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O sequestro da Independência

Lilia Moritz Schwarcz


Domínio público/ Wikimedia Commons
resumo abstract

O objetivo deste artigo é rever a The objective of this article is to review


“lenda dourada da Independência”, the “golden legend of the independence”,
que toma o final pelo começo: a saída which takes the ending by the beginning:
conservadora e monárquica como se the conservative and monarchical exit
fosse um dado inevitável. Não era, as an unavoidable fact. It was not, and
e vale a pena estruturar as bases it is worth structuring the bases of this
dessa interpretação muito calcada na interpretation, very much based in the
experiência do Sudeste – em especial experience of the Southeast – especially
Rio de Janeiro e São Paulo – e na Rio de Janeiro and São Paulo – and in the
elaboração da tela de Pedro Américo, elaboration of Pedro Américo’s painting,
chamada Independência ou morte, que called Independência ou morte which
foi, na verdade, um presente de filho was, actually, a gift from son to father;
para pai; uma tentativa de elevar a an attempt to elevate the monarchy in a
monarquia num momento de crise e moment of crisis and which would result
que resultaria no seu final. in its end.

Palavras-chave: Independência do Brasil; Keywords: Brazil’s independence; Pedro


Domínio público/ Wikimedia Commons

Pedro Américo; monarquia. Américo; monarchy.


O
HABEMOS INDEPENDÊNCIA guardou uma pintura, criada muitos anos
depois do evento de 1822, como uma espé-
cie de testemunho, um documento visual
processo de Indepen- do ato de separação com a metrópole.
dência brasileiro foi Trata-se da tela de Pedro Américo cha-
no mínimo paradoxal, mada Independência ou morte, entregue
ainda mais quando ao Estado brasileiro apenas em 1888: um
comparado com o de ano antes da Proclamação da República.
seus vizinhos latino- O momento não era o mais adequado, e
-americanos. O Brasil a obra teve que ficar fechada durante um
se transformava numa bom tempo. Todavia, a saga do trabalho
quase anomalia: num seria diferente. A pintura seria largamente
império cercado de explorada em vários momentos de nossa
repúblicas por todos os história, sobretudo nos anos da ditadura
lados. Também foi, no militar, que celebrou os 150 anos da Inde-
mínimo, singular, diga- pendência como se fosse um mérito seu,
mos assim, a “lenda da Independência”
criada retrospectivamente. Nela, assegu-
rava-se um processo contínuo, como se
Este artigo é em parte pautado no livro Brasil: uma
fosse destino certo, cujo ponto de partida biografia (São Paulo, Companhia das Letras, 2014), que
era a elevação da colônia a Reino Unido escrevi em coautoria com Heloisa Starling.

de Portugal, Brasil e Algarves em 1815,


quando a família real portuguesa, fugida
das tropas de Napoleão Bonaparte, mudou-
-se provisoriamente para sua rica colô- LILIA MORITZ SCHWARCZ é professora do
Departamento de Antropologia da FFLCH/USP
nia tropical. Para completar, vale destacar e autora de, entre outros, Lima Barreto: triste
como a recepção futura do 7 de setembro visionário (Companhia das Letras).

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e vinculou a figura fardada do príncipe 1816, preparava-se para ser sagrado rei
Pedro I aos uniformes do Exército. A de Portugal, do Brasil e Algarves, com
obra ajudou a criar, assim, um projeto o título de d. João VI, tudo em plena
de passado: um passado fardado. colônia tropical (Lima, 1997, p. 21).
O objetivo deste artigo é, pois, rever No entanto, em pouco tempo a situa-
essa “lenda dourada da Independência”, ção mudaria completamente. No Brasil,
que toma o final pelo começo: a saída insurreições como as de Minas em 1789,
conservadora e monárquica como se fosse a da Bahia em 1798 e a de Pernambuco
um dado inevitável. Não era, e vale a em 1817, entre outras, revelaram como
pena estruturar as bases dessa interpre- os anseios por emancipação animavam
tação muito calcada na experiência do modelos que começavam a ganhar um
Sudeste – em especial Rio de Janeiro colorido local, a despeito das propostas
e São Paulo – e na elaboração de uma serem profundamente diferentes. A essas
tela que foi, na verdade, um presente de alturas, a América inglesa estava pra-
filho para pai; uma tentativa de elevar a ticamente independente, afora as ilhas
monarquia num momento de crise e que do Mar das Caraíbas, a Guiana equato-
resultaria no seu final. rial e o domínio gelado do Canadá. Na
América espanhola, com exceção das
Antilhas, a Independência já se deli-
ECOS DO ATLÂNTICO neava como realidade.
Ares revolucionários começavam a
Em 1814 a periclitante situação polí- soprar também na própria metrópole por-
tica europeia, tão marcada por anos de tuguesa. Nos primeiros tempos da invasão
guerra, parecia finalmente normalizada: francesa, em 1807, e sobretudo após o
foi nesse ano que se deram os últimos momento em que d. João declarara guerra
confrontos entre forças aliadas e francesas a Napoleão, em 1º de maio de 1808, uma
e a derrota de Bonaparte. Tudo indicava série de manifestações populares revelou
o retorno da “velha e boa ordem” com o adesão à monarquia dos Braganças, no
redobrado poder das realezas e o comando lugar do jugo francês. A instabilidade
político da Santa Aliança, sobretudo nos política em Portugal foi agravada por
territórios continentais europeus. Porém, mais duas invasões napoleônicas: uma
na contramão das tendências da época, em 1809 e outra em 1810, gerando mais
estava o domínio português no além-mar. aversão aos franceses. Todavia, após a
O príncipe D. João, teoricamente apenas última expulsão das tropas napoleônicas,
de passagem pelo Brasil, optou por pos- no final da década de 1810, com a reto-
tergar sua estada, até porque ia criando mada da soberania lusa nada explicava
raízes em seu território americano. Afi- a permanência do soberano na América.
nal, o monarca português abrira os portos Diante disso, as antigas demonstrações
da colônia em 1808, elevara o Brasil à de fidelidade irrestrita ao monarca por
condição de Reino Unido em 1815, assim parte da população portuguesa deram
como, após a morte de d. Maria I em lugar à indignação geral.

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Para piorar, uma grande crise se aba- outra corrente reivindicava o “Restau-
teu sobre o Estado português. A pro- racionismo Realista”, projeto que pre-
dução agrícola escasseava, o numerário tendia a volta dos regimes monárquicos,
esgotava-se, o papel-moeda perdia seu conforme propunham a França e, sobre-
valor, assim como sumia o crédito inter- tudo, uma coligação formada pela Rús-
nacional. Parte das elites locais julgava sia, Áustria e Prússia. Mais conhecida
que para reerguer Portugal seria preciso como Santa Aliança, ela se reuniu no
deter o processo de autonomia do Brasil Congresso de Viena entre 1814 e 1815.
(Miranda, s/d, pp. 37-8). O fato é que, Na conta desse ambiente bastante pola-
privado dos recursos de suas possessões rizado é que, em 1820, estoura em Portu-
ultramarinas, sem os lucros do comér- gal um movimento liberal, nacionalista e
cio colonial e humilhado pela dependên- constitucional, com um propósito claro:
cia em relação à Inglaterra, Portugal se reestruturar o Império luso-brasileiro, sob
descobriu ocupando um lugar periférico a luz do constitucionalismo, e manter em
dentro do seu próprio sistema imperial. Portugal o centro político e administra-
A crise, que era econômica e política, só tivo desse mesmo Império. Aos olhos dos
seria amainada com um gesto de grande brasileiros, porém, esse propósito tinha
poder simbólico: a volta do rei. outro significado político: indicava que a
Foi com esse espírito que em 1820 antiga metrópole continuava preocupada
estourou a Revolução Liberal do Porto, em garantir seus interesses coloniais. E
erguendo duas grandes bandeiras de luta. o ambiente ganhou a colônia quando, em
O constitucionalismo, a proposta de cria- fevereiro de 1821, uma multidão reunida
ção do conjunto de leis fundamentais no Largo do Rossio, no Rio de Janeiro,
do Estado incluindo a definição do sis- exigiu o juramento da futura Constituição
tema geral de governo e a regulação das Cortes de Lisboa.
dos direitos e deveres dos cidadãos – Foi ficando evidente, porém, como a
“Cortes e Constituição” era a palavra tentativa de recuperar a proeminência
de ordem que reunia politicamente os política de Portugal incluía suprimir os
portugueses. E a defesa da soberania privilégios adquiridos pelo Brasil durante
monárquica que, nesse caso, significava os 13 anos de permanência de d. João
o retorno imediato de d. João VI, senão no Rio de Janeiro. Na realidade, a Revo-
de toda a família real. O movimento lução Portuguesa incluía um paradoxo.
que começava a se delinear em Portu- Irrompeu tardiamente, numa conjuntura
gal inscrevia-se em um contexto mais europeia já sob os efeitos conservadores
amplo no qual se opunham duas cor- do Congresso de Viena, mas não deixou
rentes. A primeira defendia o ideal da de introduzir ideias e práticas sociais
“Regeneração” política que pretendia novas. Também ambicionava erguer uma
sacudir o despotismo português, com monarquia constitucional que encerraria
seus adeptos se organizando em torno o antigo regime, embora sustentasse na
das propostas de liberdade, constitucio- figura do rei o polo aglutinador de sua
nalismo e liberalismo constitucional. A comunidade. Finalmente, e não menos

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importante, seus adeptos preferiam a do Povo (o mais doutrinário dos jornais


regeneração à ideia de revolução1. e, apesar disso, proibido no ano de 1819).
Em Portugal, o termo liberal vinha Já d. João parecia imune a todo esse
“das Cortes de Cádiz” – assembleia que, ambiente, preferindo permanecer em seu
reunida na Espanha em 1810, pretendia paço de São Cristóvão no Rio de Janeiro,
a abolição do antigo regime – e servia mesmo se o preço fosse a adoção do
para indicar um novo sujeito político. regime constitucional em Portugal (Lima,
Um sujeito liberal, nesse momento, era 1997, p. 21). Em 1º de outubro as Jun-
aquele que desejava o bem da pátria: era tas Provisionais anunciaram as primeiras
amigo da ordem e das leis, acreditava medidas – reformas na administração,
que a opinião deveria ser livre e que ele alterações na censura e a preparação para
teria o direito de influir na administração as eleições dos deputados que fariam a
pública. Entravam nessa agenda política, nova Constituição do Império. As Cortes
também, noções como contrato, Consti- foram definidas como núcleo de repre-
tuição, autonomia e soberania parlamen- sentação nacional, sendo as eleições
tar. Por fim, liberalismo nos termos da regulamentadas. Firmados os objetivos
conjuntura portuguesa era conceito que da “Carta”, as Cortes constitucionais tra-
permitia reconhecer o direito do outro, taram de consolidá-los durante os anos
através da Constituição. de 1821 e 22, sem alterar os alicerces
Por outro lado, coube à imprensa que básicos da monarquia.
se publicava no estrangeiro, mas em língua As primeiras preocupações dos depu-
portuguesa, papel fundamental no sentido tados se concentraram, pois, no regi-
de conferir à causa revolucionária nova mento interno das Cortes, na nomeação
importância junto à opinião pública. Dos de comissões e no estabelecimento de um
vários periódicos editados destacam-se o novo governo – a Regência. Os trabalhos
Correio Braziliense (dirigido por Hipó- começaram em 26 de janeiro com novas
lito José da Costa entre os anos de 1808 determinações: liberdade de imprensa,
e 1822, editado na Inglaterra e proibido elaboração do código civil e criminal,
em Portugal entre 1811 e 1817), o Investi- abolição da Inquisição, redução do número
gador Português em Inglaterra (fundado de ordens religiosas e anistia aos presos
em 1812 com o objetivo de combater o políticos. No plano externo, a pretensão
Correio e que mudaria de orientação a era conquistar todo o Império para o ide-
partir de 1814); o Português ou Mercúrio ário da regeneração. Tanto que, no caso
Político, Comercial e Literário (o mais brasileiro, Pará e Bahia aderiram ime-
combativo e o mais censurado dos jornais diatamente à causa portuguesa.
portugueses publicados na Inglaterra) e o Diferentes facções se digladiavam, no
Campeão Português ou o Amigo do Rei e Brasil, em torno do tema. A volta do rei
era defendida no Rio de Janeiro, sobre-
tudo pelo “Partido Português”, formado
basicamente por altas patentes militares,
1 Para a Revolução Portuguesa e suas consequências no
Brasil, ver: Neves (2003). burocratas e comerciantes, interessados

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no retorno ao antigo sistema colonial e qual funcionaria como articuladora polí-
na subordinação do Brasil à metrópole. tica, catalisadora de descontentamentos
Opunha-se a essa posição o “Partido Bra- e adepta, com o tempo, da segunda ver-
sileiro”, constituído por grandes proprie- tente (Fausto, 2001, p. 130) 3.
tários rurais das capitanias vizinhas à D. João, por sua vez, nem consentia
capital, financistas, militares, burocratas e em voltar, nem lhe agradava a ideia de
membros do Judiciário nascidos no Brasil mandar a Portugal o filho Pedro (Sousa,
e que começavam a delinear “um governo 1988, p. 139). Nesse contexto passam a
[...] independente de Portugal”. O terceiro circular também os “papelinhos” ou pan-
partido, conhecido como “Democrata”, f letos, manuscritos e impressos funda-
almejava “governos provinciais indepen- mentais para a difusão de opiniões polí-
dentes” e incluía boa parte do clero e dos ticas 4, que, nessa conjuntura, demonstram
empregados públicos2 . uma clara articulação entre a emergência
Não obstante, esses não eram exa- da opinião pública e o surgimento de
tamente partidos, mas antes correntes um novo vocabulário político. Tais docu-
de opinião, grupos que guardavam os mentos partiam sobretudo da Bahia e do
mesmos interesses. Na verdade, a noção Rio de Janeiro, e propunham a conscien-
de partido nesse momento traduzia uma tização da população. Mas as posições
concepção de grupos que se posicionavam não eram unívocas: a Bahia, cujo grosso
a favor ou contra alguma prática política. do comércio era realizado diretamente
Existia ainda certo conteúdo pejorativo com Portugal e África, não concordava
porque o termo “partido” costumava com a “intromissão” inglesa e por isso
aparecer associado a noções como fac- mesmo apoiou a política das Cortes, ao
ção, seita, bando e à formação de gru- menos num primeiro momento; já o Rio
pos partidários envolvidos em desordens de Janeiro, grande beneficiário da polí-
públicas. Por fim, e ao longo dos anos tica joanina, faria de tudo pela perma-
de 1821 e 1822, o conceito começa a nência de d. Pedro.
ser associado às insatisfações da época. De toda maneira, no início de 1821,
De uma maneira geral, esses diferentes d. Pedro seria informado das decisões e
partidos se viram reduzidos a duas cor- sua partida, dada então como definitiva.
rentes: a primeira, dominante na capi- Entretanto, com o estado avançado da gra-
tal do Brasil e composta de militares e videz de d. Leopoldina, e uma projetada
comerciantes lusos que se mantinham separação dos dois, o príncipe não partiu.
fiéis às Cortes de Lisboa; a segunda, que Os acontecimentos, porém, se precipita-
caminhou na direção oposta e apostou na
liderança de d. Pedro. Cresceria também
nesse contexto o papel da maçonaria, a
3 Movimento que remonta provavelmente à Idade Mé-
dia, a maçonaria chegaria ao período moderno como
uma associação secreta, antiabsolutista e vinculada
aos movimentos de emancipação nacional.
2 Ver Carvalho, Bastos & Basile (2012); Mariscal (1926). 4 Ver Carvalho, Bastos & Basile (2012).

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vam, e d. João viu-se obrigado a jurar a cofres: transportou as arcas do tesouro


Constituição em fevereiro de 1821; seu e os cofres do Banco do Brasil (Varnha-
derradeiro ato no Brasil. Os decretos de gen, 1957, p. 57). Só o rei carregou em
Lisboa de 7 de março determinaram não ouro amoedado e em barra mais de 60
só o regresso do rei a Portugal – ficando milhões de cruzados. E isso sem falar nos
o príncipe encarregado do Governo Pro- diamantes que estavam, como penhor, nas
visório do Brasil. casas fortes do Banco do Brasil.
O ambiente, que já era frágil, entor- O monarca desembarcaria em Lis-
nou. Em 21 de abril de 1821, na então boa no dia 4 de julho, não sem antes
Praça do Comércio, uma reunião de ter recebido as deputações da regência
eleitores do Rio de Janeiro foi inter- e das Cortes. As Cortes também proibi-
rompida com gritos de “aqui governa ram a entrada de 11 conselheiros do rei,
o povo” e “haja revolução”. A multidão considerando-os “perigosos”. Na mesma
exigia que d. João VI jurasse a Consti- data, o rei foi obrigado a nomear novo
tuição de Cádiz de 1812, e que perma- ministério, substituindo a regência, e assu-
necesse no país. Enquanto o vacilante miu a monarquia constitucional, que lhe
rei mais uma vez aquiescia, seu filho dava um novo status político.
reprimia violentamente a manifestação, E se d. Pedro seria primeiro tratado
cujas consequências ficariam relatadas como marionete nas mãos das elites bra-
no livro da viajante e preceptora dos sileiras, logo arregaçou suas mangas.
príncipes, a inglesa Maria Graham, que Em sua primeira proclamação, ao que
lamentou as 30 mortes e os muitos feri- parece redigida pelo Conde dos Arcos,
dos (Graham, 1990, p. 164). O prédio o governo interino sinalizava para uma
no centro da praça amanheceria no dia série de reformas na educação pública,
seguinte pichado, com os dizeres “Açou- na agricultura e no comércio, a despeito
gue dos Braganças!”. de deixar claro que exigiria o “respeito
E assim, em 26 de abril de 1821, parte austero das leis e a vigilância constante”.
o restante da família real, à exceção de As medidas práticas não eram muitas,
d. Pedro e sua família, que ficavam como mas o efeito, evidente.
um braço da monarquia no Brasil. Com Enquanto isso, as Cortes passaram
a corte partia um séquito estimado em 4 a pedir uma representação brasileira a
mil indivíduos – entre ministros, oficiais, Portugal. A primeira reação foi de oti-
diplomatas e suas famílias –, além dos mismo: não apenas o Rio e a Bahia, a
deputados brasileiros. nova e a velha capital do vice-reinado
D. Pedro, com seus 22 anos, permane- e do Reino Unido, se pronunciaram
cia no Brasil, herdando projetos políticos a favor do constitucionalismo. Até o
e grande desfalque 5. A corte limpou os Pará, que compunha uma província de
administração separada, se entusiasmou
pela revolução, que foi saudada como a
implantação de um regime liberal que
5 Citado por Morais (1982, p. 124). lutava contra o despotismo.

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Representantes de todo o mundo por- crescente resistência; para aqueles que
tuguês seriam chamados a se reunir com viajaram a Portugal com a esperança de
o propósito de redigir e aprovar uma nova lá encontrar um debate sobre princípios
Constituição. As instruções das Cortes da igualdade perante a lei e acerca dos
de 22 de novembro eram claras: todos os direitos do Brasil, a realidade mostrava-
cidadãos eram considerados elegíveis à -se oposta (Fausto, 2001, p. 132).
exceção dos conselheiros de Estado e dos Deste lado do Atlântico a situação
empregados da corte real. Determinou-se, era igualmente complicada. Enquanto
ainda, a representação de um deputado em Pernambuco e na Bahia os grupos
para 30 mil habitantes e o direito de o dirigentes tinham motivos mais imedia-
Brasil e as demais possessões ultramari- tos para apoiar a política portuguesa, no
nas participarem (Fausto, 2001, p. 130). Rio de Janeiro as elites políticas divi-
Partiram 65 deputados (apesar de só 46 diam-se entre os grupos conservadores
terem comparecido às sessões), para 100 vinculados a Bonifácio e os mais radi-
de Portugal metropolitano, nove pelos dois cais, que giravam em torno de Joaquim
círculos de ilhas adjacentes (Madeira e Gonçalves Ledo. Também o príncipe a
Açores) e sete pelas possessões africanas essas alturas oscilava entre dar ouvidos
e asiáticas (Cabo Verde, Bissau e Cacheu; às queixas locais ou mostrar sinais de
Angola e Benguela; S. Tomé e Príncipe; fidelidade a seu pai8 . O regente tinha
Moçambique; Goa; Macau, Timor e Solor) ainda outros problemas pela frente: como
(Lima, 1997, pp. 149-50) 6 . sanear a situação financeira que herdara.
Os deputados de Pernambuco foram As dificuldades estavam vinculadas às
os primeiros a chegar a Lisboa, segui- circunstâncias em que se deu a retirada
dos pelos deputados fluminenses e os da da família real e eram agravadas pela
Bahia. Mas foi apenas a deputação de São situação do Banco do Brasil.
Paulo7 que fez a lição de casa, levando D. Pedro tinha também ímpetos
instruções explícitas, onde se reconhecia românticos e políticos. Talvez por isso
a pena de José Bonifácio e seus temas tenha se contagiado pela verdadeira
prediletos: a abolição da escravidão e mania nacionalista que começava a tomar
a catequese dos indígenas. Todavia, a conta de boa parte dos deputados brasi-
intransigência das Cortes levou a uma leiros em Portugal, e já chegava ao Bra-
sil. Essa mudança de espírito era insu-
flada pelas atitudes das Cortes, que, entre
finais de setembro e outubro de 1821,
6 Dados referentes às demais possessões ultramarinas expediram uma série de medidas que
retirados de: Marques (1986, pp. 58-9).
deixavam claros seus intentos: decidiu-se
7 Eram cinco deputados pelo Rio de Janeiro, seis por
São Paulo, um por Santa Catarina, nove pela Bahia,
oito por Pernambuco, três pela Paraíba, três pelo Rio
Grande do Norte, quatro pelo Ceará, dois pelo Piauí,
dois pelo Maranhão, quatro pelo Pará, dois por Goiás,
dois pelo Rio Grande do Sul, 11 por Minas e um pelo
Espírito Santo. Havia ainda dois por Alagoas, dois por 8 Carta de d. Pedro, de 8 de junho de 1821. Citada por
Rio Negro e um pela Cisplatina. Sousa (1988, p. 236).

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pela transferência para Lisboa das prin- ano de 1822, o regente receberia carta
cipais repartições instaladas no Brasil; de José Bonifácio pedindo que permane-
novos contingentes de tropas foram des- cesse e “não se tornasse escravo de um
tacados para o Rio de Janeiro e em 29 pequeno número de desorganizados”. No
de setembro é assinado decreto exigindo mesmo dia 9 de janeiro, d. Pedro recebeu
o retorno do príncipe regente. As Cortes no paço – numa audiência do Senado da
também determinaram que as diferentes Câmara – um requerimento tomado por
províncias do Brasil se transformariam mais de 8 mil assinaturas, que pediam
em províncias ultramarinas de Portugal, para que ele não deixasse o Brasil.
desaparecendo o lugar político do Rio Apesar da força dos atos, é preciso
de Janeiro e a necessária permanência lembrar que boa parte das elites ainda
de d. Pedro (Martins, 1987, p. 185). desejava manter-se unida a Portugal,
O ano de 1822 começou com muitas guardando-se, porém, as franquias já
dúvidas e raras certezas. Não à toa o alcançadas. Essa posição advogada pelo
Partido Brasileiro concentrava esforços no ministério conservador, que defendia uma
sentido de assegurar a permanência de d. saída moderada e se aglutinava em torno
Pedro no Brasil 9. Com o tempo, também de Bonifácio, contava com a oposição
a princesa se converteria em uma das dos grupos radicais, que imaginavam
grandes influências favoráveis à emanci- um modelo diferente de representação
pação e à desobediência do regente para mais republicano. A despeito das divi-
com as Cortes: Leopoldina parecia temer sões entre os grupos, um processo mais
o constitucionalismo português, permane- estrutural e profundo ia se afirmando. É
cendo fiel aos princípios do absolutismo. por isso que a contenda foi sendo deci-
Mas faltava o Partido Brasileiro sensi- dida em duplo sentido – de dentro para
bilizar o regente com um ato simbólico. O fora, mas também de fora para dentro.
movimento partiu de Rio de Janeiro, São Há quem diga que a essas alturas Por-
Paulo e Minas, e no dia 9 de dezembro, tugal é que pretendia se livrar do Brasil
quando chegaram os decretos portugue- e de suas provocações. O certo é que se
ses exigindo a volta imediata, criou-se começava a escrever, então, uma espécie
o “Clube da Resistência”. Foi Gonçalves de lenda dourada da Independência, na
Ledo, do Partido Brasileiro, quem orien- verdade construída sobretudo por Rio
tou o então presidente da Câmara para de Janeiro e São Paulo.
que entregasse a d. Pedro uma solicitação
formal para que ficasse no Brasil. Ao UMA INDEPENDÊNCIA
mesmo tempo, logo no primeiro dia do
MONÁRQUICA E CONSERVADORA

É possível especular que, se não fosse


9 Estas cartas de Leopoldina foram publicadas na Revis- por conta da política das Cortes, com mais
ta do Instituto Histórico sob o título “Cartas inéditas da dificuldade teria se criado, no Brasil, um
1a Imperatriz d. Maria Leopoldina (1821-1826)” (RIHGB,
vol. 75, tomo 126, parte II, 1912, pp. 109-27). sentimento unificando as diversas provín-

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cias. Mesmo a mais consolidada divisão representação, e os mais extremados asso-
interna tende a ceder diante de um ini- ciando a Independência à ideia de repú-
migo externo, fato que acabou levando blica e do voto popular11.
à união das diversas províncias e das Com o acirramento do processo, d.
facções das elites brasileiras. É assim Pedro é mais uma vez pressionado no
que se entende a criação de um exército sentido de convocar, em 3 de junho de
brasileiro – Exército de 1ª Linha, como 1822, uma Assembleia Constituinte. É
foi chamado – logo após as tropas por- nesse ambiente que em 3 de junho sai
tuguesas negarem-se a jurar fidelidade a o decreto de convocação da Constituinte
d. Pedro, ou mesmo a formação de um brasileira. O texto final era de José Boni-
novo ministério. Entre os muitos decretos fácio, mas as ideias eram, em grande
destaca-se a proibição do desembarque parte, de Gonçalves Ledo. A palavra de
da expedição de Francisco Maximiliano ordem era “Independência moderada pela
e Sousa, que, chegada ao Rio em 9 de união nacional”, fórmula presente na pro-
março, pretendia transportar o príncipe clamação de d. Pedro do dia anterior. Um
de volta para Lisboa. novo ato assinado pelo príncipe fez com
E a evolução foi rápida. Em fevereiro que o consentimento do Executivo cen-
de 1822 a região Sul do Brasil já for- tral brasileiro se tornasse indispensável
mava um só bloco político, estando Rio à validade das leis, ordens e resoluções
de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e que não paravam de chegar do governo
até Minas Gerais em concordância com de Portugal. Era o cumpra-se assinado
relação à ideia de autonomia e à escolha em 4 maio de 1822. O certo é que o
do príncipe como figura central nesse pro- divórcio litigioso ia se consolidando.
cesso. Impunha-se, assim, a Independên- O manifesto de 1o de agosto, redigido
cia, muito embora, teoricamente unidas por Gonçalves Ledo, mas atribuído a d.
para a emancipação, as províncias con- Pedro, anunciava a separação. “Brasilei-
tinuassem divididas em seus interesses. ros. Está acabado o tempo de enganar
Igualmente tensas eram as sessões das os homens [...]”12 .
Cortes em Portugal, sendo os deputados Nesse momento, porém, a facção libe-
brasileiros sujeitos a todo tipo de impe- ral de Gonçalves Ledo já havia perdido a
dimento – vários deles, inclusive, não liderança, tendo sofrido sua maior derrota
juraram a Constituição10 . em 19 de junho, quando não conseguiu
No Brasil, a maçonaria, já presente impor a tese das eleições diretas para a
na ocasião do “Fico”, foi crescendo. Por Constituinte (Novais & Mota, 1996, p. 54).
lá, as posições dividiam-se também entre
os mais conservadores defendendo uma
monarquia constitucional, com pequena
11 Para uma visão desse episódio e da atuação dos gru-
pos mais radicais, ver: Leite (2000).
12 Rio de Janeiro, Biblioteca Nacional, ms. I, 36, 28, 009,
p. 1. “D. Pedro I, Príncipe Regente. Manifesto de Inde-
10 Correio do Rio de Janeiro, nº 56, 19 de junho de 1822. pendência. Rio de Janeiro, 1º de agosto de 1822”.

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É obra do ministro o manifesto de 6 de Minas Gerais, d. Pedro partiu em 14 de


agosto, quando prevaleceu a saída monár- agosto de 1822 para São Paulo, acom-
quica. “Perdido o Brasil, está perdida a panhado de pequena comitiva. Nesse
monarquia” 13, assim rezava o manuscrito meio tempo, a princesa Leopoldina
moderado. Ainda nesse mês o príncipe era empossada na regência: cabia a
decretou que as tropas da metrópole eram ela presidir o conselho de ministros
consideradas inimigas, além de recomen- e dar audiências públicas em lugar do
dar aos governos provinciais não dar posse esposo – sempre ao lado de José Boni-
a empregados vindos de Portugal. Uma fácio, o cabeça do gabinete.
nova enxurrada de manifestos ia deixando O grupo vencia a viagem de maneira
claro como os projetos de autonomia vira- pausada, percorrendo em dez dias cerca de
vam realidade. Faltava apenas o marco 630 quilômetros de distância entre Rio e
simbólico, e ele se daria em São Paulo. São Paulo. Passaram a noite em fazendas
em Areias, Lorena, Taubaté e Águas Bran-
“INDEPENDÊNCIA OU MORTE” cas, recebendo tanto homenagens como
críticas aos adversários dos Andradas.
NA REALIDADE E NA PINTURA
Mais à frente, ao pequeno grupo se jun-
DE PEDRO AMÉRICO tou a guarda de honra; uma guarda de
capacete de dragões e botas à l’ecuyère
Um processo de ruptura carece sem- (botas de escudeiro). Outras pessoas foram
pre de um ato simbólico; um ato para aumentando a comitiva até a entrada em
ser lembrado. O mais inusitado, porém, é São Paulo, no dia 25 de agosto: cidade
que, no caso da Independência, ele fica- pequena, de ruas pouco extensas, estrei-
ria guardado na memória nacional sobre- tas e tortuosas, cujos habitantes, segundo
tudo em função de uma tela, encomendada o último alistamento censitário de 1822,
(aliás) pelo monarca Pedro II. O certo é não passavam de 6.920 almas. O príncipe
que tardava o ritual, e ele aconteceria em partiu de São Paulo só no dia 1o com des-
São Paulo, como nem mesmo os Andra- tino a Santos, de onde só retornaria na
das – José Bonifácio e seus irmãos –, famosa manhã de 7 de setembro.
tão acusados de praticar um bairrismo O objetivo de d. Pedro em São Paulo
paulista, poderiam sonhar. era apaziguar os ânimos depois da suble-
Depois de ter contornado problemas vação que ficou conhecida como a “Ber-
nas províncias do Rio de Janeiro e de narda de Francisco Inácio”. O termo vinha
de bernardinas e correspondia às portu-
guesas bernardices, relativas à tradição,
em parte falsa, da ignorância e simpli-
13 BN/SOR C, 4, 1, “Manifesto do Príncipe Regente do
Brasil aos governos e nações amigas. 6 de agosto cidade dos frades beneditinos diante da
de 1822”, in Código Brasiliense ou Coleção das Leis, reforma de S. Bernardo. No Brasil, “ber-
alvarás, decretos, cartas régias, etc. promulgadas no
Brasil desde a feliz chegada do príncipe Regente Nosso narda” tornou-se expressão corrente em
Senhor a estes estados com um índice cronológico
1821, sendo associada aos movimentos
(1808-1837). Rio de Janeiro, Impressão Régia, Tipo-
grafia Nacional e Imperial, 1811-1838. populares da Independência. A origem

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estaria em uma frase proferida por Tomás acesso sido facilitado graças à presença
Antônio Vilanova Portugal, denominando de seu irmão na comitiva – ou se o pri-
bernarda, tolice, asneira, a revolução meiro encontro foi golpe de sorte.
constitucionalista do Porto em agosto de Dito por não dito, conta a história que
1820. Os jornais da época divulgaram o d. Pedro voltava de um bairro distante
dito, que se fixou no vocabulário popular quando cruzou com uma bela mulher,
também com o sentido de motim e revolta que chegava carregada em uma cadei-
popular. A “de Francisco Inácio” era na rinha por dois escravizados. O príncipe
verdade uma série de motins que estou- apeou do cavalo e saudou a desconhe-
raram depois de 1820, consequência da cida, cantando-lhe a beleza (Sousa, 1988,
aguerrida política interna paulista e que 2º vol., p. 33). Se nos fiarmos no que
atingia de perto José Bonifácio. O gover- diz o anedotário histórico, parece que
nador João Carlos Augusto Oyenahusen a mulher de Felício Pinto Coelho e o
se juntou ao brigadeiro Francisco Inácio marido da princesa Leopoldina encon-
de Sousa Queirós e tomou partido con- traram-se por acaso. Entretanto, até hoje
tra Martim Francisco, o que gerou uma não se explica o que fazia Francisco de
série de insurreições que levaram à queda Castro Canto e Melo na comitiva do
do irmão de Bonifácio. Não é o caso de príncipe. O que, sim, se sabe é como
perseguir os meandros dessa história. É então se iniciava um dos capítulos amo-
suficiente saber que o vínculo de d. Pedro rosos mais famosos da história brasileira,
com José Bonifácio era tal que o prín- e que contou com a diligente cumpli-
cipe encarou a “Bernarda de Francisco cidade do irmão, mas também do pai,
Inácio” como um desafio à sua própria da mãe, dos irmãos, tios e primos de
autoridade: deu a Martim Francisco o Domitila; todos regiamente compensa-
Ministério da Fazenda e resolveu visitar dos com mercês, distinções e honrarias.
a província paulista a fim de aquietá-la, Mas a hora de voltar para o Rio apro-
sempre em favor dos Andradas. ximava-se e o retorno se faria sem grande
A viagem tinha, pois, objetivos políti- alarde, mesmo porque a guarda especial
cos, mas a história tendeu a lembrar ape- de 30 jovens já havia sido dispensada
nas do episódio que envolve d. Domitila e a missão do príncipe era, agora, cada
de Castro Canto e Melo, filha do coronel vez menos oficial. Além do mais, a essas
João de Castro Canto e Melo. Domitila alturas, a separação política estava pra-
nascera em São Paulo e era quase um ano ticamente confirmada, restando apenas
mais velha que o príncipe. Amargava as a formalidade do anúncio. Logo que o
consequências de um casamento frustrado, príncipe partira em viagem, em 14 de
e andava sofrendo com as dificuldades agosto, José Bonifácio emitira circular
que seu marido vinha lhe impondo: acu- ao corpo diplomático em que declarava
sada de adultério, tinha a guarda de seus a emancipação. Faltava, entretanto, um
três filhos reclamada. Não se sabe se ela evento que conferisse ao príncipe o lugar
possuía planos de pedir a intervenção do principal. O motivo veio fácil: em 28 de
príncipe contra o ex-marido – tendo seu agosto chegava ao Rio o brigue Três Cora-

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ções, trazendo as rotineiras más notícias num lugar chamado Moinhos. O major
de Lisboa: ordenavam a volta imediata do e irmão de Domitila legaria um relato
príncipe, o final de uma série de medidas engrandecedor sobre o 7 de setembro15,
que consideravam ser privilégios brasilei- centrando detalhes na figura do príncipe
ros e acusavam de traição os ministros e na sua própria. Diante da notícia, d.
que cercavam o regente. Pedro teria saído em disparada em direção
Sob a presidência de Bonifácio, o con- a São Paulo. No sentido oposto vinham
selho de ministros reunira-se no Rio de os mensageiros de José Bonifácio, que o
Janeiro e a conclusão era que chegara a alcançaram “no alto da colina próxima
hora. Tamanha era a pressa, que Boni- do Riacho do Ipiranga”16 . Foi, então,
fácio recomendou ao correio, Paulo Ber- dizem os relatos, em cima de um pequeno
gero, que juntasse quantos cavalos fossem declive de onde se podia avistar a pacata
necessários. A partir daí, o que é lenda e cidade de São Paulo, mais ou menos às 16
o que é verdade fica difícil de resolver; horas, que recebeu a correspondência das
melhor nos fiarmos nos documentos. mãos do major Antonio Ramos Cordeiro.
As missivas não encontraram o prín- As cartas eram muitas: missivas de José
cipe, porém, em local nobre. O regente, Bonifácio, de Antônio Carlos, da princesa
que tinha vencido a serra de Cubatão Leopoldina (uma de 28 e outra de 29 de
montado numa besta baia gateada, enver- agosto). D. Pedro teria, então, lido em voz
gava uma farda comum. Para piorar, lá alta os documentos que determinavam o
pelo dia 7 de setembro, d. Pedro apre- final de seu ministério e a convocação
sentava um estado de saúde que, embora de um novo conselho17.
não tivesse maior gravidade, era por certo Fez-se o ato. A cena aparece narrada
desconfortável uma vez que não encon- em qualquer manual de história do Brasil,
trava suas funções intestinais normali- mas vale a pena recriar sua teatralidade.
zadas, e de forma intermitente era obri- Convocado pelo momento, d. Pedro for-
gado a apartar-se da comitiva, alterar o malizou o que já era realidade: arran-
ritmo da marcha e parar a fim de aliviar cou a fita azul-clara e branca (as cores
a dor repentina. Precisava “prover-se”, constitucionais portuguesas) que osten-
conforme definia um dos companheiros tava no chapéu, desembainhou a espada
de viagem, o coronel Manuel Marcon-
des de Oliveira Melo14 . O momento não
era o mais indicado, mas o destino nem
sempre escolhe hora certa.
15 “Memória sobre a Independência do Brasil pelo Major
Logo que soube da chegada dos emis- Francisco de Castro Canto e Melo, gentil homem da
sários, Francisco de Castro Canto e Melo Imperial Câmara”, 1864, IHGB, lata 400, doc.8.

apressou-se a dar a notícia ao príncipe, 16 “Memória de Canto e Melo”, 1864, IHGB, lata 400,
doc.8. Ver também: “Fragmento de uma memória
sobre a Independência do Brasil, onde se encontram
alguns trechos sobre os serviços do Conselheiro José
Joaquim da Rocha”, Arquivo Nacional, Códice 807,
volume 3.
14 Citado por Sousa (1988, 2º vol., p. 36). 17 Citado por Sousa (1988, 2º vol., p. 33).

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e gritou: “É tempo! [...] Independência ou de coadjuvante principal. Há pelo menos
morte! [...] Estamos separados de Portu- acordo quanto à divisa que a história
gal [...]”. No relato de Canto e Melo, a guardou: “Independência ou morte” se
cena é semelhante, mas com os presentes transformaria – seja na versão pessoal de
“prestando juramento de honra que para Belchior, seja na interpretação de Canto
sempre os ligava à realização da ideia e Melo – no grande lema da ocasião. E
grandiosa de liberdade”18 . Grandiosa, a ainda que a cena – acompanhada por
memória do irmão de Domitila tende, anos cerca de 38 pessoas – não tenha de fato
depois, a tomar o incerto como certo e a ocorrido dessa forma, a história trataria
Independência como um evento popular. de construir sentido ao momento, sendo
Existe ainda a versão do padre Belchior o mote repetido em São Paulo e no Rio,
Pinheiro, que afirmou ter lido as cartas onde manifestações retomavam a legenda
para d. Pedro e que este lhe arrancara de Independência ou morte.
os papéis da mão e pisoteara-os. Então, Façamos de longa história um breve
seguindo os conselhos do bom amigo, relato. D Pedro foi acolhido no Rio de
logo se recompusera e, abotoando a farda, forma esfuziante e com as notícias cres-
teria dito: “E agora, padre Belchior?”. Ao cendo19. A volta de d. Pedro foi bem mais
que esse teria respondido: “Se V.A. não rápida: se os correios venciam normal-
se faz rei do Brasil será prisioneiro das mente em nove dias o percurso que sepa-
Cortes e talvez deserdado por elas. Não rava São Paulo da capital do país, o prín-
há outro caminho senão a independência cipe o fez em apenas cinco, tendo partido
e a separação”. Ao que o príncipe reage: na madrugada do dia 9 e alcançado São
“Eles o querem, terão a sua conta. As Cristóvão no cair do dia 14. D. Pedro
Cortes me perseguem, chamam-me com chegava castigado pelas chuvas, e trazendo
desprezo de rapazinho e de brasileiro [...] um laço verde de fita no braço esquerdo
pois verão agora quanto vale o rapazi- (a cor dos Braganças), logo acima de um
nho”. E continuou: “Amigos, as Cortes ângulo de metal dourado com o famoso
querem escravizar-nos e perseguem-nos. lema gravado: Independência ou morte.
De hoje em diante nossas relações estão No lugar do tope azul e branco insti-
quebradas. Nenhum laço nos une mais!”. tuído pelas Cortes, agora era o verde e
Mais uma vez o script é um pouco o amarelo (cor da flor amarela recebida
diferente: “Laços fora, soldados! Viva a como presente de Domitila ou a cor da
independência, a liberdade e a separação casa de Habsburgo) que se impunham. E
do Brasil”. E ainda: “Pelo meu sangue, o laço viraria moda, conforme atestam
pela minha honra, pelo meu Deus, juro anúncios do Volantim, oferecendo fitas
fazer a liberdade do Brasil”. Como se verde-amarelas e outros “adereços da
vê, cada narrador chama para si o papel Independência”. Crescia também o uso

18 “Memória de Canto e Melo”, 1864, IHGB, lata 400,


doc. 8. 19 BN/PR SOR 92 (1), O Espelho.

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do verde-amarelo inscrito na nova ban- de março de 1823, e que levou à morte


deira e nas armas. Circulava nas casas de centenas de pessoas.
nobres, nos braços das elites e em obje- Além do mais, essa saída conservadora
tos: xícaras, jarros, canecas, relógios de não era a única possível; aliás, ela foi
mesa, leques (Souza, 1999, p. 257). vitoriosa no lugar de outros projetos mais
A aclamação do primeiro impera- radicais ou mesmo de natureza republi-
dor brasileiro no dia 12 de outubro teve cana. O processo emancipatório não se
agenda cheia: desfiles, acenos na varanda limita, pois, aos anos de 1820 a 1822;
do palacete, Te Deum na capela impe- a fundação do Império a partir da con-
rial, beija-mão, teatros, touradas, danças, cepção da construção do Estado unitário
bailes, licores, banquetes, cavalhadas e é uma versão criada por publicistas que
pantomimas. No meio do Campo de San- participaram do debate da Independên-
tana deu-se a cerimônia que levaria à cia e foi construída do ponto de vista do
mudança do nome do próprio local, desde Rio de Janeiro e São Paulo. Em Pernam-
então conhecido como Praça da Acla- buco, por exemplo, sempre se discordou
mação. Para além da diversão, o ritual da direção do movimento, considerada
procurava dar visibilidade ao soberano e muito centrada nos interesses cariocas20.
estabelecia vínculos da comunidade com O mesmo processo de silenciamento
a nova realidade política. Era hora de ocorre com as personagens femininas
tornar a data “memorável”, reconhecer o dessa história, que nunca ganham pro-
poder instituído e a figura de d. Pedro. tagonismo. Maria Leopoldina, que era
Mas essa era uma emancipação singular naturalista, conselheira política de d.
no elenco das independências america- Pedro I e articuladora da Independência,
nas que tinham gestado repúblicas e não passou para a história como uma mulher
monarquias. Além do mais, a emancipação traída ou como a cunhada de Napoleão
chegava sem mudanças radicais e colocava Bonaparte. Domitila de Castro do Canto e
no centro do poder um rei: um monarca Melo era conhecida no Primeiro Reinado
português e da casa dos Braganças. Talvez por ter encantado o primeiro imperador
por isso mesmo, criou-se uma espécie de do Brasil não só por seus dotes físicos,
“lenda da Independência” que reconta a mas também por sua inteligência. Dizia-se
epopeia a partir de uma série de fatos que ela sabia, como ninguém, administrar
perfilados e encadeados, como se a saída e negociar influências dentro da corte.
imperial fosse a única possível. Não era; Já na história nacional, porém, ela não
tanto que várias outras províncias não passou de “amante de rei”.
seguiram o exemplo de Rio e São Paulo, E se a história tratou de apagar e
como a Bahia, que só aderiu à Indepen- subordinar as mulheres da elite, o que
dência em 1825, São Luís do Maranhão, dizer das personagens femininas perten-
que reconheceu a separação em agosto de
1823, e o Piauí, que derrubou o mito da
separação política pacífica por conta da
Batalha do Jenipapo, ocorrida no dia 13 20 Ver Mello (2004).

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centes ao povo? Aí o borramento foi ainda e ao cabo, a uma solução monárquica,
mais radical. Maria Quitéria de Jesus, implantada bem no meio das Américas.
por exemplo, destacou-se nas guerras de Além do mais, nossa emancipação
Independência do Brasil, lutando como não deixou de ser comum em sendo tão
combatente na Bahia. Aliás, fingiu ser particular, na sua saída imperial e con-
homem para poder entrar no Exército, uma servadora. Se o movimento foi liberal,
vez que a instituição só admitia integran- porque rompeu com a dominação colo-
tes do sexo masculino. A jovem juntou-se nial, mostrou-se conservador ao manter
então às tropas que lutavam contra os a monarquia, o sistema escravocrata e o
portugueses, em 1822, e utilizou o nome domínio senhorial. Além do mais, se todo
de seu cunhado: era o soldado Medeiros, o processo de emancipação foi deflagrado
já que somente homens faziam parte do pela vinda da corte, o que explica o for-
Exército brasileiro. Semanas depois de mato final é o movimento interno de ajus-
entrar nos conflitos, Maria Quitéria teve tamento às pressões de dentro e de fora, e
sua identidade revelada. Mesmo assim, sobretudo um processo de substituição de
permaneceu servindo, por conta de sua metrópoles (Dias, 1986, p. 165). Por outro
habilidade com o manejo de armas. lado, se uma nova unidade política foi
Maria Felipa é outra protagonista implantada, prevaleceu uma noção estreita
baiana, negra e natural da Ilha de Itapa- de cidadania, que alijou do exercício da
rica. Tomou parte na luta pela Independên- política uma grande parte da população
cia do Brasil, na Bahia, comandando cerca e ainda mais a vasta população de escra-
de 40 mulheres que foram responsáveis por vizados. Com isso, noções bastante frou-
queimar 42 embarcações portuguesas. A xas de representatividade das instituições
protagonista também ficou conhecida a políticas se impuseram, mostrando como
partir de um episódio lendário, a “surra de a Independência criou um Estado, mas
cansanção” (vegetal que provoca urtiga e não uma nação.
sensação de queimadura) usada para der-
rotar os soldados portugueses. QUANDO UMA TELA VALE
Joana Angélica se destacou, também
MAIS QUE UM DOCUMENTO
na Bahia, por conta da coragem com que
enfrentou as tropas portuguesas dispostas
a invadir o Convento da Lapa, localizado Nos versos do Hino Nacional Brasi-
no centro da cidade de Salvador. Joana leiro entoa-se o tão conhecido “Ouviram
Angélica de Jesus morreu em 1822, assas- do Ipiranga as margens plácidas/ De um
sinada por tropas portuguesas. povo heroico o brado retumbante/ O sol da
Enfim, existem outras independências liberdade, em raios fúlgidos/ brilhou no
para contar. Mesmo assim é importante céu da pátria nesse instante”. Nas poucas
destacar como o 7 de setembro repre- linhas, a partir da seleção de algumas
senta um momento simbólico de um longo palavras-chave, o início do hino evoca
processo de ruptura iniciado até antes o episódio da Independência do Brasil.
da vinda da corte, e que levou, ao fim Não é difícil transformar em imagens a

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dossiê bicentenário da independência: cultura e sociedade

letra do compositor e associá-la ao qua- destacou toda a negociação política empre-


dro Independência ou morte! de Pedro endida logo após o grito da Independên-
Américo, pintado em 1888, em que d. cia, quando d. Pedro já estava de volta
Pedro, montado a cavalo e de espada em à capital. Por fim, tratou-se de diminuir
punho, dá o “grito” de liberdade às mar- “outras independências”, para usarmos
gens do Ipiranga, em São Paulo. Se a nar- a expressão de Evaldo Cabral de Melo,
rativa empreendida no hino e na pintura que chamou a atenção para o processo
parecem harmoniosamente coincidir, elas paralelo, e com certeza mais radical, que
encobrem, por sua vez, outras narrativas ocorria em Pernambuco, sobretudo a partir
possíveis sobre a Independência do Brasil, da revolução de 1817.
para além do ato situado nas cercanias Com os disparos dos canhões resso-
do Riacho do Ipiranga, da data do 7 de ando no Maranhão, ainda em 1825, por
setembro, e do próprio ano de 1822. Não ocasião dos embates deflagrados quando
se destaca a real Independência, que se da ruptura com a metrópole, pode-se afe-
deu no Rio com a aclamação. Também rir que o 7 de setembro de 1822, com
não aparece a pressão civil e popular; as lutas de independência na Bahia no
esta última apenas representada por um mesmo ano, é o ponto de partida, e não
tropeiro, que de certa maneira representa o de chegada, desse longo caminho que
o “espírito bandeirante” dos paulistas. Isso culmina na separação política entre Bra-
sem esquecer da centralidade conferida sil e Portugal. Na verdade, com a tela de
ao então príncipe d. Pedro. Pedro Américo consumava-se uma espécie
Pode-se dizer que, para além das nar- de “sequestro da Independência”.
rativas textuais, que buscaram conformar Também se obliteraram os andaimes
uma certa história linear e evolutiva da de construção da própria tela que era ins-
história da Independência brasileira, cujo pirada e fazia homenagem à pintura de
desfecho culminaria no 7 de setembro Ernest Meissonier, chamada Friedland
de 1822, a cristalização dessa memória e datada de 1875, e que celebrava uma
deveu-se igualmente às imagens, sejam das muitas batalhas napoleônicas; nesse
elas pinturas, gravuras, litografias, escul- caso datada de 1807. Já a versão tropical
turas, produzidas ao longo do século XIX. preferiu destacar uma colina inexistente
A fabricação do 7 de setembro como – mas que daria maior proeminência ao
gesto inaugural do Brasil independente ato –, colocar d. Pedro vestido de maneira
foi uma operação construída a partir de oficial, montado num possante cavalo e
circunstâncias que faziam de São Paulo cercado de uma imensa comitiva, a qual,
o centro nevrálgico da política nacional como vimos, era bem mais modesta 21.
em finais do século XIX e inícios do
XX. Para elevar o gesto realizado em
São Paulo, ocultou-se uma série de even-
tos anteriores que compõe o processo de 21 Estou desenvolvendo, junto com Carlos Lima e Lucia
Independência, muito mais longo e com- Stumpf, um livro sobre a tela de Pedro Américo, que
se chamará O sequestro da Independência e deve sair
plexo do que o “grito”. Também não se em 2022.

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Como se pode notar, imagens oficiais não dia a representação não é muito distinta,
são “consequência”, são “causa”. Não se com o governo projetando um passado
comportam como “produtos”, mas ajudam fardado, branco e muito bem organizado.
a “produzir” o seu contexto e outros. Um passado de ordem, sem dissenções,
O certo é que, com o tempo, se pro- violências ou civis comandando o pro-
cedeu a uma seleção quase exclusiva da cesso de emancipação.
tela de Pedro Américo, transformada Esse é um projeto de passado; um
em cartazes, selos, moedas, de maneira projeto de governo. Que 2022 nos per-
a “naturalizar” o papel de São Paulo na mita imaginar uma Independência menos
Independência de 1822. Chama a atenção europeia, masculina e branca. Proponho,
ainda o uso que os militares fizeram e então, uma nova convocação cívica para
têm feito da pintura de Pedro Américo. imaginar um Brasil diferente, muito
Em 1972, em plena ditadura militar, e menos polarizado e armado (literal e
quando se celebravam os 150 anos do 7 de metaforicamente), e, na via oposta, bem
setembro, a imagem de d. Pedro foi relida mais generoso, pois referido ao que é de
como se ele fosse um militar, e não um todas e todos nós, e faz parte do espaço
príncipe de origem portuguesa e ligado cívico que precisamos, com urgência,
à história do antigo regime. E hoje em reconquistar e pactuar.

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