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Monografia Celia - Retificado
Monografia Celia - Retificado
UNIVERSIDADE WUTIVI
FACULDADE DE DIREITO
CURSO DE DIREITO
Tema:
Tema:
i
AGRADECIMENTO
Agradeço, primeiramente, a Deus, pela vida, por todas as dificuldades que pôs em meu caminho,
sem as quais não teria me tornado quem sou hoje.
Aos meus pais, que são os alicerces da minha vida. Sem eles, nada disso seria possível. Obrigada
pelo amor incondicional, pela paciência, carinho e principalmente pelo apoio diário.
A minha filha, Obrigada pela compreensão da ausência e por me ensinar o imenso amor que uma
irmã pode sentir por um irmão.
Por fim, agradeço a Professora Loredana, pela orientação, palavras de incentivo e por ser sempre
tão receptiva.
ii
UNIVERSIDADE WUTIVI
DIRECÇÃO PEDAGÓGICA
CURSO DE DIREITO
DECLARAÇÃO
Declaro por minha Honra que esta monografia que no presente momento submeto a Universidade
wutivi, em cumprimento dos requisitos para a obtenção do grau de licenciatura em direito, nunca
foi apresentada para a obtenção de qualquer outro grau académico e que constitui o resultado da
minha investigação pessoal, tendo indicado no texto e na bibliografia as fontes que utilizei
O supervisor
A candidata
____________________________ ___________________________
iii
RESUMO
O presente trabalho tem como objecto analisar a eficácia da responsabilidade civil dos filhos por
abandono dos pais idosos em Moçambique. Todavia para o alcance desse objectivo como
metodologia optamos por uma abordagem bibliográfica que consistiu na leitura e interpretação dos
mecanismos legais existentes sobre a matéria em análise. Desta pesquisa podemos constatar que
mesmo que a questão da solidariedade familiar no contexto moçambicano a responsabilização dos
filhos é que inexistente. Desta forma percebemos ainda que se necessita maior efectividade nos
instrumentos protetivos para os pais em situação de vulnerabilidade.
iv
ABSTRACT
The present work aims to analyze the effectiveness of children's civil liability for abandonment of elderly
parents in Mozambique. However, in order to achieve this objective as a methodology, we opted for a
bibliographic approach that consisted of reading and interpreting the existing legal mechanisms on the
matter under analysis. From this research we can see that even though the issue of family solidarity in the
Mozambican context, the accountability of children is non-existent. In this way, we also realize that greater
effectiveness is needed in the protective instruments for vulnerable parents.
v
Índice
DEDICATÓRIA .............................................................................................................................. i
AGRADECIMENTO ...................................................................................................................... ii
DECLARAÇÃO ............................................................................................................................ iii
RESUMO ....................................................................................................................................... iv
ABSTRACT .................................................................................................................................... v
CAPITULO I – INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1
1.1 Contextualização ....................................................................................................................... 1
1.2. Problema da Pesquisa .............................................................................................................. 3
1.3 Justificativa ............................................................................................................................... 4
1.4 Objectivo Do Estudo ............................................................................................................ 4
1.4.1 Objectivo geral ..................................................................................................................... 4
1.4.2 Objectivo específicos ........................................................................................................... 4
1.5 Hipóteses .............................................................................................................................. 5
1.6 Estrutura do Trabalho .......................................................................................................... 5
CAPITULO II. REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................. 6
2.1 Definição de Conceitos ............................................................................................................. 6
2.1.1 Família ................................................................................................................................... 6
2.1.2 Pessoa Idosa ........................................................................................................................... 7
2.1.3 Responsabilidade ................................................................................................................... 8
2.1.4 Filiação ................................................................................................................................... 9
2.1.5 Abandono ............................................................................................................................... 9
2.2 Protecção da Pessoa Idosa no Ordenamento Jurídico Moçambicano ..................................... 10
2.3 Responsabilidade Civil ........................................................................................................... 12
2.4 Pressupostos da Responsabilidade Civil ................................................................................. 13
2.5 Relação Jurídica Entre Pai e Filho .......................................................................................... 15
2.6 Responsabilidade na relação jurídica entre Pais e Filhos ....................................................... 16
CAPITULO III. METODOLOGIA DE PESQUISA .................................................................... 17
3.1 Tipo de Pesquisa ..................................................................................................................... 17
3.2 Amostra e Procedimentos ....................................................................................................... 18
vi
CAPITULO III – EFICÁCIA DA A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS FILHOS POR
ABANDONO DOS PAIS IDOSOS EM MOÇAMBIQUE .......................................................... 19
4.1 Apresentação do Perfil dos Inqueridos ................................................................................... 19
4.1.1 Quanto ao Género ................................................................................................................ 19
4.1.2 Quanto a Idade ..................................................................................................................... 20
4.1.3 Quanto ao Numero de Filho ................................................................................................. 21
4.2 Conhecimento sobre o principio de Solidariedade Familiar ................................................... 22
4.3 A quanto Tempo foi abandonado pelos seus Filhos ............................................................... 23
4.4 Quanto a Possibilidade da responsabilidade civil dos filhos pelo abandono dos pais ............ 24
4.5 Da proteção jurídica dos pais idosos no Direito Comparado .................................................. 25
CONCLUSÃO .............................................................................................................................. 27
RECOMENDAÇÕES ................................................................................................................... 29
Referencias Bibliográfica.............................................................................................................. 30
Apêndice- Questionário ................................................................................................................ 31
vii
CAPITULO I – INTRODUÇÃO
1.1 Contextualização
O nosso trabalho tem como tema “A Responsabilização Civil dos Filhos pelo
Abandono dos Pais Idosos na legislação Moçambicana”, sendo que o mesmo enquadra-se
dentro dos requisitos institucionais da Faculdade de Direito da Universidade Wutive para a
aquisição do grau de Licenciatura em Direito.
Versar sobre essa temática no contexto social moçambicano se apresenta como uma
questão um pouco polémica na área jurídica, e esse problema se destaca como decorrente de
alguns valores sociais e culturais que a sociedade possui sobre a ideia ou o conceito de
família, no que tange ao reconhecimento do dever de cuidar como sendo um valor ou
princípio de solidariedade dentro da relação familiar.
1
divorciam e há um distanciamento físico e afectivo de um dos pais com relação a criança,
destacando-se sobremaneira o abandono paterno. Não obstante, também é comum o abandono
dos pais pelos filhos maiores, quando os mesmos abandonam seus progenitores em sua
velhice.
É facto que a família é o porto seguro de todo ser humano, desde o nascimento, é o
primeiro referencial da socialização e de estabelecimento de vínculos, sendo responsável pelo
equilíbrio físico, psíquico e afectivo, e quando há ausência ou rompimento desse laço, cria-se
um vazio, uma sensação de desamparo total.
Todavia esse dever ainda é alvo de grande controvérsia. Assim, o presente trabalho
busca fazer uma análise mais profunda da responsabilidade civil dos filhos perante os pais
idosos por abandono.
1
Conceito de alimento segundo o Artigo 417 da Lei n.º 22/2019 de 11 de Dezembro (Lei da Família) 1. Por
alimentos entende-se tudo o que é indispensável à satisfação das necessidades da vida do alimentado,
nomeadamente, o seu sustento, habitação, vestuário, saúde e lazer. 2. Os alimentos compreendem também a
instrução e educação do alimentado no caso de este ser menor ou, ainda que maior, se encontrar na situação
descrita no artigo 295 da presente Lei.
2
A Constituição da República de Moçambique (2004) tendo em vista a maior protecção
da pessoa idosa estabeleceu ser responsabilidade do Estado, da sociedade e da família, a
proteção dessas pessoas. Todavia podemos perceber que no contexto social moçambicano
nem sempre existe a possibilidade (ou o cuidado) dos familiares com relação a seus idosos
facto esse que faz com que na maioria das vezes muitos deles sejam esquecidos e deixados a
sorte.
3
1.3 Justificativa
Versar sobre a responsabilização civil dos filhos pelo abandono dos pais idosos na
legislação moçambicana se justifica por três grandes questões, sendo que a primeira razão é
do domínio académico uma vez que acreditamos que este trabalho poderá ajudar a contribuir
para as futuras pesquisas sobre matéria.
A segunda razão para a realização desta pesquisa reside no domínio social uma vez
que são frequentes casos de abandono de pais por filhos no contexto moçambicano facto esse
que fez com que a pesquisadora desse trabalho tivesse um certo interesse em contribuir com
esta temática para a sociedade, visto que é crescente o número de abandono afectivo.
Assim, é possível perceber que o afecto passou a ter valor jurídico e até mesmo
económico, gerado quando há um descumprimento do dever de cuidado, como ocorre com os
pais que abandonam seus filhos e também quando estes abandonam seus pais, no momento da
vida em que estão vulneráveis e dependentes economicamente.
Analisar a eficácia jurídica da responsabilidade civil dos filhos por abandono dos pais
idosos em Moçambique.
4
1.5 Hipóteses
H1: No contexto moçambicano há uma efectiva responsabilização civil dos filhos por
abandando dos pais idosos.
H2: No contexto moçambicano não há uma efectiva responsabilização civil dos filhos por
abandono dos pais idosos.
E por fim, no quarto capítulo tratamos sobre discussão e apresentação dos resultados em
relação a questão da responsabilidade civil dos filhos por abandono dos pais no direito
comparado. Neste mesmo capítulo analisaremos a eficácia da responsabilidade civil dos filhos
por forma a responder os objectivos da pesquisa.
5
CAPITULO II. REVISÃO DA LITERATURA
2.1.1 Família
De todo modo, é possível notar que o Direito de Família encontra sua natureza jurídica
no direito privado. Ademais, o estabelecimento de normas de cunho impositivo, demonstra de
certa forma, a tentativa de supervisão, por parte do Estado, acerca dos atos praticados nesse
âmbito, a fim de consolidar a ideia de que as normas estabelecidas no Direito de Família
devem ser inteiramente cumpridas.
6
O instituto família ao longo da história da humanidade sofreu diversas mudanças
como consequências da evolução dos costumes. Assim a conceitualização do que vem a ser
família no contexto actual tornou-se algo difícil de definir uma vez que essa é a forma mais
básica e rudimentar de um agrupamento social desde os primórdios da humanidade.
Ainda na perspectiva desse autor o conceito de família pode ser visto no sentido amplo
assim como no sentido lato senso, sendo que no primeiro sentido a família seria aquela em
que os indivíduos estão ligados pelo vínculo de consanguidade ou de afinidade. Já no segundo
sentido do conceito refere-se aquela formada “além dos cônjuges ou companheiros, e de seus
filhos, abrange os parentes da linha reta ou colateral, bem como os afins (os parentes do outro
cônjuge ou companheiro).
7
Com a definição da Resolução nº 84/2002 (GdM 2002), fica evidente que este
conceito teve como base a questão etária indo ao encontro da perspectiva da Organização das
Nações Unidas (ONU), onde se preconiza que o limite etário mínimo quando a questão se
referi ao conceito da pessoa idosa devera ser de 60 anos. Segundo essa perpectiva acredita-se
que este é aquele que melhor espelha a realidade verificada num maior número de países no
continente africano.
2.1.3 Responsabilidade
O termo responsabilidade tem sua origem no verbo responsus que esta conjugado no
particípio passado de responder. Assim o conceito de responsabilidade nos remete a ideia de
responder ou mesmo prestar contas pelos seus próprios actos.
8
2.1.4 Filiação
2.1.5 Abandono
Para conceituar o abandono pode dizer-se que nada mais é que negligência, ausência
dos pais na vida dos filhos e neste caso concreto ausência dos filhos na vida dos pais. Deve
levar em conta que ao abandonar um pai idoso é de certa forma a falta de comprometimento
da solidariedade familiar sendo que a justiça oferece o direito a alimentos3.
2
RODRIGUES, S.(2004) Direito Civil. 28 ed. v. 6. São Paulo: Saraiva, p 297
3
Segundo o artigo n.º 411º Lei n.º 22/2019 de 11 de Dezembro (Lei da Família) os alimentos podem assumir a
natureza de definitivos ou provisórios, sendo que estes últimos se destinam a obstar que o menor, enquanto não
lhe forem atribuídos alimentos definitivos, se veja privado dos meios que necessita para conseguir viver com
dignidade. Deste modo, os alimentos devidos a menor compreendem tanto as quantias necessárias à sua
instrução e educação, como as quantias necessárias para prover o seu sustento, habitação, vestuário, saúde e
segurança, competindo a ambos os pais prestar esses alimentos
9
Assim, face a questão do abandono, Lobo4 acredita que ao tratar do abandono em
todas as suas formas há um dever imposto aos pais em relação os seus filhos menores e
incapacitados assim como dos filhos aos seus pais idosos, ainda que haja desamor ou
desafeição entre eles”
Percebemos assim haver uma certa posição jurídica da pessoa idosa; o âmbito e
sentido do direito à educação, a habitação, a assistência médica enquanto direitos
fundamentais; o modo de interpretação dos direitos fundamentais, caso do direito à educação;
e demais preceitos que directa ou indirectamente conferem dignidade as pessoas idosas.6
Essa posição jurídica tem como fundamento a questão da igualdade de todos perante a
lei, a situação social, económica e politica como podemos ler:
4
LOBO, P.(2008) Direito Civil: Famílias. 4.ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
5
Os preceitos constitucionais relativos aos direitos fundamentais são interpretados e integrados de harmonia com
a Declaração Universal dos Direitos do Homem e a Carta Africana dos Direitos (artigo 46 da CRM)
6
Cfr artigo 35 e 124 da Constituição da República de Moçambique de 2004
10
religião, grau de instrução, posição social,
estado civil dos pais, profissão ou opção
política”7
Assim, fica claro que é neste normativo que se encontra salvaguardado outros direitos
fundamentais, como sejam a protecção do direito a identidade pessoal, ao desenvolvimento da
personalidade à capacidade, ao bom nome â reserva da vida privada e familiar ou protecção
contra qualquer forma de discriminação.
De uma forma específica quando a questão é a pessoa idosa podemos ainda perceber
que para além dos direitos fundamentais ele tem alguns direitos que devem ser observados
como podemos ler:
7
Cfr Artigo 35 da Constituição da República de Moçambique de 2004
8
Cft artigo 125 da Constituição da Republica de Moçambique de 2004
11
2.3 Responsabilidade Civil
Desse modo, este capítulo tem como objetivo assinalar aspectos importantes acerca
da responsabilidade civil, descrevendo seu histórico e conceituação, relatando,
posteriormente, as diferenças entre as teorias da responsabilidade extracontratual subjetiva
e objetiva. Assim, para uma melhor compreensão do instituto em apreço, serão abordados
os pressupostos da responsabilidade civil subjetiva, bem como os parâmetros para a fixação
da indenização.
9
COELHO, Fábio Ulhoa, (2012) Curso de direito civil, volume 2: obrigações: responsabilidade civil. 5. ed. São
Paulo, Saraiva,p. 22
12
É uma verdade que a teoria da culpa trazida pela legislação francesa não respondeu
com o passar do tempo os novos casos concretos que foram surgindo em diversos contextos
facto que fez com que novas teorias de culpa surgissem. Tais teorias são amparadas em várias
legislações mundiais, sem, contudo, fazer desaparecer totalmente a teoria clássica da culpa, o
que ocorreu inclusive com o Código Civil Moçambicano.
A responsabilidade civil pode ser objectiva assim como pode ser subjectiva, no que se
refere ao instituo da responsabilidade civil por abandono dos pais no ordenamento jurídico
moçambicano.
A responsabilização civil por danos pressupõe alguns factos, uma vez que todos os
actos ilícitos são aqueles que contrariam as normas objectivas do ordenamento jurídico
lesando desde modo o direito subjectivo de alguém.
Nesta lógica faz nascer à obrigação de reparar o dano de que se pode ler no artigo 483
do Código Civil Moçambicano (CC) vigente: “Aquele que, por acção ou omissão voluntaria,
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete acto ilícito” assim estamos diante de um acto ilícito.
Como verificamos anteriormente, não se pode falar de uma responsabilidade civil sem
dano, assim o ónus de prova cabe a pessoa que invoca tal direito. Dessa forma, fica evidente
que o dano é o elo de imputação da responsabilidade civil, e torna importante as
consequências que a partir dela possa advir.
Tendo como base a questão do abandono dos pais pelos filhos no contexto
moçambicano, vários são os danos que são causados a esses pais, seja por acção, omissão ou
13
mesmo por negligencia por parte dos seus filhos, que por culpa exclusiva dos filhos muitas
vezes são privados dos seus direitos fundamentais e sendo dever da família o de cuidar, dai
que havendo a violação desse dever, é possível despoletar o instituto da responsabilidade
civil.
Face ao tema em analise é possível ter elementos suficientes para responsabilizar os filhos
pelo abandono dos pais idosos pois o Código Civil Moçambicano estabelece que “aquele que,
com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição legal
destinada a proteger interesses alheios fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos
resultantes da violação11”.
10
DINIZ, Maria Helena.(2001) Curso de Direito Civil Brasileiro. São Paulo, Saraiva,,p22
11
Cfr artigo 483 Código Civil Moçambicano
14
2.5 Relação Jurídica Entre Pai e Filho
A questão da relação jurídica entre os pais e os filhos tem sua base jurídica na ideia de
filiação e paternidade. Assim segundo Gonçalves (2012, p.318):
A lei prevê a especial obrigação a cargo dos progenitores de proverem ao sustento dos
filhos cujo conteúdo repousa nos vínculos da filiação e nos poderes-deveres incluídos nas
responsabilidades parentais. O dever de assistência entre pais e filhos tem duas vertentes
como podemos observar no artigo 258 da Lei n.º 22/2019 de 11 de Dezembro - Lei da Família
Com esta informação fica assim evidente que relativamente nesta relação tanto o pai
assim como filho têm obrigação e dever de se cuidar mutuamente sendo esses um principio de
solidariedade familiar.
15
2.6 Responsabilidade na relação jurídica entre Pais e Filhos
Sendo que, este quantitativo há-de ter em conta todos os critérios legais, decorrentes
dos artigos 2003 e seguintes do Código Civil, como sejam as necessidades do menor, as
possibilidades deste de proceder à sua subsistência e as capacidades dos pais – ambos os pais.
Acresce que, as referidas normas devem ser interpretadas à luz da nossa Constituição,
mormente o disposto no seu artigo 120º n.º 3, sob pena da tutela da solidariedade familiar
esvaziar de sentido o princípio de que é aos pais a quem incumbe, primacialmente, a
obrigação de educar, sustentar e manter os seus filhos.
16
CAPÍTULO III. METODOLOGIA DE PESQUISA
A definição do tipo de pesquisa utilizada faz-se necessária como uma forma de buscar por
meio de um processo de investigação do tema então, vejamos:
O trabalho teve como abordagem mista, isto é, houve uma conciliação entre a
abordagem qualitativa e quantitativa o que nos permitiu aprofundar melhor o trabalho em
analise, não se pretendeu enumerar ou medir unidades ou categorias homogéneas.
17
contextos. Com o intuito de alcançar a finalidade pretendida pelo estudo, será adotado o
método de pesquisa dedutivo, que, de acordo com Pereira, J. (2016), usa o raciocínio, partindo
da análise geral para a particular, a fim de chegar a uma conclusão. Para tanto, como
procedimentos técnicos, serão utilizadas técnicas bibliográficas, fundadas em referencial
teórico que envolve doutrina, artigos de periódicos e materiais de estudiosos da área
encontrados em sites especializados, e documentais, com o uso de legislação,
Como forma de recolher os dados para essa pesquisa optamos por um questionário
com perguntas abertas para os primeiros 15 elementos que participaram desse estudo, e para
os restantes 15 elementos dessa pesquisa sendo todos idosos optamos em fazer uma entrevista
semiestruturada12.
12
neste tipo de entrevistas o entrevistador pergunta para os diversos entrevistados uma mesma série de perguntas
pré-estabelecidas, ficando o entrevistador preso ao enunciado específico no roteiro da entrevista: ele não é livre
de adaptar suas perguntas à situação específica, de modificar a ordem dos tópicos ou de fazer perguntas Gil A.C
(2008) Metodos e Tecnicas de Pesquisa Social São Paulo Atlas
18
CAPÍTULO III – EFICÁCIA DA A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS FILHOS POR
ABANDONO DOS PAIS IDOSOS EM MOÇAMBIQUE
Relactivamente ao género dos que participaram dessa pesquisa o gráfico 1 nos mostra
que 30% são do género masculino e 70% são do género feminino. Desses dados ficou
evidente a existência de maior prevalência de mulheres (mães idosas) abandonadas pelos seus
filhos por vários motivos quando comparados com os de género masculino.
19
4.1.2 Quanto a Idade
A escolha desses intervalos de idade foi intencional uma vez que permitiram a
pesquisadora alcançar um dos objectivos específicos desta pesquisa sendo que por meio dessa
divisão foi possível colher dos jovens o seu sentimento em relação a obrigação constitucional
de cuidar os seus pais em caso de velhice bem como em caso de incapacidade.
Por outro lado, permitiu perceber dos pais (pessoas idosas) o sentimento em relação a
legislação que os protege em relação ao direito a alimento um direito fundamental consagrado
constitucionalmente em Moçambique e que é dever da família, da sociedade e do estado
garantir a efectiva realização.
20
4.1.3 Quanto ao Número de Filho
Com estes dados podemos perceber que a soma dos que tem filhos em um total de 30
participantes perfaz 99% facto esse que nos remete a uma situação da relação jurídica
existente entre os pais e os filhos que se assenta no princípio de solidariedade famíliar como
esta prevista na lei13
13
Cfr: artigo 258 da Lei n.º 22/2019 de 11 de Dezembro - Lei da Família - 1. Os pais e filhos devem-se
mutuamente respeito, cooperação, auxílio e assistência. 2. O dever de assistência compreende a obrigação de
prestar alimentos e a de contribuir, durante a vida em comum, para os encargos da vida familiar, de acordo com
21
4.2 Conhecimento sobre o princípio de Solidariedade Familiar
Ainda sobre este ponto de solidariedade familiar a lei prevê que os alimentos serão
proporcionados aos meios daqueles que houver de presta-los e à necessidade de aqueles que
haver de recebe-los.
os recursos próprios. 3. Os filhos devem assistir os pais sempre que estes careçam de alimentos nos termos do
disposto nos artigos 417 e seguintes da presente Lei.
22
4.3 A quanto Tempo foi abandonado pelos seus Filhos
Questionados sobre o abandono, das causas, motivações entre outros factores pudemos
perceber que 80% dos inquiridos tem já mais de 2 anos em que foi deixado a sorte pelos seus
filhos e desses 80% afirmaram sofrer muita discriminação por parte dos familiares assim
como por parte dos filhos.
Assim, 20% dos idosos inquiridos tem menos de 2 anos que foram abandonados,
todavia os dados nos revelam que as causas de abandono são na maioria das vezes acusados
de serem promotores da infelicidade dos filhos.
Com estes dados ficou ainda evidente que as questões do abandono no contexto
moçambicano ocorrem muitas das vezes após os filhos constituírem novos lares. Pois esses
acreditam não terem nenhuma obrigação perante aos pais idosos limitando-se a cuidar da
esposa e dos seus filhos.
Nesta lógica, todos preceitos constitucionais estão sendo violados cabendo aos lesados
despoletar o instituto da responsabilidade civil e até criminal em caso de discriminação e
maus tratos.
23
4.4 Quanto a Possibilidade da responsabilidade civil dos filhos pelo abandono dos pais
24
4.5 Da proteção jurídica dos pais idosos no Direito Comparado
Assim, podemos encontrar ainda nesta mesma legislação outros direitos fundamentais
como sejam a proteção do direito à identidade pessoal, ao desenvolvimento da personalidade,
à capacidade, ao bom nome, à reserva da vida privada e familiar, ou a proteção contra
quaisquer formas de discriminação15.
Face ao exposto fica evidente que toda pessoa idosa abandonada pelos seus familiares
encontra protecção na Constituição da República dai que o legislador português garante no
artigo 72 uma proteção as pessoas da terceira idade e busca sempre meios judiciários para
responsabilizar todos os infractores.
Já no Brasil a questão das pessoas idosas são tuteladas por vários diplomas legais tendo até
um estatuto que visa garantir maior proteção a esta classe social que muitas das vezes vê seus
direitos organizados. O Estatuto do Idoso é destinado a regular os direitos assegurados às
pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
14
Cfr artigo 25 da Constituição da Republica de Portugal
15
Cfr artigo 26 da Constituição da Republica de Portugal
25
intelectual, espiritual e social, em condições de
liberdade e dignidade. (Brasil, 2003).
No que concerne a eficácia vertical e horizontal dos direitos do idoso, o Estatuto diz
no artigo 10 que ―é obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a
liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos,
individuais e sociais, garantidos na Constituição e nas demais leis.
26
CONCLUSÃO
Chegados a este ponto importa referir que o presente trabalho teve como objectivo
analisar a eficácia da responsabilidade civil dos filhos por abandono dos pais idosos em
Moçambique, onde pudemos perceber que no decorrer dos anos a questão do abandono das
pessoas idosas pelos seus familiares vem ganhando destaque na sociedade moçambicana.
Com o presente trabalho, foi possível observar os grandes problemas que são causados
na vida dessas pessoas idosas que muitas das vezes sofrem pela falta de respeito, cuidado,
zelo e amparo.
Com este trabalho pudemos demostrar que é dever dos filhos prestar assistência aos
seus pais idosos ou mesmo em caso de necessidade, garantindo-os uma vida segura e
adequada, devendo assim o descumprimento desse cuidado gerado pelo abandono ser
responsabilizado.
27
Ao se violar o dever da assistência dos pais e estando presente os elementos
caracterizadores da responsabilização civil está concretizada o dano no qual é imprescindível
o dever de reparação.
Assim, em jeito de conclusão podemos frisar que o presente trabalho não buscou
trazer a imposição da obrigação de ama, mas sim o dever de cuidar estabelecido por lei. Ficou
ainda evidente que os filhos podem ser responsabilizados quer civilmente assim como
criminalmente pelo abandono dos seus pais uma vez que essa pratica tem gerado grandes
danos aos seus pais sejam eles materiais assim como morais.
Dessa forma, diante de todo o exposto ao longo do presente estudo, conclui-se pela
possibilidade da responsabilização civil dos pais por abandono afectivo, não como medida de
reparação por um afeto que em verdade já não existe ou nunca existiu, mas como forma de
conscientização desses pais no papel que desempenham na vida dos filhos em formação.
28
RECOMENDAÇÕES
Há uma forte necessidade de se ter uma educação cívica dos filhos sobre a questão da
solidariedade familiar sendo esse princípio a base fundamental da protecção da pessoa
idosa.
29
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICA
COELHO, Fábio Ulhoa, (2012) Curso de direito civil, volume 2: obrigações: responsabilidade
civil. 5. ed. São Paulo, Saraiva,
DINIZ, Maria Helena. (2001) Curso de Direito Civil Brasileiro. São Paulo, Saraiva,
GIL, A.C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6º ed. São Paulo: Atlas, 2008.
GOMES, Orlando. Direito Civil: Direito de Família. 14 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001
CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. 4 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 2
30
Apêndice- Questionário
2- Sexo
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