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Burmann Moreira 2022 PDF
Burmann Moreira 2022 PDF
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2022
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Este trabalho é derivado do Trabalho de
Conclusão do Curso do curso de
graduação em Psicologia do Centro
Universitário de Brasília (CEUB) de
La r i ssa Bu r ma n n Ba rce l l os sob a
orientação de Márcio Borges Moreira.
Valorize o trabalho das autoras e dos autores!
Este livro, desde a sua concepção, foi desenvolvido para ser um livro distribuído, em
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escritores, designers gráficos, diagramadores, revisores, ilustradores, diretores e de
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você puder, compre um livro original!
Sumário
Sobre os autores 1
Resumo 4
Abstract 5
Introdução 6
Elisabeth Kübler-Ross: sua história 10
Perguntas e respostas sobre a morte e o morrer (1979). 11
Vivendo com a morte e os moribundos (1981) 12
Sobre as crianças e a morte (1983). 13
Sobre a vida depois da morte (1991). 14
Roda da vida (1998) 15
On grief and grieving (2005) 16
1
Márcio Borges Moreira | @marcioborgesmoreira
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2
Conheça outras obras de Márcio Moreira
3
Resumo
Processos psicológicos relacionados ao luto, à perda de alguém, são muito estudados
por psicólogos e outros profissionais. Dentre as várias teorias que abordam o luto,
uma das mais famosas, se não a mais famosa, é das cinco fases do luto de Elisabeth
Kübler-Ross. A despeito de ser bastante utilizada, essa teoria carece de evidências
científicas. Neste livro nós apresentamos algumas pesquisas que buscaram
evidências científicas da teoria das cinco fases do luto de Kübler-Ross e também
apresentamos uma pesquisa realizada por nós na qual analisamos as publicações
científicas brasileiras que utilizaram a teoria de Kübler-Ross, tanto em pesquisa
como em relatos profissionais. De forma geral, as pesquisas que buscaram validação
científica da teoria de Ross apontam que pessoas que passam por luto não
apresentam necessariamente as cinco fases e nem na ordem na qual Ross postulou
essa ocorrência. A despeito desta falta de evidência científica, a revisão que nós
realizamos da literatura brasileira mostrou que as diferentes áreas do saber
profissional continuam produzindo quantidades significativas de documentos sobre
a teoria das fases do luto de Elisabeth Kübler-Ross. Além disso, a maioria desses
documentos utilizam como base a teoria para suas argumentações ou intervenções e
poucos são os que apresentam análise crítica a respeito da teoria. A presente
pesquisa contribuiu para mostrar a importância de realizar pesquisas empíricas
sobre essa teoria que é tão utilizada nos meios acadêmicos e profissionais como
forma de conhecimento e intervenção, mas que não apresenta comprovação
científica. Além disso, os dados apresentados alertam a importância de uma análise
crítica por parte daqueles que embasam seus trabalhos nesta teoria.
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Abstract
Psychological processes related to grief, the loss of someone, are widely studied by
psychologists and other professionals. Among the various theories that address
grief, one of the most famous, if not the most famous, is Elisabeth Kübler-Ross's five
phases of grief. Despite being widely used, this theory lacks scientific evidence. In
this book we present some research that sought scientific evidence of the Kübler-
Ross theory of five phases of grief and we also present a survey carried out by us in
which we analyze Brazilian scientific publications that have used the Kübler-Ross
theory, both in research and in professional reports. In general, research that sought
scientific validation of Ross's theory indicates that people who experience grief do
not necessarily present the five phases or the order in which Ross postulated this
occurrence. Despite this lack of scientific evidence, our review of the Brazilian
literature showed that different areas of professional knowledge continue to produce
significant amounts of documents on Elisabeth Kübler-Ross's theory of phases of
grief. Furthermore, most of these documents use theory as a basis for their
arguments or interventions and few present a critical analysis of the theory. This
research contributed to show the importance of conducting empirical research on
this theory, which is so used in academic and professional circles as a form of
knowledge and intervention, but which does not present scientific proof.
Furthermore, the data presented alert to the importance of a critical analysis by those
who base their work on this theory.
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Barcellos & Moreira (2022)
Introdução
O luto é um fenômeno complexo, abordado de diferentes maneiras por diferentes
autores. Por exemplo, para Parkes (1998) o luto é notar-se ao longo do processo de
perda, tornando-o real. Apesar de o luto ser um conjunto de reações diante da perda,
não significa que esse processo tenha início exatamente após a perda e desapareça
gradativamente, mas é um quadro de reações que se mesclam e que se substituem.
Além de Parkes, outros autores apresentam conceitos referentes ao luto, como Engel
(1961) que relata que o luto não é apenas uma angústia pessoal, mas um estado de
desordem somática e psicológica. Já Bowlby que, citado por Mikulincer e Florian em
1996, afirma que o luto é uma perda de vinculação significativa, mostrando a
necessidade básica do ser humano em vincular-se com uma figura ou objeto
significativo como segurança de vida.
Também Glick e Weiss relatam que o luto não é perda de relações primárias apenas,
mas de elementos significativos. Moore e Fine (1990) vão além, relatam que o luto
pode dificultar com que a pessoa invista em futuros relacionamentos e construções
de vínculos, tendo em vista as variáveis que permeiam este processo.
Já para Basso e Wainer (2011), a morte tem características muito peculiares devido ao
significado que ela representa para cada cultura, civilizações, indivíduos, religiões e
credos. Além disso, relatam que existe uma diferença na experiência de luto entre
mortes repentinas e mortes esperadas. Entretanto, esses autores citam Parkes (1998)
para caracterizar o luto como um processo de perda que traz consigo um leque de
sentimentos, como medo, desconforto, alteração de funções e aumento dos níveis de
ansiedade, principalmente por aqueles que presenciaram o momento da perda,
ocasionando dores físicas, emocionais e psicológicas. Além das explicações de Parkes
e Bowlby para o processo do luto, Basso e Wainer (2011) pautam seu estudo nas fases
do luto antecipatório de Elisabeth Kübler-Ross como forma de melhor compreender
o luto e seu processo.
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Barcellos & Moreira (2022)
O luto é um aspecto importante na vida cotidiana e tem tido especial atenção dos
psicólogos ao longo de décadas. Esta importância é evidenciada, por exemplo, pelo
número de teorias que tratam do assunto. Bowlby e Parkes (citado por Maciejewski,
2007), foram os primeiros a propor a teoria do ajustamento do luto a partir de quatro
fases, sendo elas: choque-dormência, anseio, desorganização-desespero e
reorganização. A partir dessa teoria, Elisabeth Kübler-Ross (1969) apresentou uma
teoria do luto antecipatório, no qual encontram-se os cinco estágios do luto para
paciente com doença terminal, sendo essas fases: negação-isolamento, raiva,
barganha, depressão e aceitação. (Bass & Wainer, 2011; Maciejewski, 2007).
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Barcellos & Moreira (2022)
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Barcellos & Moreira (2022)
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Barcellos & Moreira (2022)
Elisabeth Kübler-Ross nasceu na Suíça, seu interesse por estudar a morte e o luto
ocorreu devido às suas experiências ao longo da vida. Desde seu nascimento até suas
experiências finais em hospitais com pacientes terminais, o tema morte e vida
sempre foram latentes em suas vivências (Afonso & Minayo, 2013). Em sua
adolescência, durante a Segunda Guerra Mundial, trabalhou na Rússia e na Polônia
ajudando os necessitados com primeiros socorros. Os vagões e os campos de
concentração com restos humanos faziam parte de sua rotina. Essa foi a época que
seu interesse pela morte e morrer ficou em evidência (Afonso & Minayo, 2013).
Estudou e concluiu o curso de medicina em Zurique em 1951 e ao concluir mudou-se
para os Estados Unidos.
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Barcellos & Moreira (2022)
fonte: https://www.traca.com.br/livro/891401/perguntas-respostas-sobre-morte-morrer/
11
Barcellos & Moreira (2022)
fonte: https://www.amazon.com.br/gp/product/B06XGVPXQG/ref=as_li_tl?
ie=UTF8&camp=1789&creative=9325&creativeASIN=B06XGVPXQG&linkCode=as2&tag
=rsc06-20&linkId=f88ea2eda02676af6b5397803a27dfb1
Essa obra trata sobre perdas inesperadas de entes queridos, assunto não detalhado
em obras anteriores. Perdas como: suicídio, acidente, desaparecimento e assassinato,
sem abandonar os pacientes terminais. No final do século XX, quando esse livro foi
publicado, Kübler-Ross falou a respeito do tratamento holístico e a resistência das
equipes envolvidas no atendimento aos pacientes terminais em minimizar suas
dores físicas e emocionais. Traz a importância da simetria entre os familiares dos
doentes e a equipe responsável pelo atendimento do doente. A ênfase da autora foi
sobre o que hoje chamamos de projeto terapêutico singular e clínica ampliada, a
partir de uma escuta ativa e do diálogo significativo. No livro, apresenta a sua
técnica de interpretação de desenho e as experiências de adultos e crianças diante da
morte. (Afonso & Minayo, 2013).
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Barcellos & Moreira (2022)
fonte: https://www.amazon.com.br/Los-ni%C3%B1os-muerte-Elisabeth-K%C3%BCbler-
Ross/dp/8415864345
Essa obra Kübler-Ross dedicou para familiares de crianças gravemente feridas por
doença terminal ou com morte súbita, no qual ela traz temáticas como o medo,
dúvidas, raivas, angústias e confusão dos pais que passaram por esse contexto de
luto. A obra também abarca outros tipos de temática como suicídio, luto parental,
cuidado com os irmãos, como viver uma vida plena no contexto de morte e sobre
velório e enterro. Para Kübler-Ross, o sofrimento era maior para as crianças que
tinham mais clareza sobre o estado de sua doença, já que não podiam partilhar suas
dúvidas e angústias com os outros. Nesse livro ela já começa a apresentar um lado
espiritualizado da morte e do morrer, a partir da metáfora do casulo e da borboleta,
o que a fez receber muitas críticas por parte da comunidade científica (Afonso &
Minayo, 2013).
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fonte: https://www.amazon.com.br/Sulla-vita-morte-Elisabeth-K%C3%BCbler-Ross/dp/
8833360431
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Barcellos & Moreira (2022)
fonte: https://www.amazon.com.br/gp/product/8586796093/ref=as_li_tl?
ie=UTF8&camp=1789&creative=9325&creativeASIN=8586796093&linkCode=as2&tag=rs
c06-20&linkId=fe9ae788ebe361ce78fddfb9938b26db
É uma autobiografia na qual ela enfatiza sua tese de que a morte não existe. Expõe
como conseguiu trabalhar com um tema que culturalmente é um tabu, no caso a
morte, e como esse é um tema que perpassou sua vida toda, tanto no campo de
concentração na Polônia quanto nos hospitais nos Estados Unidos.
Lições de vida (2000). Primeiro livro escrito com Kessler, o mesmo autor de cinco
anos mais tarde, no qual Kübler-Ross se reuniu para escrever mais uma obra,
chamada: On Grief and Grieving, ambos especialistas na área da morte e do morrer,
abordam neste livro temas sobre a vida e o viver, temas que mostram a
singularidade da vida, que são: autenticidade, relações pessoais, amor, força, lazer,
perdão, rendição, felicidade, tempo, perda, raiva e medo. Eles abordam essas
temáticas da mesma forma que Kübler-Ross apresentou em seus livros anteriores, a
partir das experiências nos atendimentos clínicos (Afonso & Minayo, 2013).
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fonte: https://www.amazon.com.br/Grief-Grieving-Finding-Meaning-Through-ebook/dp/
B000FCKB02
Essa é a obra que os autores Kübler-Ross e Kessler, falaram a respeito dos estágios do
luto na perspectiva não mais do luto antecipatório com pacientes terminais, mas
agora de pessoas que perderam algum ente querido. As fases do luto encontradas
nesse texto são as mesmas da obra “Sobre a morte e o morrer”. Um livro teórico que
relata a respeito do medo e a inelutável aceitação da morte. Essa foi a última obra de
Kübler-Ross. As obras de maior interesse neste trabalho são: Sobre a morte e o
morrer (1969) e Grief and Grieving (2005) por esse motivo, essas obras serão
descritas em detalhes a seguir.
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Barcellos & Moreira (2022)
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Barcellos & Moreira (2022)
Os estágios do luto apresentados pela autora são descritos por cinco fases que são:
negação e isolamento, raiva, barganha, depressão e aceitação. Na primeira fase, que é
a negação e o isolamento, a autora fala que é muito comum os pacientes duvidarem
do diagnóstico que foi apresentado para eles, buscando provar que houve um
engano por parte dos médicos. Neste capítulo do livro, Kübler-Ross diz: "A maioria
dos mais de duzentos pacientes moribundos que entrevistamos reagiu com essa fala:
Não, eu não, não pode ser verdade. Essa negação inicial era palpável tanto nos
pacientes que recebiam diretamente a notícia no começo das suas doenças quanto
naqueles a quem não havia sido dito a verdade e ainda naqueles que vinham a saber
mais tarde por conta própria” (Kübler-Ross, 2020, p. 43).
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A quarta fase, a depressão, está relacionada não só ao paciente, mas às alterações que
a doença causa nos familiares também. Nessa fase a autora descreve dois tipos de
depressão: a reativa e a preparatória. Na depressão reativa a autora sugere um apoio
na área social a partir de equipes multidisciplinares. No segundo tipo de depressão,
a autora relata que é o momento que o paciente percebe que em breve perderá tudo
que ama. Neste livro, Kübler-Ross diz que: “ Seu alheamento ou estoicismo, sua
revolta e raiva cederão lugar a um sentimento de grande perda” (Kübler-Ross, 2020,
p. 91).
No livro Grief and Grieving (2005), os autores apresentam as fases do luto, agora não
mais a partir de pessoas que foram diagnosticadas com alguma doença terminal,
mas a partir dos entes queridos que perderam seus familiares. Os autores utilizam as
mesmas fases do luto criada por Kübler-Ross no livro Sobre a morte e o morrer
(1969): negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Entretanto, os autores deste
livro, ajustam essa teoria para pessoas que perderam um ente querido, apresentando
alguns detalhes diferentes em suas explicações para cada etapa do luto.
Na primeira fase do luto, negação, os autores relatam que a negação que o parente
que perde alguém apresenta é diferente da negação apresentada por um paciente
com doença terminal. A primeira fase do luto em um paciente terminal é mais uma
descrença na doença, já para os parentes que perdem um ente querido é mais
simbólico, como não ter mais o ente querido na rotina que outrora ele participava.
No livro, os autores dizem: “ Quando estamos na negação primeiramente
respondemos com um estado de paralisação ou de dormência. A negação não é a
negação da morte, mesmo que a pessoa diga ‘ não acredito que ele/ela está morto”
(Kessler & Kübler-Ross, 2005, p. 7). Além disso, a negação pode vir como forma de
negar a realidade.
Na segunda fase, a raiva, é apresentada de várias formas, tanto raiva pelo ente
querido não ter se cuidado, ou do parente não ter cuidado direito do ente que estava
doente, ou por não ter previsto todo o ocorrido, e quando o fez já não poderia fazer
mais nada. Não que a pessoa pudesse ter o controle disso, mas gostaria de ter, e etc.
Os autores relatam: “ Primeiro, o enlutado tem um sentimento de surpresa por estar
vivendo um período de luto, depois disso outros sentimentos tomam conta, mas a
raiva se destaca frente a outros sentimentos, como tristeza, pânico, dor, solidão”
(Kessler & Kübler-Ross, p.11, 2005).
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Na última fase, a aceitação não é a aceitação da morte de alguém, mas aceitar que
essa pessoa não está mais fisicamente presente, aceitando essa ausência de forma
permanente. Os autores definem essa fase como: “Este é o final do processo de cura e
ajustamento que esperamos, apesar de muitas vezes parecer que é um estágio
inatingível. Curar no sentido de relembrar, recordar e se reorganizar” (Kessler &
Kübler-Ross, p.24, 2005).
Baseado nessas teorias, vários artigos foram publicados com intuito de promover
cuidado, bem-estar e saúde para pessoas que estão no processo de luto, sendo luto
antecipatório ou luto vivenciado por pessoas que perderam algum ente querido.
Alguns exemplos serão apresentados na seção a seguir.
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Outro artigo que se baseia na teoria das fases do luto para explicar as contribuições
da Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) é o artigo de Basso e Wainer (2011).
Esse artigo relata a respeito de um luto por perda repentina que pode acarretar
inúmeras alterações na vida da pessoa que está no processo de luto, gerando
prejuízos emocionais e cognitivos. O artigo relata como o psicólogo deve atuar nesse
contexto, e apresenta algumas técnicas da TCC como forma de manejo do luto.
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O artigo escrito por Cocentino e Viana (2011) traz uma visão psicanalítica sobre a
morte no envelhecimento. A morte, para esses autores, não está relacionada apenas
ao corpo físico, mas também à relação social, familiar e do trabalho. A partir de uma
análise bibliográfica, os autores concluíram que a morte e a velhice são fatores
atrelados à cultura, como se a teoria da velhice necessariamente estivesse atrelada
com a teoria do luto. Dessa forma, os autores, além de citar Freud, também acabam
se baseando em Kübler-Ross, fazendo uma citação direta para definir o luto.
Outro artigo na área da psicologia é das autoras Carnaúba, Pelizzari e Cunha (2016).
Nesse artigo utilizam-se várias teorias para explicar perdas inesperadas. Apesar das
diversas teorias embasando o artigo, as autoras utilizam as fases do luto criadas por
Kübler-Ross e Parkes (1969 e 1998, respectivamente) para explicar as vivências dessa
perda. Além disso, trazem a diferença do luto por perda inesperada e por perda
natural, explicam o estresse que é gerado pela perda traumática, e a partir disso, as
autoras pontuam a importância do acompanhamento psicológico para essas pessoas
que sofreram perdas traumáticas para que, enfim, elas possam aceitar essas perdas.
Ainda dentro da área de psicologia, Mattos (2015) escreveu um artigo sobre luto na
deficiência, não mais para explicar o luto como morte, mas como perda de
movimento decorrente de uma trombose que a paciente sofreu, levando-a ao estado
de tetraplegia. A autora se embasou na teoria das fases do luto de Kübler-Ross para
explicar o processo gerado a partir da perda do movimento do corpo de sua
paciente, frisando que essas fases não são fixas e que tem toda uma subjetividade e
outros fatores como o social, o suporte familiar e a psique da pessoa que devem ser
levadas em consideração. Mattos (2015), a partir da análise do discurso de sua
paciente, conclui em seu artigo que as fases do luto não são sequenciais e que não
tem necessidade da pessoa passar por todas as fases para finalizar o processo do
luto, mas que ela pode, a partir da conclusão do processo, viver pelo novo modelo
de vida que é a deficiência.
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Suporte empírico
Maciejewski, Zhang, Block, e Prigerson (2007) realizaram uma pesquisa com o
objetivo de verificar os valores e padrões que mudaram ao longo do tempo, após a
perda do ente querido, a partir dos cinco indicadores baseados na teoria do luto de
Kübler-Ross. Os participantes foram convidados a partir de uma carta que constava
informações de como seus nomes foram obtidos, identificação dos pesquisadores,
delineamento, objetivo e procedimento da pesquisa e, além disso, informava que os
pesquisadores entrariam em contato com os participantes ao longo da semana, não
eram contactados os que informaram antecipadamente que não desejavam ser
contactados. Dos 575 contactados, 317 decidiram participar.
Desses 317, foram excluídos 58 por critérios advindos de uma desordem do luto, 19
por sobreviver a mortes traumáticas e 14 por falta de dados. O instrumento utilizado
para medir descrença, anseio, raiva e aceitação da morte foi o Inventário de Luto
Complicado Revisado, anteriormente conhecido como Resposta do luto à perda. A
escala utilizada foi a de Likert, no qual indicava de 1 a 5 o quanto a pessoa sentia
descrença, anseio, raiva e aceitação no período menor de um mês, mensalmente,
semanalmente, diariamente e várias horas do dia. Os resultados apresentados por
essa pesquisa mostram que, contrariando a teoria dos estágios, a negação não era o
indicador inicial e dominante do luto. A aceitação foi o item mais apoiado e o desejo
foi o indicador dominante de luto patológico de 1 a 24 meses após a perda. O anseio
atingiu o pico após 4 meses da perda, a raiva em 5 meses e a depressão em 6 meses
após a perda. A aceitação aumentou ao longo do período de observação do estudo.
Os cinco indicadores alcançaram seus respectivos valores máximos na sequência
(descrença, anseio, raiva, depressão e aceitação) previsto pela teoria das fases do
luto. Os pesquisadores concluíram que a identificação dos estágios normais do luto
após a morte por causas naturais melhora a compreensão de como a pessoa comum
processa, cognitiva e emocionalmente, a perda de um membro da família. Dado que
os indicadores negativos do luto atingem o pico dentro de aproximadamente 6
meses após a perda, aqueles que obtiveram alta pontuação nesses indicadores, além
de 6 meses após a perda, poderão se beneficiar de uma avaliação mais aprofundada.
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perdas de forma natural e de forma violenta, sendo 441 participantes com perda de
forma natural e 173 de forma violenta, além disso, avaliaram também até que ponto
os participantes tinham sentido a perda. O procedimento utilizado foi a aplicação de
questionários de sessão única que incluía medidas de criação de significado e
sintoma de luto. Nesse questionário o participante também informava a
circunstância que envolveu sua perda. Os resultados apresentados por eles
mostraram uma limitação nas teorias dos estágios, apresentando baixa aceitação e
uma maior angústia no segundo aniversário do falecimento por parte dos
participantes. Nessa pesquisa, a criação de sentido seria um forte preditor do luto,
mais que o tempo no qual a pessoa encontra-se enlutada, mostrando a importância
de uma perspectiva voltada mais para o significado de luto para a pessoa.
A propagação de estudos intuitivos sobre a fase do luto fez com que as pessoas
tivessem crenças a respeito da perda, fazendo com que esse fosse um conteúdo
inserido nos currículos da graduação em saúde. Apesar disso, apenas alguns testes
empíricos foram feitos para testar os méritos da teoria dos estágios do luto (Holland
& Neimeyer, 2010).
De la Rubia e Ávila (2015) realizaram uma pesquisa com o objetivo de definir cinco
escalas para um único fator que pudessem avaliar as cinco fases do luto de Elisabeth
Kübler-Ross e comparar as sequências que Elisabeth Kübler-Ross apresenta em sua
teoria. O método utilizado por essas autoras foi uma escala da fase do luto aplicada a
uma amostra não probabilística de 120 mulheres mexicanas com câncer. A análise
fatorial e de trajetória foi utilizada para analisar os dados. Os resultados encontrados
por essas autoras mostram que o fator único definido para as cinco fases do luto tem
alta consistência interna, ajuste aos dados e validade de conteúdo. Já o modelo
sequencial das cinco fases do luto mostrou um ajuste inadequado aos dados. As
fases do luto eram independentes do tempo no momento em que a paciente recebeu
o diagnóstico de câncer. O modelo não sequencial apresentou-se melhor para os
dados. Dessa forma, as autoras concluíram que, ao invés de cinco fases do luto, as
participantes corresponderam a seis respostas psicológicas inter-relacionadas,
provenientes da perda de saúde.
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Outro artigo desse mesmo autor, publicado em 2019 também, mostra a influência
duradoura do modelo de Kübler-Ross no contexto de ensino e profissional ao longo
dos anos. Esse artigo apresenta uma amostra de 47 livros publicados em 10
diferentes países para além dos Estados Unidos. A partir do momento que evidencia
a importância e a divulgação dessa teoria no contexto profissional e no acadêmico
traz um questionamento se de fato essa teoria é válida para guiar a educação e a
prática na atualidade.
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Barcellos & Moreira (2022)
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Barcellos & Moreira (2022)
Depois do resumo e títulos, foi feita uma busca nas referências para verificar se há
citação da Kübler-Ross no artigo. Os critérios de exclusão foram artigos que não
citam as fases do luto de Kübler-Ross.
Por fim, os artigos selecionados pelo critério de inclusão e exclusão foram analisados
por completo. Esses artigos analisados foram classificados a partir dos seguintes
aspectos:
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Barcellos & Moreira (2022)
Figura 1. Total de arquivos por ano publicados sobre as fases do luto de Elisabeth
Kübler-Ross .
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Barcellos & Moreira (2022)
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Barcellos & Moreira (2022)
Dentre esses diversos tipos de trabalho publicados foi possível analisar o tipo de
relato utilizado pelos vinte primeiros trabalhos de cada ano, dentre eles: relato de
pesquisa, relato de experiência profissional e artigo teórico. Os tipos de relatos a
partir de pesquisas tiveram mais publicações com um total de 130, sendo esse tipo
de relato feito a partir de entrevistas estruturadas e semi-estruturadas, observações,
questionários, formulários, experimentos, estudo bibliográfico, estudo de casos e
caderno de campo. Por último foi o relato de experiência com 11 trabalhos
publicados.
Figura 5.Tipos de Lutos Mencionados pelas Publicações para Citar as Fases do Luto
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Barcellos & Moreira (2022)
Além disso, exatamente 70% dos trabalhos publicados sobre as fases do luto não
apresentam uma análise crítica a respeito da teoria de Elisabeth Kübler-Ross. O que
mostra uma divulgação relevante dessa teoria sem uma análise mais criteriosa da
mesma e ainda utilizada pelas diferentes áreas de atuação profissional (Figura 3) e
para diferentes tipos de perdas, conforme mostra a Figura 5 acima.
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Barcellos & Moreira (2022)
A pesquisa mostra que a teoria das fases do luto de Elisabeth Kübler-Ross tem
embasado vários trabalhos publicados ao longo dos anos. São 79% de trabalhos
publicados que baseiam suas pesquisas na teoria de Elisabeth Kübler-Ross para
apenas 21% que apenas citam essa teoria, mesmo com o surgimento e a existência de
outras teorias do luto, a teoria de Elisabeth é utilizada como principal teoria nos
trabalhos divulgados sobre o tema, mostrando sua relevância nas diferentes áreas
profissionais ao longo desses anos.
37
Barcellos & Moreira (2022)
Entretanto, é importante mostrar que a maioria dos trabalhos que utilizam teoria de
Elisabeth Kübler-Ross tem um cunho teórico e não interventivo com percentual de
66% de pesquisas de cunho teórico. Ainda que os trabalhos analisados por essa
pesquisa apresentem objetivos teóricos, os trabalhos para fins de elaborar
intervenções não são tão baixo, são 34% dos trabalhos que utilizam a teoria das fases
do luto de Elisabeth Kübler-Ross para fins interventivos, ou seja, uma teoria que não
é experimentalmente comprovada apresentando práticas profissionais de
intervenção com percentual relevante.
38
Barcellos & Moreira (2022)
E por fim, o último aspecto observado mostra que 51% dos trabalhos analisados
apresentam outro aporte teórico que não só a fase do luto de Elisabeth Kübler-Ross e
que 49% tem apenas a teoria dela como forma de elaborar sua pesquisa. Esses dados
mostram uma relevância da teoria das fases do luto de Elisabeth Kübler-Ross para os
acadêmicos e profissionais das diversas áreas mesmo com a existências das
diferentes teorias sobre a fase do luto. Apesar do percentual do uso de outros teorias
nos trabalhos analisados ser maior do que apenas o uso da teoria da Elisabeth
Kübler-Ross, a diferença é pouca, é apenas de 3% mostrando que a teoria de
Elisabeth Kübler-Ross ainda é uma das principais teoria para se falar sobre luto.
Figura 10. Trabalhos apresentam um aporte teórico a mais que a fase do luto de
Elisabeth Kübler-Ross
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Discussão
A pesquisa apresentada neste livro teve como objetivo investigar a produção de
conhecimento científico empírico relacionado ao modelo de Elisabeth Kübler-Ross
para a análise/relatos/implementação de práticas profissionais da saúde no
contexto brasileiro através da revisão sistemática.
Essa teoria tem sido amplamente disseminada nas diferentes áreas profissionais, mas
principalmente nas graduações de saúde, gerando publicações e intervenções a
partir de uma teoria sem evidência empírica, conforme apontam Holland e
Neimeyer (2010). Além disso, é importante ressaltar que teorias que não trabalham
com processo gradativos são atualmente trabalhados por profissionais
especializados na área de atuação do luto.
As características peculiares e diversas que dão significado ao termo luto (Basso &
Wainer, 2011 e Parkes, 1998), revelam a complexidade do fenômeno estudado por
Elisabeth Kübler-Ross. Além disso, a própria autora utiliza sua teoria para explicar o
luto de perspectivas diferentes, como foi no caso do livro Sobre a morte e o morrer
em 1969 e o Grief and Grieving em 2005 com Kessler, fazendo com que até a própria
autora desviasse do objeto principal, que é o luto antecipatório, ampliando para os
diferentes tipos de luto, como a perda do ente querido. Entretanto, a teoria utilizada
em ambos os livros era o modelo de Elisabeth Kübler-Ross criado pela autora a
partir de acompanhamentos realizados nos pacientes em estado iminente de morte e
não a perda de um ente querido.
Essa teoria apresenta-se como principal fonte de explicação para o luto, fazendo
com que sua divulgação não envolvesse apenas os artigos científicos, livros, manuais
mas também os programas de televisão, blogs, jornais e outros meios de informação
que não científico que utilizam essa teoria para explicar, por exemplo, a pandemia e
o isolamento social, assim como outros fenômenos para além do luto antecipatório
ou de ente querido como a teoria sugere.
Além dessa ampla divulgação da teoria, é importante pontuar que a própria autora
apresenta observações relevantes no que se refere à sua teoria das fases do luto ao
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longo dos anos alegando que “tais estágios terão duração variável, um substituirá o
outro ou se encontrarão, às vezes, lado a lado” (Kübler-Ross 1985, p. 145),
desfazendo essa idéia de luto a partir de estágios de forma gradual. Além disso, a
teoria das fases do luto de Elisabeth Kúbler Ross é considerada ultrapassada por
parte dos estudiosos da área e ineficiente para lidar com o luto (Franco, 2004), assim
como outras teorias têm sido estudadas para explicar o processo de luto e seus
enfrentamentos a partir de uma perspectiva não gradual e mais na busca do
enfrentamento do luto (Silva & Alves, 2012). Apesar disso, a presente pesquisa
mostra que praticamente a metade dos artigos pesquisados utilizam apenas a teoria
das fases do luto de Kübler-Ross, sem apresentar outras teorias do luto.
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