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UNIVERSIDADE WUTIVI
FACULDADE DE DIREITO
CURSO DE DIREITO

Tema:

A RESPONSABILIZÃO CIVIL DOS FILHOS PELO ABANDONO DOS PAIS IDOSOS


NA LEGISLAÇÃO MOÇAMBICANA

Trabalho submetido em cumprimento dos requisitos para a obtenção do Grau de Lincenciatura


em Direito

Estudante: Célia Vanessa Coelho

Supervisor: Mestre Paulo Tajú


00

Boane, Agosto de 2020


UNIVERSIDADE WUTIVI
FACULDADE DE DIREITO
CURSO DE DIREITO

Tema:

A RESPONSABILIZÃO CIVIL DOS FILHOS PELO ABANDONO DOS PAIS


IDOSOS NA LEGISLAÇÃO MOÇAMBICANA

Trabalho submetido em cumprimento dos requisitos para a obtenção do Grau de Lincenciatura em


Direito

Estudante: Célia Vanessa Coelho

Supervisor: Mestre Milton Inguane

Boane, Agosto de 2020


DEDICATÓRIA

Aos meus pais e filha

i
AGRADECIMENTO

Agradeço, primeiramente, a Deus, pela vida, por todas as dificuldades que pôs em meu caminho,
sem as quais não teria me tornado quem sou hoje.

Aos meus pais, que são os alicerces da minha vida. Sem eles, nada disso seria possível. Obrigada
pelo amor incondicional, pela paciência, carinho e principalmente pelo apoio diário.

A minha filha, Obrigada pela compreensão da ausência e por me ensinar o imenso amor que uma
irmã pode sentir por um irmão.

Aos meus amigos, os verdadeiros, que sempre torcem por mim.

Por fim, agradeço a Professora Loredana, pela orientação, palavras de incentivo e por ser sempre
tão receptiva.

ii
UNIVERSIDADE WUTIVI

DIRECÇÃO PEDAGÓGICA

CURSO DE DIREITO

DECLARAÇÃO

Declaro por minha Honra que esta monografia que no presente momento submeto a Universidade
wutivi, em cumprimento dos requisitos para a obtenção do grau de licenciatura em direito, nunca
foi apresentada para a obtenção de qualquer outro grau académico e que constitui o resultado da
minha investigação pessoal, tendo indicado no texto e na bibliografia as fontes que utilizei

O supervisor
A candidata

____________________________ ___________________________

Célia Vanessa Coelho Msc Paulo Taju

iii
RESUMO

O presente trabalho tem como objecto analisar a eficácia da responsabilidade civil dos filhos por
abandono dos pais idosos em Moçambique. Todavia para o alcance desse objectivo como
metodologia optamos por uma abordagem bibliográfica que consistiu na leitura e interpretação dos
mecanismos legais existentes sobre a matéria em análise. Desta pesquisa podemos constatar que
mesmo que a questão da solidariedade familiar no contexto moçambicano a responsabilização dos
filhos é que inexistente. Desta forma percebemos ainda que se necessita maior efectividade nos
instrumentos protetivos para os pais em situação de vulnerabilidade.

Palavras-chave: Pais idosos. Direitos fundamentais. Responsabilidade Civil.

iv
ABSTRACT
The present work aims to analyze the effectiveness of children's civil liability for abandonment of elderly
parents in Mozambique. However, in order to achieve this objective as a methodology, we opted for a
bibliographic approach that consisted of reading and interpreting the existing legal mechanisms on the
matter under analysis. From this research we can see that even though the issue of family solidarity in the
Mozambican context, the accountability of children is non-existent. In this way, we also realize that greater
effectiveness is needed in the protective instruments for vulnerable parents.

Keywords: Elderly parents. Fundamental rights. Civil Responsability.

v
Índice
DEDICATÓRIA .............................................................................................................................. i
AGRADECIMENTO ...................................................................................................................... ii
DECLARAÇÃO ............................................................................................................................ iii
RESUMO ....................................................................................................................................... iv
ABSTRACT .................................................................................................................................... v
CAPITULO I – INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1
1.1 Contextualização ....................................................................................................................... 1
1.2. Problema da Pesquisa .............................................................................................................. 3
1.3 Justificativa ............................................................................................................................... 4
1.4 Objectivo Do Estudo ............................................................................................................ 4
1.4.1 Objectivo geral ..................................................................................................................... 4
1.4.2 Objectivo específicos ........................................................................................................... 4
1.5 Hipóteses .............................................................................................................................. 5
1.6 Estrutura do Trabalho .......................................................................................................... 5
CAPITULO II. REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................. 6
2.1 Definição de Conceitos ............................................................................................................. 6
2.1.1 Família ................................................................................................................................... 6
2.1.2 Pessoa Idosa ........................................................................................................................... 7
2.1.3 Responsabilidade ................................................................................................................... 8
2.1.4 Filiação ................................................................................................................................... 9
2.1.5 Abandono ............................................................................................................................... 9
2.2 Protecção da Pessoa Idosa no Ordenamento Jurídico Moçambicano ..................................... 10
2.3 Responsabilidade Civil ........................................................................................................... 12
2.4 Pressupostos da Responsabilidade Civil ................................................................................. 13
2.5 Relação Jurídica Entre Pai e Filho .......................................................................................... 15
2.6 Responsabilidade na relação jurídica entre Pais e Filhos ....................................................... 16
CAPITULO III. METODOLOGIA DE PESQUISA .................................................................... 17
3.1 Tipo de Pesquisa ..................................................................................................................... 17
3.2 Amostra e Procedimentos ....................................................................................................... 18

vi
CAPITULO III – EFICÁCIA DA A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS FILHOS POR
ABANDONO DOS PAIS IDOSOS EM MOÇAMBIQUE .......................................................... 19
4.1 Apresentação do Perfil dos Inqueridos ................................................................................... 19
4.1.1 Quanto ao Género ................................................................................................................ 19
4.1.2 Quanto a Idade ..................................................................................................................... 20
4.1.3 Quanto ao Numero de Filho ................................................................................................. 21
4.2 Conhecimento sobre o principio de Solidariedade Familiar ................................................... 22
4.3 A quanto Tempo foi abandonado pelos seus Filhos ............................................................... 23
4.4 Quanto a Possibilidade da responsabilidade civil dos filhos pelo abandono dos pais ............ 24
4.5 Da proteção jurídica dos pais idosos no Direito Comparado .................................................. 25
CONCLUSÃO .............................................................................................................................. 27
RECOMENDAÇÕES ................................................................................................................... 29
Referencias Bibliográfica.............................................................................................................. 30
Apêndice- Questionário ................................................................................................................ 31

vii
CAPITULO I – INTRODUÇÃO

1.1 Contextualização

O nosso trabalho tem como tema “A Responsabilização Civil dos Filhos pelo
Abandono dos Pais Idosos na legislação Moçambicana”, sendo que o mesmo enquadra-se
dentro dos requisitos institucionais da Faculdade de Direito da Universidade Wutive para a
aquisição do grau de Licenciatura em Direito.

Versar sobre essa temática no contexto social moçambicano se apresenta como uma
questão um pouco polémica na área jurídica, e esse problema se destaca como decorrente de
alguns valores sociais e culturais que a sociedade possui sobre a ideia ou o conceito de
família, no que tange ao reconhecimento do dever de cuidar como sendo um valor ou
princípio de solidariedade dentro da relação familiar.

É que sobre a questão do abandono aos pais idosos envolve as questões


correlacionadas com a responsabilidade civil focando na averiguação da possibilidade de
existir o dano moral em decorrência da infração dos elementos compositores que estão
interligados com a importância dos direitos dos filhos e deveres dos pais durante o
desenvolvimento humano da prole.

É uma verdade que no contexto actual moçambicano, os casos de abandono, violência


e maus tratos dos filhos contra os pais idosos têm sido com frequência notícia de destaque nos
meios de comunicação assim como na arena das ciências jurídicas. Nesta lógica sendo os
filhos na maioria das vezes os praticantes desses actos que colocam em causa a dignidade da
pessoa humana surge a necessidade de se analisar a questão da responsabilidade civil dos
filhos diante destas práticas.

Relativamente ao abandono, podemos dizer que se dá quando os familiares


responsáveis por outrem, seja ascendente ou descendente, não lhes dão os devidos cuidados e
atenção, caracterizado pela falta de proximidade e afecto.

Desta forma, se trata de um fenómeno corriqueiro, infelizmente, do qual se ouve muito


dizer do abandono dos pais em relação aos filhos onde, por exemplo, quando os pais se

1
divorciam e há um distanciamento físico e afectivo de um dos pais com relação a criança,
destacando-se sobremaneira o abandono paterno. Não obstante, também é comum o abandono
dos pais pelos filhos maiores, quando os mesmos abandonam seus progenitores em sua
velhice.

É facto que a família é o porto seguro de todo ser humano, desde o nascimento, é o
primeiro referencial da socialização e de estabelecimento de vínculos, sendo responsável pelo
equilíbrio físico, psíquico e afectivo, e quando há ausência ou rompimento desse laço, cria-se
um vazio, uma sensação de desamparo total.

Se por um lado os progenitores têm a obrigatoriedade de prestação de alimentos os


filhos menores e incapacitados, é também dever dos filhos de prestarem assistência afectiva
aos pais como se pode ler no artigo 258 da Lei n.º 22/2019 de 11 de Dezembro - Lei da
Família
1. Os pais e filhos devem-se mutuamente respeito,
cooperação, auxílio e assistência.
2. O dever de assistência compreende a obrigação de
prestar alimentos1 e a de contribuir, durante a vida em
comum, para os encargos da vida familiar, de acordo
com os recursos próprios.
3. Os filhos devem assistir os pais sempre que estes
careçam de alimentos nos termos do disposto nos
artigos 417 e seguintes da presente Lei.

Todavia esse dever ainda é alvo de grande controvérsia. Assim, o presente trabalho
busca fazer uma análise mais profunda da responsabilidade civil dos filhos perante os pais
idosos por abandono.

1
Conceito de alimento segundo o Artigo 417 da Lei n.º 22/2019 de 11 de Dezembro (Lei da Família) 1. Por
alimentos entende-se tudo o que é indispensável à satisfação das necessidades da vida do alimentado,
nomeadamente, o seu sustento, habitação, vestuário, saúde e lazer. 2. Os alimentos compreendem também a
instrução e educação do alimentado no caso de este ser menor ou, ainda que maior, se encontrar na situação
descrita no artigo 295 da presente Lei.

2
A Constituição da República de Moçambique (2004) tendo em vista a maior protecção
da pessoa idosa estabeleceu ser responsabilidade do Estado, da sociedade e da família, a
proteção dessas pessoas. Todavia podemos perceber que no contexto social moçambicano
nem sempre existe a possibilidade (ou o cuidado) dos familiares com relação a seus idosos
facto esse que faz com que na maioria das vezes muitos deles sejam esquecidos e deixados a
sorte.

1.2. Problema da Pesquisa

O intuito de problematizar a questão do dever de cuidado dos filhos perante os pais


idosos previstos na legislação de moçambicana sobre a abordagem no instituto do direito da
família, tem como base os desafios da conjuntura social actual, bem como a forma de
interpretação.

É uma questão da solidariedade familiar que tem subjacente a responsabilidade dos


pais pelos filhos menores e dos filhos pelos pais idosos independentemente da relação
afectiva e do convívio, realmente existente entre os progenitores e os filhos, a ponto de
permanecer intacta, na hipótese do mais grave corte da relação entre ambos, como acontece
com a situação de inibição do exercício do poder paternal, que em nenhum caso isenta os pais
do dever de alimentarem o filho.

Assim, os diplomas legais vigentes em Moçambique são claros a respeito dessa


questão, pois é dever dos pais garantir assistência dos filhos e dos filhos aos pais. Contudo é
comum no contexto actual moçambicano se transportar essa responsabilidade apenas a um
dos pais, e na maioria das vezes os filhos ficam isentos de suas responsabilidades perante aos
pais idosos.

Face ao exposto acreditamos que há que se aplicar medidas de responsabilização dos


filhos por abandono dos pais idosos. Assim podemos nos questionar: Será que no contexto
moçambicano há uma efectiva responsabilização civil dos filhos por abandando dos pais
idosos?

3
1.3 Justificativa

Versar sobre a responsabilização civil dos filhos pelo abandono dos pais idosos na
legislação moçambicana se justifica por três grandes questões, sendo que a primeira razão é
do domínio académico uma vez que acreditamos que este trabalho poderá ajudar a contribuir
para as futuras pesquisas sobre matéria.

A segunda razão para a realização desta pesquisa reside no domínio social uma vez
que são frequentes casos de abandono de pais por filhos no contexto moçambicano facto esse
que fez com que a pesquisadora desse trabalho tivesse um certo interesse em contribuir com
esta temática para a sociedade, visto que é crescente o número de abandono afectivo.

A terceira razão para a realização desta pesquisa justifica-se pois curiosamente, a


questão da afectividade em relação ao abandono afectivo dos pais com seus filhos é um facto
cada vez mais frequente em nossa sociedade, mas ainda pouco debatido.

Assim, é possível perceber que o afecto passou a ter valor jurídico e até mesmo
económico, gerado quando há um descumprimento do dever de cuidado, como ocorre com os
pais que abandonam seus filhos e também quando estes abandonam seus pais, no momento da
vida em que estão vulneráveis e dependentes economicamente.

1.4 Objectivo do estudo

1.4.1 Objectivo geral

 Analisar a eficácia jurídica da responsabilidade civil dos filhos por abandono dos pais
idosos em Moçambique.

1.4.2 Objectivos específicos

 Avaliar o instrumento jurídico da responsabilidade civil do filho em caso de abandono


dos pais;

 Analisar os instrumentos jurídicos da protecção da pessoa idosa;

 Refletir sobre a responsabilidade civil dos filhos em outros ordenamentos jurídicos.

4
1.5 Hipóteses

H1: No contexto moçambicano há uma efectiva responsabilização civil dos filhos por
abandando dos pais idosos.

H2: No contexto moçambicano não há uma efectiva responsabilização civil dos filhos por
abandono dos pais idosos.

1.6 Estrutura do Trabalho

O presente trabalho foi desenvolvido em 4 (quatro) capítulos. No primeiro capítulo


apresentamos a contextualização do trabalho, os objectivos, as hipóteses e a justificativa do
trabalho.

No segundo capítulo fizemos a revisão da literatura, onde apresentamos os conceitos


fundamentais sobre o Direito da Família, os princípios orientadores da solidariedade familiar
e por fim a questão da responsabilização civil dos filhos por abandono dos pais idosos.

No terceiro capítulo debruçamos sobre os marcos metodológicos da pesquisa.

E por fim, no quarto capítulo tratamos sobre discussão e apresentação dos resultados em
relação a questão da responsabilidade civil dos filhos por abandono dos pais no direito
comparado. Neste mesmo capítulo analisaremos a eficácia da responsabilidade civil dos filhos
por forma a responder os objectivos da pesquisa.

5
CAPITULO II. REVISÃO DA LITERATURA

Neste segundo capítulo buscamos apresentar os conceitos básicos relacionados com o


tema em análise sendo que iremos conceituar a família, responsabilidade e pessoa idosa.
Iremos também neste capítulo apresentar alguns fundamentos jurídicos sobre a questão em
estudo.

2.1 Definição de Conceitos

2.1.1 Família

Antes mesmo de se definir família é importante que se verse sobre o objecto do


Direito de Família é a proteção da pessoa humana que dela faz parte, sendo composto,
segundo Maluf e Maluf (2016 p 29) dispostos em diversos preceitos legais, que vão se
amoldando, conforme o tempo histórico e à estrutura vigente da sociedade.

Segundo Gonçalves (2014), devido à importância social que se dá ao Direito de


Família, bem como a especial atenção que o Estado lhe confere, percebe-se nesta área, a
preponderância de normas de caráter público. Conforme o autor, este fato motiva alguns
doutrinadores a classificar o Direito de Família como ramo do direito público, o que, segundo
ele, não é adequado P i ― g j i i privado, no ramo de direito civil, em razão da finalidade
tutelar que lhe é inerente, [...]. Destina-se, como vimos, a proteger a família, os bens que lhe
são próprios, a prole e i fi ‖ (GONÇALVES 2014 p 27)

Entretanto, embora seja o Direito de Família composto predominantemente por


normas cogentes, ou seja, que impõem seu cumprimento perante a quem se aplica, não há
normas de ordem pública que recaiam sobre a relação de pais e filhos ou entre cônjuges
(LÔBO, 2017).

De todo modo, é possível notar que o Direito de Família encontra sua natureza jurídica
no direito privado. Ademais, o estabelecimento de normas de cunho impositivo, demonstra de
certa forma, a tentativa de supervisão, por parte do Estado, acerca dos atos praticados nesse
âmbito, a fim de consolidar a ideia de que as normas estabelecidas no Direito de Família
devem ser inteiramente cumpridas.

6
O instituto família ao longo da história da humanidade sofreu diversas mudanças
como consequências da evolução dos costumes. Assim a conceitualização do que vem a ser
família no contexto actual tornou-se algo difícil de definir uma vez que essa é a forma mais
básica e rudimentar de um agrupamento social desde os primórdios da humanidade.

As primeiras regras jurídicas que se sabe, relactivas as relações familiares surgiram


com o Código de Hamurabi, cerca de 1.700 anos antes de Cristo (a.C), sendo que também
foram retratadas regras para as relações familiares da sociedade patriarcal da época, onde o
marido detinha poderes sobre a esposa, bem como na Lei das XII Tábuas do antigo Direito
Romano e as Institutas do Imperador Justiniano (563 d.C.), que também traziam regras acerca
do poder pátrio e demais regulamentos familiares.

Relativamente ao conceito de família podemos perceber que segundo Miranda


(2001.p.57) provém da expressão latina famulus, que significa “escravo doméstico”, que
designava os escravos que trabalhavam de forma legalizada na agricultura familiar das tribos
ladinas, situadas onde hoje se localiza a Itália.

Ainda na perspectiva desse autor o conceito de família pode ser visto no sentido amplo
assim como no sentido lato senso, sendo que no primeiro sentido a família seria aquela em
que os indivíduos estão ligados pelo vínculo de consanguidade ou de afinidade. Já no segundo
sentido do conceito refere-se aquela formada “além dos cônjuges ou companheiros, e de seus
filhos, abrange os parentes da linha reta ou colateral, bem como os afins (os parentes do outro
cônjuge ou companheiro).

2.1.2 Pessoa Idosa

Tendo como base a os princípios constitucionais em Moçambique a conceitualização


do que vem a ser pessoa idosa é determinada tendo sempre em conta a faixa etária assim
como o género. Assim segundo a Resolução nº 84/2002 (GdM 2002) são consideradas
pessoas idosas todas as pessoas do género feminino com mais de 55 anos de idade sendo que
para o género masculino as pessoas deverão ter uma idade igual ou superior a 60 anos de
idade.

7
Com a definição da Resolução nº 84/2002 (GdM 2002), fica evidente que este
conceito teve como base a questão etária indo ao encontro da perspectiva da Organização das
Nações Unidas (ONU), onde se preconiza que o limite etário mínimo quando a questão se
referi ao conceito da pessoa idosa devera ser de 60 anos. Segundo essa perpectiva acredita-se
que este é aquele que melhor espelha a realidade verificada num maior número de países no
continente africano.

2.1.3 Responsabilidade

O termo responsabilidade tem sua origem no verbo responsus que esta conjugado no
particípio passado de responder. Assim o conceito de responsabilidade nos remete a ideia de
responder ou mesmo prestar contas pelos seus próprios actos.

O conceito de responsabilidade pode ser visto em um sentido comum quando diz


respeito à condição ou qualidade de alguém em ser responsável. Todavia é pressuposto
fundamental que ser responsável tenha capacidade de consciência quando aos actos praticados
voluntariamente, ou seja, que consiga saber antes de agir as consequências de sua vontade.

Segundo Viney (1977, p.52) o conceito de responsabilidade enquanto categoria


jurídica tem sua vocação de agrupar tipos de obrigações de responder por um facto,
comportamento assim como por uma situação de justiça e de assumir as respectivas
consequências.

Assim, fica evidente que ao nos debruçarmos sobre o conceito de responsabilidade


remeti-nos a questão de uma obrigação de responder pelas suas acções. Todavia não se pode
falar da responsabilidade sem falar da consciência, pois é a consciência que dá ao agente
responsável e/ou portador da responsabilidade a obrigação de reparar os danos causados a
outros através da realização de seus actos.

Neste sentido neste trabalho buscamos assim perceber a questão da responsabilidade


civil dos filhos por abandono dos pais sendo essa uma acção punível do ponto de vista
jurídico

8
2.1.4 Filiação

Um outro conceito que achamos ser fundamental para a presente pesquisa é o de


filiação. Assim a filiação é a relação de parentesco consanguínea em primeiro grau e em uma
linha recta que liga uma pessoa àquelas que a geram ou a receberam com se a tivesse gerado 2.

Deste modo, no contexto da Constituição da Republica de Moçambique (2004) é


vedada a distinção entre a filiação legitima ou ilegítima sendo que a mesma constituição
estabeleceu a igualdade entre os filhos não admitindo mais a retrograda distinção entre filhos
legítimos, segundo os pais fossem casados ou não.

2.1.5 Abandono

Para conceituar o abandono pode dizer-se que nada mais é que negligência, ausência
dos pais na vida dos filhos e neste caso concreto ausência dos filhos na vida dos pais. Deve
levar em conta que ao abandonar um pai idoso é de certa forma a falta de comprometimento
da solidariedade familiar sendo que a justiça oferece o direito a alimentos3.

Assim, a falta de convívio, cumplicidade entre pais e filhos tende a gerar um


rompimento do elo de afectividade, o que pode comprometer seriamente a saúde física e
psicológicas dos pais idosos pela sua situação de vulnerabilidade. Sendo que essas situações
o torna uma pessoa insegura, infeliz e consequentemente terá grandes sequelas psicológicas
e consequentemente uma morte infeliz.

2
RODRIGUES, S.(2004) Direito Civil. 28 ed. v. 6. São Paulo: Saraiva, p 297
3
Segundo o artigo n.º 411º Lei n.º 22/2019 de 11 de Dezembro (Lei da Família) os alimentos podem assumir a
natureza de definitivos ou provisórios, sendo que estes últimos se destinam a obstar que o menor, enquanto não
lhe forem atribuídos alimentos definitivos, se veja privado dos meios que necessita para conseguir viver com
dignidade. Deste modo, os alimentos devidos a menor compreendem tanto as quantias necessárias à sua
instrução e educação, como as quantias necessárias para prover o seu sustento, habitação, vestuário, saúde e
segurança, competindo a ambos os pais prestar esses alimentos

9
Assim, face a questão do abandono, Lobo4 acredita que ao tratar do abandono em
todas as suas formas há um dever imposto aos pais em relação os seus filhos menores e
incapacitados assim como dos filhos aos seus pais idosos, ainda que haja desamor ou
desafeição entre eles”

2.2 Protecção da Pessoa Idosa no Ordenamento Jurídico Moçambicano

No contexto da legislação moçambicana o legislador garante duma forma


constitucional a protecção da pessoa idosa, salvaguardando o reconhecimento da dignidade da
pessoa humana, assim como o direito a integridade moral e física, direitos estes que se
revelam independentemente das espécies circunstâncias de cada indivíduo.

Todavia o legislador moçambicano como forma de garantir ainda maior protecção a


pessoa idosa consagra que para além dos direitos fundamentais consagrados são ainda in
interpretados e integrados de harmonia com a Declaração Universal dos Direitos do Homem e
a Carta Africana dos Direitos5

Percebemos assim haver uma certa posição jurídica da pessoa idosa; o âmbito e
sentido do direito à educação, a habitação, a assistência médica enquanto direitos
fundamentais; o modo de interpretação dos direitos fundamentais, caso do direito à educação;
e demais preceitos que directa ou indirectamente conferem dignidade as pessoas idosas.6

Essa posição jurídica tem como fundamento a questão da igualdade de todos perante a
lei, a situação social, económica e politica como podemos ler:

“Todos os cidadãos são iguais perante a lei,


gozam dos mesmos direitos e estão sujeitas aos
mesmos deveres, independentemente da cor,
raças, sexo, origem étnica, lugar de nascimento,

4
LOBO, P.(2008) Direito Civil: Famílias. 4.ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
5
Os preceitos constitucionais relativos aos direitos fundamentais são interpretados e integrados de harmonia com
a Declaração Universal dos Direitos do Homem e a Carta Africana dos Direitos (artigo 46 da CRM)
6
Cfr artigo 35 e 124 da Constituição da República de Moçambique de 2004

10
religião, grau de instrução, posição social,
estado civil dos pais, profissão ou opção
política”7

Assim, fica claro que é neste normativo que se encontra salvaguardado outros direitos
fundamentais, como sejam a protecção do direito a identidade pessoal, ao desenvolvimento da
personalidade à capacidade, ao bom nome â reserva da vida privada e familiar ou protecção
contra qualquer forma de discriminação.

De uma forma específica quando a questão é a pessoa idosa podemos ainda perceber
que para além dos direitos fundamentais ele tem alguns direitos que devem ser observados
como podemos ler:

1. Os idosos têm direito à protecção especial da família,


da sociedade e do Estado, nomeadamente na criação de
condições de habitação, no convívio familiar e
comunitário e no atendimento em instituições públicas e
privadas, que evitem a sua marginalização.

2. O Estado promove uma política de terceira idade que


integra acções de carácter económico, social e cultural,
com vista à criação de oportunidades de realização
pessoal através do seu envolvimento na vida da
comunidade8.

Face ao exposto, fica evidente que é por meio da Constituição da República de


Moçambique e da própria Lei de Família que a protecção aos direitos da pessoa idosa é
assegurada com vista a eliminar todos tipos de abusos e violação bem como desrespeito aos
direitos do idoso.

7
Cfr Artigo 35 da Constituição da República de Moçambique de 2004
8
Cft artigo 125 da Constituição da Republica de Moçambique de 2004

11
2.3 Responsabilidade Civil

A actividade praticada que tem como consequência um prejuízo possibilita a


responsabilidade civil, que é um instituto destinado a reparar o equilíbrio moral ou
patrimonial que foi afetado pelo dano, devolvendo assim, a harmonia e estabilidade que
foram violadas. Para a configuração do dano se faz necessária a presença de alguns
pressupostos, e, posteriormente comprovada a existência de um prejuízo, será apurada a
necessidade de reparação, que poderá se dar de mais de uma maneira, em conformidade
com a espécie de dano.

Desse modo, este capítulo tem como objetivo assinalar aspectos importantes acerca
da responsabilidade civil, descrevendo seu histórico e conceituação, relatando,
posteriormente, as diferenças entre as teorias da responsabilidade extracontratual subjetiva
e objetiva. Assim, para uma melhor compreensão do instituto em apreço, serão abordados
os pressupostos da responsabilidade civil subjetiva, bem como os parâmetros para a fixação
da indenização.

Passamos agora a apresentar o conceito de responsabilidade Civil no sentido do direito


moçambicano. O Código Civil Moçambicano atualizado pelo Decreto Decreto-Lei n.º 3/2006,
de 23 de Agosto teve fortes influências no Código Civil de Napoleão isto é na legislação
francesa.
A responsabilidade civil quanto a origem
encontra-se na Lei de Talião (olho por olho,
dente por dente), cujo objetivo era devolver o
mal pelo mal (sistema arcaico). A Lei das XII
Tábuas (450 a. C) adotou a Lei de Talião, e
também estabelecia uma responsabilidade
pessoal9.

9
COELHO, Fábio Ulhoa, (2012) Curso de direito civil, volume 2: obrigações: responsabilidade civil. 5. ed. São
Paulo, Saraiva,p. 22

12
É uma verdade que a teoria da culpa trazida pela legislação francesa não respondeu
com o passar do tempo os novos casos concretos que foram surgindo em diversos contextos
facto que fez com que novas teorias de culpa surgissem. Tais teorias são amparadas em várias
legislações mundiais, sem, contudo, fazer desaparecer totalmente a teoria clássica da culpa, o
que ocorreu inclusive com o Código Civil Moçambicano.

A responsabilidade civil pode ser objectiva assim como pode ser subjectiva, no que se
refere ao instituo da responsabilidade civil por abandono dos pais no ordenamento jurídico
moçambicano.

2.4 Pressupostos da Responsabilidade Civil

A responsabilização civil por danos pressupõe alguns factos, uma vez que todos os
actos ilícitos são aqueles que contrariam as normas objectivas do ordenamento jurídico
lesando desde modo o direito subjectivo de alguém.

Nesta lógica faz nascer à obrigação de reparar o dano de que se pode ler no artigo 483
do Código Civil Moçambicano (CC) vigente: “Aquele que, por acção ou omissão voluntaria,
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete acto ilícito” assim estamos diante de um acto ilícito.

Assim, por forma aludir o dever de indemnizar, faz-se necessário a verificação de


certos pressupostos, factores, factos dominantes, elementos representantes da retribuição
social, assim para que haja uma responsabilidade civil do agente infractor é necessário que
haja: Acção ou omissão violadora do Direito; Dano; Culpa ou dolo do Agente; Nexo de
Causalidade.

Como verificamos anteriormente, não se pode falar de uma responsabilidade civil sem
dano, assim o ónus de prova cabe a pessoa que invoca tal direito. Dessa forma, fica evidente
que o dano é o elo de imputação da responsabilidade civil, e torna importante as
consequências que a partir dela possa advir.

Tendo como base a questão do abandono dos pais pelos filhos no contexto
moçambicano, vários são os danos que são causados a esses pais, seja por acção, omissão ou

13
mesmo por negligencia por parte dos seus filhos, que por culpa exclusiva dos filhos muitas
vezes são privados dos seus direitos fundamentais e sendo dever da família o de cuidar, dai
que havendo a violação desse dever, é possível despoletar o instituto da responsabilidade
civil.

Todavia faz-se necessário a comprovação do dano, seja ele na esfera patrimonial ou


moral, ressalta-se que ao se falar no dano patrimonial, poderá se pensar de imediato no
ressarcimento do prejuízo, enquanto o dano moral, por envolver a esfera psíquica, irá visar a
recomposição da pessoa lesada10.

Um outro pressuposto fundamental para que haja a responsabilidade civil é a culpa.


Assim pode se perceber a culpa como a negligência ou mesmo imprudência de tal forma que
o dolo consiste na vontade de cometer uma violação de direitos. Assim o dolo é a violação
deliberada, consciente, intencional do dever jurídico.

Face ao tema em analise é possível ter elementos suficientes para responsabilizar os filhos
pelo abandono dos pais idosos pois o Código Civil Moçambicano estabelece que “aquele que,
com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição legal
destinada a proteger interesses alheios fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos
resultantes da violação11”.

Através da análise deste artigo é possível identificar os elementos da responsabilidade


civil, que são: ilicitude, a conduta culposa do agente, nexo causal, dano e culpa. Este artigo é
a base fundamental da responsabilidade civil, e consagra o princípio de que a ninguém é dado
o direito de causar prejuízo a outrem.

10
DINIZ, Maria Helena.(2001) Curso de Direito Civil Brasileiro. São Paulo, Saraiva,,p22

11
Cfr artigo 483 Código Civil Moçambicano

14
2.5 Relação Jurídica Entre Pai e Filho

A questão da relação jurídica entre os pais e os filhos tem sua base jurídica na ideia de
filiação e paternidade. Assim segundo Gonçalves (2012, p.318):

A filiação é o parentesco consanguíneo, em


primeiro grau e em linha reta, que liga uma
pessoa àquelas que a geraram, ou a receberam
como se tivessem gerado. Todas as regras sobre
parentesco consanguíneo estruturam-se a partir
da noção de filiação, pois a mais próxima, a mais
importante, a principal relação de parentesco é a
que se estabelece entre pais e filhos.

A lei prevê a especial obrigação a cargo dos progenitores de proverem ao sustento dos
filhos cujo conteúdo repousa nos vínculos da filiação e nos poderes-deveres incluídos nas
responsabilidades parentais. O dever de assistência entre pais e filhos tem duas vertentes
como podemos observar no artigo 258 da Lei n.º 22/2019 de 11 de Dezembro - Lei da Família

1. Os pais e filhos devem-se mutuamente respeito,


cooperação, auxílio e assistência.

2. O dever de assistência compreende a obrigação de


prestar alimentos e a de contribuir, durante a vida em
comum, para os encargos da vida familiar, de acordo
com os recursos próprios.

3. Os filhos devem assistir os pais sempre que estes


careçam de alimentos nos termos do disposto nos
artigos 417 e seguintes da presente Lei

Com esta informação fica assim evidente que relativamente nesta relação tanto o pai
assim como filho têm obrigação e dever de se cuidar mutuamente sendo esses um principio de
solidariedade familiar.

15
2.6 Responsabilidade na relação jurídica entre Pais e Filhos

Passamos agora a dissecar o exercício de responsabilidade na relação jurídica entre


pais e filhos tendo sempre em vista o dever de cuidar como uma garantia constitucionalmente
consagrada. Perante uma situação de velhice ou de incapacidade há uma certa
responsabilidade por parte dos filhos em relação aos pais como esta prevista na Lei.

Assim da regulação das responsabilidades e da consequente obrigação de alimentos a


pais idosos podemos falar em bom rigor quando, esteja estabelecida a filiação biológica ou
adopção, há uma obrigação moral e material de cuidar desses filhos em relação aos seus
progenitores concedendo-os alimentos devidos.

Sendo que, este quantitativo há-de ter em conta todos os critérios legais, decorrentes
dos artigos 2003 e seguintes do Código Civil, como sejam as necessidades do menor, as
possibilidades deste de proceder à sua subsistência e as capacidades dos pais – ambos os pais.

A prestação de alimentos constitui, simultaneamente, uma obrigação do progenitor e


um direito subjectivo do filho menor, com vista à sua manutenção e desenvolvimento, pelo
que a determinação do seu quantitativo deve ser de molde a assegurar o indispensável à
subsistência do menor, sendo este um imperativo ético e social inalienável.

Na determinação do quantitativo da prestação de alimentos, há que ter em conta não


só custo médio normal e geral da subsistência do menor, mas também as circunstâncias
especiais deste, designadamente a sua idade, o sexo, o estado de saúde, o nível de vida antes
da dissociação familiar.

Acresce que, as referidas normas devem ser interpretadas à luz da nossa Constituição,
mormente o disposto no seu artigo 120º n.º 3, sob pena da tutela da solidariedade familiar
esvaziar de sentido o princípio de que é aos pais a quem incumbe, primacialmente, a
obrigação de educar, sustentar e manter os seus filhos.

16
CAPÍTULO III. METODOLOGIA DE PESQUISA

Nesse terceiro capítulo estão apresentados os aspectos metodológicos, métodos e


instrumentos para colecta de dados. Foi necessário buscar uma metodologia na qual se
enquadra uma pesquisa que se molde com o tema escolhido para o estudo, elaborado em
primeira mão por literaturas específicas que apoiou e fundamentou a teoria.

3.1 Tipo de Pesquisa

A definição do tipo de pesquisa utilizada faz-se necessária como uma forma de buscar por
meio de um processo de investigação do tema então, vejamos:

Pesquisa é um procedimento intelectual para adquirir


conhecimentos pela investigação de uma realidade e
busca de novas verdades sobre um facto (objecto,
problema). Com base em métodos adequados e técnicas
apropriadas, o pesquisador busca conhecimentos
específicos, respostas ou soluções ao problema
estudado (Gil 2008, p. 123).

Para o desenvolvimento da presente pesquisa, adoptou-se como tipo a exploratória,


pois para Gil (2008), a pesquisa exploratória é usada para proporcionar uma visão geral de um
fato, então explorar um tema é reunir quanto mais conhecimento possível, incorporando
características inéditas, bem como buscar novas dimensões até então inéditas.

O trabalho teve como abordagem mista, isto é, houve uma conciliação entre a
abordagem qualitativa e quantitativa o que nos permitiu aprofundar melhor o trabalho em
analise, não se pretendeu enumerar ou medir unidades ou categorias homogéneas.

Quanto à abordagem, a pesquisa adotará o modelo qualitativo, que consoante


Mezzaroba e Monteiro (2016), leva em conta a compreensão das informações de modo mais
amplo, se relacionando com outros fatores, levando em consideração, principalmente, outros

17
contextos. Com o intuito de alcançar a finalidade pretendida pelo estudo, será adotado o
método de pesquisa dedutivo, que, de acordo com Pereira, J. (2016), usa o raciocínio, partindo
da análise geral para a particular, a fim de chegar a uma conclusão. Para tanto, como
procedimentos técnicos, serão utilizadas técnicas bibliográficas, fundadas em referencial
teórico que envolve doutrina, artigos de periódicos e materiais de estudiosos da área
encontrados em sites especializados, e documentais, com o uso de legislação,

3.2 Amostra e Procedimentos

Relactivamente a amostra dessa pesquisa foram realizadas algumas entrevistas com


questões abertas direcionadas a 30 indivíduos sendo que 15 delas são pessoas idosas e as
outras 15 são pertencentes a camada considerada jovem, como forma de perceber deles se têm
consciência sobre as suas obrigações em cuidar dos pais idosos. Por outro lado, dos idosos
buscamos perceber o seu sentimento relactivamente a sua situação de abandono por parte dos
seus filhos.

Como forma de recolher os dados para essa pesquisa optamos por um questionário
com perguntas abertas para os primeiros 15 elementos que participaram desse estudo, e para
os restantes 15 elementos dessa pesquisa sendo todos idosos optamos em fazer uma entrevista
semiestruturada12.

12
neste tipo de entrevistas o entrevistador pergunta para os diversos entrevistados uma mesma série de perguntas
pré-estabelecidas, ficando o entrevistador preso ao enunciado específico no roteiro da entrevista: ele não é livre
de adaptar suas perguntas à situação específica, de modificar a ordem dos tópicos ou de fazer perguntas Gil A.C
(2008) Metodos e Tecnicas de Pesquisa Social São Paulo Atlas

18
CAPÍTULO III – EFICÁCIA DA A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS FILHOS POR
ABANDONO DOS PAIS IDOSOS EM MOÇAMBIQUE

Na análise e discussão de dados o investigador analisa o conjunto dos resultados e


interpreta segundo o tipo de pesquisa e o quadro das referências utilizadas, tendo em conta o
facto de que visa a descrição de um fenómeno ou a explicação e a verificação de algumas
relações entre os fenómenos, assim como a verificação de hipóteses causais.

Neste capítulo buscamos analisar os dados colhidos na Cidade de Maputo, onde


buscamos perceber o sentimento dos idosos que são abandonados pelos seus familiares
(filhos). Este capítulo foi construído com base nos resultados das entrevistas feitas entre os
meses de Junho à Julho de 2020.

4.1 Apresentação do Perfil dos Inqueridos

4.1.1 Quanto ao Género

Relactivamente ao género dos que participaram dessa pesquisa o gráfico 1 nos mostra
que 30% são do género masculino e 70% são do género feminino. Desses dados ficou
evidente a existência de maior prevalência de mulheres (mães idosas) abandonadas pelos seus
filhos por vários motivos quando comparados com os de género masculino.

Fonte: Dados Coletados pela autora em Julho de 2020

19
4.1.2 Quanto a Idade

Relactivamente a idade dos participantes dessa pesquisa, podemos perceber que a


maior deles são pessoas idosas com idade entre 55- 75 anos de idade com 60% de
participação, sendo que 25% possuem uma idade entre 35 -45 anos de idade e finalmente os
15% para os que tem uma idade entre 25 -34 anos de idade.

Fonte: Dados Coletados pela autora em Julho de 2020

A escolha desses intervalos de idade foi intencional uma vez que permitiram a
pesquisadora alcançar um dos objectivos específicos desta pesquisa sendo que por meio dessa
divisão foi possível colher dos jovens o seu sentimento em relação a obrigação constitucional
de cuidar os seus pais em caso de velhice bem como em caso de incapacidade.

Por outro lado, permitiu perceber dos pais (pessoas idosas) o sentimento em relação a
legislação que os protege em relação ao direito a alimento um direito fundamental consagrado
constitucionalmente em Moçambique e que é dever da família, da sociedade e do estado
garantir a efectiva realização.

20
4.1.3 Quanto ao Número de Filho

Tendo em conta que o objectivo desse trabalho é analisar a eficácia da


responsabilidade civil dos filhos por abandono dos pais idosos em Moçambique essa cifra é
de grande relevância uma vez que é por meio dela que se pode materializar os objectivos
pretendidos. Sendo assim dos dados adquiridos 60% de um total de 30 participante tem entre
1 a 3 filhos, seguidos de 38% com 4 a 6 filhos e por fim apenas 1% não tem nenhum filho
como se pode observar no gráfico 3

Fonte: Dados Coletados pela autora em Julho de 2020

Com estes dados podemos perceber que a soma dos que tem filhos em um total de 30
participantes perfaz 99% facto esse que nos remete a uma situação da relação jurídica
existente entre os pais e os filhos que se assenta no princípio de solidariedade famíliar como
esta prevista na lei13

13
Cfr: artigo 258 da Lei n.º 22/2019 de 11 de Dezembro - Lei da Família - 1. Os pais e filhos devem-se
mutuamente respeito, cooperação, auxílio e assistência. 2. O dever de assistência compreende a obrigação de
prestar alimentos e a de contribuir, durante a vida em comum, para os encargos da vida familiar, de acordo com

21
4.2 Conhecimento sobre o princípio de Solidariedade Familiar

O princípio de Solidariedade Familiar possui um assento constitucional. Assim sob


ponto de vista da Lei n.º 22/2019 de 11 de Dezembro - Lei da Família o direito a alimento
funda-se no princípio de solidariedade, que implica respeito e consideração mútua em relação
aos membros da família neste caso concreto entre os pais e filhos e vice-versa.

Relactivamente ao conhecimento desse princípio como podemos observar no gráfico 4


dos participantes, apenas 10% tem conhecimento desse princípios e da sua obrigação para
com os pais enquanto 90% não tem nenhum conhecimento. Todavia o desconhecimento desse
principio não lhe tira a responsabilidade daqui que acreditamos que mesmo assim ainda é
possível criminalizar esses indevidos pelos danos causados.

Fonte: Dados Coletados pela autora em Julho de 2020

Ainda sobre este ponto de solidariedade familiar a lei prevê que os alimentos serão
proporcionados aos meios daqueles que houver de presta-los e à necessidade de aqueles que
haver de recebe-los.

os recursos próprios. 3. Os filhos devem assistir os pais sempre que estes careçam de alimentos nos termos do
disposto nos artigos 417 e seguintes da presente Lei.

22
4.3 A quanto Tempo foi abandonado pelos seus Filhos

Questionados sobre o abandono, das causas, motivações entre outros factores pudemos
perceber que 80% dos inquiridos tem já mais de 2 anos em que foi deixado a sorte pelos seus
filhos e desses 80% afirmaram sofrer muita discriminação por parte dos familiares assim
como por parte dos filhos.

Assim, 20% dos idosos inquiridos tem menos de 2 anos que foram abandonados,
todavia os dados nos revelam que as causas de abandono são na maioria das vezes acusados
de serem promotores da infelicidade dos filhos.

Fonte: Dados Coletados pela autora em Julho de 2020

Com estes dados ficou ainda evidente que as questões do abandono no contexto
moçambicano ocorrem muitas das vezes após os filhos constituírem novos lares. Pois esses
acreditam não terem nenhuma obrigação perante aos pais idosos limitando-se a cuidar da
esposa e dos seus filhos.

Nesta lógica, todos preceitos constitucionais estão sendo violados cabendo aos lesados
despoletar o instituto da responsabilidade civil e até criminal em caso de discriminação e
maus tratos.

23
4.4 Quanto a Possibilidade da responsabilidade civil dos filhos pelo abandono dos pais

Neste ponto buscamos perceber dos participantes deste estudo se é possível


responsabilizar civilmente os filhos pelo abandono dos seus pais uma vez que a constituição
da República assim como a Lei nº 3/2014 de 5 de Fevereiro - Lei da Promoção e Protecção
dos Direitos da Pessoa Idosa. sem deixar de lado a Lei n.º 22/2019 de 11 de Dezembro - Lei
da Família criam ou abrem espaço para a responsabilização dos violadores dos dispositivos
legais.

Atento aos dados da pesquisa, podemos observar no gráfico 6 que 82 % dos


participantes dessa entrevista cré haver espaço para a possível responsabilização todavia em
termos párticos dizem que nada se tem feito para tornar essa responsabilização efectiva e 18%
acreditam não haver espaço para tal responsabilização.

Fonte: Dados Coletados pela autora em Julho de 2020

24
4.5 Da proteção jurídica dos pais idosos no Direito Comparado

Relactivamente a proteção jurídica dos pais vítimas de abandono nos ordenamentos


jurídicos por nós analisados, se apresenta também como uma questão de grande preocupação
tendo em conta que também são Estados de Direito Democrático. Todavia tal e qual
Moçambique no ordenamento jurídico português assim como brasileiro os legisladores
salvaguardam o conhecimento da dignidade da pessoa humana14.

Assim, podemos encontrar ainda nesta mesma legislação outros direitos fundamentais
como sejam a proteção do direito à identidade pessoal, ao desenvolvimento da personalidade,
à capacidade, ao bom nome, à reserva da vida privada e familiar, ou a proteção contra
quaisquer formas de discriminação15.

Face ao exposto fica evidente que toda pessoa idosa abandonada pelos seus familiares
encontra protecção na Constituição da República dai que o legislador português garante no
artigo 72 uma proteção as pessoas da terceira idade e busca sempre meios judiciários para
responsabilizar todos os infractores.

Já no Brasil a questão das pessoas idosas são tuteladas por vários diplomas legais tendo até
um estatuto que visa garantir maior proteção a esta classe social que muitas das vezes vê seus
direitos organizados. O Estatuto do Idoso é destinado a regular os direitos assegurados às
pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.

O artigo 2 O idoso goza de todos os direitos


fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo
da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-
se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, para preservação de sua
saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral,

14
Cfr artigo 25 da Constituição da Republica de Portugal
15
Cfr artigo 26 da Constituição da Republica de Portugal

25
intelectual, espiritual e social, em condições de
liberdade e dignidade. (Brasil, 2003).

No que concerne a eficácia vertical e horizontal dos direitos do idoso, o Estatuto diz
no artigo 10 que ―é obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a
liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos,
individuais e sociais, garantidos na Constituição e nas demais leis.

Desta forma o Estatuto do Idoso prevê a garantia do atendimento preferencial,


imediato e individualizado junto aos órgãos públicos e privados prestadores de serviço à
população. São justamente nesses locais que há os pictogramas que definem a pessoa do
idoso. Garante-se o direito de prioridade sem, no entanto, garantir o direito de imagem.

26
CONCLUSÃO

Chegados a este ponto importa referir que o presente trabalho teve como objectivo
analisar a eficácia da responsabilidade civil dos filhos por abandono dos pais idosos em
Moçambique, onde pudemos perceber que no decorrer dos anos a questão do abandono das
pessoas idosas pelos seus familiares vem ganhando destaque na sociedade moçambicana.

Com o presente trabalho, foi possível observar os grandes problemas que são causados
na vida dessas pessoas idosas que muitas das vezes sofrem pela falta de respeito, cuidado,
zelo e amparo.

Indubitavelmente a Constituição da República de Moçambique (2004) trouxe em seu


bojo protecção aos mais vulneráveis as crianças e idosos. Podemos ainda perceber que a
família passou a ser considerada no contexto actual como a base da sociedade, uma vez que é
o primeiro agente socializador do indivíduo. Com da Constituição da Republica de
Moçambique (2004) há maior protecção a pessoa idosa no que se refere aos seus direitos
fundamentais. Assim, a transição da família evoluiu para uma compreensão solidaria e
efectiva sendo que o instituto de família orientado pelo Código Civil.

Além da Constituição da República de Moçambique (2004), do Código Civil e da Lei


n.º 22/2019 de 11 de Dezembro (Lei da Família) as pessoas idosas também possuem tutela
protetiva na Lei 3/2014 de 5 de Fevereiro - Lei da Promoção e Protecção dos Direitos da
Pessoa Idosa.

Relactivamente as hipóteses formuladas na introdução desta pesquisa pudemos


perceber que no contexto moçambicano não há uma efectiva responsabilização civil dos filhos
por abandando dos pais idosos.

Com este trabalho pudemos demostrar que é dever dos filhos prestar assistência aos
seus pais idosos ou mesmo em caso de necessidade, garantindo-os uma vida segura e
adequada, devendo assim o descumprimento desse cuidado gerado pelo abandono ser
responsabilizado.

27
Ao se violar o dever da assistência dos pais e estando presente os elementos
caracterizadores da responsabilização civil está concretizada o dano no qual é imprescindível
o dever de reparação.

Assim, em jeito de conclusão podemos frisar que o presente trabalho não buscou
trazer a imposição da obrigação de ama, mas sim o dever de cuidar estabelecido por lei. Ficou
ainda evidente que os filhos podem ser responsabilizados quer civilmente assim como
criminalmente pelo abandono dos seus pais uma vez que essa pratica tem gerado grandes
danos aos seus pais sejam eles materiais assim como morais.

Dessa forma, diante de todo o exposto ao longo do presente estudo, conclui-se pela
possibilidade da responsabilização civil dos pais por abandono afectivo, não como medida de
reparação por um afeto que em verdade já não existe ou nunca existiu, mas como forma de
conscientização desses pais no papel que desempenham na vida dos filhos em formação.

O afecto em si não pode ser calculado em valor monetário, mas a omissão e


negligência dos pais na criação e educação dos filhos, bem como o descumprimento do dever
de cuidado, a inexistência de uma paternidade-maternidade responsável, a supressão do
direito à convivência familiar e o desrespeito à personalidade e dignidade humana do infante,
caracterizam atos ilícitos e, portanto, são passíveis de reparação por dano moral.

28
RECOMENDAÇÕES

Diante do problema levantado e dos objectivos do trabalho podemos deixar as seguintes


recomendações para que o legislador assim como os académicos possam fazer novos estudos
relactivamente a responsabilização dos filhos por abandono dos seus pais.

 Há uma forte necessidade de se ter uma educação cívica dos filhos sobre a questão da
solidariedade familiar sendo esse princípio a base fundamental da protecção da pessoa
idosa.

 Que o Governo e o Legislador adotem as medidas de responsabilização dos filhos por


abandono efectivo dos pais uma vez que essas medidas são quase que inexistentes.

29
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICA

COELHO, Fábio Ulhoa, (2012) Curso de direito civil, volume 2: obrigações: responsabilidade
civil. 5. ed. São Paulo, Saraiva,

DINIZ, Maria Helena. (2001) Curso de Direito Civil Brasileiro. São Paulo, Saraiva,

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro – Direito de Família. VI v. São


Paulo: Saraiva, 2005.

GIL, A.C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6º ed. São Paulo: Atlas, 2008.

GOMES, Orlando. Direito Civil: Direito de Família. 14 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001

CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. 4 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 2

LOPES, Alexandra Viana Parente, Divórcio e Responsabilidades Parentais (Algumas


reflexões sobre a aplicação do novo regime), Revista do Centro de Estudos Judiciários, 1.º
semestre de 2009, n.º 11, Coimbra;

PORTO, Sérgio Gilberto. USTÁRROZ, Daniel. Tendências constitucionais no direito de


família. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003.

ROQUE, Hélder, Os Conceitos Jurídicos Indeterminados em Direito da Família e a sua


Integração, Revista Lex Familiae, Ano 2, n.º 4, Coimbra Editora, 2005;

ii. Diplomas Legais - Legislações

MOÇAMBIQUE. Constituição (2004). Constituição da República de Moçambique. Maputo:


Imprensa Nacional, 2008.

MOÇAMBIQUE. 10/2004 de 25 de Agosto – Lei da Família. Maputo: Fundação para o


Desenvolvimento da Comunidade, 2009.

MOÇAMBIQU - Lei 3/2014 de 5 de Fevereiro - Lei da promoção e protecção dos Direitos da


Pessoa Idosa

30
Apêndice- Questionário

Perguntas direcionadas aos entrevistados sobre abandono afetivo.

1- Qual é sua Idade

2- Sexo

3- A quanto Tempo Vive no asilo

4- Quantos Filhos Tem

5- Recebe Visita dos seus Filhos ou Familiar

6- Como vítima de abandono, tem conhecimento sobre a possibilidade à indenização por


danos morais em face de seus filhos?

8- Como lidou com o abandono durante a sua vida até o momento?

9- O abandono afetivo lesou-a (o) em suas relações interpessoais?

10- Porquê na sua óptica seus filhos o abandoram

31

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