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Cildo Meireles Insercées em circuitos ideoldgicos Quando, numa definicao filos6fica de seus trabalhos, M. Duchamp afirmava que, entre outras coisas, seu objetivo era libertar “a Arte do dominio da mio”, certamente nao imagi- navaaque ponto chegarfamos em 1970. O que 4 primeira vista podia ser facilmente localiza- do ¢ efetivamente combatido tende hoje a lo- calizar-se numa drea de dificil acesso e apreen- Sao: 0 cérebro. E evidente que a frase de Duchamp é 0 exemplo, hoje, de uma licio mal aprendida. Muito mais que contra o dominio das maos, Duchamp lutou contra 0 artesanato manual, contra a habilidade das maos, contra, enfim, o Sradativo entorpecimento emocional, racional, Psiquico, que essa mecanicidade, essa habitua- lidadle, fatalmente provocaria no individuo. O fato de nao ter as maos sujas de Arte nada sig- nifica além de que as maos estio limpas. __ Muito mais do que contra as manifesta- ses de um fenémeno, luta-se contra a logica Cildo Meireles [Rio de Janeiro, 1948) Em 1963, iniciou estudos deane em Brasilia, com Felix Alejandro Barrenechea. Frequentou a Escola Nacional de Belas-Artes, no Rio de Janeiro, em 1967, eds anos depois fundou, com outros artistas, a Unidade Experimentaldo Museu de Arte Moderna do Ri Janeiro, na qual lecionou em 196 € 1970. Criou cenarios e figuios para teatro e cinema de 1970 a 1974 e, em 1975, foi um dos fundadores da revista Maasites Entre 1970 1975, Cildo Meiels desenvolveu o projeto Inserts, que se desdobra em Inseriesen ircuitos ideoldgicas, com os proje* Coca-Cola e Cédula, ¢ Inserts em circuitos antropoldgicos. Segu"® © artista, “as Insergées em alls ideolégicos tinham essa presi? fazer 0 caminho inverso a0 45 readymades. Nao mais 0 06/2 industrial colocado no luge" do objeto de arte, mas ° objeto de arte atuando no universo industrial”. Trabalhando com mmilipis linguagens — pintura, dese” va,ambiente, happening, Performance, fotografia —, as 5 Pa pra quests jal e politica. ipo eras eposigDes ene igs, acompanadas de inde, realizou duas mostras ape, 08 ‘esl Valenciano de Arte frodera (arn), Espanha, em Migs, eno Novo Museu de Arte Cantemporanea, Nova York, Gn7}999.Partcipou das bienais davenera (1976) € Paris (1977), ta Bienal Internacional de So paulo (1981, 1982 € 1998) eda Documenta de Kassel (1992 € 2002). fm 1997, Branca Bogdanova Jiglu 0 documentario Cildo Meieles, nos Estados Unidos. Em 1999 Cildo recebeu o Prince Clauss Award do governo holandés. Entre as referéncias tibliograficas, destacamos Cildo eireles (Londres, Phaidon, 1999. [Ed. bras. Cildo Meireles, Sa0 Paulo, Cosac & Naify, 1992. ]) “inserges em circuitos ideolégicos” Escrito em abril de 1970, foi apresentado no debate “Perspectivas para uma arte brasileira’, em 1971, do qual Patticiparam Mario Pedrosa, Frederico Morais, Jorge Romero a Carlos Vergara e Raimundo ‘lees. Reeditado na revista alates 1 (set/nov 1975). ene et Bente nao precisasse Amiciar a luta contra um adverséri tsatio bem maior: a habitualidade e o ar- tesanato cerebral, © estilo, seja das mics, seja da cabeca do st (do taciocinio), ¢ uma anomalia, E anome. lias, € mais inteligente aborté-las do que as- sisti-las vivendo, ARTE-CULTURA Se a interferéncia de M. Duchamp foi ao ni- vel da Arte (Iégica do fendmeno), vale dizer da estética, e se por isso preconizava a liber- tagao da habitualidade de dominio das maos, € bom que se diga que qualquer interferéncia hesse campo, hoje (a colocacio de Duchamp teve o grande mérito de forcar a percepeio da Arte nio mais como percepcio de objeros artisticos mas como um fenémeno do pensa- mento), uma vez que o que se faz hoje tende a estar mais proximo da cultura do que da Arte, € necessariamente uma interferéncia politica. Porque se a Estética fundamenta a Arte, € a Politica que fundamenta a Cultura. 1, Projeto Coca-Cola: gravar nas garrafas infor- magées e opinides criticas e devolvé-las a cir- culagao. : 2. Projeto cédula: gravar informagoes e opinioes criticas nas cédulas e devolvé-las & circulagio. cildo meireles 26S

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