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As cinco fases do luto de Elisabeth Kübler-Ross: fato ou ficção?

Book · January 2022

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Marcio Borges Moreira


Centro Universitário de Brasília
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As cinco fases do luto de Elisabeth
Kübler-Ross: fato ou ficção?
1a edição | ISBN 978-85-65721-18-9

Larissa Burmann Barcellos

Márcio Borges Moreira

Editora do Instituto Walden4

2022
Editora do Instituto Walden4
A Editora do Instituto Walden4 tem como objetivo divulgar conhecimento
produzido sobre a Análise do Comportamento (ciência e profissão). No intuito de
democratizar o acesso ao conhecimento, muitos de nossos livros são
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Este trabalho é derivado do Trabalho de
Conclusão do Curso do curso de
graduação em Psicologia do Centro
Universitário de Brasília (CEUB) de
La r i ssa Bu r ma n n Ba rce l l os sob a
orientação de Márcio Borges Moreira.
Valorize o trabalho das autoras e dos autores!
Este livro, desde a sua concepção, foi desenvolvido para ser um livro distribuído, em
seu formato digital, gratuitamente. No entanto, a maioria dos livros são vendidos, e
a receita oriunda da venda desses livros é o “ganha-pão” de milhares de famílias de
escritores, designers gráficos, diagramadores, revisores, ilustradores, diretores e de
uma infinidade de profissionais envolvidos na publicação de um livro. Sempre que
você puder, compre um livro original!
Sumário

Sobre os autores 1
Resumo 4
Abstract 5
Introdução 6
Elisabeth Kübler-Ross: sua história 10
Perguntas e respostas sobre a morte e o morrer (1979). 11
Vivendo com a morte e os moribundos (1981) 12
Sobre as crianças e a morte (1983). 13
Sobre a vida depois da morte (1991). 14
Roda da vida (1998) 15
On grief and grieving (2005) 16

O surgimento da teoria: "Sobre a morte e o morrer" e "On grief and


grieving" 18
Textos que se baseiam na teoria de Kubler-Ross (exemplos de uso da
teoria/artigos de relato de experiência profissional). 22
Suporte empírico 26
Um estudo empírico: o método 30
Um estudo empírico: os resultados 32
Discussão 42
Referências bibliográficas 45
Sobre os autores

Larissa Burmann Barcellos |@lariburmann

Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB).


Certificada pelo curso Teológico da AGRADE. Vice- presidente do projeto Padrinhos
da Praia. Autora e criadora do curso de Inteligência Emocional para Instituição IVB.

1
Márcio Borges Moreira | @marcioborgesmoreira

Doutor em Ciências do Comportamento pela Universidade de Brasília (UnB). Mestre


em Psicologia e Psicólogo pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO).
Professor da graduação e do mestrado em Psicologia do Centro Universitário de
Brasília (CEUB). Diretor do Instituto Walden4. Co-autor do livro Princípios Básicos
de Análise do Comportamento (Artmed) e de outros livros, capítulos e artigos
científicos com temas relacionados à Análise do Comportamento.

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2
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discriminação condicional. Bandeira, Faria e Moreira (2020)

3
Resumo
Processos psicológicos relacionados ao luto, à perda de alguém, são muito estudados
por psicólogos e outros profissionais. Dentre as várias teorias que abordam o luto,
uma das mais famosas, se não a mais famosa, é das cinco fases do luto de Elisabeth
Kübler-Ross. A despeito de ser bastante utilizada, essa teoria carece de evidências
científicas. Neste livro nós apresentamos algumas pesquisas que buscaram
evidências científicas da teoria das cinco fases do luto de Kübler-Ross e também
apresentamos uma pesquisa realizada por nós na qual analisamos as publicações
científicas brasileiras que utilizaram a teoria de Kübler-Ross, tanto em pesquisa
como em relatos profissionais. De forma geral, as pesquisas que buscaram validação
científica da teoria de Ross apontam que pessoas que passam por luto não
apresentam necessariamente as cinco fases e nem na ordem na qual Ross postulou
essa ocorrência. A despeito desta falta de evidência científica, a revisão que nós
realizamos da literatura brasileira mostrou que as diferentes áreas do saber
profissional continuam produzindo quantidades significativas de documentos sobre
a teoria das fases do luto de Elisabeth Kübler-Ross. Além disso, a maioria desses
documentos utilizam como base a teoria para suas argumentações ou intervenções e
poucos são os que apresentam análise crítica a respeito da teoria. A presente
pesquisa contribuiu para mostrar a importância de realizar pesquisas empíricas
sobre essa teoria que é tão utilizada nos meios acadêmicos e profissionais como
forma de conhecimento e intervenção, mas que não apresenta comprovação
científica. Além disso, os dados apresentados alertam a importância de uma análise
crítica por parte daqueles que embasam seus trabalhos nesta teoria.

Palavras-chave: Luto, Fases do luto, Kübler-Ross, Revisão sistemática, Análise


crítica, Profissionais da saúde.

4
Abstract
Psychological processes related to grief, the loss of someone, are widely studied by
psychologists and other professionals. Among the various theories that address
grief, one of the most famous, if not the most famous, is Elisabeth Kübler-Ross's five
phases of grief. Despite being widely used, this theory lacks scientific evidence. In
this book we present some research that sought scientific evidence of the Kübler-
Ross theory of five phases of grief and we also present a survey carried out by us in
which we analyze Brazilian scientific publications that have used the Kübler-Ross
theory, both in research and in professional reports. In general, research that sought
scientific validation of Ross's theory indicates that people who experience grief do
not necessarily present the five phases or the order in which Ross postulated this
occurrence. Despite this lack of scientific evidence, our review of the Brazilian
literature showed that different areas of professional knowledge continue to produce
significant amounts of documents on Elisabeth Kübler-Ross's theory of phases of
grief. Furthermore, most of these documents use theory as a basis for their
arguments or interventions and few present a critical analysis of the theory. This
research contributed to show the importance of conducting empirical research on
this theory, which is so used in academic and professional circles as a form of
knowledge and intervention, but which does not present scientific proof.
Furthermore, the data presented alert to the importance of a critical analysis by those
who base their work on this theory.

Key-words: Grief, Grief stages, Kübler-Ross, Systematic review, Critical analysis,


Health professionals.

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Barcellos & Moreira (2022)

Introdução
O luto é um fenômeno complexo, abordado de diferentes maneiras por diferentes
autores. Por exemplo, para Parkes (1998) o luto é notar-se ao longo do processo de
perda, tornando-o real. Apesar de o luto ser um conjunto de reações diante da perda,
não significa que esse processo tenha início exatamente após a perda e desapareça
gradativamente, mas é um quadro de reações que se mesclam e que se substituem.

Além de Parkes, outros autores apresentam conceitos referentes ao luto, como Engel
(1961) que relata que o luto não é apenas uma angústia pessoal, mas um estado de
desordem somática e psicológica. Já Bowlby que, citado por Mikulincer e Florian em
1996, afirma que o luto é uma perda de vinculação significativa, mostrando a
necessidade básica do ser humano em vincular-se com uma figura ou objeto
significativo como segurança de vida.

Também Glick e Weiss relatam que o luto não é perda de relações primárias apenas,
mas de elementos significativos. Moore e Fine (1990) vão além, relatam que o luto
pode dificultar com que a pessoa invista em futuros relacionamentos e construções
de vínculos, tendo em vista as variáveis que permeiam este processo.

Já para Basso e Wainer (2011), a morte tem características muito peculiares devido ao
significado que ela representa para cada cultura, civilizações, indivíduos, religiões e
credos. Além disso, relatam que existe uma diferença na experiência de luto entre
mortes repentinas e mortes esperadas. Entretanto, esses autores citam Parkes (1998)
para caracterizar o luto como um processo de perda que traz consigo um leque de
sentimentos, como medo, desconforto, alteração de funções e aumento dos níveis de
ansiedade, principalmente por aqueles que presenciaram o momento da perda,
ocasionando dores físicas, emocionais e psicológicas. Além das explicações de Parkes
e Bowlby para o processo do luto, Basso e Wainer (2011) pautam seu estudo nas fases
do luto antecipatório de Elisabeth Kübler-Ross como forma de melhor compreender
o luto e seu processo.

Diferentemente do luto normal, que é caracterizado pela perda de um ente querido,


o luto antecipatório está relacionado com pacientes que recebem diagnóstico de
doenças terminais. Esse tipo de luto se configura como um processo que ocorre entre
o período que o paciente recebe o diagnóstico e a sua morte propriamente dita
(Flach, Lobo, Potter & Lima, 2012). Esse tipo de luto se organiza a partir de aspectos
concretos da existência como: o afastamento da rotina que tinha anteriormente ao
diagnóstico, a perda da saúde, a hospitalização, as mudanças corporais, além disso,
há aspectos subjetivos como: a baixa autoestima, a sensação de perda de controle,
autonomia e segurança e a angústia de procedimentos invasivo decorrente dos
tratamentos (Cardoso & Santos, 2013).

6
Barcellos & Moreira (2022)

O luto é um aspecto importante na vida cotidiana e tem tido especial atenção dos
psicólogos ao longo de décadas. Esta importância é evidenciada, por exemplo, pelo
número de teorias que tratam do assunto. Bowlby e Parkes (citado por Maciejewski,
2007), foram os primeiros a propor a teoria do ajustamento do luto a partir de quatro
fases, sendo elas: choque-dormência, anseio, desorganização-desespero e
reorganização. A partir dessa teoria, Elisabeth Kübler-Ross (1969) apresentou uma
teoria do luto antecipatório, no qual encontram-se os cinco estágios do luto para
paciente com doença terminal, sendo essas fases: negação-isolamento, raiva,
barganha, depressão e aceitação. (Bass & Wainer, 2011; Maciejewski, 2007).

Segundo Holland e Neimeyer (2010), as teorias sobre o luto se diferem em pequenos


detalhes, mas no geral os autores dessas fases do luto articulam um caminho dentro
dessas teorias que normalmente começa com sentimento de dormência ou descrença,
depois aparecem os estágios intermediários que geralmente inclui uma forma de
protesto e depressão e ao final com a aceitação da perda. Essas são algumas fases
previsíveis nas diversas teorias sobre o luto. Para além das teorias de fases do luto,
existem outras que não se baseiam em fases, mas considera o luto um processo
dinâmico e regulador propondo uma revisão teórica sobre este processo de luto a
partir das variáveis estressoras e suas formas de enfrentamento, como o Modelo do
Processo Dual de Luto (Silva & Alves, 2012), que é uma teoria com foco nas tarefas
fundamentais do luto e o enfrentamento do enlutado frente às variáveis estressoras
do contexto de luto, de forma a orientar e restabelecer o indivíduo diante da perda .
Para além desse, existem outros como:

- Teoria do Trabalho de Luto, apresentado no artigo Luto e Melancolia de


Freud, esta é uma teoria que trabalha a diminuição de energia que liga o
indivíduo da pessoa ou objeto de perda;

- Teoria da Vinculação, criado por Bowlby, que se baseia no tipo de vinculação


que foi estabelecida com a pessoa ou objeto perdido. Sendo essa vinculação
segura ou insegura que resultará na reação frente ao luto. É uma teoria que
contribuiu para o entendimento de diferenças individuais no luto.

- Tarefas de Warden que são formas de enfrentamento ao luto por etapas, a


partir do cumprimento de tarefas que o enlutado deve executar para se
adaptar ao luto. (Silva & Alves, 2012).

Apesar das diversas teorias apresentadas, o modelo Kübler-Ross ainda é


amplamente disseminado nas graduações de saúde, conforme apontaram Holland e
Neimeyer (2010).

Diante dessa grande influência da teoria de Ross nas graduações, os autores


notaram a importância de realizar uma pesquisa que investiga, a partir de uma
revisão sistemática da literatura, a produção de conhecimento científico relacionado
ao modelo de Elisabeth Kübler-Ross para análise, relatos, implementações de

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Barcellos & Moreira (2022)

práticas profissionais da saúde no contexto brasileiro, já que esta teoria apresenta


estudos em outros países da língua inglesa, mas não é possível encontrar pesquisas
que se pautem em artigos, livros e materiais brasileiros.

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Barcellos & Moreira (2022)

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Barcellos & Moreira (2022)

Elisabeth Kübler-Ross: sua história


Elisabeth Kübler-Ross é uma psiquiatra que publicou o livro Sobre a morte e o
morrer em 1969, explorando de forma inédita os cincos estágios (negação/
isolamento, raiva, barganha, depressão e aceitação) sobre a morte. A partir desse
modelo dos cincos estágios, baseado nos acompanhamentos de pacientes em fase
terminal, Kübler-Ross se torna referência no estudo do desenvolvimento da
tanatologia. Ao final da sua vida, chegou à conclusão da existência de vida após a
morte, acreditando que a alma seria eterna.

Elisabeth Kübler-Ross nasceu na Suíça, seu interesse por estudar a morte e o luto
ocorreu devido às suas experiências ao longo da vida. Desde seu nascimento até suas
experiências finais em hospitais com pacientes terminais, o tema morte e vida
sempre foram latentes em suas vivências (Afonso & Minayo, 2013). Em sua
adolescência, durante a Segunda Guerra Mundial, trabalhou na Rússia e na Polônia
ajudando os necessitados com primeiros socorros. Os vagões e os campos de
concentração com restos humanos faziam parte de sua rotina. Essa foi a época que
seu interesse pela morte e morrer ficou em evidência (Afonso & Minayo, 2013).
Estudou e concluiu o curso de medicina em Zurique em 1951 e ao concluir mudou-se
para os Estados Unidos.

Ao casar-se com um americano, mudou-se para Nova Iorque, onde trabalhou em


hospitais de emergências e passou a escutar as histórias e sentimentos dos pacientes
que por ali passavam - vivências que mais tarde a direcionaram para a psiquiatria
(Afonso & Minayo, 2013). A primeira obra lançada e que trouxe uma nova
perspectiva para a área de saúde foi Sobre a morte e o morrer, publicada em 1969.
Nessa obra a autora fala sobre o temor e as atitudes diante da morte, as fases do luto,
sobre a família desses pacientes, algumas entrevistas feitas com os pacientes em fase
terminal, as reações ao seminário sobre o tema e terapia realizada com pacientes
terminais. Segundo a Fundação Elisabeth Kübler-Ross, a médica teve mais de 20
trabalhos escritos publicados para além dessa obra. Algumas dessas obras são
brevemente descritas a seguir.

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Barcellos & Moreira (2022)

Perguntas e respostas sobre a morte e o morrer (1979).

fonte: https://www.traca.com.br/livro/891401/perguntas-respostas-sobre-morte-morrer/

Essa obra foi realizada a partir de questionamentos de pacientes, familiares e


profissionais de saúde que enviaram muitas cartas para ela. De uma forma didática e
sincera, Kübler-Ross responde às perguntas selecionadas por ela mesma,
consideradas como as perguntas que mais apareceram em suas cartas (Netto, 2015).
A autora responde a esses questionamentos exemplificando situações que vivenciou
em seus atendimentos clínicos. Além disso, traz temas como interdisciplinaridade,
importância da família para promover a singularidade do indivíduo e a partir disso,
promover a autonomia desses pacientes em fase terminal e os aspectos da
comunicação para notícias difíceis, mostrando o dinamismo de cada conceito sem
mencionar os termos, apenas exemplificando (Afonso & Minayo, 2013).

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Barcellos & Moreira (2022)

Vivendo com a morte e os moribundos (1981)

fonte: https://www.amazon.com.br/gp/product/B06XGVPXQG/ref=as_li_tl?
ie=UTF8&camp=1789&creative=9325&creativeASIN=B06XGVPXQG&linkCode=as2&tag
=rsc06-20&linkId=f88ea2eda02676af6b5397803a27dfb1

Essa obra trata sobre perdas inesperadas de entes queridos, assunto não detalhado
em obras anteriores. Perdas como: suicídio, acidente, desaparecimento e assassinato,
sem abandonar os pacientes terminais. No final do século XX, quando esse livro foi
publicado, Kübler-Ross falou a respeito do tratamento holístico e a resistência das
equipes envolvidas no atendimento aos pacientes terminais em minimizar suas
dores físicas e emocionais. Traz a importância da simetria entre os familiares dos
doentes e a equipe responsável pelo atendimento do doente. A ênfase da autora foi
sobre o que hoje chamamos de projeto terapêutico singular e clínica ampliada, a
partir de uma escuta ativa e do diálogo significativo. No livro, apresenta a sua
técnica de interpretação de desenho e as experiências de adultos e crianças diante da
morte. (Afonso & Minayo, 2013).

12
Barcellos & Moreira (2022)

Sobre as crianças e a morte (1983).

fonte: https://www.amazon.com.br/Los-ni%C3%B1os-muerte-Elisabeth-K%C3%BCbler-
Ross/dp/8415864345

Essa obra Kübler-Ross dedicou para familiares de crianças gravemente feridas por
doença terminal ou com morte súbita, no qual ela traz temáticas como o medo,
dúvidas, raivas, angústias e confusão dos pais que passaram por esse contexto de
luto. A obra também abarca outros tipos de temática como suicídio, luto parental,
cuidado com os irmãos, como viver uma vida plena no contexto de morte e sobre
velório e enterro. Para Kübler-Ross, o sofrimento era maior para as crianças que
tinham mais clareza sobre o estado de sua doença, já que não podiam partilhar suas
dúvidas e angústias com os outros. Nesse livro ela já começa a apresentar um lado
espiritualizado da morte e do morrer, a partir da metáfora do casulo e da borboleta,
o que a fez receber muitas críticas por parte da comunidade científica (Afonso &
Minayo, 2013).

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Barcellos & Moreira (2022)

Sobre a vida depois da morte (1991).

fonte: https://www.amazon.com.br/Sulla-vita-morte-Elisabeth-K%C3%BCbler-Ross/dp/
8833360431

No prefácio dessa obra, Kübler-Ross responde às críticas que recebeu da


comunidade científica a partir de um argumento espiritualizado, o que fez com que
ela recebesse mais críticas. Já que nessa época, Kübler-Ross teve um acidente
vascular cerebral (AVC), a comunidade científica argumentou que essa defesa de
vida pós-morte se dava pela falta de oxigenação no cérebro devido ao AVC, levando
a ter ilusões a partir de um desejo pessoal. Entretanto, nesse livro ela aborda um
tema estudado atualmente, que são as experiências de quase morte. Neste livro,
Kübler-Ross relata a experiência espiritual que teve, no qual levou a batizar a
instituição que fundou na Califórnia com o nome Shanti Nilaya, que significa
“morada da paz”. Essa instituição cuida de pacientes terminais e pessoas com AIDS
(Afonso & Minayo, 2013).

14
Barcellos & Moreira (2022)

Roda da vida (1998)

fonte: https://www.amazon.com.br/gp/product/8586796093/ref=as_li_tl?
ie=UTF8&camp=1789&creative=9325&creativeASIN=8586796093&linkCode=as2&tag=rs
c06-20&linkId=fe9ae788ebe361ce78fddfb9938b26db

É uma autobiografia na qual ela enfatiza sua tese de que a morte não existe. Expõe
como conseguiu trabalhar com um tema que culturalmente é um tabu, no caso a
morte, e como esse é um tema que perpassou sua vida toda, tanto no campo de
concentração na Polônia quanto nos hospitais nos Estados Unidos.

Lições de vida (2000). Primeiro livro escrito com Kessler, o mesmo autor de cinco
anos mais tarde, no qual Kübler-Ross se reuniu para escrever mais uma obra,
chamada: On Grief and Grieving, ambos especialistas na área da morte e do morrer,
abordam neste livro temas sobre a vida e o viver, temas que mostram a
singularidade da vida, que são: autenticidade, relações pessoais, amor, força, lazer,
perdão, rendição, felicidade, tempo, perda, raiva e medo. Eles abordam essas
temáticas da mesma forma que Kübler-Ross apresentou em seus livros anteriores, a
partir das experiências nos atendimentos clínicos (Afonso & Minayo, 2013).

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Barcellos & Moreira (2022)

On grief and grieving (2005)

fonte: https://www.amazon.com.br/Grief-Grieving-Finding-Meaning-Through-ebook/dp/
B000FCKB02

Essa é a obra que os autores Kübler-Ross e Kessler, falaram a respeito dos estágios do
luto na perspectiva não mais do luto antecipatório com pacientes terminais, mas
agora de pessoas que perderam algum ente querido. As fases do luto encontradas
nesse texto são as mesmas da obra “Sobre a morte e o morrer”. Um livro teórico que
relata a respeito do medo e a inelutável aceitação da morte. Essa foi a última obra de
Kübler-Ross. As obras de maior interesse neste trabalho são: Sobre a morte e o
morrer (1969) e Grief and Grieving (2005) por esse motivo, essas obras serão
descritas em detalhes a seguir.

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Barcellos & Moreira (2022)

Livro publicado pela Editora do Instituto Walden

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17
Barcellos & Moreira (2022)

O surgimento da teoria: "Sobre a morte e o


morrer" e "On grief and grieving"
No livro "Sobre a morte e o morrer" a autora apresentou, pela primeira vez, as cinco
fases do luto criadas a partir de entrevistas com pacientes terminais. Além disso, a
autora relatou as dificuldades que a equipe multidisciplinar apresenta no que se
refere às notícias difíceis e os familiares dos pacientes entrevistados. O livro
apresenta casos que a autora acompanhou ao longo de sua jornada no hospital de
Chicago com intuito de promover humanização e autonomia para o paciente que
encontra-se em estado terminal.

Os estágios do luto apresentados pela autora são descritos por cinco fases que são:
negação e isolamento, raiva, barganha, depressão e aceitação. Na primeira fase, que é
a negação e o isolamento, a autora fala que é muito comum os pacientes duvidarem
do diagnóstico que foi apresentado para eles, buscando provar que houve um
engano por parte dos médicos. Neste capítulo do livro, Kübler-Ross diz: "A maioria
dos mais de duzentos pacientes moribundos que entrevistamos reagiu com essa fala:
Não, eu não, não pode ser verdade. Essa negação inicial era palpável tanto nos
pacientes que recebiam diretamente a notícia no começo das suas doenças quanto
naqueles a quem não havia sido dito a verdade e ainda naqueles que vinham a saber
mais tarde por conta própria” (Kübler-Ross, 2020, p. 43).

Na segunda fase, a raiva, os pacientes já aceitam o diagnóstico que outrora


duvidaram, mas sentem uma raiva por esse diagnóstico interromper seus planos de
vida, levando esses pacientes a terem ressentimentos e inveja das pessoas com
saúde. A autora relata o caso de um dos pacientes entrevistados, Dr. G, que traz na
sua fala uma pergunta que diversas vezes lhe veio à mente: “ Pois é, por que não
poderia ser ele?”, além disso autora diz: “Quando não é mais possível manter firme
o primeiro estágio de negação, ele é substituído por sentimentos de raiva, de revolta,
de inveja e de ressentimento. Surge, lógico, uma pergunta: Por que eu?” (Kübler-
Ross, 2020, p. 55).

Na terceira fase, a barganha, é o momento no qual o paciente faz promessas de um


modelo novo de vida como forma de prolongar sua vida. Na fase da barganha,
Kübler-Ross compara a atitude dos pacientes em fase terminal com atitudes de
crianças, que ao terem seus desejos negados oferecem seus serviços como forma de
recompensa. Kübler-Ross caracteriza a barganha como: “uma tentativa de
adiantamento; tem de incluir um prêmio oferecido 'por bom comportamento',
estabelece também uma 'meta' auto-imposta e inclui uma promessa implícita de que
o paciente não pedirá outro adiantamento, caso o primeiro seja concedido. Nenhum
dos nossos pacientes cumpriu as promessas” (Kübler-Ross, 2020, p. 89).

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Barcellos & Moreira (2022)

A quarta fase, a depressão, está relacionada não só ao paciente, mas às alterações que
a doença causa nos familiares também. Nessa fase a autora descreve dois tipos de
depressão: a reativa e a preparatória. Na depressão reativa a autora sugere um apoio
na área social a partir de equipes multidisciplinares. No segundo tipo de depressão,
a autora relata que é o momento que o paciente percebe que em breve perderá tudo
que ama. Neste livro, Kübler-Ross diz que: “ Seu alheamento ou estoicismo, sua
revolta e raiva cederão lugar a um sentimento de grande perda” (Kübler-Ross, 2020,
p. 91).

Na última fase, aceitação, o desgaste físico é evidente, então o paciente começa a


pensar que é mais fácil morrer do que viver. Seria um período no qual o paciente
deseja falar sobre seus sentimentos. Nesse período é importante que a pessoa
ouvinte esteja preparada e capacitada para ouvir o paciente. Kübler-Ross relata que
esses estágios podem se sobrepor, e que em cada um deles o paciente apresenta
esperança frente ao diagnóstico e que não cabe aos outros retirar essa esperança do
paciente com discursos diretos e reais.

No livro Grief and Grieving (2005), os autores apresentam as fases do luto, agora não
mais a partir de pessoas que foram diagnosticadas com alguma doença terminal,
mas a partir dos entes queridos que perderam seus familiares. Os autores utilizam as
mesmas fases do luto criada por Kübler-Ross no livro Sobre a morte e o morrer
(1969): negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Entretanto, os autores deste
livro, ajustam essa teoria para pessoas que perderam um ente querido, apresentando
alguns detalhes diferentes em suas explicações para cada etapa do luto.

Na primeira fase do luto, negação, os autores relatam que a negação que o parente
que perde alguém apresenta é diferente da negação apresentada por um paciente
com doença terminal. A primeira fase do luto em um paciente terminal é mais uma
descrença na doença, já para os parentes que perdem um ente querido é mais
simbólico, como não ter mais o ente querido na rotina que outrora ele participava.
No livro, os autores dizem: “ Quando estamos na negação primeiramente
respondemos com um estado de paralisação ou de dormência. A negação não é a
negação da morte, mesmo que a pessoa diga ‘ não acredito que ele/ela está morto”
(Kessler & Kübler-Ross, 2005, p. 7). Além disso, a negação pode vir como forma de
negar a realidade.

Na segunda fase, a raiva, é apresentada de várias formas, tanto raiva pelo ente
querido não ter se cuidado, ou do parente não ter cuidado direito do ente que estava
doente, ou por não ter previsto todo o ocorrido, e quando o fez já não poderia fazer
mais nada. Não que a pessoa pudesse ter o controle disso, mas gostaria de ter, e etc.
Os autores relatam: “ Primeiro, o enlutado tem um sentimento de surpresa por estar
vivendo um período de luto, depois disso outros sentimentos tomam conta, mas a
raiva se destaca frente a outros sentimentos, como tristeza, pânico, dor, solidão”
(Kessler & Kübler-Ross, p.11, 2005).

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Barcellos & Moreira (2022)

Na terceira fase, a barganha se apresenta antes da morte do ente querido como


promessa, após a sua morte como uma trégua temporária no qual a pessoa encontra-
se perdida entre o “se” e o “o que”, por exemplo: “o que” poderia ser feito “se”
encontrassem o tratamento que curasse o câncer? Nesse caso, a culpa é companheira
da barganha, pois traz o sentimento de culpa por não ter encontrado, no caso do
exemplo, a cura do câncer ou um tratamento que curasse, passando um sentimento
para o mesmo que poderia ter feito diferente. A barganha também pode se
apresentar como forma de aliviar a dor. No livro, os autores relatam: “Nós
barganhamos para não sentir mais dor pela perda do ente querido. Trazendo o
passado para negociar a diminuição da dor” (Kessler & Kübler-Ross, p.17, 2005).

Na quarta fase, a depressão se apresenta como sentimento de tristeza profunda que


parece durar para sempre, mas nem por isso é identificada como uma doença
mental, é apenas proporcional ao contexto ao qual a pessoa está vivenciando. Os
autores relatam no livro que os “ sentimentos pesados e obscuros da depressão que
vem com o luto, entretanto normal, é visto pela nossa sociedade como algo que deve
ser tratado. Certamente que depressões clínicas, não tratadas, podem levar a um
estado mental pior. Mas no luto, a depressão é uma forma natural do nosso corpo de
nos proteger desligando o sistema nervoso para que possamos nos adaptar a algo
que sentimos não dar conta. Se o luto é o processo de cura, a depressão é um dos
passos necessários para este processo” (Kessler & Kübler-Ross, p. 21, 2005).

Na última fase, a aceitação não é a aceitação da morte de alguém, mas aceitar que
essa pessoa não está mais fisicamente presente, aceitando essa ausência de forma
permanente. Os autores definem essa fase como: “Este é o final do processo de cura e
ajustamento que esperamos, apesar de muitas vezes parecer que é um estágio
inatingível. Curar no sentido de relembrar, recordar e se reorganizar” (Kessler &
Kübler-Ross, p.24, 2005).

Baseado nessas teorias, vários artigos foram publicados com intuito de promover
cuidado, bem-estar e saúde para pessoas que estão no processo de luto, sendo luto
antecipatório ou luto vivenciado por pessoas que perderam algum ente querido.
Alguns exemplos serão apresentados na seção a seguir.

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Barcellos & Moreira (2022)

Livro publicado pela Editora do Instituto Walden4

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Barcellos & Moreira (2022)

Textos que se baseiam na teoria de


Kubler-Ross (exemplos de uso da teoria/
artigos de relato de experiência
profissional).
O artigo apresentado por Bolden (2007) faz uma revisão da obra de Kübler-Ross e
Kessler, o livro “Grief and Grieving” (2005). Neste artigo o autor fala do luto e das
fases do luto, não mais na perspectiva do luto antecipatório, mas das pessoas que
perderam seus entes queridos. Apresenta as mesmas fases do luto utilizado por
Kübler-Ross em sua obra “Sobre a morte e o morrer” (1969) para explicar o processo
de luto em pessoas que perderam seus entes queridos. Entretanto o autor traz
críticas a respeito dessas fases do luto, devido aos criadores dessas fases
compreenderem que a teoria relata que todas as pessoas que estão no processo de
luto, seja a pessoas em luto antecipatório ou para pessoas que perderam seus entes
queridos, devem passar por todas as etapas. Apesar dos autores do livro receberem
tais críticas, Bolden (2007) relata que o livro apresenta a singularidade do processo
de luto a partir das diferentes circunstâncias em que o ente querido morreu como
algo que afeta significativamente o processo de luto.

Outro artigo que se baseia na teoria das fases do luto para explicar as contribuições
da Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) é o artigo de Basso e Wainer (2011).
Esse artigo relata a respeito de um luto por perda repentina que pode acarretar
inúmeras alterações na vida da pessoa que está no processo de luto, gerando
prejuízos emocionais e cognitivos. O artigo relata como o psicólogo deve atuar nesse
contexto, e apresenta algumas técnicas da TCC como forma de manejo do luto.

Simões (2014), da área da medicina, realizou uma pesquisa com o objetivo de


apresentar a Síndrome do luto e suas diversas etapas de sintomas e fases. Segundo
Simões (2014), qualquer um pode identificar esses sinais e essas fases, independente
se é um luto antecipatório ou perda de ente querido. Além disso, apresenta a teoria
de Kübler-Ross frisando a importância de compreender que essas fases não são
lineares, mas que tem uma importância para os profissionais da saúde, também
relata que os sinais e as fases da Síndrome do luto são as mesmas apresentada por
Kübler-Ross. Ao final, o autor apresenta um guia prático de como dar notícias ruins,
a partir do protocolo Spikes: Setting up (Preparando-se para o encontro), Perception
(Percebendo o paciente), Invitation (Convidando para o diálogo), Knowledge
(Transmitindo informações), Emotions (Expressando emoções) e Strategy and
Summary (Resumindo e organizando estratégias).

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Barcellos & Moreira (2022)

O artigo escrito por Cocentino e Viana (2011) traz uma visão psicanalítica sobre a
morte no envelhecimento. A morte, para esses autores, não está relacionada apenas
ao corpo físico, mas também à relação social, familiar e do trabalho. A partir de uma
análise bibliográfica, os autores concluíram que a morte e a velhice são fatores
atrelados à cultura, como se a teoria da velhice necessariamente estivesse atrelada
com a teoria do luto. Dessa forma, os autores, além de citar Freud, também acabam
se baseando em Kübler-Ross, fazendo uma citação direta para definir o luto.

Outro artigo na área da psicologia é das autoras Carnaúba, Pelizzari e Cunha (2016).
Nesse artigo utilizam-se várias teorias para explicar perdas inesperadas. Apesar das
diversas teorias embasando o artigo, as autoras utilizam as fases do luto criadas por
Kübler-Ross e Parkes (1969 e 1998, respectivamente) para explicar as vivências dessa
perda. Além disso, trazem a diferença do luto por perda inesperada e por perda
natural, explicam o estresse que é gerado pela perda traumática, e a partir disso, as
autoras pontuam a importância do acompanhamento psicológico para essas pessoas
que sofreram perdas traumáticas para que, enfim, elas possam aceitar essas perdas.

Ainda dentro da área de psicologia, Mattos (2015) escreveu um artigo sobre luto na
deficiência, não mais para explicar o luto como morte, mas como perda de
movimento decorrente de uma trombose que a paciente sofreu, levando-a ao estado
de tetraplegia. A autora se embasou na teoria das fases do luto de Kübler-Ross para
explicar o processo gerado a partir da perda do movimento do corpo de sua
paciente, frisando que essas fases não são fixas e que tem toda uma subjetividade e
outros fatores como o social, o suporte familiar e a psique da pessoa que devem ser
levadas em consideração. Mattos (2015), a partir da análise do discurso de sua
paciente, conclui em seu artigo que as fases do luto não são sequenciais e que não
tem necessidade da pessoa passar por todas as fases para finalizar o processo do
luto, mas que ela pode, a partir da conclusão do processo, viver pelo novo modelo
de vida que é a deficiência.

Na área da Enfermagem, o artigo de Susaki, Silva e Possari (2006) visou identificar as


fases do luto de Kübler-Ross na perspectiva dos enfermeiros. O procedimento
utilizado neste artigo foi uma entrevista individual, anteriormente agendada com os
enfermeiros, questionando se eles tinham percebido os sinais da comunicação não-
verbal para realizar o atendimento e a identificação. Essa pesquisa ocorreu em um
hospital de São Paulo e os dados foram coletados em 2004, mesmo o artigo sendo
enviado em 2005. Os resultados apresentados por essa pesquisa mostram que 92%
dos profissionais conseguiram identificar pelo menos três fases do luto da Kübler-
Ross em seus atendimentos com pacientes terminais, em média. A conclusão que os
autores desta pesquisa relatam é que os enfermeiros apresentam dificuldade na
compreensão e observação do processo do luto e suas fases, apresentando uma
necessidade de aprimoramento e suporte a esses enfermeiros no que se refere a esse
tipo de conhecimento.

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Barcellos & Moreira (2022)

O artigo de Souza, de Souza e Souza (2005), também da área de enfermagem, traz a


perspectiva do processo do luto em pacientes em fase terminal e que estão recebendo
cuidados paliativos. O objetivo foi buscar relatos dos cuidadores domiciliares e a
reflexão sobre ética nesse contexto. As autoras trazem a visão de Kübler-Ross para
falar da interdisciplinaridade e do tratamento holístico. Verificar a importância de
voltar os olhares não mais para a cura, mas para qualidade de vida nos momentos
finais da vida do paciente.

Há inúmeros trabalhos escritos por profissionais e alunos da área da saúde, como os


descritos acima, que se baseiam na teoria das fases do luto tomando-a como válida
ou fato científico, apresentando essas fases descritas pela teoria, em geral, como
regulares e sequenciais. No entanto, existem poucas evidências que embasam a
teoria das fases do luto de Kübler-Ross. A despeito de toda aceitação da teoria no
meio profissional e acadêmico devemos ressaltar que existem poucos estudos
empíricos que buscam validar a teoria dos estágios. Examinaremos a seguir algumas
pesquisas que se dedicaram a avaliar essa teoria de forma experimental.

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Barcellos & Moreira (2022)

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Barcellos & Moreira (2022)

Suporte empírico
Maciejewski, Zhang, Block, e Prigerson (2007) realizaram uma pesquisa com o
objetivo de verificar os valores e padrões que mudaram ao longo do tempo, após a
perda do ente querido, a partir dos cinco indicadores baseados na teoria do luto de
Kübler-Ross. Os participantes foram convidados a partir de uma carta que constava
informações de como seus nomes foram obtidos, identificação dos pesquisadores,
delineamento, objetivo e procedimento da pesquisa e, além disso, informava que os
pesquisadores entrariam em contato com os participantes ao longo da semana, não
eram contactados os que informaram antecipadamente que não desejavam ser
contactados. Dos 575 contactados, 317 decidiram participar.

Desses 317, foram excluídos 58 por critérios advindos de uma desordem do luto, 19
por sobreviver a mortes traumáticas e 14 por falta de dados. O instrumento utilizado
para medir descrença, anseio, raiva e aceitação da morte foi o Inventário de Luto
Complicado Revisado, anteriormente conhecido como Resposta do luto à perda. A
escala utilizada foi a de Likert, no qual indicava de 1 a 5 o quanto a pessoa sentia
descrença, anseio, raiva e aceitação no período menor de um mês, mensalmente,
semanalmente, diariamente e várias horas do dia. Os resultados apresentados por
essa pesquisa mostram que, contrariando a teoria dos estágios, a negação não era o
indicador inicial e dominante do luto. A aceitação foi o item mais apoiado e o desejo
foi o indicador dominante de luto patológico de 1 a 24 meses após a perda. O anseio
atingiu o pico após 4 meses da perda, a raiva em 5 meses e a depressão em 6 meses
após a perda. A aceitação aumentou ao longo do período de observação do estudo.
Os cinco indicadores alcançaram seus respectivos valores máximos na sequência
(descrença, anseio, raiva, depressão e aceitação) previsto pela teoria das fases do
luto. Os pesquisadores concluíram que a identificação dos estágios normais do luto
após a morte por causas naturais melhora a compreensão de como a pessoa comum
processa, cognitiva e emocionalmente, a perda de um membro da família. Dado que
os indicadores negativos do luto atingem o pico dentro de aproximadamente 6
meses após a perda, aqueles que obtiveram alta pontuação nesses indicadores, além
de 6 meses após a perda, poderão se beneficiar de uma avaliação mais aprofundada.

No artigo de Holland e Neimeyer (2010) os autores trazem uma crítica a respeito de


como as similares teorias foram criadas apenas a partir de observações e entrevistas,
sem serem de fato testadas. A partir dessa crítica, os autores trazem o estudo de
Maciejewski, Zhang, Block e Prigerson (2007) como base para aplicar sua pesquisa
experimental já que esses autores apresentaram diferenças nas consequências das
fases do luto, mostrando que nem todos passam por todas as fases e em uma
sequência específica. Dessa forma, Holland e Neimeyer (2010) decidiram utilizar em
sua pesquisa as mesmas fases do luto utilizadas por esses autores, que são elas:
descrença, raiva, desejo, depressão e aceitação, com jovens adultos que tiveram

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Barcellos & Moreira (2022)

perdas de forma natural e de forma violenta, sendo 441 participantes com perda de
forma natural e 173 de forma violenta, além disso, avaliaram também até que ponto
os participantes tinham sentido a perda. O procedimento utilizado foi a aplicação de
questionários de sessão única que incluía medidas de criação de significado e
sintoma de luto. Nesse questionário o participante também informava a
circunstância que envolveu sua perda. Os resultados apresentados por eles
mostraram uma limitação nas teorias dos estágios, apresentando baixa aceitação e
uma maior angústia no segundo aniversário do falecimento por parte dos
participantes. Nessa pesquisa, a criação de sentido seria um forte preditor do luto,
mais que o tempo no qual a pessoa encontra-se enlutada, mostrando a importância
de uma perspectiva voltada mais para o significado de luto para a pessoa.

A propagação de estudos intuitivos sobre a fase do luto fez com que as pessoas
tivessem crenças a respeito da perda, fazendo com que esse fosse um conteúdo
inserido nos currículos da graduação em saúde. Apesar disso, apenas alguns testes
empíricos foram feitos para testar os méritos da teoria dos estágios do luto (Holland
& Neimeyer, 2010).

De la Rubia e Ávila (2015) realizaram uma pesquisa com o objetivo de definir cinco
escalas para um único fator que pudessem avaliar as cinco fases do luto de Elisabeth
Kübler-Ross e comparar as sequências que Elisabeth Kübler-Ross apresenta em sua
teoria. O método utilizado por essas autoras foi uma escala da fase do luto aplicada a
uma amostra não probabilística de 120 mulheres mexicanas com câncer. A análise
fatorial e de trajetória foi utilizada para analisar os dados. Os resultados encontrados
por essas autoras mostram que o fator único definido para as cinco fases do luto tem
alta consistência interna, ajuste aos dados e validade de conteúdo. Já o modelo
sequencial das cinco fases do luto mostrou um ajuste inadequado aos dados. As
fases do luto eram independentes do tempo no momento em que a paciente recebeu
o diagnóstico de câncer. O modelo não sequencial apresentou-se melhor para os
dados. Dessa forma, as autoras concluíram que, ao invés de cinco fases do luto, as
participantes corresponderam a seis respostas psicológicas inter-relacionadas,
provenientes da perda de saúde.

O artigo de Corr (2019) compreende a importância da teoria das fases do luto de


Kübler-Ross e suas obras, porém questiona se esse conhecimento deve ser
incorporado na prática e no ensino. Segundo Corr (2019), a resposta para esse
questionamento seria que sim, desde que o foco seja na escuta e na aprendizagem
ativa de pacientes terminais, se limitar a descrição das reações e das respostas
individuais experimentadas por seus entrevistados, reconhecer as críticas as cinco
fases do luto como uma estrutura para compreender o enfrentamento dos pacientes
terminais ou da morte, recorrer a teorias alternativas para lidar com a morte e
reconhecer os perigos que envolvem aplicar essa teoria às questões que envolvem
perda.

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Barcellos & Moreira (2022)

Outro artigo desse mesmo autor, publicado em 2019 também, mostra a influência
duradoura do modelo de Kübler-Ross no contexto de ensino e profissional ao longo
dos anos. Esse artigo apresenta uma amostra de 47 livros publicados em 10
diferentes países para além dos Estados Unidos. A partir do momento que evidencia
a importância e a divulgação dessa teoria no contexto profissional e no acadêmico
traz um questionamento se de fato essa teoria é válida para guiar a educação e a
prática na atualidade.

A partir da análise de publicações a respeito do tema e conteúdo, o livro apresentará


a seguir uma pesquisa que utilizou a revisão de literatura para verificar a
disseminação da teoria dos estágios de Elisabeth Kubler Ross nas diversas áreas de
saúde.

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Barcellos & Moreira (2022)

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Barcellos & Moreira (2022)

Um estudo empírico: o método


O procedimento que foi utilizado na pesquisa em questão é uma revisão sistemática
dos artigos publicados em português que utilizaram as teorias das fases do luto
como embasamento para ensino e práticas profissionais sem suporte empírico.

As buscas foram realizadas através da base de dados do Google Acadêmico, em


outubro de 2020. Foi empregado o seguinte termo: Kübler-Ross e a pesquisa foi
realizada ano por ano, começando em 2010 terminando 2019. Foram retirados os
artigos patentes e selecionados apenas os artigos em português a medida que cada
período específico era selecionado.

Após o levantamento inicial, os artigos que foram removidos foram os duplicados


e os que não eram acessíveis por motivo de privacidade. Ainda assim, a amostra do
presente trabalho é de 200 arquivos analisados. Em seguida, foi realizada uma
análise dos títulos e resumos de modo a aplicar os critérios de inclusão e exclusão.
Os critérios de inclusão foram: (a) artigos com embasamento na teoria das fases do
luto; (b) artigos voltados para práticas profissionais; e (c) artigos empíricos.

Depois do resumo e títulos, foi feita uma busca nas referências para verificar se há
citação da Kübler-Ross no artigo. Os critérios de exclusão foram artigos que não
citam as fases do luto de Kübler-Ross.

Por fim, os artigos selecionados pelo critério de inclusão e exclusão foram analisados
por completo. Esses artigos analisados foram classificados a partir dos seguintes
aspectos:

a) Quais profissionais produziram o artigo (e.g., psicologia, enfermagem,


medicina);

b) Quantas citações foram feitas do artigo;

c) Qual tipo de objeto do luto o artigo se refere (antecipatório, perda de ente e


perda material);

d) Em qual local o artigo é produzido (e.g., hospital; clínica);

e) Apresenta análise crítica da teoria;

f) Corroboram ou contrapõem a teoria de Kübler-Ross.

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Barcellos & Moreira (2022)

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Barcellos & Moreira (2022)

Um estudo empírico: os resultados


Os resultados apresentados na pesquisa demonstraram que as diferentes áreas do
saber profissional continuam produzindo quantidades significativas de documentos
sobre a teoria da fase do luto de Elisabeth Kübler-Ross. Além disso, a maioria desses
documentos utilizam como base a teoria para suas argumentações ou intervenções e
poucos são os que apresentam análise crítica a respeito da teoria, conforme os
gráficos apresentados a seguir.

A Figura 1 está relacionada com a quantidade de arquivos publicados sobre as fases


do luto de Kübler-Ross ao longo dos anos de 2010 a 2019, tendo em vista que sua
maior quantidade de publicação foi recentemente em 2017. Além disso, o gráfico
apresenta uma constância no que se refere à publicações de arquivos pautados nessa
teoria ao longo dos anos, o que parece não apresentar uma diminuição na publicação
dessa teoria.

Figura 1. Total de arquivos por ano publicados sobre as fases do luto de Elisabeth
Kübler-Ross .

Entretanto, na Figura 2, a quantidade de citações dos arquivos analisados


apresentaram diminuição ao longo dos anos, o que pode estar associado com a
recente publicação das pesquisas. Mas é importante observar que tanto na Figura 1
quanto na Figura 2 o ano de 2013 apresentou um número elevado de publicações e
citações, o que demonstra um interesse elevado no tema nesse período.

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Barcellos & Moreira (2022)

Figura 2. Quantidade de Citações por Ano dos Vinte Primeiros Arquivos


Apresentados.

Na Figura 3 estão as áreas profissionais que divulgaram trabalhos referente às fases


do luto de Elisabeth Kübler-Ross ao longo desses anos. A área da saúde, como a
Psicologia, Enfermagem e Medicina apresentaram uma quantidade grande de
publicações sobre a teoria, sendo a Psicologia a maior delas com 96 publicações. Para
além das áreas de saúde, a Teologia e a Pedagogia também apresentaram uma
quantidade expressiva de publicações de trabalho sobre o tema com 9 e 8
publicações, concomitantemente, demonstrando a influência dessa teoria não
somente na área da saúde, mas nas diversas áreas profissionais.

Figura 3. Número de Publicações por Área Profissional.

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Barcellos & Moreira (2022)

A partir das publicações realizadas por essas diversas áreas de conhecimento


profissional, foi possível verificar os tipos de trabalho realizados por essas áreas,
sendo esses trabalhos: artigos, livros, dissertações/tese e outros (Figura 4). Para o
presente trabalho, a categoria "outros" está relacionada a manuais, orientações e
aulas. Foi possível perceber que a produção de trabalhos sobre fases do luto por
meio de artigos científicos foram os mais publicados, seguido por dissertações e
teses, demonstrando uma publicação acadêmica alta. Por último, estão as
publicações de livros sobre esse tema com 1,5%.

Figura 4. Gráfico de Tipos de Arquivos Publicados .

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Barcellos & Moreira (2022)

Dentre esses diversos tipos de trabalho publicados foi possível analisar o tipo de
relato utilizado pelos vinte primeiros trabalhos de cada ano, dentre eles: relato de
pesquisa, relato de experiência profissional e artigo teórico. Os tipos de relatos a
partir de pesquisas tiveram mais publicações com um total de 130, sendo esse tipo
de relato feito a partir de entrevistas estruturadas e semi-estruturadas, observações,
questionários, formulários, experimentos, estudo bibliográfico, estudo de casos e
caderno de campo. Por último foi o relato de experiência com 11 trabalhos
publicados.

Os diversos trabalhos sobre as fases do luto de Kübler-Ross publicado ao longo


desses anos também apresentaram diferentes significados para o luto, dentre eles: o
luto por perda de ente querido, o luto antecipatório que é a pessoa em iminência de
morte e outras perdas, que para o presente trabalho, representa a perda de um
membro do corpo, ou a perda da relação parental devido ao filho ser homossexual
ou autista e até perdas profissionais (Figura 5). Em conformidade com a teoria das
fases do luto de Kübler-Ross, o luto que mais aparece nos trabalhos publicados é o
antecipatório, seguido da perda de um ente querido. É importante evidenciar que
outros tipos de perda apresenta um percentual significativo e até maior do que
trabalhos que apresentam dois tipos de luto na mesma pesquisa, o antecipatório e a
perda do ente querido, mostrando que a teoria das fases do luto de Elisabeth Kübler-
Ross mesmo sendo estudada a partir do luto antecipatório foi utilizadas para
diferentes contextos de perda que não somente esse.

Figura 5.Tipos de Lutos Mencionados pelas Publicações para Citar as Fases do Luto

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Barcellos & Moreira (2022)

Além disso, exatamente 70% dos trabalhos publicados sobre as fases do luto não
apresentam uma análise crítica a respeito da teoria de Elisabeth Kübler-Ross. O que
mostra uma divulgação relevante dessa teoria sem uma análise mais criteriosa da
mesma e ainda utilizada pelas diferentes áreas de atuação profissional (Figura 3) e
para diferentes tipos de perdas, conforme mostra a Figura 5 acima.

Figura 6. Gráfico que mostra a análise crítica dos documentos analisados.

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O percentual de trabalhos que contrapõem ou corroboram com a teoria das fases do


luto de Elisabeth Kübler-Ross mostra que 90% dos trabalhos publicados corroboram
com a teoria de Elisabeth Kübler-Ross e apenas 10% contrapõem a ela. Esses dados
revelam que uma teoria com pouca comprovação empírica recebe o apoio
significativo por parte de profissionais das diversas áreas, principalmente da área da
saúde, no qual teve maior publicação de trabalho a respeito do tema.

Figura 7. Gráfico que indica que os documentos contrapõem ou corroboram.

A pesquisa mostra que a teoria das fases do luto de Elisabeth Kübler-Ross tem
embasado vários trabalhos publicados ao longo dos anos. São 79% de trabalhos
publicados que baseiam suas pesquisas na teoria de Elisabeth Kübler-Ross para
apenas 21% que apenas citam essa teoria, mesmo com o surgimento e a existência de
outras teorias do luto, a teoria de Elisabeth é utilizada como principal teoria nos
trabalhos divulgados sobre o tema, mostrando sua relevância nas diferentes áreas
profissionais ao longo desses anos.

Figura 8. Publicações que embasam ou cita na teoria de Kübler-Ross

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Entretanto, é importante mostrar que a maioria dos trabalhos que utilizam teoria de
Elisabeth Kübler-Ross tem um cunho teórico e não interventivo com percentual de
66% de pesquisas de cunho teórico. Ainda que os trabalhos analisados por essa
pesquisa apresentem objetivos teóricos, os trabalhos para fins de elaborar
intervenções não são tão baixo, são 34% dos trabalhos que utilizam a teoria das fases
do luto de Elisabeth Kübler-Ross para fins interventivos, ou seja, uma teoria que não
é experimentalmente comprovada apresentando práticas profissionais de
intervenção com percentual relevante.

Figura 9. Arquivos realizados em uma perspectiva teórica ou interventiva.

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E por fim, o último aspecto observado mostra que 51% dos trabalhos analisados
apresentam outro aporte teórico que não só a fase do luto de Elisabeth Kübler-Ross e
que 49% tem apenas a teoria dela como forma de elaborar sua pesquisa. Esses dados
mostram uma relevância da teoria das fases do luto de Elisabeth Kübler-Ross para os
acadêmicos e profissionais das diversas áreas mesmo com a existências das
diferentes teorias sobre a fase do luto. Apesar do percentual do uso de outros teorias
nos trabalhos analisados ser maior do que apenas o uso da teoria da Elisabeth
Kübler-Ross, a diferença é pouca, é apenas de 3% mostrando que a teoria de
Elisabeth Kübler-Ross ainda é uma das principais teoria para se falar sobre luto.

Figura 10. Trabalhos apresentam um aporte teórico a mais que a fase do luto de
Elisabeth Kübler-Ross

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Discussão
A pesquisa apresentada neste livro teve como objetivo investigar a produção de
conhecimento científico empírico relacionado ao modelo de Elisabeth Kübler-Ross
para a análise/relatos/implementação de práticas profissionais da saúde no
contexto brasileiro através da revisão sistemática.

Os resultados apresentaram uma constância no que se refere a publicações da teoria


das fases do luto ao longos dos anos, assim como a ausência de análise crítica desta
teoria que embasa uma quantidade significativa das pesquisas publicadas. Os
resultados também apresentam as diversas áreas profissionais, principalmente a área
de saúde, que corroboram a teoria para diferentes tipos de perdas, não somente de
pessoas ou processos terminais dos pacientes como a teoria sugere, mas para perda
profissionais, relacionais, de objetos e etc, mostrando o uso da teoria de forma
indiscriminada.

Essa teoria tem sido amplamente disseminada nas diferentes áreas profissionais, mas
principalmente nas graduações de saúde, gerando publicações e intervenções a
partir de uma teoria sem evidência empírica, conforme apontam Holland e
Neimeyer (2010). Além disso, é importante ressaltar que teorias que não trabalham
com processo gradativos são atualmente trabalhados por profissionais
especializados na área de atuação do luto.

As características peculiares e diversas que dão significado ao termo luto (Basso &
Wainer, 2011 e Parkes, 1998), revelam a complexidade do fenômeno estudado por
Elisabeth Kübler-Ross. Além disso, a própria autora utiliza sua teoria para explicar o
luto de perspectivas diferentes, como foi no caso do livro Sobre a morte e o morrer
em 1969 e o Grief and Grieving em 2005 com Kessler, fazendo com que até a própria
autora desviasse do objeto principal, que é o luto antecipatório, ampliando para os
diferentes tipos de luto, como a perda do ente querido. Entretanto, a teoria utilizada
em ambos os livros era o modelo de Elisabeth Kübler-Ross criado pela autora a
partir de acompanhamentos realizados nos pacientes em estado iminente de morte e
não a perda de um ente querido.

Essa teoria apresenta-se como principal fonte de explicação para o luto, fazendo
com que sua divulgação não envolvesse apenas os artigos científicos, livros, manuais
mas também os programas de televisão, blogs, jornais e outros meios de informação
que não científico que utilizam essa teoria para explicar, por exemplo, a pandemia e
o isolamento social, assim como outros fenômenos para além do luto antecipatório
ou de ente querido como a teoria sugere.

Além dessa ampla divulgação da teoria, é importante pontuar que a própria autora
apresenta observações relevantes no que se refere à sua teoria das fases do luto ao

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longo dos anos alegando que “tais estágios terão duração variável, um substituirá o
outro ou se encontrarão, às vezes, lado a lado” (Kübler-Ross 1985, p. 145),
desfazendo essa idéia de luto a partir de estágios de forma gradual. Além disso, a
teoria das fases do luto de Elisabeth Kúbler Ross é considerada ultrapassada por
parte dos estudiosos da área e ineficiente para lidar com o luto (Franco, 2004), assim
como outras teorias têm sido estudadas para explicar o processo de luto e seus
enfrentamentos a partir de uma perspectiva não gradual e mais na busca do
enfrentamento do luto (Silva & Alves, 2012). Apesar disso, a presente pesquisa
mostra que praticamente a metade dos artigos pesquisados utilizam apenas a teoria
das fases do luto de Kübler-Ross, sem apresentar outras teorias do luto.

Tendo em vista os diversos meios de comunicação atual de divulgação de


informação, a presente pesquisa limitou-se apenas ao Google Acadêmico como base
de dados para a busca dos artigos analisados, tendo em vista que as outras bases de
dados como Lilac, PubMed e Scielo não fazem buscas do termo utilizado a partir de
análise completa do artigo, reduzindo a possibilidade de encontrar citações sobre a
teoria das fases do luto de Kübler-Ross, entretanto outras fontes de informação
poderiam contribuir de forma que pudesse enriquecer o trabalho. Dessa forma,
sugere-se que pesquisas futuras ampliem suas bases de dados e fontes de
informação, tendo em vista a quantidade de trabalhos divulgados a partir dessa
teoria nos diferentes meios de comunicação.

Apesar disso, o estudo apresentado neste livro contribuiu para mostrar a


importância de realizar pesquisas empíricas sobre essa teoria que é tão utilizada nos
meios acadêmicos e profissionais como forma de conhecimento e intervenção, mas
que não apresenta comprovação científica. Além disso, os dados apresentados
alertam a importância de uma análise crítica por parte daqueles que embasam seus
trabalhos nesta teoria.

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Barcellos & Moreira (2022)

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Barcellos & Moreira (2022)

Referências bibliográficas
Afonso, S.B.C., & Minayo, M.C.S. (2013). Uma releitura da obra de Elisabeth Kübler-
Ross. Ciência e saúde coletiva, v.18, n.9, pp. 2729-2732. https://doi.org/10.1590/
S1413-81232013000900028.

Basso, L., & Wainer, R. (2011). Luto e perdas repentinas: Contribuições da Terapia
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