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PROPRIEDADE

INTELECTUAL

Melissa de Freitas Duarte


Cristiano Prestes Braga
Propriedade industrial:
patentes
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Definir patente perante a legislação.


„„ Reconhecer os tipos de patentes existentes.
„„ Identificar os requisitos que um pedido de patente deve atender
para ser concedido.

Introdução
A patente é um título legal que concede ao seu titular o direito de fazer
uso de uma invenção por tempo e em território predeterminados. A
principal função da patente é proporcionar proteção da invenção para o
detentor da patente. Uma invenção patenteada não pode ser comercial-
mente fabricada, utilizada, distribuída ou vendida sem o consentimento
do seu titular. A proteção da patente é regulada pela Lei de Propriedade
Industrial (LPI).
Neste capítulo, você vai ler sobre o conceito de patente perante a
legislação e como se dá a sua proteção e o seu registro. Também vai
conhecer os tipos de patentes existentes e os requisitos que um pedido
de patente deve atender para ser concedido.
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Patente perante a legislação


No Brasil, há previsão legal do direito de autor primeiramente no art. 5º,
XXVII, XXVIII e XXIX, da Constituição Federal de 1988. A patente está
legalmente prevista na Lei nº. 9.279, de 14 de maio de 1996, conhecida como
LPI. Nela, estão contidos (BRASIL, 1996):

„„ conceitos e requisitos que caracterizam uma patente;


„„ requisitos de patenteabilidade;
„„ prazos de proteção concedidos pela lei;
„„ prazos de vigência de sua concessão.

A patente é o reconhecimento formal concedido pelo Estado, ou seja, é a tutela, por


meio de um registro, dos direitos da propriedade industrial, relativos aos inventores. Essa
invenção pode ser de um produto ou de um processo. Isso quer dizer que, obtendo
a patente, o inventor adquire a propriedade da sua invenção.

Após o deferimento do pedido de concessão de patente, o seu titular possui


proteção por um período de 20 anos, contados a partir da data do depósito,
para patente de invenção e um prazo de 15 anos para modelo de utilidade. A
lei ainda faz uma ressalva, afirmando, no art. 40, parágrafo único, que:

[...] o prazo de vigência não será inferior a 10 anos para a patente de invenção
e a 7 anos para a patente de modelo de utilidade, a contar da data de conces-
são, ressalvada a hipótese de o INPI estar impedido de proceder ao exame
de mérito do pedido, por pendência judicial comprovada ou por motivo de
força maior (BRASIL, 1996).

Esse dispositivo atualmente está em discussão no Supremo Tribunal


Federal (STF).
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O parágrafo único do art. 40 da LPI (BRASIL, 1996) é alvo de uma Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI 5529), movida pelo então Procurador Geral da República,
Rodrigo Janot. Segundo ele, o embasamento para o pedido da ação seria que:

[...] o dispositivo questionado possibilita a abertura de prazo indetermi-


nado para a vigência de patentes de invenção e de modelos de utilidade, o
que na sua avaliação, afronta o princípio da temporariedade da proteção
patentária, previsto no inciso XXIX do art. 5º da Constituição Federal.

A ação ainda não foi julgada e possui como relator o Ministro Luiz Fux, relator da
ADI 5561, que também trata do mesmo tema. Para saber mais, acesse o site do STF e
efetue uma busca pelo número das ações:

www.stf.jus.br

Com relação à proteção em outros países, além da legislação de cada


nação (que deve ser respeitada e considerada na hora do pedido de registro
de patentes), há também acordos internacionais, aos quais muitos países
são signatários. O Brasil se tornou membro de muitos deles em matéria de
propriedade industrial.
O tratado mais significativo em matéria específica de patentes foi o de
Cooperação em Patentes de 1978, que surgiu na Convenção de Paris, em 1978.
A sua principal função é racionalizar os procedimentos de solicitação, busca
e exame de patentes, além da divulgação de informações técnicas nela cons-
tantes. A Cooperação em Patentes se tornou um dos acordos mais utilizados,
pois tem contribuído muito com o avanço na cooperação internacional de
patentes. Tal tratado foi um grande esforço para instituir um órgão tutelasse
os registros de patente do mundo inteiro.
A Figura 1 apresenta o número de pedidos de patentes no Brasil entre
1996 e 2017.
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Figura 1. Número de pedidos de patentes no Brasil entre 1996 e 2017.


Fonte: Brasil (2017).

Para melhor compreendermos o que significa estado da técnica, termo que será
amplamente utilizado durante o capítulo, cabe trazermos o seu conceito, que está
explícito na própria LPI. O estado da técnica é, então, “tudo aquilo tornado acessível
ao público antes da data de depósito do pedido de patente, por descrição escrita ou
oral, por uso ou qualquer outro meio, no Brasil ou no exterior”.

Tipos de patentes
A definição dos tipos de patentes é trazida pelo art. 6 da Lei nº. 9.279/1996
(LPI). Os tipos estão a seguir descritos:

Patente de Invenção (PI) — são produtos ou processos que visam atender aos
requisitos de atividade inventiva, novidade e aplicação industrial. Uma criação
só é considerada patente de invenção se apresentar uma solução inédita para
um problema técnico que exista em uma área tecnológica. As invenções podem
abranger produtos industriais (como dispositivos, aparelhos, objetos, compostos
e composições) ou atividades industriais (como métodos e processos). Nesse
caso, a invenção deve ser totalmente inédita, ou seja, nova.

Patente de Modelo de Utilidade (MU) — são objetos de uso prático, ou parte


deste, passíveis de aplicação industrial, que apresente nova forma ou disposição,
integrando ato inventivo, que traga como resultado melhoria funcional no
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seu uso ou na sua fabricação, ou seja, serve para proteger uma invenção que
apresente nova forma ou disposição e que venha a resultar em melhoria no uso
ou fabricação de um produto ou composto. Se apenas as criações consideradas
muito inovadoras fossem patenteadas, diversas contribuições valiosas, mesmo
as menos impactantes, não seriam desenvolvidas por falta de estímulo, o que
seria uma perda considerável, pois, em alguns casos, um produto só se torna
economicamente viável quando passa a ser aperfeiçoado por um terceiro.

Certificado de Adição de Invenção (C) — é indicado quando se realiza algum


aperfeiçoamento ou desenvolvimento introduzido no objeto da invenção,
mesmo que destituído de atividade inventiva, porém ainda dentro do mesmo
conceito inventivo. Pode ser solicitado em qualquer tempo de vigência da
patente anteriormente solicitada e dentro do seu prazo de validade. O certi-
ficado busca garantir a proteção do desenvolvimento de uma solução técnica
já existente e que não se constitua em uma nova invenção. Esse certificado
só é emitido para a patente de invenção, ou seja, não é gerado para o modelo
de utilidade ou desenho industrial (BRASIL, 1996).

Requisitos para a concessão de patente


Conforme Lei nº. 9.279/1996, para ser patenteável, a invenção necessita possuir
alguns requisitos. Esses requisitos são (BRASIL, 1996):

„„ novidade;
„„ atividade inventiva;
„„ aplicação industrial.

Na falta de qualquer um desses requisitos, não será concedida a patente pelo Instituto
Nacional da Propriedade Industrial (INPI), órgão responsável por conceder e resguardar
os pedidos em relação à propriedade industrial.

Com relação ao requisito da novidade, o objeto da pesquisa precisa ser


novo, ou seja, não pode ter sido divulgado previamente, seja por via oral, escrita
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ou por meio do seu uso. Isso significa que a invenção de nenhuma forma, no
todo ou em parte, pode ser de conhecimento público no momento do depósito.
A invenção também não deve possuir outra igual, isto é, basta uma pequena
diferença de outra invenção para ser considerada nova. Essa diferença pode
ser apenas no seu design ou parte do uso.
Com relação à atividade inventiva, os resultados da pesquisa não devem
ser óbvios para um técnico especializado no assunto, ou seja, não pode resultar
apenas de uma combinação de fatores já pertencentes ao estado da técnica,
sem que tenha um efeito técnico novo e inesperado. Isso significa dizer que
a invenção não pode ser resultado apenas de uma combinação lógica, que
pode facilmente ser reproduzida por alguém que possua capacitação técnica
em relação ao que foi inventado.
Com relação à aplicação industrial, a invenção deve ser produzida e
seriada em escala industrial em qualquer meio produtivo. Isso significa dizer
que a produção da invenção deve ser passível e possível de ser produzida em
série, de forma igual.
Para proteger uma invenção, a patente é o instrumento correto para que
isso ocorra. Assim, é necessário depositar um pedido no INPI, o qual, depois
de minuciosamente analisado, poderá se tornar uma patente, com validade em
todo o território nacional. A proteção dada ao titular do direito pela patente
impede o uso da sua criação por pessoas desautorizadas.
Desde 2013, o pedido de patente pode ser feito:

„„ pela internet, por meio de formulários específicos;


„„ na sede do instituto no Rio de Janeiro;
„„ em uma divisão ou representação do INPI nas capitais do Brasil;
„„ pelos Correios, por meio de aviso de recebimento, endereçado à diretoria
de patentes, junto com o protocolo.

Para isso, inicialmente deve ser feita uma busca no sistema de dados do
INPI para verificar o primeiro requisito: o da novidade. Como a invenção não
pode ter sido antes desenvolvida, o solicitante da patente deverá consultar o
sistema para ter certeza de que a sua invenção é inédita. Essa é a primeira
etapa a ser seguida, chamada de busca de anterioridade, quando se verifica
se a invenção não possui nenhum outro registro, caso tenha sido criada ante-
riormente. Para isso, devem ser conhecidas as classificações das invenções,
que podem ser consultadas junto ao INPI.
No depósito do pedido de patente, após o registro de solicitação, é paga
uma taxa, calculada segundo uma tabela informativa pelo órgão. No próximo
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passo, que é o início do pedido, há a entrega da documentação comprobatória


sobre a invenção, que são os documentos técnicos, um requerimento e o
comprovante de pagamento de taxa.
Na análise de concessão, a solicitação então passará por processos de
análise até a concessão da certificação de patente. A análise fica em sigilo
durante até 18 meses e é válida por 20 anos contados da data do depósito, que
é o pedido de patente.

Você como deve ser feita a busca para atender ao requi-


sito de novidade na base de dados do INPI? O próprio
órgão desenvolveu um guia passo a passo, que pode ser
acessado em:

https://goo.gl/wbTgs4

BRASIL. Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Números de pedidos de patentes.


2017. Disponível em: <http://www.inpi.gov.br/noticias/inpi-divulga-material-com-
-infograficos-sobre-suas-principais-atividades/infografico-inpi-em-numeros.pdf>.
Acesso em: 29 jan. 2018.
BRASIL. Lei nº. 9.279, de 14 de maio de 1996. Regula direitos e obrigações relativos à
propriedade industrial. 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Leis/L9279.htm>. Acesso em: 28 jan. 2018.

Leituras recomendadas
BRASIL. Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Legislação geral e pareceres. 2018.
Disponível em: <http://www.inpi.gov.br/sobre/legislacao-1>. Acesso em: 28 jan. 2018.
BRASIL. Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Legislação de propriedade
intelectual. 2009. Disponível em: <http://www.mdic.gov.br/legislacao/9-assuntos/
categ-comercio-exterior/569-legislacao-de-propriedade-intelectual>. Acesso em:
21 jan. 2018.
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BRASIL. Ministério da Cultura. Entenda a lei de direitos autorais. 2014. Disponível em:
<http://www.brasil.gov.br/cultura/2009/11/entenda-a-lei-de-direitos-autorais>. Acesso
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