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Adoração reformada

Adoração segundo as Escrituras

Revisado e Expandido

Terry L. Johnson
Copyright @ 2013, de Terry L. Johnson
Publicado originalmente em inglês sob o título
Reformed Worship: Worship that is According to Scripture
pela Reformed Academic Press,
P.O. Box 5013, Jackson, MS, 39296, EUA.

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por


EDITORA MONERGISMO
Brasília, DF, Brasil
www.editoramonergismo.com.br

1a edição, 2014
1000 exemplares

Tradução: Josaías Cardoso Ribeiro Júnior


Revisão: Maria Isabel Corcete Dutra
Capa: Bárbara Lima Vasconcelos

PROIBIDA A REPRODUÇÃO POR QUAISQUER MEIOS,


SALVO EM BREVES CITAÇÕES, COM INDICAÇÃO DA FONTE.

Todas as citações bíblicas foram extraídas da


Versão Almeida Revista e Atualizada (ARA),
salvo indicação em contrário.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Johnson, Terry L.

Adoração reformada: adoração segundo as Escrituras / Terry L. Johnson, tradução Josaías Cardoso Ribeiro
Júnior — Brasília, DF: Editora Monergismo, 2014.

Título original: Reformed Worship: Worship that is According to Scripture

ISBN 978-85-62478-89-5

1. Adoração 2. Teologia reformada 3. Bíblia

CDD 248.4
Sumário
Prefácio à edição brasileira
1. Orientando-se
2. Adoração em verdade
3. Adoração em Espírito
4. Questões Finais
5. Leitura Recomendada
Prefácio à edição brasileira

Pastel é questão de gosto. Eu, humildemente, julgo que pastel de


queijo é insuperável. A temperatura vulcânica do queijo derretido escorrendo
pela beirada da massa frita… Mesmo as variações de queijo-presunto, queijo-
calabresa e queijo-chocolate são inferiores ao queijo puro, subjetivamente
falando. Outros julgam que pastel mesmo tem de ser de carne, o resto é
corrupção, canseira e enfado. Discordo da opinião, mas concordo: é
subjetivo. Até acho bom que gostem do pastel de carne e, assim, sobre mais
de queijo.
Infelizmente, as pessoas pensam que adoração é que nem pastel. Se
tiver certas características básicas e um sabor meio parecido, no final das
contas é questão de estilo. Se em alguns lugares ainda se fala nas “batalhas de
adoração” para descrever os conflitos a respeito de estilo, elementos, duração
e postura no culto, a triste realidade é que na maioria dos casos não há
batalha. Já se proclamou a vitória dos que insistem em que culto é questão de
gosto. Tente argumentar que a Bíblia nos ensina coisas importantes e
universais sobre culto e adoração. Frases diversas surgirão, chavões que não
iluminam: “Mas pastor, a vida toda é um culto”; “Agora o culto é em espírito
e em verdade, podemos fazer o que quisermos”; “Sempre fizemos assim!”;
“Milhões de pessoas não podem estar erradas”; “É importante que cada
segmento da igreja tenha um culto com sua cara”, etc. Trechos bíblicos fora
de contexto, verdades mal aplicadas, mentiras que soam como verdade.
A igreja contemporânea precisa ser lembrada de que a Reforma
Protestante foi acerca de adoração. Esse elemento muitas vezes é esquecido.
Claro que a soteriologia foi central; mas somos salvos para nos relacionarmos
com Deus, para sermos seus adoradores. Sem dúvida há aspectos culturais no
que diz respeito à forma como adoramos. Entretanto, a ideia de que apenas
sinceridade importa é errada e vai contra a Bíblia. Temos nas Escrituras gente
como Nadabe e Abiú que desejam adorar com sinceridade, do jeito deles, e
acabam mal. Por causa da distância entre nós, criaturas, e o nosso Criador,
somos incapazes de alcançar seus pensamentos e o que lhe é agradável, sem
que ele mesmo nos diga. Uma visão reformada afirma que culto é questão de
gosto; mas do gosto de um Deus soberano, não de humanos caídos.
Precisamos de uma revelação de Deus: do que ele gosta? Além disso, por
causa da Queda, nossos pensamentos e imaginações são corruptos e
inclinados para o mal. Mesmo que alguém julgue fazer o que é bom, se o que
faz não for abalizado pelo critério infalível das Escrituras, essa pessoa correrá
o sério risco de ser perversa. Deus é bom para conosco. Não nos deixou sem
instrução. Este livro ajuda-nos a ver o que a Bíblia ensina sobre como Deus
deseja ser adorado. Em linguagem simples e profunda, com excelente base
bíblica e dialogando com autores históricos e contemporâneos, Terry Johnson
apresenta-nos o que é adoração reformada.
O movimento monergista vem crescendo em diversos círculos
eclesiásticos. Isso é muito bom. Afinal, desejamos que cada vez mais cristãos
compreendam a glória e a graça de Deus na salvação que a ele pertence.
Porém, é curioso: muitos que abraçam uma visão reformada da salvação têm
falhado em ver que há uma visão reformada de adoração, de todo consistente
com nosso entendimento acerca da soberania de Deus, da depravação
humana, da centralidade de Cristo e da ação do Espírito Santo por meio de
sua Palavra.
Adoração é central na vida da igreja. De todas as atividades de uma
igreja local, apenas essa vai durar para sempre. Missões transculturais
chegarão ao fim, pois todos os povos tribos e raças terão sido alcançados e
estarão representados diante do trono. Evangelismo local se tornará
supérfluo, pois vivos e mortos já terão sido julgados. Obras de misericórdia
se tornarão desnecessárias, pois os resultados da Queda não serão mais
sentidos. Mas para todo o sempre o povo de Deus vai adorar. E hoje, já nesta
vida, podemos começar a experimentar esse benefício. Deus em sua bondade
nos dá uma tarefa que nos é benéfica. Ao mesmo tempo que é mandatório,
adorar não nos faz mal. Adoração é obrigação ao mesmo tempo que deleite.
Neste livro o pastor Terry Johnson nos ajuda a considerar diversas
questões-chave no entendimento de uma prática de culto que agrade a Deus.
Johnson trata, com sabedoria bíblica, questões contemporâneas nas
discussões litúrgicas, ajudando o leitor a avaliar biblicamente o que se passa
hoje, bem como a entender as questões históricas envolvidas. O livro tem
conteúdo bíblico, é prazeroso de se ler e fácil de entender. Poderia ser texto-
base de cursos de Escola Dominical, grupos de estudo, grupos jovens,
seminários e de quaisquer outros que desejem aprender sobre o assunto.
Este livro é muito importante. Diz respeito a seu maior privilégio:
toda semana, aproximar-se de Deus, junto com o povo de Deus — a igreja,
para uma prévia do que de melhor o espera na próxima vida.

— Rev. Emílio Garofalo Neto, MDiv, PhD


Pastor da Igreja Presbiteriana Semear
Brasília-DF, 10 de julho de 2014
1. Orientando-se

Artigos de jornal, artigos de revista e títulos de livros, todos relatam


a história daquilo que quase toda congregação nos Estados Unidos
experimentou nos últimos 20 anos: “As guerras de adoração”.[1] E essa
guerra não se limitou às nossas terras. A mesma batalha que divide
congregações locais entre jovens e idosos, contemporâneos e
tradicionalistas, brancos e minorias, também divide agências missionárias,
campos missionários e igrejas nacionais por todo o mundo. As influências
da geração baby boom,[2] a cultura de massa e o movimento carismático
têm convergido para trazer uma mudança rápida, controversa e popular. As
formas da adoração tradicional: ordens históricas de culto, órgãos, hinos,
salmos métricos, credos, orações “pastorais” e sermões bíblicos, têm sido
abandonadas em favor de formas da cultura contemporânea: soft rock,
postura de programa de entrevistas, uma atmosfera amigável e informal,
retroprojetores e sermões tópicos tratando das necessidades percebidas.
Igrejas presbiterianas e reformadas não ficaram ilesas a essas
tendências ou aos conflitos resultantes. Todo o espectro de “estilos”, de
“amigável com os visitantes” a carismático, passando por contemporâneo,
até a contrarreação litúrgica, podem ser vistos mesmo em denominações
presbiterianas conservadoras. Se uma recente observadora está correta,
muitos desses desenvolvimentos são quase irresistíveis.[3]
Na resenha de um livro que pretende ser uma defesa “revigorante”
da adoração contemporânea, escrito por um teólogo reformado, Darryl Hart
faz a seguinte pergunta: “Pode ser revigorante, mas é reformado?”.[4] A
convicção implícita, porém não testada, entre aqueles que fazem mudanças
é que a fé reformada pode ser enxertada em qualquer forma de culto, seja
reavivalista, litúrgica, carismática ou contemporânea e, ainda assim,
prosperar. Essa é uma teoria interessante, porém é apenas uma teoria e
prossegue sem comprovação. Além disso, há boas razões para o ceticismo.
Meu contexto particular encoraja consideráveis restrições. Fui criado na
tradição batista reavivalista e frequentei a Grace Community Church
[Igreja Comunidade da Graça] de John MacArthur durante meados da
década de 1970. Das duas origens, desenvolvi uma alta estima pela
pregação, seja expositiva ou evangelística. Enquanto era aluno da
Universidade do Sul da Califórnia, passei por uma alta ― e, ao mesmo
tempo, profundamente estimada ― exposição aos coros e cânticos bíblicos
d a Maranatha! Music e do Movimento Jesus.[5] Com eles, aprendi um
pouco sobre o poder que tem a música de mexer com as emoções. Meus
primeiros dois anos no seminário passaram-se no Trinity College
[Faculdade Trindade] em Bristol, Inglaterra, onde, por meio do uso diário
d o Livro de oração comum, aprendi o valor de uma liturgia reverente e
estruturada. Embora aprecie essas tradições, não creio que elas nos deem
formas adequadas à expressão e perpetuação da fé reformada. A “baixa”
igreja carece do senso de glória e majestade de Deus que vem de uma
adoração teocêntrica e bem organizada. A “alta” igreja carece do
“sentimento” espontâneo e pessoal da adoração reformada com suas
orações livres e a pregação expositiva. O equilíbrio bíblico e experimental
que é a fé reformada melhor se expressa na forma de culto que gerou, isto
é, na tradição reformada de adoração. Além disso, é questionável se o ethos
reformado, ou seja, aquele feixe de elementos que nos torna reformados,
tais como teologia, visão de mundo e vida, governo, piedade e adoração,
possa ser enxertado em formas estranhas, e ainda sobreviver.
O fato de a fé reformada exigir adoração reformada não deveria nos
surpreender. A adoração reformada surge diretamente dos princípios
centrais da doutrina reformada, representados pelos lemas da Reforma:
Somente a Escritura, somente Cristo, somente a fé, somente a graça,
somente a glória de Deus. O princípio do sola Scriptura levou à eliminação
de cerimônias e rituais extra-bíblicos e a uma simplificação do culto. O
princípio do solo Christo conduziu à reforma da missa. Considerando a
finalidade da expiação, a eucaristia passou a ser vista como uma ceia, não
um sacrifício; como uma refeição, não uma missa; administrada por um
pastor, não por um sacerdote; em uma mesa, não em um altar.[6] Visto que
os crentes são justificados em Cristo e como “a fé vem pela pregação, e a
pregação, pela palavra de Cristo” (Rm 10.17), o princípio de sola fide
significava que os cultos seriam ocupados por conteúdo bíblico na língua
vernácula. Porções substanciais seriam lidas, pregadas, cantadas e oradas.
O princípio de sola gratia significava que os cultos seriam repletos de
oração, pois a dependência da iniciativa soberana de Deus era claramente
entendida. Cada elemento da adoração deveria ser administrado soli Deo
gloria, tudo para a glória de Deus.
Não é de pouco interesse que o próprio Jesus se ache em um debate
sobre adoração no poço dos samaritanos (Jo 4.7ss). Não há nada de novo
em controvérsias nessa esfera! Suas palavras seminais sobre o assunto
fornecem princípios pelos quais tentaremos abordar a pergunta que
enfrentamos. Que pergunta? Vamos tentar enquadrá-la da maneira mais
precisa e limitada possível para evitar nos desviarmos. Entre as miríades de
questões em torno de adoração e culto que poderiam ser discutidas, e entre
as inúmeras abordagens que alguém poderia assumir nesses assuntos,
proponho a seguinte questão: O que deveríamos fazer nos cultos públicos
de adoração do Dia do Senhor? Creio que essa simples pergunta fornecerá
o foco necessário se queremos discutir o cerne do assunto sem distração
com debates secundários. Com essa abordagem, será possível fazermos as
distinções que devem ser feitas se queremos evitar confusão. Permita-me
explicar o que não queremos dizer com a questão acima antes de
avançarmos para o que queremos dizer.

QUESTÕES INICIAIS
Público contra Privado
Primeiro, a questão a ser considerada não é o que pode ser uma
expressão válida de adoração na privacidade do lar ou no contexto da
família. Alguns escritores recentes têm tendido a obscurecer a distinção
público/privado, isso se não a atacam diretamente.[7] Todavia, diferenciar
entre comportamento público e privado é uma aplicação crítica da
sabedoria bíblica (referência: veja o Livro de Provérbios). Por exemplo,
trajes que podem ser apropriados e aceitáveis na privacidade do lar podem
ser julgados imodestos, provocantes e sedutores, se apenas deslocarmos o
usuário para um contexto público. Funções corporais naturais e dadas por
Deus podem ser consideradas apropriadas se expressas em privado, mas
sua expressão pública pode ser vulgar, grosseira e até maligna. Intimidades
conjugais podem ser perfeitamente válidas e mesmo retas expressões de
afeição em privado. No entanto, pegue essas mesmas intimidades, e
coloque-as em um contexto público, e o que era justo imediatamente se
torna ímpio e mau.
Na esfera da própria adoração, Jesus ensinou que posturas e
expressões que podem ser apropriadas à oração privada são inapropriadas
em público porque atraem a atenção para si. O contexto, rua versus quarto,
público versus privado, é crucial (Mt 6.4-6). Em 1 Coríntios 10-14, o
apóstolo Paulo regula a pregação, a oração, o cântico e as práticas
sacramentais da igreja em Corinto. Dá orientações específicas para quando
“vos reunis na igreja” (1Co 11.18). Regras especiais que se aplicam quando
a igreja se reúne não se aplicam necessariamente a “todas as áreas da
vida”. O que pode ser feito em casa não pode ser feito na assembleia. Em
conexão com a Ceia do Senhor, o apóstolo Paulo pergunta diretamente:
“Não tendes, porventura, casas onde comer e beber?” (1Co 11.22). A
alimentação que seria apropriada em casa era inapropriada em público.
Além disso, há perguntas que podem ser feitas em casa e não na assembleia
pública (1Co 14.35). Sob alguma forma a frase “quando vos reunis” (vv.
17,18,20,33,35) é usada cinco vezes em 1 Coríntios 11.17-34. Paulo cita a
prática de “todas as igrejas”. Insiste em que a igreja coríntia conforme-se
ao padrão universal da igreja. “Não temos tal costume”, ele diz, “nem as
igrejas de Deus” (1Co 11.16; cf. 14.23; 1.2; 4.17; 14.23). Essas regras para
a adoração pública garantem continuidade substancial entre as igrejas em
seus cultos públicos.
Esses poucos exemplos ilustram o argumento de que a distinção
público/privado é vital, e que a Bíblia, algumas vezes, explícita, e, outras
vezes, implicitamente, insiste em que a façamos. Essa questão é crítica na
determinação de normas éticas e litúrgicas. Uma coisa que pode ser
permitida na adoração privada ou familiar pode não ser apropriada na
adoração pública. Por exemplo, na adoração familiar, podemos todos
aparecer de pijamas. Eu posso fazer perguntas aos meus filhos, solicitar
seus pedidos de oração e deixar que eles determinem as músicas.
Entretanto, esses trajes e essa interação pai/filho normalmente seriam
inapropriados na adoração pública. Em um estudo de pequeno grupo,
podemos todos discutir a passagem sendo estudada e compartilhar nossas
opiniões sobre como ela dever ser entendida e aplicada. Podemos até
bebericar café e servir biscoitos enquanto fazemos isso — pode ser
inofensivo e apropriado num contexto informal e particular. Porém, na
adoração pública? Provavelmente, não. Assim, o que desejamos destacar,
não é que práticas seriam válidas em minhas devocionais em privado, em
devocionais familiares ou num estudo bíblico em pequeno grupo. Nosso
interesse é determinar que atividades são apropriadas à assembleia pública
do Dia do Senhor. É um erro pensar que a Bíblia não faz essas distinções, e
um erro maior pensar que não deveríamos e não podemos fazê-las.

“Amplo” versus “restrito”


Em segundo lugar, a questão para nossa consideração não é o que se
qualifica como adoração no sentido “amplo”, em oposição a “restrito”. É
correto salientar que o apóstolo Paulo compara toda a vida a um culto de
adoração no qual apresentamos nossos corpos como sacrifício vivo e santo
num culto racional (Rm 12.1). Há um sentido verdadeiro no qual podemos
glorificar a Deus em tudo na vida. Isso é verdade quer comais, quer bebais
ou façais outra coisa qualquer (1Co 10.31). Isso é adoração no sentido
amplo. Nesse sentido, posso dizer que honro ou adoro a Deus se estou
cavando valas, soltando pipa ou dando banho nos meus filhos. Tudo isso é
muito bom. Porém, nem sempre comer e beber é apropriado para a
assembleia pública (1Co 11.22). Algumas discussões recentes têm
obscurecido essa distinção, argumentando como se tudo que se qualifica
como aquela (atividade que honre a Deus) possa fazer parte desta (a
assembleia pública).[8] Alguns defendem que, como Deus pode ser
glorificado por meio de música, dança, teatro, videoclipes, nenhuma
objeção pode ser feita contra seu uso na adoração pública. Entretanto, o
fato de uma coisa glorificar ou não a Deus na vida em geral não responde à
questão de ela dever ou não ser praticada na adoração pública. Podemos
apreciar todas essas atividades e concordar em que Deus pode ser honrado
por meio delas e, ainda assim, esse apreço e concordância não provarem
que devem ser admitidas na assembleia pública. Se devo ou não cavar
valas, soltar pipas ou dar banho nos meus filhos no contexto da adoração
pública não é a mesma questão quanto a Deus poder ou não ser glorificado
por isso. Simplesmente não é verdade que toda atividade e expressão que
glorifica a Deus pode ser deslocada do contexto amplo da vida em geral
para o contexto restrito da assembleia pública. A questão específica a que
devemos responder é quanto ao que deve ser feito na adoração pública do
Dia do Senhor, não quanto ao que pode glorificar a Deus num sentido
geral.[9]

Permitido versus apropriado


Terceiro, a questão a que procuramos responder não diz respeito
apenas ao que pode ser permitido, ou mesmo a que limites alguém pode ir
permanecendo ainda dentro das exigências reguladoras da Escritura. A
adoração reformada não pode ser reduzida ao princípio regulador,
particularmente ao princípio regulador estritamente delineado, não mais
que a fé reformada pode ser reduzida aos “Cinco pontos do calvinismo”. O
princípio regulador, interpretado apenas como listas de elementos
aprovados e desaprovados, não aborda (quando entendido estritamente) um
ingrediente fundamental da adoração: reverência. Não trata de questões de
decoro. Não lida com palavras e ações apropriadas para reverentemente
conduzir-nos a Deus.[10]
Não, nossa questão diz respeito ao que é conveniente fazer no culto
público. Pode ser permissível para uma igreja começar sua adoração com a
canção “Grande e largo”, então cantar “Pai Abraão” como segundo hino e
concluir o culto com “Três palavrinhas só”. Um biblicista estrito pode
dizer: “A Bíblia não o proíbe”.[11] Mas a conveniência de um início de
adoração como esse seria duvidosa. Podemos até dizer que, sob
circunstâncias normais, não deveria ser feito. Todavia, o dizemos não
porque haja um versículo bíblico proibindo essas músicas infantis, mas
devido a um senso mais geral do que é apropriado à luz da natureza da
reunião de domingo como culto público de adoração da igreja. Nem toda
questão sobre adoração ou vida pode ser respondida pela aplicação direta
de um versículo bíblico. Na realidade, é legalista e fundamentalista esperar
isso. Raramente a vida reta consiste de apenas aplicar regras da Bíblia às
circunstâncias. Pelo contrário, a vida reta exige iluminação do Espírito
Santo e sabedoria para aplicar princípios gerais em doses diárias. Fariseus
limitam a aplicação da Bíblia a palavras específicas — não matarás, não
assassinarás, e por aí vai — ou ignoram a aplicação mais ampla. Porém, a
aplicação ampla é onde grande parte da vida é vivida, e é aqui que Jesus
critica os hipócritas de seus dias (Mt 5.21-48). Boa parte da vida é vivida
“nas entrelinhas” dos mandamentos explícitos.
Consequência: os apóstolos regularmente apelam ao que é
“adequado” ou “apropriado” ou “conveniente” à luz dos mandamentos
explícitos da Escritura, todavia não especificam o que exatamente essas
coisas significam. Esperam que os crentes apliquem a sabedoria e
discirnam o que é apropriado. Somos estimulados a julgar o que é
“próprio” (grego prepo = ser conveniente, apropriado, pertinente) quanto a
comprimento do cabelo, mesmo discernindo isso a partir da natureza (1Co
11.13,14). O apóstolo Paulo manda que Tito fale “o que convém (gr.
prepei) à sã doutrina” (Tito 2.1). Mulheres devem adornar-se com modéstia
e bom senso como convém (prepei) (1 Timóteo 2.9,10, A21). Paulo manda
os efésios evitarem falar o que é inconveniente (prepei) (Ef 5.3,4). Nos
dois últimos casos, alguns detalhes são esclarecidos. Mulheres devem
vestir-se com “modéstia e bom senso”. Devem evitar demonstrações de
ostentação, não frisando os cabelos ou usando ouro, pérolas e vestidos
caríssimos. Conversação torpe e palavras vãs ou chocarrices estão listados
entre as palavras inconvenientes. Mas, nesses e em todos os outros casos, o
ponto preciso em que alguém cruza a linha da modéstia para a da
imodéstia, do bom senso para a insensatez, do conveniente para o torpe ou
vão, não é (nem pode ser) especificado. Só por meio da sabedoria
concedida pelo Espírito Santo é que reconhecemos a diferença. Até que
ponto, um vestido é muito curto? Em algum ponto ele o é, e o pecado da
imodéstia foi cometido, objetiva e concretamente. Determinar tais coisas
depende de um juízo subjetivo. Todavia, a falha no juízo subjetivo leva ao
pecado objetivo. Quase todos os juízos comportamentais (por exemplo,
amor, modéstia, sobriedade, integridade) são decididos dessa forma,
aplicando sabedoria em domínios além da aplicação direta de
mandamentos específicos.
Na adoração, o mesmo tipo de juízo é necessário. Não estamos
apenas perguntando o que é permissível, mas o que é apropriado,
conveniente e adequado. Por exemplo, recebemos a ordem de adorar com
“reverência e santo temor” (Hb 12.28). Há formas de cantar, orar e pregar
que são irreverentes. Há palavras e ações estranhas que, considerando a
natureza de Deus, a natureza da assembleia, e as exigências práticas da
reverência, são inapropriadas, inconvenientes, e inadequadas. Entretanto,
em algum caso em particular, isso pode ser assim discernido, não porque
haja um versículo dizendo, especificamente, por exemplo: “Não começarás
o culto driblando uma bola de basquete pelo corredor central” (como fez
um pastor presbiteriano de uma denominação conservadora), assim como
não se acha um versículo especificando que as saias devem ficar 1
centímetro acima do joelho, não 1,5 cm. Há pouco tempo, na TV, um
pregador fez sua congregação responder com empolgação a um belo solo,
falando: “E todos os filhos de Deus dizem…?” — ao que o povo unia-se a
ele, respondendo: “Uau!!”. Nem um único versículo proíbe “uau” como
reação litúrgica. Esse tipo de coisa só pode ser discernido pela sabedoria. A
Bíblia espera e exige que avancemos além das formulações estreitas,
legalistas e fundamentalistas sobre o que é permissível na adoração e que,
em vez disso, perguntemos o que deveria ser feito quando a igreja reúne-se
para a adoração. “Todas as coisas me são lícitas”, diz o apóstolo, “mas nem
todas convêm” (1Co 6.12; 10.24).

Eles versus nós


Quarto, a questão a ser considerada não é o que eu pessoalmente
quero, ou o que minha congregação quer, ou o que minha geração quer,
ou, Deus nos perdoe, o que minha facção quer. A questão é alguma coisa
do tipo o que deveria acontecer, e nós a sugerimos não ao nosso grupo, mas
a toda a igreja reunida. O que deveríamos fazer no culto público? Por
quase uma geração, essa questão tem sido respondida de forma
idiossincrática, pessoal, em que cada ministro, “equipe de louvor”, igreja
ou grupo toma suas próprias decisões a respeito da comunhão dos santos e
da unidade da igreja em geral. Isso não pode continuar sendo aceitável em
denominações universais e relacionadas. Há, afinal, um só batismo, não
muitos (Ef 4.4ss). Quando batismos ou outras formas de adoração
multiplicam-se, torna-se praticamente impossível que a igreja continue
unida. Se a igreja não está unida na adoração, não é unida em qualquer
sentido real, não importa o que se afirme contrário a isso.
As questões de unidade e diversidade são antigas e complexas.
Porém, não podemos deixar de concluir que, em nossos dias, a unidade foi
comprometida em favor da diversidade. Não há mais uma adoração
identificável entre igrejas reformadas e presbiterianas conservadoras.
Como já salientamos, algumas congregações têm optado por uma direção
mais litúrgica, algumas por uma direção contemporânea que busque ser
mais sensível (seeker-sensitive),[12] e outras encontram-se ao longo do
espectro entre os extremos. Essa evolução não tem precedentes na história
da prática reformada, um experimento certamente movido por objetivos
nobres, como evangelismo e alcance dos perdidos, mas, ainda assim, um
experimento. Os resultados finais disso não têm recebido atenção séria. Por
exemplo, como as denominações presbiterianas conservadores manterão
seus membros quando esses membros transferirem-se para novas
comunidades e encontrarem-se em congregações irmãs que nada têm a ver
com as que eles deixaram? Temos apontado para a considerável evidência
anedótica já disponível desses casos ocorrendo em torno da divisão
tradicional/contemporâneo. Aqueles que pensam que lealdade aos “Cinco
pontos do calvinismo” e a doutrina da inerrância manterão a denominação
unida subestimam o poder emotivo dos costumes.[13]
Assim, temos de perguntar: como as denominações presbiterianas
conservadoras vão evitar sua fragmentação em milhares de diferentes
facções, se o multiculturalismo litúrgico hodierno não for restringido? As
“melhores ideias” atuais sobre missiologia insistem em formas de
ministério distintas para gostos e preferências de cada subcultura nacional
e internacional.[14] Esses ministérios incluem o culto público da igreja.
Assim, os jovens devem ter seu culto e os idosos, o seu. Da mesma forma,
brancos “contemporâneos”, hispânicos, afro-americanos, asiáticos e,
presumivelmente, os caipiras, os skatistas, os surfistas, etc. Por trás dessa
mentalidade está a insistência em que toda música, vocabulário e formato
estão à altura das circunstâncias — um relativismo estético, se você quiser.
Brados de elitismo acompanham qualquer convocação a propriedade,
padrões estéticos, tradição reformada ou catolicidade. Dificilmente seria
possível imaginar uma filosofia mais perfeita para divisão e separação da
igreja em grupos de afinidade. Um autor recente refere-se à questão da
“sala de espelhos” criada pelo ministério voltado para gerações específicas.
“Quando isso terá fim?” — ele pergunta. “A proliferação potencialmente
infinita de novos subgrupos começa a parecer baseada em nada mais
substancial que satisfazer a novos estilos”.[15] Porém, estamos convencidos
de que se deve chegar a um consenso e um significativo grau de
uniformidade deve ser alcançado, se a igreja quiser transcender às
diferenças culturais a que Cristo lhe ordena que transcenda (Ef 4.4ss; Gl
3.28; Jo 17.21ss). Uniformidade na igreja, mesmo uniformidade
denominacional, não é um objetivo opcional. Catolicidade de prática é uma
expectativa e exigência apostólica. Voltando a 1 Coríntios 11-14,
encontramos o apóstolo Paulo lidando diretamente com os assuntos oração,
papel das mulheres, Ceia do Senhor, e insistindo:
… nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus. (1Co
11.16)
O apóstolo assume o valor positivo da prática uniforme e exige que
a igreja em Corinto conforme-se a ela. O que as “igrejas de Deus” praticam
os coríntios devem praticar.
Em um segundo momento na mesma epístola, o apóstolo Paulo
apresenta as exigências (ou seja, regula) em relação a oração, canto,
profecia (pregação), papel das mulheres, decência, ordem, e ressalta sua
autoridade com um apelo à catolicidade:
Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em
todas as igrejas dos santos. (1Co 14.33, ACF; cf. 1Co 1.2,
4.17)
Além disso, estamos convencidos de que consenso e unidade
somente podem ser alcançados quando abandonarmos a atual teoria de
acomodação cultural e geracional e, em vez disso, almejarmos um culto
que transcenda interesses culturais limitados e busque amplo apoio em
padrões bíblicos e qualidades estéticas universais. Este era o ideal ao qual
gerações anteriores aspiravam. O Saltério de Genebra, por exemplo, foi
rapidamente traduzido para o holandês, alemão, inglês e espanhol (e uma
meia-dúzia de outras línguas, incluindo italiano, boêmio, polonês, latim e
hebreu),[16] junto com adaptações das Formas de orações eclesiais, de
Calvino. Do mesmo modo, gerações anteriores de missionários
presbiterianos e reformados levaram suas ordens de culto e saltérios para
terras estrangeiras porque essas obras eram percebidas não como a
expressão de uma cultura particular, mas como uma cultura eclesiástica que
era católica (universal) e teologicamente embasada.[17] Unidade, não
diversidade, é o ideal. É o melhor, não o viés de alguém, que fornece o
fundamento para essa cultura universal e transcendente na igreja.[18] “A
igreja é o lugar onde diferenças de geração devem ser transcendidas, não
reforçadas”, diz Gene Edward Veith. “Somente uma igreja que resiste a ser
apenas de uma geração pode ser relevante a todas elas.”[19]

Evangelismo versus adoração


Quinto, a questão que desejamos responder diz respeito ao que
deveríamos fazer em um culto de adoração, não ao que podemos fazer em
outros contextos de outros dias. Entendemos que o propósito dos cultos de
adoração é ser adoração. Óbvio, você diz? Não para todos. Um evento
marcante em minha peregrinação pessoal na área de adoração ocorreu
enquanto eu caminhava para a capela, certa manhã, mais ou menos no
sexto mês do meu primeiro ano como aluno da Trinity College [Faculdade
Trindade], em Bristol. Com ranger de dentes, eu tinha suportado
diariamente os primeiros seis meses de cultos da capela baseados no Livro
de Oração, considerando a experiência quase intolerável. (Quando fiquei
sabendo que somente de 3 a 6 % da Inglaterra comparecia à igreja aos
domingos, pensei: “Bem, não é uma surpresa”.) Para mim, era confuso,
medieval, estranho e, o pior de tudo, enfadonho. Porém, naquela manhã em
particular uma nova ideia entrou na minha cabeça — o motivo por que nós
vamos à igreja é adorar a Deus. Essa era uma ideia completamente nova
para mim, estimulada primariamente pela centralidade de Deus no culto
baseado no Livro de Oração. Eu estava acostumado com cultos orientados
à congregação: adoração como culto de avivamento, como palestra bíblica,
como comunhão e como culto de cânticos. Mais do que qualquer coisa, era
a centralidade de Deus no culto anglicano que se tornara estranha e
desagradável a mim. Comecei a entender a adoração de uma nova
perspectiva, que me tirou do centro e me substituiu pelo louvor de Deus.
Algumas vezes, as congregações reúnem-se para outros propósitos,
como promover encontros evangélicos, conferências bíblicas, conduzir os
negócios da igreja, ou desfrutar de refeições comunitárias. Entretanto,
durante o tempo designado para adoração, a igreja deveria limitar-se
àquelas atividades que podem legitimamente ser consideradas exercícios
devocionais. A integridade do culto de adoração, como um culto para
adoração, não deve ser solapada por outras finalidades que, em diferentes
ocasiões, seriam dignas, como comunhão, administração da igreja,
evangelismo, instrução bíblica, ou outra coisa. Algumas dessas atividades
são fins secundários da adoração; outras são subprodutos da verdadeira
adoração. Quando adoramos, desfrutamos da exposição da Palavra e da
comunhão dos santos. O evangelismo acontece durante a adoração como
resultado de uma exposição bíblica cristocêntrica, assim como o impacto
final que um culto de adoração promove. Um incrédulo
é ele por todos convencido e por todos julgado; tornam-se-lhe
manifestos os segredos do coração, e, assim, prostrando-se
com a face em terra, adorará a Deus, testemunhando que Deus
está, de fato, no meio de vós. (1Co 14.24, 25)
Dr. Edmund Clowney criou o termo “evangelismo doxológico” para
isso. Entretanto, evangelismo, exposição da Bíblia, comunhão e assuntos
da igreja não são os propósitos ou finalidades para os quais a reunião de
adoração acontece, e não se deve permitir que isso desvirtua o culto em
algo que ele não é.[20]
Por outro lado, não estamos tentando responder a questões sobre
como conferências bíblicas, refeições de comunhão, reuniões
administrativas da igreja ou encontros evangelísticos devem ser conduzidos
fora dos cultos de adoração. Por exemplo, eventos para alcançar gerações
específicas, como apresentações de fantoches (para crianças), shows de
rock (para jovens profissionais), rap (para juventude urbana e outros) e de
big-bands (para pessoas mais velhas), podem ser apropriados em outros
momentos. Não estamos tentando falar do que podemos fazer nos outros
seis dias da semana. Estamos apenas falando do que deve ocorrer nos
cultos de adoração ordenados pela Palavra — e, portanto, obrigatórios —
do Dia do Senhor pela manhã e pela noite.

IMPORTÂNCIA
Assim, nossa questão é: o que nós (toda a congregação unida)
devemos (não o que podemos) fazer nos cultos de adoração (não em outras
reuniões congregacionais) públicos (não em privado) do Dia do Senhor?
Qual a importância de responder a essa pergunta? Vamos colocar desta
forma: quão importante é a adoração? Pode ser necessário parar para
pensar no assunto por um momento, e examinar as diversas atividades da
vida. No entanto, mesmo uma consideração superficial incontestavelmente
levará à conclusão de que, é claro, nada que façamos é tão importante
quanto a adoração; não, nada de natureza secular, como trabalho, diversão
ou mesmo vida em família. Nem mesmo atividades religiosas como
evangelismo, comunhão, caridade ou até disciplinas espirituais pessoais,
são tão importantes. Não pode haver questão mais significativa que essa, à
qual respondermos.
No texto fundamental que examinaremos, Jesus diz que o Pai
“procura” verdadeiros adoradores (Jo 4.23). É assim, que Jesus resume a
atividade salvífica do Pai. O que o Pai está fazendo por meio do
evangelho? O que está fazendo por meio do seu Filho? Qual o motivo da
encarnação, da expiação e de toda a redenção? O Pai está procurando
adoradores! Que maneira incomum e inesperada de falar tais assuntos.
Porém, aí está. Robert G. Rayburn salienta que “em lugar nenhum das
Escrituras lemos sobre Deus procurando alguma outra coisa de seus
filhos”. A Bíblia não nos diz que Deus procura testemunhas, servos, ou
colaboradores. O que procura é adoradores. Rayburn continua: “Não é sem
importância real que, na única ocasião nas Escrituras em que a palavra
‘procura’ é utilizada para a atividade de Deus, seja em conexão com a
procura por verdadeiros adoradores”.[21]
Há um sentido real em que a adoração é a razão de ser do evangelho
cristão. O “evangelho eterno” que pregamos é resumido pelo anjo de
Apocalipse 14.7 como “Temei a Deus e dai-lhe glória… Adorai…”. Como
vimos, toda a vida cristã é representada pelo apóstolo Paulo como um ato
de adoração em que apresentamos a Deus nossos corpos por sacrifício
vivo, santo e agradável. Isso é um culto racional (Rm 12.1). O objetivo do
evangelho é, de pecadores, gerar santos, para que possam ser adoradores.
Perceba, em João 4.22, como Jesus passa do assunto adoração para
salvação: Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que
conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Ser salvo é ser liberto da
ignorância e da opressão da idolatria. Para os judeus, “conhecer” o
caminho ou a adoração é nada menos que possuir “salvação”. Certamente,
não estamos acostumados a expressar isso tão incisivamente quanto
fazemos agora. No entanto, esta é a perspectiva do Novo Testamento: o fim
ou propósito do evangelismo e das missões é criar um povo para adorar a
Deus. Os discípulos de Jesus são pedras que vivem edificados casa
espiritual para serem sacerdócio santo, a fim de oferecerem sacrifícios
espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo (1Pe 2.5; cf.
Ef 2.18-22). Deus cria um povo de propriedade exclusiva dele, a fim de
proclamarem as virtudes daquele que os chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz (1Pe 2.9). Nisso é que consistem a missão cristã, a vida
cristã, e a adoração cristã. John Piper resume bem o ponto que destacamos:
As missões não representam o alvo fundamental da igreja, a
adoração, sim. As missões existem […] pois Deus é essencial e
não o homem. Quando se encerrar esta era e os incontáveis
milhões de redimidos estiverem perante o trono de Deus, não
haverá missões. Elas representam, nesta era, uma necessidade
temporária. Mas a adoração permanece para sempre.[22]
Adoração é nossa “prioridade suprema”, como declara o título de
um recente livro sobre o assunto. Todo filho de Deus deveria saber disso.
Não só a Bíblia enfatiza a importância da adoração; a herança
reformada e presbiteriana também. Muitos historiadores modernos do
período da Reforma têm permitido que a personalidade dominante de
Lutero e sua luta em busca da fé ofusquem o coração da reforma suíça e
calvinista. Para Lutero e os luteranos, o foco era a justificação. “Como o
homem pode ser justo diante de Deus?” — era sua pergunta primordial.
Entretanto, para Zwínglio, Calvino e a corrente “reformada”, o foco não
era a justificação, por mais importante que fosse, como eles concordavam.
O foco dos reformados era a adoração. “Como Deus deve ser adorado?” —
eles perguntavam. Para os luteranos, o inimigo da fé eram as obras. Para os
reformados, a idolatria.
Carlos M. N. Eire, em seu altamente apreciado War Against the
Idols [Guerra contra os ídolos] lembra a nossa geração aspectos dos quais
os historiadores mais antigos estavam cientes. “O foco central do
protestantismo reformado era sua interpretação da adoração…”.
Distinguindo luteranos de zwinglianos, Eire diz:
A diferença principal é que para os zwinglianos, o propósito da
Reforma consistia não tanto em encontrar um Deus justo, mas
em voltar-se da idolatria para o verdadeiro Deus.[23]
O mesmo pode ser dito da obra de Heinrich Bullinger (1504-1575),
sucessor de Zwínglio em Zurique; de Martin Bucer (1491-1551), em
Estrasburgo; de Guilherme Farel (1489-1565), em Neuchâtel, e de João
Calvino (1509-1564), em Genebra. A Reforma espalhou-se quando esses e
outros homens pregaram contra a idolatria da adoração medieval e as
pessoas reagiram, às vezes em fúria iconoclasta. Janelas foram quebradas,
relíquias profanadas, estátuas esmigalhadas, altares despedaçados e igrejas
caiadas. Segundo Eire, Farel “usou as imagens e a missa como foco do
processo de Reforma”.[24] Em Genebra, durante os primeiros anos de
reforma, “o foco da atenção não era a questão da justificação, mas da missa
e das imagens, e de todos os ‘abusos’ que as acompanhavam”.[25] Farel e
Calvino descrevem suas conversões não como regastes da justiça por
obras, mas da idolatria. Como os tessalonicenses, eles deixando os ídolos,
converteram-se a Deus, para servirem o Deus vivo e verdadeiro (1
Tessalonicenses 1.9).
Em seu tratado de 1543, intitulado Da necessidade de reformar a
Igreja, Calvino lista dois elementos definidores do cristianismo que, em
suas palavras, constituem “toda a substância do cristianismo”. São “um
conhecimento, primeiro, da maneira correta de adorar a Deus e, em
segundo lugar, da fonte da qual se deve buscar a salvação”.[26] W. Robert
Godfrey comenta: “Notavelmente, Calvino coloca a adoração antes da
salvação em sua lista dos dois mais importantes elementos do cristianismo
bíblico”.[27] Eire acrescenta:
Calvino define o lugar da adoração como nenhum dos seus
predecessores tinham feito antes… Adoração, ele diz, é a
preocupação central dos cristãos. Não é simples matéria
periférica, mas “toda a substância” da fé cristã… É possível até
argumentar que isso se torna a característica definidora
fundamental do calvinismo.[28]
Qual a razão de estudo teológico e bíblico, de evangelismo e
missões, de conhecer a Deus e, com efeito, de toda a religião cristã? A
resposta para tudo o que foi mencionado é adoração. O verdadeiro
conhecimento de Deus leva à adoração correta que leva ao viver correto.
Os teólogos da Reforma pregaram soli Deo gloria em toda esfera da vida,
porque primeiro buscavam isso na adoração.
Ao tornar a adoração um componente existencial necessário do
conhecimento, Calvino a transforma no elo entre pensamento e
ação, entre teologia e sua aplicação prática. Como resultado,
Calvino desenvolve um tipo de teologia bastante prático.
Religião não é apenas um conjunto de doutrinas, mas uma
forma de adorar e uma forma de viver.[29]
Não só na Europa continental, mas também na Grã-Bretanha, o
coração da batalha entre os seguidores de Calvino e o sistema anglicano era
a questão da adoração. Durante cem anos, os puritanos lutaram para
reformar o Livro de Oração segundo o modelo genebrino, culminando na
Guerra Civil, na convocação da Assembleia de Westminster e na aprovação
parlamentar do Diretório para o culto público a Deus para os reinos da
Inglaterra, Escócia, Gales e Irlanda.
Hoje, não estamos muito acostumados a pensar nesses termos. A
situação atual, em que mesmo igrejas que se identificam como herdeiras da
Reforma, como a Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos (Presbyterian
Church in America — PCA), e que, em nome da liberdade, falham em
oferecer diretórios para o culto, não poderia ser mais irônica. Poucos
aceitam pensar cuidadosamente sobre adoração. Menos ainda veem nisso
uma necessidade. Não apenas muitas pessoas não enxergam conexão entre
doutrina e vida prática, como mais pessoas ainda não veem conexão entre
adoração e vida prática. Assim, por que regular a adoração se, como
geralmente se presume, apenas ia gerar divisão, não sendo também tão
importante? Nossa tendência é ser como os detratores de Calvino, que o
acusavam de fraturar a unidade da igreja por ninharias. Como esses
detratores, contudo, estamos errados quanto ao assunto. Questões sobre
como adorar a Deus são as mais importantes de todas, por si mesmas, e por
suas abrangentes aplicações.

ADORAÇÃO COMEÇA COM DEUS


João 4 pode servir como texto básico para nossa discussão sobre
adoração. Lembre-se do contexto. Jesus encontra a mulher samaritana no
poço. Oferece-lhe água viva, a qual ela quer. Porém, Jesus traz à tona, no
momento, o estilo de vida daquela mulher. A samaritana teve cinco maridos
e agora está vivendo com um homem que não é seu marido. Encurralada,
desvia a conversa de moralidade para religião, perguntando se o local certo
de adoração está em Samaria ou Jerusalém: Nossos pais adoravam neste
monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve
adorar (João 4.20). E recebe a surpreendente resposta de Jesus: Mulher,
podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em
Jerusalém adorareis o Pai (João 4.21). Nesse debate, Jesus fica
parcialmente do lado dos judeus, dizendo:
Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que
conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. (João 4.22)

Conhecimento conta. Verdade conta. A adoração samaritana estava


em erro. Samaritanos e, por implicação, todo o povo, devem olhar para os
judeus e, em particular, para o livro dos judeus, a Bíblia, a fim de aprender
como adorar a Deus e, assim, fruir a salvação. Jesus então repete a
substância do versículo 21, acrescentando:
Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores
adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que
o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa
que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.
(João 4.23,24)
Podemos considerar tal afirmação de Jesus simplesmente a mais
revolucionária entre todas que fez. Com muita clareza Jesus está dizendo
que o lugar da adoração não mais importa, mas o espírito. Está
marginalizando os aspectos externos da adoração, ao passo que dá
proeminência aos internos. Jerusalém, lembre-se, era importante, porque o
templo estava lá e, com o templo, os altares, os sacerdotes e os sacrifícios.
Se o lugar da adoração já não é importante, todo o sistema externo de
adoração do Antigo Testamento está sendo removido. A adoração
tipológica do Antigo Testamento, com seu símbolo do nosso Grande Sumo
Sacerdote e Cordeiro de Deus que tiraria o pecado do mundo, está sendo
abolida com uma palavra e contrastada com o que permanecerá em seu
lugar. Contra o que é temporário, típico e externo, haverá a adoração da
nova aliança oferecida em espírito e verdade. O que significa isso?
Simplesmente que contra os erros samaritanos, a adoração será em verdade,
isto é, de acordo com a revelação divina da verdade. Contra a preocupação
com aspectos externos de local e procedimento, a adoração será em
espírito, isto é, uma questão do espírito correto, do coração, do motivo.
Que justificativa teológica é dada para essas mudanças dramáticas?
Perceba que a única palavra de explicação que Jesus dá aqui em
João 4, além da afirmação franca de que mudanças estão vindo, é que Deus
é espírito (v. 24). Tão simples afirmação fornece, sozinha, o fundamento, a
orientação, a perspectiva da qual todo o restante flui. Adoração começa
com a doutrina de Deus. Porque Deus é espírito, importa que nossa
adoração seja em espírito e em verdade. O que importa na adoração é
resultado direto da natureza imutável de Deus. A adoração deve ser como
Jesus ensina que deve ser, porque Deus é quem ele é. Há um verdadeiro
sentido no qual não podemos afirmar nada mais importante sobre adoração
do que isso. Não há senão um Deus. Esse Deus é espírito. As questões
essenciais sobre adoração são respondidas em relação a ele. Se começamos
nossa discussão a respeito de adoração sobre outra base, então começamos
com o pé errado. Devemos seguir Jesus nisso. Os samaritanos e judeus
tinham suas próprias “guerras de adoração”. Questões sobre adoração eram
respondidas não com referência a judeus e samaritanos ou qualquer outro
grupo. As questões críticas fluem todas da existência e da natureza de
Deus. Isso significa afirmar que, em um sentido mais profundo do que
talvez tenhamos considerado, a adoração é para Deus. Não adoramos
ignorando completamente a congregação. A preocupação do apóstolo Paulo
com a edificação na oração, no canto e na pregação em 1 Coríntios deixa
isso claro. Entretanto, a principal preocupação na adoração é com o que
Deus deseja ou exige. De fato, aquilo que o povo de Samaria ou Jerusalém
pudesse considerar importante ou atraente não é mencionado por Jesus nem
mesmo como uma consideração. A questão crítica é Deus, sua natureza e
suas exigências. Entendemos Deus é espírito como o princípio orientador
crítico que deve guiar-nos através do restante desta discussão. Porque Deus
é espírito, a ênfase externa e tipológica da adoração do Antigo Testamento
deve ser de necessidade temporária. Adoração deve ser em espírito. Porque
Deus é espírito, a adoração também deve ser praticada com integridade,
com fidelidade à autorrevelação de Deus, deve ser em verdade.
Lidaremos com esta — em verdade — e, então, com aquela — em
espírito. No entanto, antes que o façamos, devemos perceber que há dois
lados na adoração, e importa que os entendamos corretamente. Há o
coração da adoração (seu espírito) e seu conteúdo e forma (sua verdade).
Ambos são necessários. Ambos são ordenados por Deus. Periodicamente
levanta-se a questão: “Você está dizendo que Deus não se agrada da
adoração de tal e tal grupo de mui sinceros, devotos e zelosos cristãos?”.
Nossa resposta é que a forma não é irrelevante. Deus se importa com a
forma e o conteúdo da adoração assim como com o espírito da adoração. É
possível ser muito sincero e, ainda assim, sinceramente errado, oferecendo
a Deus adoração de um modo que ele não autorizou. O caso extremo disso
é visto na adoração pagã, como a adoração dos profetas de Baal no Monte
Carmelo, que praticaram a automutilação em meio a sua dança cerimonial
e gritos frenéticos (1Rs 18.25-29). Eles eram honestos, sinceros, devotos?
Sem dúvida. Assim como os antigos cananeus que ofereciam suas crianças
a Moloque, em sacrifício humano. Dificilmente se pode imaginar expressão
mais zelosa de devoção religiosa. No entanto, a forma era de todo ilícita,
desautorizada e maligna.
A forma importa. Jesus diz que importa que a adoração seja
conduzida tanto com a atitude correta quanto com a forma correta, com
espírito e com verdade.
2. Adoração em verdade

Examinaremos, em ordem inversa, os dois princípios essenciais da


adoração bíblica, começando com “verdade” e, depois, considerando
“espírito”. Jesus diz que a adoração deve ser em verdade, o que deveria ser
entendido em dois sentidos.

Segundo as Escrituras
Primeiro, adoração que é em verdade é segundo as Escrituras. Os
samaritanos não eram diferentes do restante da humanidade. Vós adorais o
que não conheceis, disse Jesus à samaritana. Há formas quase ilimitadas de
como adorar a Deus. Jesus está insistindo em que entendamos tal afirmação
corretamente. Devemos adorar a Deus de acordo com sua autorrevelação.
Se vamos adorar em verdade, devemos submeter-nos à revelação bíblica.
Calvino argumentou que o culto “legítimo” é o que “Deus mesmo”
estabeleceu.[30] Esse princípio tornou-se conhecido como o “princípio
regulador”.[31] O entendimento católico, luterano e anglicano pode ser
chamado de um “princípio normativo” — normas gerais são dadas, porém,
o que não é expressamente proibido pela Escritura na adoração é permitido.
A prática reformada era muito mais rigorosa. Ela afirmava: o que não é
ordenado pela Escritura (seja por mandamento, exemplo ou por dedução de
princípios mais amplos) é proibido. A Confissão de fé de Westminster
expressa isso desta forma:
Mas o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído
por ele mesmo e tão limitado por sua vontade revelada, que
Deus não deve ser adorado segundo as imaginações e invenções
dos homens ou sugestões de Satanás nem sob qualquer
representação visível ou de qualquer outro modo não prescrito
nas Santas Escrituras. (Capítulo XXI.1)
Onde a Bíblia ensina isso? Certamente, a ideia é apresentada nas
prescrições para adoração bastante detalhadas em Êxodo 25-40 e Levítico,
mas também nas seguintes passagens:
· Caim e Abel (Gn 4.3-8) — esta foi a primeira “guerra de
adoração”. Abel oferece das primícias do seu rebanho e da
gordura deste, enquanto Caim oferece do fruto da terra. O
Senhor agradou-se […] de Abel e de sua oferta; ao passo que de
Caim e de sua oferta não se agradou. Por quê? A repreensão do
Senhor, Se procederes bem, não é certo que serás aceito? implica
em que ou o espírito ou a verdade da oferta era deficiente. Ou era
uma oferta desautorizada ou uma oferta autorizada oferecida com
um motivo corrupto.
· O segundo mandamento (Ex 20.4) — ao proibir a adoração por
meio de imagens, Deus declara que somente ele determina como
deve ser adorado. Embora o uso de imagens possa ser sincero e
sensível (como auxílio para a adoração), elas não lhe agradam e,
por implicação, também não lhe agrada qualquer coisa que ele
não tenha sancionado.
· O bezerro de ouro (Ex 32) — provavelmente uma representação
de Jeová (veja vv. 4,5,8), mas de todo inaceitável para uso no
culto, porque não é autorizado.
· Nadabe e Abiú (Lv 10) — oferecem fogo estranho ao Senhor, isto
é, uma oferta oferecida de uma forma que [Deus] lhes não
ordenara (10.1), e Deus os consumiu. Fazendo isso, Deus fez um
pronunciamento para os tempos — Mostrarei a minha santidade
naqueles que se cheguem a mim… (10.2,3), o que pode apenas
significar que aqueles que se achegam a Deus devem fazê-lo de
uma maneira consistente com o que ele tem ordenado.
· Advertências para nada adicionar ou subtrair dos mandamentos
de Deus (Dt 4.2, 12.32).
· A rejeição da adoração ilícita de Saul, e o princípio de que o
obedecer é melhor do que o sacrificar (1Sm 15.22). Obediência a
quê? Obediência aos mandamentos de Deus referentes à
adoração.
· A rejeição de ritos pagãos que nunca lhes ordenei, nem falei,
nem me passou pela mente (Jr 19.5, 32.35).
· A rejeição de Jesus à adoração farisaica, citando as palavras de
Isaías, que disse: E em vão me adoram, ensinando doutrinas que
são preceitos de homens (Mc 7.7; cf. Mt 15.9, Is 29.13).
· A rejeição da adoração samaritana por Jesus, uma vez que Jesus
diz à mulher: Vós adorais o que não conheceis (Jo 4.22).
“Verdadeira” adoração é impossível para eles enquanto
imaginarem sua própria adoração. Adoração que é em verdade
baseia-se no conhecimento do que Deus ordenara.
· A rejeição do que os antigos teólogos chamavam de “culto
voluntário”, traduzido em uma versão moderna de Colossenses
como mandamentos e ensinos humanos… com sua pretensa
religiosidade, falsa humildade e severidade com o corpo (Cl
2.22,23 NVI).
· A regulação da oração, dos cânticos, da pregação, da Ceia do
Senhor, do papel das mulheres e a insistência em ordem e decoro
em 1 Coríntios 11-14, assim como a insistência em prática
universal e uniforme (1Co 1.2; 4.17; 11.16; 14.33; Ef 4.4ss).
Essa é apenas uma amostra de passagens, e outras poderiam ser
citadas. Com toda a clareza, ensinam que em nossa adoração não somos
livres para improvisar. Calvino alerta contra as “armadilhas da novidade”.
Mas o princípio regulador encontra-se firmado não apenas nos “textos
provas” acima, é, porém, a implicação necessária dos princípios
fundamentais da teologia reformada.[32] A rejeição do princípio regulador
necessariamente envolveria comprometer doutrinas centrais da fé
reformada. Considere o seguinte esboço, sugerido primeiro nos escritos de
T. David Gordon:

· As doutrinas de Deus e do homem — Nenhum sistema teológico


tem dado tanta ênfase à distinção criador/criatura como o
calvinismo bíblico. Nenhum tem apreciado e celebrado o grande
abismo entre o Deus infinito dos céus e da terra e o homem finito.
Seus pensamentos não são os nossos, e seus caminhos não são os
nossos (Isaías 55.8,9). Quem, pois, conheceu a mente do Senhor?
— pergunta o apóstolo Paulo (Romanos 11.34). A criatura não
pode saber que adoração será agradável a Deus à parte de uma
autorrevelação. Esta é uma implicação óbvia de uma visão
reformada das naturezas de Deus e do homem
· A doutrina do pecado — Novamente, nenhum sistema de teologia
tem enfatizado a extensão dos efeitos da queda sobre a natureza
humana como a fé reformada. Depravação total é a frase que os
reformados têm utilizado para descrever a corrupção de tudo nas
faculdades, mente, vontade e afeições do homem. O coração dos
homens está cheio de maldade, diz Eclesiastes (9.3). Enganoso é
o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente
corrupto, diz Jeremias (17.9). Não há justo, nem um sequer…
não há quem busque a Deus... não há quem faça o bem
(Romanos 3.10-12). Referindo-se à Queda, a Confissão de fé de
Westminster diz que Adão, Eva e sua posteridade tornaram-se
“inteiramente corrompidos em todas as suas faculdades e partes
do corpo e da alma” e são “totalmente indispostos, adversos a
todo bem e inteiramente inclinados a todo mal” (VI.2,4). Essa
verdade nunca foi afirmada mais vigorosamente que isso, ou com
maior precisão. O efeito dessa corrupção radical do homem é
levar-nos além da ignorância do finito sobre o infinito, que
acabamos de discutir, para o princípio positivo da idolatria. O
homem, por natureza, é idólatra (Romanos 1.18-32). Não pode
nem conseguirá entender o que é certo. O coração humano é uma
“fábrica” de ídolos, diz Calvino.[33] Não somos competentes para
imaginar uma adoração que honre a Deus. Se seguirmos nossas
inclinações naturais, mesmo as do senso comum, sempre
fracassaremos nisso. Um reconhecimento humilde da depravação
humana exige que procuremos em Deus o que ele deseja de nós
em adoração.
· A doutrina da Escritura — Nenhuma outra tradição tem elevado
a autoridade e a suficiência da Escritura às alturas como faz a
tradição reformada. Sola Scriptura é um princípio fundamental de
toda a herança protestante e reformada. Nossa autoridade final
em todas as questões de fé e conduta é a Escritura. “O Juiz
Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser
determinadas… não pode ser outro senão o Espírito Santo
falando na Escritura” (CFW I.10). Para esta tarefa de regular a fé
e a vida a Escritura é suficiente. O apóstolo Paulo escreve:

Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para


a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim
de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado
para toda boa obra. (2Tm 3.16,17)

Os santos são adequadamente habilitados, pela Escritura, para


toda boa obra. Ela ensina, repreende, corrige e educa-nos para as
tarefas da vida. Só por meio das Escrituras somos “plenamente
preparados” (NVI) para toda, não algumas ou a maioria, mas
toda boa obra. A importantíssima obra da adoração não apenas
estaria incluída, mas no topo de qualquer lista de obras para as
quais a Escritura é planejada com o fim de equipar-nos.
Novamente, citamos a Confissão: “Todo o conselho de Deus
concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para
a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na
Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela. À
Escritura nada se acrescentará em tempo algum” (I.6).
· A doutrina da Igreja — É com rigor, que a tradição reformada
tem limitado a autoridade e o poder da igreja às áreas delegadas a
ela por Cristo. Sua autoridade é extensiva (como exposto em
Mateus 16.18ss, 18.18ss), todavia, é “ministerial e declarativa”,
para usar o vocabulário tradicional do protestantismo reformado.
A igreja pode administrar o que Cristo a chama a administrar, e
pode declarar o que Cristo a chama a declarar, defende T. David
Gordon, “mas não tem poder discricionário para moldar novas
ordenanças ou leis”.[34] A igreja não pode “constranger a
consciência” criando regras não abordadas ou referidas pela
Escritura. O princípio regulador é a expressão necessária desse
princípio na área de adoração. Em sua adoração, a igreja pode
exigir de seus membros somente o que Cristo exige, isso e nada
mais. Desse modo, o povo está livre das tradições e artifícios de
meros homens.

Talvez a doutrina da soberania de Deus, doutrina que faz tanto para


dar substância e forma ao pensamento reformado, sintetize melhor nossa
questão. Porque Deus é um Deus soberano, é soberano sobre sua adoração.
Somente ele pode corretamente regular a adoração a ele (pois somos finitos
e caídos), e só ele de fato regula essa adoração (por meio de sua palavra à
qual sua igreja está sujeita). Deus não está obrigado a aceitar qualquer
adoração que o homem finito e caído possa imaginar, ou mesmo que
oficiais eclesiásticos redimidos possam criar. Ele é Senhor. Ele é soberano.
Somente ele pode e autoriza a adoração que lhe agrada.
Fazemos na adoração somente o que é “segundo as Escrituras”. Nós
nos limitamos às coisas que ele mesmo tem autorizado e prometido
abençoar. Esta não é uma exigência odiosa ou penosa. É apenas uma
questão de aceitar as atividades ou elementos do culto que Deus autorizou
e aos quais associou suas promessas. Temos prazer em fazer isso. O
princípio regulador flui necessariamente de todo o sistema da teologia
reformada.

Elementos, Formas, Circunstâncias


Isso, então, leva à questão: o que especificamente Deus autorizou?
Q u e elementos ordenou para a adoração? A Confissão de Westminster
fornece detalhes específicos:
A oração com ações de graças… A leitura das Escrituras com o
temor divino, a sã pregação da palavra e a consciente atenção a
ela… o cantar salmos com graças no coração… a devida
administração e digna recepção dos sacramentos instituídos por
Cristo — são partes do efetivo culto de Deus. (XXXI.3,5)
Fala ainda de elementos ocasionais como “juramentos religiosos” e
“votos” (como em credos, pactos de membresia e votos de ordenação)
como partes legítimas do “culto religioso” (XXI.5, XXII.1). Textos como
Atos 2.42 proporcionam um vislumbre da igreja primitiva em adoração, em
cultos simples da palavra, sacramentos e oração. Também vemos o
apóstolo Paulo estabelecendo regras sobre a oração (1Co 11.2-16, 14.14-
17; 1Tm 2.1-3), o canto de louvores (1Co 14.26,27, Cl 3.16, Ef 5.19), o
ministério da palavra (1Co 14.29-33, 1Tm 4.13, 2Tm 4.1,2), a coleta (1Co
16.1,2) e a Ceia do Senhor (1Co 11.17-34). Todos esses parecem ser
elementos regulares da adoração da igreja apostólica. A oração, a leitura
da Escritura, a pregação da Escritura, o cantar salmos, a administração
d o s sacramentos e juramentos religiosos são todos “de acordo com a
Escritura”, modelados pelo exemplo apostólico, regulados pelo
mandamento apostólico e acompanhados pelas divinas promessas de
bênção.
Neste ponto, um detrator pode perguntar sobre púlpitos, hinários,
luzes e microfones, e questionar a consistência com que o princípio
regulador está sendo aplicado. Onde, pode-se perguntar, está a justificativa
bíblica para essas inovações extra bíblicas? A tradição reformada em geral,
e os Símbolos de Westminster, especificamente, distinguem entre elementos
(biblicamente determinados e imutáveis), formas (o conteúdo dos
elementos, a respeito das quais há considerável liberdade) e circunstâncias,
governadas por considerações mais amplas. Por exemplo, o elemento
oração pode ser expresso por meio de uma forma escrita ou extemporânea.
O elemento pregação pode ser textual ou tópico na forma. O elemento
leitura da Escritura pode ser expresso de várias formas: alguns versículos
ou um capítulo ou mais, de Gênesis ou Apocalipse ou de qualquer lugar
entre eles. Em cada um dos casos, a forma é o conteúdo e a estrutura por
meio dos quais o elemento é expresso. Formas não são ilimitadas. Uma
forma pode ser consistente com a natureza do elemento. Não é possível
“dançar o sermão”, em primeiro lugar porque um sermão é, por natureza,
comunicação oral. Dança não é uma forma de pregação, mas um novo
elemento, apesar dos argumentos de seus proponentes.[35]
Ainda assim, há um leque de escolhas. T. David Gordon reconhece
que esta categoria (forma) “parece ser menos conhecida que as categorias
‘elemento’ ou ‘circunstância’”. Não obstante, desde a Reforma ela tem sido
uma parte importante da discussão sobre adoração. Por exemplo, Calvino
reuniu uma Forma de orações eclesiais (1542); o Catecismo maior e vários
autores reformados desde então têm-se referido à Oração Dominical como
uma forma de oração, e várias formas de orações para a família e para as
orações públicas têm sido publicadas ao longo dos anos. Além disso, um
debate sobre formas de adoração “livres” contra “fixas” tem prosseguido
entre os presbiterianos desde os dias dos puritanos. Um exame superficial
da literatura do protestantismo clássico verificará essa asserção. “Forma” é
a palavra tradicionalmente usada para identificar o conteúdo de um
elemento e a maneira como ele é estruturado.[36] As circunstâncias são
tratadas na Confissão de Westminster em I.6:
Há algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus… comum às
ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas à luz da
natureza e da prudência cristã, segundo as regras gerais da Palavra,
que sempre devem ser observadas.
A “luz da natureza”, a “prudência cristã” e as “regras gerais da
Palavra” devem ajudar-nos a resolver questões circunstanciais “comuns às
ações e sociedades humanas”, isto é, comuns a reuniões públicas. Por
exemplo, todas as reuniões públicas devem resolver as questões de
iluminação, de projeção ou amplificação do som, de horário e local do
encontro, sobre haver grupos de recitação ou de canto, e sobre como
fornecer textos para o grupo. Como essas questões circunstanciais devem
se resolvidas? Usando a “prudência cristã” ou o que poderíamos chamar de
senso comum santificado. Não devemos esperar textos bíblicos que
respondam a essas questões. Voltando ao exemplo da oração, na adoração,
posso orar (é um elemento autorizado) uma oração espontânea ou escrita
(questões de forma), usando a voz ou um microfone (questões de
circunstância). Posso pregar (elemento) a partir do evangelho de Marcos
ou de Lucas (forma) em um salão iluminado por luzes elétricas ou
lâmpadas a óleo (circunstâncias).
Há uma consistência na aplicação do princípio regulador, a qual
reconhece as importantes distinções entre elementos, os quais exigem
sanção bíblica (por mandamento, exemplo ou implicação), liberdade nas
formas e senso comum nas circunstâncias. O princípio regulador conforme
temos esboçado demonstra o que o povo reformado tem entendido por
adoração, a qual é “segundo as Escrituras”. Isso sintetiza a visão reformada
do culto. De fato, é o “calvinismo em adoração”, como T. David Gordon já
disse. É o princípio histórico pelo qual a igreja reformada tem articulado
seu entendimento do mandamento de Jesus para adorarmos em verdade.

Saturado com a Escritura


Segundo, adoração “em verdade” deve ser saturada com a
Escritura. A adoração não só deve ser governada pela Palavra, mas também
estar repleta da Palavra. Os samaritanos não “conhecem” o que adoram.
Cristãos devem conhecer. A adoração do Antigo Testamento expressava
muito dessa verdade, de forma física, externa e tipológica. O Novo
Testamento, com sua adoração espiritual, não. A verdade verbalmente
expressa terá ênfase maior na nova era porque a verdade representada nos
tipos do Antigo Testamento será cumprida por Cristo. A Bíblia fornece a
estrutura e o conteúdo da nossa adoração.
A adoração cristã é refletida e cheia de conteúdo. Pagãos oram com
vãs repetições e muito falar (Mateus 6.7). A adoração pagã típica funciona
no plano do sentimento e da experiência em lugar da reflexão. Cristãos,
porém, devem amar a Deus com suas mentes (Mateus 22.37). Seu culto
racional é oferecido com mentes renovadas (Romanos 12.1,2). Como
Calvino salientou (e Agostinho antes dele) nisso reside “a diferença entre o
canto dos homens e o dos pássaros”. O papagaio pode repetir o que ouve e
o rouxinol pode cantar de forma encantadora, “mas o dom singular do
homem é falar e cantar sabendo o que canta e fala”.[37] Nossos salmos, e
hinos e cânticos espirituais instruem e aconselham (Colossenses 3.16).
Nossa adoração é uma conversa bilateral em que Deus fala a nós
inteligivelmente em sua Palavra, e nós respondemos inteligivelmente em
palavras que ele nos ensinou. Nossas mentes jamais devem ser infrutíferas.
Pelo contrário, devemos orar com o espírito, mas também… com a mente.
Devemos cantar com o espírito, mas também… com a mente (1 Coríntios
14.14,15). O que Deus uniu jamais deve ser desfeito em pedaços. O
conteúdo específico com os quais nossas mentes devem se ocupar é o da
Sagrada Escritura.
Nosso cântico de louvor é modelado segundo os salmos bíblicos,
nossa confissão de pecado segundo o arrependimento bíblico, nossa
confissão de fé segundo as doutrinas bíblicas, e nossa pregação segundo
textos bíblicos. Falamos com Deus usando a inteligência (na confissão e
louvor bíblico) e ele fala ao nosso entendimento (por meio de sua palavra).
Em termos simples, na adoração, oramos a palavra, cantamos a palavra,
lemos a palavra, pregamos a palavra e vemos a palavra (nos sacramentos).
O idioma da adoração cristã é o idioma das Escrituras. Por quê? Porque é
isso que converte, santifica e edifica o povo de Deus.
O apóstolo Paulo ensina que a fé vem pelo ouvir, e o ouvir, pela
palavra de Cristo (Romanos 10.17, A21). Como nascemos de novo? Pela
viva e permanente palavra de Cristo (1Pe 1.23-25). Como crescemos em
Cristo? Pelo genuíno leite espiritual (1Pe 2.2). Como somos santificados?
Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade, Jesus disse (João
17.17). Amadurecidos? Conformados à imagem de Deus? Pela palavra de
Deus operando em nós (1 Tessalonicenses 2.13). O evangelho
(euangeliion) é o poder de Deus (Romanos 1.16, cf. 1Co 1.18,24). A
mensagem do evangelho (kerygma) vem em demonstração do Espírito e de
poder (1 Coríntios 2.4). Vem em poder, no Espírito Santo e em plena
convicção (1 Tessalonicenses 1.5). Consequência: nossa adoração está
repleta de conteúdo bíblico.
Talvez alguém pense que a importância do conteúdo
substancialmente bíblico seria óbvia para qualquer pessoa vinda de um
contexto protestante evangélico. Infelizmente, já não podemos contar com
isso. O conteúdo bíblico está rapidamente desaparecendo da adoração
evangélica. Alguns observadores fazem tentativas de avaliar “nossa época”
examinando músicas ou sermões em particular e perguntando: “o que há de
errado nisso?”.[38] Achamos que devemos recuar um passo e examinar não
apenas exemplos isolados, mas identificar a trajetória da adoração
evangélica a partir de um passado recente. Entre os evangélicos
protestantes, há apenas uma geração, porções substanciais da Escritura
eram lidas, sermões eram expositivos, hinos eram carregados de conteúdo
bíblico e as orações, cheias de alusões e conteúdo bíblicos. Hoje, o mais
frequente é que a Escritura seja pouco lida. Sermões são tópicos.
Comparativamente, as músicas têm pouco conteúdo bíblico, e o pouco que
há é repetido com a frequência de um mantra.[39] Orações inexistem ou
são curtas e expressas com linguajar sub-bíblico e sobremodo informal. Os
sacramentos, cuja correta ministração exige considerável leitura e
explicação bíblica, são observados rara ou apressadamente. Protestantes
reformados e evangélicos não podem agradar-se dessa marcha dos
acontecimentos. Não é preciso ser profeta para perceber o problema
chegando. O que devemos chamar de “adoração” quando a Bíblia não é
lida, pregada, cantada e orada, exceto em doses simbólicas? Devemos
chamar isso de culto? De evento? Celebração? Visto que são as sagradas
letras que podem nos tornar sábios para a salvação pela fé em Cristo Jesus,
que tipo de igreja restará após uma geração de “adoração” na qual essas
“sagradas letras” estão em grande parte ausentes (2 Timóteo 3.15)? Por
essas razões, as atuais guerras de adoração não deveriam ser vistas como
meras discordâncias quanto a “estilo” ou “preferências pessoais”.
Podemos delinear nossos princípios como se segue:
· Leia a Palavra — O Diretório para o culto público a Deus da
Assembleia de Westminster recomenda a leitura de capítulos
inteiros da Escritura. Paulo disse a Timóteo: Aplica-te à leitura, à
exortação, ao ensino (1 Timóteo 4.13). Na adoração reformada,
não lemos apenas um ou dois versículos aqui e ali, mas passagens
extensas da Escritura.
· Pregue a Palavra — “Desde o princípio, supõe-se que o sermão
seja uma explanação da leitura bíblica”, diz Hughes Old,
argumentando a partir de Neemias 8. “Não é apenas uma palestra
sobre algum tema religioso, mas uma explicação de uma
passagem da Escritura”.[40] Prega a palavra, Paulo diz a Timóteo
(2 Timóteo 4.2). A pregação por toda a Bíblia, expositiva,
sequencial, verso a verso, livro a livro, todo o desígnio de Deus
(Atos 20.27), era a prática de muitos dos pais da igreja (por
exemplo, Orígenes, Crisóstomo, Agostinho), de todos os
reformadores e dos melhores de seus herdeiros desde então. A
palavra pregada é a característica principal da adoração
reformada.[41]
· Cante a Palavra — Nossas músicas devem ser ricas em conteúdo
bíblico e teológico. As divisões atuais quanto a música estão no
centro das nossas guerras de adoração. Entretanto, alguns
princípios deveriam ser fáceis o bastante de se identificarem.

Primeiro, como um cântico cristão de adoração deveria ser?


Resposta: como um Salmo. Às vezes, protestantes reformados
têm cantado exclusivamente Salmos. Entretanto, mesmo se essa
não é a convicção de alguns, estes ainda deveriam reconhecer que
os próprios Salmos deveriam ser cantados e que eles fornecem o
modelo para a hinódia cristã. Se as músicas que cantamos na
adoração se parecem com Salmos, elas terão desenvolvido temas
seguindo muitas linhas com repetição mínima. Serão ricas em
conteúdo teológico e experimental. Elas nos dirão muito sobre
Deus, o homem, o pecado, a salvação e a vida cristã. Expressarão
todo o espectro de emoção e experiência humanas.

Segundo, como deveria soar um cântico cristão de adoração?


Muitos são rápidos em apontar que Deus não tem um livro de
músicas. Não. Ele, porém, nos deu-nos um livro de poemas (os
Salmos) e a forma desses poemas ajudará muito em determinar os
tipos de música a serem usados. Simplificando: as músicas serão
apropriadas às palavras. As letras serão sofisticadas o bastante
para transmitir conteúdo substancial por muitas linhas e estrofes.
Usarão o mínimo de repetições. Haverá adequação ao tom
exaltado e tocante do Salmo ou do hino cristão baseado na Bíblia.
Cante a Palavra.
· Ore a Palavra — como no caso das nossas músicas, as orações
de púlpito das igrejas reformadas deveriam ser ricas em conteúdo
bíblico e teológico. Não é a partir da Bíblia que aprendemos o
vocabulário da devoção cristã? Não aprendemos as promessas de
Deus para crermos e reivindicarmos a partir da Bíblia? Não
conhecemos a vontade de Deus, os mandamentos de Deus e os
desejos de Deus para seu povo, pelos quais devemos clamar em
oração, a partir da Bíblia? Por essas coisas serem assim, as
orações públicas devem repetir e ecoar o vocabulário bíblico do
começo ao fim. Outrora isso era amplamente entendido. Matthew
Henry[42] e Isaac Watts[43] produziram manuais de oração que
por gerações treinaram pastores protestantes a orarem na
linguagem da Escritura e ainda são utilizados hoje. Hughes Old
produziu uma obra semelhante em anos recentes.[44]
· Veja a Palavra — Agostinho foi o primeiro a referir-se aos
sacramentos como “palavras visíveis”. Os sacramentos são
acompanhados de uma extensiva leitura bíblica (por exemplo, as
palavras de instituição e advertência) e explanação teológica (por
exemplo, a aliança e a natureza dos sacramentos). Eles mesmos
são símbolos visuais das verdades do evangelho. Na adoração
reformada, o sacramento nunca é separado da Palavra. Por quê?
A propósito, por que ler, pregar, cantar e orar a Bíblia? Porque a
fé vem pelo ouvir a palavra de Cristo (Rm 10.17, A21).
A adoração do protestantismo reformado é simples. Apenas lemos,
pregamos, oramos, cantamos e vemos a palavra de Deus, mas falaremos
mais sobre sua simplicidade depois. Algumas vezes, essa ênfase sobre a
Bíblia na adoração reformada tem sido criticada como exageradamente
“cognitiva” ou “intelectual”,[45] assim como antiemocional e contrária às
artes. Embora este não seja o lugar para abordar todas essas questões (por
exemplo, uma teologia da arte, uma teoria da psicologia humana, uma
filosofia do aprendizado, etc.), simplesmente responderíamos: adoração
deve ser “segundo as Escrituras”. Ao tratar do entendimento, a Escritura
trata com toda a pessoa — mente, vontade e emoções. Sermões, cânticos e
orações saturados com a Escritura não são “cerebrais” ou “acadêmicos”.
Não mais do que poderia ser desse modo classificada a comunicação
amorosa e firme de um pai humano a seu filho amado (veja Provérbios 3-
5). É estranho que isso venha a ser considerado como tal — “cerebral” e
“acadêmica”.
Repetimos: o princípio regular não é complicado. Não é pesado ou
penoso. Apenas exige que adoremos “segundo as Escrituras”. Estruturamos
nossa adoração com elementos bíblicos e preenchemos esses elementos
com conteúdo bíblico.

Exemplo prático
Aqueles que presenciam um culto de adoração reformado e
tradicional ouvirão um uniforme fluxo de conteúdo bíblico. Serão
chamados à adoração com um chamado bíblico tal como o Salmo 95:
Vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do SENHOR, que
nos criou. Ele é o nosso Deus, e nós, povo do seu pasto e ovelhas de
sua mão. Hoje, se ouvirdes a sua voz… (Salmos 95.6,7)
De abertura, cantarão um hino de louvor, rico em vocabulário e
temas bíblicos. Ouvirão uma invocação que ecoa a linguagem do louvor
bíblico como se vê em 1 Timóteo 1.17 e 6.15-16:
… ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e glória pelos
séculos dos séculos. [o] bendito e único Soberano, o Rei dos reis e
Senhor dos senhores; o único que possui imortalidade, que habita em
luz inacessível, a quem homem algum jamais viu, nem é capaz de ver.
A ele honra e poder eterno!
Recitarão um resumo da doutrina bíblica na linguagem de um dos
credos históricos. Escutarão o vocabulário bíblico das confissões, ações de
graça e intercessão na “oração pastoral”. Uma porção significativa de
cada testamento será lida, e um Salmo completo (ou uma seção grande de
um Salmo mais longo) será cantada. O sermão será uma exposição da
Escritura. O hino de encerramento, como o de abertura, será rico em alusão
e vocabulário bíblicos. Finalmente, escutarão uma bênção bíblica, como a
bênção de Arão:

O SENHOR te abençoe e te guarde;


O SENHOR faça resplandecer o rosto sobre ti
e tenha misericórdia de ti;
O SENHOR sobre ti levante o rosto
e te dê a paz. (Números 6.24-26)
Não subestime o impacto cumulativo desse peso da Escritura
semana após semana durante toda a vida dos membros das igrejas
reformadas.
A esta altura, deve estar claro que o verdadeiro campo de batalha
hoje não são os elementos, mas as formas. Somente uma pequena minoria
de igrejas reformadas crê que dança e teatro são elementos legítimos do
culto e uma minoria ainda menor algum dia implementará seu uso. Mesmo
os teólogos revisionistas continuam a afirmar o princípio regulador. O
debate real é se as formas contemporâneas são adequadas à expressão da fé
reformada. Os baldes contemporâneos podem carregar a água calvinista?
Um contexto e tom informal e casual, música pop-rock, o mínimo de
oração e leitura bíblica, e pregação tópica baseada em necessidades
percebidas podem produzir uma nova geração de puritanos, huguenotes,
aliancistas, isto é, almas corajosas e firmes que conquistarão e, então,
moldarão civilizações inteiras? Visto ser nos cultos públicos de domingo
que as convicções reformadas recebem sua maior disseminação, seria
provável que nas igrejas que têm abandonado formas tradicionais em favor
de alternativas contemporâneas é que encontraremos reproduzidas em
nossa geração as características típicas do povo reformado de gerações
anteriores, a saber, piedade entusiasmada (porque eles parecem gratos
somente a Cristo); precisão moral (porque sustentam o terceiro uso da lei);
firmeza em meio a dificuldades (por crerem em Romanos 8.28 e na
soberania de Deus); famílias fortes (porque estão cientes de suas
responsabilidades pactuais); e autogoverno (porque o governo
presbiteriano os ensinou a considerar os direitos e responsabilidades dos
governados)? Estamos convencidos de que isso não acontecerá,
precisamente porque as formas contemporâneas não estão à altura da
tarefa. Só a adoração historicamente reformada pode cumprir a tarefa. Só
os baldes presbiterianos podem carregar água presbiteriana.
O que devemos fazer na adoração? O que Deus promete abençoar?
A leitura, a pregação, o canto e a oração das Escrituras, em conjunto com
as linhas históricas esboçadas acima, em conjunto com os sacramentos
biblicamente explicados e administrados.
3. Adoração em Espírito

É o que Jesus diz: porque Deus é espírito, a adoração não deve ser
apenas em verdade, mas também em espírito. Lembre-se de que Jesus está
respondendo ao debate suscitado pela mulher samaritana, cuja pergunta é
se alguém deveria adorar neste monte ou em Jerusalém (João 4.20), em
nosso espaço ou no seu, e, por implicação, segundo este ritual ou aquele? A
samaritana está preocupada com os aspectos externos da adoração. Em
relação ao verdadeiro conteúdo e à forma de adoração, Jesus se posiciona
ao lado dos judeus (e da revelação bíblica): — Vós adorais o que não
conheceis… (João 4.22). Entretanto, e quanto a lugar, local, espaço? Isso
agora é irrelevante. “Nenhum”, ele diz (v.21). O lugar da adoração assim
como os outros aspectos externos da adoração não são mais o problema. Se
o prédio e o local são insignificantes, então o que é significante? Questões
internas são. Além de ser bíblica em estrutura e conteúdo, a adoração
também deve ser conduzida no “espírito” correto. Ela é oferecida em nome
de Jesus, que é a verdade (João 14.6), e no poder do Espírito Santo, fora do
qual ninguém pode dizer que Jesus é Senhor (1 Coríntios 12.3). As
questões internas da adoração, a intenção, a motivação, a intensidade, a
sinceridade, a reverência são preocupações críticas.
Agora estamos acrescentando algo ao princípio regulador? De
forma nenhuma. Pelo contrário, o princípio regulador preocupa-se com
mais que a verdade. Nós, que nos importamos bastante com a exatidão
formal, precisamos tomar cuidado com isso. O próprio fato de que poucas
pessoas atualmente importam-se com a exatidão formal significa que
aqueles que se preocupam, em reação às banalidades que os rodeiam, estão
vulneráveis ao problema de fazer da exatidão um ídolo. Citando Isaías, que
o fez antes dele, Jesus condenou os líderes religiosos de sua época:
Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de
mim. (Mateus 15.8)
O que diziam era bom. No entanto, seus corações estavam “longe”
e, consequentemente, eles adoravam “em vão”. A forma e o coração da
adoração devem ser corretos.
A adoração do Novo Testamento, impelida e inspirada pelo Espírito
Santo, será predominantemente espiritual e interna em aspectos em que a
adoração do Antigo Testamento não era. Aqui estão as diferenças.

Interna ou do coração
Primeiro, a adoração que é em espírito vem do coração. Porque é
espírito, Deus deve ser adorado espiritualmente, internamente, a partir do
coração. Quando cantamos, estamos entoando e louvando de coração ao
Senhor (Efésios 5.19, cf. Colossenses 3.16). O que é verdade para o canto é
verdadeiro para todos os elementos. Verdadeira adoração não é questão de
locais sagrados, mas da condição espiritual do coração. A presença de Deus
está nos céus. Não há edifícios santos, lugares santos ou coisas santas por
meio das quais a bênção de Deus é exclusivamente mediada. A Palestina
não é uma “Terra Santa” onde Deus está mais presente que em outros
lugares. Nosso lugar de adoração não é a “Casa de Deus” ou um
“santuário”, como se Deus estivesse mais presente ali que em outros locais.
Deus não fez promessas de transmitir sua bênção em conexão com o local
de adoração. As gerações anteriores ajustaram suas terminologias de
acordo com isso. O novo edifício da Igreja Presbiteriana Independente de
Savannah (Geórgia, EUA), à época de sua dedicação em 1891, nunca foi
chamado de “santuário”. Eles chamaram de “prédio da igreja” ou “casa da
igreja”. Deus habita em seu povo. Eles são as pedras que vivem que se
tornam uma casa espiritual para Deus (1Pe 2.5, cf. Ef 2.19-22). A
construção só se torna uma casa para Deus quando o povo de Deus está
presente dentro dela. Isso parecia ser mais bem compreendido há cem anos
do que é hoje. O destaque para nós é que a adoração nunca pode ser uma
questão de levar nossos corpos para o prédio certo na hora certa para o
ritual certo.
“E quanto ao Antigo Testamento?” — repetidamente nos
perguntam. “Eles não tinham prédios santos, uma terra santa e símbolos
santos?”. Sim, de fato os tinham, e Jesus os aboliu. Por isso é crucial que a
natureza simbólica, tipológica e temporária da adoração do Antigo
Testamento seja compreendida. A Israel foram dadas imagens visuais das
realidades espirituais que seriam cumpridas em Cristo. Cordeiros eram
sacrificados. Incenso era queimado. Sangue, aspergido. Vestes sacerdotais
eram vestidas. Rituais de purificação, exigidos. Sendo anterior à
encarnação, a adoração do Antigo Testamento era proeminentemente
simbólica. Jerusalém, o templo, os sacerdotes, os altares, o incenso, as pias
e os sacrifícios fora, outrora, a questão central, porque por meio deles Deus
fornecia imagens do Cristo que viria. Contudo, esses tipos estimuladores
ou sensibilizadores foram superados pelo Antítipo, Cristo, o qual, tendo
vindo, é apreendido não por tipos permanentes, mas pela fé através de seu
retrato no evangelho. Os tipos, em outras palavras, eram por concepção
temporários e por necessidade inferiores à revelação do Antítipo no
evangelho.
Novamente, devemos ser cuidadosos para não exagerar. A diferença
está na ênfase. Os sacramentos do Novo Testamento também são
apresentações simbólicas do evangelho. São “sinais sensíveis” pelos quais
“Cristo e as bênçãos do novo pacto são representados” (Breve catecismo,
92). Não há nada de inerentemente errado com símbolos. Da mesma forma,
o Antigo Testamento não era privado de “espírito” e “verdade”. Defender o
contrário seria absurdo. É claro que havia grande preocupação com espírito
e verdade na adoração do Antigo Testamento. Os símbolos do Antigo
Testamento nunca foram fins em si mesmos, mas sempre foram designados
para apontar para o interno e o espiritual. O templo físico apontava para o
corpo de Cristo e para o templo espiritual, a igreja (João 2.21). Os
cordeiros sacrificais apontavam para o Cordeiro de Deus (João 1.29). O
sangue de touros e de bodes (que jamais poderiam remover o pecado)
apontavam adiante para o precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e
sem mácula, o sangue de Cristo (Hebreus 10.4, 1 Pedro 1.19). Os
sacerdotes e suas vestes apontavam para Cristo, nosso grande Sumo
Sacerdote (Hebreus 2.17,18). Os sacrifícios a Deus sempre têm
representado um coração compungido e contrito (Salmos 51.17).[46] As
várias ordenanças de purificação apontam para Cristo que nos purifica de
todos os nossos pecados (1 João 1.7,9). O adorador do Antigo Testamento
almeja que “tudo o que há em mim bendiga ao seu santo nome” (Salmos
103.1). Havia verdade e espírito no Antigo Testamento, mas não na escala
ou com a clareza do Novo.
Então, qual a diferença? É uma diferença de ênfase e proporção. O
Antigo Testamento estava repleto de símbolos em antecipação a Cristo.
Esses símbolos, por natureza, eram temporários. O Novo Testamento tem
apenas dois, o batismo e a Ceia do Senhor. A adoração do Novo
Testamento é em espírito, uma vez que não tem a ênfase em símbolos e
tipos como tinha a adoração do Antigo Testamento.
Os comentários de Calvino em João 4 são pertinentes:
Por essas palavras (isto é, em espírito) ele não pretende declarar que
Deus não foi adorado pelos patriarcas desse modo espiritual, mas
somente destacar uma distinção na forma externa, a saber, que
embora eles tivessem o Espírito vagamente representado por tantas
figuras, nós o temos em simplicidade.[47]
Jesus, então, está enfatizando a simplicidade e espiritualidade da
adoração do Novo Testamento em oposição à natureza simbólica e
tipológica do Antigo.
Às vezes, a igreja tem sucumbido à tentação de retornar à adoração
tipológica e tem concebido seus ministros como sacerdotes, seus prédios
como templos, a Mesa do Senhor como um altar e a Ceia do Senhor como
um sacrifício. Tem acrescentado lavagens, incenso, procissões e trajes
clericais. Por meio de rituais, cerimônias, arte, pompa, teatro, dança e, às
vezes, música, a igreja tem procurado estimular e inspirar a fé. Essa foi
exatamente a mentalidade da igreja medieval, para quem as imagens eram
“os livros dos ignorantes”. De acordo com Philip Schaff, o “drama
sagrado” era “promovido pelo clero e realizado primeiro na igreja ou nos
recintos da igreja”, tornando-se “em certa medida, um substituto medieval
para o sermão e a Escola Dominical”.[48] Essa substituição do papel
central que o sermão desempenhava na igreja primitiva foi um evento
desastroso na história da igreja, como toda tentativa de externar a adoração
cristã. Foi um passo em falso que as reformas de adoração do século XVI
foram concebidas para corrigir.
Vamos resumir nossa convicção. Por que se deve resistir a qualquer
movimento no rumo de volta à externalização da adoração cristã?
1. Os símbolos do Antigo Testamento eram temporários por
natureza. O templo e tudo ligado a ele pretendiam somente
preencher uma necessidade transitória. Eram figuras pouco
distintas do Messias até que sua glória fosse vista em Jesus Cristo
(João 1.14).
2. Símbolos, por natureza, são inferiores à revelação verbal. É por
isso que a igreja não tem “sacramentos mudos”, como J.A.
Motyer colocou. Os sacramentos sempre são acompanhados de
uma palavra de explicação. Não são autointerpretáveis.
Dependem da palavra sob aspectos em que a palavra não depende
deles. A lei cerimonial, diferente da revelação de Deus em Cristo,
é apenas uma sombra e não a imagem real das coisas (Hebreus
10.1). Cristo é a imagem real das coisas. O argumento do livro
de Hebreus é que a igreja não retorna aos símbolos e títulos de
Arão (Hebreus 3.12-4.13; 6.1-8; 7-10, esp. 10.26-31; 11.1-3).
Temos a substância, não precisamos da sombra. Não perca
tempo observando a sombra do nosso bendito Salvador quando
ele mesmo está diante de nós.
3. O acréscimo de símbolos aos dois instituídos por Cristo é uma
distração dos meios ordenados de graça. O que Hughes Old disse
sobre a atitude dos reformadores quanto ao batismo é válido para
todo o culto em geral: “Foi porque valorizaram tanto os sinais
divinamente dados que os reformadores tinham tal desdém por
aqueles símbolos de intervenção meramente humana que os
obscureciam”.[49]
4. Cultos dominados por símbolos e rituais anexos tenderão ao
formalismo. A ênfase nos símbolos e rituais externos em
adoração dirige a atenção do aspecto interno, o coração e suas
motivações, abrindo a porta para uma adoração rotineira, sem
alma e sem coração.
Símbolos, cerimônias e movimentos estranhos, inofensivos em si
mesmos, talvez até simbolicamente significativos aos olhos de muitos,
devem ser evitados se não são exigidos pela Escritura ou imediatamente
pertinentes ao próprio culto. Um cenário “visualmente elaborado”, diz
Godfrey, “interferiria em nossa elevação espiritual prendendo demais
nossas mentes à terra”.[50] O apóstolo Paulo fala de Jesus Cristo sendo
publicamente exposto como crucificado diante dos olhos dos gálatas
(Gálatas 3.1). Isso só poderia ser uma referência metafórica à pregação. O
evangelho lido e pregado é um retrato melhor de Cristo que qualquer
símbolo físico. Símbolos desautorizados desviam a atenção e o tempo
daqueles meios (inclusive dos símbolos ordenados) que Deus prometeu
abençoar. Lembre-se: a fé é a convicção das coisas que se não veem
(Hebreus 11.1)! Verdadeira fé vem por meio da palavra (Romanos 10.17).
Portanto, a verdadeira adoração deve ser primariamente (embora não
absolutamente) não material, não sensual e não simbólica. Na verdadeira
adoração, ascendemos a Deus no céu pela fé. Pela fé, apreendemos Deus
em seu trono de graça e o adoramos ali. Pela fé, vemos Cristo em seu
evangelho.
Adoração que é em espírito vem do coração. Como temos
observado, aqueles entre nós que mais se preocupam com a correção na
adoração nunca devem perder de vista o alvo da adoração: comunhão com
Deus Pai, Filho e Espírito Santo. O que estamos fazendo na adoração?
Estamos “achegando-nos” a Deus (Hebreus 4.15,16; 10.16-22). Estamos
entrando em sua presença (Tiago 4.8-10). Estamos buscando-o e
invocando-o (Isaías 55.6). Nossa grande paixão é encontrar-nos com nosso
Deus. Nossa perspectiva deve ser a do salmista:
Uma coisa peço ao SENHOR, e a buscarei: que eu possa morar na
Casa do SENHOR todos os dias da minha vida, para contemplar a
beleza do SENHOR e meditar no seu templo. (Salmos 27.4)
O que o salmista busca acima de tudo? Que possa morar na Casa
do SENHOR e contemplar a beleza do SENHOR. Escute outra vez:
Ao meu coração me ocorre: Buscai a minha presença; buscarei, pois,
SENHOR, a tua presença. (Salmos 27.8)
É ao próprio Deus que o salmista busca por meio das formas de
adoração do Antigo Testamento. Os santos do Antigo Testamento ansiavam
pela presença pessoal de Deus mesmo em e através de seu sistema
tipológico.
Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó
Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do
Deus vivo. (Salmos 42.1,2)
Ó Deus, tu és o meu Deus forte; eu te busco ansiosamente; a minha
alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, como terra árida, exausta,
sem água. Assim, eu te contemplo no santuário, para ver a tua força
e a tua glória. Porque a tua graça é melhor do que a vida; os meus
lábios te louvam. Assim, cumpre-me bendizer-te enquanto eu viver;
em teu nome, levanto as mãos. Como de banha e de gordura farta-se
a minha alma; e, com júbilo nos lábios, a minha boca te louva, no
meu leito, quando de ti me recordo e em ti medito, durante a vigília
da noite. Porque tu me tens sido auxílio; à sombra das tuas asas, eu
canto jubiloso. A minha alma apega-se a ti; a tua destra me ampara.
(Salmos 63.1-8)
Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza
na terra. Ainda que a minha carne e o meu coração desfaleçam,
Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança para sempre.
Os que se afastam de ti, eis que perecem; tu destróis todos os que são
infiéis para contigo. Quanto a mim, bom é estar junto a Deus; no
SENHOR Deus ponho o meu refúgio, para proclamar todos os seus
feitos. (Salmos 73.25-28)
Quão amáveis são os teus tabernáculos, SENHOR dos Exércitos! A
minha alma suspira e desfalece pelos átrios do SENHOR; o meu
coração e a minha carne exultam pelo Deus vivo! Bem-aventurados
os que habitam em tua casa; louvam-te perpetuamente. Pois um dia
nos teus átrios vale mais que mil; prefiro estar à porta da casa do
meu Deus, a permanecer nas tendas da perversidade. Porque o
SENHOR Deus é sol e escudo; o SENHOR dá graça e glória; nenhum
bem sonega aos que andam retamente. Ó SENHOR dos Exércitos, feliz
o homem que em ti confia. (Salmos 84.1,2,4,10-12)
Observe a paixão com que o salmista busca por Deus,
particularmente na adoração pública e por meio dela (cada um dos salmos
acima faz referência ao local da adoração pública). O salmista tem sede,
busca ansiosamente, almeja e apega-se. A graça de Deus para ele é melhor
do que a vida. Além de Deus, não há outro em quem ele se compraza na
terra. Estar junto a Deus para ele é bom. Os tabernáculos de Deus são
amáveis e ele suspira e desfalece por eles. Saboreie essa linguagem
profundamente experiencial e não se contente com menos. Venha a Deus
em Cristo e alimente-se do Pão da Vida; sacie a sede da alma com a Água
Viva (João 6.35; 7.37).
Esse é o nosso alvo semana após semana em nossos cultos de
adoração. Estamos adorando a Deus no céu a quem, pelos olhos da fé,
vemos ali em toda a sua glória. É por isso que enfatizamos a preparação
para o culto. Nossos corações devem ser retos. A fé tem importância
crítica. Não vá para o culto no último minuto. Não pense que tudo que
alguém precisa fazer é colocar seu corpo no prédio certo, na hora certa e
onde se está cumprindo o ritual certo. Chegue cedo. Ore para que seu
coração esteja numa condição receptiva. Prepare-se para ver Deus pela fé.
Deus deve ser adorado em espírito, no espírito certo, com a atitude correta.
Simples
Segundo, a adoração que é em espírito é simples. A adoração do
Novo Testamento é destituída de complexidade cerimonial e processual.
Isso segue de perto tudo o que temos visto até agora sobre adoração
espiritual e bíblica. Ela é simples. Nela não há Jerusalém, não há Templo,
nem instruções levíticas. Ao afirmar isso, desejamos esclarecer o que não
queremos dizer. Alguma vezes, argumenta-se que porque não há um Livro
de Levítico, isto é, nenhum conjunto elaborado de instruções processuais
para adoração no Novo Testamento, então Deus concedeu à igreja a
liberdade de adorar conforme ela considerar apropriado. “A resposta de
Calvino” para esse argumento, diz Godfrey, “seria que a ausência de um
livro levítico no Novo Testamento reflete mais a simplicidade da adoração
da igreja em Cristo que a liberdade criativa… o Novo Testamento é pleno
e completo como guia e justificativa para a adoração simples dos filhos de
Deus no Espírito. No Novo Testamento não se dá mais liberdade para
inventar formas de adoração do que foi dada no Antigo”. [51]
Instruções detalhadas no Novo Testamento seriam apropriadas se a
adoração do Novo Testamento pretendesse ser elaborada em ritual, rica em
simbolismo e complexa em procedimento. Isso era válido para as
instruções levíticas do Antigo Testamento que prenunciavam Cristo. Era
exigido dos sacerdotes que cumprissem suas ministrações por meio de
ritual, simbolismo e procedimentos detalhados. Lembremo-nos do que
estava envolvido. O Antigo Testamento exige conformidade precisa a
detalhes extensivos e particulares quanto aos aspectos externos da
adoração. Entre eles, incluem-se os seguintes:
· As dimensões do tabernáculo/templo (Êxodo 26-27; 1 Reis 6-7; 2
Crônicas 3)
· A mobília do tabernáculo/templo, incluindo as cortinas (Êxodo
26.1-14), tábuas e encaixes (Êxodo 26.15-30), a arca da aliança
(Êxodo 25.10-22), a mesa dos pães da proposição (Êxodo 25.23-
30), o candelabro de ouro (Êxodo 25.31-40; Números 8.1-4), o
véu e o reposteiro (Êxodo 26.31-37), o altar de bronze (Êxodo
27.1-8; cf. 1 Reis 6; 2 Crônicas 4).
· Vestes sacerdotais, incluindo peitoral, estola, sobrepeliz, túnica,
mitra e cinto (Êxodo 28,30).
· Detalhes rituais, incluindo a consagração dos sacerdotes (Êxodo
29.1-9; Levítico 8; Números 8.1-22), os sacrifícios (Êxodo 29.10-
30; Levítico 16.1-17.16; Levítico 1-7; Números 28,29), o incenso
(Êxodo 30.1-21, 34-38), os benefícios sacerdotais (Êxodo 29.31-
37), o óleo da unção (Êxodo 30.22-25), os animais sacrificiais
(Levítico 22.17-33) e outra regulações sacerdotais (Levítico 21.1-
22.16).
· Um cronograma de ofertas regulares, incluindo as diárias, pela
manhã e ao pôr do sol (Êxodo 29.38-46; Números 28.1-8), o
Shabbat semanal (Números 28.9,10) e ofertas mensais (Números
28.11-15).
· Um calendário de dias santos, incluindo a Páscoa (Levítico
16.29-34, 23.5; Números 28.16), a Festa dos Pães Asmos
(Levítico 23.6-8; Números 28.17ss), primícias (Levítico 23.9-25;
Números 28.16ss), Dia da Expiação (Levítico 23.26-32; Números
29) e Tabernáculos (Levítico 23.38-44).
Não há nada paralelo a isso em parte nenhuma do Novo Testamento.
As ordenanças neotestamentárias mais próximas que poderíamos apontar
seriam os sacramentos da Ceia do Senhor e do batismo. Mas, ainda assim,
não encontramos nada como os detalhes processuais encontrados no Antigo
Testamento. Escute apenas uma pequena parte do que era exigido de Arão e
dos sacerdotes no oferecimento de sacrifícios expiatórios.
Entrará Arão no santuário com isto: um novilho, para oferta pelo
pecado, e um carneiro, para holocausto. Vestirá ele a túnica de linho,
sagrada, terá as calças de linho sobre a pele, cingir-se-á com o cinto
de linho e se cobrirá com a mitra de linho; são estas as vestes
sagradas. Banhará o seu corpo em água e, então, as vestirá. Da
congregação dos filhos de Israel tomará dois bodes, para a oferta
pelo pecado, e um carneiro, para holocausto. Tomará também, de
sobre o altar, o incensário cheio de brasas de fogo, diante do SENHOR,
e dois punhados de incenso aromático bem moído e o trará para
dentro do véu. Porá o incenso sobre o fogo, perante o SENHOR, para
que a nuvem do incenso cubra o propiciatório, que está sobre o
Testemunho, para que não morra. Tomará do sangue do novilho e,
com o dedo, o aspergirá sobre a frente do propiciatório; e, diante do
propiciatório, aspergirá sete vezes do sangue, com o dedo. (Levítico
16.3-5, 12-14, etc.)
Então entrará… e vestirá… banhará… tomará…, etc. Seria possível
dar instruções semelhantes no Novo Testamento. Seria possível ordenar aos
ministros que começassem os cultos aspergindo água benta, acendendo
incenso, ajoelhando-se três vezes para o oriente enquanto fazem o sinal da
cruz e falam o “Pai Nosso”. Todo um calendário de festivais e dias santos
paralelo ao do Antigo Testamento poderia ter sido dado. Em outras
palavras, um ritual para achegar-se a Deus, com procedimento definido,
rico em simbolismo, ligado ao calendário, poderia ter sido entregue. No
entanto, não há nada disso. Por outro lado, isso não significa que a igreja é
livre para fazer da adoração o que quiser. Significa que nossa adoração
deve ser simples, direta, sem rituais elaborados, desprovida de
procedimentos complexos, livre do calendário e dos ciclos da natureza, e
limitada somente ao uso daqueles símbolos instituídos por Cristo, a Ceia do
Senhor e o batismo.
A invenção de um culto sobrecarregado de ritual, simbolismo e
procedimentos por parte da igreja é um assalto à intenção de Deus de que a
nossa adoração seja simples; e é retornar às sombras do Antigo Testamento.
Não siga esse rumo. Não reviva pompa e circunstância das liturgias
medievais. Nem abrace as extravagâncias de alta voltagem da adoração
contemporânea. Não crie um sacerdócio de técnicos, artistas e atores.
Nossa adoração é simples e, portanto, universalmente válida. Pode ser
conduzida e desfrutada em qualquer lugar, a qualquer tempo, qualquer que
seja a renda, educação ou avanço tecnológico dos envolvidos. Pode ocorrer
num iglu no Alaska, numa cabana de palha no Congo ou numa grande
catedral em Paris. Deus pode não ser adorado em Samaria ou Jerusalém.
Repetimos a implicação de Hebreus 8-10. As ordenanças levíticas eram
figura e sombra das coisas celestes, mas Cristo obteve ministério tanto
mais excelente (8.5,6). A própria entrada de Cristo no céu, e não no templo
terreno, figura do verdadeiro, necessariamente significa a abolição da
antiga figura (9.23ss). A Lei, diz o autor de Hebreus, tem sombra dos bens
vindouros, os quais vieram em Cristo (10.1):
Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo
sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou
pelo véu, isto é, pela sua carne, e tendo grande sacerdote sobre a
casa de Deus, aproximemo-nos, com sincero coração, em plena
certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e lavado
o corpo com água pura. (Hebreus 10.19-22)
Seu argumento é que não devemos retornar aos símbolos, rituais e
procedimentos complexos pelos quais o povo de Deus se achegava a Deus
no Antigo Testamento. Essa forma de adoração foi abolida em Cristo, que
executou todas as tarefas sacerdotais e sacrificiais em nosso favor, de uma
vez por todas. Nosso caminho é um novo e vivo caminho de achegar-se.
Nossos sacrifícios são sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que
confessam o seu nome, não um sacrifício material seguindo o procedimento
prescrito sobre um altar (Hebreus 13.15). Os vislumbres da adoração da
igreja que o Novo Testamento fornece apoiam esse ponto. Os cristãos
primitivos perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no
partir do pão e nas orações (Atos 2.42). Não tentavam imitar os cultos
elaborados do templo. “Não se apropriaram do cerimonial rico e suntuoso
do Templo”, destaca Hughes Old, “mas de um culto da sinagoga, mais
simples, com sua leitura da Escritura, seu sermão, suas orações e sua
salmodia”.[52] Seus cultos eram simples cultos da palavra, sacramentos e
oração. Assim devem ser os nossos.
Um dos “estilos” de pregação fornece um estudo de caso sobre
como a igreja primitiva entendia o princípio da simplicidade. Abordando os
gregos do primeiro século por seus floreios retóricos excessivos, o apóstolo
Paulo argumenta que a simplicidade do evangelho exige embalagem
simples, para que os meios de apresentação não contradigam a mensagem.
Porque não me enviou Cristo para batizar, mas para pregar o
evangelho; não com sabedoria de palavra, para que se não anule a
cruz de Cristo. (1 Coríntios 1.17)
“Sabedoria” de palavra, isto é, a mensagem vestida de técnicas
sofisticadas dos oradores gregos que “anulariam” a cruz. Pense em
versículos bíblicos colados em máquinas de caça níqueis de Las Vegas ou
um pedido de casamento enviado por e-mail. Marshall McLuhan está certo:
o meio é a mensagem. O meio pode gritar tão alto que a mensagem é
ocultada. O apóstolo Paulo empregou um estilo simples apropriado a uma
mensagem simples:
Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho
de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. E
foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós. (1
Coríntios 2.1,3)
Seu estilo simples de proclamação era apropriado à mensagem
simples do “Cristo crucificado”:
Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este
crucificado. (1 Coríntios 2.2)
Ele era cuidadoso na pregação simplesmente porque só um estilo
simples de palavra realçaria a simplicidade da mensagem, enquanto um
estilo sofisticado a enfraqueceria:
A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem
persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de
poder… (1 Coríntios 2.4)
Quando os incrédulos viessem ao arrependimento e à fé, não seria
porque o pregador fosse teoricamente sábio, nem porque pregasse com
ostentação de linguagem ou de sabedoria ou em linguagem persuasiva de
sabedoria. Pelo contrário, seu estilo simples deixava a demonstração do
Espírito e de poder à vista de todos.
… para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim
no poder de Deus. (1 Coríntios 2.5)
Quando o estilo de pregação é simples, a resposta positiva da fé não
é resposta a um homem e a seus dons, seu charme, seu poder de persuasão
terreno, mas ao Espírito.
Escute o apóstolo Paulo mais uma vez contrastar astúcia e a clara
manifestação da verdade à consciência de todo homem:
Pelo que, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi
feita, não desfalecemos; pelo contrário, rejeitamos as coisas que, por
vergonhosas, se ocultam, não andando com astúcia, nem adulterando
a palavra de Deus; antes, nos recomendamos à consciência de todo
homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade. (2
Coríntios 4.1,2)
A pregação do evangelho não exige truques. É a simples
manifestação da verdade à consciência dos ouvintes. Se estamos certos em
citar a pregação como um estudo de caso em simplicidade, então é possível
observar as implicações para cada elemento da adoração e para todo o
culto. Tudo na nossa adoração deve ser simples. Nada deve ser “sábio”.
Nada deve chamar atenção para a erudição, a sabedoria, a sofisticação, a
beleza, a complexidade do meio. Leituras simples (não melodramáticas),
pregações diretas (não extravagantes), oração sem adornos e canto
congregacional caloroso (não performances profissionais) são a
necessidade do dia.
Ironicamente, a necessidade de simplicidade torna tudo da liderança
do culto e da participação nele não menos, porém mais difícil. Os líderes
não podem ceder a processionais, incenso, liturgia, cerimônia e ritual ou a
shows de luzes, teatro, dança, bandas e apresentações multimídia. Os
participantes não podem sentar-se e aproveitar o “show” como uma
audiência perante a qual esses liturgistas ou técnicos apresentam-se.
Homens com profundidade de caráter e piedade são os únicos vasos por
meio dos quais adoração espiritual e simples fluirá. Mentes abertas e
corações espiritualmente sintonizados são o único tipo no qual ela será
recebida.
Reverente
Terceiro, a adoração em espírito é reverente. O espírito de adoração
é o espírito de reverência. Os santos devem adorar a Deus de forma que lhe
seja agradável, com reverência e temor (Hebreus 12.28, A21). A adoração
nunca deve ser conduzida em tom leviano ou frívolo. Quando oramos, não
oramos meramente Pai Nosso, mas Pai Nosso que estás nos céus,
santificado seja o teu nome. Nossa preocupação na oração e em todo o
nosso culto é que o nome de Deus seja honrado e reverenciado, ou
santificado, porque ele é o Pai nos céus. Verdadeira adoração sempre deve
ser séria, substancial, sólida, sóbria e reverente.
O que é reverência? A Bíblia não nos permite colocar nessa palavra
o conteúdo que quisermos. Reverência é temor justo. O que está faltando
em toda a atual discussão sobre adoração é uma avaliação do conceito
bíblico de “temor de Deus”. Sem dúvida, isso é central na espiritualidade
do Antigo Testamento. “É o fator religioso decisivo na piedade do Antigo
Testamento”, diz um acadêmico.[53] No Antigo Testamento, “a verdadeira
religião geralmente é considerada sinônimo de temor de Deus”, diz outro.
[54] O temor (hebraico yare) do Senhor é o primeiro sinal da verdadeira fé
(Êxodo 14.31) e é o princípio da sabedoria (hebr. yirah; Provérbios 1.7;
Salmos 111.10). Os olhos do Senhor estão sobre aqueles que o temem
(Salmos 33.18); ele acampa ao redor deles e nada lhes falta (Salmos
34.7,9); sua misericórdia é grande para com eles (Salmos 103.11); ele se
compadece deles (Salmos 103.13); abençoa-os (Salmos 128.1); acode à
vontade deles (Salmos 145.19); e agrada-se deles (Salmos 147.11). Embora
não seja terror, esse temor também não é uma apreciação meiga. Há um
temor que é “devido” a Deus (Salmos 90.11). Então, aqueles que temem a
Deus com temor justo também devem “tremer”. O homem aprovado por
Deus é o aflito e abatido de espírito e que treme da [sua] palavra (Isaías
66.2). Ouvi a palavra do SENHOR, vós que tremeis diante da sua palavra
(Isaías 66.5, A21). No Salmo 96.9, Adorai o SENHOR na beleza da sua
santidade é paralelo de tremei diante dele, todas as terras. Adoração e
tremor andam lado a lado. Toda a terra é chamada para tremer diante do
nosso Deus (Salmos 77.18; 99.1; 104.32; Isaías 64.2; Jeremias 33.9).
Mesmo nossa alegria é com tremor.
Servi ao SENHOR com temor e alegrai-vos nele com tremor. (Salmos
2.11)
Outras expressões físicas de reverência também são descritas. Elas
também nos ajudam a entender seu significado. O salmista diz:
… e me prostrarei diante do teu santo templo, no teu temor. (Salmos
5.7b)
Porque o salmista teme (hebr. yirah) a Deus, ele se prostra.
Novamente, o salmista diz:
Vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do SENHOR, que
nos criou. (Salmos 95.6)
Prostrar-se e ajoelhar-se são respostas apropriadas para quem está
na presença de Deus (Salmos 138.2). Quando Deus passou diante de
Moisés, Curvando-se Moisés para a terra, o adorou (Êxodo 34.8).
Salomão prostrou-se quando orou (2 Crônicas 6.13), e todos os filhos de
Israel se encurvaram quando adoraram e louvaram o SENHOR (2 Crônicas
7.3). Da mesma forma, Esdras se pôs de joelhos em confissão, chorou
prostrado e, mais tarde, todos do povo inclinaram-se e adoraram o SENHOR,
com o rosto em terra (Esdras 9.5,6; 10.1 e Neemias 8.6).
Quando passamos para o Novo Testamento, há alguma mudança
significativa? Não. A piedade do Antigo Testamento, a piedade dos Salmos,
dos profetas e de Provérbios é a piedade do Novo Testamento, porém mais
intensa. Jesus assumiu essa continuidade ao dizer:
Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei,
antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o
corpo. (Mateus 10.28)
Embora isso não seja terror, o que Jesus recomendou é um temor
poderoso (gr. phobos). Ele também assumiu a continuidade ao Antigo
Testamento em sua parábola da viúva persistente, a qual interpelou um juiz
que não temia a Deus, nem respeitava homem algum (Lucas 18.1,2,4). O
Novo Testamento define o ímpio como o que não teme a Deus (Romanos
3.18), enquanto os cristãos são os que estão caminhando no temor do
Senhor (At os 9.31). O temor de Deus é regularmente invocado como uma
motivação para a vida cristã. Os cristãos estão aperfeiçoando a… santidade
no temor de Deus (2 Coríntios 7.1), sujeitando-vos uns aos outros no temor
de Cristo (Efésios 5.21) e portam-se com temor durante o tempo da [sua]
peregrinação. A última referência merece um exame:
Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga
segundo as obras de cada um, portai-vos com temor durante o tempo
da vossa peregrinação. (1 Pedro 1.17)
Aqui, os temas de filiação e temor são reunidos. Se o juiz é nosso
Pai, devemos conduzir-nos com temor (cf. Romanos 11.20; Colossenses
3.22; Hebreus 4.1; 1 Pedro 2.17)! De acordo com o último livro da Bíblia,
o céu é povoado por aqueles que temem a Deus (Apocalipse 11.18). O
chamado do evangelho e o chamado a adoração em Apocalipse são
chamados a temer a Deus (Apocalipse 14.7; 15.4; 19.5).
No Novo Testamento não há temor sem tremor, prostração e
genuflexão. O apóstolo Paulo diz:
Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na
minha presença, porém, muito mais agora, na minha ausência,
desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor. (Filipenses 2.12)
Temor e tremor estão ligados aqui e em todo o Novo Testamento
assim como no Antigo. Os coríntios são elogiados porque sua obediência
era acompanhada de “temor e tremor” (2 Coríntios 7.15; cf. 1 Coríntios
2.3; Efésios 6.5). Do mesmo modo, quando recebe uma visão de Cristo em
seu trono, o apóstolo João diz: Caí a seus pés como morto (Apocalipse
1.17). Paulo conclui a extensa oração que iniciou sua epístola aos Efésios
dizendo:
Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai. (Efésios 3.14)
Ele também promete que um dia:
… para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na
terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é
Senhor, para glória de Deus Pai. (Filipenses 2.10,11)
Finalmente, lemos que os 24 anciãos de Apocalipse prostrar-se-ão
diante daquele que se encontra sentado no trono e prostraram-se e
adoraram (Apocalipse 4.10; 5.14; cf. 5.8). Reverência no Antigo e no
Novo Testamentos é um temor piedoso, que pode ser expresso pelo tremor
e ao nos inclinarmos, nos prostrarmos e ajoelharmos.
Se não está preocupado com a postura, certamente Deus preocupa-
se com atitudes de coração que reflitam tais movimentos corporais. Alguns
autores querem evitar palavras como “sério” e “solene”, e defendem uma
atmosfera amigável, leve e informal para a adoração. No entanto, podemos
questionar “como seria possível fazer isso e ainda permanecer fiel ao
conceito bíblico de reverência”.[55] Como alguém descreveria o clima da
reunião quando os adoradores podem estar tremendo, ajoelhados, curvados
e prostrados diante do Todo Poderoso e seu ungido?
Que tal alegria? Isso depende do que se quer dizer por alegria. A
alegria cristã não é alegria de bar ou de campo de futebol, mas dos que
temem o Deus a quem amam. Novamente, pode ser útil fazer algumas
distinções. Mesmo no mundo dos esportes há uma diferença entre a alegria
demonstrada quando um gol é marcado e a expressada num banquete de
premiação dois meses depois. Nos dois casos, a emoção é alegria, mas a
maneira de expressá-la difere quando se passa de um contexto para o outro.
Da mesma forma, a alegria da adoração não é como a de uma arena. Não é
uma alegria expressa com “Toca aqui”, com pulos para cima e para baixo,
com gritos e urros. Certa ocasião, ouvi um pregador perguntar por que não
ficamos tão empolgados na igreja quanto ficamos em um estádio de
futebol. A resposta é que esse tipo de empolgação é inapropriada para o
culto público. Alegria doxológica é um tipo diferente de alegria. Deleite e
temor estão um do lado do outro no Salmo 112.1. Como acabamos de
salientar, a alegria cristã é compatível com o tremor (Salmos 2.11).
Presume-se que os 24 anciãos estavam cheios de alegria mesmo quando se
prostraram diante de Deus. De fato, prostração e alegria estão unidos na
experiência dos magos do oriente, que… alegraram-se com grande e
intenso júbilo. Prostrando-se, o adoraram (Mateus 2.10,11). Nossa alegria
é uma emoção profunda, semelhante à paz, experimentada num plano
desconhecido do mundo. Não é a empolgação barulhenta dos estádios, mas
alegria indizível e cheia de glória (1 Pedro 1.8). John Newton expressou-o
desta forma:
Salvador, se da cidade de Sião
Pela graça, um membro sou
Que o mundo zombe ou tenha dó
Em teu nome, me gloriarei:
Passageiro é o prazer do mundano
Toda sua pompa e ostentação;
Firme alegria e tesouro eterno
Só conhecem os filhos de Sião.[56]
“Pompa e ostentação” é o “prazer do mundano”. Ela desvanece
rapidamente. O mundo conhece apenas o prazer passageiro da empolgação
temporária. É experimentado por um momento e, então, desaparece.
Nossas alegrias são “firme alegria” que somente “os filhos de Sião”
experimentam. Em Liturgies of the Western Church [Liturgias da Igreja
Ocidental], Bard Thompson explica sobre a liturgia de Calvino que ela “era
dirigida soli Deo gloria, no mesmo estilo comedido e austero que moldou
toda a piedade calvinista”.[57] Nossa alegria é uma alegria reverente e
publicamente expressa com sobriedade. Demonstrações ostentosas de zelo
— seja gritando, levantando as mãos, pulando ou outras manifestações —
têm sido contidas em círculos reformados tanto por um senso do que é
apropriado em um culto público de adoração quanto pelo desejo de não
chamar atenção demais para si ou afirmar-se demais. Não oramos para
sermos vistos por homens, seja nas esquinas ou na reunião cristã. Somente
Deus deve ser glorificado (Mateus 6.1-18).

SÁBIA
Quarto, a adoração que é em espírito é sabiamente concluída.
Lamentavelmente, muito do mundo cristão evangélico está dividido entre
pragmatistas, prontos a livrar-se de todos os distintivos da adoração
histórica, pelo “sucesso” no ministério, e puristas, que vêm tentando tirar a
adoração tradicional dos séculos XVI e XVII, pura e inalterada, e
reintroduzi-la no século XXI. O necessário é uma nova geração de
“puristas pragmáticos”, líderes sábios e sensatos que defenderão a adoração
reformada, mas que prosseguirão reformando com sabedoria a adoração de
hoje. Precisamos de prudentes construtores que repudiarão os recursos
ligeiros de madeira, feno, palha e construirão somente a partir de
elementos ricos como ouro, prata, pedras preciosas (1 Coríntios 3.10-15).
Mas como prudentes construtores, procederão com cautela, sensibilidade e
discernimento.
A tolice manifesta-se nos dois lados da questão da adoração,
naqueles que seguem as tendências contemporâneas reduzindo o conteúdo
bíblico dos cultos públicos (com menos leitura, pregação, canto e oração
bíblicas) e naqueles que, em nome da adoração reformada, têm reinstituído
seus distintivos rápido demais e em quantidades indigestas. As
congregações dos primeiros morrem de fome com uma dieta de apenas
leite, enquanto as dos últimos estão engasgando com doses indigestas de
carne vermelha. Reforme a adoração “segundo as Escrituras”. Mas faça-o
com sabedoria.
Ao liderar a adoração, procure o tom e o andamento certo. Não se
apresse. Não se arraste. Seja reverente, não frívolo; alegre, não miserável.
Ao pregar, exponha um texto, não dê apenas uma palestra; ilustre o
sermão, mas não deixe que todo ele se torne narração de histórias; e tenha
como objetivo 30 minutos, não 15 (“sermõezinhos geram cristãozinhos”,
diz John Stott), e não 45 a 60 minutos. Por que não? Porque é insensato
pregar sermões curtos ou longos demais.
Ao orar (pensando aqui na tradicional oração pastoral), não barateie
a oração reduzindo-a a dois minutos, mas também não teste a paciência do
seu povo orando de 10 a 15 minutos.
Ao cantar, não cante músicas leves de acampamento ou encontros
de avivamento, mas também não sobrecarregue a congregação com hinos e
salmos pesados todos de uma vez. Proceda com discernimento e sabedoria.
[58]
4. Questões Finais

Talvez agora seja útil discutir a natureza “comedida e austera” da


piedade reformada à luz das alegações a respeito de expressões físicas de
exuberância. Dança (Salmos 149 e 150), gritos, palmas (Salmos 47) e o
levantamento de mãos (numerosos textos), todos são citados como
expressões bíblicas de louvor que deveriam apresentar-se nos cultos da
igreja. Um proponente até considera “absurdo” que pensemos que a
Escritura e seu princípio regulador proíbam dança no culto.[59] Deixando de
lado o fato nada insignificante de que ninguém, mas ninguém, dentro da
ortodoxia da cristandade, sejam gregos ortodoxos, católicos romanos ou
protestantes, tenha defendido ou advogado a dança como parte da adoração
cristã até tempos recentes, há outras observações relevantes quanto à forma
como os salmos e outros textos são usados para promover uma adoração
corpórea, gestual, irrestrita.
Primeiro, os salmos de onde muitos dos exemplos são tirados
descrevem emoções e ações emocionais que não necessariamente devem
ser encenadas no culto público. Permita-me citar alguns exemplos. Mais de
um terço dos salmos pode ser classificado como canções de lamento ou
queixa. O salmista descreve a si mesmo gemendo, chorando, suspirando,
em lágrimas, entristecido, confuso, sozinho, aflito, encurvado e sobremodo
abatido, quebrantado, ansioso, desesperado, doente, desfalecido e abatido
(Salmos 5.1,2; 6.6,7; 10; 25.16-18; 38.6-9,15-17; 42.1ss; 69.20; 44.22;
etc.). Devemos crer que por encontrarem-se nos salmos, essas ações e
emoções deveriam ser expressas na adoração pública? Devemos crer que
quando cantados ou lidos na adoração, os salmos constituem um chamado
a gemidos, lamentos e suspiros audíveis? Devem os adoradores adotar as
emoções ali descritas? A atitude mental? A postura corporal? Devemos
cantar descrições de lágrimas e suspiros por meio de nossas lágrimas e
suspiros? Uma leitura altamente seletiva dos salmos é necessária para
aqueles que pedem por demonstrações físicas ou audíveis de mãos
levantadas, palmas, danças e gritos, mas não pedem por prostração, choro e
gemidos. Na adoração, há muitas coisas de que nos lembramos e com as
quais, naquele momento, devemos nos envolver.
Segundo, os salmos relembram eventos da vida da assembleia
pública. Por exemplo, o Salmo 47 relembra a jornada da arca da aliança da
casa de Obede-Edom para Jerusalém. Essa jornada tinha o caráter de um
desfile, de uma celebração de vitória com trombetas, gritos e danças (2
Samuel 6.12-15). O próprio Davi, como somos informados,… dançava
com todas as suas forças diante do SENHOR. Contudo, é algo bem diferente
defender que as mesmas expressões de alegria teriam sido empregadas
quando a nação se reunia diante do santo dos santos, ou deveriam ser
empregadas hoje. A dança pode louvar a Deus se pensarmos em adoração
no sentido “amplo”. Casamentos e outras festas e celebrações podem ter
proporcionado as ocasiões. Por exemplo, Miriã e as mulheres de Israel
celebraram com tamborins e com danças depois o fato de o Mar Vermelho
ter-se fechado sobre o exército egípcio, destruindo-o (Êxodo 15.20). No
entanto, essa era uma celebração pública, não um culto de adoração. O
Salmo 81 menciona celebrações públicas como a lua nova, lua cheia e dias
de festa, e a exuberância demonstrada nesses dias.
De novo observamos o quanto é vital que saibamos distinguir coisas
que de fato são diferentes. A Bíblia não ensina ou sugere que a dança seja
um elemento aprovado e abençoado para a adoração pública, e a história
não tem qualquer registro de que tenha sido considerada como tal na
história dos templos e sinagogas de Israel ou da igreja cristã. Não
encontramos nenhum mandamento, nenhum exemplo e nenhuma promessa.
A única referência a dança no Novo Testamento encontra-se em 1 Coríntios
10.7. Ali, Paulo cita Êxodo 32.6 e o incidente do “bezerro de ouro”.
Não vos façais, pois, idólatras, como alguns deles; porquanto
está escrito: O povo assentou-se para comer e beber e
levantou-se para divertir-se. (1 Coríntios 10.7)
A “diversão” a que o texto se refere é descrita em Êxodo 32.19:
Logo que se aproximou do arraial, viu ele o bezerro e as
danças; então, acendendo-se-lhe a ira, arrojou das mãos as
tábuas e quebrou-as ao pé do monte. (Ex 32.19)
As pessoas estavam dançando. De fato, a RSV traduz o termo grego
(paizein, encontrado somente aqui no Novo Testamento) como “dançar”.
Embora exista uma variedade de significados como “brincar, divertir-se,
zombar… cantar, gracejar e dançar” (segundo o léxico de Thayer) ou
“divertir-se, entreter-se, dançar” (Arndt & Gingrich), a referência aqui é
claramente à dança litúrgica. Perceba: o apóstolo Paulo chama os
participantes de “idólatras”. A “dança” ao redor do bezerro de ouro é vista
pelo apóstolo Paulo (e por Moisés!) como pura e simples idolatria pagã.
Essa “diversão” era falsa adoração, tão idólatra quanto o próprio ídolo.
Nos salmos 149 e 150, a dança é registrada como uma expressão de
louvor. Todavia, aqueles que apelam a esses textos para justificar a dança
no culto precisam, de novo, ler os textos, agora, seletivamente. O mesmo
livro de Salmos que diz louvai-o com danças também diz:
Exultem de glória os santos, no seu leito cantem de júbilo. Nos
seus lábios estejam os altos louvores de Deus, nas suas mãos,
espada de dois gumes. (Salmos 149.5,6)
Como os Salmos nos dão instrução para cantar de júbilo em nossos
leitos, devemos levar camas para o culto público? Visto que os que têm
altos louvores de Deus em seus lábios têm nas suas mãos, espada de dois
gumes, devemos levar nossas espadas conosco aos cultos e brandi-las como
atos de adoração? Certamente, está claro: não podemos simplesmente
identificar movimentos e ações nos Salmos e, com base só nisso, defender
que tais movimentos e ações se impõem à adoração pública. Como
relembram eventos da história de Israel, os Salmos descrevem celebrações
públicas envolvendo elementos (isto é, danças, brandir de espadas, gritos,
palmas, etc.) que de modo geral podem não ser apropriados à adoração
pública regular.
Terceiro, algumas práticas defendidas hoje envolvem não apenas
uma leitura seletiva, porém, certa má compreensão de seu sentido na
Escritura. Tomemos em particular o “levantar as mãos”. Não é difícil
determinar o sentido do “levantar as mãos” na Escritura. É apenas uma
postura para a oração. É possível orar de pé (a postura normal — 1 Samuel
1.26; Mateus 11.25; Lucas 18.11,13), ajoelhado (2 Crônicas 6.13; Salmos
95.6; Daniel 6.10; Lucas 22.41; Atos 7.60, 9.40, 20.36, 21.5), sentado (2
Samuel 7.18) ou prostrado (Números 16.22; Josué 5.14; Daniel 8.17;
Apocalipse 1.17, 4.10, 5.8, 5.14, 11.16). Levantar as mãos é uma parte
aceitável da postura para a oração. Os braços levantados de Moisés em
oração durante a batalha contra Amaleque são um bom exemplo, porém há
muitos outros também (Êxodo 17.9ss; Salmos 18.1,2; 63.4; 77.2; 119.47;
134.2; 141.2; 143.4, etc.). Assim, se as mãos devem ser levantadas em
adoração, que sejam ou simbolicamente em favor da congregação pelo
ministro, ou por toda a congregação por meio de oração como uma postura
de intercessão.
Entretanto, o movimento carismático tomou o que era uma postura
de oração e transformou em uma resposta pessoal à empolgação do
momento. Quando alguém está particularmente comovido pelos eventos do
culto, levanta suas mãos. Isso pode, ou não, ser uma coisa apropriada.
Nosso argumento é que não é algo bíblico. Não se pode apenas localizar na
Bíblia referências a mãos levantadas e, então, identificá-las com as práticas
do grupo a que se pertence. Mãos levantadas representam o subir das
orações a Deus e, assim, são uma postura apropriada para ser assumida em
oração. A única coisa que o levantar de mãos bíblico tem em comum com o
levantar de mãos ao estilo carismático é que as mãos estão para cima. Uma
é a postura de intercessão. A outra é uma demonstração bastante ostentosa
de empolgação espiritual, a qual, em nossa opinião é melhor não ser
tolerada.

***
Então, onde isso nos deixa? Anos atrás, A. W. Tozer escreveu um
panfleto intitulado Adoração: a joia perdida da igreja evangélica. Nesse
panfleto lamentava a irreverência de muito do que se passava por adoração
nas igrejas conservadoras de sua época. Algumas continuam a empregar o
modelo do reavivalismo. Como as igrejas em que cresci, a “adoração”
consiste em cânticos levianos, tagarelice trivial, praticamente nenhuma
oração, nenhuma confissão de pecado, pouca leitura bíblica, um sermão
evangelístico, um apelo e adeus. Não é de fato um culto de adoração — é
um encontro de “avivamento”. Alguns pegaram esse mesmo formato e o
animaram, adicionando solos e produções de coral, e até teatro, esquetes,
shows de luzes e dança. Digo que é uma variação do mesmo tema porque a
audiência está na congregação, não no céu. Não importa o que se diga ao
contrário, a verdadeira intenção é apresentar-se para o povo, os
“interessados” (incluindo os crentes presentes no grupo), não para o
Senhor. Não é por isso que os aplausos tornaram-se lugar comum nesses
cultos? Não é porque nossas igrejas parecem mais teatros que igrejas?
A alternativa carismática é um pouco melhor, se isso for possível.
Ela encoraja as pessoas a buscarem o Senhor e deleitarem-se nele, de modo
que existe nelas uma dinâmica viva ausente nas igrejas conservadoras mais
sérias. No entanto, o estilo carismático pode ser descrito como
substantivamente não cognitivo. É comum que os louvores e as
consequentes reflexões sobre Deus sejam banais, repetitivos e carentes de
conteúdo sério. O que o adorador experimenta tenderá a ser superficial e
autocentrado. O indivíduo não é comovido tanto pela verdade, mas pelo
que sente, com a experiência tornando-se um fim em si mesmo. O que
também, a longo prazo, resultará em falência espiritual. É possível cavar
essa cisterna muitas vezes. Embora maravilhosa enquanto dure, finalmente
ela se seca.
Muitos jovens evangélicos e carismáticos criados nessas igrejas
estão deixando suas congregações e unindo-se a igrejas litúrgicas. O livro
de Colleen Carroll, The New Faithful [Os novos fiéis], documenta o
movimento rumo à ortodoxia religiosa entre um número substancial de
jovens.[60] Alguns estão “na trilha de Cantuária”, nas palavras de Robert
Weber. Outros têm-se unido a igrejas católicas romanas, e alguns até têm
seguido a liderança de um grupo de ex-membros da Cruzada Estudantil e
se juntado à Igreja Ortodoxa Grega, que agora tem uma “Diocese
Evangélica” destinada a acomodar evangélicos que desejam fazer a
transição para a ortodoxia. De fato, adoração como evangelismo, terapia ou
entretenimento é inadequada. Não alimenta a alma. Contudo, nem a
alternativa do ritual, o fará. Os “aromas e sons” das cerimônias da alta
igreja não produzirão fé profunda e, por fim, inibirão um profundo
conhecimento pessoal de Cristo. Num aspecto, é apenas outra forma de
entretenimento, de agradar os sentidos. É mais “religiosa” na forma, mas
tão questionável quanto em seus efeitos.
Qual a resposta? A adoração simples, espiritual e reverente da
herança calvinista; adoração na qual lemos, pregamos, oramos, cantamos e
vemos a Palavra. Só ela pode sustentar e alimentar a fé e a piedade
reformada. Aqui temos ordem sem sufocação, liberdade sem caos,
edificação sem entretenimento, reverência sem rito. O alvo da adoração
reformada é soli Deo gloria e, nisso, ela proporciona um formato no qual a
verdadeira adoração pode acontecer. Deus é o foco, não a humanidade. A
palavra de Deus determina a ordem da adoração, não as invenções e
tradições do homem. A glória então será dada somente a Deus!
5. Leitura Recomendada

Adoração

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Davies, Horton. The Worship of the American Puritans. 1990; Morgan, PA:
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Psalms of the Trinity Psalter, Vols. I and II (CD), IPC Press, 1999, 2002.

The Psalms of Scotland (CD). SCS Music Limited, 1988.

Trinity Hymnal, Revised Edition. Philadelphia: Great Commission


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Trinity Psalter and Trinity Psalter Music Edition. Pittsburgh, Pennsylvania:
Crown and Covenant Publications, 1994; Pittsburgh: Crown and Covenant,
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Sacramentos

Henry, Matthew. A Communicant’s Companion and Treatise on Baptism


disponível em The Complete Works of Matthew Henry, 2 Vols. Edinburgh: J.
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Também disponível:

Twin Lakes Website: http://twinlakesfellowship.wordpress.com/

Reformation Worship Conferences Website:


http://www.reformationworship.org

Independent Presbyterian Church’s Website: http://www.ipcsav.org


[1] Por exemplo, Michael S. Hamilton, “The Triumph of the Praise Songs: How Guitars Beat Out the Organ in the
Worship Wars” [O triunfo dos cânticos de louvor: como a guitarra venceu o órgão nas guerras de adoração],
Christianity Today (12 de julho de 1999), pp. 29-32; Elmer Towns, Putting an End to Worship Wars [Dando um fim às
guerras de adoração] (Nashville: Broadman & Holman Publishers, 1997).
[2] Geração nascida após a 2ª Guerra Mundial, que eram jovens nos anos 60 e 70 e acompanharam as mudanças
culturais enfrentadas pelo mundo ocidental nessas décadas. [N. do T.]
[3] Emily Brink, “Trends in Christian and Reformed Worship” [Tendências na adoração cristã e reformada], Calvin
Theological Journal, 32 (1997), pp. 395-407. Ela argumenta que a adoração reformada tornar-se-á mais genérica
(emprestando especialmente do movimento carismático), mais diversificada, mais experimental e menos racional, mais
voltada para o visitante, fazendo mais uso do laicato e tornando-se mais baseada no calendário litúrgico.
[4] Darryl Hart, “It May Be Refreshing But Is It Reformed?” [Pode ser revigorante, mas é reformado?], Calvin
Theological Journal, 32 (1997), p. 407ss. O livro revisado é Worship in Spirit and Truth: A Refreshing Study of the
Principles & Practice of Biblical Worship, de John Frame [Publicado no Brasil pela editora Cultura Cristã, como Em
espírito e em verdade] (Phillipsburg, Nova Jersey: Presbyterian & Reformed Publishers, 1996). Com a publicação de
seu segundo volume sobre esse assunto, Contemporary Worship Music: A Biblical Preference [Música de adoração
contemporânea: uma preferência bíblica] (Phillipsburg, Nova Jersey: Presbyterian & Reformed Publishers, 1997),
Frame estabeleceu-se como o teólogo da Vanguarda de nossos dias. Consequentemente, estaremos regularmente
interagindo com ele enquanto desenvolvemos uma perspectiva histórica da adoração reformada.
[5] Movimento de avivamento ocorrido entre 1967 e 1973, focado especialmente em jovens da “contra-cultura”. [N.
do .T]
[6] Veja Johnson, The Case for Traditional Protestantism [Em defesa do protestantismo tradicional] (Edinburgh: The
Banner of Truth Trust), pp. 123-132; Worshipping With Calvin [Adorando com Calvino] (Durham, Inglaterra:
Evangelical Press, 2013).
[7] John Frame, Worship, p. 44ss. Frame defende que a aplicação do princípio regulador somente para cultos formais
ou “oficiais” é “antibíblica”. “O Novo Testamento simplesmente não faz essa distinção”, ele afirma e, assim, “é
virtualmente impossível provar que algo é divinamente exigido especificamente para cultos oficiais” (Worship, p. 44).
Ele rotula isso de visão “puritana” e conclui que se o princípio regulador aplica-se a tudo, ele deve aplicar-se a toda
adoração, pública e privada, formal e informal. Ele defende de forma bastante rigorosa essa visão. “Eu rejeito a
limitação do princípio regulador a cultos de adoração oficiais… limitar a doutrina à adoração oficial sancionada a priva
de sua força bíblica” (Worship, pp. 44, 45). Mas, como não raro é o caso, ficamos a imaginar quem são esses puritanos
a quem Frame refere-se. Nenhum puritano, ou, na realidade, qualquer outro dos principais porta-vozes do princípio
regulador, teria defendido que ele aplica-se somente à adoração pública e não tem aplicação na adoração privada. Pelo
contrário, seu argumento, e o nosso, seria de que ele aplica-se diferentemente. Por exemplo, ninguém seria livre para
sacrificar um bode ou queimar incenso no culto familiar, mas deveria ler a Bíblia, cantar Salmos e orar. Nesses
exemplos, a aplicação é a mesma, pública e privada. Por outro lado, não é permitido (como os puritanos teriam
argumentado) administrar os sacramentos no culto familiar. Por quê? Em pelo menos um nível, a resposta é porque o
princípio regulador aplica-se de maneira diferente. O que é permitido publicamente, em cultos oficialmente convocados
e sancionados, não é permitido em privado. Toda adoração, portanto, é regulada pela Palavra de Deus, mas a aplicação
é diferente em diferentes contextos, seja formal ou informal, público ou privado.
[8] Frame, “Some Questions About the Regulative Principle” [Algumas perguntas sobre o princípio regulador],
Westminster Theological Journal, vol. 54 (1992), pp. 357-366. Em certo trecho, Frame diz que não há “uma distinção
rígida entre o que somos na reunião e o que somos fora dela… a diferença entre adoração no sentido amplo e adoração
no sentido restrito é uma diferença de graus” (Worship, p. 34).
[9] Veja a resposta de T. David Gordon a Frame, “Some Answers About the Regulative Principle” [Algumas respostas
sobre o princípio regulador], Westminster Theological Journal, vol. 55 (1993), pp. 321-329.
[10] Por motivo de tempo, estamos deixando de lado a questão de o princípio regulador dever ou não ser construído de
forma estrita. Visto que o princípio regulador apela ao terceiro mandamento como apoio, entendemos que reverência e
assuntos relacionados estão dentro desse quadro.
[11] Perdemos a conta do número de ocasiões em que Frame alega que alguma prática tradicional é “antibíblica”, que
“a Escritura nunca afirma”, que não há “razão bíblica” ou que “a Escritura nunca ordena” certa prática quando, na
verdade, ela se baseia em exemplos bíblicos (não apenas mandamentos) ou num senso de propriedade em relação à
adoração pública. Worship, pp. xii, 44, 53, 70, 73, 82, 93, 104, 129, etc.
[12] Movimento que propõe cultos voltados aos visitantes incrédulos, pregando apenas o que é considerado
“necessidade” para essas pessoas, de maneira que não se ofendam com a mensagem pregada. [N. do T.]
[13] Veja Terry Johnson, Leading in Worship [Liderando em adoração] (Oak Ridge, Tenn: The Covenant Foundation,
1962), 2ª edição revisada (River Springs, GA: Tolle Lege Press, 2013), p. 2ss.
[14] Argumentando que a música deve ser “significativa” para o adorador e associando “significativa” com inteligível,
Frame diz que isso “implica contemporaneidade”. Assim, minha forma preferida de música popular torna-se a música
da adoração pública e a igreja inicia sua jornada pela estrada do trotskismo litúrgico. John M. Frame, Contemporary
Worship Music (Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 1997), pp. 17-20.
[15]Dieter & Valerie Zander, “The Evolution of Gen X-Ministry” [A evolução do ministério geração X], Regeneration
Quarterly, 5.3, (1999), p. 17.
[16] John D. Witvliet, “The Spirituality of the Psalter: Metrical Psalms in Liturgy and Life in Calvin’s Geneva” [A
espiritualidade do Saltério: salmos métricos na liturgia e vida na Genebra de Calvino], Calvin Theological Journal, 32
(1997), p. 273; também presente em Worship Seeking Understanding [Adoração em busca de entendimento] (Grand
Rapids: Baker Book House Company, 2003).
[17] Calvino, por exemplo, insistia em que a música da igreja deveria ser sua própria música. Opunha-se ao uso de
melodias seculares e instava para que as melodias fossem caracterizadas por gravidade e majestade. Veja Witvliet,
Ibid., pp. 273-297.
[18]A discussão de Frame vai na direção oposta e a consideramos insustentável, se não um clássico de reductio ad
absurdum. Embora ele conceda que “questões de qualidade e conveniência” devam ser consideradas, sua verdadeira
preocupação é que os gostos ou preferências de nenhum indivíduo ou grupo sejam impostos sobre outros.
Consequentemente, “a música de todos deve ser ouvida” (Contemporary, 25). Para Frame, toda a questão é meu gosto
contra o seu gosto e, como nenhum conjunto de preferências pode ser considerado superior a qualquer outro, então
todos devem ter igual representatividade. Caso você não tenha entendido, ele até dá exemplos do que quer dizer com
“música de todos”: “música de jovens e de idosos; música europeia, afro-americana e outras músicas étnicas; música
complexa e música simples”. Para nós, toda a discussão é equivocada. 1. É enganosa. A música da igreja não é a
música de qualquer grupo. É enganoso falar da música dos “idosos” — a geração da 2ª Guerra Mundial não levou suas
preferências culturais, Tommy Dorsey e Benny Goodman, por exemplo, para o santuário. A igreja tem tido sua própria
linguagem e música que transcende os gostos e preferências de qualquer grupo ou geração em particular. Os baby
boomers [geração nascida entre 1945 e 1964] são talvez a primeira geração na história da igreja a tentar impor suas
preferência musicais sobre o restante e afirmar que somente assim a adoração pode ser “significativa” para eles. Isso
chega perto de chantagem geracional. 2. É ingênuo. Ele atribui o conflito sobre estilo de adoração e música ao
“egoísmo”, mas não da parte dos revisionistas. Não, ele tem em mente os tradicionalistas que estão relutantes em
curvar-se a seu ultimato. Uma indisposição de agir assim é condenada como uma insistência egoísta em “preferências
individuais” a “padrões bíblicos”. Essa é uma exortação notável, dado seu papel de impelir a igreja no caminho de
servir indivíduos e grupos segundo suas preferências. Aqueles que tentam proteger a adoração reformada histórica com
suas formas simples, espirituais e substanciais, sua qualidade e valor provados pelo tempo, sua capacidade para
pregação expositiva, orações espontâneas, grandes hinos e salmos métricos são censurados — “devemos estar dispostos
a considerar os outros superiores a nós mesmos” (Worship, 84). Que pode haver mais na resistência dos tradicionalistas
do que gosto não lhe ocorreu. Os tradicionalistas estão defendendo princípios, não preferências. 3. É impraticável. Essa
miscelânea de expressões culturais em linguagem e música é inviável. Como cada grupo deve ser servido em um
determinado culto? Devemos ter um sistema de cotas litúrgicas? Com o que um culto assim se pareceria? E se o nosso
grupo for sub-representado na seleção de músicas? Devemos protestar? Ou, o que é mais provável, deveríamos
começar nossa própria igreja para satisfazer nossos gostos? Ou, talvez, apenas um culto separado. Esse cenário familiar
de segregação etária e étnica salienta nossa convicção de que Frame e outros têm se aventurado na estrada errada.
Gostos e preferências pessoais não deveriam ter sido incluídos na discussão sobre o culto. A igreja deveria transcender,
não imitar, a cultura pop contemporânea.
[19] Gene Edward Veith, “Through Generations” [Através das gerações], For the Life of the World [Pela vida do
mundo] (março de 1998), vol. 2, nº 1, p. 9. Veith também diz: “Quando estamos cantando hinos na igreja, não estamos
seguindo o ‘estilo’ preferido de alguém na congregação. Isso é música da igreja, completamente diferente, qualquer que
seja sua origem, do atual gosto musical preferido de qualquer das gerações reunidas para adorar. Ninguém é ofendido;
ninguém é excluído; todos são elevados de uma época, geração ou grupo particular para a experiência extraordinária de
adoração”.

[20] Frame repetidamente apela para a Grande Comissão como fator determinante para
regular a adoração (Worship, pp. 146-147, 150).
[21] Robert G. Rayburn, O Come Let Us Worship [Ó vinde adoremos] (Grand Rapids:
Baker House Books, 1980), pp. 15, 16.
[22] John Piper, Alegrem-se os povos: a supremacia de Deus em missões (São Paulo:
Cultura Cristã, 2000), p. 13.
[23] Carlos M. N. Eire, War Against the Idols [Guerra contra os ídolos] (Cambridge:
Cambridge University Press, 1986), pp. 2, 85.
[24] Ibid., p. 119.

[25] Ibid., p. 143.


[26]Ibid., p. 126; também disponível em Selected Works of John Calvin [Obras
selecionadas de João Calvino], Vol. 1, p. 126.
[27]Robert W. Godfrey, “Calvin and the Worship of God” [Calvino e a adoração de Deus]
em The Worship of God [A adoração de Deus] (Ross-shire, Escócia: Christian Focus
Publications, 2005), p. 32.
[28]Carlos M. N. Eire, War Against the Idols, pp. 232, 233.
[29]Ibid., p. 232.
[30] João Calvino, As institutas da religião cristã (São Paulo: Cultura Cristã, 2006), II.8.17.
[31] João Calvino, “On the Necessity of Reforming the Church” [Sobre a necessidade de
reformar a Igreja] em Selected Works of John Calvin, Vol 1, 1844; reimpressão, Grand
Rapids: Baker Book House, 1983, p. 133.
[32] Estas passagens e outras semelhantes são mencionadas como textos provas pela Confissão de fé de Westminster
XXI, pelo Catecismo maior 109 e 110 e pelo Breve catecismo 51 e 52. Como Richard Muller energicamente
demonstrou, não deveriam ser vistos como textos provas mas como apontamentos indicando uma tradição exegética
que envolve consenso patrístico, medieval e o reformado atual. (Veja Richard A. Muller, “Scripture and the
Westminster Confession” [Escritura e a Confissão de Westminster] em Richard A. Muller e Rowland S. Ward,
Scripture & Worship: Biblical Interpretation and the Directory for Worship [Escritura & adoração: interpretação
bíblica e o diretório para adoração] (Phillipsburg, Nova Jersey: P&R Publishers, 2007).
[33] Calvino, Institutas, I, 11.8, p. 108.
[34]T. David Gordon, “Presbyterian Worship: Its Distinguishing Principle” [Adoração
presbiteriana: seu princípio distintivo] (manuscrito não publicado).
[35] Frame vê o teatro como “uma forma de pregação e instrução”, destacando que “pregação e instrução bíblicas
contêm muitos elementos dramáticos” (Worship, p. 93). Esse é um caso clássico do argumento da barba. Pregação e
teatro de fato dependem de um espectro (aparência ou imagem), como no caso de barbas e barbas feitas. Há sermões
dramáticos e dramas que pressupõem pregação, assim como há barba mal feita e barba feita. Porém, uma barba feita
não é uma barba e um sermão não é um esquete. Podemos distinguir entre os dois e falar significativamente da
diferença.
[36] Gordon oferece o seguinte auxílio: “O Catecismo maior, pergunta 186, diz: ‘Toda a Palavra de Deus é útil para
nos dirigir na prática da oração; mas a regra especial é aquela forma de oração que nosso Salvador Jesus Cristo ensinou
aos seus discípulos, geralmente chamada Pai Nosso’. Novamente, o Breve catecismo, pergunta 99, diz: ‘Toda a Palavra
de Deus é útil para nos dirigir em oração, mas a regra especial de direção é aquela forma de oração que Cristo ensinou
aos seus discípulos, e que geralmente se chama Pai Nosso’. Da mesma forma, as seguintes orientações do Diretório
para o culto da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos (PCA) encontrariam paralelo nas mais antigas formas de
governo das quais essas declarações têm derivado:

47.6. O Senhor Jesus Cristo não prescreveu formas fixas para adoração pública mas, no interesse de vida
e poder na adoração, deu a sua igreja uma grande medida de liberdade no assunto. Não se pode esquecer,
contudo, de que só há verdadeira liberdade onde as regras da Palavra de Deus são observadas e o Espírito
do Senhor está; que todas as coisas devem ser feitas com decência e ordem; e que o povo de Deus deveria
servir a ele com reverência e na beleza da santidade.

52-4. Ministros não devem ficar limitados a formas fixas de oração para o culto público. Todavia, é
obrigação do ministro, antes de assumir seu cargo, preparar-se e qualificar-se para essa parte do seu
trabalho, assim como para a pregação.

63-3. A adoração familiar, que deve ser observada por todas as famílias, consiste em oração, leitura das
Escrituras e canto de louvores; ou nalguma forma mais breve de reconhecimento sincero de Deus.

T. David Gordon, “Some Answers Regarding the Regulative Principle”, Westminster Theological Journal, Vol. 55.2,
(outono de 1993), p. 326 n18.
[37] Prefácio ao Saltério em McKee, John Calvin’s Writings on Personal Piety [Escritos
de João Calvino sobre piedade pessoal], 1543.
[38] Os livros de John Frame são particularmente deficientes neste ponto. Ele gasta muito de seus esforços
defendendo essa ou aquela música ou prática, mas nunca investiga o quadro mais amplo. Não considera nunca a
trajetória. De onde viemos no mundo evangélico? Para onde estamos indo? É impossível proporcionar uma avaliação
adequada das partes sem considerar o todo.
[39] David Wells analisou o conteúdo teológico das 406 músicas dos dois mais populares cancioneiros da atualidade,
Worship Songs of the Vineyard [Canções de adoração da Vineyard] e Maranatha! Music Praise Chorus Book [Livro de
músicas de louvor da Maranatha!]. Comparou-as com os 662 hinos do The Covenant Hymnal [O hinário da aliança].
Sintetizou suas descobertas assim: “a grande maioria das músicas de louvor que analisei, 58,9 por cento, não apresenta
base doutrinária ou explicação para o louvor; na hinódia clássica analisada, foi difícil encontrar hinos que não
desenvolvessem e não fossem justificados por algum aspecto da doutrina” (ênfase minha). Ainda: importantes temas
bíblicos são amplamente ignorados. Por exemplo, o tema da igreja é encontrado em 1,2% das músicas; pecado,
arrependimento e desejo por santidade em 3,6%; a santidade de Deus em 4,3%. Losing Our Virtue [Perdendo nossa
virtude] (Grand Rapids: Eerdmans, 1998), p. 44.
[40] Hughes O. Old, Worship [Adoração], pp. 59, 60.
[41]É surpreendente o que Frame escreve: “não há mandamento bíblico específico, até onde sei, para termos
sermões no culto” (Some Questions, Westminster Theological Journal, vol. 54 (1990), p. 366 n 10). É possível
questionar um tipo de “biblicismo” que considera necessário fazer tal declaração. Onde em toda a Bíblia o povo
de Deus reúne-se e não há leitura e exposição da Escritura? (e.g. Dt 26.1ss; Ex 24.1-11; Ne 8.1-8; Lc 4.14-21; At
20.7ss; etc.). Para um esmagador argumento contra Frame neste ponto, veja Hughes O. Old, The Reading and
Preaching of the Scriptures in the Worship of the Christian Church [A leitura e pregação das Escrituras na
adoração da igreja cristã], Volumes 1-7 (Grand Rapids: Eerdmans, 1998-2010).
[42] Matthew Henry’s A Method for Prayer [Um método para oração], J. Ligon Duncan, III (ed.), (Greenville:
Reformed Academic Press, [1710] 1994); A Way to Pray [Uma forma de orar] (Edinburgh: Banner of Truth Trust,
[1710] 2010).
[43] Isaac Watts, A Guide to Prayer [Um guia para a oração] (reimpressão, Edinburgh: The Banner of Truth Trust,
[1715] 2001).
[44] Hughes Old, Leading in Prayer [Liderando em oração] (Grand Rapids: Eerdmans, 1995).
[45] É típico de Robert Webber e John Frame dizer coisas como essas. “Por séculos, o foco do pensamento
protestante sobre adoração tem sido no culto como um ato cerebral”, diz Webber. “O que fez da adoração adoração foi
o sermão” (Robert Webber, “Reaffirming the Arts” [Reafirmando as Artes], Worship Leader [Líder de adoração], vol.
8, nº 6, novembro/dezembro, 1999, p. 10). Também: Frame, Worship, pp. 77-78. Frame está preocupado com o fato de
os hinos tradicionais terem conteúdo bíblico/teológico demais. Por exemplo: “‘Brilha Jesus’ se sai muito bem contra
‘Of the Father’s Love Begotten’ [Gerado do amor do Pai]”, diz Frame, porque este “afirma muitas doutrinas rápido
demais para que chegue a ser de fato edificante” (Contemporary, p. 116). Por esse padrão, é de se supor que os Salmos
nunca pudessem ser cantados ou mesmo o livro de Romanos nunca pudesse ser lido (doutrinas demais passando muito
rápido). Com regularidade Frame enviesa seu argumento ao fazer referência ao “conteúdo intelectual” de músicas e
sermões em vez de referir-se ao conteúdo bíblico, o verdadeiro ponto em questão (Contemporary, p. 98ss).
[46] Talvez, um paralelo possa ajudar. Lemos no evangelho de João que “a lei foi dada por intermédio de Moisés; a
graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo”, não porque o Antigo Testamento fosse todo lei e completamente
destituído de graça e verdade, ou porque o Novo Testamento é todo graça e completamente destituído de lei, mas como
uma questão de ênfase (João 1.17). Evidentemente, havia graça e verdade antes. No entanto, havia mais ênfase sobre a
lei no Antigo Testamento e mais sobre a graça no Novo Testamento. Há mais verdade agora quando a verdade é mais
completa e clara em Cristo.
[47] Calvin, “On The Necessity of Reforming the Church” em Works , p. 128.
[48] Philip Schaff, History of the Christian Church [História da Igreja cristã], vol. 5 (1907; reimpressão, Grand
Rapids: W.B. Eerdman’s, 1947), p. 869.
[49] Hughes O. Old, The Shaping of the Reformed Baptismal Rite in the Sixteenth Century [A formação do rito
batismal reformado no século XVI] (Grand Rapids: Eerdman’s, 1992), p. 286.
[50] Robert W. Godfrey, “Calvin and the Worship of God”, p. 15.
[51] Ibid., p. 38 (ênfase minha).
[52] Old, Worship, p. 43.
[53] Colin Brown (ed.), The New International Dictionary of New Testament Theology [O novo dicionário
internacional de teologia do Novo Testamento], Vol. 1 (Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1975), p. 622.
[54] J. D. Douglas (ed.), The New Bible Dictionary [O novo dicionário bíblico] (Leicester, Inglaterra: InterVarsity
Press, 1962), p. 365.
[55] Frame não encontra “razão bíblica” para crer que os cultos de adoração devam ser conduzidos em uma
“atmosfera solene”. Ele reduz “dignidade” a “código para formalidade” e afirma que “em parte nenhuma, o Novo
Testamento ordena formalidade na adoração”. “Em suma”, ele diz, “parece-me que as considerações relevantes
favorecem um culto informal com uma atmosfera amigável e receptiva e estilos contemporâneos em linguagem e
música” (Worship, pp. 82, 84).
[56] “Glorious Things of Thee are Spoken”, Trinity Hymnal [Hinário Trindade] #345. [N. do T.: No Brasil, este hino
foi parcialmente traduzido e é conhecido como Grandes coisas, mui gloriosas].
[57] Bard Thompson, Liturgies of the Western Church [Liturgias da igreja ocidental] (Filadélfia: Fortress Press,
1961), p. 193.
[58] Para ler mais sobre liderança sábia no culto, veja Leading in Worship, pp. 15-18, 67-70, 103-104; The Pastor’s
Public Ministry [O ministério público do pastor], pp. 1-76.
[59] Frame, Worship, p. 131. Essa nos parece uma forma pouco humilde de referir-se ao ponto de vista de seus
oponentes teológicos.
[60] Colleen Carroll, The New Faithful: Why Young Adults Are Embracing Christian Orthodoxy [Os novos fiéis: por
que jovens adultos estão aceitando a ortodoxia cristã] (Chicago: Loyola Press, 2002); veja também Thomas C. Oden,
The Rebirth of Orthodoxy [O renascimento da ortodoxia] (Harper Collins Publishers, 2002).
[61] Publicado no Brasil sob o título “Entre os gigantes de Deus: uma visão
puritana da vida cristã”, pela Editora Fiel. [N. do E.]
[62] Publicado no Brasil sob o título “O pastor aprovado”, pela Editora. [N.
do E.]
[63] Publicado no Brasil sob o título “Pregação e pregadores”, pela Editora
Fiel. [N. do E.]
[64] Publicado no Brasil sob o título “Lições aos meus alunos”, três volumes,
pela Editora PES. [N. do E.]
[65] Publicado no Brasil sob o título “Eu creio na pregação”, pela Editora
Vida. [N. do E.]
[66] Disponível em http://goo.gl/BNYUgf. [N. do E.]

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