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TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE

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CAPíTULO 2
lhe problem Child (164), "The Clinical Psychologist's Approach A ATITUDE E A ORIENTAÇÃO DO ORIENTADOR1
to Personality Problems" (165), Counseling and Psycholherapy
(166), "Significant Aspects of Client-Centered Therapy" (170),
e este livro. Para formulações de outros autores sobre a terapia
centrada no cliente, ver Combs (42) e Snyder (194).
Para um exame da terapia centrada no cliente à luz de ou­
tras orientações terapêuticas, Snyder (198) apresenta uma revi­
são exaustiva da literatura atual. Um breve artigo sobre este as­
sunto, escrito a partir de um ponto de vista centrado no cliente,
é "Current Trends in Psychotherapy" (167).
Uma descrição do funcionamento prático das abordagens de
um grupo de terapeutas centrados no cliente encontra-se em
Grummon e Gordon (75). Em qualquer processo de psicoterapia, o terapeuta é uma par­
Referências quanto às implicações da terapia centrada no le altamente importante da equação humana. O que ele faz, a
cliente para os campos da ludoterapia, terapia de grupo, educa­ ;I1ilude que mantém, seu conceito básico do papel que desempe­
ção e teoria da personalidade serão encontradas nos capítulos de­
Ilha influenciam notavelmente a terapia. Orientações terapêuti­
dicados a esses tópicos. l'as distintas sustentam pontos de vista diferentes acerca desse as­
\111110, No início de nossa discussão, portanto, convém conside­
Iar o terapeuta em termos da maneira como ele funciona no acon­
"elhamento centrado no cliente.

liMA CONSIDERAÇÃO GERAL

(: comum referir-se à terapia centrada no cliente como sen­


do simplesmente um método ou uma técnica a ser utilizada pelo
()ricl1tador. Sem dúvida essa conotação deve-se, em parte, ao fa­
Iode que as primeiras apresentações tendiam a enfatizar excessi­
V;III!L'lllc a técnica. Pode-se dizer, de forma mais apropriada, que
IIII! orientador eficaz da terapia centrada no cliente apresenta um
l'Onjlllllo de atitudes coerente e em evolução, profundamente em-

I. 1'.s1C capítulo é uma revisão e extensão de um artigo que foi publicado


1",101 pr;lIlc;ra vez no lournal of Consulting Psychology (abril, 1949),13,82-94.
A ATITUDE E A ORIENTAÇÃO DO ORIENTADOR
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butido em sua organização pessoal, um sistema de atitudes que direito de conduzir a si próprio ou, basicamente, acreditamos que
é implementado por técnicas e métodos que lhe sejam compatí­ sua vida seria melhor dirigida por nós? Em que medida temos
veis. Segundo nossa experiência, o orientador que tenta utilizar uma necessidade e um desejo de dominar os outros? Estamos dis­
um "método" está fadado ao insucesso, a menos que esse méto­ postos a deixar que o indivíduo selecione e escolha seus próprios
do apresente uma concordância genuína com as atitudes pessoais valores, ou nossas ações são guiadas pela convicção (geralmente
dele. Por outro lado, o orientador cujas atitudes do tipo que fa­ não expressa) de que ele seria mais feliz se permitisse que selecio­
cilite a terapia só em parte pode ser bem-sucedido, pois suas ati­ nássemos por ele seus valores, padrões e metas?
tudes são inadequadamente implementadas por métodos e técni­ As respostas a perguntas desse tipo parecem ser importantes
como indicadores básicos da abordagem terapêutica. De acordo
cas apropriadas.
Examinemos, então, as atitudes que parecem facilitar a te­ com nossa experiência, indivíduos que já estejam se empenhan­
rapia centrada no cliente. Um orientador deve possuí-las, a fim do em direção a uma orientação que enfatize o valor e o signifi­
de ser um orientador? Essas atitudes podem ser desenvolvidas por cado de cada pessoa podem aprender bastante rápido as técnicas
centradas no cliente que implementam esse ponto. de vista. Isto
meio de treinamento?
é freqüentemente verdadeiro para profissionais de educação, que
têm uma filosofia de educação fortemente centrada na criança.
('om razoável freqüência, também é verdadeiro para religiosos
A ORIENTAÇÃO FILOSÓFICA DO ORIENTADOR
que tenham uma abordagem humanística. Existem muitos psicó­
Alguns profissionais relutam em considerar a relação entre logos e psiquiatras com pontos de vista similares, mas há tam­
pontos de vista filosóficos e trabalho científico. No entanto, no bém aqueles cujo conceito do invidíduo é o de um objeto a ser
empenho terapêutico, essa relação parece ser um dos fatos signi­ dissecado, diagnosticado, manipulado. Esses profissionais talvez
ficativos e cientificamente observáveis que não podem ser igno­ encontrem dificuldade em aprender ou praticar alguma forma de
rados. Nossa experiência no treinamento de orientadores indica terapia centrada no cliente. Em qualquer caso, as diferenças a
que a filosofia operacional básica do indivíduo (que pode ou não esse respeito parecem determinar a prontidão ou a dificuldade de
assemelhar-se à sua filosofia verbalizada) determina, em grau con­ profissionais para aprender e praticar qualquer abordagem cen­
siderável, o tempo que ele demorará para se tornar um orienta­ t rada no cliente.
Mesmo essa descrição da situação dá uma impressão estáti­
dor habilidoso.
O ponto mais importante aqui é a atitude do orientador em ,';\ que não é exata. A filosofia operacional de uma pessoa, seu
relação ao valor e ao significado do indivíduo. De que maneira colljunto de metas, não é algo fixo e imutável, mas uma organi­
vemos os outros? Acreditamos que todas as pessoas têm seu pró­ I.ação fluida e em evolução. Talvez fosse mais preciso dizer que
prio valor e dignidade? Se sustentamos esse ponto de vista no ní­ a pessoa cuja orientação filosófica tende a mover-se em direção
vel verbal, em que medida ele é operacionalmente evidente no ní­ a um maior respeito pelo indivíduo encontra, na abordagem cen­
vel comportamental? Tratamos os indivíduos como pessoas de t rada no cliente, um desafio e uma implementação a seus pontos
valor ou, sutilmente, nós os subestimamos através de nossas ati­ de vista. Descobre nessa abordagem algo acerca das relações hu­
tudes e nosso comportamento? O respeito pelo indivídlJo é pre­ IHallas que tende a levá-lo mais longe filosoficamente do que ele
dominante em nossa filosofia? Respeitamos sua cap;' ".tade c seu iall1ais ousou, além de lhe possibilitar uma técnica operacional
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para colocar em ação esse respeito pelas pessoas, tanto quanto as observações, até o momento, pareçam apontar para uma res­
possa estar desenvolvido em suas próprias atitudes. O terapeuta posta negativa talvez seja demonstrado, de forma mais evidente,
empenhado nessa abordagem logo aprende que o desenvolvimento a partir da experiência de vários orientadores cuja orientação fi­
da maneira de ver as pessoas que fundamenta essa terapia é um losófica inicial distanciava-se bastante daquela descrita como fa­
processo contínuo, intimamente relacionado com o esforço de vorável para um uso mais proveitoso das técnicas centradas no
crescimento e integração do próprio terapeuta. Ele só pode ser cliente. A experiência desses indivíduos em treinamento parece
"não-diretivo" na mesma medida de seu nível de respeito pelos ter seguido uma espécie de padrão. De início, há relativamente
outros dentro de sua própria organização de personalidade. pouca confiança na capacidade do cliente para obter insights ou
Em resumo, por meio das técnicas centradas no cliente, uma para conduzir a si mesmo de maneira construtiva, embora o orien­
pessoa pode implementar seu respeito pelos outros apenas até o tador esteja intelectualmente curioso quanto às possibilidades da
ponto em que o respeito seja uma parte essencial da constituição terapia não-diretiva e aprenda alguma coisa sobre as técnicas. Ele
de sua personalidade; conseqüentemente, a pessoa cuja filosofia começa a aconselhar os clientes com uma hipótese de respeito mui­
operacional já se moveu na direção de sentir um profundo res­ to limitada, que pode ser colocada mais ou menos nestes termos:
peito pela importância e o valor de cada pessoa é capaz de assi­ "Trabalharei com a hipótese de que, até certo ponto, em deter­
milar mais rapidamente as técnicas centradas no cliente que a aju­ minados tipos de situações, o indivíduo tem uma capacidade li­
darão a expressar esse sentimento. 2 mitada para compreender e reorganizar a si próprio. Em muitas
situações e com muitos clientes, eu, sendo um estranho e por isso
mais objetivo, posso conhecer melhor a situação e melhor orientá­
A HIPÓTESE DO TERAPEUTA
la". É sobre essa base limitada e dividida que ele começa seu tra­
halho. Com freqüência, não obtém muito sucesso. Mas à medi­
Em vista do que foi dito na seção anterior, facilmente surgi­ da que observa os resultados do aconselhamento, percebe que os
ria a pergunta: seria, então, a terapia centrada no cliente simples­ clientes aceitam e fazem um uso construtivo da responsabilidade
mente um culto, ou uma filosofia especulativa, na qual um certo quando ele está realmente disposto a permitir-lhes isso. Freqüen­
tipo de fé ou crença obtém certos resultados, ao passo que a au­ lemente surpreende-se com a eficiência dos clientes em lidar com
sência de tal fé impediria esses resultados? Seria, em outras pala­ essa responsabilidade. Tendo como parâmetro a qualidade me­
vras, simplesmente uma ilusão que produz outras ilusões? nos vital da experiência nas situações em que ele, o orientador,
Essa pergunta merece um exame cuidadoso. O fato de que procurou interpretar, avaliar e orientar, não pode ignorar o con­
I raste com a qualidade da experiência nas situações em que o clien­
2. Todo este tópico pode ser explorado mais profundamente. O que permi­
te que o terapeuta tenha um profundo respeito e aceitação pelo outro? Em nossa le ohteve um aprendizado significativo por conta própria. Assim,
experiência, esse tipo de filosofia tem maior probabilidade de ser sustentada por de descobre que a primeira parte de sua hipótese tende a ser com­
pessoas com um respeito básico pelo seu próprio valor e significado. Muito difi­
cilmente se pode aceitar os outros sem que, primeiro, se tenha aceitado a si pró­ provada além de suas expectativas, enquanto que a segunda mos­
prio. Isso poderia nos conduzir a vários outros caminhos para considerar essas I ra-se decepcionante. Assim, pouco a pouco, a hipótese sobre a
experiências, incluindo a terapia, que ajuda o terapeuta a obter um auto-respeito
sólido e realisticamente fundado. Deixaremos essa discussão para o Capítulo lO, qllal haseia todo o seu trabalho terapêutico modifica-se para um
limitando-nos aqui apenas a uma descrição da organização filosófica que parece alicerce cada vez mais centrado no cliente.
ser a base mais eficaz para esse tipo de terapia.
Esse tipo de processo, que já vimos repetir-se muitas vezes,
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parece significar simplesmente o seguinte: a orientação de atitu­ o orientador age com base nessa hipótese de uma maneira espe­
de, a filosofia de relações humanas que parece ser uma base ne­ cífica e operacional, estando sempre atento para as experiências
cessária para o aconselhamento centrado no cliente, não é algo (clínicas ou de pesquisa) que possam contradizer ou sustentar a
que deva ser assumido "com base na fé", ou alcançado de uma hipótese.
só vez. É um ponto de vista que pode ser adotado de modo par­ Embora esteja alerta para todas as evidências, isto não quer
cial e experimental e submetido a teste. É, de fato, uma hipótese dizer que esteja sempre mudando sua hipótese básica em situa­
para suas relações humanas, e sempre será. Mesmo para o orien­ ções de aconselhamento. Se, no meio de uma entrevista, o orien­
tador experiente, que observou em muitíssimos casos as evidên­ tador sente que o cliente talvez não seja capaz de reorganizar-se
cias que sustentam a hipótese, continua a aplicar-se a idéia de que, e parte para a hipótese de que ele deve assumir uma boa parte
em relação ao novo cliente que aparece no consultório, a possi­ da responsabilidade por essa reorganização, confundirá o cliente
bilidade de autocompreensão e autodirecionamento inteligente e derrotará a si próprio, um vez que não conseguirá comprovar
continua sendo - para o cliente - uma hipótese ainda não­ nem refutar qualquer uma das hipóteses. Esse ecletismo confu­
experimentada. so, que já prevaleceu na psicoterapia, bloqueou o progresso cien­
Parece válido afirmar que a fé ou crença na capacidade do lífico na área. Na verdade, só agindo coerentemente sobre uma
invidíduo para lidar com sua situação psicológica e consigo mes­ hipótese bem selecionada podemos conhecer seus elementos ver­
mo é da mesma ordem que qualquer outra hipótese científica. É dadeiros ou falsos.
uma base positiva para a ação, mas está aberta a comprovação
ou refutação. Se, por exemplo, tivéssemos fé em que todas as pes­
soas pudessem decidir, elas próprias, terem ou não um câncer in­ A IMPLEMENTAÇÃO ESPECíFICA DA ATITUDE DO ORIENTADOR

cipiente, nossa experiência com essa hipótese logo nos obrigaria


a revisá-la profundamente. Por outro lado, se tivermos fé em que Até aqui, a discussão tem sido em termos gerais, conside­
o afeto maternal caloroso provavelmente produzirá as reações pes­ rando a atitude básica do orientador em relação aos outros. Co­
soais e o crescimento de personalidade desejáveis no bebê, é bas­ 1110 isso é implementado na situação terapêutica? É suficiente que

tante provável que encontremos apoio para essa hipótese em nos­ o orientador sustente a hipótese básica que descrevemos? Essa
sas experiências, pelo menos tentativamente. orientação de atitude promoverá, inevitavelmente, o avanço da
Assim, colocando de maneira mais clara ou resumida a orienta­ lerapia? Com certeza, isso não é o bastante. É como se um médi­
ção de atitude que parece ser ideal para o orientador centrado co do século passado tivesse começado a acreditar que as bacté­
no cliente, podemos dizer que o orientador escolhe trabalhar de rias causam infecções. Essa atitude, com toda a probabilidade,
modo coerente sobre a hipótese de que o indivíduo tem capaci­ () levaria inevitavelmente a obter resultados um tanto melhores
dade suficiente para lidar de forma construtiva com todos os as­ que seus colegas que desprezassem tal hipótese. Porém, só quan­
pectos de sua vida que possam, potencialmente, alcançar a per­ do implementasse essa atitude ao máximo com técnicas apropria­
cepção consciente. Isto significa a criação de uma situação inter­ das poderia experimentar plenamente a importância de sua hipó­
pessoal na qual o material possa chegar à consciência do cliente, lese. Só depois que esterilizasse a área em torno da incisão, os
e uma demonstração significativa da aceitação do cliente, por par­ illsl rurnentos, os lençóis, os curativos, suas mãos, as mãos de seus
te do orientador, como uma pessoa capaz de conduzir a si mesma. assislentes - só então experimentaria o significado total e a efi­

J;~,---_ __
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cácia total da hipótese em que começara a acreditar de uma ma­ pre implementando, consciente e inconscientemente, as atitudes
neira genérica. que adota em relação ao cliente. Essas atitudes podem ser inferi­
A mesma coisa acontece com o orientador. À medida que das e descobertas a partir de sua implementação operacional. As­
descobre meios novos e mais sutis de implementar sua hipótese sim, um orientador que, basicamente, não acredita que a pessoa
centrada no cliente, novos significados surgem através da expe­ tenha capacidade suficiente para se integrar, pode pensar que em­
I,
riência, e a hipótese mostra-se mais profunda do que se supunha pregou "métodos" e "técnicas" não-diretivos e provou, para sua
a princípio. Como disse um orientador em treinamento: "Eu con­ satisfação, que essas técnicas não funcionam. Uma gravação desse
servo mais ou menos os mesmos pontos de vista que tinha um material, porém, tende a mostrar que, no tom da voz, na manei­
ano atrás, mas eles têm muito mais significado para mim". ra de lidar com o inesperado, nas atividades periféricas da entre­
É possível que uma das contribuições gerais mais significati­ vista, ele implementa sua própria hipótese, e não a hipótese cen­
vas da abordagem centrada no cliente tenha sido sua insistência trada no cliente, como imagina.
em investigar a implementação detalhada do ponto de vista do Parece não haver um substituto possível para a verificação
orientador na própria entrevista. Muitos terapeutas diferentes, contínua entre propósito ou hipótese e técnica ou implementa­
de orientações distintas, expõem seus propósitos gerais em ter­ ção. O orientador pode verbalizar essa autoverificação analítica
mos relativamente semelhantes. Só mediante um estudo cuida­ da seguinte maneira: à medida que desenvolvo mais claramente
doso da entrevista gravada - de preferência tendo à mão tam­ e mais integralmente a atitude e a hipótese segundo as quais pre­
bém a transcrição datilografada - é possível determinar que pro­ tendo lidar com o cliente, devo examinar a implementação dessa
pósitos estão realmente sendo implementados na entrevista. "Es­ hipótese no material de entrevista. À medida, porém, que estudo
tou de fato fazendo o que penso estar fazendo? Estou realizando meus comportamentos específicos na entrevista, detecto propó­
operacionalmente os propósitos que verbalizo?" Essas são ques­ sitos implícitos dos quais não me havia dado conta, descubro áreas
tões que todos os orientadores devem colocar a si próprios conti­ em que não me ocorreu aplicar a hipótese, noto que aquilo que,
nuamente. Há amplas evidências, em nossas análises de pesqui­ para mim, era a implementação de uma atitude é percebido pelo
sas, de que um julgamento subjetivo por parte do próprio orien­ cliente como a implementação de outra. Assim, o estudo com­
tador em relação a essas questões não é.suficiente. Somente uma pleto de meu comportamento lapida, altera e modifica a atitude
análise objetiva de palavras, voz e inflexão pode elucidar, de ma­ c a hipótese que levarei para a próxima entrevista. Uma aborda­
neira adequada, o verdadeiro propósito do orientador. Inúme­ gem sensata para a implementação de uma hipótese é uma expe­
ras experiências acerca da reação de orientadores a seu material riência contínua e recíproca.
gravado, bem como a análise de pesquisa feita por Blocksma (33),
revelaram que o terapeuta muitas vezes se surpreende ao desco­
brir as metas que de fato está pondo em prática na entrevista. ALGUMAS FORMULAÇÕES DO PAPEL DO ORIENTADOR
Observe que, na discussão desse ponto, o termo "técnica"
foi rejeitado em favor de "implementação". O cliente em geral Ao examinar o desenvolvimento do ponto de vista centrado
percebe rapidamente quando o orientador está usando um "mé­ 110cliente, descobrimos um progressão contínua de tentativas de
I'. todo", uma ferramenta intelectualmente escolhida que ele sele­ formular tudo o que envolve a implementação da hipótese básica
cionou para um propósito. Por outro lado, o orientador está sem­ na situação de entrevista. Algumas delas são formulações de orien­

_Ill~
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que acompanhariam as palavras' 'Você está sentado em cima do gar dentro e viver as atitudes expressas, em vez de observá-Ias,
meu chapéu". Se o leitor repetir a resposta do orientador com apreender cada nuance de sua natureza mutável; numa palavra,
absorve-se completamente nas atitudes do o'otro. E, no esforço de
alguma dessas inflexões, poderá perceber que, quando a frase é
III,
conseguir isso, simplesmente não há espaço para qualquer outro
pronunciada de forma empática e compreensiva, a atitude pro­ tipo de atividade ou atitude de aconselhamento; se ele estiver ten­
vável da resposta por parte do cliente será "Sim, é assim que me tando vivenciar as atitudes do outro, não poderá estar diagnosti­
sinto, e percebo mais claramente agora que você colocou em ou­ cando-as, não poderá estar pensando em acelerar o processo. Por
tros termos". Mas quando a afirmação do orientador é declara­ ser ele outro, e não o cliente, a compreensão não é espontânea, de­
1'1
II tiva, torna-se uma avaliação, um julgamento feito pelo orienta­ vendo portanto ser adquirida - e isto através da mais intensa, con­
, I tínua e ativa atenção aos sentimentos do outro, com a exclusão de
dor, que agora está dizendo ao cliente quais são os sentimentos qualquer outro tipo de atenção.
II
I, dele. O processo está centrado no orientador, e o sentimento do
cliente, nesse caso, tenderia a ser: "Estou sendo diagnosticado". Mesmo essa descrição pode ser facilmente mal compreendi­
Para evitar essa maneira de lidar com a situação, desistimos da, uma vez que o experimentar com o cliente, a vivência de suas
de descrever o papel do orientador como sendo o de esclarecer atitudes, não é em termos da identificação emocional por parte
as atitudes do cliente. do orientador, mas da identificação empática, onde o orientador
I No presente estágio de conceituação da terapia centrada no percebe os ódios, as esperanças e os medos do cliente através da
cliente, há uma tentativa de descrever o que ocorre nos relacio­ imersão num processo empático, sem contudo experimentar ele
namentos terapêuticos mais satisfatórios, uma outra tentativa de próprio esses ódios, esperanças e medos.
descrever a maneira pela qual a hipótese básica é implementada. Uma outra tentativa de formular esse ponto de vista foi fei­
Segundo essa formulação, a função do terapeuta seria assumir, ta pelo próprio autor, da forma como segue:
tanto quanto for possível, a estrutura de referência interna do
cliente, perceber o mundo como o cliente o vê, deixar de lado to­ Com o passar do tempo, fomos colocando uma ênfase cada
das as percepções a partir da estrutura de referência externa en­ vez maior na natureza desse tipo de relação, "centrada no clien­
quanto estiver fazendo isso e comunicar algo de sua compreen­ te", pois maior sua eficácia quanto mais completamente o orienta­
dor se empenha em tentar compreender o cliente da forma como
são empática ao cliente.
o cliente vê a si próprio. Quando relembro alguns de nossos pri­
Raskin, num artigo não publicado (159), apresentou uma des­ meiros casos publicados - o caso de Herbert Bryan em meu livro,
crição clara dessa versão da função do orientador. ou o caso de Mr. M. observado por Snyder - percebo que, gra­
dualmente, fomos abandonando os vestígios de diretividade sutil
! Há [um outro] nível de resposta não-diretiva do orientador que, que são bastante evidentes nesses casos. Começamos a reconhecer
li para o autor, representa a atitude não-diretiva. Num certo sentido, que, se pudermos compreender a maneira como o cliente vê a si
I
é uma meta e não algo que já esteja sendo praticado pelos orienta­ próprio nesse momento, ele poderá fazer o resto. O terapeuta deve
dores. Mas, segundo a experiência de alguns, é uma meta altamen­ deixar de lado sua preocupação com o diagnóstico e sua argúcia
te atingível, que ... produz uma mudança radical na natureza do pro­ diagnóstica, deve livrar-se da tendência de fazer avaliações profis­
cesso de aconselhamento. Nesse nível, a participação do orienta­ sionais, deve parar com suas tentativas de formular um prognósti­
dor torna-se um experimentar ativo, junto com o cliente, dos senti­ co acurado, deve renunciar à tentação de guiar sutilmente o indiví­
I" duo c deve concentrar-se num único propósito: a compreensão e
II' mentos que ele expressa; o orientador esforça-se ao máximo para
ii aceitação profundas das atitudes conscientemente assumidas nesse
entrar na pele da pessoa com quem está se comunicando, tenta che-

I
_.10.:..
TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE A ATITUDE E A ORIENTAÇÃO DO ORIENTADOR
40 41

momento pelo cliente, enquanto ele explora, passo a passo, as áreas postas desse tipo é desprezível. Oitenta e cinco por cento das res­
perigosas que tem negado à consciência. postas dos orientadores são tentativas de transmitir uma com­
preensão das atitudes e dos sentimentos do cliente. Parece bas­
Acredito ser evidente, a partir desta descrição, que esse tipo
tante claro que os orientadores não-diretivos, com base na expe­
de relação só é possível se o orientador for profunda e genuina­
riência terapêutica contínua, passaram a apoiar-se mais plenamen­
mente capaz de adotar essas atitudes. O aconselhamento centra­
te na hipótese básica da abordagem do que acontecia meia déca­
I
do no cliente, para ser eficaz, não pode ser um truque ou uma
da atrás. Parece que, cada vez mais, o terapeuta não-diretivo tem
ferramenta. Não se trata de uma maneira sutil de guiar o cliente
considerado eficazes a compreensão e a aceitação, passando a con­
enquanto se finge deixar que ele próprio faça isso. Para ser efi­
centrar todo o seu esforço na tentativa de alcançar um profundo
caz, o processo deve ser sincero. É essa sensível e autêntica "cen­
entendimento do mundo íntimo do cliente.
tralização no cliente" que considero como a terceira característi­
Desde a conclusão do segundo estudo mencionado, parece
ca da terapia não-diretiva que a distingue das demais abordagens.
ter havido uma busca maior por uma variedade mais ampla de
(179, pp. 420-421)
lécnicas terapêuticas. Na maior parte, porém, essa busca consis­
tiu na procura de novas maneiras de deixar claro que o terapeuta
pensa, sente e explora com o cliente. É natural esperar que, com
EVIDÊNCIAS EXPERIMENTAIS DE UMA TENDÊNCIA
a crescente segurança na experiência clínica, surgirá variedade ca­
da vez maior de tentativas no sentido de comunicar o fato de que
Um estudo de pesquisa recentemente concluído poderia con­
o terapeuta está buscando ver tão profundamente quanto ele, ou
firmar algumas das afirmações precedentes (180). Técnicas de
até mais profundamente ainda do que o cliente é capaz de perce­
aconselhamento utilizadas por orientadores não-diretivos nos anos
II ber no momento. Pela utilização dessa crescente variedade de res­
:·1
de 1947-1948 foram analisadas em termos de categorias empre­ postas, é bem possível que a formulação atual do papel do orien­
li'
1
gadas por Snyder na análise de casos tratados em 1940-1942 (196). tador seja descartada, tal como o foram formulações anteriores.
É uma oportunidade para se comparar diretamente os métodos Alé o momento, porém esse não parece ser o caso.
de aconselhamento e, assim, de registrar todas as tendências ob­
serváveis. Descobriu-se que, em certa época, algumas respostas
dos orientadores envolviam questionamento, interpretação, rea­ A DIFICULDADE DE PERCEBER ATRAVÉS DOS OLHOS DO CLIENTE
firmação, encorajamento, sugestão. Essas reações, embora sem­
pre constituíssem uma pequena proporção do total, pareciam in­ o esforço de alcançar a estrutura de referência interna do
dicar, por parte do orientador uma confiança limitada na capa­ l'Iil'lIte, de atingir o centro de seu próprio campo perceptivo e al­
I, cidade do cliente para compreender e lidar com suas dificulda­ .-ançar a mesma percepção que ele é bastante análogo a alguns
des. O orientador ainda julgava ser necessário, às vezes, tomar dos fellômenos da Gestalt. Da mesma maneira que, por concen­
as rédeas, explicar o cliente para ele próprio, oferecer apoio e in­ II açúo at iva, uma pessoa pode de repente ver no diagrama do texto
dicar quais seriam os cursos de ação desejáveis. Com o avanço dr Jlsicologia uma escada descendente em vez de ascendente, ou
da experiência clínica, houve um nítido decréscimo em todas essas Jll'Il'l'Ill'r dois rostos em vez de um castiçal, o orientador pode,
formas de resposta. Nos casos mais recentes, a proporção de res- por l'sforço ativo, colocar-se na estrutura de referência do cliente.

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A ATITUDE E A ORIENTAÇÃO DO ORIENTADOR
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Mas, tal como no caso da percepção visual, a figura ocasional­


I!
, ,
mente se modifica, de modo que o orientador pode, às vezes, fica a ponto de estourar. Estive no exército por quatro anos e meio.
, I Não tinha problemas na época, nem esperanças, nem desejos. Meu
I!', surpreender-se fora da estrutura de referência do cliente, olhan­
único pensamento era cair fora quando a paz Chegasse. Meus pro­
do para ele como um observador externo. Isto acontece quase in­ blemas, agora que estou fora, são os de sempre., Sabe, vêm de mui­
variavelmente, por exemplo, durante uma longa pausa ou silên­ to tempo antes de eu entrar no exército ... Adoro crianças. Quando
cio por part~ do cliente. O orientador pode conseguir algumas eu estava nas Filipinas - sabe, quando eu era mais jovem jurei que
pistas que lhe permitam uma empatia correta, mas, em certa me­ jamais me esqueceria de minha infância infeliz - então, quando
I
vi aquelas crianças nas Filipinas, tratei-as muito bem. Costumava
dida, é forçado a ver o cliente de um ponto de vista de observa­
I dar sorvetes a elas e levá-Ias ao cinema. Foi só um período _ eu
I 'III
dor e só pode assumir ativamente o campo perceptivo do cliente tinha voltado para trás - e isso despertou algumas emoções em
I, , quando algum tipo de expressão tem início novamente. mim que eu acreditava já ter enterrado há muito tempo. (Uma pau­
I '
O leitor pode experimentar esse papel de várias maneiras, po­ sa. Ele parece prestes a chorar.)
II de praticar assumindo a estrutura de referência interna de uma
I' pessoa conversando no ônibus, por exemplo, ou ouvir um amigo
descrever uma experiência emocional. Alguma coisa do processo Depois de ler esse material, pensamentos como os que se se­
I, !

. talvez possa até ser transmitido por escrito. guem representariam uma estrutura de referência externa para vo­
cê, o "orientador" .
Para que o leitor tenha uma experiência um pouco mais cla­
ra e real do que está envolvido no conjunto de atitudes que esta­
l Talvez eu devesse ajudá-lo a começar a falar.
mos discutindo, sugerimos que se coloque no lugar do orienta­
III Será que essa incapacidade de começar a andar é uma espécie
dor e examine o material a seguir, que foi retirado de anotações de dependência?
completas, feitas por um orientador do início de uma entrevista Por que essa indecisão? Qual poderia ser a causa?
com um homem de trinta e poucos anos. Quando terminar a lei­ O que significa esse enfoque no casamento e na família?
tura, sente-se e considere os tipos de atitudes e pensamentos que Ele parece ser um solteirão. Não sabia disso.
passaram por sua cabeça enquanto lia. O choro, a "represa" parecem indicar que há muita repres­
são.
Ele é um veterano de guerra. Teria sido um caso psiquiátrico?
Cliente: Eu não me sinto muito normal, mas quero me sentir Sinto pena de qualquer pessoa que tenha passado quatro anos
assim ... Achei que teria alguma coisa para falar. .. mas de repente e meio no serviço militar.
tudo parece andar cm círculos. Fiquei tentando imaginar o que iria Em algum momento ele provavelmente precisará mexer com
dizer. Mas quando cheguei aqui isso não funcionou ... Sabe, antes essas experiências infelizes da infância.
1,11 de eu vir parecia que ia ser bem mais fácil. Sabe, não consigo to­ O que significa esse interesse por crianças? Identificação?
~
I !I mar uma decisão. Não sei o que quero. Tentei raciocinar logica­ Uma vaga homossexualidade?
III mente sobre isso ... tentei descobrir que coisas são importantes pa­
ra mim. Achei que talvez existam duas coisas que um homem po­ Note que todas essas atitudes são basicamente complacentes.
I' deria fazer: casar e ter uma família. Mas se ele for um solteirão, Nüo há nada' 'errado" com elas. São até tentativas de "compreen­
I só trabalhando e ganhando dinheiro para viver. .. isso não é muito
, " der", mais no sentido de "compreender sobre" do que "compreen­
bom. Então me vejo com meus pensamentos voltando para a épo­
ca em que eu era criança, e choro com muita facilidade. A represa
der com". O locus da percepção, porém, está fora do cliente.
Para fins de comparação, os pensamentos que poderiam pas­
I"

-k
A ATITUDE E A ORIENTAÇÃO DO ORIENTADOR
TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE
45
44

sar por sua cabeça caso conseguisse de fato assumir a estrutura do, até o ponto máximo que o cliente estiver disposto a comuni­
car; e, tendo assim percebido a estrutura de referência interna do
de referência interna do cliente tenderiam a ser mais ou menos
I
, III " outro tão completamente quanto possível, indicar para o cliente
estes: em que medida está vendo através dos olhos dele.
[",1,11

Vamos supor que quiséssemos fazer uma descrição mais em


I,i Você está querendo lutar para atingir a normalidade, não é?
É realmente difícil para você começar.
termos das atitudes do orientador. A formulação seria: "Vara po­
A tomada de decisões parece simplesmente impossível para der ajudá-lo, deixarei de lado a mim mesmo - o selj das intera­
você. ções habituais - e entrarei em seu mundo de percepção tão com­
Você quer casar, mas isso não lhe parece algo muito possível. pletamente quanto puder. Eu me tornarei, em certo sentido, um
Você se sente transbordando com sentimentos infantis. outro selj para você - um alter ego de suas próprias atitudes e
Para você, o exército representou estagnação. sentimentos - uma oportunidade segura para que você possa se
Ser muito bom para as crianças teve, de alguma forma, um
perceber mais claramente, experimentar a si mesmo de forma mais
significado para você.
Mas foi - e é - uma experiência perturbadora para você. verdadeira e profunda, escolher de modo mais significativo".

"11 1
Como já foi mencionado, se esses pensamentos são expres­
sos de uma forma definitiva e declarativa, transformam-se numa o PAPEL DO ORIENTADOR NA IMPLEMENTAÇÃO DE UMA HIPÓTESE

1 :11
1
avaliação feita a partir do ponto de vista perceptivo do orienta­
I' dor. Na medida, porém, em que são tentativas de compreender, De que maneira essa abordagem implementa a hipótese cen­
[
com formulações apenas sugeridas, representam a atitude que es­ Irai de nosso trabalho? Seria extremamente enganoso afirmar que
11'li,

tamos buscando descrever como "adotar a estrutura de referên­ nosso método atual ou a formulação do método, cresceu a partir
',111
cia do cliente". da teoria. A verdade é que, como na maior parte dos problemas
'111
[
illll!' semelhantes, começa-se a descobrir, com base na intuição clíni­
ça, que certas atitudes são eficazes, outras não. Tenta-se relacio­
11,1
A FUNDAMENTAÇÃO LÓGICA DO PAPEL DO ORIENTADOR nar essas experiências com uma teoria básica; assim, elas se es­
darecem e apontam na direção de novas expansões. Foi dessa ma­
Muitos leitores poderão indagar: por que adotar esse tipo es­ ncira que chegamos à presente formulação, e essa formulação sem
pecífico de relação? De que maneira ela implementa a hipótese da dúvida sofrerá modificações quando resolvermos algumas das per­
I'I! qual partimos? Qual é a fundamentação lógica dessa abordagem? plexidades mencionadas no fim deste capítulo .
.I,
Para que tenhamos uma base clara para considerar essas No momento, parece-me que o fato de eu, como orientador,
questões, vamos primeiro tentar colocar em termos formais, e de­ concentrar toda a minha atenção e meu esforço na tarefa de com­
1',111

pois parafrasear, uma descrição do propósito do orientador quan­ preender e perceber da forma como o cliente percebe e compreen­
I
do ele atua dessa maneira. Em termos psicológicos, a meta do de. é uma demonstração operacional notável da crença que te­
li orientador é perceber, da forma mais sensível e acurada possí­ nho 110 valor e significado desse cliente individual. Fica claro que
II valor que considero mais importante, conforme indicam mi­
vel, todo o campo de percepção do cliente, da maneira como ele
o experimenta, com as mesmas relações de figura e plano de fun- nhas alitudes e meu comportamento verbal, é o próprio cliente.

.11',
:'11

TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE A ATITUDE E A ORIENTAÇÃO DO ORIENTADOR


46 47

Além disso, o fato de admitir que os resultados se baseiam nessa Inicialmente, discutimos a possibilidade de que essas entrevis­
1,1:
compreensão profunda é, provavelmente, a mais relevante evi­ tas pudessem interferir em nossa relação como colegas de traba­
,1:1
dência operacional de minha confiança na potencialidade do in­ iho. Eu realmente sinto que as entrevistas não alteraram de manei­
ra alguma nossa relação. Éramos duas pessoas inteiramente dife­
vidíduo para a mudança construtiva e o desenvolvimento de uma rentes em nossos dois relacionamentos e um não tinha a menor in­
vida mais plena e satisfatória. Quando um cliente seriamente per­ terferência no outro. Acredito que isso se deveu, em grande parte,
turbado luta contra sua absoluta incapacidade de fazer escolhas, ao fato de que, quase inconscientemente, por causa da natureza da
ou outro contra seus fortes impulsos de suicidar-se, o fato de eu terapia, aceitamos um ao outro e a nós mesmos como sendo pes­
soas diferentes em nossos dois relacionamentos mútuos. Como pro­
penetrar com um profundo entendimento nesses sentimentos de­ fissionais, éramos duas pessoas trabalhando juntas sobre diversos
sesperados, sem contudo assumir a responsabilidade, é uma ex­ problemas do dia-a-dia. No aconselhamento, éramos basicamente
pressão muito significativa da confiança básica nas tendências do eu trabalhando juntos em minha situação, como vim a descobrir.
organismo humano de mover-se para a frente. Talvez a última frase explique como me senti na relação de aconse­
lhamento. Mal percebia, durante as entrevistas, quem era a pessoa
Poderíamos dizer então que, para muitos terapeutas que que estava sentada no consultório junto comigo. Era só eu que im­
atuam a partir de uma orientação centrada no cliente, a meta sin­ portava, meu modo de pensar era o que interessava e meu orienta­
cera de "entrar" nas atitudes do cliente, penetrar a estrutura de dor era quase uma parte de mim, trabalhando em meu problema
da forma como eu queria trabalhar nele.
referência interna dele, é a mais completa implementação até ho­
É difícil colocar em palavras minha impressão mais marcante
je formulada para a hipótese central de respeito e confiança na das entrevistas. Enquanto eu falava, quase sentia como se estivesse
,'1
' capacidade da pessoa. "fora do mundo". Às vezes, nem sabia muito bem o que estava
I':I!; falando. Isto pode acontecer facilmente quando se fala consigo mes­
mo por um longo tempo - a gente fica tão envolvida na verbaliza­
ção que já nem tem muita consciência do que está dizendo e, certa­
A EXPERIÊNCIA DO CLIENTE EM RELAÇÃO AO ORIENTADOR
mente, nem percebe mais o que as palavras realmente significam.
O papel do terapeuta era trazer-me de volta a mim mesma, ajudar­
Permanece ainda a questão de saber a qual propósito psico­ me acompanhando tudo o que eu dizia, entender o que eu estava
lógico serve a tentativa de duplicar, por assim dizer, o campo per­ falando. Nunca notei que ele repetisse ou reafirmasse coisas que
cu havia dito, mas apenas que acompanhava meu pensamento, por­
ceptivo do cliente na mente do orientador. Nesse ponto, talvez que me dizia coisas que eu havia afirmado mas de forma a torná­
'I'
!I'' I nos seja útil saber de que maneira o cliente percebe essa expe­ las claras para mim, trazer-me de volta à terra, ajudar-me a ver o
I '
riência. A partir das inúmeras declarações escritas ou expressas que eu dissera e o que aquilo significava para mim.
'I Várias vezes, usando analogias, ele me ajudava a perceber o
1 . fi pelos clientes após a terapia, percebe-se que o comportamento
significado do que eu havia dito. Às vezes dizia algo como "Não
I ~!I'" do orientador é experienciado de várias maneiras, embora alguns
,I!
sei se é isto que você quer dizer, ___" ou " ___ , é isto que
I !I! elementos sejam freqüentemente observáveis. você quer dizer?", e eu me dava conta de um desejo de esclarecer
1,1, as coisas que falava, não tanto para ele como pessoa, mas, através
I Um primeiro trecho pode ser tirado da declaração de uma
dele, esclarecê-Ias para mim mesma.
cliente profissionalmente sofisticada, que acabara de completar
uma série de cinco entrevistas. Ela já conhecia o orientador, com
quem trabalhara numa outra atividade profissional. Durante as duas primeiras entrevistas, ele interrompeu as pau­

_.lill
TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE
A ATITUDE E A ORIENTAÇÃO DO ORIENTADOR
48
49

sas. Isso porque eu mencionara, antes de o aconselhamento come­


estava, em certo sentido, "falando consigo mesma" e, no entan­
çar, que as pausas me deixavam constrangida. Lembro-me de que,
na ocasião, desejava que ele me deixasse pensar sem interrupções. to, que era um processo muito diferente quando ela falava consi­
I go mesma por intermédio de uma outra pessoa.
A entrevista que se destaca mais claramente em minha cabeça foi
uma em que aconteceram muitas pausas longas, durante as quais Um outro exemplo poder ser tirado de um relato escrito por
:",
eu trabalhava a pleno vapor. Estava começando a conseguir algum lima jovem que se mostrava bastante perturbada na época em que
insight de minha situação e, embora nada fosse dito, tinha a sen­ chegou para o aconselhamento. Ela possuía um vago conhecimen­
I,, to da terapia centrada no cliente. O relato do qual provém esse
" sação, pela atitude do orientador, de que ele estava trabalhando
junto comigo. Não estava agitado, nem pegou um cigarro, apenas material foi escrito espontânea e voluntariamente cerca de seis
I!,!!
,', semanas após a conclusão das entrevistas.
permaneceu sentado, acredito que olhando direto para mim, en­
quanto eu mantinha os olhos no chão e trabalhava dentro de mi­
"I
nha cabeça. Foi uma atitude de completa cooperação, e tive a sen­ Nas primeiras entrevistas, sempre dizia coisas como "Não estou
II!I, agindo como eu mesma". "Nunca agi deste jeito antes." O que
sação de que ele acompanhava meus pensamentos. Agora percebo eu queria dizer era que aquela pessoa fechada, desorganizada e apá­
' o grande valor das pausas, se a atitude do orientador é de coope­ tica não era eu. Tentava dizer que aquela era uma pessoa diferente
I ,'I:

ração, não de simplesmente esperar o tempo passar. da que, anteriormente, havia funcionado de uma forma que pare­
I ,ii,
':1"
Eu já tinha visto antes as técnicas não-diretivas serem apli­ cia ser satisfatoriamente ajustada. Para mim, isso parecia ser ver­
" cadas - não em mim mesma - em situações onde as técnicas dade. Então, comecei a perceber que eu era a mesma pessoa agora,
Ilr l
eram os fatores dominantes, e nem sempre fiquei satisfeita com seriamente fechada etc., que havia sido antes. Isso só aconteceu de­
pois de eu ter falado de meus sentimentos de auto-rejeição, vergo­
os resultados. Como resultado de minha própria experiência co­ nha, desespero e dúvida, na situação de aceitação da entrevista. O
mo cliente, estou convencida de que a aceitação completa por par­ orientador não ficou espantado, nem chocado. Estava contando a
te do orientador, a maneira como expressa a atitude de querer ele todas essas coisas sobre mim que não combinavam com minha
ajudar o cliente e o calor humano manifestado pela entrega sin­ imagem de estudante de pós-graduação, professora, uma pessoa sen­
cera de si mesmo ao cliente, numa cooperação completa com tu­ sata. Ele reagiu com total aceitação e um caloroso interesse, sem
do o que o cliente faz ou diz, são básicos nesse tipo de terapia. pesados matizes emocionais. Ali estava uma pessoa inteligente e sã,
liiii' aceitando sinceramente aquele comportamento que me parecia tão
vergonhoso. Lembro-me de uma sensação orgânica de relaxamen­
ii Repare como o tema significativo da relação é "éramos ba­ to. Não precisava mais continuar lutando para encobrir e esconder
,'I
! ':' sicamente eu trabalhando juntos em minha situação, como vim aquela pessoa vergonhosa.
i !Ii
a descobrir". Os dois se/ves, de alguma forma, tornaram-se um, Parece-me agora que aquilo que senti como "uma aceitação
!IIII sincera sem matizes emocionais" era o que eu precisava para po­
! ,II embora permanecessem dois - "éramos eu". Essa idéia é repe­
der enfrentar minhas dificuldades. Uma das coisas contra as quais
111['i tida várias vezes: "Meu orientador era quase uma parte de mim,
lutava era o caráter das minhas relações com os outros. Estava ema­
I,I!I trabalhando em meu problema da forma como eu queria traba­ ranhada em dependência, embora lutasse contra isso. Minha mãe,
lhar nele"; "o papel do terapeuta era trazer-me de volta a mim sabendo que alguma coisa estava errada, tinha vindo me ver. O amor
mesma"; "eu me dava conta de um desejo de esclarecer as coisas dela era tão grande que eu podia senti-lo me envolvendo. O sofri­
que falava, não tanto para ele como pessoa, mas, através dele, mento dela era tão real que eu quase podia tocá-lo. Mas não conse­
esclarecê-las para mim mesma". A impressão é de que a cliente IHlia conversar com ela. Mesmo quando, num insight, ao falar de
lIIinhas relações com a família, ela me disse: "Você pode ser tão de­

Id:i l
TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE A ATITUDE E A ORIENTAÇÃO DO ORIENTADOR

50 51

pendente ou independente quanto quiser", continuei resistindo. A


los de novo com menos ansiedade. Temos aqui uma vivência di­
impessoalidade interessada do orientador permitiu que eu falasse ferente, embora basicamente semelhante, do papel do orientador.
de meus sentimentos. O esclarecimento na situação de entrevista É natural que os clientes mais articulados e sofisticados fa­
expôs a atitude para mim como um ding an sich que eu podia olhar, çam um relato mais completo do significado que a experiência
manipular c colocar no lugar. Ao organizar minhas atitudes, co­ teve para eles. Os mesmos elementos parecem estar presentes, po­
meçava a me organizar.
rém, nos relatos simples e relativamente inarticulados de clientes
Lembro de estar sentada em meu quarto pensando nos com­
ponentes de dependência e necessidades infantis no desajustamen­ mais modestos. Um veterano de guerra com pouco estudo escre­
to, e resistindo fortemente à idéia de que houvesse algum elemento ve assim sobre sua experiência de aconselhamento.
de dependência em meu comportamento. Acho que reagi da ma­
neira como teria reagido se um terapeuta numa situação de entre­ Para minha grande surpresa, o sr. K, o orientador, me deixou fa­
vista tivesse interpretado isso para mim antes de eu estar pronta. lar até cansar. Pensei que ele fosse me fazer perguntas sobre vários
No entanto, continuei pensando a respeito e comecei a ver que, em­ pontos de meu problema. Ele fez algumas, mas não tantas quanto
bora insistisse em dizer a mim mesma que queria ser independente, eu imaginava. Enquanto contava as coisas para o sr. L., eu mesmo
havia evidências de sobra de que eu também queria proteção e de­ me ouvia falando. E, fazendo isso, diria que resolvi meus próprios
pendência. Senti isso como uma situação vergonhosa. Não conse­ problemas.
guia aceitar essa indecisão em mim, até que, com um grande senti­
mento de culpa, falei sobre ela nas entrevistas, aceitei-a e, então, Aqui também parece lícito supor que a atitude e as reações
reformulei-a eu mesma com menos ansiedade. Nessa situação, a total do orientador tornaram mais fácil para o cliente "ouvir a si
aceitação com que o orientador recebeu meus sentimentos permitiu­
próprio"
me ver a atitude com alguma objetividade. Nesse caso, o insight
foi estruturado racionalmente antes de eu ir para a entrevista. Po­
rém, só foi internalizado quando a atitude se refletiu de volta para
mim livre de vergonha e culpa, como algo que eu podia olhar e acei­ UMA TEORIA DO PAPEL DO TERAPEUTA
tar. Minha reformulação e exposição posterior do sentimento de­
pois da reação do orientador foram a aceitação de mim mesma e
Com esse tipo de material em mente, uma possível explica­
a internalização do insight.
yÜO psicológica da eficácia do papel do orientador poderia ser de­
Como devemos entender a função do orientador da manei­ senvolvida nos seguintes termos. A psicoterapia lida basicamen­
ra como foi experimentada por essa cliente? Talvez fosse exato lc com a organização e o funcionamento do self. Há muitos ele­
dizer que as atitudes que ela podia expressar mas não conseguia lIIentos da experiência que o self não pode enfrentar, não pode
aceitar como parte de si mesma tornaram-se aceitáveis quando perceber claramente, porque enfrentá-los ou admiti-los seria in­
um selfalternativo, o orientador, recebeu-as com aceitação e sem congruente e ameaçador para a organização atual do self. Na te­
emoção. Só depois que um outro selfencarou seu comportamento rapia centrada no cliente, o cliente encontra no orientador um
sem constrangimento ou emoção é que ela pôde encará-lo da mes­ ;llIlêntico alter ego, num sentido técnico e operacional- um self
ma forma. Essas atitudes tornaram-se, então, objetivas para ela qlle se despiu temporariamente (tanto quanto possível) de sua pró­
e passíveis de controle e organização. Os insights a que ela quase pria vestimenta de self, mantendo apenas a qualidade de tentar
chegou no quarto passaram a ser verdadeiros quando uma outra ,·olllpreender. Na experiência terapêutica, ver as próprias atitu­
pessoa os aceitou e expôs, até que finalmente ela pôde exprimi- des, confusões, ambivalências, sentimentos e percepções tão bem
TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE A ATITUDE E A ORIENTAÇÃO DO ORIENTADOR
52 53

expressas por uma outra pessoa, despojadas contudo das com­ estiver correta) porque uma outra pessoa foi capaz de adotar sua
plicações emocionais, é ver a si próprio objetivamente, e isso pre­ estrutura de referência e de perceber junto com ele - perceber
para o caminho para a aceitação, dentro do self, de todos esses com aceitação e respeito.
elementos que, agora, são percebidos mais claramente. Favorece­
se, assim, a reorganização e o funcionamento mais integrado do
self. UM SUBPRODUTO
Vamos tentar reformular essa idéia de uma outra maneira.
No conforto emocional da relação com o terapeuta, o cliente co­ Como um comentário adicional, pode-se dizer que o concei­
meça a experimentar um sentimento de segurança ao descobrir to da atitude e função do terapeuta descrito acima tende a redu­
que qualquer atitude que expresse é compreendida quase do mes­ zir muito um problema que afeta outras orientações terapêuti­
mo modo como ele a percebe, e é aceita. É capaz então de explo­ cas: o problema de como evitar que os desajustes, os vieses emo­
rar, por exemplo, uma vaga sensação de culpa que experimen­ cionais e os pontos cegos do próprio terapeuta interfiram no pro­
tou. Nessa relação segura, pode perceber pela primeira vez o sig­ cesso terapêutico do cliente. Não há dúvidas de que todos os te­
nificado e o propósito hostis de certos aspectos de seu comporta­ rapeutas, mesmo que já tenham resolvido muitas de suas próprias
mento e compreender por que se sentiu culpado em relação a is­ dificuldades numa relação terapêutica, ainda têm conflitos per­
so, e por que foi preciso negar à consciência o significado desse turbadores, tendências a projetar ou atitudes não-realistas em re­
comportamento. Essa percepção mais clara, todavia, é em si mes­ lação a certas questões. Como impedir que essas atitudes distor­
ma desestruturante e geradora de ansiedade, não terapêutica. É cidas bloqueiem a terapia ou prejudiquem o cliente tem sido um
uma evidência para o cliente de que há nele incongruências per­ tópico importante na reflexão terapêutica.
turbadoras, de que ele não é o que pensa ser. Mas quando enun­ Na terapia centrada no cliente, esse problema foi minimiza­
cia essas novas percepções e as ansiedades que as acompanham, do consideravelmente pela própria natureza da função do tera­
descobre que esse alter ego acolhedor, o terapeuta, essa outra pes­ peuta. Atitudes não-realistas ou distorcidas têm mais probabili­
soa que é apenas parcialmente outra pessoa, também percebe es­ dade de tornarem-se evidentes quando se fazem avaliações. Quan­
sas experiências, mas com uma nova qualidade. o terapeuta per­ do a avaliação do cliente ou de suas expressões é quase inexisten­
cebe o self do cliente da forma como o cliente o conhece, e o acei­ te, os vieses do orientador têm poucas chances de se manifesta­
ta; percebe os aspectos contraditórios que foram negados à cons­ rem, até mesmo de existirem. Em qualquer terapia em que o orien­
ciência e os aceita também como parte do cliente; e ambas as acei­ lador se pergunte "Como vejo isto? De que maneira entendo es­
tações trazem em si o mesmo calor e respeito. É assim que o clien­ le material?", abre-se a porta para que as necessidades ou os con­
te, experimentando em outra pessoa a aceitação de aspectos que flitos pessoais do terapeuta distorçam as avaliações. Mas se a per­
são dele, pode assumir em relação a si próprio a mesma atitude. gunta central do orientador é "Como o cliente vê isto?", e se ele
Descobre que também pode aceitar-se mesmo com os acréscimos está continuamente examinando sua própria compreensão da per­
e as alterações que se tornam inevitáveis depois das novas per­ cepção do cliente, através de afirmações hesitantes, a distorção
cepções de si mesmo como hostil. Pode experimentar-se, sem cul­ produzida pelos conflitos do orientador tem muito menos lugar
pa, como uma pessoa que tem sentimentos hostis convivendo com l', se chegar a acontecer, terá muito mais chance de ser corrigida
outros tipos de sentimentos. Ele pôde fazer isso (se nossa teoria pdo cliente.
=

TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE A ATITUDE E A ORIENTAÇÃO DO ORIENTADOR


54 55

Esse princípio pode ser formulado de forma ligeiramente di­ Irlllllra de referência interna do cliente. Um trecho de um mate­
ferente. Quando o terapeuta participa da relação terapêutica fa­ rial de cliente pode ilustrar alguns dos problemas que encon­
zendo interpretações, avaliando o significado do material e coi­ Iramos.
sas do gênero, suas distorções participam com ele. Quando o te­ O trecho foi extraído da terceira entrevista com um jovem
rapeuta procura manter-se de fora, como uma pessoa separada, dl' lima enfermaria psiquiátrica. O material foi gravado em fita
empenhando-se totalmente no sentido de compreender o outro l' apresentado da maneira como o cliente o forneceu. Se uma pes­

de forma tão completa a ponto de tornar-se quase um alter ego ',0;1 se colocar no papel do orientador, provavelmente terá difi­
do cliente, é muito menos provável que ocorram distorções e de­ ,'I!ldades em perceber com esse cliente,
sajustes pessoais.
Embora esse ponto de vista tenha sido formulado aqui ape­ Muitos pensamentos, muitos sentimentos estão ali na minha
nas em termos gerais, foi confirmado na experiência de treina­ cabeça, Eu só os coloco ... eu só ... não sei ... eu os sinto ali dentro,
mento clínico. Alguns indivíduos podem estar tão desajustados cles entopem minha cabeça. (Breve pausa.) Eu me concentro nas
coisas da minha cabeça e pensamentos e mente, mas é que eu ... é
que são incapazes de perceber a experiência a partir do ponto de
que eu ... não sei .. , o que acontece, acontece diferente, acontece lá
vista de uma outra pessoa. Os clientes sentem que os orientado­ dentro, é isso que me trava ... me trava depressa. É que eu ... fico
res em treinamento não conseguem compreender e tendem a de­ pensando de verdade se eu poderia voltar para aquela minha enfer­
sistir das entrevistas. E os orientadores, por sua vez, tendem a Illaria e realmente viver, realmente ser alguém. Eu só ... Saiu tudo
abandonar a área. Para a maioria dos orientadores em treinamen­ til' repente da minha cabeça. Eu imaginava se poderia voltar para
1:'1 c fazer isso, realmente ser alguém lá. (Breve pausa.) Fico imagi­
to, a eficácia em alcançar a estrutura de referência interna de ou­
nando, fico pensando nisso, e se um dia eu serei ... apenas voltar
tra pessoa é recompensa suficiente para seus esforços. Os pro­ dircto para alguma coisa e fazer algo e ser alguém lá. (Breve pau­
blemas pessoais, que a princípio podem dificultar a compreen­ \li,) Provavelmente me ajudaria a continuar sendo diferente, um
são exata, a reflexão ou a aceitação de atitudes, tendem, conse­ hOll1em diferente, uma pessoa diferente lá. Aqui neste consultório
qüentemente, a desempenhar um papel cada vez menor. O pro­ <'II geralmente saio com alguns pensamentos que fazem sentido, e

fundo emaranhado emocional de cliente e terapeuta que pode idéias, algo com sensações reais, uma mente real, pensamento real.
( )lIlcm quando cheguei aqui estava vivendo, e ... vou estar hoje. Te­
ocorrer quando o terapeuta atua como avaliador, quase não existe Ilho certeza disso. Eu posso ser. .. eu nâo posso agüentar mais do
em nossa experiência. 'illl' isso aqui, então eu ... é demais para mim. 3

Aqlli, o problema enfrentado pelo orientador é que boa parte


A DIFICULDADE DE COMPREENDER AS PERCEPÇÕES DO OUTRO d.1 I;!la do cliente é confusa e expressa num simbolismo tão particu­
1.11. qlle rica difícil penetrar seu campo perceptivo e ver a experiên­
Até aqui, a explicação da função do orientador da maneira , 1.1 IIOS termos dele. Provavelmente o tipo de atitude empática

como é atualmente formulada, foi apresentada sem referências dt' 11111 orientador bem-sucedido em terapia centrada no cliente,
particulares às dificuldades especiais envolvidas. Observamos em • 11111 rdação a esse material, incluiria pensamentos como estes:

nossa experiência que há muitas situações clínicas nas quais é real­


I Ik IlIlIa entrevista psicanalítica gravada por Earl Zinn e usada sob per­
mente difícil, mesmo para o orientador experiente, alcançar a es- 1111',' .. 111
A ATITUDE E A ORIENTAÇÃO DO ORIENTADOR
TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE
57
56

Esses pensamentos podem ocorrer ocasionalmente a qualquer


Parece que sentimentos e pensamentos bloqueiam você.
Pelo que estou entendendo, são os pensamentos interiores que tra­ micntador, por mais que suas perspectivas sejam basicamente cen­
vam você. Iladas no cliente. No entanto, parece ser verdade que, seja o te­
É a questão, a dúvida, quanto à possibilidade de você ser alguém. IlIa avaliatório ou autocentrado, existe aqui um nívelligeiramen­
Compreendo que o pensamento abandona você abruptamente, da
II, Il' IIIcnor de respeito global pela outra pessoa do que na compreen­
mesma forma como chega.
Você fica imaginando e imaginando se poderia ser uma pessoa, de '!lo inteiramente empática citada anteriormente. Quando o orien­
lll! '
voltar à enfermaria. lador está preocupado consigo mesmo e com o que deveria fa­
i"'i' Você sente que algumas de suas reações são reais e sensatas. la, o foco no respeito que ele sente pelo cliente necessariamente
II!:' ' Você tem a impressão de que aqui, na hora da terapia, está real­
,I dilllinui. Quando pensa em termos avaliatórios, seja sua avalia­
I,: I mente vivo.
!I, Esse pensamento é forte demais para você - é mais do que você \'llll objetivamente exata ou não, está, em certa medida, assumindo
I,
pode encarar. 1111101 postura crítica, encarando o cliente como um objeto e não
II!',
IJ; 1'l1l1l0 uma pessoa e, nesse ponto, seu respeito pelo cliente como
I"
,I, pl'~~oa diminui. Por outro lado, penetrar profundamente com esse
Se o orientador mantiver essa atitude centrada no cliente de
1:111,
forma coerente e, ocasionalmente, transmitir a ele um pouco de 1IIlIIIcm sua luta confusa para ser alguém é, talvez, a melhor im­
seu entendimento do problema, então estará fazendo o possível plrlllcntação que conhecemos hoje para indicar o significado de
I
1'1'
11 para que o cliente se sinta profundamente respeitado. Aqui, o pen­ lIossa hipótese básica de que o indivíduo representa um processo
i
samento confuso, hesitante, quase incoerente de um indivíduo que IlIrrrccdor do mais profundo respeito, em relação tanto ao que
I!I
~, 'I sabe ter sido avaliado como anormal é realmente respeitado por rk t quanto a suas potencialidades.
"
"'I ,

i
ser considerado digno de compreensão.
11'
Por outro lado, podem passar pela cabeça do orientador pen­
'1:1
I!:i
samentos de natureza avaliatória, onde o julgamento do mate­ AI nUMAS QUESTÕES PROFUNDAS

rial é feito a partir de sua própria estrutura de referência, ou de


natureza autocentrada, nos quais a atenção transferiu-se do cliente A hipótese aqui descrita acerca do papel terapêutico suscita
para o orientador. Tais pensamentos poderiam incluir temas co­ "1,,lIll1as questões muito básicas. Um exemplo retirado de uma
mo os seguintes: I'lIlrt'vista terapêutica pode servir para o exame de algumas des­
.,,_ qllcstões. A srta. Gil, uma jovem que, ao longo de uma série
o pensamento é confuso e as expressões inarticuladas. dr (" ..Ircvistas terapêuticas, mostrou-se muito desanimada com re­
Parece haver sentimentos de irrealidade.
I"~'no II si mesma, passou a maior parte da sessão discutindo seus
Será que ele é esquizofrênico?
Estarei compreendendo bem o que ele quer dizer? _l'lIlllIlt'lItos de inadequação e falta de apreço pessoal. Durante
Devo encorajar o desejo dele de ser alguém? 1'i1l1r do tempo, esteve usando a esmo a tinta para pintar com
Eis um exemplo notável de um selj consciente lutando para recu­ Il~ drdos. Acabou expressando seus sentimentos de querer fugir
perar uma sensação de controle sobre o organismo.
\Ir lodos, de não ter nada a ver com as pessoas. Após uma longa
Ele reage com algum pânico à idéia de viver e ser uma pessoa.
O que vou responder a isso? 1IIIIINa, Vl'l11 o que se segue:

I
, 1 1,1'

~ ~lLi, ..lo
TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE A ATITUDE E A ORIENTAÇÃO DO ORIENTADOR
58 59

C: Nunca disse isso antes para ninguém ... ma, pensei por duas vezes por semana ... ou se quer vir duas vezes por semana ...
tanto tempo ... É uma coisa terrível para se dizer, mas ,l' ao menos uma vez por semana. Isso é com você, (Longa pausa.)
jll C: Você não vai sugerir que eu venha com mais freqüência?
eu pudesse ... bem (Risada curta, amarga; pausa. l. se ao mellos pu­
'III,', desse encontrar uma causa gloriosa à qual pudesse dedicar minha Você não ficou alarmado, achando que eu deveria vir. .. todos os
vida, eu seria feliz. Não consigo ser o tipo de pessoa que quero ser. dias ... até superar isto.
1,11
Acho que talvez não tenha coragem ... ou força ... para me matar. .. O: Acredito que você seja capaz de tomar suas próprias deci­
'III, sões. Conversarei com você sempre que quiser vir.
e se alguma outra pessoa me livrasse da respollsabilidade ... ou se
C: (Com um tom de receio na voz.) Não acredito que você
fosse num acidente ... eu ... eu ... simplesmenle Ilão quero viver.
esteja alarmado com ... certo ... Talvez eu tenha medo de mim mes­
0 5 : No momento, as coisas parecem t;1o Ilegras que você não
ma... mas você não tem medo de mim ... (Ela se levanta - uma
consegue ver muita razão para viver. .. expressão estranha em seu rosto.)
C: Sim ... Gostaria de IlUllea ter começado esta terapia. Esta­
O: Você diz que talvez tenha medo de si própria ... e está ima­
va feliz vivendo no meu mundo de sOllho. Lá podia ser o tipo de ginando por que eu não pareço ter medo de você?
'i pessoa que queria ser ... Mas agora ... Há um abismo tão grande ... C: (Outra risada curta.) Você tem mais confiança em mim do
I,i
entre o meu ideal... e o que eu sou. Queria que as pessoas me odias­ que eu, (Ela limpa a tinta dos dedos e caminha para a porta.) Vejo
sem. Tento fazer com que me odeiem. Porque então poderia me você na semana que vem ... (aquela risada curta) talvez. (Sua atitu­
'I afastar delas e culpá-las ... mas não ... Está tudo nas minhas mãos ... de parece tensa, deprimida, amarga, completamente derrotada. Sai
',I'
!II!.,
Aqui está a minha vida ... ou aceito o fato de que sou completa­ da sala caminhando lentamente.)
mente desprezível... ou luto contra o que quer que seja que me pren­
'I de nesse conflito terrível. Imagino que se aceitasse o fato de que Esse trecho mostra claramente a questão de até que ponto
:'1 sou desprezível, então poderia ir embora para algum lugar. .. e ar­ () terapeuta deve manter sua hipótese central. Quando a vida, li­
rumar um quartinho em algum lugar. .. arrumar algum trabalho me­ teralmente, está em jogo, qual é a melhor hipótese a seguir? Ele
cânico por aí... e voltar para a segurança de meu mundo de sonho, deve ainda manter a hipótese de um profundo respeito pela ca­
onde eu podia fazer as coisas, ter amigos inteligentes, ser uma pes­ paddade da pessoa? Ou deve mudar sua hipótese? Se for esse o
soa linda e maravilhosa ... l'lISO, quais são as alternativas? Uma seria a hipótese de que "Eu
O: É mesmo uma batalha difícil... quando a gente mergulha posso me responsabilizar perfeitamente pela vida de outra pes­
fundo como você está fazendo ... e às vezes o abrigo de seu mundo ,~oa'. Uma outra ainda seria a hipótese de que "Posso ser tempo­
de sonho parece mais atraente e confortável. rariamente responsável pela vida de uma outra pessoa sem pre­
C: Meu mundo de sonho ou o suicídio. jlldiçar a capacidade de autodeterminação". Ou outra: "O indi­
O: Seu mundo de sonho ou algo mais permanente do que viduo não pode ser responsável por si mesmo, nem eu posso ser
"!II sonhos ... Il'sponsável por ele, mas é possível encontrar alguém que se pos­
O: Sim. (Longa pausa. Alteração completa da voz.) Então não ~a responsabilizar por ele."
vejo por que fazê-lo perder seu tempo ... vindo duas vezes por se­
I 'I
1II
Nesse texto específico, as respostas do orientador que indi­
mana ... Não valho isso ... O que você acha?
ram lima estrutura de referência externa - "Ficaria contente em
O: Isso é com você, Gil... Não estou perdendo meu tempo ...
VI'!' você", "Acredito que você seja capaz de tomar suas próprias
Ficaria contente em ver você ... sempre que quisesse vir ... mas o ca­
so é como você se sente em relação a isto ... se você não quer vir
dl'l'isôes" - são respostas eficazes? Ou serão eficazes aquelas res­
postas que vêem o cliente de dentro? Ou será que o ingrediente
4. Cliente. hllportante é o respeito profundo, seja ele demonstrado a partir
5. Orientador. Ilu l'strutura de referência externa ou interna?

~L
'~i,
! "

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II' TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE A ATITUDE E A ORIENTAÇÃO DO ORIENTADOR
60 61

o orientador tem o direito, profissional ou moral, de per­ rose em vez da saúde mental? Que rejeite a ajuda em vez de aceitá­
I!
mitir que um cliente considere seriamente a psicose ou o suicídio la? Que escolha a morte em vez da vida? Para mim, parece que
I
como uma saída, sem fazer qualquer esforço positivo para impe­ só quando o terapeuta está totalmente disposto a admitir qual­
'1:1 dir essas escolhas? Seria parte de nossa responsabilidade social quer resultado, qualquer direção, só então poderá perceber a força
não admitir esse tipo de idéias ou ação por parte de outra pessoa? vital da capacidade e potencialidade do indivíduo para a ação
Trata-se de questões profundas, que dizem respeito à pró­ construtiva. É quando admite que a morte seja a escolha que a
pria essência da terapia. Não podem ser decididas por outra pes­ vida é escolhida; quando admite que a neurose seja a escolha é
soa. Orientações terapêuticas diferentes têm atuado com base em que uma normalidade saudável é escolhida. Quanto mais com­
hipóteses diferentes. Tudo o que uma pessoa pode fazer é des­ pletamente atue sobre sua hipótese central, mais convincente são
II II crever sua própria experiência e as evidências que surgiram dessa as evidências de que a hipótese é correta. 6
experiência.

QUESTÕES NÃO RESOLVIDAS

O ESFORÇO BÁSICO DO ORIENTADOR


Os parágrafos precedentes descrevem a experiência de uma
Segundo minha experiência, o orientador só poderá ser de pessoa, o autor, de forma categórica (ou, como parecerá para al­
auxílio máximo ao indivíduo depois que tiver firmado, dentro de j.tlIllS, extrema). Voltemos um pouco para examinar uma peque­

si mesmo, sobre qual hipótese irá trabalhar. Também consta da 1111 afirmação referente à atitude do orientador e o efeito dessa
minha experiência que, quanto mais profundamente ele confia IIlilude sobre o cliente.
na força e potencialidade do cliente, mais profundamente desco­ Na experiência de muitos, orientadores e clientes, quando
(I orientador adota genuinamente a função que ele compreende
bre essa força.
Parece claro, a partir de nossa experiência clínica e nossas ~t'I' característica de um orientador centrado no cliente, o cliente
pesquisas, que quando o orientador percebe e aceita o cliente tal Irllde a ter uma experiência vital e liberadora, que apresenta mui­
como é, quando abandona todas as avaliações e penetra a estru­ IIIS semelhanças de um cliente para outro. Parece ocorrer um fe­
tura de referência perceptiva do cliente, deixa-o livre para explo­ IIAmeno reconhecível, que pode ser descrito. Se a descrição feita
rar sua vida e sua experiência de uma nova maneira, livre para IIqlli é ou não acurada, é uma outra questão. Diferentes orienta­
perceber naquela experiência novos significados e objetivos. Mas dores empregaram termos descritivos diferentes, e só o tempo e
II ,'I'
II prsquisa poderão indicar qual descrição é a aproximação se­
será que o terapeuta está disposto a permitir total liberdade ao
1II11111ica mais exata do fenômeno.
cliente no que se refere aos resultados? Está genuinamente dis­
1,1' I
posto a deixar que o cliente organize e dirija sua vida? Está dis­ (,. Ficará evidente, a partir dessa discussão, que nem na prática, nem na
I: posto a permitir que ele escolha metas sociais ou anti-sociais, mo­ h'o,'u podcllIos concordar com o comentário de Green (72) de que o aconselha­
rais ou imorais? Se não for assim, parece duvidoso que a terapia ""'''10 cml .. ado no cliente é simplesmente uma maneira sutil de passar para o cliente
I
'" P"lu, <i"C indicam aprovação de valores culturais. Sua hipótese podia ser par­
venha a ser uma experiência profunda para o cliente. Mais difícil •11I1""'llle accilávcl cm alguns dos primeiros casos centrados no cliente, mas não
ainda, está ele disposto a permitir que o cliente escolha a regres­ ".'"·U' 1('1 IIl'IIhllllla confirmação no tratamento atual aplicado por orientadores
"'Prl "·llIl". COIll o desenvolvimento da terapia centrada no cliente, tornou-se cada
são em vez do crescimento e da maturidade? Que prefira a neu­ vrl IIIUI\ duro qllc ela não pode ser explicada nesses termos.

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t,,1,1' TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE
A ATITUDE E A ORIENTAÇÃO DO ORIENTADOR
62
63

o elemento crucial na atitude do orientador é sua total dis­


ponto de vista dá margem à questão: não é à total confiança do
posição em permitir que o cliente expresse qualquer atitude? A
orientador na capacidade de a pessoa se autoconduzir que o cliente
permissividade, é, então, o fator mais significativo? Em aconse­
III!I rt'sponde? Assim, no caso da srta. Gil, citado anteriormente, a
1
lhamento, esta não parece ser uma explicação adequada, porém,
afirmação do orientador, "Acredito que você seja capaz de to­
em ludoterapia, geralmente parece haver alguma base para tal for­
IlIar suas próprias decisões", seria considerada como uma ver­
mulação. O terapeuta, às vezes, pode não conseguir alcançar a
hali/.ação casual da atitude eficaz do orientador que foi crucial
estrutura de referência interna de uma criança, uma vez que a
para toda a relação. Desse ponto de vista, é a expectativa do orien­
expressão simbólica pode ser tão complexa e particular, que ele
lador de que "você pode conduzir a si mesma" que constitui o
se perde na tentativa de compreender. No entanto, a terapia avan­ l"lílllUlo social ao qual o cliente responde.
I ça, parece que em grande escala, com base na permissividade, já­ Ainda um outro tipo de formulação poderia ser aquele pro­
que a aceitação dificilmente pode ser completa sem que o tera­ post o por Shaffer, segundo o qual a psicoterapia é "um pro ces­
peuta, primeiro, seja capaz de entender 7 . "o de aprendizagem através do qual uma pessoa adquire a capa­
Um outro tipo de formulação enfatizaria o fato de que a ca­ ddade de falar consigo mesma de maneira apropriada, de forma
racterística essencial da relação é o novo tipo de necessidade de II controlar sua própria conduta" (181). A partir desse ponto de
satisfação alcançado pelo cliente numa atmosfera de aceitação. vi"t<t, a atitude do orientador poderia resumir-se em proporcio­
Assim, Meister e Miller descrevem a experiência como "uma ten­ lIar a atmosfera ideal para que o cliente aprenda a "falar consi­
tativa por parte do orientador de oferecer ao cliente um novo ti­ !til mesmo de maneira apropriada".
po de experiência, onde seu ciclo de respostas não usuais pode Uma outra descrição é a de que a relação oferece ao cliente
ser rompido, uma vez que o orientador não alimenta o reforço II oportunidade de fazer escolhas responsáveis, numa atmosfera
de rejeição que outros contatos sociais ocasionaram. O relato do lia qual se pressupõe que ele seja capaz de tomar decisões por si
I cliente sobre seu comportamento, seu verdadeiro comportamen­ IIll'SIllO. Assim, numa série de entrevistas de aconselhamento, o
to, e sua necessidade de comportar-se dessa maneira, são 'acei­ dicllh: faz centenas de escolhas - o que dizer, no que acreditar,
tos'. Assim, na própria relação de aconselhamento, o cliente ado ta o que negar, o que fazer, o que pensar, que valor atribuir a suas
um novo modo de resposta, um modo diferente de necessidade rxperiências. A relação torna-se uma ocasião de prática contínua
de satisfação". (131, pp. 61-62) lia tarefa de fazer escolhas cada vez mais maduras e responsáveis.
Uma outra formulação coloca a ênfase no nível de confian­ Como será observado, essas formulações distintas não são
,II
ça ou de expectativa do orientador em relação ao indivíduo. Esse 1110 contrastantes. Diferem na ênfase, mas provavelmente todas
('I/lS (indusive a formulação descrita neste capítulo) são tentati­
' '!lI' 7. Desde que este texto foi escrito, uma explicação diferente foi mostrada VI'" imperfeitas de descrever uma experiência sobre a qual ainda
I
II!' ao autor. É bem possível que a criança suponha que o terapeuta perceba a situa­
ção da mesma maneira que ela. A criança, muito mais do que o adulto, supõe t('mos muito pouco conhecimento de pesquisa.
que todos compartilham com ela a mesma realidade perceptiva. Portanto, a per­
missividade e a aceitação são experimentadas pela criança como compreensão e
aceitação, uma vez que, para ela, é certo que o terapeuta esteja percebendo da
mesma maneira. liMA DEFINiÇÃO OBJETIVA DA RELAÇÃO TERAPÊUTICA
Se esta descrição for exala, então a situação na ludoterapia não difere em
nenhum aspecto essencial da descrição da relação apresentada ao longo da captítulo.
Devc ter ficado evidente que o material deste capítulo baseou­

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TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE
A ATITUDE E A ORIENTAÇÃO DO ORIENTADOR
62
63

o elemento crucial na atitude do orientador é sua total dis­


ponto de vista dá margem à questão: não é à total confiança do
posição em permitir que o cliente expresse qualquer atitude? A
orientador na capacidade de a pessoa se autoconduzir que o cliente
permissividade, é, então, o fator mais significativo? Em aconse­
Ilill' rt'sponde? Assim, no caso da srta. Gil, citado anteriormente, a
lhamento, esta não parece ser uma explicação adequada, porém,
a rirmação do orientador, "Acredito que você seja capaz de to­
em ludoterapia, geralmente parece haver alguma base para tal for­
I lIlar suas próprias decisões", seria considerada como uma ver­
1,li mulação. O terapeuta, às vezes, pode não conseguir alcançar a
halização casual da atitude eficaz do orientador que foi crucial
estrutura de referência interna de uma criança, uma vez que a
pam toda a relação. Desse ponto de vista, é a expectativa do orien­
expressão simbólica pode ser tão complexa e particular, que ele
lador de que "você pode conduzir a si mesma" que constitui o
se perde na tentativa de compreender. No entanto, a terapia avan­ l'sl í 111 ulo social ao qual o cliente responde.
ça, parece que em grande escala, com base na permissividade, já­ Ainda um outro tipo de formulação poderia ser aquele pro­
que a aceitação dificilmente pode ser completa sem que o tera­ poslo por Shaffer, segundo o qual a psicoterapia é "um proces­
peuta, primeiro, seja capaz de entender7 • so de aprendizagem através do qual uma pessoa adquire a capa­
Um outro tipo de formulação enfatizaria o fato de que a ca­ ddade de falar consigo mesma de maneira apropriada, de forma
racterística essencial da relação é o novo tipo de necessidade de II mntrolar sua própria conduta" (181). A partir desse ponto de
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Assim, Meister e Miller descrevem a experiência como "uma ten­ nar a atmosfera ideal para que o cliente aprenda a "falar consi­
tativa por parte do orientador de oferecer ao cliente um novo ti­ Voo mesmo de maneira apropriada".
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ser rompido, uma vez que o orientador não alimenta o reforço II oportunidade de fazer escolhas responsáveis, numa atmosfera
de rejeição que outros contatos sociais ocasionaram. O relato do na qual se pressupõe que ele seja capaz de tomar decisões por si
II cliente sobre seu comportamento, seu verdadeiro comportamen­ IIlCSIllO. Assim, numa série de entrevistas de aconselhamento, o
to, e sua necessidade de comportar-se dessa maneira, são 'acei­ cliente faz centenas de escolhas - o que dizer, no que acreditar,
tos'. Assim, na própria relação de aconselhamento, o cliente adota o que negar, o que fazer, o que pensar, que valor atribuir a suas
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de satisfação". (131, pp. 61-62) na tarefa de fazer escolhas cada vez mais maduras e responsáveis.
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ça ou de expectativa do orientador em relação ao indivíduo. Esse 1110 contrastantes. Diferem na ênfase, mas provavelmente todas
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ção da mesma maneira que ela. A criança, muito mais do que o adulto, supõe Irlllos muito pouco conhecimento de pesquisa.
que todos compartilham com ela a mesma realidade perceptiva. Portanto, a per­
missividade e a aceitação são experimentadas pela criança como compreensão e
aceitação, uma vez que, para ela, é certo que o terapeuta esteja percebendo da
mesma maneira. UMA DEFINiÇÃO OBJETIVA DA RELAÇÃO TERAPÊUTICA
Se esta descrição for exata, então a situação na ludoterapia não difere em
nenhum aspecto essencial da descrição da relação apresentada ao longo da captítulo.
I>Cve ter ficado evidente que o material deste capítulo baseou­

ii,
TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE A ATITUDE E A ORIENTAÇÃO DO ORIENTADOR

64 65

se na experiência clínica e na apreciação crítica, e não em alguma t ação da terapia. Conseqüentemente, todos os terapeutas buscam
base científica ou objetiva. Pouquíssimas pesquisas foram reali­ criar o que consideram como a relação ideal. Se existem, de fato,
zadas acerca dos complexos problemas da delicada relação cliente­ vários tipos diferentes de relação terapêutica, cada um caracte­
terapeuta. Um início foi feito por Miller (132) num pequeno es­ rístico de escolas terapêuticas distintas, então os ideais sobre os
tudo baseado em oito entrevistas - duas psicanalíticas, uma "não quais trabalham terapeutas experientes dessas diferentes escolas
não-diretiva" e cinco não-diretivas. Usando cópias transcritas co­ mostrarão relativamente pouca similaridade. Se, contudo, hou­
mo base para a análise, peritos procuraram fazer discriminações ver apenas um tipo de relação realmente terapêutico, então deve
objetivas sobre como as respostas do orientador eram experimen­ haver uma concordância quanto ao conceito de uma relação ideal
tadas pelo cliente (a despeito da intenção do orientador). Os pe­ uefendido por terapeutas experientes. Seria de se esperar, nesse
ritos deviam decidir se a resposta do orientador era experimenta­ caso, mais concordância entre terapeutas experientes, qualquer
da como (1) de "aceitação", definida como demonstrando res­ que seja sua orientação teórica, do que entre os terapeutas expe­
peito e admitindo a validade da posição do cliente, (2) de apoio, rientes e os novatos dentro de uma mesma escola de pensamen­
(3) de negação, ou (4) neutra. A técnica da análise de variância lo, uma vez que a experiência deve proporcionar um insight mais
revelou poucas diferenças entre os julgamentos, particularmente aguçado dos elementos da relação.
em relação às entrevistas não-diretivas. Na verdade, as catego­ Para testar essa série um tanto complexa de hipóteses, Fie­
rias pareciam mais adequadas a essas entrevistas do que às ou­ dler fez primeiro um estudo piloto usando oito terapeutas e, de­
1'1 i tras. A descoberta básica foi de que as entrevistas não-diretivas pois, um estudo mais cuidadosamente definido envolvendo dez
caracterizavam-se, na maior parte, por uma experiência de acei­ pessoas. No estudo principal, havia três terapeutas com orienta­
,~i' tação por parte do cliente, em vez de neutralidade ou apoio. ,'110 analítica, três com uma orientação centrada no cliente, um
!

Descobriu-se também que, numa entrevista considerada pelo udleriano e três leigos. A tarefa desses indivíduos era descrever
II, orientador como malsucedida, havia tantas respostas experimen­ u relação terapêutica ideal. Para isso, utilizaram a técnica "Q"
tadas como negação ou rejeição quanto nas entrevistas realiza­ projetada por Stephenson (201, 202)8. Setenta e cinco declara­
das a partir de outras orientações. O fato de que as respostas se­ "ôes foram retiradas da literatura e de terapeutas, cada uma de­
jam não-diretivas não impede que elas transmitam, ou sejam ex­ lus uescrevendo um possível aspecto da relação. (Para ilustrar,
perimentadas como negação ou rejeição. Esse estudo foi a pri­ t rês das declarações foram "O terapeuta é solidário com o pa­
meira tentativa de mensurar a relação a partir do ponto de vista dente", "O terapeuta tenta vender suas próprias idéias", "O te­
do cliente. rupeuta trata o paciente com muita deferência".) Cada um dos
Um outro estudo concluído recentemente é importante não deI. avaliadores classificou essas setenta e cinco declarações des­
só em si mesmo, mas também porque traz muitas promessas de nitivas em sete categorias, das mais características de uma rela­
continuação da análise objetiva de muitos dos aspectos sutis da ,'00 ideal para as menos características. Cada avaliador havia atri­
relação entre o terapeuta e o cliente. É um par coordenado de IIlIldo um valor de um a sete para cada item, de modo que a clas­
pesquisas realizadas por Fiedler (57, 58), que será descrito breve­ .~i I'icação feita por qualquer um deles podia agora ser correlacio­
mente nos próximos parágrafos. Iluda com a de qualquer outro.
:'111 Fiedler partiu da suposição, sustentada por quase todos os H. Ver não só as referências indicadas, mas também as páginas 162 ss. do
terapeutas, de que a relação é um elemento importante na facili­ ( '''plllllo 4, onde se descreve um outro estudo utilizando essa técnica,

.111' "

i ..
TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE A ATITUDE E A ORIENTAÇÃO DO ORIENTADOR
66 67

Os resultados foram muito interessantes. Todas as correla­ O tom de voz do terapeuta transmite a total capacidade de
ções foram fortemente positivas, variando de 43 a 84 por cento, compartilhar os sentimentos do paciente.
indicando que todos os terapeutas, e mesmo os não-terapeutas,
tendiam a descrever a relação ideal em termos semelhantes. Quan­ Considerando o ponto de vista deste capítulo, trata-se de uma
do as correlações foram analisadas por fatoração, apenas um fa­ confirmação nítida da importância da empatia e da total com­
tor foi encontrado, revelando que, basicamente, há uma única preensão por parte do terapeuta. Alguns itens também indicam
relação em direção à qual todos os terapeutas se empenham. Hou­ o respeito que o terapeuta dedica ao cliente. Infelizmente, há pou­
ve uma correlação maior entre os especialistas considerados bons cas chances de avaliar até que ponto se deposita confiança na ca­
terapeutas, a despeito do tipo de orientação, do que entre profis­ pacidade básica do cliente, já que existem muito poucos itens re­
sionais experientes e inexperientes dentro da mesma orientação. lacionados a isso. Com base na classificação desses poucos itens,
O fato de que até mesmo os novatos tenham descrito a relação pode-se dizer que esse tipo de confiança é apenas moderadamen­
terapêutica ideal em termos que apresentaram alta correlação com te característico do heterogêneo grupo de terapeutas.
aqueles dos profissionais experientes sugere que a melhor rela­ Na extremidade negativa da escala estão os itens que descre­
ção terapêutica pode ser relacionada às boas relações interpes­ vem o terapeuta como hostil ao paciente, ou agindo como se fos­
se superior. No pólo negativo extremo encontra-se a declaração:
soais em geral.
"O terapeuta não demonstra compreensão dos sentimentos que
Quais são as características dessa relação ideal? Reunidas to­
o paciente está tentando comunicar".
das as avaliações, eis os itens colocados nas duas primeiras cate­
Num segundo aspecto importante da pesquisa, Fiedler pro­
gorias:
I curou mensurar o tipo de relação que de fato é alcançado por
Mais característico
diferentes terapeutas e até que ponto a relação real é semelhante
II, III O terapeuta é capaz de participar completamente da co­
I I, ú ideal. Nesse estudo, quatro peritos escutaram dez entrevistas
li ' municação do paciente. gravadas e, para cada entrevista, avaliaram os setenta e cinco itens
I, I

!II descritivos para indicar em que medida eram característicos da­


Muito característico 'lucia entrevista em particular. Das dez entrevistas, quatro eram
Os comentários do terapeuta sempre acompanham o que conduzidas por terapeutas de orientação psicanalítica, quatro por
o paciente tenta transmitir. Il'rapeutas centrados no cliente e duas por adlerianos. Em cada
O terapeuta vê o paciente como alguém que trabalha jun­ II,1'UPO, metade das entrevistas eram conduzidas por terapeutas ex­
to num problema comum. perientes e metade por inexperientes.
O terapeuta trata o paciente como um igual. As descobertas, baseadas em várias correlações, foram as se­
O terapeuta é capaz de compreender os sentimentos do lI,uintes:
I: paciente. I. Os experientes criaram relações significativamente mais
II II, O terapeuta realmente tenta compreender os sentimen­ pll'lximas da "ideal" do que os inexperientes.
II I
tos do paciente. 2. A similaridade entre experientes de diferentes orientações
III, O terapeuta sempre acompanha a linha de pensamento foi Iúo grande quanto, ou maior que a similaridade entre expe­
"
do paciente. I Ít'nlcs c inexperientes da mesma orientação.

II,'I, t~
TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE A ATITUDE E A ORIENTAÇÃO DO ORIENTADOR
68 69

3. Os fatores mais importantes de diferenciação entre expe­ missa fundamental e examiná-la, em relação não apenas à tera­
rientes e inexperientes relacionam-se com a capacidade do tera­ pia, mas à nossa experiência geral. Formulou-se uma hipótese bá­
peuta para compreender, comunicar-se e manter a empatia com sica relativa à capacidade do indivíduo de lidar de maneira cons­
o cliente. Há alguma indicação de que os experientes são mais trutiva, e a partir de si mesmo, com as questões envolvidas nas
"i!
'I
bem-sucedidos em manter um distanciamento emocional apro­ situações de vida - hipótese que ainda não foi definitivamente
priado, melhor descrito, aparentemente, como um relacionamento comprovada ou refutada por evidências de pesquisas na área da
interessado mas sem envolvimento emocional. terapia. No que diz respeito à experiência clínica, alguns clínicos
4. As diferenças mais evidentes entre as escolas relacionam­ afirmam que sua prática sustenta essa hipótese, enquanto outros
i
se com a posição que o terapeuta assume diante do cliente. Os a encaram com considerável ceticismo e mostram que, à luz de
,I adlerianos e alguns dos terapeutas analíticos assumem um papel sua experiência, tal confiança na capacidade do indivíduo é de
i mais tutelar autoritário; os terapeutas centrados no cliente apa­ validade muito duvidosa.
recem no extremo oposto desse fator.
Nessa situação, insatisfatória do ponto de vista científico,
A importância desses dois estudos não reside apenas nas des­
pode valer a pena examinar algumas evidências esparsas, de cam­
cobertas, uma vez que eles se baseiam em números pequenos, mas
pos fora da psicoterapia, que são relevantes para a hipótese. Al­
sobretudo no fato de que constituem o primeiro passo nessa área
gumas dessas evidências são objetivas, outras empíricas.
delicada e complexa. Com o aprimoramento da metodologia, é
No conhecido estudo de Lippitt e outros (118) sobre grupos
bem possível que se possam encontrar respostas objetivas para
algumas das intrincadas questões acerca da relação terapêutica. autocráticos, democráticos e laissez-faire, descobriu-se que, no
Parece também que as descobertas desses estudos confirmam, grupo democrático, onde o papel do líder era desempenhado com
de maneira geral, alguns dos elementos enfatizados nas seções pre­ interesse e permissividade, o grupo assumia a responsabilidade
cedentes. A importância da compreensão total e sensível das ati­ por si próprio e, em termos de quantidade e qualidade de produ­
'II" t;ão, disposição de espírito e ausência de hostilidade, superava os
tudes e dos sentimentos do cliente, da forma como ele os vê, é
corroborada pelo trabalho de Fiedler. Acerca da importância da registros dos outros grupos. No grupo laissez-faire, onde não havia
confiança na capacidade do cliente, o estudo nada revela, mas lima estrutura consistente e nem interesse por parte do líder, e
é evidente que já não há barreiras para o estudo exaustivo dessa 110 grupo autocrático, onde o comportamento era controlado pelos

questão. A evolução da técnica e da sofisticação metodológicas desejos do líder, os resultados não foram tão favoráveis. Embo­
possibilita pesquisas que antes pareciam impossíveis. É essa pro­ ra esse estudo se baseie em números pequenos e talvez tenha seu
messa para o futuro que confere importância básica ao estudo valor reduzido pelo fato de que os líderes eram autênticos em suas
de Fiedler. Parece claro que, com o tempo, este capítulo sobre funções democráticas e ao desempenharem papéis em outros gru­
I' a atitude do terapeuta e sua relação com o cliente poderá ser rees­ pos, ainda assim ele merece ser levado em consideração.
crito em termos objetivos e validados, com base em hipóteses clí­ Num estudo realizado muitos anos atrás por Herbert Wil­
nicas cientificamente testadas. liams (223), reuniu-se um grupo dos piores delinqüentes juvenis
de uma classe de uma grande instituição escolar. Como seria de
Evidências corroborativas da hipótese básica ~l' esperar, esses garotos eram atrasados em inteligência (QI mé­
Para concluir este capítulo, talvez seja bom retomar a pre- di() H2) e em desempenho escolar. Não havia nenhum equipamento

j I: A ~"";"""""ii"
TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE A ATITUDE E A ORIENTAÇÃO DO ORIENTADOR
"I!' 71
70

especial, exceto uma grande mesa com uma variedade de livros nes. A ação responsável e voluntária mostrou-se mais eficaz do
didáticos e de leitura para várias idades. Havia apenas duas re­ que a ação dirigida.
gras: todos deviam manter-se ocupados com alguma coisa e nin­ Um estudo de Coch e French (41) chega à mesma conclusão
guém tinha permissão para perturbar ou aborrecer os outros. Eis em relação a trabalhadores industriais. Mantendo constantes as
uma situação de autêntica permissividade dentro de limites am­ condições de pagamento, alguns grupos de trabalhadores foram
plos e realistas, com a responsabilidade claramente colocada so­ Iransferidos para uma nova tarefa e cuidadosamente instruídos
bre o indivíduo. Estímulos e sugestões só eram dados depois que quanto à maneira de executá-la para obter uma eficiência maior.
o próprio aluno tivesse iniciado uma atividade. Assim, se um de­ Outros grupos foram transferidos para a nova tarefa e autoriza­
les tivesse se dedicado a uma ocupação artística, poderia receber dos a discutir, planejar e colocar em prática suas próprias ma­
assistência para entrar numa classe especial de artes; ou caso se neiras de lidar com o novo problema. Nestes grupos, a produti­
interessasse por atividades ligadas à matemática ou à mecânica, vidade aumentou mais rapidamente, atingiu um nível mais alto,
se tomariam providências para que ele freqüentasse algum des­ manteve-se nesse nível, e a disposição dos membros revelou-se
ses cursos. O grupo permaneceu junto durante quatro meses, em­ significativamente maior que nos grupos que haviam sido ins­
bora alguns não tenham participado do grupo ao longo de todo Iruídos.
o período. Durante os quatro meses, os progressos educacionais Um estudo de supervisão numa companhia de seguros foi
mensurados registraram um aumento de 11,2 meses na idade de I'eito pelo Survey Research Center (206). Unidades em que o ní­
leitura, 14,5 meses na idade de aritmética, e de forma semelhan­ vel de produtividade e disposição de espírito era elevado foram
te em outras matérias. O aumento total na idade educacional foi comparadas com outras, de níveis mais baixos, descobrindo-se
11
11
:
de 12,2 meses e, se omitirmos três membros cuja freqüência foi di I'erenças significativas nos métodos e nas personalidades dos su­
11 11
,I,
baixa, a média aumenta para 15,2 meses - mais de quatro vezes pervisores. Nas unidades com alta produtividade, supervisores e
"I" a expectativa normal para um grupo com esse grau de atraso. E lideres de grupo tendiam a interessar-se principalmente pelos fun­
isso num grupo onde as deficiências educacionais e de leitura eram cionários como pessoas, e o interesse na produção era secundá­
bastante altas. rio. Os supervisores encorajavam a participação, a discussão e
IIII
Numa área muito diferente, realizou-se um estudo, durante as decisões em grupo em questões que afetassem o trabalho de
a guerra, sobre hábitos alimentares, sob a supervisão de Kurt Le­ lodos. Por fim, os supervisores dessas unidades "altas" faziam
win (112). Descobriu-se que, quando grupos eram exortados por poucas supervisões diretas do trabalho que estava sendo realiza­
Iii um orador a fazer uso de carnes pouco utilizadas, como cora­ do, tendendo a deixar a responsabilidade por conta do fun­
ção, rins e miolos, poucos (lO por cento) realmente colocavam cionário.
I:
em prática a sugestão. Em outros grupos, o problema da escas­ Outros estudos industriais (62, 116, 126, 207), embora de na­
II' sez por causa da guerra era discutido com os membros, que rece­ lureza menos objetiva, confirmam os dois citados. Várias indús­
biam informações simples sobre as carnes, após o que eram dei­ Irias, nos Estados Unidos e na Orã-Bretanha, descobriram que,
II!
xados à vontade para decidirem, por si sós, se utilizariam ou não ('III situações industriais bastante divergentes, havia uma melho­
I
as carnes em questão. Mediante um estudo de acompanhamen­ ra na eficiência e na disposição de ânimo quando se confiava que
to, descobriu-se que essas decisões tendiam a ser mantidas e que os I'uncionários eram capazes de lidar de forma responsável com
52 por cento realmente fizeram uso de uma ou mais dessas car- slIas próprias situações. Isto significou uma permissividade em re­

: I

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TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE A ATITUDE E A ORIENTAÇÃO DO ORIENTADOR
72 73

lação à participação ativa dos funcionários na discussão das ques-. Na área de problemas de saúde, encontramos outras expe­
tões e uma disposição de deixá-los tomar decisões e fazer esco­ riências sociais relevantes. O famoso Peckham Experiment em
lhas responsáveis (ou de participar desse processo). Londres fornece uma oportunidade para o estudo da hipótese bá­
Além dessas evidências industriais, há experiências sociais sig­ sica de um novo ponto de vista. O Peckham Centre é um centro
nificativas relacionadas com o tópico. A maneira como a capaci­ organizado por um grupo de biólogos para o lazer e a saúde fa­
dade autodiretiva de pequenas comunidades foi utilizada no de­ miliar. Na tentativa de promover a saúde e a qualidade de vida
senvolvimento do projeto TVA é bem descrita por David Lilien­ para indivíduos e famílias, o grupo patrocinador aprendeu vá­
thal (115). Numa situação problemática muito diferente - o trei­ rias lições que são profundamente relevantes para nossa com­
namento de uma força de ataque dos fuzileiros navais - o gene­ preensão da psicoterapia. Vamos saber primeiro como foram tra­
ral Carlson apoiou-se fortemente na capacidade autodiretiva do tados os fatos do exame médico.
indivíduo ao formar os famosos Carlson's Raiders.
Houve uma experiência semelhante no estudo da delinqüên­ Uma outra característica importante do exame biológico [de
cia juvenil. Os Projetos de Área, desenvolvidos por Clifford Shaw saúde] deve ser enfatizada. Os fatos inferidos e seu significado são,
em áreas de delinqüência, revelaram-se bem-sucedidos quando na medida do possível, apresentados à família por inteiro, em ter­
mos leigos. Nenhum conselho é oferecido. Para o leigo, isso pode
fundamentados na força do grupo. Se o líder era um cataliza­
parecer natural, já que não se está buscando conselhos; mas para
dor, uma pessoa genuinamente capaz de aceitar a vizinhança tal qualquer profissional da área médica - que se destina especifica­
como era e de permitir que o grupo trabalhasse para atingir suas mente a dar conselhos - essa é uma das atitudes mais difíceis. Na
verdadeiras metas e propósitos, o resultado era voltado para a verdade, "dar conselhos" parece ser um impulso quase irresistível
socialização. O gângster, o pequeno político, o encarregado do para a maioria dos seres humanos em posição de autoridade. Ten­
1
111'
bar, quando recebiam a oportunidade de expressar atitudes au­ tamos, então, não dar conselhos e nos abster da autoridade de quem
'I
II possui conhecimentos especiais. Como um dos membros colocou,
.'. I:;il'
tênticas e a total liberdade de selecionar metas, tendiam a esco­ "O médico simplesmente lhe diz como você está". Daí por diante,
I~ I I
lher metas que moviam o grupo em direção a objetivos mais so­ o que determina a ação é o próprio nível de entendimento deles.
ciais. Por outro lado, É um estudo bastante interessante observar e notar as várias ações
(tomadas freqüentemente com um sacrifício considerável em algu­
Tentativas de produzir essas mudanças para a comunidade por ma outra direção) quando o entendimento da família é chamado
meio de instituições pré-fabricadas e programas planejados, desen­ a apoiar-se nos fatos apresentados depois do exame. Quem reage
volvidos, financiados e geridos por pessoas de fora da comunidade é raramente o indivíduo, mas quase sempre a família como um to­
não têm muita probabilidade de alcançar mais sucesso no futuro do. Uma técnica que leve a esse resultado parece ser fundamental,
do que tiveram no passado. Esse procedimento é psicologicamente porque dá à família uma oportunidade de exercitar a responsabili­
inadequado, pois coloca os habitantes da comunidade numa posi­ dade que ela sente tão profundamente. De fato, é difícil compreen­
III Iii'
'
ção inferior e envolve sérias restrições em relação às capacidades der por que uma atitude de laissez-faire diante de uma boca cheia
deles e ao seu interesse pelo próprio bem-estar. Igualmente impor­ de dentes estragados deveria modificar-se como resultado das no­
'
i;1
tante é o fato de que essa postura negligencia o maior de todos os vas circunstâncias, mas se modifica; ou por que o pouco caso em
trunfos de qualquer comunidade, a saber, o talento, a energia e ou­ relação a um excesso de peso num homem ou numa mulher deveria
tros recursos humanos das próprias pessoas ... O que é necessário, mudar, mas muda - com resultados, em ambos os casos, de notá­
I,! segundo acreditamos, é a organização e o estímulo da autoajuda veis benefícios tanto para o indivíduo como para a família.
social, numa base cooperativa. (183) Descobriu-se na prática que, quando os exames eram conduzidos

li ,Ii

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lii[

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74 75

com um espírito que levava a conclusões entremeadas de conselhos, estímulos para testar sua própria capacidade. A habilidade acima
com freqüência nenhuma atitude era tomada; em contrapartida, da própria capacidade deles tende a assustá-los, a inibi-los em vez
quando se deixa a decisão à espontaneidade do indivíduo e a seu de instigá-los à imitação. A condição "professor" tende inevita­
próprio senso de responsabilidade, a ação acontece, na maioria es­ velmente a minar a autoconfiança. Nossos fracassos durante os pri­
magadora dos casos. Essa ação em si representa o exercício de uma meiros dezoito meses de trabalho nos ensinaram algo muito signi­
faculdade que tem estado dormente. Com o exercício de uma fa­ ficativo. Os indivíduos, de bebês a idosos, ressentem-se ou não de­
culdade, a saúde se desenvolve. A faculdade da responsabilidade monstram interesse por qualquer coisa que, inicialmente, tenha si­
não é exceção à regra. (145, pp. 49-50) do apresentada a eles por meio de disciplina, regulamentação ou
instruções, que são outros aspectos da autoridade. (A própria "idéia
Com esse tipo de tratamento, baseado num profundo res­ do Centro" tem um certo traço de autoridade, o que tem contri­
peito pelo direito e pela capacidade do indivíduo de ser respon­ buído para nossa lentidão em recrutar pessoas.)
Agora, resolvemos simplesmente proporcionar um ambiente
sável por si mesmo, 90 por cento dos indivíduos em que foi de­
rico em instrumentos para a ação - isto é, dar a eles uma chance
tectado algum problema de saúde procuram tratamento. de fazer coisas. Lentamente, mas de modo seguro, essas chances
Essa hipótese mostrou-se eficaz não apenas em relação a ati­ são aproveitadas e utilizadas como oportunidades para o desenvol­
vidades ligadas à saúde. É também objetivo desse centro dar às vimento de capacidades inerentes. Os instrumentos de ação têm uma
i Iii
I famílias uma oportunidade de melhorar a qualidade de vida atra­ característica em comum - devem falar por si mesmos. A voz do
'I vendedor ou do professor assusta os usuários potenciais.
. vés do lazer. A descrição da experiência que busca atingir realis­
':11:
Como esse fato se reflete na organização e na oportunidade
li ,{'11I ticamente essa meta fornece um paralelo interessante com o de­ de observação científica do material?
II,i!11
senvolvimento das idéias na formulação da terapia centrada no
:1 ',' cliente. Tendo proporcionado aos membros a chance de fazer coisas,
lil!11
descobrimos que é preciso deixá-los fazer do seu jeito. Tivemos que
aprender a sentar e esperar que as atividades emergissem. Qualquer
Nosso problema é o "homem do povo". Ele é o homem sem
I 1111:1 impaciência de nossa parte, expressa como ajuda, bloqueava os es­
impulso egotista; é o acanhado e humilde. Como parece não ter
I,I,
,ii,
forços deles. Tivemos que cultivar mais e mais paciência em nós
iniciativa, conta apenas com seus próprios recursos - que parece
mesmos. A alternativa para o cultivo da paciência é óbvia: a apli­
não possuir. Atraí-lo para alguma organização é muito difícil; cação da compulsão, em qualquer uma de suas muitas formas, sen­
mantê-lo nela é mais um problema. Mas como ele constitui a maior do, talvez, a persuasão a mais tentadora delas. Porém, tendo um
1 ' ,'1'
parte do público, vale a pena estudá-lo, pois dele depende o suces­ interesse fundamental na fonte e na origem da ação espontânea ­
i'l so de qualquer organização social. como é próprio de todos os biólogos - tivemos que descartar até
I1
11
A primeira abordagem experimental para encorajar os mem­ esse instrumento para iniciar atividades. Mesmo a tentação, a for­
I'"
'I' bros a fazerem coisas baseou-se na suposição corrente de que as ma mais suave de compulsão, não funciona porque os seres huma­
':11 pessoas comuns gostam de seguir o exemplo de seus superiores; que nos, inclusive as crianças, reconhecem o que está por trás desse ti­
ii uma exibição de um alto grau de habilidade, de perfeição relativa, po de atitude; pelo menos, progredimos além do nível dos asnos!
'i,1 estimularia a faculdade da imitação e levaria a ações semelhantes. Não estamos sugerindo que a socialização, o trabalho em equi­
I ii Esse método de abordagem não deu resultado; a suposição não é pe, as regras, o sistema, a disciplina, a autoridade e a instrução não
'II confirmada pela experiência. sejam desejáveis, mas também não podemos concordar que haja
li I Basicamente, os indivíduos só têm consciência de sua própria algo errado com aqueles que rejeitam tais coisas; não somos mis­
:11
1 capacidade e agem de acordo com isso. Podem admirar, podem até sionários tentando converter pessoas a hábitos desejáveis, mas cien­
mesmo invejar padrões externos, mas não os utilizam nem como tistas buscando a verdade nos fatos.

1
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11
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76 77

A civilização, até hoje, buscou a orientação da sociedade atra­ .A passividade ativa do observador não é fácil de alcançar sem
vés de um "sistema" imposto derivado de alguma autoridade ex­ a extensão essencial da disciplina de cientistas de laboratório, que
trínseca, como a religião, a educação "cultural" ou a persuasão permite que os fatos falem por si mesmos. Em biologia humana,
política. O biólogo concebe uma ordem emanando do organismo os fatos são ações que complicam seriamente o problema, mas não
que vive em equilíbrio com seu ambiente. Nossa necessidade, por­ afastam a possibilidade de solução.
tanto, é assegurar o livre fluxo de forças no ambiente, de forma As necessidades biológicas da situação, portanto, nos compe­
a que a ordem inerente no material que estamos estudando possa lem a deixar os membros agirem por conta própria, iniciarem suas
emergir. Nosso interesse reside nesse equilíbrio de forças que sus­ próprias atividades, sua própria ordem das coisas. Não temos re­
tém natural e espontaneamente as formas de vida que estamos es­ gras, normas ou qualquer outra restrição da ação, exceto um horá­
tudando. rio bastante flexível. Ao longo de dezoito meses, o aparente caos
O Centro é a primeira estação experimental em biologia hu­ e desordem está se desenvolvendo rapidamente em algo bem dife­
mana. Sua pergunta é: "Que circunstâncias manterão a capacida­ rente. Isto é evidente até para nossos visitantes, um dos quais, ao
de de função plena (ou seja, a saúde) dos seres humanos; e que ti­ ir embora, descreveu a vida no Centro como um riacho que podia
po de orientação essas entidades, funcionando plenamente, propo­ formar seu leito e suas margens de acordo com a configuração na­
rão ao modo de vida humano (ou seja, à sociedade)? (145, pp. 38-40) tural do terreno. (145, p. 41)

Isto evidencia, claramente, uma disposição básica por parte Aqui, nesse esforço comunitário, percebe-se o mesmo tipo
I, dos patrocinadores do Centro em deixar que as pessoas sejam elas de hipótese sobre a qual o terapeuta centrado no cliente baseia
li,
mesmas - mesmo que isso envolva valores divergentes daqueles seu trabalho - não só no que diz respeito à péssoa, o cliente,
aceitos pelos patrocinadores. Admitir que uma pessoa escolha ou mas também à conclusão quanto ao papel do "líder", que apre­
1
:1
1.,1 rejeite livremente aquilo que consideramos como "hábitos dese­ senta muitas semelhanças notáveis .
•1

I! jáveis" requer um questionamento interno das atitudes básicas Existe alguma unidade nessas várias evidências colhidas de
I
1:lill
que não é mais fácil para o biólogo do que para o psicoterapeu­ fontes tão diversas? Há algo relevante, em termos da nossa preo­
ta, como indicam as declarações que se seguem. cupação com a psicoterapia, em estudos que abrangem assuntos
tão remotos quanto a decisão das pessoas de comerem rins, ou
O treinamento da equipe de trabalho é difícil. Na verdade, não o modo como uma oficina industrial deve operar? Penso que sim.
é fácil para o indivíduo, como cientista, colocar-se como um ins­ Se considerarmos o fio central que atravessa esses estudos e ex­
trumento de conhecimento totalmente à disposição de qualquer um periências tão variados, parece-me que poderíamos resumi-los nu­
dos membros, sem exercer sua autoridade e assumir sua posição
adequada e de direito na comunidade, como entidade social. Mas
ma proposição do tipo "se-então".
li 'I' também está ali para fazer observações. E isso os membros acei­ Se o indivíduo ou o grupo depara-se com um problema;
,)1
tam depressa, descrevendo jocosamente a si próprios como "co­ Se um líder catalizador proporciona uma atmosfera per­
baias" dos biólogos. missiva;
Logo compreendem que a primeira preocupação do cientista Se a responsabilidade é realmente deixada nas mãos do indi­
é ser usado pelos membros como um meio de alcançar e manter
víduo ou do grupo;
sua própria capacidade máxima de saúde. Além disso, percebem
que, executando suas próprias atividades e iniciando outras atra­ Se há um respeito básico pela capacidade do indivíduo ou
vés do método selj-service, muitos deles estão, passo a passo, do grupo;
tornando-se membros importantes da equipe. (144, p. 78) Então, há uma análise responsável e adequada do proble­

~ ~! lA.­
TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE
78

ma; o autodirecionamento responsável tem lugar; a cria­ CAPíTULO 3

tividade, a produtividade, a qualidade de produto exibi­ A RELAÇÃO TERAPÊUTICA EXPERIMENTADA PELO


dos são superiores aos resultados de outros métodos com­ CLIENTE
paráveis;
a confiança e a disposição de ânimo do indivíduo e do
grupo se desenvolve.
Parece que a hipótese central deste capítulo, e básica para
I a função do terapeuta centrado no cliente, também tem sido in­
vestigada em outros tipos de relacionamento humano, e que as
evidências com relação a isso apresentam uma similaridade sig­
nificativa e positiva, qualquer que seja o campo de estudo.
I"

lEITURAS SUGERIDAS

o leitor que deseja analisar mais detalhadamente de que ma­


neira suas próprias atitudes de fato operam em suas reações com
À medida que fomos progredindo em nossa experiência,
os outros, e os meios de implementar suas atitudes básicas em
Imnou-se cada vez mais evidente que a probabilidade de movi­
terapia, encontra um material rico para reflexão e auxílio práti­
co no livro de Porter, An Introduction to Therapeutic Counse­ Ill<:l1to terapêutico num caso específico depende, principalmen­
ling (148). Uma consideração anterior sobre a implementação en­ Il', não da personalidade do orientador, nem de suas técnicas, nem
contra-se no capítulo 6 de Counseling and Psychotherapy (166). Ill<:SI110 de suas atitudes, mas da maneira como tudo isso é expe­
I,
Uma discussão completa da psicologia da relação terapêuti­ rilllentado pelo cliente na relação. Foi forçoso reconhecer a cen­
ca, abrangendo sua descrição e sua dinâmica, pode ser encontra­ Iralidade da percepção do cliente em relação às entrevistas. É a
I da no artigo de Estes (54). Para outras exposições da atitude e Illaneira como o cliente percebe a relação que determina se a re­
orientação do terapeuta, três referências podem ser particular­
solução do conflito, a reorganização, o crescimento, a integra­
mente pertinentes. As duas primeiras são psicanalíticas, a tercei­
,,'<lO - todos os elementos envolvidos na terapia - irão ocorrer.
ra é o ponto de vista de um orientador religioso. São elas: o capí­
tulo "What Does the Analyst Do?", escrito por Horney (89, pp. Nosso conhecimento da terapia estaria muito avançado se sou­
187-209); Reik, Listening with the Third Ear (161); Hiltner, Pas­ hl'ssemos as respostas para estas duas perguntas: O que significa
toral Counseling (83, Capítulo 7). () cliente experimentar uma relação eomo terapêutica? Como po­
Para conhecer pesquisas relativas à função do orientador, dWlOS facilitar que uma relação seja experimentada como tera­
pode-se ler o estudo de Porter (149, 150) ou Snyder (197) como pêutica? Não temos as respostas para essas perguntas, mas pelo
exemplos mais antigos. Seeman (180) e Fiedler (58,57) represen­ l11<:nos aprendemos a colocá-las.
tam trabalhos recentes na área, sendo os estudos de Fiedler par­
A maneira como o cliente percebe ou experimenta as entre­
ticularmente significativos por sua nova metodologia.
vistas é um campo de investigação novo, onde os dados são mui­
Para um exemplo das evidências de outras fontes acerca da
lo limitados. Ainda não há nenhuma pesquisa concluída nessa
hipótese básica da terapia centrada no cliente, o pequeno estudo
de Coch e French (41) seria um começo. .h<:a e tem-se refletido relativamente pouco a respeito. Parece con­

, j

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