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PENSAMENTO III:
PSICOLOGIA
COGNITIVA
Histórico da
abordagem
cognitiva-social
Tatiana Lima de Almeida
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
Neste capítulo, veremos como a filosofia discutiu o dualismo mente-corpo, fo-
mentando os estudos sobre a consciência humana em diferentes visões, desde
a Antiguidade até a Idade Moderna. Em seguida, à luz das ideias trazidas pelo
funcionalismo, pelo behaviorismo e pelo cognitivismo, passando por estudos sobre
comportamento humano, pensamentos, emoções e experiências, chegaremos ao
entendimento de que o ser humano está em constante mudança e busca formas
de se adaptar ao ambiente em que vive. Por fim, vamos apresentar o conceito de
percepção, amplamente investigado pela gestalt e utilizado pela psicologia em
estudos sobre cognição social, que deu base para a compreensão da importância
do meio na formação do conhecimento.
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possível perceber o todo, mas, sim, as partes que fazem sentido para o
observador (REALE; ANTISERI, 2005).
Desde a Antiguidade, passando pela Idade Média e pela Idade Moderna,
a filosofia forneceu contribuições para diferentes áreas de conhecimento,
inclusive a psicologia. Grande parte dos alicerces teóricos da psicologia se
embasaram em teorias filosóficas de diferentes tempos. Veja na Figura 1 um
esquema com o nome dos filósofos cujas reflexões ajudaram a fundamentar
a psicologia cognitiva.
[...] a ciência da vida mental, abrangendo tanto seus fenômenos como as suas
condições. Ele descreve o sujeito formado por três “eus”: o primeiro, denominado
eu material, é composto por todas as coisas que pertencem à pessoa, desde seu
próprio corpo até suas roupas, propriedades, etc. [...]. A segunda instância é de-
nominada eu social e se refere às diferentes relações possíveis entre as pessoas,
envolvendo os grupos sociais a que pertença [...]. E, por fim, há o eu espiritual, que
envolve as capacidades intelectuais, os sentimentos, as vontades e as faculdades
psíquicas (CARPIGIANI, 2010, p. 67).
ratos. Com base no conceito de tábula rasa, ele utilizava métodos experimen-
tais de investigação desconsiderando os conteúdos dos processos mentais
internos. Sua passagem pelo funcionalismo trouxe para o behaviorismo a
busca pela compreensão da ação e de suas consequências. Opondo-se ao
estruturalismo e ao funcionalismo, Watson considerava o homem um orga-
nismo em interação com o ambiente, em uma perspectiva evolucionista. Fez
uso, ainda, de estudos com a psicologia animal (GOODWIN, 2005).
Na década de 1930, Edward Chace Tolman (1886–1959), eletroquímico e
psicólogo norte-americano também behaviorista, escreveu a sua teoria da
aprendizagem. Na década de 1950, publicou seu livro sobre os princípios do
comportamento intencionado (GOODWIN, 2005).
No entanto, foi com o behaviorismo radical de Burrhus Frederic Skinner
(1904–1990) que os comportamentalistas passaram a compreender o homem
como capaz de assimilar novos repertórios, considerando como comporta-
mentos os fenômenos introspectivos e conseguindo considerar aspectos
subjetivos de forma coerente, como possibilidades de respostas ao meio.
Mesmo assim, Skinner não dava grande destaque aos sentimentos, além de
não acreditar na liberdade individual (GOODWIN, 2005). Uma de suas maiores
contribuições foi o conceito de condicionamento operante, quando propôs
o estudo e a manipulação do comportamento do organismo que opera no
ambiente. Nessa relação, surge a díade comportamento-consequência. Skinner
entende que o comportamento e suas consequências são associados, e, dessa
forma, o organismo se condiciona e aprende ao buscar a satisfação de suas
necessidades no ambiente (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). Veja na Figura 2 a relação
entre ação e consequência aplicada ao condicionamento operante de Skinner.
Relação
ação-consequência Consequência
Reforçadora Punitiva
Reforço Punição
Positivo
positivo positiva
Punição Reforço
Negativo negativa negativo
Funcionalismo
Como vimos anteriormente, William James, precursor do funcionalismo, tinha
como foco compreender a consciência humana. Para tanto, ele estudou as
emoções, os pensamentos, as crenças e as religiões presentes na vida do
indivíduo, chegando à conclusão de que as crenças e os desejos pessoais
interferem no processo racional e na formação de conceitos. A partir de
seus estudos, o autor publicou, em 1890, o livro Os princípios da psicologia
(SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).
Em suas pesquisas sobre a consciência humana, William James descreveu
a capacidade dos indivíduos de buscar a resolução de problemas para se
adaptar melhor ao meio, tendo um papel ativo e autônomo nesse processo. A
consciência, então, passa a ser compreendida como um fluxo, um movimento
dos seres humanos em direção ao mundo (GOODWIN, 2005).
Para William James, o ser humano não é totalmente racional. Apesar de ser
munido de aspectos individuais, subjetividade, e ter intencionalidade em suas
ações, ele nem sempre age de maneira consciente. Existe uma diferenciação
entre a escolha e o hábito: na primeira, há consciência e intencionalidade;
no segundo, há o ato involuntário ou automático (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).
Nesse ponto, é possível encontrar uma importante contribuição à psicologia
cognitiva, uma vez que essa abordagem supõe a existência de pensamentos
involuntários, que invadem a mente sem uma ação reflexiva, ou seja, pen-
samentos automáticos.
De acordo com Aaron Beck, precursor da psicologia cognitiva compor-
tamental, os pensamentos automáticos são um fluxo de pensamentos que
coexiste com um fluxo de pensamentos mais manifestos. Na maior parte
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Behaviorismo
Para compreendermos a contribuição do behaviorismo para a psicologia
social, inicialmente vamos retomar e explorar um pouco mais o pensamento
de Edward Tolman. O psicólogo norte-americano acreditava que a descrição
do comportamento deveria incluir o fator mental e, então, reformulando o
que era proposto na equação E-R (estímulo-resposta), sugeriu a fórmula E-
-O-R (estímulo-organismo-resposta). Tolman considerava a mente humana
como um sistema capaz de comandar comportamentos e aprender novos
repertórios (GOODWIN, 2005).
Em 1932, Tolman afirmou que o comportamento aprendido teria como
característica a intencionalidade, objetivando uma meta, e, para ele, o com-
portamento que visa a uma meta é, consequentemente, adaptativo. Assim, a
adaptação do homem ao ambiente é um dos objetos de estudo da psicologia
cognitiva (GOODWIN, 2005).
Já Skinner propõe o uso de reforços positivos para “[...] controlar ou mo-
dificar o comportamento individual ou coletivo” (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009,
p. 303). Para tanto, lança-se mão da modelagem, ou método de aproximação
sucessiva, em que o reforço é dado em fases de ações (simples) que vão
gradativamente aproximando o comportamento atual do comportamento
final desejado (complexo). Para Skinner, é assim que crianças aprendem a
falar: primeiro elas emitem sons aleatórios, que vão sendo reforçados pelas
pessoas ao redor quando se aproximam de uma palavra real, até que a criança
consiga falar como as outras pessoas (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).
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Cognitivismo
O cognitivismo também vai considerar o ambiente um elemento essencial
para o desenvolvimento humano. A relação da pessoa com o meio em que
vive se estabelecerá de acordo com os significados que ela atribui aos obje-
tos, às pessoas e aos eventos (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). A aprendizagem é
um produto da interação entre ambiente, indivíduo e fatores externos, que
proporcionam uma rede de significados. Moreira e Masini (1982, p. 3) definem
cognição como:
[...] o processo por meio do qual o mundo de significados tem origem. À medida
que o ser se situa no mundo, estabelece relações de significação, isto é, atribui
significados à realidade em que se encontra. Esses significados não são entidades
estáticas, mas pontos de partida para a atribuição de outros significados. Tem
origem, então, a estrutura cognitiva (os primeiros significados), constituindo-se
nos pontos básicos de ancoragem dos quais derivam outros significados.
Relacionando os conceitos
O funcionalismo, o behaviorismo e o cognitivismo contribuíram para a cons-
trução de uma visão de indivíduo capaz de se desenvolver a partir da relação
com o ambiente. Para o funcionalismo, o ser humano precisa se adaptar ao
meio e aprende a representá-lo mentalmente. Já o behaviorismo compreende
que fatores genéticos, associados às tarefas atribuídas pelo ambiente, mol-
darão a forma como a pessoa se comporta, em uma relação causa-efeito, sem
considerar os processos mentais. O cognitivismo, por sua vez, contribui com
a ideia de que o ser humano atribui ao ambiente, a si mesmo e aos eventos
significados que vão orientar seus pensamentos e comportamentos. Nas
três abordagens, o sujeito é entendido como um organismo ativo que, em
sua interação com o meio, modifica elementos necessários à sua adaptação
para sobrevivência.
A psicologia cognitiva herdou desses pensamentos a compreensão de
que os processos de aprendizagem permitem ao indivíduo modificar a si e ao
ambiente em que vive. E esse é um ponto fundamental da abordagem. Assim,
por meio da compreensão dos processos mentais, a psicologia cognitiva for-
nece subsídios para os sujeitos regularem seu comportamento, enfatizando
a importância do desenvolvimento das capacidades de identificar, manipular
e adequar o comportamento a partir de informações sociais percebidas e
interpretadas. A esse processo atribui-se o nome “cognição social”.
Nesta seção, você conheceu as contribuições do funcionalismo, do beha-
viorismo e do cognitivismo para a psicologia cognitiva. A seguir, veremos um
pouco mais sobre a ideia de cognição social fundamentada pela psicologia
da gestalt.
Referências
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Leituras recomendadas
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STERNBERG, R. J. Psicologia cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 2000.
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