anteriormente
delineado.
Dosadores químicos
Solução Amônia
em pasta Cloro
Gravimétrico Volumétrico
Oxigênio
Ozônio
Dióxido de enxofre
Esteira Esteira
Perda em peso Placa girante
Autopropelido Rotativo
Rosca
Agitador
Vibratório
da são, geralmente, entregues na estação em uma forma concentrada devendo ser diluído antes de
sua introdução no esgoto. Compostos químicos em forma de gás (geralmente estocados em forma
líquida), utilizados para desinfecção podem ser dissolvidos em água antes da injeção ou injetados
diretamente no esgoto. Os tipos de sistemas de alimentação ou de dosagem utilizados por esses
produtos químicos são designados como seco, líquido (também conhecido como molhado) ou gás.
Os diversos tipos de alimentadores são classificados na Figura 6–29. Os alimentadores são, em
geral, classificados como (1) proporcionado, alimentando produtos químicos em proporção à vazão
do esgoto influente e (2) de alimentação constante, projetados para fornecer compostos químicos a
uma taxa fixa, independentemente da vazão do influente.
Forma de Forma de
Composto químico Fórmula transporte alimentação Tipo de alimentação Equipamento acessório Materiais de manuseio
Compostos químicos utilizados para precipitação
Sulfato de alumínio Al2(SO4)318H2O Em pedaços, moído Líquido Bomba medidora Tanque de pasta, queimador Ferro, aço
ou soluções de pó
Cloreto de alumínio AlCl3 Líquido Líquido Bomba medidora Tanque de armazenagem Hastelloy B, plástico
Hidróxido de cálcio Ca(OH)2 Sacos, barris e a Líquido Bomba medidora Tanque de pasta Ferro, aço
(cal clorada) granel
Cloreto férrico FeCl3 Sacos, garrafões e a Líquido Bomba medidora Tanque de pasta Ferro, aço
granel
Sulfato férrico Fe2(SO4)3 Sacos, barris e a Líquido Bomba medidora Tanque de pasta Ferro, aço
granel
Sulfato férrico FeSO47H2O Líquido Bomba medidora Tanque de pasta Ferro, aço
hidratado
520 P Capítulo 6 Processos unitários químicos
Ácido clorídrico HCl Barris, tambores, a Líquido Bomba medidora Tanque de diluição Hastelloy A, plástico, borrachab
granel
Ácido sulfúrico H2SO4 Garrafões, Líquido Bomba medidora Ferro, aço, plástico, mangueira
tambores, a granel de borracha
a
Adaptado em parte de Eckenfelder et al. (2009).
b
Tipos selecionados.
6–11 Armazenamento de produtos químicos, dosagem, tubulações e sistemas de controle P 521
(a) (b)
(c) (d)
FIGURA 6–30 Instalações típicas de armazenamento de produtos químicos: (a) instalação externa em
uma estação pequena de tratamento de esgoto (os tanques são locados dentro de uma estrutura de con-
tenção para evitar vazamentos externos), (b) tanques de armazenamento locados internamente em uma
área de contenção, (c) tanques de armazenamento locados internamente em piso gradeado com área
de contenção química abaixo e (d) grande instalação de armazenamento de produtos químicos locada
dentro de uma estrutura de contenção. A estação de alimentação química está situada entre os tanques
de armazenamento.
controlado visando formar uma solução de concentração constante, devem ser utilizados mistura-
dores. Dependendo do padrão de escoamento dentro do tanque de mistura, poderá ser necessário
adicionar cortinas para obter uma mistura efetiva. Em pequenos tanques de mistura, o misturador
pode ser instalado formando um ângulo com o tanque para evitar o uso de cortinas. As soluções
ou pastas são, frequentemente, estocadas após a mistura e descarregadas ao ponto de aplicação em
taxas medidas por bombas dosadoras de produtos químicos.
Linha de
Coletor abastecimento
de poeira (pneumática)
Coletor
de poeira
Caixa de Abastecimento
armazenamento com sacos
a granel Tela
Caixa de
Comporta da caixa abastecimento
diário com sacos
ou tambores de
Conexão produtos químicos
flexível secos
Abastecimento Alimentador
Removedor de
de água
poeira ou vapor Balança ou
coletor de amostra
Dreno Válvula de Válvula Cortina
controle solenoide
Tanque de
Rotâmetro Aplicação por gravidade
dissolução
Sondas
Válvula
de nível
redutora
de pressão Tanque
de retenção
FIGURA 6–32 Sistema típico de dosagem química a seco (a) funil de armazenamento único e (b) dois
funis de armazenamento de produtos químicos para alimentadores químicos e tanques de dissolução indi-
viduais através de conectores flexíveis, como ilustrado esquematicamente na Figura 6–31.
6–11 Armazenamento de produtos químicos, dosagem, tubulações e sistemas de controle P 523
Motor de
velocidade variável Para o uso
Para o uso
Para o uso
dos tanques de armazenamento; compostos químicos, altamente reativos, não devem ser estocados
próximos uns dos outros.
Ventilador,
Misturador
extravazor e dreno
Ventilador,
extravasor e dreno Ponto de amostragem
Água de
diluição
(a) (b)
FIGURA 6–33 Sistema típico de alimentação química líquida (a) esquema e (b) vista de um grande tanque para alimentação
de um dia, com misturador. Note, também, a cortina interna de deflexão para melhorar a mistura (ver Figura 5–14).
TABELA 6–24 Tempos de mistura típicos para diversos compostos químicos utilizados em
estações de tratamento de esgoto
Tempos de mistura
Composto químico Aplicações recomendados, s
Alúmen, Al3; Cloreto férrico, Fe3 Coagulação de partículas coloidais 1
Alúmen, Al3; Cloreto férrico, Fe3 Precipitação de flocos por varredura 1–10
Cal clorada, Ca(OH)2 Precipitação química 10–30
Cloro, Cl2 Desinfecção química 1
Cloramina, NH2Cl Desinfecção química 5–10
Polímeros catiônicos Desestabilização de partículas coloidais 1
Polímeros aniônicos Formação de pontes entre partículas 1–10
Polímeros não iônicos Auxiliares de filtração 1–10
526 P Capítulo 6 Processos unitários químicos
(a) (b)
(c) (d)
FIGURA 6–34 Sistemas externos para alimentação de produtos químicos líquidos: (a) bombas internas medidoras de cloro e
(b), (c) e (d) estações externas típicas para alimentação de produtos químicos.
(d) A quantidade em quilos de alúmen necessário para obter a mesma quantidade de lodo calculado
no item (c), assumindo que Al(OH)3 seja o precipitado formado.
6–3 Assuma que 40, 45, 50 e 55 kg (valor a ser selecionado pelo instrutor) de (a) alúmen (peso molecu-
lar 666,5) e (b) sulfato ferroso e cal clorada como Ca(OH)2 seja adicionado por 4000 m3 de esgoto.
Assuma, também, que todo os produtos da reação, insolúveis e muito pouco solúveis, com exceção
de 15 g/m3 CaCO3, são precipitados como lodo. Quantos quilos de lodo /1000 m3 resultarão em cada
caso?
6–4 Esgoto bruto deve ser tratado quimicamente para a remoção de sólidos suspensos totais e fósforo por
coagulação, floculação e sedimentação. As características do esgoto são as seguintes: Q 0,75 m3/s;
ortofosfato 10 g/m3 como P; alcalinidade 200 g/m3 expressa como CaCO3 [essencialmente todos
devido à presença de Ca(HCO3)2]; SST total 220 g/m3.
a. Determine a produção de lodo em kg de peso seco /dia e em m3/dia sob as condições seguintes:
(1) alúmen [Al2(SO4)314,3 H2O] dosagem de 120, 130, 140 ou 150 g/m3 (valor a ser selecionado
pelo instrutor); (2) 100% de remoção de ortofosfato como AlPO4; insolúvel; (3) 95% de remoção
do SST original; (4) todo o alúmen não requerido para a reação com o ortofosfato reage com a
alcalinidade para formar Al(OH)3, que é 100% removida; (5) o lodo úmido tem uma umidade de
93% e um peso específico de 1,04.
b. Determine a produção de lodo em kg seco /dia e m3/dia sob as condições seguintes 1) cal clorada
[Ca(OH)2] dosagem de 450 g/m3 para produzir um pH de aproximadamente 11,2; (2) remoção
de 100% de ortofosfato como hidroxilapatita insolúvel [Ca10(PO4)6(OH)2]; (3)95% de remoção
do SST original; (4) cal clorada adicionada (i) reage com o fosfato, (ii) reage com a alcalinidade
para formar CaCO3, 20 g/m3 de CaCO3 é solúvel e permanece em solução e o restante é 100%
removido e (iii) o remanescente permanece em solução; (5) o lodo úmido tem uma umidade de
92% e um peso específico de 1,05.
c. Determine o aumento líquido de dureza de carbonato em g/m3 como CaCO3 para o tratamento
especificado na parte b.
6–5 Verifique se um dos gráficos mostrados na Figura Fig. 6–8 está correto, utilizando as equações dadas
abaixo das figuras.
6–6 Obtenha os valores de equilíbrio da literatura e verifique uma das curvas de solubilidade dada na
Figura 6–21.
6–7 Obtenha os valores de equilíbrio da literatura e verifique uma das curvas de solubilidade dadas na
Figura 6–22.
6–8 Utilizando os potenciais para as duas meias-reações seguintes, dadas na Tabela 6–12, estime as cons-
tantes de equilíbrio para a ionização da água.
6–9 Utilizando as meias-reações dadas na Tabela 6–12, avalie a viabilidade da reação seguinte:
6–10 Utilizando as meias-reações dadas na Tabela 6–12, avalie a viabilidade da reação seguinte:
6–11 Utilizando as meias-reações dadas na Tabela 6–12, avalie a viabilidade da reação seguinte:
6–12 Utilizando as meias-reações dadas na Tabela 6–12, avalie a viabilidade da reação seguinte:
528 P Capítulo 6 Processos unitários químicos
6–13 Estime o potencial de incrustação de uma das amostras de esgoto tratado (a ser selecionado pelo
instrutor) utilizando os índices de Langelier e de Ryzner. Utilize a temperature de 20°C.
Amostra de esgoto
Constituinte Unidade 1 a
2 3 4
Ca2 mg/L como CaCo3 5 12 245 15
HCO 3 mg/L como CaCO3 7 9 200 16
TDS mg/L 30 275 600 500
pH adimensional 6,5 8,0 6,9 6,5
a
Os valores típicos são para escoamento superficial de derretimento de neve
(adaptado de Benefield et al. (1982).
6–14 Estime o potencial de incrustação de uma das amostras de esgoto tratado (a ser selecionado pelo
instrutor) utilizando os índices de Langelier e de Ryzner. Os valores medidos de pH para as quatro
amostras são 1 7,2, 2 6,9, 3 7,3, 4 6,8.
Cátion 1 2 3 4 Ánion 1 2 3 4
Ca 2
121,3 64,0 42,1 44,0 HCO 3 280 96,0 158,7 91,5
Mg2 36,2 15,1 14,6 25,2 SO42 116 80 48,0 57,6
Na 8,1 20,5 46,0 4,6 Cl 61 17,3 63,8 17,7
K 12 10,0 11,7 NO3 15,6 5
H2CO3 8,8
CO 2
3 12,0
6–15 Reveja a literatura considerando os índices de Langelier (1946) e Ryzner (1944) e discuta a diferença
na abordagem da incrustação utilizada para o desenvolvimento desses dois índices.
6–16 Determine a concentração de radical hidroxila requerido para remover cada um dos compostos a se-
guir utilizando um processo de oxidação avançado com um tempo de contato de 10 s. Comente sobre
a viabilidade de remover cada um desses compostos sob as condições dadas.
Concentração, mg/L
Água 1 Água 2
6–17 Projete um processo de oxidação avançado para obter uma redução de 95% dos compostos seguintes
para uma vazão de 3800 m3/dia. Especifique as dimensões do reator e a concentração de radicais
hidroxila requeridas pelo processo.
6–18 Uma estação de recuperação de água produz 1 105 m3/dia de efluente contendo 100 ng/L de
NDMA.
Determine o número de reatores de fotólise necessários para reduzir a concentração de NDMA do
efluente de osmose reversa a 10 ng/L anterior ao reúso potável indireto utilizando valores de absorti-
vidade de k'(l) 0,01, 0,05 e 0,1 cm1 (medidos no comprimento de onda de 254 nm). Os reatores
de fotólise sob consideração têm 0,5 m de diâmetro e 1,5 m de comprimento com um volume efetivo
de 250 L. Cada reator tem 25 lâmpadas de 500 W cada e uma eficiência de saída de 30% a 254 nm.
Assuma que os reatores operam como quatro tanques misturados em série e despreze todas as demais
perdas, degradação das lâmpadas e as ineficiências do processo. Calcule EE/O e o consumo diário
de energia para o processo de fotólise. Comente sobre a importância da absorvidade e recomende um
processo de pré-tratamento adequado.
6–19 Estime o custo de energia (com base nos custos correntes de eletricidade) para tratar uma vazão de
3.800 m3/dia com uma concentração de NDMA de 100 mg/m3 utilizando uma unidade de fotólise.
6–20 Para cada um dos compostos mostrados na lista seguinte, quais dos métodos de tratamento discutidos
neste capítulo, se existir algum, são adequados para reduzir a concentração de 100 a 10 mg/L?
Benzeno
Clorofórmio
Dieldrin
Heptaclor
N-Nitrosodimetilamina
Tricloroetileno (TCE)
Cloreto de vinila
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Fundamentos do tratamento biológico
7–1 REVISÃO DO TRATAMENTO BIOLÓGICO DE ESGOTO 537
Objetivos do tratamento biológico 537
7
A função dos micro-organismos em tratamento de esgoto 537
Tipos de processos biológicos para tratamento de esgoto 538
7–2 COMPOSIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DE MICRO-ORGANISMOS 543
Componentes de células 543
Composição da célula 545
Fatores ambientais 546
Classificação e identificação de micro-organismos 546
Uso de ferramentas moleculares 549
7–3 INTRODUÇÃO AO METABOLISMO MICROBIANO 552
Fontes de carbono e de energia para crescimento microbiano 552
Requerimentos de nutrientes e de fator de crescimento 554
7–4 CRESCIMENTO BACTERIANO, ENERGÉTICA E DECAIMENTO 554
Reprodução bacteriana 554
Padrões de crescimento bacteriano em um reator batelada 555
Crescimento bacteriano e síntese de biomassa (yield) 555
Medindo o crescimento da biomassa 556
Estimando a síntese de biomassa (yield) e requerimentos de oxigênio por estequiometria 556
Estimando a síntese de biomassa (yield) com bioenergética 559
Estequiometria de reações biológicas 566
Síntese de biomassa (yield) para diferentes condições de crescimento 567
Decaimento da biomassa 568
Síntese celular observada e real 568
7–5 CINÉTICA DO CRESCIMENTO BACTERIANO 569
Terminologia da cinética de crescimento bacteriano 569
Taxa de utilização de substratos solúveis 569
Outras expressões de taxas para utilização de substrato solúvel 571
Taxa de produção de substrato solúvel de matéria orgânica particulada biodegradável 571
Taxa líquida de crescimento de biomassa 572
Coeficientes cinéticos para utilização de substrato e crescimento de biomassa 573
Taxa de assimilação de oxigênio 574
Efeitos de temperatura 574
Sólidos suspensos voláteis totais e biomassa ativa 574
Síntese de biomassa (yield) líquida e síntese de biomassa observada 575
7–6 MODELANDO PROCESSOS DE CRESCIMENTO SUSPENSO 577
Descrição dos processos de tratamento de crescimento suspenso 577
Tempo de retenção de sólidos 577
534 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
REFERÊNCIAS 660
GLOSSÁRIO
Termo Definição
Acetogênese Conversão biológica de ácidos voláteis a ácido acético e hidrogênio.
Bioenergética O estudo das transformações de energia que ocorre em organismos vivos.
Biofilme Uma acumulação do crescimento biológico na superfície de um objeto como os meios
de crescimento aderido.
Biomassa A massa de micro-organismos em um processo de tratamento biológico.
Desnitrificação Redução biológica do nitrato a gás nitrogênio e a outros produtos finais contendo
nitrogênio.
Desnitritação Redução biológica de nitrito a gás nitrogênio e a outros produtos gasosos finais
contendo nitrogênio.
Energética O estudo científico de fluxos e transformações de energia.
536 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
Termo Definição
Fermentação (também referida como A conversão de matéria orgânica a dióxido de carbono e a outros compostos de baixo
acidogênese) peso molecular.
Fermentação anaeróbia Ver fermentação.
Gases do efeito estufa Compostos gasosos que contribuem para o aquecimento global. Metano e óxidos
nitrosos são gases potentes, causadores do efeito estufa e que podem ser produzidos
por processos de tratamento biológico.
Metanogênese Conversão biológica de ácido acético ou hidrogênio e dióxido de carbono a metano.
Nitratação Oxidação biológica de nitrito a nitrato.
Nitrificação A oxidação biológica em duas fases de nitrogênio (principalmente na forma de
amônia) a nitrito, e, então, a nitrato.
Nitritação Oxidação biológica de amônia a nitrito.
Processo aeróbio (óxico) Processo de tratamento biológico que ocorre na presença de oxigênio dissolvido livre;
o oxigênio é consumido por micro-organismos aeróbios para desenvolver reações
metabólicas.
Processo anaeróbio Processo de tratamento biológico que ocorre na ausência de oxigênio dissolvido livre e
que oxida compostos.
Processo Anammox Um processo de tratamento anaeróbio no qual nitrito é utilizado por bactérias
plantomicetas especializadas, como receptoras de elétrons, para converter amônia e
nitrito, principalmente, para nitrogênio gasoso.
Processo anóxico Processo de tratamento biológico que ocorre na ausência de oxigênio dissolvido livre
onde compostos oxidados como nitrato e nitrito são utilizados para desenvolver reações
metabólicas; desnitrificação é um exemplo de um processo anóxico.
Processo de crescimento suspenso Processo de tratamento biológico no qual os micro-organismos responsáveis pela
conversão da matéria orgânica ou outros constituintes do esgoto a gases e tecidos
celulares são mantidos em suspensão no líquido.
Processo de lodos ativados Processo de tratamento biológico que envolve a conversão de matéria orgânica e/
ou outros constituintes do esgoto em gases e tecido celular por uma grande massa de
micro-organismos aeróbios mantidos em suspensão por mistura e por aeração. Os
micro-organismos formam partículas floculentas que são separadas do efluente do
processo em um tanque de sedimentação (clarificador) ou por membranas, retornando
subsequentemente ao processo de aeração ou eliminação.
Processo híbrido Termo utilizado para descrever crescimento biológico suspenso ou aderido.
Processos combinados aeróbico/ Combinações diversas de processos de tratamento biológico, aeróbios, anóxicos e
anóxico/anaeróbio anaeróbios são agrupados para promover a remoção de nitrogênio e fósforo biológicos.
Processos de crescimento agregado Processo de tratamento biológico no qual micro-organismos responsáveis pela
(também conhecido como processos conversão de matéria orgânica, ou de outros constituintes do esgoto, em gases e
de filme fixo) tecido celular são agregados a um meio inerte como pedras ou escória ou a materiais
plásticos ou cerâmicos especialmente projetados.
Processos facultativos Processos de conversão biológica que podem ocorrer na presença ou na ausência de
oxigênio molecular.
Remoção biológica de nutrientes O termo aplicado à remoção de nitrogênio e fósforo em processos de tratamento
(RBN) biológico.
Remoção biológica de fósforo O termo aplicado à remoção de fósforo por determinadas bactérias com capacidade
assistida de retenção de fósforo maior do que normalmente se encontra em tratamento biológico
de esgoto.
Remoção da DBO carbonácea Conversão biológica da matéria orgânica carbonácea do esgoto em tecido celular e
diversos produtos gasosos finais. Na conversão, assume-se que o nitrogênio presente
nos diversos compostos seja convertido a amônia.
Síntese de biomassa A quantidade de sólidos biológicos em relação à quantidade de substrato removido.
Substrato Esgoto ou constituintes sólidos utilizados para promover o crescimento biológico.
7–1 Revisão do tratamento biológico de esgoto P 537
Com análise adequada e controle ambiental, quase todos os esgotos contendo constituintes bio-
degradáveis podem ser tratados biologicamente. Portanto, é essencial que o engenheiro ambiental
entenda as características de cada processo biológico para garantir que o ambiente adequado seja
produzido e efetivamente controlado. As finalidades principais deste capítulo são (1) fornecer a
informação fundamental sobre os micro-organismos utilizados no tratamento de esgotos e (2) con-
siderar a aplicação de processos biológicos fundamentais para o tratamento biológico de esgoto.
A informação apresentada neste capítulo fornece o material básico necessário para o projeto de
processos de sistemas biológicos discutidos nos Capítulos 8 a 10. Para facilitar os cálculos, a con-
centração de constituintes neste e nos Capítulos 8, 9 e 10 é expressa em g/m3 em vez de mg/L, pois
a vazão é dada em unidades de m3/s ou m3/d.
Os fundamentos do tratamento biológico introduzido nas sete primeiras seções deste capí-
tulo incluem (1) revisão do tratamento biológico de esgoto, (2) composição e classificação dos
micro-organismos utilizados para o tratamento de esgoto, (3) introdução a aspectos importantes
do metabolismo biológico, (4) crescimento bacteriano e energética, (5) cinética do crescimento
microbiano, (6) modelagem de processos de tratamento de crescimento suspenso, (7) modelagem
de processos de tratamento de crescimento aderido. As seções que seguem a apresentação dos
aspectos fundamentais introduzem as classes gerais de processos biológicos utilizados para tra-
tamento de esgoto. O conteúdo dessas seções servirá, também, como uma introdução ao material
apresentado nos Capítulos 8, 9 e 10. Como o foco deste livro é sobre processos de tratamento
quantificáveis, a função de algas em tratamento de esgoto, principalmente em sistemas de lagoas,
não é considerada. Informações sobre algas estão disponíveis em publicações da U.S. EPA, WEF
e diversos outros livros. Da mesma forma, sistemas de alagados (wetlands) construídos não são
considerados devido às restrições de espaço e porque existem inúmeras publicações que tratam
exclusivamente de análise, projeto e implementação desses sistemas.
Descarga
de lodo
(opcional) Retorno de lodo ativado
(a) Lodo
Lodo
Material gradeado
Retorno de lodo Cl 2 ou
(opcional) NaOCl
(b)
Material gradeado Areia Lodo
Descarga de lodo (opcional) Cl 2 ou
NaOCl
FIGURA 7–1 Diagramas de fluxo típicos (simplificados) de processos de tratamento biológico: (a) pro-
cesso de lodos ativados, (b) lagoas aeradas e (c) filtros biológicos.
oxigênio no processo são utilizados equipamentos mecânicos (ver Seção 5–11, Capítulo 5). Em se-
guida, o liquor misto passa para um decantador onde a suspensão bacteriana sedimenta e é espessa-
da. A biomassa sedimentada, descrita como lodo ativado, devido à presença de micro-organismos
ativos, retorna ao tanque de aeração para continuar a biodegradação do material orgânico influente.
Uma porção do lodo espessado é removido diária ou periodicamente à medida que o processo
produz um excesso de biomassa para evitar que se acumule com os sólidos não biodegradáveis
contidos no esgoto influente. Se os sólidos acumulados não fossem removidos, o nível de sólidos
no decantador aumentaria até que, finalmente, sairiam integrados à vazão efluente.
Um aspecto importante do processo de lodos ativados é a formação de partículas de flocos,
variando em tamanho de 50 a 200 mm, que podem ser removidos por sedimentação, produzin-
do um efluente relativamente claro. Tipicamente, mais de 99% de sólidos suspensos podem ser
removidos na etapa de clarificação. Como será discutido no Capítulo 8, as características e as
propriedades de espessamento das partículas floculentas afetarão o projeto e o desempenho dos
clarificadores.
Objetivos do tratamento e desenvolvimentos do processo. Os objetivos do tratamento e as
configurações do processo de lodos ativados tem sido alterados consideravelmente desde seu de-
senvolvimento e aplicação no início de 1900. Mudanças significativas foram implementadas pela
melhoria da compreensão do processo biológico, caracterização específica individual dos micro-
-organismos envolvidos, melhoria da tecnologia de aeração e desenvolvimento de novos equipa-
mentos. Como resultado dessas descobertas e inovações, a capacidade dos processos foi expandida
e os objetivos do tratamento se tornaram mais rigorosos. Na parte final dos anos 1950, Pasveer de-
senvolveu uma configuração elíptica para o processo de tratamento por lodos ativados (Hao et al.,
1997) que levou ao popular sistema do valo de oxidação com remoção biológica de nitrogênio, que
é, atualmente, empregado em centenas de estações de tratamento de esgoto, ao redor do mundo.
Um empecilho comum à operação e ao desempenho durante os primeiros 60 anos para a utiliza-
540 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
TABELA 7–1 Principais processos de tratamento biológico utilizados para tratamento de esgoto
Tanque de aeração
Decantador Reator tubular Decantador
Influente Efluente Influente Efluente
Lodo Lodo
(a-1) (b-1)
(a-2) (b-2)
FIGURA 7–2 Processos de tratamento biológico de crescimento suspenso: (a-1) esquema, (a-2) vista de
um processo de lodos ativados completamente misturado, (b-1) esquema, (b-2) vista de um processo de
lodos ativados em reator tubular.
Reciclagem interna
Decantador
Influente Efluente
Anóxico Aeróbio Anóxico Aeróbio
Decantador
Aeróbio
Influente Efluente
Anaeróbio Anóxico Aeróbio Anóxico
Lodo
(b)
(contendo fósforo)
Membranas fixas
(submersas)
Permeado
Influente
Anóxico Aeróbio
Bomba de
extração
Descarga
Retorno de lodo ativado de lodo
(c)
Reciclagem de nitrato
Decantador
Influente Aeróbio com Efluente
Anóxico Aeróbio enchimento
FIGURA 7–3 Desenvolvimento do processos de lodos ativados: (a) lodo ativado anóxico-aeróbio para
remoção de nitrogênio, (b) processo anaeróbio-anóxico- aeróbio-anóxico-aeróbio para remoção de nitro-
gênio e de fósforo, (c) processo de tratamento anóxico-aeróbio em biorreator de membranas com remoção
de nitrogênio, (d) processo de lodos ativados e filme fixo integrado com remoção de nitrogênio.
O processo de crescimento aeróbio aderido mais comum é o filtro biológico, no qual o es-
goto é distribuído sobe a área superficial de um tanque contendo um material de enchimento não
submerso (ver Figura 7–4). Historicamente, pedras foram o material de enchimento mais comu-
mente utilizado para filtros biológicos [ver Figura 7–4(a)], com profundidades típicas variando
entre 1,25 a 2 m (4 a 6 pé). Os filtros biológicos mais modernos têm uma altura variando entre
5 a 10 m (16 a 33 pé) e são preenchidos com material plástico para a aderência do biofilme [ver
Figura 7–4(b)]. O material plástico é projetado de maneira que, aproximadamente, 90 a 95%
do volume do tanque consista de espaço vazio. A circulação de ar no espaço vazio, tanto por
tiragem natural como por sopradores, proporciona oxigênio para os micro-organismos que cres-
cem como um filme aderido. O esgoto influente é distribuído sobre o material de enchimento e
escoado como um filme líquido não uniforme sobre o biofilme aderido. O excesso de biomassa
é carreado periodicamente do crescimento aderido e alguma forma de separação líquido/sólido
é necessária para produzir um efluente com uma concentração de sólidos suspensos aceitável.
Os sólidos são coletados no fundo do decantador e removidos para o sistema de processamento
do excesso de lodo.
A popularidade dos filtros biológicos declinaram com a crescente demanda para a remoção
biológica de nutrientes. Os avanços dos anos 1990 envolveram a combinação de tratamentos de
7–2 Composição e classificação de micro-organismos P 543
Filtro
biológico
Decantador
Influente com Decantador
Filtro biológico com Efluente enchimento
Influente
enchimento de pedras de plástico Efluente
Reciclagem
Reciclagem
Lodo
Lodo
(a-1) (b-1)
(a-2) (b-2)
FIGURA 7–4 Processos de tratamento biológico de crescimento aderido: (a-1) esquema, (a-2) vista de
um filtro biológico com enchimento de pedras; (b-1) esquema, e (b-2) vista de um filtro biológico coberto
com enchimento de plástico. A injeção de ar e as instalações de controle de odor são mostradas na parte
anterior da foto. O filtro tem 10 m de altura e 50 m de diâmetro.
filmes fixos e de lodos ativados, designados como processo de lodos ativados e filme fixo inte-
grados (LAFFI) [ver Figura 7–3(d)]. Outros processos de filme fixo que utilizam pouco espaço e/
ou podem ser utilizados com remoção biológica de nutrientes têm recebido maior atenção e são
apresentados no Capítulo 9.
Componentes de células
Os componentes importantes da célula procariótica e suas funções foram ilustradas na Figura
2–28(a) e são descritas na Tabela 7–2; a célula eucariótica é ilustrada na Figura 2–28(b). Os com-
ponentes básicos que se relacionam à informação genética de células e enzimas, determinando a
aptidão de organismos para o tratamento de esgoto são o ácido desoxirribonucleico (DNA) e os
ribossomas. Ribossomas são os locais onde ocorrem sínteses de proteínas, que são necessárias
544 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
para a produção de enzimas, e o DNA provê a informação genética utilizada para determinar a
estrutura da proteína sintetizada. Para entender como o DNA codifica para as proteínas de célu-
las, a estrutura e a sequência nucleotídia e a estrutura e função do ácido ribonucleico (RNA) são
revisados.
Ácidos nucleicos. Os ácidos nucleicos, DNA e RNA, são compostos de uma série de nucleo-
tídeos. Cada nucleotídio consiste de um composto de açúcar com cinco carbonos, uma base de
nitrogênio e uma molécula de fosfato (ver Figura 7–5). Para formar a cadeia nucleotídia do DNA
ou do RNA, o grupo fosfato se liga ao terceiro carbono (sentido horário a partir a ligação do
oxigênio) da molécula de açúcar. As bases de nitrogênio para o DNA podem ser de um ou quatro
compostos de pirimidina ou de purina: citosina (C), timina (T), adenina (A) e guanina (G). Para
o RNA, são também envolvidas quatro bases de nitrogênio, incluindo A, C e G, sendo a tiamina
substituída por uracil (U). O DNA é uma molécula em fita dupla em forma de hélice com liga-
ções entre as bases de nitrogênio de cada lado. A ligação de base é muito específica com ligações
apenas entre G e C, e entre A e T. O RNA é uma fita única de uma sequência de nucleotídeos
de várias combinações de A, C, G e U. A sequência de nucleotídeos do DNA contém os códigos
genéticos necessários para a célula, que determinam as proteínas e enzimas específicas que o
micro-organismo pode produzir.
O número de nucleotídeos no DNA é muito alto, e a dimensão da molécula de DNA é descrita
em termos de milhares de bases de nucleotídeos (quilobase) por molécula. A bactéria Escherichia
coli tem 4,7 milhões de nucleotídeos em cada fita de DNA ou 4.700 pares de quilobases.
7–2 Composição e classificação de micro-organismos P 545
O O
O P O O P O
O O
C C C C
H H H H
C C C C
OH H OH OH
DNA RNA
FIGURA 7–5 Estrutura nucleotídia do ácido desoxirribonucleico (DNA) e ácido ribonucleico (RNA).
Expressão gênica. A expressão gênica, como ilustrado na Figura 7–6, envolve a transcrição e
a tradução de um segmento (gene) do DNA para formar uma proteína específica. O primeiro passo
do processo é a transcrição, no qual um pequeno segmento do DNA é liberado para formar uma
fita única, que é utilizada para formar uma fita única de RNA através da complementação de bases
pares das bases de nitrogênio nos nucleotídeos do DNA. Por exemplo, a adenina (A) nas fitas pares
do DNA com uracil (U) e a guanina (G) com citosina (C) no mRNA. A ordem dos nucleotídeos no
mRNA determinará a ordem dos aminoácidos que formam polipeptídeos e a estrutura da proteína
produzida. A tradução do mRNA ocorre no ribossoma por tRNA. Cada um dos nucleotídeos em
série do mRNA é equiparado por pareamento complementar de base com o tRNA no ribossoma, e
para cada par, um outro segmento do tRNA, contendo três nucleotídeos, seleciona um aminoácido
específico. As três sequências de nucleotídeos no mRNA são chamados de codões. Em essência,
cada codão seleciona um aminoácido específico, sendo que há mais de um codão para cada dos 21
aminoácidos possíveis de serem encontrados em células vivas. Assim, o comprimento e a sequência
de nucleotídeos expressas no DNA representam um gene que determina qual proteína específica
será formada. Como a proteína é um componente essencial de enzimas celulares,
a composição do gene de DNA determina, então, as funções da célula microbial
e suas capacidades degradantes. Detalhes adicionais sobre expressão gênica po- DNA
dem ser encontrados em Madigan et al. (2012).
Enzimas celulares. As enzimas celulares, consistindo de proteína e um cofa-
Transcrição
tor, como um íon de metal (p.ex., zinco, ferro, cobre, manganês ou níquel), deter-
minam a capacidade metabólica de micro-organismos em tratamento de esgoto.
Expressão gênica
mRNA
Enzimas são grandes moléculas orgânicas com pesos moleculares na faixa de tRNA
10.000 a 1.000.000. As enzimas catalisam as reações biológicas necessárias para
as funções celulares, como hidrólise, reações de oxidação-redução e reações de
síntese de células. As células podem, também, produzir enzimas para atividades Tradução
mente 80% de água e de 20% de material seco, do qual 90% é orgânico e 10% é inorgânico. Va-
lores típicos da composição de procariotos estão relacionados na Tabela 7–3. A fórmula empírica
mais utilizada para a fração orgânica das células é C5H7O2N, primeiramente proposta por Hoover
e Porges (1952). Aproximadamente 53% em peso, da fração orgânica, é carbono. A formulação
C60H87O23N12P pode ser utilizada quando fósforo é, também, considerado. Deve ser notado que
ambas as formulações são aproximações, podendo variar com o tempo e com as espécies, mas são
utilizadas para finalidades práticas. Nitrogênio e fósforo são considerados macronutrientes porque
são requeridos em quantidades comparativamente maiores. Os procariotos também requerem quan-
tidades traços de íons metálicos, ou micronutrientes, como zinco, manganês, cobre, molibdênio,
ferro e cobalto. Como todos esses elementos e compostos devem ser derivados do ambiente, a falta
de qualquer dessas substâncias pode limitar e, em alguns casos, alterar o crescimento.
Fatores ambientais
Condições como temperatura e pH exercem um efeito importante sobre a seleção, sobrevida e cres-
cimento de micro-organismos. Em geral, o crescimento ótimo para um micro-organismo ocorre em
uma faixa muito estreita de temperatura e de pH, embora muitos deles possam sobreviver dentro de
limites mais amplos. Temperaturas abaixo de valores ótimos têm um efeito mais significativo sobre
a taxa de crescimento do que temperaturas acima de valores ótimos; tem sido observado que as ta-
xas de crescimento dobram, aproximadamente, a cada 10°C de temperatura, até que a temperatura
ótima seja atingida. De acordo com a faixa de temperatura na qual as procariótes funcionam me-
lhor, podem ser classificadas como psicrofílica, mesofílica ou termofílica. Faixas de temperaturas
típicas de micro-organismos em cada uma dessas categorias são apresentadas na Tabela 7–4. Para
uma discussão mais detalhada dos organismos nas diversas faixas de temperaturas, ver Madigan et
al. (2012).
O pH do ambiente é, também, um fator fundamental no crescimento de organismos. A maioria
das bactérias não tolera níveis de pH acima de 9,5 ou abaixo de 4,0. Geralmente, o valor de pH
ótimo para o crescimento de bactérias está entre 6,5 e 7,5. Diversas arquéas são capazes de crescer
em temperaturas termofílicas e ultratermofílicas (60 a 80°C), a valores de pH extremamente baixos
e com alta salinidade.
Proteína 55,0
Polissacarídeo 5,0
Lipídio 9,1
DNA 3,1
RNA 20,5
Outros (açúcares, aminoácidos) 6,3
Íons inorgânicos 1,0
Como elementos de células
Carbono 50,0
Oxigênio 22,0
Nitrogênio 12,0
Hidrogênio 9,0
Fósforo 2,0
Enxofre 1,0
Potássio 1,0
Sódio 1,0
Cálcio 0,5
Magnésio 0,5
Cloro 0,5
Ferro 0,2
Outros elementos traços 0,3
a
Adaptado de Madigan et al. (2012).
diversas de nitrogênio e de enxofre; (6) necessidades nutricionais; (7) química da parede celular;
(8) características das células, incluindo pigmentos, segmentos, inclusões celulares, e armazena-
mento de produtos; (9) resistência a antibióticos; (10) efeitos ambientais de temperatura e de pH.
Uma classificação alternativa à taxonômica é um método novo, denominado filogenia.
Classificação filogenética. Ao final dos anos 1970, os microbiologistas começaram a uti-
lizar ferramentas que permitiam estudar os micro-organismos ao nível molecular e observar os
relacionamentos genéticos da história evolucionária de células vivas. A caracterização de micro-
-organismos baseada em informação genética e no espaço de tempo evolucionário é chamada de
filogenia, que é o método de identificação e classificação mais utilizado atualmente. Para identi-
ficar os micróbios com acurácia e determinar as relações evolucionárias reais entre as espécies, a
escolha do material celular genético é fundamental. O código genético do ribossoma do RNA foi
escolhido como o cronômetro evolucionário para identificação de células, porque o código (1) tem
significado evolucionário, (2) está presente em todas as formas de vidas conhecidas, (3) se mantém
bem conservado através de grandes distâncias filogenéticas e (4) contém sequências nucleotídias
de forma que a similaridade de sequências entre dois organismos indica uma relação filogenética
(Pace et al., 1986).
Ribossoma do DNA. O DNA ribossomal pode ser separado em dois componentes, 30S (uni-
dades Svedberg) e 50S, com base em forças centrífugas diferentes em equipamentos de ultracen-
trifugação. A unidade 30S consiste de 16S rRNA (18S rRNA em eucariotes), contendo aproxima-
damente 1.500 nucleotídeos e 21 proteínas. Embora o 16S rRNA possa ser extraído de células para
sequenciamento de nucleotídeos utilizando técnicas moleculares, é mais utilizada a seção de DNA
que codifica o rRNA. Esse método inclui a extração de DNA genômico de material celular, seguido
de uma reação de polimerase em cadeia (RPC), procedimento que utiliza primers de DNA e um
enzima polimerase de DNA termicamente estável que reproduz e amplifica artificialmente uma
seção do material do DNA por um fator de 106 ou mais, a partir da pequena quantidade de DNA
extraída da célula. O gênero 16S rRNA amplificado é, então, sequenciado, para determinar a ordem
das bases de nucleotídeos do gênero 16S rRNA. O resultado do sequenciamento é comparado às
sequencias de ribossomas disponíveis em uma base de dados para determinar suas relações filoge-
néticas a organismos conhecidos.
Filogenia molecular. A filogenia molecular envolve a organização sistemática e a classifica-
ção de micro-organismos com base em seus traços genéticos. A árvore da vida filogenética, como
determinada pelo sequenciamento de 16S e 18S rRNA, é mostrada na Figura 7–7. A vida é dividi-
da em três domínios básicos, sendo dois compostos de células procarióticas (Arquea e Bactéria),
conforme discutido anteriormente, e a terceira, composta de células Eucária. O gênero utilizado
para construir a árvore da vida é altamente conservado, significando que as mudanças na sequência
genômica que codifica esse gênero ocorrem lentamente. Assim, a similaridade de sequências de
gênero de 16S rRNA pode ser utilizada como um espaço de tempo para estimar a distância a um
ancestral comum (definido como nós ou ramos na árvore da vida). A história evolucionária dos
organismos não indica necessariamente a evolução da totalidade dos gêneros de organismos, que
podem passar entre espécies não relacionadas através diversos mecanismos. Portanto, o metabolis-
mo dos organismos nem sempre pode ser inferido pela posição na árvore da vida. Tal situação tem
se mostrado particularmente verdadeira para gêneros codificando redução de sulfato e oxidação
de amônia, que são encontrados em ramos discretos entre os domínios de bactérias e de arquea.
Além de possuir diferentes propriedades de sequenciamento, a arquea tem diversas propriedades
fenotípicas em comparação à bactéria. Essas diferenças são encontradas na composição da parede
celular, na química de lipídios da membrana celular, na composição da polimerase do RNA e nos
mecanismos e síntese de proteínas do ribossoma.
Domínios da vida. Representantes de todos os três domínios de vida são envolvidos em tra-
tamento de esgoto. A nitrificação (Seção 7–9) é um processo importante na remoção biológica de
nutrientes e envolve a primeira etapa da oxidação biológica da amônia. Procariótes que oxidam
amônia aeróbia são encontradas nos domínios Bactéria e Arquea com a bactéria que oxida amônia
(BOA) nos gêneros Nitrosomonas e Nitrosospira na classe -proteobactéria do filo Proteobactéria.
7–2 Composição e classificação de micro-organismos P 549
Bactéria
Arquea Eucária
Mitocôndrio Bactéria
verde sem Metano Sarcina
enxofre
Bactéria Metano bactéria
gram Euriarqueota Molde Animais
Proteobactéria positiva Entoameba de limo Fungos
Metano coco
Crenarqueota Extremo
Cloroplasto halofilos
Termoproteus Plantas
Cianobactéria Termococo
Pirodíctio Termoplasma Ciliados
Pirolobus
Flavobactéria
Crenarqueota Metanopirus Flagelados
marinha
Termologa
Triconomados
Termodesulfobactéria
Aquifex Microsporídia
Diplonades
(Giardia)
As arqueas que oxidam amônia (AOA) foram, originalmente, reconhecidas como Crenarchaeota
sendo, atualmente, reclassificadas em um novo filo denominado Thaumarchaeota.
A bacteria “Anammox”, encontrada mais recentemente (Seção 7–11), que pode oxidar amônia
sob condições anaeróbias, foi classificada no filo Planctomicetos. Bactérias que são importantes
para a remoção de fósforo sem a adição de produtos químicos em processos de remoção biológica
de fósforo assistida (RBFA) (Seção 7–12) parecem ser similares à bactéria acumuladora de fosfato
Candidatus Accumulibacter phosphatis, também um membro da -proteobactéria. Bactérias que
oxidam nitrito (BON) pertencentes ao gênero Nitrobacter estão incluídas em -proteobactéria, e
aquelas do Nitrospira estão incluídas no filo Nitrospirae. Bactérias Metilotróficas, importantes por
utilizar metanol em aplicações de desnitrificação, incluem a proteobactéria Hyphomicrobium spp.
e Methyloversatilis spp. Todas as metanogênicas são Arquea dentro do filo Euryarchaeaota. Euca-
riotes presentes em sistemas de tratamento de esgoto incluem ameba, ciliados e rotíferos.
FIGURA 7–8 Extração de DNA de amostras de esgoto. Um misturador do tipo vórtice ou um instrumento projetado especifica-
mente para rompimento de células pela agitação rápida é utilizado para este processo.
a replicação da célula), uma mistura de nucleotídeos (os blocos construtores para construir novo
DNA), em uma substância tampão de pH contendo Mg2.
Uma reação RPC típica utiliza três passos de temperatura (ver Figura 7–9): (1) a temperatura é
aumentada até aproximadamente 95°C fazendo o DNA com fita dupla se separar em dois com fitas
únicas, (2) a temperatura é reduzida para permitir a aderência dos primers RPC ao molde do DNA
e (3) a temperatura é aumentada para aproximadamente 72°C e a polimerase do DNA estende a
cópia do molde de DNA. A quantidade de DNA amplificado dobra com cada ciclo de temperatura
repetido. O processo é feito com instrumentos, chamados termocirculadores, especialmente pro-
jetados para modular rapidamente através das temperaturas requeridas, permitindo uma precisão
do processo muito maior. A polimerase DNA mais utilizada foi, originalmente, obtida da Bactéria
termofílica Thermus aquaticus (Taq) e permanece ativa quando exposta a temperaturas elevadas
utilizadas para fundir o molde de DNA. Uma grande vantagem do processo RPC é que os primers
Mistura de reação
Sequência
Target DNA
do sequence
DNA alvo
5’ 3’
3’ 5’
Nucleotídeos
Passo 1 de temperatura – Aquecer até 95°C para fundir Passo 3 de temperatura – Aquecer a 75°C para
o DNA com fita dupla estender a sequência
5’ 3’ 5’ 3
5’
5’
3’ 5’ 3 5’
5’ 3’ 5’ 3’
5’ 5’
5’ 5’
3’ 5’ 3’
3 5’
podem ser projetados para atuar sobre as sequências de DNA que são conservadas através dos do-
mínios ou que sejam específicas a espécies individuais. Por exemplo, primers que foram designa-
dos para atuar sobre todo o gênero Bactéria, todos da Arquea do gênero dsr genes (associado com
redução de sulfato), gêneros amoA (associados com oxidação de amônia), ou mesmo a sequência
de gêneros 16S rRNA, de uma espécie única.
Modificações das tecnologias RPC. A RPC permite a identificação genética sem a necessi-
dade de conhecimento prévio da composição da comunidade microbiana e levou à descoberta de
que menos de 1% da diversidade bacteriana foi documentada previamente. Mesmo agora, estudos
de processos biológicos levaram ao descobrimento de novas espécies. Algumas aplicações de RPC
a processos de tratamento de esgoto são descritos nos parágrafos seguintes.
Quantificação de populações microbianas em comunidades mistas. Pela modificação da
abordagem do RPC, diferentes populações microbianas internas a comunidades mistas podem ser
quantificadas utilizando o RPC quantitativo (RPCq). O procedimento RPCq utiliza um corante que
fluoresce quando ligado a um DNA de fita dupla, o que permite a medida da quantidade do produto
RPC ao final de cada ciclo RPC. Através da comparação de padrões com concentrações conhecidas
de DNA, o RPCq é utilizado para quantificar as concentrações de relativos bacteriais ou de genes
funcionais.
Perfis de comunidades mistas. Outra modificação da técnica de RPC pode ser utilizada para
gerar perfis de comunidades microbianas mistas, algumas vezes chamadas de comunidades “im-
pressões digitais”. Por exemplo, a restrição terminal do comprimento de segmento de polimorfismo
(RTCSP) modifica o RPC pela adição de uma etiqueta fluorescente a um dos primers. Os produtos
RPC são cortados utilizando um enzima de restrição. A distância do local do primer RPC ao local de
corte da enzima de restrição diferirá entre populações microbianas. Os fragmentos resultantes são
separados por tamanho utilizando instrumentos de sequenciamento, e um cromatograma de inten-
sidades fluorescentes é registrado em correspondência aos diferentes comprimentos de fragmentos.
Sequenciando produtos RPC. O sequenciamento de produtos RPC pode proporcionar informa-
ção sobre a identidade filogenética microbiana. Quando o produto RPC é originado de comunidade
microbiana mista, reações de clonagem dos produtos RPC podem ser utilizadas para separar DNA
amplificado de organismos individuais. O produto RPC é incorporado em vetores plasmídeos (pe-
quenos DNA circulares). Os vetores são transformados em células de E. coli “competentes”. Quan-
do os E. coli crescem em meio sólido, cada colônia, iniciada com uma célula de E. coli, terá cópias
idênticas de uma cepa de um produto RPC original. Essas cepas podem ser sequenciadas e as
sequências resultantes comparadas aos bancos de dados públicos, como o Basic Local Alignment
Search Tool (BLAST) no National Center for Biotechnology Information (NCBI) pelo site (http://
blast.ncbi.nlm.nih.gov), para identificar o organismo que integra a comunidade mista original.
Outros métodos moleculares. Diversos métodos moleculares não requerem uma etapa RPC.
Um desses métodos é a hibridização fluorescente in situ (HFIS). Uma sonda oligonucleotídia (com
projeto similar aos primers RPC) é etiquetada de maneira que possa detectar a fluorescência. As
sondas penetram em células intactas, onde hibridizam no rRNA de organismos ativos. Sondas múl-
tiplas podem ser aplicadas com cada uma, usando fluorescentes diferentes. Quando examinadas em
um microscópio com capacidade de fluorescência, o método HFIS permite uma observação visual
de como as populações microbianas interagem, permitindo a quantificação da população através da
contagem de (Maier et al., 2000). A utilização da técnica HFIS para identificar agrupamentos (até
3.000 células) de bactérias que oxidam amônia (Nitrosomonas) em diversas estações de tratamento
por lodos ativados utilizando a sonda NEU foi demonstrado por Wagner et al. (1995). Uma sonda
específica para E. coli que foi desenvolvida para estudar a desinfecção por UV foi previamente
ilustrada na Figura 2–36 do Capítulo 2.
Uma das principais vantagens do método HFIS é que a distribuição de espécies em seu am-
biente pode ser observada. Quando as técnicas HFIS são empregadas com mais de uma sonda de
ácido nucleico adicionada à amostra, diversas espécies de bactérias ou de cepas podem ser identifi-
cadas e suas distribuições relativas dentro da matriz podem sert observadas. HFIS-Microradiogra-
552 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
fia (HFIS-MRG) modifica a abordagem para proporcionar uma ligação entre filogenia e fisiologia,
incubando, inicialmente, uma cultura ativa na presença de um substrato C14-etiquetado. Após a
fluorescência para identificar a bactéria, lâminas microscópicas são superpostas no filme, e as bac-
térias que se associaram aos compostos etiquetados são identificadas através da exposição do filme.
Metagenômica. Conforme as tecnologias de sequenciamento se tornaram mais eficientes e
mais econômicas, foi possível sequenciar comunidades de DNA sem a necessidade de uma etapa
RPC. Essa técnica é conhecida como metagenômica e proporciona informação, não apenas dados
sobre a sequência do 16S rRNA, mas, também, todos os dados genômicos (muitos dos quais ainda
não possuem uma função determinada). Tal abordagem foi utilizada para obter um sequência ge-
nômica completa de “Candidatus Accumulibacter phosphatis” (Martín et al., 2006), uma bactéria
envolvida na remoção biológica de fósforo assistida (RBFA) que tem, até agora, eludido tentativas
de cultura. Através do estudo da sequência do genoma, têm sido geradas diversas hipóteses sobre
as capacidades fisiológicas e adaptativas dessa importante bactéria, que auxiliará projetos futuros
diretos de RBMF.
Proteômica. Outro método que tem sido aplicado a muitos ambientes é a proteômica, utili-
zada para examinar perfis de proteínas de amostras mistas. Os aminoácidos que englobam cada
proteína são comparados à informação sobre a sequência do genoma para identificar que gêneros
estavam ativos quando a amostra foi coletada. Comparando os perfis de proteínas obtidos sob
diferentes condições (por exemplo, com e sem um contaminante ou a temperaturas diferentes do
reator) pode proporcionar um entendimento de como as mudanças em condições impactam as
atividades microbianas.
TABELA 7–5 Classificação de micro-organismos por doador de elétron, receptor de elétron, fontes de carbono
celular e produtos finais. Todas as reações mostradas suportam novo crescimento de biomassa
Tipo de Nome comum Doador de elétron Receptor
bactéria da reação Fonte de carbono (substrato oxidado) de elétron Produtos
Aeróbio Aeróbio oxidação Composto orgânico Composto orgânico O2 CO2, H2O
heterotrófico
Aeróbio Nitrificação CO2 NH4, NO2 O2 NO2, NO3
autotrófico
Oxidação de ferro CO2 Fe (II) O2 Íon férrico
Fe (III)
Oxidação de CO2 H2S, S°, S2O32 O2 SO42
enxofre
Facultativo Desnitrificação Composto orgânico Compostos orgânicos NO2, NO3 N2, CO2, H2O
heterotrófico reação anóxica
Anaeróbio Fermentação ácida Composto orgânico Compostos orgânicos Compostos Ácidos graxos voláteis
heterotrófico orgânicos (AGV) (acetato,
propionato, butirato)
Redução de ferro Composto orgânico Compostos orgânicos Fe (III) Fe (II), CO2, H2O
Redução de sulfato Composto orgânico Compostos orgânicos SO4 H2S, CO2, H2O
Metanogênese Composto orgânico Ácidos graxos voláteis CO2 Metano
(AGV)
Anaeróbico Anammox CO2 H4 NO2 N2, NO3
autotrófico
de enxofre) ou autotróficos (algas e bactérias fotossintéticas). Organismos que derivam sua energia
de reações químicas são chamados de quimiotróficos. Assim como os fotótrofos os quimiotróficos
podem ser heterotróficos (protozoários, fungos e a maioria das bactérias) ou autotróficos (i.e., bac-
térias nitrificantes). Os quimioautotróficos obtêm energia da oxidação ou da redução de compostos
inorgânicos, como amônia, nitrito, ferro ferroso e sulfetos. Os quimioheterotróficos, usualmente,
derivam suas energias da oxidação de compostos orgânicos.
Reação de oxidação-redução. As reações químicas que produzem energia por quimiotró-
ficos são reações de oxidação-redução que envolvem a transferência de elétrons de um doador
de elétrons a um receptor de elétrons. O doador do elétron é oxidado e o receptor de elétron é
reduzido. Os doadores e receptores de elétrons podem ser compostos orgânicos ou inorgânicos,
dependendo do micro-organismo. O receptor de elétron pode estar disponível internamente à célula
durante o metabolismo (endógeno), ou pode ser obtido externamente à célula (i.e., oxigênio dissol-
vido) (exógeno). Organismos que geram energia por transporte de elétron, mediado por enzimas, a
um receptor de elétrons externo, possuem um metabolismo respiratório. A utilização de um recep-
tor de elétron interno é designada de metabolismo fermentativo e é um processo menos eficiente
em transferência de energia do que a respiração. Organismos heterotróficos que são estritamente
fermentativos são caracterizados por possuírem menores taxas de crescimento e produção de célu-
las do que os heterotróficos respiratórios.
Utilização de oxigênio. Quando o oxigênio é utilizado para o receptor de elétrons a reação é de-
nominada aeróbia, e reações envolvendo outros receptores de elétrons são consideradas anaeróbias.
O termo anóxico é utilizado para distinguir o uso de nitrito ou de nitrato, como receptores de elétrons,
de outros em condições anaeróbias. Sob condições anóxicas ocorre a redução de nitrito ou de nitrato
a gás nitrogênio, e essa reação é também referida como desnitrificação biológica. Organismos que
podem conseguir suas necessidades de energia com oxigênio são chamados de micro organismos ae-
róbios obrigatórios. Algumas bactérias podem utilizar oxigênio ou nitrato/nitrito como receptores de
elétrons quando oxigênio não está disponível. Essas bactérias são chamadas de aeróbias facultativas.
554 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
Energia para fermentação. Organismos que geram energia por fermentação e só podem exis-
tir em ambientes isentos de oxigênio são anaeróbios obrigatórios. Anaeróbios facultativos têm a
habilidade de crescer tanto na presença como na ausência de oxigênio molecular e integram dois
subgrupos baseados em suas habilidades metabólicas. Os anaeróbios verdadeiramente facultativos
podem mudar de metabolismo fermentativo a respiratório aeróbio, dependendo da presença ou da
ausência de oxigênio molecular. Os anaeróbios aerotolerantes têm um metabolismo estritamente
fermentativo, mas são relativamente insensíveis à presença de oxigênio molecular.
Reprodução bacteriana
Como estudado no Capítulo 2, bactérias podem se reproduzir por fissão binária, de maneira as-
sexual, e por germinação. Geralmente, as bactérias se reproduzem por fissão binária, na qual a
célula original se transforma em dois novos organismos. O tempo necessário para cada divisão,
chamado de tempo de geração, pode variar de dias a menos de 20 minutos. Por exemplo, se o
tempo de geração é de 30 minutos, uma bactéria produzirá 16.777.216 (i.e., 224) bactérias após
um período de 12 horas. Assumindo bactérias com formatos esféricos com 1 m de diâmetro e
um peso específico de 1,0, o peso de uma célula é de aproximadamente 5,0 1013 g. Em 12
horas, a massa de bactérias seria de aproximadamente 8,4 106 g ou 8,4 g; assim, o número
de células é muito grande em comparação à sua massa. Essa rápida mudança de biomassa com
o tempo é um exemplo hipotético. Em sistemas de tratamento biológico, as bactérias não conti-
nuariam a se dividir indefinidamente devido às limitações ambientais, como disponibilidade de
substrato ou de nutrientes.
7–4 Crescimento bacteriano, energética e decaimento P 555
Fase de Fase de
retardo crescimento Fase Fase
(Lag fase) exponencial estacionária de morte
Concentração
Substrato
Biomassa
Tempo
FIGURA 7–10 Fases do processo de crescimento de biomassa em reator batelada com mudanças de
substrato e biomassa em função do tempo
g biomassa produzida
Síntese de biomassa (yield), Y (7–2)
g substrato consumido
556 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
Por exemplo, para reações heterotróficas aeróbias com substratos orgânicos, a síntese de biomas-
sa (yield) é expressa como g biomassa/g substrato orgânico; paranitricação, é expressa como g
biomassa/g N-NH4 oxidado; para degradação anaeróbia de ácidos graxos voláteis (AGV) para pro-
dução de metano, a síntese da biomassa (yield) é expressa como g biomassa/g AGV utilizado.
Quando os compostos específicos são medidos e conhecidos, como amônia, a síntese de biomassa
é quantificada em relação à quantidade do composto utilizada. Para o tratamento aeróbio ou anae-
róbio de esgoto municipal e de efluentes industriais que contenham uma grande quantidade de
compostos orgânicos, a síntese de biomassa é baseada em um parâmetro mensurável, refletindo a
totalidade do consumo do composto orgânico, como DQO ou DBO. Assim, a síntese de biomassa
seria de g biomassa/g DQO removido ou g biomassa/g DBO removido.
(7–3)
7–4 Crescimento bacteriano, energética e decaimento P 557
Como dado pela Equação (7–3), o substrato utilizado (glucose neste caso) é dividido entre a
parte que é encontrada em novas células e a parte que é oxidada para produzir CO2 e H2O. A síntese
de biomassa (yield) com base na glucose consumida pode ser obtida como segue:
Na prática, a DQO e a SSV são utilizadas para representar a matéria orgânica e as células novas,
respectivamente. Para expressar a síntese de biomassa em termos de DQO, a DQO da glucose deve
ser determinada. Ela pode ser determinada escrevendo uma reação de balanço estequiométrico para
a oxidação da glucose a dióxido de carbono, como segue:
(7–4)
A DQO da glucose é
A síntese de biomassa (yield) teórica, expressa em termos de DQO, considerando a porção do subs-
trato convertido a novas células, é
Note que a síntese de biomassa (yield) real em um processo de tratamento biológico será menor
do que o valor apresentado acima, porque a porção de substrato incorporado à massa de células
será, posteriormente, oxidada pela bactéria para obter energia para manutenção da célula.
Requerimentos de oxigênio. A quantidade de oxigênio utilizado pode ser avaliada conside-
rando (1) o oxigênio utilizado para oxidação do substrato a CO2 e H2O, (2) a DQO da biomassa,
e (3) a DQO de qualquer substrato não degradado. Na fórmula C5H7NO2, o oxigênio equivalente
da biomassa (medido, tipicamente, como SSV) é aproximadamente 1,42 g DQO/g de biomassa de
SSV, como dado abaixo.
(7–5)
Com base nas relações acima, o oxigênio consumido por unidade de DQO utilizado na reação dada
pela Equação (7–3) pode ser determinado através de um balanço de massa em termos de DQO.
A DQO removida é oxidada ou considerada para crescimento celular.
113 g células
g células
Oxigênio consumido
Glucose como DQO 3 mol (1,07 g DQO/g glucose)(180 g glucose/mol)
0,44 g O2 /g DQO utilizada
A quantidade de oxigênio requerido, com base no balanço de DQO, conforme dado acima, está de
acordo com o oxigênio utilizado, com base na estequiometria definida pela Equação (7–3) na qual
8 moles de oxigênio são requeridos para 3 moles de glucose.
Oxigênio utilizado
Glucose como DQO
0,44 g O2 /g DQO utilizada
Note que a síntese de biomassa como 0,39 g SSV/g DQO utilizada é igual a 0,56 g de células
como DQO/g DQO utilizada, e a soma das gramas de oxigênio utilizado para a energia de oxi-
dação /g DQO utilizada (0,44) mais as gramas de células como DQO/g DQO utilizada 1,0 g
DQO/g DQO utilizada. A DQO é contabilizada pelo oxigênio utilizado e pela DQO da biomassa
produzida.
A relação entre a síntese de biomassa (yield) observada e o oxigênio consumido para oxidação
do substrato por biomassa heterotrófica aeróbia, com base em medidas típicas efetuadas em esta-
ções de tratamento de esgoto, é ilustrada no Exemplo 7–1.
CO2
O2
7–4 Crescimento bacteriano, energética e decaimento P 559
Solução
1. Determine a síntese de biomassa (yield) observada. Assuma que a seguinte reação geral
seja aplicável.
Matéria orgânica nutrientes
500 g DQO/m3 200 g SSV/m3
a. A produção de g SSV/dia é:
Comentário
O balanço geral de DQO associado à fração de síntese celular de DQO oxidada é
⌬G° (W),b
kJ por elétron
Número da reação Meia-reação equivalente
Reações para síntese de células e bactérias (Rs)
Nitrito:
3. 93,23
Oxigênio:
4. 78,14
Nitrato:
5. 71,67
Sulfeto:
6. 13,60
Sulfato:
7. 21,27
8. 24,11
(continua)
7–4 Crescimento bacteriano, energética e decaimento P 561
⌬G° (W),b
kJ por elétron
Número da reação Meia-reação equivalente
Reações para doadores de elétrons (Rd)
22. 34,50
23. 32,62
24. 19,48
25. 21,28
26. 21,30
27. 27,47
28. H e 40,46
29. 44,33
a
Adaptado de McCarty (1975) e Sawyer et al. (2003).
b
Reagentes e produtos a atividade unitária exceto [H] 107.
562 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
Solução
1. Identifique o elétron doador e o receptor.
Doador de elétron: hidrogênio
Receptor de elétron: oxigênio
2. Determine a mudança de energia. Da Tabela 7–6, a mudança dos valores de energia livre
para as meias-reações são
G°, kJ/mol e
Total G 118,60
Reações exergônicas. Reações exergônicas são catalizadas por enzimas, internamente à célula
microbiana, produzindo energia disponível para o crescimento celular. Somente uma porção (40
a 80%) da energia produzida é capturada pela bactéria, enquanto o restante se perde como calor.
McCarty (1971) assumiu em 60% a eficiência de captura de energia, mas a quantidade exata varia.
A energia que não é capturada ou que é liberada pode causar uma temperatura elevada no líquido
envolvente, onde existe concentrações elevadas de biomassa e ocorrem reações com taxas elevadas.
Um exemplo é a digestão anaeróbia autotérmica, na qual as temperaturas do líquido amentam de
20°C a até 60°C devido à oxidação biológica e à liberação de energia. A concentração de sólidos
voláteis em digestores aeróbios autotérmicos pode ficar na faixa de 20 a 40 g/L.
Métodos de análise bioenergéticos. As etapas básicas em análises bioenergéticas são (1)
identificar o elétron doador (substrato oxidado) e o elétron receptor, (2) determinar a energia pro-
duzida na reação bacteriana de oxidação-redução, (3) determinar a quantidade de energia neces-
sária para converter o crescimento da fonte de carbono em material celular e (4) calcular a síntese
celular com base em um balanço entre a energia produzida e a energia necessária para a síntese
celular. A etapa de produção de energia foi ilustrada anteriormente para a oxidação de hidrogênio
com oxigênio como elétron receptor.
A quantidade de energia requerida para a síntese celular depende dos compostos específicos
de carbono e de nitrogênio utilizados para crescimento. A análise bioenergética, aqui discutida, é
para bactérias heterotróficas. Um procedimento diferente é utilizado para o caso de bactérias au-
totróficas, e detalhes adicionais podem ser encontrados em McCarty (1971, 1975) e em Rittman e
McCarty (2001). Para bactérias heterotróficas, muitas fontes de carbono podem ser utilizadas para
crescimento com efeitos energéticos diferentes. Na análise, assume-se que o piruvato é o composto
orgânico intermediário utilizado para a síntese de células, sendo a energia produzida ou consumida,
dependendo da energia livre do composto em elação ao piruvato. O piruvato foi selecionado por
McCarty (1971) porque está no final do caminho da glicólise e imediatamente à frente do ciclo
de Krebs. Quando CO2 é utilizado como fonte de carbono, como para bactérias autotróficas, uma
quantidade considerável de energia é necessária para incorporar CO2 na massa celular. Se nitrogê-
7–4 Crescimento bacteriano, energética e decaimento P 563
nio não é disponível na forma de amônia, é necessária energia adicional para a fonte de nitrogênio
em amônia.
A energia requerida para a síntese de células é estimada como segue, com piruvato como o
intermediário orgânico para constituintes de carbono celular:
(7–8)
onde Gs energia livre para converter 1 elétron equivalente (e eq) da fonte de carbono a mate-
rial celular
GP energia livre para converter 1 e equivalente da fonte de carbono ao piruvato inter-
mediário
K fração da energia de transferência capturada
m 1 se GP é positiva e 1 se energia é produzida
Gc energia livre para converter 1 e equivalente do piruvato intermediário a 1 e equiva-
lente de células
GN energia livre por e equivalente de células para reduzir nitrogênio a amônia
O valor de Gc é 31,41 kJ/e equivalente de células (McCarty, 1971) e GN para as fontes de
nitrogênio seguintes são 17,46, 13,61, 15,85 e 0,00 kJ/e eq de células para NO3, NO2, N2 e
NH4, respectivamente. O valor de GP é estimado utilizando a energia livre das meias-reações para
converter as fontes de carbono ao piruvato intermediário.
O doador de elétrons utilizado para reações heterotróficas é dividido entre porções oxidadas
para produzir energia ou para ser utilizadas na síntese de células. O balanço de energia relativo ao
substrato utilizado é ilustrado na equação seguinte, na qual a energia produzida (no lado esquerdo
da equação) iguala a energia utilizada para crescimento celular (lado direito da equação).
(7–9)
fe fs 1 (7–10)
(continuação)
kJ/mol e
No. 18 27,68
No. 4 78,14
G 105,82
G kJ/mol e
No. 18 27,68
No. 15 35,78
GP 8,10
5. Determine a síntese celular com base na DBO, assumindo um fator de conversão de 1,6
g DQO/g DBO (ver discussão na Seção 8–2 do Capítulo 8).
Assim, a síntese celular é
kJ/mol e
No. 18 27,68
No. 8 24,11
G 3,57
(continua)
566 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
(continuação)
Comentário
Com base nos cálculos bioenergéticos, os valores estimados de síntese celular (yield) para
reação anaeróbias utilizando dióxido de carbono como receptor de elétrons são muito meno-
res em comparação com o oxigênio. Os valores mais baixos de síntese celular são devido à
produção de energia muito baixa com dióxido de carbono como receptor de elétrons em vez
de oxigênio. Os valores de síntese celular calculados para esses receptores de elétrons são
muito similares aos valores de síntese celular reportados na literatura.
R fe Ra fs RCS Rd (7–11)
onde R reação geral balanceada
fe fração do doador de elétron utilizada para energia
Ra meia-reação para o receptor de elétrons
fs fração do elétron doador utilizada para síntese celular
Rcs meia-reação para síntese de tecido celular
Rd meia-reação para o doador de elétrons.
f s fe 1
O sinal menos da Equação (7–11) significa que a equação do doador de elétrons dada na Tabela 7–6
deve ser revertida e, então, adicionada às duas outras equações. Na primeira equação dada na Tabe-
la 7–6, o termo C5H7O2N (Hoover and Porges, 1952) é utilizado para representar o tecido celular da
bactéria. A aplicação da Equação (7–11) é ilustrada no Exemplo 7–4.
Solução
1. Desenvolva uma reação estequiométrica balanceada para a oxidação do acetato.
7–4 Crescimento bacteriano, energética e decaimento P 567
Se nitrato (NO3) for utilizado como receptor de elétrons em vez de oxigênio para degrada-
ção de acetato ocorrerá desnitrificação com o NO3 reduzido a gás nitrogênio (N2). O cálculo
energético utilizando o mesmo procedimento acima resulta em um valor de fs de 0,57, apenas
levemente inferior que o do oxigênio como receptor de elétrons (Rittman e McCarty, 2001).
Esse valor de fs leva à determinação de um coeficiente de síntese celular muito próximo àquele
com oxigênio (0,41 versus 0,42 g SSV/g DQO). Entretanto, Muller et al. (2004) mostraram
que o coeficiente de síntese celular de bactérias heterotróficas sob condições anóxicas é muito
menor, ou seja, 80% da síntese em condições aeróbias. Uma relação semelhante é recomen-
dada no modelo IWA ASM3 (Gujer et al., 1999). Em estudos de desnitrificação com culturas
puras de Paracoccus denitrificans e Pseudomonas stutzeri, Strohm et al. (2007) mostraram que
muito menos energia é convertida via TFA em massa celular do que o esperado com cálculos
energéticos. Para degradação de acetato com NO3 como receptor de elétrons, uma síntese ce-
lular de 0,28 a 0,32 g SSV/g DQO foi observada, que é 67 a 78% daquela prevista pelo cálculo
energético recém mostrado. Henze et al. (2008) aplicaram uma menor síntese de biomassa, de
aproximadamente 70%, para redução de NO3 versus degradação aeróbia considerando a adição
de carbono para remoção de nitrato.
TABELA 7–7 Coeficientes típicos de síntese celular de bactérias para reações biológicas
comuns em tratamento de esgoto
Condição de
crescimento Doador de elétrons Receptor de elétrons Síntese celular (yield)
Aeróbio Composto orgânico Oxigênio 0,45 g SSV/g DQO
Aeróbio Amônia Oxigênio 0,12 g SSV/g N-NH4
Anóxico Composto orgânico Nitrato 0,30 g SSV/g DQO
Anaeróbio Composto orgânico Composto orgânico 0,06 g SSV/g DQO
Anaeróbio Acetato Dióxido de carbono 0,05 g SSV/g DQO
568 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
celular menor poderia ser prevista utilizando as meias-reações dadas na Tabela 7–6. Coeficien-
tes de síntese celular são dados na Tabela 7–7 para elétrons doadores e receptores em tratamento
de esgoto.
Decaimento da biomassa
Conforme mostrado pelo processo em batelada da Figura Fig. 7–10, após a depleção do substrato
e, com aeração contínua, a concentração da biomassa decresce. Os termos utilizados para definir
esse decréscimo de biomassa são decaimento, decaimento endógeno ou respiração endógena.
Diversos fatores contribuem para a perda de biomassa, inclusive as necessidades de energia para
manutenção celular, a lise celular, devido a morte ou tensão (stress) causados por fatores am-
bientais, e predação (Hao et al., 2010). Exemplos de necessidades de energia para manutenção
são energias resíntese de componentes essenciais de células e para controle da pressão osmótica.
A energia pode se originar da oxidação de material orgânico celular ou de substratos da massa
líquida. Se não há disponibilidade de substrato, a massa de células pode decrescer e a atividade
celular pode chegar a um estado de repouso. A morte e lise de células pode ocorrer por vírus,
tensão (stress) ambiental (pH, temperatura and toxinas) ou pelos programas de morte de células
devido à idade (Rice and Bayle 2008).
A lise de células resulta da perda de substratos celulares, que são, principalmente, proteínas
e polisacarídeos. Além disso, o entulho que permanece após a lise da célula tem sido assumido
como sólidos voláteis inertes que acumulam no biorreator; porém, mais recentemente os resí-
duos de células têm sido classificados com uma taxa de degradação muito lenta (Ramdani et
al., 2012). Protozoários e rotíferos consomem bactérias que não são capturadas pelos flocos de
lodos ativados. As perdas por predação por protozoários e rotíferos são maiores em sistemas
com bactérias livres ou em condição de crescimento mais disperso. O parâmetro decaimento
endógeno específico é comumente utilizado para integrar todos esses mecanismos de perda de
biomassa, que podem ocorrer a graus variáveis, dependendo da idade das células e das condi-
ções de operação. O decaimento endógeno específico é utilizado para descrever a taxa especí-
fica de perda de biomassa, que pode estar na faixa de 0,08 a 0,20 g de perda de biomassa /g de
biomassa presente.
aeróbia) a níveis mínimos. Para bactérias heterotróficas os doadores de elétrons são substâncias
orgânicas sendo degradadas; para bactérias autotróficas nitrificantes são a amônia ou nitrito, ou,
ainda, outros compostos inorgânicos reduzidos. A taxa de utilização de substratos solúveis em sis-
temas biológicos pode ser modelada com a Equação (7–12), na qual a taxa de utilização de substra-
to aumenta conforme a concentração do substrato no reator aumenta, para uma dada concentração
de biomassa.
(7–12)
onde rsu taxa de utilização de substrato por unidade de volume do reator, g/m3dia
k taxa máxima de utilização de substrato específico, g substrato/g micro-organismosdia
X concentração de biomassa (micro-organismo), g/m3
S concentração, em solução, de substrato limitante de crescimento, g/m3
Ks constante de meia-velocidade, concentração de substrato à metade da taxa máxima de
utilização do substrato específico, g/m3
A Equação (7–12) é reconhecida como uma equação do tipo de saturação, como previamente des-
crito no Capítulo 1. Embora a Equação (7–12) seja um modelo empírico, baseada na utilização de
coeficientes derivados de dados de reatores biológicos, ela é, comumente, referida como a equação
de Michaelis-Menten (Bailey e Ollis, 1986), que foi formulada a partir de um modelo de substrato
enzimático. Um gráfico de rsu versus a concentração do substrato é mostrado na Figura 7–11. Nessa
figura, a taxa máxima de utilização de substrato ocorre a concentrações elevadas de substrato. Ain-
da, conforme a concentração de substrato decresce abaixo de um valor crítico, o valor de rsu também
decresce quase que linearmente. Na prática, os sistemas de tratamento biológico são projetados para
produzir um efluente com concentrações de substrato extremamente baixas.
A Equação (7–12) pode, também, ser colocada na forma proposta por Monod para a taxa de
crescimento específico de bactérias, na qual o substrato limitante é disponível aos micro-organis-
mos em uma forma dissolvida (Monod, 1942, 1949).
(7–13)
700
600
500
400
300
0
0 10 20 30 40 50
Concentração de DQOb, mg/L
FIGURA 7–11 Taxa de mudança de utilização de substrato versus a concentração de DQO solúvel
biodegradável baseada no modelo do tipo saturação [ver Equação (7–12)].
7–5 Cinética do crescimento bacteriano P 571
síntese celular (yield) como biomassa produzida/g substrato utilizado. A taxa de crescimento bac-
teriano pode, portanto, ser igualada à taxa de utilização de substrato como segue:
rg Yrsu (7–14)
e (7–15)
m kY (7–16)
rsu kS (7–17)
(7–19)
Cada expressão de taxa que define a cinética de utilização de substrato depende, principalmen-
te, dos dados experimentais disponíveis para ajustar as equações cinéticas e a aplicação de modelos
cinéticos. Em muitos casos, o modelo de pseudo de primeira ordem dado pela Equação (7–18) é
satisfatório para descrever as taxas de utilização de substrato quando o processo de tratamento
biológico é operado a concentrações de substrato relativamente baixas. O que é fundamental na
utilização de qualquer expressão de taxa é a sua aplicação à análise do balanço de massa, conforme
será discutido na seção seguinte. Além disso, com relação à modelagem de processos de tratamento
biológico, os modelos cinéticos não devem ser aplicados fora da faixa das condições utilizadas para
desenvolver os coeficientes do modelo.
(7–20)
572 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
onde rXS taxa de hidrólise de substrato particulado para a conversão a substrato solúvel, g/m3dia
kh taxa máxima específica de hidrólise, g XS /g XHdia
XS concentração do substrato particulado, g/m3
XH concentração da biomassa heterotrófica, g/m3
KX coeficiente de hidrólise de meia-velocidade, g/g
A degradação da concentração do substrato é expressa em relação à concentração da biomassa,
porque a hidrólise do particulado é relacionada à área de contato relativa entre o material orgânico
não solúvel e a biomassa. O efeito de constituintes orgânicos particulados é considerado com mais
detalhes no Capítulo 8.
rX Yrsu bX (7–21)
(7–22)
onde rX taxa líquida de crescimento de biomassa por unidade de volume do reator, g SSV/m3dia
b coeficiente específico de decaimento endógeno, g SSV/g SSVdia
Outros termos foram previamente definidos.
Se ambos os lados da Equação (7–22) são divididos pela concentração de biomassa X, a taxa líqui-
da de crescimento específico é definida como segue:
(7–23)
(7–24)
Efeitos de temperatura
A dependência da temperatura das constantes biológicas de taxas de reação é muito importante
para acessar a eficiência geral de um processo de tratamento biológico. A temperatura influencia
não apenas as atividades metabólicas da população microbiana, mas, também, tem um grande efei-
to sobre fatores como taxas de transferência de gases e características de sedimentação de sólidos
biológicos. O efeito da temperatura nas taxas de reação de um processo biológico é expresso uti-
lizando o mesmo tipo de relação previamente desenvolvida no Capítulo 1 [ver Equação (1–44)] e
aqui repetida para facilidade de referência.
A concentração de SSV inerte resultante dos resíduos de células é, tipicamente, uma fração
relativamente pequena de SSV em um biorreator utilizado para tratar esgotos municipais e alguns
industriais. Como observado, uma quantidade variável de SSVLM não é biomassa originada de
SSVnb do esgoto influente. Em esgotos municipais brutos típicos, a concentração de SSVnb pode
estar na faixa de 60 a 100 mg/L e, após tratamento primário, na faixa de 10 a 40 mg/L.
Sólidos suspensos voláteis totais. A taxa de produção de SSV em tanques de aeração pode
ser definida como a soma da taxa de produção de biomassa dada pela Equação (7–21), da produção
de SSVnb dada pela Equação (7–26) e da SSVnb do esgoto influente.
(7–27)
biomassa SSVnb de SSVnb no
líquida SSV do células influente
DQOb solúvel
onde Yobs síntese celular observada (yield), g SSV produzida/g substrato removido
Uma determinação de biomassa líquida é considerada no Exemplo 7–5.
576 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
Solução
1. Determine a síntese de biomassa líquida utilizando a Equação (7–29).
Ybio rX /rsu
a. Resolva para rsu utilizando a Equação (7–12) e a informação dada na Tabela 7–8
Comentário
Assim, considerando o SSVnb no esgoto influente e os resíduos de células produzidos, o
SSVML contém 76% de biomassa ativa.
7–6 Modelando processos de crescimento suspenso P 577
FIGURA 7–12 Diagrama esquemático do processo de lodos ativados com a nomenclatura do modelo: (a) com descarga na
linha de retorno de lodo e (b) com descarga do tanque de aeração.
578 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
(7–31)
(7–32)
Sob operação em regime permanente, onde a vazão influente e a concentração do substrato é cons-
tante, a concentração da biomassa no reator também é, e a taxa líquida de crescimento de biomassa
por dia é igual à taxa de descarte de sólidos [o numerador na Equação (7–32)]. Se o produto de rx,
a taxa líquida de crescimento de biomassa por unidade de volume (g/m3dia) [ver Equação (7–21)]
e o volume, V, forem substituídos pelo numerador da Equação (7–32), comprova-se que o inverso
do TRS é a taxa líquida de crescimento específico de biomassa.
(7–33)
Assim, baseado na Equação (7–33), o controle do TRS através de descarte de lodo afeta a taxa
líquida de crescimento específico de biomassa e a concentração do substrato no reator. Para um
sistema LACM, a concentração do substrato dissolvido no efluente do reator é igual à concentração
no reator.
Balanço de biomassa
Um balanço de massa para a massa de micro-organismos no reator completamente misturado mos-
trado na Figura 7–12(a) pode ser escrito como segue:
1. Equação genérica:
Taxa de acumulação taxa de escoamento taxa de escoamento crescimento
de micro-organismos de micro- de micro-organismo líquido de
dentro do limite do -organismos para o para fora do limite micro-organismo (7–34)
sistema limite do sistema do sistema internamente ao
limite
7–6 Modelando processos de crescimento suspenso P 579
2. Equação simplificada:
3. Representação simbólica:
(7–36)
onde dX/dt taxa de variação de concentração de biomassa no reator medida como g SSV/m3dia
V volume do reator (i.e., tanque de aeração), m3
Q vazão influente, m3/dia
Xo concentração de biomassa no influente, g SSV/m3
Qw vazão de lodo descartado, m3/dia
Xe concentração de biomassa no efluente, g SSV/m3
XR concentração de biomassa na linha de retorno do decantador, g SSV/m3
rx taxa líquida de produção de biomassa, g SSV/m3dia
Se é assumido que a concentração de micro-organismos no influente pode ser negligenciada e que
existe condições de regime permanente (dX/dt 0), a Equação (7–36) pode ser simplificada
(7–38)
(7–39)
O termo, rsu, definido como a taxa de utilização de substrato por unidade de volume do reator [ver
Equação (7–12)] é a quantidade de substrato removida no reator dividida pelo volume dele:
(7–40)
(7–41)
Se a Equação (7–41) é rearranjada como dado pela Equação (7–42), a concentração de biomassa
no reator é uma função do TRS do sistema, do tempo de retenção hidráulico do tanque de aeração,
t (V/Q), do coeficiente de síntese (yield), da quantidade de substrato removida (SoS) e do coefi-
ciente específico do decaimento endógeno.
(7–42)
(7–43)
(7–44)
(7–45)
(7–46)
(7–48)
Como a expressão 1/TRS da Equação (7–32) representa a fração de sólidos descartados por dia
e o liquor misto pode ser assumido como uma mistura homogênea de biomassa e outros sólidos,
a Equação (7–48) pode ser utilizada para calcular a quantidade de sólidos descartados por dia de
qualquer dos componentes do liquor misto. Para a quantidade de biomassa descartada por dia (PX),
a concentração de biomassa X pode ser utilizada em lugar de XT na Equação (7–48).
Concentração de sólidos no liquor misto. O total de SSVLM no tanque de aeração é igual
à concentração de biomassa X mais a concentração de SSVnb Xi:
XT X Xi (7–49)
Substituindo a Equação (7–42) por X e a Equação (7–52) por Xi na Equação (7–49) é produzida a
seguinte equação que pode ser utilizada para determinar a concentração total de SSVLM:
(7–53)
Produção de sólidos. A quantidade de SSV produzida e descartada por dia pode ser estimada
substituindo a Equação (7–53) na Equação (7–48) e substituindo por V/Q. A equação resultan-
te é expressa como uma função do substrato degradado, do SSVnb influente e dos coeficientes
cinéticos.
(7–54)
O efeito do TRS no desempenho de um sistema de lodos ativados para remoção de substrato solú-
vel é ilustrado na Figura 7–13. Assim como a concentração de substrato solúvel, a concentração de
SSV total que inclui SSVnb é mostrada. Conforme o TRS aumenta, mais decaimento de biomassa
e mais resíduos se acumulam, de maneira que a diferença de concentrações de SSVLM e de SSV
582 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
7000 14
6000 12
biomassa
5000 SSVLM 10
3000 6
2000 4
1000 2
0 0
0 5 10 15 20
TRS, dia
FIGURA 7–13 Concentrações de DQO solúvel biodegradável, biomassa, e SSVLM versus TRS em pro-
cessos de lodos ativados completamente misturados.
aumentam com o TRS. Também ilustrado na Figura 7–13 está o fato de que a concentração de subs-
trato solúvel é muito baixa (DQOsb < 5 mg/L) com TRSs acima de 2 dias. Uma concentração baixa
de substrato é típica do processo de lodos ativados quando utilizado para o tratamento de esgoto
doméstico, ilustrando como os compostos orgânicos são eficazmente degradados neste processo de
tratamento. Como será mostrado no Capítulo 8, a degradação do substrato orgânico não é, usual-
mente, o principal fator para a seleção do valor de TRS a ser adotado.
A massa total de sólidos secos descartada por dia é baseada no SST, que inclui o SSV mais sóli-
dos inorgânicos. Sólidos inorgânicos são presentes no esgoto influente (SST – SSV) e na biomassa,
que contém 10 a 15% de sólidos inorgânicos por peso seco. Os sólidos inorgânicos influentes não
são solúveis, e são assumidos como capturados nos sólidos do liquor misto e removidos nos sólidos
descartados. Para calcular a produção de sólidos em termos de SST a Equação (7–54) é modificada
adicionando os sólidos inorgânicos influentes e calculando a biomassa de SST, assumindo que a rela-
ção típica SSV/SST é de 0,85. A relação SSV/SST pode variar de 0,80 a 0,90.
(7–55)
onde PX,SST lodo ativado de descarte líquido produzido diariamente, medido em termos de sóli-
dos suspensos totais, kg/d
SSTo concentração de SST no esgoto influente, g/m3
SSVo concentração de SSV no esgoto influente, g/m3
A, B e C são definidos na Equação (7–54).
A massa de SSVLM e de SSLM podem ser obtidas utilizando as Equações (7–54) e (7–55), respec-
tivamente, com a Equação (7–48) como segue:
Selecionando uma concentração adequada de SSVLM, o volume do tanque de aeração pode ser
determinado pela Equação (7–57). Concentrações típicas de SSLM na faixa de 2.000 a 4.000 mg/L
podem ser selecionadas, devendo ser compatíveis com as características de sedimentabilidade do
lodo e do projeto do decantador, conforme discutido nas Seções 8–10 e 8–11 do Capítulo 8.
7–6 Modelando processos de crescimento suspenso P 583
(7–58)
(A) (B) (C)
Biomassa Resíduo SSV não
heterotrófica de células biodegradável
no efluente
(7–59)
O impacto de SSV não biodegradável do influente da Equação Eq. (7–58) sobre a síntese
celular observada depende das características do esgoto e do tipo de pré-tratamento. A con-
centração do substrato é, geralmente, muito baixa em comparação a So, e o termo Xo,i /(So – S)
pode ser aproximado para Xo,i /So, que é g SSVnb/g DQO no influente. Em esgoto municipal os
valores de Xo,i /So variam de 0,10 a 0,30 g SSVnb/g DBO com tratamento primário e de 0,30 a
0,50 g SSVnb/g DBO sem tratamento primário. A produção de lodo é, também, considerada no
Capítulo 8.
Requerimentos de oxigênio
O oxigênio requerido para a biodegradação de material carbonáceo é determinado através de um
balanço de massa utilizando a concentração de DQOb do esgoto tratado e a quantidade de biomassa
descartada por dia do sistema. Se todo o DQOb fosse oxidado a CO2 e H2O, a demanda de oxigênio
seria igual à concentração de DQOb, mas as bactérias oxidam somente uma porção da DQOb para
proporcionar energia e uma porção da DQOb para crescimento celular. O oxigênio é, também,
consumido para a respiração endógena e a quantidade dependerá do TRS do sistema. Para um de-
terminado TRS, um balanço de massa do sistema pode ser efetuado quando a remoção da DQOb
é igual ao oxigênio utilizado, mais o SSV da biomassa remanescente (em termos de equivalente
em oxigênio), como dado pela Equação (7–7). Assim para um processo de crescimento suspenso,
o oxigênio utilizado é
Solução
1. Determine a concentração da DQOsb do efluente utilizando a Equação (7– 46).
0,197 d
Volume do tanque de aeração (Q) 0,197 dia (1.000 m3/dia) 197 m3
3. Determine a produção total de lodo em kg SSV/dia utilizando a Equação (7–48).
PXT,SSV XT (V)/(TRS)
(2.500 g SSV/m3)(197 m3)(1 kg/103g)/6 dia 82,1 kg SSV/dia
4. Determine a produção total de lodo em kg SST/dia utilizando a Equação (7–55) e os
coeficientes assumidos.
Comentário
A mesma abordagem pode ser utilizada para tratar esgoto contendo DQO particulada bio-
degradável assumindo que seja igual à DQOsb. Para projetos de crescimento suspenso com-
pletamente misturados, se o TRS é 3, ou mais, todo o DQO particulado biodegradável será,
essencialmente, convertido a DQOsb.
586 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
(7–63)
(7–64)
(7–65)
(7–66)
Na Equação (7–66), o termo (rsu /X) é conhecido como a taxa específica de utilização de substrato,
U. Rearranjando a Equação (7–39) comprova-se que U está relacionado ao TRS e aos coeficientes
de crescimento bacteriano e de decaimento.
(7–67)
(7–68)
7–6 Modelando processos de crescimento suspenso P 587
A Equação (7–68) mostra que sistemas operados com valores altos de F/M resultam em um valor
mais baixo de TRS em regime permanente. Em sistemas projetados para o tratamento de esgoto
municipal com valores de TRS de lodos ativados na faixa de 20 a 30 dias, os valores corresponden-
tes de F/M podem variar de 0,10 a 0,05 g DBO/g SSVdia, respectivamente. Com valores de TRSs
na faixa de 5 a 7 dias, os valores de F/M podem oscilar de 0,3 a 0,5 g DBO/g SSVdia, respectiva-
mente.
Taxas volumétricas de carga orgânica. A taxa volumétrica de carga orgânica, definida
como a quantidade de DBO ou de DQO aplicada ao volume do tanque de aeração por dia é
(7–69)
(7–70)
Em muitas situações encontradas em tratamento de esgoto, So é muito maior do que Ks, portanto, a
Equação (7–70) pode ser reescrita como
(7–71)
ou
(7–72)
588 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
250 250
60 60
200 200
150 40 150 40
100 100
20 20
50 50
0 0 0 0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6
(a) TRS, dia Concentração do esgoto efluente S, mg/L (b) TRS, dia
400 100
0 0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6
(c) TRS, dia
FIGURA 7–14 Concentração de substrato no efluente e eficiência de remoção versus TRS para: (a) re-
atores completamente misturados com reciclagem, (b) reator tubular com reciclagem e (c) reatores tubular
completamente misturado plotados no mesmo gráfico para comparação.
As equações (7–71) e (7–72) podem ser utilizadas para determinar o TRSmin. Coeficientes cinéticos
típicos que podem ser utilizados para determinar TRSmin para a remoção de BOD são dados na Ta-
bela 7–8. Processos de tratamento biológico não devem ser projetados com valores de TRS iguais
ao TRSmin. Para garantir um tratamento de esgoto adequado, o tratamento biológico é, usualmente,
projetado e operado com um valor de TRS de projeto de 2 a 20 vezes o TRSmin. De fato, a relação
entre o TRS de projeto (TRSproj) e o TRSmin pode ser considerada como um fator de segurança do
processo, FS, para evitar a falha do sistema (Lawrence and McCarty, 1970).
(7–73)
(7–74)
Integrando a Equação (7–74) para o tempo de retenção do esgoto no tanque de aeração, substi-
–
tuindo a Equação (7–42) por X, e simplificando, a seguinte expressão é obtida:
(7–75)
Características do biofilme
Dependendo das condições de crescimento e da hidrodinâmica do sistema, a espessura do biofilme
pode variar de 100 m a 10 mm (WEF, 2000). Uma camada de líquido estagnada (camada de di-
590 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
(a) (b)
FIGURA 7–15 Empacotamento típico de um filtro biológico: (a) pedras com bocais de distribuição fixos e (b) meio de plástico
em um filtro biológico em torre.
fusão) separa o biofilme da massa líquida que escoa sobre a superfície do biofilme ou é misturado
na parte externa do filme fixo [ver Figura 7–16(a)]. Substratos, oxigênio e nutrientes se difundem
através da camada de líquido estagnada para o biofilme, e produtos de biodegradação oriundos do
biofilme entram na massa líquida após a difusão através do filme estagnado.
A concentração de substrato na superfície do biofilme, Ss, conforme mostrado na Figura 7–17,
decresce ao longo da sua espessura conforme o substrato é consumido e se difunde nas camadas desse
biofilme. Como resultado, o processo é considerado de difusão limitada. O substrato e as concentra-
ções de oxigênio internamente ao filme são mais baixos do que a concentração na massa líquida e se
altera com a espessura do biofilme e da taxa de utilização de substrato. A taxa total de utilização de
substrato é menor do que seria prevista com base na concentração de substrato na massa líquida.
Caracterização da biomassa
A quantidade total de substrato utilizada por unidade de área da seção transversal de biofilme deve
difundir através da camada estagnada. Essa taxa de transferência de massa é denominado fluxo
de superfície e é expressa como massa por unidade de área e por unidade de tempo (g/m2dia).
Escoamento da Camada
massa líquida líquida
Q, S
Ar
z
Compostos
orgânicos
Produtos
finais
z + dz
Empacotamento Filme líquido Empacotamento Filme líquido Q, S + S dz
do filtro estacionário do filtro estacionário z
Camada de
Camada de
biomassa
biomassa
(a) (b)
z
Sb
dSf dSf
-DeAs -DeAs
dx x + x dx x
SS
z + dz x + x x
L 0
x Volume de controle
A camada de biofilme não é, simplesmente uma superfície plana como mostra a Figura 7–16(b)
(Costerton et al., 1995). As camadas de biofilmes são, na realidade, estruturas não uniformes muito
complexas com protrusões desiguais parecidas com picos e vales e possivelmente possuem poros
verticais e horizontais através dos quais o líquido escoa. A biomassa nos biofilmes pode ser bas-
tante densa, podendo, também, variar em densidade e espessura. As concentrações de SSV em
biofilmes podem variar de 40 a 100 g/L. Não ocorre, além disso, crescimento uniforme através do
material suporte devido às inundações periódicas da unidade, assim como em relação à hidrodinâ-
mica e à configuração do material de enchimento (Hinton and Stensel, 1991).
Modelos mecanísticos
Têm sido desenvolvidos modelos mecanísticos por muitos investigadores para descrever a trans-
ferência de massa e a cinética de utilização de substrato biológico em biofilmes (Williamson and
McCarty, 1976; Rittman and McCarty, 1980; Kissel et al., 1984; Saez and Rittman, 1992; Suidan
and Wang, 1985; Wanner and Gujer, 1986; e Rittman and McCarty, 2001) e para proporcionar fer-
ramentas úteis para a avaliação de processos de biofilmes. Entretanto, devido à complexidade dos
reatores de crescimento aderido e a dificuldade de definir adequadamente os parâmetros físicos e
coeficientes de modelagem, são utilizadas, para projeto, relações empíricas, baseadas em desem-
penhos observados. As relações empíricas utilizadas para projeto são apresentadas e ilustradas no
Capítulo 9. Conceitos fundamentais de transferência de massa e de utilização de substrato, que
podem ser utilizados para modelar o comportamento da remoção de substrato em processos de
crescimento aderido, são introduzidos aqui.
(7–76)
A transferência de massa internamente ao biofilme é descrita pela lei de Fick de difusão (ver
Seção 1–9 no Capítulo 1) em uma solução aquosa, com uma modificação em relação à constante de
difusividade, para levar em conta o efeito da estrutura do biofilme na difusão efetiva.
(7–77)
(7–78)
taxa de escoamento
Taxa de acumulação taxa de escoamento taxa de utilização
de substrato para
de substrato no de substrato ao do substrato no
fora do elemento
elemento diferencial elemento diferencial elemento diferencial
diferencial
(7–79)
(7–80)
(7–81)
A solução das equações acima requerem duas condições limites. A primeira condição é que o flu-
xo de substrato na superfície do biofilme seja igual ao fluxo de substrato através do filme líquido
estagnante, como dado pela Equação (7–76). A segunda condição limite é que não ocorra fluxo na
superfície do meio suporte
(7–82)
As soluções para a Equação (7–81) variam, dependendo (1) se existe um biofilme com espessura
suficiente para que a concentração de substrato no biofilme seja próxima de zero na superfície do
7–7 Remoção de substrato em processos de tratamento com crescimento aderido P 593
meio suporte, (2) se existe um biofilme com espessura pequena de modo que Sf seja um valor finito
através do filme e (3) da concentração relativa de Sf comparada a Ks. Abordagens para a solução são
disponíveis em diversas referências, incluindo Williamson e McCarty (1976), Grady et al. (1999) e
Rittman e McCarty (2001).
(7–84)
(continuação)
Solução
1. Determine os coeficientes estequiométricos através da estequiometria de reação.
NH4 2O2 S NO3 2H H2O
nd 1,0
na 2,0
2. Determine a concentração de OD quando o oxigênio é limitante de fluxo, utilizando a
Equação (7–84).
Assim, se Sba é igual a 2,8 (Sbd), a taxa de nitrificação não é reduzida pela taxa de fluxo
de oxigênio através da camada estagnada. As concentrações de OD na massa líquida,
necessárias para evitar a limitação do fluxo de oxigênio para nitrificação são sumarizadas
na tabela seguinte.
3,0 8,4
Comentário
Para concentrações baixas de N-NH4 na massa líquida, que resulta em taxas menores de nitri-
ficação no biofilme, concentrações baixas de OD podem ser toleradas.
Descrição do processo
A remoção da DBO pode ser efetuada através de diversos processos de tratamento aeróbios de cres-
cimento suspenso ou aderido (filme fixo), como ilustrado nas Figuras 7–3 e 7–4, respectivamente,
e descritos em detalhes nos Capítulos 8 e 9. Ambos requerem tempo de contato suficiente entre o
esgoto e os micro-organismos heterotróficos, oxigênio e nutrientes suficientes. Durante a assimila-
7–8 Oxidação aeróbia P 595
ção biológica inicial de matéria orgânica, mais da metade é oxidada, e o remanescente é assimilado
como biomassa nova, que pode ser, posteriormente, oxidada por respiração endógena. Para os pro-
cessos de crescimento suspenso ou aderido, o excesso de massa produzido diariamente é removido
e processado para manter operação e desempenho adequados. A biomassa é separada do efluente
tratado por gravidade, e projetos mais recentes com separação por membranas têm sido efetuados.
Microbiologia
Uma grande variedade de micro-organismos são encontrados em processos de tratamento de cres-
cimento suspenso ou aderido utilizados para a remoção de material orgânico. Bactérias aeróbias
heterotróficas encontradas nesses processos são capazes de produzir polímeros extracelulares que
resultam na formação de flocos biológicos (ou biofilmes em processos de crescimento aderido) que
podem ser separados do líquido tratado por sedimentação com concentrações relativamente baixas
de bactérias livres e sólidos suspensos.
Protozoários têm, também, uma função importante em processos de tratamentos biológicos ae-
róbios. Através do consumo de bactérias livres e de particulados coloidais os protozoários auxiliam
na clarificação de efluentes. Os protozoários requerem TRS maiores do que as bactérias aeróbias
heterotróficas, preferem concentrações de oxigênio dissolvido acima de 1,0 mg/L e são mais sen-
sitivos a material tóxico. Assim, a presença de protozoários é um bom indicador de uma operação
do processo estável e livre de dificuldades. Devido às suas dimensões os protozoários podem ser
observados em um microscópio de luz com um fator de ampliação de 100 a 200. Os rotíferos
podem, também, ser encontrados no lodo ativado e em biofilme, assim como nematodos e outros
organismos multicelulares. Esses organismos ocorrem em tempos maiores de retenção de biomassa
e sua importância não foi, ainda, bem definida.
Processos aeróbios de crescimento aderido, dependendo da espessura do biofilme, em geral
têm uma ecologia microbiológica muito mais complexa do que os lodos ativados. Os biofilmes
contêm bactérias, fungos, protozoários, rotíferos e, possivelmente, vermes anelídeos, platelmintos
e nematodos (WEF, 2000). A natureza de biofilmes e sua composição microbiana é discutida mais
detalhadamente no Capítulo 9.
(a) (b)
FIGURA 7–18 Exemplos de escuma causada por Gordonia amarae acumulada na superfície de tanque
de aeração de sistema de lodos ativados.
e espessa marrom sobre a superfície do lodo ativado, com bolhas que se rompem e que têm sido
referidas como espumação de Nocardia devido ao nome dado ao tipo de bactéria observada no
microscópio. Entretanto, a maioria dos organismos causadores de espuma observados em lodo
ativado estão incluídas no filo Actinobacteria e inclui a nocardia ou Gordonia amarae sob a Myco-
lata morfitas morphytes e Candidatus Microthrix parvicella (Seviour et al., 2008). Os organismos
podem ser encontrados em concentrações elevadas na escuma acima do líquido de lodo ativado. Os
tipos de organismos causadores de problemas referidos acima serão considerados junto com outros
organismos no Capítulo 8.
Respiração endógena:
bactéria
energia (7–86)
Na Equação (7–85), COHNS é utilizado para representar a matéria orgânica do esgoto, que serve
como doadora de elétrons enquanto que o oxigênio serve como receptor de elétrons. Embora a
reação de respiração endógena [Equação (7–86)] seja mostrada resultando em produtos finais rela-
tivamente simples e energia, são também formados produtos orgânicos estáveis. Se todas as células
(i.e., as doadoras de elétrons) fossem completamente oxidadas, o UBOF ou DQO das células seria
igual a 1,42 vezes a concentração de células como SSV [ver Equação (7–5)]. A valores maiores de
TRS uma grande porção de células será oxidada.
Utilizando as meias-reações dadas na Tabela 7–6, a estequiometria da oxidação aeróbia de
acetato (o doador de elétron) pode ser representada na Equação (7–87), assumindo que a amônia
servirá como fonte de nitrogênio para o tecido celular, que o oxigênio é o receptor de elétron e que
o valor de fs da reação é 0,59 (ver Exemplo 7–4).
(7–87)
7–9 Oxidação biológica de nitrogênio inorgânico P 597
Cinética de crescimento
A forma das expressões de taxas para utilização e crescimento de biomassa para a oxidação hete-
rotrófica de substratos orgânicos, com base na estequiometria previamente apresentada, já foram
apresentadas, mas são aqui repetidas para facilidade de referência.
(7–12)
rx Yrsu bX (7–21)
(7–22)
Essas expressões são similares à equação de saturação proposta por Monod (1942) para cresci-
mento, e à equação de Michaelis-Menten para utilização de substrato (Bailey and Ollis, 1986).
Valores típicos de k e Ks a 20°C variam de 8 a 12,0 g DQO/g SSVdia e de 10 a 40 g DQOsb/m3,
respectivamente. Como notado na Seção 7–3, o valor de Ks pode variar dependendo da natureza
e complexidade dos componentes da DQOsb. Para substratos individuais facilmente biodegradá-
veis, têm sido medidos os valores de Ks de menos que 1,0 mg DQOsb/L (Bielefeldt and Stensel,
1999).
A aplicação das equações acima para utilização de substrato e crescimento de biomassa leva ao
desenvolvimento de uma série de parâmetros de projeto, incluindo o tempo de retenção de sólidos
(TRS), a relação alimento/micro-organismo (F/M) e a taxa específica de utilização (U). Esses pa-
râmetros são aplicados ao projeto de diversos processos de lodos ativados mostrados no Capítulo 8.
Com a exceção de constituintes de biodegradabilidade difícil que ocorrem em esgoto industrial, a
cinética de oxidação aeróbia de substratos orgânicos raramente controla o valor de projeto de TRS
no processo de lodos ativados. Para a boa formação do floco é necessário tempo suficiente para
que a biomassa do tanque de aeração de lodos ativados desenvolva polímeros extra celulares e uma
estrutura de floco. A floculação ótima e a remoção de SST em sistemas de clarificação ocorrem,
tipicamente, a valores de TRS superiores a 2,5 ou 3,0 dias a 20°C, e 3 a 5 dias a 10°C. Entretanto,
algumas estações de tratamento de esgoto em climas mais quentes operam com valores de TRS va-
riando de menos que 1 a 1,5 dia. Sistemas utilizando oxigênio de alta pureza operam rotineiramente
a valores baixos de TRS. TRSs excessivamente grandes (>20 dias) podem levar à deterioração de
flocos com o desenvolvimento de pequenas partículas (flocos “cabeça de alfinete”) que produzem
um efluente com maior turbidez. Entretanto, mesmo com flocos “cabeça de alfinete”, concentra-
ções de sólidos suspensos inferiores a 30 mg/L são, geralmente, obtidos. O TRS pode ser variado
em operações de sistemas para estabelecer a condições ótimas de floculação.
Fatores ambientais
Para a remoção de material carbonáceo, são toleráveis valores de pH na faixa de 6,0 a 9,0, enquanto
que o desempenho ótimo ocorre próximo a valores neutros de pH. Uma concentração de OD de
2,0 mg/L é comumente utilizada, e a concentrações acima de 0,50 mg/L ocorre um pequeno efeito
da concentração de OD sobre a taxa de degradação. Quando efluentes industriais são descarrega-
dos em sistemas coletores municipais, devem ser tomados cuidados para garantir que quantidades
suficientes de nutrientes (N e P) estejam disponíveis para a quantidade de DQOsb a ser tratada. As
bactérias heterotróficas, responsáveis pela remoção de DQO, podem tolerar concentrações mais
elevadas de substâncias tóxicas em comparação com a bactéria e arquea responsáveis pela oxidação
de amônia ou de produção e metano.
Descrição do processo
Como na remoção de DBO, a nitrificação pode ser efetuada tanto em processos biológicos com
crescimento suspenso como em crescimento aderido. Em processos de crescimento suspenso, uma
abordagem mais comum é atingir a nitrificação com remoção de DBO em um único processo de lo-
dos ativados, consistindo de um tanque de aeração decantador e um sistema de reciclagem de lodo
[ver Figura 7–19(a)]. Em casos onde existe um potencial significativo de que o esgoto contenham
substâncias tóxicas e inibidoras, um sistema duplo de crescimento suspenso pode ser considerado
[ver Figura 7–19(b)]. O sistema duplo consiste de dois tanques de aeração e dois decantadores em
série, sendo que o primeiro conjunto (tanque e decantador) opera com pequeno TRS para a remo-
ção de DBO. A DBO e as substâncias tóxicas são removidas no primeiro conjunto, de maneira que
a nitrificação pode ocorrer, sem restrições, no segundo conjunto. Uma porção do esgoto influente
usualmente é desviada para o segundo estágio do sistema para prover uma quantidade suficiente de
sólidos para que ocorra uma eficiente floculação e clarificação. Esse sistema duplo de crescimento
suspenso tem sido, também, utilizado em sistemas de remoção biológica de nitrogênio (Boehnke
et al., 1997, WERF, 2010) como uma abordagem de engenharia ambiental sustentável através da
redução da necessidade de energia e do aumento de descarte de lodo para os digestores anaeróbios
para incrementar a produção de biometano [ver Figura 7–19(c)]. O primeiro dos sistemas é operado
7–9 Oxidação biológica de nitrogênio inorgânico P 599
Remoção de DBO e
nitrificação combinadas
Ar Decantador
Influente Efluente
(a) Lodo
Desvio (opcional)
Sistema A – Sistema B –
Lodo ativado de alta taxa lodo ativado com baixa taxa de remoção de nutrientes
FIGURA 7–19 Configuração do processo utilizado para nitrificação biológica: (a) sistema único de
crescimento suspenso de lodo, (b) sistema duplo de crescimento suspenso de lodo e (c) Processo AB (Siste-
ma A com lodo ativado de alta taxa, Sistema B com lodo ativado de baixa taxa de remoção de nutrientes)
(Boehnke et al., 1997).
com um TRS curto e taxa de carga de DBO alta. O segundo sistema é operado a TRSs maiores para
promover a oxidação da amônia. As bactérias responsáveis pela nitrificação crescem muito mais
lentamente do que as heterotróficas, de maneira que sistemas projetados para nitrificação, têm, ge-
ralmente, maiores tempos de retenção hidráulicos e de sólidos do que os sistemas projetados para
remoção de DBO apenas.
Em sistemas de crescimento aderido utilizados para nitrificação, a maior parte da DBO deve
ser removida antes que organismos nitrificantes se estabeleçam. As bactérias heterotróficas têm
uma síntese de biomassa (yield) maior, podendo, então, dominar a área superficial de sistemas
de filme fixo em relação às bactérias nitrificantes. A nitrificação pode ser obtida em um reator de
crescimento aderido após a remoção da DBO ou em um reator de crescimento aderido separado e
especialmente projetado para nitrificação. O projeto de sistemas biológicos de crescimento aderido
é descrito no Capítulo 9.
Microbiologia
Bactérias que oxidam amônia (BOA) e bactérias oxidante de nitrito (BON) são quimioautótrofos
porque utilizam CO2 como fonte de carbono e requerem oxigênio dissolvido para oxidar um com-
posto inorgânico (N-NH4 ou N-NO2) e obter energia para as células. A distribuição filogenética de
BOA e BON é baseada em diferenças em 16S sequências de ribossomas de RNA (rRNA) (Rowan
et al., 2003) e são classificadas sob a -Proteobacteria e -Proteobacteria. A BOA, sob a -Pro-
600 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
teobacteria é encontrada em ambientes marinhos, não sendo, portanto, importante para aplicações
em tratamento de esgoto. A BOA em -Proteobacteria é dividida em dois gêneros: Nitrosomonas
e Nitrosospira (Purkhold et al., 2000 e Koops and Pommerening-Roser, 2001).
Distribuição de BOA e BON. A distribuição filogenética de BOA nesses gêneros é sumarizada
na Tabela 7–9. Há cinco subgrupos sob Nitrosomonas sendo dois desses, N. marina e N. cryotole-
rans, bactérias halofílicas obrigatórias, e, portanto, de menor importância em tratamento de esgoto.
As três restantes são europaea/eutropha, N. communis e N. oligotropha.
A filogenia de BON, sumarizada na Tabela 7–10, apresenta maior diversidade com quatro gê-
neros em três grupos Proteobacteria. A Nitrobacter está no grupo -Proteobacteria, a Nitrococcus
no grupo -Proteobacteria e a Nitrospina e Nitrospira estão no grupo -Proteobacteria. Desses, a
Nitrospira marina, a Nitrospina gracilis e a Nitrococcus mobilis são bactérias halofílicas obrigató-
rias e são menos importantes em tratamento de esgoto. Enquanto a Nitrobacter ocorre, geralmente,
como células livres, a Nitrospira é, mais comumente, observada agregada a flocos ou a biofilmes
em seus ambientes naturais.
Ferramentas moleculares. As ferramentas moleculares têm sido úteis na avaliação de cul-
turas nitrificantes em sistemas de nitrificação com crescimento suspenso e com filme fixo. Utili-
zando sondas de nucleotídeos para bactérias que oxidam amônia, Wagner et al. (1995) mostraram
que o Nitrosomonas é comum em sistemas de lodos ativados. Uma revisão, efetuada por Geets
et al. (2006) sobre estudos de biologia molecular de populações nitrificantes em estações de
tratamento de esgoto, mostrou que o gênero Nitrosomonas domina, frequentemente, a população
BOA, e poucos estudos mostraram o domínio de cepas relacionadas ao Nitrosospira. Uma revi-
são de estudos de populações de BON em estações de tratamento (Kim et al., 2006) encontraram
que, ao contrário da ideia comumente aceita de que Nitrobacter era o principal oxidante de ni-
trito, o gênero Nitrospira foi a população dominante mais comum. Teske et al. (1994) também
TABELA 7–9 Filogenia das bactérias oxidantes de amônia [Adaptado de Koops and
Pommerening-Roser (2001) e Ward et al. (2011)]
Subclasse de
proteobacteria Gênero Subgrupos Espécies
Nitrosomonas europea
Nitrosomonas eutropha
europaea-mobilis
Nitrosomonas halophilar
Nitrosococcus mobilis
Nitrosomonas communis
Nitrosomonas sp. I
communis
Nitrosomonas Nitrosomonas sp. II
Nitrosomonas nitrosa
-Proteobacteria Nitrosomonas ureae
oligotrophia
Nitrosomonas oligotropha
Nitrosomonas marina
Nitrosomonas sp.III
marina
Nitrosomonas aestuarii
Nitrosomonas cryotolerans
Nitrosolobus multiformis
Nitrosospira nitrosospira Nitrosovibrio tenuis
Nitrosospira sp. I
7–9 Oxidação biológica de nitrogênio inorgânico P 601
encontraram que o Nitrococcus foi bastante prevalente em sistemas de nitrificação de filme fixo.
Populações diferentes são, também, encontradas em lodos ativados e em sistemas de filme fixo.
Siripong and Rittman (2007) mostraram que a coexistência de gêneros BOA Nitrosomonas
e Nitrosospira e gêneros BON Nitrobacter e Nitrospira foi encontrada em estudos efetuados em
sete estações do Metropolitan Water Reclamation District of Greater Chicago (MWRDGC). A di-
versidade de BOA em um processo aeróbio-anóxico foi, também, analisada por Park et al., (2002)
que observaram a presença tanto de Nitrosomonas como de Nitrosospira. Variando as condições
de crescimento em um sistema de nitrificação pode-se estimular o desenvolvimento de populações
diferentes conforme citado por BON de Daims et al. (2001) no relato da operação de um reator
batelada sequencial (RBS). Concentrações mais altas de nitrito durante o ciclo aeróbio inicial fo-
ram consideradas favoráveis ao crescimento de Nitrobacter, mas, posteriormente, com menores
concentrações de nitrito, foi favorecido o crescimento de Nitrospira. Coskuner e Curtis (2002)
também relataram a coexistência de Nitrospira e Nitrobacter em uma estação de tratamento por
lodos ativados. Dytczak et al. (2008) sugeriram que condições diferentes de crescimento em um
RBS unicamente aeróbio e em um RBS anóxico-aeróbio projetado para diferentes populações de
BOA, com cinéticas de nitrificação diferentes e com taxas maiores das identificadas para o sistema
anóxico-aeróbio.
Bactérias nitrificantes dominantes. As bactérias nitrificantes que dominam processos
biológicos de crescimento suspenso ou de filme fixo são consideradas como o resultado de
pressões seletivas, como concentrações de N-NH4 ou N-NO2, concentração de OD, pH, salini-
dade e temperatura no reator. Em termos da concentração de nitrogênio e de OD, as bactérias
são divididas em estrategistas r e K (Andrews e Harris, 1986). As estrategistas r crescem mais
lentamente do que as estrategistas K com baixas concentrações de substrato, mas crescem mais
rapidamente do que as estrategistas K sob condições de altas concentrações de substrato.As
bactérias nitrificantes com afinidade elevada a substrato, em concentração baixa (estrategistas
K) são Nitrosospira e Nitrospira para BOA e BON, respectivamente (Schramm et al., 1999),
enquanto que a BOA Nitrosomonas Europea e a BON Nitrobacter spp. crescem mais rapida-
mente em concentrações elevadas (estrategistas r). Kim et al. (2006) verificaram que concen-
trações baixas de N-NO2 favorecem o crescimento de Nitrospira e que concentrações elevadas
de N-NO2 favorecem a Nitrobacter, que tem uma taxa de utilização específica de N-NO2 cinco
vezes maior do que a da Nitrospira. Park e Noguera (2004) mostraram que ocorre uma mudança
de população para BOA crescendo a concentrações elevadas de OD (8,5 mg/L) versus cresci-
mento a concentrações baixas de OD (0,12 a 0,24 mg/L) em reatores de laboratório inoculados
com lodo ativado de uma estação de tratamento de esgoto. Entretanto, a mudança de população
não foi para gêneros associados com crescimento a baixa concentração de OD, mas para uma
bactéria da linhagem Nitrosomonas Europea.
602 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
Nitro-bactéria:
Com base na reação de oxidação total acima, o oxigênio requerido para a oxidação completa da
amônia compreende 4,57 g O2/g N-NH4 oxidado, 3,43 g O2/g N-NH4 para a oxidação de N-NH4 a
N-NO2, e 1,14 g O2/g N-NO2 para a oxidação de N-NO2 a N-NO3. Negligenciando o tecido celular,
a quantidade de alcalinidade requerida para causar a reação dada pela Equação (7–88) pode ser
estimada escrevendo a Equação (7–90) como segue:
Na equação acima, 2 moles de alcalinidade são consumidos por mol de N-NH4 oxidado, que é
igual a 7,14 g de alcalinidade como CaCO3 consumida por g de N-NH4 oxidado [2 (50 g CaCO3/
eq)/14]. A quantidade real de oxigênio e de alcalinidade consumida por unidade de amônia remo-
vida em sistemas de nitrificação é menor do que a prevista pelas equações estequiométricas porque
parte da amônia removida é incorporada na biomassa produzida durante a nitrificação.
A síntese celular estimada devido à nitrificação varia bastante. O crescimento de biomassa de
BOA são 0,33 g SSV/g N-NH4 com base em cálculos energéticos (Rittman e McCarty, 2001) e
de 0,10 a 0,15 de resultados experimentais (U.S. EPA, 1993, Haug e McCarty, 1972 e Fang et al.,
2009). A síntese de biomassa de BON são 0,08 g SSV/g N-NH4 com base em cálculos energéticos
(Rittman e McCarty, 2001) e de 0,04 a 0,07 de resultados experimentais (U.S. EPA, 1993, Haug e
McCarty, 1972 e Fang et al., 2009).
Assumindo um valor de síntese celular de 0,12 g SSV por g N-NH4 oxidado a N-NO2 e a adi-
ção de alcalinidade para a oxidação de N-NH4, a seguinte equação estequiométrica pode ser escrita
para a nitritação.
A quantidade de oxigênio necessária para a reação de nitritação mostrada pela Equação (7–92) é
3,21 g O2 por g N-NH4 oxidado a N-NO2, que pode ser comparado a um valor de 3,43 [Equação
(7–88)] para nitritação, sem considerar o nitrogênio utilizado para síntese celular.
Para completar a nitritação e assumir um coeficiente de síntese celular (yield) de 0,04 g SSV/g
N-NO2 a reação total de nitrificação pode ser escrita como segue:
Da equação acima, para cada g de N-NH4 convertido a N-NO3, 4,25 g de O2 são utilizados,
0,16 g de biomassa é formada, e 7,09 g de alcalinidade como CaCO3 é consumida. O oxigênio
requerido para oxidar 1,0 g de N-NH4 a N-NO3 (4,27 g) é menos do que o valor teórico de 4,57 g
computado utilizando a Equação (7–88), que não considerou a porção de amônia para síntese celu-
lar. Similarmente, a alcalinidade requerida para nitrificação na Equação (7–93) (7,09 g /g) é menos
do que o valor de 7,14 g /g. Deve ser reconhecido que os valores dos coeficientes da Equação
7–9 Oxidação biológica de nitrogênio inorgânico P 603
(7–93) são dependentes dos valores assumidos para síntese de biomassa. Uma síntese de biomassa
nitrificante líquida menor, teria resultado em um valor maior do que 4,25 g O2 por g de N-NH4
convertido a N-NO3. Werzernak e Gannon (1967) obtiveram um consumo total de oxigênio para
nitrificação de 4,33 g O2 /g N com 3,22 g O2 /g N utilizados para oxidação de N-NH4 e 1,11 g O2 /g
N utilizados para a oxidação de N-NO2. Esses valores, comparados a 3,21 g O2/g N utilizados para
N-NH4 e 1,06 g O2/g N utilizados para oxidação de N-NO2 para as hipóteses de síntese de biomassa
citadas e as equações estequiométricas mostradas.
A concentração de nitrogênio no esgoto, as concentrações de DBO, a alcalinidade, a tem-
peratura e os compostos tóxicos potenciais são os temas principais no projeto de processos de
nitrificação biológica. As bactérias nitrificantes necessitam de oxigênio e fósforo para crescimento
celular, assim como de elementos traços. Com essa síntese celular baixa, o CO2 do ar é adequado,
e o fósforo é raramente uma preocupação, a menos que sais de metais sejam adicionados ao trata-
mento primário ou a outros processos de montante para a remoção de fósforo. Concentrações de
elementos traços que têm sido encontrados para estimular o crescimento de bactérias nitrificantes
em trabalhos de cultura pura são: Ca 0,50, Cu 0,01, Mg 0,03, Mo 0,001, Ni 0,10 e Zn
1,0 mg/L (Poduska, 1973).
Cinética de nitrificação
O modelo cinético de crescimento de Monod é, comumente, utilizado para a cinética de oxidação
de N-NH4 e N-NO2. A taxa específica de crescimento de BOA e BON é uma função da concen-
tração da espécie respectiva de nitrogênio sendo oxidada, da concentração de OD e da taxa de
decaimento endógeno, conforme mostrado nas Equações (7–94) e (7–95). Em sistemas de lodos
ativados completamente misturados com temperaturas inferiores a 25°C, o processo tem sido, nor-
malmente, modelado considerando apenas BOA, porque as BON são capazes de utilizar nitrito
muito rapidamente, e, portanto, concentrações mínimas de N-NO2 estão presentes. Entretanto, a
temperaturas acima de 28°C ou a concentrações baixas de OD (abaixo de 0,50 mg/L), a cinética
de ambos os grupos deve ser considerada porque o efeito de temperaturas elevadas e de OD baixos
favorece BOA em relação a BON, de maneira que a concentração de N-NH4 pode ser menor do que
a concentração de N-NO2. A diferença entre as cinéticas de BOA e BON a temperaturas elevadas
é o princípio fundamental do processo SHARON® para remoção de nitrogênio, que é descrito na
Seção 15–9 do Capítulo15. As concentrações de N-NO2 podem ser, também, significativas em
sistemas de batelada ou em reatores aeróbios em série, sendo, portanto, apropriado modelar a ativi-
dade tanto de BOA como de BON (Chandran and Smets, 2000 e Wett et al., 2011).
Modelar ambas as espécies é também útil em condições de operação transientes. Durante o iní-
cio da nitrificação, as concentrações de N-NO2 serão maiores do que as concentrações de N-NH4,
porque o crescimento de BON não pode ocorrer até que BOA gere nitrito. Sob condições transien-
tes, as concentrações de N-NO2 de 5 a 20 mg/L são possíveis.
Os modelos de Monod mostrados abaixo consideram os efeitos das concentrações de nitrogê-
nio e de OD e do decaimento endógeno na taxa de crescimento específico de BOA ou BON.
(7–94)
(7–95)
onde BOA taxa de crescimento específico de bactérias oxidantes de amônia, g SSV/g SSVdia
BON taxa específica de crescimento de bactérias oxidantes de nitrito, g SSV/g SSVdia
max,BOA taxa específica máxima de crescimento de bactérias oxidantes de amônia, g SSV/g
SSVdia
max,BOA taxa específica máxima de bactérias oxidantes de nitrito, g SSV/g SSVdia
bBOA taxa específica de decaimento endógeno de bactérias oxidantes de amônia, g SSV
perdidos/g SSVdia
604 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
bT b20(T20) (7–97)
(7–98)
Combinando as Equações (7–46) e (7–98), a concentração de N-NH4 no efluente pode ser determi-
nada utilizando as Equações (7–99) e (7–100) em regime permanente, para um LACM, como uma
função de TRS e da concentração de OD, bem como coeficientes cinéticos.
(7–99)
(7–100)
Um grupo similar de equações pode ser utilizado para descrever as concentrações de NO2-N para
um reator de LACM em condições de regime permanente.
A taxa de oxidação de amônia (rNH, g/m3dia) é uma função da cinética de nitrificação e das
concentrações de N-NH4, OD e de BOA no reator, conforme descrito pela expressão geral da Equa-
ção (7–101). Para uma operação em condições de regime permanente, a concentração de BOA
(XBOA) é determinada aplicando a Equação (7– 42) para a oxidação de substrato como N-NH4.
(7–101)
(7–102)
7–9 Oxidação biológica de nitrogênio inorgânico P 605
(7–103)
As Equações (7–99) e (7–103) podem ser utilizadas para dois tipos diferentes de testes para ob-
ter a cinética de nitrificação. No primeiro caso a concentração de N-NH4 no efluente é medida a
diferentes valores de TRS durante a operação em regime permanente para se ajustar à Equação
(7–99) e obter a taxa máxima específica de crescimento, max,BOA, a uma determinada temperatura.
A Equação (7–103) é utilizada em um teste batelada para obter os valores dos parâmetros cinéti-
cos. Antes de coletar os dados do teste para quantificar as condições de crescimento de biomassa
é necessário dispor de dados suficientes da vazão de alimentação e de N-NH4 oxidado a um TRS
constante. Durante os testes em batelada, valores de rNH versus SNH são medidos ao longo do tempo
e utilizados na ajustagem do modelo para obter os valores de max,BOA, KNH, Ko,BOA, ou bBOA. Observe
que em ambos os casos o valor utilizado para a taxa de decaimento endógeno, bBOA, afeta o valor
calculado de max,BOA.
Cinética de BOA
Valores citados para max,BOA variam bastante, oscilando de 0,33 a 1,0 g/gdia a 20°C, (Sedlak,
1991 and Randall et al., 1992). Os valores utilizados para o coeficiente de taxa de decaimento
específico (bBOA) em estudos de cinética de nitrificação tiveram um efeito significativo sobre o
valor de max,BOA. A seleção de valores menores do coeficiente da taxa de decaimento específico
resultaram em valores maiores de max,BOA e vice versa. Portanto, é difícil de comparar valores de
cinética de nitrificação entre estudos efetuados sem um valor acurado para bBOA(Dold et al., 2005).
Nos primeiros trabalhos sobre cinética de nitrificação, a taxa específica de decaimento endógeno
foi considerada muito baixa, e, geralmente, ignorada, com valores recomendados de max,BOA 0,65
g/gdia a 20° C (U.S. EPA, 1993) e 0,76 g/gdia (Downing et al., 1964). Quando considerado o
valor do coeficiente de decaimento endógeno de 0,17 g/gdia a 20°C, determinado em um método
de teste separado, um valor de max,BOA de 0,90 g/gdia foi recomendado em um estudo da Water
Environment Research Foundation (WERF) (Melcer et al., 2003). Os valores do coeficiente de
temperatura, , para essas determinações foram de 1,072 e 1,029 para max,BOA e b, respectivamente.
Efeito de condições operacionais. As condições operacionais do sistema de lodos ativados
pode afetar o tipo de BOA selecionado e a cinética de nitrificação. Wett et al. (2011) considera-
ram que dois tipos de BOA, a estratégia “r” (ou u) e a estratégia “K”, podem estar presentes em
um mesmo sistema de lodos ativados, mas em proporções diferentes, dependendo das condições
operacionais. A estratégia r tem taxas maiores de crescimento específico e um crescimento favo-
recido com concentrações maiores de N-NH4. A estratégia K é o oposto, sendo mais competitiva,
crescendo a menores concentrações de N-NH4 e tendo menores valores de meia-velocidade (KNH)
do que a estratégia r. O efeito do aumento da taxa de recirculação em reduzir max em uma estação
de tratamento por lodos ativados com reciclagem do tanque de nitrificação aeróbio para um tanque
anóxico de montante foi considerado na modelagem de dois tipos de populações BOA. Com base
nos resultados da modelagem, a fração de BOAs da estratégia K aumentou conforme a taxa interna
de reciclagem. Valores de max e KNH a 20°C utilizados para a modelagem das estratégias K e r fo-
ram 0,75 g/gdia e 0,30 g/m3 e 0,95 g/gdia e 0,70 g/m3, respectivamente. Com base em resultados
de estudos em plantas-piloto tratando esgoto municipal, Munz et al. (2010) consideraram que o
crescimento inicial com TRS de 20 dias favoreceu a estratégia K BOA em relação à estratégia r
606 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
e crescimento de TRS de 8 dias. Os valores de max a 20°C foram 0,49 e 0,72 g/gdia, respectiva-
mente, e o valor do coeficiente específico de decaimento endógeno de 0,10 g/gdia foi aplicado em
ambos os casos.
Constante de meia-velocidade. O coeficiente de meia-velocidade, KNH, é um parâmetro ci-
nético muito importante na aplicação do modelo de Monod para o projeto de um reator de nitrifica-
ção. Valores mais baixos de KNH correspondem a concentrações mais baixas de N-NH4 no efluente
para um determinado TRS em condições aeróbias. Os valores de KNH são afetados pelas condições
do sistema de crescimento e pelas estratégias r versus K de seleção de bactérias nitrificantes. Exem-
plos de valores da literatura variando amplamente são 0,14 a 5,0 g/m3 (Sin et al., 2008a) e 0,60 a 3,6
g/m3 (U.S. EPA, 1993). Com base em desempenho de estações de tratamento podem ser esperados
valores de KNH entre 0,30 e 0,70 g/m3. Em modelos mais recentes não é considerado o efeito de
temperatura no valor de KNH (Henze et al., 1998 e Henze et al., 2008).
Decaimento endógeno específico. O valor do coeficiente de decaimento endógeno especí-
fico BOA a 20°C em lodo ativado aeróbio de 0,17 g/gdia para BOA, reportado por Melcer et al.
(2003), concorda com o valor de 0,17 g/gdia reportado por Copp e Murphy (1995) e com 0,15
g/gdia reportado por Manser et al. (2006). Salem et al. (2006) obtiveram um coeficiente de decai-
mento BOA de 0,20 g/gdia a 23,5°C através de estudos em uma estação de tratamento por lodos
ativados, que está em estreita concordância com o valor do coeficiente de decaimento endógeno de
0,17 g/gdia e do valor de temperatura dado por Melcer et al. (2003). Durante a fase anóxica de
sistemas de lodos ativados anóxico-aeróbios, os coeficientes de decaimento endógeno específico
para BOA têm sido reportados como equivalentes a 50% do da zona aeróbia (Salem et al., 2006;
Lee e Oleszkiewicz, 2003; Nowak et al., 1994 e Siegrist et al., 1999).
Cinética de BON
Em muitas aplicações, o processo de nitrificação tem sido adequadamente projetado consideran-
do apenas a cinética BOA. Em sistemas de nitrificação de unidades de lodos ativados comple-
tamente misturados e totalmente aclimatados, com temperaturas inferiores a 25°C e quantidade
suficiente de OD, a concentração de N-NO2 pode ser menor do que 0,10 mg/L em comparação
às concentrações de N-NH4 na faixa de 0,50 a 1,0 mg/L. Há, entretanto, casos nos quais é im-
portante aplicar o modelo cinético de duas etapas para a oxidação de N-NH4 a N-NO2 por BOA
e oxidação de N-NO2 a N-NO3 por BON. Durante a fase inicial de nitrificação, as concentrações
de N-NO2 serão maiores do que de N-NH4, porque o crescimento de BON não pode ocorrer
até que BOA não gere nitrito. Sob condições transitórias as concentrações de N-NO2 de 5 a 20
mg/L são possíveis em concentrações baixas de N-NH4. Em aplicações operando com baixas
concentrações de OD as concentrações de N-NO2 podem ser maiores do que as de N-NH4, o que
só pode ser previsto pelo modelo cinético de duas etapas. As cinéticas BON são, também, muito
importantes em processos de lodos ativados em batelada ou estágios, nos quais as concentrações
de N-NO2 podem ser elevadas durante o período inicial de operação ou nos estágios iniciais. A
temperaturas acima de 27°C a cinética BON se torna menos favorável em comparação à BOA, e
o uso do modelo cinético de duas etapas tem levado ao controle da nitritação no processo SHA-
RON®, utilizado em tratamento por digestão anaeróbia de centrado ou de filtrado fora de linha,
apresentado no Capítulo15.
Efeito de condições operacionais. Tem havido poucos estudos sobre cinética de BON, em
comparação aos de BOA, e, na maioria dos casos, a cinética tem sido desenvolvida ajustando resul-
tados de plantas-pilotos ou de escalas de bancada. Os coeficientes cinéticos de oxidação de nitrito
sumarizados por Sin et al. (2008a) mostram uma grande variedade, que é relacionada a sistemas
testados, estruturas de modelos e a métodos de ajustagem a modelos. As taxas específicas máximas
de crescimento para BON a 20°C são, frequentemente, reportadas como maiores daquelas para
BOA, com valores de 1,33 g/gdia (Wett e Rauch, 2003), 1,8 g/gdia (Sin et al., 2008a), 1,0 g/gdia
(Kaelin et al., 2009) e 0,70 g/gdia (Jones et al., 2007). O valor de correção de temperatura de max
para BON tem sido dado como 1,06 (Wett e Rauch, 2003, e Jones et al., 2007). Como observado,
7–9 Oxidação biológica de nitrogênio inorgânico P 607
a cinética de BON pode variar dependendo das condições operacionais do reator que favorecem a
estratégia r ou K BONs (Kim et al., 2006).
Constante de meia-velocidade. Existem menos trabalhos sobre os coeficientes de meia-ve-
locidade para oxidação de nitrito por BON. Em um estudo comparativo os pesquisadores verifica-
ram que no substrato BON os coeficientes de meia-velocidade eram moderadamente maiores do
que para BOA (Manser et al., 2005). Entretanto, em um sumário de constantes de meia-velocidades
para BOA e BON, preparado por Sin et al. (2008a), valores mais baixos de KNO foram relacionados
para BON, variando de 0,05 a 0,30 g/m3, citando quatro fontes. Valores muito mais baixos do coe-
ficiente de meia-velocidade para BON versus os de BOA foram, também, reportados por Cuidad
et al. (2006).
Decaimento endógeno específico. O valor do coeficiente específico de decaimento endó-
geno determinado para BON tem sido citado como o mesmo para BOA (Copp and Murphy, 1995;
Manser et al., 2006; e Salem et al., 2006). Além disso, a mesma correção de temperatura utilizada
para BOA tem sido aplicada para BON (Wett and Rauch, 2003; Kaelin et al., 2009).
Fatores ambientais
As taxas de nitrificação e de nitritação são afetadas por diversos fatores ambientais incluindo con-
centração de oxigênio dissolvido, pH, toxicidade, metais e amônia não ionizada.
Concentração de oxigênio dissolvido. As taxas de nitrificação são afetadas pela concen-
tração de OD no líquido de sistemas de lodos ativados (efeitos sobre o crescimento aderido são
descritos no Capítulo 9). Em contraste com o que tem sido observado para a degradação aeróbia
de compostos orgânicos por bactérias heterotróficas, as taxas de nitrificação aumentam a concen-
trações de OD de até 3 ou 4 mg/L. Para considerar os efeitos de OD, o modelo duplo de Monod
para crescimento, conforme mostrado pelas Equações (7–94) e (7–95), inclui tanto o efeito da
concentração de substrato como a concentração de OD, com valores da constante de velocidade de
OD, Ko, utilizada para descrever o impacto de OD na cinética de processos. As taxas de oxidação de
substrato por bactérias heterotróficas não são, geralmente, afetadas até que a concentração de OD
no líquido esteja abaixo de 0,20 mg/L.
Inibição de oxigênio dissolvido. As taxas de oxidação de NO2 por BON são mais inibidas
com concentrações menores de OD do que para as taxas de oxidação de N-NH4 por BOA, com
concentrações elevadas de N-NO2 encontradas quando as concentrações de OD são reduzidas
(Picioreanu et al., 1997; Garrido et al., 1997; Peng and Zhu 2006; Contreras, et al. 2008). Valores
de Ko para BOA tem sido reportados em uma faixa muito ampla, de 0,10 a 1,0 g/m3 (Cuidad et
al., 2006, e Sin et al., 2008a), mas os valores correspondentes de BON Ko são maiores. A relação
dos coeficientes de meia-velocidade de BON para BOA OD em estudos com BOA e BON foram
2,36 (Guisasola et al., 2005) e 1,4 (Ciudad et al., 2006). Relações de 2,5 (Wett and Rauch, 2003),
2,0 (Jones et al., 2007 ) e 3,0 (Sin et al., 2008b) foram utilizadas em aplicações de modelagem de
nitrificação. Valores absolutos de coeficientes de meia-velocidades dependem da operação e das
condições dos flocos do sistema de lodos ativados e de possíveis limitações de difusão em adição
à afinidade bacteriana de OD.
Valores absolutos dos coeficientes de meia-velocidades de oxigênio dependem de mais do que
apenas a afinidade por OD por BOA ou BON. Stenstrom e Song (1991) mostraram experimen-
talmente que o efeito de OD sobre a nitrificação é afetado pelo tamanho e densidade do floco de
lodo ativado e pela demanda total de oxigênio pelo liquor misto. As bactérias nitrificantes estão
dispersas em um floco contendo bactérias heterotróficas e outros sólidos, com diâmetros de flocos
variando de 100 a 400 m. O oxigênio da massa líquida difunde nas partículas de flocos, e as bac-
térias que estão na parte mais profunda do floco são expostas a concentrações menores de OD. A
taxas e cargas orgânicas elevadas, há uma grande concentração de substrato no liquor misto, o que
causa uma taxa maior de consumo de oxigênio na parte interna do floco. Portanto, uma concentra-
ção maior de OD na massa líquida é necessária para manter a mesma concentração de OD na parte
interna do floco e a subsequente taxa de nitrificação.
608 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
Com relação ao tamanho do floco, valores mais baixos de Ko tem sido encontrados em sistemas
de biorreatores de membranas (MBR) com flocos de pequenas dimensões versus sistemas de lodos
ativados com decantadores, com flocos de maiores dimensões (Manser et al., 2005 e Daebel et al.,
2007). Blackburne et al. (2007) variaram a dimensão dos flocos de uma cultura de Nitrobacter com
aplicação de ultrassom e encontraram valores de Ko de aproximadamente 0,4 g/m3 para flocos de
pequena e média dimensões a até 1,7 g/m3 para flocos grandes.
Concentração de íons hidrogênio (pH). Taxas de nitrificação ótimas ocorrem a valores de
pH entre 7,5 e 8,0. As taxas de oxidação de amônia são reduzidas significativamente a valores de
pH inferiores a 7,0. A redução da taxa de oxidação da amônia a valores mais baixos de pH pode ser
devido à redução da concentração de amônia livre (NH3), pois há relatos de que a N-NH3 possa ser
o substrato verdadeiro para BOA (Suzuki et al., 1974). A valores de pH próximos de 5,8 a 6,0, as
taxas de oxidação de amônia podem ser de 10 a 20% da taxa a pH 7,0 (U.S. EPA, 1993). Utilizando
os dados dessa fonte, a relação seguinte pode ser utilizada para descrever a taxa relativa de nitrifi-
cação a um determinado pH abaixo de 7,0 àquela em pH 7,2.
Amônia livre e inibição por ácido nitroso. Tanto a atividade de BOA como de BON podem
ser inibidas em sistemas com concentrações elevadas de amônia ou de nitrito, o que pode ocorrer
em digestores aeróbios ou no tratamento de esgotos com concentração elevada de amônia, como o
retorno de concentrado da digestão anaeróbia e de criação de animais em confinamento. Os com-
postos que provocam a inibição são amônia não ionizada (N-NH3) ou amônia livre, e ácido nitroso
não ionizado (HNO2). As concentrações dependem das condições ambientais do reator, como pH,
temperatura, e para a N-NH3, a concentração total de amônia ou CTA (N-NH3 N-NH4), e para o
HNO2, a concentração de N-NO2. As concentrações de N-NH3 e HNO2 podem ser estimadas pelas
equações seguintes (Anthonisen et al., 1976):
(7–105)
(7–106)
(7–107)
Kn exp[2.300/(273 T )] (7–108)
Os BON são mais sensitivos à inibição do N-NH3 do que o HNO2. Concentrações inibitórias
de N-NH3 tem sido reportadas a 0,10 a 1,0 g/m3 por Turk e Mavinic (1986), a 6,6 a 8,9 g/m3 por
Mauret et al. (1996), e a 3,5 g/m3 por Wong-Chong e Loehr (1975) para bactérias não aclimatadas
e a 40 g/m3 após uma fase de aclimatação. Assumindo que ocorra inibição de N-NH3 a 8,9 g/m3,
BON seria inibido à concentração de N-NH4 de 488 g/m3 a pH de 7,5 e temperatura de 25°C, que é
comparável ao valor de 384 g/m3 mostrado na Tabela 7–11 para o BON.
Amônia oxidante de arquea. Há informação limitada sobre a cinética de amônia oxidante de
arquea (AOA), pois a maioria do foco atual tem sido dirigido a detectar sua presença em estações
de tratamento de esgotos por lodos ativados. A única arquea oxidante de amônia isolada é Nitro-
sopumilus maritimus (Konneke et al., 2005). Classificada originalmente no filo Crenarchaeota do
domínio Arquea, N. maritimus foi reclassificado em um novo filo denominado Thaumarchaeota.
O N. maritimus cresce apenas em uma faixa estreita de 20 a 30°C e de pH entre 7,0 e 7,8 (Ward et
al., 2011). Foi encontrada AOA não identificada em muitas instalações de lodos ativados utilizadas
para tratamento de esgoto doméstico, utilizando primers de reação de polimerase em cadeia (RPC)
direcionados ao gênero arquea amoA (Park et al., 2006, Wells et al., 2009, Zhang et al., 2009, Lim-
piyakorn et al., 2011, e Giraldo et al., 2011a).
A taxa máxima encontrada de crescimento específico de N. maritimus a 28°C foi de 0,78
g/gdia por Konneke et al. (2005), mas essas taxas cinéticas não são, correntemente, encontradas
para AOA em estações de tratamento de esgoto por processos de lodos ativados. Uma característica
distinta relativa à cinética de AOA é um coeficiente de meia-velocidade muito baixo tanto para OD
como para amônia. O N. maritimus aparenta ser um organismo de estratégia K com um coeficiente
de meia-velocidade de N-NH4 (KNH) reportado de apenas 0,002 g/ m3 (Ward et al., 2011). Com re-
lação ao OD, Giraldo et al. (2011a) encontraram, similarmente, um coeficiente de velocidade para
OD (Ko) de 0,01 g/m3 para um liquor misto de um processo de RBM operado com concentração
baixa de OD com AOA respondendo por 85% de micro-organismos oxidantes de amônia com base
em medidas de qPCR. Com operação em condições de inverno, a população foi alterada para mais
BOA e o Ko observado aumentou para 0,25 g/m3 (Giraldo et al., 2011b). Sonthiphand et al. (2011)
também observaram as vantagens do AOA a baixas concentrações de N-NH4. Em reatores inocula-
dos com lodo ativado de estações de tratamento por lodos ativados, a população de AOA se mostrou
abundante quando a concentração de N-NH4 estava em 0,06 g/m3, mas decresceu por mais de 50%
quando a concentração de N-NH4 no reator foi de 0,25 a 0,55 g/m3.
7–10 DESNITRIFICAÇÃO
A redução biológica de nitrato ou de nitrito a gás nitrogênio é denominada desnitrificação. A des-
nitrificação biológica é uma parte integral dos processos de nitrificação e de desnitrificação para a
remoção biológica de nitrogênio que, com poucas exceções, é o método escolhido para remoção
de nitrogênio em sistemas de tratamento de esgotos domésticos e industriais. A remoção biológica
de nitrogênio é importante em tratamento de esgoto quando ocorrem problemas de eutrofização e
quando águas subterrâneas devem ser protegidas das concentrações elevadas de N-NO3 nos casos
7–10 Desnitrificação P 611
em que efluentes de estações de tratamento de esgoto são utilizados para recarga de aquíferos
subterrâneos ou outras aplicações relativas à recuperação de água. Sem nitrificação biológica, 10
a 30% de nitrogênio pode ser encontrado em tratamento de esgoto doméstico devido à síntese da
biomassa produzida em função da remoção de DBO. A quantidade produzida é uma função da
relação BOD:N do influente, do TRS, e da quantidade de nitrogênio em correntes recicladas de
desaguamento de sólidos, após digestão anaeróbia ou aeróbia.
Em processos biológicos podem ocorrer duas modalidades de remoção de nitrato, designados
como redução de nitrato assimilatório ou dissimilatório (ver Figura 7–20). A desnitrificação assi-
milatória é responsável pela desnitrificação biológica para a melhoria da remoção de nitrogênio e
envolve nitrato/nitrito servindo como receptor definitivo de elétron, em lugar de oxigênio na cadeia
de transporte do elétron na célula respiratória bacteriana, para a oxidação de diversos substratos
orgânicos e inorgânicos. A redução assimilatória de nitrato é independente da concentração de OD,
envolvendo a redução de nitrato a N-NH4 para ser utilizado na síntese celular quando N-NH4 não
está disponível.
Em desnitrificação biológica dissimilatória por bactérias heterotróficas a redução de nitrato
ocorre através de uma série de produtos intermediários, nitrito (NO), óxido nítrico (ON) e de
oxido nitroso (N2O) a gás nitrogênio (N2), conforme mostrado na Equação (7–109). NO e N2O são
gases de nitrogênio, e a emissão de N2O é de maior preocupação porque ele é um dos mais potentes
gases associados ao efeito estufa (ver Seção 7–12).
Descrição do processo
Dois diagramas de fluxo básicos, sobre a desnitrificação de lodos ativados e das condições que
conduzem as taxas de reação de desnitrificação, são ilustrados na Figura 7–21. O primeiro dia-
grama de fluxo [ver Figura 7–21(a)] é para o processo Ludzak-Ettinger Modificado (MLE) (U.S.
EPA, 1993), que é o processo mais comum para a remoção biológica de nitrogênio em tratamento
de esgoto municipal. O processo consiste de um tanque anóxico seguido de um tanque de aeração
onde ocorre a nitrificação. O nitrato produzido no tanque de aeração retorna ao tanque anóxico.
Como o substrato orgânico do esgoto afluente proporciona o doador de elétron para as reações de
oxidação-redução utilizando nitrato, o processo é chamado de desnitrificação por substrato. Além
disso, em função de o processo anóxico preceder o tanque de aeração, o processo é conhecido
como desnitrificação pré-anóxica.
Nitrogênio orgânico
(proteínas;ureia)
Decomposição
bacteriana
e hidrólise
O2 Lise e auto-oxidação
Nitrificação
– Desnitrificação
Nitrito (NO2 ) Gás nitrogênio (N2)
O2 Carbono orgânico
– Desnitrificação
Nitrato (NO3 ) Gás nitrogênio (N2)
Carbono orgânico
Alimentação de nitrato
Aeróbio/ Aeróbio/
Influente Anóxico Efuente Influente Anóxico Efluente
Nitrificação nitrificação
Lodo Lodo
(a) (b)
FIGURA 7–21 Tipos de processos de desnitrificação e os reatores utilizados na implementação: (a) efetuado por substrato
(desnitrificação pré-anóxica) e (b) efetuado endogicamente (desnitrificação pós-anóxica).
Microbiologia
Bactérias capazes de desnitrificar são tanto heterotróficas como autotróficas. A desnitrificação
pode ser efetuada por uma grande gama de organismos heterotróficos, incluindo os gêneros seguin-
tes: Achromobacter, Acinetobacter, Agrobacterium, Alcaligenes, Arthrobacter, Bacillus, Chromo-
bacterium, Corynebacterium, Flavobacterium, Halobacterium, Hypomicrobium, Methanomonas,
Moraxella, Neisseria, Paracoccus, Propionibacterium, Pseudomonas, Rhizobium, Rhodopseudo-
monas, Spirillum e Vibrio (Payne, 1981 e Gayle, 1989). A maioria dessas bactérias são organismos
facultativos aeróbios com a habilidade de utilizar oxigênio, nitrato ou nitrito, e alguns podem,
ainda, efetuar fermentação na ausência de nitrato ou de oxigênio.
Utilização de carbono suplementar. O metanol (CH3OH) e outros compostos, como des-
carte de glicerina e outros produtos suplementares de carbono comercialmente disponíveis, têm
sido adicionados a diversos sistemas de desnitrificação para aumentar a quantidade de nitrato e
nitrito (NOx) removidos e/ou para acelerar as taxas de desnitrificação. Sendo um composto único
de carbono, a degradação do metanol é efetuada por bactérias mais especializadas, que não são as
mesmas daquelas que estão crescendo nos substratos orgânicos de esgoto. As bactérias mais co-
muns que utilizam metanol são do gênero Hyphomicrobium (Timmermans and Van Haute, 1983;
Sperl and Hoare, 1971) e possivelmente Paracoccus denitrificans (Van Verseveld and Stouthamer,
1978). Em estudos de caracterização de populações de um sistema de nitrificação-desnitrificação
alimentado por metanol por sondas de isótopos estáveis, Baytshtok et al. (2008) identificaram a
cepa Methyloversatilis universalis além da Hyphomicrobium zavarzinili. A única característica da
7–10 Desnitrificação P 613
cepa Methyloversatilis universalis foi que ela poderia, também, crescer em etanol, o que não é pos-
sível para a Hyphomicrobium zavarzinili.
Desnitrificação por bactérias heterotróficas. A desnitrificação pode ocorrer em condições
aeróbias por bactérias nitrificadoras heterotróficas (Robertson and Kuenen, 1990, e Patureau et al.
1994), de maneira que ocorre nitrificação e desnitrificação simultâneas com a conversão de amônia
a produtos de nitrogênio gasoso. A bactéria heterotrófica, Paracoccus pantotropha, tem sido ex-
tensivamente estudada para oxidação simultânea de amônia e de redução de nitrato. A oxidação de
amônia por bactérias heterotróficas requer energia, que pode ser obtida por redução e nitrato ou de
nitrito com a utilização de P. pantotropha sob condições anaeróbias. As condições requeridas para
essa forma de desnitrificação não são consideradas práticas em sistemas de nitrificação biológica
(van Loosdrecht and Jetten, 1998), não tendo sido encontradas por Littleton et al. (2003) sob con-
dições de OD bastante favoráveis em um sistema de valos de oxidação.
Desnitrificação autotrófica. Diversas bactérias autotróficas são capazes de reduzir nitrato ou
nitrito e de oxidar vários doadores de elétrons, incluindo ferro com valência zero e Fe(II) por Pa-
racoccus ferrooxidans, Paracoccus denitrificans, P. pantotrophus e P. versutus (Kumaraswamy et
al., 2006, Kielemoes et al., 2000), reduzindo compostos de enxofre por Thiobacillus denitrificans
(Bock et al., 1995) e amônia por Nitrosomonas eutropha, Nitrosomonas europaea e Nitrosolobus
multiformis (Poth and Focht 1985, Bock et al., 1995; Zart and Bock 1998; Schmidt et al., 2003). A
oxidação de amônia sob condições anóxicas por Nitrosomonas mostrou-se lenta e sem significado
prático em tratamento por sistemas de lodos ativados (Littleton et al., 2003).
Metanol:
5CH3OH 6NO3 S 3N2 5CO2 7H2O 6OH (7–111)
Ácido acético:
5CH3COOH 8NO3 S 4N2 10CO2 6H2O 8OH (7–112)
Observe que o ácido acético, ou acetato, não é comumente utilizado devido ao seu custo. Em todas
as reações de desnitrificação heterotróficas acima, um equivalente de alcalinidade é produzido por
um equivalente de N-NO3 reduzido, o que equivale à produção de 3,57 g de alcalinidade (como
CaCO3) por grama de nitrogênio nitrato reduzido. A mesma quantidade de alcalinidade é produzida
na redução de N-NO2. Revendo da nitrificação que 7,14 g de alcalinidade (como CaCO3) que foi
consumida por g de N-NH4 oxidado, aproximadamente a metade da quantidade destruída por nitri-
ficação pode ser recuperada por desnitrificação.
Desnitritação se refere à redução biológica de nitrito. Utilizando o ácido acético como exem-
plo, a reação de oxidação-redução de nitrito como um receptor de elétron ocorre como segue:
Comparando a Equação (7–112) à Equação (7–113), a desnitritação requer 60% do acetato reque-
rido para desnitrificação. Entretanto, quando é aplicada a análise bioenergética (Seção 7–4) para
614 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
considerar a DQO utilizada para síntese de biomassa com as reações de oxidação geradoras de
energia, a DQO ou o acetato utilizado para a redução é de aproximadamente 67% do valor utiliza-
do para a redução de nitrato, devido ao fato de que, teoricamente, mais energia é produzida com
a redução de nitrito do que com nitrato. As equações estequiométricas desenvolvidas através da
bioenergética podem ser utilizadas para comparar os efeitos de receptores de elétrons de nitrato e
de nitrito em conjunto com amônia, como fonte de nitrogênio no crescimento de biomassa:
Redução de nitrato com acetato:
NO3 H 0,33 NH4 1,45 CH3COO (7–114)
S 0,5 N2 0,33 C5H7O2N 1,60 H2O 1,12 HCO3 0,12 CO2
Para nitrato:
0,20 NO3 1,2 H e S 0,1 N2 0,6 H2O (7–117)
Para nitrito:
0,333 NO2 1,333 H e S 0,6667 H2O 0,1667 N2 (7–118)
Comparando as meias-reações acima para oxigênio [Equação (7–116)] e nitrato [Equação (7–117)],
0,25 moles de oxigênio é equivalente a 0,2 moles de nitrato para a transferência de um elétron na
oxidação-redução. Assim, o oxigênio equivalente de nitrato é (0,25 32 g O2 /mol) dividido pela
grama de nitrato equivalente (0,20 14 g N/mol) e igual a 2,86 g O2 /g N-NO3. O oxigênio equiva-
7–10 Desnitrificação P 615
lente é um fator de projeto útil no cálculo de oxigênio total requerido em sistemas de tratamento de
nitrificação-desnitrificação. Similarmente, para nitrito como receptor de elétron, o oxigênio equi-
valente de nitrito é 1,71 g O2 /g N-NO2.
Foi mostrado no Exemplo 7–1 e na Equação (7–6) que a DQO removida é oxidada ou utili-
zada para crescimento celular. Uma expressão similar pode ser aplicada à remoção biológica de
DQO solúvel:
Para a síntese de células, a DQOcélula é calculada da síntese líquida de biomassa e da relação 1,42 g
O2 /g SSV.
(7-121)
Assim,
ou
(7–126)
Portanto, (7–127)
e (7–128)
Se oxigênio entra em uma zona anóxica através de reciclagem de vazões, o doador de elétron será
utilizado no consumo de oxigênio na relação seguinte:
(7–129)
616 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
A relação g DQO/g N-NO3 na Equação (7–127) é a mesma que a “relação de consumo” de subs-
trato” definido por McCarty et al. (1969) para a utilização de fontes exógenas de carbono para des-
nitrificação. Eles mostraram que substratos exógenos com menores sínteses de biomassa possuem
menores relações de consumo, requerendo, portanto, uma adição de menor quantidade de substrato
para uma determinada quantidade de N-NO3 a ser removida. A relação de consumo para metanol
foi de aproximadamente 70% daquela da glucose, pelo fato de que o metanol possui uma menor
síntese celular, permitindo que uma fração maior da DQO adicionada seja utilizada para redução de
nitrato. As relações de consumo do metanol são 4,0 a 5,0 g DQO/g N-NO3, baseado em sínteses de
biomassa reportadas variando de 0,20 a 0,30 g SSV/g DQO utilizado (Stensel et al., 1973, Chris-
tensen et al., 1994, Purtschert e Gujer, 1999, Sobieszuk et al., 2006, Dold et al., 2008, e Baytshtok
et al., 2008). O Metanol tem uma DQO de 1,5 g DQO/g CH3OH, portanto, o requerimento baseado
em metanol é 2,7 a 3,3 g CH3OH/g N-NO3. São comuns aplicações de campo na faixa de 3,5 a 3,8
incluíndo a síntese de biomassa, o OD entrando na zona anóxica, e o metanol no efluente da zona
anóxica. A utilização de fontes de carbono exógenas é discutida em projetos de sistemas de desni-
trificação na Seção 8–6.
Cinética de desnitrificação
Taxas de desnitrificação têm sido frequentemente expressas em termos de uma taxa específica
de desnitrificação (TED) baseada em g N-NO3/g SSVLMdia, que varia em função do tipo e da
quantidade de DQO biodegradável disponível e da temperatura do reator anóxico. Para zonas pré
anóxicas tratando esgoto doméstico, o TED pode variar de 0,04 a 0,25 g N-NO3/g SSVLMdia. O
TED em tanques pós anóxicos, nos quais o substrato para a desnitrificação é provido pelo decai-
mento endógeno, varia de 0,01 a 0,03 g N-NO3/g SSVLMdia ou pode ser 5 a 10 vezes maior se um
substrato suplementar se for adicionado no tanque pós anóxico. Substrados suplementares utiliza-
dos para melhorar a desnitrificação incluem metanol, acetato, etanol, glicerina, xarope de milho,
esgotos de cervejarias, destilarias e esgotos de indústrias de processamento de alimentos. Para
todos esses casos a taxa de utilização de substratos orgânicos solúveis por bactérias desnitrificantes
determina as taxas de redução de nitrato e de nitrito.
Taxa de utilização de substrato solúvel. Como nos reatores pré anôxicos ou pós anóxicos,
a taxa de utilização de substrato solúvel pode ser descrita modificando a Equação (7–24) para con-
siderar o efeito da ocorrência de uma concentração de OD igual a zero na zona anóxica e o efeito
da concentração de nitrato na cinética de utilização de substrato. Note que o efeito da concentração
sobre as taxas de utilização do substrato ocorre apenas em concentrações menores do que 0,10 a
0,20 g/m3.
(7–130)
Taxa de consumo de nitrato. A taxa de consumo de nitrato (rNO) pode ser determinada como
função da taxa de utilização de substrato, aplicando a Equação (7–127).
(7–131)
onde:
rNO ⫽ taxa de consumo de nitrato, g/m3⭈dia
Outros termos foram previamente definidos.
O termo nas Equações (7–130) e (7–131) é aplicado para considerar o fato de que uma taxa mais
baixa de consumo de oxigênio ocorre quando o receptor de elétron é nitrato ou nitrito em vez de
oxigênio. O termo é, também, utilizado para considerar alterações possíveis nas taxas de cinética
utilizando receptores de elétrons NOx e pelo fato de que nem todas as bactérias heterotróficas po-
dem utilizar nitrito/nitrato. O valor de varia de 0,20 a 0,80 para reatores pré anóxicos alimentados
por esgoto doméstico (Stensel and Horne, 2000). A configuração do sistema de lodos ativados, o
sistema TRS, e a fração da DBO influente removida com nitrato parecem afetar o valor de . Em
processos anóxicos/aeróbios com utilização substancial de substrato e de nitrato na zona pré anóxi-
ca um valor de de 0,80 geralmente é apropriado.
A taxa de consumo de nitrato da Equação (7–131) pode ser utilizada para aplicações de reato-
res anóxicos nos quais o substrato utilizado é derivado do esgoto influente, do decaimento endó-
geno ou de adição suplementar de carbono. Quando é efetuada a adição de carbono suplementar, a
concentração de bactérias heterotróficas (XH) pode estar baseada no crescimento utilizando apenas
o substrato suplementar, e não o crescimento utilizando apenas o substrato complementar e a DBO
removida do esgoto influente. Essa condição de crescimento ocorre quando metanol é adiciona-
do como carbono suplementar, o que resulta no crescimento de apenas bactérias metilotróficas
especializadas, geradas pela utilização de metanol. Ainda, ao aplicarmos o modelo de cinética
de utilização de substrato a um sistema com ambos (influente e carbono suplementar) a Equação
(7–131) deve ser empregada separadamente e cumulativamente para considerar ambos os tipos de
substratos. Coeficientes apropriados devem ser utilizados para H,max, YH, KS e para diferentes
substratos ou populações de bactérias.
Em processos pós anóxicos separados de crescimento suspenso ou aderido, após a remoção
da DBO e a nitrificação pelo processo de lodos ativados, a biomassa é desenvolvida, principal-
mente, sob condições anóxicas e com um único substrato orgânico selecionado. Neste caso, o
termo na Equação (7–130) não será necessário porque a biomassa consiste, principalmente, de
bactérias desnitrificantes. As equações biocinéticas anteriormente apresentadas podem, então, ser
utilizadas com os valores apropriados de coeficientes cinéticos para projetar um processo pós anó-
xico completamente misturado de crescimento suspenso. Os valores dos coeficientes cinéticos para
crescimento utilizando metanol foram desenvolvidos a temperaturas de 10 e 20°C em estudos de
laboratório (Randall et al., 1992). A cinética para a utilização de metanol é tal que os valores de
TRS requeridos para um processo de desnitrificação com crescimento suspenso estão na mesma
faixa que os valores de TRS para sistemas aeróbios projetados para a utilização de apenas DBO, ou
seja, de aproximadamente 3 a 6 dias.
Efeito da concentração de oxigênio dissolvido. O oxigênio dissolvido pode inibir a re-
dução de nitrato pela repressão da enzima de redução de nitrato. Em flocos de lodos ativados e em
biofilmes, a desnitrificação pode ocorrer na presença de concentrações baixas de OD na massa lí-
quida. Uma concentração de oxigênio dissolvido a partir de 0,2 mg/L tem sido reportada como ini-
bidora da desnitrificação por uma cultura de Pseudomonas (Skerman and MacRae, 1957; Terai and
Mori, 1975) e Dawson and Murphy (1972), para lodos ativados de tratamento de esgoto doméstico.
618 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
(7–133)
Fatores ambientais
Em reações de desnitrificação é produzida alcalinidade e, geralmente, o pH é elevado ao invés de
ser reduzido, como nas reações de nitrificação. Em contraste aos organismos nitrificantes, tem ha-
vido menos preocupação com a influência do pH sobre as taxas de desnitrificação. Nenhum efeito
significativo sobre taxas de desnitrificação tem sido referido para pH entre 7,0 e 8,0, enquanto que
Dawson e Murphy (1972) reportaram um decréscimo na taxa de desnitrificação conforme o pH
decresceu de 7,0 a 6,0 em testes de batelada sem aclimatação. A aclimatação de biomassa a fontes
externas de carbono também devem ser consideradas.
nitrito sob condições anaeróbias e que foi mediada biologicamente. Strous et al. (1999a) conseguiram
identificar os organismos responsáveis, as bactérias autotróficas da ordem Planctomycetales, através
de centrifugação com gradiente de velocidade, de uma cultura enriquecida de bactérias Anammox,
para caracterizar seus gêneros filogênicos 16S rRNA. Desde então, os pesquisadores encontraram
numerosas ocorrências de bactérias Anammox em sistemas de tratamento de esgoto e em sedimentos
marinhos e de águas naturais (Kuenen, 2008, Van Hulle et al., 2010).
Descrição do processo
O processo Anammox tem sido definido como um processo de “desamonificação” envolvendo
duas etapas: nitritação parcial da amônia e, subsequentemente, oxidação anaeróbia de amônia e
de nitrito a gás nitrogênio. O processo Anammox requer que a nitritação aeróbia a N-NO2 seja
efetuada para aproximadamente 55% do N-NH4 do esgoto antes da oxidação anaeróbia de N-NH4
com N-NO2 como receptor de elétron e produção de N2. O processo proporciona um meio para a
remoção biológica de nitrogênio sem qualquer consumo de carbono orgânico, em contraste com o
processo biológico clássico nitrificação/desnitrificação anóxica. Além disso, como ela é uma bac-
téria autotrófica, não é necessário carbono orgânico para o crescimento celular. Como somente uma
porção da amônia no processo de desamonificação da corrente de alimentação é oxidada a nitrito,
uma quantidade de energia muito menor é necessária, em comparação ao processo convencional de
remoção biológica de nitrogênio, no qual a maior parte da amônia disponível é oxidada a nitrato.
O proceso de desamonificação tem sido demonstrado com sucesso em temperaturas elevadas (30–
35°C) em correntes com elevada concentração de amônia, tanto em reatores biológicos de crescimento
em filme fixo como em crescimento suspenso. (Schmidt et al., 2003) Uma característica única da bac-
téria Anammox, que tem sido utilizada como uma vantagem nos processos Anammox de crescimento
suspenso, é que ela é capaz de formar uma biomassa granular compacta, rapidamente sedimentável
(Innerebner et al., 2007). A tecnologia do processo Anammox não foi, ainda, desenvolvida para re-
moção confiável de nitrogênio em baixas temperaturas de esgoto ou ambientais e para concentrações
diluídas de amônia em tratamento de esgoto, mas a tecnologia tem sido aplicada em escala real para a
remoção de nitrogênio de correntes de reciclagem de desaguamento de digestores anaeróbios. Projetos
do processo Anammox para tratamento de correntes de recirculação são apresentados no Capítulo 15.
Microbiologia
As pesquisas sobre a bactéria Anammox levaram à identificação de nove espécies de bactérias dentro
de cinco gêneros da ordem Planctomycetales (Ward et al., 2011). Elas são precedidas pelo nome
Candidatus, que é utilizado quando espécies ou gêneros são bem caracterizados, mas não foram es-
tudadas em culturas puras. Essas são “Candidatus Kuenenia,” “Candidatus Brocadia,” “Candidatus
Scalindua,” “Candidatus Jettenia” e “Candidatus Anammoxo- gloubus”. As espécies encontradas
no esgoto são Kuenenia stuttgartiensis, Anammoxoblobus propionicus, Jettenia asiatica, Brocadia
anammoxidans, Brocadia fulgida, Scalindua wagneri e Scalindua brodae. Scalindua sorokinii e Sca-
lindua arabica foram encontradas em ambientes marinhos (Van Hulle et al., 2010). “Candidatus
Kuenenia” e “Candidatus Brocadia” são os organismos encontrados mais frequentemente em cultu-
ras enriquecidas de esgoto de estações de tratamento (Kuenen, 2008). Nenhuma dessas bactérias foi
620 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
identificada em culturas puras, mas elas têm sido caracterizadas por métodos moleculares (Strous et
al., 2002). Em contraste com outras procariótes, os Planctomcyetes contêm, tipicamente, comparti-
mentos subcelulares cercados por membranas. Jetten et al. (2001) identificaram uma organela em B.
anammoxidans que continha hidroxilamine oxidoredutase e a nomearam anammoxosome. Culturas
enriquecidas da bactéria Anammox desenvolvem uma cor vermelha profunda, que é relacionada ao
grupamento M (grupo prostético com um átomo de Fe++) presentes na enzima hidroxilamine oxido-
redutase, que foi referida como cytochrome P460 (Jetten et al., 1999).
As bactérias Anammox são encontradas nos flocos granulares densos em sistemas com opera-
ção estável. Strous et al. (1999b) reportaram a necessidade de se dispor de 1010 a 1011 células/mL
para obter um sistema Anammox ativo. Uma possível explicação para isso é que a hidrazina pro-
duzida na reação Anammox pode ser perdida por difusão na massa líquida na forma de pequenos
flocos limitando, assim, a atividade e o crescimento de bactérias Anammox. A adição de hidroxila-
mina ou de hidrazina pode estimular a atividade das bactérias Anammox (Van Hulle et al., 2010). A
inoculação pela utilização de um outro sistema Anammox é necessária a fim de evitar um período
extensivo para o início de um novo sistema Anammox.
Estequiometria de Anammox
A reação exotérmica do processo Anammox é a oxidação de N-NH4 por N-NO2:
Um modelo metabólico proposto por Van de Graaf et al. (1997) consiste de (1) redução de nitrito
a hidroxilamina (NH2OH), (2) condensação de hidroxilamina a hidrazina por amônia (N2H4) e (3)
oxidação de hidrazina a gás nitrogênio. Durante a conversão de amônia se forma nitrato a partir de
nitrito, que pode proporcionar o poder redutor para fixar dióxido de carbono (Schmidt et al., 2002).
A reação anabólica é como segue (van Niftrik et al., 2004):
A reação geral seguinte, que inclui a síntese celular, foi sugerida por Strous et al. (1999b).
A quantidade de N-NO3 produzida inclui 11,2% de N-NH4 e N-NO2 metabolizados. Ocorre decrésci-
mo de ácido no reator devido às reações Anammox como mostrado pelos 0,13 moles de H consumi-
dos e a remoção de ácido nitroso (HNO2 ) com a produção de menor quantidade molar de ácido nítrico
(HNO3 ). Como demonstrado no Exemplo 7–8, a quantidade de alcalinidade consumida pelo processo
Anammox é menor do que aquela para a nitritação e o processo de desnitritação heterotrófica.
Solução
1. Determine o consumo líquido de alcalinidade pela nitritação e desnitritação heterotrófica
para processar 200 g/m3 N-NH4.
Alcalinidade líquida consumida
Alcalinidade consumida pela nitritação alcalinidade produzida pela desnitrificação
[(7,14 3,57) g como CaCO3/g N](200 g/m3) 714,0 g/m3 como CaCO3
2. Determine a alteração da alcalinidade líquida pelo processo Anammox.
a. Determine a alcalinidade consumida pela produção de N-NO2 pela nitritificação.
Determine a fração de N-NH4 processado pela produção de N-NO2 utilizando a Equa-
ção (7–136)
Alcalinidade líquida consumida (812,5 346,2) g/m3 466,3 g/m3 como CaCO3
Esse dado se compara a 714,0 g/m3 como CaCO3 para a nitritação e o processo de desni-
trificação heterotrófica.
622 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
Cinética de crescimento
A maioria das informações sobre cinética de bactérias Anammox foram obtidas de estudos e da
operação de reatores a temperaturas de 30 a 35°C. Tem sido observado, a essas temperaturas, que
ocorrem taxas de crescimento favoráveis, o que coincide com as temperaturas nas águas de rejeito
de digestores anaeróbios que operam com o processo Anammox para remoção biológica de nitro-
gênio. O crescimento de bactérias Anammox entre 4 e 43°C tem sido atribuído a Ward at al. (2011),
com crescimento a baixas temperaturas de atividade Anammox observadas em ambientes Árticos.
Crescimento sustentável a 15°C (Ward et al., 2011) e a 18°C (Winkler et al., 2012) foram demons-
trados em reatores de laboratórios. Realizando teste de batelada, utilizando bactérias Anammox em
um reator a 30°C, Strous at al. (1997a) encontraram taxas máximas de oxidação de amônia entre
30 e 35°C, mas as taxas a temperaturas abaixo de 20° foram menos de 5,0% inferiores. As taxas
seriam maiores com aclimatação à temperatura.
A biocinética de bactérias Anammox se compara àquela da oxidação de amônia por BOA
da Tabela 7–13. A 30°C a taxa máxima de crescimento específico é menos de 10% daquela do
BOA. Devido à taxa de crescimento reduzido o TRS para a oxidação por Anammox deve ser
aproximadamente 10 vezes maior do que para a oxidação aeróbia de amônia. Entretanto, uma
taxa máxima de crescimento específico duas vezes maior do que a mostrada na Tabela 7–13 para
bactérias Anammox foi reportada por van der Star et al. (2008). A habilidade de obter um TRS
elevado para o processo Anammox é proporcionado pelo floco granular denso que é formado. As
bactérias Anammox possuem uma afinidade elevada por amônia e nitrito, como indicado pelos
baixos coeficientes de meia-velocidade mostrados na tabela. A síntese de biomassa (yield) para
bactérias Anammox está na mesma faixa daquelas para BOA e é bem menor do que para as bac-
térias heterotróficas, uma vez que é típico para bactérias autotróficas com suas necessidades de
energia para fixação de CO2.
7–12 Gases do efeito estufa originados de transformações biológicas de nitrogênio P 623
Fatores ambientais
Os fatores ambientais importantes que afetam a atividade de bactérias Anammox são pH e as con-
centrações de nitrito e OD. É possível o crescimento a valores de pH entre 6,7 a 8,3 com o valor de
pH ótimo a 8,0 (Strous et al., 1999a).
Inibição por nitrito. Nitrito, um substrato crítico no processo Anammox, inibe a atividade de
bactérias Anammox a concentrações elevadas. As concentrações inibitórias de nitrito são afetadas
pelas características operacionais do reator. Concentrações de Nitrito-N a 60 g/m3 não inibiram
em uma operação Anammox RBS com amônia e nitrito na corrente de alimentação (Strous et al.,
1999) e van der Star et al. (2007) indicaram a ocorrência de crescimento estável com adição de
concentrações de nitrito-N de 40 a 80 g/m3 em um reator Anammox em grande escala. Entretanto,
em um reator aerado intermitentemente no qual foi produzido na fase aeróbia, Wett et al. (2007)
encontraram inibição a concentrações de nitrito-N tão baixas como 5,0 g/m3 e uma inibição irrever-
sível a 50 g/m3. Concentrações sustentáveis de nitrito-N acima de 5,0 g/m3 resultou em uma perda
da atividade Anammox e foram consideradas como uma concentração tóxica de longo prazo (Wett
et al., 2010). A adição de hidrazina a 3,0 g/m3 foi capaz de restaurar a atividade Anammox em um
reator previamente inibido (Strous et al., 1999a).
Inibição por oxigênio dissolvido. As bactérias Anammox são inibidas por concentrações
muito baixas de OD, uma vez que são bactérias estritamente anaeróbias. A concentração inibi-
tória de OD efetiva é função da espessura do floco granular Anammox ou da espessura do filme,
uma vez que BOA pode consumir oxigênio da parte externa do floco ou do biofilme. Strous et al.
(1997b) mostraram que a inibição por OD foi irreversível, sugerindo que seria possível a utilização
de um reator aerado intermitentemente para nitritação e desmonificação.
DQO CO2
Mono-oxigênese
da amônia
HAO NoR 1
NH2OH NO N O
2 2
Oxidoredutase da
Hidroxilamina (OH)
NirK NorB 1
NO2– NO N O
2 2
NOg N2Og
FIGURA 7–22 Etapas da produção de óxido nitroso (N2O) na transformação biológica de nitrogênio.
enzimas, especialmente em BOA, que podem converter NO a N2O, que também, por brevidade,
podem ser coletivamente denominados reductase NO.
Na segunda etapa, envolvendo a redução de nitrito, o BOA contém gêneros homólogos que
codificam a produção de redutase de nitrito (NirK) e redutase de óxido nítrico (NorB), respectiva-
mente. Não há gênero para expressar a redutase de óxido nitroso, sendo, portanto, o óxido nitroso
o produto final da redução de nitrito por BOA (Yu et al., 2010). BOA pode utilizar hidroxilamina,
hidrogênio e amônia como receptores de elétrons para redução de nitrito e de óxido nítrico (Poth
and Focht, 1985, Bock et al., 1995, e Ritchie and Nicholas, 1972). A produção de óxido nitroso
por BOA pode ocorrer tanto a baixas concentrações de OD (Poth and Focht, 1985) como a altas
concentrações (Beaumont et al., 2004), dependendo do nível de expressão do gênero para nirK e
norB. Um fator-chave para induzir enzimas a uma produção maior de óxido nitroso são as taxas de
oxidação altamente específicas de amônia por BOA, o que ocorre com o aumento de concentrações
de amônia e de OD no reator (Yu et al., 2010).
Um aumento exponencial de produção de óxido nitroso com taxas de oxidação de amônia com
especificidade crescente foi demonstrado por Law et al. (2012). Essas condições podem ocorrer em
processos biológicos de remoção de nutrientes, com um tanque de contato pré anóxico antes da ni-
trificação aeróbia ou com condições de operação transientes que provocam picos de concentração de
amônia (Yu et al., 2010; Kampschreur et al., 2008). Concentrações mais elevadas de nitrito durante a
nitrificação podem, também, causar emissões maiores de óxido nitroso (Kim et al., 2010; Yang et al.,
2009; Gustavsson and Jansen, 2011; Ahn et al., 2011). Os processos de nitrificação que operam com
concentrações de amônia e de OD com variação menor são mais favoráveis para minimizar a emissão
de óxido nitroso. Em sistemas de lodos ativados anóxico/aeróbios para a remoção biológica de nitro-
gênio as emissões de óxido nitroso são maiores na etapa de nitrificação do que na zona pré anóxica,
devido a condições que aumentam as concentrações de amônia (Chandran et al., 2011).
Produção de óxido nitroso por desamonificação pelo processo Anammox. As emis-
sões de óxido nitroso têm sido observadas em desamonificação pelo processo Anammox. Embora
as bactérias Anammox não possam, independentemente, produzir N2O, elas podem produzir NO,
626 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
que pode ser reduzido a N2O por outras bactérias em uma população mista, incluindo BOA e
bactérias heterotróficas desnitrificantes. A produção de óxido nitroso tem sido relacionada a uma
limitação de carbono de possuir apenas respiração endógena para proporcionar carbono para a
desnitrificação heterotrófica (Schneider et al., 2011). Em outro estudo, uma recomendação para
evitar emissão excessiva de óxido nitroso foi operar um processo Anammox com uma concentração
mínima de nitrito no reator (Weissenbacher et al., 2010).
Descrição do processo
Os organismos acumuladores de fósforo (OAFs) são estimulados a crescer e a consumir fósforo em
sistemas que empregam uma configuração de reator que produz OAFs, oferecendo vantagens competi-
tivas sobre outras bactérias. A configuração de reatores utilizados para remoção de fósforo compreende
um tanque anaeróbio com um tempo de retenção hidráulico, , de 0,50 a 1,0 h que é colocado antes
de um tanque de aeração de lodos ativados (ver Figura 7–23). O conteúdo do tanque anaeróbio possui
um sistema de mistura que promove contato entre o retorno de lodo ativado e o esgoto influente. Os
tanques de contato anaeróbios têm sido colocados a montante de diversos tipos de processos de cresci-
mento suspenso (ver discussão detalhada na Seção 8–6 do Capítulo 8), com valores de TRS variando
de 3 a 40 dias.
A chave da vantagem competitiva de OAF na zona anaeróbia de contato é que eles são capazes
de transportar e consumir a DQO rapidamente biodegradável do influente (DQOrb) na forma de
ácidos graxos voláteis (p.ex., ácidos acético e propiônico) utilizando a energia disponível de seus
estoques de fósforo na forma de polifosfatos. Eles são, também, capazes de utilizar a energia em
conjunto com glicogênio celular para direcionar a assimilação de substrato para a acumulação
interna de produtos de carboidratos e posterior oxidação na zona aeróbia. As demais bactérias
heterotróficas na zona anaeróbia não são capazes de consumir a DQOrb porque necessitam de um
receptor de elétron, como oxigênio, nitrato ou nitrito, nas reações de oxidação-redução para pro-
porcionar energia na utilização do substrato.
A zona anaeróbia do processo de tratamento na zona anaeróbia/aeróbia é chamada de “seletor”
porque proporciona condições que favorecem a assimilação de DQOrb e a proliferação de OAFs em
7–13 Remoção biológica de fósforo assistida P 627
Decantador
Reator anaeróbio: Tanque de aeração:
PHA acumulado síntese e decaimento
Influente internamente, hidrólise da biomassa, utilização de Efluente
de poli P e liberação PHA e assimilação
de fósforo melhorada de poli P
Lodo
(b) (c)
FIGURA 7–23 Remoção biológica de fósforo assistida: (a) configuração de um reator típico. As fotos
abaixo do diagrama de fluxo são: (b) imagem por microscópio eletrônico de transmissão de acumulação
de poli-hidroxibutirato e (c) grânulos de polifosfato acumulados.
detrimento de outras bactérias heterotróficas. Como as OAFs preferem substratos que são produtos
de fermentação de baixo peso molecular, a fonte de alimentos preferida não seria disponível sem
a zona anaeróbia, que proporciona a fermentação da DQOrb influente ao acetato. Outras bactérias
heterotróficas não possuem esse mecanismo para assimilação de acetato não dispondo de alimento,
enquanto os OAFs assimilam DQO na zona anaeróbia. Deve ser notado, também, que os OAFs for-
mam flocos muito densos que sedimentam bem, o que se constitui um benefício adicional. Em algu-
mas instalações, a sequência de processos anaeróbio/aeróbio tem sido utilizada como um “seletor”
para produzir um lodo que sedimenta bem, mesmo se não for necessário utilizar a RBFA.
As etapas do processo biológico para RBFA são sumarizadas a seguir e indicadas nas zonas
anaeróbia e aeróbia da Figura 7–23. Um exemplo da alteração das mudanças de ortofósforo e
DQOrb em uma operação em batelada anaeróbio/aeróbia após a alimentação de esgoto é apresen-
tado na Figura 7–24. A concentração de ortofósforo solúvel na zona anaeróbia é, geralmente, duas
a três vezes maior do que a concentração de ortofósforo solúvel influente e é um bom indicador de
um sistema RBFA ativo. A taxa de liberação de fósforo é, normalmente, mais rápida do que a taxa
de assimilação de fósforo subsequente.
Anaeróbio Aeróbio
Concentração
Ortofósforo
Tempo
FIGURA 7–24 Destino da DQOrb e do fósforo em um reator de remoção biológica de fósforo assistida.
(Adaptado de Sedlak, 1991.)
628 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
H2O
Acetato/ Acetato/ Glicogênio PHA
propionato propionato O2
Poli-Pn-1 ATP ATP Poli-Pn-1 ATP NAD+
Cadeia de transporte
Etapas
Pi EMP ou ED Glicogênio
de elétron
FIGURA 7–25 Modelo bioquímico de liberação de fósforo e remoção por OAFs: (a) sob condições anaeróbias e (b) sob con-
dições aeróbias.
7–13 Remoção biológica de fósforo assistida P 629
a energia, a adenosina trifosfato (ATP) é convertida a adenosina difosfato (ADP). A ADP é rege-
nerada a ATP através da hidrólise dos polifosfatos acumulados com a liberação de fósforo e de um
cátion de metal para balanceamento da carga, tipicamente, de potássio ou de magnésio. O PHA é
produzido a partir de acetil-CoA e da energia de redução proporcionada pela degradação de glico-
gênio através das etapas Embden-Meyerhof ou Entner- Doudoroff. A glicólise também proporciona
alguma ATP para a produção de acetil- CoA. Na zona aeróbica os OAFs utilizam o PHA acumu-
lado como uma fonte de energia e de carbono para crescimento celular. O metabolismo do PHA
resulta no crescimento celular, produção de glicogênio por gluconeogênese, e produção de energia
através de fosforilação de transporte de elétron com oxigênio ou nitrato/nitrito como o receptor de
elétron final. Com a energia produzida, ocorre a síntese de polifosfato com a assimilação de orto-
fosfato e de cátions de metal da solução.
Microbiologia
O isolamento de OAFs não tem tido sucesso, mas, através de técnicas moleculares Bond et al.
(1995) identificaram OFAs no grupo Rhodocyclus, na Betaproteobacteria então designada “Candi-
datus Accumulibacter Phosphatis”, que foi, subsequentemente, dividida em Accumulibacter Tipo I
e Tipo II (Oehmen et al., 2010). O Tipo I pode utilizar nitrato ou nitrito como receptores de elétrons
e são referidos como OFAs desnitrificantes (FAODs) (Nielsen et al., 2010). O genoma completo de
A. Phosphatis foi sequenciado para prover informação importante sobre a composição e o metabo-
lismo do gênero (Martin et al., 2006). A OFA relacionada à Tetrasphaera dentro da Actinobacteria
tem sido, também, encontrada em estações de tratamento de esgoto doméstico e, em maior abun-
dância, em estações de tratamento de efluentes industriais (Kong et al., 2005). A Tetrasphaera não
acumula PHA, podendo preferir aminoácidos e utilizar nitrito, mas não nitrito como receptor de
elétron, em adição ao oxigênio. Entretanto, informação sobre o seu metabolismo é limitada.
Um competidor de OAFs para assimilação de ácidos graxos voláteis (AGV) sob condições
anaeróbias é referido como um organismo acumulador de glicogênio (OAG). Esse tipo de organis-
mo foi, inicialmente, observado com um tetrado (os quatro espóros de um fermento) formador de
células por Cech e Hartman (1990) e referido como bactéria “G” devido ao seu crescimento e acu-
mulação de glicogênio quando alimentado por glucose. O termo OAG foi estabelecido por Mino et
al. (1995) baseado na sua capacidade de acumular glicogênio sob condições aeróbias e de consumir
glicogênio sob condições anaeróbias para proporcionar energia para a assimilação de AGV e a pro-
dução de PHA na zona anaeróbia de um sistema de um RBFA. Os OAGs não possuem polifosfatos
acumulados para produção de energia durante a assimilação de AGV e não permitem RBFA. Um
indicador da disponibilidade de uma população de OAG em um sistema RBFA é a relação entre a
liberação reduzida de fósforo e a assimilação de acetato na zona anaeróbia a valores bem abaixo do
valor típico de 0,50 g P/g acetato para OAFs (Gu et al., 2008).
Os OAGs têm sido identificados como um fenótipo pertencente à Gammaproteobacteria e fo-
ram designados “Candidatus Competibacter Phosphatis” por Crocetti et al. (2002). Esses e muitos
outros OAGs formam tetrados, que são células largas em agrupamentos de quatro. O Defluviicoc-
cus vanus é outro OAG formador de tetrados encontrado na Alphaproteobacteria (Wong et al.,
2004), mas esses não são considerados comuns em estações de tratamento de esgoto do tipo RBFA
como o Competibacter. Todos os OAGs identificados até o presente têm se mostrado capazes de
utilizar nitrato como receptor de elétron além do oxigênio, mas apenas o Competibacter Tipo I
pode, também, utilizar nitrito (Nielsen et al., 2010).
Os fatores que afetam a competição entre OAFs e OAGs incluem a composição da alimentação
de acetato e propionato, pH, temperatura e TRS. A Accumulibacter é capaz de utilizar acetato e
propionato a taxas similares e de superar Competibacter com apenas proprionato presente, devido à
altamente reduzida assimilação de proprianato em relação ao acetato por Competibacter (Oehmen
et al., 2006). Entretanto, os OAGs Alphaproteobacteria consomem propionato mais rapidamente
do que acetato, podendo, então, competir como os OAFs. Uma estratégia de alternar a alimentação
de AGV entre acetato e propionato elimina, quase que totalmente, os OAGs, pois o Accumulibacter
poderia competir com o Competibacter com alimentação de propionato e contra a Alphaproteobac-
teria, com alimentação de acetato. (Lu et al., 2006).
630 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
é muito pouco afetado pelo floco denso formado por OAFs. A relação SSV/SST para um sistema
OAF enriquecido pode ser tão baixo quanto 60 a 65% em comparação a 85% para heterotróficos
comuns. A maioria dos esgotos municipais tem quantidades suficientes de cátions de metais neces-
sários para OAFs, mas deve-se tomar cuidado para assegurar quantidades suficientes em aplicações
industriais ou em experimentos de laboratórios.
A assimilação de acetato ou de propionato na zona anaeróbia é essencial para a determinação
de da quantidade de OAF que pode ser produzida e, portanto, da quantidade de fósforo que pode ser
removida através desse sistema. A quantidade de fósforo que pode ser removida por acumulação
biológica pode ser estimada através da quantidade de DQOsb que é disponível no esgoto influente
assumindo uma fração de DQOrb que possa ser convertida a acetato no tempo curto de detenção hi-
dráulica do sistema anaeróbio . Os métodos para determinar a quantidade de DQOrb no influente
serão descritos na Seção 8–2 do Capítulo 8, que trata da caraterização de esgoto.
As seguintes hipóteses são utilizadas para avaliar a estequiometria da remoção biológica de
fósforo: (1) aproximadamente 1,0 g de DQO de acetato /g DQOrb fermentado será produzido por-
que a maior parte da DQO fermentada será convertida a AGV devido à baixa síntese celular do pro-
cesso de fermentação, (2) uma síntese celular de 0,45 g SSV/g DQO acetato consumido por OAFs,
(3) um conteúdo de células de fósforo de 0,20 a 0,30 g P/g SSV a 20°C (Panswad et al., 2003).
Utilizando essas hipóteses, aproximadamente 7 a 11 g de DQOrb serão necessárias para remover 1
g de fósforo pelo mecanismo RBFA. Valores reais em sistemas de RBFA podem variar de 8 a 20 g
P/g DQOrb, dependendo das populações relativas de OAG e OAF e da fração de acetato no DQOrb
influente. Outra remoção de DQOb no sistema de lodo ativado resultará em remoção adicional de
fósforo pela síntese normal de células.
Um melhor desempenho de sistemas de remoção biológica de fósforo é obtido quando a
DQOrb ou o acetato está disponível de maneira uniforme. Períodos de falta de nutrientes ou de
concentrações baixas de DQOrb resultam em alterações nas reservas intracelulares acumuladas de
glicogênio, de PHA e de polifosfatos, levando, rapidamente, à redução da eficiência da remoção de
fósforo (Stephens e Stensel, 1998). A quantidade de fósforo que pode ser removida de um esgoto é
ilustrada no Exemplo 7–9.
(continuação)
Solução
1. Determine a quantidade de fósforo removido por OAFs.
a. Produção de DQO de acetato 0,90(50 g/m3 DQOrb) 45 g/m3 DQO
b. Determine a biomassa de OAF produzida, normalizada em relação à vazão, utilizando
a Equação (7–54) e negligenciando os restos de células.
Biomassa de
OAF produzida
Outras biomassas
produzidas
Cinética de crescimento
A cinética biológica de crescimento de fósforo está dentro da mesma magnitude de outras bactérias
heterotróficas. Mamais e Jenkins (1992) mostraram que a remoção biológica de fósforo assistida
pode ser mantida em sistemas anaeróbios/aeróbios em TRSs maiores do que 2,5 dias a 20°C. Uma
taxa específica máxima de crescimento a 20°C é dada como 0,95 g/gdia (Barker e Dold, 1997).
7–14 Fermentação anaeróbia e oxidação P 633
Fatores ambientais
O desempenho do sistema não é afetado pelo OD se a concentração de OD na zona aeróbia está
acima de 1,0 mg/L. O efeito do pH é relacionado, principalmente, à distribuição da população OAF
versus OAG, como previamente mencionado. OAFs desnitrificantes podem utilizar nitrito como
um receptor de elétrons em adição ao nitrato na zona anóxica para oxidação de PHA intracelular.
Entretanto, concentrações de nitrito acima de 2,0 g/m3 são inibitórios à assimilação de nitrato tanto
em condições anóxicas como aeróbias, com um efeito maior sob condições aeróbias. A 6,0 g/m3, a
assimilação aeróbia por OAFs é severamente limitada (Saito et al., 2004).
(a) (b)
FIGURA 7–26 Vistas de digestores anaeróbios: (a) Ankara, Turquia, e (b) Tigard, OR.
634 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
Descrição do processo
Três etapas básicas são consideradas na oxidação total anaeróbia de um esgoto: (1) hidrólise, (2) aci-
dogênese (também conhecida como fermentação ou oxidação anaeróbia) e (3) metanogênese. As três
etapas são ilustradas esquematicamente na Figura 7–27, que mostra o destino de sólidos através da
hidrólise, ácidos graxos voláteis (AGV) e produção de hidrogênio para o metano. Uma etapa interme-
diária chamada acetogênese ocorre em alguns dos AGV produzidos por acidogênese. O ponto inicial
no esquema para uma aplicação específica depende da natureza do esgoto a ser processado. Algumas
vezes o processo é intencionalmente interrompido na metade como quando sólidos primários são fer-
mentados em espessadores a gravidade, e o sobrenadante, que é rico em AGVs, é utilizado para RBFA.
Hidrólise. É a primeira etapa básica, na qual o material particulado é convertido a compostos
solúveis que podem ser, posteriormente, hidrolizados a monômeros simples (que são utilizados
por bactérias para efetuar a fermentação). Para esgotos industriais solúveis altamente concentra-
dos, a fermentação poderá ser a primeira etapa do processo anaeróbio. A hidrólise é efetuada com
enzimas extracelulares produzidas por diversos organismos anaeróbios facultativos e obrigatórios
(Confer and Logan, 1998; Song et al., 2005). Os lipídios são quebrados a ácidos graxos de cadeias
longas (AGCL) por lipases produzidos por bactérias que incluem Butyrivibrio sp., Clostridium sp.
e Anaerovibrio lipolytica. Peptídio e aminoácidos são produzidos por bactérias que possuem ati-
vidade protease extracelular, incluindo Clostridium proteolyticum, Eubacterium sp. e Peptococcus
anaerobicus (McInerney, 1988).
Acidogênese. A segunda etapa básica que é efetuada por bactérias é a acidogênese (também
chamada de fermentação) e resulta na produção de AGV, CO2 e hidrogênio, como mostrado na
Figura 7–27. No processo de fermentação, os substratos servem tanto como doadores como recep-
tores de elétrons. Os principais produtos da fermentação de açúcares e aminoácidos são acetato,
propionato, butirato, CO2 e hidrogênio. A fermentação dos AGCL resulta na produção de acetato,
CO2, e hidrogênio. Uma fração maior da DQO de AGCL é convertida a hidrogênio em relação ao
que é convertido por açúcares e aminoácidos.
Acetogênese. A acetogênese se refere à continuidade da fermentação por bactérias para con-
verter produtos intermediários da acidogênese (propionato e butirato), bem como produzir acetato,
CO2 e hidrogênio. Portanto, os produtos finais da fermentação são acetato, hidrogênio e CO2, que
são os precursores da formação de metano. A mudança da energia livre associada à conversão de
propionato e butirato a acetato e hidrogênio requer que a concentração de hidrogênio no sistema
Hidrólise
14 18 Fermentação
2 23 10 (Acidogênese)
20 13
AGV*
Intermediários
6 10
22 Acetogênese
72 28 Metanogênese
Metano (100%)
*Propionato, butirato, valerato
seja baixa (H2 < 104 atm), ou a reação não ocorrerá (McCarty and Smith, 1986). A maior parte do
hidrogênio produzido se origina da oxidação de AGCL e de AGV intermediários ao ácido acético,
sendo referida como oxidação anaeróbia.
Metanogênese. A terceira etapa básica, metanogênese, é conduzida por um grupo de or-
ganismos Arquea coletivamente conhecidos como metanogênicos. Dois grupos de organismos
metanogênicos são envolvidos na produção de metano. Um grupo, designado por aceticlastic
methanogens, divide o acetato em metano e dióxido de carbono. O segundo grupo, designado me-
tanogênicos, que utilizam hidrogênio ou hydrogenotrophic methanogens, utiliza hidrogênio como
doador de elétrons e CO2 como o receptor de elétron para produzir metano. As bactérias do pro-
cesso anaeróbio, designadas acetogens, são, também, capazes de utilizar CO2 para oxidar hidro-
gênio e formar ácido acético. Entretanto, o ácido acético será convertido a metano, de maneira que
o impacto dessa reação é pouco significativo. Como mostrado na Figura 7–27, aproximadamente
72% do metano produzido na digestão anaeróbia se origina na formação de acetato. A composição
do gás produzido em uma operação de fermentação e de metanogênese estáveis, contém, tipica-
mente, 65% de metano e 35% de CO2. Uma fração mais elevada de lipídios no esgoto resulta em
maior fração de metano no gás do digestor (Li et al., 2002).
Microbiologia
O grupo de micro-organismos não metanogênicos responsáveis pela hidrólise e pela fermentação
consiste de um grupo diferente de bactérias anaeróbias facultativas e obrigatórias. Organismos iso-
lados de digestores anaeróbios incluem Clostridium spp., Peptococcus anaerobus, Bifidobacterium
spp., Desulphovibrio spp., Corynebacterium spp., Lactobacillus, Actinomyces, Staphylococcus e
Escherichia coli. Outros grupos fisiológicos presentes, incluem aqueles que produzem enzimas
proteolíticas, lipolíticas, ureolíticas ou celulíticas.
Os micro-organismos responsáveis pela produção de metano, classificados como arquea, são
organismos estritamente anaeróbios. Muitos dos organismos metanogênicos identificados em di-
gestores anaeróbios são similares àqueles encontrados no estômago de animais ruminantes e em
sedimentos orgânicos oriundos de lagos e rios. Os metanogênicos hidrogenotróficos são encon-
trados em quatro ordens de Arquea: Methanobacteriales, Methanococcales, Methanomicrobiales
e Methanopyrales (Madigan et al., 2012). Eles obtêm energia através da oxidação de hidrogênio e
utilizam, também, CO2 como fonte de carbono, resultando em sínteses baixas de biomassa.
As arqueas que produzem metano através de acetato são designadas de metanogênicas aceticlásti-
cas e pertencem à ordem Methanosarcinales. O acetato é dividido e o metil carbono se transforma
em metano e o carboxyl carbono em CO2.
Apenas dois gêneros da ordem Methanosarcinales são capazes de utilizar acetato para pro-
duzir metano e dióxido de carbono: Methanosarcina e Methanosaeta (anteriormente designada
Methanothrix) (Madigan et al., 2012). Esses organismos diferem tanto em suas morfologias como
em características cinéticas. A Methanosarcina possui uma forma de globo e ocorre em forma de
cacho de uvas, enquanto que a Methanosaeta tem forma alongada variando de vara a filamento
(Lange and Ahring, 2001). A Methanosarcina tem uma taxa específica máxima de crescimento
elevada (max) e um elevado coeficiente de meia-saturação (KS) e a Methanosaeta tem um baixo
max e baixos valores de KS. As Methanosaetas são dominantes em digestores anaeróbios devido ao
longo TRS e à baixa concentração de acetato. Entretanto, o manejo da Methanosarcina aumenta
em acetato com mais eficiência promovendo uma digestão mais estável. As pesquisas laboratoriais
de digestores anaeróbios e estudos de modelagem de digestores mostraram que uma população de
Methanosarcina pode ser estabelecida com alimentação diária em batelada versus intervalos fre-
quentes de alimentação (Conklin et al., 2006 e Straub et al., 2006). Valores de Ks para a utilização
636 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
de acetato por enriquecimento de Methanosaeta e Methanosarcina são 90 g/m3 e 320 g/m3, respec-
tivamente. Valores representativos de max a 35°C são 0,16 g/gdia e 0,80 g/gdia para Methanosa-
eta e Methanosarcina, respectivamente (Conklin et al., 2006).
As metanogênicas que utilizam acetato foram, também, observadas em reatores termofílicos
(van Lier, 1996; Zinder and Koch, 1984; e Ahring, 1994). Algumas espécies de Methanosarcina
foram inibidas em temperaturas de 65°C, enquanto outras não o foram, mas não ocorreu inibição
de Methanosaeta. Para metanogênicas que utilizam nitrogênio a temperaturas acima de 60°C, foi
verificado que Methanobacterium se mostrou bastante abundante.
Outras reações anaeróbias por arquea metanogênicas são degradação de formato (Equação
7–139) por organismos das ordens Methanobacteriales, Methanomicrobiales e Methanococcales,
degradação de metanol (Equação 7–140) por organismos da ordem Methanobacte riales e Metha-
nosarcinales, e degradação de metilaminas (Equação 7–141) por organismos da ordem Methano-
sarcinales (Madigan et al., 2012).
Da equação (7–142), a DQO por mol de metano é de 2(32 g O2/mol) 64 g O2/mol CH4. O volume
de metano por mol nas condições padrão (0°C e 1 atm) é 22,414 L, portanto, o CH4 equivalente da
DQO convertida sob condições anaeróbias é 22,414/64 0,35 L CH4/g DQO.
Solução
1. Prepare um balanço de massa de DQO em regime permanente para determinar a quanti-
dade da DQO influente convertida a metano.
a. O balanço em regime permanente requerido é
DQO porção de DQO influente DQO influente
influente DQO influente convertida a convertida a
no efluente tecido celular metano
DQOin DQOef DQOSSV DQOmetano
b. Determine os valores dos termos individuais do balanço de massa
DQOin (5.000 g/m3)(3.000 m3/dia) 15.000,000 g/dia
DQOef (1 – 0,95)(5.000 g/m3)(3.000 m3/dia) 750.000 g/dia
DQOSSV (1,42 g DQO/g SSV)(0,04 g SSV/g DQO)(0,95)(15.000,000 g/dia)
809.400 g/dia
c. Resolva para a DQO convertida a metano
DQOmetano 15.000.000 750.000 809.400 13.440.600 g/dia
2. Determine a quantidade de metano produzido a 35°C.
a. Determine o volume de gás ocupado por 1 mol de gás a 35°C
Comentário
É importante determinar o volume ocupado pelo gás na temperatura real de operação.
638 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
Cinética do processo
Devido à relativamente pequena mudança de energia livre de reações anaeróbias, os coeficientes da
síntese de crescimento são consideravelmente menores do que os valores correspondentes da oxi-
dação biológica. Valores típicos dos coeficientes de síntese bacteriana e de decaimento endógeno
são Y 0,06 e 0,03 g SSV/g DQO e b 0,02 e 0,008 g SSV/g SSVdia, respectivamente.
Em processos anaeróbios, dois conceitos limitadores de taxas são importantes: (1) a taxa de
conversão de hidrólise e (2) a taxa de utilização de substrato solúvel para a fermentação e a meta-
nogênese. A vazão de DQO através da acidogênese, e para a produção de metano, começa com a
hidrólise de partículas coloidais e sólidas.
Limitações da conversão por hidrólise. Em processos de digestão anaeróbia utilizados para
sólidos de lodos descartados de esgoto municipais, as taxas de hidrólise e o TRS do reator deter-
minam a quantidade total de sólidos convertidos. Uma taxa de primeira ordem de hidrólise de 0,33
d1 pode ser aplicada à porção biodegradável de uma mistura de lodo primário e de lodo ativado de
descarte de uma estação de tratamento de esgoto doméstico para estimar a eficiência da destruição
de sólidos de um digestor mesofílico (35°C) em função do TRS. Aproximadamente 25% dos sóli-
dos do lodo primário e de lodo ativado oriundos de tratamento de esgoto doméstico são estimados
como não biodegradáveis (Moen et al., 2004). Um TRS superior a 30 dias é necessário para efetuar
uma conversão completa de sólidos biodegradáveis. As cinéticas de utilização de substrato pela
bactéria responsável pela fermentação e pela metanogênese devem ser adequadamente considera-
das para manter um processo anaeróbio estável.
Produção versus utilização. As cinéticas de produção de AGV são mais rapidas do que as
cinéticas correspondentes de utilização e de produção de metano por metanogênicas, mas, em
operação de regime permanente, é estabelecida uma população metanogênica suficiente para
manter a operação estável do digestor com uma concentração baixa de AGV ( 200 g/m3) e pH
7,0. A operação instável do digestor pode se desenvolver sob condições de cargas transientes
nas quais a taxa de produção de AGV seja superior à taxa de utilização de AGV pelas metanogê-
nicas. Subsequentemente, a concentração de AGV (tipicamente acetato e propionato) aumenta,
o que pode causar uma queda de pH, dependendo da quantidade de alcalinidade disponível, para
tamponar o aumento da concentração de ácidos orgânicos.
Efeitos do pH. A cinética de utilização de AGV por metanogênicas decresce em valores
baixos de pH, e os efeitos de cargas transientes que causam a queda de pH podem contribuir
para provocar maior acumulação de AGV e o declínio consequente da atividade metanogêni-
ca. Se essa utilização reduzida continuar, ocorre a acumulação de ácido butírico e a operação
do reator será muito inibida. A acumulação de ácido butírico causa um odor azedo, que levou
à criação do termo digestor “azedo” ou emperrado, para descrever essa condição extrema de
digestão perturbada. A inibição metanogênica pode ocorrer quando a concentração de acetato
excede 3.000 g/m3, mesmo se alcalinidade suficiente for disponível para manter o pH acima de
7,0 (Stallman et al., 2012). Condições instáveis, podem, também, ser causadas pelo desajuste
do reator anaeróbio por alterações transientes de temperatura e concentrações suficientes de
substâncias inibidoras.
Capacidade transiente. Os reatores anaeróbios possuem uma capacidade intrínseca a um
aumento finito de transiente na alimentação de DQO, sem sucumbir a uma condição instável. A
capacidade em excesso está relacionada à capacidade máxima de utilização de acetato (Vmax) para
metanogênicos acetoclásticos (Conklin et al., 2008). O valor de Vmax varia com tipos de sistemas
e é uma função do TRS, da taxa média histórica de carga de DQO e da população metanogênica
acetoclástica selecionada. Os testes de produção bioquímica de metano em reatores batelada
(PBMB) são efetuados para determinar Vmax para um dado sistema. O teste envolve a adição de
uma dose única de acetato ao lodo do reator anaeróbio, em garrafas de soro fechadas, seguido
da incubação à temperatura do reator e da medição das taxas de produção de CH4 ao longo do
tempo. Um número de capacidade de acetato (NCA) é, então, determinado como a relação entre
Vmax e a taxa média de produção estimada baseada no histórico operacional do reator. Aproxi-
7–14 Fermentação anaeróbia e oxidação P 639
madamente 70% da DQO removida no sistema, é assumida como convertida a acetato antes da
produção de metano.
(7–143)
1. Porção de metano produzido pela utilização de acetato para a digestão anaeróbia e codi-
gestão do esgoto 70%
2. Produção de gás em condições padrão 0,35 m3 CH4/kg DQO
Solução
1. Determine o NCA do digestor.
a. Taxa média de utilização da DQO acetato, Vplt,
(continuação)
Comentário
Com essa alimentação de codigerido de concentração muito elevada, o volume de alimentação
do digestor aumenta por apenas (23,72 m3/dia)100/(1000 m3/dia) 2,4%, que tem um impacto
mínimo no TRS do digestor e na população metanogênica. Neste problema foi, também, assu-
mido que não houve tempo de aclimatação para a degradação do codigerido de alimentação.
Fatores ambientais
Os processos anaeróbios são sensíveis ao pH, a limitações de nutrientes (especialmente esgotos
industriais) e a substâncias inibitórias. São preferidos valores de pH próximos ao neutro, e abaixo
de 6,8 a atividade metanogênica é inibida. Devido ao conteúdo elevado de CO2 em gases produ-
zidos nos processos anaeróbios (30 a 35% de CO2), é necessário uma alcalinidade elevada para
assegurar valores de pH próximos à neutralidade. É, geralmente, encontrada uma concentração
de alcalinidade na faixa de 3.000 a 5.000 mg/L como CaCO3. Para digestão de lodo, alcalinidade
suficiente é produzida pela quebra de proteínas e de aminoácidos para produzir NH3, que combina
com CO2 e H2O para formar alcalinidade como NH4(HCO3). Em aplicações associadas a esgoto
industrial, principalmente para esgotos contendo carbo-hidratos, é necessário adicionar alcalinida-
de para controle do pH. Substâncias inibitórias a processos anaeróbios (p.ex., NH3, H2S e diversos
outros compostos orgânicos e inorgânicos) são consideradas no Capítulo10.
7–15 Remoção biológica de compostos orgânicos tóxicos e recalcitrantes P 641
Biodegradação aeróbia
Com condições ambientais adequadas, fontes de inóculos e períodos de aclimatação, uma grande
faixa de compostos orgânicos tóxicos e recalcitrantes foram encontrados para servir como subs-
tratos de crescimento para bactérias heterotróficas. Esses compostos incluem fenol, benzeno,
tolueno, hidrocarbonetos poli aromáticos, pesticidas, gasolina, álcools, cetonas, cloreto de meti-
leno, cloreto de vinila, compostos de munições e fenóis clorados. Entretanto, muitos compostos
orgânicos clorados não podem ser prontamente atacados por bactérias heterotróficas aeróbias,
não servindo, portanto, como substratos de crescimento. Alguns dos compostos menos clorados,
como diclorometano, 1,2-dicloroetano e cloreto de vinila podem ser utilizados como substrato
de crescimento por bactérias aeróbias. Felizmente, diversos compostos orgânicos clorados são
degradados por degradação cometabólica. Deve ser notado que os compostos orgânicos que são
completamente saturados por cloro são degradados somente por descloração anaeróbia (Stensel
and Bielefeldt, 1997).
Degradação cometabólica. Compostos orgânicos clorados que tenham passado por degrada-
ção cometabólica incluem dicloroeteno, cloreto de vinila, clorofórmio, diclorometano e tricloroe-
tano. A degradação cometabólica é efetuada por bactérias que produzem enzimas mono-oxigenase
ou dioxigenase não específicas. Essas enzimas intermediam uma reação com oxigênio e hidrogênio
e alteram a estrutura de um composto clorado. As bactérias que produzem enzimas oxigenase oxi-
dam certos substratos que induzem a enzima. Bactérias que produzem oxigenase incluem bacté-
rias metanotróficas que oxidam o metano, diversas bactérias que podem oxidar fenol ou tolueno,
diversas bactérias que podem oxidar propano e bactérias nitrificantes que oxidam amônia a nitrio.
Enzimas oxigenase não específicas. A reação de enzimas oxigenase não específicas com
composto orgânico clorado produz, tipicamente, um composto intermediário que é degradado por
outras bactérias heterotróficas aeróbias no sistema biológico. Diversos projetos de reatores têm
sido desenvolvidos para aplicar esse processo biológico para tratamento de água subterrânea con-
taminada ou para extração de vapor de correntes de gás (Lee et al., 2000). Embora essas reações
sejam efetivas em processos de tratamento de esgoto municipal e industrial, uma grande quanti-
dade de compostos orgânicos clorados que possam estar presentes podem ser dissipados durante
o processo por volatilização durante a aeração, devido às suas volatilidades elevadas e ao pequeno
potencial da presença de bactérias cometabólicas.
Perdas abióticas
Devido à preocupação sobre os efeitos ambientais e de saúde de compostos tóxicos e recalcitrantes,
é importante conhecer seus destinos e transporte em processos de tratamento biológico. Para mui-
tos compostos orgânicos tóxicos e recalcitrantes que adentram processos biológicos de tratamento
de esgoto, perdas não biológicas ou abióticas podem ser mais significativas do que a biodegra-
dação. As perdas abióticas incluem adsorção do composto aos sólidos do liquor misto do reator,
com subsequente transporte para fora do sistema através do lodo descartado e volatilização com a
liberação do composto na atmosfera local.
Perdas em função da adsorção. Para certos compostos, a remoção por partição (i.e., adsor-
ção) à biomassa pode ser mais significativa do que a biodegradação ou a volatilização. Para descre-
ver a partição de sólidos, o modelo da isotérma de Freundlich (ver Seção 11–7 do Capítulo 11) foi
modificado em uma relação linear geral de equilíbrio (n 1) para adsorção de sólidos a líquidos
orgânicos com concentrações relativamente baixas:
q KpS (7–144)
(7–145)
(7–147)
(7–149)
Substituindo a Equação (7–149) na Equação (7–148) produzimos a expressão seguinte para a taxa
de massa perdida devido à adsorção:
(7–150)
(7–152)
O coeficiente de transferência de massa gás-líquido do COV pode ser estimado através do coefi-
ciente de transferência de massa do oxigênio do sistema de aeração e da relação entre os coeficien-
tes de difusão do COV e o oxigênio:
(7–153)
(7–155)
(7–156)
Note que, nas Equações (7–155) e (7–156), Xs é a concentração de biomassa capaz de degradar o
composto orgânico específico e XT é a concentração total de SSVLM que inclui toda a biomassa
crescida através de diversos substratos e mais os SSV não biodegradáveis. O valor de Xs pode
7–15 Remoção biológica de compostos orgânicos tóxicos e recalcitrantes P 647
ser calculado como uma função da quantidade de substrato que é biodegradado, dos coeficientes
cinéticos, do do sistema e do TRS. A expressão seguinte é utilizada para calcular Xs em regime
permanente em um reator completamente misturado, considerando as perdas de substrato por vo-
latilização e adsorção:
(7–157)
Para a maioria dos casos, nos quais esteja ocorrendo biodegradação e a perda não seja excessiva-
mente importante devido à volatilização e/ou adsorção de sólidos, a concentração do líquido consti-
tuinte baseado na Equação (7–46) para um reator completamente misturado em regime permanente
é dada por
(7–158)
Para demais casos excepcionais, as Equações (7–156) e (7–157) podem ser resolvidas simultanea-
mente.
A abordagem resumida acima pode ser utilizada para estimar o destino de um composto orgâ-
nico em um reator de lodos ativados completamente misturado em condições de regime permanen-
te, de uma entrada constante do constituinte orgânico e de uma cultura totalmente aclimatada. A
previsão do destino de um constituinte orgânico em um processo de tratamento por lodos ativados
é ilustrada no Exemplo 7–12.
Solução
1. Determine a concentração líquida do benzeno utilizando a Equação (7–158).
(continua)
648 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
(continuação)
Total 2,002 a
1,000
a
0,002 é devido ao erro de arredondamento.
a. Para benzeno, que é um composto orgânico volátil, com um baixo coeficiente de par-
tição de sólidos, 69,2% do benzeno influente é transferido para a atmosfera, 26,8% é
biodegradado, 3,9% permanece dissolvido no efluente líquido e 0,1% é sorvido aos
sólidos saindo do processo.
b. O efeito do valor de KLa de benzeno no sistema de aeração sobre as quantidades relativas
biodegradadas ou volatilizadas para a atmosfera estão ilustradas na tabela a seguir:
KLa, h1
Parâmetro Unidade 1,5 3,0 4,0 6,3
Efluente g/m3 0,077 0,077 0,077 0,052
Efluente % 3,9 3,9 3,9 2,6
Biodegradado % 61,4 26,8 3,7 0,0
Volatilizado % 34,6 69,2 92,3 97,3
7–16 Remoção biológica de traços de compostos orgânicos P 649
O OH OH
OH OH OH
FIGURA 7–28 Estruturas químicas de compostos estrogênios comuns em estações de tratamento de es-
goto: (a) E1 – Estrona, C18H22O2, (b) E2 – 17-estradiol, C18H24O2 (c) EE2 – 17-etinilestradiol, C20H24O2.
650 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
TABELA 7–16 Exemplo de remoção de TrCO em reator RBM com TRS de 30 dias (Stensel, 2011)
Concentração média no
Composto afluente, ng/L Fonte
Altamente biodegradável (⬎90% de remoção)
composto estrogênico (E). Um grupo adicional de equações é necessário para estrogênio e alguns
outros compostos que possam adentar à estação de tratamento de esgoto, como compostos conjuga-
dos. A maior parte dos estrogênios excretados por seres humanos está na urina, como um composto
conjugado. A separação para estrogênio livre pode ocorrer nos sistemas coletores de esgoto e de
transporte e na própria estação de tratamento. A taxa de degradação de estrogênio é como segue:
Considerando a produção de estrogênio livre por separação e remoção de estrogênio nos sólidos
descartados por adsorção, se aplica a seguinte equação em regime permanente.
(7–161)
(7–162)
Esgoto
Influente Unidade 1 2 3
DBO mg/L 200 180 220
DQO mg/L 450 450 480
Esgoto
Item Unidade 1 2 3
DQOs influente mg/L 1.000 1.800 600
Taxa de assimilação de oxigênio do reator mg/Lhora 10 15 8
7–8 Utilizando os valores de meia-reação de energia livre dados na Tabela 7–6, calcule e compare a síntese
de biomassa (g SSV/g DQOr) para a degradação de metano, mistura de carboidratos, ou etanol (cons-
tituinte a ser selecionado pelo instrutor) com oxigênio e nitrato como receptores de elétrons. Assuma
que amônia está disponível para as necessidades de síntese de células e 1,42 g O2 eq/g biomassa.
7–9 Utilizando os valores das meias-reações de energia livre dados na Tabela 7–6, calcule e compare
a síntese de biomassa (g SSV/g DQOr) para a degradação de metanol ou etanol (constituinte a ser
selecionado pelo instrutor) com nitrato e nitrito como receptores de elétrons. Assuma que a amônia
está disponível para as necessidades de síntese de células e 1,42 g O2 eq/g biomassa. Utilizando os
resultados obtidos, compare a quantidade de metanol (ou etanol) necessária para a desnitrificação de
N-NO3 versus N-NO2 em g DQO/g N.
7–10 Tanto nitrato como sulfato são disponíveis em um quimiostato anaeróbio de laboratório com a pre-
sença de bactérias redutoras de nitrato e de sulfato. O quimiostato é continuamente alimentado com
Problemas e tópicos de discussão P 653
uma solução contendo os receptores de elétrons em quantidades iguais, glucose e um meio nutriente.
Quais populações biológicas permanecerão após uma operação de longo período? Explique.
7–11 Para o Exemplo 7–3, utilize as meias-reações para efetuar uma equação balanceada de oxidação de
acetato por bactérias metanogênicas.
7–12 Para os valores síntese celular dados na Tabela 7–7 para a degradação de compostos orgânicos, quais
são os valores respectivos de fe e fs?
7–13 Compare os produtos finais da degradação de um composto orgânico sob as seguintes condições e
discuta como as sínteses de bactérias são afetadas por eles: aeróbio (oxigênio com receptor), fer-
mentação (composto orgânico com receptor de elétrons) e metanogênese (CO2 como receptor de
elétrons).
7–14 Se as células bacterianas são do tipo coco com diâmetros de 1,0, 1,3 ou 1,5 m e são constituídas de
80% de água, com 90% orgânicas em peso seco, determine (diâmetro da célula as ser selecionado
pelo instrutor): (a) o volume e a massa orgânica de uma célula e (b) o número de células presentes em
um litro de suspensão de biomassa com uma concentração de 100 mg SSV/L.
7–15 Para bactérias aeróbias com períodos de geração assumidos como 20, 30 ou 60 min (tempos a serem
selecionados pelo instrutor), quantas bactérias estarão presentes após 12 horas, se 20 células estão
presentes no tempo zero? Utilizando os volumes e as massas de bactérias do Problema 7–13, para
uma bactéria com diâmetro de 1-m, qual seria o peso seco desta bactéria após 12 horas em mg de
sólidos suspensos voláteis?
7–16 Considere uma reação em batelada com bactérias nitrificantes em um quimiostato. A concentração
inicial das bactérias nitrificantes é 10 mg/L, e a concentração inicial do substrato é 50 mg N-NH4/L.
O N-NH4 é oxidado a N-NO2 e a síntese celular é 0,12 g SSV/g N-NH4 oxidado. A concentração de
OD no quimiostato é mantida a 3,0 mg/L. Outros coeficientes cinéticos relacionados à utilização de
substrato e ao crescimento são um dos seguintes, a ser selecionado pelo instrutor:
Esgoto
Coeficiente Unidade 1 2 3
max g SSV/g SSVdia 0,60 0,75 0,60
Kn mg/L 0,50 0,50 0,75
Ko mg/L 0,50 0,50 0,50
b g SSV/g SSVdia 0,08 0,08 0,04
1
B
0,8
, g/g dia
0,6
A
0,4
0,2
0
Concentração de substrato, S, mg/L
654 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
7–18 Um reator aeróbio completamente misturado sem reciclagem de sólidos é utilizado para tratar um
esgoto contendo 100 mg/L de fenol (C6H6O) a 20°C. Utilizando os seguintes coeficientes cinéticos
(coeficientes 1, 2 ou 3, a ser selecionado pelo instrutor) determine (a) o tempo de retenção hidráulico
mínimo t em dias no qual a biomassa possa ser descartada mais rapidamente do que possa crescer, (b)
o valor mínimo de a 10°C, assumindo que o coeficiente de atividade de temperatura é 1,07 para k
e 1,04 para b, (c) a concentração de fenol e de biomassa a um valor de 4,0 dias a 20°C e (d) a quan-
tidade de oxigênio requerido, em kg/dia para um calor de 4,0 dias, assumindo uma vazão de 100 m3/
dia. Plote as concentrações de fenol e de biomassa e a quantidade de oxigênio requerido versus em
dias, para de 3,3 para 15 dias a 20°C.
Esgoto
Coeficiente Unidade 1 2 3
k g fenol/g SSVdia 0,90 0,80 0,90
Ks mg fenol/L 0,20 0,15 0,18
Y g SSV/g fenol 0,45 0,45 0,40
b g SSV/g SSVdia 0,10 0,08 0,06
7–19 Reatores de testes de laboratório têm sido operados a valores diferentes de TRS em regime perma-
nente para obter coeficientes cinéticos biológicos para um esgoto com constituintes solúveis apenas.
Os reatores são completamente misturados e aerados, com decantadores e reciclagem de sólidos. O
valor de em todos os casos é 0,167 dias e os valores de TRS variaram nos cinco testes. Os valores da
concentração do DQO solúvel do efluente e do SSVLM são sumarizados como segue:
Com esses resultados, determine os valores dos coeficientes biocinéticos, k, Ks, m, Y e b. (Nota:
calcule a produção de sólidos para cada TRS.)
7–20 Os dados seguintes foram obtidos operando quatro unidades em escala de bancada de lodos ativados
de escoamento contínuo para tratar um esgoto de processamento de alimentos. Utilizando esses da-
dos, determine os valores de Y e b.
Parâmetro
7–21 Utilizando os dados a seguir para três reatores diferentes de lodos ativados completamente mistura-
dos, determine (reator a ser selecionado pelo instrutor): (a) o TRS do sistema, (b) a quantidade de
oxigênio requerida, em kg/dia, se a concentração de DQO solúvel no efluente é 5 mg/L e (c) a taxa
de assimilação de oxigênio no tanque de aeração expressa em mg/Lhora, sob condições de regime
permanente. Assuma 1,42 DQO/g SSV.
Problemas e tópicos de discussão P 655
Reator
Item Unidade 1 2 3
SSVLM no tanque de aeração MLSSV mg/L 3.000 3.000 3.000
Volume do tanque de aeração m3 1.000 1.000 1.000
Vazão influente m3/dia 5.000 5.000 5.000
Vazão de descarte de lodo m /dia
3
59 45 65
Concentração de SSV no lodo de descarte mg/L 8.000 8.000 8.000
Concentração de DQO solúvel no influente mg/L 400 400 400
7–22 Um processo de lodos ativados completamente misturado com decantação secundária e reciclagem de
lodo é utilizado para tratar um esgoto de laticínio com uma vazão de 1.000 m3/d com uma DQO de-
gradável no influente de 3.000 mg/L e DBO de 1.875 mg/L. A concentração de SSLM é 2.800, 3.300,
ou 3.500 mg/L (valor de SSLM a ser selecionado pelo instrutor). A relação SSVLM/SSLM é 0,80, a
concentração de SST no efluente é 20 mg/L, t é 24 horas, a concentração de SSLM é 10.000 mg/L, e
a vazão de lodo descartado da linha de reciclagem é 85,5 m3/dia. Utilizando a informação fornecida,
determine (a) o TRS do sistema, a relação F/M em g DBO/g SSVLMdia e a taxa de carga volumétrica
de DQO (kg/m3dia), (b) a síntese de biomassa observada em termos de g SST/g DBO e g SST/g DQO
e (c) a síntese celular, assumindo que b 0,10 g SSV/g SSVdia e fd 0,15 g SSV/g SSV.
7–23 Uma estação de lodos ativados convencional é operada com valores de TRS de 8, 10 ou 12 dias (valor
a ser selecionado pelo instrutor). O volume do reator é 8.000 m3 e a concentração do SSLM é 3.000
mg/L. Determine (a) a taxa de produção de lodo, (b) a vazão de lodo de descarte ao descartar do rea-
tor e (c) a vazão de descarte de lodo ao descartar da linha de reciclagem. Assuma que a concentração
de sílidos suspensos na reciclagem é de 10.000 mg/L e que a perda de sólidos no decantador secun-
dário é pequena, podendo ser descartada
7–24 Um processo de lodos ativados completamente misturado, com um decantador e reciclagem de lodo
recebe uma vazão influente de 2.000 m3/dia e concentração de particulados no influente de 400, 500
ou 600 mg SSV/L (valor a ser selecionado pelo instrutor) que é totalmente biodegradável. O volume
do reator de lodos ativados é de 500 m3. Os coeficientes biocinéticos para a degradação de particu-
lados (Equação 7–20) são kp 2,2 g SSV/g biomassadia e Kx 0,15 g SSV/g biomassa. Os coefi-
cientes de síntese de massa e de decaimento endógeno são 0,50 g biomassa/g SSV e 0,10 g SSV/g
SSVdia, respectivamente. Utilizando as informações fornecidas: (a) desenvolva o balanlo de massa
em regime permanente para a remoção de particulados no sistema de lodos ativados, (b) desenvolva
equações para as concentrações de particulados e de biomassa no tanque de aeração como função do
TRS (assuma que o efluente não contenha particulados degradáveis, que os particulados saiam do sis-
tema apenas no descarte de lodo e que a DQO solúvel é negligível), (c) determine as concentrações de
biomassa e de particulados no tanque de aeração a valores de TRS de 3, 5 e 10 dias, e (d) determine a
remoção percentual de particulados a 3, 5 e 10 dias.
7–25 Um processo de lodos ativados completamente misturado é operado com TRS de 10,5 dias, 12°C de
temperatura e com concentração de 3,500 mg/L de SSLM para produzir um efluente com concentra-
ção de N-NH4 de 1,0 mg/L. A taxa média de produção de lodo é 753 kg SST/dia, e a taxa de consumo
de oxigênio é de 1.225 kg/d incluindo o oxigênio necessário para nitrificação. A taxa de aeração (su-
primento de ar) é controlada para manter uma concentração de OD na bacia de aeração de 1,0 mg/L.
Se a demanda de oxigênio aumenta, a saída de ar do soprador de aeração aumenta automaticamente
para manter um OD de 1,0 mg/L. O operador da estação pensa sobre alterações do TRS e pergunta a
você que alterações podem ocorrer se o TRS é aumentado para 15 dias. Indique se os valores dos pa-
râmetros seguintes aumentarão (A), decrescerão (D) ou se permanecerão os mesmos (M) e apresente
razões para a sua seleção.
a. Taxa de produção de lodo, kg/dia
b. Taxa de consumo de oxigênio, kg O2/dia
c. Concentração de DQO solúvel biodegradável no efluente, mg/L
d. Concentração de SSLM no tanque de aeração, mg/L
e. Concentração de N-NH4 no efluente, mg/L
f. Concentração de N-NO2 no efluente, mg/L
656 P Capítulo 7 Fundamentos do tratamento biológico
7–26 Os coeficientes cinéticos seguintes (a ser selecionado pelo instrutor) são relativos a tratamento de
um esgoto municipal com uma DQO degradável influente de 300 mg/L e concentração influente de
SSVnb de 100 mg/L. Utilizando esses dados e assumindo que a concentração de DQO degradável do
efluente é negligível em comparação à quantidade de DQO removida, prepare gráficos de (a) síntese
celular observada (como g de SSV/g DQO) removido como função de TRS e (b) g de oxigênio uti-
lizado /g DQO removido como função de TRS. No gráfico da parte (a) mostre, também, a fração da
síntese de biomassa de resíduos celulares e do SSVnb do influente.
Grupos de coeficientes
Coeficiente Unidade 1 2 3
Y g SSV/g DQO 0,40 0,40 0,35
b g SSV/g SSVdia 0,10 0,08 0,12
fd g SSV/g SSV 0,10 0,15 0,15
7–27 Projete um processo de lodos ativados completamente misturado com reciclagem para tratar um es-
goto industrial com uma das seguintes características (a ser selecionada pelo instrutor) em condições
de pico mensal.
Esgoto
Item Unidade 1 2 3
Vazão m /dia
3
4.000 4.300 4.000
DBO mg/L 800 600 1.000
SSVnb mg/L 200 200 200
NKT mg/L 30 30 40
Fósforo total mg/L 8 8 6
Temperatura °C 15 15 15
Esgoto
Item Unidade 1 2 3
Vazão m3/dia 6.000 6.000 6.000
DBO biodegradável mg/L 300 400 500
SSVnb do influente mg/L 100 100 150
7–32 Considere um biofilme tratando uma corrente líquida contendo acetato e oxigênio dissolvido com
uma camada estagnada acima do biofilme. (a) Utilizando a relação estequiométrica desenvolvida para
a degradação biológica de acetato do Exemplo 7–4, determine a concentração máxima de acetato na
massa líquida que pode ser satisfeita antes que a degradação aeróbia no biofilme seja limitada pelo
fluxo superficial da taxa de oxigênio, onde as concentração de OD da massa líquida são 2,0, 3,0 ou
4,0 mg/L (valor de OD a ser selecionado pelo instrutor). (b) Compare esses resultados com os da
oxidação de N-NH4 no Exemplo 7–7. Porque a concentração de N-NH4 na massa líquida é muito mais
baixa à concentração de OD de 2,0 mg/L?
Dados:
Coeficiente de difusividade do acetato 0,9 cm2/dia
Coeficiente de difusividade de oxigênio 2,6 cm2/dia
7–33 Um sistema de lodos ativados tratando esgoto doméstico é operado com um tempo de retenção de
sólidos de 10 dias com um liquor misto à temperatura de 18°C. A nitrificação ocorreu durante muitas
semanas, com uma concentração de N-NH4 no efluente inferior a 1,0 mg/L. Após algum tempo, o
desempenho da nitrificação declinou com as concentrações de N-NH4 no efluente ultrapassando 10
mg/L. Na função de engenheiro do município, você foi convocado para investigar a causa do declínio
de desempenho e para recomendar ações que façam a qualidade do efluente atender às especificações.
Descreva as causas possíveis para o declínio da eficiência da nitrificação e como você avaliaria o
problema.
7–34 Utilizando os dados da Tabela 7–13, que valor de TRS é necessário para atingir a concentração de 1,0
mg/L de N-NH4 em regime uniforme, de um efluente de um sistema de nitrificação aeróbio com cres-
cimento suspenso a 20°C e de um sistema Anammox de crescimento suspenso a 30°C? Assuma que
o sistema anaeróbio não é limitado por oxigênio dissolvido e que o sistema Anammox não é limitado
por nitrito.
7–35 Utilizando as meias-reações da Tabela 7–6, calcule o equivalente de oxigênio de nitrito (g O2/gN-
-NO2) para a reação biológica com nitrito como receptor de elétrons em vez de oxigênio.
7–36 Um reator anóxico de crescimento suspenso é operado com um TRS de 5,0 dias, tratando o efluente
de um decantador de um processo de lodos ativados com nitrificação. Acetato é adicionado como
doador de elétron. Dados os seguintes coeficientes para acetato sob condições de redução de nitrato,
determine (a) quanto de acetato é necessário em kg/dia para remover a concentração influente de
N-NO3 de 40,5, 20,5 ou 30,5 g/m3 (a ser selecionado pelo instrutor) com uma vazão de tratamento de
4.000 m3/dia, (b) a taxa de produção de biomassa em kg/d. A concentração de acetato no efluente do
reator, com 5,0 dias de TRS é 2 mg/L. O N-NO3 do efluente é 0,50 mg/L. O nitrogênio para o cresci-
mento da biomassa vem do N-NO3 influente.
Y 0,3 g SSV/g DQO removido
b 0,08 g SSV/g SSVdia
Nitrogênio para o crescimento da biomassa = 0,12 g N/g de SSV da biomassa
Ignore a produção de resíduos de biomassa (fd 0). Qual é a DQO do acetato, isto é, g DQO/g ace-
tato Efetue um balanço de massa e uma expressão em regime permanente para a DQO de acetato do
reator, biomassa e concentração de N-NO3.
7–37 Dois reatores de laboratório completamente misturados, com crescimento suspenso e com reciclagem
de lodo, alimentados com o mesmo esgoto sintético são operados em paralelo com o mesmo TRS
aeróbio. Um reator possui uma sequência anaeróbia/aeróbia para promover a remoção biológica de
fósforo assistida, e o outro é operado apenas com a parte aeróbia. A vazão influente contém 100, 200
ou 300 mg/L de acetato (a ser selecionado pelo instrutor). O conteúdo de fósforo e a fração volátil dos
dois liquor mistos são como segue: a menor relação SSV/SST do reator para remoção biológica de
fósforo integra tanto polifosfato como cátions associados em seus produtos acumulados.
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Processos de tratamento com
crescimento em suspensão
REFERÊNCIAS 911
Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão P 671
GLOSSÁRIO
Termo Definição
Análise do fluxo de sólidos Método utilizado para calcular a área necessária para a sedimentação obstruída
com base na análise do fluxo mássico de sólidos.
Biomassa Massa total de sólidos, consistindo principalmente de matéria orgânica e micro-
organismos, presente no reator.
Biorreator com membranas (MBR) Sistema que combina um processo de crescimento em suspensão com uma unidade
de separação por membranas inserida no interior do tanque de aeração. A
separação sólido/líquido é realizada pelas membranas, que podem ser de micro
ou ultrafiltração.
Carga orgânica volumétrica Quantidade de DBO ou DQO alimentada no reator diariamente em função do seu
volume, expressa em kg DBO ou DQO/m3d.
Desnitrificação Processo biológico pelo qual o nitrato ou nitrito é reduzido para nitrogênio e outras
substâncias na forma gasosa.
DQO rapidamente biodegradável Substratos orgânicos biodegradáveis dissolvidos que são removidos pelas bactérias
(DQOrb) muito mais rapidamente do que a DQO coloidal ou particulada. A DQOrb impacta
a demanda especial de oxigênio, a eficiência de remoção do processo de RMFPB e
as taxas de desnitrificação.
Espuma nocardiana Camada espessa marrom de espuma biológica, causada por bactérias
filamentosas, que é formada na superfície dos reatores biológicos com aeração e
dos clarificadores secundários.
Fermentação Conversão de matéria orgânica em ácidos graxos voláteis na ausência de
oxigênio, nitrato e nitrito.
Modelos de simulação Modelos matemáticos, baseados em um conjunto de equações, utilizado para
avaliação dos efeitos da cinética e mudanças nas características do efluente sobre
o desempenho do processo de tratamento.
Nitrificação Processo biológico em duas etapas através do qual o nitrogênio, principalmente na
forma amoniacal, é convertido em nitrito e depois para nitrato.
Nitrificação e desnitrificação simultânea A remoção de nitrogênio ocorre no mesmo floco de lodo ativado ou no biofilme
(NdNS) em decorrência da nitrificação na camada externa aeróbia e da desnitrificação no
interior do floco ou biofilme devido à ausência de oxigênio livre e da presença de
nitrato ou nitrito.
Organismos acumuladores de fósforo Bactérias heterotróficas selecionadas nos processos que têm elevada capacidade
(PAOs) de armazenagem intracelular de fósforo.
Processo com crescimento em Processos de tratamento biológicos nos quais os micro-organismos responsáveis
suspensão pela conversão da matéria orgânica ou outros constituintes presentes no efluente em
gases e biomassa são mantidos em suspensão.
Processo de lodos ativados Processo biológico de tratamento que envolve a conversão de matéria orgânica
e/ou outros constituintes presentes no efluente em gases e tecido celular por uma
grande massa de micro-organismos aeróbios mantidos em suspensão sob agitação
e aeração. Os micro-organismos formam agregados na forma de flocos que são
separados do efluente tratado em um sedimentador (clarificador) e podem ser
recirculados para o reator biológico ou descartados.
Processo em série Sistema que utiliza mais de um reator ou compartimentos em série.
Processos aeróbios Processos biológicos de tratamento que ocorrem na presença de oxigênio
dissolvido, que é utilizado pelos micro-organismos aeróbios para as reações
de oxidação/redução a fim de produzir energia para o crescimento celular e
manutenção das células.
Processos anaeróbios Processos biológicos de tratamento que ocorrem na ausência de oxigênio, livre ou
combinado.
Processos anóxicos Processos biológicos de tratamento que ocorrem na ausência de oxigênio dissolvido
livre, nos quais o nitrato e o nitrito são utilizados como principais aceptores de
elétrons nas reações biológicas de oxidação/redução. A desnitrificação é um
exemplo de processo anóxico.
672 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
Termo Definição
Processos facultativos Processos biológicos de tratamento nos quais os micro-organismos podem
sobreviver na presença ou na ausência de oxigênio molecular.
Produção de lodo Quantidade de sólidos produzida durante o processamento biológico de um
efluente, incluindo os sólidos não biodegradáveis e a biomassa resultante da
conversão da matéria orgânica biodegradável.
Reator batelada sequencial (RBS) Um RBS possibilita o tratamento de efluentes de forma intermitente, com operações
de enchimento do reator, aeração, sedimentação do lodo e remoção do afluente
tratado. O processo de degradação biológica e a separação de sólidos ocorre no
mesmo tanque.
Remoção biológica de nutrientes (RBN) Termo aplicado para a remoção de nitrogênio e fósforo por processos biológicos
de tratamento.
Remoção biológica de fósforo assistida Remoção de fósforo por meio de uma capacidade extraordinária de armazenagem
(RBFA) por bactérias específicas em um arranjo de processos anaeróbio/aeróbio com
posterior separação de sólidos.
Sedimentação obstruída Sedimentação que ocorre quando há interferência entre os flocos durante a
sedimentação.
Sólidos em suspensão no liquor misto Quantidade de biomassa contida no reator biológico para possibilitar a
(SSLM) degradação da matéria orgânica presente no efluente a ser tratado.
Sólidos suspensos voláteis não Sólidos em suspensão presentes no afluente ao processo de lodos ativados que
biodegradáveis (SSVnb) são de origem orgânica, mas não são biodegradáveis. Esses sólidos impactam a
produção de lodo.
Taxa de aplicação superficial Relação entre a vazão afluente a um sistema de separação sólido-líquido
(sedimentador) e a sua área superficial (m3/m2ⴢd).
Taxa de conversão Biomassa produzida em função da quantidade de DBO ou DQO removida durante
o processamento biológico de um efluente.
Taxa de fluxo de permeado Relação entre a vazão de líquido através da membrana (permeado), por unidade
de área de membrana, expressa em L/m2ⴢh.
Tempo de retenção de sólidos (TRS) Período de tempo médio que os sólidos permanecem em um processo de tratamento
de efluentes com crescimento em suspensão, também conhecido como idade do
lodo.
bilidade de área para a sua instalação e onde os padrões de lançamento de efluentes tratados não
sejam muito restritivos.
Clarificador
primário
Afluente Clarificador
secundário
Efluente
Vista em planta do
Lodo tanque de aeração
Retorno de lodo ativado
(a) Lodo
(b) Lodo
Afluente
Ar
Efluente
FIGURA 8–1 Processos de lodo ativado com diferentes tipos de reatores: (a) diagrama esquemático de um processo de
fluxo pistonado e vista de um reator de fluxo pistonado, (b) diagrama esquemático de um reator de mistura completa e vista
de um reator de mistura completa e (c) diagrama esquemático de um reator batelada sequencial e vista de um reator batelada
sequencial.
Muitos processos de lodo ativado utilizados atualmente e aqueles que serão utilizados no fu-
turo podem incorporar a nitrificação, remoção biológica de nitrogênio e/ou remoção biológica de
fósforo. Geralmente, são utilizados reatores em série, operados em condições aeróbias, anóxicas
e anaeróbias. Os tipos de processos de lodo ativado utilizados (isto é, de fluxo pistonado, mistura
completa e batelada sequencial) estão ilustrados na Fig. 8–1 e são apresentados de forma resumida
abaixo.
Configurações do processo de fluxo pistonado. Desde que o processo de lodo ativado
passou a ser utilizado no início da década de 1920, e até o final de década de 1970, a configuração
mais comum foi aquela na qual um reator de fluxo pistonado com uma grande relação entre com-
primento e largura, maior que 10:1, era utilizado [ver Fig. 8–1(a)]. Considerando-se a evolução
do processo de lodo ativado, é importante observar que o lançamento de efluentes industriais no
sistema de coleta de esgotos domésticos aumentou no final da década de 1960. A utilização de pro-
cessos de tratamento com reatores de fluxo pistonado tornou-se problemática quando os efluentes
industriais passaram a ser tratados, em função dos efeitos tóxicos de alguns dos lançamentos.
Configuração do processo de mistura completa. O reator de mistura completa foi de-
senvolvido, em parte, devido ao maior volume, o que permite maior diluição e assim a mitigação
dos efeitos dos lançamentos tóxicos. O tipo mais comum de processo de lodo ativado na década
de 1970 e início da década de 1980 costumava ser o processo de mistura completa de um estágio
(LACM) [ver Fig. 8–1(b)], desenvolvido por McKinney (1962). Para algumas aplicações de nitrifi-
cação, sistemas de dois estágios (cada estágio consistindo de um tanque de aeração e clarificador),
eram utilizados com o primeiro estágio projetado para remoção de DBO seguido pelo segundo
estágio para nitrificação.
Comparando as configurações de fluxo pistonado e de mistura completa. Compa-
rando-se o processo de lodo ativado em reator de fluxo pistonado [ver Fig. 8–1(a)] com o reator de
mistura completa [ver Fig. 8–1(b)], os regimes de mistura e a geometria dos reatores são bastante
diferentes. No processo de LACM, a mistura do conteúdo do reator é suficiente para que as concen-
trações dos constituintes do liquor misto, substâncias solúveis (DBO, DQO, N-NH4) e sólidos em
suspensão e coloidal não variam significativamente no tanque de aeração. O processo com fluxo
pistonado envolve a utilização de um tanque de aeração relativamente longo e estreito, de maneira
que a concentração das substâncias solúveis e sólidos coloidais e em suspensão varie ao longo
do comprimento do reator. Embora a configuração dos processos que utilizam reatores longos e
estreitos seja comumente chamada de fluxo pistonado, esse tipo de processo não existe na prática.
Dependendo do tipo do sistema de aeração, pode ocorrer a mistura do liquor misto e, dependendo
da configuração do reator e da cinética de reação no sistema, um processo de fluxo pistonado pode
ser descrito, de maneira mais apropriada, como uma série de reatores de mistura completa, como
discutido no Capítulo 4.
Configuração do processo em batelada sequencial. Com o desenvolvimento de con-
troladores lógicos programáveis (CLP), simples e de baixo custo, e a disponibilidade de sensores
de nível e válvulas com atuação remota, o processo de tratamento com reator batelada sequencial
(RBS) [ver Fig. 8–1(c)] passou a ser amplamente utilizado a partir do final da década de 1970,
principalmente para o tratamento de efluentes gerados em pequenas comunidades e instalações
industriais com geração intermitente de efluentes. Mais recentemente, os RBS passaram a ser
utilizados em cidades maiores. O RBS é um sistema que envolve a utilização de um único reator
de mistura completa, no qual ocorrem todas as etapas de tratamento. O liquor misto permanece
no reator durante todos os ciclos de tratamento, o que elimina a necessidade de um sedimentador
independente.
Outros processos de lodo ativado. Outros processos de lodo ativado que têm sido utili-
zados, com as principais datas de interesse entre parênteses, incluem o valo de oxidação (1950),
estabilização por contato (1950), processo Krause (1960), lodo ativado com oxigênio puro (1970),
processo Orbal (1970) e aeração em poços profundos (1970).
676 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
Descarte
Reciclo interno de sólidos
Bombas de
Compartimento Módulos de
permeado
das membranas membranas
(a) (opcional) (b) submersas
(c) (d)
FIGURA 8–2 Reator com membranas submersas (MBR). Sistema de lodos ativados com membranas submersas para a separa-
ção sólido-líquido: (a) seção transversal de um sistema MBR com um compartimento separado para as membranas, (b) vista em
planta de um sistema MBR, (c) vista dos cassetes de membranas sendo instalados em um compartimento separado do reator e (d)
vista de um compartimento separado para os módulos de membrana.
8–1 Introdução ao processo de lodos ativados P 677
Reciclo interno
Anaeróbio
Afluente Efluente
Anóxico Aeróbio Anóxico Aeróbio
(a) (b)
FIGURA 8–3 Processo Bardenpho modificado, com reator compartimentado para a remoção biológica de nitrogênio e remo-
ção biológica de fósforo assistida: (a) diagrama esquemático do reator compartimentado e (b) vista de uma estação de tratamento
Bardenpho modificada em Palmetto, FL; a primeira deste tipo nos EUA construída em 1979. (De H. D. Stensel.) (Coordenadas
27.5256 N 82.5959 W, vista a uma altitude de 360 m, desde então um valo de oxidação foi construído.)
dos constituintes no efluente: S, para solúvel, C, para coloidal, X, para particulado, e T para o total
dos constituintes individuais, ou seja, a soma de S, C e X.
Os subscritos S e I são utilizados para indicar se o constituinte é biodegradável (S), ou não
biodegradável/inerte (I). Outros subscritos são utilizados para indicar o constituinte específico nas
respectivas formas de S (solúvel), C (coloidal) e T (total). Nos modelos de simulação, o material
carbonáceo é quantificado em termos de DQO. Os termos apresentados na Tabela 8–2 são discuti-
dos e aplicados nos próximos parágrafos. Ao longo deste capítulo, a concentração dos constituintes
é expressa em miligramas por litro (mg/L). Contudo, para facilitar os cálculos nos exemplos apre-
sentados, as concentrações dos constituintes são expressas em grama por metro cúbico (g/m3), o
que elimina uma etapa de conversão de unidade.
Constituintes carbonáceos. Os constituintes carbonáceos, medidos com base na análise de
DBO ou DQO, são críticos para o projeto de sistemas de lodos ativados. Concentrações elevadas
de DBO ou DQO degradável podem resultar em: (1) maior volume do tanque de aeração, (2)
necessidade de maiores taxas de transferência de oxigênio e (3) maiores taxas de produção de
TABELA 8–2 Definição dos termos adotados para caracterizar os constituintes presentes nos efluentes e que são
utilizados para a análise e projeto de processos biológicos de tratamento
Constituintea,b Símboloc Definição
DBO
DBO Demanda bioquímica total de oxigênio em 5 dias
BODs Demanda bioquímica de oxigênio solúvel (5 dias)
DBOU Demanda bioquímica de oxigênio última
DQO
DQOT DQOT Demanda química de oxigênio total
DQOb Demanda química de oxigênio biodegradável
DQOp Demanda química de oxigênio particulada
DQOs Demanda química de oxigênio solúvel
DQOnb Demanda química de oxigênio não
biodegradável
DQOrb Ss Demanda química de oxigênio rapidamente
biodegradável
DQObs DQO biodegradável solúvel
DQObCOL XCOL DQO biodegradável coloidal
DQOlb XS DQO com biodegradação lenta
DQObp XSP DQO biodegradável particulada
DQOnbp XI DQO não biodegradável particulada
DQOnbs SI DQO não biodegradável solúvel
Nitrogênio
NKT Nitrogênio Kjeldahl total
NKTb NKT biodegradável
NKTs NKT solúvel (filtrável)
NO Nitrogênio orgânico
N-NH4 SNH4 Nitrogênio amoniacal
NOb Nitrogênio orgânico biodegradável
NOnb Nitrogênio orgânico não biodegradável
NOp Nitrogênio orgânico particulado
NObp XNS Nitrogênio orgânico biodegradável particulado
NOnbp XNI Nitrogênio orgânico não biodegradável
particulado
NOs Nitrogênio orgânico solúvel
NObs SNS Nitrogênio orgânico biodegradável solúvel
NOnbs Nitrogênio orgânico não biodegradável solúvel
PT Fósforo total
PO4 SPO4 Ortofosfato
Pbp XP Fósforo biodegradável particulado
Pnbp XPI Fósforo não biodegradável particulado
Pbs SP Fósforo biodegradável solúvel
Pnbs SPI Fósforo não biodegradável solúvel
8–2 Caracterização do efluente P 681
lodo. Enquanto a DBO é o parâmetro mais utilizado para caracterizar os constituintes carbonáceos
presentes no efluente, a DQO é o parâmetro mais utilizado para caracterizar os constituintes car-
bonáceos biodegradáveis na maioria dos modelos de simulação computacional. Nesses modelos,
um balanço de massa da DQO é utilizado para avaliar a conversão da DQO carbonácea no sistema,
considerando-se o montante das parcelas oxidada, na saída do sistema e nos sólidos descartados
como biomassa, ou SSV não degradados. As várias formas de DQO no efluente são mostradas na
Fig. 8–4 e definidas na Tabela 8–2. Os métodos de determinação e as quantidades relativas das
diversas formas da DQO são ilustradas na Fig. 8-5.
Frações da DQO. Diferente da DBO, uma parcela da DQO não é biodegradável, de maneira
que esse parâmetro é dividido em duas categorias: biodegradável e não biodegradável. A próxima
informação de interesse é saber quanto da DQO de cada uma dessas categorias está dissolvida
(solúvel), e na forma particulada, relativa aos sólidos coloidais e em suspensão. A DQO não biode-
gradável solúvel (DQOnbs) estará presente no efluente final do sistema de lodos ativados e a DQO
não biodegradável particulada irá contribuir para a formação do lodo total.
Utilizando a nomenclatura da Tabela 8–2, a DQO total pode ser apresentada como a soma dos
constituintes obtidos na caracterização do efluente a ser tratado.
DQOT SS XS SI XI (8–2)
DQO total
DQO DQO
biodegradável não biodegradável
Rapidamente Lentamente
Não biodegradável Não biodegradável
biodegradável biodegradável
(solúvel) (particulada)
(solúvel) (particulada)
FIGURA 8–4 Fracionamento da DQO no efluente. As informações sobre as frações da DQO são utiliza-
das nos modelos matemáticos para simulação de processos de lodos ativados.
682 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
AGV solúveis
biodegradáveis
DQO
Outros compostos solúveis Filtrada
biodegradáveis floculada
DQO
filtrada
Solúvel não biodegradável
Coloidal biodegradável
Coloidal não biodegradável
DQOT
Particulada
biodegradável
Particulada
não biodegradável
FIGURA 8–5 Representação esquemática dos componentes da DQO e os métodos de separação utiliza-
dos para a obtenção da sua concentração.
A obtenção das frações de DQO biodegradável, que são medidas como rapidamente biode-
gradável (DQOrb), solúvel e lentamente biodegradável particulada, é extremamente importante
para o projeto de sistemas de lodos ativados. A parcela de DQOrb é rapidamente assimilada pela
biomassa, enquanto a DQO coloidal e particulada deve ser dissolvida pelas enzimas extracelulares,
para serem assimiladas com taxas significativamente menores. A fração de DQOrb tem um efeito
direto sobre a cinética e desempenho do processo de lodos ativados. Os processos que são afetados
pelo valor da DQOrb são apresentados na Tabela 8–3.
Os processos de lodo ativado conduzidos em reatores de fluxo pistonado convencional ou rea-
tores em série irão exigir uma maior taxa de transferência de oxigênio nas regiões onde o efluente
a ser tratado é alimentado, onde o valor da DQOrb é maior. O valor da DQOrb tem um efeito
significativo sobre a taxa de desnitrificação nas regiões pré-anóxicas nos processos biológicos de
remoção de nitrogênio, nas quais ela é consumida antes da região de aeração. Quanto maior a quan-
tidade de DQOrb, maior será a taxa de redução de nitrato. Para os processos de remoção biológica
de fósforo assistida (PRBFA), a DQOrb pode ser rapidamente convertida em acetato por meio de
fermentação na região anaeróbia, para assimilação pelas bactérias armazenadoras de fósforo. O
valor da DQOrb no afluente ao sistema de tratamento deve ser conhecido para que seja possível
prever com maior precisão o desempenho do processo de remoção biológica de fósforo assistida.
Uma etapa adicional na caracterização da DQO afluente é ilustrada na Fig. 8–4. A DQOrb
é constituída de ácidos graxos voláteis (AGV) e de complexos orgânicos solúveis, presentes no
afluente, que podem ser fermentados para AGV. Efluentes sépticos, originados em sistema de cole-
ta das regiões de clima quente e com pouca inclinação, irão apresentar maior concentração de AGV.
O desempenho dos PRBFA é melhorado se as concentrações de AGV no afluente forem maiores.
Relação DQOb/DBO. Os dados de análises de DBO são necessários para obter o valor total de
DQO biodegradável. Grady et al. (1999) observaram que a relação entre DQOb e DBO é superior à
relação entre DBO última e DBO, pois nem toda a DQOb é oxidada no ensaio de determinação da
DBO. Parte da DQOb é convertida em biomassa, permanecendo como detrito de células e células
ativas ao final do tempo de incubação necessário para a obtenção da DBOU. Para efluentes domés-
ticos, com uma relação DBOU/DBO de 1,5, a relação entre DQOb/DBO pode variar entre 1,6 e
1,7, dependendo da produção de biomassa e fração de detritos de células. A relação DQOb/DBO
pode ser estimada utilizando a Equação 8-4, que é baseada no fato da DQOb consumida no ensaio
para a sua determinação ser igual ao oxigênio consumido (DBOU), mais a quantidade de oxigênio
equivalente aos detritos de células remanescentes [DQOb DBOU 1,42(fd)(YH)DQOb], após
um longo período de incubação.
(8–4)
NKT
N-amoniacal N-orgânico
FIGURA 8–6 Fracionamento dos compostos nitrogenados presentes no efluente. Os dados sobre as
frações de nitrogênio são utilizados no projeto detalhado dos processos de nitrificação e desnitrificação.
684 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
e nitrificação. O nitrogênio orgânico está presente nas formas solúvel e particulada e uma parcela
de cada uma dessas formas não é biodegradável. O nitrogênio orgânico particulado degradável
será removido mais lentamente que o nitrogênio orgânico solúvel degradável, já que uma reação
de hidrólise é necessária. Admite-se que a fração de nitrogênio orgânico não biodegradável seja
equivalente a 6 7% dos SSV não biodegradáveis, expressos como DQO, no afluente (Melcer et
al., 2003). O nitrogênio não biodegradável particulado será capturado nos flocos de lodo ativado e
será descartado com o excesso de lodo, mas o nitrogênio não biodegradável solúvel estará presente
no efluente do clarificador secundário. O nitrogênio orgânico não biodegradável solúvel contribui
para a concentração de nitrogênio total no efluente final e varia entre 1 e 2 mg/L como N (Parkin e
McCarty, 1981; Urgun-Demirtus et al., 2008). Uma parcela do nitrogênio orgânico não biodegradá-
vel solúvel (0,1 a 0,3 mg/L em reatores com TRS de 8 a 15 dias) pode ser resultante da respiração
endógena (Czerwionka et al., 2012).
Alcalinidade. A concentração de álcali é uma característica relevante do efluente e afeta o
desempenho dos processos biológicos de nitrificação. Uma quantidade adequada de álcali é neces-
sária para que seja possível obter a nitrificação completa. Em alguns casos, quando não se dispõe
de uma amostra de efluente, a alcalinidade total pode ser estimada a partir de dados da alcalinidade
da água potável mais a alcalinidade resultante da utilização de produtos específicos nas residências
(ver Tabela 3–16).
(8–5)
(8–6)
É necessário um cuidado especial para a manipulação das amostras e a realização das aná-
lises para obter dados confiáveis de concentração de SSVnb. Um número adequado de amostras
compostas deve ser obtido para assegurar que os resultados representem de maneira adequada as
características do efluente. As amostras devem ser homogeneizadas de maneira adequada antes da
retirada de alíquotas para a realização das análises e para pequenos volumes; as pipetas utilizadas
não devem possuir pontas que possam obstruir a passagem de sólidos. Quando pequenos volumes
de amostras são utilizados, no caso da realização das análises instrumentos analíticos específicos,
pode ser necessário o pré-tratamento da amostra em um misturador de alta velocidade. Os filtros
utilizados para a obtenção de amostras para as análises de DQO e DBO solúveis devem ter diâme-
tro de poro similar aos filtros utilizados para as análises de SST/SSV.
Uma abordagem simplificada, utilizada em substituição ao procedimento descrito acima, é ba-
seada na hipótese de que a relação entre a massa de DQO e a massa de SSV é a mesma para os SSV
biodegradáveis e não biodegradáveis. Com isto, os SSVnb podem ser calculados com a utilização
das equações abaixo.
(8–7)
(8–8)
(8–9)
tiva da concentração de SSVnb. A fração de nitrogênio nos SSV pode ser estimada com a utilização
das equações abaixo:
(8–10)
(8–11)
Características do afluente:
Solução
1. Calcule a DQO biodegradável (DQOb) utilizando a Eq. (8–13).
2. Cálculo da DQOnbp.
a. Calcular a DQOnb com a Eq. (8–12).
4. Calcule os SSVnb.
a. Calcule a relação SSVDQOT com a Eq. (8–8).
(continua)
688 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
(continuação)
6. Calcule o NOnbp.
a. Calcule o teor de N orgânico nos SSV com a Eq. (8–10).
de contralavagem de filtros e o efluente dos lavadores de gases dos sistemas de controle de odor.
Dependendo da fonte, pode ocorrer um aumento significativo nas cargas de DBO, SST e N-NH4
no afluente a ser tratado. Os valores das concentrações de DBO e SST que podem ser atingidos nas
correntes de recirculação originadas em várias operações e unidades de processamento de sólidos
são dadas na Tabela 15–1 no Capítulo 15.
Comparada com o afluente ou efluente do clarificador primário, a relação DBO/SSV das cor-
rentes de recirculação é, geralmente, muito menor. Além disso, uma carga significativa de N-NH4
pode ser retornada para a entrada da estação de tratamento, a partir das operações associadas com o
processo de digestão anaeróbia. O clarificado ou filtrado das operações de desaguamento de lodos
digeridos por processo anaeróbio pode apresentar concentrações de N-NH4 variando entre 1000 e
2000 mg/L. Assim, a carga de amônia presente na corrente de retorno, que representa 0,5% da va-
zão afluente, pode resultar em um aumento de 10 a 20% na carga de NKT no afluente ao processo
de lodo ativado.
Em todos os casos, é importante realizar um balanço de massa para as vazões e constituintes
relevantes para o processo de lodos ativados, como DBO, SST/SSV, compostos nitrogenados e fós-
foro. O tratamento específico das correntes de recirculação é considerado no Capítulo 15.
8–3 Conceitos básicos para escolha, projeto e controle dos processos de tratamento P 689
TABELA 8–4 Considerações gerais para a seleção do tipo de reator com crescimento em suspensão
Fator Descrição
Exigência de tratamento As exigências de tratamento e a escolha do processo podem ser categorizadas de acordo
com os padrões de tratamento, que podem variar do sistema secundário para a remoção
de DBO, nitrificação para atender ao padrão de lançamento de amônia, processos
anóxico-aeróbios para possibilitar a remoção de nitrogênio e remoção de fósforo.
Exigências futuras de tratamento As necessidades futuras para tratamento podem ter um impacto na escolha atual do
processo. Por exemplo, se o reúso de água for uma opção no futuro, a escolha do processo
deve favorecer um projeto que possa acomodar, com facilidade, unidades de remoção de
nitrogênio e material particulado do efluente final por filtração.
Sedimentabilidade do lodo Um projeto de lodo ativado seletor pode ser utilizado para o controle do crescimento
de bactérias filamentosas, que dificultam a sedimentação e o adensamento do lodo nos
clarificadores secundários. Alguns projetos de seletores são inerentes nos processos de
remoção de nitrogênio e fósforo.
Efeito das reações cinéticas Reatores na configuração de fluxo pistonado ou na mistura completa, com volumes
similares, têm sido comumente utilizados nos projetos para a remoção de DBO, uma vez
que ambos requerem um baixo TRS para propiciar a formação de um lodo com boas
características de sedimentação. Projetos de reatores em série, ou de fluxo pistonado,
podem se beneficiar das vantagens da cinética de reação para a nitrificação, ou tanques
pré-anóxicos com menor volume que aquele necessário para um único reator de mistura
completa. Tais projetos requerem que o equipamento de aeração forneça uma elevada
taxa de transferência de oxigênio no primeiro estágio, ou na entrada do reator de fluxo
pistonado, para atender a demanda de remoção de DBO e nitrificação. O projeto do
equipamento de aeração deve levar em consideração as diferentes taxas de aeração para
atendimento das demandas ao longo de toda a extensão dos reatores. A demanda de
oxigênio é menos variável e menor nos reatores de mistura completa.
Características do afluente As características do afluente são afetadas pela contribuição de fontes domésticas,
industriais e infiltrações na rede. As variações nas características do efluente a ser tratado,
devido aos eventos de chuva ou cargas sazonais, podem afetar a escolha do processo. A
alcalinidade e o pH do afluente também são relevantes para os processos de nitrificação e
remoção biológica de fósforo assistida.
Condições ambientais locais A temperatura também é uma condição ambiental relevante que afeta o desempenho
do tratamento, e as constantes cinéticas diminuem em baixas temperaturas. O porte da
instalação e a equipe de operação também são importantes, sendo que para instalações
de pequeno porte e com um número menor de operadores, os processos mais robustos
em relação às variações da qualidade do efluente e mais simples de operar são mais
adequados. As questões estéticas de unidades de tratamento próximas a áreas ocupadas
são uma preocupação e podem afetar a escolha do processo de tratamento.
Substâncias tóxicas ou inibidoras Os padrões de pré-tratamento de efluentes industriais e demais exigências legais propiciam
uma proteção razoável do processo biológico contra as perturbações causadas por
substâncias tóxicas ou inibidoras presentes nos efluentes lançados na rede de coleta. Caso
exista potencial de choques por cargas tóxicas, deve-se considerar a utilização de reatores
de mistura completa com fatores de segurança adequados.
Espaço disponível A falta de espaço para as novas instalações ou para a atualização de unidades existentes
limita as opções para os processos de tratamento que podem ser considerados. Reatores
biológicos com membranas submersas, processos de lodo ativado com crescimento
aderido e filtros biológicos aerados são bons candidatos para aplicações com limitação de
espaço.
Custos Os custos de instalação e operação são fatores relevantes para a seleção do tipo e
tamanho dos reatores biológicos. Como as unidades de sedimentação integram os
processos de lodos ativados, a escolha do reator e da unidade de separação de sólidos
devem ser consideradas simultaneamente.
8–3 Conceitos básicos para escolha, projeto e controle dos processos de tratamento P 691
Antes da década de 1970, a ocorrência de bactérias filamentosas era considerada uma conse-
quência inevitável do tratamento de efluentes por lodo ativado, mas o trabalho desenvolvido por
Chudoba et al. (1973), utilizando reatores de lodo ativado completamente misturada e reatores em
série, resultou no desenvolvimento de um conceito de projeto de reatores conhecido como seleto-
res, que podem ser utilizados para o controle de bactérias filamentosas e melhorar as características
de sedimentação do lodo. Em razão do impacto dos seletores na operação do processo de lodo
ativado, a sua utilização nos projetos de sistemas de tratamento por lodos ativados é uma prática
comum. Os tipos de seletores e seus projetos são abordados em detalhes na Seção 8–4.
Relações cinéticas. Como apresentado no Capítulo 7, as relações cinéticas são utilizadas para
calcular as taxas de crescimento de biomassa e utilização de substrato, e para definir o desempenho
do processo de tratamento. A obtenção das relações cinéticas relevantes para o projeto de sistemas
de lodo ativado pode ser encontrada no Capítulo 7 e a sua utilização é demonstrada para vários
projetos neste capítulo.
Escolha do tempo de retenção de sólidos e critério de carga. Certos projetos e parâme-
tros operacionais distinguem os processos de lodo ativado. Os parâmetros comumente utilizados
são o tempo de retenção de sólidos (TRS), relação entre alimento e micro-organismos (A/M), do
inglês, food to microorganism (F/M), e carga orgânica volumétrica. Enquanto o TRS é o parâmetro
básico para projeto e operação, os valores da relação A/M e da carga orgânica volumétrica são úteis
para a comparação de dados históricos e condições operacionais típicas observadas. A relação A/M
e a carga orgânica volumétrica são descritas no Capítulo 7.
Tempo de retenção de sólidos. O TRS, na prática, representa o período médio de tempo que o
lodo é mantido no sistema. Como já apresentado no Capítulo 7, o TRS é o parâmetro mais relevante
para o projeto e operação do processo de lodo ativado, já que ele afeta o desempenho do processo de
tratamento, o volume do tanque de aeração, a produção de lodo e a demanda de oxigênio. Para a re-
moção de DBO, os valores do TRS variam, geralmente, entre 3 e 5 dias, dependendo da temperatura
do liquor misto. Entre 18 e 25°C, um TRS próximo de 3 dias é necessário, quando se deseja remover
apenas a DBO e inibir a nitrificação, o que reduz a demanda de oxigênio associada. Para limitar a
nitrificação, algumas estações de tratamento por lodo ativado têm sido operadas com valores de TRS
de 1 dia ou menos. A 10°C, valores de TRS variando entre 5 e 6 dias são necessários para remover
somente a DBO. A influência da temperatura e de outros fatores sobre o TRS, em várias aplicações,
para tratamento de efluentes pelo processo de lodo ativado é resumida na Tabela 8–5.
TABELA 8–5 Valores mínimos para o TRS para o tratamento de efluentes pelo processo de
lodo ativadoa
Objetivo do tratamento Faixa do TRS, d Fatores que afetam o TRS
Remoção de DBO solúvel de 1–2 Temperatura
efluentes domésticos
Conversão de particulados 2–5 Temperatura
orgânicos no efluente doméstico
Obtenção de biomassa floculenta 2–3 Temperatura
para o tratamento de efluente
doméstico
Nitrificação completa 3–18 Temperatura/substâncias
inibidoras
Remoção biológica de fósforo 2–4 Temperatura
Digestão aeróbia de excesso de 20–40 Temperatura
lodo ativado
Degradação de compostos 5–50 Temperatura/bactérias
xenobióticos específicas/ compostos presentes
a
O TRS é baseado no volume aeróbio.
692 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
1,1 1,3
Produção de lodo Y, kgSSV/kg DBO removida
FIGURA 8–7 Produção líquida de sólidos em função do tempo de retenção de sólidos (TRS) e temperatura: (a) com tratamento
primário e (b) sem tratamento primário.
de biomassa pela maior taxa de respiração endógena. A produção é reduzida com o aumento da
temperatura, como resultado de uma maior taxa de respiração endógena em temperaturas mais
elevadas. A produção de lodo é maior quando não se utiliza o tratamento primário, uma vez que
uma maior quantidade de SSVnb permanece no afluente ao reator biológico. O fator de correção
de temperatura, , para a respiração endógena [ver Eq. (2–25)], é 1,04 entre 20 e 30°C, e 1,12 entre
10 e 20°C. O valor de igual a 1,04 foi adotado neste livro para estimar o efeito da temperatura no
decaimento endógeno.
Produção de lodo com base nas características do efluente. Com uma caracterização adequa-
da do efluente a ser tratado, é possível fazer uma estimativa mais precisa da produção de lodo. A
equação apresentada a seguir, baseada na Eq. (7–54) do Capítulo 7, considera o crescimento de
biomassa heterotrófica, detritos de células do decaimento endógeno, biomassa de bactérias ni-
trificantes e SSVnb, que pode ser utilizada para estimar a produção de lodo. Os subscritos H e n
são utilizados para distinguir os coeficientes de síntese e decaimento de bactérias heterotróficas e
nitrificantes.
(8–20)
e a fração de SSV da biomassa é igual a 0,85, com base na composição celular dada na Tabela 7–4.
Assim, a Eq. (8–20) pode ser modificada para o cálculo da produção de sólidos em função do SST:
(8–21)
A massa diária de sólidos nos tanques de aeração é calculada a partir do TRS. A produção diária de
lodo pode ser estimada com o uso das Eqs. (7–56) e (7–57).
Pela escolha de uma concentração adequada de SSLM, o volume do tanque de aeração pode
ser calculado com a utilização da Eq. (7–57). A concentração de SSLM a ser adotada varia de 1200
a 4000 mg/L, mas deve ser compatível com as características de sedimentação do lodo e do projeto
do clarificador, como será discutido na Seção 8–10.
Demanda de oxigênio. O oxigênio necessário para a degradação biológica da matéria orgâ-
nica carbonácea é equivalente à quantidade de DQOb oxidada para fornecer energia durante o con-
sumo de DQOb para síntese celular mais a quantidade de oxigênio consumida durante a respiração
endógena pela biomassa produzida. O cálculo da demanda de oxigênio para um sistema de lodo
ativado em reator de mistura completa [ver Fig. 8–8(a)] envolve um simples balanço de massa para
obter a remoção de DQO pelo sistema, que é equivalente ao oxigênio utilizado, mais a DQOb no
excesso de biomassa produzida. A biomassa produzida (Px,bio) é a soma das parcelas A e B da Eq.
(8-20) e, assim, a demanda total de oxigênio, Ro, pode ser obtida pelas Eq. 7-61 como mostrado no
Capítulo 7, o que resulta na Eq. 8.22.
(7–61)
(8–22)
Como uma aproximação, apenas para a remoção de DBO, a demanda de oxigênio varia entre 0,90
e 1,3 kg O2/kg DBO removida para TRS variando de 5 a 20 dias, respectivamente (WEF, 2010).
QR Qw
Qw, S, N Qw, S, N
(a) PX bio (b) PX bio
FIGURA 8–8 Diagramas esquemáticos mostrando os componentes utilizados na avaliação da demanda de oxigênio para um
sistema de lodo ativado com reator de mistura completa, de um estágio e múltiplos estágios: (a) reator de um estágio e (b) reatores
em série.
8–3 Conceitos básicos para escolha, projeto e controle dos processos de tratamento P 695
Como indicado na Eq. (8–23), NOx é a quantidade de NKT oxidada a nitrato. Um balanço
de massa para o nitrogênio no sistema, considerando o NKT no afluente, o nitrogênio removi-
do para síntese de biomassa e o nitrogênio não oxidado no efluente é utilizado para calcular o
NOx. A menos que um estudo de caracterização adequado seja realizado para a determinação
do nitrogênio não biodegradável particulado e o nitrogênio solúvel (NOnbp e NOnbs, esses
componentes serão ignorados. Neste caso, a concentração de NOx será ligeiramente menor (5 a
15%), obtendo-se uma estimativa mais conservativa da demanda de oxigênio com a utilização
da Eq. (8–23). O balanço de massa de nitrogênio baseado na hipótese de que a biomassa, que
pode ser representada pela formula C5H7NO2, contém 0,12 g N/g biomassa, pode ser expresso
como segue:
A Eq. (8–24) pode ser resolvida para a concentração de NOx pela estimativa da concentração
de N-NH4 no projeto do processo de nitrificação.
Demanda de oxigênio para sistemas de múltiplos estágios. Para sistemas de lodo ativado com
reatores biológicos em série, o cálculo da demanda de oxigênio em cada reator é diferente e mais
complexo do que aquele apresentado. A demanda de oxigênio é maior no primeiro estágio dos sis-
temas de lodo ativado com reatores em série [ver Fig. 8–8(b)] e é reduzida nos estágios subsequen-
tes. A quantidade de oxigênio em cada estágio é função da (1) taxa de DQOb solúvel e particulada
removida, (2) taxa de N-NH4 oxidada e (3) taxa de oxigênio utilizado para respiração endógena.
Por exemplo, o valor de Ro para o reator 2 mostrado na Fig. 8–8(b) é calculado pela Eq. (8-25):
(8–25)
A demanda de oxigênio para cada estágio não pode ser obtida sem o cálculo inicial da DQOb
solúvel e particulada, da biomassa e da concentração de N-NO3 em cada estágio, admitindo-se que
a concentração de N-NO2-N é desprezível. Esses valores podem ser obtidos com as equações de
balanço de massa para cada constituinte, mas os modelos matemáticos, discutidos na Seção 8–4,
possibilitam um método de solução mais eficiente.
Como uma estimativa para o projeto de um sistema de lodos ativados de três estágios, tratando
esgoto doméstico, a obtenção da demanda total de oxigênio pode ser feita com a utilização da Eq.
(8–23). Com isto é possível adotar que a distribuição da demanda de oxigênio para os reatores 1, 2
e 3 é de 60, 25 e 15%, respectivamente.
A demanda de oxigênio para um reator de lodo ativado irá variar ao longo do dia em função
da variação da carga de matéria orgânica e nutrientes. A taxa horária de consumo de oxigênio pode
ser 1,3 a 1,8 vezes a taxa de consumo baseada na carga média diária, dependendo da magnitude das
variações diárias nas concentrações de DBO e NKT e vazão do afluente.
Necessidade de nutrientes. Se o sistema biológico não estiver operando de forma adequada,
é necessário avaliar se as concentrações de nutrientes estão adequadas. Como discutido nos Ca-
pítulos 2 e 7, os principais nutrientes são o nitrogênio e o fósforo. Utilizando-se a fórmula geral,
C5H7NO2, para a composição da biomassa celular, a quantidade de nitrogênio necessária para a
operação adequada do sistema será de 12,4% em massa, enquanto a necessidade de fósforo é de
1,5 a 2,0% em relação à biomassa celular. Esses valores são apenas para referência, uma vez que a
distribuição percentual de nitrogênio e fósforo no tecido celular varia com o TRS do sistema e as
condições ambientais. A quantidade de nutrientes necessária pode ser estimada com base na taxa
diária de produção de biomassa [termos A, B e C da Eq. (8–21)]. É importante observar que pode
ocorrer limitação de nutrientes quando as concentrações de nitrogênio inorgânico, expresso como
N, e ortofosfato, como P, forem inferiores a 0,1 mg/L (de Barbadillo et al., 2006). Como regra ge-
ral, para TRS superiores a 7 dias, a relação mássica entre DBO:Nitrogênio:Fósforo deverá ser de
100:5:1, para que não ocorram nutrientes em excesso.
Demanda de outros produtos químicos. Além dos nutrientes, um alcalinizante é o princi-
pal produto químico para o processo de nitrificação. A quantidade de alcalinizante necessária para
a nitrificação, levando-se em consideração o crescimento celular, é de aproximadamente 7,14 g
CaCO3/g N-NH4 (ver Eq. 7–91 no Capítulo 7). Além da alcalinidade necessária para a nitrificação,
deve-se utilizar uma quantidade adicional de alcalinizante para manter o pH entre 6,8 e 7,4. Geral-
mente, essa quantidade adicional de alcalinizante varia entre 70 e 80 mg/L como CaCO3, com base
na relação de equilíbrio entre o CO2 na fase gasosa, alcalinidade a bicarbonato e pH.
Separação sólido-líquido do liquor misto. A separação sólido-líquido do liquor misto do
lodo ativado e o retorno de lodo ativado para o reator biológico são críticos para o funcionamento
e desempenho do processo. Os dois métodos utilizados para a separação sólido-líquido são a se-
dimentação gravitacional nos clarificadores secundários e os sistemas de membranas. Ambos os
métodos permitem o adensamento dos sólidos para possibilitar a recirculação do lodo para o reator
biológico e, também, o descarte de uma parcela mas são distintos em relação à concentração de
SST no efluente final. Para sistemas de tratamento de efluentes com remoção biológica de nutrien-
tes bem projetados, a concentração de SST no efluente do clarificador secundário pode variar entre
4 e 10 mg/L. O efluente de um sistema de separação por membranas, denominado permeado, não
apresenta quantidade mensurável de SST, quando se utilizam membranas com tamanho de poro
de, aproximadamente, 0,02 ou 0,40 mm, dependendo da membrana selecionada. Cada um desses
métodos de separação pode influenciar o projeto e desempenho do sistema de tratamento em fun-
ção das características do lodo ativado no liquor misto. Informações específicas sobre o projeto de
clarificadores secundários e sistemas de separação por membranas são apresentadas nas Seções
8–10 e 8–12, respectivamente.
8–3 Conceitos básicos para escolha, projeto e controle dos processos de tratamento P 697
(8–26)
Como os sistemas MBR produzem um efluente com uma concentração de SST muito baixa, a DBO
também é mínima.
O nitrogênio presente no efluente está nas formas orgânica e inorgânica. A concentração de ni-
trogênio orgânico dissolvido (NOD) no efluente pode variar entre 0,5 e 2,0 mg/L (Urgun-Demirtas
et al., 2007), e, assim, pode representar uma fração significativa da concentração de nitrogênio total
em comparação com padrões restritivos de nitrogênio total para o lançamento do efluente, geral-
mente abaixo de 3,0 mg/L.
Controle do processo
Para manter os elevados níveis de desempenho dos processos de lodo ativado operando em con-
dições variadas, uma atenção especial deve ser dada para o controle do processo. As principais
abordagens para manter o controle do processo são: (1) manter o TRS definido, (2) manter a con-
centração de oxigênio no reator biológico e (3) ajustar a vazão do retorno de lodo ativado (RLA).
A taxa de descarte do excesso de lodo ativado (ELA) é definida em função do TRS a ser mantido.
O TRS é o parâmetro de controle mais comum, mas em alguns casos, a taxa de descarte do ELA é
ajustada para manter a concentração de SSLM estabelecida. Assim, maiores taxas de descarte de
ELA resultam em menores de TRS e vice-versa. O retorno de lodo ativado é importante para man-
ter a concentração de SSLM e controlar o nível do manto de lodo no clarificador secundário. As
taxas de consumo de oxigênio (TCO) no reator biológico são úteis para o entendimento das condi-
ções operacionais do processo e exigências para transferência de oxigênio e, em alguns casos, têm
sido utilizadas em algoritmos para controle de processo. Observações rotineiras com microscópio
são importantes para o monitoramento das características dos micro-organismos presentes no lodo
e para a identificação de alterações que podem afetar de forma negativa a sedimentação do lodo e
o desempenho do processo.
Controle do TRS. Para manter o TRS especificado, o excesso de lodo ativado produzido dia-
riamente deve ser descartado. A prática mais utilizada tanto para sistemas de lodo ativado com
clarificador secundário como para MBR é descartar o lodo da linha de retorno, já que a con-
centração de sólidos é mais alta, exigindo a instalação de bombas com menor capacidade, em
comparação ao descarte do liquor misto do reator biológico. Em sistemas de lodo ativado com
clarificador secundário de pequena capacidade e com equipe de operação reduzida, o ELA é
diretamente removido do reator biológico. Embora esse método exija o descarte de um maior
volume de lodo, ele é vantajoso, uma vez que a concentração de sólidos no ELA é mais uniforme,
o que permite o controle do TRS com base no volume de lodo descartado, sem a necessidade de
determinar a concentração de sólidos em suspensão no reator biológico, efluente final e lodo de
retorno. O excesso de lodo pode ser direcionado para vários tipos de adensadores, de forma iso-
lada ou combinado com o lodo removido do clarificador primário. A quantidade real de líquido
que deve ser bombeada para controlar o TRS depende do método utilizado e do local de onde o
descarte deverá ser realizado.
Descarte de lodo da linha de retorno. Por exemplo, se o TRS for utilizado para o controle do
processo e o descarte do lodo for feito da linha de retorno de lodo, a taxa de descarte pode ser cal-
culada pela modificação dos termos da Eq. (7–31) (ver Tabela 8–10).
(8–27)
A vazão diária a ser descartada da linha de RLA pode ser obtida como segue.
(8–28)
(8–29)
(8–30)
Para valores elevados do TRS, o efeito da perda de sólidos na vazão de efluente é menos significa-
tivo. Para calcular a vazão de descarte utilizando a Eq. (8–30), a concentração de sólidos tanto no
reator biológico como na linha de retorno de lodo deve ser medida.
Descarte de lodo do tanque de aeração. Se o descarte de lodo for feito do reator biológico e a
concentração de sólidos no efluente do clarificador secundário for desprezível, a vazão de bombea-
mento pode ser estimada utilizando a Eq. (8-31).
(8–31)
ou
(8–32)
Assim, o processo pode ser controlado pelo descarte diário de uma vazão equivalente ao volume do
reator biológico dividido pelo TRS.
Descarte do sistema MBR. A vazão de descarte do ELA necessária para manter o TRS espe-
cificado para um sistema MBR pode ser definida com base nos volumes aeróbios no sistema e na
taxa de recirculação do retorno de lodo. Esses sistemas, geralmente, têm um reator biológico e um
tanque aeróbio onde a separação sólido-líquido é feita pelas membranas (ver Fig. 8-9). Em alguns
casos, o reator biológico que antecede o tanque de separação por membranas é denominado tanque
de pré-aeração. Assim, o TRS aeróbio pode ser obtido com a utilização da Eq. 8-33.
(8–33)
Qe
Xe = 0
Q, So, No Aeróbio XM ,
Anóxico
XA, VA VM
Xm
QR = RQ
Qw, Xm
FIGURA 8–9 Diagrama esquemático mostrando a corrente de descarte de lodo ativado de um sistema
MBR anóxico/aeróbio.
700 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
e, assim,
(8–35)
(8–36)
(8–37)
Utilizando a Eq. (8–37), a vazão diária de ELA de um sistema MBR pode ser estabelecida com
base em uma dada taxa de reciclo de retorno de lodo ativado e TRS.
Observe que o TRS pode ser tratado como um valor médio para a operação do sistema e não
precisa ser mantido com uma taxa diária de descarte de lodo exata.
Controle da concentração de oxigênio dissolvido. O equipamento de aeração deve ser
projetado para fornecer a demanda de oxigênio exigida pelos micro-organismos presentes no sis-
tema de lodo ativado para uma ampla faixa de vazões efluentes e cargas, assegurando, ao mesmo
tempo, que será mantida uma concentração mínima de OD no sistema. Nos sistemas de controle de
OD, a saída do aerador é ajustada para atender as mudanças nas demandas, com base nas medidas
da concentração de OD no reator biológico. Por exemplo, quando as cargas de DBO e amônia no
afluente são reduzidas, a concentração de OD no reator biológico aumenta. O sistema de controle
deve ser projetado para identificar as variações na concentração de OD e fazer os ajustes adequados
nas condições de operação do sistema de aeração para manter essa concentração no valor pré-
-estabelecido, o que reduz o consumo de energia quando o sistema opera com baixa carga. Quando
a carga aumenta, a concentração de OD começa a diminuir e o fornecimento de oxigênio pelo
sistema de aeração deve aumentar.
Quando a aeração é feita em um reator biológico com baixa concentração de OD, uma menor
quantidade de energia será necessária porque a taxa de transferência de massa será maior, em
função da diferença das concentrações de OD de saturação e no reator. Contudo, uma concen-
tração de OD muita baixa no reator biológico pode favorecer o desenvolvimento de bactérias
filamentosas afetando de forma negativa a qualidade e sedimentabilidade do lodo. Em geral, a
concentração de OD no reator biológico deve ser mantida entre 1,5 e 2,0 mg/L em todas as re-
giões do reator biológico. Uma concentração mínima de OD igual a 0,7 mg/L é exigida para que
o processo de nitrificação seja iniciado. A operação do sistema com concentrações de OD abaixo
de 1,0 mg/L pode resultar na economia de energia e é feita em alguns projetos para possibilitar a
nitrificação e desnitrificação simultâneas. Contudo, as taxas de reações biológicas são menores,
o que irá exigir reatores com maiores volumes. Concentrações de OD elevadas (2,0 a 3,0 mg/L)
resultam em um aumento adicional muito pequeno nas taxas de nitrificação. Concentrações de
OD acima de 4 mg/L não geram aumento significativo no desempenho do sistema, mas aumen-
8–3 Conceitos básicos para escolha, projeto e controle dos processos de tratamento P 701
FIGURA 8–10 Teste campo para a determinação do índice volumétrico de lodo (IVL).
702 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
Admitindo que Xe é desprezível e que QW XR está relacionado com o TRS (Eq. 8–28), e resol-
vendo-se a Eq. (8–38), para QR, obtém-se a Eq. 8-39.
(8–39)
(8–40)
A taxa necessária de bombeamento do RLA também pode ser estimada por meio de um balanço
de massa no reator biológico (ver Fig. 8–11b). Os sólidos que entram no reator serão iguais aos
sólidos que saem, caso o crescimento celular seja desprezível. Para um TRS superior a 8-10 dias,
essa hipótese é razoável. Os sólidos entram no reator biológico pelo retorno de lodo e no afluente
ao processo secundário. Contudo, se a concentração de sólidos no afluente ao reator for desprezível
em comparação com os SSLM, o balanço de massa no reator biológico poderá ser representado
pela Eq. (8-41).
(8–42)
Assim, com base nas Eqs. (8–40) e (8–42), para uma dada concentração de sólidos no RLA (XR),
uma taxa específica de RLA será necessária para assegurar a concentração de sólidos no reator bio-
lógico (X) para o TRS desejado. Se os sólidos não sedimentarem e adensarem de forma adequada
no clarificador, o valor de XR será menor e a taxa de RLA deverá ser maior. O teste de sedimenta-
bilidade do lodo (IVL) pode ser utilizado para estimar o valor de XR para ajuste da taxa de RLA,
conforme a Eq. (8-43).
Limite do sistema
Clarificador Clarificador
secundário secundário
Q Reator Q + QR Qe Q Reator Q + QR Qe
biológico X Xe biológico X Xe
QR QR
XR XR QW XR
XR QW
(a) (b)
FIGURA 8–11 Diagrama para o balanço de massa dos SS para controle do retorno de lodo: (a) balan-
ço de massa no clarificador secundário e (b) balanço de massa no reator biológico.
8–3 Conceitos básicos para escolha, projeto e controle dos processos de tratamento P 703
(8–43)
Flocos com
Flocos dispersos boa sedimentação Flocos pontuais
Rotíferos
Rotíferos Nematódeos
Ciliados Ciliados
Predominância relativa
bentônicos bentônicos
Rotíferos
Ciliados
planctônicos
Nematódeos
Ciliados
planctônicos Ciliados
planctônicos Ciliados
bentônicos
Rotíferos
Flagelados Ciliados
bentônicos
Ciliados Ciliados
Flagelados planctônicos planctônicos
Flagelados Flagelados Flagelados
Ameboides Ameboides Ameboides Ameboides Ameboides
FIGURA 8–13 Exemplos de flocos com características de sedimentação boas e ruins: (a) floco não
filamentoso, com boa sedimentação, (b) flocos ligados por micro-organismos filamentosos, (c) flocos com
quantidade limitada de micro-organismos filamentosos na forma secundária, (d) filamentos se estendendo
dos flocos resultando em uma sedimentação ruim, (e) filamentos de Thiothrix com grânulos de enxofre e (f)
micro-organismo filamentoso tipo 1701 observado em um sistema com baixa concentração de OD. (Corte-
sia do Dr. David Jenkins, Universidade da Califórnia, Berkeley.)
706 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
Ocorrência de lodo volumoso viscoso. Outro tipo de problema de lodo volumoso que pode
ocorrer, conhecido como lodo volumoso viscoso, é causado pela presença de uma quantidade
excessiva de substâncias poliméricas extracelulares (biopolímeros), que resulta em um lodo com
uma consistência viscosa, como a de um gel (Wanner, 1994). Como os biopolímeros são hidrofí-
licos, o lodo apresenta elevada capacidade de retenção de água. O lodo resultante tem uma massa
específica baixa, o que resulta em uma velocidade de sedimentação, também, baixa e compacta-
ção ruim. O lodo viscoso é encontrado, geralmente, em sistemas com limitação de nutrientes ou
em condições de operação com relação A/M muito alta, tratando um efluente com valores eleva-
dos de DQOrb.
Ocorrência de lodo volumoso por Beggiatoa e Thiothrix. Bactérias filamentosas como Beg-
giatoa e Thiothrix crescem muito bem na presença de sulfeto de hidrogênio e substratos reduzidos,
respectivamente, os quais podem ser encontrados em efluentes sépticos (Wanner, 1994). Quando
o afluente contém produtos fermentados, como ácidos graxos voláteis e compostos reduzidos de
enxofre (sulfetos e tiossulfato), pode ocorrer a proliferação de Thiothrix. Em alguns casos a pré-
-cloração do afluente é utilizada para evitar o seu crescimento. Além de causar os problemas de
lodo volumoso nos sistemas de lodo ativado, os organismos Beggiatoa e Thiothrix podem criar
problemas nos sistemas com crescimento aderido, incluindo os filtros percoladores e contatores
biológicos rotativos.
Controle de lodos volumosos. No controle de lodos volumosos, a elaboração de uma lista
de verificação pode ser útil para avaliar as suas causas, principalmente quando diversas variáveis
podem ser responsáveis pela sua ocorrência. Recomenda-se a verificação dos seguintes itens: (1)
características do afluente, (2) concentração de OD, (3) carga do processo e (4) sobrecarga interna
da unidade de tratamento. Um dos primeiros passos a serem adotados quando as características
do lodo mudam é analisar o liquor misto em um microscópio para identificar o tipo de mudanças
no crescimento microbiano ou na estrutura dos flocos que pode estar relacionado à ocorrência de
lodo volumoso. Para isso é necessário utilizar um microscópio com qualidade de contraste de fase
adequada e com ampliação de até 1000 vezes (com imersão em óleo) para que seja possível ver a
estrutura e o tamanho das bactérias filamentosas.
Características do afluente. A natureza dos componentes encontrados nos efluentes a serem
tratados ou a ausência de certas substâncias, como determinados micronutrientes, podem conduzir
ao desenvolvimento de um lodo volumoso (Wood e Tchobanoglous, 1975). Se houver lançamento
de efluentes industriais na rede de coleta de efluentes, contínua ou intermitente, deve ser feita a
verificação das concentrações de nitrogênio e fósforo, uma vez que a limitação de ambos ou de
um desses constituintes pode favorecer a ocorrência de lodo volumoso. A deficiência de nutrientes
é um problema clássico no tratamento de efluentes industriais contendo elevados valores de DBO
carbonácea. Efluentes altamente sépticos, com elevada concentração de sulfeto podem favorecer o
crescimento de bactérias filamentosas, como a Beggiatoa e a Thiothrix. Grandes variações no valor
do pH também podem ser prejudiciais em estações de tratamento de efluentes com projeto conven-
cional. As variações nas cargas orgânicas dos efluentes a serem tratados em sistemas que operam
em batelada também podem gerar problemas em relação à concentração de OD e formação de lodo
volumoso e devem, portanto, ser verificadas.
Concentração de oxigênio dissolvido. A limitação de oxigênio dissolvido é frequentemente
associada a condições que favorecem a formação de lodo volumoso. Se o problema for devido à
limitação de oxigênio, isso pode ser confirmado através da operação do equipamento de aeração
na sua máxima capacidade ou pela diminuição, se possível, do TRS do sistema, para reduzir a
demanda de oxigênio. O equipamento de aeração deve ter capacidade suficiente para manter a
concentração de OD no reator biológico em, pelo menos, 2 mg/L em condições normais de carga.
Se não for possível manter a concentração de OD em 2 mg/L, poderá ser necessária a implantação
de melhorias no atual sistema de aeração.
Filamentos associados à baixa concentração de OD podem ser formados em regiões anaeróbias
e anóxicas de seletores em períodos de baixa carga orgânica no afluente à estação, que apresente
elevada concentração de OD. A combinação do escoamento em tempo úmido/infiltração e do pro-
jeto da estrutura de recebimento dos efluentes na estação, que criam um escoamento em cascata e
aeração, pode causar esse problema.
Sobrecarga interna da estação de tratamento. Para evitar a sobrecarga interna da estação
de tratamento, as cargas das correntes de recirculação devem ser controladas de maneira que
elas só sejam reinseridas no sistema de tratamento fora dos períodos de pico de carga hidráulica
e orgânica. Exemplos de cargas de reciclo incluem o clarificado ou filtrado das operações de
desaguamento de lodo e o sobrenadante dos digestores. Como uma medida mínima de controle,
recomenda-se a utilização de um sistema de equalização de vazão e/ou carga para reduzir os im-
pactos dessas correntes de recirculação. O tratamento das correntes de recirculação é abordado
no Capítulo 15.
Medidas de controle temporárias. Em uma situação de emergência, ou enquanto os fatores
previamente mencionados estão sendo investigados, a utilização de cloro e peróxido de hidrogênio
pode ser feita para o controle temporário da formação de lodo volumoso. A cloração do lodo de re-
torno é uma prática amplamente utilizada como medida de controle da formação de lodo volumoso.
Em um sistema com baixo tempo de detenção hidráulico (t) de projeto, entre 5 e 10 h, utiliza-se
uma dosagem diária de cloro variando entre 0,002 a 0,008 por kg SSLM/d (Jenkins et al., 2004).
Embora a cloração seja efetiva para o controle da formação de lodo volumoso pelo crescimento
de organismos filamentosos, ela é ineficiente quando o lodo volumoso é resultado da formação de
flocos leves contendo água ligada. A cloração resulta, normalmente, na produção de um efluente
turvo já que o lodo se torna livre das formas filamentosas. A cloração de um lodo nitrificante pode
resultar, frequentemente, na perda da nitrificação ou reduzir a sua eficiência em função das baixas
taxas de crescimento de bactérias nitrificantes em comparação com as heterotróficas. O uso do
cloro também levanta uma questão relacionada à formação de triahalometanos e outros compos-
tos orgânicos clorados, com potencial de efeitos adversos à saúde humana e ao meio ambiente. O
peróxido de hidrogênio também tem sido utilizado para o controle de organismos filamentosos em
708 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
(a) (b)
FIGURA 8–14 Espuma nocardioforme: (a) exemplo da formação de espuma em um reator biológico e
(b) imagem em microscópio de filamentos formadores de espuma nocardioforme.
8–3 Conceitos básicos para escolha, projeto e controle dos processos de tratamento P 709
meado através das membranas nas quais ocorreram depósitos. A ocorrência de depósitos pode ser
minimizada ao empregar procedimentos de limpeza e utilizando as condições operacionais espe-
cificadas pelo fornecedor das membranas, utilizando uma unidade de peneiramento a montante da
unidade e operando o sistema com TRS aceitáveis e concentração de SSLM no limite especificado.
A utilização de peneiras inadequadas poderá resultar no acúmulo de cabelos e material fibroso nas
membranas, os quais não poderão ser removidos pelo programa padrão de limpeza das membranas.
Recomenda-se que o TRS mínimo seja de, aproximadamente, 8,0 dias para evitar a ocorrência de
depósito excessivo, devido à liberação de subprodutos da atividade microbiológica de lodo ativado
muito novo. TRS excessivamente longos podem em uma maior quantidade de bactérias livres e
flocos finos, o que aumenta as taxas de depósito.
A operação de sistemas MBR com concentração de SSLM entre 8.000 e 14.000 mg/L estão,
normalmente, dentro da faixa operacional aceitável. Concentrações de SSLM muito altas exigem
a operação do sistema com fluxos muito menores para manter o balanço entre a quantidade de
sólidos direcionados para a superfície das membranas e a taxa de remoção de sólidos pelo ar de
arraste. Se a concentração de SSLM for muito alta (18.000 mg/L) e o valor do fluxo de permeado
for mantido na faixa de operação em condições normais, as membranas podem sofrer depósitos
severos e será necessário utilizar métodos de limpeza especiais para que seja possível recuperar o
fluxo de permeado do projeto.
Certas substâncias presentes no afluente devem ser removidas antes da alimentação do sistema
MBR para que seja possível manter uma operação adequada. Óleo de cozinha e gorduras podem
aderir na superfície das membranas e resultar em depósito excessivo, o qual só poderá ser removido
por métodos de limpeza química especiais.
Misturador Ar
Clarificador
Efluente secundário
primário Efluente
Seletor
Reator biológico
anaeróbio
Retorno de lodo ativado
(a) Lodo
Ar
Clarificador
Seletor aerado alta relação A/M
Efluente secundário
primário Efluente
Ar
Reator biológico
Misturadores
Ar
Clarificador
Efluente secundário
primário Efluente
(d) (e)
FIGURA 8–15 Configurações típicas de seletores: (a) anaeróbio/aeróbio, (b) alta relação A/M, (c)
seletor anóxico, (d) vista de um reator de fluxo pistonado (obtida do final do tanque de aeração), com
seletores anóxicos. A tubulação no fundo é utilizada para retorno dos SSLM para os seletores anóxicos,
como mostrado em (c); e (e) bomba de fluxo axial no final do tanque de aeração utilizada para bombear
os SSLM para os seletores anóxicos.
712 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
0,4
0,2
Filamentous
Formas filamentosas
forms
0,1
0
0 20 40 60 80 100
Substrato, mg/L
FIGURA 8–16 Ilustração de um seletor com base no modelo cinético com alta taxa de crescimento espe-
cífico para bactérias filamentosas com baixa concentração de substrato.
e não na diferença da cinética entre bactérias filamentosas e formadoras de flocos. Em baixas con-
centrações de substratos, as bactérias filamentosas tiram vantagem da sua morfologia uma vez que
elas podem se estender para fora do floco e se beneficiar de maior facilidade de acesso ao substrato
na fase líquida. Uma série de reatores com tempos de detenção hidráulico relativamente baixos
(minutos) é utilizada para possibilitar uma elevada concentração de substrato, ao contrário do que
ocorre com a alimentação do efluente a ser tratado diretamente no reator biológico, onde o tempo
de detenção hidráulico é maior.
Nos seletores cinéticos, ou com alta relação A/M, um projeto típico, como o que é mostrado na
Tabela 8–9, utiliza três reatores em série, tendo os dois primeiros o mesmo volume e o terceiro com
o dobro do volume destes. A relação A/M é calculada para o primeiro reator utilizando o volume
e a concentração de SSLM nesse reator e, também, na vazão e valor da DQO afluente. A relação
do valor de A/M para o secundo reator inclui o volume do primeiro e segundo reator e a carga
aplicada, produto da vazão e valor da DQO afluente. A quantidade de oxigênio necessária é de,
aproximadamente, 15 a 25% da taxa de remoção de DQO solúvel (Jenkins et al., 2004) e uma taxa
de transferência de oxigênio de 15–20 mg O2 /g massa·h em concentrações de OD inferiores a 0,20
mg/L e 30–35 mg O2/g massa·h em concentrações de OD inferiores a 1,0 mg/L (Albertson, 1991).
O uso de reatores seletores em série também é vantajoso para maximizar a remoção de DQOrb, em
condições variadas de vazão e carga afluente.
A capacidade dos seletores com alta relação A/M de apresentar um bom desempenho em bai-
xas concentrações de oxigênio se deve ao fato de uma parcela da DQOrb ter sua armazenagem na
célula devido à elevada concentração de substrato (Dionisi et al., 2002). Se a carga afluente ao pri-
meiro reator for muito alta (A/M 8 g DBO/g SSLM·d), um tipo de lodo viscoso, não filamentoso,
pode ser desenvolvido (Albertson, 1987).
Um reator batelada sequencial (RBS) também pode atuar com um seletor com alta relação de
A/M efetivo, dependendo da carga orgânica no afluente e da estratégia de alimentação. Para afluen-
tes com alta carga e uma parcela significativa do volume do RBS ocupado pelo afluente, uma alta
TABELA 8–9 Cargas de projeto para seletores aeróbio e anóxico de três estágios
Aeróbio Anóxico
A/M, Transferência de A/M,
Região do seletor g DQO/g SSLMⴢd O2, gO2/gⴢh g DQO/g SSLMⴢd
1 12 15–35 6
2 6 15–35 3
3 3 15–35 1,5
8–5 Considerações sobre o projeto de processos de lodo ativado P 713
relação A/M pode ser estabelecida. A reação subsequente do processo em batelada é igual àquela
que ocorre em um reator de fluxo pistonado.
Seletores com base no modelo metabólico. Tem sido observado que nos processos de
remoção biológica de nutrientes o lodo formado apresenta boas características de sedimentação e
que o crescimento de bactérias filamentosas é limitado. As condições metabólicas utilizadas nesses
processos, anóxica ou anaeróbia, favorecem o crescimento de bactérias formadoras de flocos. As
bactérias filamentosas não podem utilizar o nitrato ou nitrito como aceptor de elétron tão rápido
quanto as bactérias formadoras de flocos, o que resulta em uma vantagem significativa para essas
bactérias. De maneira similar, as bactérias filamentosas não armazenam polifosfato e, assim, não
podem consumir o acetado na região anaeróbia dos processos de remoção biológica de fósforo
assistida, o que é uma vantagem para a assimilação de substrato e crescimento de organismos acu-
muladores de fósforo (PAO). Em algumas estações de tratamento de efluentes nos EUA, Seattle
South e São Francisco, seletores anaeróbios têm sido utilizados para o controle do IVL em sistemas
de lodo ativado com baixo TRS, projetados para a remoção de DBO, mesmo que a remoção de
fósforo não seja exigida.
Quando se utiliza o processo de nitrificação, mas a remoção de fósforo não é exigida, os sele-
tores com alta relação A/M em série ou seletores anóxicos de um estágio são utilizados. Para os se-
letores anóxicos ou anaeróbios com alta relação A/M, o IVL do liquor misto resultante pode variar
entre 65 a 90 mL/g, e para seletores anóxicos em um único estágio os valores do IVL entre 100 e
120 mL/g são mais comuns. Exemplos de atualizações de estações de tratamento de efluentes com
a implantação de seletores anóxicos são mostrados na Fig. 8–17. A utilização de múltiplos estágios
na região anaeróbia, além da região anóxica, tem melhorado a sedimentabilidade do lodo em fun-
ção dos valores menores do IVL (Albertson 1991, Kruit et al., 2002, e Xin et al., 2008).
Bomba
de reciclo Aeróbia
Aeróbia Aeróbia
RLA
Anóxica Anóxica Anóxica Anóxica/aeróbia
Efluente primário
Efluente para o
clarificador
RLA
FIGURA 8–17 Exemplos de modificações em estações de tratamento de efluentes em escala real para
possibilitar o tratamento anóxico/aeróbio para remoção de nitrogênio com seletor anóxico em série.
TABELA 8–10 Resumo das equações utilizadas na avaliação dos processos com crescimento em suspensão
Produção de lodo(Px,SSV)
TRS
Biomassa LACM
Demanda de O2 LACM
Amônia oxidada
Demanda de O2 no estágio do reator
Relação alimento/micro-organismo
Carga orgânica
5,0
Concentração de N-NH4 no efluente, mg/L
Temperatura = 15° C
TRS aeróbio = 8 d
4,0
3,0
(b)
(c)
2,0
1,0
(a)
0,0
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0
Tempo a partir da meia-noite, h
FIGURA 8–18 Comparação das concentrações de N-NH4 em sistema de lodo ativado com nitrificação,
operado com a mesma temperatura e TRS e com a mesma vazão média e carga de NKT afluente: (a)
concentração de N-NH4 no efluente com condições afluentes constantes, (b) concentração de N-NH4 no
efluente em função das variações diárias na vazão e concentração e (c) valor da concentração de N-NH4
da amostra composta de 24-h com as variações diárias na vazão e na concentração.
8–5 Considerações sobre o projeto de processos de lodo ativado P 717
TABELA 8–11 Componentes de processo principais no ASM2d e tipos de reações que afetam a sua concentração
no reator
Reações ou entradas
Componente do modelo Símbolo Produção ou entrada Depleção ou consumo
O2 dissolvido SO2 • Afluente a ser tratado • Consumido por XH, XAUT, XPAO
• Aeração
DQOrb SF • Afluente a ser tratado • Biodegradada por XH
• Hidrólise de XS • Fermentada por XH
Acetato SA • Afluente ao reator • Assimilado por XPAO
• Fermentação de SF • Biodegradada por XH
Amônia SNH4 • Afluente a ser tratado • Oxidação por bactérias
• Hidrólise de N-orgânico autotróficas (XAUT)
1 Hidrólise aeróbia
2 Hidrólise anóxica
Organismos heterotróficos, XH
4 Crescimento aeróbio sobre SF
8 Equação de crescimentoLim
9 Lise celular
19 Lise celular
a
i número da equação no modelo ASM2d.
720 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
TABELA 8–13 Matriz estequiométrica para alguns componentes específico no modelo ASM2d
Componentes
i Processo i SF SA SI SNH4 SO2 SNO3 XS XI XH XAUT
Processos de hidrólise
1 Hidrólise aeróbia 1 1
2 Hidrólise anóxica 1 1
Organismos heterotróficos, XH
4 Crescimento aeróbio 1
sobre SF
5 Crescimento aeróbio 1
sobre SA
6 Crescimento anóxico 1
sobre SF
7 Crescimento anóxico 1
sobre SA
(8–44)
onde, RC taxa de variação do componente do processo C (SF, SA, XI, XS, etc.)
Ci coeficiente estequiométrico para o componente C, na reação i
ji taxa de reação i
Por exemplo, para o componente SA, com crescimento aeróbio (reação 5, Tabela 8–12), o coefi-
ciente estequiométrico da Tabela 8–13 é (1/YH). Assim, em condições aeróbias, a taxa de variação
de SA é dada pela Eq. (8-45).
8–5 Considerações sobre o projeto de processos de lodo ativado P 721
(8–45)
Os coeficientes estequiométricos para consumo de oxigênio são descritos como segue: para cres-
cimento heterotrófico, o temo (1 YH) é a quantidade de oxigênio utilizada em g O2 /g DQO re-
movida. O termo (1 YH) é dividido por YH (g DQO células /g DQO utilizada), para obtenção do
coeficiente estequiométrico como g O2/g DQO celular produzidas para se adequar ao formato da
matriz. O termo estequiométrico para o crescimento autotrófico apresenta o fator 4,57. Esse fator
é necessário em função da amônia, o substrato para bactérias nitrificantes, e é expresso como ni-
trogênio na matriz SNH e o oxigênio é expresso como DQO. O oxigênio equivalente para a amônia
é 4,57 g O2/g N-NH4. A quantidade no numerador é diminuída por YA, que leva em consideração
a amônia utilizada para a síntese celular. A aplicação das Eqs. (8–44) e (8–45) é demonstrada no
Exemplo 8–2. O objetivo é ilustrar como o modelo de matriz é interpretado para descrever as taxas
de variação da concentração de um componente do modelo.
Solução
1. Desenvolva as equações do balanço de massa para SF e SA para o reator 2.
a. Expressão geral:
(continua)
722 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
(continuação)
Comentário
A solução para SF depende das concentrações de: (1) bactérias heterotróficas não acumulado-
ras de fósforo, (2) DQO lentamente biodegradável, Xs, (3) oxigênio dissolvido, (4) nitrogênio
na forma de nitrato, (5) DQO de acetato, SA, (6) nitrogênio na forma de amônia, (7) fosfato e
(8) alcalinidade. Conjuntos similares de equações podem ser obtidos para esses componentes
utilizando-se a matriz de informação mostrada na Tabela 8–13.
Q, SO Q + QR , X
Ar
Clarificador Clarificador
primário secundário
Afluente Efluente
V, X Qe, S
Tanque de aeração
QR, XR
QW, XR
Retorno de lodo ativado
Lodo Lodo
(a) (b)
FIGURA 8–19 Processo de lodo ativado completamente misturado: (a) diagrama esquemático e (b) vista de um reator de mis-
tura completa típico.
Porcentagem de:
Volume Tempo Afluente Finalidade/Operação
máximo do ciclo
Ar
ENCHIMENTO Ligado/Desligado
25 a 100 25
Adição
de substrato
REAÇÃO Ar
Ligado/Desligado
100 35
Tempo
de reação
Ar (b)
Desligado
SEDIMENTAÇÃO
100 20
Clarificação
DESCARGA Ar
Desligado
100 a 35 15 Efluente
Remoção do
efluente
Ar
REPOUSO Ligado/Desligado
35 a 25 5
Descarte
de lodo
(a) (c)
FIGURA 8–20 Processo de lodo ativado em reator batelada sequencial (RBS): (a) diagrama esquemático e (b) vista de um RBS
com vertedor móvel utilizado para descarga do sobrenadante após o período de sedimentação no reator. O vertedor está locali-
zado no lado oposto da segunda parede divisória mostrada em (c). As fotografias foram tiradas na Austrália.
8–6 Processos para remoção de DBO e nitrificação P 725
Cinética do processo para remoção de DBO. Para projetos de aplicação geral, as equações
que representam a cinética do processo são resumidas na Tabela 8–10. Os coeficientes cinéticos
para a remoção de material carbonáceo, com base na DQOb, por bactérias heterotróficas e oxi-
dação de amônia e nitrito por bactérias autotróficas são dados na Tabela 8–14. Os valores desses
coeficientes variam significativamente na literatura. Os valores apresentados na tabela são os mais
comumente utilizados e que resultam em um projeto mais conservativo. Os valores para os organis-
mos heterotróficos são praticamente os mesmos que aqueles utilizados no modelo ASM2d da IWA
(Henze et al., 1995). A maior parte dos valores da cinética de nitrificação é baseada no estudo da
cinética de nitrificação desenvolvido pela Water Environment Research Foundation para a modela-
gem do processo de lodo ativado (Melcer et al., 2003).
Cinéticas do processo de nitrificação. Os valores das constantes cinéticas KO2, KNH4 e mmax,
como discutido na Seção 7–9 no Capítulo 7, podem variar em função da seleção da população de
bactérias nitrificantes, devido à configuração do reator e condições operacionais utilizadas. O coe-
ficiente de meia-velocidade para o OD (KO2), também é especifico para cada local, uma vez que ele
depende da concentração de SSLM no reator, condições de mistura, taxa volumétrica de consumo
de oxigênio e tamanho do floco. Quando a estação de tratamento recebe efluentes industriais jun-
tamente com os esgotos domésticos, o potencial de inibição da nitrificação deve ser considerado.
Nesses casos, deve-se considerar, também, coleta de amostras e realização de ensaios de bancada
para assegurar que as taxas de nitrificação esperadas poderão ser obtidas. O TRS e o volume do
reator estão diretamente relacionados com os valores de mmax na nitrificação. Medidas de controle
na fonte podem ser necessárias para mitigar a inibição da nitrificação.
TABELA 8–14 Coeficientes cinéticos do projeto de processos de lodo ativado para remoção
de DBO e nitrificação a 20°C
Oxidação Oxidação Oxidação
Coeficiente Unidade de DQOa de NH4b de NO2b
mmax g SSV/g SSVⴢd 6,0 0,90 1,0
Ks, KNH4, KNO2 mg/L 8,0 0,50 0,20
Y g SSV/g substrato oxidado 0,45 0,15 0,05
b g SSV/g SSVⴢd 0,12 0,17 0,17
fd adimensional 0,15 0,15 0,15
KO2 mg/L 0,20 0,50 0,90
Valor de u
mmax adimensional 1,07 1,072 1,063
b adimensional 1,04 1,029 1,029
Ks, KNH4, KNO2 adimensional 1,0 1,0 1,0
a
Adaptado de Henze et al. (1995); Barker e Dold (1997).
b
Adaptado de U.S. EPA (2010).
8–6 Processos para remoção de DBO e nitrificação P 727
DBO 140
DBOs 70
DQO 300
DQOs 132
DQOrb 80
SST 70
SSV 60
(continua)
728 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
(continuação)
e. Obtenha os SSTi.
Q 22.500 m3/d
3. Calcule a massa em termos de SSV e SST no reator biológico. As massas de SSV e SST
podem ser calculadas com as Eqs. (8–20), (8–21) e (7–57) dadas na Tabela 8–10.
Massa PX(TRS)
a. Calcule PX,SSV e PX,SST com a Eq. (8–20), incluindo as partes A, B e D. A Parte C 0
porque não há nitrificação.
(continua)
730 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
(continuação)
(XSST)(V) 13.337 kg
.
c. Calcule o SSVLM.
.
.
DQO
DQO
DQO
8. Projeto de aeração com bolhas finas – calcule a vazão de ar para a vazão média de proje-
to. Com base na Eq. (5–55), a taxa de transferência de oxigênio real no reator biológico
está relacionada com a taxa de transferência de oxigênio nas condições padrão.
(continuação)
C*st saturação de OD ao nível do mar e temperatura de operação, mg/L
C*s20 valor de OD saturado ao nível do mar e 20°C, mg/L
C* ,20 valor de OD saturado ao nível do mar para aeração por ar difuso, mg/L. Ele
é maior que Cst uma vez que é afetado pela transferência de oxigênio das
bolhas sob pressão na coluna d’água.
C* ,20 pode ser estimado pela equação abaixo (U.S. EPA, 1989):
i. Da Tabela E–1 (Apêndice E), Cs,20 9,09 mg/L e C12 10,78 mg/L
ii. Calcule a pressão relativa na altitude de 500 m para corrigir a concentração de OD.
Selecione os valores para mmax,BOA, bBOA, KNH4 e Ko,BOA da Tabela 8–14 a 20°C. Esses valo-
res são 0,90 g/gⴢd, 0,17 g/gⴢd, 0,50 g/m3 e 0,50 g/m3, respectivamente. Utilize os calores
do fator de correção de temperatura, u, da Tabela 8–14.
a. Encontre mmax,BOA com T 12°C.
(continuação)
11. Calcule a produção de biomassa com a Eq. (8–20) com a partes A, B e C da Tabela 8–10.
É necessário um valor para NOx na Parte C da Eq. (8–20). Como NOx está contido na Eq.
(8–20) para obter PX,Bio, uma abordagem para obter a solução é adotar a concentração de
NOx na Eq. (8–20) como uma porcentagem certa do NKT afluente. Um método iterativo
pode ser utilizado para obter NOx, após o cálculo de PX,Bio. Um valor de NOx 80%
(NKT) é uma aproximação razoável para a relação DBO/NKT para este problema. O erro
será pequeno uma vez que a produção de SSV nitrificante é, normalmente, uma pequena
fração da concentração de SSVLM.
12. Calcule a quantidade de nitrogênio oxidada para nitrato (NOx). A quantidade de nitrogê-
nio oxidada para nitrato pode ser obtida realizando-se um balanço para o nitrogênio, Eq.
(8–24) da Tabela 8–10.
O valor calculado está muito próximo do valor assumido, 28,0 g/m3. Substituindo-se
28,9 para o NOx nos cálculos anteriores resulta, novamente, em um valor de 28,9 g/m3 e,
assim, uma iteração foi satisfatória.
O aumento em PX,bio,SSV para a Parte C na Eq. (8–20) é de 24,9 kg/d para 25,7 kg/d,
então PX,bio,SSV passa a ser de 1050,4 kg SSV/d
13. Calcule as concentrações e massas de SSV e SST no reator biológico. As massas de SSV
e SST podem ser calculadas com as Eqs. (8–20), (8–21) e (7–57) da Tabela 8–10.
Massa PX(TRS)
a. Calcule PX,SSV com a Eq. (8–20) incluindo as Partes A, B, C e D pela adição da contri-
buição dos SSVnb.
(XSST)(V) 40.252,8 kg
(continua)
736 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
(continuação)
c. Calcule SSVLM.
Fração de SSV
16. Calcule a taxa de produção de biomassa observada com base nos SST e SSV.
a. Produção observada ou produção líquida com base nos SST.
PX,bio,SSV 802,3 kg/d 222,4 kg/d (Etapa 11 – não inclui bactérias nitrificantes)
1024,7 kg SSV/d
Alcalinidade para manter o pH ⬃ 7 Alc. Afluente Alc. Usada Alc. a ser adicionada
Alcalinidade do afluente: 140 g/m3 como CaCO3
Quantidade de nitrogênio convertido para nitrato: NOx 28,9 g/m3 (Etapa 12)
Alc. para nitrificação (7,14 g CaCO3/g N-NH4)(28,9 g/m3)
206,3 g/m3 utilizada como CaCO3
b. Substitua os valores conhecidos e resolver para a alcalinidade necessária.
Concentração de alcalinidade residual para manter o pH na faixa de 6,8–7,0 ⬵ 70 g/m3
como CaCO3
(continua)
738 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
(continuação)
O bicarbonato de sódio é preferível em relação à cal em função da facilidade no manu-
seio e menor potencial de incrustação. A quantidade de NaHCO3 necessária é obtida
conforme detalhado a seguir:
NaHCO3 adicionada
RXR (1 R)X
Adote uma taxa de aplicação hidráulica de 24 m3/m2·d para a vazão média de operação
do clarificador (ver Tabela 8–34); a faixa é 16 a 28 m3/m2.d
Área/clarificador 315 m2
Diâmetro do clarificador 20 m
8–6 Processos para remoção de DBO e nitrificação P 739
Carga de sólidos
Carga de sólidos
(carga de sólidos dentro da faixa aceitável, 4 a 6 kg/m2, dada na Tabela 8–34, página
893)
22. Elabore o resumo do projeto.
(continua)
740 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
(continuação)
Comentário
A concentração de N-NH4 no projeto onde só é feita a remoção de DBO será ligeiramente
menor que 28,9 mg/L devido ao baixo TRS. Neste exemplo, o procedimento de projeto foi
baseado na vazão média do efluente a ser tratado. Em um projeto real, os cálculos também
devem ser realizados para a vazão e a carga de pico.
No Exemplo 8–3 foi assumido que o N-NH4 seria oxidado para N-NO3 e que a presença de
N-NO2 era desprezível, ignorando-se que o processo de oxidação de N-NH4 ocorre em duas etapas,
oxidação de N-NH4 pelas BOA e do N-NO2 pela BON. Geralmente, nos sistemas operados com
concentração de OD próxima de 2,0 mg/L e temperatura abaixo de 25°C, a concentração de N-NO2
é menor que 0,30 mg/L, ou seja, ignorar a concentração de N-NO2 não irá resultar, para a maioria
das aplicações, em um erro significativo no cálculo do consumo de oxigênio ou na concentração de
nitrogênio total no efluente tratado. Contudo, se o sistema de lodo ativado projetado no Exemplo
8-3 for operado com uma concentração de OD significativamente menor, a concentração de N-NO2
poderá ser significativamente maior. O efeito da baixa concentração de OD nas concentrações de
N-NO2 e N-NH4 no sistema de lodo ativado é ilustrado no Exemplo 8–4.
Selecione os valores para mmax,BON, KNO2, KO2,BON e bBON na Tabela 8–14. Os valores são:
1,0 g/gⴢd, 0,20 g/m3, 0,90 g/m3 e 0,17 g/gⴢd, respectivamente. Utilize os fatores de corre-
ção de temperatura da Tabela 8–14 para corrigir os coeficientes para 12°C.
Encontrar mmax,BON para T 12°C
mmax,BON,12 (mmax,BON,20)u(T-20)
8–6 Processos para remoção de DBO e nitrificação P 741
Concentração de
OD, mg/L
Parâmetro 2,00 0,40
N-NH4 0,50 1,90
N-NO2 0,16 8,20
(continua)
742 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
(continuação)
Comentário
Para baixas concentrações de OD, a concentração estimada de N-NO2 é muito maior e, assim,
a oxidação de N-NH4 para N-NO3 é incompleta. Observe que há uma probabilidade de que,
em baixas concentrações de OD, possa ocorrer a desnitrificação de uma parcela do N-NO2
dentro do floco heterotrófico, de maneira que a sua concentração no reator de lodo ativado
será menor que o calculado quando se considera a hipótese da operação em condição aeróbia,
apenas.
TABELA 8–16 Descrição das etapas operacionais de um reator batelada sequencial (RBS)
Etapa
operacional Descrição
Enchimento Durante o período de enchimento, o efluente bruto ou primário é adicionado
ao reator. Na etapa de enchimento, o nível de líquido no reator aumenta de
75% (no final do período de espera) até 100% do volume máximo de líquido.
Quando se utilizam dois reatores, o tempo para enchimento pode ser reduzido
para 50% do tempo do ciclo completo. Durante o enchimento, o reator pode ser
somente agitado, ou agitado e aerado, para promover as reações biológicos
com o afluente. Realizar apenas a mistura durante 50% do tempo de enchimento
possibilita o controle de bactérias filamentosas e melhora a sedimentação e
adensamento do lodo.
Reação Durante o período de reação, a biomassa consome o substrato em condições
controladas, que pode ser apenas a aeração ou a aeração cíclica e mistura para
possibilitar a nitrificação e desnitrificação à remoção de nitrogênio.
Sedimentação Nesta etapa o reator é mantido em repouso para possibilitar a separação
sólido/líquido, resultando em um sobrenadante clarificado, o qual poderá ser
descarregado do reator como efluente tratado.
Descarga O efluente clarificado é removido durante a etapa de sedimentação. Muitos tipos
de mecanismos de remoção do efluente decantado podem ser utilizados, os mais
populares são os vertedores flutuantes ou ajustáveis.
Espera O tempo de espera é utilizado em sistemas com múltiplos reatores para permitir
que um reator complete a sua etapa de enchimento antes de alterar a alimentação
para o reator em espera. Este procedimento também possibilita o gerenciamento de
vazões mais elevadas, as quais ocorrem em período de chuva ou cargas sazonais.
8–6 Processos para remoção de DBO e nitrificação P 743
descarte deve ser obtida com base nos requisitos de desempenho, como ocorre nos sistemas con-
vencionais que operam continuamente. Na operação de um RBS, há descarte de lodo, geralmente,
durante a fase de reação de maneira que ocorre uma descarga uniforme de sólidos (incluindo ma-
terial fino e flocos de lodo). Os RBS devem ser projetados com a capacidade de descarte do liquor
misto da superfície, como discutido na Seção 8–3, como um meio efetivo para controle de espuma
pela supressão do crescimento de M. Parvicella e bactérias que causam espuma nocardioforme.
Aplicação das cinéticas do processo. Durante o período de reação, as cinéticas em batelada
são aplicadas. A concentração de substrato é muito maior no início da operação, em comparação
àquela do sistema de LACM, sendo reduzida com o tempo à medida que ocorre o consumo pela
biomassa presente. A variação da concentração de substrato com o tempo pode ser inicialmente
calculada por meio de um balanço de massa similar ao utilizado para um reator de mistura comple-
ta com operação contínua, conforme apresentado no Capítulo 7 [Eq. (7–43)]:
(7–43)
(7–15)
Como Q 0 para o reator batelada, a concentração de substrato é dada pela Eq. (8-46).
(8–46)
(8–47)
(8–48)
A taxa de crescimento específico máximo para as bactérias nitrificantes é afetada pela concentra-
ção de OD [Eq. (7–94)], e assim o seu efeito é incluído na Eq. (8–49).
(8–49)
744 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
(8–50)
onde F(VT) fração do volume total do RBS ocupado pelos sólidos sedimentados
As frações de enchimento permitidas são mostradas na Fig. 8–21 em função do IVL e con-
centração de SSLM e considerando-se o volume total do reator. As frações de enchimento são
baseadas na necessidade de manter um nível mínimo de líquido entre o vertedor de descarga do
clarificado e do lodo sedimentado variando de 0,2 a 0,5 m. Dependendo do projeto do vertedor/
Decantador de efluente clarificado e a turbulência resultante durante a etapa de descarga, pode ser
necessário utilizar uma menor fração de enchimento do que aquele resultante para uma dada con-
centração de SSML e IVL. A fração de enchimento é de 25% ou menos, para possibilitar a obten-
ção de um efluente com baixa concentração de sólidos em suspensão após a etapa de sedimentação.
O volume de enchimento por ciclo, baseado no número de ciclos por dia e vazão diária, é utilizado
em conjunto com a fração de enchimento para obter o volume do RBS. O procedimento de projeto
para um RBS é apresentado na Tabela 8–17 e ilustrado no Exemplo 8–5.
8–6 Processos para remoção de DBO e nitrificação P 745
0,50
0,30
0,10
0,00
2500 3000 3500 4000 4500 5000
SSLM, mg/L
Item Descrição
1. Obter os dados de caracterização do efluente a ser tratado, definir a
qualidade do efluente tratado e definir os fatores de segurança.
2. Definir o número de RBS.
3. Definir os tempos de reação/aeração, sedimentação e descarga. Calcular o
tempo de enchimento e o tempo total por ciclo. Calcular o número de ciclos
por dia.
4. A partir do número de ciclos por dia, calcular a volume de enchimento por
ciclo.
5. Definir a concentração de SSLM e calcular a fração de enchimento em relação
ao volume total do reator. Calcular a profundidade de clarificado a ser
mantido no reator. Com os valores calculados obter o volume do RBS.
6. Calcular o TRS para o projeto de RBS desenvolvido.
7. Calcular a quantidade de NKT que é nitrificada, em relação ao total
alimentado.
8. Calcular a concentração de biomassa nitrificante e verificar se o tempo
de aeração adotado é suficiente para atingir a eficiência de nitrificação
necessária.
9. Ajustar o projeto caso necessário, iterações adicionais podem ser necessárias.
10. Calcular a vazão de bombeamento do decantado.
11. Calcular a demanda de oxigênio e a taxa média de transferência.
12. Calcular a quantidade de lodo produzida.
13. Calcular a relação A/M e a carga volumétrica de DBO.
14. Verificar a necessidade de dosagem de alcalinizante.
15. Elaborar um resumo do projeto.
746 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
Solução
1. Obtenha as características do afluente e efluente necessárias para o projeto.
a. Calculara a DQOb.
DQObs 1,6(DBOs)
DQOnbp DQO DQOb DQOnbs (485 352 32) g/m3 101 g/m3
8–6 Processos para remoção de DBO e nitrificação P 747
c. Calcular SSTi.
Adote: tA 2,0 h
tS 0,50 h
tD 0,50 h
tI 0
Então, tF 2,0 0,50 0,50 3,0 h para cada reator (Nota: A aeração do efluente
pode ser feita durante o período de enchimento, mas se ocorrer aeração por mais de
50% do período de enchimento poderá ocorrer o desenvolvimento de bactérias fila-
mentosas.)
Número de ciclos/reatorⴢd
Volume de enchimento/ciclo
(continua)
748 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
(continuação)
4. Calcule o TRS.
a. Utilize as Eqs. (8–20), (8–21) e (7–57) da Tabela 8–10 para obter a relação que pode
ser aplicada para obter (PX, SST) TRS.
b. Obtenha os dados de entrada para solucionar a equação acima para obter o TRS:
Admita So ⬇ So S
Aeróbia:
bn,12°C 0,17 g/gⴢd(1,029)12-20 0,135 g/gⴢd
Anóxica:
bn,12°C 0,07 (g/gⴢd)(1,029)12-20 0,056 g/gⴢd
Média:
bn,12°C 0,135 g/gⴢ(tA/TC) 0,056 (1 tA/TC) g/gⴢd
fd 0,15 g/g
8–6 Processos para remoção de DBO e nitrificação P 749
Resolva para TRS (utilizar uma planilha eletrônica com o Solver, ou resolva por ten-
tativas sucessivas)
TRS 26,5 d
5. Calcule a concentração de SSVLM.
a. Resolva a Eq. (7–56) da Tabela 8–10 (TRS 26,5 d) (So So S).
(continuação)
NOx 26,1 g/m3 Nota: a iteração substituindo o valor 26,1 no lugar do valor adotado, 28
g/m3 de NOx no item B acima resulta em NOx 26,1 g/m3.
7. Avalie o grau de nitrificação para verificar se o N-NH4 será removido para atingir a con-
centração final de 1,0 g/m3 em um período de aeração de 2 h.
a. Calcule a quantidade de N oxidável disponível. (Admita que todo o nitrogênio orgâni-
co é convertido em N-NH4)
NOx 26,1 g/m3 N-NH4 na corrente de alimentação que pode ser oxidada
Concentração inicial
Ko 0,50 g/m3
ii. Calcule o tempo para reação.
VF 946,3 m3
Vazão de bombeamento
Número de ciclos/d 4
(continua)
(continuação)
Tempo de aeração/ciclo 2 h
Nota: A demanda de oxigênio será muito maior no início do período de aeração; assim,
a capacidade do sistema de transferência de oxigênio deverá ser maior que a taxa de
transferência média. A taxa de transferência de oxigênio deve ser multiplicada por um
fator entre 2,0 e 3,0 para possibilitar uma transferência adequada de oxigênio no início do
ciclo e para atender à´s` cargas de pico.
10. Calcule a produção de lodo com a Eq. (7–57). (SSLM XSST)
DQOb
DBO removida
DQOb DBO
Ar Ar Ar Ar
Clarificador
secundário
Afluente Efluente
Lodo
Respiração endógena
1 2 3 4
Estágios
FIGURA 8–23 Mudanças nas taxas de consumo de oxigênio no processo de lodo ativado em estágios.
Solução
1. Calcule o valor do TRS e a concentração de bactérias nitrificantes para o sistema de um
estágio, t 8 h 0,33 d, N 0,50 g/m3.
a. Obtenha a taxa de crescimento específico utilizando a Eq. (7–94) da Tabela 8–10.
Q, NOx
N1 , Rn,1 N2 , Rn ,2 N3 , Rn ,3 N4 , Rn ,4
Lodo
(continua)
756 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
(continuação)
a. Para o estágio 1
Acúmulo entrada saída produção
A expressão para a taxa de nitrificação, derivada da Eq. (7–101) da Tabela 8–10 inclui
a correção para a concentração de OD.
NOx 30 g/m3
c. Para o estágio 3
d. Para o estágio 4
Para o estágio 1:
4. As equações acima podem ser resolvidas em uma planilha eletrônica para os quatro
estágios, começando pelo Estágio 1, com a utilização do Solver no programa Excel®,
ou por um método iterativo. No método iterativo adota-se um valor para N4 e calcula-se
N1 e na sequência N2, N3 e N4 são calculados. Utilizando-se o Solver, as concentrações
subsequentes de N-NH4 são calculadas para cada estágio, considerando-se uma taxa
de reciclo de 0,50. Além dos resultados obtidos para as condições acima, também são
apresentados os resultados para uma taxa de reciclo de lodo igual a 6,0, que é típica para
sistemas MBR.
Comentário
Pelos resultados acima, é possível obter o mesmo grau de nitrificação, pelo menos em teoria,
com a utilização de um sistema de quatro estágios, em um volume de menos de 75% do vo-
lume necessário para um sistema de LACM. Assim, um reator de nitrificação em estágios é
mais eficiente que um reator de LACM e pode operar com um menor TRS, o que resulta em
menor volume total. Ou, para os mesmos TRS e volume, o sistema em estágios pode produzir
um efluente com menor concentração de N-NH4 durante os períodos de variação diária das
cargas de amônia. A concentração de N-NH4 no efluente final será maior em um sistema
MBR, o qual apresenta maior taxa de reciclo de lodo. O efeito da maior taxa de reciclo de
lodo é a diluição da concentração de N-NH4 afluente, de maneira que a sua concentração será
menor no primeiro estágio. Como a taxa de nitrificação está relacionada com a concentração
de N-NH4, a taxa será menor e, assim, a concentração no efluente será maior para o mesmo
volume do reator.
FIGURA 8–24 Vista dos reatores de fluxo pistonado na Estação de Tratamento de Efluentes de Owls
Head, Nova Iorque. (Coordenadas 40.6431 N, 74.0337 W, a uma altitude de 900 m. (Cortesia do De-
partamento de Proteção Ambiental da Cidade de Nova Iorque.)
Processos de alta taxa. Os processos de alta taxa, identificados na Tabela 8–18 de (a) até (f),
se diferem dos demais em função da sua configuração, projeto do equipamento de aeração, tempo
de retenção de sólidos, modo de operação e capacidade de remoção de nitrogênio, e, ainda, pelo
fato de alguns serem patenteados. Os processos de estabilização e de contato com oxigênio puro
são utilizados, principalmente, para a remoção de DBO e são projetados para operar com TRS rela-
tivamente curtos, o que exige menor espaço para a sua instalação, em relação aos outros processos.
Esses processos são uma opção adequada para os munícipios ou aplicações onde há limitação de
espaço e não é necessário promover a nitrificação. Os processos com fluxo pistonado convencional,
alimentação distribuída e de mistura completa são utilizados para a remoção de DBO e nitrificação
e operados com uma ampla faixa de valores de TRS, dependendo da temperatura do efluente e
exigências de tratamento. A principal motivação para a utilização do processo com dois reatores
biológicos é a redução da demanda externa de energia na estação de tratamento de efluentes. A
remoção de DBO com baixo TRS, em um primeiro estágio de alta taxa, exige menor quantidade
de energia para a aeração e resulta na transferência de grande quantidade de material orgânico do
afluente para o reator anaeróbio para aumentar a produção de metano.
Processos de baixa taxa. Diferente dos processos descritos acima, os demais processos apre-
sentados na Tabela 8–18, de (g) até (n), são operados, geralmente, com maiores tempos de aeração
e TRS, embora os valores de oxidação também tenham sido operados com baixos TRS para pro-
piciar uma alternativa de mistura e aeração para os processos de LACM utilizando ar difuso. Os
processos de aeração prolongada convencional, valos de oxidação, Orbal™ e CCAS™ são comu-
mente utilizados em estações de tratamento de efluentes de pequeno porte e utilizam um esquema
de tratamento simplificado, com a eliminação do tratamento primário e da digestão anaeróbia. Um
valo de oxidação e o processo Biolac® são mostrados nas Figs. 8–25 (a) e (b), respectivamente (pá-
gina 794) e são descritos nos itens (h) e (k) da Tabela 8–18. Sistemas desse tipo utilizam reatores
com TRS superiores a 20 dias.
Esse arranjo de processo é atrativo para pequenas comunidades, onde não há restrições em relação
à disponibilidade de área e quando se prefere uma operação menos complexa. O grande volume do
reator possibilita uma equalização adequada na ocorrência de vazões e cargas de pico e a obtenção de
um efluente tratado de alta qualidade. Com exceção do processo de aeração prolongada convencional,
os sistemas são operados para possibilitar a desnitrificação do efluente, além da nitrificação. A aeração
e mistura de processos com dois canais de escoamento (valo de oxidação, Orbal™ e CCAS™), reque-
rem muito menos energia para mistura do que a exigida para a aeração, de maneira que o projeto do
equipamento de aeração é baseado na demanda de oxigênio para o processo biológico e não para mis-
TABELA 8–18 Descrição dos processos de lodo ativado para a remoção de DBO e nitrificação
Processo Descrição
(a) Lodo ativado completamente misturado (LACM) O processo de LACM é uma variação do reator de mistura completa, no
qual o efluente e o lodo recirculados são alimentados em vários pontos do
Reator biológico
reator biológico. A carga orgânica, concentração de SSLM e a demanda
de oxigênio são uniformes em todo o reator. Uma vantagem desse processo
Clarificador Clarificador
primário
é a diluição das cargas de choque que ocorrem no tratamento de efluentes
secundário
Afluente Efluente industriais. Ele tem uma operação relativamente simples, mas tende a
ter baixas concentrações de substratos orgânicos (baixa relação A/M),
que favorecem o crescimento de bactérias filamentosas, resultando na
ocorrência de lodo volumoso.
Retorno de lodo ativado
Lodo
Lodo
(b) Fluxo pistonado convencional O processo de lodo ativado de fluxo pistonado convencional resultou
do uso de tanques de aeração estreitos e compridos como resultado da
Clarificador
utilização de paredes internas para a sua compartimentação e aeração
primário com bolhas grossas para mistura e aeração. A área, resultante da largura
Afluente limitada e profundidades variando entre 5 a 6 metros, exigia tanques
Clarificador com comprimento de 100 m. O efluente primário decantado e o retorno
secundário do lodo ativado (RLA) são alimentados no reator e, geralmente, passam
Efluente
por três ou quatro canais (passes) antes de seguir para o clarificador
secundário. A demanda de oxigênio é muito alta na entrada do reator e
Lodo diminui ao longo do comprimento dele. O sistema de aeração deve ser
Retorno de lodo ativado projetado para atender a variação na demanda de oxigênio e tem sido
Lodo denominado aeração gradual a fim de indicar a alteração nas taxas de
aeração na entrada do reator para taxas mais baixas em direção à saída.
Na prática, não existem reatores de fluxo pistonado ideais em função da
mistura causada pelo sistema de aeração. É possível adicionar paredes
divisórias em locais apropriados para que seja obtido o número adequado
de reatores em série com os volumes desejados.
(continua)
8–6 Processos para remoção de DBO e nitrificação P 759
TABELA 8–18 (continuação)
Processo Descrição
(c) Alimentação distribuída O reator com alimentação distribuída é uma modificação do reator de
fluxo pistonado convencional, no qual o efluente primário é alimentado
em 3 a 4 pontos no reator para equalizar a relação A/M e assim
Clarificador
reduzir a demanda de oxigênio de pico. Geralmente, três ou mais canais
primário
Afluente paralelos são utilizados. A flexibilidade operacional é uma das principais
Clarificador características deste processo, uma vez que que a alimentação do efluente
Reator secundário a ser tratado pode ser alterada para ajustar as condições operacionais. A
Efluente
concentração de SSLM pode ser de 5000 a 9000 mg/L no primeiro passe,
sendo reduzida nos passes subsequentes à medida que mais afluente é
Lodo adicionado. O processo de alimentação distribuída tem a capacidade
de manter um maior inventário de sólidos e, assim, um maior TRS para
Retorno de lodo ativado
o mesmo volume de um processo de fluxo pistonado convencional. O
Lodo processo de alimentação distribuída também pode ser operado no modo
de estabilização-contato pela alimentação somente no último passe, e as
vazões resultantes de eventos de chuva podem ser desviadas para o último
passe de maneira que a carga de sólidos para o clarificador secundário
possa ser minimizada.
(d) Estabilização-contato O processo de estabilização e contato utiliza dois reatores ou
compartimentos para o tratamento do efluente e estabilização do lodo
Clarificador
ativado. O lodo ativado estabilizado é misturado com o afluente (bruto
primário ou clarificado) na região de contato. O tempo de detenção hidráulico
Afluente na região de contato é menor do que na região de estabilização. A
Clarificador
secundário remoção da DBO solúvel ocorre na região de contato e os sólidos
Efluente orgânicos coloidais e particulados são capturados no floco de lodo
Estabilização Contato
ativado para posterior degradação na região de estabilização. Na
região de estabilização, o retorno de lodo ativado (RLA) é aerado e o
760 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
Processo Descrição
(e) Processo com dois reatores biológicos O processo com dois reatores é um sistema que utiliza um estágio de lodo
ativado de alta taxa para a remoção de DBO seguido de um estágio para
(Desvio – opcional)
a nitrificação, o qual é operado com um maior TRS. Uma parte do afluente
pode ser desviada para o estágio de nitrificação para disponibilizar DBO e
Clarificador Clarificador sólidos suspensos para o processo de nitrificação e promover a floculação
primário secundário Clarificador e captura de sólidos no clarificador. A separação do estágio de remoção
Afluente Reator 1 Reator 2 Efluente de DBO do estágio de nitrificação reduz a demanda de energia para
(remoção nitrificação
de DBO) (NH+4) a aeração no processo de lodo ativado e possibilita o envio de maior
quantidade de material orgânico para o digestor anaeróbio, aumentando
a produção de metano (Boehnke et al., 1997). A utilização de um sistema
Retorno de lodo ativado Retorno de lodo ativado com dois estágios também permite a remoção de substâncias tóxicas no
primeiro estágio para proteger as bactérias nitrificantes mais sensíveis, mas
Lodo Lodo Lodo
esse problema é normalmente evitado pela exigência de programas de pré-
-tratamento de efluentes industriais.
(f) Processo com oxigênio puro Um reator em estágios confinado é utilizado nos processos de lodo
ativado com oxigênio puro (McWhirter, 1978). Geralmente, de três a
Exaustão
quatro estágios são utilizados e o afluente, o RLA e o oxigênio puro são
Válvula de Sinal de
controle de oxigênio alimentados no primeiro estágio. O gás contido nos espaços superiores
pressão
do reator e o liquor misto escoam em contracorrente entre os estágios. A
Oxigênio pressão parcial do oxigênio no espaço superior pode variar de 40 a 60%
Clarificador no primeiro estágio e até 20% no último estágio. Com pressões parciais
Afluente
secundário de oxigênio superiores, maiores taxas volumétricas de transferência são
Efluente possíveis, de maneira que os sistemas com oxigênio puro podem ter uma
maior concentração de SSLM e operar com menores tempos de detenção
hidráulico e maiores cargas orgânicas volumétricas, em comparação aos
Retorno de lodo ativado processos convencionais. A taxa de injeção de oxigênio é de 2 a 3 vezes
superior que aquela utilizada nos sistemas de aeração convencional.
Lodo Equipamentos de geração de oxigênio são necessários para a obtenção
de oxigênio puro para utilização no processo, o que torna a operação
do processo mais complexa em comparação ao processo de lodo ativado
convencional. A capacidade de nitrificação é limitada nos processos que
utilizam oxigênio puro devido ao acúmulo de dióxido de carbono nos
espaços superiores do reator, resultando na redução do pH do liquor misto
(abaixo de 6,5). As principais vantagens dos sistemas que utilizam oxigênio
puro são o menor espaço para instalação e uma redução significativa dos
gases de exaustão, caso o controle de odor e de COV seja necessário.
(continua)
8–6 Processos para remoção de DBO e nitrificação P 761
TABELA 8–18 (continuação)
Processo Descrição
(g) Aeração prolongada convencional O processo de lodo ativado com aeração prolongada é projetado com
um TRS muito alto (20 a 30 d) e tempos de detenção hidráulico de 24
Clarificador
horas ou mais. Em função do grande volume necessário e da demanda
secundário de oxigênio relativamente baixa, o projeto do equipamento de aeração é
Afluente Caixa Efluente controlado pela necessidade de mistura e não pela demanda de oxigênio.
Peneira Reator
de areia O processo é amplamente utilizado em sistemas de tratamento de pequeno
porte, em pequenas comunidades. Geralmente, não é feita a clarificação
Retorno de lodo ativado
primária do efluente. Os clarificadores secundários são projetados com
Resíduos Detritos
taxas de aplicação hidráulica menores do que aquelas utilizadas para os
Lodo clarificadores dos sistemas de lodo ativado convencional, para possibilitar
um melhor gerenciamento das grandes variações de vazão que são
típicas em pequenas comunidades. Embora os biossólidos sejam bem
estabilizados, a estabilização adicional de biossólidos é necessária para
permitir o reúso benéfico (ver Capítulo 14).
(h) Valo de oxidação Um valo de oxidação consiste de um canal na forma de anel ou elíptica,
equipada com dispositivos mecânicos para aeração e mistura. O afluente
peneirado e desarenado é alimentado no canal e é combinado com o
lodo ativado de retorno. A configuração do reator e dispositivos de mistura
Afluente
e aeração promovem o escoamento unidirecional no canal, de maneira
Clarificador que a energia utilizada para a aeração é suficiente para promover a
secundário
Efluente mistura em um sistema com um tempo de detenção hidráulico relativamente
longo. O método de aeração/mistura utilizado fornece uma velocidade
de escoamento no canal entre 0,25 a 0,30 m/s, que é suficiente para
manter o lodo ativado em suspensão. Com essas velocidades, o liquor misto
Retorno de lodo ativado
completa uma volta no tanque entre 5 e 15 minutos e a vazão de circulação
Lodo é suficiente para diluir a vazão afluente por um fator de 20 a 30. Como
762 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
Processo Descrição
(i) Orbal® O processo Orbal® é uma variação do valo de oxidação e utiliza uma
série de canais concêntricos dentro da mesma estrutura. O efluente é
alimentado no canal externo e é misturado com o liquor misto à medida
Anóxico
Aeróbio
que ocorre o escoamento para o centro da estrutura, por pelo menos dois
Clarificador
secundário canais adicionais antes de atingir um clarificador interno ou uma caixa de
Afluente Efluente distribuição. Discos de aeração são montados em um eixo horizontal para
possibilitar a aeração. A profundidade dos canais pode atingir até 4,3
metros. Uma versão do projeto Orbal (Bionutre™) limita a taxa de aeração
no primeiro canal de maneira que ocorre a nitrificação e desnitrificação do
efluente.
Reciclo (opcional)
Lodo
(j) Sistema de aeração em contracorrente (CCAS™) No processo de aeração em contracorrente, do inglês Counter Current
Aeration System (CCAS), um único sistema de aeração é empregado, no
Difusores
qual os difusores de ar são montados na base de uma estrutura que gira no
Ar interior de um reator circular. Como a velocidade de circulação da estrutura
Suporte rotativo dos
difusores e passarela
é maior do que a do conteúdo do reator, ocorre a dispersão de bolhas em
Clarificador
um movimento de varredura atrás dessa estrutura circulante. Quando o
secundário suprimento de ar é interrompido, o movimento dos difusores fornece uma
Afluente Efluente quantidade suficiente de energia para manter o conteúdo do tanque em sus
pensão. O processo é operado com uma concentração de OD variando
entre 0,7 e 1,0 mg/L. Essa concentração de OD é suficiente para permitir
a nitrificação com TRS elevados, ao mesmo tempo em que possibilita a
ocorrência de condições anóxicas para promover a desnitrificação. O
Lodo
sistema é, normalmente, projetado com TRS prolongado em condições
aeróbias.
Retorno de lodo ativado
(continua)
8–6 Processos para remoção de DBO e nitrificação P 763
TABELA 8–18 (continuação)
Processo Descrição
(k) Processo Biolac™ O processo Biolac, que é patenteado, é projetado para operar com elevado
TRS e aeração submersa, em tanques escavados no solo. A aeração é
Válvula de Distribuidor de
feita por meio de difusores de membranas de bolhas finas, fixados em
controle de vazão ar na superfície uma estrutura transversal que se move no interior do reator com auxílio
Ar Mangueira de ar do ar liberado pelos difusores. A profundidade típica do reator varia
entre 2,4 a 4,6 m e o processo pode ser projetado para possibilitar a
nitrificação do efluente, uma vez que o TRS varia entre 40 e 70 dias. A
relação A/M varia de 0,04 a 0,1 e os SSLM de 1500 a 5000g/m3. Uma
0,3 m variação do processo padrão, conhecida como oxidação modificada em
onda, possibilita a ocorrência simultânea dos processos de nitrificação e
desnitrificação por meio da utilização de temporizadores para possibilitar a
Contra peso Difusores de ar aeração cíclica em cada estrutura de aeração. A separação sólido-líquido
pode ser feita tanto por sedimentadores internos como externos.
(l) Reator batelada sequencial (RBS) O RBS é um sistema que utiliza um reator do tipo carga e descarga de
mistura completa, no qual ocorrem todas as etapas de tratamento pelo
Afluente
processo de lodo ativado. Para o tratamento de efluentes domésticos de
Ar
forma contínua são necessários, pelo menos, dois reatores, de maneira
Efluente que, enquanto um dos reatores está recebendo o efluente, o outro está no
ciclo de reação, sedimentação e descarte do efluente tratado. Um RBS
pode ter mais de um ciclo de operação por dia, o qual consiste em 3 horas
de enchimento, 2 horas de reação, 0,5 hora de sedimentação e 0,5 hora
Enchimento Reação/aeração Sedimentação Descarte
para o descarte do sobrenadante. Também é possível incluir um tempo de
espera, para dar maior flexibilidade ao sistema, principalmente no caso da
ocorrência de vazões de pico. O liquor misto é mantido no reator durante
todos os ciclos, o que elimina a necessidade de um clarificador secundário.
O descarte do efluente clarificado pode ser feito por vertedores fixos ou
764 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
Processo Descrição
(m) Sistema de aeração prolongada com ciclo intermitente (ICEAS™) O processo ICEAS, desenvolvido na Austrália, é um outro tipo de RBS para
tratamento de efluentes domésticos com vazões de até 500.000 m3/d. O
O decantador flutua
afluente é alimentado continuamente no reator que opera com os mesmos
na superfície da água ciclos de reação, sedimentação e descarte de um RBS. A diferença é que
o efluente a ser tratado é alimentado em uma câmara isolada do reator,
Afluente denominada região de pré-reação, de maneira que a vazão afluente não
causa turbulência no liquor misto durante as etapas de sedimentação
e descarte. O efluente escoa através de aberturas distribuídas na parte
Efluente inferior da parede, que separa a região de pré-reação da região principal
de reação, onde ocorre a remoção de DBO e a nitrificação. Após as etapas
Câmara de Câmara de aeração e sedimentação o líquido decantado é removido por meio de
pré-reação principal um mecanismo de descarte automatizado. O descarte de lodo também
ocorre durante essa fase.
(n) Sistema de lodo ativado cíclico (CAAS™) No processo CAAS o reator é dividido por em três compartimentos por
meio da utilização de chicanas em uma proporção volumétrica de 1/2/20
Ar
e o liquor misto é recirculado da Região 3 para a Região 1. A nitrificação
Recirculação do liquor misto ocorre em função do elevado TRS utilizado. Admite-se que a redução do
nitrato ocorre no manto de lodo durante os períodos de sedimentação e
descarte do efluente clarificado, assim como nos períodos de operação com
Efluente baixas concentrações de oxigênio dissolvido. Como no processo ICEAS,
(descarga o afluente é alimentado continuamente, enquanto o efluente é removido
em batelada) de forma intermitente. No passado imaginava-se que o valo de oxidação
Reação/aeração
e os processos de aeração prolongada necessitavam de longos TRS para
Afluente
(alimentação possibilitar a obtenção de biossólidos bem estabilizados para reúso.
contínua) Contudo, com as normas mais restritivas para o controle da estabilização
de biossólidos (ver Capítulo 14), atualmente são utilizadas unidades
separadas de digestão aeróbia para atender as exigências estabelecidas
de reúso de biossólidos.
8–6 Processos para remoção de DBO e nitrificação P 765
766 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
(a) (b)
(c) (d)
FIGURA 8–25 Vistas de processos alternativos de lodos ativados: (a) valo de oxidação com rotores tipo
escova, (b) valo de oxidação vazio com rotores tipo escova e paredes laterais inclinadas (paredes verticais
são mais comuns), (c) valo de oxidação com aerador superficial tipo turbina e misturador e (d) processo
Biolac® com clarificador interno.
tura do reator. Nessa condição há menor consumo de energia em comparação com o processo de aera-
ção prolongada convencional, no qual a energia para mistura controla o projeto do sistema de aeração.
No passado, imaginava-se que os processos de tratamento em valos de oxidação e aeração prolongada
necessitavam de longos TRS para produzir um biossólido para reúso bem estabilizado. Contudo, com
uma legislação mais restritiva para a estabilização de biossólidos (ver Capítulo 14), o uso de instala-
ções independentes de digestão aeróbia é necessário para atender aos requisitos para reúso.
Processos sequenciais. Os processos de lodo ativado operados sequencialmente e que não
utilizam clarificadores separados também foram descritos na Tabela 8–18 [(l) a (n)]. Esses proces-
sos incluem o reator batelada sequencial, o reator com decantação em batelada e o sistema de lodo
ativado cíclico. A operação desses reatores é feita, geralmente, com tempos de detenção hidráulico
(t) e de retenção de sólidos (TRS) elevados. Portanto, são processos adequados para utilização em
pequenas comunidades, em função de sua simplicidade e custo relativamente baixo, e também po-
dem ser adaptados para permitir a remoção de nitrogênio, como discutido na Seção 8–7.
Parâmetros de projeto e operação. Os parâmetros típicos utilizados para o projeto e a ope-
ração dos vários processos de lodo ativado são apresentados na Tabela 8–19. Os reatores podem ser
de mistura completa, em estágios ou de fluxo pistonado. O valo de oxidação é uma combinação do
reator de mistura completa e fluxo pistonado. A vazão de recirculação no valo de oxidação resulta
em uma vazão de escoamento no interior do reator que pode atingir 20-30 vezes a vazão afluente,
de maneira que o fator de diluição de substrato aproxima-se daquele obtido em um reator de mis-
tura completa. Além disso, as condições cinéticas de um reator de fluxo pistonado são abordadas
à medida em que o efluente escoa pelos canais do reator para longe da região de mistura aerada.
Considerações sobre a escolha do processo. A escolha de um processo de lodo ativado
para a remoção de DBO e nitrificação depende de vários fatores, incluindo as limitações específi-
cas do local, compatibilidade com os processos e equipamentos existentes, necessidades presentes
e futuras de tratamento, capacitação da equipe de operação e custos de implantação e operação. As
características e limitações mais relevantes dos vários processos de lodo ativado que podem afetar
a sua escolha para uma determinada aplicação estão resumidas na Tabela 8–20.
8–7 Processos para remoção biológica de nitrogênio P 767
TABELA 8–19 Parâmetros típicos de projeto para os processos de lodo ativado comumente utilizados
Carga volumétrica
A/M,
kg DBO/ lb DBO/ kg DBO/
Nome do processo Tipo de reator TRS, d kg SSVLMⴢd 1000 ft3ⴢd m3ⴢd SSLM, mg/L t Total, h
Aeração de alta taxa LACM ou fluxo 0,5–2 1,5–2,0 75–150 1,2–2,4 500–1500 1–2
(primeira etapa do pistonado
processo com dois
reatores)
Estabilização e LACM ou fluxo 5–10 0,2–0,6 60–75 1,0–1,3 1000–3000a 0,5–1a
contato pistonado 6000–10.000b 2–4b
Oxigênio puro Em estágios 1–4 0,5–1,0 80–200 1,3–3,2 2000–4000 1–3
Fluxo pistonado Fluxo pistonado 3–15 0,2–0,4 20–40 0,3–0,7 1000–3000 4–8
convenc.
Alimentação Fluxo pistonado 3–15 0,2–0,4 40–60 0,7–1,0 1500–4000 3–5
distribuída ou em estágios
Mistura completa LACM 3–15 0,2–0,6 20–100 0,3–1,6 1500–4000 3–6
Aeração prolongada LACM ou 20–40 0,04–0,1 5–15 0,1–0,3 2000–4000 20–30
pistonado
Valo de oxidação LACM 15–30 0,04–0,1 5–15 0,1–0,3 3000–5000 15–30
pistonado
Decantação em Pistonado 12–30 0,04–0,1 5–15 0,1–0,3 2000–5000 20–40
batelada
(ICEAS, CAAS)
Reator batelada Batelada 15–30 0,04–0,1 5–15 0,1–0,3 2000–5000 15–40
sequencial
Sistema de aeração Pistonado 15–30 0,04–0,1 5–10 0,1–0,3 2000–4000 15–40
em contracorrente
(CCASTM)
a
SSLM e tempo de detenção no reator biológico.
b
SSLM e tempo de detenção na câmara de estabilização.
TABELA 8–20 Vantagens e limitações dos processos de lodo ativado para a remoção de DBO e nitrificação
Aeração prolongada Possibilidade de obter um efluente de elevada Uso elevado de energia para aeração
qualidade
Projeto e operação relativamente simples Reatores relativamente grandes
Capacidade de tratamento de efluentes com carga Principalmente adaptado para instalações de
altamente variável e cargas tóxicas intermitentes pequeno porte
Lodo bem estabilizado e baixa produção de Potencial de formação de lodo volumoso
biossólidos
Valo de oxidação Processo altamente confiável e operação simples Estruturas de grande porte, necessidade de espaço
Capaz de tratar cargas de choque ou tóxicas sem Baixa relação A/M, desenvolvimento de
afetar a qualidade do efluente filamentosas
Processo de baixo custo para unidades de Exige maior energia para aeração em
pequeno porte comparação aos processos de LACM e de fluxo
pistonado
Consome menos energia do que a aeração A expansão da capacidade de tratamento é mais
prolongada difícil
Pode ser adaptado para remoção de nutrientes
Possibilidade de obtenção de um efluente de
elevada qualidade
Lodo bem estabilizado e baixa produção de
biossólidos
(continua)
8–7 Processos para remoção biológica de nitrogênio P 769
Desenvolvimento do processo
Os antecedentes da remoção biológica de nitrogênio datam das observações da década de 1940 de
estudos na flotação do lodo em clarificadores secundários em função dos processos de nitrificação
e desnitrificação (Sawyer e Bradney, 1945). O primeiro arranjo de um processo para remoção bio-
lógica de nitrogênio em uma estação de tratamento de efluentes envolveu a instalação de um tanque
770 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
cujo conteúdo era misturado, mas não aerado (pós-anóxico), após um reator aeróbio de nitrificação.
Esse arranjo foi inicialmente proposto, implantado e discutido por Wuhrman em uma série de con-
gressos realizados entre 1960 e 1962 (Wuhrman, 1964; Bishop et al., 1976). Wuhrman observou
que as bactérias desnitrificantes eram abundantes no lodo ativado e foi o primeiro a constatar a ni-
trificação e desnitrificação simultânea no lodo ativado. Ele também observou que a desnitrificação
ocorria como resultado de uma baixa concentração de OD no liquor misto, que era insuficiente para
difundir no interior das partículas de flocos, onde a redução de nitrato poderia ocorrer.
Com base nas observações de Wuhrman sobre a desnitrificação em baixas concentrações de
OD, os pesquisadores Ludzack e Ettinger estudaram o efeito da recirculação do liquor misto da
região aeróbia nitrificante para outra região a jusante não aerada mantida sob agitação, de maneira
que a DBO efluente pudesse ser utilizada para desnitrificação. Esse foi o primeiro processo pré-
-anóxico para a remoção de nitrogênio (Ludzack e Ettinger, 1962). Posteriormente, Balakrishnan e
Eckenfelder (1970) promoveram a reciclagem de nitrato presente no efluente secundário clarifica-
do para uma região de estabilização não aerada, mantida sob agitação, de um processo de estabili-
zação e contato, antes da região de contato aeróbia e do clarificador secundário. Uma desvantagem
desse procedimento foi a maior carga hidráulica no clarificador secundário em função da vazão de
reciclo. Em 1974 Barnard incluiu as regiões pré-anóxica e pós-anóxica de desnitrificação no Pro-
cesso Bardenpho. Embora o processo Bardenpho pudesse possibilitar a obtenção de um efluente
tratado com concentração de nitrogênio total abaixo de 3,0 mg/L, na década de 1970 não se consi-
derava necessário obter um efluente com concentração tão baixa, assim, a região pós-anóxica não
era necessária e era mais comum utilizar apenas as etapas pré-anóxica/aeróbia. Essa sequência
anóxica/aeróbia, com o reciclo da região de aeração para a pré-anóxica, foi denominada processo
Modificado de Ludzack Ettinger ou processo MLE.
Além desse trabalho com regiões anóxicas e aeróbias distintas, outros pesquisadores avaliaram
a operação cíclica aeróbia/mistura para a remoção de nitrogênio por nitrificação e desnitrificação
em reatores únicos ou em série (Bishop et al., 1976). Durante o mesmo período de tempo, Matsche
demonstrou que um sistema com valo de oxidação, em um único tanque, possibilitava uma eleva-
da remoção de nitrogênio na estação de tratamento de efluentes de Vienna Blumental (Matsche,
1972). Todos os processos de remoção de nitrogênio citados foram aplicados em sistemas de lodo
ativado de um estágio, o que implicava na utilização de um único clarificador secundário para a
separação sólido-líquido. Contudo, no final da década de 1960, um sistema com três reatores de
lodo ativado em estágios foi testado em laboratório (Barth et al., 1968) e depois demonstrado em
escala-piloto (Heidman et al., 1975), possibilitando uma elevada eficiência de remoção de nitro-
gênio total, isto é, obtendo-se um efluente com concentração de nitrogênio total de 3,0 mg/L. O
sistema era constituído por: (1) processo de lodo ativado de alta taxa para remoção de DBO com
clarificador, (2) processo de lodo ativado para nitrificação com clarificador e (3) processo de lodo
ativado para desnitrificação com clarificador.
Para a desnitrificação no terceiro estágio foi feita a adição de metanol como doador de elétron.
No final da década de 1990 e início da década de 2000 esse sistema foi testado e instalado em es-
cala real, mas apenas com dois reatores, com nitrificação e pós-desnitrificação, e com a adição de
metanol no segundo reator (Bailey et al., 1998 e Sadick et al., 2000).
Seguindo tais aplicações inovadoras das décadas de 1960 e 1970, para a remoção de nitrogê-
nio, foi possível obter uma melhor compreensão sobre a cinética dos processos de nitrificação e
desnitrificação, a qual pôde ser aplicada nos projetos desses processos e de outras modificações
desenvolvidas a partir da década de 1980. Esses processos são discutidos nas seções apresentadas
a seguir.
nitrito necessita de um doador de elétron, o qual pode ser suprido na forma de DBO presente no
afluente, por respiração endógena ou por uma fonte externa de carbono. O tipo de processo de re-
moção biológica de nitrogênio é classificado nesta seção de acordo com o local do reator anóxico
em relação à etapa de nitrificação, conforme relacionado abaixo:
1. Processos de desnitrificação pré-anóxicos
2. Processos de desnitrificação pós-anóxicos
3. Processos com baixa concentração de OD e nitrificação/desnitrificação cíclica
Além das diferenças na configuração do reator de cada um desses tipos de processos, a fonte
primária de substrato e as cinéticas de redução de nitrato também variam. Deve ser observado que o
projeto e as condições de operação de sistemas com RBS podem ser selecionados para possibilitar
que qualquer um dos tipos de processos de desnitrificação possam ocorrer, em várias combinações,
incluindo: (1) um processo pré-anóxico e pós-anóxico, (2) um processo pré-anóxico e baixa con-
centração de OD ou (3) um processo pré-anóxico e nitrificação/desnitrificação cíclica. A remoção
simultânea de fósforo é introduzida nesta seção, mas o tema sobre remoção biológica de fósforo
assistida é discutido em detalhes na Seção 8–8.
Processo de desnitrificação pré-anóxica. Na configuração pré-anóxica [ver Fig. 8–26(a)],
o nitrato produzido na região aeróbia é reciclado para a região pré-anóxica misturada. As bactérias
desnitrificantes presentes na região pré-anóxica consomem a DBO afluente para reduzir o nitrato
para nitrogênio gasoso. A taxa de desnitrificação na região pré-anóxica é afetada pela concentração
Alimentação de nitrato
Clarificador Clarificador
secundário secundário
Afluente Aeróbio/ Efluente Afluente Aeróbio/ Efluente
Anóxico Anóxico
nitrificação nitrificação
Ar
Metanol Ar
Misturador
Clarificador
primário Clarificador Clarificador
Afluente Efluente
Reciclo interno
Afluente Efluente
Anóxico Aeróbio Anóxico Aeróbio
(d) Lodo
FIGURA 8–26 Diagramas esquemáticos de quatro configurações básicas de processos de remoção biológica de nitrogênio: (a)
pré-anóxico, (b) pós-anóxico, (c) nitrificação-desnitrificação com dois reatores e (d) processo Bardenpho.
772 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
(a) (b)
(c) (d)
FIGURA 8–27 Vistas de reatores anóxicos: (a) reator utilizado para remoção de nitrogênio (o canal à
direita, sem aeração, é a região pré-anóxica); (b) região pré-anóxica com chicanas em um reator de lodo
ativado de fluxo pistonado, (c) região anóxica com chicanas (submersas) e misturadores superficiais de um
reator de fluxo pistonado de grande porte (coordenadas 34.1825 N, 118.4793 W, altitude de 250 m) e
(d) desnitrificação pós-anóxica em reatores de nitrificação com dosagem de metanol em tanques profundos
com misturadores submersos.
8–7 Processos para remoção biológica de nitrogênio P 773
-anóxicos dependem da respiração endógena das bactérias presentes no lodo ativado para fornecer
um doador de elétron para o consumo do nitrato ao invés de oxigênio. A taxa de desnitrificação é
muito baixa, 3 a 6 vezes inferior ao processo pré-anóxico, o qual utiliza a DBO do afluente como
doador de elétrons.
A desnitrificação pós-anóxica também tem sido incluída em projetos com dois reatores, como
mostrado na Fig. 8–26(c), nos quais a remoção de DBO e nitrificação ocorrem no primeiro reator.
Em função do custo associado à dosagem química para a remoção total de nitrato e a necessida-
de de um clarificador adicional, os sistemas com um único reator e região pré-anóxica são mais
utilizados em comparação à configuração com dois reatores. Quando se opta pela utilização de
processos em duas etapas, o mais comum é utilizar um processo de desnitrificação com crescimen-
to aderido, utilizando uma fonte externa de carbono para a remoção de nitrato. Os processos com
filme aderido são tratados no Capítulo 9.
Processos com baixa concentração de OD e nitrificação/desnitrificação cíclica. O
processo de desnitrificação pode ser feito em um sistema de lodo ativado com um único reator,
sem regiões distintas e permanentes de nitrificação e desnitrificação, por meio de dois méto-
dos: (1) nitrificação-desnitrificação simultâneas (NdNS) e (2) nitrificação-desnitrificação cíclica
(NdN Cíclica). Esses processos de nitrificação/desnitrificação em um único reator dependem
de procedimentos operacionais específicos de aeração e mistura para possibilitar a remoção de
nitrogênio, ao invés de possuir regiões aeróbia e anóxica distintas, como no caso dos processos
pré e pós-anóxicos.
Nitrificação-desnitrificação simultânea (NdNS). A NdNS é realizada por meio da operação do
sistema com baixa concentração de OD, de maneira que o floco de lodo ativado possui, simultanea-
mente, regiões aeróbia e anóxica, como ilustrado de forma simplificada na Fig. 8–28. O oxigênio
dissolvido e os substratos no exterior do floco difundem na região aeróbia e, dependendo da con-
centração de OD e concentrações de amônia e DQOb, o oxigênio pode ser consumido por completo
nas camadas mais externas do floco, com a formação de uma região anóxica no seu interior. O
nitrito e nitrato produzidos por nitrificação na região aeróbia podem difundir para a região anóxica
juntamente com o substrato, possibilitando o processo de desnitrificação no interior do floco. A
principal rota de remoção de nitrogênio pode ser a conversão de N-NH4 para N-NO2 para N2, ao
invés da rota N-NO3 para N2, como indicado pelas observações feitas em sistemas com limitação de
oxigênio e predominância de Arqueas oxidantes de amônia (AOA) em sistemas MBR (Giraldo et
al., 2011a e 2011b) e bactérias oxidantes de amônia (BOA) em reatores de bancada para tratamento
de efluentes domésticos (Peng et al., 2012).
As velocidades de nitrificação e desnitrificação são menores que os valores ótimos nos pro-
cessos de nitrificação/desnitrificação simultânea (NdNS), pois somente uma parcela da biomassa
é utilizada para estas reações. Além disso, a velocidade de nitrificação é menor em razão da menor
concentração de OD e a taxa de desnitrificação é menor em função do consumo de substrato na
região aeróbia do floco. O impacto das regiões anóxicas, no interior do floco, sobre a redução na
Líquido
Região O2
aeróbia
Partícula Substrato
de floco Região
anóxica dissolvido
biológico N2
NO3– CO2
NO2–
NH4+
FIGURA 8–28 Diagrama de um floco de lodo ativado mostrando as regiões aeróbia e anóxica.
774 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
velocidade de nitrificação foi observada por Stenstrom e Song (1991), os quais relataram que a
velocidade de nitrificação não estava relacionada apenas à concentração de OD na fase líquida,
mas também na quantidade de DBO presente. No caso de concentrações de DBOs mais elevadas, o
consumo de oxigênio era maior, e menores velocidades de nitrificação foram observadas nos casos
onde a concentração de OD na fase líquida era a mesma, possivelmente pelo fato da região aeróbia
do floco de lodo ativado ter sido reduzida.
Processos de NdN cíclicos. Os processos de NdN cíclicos envolvem as etapas de aeração e mis-
tura sem aeração, separadas espacialmente ou realizadas de forma intercalada. Uma etapa de ae-
ração mantendo-se elevada a concentração de OD para a nitrificação é seguida de uma etapa sem
aeração, anóxica, mantendo-se o conteúdo do reator sob agitação para a desnitrificação. Para que a
remoção de nitrogênio pelos processos de NdN cíclicos seja efetiva, é necessário prever e implantar
métodos de controle adequados. Os processos cíclicos de NdN têm sido realizados em: (1) valos de
oxidação; (2) sistemas com compartimentos em série, aeróbio e anóxico e (3) operação em fases,
com reatores em série.
Dados disponíveis mostram que a concentração típica de N-NO3 no efluente dos processos
de NdN cíclicos varia entre 3,0 e 4,8 mg/L, com concentrações de nitrogênio total (NT), abaixo
de 8,0 mg/L (U.S. EPA, 1993). Os valores, relativamente altos, dos t adotados para a operação do
processo resultam em um volume de reator que possibilita um fator de diluição elevado do afluente,
minimizando a concentração de amônia durante o período em que não ocorre aeração. Um TRS
suficientemente elevado também é necessário para possibilitar uma adequada capacidade de nitri-
ficação para permitir a operação intermitente do sistema de aeração.
Valos de oxidação. Para possibilitar a NdN cíclica em um valo de oxidação, regiões aeróbias e
anóxicas são criadas ao longo do canal do valo, com recirculação do liquor misto. Na região de ae-
ração do valo de oxidação a concentração de OD é elevada, assim como em uma parcela do volume
a jusante dessa região, possibilitando o processo de nitrificação. O OD é consumido continuamente
à medida em que o efluente no interior do valo circula, até que a sua concentração chegue próximo
de zero, com o estabelecimento de condições anóxicas e o predomínio do processo de desnitrifica-
ção. Com o escoamento ao longo canal, com tempos de circulação variando entre 5 e 15 minutos,
o liquor misto circula, alternadamente, entre as regiões aeróbia e anóxica. A submergêngia do aera-
dor do valo de oxidação, ou a velocidade do motor, pode ser variada a fim de controlar a extensão
das regiões aeróbia e anóxica para a nitrificação e desnitrificação.
Também é possível utilizar a aeração intermitente na operação dos valos de oxidação, instalando-
-se um misturador direcional para manter o escoamento ao longo do canal quando o aerador for
desligado. Durante o período em que o aerador estiver desligado, o tanque de aeração irá operar,
basicamente, como um reator anóxico, já que o nitrato será utilizado para a remoção de DBO, em
substituição ao OD. A operação de um valo de oxidação com aeração intermitente é mostrada na Fig.
8–29. Os sistemas com aeração intermitente são operados com TRS variando, geralmente, entre 18 e
40 dias e tempos de detenção hidráulicos superiores a 16 horas. Durante o período de reação anóxica
[ver Fig. 8–29(b)], a aeração é interrompida e um misturador submerso é acionado, para que o nitrato
possa ser utilizado como aceptor de elétrons. O reator (valo) é operado como um processo de lodo
ativado completamente misturado em condição anóxica. Na etapa de operação anóxica, as concentra-
ções de OD e nitrato são reduzidas, e a concentração de amônia aumentada [ver Fig. 8–29(c)].
Os tempos para os períodos aeróbio e anóxico são importantes para determinar o desempenho
do sistema. Um método de controle para a aeração intermitente, com a utilização de um sensor do
potencial de óxido-redução (ORP), é apresentado no tópico Controle e desempenho do processo,
no final desta seção.
Processos Aeróbio/Anóxico alternados. Uma operação alternando condições aeróbia/anóxica
envolve a utilização de um reator com dois compartimentos em série, com o afluente sendo alimen-
tado no primeiro compartimento [ver Fig. 8–30(a)]. Em intervalos de tempo pré-determinados, o
primeiro compartimento é aerado e o segundo é misturado e, então, esse procedimento é alterado,
ou seja, o segundo compartimento passa a ser aerado e o primeiro misturado. Basicamente, os ci-
clos de operação são alternados entre desnitrificação pré-anóxica e pós-anóxica.
8–7 Processos para remoção biológica de nitrogênio P 775
ORP ORP
Aeróbia Anóxica
Afluente Afluente
Retorno Retorno
de lodo Aeração ligada / de lodo Aeração desligada /
ativado misturador desligado ativado misturador ligado
(a) Efluente (b) Efluente
ORP, mV
OD, mg/L
NO3–
NH4+, NO3–
NH4+
(c) Tempo
FIGURA 8–29 Operação de um valo de oxidação com aeração intermitente: (a) condição aeróbia, (b)
condição anóxica e (c) variação do ORP e concentrações de OD, amônia e nitrato.
Processos de operação em fases. Para a operação em fases, um reator com dois compartimen-
tos ou dois reatores também são utilizados, mas o afluente sempre é alimentado na região anóxica
misturada [ver Fig. 8–30(b)]. Em uma fase o reator A é alimentado com o efluente a ser tratado, o
qual é misturado, e o efluente deste reator é alimentado no reator B, o qual é aerado. O liquor misto
do reator B segue para o clarificador secundário. Em intervalos de tempo pré-determinados, o es-
coamento e a aeração/mistura são invertidos, ou seja, o reator B passa a ser alimentado e o reator A
aerado. O reator B, que é anóxico em função do nitrato produzido na fase aeróbia anterior, recebe
o afluente para que ocorra o processo de desnitrificação. O liquor misto escoa do reator B para o
reator A, que está sendo aerado, e o efluente deste reator segue para o clarificador secundário. Na
operação em fases, a desnitrificação é feita em um processo pré-anóxico. Um exemplo de remoção
de nitrogênio pelo processo de operação em fases é o BioDenitro, o qual utiliza dois valos de oxi-
dação para alternar os reatores anóxico e aeróbio (Stensel e Coleman, 2000).
Remoção simultânea de fósforo. A remoção biológica de fósforo assistida acontece nos
processos de remoção biológica de nitrogênio quando: (1) existe excesso de DQOrb durante a
etapa anóxica, de maneira que há disponibilidade de substrato para ser assimilado pelas bactérias
acumuladoras de fósforo (BAF), e (2) o tempo de contato a jusante é suficiente para as BAF oxidar
o carbono armazenado.
Alternando Ar
Air Clarificador
Clarificador secundário
secundário Efluente Efluente
Efluente Efluente primário
primário
Aeróbio Anóxico
Anóxico Aeróbio
Retorno de lodo ativado
Retorno de lodo ativado
Excesso de lodo
(a) Excesso de lodo
Alternando
A Clarificador A
secundário Aeróbio Efluente
Anóxico Efluente Afluente
Afluente
Aeróbio Anóxico
B B
Retorno de lodo ativado Retorno de lodo ativado
Excesso de lodo
(b) Excesso de lodo
FIGURA 8–30 Diagramas esquemáticos os Processos de NdN Cíclicos: (a) processos alternados ou
cíclicos e (b) operação em fases.
(8–51)
Os valores observados da TEdN em reatores pré-anóxicos em escala real têm variado entre 0,04
a 0,42 g N-NO3/g SSVLMⴢd (Burdick et al., 1982; Henze, 1991; Bradstreet e Johnson, 1994; Re-
ardon et al., 1996; Hong et al., 1997; e Murakami e Babcock, 1998). Para a desnitrificação pós-
-anóxica sem uma fonte externa de carbono, os valores observados da TEdN têm variado entre 0,01
a 0,03 g N-NO3/g SSVLMⴢd.
Concentração de SSLM. O volume necessário para a região anóxica é menor quando a con-
centração de SSLM é maior. Como será mostrado na Seção 8–10, a concentração de SSLM que
pode ser utilizada está relacionada com as propriedades de sedimentação e adensamento do lodo
ativado. Como o processo de desnitrificação pré-anóxico também funciona como um seletor para a
obtenção de um liquor misto com boas características de sedimentação, é possível operar o sistema
com concentrações de SSLM mais elevadas.
Temperatura. Como mostrado para a nitrificação, as taxas de desnitrificação também serão me-
nores durante a operação com baixas temperaturas. A menor temperatura atingida é adotada como
o pior caso para o projeto da região anóxica. No caso de projetos para a modernização de sistemas
de tratamento, que irão incorporar a remoção biológica de nitrogênio, pode ser que o sistema não
disponha de reatores com volume suficiente para que os processos de nitrificação e desnitrificação
possam ser realizados. Neste caso, será necessário instalar um reator específico para o processo de
nitrificação e fazer a dosagem de uma fonte externa de carbono na região de desnitrificação para
possibilitar uma maior taxa de redução de nitrato no volume disponível da região anóxica durante
a estação mais fria do ano. Uma discussão sobre a utilização de fonte externa de carbono é feita no
final desta seção.
Características do efluente a ser tratado. As características do efluente a ser tratado são
importantes, pois elas afetam as taxas de desnitrificação biológica nos processos pré-anóxico,
NdNS e NdN cíclico. A redução do nitrato depende da disponibilidade de um doador de elétron, de
maneira que deve haver uma quantidade suficiente de DBO no afluente, em relação à quantidade de
nitrogênio que deverá ser removida. Como uma regra prática, uma relação entre a DBO para NKT
de 4/1 é necessária para que a quantidade de doador de elétron seja suficiente para o processo de
desnitrificação (Randall et al., 1992).
Alcalinidade. As bactérias desnitrificantes têm tolerância a uma ampla faixa de valores de pH
em comparação com as bactérias nitrificantes, de maneira que a alcalinidade não é uma variável
crítica para o projeto de sistemas de desnitrificação. Contudo, é útil determinar a quantidade de
nitrato removida e a respectiva produção de alcalinidade para verificar se esta pode ajudar a manter
uma concentração e pH satisfatória na região de nitrificação aeróbia.
Reator de mistura anóxico. Para sistemas pré-anóxicos, pós-anóxicos e alguns sistemas de
NdN cíclicos as regiões anóxicas são projetadas como reatores de mistura completa de um único
estágio ou em série. A demanda de energia para a mistura mecânica na região anóxica depende do
projeto do misturador e da geometria do reator e pode ser de 3 kW/103 m3 para misturadores de
baixa velocidade até 8 kW/103 m3 para misturadores de alta velocidade.
(8–54)
(8–55)
(8–56)
8–7 Processos para remoção biológica de nitrogênio P 779
onde A/Mb relação A/M com base na DBO e na concentração de biomassa ativa, g DBO/g
biomassaⴢd
Xb concentração de biomassa no reator anóxico, mg/L
As curvas mostradas na Fig. 8–31 são baseadas nos resultados de modelos de simulação do ba-
lanço de massa no reator anóxico para biomassa, N-NO3 DQOrb e DQOpb. Para baixos valores do
t no reator anóxico, a relação A/Mb é maior, o que resultou em maiores concentrações de DQOrb
na região anóxica e, assim, maior velocidade da reação biológica e TEdN. Os efeitos das taxas de
reciclo interno da região aeróbia e temperatura foram levados em consideração. Os coeficientes
biocinéticos utilizados no modelo de simulação são os valores padrão do modelo ASM1 (Grady et
al., 1986), juntamente com os parâmetros cinéticos da DQOrb em condições anóxicas, observados
por Stensel e Horne (2000) durante os ensaios realizados em diferentes estações de tratamento de
efluentes domésticos. As equações (8–57) e (8–58), obtidas a partir dos dados apresentados na Fig.
8–31, podem ser utilizadas para o cálculo da TEdNb em função da relação A/Mb. Os valores de b0 e
b1 são apresentados na Tabela 8–22.
780 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
0,8 0,4
0,7 0,35
50
TEdNb, g N-NO3/g biomassa • d
0,3 0,15
0,2 0,1
0,1 0,05
0 0
0 5 10 15 20 0 0,5 1 1,5 2
(a) A/Mb, g DBO/g biomassa • d (b) A/Mb, g DBO/g biomassa • d
FIGURA 8–31 Taxas específicas de desnitrificação (TEdNb), com base na concentração de biomassa, a 20°C, em função da
relação alimento/micro-organismos (A/Mb), para várias porcentagens de DQOrb em relação à DQOb do afluente (a) para valo-
res de A/M b até 20 e (b) escala expandida para valores de A/M b até 2.
tempos de detenção anóxicos (da ordem de 3 a 6 horas), os valores da TEdNb serão aqueles encon-
trados na região para as relações A/Mb mais baixas (Fig. 8-31).
Fatores de correção de temperatura e TIR para a TEdN. O procedimento de projeto requer a
correção dos valores da TEdN obtidos pela Eq. (8–57) ou (8–58), em função da temperatura e das
taxas internas de reciclo. A correção da temperatura é feita com a Eq. (2–25), utilizando o valor de
u igual a 1,026. A TEdN no reator pré-anóxico é afetada pela taxa interna de reciclo (TIR). A TIR
é a vazão de reciclo dividida pela vazão afluente. Para TIR mais elevadas, a DQOrb no reator anó-
xico sofrerá maior diluição pelo liquor misto recirculado do reator aeróbio, resultando em menores
taxas de desnitrificação. A obtenção da TEdN para projetos com fatores de correção da taxa interna
782 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
de reciclo superior a 1,0 é apresentada a seguir. O valor da TEdN pode ser obtido por interpolação
dos valores listados. Se a relação A/M for menor ou igual a 1,0 não é necessário fazer a correção.
Balanço de massa de nitrogênio e taxa interna de reciclo. Um balanço de massa para o nitro-
gênio deve ser feito para calcular: (1) a quantidade de nitrato produzida na região de aeração e (2)
qual é a taxa interna de reciclo que deve ser utilizada para atingir a concentração desejada de nitrato
no efluente final. O balanço de massa deve contabilizar o nitrato produzido na região anaeróbia. A
taxa de produção de nitrato na região aeróbia é baseada na vazão e concentração de nitrogênio no
afluente, na quantidade consumida pela síntese celular e nas concentrações de N-NH4 e nitrogênio
orgânico solúvel no efluente. Como uma abordagem de projeto conservativa, admite-se que todo
o NKT no afluente é biodegradável e a concentração de nitrogênio orgânico solúvel no efluente é
desprezível. O nitrato produzido está presente na vazão total que sai da região aeróbia, que inclui as
vazões do reciclo interno, RLA e efluente. O balanço de massa é expresso como segue, admitindo-
-se que não ocorre a redução do nitrato no clarificador secundário.
(8–62)
O efeito da TIR sobre a concentração de N-NO3 para uma dada quantidade de nitrato produzida
(NOx) e para uma taxa de RLA de 0,50 é ilustrado na Fig. 8–32. Uma maior TIR é necessária para
produzir a mesma concentração de N-NO3 no efluente quando não há mais produção de NOx na
região aeróbia. Para atender ao padrão de 10 mg NT/L, ou menos, no efluente final, a concentração
adotada no projeto deverá ser de 5 a 7 mg/L. A taxa interna de reciclo típica varia entre 3 e 4, mas
taxas na faixa de 2 a 3 também são utilizadas para o tratamento de efluentes com menores concen-
trações de NKT. Taxas internas de reciclo superiores a 4 não são utilizadas para sistemas de lodo
ativado com clarificador secundário, uma vez que o incremento na remoção de N-NO3 é baixo e
uma maior concentração de OD é reciclada da região de aeração para a região anóxica. Maiores ta-
xas de reciclo também diluem a concentração de DQOrb do afluente na região anóxica, diminuindo
a TEdN em comparação àquelas obtidas com menores taxas de recirculação. Como já observado,
a quantidade de OD alimentada na região anóxica, em função da taxa interna de reciclo da região
aeróbia, deve ser minimizada para que a desnitrificação seja efetiva. Em alguns projetos, algumas
seções da região aeróbia são compartimentadas para o controle da concentração de OD, de maneira
que a concentração de OD da corrente de reciclo pode ser controlada e minimizada.
8–7 Processos para remoção biológica de nitrogênio P 783
25
15
NOx = 35 mg/L
10
5 NOx = 25 mg/L
0
0 1 2 3 4 5 6
Taxa interna de reciclo
FIGURA 8–32 Efeito da taxa interna de reciclo sobre a concentração de nitrato no efluente (taxa de RLA
0,50) para um processo anóxico/aeróbio.
Taxa interna de reciclo em sistemas MBR. A taxa interna de reciclo para sistemas MBR é
fixada, geralmente, em 6,0 para controle da concentração de SSLM no tanque de membranas. Na
aplicação da Eq. (8–62), para um projeto MBR, o valor de R é igual a 6,0 e a TIR é igual a zero. A
concentração de N-NO3 no efluente (Ne), pode, então, ser calculada. Uma preocupação com maio-
res vazões de reciclo é o potencial da alimentação de uma elevada concentração de OD do tanque
de separação por membranas para o reator pré-anóxico. Concentrações elevadas de OD na corrente
de reciclo para o reator pré-anóxico podem resultar no consumo da DQOrb do afluente, o que reduz
a quantidade de DQOrb para a redução de NOx. Um reator com tempo de detenção relativamente
curto pode ser utilizado para manter a vazão de retorno de lodo ativado, antes de alimentar o reator
pré-anóxico, para possibilitar o consumo do oxigênio presente (desoxigenação), devido à demanda
de oxigênio pelo decaimento endógeno.
Ar Ar Ar
Clarificador
secundário Efluente
Efluente
Efluente Efluente
primário primário
Anóxico Aeróbio Anóxico Aeróbio
(continua)
784 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
(continuação)
Características do efluente a ser tratado:
2. Hipóteses:
a. Concentração de nitrato no RLA 6 g/m3.
b. Utilize os mesmos coeficientes utilizados no projeto do processo de nitrificação.
c. Energia de mistura para o reator anóxico 5 kW/103 m3.
Solução
1. Calcule a concentração de biomassa ativa com a Eq. (7–42), substituindo V/Q por t.
onde So S ⬵ So
TEdNb bo b1[ln(A/Mb)]
Da Tabela 8–22, utilize DQOrb de 30%, bo 0,235, b1 0,141
TEdN TEdNb(SSVLMb/SSVLM)
(continua)
786 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
(continuação)
o excesso de capacidade calculado está dentro da faixa das hipóteses utilizadas. Se o
excesso fosse superior a 20% um reator com menor volume poderia ser avaliado.
9. Siga para a etapa do procedimento de projeto para nitrificação e calcule a quantidade
líquida de oxigênio necessária.
Ro (sem desnitrificação) 275,9 kg/h (ver a etapa 17 do Exemplo 8–3)
A quantidade de oxigênio fornecida pela redução do nitrato pode ser obtida como segue:
Oxigênio fornec.
2. Hipóteses:
a. Taxa de reciclo de RLA 6,0
b. Utilizar os mesmos coeficientes do projeto do processo de nitrificação
c. Energia de mistura para o reator anóxico 8 kW/103 m3
d. Fluxo de permeado da membrana 16,1 L/m2ⴢh (ver Fig. 8–57)
e. Relação entre o volume do tanque de membrana e a área de membrana 0,025 m3/m2
(ver Seção 8–12)
f. Fator alfa da aeração com bolha fina 0,35 (ver Fig. 8–40)
g. Fator alfa da aeração com bolha grossa 0,50 (ver Fig. 8–40)
h. Eficiência de transferência de O2 do aerador de bolhas finas 35%
i. Eficiência de transferência de O2 do aerador de bolhas grossas 10%
j. OD no tanque de aeração 2,0 g/m3
k. Altitude local 500 m (pressão 95,6 kPa)
l. Fator de depósito do difusor de bolha fina, F 0,20
Solução
1. Calcule a área necessária de membrana.
Fluxo 16,1 L/m2ⴢh
(continuação)
TEdN TEdNb(SSVLMb/SSVLM)
Crédito de O2
(continua)
790 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
(continuação)
Massa de alcalinizante
como
14. Cálculo da mistura da região anóxica.
(continuação)
Tanque de membranas
Volume m3 1469
SSLM g/m 3
12.000
Vazão de RLA m /d 3
136.200
Câmara anóxica
N-NO3 no efluente g/m3 4,1
Volume m 3
734
Comentário
No exemplo do projeto acima, os cálculos foram baseados nas condições médias de projeto.
Em um projeto real, devem ser previstas tolerâncias para a vazão ou carga de pico, ou um
fator de segurança deve ser incluído, como discutido no Capítulo 3. Alguns engenheiros de
processo têm incluído uma região de transição entre a região pré-anóxica e a região aeróbia
de nitrificação. Essa região de transição permite uma flexibilidade operacional e pode ser
operada com aeração, ou apenas com mistura (anóxica), para propiciar um volume adicional
para a etapa de nitrificação ou desnitrificação.
Afluente
Clarificador
secundário
Efluente
Anóxico Aeróbio Anóxico Aeróbio Anóxico Aeróbio Anóxico Aeróbio
Lodo
FIGURA 8–33 Diagrama esquemático de um processo de remoção biológica de nitrogênio com alimen-
tação distribuída.
(continuação)
2. Características do efluente a ser tratado:
3. Coeficientes cinéticos:
Os coeficientes cinéticos apresentados, obtidos na Tabela 8–14, foram ajustados para a
temperatura de projeto (Exemplo 8–3)
a. Heterotróficas:
Ko 0,50 g/m3
Solução
1. Calcule os volumes das regiões aeróbia e anóxica. Pelo enunciado, o volume anóxico é
15% do volume total.
QRLA, XR
8–7 Processos para remoção biológica de nitrogênio P 795
Realize um balanço de sólidos (desprezar os SST no efluente porque eles não são rele-
vantes para o balanço de sólidos no clarificador).
Excesso de lodo
(continua)
796 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
(continuação)
4. Realize o balanço de sólidos e calcular o TRS aeróbio.
a. Balanço de sólidos.
,
b. Aplique as Eq. (8–20) e (7–57) da Tabela 8–10 assumindo que NOx ⬃ 0,80 NKT.
c. Obtenha o TRS.
Substituindo-se os valores disponíveis e coeficientes de produção:
Compare com o Exemplo 8–3 com nitrificação. No Exemplo 8-3, o volume aeróbio é
de 13.230 m3 e o TRS de 20.6 d. Para a alimentação distribuída, o volume aeróbio é
8–7 Processos para remoção biológica de nitrogênio P 797
de 11.245 m3 e o TRS de 28,1 d. O menor volume e maior TRS são devidos à maior
concentração de SSLM nos três primeiros passos.
5. Obtenha a composição dos SSLM e SSVLM utilizando a solução obtida na Etapa 4 para
os SSLM e TRS de 28,1 d. Os resultados dos cálculos para os componentes dos SSVLM
são resumidos na tabela abaixo, que detalha os sólidos presentes no tanque de aeração:
Fração de
Item SSVLM, kg SSVLM total SSLM, kg
Heterotróficas 18.511 0,48 21.777
Detritos de sólidos 6861 0,18 8072
Nitrificantes 559 0,04 657
SSVnb 12.748 0,33 12.748
Sólidos inorgânicos 6374
Total 38.679 49.628
Biomassa 0,48(SSVLM)
Nitrificantes 0,01(SSVLM)
b. Nitrogênio para crescimento das bactérias nitrificantes.
Com a biomassa e os detritos de células calculadas, o NOx para o crescimento de orga-
nismos nitrificantes é calculado como segue:
Síntese de N
Massa nitrificante
(continua)
798 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
(continuação)
d. Tabela resumo.
Com base nos dados citados previamente, elabore uma tabela resumo para as con-
centrações de biomassa e bactérias nitrificantes (BOA) em cada passe utilizando as
relações descritas.
6. Avalie a taxa de nitrificação em cada passe e compare com o N-NH4 alimentado em cada
estágio.
a. Desenvolva a equação para a taxa de nitrificação em g/d. Multiplicar a Eq. (7–101) da
Tabela 8–10 pelo volume do reator. A Eq. (7–101) descreve a taxa volumétrica de ni-
trificação (g/L-d) em função das concentrações de N-NH4 e OD. A taxa de nitrificação
em cada estágio é:
Como indicado no balanço de massa em regime permanente para cada passe, a taxa
de nitrogênio oxidável (nitrogênio disponível N-NH4 NOx) alimentado no passe
é igual à taxa de nitrificação mais a quantidade de nitrogênio amoniacal que deixa o
passe. O nitrogênio que entra no passe está relacionado com a taxa de nitrogênio dis-
ponível (NOx) no afluente para aquele passe e com a taxa de nitrogênio proveniente do
passe anterior. Antes de realizar o balanço de massa, elabore um resumo das vazões.
b. Prepare o resumo de vazões e os balanços de massa.
Vazão do reator
Passe anterior Vazão afluente Vazão total
1 0,6 Q 0,1 Q 0,7 Q
2 0,7 Q 0,4 Q 1,1 Q
3 1,1 Q 0,3 Q 1,4 Q
4 1,4 Q 0,2 Q 1,6 Q
c. Obtenha a taxa de nitrificação em cada estágio com mmax,BOA 0,52 g/gⴢd, YBOA 0,15
g/g, e XBOA da tabela anterior. Assim, N1, N2, N3 e N4 são obtidos para cada estágio uti-
lizando NOx 29,7 g/m3 (obtido previamente). O valor de N4 é adotado para solucio-
nar o passe 1 e a solução final é obtida por iteração, até que o valor de N4 se iguale ao
valor adotado para o passe 1. Uma planilha eletrônica com a ferramenta Solver pode
auxiliar no cálculo. Utilizando os coeficientes mostrados para as condições de projeto,
a solução é resumida abaixo.
d. Resumo da solução para o sistema com alimentação distribuída, para a concentração
de N-NH4 por passe:
(continuação)
d. N-NO3 removido (TEdNb)(Vanox)Xb
Exemplo de cálculo para o passe 1:
Vazão
afluente, Volume TEdN12,
Passe Xb, g/m3 m3/d anóxico, m3 A/Mb g/gⴢd
1 2568 2270 496 0,25 0,03
2 1634 9080 496 1,57 0,24
3 1284 6810 496 1,50 0,24
4 1123 4540 496 1,14 0,25
Utilizando a TEdN calculada acima para cada passe, a quantidade de N-NO3 removida
pode ser obtida.
Capacidade de remoção
Passe de N-NO3, g/gⴢd
1 40.987a
2 195.511
3 152.847
4 139.252
a
N-NO3 removido (0,03 g/gⴢd)(2568 g/m3)(496 m3) 40.987 g/d.
Comentário
Observe que há excesso de capacidade de remoção de nitrato, a qual não é completamente
utilizada nos estágios iniciais de um projeto simétrico com alimentação distribuída. Dife-
rentes distribuições de vazão podem ser utilizadas para reduzir a concentração de nitrato no
efluente final, os volumes anóxico e aeróbio podem ser alterados, a região anóxica pode ser
dividida e a concentração de SSLM pode ser aumentada. Uma planilha modelo é necessária
para avaliar as várias alterações no projeto.
802 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
Solução
1. Volume do reator.
(continuação)
3. Calcule a quantidade de nitrato no liquor misto do RBS após o descarte.
Admita: N-NO3 0 antes do período de aeração, o que significa que todo o nitrato re-
manescente na fase líquida do RBS, após a decantação, é removido por desnitrificação
durante o período de enchimento não aerado.
a. Calcule o NOx produzido por ciclo.
b. Calcule a TEdNb
TEdNb b0 b1[ln(A/Mb)]
8–7 Processos para remoção biológica de nitrogênio P 805
Tempo de enchimento 4 h
(8–63)
(8–64)
Ar Ar
Clarificador
secundário
Efluente
Efluente
primário
Anóxico Aeróbio
Excesso de lodo
Solução
1. Calcule a quantidade de nitrato a ser removida no reator pós-anóxico com a Eq. (8–74).
A taxa de remoção é a diferença na concentração de N-NO3 ao longo do reator multipli-
cada pela vazão.
Aumento
(8–63)
A combinação das Eqs. (7–133) e (8–63) resulta em uma expressão geral [(Eq. (8–65)], que pode
ser utilizada para descrever a taxa de redução do nitrato em um reator anóxico em função da DQOb,
35
30
25
20
TRS, d
15
10
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3
Concentração de OD, mg/L
FIGURA 8–34 Efeito da concentração de OD sobre o TRS necessário para obter um efluente com con-
centração de N-NH4 de 1,0 mg/L a 20°C, em um sistema de LACM, com base nos coeficientes cinéticos
da Tabela 8–14.
8–7 Processos para remoção biológica de nitrogênio P 809
1,20
0,80
0,60
0,20
0,00
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0
Concentração de OD, mg/L
FIGURA 8–35 Efeito da concentração de OD no liquor misto sobre as taxas máximas de desnitrificação.
da biomassa heterotrófica e das concentrações de N-NO3 e OD, bem como de vários coeficientes
biocinéticos. Para a redução de N-NO2 ao invés do N-NO3, devido à oxidação da amônia apenas
para nitrito, o valor 2,86 da Eq. (8–65) é substituído por 1,71, que é a quantidade equivalente de
oxigênio no N-NO2.
(8–65)
O coeficiente de inibição de OD, Ko, é difícil de estimar e será específico para cada local, depen-
dendo do tamanho e estrutura do floco de lodo. O efeito da concentração de OD sobre a taxa de
desnitrificação é mostrado na Fig. 8–35, para valores de Ko de 0,02 e 0,2 mg/L. Para concentração
de OD de 0,2 mg/L, a taxa de desnitrificação pode variar de 10 a 50% da taxa máxima. Para TRS
longos com tempos de detenção hidráulico entre 18 e 30 h, o tempo disponível pode ser suficiente
para obter uma elevada eficiência para a remoção de nitrato, mesmo que a taxa de remoção possa
ser inibida pela presença de OD em baixas concentrações.
Reator de mistura completa de NdNS. Muitos sistemas de NdNS e NdN cíclica são reato-
res únicos com tempos de detenção hidráulico e TRS longos. Devido aos altos tempos de detenção
hidráulico e TRS, as cinéticas de desnitrificação são relacionadas com a degradação global da
DQOb, DQOpb e do decaimento endógeno, não sendo influenciadas de maneira significativa pela
fração de DQOrb como no caso da desnitrificação pré-anóxica, com tempo de detenção hidráulico
relativamente curto. Durante o período anóxico completamente misturado na operação de um valo
de oxidação ou no período anóxico de um valo de oxidação completamente misturado, a taxa espe-
cífica de desnitrificação é afetada tanto pela taxa de respiração endógena como pela DQOb presen-
te no afluente, quando a alimentação é feita de forma contínua. A taxa específica de desnitrificação
média, a qual inclui esses efeitos, pode ser estimada utilizando a Eq. (8–66) [baseada em Stensel
(1981) e modificada para levar em conta a biomassa heterotrófica ativa]:
(8–66)
É importante observar que a Eq. (8–66) pode ser ajustada com a informação da Fig. 8–33 para
levar em consideração a menor TEdN para a operação com baixa concentração de OD residual.
Para um reator de lodo ativado completamente misturado, An e Ynet são determinados como segue
(Stensel, 1981):
(8–67)
(8–68)
A TEdNb na Eq. (8–66) está relacionada à concentração de biomassa que é uma parcela da con-
centração dos SSVLM. Assim, o procedimento de projeto utilizado para calcular a quantidade de
nitrato removida durante o período anóxico na operação aeróbia/anóxica cíclica incorpora alguns
dos elementos das etapas de cálculo para projetos anóxico/aeróbio descritas na Tabela 8–21. Na
Etapa 3 da Tabela 8–21, a concentração de biomassa heterotrófica deverá ser calculada. Como
detalhado na Etapa 9, a concentração de biomassa, a TEdNb, o volume anóxico, e o tempo anóxico
são utilizados para calcular a quantidade de nitrato removido. A utilização das equações acima é
ilustrada no Exemplo 8–11.
Solução
1. Calcule a TEdN.
a. Obter YH e bH na Tabela 8–14 e corrigir o valor de b para a temperatura, utilizando a
Eq. (2–25).
8–7 Processos para remoção biológica de nitrogênio P 811
Tempo anóxico
(continuação)
Comentário
O valor calculado está dentro da faixa de valores relatados para a fração anóxica nos proces-
sos com aeração cíclica, como indicado pela U.S. EPA (1993). O tempo real pode ser menor
ou a remoção de nitrogênio pode ser maior devido à desnitrificação no interior do floco du-
rante os períodos com baixa concentração de OD e no clarificador secundário. Conhecendo-
-se o período aproximado de tempo necessário para as condições anóxicas, o TRS aeróbio
disponível para nitrificação pode ser estimado.
Processo Descrição
Processos pré-anóxicos
(a) Ludzak-Ettinger O primeiro conceito da RBN pré-anóxica foi um sistema com operação sequencial
anóxica-aeróbia proposta por Ludzak e Ettinger (1962). O efluente era
Clarificador
alimentado em uma região anóxica, a qual era seguida por uma região aeróbia.
secundário O processo conta com o nitrato formado na região aeróbia o qual é retornado
Afluente para a região anóxica através do RLA. Como somente o nitrato presente no RLA é
Anóxico Aeróbio Efluente
alimentado na região anóxica, a desnitrificação é limitada pela taxa de reciclo de
lodo ativado
Retorno de lodo ativado Contudo, mais recentemente, esse processo tem sido utilizado com taxas de RLA
mais elevadas para evitar a flotação do lodo no clarificadores secundários em
Lodo
decorrência da desnitrificação.
(b) Ludzak-Ettinger modificado (MLE) Um dos processos de RBN mais comumente utilizado é o processo MLE
modificado. Barnard (1973) melhorou o projeto original de Ludzak-Ettinger
Reciclo interno
incluindo um reciclo interno da região aeróbia para a alimentação de uma maior
Clarificador
quantidade de nitrato na região anóxica. Com esse procedimento, tanto a taxa
secundário de desnitrificação como a eficiência da remoção de nitrogênio aumentaram. A
Afluente taxa de reciclo (vazão de reciclo dividida pela vazão afluente) varia, geralmente,
Anóxico Aeróbio Efluente
de 2 a 4. Com uma quantidade adequada de DBO afluente e tempo de contato
anóxico, essas taxas de reciclo resultam em um retorno de lodo ativado efluente
Retorno de lodo ativado com concentração média de N-NO3 variando de 4 a 7 mg/L, no tratamento de
esgotos domésticos. O processo MLE é bastante flexível e pode ser facilmente
Lodo
adaptado em estações de lodo ativado já existentes podendo, facilmente,
produzir um efluente com concentração de nitrogênio total abaixo de 10 mg/L.
Para que a redução de nitrato pelos processos pré-anóxicos seja efetiva, uma
relação DBO/NKT de 4:1 no efluente é suficiente. Os tempos de detenção
hidráulicos, típicos, no reator anóxico do processo MLE variam de 2 a 4 horas,
mas quando a região anóxica é dividida em 3 ou 4 estágios em série, as taxas
cinéticas de desnitrificação aumentam e o tempo total de detenção necessário
pode ser reduzido de 50 a 70%.
(continua)
8–7 Processos para remoção biológica de nitrogênio P 813
TABELA 8–24 (continuação)
Processo Descrição
(c) Biorreator MLE com membranas Projetos pré-anóxicos são comumente utilizados em sistemas MBR, os quais são
tipicamente operados com TRS que permitem a nitrificação completa. A taxa de
Permeado
retorno de lodo ativado (geralmente 6,0) é significativamente maior que aquelas
utilizadas em sistemas de lodo ativado/clarificador secundário com o processo
Afluente
Anóxico Aeróbio MLE. O retorno de lodo ativado é feito diretamente do tanque de membranas e,
assim, parte da DQOrb do afluente será consumida pelas bactérias que utilizam
oxigênio como aceptor de elétrons, resultando em menor quantidade de DQOrb
Retorno de lodo ativado para a desnitrificação.
Lodo
(d) RBN com alimentação distribuída Também é possível utilizar regiões pré-anóxicas no processo de RBN com
alimentação distribuída. Como os processos de RBN com alimentação distribuída
Fonte de carbono Fonte de carbono
são, geralmente, adaptáveis a sistemas com múltiplos passes existentes, costuma-
(Opcional) (Opcional) -se utilizar estágios simétricos, anóxico/aeróbio, em sistemas de grande porte.
Afluente Contudo, projetos de sistemas não simétricos com os estágios iniciais anóxico/
aeróbio menores podem ter como vantagem as maiores concentrações de SSLM
Clarificador nesses estágios, em função da menor diluição do RLA, o que resulta em uma
secundário
Efluente maior capacidade de tratamento. Uma distribuição possível da vazão afluente
Anóxico Aeróbio Anóxico Aeróbio Anóxico Aeróbio Anóxico Aeróbio para um sistema de 4 passes é de 15/35/30/20%. A parcela de afluente
no último estágio anóxico/aeróbio é bastante crítica, uma vez que o nitrato
produzido na região aeróbia desse estágio não será reduzido e, assim, irá
Retorno de lodo ativado determinar a concentração de N-NO3 no efluente final. Concentrações de N-NO3
menores que 5,0 mg/L são possíveis. Dependendo da concentração de NKT
Lodo no afluente, é possível utilizar uma fonte externa de carbono, etanol, metanol,
ou glicerol, para diminuir o volume da região anóxica e para compensar a
alimentação de afluentes com baixo valor de DBO.
(e) MBR com alimentação distribuída Um projeto com região pré-anóxica e alimentação distribuída também pode ser
814 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
(continua)
TABELA 8–24 (continuação)
Processo Descrição
(f) Reator batelada sequencial (RBS) O sistema com RBS [ver Tabela 8–18(l)] também utiliza o processo de
desnitrificação pré-anóxico, utilizando a DBO presente no afluente. Durante o
Afluente
período de enchimento é feita a mistura para possibilitar o contato do liquor
misto com o afluente. Para o tratamento de efluentes domésticos, dependendo
Ar
da carga orgânica, haverá disponibilidade de DBO e tempo para remover
quase todo o nitrato remanescente no liquor misto após os períodos de
sedimentação e descarte. Durante os períodos de sedimentação e descarte
também ocorre a remoção de nitrato. A mistura independente fornece maior
Efluente
Enchimento Enchimento Reação/aeração Sedimentação Descarte Espera flexibilidade operacional e é útil para a operação anóxica durante a etapa
e mistura de reação, bem como para o tempo de contato anaeróbio ou anóxico durante
anóxica/anaeróbia o período de enchimento. A mistura sem aeração durante o período de
enchimento é efetiva para melhorar as características de sedimentação do
lodo, além da remoção de nitrogênio. É possível obter efluentes tratados com
concentrações de N-NO3 inferiores a 5 mg/L.
Processos pós-anóxicos
(g) Sistema único No sistema único (desenvolvido por Wuhrmann, 1964), a remoção de nitrogênio
foi realizada no processo de lodo ativado incluindo um compartimento anóxico
Clarificador
após a etapa de nitrificação aeróbia. Para obter uma elevada eficiência de
secundário remoção de nitrato, é necessário utilizar uma fonte externa de carbono. Nas
Afluente regiões anóxicas ocorre a liberação de N-NH4 por respiração endógena, a qual
Aeróbio Anóxico Efluente
irá contribuir para o aumento da concentração de nitrogênio total no efluente final.
(h) Bardenpho (4 estágios) Tanto o processo de desnitrificação pré-anóxico como o pós-anóxico foram
incorporados no sistema Bardenpho, desenvolvido e aplicado em estações de
Fonte de carbono
grande porte na África do Sul em meados da década de 1970, antes de passar
(Opcional) a ser utilizado nos Estados Unidos em 1978. O tempo de detenção no estágio
Retorno do liquor misto pós-anóxico é, aproximadamente, o mesmo ou maior que o utilizado na região
Clarificador
secundário pré-anóxica. Na região pós-anóxica, a concentração de N-NO3 que deixa a
Efluente região de aeração é reduzida de 5 a 7 mg/L para menos de 3 mg/L. Durante
Efluente Anóxico Aeróbio Anóxico Aeróbio
ensaios em escala-piloto realizados com efluentes mais concentrados, Barnard
(1974) verificou que além do nitrogênio, ocorreu a remoção biológica de fósforo,
Retorno de lodo ativado
dando nome ao processo (o nome resulta das primeiras três letras do seu inventor,
Lodo Barnard, e das palavras desnitrificação e fósforo). Pode-se utilizar uma fonte de
carbono na região pós-anóxica para possibilitar a obtenção de um efluente com
menor concentração de N-NO3 e para reduzir o volume do reator pós-anóxico.
Com esse processo é possível obter efluentes tratados com concentrações de
N-NO3 de 1,0 ou 2,0 mg/L.
(continua)
8–7 Processos para remoção biológica de nitrogênio P 815
TABELA 8–24 (continuação)
Processo Descrição
(i) Bardenpho (4 estágios) com MBR É possível incorporar um sistema MBR em um processo Bardenpho de 4 estágios.
Como em um sistema de lodo ativado com clarificador secundário, a utilização
Fonte de carbono
de uma fonte externa de carbono na região pós-anóxica é opcional, mas é
(Opcional) necessária quando se deseja obter um efluente final com uma concentração de
Retorno do liquor misto nitrogênio total muito baixa. Com esse processo é possível obter efluentes com
Efluente concentrações de N-NO3 inferiores a 1 ou 2 mg/L.
Afluente Anóxico Aeróbio Anóxico
(j) Sistema com dois reatores e fonte externa de carbono Um arranjo de tratamento que foi muito popular na década de 1970 foi
a inclusão de um sistema pós-anóxico com uma fonte externa de carbono,
Ar
geralmente metanol, após um sistema de lodo ativado. A região anóxica, com
Fonte de carbono Ar tempo de detenção de 1 a 3 h, é mantida misturada e é seguida por uma câmara
Clarificador Clarificador aerada com tempo de detenção inferior a 30 min, para eliminar as bolhas de
intermediário secundário
Efluente nitrogênio dos flocos de lodo e para manter condições aeróbias no efluente final,
Afluente melhorando a separação de sólidos no clarificador secundário.
Reator de nitrificação Reator de desnitrificação
(k) MLE com leito pós-anóxico Atualmente, uma abordagem mais comum para o tratamento pós-anóxico é a
utilização de filtros de desnitrificação, após o processo de desnitrificação, com
Efluente
a adição de uma fonte externa de carbono (ver Capítulo 9 para projetos pós-
anóxicos com meio suporte). Com esse processo é possível obter um efluente
816 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
Fonte de
carbono
Retorno de lodo ativado
Lado
(continua)
TABELA 8–24 (continuação)
Processo Descrição
Nitrificação/desnitrificação simultâneas
(l) Valo de oxidação com baixo OD Os valos de oxidação que tenham volume disponível são capazes de acomodar
os processos de nitrificação e desnitrificação com baixas taxas e operação com
Aeradores
baixas concentrações de OD. Um valo de oxidação pode ser utilizado para
manter a concentração de OD abaixo de 0,5 mg/L, com sistema de controle
manual ou automático. Quando são utilizados aeradores múltiplos, aeradores
Afluente tipo escova, é possível manter a concentração de OD, ao longo do canal,
muito baixa, ou praticamente zero. A utilização de motores com variadores de
velocidade e sondas de OD por luminescência, que têm maior confiabilidade
Clarificador Sonda de OD e precisão, favorece a aplicação de métodos de controle para manter baixas
secundário
Efluente concentrações de OD no sistema.
Retorno
de lodo Lodo
ativado
(m) OrbalTM Os canais no processo Orbal são operados em série com uma concentração
de OD no primeiro canal igual a zero ou muito baixa ( 0,3 mg/L), de 0,5 a
Primeiro Segundo Terceiro 1,5 mg/L no segundo canal e uma maior concentração de OD (2 a 3 mg/L) no
Aeróbio Clarificador
canal canal canal terceiro canal. O primeiro canal recebe o afluente a ser tratado e o retorno de
Anóxico secundário
Anaeróbio lodo ativado, sendo que seu volume equivale à metade do volume total do reator.
Efluente
Afluente Os volumes do segundo e terceiro canais são de, aproximadamente, 1/3 e 1/6
do volume total do reator, respectivamente. O reciclo do liquor misto do canal
interno para o canal externo permite a redução do nitrato produzido no canal
Reciclo interno (opcional)
interno. As variações do processo podem incluir a operação com ou sem o reciclo
Retorno de lodo ativado interno (processo Bionutre™) do terceiro canal para o primeiro. O fornecimento
Lodo de uma taxa de oxigênio de, aproximadamente, 50% da demanda estimada no
Primeiro canal projeto tem sido recomendado para possibilitar a NdNS no primeiro canal.
Segundo canal
Terceiro canal
Afluente Efluente
(continua)
8–7 Processos para remoção biológica de nitrogênio P 817
TABELA 8–24 (continuação)
Processo Descrição
(n) MBR com baixo OD Os sistemas MBR têm sido operados com baixa concentração de OD na região
aeróbia antes do tanque de membranas aeróbio. A elevada concentração de
Efluente
sólidos no liquor misto resulta em maior demanda volumétrica de oxigênio, o
que permite assegurar a existência de uma região anóxica no interior dos flocos,
Aeróbio com
Afluente Anóxico quando a concentração de OD na fase líquida varia entre 0,3 e 0,7 mg/L.
baixo OD
Processo Descrição
(p) dNOxTM No processo dNOxTM, a operação do valo de oxidação é alternada entre a
condição aeróbia para a condição anóxica desligando-se a aeração e ativando
Controle do um misturador submerso para manter a velocidade no canal. O processo
CLP misturador depende da utilização de um sensor do potencial de óxido-redução (ORP) para:
Aerador
DO ORP (1) determinar quando o nitrato é consumido durante a operação anóxica e (2)
Clarificador
secundário reiniciar a aeração. Em intervalos de tempo pré-determinados, os aeradores
Efluente são desligados e os misturadores ativados. Quando o nitrato é consumido no
Mistu- período em que a aeração está desativada, o potencial de óxido-redução cai
rador significativamente. Os dados do ORP são interpretados por um computador,
o qual envia o comando para ativar os aeradores. Uma condição típica de
Retorno de lodo ativado operação do processo dNOxTM é desativar os aeradores pelo menos duas vezes
Afluente por dia, geralmente pela manhã quando há um aumento da carga e, depois,
Lodo
no início da noite (Stensel e Coleman, 2000). O tempo em que o aerador fica
desativado para a redução do nitrato varia de 3 a 5 horas, dependendo da
carga na estação e da quantidade de nitrato no valo de oxidação. Com esse
processo é possível obter efluentes com concentrações de N-NO3 inferiores a 8
mg/L e de N-NH4 variando entre 1,0 e 1,5 mg/L.
Processos de NdN em fases
(q) BioDenitro O processo BioDenitro é também conhecido como valo de oxidação com
isolamento de fases. O processo foi desenvolvido na Dinamarca para a
Clarificador
remoção de nitrogênio e foi instalado em, aproximadamente, 75 estações
secundário de tratamento de grande porte, obtendo-se efluentes com concentrações de
Anóxico Efluente Aeróbio Efluente nitrogênio total inferiores a 8 mg/L (Stensel e Coleman, 2000). A tecnologia
Afluente Afluente
utiliza uma configuração com, pelo menos, dois valos de oxidação em série,
Aeróbio Aeróbio
em que a sequência de operação dos valos dos sistemas de aeração e das
regiões anóxicas variam. Misturadores submersos são instalados nos valos
Retorno de lodo ativado Retorno de lodo ativado de oxidação, o que permite que em algumas fases operacionais o reator seja
Lodo Lodo apenas misturado e não aerado. O reator continua recebendo afluente e opera
Fase A Fase B
como uma região pré-anóxica. De maneira similar à operação do RBS, o nitrato
disponível foi produzido previamente, na operação de nitrificação aeróbia. Além
Aeróbio Efluente Aeróbio Efluente da desnitrificação nas regiões pré-anóxicas, também pode ocorrer a redução do
Afluente Afluente
nitrato durante a operação aeróbia, dependendo da concentração de OD no
Anóxico Aeróbio
sistema. A duração típica das fases A, B, C e D é de 1,5, 0,5, 1,5 e 0,5 horas,
respectivamente.
Retorno de lodo ativado Retorno de lodo ativado
Lodo Lodo
Fase C Fase D
8–7 Processos para remoção biológica de nitrogênio P 819
820 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
de usar o processo pós-anóxico apenas, é o custo associado à dosagem de uma fonte externa de
carbono. Os processos pré-anóxico e de NdNS apresentam vantagens adicionais relevantes em uti-
lizar apenas os processos pós-anóxicos, incluindo: (1) remoção do nitrato antes ou durante a etapa
de nitrificação e (2) produção de alcalinidade na desnitrificação para contrabalançar a alcalinidade
consumida na nitrificação. Como 3,57 g de alcalinidade (como CaCO3) são produzidos para cada
grama N-NO3 reduzido e 7,14 g alcalinidade (como CaCO3) são consumidos para cada grama
de N-NH4 oxidado, quase metade da alcalinidade utilizada para a nitrificação pode ser fornecida
pelos processos pré-anóxico ou de NdNS. A recuperação de alcalinidade é muito importante para
o tratamento de efluentes com alcalinidade muito baixa. Em algumas aplicações específicas, pode
ser necessário corrigir a alcalinidade com a utilização de cal ou hidróxido de sódio para manter
8–7 Processos para remoção biológica de nitrogênio P 823
(8–69)
Para a redução do nitrito e do OD o valor do numerador na Eq. (8–69) é 1,71 e 1,0, respectivamen-
te. Fontes externas de carbono que resultam em menor síntese celular têm um menor valor de CR,
o que resulta em uma menor dosagem de carbono para uma dada quantidade de nitrato removida.
O efeito da síntese celular sobre o valor de CR é ilustrado na Fig. 8–36. Os valores disponíveis na
literatura para a síntese celular com a utilização de metanol como fonte de carbono variam entre
0,20 e 0,30 (Gu e Onnis- Hayden, 2010) e, desta forma, os valores de CR,NO3 para o metanol variam
de 4,0 a 5,0 g DQO/g N-NO3. Os valores da síntese celular anóxica para outras fontes externas de
carbono podem variar de 0,35 a 0,40. Deve ser observado que a síntese celular em condições anóxi-
cas é 70 a 80% daquela observada em condições aeróbias (Muller et al., 2003, Henze et al., 2008).
Utilizando os dados disponíveis na literatura, a síntese celular com a redução de nitrato é de 0,36 (g
SSV/g DQO) para o etanol (Christensen et al., 1994) e 0,34 (g SSV/g DQO) para o glicerol (Bilyk
et al., 2009), e os respectivos valores de CR da Eq. (8–69) são 5,9 e 5,5 g DQO/g N-NO3, que são
maiores que os valores correspondentes para o metanol. Os respectivos fatores de efetividade para
o metanol, etanol e glicerol, baseados nos valores de CR,NO3, são de 0,22, 0,18 e 0,17 g N-NO3/g
DQO consumida.
A quantidade de carbono externo adicionada por unidade de N-NO3 removido na região pós-
-anóxica é maior que a prevista pela taxa de consumida. O metanol tem uma DQO equivalente de
5 g DQO/g CH3OH, o que resulta em um CR, com base no metanol, de 2,7 a 3,3 g CH3OH/g N-NO3
removido. A dosagem de metanol em aplicações práticas tem variado de 3,3 a 3,8 g CH3OH/g
N-NO3 removido, que é resultado do efeito líquido do real valor de CR, metanol no efluente da
região anóxica, metanol consumido pelo OD que entra na região anóxica e redução de nitrato pelo
substrato disponível no liquor misto pelo decaimento endógeno. Para reatores anóxicos menores
(menor t), é necessária uma maior taxa de desnitrificação, o que exige uma maior concentração da
fonte externa de carbono no efluente do reator e, desta forma, uma maior dosagem da fonte externa
de carbono. A dosagem da fonte externa de carbono está relacionada com a quantidade de carbono
consumido para atender a demanda para a redução do N-NO3 e da sua concentração no reator para
permitir a taxa de desnitrificação necessária.
Taxas de desnitrificação. A taxa de redução de N-NO3 (g/Lⴢd) é função das concentrações
da fonte de carbono, de N-NO3 e da biomassa heterotrófica, como representado pela Eq. (7–133).
(7–133)
onde (h)XH concentração de biomassa capaz de degradar a fonte externa de carbono em condi-
ções anóxicas, mg SSV/L
8,0
7,0
6,0
g DQO/g N-NO3
5,0
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50
Produção de biomassa, g SSV/g DQO
FIGURA 8–36 Dosagem de uma fonte externa de carbono para a remoção de nitrato em função da
produção de biomassa em g de SSV produzido por g de DQO consumida.
8–7 Processos para remoção biológica de nitrogênio P 825
Algumas fontes externas de carbono, como o acetato e o etanol, são rapidamente biodegradáveis
pela maioria das culturas heterotróficas que se desenvolvem no lodo ativado pelo consumo da DBO
do afluente, de maneira que os valores típicos de h (0,60 a 0,80 para sistemas anóxico/aeróbio)
podem ser utilizados na Eq. (7–133) com os valores calculados de XH. A mesma hipótese não pode
ser utilizada para a degradação anóxica com a utilização de metanol.
Bactérias metilotróficas, capazes de degradar o metanol, são mais especializadas e capazes de
crescimento com uma única fonte de carbono, de maneira que o valor de XH na Eq. (7–133) com
metanol está relacionado, principalmente, com a quantidade de metanol alimentado e degradado.
Essas bactérias podem utilizar outras fontes externas de carbono em um sistema de desnitrifica-
ção, mas irão competir com outras bactérias pelo substrato disponível. Foi demonstrado que o
crescimento da cultura anóxica que utiliza o metanol pode conter populações que são capazes de
degradar o etanol (Baytshtok et al., 2009). Os outros substratos mencionados nesta seção podem
ser degradados por uma ampla variedade de bactérias que também podem degradar o substrato
presente na DBO afluente.
As taxas de desnitrificação com o metanol são muito menores em comparação àquelas obtidas
com o acetato, o etanol, o produto comercial MicroCTM e o xarope de milho, com base nas taxas
máximas de crescimento específicos apresentados na Tabela 8–26 para as bactérias que consomem
esses substratos com a redução de nitrato.
Enquanto a Eq. (7–133) pode ser utilizada nos balanços de massa no reator e em modelos de
simulação para analisar o volume da região anóxica e a necessidade da fonte externa de carbono,
uma abordagem de projeto simplificada pode ser feita utilizando os valores da TEdN, como mos-
trado para o projeto dos reatores pré-anóxicos no Exemplo (8–7) e Eq. (8–52).
A TEdN em função da cinética de biodegradação, para a fonte de carbono, é obtida dividindo a Eq.
(7–133) pela concentração de SSVLM (XSSV).
(8–70)
TABELA 8–26 Comparação dos coeficientes cinéticos para várias fontes externas para
desnitrificação
Constante de
Substrato mmax a 20ºC, g/gⴢd Arrhenius, u Referência
Metanol 1,12 1,12 Mokhayeri et al. (2006)
1,3 1,1 Christensson et al. (1994)
1,3 1,09 Dold et al. (2008)
Acetato 4,46 1,21 Mokhayeri et al. (2006)
Etanol 3,02 1,1 Christensson et al. (1994)
MicroCTM 2,05 1,02 Onnis-Hayden et al. (2011)
Xarope de milho 4,13 1,18 Mokhayeri et al. (2006)
826 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
Os valores da TEdN para fontes de carbono diferentes do metanol são de 2 a 2,5 vezes superiores
que aquele para o metanol. As TEdN no lodo ativado anóxico determinadas por Fillos et al. (2007)
para o etanol e metanol com altas concentrações de substrato são dadas pelas Eqs. (8–71) e (8–72).
A TEdN com etanol é, aproximadamente, 2,1 vezes mais rápida que com o metanol.
(8–73)
A taxa de remoção é igual à variação da concentração de N-NO3 entre o afluente e o efluente vezes
a vazão no reator pós-anóxico.
Para um dado volume anóxico, a TEdN necessária, utilizando uma fonte externa de carbono, é
calculada com o auxílio da Eq. 8–75.
(8–75)
A concentração de carbono no substrato externo (Ss) no reator necessária para satisfazer o valor da
TEdN da Eq. 8–75 é calculada pela Eq. 8–70. Para valores da TEdN mais altas, a concentração de
substrato no efluente do reator anóxico também é maior.
A dosagem de carbono depende da quantidade consumida para a redução de nitrato e da quan-
tidade de carbono no efluente, exigida para manter a TEdN necessária, e pode ser obtida com a
utilização da Eq. 8-76.
Para reatores anóxicos com menor volume a TEdN deve ser aumentada, o que aumenta a concentração
da fonte externa de carbono no efluente. Além disso, não há remoção de N-NO3 devido ao decaimento
endógeno. Esses efeitos resultam em uma maior dosagem de carbono. A aplicação das relações apre-
sentadas para a estimativa da dosagem da fonte externa de carbono é ilustrada no Exemplo 8–12.
Anóxico Reator
pós-anóxico
Retorno de lodo ativado
Excesso de lodo
(continuação)
1. h 0,80
2. N-NH4 utilizado para síntese celular 0,12 g N-NH4/g SSV produzido
3. N-NH4 liberado no decaimento endógeno 0,06 g N-NH4/g SSV
4. mmax do etanol a 20°C (Tabela 8–26) 3,02 g/gⴢd
5. valor de u para o mmax do etanol (Tabela 8–26) 1,1
6. Síntese celular para o etanol, YH 0,36 g SSV/g DQO
7. Constante de ½ velocidade para o etanol, Ks 5,0 g DQO/m3
8. O etanol é degradado por toda a biomassa desnitrificante no liquor misto
9. Constante de ½ velocidade para o nitrato, KNO3 0,10 g/m3
10. Concentração de OD 0,0 g/m3
11. mmax do metanol a 20°C (Tabela 8–26) 1,2 g/gⴢd
12. valor de u para o mmax do metanol (Tabela 8–26) 1,1
13. Síntese celular para o metanol (Gu e Onnis-Hayden, 2010), YH 0,30 g SSV/g DQO
14. Coeficiente de decaimento do metanol (Stensel et al., 1973) 0,04 g/gⴢd
15. Constante de ½ velocidade para o metanol (Torres et al., 2011) 1,0 g/m3
16. Concentração de N-NO3 no efluente pós-anóxico 1,0 g/m3
V
b. Calcule a dosagem de etanol com a Eq. 8–76.
(continuação)
Assim, irá ocorrer uma redução na concentração do efluente no reator anóxico com a
dosagem de etanol. Como a concentração de N-NH4 é reduzida, é possível que parte
do nitrogênio necessário seja fornecido pelo N-NO3.
O procedimento de cálculo utilizando o metanol como fonte de carbono é diferente da-
quele utilizado para o etanol. Admite-se que a biomassa responsável pela degradação do
metanol é produzida apenas pela utilização dele e não pela DBO presente no efluente. As
etapas de solução requerem um procedimento iterativo (ou um que possa ser solucionado
com o Solver do Excel) para calcular a concentração de metano no reator pós-anóxico e
permitir a obtenção da taxa de necessária de redução de nitrato.
DQO
(continua)
832 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
(continuação)
DQO
100 5,0
% do NOx removido por decaimento endógeno
g-metanol adicionado/g-N-NO3 removido
80 4,0
60 3,0
Porcento
0 0,0
0 1000 2000 3000 4000
Volume pós-anóxico, m3
(continua)
834 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
(continuação)
Comentário
Os resultados dessas análises sobre o efeito da remoção de nitrato na região pós-anóxica,
apenas pelo decaimento endógeno, com a dosagem de etanol e metanol, ilustram o efeito das
cinéticas de utilização de substrato associadas com uma fonte específica de carbono e o efeito
do volume do reator pós-anóxico na dosagem de carbono. Em função da cinética de utiliza-
ção de substrato ser maior para o etanol, a sua concentração no reator pós-anóxico pôde ser
menor e, com isto, uma menor quantidade do etanol adicionado foi descartada no efluente do
reator em comparação ao metanol. Essa condição resultou em uma menor dosagem de etanol
em comparação com a quantidade de metanol necessária.
de absorbância de radiação UV. Para que esses métodos possam ser utilizados é necessário fazer a
filtração para remover os sólidos e evitar a interferência nas medidas.
O monitoramento em linha do nitrito/nitrato é de grande relevância para o controle da dosa-
gem de carbono nos sistemas nos quais o objetivo é obter uma concentração mínima de nitrogênio
inorgânico no efluente final. A quantidade necessária de carbono varia ao longo do dia, em função
da vazão afluente e da carga de nitrogênio. Uma elevada dosagem de carbono pode ser utilizada
para maximizar a remoção de nitrato, mas pode levar a desperdícios e também pode fazer com que
a DBO do efluente aumente. Normalmente é utilizado um esquema direto de controle, no qual a
vazão e concentração de nitrato afluente no reator anóxico são medidas e utilizadas para ajustar a
dosagem da fonte externa de carbono. Em alguns casos, é feito o monitoramento em linha da con-
centração de nitrato na região anóxica, o que ajuda a evitar a dosagem excessiva, mantendo uma
concentração de nitrato residual baixa.
Desenvolvimento do processo
De meados da década de 1960 até a década de 1970, foram feitas várias observações sobre os altos
níveis de remoção de fósforo em estações de tratamento de efluente municipais nos Distritos de
Columbia (Levin e Shapiro, 1965), San Antonio, TX (Vacker et al., 1967), Los Angeles, CA (Berg-
man et al., 1970) e Baltimore, MD (Milbury et al., 1971), nos EUA. Nesses locais as eficiências
de remoção de fósforo eram superiores a 80% em comparação aos valores típicos de remoção
nos sistemas de lodo ativado que tratavam efluentes domésticos, entre 20% e 25%, em função da
necessidade de fósforo para o crescimento da biomassa a partir da remoção de DBO. Levin e Sha-
piro (1965) apresentaram os resultados experimentais sobre a ocorrência de excesso de consumo
de fósforo pelos micro-organismos e chamaram o processo de assimilação em excesso (luxury
uptake). Posteriormente, eles propuseram um processo específico denominado Phostrip, para a
liberação biológica de fósforo da corrente de retorno de lodo ativado e posterior precipitação quí-
mica do fósforo na fase líquida resultante. Naquela época, o desenvolvimento de outros processos
era impedido pela falta de conhecimento sobre os mecanismos básicos associados à assimilação em
excesso de fósforo pelos micro-organismos. Barnard (1974) foi o primeiro a constatar a necessida-
de do contato anaeróbio entre o lodo ativado e o afluente antes do processo de degradação aeróbia,
para que o processo, atualmente denominado RBF, pudesse ocorrer. Outras modificações do pro-
cesso básico incluem: (1) combinação da sequência anaeróbia/aeróbia com outros projetos para a
remoção biológica de nitrogênio; (2) recirculação do liquor misto da região anóxica para a região
anaeróbia, ao invés de retornar o lodo ativado após a separação sólido/líquido nos clarificadores
8–8 Processos para a remoção biológica de fósforo P 837
secundários ou com membranas; (3) adição dos AGV na região anaeróbia como acetato ou como
corrente líquida do reator de fermentação do processamento do lodo primário e (4) utilização de re-
atores anaeróbios e aeróbios de múltiplos estágios. A exposição alternada às condições anaeróbias
pode ser realizada no processo de tratamento biológico principal, no processo de RBF principal
ou na corrente de retorno de lodo ativado, bem como no processo de RBF específico. O primeiro
processo com remoção biológica de fósforo no sistema principal de tratamento de efluentes nos
EUA, um processo Bardenpho modificado que também incluía a remoção biológica de nitrogênio,
foi colocado em operação em Palmetto na Flórida, em 1970, ilustrado na Fig. 8–3(b).
Clarificador
secundário
Efluente
Afluente Anaeróbio Aeróbio
(a) Lodo
Reciclo de NOx
Clarificador
secundário
Efluente
Afluente Anaeróbio Anóxico Aeróbio
(b) Lodo
Reciclo de SSLM
Clarificador
secundário
Efluente
Afluente Anaeróbio Anóxico Aeróbio
Reciclo de NOx
(c) Lodo
FIGURA 8–37 Processos de remoção biológica de fósforo mais comuns: (a) Phoredox (A/O), (b) Anae-
róbio/Anóxico/Aeróbio (A2O), (c) Universidade de Capetown (UCT).
30/1, a quantidade de DQOrb, provavelmente, será suficiente para a remoção de nitrato e manter o
crescimento dos OAF.
Para efluentes fracos, ou com baixa relação DBO/F, o consumo da DQOrb pelas bactérias hete-
rotróficas desnitrificantes pode inviabilizar o crescimento dos OAF necessários para a remoção da
quantidade requerida de fósforo do afluente.
Remoção de fósforo com nitrificação e baixa relação DBO/F no afluente. Em algu-
mas aplicações é necessário reduzir a concentração de nitrato no liquor misto recirculado para a
região anaeróbia, de maneira que toda a DBOrb possa ser utilizada pelos OAF para possibilitar a
RBF desejada. Para a RBF de efluentes fracos, com baixas relações DBO/F e/ou para obter uma
elevada remoção de fósforo sem a dosagem de produtos químicos, deve-se evitar a presença de
nitrato no liquor misto que retorna para a região anaeróbia do sistema de tratamento. O processo da
Universidade de Capetown (UCT) [ver Fig. 8–37(c)] é um processo comum para a RMFPB, que
tem sido utilizado em processos anóxico/aeróbio para a remoção de nitrogênio para evitar a adição
de nitrato na região anaeróbia. O retorno do liquor misto para a região anaeróbia é feito a partir da
região anóxica ou do efluente onde a concentração de nitrato é, geralmente, inferior a 0,50 mg/L.
Remoção de fósforo em sistemas específicos. O processo Phostrip [ver Tabela 8–27(o)] é
específico para a RMFPB, no qual uma parcela da vazão do retorno de lodo ativado é enviada para
a região anaeróbia. Em alguns casos, uma parcela da corrente afluente é desviada para a região
TABELA 8–27 Descrição dos processos com crescimento em suspensão para a remoção de fósforo
Processo Descrição
(a) Processo Phoredox (A/O) A configuração básica do processo para remoção biológica de fósforo consiste
de uma região anóxica seguida por uma região aeróbia. Barnard (1974) foi o
Clarificador
primeiro a identificar a necessidade de uma câmara anaeróbia antes do processo
secundário de lodo ativado para possibilitar a remoção biológica de fósforo. Barnard definiu
Efluente este processo como Phoredox, o qual também tem sido denominado processo
Afluente Anaeróbia Aeróbia
anaeróbio/anóxico (A/O). O TRS do liquor misto na região aeróbia é de 2 a
4 dias, dependendo da temperatura, de maneira que não ocorra nitrificação.
O tempo de contato anaeróbio é de 30 minutos a 1 hora para possibilitar as
Retorno de lodo ativado
condições de seleção descritas na Seção 7-13 e a melhora da remoção biológica
Lodo de fósforo.
(contendo P)
(b) Processo Anaeróbio/Anóxico/Aeróbio (A2O) O processo A2O possui uma região anóxica localizada entre as regiões anaeróbia
e aeróbia e é utilizado em sistemas de RBF que possibilitam a nitrificação.
Reciclo de NOx
O nitrato é recirculado da região aeróbia para a anóxica promovendo a
desnitrificação. O tempo de detenção na região anóxica é de 1 a 3 horas,
Clarificador dependendo das características do afluente e da quantidade de nitrato a ser
secundário removida. A utilização da região anóxica minimiza a quantidade de nitrato
Efluente
Afluente Anaeróbia Anóxica Aeróbia alimentada na região anaeróbia pelo retorno de lodo ativado.
Lodo
(contendo P)
(c) Processo A2O MBR Uma abordagem comum para a incorporação do processo A2O em um sistema
MBR é apresentada. O liquor misto é recirculado do tanque aeróbio de separação
Reciclo de NOx
por membranas para a região anóxica para possibilitar a remoção de nitrato, com
uma taxa de recirculação de 6:1, com base na vazão afluente ao sistema. O liquor
Efluente misto é recirculado a partir da região aeróbia para contato com o afluente na
região anaeróbia.
Afluente Anaeróbia Anóxica Aeróbia
Reciclo de SSLM
Lodo
(contendo P)
(continua)
8–8 Processos para a remoção biológica de fósforo P 839
TABELA 8–27 (continuação)
Processo Descrição
(d) Processo Bardenpho Modificado O processo Bardenpho, descrito na Tabela 8–24, pode ser modificado para
possibilitar a remoção combinada de nitrogênio e fósforo. O sistema de 5
Carbono
estágios inclui as câmaras anaeróbia, anóxica e aeróbia para a remoção de
Reciclo de NOx (opcional) fósforo, nitrogênio e carbono. O liquor misto da primeira região aeróbia é
recirculado para a região pré-anóxica. Um segundo estágio anóxico é incluído
Clarificador
secundário para possibilitar uma desnitrificação adicional utilizando o nitrato produzido na
Efluente primeira região aeróbia como aceptor de elétrons e o carbono orgânico endógeno
Afluente Anaeróbia Anóxica Aeróbia Anóxica
como doador de elétrons. Uma opção é utilizar uma fonte externa de carbono na
Aeróbia
segunda região anóxica, para que o tempo de detenção seja menor, assim como
a concentração de N-NO3 no efluente final. O último estágio aeróbio é utilizado
Retorno de lodo ativado
para remover o nitrogênio gasoso residual da solução e elevar a concentração de
Lodo OD para minimizar a liberação de fósforo no clarificador secundário. O processo
(contendo P) de 5 estágios produz menor concentração de N-NO3 na corrente de retorno de
lodo ativado, o que minimiza o seu efeito na região anaeróbia.
(e) Processo Bardenpho-MBR Modificado Uma região pós-anóxica é incluída no processo A2O–MBR para criar o processo
Bardenpho–MBR Modificado. A adição de carbono na segunda região anóxica
Carbono
também é opcional. Instalações MBR em escala real utilizando o processo
Reciclo de NOx (opcional) Bardenpho–MBR modificado podem empregar três correntes de reciclo. O liquor
misto do tanque aeróbio de separação por membrana é recirculado para a
Efluente câmara aeróbia com uma taxa de aproximadamente 6/1, com base na vazão
afluente ao sistema. O NOx é alimentado da região aeróbia para a região
Afluente Anaeróbia Anóxica Aeróbia Anóxica
pré-anóxica com uma taxa de, aproximadamente, 3 a 4 vezes a vazão afluente.
O liquor misto é recirculado da região pré-anóxica para a região anaeróbia com
uma taxa de 1 a 2 vezes a vazão afluente. Essa corrente de reciclo apresenta
Reciclo de SSLM Retorno de lodo ativado baixas concentrações de OD, próximas de zero, e de N-NO3. A remoção
Lodo adicional de N-NO3 assegura um melhor desempenho do processo de RBF em
(contendo P)
840 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
Processo Descrição
(f) Processo da Universidade de Capetown (UCT) – Padrão e modificado O processo UCT foi desenvolvido na Universidade da Cidade do Cabo (África
do Sul) para minimizar o efeito do nitrato alimentado na região anaeróbia de um
Reciclo de SSLM
processo para a RBF tratando um efluente fraco. O processo UCT tem três correntes
de reciclo, ao invés de duas como no processo A2O. O retorno de lodo do
Clarificador clarificador secundário é encaminhado para a região anóxica ao invés da região
secundário
Efluente anaeróbia.
Afluente Anaeróbia Anóxica Aeróbia
Similar ao que ocorre no processo A2O, o reciclo interno alimenta o NOx da
região aeróbia na região anóxica. A região anaeróbia recebe o liquor misto
da região anóxica ao invés da corrente de retorno de lodo ativado, de maneira
Reciclo NOx que a possibilidade de alimentação de nitrato na região anaeróbia é eliminada.
Retorno de lodo ativado Assim uma maior parcela da DQOrb estará disponível para os PAOs na região
Lodo anaeróbia, o que pode melhorar a eficiência da RBF. Como a região anaeróbia
(contendo P) recebe o liquor misto com uma menor concentração, em comparação com o
processo A2O, o tempo de detenção anaeróbio deverá ser maior que aquele
utilizado no processo Phoredox, entre 1 e 2 horas. A taxa de reciclo para a região
Reciclo de SSLM Reciclo de NOx
anaeróbia é, geralmente, duas vezes a vazão afluente.
Clarificador No processo UCT modificado, mostrado no segundo diagrama, o retorno de lodo
secundário ativado é direcionado para uma região anóxica que não recebe a corrente do
Efluente
Afluente Anaeróbia Anóxica Anóxica Aeróbia reciclo interno da região aeróbia. O nitrato é reduzido nessa câmara e o liquor
misto é reciclado para a região anaeróbia. Uma segunda região anóxica recebe
a corrente interna de reciclo da câmara aeróbia para possibilitar a remoção da
Retorno de lodo ativado maior parcela de nitrato no processo.
Lodo
(contendo P)
(g) Processo UCT-MBR Modificado O processo UCT-MBR modificado também tem três correntes de reciclo, as
quais são aplicadas da mesma forma que a descrita para o processo UCT com
Reciclo de SSLM
clarificador secundário. A corrente de retorno de lodo ativado do tanque aeróbio
de separação por membranas é direcionada para a região pré-anóxica, com
Efluente uma vazão de, aproximadamente, 6 vezes a vazão afluente. O NOx produzido
na região aeróbia é reciclado para a região pré-anóxica com uma vazão de,
Afluente Anaeróbia Anóxica Aeróbia
aproximadamente, 3 vezes a vazão afluente. A região anaeróbia recebe o liquor
misto sem oxigênio dissolvido e com uma concentração mínima de nitrato no
Reciclo NOx reciclo da região pré-anóxica, com uma taxa de recirculação de 1 a 2 vezes a
Retorno de lodo ativado
vazão afluente. Minimizando-se as concentrações de OD e nitrato na corrente
recirculada para a região anaeróbia, a maior parte da DQOrb afluente pode ser
Lodo
(contendo P) utilizada pelos PAOs para maximizar a eficiência da RBF.
(continua)
8–8 Processos para a remoção biológica de fósforo P 841
TABELA 8–27 (continuação)
Processo Descrição
(h) Processo da Iniciativa da Estação de Virginia (IEV) Este processo é similar aos processos A2/O e UCT, exceto pelo aumento no
número de estágios e métodos utilizados para os sistemas de reciclagem (Daigger
Reciclo de NOx
et al., 1988). No processo IEV todas as regiões foram divididas em estágios,
que consistem em pelos menos duas células completamente misturadas em série.
Reciclo de SSML
O retorno do lodo ativado é descarregado na alimentação da região anóxica
Clarificador juntamente com o reciclo nitrificado da região aeróbia. O liquor misto da região
secundário
Efluente anóxica é retornado para a entrada da região anaeróbia. O processo originado
Afluente Anaeróbia
Anaerobic Anóxica Aeróbia pela Iniciativa da Estação de Virgínia também é projetado como um sistema de
alta taxa, operando com um TRS muito menor, o qual maximiza a eficiência da
RBF. O TRS combinado das regiões anaeróbia e anóxica é, geralmente, de 1,5 a 3
Retorno de lodo ativado dias, enquanto os valores típicos de t são de 60 a 90 minutos em cada. A região
de aeração é projetada para nitrificação.
Lodo
(contendo P)
(i) Processo Johannesburg (JHB) O processo JHB originado em Johannesburg, África do Sul, funciona como uma
alternativa aos processos UCT ou UCT modificado para minimizar a adição de
Afluente
nitrato na região anaeróbia e maximizar a RBF de efluentes fracos. O retorno de
Reciclo de NOx
Clarificador lodo ativado é direcionado para uma região anóxica que tem tempo de detenção
secundário suficiente para a redução do nitrato no liquor misto antes da sua alimentação na
Efluente região anaeróbia.
Anóxica Anaeróbia Anóxica Aeróbia
A redução do nitrato é obtida pela taxa de respiração endógena do liquor misto
e o tempo de detenção na região anóxica depende da concentração do liquor
(JHB modificado, opcional) misto, temperatura e concentração de nitrato na corrente de retorno de lodo. O
NOx produzido na região aeróbia é reciclado para a região pré-anóxica com
Retorno de lodo ativado uma vazão de 3 a 4 vezes a vazão afluente. Comparado com o processo UCT, é
Lodo possível manter uma maior concentração de SSLM e um menor tempo de detenção
(contendo P)
na região anaeróbia (tempo de detenção de aproximadamente 1 h), utilizando-se
842 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
(continua)
TABELA 8–27 (continuação)
Processo Descrição
(k) RBF com Fermentação do Lodo Primário O sistema (1) é utilizado na ETE de Kelowna e representa a aplicação mais típica
desse tipo de processo. O líquido fermentado é alimentado na região anaeróbia
do processo de RBF, o qual também recebe o efluente primário. O líquido
(1) Reciclo NO x
Clarificador Clarificador
fermentado disponibiliza uma maior quantidade de substrato para o crescimento
primário secundário dos PAOs, aumentando a eficiência de remoção de fósforo.
Afluente
Anaeróbia Anóxica Aeróbio Efluente
(2) Clarificador O sistema (2) é utilizado na unidade de OWASA, a qual dispõe de um filtro
Clarificador
primário secundário percolador antes do reator biológico. Neste caso, a região anaeróbia de contato,
Afluente Filtro necessária para a RBF, recebe a corrente rica de AGV do fermentador de lodo
percolador
Aeróbia Efluente
primário após a câmara anóxica que recebe a corrente de retorno de lodo ativado
e não após o efluente do filtro percolador, o qual apresenta uma quantidade de
DQOrb muito baixa.
Anaeróbia Anóxica
Retorno de lodo ativado
Fermen-
tador Lodo
Líquido rico em AGV (contendo P)
(continua)
8–8 Processos para a remoção biológica de fósforo P 843
TABELA 8–27 (continuação)
Processo Descrição
(l) Processo de RBF Westbank O processo Westbank para RBF tem esse nome em função da sua localização em
relação a outro processo para RBF utilizado em Kelowna, na Columbia Britânica,
Fermentador
Canadá. A sequência de regiões anóxica/anaeróbia/aeróbia e a localização
Opcional das correntes de reciclo do processo são similares às utilizadas no processo JHB.
Contudo, a primeira região anóxica recebe o afluente juntamente com a corrente
Afluente Clarificador de retorno de lodo ativado para assegurar a remoção completa de nitrato. Parte
secundário do afluente também pode ser alimentada nas regiões anaeróbia e anóxica. A
Efluente
região anaeróbia subsequente é alimentada com a corrente líquida do fermentador
Anóxica Anaeróbia Anóxica Aeróbia de lodo primário, que é rica em AGV (acetato e propionato), para fornecer o
substrato para o crescimento dos PAOs e melhorar o desempenho do processo
de RBF.
Reciclo de NOx
Retorno de lodo ativado
Lodo
(contendo P)
(m) RBS com RBF Se houver uma remoção adequada de nitrato durante a operação do RBS, é
possível incluir um período anaeróbio durante a etapa de enchimento do RBS
Fonte de carbono
para a fermentação da DQOrb e assimilação dos AGV pelos PAOs. Um período
(Opcional) de operação anóxico é utilizado após um tempo de aeração adequado para
Afluente Ar Efluente a produção de nitrito e nitrato. Ciclos alternados aeróbio e anóxico podem ser
utilizados durante o período de reação. Com isso a concentração de nitrato é
minimizada antes da sedimentação e uma menor quantidade de nitrato estará
disponível para competir pela DQOrb no período de enchimento e início do
Enchimento Reação Aeróbia Anóxica Sedimentação Descarte período de reação. Assim, é possível o estabelecimento de condições anaeróbias
anaeróbia no período de enchimento e início do período de reação, de maneira que a
DQOrb poderá ser utilizada pelos PAOs e não pelas bactérias redutoras de nitrato.
844 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
(continua)
TABELA 8–27 (continuação)
Processo Descrição
(n) RBS com lodo ativado granular e RBF Um sistema com RBS e lodo ativado granular é uma tecnologia que está em
desenvolvimento e é bastante promissora. Um processo seletor, baseado no
Ar
escoamento ascensional em alta velocidade produz um lodo ativado granular
Efluente Crescimento denso, com partículas de diâmetro superior a 0,20 mm (de Kreuk e van Loosdrecht,
heterotrófico 2007), que apresenta no ensaio do IVL o mesmo grau de sedimentação, de 5
Lodo
granular Nitrificação minutos, de um lodo convencional no teste de 30 minutos. Como resultado, o
Remoção de P/
projeto e a operação desse sistema é diferente do RBS convencional. Após um
Afluente Crescimento anóxico curto período de tempo para sedimentação ( 10 min), o afluente é alimentado
Aeração Sedimentação
Enchimento + Seção transversal da com escoamento ascendente e o efluente tratado é o líquido resultante na camada
descarte região de lodo granular superior após a etapa de sedimentação. O período de enchimento é anaeróbio,
para possibilitar a RBF. Durante o período de aeração ocorre a NdNS, com a
nitrificação ocorrendo nas camadas externas dos grânulos e a desnitrificação nas
internas. O carbono armazenado é oxidado pelos PAOs com a assimilação de
fósforo. A eficiência de aeração é melhorada em função do nível constante de
líquido e a assimilação da DQOrb no período anaeróbio da etapa de enchimento
resulta em uma taxa de consumo de oxigênio mais uniforme durante a aeração.
Pode ser necessário filtrar o efluente tratado para obter uma concentração de
SST inferior a 15 mg/L. Um processo comercial, denominado NeredaTM, foi
desenvolvido pela DHV, com unidade de demonstração em escala real instalada
na Holanda.
(o) Phostrip com tratamento com lodo ativado anóxico/aeróbio O processo Phostrip é, em essência, um processo de RBF anaeróbio/aeróbio, com
extração de fósforo dos PAOs. As condições anaeróbias são criadas mantendo-se
Clarificador Clarificador
o lodo ativado de retorno por um período suficientemente longo no adensador
primário secundário gravitacional (denominado extrator de fósforo), com tempos de residência
Afluente variando, geralmente, entre 8 e 12 horas (Levin et al., 1975). Os substratos
Anóxica Aeróbia Efluente liberados pelo decaimento endógeno e lise celular do lodo são fermentados,
produzindo AGV, que são assimilados pelos PAOs resultando na liberação de
Retorno de lodo ativado fósforo. O fósforo liberado é eluído por meio da recirculação da drenagem de
Lodo fundo do adensador para a sua alimentação. Os sólidos da descarga de fundo
Tratamento químico Extração anaeróbia do adensador são recirculados para o processo de lodo ativado, onde os PAOs
Retorno do (cal ou sal metálico) de fósforo assimilam o fósforo em condições anóxica e aeróbia. O sobrenadante do tanque
sobrenadante
de extração é tratado quimicamente com cal ou sais metálicos para a remoção
Desnitrificação do fósforo. A dosagem de cal necessária para elevar o pH para possibilitar
Sobrenadante (opcional)
rico em P a remoção de fósforo depende da alcalinidade do sobrenadante e não da
quantidade de fósforo presente. Caso sais de alumínio ou ferro forem utilizados, a
Descarte de (opcional) sua dosagem é proporcional à quantidade de fósforo liberada, podendo-se utilizar
lodo químico Recirculação a relação molar para possibilitar a remoção do fósforo. O processo Phostrip pode
Lodo ser aplicado de maneira similar nos sistemas com nitrificação. Para processos
(Fósforo extraído) anóxico/aeróbio, o reciclo pode ser mantido na câmara anóxica para possibilitar
a desnitrificação antes do seu envio para o tanque de extração.
8–8 Processos para a remoção biológica de fósforo P 845
846 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
anaeróbia do processo específico para fornecimento adicional de DQOrb. O crescimento das PAO
ocorre na região anaeróbia de contato devido à assimilação de acetado, resultante da fermentação
dos substratos liberados durante a lise celular da biomassa presente no retorno de lodo ativado e da
DQOrb do afluente, se este for adicionado. A separação sólido-líquido ocorre, geralmente, em um
adensador por gravidade, que é parte integrante da região anaeróbia de contato e o líquido contendo
o fósforo, liberado ou extraído, é tratado separadamente, antes de ser retornado para o processo
principal de tratamento. A corrente líquida rica em fósforo é tratada, geralmente, com cal ou algum
sal metálico para a precipitação do fósforo, mas ao invés disso ela pode ser direcionada para um
processo de recuperação de estruvita.
A biomassa residual é direcionada para o processo principal de tratamento com a vazão de
retorno de lodo ativado, onde os PAO irão assimilar o fósforo da corrente afluente ao sistema de
tratamento. Os PAO têm uma maior eficiência de assimilação do fósforo presente no afluente por-
que não necessitam assimilar todo o fósforo liberado na região anaeróbia de contato, como é feito
com os processos principais. No processo Phostrip, a eficiência de remoção de fósforo é menos de-
pendente da concentração de DQOrb do afluente em comparação com os outros processos de RBF.
Também, como já observado, as variações do processo Phostrip estão se tornado populares para a
remoção de fósforo na forma de estruvita (ver Seção 15–4 no Capítulo 15).
Revisão dos processos para a RBF. Um resumo das características básicas de projeto dos
processos para a RBF, inclusive aqueles recentemente discutidos, é apresentado na Tabela 8–27.
Nesse resumo são considerados: (1) processos básicos para a redução da concentração de nitrato
alimentada na região anaeróbia do processo para a RBF [A2O (b), Bardenpho Modificado (d)]; (2)
processos para remover quase todo o nitrato alimentado na região anaeróbia do processo de RBF
[UCT (f), VIP (h), JHB (i), Westbank (l)]; (3) os processos em (1) e (2) utilizando sistemas MBR
ao invés de um sistema de lodo ativado com clarificador secundário [(c), (e), (g), (j)]; (4) processos
que incluem a fermentação do lodo primário para a produção de AGV e para maximizar o desem-
penho do processo para a RBF [adição de AGV no processo para a RBF A2O-RBFA em Kelowna e
no filtro percolador para a RBF em OWASA (k) e Westbank (l)]; (5) RBF em um RBS (m, n) e (6)
processo específico para a RBF com contato anaeróbio [Phostrip (o)].
A escolha do processo para a RBF depende muito das características de cada local e vários
fatores devem ser considerados, incluindo: (1) a concentração limite de fósforo no efluente tra-
tado; (2) os processos e equipamentos existentes; (3) a necessidade de nitrificação e remoção de
nitrogênio; (4) as características do efluente a ser tratado; (5) a recuperação de fósforo e (6) as
necessidades operacionais. As vantagens e desvantagens dos processos comumente utilizados são
apresentadas na Tabela 8–28.
TABELA 8–29 Parâmetros típicos utilizados para o projeto de processos de remoção biológica de fósforo
T, h
RLA, % Reciclo
Parâmetro de SSLM, Região Região Região da vazão interno, %
projeto/processo TRS, d mg/L anaeróbia anóxica aeróbia afluente do afluente
A/O 2–5 3000–4000 0,5–1,5 – 1–3 25–100
câmara anaeróbia ser mínima. Os valores mais elevados apresentados na Tabela 8–30 deverão ser
utilizados para processos de RBF com TRS longos ( 15 a 20 dias), e/ou com elevada concentra-
ção de OD ou nitrato no afluente à região anaeróbia.
Variações diárias. As variações diárias nas características do efluente a ser tratado também é
um aspecto relevante para o processo de RBF. Como o desempenho das bactérias que armazenam
fósforo depende da disponibilidade de substratos fermentados, é importante conhecer o perfil
de variação das características do afluente ao longo do dia para verificar como o desempenho
da RBF será afetado, principalmente durante os períodos em que o afluente é mais fraco. Para
esgotos domésticos, as concentrações da DBO e DQOrb irão variar ao longo do dia, com as me-
nores concentrações durante o final da noite e o início da manhã. Em pequenas comunidades as
variações são, em geral, mais pronunciadas e é possível que, em certos períodos do dia, a DQOrb
seja muito baixa. Durante a estação de chuva ou no inverno, a RBF pode ser mais difícil em de-
corrência da baixa carga orgânica no efluente a ser tratado e da maior dificuldade do sistema se
tornar anaeróbio.
25,0
20,0
15,0
DQOrb/P
10,0
5,0
0,0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8
AGV/DQOrb
FIGURA 8–38 Quantidade de DQOrb utilizada para a remoção biológica de fósforo em função da
fração de ácidos graxos voláteis presentes.
Períodos prolongados com baixa concentração de DQOrb irão resultar em um menor desem-
penho da RBF por várias horas após a ocorrência dos eventos com baixa concentração de substrato
(Stephens e Stensel, 1998). O impacto da dosagem contínua de acetato nas estações onde a fermen-
tação do lodo tem sido feita para produção adicional de AGV demonstrou ser benéfica para assegu-
rar um fornecimento estável de DQOrb para a RBF. Em estágios paralelos do processo Bardenpho
modificado, em Kelowna no Canadá, um estágio foi alimentado com o liquor fermentado e o outro
foi utilizado como controle. Com a dosagem continua de AGV, a concentração de fósforo solúvel
no efluente tratado foi reduzida de 2,5 para 0,3 mg/L (Oldham e Stevens, 1985), e a relação AGV/P
foi de 6,7 g/g, inferior à relação de 8 g/g indicada na Tabela 8–30. Esses resultados são um indica-
tivo de que a dosagem contínua de acetato possibilita maior eficiência da RBF.
Tempo de contato anaeróbio. Como descrito na Seção 7–11, o tempo de contato anaeróbio
com os PAO e a disponibilidade de AGV são os parâmetros mais críticos para o projeto de um
processo para a RBF. O acetato e o propionato são assimilados rapidamente, e tempos de detenção
entre 0,25 e 1,0 horas são adequados para a fermentação da DQOrb. Levando-se em conta o efeito
da concentração de SSVLM na região anaeróbia, o TRS recomendado é de 1,0 dia (Grady et al.,
1999). Se o tempo de contato na região anaeróbia for muito longo, poderá ocorrer a liberação se-
cundária de fósforo, a qual não está associada com a assimilação de acetato (Barnard, 1984). Quan-
do a liberação secundária de fósforo ocorre, os PAO não irão acumular os polihidroxialcanoatos
(PHA). para oxidação subsequente na região aeróbia. O polihidroxibutirato fornece energia para
a assimilação e armazenagem de fósforo, Com base nos resultados da operação de um RBS em
escala de bancada, foi verificado que a liberação secundária de fósforo ocorria quando o tempo de
contato anaeróbio era superior a 3,0 horas (Stephens e Stensel, 1998).
Adição de ácidos graxos voláteis. O desempenho de sistemas de RBF é muito influenciado
pelas condições locais e depende das características do afluente, do projeto das unidades de pro-
cesso e das condições de operação. Para afluentes que apresentam relações DQOrb/P muito baixas,
a concentração de fósforo solúvel no efluente tratado pode ser superior a 1,0 2,0 mg/L, sendo
possível obter concentrações na faixa de 0,5 a 1,0 mg/L para afluentes mais fortes. A dosagem de
AGV na região anaeróbia possibilita a obtenção, de forma consistente, de um efluente tratado com
concentrações de fósforo solúvel variando entre 0,10 a 0,20 mg/L, como mostrado nos exemplos
das estações de RBF de Westbank BC (Rabinowitz e Barnard, 1996) e de Durham, Oregon (Ste-
phens, 2004).
Fontes adicionais de AGV. Fontes adicionais de AGV podem ser obtidas por meio da aqui-
sição de uma fonte externa de carbono aceitável ou pela produção no local pela fermentação do
lodo obtido no sedimentador primário. O processo de fermentação do lodo primário possibilita a
8–8 Processos para a remoção biológica de fósforo P 851
obtenção de uma fonte de AGV com, aproximadamente, 50% de acetato e 30% de propionato. A
presença de propionato é mais favorável para o desenvolvimento dos PAO em comparação aos or-
ganismos acumuladores de glicogênio (OAG). As configurações dos processos de fermentação do
lodo primário são mostradas na Fig. 8–39 e os parâmetros de projeto mais relevantes são resumidos
na Tabela 8–31. A configuração do processo mostrado nas Figs. 8–39(b), (c) e (d) são utilizadas
para obter efluentes tratados com concentrações de fósforo variando entre 0,10 e 0,20 mg/L nas
estações de tratamento de Penticton, B.C., Kelowna, B.C., e Kalispell, MT., respectivamente. O
clarificador/fermentador primário (CFP) [ver Fig. 8–39(a)] é a configuração mais simples de um
fermentador (Barnard, 1984), mas existem alguns problemas associados ao nível elevado do manto
de lodo que deve ser mantido, incluindo o potencial de arraste de sólidos suspensos para o processo
secundário de tratamento. A abordagem mais simples e comum é utilizar um adensador de lodo
primário gravitacional para a produção de AGV [ver Fig. 8–39(c)].
Fermentadores de lodo primário. A fermentação do lodo primário pode ser feita em um tanque
separado não aquecido, no manto de lodo do clarificador e em um adensador de lodo gravitacional.
Para evitar a atividade metanogênica, o que resultaria no consumo dos AGV produzidos, é comum
utilizar TRS do lodo variando entre 3 e 6 dias (Rabinowitz e Oldham, 1985). Com TRS nesta faixa
de valores, a produção de AGV varia de 0,1 a 0,2 g AGV/g SSV aplicada no fermentador. A con-
centração de AGV no líquido fermentado pode variar de 150 a 300 mg/L, dependendo do projeto e
operação do fermentador. Assumindo uma concentração de 200 mg SSV/L no efluente bruto, com
uma eficiência de remoção de 65% no clarificador primário, a produção potencial de AGV varia
entre 13 e 26 mg/L (normalizada em relação à vazão afluente). O aumento potencial na remoção
biológica de fósforo, considerando essa produção de AGV, é de 2 a 4 mg/L. Contudo, nem todo
AGV produzido é enviado para a região anaeróbia, uma vez que uma parcela desses compostos será
descartada juntamente com a corrente de fundo do fermentador.
As correntes de reciclo nos fermentadores de lodo primário são utilizadas para eluir os AGV
presentes no lodo adensado, processos das Figs. 8–39(a) e (b), e são opcionais nos processos das
Fig. 8–39(c) e (d). Nos adensadores/fermentadores, o lodo alimentado é mais diluído de maneira
que a vazão de sobrenadante encaminhada para a região anaeróbia é maior, o que resulta na alimen-
Clarificador Clarificador
primário Efluente bruto primário
Efluente bruto Para Q, Xo Para a
a região região
anaeróbia anaeróbia
fd d
Xs
Reciclo, rQ Qw, Xs
(a) Descarte de lodo (b) Descarte de lodo
Clarificador Clarificador
Efluente primário Efluente primário
bruto bruto
Processo de RBN Processo de RBN
Para a Para a
região região
anaeróbia anaeróbia
Reciclo Reciclo
(opcional) Adensador (opcional) Adensador
gravitacional gravitacional
(c) Digestor (d) Digestor
FIGURA 8–39 Projetos de fermentadores de lodo para fornecimento de AGV utilizado na remoção biológi-
ca de fósforo: (a) sedimentador/fermentador primário com manto de lodo profundo; (b) tanque de fermentação
misturado/sedimentador primário; (c) adensador/fermentador gravitacional e (d) tanque de fermentação mis-
turado/adensador gravitacional.
852 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
tação de uma maior fração de AGV para a RBF. Os critérios de projeto para a fermentação de lodo
primário são apresentados na Tabela 8–31.
Estimativa dos valores do TRS e taxas de produção de AGV. O TRS e as taxas de pro-
dução de AGV em fermentadores de lodo primário podem ser estimadas por meio de um balanço
de massa, levando-se em consideração as vazões de descarte de lodo e de reciclo e as concentrações
de SSV, bem como os tempos de contato para a fermentação do lodo. Para o sistema combinado
mostrado na Fig. 8–39(b), o TRS total de fermentação do lodo é calculado com a utilização das
Eqs. (8-77) e (8-78).
(8–78)
a qual pode afetar a eficiência dos PAO na RBF durante as mudanças operacionais. Também foi
feita a avaliação, em escala de bancada, da utilização do glicerol e o etanol na região anaeróbia
para auxiliar na RBF. Os resultados obtidos mostraram que a utilização dessas duas substâncias era
viável, mas a utilização de etanol exige um período de aclimatação relativamente longo, possivel-
mente para o desenvolvimento de organismos capazes de promover a sua fermentação (Guerrero et
al., 2012), e o glicerol exige um tempo de contato anaeróbio superior àquele comumente utilizado,
para facilitar a sua fermentação para acetato e propionato (Puig et al., 2008).
Fermentação do liquor misto do processo de lodo ativado. A fermentação do liquor misto do
processo de lodo ativado também possibilita a RBF e foi a base do processo Phostrip proposto em
1965 (Levin e Shapiro, 1965). Nesse processo, o sobrenadante do adensador foi submetido a um
tratamento químico para a remoção do fósforo liberado e o liquor misto é recirculado para o pro-
cesso principal de tratamento, para a assimilação de fósforo na região anaeróbia. Contudo, Barnard
et al. (2011) relataram que a RBF com a fermentação do lodo ativado, sem o processo Phostrip,
era efetiva. A fermentação de, aproximadamente, 7% da vazão de retorno de lodo ativado no reator
anaeróbio, com tempos de retenção de 35 a 50 h, resultou em uma RBF efetiva em várias estações
de tratamento na Dinamarca e Inglaterra.
Tempo de retenção de sólidos. A eficiência da remoção biológica de fósforo é afetada pelo
tipo de processo de lodo ativado, TRS de projeto e características do afluente (Randall et al., 1992).
Em um sistema de RBF é necessário um TRS adequado para que a assimilação de fósforo seja
efetiva. Os TRS necessários são de 2,5 dias a 20°C e 4,0 dias a 10°C. Sistemas de remoção bioló-
gica de nutrientes com TRS mais elevados são menos eficientes para a RBF em comparação com
os sistemas com TRS de projeto mais curtos. Dois efeitos adversos na eficiência de remoção de
fósforo estão associados com os processos com baixa carga e TRS longos. Primeiro, quanto maior
o TRS, maior será o decaimento endógeno, e a quantidade de biomassa com PAO produzida e des-
cartada será menor, com uma redução proporcional na remoção de fósforo. Segundo, com longos
TRS os PAO encontram-se em uma fase endógena mais prolongada, o que irá reduzir a quantidade
de produtos intracelulares armazenados. Se o glicogênio intracelular for exaurido, menores serão
a eficiência de assimilação de acetato e a armazenagem de PHA na região anaeróbia, tornando o
processo de RBF menos eficiente (Stephens e Stensel, 1998). A operação do sistema com um TRS
ligeiramente superior ao necessário para a nitrificação parece ser o mais adequado para o obter o
melhor desempenho do processo de RBF (Oldham e Stevens, 1985).
Projeto da região aeróbia e sistema de aeração. A configuração da região de aeração
e a concentração de OD afetam a eficiência de assimilação de fósforo e a concentração de fósforo
solúvel no efluente final do processo de RBF. Para que a eficiência de remoção de fósforo não seja
comprometida, a concentração de OD no primeiro estágio de um reator aeróbio em estágios deve
ser superior a 1,5 mg/L (Narayanan et al., 2011). A eficiência de remoção de fósforo é maior em
reatores aeróbios em estágios em comparação com os reatores simples, em função da cinética de
primeira ordem da reação de assimilação de fósforo (Petersen et al., 1998). A taxa de assimilação
de fósforo é função da concentração de PHA armazenada, das concentrações de OD e PO4 na fase
líquida e da concentração de PAO na biomassa.
Um reator aeróbio em estágios possui maiores concentrações de PHA armazenado e de PO4
nos primeiros estágios, o que irá resultar em maiores taxas de assimilação de fósforo e em menores
concentrações de PO4 no estágio final. A taxa de assimilação de PO4 é modelada, geralmente, por
uma expressão matemática similar à Eq. (8–79).
(8–79)
Com base nas reações de DOQrb/N-NO3 e DQOrb/OD obtidas acima, o impacto do OD e nitrato,
alimentados na região anaeróbia, sobre o desempenho da RBF pode ser avaliado. A DQOrb na
região anaeróbia alimentada será, muito provavelmente, removida pelas bactérias que utilizam o
oxigênio e nitrato disponíveis, antes de estar disponível para a remoção biológica de fósforo.
Processamento do excesso de lodo. Como o fósforo está armazenado no excesso de lodo
dos processos de RBF, uma atenção especial deve ser dada aos métodos para o processamento do
lodo em excesso e ao potencial de reciclagem de uma quantidade excessiva de fósforo para o pro-
cesso de RBF. Além disso, foi verificado que os biossólidos produzidos em digestores anaeróbios
que processam o excesso de lodo de sistemas para a RBF apresentam características ruins de desa-
guamento, incluindo uma baixa concentração de sólidos na torta desaguada e a necessidade de uma
maior dosagem de polímeros. A causa dos problemas de desaguamento pode estar relacionada com
o aumento da relação entre as concentrações de cátions monovalentes e bivalentes, como relatado
por Murthy et al. (1998). No lodo digerido do processo de RBF a relação entre cátions monovalen-
tes e bivalentes pode aumentar em função da maior proporção de potássio em relação ao cálcio e
magnésio com a liberação de fósforo pelos PAO submetidos a condições anaeróbias.
Impacto da condição anaeróbia. Na revisão dos mecanismos da RBF apresentada no Capítulo
7, foi observado que o fósforo é liberado quando as bactérias que contêm o fósforo armazenado são
8–8 Processos para a remoção biológica de fósforo P 855
Assuma: So S ⬃ So
Da Tabela 8–14,
bH,12°C bH,20(1,04)T–20
(continua)
858 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
(continuação)
5. Calcule a quantidade de P no lodo descartado.
a. Calcule a produção total de lodo com a Eq. (8–21), Tabela 8–10.
c. P no lodo descartado, %
b. DQOrb disponível
Dosagem de sais metálicos. Efluentes tratados com concentrações de fósforo muito baixas,
inferiores a 0,05 mg/L, podem ser obtidos pelo processo de RBF com a dosagem de sais metálicos.
Os sais metálicos podem ser adicionados nas câmaras anaeróbia, anóxica ou aeróbia de um
sistema de RBF, mas a sobredosagem pode resultar em menor desempenho da RBF. A menor RBF
pode conduzir ao aumento constante da dosagem química, de maneira que, eventualmente, a maior
parte do fósforo é removida por precipitação química.
Se uma grande quantidade de fósforo for removida do liquor misto por precipitação quími-
ca, menor quantidade de fósforo será assimilada pelos PAO na região aeróbia, o que diminui a
8–8 Processos para a remoção biológica de fósforo P 859
da armazenagem biológica de fósforo. O teor de fósforo nos sólidos do liquor misto, em base seca,
pode variar entre 3 e 6% (Randall et al., 1992). Assim, a concentração de fósforo total no efluente
tratado pode ser afetada de forma significativa em função da concentração de SST. Com teores de
fósforo entre 3 e 6% nos sólidos do liquor misto, a contribuição de fósforo, para um efluente trata-
do com uma concentração de SST de 10 mg/L, seria de 0,3 a 0,6 mg/L. Felizmente, os biossólidos
da maioria dos processos de RBF sedimentam bem e as concentrações de SST no efluente dos
clarificadores secundários é de 10 mg/L ou menos. Para permitir a obtenção de um efluente final
com concentração de fósforo muito baixa, é necessário utilizar a filtração em meio granular ou um
sistema de separação por membranas.
Sistema de aeração
O projeto do sistema de aeração do processo de lodo ativado deve ser adequado para: (1) atender
à demanda de oxigênio para a oxidação biológica da DQOrb presente no efluente; (2) atender à
demanda de oxigênio para a respiração endógena da biomassa; (3) atender à demanda de oxigênio
para a nitrificação biológica; (4) possibilitar a mistura adequada do liquor misto no reator e (5)
manter uma concentração mínima de OD no reator biológico. Se a eficiência de transferência de
oxigênio do sistema de aeração for conhecida ou puder ser estimada, a demanda real de ar para
a aeração por ar difuso, ou a potência instalada dos aeradores mecânicos superficiais, poderá ser
calculada. As características dos difusores de ar e a demanda de energia para mistura por ar difuso
e os sistemas mecânicos de aeração são discutidos na Seção 5–12 no Capítulo 5. Uma questão
importante a ser considerada nesta seção é o efeito do projeto do processo de lodo ativado sobre a
eficiência de transferência de oxigênio no liquor misto.
Fator alfa para o processo de lodo ativado com clarificadores. O projeto de aeração
para os processos de lodo ativado envolve a utilização de dados de desempenho dos equipamentos
de aeração para transferência de oxigênio em água limpa e o ajuste das taxas de transferência para
a mesma vazão de ar dos difusores ou potência útil, em kW, dos aeradores mecânicos, levando em
consideração o liquor do liquor misto nas condições operacionais. Um dos fatores mais importantes
para a correção do liquor misto é o seu efeito sobre o fator alfa de projeto. O fator alfa (a) é defi-
nido como a relação entre a taxa de transferência de oxigênio no liquor misto em relação à taxa de
transferência na água limpa. Para o liquor misto, o fato alfa é menor que 1,0 devido ao efeito dos
surfactantes e outros contaminantes orgânicos na transferência de massa entre as fases gás-líquido
e o efeito da viscosidade. As concentrações de surfactantes e contaminantes orgânicos diminuem
com o aumento do TRS em função da degradação biológica. Uma faixa de valores alfa para siste-
mas de lodo ativado com clarificador secundário em função do TRS foi apresentada por Rosso et
al. (2005b) após a avaliação dos testes de transferência de oxigênio de 30 instalações utilizando
aeradores de bolhas finas nos Estados Unidos da América. Os valores médios de alfa aumentam
de, aproximadamente, 0,53 a 0,60 para 0,65 com o aumento do TRS de 10 a 20 dias, para 30 dias.
Fatores alfa para reatores biológicos com membranas submersas. Os valores de alfa
para aeradores de bolhas finas em sistemas MBR são afetados pelo aumento da viscosidade do
liquor misto, causado pela maior concentração de SSLM. O efeito da concentração de SSLM nos
valores do fator alfa é mostrado na Fig. 8–40 para quatro relatórios com aeração por difusores de
bolhas finas e um relatório para sistema de aeração com difusores de bolhas grossas. As referências
e correlações para os valores do fator alfa em função da concentração de SSLM são listadas na Ta-
bela 8–32. Valores aproximados do fator alfa para difusores de bolhas finas nos tanques de aeração
8–9 Do tanque de aeração para os processos de lodo ativado P 861
de sistemas MBR são de 0,47 e 0,35, para concentrações de SSLM de 8000 mg/L e 12.000 mg/L,
respectivamente.
Modelagem da demanda de pico de oxigênio. Modelos de simulação do processo de
lodo ativado podem incluir os efeitos das variações diárias na vazão e concentrações de DQOb e
NKT afluentes, para estimar as demandas de pico de oxigênio para diferentes configurações do
reator. A experiência e o bom senso do engenheiro de processos também podem ser utilizados para
estimar a demanda de oxigênio durante a ocorrência de cargas de pico, assim como o projeto para
as condições médias da demanda de oxigênio. Fatores de pico de, pelos menos, 1,5 a 2,0 vezes as
cargas de DBO e NKT devem ser utilizados. O equipamento de aeração também pode ser dimen-
sionado com base na concentração de oxigênio dissolvido residual (OD) no reator biológico, consi-
derando-se 2,0 mg/L para a carga média diária e 1,0 mg/L para a carga de pico. O equipamento de
aeração deve ser projetado com flexibilidade suficiente para: (1) atender às demandas mínimas de
oxigênio; (2) evitar a aeração excessiva e reduzir o consumo de energia e (3) atender às demandas
máximas de oxigênio. A avaliação da utilização de múltiplos aeradores de menor capacidade, para
o atendimento das demandas mínimas de oxigênio, frequentemente é necessária de maneira que
não ocorra aeração excessiva e o gasto de energia nas condições de menores cargas afluentes. A
aeração excessiva pode afetar de forma negativa o desempenho do processo de remoção biológica
de nutrientes. O impacto da utilização de sopradores com motores de velocidade variável e defle-
tores de ar ajustáveis sobre a demanda de energia para a aeração, é analisado na Seção 17–8 no
Capítulo 17.
1,00
BF Ref. 1
BF Ref. 2
0,80 BF Ref. 3
BF Ref. 4
Valor méido de Alfa
BG Ref 5
0,60
0,40
0,20
0,00
2 4 6 8 10 12 14 16
SSLM, g/L
FIGURA 8–40 Efeito da concentração de SSLM sobre os valores do fator alfa da aeração por ar difuso
em sistemas MBR. As referências são apresentadas na Tabela 8–32.
862 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
TABELA 8–32 Resumo das relações entre o fator alfa e a concentração de SSLM em
sistemas MBR
Referências da Figura 8–40 Cálculo de alfa Referência
BF Ref. 1 e–(0,082*SSLM) Gunder e Krauth (1999)
BF Ref. 2 e–(0,088*SSLM) Krampe e Krauth (2003)
BF Ref. 3 (1,6)e –(0,15*SSLM)
MBR Unidade 1, Racault et al. (2010)
BF Ref. 4 (1,0255)e–(0,0946*SSLM) MBR Unidade 2, Racault et al. (2010)
BG Ref. 5 (1,2888)e –(0,0818*SSLM)
MBR, CB Racault et al. (2010)
Nota: BF – Difusor de bolhas finas, BG – Difusor de bolhas grossas.
mendados para possibilitar uma maior flexibilidade operacional. Instalações com maior capacida-
de, acima de 2,2 m3/s, devem possuir seis ou mais tanques de aeração. Algumas estações de grande
porte possuem entre 30 a 40 tanques de aeração distribuídos em vários grupos ou baterias. Embora
as bolhas de ar dispersas no conteúdo do tanque de aeração ocupem, aproximadamente, 1% do
volume total, isso não é considerado no seu dimensionamento.
Utilização de sistemas de difusão de ar. Caso a aeração do efluente a ser tratado seja feita com
ar difuso, a geometria do tanque pode afetar a eficiência de aeração de forma significativa, assim
como o padrão de mistura obtido [ver Fig. 8–41(a) e (b)]. A profundidade de líquido no tanque
de aeração deve ser de 4,5 a 7,5 m para maximizar a eficiência do consumo de energia do sistema
de aeração. Uma borda livre entre 0,3 a 0,6 metros, acima do nível de líquido, deve ser prevista.
A largura do tanque de aeração em relação a sua profundidade é importante se for utilizada a mis-
tura com escoamento em espiral em uma configuração com fluxo pistonado. A relação largura/
(a) (b)
(c) (d)
FIGURA 8–41 Sistemas de aeração de processos de lodo ativado: (a) discos cerâmicos de difusão em
um tanque de nitrificação de mistura completa, (b) discos cerâmicos de difusão instalados nos dois canais
circulares externos de um processo de lodo ativado tipo MBR, (c) aerador mecânico superficial e (d) vista
de um reator vazio com aerador mecânico superficial. As vistas dos dispositivos de aeração com painéis
de membrana são mostradas na Fig. 5–67 no Capítulo 5.
8–9 Do tanque de aeração para os processos de lodo ativado P 863
profundidade para esse tipo de tanque pode variar de 1,0/1 a 2,2/1, sendo mais comum utilizar
uma relação 1,5/1. Em estações de grande porte, os tanques de aeração podem ser muito longos,
algumas vezes excedendo 150 metros por tanque, e ter de um a quatro canais, utilizando-se extre-
midades curvas para tanques com múltiplos canais. A relação comprimento/largura de cada canal
deve ser de, pelo menos, 5/1. Nos projetos em que sistemas de mistura completa com ar difuso são
utilizados, a relação entre comprimento/largura deve ser menor, para reduzir o custo de construção.
Para tanques com difusores em ambos os lados ou em um padrão matricial ou de painel, maiores
comprimentos são permitidos. O ponto principal é limitar a largura do tanque para evitar o surgi-
mento de zonas mortas ou de mistura inadequada. As dimensões e proporções de cada unidade in-
dependente devem permitir a manutenção de uma velocidade adequada de escoamento, para evitar a
deposição de sólidos, ou seja, em tanques com escoamento devem ser evitados cantos vivos ao longo
de sua extensão, para eliminar a ocorrência de zonas mortas e a interferência no escoamento espiral.
Utilização de sistemas mecânicos de aeração. Para sistemas de aeração mecânica, o arranjo
mais eficiente é o que utiliza um aerador por tanque [ver Fig. 8–41(c) e (d)]. Quando se utiliza múl-
tiplos aeradores no mesmo tanque, para a obtenção da melhor eficiência, a relação comprimento/
largura do tanque deve resultar em múltiplos uniformes, com o aerador centralizado em um quadra-
do para evitar a interferência nos limites da ação hidráulica de cada aerador. A largura e a profun-
didade devem ser definidas de acordo com a potência do aerador, como ilustrado na Tabela 8–33.
Aeradores de duas velocidades são recomendados para propiciar maior flexibilidade operacional ao
sistema, possibilitando atender uma ampla faixa de condições de demanda de oxigênio. Os tanques
devem ser dimensionados com uma borda livre variando de 1 a 1,5 metros.
Tanques individuais devem ter comportas ou válvulas de entrada e saída para que possam ser
isolados e tirados de serviço para inspeção e reparos. As paredes comuns de múltiplos tanques de-
vem ser capazes de suportar a carga hidráulica total do tanque adjacente. A fundação dos tanques
de aeração deve ser suficiente para evitar o seu afundamento no solo ou flutuação, quando estes
estiverem preenchidos ou vazios, respectivamente. Os métodos utilizados para evitar a flutuação
do tanque incluem a utilização lajes de fundo mais espessas, estacas de fixação, ou a instalação
de válvulas de alívio da pressão hidrostática. A instalação de linhas ou poços de drenagem nos
tranques de aeração também é recomendada para possibilitar o esvaziamento. Em instalações de
grande porte, onde a drenagem dos tanques é mais comum, pode ser adequado instalar válvulas de
drenagem no fundo de todos os tanques. Essas válvulas de drenagem devem estar conectadas à tu-
bulação de sucção de uma bomba central de desaguamento de lodo ou à rede de drenagem do poço
de bombeamento da vazão em períodos de chuva. Os sistemas de desaguamento são projetados
para o esvaziamento do tanque em um período variando entre 12 e 24 horas.
Distribuição de vazão. Em estações de tratamento com múltiplas unidades de sedimentação
primária e tanques de aeração, é necessário considerar a equalização da distribuição da vazão nos
tanques de aeração. Em muitos projetos, o efluente do sedimentador primário é coletado em um
(a) (b)
(c) (d)
FIGURA 8–42 Acessórios dos tanques de aeração: (a) e (b) vistas dos canais de transferência aerados
do liquor misto, (c) e (d) vistas dos bocais de aspersão utilizados para quebra e transporte de espuma para
os pontos de coleta.
canal único para distribuição nos tanques de aeração. Para a utilização eficiente dos tanques de
aeração, é necessário utilizar um método adequado para a distribuição ou controle da vazão em
cada um dos tanques de aeração. Os métodos comumente utilizados são as caixas de distribuição
equipadas com vertedores, ou válvulas de controle, ou comportas de controle nos tanques de aera-
ção. O balanço hidráulico da vazão por meio da equalização da perda de carga dos sedimentadores
primários até os tanques de aeração também é uma prática comum. Sistemas de tratamento com
alimentação distribuída exigem a utilização de um sistema ativo para o controle da vazão. Quando
o transporte do afluente ou efluente dos tanques de aeração é feito em canais, esses canais devem
ser equipados com dispositivos de aeração para evitar a deposição de sólidos [ver Figs. 8–42(a) e
(b)]. A demanda de ar varia entre 0,2 e 0,5 m3/ min.m linear de canal.
Sistemas de controle de espumas. Bocais de aspersão são comumente instalados acima da
superfície de líquido ao longo das laterais dos tanques de aeração para quebrar a espuma formada
e auxiliar o transporte dela para os pontos de coleta [ver Figs. 8–42(c) e (d)]. Durante a partida do
sistema, ou variações sazonais de carga, pode ocorrer a formação de espuma no tanque de aeração
e a aspersão de água pode auxiliar a distribuir a espuma no liquor misto e manter o nível de espuma
sob controle. O efluente final peneirado ou filtrado é comumente utilizado para o controle de espu-
ma. A formação de espuma nocardioforme nos tanques de aeração é indesejável e os métodos para
a sua prevenção e controle foram discutidos na Seção 8–3.
(8–80)
TABELA 8–34 Informações típicas para o projeto de clarificadores secundários utilizados em processos de lodo
ativado
Taxa de aplicação Carga de sólidos
gal/ft2ⴢd m3/m2ⴢd lb/ft2ⴢh kg/m2ⴢh
Nível de
Tipo de tratamento Média Pico Média Pico Média Pico Média Pico líquido, mb
Sedimentação após 400–600 1000–1200 16–28 36–56 0,8–1,2 2,0 4–6 10 4,0–5,5
o processo de lodo
ativado (excluindo a
aeração prolongada)
Seletores, remoção 600–800 1200–1600 24–32 40–64 1,0–1,5 2,0 5–8 10 4,0–5,5
biológica de nutrientes
Sedimentação após a 200–400 600–800 8–16 24–32 0,2–1,0 1,6 1,0–5 8 4,0–5,5
aeração prolongada
Sedimentação após
a dosagem química
para remoção de Pa
P Total 2 600–800 24–32
P Total 1c 400–600 16–24
P Total 0,2–0,5d 300–500 12–20
a
Adaptado, em parte, de Kang (1987) e WEF (2010).
b
m x 3,2808 ft.
c
Dosagem química adicional necessária.
d
Dosagem química contínua para polimento do efluente.
866 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
As taxas de aplicação são baseadas nas vazões de efluente ao clarificador, ao invés da vazão de
liquor misto, que inclui as vazões afluente e de lodo reciclado, uma vez que a vazão de clarificado é
equivalente a uma velocidade de escoamento ascensional. Os flocos e partículas pequenas, com ve-
locidade de sedimentação menor que a TAS, serão arrastadas com o efluente clarificado, enquanto
os flocos e partículas maiores, com velocidade de sedimentação maior que a TAS, serão separadas
da corrente líquida por sedimentação gravitacional.
A escolha da taxa de aplicação superficial é influenciada pelas exigências em relação ao
efluente tratado e pela necessidade de obter um desempenho consistente do processo. As taxas de
aplicação típica são apresentadas na Tabela 8–34 e variam entre 16 e 33 m/d. Como a operação
em regime permanente quase não ocorre, em função das variações na vazão afluente, da vazão de
retorno de lodo ativado e da concentração de SSLM, a ocorrência de vazões de pico e a utilização
de fatores de segurança são aspectos relevantes para o projeto de clarificadores. Se a ocorrência das
vazões de pico é de curta duração, as vazões médias de 24 horas podem controlar o projeto, mas
se essas vazões de pico tiverem maior duração, o projeto dos clarificadores deve ser baseado nelas
para evitar o arraste de sólidos pelo efluente do clarificador. As vazões de pico transientes podem
ser melhor gerenciadas em clarificadores mais profundos, já que haverá maior volume disponível
para acomodar o inventário de sólidos em função da maior carga de sólidos afluente.
Enquanto a taxa de aplicação superficial tem sido um parâmetro comumente utilizado para o
dimensionamento de clarificadores, a carga de sólidos, como discutido abaixo, é considerada por
alguns pesquisadores como um parâmetro limitante que afeta a concentração do efluente. Foi veri-
ficado que, com o projeto hidráulico e o gerenciamento dos sólidos adequados, a taxa de aplicação
superficial tem pouco efeito ou quase nenhum efeito sobre a qualidade do efluente, considerando-
-se uma ampla faixa de valores da taxa de aplicação superficial, e o projeto pode ser baseado na
carga aplicada de sólidos (Parker et al., 2001). Com base na avaliação do desempenho dos clarifica-
dores secundários de várias instalações, Wahlberg (1995) também verificou que não há efeito para
taxas de aplicação de até 82 m/d.
Carga de sólidos. Inicialmente, como já observado, flocos e partículas pequenas, com ve-
locidade de sedimentação superior à TAS, irão sedimentar pela ação da gravidade, formando
uma interface de água clarificada. À medida que as partículas continuam sedimentando elas co-
meçam a coalescer formando uma suspensão espessa, definida, algumas vezes, como manto de
lodo. Como consequência, o manto de lodo sofre adensamento no fundo do clarificador. Se o
adensamento ocorrer com baixas velocidades, a quantidade de sólidos que pode ser aplicada por
unidade de área do clarificador é limitada. A carga de sólidos aplicada é um parâmetro utilizado
para o dimensionamento de clarificadores secundários para incluir a limitação de adensamento
destes e é definida pela Eq. 8–81. A CSA é expressa, normalmente, em unidades do Sistema In-
ternacional, kg/m2.h.
(8–81)
A CSA está relacionada com a TAS, a concentração de sólidos suspensos no liquor misto e a taxa
de reciclo de retorno de lodo ativado.
(8–82)
8–10 Análise da separação sólido-líquido para processos de lodo ativado com clarificadores P 867
(8–83)
Por exemplo, uma amostra de liquor misto com uma concentração de 3.000 mg/L de SST que
resulta em um volume de lodo de 600 mL em um cilindro graduado de 2 L, após 30 minutos, tem
um IVL de 100 mL/g. Um lodo com IVL de 100 mL/g é considerado um lodo com boas caracte-
rísticas de sedimentação (valores de IVL inferiores a 120 mL/g são desejáveis). Valores de IVL
acima de 150 mL/g estão associados, geralmente, com o crescimento de organismos filamentosos
(Parker et al., 2001). Um cilindro de 2-L é preferível ao cilindro graduado de 1-L para minimizar o
efeito de parede sobre o adensamento dos sólidos (Keinath e Wahlberg, 1994). Como alternativa,
um dispositivo de baixa rotação (⬃ 1 rpm) pode ser utilizado em um aparato com menor diâmetro
(Wahlberg et al., 1988).
Como o teste do IVL é empírico, está sujeito a erros significativos. Por exemplo, se um lodo
com concentração de SST de 10.000 mg/L não sedimenta nada após 30 minutos, o valor do IVL
será de 100 mL/g. Para evitar resultados errôneos e permitir a comparação dos resultados do IVL
para diferentes lodos, o IVL diluído (IVLD), tem sido utilizado (Jenkins et al., 2004). Na avaliação
do IVLD, uma amostra de lodo é diluída com o efluente tratado da estação de tratamento até que o
volume sedimentado após 30 minutos seja menor ou igual a 250 mL/L. Após a obtenção do fator de
diluição necessário, o teste de IVL é realizado com a amostra diluída.
Espessura do manto de lodo no clarificador. O adensamento dos sólidos ocorre na parte
inferior do clarificador secundário, antes da descarga do lodo ativado de retorno. O processo de
adensamento resulta em uma espessura de lodo, a partir do fundo do clarificador, com uma varia-
ção distinta na concentração de sólidos na camada superior da região de adensamento e coluna de
líquido. A distância entre o topo da região de adensamento e o fundo do clarificador é chamada de
espessura do manto de lodo. A espessura do manto de lodo é afetada: (1) pela carga de sólidos no
clarificador e propriedades de adensamento do lodo (2) por mudanças rápidas na carga de sólidos
ao clarificador (3) pela taxa de reciclo do retorno de lodo ativado e (4) pela estratégia de descarte de
sólidos utilizada pelo operador da instalação. Lodo ativado com altos valores de IVL resultam em
mantos de lodo com maior espessura em função do menor fluxo de adensamento, como discutido
868 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
na Seção 8–10. Processos com remoção biológica de nutrientes tendem a produzir um lodo com
valores de IVL relativamente baixos e mantos de lodo com espessura variando entre 0,30 a 0,60 m
são comuns.
Variações na espessura do manto de lodo. A espessura do manto de lodo se altera conforme
as variações diárias de vazão, como resultado da variação das cargas de sólidos no clarificador.
Aumentos bruscos na vazão afluente, relacionados à ocorrência de chuvas, podem resultar em
mudanças significativas na carga de sólidos no clarificador e em aumentos na espessura do manto
de lodo. Clarificadores profundos podem acomodar essas variações pelo fato de terem maior pro-
fundidade e volume para gerenciar um maior inventário de sólidos, mantendo um nível de líquido
adequado acima do manto de lodo, de maneira que os sólidos sedimentados não são arrastados com
o efluente do clarificador. A utilização de taxas menores de recirculação do retorno de lodo ativado
resulta em um lodo de retorno mais concentrado, o que irá requerer maior tempo de adensamento e
maior espessura do manto de lodo. Mantos de lodo com maior espessura também podem estar asso-
ciados com a estratégia de descarte de lodo, buscando manter uma certa espessura do manto de lodo
no clarificador ao invés de métodos mais proativos de controle do TRS recomendados na Seção 8–3.
Para instalações com múltiplos módulos de lodo ativado/clarificador, a maior espessura do manto de
lodo no clarificador de um módulo pode ser um indicativo de uma distribuição de vazão não uniforme
entre os módulos.
Medida da espessura do manto de lodo. A medida da espessura do manto de lodo é uma ferra-
menta operacional bastante importante, utilizada para promover alterações nas condições operacio-
nais da instalação para controlar o manto de lodo quando necessário, visando minimizar o arraste
de sólidos pelo efluente do clarificador. Os ajustes nas taxas de reciclo do retorno de lodo ativado e
taxa de descarte de lodo fornecem um meio para controlar a espessura do manto de lodo. A espes-
sura do manto de lodo no clarificador é medida utilizando-se métodos automáticos, ou manuais, vá-
rias vezes ao longo do dia. Medidas automáticas utilizam instrumentos em linha que são instalados
no clarificador e técnicas de ultrassom ou emissão de luz são empregadas. O método manual mais
comumente utilizado em muitas estações de tratamento de efluentes, em função de sua simplicida-
de e confiabilidade, é conhecido como Juiz de Lodo. Algumas variações do projeto do juiz de lodo
são disponibilizadas por diferentes fornecedores, mas, em geral, ele consiste de um tubo plástico
transparente longo, com 19 a 32 mm de diâmetro, que é imerso no clarificador, perpendicularmente
ao fundo (ver Fig. 8–43). A extremidade do tubo tem uma válvula de esfera que permite a entrada
de líquido quando o tubo é imerso no clarificador e impede a saída da amostra quando o tubo é
removido. O tubo é graduado ao longo do seu comprimento, geralmente com incrementos de 0,30
m, o que possibilita a verificação visual da espessura do manto de lodo pelo operador.
Q (clarificado)
Interface sólido/líquido
(a localização desta interface
Q + Qu depende da quantidade
de lodo armazenada
no clarificador em um
determinado tempo)
Coluna de sedimentação
(1,5–2 m) equipada com A inclinação da porção inicial
mecanismo de raspagem das curvas é a velocidade de
C1 sedimentação obstruída V3
C2 para a suspensão
C3 com concentração C3
Distância
Interface
Tempo
(a)
Velocidade de sedimentação
V1
V2
C2
C1
Concentração C Concentração C
(b) (c)
FIGURA 8–45 Procedimento para obtenção do gráfico do fluxo de sólidos gravitacional em função da
concentração de sólidos: (a) a velocidade de sedimentação obstruída é obtida nos testes em coluna de
sedimentação com amostras de lodo de diferentes concentrações; (b) o gráfico da velocidade de sedimen-
tação obstruída é obtido na etapa (c) em função da concentração de sólidos correspondente e (d) gráfico
dos valores do fluxo de sólidos em função da respectiva concentração.
com diferentes concentrações de SST, para os quais a velocidade inicial de sedimentação (Vi) é
obtida em um intervalo de 5 a 10 minutos [ver Fig. 8–45(a)]. Depois, é construído um gráfico da
velocidade de sedimentação em função da concentração de SSLM [ver Fig. 8–45(b)]. A Terceira
etapa consiste na construção de um gráfico do fluxo de sólidos, obtido pela Eq. (8–84), em função
da concentração de SSLM [ver Fig. 8–45(c)].
Deve ser observado que a velocidade inicial de sedimentação também é denominada velocidade
da região de sedimentação (VRS), pois ocorre uma interface bem definida entre o manto de lodo e
o líquido clarificado. Para maiores concentrações de SSLM, o valor de Vi será reduzido. Para baixas
concentrações (abaixo de 1000 mg/L), o movimento dos sólidos devido à ação da gravidade é menor,
uma vez que a velocidade de sedimentação dos sólidos é menos dependente da concentração. Se a
velocidade permanece praticamente a mesma com o aumento da concentração de sólidos, o fluxo
devido à ação da gravidade começa a aumentar à medida que a concentração de sólidos aumenta.
Para concentrações de sólidos mais altas, a sedimentação obstruída ocorre e a VRS e o fluxo gra-
vitacional diminuem. Para concentrações de sólidos muito altas, o fluxo de sólidos aproxima-se de
zero. Uma curva típica do fluxo gravitacional de sólidos em função da concentração de SSLM é
mostrada na Fig. 8–46.
Velocidade da região de sedimentação em função da concentração de SSLM e do
IVL. A velocidade da região de sedimentação em função da concentração de sólidos no liquor
misto e IVL pode ser estimada utilizando a Eq. (8-85) (Wilson e Lee, 1982; Wilson, 1996):
Fluxo total
CiiVii + Ci Ub
Fluxo limitante
FSL
CL VL + CL Ub
Ub
CLLUb
C
CiiVii
FSL
CiUbb Fluxo gravitacional
VLL
CLLV
Ci CL Cu
Concentração de sólidos, mg/L
FIGURA 8–46 Definição do diagrama para aplicação do método de fluxo de sólidos com os dados de
adensamento e vazão de descarga de fundo.
As correlações entre Vi e a concentração de SSLM também foram desenvolvidas com o IVL, como
um parâmetro adicional, utilizando dados de várias estações de tratamento (Daigger, 1995; Wahlberg,
1995). Os resultados dessas correlações são dados pelas equações apresentadas abaixo, nas quais me-
nores velocidades da região de sedimentação estão associadas com maiores valores do IVL.
A vantagem das correlações é que a análise do fluxo de sólidos pode ser realizada na própria
unidade para estimar a capacidade do clarificador, utilizando dados mais facilmente obtidos ao
invés de um procedimento que requer a realização de testes de sedimentação mais trabalhosos.
Fluxo de sólidos devido ao movimento no interior do clarificador. O fluxo de sólidos
devido ao movimento da suspensão no interior do clarificador, causado pela descarga do lodo (ver
Fig. 8–44), é dado pela Eq. (8-88).
(8–88)
O fluxo de sólidos devido ao transporte no interior do clarificador varia linearmente com a concen-
tração de sólidos na descarga de fundo e a velocidade de descarga, que é o coeficiente angular da
reta obtida, conforme indicado na reta de descarga de fundo da Fig. 8–46.
Fluxo total de sólidos. O fluxo total de sólidos, FSt, é constituído pelo fluxo gravitacional e o
fluxo de descarga de fundo, conforme indicado pela Eq. (8-89).
O fluxo total de sólidos, como mostrado na Fig. 8–46, é a soma do fluxo gravitacional e de des-
carga de fundo. O formato da curva do fluxo total de sólidos segue o padrão da curva do fluxo
gravitacional e diminui quando ocorre a sedimentação obstruída, à medida que o lodo se torna mais
espesso. O fluxo total atinge um valor mínimo, ou fluxo limitante, para uma determinada concen-
tração de sólidos, antes de voltar a crescer com o aumento da concentração de sólidos, conforme
aumenta o adensamento. O valor do fluxo limitante é obtido traçando-se uma reta horizontal tan-
genciando o ponto mínimo da curva do fluxo total de sólidos, que intercepta o eixo das ordenadas
do gráfico, enquanto a concentração de sólidos é obtida por uma reta perpendicular ao eixo das
abscissas. A carga de sólidos do clarificador não deve exceder o valor do fluxo limitante, ou haverá
acúmulo de sólidos e aumento da espessura do manto de lodo, ultrapassando, eventualmente, a
descarga de efluente clarificado. A máxima CSA permitida no clarificador, Eq. (8–81), é igual ao
fluxo limitante de sólidos.
(8–91)
Utilizando o valor do fluxo limitante de sólidos, a área necessária do clarificador pode ser ob-
tida por meio de um balanço de massa, dado pelas equações abaixo:
Baseada na vazão afluente, Q
(8–92)
(8–93)
Onde os termos utilizados são os mesmos definidos para as Eqs. (8–81 e 8–82).
Concentrações na descarga do clarificador. A concentração de sólidos na descarga do
clarificador (Cu), ou concentração na corrente de retorno de lodo ativado (XR), é obtida traçando-se
uma reta perpendicular ao eixo X, a partir do ponto no qual a reta do fluxo de descarga de sólidos
intercepta a reta horizontal que tangencia o ponto do fluxo limitante da curva e o fluxo total de só-
lidos (Fig. 8-46), admitindo-se que o fluxo gravitacional é desprezível no fundo do clarificador. O
fato do fluxo gravitacional no fundo do clarificador ser desprezível pode ser verificado por meio de
um balanço de massa ao redor da região do clarificador, que fica abaixo da profundidade do fluxo
limitante de sólidos, e comparando-se a velocidade de sedimentação gravitacional do lodo com a
velocidade na tubulação de descarga de lodo.
Concentração de SSLM no tanque de aeração. A concentração de SSLM no tanque de
aeração é controlada pela concentração de descarga que está relacionada com o fluxo limitante de
sólidos e a taxa de reciclo do retorno de lodo ativado. Como a vazão de excesso de lodo é pequena
comparada com a vazão de reciclo de lodo, ela pode ser ignorada para a realização de um balanço
de massa simplificado no clarificador a fim de estimar a concentração de SSLM no tanque de ae-
ração, Eqs. (8-94) e (8-95).
(8–95)
8–10 Análise da separação sólido-líquido para processos de lodo ativado com clarificadores P 873
Fluxo total
Fluxo de descarga
Fluxo de sólidos, kg/m2ⴢh de fundo
FSL
UBb
SFL = CLVLL + CCLLU
Ub CLLUbb
Fluxo por
gravidade
CLLVLL
CL Cu
Concentração de sólidos, SSLM, mg/L
FIGURA 8–47 Definição do diagrama alternativo para a obtenção do fluxo limitante de sólidos pelo
método de análise do fluxo de sólidos.
Caso seja necessária maior concentração de sólidos na descarga de fundo, a inclinação da reta do
fluxo de descarga, mostrada na Fig. 8–46, deve ser reduzida. Uma inclinação menor dessa reta irá,
por sua vez, reduzir o valor do fluxo limitante e aumentar a área de sedimentação requerida. Em um
projeto real, a utilização de diferentes vazões da descarga de fundo deve ser avaliada.
Análise gráfica do fluxo de sólidos. Um método gráfico, utilizado como alternativa à análi-
se apresentada na Fig. 8–46, para a determinação do fluxo limitante de sólidos é mostrado na Fig.
8–47. A análise gráfica é resultante da utilização da Eq. (8–90), na qual o FSt mínimo é definido
quando a sua derivada com relação a Ci é igual a zero.
(8–96)
Assim, como mostrado na Fig. 8–47, a concentração de sólidos para o fluxo limitante é CL e,
pela Eq. (8–96), CLVi CLUb. O valor do fluxo limitante na ordenada é obtido traçando-se uma reta
tangente à curva de fluxo, a partir da concentração de descarga desejada e a sua intersecção com
a ordenada. A relação geométrica desse método com aquele apresentado na Fig. 8–46 é mostrado
pela linha para Ub na Fig. 8–47. O método delineado na Fig. 8–47 é particularmente útil quando
se quer avaliar o efeito da utilização de várias concentrações de sólidos na corrente de descarga de
fundo no dimensionamento das unidades de tratamento (aerador e clarificador). Como a velocidade
da descarga de fundo (vazão de retorno de lodo ativado) pode ser controlada, ela é utilizada para
o controle do processo. A aplicação do método para a análise do fluxo de sólidos é ilustrada no
Exemplo 8–14.
(continua)
874 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
(continuação)
aeração para manter a concentração desejada de SSLM. Admita que o descarte de sólidos Qw
é desprezível neste exemplo.
Velocidade inicial de
SSLM, g/m3 sedimentação, m/h
1000 6,246
2000 3,203
3000 1,642
4000 0,842
5000 0,432
6000 0,221
7000 0,113
8000 0,058
9000 0,030
10.000 0,015
11.000 0,008
12.000 0,004
13.000 0,002
14.000 0,001
Nota: g/m mg/L.
3
Solução
1. Prepare uma tabela para calcular os fluxos de sólido por gravidade, de descarga de fundo
e total, correspondentes às concentrações de sólidos dadas. O exemplo dos cálculos para
o preenchimento da tabela é ilustrado abaixo.
a. Calcule o fluxo de sólidos por gravidade em função da concentração de SSLM utili-
zando a seguinte relação.
12,0
10,0
Fluxo de sólidos, kg/m2ⴢh
Fluxo total
8,0
6,0
Fluxo de descarga
4,0
2,0
(continua)
876 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
(continuação)
QXO QR XR (Q QR)X
b. Admitindo que XO 0 (XO XR) e que QR/Q 0,75, resolva a equação para a con-
centração máxima de SSLM no reator biológico.
Comentário
Como mostrado nesta análise, a concentração de sólidos no retorno de lodo irá afetar a con-
centração máxima de sólidos que pode ser mantida no tanque de aeração. Assim, o clarifica-
dor secundário deve ser considerado como uma parte integral do projeto de um processo de
lodo ativado.
(8–97)
A concentração de SSLM, (X), no reator biológico pode ser obtida para qualquer ponto na curva do
fluxo de sólidos aplicado, traçando-se uma linha perpendicular ao eixo X.
8–10 Análise da separação sólido-líquido para processos de lodo ativado com clarificadores P 877
10 10
Curva de operação
8 8
do fluxo de sólidos
Fluxo de sólidos, kg/m2ⴢh
X SSLM
0 0
0 2 4 6 8 10 12 14 0 2 4 6 8 10 12 14
(a) Concentração de sólidos X, g/L (b) Concentração de sólidos X, g/L
FIGURA 8–48 Análise do ponto de estado para avaliar as condições operacionais de um clarificador: (a) ponto de estado na
interseção entre as curvas de operação do fluxo de sólidos de descarga e fluxo de sólidos aplicado; (b) pontos de estado relativos
à curva do fluxo de sedimentação com baixa carga de sólidos (B) e com a carga crítica de sólidos (A).
(8–98)
(8–99)
(8–100)
O ponto de estado e a curva do fluxo de sólidos de descarga podem ser comparados com a
curva do fluxo de sólidos gravitacionais para verificar se o clarificador está operando abaixo do seu
fluxo de sólidos limitante [ver Fig. 8–48(b)]. A curva do fluxo de sólidos de descarte, no ponto A, é
tangente à curva do fluxo de sólidos gravitacional, a qual, como mostrado na Fig. 8–47, representa
a condição limitante do fluxo de sólidos. Assim, o clarificador estará operando com a carga crítica
de sólidos para essa velocidade de descarga e a concentração de SSLM no ponto de estado é igual
a 4,0 g/L. Se a operação for alterada para a obtenção de maior concentração de SSLM e a curva de
descarga cruzar a parte final da curva do fluxo gravitacional de sólidos, o fluxo de sólidos limitante
será ultrapassado e o manto de lodo do clarificador irá aumentar, podendo ultrapassar o vertedor de
efluente clarificado. No ponto de estado B da Fig. 8–48(b), uma menor concentração de SSLM é
utilizada e a curva do fluxo de sólidos de descarga está bem abaixo da parte final da curva do fluxo
de sólidos gravitacional. Nesta condição o clarificador irá operar com uma baixa carga de sólidos.
Uso da análise do ponto de estado. O procedimento de análise do ponto de estado fornece
um método para avaliar a operação de clarificadores em várias taxas de aplicação e concentrações
de SSLM, em função da curva do fluxo gravitacional de sólidos que representa as propriedades de
sedimentação do lodo ativado. A técnica de análise do ponto de estado pode ser utilizada com os
resultados dos testes de sedimentação do liquor misto de uma instalação existente para avaliar a
concentração ótima de SSLM e a respectiva taxa de reciclo do RLA para uma dada condição de
vazão afluente. A aplicação da análise do ponto de estado é ilustrada no Exemplo 8–15.
878 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
Solução
1. Obtenha a curva de fluxo de sólidos utilizando a Eq. (8–84), FSg CiVi.
a. Calcule os valores do FSg utilizando os dados fornecidos.
7
Curva de operação do fluxo de só-
lidos aplicado com 2 clarificadores
Fluxo de sólidos, kg/m2ⴢh
5
Ponto de estado
com 2 clarificadores
4
3
Curva do fluxo por gravidade
2
0
0 5 10 15 20
Concentração de sólidos X, g/L
b. Inclua no gráfico o ponto de estado na curva do fluxo de sólidos aplicado (ver o gráfi-
co desenvolvido na Parte 1).
(continua)
880 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
(continuação)
7
Curva de operação do fluxo de
sólidos aplicado com 2 clarificadores
Fluxo de sólidos, kg/m2ⴢh
5
Ponto de estado
4 com 2 clarificadores
3
Fluxo por gravidade
2
0
0 5 10 15 20
Concentração de sólidos X, g/L
Inclinação da curva
Taxa de aplicação
Taxa de reciclo
d. Calcule a taxa de reciclo para a concentração de descarga de fundo de 12 g/L (12 kg/m3)
utilizando o mesmo procedimento acima.
8–11 Considerações sobre o projeto de clarificadores secundários P 881
com 2 clarificadores
6
5
Ponto de estado
4 com 2 clarificadores
3
Curva do fluxo por gravidade
2 Ponto de
Curva de operação
estado com 1
da descarga de fundo
1 clarificador
0
0 5 10 15 20
Concentração de sólidos X, g/L
Taxa de aplicação
Carga de sólidos
882 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
(a) (b)
(c) (d)
FIGURA 8–49 Vistas de clarificadores secundários típicos: (a) clarificador circular com vertedor interno de efluente, o meca-
nismo de coleta de lodo é instalado no centro, (b) clarificador circular com vertedor periférico de efluente e trilho para apoio da
estrutura de arraste de lodo e raspagem superficial, (c) clarificador retangular de grande dimensão preenchido e (d) clarificador
mostrado em (c), porém, vazio. Observar o mecanismo de arraste de lodo e raspagem superficial. Devido à largura do clarifica-
dor são utilizados três mecanismos de arraste de lodo e raspagem superficial.
(a) (b)
FIGURA 8–50 Mecanismos típicos de coleta de lodo em clarificadores circulares: (a) tipo sucção e (b) tipo raspadores em
espiral.
884 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
condições operacionais: (1) ter capacidade suficiente para coletar o lodo quando o clarificador é
operado com a máxima taxa de recirculação de lodo e (2) utilizar um mecanismo bastante robusto
para poder transportar e remover lodos muito densos que possam acumular no clarificador durante
períodos de ocorrência de falhas mecânicas ou de energia.
Dois tipos de coletores de lodo são comumente utilizados em clarificadores retangulares: (1)
coletor contínuo (raspador de corrente) [ver Fig. 8–51(a)] e (2) coletor intermitente (ponte rolante)
[ver Fig. 8–51(b)]. Os coletores contínuos são similares àqueles utilizados para a remoção de lodo
nos clarificadores primários. Para clarificadores muito longos [ver Fig. 8–52(a)] é recomendável
utilizar dois coletores alinhados, com um poço central para o recebimento do lodo, o que minimiza
a distância de transporte [ver Fig. 8–52(b)]. O lodo pode ser coletado na extremidade de alimenta-
ção ou de descarga do efluente do sedimentador. O coletor intermitente, cuja configuração é similar
a de uma ponte rolante, se desloca ao longo do comprimento do clarificador apoiado nas paredes
laterais ou em estruturas de suporte, caso mais de um transportador seja utilizado. A ponte rolante
serve como suporte do sistema de remoção de lodo, o qual consiste, geralmente, de um raspador ou
tubo múltiplo de sucção através do qual o lodo é bombeado. O lodo é descarregado para um poço
de coleta em uma das extremidades do clarificador.
Outros tipos de clarificadores. Outros tipos de clarificadores secundários que têm sido uti-
lizados incluem os clarificadores com câmaras múltiplas de alta taxa, de tubos ou de placas incli-
nadas (ver Capítulo 5). Os clarificadores com câmaras múltiplas (Fig. 5–45 no Capítulo 5), são
Distribuidor de vazão
Coletor de escuma Coleta do Clarificado
Antepara
Escoamento
Planta
Motor do Vertedores
coletor Nível de líquido Coleta de escuma Antepara ajustáveis
Afluente Efluente
Escoamento
Lodo Corrente Raspadores
Elevação
(a)
FIGURA 8–51 Mecanismos típicos de coleta de lodo em clarificadores retangulares: (a) coletor contínuo
e (b) coletor intermitente.
8–11 Considerações sobre o projeto de clarificadores secundários P 885
(a) (b)
FIGURA 8–52 Coleta de lodo em clarificadores retangulares longos: (a) mecanismos contínuos de coleta são utilizados para
transportar o lodo para um ponto central entre as duas extremidades do clarificador, de onde ele é removido por um coletor trans-
versal. O coletor transversal mostrado em (b) está localizado sob uma passarela que divide o clarificador. O coletor localizado ao
lado esquerdo do canal central também possui raspadores de escuma.
utilizados em instalações onde há limitação de espaço para a instalação de clarificadores. Eles são
utilizados na Estação de Tratamento de Esgotos de Deer Island, em Boston, MA, por exemplo,
selecionados em função de limitação de área.
Melhorias nos clarificadores secundários. A eficiência de clarificadores convencionais ou
rasos pode ser melhorada por meio da instalação de tubos ou placas paralelas inclinadas, para
estabelecer escoamento laminar (Fig. 5–25 no Capítulo 5). Módulos de tubos, ou conjuntos de
placas, construídos com inclinações específicas (geralmente 60°) com a horizontal, apresentam
distâncias de sedimentação muito pequenas e a circulação é restringida em função das pequenas
dimensões dos tubos ou placas, comparadas com o clarificador. Os sólidos coletados nos tubos ou
entre as placas paralelas tendem a escorregar para fora dos canais formados pela ação da gravidade.
A principal desvantagem da utilização desses clarificadores em sistemas de tratamento de esgotos
é a tendência de entupimento dos tubos ou canais entre as placas, devido ao crescimento biológico
e acúmulo de sólidos, graxas e pequenos objetos que passam através das peneiras grossas. Outra
desvantagem que pode ocorrer está associada à mudança nas características dos SSLM, fazendo
com que o ângulo fixo dos tubos ou placas não seja o mais adequado.
Profundidade útil
A profundidade de líquido, ou útil, no clarificador secundário é medida, normalmente, na parede
lateral de clarificadores circulares e na parede da extremidade de saída do efluente em clarifica-
dores retangulares. A profundidade útil é um fator importante para a remoção efetiva de sólidos
suspensos e a concentração do lodo de retorno. Outros fatores como projeto da alimentação, tipo
de equipamento de remoção de lodo, profundidade do manto de lodo e tipo e localização do verte-
dor também afetam o desempenho do clarificador. Recentemente, a tendência tem sido aumentar
a profundidade útil dos clarificadores para melhorar a capacidade de armazenagem de sólidos nos
períodos de grandes variações de vazão e maior transiente na carga de sólidos, o que melhora o
desempenho global do sistema de tratamento. Os valores típicos utilizados para a profundidade
útil dos clarificadores são apresentados na Tabela 8–34. As práticas atuais favorecem a utilização
de clarificadores com profundidade mínima de 4 a 5 metros, para clarificadores de grande capaci-
dade, embora clarificadores com até 6 metros estejam sendo utilizados. O custo de construção do
clarificador deve ser considerado na definição da sua profundidade, especialmente em locais onde
886 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
o nível do lençol freático é muito alto. Clarificadores com menos de 3,5 metros de profundidade
apresentam dificuldade para reter o lodo ativado com massa específica baixa, e os mantos de lodo
de baixa massa específica são mais facilmente desestabilizados por variações hidráulicas, princi-
palmente durante variações no período da manhã. Clarificadores profundos possibilitam maior
flexibilidade operacional e oferecem maior margem de segurança quando ocorrem alterações no
sistema de lodo ativado.
Distribuição de vazão
A má distribuição da vazão entre as múltiplas unidades de processo pode resultar na sobrecarga
de uma unidade individual e afetar no desempenho de todo o sistema de tratamento. Em instala-
ções que utilizam clarificadores paralelos com a mesma capacidade, a vazão entre cada um deles
deve ser equalizada. Nos casos onde os clarificadores não apresentam a mesma capacidade, a
vazão deve ser distribuída, proporcionalmente, com base na área superficial de cada clarificador.
Os métodos utilizados para a distribuição de vazão entre os clarificadores secundários incluem
vertedores, caixas de distribuição, válvulas de controle de vazão, canais de distribuição propor-
cionais e comportas de alimentação ou de controle (ver Fig. 8–53). Vertedores de controle do
efluente, embora frequentemente utilizados para possibilitar a distribuição de vazão, são, geral-
mente, ineficientes e devem ser utilizados apenas nos locais onde existam dois clarificadores com
a mesma capacidade.
Válvula
Tubo de distribuição de
controle
Medidor
(a) (b) de vazão
Poço de
distribuição
Canal afluente
Efluente
(c) (d)
FIGURA 8–53 Métodos para a distribuição de vazão nos clarificadores: (a) simetria hidráulica, (b) me-
dição e controle da vazão, (c) distribuidor hidráulico com vertedores e (d) comportas de controle.
8–11 Considerações sobre o projeto de clarificadores secundários P 887
ou um clarificador do tipo floculador (ver Fig. 8–54). O grande poço central de distribuição, com
diâmetro mínimo igual a 25% do diâmetro do clarificador, oferece maior área para a dissipação da
energia do afluente e a distribuição do liquor misto. O fundo do poço de alimentação deve estar
bem acima da interface do manto de lodo para minimizar a turbulência e ressuspensão dos sólidos.
Os clarificadores com poço central de distribuição e floculação podem incorporar um dispo-
sitivo de dissipação de energia (DDE) e meios para promover a floculação do afluente [ver Fig.
8–55(a)]. Os poços de alimentação com floculação têm um diâmetro que varia de 30 a 35% do
diâmetro do clarificador. Um dispositivo alternativo para a dissipação de energia do afluente, de-
senvolvido em Los Angeles, é mostrado na Fig. 8–55(b).
Operacionalmente, a vazão afluente é descarregada de um poço central através de uma série
de saídas direcionadas para baixo. Alinhando-as de maneira que fiquem uma de frente para a outra
[ver Fig. 8-55 (b)], a energia associada à quantidade de movimento é dissipada quando as correntes
Entrada do poço
Canal de efluente de distribuição Entrada do poço
Saída do Poço de Caixa de escuma
Antepara Raspador de escuma
distribuição
Suportes
FIGURA 8–54 Representação de um clarificador típico com poço central de distribuição e floculação.
Câmara interna
Defletor
de escuma
a 45°
(a)
FIGURA 8–55 Dispositivos de dissipação de energia utilizados na entrada de clarificadores circulares: (a) representação es-
quemática de um dissipador de energia na coluna de alimentação do clarificador e do poço de floculação (WEF, 1998) e (b) vista
de um dispositivo de dissipação de energia (cidade de Los Angeles).
888 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
de saída colidem uma com a outra. Em clarificadores retangulares, é necessário instalar aberturas
de entrada ou anteparas para possibilitar uma distribuição adequada da vazão de alimentação. As
velocidades nas aberturas de entrada variam, geralmente, entre 7,5 e 15,0 cm/s (WPCF, 1985).
Antepara de escuma
Antepara Antepara
Antepara
Prolongamento
opcional
1
1
SB SB SB
SB
FIGURA 8–56 Arranjos alternativos de anteparas para desvio de correntes de densidade e retenção de
escuma: (a) Stamford, (b) sem nome, (c) McKinney (também conhecido como Lincoln), (d) Canaleta interna.
(WEF, 1998)
8–12 Separação de sólidos nos reatores com membranas P 889
formação de escuma quando há presença de algum material que flota (ver o item “Problemas ope-
racionais” na Seção 8–3), o que exige a sua remoção.
Remoção de escuma por raspadores superficiais. Quando não são utilizados clarifica-
dores primários, a raspagem superficial dos clarificadores finais é essencial. Muitos projetos atuais
incluem dispositivos para remoção de escumas, tanto para clarificadores circulares como retan-
gulares. Equipamentos típicos de remoção de escuma incluem raspadores superficiais, canaletas
rotativas e tubo fixo com aberturas.
Gerenciamento da escuma. A escuma removida não deve ser recirculada para a entrada
da estação de tratamento, uma vez que os micro-organismos responsáveis pela sua formação,
geralmente nocardioformes como a Gordonia amarae, serão mantidos no sistema, fazendo com
que os problemas de formação de espuma persistam em decorrência da contínua inoculação de
organismos indesejáveis. Em algumas instalações, a escuma é descartada para as unidades de
adensamento de lodo ou é enviada diretamente para a corrente de alimentação dos digestores de
lodo, quando apropriado.
Parâmetros de projeto
Os parâmetros principais para o projeto e a operação de processos de separação por membranas
são o fluxo e a perda de carga através das membranas (PTM). O fluxo é relação entre a vazão de
permeado e a área da membrana sendo comumente expresso em L/m2ⴢd. Quanto maior o fluxo
permitido, menor será a área de membrana para uma dada vazão de projeto. Uma perda de carga
aceitável através da membrana, ou PTM, é recomendada para o fluxo de projeto. A permeabilidade
é a relação entre o fluxo e a PTM, expressa em L/m2ⴢh/kPa. A redução da permeabilidade da mem-
brana está associada, geralmente, à formação de depósitos.
A parcela de água que atravessa a membrana é denominada permeado e os sólidos retidos,
concentrado. No caso do MBR, o concentrado compreende os sólidos na corrente de retorno de
lodo ativado e do excesso de liquor misto descartado do reator. As vazões de reciclo do tanque de
membranas para o reator de lodo ativado variam de 4 a 6 vezes a vazão afluente, para evitar uma
concentração elevada de SSLM. Enquanto as características de adensamento e as taxas de aplica-
ção de sólidos e de líquido aplicadas por unidade de área superficial do clarificador (CSA e TAS)
são os parâmetros chave para o projeto de clarificadores secundários no tratamento pelo processo
de lodo ativado, a taxa de aplicação de líquido por unidade de área de membrana (fluxo), a pressão
890 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
35,0
30,0
25,0
Fluxo, L/m2/h
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
0 5 10 15 20 25 30
Temperatura, oC
FIGURA 8–57 Redução do fluxo das membranas com a diminuição da temperatura. A linhas superior e
inferior representam os valores do fluxo para concentrações de SSLM baixa e alta, respectivamente.
8–12 Separação de sólidos nos reatores com membranas P 891
Controle de depósito
Pré-tratamento, peneira (mm) 1–2 3 1–2 1–2 3
Arraste com ar
Tipo Grossa Grossa Grossa Jatos de ar Grossa
Aeração ligada/desligada, s/s 10/10a Constante Constante Constante Constante
Permeado ligado/desligado, 9,5/0,5 9/1 9/1 9/1 Constante
min/min
Contralavagem com permeado Sim Não Sim Sim Não
Contralavagem com hipoclorito 1–2/semana Não Não 1–2/semana Não
Contralavagem com ácido 1/semana Não Não Não Não
cítrico
Limpeza de recuperação
Frequência anual 2–3 2–3 3–4 3–4 Se necessário
Isolamento da célula de Drenagem No local No local Drenagem No local
membrana
Aplicação Molho Contralavagem Contralavagem Molho Contralavagem
Produto químico Hipoclorito Hipoclorito Hipoclorito Hipoclorito Hipoclorito
Ácido cítrico Ácido cítrico Ácido cítrico Ácido cítrico Ácido cítrico
a
Adaptado, em parte, de Yang et al. (2006), Babcock (2007) e Asano et al. (2007).
dos poros das membranas utilizadas estão na faixa de microfiltração (MF), de 0,10 a 0,40 mm, ou
ultrafiltração (UF), de 0,01 a 0,10 mm. Membranas de microfiltração podem reter até bactérias,
enquanto as de ultrafiltração podem reter bactérias e vírus. Contudo, a desinfecção do permeado é
uma prática comum em sistemas MBR, uma vez que o efluente tratado é frequentemente utilizado
como água de reúso e para assegurar a qualidade do efluente final no caso de falhas ou vazamentos
nas membranas. O impacto da quebra das fibras de membranas é avaliado no Exemplo 11–5 no
Capítulo 11.
Configurações das membranas. As membranas individuais são agrupadas em um módu-
lo, também conhecido como elemento, que consiste de um agrupamento de membranas que será
montado como uma unidade. Outro termo utilizado para designar uma unidade de membrana é
cassete, que é a montagem dos módulos de membrana em uma estrutura com as respectivas cone-
xões para extração do permeado e um sistema de aspersão de ar nos locais apropriados, com uma
vazão suficiente para promover a limpeza da superfície das membranas (WEF, 2006). Os cassetes
são unidades padronizadas com uma área total de membrana fixa. Os fabricantes dos sistemas de
membranas fornecem os módulos com um sistema de aeração para fornecer a vazão necessária de
ar de arraste em pontos específicos, para controle de depósitos, deslocando os sólidos para longe
da superfície das membranas por meio do escoamento tangencial, à medida que o efluente tratado é
removido através das membranas. A distância entre as fibras ou placas de membranas é baseada na
vazão necessária sobre a superfície da membrana para possibilitar o controle de depósitos e varia de
acordo com as especificações dos fabricantes. As configurações dos módulos de fibra oca e placa
plana são mostradas na Fig. 8–58.
A superfície específica da membrana em relação ao volume do cassete varia de 150 a 334 m2/
3
m para diferentes configurações de membranas, conforme apresentado na Tabela 8–35. Os módu-
los com membranas de fibra oca apresentam a maior superfície específica por unidade de volume
e, desta forma, exigem tanques de membranas com menor volume. O volume adicional, necessário
para a instalação dos cassetes de membranas, difere de acordo com o tipo de membrana e projeto
do fornecedor e pode variar de 3 a 10 m3 de volume/m3 do cassete utilizado, com o maior valor
utilizado para membranas de fibra oca. Com base na área de membranas, a relação pode variar de
0,015 a 0,05 m3 de volume de tanque/m2 de área de membrana, com os menores valores aplicados
para as membranas de fibra oca.
Acessórios para os módulos de membranas. Em função da necessidade de integrar o
sistema de lodo ativado com o módulo de separação por membranas, levando-se em consideração o
fluxo de permeado e o controle adequado da formação de depósitos, os fornecedores dos sistemas
de separação por membranas oferecem outros componentes, além dos cassetes de membranas. As
instalações de suporte necessárias incluem as bombas de permeado, tanques para armazenagem de
produtos químicos, bombas de dosagem de produtos químicos e todo o sistema para controle do
processo, incluindo a central de controle de motores. Os equipamentos para o suporte da operação
do processo de separação por membranas também incluem o sistema de arraste com ar e o sistema
de contralavagem e limpeza química das membranas. O sistema de arraste com ar consiste em
difusores de bolhas grossas instalados no tanque de membranas que propiciam a agitação contínua
da superfície externa das membranas e o escoamento tangencial do liquor misto, para minimizar o
depósito de sólidos. O suprimento de ar para o sistema de arraste é fornecido adicionalmente ao sis-
tema de aeração para o reator biológico. Os projetistas de sistemas MBR devem conhecer inicial-
mente o processo e projeto de separação por membranas a ser utilizados, antes do desenvolvimento
do projeto final do processo de lodo ativado.
Tubulação Efluente a
de coleta ser tratado
O efluente tratado é
extraído com a
utilização de vácuo
Descarte Módulos de
de lodo membranas
submersas
(a) (b)
Tubo de coleta
de permeado
Extração de
permeado
por vácuo ou
gravidade
Liquor misto do
tanque de
aeração
Retorno e
descarte de
lodo
Estrutura de Estrutura
confinamento para confinamento
Ar de arraste e
(c) do difusor das membranas (d)
limpeza das
Difusor membranas
FIGURA 8–58 Exemplos de biorreatores de membranas: (a) diagrama esquemático da instalação dos módulos de membranas
de fibra oca em um reator de lodo ativado, (b) módulo de membranas de fibra oca para instalação em um MBR (cortesia da Zenon
Environmental, Inc.), (c) diagrama esquemático da instalação dos módulos de membranas de placa plana em um reator de lodo
ativado e (d) módulos de placa plana instalados no tanque de membranas com água limpa.
Utilização de membranas
Atualmente (2012), a maior parte dos sistemas MBR utilizam membranas de fibra oca de ul-
trafiltração, seguidos por sistemas com membranas de MF de placas planas (Yang et al., 2006).
894 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
As membranas de fibra oca têm comprimento típico de até 2 m, diâmetro externo de 1,9 mm,
diâmetro interno de 0,8 mm e espaçamento entre membranas de 3,0 mm. Em alguns sistemas as
membranas são até 10 cm maiores que a altura do cassete, o que permite que as mesmas se movi-
mentem com a aeração, o que oferece uma maior ação contra o depósito de sólidos. Um cassete
típico com membranas de UF para sistemas MBR é mostrado na Fig. 8–58. O cassete mostrado
na Fig. 8–58(b) é composto de membranas de fibra oca e apresenta 0,91 m de largura, 2,13 m de
comprimento e 2,44 m de altura. Módulos de membranas de placas planas [ver Fig. 8–58(c) e
(d)] consistem de painéis de 0,55 m de largura, 1,5 m de altura e espessura de 8 mm, com espaça-
mento de 7 a 8 mm entre painéis. Uma prática comum é utilizar painéis sobrepostos (empilhados)
para reduzir a área superficial do tanque de membrana e da vazão de ar para controle de depósitos
(Judd, 2008b).
TABELA 8–36 Constituintes que podem afetar o depósito em sistemas MBR e métodos de
controlea
Tipo de depósito Constituinte específico Método de controle
Físico Cabelo, material fibroso, coloides
inorgânicos e SSLM Peneira fina
Arraste com ar
Operação com relaxamento
Contralavagem
Cloração
Químico Alcalinidade elevada, Ácido cítrico
ferro solúvel, Ácido cítrico
óleos e graxas Cloro
Hipoclorito
Biológico Substâncias poliméricas extracelulares Controle do TRS
Arraste com ar
Cloração
Ácido cítrico
Material coloidal orgânico Controle do TRS
Contralavagem
Cloração
Ácido cítrico
a
Consultar a Tabela 11–25 para verificar outros constituintes responsáveis pela ocorrência de depósitos e métodos de
controle.
SPE e ocorrência de depósito ocorrem com TRS abaixo de 10 d (Trussell et al., 2006; Ke e Junxin,
2009). Uma menor ocorrência de depósito, com bom desempenho das membranas, foi verificada
em sistemas operando com TRS entre 30 e 50 dias (Van den Broeck et al., 2012). Sistemas MBR
são projetados com TRS superiores a 10 dias.
Métodos para controle de depósitos nas membranas. Os três métodos principais para o
controle de depósitos nas membranas (ver Tabela 8–35) são: (1) pré-tratamento com peneiras finas;
(2) procedimentos operacionais para controle de depósitos; (3) métodos de limpeza de manutenção
e recuperação. O pré-tratamento com a utilização de peneiras finas, na faixa de 0,8 a 2,0 mm, é
necessário para proteger o sistema de membranas contra a ocorrência de falhas. Se foi utilizado um
sistema de peneiramento inadequado, cabelos e outros materiais fibrosos podem ficar aprisionados
nas membranas, principalmente de fibra oca e nos difusores do sistema de ar de arraste, impedindo
a limpeza adequada dessas superfícies, o que irá resultar na redução do fluxo de permeado através
das membranas.
Controle operacional de depósitos. Os procedimentos para o controle de depósitos são dis-
ponibilizados pelos fornecedores. O arraste com a utilização de sistemas de aeração com bolhas
grossas, projetados pelo fornecedor, especificamente para cada tipo de membrana, é importantís-
simo para prevenir o acúmulo de sólidos e a ocorrência de depósitos na superfície das membranas.
As taxas de aeração para arraste variam de 3 a 12 L de ar/minutoⴢm2 de área de membrana. Alguns
sistemas de membrana não requerem o arraste contínuo com ar, mas utilizam uma série de válvulas
896 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
para alternar o arraste de ar a cada 10 segundos entre dois conjuntos de membranas que utilizam
um único soprador (Palowski et al., 2007).
Além do arraste com ar, outros métodos para controle de depósitos conhecidos como relaxa-
mento, contralavagem, limpeza de manutenção e limpeza de recuperação também são utilizados.
Quase todos os fornecedores de membranas utilizam um período de relaxamento, no qual a extra-
ção de permeado é interrompida, de maneira que o arraste com ar possa remover os sólidos da su-
perfície da membrana. Uma estratégia comum de relaxamento, mostrada na Tabela 8–35, consiste
em um período de 1 minuto sem a extração de permeado a cada 9 minutos de produção. Alguns
fornecedores de membranas de fibra oca utilizam uma operação de contralavagem de 30 segundos
a cada 12 minutos para remover os sólidos da superfície das membranas.
Limpezas de manutenção e recuperação. São utilizados dois tipos de limpeza química:
limpeza de manutenção e limpeza de recuperação. A limpeza de manutenção envolve a contralava-
gem das membranas com uma solução de hipoclorito de sódio (200 mg/L) e/ou ácido cítrico (2000
mg/L), 1 ou 2 vezes por semana. Essas limpezas são feitas utilizando uma série de ciclos repetitivos
de contralavagens com a solução química e com o permeado, por um período de 60 a 75 minutos.
A combinação do arraste com ar e limpezas de manutenção não são totalmente efetivas para o
controle de depósitos na superfície das membranas, o que resulta no aumento da perda de carga
com o tempo. Assim, uma limpeza de recuperação deve ser feita de 2 a 4 vezes por ano, ou quando
necessário, dependendo do tipo de membrana utilizado. Essas limpezas são necessárias quando os
valores da PTM permanecem acima das condições operacionais definidas em projeto. A limpeza de
recuperação envolve maior tempo de contato entre o produto químico e as membranas, na faixa de
4 a 6 horas, e é feito com uma concentração de cloro de 1000 mg/L e, caso necessário, ácido cítrico
de 2000 mg/L para a remoção de depósitos inorgânicos. A utilização de uma solução de hidróxido
de sódio, pH 12, pode favorecer a remoção de depósitos orgânicos. Em alguns sistemas a limpeza
de recuperação é feita sem a drenagem do tanque de membrana, enquanto outros há a drenagem
do tanque de membranas para permitir um período de contato entre elas e as soluções químicas
utilizadas, ou seja, as membranas ficam de molho.
Efluente
Parâmetro
de teste Unidade 1 2 3
DBO mg/L 120 200 200
DBOU mg/L 180 300 340
8–2 Uma amostra de efluente é avaliada em um teste respirométrico em laboratório para obter a DQO
rapidamente biodegradável (DQOrb). A garrafa do respirômetro é preparada com a adição de
500 mL da amostra do efluente, com 500 mL do liquor misto de um sistema de lodo ativado. O res-
pirômetro registra o consumo acumulado de oxigênio com o tempo. O consumo de oxigênio ocorre
com uma taxa relativamente constante (Fase A da demanda total de oxigênio), e, então, a taxa de
consumo é reduzida para um outro valor relativamente constante (Fase B da demanda de oxigênio
para a nitrificação, DQO lentamente degradável e decaimento endógeno), a qual continua por algu-
mas horas. Por fim, a taxa de consumo de oxigênio cai de forma drástica e se mantém relativamente
Problemas e tópicos de discussão P 897
constante (Fase C da demanda de oxigênio para decaimento endógeno). Os dados do ensaio são
apresentados na tabela abaixo para três amostras diferentes (a ser definida pelo professor). Para a
amostra selecionada, obter o valor da DQOrb do efluente em mg/L, assumindo que a produção de
biomassa pelas bactérias heterotróficas é 0,45 g SSV/g DQO e o oxigênio equivalente da biomassa
é 1,42 g DQO/g SSV.
Efluente
8–3 Amostras compostas de 24 h de um efluente primário são analisadas para a obtenção da DQOrb
utilizando o método de DQO de floculação-filtração (DQOff). A DQOff também é medida para
as amostras do efluente secundário de um sistema de lodo ativado, o qual opera com um TRS de
8 dias. Os valores da DQOff de dez dias de amostragem são definidos na tabela abaixo. Calcular
a DQOrb do efluente de uma das estações de tratamento indicadas (a ser selecionada pelo pro-
fessor).
Efluente
Amostra Unidade 1 2 3
Efluente primário mg/L 90 110 60
Efluente secundário mg/L 30 20 30
8–4 Para uma das amostras de efluente apresentadas na tabela a seguir (a ser definida pelo professor), com
os valores para a caracterização de um efluente típico, calcular: (a) a DQO biodegradável; (b) a DQO
lentamente biodegradável; (c) a concentração de SSV não biodegradável (SSVnb); (d) a concentração
de sólidos suspensos totais inertes (SSTi) e (e) a relação DQO/SSV média. Admitir que a relação
DQOb/DBO é igual a 1,6 e a DQOs do efluente tratado é igual a 30,0 mg/L.
Efluente
Parâmetro Unidade 1 2 3
SST mg/L 220 170 90
SSV mg/L 200 140 70
DBO mg/L 200 160 120
DQOrb mg/L 100 40 80
DQOT mg/L 500 400 280
DQOs mg/L 160 200 180
898 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
8–5 Dadas as características do efluente da tabela abaixo (a ser definido pelo professor), calcular: (a) a
concentração de nitrogênio orgânico, (b) a concentração de nitrogênio orgânico particulado não bio-
degradável (NOpnb) e (c) a concentração de nitrogênio orgânico biodegradável (NOb).
Efluente
Parâmetro Unidade 1 2 3
NKT mg/L 40 45 50
N-NH4 mg/L 25 30 35
Nitrogênio orgânico solúvel mg/L 5,0 2,0 3,0
Nitrogênio orgânico solúvel mg/L 1,0 1,0 1,0
não biodegradável
SSV mg/L 180 180 190
Fração de SSV não Porcentagem 40 40 40
biodegradável
8–6 Utilizando um valor da taxa de produção observada da Fig. 8–11 e as Eqs. (8–19) e (7–56) (ver
Tabela 8–10), calcular: (a) o volume do tanque de aeração em m3 e (b) a quantidade de lodo
descartada diariamente, em kg SST/d, para um sistema de lodo ativado projetado para tratar
6000 m3/d de um efluente com DBO de 120, 140 ou 160 mg/L (a ser definido pelo professor).
O TRS é de 6 dias, a temperatura do liquor misto é 10°C e o sistema conta com tratamento pri-
mário. Qual é o volume do tanque de aeração e a quantidade diária de lodo produzido se o TRS
for aumentado para 12 dias? Admitir que as concentrações de SSVLM e SSLM são 2500 mg/L e
3000 mg/L, respectivamente.
8–7 As seguintes informações são dadas para o projeto de um sistema de lodo ativado:
Admitir que não ocorre nitrificação em função do TRS selecionado e da baixa temperatura. Cal-
cular: (a) a demanda de oxigênio no reator biológico em kg/d; (b) a taxa de consumo de oxigênio
no reator em mg/Lⴢh e (c) a concentração de biomassa no reator em mg/L. Admitir que a DQOb
1,6(DBO).
8–8 As informações da tabela abaixo referem-se a um sistema de lodo ativado projetado com um TRS
longo o suficiente para possibilitar a completa nitrificação do afluente.
Problemas e tópicos de discussão P 899
Calcular: (a) a demanda de oxigênio no reator biológico em kg/d; (b) a taxa de consumo de oxigênio
no reator em mg/Lⴢh; (c) a concentração de biomassa no reator biológico (mg/L); (d) a parcela de
oxigênio total necessária para a nitrificação.
8–9 Utilizando as Eqs. (8–20) e (8–21), comparar a quantidade de lodo descartada diariamente como (a)
SSV, (b) SST e (c) biomassa, para a operação com TRS de 10 e 20 dias para os efluentes e condições
de projeto dadas abaixo. Admitir que todo NKT é biodegradável e que toda amônia é convertida para
N-NO3, com uma concentração de N-NO2 inferior a 0,10 mg/L. Repetir os cálculos sem levar em
consideração dos detritos de células. Qual é o erro introduzido?
8–10 Um sistema de lodo ativado consiste de três reatores completamente misturados em série. A con-
centração de oxigênio dissolvido em cada um dos reatores é de 2,0 mg/L. Utilizar as informações
apresentadas abaixo para as concentrações de DQOb e N-NH4 em cada estágio para os efluentes 1 e
2. Calcular a taxa total de transferência de oxigênio necessária para remoção da DQOb, nitrificação
e decaimento endógeno. Preparar uma tabela das taxas de transferência de oxigênio e a quantidade
consumida, em cada um dos estágios em kg/h, por cada um dos constituintes indicados. Comparar a
porcentagem do oxigênio total necessário para os estágios 1, 2 e 3. Admitir que no Estágio 3 o valor
da DQOb refere-se à DQOb dissolvida. Ignorar o N-NH4 utilizado para a síntese, uma vez que esta
já foi considerada no cálculo da concentração de N-NH4 no afluente, disponível para nitrificação.
Admitir que a nitrificação resulta na convenção completa do N-NH4 para N-NO3 (a concentração de
nitrito é desprezível).
Efluente
Parâmetro Unidade 1 2
Vazão m3/d 15.000 5.000
Taxa de reciclo de lodo adimensional 1,0 0,5
DQOb afluente mg/L 320 200
N-NH4 disponível para mg/L 30 35
nitrificação no afluente
Volume por estágio m3 2300 500
Síntese celular, YH g SSV/g DQO 0,45 0,45
Decaimento endógeno, bH g SSV/g SSVⴢd 0,10 0,10
Estágio1
DQOb mg/L 30 50
N-NH4 mg/L 8,0 17,0
biomassa mg SSV/L 1500 1200
Estágio 2
DQOb mg/L 5 8
N-NH4 mg/L 3,0 6,0
biomassa mg SSV/L 1500 1200
Estágio 3
DQOb mg/L 0,5 2
N-NH4 mg/L 0,2 2,0
biomassa mg SSV/L 1500 1200
Temperatura ºC 15
8–11 Um efluente industrial resultante do processamento de alimentos deverá ser tratado por um processo
de lodo ativado. O efluente é constituído de compostos orgânicos solúveis (sem DQO particulada
degradável), com baixas concentrações de nitrogênio e fósforo. Para as características do efluente
e hipóteses de projeto dadas na próxima tabela, calcular as quantidades de nitrogênio e fósforo, em
mg/L e kg/d, que deverão ser adicionadas ao afluente. Admitir que as concentrações residuais de
N-NH4 e fósforo solúvel no efluente sejam iguais a 0,10 mg/L para evitar a limitação de nutrientes e
a ocorrência de nitrificação.
Problemas e tópicos de discussão P 901
8–12 Um sistema de lodo ativado é operado nas condições descritas abaixo, para os sistemas 1, 2 ou 3, a ser
definido pelo professor. As condições incluem a vazão média afluente, o volume do reator biológico,
a concentração de SSLM, a vazão de reciclo e a concentração de SST do retorno do lodo ativado e a
concentração de SST do efluente do clarificador secundário.
(a) Qual deve ser a vazão de descarte de lodo em m3/d para manter um TRS de 10 dias?
(b) O operador da instalação decidiu descartar, diariamente, 1/10 do volume do tanque de aeração
para manter o TRS. Qual será o volume descartado em m3/d e qual será o TRS real?
Parâmetro Unidade 1 2 3
Vazão m3/d 4000 10.000 5000
Volume do tanque de aeração m3
2000 4000 5000
Concentração de SSLM mg/L 3000 3500 3000
Concentração de SST no efluente do mg/L 10,0 10,0 10,0
clarificador
Taxa de reciclo do RLA adimensional 0,5 1,0 0,75
Concentração de SST no lodo de retorno mg/L 9000 7000 7000
8–13 Um biorreator com membranas consiste de uma câmara anóxica seguida por um tanque de aeração.
O afluente é alimentado na câmara anóxica. O tanque de aeração é dividido em dois compartimentos.
O primeiro compartimento tem 75% do volume aeróbio total e é aerado com difusores de bolhas
finas, e o segundo compartimento contém os cassetes de membranas e é aerado com difusores de
bolhas grossas. O volume total do tanque aeróbio é 4000 m3. O retorno do lodo ativado é do tanque de
membranas para a câmara anóxica e a taxa de reciclo é seis vezes a vazão afluente. A concentração de
SSLM no tanque de membranas é 12.000 mg/L. Qual é a vazão diária de descarte de lodo da linha de
retorno de lodo ativado para manter o TRS em 10 dias?
8–14 Um cilindro de sedimentação de 2 L é utilizado para realizar um teste de IVL. A concentração de
SSLM para o teste é 3500 e o volume de lodo sedimentado após 30 minutos é 840 mL. Qual é o IVL
em mL/g?
902 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
8–15 Utilizando a matriz do Modelo ASM2d descrita nas Tabelas 8–12 e 8–13, escreva as equações do
balanço de massa para o segundo estágio de um reator biológico de três estágios para uma opção ou
para a combinação de (1, 2, 3 ou 4, ou combinação a ser definida pelo professor): (1) bactérias hete-
rotróficas; (2) bactérias autotróficas nitrificantes; (3) substrato lentamente degradável; (4) nitrogênio
amoniacal.
8–16 Um sistema de lodo ativado completamente misturado que trata um efluente doméstico é operado
com um TRS de 15 dias a 12°C, de maneira que ocorra nitrificação completa. A taxa de aplicação
superficial do clarificador é de 1m/h para a vazão média, mas a espessura do manto de lodo no clari-
ficador é alta e ocorre uma perda significativa de sólidos para o efluente final. Descreva (a) as etapas
específicas para avaliar as causas que resultam no lodo volumoso; (b) as ações de curto prazo para
reduzir a concentração de SST no efluente final e (c) as alternativas de seletores que podem ser con-
siderados para o controle do lodo volumoso. Qual delas você utilizaria e por quê?
8–17 Utilizando os coeficientes cinéticos da Tabela 8–14 e admitindo a nitrificação completa para N-NO3
(ignorar o crescimento de sólidos resultante da oxidação do nitrito), construir um gráfico dos itens
solicitados (a a f), em função do TRS (variando de 3 a 20 dias), para o efluente doméstico descrito na
tabela abaixo. Admitir que a concentração de SSLM é 2500 mg/L e que todo o NKT é biodegradável.
Os parâmetros a serem plotados no gráfico são: (a) descarte de sólidos em kg SST/d, (b); volume do
tanque de aeração (m3) e t (h); (c) síntese celular observada em g SST/g DBO e g SST/g DQOrb; (d)
concentração de DQOb solúvel no efluente final; (e) concentração de N-NH4 no efluente final e (f)
demandas de oxigênio em kg/d.
8–18 Resolver o Problema 8–17 para um sistema MBR, admitindo que o tanque de aeração é dividido em
dois compartimentos. O volume do segundo compartimento, utilizado para instalação dos cassetes de
membranas, é 25% do volume aeróbio total. Considerar que a concentração de SSLM no tanque de
membranas é 12.000 mg/L e a taxa de retorno de lodo ativado é igual a 6,0.
8–19 Resolver o problema 8–17, com a utilização de um clarificador primário, considerando as seguintes
remoções: 35% de DBO, 65% de SST e SSV, 10% de NKT e 80% de SSVnb.
8–20 Um sistema de lodo ativado deverá ser projetado para possibilitar a nitrificação e obter um efluente
final com concentração de N-NH4 de 0,50, 0,80 ou 1,0 mg/L (a ser definido pelo professor), com uma
concentração de OD de 2,0 mg/L no reator e temperatura de 10°C. A relação entre a carga pico/carga
média de NKT é igual a 1,8. Calcular o TRS de projeto. Utilizar os coeficientes da Tabela 8–14.
Problemas e tópicos de discussão P 903
8–21 Um sistema de lodo ativado completamente misturado tem um tempo de detenção hidráulico, t, de
8,3, 10,8 ou 13,1 h (a ser definido pelo professor), com concentração de OD igual a 2,0 mg/L e de
SSLM de 3000 mg/L. Para as características do esgoto doméstico apresentadas na tabela abaixo,
calcular: (a) o TRS médio do tanque de aeração; (b) a concentração de N-NH4 no efluente final e (c)
o fator de segurança de nitrificação, caso a concentração média de N-NH4 no efluente final seja 1,0
mg/L. Utilizar os coeficientes da Tabela 8–14.
8–22 Um efluente industrial, com vazão de 3000 m3/d e DQO solúvel de 1800 mg/L, deverá ser tratado em
um processo de lodo ativado completamente misturado a 15°C e com uma concentração de SSLM
de 2500 mg/L. Utilizando os coeficientes cinéticos e as hipóteses abaixo, calcular: (a) o volume do
tanque de aeração em m3 e o t em horas; (b) a demanda de oxigênio em kg/d; (c) a produção de lodo
em kg SST/d; (d) a DBOs do efluente na saída do clarificador secundário em mg/L; (e) o diâmetro do
clarificador em metros, considerando a utilização de 2 clarificadores e (f) a vazão de ar para a aeração
com difusores de bolhas finas. Admitir que o excesso de N-NH4 após a demanda para síntese celular
é muito baixo, de maneira que a nitrificação não é significativa.
8–23 Um valo de oxidação foi projetado para tratar o efluente indicado na próxima tabela utilizando uma
abordagem convencional de projeto, sem a utilização de clarificador primário, com um tanque de
aeração com tempo de detenção de 24 horas e concentração de SSLM de 3500 mg/L. A temperatura
mínima do liquor misto é 10°C e é necessário obter um efluente com concentração de N-NH4 de
1,0 mg/L, com um fator de segurança para cargas de pico de 1,5. A aeração é feita com aeradores
mecânicos de superfície para manter uma concentração de OD de 2,0 mg/L na região aerada. Para
um dos três efluentes indicados abaixo (a ser definido pelo professor), calcular: (a) o TRS em dias;
(b) a produção de lodo em kg SST/d; (c) a concentração de SSVLM em mg/L, (d) a demanda de
oxigênio em kg/d; (e) a potência total de aeração em kW e (f) a relação entre o volume total e o
volume necessário para a nitrificação. Utilizar os coeficientes da Tabela 8–14 e assumir que todo o
NKT é biodegradável.
Valores
8–24 Para as mesmas características do efluente e temperatura do liquor misto dadas no Problema 8–23
e assumindo condições uniformes de vazão, dois reatores em batelada sequencial são operados nas
seguintes condições:
Fração da profundidade de líquido no reator utilizada para descarte 0,20
Tempo de aeração 2 h
Tempo de sedimentação 1 h
Tempo de descarte 0,5 h
Calcular: (a) o tempo de enchimento em horas; (b) o tempo total por ciclo em horas; (c) o volume to-
tal de cada reator em m3; (d) o TRS do RBS em dias, admitindo que a concentração de SSLM é 3500
mg/L e (e) a vazão de bombeamento do efluente decantado em m3/min.
8–25 Um reator batelada sequencial que trata o efluente com as características apresentadas na tabela abai-
xo é operado nas seguintes condições:
Temperatura 15°C
Tempo de aeração/ciclo 2,0 h
Volume de enchimento/volume total do RBS por ciclo 0,20
TRS 20 d
OD 2,0 mg/L
Dois RBS são utilizados e o volume total de cada um é de 3000 m3.
Problemas e tópicos de discussão P 905
Valores
Obter a concentração de N-NH4 do efluente em mg/L. Utilizar os coeficientes cinéticos da Tabela 8–14.
8–26 Um RBS tem uma profundidade útil de 5,5 m quando cheio. A concentração de SSLM desejada é de
3500 mg/L. Se o IVL do liquor misto é 150, 180 ou 200 mL/g (a ser definido pelo professor), calcular
a relação entre o volume de enchimento e o volume total de líquido, assumindo uma profundidade de
0,6 m de líquido clarificado acima do manto de lodo.
8–27 Repetir os cálculos para o Exemplo 8–6 utilizando as mesmas condições de projeto e hipóteses, mas
para uma concentração de N-NH4 no efluente 1,0, 2,0 ou 4,0 mg/L (a ser definido pelo professor).
Quais são as vantagens do sistema em estágios em relação a um sistema de nitrificação em um único
estágio, à medida em que a concentração de N-NH4 no efluente final aumenta?
8–28 Um sistema de lodo ativado com quatro estágios e volume de 240 m3/estágio é utilizado para o trata-
mento de um efluente industrial com DBO solúvel igual a 300 mg/L. A vazão afluente é 4000 m3/d e
a taxa de reciclo do RLA é 0,5. A concentração de biomassa ativa é 1600 mg/L. Para as informações
apresentadas na tabela abaixo calcular: (a) a concentração de substrato em cada estágio (mg/L como
DQOb solúvel); (b) a demanda de oxigênio por estágio (kg/d); (c) a porcentagem da demanda de
oxigênio por estágio em relação à demanda total. Sugestão: para iniciar a resolução, admitir que a
concentração de DQOb solúvel no 4º estágio é igual a 1,0 mg/L (ignorar a nitrificação).
8–29 Compare os seguintes processos de lodo ativado em termos da qualidade do efluente final, do espaço
necessário, da complexidade, do consumo de energia, das exigências operacionais e da capacidade de
gerenciar vazões e cargas variáveis: lodo ativado completamente misturado, sistemas MBR, estabili-
zação por contato e valo de oxidação.
8–30 Um sistema de lodo ativado com alimentação distribuída de quatro etapas, mostrado na figura abaixo,
tem volumes idênticos em cada etapa, igual a 240 m3. Utilizando os parâmetros de projeto dados
abaixo, calcular a concentração de SSVLM em cada tanque.
Afluente, Q, So
Q1 Q2 Q3 Q4 Clarificador
secundário
Efluente,Q
X1 , V X2 , V X3 , V X4 , V
QR , XR
906 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
Valores
8–31 As condições operacionais apresentadas abaixo podem ser utilizadas para descrever um processo
anóxico/aeróbio como aquele mostrado no Exemplo 8–7 para 85% de remoção de nitrogênio.
Calcular: (a) a taxa interna e a vazão de reciclo (m3/d); (b) o volume da câmara anóxica e t para o
reator anóxico de um estágio; (c) a alcalinidade final e (d) a demanda de oxigênio (kg/d) para o pro-
cesso anóxico/aeróbio em comparação com o sistema aeróbio sem o reator pré-anóxico. Utilizar os
coeficientes da Tabela 8–14.
8–32 Resolver o Problema 8–31 para um MBR anóxico/aeróbio com tanque de aeração de dois com-
partimentos, uma região de pré-aeração seguida pelo tanque de membranas. Utilizar uma taxa de
reciclo de lodo do tanque de membranas para o reator anóxico igual a 6,0 (calcular a concentra-
ção resultante de N-NO3 no efluente). Admitir que a concentração de SSLM no compartimento
de separação por membranas é igual a 10.000 mg/L. Pela Fig. 8–52, o fluxo das membranas é
20 L/m2ⴢh. Admitir que a relação entre o volume do tanque de membranas e a área de membranas
é igual a 0,025 m3/m2.
8–33 Um sistema de lodo ativado é operado com temperatura mínima de 10°C. Ele deverá ser modificado
para um processo anóxico/aeróbio com o volume da câmara anóxica equivalente a 10% do volume
total. Para as condições de projeto e volume total do reator apresentados na tabela seguinte, calcu-
lar: (a) as concentrações de N-NH4 e N-NO3 no efluente e (b) a taxa mínima de reciclo necessária
para possibilitar a remoção de nitrato na câmara anóxica. Utilizar os coeficientes da Tabela 8–14.
Problemas e tópicos de discussão P 907
8–34 Um valo de oxidação é operado com um único aerador mecânico superficial, de maneira que metade
do volume do tanque é aeróbio, com concentração de OD variando de 0 a 2,0 mg/L. Considerando-
-se as informações abaixo, calcular a concentração de N-NH4 no efluente final (adotar um fator de
segurança igual a 1,5) e a concentração de N-NO3.
8–35 Considerando-se as características dos efluentes apresentadas na tabela seguinte, projetar um sis-
tema de tratamento com RBS utilizando dois reatores para a obtenção de um efluente tratado com
concentrações de N-NO3 e N-NH4 de 6 mg/L e 1,0 mg/L, respectivamente. Admitir que os períodos
de aeração, sedimentação e descarte em cada ciclo são de 2,0, 1,0 e 0,5 horas, respectivamente, e a
concentração de SSLM é de 4000 mg/L. Calcular (a) a fração do volume de enchimento; (b) o volume
de cada RBS; (c) a vazão de bombeamento do efluente tratado; (d) o fator de segurança para nitrifi-
cação. Admitir que a concentração de OD na aeração é de 2,0 mg/L e que a mistura anóxica só ocorre
durante o período de enchimento.
908 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
8–36 Uma fonte externa de carbono deverá ser dosada em uma câmara pós-anóxica de um processo Bar-
denpho para remover 5 mg/L N-NO3 com base na vazão afluente. Comparar a dosagem necessária
de carbono em mg DQO/L e mg/L de substrato para o metanol, acetato e etanol. Admitir que os co-
eficientes de síntese celular são de 0,25, 0,40 e 0,36 g SSV/g DQO removida em condições anóxicas
para o metanol, acetato e etanol, respectivamente. (Ignorar a quantidade de carbono exógeno presente
no efluente da câmara anóxica.)
8–37 O acetado deverá ser adicionado na câmara pós-anóxica de um processo Bardenpho para reduzir a con-
centração de N-NO3 no afluente da câmara anóxica de 6,0 mg/L para 0,30 mg/L. Para os Sistemas 1, 2
ou 3 indicados na tabela abaixo (a ser definido pelo professor), calcular: (a) a taxa de consumo de ace-
tato em g DQO/g N-NO3 removido; (b) a quantidade de N-NO3 reduzida em mg/L (normalizada para
a vazão afluente), devido ao substrato liberado e à demanda de aceptor de elétrons para o decaimento
endógeno; (c) a concentração de acetato no efluente da câmara pós-anóxica em mg/L; (d) a dosagem
exigida de acetato em mg DQO/L e mg/L de acetato (normalizada para a vazão afluente); (e) a quanti-
dade diária de acetato em kg/d e o aumento na concentração de N-NH4 ao longo da câmara pós-anóxica.
Valores
Temperatura ºC 15 15 15
bHa g SSV/g SSVⴢd 0,098 0,098 0,098
Síntese celular do acetato, YH g SSV/g DQOr 0,4 0,4 0,4
h adimensional 0,80 0,80 0,80
mmax,20 acetatob g SSV/g SSVⴢd 4,46 4,46 4,46
Fator temperatura mmax acetato,u adimensional 1,21 1,21 1,21
Ks, acetato mg/L 5,0 5,0 5,0
KNO, N-NO3 mg/L 0,1 0,1 0,1
a
da Tabela 8–14.
b
da Tabela 8–26.
Problemas e tópicos de discussão P 909
8–38 Um sistema A2O utilizado para a remoção biológica de nitrogênio e fósforo foi projetado com um
TRS de 15 dias. Admitir que a síntese celular observada é de 0,60 g SST/g DBO removida e a pro-
dução líquida de biomassa é de 0,30 g SSV/g DBO removida. As características do efluente após
passagem pelo tratamento primário são apresentadas na tabela abaixo. A corrente de retorno de lodo
ativado contém 5,0 mg/L N-NO3 e a concentração de OD é zero.
Calcular: (a) a concentração estimada de fósforo solúvel no efluente do processo de remoção bio-
lógica de fósforo e (b) o teor de fósforo (porcentagem em massa na base seca) no lodo descartado.
Quais são as mudanças no processo que você recomendaria para melhorar a eficiência de remoção
de fósforo?
8–39 Um processo A2O é operado com um TRS de 12 dias, taxa interna de reciclo e RLA de 3,0 e 0,5,
respectivamente, e possibilita obter um efluente tratado com concentração de fósforo solúvel de 0,5
mg/L e N-NO3 de 5,0 mg/L. Admitindo que as características do afluente e o TRS permanecem os
mesmos, calcular: (a) a mudança nas concentrações de P solúvel e N-NO3 se a taxa interna de reciclo
for alterada para 2,0, 2,5 ou 2,8 (a ser definida pelo professor) e a taxa de reciclo do RAS aumentar
para 1,0; (b) qual é a quantidade adicional de DQOrb afluente que será consumida pelo nitrato ali-
mentado na região anaeróbia.
8–40 Dois clarificadores circulares com 20 m de diâmetro são utilizados para a separação sólido-líquido de
um sistema de lodo ativado. A concentração de SSLM é de 3000 mg/L e a taxa de reciclo do RLA é
de 50%. Admitindo os valores médios da carga de sólidos, na faixa de valores apresentados na Tabela
8–34, de 4, 5 ou 6 kg/m2ⴢh (definida pelo professor), calcular a vazão afluente média permitida, em
m3/d, e a concentração de SSLM na corrente de retorno.
8–41 Verificar se a concentração de fósforo no efluente de um sistema A2O irá aumentar, diminuir ou
permanecer a mesma, considerando-se cada uma das alterações nas características do afluente ou
condições de operação do processo. Consultar os conceitos básicos do processo para explicar a sua
resposta.
a. O TRS aumenta.
b. A concentração de DQOrb do afluente aumenta.
c. A concentração de sólidos suspensos no efluente clarificado aumenta.
d. Há uma maior concentração de N-NO3 na corrente de reciclo de lodo ativado.
e. A concentração de DBO particulada no afluente aumenta.
8–42 Considerando-se os dados de sedimentação apresentados na tabela a seguir, obtidos em ensaios com
o liquor misto de uma estação de tratamento de lodo ativado, calcular a taxa de reciclo de RLA se a
taxa de aplicação superficial no clarificador é de 0,82, 1,0 ou 1,2 m/h (a ser definida pelo professor) e
910 P Capítulo 8 Processos de tratamento com crescimento em suspensão
a concentração de SSLM no RLA é de 10.500 mg/L. Qual será a taxa de reciclo se a concentração de
SSLM for de 15.000 mg/L?
Nota: Os dados apresentados na tabela correspondem à distância entre o topo da coluna de sedimentação (nível
do lodo no início do teste) e a interface entre o líquido clarificado e o manto de lodo, em cm.
8–43 Dois clarificadores secundários são operados com uma taxa de aplicação superficial de 1 m/h e a
concentração de SSLM no reator biológico é de 4000 mg/L. Com base nos resultados dos testes, a
velocidade de sedimentação da interface entre o líquido clarificado e o manto de lodo pode ser repre-
sentada pela seguinte expressão:
Vi Vo(ekX)
onde Vi velocidade de sedimentação da interface, m/d
X concentração de SSLM, g/L
Vo 172 m/d
k 0,04004 L/g
a. Construir um gráfico do fluxo de sólidos devido ao adensamento em função da concentração de
SSLM em g/L.
b. Sobre o mesmo gráfico, desenhar a curva do fluxo de sólidos aplicado e indicar o ponto de estado
operacional.
c. Obter o fluxo de sólidos e a taxa de reciclo para operar o clarificador com uma concentração de
sólidos na descarga de fundo de 10, 11 ou 12 g/L (a ser definida pelo professor).
d. Calcular a concentração de SSLM quando somente um dos clarificadores está em operação, utili-
zando as concentração de sólidos na descarga indicados acima. Indicar a nova curva do fluxo de
sólidos aplicados e o ponto de estado operacional.
8–44 Um processo convencional de lodo ativado com volume do reator biológico de 4600 m3 é operado
com um TRS de 6 dias e concentração de SSLM de 2500 mg/L, para o tratamento de um efluente
primário com as seguintes características:
O sistema deve ser modernizado para possibilitar tanto o tratamento de uma vazão adicional como
a nitrificação do afluente, de maneira a produzir um efluente final com concentração de N-NH4 de
1,0 mg/L. Um TRS de 12 dias foi adotado e um sistema de separação por membranas irá substituir
o clarificador secundário em função da limitação de espaço para a construção de reatores biológicos
adicionais. Considerando-se o efluente com as mesmas características e utilizando-se o mesmo reator
biológico com concentração de SSLM de 8000, 10.000 ou 12.000 mg/L (a ser definido pelo profes-
sor), calcular (a) a nova capacidade de tratamento da estação; (b) as cargas volumétricas de DBO para
os projetos original e modificado (kg/m3 d) e (c) a área de membrana necessária adotando-se um fluxo
de 20,0 L/m2ⴢh.
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Processos biológicos de
tratamento com crescimento
aderido e combinados
REFERÊNCIAS 1032
GLOSSÁRIO
Termo Definição
Biofilme Camada de biomassa (biofilme) que se desenvolve sobre a superfície de um meio suporte
utilizado nos processos com crescimento aderido.
Biorreator com leito móvel (MBBR) Processo biológico com crescimento submerso aderido no qual a maior parte da biomassa
é mantida sobre o meio suporte em suspensão, o qual é separado do efluente do reator por
meio de peneiras. Neste processo, a recirculação de lodo não é necessária.
Contator biológico rotativo Dispositivo de tratamento biológico no qual os micro-organismos crescem aderidos a
(biodisco) (CBR) meios suporte plásticos circulares (discos) montados em um eixo horizontal que gira
lentamente com os discos parcialmente submersos no efluente.
Filtro biológico aerado (FBA) Processo aeróbio com crescimento submerso, com escoamento descendente ou
ascendente, que utiliza um meio inerte como suporte para crescimento de um biofilme
responsável pela remoção de matéria orgânica dissolvida. Também ocorre a remoção de
sólidos suspensos por filtração.
Filtro com leito suporte Processo que utiliza comunidades de micro-organismos aderidas a um material suporte fixo.
Filtro para desnitrificação Reator anóxico preenchido com um meio granular, natural ou sintético, para suporte de
biofilme responsável pela redução de nitrato e nitrito e para remoção de sólidos suspensos
por filtração.
Filtro percolador Reator biológico com filme fixo não submerso que utiliza brita ou material plástico como
meio suporte, sobre o qual o efluente é distribuído para tratamento.
Filtro percolador/lodos ativados Sistema sequencial que combina os processos biológicos com crescimento aderido e
(FP/LA) em suspensão no qual o efluente é tratado em um filtro percolador com alta carga antes
do tratamento pelo processo de lodos ativados para obtenção de efluentes de melhor
qualidade.
Filtro percolador/processo de Similar ao sistema FP/LA. A principal diferença está nos valores da carga orgânica do
contato (FP/PC) filtro percolador e na idade do lodo no sistema de lodos ativados.
9–1 Introdução aos processos com crescimento aderido P 919
Termo Definição
Lodos ativados e filme fixo Processo de lodos ativados no qual uma parcela da biomassa é mantida sobre um meio
integrados (LAFFI) suporte, fixo ou em suspensão, que é separado do liquor misto por uma tela. Neste
processo, a recirculação de lodo é necessária.
Processo aeróbio com crescimento Processo aeróbio de tratamento no qual a biomassa responsável pelo tratamento está
aderido aderida a algum tipo de meio suporte (material de enchimento).
Processo com crescimento aderido Processo aeróbio com filme fixo submerso que envolve três componentes: material suporte,
submerso biofilme aderido e efluente a ser tratado.
Processos híbridos Processos que combinam o crescimento em suspensão e o aderido.
Reator biológico de leito fluidizado Processo com crescimento aderido submerso, aeróbio ou anaeróbio, com escoamento
(RBLF) ascendente através de um leito de areia ou de carvão ativado. A velocidade de
escoamento do efluente causa a expansão do leito sobre o qual é formado o biofilme
responsável pela remoção da matéria orgânica dissolvida.
Remoção de substrato com A remoção de substrato pelo biofilme pode ser limitada pela taxa de transferência de
limitação de oxigênio oxigênio do efluente para o biofilme por difusão. Maiores concentrações de oxigênio
dissolvido no efluente devem ser fornecidas para se obter a máxima taxa de remoção de
substrato pelo biofilme aderido.
Remoção de substrato limitada por Processo no qual a taxa de remoção de substrato pelo biofilme é limitada pela difusão
difusão através da camada limite formada na superfície do biofilme pelo efluente e pela difusão
para a camada de biofilme.
Taxa de recirculação Proporção de efluente tratado que retorna à alimentação do sistema para diluir a carga
orgânica e fornecer condições hidráulicas adequadas para manutenção dos micro-
-organismos em processos com crescimento aderido não submerso.
Distribuidor rotativo
Distribuidor rotativo
Meio suporte
Leito de brita
Ar (injeção forçada
Ar (injeção forçada Efluente Ar ou natural)
Efluente
Ar ou natural) primário
primário
Para o clarificador
Para o clarificador Recirculação
Recirculação Drenagem Drenagem
(a) (b)
Efluente primário
Meio suporte
Efluente Filtro
primário percolador
Retorno
de lodo Descarte
de lodo
(c) (d)
Carreadores
Carreadores em suspensão Tela Decantador
em suspensão Tela Decantador secundário
Efluente
secundário Efluente
Efluente
Efluente primário
primário Ar
Ar
Retorno de lodo
Lodo Lodo
(g) (h)
FIGURA 9–1 Representação esquemática dos processos de tratamento com crescimento aderido: (a) crescimento aderido não
submerso em leito de brita não profundo, (b) crescimento aderido em filtros percoladores tipo torre com meio suporte plástico,
(c) contator biológico rotativo com crescimento aderido não submerso, (d) sistema combinado filtro percolador/processo de lodos
ativados, (e) leito fixo submerso com fluxo ascendente, (f) leito fixo submerso com fluxo descendente, (g) biorreator com crescimen-
to aderido em meio suporte em suspensão e (h) sistema combinado com crescimento aderido submerso-lodos ativados.
9–1 Introdução aos processos com crescimento aderido P 921
À medida que o tamanho do meio suporte se torna menor, a área para o crescimento da biomas-
sa por unidade de volume do reator aumenta e o volume do reator fica menor. Contudo, a quanti-
dade de oxigênio por unidade de volume do reator aumenta, não sendo possível utilizar a aeração
forçada ou natural para atendimento da demanda. Quando se opta pela utilização de meio suporte
com elevada superfície específica, deve-se adotar o processo de tratamento com o meio submerso
mantido em suspensão por meio da injeção de ar por difusores. Um breve histórico desses proces-
sos é apresentado a seguir.
Processos com crescimento aderido não submerso. Os principais processos pertencen-
tes a esta categoria são uma das muitas variações do filtro percolador (Figs. 9-1a e 9-1b). Filtros
percoladores com enchimento de brita (Fig. 9.1a) têm sido utilizados desde o final do século XIX
para tratamento secundário de efluentes devido à sua simplicidade e ao baixo consumo de energia.
Um filtro percolador é um reator biológico de filme fixo não submerso que utiliza brita ou material
plástico como enchimento, sobre o qual o efluente a ser tratado é distribuído de forma contínua e
uniforme. O tratamento ocorre à medida que o efluente escoa sobre o biofilme aderido ao suporte.
O conceito de filtro percolador surgiu a partir da pesquisa desenvolvida na Estação Experimental
Lawrence, em Massachusetts, fundada em 1887, e do uso de filtros de contato na Inglaterra no
início da década de 1890 (Alleman, 1982). O trabalho desenvolvido na Estação de Lawrence con-
firmou a eficiência de um filtro de areia alimentado de forma intermitente para o tratamento de
efluentes, enquanto, na Inglaterra, foi demonstrada a eficiência de um sistema constituído por uma
bacia de contenção preenchida com fragmentos de rocha para o tratamento de efluentes, também
operada de forma intermitente. Para esses sistemas, o leito com o material suporte era preenchido
com efluente pela parte superior, mantendo o contato com o leito por um curto período de tempo
antes de ser drenado pelo fundo. Essa operação era cíclica, porém, antes de ser repetida, o leito
permanecia vazio por um determinado período de tempo. Um ciclo típico de operação durava 12 h
(6 h de operação e 6 h em repouso). As limitações do filtro de contato incluíam incidência elevada
de entupimentos, longo período de tempo para repouso e baixa carga de efluentes que podia ser
aplicada. Devido aos problemas de entupimento, meios suportes com maiores dimensões passa-
ram a ser utilizados, até serem utilizados meios suportes constituídos por brita com dimensões
variando de 50 até 100 mm (2 a 4 polegadas). O projeto de distribuidores rotativos impulsionados
por jatos de água foram desenvolvidos na Estação Experimental de Lawrence em 1894 para possi-
bilitar uma distribuição contínua e uniforme do efluente sobre o meio suporte do filtro percolador
(WEF, 2011).
No início da década de 1950 a empresa Dow Chemical desenvolveu enchimentos plásticos
como meio suporte, denominados Surfpak, o que permitiu o uso de filtros mais altos, denominados
biotorres, com elevado volume de vazios e melhor ventilação, o que requeria menor área para ins-
talação e propiciava um aumento na eficiência do tratamento (ver Fig. 9–1b) (Bryan, 1955). Nos
Estados Unidos, o enchimento plástico passou a ser utilizado em substituição ao leito de brita nos
processos de tratamento aderido não submerso, embora a brita tenha continuado e ainda continue a
ser utilizada em muitos países.
Processos com crescimento aderido parcialmente submerso. Em meados da década de
1960, a empresa Allis Chalmers Corporation começou a avaliar a utilização de discos metálicos
rotativos para o tratamento de efluentes na estação de Jones Island, em Milwaukee. Pouco tempo
depois, a empresa licenciou um processo de tratamento similar denominado Bio-Disc de uma com-
panhia alemã, que utilizava disco de poliestireno. Contudo, em 1972, o processo foi transferido
para a Autotrol Corporation, a qual desenvolveu um novo meio suporte para o contator biológico
rotativo (CBR), produzido a partir de placas de polietileno corrugadas. Nessa nova concepção de
CBR com crescimento aderido, o meio suporte é rotacionado no tanque de tratamento de efluentes,
em contraste com o bombeamento e a aplicação do efluente sobre um meio suporte estático verti-
cal, conforme ilustra a Fig. 9–1c.
O primeiro CBR nos Estados Unidos foi instalado para o tratamento de efluentes de uma
pequena fábrica de queijos em 1969, e a ampliação do seu uso no território americano ocorreu na
década de 1970 (Alleman, 1982). Contudo, os problemas associados ao baixo desempenho para as
cargas de efluente de projeto, ao excesso de biomassa sobre a superfície dos discos devido a um
922 P Capítulo 9 Processos biológicos de tratamento com crescimento aderido e combinados
tipo indesejável de crescimento biológico, a quebras no eixo de suporte dos biodiscos e à deterio-
ração do meio suporte resultaram em uma significativa redução do número de novas instalações
ao longo dos anos. Devido à sua baixa aplicação na atualidade, os CBR não serão mais abordados
neste capítulo. A utilização de CBR para o tratamento de fluxos de recirculação é contemplada no
Capítulo 15. Critérios para o projeto de CBR também estão disponíveis no relatório da Agência de
Proteção Ambiental Americana (U.S. EPA 1984).
Processo sequencial combinado com crescimento aderido não submerso e lodos
ativados. Os filtros percoladores também têm sido utilizados antes do processo de lodos ati-
vados em sistemas combinados (Fig. 9–1d) para obtenção do máximo benefício dos dois pro-
cessos em termos de redução do consumo de energia e de qualidade do efluente tratado. Os pri-
meiros sistemas sequenciais filtro percolador/lodos ativados foram aplicados para o tratamento
de efluentes industriais ou para o tratamento de efluentes combinados com alta carga orgânica,
domésticos e industriais. O processo com crescimento aderido não submerso era usado para re-
moção parcial do DBO do efluente, sem a remoção de sólidos, seguida do tratamento por lodos
ativados para o tratamento final. O processo preliminar de tratamento com crescimento aderido
melhorou as características de sedimentação de lodos no processo subsequente, com a obtenção
de um baixo índice volumétrico de lodo (IVL), e a energia necessária para a remoção de DBO foi
equivalente a 20% a 40% daquela que seria necessária pelo processo de lodos ativados (Biesinger
et al., 1980). Outros processos combinados que utilizam filtro percolador são apresentados na
Seção 9–3.
Outro sistema sequencial que combina filtro percolador e lodos ativados é o filtro percolador/
processo de contato, o qual foi desenvolvido no final da década de 1970 em uma pesquisa desen-
volvida em Corvallis, Oregon, cujo objetivo era a obtenção de um efluente de alta qualidade após
o tratamento de efluente doméstico em um filtro percolador (Norris et al., 1982). Nessa pesquisa,
o filtro percolador foi projetado para remover a maior parcela possível de DBO solúvel, o qual foi
conectado a um canal de contato com sólidos aerado que também recebia o lodo de retorno dos
clarificadores secundários. O principal objetivo do canal de contato com sólidos aerado era flocular
os sólidos presente no efluente do filtro percolador no lodo ativado.
Processo aeróbio com crescimento aderido submerso. Com início na década de 1970 e
estendendo-se até a década de 1980, uma nova classe de processo aeróbio com crescimento aderido
tornou-se uma alternativa viável para o tratamento biológico de efluentes. Nessa classe, estão in-
cluídos os reatores com fluxos ascendente e descendente e com leito fluidizado com meio suporte
móvel ou fixo, que não utilizavam clarificadores secundários ou reatores com aeração direta. Na
pesquisa de Jeris e colaboradores (1977), foi desenvolvido um reator de leito fluidizado com fluxo
ascendente para tratamento de efluente com foco na remoção de DBO (Fig. 9-1f) e também para
o processo de desnitrificação em reator anóxico. O primeiro sistema com fluxo descendente em
leito fixo submerso (Fig. 9-1f), utilizando argila sinterizada como meio suporte, foi desenvolvido
a partir de uma pesquisa desenvolvida em Paris, na França (Leglise et al., 1980). Posteriormente,
reatores com fluxo ascendente em leito fixo submerso foram desenvolvidos. No final da década de
1980, foi desenvolvido, na Noruega (Ødegaard, 2006), um reator biológico com leito móvel em
suspensão (MBBR), constituído por um meio suporte em polietileno de alta densidade, contido em
um tanque com fluxo horizontal (Fig. 9–1g).
A principal vantagem do sistema com crescimento aderido submerso é a pequena área necessá-
ria para a sua instalação, equivalente a 1/5 a 1/3 da área requerida para a instalação de um sistema
de lodos ativados convencional. Outras vantagens em relação ao sistema de lodos ativados incluem
a possibilidade de processamento de efluentes diluídos e a menor preocupação com eventuais pro-
blemas associados à sedimentação do lodo. Mesmo sendo sistemas compactos, o custo de inves-
timento dos sistemas MBBR é, em geral, superior ao do sistema de lodos ativados. Cabe destacar
que, além de remover DBO, os processos com crescimento aderido submerso também podem ser
utilizados para nitrificação e desnitrificação quando associados a processos de nitrificação com
crescimento aderido ou em suspensão.
9–2 Processos com crescimento aderido não submerso P 923
análise de processo para projeto de sistemas terciários de nitrificação. A primeira série de tópicos
(1 a 5) aborda uma descrição geral das características e dos aspectos físicos dos filtros percolado-
res. Já os três últimos tópicos (6 a 8) focam aspectos importantes sobre a análise dos processos que
utilizam filtros percoladores e sua aplicação para a remoção de DBO e nitrificação.
Meio de filtração
Distribuidor rotativo
com extremidade fechada,
fechamento removível
para lavagem
(b)
(c)
FIGURA 9–2 Filtro percolador típico: (a) seção transversal de um filtro percolador de brita, (b) vista de
um filtro percolador de brita convencional e (c) vista de um filtro percolador tipo torre com meio suporte
em plástico.
9–2 Processos com crescimento aderido não submerso P 925
à medida que o líquido escoa sobre o biofilme aderido. Muitos filtros percoladores que utilizam bri-
ta como material suporte (Fig. 9–2b) foram convertidos para filtros com meio suporte de material
plástico para aumentar a capacidade de tratamento. Praticamente todos os novos filtros percolado-
res instalados nos Estados Unidos são construídos com meio suporte em plástico na configuração
de torres (Fig. 9–2c). Clarificadores primários são utilizados como pré-tratamento do efluente que
será tratado pelo filtro percolador para evitar o entupimento do meio suporte; em alguns casos
utilizam-se peneiras finas em substituição aos clarificadores primários.
Sistema de distribuição. O distribuidor é utilizado para a aplicação uniforme do efluente a ser
tratado sobre a superfície do meio suporte. O distribuidor rotativo de efluentes, que utiliza a própria
energia do efluente para promover a sua rotação, tornou-se padrão para este processo de tratamento
em função de sua confiabilidade e da facilidade de manutenção. O distribuidor é constituído por
dois ou mais braços que são montados sobre um pivô localizado no centro do filtro, rotacionando
em um plano horizontal (Fig. 9–2b). Os braços de distribuição são ocos e dotados de bocais de
distribuição, através dos quais o efluente é distribuído sobre o meio suporte. A estrutura de distri-
buição é movimentada pela própria ação dinâmica do efluente que é descarregado pelos bocais de
distribuição ou por um motor elétrico.
Sistema de drenagem. O sistema de drenagem dos filtros percoladores tem duas funções bási-
cas: (1) coletar o efluente que passou através do meio suporte, juntamente com a parcela do biofil-
me que foi removido, e (2) propiciar uma área aberta para a circulação de ar, por arraste natural ou
aeração forçada, necessária para o tratamento do efluente aplicado.
Descrição funcional. Funcionalmente, o meio suporte do filtro percolador é coberto com uma
camada visível de biofilme, resultante da remoção de DBO. Na literatura, o biofilme é frequente-
mente identificado como uma camada gelatinosa, especialmente nos casos em que uma camada
espessa de biofilme se desenvolve em uma determinada superfície. Os substratos solúveis e o oxigê-
nio dissolvido difundem-se através do biofilme para possibilitar o crescimento de biomassa. Mesmo
sem o fluxo de efluente sobre o meio suporte, o oxigênio continua difundindo-se para o interior do
biofilme. Substâncias coloidais e material particulado são removidos por aprisionamento no biofil-
me, e o material que se desprende do meio suporte é removido em um clarificador secundário, mas
lodo de fundo do clarificador não são recirculados para a alimentação do filtro percolador, como
ocorre no caso do processo de lodos ativados. A recirculação do efluente tratado para a alimentação
do filtro percolador é feita para manter o meio suporte úmido quando a vazão afluente é baixa e pelo
fato de esse procedimento melhorar o fornecimento de oxigênio e a eficiência do tratamento.
Desenvolvimento do biofilme. Dependendo das condições operacionais, a espessura do biofilme
pode chegar a 10 mm. Na porção mais externa do biofilme, entre 0,1 e 0,2 mm, a matéria orgânica
é degradada por micro-organismos aeróbios. À medida que os micro-organismos se multiplicam
e a espessura do biofilme aumenta, o oxigênio é completamente consumido antes de penetrar por
completo todo o biofilme, com consequente estabelecimento de um ambiente anaeróbio próximo
à superfície do meio suporte. Com o aumento da espessura do biofilme, o substrato presente no
efluente é completamente consumido antes de penetrar nas camadas mais profundas do biofilme,
fazendo com que o biofilme entre no estado de respiração endógena, com perda da capacidade de
se manter aderido à superfície do meio suporte.
Desprendimento. Quando os micro-organismos perdem a capacidade de se manter aderidos ao
meio suporte, o efluente aplicado ao filtro percolador promove o seu desprendimento, e uma nova
camada de biofilme começa a se formar. O fenômeno da perda de uma porção da camada de biofil-
me é denominado desprendimento, que é função das cargas orgânica e hidráulica. A carga hidráu-
lica afeta a velocidade de cisalhamento, enquanto o carga orgânica afeta as taxas de metabolismo
e de crescimento do biofilme. Os métodos para controle da carga hidráulica e desprendimento de
biofilme são apresentados posteriormente.
Microbiologia do processo. A comunidade de micro-organismos no biofilme é bastante di-
versa e inclui bactérias aeróbias e facultativas, protozoários, fungos e algas. Formas de vida supe-
riores, como vermes, larvas de insetos e caramujos, também podem estar presentes. Bactérias fa-
926 P Capítulo 9 Processos biológicos de tratamento com crescimento aderido e combinados
TABELA 9–1 Aplicações típicas de filtros percoladores e parâmetros de projeto para tratamento de efluente
primárioa
Baixa taxa Alta taxa de Alta taxa de Remoção
Parâmetro de de remoção remoção de remoção de Remoção de DBO parcial de
projeto Unidade de DBO DBO DBO e nitrificação DBO
Eficiência de % 80–90 80–90 70–90 85–90 40–70
remoção de DBO
Meio suporte Brita Brita Plástico Plástico (P)/Brita (B) Plástico
Aeração Tipo Natural Forçadab Forçadab Forçadab Forçadab
Carga kg DBO/m3ⴢd 0,08–0,3 0,6–1,6 0,6–2,4 0,08–0,4 1,6–3,5
orgânica (lb DBO/103 ft3ⴢd) (5–20) (40–100) (50–150) (5–25) (100–220)
Carga m3/m2ⴢd 1–4 4–40 15–75 5–16 40–100
hidráulica (gal/ft2ⴢd) (25–100) (100–1.000) (350–1.850) (125–400) (1.000–2.500)
Taxa de QR/Q 0–1 1–2 1–2 1–2 0–2
recirculação
Profundidade m (ft) 1–2,5c 1–2,5c 3–12 P, 3–12 (8–40) 0,9–6
(3–8) (3–8) (8–40) B, 1–2,5 (3–8) (3–20)
Qualidade do DBO, mg/L 30 30 30 20 30
efluente N-NH4, mg/L 5 5 5 3
a
Adaptado em parte de Tchobanoglous et al. (2003) e Daigger e Boltz (2011).
b
Aeração promovida por sopradores de baixa pressão.
c
A profundidade é limitada pela massa de brita.
Nota: kg/m3ⴢd 62,4280 lb/103 ft3ⴢd
m3/m2ⴢd 24,5424 gal/ft2ⴢd
ao tratamento. Filtros de baixa taxa com meio suporte de brita são, em geral, operados sem a
recirculação de efluente, embora possa ser necessário promover a recirculação quando a vazão
afluente é baixa, de maneira a manter o meio suporte úmido. Filtros circulares são os mais ampla-
mente utilizados, embora filtros com geometria retangular ou poligonal também já tenham sido
utilizados. Em alguns casos, já foram construídos filtros sem a contenção externa (Fig. 9–3a e
Fig. 7–15 do Capítulo 7). Frequentemente, a brita pode ser substituída por um material de enchi-
mento plástico (Fig. 9–3b).
Com baixas taxas de aplicação de carga orgânica, entre 0,07–0,25 kg DBO/m3·d, o tratamento
secundário possibilita obter entre 85% e 90%, próxima da obtida pelo processo por lodos ativados.
Em muitos filtros que operam com baixa taxa, somente a camada superficial do meio suporte, en-
tre 0,6 e 1,2 m (2 a 4 ft), apresentará uma formação significativa de biofilme. Com isso, a porção
inferior do meio suporte será colonizada por bactérias autotróficas nitrificantes, as quais oxidarão
a amônia presente no efluente, produzindo nitritos e nitratos. As bactérias heterotróficas com alto
coeficiente de conversão e crescimento rápido são mais competitivas pelo espaço no meio suporte
em comparação às bactérias nitrificantes. Assim, a nitrificação ocorrerá de maneira mais significa-
tiva se houver redução expressiva da DBO. Baseado na concentração de DBO solúvel, Harremöes
(1982) concluiu que é necessário uma concentração de DBO inferior a 20 mg/L para que o proces-
so de nitrificação seja iniciado. Filtros de baixa taxa raramente são utilizados nos dias atuais devido
a problemas com maus odores e limitação de área para a sua instalação.
Remoção de DBO com aeração forçada. Os filtros percoladores com aeração forçada po-
dem operar com carga orgânica significativamente superior à dos filtros com aeração natural (Ta-
bela 9–1). Tanto a brita como materiais plásticos podem ser utilizados como meio suporte, embora
a tendência atual seja o uso de materiais plásticos em torres, poligonais ou cilíndricas, altas (Figs.
9–3c e 9-3d). O uso de meio suporte plástico permite a construção de filtros mais profundos, o que
exige menor área em planta. Com a recirculação do efluente final para a alimentação do filtro, é
928 P Capítulo 9 Processos biológicos de tratamento com crescimento aderido e combinados
(a) (b)
(c) (d)
FIGURA 9–3 Exemplos típicos de filtros percoladores: (a) filtro percolador convencional com leito de
brita não profundo e sem contenção externa (ver Fig. 7–15 no Capítulo 7), (b) filtro percolador com leito
suporte não profundo convencional, no qual a brita foi substituída por um meio suporte plástico (ver Tabela
9–2), (c) filtro percolador com torres múltiplas utilizando meio suporte plástico, com equipamento para
controle de emissões atmosféricas à frente, e (d) filtro percolador tipo torre com sopradores para a injeção
forçada de ar no entorno do filtro.
possível operar com cargas orgânicas mais elevadas, melhorar a distribuição do efluente sobre o
meio suporte, ter melhor controle sobre a espessura do biofilme, melhorar a aeração do afluente ao
sistema e possibilitar o retorno de micro-organismos viáveis (ver Figs. 9–4a e 9-4b). É importante
ressaltar que diferentes métodos de recirculação podem ser utilizados (Tchobanoglous et al., 2003).
A recirculação de efluente tratado auxilia a prevenir o acúmulo de efluente nos filtros e reduz os
incômodos associados a maus odores e proliferação de moscas.
Remoção de DBO e nitrificação com aeração forçada. A remoção de DBO e a nitrifica-
ção podem ocorrer tanto em filtros com meio suporte em brita como em material plástico quando
operados com baixa carga orgânica (Stenquist et al., 1974; Parker e Richards, 1986). Conforme
a carga de DBO é reduzida para valores considerados de baixa taxa, conforme já discutido, é
possível que o processo de nitrificação ocorra no mesmo filtro percolador ou no filtro do segundo
estágio de um sistema com dois filtros em série (Figs. 9–4c e 9-4d). Tanto o meio suporte em brita
como em material plástico podem ser utilizados nesses filtros percoladores.
A carga hidráulica também diminui com a redução da carga orgânica. A operação com carga
hidráulica muito reduzida pode acarretar problemas operacionais no filtro percolador, como ocor-
rência de maus odores e proliferação de moscas, a menos que seja prevista, no projeto, a recircula-
ção de efluente tratado para a alimentação. As taxas de recirculação de efluente (QR/Q) recomenda-
das variam de 0,5 a 4,0. Meios suporte com fluxo vertical devem operar com uma taxa de aplicação
hidráulica superior a 1,8 m3/m2·h para manter a umidade no meio suporte e assegurar a eficiência de
remoção de DBO, enquanto cargas hidráulicas variando entre 0,4 a 1,1 m3/m2·h são recomendadas
para torres com meio suporte não profundo e fluxo transversal de ar.
Remoção parcial de DBO com aeração forçada. Nos casos em que a carga orgânica su-
pera o valor de 1,6 kg DBO/m3·d, os filtros percoladores são utilizados para a remoção parcial da
9–2 Processos com crescimento aderido não submerso P 929
Suporte Suporte
Clarificador Clarificador
primário Clarificador primário Clarificador
Afluente Afluente
Ar secundário Efuente Ar secundário
Efluente
Clarificador
primário Clarificador
Afluente
Ar Ar secundário Efuente
Lodo Recirculação
primário
Descarte de lodo
(opcional)
(c)
Clarificador
primário Clarificador Clarificador
Afluente
Ar intermediário Ar secundário Efluente
Lodo Recirculação
primário
Descarte de lodo
(opcional)
(d)
FIGURA 9–4 Representação esquemática de processos típicos com filtros percoladores: (a) filtro percolador simples com des-
carte de lodo para o clarificador primário, (b) filtro percolador simples com recirculação de lodo e descarte de lodo para o clari-
ficador primário, (c) filtro percolador de dois estágios com descarte de lodo para o clarificador primário, (d) filtro percolador de
dois estágios com clarificador intermediário. Ressalta-se que outros arranjos podem ser utilizados (Tchobanoglous et al., 2003).
DBO, com eficiências variando entre 50% e 70%. Esse tipo de filtro é denominado, na literatura,
filtro de alta taxa, ou preliminar. A maioria dos filtros preliminares é projetada com meio suporte
em material plástico (WEF, 2011), podendo ser uma alternativa atrativa para o pré-tratamento de
efluentes industriais com carga orgânica de média a alta. Uma das vantagens dos filtros prelimi-
nares é o baixo consumo de energia necessário para a remoção de DBO de efluentes com alta
concentração, em comparação ao que seria exigido para a aeração no sistema de lodos ativados.
Como a energia utilizada no filtro percolador é apenas para o bombeamento do afluente e para a
recirculação do efluente. A quantidade de DBO removida por unidade de energia aumenta à medi-
da que a carga orgânica do afluente também aumenta, até o ponto em que é necessário aumentar a
taxa de recirculação de efluente. A taxa específica de remoção de DBO por energia consumida nos
filtros preliminares pode variar de 2 a 5 kg DBO aplicada/kWh, em comparação a uma taxa de 1,2
a 2,4 kg DBO/kWh para sistemas de tratamento por lodos ativados.
930 P Capítulo 9 Processos biológicos de tratamento com crescimento aderido e combinados
FIGURA 9–5 Materiais típicos utilizados como meio suporte em filtros percoladores: (a) brita, (b) e (c) meio suporte em material
plástico, (d) e (e) enchimento plástico estruturado com fluxo transversal e (f) enchimento plástico estruturado com fluxo vertical. As
principais características dos meios suporte estão apresentadas na Tabela 9-2.
Módulos plásticos estruturados têm a aparência dos favos de mel. Placas planas corrugadas de PVC
também podem ser estruturadas em módulos retangulares. O uso de placas corrugadas favorece a
adesão e o crescimento do biofilme, ao mesmo tempo que permite o aumento do tempo de retenção
do efluente no interior do módulo. Cada camada de modulo é montada sobre a camada inferior,
de forma que os ângulos de orientação das placas melhorem a distribuição do efluente no interior
do enchimento do filtro. As Figs. 9-5d, 9-5e e 9-5f ilustram dois tipos básicos de módulos placas
corrugadas estruturados, com fluxos transversal e vertical.
Dados da literatura indicam que os dois tipos de módulos com placas plásticas corrugadas são
eficazes para a remoção de DBO e SST em uma ampla faixa de variação de cargas (Harrison e
Daigger, 1987; Aryan e Johnson,1987). As biotorres, com até 12 m (40 ft) de altura, são construí-
das com meio suporte em material plástico, sendo mais comuns as torres com até 6 m (20 ft). Nas
biotorres com enchimento estruturado de fluxo vertical, é possível utilizar enchimento plástico com
escoamento transversal na camada superior do meio suporte, o que permite uma melhor distribui-
ção do efluente na parte superior do filtro. A alta capacidade de escoamento, o elevado volume de
vazios e a menor propensão a entupimento fazem com que esses módulos sejam os mais adequados
para aplicação em filtros que operem com altas taxas de aplicação.
Os enchimentos plásticos ainda têm a vantagem de ocupar menor área em planta, em compa-
ração com os filtros de brita, pela possibilidade de se construírem filtros mais altos. Grady et al.
(1999) observaram que os filtros percoladores com meio suporte de brita e meio suporte de mate-
rial plástico estruturado operando com baixas cargas orgânicas ( 1,0 kg DBO/m3·d) apresentavam
o mesmo desempenho. Contudo, na operação com elevadas cargas orgânicas, o filtro com enchi-
mento plástico estruturado apresentou desempenho muito superior. Essa melhora no desempenho
do filtro com meio suporte em material plástico pode ser explicada pelo maior volume de vazios no
filtro, o que favorece a circulação de ar e a remoção do excesso de biofilme por desprendimento.
Resistência e durabilidade dos materiais de enchimento. Duas outras características impor-
tantes dos materiais de enchimento são a sua resistência e a sua durabilidade. A durabilidade do
material de enchimento pode ser obtida por meio da realização do teste com sulfato de sódio, o qual
932 P Capítulo 9 Processos biológicos de tratamento com crescimento aderido e combinados
TABELA 9–2 Propriedades físicas dos principais materiais utilizados como meio suporte em filtros percoladoresa
é utilizado para avaliar a qualidade de agregados para concreto (U.S. EPA, 1974). Considerando-se
a massa específica da brita, a altura máxima do meio suporte com esse tipo de material é da ordem
de 2 m (6 ft). O baixo volume de vazios dos leitos de brita também limita o espaço disponível para
a circulação de ar e aumenta o potencial de entupimento (curto-circuito). Devido ao potencial de
entupimento do leito suporte em brita, a carga orgânica recomendada para operação de filtros per-
coladores varia entre 0,3 e 1,0 kg DBO/m3·d.
Sistema de distribuição de efluente. Os distribuidores são produzidos para filtros percola-
dores com até 60 m de diâmetro (200 ft). Os seus braços podem ter diâmetro uniforme, para peque-
nas unidades, ou variável, para assegurar uma velocidade mínima de escoamento.
Bocais de distribuição. Os bocais de distribuição são espaçados uniformemente para obter a má-
xima vazão de efluente por unidade de comprimento. Para uma distribuição uniforme do efluente
sobre a superfície do filtro, a vazão por unidade de comprimento deve ser proporcional ao seu raio
(Fig. 9–6a). A perda de carga no distribuidor deve ser mantida entre 0,6 e 1,5 m (2 e 5 ft). A orien-
tação adequada dos bocais permite controlar a velocidade de rotação dos distribuidores rotativos
(Fig. 9–6b e 9-6c).
Sistema de distribuição fixo por aspersão. Este sistema consiste em uma série de bocais
aspersores distribuídos de maneira uniforme sobre a superfície dos filtros, geralmente em ar-
ranjos com geometria de triângulos equiláteros. O arranjo de distribuição é obtido por meio de
tubulações nas quais os bocais são instalados e o efluente é distribuído uniformemente. Bocais
especiais são utilizados para a obtenção de um spray de padrão plano, e a pressão de aplicação
do efluente é variada para que o spray atinja o seu máximo alcance e depois, com a redução da
pressão, o alcance mínimo, o que permite a aplicação uniforme do efluente por toda a superfície
do filtro. Bocais de aspersão especiais são utilizados ao longo da circunferência externa do meio
suporte.
Acionamento do sistema de distribuição. O acionamento do sistema de distribuição de efluen-
tes dos filtros percoladores pode ser feito de duas formas: (1) por pressão hidrostática ou (2) pela
combinação entre pressão hidrostática e motor elétrico.
Em geral, o acionamento dos braços de distribuição de efluentes nos filtros percoladores é
feito utilizando-se pressão hidráulica. Um dos problemas com as primeiras unidades com acio-
namento por pressão hidráulica estava relacionado ao uso de selos de mercúrio na coluna central
9–2 Processos com crescimento aderido não submerso P 933
(a) (b)
(c) (d)
FIGURA 9–6 Tipos de distribuidores para a aplicação de efluente nos filtros percoladores: (a) vista
de um distribuidor rotativo com dois braços de seção retangular de um filtro percolador do tipo torre, (b)
vista superior de um filtro percolador tipo torre com um sistema de distribuição rotativo com quarto braços
(os jatos de água do lado esquerdo são utilizados para reduzir a velocidade de rotação), (c) vista de um
sistema de distribuição de efluentes que utiliza placas defletoras para aspersão, (d) vista de um sistema de
distribuição acionado por motor elétrico de velocidade variável.
do distribuidor. No caso de se encontrar sob pressão, o mercúrio acabava sendo dispersado sobre
o meio suporte, e, para contornar esse problema, selos mecânicos passaram a ser empregados. O
acionamento por motor elétrico, de velocidade fixa ou variável, possibilita maior flexibilidade
operacional e frequentemente é utilizado nos filtros percoladores tipo torre com meio suporte em
material plástico (Fig. 9–6d).
Outras características importantes. Outras características que devem ser consideradas quando
da seleção do sistema de distribuição de efluentes incluem: robustez; facilidade de limpeza; capa-
cidade de suportar grandes variações de vazão sem variações significativas na velocidade rotação;
e resistência a corrosão e a desgaste dos materiais utilizados e do acabamento. Tampões para a
drenagem dos braços de distribuição devem ser previstos, de maneira a possibilitar a drenagem
do efluente quando necessário. O projeto deve prever uma distância mínima variando entre 150 e
225 mm (6 e 9 polegadas) entre a base do braço de distribuição e a superfície do meio suporte para
permitir que o efluente seja espalhado de maneira uniforme sobre o meio suporte.
Drenagem do efluente tratado. Este sistema consiste de uma estrutura que permite recolher
o efluente tradado, juntamente com os sólidos desprendidos do meio suporte, para envio ao cla-
rificador final. A inclinação do piso do sistema de drenagem para um canal de drenagem central
ou periférico deve variar entre 1 e 5%. O canal de efluente tratado é dimensionado para permitir
que a velocidade mínima de escoamento seja de 0,6 m/s (2 ft/s), com base na vazão média diária
(WPCF, 1988).
Sistema de drenagem de filtros percoladores com meio suporte de brita. Os sistemas de
drenagem devem apresentar aberturas em ambas as extremidades, de forma a facilitar sua ins-
934 P Capítulo 9 Processos biológicos de tratamento com crescimento aderido e combinados
peção visual e sua limpeza caso ocorra uma obstrução. Todos os canais de drenagem devem ser
projetados como canais abertos, atingindo um nível máximo equivalente a 50% de sua altura no
caso da operação com a máxima taxa de aplicação hidráulica. O sistema de drenagem também é
responsável pela aeração do filtro para fornecimento de oxigênio aos micro-organismos que se
desenvolvem no meio suporte, devendo estar conectado a um canal aberto periférico para pos-
sibilitar uma ventilação adequada do meio suporte tanto próximo às paredes do filtro como da
parte central. Recomenda-se que o sistema de drenagem do filtro percolador seja projetado com
a possibilidade de operação com aeração forçada, caso necessário. O piso e as demais estruturas
do sistema de drenagem devem apresentar resistência mecânica para suportar a carga exercida por
meio suporte, biofilme e efluente aplicado. O sistema de drenagem dos filtros com leito de brita
é constituído por blocos cerâmicos perfurados, ou grades em fibra de vidro, colocadas sobre um
piso de concreto reforçado (Figs. 9–7a, 9-7b e 9-7c). O tipo específico de sistema de drenagem
a ser utilizado variará de acordo com a disponibilidade de materiais e da região na qual o projeto
está sendo desenvolvido e implantado.
Sistema de drenagem para meio suporte plástico. O sistema de drenagem e estrutura de sus-
tentação para filtros com enchimento plástico pode ser em forma de barra, coluna ou grade. A Fig.
9-7d ilustra um tipo de sistema de drenagem utilizado em filtros percoladores do tipo torre. Os
sistemas de drenagem que utilizam suportes na forma de barras ou colunas são colocados sobre vi-
gas pré-moldadas de concreto apoiadas em colunas (Fig. 9–7e). As vigas de apoio do meio suporte
plástico são dotadas de canais para na sua parte superior, de forma a assegurar o escoamento de ar
e efluente. As aberturas para ventilação de um filtro percolador tipo torre são distribuídas ao redor
da parede externa do filtro.
Vigas de sustentação
Blocos de
Meio drenagem
suporte
(a) (b) (c)
Cobertura
(opcional)
Materia de
enchimento
Janela de
ventilação Piso
Coluna de inclinado
sustentação
Vigas
Tubo de Canaleta
pré-moldadas
alimen- de coleta
em concreto
tação
(d) (e)
FIGURA 9–7 Sistema de drenagem típico para filtros percoladores: (a) representação do sistema de
drenagem de um filtro de brita, (b) vigas de concreto para sustentação do leito de brita, (c) vista dos blocos
cerâmicos para suporte e drenagem do leito de brita, (d) corte de um filtro percolador tipo torre (destaque
para a janela de ventilação, o fundo inclinado da câmara de drenagem e a canaleta para coleta de efluen-
te) e (e) vista da câmara de drenagem mostrando as colunas de sustentação. (O espaço de 1,25 m (4 ft)
entre o piso e a estrutura de sustentação do meio suporte é necessário para manutenção.)
maior será o volume de efluente aplicado a cada rotação, o que possibilita: (1) menor potencial
de secagem do biofilme, (2) maior turbulência, o que causa o arraste de sólidos do meio suporte,
(3) operação com biofilme menos espesso e (4) auxilia na remoção dos ovos de moscas depositados
no meio suporte. Biofilmes menos espessos apresentam maior superfície específica e menor pro-
pensão à formação de camadas anaeróbias.
Controle da espessura do biofilme. Caso sejam adotadas elevadas taxas de dosagem para o
controle da espessura do biofilme, a eficiência do tratamento será reduzida em função da redução
do tempo de contato com o efluente. Para filtros percoladores de baixa carga, é possível controlar
a espessura do biofilme e a quantidade de sólidos no meio suporte por meio da utilização periódica
(uma vez por dia) de uma alta dosagem de efluente, denominada lavagem. A operação dos filtros
percoladores com a combinação de lavagens diárias com alta dosagem de efluente e a operação
contínua com uma baixa dosagem depende da carga de DBO, conforme apresentado na Tabela
9–3 (WEF, 2011). Os dados da Tabela 9–3 podem ser utilizados como referência para a definição
das taxas de dosagem. A otimização das taxas de dosagem de efluente para a operação contínua e
para a lavagem do meio suporte, bem como a frequência de lavagem, é feita durante a operação do
sistema de tratamento. Para otimizar o desempenho do filtro percolador, é necessário que o sistema
de distribuição de efluente seja projetado de forma a possibilitar a variação nas taxas de dosagem
do efluente a ser tratado.
Taxa de dosagem de efluente em função da carga hidráulica. A taxa de dosagem de efluente
é função da carga hidráulica total (vazão afluente e vazão de reciclo), do número de braços no sis-
tema de distribuição e da velocidade de rotação (WEF, 2011).
936 P Capítulo 9 Processos biológicos de tratamento com crescimento aderido e combinados
(9–1)
(9–2)
(9–3)
O fluxo volumétrico de ar pode ser estimado igualando-se o arraste à soma das perdas de carga
resultante da passagem de ar pelo meio suporte e pelo sistema drenagem do filtro percolador (Al-
bertson e Okey, 1988).
Quando se opta pela aeração por arraste de ar, no projeto do filtro percolador, é necessário levar
em consideração:
1. O sistema de drenagem e os canais de coleta de efluente devem ser projetados com vazões que
não ultrapassem 50% da altura total, de forma a possibilitar a passagem de ar.
2. Instalação de portas de acesso com aberturas para passagem de ar nas duas extremidades do
canal central de coleta de efluente tratado.
3. Filtros de grande porte devem ser dotados de canais auxiliares para a coleta de efluentes trata-
dos, os quais devem ser dotados de aberturas que assegurem a circulação de ar.
4. A área total das aberturas na camada de sustentação do meio suporte deve ser de pelo menos
15% da área superficial do filtro.
5. Pelo menos 1 m2 de área total para as aberturas dos canais de ventilação e demais aberturas
para passagem de ar deve ser reservado para cada 23 m2 (250 ft2) de área do filtro.
Nos projetos de filtros percoladores com circulação forçada de ar, é necessário prever a instala-
ção de pontos múltiplos de distribuição de ar com a utilização de sopradores instalados no entorno
da estrutura de contenção do filtro (Figs. 9–3d e 9–8e), ou, então, o uso de aberturas de ar abaixo
da estrutura de sustentação do meio suporte, com sucção de ar pelo topo do filtro (Fig. 9–8d). As
aberturas na tubulação de distribuição de ar devem ser dimensionadas para assegurar uma distribui-
ção uniforme do fluxo de ar. Recomenda-se um fluxo de ar que resulte em velocidades na faixa de
1.100 a 2.200 m/h para assegurar uma distribuição uniforme (WEF, 2011).
Transferência de oxigênio nos filtros percoladores. Pouco foi feito para quantificar o
consumo e determinar a eficiência real da transferência de oxigênio em filtros. A metodologia de
cálculo disponível é baseada nas pesquisas desenvolvidas pela empresa Dow Chemical no início
das pesquisas para desenvolvimento de meios suporte plásticos para aplicação em filtros percolado-
res. Por essa metodologia, utilizada para aplicações que visam à remoção de DBO, assume-se que
a eficiência na transferência de oxigênio seja de apenas 5%. Para o desenvolvimento de um projeto
Cobertura
(opcional) Vácuo
Ar limpo Ar limpo
Ar Ar
(c) (d)
(e) (f)
FIGURA 9–8 Exemplos de sistemas com aeração forçada: (a) representação de um sistema de aeração
forçada com fluxo descendente, (b) sistema de aeração forçada com fluxo ascendente, (c) vista de um
ventilador utilizado para injeção de ar no topo de um filtro, (d) vista de um filtro tipo cobertura a vácuo,
conectado a um sistema de tratamento do gás de exaustão, (e) vista do soprador para aspersão de ar da
câmara de drenagem de um filtro percolador tipo torre, com lançamento na atmosfera, (f) vista de um filtro
tipo torre coberto, com sopradores para injeção de ar no topo do filtro e exaustor pela câmara de drena-
gem para posterior tratamento.
9–2 Processos com crescimento aderido não submerso P 939
(9–4)
DBO (9–5)
(9–6)
.
A vazão de ar pode ser corrigida para diferentes valores de temperatura e pressão utilizando-se a
lei dos gases ideais:
(9–7)
(9–8)
Perda de carga nos filtros percoladores. A perda de carga através do meio suporte está
relacionada com a velocidade superficial de escoamento de ar e pode ser determinada pela seguinte
expressão:
(9–9)
940 P Capítulo 9 Processos biológicos de tratamento com crescimento aderido e combinados
TABELA 9–4 Fatores de correção para cálculo da perda de carga em meios suportes não
verticais, com base na Equação (9–10)a
Área superficial
Meio suporte específica, m2/m3 Fator de correção
Brita 45 2,0
Plástico fluxo tangencial 100 1,3
Plástico fluxo tangencial 140 1,6
Plástico randomizado 100 1,6
a
Adaptado de WEF (2010).
O termo relacionado à resistência da torre, Np, é obtido pela soma de todas as perdas de carga in-
dividuais associadas ao fluxo de ar na torre. As perdas de carga ocorrem pela passagem do ar nas
entradas, nos sistemas de drenagem e no meio suporte da torre. Uma equação para a determinação
da perda de carga no meio suporte, em termos do número de resistência, foi desenvolvida pela em-
presa Dow Chemical, originalmente para meios suportes verticais:
Embora não existam correlações similares para outros materiais utilizados como meio suporte, é
possível utilizar fatores de correção, apresentados na Tabela 9-4, para a obtenção do Np para diferen-
tes materiais, baseados no valor obtido pela Equação (9-10). Para estimar a perda de carga total em
um filtro percolador, o valor de Np calculado com a utilização da Equação (9–10) pode ser multipli-
cado por um fator variando entre 1,3 e 1,5, para incluir os valores de perda de carga no dispositivo
de entrada, sistema de drenagem e outros componentes. O roteiro para a obtenção vazão de ar e da
perda de carga em um filtro percolador, utilizando aeração forçada, é apresentado no Exemplo 9–1.
3. Diâmetro da torre 20 m
4. Número de torres 2
5. Altura do meio suporte 6,1 m
6. Fator de correção da perda de carga na entrada e outros dispositivos 1,5
7. Fator de correção da perda de carga no enchimento com fluxo tangencial 1,3 (Tabela 9–4)
8. Temperatura do ar 7 a 28°C
9. Pressão atmosférica no local de instalação da unidade 1 atm
Solução
1. Obtenha da demanda de oxigênio necessária utilizando a Equação (9–4).
Ro (20 kg/kg)[0,80e9LB 1,2e0,17LB](PF)
LB 0,60 kg DBO/m3ⴢd
PF 1,4
Ro 20[0,80e9(0,60) 1,2e0,17(0,60)](1,4) 41,6 kg O2/kg DBO aplicada
2. Obtenha a vazão de ar para as condições estabelecidas.
a. Pela Eq. (9–6), obtenha a vazão de ar nas condições padrão
(continuação)
Fator de correção de perda de carga para enchimento com fluxo tangencial 1,3 (Ta-
bela 9–4)
Fator de correção de perda de carga no dispositivo de entrada e outros dispositivos
1,5
NP (1,5)(1,3)(64,7) 126,2
b. Obtenha a perda de carga com o uso da Eq. (9–9).
(vazão de ar/torre)
Velocidade superficial, y
área da torre
Temperatura do ar 28°C
28°C
9–2 Processos com crescimento aderido não submerso P 943
Comentário
O arraste disponível, considerando-se a diferença de temperatura, é maior do que seria neces-
sário para vencer a perda de carga; contudo, nos períodos em que as temperaturas do efluente
e do ar forem muito próximas, a vazão de ar e a disponibilidade de oxigênio não serão sufi-
cientes para atender a demanda. Como a perda de carga no meio suporte para a vazão de ar
requerida é muito pequena, o projeto do filtro deverá prever múltiplas entradas para assegurar
uma distribuição uniforme.
to da carga hidráulica por meio do aumento da taxa de recirculação de efluente tratado (a utilização
de bombas temporárias ou reserva pode ser necessária), (3) aumento do arraste de ar através do
meio suporte (caso seja possível), (4) dosagem de oxidantes químicos, (5) substituição do meio
suporte de brita por o de plástico e (6) cobertura do filtro e tratamento dos gases de exaustão em
um lavador de gases. Embora tenha sido a última opção apresentada, a cobertura dos filtros per-
coladores é uma prática comum na atualidade, principalmente nas instalações próximas a áreas
residenciais (Figs. 9–3c, 9-3d, 9–8c e 9-8d). Os gases de exaustão dos filtros percoladores são
tratados em filtros de carvão, lavadores de gases ou filtros percoladores biológicos (Fig. 9–9). Uma
abordagem mais detalhada dos sistemas de tratamento de gases de exaustão dos filtros percoladores
é apresentada no Capítulo 16.
Problemas com predadores. Um problema relevante para filtros com nitrificação é a ocor-
rência de caramujos, que podem se alimentar do biofilme aderido no meio suporte e, assim, redu-
zir a população de bactérias nitrificantes e a eficiência do processo (Figs. 9–10a e 9-10b). Além
disso, os caramujos podem ocasionar a obstrução de canais e bombas, acumular-se nos digestores
e causar danos em diversos equipamentos. É possível prever um poço de coleta à montante do
clarificador secundário para facilitar a remoção de caramujos do efluente tratado. Os caramujos
também podem ser separados do lodo descartado do clarificador secundário através de peneira ou
de hidrociclone (Daigger e Boltz, 2011).
Os métodos para controle do crescimento de caramujos envolvem a utilização de compostos
químicos ou condições desfavoráveis para a sua sobrevivência. Os métodos mencionados podem
incluir tratamento alcalino, valores elevados de pH e concentração de amônia, dosagem de água
salina, cloração e dosagem de sulfato de cobre em concentração de 0,4 g/L. O uso de metaldeído,
niclosamida e 4-trifenilmetil morfolina (Trifenmorph) também pode inibir o crescimento de cara-
mujos (WEF, 2011). A aplicação de inibidores tóxicos deve ser de curta duração, levando-se em
consideração os efeitos adversos sobre as bactérias nitrificantes e sobre a qualidade do efluente
final. Também foi demonstrado que soluções aquosas com concentração de amônia livre (NH3)
(a) (b)
(c) (d)
FIGURA 9–9 Unidades para controle da emissão de odores por filtros percoladores: (a) vista de um sis-
tema de absorção em carvão, (b) vista de um lavador de gases, (c) vista de um filtro percolador biológico
e (d) vista interna de um lavador de gases, com o meio de contato.
9–2 Processos com crescimento aderido não submerso P 945
(a) (b)
(c) (d)
FIGURA 9–10 Predadores em filtros percoladores e métodos de controle: (a) e (b) caramujos no interior
de um filtro percolador tipo torre, apresentado na Fig. 9–8e. O tamanho dos caramujos varia entre 3 e
5 mm; (c) vista de um filtro percolador tipo torre com portas de acesso à prova de água, (d) vista da porta
de acesso à prova de água.
acima de 150 mg/L resultaram em uma taxa de mortalidade de caramujos de 100% (Lacan et al.,
2000). Um exemplo de sucesso da utilização do método mencionado para o controle de caramujos
foi apresentado por Gray et al. (2000), na Truckee Meadows Water Reclamation Facility, em Reno,
Nevada. O método consistiu na utilização do efluente de um digestor anaeróbio, com alta concen-
tração de nitrogênio amoniacal, com dosagem de hidróxido de sódio (até pH 9,2), para conversão
em amônia, o qual foi mantido por 2 horas em contato com o meio suporte de um filtro de nitrifi-
cação terciário para a eliminação de caramujos. Em outro exemplo, o controle do crescimento de
caramujos no meio suporte de um filtro percolador com nitrificação foi feito com o uso do extrato
do filtrado da desidratação de lodo com alta concentração de amônia e adição de hidróxido de sódio
com frequência anual (Pearce e Jarvis, 2011). A viabilidade do controle de caramujos com a utiliza-
ção de uma solução com pH elevado, entre 9 e 10, foi demonstrada por Parker e colaborados (1997)
na Estação de Tratamento de Efluentes de Littleton-Englewood, no Colorado. A utilização desses
métodos implica a inundação do meio suporte do filtro percolador com a solução de tratamento,
assegurando o seu confinamento por meio de dispositivos adequados (Figs. 9–10c e 9-10d).
100
90
Remoção de DBO (%)
80
70
60
50
0 1 2 3 4 5
3
Carga de DBO, kg/m · d
FIGURA 9–11 Exemplo do desempenho de um filtro percolador a 20°C. Efeito da carga de DBO na
eficiência de remoção em filtros com meio suporte plástico.
9–2 Processos com crescimento aderido não submerso P 947
3
Taxa de aplicação superficial, m/h
Taxa de
aplicação máxima
1
Taxa de
aplicação média
0
0 1 2 3 4 5 6
Nível de água, m
FIGURA 9–12 Taxas de aplicação típicas para clarificadores secundários em função do nível de água.
9–2 Processos com crescimento aderido não submerso P 949
Solução
1. Obtenha o volume do meio suporte.
Volume, V (A)(H)
Para carga de NKT, utiliza-se a expressão anterior substituindo-se o valor de DBO pelo
de NKT.
Carga de NKT 0,21 kg/m3·d
3. Calcule a eficiência aproximada de remoção de DBO.
mento de filtros com meio suporte em brita foi desenvolvido pelo Conselho Nacional de Pesquisa
dos Estados Unidos da América (National Research Council, 1946) com base na análise dos dados
de desempenho de 34 sistemas construídos em instalações militares para tratamento de esgoto do-
méstico. As formulas desenvolvidas estão disponíveis em várias fontes de pesquisa, incluindo WEF
(2011) e Tchobanoglous et al. (2003). Em razão de os meios suporte em material plásticos serem
os mais amplamente utilizados na atualidade, nesta seção, será dada ênfase às equações utilizadas
para o dimensionamento de filtros percoladores tipo torre com esse tipo de meio suporte.
Fórmulas para o dimensionamento de filtros percoladores com meio suporte em
material plástico. Nas principais equações desenvolvidas para o dimensionamento de filtros
percoladores com enchimento plástico, a remoção de DBO foi relacionada com a taxa de aplicação
hidráulica. As fórmulas disponíveis são baseadas nos resultados obtidos nos trabalhos desenvol-
vidos por Velz (1948), que relacionou a DBO remanescente com a profundidade do meio suporte
com base em uma equação de primeira ordem, e por Schulze (1960), que desenvolveu uma correla-
ção para obtenção do tempo de detenção hidráulico no meio suporte.
Equação de Schulze. Em 1960, Schulze propôs que o tempo de contato do efluente com o biofil-
me aderido ao meio suporte de um filtro percolador é proporcional à profundidade do meio suporte
e inversamente proporcional à taxa de aplicação hidráulica, de acordo com a Equação (9-11).
(9–11)
(9–12)
De acordo com a Eq. 9–11, o aumento da vazão afluente ao filtro percolador não resulta em uma
redução proporcional no tempo de detenção hidráulico, em decorrência do aumento da espessura
do filme de líquido que escoa através do meio suporte.
A variação do valor da DBO através do meio suporte em função do tempo é obtida com base
em uma equação de primeira ordem, conforme apresentado a seguir:
(9–13)
E, com base na Eq. (9–11), desenvolvida para determinar o tempo de detenção hidráulico no filtro,
Schulze obteve a seguinte equação:
(9–14)
Os valores de k e n, determinados por Schulze a 20˚C, foram 0,69 d1 e 0,67, respectivamente.
9–2 Processos com crescimento aderido não submerso P 951
Equação de Germain. Germain, em 1966, aplicou a equação de Schulze para filtros percolado-
res com meio suporte plástico (WEF, 2000):
(9–15)
Na prática, adota-se o valor de n igual 0,50, e, com os resultados dos valores de DBO afluente e
efluente, obtidos em unidades-piloto ou em escala real, obtém-se o valor de k da Eq. 9-15. A em-
presa Dow Chemical Company obteve valores de k por meio do acompanhamento da operação de
mais de 140 unidades-piloto com meio suporte plástico vertical e superfície específica de aproxi-
madamente 90 m2/m3. Estudos similares foram desenvolvidos por outros fornecedores de diferentes
tipos de meio suporte. A maioria dos testes foi feita utilizando-se meios suporte com profundidade
variando entre 6,1 e 6,7 m (20 e 22 ft).
É importante observar que o projeto do clarificador, a carga de sólidos e o ciclo e o método
de dosagem podem afetar os resultados dos cálculos para determinação do valor de k (Harrison e
Daigger, 1987). Em resumo, o valor de k é afetado por diversos fatores, incluindo as características
do efluente, dos projetos do filtro e do clarificador e das condições de operação utilizadas. Para o
ajuste do valor k em função da temperatura, utiliza-se a expressão a seguir:
kT k20(1,035)T 20 (9–16)
Outras formulações. Existem disponíveis na literatura (WEF, 2011) outras formulações para a
avaliação do desempenho de filtros percoladores com meio suporte em material plástico, incluindo
aquelas desenvolvidas por Eckenfelder (1961) e Eckenfelder e Barnhart (1963). Uma das equações
modificadas, denominada equação modificada de Velz, Eq. (9–19), relaciona o valor de DBO do
efluente filtrado do clarificador secundário de um filtro percolador em função da DBO do efluente
primário, da taxa de recirculação de efluente tratado, de um fator para a área específica do meio su-
porte e da temperatura. Essa equação pode ser obtida a partir da Eq. (9–15), na qual k é substituído
por (k20As) e a relação Se /So é utilizada em substituição a Se /Si, relacionando-se Se /Si e Se /So por
meio de uma expressão desenvolvida com base no balanço de massa de DBO no filtro percolador,
levando-se em conta os valores de DBO nas vazões de entrada, saída e recirculação.
(9–18)
Invertendo-se a Eq. (9–15) e substituindo-se o valor de Si /Se na Eq. (9–18), obtém-se a expressão
que relaciona o valor de DBO do efluente clarificado do filtro em função do valor da DBO do
efluente primário e da taxa de recirculação de efluente tratado, Eq. (9-19).
(9–19)
Como a remoção de DBO é calculada em função da taxa de aplicação hidráulica, a utilização das
Equações (9–15) e (9–19), por não levarem em consideração o efeito da carga orgânica aplica-
da, pode resultar em filtros mal dimensionados. Por exemplo, para que fosse possível obter uma
mesma eficiência de remoção de DBO com a utilização da Eq. (9–15), seria possível utilizar um
meio suporte com menor volume caso a sua profundidade fosse superior a 6,1 m. Contudo, com a
redução do volume, a carga orgânica aumenta, o que reduz a eficiência de tratamento. Assumindo-
-se que a eficiência de remoção de DBO é igual para a mesma carga orgânica aplicada, o valor k
deve ser ajustado para a profundidade do meio suporte e para o valor da DBO afluente. O valor
de k pode ser normalizado para uma profundidade e valor de DBO específicos utilizando-se a Eq.
(9-20) (WEF, 2011):
(9–20)
Na Tabela 9-6, são apresentados os valores normalizados para o parâmetro k, a 20°C, obtidos pela
Dow Chemical Company por meio de estudos em unidades-piloto. Ressalta-se que os valores apre-
sentados referem-se aos resultados obtidos em escala-piloto e fornecem uma indicação aproximada
das diferenças de desempenho de tratamento para diferentes tipos de efluentes. Os efluentes com
as menores taxas de degradação são os gerados em refinarias, indústrias de polpa de celulose pelo
processo Kraft e indústrias têxteis.
TABELA 9–6 Valores normalizados de k20AS para a equação de Germain, Equação (9–19),
para meio suporte plástico (100 m2/m3) e diferentes tipos de efluentes
Tipo de efluente valor, (L/s)0,5/m2
Doméstico 0,210
Indústria de conservas 0,181
Indústria de celulose pelo processo Kraft 0,108
Embalagem de carne 0,216
Indústria farmacêutica 0,221
Processamento de batatas 0,351
Refinarias 0,059
Processamento de açúcar 0,165
Sintético de laticínios 0,170
Indústria têxtil 0,107
Observação: [(L/s) /m ] 0,3704 (gal/min) /ft .
0,5 2 0,5 2
9–2 Processos com crescimento aderido não submerso P 953
Critérios de projeto:
Solução
1. Obtenha k20 para as condições de projeto a partir da Eq. (9–20).
a. Obtenha k2.
Da Tabela 9–6, k 0,210 (L/s)0,5/m2 [Nota: k k20 As na Eq. (9–19)]
Profundidade do meio suporte 6,1 m
(continua)
954 P Capítulo 9 Processos biológicos de tratamento com crescimento aderido e combinados
(continuação)
Rearranjando-se:
b. Calcule as dosagens.
Pela Tabela 9–3, podem-se estimar as dosagens de lavagem e para operação normal:
i. Dosagem para lavagem 150 mm/passagem
ii. Dosagem para operação normal 75 mm/passagem
5. Calcule a velocidade do distribuidor pela Eq. (9–1).
9–2 Processos com crescimento aderido não submerso P 955
onde q m3 /m2ⴢh
.
0,36 rev/min (2,8 min/rev)
TOV (9–21)
Com base na Eq. (9–21), foi feita a avaliação da taxa de oxidação volumétrica de três unidades de
tratamento, obtendo-se valores variando entre 0,4 e 1,3 kg/m3·d. Com a taxa de oxidação volumé-
trica e o valor de DBO afluente, é possível estimar a quantidade de N-amoniacal oxidado.
Okey e Albertson (WEF, 2000) desenvolveram uma relação, Eq. (9-22), entre a taxa específica
de nitrificação (g/m2·d) e a relação DBO/NKT para sistemas combinados, com base nos resultados
obtidos em quatro estudos diferentes.
DBO
(9–22)
NKT
Os coeficientes de correlação da Eq. (9-22) foram obtidos para temperaturas de operação va-
riando entre 9°C e 20°C. Os autores do trabalho desenvolvido concluíram que a concentração de
OD tem maior influência nas taxas de nitrificação do que a temperatura. O efeito da concentração
de OD sobre a eficiência de nitrificação é justificado com base em princípios básicos de transferên-
cia de massa, pelos quais pode ser demonstrado que o processo de nitrificação não é limitado pela
difusão de oxigênio quando a concentração de OD no efluente em contato com o biofilme é de 2,8
mg/L para um efluente com concentração de N-amoniacal de 1,0 mg/L.
Pearce e Edwards (2011) propuseram um modelo para relacionar a concentração de N-amonia-
cal no efluente de um filtro percolador em função das taxas de aplicação de N-amoniacal, de DBO
e da taxa de aplicação hidráulica em relação à área superficial do meio suporte e da temperatura:
O modelo proposto foi avaliado com base nos dados experimentais obtidos em sistemas operando
com taxas de aplicação hidráulica e orgânicas variadas, obtendo-se um coeficiente de correlação
(R2) de 0,78. O efeito da temperatura não é tão pronunciado como na operação de sistemas com
crescimento em suspensão, devido ao efeito combinado da alta concentração de biomassa, cinética
de degradação e transferência de massa nos filtros percoladores.
(continuação)
Solução:
1. Calcule o volume do meio suporte pela carga volumétrica de DBO de 0,20 kg /m3ⴢd.
.
Carga volumétrica de DBO 0,20 kg/m3ⴢd
Volume do meio suporte, m3
.
Volume do meio suporte .
TOV
.
.
Área superficial
4. Calcule a taxa específica de nitrificação pela Eq. (9–22).
NH4-Ne 20,81(DBOL)1,03(NH4-NL)1,52(Iv)0,36(T)0,12
.
DBO
(da etapa 3)
Eficiência de nitrificação
Comentários
O volume do meio suporte obtido para o atendimento da taxa de aplicação volumétrica de
DBO é superior ao volume previsto com base na taxa de oxidação volumétrica (Daigger et al.,
1994). Para a relação DBO/N, a taxa específica de nitrificação está próxima daquela obtida
com base na relação DBO/NKT pela Eq. (9–22), e a eficiência de nitrificação especificada
está próxima da obtida pela Eq. (9–23).
Nitrificação terciária. Existem várias unidades nas quais filtros percoladores com meio supor-
te em material plástico são utilizados para o processo de nitrificação após o tratamento secundário
do efluente, o que se denomina nitrificação terciária. Como vantagens da nitrificação terciária,
destacam-se: (1) baixo consumo de energia, (2) operação simplificada e (3) desempenho estável.
Nos sistemas para nitrificação terciária, um efluente com baixa DBO é alimentado no filtro
percolador, e, assim, um biofilme fino, com elevada proporção de bactérias nitrificantes, forma-
-se sobre a superfície do meio suporte. A concentração de N-amoniacal no efluente final variará
em função da estação do ano, podendo atingir valores próximos de 1,0 mg/L no verão e de 1,0 a
4,0 mg/L no inverno. As taxas de aplicação hidráulica utilizadas variam de 0,40 a 1,0 L/m2·s, e a
reciclagem de efluente tratado é necessária para manter a superfície do meio suporte úmida. Alguns
sistemas para nitrificação terciária são construídos sem um clarificador final, em função da baixa
taxa de produção de biomassa, o que depende das características específicas do afluente e dos ob-
jetivos do tratamento.
Projeto e operação. Nos projetos e na operação de filtros percoladores para nitrificação terciária,
é importante levar em consideração: (1) o tipo e a área superficial específica do meio suporte, (2) o
uso de ventilação mecânica, (3) as taxas de aplicação hidráulica e a recirculação de efluente trata-
do, (4) os efeitos adverso de cargas elevadas de amônia e (5) o controle de predadores do biofilme.
Existe um consenso de que, na parte superior do filtro percolador, a taxa de nitrificação é limitada
pela disponibilidade de oxigênio e pela taxa de difusão através do biofilme. Para minimizar a limi-
tação de oxigênio, é comum se utilizar um sistema de aeração forçada, o que assegurará a dispo-
nibilidade de oxigênio. Maiores taxas de aplicação hidráulica e a recirculação de efluente tratado
propiciam uma maior eficiência de umidificação do meio suporte e turbulência na superfície do
960 P Capítulo 9 Processos biológicos de tratamento com crescimento aderido e combinados
(9–24)
O valor de JN,max foi obtido com base nas taxas de nitrificação, considerando-se uma cinética de
ordem zero, calculadas com base nos resultados da operação de filtros percoladores terciários, nos
quais a concentração de N-amoniacal é muito superior ao valor de KN. Como observado, a taxa de
nitrificação de ordem zero ocorre desde a porção superior do meio suporte até a profundidade na qual
a concentração de N-amoniacal atinja o valor de 6,0 mg/L. Abaixo da região controlada pela cinética
de ordem zero, o crescimento de biofilme no meio suporte diminui devido à menor concentração de
N-amoniacal e à menor taxa de remoção de amônia. O valor do fluxo máximo de remoção de N-amo-
niacal diminui com a profundidade em função da redução do crescimento de biofilme na superfície do
meio suporte. Uma redução de 0,1 g/m2·d para cada metro adicional de profundidade do meio suporte
foi proposta por Daigger e Boltz (2011) para corrigir o fluxo máximo de remoção de N-amoniacal.
Os fluxos máximos de nitrificação superficial (JN,max) variam amplamente, como pode ser ve-
rificado pelos dados apresentados na Tabela 9–7. Meios suporte em material plástico com fluxo
9–2 Processos com crescimento aderido não submerso P 961
tangencial parecem propiciar um maior fluxo de nitrificação. Esse maior fluxo de nitrificação pode
estar associado com melhor distribuição de vazão e maior umidificação do meio suporte, permi-
tindo que uma maior área do meio suporte seja colonizada pelas bactérias nitrificantes. Contudo,
observa-se pelos dados da Tabela 9-7 que o meio suporte XF 223, com maior superfície específica,
apresentou o menor fluxo de nitrificação.
É importante observar que, para temperaturas entre 10 e 25°C, não é necessário utilizar fatores
de correção para a utilização da Eq. (9–24). Outros pesquisadores também observaram que a tempe-
ratura tem pouca influência no processo de nitrificação terciária, atribuindo à concentração de oxi-
gênio dissolvido e às condições hidráulicas utilizadas a responsabilidade pelas pequenas variações
no fluxo máximo de nitrificação (Okey e Albertson, 1989). Para temperaturas inferiores a 10°C,
torna-se necessário fazer a correção do fluxo máximo de nitrificação, Eq. (9-25), (WEF, 2011).
(9–26)
Q, No
onde V volume da seção incremental, m3 Área (A)
a superfície específica do meio suporte, m2/m3
Z
O volume da seção incremental é igual ao produto Adz, e dt é igual a dz(A)/Q. Substi-
tuindo dt na Eq. (9–26) e sabendo-se que q é a taxa de aplicação hidráulica, (m3/m2·d),
obtém-se a Eq. (9-27). dZ
(9–27) Z + dZ
Q, N
Rearranjando-se:
FIGURA 9–13 Representação
esquemática de uma seção infi-
(9–28) nitesimal de um filtro percolador,
para a obtenção da Eq. (9–29).
962 P Capítulo 9 Processos biológicos de tratamento com crescimento aderido e combinados
(9–29)
Quando ocorre a recirculação do efluente tratado, um processo interativo deve ser utilizado para
solucionar a equação. Para isso, adota-se um valor da concentração de N-amoniacal (N) no efluente
final para calcular No pela Eq. (9-30). Com o valor de N0 obtido, calcula-se o valor de N pela Eq.
(9-29). Se N calculado for igual a N adotado, encerra-se o cálculo; caso contrário, utiliza-se o valor
de N calculado para uma nova interação.
(9–30)
O valor da taxa de aplicação hidráulica (q) da Eq. (9-29) deve ser multiplicado pelo fator (1 R)
para que a vazão de recirculação seja levada em consideração.
2. Obtenha o valor de Z pela Eq. (9–29), onde No 25,0 g/m3 e N 6,0 g/m3. Como não há
recirculação, a concentração de N-amoniacal no topo do filtro é de 25,0 g/m3.
9–2 Processos com crescimento aderido não submerso P 963
(continuação)
A taxa de aplicação hidráulica total para utilização na Eq. (9-29) é de 86,4 m3 /m2·d
1. Calcule a concentração de N-amoniacal no topo da torre, considerando a diluição do
afluente pelo reciclo, utilizando a Eq. (9–30).
2. Obtenha a profundidade Z pela Eq. (9–29), para No 13,0 g/m3 e N 6,0 g/m3.
N 3,9.
Nota: A partir deste ponto, a solução para maiores profundidades é a mesma que a obtida
em (a), já que a concentração de N-amoniacal e a carga hidráulica total são as mesmas.
4. O volume do meio suporte para cada incremento de profundidade é dado pelo produto
desse incremento pela área da seção transversal.
Incremento de
JN,max, g/m2ⴢd N-NH4, g/m3 profundidade, m Volume, m3
Comentário
Com uma taxa de recirculação de 100%, obtém-se uma torre mais baixa, porém com maior
diâmetro, e um aumento de 11,5% no volume total do meio suporte. Para o projeto sem a re-
circulação de efluente tratado, ainda serão necessários um poço e uma bomba de recirculação
de efluente para que a taxa de aplicação hidráulica total de projeto seja mantida durante os
períodos com menor vazão afluente.
biológicos combinados são comumente denominados processos duplos ou sistemas acoplados fil-
tro percolador/lodos ativados. Os tópicos a serem abordados nesta seção incluem: (1) aplicações
dos sistemas combinados, (2) sistema combinado filtro percolador/processo de contato, (3) sistema
combinado filtro percolador/processo de lodos ativados e (4) sistema combinado filtro percolador/
processo de lodos ativados em série.
Clarificador
secundário com poço
de alimentação de
Filtro
floculação central
percolador
Tanque de contato
Efluente de sólidos aerado
primário Drenagem Efluente
Reciclo
(a) (b)
Filtro
percolador
Tanque de Clarificador
Efluente aeração secundário
primário Drenagem Efluente
Reciclo
Retorno Lodo
de lodo
(c) (d)
FIGURA 9–14 Sistema combinado filtro percolador/processo de lodos ativados: (a) diagrama esque-
mático do sistema com filtro percolador/processo de contato (FP/PC) com opção para reaeração do lodo
recirculado, (b) vista de um canal de contato de sólidos com a torre do filtro de percolação ao fundo,
(c) diagrama esquemático de um sistema com filtro percolador/lodos ativados (FP/LA), (d) vista de um filtro
percolador/processo de contato (imagem obtida de cima do filtro percolador).
Esses pesquisadores também argumentam que é possível obter efluentes com baixa concentração
de SST, mesmo que os filtros percoladores sejam operados com carga de DBO de até 2,0 kg/m3·d.
Também foi verificado que a área necessária para o clarificador secundário é limitada pela carga
de sólidos em vez de pela taxa de aplicação superficial, possibilitando a sua operação com valores
de pico de até 12,2 kg/m2·h em função das boas características de sedimentação do lodo produzido
pelo crescimento de biomassa no filtro percolador. De acordo com Parker e Bratby (2001), 90%
das amostras do lodo produzido em sistemas FP/PC apresentaram índice volumétrico de lodo (IVL)
variando entre 110 e 130 mL/g.
Vantagens do processo. As principais vantagens dos sistemas FP/PC são: (1) possibilidade de
um projeto otimizado para o filtro percolador e para o processo com crescimento em suspensão com
consumo reduzido de energia, já que a oxidação da maior parcela da DBO ocorre no filtro percolador
e (2) possibilidade de obtenção de um efluente final com baixo valor de DBO e baixa concentração
de SST, com um tanque de aeração com crescimento em suspensão de volume reduzido (5 a 20% do
que seria necessário para tratamento por um sistema de lodos) (Daigger e Boltz, 2011).
12
10
8
TRS, d
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5
Carga de DBO, kg /m3 • d
FIGURA 9–15 Estimativa do TRS para a biomassa no filtro percolador em função da carga de DBO
aplicada. (Adaptado de WEF, 2000.)
970 P Capítulo 9 Processos biológicos de tratamento com crescimento aderido e combinados
70
60
40
30
20
10
0
0 1 2 3 4
3
Carga de DBO, kg/m •d
FIGURA 9–16 Quantidade aproximada de DBO particulada degradada no filtro percolador em função
da carga orgânica. (Bogus, 1989.)
Item Descrição
1. Adotar uma carga de DBO para a operação do filtro percolador compatível com o
sistema combinado selecionado.
2. Adotar o TRS do processo de lodos ativados. Para filtros operando com alta carga, é
necessário utilizar maiores TRS no processo de lodos ativados.
3. Calcular as dimensões do filtro percolador e a taxa de aplicação hidráulica.
4. Fazer uma estimativa da remoção de DBO solúvel no filtro percolador.
5. Com base na carga de DBO aplicada ao filtro percolador, utilizando a Fig. 9-16, obter a
fração de DBO particulada removida.
6. Com a Fig. 9–15, estimar o TRS da biomassa no filtro percolador. Utilizar esse valor para
obter a produção de biomassa.
7. Com os valores de produção de biomassa e da quantidade de DBO removida no filtro
percolador, realizar o balanço de massa com base na DBO última, incluindo a produção
de biomassa, para calcular a demanda de oxigênio atendida no filtro percolador.
8. Admitir que a parcela de DBO não degradada no filtro percolador será degradada pelo
processo de lodos ativados se o TRS no tanque de aeração for 4 d. Com base na
remoção de DBO, calcular a produção de biomassa no tanque de aeração. Ajustar a
biomassa produzida no filtro percolador devido à perda por decaimento endógeno no
tanque de aeração do processo de lodos ativados.
9. Com base na biomassa total produzida, realizar o balanço de massa com base na DBO
última para calcular a demanda de oxigênio para todo o sistema. Subtrair a demanda
de oxigênio atendida no filtro percolador para obter a quantidade de oxigênio a ser
fornecida no tanque de aeração. Adotar um fator de pico adequado, para levar em
consideração a variação de carga orgânica.
10. Somar à parcela de lodo produzido pela biomassa a quantidade de sólidos suspensos
voláteis não biodegradáveis (SSVnb) e a quantidade de sólidos suspensos inorgânicos
(SST-SSV) presentes no afluente ao sistema de tratamento.
11. Utilizando a taxa líquida de produção de lodo, o TRS, e assumindo a concentração de
SSLM, calcular o volume do tanque de aeração do processo de lodos ativados.
12. Avaliar as cargas de sólidos e hidráulica para o dimensionamento do clarificador
secundário.
9–3 Sistema sequencial combinado com filtro percolador e processos com sólidos em suspensão P 971
(continuação)
Solução
1. Calcular o coeficiente ponderado de remoção de DBO no filtro percolador (k20AS) para o
efluente combinado.
k20AS combinado
. .
.
k20AS combinado 0,197(L/s)0,5/m2
2. Selecione a taxa de aplicação de carga orgânica para remoção parcial de DBO no filtro,
Tabela 9–1.
TRS 5,0 d
4. Calcule as dimensões do filtro percolador e a taxa de aplicação hidráulica.
a. Calcule o volume do filtro percolador
A carga orgânica volumétrica, calculada pela Eq. (7–69), é:
DBO
DBO
.
DBO
b. Calcule a taxa de aplicação hidráulica.
.
.
c. Calcule o diâmetro do filtro percolador.
Diâmetro/torre 7,6 m
5. Calcule a quantidade de DBO solúvel e particulada removida no filtro percolador utilizan-
do a Eq. (9–19). Observe que a Eq. (9–19) é baseada na DBO do efluente após sedimenta-
ção. Adote uma concentração de SST no efluente após sedimentação igual a 30 mg/L.
9–3 Sistema sequencial combinado com filtro percolador e processos com sólidos em suspensão P 973
a. Calcule o valor da DBO do efluente utilizando a Eq. (9–19), onde R 0, a DBO solú-
vel do efluente, utilizando a Eq. (8–26), e a quantidade de DBO solúvel removida no
filtro percolador.
DBO
DBO
DBO DBOúltima
DBO DBOse
DBOúltima
DBOse DBOse
(continuação)
Calcule a biomassa produzida pela Eq. (7–42), Tabela 8–10. (TRS ):
Para baixos valores de TRS, a quantidade de detrito celular é muito pequena e não foi
considerada.
Calcule a demanda de oxigênio satisfeita no filtro percolador pelo balanço da DQO.
O2 utilizado bDQOIN – bDQOOUT – 1,42XTF
1,6(197,1 g/m3 – 82,1 g/m3) – 1,42(63,0 g/m3)
Oxigênio utilizado no filtro percolador 94,5 g/m3
7. Calcule a biomassa produzida no tanque de aeração do processo de lodos ativados.
DBO removida 82,1 g/m3, TRS 5,0 d
Biomassa devida à oxidação da matéria orgânica
SSV DBO DBO
SSV
.
.
. .
9–3 Sistema sequencial combinado com filtro percolador e processos com sólidos em suspensão P 975
SST TRS
.
SST .
b. Calcule o tempo de detenção hidráulico no tanque de aeração
.
.
11. Compare a energia necessária por kg O2 fornecido ao filtro percolador com a do processo
de lodos ativados.
a. A energia necessária para o filtro percolador é para bombear o afluente até o topo da
torre, que tem 6,1 m, resultando em um consumo de 1,38 kW/1.000 m3.
Assim, a energia necessária é : (1,38 kW/km3)(7.000 m3/d) 9,66 kW
.
Demanda de oxigênio satisfeita
Eficiência de fornecimento de O2
Comentários
Quase metade da demanda total de oxigênio é satisfeita no filtro percolador: 94,5 g O2/m3
para um total de 201,5 g O2/m3, ou, aproximadamente, 47% da necessidade total. A de-
manda de oxigênio é atendida com maior eficiência de transferência no filtro percolador
em comparação com o processo de lodos ativados. A utilização do sistema combinado FP/
LA para esse efluente com alta carga orgânica reduz a energia necessária para fornecimen-
to de oxigênio em pelo menos 30% em comparação com o tratamento apenas com o pro-
cesso de lodos ativados. Além disso, as propriedade de sedimentação do lodo produzido
são melhores para o sistema combinado FP/LA; com isso, é possível operar o processo de
LA com maior concentração de SSLM, o que resulta em um tanque de aeração com menor
volume.
976 P Capítulo 9 Processos biológicos de tratamento com crescimento aderido e combinados
Vantagens do sistema. O sistema combinado FP/LA é uma opção adequada para o tratamento
de efluentes com alta carga orgânica, devido ao menor consumo relativo de energia por quantidade
de DBO removida no filtro percolador. A utilização de um filtro percolador também resulta na
obtenção de um lodo biológico no tanque de aeração, com boas características de sedimentação e
valores de IVL baixos, pelo fato de o filtro percolador funcionar como um seletor biológico para a
remoção da DBO solúvel.
Filtro
percolador
Clarificador Clarificador
Efluente intermediário Tanque de aeração secundário
primário Drenagem Efluente
Recirculação
Retorno
de lodo
Lodo Lodo
FIGURA 9–17 Diagrama esquemático de um sistema com filtro percolador e processo de lodos ativados
em série com clarificador intermediário.
9–4 Sistema de lodos ativados e filme fixo integrado P 977
Anóxica Aeróbia
Agitação do Anóxica (suporte (suporte Aeróbia
meio suporte (opcional) Aeróbia Airlift para opcional) opcional) (com suporte)
(tipo esponja) anóxica
Recirculação
Clarificador Clarificador Clarificador Recirculação Clarificador
primário secundário primário Ar secundário
Efluente Efluente
Afluente Afluente
Ar Tela
Ar aspersor Ar
Retorno de lodo Telas
Lodo Lodo
Retorno de lodo
Lodo Lodo
(a) (b)
Anóxica
(suporte opcional) Aeróbia
Retorno de lodo
Lodo Meio suporte Lodo
fixo (telas)
(c)
FIGURA 9–18 Diagramas esquemáticos de sistemas de lodos ativados e filme fixo integrados (IFAS): (a) sistema com meio
suporte tipo esponja e suspensão, (b) sistema com suportes plásticos em suspensão e (c) sistema com meio suporte fixo. (Adaptado
de WEF, 2011; e Phillips et al., 2010.)
Desenvolvimento do sistema
O meio suporte para crescimento do biofilme no sistema IFAS pode ser fixo ou móvel, por meio
de aeração ou agitação. Embora a maioria dos meios suportes (carreadores) possa fornecer uma
área efetiva para o crescimento de biofilme em um processo de lodos ativados, para as principais
aplicações do sistema IFAS, são utilizados carreadores patenteados em material polimérico à
base de petróleo. Os meios suporte em suspensão, ou flutuantes, chamados de carreadores de
biofilme, são fabricados como estruturas tipo esponjosa a base de espuma de poliuretano ou
polietileno, ou em configurações plásticas especiais a base de polipropileno. As principais ca-
racterísticas de alguns tipos representativos de carreadores de biofilme utilizados em sistemas
de lodos ativados e filme fixo integrado (IFAS) e biorreatores de leito móvel (MBBR) são apre-
sentadas na Tabela 9–11.
Carreadores de biofilme tipo esponja. Os processos Linpor® e Captor® são sistemas IFAS
que utilizam meio suporte tipo esponja patenteado. Os carreadores de biofilme tipo esponja são
pequenos cubos de espuma com massa específica de 0,95 g/cm3 (Fig. 9–19). Esses carreadores são
colocados no tanque de aeração do processo de lodos ativados em uma proporção variando entre
15 e 30% do volume do reator. Utilizando-se uma proporção de 20% do volume do reator com car-
readores de espuma que apresentam superfície específica total de 800 m2/m3, a área superficial de
biofilme por unidade de volume do reator será de, aproximadamente, 160 m2/m3.
Como apresentado nas Figs. 9–18(a) e (b), o uso de telas nos reatores dos sistemas IFAS é ne-
cessário para manter os carreadores no interior do reator biológico. A mistura ou agitação do meio
suporte pode ser realizada com a utilização de difusores de ar de bolhas grossas, que também forne-
cem oxigênio para o processo biológico. Os difusores são instalados em um arranjo que possibilita
um padrão de mistura circular do meio suporte. No caso de utilização de carreadores de esponja, o
escoamento do efluente no interior do reator tende a acumulá-las nas telas de separação, fazendo
com que elas permaneçam na superfície caso não sejam removidas (WEF, 2011). Para a limpeza
contínua das telas de contenção, é comum utilizar um sistema de bombeamento tipo airlift para
transportar as esponjas para a entrada do reator e uma cortina de ar para a limpeza contínua da tela
próxima à saída do efluente. Uma bomba submersível é utilizada periodicamente para bombear as
978 P Capítulo 9 Processos biológicos de tratamento com crescimento aderido e combinados
esponjas, com o objetivo de agitá-las e, assim, remover o excesso de biofilme aderido às esponjas.
A instalação de uma placa de impacto na descarga da tubulação de recirculação dos carreadores por
airlift também pode ser uma opção para remover o excesso de biofilme da superfície das esponjas
(Warakomski, 2005).
Carreadores de biofilme em material plástico. Carreadores de biofilme em material plás-
tico com massa específica variando entre 0,96 e 0,98 g/cm3 foram originalmente desenvolvidos por
uma empresa norueguesa, Kaldnes Miljøteknolog, para utilização em reatores biológicos de leito
móvel, mas também têm sido utilizados sem sistemas IFAS, com a primeira unidade nos Estados
Unidos tendo sido instalada na cidade de Broomfield, no Colorado (Phillips et al., 2008). O projeto
original utilizou uma meio suporte em uma configuração do tipo “roda”, com 10 mm de diâmetro e
7 mm de altura, sendo que, para os projetos atuais, é mais comum a utilização da configuração com
25 mm de diâmetro, conforme indicado na Tabela 9-11 e apresentado na Fig. (9–20). Atualmente,
várias empresas fornecem carreadores de biofilme em material plástico, sendo possível utilizar
diferentes configurações geométricas, como na forma de discos ou quadrados. Carreadores de bio-
filme em material plástico utilizados em zonas aeróbias apresentam superfície específica variando
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Escala, milímetros
FIGURA 9–19 Esponjas carreadoras de biofilme utilizadas em sistemas de lodos ativados e filme fixo
integrados e em reatores biológicos de leito móvel. (Amostras fornecidas como cortesia pela empresa Mi-
xing & Mass Transfer Technologies.)
9–4 Sistema de lodos ativados e filme fixo integrado P 979
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Escala, milímetros
FIGURA 9–20 Exemplos de diversos modelos de carreadores de biofilme em material plástico utilizados
em sistemas de lodos ativados e filme fixo integrados e em reatores biológicos de leito móvel. As caracte-
rísticas dos carreadores são apresentadas na Tabela 9–11. (Carreadores da AnoxKaldness®, fornecidos
como cortesia pela empresa Veolia, Inc.)
entre 500 e 700 m2/m3. Quando são utilizados carreadores em material plástico, o volume do meio
suporte no reator biológico pode ser maior, entre 30 e 60% do volume do reator, em comparação à
utilização de carreadores em esponja, já que há menor tendência ao acúmulo nas telas de saída do
reator. Difusores de bolha grossa ou intermediária promovem a mistura na zona de aeração, e os
carreadores são mantidos no reator instalando-se uma placa perfurada (aberturas de 5 25 mm)
na saída de efluente.
Material fixo. Alguns dos novos projetos de sistemas IFAS utilizam folhas ou placas de ma-
terial plástico ou amianto no tanque de aeração do sistema de lodos ativados. Um sistema IFAS
utilizando contatores biológicos rotativos foi criado inserindo-se um contator biológico rotativo
(CBR) convencional no reator biológico de um sistema de lodos ativados, mantendo-se o contator
85% submerso, em vez dos 40% utilizados em aplicações típicas. A rotação do contator é feita
por aeração e pode ser auxiliada por um dispositivo mecânico. A operação com maior submersão
do contator reduz a carga aplicada ao eixo devido ao empuxo criado. Os projetos mais comuns de
sistemas IFAS com material fixo utilizam corda ou telas como meio suporte.
Exemplos de meios suporte tipo corda, patenteados, comumente utilizados em sistemas IFAS
incluem o Ringlace® e o BioMatrix®, e os meios suporte tipo tela incluem o AccuWeb® e o
BioWeb®. Os produtos Ringlace e Biomatrix consistem de feixes cordões fabricados em PVC,
com aproximadamente 5 mm de diâmetro, presos à estruturas de alumínio ou aço inoxidável, com
geometria adequada. Um meio suporte tipo rede, que se assemelha a uma malha tecida com padrão
hexagonal, também pode ser instalado no reator por meio da fixação de suas bordas superior e
inferior por barras metálicas em uma estrutura adequada. Um exemplo de meio suporte com telas
fixas é apresentado na Fig. 9–21. Um sistema dedicado de aeração por bolhas grossas instalado
sob o meio suporte é frequentemente utilizado para assegurar: (1) a mistura do conteúdo do reator,
(2) boa transferência de oxigênio, (3) a agitação do meio suporte para controlar a espessura do
biofilme e (5) minimizar o potencial de proliferação de vermes predadores.
Aplicações
Uma aplicação típica do sistema IFAS tem sido a conversão dos processos convencionais de tra-
tamento de esgotos pelo processo de lodos ativados para processos de nitrificação/desnitrificação
biológica para remoção de nitrogênio, especialmente onde há limitação de espaço para a instalação
de novos tanques. Como exemplo, a utilização de carreadores de biofilme no tanque de aeração do
sistema de lodos ativados da cidade de Bloomfield, Colorado, permitiu a redução do volume ne-
980 P Capítulo 9 Processos biológicos de tratamento com crescimento aderido e combinados
Afluente Efluente
FIGURA 9–21 Exemplo de um meio suporte fixo para crescimento aderido: (a) diagrama esquemático
da instalação do meio suporte no reator biológico, (b) vista isométrica e (c) vista da instalação em um
arranjo circular no reator biológico (cortesia de J. Barnard).
cessário para a nitrificação do efluente, possibilitando que uma parte do tanque de aeração pudesse
ser utilizada como uma câmara anóxica para converter o sistema em um processo Ludzack-Ettinger
modificado (LEM) (Phillips et al., 2008).
Meios suporte flutuantes ou fixos podem ser utilizados em sistemas de lodos ativados com
configurações variadas para aumentar a concentração volumétrica eficaz de biomassa e reduzir o
TRS do lodo em suspensão necessário para a nitrificação. Quando há necessidade de modernização
de um sistema convencional de lodos ativados, visando a atingir uma maior eficiência de nitrifica-
ção ou remoção de nitrogênio e fósforo, o sistema IFAS pode ser considerado como opção, já que
possibilita um aumento na eficiência do tratamento sem a necessidade da construção de tanques
adicionais. Também é possível aumentar a capacidade do sistema de tratamento sem a necessidade
de tanques adicionais ou do aumento da área do clarificador secundário. O sistema IFAS também
oferece flexibilidade em relação à quantidade e ao ponto de utilização de carreadores de biofilme,
tanto em sistemas existentes, quanto em novos projetos.
Nitrificação e remoção biológica de nitrogênio. O uso do sistema IFAS para nitrificação e
remoção biológica de nitrogênio é de grande interesse, uma vez que é possível modernizar sistemas
de tratamento projetados apenas para a remoção de DBO sem a necessidade da construção de tan-
ques adicionais para assegurar maiores TRS e tempo de detenção hidráulico. A configuração de um
sistema IFAS pode incluir a utilização de zonas aeróbias únicas ou de múltiplos estágios e necessita
de maior concentração de OD nas zonas aeróbias, na faixa de 4 a 6 mg/L, para superar as limitações
de transferência de substrato no biofilme, de maneira que a biomassa aderida à superfície do meio
suporte seja predominantemente utilizada para a nitrificação.
Diagramas esquemáticos das possíveis configurações de sistemas IFAS para a remoção de
nitrogênio com zonas aeróbias única ou de múltiplo estágio são apresentadas na Fig. 9–22. Caso
a concentração de OD disponível seja suficiente, uma zona de aeração de dois estágios possibilita
obter uma maior eficiência de nitrificação em função da maior concentração e remoção de N-amo-
niacal no primeiro estágio. Existem duas vantagens na utilização do processo com crescimento
aderido somente no estágio intermediário em um sistema com três zonas aeróbias, conforme apre-
sentado na Fig. 9–22(c). A primeira refere-se ao uso mais eficiente da superfície dos carreadores de
biofilme para o crescimento de bactérias nitrificantes, já que o crescimento mais intenso de bacté-
rias heterotróficas responsáveis pela degradação da DBO ocorre no primeiro estágio, pela biomassa
em suspensão. A segunda vantagem está no fato de a terceira zona aeróbia poder ser operada com
uma menor concentração de OD, de maneira que uma menor quantidade de oxigênio é adicionada
à zona pré-anóxica pela vazão de recirculação.
9–4 Sistema de lodos ativados e filme fixo integrado P 981
Aeróbia
Suporte, Aeróbia
Anóxica Anóxica
% = 30 30% 30%
OD = 4 mg/L Recirculação 4 mg/L 4 mg/L Recirculação
Clarificador
Clarificador
Ar Ar secundário
secundário
Efluente Efluente Efluente Efluente
primário primário
Peneiras Peneiras
Retorno de lodo Retorno de lodo
Lodo Lodo
(a) (b)
Aeróbia
Anóxica
40-60%
2 mg/L 4 mg/L 1 mg/L Recirculação
Efluente
Ar primário Efluente
Efluente
primário
Peneiras
Retorno de lodo
Lodo
(c)
FIGURA 9–22 Exemplos dos pontos de utilização de carreadores de biofilme em processos LEM para
remoção biológica de nitrogênio: (a) reator com câmara única de aeração com carreadores, (b) reator
com aeração em dois estágios em série com carreadores e (c) reator com três câmaras de aeração com
carreadores na câmara central. As porcentagens típicas de meio suporte e valores de OD também são
apresentadas nas figuras. (Adaptado de Phillips et al., 2010.)
(a) (b)
FIGURA 9–23 Vista de um biorreator com carreadores de biofilme em suspensão: (a) vista do biorreator
com a tela de retenção dos carreadores de biofilme e (b) carreadores de biofilme na zona de aeração.
ração com bolhas grossas é mais utilizada para aplicações com meio suporte em suspensão, embora
a utilização de aeração com difusores de bolhas finas também possa ocorrer. O uso de difusores de
bolhas grossas para a aeração evita a necessidade de remover o meio suporte do tanque de aeração
para realização da limpeza ou manutenção dos difusores, não sendo o caso quando se opta pela
utilização de difusores de bolhas finas, embora a aeração com bolhas finas seja mais eficiente. In-
dependentemente do tipo de difusor utilizado, é importante considerar o arranjo de distribuição dos
mesmos ao longo do reator, de forma a favorecer um padrão adequado de circulação do meio su-
porte ao longo de toda a extensão do reator. A distribuição uniforme de difusores de bolha fina por
todo o reator deve ser evitada. O meio suporte presente nos sistemas IFAS não parece influenciar
de forma significativa a eficiência de transferência de oxigênio. Em estudos paralelos avaliando o
processo de lodos ativados e o sistemas IFAS, utilizando sistemas de aeração com bolhas grossas
(Rosso et al., 2011) e com bolhas finas (Phillips et al., 2010), não foram observadas diferenças
significativas nas taxas de transferência de oxigênio nas condições padrão.
Em alguns projetos com suporte fixo, dispositivos de aeração com bolhas grossas são instala-
dos abaixo dos módulos com o meio suporte para possibilitar a aeração e a agitação do biofilme.
Em outros projetos, o objetivo é criar um padrão de circulação de forma que o liquor misto possa
circular através do meio suporte fixo.
A mistura do meio suporte flutuante nas zonas anóxicas é obtida com a utilização de mistura-
dores mecânicos de baixa velocidade, os quais são, em geral, instalados próximo à superfície do
líquido no tanque, porém submersos e com uma pequena inclinação para criar um fluxo direcional
ao longo do tanque e uma ação rotacional. A energia de mistura pode variar de 15 a 25 W/m3 de
volume do tanque (McQuarrie e Boltz, 2011).
Controle de escuma e espuma. A utilização de peneiras em sistemas IFAS com a utilização
de meio suporte em suspensão acaba resultando no acúmulo de espuma no tanque de aeração. O
aprisionamento de espuma no tanque de lodos ativados favorece o desenvolvimento de bactérias
causadoras de espuma, o que agrava o problema. Exceto durante a operação de partida, não há
relatos de problemas sérios de formação de espuma nos sistemas IFAS mais modernos. Como me-
dida de precaução, é possível utilizar sistemas para aspersão de solução de hipoclorito ou agente
antiespumante (Phillips et al., 2008), os quais podem ser previstos na fase de projeto ou instalados
posteriormente.
Controle de biofilme. A agitação e a mistura causadas pelos sistemas de injeção de ar têm se
mostrado adequadas para o controle do crescimento excessivo do biofilme em meios suporte fixos
ou carreadores plásticos em suspensão. Os carreadores em espuma requerem uma agitação adicio-
nal para remover o excesso de biofilme aderido, o que é feito quando o meio suporte é transportado
para a entrada do tanque de aeração por um sistema de airlift ou por uma bomba submersível. Uma
placa defletora instalada na descarga da tubulação de circulação ajuda a remover os sólidos aderi-
dos aos carreadores.
984 P Capítulo 9 Processos biológicos de tratamento com crescimento aderido e combinados
(9–31)
25
20
15
10
0
0 20 40 60 80 100
2
Fluxo de DQOb solúvel, g/m •d
FIGURA 9–24 Fluxo de remoção de DQO biodegradável solúvel em função do fluxo em carreadores
plásticos (adaptado de Ødgaard, 2006).
A fração de enchimento do meio suporte pode ser calculada com base na superfície específica do
meio e do volume do reator na região de tratamento, Eq. (9-32).
1,6
OD = 6,0 mg/L
1,4
0,4
0,2
0,0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5
Concentração de N-NH4, mg/L
por Rusten et al. (2006). O maior valor está relacionado à difusividade do substrato no biofilme e
à demanda de oxigênio pela DBO carbonácea.
VT VM VAS (9–34)
de SSLM no tanque de aeração será: SSLM equivalente (18.000 g/m3)(0,25) (3.000 g/m3)
(0,75) 6.750 g/m3. Com base no resultado, as equações empíricas para a as taxas específicas de
remoção de DBO (g DBO/g SSLMⴢd) e N-amoniacal (g N-NH4/g SSLM·d) podem ser utilizadas
para calcular as quantidades de DBO e N-amoniacal removidas para um dado volume do tanque de
aeração e fração de enchimento com meio suporte.
Modelo empírico baseado nos fluxos no meio suporte e no TRS. Por este procedimen-
to, os valores de fluxos de remoção obtidos na operação de unidades-piloto e em escala real são
utilizados em um modelo empírico para estimar o volume de meio suporte em função do TRS no
lodo ativado em suspensão (WEF, 2011). Valores de fluxo de remoção variando de 0,50 a 5,0 g
DQO/m2·d e de 0,05 a 0,50 g N-NH4/m2·d podem ser adotados para a temperatura de 15°C e con-
centração de OD de 3,0. As frações de remoção de DQO e N-amoniacal, no meio suporte, são fun-
ção da temperatura e do TRS no lodo ativado em suspensão. A porcentagem de N-amoniacal total
que sofre nitrificação no biofilme aderido ao meio suporte é de 80%, 50% e 20% para TRS de 2, 4 e
8 dias no lodo ativado com crescimento em suspensão. Para cada 1°C de aumento na temperatura, o
TRS necessário é reduzido em 3%. A remoção correspondente de DQO no meio suporte é de 50%
e 25% para TRSs de 2 e 4 dias e é desprezível para um TRS de 8 dias.
Modelo semiempírico baseado em parâmetros cinéticos dos processos. Um modelo
semiempírico para dimensionamento de sistemas IFAS e sistemas com crescimento aderido sub-
merso foi apresentado por Sen e Randall (2008a, 2008b e 2008c) em uma série de trabalhos que
descrevem as etapas de desenvolvimento, aplicação e verificação do modelo. Uma versão similar
simplificada desse modelo é apresentada nesta seção para o processo de nitrificação em um sistema
IFAS. A abordagem utilizando parâmetros cinéticos inclui o efeito do desprendimento de bactérias
nitrificantes do meio suporte para incubar ou melhorar a nitrificação no lodo em suspensão. O mo-
delo possibilita analisar as implicações resultantes das variações na quantidade de meio suporte no
tanque de aeração do sistema de lodos ativados e no TRS resultante.
O processo de modelagem envolve um balanço de massa: (1) das bactérias responsáveis pela
oxidação da amônia (BOA) sobre o biofilme aderido no meio suporte, (2) das BOA na fase líquida
e (3) da concentração de N-amoniacal na fase líquida. Também são consideradas nesse balanço de
massa a taxa de crescimento resultante do fluxo de nitrificação, a taxa de perda devida ao decai-
mento endógeno e o desprendimento das BOA do biofilme aderido. Além disso, um TRS médio no
biofilme é utilizado para estimar o tempo de residência das BOA no biofilme e a taxa de despren-
dimento. A expressão resultante desse balanço de massa é a Eq. (9-36).
(9–36)
(9–37)
TRS
Como apresentado na Fig. 9–25, o fluxo de nitrificação é função das concentração de N-amoniacal
e OD na fase líquida, representado pela Eq. (9-38).
9–4 Sistema de lodos ativados e filme fixo integrado P 989
(9–38)
ou (9–39)
TRS TRS
Para uma dada concentração de OD na fase líquida, existe uma concentração de N-amoniacal a par-
tir da qual o fluxo de nitrificação torna-se limitado, e, para essa concentração de N-amoniacal, JN
equivale a JN,DOmax. O valor de JN,DOmax é indicado pela linha horizontal na Fig. 9–25 para cada uma
das concentrações de OD na fase líquida.
Se a concentração total de N-amoniacal for menor que aquela do ponto de inflexão para a
respectiva concentração OD mostrada na Fig. 9–25, o fluxo de nitrificação torna-se limitado pela
amônia e, assim, o valor de JN é calculado pela Eq. (9–38). O valores de Kn,BF e JN, max pela Fig. 9–25
são 2,2 mg/L e 3,3 g/m2ⴢd.
A concentração de BOA no liquor misto em suspensão é o resultado líquido da taxa de des-
prendimento do biofilme do meio suporte, da taxa de crescimento devida à assimilação de N-amo-
niacal do efluente, da taxa de perda devida ao decaimento endógeno e da taxa de descarte de lodo
para controle do TRS. Para o balanço de massa, admite-se que o crescimento de BOA no liquor
misto não acontece no volume bruto ocupado pelo meio suporte no tanque de aeração. A Eq. 9-40
apresenta a relação para o balanço de massa para as BOA.
(9–40)
TRS TRS
(9–41)
TRS
(9–42)
TRS
O balanço de massa para a concentração de N-amoniacal total na fase líquida leva em consideração
as quantidades de amônia no afluente e no efluente do tanque de aeração, a taxa de consumo pelas
BOA no liquor misto, a taxa de remoção de amônia da fase líquida pelo fluxo de nitrificação no
990 P Capítulo 9 Processos biológicos de tratamento com crescimento aderido e combinados
, (9–43)
(9–44)
,
(9–45)
A concentração de biomassa heterotrófica é obtida utilizando-se a Eq. (7–42) da Tabela 8–10, onde
So S ⯝ So.
TRS
(9–46)
TRS
NKT (9–47)
TRS
(continuação)
Solução
1. Adotando-se a porcentagem máxima de enchimento com meio suporte de 2/3 do volume
do tanque, tem-se:
Porcentagem média de enchimento 2/3(60) 40%, ou VM /V 0,40
2. Calcule os coeficientes cinéticos a 12°C.
bH,12 (0,12)(1,04(12-20)) 0,088 g/gⴢd
mmax,12 (0,90)(1,072(12-20)) 0,516 g/gⴢd
bn,12 (0,17)(1,029(12-20)) 0,135 g/gⴢd
3. Calcule a concentração de DQOb
DQOb 1,6(140 g DBO/m3) 224,0 g/m3
4. Calcule o TRS do crescimento em suspensão pela Eq. (9–46) e XH 1.860 g/m3 dado
na tabela acima.
TRS
TRS
NKT
TRS
.
9–4 Sistema de lodos ativados e filme fixo integrado P 993
6. Admita que a concentração total de N na fase líquida está abaixo do valor crítico e utilize
a Eq. (9–39) para calcular XBF.
TRS
SSV oxidado
TRS
TRS
.
9. Para as etapas 6, 7 e 8, existem três equações e três incógnitas (XBF, Xn e N). As três equa-
ções pode ser resolvidas utilizando o Solver do EXCEL, o que resulta em:
Xn 18,0 g/m3
XBF 0,20 g/m2
N 0,30 g/m3
A fração de N-NH4 nitrificada no biofilme foi igual a 0,79. A concentração de N na fase
líquida é inferior ao valor crítico, de 1,07 g/m3, o que significa que as equações selecio-
nadas são apropriadas.
10. Cálculos similares foram realizados para os valores de VM /V iguais a 0,30, 0,20 e 0,10, e
os resultados obtidos são apresentados na tabela a seguir, seguida do gráfico solicitado no
enunciado do problema.
(continua)
994 P Capítulo 9 Processos biológicos de tratamento com crescimento aderido e combinados
(continuação)
Vm/V
20,0 100
12,0 60
8,0 40
4,0 20
0,0 0
0,00 0,10 0,20 0,30 0,40
Fração de enchimento do tanque
de aeração com o meio suporte
Comentário
A fração de enchimento do tanque de aeração com o meio suporte plástico dever ser superior
a 0,20 para se atingir a concentração de N-NH4 no efluente final (0,70 g/m3). Para uma fração
de enchimento igual a 30%, a concentração de N-NH4 no efluente atinge o objetivo estabe-
lecido. Como o meio suporte é adicionado em apenas 2/3 do volume do tanque de aeração,
a fração de enchimento, apenas no volume com meio suporte é de 45%, o que é aceitável,
por estar abaixo do limite máximo de 60% para carreadores plásticos em sistemas IFAS. O
desprendimento de bactérias nitrificantes do biofilme promove um aumento de 12 a 21% no
processo de nitrificação no lodo com crescimento em suspensão.
capítulo. Esses programas podem ser obtidos diretamente de empresas especializadas no desen-
volvimento de produtos para modelagem e a simulação de sistemas de lodos ativados ou de outros
desenvolvedores. Uma apresentação sobre desenvolvimento e tipos de modelos para simulação de
sistemas com crescimento aderido pode ser encontrada no trabalho desenvolvido por Wanner et al.
(2006).
Nesses modelos, o biofilme é definido por várias camadas, para as quais são feitos os cálculos
relativos ao transporte de massa por difusão e utilização do substrato utilizando as mesmas rela-
ções desenvolvidas para os modelos cinéticos para os sistemas com crescimento em suspensão.
Esses modelos permitem calcular os valores do fluxo de remoção de substrato, incluindo DQOb,
N-amoniacal e Noxidado para o caso de biofilmes anóxicos. A modelagem no biofilme é realizada
dividindo-se o mesmo em um número específico de reatores em série. A espessura do biofilme e a
concentração de biomassa são variáveis que podem afetar os resultados relacionados às taxas de re-
9–5 Reator com meio suporte móvel (MBBR) P 995
moção de substrato no biofilme e devem ser fornecidas pelo usuário do programa. Adotar biofilmes
com maior espessura possibilita avaliar a ocorrência de nitrificação e desnitrificação no interior do
biofilme, devido às condições anóxicas nas camadas mais profundas. Dados obtidos em unidades-
-piloto e em escala real, incluindo a concentração total de OD na fase líquida e a taxa de crescimen-
to do biofilme, podem ser utilizados para calibrar o modelo. Com o modelo calibrado, é possível
avaliar os efeitos da configuração do processo, o volume de meio suporte, a compartimentação do
tanque de aeração, a concentração de OD, a temperatura e o TRS no desempenho do sistema IFAS.
Fundamentos
Os sistemas MBBR podem ser projetados para utilizar uma grande variedade de materiais suporte
para o crescimento biológico. Contudo, na maioria das pesquisas já desenvolvidas e nas instalações
existentes, os meios suporte em material plástico, similares àqueles empregados em sistemas IFAS,
apresentados na Seção 9-4 e na Tabela 9-11, são os mais utilizados. A maioria dos trabalhos rela-
cionados aos sistemas MBBR utilizando meio suporte plástico foi desenvolvida na Universidade de
Ciências e Tecnologia da Noruega (NTNU), em Trondheim, com o objetivo de disponibilizar um
sistema compacto para a remoção biológica de nitrogênio, visando à redução das emissões pontuais
no Mar do Norte. Em 1989, a empresa norueguesa Kaldnes Miljøteknolog fez o registro da patente
da tecnologia e iniciou a comercialização de sistemas MBBR utilizando meios suporte plásticos
de outros fabricantes, embora a maioria dos sistemas instalados em todo o mundo utilize o meio
suporte Kaldnes (WEF, 2011).
TABELA 9–13 Configurações de sistemas MBBR para diferentes aplicações em tratamento de efluentes
Sistema Descrição
Remoção de DBO
(a) Sistema para a remoção biológica
de DBO e remoção de fósforo por
Produtos precipitação química. O tanque
Clarificador químicos Clarificador aeróbio pode ser único ou com duas
primário Ar secundário
Afluente Efluente
câmaras.
Lodo Lodo
Lodo Lodo
Lodo Lodo
Retorno de lodo
Lodo Lodo
Remoção de nitrogênio
(e) Sistema utilizado pelo processo
MLE, com uma região pré-anóxica e
Clarificador Produtos Clarificador recirculação de nitrato. A dosagem
primário químicos secundário química a montante do clarificador
Ar
Afluente Efluente secundário pode ser feita para
remover fósforo (nitrogênio total 10
mg/L).
Lodo Lodo
Recirculação de nitrato
químico secundário
(continua)
9–5 Reator com meio suporte móvel (MBBR) P 997
Sistema Descrição
Remoção de nitrogênio
(f) Sistema utilizado para desnitrifi-
cação biológica pós-anóxica após
Fonte de Produtos a remoção de DBO e a nitrificação.
Clarificador carbono químicos Clarificador Uma fonte externa de carbono é
primário Ar secundário
Afluente Efluente necessária para o processo de
desnitrificação no reator pós-anóxico
(nitrogênio total 3 mg/L).
Lodo Lodo
Retorno de lodo
Lodo Lodo
pode produzir um efluente final com partículas mais estáveis, o que, provavelmente, requererá a
utilização de produtos químicos para possibilitar a floculação e remoção dos sólidos em suspensão.
Remoção de DBO e nitrificação. Sistemas com remoção simultânea de DBO e nitrificação
são projetados com a compartimentação do reator biológico, sendo o primeiro estágio utilizado
para a remoção de DBO solúvel, para minimizar o crescimento de bactérias heterotróficas que
competiriam pelo espaço no meio suporte com as bactérias nitrificantes no estágio de nitrificação
subsequente. A utilização de reatores compartimentados (Diagrama “c” da Tabela 9–13) para o
processo de nitrificação melhora a eficiência volumétrica do sistema MBBR, já que a maior con-
centração de N-amoniacal nos primeiros estágios resulta em um maior fluxo de nitrificação, desde
que a reação não seja limitada pela concentração de OD devido à insuficiência de oxigênio na fase
líquida. Outra aplicação potencial para o sistema MBBR é a nitrificação terciária após a remoção
da carga de DBO por um processo de lodos ativados.
Remoção de nitrogênio com lodos ativados. O sistema MBBR pode ser projetado com
uma configuração similar àquela utilizada para a remoção biológica de nitrogênio pelo processo
de lodos ativados. A configuração de um sistema MLE é apresentada no Diagrama “e” da Tabela
9–13, o qual é constituído por uma região pré-anóxica responsável pela desnitrificação biológica do
efluente pela biomassa com crescimento em suspensão, a qual utiliza a DBO afluente como fonte
de carbono para redução de nitrato presente na corrente de recirculação do reator aeróbio. A con-
figuração do sistema com câmaras pré e pós-anóxicas, mostrada no diagrama “g” da Tabela 9–13,
é similar ao processo Bardenpho, o qual é utilizada pelo sistema MLE para reduzir a concentração
998 P Capítulo 9 Processos biológicos de tratamento com crescimento aderido e combinados
de nitrogênio total no efluente final por meio da redução das concentrações de nitrato e nitrito.
Uma fonte externa de carbono é necessária para possibilitar o crescimento de bactérias na região
pós-anóxica e para possibilitar a desnitrificação biológica. O sistema MBBR também pode ser
utilizado para a desnitrificação após a remoção da DBO e a nitrificação em um processo de lodos
ativados, como indicado no diagrama “h” da Tabela 9–13.
TABELA 9–14 Exemplos de tempos de detenção hidráulicos adotados em sistemas MBBR em escala real
Nome da Concentração
instalação na Vazão de Tempo de detenção de Ntotal no
Noruega projeto, m3/d Aplicação hidraúlico no MBBR, h efluente, mg/L Referência
Lillehammer 28.800 Bardenpho 3,2 4,5 Ødegaard (2006)
Nordre Folio 18.000 Bardenpho 4,9 8,0 Ødegaard (2006)
Gardermoen 22.100 Bardenpho 6,3 10,0 Ødegaard (2006)
Sjolunda 126.000 Pós-anóxico 1,2 6,8 McQuarrie e Boltz (2011)
Klagshamm 23.800 Pós-anóxico 1,1 5,8 McQuarrie e Boltz (2011)
9–5 Reator com meio suporte móvel (MBBR) P 999
(3) condições de aeração e mistura e (4) controle de espuma também são válidas para os sistemas
MBBR. A aeração nos tanques dos sistema MBBR costuma ser feita por meio de difusores de bo-
lhas grossas ou intermediárias. Com base na análise dos gases de exaustão de um sistema com meio
suporte em material plástico, foram obtidos valores para a eficiência na taxa de transferência de
oxigênio (ETOP) nas condições padrão de temperatura e pressão, variando entre 11 e 15%.
A quantidade de meio suporte em material plástico é adicionada ao reator e definida em termos
da fração do volume total de enchimento ou em termos de porcentagem do volume do reator. O
meio suporte plástico é, normalmente, adicionado quando o reator está vazio para que seja possí-
vel obter a porcentagem específica de enchimento. A tubulação utilizada para aeração com bolhas
grossas deve ser projetada para suportar o peso do meio suporte quando o reator estiver vazio.
Durante as operações de manutenção, o meio suporte plástico pode ser transferido para um tanque
de armazenagem utilizando uma bomba com rotor recuado. A substituição do meio suporte não é
uma questão relevante para os sistemas MBBR, embora o projeto dos impelidores utilizados para
a mistura dos mesmos no reator biológico deva minimizar o desgaste por abrasão. No primeiro
sistema MBBR, instalado na Noruega, em 1996, após 10 anos de operação, não foram observados
problemas relacionados ao desgaste do meio suporte (Rusten et al., 2006).
Em razão da baixa concentração de sólidos em suspensão no efluente dos sistemas MBBR
(entre 100 e 250 mg/L), a recirculação de lodo não é necessária, como no caso dos processos de
lodos ativados e sistemas IFAS; além disso, é possível utilizar métodos alternativos à sedimentação
gravitacional para a clarificação do efluente, como floculação, flotação e filtração, entre outros,
comumente utilizados em unidades de tratamento em escala real (McQuarrie e Boltz, 2011).
TABELA 9–15 Fluxo típicos de remoção de DBO, nitrificação e desnitrificação nos sistemas
MBBRa
Fluxo de remoção, Taxa de remoção
Aplicação Substrato g/m2ⴢd volumétrica,b kg/m3ⴢd
Remoção parcial de DBO 15–20 4,5–6,0
DBO
Tratamento secundário DBO 5–15 1,7–5,0
Pré-nitrificação DBO 4–5 1,2–1,5
Nitrificação N-NH4 0,4–1,4 0,1–0,4
Pré-desnitrificação N-NO3 0,20–1,0 0,1–0,3
Pós-desnitrificação N-NO3 1,0–2,0 0,3–0,6
a
Adaptado de McQuarrie e Boltz (2011) e WEF (2011).
b
Baseda em uma fração de enchimento de 60%.
a 28 g SST/m2, para sistemas operados com alta taxa de remoção de DBO (McQuarrie e Boltz,
2011). Admitindo-se um meio suporte com superfície específica de 500 m2/m3 com uma razão de
enchimento com meio suporte de 60%, a concentração volumétrica de SST correspondente pode
variar entre 3.870 e 8.400 mg/L. Como as altas taxas de remoção volumétrica de DBO nos sistemas
MBBR não podem ser diretamente relacionadas à diferença na concentração de sólidos suspensos
no reator, também se tem sugerido que esse comportamento está relacionado à utilização de siste-
mas compartimentados e à presença de maior quantidade de biomassa viável na superfície do meio
suporte (Ødegaard, 2006).
consideradas adequadas para a remoção parcial de DBO em sistemas MBBR (Ødegaard, 2006).
Nos sistemas com alta taxa de remoção de DBO, os sólidos desprendidos do meio suporte estarão
mais dispersos no efluente final, dificultando a sua remoção por sedimentação. Assim, se o sistema
MBBR for projetado para a remoção parcial de DBO, será necessário prever um sistema de dosa-
gem química e floculação do efluente a montante do clarificador secundário.
A carga superficial de DBO utilizada no tratamento secundário para obter um efluente final
com DBO e SST abaixo de 25 mg/L varia entre 6 e 16 g/m2·d, assumindo-se uma eficiência de
remoção de DBO de 90%. Projetos com pré-nitrificação são operados com cargas de DBO sig-
nificativamente inferiores, visando a minimizar o valor de DQOb solúvel no efluente do reator
MBBR, que antecede os reatores de nitrificação a jusante. Isso minimizará a competição entre as
bactérias heterotróficas e as bactérias nitrificantes pelo espaço para crescimento no meio suporte.
Assim, é possível operar os reatores de nitrificação com um maior fluxo de N-amoniacal e maior
eficiência. Com valores de DBO solúvel inferiores a 10 mg/L, é possível maximizar o uso da área
superficial disponível no meio suporte para crescimento de bactérias que oxidam a amônia. Se a
DQO do efluente a ser tratado é conhecida, a relação apresentada na Fig. 9–24 pode ser utilizada
para obter a quantidade de meio suporte e o volume do reator necessários para reduzir o valor de
DQO e possibilitar a etapa de nitrificação (Ødegaard, 2006). A utilização de configurações com
reatores MBBR em série é recomendada para possibilitar alta taxa de assimilação de DBO, baixo
valor de DBO solúvel afluente ao reator de nitrificação e maior eficiência na remoção de amônia e,
assim, possibilitar uma maior estabilidade no processo de tratamento, ao mesmo tempo em que se
minimizam o volume do reator e a quantidade de meio suporte necessária. Outra vantagem dessa
configuração é a redução da possibilidade de ocorrência de curtos-circuitos.
Nitrificação. O sistema MBBR tem sido utilizado em vários arranjos para possibilitar a nitrifica-
ção da amônia (Tabela 9–13), incluindo arranjos para a remoção combinada de DBO, nos estágios
finais de um sistema MBBR com a utilização de reatores em série, após a remoção da maior parcela
de DBO solúvel e para nitrificação terciária. Os valores de fluxo de substrato para o processo de ni-
trificação utilizados para calcular o volume do reator e o volume de meio suporte necessários para
diferentes modos de operação são apresentados e discutidos na sequência. Os fatores que governam
o fluxo de substrato para nitrificação incluem as concentrações totais de N-amoniacal e OD na fase
líquida, a temperatura, o valor de DBO solúvel, que está relacionado com a carga de DBO, e o pH.
Como apresentado na Seção 8–6, um balanço de alcalinidade de ser realizado para cada aplicação,
assegurando-se que a alcalinidade mínima no reator de nitrificação seja de 70 mg/L como CaCO3,
possibilitando operar o sistema com um valor de pH superior a 6,8, de maneira a evitar a inibição
do processo de nitrificação. Maiores fluxos de nitrificação são obtidos em sistemas projetados com:
(1) baixas taxas de aplicação de carga orgânica, (2) baixos valores de DBO solúvel, (3) maiores
concentrações de OD na fase líquida, (4) maiores temperaturas e (5) maiores concentrações de N-
-amoniacal na fase líquida. A concentração total de N-amoniacal na fase líquida pode ser um fator
limitante quando se atingem valores entre 1 e 3 mg/L, recomendando-se, nesses casos, a utilização
de reatores de nitrificação em série. Esse procedimento possibilita otimizar o volume do meio
suporte e do reator, assegurando a obtenção de um efluente tratado com concentração de amônia
inferior a 1,0 mg/L.
Nitrificação terciária. A nitrificação terciária em sistemas MBBR envolve, basicamente, o
crescimento de bactérias oxidantes de amônia (BOA) no meio suporte plástico. O crescimento de
BOA pode ocorrer quando o reator MBBR recebe o efluente clarificado de um sistema secundário
de tratamento (Tabela 9–13d) ou após a remoção significativa de DBO e a baixa carga orgânica em
um reator antes da nitrificação em um sistema MBBR com um certo número de reatores em série. A
relação mostrada na Figura 9–25 pode ser utilizada para estimar o fluxo de nitrificação em função
das concentrações totais de OD e N-amoniacal na fase líquida. O fluxo de nitrificação, apresentado
na Fig. 9–25, para concentrações específicas de N-amoniacal, onde a taxa de oxidação não é limi-
tada pela concentração de OD, pode ser calculado utilizando-se a Eq. (9–48).
(9–48)
1002 P Capítulo 9 Processos biológicos de tratamento com crescimento aderido e combinados
1,6
1,4
0,8 OD = 5,0
0,6 OD = 4,0
OD = 3,0
0,4
0,2 OD = 2,0
0,0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
FIGURA 9–26 Efeitos da concentração de OD e da carga superficial de DBO sobre o fluxo de nitrifica-
ção. (Adaptado de Ødegaard, 2006.)
Os dados apresentados na Fig. 9–25 foram obtidos para a temperatura de 15°C. Assim, o fator de
ajuste para a temperatura, de acordo com a Eq. 2–25, para o fluxo de nitrificação limitado pela
concentração de amônia, obtido por Salvetti et al. (2006) é de 1,098 e, para o fluxo de nitrificação
limitado pela concentração de OD, é de 1,058.
Em sistemas MBBR que combinam a remoção de DBO e a nitrificação, as bactérias hetero-
tróficas competem com as BOA pelo oxigênio dissolvido e pelo espaço para crescimento no meio
suporte, o que pode comprometer o fluxo de nitrificação. O efeito da carga superficial de DBO e da
concentração de OD no fluxo de remoção de N-amoniacal é mostrado na Fig. 9–26. À medida que a
carga superficial de DBO aumenta para valores acima de 2,0 g/m2·d, é necessária uma concentração
de OD, na fase líquida, variando entre 4,0 e 6,0 mg/L para que se obtenha um fluxo de nitrificação
relevante. É possível utilizar uma equação empírica, Eq. (9-49), desenvolvida por Rusten et al.
(1995), para calcular o fluxo de nitrificação em sistemas combinados para remoção de DBO e nitri-
ficação a 10°C quando há limitação de amônia.
JN knf(N)n (9–49)
Os valores de knf são de 0,40; 0,47; 0,50; e 0,53 para: (1) peneiramento sem clarificação primária,
(2) clarificação primária ou pré-desnitrificação, (3) clarificação primária e pré-desnitrificação e
(4) tratamento primário quimicamente assistido, respectivamente. O valor de correção de tempera-
tura é de 1,09. O Exemplo 9-8 ilustra o procedimento para calcular os volumes do reator e do meio
suporte para remoção de DBO e nitrificação por um sistema MBBR.
EXEMPLO 9–8 Obtenção dos volumes do reator e do meio suporte para remoção
de DBO e nitrificação em sistemas MBBR
Utilizando-se o efluente primário com as características apresentadas no Exemplo 8–3, calcule
o volume de meio suporte plástico e do tanque de aeração para um sistema MBBR que possi-
bilite a obtenção de um efluente final com concentração de N-amoniacal de 0,70 mg/L. Utilize
quatro reatores em série, os dois primeiros para remoção de DBO, com o mesmo volume, e os
dois últimos, também com volumes iguais, para nitrificação. Adote uma fração de enchimento
com meio suporte de 50% nos reatores para remoção de DBO e 60% nos reatores para nitrifi-
cação. Adote uma concentração de OD igual a 4,0 mg/L nos reatores de nitrificação.
9–5 Reator com meio suporte móvel (MBBR) P 1003
Solução
1. Calcule os volumes do 1º reator e do meio suporte.
a. Fluxo de DBO aplicado
Fluxo de remoção de DBO
DBO
(% Remoção de DBO/100)
b. Área do meio suporte:
Taxa de aplicação de DBO
Fluxo de DBO aplicado
.
e. Tempo de detenção hidráulico,
(continua)
1004 P Capítulo 9 Processos biológicos de tratamento com crescimento aderido e combinados
(continuação)
DQOb
DQOb
NKT
c. Dimensione os dois tanques com mesma área de meio suporte; eles terão o mesmo
volume, uma vez que utilizam a mesma fração de enchimento.
Desenvolvimento do processo
O termo filtro biológico aerado refere-se ao fato de que o processo com crescimento aderido é aera-
do para possibilitar a remoção de DBO e a nitrificação utilizando o oxigênio. O filtro biológico ae-
rado se enquadra em uma categoria de sistema de tratamento denominada filtros biológicos ativos.
A categoria de filtro biológico ativo inclui os filtros biológicos aerados e processos similares, que
são utilizados em condições anóxicas para possibilitar a remoção de nitrogênio por desnitrificação
biológica. Os processos com crescimento aderido para desnitrificação são apresentados e discuti-
dos na Seção 9–7.
O desenvolvimento dos processos com crescimento aderido submerso foi iniciado no final da
década de 1970. Exemplos apresentados na literatura incluem o RBLF com pré-aeração do afluen-
te (Jeris et al., 1977), um reator com fluxo ascendente em meio granular com injeção de ar na base
do meio suporte (Young e Steward (1979), um reator com fluxo descendente em meio granular
com injeção de ar próximo à base do meio suporte, acima dos bocais de coleta de efluente (Leglise
et al., 1980), e um reator com fluxo ascendente e meio suporte em material plástico com injeção
de ar na base (Rusten, 1984). A configuração com fluxo descendente em meio granular desen-
volvido por Leglise et al. (1980) foi denominado processo Biocarbone®, em razão da utilização
de carvão ativado granular como meio suporte. Posteriormente, o meio suporte foi substituído
por um material cerâmico, mudando-se o nome do processo para filtro biológico aerado (FBA).
O predecessor para a maioria dos processos com crescimento aderido submerso para aplicações
comerciais foi o primeiro sistema comercial Biocarbone®, instalado próximo a Paris, França, com
operação iniciada em 1982 (Stephenson et al., 2004). O termo meio submerso foi utilizado para
essa aplicação em função da elevada massa específica do material cerâmico utilizado, que perma-
necia imóvel no reator.
Um projeto similar, utilizando um meio suporte com mineral expandido, foi desenvolvido e
instalado na Inglaterra (Smith e Edwards, 1994). O aprisionamento de ar no sistema com fluxo des-
cendente poderia resultar no aumento indesejável da perda de carga no FBA com essa configuração
e resultou no projeto de FBA com fluxo ascendente, utilizando-se tanto meios suporte pesados
como de material plástico mais leve na França e na Inglaterra (Rogalla e Bourbigot, 1990; Meaney
e Strickland, 1994; e WEF 2011). Desde meados da década de 1980, centenas de FBA foram ins-
talados, a maioria na Europa.
Aplicações do processo
O processo com crescimento aderido submerso, FBA, apresentado nesta seção foi inicialmente
utilizado para o tratamento de esgotos domésticos nas seguintes aplicações: (1) tratamento secun-
dário para remoção de DBO, (2) tratamento secundário para remoção de DBO e nitrificação, e
(3) tratamento terciário para nitrificação. Além disso, eles também foram aplicados no tratamento
de efluentes industriais diluídos para a remoção de DBO. A remoção de fósforo pode ser feita por
meio da adição de produtos químicos no afluente aos sistemas aeróbios com crescimento aderido
submerso. Já os RBLF, embora sejam utilizados para desnitrificação biológica no tratamento ter-
ciário de efluentes, têm como principal aplicação a nitrificação e o tratamento de água subterrânea
contaminada com substâncias perigosas. Em algumas dessas aplicações, foi utilizado carvão ativa-
do como meio suporte para possibilitar, simultaneamente, a adsorção e a degradação biológica dos
contaminantes (Sutton e Mishra, 1994).
A maioria dos processos aeróbios com crescimento aderido submerso são patentes de vários
fornecedores. Os fatores que distinguem os diferentes projetos e produtos são: (1) sentido do esco-
amento ascendente ou descendente, (2) massa específica do meio suporte, (3) tamanho do material
9–6 Processos aeróbios com crescimento aderido submerso P 1007
suporte, (4) material do meio suporte, (5) profundidade do meio suporte, (6) velocidade de escoa-
mento e (7) método utilizado para a remoção do excesso de sólidos. No sistema aeróbio com cresci-
mento aderido submerso, não se utiliza a etapa de clarificação, e o excesso de sólidos resultante do
crescimento de biomassa e do aprisionamento de sólidos do afluente no sistema deve ser removido
periodicamente. A maioria dos sistemas requer a realização de operações de contralavagem, simi-
lar ao que ocorre em unidades de filtração nos sistemas de tratamento de água, o que possibilita a
remoção dos sólidos acumulados, geralmente com frequência diária.
As características de projeto para sistemas aeróbios com crescimento aderido submerso são
apresentadas na Tabela 9–16. Os FBA são capazes de produzir um efluente final com concentra-
ções de DBO e SST menores que 10 mg/L no tratamento secundário de efluentes. FBA individuais,
operados com baixa carga orgânica, podem possibilitar a remoção de DBO e nitrificação com-
binada, enquanto FBA terciários e RBLF podem ser utilizados para nitrificação, produzindo um
efluente final com concentração de N-amoniacal inferior a 1,0 mg/L ou na faixa de 1,0 a 4,0 mg/L,
dependendo da carga de N-amoniacal e da concentração de oxigênio dissolvido.
As taxas de aplicação hidráulica utilizadas em FBA e RBLF resultam em tempos de contato
no leito vazio (EBCT) variando entre 0,5 e 1,5 hora, ou até menos para algumas aplicações do
RBLF. Os FBA com fluxo ascendente são mais populares devido à menor perda de carga, mas eles
requerem uma maior quantidade de água de efluente produzida para a contralavagem. Em um FBA
com fluxo ascendente em meio suporte suspenso (San Diego, Califórnia), para remoção de DBO,
a quantidade de água necessária para a contralavagem variou entre 10,3 e 13,9% do efluente final,
comparado com 7,4 a 7,9% para um FBA com fluxo ascendente e meio suporte fixo (Newman et
al., 2005).
TABELA 9–16 Características de projeto e operação de sistemas aeróbios com crescimento aderido submersoa
Processo Descrição
FBA descendente
(a) meio suporte denso O efluente primário é distribuído acima da superfície do
Efluente meio suporte de material denso, com profundidade de 1,6 a
primário 2,0 m. O material utilizado no meio suporte consiste de argila
expandida com diâmetro de 3,0 a 5,0 mm ou outro material com
Meio Descarga da água densidade de 1,6 em relação à água. A tubulação de injeção
suporte de contralavagem
de ar está localizada 30 cm acima da estrutura de drenagem
Camada Ar de processo e uniformemente distribuída por toda seção do filtro. As
suporte Ar de arraste velocidades de escoamento descendente variam entre 2,4 e 4,8
Efluente m/h. A contralavagem é feita com a injeção de ar com uma taxa
Bocais de Água de de 90 m3/m2·h seguida pela contralavagem com água utilizando
distribuição contralavagem uma taxa 15 m3/m2·h. A contralavagem é realizada diariamente
ou quando a perda de carga atinge o valor de 1,8 m. Produtos
comerciais disponíveis incluem os sistemas Biocarbone® e o
Biodrof®.
FBA ascendente
(b) meio suporte denso O efluente primário é alimentado por meio de uma câmara
abaixo da camada suporte com a utilização de bocais de
Meio suporte Efluente distribuição fixo na estrutura de sustentação do leito de filtração.
Camada O meio suporte mais utilizado é a argila expandida ou outro
Descarga da água
suporte de contralavagem material mineral, com conformação esférica de diâmetro de 3,5
Efluente ou 4,5 mm, ou com grãos de formato irregular de 2,7 mm. A
primário Ar de processo profundidade típica do meio suporte é 3 m, mas pode variar de
pré-tratado Ar de arraste 2 a 4 m. As velocidades ascensionais variam de 4 a 6 m/h, e a
Água de Bocais de
contralavagem é feita diariamente, com uma taxa de aplicação
contralavagem distribuição de 10 a 30 m3/m2·h, para possibilitar a expansão do leito. A
operação de contralavagem envolve a drenagem do conteúdo
do reator, injeção de ar de arraste para descompactar o meio
suporte, seguida da injeção de ar de arraste e água de lavagem
e enxágue final. Produtos comerciais incluem o sistema Biofor®.
(c) ascendente, meio suporte suspenso Este sistema utiliza meios suporte em suspensão menos densos
Descarte de água que a água. Dois dos maiores fornecedores com projetos
de contralavagem similares são: (1) Biostyr®, que utiliza contas de poliestireno
com diâmetro de 3,0 a 6,0 mm com densidade relativa de 0,5,
Meio suspenso Efluente
e (2) Biobead®, que utiliza contas de polietileno com diâmetro
Camada
Bocais de de 2,3 a 2,7 mm com densidade relativa de 0,95. As contas
suporte
Efluente distribuição formam o meio suporte suspenso na parte superior do reator, com
primário Ar de processo profundidade típica variando entre 3 e 4 m. A parte superior
pré-tratado do meio suporte é restrito por uma estrutura com crepinas fixas
para a coleta do efluente tratado. O meio suporte é comprimido
Descarte da água contra o dispositivo de restrição superior pelo fluxo ascendente
de lavagem
de efluente durante o tratamento, o que promove a sua filtração.
Uma placa perfurada, instalada no fundo do filtro, possibilita a
distribuição do afluente e a coleta da água de lavagem. O ar
de processo é distribuído por difusores instalados no fundo do
reator, acima da placa perfurada. A velocidade ascensional é de
4 a 6 m/h. Produtos comerciais incluem os sistemas Biopure® e
Biolest®.
(continua)
9–6 Processos aeróbios com crescimento aderido submerso P 1009
Processo Descrição
FBA ascendente
(d) ascendente, meio suporte suspenso e câmara anóxica Uma variação do sistema Biostyr®, de fluxo ascendente
Camada suporte com meio suporte em suspensão, foi desenvolvido para
instalações em escala real para possibilitar a nitrificação e
Meio suspenso Efluente desnitrificação do efluente no mesmo reator. Nesse sistema,
Bocais de
Recirculação a estrutura de distribuição de ar de processo está localizada
distribuição a, aproximadamente, 2 m abaixo da parte superior do meio
Efluente
Ar de processo primário suporte, de forma que a parcela inferior do leito não é aerada,
Região anóxica pré-tratado propiciando uma região anóxica para a desnitrificação
Ar de arraste biológica. Uma parcela do efluente nitrificado é recirculada para
Camada Descarte de a alimentação do filtro, e a DBO do efluente primário fornece os
suporte água de lavagem doadores de elétrons para a redução do nitrato.
Reator biológico de leito fluidizado
(e) reator de leito fluidizado com fluxo ascendente Neste sistema, o afluente é alimentado pela base do reator em
Tela para retenção do meio um leito fluidizado constituído de areia com diâmetro de 0,3
suporte, se necessário a 0,7 mm ou carvão ativado com diâmetro de 0,6 a 1,4 mm.
Recirculação A profundidade do leito varia de 3,0 a 4,0 m. A velocidade
Efluente ascendente para leito de areia com 0,5 mm de diâmetro varia
Oxigenação entre 30 e 40 m/h. A taxa de recirculação é de 2 a 5 vezes
a vazão afluente, para manter o leito fluidizado. O tempo de
O2
detenção hidráulico do afluente varia entre 10 e 20 min. O
afluente é alimentado através de uma placa perfurada, ou com
Ar crepinas invertidas.
Afluente
Câmara de
distribuição
a
Borregaard (1997), Freihammer et al. (2007), Holbrook et al. (1998), Lazarova et al. (2000), Mendoza e Stephenson (1999), Pujol et al.
(1994), Sutton et al. (1981) e U.S. EPA (1993).
cendente e leito fixo deve considerar a perda de carga resultante da taxa de aplicação de ar. Com o
acúmulo de sólidos no leito, a perda de carga e o nível de líquido acima do leito aumentam, o que
pode diminuir a quantidade de ar fornecida pelo soprador. Os projetos de FBA com escoamento as-
cendente, para ambos os tipos de leito, não apresentam esse tipo de problema, uma vez que o nível
de líquido no filtro é controlado pelo nível de saída de efluente tratado.
.
(9–50)
Como exemplo, um FBA com meio suporte fixo, utilizando partículas com 3 mm e porosidade do leito
de 40%, apresentará uma superfície específica de 1.800 m2/m3, a qual estará disponível para cresci-
mento de biomassa. Para um sistema com RBLF utilizando meio suporte com partículas de areia com
0,50 mm de diâmetro e uma expansão de 100% do leito, a superfície específica do leito é estimada em
6.000 m2/m3. A área real será menor, uma vez que a especificação do leito é feita com base no tamanho
efetivo das partículas, e o crescimento de biofilme aumenta o diâmetro efetivo das partículas.
A seleção do tamanho das partículas do meio suporte para o dimensionamento de um FBA
deve ter como base a concentração de SST no efluente final e a eficiência de filtração, a eficiência
de remoção de carga orgânica e a necessidade de contralavagem. Meios suporte com partículas de
menor diâmetro permitem a operação do FBA com maiores cargas orgânicas em razão da maior
área específica resultante e produzem efluentes tratados com menor concentração de SST. Contu-
do, a carreira de filtração do FBA antes da operação de contralavagem será menor, e uma maior
parcela do efluente tratado será requerida para essa operação, resultando em um maior custo de
operação. Recomenda-se a utilização de meio suporte com partículas de 6 mm de diâmetro para
remoção parcial de DBO, partículas com diâmetro entre 4 e 5 mm para tratamento secundário e
partículas com diâmetro menor ou igual a 3 mm para polimento de efluente ou nitrificação terciária
(Mendoza-Espinosa e Stephenson, 1999).
Cargas de projeto. Os mecanismos de remoção de substrato em FBA incluem a remoção do
substrato solúvel com base na difusão e na cinética de biodegradação no biofilme aderido ao meio
suporte e na adsorção e na filtração de material particulado e coloidal. A taxa de remoção biológica
do substrato solúvel é limitada pela difusão e é afetada pela área do biofilme, por concentrações de
substrato e OD na fase líquida, pela velocidade de escoamento através do meio suporte e pela tem-
peratura. A remoção de DBO particulada é afetada pelo tamanho das partículas do meio suporte,
pela velocidade de escoamento do líquido através do meio, pela perda de carga e pela frequência
de contralavagem. Em razão da complexidade do processo, especificamente em relação à previsão
de crescimento de biofilme, de sua espessura e sua massa específica e do padrão de escoamento,
o dimensionamento de FBA é baseado nas cargas volumétricas aplicadas e no desempenho opera-
cional de instalações-piloto e em escala real. O desempenho de FBA para tratamento secundário,
remoção de DBO e nitrificação combinada e nitrificação terciária é avaliado com base nas cargas
de DBO, em kg DBO/m3·d, e de nitrogênio, em kg N/m3ⴢd. Para efluentes mais diluídos, a taxa de
1012 P Capítulo 9 Processos biológicos de tratamento com crescimento aderido e combinados
Eficiência de
Aplicação Unidade Faixa remoção, %
Remoção de DBO kg DBO/m3ⴢd 3,5–5,5 85
Remoção de DBO e nitrificação kg DBO/m ⴢd 3
1,8–2,5 85
Nitrificação terciária kg N-NH4/m ⴢd 3
1,0–1,5 90
a
Mendoza e Stephenson (1999), WEF (1998), Tchobanoglous et al. (2003), WEF (2011).
9–6 Processos aeróbios com crescimento aderido submerso P 1013
aplicação de ar devido ao maior tempo de detenção das bolhas no sistema. As faixas de eficiência na
transferência de oxigênio em FBA foram apresentadas na Tabela 9–18. Quando são utilizadas altas
taxas de aplicação de ar, para manter a concentração de OD em FBA operando com altas cargas, os
menores valores apresentados na tabela devem ser adotados para a realização dos cálculos.
A demanda de oxigênio em FBA é função das características do afluente, da carga de DBO
e da frequência de contralavagem. Verificou-se que, para um FBA com fluxo descendente e meio
suporte fixo, operando com carga orgânica de 3,5 kg DBO/m3·d e contralavagem diária, somente
20% dos sólidos suspensos voláteis do afluente foram degradados, em função do baixo tempo de
retenção de sólido (Stensel et al., 1984). A Eq. (9-51) pode ser utilizada para calcular a demanda de
oxigênio associada à remoção da DBO e de sólidos suspensos voláteis.
(9–51)
Produção de lodo. Como no caso do consumo de oxigênio, a produção de lodo em FBA tam-
bém está relacionada às características do afluente e à fração de SSV degradada. A Eq. (9-52) pode
ser utilizada para calcular a produção de lodo (Stensel et al., 1984). A relação SSV/SST pode variar
de 0,80 a 0,85 após o tratamento primário do efluente.
expansão do leito varia entre 50 e 100%, sendo que uma menor taxa de expansão possibilita uma
menor velocidade ascensional e um menor consumo de energia, mas apresentará uma maior de-
manda volumétrica de oxigênio, em decorrência de uma maior concentração de biomassa.
A utilização de sistemas RBLF aeróbios para o tratamento de águas subterrâneas contaminadas
e efluentes industriais diluídos deve ser avaliada caso a caso e requer uma compreensão das carac-
terísticas dos compostos de interesse para avaliar o potencial de degradação. Sistemas RBLF têm
sido utilizados para remoção de amônia de efluentes.
Um leito com profundidade variando de 5 a 6 m tem sido utilizado para nitrificação de efluen-
tes, utilizando-se uma carga de N-amoniacal próxima de 1,0 kg N-NH4/m3·d. A taxa de aplicação
hidráulica recomendada pode variar de menos de 40 m3/m3 de leito·d até 25 m3/m3 de leito·d para a
obtenção de um efluente final com concentração de N-amoniacal de 5 mg/L e 0,5 mg/L, respecti-
vamente (Dempsey et al., 2006).
Desenvolvimento do processo
O desenvolvimento dos processos biológicos com crescimento aderido para desnitrificação foi ini-
ciado na década de 1970, em função da maior restrição das normas relacionadas ao descarte de
efluentes contendo nutrientes das estações municipais de tratamento de esgotos, visando ao contro-
le do processo de eutrofização. O objetivo inicial desses processos era remover o nitrato presente
nos efluentes secundários, e o dois primeiros conceitos desenvolvidos para essa finalidade foram
o filtro de desnitrificação com fluxo descendente, patenteado pela empresa Dravo Corporation
em 1973 (WERF, 2010), e um reator biológico anóxico com leito fluidizado (Jeris et al., 1974). A
primeira unidade em grande escala utilizando o reator anóxico com leito fluidizado foi instalada no
início da década de 1980, na Truckee Meadows Water Reclamation Facility, unidade de tratamento
de esgotos e reúso de água, próxima a cidade de Reno, em Nevada, EUA, após um filtro percolador
utilizado para nitrificação (Sedlak, 1991). Desde então, um grande número de sistemas anóxicos
com crescimento aderido para desnitrificação foi desenvolvido e comercializado por vários forne-
cedores. Esses sistemas incluem filtros com fluxo ascendente e descendente, um biorreator com
leito móvel anóxico e um contator biológico rotativo submerso, também anóxico.
Os filtros para desnitrificação são incluídos em uma categoria geral de filtros biológicos ativos
na publicação MOP 35, da Water Environmental Federation, sobre reatores de biofilme (WEF,
2011). A terminologia para filtros biológicos ativos adotada nesse documento também inclui os fil-
tros biológicos aerados (FBAs), que foram apresentados e discutidos na Seção 9–6. Todos os tipos
de FBAs apresentados na Tabela 9–16, na Seção 9–6, são transformados em filtros de desnitrifica-
ção eliminando-se a injeção de ar de processo e alimentando os mesmos com um afluente contendo
nitrato e uma fonte externa de carbono.
Como no caso dos FBAs, os filtros de desnitrificação são diferenciados pelo sentido de es-
coamento do efluente e por características do meio suporte, sendo caracterizados como (1) fluxo
descendente com meio suporte fixo (Fig. 9–27a), (2) fluxo ascendente com meio suporte fixo (Fig.
9–27b) e (3) fluxo ascendente com meio suporte suspenso (Fig. 9–27c). Além disso, um quarto
tipo de filtro de desnitrificação é o filtro de areia com contralavagem contínua, apresentado na
Fig. 9–27(d). Os filtros de areia com fluxo descendente e contralavagem contínua, utilizados para
remoção de sólidos, são apresentados na Seção 11–3, no Capítulo 11. No filtro anóxico com con-
tralavagem contínua, o efluente é alimentado pela parte superior, sendo conduzido até a sua base
por uma tubulação e distribuído radialmente, para, então, passar através do meio suporte em senti-
do ascendente para tratamento. Um sistema de airlift, localizado em uma coluna central no filtro,
promove a contralavagem contínua do meio suporte, não sendo necessário interromper a operação
do filtro, ao contrário do que ocorre com outros filtros para desnitrificação, que devem ter a sua
operação interrompida para realizar a contralavagem do meio suporte.
O sistema AnoxMBBR (Fig. 9–27e), apresentado na Seção 9–5, é utilizado em regiões pré-
-anóxicas e pós-anóxicas em um sistema MBBR para remoção biológica de nitrogênio e como
um processo de desnitrificação pós-anóxico após o tratamento secundário de efluentes ou na nitri-
ficação terciária (Tabela 9–13). O sistema AnoxRBLF (Fig. 9–27f) utiliza um meio suporte com
partículas muito menores, apresentando a maior superfície específica entre os sistemas de desnitri-
ficação biológica com crescimento aderido.
Necessidade de carbono. Uma fonte de carbono dever ser adicionada ao afluente dos reatores
pós-anóxicos com crescimento aderido, sendo necessária para possibilitar o crescimento biológico
e criar uma demanda para nitrito/nitrato como aceptores de elétrons. A utilização de nitrato ou ni-
FIGURA 9–27 Processos com crescimento aderido utilizados para desnitrificação biológica. Filtros de desnitrificação (FDNs):
(a) fluxo descendente com meio fixo, (b) fluxo ascendente com meio fixo, (c) fluxo ascendente com meio suspenso e (d) filtro de
areia com contralavagem contínua. Processos de desnitrificação com meio suporte suspenso: (e) biorreator anóxico com leito
móvel (AnoxMBBR) e (f) reator anóxico com leito fluidizado (AnoxRBLF).
1016 P Capítulo 9 Processos biológicos de tratamento com crescimento aderido e combinados
trito como aceptores de elétrons pelas bactérias heterotróficas para consumo do substrato orgânico,
com a produção de nitrogênio gasoso, foi discutida nas Seções 7–10 e 8–7 para sistemas anóxicos
com crescimento em suspensão. O metanol é a fonte exógena de carbono mais comumente utiliza-
da para desnitrificação pós-anóxica, em função do baixo custo por unidade de N-nitrato removida e
da baixa produção de sólidos. Contudo, outras fontes de carbono, como o etanol e glicerol (gliceri-
na), têm sido consideradas para a desnitrificação pós-anóxica com crescimento aderido.
Condições do afluente de alimentação. As condições típicas do afluente de alimentação do pro-
cesso pós-anóxico com crescimento aderido devem considerar dois cenários: (1) o afluente é pro-
veniente de um sistema de lodos ativados com remoção biológica de nitrogênio e apresenta uma
concentração de N-NOx (N-NO3 e N-NO2) abaixo de 10 mg/L e (2) o afluente é proveniente de um
sistema de tratamento com crescimento aderido com nitrificação, e a concentração de N-NOx varia
entre 20 e 35 mg/L. Muitas das aplicações para o tratamento do afluente da categoria (1) também
exigem que a concentração de SST seja baixa, possibilitando que o filtro para desnitrificação seja
utilizado tanto para a remoção de N-NOx como de SST, com a obtenção de um efluente final com
baixas concentrações de nitrogênio total e SST. Em condições mais restritivas em relação à concen-
tração final de N-total, menor que 3,0 mg/L, é necessário filtrar o efluente. Para a categoria (2), uma
maior quantidade de carbono deverá ser adicionada ao reator de desnitrificação pós-anóxico, o que
resultará em uma maior taxa volumétrica de desnitrificação e em uma maior produção de biomassa.
Os processos AnoxMBBR e AnoxRBLF podem suportar maiores cargas de nitrato e carbono, mas o
efluente resultante, em geral, requererá um polimento para a remoção de sólidos em suspensão.
Desempenho. A avaliação do desempenho de sistemas de desnitrificação pós-anóxico, com cres-
cimento em suspenção, foi feita a partir da análise dos resultados obtidos em três anos de opera-
ção de quatro instalações de grande porte para possibilitar um tratamento estatístico dos dados.
A mediana das concentrações de N-total no efluente final foi menor que 1,0 mg/L. No total, 90%
das amostras apresentaram concentrações de N-total variando entre 2,7 e 4,2 mg/L nas diferentes
instalações (Bott e Parker, 2010).
Desnitrificação pré-anóxica com crescimento aderido. Os processos com crescimento
aderido utilizados para desnitrificação pré-anóxica incluem o uso de: (1) filtros percoladores (Nasr
et al., 2000 e Dorias e Baumenn, 1994), (2) filtros de desnitrificação (Ninassi et al., 1998) e (3)
sistemas MBBRs (Lazarova et al., 1998). Como apresentado nos itens “e” e “g” da Tabela 9–13,
Seção 9–5, um AnoxMBBR pode ser utilizado para remoção pré-anóxica de nitrato em um sistema
do tipo MLE ou Bardenpho.
Outros exemplos de sistemas para nitrificação pré-anóxica com crescimento aderido são apre-
sentados na Fig. 9–28. No primeiro caso (Fig. 9–28a), um processo com crescimento aderido é uti-
lizado para desnitrificação utilizando o material orgânico do efluente primário com doador de elé-
trons para a redução de N-NOx presente na corrente de recirculação do processo de nitrificação com
crescimento aderido a jusante. A taxa de recirculação é de 3 a 4 em relação à vazão afluente, e a
eficiência de remoção de nitrogênio é similar à obtida pelo sistema MLE, utilizado para a remoção de
nitrogênio do efluente de um sistema de lodos ativados (Seção 8–7). Uma carga de N-nitrato de 1,0 a
1,5 kg/m3·d e taxa de aplicação hidráulica de 20 a 30 m/h são utilizadas para o processo de nitrifica-
ção pré-anóxica em sistemas com fluxo ascendente e meio suporte fixo (Ninassi et al., 1998). As altas
taxas de recirculação aumentam o consumo de energia para bombeamento.
No segundo caso (Fig. 9–28b), o efluente nitrificado em um filtro percolador é recirculado
para a alimentação do sistema pré-anóxico com crescimento em suspensão (Melhart, 1994). Um
clarificador intermediário é utilizado para separar e recircular o lodo presente no liquor misto do
reator pré-anóxico. A vazão de recirculação necessária para o fornecimento de nitrato ao reator
pré-anóxico tem um impacto significativo no tamanho do clarificador secundário e no consumo de
energia para bombeamento do efluente do clarificador intermediário para o filtro percolador e, com
isso, no custo de implantação e de operação do sistema.
Exemplos da conversão de sistemas de tratamento efluentes por filtros percoladores em sis-
temas para remoção de nitrogênio são apresentados na literatura (Nasr et al. 2000; Dorias e Bau-
menn, 1994). A recirculação do efluente de um filtro percolador de segundo estágio foi feita para
um filtro percolador pré-anóxico de primeiro estágio, com meio suporte submerso ou com cober-
9–7 Processos de desnitrificação com crescimento aderido P 1017
Recirculação
Clarificador Clarificador
primário Clarificador
primário
Efluente intermediário Filtro
Afluente Afluente
Anóxico Aeróbio Anóxico percolador
Secundário
FIGURA 9–28 Exemplos de processos pré-anóxicos com crescimento aderido: (a) filtros sequenciais com fluxo ascendente para
desnitrificação-nitrificação biológica, (b) recirculação de efluente de um filtro percolador com nitrificação para um processo pré-
-anóxico com crescimento em suspensão.
1018 P Capítulo 9 Processos biológicos de tratamento com crescimento aderido e combinados
TABELA 9–19 Faixas de carga para sistemas pós-anóxicos com crescimento aderido
b
EBCT Tempo de contato para o leito vazio.
hidráulica e objetivos dos tratamentos. O desempenho de alguns filtros para desnitrificação pós-anóxi-
cos em função do EBCT foi avaliado por deBarbadillo et al. (2005). Com base nos dados obtidos em
14 locais de teste, foi verificado que era possível obter uma eficiência de remoção de N-nitrato superior
a 90% para EBCTs de 10 minutos ou mais. Além disso, dados de desempenho de filtros de desnitrifi-
cação com fluxo ascendente em escala-piloto, operando com contralavagem contínua, foram avaliados
com base em um modelo cinético de difusão de ordem ½ em reator com fluxo pistonado, desenvolvido
por Harremöes (1976), representado pela Eq. (9-53), e aplicado por Hultman et al. (1994).
NO(1/2)
e NOo(1/2) (1/2)kDN(EBCT) (9–53)
(9–54)
Combinando-se as Eq. (9–53) e (9–54), a carga volumétrica de N-nitrato pode ser relacionada
com as concentrações afluente e efluente de N-NO3 e a constante cinética:
(9–55)
Um valor de 0,36 mg/Lⴢmin, para a constante cinética, foi obtido por deBarbadillo et al. (2005) a
partir dos resultados obtidos em uma unidade em escala-piloto, operando com uma carga volumé-
trica de 1,6 kg N-NO3/m3·d, no limite de desempenho do sistema.
As cargas volumétricas de N-nitrato em função da concentração de N-nitrato no efluente e con-
centrações de N-nitrato no afluente, variando entre 10 e 30 mg/L, foram calculadas utilizando-se a
Eq. (9–55) e um valor de kDN igual a 0,36 mg/L·min. Os resultados são apresentados na Fig. 9–29.
Uma concentração de 1,0 mg/L pode ser obtida com uma carga volumétrica de N-nitrato variando
entre 1,2 e 1,7 kg N-NO3/m3·d, a qual está dentro da faixa de variação das cargas apresentadas na Ta-
bela 9–19. Os EBCT calculados para as mesmas condições são apresentados na Fig. 9–30. O EBCT
de 12 min para uma concentração de 1,0 mg N-NO3/L no efluente está de acordo com as observa-
ções feitas por deBarbadillo et al. (2005) de que uma eficiência de remoção de nitrato de 90% pode
ser obtida utilizando-se um EBCT de 10 minutos ou mais. Para um filtro de desnitrificação com leito
9–7 Processos de desnitrificação com crescimento aderido P 1019
3,0
N-NO3 = 10 mg/L
N-NO3 = 20 mg/L
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0
N-NO3 no efluente, mg/L
FIGURA 9–29 Carga volumétrica de nitrato (kg N-NO3/m3·d) em filtros para desnitrificação em função
da concentração de N-NO3 para concentrações de N-NO3 no afluente variando de 10 a 30 mg/L (com
base no modelo cinético proposto por Harremöes [1976]).
30
N-NO3 = 10 mg/L
N-NO3 = 20 mg/L
25
N-NO3 = 30 mg/L
20
EBCT, minutos
15
10
0
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0
Concentração de N-NO3 no efluente, mg/L
FIGURA 9–30 Tempo de contato para o leito vazio (EBCT) no filtro de desnitrificação em função da
concentração de N-NO3 no efluente, para uma concentração de N-NO3, no afluente, variando de 10 a
30 mg/L (baseado no modelo cinético proposto por Harremöes (1976).
1020 P Capítulo 9 Processos biológicos de tratamento com crescimento aderido e combinados
TABELA 9–20 Parâmetros de contralavagem de filtros de desnitrificação pós-anóxicos com crescimento aderidoa
Duração
Taxa de aprox. da % aprox. de água para
contralavagem, Taxa de ar de contralavagem contralavagem, % da vazão
Tipo de sistema m/h arraste, m/h com água, min de alimentaçãob
Fluxo descendente e meio fixo 18 90 15 4,7
Fluxo ascendente e meio fixo 20 97 10 3,5
Fluxo ascendente e meio flutuante 55 12 12 11,4
Contralavagem contínua 0,4 airlift contínua 10
a
Adaptado de WERF (2010).
b
Baseada na taxa de aplicação hidráulica de 4 m/h.
Solução
1. Calcule as dimensões do filtro de desnitrificação.
a. Calcule as dimensões do filtro com base na carga de nitrogênio (NL), Eq. (9–55):
Á
9–7 Processos de desnitrificação com crescimento aderido P 1023
532,5 m3/d
Cálculo da porcentagem de água utilizada para os pulsos de remoção de nitrogênio
gasoso:
(continuação)
DQO
DQO
adicione 10% para a concentração de OD e N-NO2 no afluente
filtro
filtros
Comentário
Como o valor de armazenagem de sólidos está bem abaixo de 4,0 kg SST/m3, a operação de
contralavagem pode ser necessária apenas uma vez a cada 1,5 dia. Contudo, para preservar o
filtro, recomenda-se a contralavagem diária (Seção 11–4, no Capítulo 11).
9–8 Sistemas emergentes com biofilme P 1025
9–5 Os dados de projeto para efluentes domésticos são apresentados na tabela a seguir (efluente 1, 2 ou 3,
a ser definido pelo professor):
Efluente
Utilizando as informações dadas e assumindo uma remoção de DBO, no clarificador primário, igual
a 30%, um enchimento com material plástico com superfície específica de 100 m2/m3 e 6,1 m de
profundidade e um valor de n igual a 0,50, calcule os parâmetros de projeto para um sistema de trata-
mento com filtro percolador relacionados a seguir:
a. Diâmetros dos clarificadores primário e secundário, m
b. Diâmetro do filtro percolador, m
c. Volume de enchimento, m3
d. Taxa de recirculação, caso necessário
e. Vazão total de bombeamento, m3/h
f. Dosagens para operação normal e lavagem, mm/passagem
9–6 Calcule o diâmetro e o volume de enchimento de dois filtros percoladores, com meio suporte plástico,
com 4,0 m de profundidade, operando em série, para tratamento de um efluente doméstico com as ca-
racterísticas e os requisitos apresentados. Adote meio suporte em plástico com fluxo vertical (Tabela
9–2) com superfície específica de 102 m2/m3.
9–7 Um filtro percolador com 18 m de diâmetro, com meio suporte convencional em material plástico,
6,1 m de profundidade e superfície específica de 100 m2/m3, trata um efluente primário com vazão
de 7.600 m3/d. A DBO do efluente primário é de 100, 120 ou 150 mg/L (valor a ser definido pelo
professor), e a temperatura do efluente é 18°C. A temperatura do ar varia de 2 a 23°C. O fator de pico
da carga de DBO é de 1,5. Adote um fator de 1,5 na Eq. (9–10) para levar em consideração as perdas
de carga na entrada e na saída do filtro. Com esses dados, calcule:
a. A necessidade de oxigênio, kg/h
b. A vazão de ar na maior temperatura de operação, m3/min
c. A perda de carga no meio suporte decorrente do escoamento de ar, Pa
9–8 Dois filtros percoladores de 20 m de diâmetro e meio suporte plástico convencional (superfície específica
de 100 m2/m3) e 6,1 m de profundidade recebem o efluente de um clarificador primário, com uma vazão
média de 11.200 m3/d. A concentração de NKT é de 24 mg/L, e o valor da DBO é de 150, 130 ou 120
mg/L (valor a ser especificado pelo professor). A temperatura do efluente é de 18°C. Avalie a carga de
DBO do filtro percolador e calcule a eficiência de remoção de nitrogênio resultante da nitrificação.
9–9 Compare o projeto de um filtro percolador alternativo ao projeto do sistema de lodos ativados apre-
sentado no Exemplo 8–3, considerando: (a) remoção de DBO, (b) remoção de DBO e nitrificação
combinada e/ou (c) remoção de DBO seguida de nitrificação terciária (a ser selecionado pelo pro-
fessor). Utilize as mesmas características do efluente e a mesma temperatura. Elabore uma tabela de
resumo comparando: (1) o volume total das unidades de tratamento biológico, (2) a área necessária
para a instalação das unidades de tratamento biológico, (3) a área superficial do clarificador secundá-
rio e (4) o consumo mensal de energia em kW.h para os processos secundários de tratamento. Adote:
a. Profundidade do meio suporte do filtro percolador, 6,1 m
b. Superfície específica do meio suporte, 100 m2/m3 para remoção de DBO e remoção de DBO/
nitrificação combinada e 138 m2/m3 para nitrificação terciária
c. DBO do efluente final do filtro percolador, 25 mg/L
d. Concentração de N-NH4 no efluente final, 1,0 mg/L
e. Taxa de recirculação no filtro percolador, 0,50
f. Quantidade de NKT afluente utilizada para crescimento de bactérias heterotróficas no filtro per-
colador, 8,0 mg/L
g. Profundidade do tanque de aeração, 5 m
h. A quantidade de energia para o soprador do sistema de lodos ativados, considerando-se as perdas
de carga na tubulação e a submersão dos difusores, é de 1,80 kW por m3/min de vazão de ar.
i. O consumo de energia no filtro percolador para bombeamento é de 1,58 kW por 1.000 m3/d.
9–10 Elabore uma tabela para comparar as vantagens e as limitações de um filtro percolador tipo torre, com
meio suporte em material plástico, com um sistema de lodos ativados, considerando a área necessária
para instalação, facilidade de operação, características de sedimentação do lodo, demanda de energia,
manutenção, flexibilidade de tratamento, confiabilidade do processo de nitrificação, potencial para
emissão de maus odores e potencial para remoção futura de nitrogênio e fósforo.
9–11 Um filtro percolador tipo torre, com 20 m de diâmetro, utilizando meio suporte com 5 m de profun-
didade, em material plástico de alta densidade com superfície específica de 138 m2/m3, é utilizado
para nitrificação terciária. A vazão afluente é de 37.000, 39.000 ou 41.000 m3/d (valor a ser definido
pelo professor), e a concentração de N-NH4 é de 20 mg/L. Admitindo que o fluxo de nitrificação,
JN,max, é de 1,8 g/m2·d (Tabela 9–7), e o valor de KN é de 1,5 g/m3, compare a concentração de N-NH4
(mg/L), no efluente do filtro, considerando a operação sem recirculação e com uma taxa de recir-
culação de 100%. Qual é a razão para não se utilizar um separador gravitacional para o efluente do
filtro percolador?
9–12 Um sistema FP/LA é utilizado para o tratamento de uma corrente resultante da mistura de efluentes
doméstico e industrial que foi submetida a um processo de clarificação primária. As características do
efluente resultante é apresentada na sequência. Considerando-se os parâmetros de projeto indicados,
compare o efeito no dimensionamento do meio suporte plástico do filtro percolador, considerando-se
remoções de DBO de 40 e 80%, calculando:
a. Diâmetro do filtro percolador (m) e taxa de aplicação hidráulica em L/m2·s
b. Demanda de oxigênio no tanque de aeração do sistema de lodos ativados, kg/d
Problemas e tópicos de discussão P 1029
9–19 Dimensione um sistema MBBR para o tratamento de um afluente a 18°C com as mesmas caracterís-
ticas, nas mesmas condições e com as mesmas hipóteses utilizadas no Exemplo 9-8. Apresente uma
tabela com os dados para comparação dos resultados nas temperaturas de 12 e 18°C.
9–20 Dimensione um FBA com crescimento em suspensão e fluxo ascendente somente para a remoção de
DBO (adote um meio suporte em suspensão), de maneira a obter um efluente final com DBO de 20
mg/L ou menor. Utilize as características e a vazão do efluente dadas no Exemplo 9–8 e uma DBO
solúvel de 80 mg/L. Adote a profundidade do leito não expandido igual a 2 m e a taxa de aplicação
hidráulica de 6,0 m/h. Dimensione o sistema com a utilização de quatro unidade em operação e uma
reserva. Apresente um resumo do projeto, incluindo: (a) o volume do reator em m3 e o tempo de de-
tenção hidráulico equivalente em horas, (b) as dimensões de cada FBA, adotando filtros com seção
quadrada, (c) a demanda de oxigênio em kg/d, (d) a taxa de aplicação de ar por unidade de tratamento
em m3/min, (d) a taxa de produção de lodo em kg SST/d, (f) a quantidade de água de contralavagem
utilizada diariamente em cada filtro, expressa em m3/d, e (g) a concentração de sólidos suspensos na
água de lavagem, em mg/L. Adote as seguintes hipóteses:
Carga de DBO de 3,5 kg DBO/m3·d (Tabela 9–17)
Eficiência real de transferência de oxigênio de 6,0% (Tabela 9–18)
Fração destruída de SSV do afluente igual a 0,25
Tempo de contralavagem de 15 min/d e taxa de aplicação na contralavagem de 40 m/h
9–21 Um efluente secundário apresenta as seguintes características:
Dimensione um filtro de desnitrificação utilizando meio suporte em areia com profundidade de 1,6 m
para reduzir a concentração de N-NO3 do efluente para 3,0, 2,0 ou 1,0 mg/L (valor a ser indicado pelo
professor). Adotando-se uma taxa de aplicação hidráulica de 4,0 m/h, calcule:
a. O volume do meio suporte no filtro, m3
b. O número e as dimensões dos filtros, adotando-se filtros de seção quadrada com, no máximo,
10 m de lado
c. A dosage de metanol em mg/L e kg/d
d. a quantidade de sólidos produzida, kg/d
As seguintes hipóteses se aplicam:
Síntese de biomassa pela adição do metanol, 0,25 g SSV/g DQOr.
Coeficiente cinético de ordem meio para remoção de nitrato, 0,30 mg/Lⴢmin.
Concentração de SST no efluente final, 5,0 mg/L.
9–22 Para o Exemplo 9–9, admita que, em vez da utilização de metanol, um tipo de glicerol é utilizado
como fonte externa de carbono para o mesmo filtro de desnitrificação que foi dimensionado. Avalie o
efeito dessa nova fonte de carbono sobre: (a) a concentração de N-NO3 no efluente final, (b) a dosa-
gem de carbono requerida em kg/d como glicerol e como DQO, (c) a taxa de produção de sólidos em
kg/d e (d) a capacidade de armazenagem de sólidos em kg/m3 entre as operações de contralavagem
realizadas diariamente. Uma operação de contralavagem por dia é aceitável?
Adote as seguintes hipóteses:
A utilização do glicerol em substituição ao metanol resulta em uma maior taxa de desnitrificação;
com isso, o coeficiente cinético de ordem meio passa a ser de 0,40 mg/L·min.
A síntese de biomassa também é maior, 0,36 g SSV/g DQOr.
A relação entre a DQO e a quantidade de glicerol é de 1,4 g DQO/g glicerol.
1032 P Capítulo 9 Processos biológicos de tratamento com crescimento aderido e combinados
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Processos anaeróbios de
tratamento com crescimento
em suspensão e aderido
REFERÊNCIAS 1091
1038 P Capítulo 10 Processos anaeróbios de tratamento com crescimento em suspensão e aderido
GLOSSÁRIO
Termo Definição
Carga orgânica aplicada (COA) Taxa de aplicação do substrato orgânico (DQO) por unidade de volume do reator
anaeróbio.
Lodo anaeróbio granular Partículas densas, com diâmetro entre 0,50 e 4,0 mm, presentes em reatores anaeróbios
de fluxo ascendente, contendo organismos hidrogenotróficos e metanogênicos agregados.
Metano (CH4) O metano e o dióxido de carbono, juntamente com a biomassa são os principais
subprodutos a base de carbono produzidos pelos processos anaeróbios de tratamento.
Processo anaeróbio com Processo anaeróbio de tratamento no qual a biomassa responsável pela degradação da
crescimento aderido matéria orgânica está aderida a algum tipo de meio suporte. O meio suporte pode ser
fixo, expandido ou fluidizado. Quando um meio fixo é utilizado, o escoamento pode ser
ascendente ou descendente.
Processo anaeróbio com Reator anaeróbio completamente misturado, que contém uma suspensão com organismos
crescimento em suspensão fermentadores e metanogênicos, além do material particulado do afluente.
Processo anaeróbio com leito Processo anaeróbio com fluxo ascendente, no qual o meio suporte, geralmente areia, é
expandido expandido, mas não fluidizado, pelo escoamento ascendente do afluente.
Processo anaeróbio com leito Processo anaeróbio com fluxo ascendente que opera de forma similar ao processo com
fluidizado leito expandido, mas o meio suporte está completamente fluidizado pelos escoamento
ascendente do afluente.
Processo anaeróbio com manto Processo no qual o afluente é distribuído pelo fundo de um reator anaeróbio, com
de lodo escoamento ascendente, através de uma região com um manto de lodo, a qual contém o
lodo anaeróbio granular.
Processo anaeróbio com Processo anaeróbio de tratamento em suspensão no qual uma membrana sintética é
separação por membranas utilizada para separação sólido/líquido para obter um efluente final altamente clarificado.
Processo anaeróbio em lagoas Lagoas cobertas com impermeabilização do fundo, tipicamente utilizadas para o
com cobertura tratamento de efluentes industriais com alta carga orgânica, tais como efluentes da
indústria de processamento de carnes.
Processo com manto de lodo Processo anaeróbio com manto de lodo, com velocidades ascensionais superiores às
granular expandido (EGSB) utilizadas nos reatores UASB.
Processo de tratamento anaeróbio Qualquer processo biológico de tratamento que opere sem o uso de oxigênio, livre ou
combinado.
Reator anaeróbio de fluxo Nome dado ao primeiro e mais utilizado processo anaeróbio com manto de lodo.
ascendente com manto de lodo
(UASB)
Reatores anaeróbios em batelada Processo anaeróbio com crescimento em suspensão, com degradação da matéria orgânica
sequenciais e separação sólido/líquido no mesmo tanque, similar aos reatores aeróbios em batelada
sequenciais (SBR).
Sulfeto de hidrogênio (H2S) Gás tóxico com mau odor formado em condições anaeróbias. Os compostos contendo
enxofre, presentes no afluente, são aceptores de elétrons para as bactérias redutoras de
sulfato, as quais consomem a matéria orgânica e produzem sulfeto de hidrogênio (H2S).
Tempo de retenção de sólidos Período médio de tempo em que os sólidos permanecem no reator biológico.
(TRS)
Toxicidade por amônia Amônia não ionizada (NH3), em concentrações suficientemente altas, é considerada tóxica
para organismos metanogênicos acetoclásticos.
orgânicos presentes em efluentes residenciais e industriais, (5) digestão anaeróbia de lodos e (6)
digestão anaeróbia de outros efluentes orgânicos.
Os processos anaeróbios para tratamento de efluentes incluem os sistemas com crescimento
em suspensão, com fluxo ascendente e descendente, crescimento aderido em leito fluidizado, fluxo
ascendente em manto de lodo, lagoas, crescimento em suspensão com separação por membranas e
muitos outros processos patenteados. A finalidade deste capítulo é apresentar e descrever os prin-
cipais processos anaeróbios, abordando aspectos relacionados às suas potenciais aplicações e a pa-
râmetros para dimensionamento, excluindo o processo convencional de digestão anaeróbia, o qual
é abordado no Capítulo 13. Antes de uma apresentação individual dos processos anaeróbios de tra-
tamento, é importante abordar os conceitos para a utilização de sistemas anaeróbios de tratamento,
a evolução das tecnologias de tratamento anaeróbio, as principais aplicações nos setores público e
privado e as considerações sobre a aplicação dos sistemas anaeróbios para tratamento de efluentes.
(a) (b)
FIGURA 10–1 Processo combinado de tratamento de efluentes utilizando lagoas anaeróbias e aeró-
bias: (a) vista aérea de uma lagoa anaeróbia com cobertura, mostrada na área circulada. Os pontos
brancos mostram a plume produzida pelos aeradores flutuantes, tipo turbina (Coordenadas 37,9788 S,
144,6417 E). (b) Vista da estrutura de alimentação, com as instalações de recuperação de gases em pri-
meiro plano e cobertura com membranas flutuantes e aeradores flutuantes ao fundo.
10–2 Desenvolvimento das tecnologias de tratamento anaeróbio P 1041
e do pH para manter um balanço entre a produção de ácidos graxos voláteis por acidogênese e a
atividade dos organismos metanogênicos.
Necessidade de adição de alcalinizante. O fator negativo mais significante que pode afetar
o desempenho econômico do processo anaeróbio, em comparação ao aeróbio, está relacionado à
necessidade da dosagem de alcalinizante. Para possibilitar a operação em um pH adequado para se
obter uma elevada concentração de CO2 no gás produzido, a alcalinidade deve ser de, pelo menos,
2.000 a 3.000 mg/L como CaCO3. Se o afluente ao sistema não apresenta essa alcalinidade, ou se a
mesma não pode ser produzida no reator por meio da degradação de proteínas e aminoácidos, será
necessário fazer a adição de um alcalinizante, aumentando os custos do tratamento e comprome-
tendo o seu desempenho econômico.
Necessidade de tratamento adicional (pós-tratamento). O efluente resultante do tratamen-
to pelos processos anaeróbios pode apresentar um valor de DBO variando de 50 a 150 mg/L devido à
presença de ácidos graxos voláteis residuais e de sólidos dispersos. Assim, pode ser necessária a utili-
zação de um processo complementar de tratamento aeróbio para o polimento do efluente, obtendo-se,
assim, os benefícios dos dois processos. A utilização de reatores anaeróbios-aeróbios em série tem se
mostrado viável para o tratamento de esgotos domésticos tanto em regiões de clima temperado como
tropical, resultando em menor consumo de energia e menor produção de lodo (Lew et al., 2003; Chong
et al., 2012). Mais recentemente, como será discutido nas próximas seções, vários sistemas integrados,
combinando os processos anaeróbio e aeróbio em um único reator, foram desenvolvidos.
Síntese da avaliação
Em geral, para o tratamento de esgotos domésticos com baixas concentrações de matéria orgânica
biodegradável, regiões com baixas temperaturas, necessidade de um efluente de alta qualidade e re-
moção de nutriente, os processos aeróbios de tratamento são os recomendados na atualidade. Para
efluentes industriais que apresentam elevadas concentrações de matéria orgânica biodegradável e
se encontram em regiões com temperaturas mais elevadas, os processos anaeróbios podem apresen-
tar melhor desempenho econômico. No futuro, com os possíveis avanços nos processos anaeróbios
de tratamento, espera-se que o seu uso seja expandido, considerando-se as vantagens relacionadas
a um menor consumo de energia e a uma menor produção de lodo.
Período Evento
Primeiros passos
1852 Henry Austin, na Inglaterra, projetou e construiu um tanque que permitia o acúmulo de uma camada de material
sólido no fundo e de escuma no topo, com a fração líquida sendo retirada entre essas camadas. Similar aos
atuais tanques sépticos (Kinnicutt et al., 1913).
1881 Jean-Louis Mouras obteve uma patente, na França, de um “digestor automático – um poço de dejetos automático
e sem emissão de odores” para tratamento anaeróbio de esgotos, desenvolvimento que se tornou um dos
primeiros sistemas de tratamento de esgotos (Fig. 10–1a). Talvez a primeira iniciativa proposital para liquefazer
lodos (Moigno, 1881 e1882; Kinnicutt et al., 1913).
1887 O primeiro tanque Dortmund foi projetado e construído por Kniebuhler na Alemanha. A vantagem do tanque
Dortmund foi a possibilidade de remover o lodo sem interrupção da operação. Os tanques Dortmund ainda são
utilizados (Fig. 10–1b) (Kinnicutt et al., 1913).
1887 Construção da Estação Experimental de Lawrence, às margens do rio Merrimac, na cidade de Lawrence,
Massachussets, EUA. Em 1890, o primeiro relatório sobre os resultados das atividades desenvolvidas na
estação Lawrence foi publicado, o qual foi considerado por Winslow “o documento mais importante na história
do tratamento de esgotos” (Winslow, 1938).
1887 Um filtro anaeróbio com meio suporte em areia e fluxo ascendente foi construído na Estação Experimental de
Lawrence para o tratamento de efluentes domésticos e operou por, aproximadamente, 14 anos (McCarty, 2001).
1891 Scott-Moncrieff construiu, na Inglaterra, um tanque com dois compartimentos (compartimento inferior para o lodo
e superior para um filtro anaeróbio com meio suporte em brita e fluxo ascendente) para o tratamento anaeróbio
de efluentes domésticos seguido por um filtro percolador aeróbio de bandejas, utilizando coque como meio
suporte (Fig. 10–1c) (Kinnicutt et al., 1913). O sistema completo de tratamento, constituído do filtro anaeróbio
com leito de brita e a unidade de tratamento aeróbio, foi, possivelmente, o primeiro sistema híbrido construído à
época (McCarty, 2001).
Desenvolvimentos para o tratamento de lodos
1895 Em Exeter, na Inglaterra, Donald Cameron instalou uma bacia impermeabilizada, com cobertura, para o
tratamento anaeróbio de efluentes, dispositivo denominado “tanque séptico” (Fig. 10–1d) (Kinnicutt et al.,
1913).
1899 H. W. Clark, na Estação Experimental de Lawrence, verificou que o lodo deveria ser fermentado em um tanque
separado. Assim, as lagoas de lodo passaram a ser utilizadas (Imhoff, 1938; Winslow, 1938).
1904 Travis desenvolveu um tanque com dois compartimentos para a liquefação de lodos (Fig. 10–1e). No projeto
original, aproximadamente 1/6 da vazão de alimentação passava pela câmara inferior (Kinnicutt et al., 1913).
Em outra configuração, o efluente era direcionado para filtros anaeróbios (Fig. 10–1f).
1906 Dr. Karl Imhoff, na Alemanha, patenteou um dispositivo de tratamento de efluente (o Tanque Imhoff), utilizado
para tratamento anaeróbio de efluentes, com separação de sólidos da fase líquida, antes do descarte do
efluente (Fig. 10–1g). O tanque Imhoff foi baseado no trabalho desenvolvido por Travis, mas evitando a
passagem do efluente pela câmara de liquefação (Imhoff, 1938).
1909–1913 A produção de gás combustível pela fermentação metanogênica de caixas de fibra de celulose foi demonstrada
em escala real na Holanda em 1909. O gás produzido foi utilizado para geração de energia. A utilização do
gás produzido em reatores anaeróbios ocorreu em uma unidade de tratamento de efluentes de indústrias de
laticínios e abatedores em 1912 e em uma estação de tratamento de esgotos em 1914. Tanto coberturas fixas
como móveis foram utilizadas para a contenção do gás (Kessener, 1938).
1914 Realização dos primeiros experimentos para coleta de gás e uso para aquecimento em Emschergenossenschaft,
na Alemanha (Imhoff, 1938).
1915 Experimentos relacionados ao aquecimento de reatores anaeróbios foram desenvolvidos na Holanda para
aumentar a produção de gás (Kessener, 1938).
1927 Ruhrverband, uma associação alemã para gerenciamento da água, construiu um tanque de digestão aquecido
em Essen—Rellinghausen para digestão anaeróbia do lodo produzido na estação, utilizando o gás produzido
para geração de energia e aquecimento (Imhoff, 1938).
1929 Foi construído, na Holanda, um digestor anaeróbio retangular, com pás instaladas ao longo de um eixo
horizontal, para agitação e quebra da escuma formada (Kessener, 1938).
(continua)
10–2 Desenvolvimento das tecnologias de tratamento anaeróbio P 1043
Período Evento
1930 e Buswell, da Illinois State Water Survey, iniciou a publicação de uma série de relatórios sobre os fundamentos da
1932 digestão anaeróbia de sólidos (Buswell e Neave, 1930; Buswell e Boruff, 1932).
1950 Stander, na África do Sul, demonstrou os benefícios da separação, em uma unidade independente, dos sólidos
produzidos em um sistema anaeróbio em escala real, retornando os mesmo para o reator de digestão (Stander,
1950; Standar e Snyders, 1950).
Início da Morgan e Torpey demonstraram, com o desenvolvimento de suas pesquisas, o aumento do desempenho do processo
década de anaeróbio de tratamento promovendo a mistura dos biossólidos no digestor (Morgan, 1954; Torpey, 1954).
1950
Desenvolvimentos para o tratamento de efluentes com alta carga orgânica
1955 Schroepfer e colaboradores estiveram envolvidos na aplicação do primeiro processo anaeróbio de contato de
grande porte para tratamento do efluente de uma unidade de embalagem de carne em Minnesota (Schroepfer et
al., 1955).
1969 Young e McCarty desenvolveram o filtro anaeróbio para crescimento aderido de biomassa (filme fixo) para o
tratamento de efluentes com elevada carga orgânica (Young e McCarty, 1969; Young, 1991).
1978 Grethlein avaliou o tratamento anaeróbio de um efluente utilizando um tanque séptico combinado com um
sistema externo de separação por membranas com fluxo tangencial (Grethlein, 1978).
Final da Lettinga desenvolveu o processo anaeróbio de fluxo ascendente com manto de lodo (UASB) (Fig. 10–1h)
década de utilizando o efluente de uma indústria de produção de açúcar de beterraba (Lettinga et al., 1980). O seu
1970, início trabalho, associado aos processos anaeróbios, serviu de base para o desenvolvimento de diversas tecnologias
da década comerciais para o tratamento de efluentes, principalmente aqueles com alta carga orgânica (ver Tabela 10–3).
de 1980
1980 Switzenbaum e Jewell desenvolveram o processo anaeróbio com leito fluidizado, particularmente útil para o
tratamento de efluentes com alta carga orgânica (Switzenbaum e Jewell, 1980).
a
Adaptado, em parte, de Totzke (2012), McCarty (2001), Metcalf & Eddy (1915).
possivelmente, a primeira tentativa para liquefação de lodo. No tanque Dortmund (Fig. 10–2b), o
lodo pode ser liquefeito, e o material residual pode ser removido sem a interrupção do processo de
tratamento. No sistema Scott-Moncrieff (Fig. 10–2c), o primeiro tanque foi denominado “tanque
de liquefação”. Em relação à Fig. 10–2(c), o efluente entra no primeiro compartimento, que fun-
ciona simultaneamente como sedimentador e separador de gordura, e deste segue para a câmara
abaixo do filtro anaeróbio de brita. Dessa câmara, o efluente flui, em sentido ascendente, através do
filtro anaeróbio de brita. As bactérias aderidas no meio suporte promovem a liquefação do material
contido no efluente que passa através do leito. O efluente que sai pela parte superior do meio supor-
te é distribuído por dispositivos (baldes) inclinados sobre a parte superior de um filtro de bandejas,
aproximadamente nove, contendo coque. O reator com meio suporte em brita é anaeróbio, e o filtro
de bandejas é aeróbio. O tempo necessário para o efluente do reator anaeróbio passar através das
nove bandejas é de, aproximadamente, 10 minutos.
Afluente
Porta de acesso
Efluente
Afluente Efluente
Lodo
Corrente
Porta de Porta de
acesso inspeção
Afluente Baldes
inclinados
Bandejas Afluente Efluente
com
coque
Câmara Filtro
Câmara de Observação
de brita Afluente remoção de areia
(c) (d)
Aproximadamente 20%
do afluente flui pela Câmara de
câmara de lodo sedimentação
Câmara de Placas inclinadas
sedimentação Efluente
Afluente
Câmara Câmaras
Câmara
de lodo Tanque de Tanque de de hidrólise
de lodo
hidrólise hidrólise
(e) (f)
Sem circulação
de afluente pela
câmara de lodo Câmara de
digestão de lodo Afluente Manto de lodo
(g) (h)
FIGURA 10–2 Evolução da tecnologia de tratamento anaeróbio de efluentes com os diagramas de processo: (a) digestor auto-
mático de Mouras (1881), (b) tanque Dortmund (1887), (c) tanque de dois estágios de Scott-Moncrieff (1891), (d) tanque séptico
de Cameron (1895, primeiro a utilizar a denominação), (e) tanque de Travis com duas câmaras (1904), (f) tanque de Travis com
câmaras de hidrólise (1904), (g) tanque Imhoff (1906) e (h) reator anaeróbio de fluxo ascendente com manto de lodo (1980).
Travis. K. Imhoff, o qual também conhecia a ideia de Clark, verificou que a qualidade do efluente
final era deteriorada quando uma parcela do afluente passava pela câmara de liquefação do tanque
de digestão. Os tanques Imhoff ainda são utilizados nos dias de hoje. Para aumentar a produção de
gás, um trabalho experimental para coleta, combustão e utilização do gás de digestão foi desenvol-
vido na Alemanha e na Holanda no início de 1900. O primeiro digestor aquecido, construído na
Alemanha em 1927, resultou desse trabalho experimental.
da Guerra Mundial, e um trabalho considerável foi desenvolvido na década de 1950 por Stander
(1950), Morgan (1954) e Torpey (1954). Paralelo ao trabalho desenvolvido por Stander, Morgan,
Torpey e outros pesquisadores, os princípios da degradação anaeróbia começaram a ser aplicados
no setor privado em setores específicos, com efluentes com alta carga orgânica e de fácil degrada-
ção. Avanços relevantes na tecnologia de tratamento anaeróbio de efluentes com alta carga orgânica
incluem o trabalho Schroepfer para o tratamento de efluentes das atividades de embalagem de
carne com processo anaeróbio de contator (Schroepher et al., 1955), o desenvolvimento do filtro
anaeróbio por Young e McCarty no final da década de 1960 (Young e McCarty, 1969; Young, 1991)
e o desenvolvimento do reator anaeróbio de fluxo ascendente com manto de lodo por Lettinga e
colaboradores na Universidade de Wageningen, Holanda, na década de 1970 (Lettinga et al., 1980).
O trabalho de Lettinga foi motivado pelas publicações de Young e McCarty e de McCarty.
O reator anaeróbio de fluxo ascendente com manto de lodo (UASB) desenvolvido por Lettinga
na década de 1980 (Fig. 10–2h) representa o avanço mais relevante na tecnologia de tratamento
anaeróbio. O trabalho de Lettinga em reatores UASB e outros processos anaeróbios serviu de base
para o desenvolvimento de muitos processos comerciais que são discutidos neste capítulo. A partir
dos avanços obtidos por Lettinga, vários pesquisadores, engenheiros e fabricantes deram impulso
ao desenvolvimento da tecnologia de tratamento anaeróbio, resultando em um grande número de
fornecedores de equipamentos e em milhares de instalações em grande escala (Totzke, 2012).
Desenvolvimentos futuros
Para a evolução das tecnologias de tratamento anaeróbio, é importante destacar o grande número de ex-
perimentos realizados entre o final do século XIX e início do século XX. Um dos exemplos mais rele-
vante é o modelo em vidro de um tanque de digestão (similar ao apresentado na Fig. 10–2f) construído
por Travis para observar o que ocorria durante o processo de tratamento. As placas de vidro inclinadas,
chamadas de colloiders, na segunda e na terceira câmaras do reator eram usadas para remover o mate-
rial coloidal por interceptação e sedimentação, precursor dos modernos sedimentadores lamelares, ou
tubulares, apresentados no Capítulo 5. É importante observar que a utilização de filtros de brita, coque,
placas e outros materiais é frequentemente citada na literatura a partir do final do século XIX até o
início do século XX. A partir dessa breve revisão, fica evidente que muitos dos processos desenvolvi-
dos no início dos estudos sobre os processos anaeróbios de tratamento ou variantes dos mesmos ainda
estão sendo utilizados. Também é importante reconhecer que, na atualidade, inúmeras pesquisas sobre
a tecnologia de tratamento anaeróbio estão sendo desenvolvidas, mas com foco na compreensão dos
fundamentos bioquímicos, da microbiologia molecular e da fisiologia dos micro-organismos.
TABELA 10–3 Descrição dos principais tipos de tecnologias de tratamento anaeróbio disponíveis comercialmentea
Processo Descrição
(a) Sistema de lagoas anaeróbias com baixa Geralmente, reatores estáticos que empregam biomassa anaeróbia em
carga suspensão e material sólido sedimentado, com tempo de detenção hidráulico
Cobertura e de 20 a 50 dias e TRS médios de 50 a 100 d. Pode tratar diversos tipos de
revestimento com dejetos, incluindo efluentes com materiais sólidos ou solúveis. Projetado para
geomembranas uma carga total de DQO inferior a 2 kg/m3·d. O sistema pode ser coberto
Flutuadores Recuperação com membranas sintéticas para a coleta de gases.
de gás
Afluente
(b) Reator UASB Reator anaeróbio com fluxo ascendente e um manto de lodo com biomassa
Coletor de gás anaeróbia, denso e granular no fundo, com uma bom gradiente de mistura,
submerso promovido pelo fluxo ascendente de efluente e pela produção de biogás.
Biogás
A concentração efetiva do lodo anaeróbio no reator pode variar de 35 a
Efluente
40 kg/m3. Um separador sólido/líquido-gás na parte superior do reator
possibilita a separação dos sólidos granulares do efluente e a coleta do
biogás produzido. O manto de lodo possibilita um TRS superior a 30 dias
com tempos de detenção hidráulico variando entre 4 e 8 h. Projetados para
Afluente Manto de lodo operar com carga de DQO de 5 a 20 kg/m3·d. As velocidades ascensionais
podem variar de 1 a 6 m/h em reatores com altura entre 5 e 20 m.
(c) Reator EGSB O reator EGSB é uma variante do reator UASB, no qual utilizam-se uma
Biogás relação altura/diâmetro e a velocidade ascensional do efluente superiores
àquelas utilizadas no reator UASB, além de ser feita a recirculação do
Recirculação
efluente. A velocidade ascendente pode variar de 4 a 10 m/h, e a altura do
Efluente reator pode chegar a 25 m. Uma maior velocidade ascensional resulta em um
reator mais eficiente para o tratamento de efluentes com substratos orgânicos
solúveis, pois melhora a mistura do conteúdo do reator, reduzindo o volume
morto e aumentando a difusão do substrato da fase líquida para o biofilme
Manto
Afluente de lodo
granular. Ele foi, originalmente, desenvolvido para o tratamento de efluentes
com baixa carga orgânica, mas é utilizado para o tratamento de efluentes
com alta carga orgânica e também para operar em baixas temperaturas,
até 10°C. Cargas orgânicas de até 35 kg/m3·d são aplicadas. Não é tão
eficiente para a captura de sólidos coloidais ou particulados.
(d) Reator UASB com circulação interna (CI) Um reator com circulação interna consiste em dois reatores UASB empilhados,
Biogás operando em série, cada um com um separador de gases na parte superior.
O sistema utiliza uma tubulação descendente, da câmara superior para
Efluente o fundo da câmara inferior, por onde o efluente é distribuído, e uma
Separador Câmara de
tubulação ascendente a partir do primeiro separador de gases para induzir a
de fases ascensão de recirculação e altas velocidades ascendentes no manto de lodo granular da
Recirculação gás/biossólidos câmara inferior. O gás produzido no reator inferior é capturado no primeiro
(fluxo Distribuidor separador e cria um movimento ascensional de líquido e biossólidos através
descendente) de vazão da tubulação ascendente. O gás é separado (liberado) dos biossólidos
Afluente Câmara na câmara acima do separador de gás do reator superior. Nessa câmara
de mistura de separação, o líquido/biossólidos retorna para o compartimento de
alimentação do reator inferior através do tubo descendente. A alta taxa de
recirculação resulta em velocidades ascensionais elevadas no reator inferior,
de 8 a 20 vezes superiores àquelas verificada no reator UASB convencional,
o que promove uma boa mistura do conteúdo do reator e uma operação
bastante eficiente. O reator superior funciona com um segundo estágio de
tratamento, para possibilitar uma maior eficiência na remoção de DQO, e
menor velocidade ascensional e produção de biogás melhoram a qualidade
do efluente final e a captura de biomassa. Reatores com até 25 m são
utilizados para o tratamento de efluentes.
(continua)
10–3 Tecnologias anaeróbias de tratamento P 1047
Processo Descrição
(e) Leito fluidizado Estes sistemas são baseados no desenvolvimento de uma biomassa anaeróbia
Biogás densa sobre partículas inertes de pequeno diâmetro (0,10 a 0,30 mm), como
areia fina, basalto ou pedras pomes moídas, ou material plástico. Altas
Recirculação Efluente velocidades ascensionais conduzem à fluidização do meio suporte, com uma
expansão de 25 a 300% em relação ao volume do leito fixo, daí o termo leito
Separador fluidizado. Quando as velocidades ascensionais são menores e a expansão
do leito é 15 a 25% menor em relação ao leito fixo, é utilizado o termo leito
expandido. Esses reatores são utilizados para o tratamento de efluentes
Afluente Manto com matéria orgânica solúvel ou com a presença de material particulado
de lodo facilmente biodegradável, como o soro de leite. As velocidades ascendentes
Tanque de Reator podem variar de 10 a 20 m/h, e a carga de DQO pode chegar a 20 ou 40
condicionamento anaeróbio kg/m3·d.
(f) Processo anaeróbio de contato Reator completamente misturado que utiliza biomassa anaeróbia
Biogás Separação em suspensão, uma câmara de mistura/floculação, uma câmara de
de gás desgaseificação, o sistema de separação líquido/sólidos e a recirculação de
Separação lodo, possibilitando um TRS muito superior ao tempo de detenção hidráulico.
Afluente
de sólidos Ele foi desenvolvido para operar com cargas de DQO variando entre 2 e 5
kg/m3·d.
Efluente
Reator
anaeróbio
Descarte
Retorno de lodo anaeróbio
de lodo
(g) Filtro anaeróbio (FAN) Um filtro anaeróbio (FAN) é um reator não misturado, estático, que utiliza
Biogás biomassa aderida na forma de um filme fixo em um meio suporte, de maneira
a obter uma elevada concentração de biomassa no sistema, mantendo-se um
Efluente
TRS que permita o tratamento de efluentes utilizando-se tempos de detenção
hidráulico na faixa de 1 a 3 dias. Esse processo pode operar com cargas de
Recirculação Suporte DQO entre 5 e 20 kg/m3·d, podendo ser projetado com fluxo ascendente ou
descendente.
Afluente
Reator
anaeróbio
(h) Processo anaeróbio híbrido Este é um processo único que combina um reator anaeróbio de fluxo
Biogás ascendente com manto de lodo e um filtro anaeróbio que propicia a
Suporte operação com uma alta concentração de biomassa e elevadas taxas de
Efluente
remoção da carga orgânica na porção inferior do reator e a remoção
adicional de ácidos graxos voláteis e captura de sólidos em suspensão na
Recirculação porção superior do filtro anaeróbio.
Manto
Afluente de lodo
Reator
anaeróbio
(i) Processo anaeróbio com membranas É um reator completamente misturado que utiliza biomassa anaeróbia em
suspensão/floculada e uma unidade de separação por membranas sintéticas
Afluente
Gás (permeado) para a separação e a reciclagem de sólidos de maneira a possibilitar um
longo TRS, com um pequeno tempo de detenção hidráulico. Projetado para
Afluente operar com carga de DQO variando entre 5 e 15 kg/m3·d.
Unidade de
separação
por membranas
Reator
Retorno de sólidos anaeróbio
(concentrado)
(continua)
1048 P Capítulo 10 Processos anaeróbios de tratamento com crescimento em suspensão e aderido
Processo Descrição
(j) Reator anaeróbio com chicanas Neste projeto, as chicanas são utilizadas para direcionar o fluxo de
Gás efluente em sentido ascendente em uma série de reatores anaeróbios de
fluxo ascendente com manto de lodo. O lodo no reator sobe e desce com a
Efluente produção e o fluxo de gás, mas desloca-se ao longo do reator de uma forma
lenta. A concentração de sólidos voláteis no reator varia de 2 a 10%. Esse
processo pode ser operado com um tempo de detenção hidráulico de 6 a 24
Afluente h e TRS superiores a 30 dias. Projetado para operar com cargas de DQO de
5 a 10 kg/m3·d. A principal limitação deste processo é que muitos estudos
Recirculação
limitam-se a unidades de laboratório e em escala-piloto.
(k) Reator anaeróbio com manto de lodo móvel É um processo similar ao RAC, com alguns elementos adicionais, como
Efluente Gás misturadores mecânicos em cada estágio e um procedimento operacional
(fluxo para manter o lodo no sistema sem necessidade de estruturas de contenção
reverso) Efluente ou uso de sedimentadores para a captura de sólidos. Quando uma
quantidade significativa de sólidos é acumulada no último estágio, o ponto de
Afluente alimentação do afluente é alterado para o lado de saída do efluente tratado,
(fluxo
Afluente
o que ajuda a manter um manto de lodo mais uniforme. A carga orgânica
reverso)
aplicada pode variar de 1,0 a 3,0 kg DQO/m3·d com tempo de detenção
hidráulico variando entre 4 e 12 h.
(l) Reator anaeróbio em batelada sequencial Reator anaeróbio com crescimento em suspensão completamente misturado,
com a etapa de degradação e separação sólido/líquido no mesmo
Gás Gás Gás
Gás vaso, muito similar ao que ocorre em um reator aeróbio em batelada
Efluente sequencial (ver Capítulo 8). A operação desse processo ocorre em quatro
etapas: (1) alimentação, (2) reação, (3) sedimentação e (4) decantação/
descarga do efluente. A velocidade de sedimentação do lodo durante o
período de separação, antes da descarga do efluente, é crítica. O tempo
Afluente
de sedimentação utilizado é de, aproximadamente, 30 minutos. Após um
Alimen- Reação Sedimen- Descarga período adequado de funcionamento, um lodo granulado denso é formado,
tação tação o que melhora a etapa de separação sólidos/líquidos. Com tempo de
detenção hidráulico variando de 6 a 24 horas, o TRS pode variar entre 50 e
200 d, respectivamente. Na temperatura de 25º e com uma carga orgânica
volumétrica de 1,2 a 2,4 kg DQO/m3·d, foi possível obter eficiências de
remoção de DQO de 92 a 98%. A 5ºC, a remoção de DQO variou de 85 a
75% para cargas de DQO de 0,9 a 2,4 kg/m3·d, respectivamente.
(m) Reator anaeróbio continuamente misturado Reator completamente misturado que trata correntes semissólidas, com
biomassa anaeróbia em suspensão. O tempo de detenção hidráulico no
Biogás reator é igual ao TRS, que pode variar de 15 a 30 dias, com uma carga de
DQO menor que 4 kg/m3·d.
Afluente Efluente
Reator
anaeróbio
(n) Reator anaeróbio de fluxo pistonado Geralmente, um reator em formato retangular, não misturado, que trata
Misturador interno correntes semissólidas com alta concentração de sólidos totais (10 a 18%).
Biogás
(opcional) Em alguns casos, o reator retangular é levemente inclinado. A recirculação
de sólidos do efluente pode ser feita para semear o afluente. O tempo de
detenção hidráulico é igual ao TRS, que pode variar de 20 a 30 dias, com
carga de DQO, geralmente, inferior a 4 kg/m3·d.
Afluente Efluente
Reator
anaeróbio
a
Adaptado de Nicolella et al. (2000), Totzke (2012), Tauseef et al. (2013).
10–3 Tecnologias anaeróbias de tratamento P 1049
(c) da Tabela 10-3) é uma variação do reator UASB, o qual utiliza a recirculação do efluente e uma
maior velocidade ascendente para fluidizar o lodo granular dentro do reator. O processo EGSB foi
desenvolvido por Lettinga e colaboradores para o tratamento de efluentes de cervejarias com baixa
carga orgânica, mas ele também pode tratar efluentes com alta carga orgânica (Kato et al., 1999). De
maneira similar, o reator com recirculação interna (item (d) da Tabela 10-3) nada mais é do que a
combinação de dois reatores UASB em série com circulação interna, que também é adequado para
o tratamento de efluentes com baixa ou alta carga orgânica. As principais vantagens do desenvolvi-
mento dos reatores EGSB e da circulação interna estão associadas ao aumento da carga orgânica vo-
lumétrica e da eficiência do tratamento. Outros processos anaeróbios foram desenvolvidos para o tra-
tamento de efluentes com características específicas (efluentes com material particulado e coloidal).
Processos combinados. A combinação de outros processos com o reator de fluxo ascendente
com manto de lodo granular tem sido uma prática comum, com o objetivo de melhorar o desempe-
nho do tratamento de forma a se aproximar ou atingir o nível de tratamento secundário. Como sis-
temas resultantes, podem ser citados o processo anaeróbio híbrido e o processo combinado anaeró-
bio-aeróbio. O processo híbrido envolve, geralmente, dois estágios anaeróbios de tratamento, como
aquele apresentado no item (h) da Tabela 10–3, que combina um reator anaeróbio com manto de
lodo na porção inferior do reator, seguido de um reator anaeróbio com crescimento aderido na parte
superior para o polimento do efluente. A literatura menciona a utilização de um reator anaeróbio
sequencial, a partir de 1992, para possibilitar a obtenção de um efluente final em regiões de clima
quente com qualidade equivalente ao efluente de um sistema secundário (Garuti et al., 1992). Mais
recentemente, o processo anaeróbio tem sido utilizado em associação com o processo aeróbio, em
um único reator (Tauseef et al., 2013). Embora existam vários processos anaeróbios-aeróbios com-
binados, o foco deste capítulo é o processo anaeróbio.
Tecnologias comerciais. Fazer uma compilação de todas as tecnologias de tratamento anaeróbio
disponíveis comercialmente está muito além do objetivo desta obra e seria muito complicado, devido
à ampla variedade de descrições técnicas, nomes comerciais e da descrição das pesquisas que estão
disponíveis na literatura e no mercado. Muitas das tecnologias apresentadas na Tabela 10–3 podem
ser definidas com base: (1) na carga orgânica aplicada, (2) no método utilizado para o condiciona-
mento do afluente (diluição, ajuste do pH e adição de nutriente), (3) no método utilizado para alimen-
tar e distribuir o afluente no reator, (4) no método utilizado para manter o contato entre o afluente e
a biomassa, (5) no método utilizado para manter e separar a biomassa anaeróbia, um fator relevante
para assegurar uma operação bem-sucedida do processo anaeróbio de tratamento, (6) nas caracterís-
ticas do reator biológico, (7) no sistema de gerenciamento do gás produzido e (8) nos procedimentos
para o gerenciamento dos sólidos residuais produzidos. Devido ao fato de muitos dos processos que
estão sendo colocados no mercado serem novos, é necessário fazer uma revisão na literatura recente
para obter informações mais detalhadas sobre os mesmos. Testes em escala-piloto são recomendados
para os novos projetos e para avaliar efluentes que ainda não foram tratados em unidades em escala
real. Os fundamentos sobre os processos anaeróbios de tratamento são apresentados a seguir.
processos EGSB e de CI têm se tornado bastante populares para o tratamento de efluentes indus-
triais. Os arranjos típicos dos reatores EGSB e de CI são apresentadas na Fig. 10–3. O uso de reato-
res UASB para o tratamento de efluentes com alta carga e esgotos domésticos é discutido a seguir.
Para atender os requisitos de qualidade para o lançamento de efluentes tratados, o tratamento
de afluentes com alta carga orgânica por processos anaeróbios deve ser complementado por um
processo aeróbio. Vários processos aeróbios podem ser utilizados para o pós-tratamento de efluen-
tes dos reatores anaeróbios de alta carga orgânica utilizados na indústria. Esses processos incluem
o processo de lodos ativados convencional ou com remoção biológica de nutrientes, reatores em
batelada sequenciais, filtros percoladores, filtros biológicos aerados, contatores biológicos rota-
tivos e sistemas naturais, como áreas alagadas (wetlands) (Chong et al., 2012). Um exemplo no
qual um reator UASB, instalado em um sistema de tratamento municipal, é utilizado para o trata-
mento de um efluente com alta carga orgânica de uma indústria de processamento de alimentos é
mostrado na Fig. 10–4. O efluente do reator UASB é direcionado para processo de lodos ativados
com remoção biológica de nutrientes, responsável pelo tratamento do esgoto doméstico. Os ácidos
graxos voláteis presentes no efluente do reator UASB podem melhorar o desempenho do processo
de remoção melhorada de fósforo no sistema de tratamento de esgotos domésticos.
Aplicações para tratamento de efluentes domésticos. Em muitas regiões do mundo,
especialmente nos países menos desenvolvidos com clima quente, o tratamento anaeróbio pode
Outras aplicações
Indústria química Lixiviado de aterros
Água subterrânea contaminada Indústria farmacêutica
Efluentes domésticos Polpa de celulose e papel
10–3 Tecnologias anaeróbias de tratamento P 1051
TABELA 10–6 Uso relativo de reatores UASB, EGSB e processo anaeróbio de contator para
aplicações diversasa
Indústria UASB EGSB Anaeróbio de contato
Alimentos e bebidas
Cervejarias 305 210 1
Doces 22 13
Indústria de laticínios 36 16 14
Processamento de alimentos 61 29 8
Frutas 18 29 3
Processamento de carne/frango/peixes 8 1 11
Indústria de refrigerantes 253 97 49
Produção de amido 59 30 13
Processamento de açúcar 55 18 78
Processamento de vegetais 108 63 12
Produção de leveduras 26 37 9
Outras aplicações
Indústria química 39 87 9
Celulose e papel 101 225 37
Outras 95 29 15
Total 1186 884 259
a
Adaptado de Totzke (2012).
ser uma opção atrativa para o tratamento de efluentes domésticos. Nesse caso, o reator UASB é
o processo anaeróbio mais utilizado para o tratamento de esgotos domésticos. Com o desenvolvi-
mento obtido para o tratamento de efluentes com altas cargas orgânicas, também foi demonstrada
a eficiência do reator UASB para o tratamento de efluentes domésticos na temperatura de 25°,
em regiões tropicais, no início da década de 1980 em Columbia, EUA (Gomec, 2010). A primeira
unidade de tratamento de grande porte, com capacidade de 5.000 m3/dia, foi instalada em 1989 em
Kanpur, Índia, e ainda encontra-se em operação. Em 2006, Aiyuk et al. (2006) relataram que mais
de 200 instalações estavam em operação em todo o mundo. Muitas dessas instalações encontra-
FIGURA 10–3 Reatores anaeróbios utilizados para o tratamento de efluentes industriais com alta carga orgânica: (a) vista de
um reator com manto granular expandido (EGSB). Da direita para a esquerda, os três tanques são (i) tanque de condicionamento,
(ii) reator EGSB (Tabela 10-3c) e (iii) tanque de oxidação de sulfeto (cortesia de Robert Pharmer, da Pharmer Engineering). (b)
Vista do reator EGSB em uma indústria de queijo e (c) vista de um reator UASB com circulação interna (Tabela 10-3d) (cortesia
de Paques, BV).
1052 P Capítulo 10 Processos anaeróbios de tratamento com crescimento em suspensão e aderido
Efluente
Defletor de gás
Placa de
fechamento do
sedimentador
(ver (b))
Afluente Biomassa
granular
(a) (b)
(c) (d)
FIGURA 10–4 Instalação de um reator anaeróbio de fluxo ascendente com manto de lodo (UASB) para
pré-tratamento de um efluente industrial: (a) arranjo esquemático do reator UASB (adaptado de Biothane,
BV), (b) vista do sedimentador durante a entrega no local de instalação, (c) vista em planta do sedimen-
tador (observe o vertedor de efluente no lado direito da imagem) e (d) sedimentador sendo instalado no
reator UASB (Cortesia do município de Yakima, Washington, EUA.)
vam-se em países de clima quente, mas o processo UASB também é aplicado para o tratamento de
efluentes domésticos em regiões com temperaturas próximas a 10°C. Em uma relação elaborada
por Gomec (2010), 9 de um total de 35 sistemas UASB estavam operando em regiões com tempe-
raturas abaixo de 15°C. O tempo de detenção hidráulico em 75% dessas instalações variava de 2 a
10 horas. A Fig. 10-5 apresenta um sistema de tratamento de efluentes utilizando um reator UASB
e um filtro percolador, o que resulta em um baixo consumo de energia. O efluente do filtro perco-
lador após sedimentação é utilizado para a irrigação. Para o futuro, espera-se uma ampliação do
uso de sistemas combinados, anaeróbios/aeróbios, para o tratamento de efluentes devido a questões
relacionadas ao consumo de energia e a objetivos do tratamento.
O processo anaeróbio de alta taxa pode ser uma alternativa adequada para o tratamento de esgotos
domésticos por ser compacto, ter baixo custo de construção, baixa produção de lodo em excesso, baixo
consumo de energia e potencial para a recuperação do biogás. Para os países com baixo consumo de
água e geração de efluentes mais concentrados, as vantagens do processo anaeróbio aumentam. Contu-
do, quando é necessário obter um efluente secundário com melhor qualidade, o tratamento anaeróbio
deve ser seguido por um sistema aeróbio de pós-tratamento, visando à remoção adicional de sólidos
coloidais e em suspensão e de DBO (Lew et al., 2002). Outra tecnologia que pode ser utilizada são
membranas sintéticas em um sistema anaeróbio com crescimento em suspensão operado com maiores
TRS (ver item i da Tabela 10–3). As membranas podem possibilitar uma remoção de sólidos suspensos
superior a 99%, atingindo os padrões do tratamento secundário (Visvanathan e Abeynayaka, 2012).
Vários processos que podem ser utilizados após o tratamento anaeróbio para a remoção de nutrientes,
como o processo ANAMMOX, estão sendo avaliados.
10–4 Fundamentos sobre a aplicação dos processos anaeróbios de tratamento P 1053
Reator Filtro
Leito de
Afluente UASB percolador
secagem de
Clarificador
sólidos
Peneiras,
medidor
de vazão e
separador de
óleos e graxas
Efluente
Descarte Descarte Leito de para
(a) de sólidos secagem irrigação
UASB de sólidos
do reator
Biogás UASB
Afluente
Sólidos
secos
Efluente
(b) Sólidos (d)
secos
Biogás
Afluente
FIGURA 10–5 Sistema de tratamento combinado reator UASB/filtro percolador: (a) diagrama esquemático do sistema de
tratamento, (b) diagrama de vazões, (c) seção transversal do reator UASB, (d) imagem do reator UASB com quatro compartimen-
tos, (e) imagem do sistema de alimentação do filtro percolador e (f) imagem dos leitos de secagem de lodo. O efluente final do
filtro percolador, após a etapa de sedimentação, é utilizado para irrigação. (As fotos são cortesia de S. Oakley e H. Leverenz,
Coordenadas: 14.7722 N, 91.1917 W. Outra unidade similar pode ser vista nas coordenadas: W 14.7646 N, 91.1797 W.)
processamento de alimentos podem apresentar valores de DQO variando de 3.000 a 30.000 g/m3.
Outras considerações relativas ao efluente a ser tratado pelo processo anaeróbio são a sua toxici-
dade, as variações diárias na vazão e na carga orgânica, concentração de substâncias inorgânicas e
variação sazonal da carga orgânica.
Variações na vazão e na carga orgânica. Grandes variações na vazão ou na carga orgâ-
nica afluente aos reatores anaeróbios podem alterar o balanço entre a fermentação ácida e a meta-
nogênese. As reações acidogênicas podem ser muito mais rápidas, possibilitando a redução do pH
e o aumento nas concentrações de ácidos graxos voláteis (AGV) e de hidrogênio, suficientes para
inibir a metanogênese. Um projeto mais conservador ou um sistema de equalização deve ser utili-
zado para evitar essa situação. Os tanques de equalização de vazões podem armazenar os efluentes
das operações industriais intermitentes e, assim, assegurar a alimentação do sistema anaeróbio com
vazão e carga orgânica mais uniforme. Uma alimentação mais uniforme possibilita uma operação
mais estável e um melhor desempenho do processo anaeróbio e também permite uma operação
com altas taxas de aplicação orgânica. Os processos anaeróbios têm se mostrado capazes de res-
ponder rapidamente ao aumento na alimentação do afluente após um longo período sem a adição
de substrato.
Carga orgânica e temperatura. Como discutido na Seção 10–1, a carga orgânica do afluente
e sua temperatura afetam de forma significativa os custos e a escolha de sistemas anaeróbios para o
tratamento de efluentes em comparação ao tratamento aeróbio. A operação dos reatores anaeróbios
em temperaturas variando de 25 a 35°C é, geralmente, preferida por possibilitar melhores taxas de
degradação biológica e um tratamento mais estável. Geralmente, concentrações de DQO biodegra-
dável superiores a 1.500 ou 2.000 mg/L são necessárias para possibilitar uma produção de metano
suficiente para aquecer o afluente, assumindo-se que este esteja na temperatura ambiente.
O tratamento anaeróbio pode ser utilizado em temperaturas mais baixas e pode ser mantido em
temperaturas variando de 10 a 20°C em reatores com manto de lodo granular e reatores com cres-
cimento aderido ou em suspensão. Em baixas temperaturas, as taxas de degradação são menores,
o que resultará em reatores com maiores TRS e volumes e menores taxas de aplicação de DQO
(Banik et al., 1996; Collins et al., 1998; e Alvarez et al., 2008).
Quando são necessários TRS maiores, a perda de sólidos no reator anaeróbio pode se tornar
um fator limitante crítico. Os reatores anaeróbios produzem, geralmente, sólidos mais dispersos e
menos floculentos em comparação aos sistemas aeróbios, com concentrações de SST no efluente
final na faixa de 100 mg/L para os processos com crescimento em suspensão.
Para afluentes diluídos, a concentração de SST no efluente final limitará o TRS do processo e o
potencial de tratamento pelo processo anaeróbio. Nesse caso, o sistema apresenta baixa eficiência
de tratamento, ou é necessário aumentar a temperatura de operação do reator. Assim, o método
para manter os sólidos no reator anaeróbio é um fator determinante para o dimensionamento e o
desempenho geral do processo de tratamento. O TRS máximo é obtido quando a biomassa perdida
pelo descarte do efluente é igual à quantidade produzida no sistema, a qual pode ser calculada pela
Eq. 10–1.
(10–1)
(10–2)
10–4 Fundamentos sobre a aplicação dos processos anaeróbios de tratamento P 1055
100
80
SSV = 100 mg/L
TRS, dias
60
20
0
0 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000
DQO biodegradável, mg/L
(10–3)
onde Ka1 primeira constante de dissociação ácida, função da força iônica e da temperatura
1056 P Capítulo 10 Processos anaeróbios de tratamento com crescimento em suspensão e aderido
A concentração de ácido carbônico (H2CO3) é calculada utilizando a lei de Henry, dada pela Eq.
(10-4), com base na pressão parcial de CO2 na atmosfera, logo acima do nível de líquido no reator.
(10-4)
H constante de Henry,
Pg fração molar do gás no ar, moles gás/moles ar (a fração molar do gás é proporcional à
fração volumétrica)
Conhecendo-se a concentração de ácido carbônico, é possível calcular a alcalinidade (HCO3) ne-
cessária para ajuste do pH, conforme ilustrado no Exemplo 10–1.
Solução
1. Calcule a concentração de HCO3, necessária para manter o pH próximo de 7,0.
a. Calcule a concentração de H2CO3 utilizando a Eq. (2–46)
.
Como um litro de água contém 55,6 moles [1.000 g/(18 g/mol)], a fração molar de
H2CO3 é igual a:
Como o número de moles de gases dissolvidos em 1 litro de água é muito menor que
o número de moles de água, tem-se:
Equivalentes de
Comentário
Baseado nos resultados da análise, fica evidente que a quantidade de alcalinidade requerida
pode ser significante, o que, como consequência, resultará em maior custo de tratamento.
to da eficiência de remoção de DQO nos processos anaeróbios em reatores com lodo granular
(Osuna et al., 2003; Fermoso et al., 2008) e em reatores com crescimento em suspensão para a
digestão de restos de alimentos (Evans et al., 2012). Os estudos desenvolvidos por Takashima et
al. (2011) para uma degradação anaeróbia eficiente conduziram à recomendação das seguintes
relações de disponibilidade de ferro, níquel, cobalto e zinco, em mg/g de DQO removida: 0,20,
0,0063, 0,017 e 0,049 em sistemas mesófilos e 0,45, 0,049, 0,054 e 0,24 em sistemas termófilos.
A quantidade exata de metais, como micronutrientes, requerida para o processo pode variar
para diferentes tipos de afluentes, e, assim, várias tentativas são necessárias para determinar o be-
nefício da adição desses elementos para processos anaeróbios de alta taxa.
Compostos orgânicos e inorgânicos tóxicos. A análise adequada dos afluentes e a realiza-
ção de ensaios de tratamento são essenciais para assegurar que a ocorrência de problemas de toxi-
cidade aguda ou crônica não afetará o desempenho ou inibirá os processos anaeróbios. Ao mesmo
tempo, a presença de substâncias tóxicas no afluente não significa que o processo não funcionará.
Alguns compostos tóxicos inibem as taxas de reação metanogênica, mas, com altas concentrações
de biomassa e carga orgânica baixa, o processo de tratamento pode ser mantido. As Tabelas 10-8 e
10-9 apresentam os principais compostos tóxicos e inibidores, orgânicos e inorgânicos, de interesse
para os processos anaeróbios. A aclimatação dos micro-organismos à presença de substâncias tóxi-
cas em concentrações específicas também pode ser utilizada para viabilizar o tratamento anaeróbio
(Speece, 1996), mas, para isso, pode ser necessária a utilização de sistemas de pré-tratamento para
inimizar a toxicidade do afluente ao tratamento anaeróbio.
Pré-tratamento do afluente
A necessidade de pré-tratamento do afluente depende da sua origem, do tipo de tratamento anae-
róbio empregado e da necessidade de prevenir uma falha ou instabilidade operacional. Como pré-
-tratamento, podem ser consideradas as atividades ou operações relacionadas a peneiramento, con-
dicionamento ou redução da concentração de sólidos, ajuste do pH e da temperatura, adição de
nutrientes, controle de óleos e graxas e redução de toxicidade.
10–4 Fundamentos sobre a aplicação dos processos anaeróbios de tratamento P 1059
lodo e a massa específica dos grânulos. Para a operação de um reator anaeróbio com crescimento
aderido em meio suporte fixo, a concentração de sólidos no afluente deve ser minimizada para
evitar o entupimento ou a formação de caminhos preferenciais para escoamento do efluente. Uma
opção é a utilização de sedimentador gravitacional para a remoção e o espessamento dos sólidos,
que deverão ser tratados em um digestor de lodo, e a outra opção é promover a redução de sólidos
pela hidrólise anaeróbia em uma primeira etapa.
Um processo em duas etapas, com o contato e a hidrólise dos sólidos na primeira etapa,
foi proposto por van Haandel e Lettinga (1994) e é utilizado para o tratamento de efluentes in-
dustriais e domésticos, com tratamento na segunda etapa em reatores UASB, EGSB e reatores
anaeróbios com meio suporte fixo (Seghezzo et al., 1998). A utilização de um reator anaeróbio
para hidrólise com fluxo ascendente e manto de lodo (HUSB), também denominado reator
anaeróbio com fluxo ascendente para remoção de sólidos (UASR), possibilita a captura e a
hidrólise dos sólidos antes do processo de tratamento anaeróbio subsequente. A viabilidade
dessa opção foi demonstrada para o tratamento de efluentes domésticos em temperaturas de 14
a 26°C e com tempo de detenção hidráulico de 3 a 10 horas (Alvarez et al., 2008; Zeeman et al.,
1997). Um maior acúmulo de sólidos ocorre durante a operação na estação mais fria do ano em
função das menores taxas de hidrólise, o que pode exigir o descarte de sólidos para tratamento
em outro local.
Ajuste do pH. A capacidade de operar um processo anaeróbio com pequenas variações nos
valores do pH e na temperatura conduz a uma operação mais estável e à obtenção de uma melhor e-
ficiência no tratamento. Com base no conhecimento das características do afluente e das condições
operacionais do reator anaeróbio, é possível calcular, caso necessário, a quantidade de alcalinizante
a ser utilizada para a manter o pH próximo do valor necessário. Para afluentes mais diluídos com
baixa taxa de produção de gás, em relação às vazões envolvidas, a porcentagem de CO2 pode ser
muito baixa comparada com aquela produzida no tratamento de afluentes com elevadas concentra-
ções de DQO, de forma que o consumo de alcalinidade é muito baixo ou desprezível. A alcalinida-
de do afluente dever ser controlada para manter o pH no reator entre 6,8 e 7,8, o que possibilita uma
atividade metanogênica estável (Leitão et al., 2006).
Ajuste da temperatura. A operação em temperaturas constantes propicia uma operação mais
estável e um desempenho mais eficiente. A redução da temperatura no reator é mais prejudicial do
que o seu aumento. Uma redução brusca de 1 a 2°C na temperatura do conteúdo do reator resulta
em uma menor taxa de assimilação de acetato pelas bactérias metanogênicas e no acúmulo de áci-
dos graxos voláteis no sistema. Dependendo da alcalinidade e da capacidade de tamponamento do
sistema, essa condição pode resultar em uma redução do pH, que, por sua vez, reduz a atividade
metanogênica e a capacidade de tamponamento do sistema, conduzindo à instabilidade e à falha
potencial do digestor caso não sejam feitos os ajustes necessários. Reduções bruscas na temperatu-
ra também podem afetar a integridade do lodo granular em reatores UASB, EGSB e com CI.
Adição de nutrientes. Muitos efluentes com alta carga orgânica, como aqueles gerados em
indústrias de processamento de alimentos, cervejarias, indústria de refrigerantes e destilarias de
álcool, requerão a adição de nitrogênio e fósforo para dar suporte ao crescimento de bactérias
anaeróbias. A quantidade necessária de nutrientes é elevada no início da operação, devido ao cres-
cimento rápido dos micro-organismos e à menor disponibilidade de nutrientes no reator pelo baixo
decaimento endógeno. Uma relação de 300:5:1 entre as concentrações de DQO, nitrogênio e fósfo-
ro é recomendada durante a fase de partida de reatores anaeróbios, e uma relação de 600:5:1 após a
estabilização da operação (Annachhatre, 1996).
Controle de óleos, gorduras e graxas. A presença de óleos, gorduras e graxas no afluente
aos processos anaeróbios pode ser um problema por duas razões: (1) inibição da metanogênese
devido a inibição por ácidos graxos de cadeia longa e (2) flotação do lodo devido à hidrofobicidade
e menor massa específica desses compostos em relação à água. A inibição da metanogênese pode
estar associada à adsorção de óleos, gorduras ou graxas na parede ou na membrana celular dos
organismos responsáveis pela metanogênese, interferindo nas funções de transporte de substrato
(Hanaki et al., 1981). Além disso, a presença de óleos, gorduras e graxas também é prejudicial à
10–4 Fundamentos sobre a aplicação dos processos anaeróbios de tratamento P 1061
integridade das partículas do lodo granular de reatores UASB e EGSB e pode causar a colmatação
de membranas sintéticas utilizadas em reatores anaeróbios com membranas.
É possível manter uma operação estável de um sistema anaeróbio de tratamento e promover
a degradação de óleos, gordura e graxas mantendo-se uma carga menor que 1,0 kg/m3·d, porém a
perda de sólidos por flotação pode ser inaceitável caso o sistema opere com cargas mais elevadas
de óleos, graxas e gorduras (Jeganathan et al., 2006). Durante a exposição inicial, a inibição da
atividade metanogênica pode ocorrer mesmo com uma carga de óleos, gorduras e graxas muito
baixa, até que a sua degradação comece a ocorrer, após um período de aclimatação dos organismos
presentes (Evans et al., 2012). Dessa forma, cargas variáveis ou intermitentes de óleos, gorduras
e graxas podem resultar na inibição da metanogênese e em uma operação instável do processo
anaeróbio. O controle na fonte e a utilização de pré-tratamento utilizando flotação por ar dissolvido
devem ser considerados no caso de afluentes com altas concentrações de óleos, gorduras e graxas.
Redução da toxicidade do afluente. Como mostrado nas Tabelas 10–8 e 10–9, uma ampla
variedade de substâncias orgânicas e inorgânicas pode ser tóxica para os processos anaeróbios,
incluindo certos metais pesados, altas concentrações de sólidos dissolvidos, compostos orgâni-
cos clorados, altas concentrações de compostos nitrogenados, como amônia, aminoácidos e/ou
proteínas, e outras substâncias ou compostos químicos. O controle da toxicidade para a operação
de processos anaeróbios requer uma avaliação cuidadosa em relação à origem e às características
do efluente a ser tratado. O controle na fonte é a primeira opção para minimizar os problemas de
toxicidade do efluente a ser tratado por processos anaeróbios. Quando necessário, as opções de pré-
-tratamento para redução da toxicidade podem incluir, por exemplo, a diluição, por meio do uso de
tanque de equalização, a extração com ar para contaminantes voláteis e a precipitação química no
caso de metais. A extração por ar se mostrou eficaz para a redução da concentração de amônia de
efluentes originados na criação de suínos (Zhang e Jahng, 2010), ressaltando-se que esse procedi-
mento pode resultar em problemas de poluição do ar caso a amônia não seja recuperada.
Um sistema de tratamento em duas etapas pode ser utilizado para remover ou degradar as
substâncias tóxicas antes da etapa final de tratamento, na qual a atividade metanogênica deve ser
assegurada. Uma primeira etapa de tratamento associada à remoção/hidrólise dos sólidos ou um
tratamento anaeróbio em fase ácida pode reduzir a toxicidade do afluente antes da exposição das
bactérias metanogênicas ao efluente a ser tratado (Lettinga e Hulshoff Pol, 1991).
(10–4)
1062 P Capítulo 10 Processos anaeróbios de tratamento com crescimento em suspensão e aderido
A amônia gasosa (NH3) que é formada reagirá com o dióxido de carbono para formar os íons
amônio e bicarbonato, de acordo com a Eq. (10.5).
A reação dada pela Eq. (10–5) representa o processo de formação de alcalinidade em condições ana-
eróbias devido à conversão de proteínas, peptídeos ou aminoácidos em amônia. As frações molares
esperadas para a composição do gás produzido, considerando o metano, o dióxido de carbono e o
sulfeto de hidrogênio, são dadas pelas Eqs. (10-6), (10-7) e (10-8), respectivamente, A produção de
gás amônia, representada pela Eq. (10–4), não é indicada, uma vez que toda a amônia produzida será
convertida em bicarbonato de amônio, que permanece na fase líquida. Em geral, a fração molar de
sulfeto de hidrogênio será ligeiramente menor em função da precipitação/complexação com metais.
(10–6)
(10–7)
(10–8)
(2–44)
Como a DQO de 1 mol de CH4 é igual a 64 g, a quantidade de CH4 produzida por unidade de DQO
convertida em condições anaeróbias a 35°C é igual a 0,40 L, conforme a seguir.
A taxa total de produção de gás é obtida calculando-se a produção de metano e dividindo esse valor
pela fração molar na fase gasosa, que varia de 60 a 65% de metano.
10–4 Fundamentos sobre a aplicação dos processos anaeróbios de tratamento P 1063
(10–10)
1064 P Capítulo 10 Processos anaeróbios de tratamento com crescimento em suspensão e aderido
Solução
1. Calcule a energia necessária para aeração por unidade de vazão para o processo anaeró-
bio de tratamento, utilizando a Eq. (10–9), para a DQOr de 3.800 mg/L (3,8 kg/m3).
.
A energia de aeração para outros valores de remoção de DQOr é diretamente proporcio-
nal às concentrações de DQO e está tabulada na tabela de resumo da Etapa 4a.
2. Calcule a energia líquida produzida pelo metano por unidade de vazão e a quantidade de
energia para aquecimento do efluente com a Eq. (10–10) para a DQOr 3.800 mg/L e
aquecimento do afluente de 20 a 30°C (T 10°C). Considerando uma perda de 20%
para aquecimento, a eficiência de utilização do metano é de 80%.
10–4 Fundamentos sobre a aplicação dos processos anaeróbios de tratamento P 1065
De maneira similar, a produção líquida de energia para os valores de DQOr de 6.000, 8.000
e 10.000 mg/L é calculada, resultando em 22.777, 47.869 e 72.961 kJ/m3, respectivamente.
3. Calcule o volume de metano produzido para a vazão de 400 m3/d em função da tempera-
tura utilizando a equação de Clapeyron.
a Volume de metano para a DQOr 3.800 mg/L na temperatura de 30°C.
Pela equação de gases ideais, V2 (V1/T1) T2
De maneira similar, para valores de DQOr de 6.000, 8.000 e 10.000 mg/L, a produção
de metano é de 930, 1.240 e 1.550 m3/d, respectivamente.
4. Elabore a tabela de resumo e o gráfico para ilustrar os resultados.
a. Tabela de resumo:
b. Cálculos similares aos efetuados na Etapa 2a são feitos para os valores de T 5°C e
10°C. A energia líquida produzida por um processo anaeróbio em função do aumento
da temperatura do afluente até 30°C e da quantidade de DQOr é apresentada no gráfi-
co a seguir.
(continua)
1066 P Capítulo 10 Processos anaeróbios de tratamento com crescimento em suspensão e aderido
(continuação)
100
60
ΔT = 5oC
40
ΔT = 10oC
20
ΔT = 20oC
0
−20 Aeróbio
−40
Comentário
A carga orgânica do afluente e a sua temperatura são importantes para a comparação dos balan-
ços de energia para os processos aeróbio e anaeróbio, quando a temperatura do afluente deve ser
elevada. Com base nos resultados apresentados na tabela de resumo, ambos os processos exigem
o aporte de energia para a degradação do afluente com DQO de 3.800 mg/L. Verifica-se que, para
uma quantidade de DQO degradada igual a 3.640 mg/L, a demanda de energia é a mesma para
ambos os sistemas de tratamento. Para baixas concentrações de DQO, o processo aeróbio requer
menor quantidade de energia, e o processo anaeróbio tem uma menor produção de metano.
O efeito da temperatura do afluente e a quantidade de DQO que pode ser degradada sobre a
produção líquida de energia pelo tratamento anaeróbio podem ser verificados no gráfico anterior.
A produção líquida de energia pelo processo anaeróbio requer que a biodegradação de DQO seja
de 2.100, 4.200 e 8.400 mg/L caso seja necessário aumentar a temperatura do afluente em 5,
10 e 20°C, respectivamente. Contudo, a recuperação de energia do efluente tratado pode alterar
esses valores. Mesmo para a condição em que há um equilíbrio na produção de energia líquida,
a menor produção de biomassa ainda é uma vantagem relevante propiciada pelo processo anae-
róbio. A necessidade de adição de alcalinizante também é um aspecto que deve ser considerado.
Produção de sulfeto
Compostos de enxofre oxidados, como sulfato, sulfito e tiossulfato, podem estar presentes em concen-
trações significativas em vários efluentes industriais e também em efluentes municipais. Esses compos-
tos podem servir como aceptores de elétrons para as bactérias redutoras de sulfato, as quais consomem
os compostos orgânicos no reator anaeróbio, produzindo sulfeto de hidrogênio (H2S). Por exemplo,
utilizando metanol com doador de elétron e um valor para fs de 0,05 (ver Seção 7–4, no Capítulo 7), a
reação global para a redução de sulfato para H2S pode ser representada pela expressão a seguir:
Pela Eq. (10–11), a quantidade de DQO utilizada para redução de sulfato é 0,89 g DQO/g
sulfato, a qual é maior que o valor relatado na literatura, que é de 0,67 g DQO/g sulfato reduzido
(Arceivala, 1998), e é devida ao baixo coeficiente de produção de biomassa associada à oxidação
do metanol. Com base na relação estequiométrica para a oxidação do H2S, 2 moles de oxigênio são
necessários para cada mol de H2S, como foi o caso para a oxidação do metano.
Assim, a quantidade de H2S produzida por unidade de DQO é a mesma que aquela para o metano
(0,40 L H2S/g DQO utilizada a 35°C).
O sulfeto de hidrogênio é uma substância que tem mau odor e é corrosiva. Ao contrário do
metano, o H2S é altamente solúvel em água, com uma solubilidade de 2.650 mg/L a 35°C, por
exemplo.
A concentração de compostos de enxofre oxidados no afluente a um processo anaeróbio é um
parâmetro relevante, uma vez que afluentes com concentrações elevadas terão um impacto negativo
sobre o tratamento. Bactérias redutoras de sulfato competem pela DQO com as bactérias metano-
gênicas, o que pode reduzir a produção de gás metano. Enquanto baixas concentrações de sulfeto
( 20 mg/L) são necessárias para que a atividade metanogênica seja otimizada, altas concentrações
podem ser tóxicas (Speece, 1996, 2008). A atividade metanogênica pode ser reduzida em 50% ou
mais para concentrações de H2S variando de 50 a 250 mg/L (Arceivala, 1998). Uma avaliação de-
talhada da dinâmica de competição entre as bactérias redutoras de sulfato e as metanogênicas e os
efeitos tóxicos do H2S é apresentada no trabalho de Maillacheruvu et al. (1993).
Como o H2S não ionizado é considerado mais tóxico que o sulfeto ionizado, o pH é um pa-
râmetro importante na determinação da toxicidade do H2S. O grau de toxicidade do H2S também
depende do tipo de biomassa presente no sistema (granular ou dispersa) da população de bactérias
metanogênicas e da relação entre DQO/SO4 no afluente. Com maiores concentrações de DQO, mais
metano será produzido para diluir o H2S na fase líquida e transferi-lo para a fase gasosa. O sulfeto de
hidrogênio estará presente na fase líquida como gás (H2S), íon (HS) ou sulfeto (S2), dependendo
do pH na fase líquida, de acordo com as relações de equilíbrio apresentadas a seguir:
(10–15)
(10–16)
0 7,28 0,262
10 6,37 0,485
20 5,84 0,862
25 5,62 1,000
30 5,49 1,480
40 5,37 2,440
1068 P Capítulo 10 Processos anaeróbios de tratamento com crescimento em suspensão e aderido
100 0
Porcentagem de HS–
80 20
H 2S HS–
Porcentagem de H2S
60 40
30°C 40°C
40 60
20 80
0 100
4 5 6 7 8 9 10
pH
Toxicidade da amônia
A toxicidade da amônia pode ser uma preocupação para o tratamento anaeróbio de efluentes con-
tendo altas concentrações de amônia e proteínas e/ou aminoácidos, que podem ser degradadas e
produzir amônia. Verificou-se que a presença de amônia não ionizada (NH3) em concentrações
suficientemente altas tem efeito tóxico para alguns gêneros de bactérias metanogênicas (Angeli-
daki e Arhing, 1994; Steinhaus et al., 2007; Lu et al., 2008), mas os organismos hidrogenotróficos
parecem ser menos sensíveis (Sprott e Patel, 1986). Como apresentado no Capítulo 2, a amônia
é uma base fraca e se dissocia na água, formando os íons amônio (NH4) e hidroxila (OH-). A
quantidade de amônia livre é uma função do pH e da temperatura. As constantes de dissociação
da amônia em função da temperatura foram apresentadas na Tabela 10–11. Com base nas cons-
tantes de dissociação da Tabela 10–11, a quantidade de amônia livre diminui de 1,8% para 1,7%
no pH de 7,5, quando a temperatura aumenta de 20 para 35°C. Em pH 7,8, a variação é de 3,5%
para 3,3%. Assim, concentração total de amônia (amônio e amônia) que pode ser tolerada no
reator dependerá da concentração de amônia livre que causa toxicidade. Os limites de toxicidade
disponíveis na literatura para a amônia livre (N-NH3) variam de 100 mg/L (McCarty, 1964) a 250
mg/L (Garcia e Angenent, 2009; Wilson et al., 2012). Os valores mais elevados podem ser atin-
gidos com um maior tempo de aclimatação dos micro-organismos presentes ou pela mudança na
população para micro-organismos mais tolerantes à presença de amônia livre. Essas observações
sugerem que concentrações de nitrogênio amoniacal total de 3.000 a 7.000 mg/L podem ser tole-
radas nos processos de tratamento anaeróbio. Com longos períodos de aclimatação, verificou-se
que concentrações de nitrogênio amoniacal total de 4.000 mg/L (Garcia e Angement, 2009) e de
5.000 a 8.000 mg/L (van Velsen 1977; Parkin e Miller 1982) não apresentaram efeito de inibição
no processo anaeróbio de tratamento.
Eficiência de tratamento
Os processos anaeróbios de tratamento apresentam elevada eficiência de conversão de DQO para
produção de metano, com baixa produção de biomassa e tempo de detenção hidráulico reduzido
em comparação aos utilizados no tratamento por processos aeróbios. As operações com elevados
TRS, superiores a 20 ou 50 dias, é possível nos reatores com lodo granular, meio suporte fixo e
membranas, possibilitando a máxima conversão de sólidos em temperaturas superiores a 25°C.
Contudo, apenas o processo anaeróbio tem capacidade limitada para produzir efluentes tratados
com padrões de lançamento equivalentes aos obtidos por sistemas aeróbios secundários, devido
à elevada concentração de sólidos suspensos (50 a 150 mg/L) e à concentração residual de ácidos
graxos voláteis, que são comuns em processos anaeróbios. Essas questões são mais relevantes
para o tratamento anaeróbio em temperaturas inferiores a 20°C. Algum tipo de tratamento ae-
róbio adicional é necessário para possibilitar o polimento do efluente final, seja por processos
com crescimento aderido ou em suspensão (Chong et al., 2012). Para afluentes com alta carga
orgânica, a combinação do tratamento anaeróbio e aeróbio pode ser muito vantajosa do ponto de
vista econômico, tanto em termos de custos de investimento como de operação e manutenção
(Obayashi et al., 1981).
Parâmetros de projeto
Na introdução deste capítulo, foi informado que a digestão anaeróbia de lodos é tratada no Capítu-
lo 13. O conteúdo apresentado a seguir serve como um guia geral para comparação das tecnologias
de tratamento anaeróbio disponíveis comercialmente. Os parâmetros de projeto relevantes para o
dimensionamento de processos anaeróbios de tratamento incluem a carga orgânica aplicada, a taxa
de aplicação hidráulica e o TRS. Os parâmetros cinéticos e as relações estequiométricas entre a
remoção de substrato e o crescimento de biomassa também são importantes para o cálculo da pro-
dução de sólidos e concentrações de substratos solúveis.
Carga orgânica aplicada. A carga orgânica volumétrica é um parâmetro-chave para o cálculo
do volume do reator para processos anaeróbios de tratamento com lodo granular e com crescimento
aderido. Em geral, as cargas orgânicas aplicadas nos processos anaeróbios de tratamento são signi-
ficativamente superiores àquelas utilizadas nos processos aeróbios de tratamento. As cargas orgâ-
nicas utilizadas em processos anaeróbios pode variar de 1 a 50 kg DQO/m3·d, enquanto as cargas
volumétricas típicas para processos aeróbios variam entre 0,5 e 3,2 kg DQO/m3·d.
Os valores da carga orgânica aplicada são afetados pelo tipo de processo anaeróbio utilizado,
por características do afluente e pela temperatura. Valores típicos para a carga orgânica aplicada
foram apresentadas na Tabela 10-3, juntamente com a descrição dos processos anaeróbios de tra-
tamento. A ampla faixa de valores para a carga orgânica utilizada no tratamento anaeróbio em rea-
tores UASB, ESGSB e com contado de sólidos é apresentada na Fig. 10-8. Os valores para reatores
100
UASB
Carga orgânica volumétrica,
Leito fluidizado/
kg DQO/m3·d
expandido
10
Contator
anaeróbio
1
0,01
0,1
1
5
10
20
30
50
70
80
90
95
99
99,9
99,99
FIGURA 10–8 Faixa de valores de carga orgânica utilizada para o tratamento anaeróbio de vários
efluentes com reatores UASB, EGSB e com contato de sólidos (Tauseef et al., 2013).
1070 P Capítulo 10 Processos anaeróbios de tratamento com crescimento em suspensão e aderido
TABELA 10–12 TRS recomendados para reator UASB para operação estável
no tratamento de esgotos domésticos (van Lier et al., in Henze
et al., 2011)
Temperatura, °C TRS, d
35 25
30 30
25 60
20 100
15 140
UASB e EGSB apresentam a mesma magnitude e, geralmente, superiores àqueles utilizados para os
reatores anaeróbios com contato de sólidos. A utilização de cargas orgânicas mais elevadas para os rea-
tores anaeróbios com lodo granular é, em parte, devida à capacidade de se manter uma concentração de
biomassa muito alta no reator, como resultado de uma maior densidade de biomassa no lodo granular.
As condições de mistura nos sistemas EGSB e no reator com circulação interna de lodo granular tam-
bém promovem uma maior transferência de massa do substrato solúvel para o biofilme. Os menores
valores de carga orgânica para o reator anaeróbio com contator de sólidos também podem ser relacio-
nados a uma maior frequência de aplicação desse processo para o tratamento de efluentes com elevadas
concentrações de sólidos. Os sólidos podem limitar a concentração de lodo no reator anaeróbio, o que
leva à necessidade de reatores com maiores volumes para possibilitar um TRS adequado para a destrui-
ção dos sólidos, o que requererá menores cargas orgânicas.
Tempo de retenção de sólidos. O tempo de retenção de sólidos é um parâmetro fundamental
para todos os processos anaeróbios. O desempenho de um processo anaeróbio de tratamento está
relacionado com o TRS da seguinte forma: (1) pelos parâmetros cinéticos biológicos básicos dis-
cutidos na Seção 7–6, a concentração de substrato solúvel é baixa com o aumento do TRS; (2) um
maior TRS propicia uma maior massa de organismos metanogênicos no reator, apresentando maior
capacidade para suportar variações nas condições operacionais do processo para manter um equi-
líbrio entre a produção e o consumo de ácidos graxos voláteis; e (3) a eficiência de destruição dos
sólidos alimentados ao reator aumenta com o aumento do TRS. A 30°C, valores do TRS superiores
a 20 dias são necessários para que os processos anaeróbios apresentem um desempenho de trata-
mento eficaz. Em baixas temperaturas, TRS muito superiores são necessários. Os valores recomen-
dados para o TRS, em função da temperatura, para o tratamento estável de esgotos domésticos em
um reator UASB são apresentados na Tabela 10–12. Baixos valores de TRS podem ser utilizados
para o tratamento de efluentes com predominância de substratos solúveis.
Como o acúmulo de biomassa é uma característica inerente aos reatores anaeróbios com lodo
granular e com crescimento aderido, é muito difícil calcular com precisão a concentração de bio-
massa e do TRS. Além disso, a taxa de remoção de substrato não depende apenas do TRS, como no
caso de um reator com crescimento em suspensão completamente misturado, mas também da taxa
de difusão de substrato e de transferência de massa e das características do biofilme. Assim, a car-
ga orgânica é o primeiro parâmetro de projeto utilizado para o dimensionamento desses sistemas,
reconhecendo-se que longos TRS correspondem a baixos valores de carga orgânica.
A utilização do TRS como parâmetro de projeto é adequada para o dimensionamento de re-
atores anaeróbios completamente misturados, como no caso dos reatores com contato de sólidos
(item (f), Tabela 10–3), e para reatores anaeróbios com membranas (item (i), Tabela 10–3). Nesses
casos, o efeito do TRS sobre a concentração de substratos solúveis no efluente pode ser verificado
com o uso da Eq. (7–56) e de parâmetros biocinéticos apropriados. A etapa final do processamento
da matéria orgânica no reator anaeróbio é a conversão do acetato e do hidrogênio em metano. A
concentração de acetato no reator é afetada pelo TRS e por parâmetros biocinéticos dos organismos
metanogênicos acetoclásticos. Os parâmetros biocinéticos da metanogênese para diferentes tempe-
raturas são apresentados na Tabela 10–13. Valores para síntese celular, coeficiente de decaimento
endógeno específico e coeficientes para fermentação de metanogênese também foram incluídos
10–5 Considerações sobre o dimensionamento e a implantação de processos anaeróbios de tratamento P 1071
nessa tabela. Os parâmetros biocinéticos para metanogênese são baseados no gênero Methanosaeta
como organismos dominantes para a metanogênese acetoclástica, as quais são muito comuns. Con-
tudo, em condições específicas, tais como reatores anaeróbios com alta carga orgânica, o gênero
Methanosarcina pode dominar. Foi demonstrado que a máxima taxa de crescimento de organismos
do gênero Methanosarcina é 2,5 vezes superior àquela dos organismos do gênero Methanosaeta a
35°C e que o coeficiente de reação de velocidade de ordem ½ para a utilização de acetato é, apro-
ximadamente, 3,5 vezes superior (Conklin et al., 2006).
As informações apresentadas na Tabela 10–13 também podem ser utilizadas para estimar a
produção de biomassa e o excesso de lodo para reatores anaeróbios completamente misturados e
para outros tipos de processos anaeróbios, caso os valores do TRS possam ser estimados. O uso
do TRS para o dimensionamento de um processo anaeróbio com contator de sólidos é ilustrado no
Exemplo 10–4, na Seção 10–6.
Tempo de detenção hidráulico. O tempo de detenção hidráulico está diretamente relaciona-
do à carga orgânica aplicada no processo anaeróbio e às características do afluente:
Afluentes com elevada concentração de substrato requererão maiores tempos de detenção hidráuli-
co para uma determinada carga orgânica aplicada (COA).
Preocupações Observações
Equalização de vazões
Pré-tratamento Remoção de SST, remoção de óleos, gorduras e graxas
Processo anaeróbio
Controle de corrosão Seleção de materiais
Controle de temperatura Pré-aquecimento do afluente ou aquecimento do reator
Dosagem química Controle de alcalinidade, nutrientes e estruvita
Controle de odor Processos para remoção de odores (Cap. 16)
Descarte de lodo
Coleta de gás Armazenagem, limpeza e utilização de gás (Cap. 17)
a
Adaptado, em parte, de Totzke (2012).
o odor. Os valores para o limiar de odor de várias substância são apresentados na Seção 16-3,
no Capítulo 16.
Os principais métodos utilizados para o controle de odores gerados nos processo anaeróbios
incluem a utilização de filtros compostos (biofiltros), oxidação direta, adsorção em carvão, la-
vagem de gases e filtros percoladores. Com custo relativamente baixo, os filtros compostos são,
em geral, utilizados para unidades de menor porte. Em algumas estações de tratamento, os gases
responsáveis por maus odores são oxidados no processo de lodos ativados quando injetados jun-
tamente com o ar no tanque de aeração pelos difusores. A Fig. 9-9, no Capítulo 9, mostra algumas
imagens de sistemas utilizados para controle de odores em estações de tratamento que utilizam o
processo anaeróbio. As principais opções para controle de odores são tratadas com maior nível de
detalhe na Seção 16–3, no Capítulo 16.
FIGURA 10–9 Sistemas de tratamento anaeróbio com manto de lodo granular: (a) reator UASB em tanques de aço, antes do
isolamento térmico e da partida (cortesia de Robert Pharmer, da Pharmer Engineering); (b) vista de um reator híbrido equipado
com meio suporte interno fixo acima do manto de lodo granular [ver item (h) da Tabela 10-3]. A aparência exterior de um reator
UASB com ou sem o meio suporte interno é a mesma. (c) Sistema combinado, anaeróbio-aeróbio, em um único reator (cortesia
de Paques BV).
1074 P Capítulo 10 Processos anaeróbios de tratamento com crescimento em suspensão e aderido
Descrição do processo. O coração dos processos UASB, EGSB, com CI e outros processos
anaeróbios similares é a formação e a manutenção de partículas densas no lodo granular, o que pos-
sibilita uma elevada concentração de biomassa no reator. Devido à alta concentração de biomassa,
esses processos anaeróbios podem ser operados com altas taxas de aplicação orgânica. O tamanho
das partículas presentes no lodo granular geralmente varia de 1 a 2 mm, mas podem ser encontra-
das partículas com tamanho variando entre 0,10 e 8 mm, dependendo do efluente que está sendo
tratado e das forças de cisalhamento resultantes do escoamento de líquido e gás através do lodo. A
massa específica das partículas varia de 1 a 1,05 g/L, resultando em velocidades de sedimentação
de 15 a 50 m/h (Henze et al., 2011). Em razão da formação de flocos granulados, a concentração de
sólidos no fundo do reator pode variar de 50 a 100 kg/m3. Na camada superior do manto de lodo,
forma-se uma camada de sólidos mais difusa, contendo partículas com menores velocidades de
sedimentação. A concentração de sólidos nessa camada difusa pode variar de 10 a 30 kg/m3 (Aiyuk
et al., 2006).
A partir dos resultados de estudos sobre a composição microbiológica do lodo, verifica-se
que a superfície dos grânulos é formada por bactérias com formato esférico, enquanto o interior é
constituído, predominantemente, por bactérias com formato alongado, do gênero Methanosaeta, as
quais fornecem uma estrutura filamentosa para a granulação (O’Flaherty et al., 2006). As caracte-
rísticas físicas dos grânulos formados favorece o desenvolvimento de um ambiente microbiológico
complexo, com organismos produtores de metano convivendo com produtores de hidrogênio e
ácido acético. O estudo desenvolvido por Seghezzo et al. (2001) indicou uma produção específica
de metano nas partículas granulares igual a 0,10 g DQO/SSV·dia.
Formação do lodo granular. Schmidt e Ahring (1996) descreveram o processo de formação
do lodo granular em quarto etapas: (1) adesão de células em um material inerte não colonizado ou
em outras células, (2) adsorção inicial de outras partículas coloidais ou detritos de bactérias por
meio de forças físico-químicas reversíveis, (3) adesão irreversível dos micro-organismos devido à
excreção de substâncias poliméricas extracelulares e (4) multiplicação de células a partir da difusão
de substratos para o interior da estrutura granular. A cinética de remoção do substrato e os mecanis-
mos de transferência de massa nas partículas do lodo granular são similares àqueles descritos para
biofilmes na Seção 7–7.
O desenvolvimento do manto de lodo granular pode demorar vários meses, mas esse tempo
pode ser reduzido a partir da inoculação do novo reator com o lodo proveniente de reator UASB
que já possua o manto estabelecido. A formação do manto de lodo é mais rápida em temperaturas
mais elevadas, acima de 20°C, e na presença de matéria orgânica solúvel de fácil degradação. As
altas velocidades de escoamento ascensional removem os organismos não aderidos e favorecem a
formação de partículas granulares densas.
Características do efluente a ser tratado. A formação e a manutenção do lodo granular são
afetadas pelas características do efluente a ser tratado. A granulação do lodo é favorecida quando
os afluentes aos reatores apresentam elevadas concentrações de açúcar ou carboidratos e desfa-
vorecida quando a concentração de proteínas é elevada, o que resulta na formação de um floco
menos denso (Thaveesri et al., 1994). Outros fatores que afetam a formação de sólidos granulares
são o pH, a presença de cátions bivalentes e a adição de nutrientes (Annachhatre, 1996). O pH no
reator deve ser mantido próximo de 7,0, e uma relação entre DQO/N/P recomendada durante a fase
de partida do sistema é de 300:5:1, enquanto uma relação de 600:5:1 pode ser mantida durante a
operação em regime estacionário. Alguns estudos mostraram que, em certas concentrações, os íons
ferroso e o cálcio podem melhorar a formação do lodo granular; aproximadamente 300 mg/L de
Fe2- e 250 mg/L de Ca2 (Yu et al., 2000; Yu et al., 2001).
A presença de sólidos em suspensão no afluente pode afetar de forma adversa a formação e
a densidade do lodo granular, com efeitos mais significativos em baixas temperaturas, devido às
taxas de hidrólise mais lentas e ao acúmulo de sólidos no reator (Letting e Hulshoff-Pol, 1991;
Elmitwalli et al., 2002). Para afluentes com maior concentração de sólidos em suspensão e com
temperatura mais baixa, recomenda-se utilizar um processo de tratamento em duas etapas, com um
reator UASB operando com baixa velocidade ascensional para a captura e a hidrólise dos sólidos,
seguido por outro reator UASB, resultando em um sistema com desempenho mais estável e maior
10–6 Exemplos de dimensionamento e projeto P 1075
TABELA 10–16 Diretrizes para distribuição dos tubos de alimentação de reatores UASB em
função da massa específica do lodo e da carga orgânica aplicadaa
Carga de DQO, Área de influência
Tipo de lodo kg/m3·d dos tubos, m2
Lodo floculentos denso, ( 40 kg SST/m3) 1,0 0,5–1
1–2 1–2
2 2–3
Lodo floculento com densidade média, (20 a 40 kg SST/m3) 1–2 1–2
2 2–5
Lodo granular 1–2 0,5–1,0
2–4 0,5–2,0
4 2,0
a
Adaptado de Lettinga e Hulshoff Pol (1991).
(10–18)
V H(A) (10–19)
A altura total do reator é superior à altura de processo, levando-se em conta a altura adicional do
dispositivo de separação gás-sólido que deve ser instalado na parte superior do reator. O volume
de processo deve ser grande o suficiente para assegurar que a carga orgânica máxima não seja ex-
cedida. O projeto do reator é, em última análise, controlado pela máxima velocidade ascendente
permitida ou pela carga orgânica requerida. Para afluentes fracos, a velocidade ascendente será o
parâmetro de controle do projeto.
25
COA, kg DQO/m3ⴢd
15 DQO particulada < 10%
10
FIGURA 10–10 Efeito da temperatura na carga orgânica aplicada em reatores UASB (Henze et al.,
2011).
Carga orgânica aplicada. Como já discutido na Seção 10–5, uma ampla faixa de valores de
carga orgânica é utilizada no projeto de reatores de fluxo ascendente com lodo granular, dependen-
do das características do afluente, do tipo de reator e da temperatura. Adicionalmente, Lettinga e
Hulshoff-Ptol (1991) indicaram que cargas orgânicas mais elevadas podem ser aplicadas se uma
maior concentração de SST for aceitável e também que a operação com cargas orgânicas mais altas
é possível se os afluentes apresentarem baixa fração de DQO particulada. Como apresentado na
Tabela 10–3, as cargas orgânicas para reatores UASB podem variar de 5 a 15 kg DQO/m3·d e de
10 a 40 kg DQO/ m3·d para reatores EGSB. Um exemplo do efeito da temperatura sobre a carga
orgânica aplicada é apresentado na Fig. 10–10. Para efluentes com compostos orgânicos altamente
solúveis, a carga orgânica é reduzida por um fator de 5,0 se a temperatura for reduzida de 30 para
15°C e por um fator de 4,3 para um efluente com 30–40% de DQO particulada.
O volume de processo do reator é relacionado com a carga orgânica pela Eq. (10-20).
(10–20)
onde VCOA volume de processo do reator controlado pela carga orgânica aplicada, m3. O dimen-
sionamento de um reator UASB é apresentado no Exemplo 10–3.
(continuação)
Solução
1. Calcule o volume de processo do reator.
a. Calcule o volume com base na velocidade ascendente máxima com a Eq. (10–18) e
Eq. (10–19)
HT 8 m 0,5 m 2,5 m 11 m
(continua)
1080 P Capítulo 10 Processos anaeróbios de tratamento com crescimento em suspensão e aderido
(continuação)
Comentário
Uma grande quantidade de energia é produzida diariamente na forma de gás metano. Se esse
gás puder ser utilizado como fonte de energia para instalações industriais, ele pode ajudar
a contrabalançar os custos da adição de uma considerável quantidade de alcalinidade para
manter o reator anaeróbio em pH próximo de 7.
Os mesmos critérios de projeto são aplicados ao demais tipos de processos anaeróbios de tra-
tamento, com a diferença da necessidade de utilizar a carga orgânica aplicada em vez do TRS para
o cálculo do volume do reator.
As informações da Tabela 10–13 fornecem um resumo dos coeficientes cinéticos e dos valores
de outros parâmetros de projeto que podem ser utilizados para o dimensionamento de um processo
com contato de sólidos para tratamento de um efluente com predominância de DQO solúvel bio-
degradável. Para efluentes com altas concentrações de sólidos, o método de dimensionamento no
Capítulo 13 para digestão anaeróbia pode ser aplicado. Estudos de tratamento em laboratório ou
unidades-piloto são recomendados para a avaliação de efluentes contendo constituintes solúveis e
particulados, que são significativamente diferentes dos efluentes já tratados por processo anaeró-
bio. O dimensionamento de um processo anaeróbio de contator é apresentado no Exemplo 10–4.
Hipóteses adotadas:
1. Concentração de SSV no efluente final 150 g/m3.
2. Fator de segurança para o TRS de projeto 3,0
3. fd 0,15 g SSV de detritos de células/g SSV biomassa perdida
4. Com TRS 30, 99% SSV degradáveis são transformados
5. SSVLM 6.000 g/m3
6. Velocidade de sedimentação 24 m/d
7. Produção de gás 65% CH4 e 35% CO2
8. Adote os coeficientes cinéticos e o fator de produção de metano da Tabela 10–13.
9. Quantidade de nutrientes na biomassa 12% N e 2,4% P
Solução
1. Calcule o TRS do projeto a 25°C.
Para uma eficiência de remoção de DQO de 90%, a concentração no efluente é:
DQOefl (1,0 – 0,90) (6.000 mg/L) 600 g/m3
Foi considerada a concentração de SSV no efluente final de 150 g/m3.
10–6 Exemplos de dimensionamento e projeto P 1083
DQO do efluente devido aos SSV (150 g/m3L) 1,8 g DQO/g SSV
270 g/m3
DQO solúvel permitida no efluente final (600 – 270) g/m3
330 g/m3
Solucionando-se a Eq. (7–46) para o TRS e substituindo max YH k;
So – S DQO degradada
DQO afluente – DQO SSV não degradado – DQO solúvel do efluente
6.000 g DQO/m3 – 222 g SSV/m3 – 330 g DQO/m3 5.270 g DQO/m3
Utilize os coeficientes da Tabela 10–14 e adote fd 0,15
YH 0,08 g SSV/g DQO
bH 0,03 g/g.d
(continua)
1084 P Capítulo 10 Processos anaeróbios de tratamento com crescimento em suspensão e aderido
(continuação)
(Observe que a taxa de produção de gás é 2,9 vezes superior à vazão afluente)
c. Calcule a taxa de produção de energia.
Da Tabela 10–13, conteúdo de energia no metano 38.846 kJ/m3 a 0°C.
Taxa de produção de energia (859,7 m3 CH4/d)(38.846 kJ/m3) 33,4 106 kJ/d
10–6 Exemplos de dimensionamento e projeto P 1085
Diâmetro 5,2 m
Comentário
Uma quantidade significativa de energia, em kJ, é gerada com a produção do metano (CH4).
O metano pode ser utilizado para aquecer o processo anaeróbio, o que pode tornar o processo
de degradação mais rápido e, assim, reduzir o tamanho do reator anaeróbio.
da International Water Association (IWA) para digestão anaeróbia, denominado ADM1 (Batstone
et al., 2002a). O modelo ADM1 é utilizado para dimensionamento de reatores para tratamento de
outros tipos de despejos com alta concentração de sólidos, como dejetos da criação de suínos (Gi-
rault et al., 2011) e de misturas de despejos com DQO solúvel e particulada (Batstone et al., 2002b;
Fezzani e Cheikh, 2008).
Com o modelo ADM1, é possível simular a variação da DQO do afluente ao longo do trata-
mento, de acordo com o diagrama esquemático apresentado na Fig. 7–26, em que a DQO solúvel
inerte (não degradável) e os sólidos voláteis também são contabilizados. As variações nas concen-
trações dos sólidos biodegradáveis e da DQO solúvel do despejo e dos produtos de degradação
intermediários são calculadas com a utilização das equações biocinéticas ao longo das várias rotas
de degradação, que levam em consideração os tipos de micro-organismos envolvidos e os efeitos
do pH e da temperatura. A DQO particulada é considerada uma mistura homogênea de carboidra-
tos, proteínas e lipídeos. As relações cinéticas representam as taxas de desintegração das partículas
para a produção de carboidratos, proteínas e lipídeos. Outro conjunto de equações é utilizado para
representar as taxas de hidrólise dos carboidratos, proteínas e lipídeos em açúcares, aminoácidos
e ácidos graxos de cadeias longas, respectivamente. Equações biocinéticas baseadas no modelo de
Monod são utilizadas para as reações de acidogênese, na conversão de açúcares e aminoácidos em
ácidos graxos voláteis e hidrogênio, e de acetogênese, na conversão dos ácidos graxos de cadeia
longa e voláteis em acetato. Outro conjunto de equações cinéticas, também baseadas no modelo
de Monod, é utilizado para simular a metanogênese pelos organismos que utilizam o acetato e o
hidrogênio como substratos.
O modelo também inclui a simulação de alguns processos físico-químicos para calcular: (1) o
valor do pH em função da alcalinidade e das concentrações de ácidos graxos voláteis e de CO2 na
fase gasosa e (2) a transferência gás-líquido do CO2, CH4 e H2S gerados no processo. O modelo
é aplicado como uma série de equações diferenciais, que utilizam 32 variáveis dinâmicas. A apli-
cação do modelo é bastante útil para simulações dinâmicas, para avaliar as variações nas concen-
trações de ácidos orgânicos voláteis e hidrogênio após transientes na alimentação e variações de
carga, com o objetivo de verificar as condições que podem resultar em um desequilíbrio entre as
taxas de produção de ácidos graxos voláteis e de utilização de acetato na metanogênese, resultando
na instabilidade do digestor (Straub et al., 2006).
TABELA 10–18 Exemplos de despejos altamente biodegradáveis, com potencial para codigestãoa
dos custos associados ao uso de produtos químicos para a estabilização de despejos com alta carga
de carboidratos. Sem a quantidade suficiente de proteínas ou aminoácidos no despejo, para produ-
ção de bicarbonato de amônia em quantidade suficiente para manter o pH no reator anaeróbio, o
custo associado à adição de alcalinizante pode ser proibitivo.
Operação do processo de digestão. A produção de alcalinidade em digestores anaeróbios
que tratam despejos domésticos é, normalmente, suficiente para manter o pH no reator, devido à
degradação do nitrogênio orgânico dos lodos primário e secundário do processo de lodos ativados.
Alguns despejos, como efluentes oleosos, são difíceis de tratar isoladamente, mas podem ser mis-
turados em proporções adequadas com os despejos domésticos (Jeganathan et al., 2006). O impacto
econômico na operação de digestores anaeróbios que operam com codigestão também deve ser
considerado, pois haverá impactos nos custos associados ao recebimento, armazenagem e pré-
-tratamento dos despejos que serão recebidos, além dos custos de operação.
Processo aeróbio
Para os sistemas aeróbios, os principais custos de operação são o de energia para a aeração e os de
processamento e disposição de lodo. As seguintes hipóteses são válidas:
1. Eficiência de remoção de DQO 99%
2. g O2/g DQO removida 1,2
3. Eficiência real de aeração 1,2 kg O2/kWh
4. Custo da energia elétrica US$0,08/kWh
5. Produção líquida de lodo 0,3 g SST/g DQO removida
6. Custo de processamento e disposição de lodo US$0,10/kg sólidos secos
10–3 Um efluente tem vazão média diária de 1.000, 2.000 ou 3.000 m3/d (a ser definido pelo professor), e
4.000 mg/L de uma substância orgânica com a seguinte composição aproximada: C50H75O20N5S. Para
um processo anaeróbio de tratamento, com uma eficiência de 95% de degradação, calcule: (a) a al-
calinidade produzida na degradação em mg/L como CaCO3 e (b) a fração molar aproximada de CO2,
CH4 e H2S na fase gasosa.
10–4 Uma indústria gera um efluente com vazão média de 2.000 m3/d, com concentrações de DQO de
4.000, 6.000 ou 8.000 mg/L (valor a ser definido) e de sulfato de 500 mg/L. A porcentagem de DQO
degradada no processo de tratamento anaeróbio, operando a 35°C, é de 95%, e 98% do sulfato é re-
duzido. Com base nessas informações, calcule: (a) a quantidade de metano produzido em m3/d; (b) a
quantidade de metano produzido em m3/d se a redução do sulfato não for levada em consideração; (c)
a quantidade de H2S na fase gasosa, com o pH do reator igual a 7,0.
10–5 Um reator anaeróbio com crescimento em suspensão é operado com um TRS igual a 30 dias e tem-
peratura de 30˚C. Um determinado dia, a taxa de produção de metano (m3/d) diminuiu em 30%.
Apresente pelo menos quatro causas prováveis que deverão ser avaliadas para justificar o ocorrido e
explique resumidamente os mecanismos que governam cada uma dessas causas.
10–6 Um efluente industrial com solutos 100% solúveis deverá ser tratado por um processo anaeróbio de
contato, que consiste em um reator misturado coberto, um desgaseificador e um sedimentador gra-
vitacional. A concentração de SST no efluente do clarificador é de 120 mg/L. Para o efluente com
as características e para os critérios de projeto apresentados a seguir, calcule e compare os seguintes
parâmetros de projeto para o tratamento a 25 e 35°C e com uma concentração de DQO solúvel no
efluente final de 50 mg/L.
a. TRS de projeto, d
b. Volume do reator, m3
c. Tempo de detenção hidráulico no reator , d
d. Taxa de produção de metano, m3/d
e. Taxa de produção total de gás, m3/d
f. A quantidade de sólidos e a quantidade a ser descartada diariamente, kg/d
g. A necessidade de nutrientes (N e P), kg/d.
Características do efluente:
(continua)
1090 P Capítulo 10 Processos anaeróbios de tratamento com crescimento em suspensão e aderido
(continuação)
10–9 Um efluente doméstico deverá ser tratado em um reator a 25°C. As características do efluente são
apresentadas na tabela a seguir. Calcule: (a) o tempo de detenção hidráulico no reator (horas); (b) a
carga volumétrica de DQO (kg DQO/m3·d); (c) a altura e o diâmetro de processo do reator (m). Quais
são o valor da DBO e a concentração de SST esperadas para o efluente do reator UASB? Descreva um
tratamento aeróbio secundário que você recomendaria para complementar o processo de tratamento
anaeróbio de forma a obter um efluente final com DBO menor ou igual a 20 mg/L. Será necessário
adicionar alcalinizante no reator UASB para manter o pH próximo de 7,0? Justifique as suas respostas.
Características do efluente:
10–10 O efluente de uma cervejaria, com vazão de 1.000 m3/d e DQO (principalmente solúvel) de
4.000 mg/L deverá ser tratado a 35°C em um reator anaeróbio com crescimento aderido de 4 m com
fluxo ascendente e meio suporte fixo com fluxo tangencial em material plástico, visando a uma remo-
ção de DQO de 90%. Adote um TRS de 30 dias para o crescimento aderido e calcule: (a) o volume
do reator (m3) e suas dimensões (m); (b) a taxa de produção de metano (m3/d); (c) a concentração de
SST no efluente final (mg/L).
10–11 Um efluente industrial tem uma DQO biodegradável de 8.000 mg/L e concentração de SSV de
4.000 mg/L SSV, sendo que 50% são biodegradáveis. Resumidamente, faça uma avaliação crítica da
compatibilidade dos processos relacionados a seguir para o tratamento desse efluente e descreva o
impacto potencial dos sólidos presentes no afluente sobre a operação e o desempenho do reator.
Processos: UASB
Reator anaeróbio de leito fluidizado
Reator anaeróbio com chicanas
Reator anaeróbio de fluxo ascendente e leito fixo
Reator anaeróbio com fluxo descendente e crescimento aderido
Lagoa anaeróbia coberta
10–12 A partir de dados da literatura dos últimos três anos, identifique e resuma uma aplicação para um pro-
cesso anaeróbio com membranas. Inclua uma descrição do efluente tratado, o projeto do reator, a carga
orgânica aplicada, a temperatura de operação, a estratégia para controle de depósito nas membranas, a
variação do fluxo de permeado com o tempo, a concentração de sólidos no reator, o método de limpeza
química ou recuperação do fluxo das membranas e os aspectos operacionais e de desempenho relevantes.
10–13 Com base em uma revisão da literatura, faça um resumo do tipo e das características do efluente, do
projeto do sistema de tratamento, das condições operacionais e do desempenho de um reator UASB,
EGSB ou de processo anaeróbio de contato (a ser definido pelo professor).
Referências P 1091
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11 Processos para remoção de
contaminantes residuais
REFERÊNCIAS 1264
1096 P Capítulo 11 Processos para remoção de contaminantes residuais
GLOSSÁRIO
Termo Definição
Absorção Processo por meio do qual átomos, íons, moléculas e outros constituintes são transferidos de uma fase
e distribuídos uniformemente em outra fase (ver adsorção).
Adsorção Processo no qual átomos, íons, moléculas e outros constituintes são transferidos de uma fase líquida
ou gasosa e acumulados sobre a superfície de outra fase, geralmente sólida (ver adsorção).
Carvão ativado Substância comumente utilizada para a remoção de contaminantes presentes em baixas
concentrações na água ou outros compostos presentes no ar. O carvão ativado é obtido a partir
de um material orgânico, submetido ao processo de pirólise em alta temperatura e posteriormente
ativado, também em alta temperatura, na presença de vapor d’água, obtendo-se um material com
elevada superfície específica.
Compostos orgânicos Compostos de origem sintética utilizados em processos industriais ou na formulação de produtos
sintéticos (COS) variados de uso cotidiano. A presença de COS na água potável, assim como na de reúso, é uma
preocupação em função da sua toxicidade e de outros efeitos adversos.
Concentrado Corrente líquida contendo elevada concentração de sólidos dissolvidos totais.
Contralavagem Operação para a remoção de sólidos acumulados sobre ou no interior dos poros de um meio filtrante
por meio da circulação de ar e/ou água limpa em sentido contrário ao do escoamento do fluido
durante a operação normal.
Eletrodiálise (ED) Processo no qual espécies com cargas elétricas são transportadas de uma solução para outra,
separadas por uma membrana semipermeável com a utilização de uma diferença de potencial
elétrico como força motriz.
Extração com ar Processo utilizado para remover os constituintes voláteis de uma fase líquida para uma fase gasosa,
(gas striping) como no caso da remoção de amônia da água ou do efluente em uma coluna utilizando o ar
atmosférico para extração.
Filtração em Remoção de material particulado em suspensão de uma corrente líquida que passa através de um
profundidade meio granular constituído de areia ou antracito.
Filtração superficial Remoção de material particulado em suspensão em uma corrente líquida ou gasosa por sua
passagem através de um material poroso com pequena espessura, geralmente tecido ou placa
metálica.
Fluxo Quantidade de massa ou líquido que atravessa uma membrana em um determinado período de
tempo, geralmente expresso em m3/m2ⴢh ou L/m2ⴢh.
Fouling ou depósito Acúmulo de material sólido (partículas) ou solúvel (moléculas orgânicas) sobre a superfície ou no
interior dos poros de uma membrana, impedindo o fluxo de permeado através da membrana.
Isoterma Uma função utilizada para relacionar a quantidade de um dado constituinte adsorvido da água por
uma determinada quantidade de adsorvente a uma dada temperatura.
Membrana Um dispositivo ou material, geralmente polimérico, que permite a passagem da água e de certos
constituintes, mas impede a passagem de outros constituintes, dependendo das suas propriedades
morfológicas, em especial dos poros existentes.
Membrana Membrana que permite a passagem de componentes específicos presentes na solução de
semipermeável alimentação e impede a passagem de outros.
Microfiltração (MF) É um processo de separação por membranas utilizado para remover material particulado de uma
corrente líquida, no qual diâmetro dos poros da membrana varia de 0,05 a 2 m.
Nanofiltração (NF) Processo de separação por membrana utilizado para remover espécies dissolvidas da água, como
moléculas orgânicos com massa molar de até 150 g/mol e íons bivalentes.
Osmose reversa (RO) Processo de separação no qual ocorre a rejeição de espécies solúveis em função da difusão
preferencial da água através de uma membrana semipermeável, utilizando a pressão hidráulica
como força motriz.
Processos de Processos físicos e químicos utilizados no tratamento de água e efluentes visando à remoção de
separação constituintes específicos. Os constituintes removidos são concentrados em uma corrente específica que
deverá ser gerenciada.
11–1 Razões para o tratamento complementar de efluentes P 1097
Termo Definição
Razão de adsorção de Medida da sodicidade de um solo que é obtida por meio da relação entre a concentração de íons
sódio (RAS) sódio e as concentração dos íons cálcio e magnésio.
Resíduos Qualquer subproduto resultante dos processos de tratamento de efluentes que não seja a fração
tratada. No caso do processo de filtração em profundidade e separação por membranas, os resíduos
são a água de contralavagem do filtro e o concentrado e as soluções de limpeza química dos
processos de separação por membranas.
Troca iônica Processo utilizado para remover espécies iônicas dissolvidas de uma fase líquida para uma fase
sólida, geralmente poliméricos, com espécies iônicas específicas (Na, H, Cl, OH), por meio da
substituição desses íons por aqueles presentes na fase líquida.
Ultrafiltração (UF) Processo de separação por membranas, similar à MF, mas com capacidade de separar bactérias,
vírus e moléculas orgânicas com massa molar elevada.
TABELA 11–1 Contaminantes típicos encontrados em efluentes tratados por sistema secundário e as razões que
podem levar à necessidade de tratamento adicional
Contaminante Efeito e/ou necessidade para tratamento adicional
Material particulado, ou coloidal, orgânico e inorgânico
Sólidos em suspensão • Podem comprometer a eficiência da desinfecção
• Podem causar depósitos de lodos ou comprometer a transparência da água do corpo
receptor
• Podem afetar a turbidez do efluente
Sólidos coloidais • Podem afetar a turbidez do efluente
Matéria orgânica (particulada) • Pode proteger as bactérias durante o processo de desinfecção ou reduzir a
concentração de OD no corpo receptor
Compostos orgânicos dissolvidos
Carbono orgânico total • Pode reduzir a concentração de OD no corpo receptor
Compostos orgânicos recalcitrantes • Toxicidade química para organismos vivos
Compostos orgânicos voláteis • Toxicidade química; carcinogênicos e formação de oxidantes fotoquímicos
Compostos farmacêuticos • Efeitos nas espécies aquáticas (alterações endócrinas)
Surfactantes • Formação de espuma e interferência no processo de coagulação
Compostos inorgânicos dissolvidos
Amônia • Aumento na demanda de cloro
• Pode ser convertida a nitrato e, nesse processo, reduzir a concentração de OD no
corpo receptor
• Com o fósforo, pode resultar no processo de eutrofização
• Apresenta toxicidade a espécies aquáticas
Nitrato • Pode contribuir para o processo de eutrofização
• Pode resultar em metahemoglobinemia em recém-nascidos
Fósforo • Aumento na dosagem do produtos químicos
• Pode resultar no processo de eutrofização
• Interfere no processo de abrandamento
Cálcio e magnésio • Aumentam a dureza e a concentração de SDT
• Podem afetar a razão de adsorção de sódio
Cloreto e sulfato • Podem afetar o gosto da água
Sólidos dissolvidos totais • Afetam a agricultura e os processos industriais
• Podem interferir no processo de coagulação
Micro-organismos
Bactérias • Podem causar doenças
Cistos e oocistos de protozoários • Podem causar doenças
Vírus • Podem causar doenças
ção e no atendimento dos padrões de emissão de efluentes. Além disso, com base no acúmulo de
conhecimento científico em relação aos impactos dos contaminantes remanescentes no efluente
secundário, obtidos em estudos de laboratório ou monitoramento ambiental, é previsto que muitos
dos métodos de tratamento atualmente classificados como terciários ou avançados sejam conside-
rados convencionais nos próximos 10 ou 20 anos. Por exemplo, a filtração do efluente secundário
tornou-se uma prática comum ao longo dos últimos 20 anos, em especial nos países desenvolvidos.
11–2 Tecnologias utilizadas para a remoção de material particulado e dissolvido presente no… P 1099
As principais operações unitárias utilizadas para a remoção de sólidos dissolvidos, como dis-
cutido neste capítulo, incluem: (1) osmose reversa (passagem de um líquido através de uma mem-
brana semipermeável para retenção de sólidos dissolvidos); (2) eletrodiálise (transporte de espécies
iônicas através de membranas íon-seletivas por meio da aplicação de uma diferença de potencial
elétrico entre as membranas); (3) adsorção (acúmulo de contaminantes em uma fase sólida); (4) ex-
tração com ar (transferência do contaminante da fase líquida para a fase gasosa); (5) troca iônica
(intercâmbio de espécies iônicas entre uma fase líquida e outra sólida); e (6) evaporação ou destila-
ção (constituintes separados por processos térmicos).
Efluente secundário
(c) Ultrafiltração Osmose Ozonização Desinfecção Desinfecção
após sedimentação,
reversa com UV Cl2
sem e com nitrificação
e remoção biológica
de nutrientes
Caldeira de
alta pressão
(f) Microfiltração Osmose Osmose Desinfecção
reversa reversa UV
(opcional)
(g)
Biorreator com Desinfecção
Efluente primário membrana Cl2 ou UV
após peneira
ou bruto
FIGURA 11–1 Diagramas de processos típicos para tratamento de efluentes utilizando tecnologias avançadas de tratamento.
Todos os arranjos apresentados têm aplicação específica. Por exemplo, no diagrama (d), o processo de oxidação avançado é
utilizado para a oxidação de NDMA. Já no diagrama (e), uma unidade de troca iônica é utilizada para a remoção de nitrato.
1102 P Capítulo 11 Processos para remoção de contaminantes residuais
TABELA 11–3 Operações e processos unitários utilizados para a remoção de material em suspensão e dissolvido
encontrado em efluentes secundários
Operação ou processo unitário (seção na qual é discutido)
Filtração em Filtração em Micro e Osmose
profundidade superfície ultrafiltração reversa Eletrodiálise Adsorção
Constituinte (11–4) (11–5) (11–6) (11–6) (11–7) (11–8)
Material particulado em
suspensão e coloidal, orgânico
e inorgânico
Sólidos em suspensão
Sólidos coloidais
Matéria orgânica dissolvida
Carbono orgânico total
Compostos orgânicos
recalcitrantes
Compostos orgânicos voláteis
Compostos orgânicos
dissolvidos
Amôniaa b b
Nitrato a
Fósforoa c
a
A remoção biológica de nitrogênio e de fósforo é tratada nos Capítulos 7 a 10.
b
Na forma ionizada, como NH4.
c
A remoção de fósforo é realizada no processo de filtração em duas etapas.
d
Apenas o processo de ultrafiltração.
para remover os sais para redução da concentração de sais dissolvidos totais no efluente. Na Fig.
11(d), várias operações e vários processos unitários são combinados para produção de água potá-
vel. No diagrama, a osmose reversa é utilizada, então algum tipo de sistema de filtração por mem-
brana deverá ser utilizado a montante para minimizar a concentração de sólidos em suspensão, que
podem danificar a membrana de osmose. Na Fig. 11–1(f), um sistema de osmose reversa de duplo
passo foi utilizado para produzir água de alimentação para caldeiras de alta pressão. Evidentemen-
te, uma ampla variedade de arranjos de tratamento pode ser desenvolvida e utilizada para possibi-
litar níveis de tratamento específicos. Outros exemplos de diagramas de processo são apresentados
e discutidos ao longo deste capítulo.
b b
típicos para a concentração de alguns contaminantes que podem ser atingidos no efluente final
de sistemas de filtração em profundidade e superfície e separação por membranas no tratamen-
to complementar do efluente de vários tipos de sistemas biológicos de tratamento. A variação
observada no desempenho das operações para a remoção de sólidos em suspensão em relação à
concentração de SST e à turbidez no efluente final é discutida nas seções que abordam cada uma
das operação unitárias específicas.
TABELA 11–4 Descrição dos processos comumente utilizados para a remoção de sólidos em suspensão e coloidal
Grãos de
areia
Filtrado
Suporte
Filtrado
se utiliza sistema de radiação UV (ver Capítulo 12). A filtração em um ou dois estágios é utilizada
para a remoção de fósforo após o processo de precipitação química. A relação entre a filtração em
profundidade e outras técnicas de filtração é ilustrada na Fig. 11–2. No passado, a filtração em
profundidade foi utilizada, quase exclusivamente, para a filtração de efluentes. Contudo, com o
desenvolvimento das novas tecnologias de filtração em superfície, como discutido na Seção 11-5, a
filtração em profundidade deixou de ser a tecnologia de filtração dominante.
Com o objetivo de introduzir o tema sobre filtração em profundidade, esta seção apresenta:
(1) uma introdução geral sobre a operação de filtração em profundidade, (2) uma introdução sobre
os fundamentos do escoamento da água limpa em meios porosos e (3) uma análise da operação
de filtração. Os tipos de filtros disponíveis e questões associadas à sua seleção e ao seu dimensio-
namento, incluindo um discussão sobre a necessidade da realização de ensaios em escala-piloto,
serão abordados nas próximas seções.
Filtração
FIGURA 11–3 Características físicas gerais e de operação de um filtro rápido, com meio granular profundo convencional:
(a) escoamento durante o ciclo de filtração e (b) escoamento durante o ciclo de contralavagem. (Tchobanoglous e Schroeder,
1985.)
sagem de sólidos. Assim, a escolha do tamanho das partículas do material que constituirá o meio
filtrante deverá levar em consideração as exigências em relação à qualidade do filtrado, com uma
taxa aceitável para a evolução de perda de carga no meio filtrante. A distribuição do tamanho do
material filtrante é obtida por meio de uma análise granulométrica, utilizando uma série de peneiras
com aberturas decrescentes. A designação e os tamanhos das aberturas de peneiras utilizadas nos
Estados Unidos são apresentados na Tabela 11–6. Os resultados de uma análise granulométrica são
avaliados por meio de um gráfico que relaciona a parcela de material acumulada em cada peneira
com a sua abertura, podendo ser utilizadas as escalas decimal-logarítmica ou logarítmica-logarít-
mica (ver Exemplo 11–1).
O tamanho efetivo do material que constitui o meio filtrante, representado pelo símbolo d10, é de-
finido como a abertura da peneira através da qual apenas 10% em massa do material não ficou retido.
Para a areia, foi verificado que os 10% em massa que passaram pela peneira representam, aproxima-
damente, 50% do número de partículas. O fator de uniformidade (FU) do meio filtrante é definido pela
relação entre as aberturas das peneiras através das quais 60% e 10% em massa do material não retido
– matematicamente, FU d60 /d10. Algumas vezes, é vantajoso especificar o material em função da
abertura das peneiras através da qual 99% e 1% do material não fica retido para definir de forma mais
precisa a curva de gradação de cada meio filtrante. Informações adicionais sobre as características
de meios filtrantes são apresentadas nas seções que tratam do dimensionamento de filtros profundos.
A operação de filtração. Na filtração convencional em um filtro profundo com escoamento
descendente, o afluente contendo material em suspensão e coloidal é alimentado na parte superior
do meio filtrante (Fig. 11–3a). À medida que a água passa através do meio filtrante, o material em
suspensão vai sendo retido através de vários mecanismos de remoção, descritos a seguir. Com o
tempo, ocorre o acúmulo de sólidos nos interstícios do meio granular, o que aumenta a perda de
carga no filtro, como mostra a Fig. 11–4.
Considerações sobre a perda de carga e a turbidez. Após um determinado período de tempo, a
perda de carga do filtro ou a turbidez do efluente atingem um valor predeterminado, e o filtro deve
ser limpo. Em condições ideais, o tempo necessário para atingir o valor de perda de carga predefi-
nido deve corresponder ao tempo para que o valor de turbidez ou a concentração de SST atinjam o
valor limite para a qualidade do efluente. O transpasse de turbidez ocorre quando a quantidade de
sólidos acumulada no meio filtrante é suficiente para que a tensão de cisalhamento causada pelo es-
coamento do líquido supere a energia de ligação entre o material sendo filtrado e os sólidos acumu-
lados. No ponto de transpasse, o desprendimento de sólidos ocorre apenas em função da substituição
do material já retido pelo material que chega, de maneira que uma condição de equilíbrio é mantida.
Na prática, uma ou outra condição determinará a frequência de contralavagem do filtro.
Mecanismos de remoção de sólidos. Os principais mecanismos que se acredita que contribuam,
para a remoção de material sólido em um meio filtrante granular são apresentados e descritos na
1108 P Capítulo 11 Processos para remoção de contaminantes residuais
Tabela 11–7. Os principais mecanismos de remoção (os cinco primeiros relacionados na Tabela
11–7) são ilustrados na Fig. 11–5. A retenção, ou efeito de coar, foi identificado como o principal
mecanismo para a remoção de sólidos em suspensão durante a filtração de efluente secundário de
sistemas biológicos de tratamento após clarificação (Tchobanoglous e Eliassen, 1970; Tchobano-
glous, 1988).
Outros mecanismos, como a interceptação, a sedimentação e a adesão, também atuam, em-
bora sejam menos eficazes e, na maioria dos casos, sejam mascarados pelo mecanismo de re-
tenção. A remoção de partículas pequenas, encontradas nos efluentes (ver Fig. 11–5), deve ser
realizada em duas etapas: (1) o transporte das partículas até a superfície do material onde elas se-
rão removidas e (2) a remoção das partículas por meio de um ou mais mecanismos apresentados
na Tabela 11-7. Esse processo em duas etapas foi definido como transporte e adesão (O’Melia e
Stumm, 1967).
Filtros profundos convencionais com escoamento descendente, de duas ou múltiplas camadas
e de leito profundo com meio único (ver Fig. 11–6), foram desenvolvidos para permitir que os
sólidos suspensos presentes no afluente pudessem penetrar no meio filtrante e, assim, fazer melhor
uso da capacidade de armazenagem de sólidos disponível. A maior penetração dos sólidos no meio
filtrante também permite maiores carreiras de filtração, um vez que a evolução da perda de carga
11–4 Introdução à filtração em profundidade P 1109
Perda de carga
Evolução da
perda de carga Tempo para
a perda de
carga máxima
Tempo para
Turbidez
transpasse de turbidez
(fim da carreira)
Turbidez limite
(b)
Observação: A fase de estabilização refere-se ao período de
tempo necessário para que a turbidez do efluente do filtro,
após a operação de contralavagem, atinja o limite estabelecido.
Durante esse período, a água filtrada é recirculada para a alimentação
do sistema de tratamento.
FIGURA 11–4 Avaliação da carreira de filtração com base: (a) no aumento da perda de carga e (b) no
limite de turbidez para o efluente.
é reduzida. Em comparação, nos filtros que utilizam meio único não profundo, a maior parte dos
sólidos presentes no afluente é removida na parte superior do meio filtrante.
Operação de contralavagem. O final da carreira de filtração (etapa de filtração) é atingida
quando a concentração de sólidos suspensos no efluente do filtro começa a aumentar (transpasse),
superando o limite estabelecido, ou quando o valor da perda de carga através do meio filtrante é
atingida (ver Fig. 11–4). Quando uma dessas condições é atingida, a etapa de filtração é interrom-
pida e o filtro deve ser limpo (contralavado) para remover o material (sólidos suspensos) que ficou
acumulado no meio granular do leito filtrante.
A contralavagem é realizada utilizando-se água limpa, com escoamento em sentido con-
trário ao da filtração (ver Fig. 11–3b). Aplica-se uma vazão de água de lavagem suficiente para
fluidizar (expandir) o meio granular, fazendo com que o material do meio sofra abrasão. A
vazão necessária de água de lavagem está relacionada à temperatura da água e à expansão do
meio filtrante na fase de lavagem com alta taxa. Caso o meio filtrante não seja limpo de forma
Correntes de fluxo
Grão de Partícula em
areia suspensão
(a) Retenção
FIGURA 11–5 Remoção de material particulado em suspensão em filtros de meio granular por: (a) reten-
ção, (b) sedimentação ou impacto inercial, (c) interceptação, (d) adesão, (e) floculação com subsequente
remoção por um ou mais dos mecanismos previamente mencionados. (Adaptado de Tchobanoglous e
Schroeder, 1985).
1110 P Capítulo 11 Processos para remoção de contaminantes residuais
TABELA 11–7 Principais mecanismos e fenômenos que contribuem para a remoção de sólidos em um filtro
profundo com meio granular
Mecanismo/fenômeno Descrição
1. Retenção
a. Mecânica Partículas maiores que o diâmetro do poro do meio de filtração são retidas
mecanicamente.
b. Por contato Partícula menores que o diâmetro do poro do meio filtrante são aprisionadas no
interior do filtro por contato com grão do meio filtrante ou outras partículas retidas.
2. Sedimentação ou impacto Partículas pesadas que não seguem as linhas de fluxo acabam sedimentando sobre
o material do meio filtrante (coletores).
3. Interceptação Muitas partículas transportadas pelas linhas de fluxo são removidas quando
entram em contato com a superfície do material do meio filtrante.
4. Adesão As partículas de sólidos aderem à superfície do material filtrante à medida que
passam através dos poros. Em função da energia do líquido que escoa através
do meio filtrante, uma parcela dos sólidos retidos é removida antes que ocorra
a adesão efetiva e é transportada para camadas mais profundas do leito. À
medida que os poros do leito são obstruídos, a tensão de cisalhamento aumenta,
impedindo que ocorra retenção adicional de sólidos. Nessa condição, algumas
partículas sólidas podem transpassar o leito de filtração, resultando no aumento da
turbidez do efluente do filtro.
5. Floculação A floculação pode ocorrer dentro dos interstícios do meio filtrante (poros).
O gradiente de velocidade resultante do escoamento do líquido possibilita a
agregação de partículas sólidas, que aumentam de tamanho e são removidas por
um ou mais dos mecanismos apresentados.
6. Adsorção química
a. Ligações
b. Interação química
Uma vez que os sólidos presentes no efluente entram em contato com o meio
7. Adsorção física filtrante ou com outras partículas, um ou ambos mecanismos indicados poderão
a. Forças eletrostáticas manter os sólidos aderidos ao meio.
b. Forças eletrocinéticas
c. Forças de van der Waals
8. Crescimento biológico O crescimento biológico no interior do meio filtrante reduzirá o volume dos poros e
poderá aumentar a retenção de partículas por meio dos mecanismos de 1 a 5.
adequada, pode haver acúmulo de materiais finos, gorduras e micro-organismos, podendo levar
à formação de bolas de lama.
O material em suspensão retido no filtro é removido por forças de cisalhamento criadas pela
água de contralavagem à medida que ela se desloca ao longo do leito expandido e pela abrasão
entre os grãos do meio filtrante. Dessa forma, o material que foi acumulado no meio filtrante é
Só
antracito
Só Zona de
areia intermistura
eliminado. A lavagem superficial do meio filtrante com água e arraste com ar é frequentemente
utilizada em combinação com a contralavagem para melhorar a limpeza do leito filtrante. O arraste
com ar, frequentemente, reduzirá a duração da operação de contralavagem e, consequentemente,
a quantidade de água necessária. Após a operação de contralavagem, o descarte inicial da água
filtrada para o sistema de coleta de efluentes é uma prática utilizada com frequência para evitar a
presença de qualquer partícula residual no efluente filtrado. Em muitos diagramas de processos de
sistemas de tratamento de efluentes, a água de lavagem de filtros, contendo os sólidos removidos
do filtro, é retornada aos sedimentadores primários ou ao sistema biológico de tratamento. Atual-
mente, principalmente em estações de grande porte, estão sendo previstas unidades separadas para
a remoção dos sólidos da água de contralavagem dos filtros.
(11–11)
1112 P Capítulo 11 Processos para remoção de contaminantes residuais
TABELA 11–8 Fórmulas para o cálculo da perda de carga com água limpa em um filtro de meio granular
Equação Nº
Hazen (Hazen, 1905)
C coeficiente de compactação (varia de 600 para areias muito
compactadas que não são muito limpas até 1.200 para areia
(11–1)
limpa e muito uniforme)
Cd coeficiente de arrasto
Fair-Hatch (Fair e Hatch, 1933) d diâmetro do grão, m (ft)
dg média geométrica da abertura entre peneiras (d1 e d2)0,5 ,
(11–2)
mm (in)
f fator de fricção
Kozeny-Carman (Carman, 1937)
a
g aceleração da gravidade, 9,81 m/s2 (32,2 ft/s2)
Assim, para uma partícula esférica, o fator de esfericidade é igual a 1,0. Geralmente, os fatores
de esfericidade podem ser aplicados para partículas discretas e variam de 1,0 para esferas a 0,70
11–4 Introdução à filtração em profundidade P 1113
para areia moída. Como a esfericidade é difícil de medir, valores típicos são obtidos a partir de
observações experimentais (Carman, 1937).
A área superficial específica, Sv, definida como a relação entre a área e o volume de uma partí-
cula, pode ser calculada pelas Eqs. (11-12a) e (11-12b).
Para partículas esféricas:
(11–12a)
(11–12b)
Na literatura, o número 6 e o valor 6/, que aparecem nas equações apresentadas, foram iden-
tificados como fator de forma, S, para partículas esféricas e não esféricas, respectivamente [ver Eq.
(11–2), Tabela 11–8] (Fair et al., 1968). O cálculo da perda de resultante do escoamento de água
limpa por um filtro de meio granular é apresentado no Exemplo 11–1.
Solução
1. Calcule o tamanho efetivo e o fator de uniformidade da areia. Plote o gráfico da porcen-
tagem cumulativa de material que passa pelas peneiras em função da abertura da peneira.
Dois métodos para a plotagem são apresentados a seguir.
(continua)
1114 P Capítulo 11 Processos para remoção de contaminantes residuais
(continuação)
100 99,99
99,9
FU
Média
Tamanho da geométrica
peneira ou Fração de do tamanho, Número de
número areia retida mm Reynolds Cd
8–10 0,01 2,18 4,93 6,56 30
10–12 0,03 1,83 4,15 7,60 124
12–18 0,16 1,30 2,93 10,28 1.268
18–20 0,16 0,92 2,08 13,99 2.441
20–30 0,30 0,71 1,60 17,71 7.509
30–40 0,22 0,50 1,13 24,38 10.729
40–50 0,12 0,35 0,80 33,73 11.459
Soma 33.560
Comentário
Como os valores do número de Reynolds são menores que 6 (4,93 ou menos), a perda de car-
ga é devida a forças viscosas na região de fluxo laminar, representadas pelo primeiro termo
da equação de cálculo de Cd [Eq. (11–7)]. Se meios filtrantes com partículas maiores são uti-
lizados e a velocidade de escoamento aumenta, o segundo e o terceiro termos da equação de
cálculo de Cd terão maior impacto. Embora muitas equações tenham sido propostas ao longo
dos anos, a equação de Rose tem se mostrado bastante adequada para estimar a perda de carga
com água limpa através de meios filtrantes para vários regimes de escoamento.
Hidrodinâmica na contralavagem. A análise da Fig. 11–7 será útil para entender o que acon-
tece durante a operação de contralavagem, na qual se verifica o aumento da perda de carga através
do leito filtrante à medida que a velocidade de escoamento na contralavagem também aumenta.
Entre os pontos A e B, o leito está estável, e a relação entre a perda de carga e o número de Reynolds
NR é linear. No ponto B, a perda de carga se torna equivalente ao peso do meio filtrante. Entre os
pontos B e C, o leito se torna instável, e as partículas ajustam a sua posição para apresentar a menor
resistência possível ao escoamento da água. No ponto C, o arranjo mais livre possível entre as par-
tículas é obtido, mas as partículas ainda estão em contato. Além do ponto C, as partículas começam
a se mover livremente, mas colidem com frequência, de maneira que ocorre um movimento similar
ao das partículas na sedimentação obstruída. O ponto C é conhecido como ponto de fluidização.
Com o tempo, o ponto D é alcançado, todas as partículas estão em movimento e, além desse ponto,
aumentos no NR resultam em um aumento muito pequeno na perda de carga, à medida que o leito
continua a expandir e as partículas se movem mais rapidamente e de forma independente. Por fim,
as partículas serão transportadas com a água até que toda a areia seja removida do filtro, no ponto E.
1116 P Capítulo 11 Processos para remoção de contaminantes residuais
C E
B
D
log (–ΔP )
A
log NRe
FIGURA 11–7 Diagrama esquemático ilustrando a fluidização de um leito filtrante. (Adaptado de Foust
et al., 1960.)
(11–13)
Como as partículas individuais são mantidas em suspensão pela força de arrasto exercida pelo
escoamento ascendente da água, é possível demostrar pela teoria da sedimentação (ver Seção 5–5,
Capítulo 5) que:
(11–14)
(11–15)
Assim,
(11–16)
ou
(11–17)
Contudo, pelo fato de o volume do meio filtrante por unidade de área permanecer constante,
(1 a) L deve ser igual a (1 ae)Le, de forma que:
(11–18)
Quando o meio filtrante está estratificado, as partículas menores e maiores na camada superior
do leito se expandem primeiro. Para expandir todo o leito, a velocidade de contralavagem deve ser
suficiente para movimentar a partícula maior e mais pesada. Para levar em consideração a estrati-
ficação do leito, a Eq. (11–18) é modificada, assumindo que as partículas retidas entre as peneiras
são relativamente uniformes (Fair e Hatch, 1933).
(11–19)
Assim, a velocidade necessária para expandir o leito e a altura do leito expandido pode ser obtida
utilizando-se as Eqs. (11–18) e (11–19), como ilustrado no Exemplo 11–2. Mais detalhes sobre a
expansão do leito de filtração podem ser obtidas em Amirtharajah (1978), Cleasby e Fan (1982),
Dharmarajah e Cleasby (1986), Kawamura (2000), Leva (1959) e Richardson e Zaki (1954).
Solução
1. Elaboração da tabela para cálculo da somatória da Eq. (11–19).
(continua)
1118 P Capítulo 11 Processos para remoção de contaminantes residuais
(continuação)
A velocidade de contralavagem é:
y 0,75 m/minuto 0,0125 m/s
c. Calcule os valores de ae e inclua na tabela de cálculo.
Comentário
O conhecimento da profundidade do leito expandido é importante para definir a altura mí-
nima das canaletas de coleta de água de lavagem acima da superfície do leito filtrante. Na
prática, o fundo da canaleta de coleta de água de lavagem deve estar entre 50 e 150 mm (2 e
6 in) acima do leito expandido, e assume-se uma expansão do leito entre 30 e 50%. A largura
e a profundidade das canaletas de coleta devem ser suficientes para veicular o volume de água
de contralavagem utilizado, considerando-se uma borda livre, acima do vertedor da canaleta
de 600 mm (24 in).
11–4 Introdução à filtração em profundidade P 1119
(11–20)
Na Eq. (11–20), o primeiro termo representa a diferença entre a quantidade em massa de sóli-
dos suspensos que entra e sai do elemento de controle; o segundo, a variação da quantidade de sóli-
dos suspensos acumulada nos interstícios do leito filtrante; e o terceiro, a variação da concentração
média de sólidos em suspensão nos espaços dos poros no volume do filtro.
Como a quantidade de fluido contida no leito filtrante em um processo contínuo é muito pe-
queno se comparado com o volume de líquido que atravessa o mesmo, o balanço material pode ser
representado pela Eq. (11-21).
(11–21)
Essa equação é a mais comumente encontrada na literatura que trata da teoria de filtração.
QC |z
Área, A
Volume, V = A Δz
Seção z
do leito
filtrante z +Δz
QC |z + Δ z
Para solucionar a Eq. (11–21), uma equação adicional, independente, é necessária. A aborda-
gem mais direta é desenvolver uma equação que possa ser utilizada para descrever a variação na
concentração de sólidos suspensos com a profundidade, como a Eq. (11-22).
(11–22)
são as variáveis que governam a remoção de sólidos em suspensão da solução. Uma abordagem
alternativa é desenvolver uma equação complementar na qual as variáveis pertinentes sejam rela-
cionadas com a quantidade de material retido (acumulado) no filtro em várias profundidades. Isso
pode ser expresso na forma da Eq. (11-23).
(11–23)
Utilizando uma das expressões apresentadas, Eq. (11–21) ou Eq. (11–22), várias soluções foram
propostas para solucionar a equação da continuidade [Eq. (11–21)] (Caliskaner e Tchobanoglous,
2000).
Evolução da perda de carga. No passado, a abordagem mais comumente utilizada para obter
a perda de carga em um filtro obstruído era calculá-la utilizando formas modificadas das equações
utilizadas para o cálculo da perda de carga com água limpa (ver a Tabela 11–8). Em todos os casos,
a dificuldade encontrada para utilizar essas equações é que a porosidade deve ser estimada para
vários níveis de obstrução. Infelizmente, a complexidade dessa abordagem faz com que a maioria
dessas formulações seja inadequada, ou, na melhor das hipóteses, difícil de utilizar.
Uma abordagem alternativa é relacionar a evolução da perda de carga com a quantidade de
material removido pelo filtro. A perda de carga pode, então, ser calculada utilizando a Eq. (11-24).
(11–24)
A partir da avaliação das curvas de incremento da perda de carga para leitos filtrantes uniformes de
areia e antracito, verifica-se que a evolução da perda de carga em uma camada individual do filtro
está relacionada com a material sólido contido nessa camada. Assim, a forma da equação resultante
para a perda de carga na enésima camada é dada pela Eq. (11-25).
(11–25)
Nessa equação, assume-se que a evolução da perda de carga depende apenas da quantidade
de material removido. A aplicação dessas equações de modelagem pode ser encontrada nas 3ª e 4ª
edições deste livro.
Detalhes do leito
filtrantea
Tipo de Direção Taxa de Local de
operação Meio típica do Operação de aplicação armazenagem Tipo de
Tipo de filtro do filtro Tipo filtrante escoamento contralavagem no filtro de sólidos projeto Observações
Convencional Intermitente Monocamada Areia ou Descendente Batelada Constante/ Superfície e Individual Aumento rápido da perda de carga
(estratificado antracito variável parte superior
ou não) do leito
Convencional Intermitente Dupla camada Areia e Descendente Batelada Constante/ Interna Individual Filtros de dupla camada são
(estratificado) antracito variável utilizados para aumentar a carreira
de filtração
Convencional Intermitente Múltiplas Areia, Descendente Batelada Constante/ Interna Individual Filtros de múltiplas camadas são
camadas antracito e variável utilizados para possibilitar uma
(estratificado) granada maior penetração dos sólidos
Leito profundo Intermitente Monocamada Areia ou Descendente Batelada Constante/ Interna Individual Filtros profundos são utilizados para
(estratificado antracito variável armazenar os sólidos e aumentar a
ou não) carreira de filtração
Leito profundo Intermitente Monocamada Areia Ascendente Batelada Constante Interna Patenteado Filtros profundos são utilizados para
(estratificado) armazenar os sólidos e aumentar a
carreira de filtração
Leito profundo Intermitente Monocamada Areia Ascendente Contínua Constante Interna Patenteado O leito de areia se movimenta em
(não direção oposta à do escoamento do
estratificado) líquido
Leito pulsado Intermitente Monocamada Areia Descendente Batelada Constante Superfície e Patenteado Pulsos de ar são utilizados para
(estratificado) parte superior romper o material da superfície e
do leito aumentar a carreira de filtração
Filtro Intermitente Monocamada Fibra Ascendente Batelada Constante Interna Patenteado Placas perfuradas são utilizadas
randômico (não sintética para reter o meio filtrante na
estratificado) contralavagem
Ponte rolante Contínuo Monocamada Areia Descendente Semicontínua Constante Superfície e Patenteado Células de filtração individuais com
(estratificado) parte superior contralavagem sequencial
do leito
Ponte rolante Contínuo Dupla camada Areia e Descendente Semicontínua Constante Superfície e Patenteado Células de filtração individuais com
(estratificado) antracito parte superior contralavagem sequencial
do leito
Filtros de Intermitente Mono ou dupla Areia e/ou Descendente Batelada Constante/ Superfície e Individual e Instalações de pequeno porte
pressão camada antracito variável parte superior patenteado
do leito
a
Para a profundidade do leito filtrante, ver Tabelas 11–15 e 11–16.
11–5 Filtração em profundidade: critérios para seleção e dimensionamento P 1123
TABELA 11–10 Descrição dos filtros profundos comumente utilizados em esquemas de reúso de águaa
(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
FIGURA 11–9 Vistas de instalações típicas de filtração: (a) vista de um filtro por gravidade conven-
cional, sem os meios suporte e de filtração (ver Fig. 11–20), mas com as canaletas de drenagem insta-
ladas; (b) filtro tipo ponte rolante (vazio), com as células de filtração expostas; (c) filtro de leito profundo
para desnitrificação; (d) filtro com contralavagem contínua (cortesia da Austep, Itália); (e) unidade
de filtração com meio filtrante disperso constituída por seis filtros; e (f) filtros de pressão utilizados em
unidades de pequeno porte. Informações adicionais sobre esses filtros são apresentadas nas Tabelas
11–9 e 11-10.
química também é utilizada para aumentar o tempo de operação do filtro antes que o valor da tur-
bidez da água atinja o limite estabelecido e para atender a outros objetivos, incluindo a remoção
de contaminantes específicos, como fósforo, íons metálicos e substâncias húmicas. Os produtos
químicos geralmente utilizados na operação de filtração de efluentes incluem uma ampla variedade
de polímeros orgânicos, sulfato de alumínio e cloreto férrico. Deve ser observado que a utilização
de auxiliares de filtração, normalmente, resultará em uma evolução mais rápida da perda de carga
no meio filtrante, e o uso excessivo desses produtos pode levar à formação de bolas de lodo.
Tanto o volume de água filtrada, como a taxa de aumento da perda de carga estão relacionadas
à taxa de filtração, vazão de alimentação por unidade de área do filtro. Parâmetros operacionais
típicos para filtros profundos, incluindo a taxa de filtração, são apresentados na Tabela 11–11,
11–5 Filtração em profundidade: critérios para seleção e dimensionamento P 1127
TABELA 11–11 Comparação entre as características operacionais de alguns filtros profundos no tratamento de
efluentes de sistemas de lodos ativados após sedimentação
Taxa de filtração
máxima aprovada
Detalhes do leito filtrantea Taxa de filtração típica pela DSPCc,d
% de água de
Tipo de filtro Tipo Meio filtranteb gal/ft2ⴢmin m3/m2ⴢmin gal/ft2ⴢmin m3/m2ⴢmin contralavagem
Convencional Monocamada A 2–6 0,08–0,24 5 0,20 4–8
não profundo
Convencional Dupla camada A e antr. 2–6 0,08–0,24 5 0,20 4–8
Convencional Múltiplas A, antr. e G 2–6 0,08–0,24 5 0,20 4–8
camadas
Leito profundo Monocamada A 5–8 0,20–0,33 5 0,20 4–8
Leito profundo Monocamada Antr. 5–8 0,20–0,33 5 0,20 4–8
Leito Monocamada A 4–6 0,16–0,15 5 0,20 8–15
profundo,
ascendente
Meio disperso Monocamada Meio sintético 15–40 0,60–1,60 40 1,60 2–5
Leito pulsado Monocamada A 2–6 0,08–0,24 5 0,08 4–8
Ponte rolante Monocamada A 2–5 0,08–0,2 2 0,08 4–8
Ponte rolante Duplacamada A e antr. 2–5 0,08–0,2 2 0,08 4–8
Filtro de Monocamada A ou A e antr. 2–6 0,08–0,24 5 0,20 4–8
pressão ou dupla
camada
a
Para filtros com leito profundo, ver Tabelas 11–15 e 11–16.
b
A areia, Antr. antracito, G granada.
c
Departamento de Saúde Pública da Califórnia.
d
Para o Título 22, de água de reúso.
12
0
0 5 10 15 20 25
Turbidez afluente, UNT
FIGURA 11–10 Dados de desempenho de sete tipos diferentes de filtros profundos utilizados para poli-
mento de efluentes, testados com o efluente da mesma unidade de lodos ativados com taxa de filtração de
160 L/m2ⴢmin (4 gal/ft2ⴢmin), com exceção do filtro com meio disperso, que foi operado com uma taxa de
800 L/m2ⴢmin (20 gal/ft2ⴢmin).
Utilizando as [Eqs. (11-26) e (11-27), para valores de turbidez do efluente secundário após sedi-
mentação, variando entre 5 e 7 UNT, afluente aos filtros, a concentração de SST varia entre 10 e
17 mg/L, e, para um efluente filtrado com turbidez de 2 UNT, a concentração de SST varia entre
2,8 e 3,2 mg/L.
Variações na remoção de turbidez e SST. Para a produção de água de reúso, a variabilidade
do desempenho do filtro é um fator crucial, uma vez que existem restrições específicas com relação
TABELA 11–12 Valores típicos da qualidade do efluente e variações observadas durante a operação de filtração
10 20
0,01
99,9
99,99
0,1
5
10
20
30
50
70
80
90
95
99
0,01
99,9
99,99
0,1
5
10
20
30
50
70
80
90
95
99
(a) Porcentagem de valores iguais ou menores que o valor indicado (b) Porcentagem de valores iguais ou menores que o valor indicado
FIGURA 11–11 Distribuições de probabilidade para o desempenho na filtração de efluente de processos de lodos ativados
sedimentado em instalações de grande porte para produção de água de reúso: (a) turbidez e (b) sólidos suspensos totais.
ao valor da turbidez no efluente final, as quais devem ser atendidas de forma consistente. Por exem-
plo, a turbidez para água de reúso irrestrito na Califórnia deve ser menor ou igual a 2 UNT. Como o
valor requerido para a turbidez é expresso em número inteiro, uma turbidez de 2,49 UNT é indicada
como 2 UNT. A variabilidade observada nos dados operacionais de unidades de produção de água
de reúso de grande porte é apresentada na Fig. 11–11 para os anos de 2010 e 2011.
Comparando-se os valores médios de turbidez e SST, entre os dois anos, verifica-se que as
relações SST/turbidez são de 1,51 e 1,32, respectivamente, que são consistentes com a faixa de
valores dada pela Eq. (11–27). O desvio padrão geométrico (sg) para a turbidez nos dois anos são
de 1,26 e 1,23. Da mesma forma, o desvio padrão geométrico para as concentrações de SST são
de 1,37 e 1,42, para 2010 e 2011. Ambos os conjuntos de valores do desvio padrão geométrico são
consistentes com os dados de literatura, como aqueles apresentados na Tabela 11–12. A avaliação
da variabilidade na concentração dos contaminantes presentes nos efluentes, utilizando o desvio
padrão geométrico, é discutida no Apêndice D. Quanto maior for o valor numérico de sg, maior será
a variação nos valores medidos. A utilização dos dados apresentados na Tabela 11–12 é ilustrada
no Exemplo 11–3.
Solução
1. Adote um valor de sg da Tabela 11–12 que corresponda ao valor de turbidez do efluente
para um sistema de lodos ativados com o processo de filtração. Pela Tabela 11-12, o valor
típico de sg é igual a 1,25.
2. Calcule a distribuição de probabilidade dos valores de turbidez do efluente.
a. Utilizando o valor de sg, calcule o valor de turbidez correspondente ao ponto P84,1 (ver
Apêndice D).
P84,1 sg P50 1,25 2 UNT 2,5 UNT
(continua)
1130 P Capítulo 11 Processos para remoção de contaminantes residuais
(continuação)
b. Faça uma estimativa da distribuição dos valores de turbidez do efluente plotando os
valores de P84,1 e P50. Como se espera que os valores de turbidez variem de acordo
com uma distribuição logarítmica normal, uma linha reta poderá ser traçada entre os
valores de P84,1 e P50, conforme mostrado a seguir.
5
P50 = 2 UNT
P99,2 = 2 UNT
2
1
0,01
0,1
1
5
10
20
30
50
70
80
90
95
99
99,9
99,99
Valores percentuais iguais ou
menores que o valor indicado
Comentário
Reconhecer a variabilidade no desempenho dos sistemas de filtração é importante para o de-
senvolvimento do seu projeto, especialmente quando valores mais restritivos para a turbidez
média do efluente devem ser atendidos. Por exemplo, se o padrão de turbidez a ser atendido
tivesse sido de 2,0 UNT, com uma confiabilidade de pelos menos 99,2% (três violações por
ano), o valor médio, como ilustrado na figura, deveria ser de, aproximadamente, 1,17 UNT,
admitindo-se que o desvio padrão geométrico permanece constante e igual a 1,25. Para atin-
gir o valor médio de turbidez de 1,17 UNT, seria necessária, na maioria dos casos, a adição
de produtos químicos, embora muitas instalações com clarificadores secundários profundos
possibilitem atingir esses valores consistentemente sem adição química.
100
60
40
0
–0,5 0 0,5 1 1,5 2
Log do diâmetro da partícula, log(dp)
FIGURA 11–12 Eficiência de remoção de partículas de diferentes tamanhos por um filtro profundo utili-
zado para o tratamento do efluente de um sistema de lodos ativados para duas taxas de filtração.
em leito profundo, sem e com adição química, é ilustrado na Fig. 11–13. Os dados originais, como
obtidos, são mostrados na Fig. 11–13(a). Os dados originais, plotados de acordo com um ajuste
exponencial (ver Exemplo 2–4, no Capítulo 2), são apresentados na Fig. 11–13(b). Como mostrado
na Fig. 11–13(a), só a filtração afetou apenas as partículas maiores, enquanto todas as partículas
foram afetadas de maneira mais ou menos uniforme quando a filtração foi precedida do processo
de coagulação. Como mostrado na Fig. 11–13(b), embora o número de partículas em cada faixa de
tamanho tenha sido reduzido em uma ordem de magnitude, o efluente filtrado ainda apresenta um
número significativo de partículas em cada faixa de valores.
Remoção de micro-organismos. Quando não há utilização de produtos químicos, a remoção
de bactérias do grupo coliformes e de vírus do efluente tratado por processo biológico secundário,
por filtração, varia de 0 a 1,0 e de 0 a 0,5 log, respectivamente. O nível de remoção depende do TRS
com o qual o processo biológico é operado. Por exemplo, como mostrado na Fig. 11–14, quando
o TRS é aumentado, poucas partículas têm uma ou mais bactérias associadas. Valores típicos de
remoção de bacteriófagos MS2 são apresentados na Fig. 11–15. Como mostrado, a remoção média
de MS2 por filtração é de aproximadamente 0,3 log. Contudo, o mais relevante são os dados de
distribuição de remoção. Com base na distribuição mostrada na Fig. 11–15, que também é típica
para a remoção de coliformes, é possível atribuir o crédito de um log de remoção ao processo de
filtração em esquemas de reúso de água, o qual não é suficiente para proteção da saúde pública.
Quando é feita a dosagem química, os dados sobre a remoção de micro-organismos não apresentam
104
Contagem de partículas por canal,
Efluente secundário 6
Efluente secundário filtrado 5
103 Efluente secundário coagulado, = 2,6
ΔN, número/mL
floculado e filtrado 4
log[(ΔN/Δ(dpi)]
3
102
2
1 = 3,2
101
= 2,5
0
100 –1
1 10 100 0 0,5 1 1,5 2
(a) Tamanho médio da partícula, dp, m (b) log(dp)
FIGURA 11–13 Efeito da utilização de produtos químicos sobre a eficiência de remoção de partículas
(cortesia de K. Bourgeous, 2005): (a) dados originais, (b) dados originais plotados com um ajuste por uma
equação exponencial (ver Exemplo 2–4, no Capítulo 2).
1132 P Capítulo 11 Processos para remoção de contaminantes residuais
0,25
coliformes associados
0,15
0,1
0,05
0,0044
0
0 5 10 15 20 25 30
Tempo de retenção de sólidos (TRS), d
FIGURA 11–14 Número de partículas com um ou mais coliformes associados em função do tempo de
retenção de sólidos do processo de lodos ativados. (Adaptado de Darby, et al., 1999.)
diferenças estatísticas significativas, não sendo possível separar o efeito da dosagem química do
desempenho do filtro.
Demanda de água de contralavagem. A quantidade de água para contralavagem necessá-
ria para a limpeza do leito filtrante, expressa como uma porcentagem da capacidade da instalação,
dependerá das características do afluente ao filtro e do projeto do leito de filtração. Valores típicos
para a porcentagem de água de lavagem para filtros profundos são mostrados na Tabela 11–11 e
variarão de 4 a 15%. Para efeito de comparação, a porcentagem de água de lavagem para filtros
superficiais, discutidos na próxima seção, variará de 1 a 4%. Quando se inclui um sistema de fil-
tração em uma unidade de tratamento existente, o impacto do retorno da água de lavagem para o
início do tratamento deve ser avaliado cuidadosamente. Em muitos locais, a porcentagem de água
de contralavagem é o parâmetro que definirá o filtro a ser utilizado. O volume de água de contrala-
105
Remoção logarítmica média em
todo processo de tratamento = 4,02
Afluente primário
104
Efluente secundário
Efluente do filtro
Média logarítmica de Água produzida
Bacteriófagos, ufc/100 mL
Remoção
logarítmica média
no filtro = 0,29
100
10
Média logarítmica de
remoção após o processo
de desinfecção = 1,90
1
99,9
99,99
0,01
0,1
5
10
20
30
50
70
80
90
95
99
vagem necessário para a lavagem do filtro está diretamente relacionado à área do filtro, ao fator de
expansão do leito, ao tamanho das partículas do meio filtrante e à temperatura da água.
reprocessamento. Em muitos casos, esses fluxos de retorno contêm constituintes que deterioram o
desempenho global da instalação (aumento das concentração de compostos nitrogenados, material
coloidal e sólidos dissolvidos totais). Infelizmente, esses fluxos de retorno podem ter impacto no
desempenho global do processo biológico de tratamento, especialmente em relação à remoção de
nitrogênio e de material coloidal. Unidades de equalização e/ou sistemas separados para o trata-
mento dos fluxos de retorno, como aqueles discutidos no Capítulo 15, estão sendo instalados em
várias instalações de tratamento que necessitam atender a padrões mais restritivos de lançamento
dos seus efluentes (Tchobanoglous et al., 2011).
Equalização de vazões. A equalização de vazões é um método utilizado para reduzir a variabili-
dade da qualidade do efluente a ser tratado e melhorar o desempenho dos processos de tratamento
a jusante, além de permitir a redução do tamanho e do custo das unidades de tratamento (ver a
discussão estendida na Seção 3–7, Capítulo 3). Nos sistemas avançados de tratamento de efluen-
tes, os principais benefícios da equalização incluem: (1) redução da variabilidade do afluente, (2)
melhoria do desempenho em regime de operação constante, especialmente nos processos de se-
paração por membranas, e (3) menor desgaste das membranas devido às variações de vazão e de
carga (Tchobanoglous et al., 2003). Se a equalização total do efluente não for viável, uma atenção
especial deve ser dada à equalização dos fluxo de retorno.
Novas unidades de tratamento. Para novas unidades de tratamento de efluentes, todos os
fatores discutidos anteriormente devem ser considerados. Contudo, uma atenção especial deve ser
dada ao dimensionamento da unidades de clarificação secundária. Com o dimensionamento ade-
quado, o efluente resultante das unidades de clarificação pode apresentar baixos valores de SST (3
a 4 mg/L, ou menos) e de turbidez (menor que 1 a 2 UNT). Assim a decisão sobre o tipo de sistema
de filtração a ser utilizado é, frequentemente, baseada nas variáveis relacionadas ao sistema de
tratamento, como espaço disponível, duração do período de filtração (sazonal ou contínuo), tem-
po disponível para construção e custos envolvidos. As características mais relevantes no afluente
secundário a ser tratado por filtração são a concentração de sólidos suspensos, a distribuição de
tamanhos das partículas a serem removidas e a resistência dos flocos.
TABELA 11–13 Fatores relevantes para a seleção da tecnologia de filtração de efluentes secundáriosa
Fator Observações
Qualidade do efluente requerida Geralmente, é estabelecida pela legislação, dependendo do uso final do efluente tratado.
Características do afluente A qualidade requerida do afluente terá impacto na seleção da tecnologia de filtração,
já que alguns filtros têm maior tolerância a cargas de choque periódicas. Por exemplo,
grandes variações na qualidade do afluente são esperadas quando clarificadores pouco
profundos são utilizadas. Efluentes com qualidade mais previsível podem ser esperados
com a utilização de clarificadores profundos. Nos projetos mais recentes, que utilizam
clarificadores profundos (5 a 6 m de profundidade), efluentes com valores de turbidez
inferiores a 2 UNT são obtidos regularmente.
Tipo de filtro: patenteados não As tecnologias de filtração atualmente disponíveis são patenteadas ou de domínio
patenteados público. Com filtros patenteados, o fabricante é responsável por fornecer a unidade
completa de filtração, incluindo o sistema de controle, baseado em critérios básicos de
projeto e na especificação de desempenho. Para os filtros com tecnologia de domínio
público, o engenheiro de projeto deve trabalhar em conjunto com vários fornecedores
para o desenvolvimento do projeto de todos os componentes do sistema de filtração.
Prestadores de serviços e fornecedores disponibilizam os materiais e os equipamentos de
acordo com as especificações de projeto.
Taxa de filtração A taxa de filtração afeta as dimensões do filtro, em especial a área de filtração
necessária. Para uma determinada aplicação, a taxa de filtração dependerá, em primeiro
lugar, da resistência dos flocos e do tamanho das partículas do meio filtrante. Por
exemplo, se a resistência dos flocos é baixa, altas taxas de filtração tendem a romper os
flocos e arrastar grande parte do material sólido através do filtro. Taxas de filtração na
faixa de 80 a 330 L/m2·min afetarão a qualidade do efluente final durante a filtração de
efluentes de sistemas de lodos ativados após sedimentação (ver Tabela 11–11).
Força motriz Tanto a gravidade como uma força de pressão aplicada podem ser utilizadas para superar
a força de atrito resultante do escoamento do fluido através do meio filtrante. Filtros por
gravidade, similares aos apresentados na Tabela 8-5, são comumente utilizados para a
filtração de efluentes tratados em estações de grande porte. Filtros de pressão operam
com base no mesmo princípio dos filtros por gravidade e são utilizados em unidades de
tratamento de pequeno porte. Nesses filtros, a operação de filtração é realizada em um
vaso fechado sob pressão, obtida por meio do bombeamento do líquido.
Número e tamanho das unidades O número de unidades de filtração, geralmente, deve ser minimizado para reduzir os
de filtração custos de tubulação e de construção, mas deve ser suficiente para assegurar que: (1) as
taxas de contralavagem não se tornem excessivamente elevadas e, (2) quando um filtro é
retirado de serviço para contralavagem, o aumento de vazão de alimentação nos demais
filtros não seja excessivo. Os transientes de vazão, devido à operação de contralavagem,
não são uma questão relevante para os filtros com contralavagem contínua. Para atender
aos requisitos de redundância, um mínimo de dois filtros deve ser utilizado.
O tamanho dos filtros individuais deve ser consistente com o tamanho dos equipamentos
disponíveis para o sistema de drenagem, as calhas de coleta e os lavadores de superfície.
Tipicamente, a relação largura-comprimento para projetos de filtros individuais por
gravidade varia de 1:1 a 1:4. Um limite prático para a área superficial de um filtro
profundo individual (ou célula de filtração) é de, aproximadamente, 100 m2 (1.075 ft2),
embora filtros maiores já tenham sido construídos. Para os filtros patenteados, devem-se
utilizar as dimensões padrão disponibilizadas pelos fabricantes.
A área superficial de um filtro profundo é baseada na vazão de filtração de pico. A taxa
de filtração de pico é, geralmente, estabelecida com base em exigências legais. As faixas
operacionais para um determinado tipo de filtro são baseadas em experiências passadas,
resultados de estudos em escala-piloto, recomendação de fornecedores e restrições legais.
(continua)
1136 P Capítulo 11 Processos para remoção de contaminantes residuais
Fator Observações
Necessidade de água de Como observado na Tabela 8–4, filtros profundos são operados no modo contínuo
contralavagem ou semicontínuo. No modo semicontínuo de operação, o filtro é operado até que a
qualidade do efluente comece a se deteriorar ou que a perda de carga se torne excessiva,
quando o filtro deve ser tirado de serviço para ser contralavado para remoção dos
sólidos acumulados. Com os filtros operados em regime semicontínuo, deve ser prevista
a disponibilidade de água para operação de contralavagem dos filtros. Geralmente, a
água de contralavagem é bombeada do poço de água filtrada ou obtida por gravidade
de um reservatório elevado. O volume de armazenagem da água de contralavagem
deve ser suficiente para lavar cada filtro de 12 em 12 horas. Para os filtros que operam
continuamente, tais como os filtros com escoamento ascendente ou do tipo ponte rolante,
as etapas de filtração e contralavagem ocorrem simultaneamente. Nos filtros tipo ponte
rolante, a operação de contralavagem pode ser contínua ou semicontínua, conforme
requerido. Para os filtros que operam continuamente, não há problemas de transpasse de
turbidez ou de perda de carga terminal.
Adição química A adição química depende de condições específicas de cada sistema de filtração.
Dependendo do uso final do efluente filtrado, a necessidade de instalação de uma
unidade de dosagem química é mandatória, exigida por normas locais ou regionais.
Estudos em escala-piloto Em função do grande número de variáveis envolvidas, estudos em escala-piloto são,
geralmente, realizados quando as unidades de filtração serão instaladas em instalações
de tratamento de efluentes existentes. Para novas instalações, os estudos-piloto também
podem ser realizados em instalações existentes, com projetos similares.
Redundâncias Entende-se por redundâncias os componentes necessários para assegurar a operação da
unidade de filtração em decorrência da falha de qualquer componente crítico ou para
a realização de manutenções periódicas dos mesmos. Muitas unidade de tratamento
de efluentes que operam em regime contínuo dispõem de sistemas de armazenagem
de emergência e de geradores de energia elétrica para possibilitar a operação dos
equipamentos de processo. Em geral, um filtro reserva, no mínimo, deve ser previsto em
instalações de tratamento de efluentes, principalmente de grande porte. Quando não
for possível prever equipamentos redundantes ou reserva, devido à falta de espaço ou
a outras limitações, os filtros e as tubulações associadas devem ser dimensionados para
acomodar as vazões transientes durante períodos de manutenção.
a
Adaptado, em parte, de Tchobanoglous et al. (2003).
Capítulo 6. Para o controle da eutrofização, o processo de filtração por contato é utilizado em mui-
tas regiões dos Estados Unidos para a remoção do fósforo presente nos efluentes secundários em
estações de tratamento que descartam o efluente tratado para corpos d’água sensíveis. O processo
de filtração em dois estágios, descrito na Tabela 11-10, mostrou ser eficaz para a remoção de fós-
foro, possibilitando a obtenção de efluentes filtrados com concentrações 0,2 mg P/L ou menos. Os
produtos químicos normalmente utilizados na filtração de efluentes incluem uma ampla variedade
de polímeros orgânicos, sais de alumínio (sulfato e policloreto) e ferro (cloreto e sulfato). A utiliza-
ção de polímeros orgânicos e os efeitos das características químicas dos efluentes sobre a dosagem
de sais de alumínio são tratados na discussão apresentada a seguir.
Utilização de polímeros orgânicos. Os polímeros orgânicos são, em geral, classificados
como moléculas orgânicas de cadeia longa, com massa molar variando de 104 a 106 g/mol. Com
respeito à sua carga, os polímeros podem ser catiônicos (cargas positivas), aniônicos (cargas
negativas) ou não iônicos (não apresentam carga). Os polímeros são adicionados ao efluente
clarificado para possibilitar a formação de partículas maiores pelo agrupamento de um gran-
de número de partículas individuais na estrutura do polímero, como descrito no Capítulo 6.
Como as características químicas do efluente têm uma influência significativa no desempenho
do polímero, a escolha de um determinado polímero para uso como auxiliar de filtração exige
a realização de ensaios de laboratório com o efluente no qual ele será dosado – por exemplo,
ensaios de Jar Teste.
11–5 Filtração em profundidade: critérios para seleção e dimensionamento P 1137
FIGURA 11–16 Unidades-piloto de filtração: (a) colunas de filtração instaladas na estação de trata-
mento e (b) instrumentação utilizada para monitorar o desempenho de filtros, incluindo turbidímetros e
contadores de partículas.
Pelo fato de muitas variáveis poderem afetar o desempenho da operação de filtração, na rea-
lização dos estudos, em laboratório ou unidade-piloto, deve-se evitar a alteração de mais de uma
variável de cada vez para evitar problemas de interpretação dos resultados. Os testes em escala de
bancada e piloto devem ser realizados durante um período de tempo suficiente para a avaliação do
desempenho do sistema de filtração em função das variações sazonais nas características do efluen-
te a ser filtrado. O ideal é conduzir os ensaios pelo período de um ano. Os resultados dos testes
devem ser tratados e avaliados de diferentes formas para assegurar uma conclusão adequada sobre
o desempenho da operação de filtração e para a definição dos parâmetros de projeto da instalação
em escala real. Em função de detalhes específicos associados a cada programa de avaliação, não é
possível fazer uma generalização sobre o método de análise a ser utilizado, assim, a participação de
profissionais com experiência no tema é de fundamental importância.
TABELA 11–14 Recomendação para o projeto de filtros com meio granular utilizados para tratamento
complementar de efluentes secundários
Variável Significância
1. Qualidade requerida para o efluente Geralmente estabelecida por normas, depende do uso final do efluente filtrado.
2. Características do afluente Abordadas em seções anteriores.
3. Características do meio filtrante Afetam a perda de carga com água limpa, eficiência de remoção de material em
a. Tamanho efetivo, d10 suspensão e evolução da perda de carga.
b. Fator de uniformidade, FU
c. Tipo, forma do grão, massa A porosidade afeta a quantidade de sólidos que pode ser armazenada no meio
específica e composição filtrante. A profundidade do leito afeta a perda de carga inicial e a carreira de
4. Características do leito filtrante filtração. O grau de mistura do meio filtrante afetará o desempenho do filtro.
a. Profundidade do leito
b. Porosidade
c. Estratificação
d. Grau de mistura
5. Taxa de filtração Utilizada em conjunto com as variáveis 2, 3 e 4 para calcular a perda de carga
com água limpa. Taxa máxima especificada por agência reguladora (ver Tabela
11–11).
6. Controle de vazão Os principais métodos para o controle da taxa de filtração nos filtros descendentes
por gravidade podem ser classificados como: (1) taxa de filtração constante com
carga fixa, (2) taxa de filtração constante com carga variada e (3) taxa de filtração
variável declinante. Outros métodos de controle também são utilizados.
7. Perda de carga permitida Parâmetro de projeto; depende de a força motriz ser a gravidade ou a
pressurização por bomba.
8. Sistema de contralavagem Os métodos comumente utilizados para a contralavagem de filtros com meios
granulares com operação semicontínua incluem: (1) contralavagem somente
com água, (2) contralavagem com água e superficial auxiliar com água,
(3) contralavagem com água e arraste auxiliar com ar e (4) contralavagem
combinada, utilizando ar e água. Com os três primeiros métodos, a fluidização
do meio granular é necessária para uma limpeza eficaz do leito filtrante. Com
o quarto método, a fluidização não é necessária. As vazões requeridas para a
fluidização de vários leitos filtrantes são apresentadas na Tabela 11–11.
9. Necessidade de contralavagem Afeta o diâmetro das tubulações e das estruturas de drenagem.
10. Componentes adicionais Componentes adicionais: (1) sistema de drenagem utilizado para suporte do meio
filtrante, coleta do efluente filtrado e distribuição da água de contralavagem e o
ar (quando utilizado); (2) canaletas de drenagem utilizadas para remover a água
de contralavagem do filtro; e (3) sistema de lavagem superficial utilizado para
auxiliar na remoção do material aderido ao meio filtrante.
Valor
Característica Unidade Faixa Típico
Leito raso (estratificado)
Antracito
Profundidade mm 300–500 400
Tamanho efetivo mm 0,8–1,5 1,3
Fator de uniformidade adimensional 1,3–1,8 1,5
Taxa de filtração m3/m2ⴢmin 0,08–0,24
Areia
Profundidade mm 300–360 330
Tamanho efetivo mm 0,45–0,65 0,45
Fator de uniformidade adimensional 1,2–1,6 1,5
Taxa de filtração m3/m2ⴢmin 0,08–0,24
Convencional (estratificado)
Antracito
Profundidade mm 600–900 750
Tamanho efetivo mm 0,8–2,0 1,3
Fator de uniformidade adimensional 1,3–1,8 1,5
Taxa de filtração m3/m2ⴢmin 0,08–0,40
Areia
Profundidade mm 500–750 600
Tamanho efetivo mm 0,4–0,8 0,65
Fator de uniformidade adimensional 1,2–1,6 1,5
Taxa de filtração m3/m2ⴢmin 0,08–0,24
Leito profundo (não estratificado)
Antracito
Profundidade mm 900–2.100 1.500
Tamanho efetivo mm 2–4 2,7
Fator de uniformidade adimensional 1,3–1,8 1,5
Taxa de filtração m3/m2ⴢmin 0,08–0,40
Areia
Profundidade mm 900–1.800 1.200
Tamanho efetivo mm 2–3 2,5
Fator de uniformidade adimensional 1,2–1,6 1,5
Taxa de filtração m3/m2ⴢmin 0,08–0,40
Filtro disperso
Profundidade mm 600–1.080 800
Tamanho efetivo mm 25–30 28
Fator de uniformidade adimensional 1,1–1,2 1,1
Taxa de filtração m3/m2ⴢmin 0,60–1,60
a
Adaptado, em parte, de Tchobanoglous (1988) e Tchobanoglous et al. (2003).
Nota: m3/m2ⴢmin 24,5424 gal/ft2ⴢmin.
11–5 Filtração em profundidade: critérios para seleção e dimensionamento P 1141
Valorb
Característica Unidade Faixa Típico
Dupla camada
Antracito ( 1,60)
Profundidade mm 360–900 720
Tamanho efetivo mm 0,8–2,0 1,5
Fator de uniformidade adimensional 1,3–1,6 1,5
Areia ( 2,65)
Profundidade mm 180–360 360
Tamanho efetivo mm 0,4–0,8 0,65
Fator de uniformidade adimensional 1,2–1,6 1,5
Taxa de filtração m3/m2ⴢmin 0,08–0,40 0,20
Múltiplas camadas
Antracito (camada superior do filtro de quatro camadas,
1,60)
Profundidade mm 240–600 480
Tamanho efetivo mm 1,3–2,0 1,6
Fator de uniformidade adimensional 1,3–1,6 1,5
Antracito (segunda camada do filtro de quatro camadas,
1,60)
Profundidade mm 120–480 240
Tamanho efetivo mm 1,0–1,6 1,1
Fator de uniformidade adimensional 1,5–1,8 1,5
Antracito (camada superior do filtro de três camadas,
1,60)
Profundidade mm 240–600 480
Tamanho efetivo mm 1,0–2,0 1,4
Coeficiente de uniformidade adimensional 1,4–1,8 1,5
Areia ( 2,65)
Profundidade mm 240–480 300
Tamanho efetivo mm 0,4–0,8 0,5
Coeficiente de uniformidade adimensional 1,3–1,8 1,5
Granada ( 4,2)
Profundidade mm 50–150 100
Tamanho efetivo mm 0,2–0,6 0,35
Fator de uniformidade adimensional 1,5–1,8 1,5
Taxa de filtração m /m ⴢmin
3 2
0,08–0,40 0,20
a
Adaptado de Tchobanoglous (1988) e Tchobanoglous et al. (2003).
b
Tamanho do antracito, da areia e da granada selecionados para limitar os graus de mistura. Utilizar a Eq. (11–28) para outros valores de
densidade, .
Nota: m3/m2ⴢmin 24,5424 gal/ft2ⴢmin.
1142 P Capítulo 11 Processos para remoção de contaminantes residuais
99,99
99,9
99
0,1
0,01
1,0 10
Abertura de peneira, mm
FIGURA 11–17 Faixas de distribuição do tamanho de partículas para areia e antracito utilizadas em fil-
tros de dupla camada. Observe que o tamanho para 10% em massa de partículas de areia correspondem
a 50% do número de partículas.
utilizadas no leito filtrante. Os valores típicos das faixas de variação da distribuição do tamanho das
partículas de areia e antracito são apresentados na Fig. 11–17. O tamanho de 90% das partículas,
d90, obtido na curva de distribuição granulométrica do material, é utilizado para calcular a taxa de
aplicação da água de contralavagem para os filtros profundos. As propriedades físicas dos materiais
utilizados nos filtros profundos são apresentadas na Tabela 11–17.
Para evitar uma mistura excessiva entre as partículas dos diferentes materiais do meio filtrante,
a taxa de sedimentação do meio filtrante constituído de duas ou mais camadas deve ser, basicamen-
te, igual à velocidade de sedimentação. É inevitável que ocorra a mistura dos diferentes materiais
filtrantes, sendo que o grau de mistura em meios filtrantes de dupla ou múltiplas camadas depende
das diferenças entre as massas específicas e dos tamanhos das partículas dos vários meios de filtra-
ção. A Eq. (11-28) pode ser utilizada para definir os tamanhos adequados para das partículas dos
diferentes meios filtrantes (Kawamura, 2000).
(11–28)
TABELA 11–17 Propriedades típicas dos materiais de filtração utilizados em filtros profundosa
Solução
1. Relacione as propriedades de cada material
a. Para a areia:
i. Tamanho efetivo 0,55 mm
ii. Densidade 2,65 (ver Tabela 11–17)
b. Para o antracito:
i. Tamanho efetivo a ser calculado, mm
ii. Densidade 1,7 (ver Tabela 11–17)
2. Calcule o tamanho efetivo do antracito utilizando a Eq. (11–28)
Comentário
Outra abordagem que pode ser utilizada para verificar se ocorrerá a mistura entre os materiais
do meio filtrante é comparar as densidades totais de duas camadas adjacentes de material
filtrante quando fluidizadas (p. ex., os 450 mm superiores de areia e os 100 mm inferiores de
antracito).
Controle da vazão do filtro. Os principais métodos utilizados para controlar a taxa de filtra-
ção em um filtro descendente por gravidade podem ser classificados como: (1) taxa de filtração
constante com carga fixa, (2) taxa de filtração constante com carga variável e (3) taxa de filtração
variável declinante. Outros métodos de controle também são utilizados (Cleasby e Logsdon, 1999;
Kawumura, 2000).
Taxa de filtração constante com carga fixa. Na filtração com taxa constante com carga fixa (ver
Fig. 11–18a), a vazão através do filtro é mantida constante controlando-se tanto a vazão afluente
como a efluente. Bombas ou vertedores são utilizados para o controle da vazão afluente, enquanto
uma válvula modulada, que pode ser manual ou automática, é utilizada para o controle do efluente.
No sistema de controle da vazão efluente, no início da carreira de filtração, grande parte da força
motriz disponível para a filtração é dissipada na válvula, que está quase fechada. À medida que a
perda de carga no filtro vai aumentando, a válvula vai sendo aberta, até que se atinja a perda de
carga máxima permitida, quando o filtro é contralavado. Como as válvulas de controle apresentam
custo elevado e muitas delas apresentaram defeitos em várias aplicações, métodos alternativos para
o controle da vazão do efluente foram desenvolvidos, incluindo bombas e vertedores, e estão sendo
utilizados em grande escala.
Taxa de filtração constante com carga variada. Na filtração com taxa constante e carga variada
(ver Fig. 11–18b), a vazão através do filtro é mantida constante utilizando-se bombas ou vertedores
para o controle da vazão afluente. Quando a carga máxima no filtro ou a turbidez do efluente atin-
gem um valor pré-estabelecido, o filtro é contralavado.
1144 P Capítulo 11 Processos para remoção de contaminantes residuais
10 10 12
10
Vazão
5 Vazão 5 Vazão
5
0 0
Aumento do 0
1 nível de água
Nível de água
acima do leito, m
1 1
Nível de água
O nível de água é
o mesmo nos
0,5 três filtros
0,5 0,5
Aumento da Nível de água
perda de carga
0 0 0
Tempo durante a Tempo durante a Tempo durante a
carreira de um filtro, h carreira de um filtro, h carreira de um filtro, h
(a) (b) (c)
FIGURA 11–18 Representação esquemática da operação de filtros: (a) carga fixa, (b) carga variável, (c) taxa e perda de
carga variáveis. As curvas para os filtros (a), (b) e (c) são para a operação de um filtro em um banco de quatro filtros. Os números
representam o filtro que está sendo contralavado durante a carreira de filtração. Na prática, o tempo antes da contralavagem não
será o mesmo para todos os filtros. (Adaptado de Tchobanoglous e Schroeder, 1985.)
Taxa de filtração variável com carga fixa ou variável. Na filtração com taxa variável decli-
nante (ver Fig. 11–18c), a taxa de vazão através do filtro vai diminuindo à medida que a perda de
carga aumenta com o tempo. Sistemas com taxa de filtração declinante são controlados tanto pelo
controle da vazão afluente como pelo efluente. Quando a taxa de vazão atinge o valor mínimo de
projeto, o filtro é retirado de serviço para contralavagem.
Sistemas de contralavagem dos filtros. Os métodos comumente utilizados para a contrala-
vagem de filtros com meios granulares que operam em regime semicontínuo incluem: (1) contra-
lavagem somente com água, (2) contralavagem com água e superficial auxiliar com água, (3) con-
tralavagem com água e arraste auxiliar com ar e (4) contralavagem combinada, utilizando ar e
água. Com os três primeiros métodos, é necessária a fluidização do meio granular para se obter
uma lavagem eficaz do meio filtrante. Com o quarto método, a fluidização do meio granular não é
necessária.
Contralavagem somente com água. No passado, o método mais comum utilizado para a lava-
gem de um meio filtrante com material acumulado era a contralavagem com a água filtrada. Com
base em estudos experimentais, foi verificado que a melhor eficiência de lavagem do leito filtrante
de um filtro convencional ocorria quando a porosidade do leito expandido ficava na faixa de 0,65 a
0,70 (Amirtharajah, 1978). Com esse nível de expansão, verificou-se que a ação de cisalhamento da
água de contralavagem e a abrasão entre as partículas eram mais eficazes para a remoção do mate-
rial acumulado no meio filtrante. As vazões de contralavagem necessárias para fluidizar diferentes
leitos filtrantes são apresentadas na Tabela 11–18. Para reduzir o potencial de formação de bolas de
lodo e para aumentar a eficiência de remoção do material acumulado no leito, foram desenvolvidos
os sistemas auxiliares de lavagem superficial, com arraste com água ou ar, como descrito a seguir.
Contralavagem com água e lavagem superficial auxiliar com água. Lavadores superficiais
(ver Fig. 11–19) são utilizados para fornecer a energia de cisalhamento necessária para limpar os
grãos de meios filtrantes utilizados para a filtração de efluentes. Os lavadores superficiais podem
ser fixos ou montados sobre dispositivos rotativos. De acordo com os dados de um grande número
de sistemas, os lavadores rotativos parecem ser os mais eficazes. Operacionalmente, o ciclo de
lavagem superficial inicia-se entre 1 e 2 minutos antes do início do ciclo de contralavagem. Os
11–5 Filtração em profundidade: critérios para seleção e dimensionamento P 1145
dois ciclos de lavagem são mantidos por aproximadamente 2 min, quando a lavagem superficial é
interrompida. A quantidade de água exigida por um dispositivo simples de lavagem rotativo varia
de 0,02 a 0,04 m3/m2·min (0,5 a 1,0 gal/ft2 ·min) e de 0,06 a 0,08 m3/m2·min (1,5 a 2,0 gal/ft2·min)
para um dispositivo duplo de lavagem.
Contralavagem com sistema auxiliar de arraste com ar. A utilização de ar para auxiliar na
operação de contralavagem do meio filtrante possibilita uma ação de lavagem mais vigorosa em
relação à utilização apenas da água. Operacionalmente, o nível de água acima do leito filtrante é
reduzido para 150 mm (6 in) acima da superfície do leito, quando é feita a injeção de ar durante 3 a
4 minutos antes do ciclo de contralavagem de baixa taxa ser iniciado.
Em alguns sistemas, também é feita a injeção de ar durante a primeira parte do ciclo de contra-
lavagem com água em baixa taxa, operação denominada arraste combinado com ar (ver a seguir).
Os valores típico para as taxas de aplicação de ar variam de 0,9 a 1,6 m3/ m2·min (3 a 5 ft3/ft2ⴢmin).
A sequência típica de operação para a contralavagem de um filtro de dupla camada é apresentada
na Tabela 11–19. Além disso, como mostrado na Tabela 11–19, um ciclo de lavagem com água ao
Canaleta de coleta
de água de lavagem
Antracito
FIGURA 11–19 Dispositivos de lavagem superficial para auxiliar a lavagem de leito filtrante granular de filtros convencionais:
(a-1) e (a-2) dispositivos de lavagem superficial simples para filtros monocamada e (b-1) e (b-2) dispositivos de lavagem superficial
duplos para filtros de dupla camada.
1146 P Capítulo 11 Processos para remoção de contaminantes residuais
TABELA 11–19 Vazões aproximadas de ar e água utilizadas para a contralavagem de vários tipos de filtros a 20°C
final do ciclo de contralavagem com ar/água é necessário para remover o ar residual aprisionado no
meio filtrante, o que poderia resultar em problemas na etapa de filtração. A menor necessidade de
água de lavagem para o processo de contralavagem com ar/água pode ser verificada comparando-se
os valores apresentados na Tabela 11–18 com os da Tabela 11–19.
Contralavagem combinada com ar e água. O sistema combinado de contralavagem com ar/
água é utilizado para leitos filtrantes com monocamada não estratificada. Operacionalmente, o
ar e a água são injetados simultaneamente por vários minutos. A duração específica da lavagem
combinada varia de acordo com o projeto do leito filtrante. O ideal é que, durante a operação de
contralavagem, o leito filtrante seja suficientemente agitado para que os grãos adquiram um padrão
circular de movimentação, do topo para o fundo do filtro, à medida que o ar e água fluem através
do leito. Dados típicos sobre as quantidades de ar e de água necessárias para a contralavagem com-
binada são apresentados na Tabela 11–19. Ao final do ciclo combinado de contralavagem com ar e
água, inicia-se um ciclo de contralavagem de 2 a 3 minutos com água, com baixa taxa de aplicação
(0,2 m3/ m2·min), para remover bolhas de ar aprisionadas no leito. Essa etapa é necessária para eli-
minar a possibilidade de aprisionamento de ar no interior do meio filtrante. Em geral, uma etapa de
contralavagem com alta taxa com água (0,6 – 0,8 m3/ m2·min) é utilizada após a contralavagem com
baixa taxa. No ciclo de contralavagem com alta taxa de água, não é feita a injeção combinada de
ar de arraste em função da possibilidade de expansão excessiva do meio filtrante, podendo resultar
na sua perda.
Componentes adicionais (acessórios). Os principais acessórios dos filtros são: (1) o sistema
de drenagem para suporte do material filtrante, coleta do efluente filtrado e distribuição da água
de contralavagem e do ar (se utilizado); (2) as canaletas de drenagem para remover a água de con-
tralavagem do filtro; e (3) o sistema de lavagem superficial ou de arraste com ar para auxiliar na
remoção do material aderido ao meio filtrante.
Sistema de drenagem. O sistema de drenagem a ser utilizado depende do tipo de sistema de
contralavagem. Nos filtros com sistema convencional de contralavagem, sem a utilização de ar de
arraste, é uma prática comum utilizar várias camadas de brita com diferente granulometria como
meio suporte. O projeto do meio suporte com brita para um filtro de meio granular é detalhado
em um manual da American Water Works Association, AWWA – Standard for Filtering Material
B100–96 (AWWA, 1996). Sistemas típicos de drenagem são apresentados na Fig. 11–20. A brita
11–5 Filtração em profundidade: critérios para seleção e dimensionamento P 1147
Areia
Antracito
Brita ou cobertura
plástica porosa
Canal de
recuperação Placa suporte
de água porosa
Canal
secundário
Ar
Orifício de
medição de ar
Água de Água de
contralavagem contralavagem Canal
Sistema de primário
drenagem Contralavagem Contralavagem com
com água ar e água
(a) (b) (c)
Antracito
Areia
Crepina
Respiro e orifício
de medição de ar
Bolsão
de ar
Abertura para medição de ar
Suporte do sistema
Sistema de drenagem Água de contralavagem
de drenagem
com crepinas
(d) (e)
FIGURA 11–20 Sistemas de drenagem típicos utilizados para filtros com meio granular: (a) sistema de drenagem com meio
suporte em brita ou cobertura de plástico poroso, (b) sistema de drenagem mostrado em (a) durante a contralavagem com água,
(c) sistema de drenagem mostrado em (a) durante a contralavagem com ar e água, (d) sistema de drenagem com crepinas para
passagem de ar e água, sem a utilização de brita como camada suporte, e (e) crepina utilizada no sistema de drenagem mostrado
em (d) sem a camada suporte de brita [(b) e (c) adaptados de Leopold; (e) adaptado de Infilco-Degremont, Inc.].
utilizada não tem a finalidade de auxiliar na operação de filtração, mas apenas de evitar que o meio
filtrante penetre no sistema de drenagem de água filtrada. A utilização de arraste com ar em filtros
com suporte em brita pode ser desafiadora e requererá a instalação de tubos perfurados sobre o pró-
prio material suporte. Qualquer perturbação no arranjo do meio suporte poderá resultar na passa-
gem do meio filtrante para o sistema de drenagem ou na obstrução das aberturas de drenagem. Uma
alternativa à brita são os novos sistemas de drenagem, constituídos de placas porosas de polietileno
de alta densidade (PEAD), para retenção do meio filtrante. Essas placas apresentam uma espessura
típica de 25 mm (1 in.) e são fixadas no topo de cada bloco de drenagem. Esse arranjo elimina a
necessidade de brita, o que permite a utilização de leitos mais profundos ou de filtros mais baixos.
Canaletas de drenagem. As canaletas de drenagem são construídas em plástico reforçado com
fibra de vidro, chapas de material plástico metálicas ou em concreto com vertedores ajustáveis. O
projeto específico da canaleta dependerá, em parte, das características de outros componentes uti-
lizados no projeto e na construção do filtro. A perda de material filtrante durante a contralavagem é
um problema operacional comum. Para minimizar esse problema, podem ser utilizados defletores
sob as canaletas, como mostrado na Fig. 11–21.
Problemas operacionais com filtros profundos. Os principais problemas encontrados na
filtração de efluentes em filtros profundos são: (1) transpasse de turbidez; (2) formação de bolas
de lodo; (3) acúmulo de graxas emulsificadas; (4) contração do filtro e surgimento de trincas;
(5) perda de meio filtrante por desgaste mecânico ou problemas operacionais; e (6) afloramento do
1148 P Capítulo 11 Processos para remoção de contaminantes residuais
Defletores Defletores
Ar Sistema de Ar Sistema de
drenagem drenagem
Água de Água de
contralavagem contralavagem
(a) (b)
FIGURA 11–21 Detalhes dos dispositivos de deflexão desenvolvidos para minimizar a perda do meio
filtrante durante as operações de contralavagem: (a) corte de um sistema defletor duplo e (b) defletor mais
bem elaborado com duas asas e defletor lateral.
material do meio suporte (brita). Como esses problemas podem afetar tanto o desempenho como a
operação dos sistemas de filtração, uma atenção especial no desenvolvimento do projeto do filtro
deve ser dada para que sejam previstos os componentes necessários para minimizar os seus im-
pactos. Essas questões são contempladas na Tabela 11–20. Em razão da variabilidade inerente das
características dos efluentes a serem submetidos à operação de filtração e do seu impacto potencial
no projeto de operação dos filtros, a melhor forma de assegurar que a configuração selecionada
para uma dada aplicação funcione de maneira adequada é por meio da realização de ensaios em
escala-piloto em condições operacionais representativas.
TABELA 11–20 Resumo dos problemas mais comuns na filtração profunda de efluentes e medidas para o seu
controle
Problema Descrição/controle
Transpasse de turbideza Níveis inaceitáveis de turbidez são observados nos efluentes de filtros profundos
mesmo quando a perda de carga terminal não é atingida. Para controlar o
aumento da turbidez no efluente dos filtros, a utilização de produtos químicos,
sais inorgânicos ou polímeros orgânicos tem sido adotada. A determinação da
dosagem de produtos químicos deve ser feita por meio de ensaios com o efluente
que será filtrado, como já detalhado.
Formação de bolas de lodo Bolas de lodo são um aglomerado de flocos biológicos, sujeira e material
filtrante. Se as bolas de lodo não forem removidas, elas aumentarão de tamanho
e se acumularão no fundo do leito filtrante, reduzindo a eficiência das operações
de filtração e contralavagem. A formação das bolas de lodo pode ser controlada
por sistemas auxiliares de lavagem, com arraste com ar ou lavagem superficial
do leito filtrante com água.
Acúmulo de graxas emulsificadas O acúmulo de graxas emulsificadas no leito filtrante aumenta a perda de carga,
reduzindo a carreira de filtração. Tanto o arraste com ar como a lavagem
superficial com água ajudam a controlar o acúmulo de graxas no leito. Em casos
extremos, pode ser necessária uma limpeza do leito com vapor ou a instalação
de um sistema especial de lavagem.
Contração do filtro e surgimento de trincas Se o leito filtrante não é limpo de maneira adequada, os grãos do meio filtrante
ficam recobertos. À medida que o filtro se contrai, trincas começam a surgir,
especialmente nas paredes laterais do filtro. Por fim, bolas de lodo são formadas.
Esse problema pode ser controlado com a realização de operações adequadas
de contralavagem e arraste.
Perda do meio filtrante (mecânica) Com o tempo, uma parcela do material filtrante poderá ser perdida durante
as operações de contralavagem e através do sistema de drenagem se o meio
suporte de brita tiver sofrido alguma alteração ou se o sistema de drenagem
tiver sido instalado de forma inadequada. A perda de material filtrante pode
ser minimizada por meio da instalação adequada das canaletas de drenagem
da água de contralavagem e do sistema de drenagem. A utilização de placas
defletoras também tem se mostrado eficaz.
Perda do meio filtrante (operacional) Dependendo das características do floco biológico, os grãos do material filtrante
podem aderir aos mesmos, formando agregados suficientemente leves para
serem transportados com a água de contralavagem. Esse problema pode ser
minimizado pela adição de um sistema auxiliar de arraste com ar e/ou água.
Afloramento de brita O afloramento de brita, meio suporte, pode ocorrer quando várias camadas de
material suporte são desestabilizadas pela aplicação de taxas de contralavagem
excessivas. Uma camada adicional (60 a 75 mm) de material suporte com
elevada massa específica, tal como ilmenita ou granada, pode ser utilizada para
contornar esse problema.
a
O transpasse de turbidez não ocorre com filtros que operam continuamente.
O filtro de superfície inclinado (ver Tabela 11–21f), discutido na Seção 5–9, no Capítulo 5, é
utilizado para a filtração de efluentes brutos previamente peneirados. Filtros cartucho (ver Tabela
11–21g), são utilizados como unidades de pré-tratamento, no caso da utilização de operações ou
processos mais restritivos.
TABELA 11–21 Descrição de alguns filtros superficiais utilizados para a filtração de efluentes
Tipo Descrição
(a) Filtro rotativo com tecido O filtro rotativo com tecido, comercializado pela Aqua-Aerobic
A Direção de Systems com o nome comercial AquaDisk®, consiste de vários
discos montados verticalmente em um tanque. Cada disco é
rotação Efluente
constituído de seis segmentos iguais. Operacionalmente, a água
escoa por gravidade através do meio filtrante para um sistema de
coleta interno. Em geral, dois tipos de material de tecido podem
ser utilizados: (1) tecido de fibras de poliéster prensadas ou (2)
tecido de fibras sintéticas tecidas. Uma estrutura de sucção a vácuo,
instalada dos dois lados externos do disco, é utilizada para remover
Conexão Afluente o material sólido do sistema de vácuo acumulado no tecido por
do sistema Contra- meio da sucção do filtrado enquanto o disco gira. Os sólidos são
de vácuo A lavagem Seção A-A removidos quando uma perda de carga predeterminada é atingida.
(b) Filtro de tecido tipo diamante O filtro de tecido tipo diamante (losango), comercializado com
Bomba de o nome de AquaDisk® pela Aqua-Aerobic Systems, consiste de
Plataforma móvel com a
contralavagem um filtro com elementos filtrantes revestidos de tecido, com seção
bomba e válvulas para a
Elementos contralavagem do filtro transversal na forma de diamante. Os elementos filtrantes são
Água de limpos por sucção por meio de um sistema móvel que se descola
filtrantes
contralavagem
de um lado para o outro ao longo dos elementos filtrantes quando
um valor de perda de carga pré-estabelecido é atingido. Os
Afluente sólidos que sedimentam no fundo do tanque, abaixo dos elementos
filtrantes, também são removidos por sucção. A utilização de
elementos filtrantes no formato de diamante possibilita aumentar
a área de filtração. Devido ao maior volume de água filtrado por
Água
unidade de área, os filtros tipo diamante têm sido utilizados nas
Estrutura de sucção Estrutura de filtrada
novas instalações e para substituição de filtros de areia.
para remoção dos sucção para a
sólidos acumulados na remoção de sólidos
superfície do filtro sedimentados
(c) Filtros tipo Disco® Os filtros tipo disco, desenvolvidos pela Hydrotech e
A Direção de comercializados nos EUA pela Veolia Water Systems, consistem de
Jato de uma série de discos, constituídos por duas placas circulares verticais
rotação água com alta
pressão
(telas), que são utilizados como suporte para o meio filtrante de
tecido. Cada disco é conectado a um tubo de alimentação central.
As telas suporte do tecido filtrante pode ser de material polimérico
Contralavagem
ou de aço inoxidável 304 ou 316. Os sólidos acumulados são
Afluente removidos do meio filtrante por jatos de água de alta pressão.
O dispositivo de filtração pode ser fornecido com o tanque de
Efluente filtração ou individualmente, para ser instalado de em um tanque
de concreto. Dependendo das condições climáticas e para fins de
Coleta
de água A Seção A-A controle de odores, o filtro pode ser enclausurado.
Efluente Efluente
secundário filtrado
sedimentado
(continua)
11–6 Filtração superficial P 1151
Tipo Descrição
(e) Filtro tipo tambor (DF) a
Como o nome sugere, o formato do filtro é o de um tambor. O
Seções com as telas removidas líquido a ser filtrado é alimentado na parte interna de um tambor
para mostrar a localização da e escoa para fora dele, passando por uma tela filtrante, de
canaleta de coleta da água de poliéster, polipropileno ou aço inoxidável, à medida que o tambor
lavagem (o sistema de é rotacionando lentamente. Quando o nível de água no interior
contralavagem não é mostrado) do tambor aumenta até um valor pré-estabelecido, um ciclo de
contralavagem é iniciado para remover os sólidos acumulados. Um
jato de água a alta pressão é utilizado para remover os sólidos
acumulados à medida que o tambor gira. Os sólidos removidos
são coletado em uma canaleta instalada no interior do tambor.
O filtro tipo tambor pode ser instalado em tanques de concreto,
aço inoxidável ou fibra de vidro. O tamanho da abertura das
telas utilizadas pode variar de 10 m a 1 mm, dependendo da
Água
filtrada
aplicação.
(f) Filtro tipo tela inclinado Desenvolvido pela M2 Renewables, o filtro tipo tela inclinado é
Bocais de aspersão utilizado para a filtração de efluentes brutos. À medida que a tela
de água para remoção móvel gira, os sólidos são acumulados sobre a superfície do meio
Sólidos coletados de sólidos filtrante. Quando a tela deixa a região de entrada de efluente
sobre a tela filtrante (ver figura ao lado), ocorre a remoção de água pela ação da
Rosca gravidade. Os sólidos acumulados são removidos da tela quando
transportadora
Afluente ela muda de direção ao passar pelo suporte superior. Jatos de
água também podem ser utilizados para remover os sólidos.
Sólidos Como observado no Capítulo 5, o fato de a tela filtrante alterar a
distribuição do tamanho das partículas dos sólidos e do espaço
reduzido para instalação é uma condição relevante para a sua
Efluente
Tela de filtração
filtrado utilização em substituição ao sistema convencional de clarificação
contínua primária.
Á água filtrada
passa através da
tela de filtração
(g) Filtro tipo cartucho Muitos filtros tipo cartucho são constituídos de elementos filtrantes
Tampa de acesso em polipropileno, de 800 a 1.000 mm de comprimento, instalados
Espaçador em uma carcaça de aço inoxidável ou de plástico reforçado com
para substituição de
do elemento
elementos filtrantes fibra de vidro. Esses filtros têm aplicação variada, geralmente para
filtrante
proteger equipamentos instalados a jusante. Em sistemas avançados
Elementos de tratamento, eles são utilizados para remover contaminantes
filtrantes presentes em produtos químicos utilizados para o controle de
Carcaça
incrustação em membranas de osmose reversa. Os filtros cartucho
do filtro
Afluente não serão abordados em profundidade na discussão sobre filtração
em superfície, mas são incluídos pelo fato de serem utilizados na
Efluente etapa de pré-tratamento para outras operações ou outros processos
filtrado
de tratamento.
Saída dos elementos
filtrantes instalados na
placa de coleta do filtrado
a
Cortesia da Xylem.
1152 P Capítulo 11 Processos para remoção de contaminantes residuais
Linha de
sucção da
contralavagem
Filtrado
Dispositivo
de sucção
(a) (b)
FIGURA 11–22 Vistas de um filtro tipo diamante: (a) vista dos elementos filtrantes instalados em uma caixa de filtro de areia e
(b) vista da estrutura de contralavagem.
11–6 Filtração superficial P 1153
no fundo do tanque, abaixo do módulo de filtração, também são removidos a vácuo. Com o tempo,
as partículas serão acumuladas no interior ou na superfície do meio filtrante e não poderão ser re-
movidas pelo método de limpeza existente. Esse acúmulo de partículas resulta em um aumento na
perda de carga através do filtro, com consequente aumento na pressão de sucção para a limpeza e
maior frequência de contralavagem.
No caso dos sistemas com lavagem com jatos de água pressurizada, o procedimento para a lim-
peza é o mesmo, ou seja, uma vez atingido o valor de perda de carga pré-estabelecido, um jato de
água com alta pressão, do lado oposto ao da alimentação do efluente, é acionado automaticamente.
O jato de água a alta pressão desloca as partículas acumuladas na superfície do meio filtrante,
sendo que o mesmo permanece acionado por um tempo equivalente a duas rotações do disco. O
intervalo entre os jatos de alta pressão para a limpeza depende da qualidade do afluente ao filtro.
Jatos de água de alta pressão. Nos filtros superficiais, onde o escoamento ocorre de dentro para
fora, jatos de água de alta pressão são utilizados para remover os sólidos acumulados sobre o meio
filtrante. Muitos sistemas com jatos de água de alta pressão podem operar com contralavagem con-
tínua ou intermitente. No modo de contralavagem intermitente, os jatos de água de alta pressão são
ativados somente quando a perda de carga através do meio filtrante atinge um valor pré-estabelecido,
ou a cada intervalo de tempo especificado. Uma vez ativado, jatos de água são lançados sobre a su-
perfície externa do filtro, do lado oposto ao da alimentação do efluente, enquanto ele gira. Os sólidos
acumulados que são removidos da superfície do meio filtrante caem em uma canaleta de coleta para
serem removidos do filtro. No modo de contralavagem contínua, a produção de filtrado e a contrala-
vagem ocorrem simultaneamente. A localização e a configuração dos bocais de injeção de água para
contralavagem e do dispositivo de coleta de sólidos dependem do fabricante do sistema de filtração.
Impacto do acúmulo de sólidos no desempenho da operação de filtração. A remo-
ção de material particulado por filtros superficiais é representada esquematicamente, na Fig. 11–23,
para filtros parcialmente ou completamente submersos. Para os filtros parcialmente submersos
Aumento Redução
da taxa de da espessura Condição após
remoção de sólidos a remoção
Acúmulo de partículas devido à perda de acúmulo
linear por acúmulo de água sólidos
disco (sem escala)
de sólidos sobre o
Massa relativa
1 2
Remoção de Remoção
sólidos a Tempo entre as limpezas de sólidos
vácuo (sem escala)
(b)
FIGURA 11–23 Representação esquemática da operação de um filtro tipo disco baseada em um ponto
de referência, com o tempo, entre eventos de lavagem, incluindo a remoção de partículas por exclusão
de tamanho e o acúmulo de partículas finas: (a) para a superfície de um filtro parcialmente submersa e (b)
para um filtro submerso com remoção a vácuo dos sólidos acumulados.
1154 P Capítulo 11 Processos para remoção de contaminantes residuais
(Fig. 11–23a), o acúmulo de sólidos sobre o meio filtrante ocorre entre o ponto 1, em que o meio
filtrante limpo entra em contato com o efluente a ser filtrado, e o ponto 2, em que o meio filtrante
perde contato com o efluente. Para os filtros completamente submersos (Fig. 11–23b), o acúmulo
de sólidos ocorre ao longo do tempo, até que a perda de carga estabelecida seja atingida, quando
o filtro é limpo. Em ambos os casos, o material acumulado sobre a superfície do material filtrante
começa a funcionar como um filtro. A ação de filtração do material acumulado é denominada auto-
filtração. A autofiltração pode ser utilizada para explicar por que partículas menores que o tamanho
dos poros do meio filtrante podem ser removidas. Para os dois tipos de filtros superficiais, o início
da autofiltração e o nível de remoção adicional que pode ser atingido dependerão da abertura da
malha do meio de filtração, das características do efluente a ser filtrado e da taxa de filtração.
Meio
Meio filtrante filtrante tipo Filtro
Parâmetro Unidade de tecido® diamante® Diskfilter® Ultrascreen® tambor®
Taxa de aplicação hidráulica m3/m2ⴢmin 0,08–0,20 0,08–0,20 0,08–0,20 0,20–0,65 0,08–0,26
típica (TAH)
gal/ft2ⴢmin 2–5 2–5 2–5 5–16 2–6,5
TAH de pico m /m ⴢmin
3 2
0,26 0,26 0,24 0,65 0,26
gal/ft2ⴢmin 6,5 6,5 6 16 6,5
TAH média permitida m /m ⴢmin
3 2
— — — 0,32 —
pelo DSPCa
gal/ft ⴢmin
2
— — — 8 —
TAH de pico permitida m /m ⴢmin
3 2
0,24 0,24 0,24 0,65 —
pelo DSPC
gal/ft2ⴢmin 6 6 6 16 —
Concentração de SST mg/L 5–20 5–20 5–20 5–20 5–20
afluente
Material filtrante Tipo Náilon e/ou Náilon e/ou Poliéster ou Aço inoxidável Poliéster ou
poliéster poliéster aço inoxidável aço inoxidável
Tamanho nominal do m 5–10 5–10 10–40 10–20 10–40
poro do meio filtrante
Direção do escoamento Fora para Fora para Dentro para Dentro para Dentro para
dentro dentro fora fora fora
Submersão % 100 100 60–70 45 60–70
Perda de carga mm 50–300 50–300 75–300 650 300
Diâmetro do disco m 0,90 ou 1,80 na 1,75–3,0 1,6
Água de contralavagem % da 2–5 2–5 2–4 2–4 2–4
produção
a
DSPC – Departamento de Saúde Pública da Califórnia.
2 12
Turbidez
Turbidez do efluente, UNT
10
Turbidez, UNT e SST, mg/L
0,1 0
0,01
99,9
99,99
0 5 10 15 20 25 30
10
20
30
50
70
80
90
95
99
0,1
FIGURA 11–24 Dados de desempenho para filtros com meio filtrante de tecido para a filtração de efluente secundário: (a)
probabilidade de distribuição de turbidez e SST, e (b) turbidez do efluente em função da turbidez afluente para uma taxa de
filtração de 176 L/minⴢm2.
1156 P Capítulo 11 Processos para remoção de contaminantes residuais
de partículas (Fig. 11–25). A redução do tamanho das partículas presentes no efluente final também
teve um impacto significativo na inativação de coliformes totais quando o processo de desinfecção
por radiação UV foi utilizado (Olivier et al., 2002, 2003).
Remoção de micro-organismos. Quando é feita adição química, a remoção de coliformes e
vírus do efluente secundário tratado por processo biológico é da ordem de 0 a 1,0 e 0 a 0,5 log de
remoção, respectivamente. Esses valores são similares aos obtidos pelos filtros de meio granular.
Necessidade de água de contralavagem. A quantidade de água necessária para a contrala-
vagem de filtros superficiais, expressa em termos de porcentagem da vazão de tratamento, depende
das características do efluente a ser filtrado e do projeto do tipo de filtro superficial utilizado. Valo-
res típicos para as porcentagens de água de contralavagem de filtros superficiais, apresentados na
Tabela 11–22, variarão de 1 a 4%.
Critérios de projeto
A realização de ensaios em escala-piloto é recomendada para o desenvolvimento do projeto e para
a obtenção de parâmetros operacionais para as novas unidades de filtração superficial. Informações
úteis para o desenvolvimento do projeto incluem: (1) a variabilidade das características do efluente
a ser filtrado e (2) a quantidade de água de contralavagem necessária para a operação normal da
unidade de filtração. A quantidade necessária de água de contralavagem é função da concentração
de SST no afluente e da carga de sólidos aplicada ao filtro. Se o sistema de tratamento secundário
de efluente é eficaz para a remoção de SST, o volume de água de contralavagem pode ser signifi-
cativamente reduzido.
Como a filtração em meio filtrante de tecido é uma tecnologia relativamente nova, poucos da-
dos relativos à vida útil dos elementos filtrantes estão disponíveis. Se a filtração superficial for con-
siderada uma opção de tratamento, uma estimativa do desempenho dos elementos filtrantes pode
ser obtida em instalações que utilizem meios filtrantes similares. Uma vantagem operacional dos
filtros de tecido é que o meio filtrante pode ser removido e submetido a um processo de lavagem.
Ensaios em escala-piloto
Como no caso dos filtros de meio granular, não existe um modelo genérico para o dimensionamen-
to e o projeto de uma instalação de filtração superficial de grande porte. A discussão apresentada
nas seções anteriores sobre estudos em escala-piloto também se aplica aos filtros de tecido. Insta-
lações típicas para teste de filtros superficiais são ilustradas na Fig. 11–26. É importante observar
que o disco único, apresentado na Fig. 11-26(b), está em escala comercial. Em sistemas de maior
capacidade, vários discos podem ser instalados em um eixo central.
1.000
ΔN/Δdp, (partículas/mL)/m
10
1
10 100
Diâmetro da partícula, dp, m
(a) (b)
FIGURA 11–26 Vistas de unidades-piloto de filtração superficial com meio filtrante em tecido. É impor-
tante observar que os filtros de tecido mostrados estão em escala comercial.
Vaso
de
Água de alimentação (f) pressão Permeado (p)
Qf = Vazão de alimentação Membrana Qp = vazão de permeado
Cf = Concentração na alimentação Cp = concentração no permeado
Pf = Pressão de alimentação kw Pp = pressão do permeado
ks
Tipo Descrição
(a) Tubular Na configuração tubular, a membrana é moldada na parte interna de um tubo
Concentrado poroso, utilizado como suporte. Vários tubos com a membrana são instalados
Membranas
no interior de um vaso de pressão de forma apropriada. A água de alimentação
tubulares é bombeada através do tubo de alimentação, e a água produzida, permeado,
é coletada no interior do vaso de pressão. O concentrado continua escoando
pelos tubos até sair do vaso de pressão. Esse tipo de módulo é, geralmente,
Permeado
utilizado para o tratamento de efluentes com elevada concentração de sólidos em
Alimentação
suspensão. Esses módulos são os mais fáceis de limpar, o que pode ser feito pela
Espaçador de circulação de produtos químicos e com a utilização de bolas de espuma para a
material plástico
limpeza mecânica das membranas. Os sistemas tubulares apresentam uma baixa
relação entre área de membrana e volume do módulo e uma baixa densidade de
empacotamento, o que resulta em maior custo. O diâmetro interno dos tubos varia
de 6 a 40 mm, com comprimento de até 3,66 m (12 ft).
(b) Fibra oca Os módulos de fibra oca consistem de um feixe de centenas a milhares de fibras
Concentrado ocas. Esse feixe de membranas é inserido em um vaso de pressão. A alimentação
pode ser aplicada do lado interno da membrana (escoamento de dentro para fora)
Vedação ou do lado externo (escoamento de fora para dentro). Os módulos de membrana de
de epóxi fibra oca são comumente utilizados em reatores de membranas submersas (MBRs),
como descrito no Capítulo 7.
Os diâmetros típicos das membranas de fibra oca, interno e externo, variam entre
Permeado
350 e 450 m e 900 e 1.000 m, respectivamente. O comprimento típico dos
Alimentação
módulos de fibra oca é de 1,2 m (4 ft). Um módulo com 100 mm (4 in.) de diâmetro
pode conter até 650.000 fibras individuais, embora muitos módulos contenham um
número menor de fibras por feixe. Os feixes de fibras podem variar de 100 a 200
mm (4 a 8 in.) de diâmetro. Dependendo do diâmetro, até sete feixes podem ser
colocados em um único vaso de pressão (Fig. 11–28b).
(c) Enrolada em espiral Na membrana enrolada em espiral, um espaçador de permeado de material
Alimentação flexível é colocado em duas folhas de membranas planas. Três lados das
Tubo de coleta
de permeado
Arranjo da membranas são seladas, e o lado aberto é fixado em um tubo perfurado. Um outro
estrutura de
espaçador de material flexível é colocado na superfície das membranas seladas
separação
Espaçador da
e o conjunto é enrolado ao redor do tubo de permeado. Membranas de filme fino
alimentação composto são mais comumente utilizadas na produção de módulos enrolados em
Concentrado
Membrana espiral. O termo espiral resulta do fato de que o fluxo de permeado descreve um
Permeado Membrana
Espaçador de movimento em espiral.
permeado
Revestimento O diâmetro das membranas enroladas em espiral varia de 100 a 200 mm (4 a
externo 8 in.), embora elementos com até 300 mm (12 in.) de diâmetro também tenham
sido utilizados. O comprimento ativo dos elementos é de, aproximadamente, 0,9 m
(3 ft) entre as linhas de cola, embora os comprimentos de elementos comerciais
possam variar de 150 mm (6 in.) até 1,5 m. Operacionalmente, de 2 a 6 elementos
de membrana são colocados em um único vaso de pressão (Fig. 11–28c). A área
da membrana de um elemento com 100 mm de diâmetro e 0,9 m de comprimento
é de, aproximadamente, 8,33 m2 (90 ft2).
(d) Placas planas Os módulos de placa plana são constituídos de uma série de membranas planas
Alimentação e placas de suporte. A água a ser tratada passa entre as membranas de duas
placas adjacentes. As placas suportam as membranas e apresentam canais internos
Canal de para permitir o escoamento do permeado para fora da unidade. Geralmente, as
alimentação dimensões de uma placa individual são de 20 mm por 40 mm (7,5 15 in.). A
Membrana densidade de empacotamento dos módulos de placa plana variam entre 100 e
Placa porosa para suporte 400 m2/m3.
das membranas
Estrutura de coleta
de permeado
Concentrado
11–7 Processos de separação por membranas P 1161
Concentrado
Alimentação
Permeado
Permeado
Alimentação Concentrado
Vedação em Membrana Membrana
epóxi de fibra oca de fibra oca
Alimentação
Permeado Concentrado
Alimentação
Saída de permeado
Alimentação
FIGURA 11–28 Representação esquemática dos principais processos de separação por membranas:
(a) módulo de membranas de fibra oca com escoamento de fora para dentro, (b) módulo de fibra oca com
escoamento de dentro para fora e (c) módulo com membranas enroladas em espiral.
FIGURA 11–29 Tipos de estrutura interna das membranas: (a) membrana simétrica com macroporos,
(b) membrana não porosa (densa) simétrica, (c) membrana assimétrica e (d) membrana de filme fino com-
posto (TFC), às vezes identificada como membrana assimétrica.
1162 P Capítulo 11 Processos para remoção de contaminantes residuais
Camada
suporte
Permeado
(a)
Espessura da
Alimentação
camada ativa
Íons Concentrado
Água adsorvida d
2d Camada
suporte
(b) Permeado
FIGURA 11–30 Diagrama esquemático para a remoção de contaminantes de efluentes: (a) remoção de
moléculas e partículas pelo mecanismos de retenção (exclusão de tamanho), (b) rejeição de íons por efeito
de solubilização e difusão da água na membrana.
Sais dissolvidos
Ácidos húmicos
Fragmentos de células
Sólidos sedimentáveis
Filtração convencional
os processos de separação
Faixa de operação para
Microfiltração (MF)
por membranas
Ultrafiltração (UF)
Nanofiltração (NF)
FIGURA 11–31 Comparação entre faixa de tamanho dos contaminantes presentes nos efluentes. A
variação da faixa de tamanho operacional para a filtração em meio granular convencional também é
mostrada.
11–7 Processos de separação por membranas P 1163
(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
FIGURA 11–32 Vistas de várias instalações de separação por membranas: (a) microfiltração pressuri-
zada e (b) membranas de ultrafiltração pressurizadas para tratamento de efluente secundário, (c) módulos
de microfiltração para operação submersa, (d) módulo de membranas para operação submersa em (c),
(e) filtros cartucho utilizados antes das unidades de osmose reversa e (f) unidade de osmose reversa de
grande porte para tratamento de efluente secundários após tratamento por microfiltração, dosagem quími-
ca e filtração em filtros cartucho. Cada banco de módulos de membranas foi projetado para 19.000 m3/d
(5 Mgal/d). A capacidade total da unidade é de 265.000 m3/d (70 Mgal/d).
Água de contralavagem
Permeado do tanque de permeado
Alimentação
Mem-
brana
Permeado Concentrado Água de Contralavagem
contralavagem
Bomba de Módulo de
alimentação membrana
Ar e/ou
adição
Alimentação
química
(opcional)
Recirculação do concentrado Descarte Contralavagem
para a bomba de alimentação
(a) (b)
Água de contralavagem do
Permeado tanque de permeado
Alimentação
Mem-
brana
Água de Contralavagem
Permeado
contralavagem
Módulos de
Bomba de membranas
alimentação Ar e/ou
adição
Alimentação química
(opcional)
(c) (d) Contralavagem
Água de contralavagem do
Permeado tanque de permeado
Contralavagem Alimentação
FIGURA 11–33 Diagramas esquemáticos para operação dos sistemas de membranas: (a) sistema pressurizado com fluxo
tangencial (ver detalhe), (b) sistema de contralavagem pressurizada com fluxo tangencial, (c) sistema pressurizado com fluxo per-
pendicular (dead-end) [ver detalhe e Fig. 8–32(a)], (d) sistema de contralavagem pressurizada com fluxo direto, (e) sistema com
membrana submersa e extração a vácuo [ver Fig. 11-32(c)] e (f) contralavagem no sistema submerso.
trífugas podem ser utilizadas para sistemas de MF, UF e NF, enquanto bombas de deslocamento
positivo podem ser utilizadas para NF, mas são necessárias para OR. Em função da pressão de ope-
ração e das características da corrente de alimentação, os componentes dos sistemas de separação
por membranas podem ser de material polimérico no caso de tubulações e acessórios hidráulicos.
Alguns sistemas podem exigir a utilização de materiais mais nobres, como o aço inoxidável, seja
por restrições mecânicas, pressões elevadas, químicas, potencial de corrosão ou de processo, como
no caso de indústrias alimentícias e farmacêuticas.
Sistema submerso (extração a vácuo). Nos sistemas submersos, as membranas são in-
seridas em um tanque que contem a água de alimentação, como mostrado na Fig. 11–32(c). O
permeado é extraído com a aplicação de vácuo, geralmente produzido pela sucção de uma bomba
11–7 Processos de separação por membranas P 1165
centrífuga (Fig. 11–33e). A pressão transmembrana resultante faz com que a água seja transportada
através da membrana. Em função da carga de sucção limitada da bomba de permeado, a pressão
transmembrana máxima em sistemas submersos é de 50 kPa, mas eles operam em uma faixa de
pressão de transmembrana de 20 a 40 kPa (–20 a –40 kPa de vácuo).
Perda irreversível
de permeabilidade
Recuperação do fluxo
após a contralavagem
Produção típica com
Fluxo de permeado
(depósito reversível)
pré-tratamento adequado
e contralavagem periódica
Tempo
FIGURA 11–34 Representação esquemática do desempenho dos sistemas de separação por membra-
nas em função do tempo, com e sem a utilização de procedimentos adequados de limpeza.
1166 P Capítulo 11 Processos para remoção de contaminantes residuais
A limpeza química é utilizada para recuperar a capacidade de produção das membranas. Dois
métodos de limpeza química podem ser utilizados: (1) limpeza química convencional e (2) contra-
lavagem com adição química. Na limpeza química convencional, produtos químicos são utilizados
para remover os contaminantes responsáveis pela perda de fluxo da membrana, através da imersão
das membranas e da passagem dos produtos químicos através das membranas no interior dos mó-
dulos. Na contralavagem com adição química, os produtos químicos são adicionados à água de
contralavagem a cada número específico de operações de contralavagem apenas com água, com
base na elevação da pressão de alimentação. Em alguns casos, o método de contralavagem com
adição química é utilizado na operação normal, e, quando o desempenho do sistema cai abaixo de
um determinado nível, a limpeza química convencional deve ser utilizada.
É inevitável a ocorrência de uma perda de permeabilidade durante a operação dos sistemas de
membrana, depósito irreversível (Fig. 11–34). A perda irreversível de permeabilidade depende do
material da membrana e das condições de operação utilizadas, incluindo: (1) desgaste do material
da membrana ao longo do tempo, (2) compactação mecânica e deformação, resultantes da operação
com pressões elevadas, (3) reações de hidrólise relacionadas ao pH de operação e (4) reações da
membrana com constituintes específicos presentes na água de alimentação.
(11–29)
A perda de carga total através dos módulos de membrana nos sistemas que operam com fluxo tan-
gencial é dada pela Eq. (11-30).
P Pf Pp (11–30)
Ptm Pf Pp (11–31)
Qp Fw A (11–32)
Como esperado, o fluxo de água através das membranas depende da qualidade e da temperatura
da alimentação, do nível de pré-tratamento, das características da membrana e dos parâmetros de
operação da unidade. É importante observar que a área de membrana (A) é a área superficial de
membrana contida em todos os elementos do sistema. Por exemplo, um módulo padrão de OR,
com 200 mm de diâmetro e 1.020 mm de comprimento (8-in. 40-in.), tem uma área superficial
de membrana de 37 m2 (400 ft2).
Recuperação. A taxa de recuperação de água, r, expressa como uma porcentagem entre o vo-
lume de permeado e o volume de alimentação durante um determinado período de operação do
sistema de membrana, é definida pela Eq. (11-33).
(11–33)
(11–34)
(11–35)
Fluxo Fluxo
Fluxo
PTM PTM
PTM
FIGURA 11–35 Três modos de operação dos sistemas de membranas com relação ao fluxo e à pressão
transmembrana (PTM): (a) fluxo constante, (b) pressão constante e (c) sem restrição de fluxo ou pressão.
(Adaptado de Bourgeous et al., 1999.)
Solução
1. Calcule o log de rejeição de micro-organismos sem a ocorrência de quebra de membra-
nas utilizando a Eq. (11–35).
2. Calcule o log de rejeição para os micro-organismos admitindo que 6 fibras tenham rompido.
11–7 Processos de separação por membranas P 1169
3. Calcule o impacto sobre a turbidez do efluente, admitindo que 6 fibras tenham sido rom-
pidas. Utilize a equação de balanço de massa desenvolvida na etapa 2 e solucione para a
turbidez do efluente.
Comentário
Este exemplo é utilizado para demonstrar que poucas fibras rompidas podem ter um impacto
significativo sobre a contagem de micro-organismos no efluente final (1.010 em comparação
a 10/L) e sobre o log de remoção (5 em comparação a 3,0 log) sem um impacto significativo
na turbidez do efluente (0,2 em comparação a 0,205 UNT, diferença que não é mensurável).
Por essa razão, só a turbidez não pode ser utilizada como medida para avaliar a qualidade
microbiológica do efluente de um sistema de microfiltração. O que requer a utilização de um
processo complementar de desinfecção para proteção da saúde pública em aplicações restri-
tas. O uso da turbidez para o monitoramento é frequentemente acompanhado da realização de
testes de pressão e da contagem de partículas para monitorar a integridade das membranas.
A base fundamental do processo de osmose é mostrada a seguir, com a apresentação das ex-
pressões utilizadas para a análise do processo.
Fundamentação do processo de osmose reversa. Quando duas soluções com diferentes
concentrações de soluto são separadas por uma membrana semipermeável, é estabelecida uma di-
ferença no potencial químico entre as soluções (Fig. 11–36). Nessa condição, a água se difundirá
através da membrana da solução de menor concentração (maior potencial químico) para a solu-
ção de maior concentração (menor potencial químico), fenômeno conhecido como osmose (Fig.
11–26a). Em um sistema com volume finito, o fluxo de água continuará até que a carga hidráulica
do lado da solução concentrada se iguale à diferença de potencial químico entre as duas soluções.
Essa carga hidráulica responsável pelo equilíbrio de energia entre os dois compartimentos é de-
nominada pressão osmótica, que depende das características e da concentração dos solutos e da
temperatura da solução. Se um gradiente de pressão superior à pressão osmótica de equilíbrio for
aplicado do lado da solução mais concentrada, ocorrerá o fluxo de água da solução mais concen-
trada para a mais diluída, fenômeno denominado osmose reversa (Fig. 11–36c). Cabe ressaltar
que a designação osmose reversa, ou inversa, é utilizada para indicar a passagem da água através
de uma membrana semipermeável, de uma solução concentrada para uma diluída, mas que, na
verdade, o fluxo se dá da solução com maior energia para a de menor energia, de forma similar ao
que ocorre na osmose.
Fluxo de permeado e área de membrana requerida. Vários modelos foram desenvolvi-
dos para o cálculo da área de membrana e o número de estágios necessários para uma determinada
aplicação (Fig. 11–37). As equações básicas utilizadas para o desenvolvimento dos vários modelos
são apresentadas a seguir.
Fluxo de permeado. Considerando-se a Fig. 11–27, o fluxo de água através da membrana é fun-
ção do gradiente de pressão aplicado, Eq. (11-38).
(11–38)
Pressão externa
Pressão superior à
osmótica osmótica, ΔPa
ΔPo ΔPo
FIGURA 11–36 Diagrama esquemático do processo de osmose reversa: (a) osmose (a pressão diferen-
cial entre as soluções é menor que a pressão osmótica), (b) equilíbrio osmótico (a pressão diferencial entre
as soluções é igual à pressão osmótica) e (c) osmose reversa (a pressão aplicada é superior à pressão
osmótica).
11–7 Processos de separação por membranas P 1171
Pré-tratamento e
condicionamento
da alimentação Nanofiltração Pós-tratamento
Adição
química
Efluente Concentrado para
secundário tratamento ou disposição
Água Permeado
Filtros para reúso
profunda ou
cartucho Permeado
superficial
Desinfecção e
(a) ajuste de pH
Pré-tratamento e
condicionamento OR – Primeiro OR – Segundo
da alimentação estágio estágio Pós-tratamento
Adição Concentrado
Unidade de
química para
membranas
Efluente tratamento ou
secundário disposição
Água
Filtros Água para
profunda ou
MF ou UF cartucho Aeração
superficial reúso
(pressurizada
ou submersa) Permeado
Desinfecção e
(b) ajuste de pH
FIGURA 11–37 Diagrama típico de processo: (a) filtração superficial ou profunda com nanofiltração e
(b) sistema combinado de MF ou UF com osmose reversa.
Fluxo de soluto. Alguns solutos passarão através da membrana na maioria dos casos. O fluxo de
soluto pode ser descrito adequadamente pela Eq. (11-39).
(11–39)
(11–40)
(11–41)
1,2
Pressão da
1,1
alimentação
parâmetro operacional
Valor relativo do
0,9 Consumo
de energia
0,8
0,6
0,6 0,65 0,7 0,75 0,8 0,85 0,9
Taxa de recuperação
FIGURA 11–38 Efeito da taxa de recuperação de água sobre a pressão e a vazão da alimentação e
sobre o consumo de energia.
11–7 Processos de separação por membranas P 1173
(11–42)
Balanço de vazões e massa. As equações de balanço de vazões e massa que foram apresen-
tadas para os sistemas de MF e UF também são válidas para os processos de NF e OR, conforme
apresentado a seguir:
A utilização das equações apresentadas há pouco, para estimar a área requerida de membrana para
a redução da concentração de SDT é ilustrada no Exemplo 11–6.
Solução
1. O problema envolve a determinação da área de membrana necessária para produzir
0,009 m3/s (0,9 0,010 m3/s) de água com uma concentração de SDT menor ou igual a
200 g/m3. Se a concentração estimada de SDT for muito inferior a 200 g/m3 e esse for o
único contaminante a ser considerado, a mistura da água de alimentação com o permeado
pode ser utilizada para reduzir a área de membrana necessária.
2. Estime a área da membrana utilizando a Eq. (11–38) e o coeficiente de transferência de
água através da membrana. O ajuste da área estimada poderá ser necessário, consideran-
do-se o coeficiente de transferência de soluto.
(continua)
1174 P Capítulo 11 Processos para remoção de contaminantes residuais
(continuação)
O valor adotado para Cr, utilizado na etapa 3 (30 kg/m3), está adequado.
Comentário
Se a concentração de SDT no permeado for muito inferior a 200 g/m3, a mistura do permeado
com uma parcela da alimentação pode ser utilizada para reduzir a área de membrana necessá-
ria. Neste exemplo, a mistura não pode ser utilizada.
TABELA 11–25 Contaminantes típicos, presentes em efluentes, que podem resultar na ocorrência de depósito e
que podem causar danos às membranasa
Contaminante responsável pela
Tipo de depósito sua ocorrência Observações
Partículas Coloides orgânicos e inorgânicos O depósito de partículas pode ser minimizado pelo
Óleos emulsificados pré-tratamento da alimentação e limpeza periódica
das membranas. A utilização de dispersantes pode
Argila, silte e sílica minimizar o depósito de partículas.
Óxidos de ferro e manganês
Metais oxidados
Coagulantes de sais metálicos
Carvão ativado em pó
Incrustação (precipitação de sais Sulfato de bário A incrustação, mais comum nos processos de
com baixa solubilidade) Carbonato de cálcio NF, OR e ED, pode ser reduzida limitando-se a
precipitação pelo ajuste do pH da alimentação,
Fluoreto de cálcio pela adição de dispersantes e pela remoção de
Fosfato de cálcio íons específicos no pré-tratamento, reduzindo a
taxa de recuperação de água.
Sulfato de estrôncio
Sílica
Depósito orgânico Matéria orgânica natural (MON), Detritos de bactérias, resultantes da desinfecção
incluindo os ácidos húmicos e com cloro ou outro agente químico de desinfecção.
fúlvicos, proteínas e polissacarídeos, Um pré-tratamento eficaz pode ser utilizado para
entre outros compostos orgânicos limitar o depósito orgânico. A escolha adequada
Óleos emulsificados do material da membrana também é importante.
Membrana Poro
FIGURA 11–39 Formas de depósitos por partículas: (a) estreitamento do poro, (b) obstrução, (c) com-
pactação da camada de polarização de concentrações e formação de gel ou torta.
11–7 Processos de separação por membranas P 1177
la 11–25, as substâncias orgânicas com potencial de formação de depósitos nas membranas podem
incluir a MON, originalmente presente na água de abastecimento ou produzida no processo de
tratamento biológico, óleos emulsificados, proteínas e outros compostos orgânicos lançados nos
esgotos e que não foram removidos no sistema biológico de tratamento, além de polímeros e auxi-
liares de filtração utilizados no tratamento terciário do efluente. Como a maioria desses compostos
pode interagir com as membranas, independentemente das condições de operação do sistema, eles
podem se acumular na superfície e no interior dos poros das membranas e agravar a formação de
depósito pela interação com o material particulado, inorgânico e orgânico, presente na alimentação,
reduzindo de forma mais severa a permeabilidade das membranas.
Formação de biofilme. O efluente de sistemas biológicos de tratamento apresenta um pro-
blema adicional aos processos de separação por membranas, que é a presença de concentrações
elevadas de micro-organismos. Considerando-se as concentrações elevadas de matéria orgânica
e nutrientes na alimentação, a grande área superficial das membranas e as condições resultantes
do tratamento, o crescimento de micro-organismos nas membranas é favorecido. À medida que os
micro-organismos começam a colonizar a superfície das membranas, eles iniciam o processo de
formação de biofilme por meio da produção de uma substância polimérica extracelular, que assegu-
rará a sua fixação e a alteração das condições hidrodinâmicas próximas à superfície da membrana.
Essas condições resultarão na perda de permeabilidade da membrana, que poderá ser acelerada
com o aprisionamento de partículas no biofilme formado. Quando o sistema de membranas é ope-
rado de forma intermitente, a permeabilidade da membrana pode ser reduzida ainda mais, pois os
micro-organismos começam a colonizar o interior dos poros das membranas.
Controle de depósitos
Geralmente, quatro abordagens podem ser utilizadas para o controle de depósitos em sistemas de
separação por membranas: (1) pré-tratamento da alimentação, (2) adição de produtos químicos,
(3) procedimentos operacionais e (4) operações de limpeza química. O pré-tratamento é utilizado
para reduzir a concentração de contaminantes que possam resultar em depósitos, como partículas
em suspensão ou coloidal, cátions que podem formar sais pouco solúveis, compostos orgânicos e
micro-organismos. A adição de produtos químicos, ou condicionamento químico, pode ser feita
para evitar a deposição de sólidos na superfície das membranas por meio da dosagem de disper-
santes, a precipitação química (pela adição de antiincrustantes) e/ou a minimização do cresci-
mento microbiológico (por meio da adição biocidas). Procedimentos operacionais relacionados à
minimização de depósitos incluem o aumento da velocidade de circulação do fluido no interior da
membrana, principalmente nos sistemas com fluxo tangencial, a redução da taxa de recuperação
de água, a operação do sistema de pressão mais baixa e o enxágue periódico da membranas, com
um fluxo de água mais intenso e com baixa pressão, para eliminar o material aderido na superfície
das membranas. Nos sistemas que operam com contralavagem, a injeção de ar ou uma mistura
de ar/água pode auxiliar na remoção do material depositado nas membranas. As operações de
limpeza química são inevitáveis, pois, após um determinado período de tempo, o fluxo de per-
meado é reduzido a valores que não justificam a operação do sistema. Nesse caso, são utilizados
produtos químicos específicos para a remoção de depósitos orgânicos, inorgânicos e biológicos.
É importante ressaltar que, para cada tipo de problema, um produto químico específico deve ser
utilizado nas operações de limpeza química. Uma atenção especial deve ser dada às operações de
limpeza química e de sanitização dos sistemas de NF e OR, pois alguns produtos podem degradar
a camada ativa das membranas. A necessidade e as opções de pré-tratamento para os sistemas de
NF e OR são discutidas a seguir.
Avaliação da necessidade de pré-tratamento para sistemas de NF e OR. Para avaliar
o potencial de utilização dos processos de NF e OR para o tratamento de um determinado efluente
e a necessidade de seu pré-tratamento, vários índices para a avaliação do potencial de depósitos
foram desenvolvidos ao longo do tempo. Os três índices principais são o Índice de Obstrução por
Partículas (SDI, Silt Density Index), o Índice de Depósito Modificado (MFI, Modified Fouling
Index) e o Fator de Miniobstrução (MPFI, Mini Plugging Factor Index). Os índices de depósito
1178 P Capítulo 11 Processos para remoção de contaminantes residuais
são obtidos por meio da utilização de testes simples de filtração em membranas. O procedimento
básico para a realização do teste consiste na passagem de uma amostra do efluente a ser tratado por
uma membrana com poros de 0,45 m, com 47 mm de diâmetro interno, utilizando-se uma pressão
de 210 kPa (30 lbf /in.2). O tempo necessário para a coleta dos dados por esses ensaios varia de 15
minutos a 2 horas, dependendo da natureza do depósito.
Índice de obstrução por partículas (SDI). O SDI é o índice mais amplamente utilizado para a
avaliação do potencial de depósitos (DuPont, 1977; ASTM, 2002). Esse índice é determinado por
meio da Eq. (11-45).
(11–45)
(11–46)
O valor do MFI é obtido calculando-se o coeficiente angular da porção linear da curva que relacio-
na o inverso da vazão em função do volume filtrado acumulado (Fig. 11–40a).
Fator de miniobstrução (MPFI). O MPFI é uma medida da variação da vazão de filtrado em
função do tempo, como ilustrado na Fig. 11–40(b) (Taylor e Jacobs, 1996). O equipamento uti-
lizado para o teste do MPFI é o mesmo que o utilizado para o SDI. O MPFI é definido como o
coeficiente angular da porção linear da curva que relaciona a vazão de filtrado com o tempo (Fig.
11–40b), a qual é designada como região por filtração em torta. A Eq. 11-47 é utilizada para o
cálculo do MPFI.
Q (MPFI) t a (11–47)
Valores típicos do MFI e MPFI são apresentados na Tabela 11–26. Como o valor de MFI é baseado
no volume filtrado, acredita-se que ele seja mais sensível que o MPFI para a caracterização de
depósitos.
11–7 Processos de separação por membranas P 1179
Índice de depósito
Processo de separação SDI MFI, s/L2 MPFI, L/s2
Nanofiltração 0–2 0–10 0–1,5 104
Osmose reversa (fibras ocas) 0–2 0–2 0–3 105
Osmose reversa (enrolada em espiral) 0–3 b
0–2 0–3 105
a
Adaptado, em parte, de Taylor e Wiesner (1999) e AWWA (1996).
b
Embora o valor de 3 seja aceitável, a tendência é reduzir o valor limite para 2 ou menos.
8 0,03
7 A inclinação da reta nesta região é o MFI A inclinação da reta neste região é o MPFI
Inverso da vazão, s/L
Vazão, L/s
5
FIGURA 11–40 Gráficos típicos para determinação dos índices de depósito: (a) índice de depósito modificado (MFI) e
(b) fator de miniobstrução (MPFI).
Solução
1. Calcule o SDI utilizando a Eq. (11–45).
Comentário
Do ponto de vista prático, como o valor calculado do SDI está muito próximo do valor limite,
seria prudente considerar algum tipo de pré-tratamento para minimizar o potencial de depó-
sito nas membranas de OR.
1180 P Capítulo 11 Processos para remoção de contaminantes residuais
Limitações dos índices de depósito. Os índices de depósito SDI e MFI descritos anteriormente,
assim como outros índices atualmente em uso, apresentam sérias limitações, incluindo: (1) em
todos os ensaios, a filtração perpendicular é utilizada para avaliar o potencial de depósito em mem-
branas que operam com fluxo tangencial, (2) o teste é realizado com uma membrana com poros de
0,45 m, o que não é suficiente para avaliar os efeitos de partículas coloidais menores, (3) o teste
não é representativo para a filtração em torta que ocorre com escoamento tangencial, (4) o teste não
avalia a propensão à formação de incrustação ou de biofilme e (5) o teste é realizado com pressão
constante e fluxo variável, que não é o modo de operação normalmente utilizado nos sistemas de
separação de membranas. Também é importante observar que estão sendo desenvolvidos outros
índices, que utilizam membranas de MF ou UF em vez do filtro de 0,45 m, para que seja possível
avaliar o efeito de partículas coloidais menores e compostos orgânicos com massa molar elevada
na ocorrência de depósitos.
Pré-tratamento para sistemas de NF e OR. Um afluente com alta qualidade é necessário
para assegurar uma operação eficiente dos sistemas de nanofiltração e de osmose reversa. O ele-
mentos de membranas nos sistemas de NF e OR são sujeitos ao depósito por uma ampla varieda-
de de contaminantes presentes na alimentação, tanto na forma coloidal como na dissolvida. As
opções de pré-tratamento apresentadas na Tabela 11–27 têm sido utilizadas isoladamente ou em
combinação para minimizar o potencial de depósito nas membranas. A eficácia das opções de
pré-tratamento pode ser avaliada utilizando-se um ou mais dos índices que foram discutidos ante-
riormente. Limpezas químicas periódicas do elementos de membrana, aproximadamente uma por
mês, também são necessárias para reestabelecer e manter o fluxo de água através das membranas.
membranas de UF não removem açúcares ou sais dissolvidos. Outra diferença relevante entre as
membranas de MF e UF é que as membranas de MF não são capazes de remover vírus.
A ultrafiltração é utilizada para a produção de água para aplicações industriais, para as opera-
ções de lavagem de componentes ou outros usos mais restritivos. Dados de operação e de desempe-
nho de sistemas de UF são apresentados nas Tabelas 11–30 e 11–31, respectivamente. Os dados de
variabilidade no desempenho são apresentados na Tabela 11–32.
1182 P Capítulo 11 Processos para remoção de contaminantes residuais
Sistema de
Peróxido de Bacias de
oxidação e
Unidade de hidrogênio Decarbonador Cal infiltração
desinfecção
OR de 3 (Remoção de CO2)
por UV Bomba
Bomba estágios
~70% Poços de
injeção
~30%
Desvio para Bissulfito
Desvio da
balanço da de sódio
vazão de pico Para o rio
e emergência Para o emissário dureza
Santa Ana
submarino OCSD
FIGURA 11–41 Diagrama de fluxo típico para a produção de água potável, utilizando filtros tela,
microfiltração submersa, filtros cartucho, osmose reversa, oxidação avançada e desinfecção com UV, des-
carbonatação e estabilização com cal. (Adaptado de Orange County Water District, CA.)
TABELA 11–29 Aplicação das tecnologias de separação por membranas para a remoção de
contaminantes específicos presentes em efluentes tratadosa
Tecnologia de separação
Constituinte MF UF NF OR Comentários
Compostos orgânicos
biodegradáveis
Dureza
Metais pesados
Nitrato
Poluentes orgânicos prioritários
Compostos orgânicos sintéticos
SDT
SST SST são removidos no pré-
-tratamento para os sistemas
de NF e OR
Bactérias b b
Utilizados para desinfecção
por membranas. Removidos
no pré-tratamento para os
sistemas de NF e OR por MF
e UF
Cistos e oocistos de
protozoários e ovos de helminto
Vírus Utilizados para desinfecção
a
As taxas de remoção específicas dependerão da composição do efluente e das concentrações dos contaminantes
presentes.
b
Desempenho variável, dependendo do tamanho nominal dos poros das membranas e das condições operacionais.
TABELA 11–32 Variabilidade típica na qualidade do efluente observada nos processos de material particulado
utilizados para a remoção de contaminantes presentes nos efluentes secundários
Desvio padrão geométrico, sgb
Processos para Faixa de valores
remoção Unidade no efluentea Faixa Típico
Microfiltração
Turbidez UNT 0,1–0,4 1,1–1,4 1,3
SST mg/L 0–1 1,3–1,9 1,5
Ultrafiltração
Turbidez UNT 0,1–0,4 1,1–1,4 1,3
SST mg/L 0–1 1,3–1,9 1,5
Nanofiltração
SDT mg/L 50–100 1,3–1,5 1,4
COT mg/L 1–5 1,2–1,4 1,5
Turbidez UNT 0,01–0,1 1,5–2,0 1,75
Osmose reversac
SDT mg/L 25–50 1,3–1,8 1,6
COT mg/L 0,1–1 1,2–2,0 1,8
Turbidez UNT 0,01–0,1 1,2–2,2 1,8
Eletrodiálise
SDT mg/L 1,2–1,75 1,5
a
Os valores típicos para os efluentes não são apresentados, pois eles variam significativamente e dependem das condições operacionais das
unidades e dos padrões de qualidade exigidos.
b
sg desvio padrão geométrico; sg P84,1/P50.
c
Como os valores medidos no efluente estão muito próximo do limite de detecção do método, o erro associado à preparação e à análise da
amostra pode contribuir para a variabilidade observada.
go e a transferência de energia é obtida sem o uso de um pistão. DREs isobáricos são amplamente
utilizados em instalações de dessalinização e estão substituindo os DREs do tipo centrífugo em
função da sua flexibilidade e da sua facilidade de operação.
Desempenho dos dispositivos de recuperação de energia. Devido à pressão de opera-
ção relativamente baixa utilizada nos sistemas de OR para o tratamento de efluentes secundários,
a eficiência de recuperação de energia é relativamente baixa. Valores típicos para recuperação de
energia por turbinas Pelton e dispositivos isobáricos variam de 25 a 45% e de 45 a 65%, respecti-
vamente. A redução global do consumo de energia no processo é de, aproximadamente, 6 a 12%,
dependendo do tipo de dispositivo e da configuração do processo. Para efeito de comparação, em
sistemas para dessalinização de água do mar, uma eficiência de recuperação de energia de até 95%
pode ser obtida, dependendo do DRE utilizado (Voutchkov, 2013). A redução global de energia que
pode ser obtida em sistemas de dessalinização de água do mar varia de 30 a 75%. Em unidades de
menor capacidade, a bomba amplificadora de pressão (Clark®) utiliza dois cilindros com pistões
que se deslocam em direções opostas, conectados a um eixo único, para pressurizar a água de ali-
mentação, auxiliada pela bomba de alimentação.