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Adoração Segundo As Escrituras - Terry L. Johnson
Adoração Segundo As Escrituras - Terry L. Johnson
Revisado e Expandido
Terry L. Johnson
Copyright @ 2013, de Terry L. Johnson
Publicado originalmente em inglês sob o título
Reformed Worship: Worship that is According to Scripture
pela Reformed Academic Press,
P.O. Box 5013, Jackson, MS, 39296, EUA.
1a edição, 2014
1000 exemplares
Johnson, Terry L.
Adoração reformada: adoração segundo as Escrituras / Terry L. Johnson, tradução Josaías Cardoso Ribeiro
Júnior — Brasília, DF: Editora Monergismo, 2014.
ISBN 978-85-62478-89-5
CDD 248.4
Sumário
Prefácio à edição brasileira
1. Orientando-se
2. Adoração em verdade
3. Adoração em Espírito
4. Questões Finais
5. Leitura Recomendada
Prefácio à edição brasileira
QUESTÕES INICIAIS
Público contra Privado
Primeiro, a questão a ser considerada não é o que pode ser uma
expressão válida de adoração na privacidade do lar ou no contexto da
família. Alguns escritores recentes têm tendido a obscurecer a distinção
público/privado, isso se não a atacam diretamente.[7] Todavia, diferenciar
entre comportamento público e privado é uma aplicação crítica da
sabedoria bíblica (referência: veja o Livro de Provérbios). Por exemplo,
trajes que podem ser apropriados e aceitáveis na privacidade do lar podem
ser julgados imodestos, provocantes e sedutores, se apenas deslocarmos o
usuário para um contexto público. Funções corporais naturais e dadas por
Deus podem ser consideradas apropriadas se expressas em privado, mas
sua expressão pública pode ser vulgar, grosseira e até maligna. Intimidades
conjugais podem ser perfeitamente válidas e mesmo retas expressões de
afeição em privado. No entanto, pegue essas mesmas intimidades, e
coloque-as em um contexto público, e o que era justo imediatamente se
torna ímpio e mau.
Na esfera da própria adoração, Jesus ensinou que posturas e
expressões que podem ser apropriadas à oração privada são inapropriadas
em público porque atraem a atenção para si. O contexto, rua versus quarto,
público versus privado, é crucial (Mt 6.4-6). Em 1 Coríntios 10-14, o
apóstolo Paulo regula a pregação, a oração, o cântico e as práticas
sacramentais da igreja em Corinto. Dá orientações específicas para quando
“vos reunis na igreja” (1Co 11.18). Regras especiais que se aplicam quando
a igreja se reúne não se aplicam necessariamente a “todas as áreas da
vida”. O que pode ser feito em casa não pode ser feito na assembleia. Em
conexão com a Ceia do Senhor, o apóstolo Paulo pergunta diretamente:
“Não tendes, porventura, casas onde comer e beber?” (1Co 11.22). A
alimentação que seria apropriada em casa era inapropriada em público.
Além disso, há perguntas que podem ser feitas em casa e não na assembleia
pública (1Co 14.35). Sob alguma forma a frase “quando vos reunis” (vv.
17,18,20,33,35) é usada cinco vezes em 1 Coríntios 11.17-34. Paulo cita a
prática de “todas as igrejas”. Insiste em que a igreja coríntia conforme-se
ao padrão universal da igreja. “Não temos tal costume”, ele diz, “nem as
igrejas de Deus” (1Co 11.16; cf. 14.23; 1.2; 4.17; 14.23). Essas regras para
a adoração pública garantem continuidade substancial entre as igrejas em
seus cultos públicos.
Esses poucos exemplos ilustram o argumento de que a distinção
público/privado é vital, e que a Bíblia, algumas vezes, explícita, e, outras
vezes, implicitamente, insiste em que a façamos. Essa questão é crítica na
determinação de normas éticas e litúrgicas. Uma coisa que pode ser
permitida na adoração privada ou familiar pode não ser apropriada na
adoração pública. Por exemplo, na adoração familiar, podemos todos
aparecer de pijamas. Eu posso fazer perguntas aos meus filhos, solicitar
seus pedidos de oração e deixar que eles determinem as músicas.
Entretanto, esses trajes e essa interação pai/filho normalmente seriam
inapropriados na adoração pública. Em um estudo de pequeno grupo,
podemos todos discutir a passagem sendo estudada e compartilhar nossas
opiniões sobre como ela dever ser entendida e aplicada. Podemos até
bebericar café e servir biscoitos enquanto fazemos isso — pode ser
inofensivo e apropriado num contexto informal e particular. Porém, na
adoração pública? Provavelmente, não. Assim, o que desejamos destacar,
não é que práticas seriam válidas em minhas devocionais em privado, em
devocionais familiares ou num estudo bíblico em pequeno grupo. Nosso
interesse é determinar que atividades são apropriadas à assembleia pública
do Dia do Senhor. É um erro pensar que a Bíblia não faz essas distinções, e
um erro maior pensar que não deveríamos e não podemos fazê-las.
IMPORTÂNCIA
Assim, nossa questão é: o que nós (toda a congregação unida)
devemos (não o que podemos) fazer nos cultos de adoração (não em outras
reuniões congregacionais) públicos (não em privado) do Dia do Senhor?
Qual a importância de responder a essa pergunta? Vamos colocar desta
forma: quão importante é a adoração? Pode ser necessário parar para
pensar no assunto por um momento, e examinar as diversas atividades da
vida. No entanto, mesmo uma consideração superficial incontestavelmente
levará à conclusão de que, é claro, nada que façamos é tão importante
quanto a adoração; não, nada de natureza secular, como trabalho, diversão
ou mesmo vida em família. Nem mesmo atividades religiosas como
evangelismo, comunhão, caridade ou até disciplinas espirituais pessoais,
são tão importantes. Não pode haver questão mais significativa que essa, à
qual respondermos.
No texto fundamental que examinaremos, Jesus diz que o Pai
“procura” verdadeiros adoradores (Jo 4.23). É assim, que Jesus resume a
atividade salvífica do Pai. O que o Pai está fazendo por meio do
evangelho? O que está fazendo por meio do seu Filho? Qual o motivo da
encarnação, da expiação e de toda a redenção? O Pai está procurando
adoradores! Que maneira incomum e inesperada de falar tais assuntos.
Porém, aí está. Robert G. Rayburn salienta que “em lugar nenhum das
Escrituras lemos sobre Deus procurando alguma outra coisa de seus
filhos”. A Bíblia não nos diz que Deus procura testemunhas, servos, ou
colaboradores. O que procura é adoradores. Rayburn continua: “Não é sem
importância real que, na única ocasião nas Escrituras em que a palavra
‘procura’ é utilizada para a atividade de Deus, seja em conexão com a
procura por verdadeiros adoradores”.[21]
Há um sentido real em que a adoração é a razão de ser do evangelho
cristão. O “evangelho eterno” que pregamos é resumido pelo anjo de
Apocalipse 14.7 como “Temei a Deus e dai-lhe glória… Adorai…”. Como
vimos, toda a vida cristã é representada pelo apóstolo Paulo como um ato
de adoração em que apresentamos a Deus nossos corpos por sacrifício
vivo, santo e agradável. Isso é um culto racional (Rm 12.1). O objetivo do
evangelho é, de pecadores, gerar santos, para que possam ser adoradores.
Perceba, em João 4.22, como Jesus passa do assunto adoração para
salvação: Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que
conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Ser salvo é ser liberto da
ignorância e da opressão da idolatria. Para os judeus, “conhecer” o
caminho ou a adoração é nada menos que possuir “salvação”. Certamente,
não estamos acostumados a expressar isso tão incisivamente quanto
fazemos agora. No entanto, esta é a perspectiva do Novo Testamento: o fim
ou propósito do evangelismo e das missões é criar um povo para adorar a
Deus. Os discípulos de Jesus são pedras que vivem edificados casa
espiritual para serem sacerdócio santo, a fim de oferecerem sacrifícios
espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo (1Pe 2.5; cf.
Ef 2.18-22). Deus cria um povo de propriedade exclusiva dele, a fim de
proclamarem as virtudes daquele que os chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz (1Pe 2.9). Nisso é que consistem a missão cristã, a vida
cristã, e a adoração cristã. John Piper resume bem o ponto que destacamos:
As missões não representam o alvo fundamental da igreja, a
adoração, sim. As missões existem […] pois Deus é essencial e
não o homem. Quando se encerrar esta era e os incontáveis
milhões de redimidos estiverem perante o trono de Deus, não
haverá missões. Elas representam, nesta era, uma necessidade
temporária. Mas a adoração permanece para sempre.[22]
Adoração é nossa “prioridade suprema”, como declara o título de
um recente livro sobre o assunto. Todo filho de Deus deveria saber disso.
Não só a Bíblia enfatiza a importância da adoração; a herança
reformada e presbiteriana também. Muitos historiadores modernos do
período da Reforma têm permitido que a personalidade dominante de
Lutero e sua luta em busca da fé ofusquem o coração da reforma suíça e
calvinista. Para Lutero e os luteranos, o foco era a justificação. “Como o
homem pode ser justo diante de Deus?” — era sua pergunta primordial.
Entretanto, para Zwínglio, Calvino e a corrente “reformada”, o foco não
era a justificação, por mais importante que fosse, como eles concordavam.
O foco dos reformados era a adoração. “Como Deus deve ser adorado?” —
eles perguntavam. Para os luteranos, o inimigo da fé eram as obras. Para os
reformados, a idolatria.
Carlos M. N. Eire, em seu altamente apreciado War Against the
Idols [Guerra contra os ídolos] lembra a nossa geração aspectos dos quais
os historiadores mais antigos estavam cientes. “O foco central do
protestantismo reformado era sua interpretação da adoração…”.
Distinguindo luteranos de zwinglianos, Eire diz:
A diferença principal é que para os zwinglianos, o propósito da
Reforma consistia não tanto em encontrar um Deus justo, mas
em voltar-se da idolatria para o verdadeiro Deus.[23]
O mesmo pode ser dito da obra de Heinrich Bullinger (1504-1575),
sucessor de Zwínglio em Zurique; de Martin Bucer (1491-1551), em
Estrasburgo; de Guilherme Farel (1489-1565), em Neuchâtel, e de João
Calvino (1509-1564), em Genebra. A Reforma espalhou-se quando esses e
outros homens pregaram contra a idolatria da adoração medieval e as
pessoas reagiram, às vezes em fúria iconoclasta. Janelas foram quebradas,
relíquias profanadas, estátuas esmigalhadas, altares despedaçados e igrejas
caiadas. Segundo Eire, Farel “usou as imagens e a missa como foco do
processo de Reforma”.[24] Em Genebra, durante os primeiros anos de
reforma, “o foco da atenção não era a questão da justificação, mas da missa
e das imagens, e de todos os ‘abusos’ que as acompanhavam”.[25] Farel e
Calvino descrevem suas conversões não como regastes da justiça por
obras, mas da idolatria. Como os tessalonicenses, eles deixando os ídolos,
converteram-se a Deus, para servirem o Deus vivo e verdadeiro (1
Tessalonicenses 1.9).
Em seu tratado de 1543, intitulado Da necessidade de reformar a
Igreja, Calvino lista dois elementos definidores do cristianismo que, em
suas palavras, constituem “toda a substância do cristianismo”. São “um
conhecimento, primeiro, da maneira correta de adorar a Deus e, em
segundo lugar, da fonte da qual se deve buscar a salvação”.[26] W. Robert
Godfrey comenta: “Notavelmente, Calvino coloca a adoração antes da
salvação em sua lista dos dois mais importantes elementos do cristianismo
bíblico”.[27] Eire acrescenta:
Calvino define o lugar da adoração como nenhum dos seus
predecessores tinham feito antes… Adoração, ele diz, é a
preocupação central dos cristãos. Não é simples matéria
periférica, mas “toda a substância” da fé cristã… É possível até
argumentar que isso se torna a característica definidora
fundamental do calvinismo.[28]
Qual a razão de estudo teológico e bíblico, de evangelismo e
missões, de conhecer a Deus e, com efeito, de toda a religião cristã? A
resposta para tudo o que foi mencionado é adoração. O verdadeiro
conhecimento de Deus leva à adoração correta que leva ao viver correto.
Os teólogos da Reforma pregaram soli Deo gloria em toda esfera da vida,
porque primeiro buscavam isso na adoração.
Ao tornar a adoração um componente existencial necessário do
conhecimento, Calvino a transforma no elo entre pensamento e
ação, entre teologia e sua aplicação prática. Como resultado,
Calvino desenvolve um tipo de teologia bastante prático.
Religião não é apenas um conjunto de doutrinas, mas uma
forma de adorar e uma forma de viver.[29]
Não só na Europa continental, mas também na Grã-Bretanha, o
coração da batalha entre os seguidores de Calvino e o sistema anglicano era
a questão da adoração. Durante cem anos, os puritanos lutaram para
reformar o Livro de Oração segundo o modelo genebrino, culminando na
Guerra Civil, na convocação da Assembleia de Westminster e na aprovação
parlamentar do Diretório para o culto público a Deus para os reinos da
Inglaterra, Escócia, Gales e Irlanda.
Hoje, não estamos muito acostumados a pensar nesses termos. A
situação atual, em que mesmo igrejas que se identificam como herdeiras da
Reforma, como a Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos (Presbyterian
Church in America — PCA), e que, em nome da liberdade, falham em
oferecer diretórios para o culto, não poderia ser mais irônica. Poucos
aceitam pensar cuidadosamente sobre adoração. Menos ainda veem nisso
uma necessidade. Não apenas muitas pessoas não enxergam conexão entre
doutrina e vida prática, como mais pessoas ainda não veem conexão entre
adoração e vida prática. Assim, por que regular a adoração se, como
geralmente se presume, apenas ia gerar divisão, não sendo também tão
importante? Nossa tendência é ser como os detratores de Calvino, que o
acusavam de fraturar a unidade da igreja por ninharias. Como esses
detratores, contudo, estamos errados quanto ao assunto. Questões sobre
como adorar a Deus são as mais importantes de todas, por si mesmas, e por
suas abrangentes aplicações.
Segundo as Escrituras
Primeiro, adoração que é em verdade é segundo as Escrituras. Os
samaritanos não eram diferentes do restante da humanidade. Vós adorais o
que não conheceis, disse Jesus à samaritana. Há formas quase ilimitadas de
como adorar a Deus. Jesus está insistindo em que entendamos tal afirmação
corretamente. Devemos adorar a Deus de acordo com sua autorrevelação.
Se vamos adorar em verdade, devemos submeter-nos à revelação bíblica.
Calvino argumentou que o culto “legítimo” é o que “Deus mesmo”
estabeleceu.[30] Esse princípio tornou-se conhecido como o “princípio
regulador”.[31] O entendimento católico, luterano e anglicano pode ser
chamado de um “princípio normativo” — normas gerais são dadas, porém,
o que não é expressamente proibido pela Escritura na adoração é permitido.
A prática reformada era muito mais rigorosa. Ela afirmava: o que não é
ordenado pela Escritura (seja por mandamento, exemplo ou por dedução de
princípios mais amplos) é proibido. A Confissão de fé de Westminster
expressa isso desta forma:
Mas o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído
por ele mesmo e tão limitado por sua vontade revelada, que
Deus não deve ser adorado segundo as imaginações e invenções
dos homens ou sugestões de Satanás nem sob qualquer
representação visível ou de qualquer outro modo não prescrito
nas Santas Escrituras. (Capítulo XXI.1)
Onde a Bíblia ensina isso? Certamente, a ideia é apresentada nas
prescrições para adoração bastante detalhadas em Êxodo 25-40 e Levítico,
mas também nas seguintes passagens:
· Caim e Abel (Gn 4.3-8) — esta foi a primeira “guerra de
adoração”. Abel oferece das primícias do seu rebanho e da
gordura deste, enquanto Caim oferece do fruto da terra. O
Senhor agradou-se […] de Abel e de sua oferta; ao passo que de
Caim e de sua oferta não se agradou. Por quê? A repreensão do
Senhor, Se procederes bem, não é certo que serás aceito? implica
em que ou o espírito ou a verdade da oferta era deficiente. Ou era
uma oferta desautorizada ou uma oferta autorizada oferecida com
um motivo corrupto.
· O segundo mandamento (Ex 20.4) — ao proibir a adoração por
meio de imagens, Deus declara que somente ele determina como
deve ser adorado. Embora o uso de imagens possa ser sincero e
sensível (como auxílio para a adoração), elas não lhe agradam e,
por implicação, também não lhe agrada qualquer coisa que ele
não tenha sancionado.
· O bezerro de ouro (Ex 32) — provavelmente uma representação
de Jeová (veja vv. 4,5,8), mas de todo inaceitável para uso no
culto, porque não é autorizado.
· Nadabe e Abiú (Lv 10) — oferecem fogo estranho ao Senhor, isto
é, uma oferta oferecida de uma forma que [Deus] lhes não
ordenara (10.1), e Deus os consumiu. Fazendo isso, Deus fez um
pronunciamento para os tempos — Mostrarei a minha santidade
naqueles que se cheguem a mim… (10.2,3), o que pode apenas
significar que aqueles que se achegam a Deus devem fazê-lo de
uma maneira consistente com o que ele tem ordenado.
· Advertências para nada adicionar ou subtrair dos mandamentos
de Deus (Dt 4.2, 12.32).
· A rejeição da adoração ilícita de Saul, e o princípio de que o
obedecer é melhor do que o sacrificar (1Sm 15.22). Obediência a
quê? Obediência aos mandamentos de Deus referentes à
adoração.
· A rejeição de ritos pagãos que nunca lhes ordenei, nem falei,
nem me passou pela mente (Jr 19.5, 32.35).
· A rejeição de Jesus à adoração farisaica, citando as palavras de
Isaías, que disse: E em vão me adoram, ensinando doutrinas que
são preceitos de homens (Mc 7.7; cf. Mt 15.9, Is 29.13).
· A rejeição da adoração samaritana por Jesus, uma vez que Jesus
diz à mulher: Vós adorais o que não conheceis (Jo 4.22).
“Verdadeira” adoração é impossível para eles enquanto
imaginarem sua própria adoração. Adoração que é em verdade
baseia-se no conhecimento do que Deus ordenara.
· A rejeição do que os antigos teólogos chamavam de “culto
voluntário”, traduzido em uma versão moderna de Colossenses
como mandamentos e ensinos humanos… com sua pretensa
religiosidade, falsa humildade e severidade com o corpo (Cl
2.22,23 NVI).
· A regulação da oração, dos cânticos, da pregação, da Ceia do
Senhor, do papel das mulheres e a insistência em ordem e decoro
em 1 Coríntios 11-14, assim como a insistência em prática
universal e uniforme (1Co 1.2; 4.17; 11.16; 14.33; Ef 4.4ss).
Essa é apenas uma amostra de passagens, e outras poderiam ser
citadas. Com toda a clareza, ensinam que em nossa adoração não somos
livres para improvisar. Calvino alerta contra as “armadilhas da novidade”.
Mas o princípio regulador encontra-se firmado não apenas nos “textos
provas” acima, é, porém, a implicação necessária dos princípios
fundamentais da teologia reformada.[32] A rejeição do princípio regulador
necessariamente envolveria comprometer doutrinas centrais da fé
reformada. Considere o seguinte esboço, sugerido primeiro nos escritos de
T. David Gordon:
Exemplo prático
Aqueles que presenciam um culto de adoração reformado e
tradicional ouvirão um uniforme fluxo de conteúdo bíblico. Serão
chamados à adoração com um chamado bíblico tal como o Salmo 95:
Vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do SENHOR, que
nos criou. Ele é o nosso Deus, e nós, povo do seu pasto e ovelhas de
sua mão. Hoje, se ouvirdes a sua voz… (Salmos 95.6,7)
De abertura, cantarão um hino de louvor, rico em vocabulário e
temas bíblicos. Ouvirão uma invocação que ecoa a linguagem do louvor
bíblico como se vê em 1 Timóteo 1.17 e 6.15-16:
… ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e glória pelos
séculos dos séculos. [o] bendito e único Soberano, o Rei dos reis e
Senhor dos senhores; o único que possui imortalidade, que habita em
luz inacessível, a quem homem algum jamais viu, nem é capaz de ver.
A ele honra e poder eterno!
Recitarão um resumo da doutrina bíblica na linguagem de um dos
credos históricos. Escutarão o vocabulário bíblico das confissões, ações de
graça e intercessão na “oração pastoral”. Uma porção significativa de
cada testamento será lida, e um Salmo completo (ou uma seção grande de
um Salmo mais longo) será cantada. O sermão será uma exposição da
Escritura. O hino de encerramento, como o de abertura, será rico em alusão
e vocabulário bíblicos. Finalmente, escutarão uma bênção bíblica, como a
bênção de Arão:
É o que Jesus diz: porque Deus é espírito, a adoração não deve ser
apenas em verdade, mas também em espírito. Lembre-se de que Jesus está
respondendo ao debate suscitado pela mulher samaritana, cuja pergunta é
se alguém deveria adorar neste monte ou em Jerusalém (João 4.20), em
nosso espaço ou no seu, e, por implicação, segundo este ritual ou aquele? A
samaritana está preocupada com os aspectos externos da adoração. Em
relação ao verdadeiro conteúdo e à forma de adoração, Jesus se posiciona
ao lado dos judeus (e da revelação bíblica): — Vós adorais o que não
conheceis… (João 4.22). Entretanto, e quanto a lugar, local, espaço? Isso
agora é irrelevante. “Nenhum”, ele diz (v.21). O lugar da adoração assim
como os outros aspectos externos da adoração não são mais o problema. Se
o prédio e o local são insignificantes, então o que é significante? Questões
internas são. Além de ser bíblica em estrutura e conteúdo, a adoração
também deve ser conduzida no “espírito” correto. Ela é oferecida em nome
de Jesus, que é a verdade (João 14.6), e no poder do Espírito Santo, fora do
qual ninguém pode dizer que Jesus é Senhor (1 Coríntios 12.3). As
questões internas da adoração, a intenção, a motivação, a intensidade, a
sinceridade, a reverência são preocupações críticas.
Agora estamos acrescentando algo ao princípio regulador? De
forma nenhuma. Pelo contrário, o princípio regulador preocupa-se com
mais que a verdade. Nós, que nos importamos bastante com a exatidão
formal, precisamos tomar cuidado com isso. O próprio fato de que poucas
pessoas atualmente importam-se com a exatidão formal significa que
aqueles que se preocupam, em reação às banalidades que os rodeiam, estão
vulneráveis ao problema de fazer da exatidão um ídolo. Citando Isaías, que
o fez antes dele, Jesus condenou os líderes religiosos de sua época:
Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de
mim. (Mateus 15.8)
O que diziam era bom. No entanto, seus corações estavam “longe”
e, consequentemente, eles adoravam “em vão”. A forma e o coração da
adoração devem ser corretos.
A adoração do Novo Testamento, impelida e inspirada pelo Espírito
Santo, será predominantemente espiritual e interna em aspectos em que a
adoração do Antigo Testamento não era. Aqui estão as diferenças.
Interna ou do coração
Primeiro, a adoração que é em espírito vem do coração. Porque é
espírito, Deus deve ser adorado espiritualmente, internamente, a partir do
coração. Quando cantamos, estamos entoando e louvando de coração ao
Senhor (Efésios 5.19, cf. Colossenses 3.16). O que é verdade para o canto é
verdadeiro para todos os elementos. Verdadeira adoração não é questão de
locais sagrados, mas da condição espiritual do coração. A presença de Deus
está nos céus. Não há edifícios santos, lugares santos ou coisas santas por
meio das quais a bênção de Deus é exclusivamente mediada. A Palestina
não é uma “Terra Santa” onde Deus está mais presente que em outros
lugares. Nosso lugar de adoração não é a “Casa de Deus” ou um
“santuário”, como se Deus estivesse mais presente ali que em outros locais.
Deus não fez promessas de transmitir sua bênção em conexão com o local
de adoração. As gerações anteriores ajustaram suas terminologias de
acordo com isso. O novo edifício da Igreja Presbiteriana Independente de
Savannah (Geórgia, EUA), à época de sua dedicação em 1891, nunca foi
chamado de “santuário”. Eles chamaram de “prédio da igreja” ou “casa da
igreja”. Deus habita em seu povo. Eles são as pedras que vivem que se
tornam uma casa espiritual para Deus (1Pe 2.5, cf. Ef 2.19-22). A
construção só se torna uma casa para Deus quando o povo de Deus está
presente dentro dela. Isso parecia ser mais bem compreendido há cem anos
do que é hoje. O destaque para nós é que a adoração nunca pode ser uma
questão de levar nossos corpos para o prédio certo na hora certa para o
ritual certo.
“E quanto ao Antigo Testamento?” — repetidamente nos
perguntam. “Eles não tinham prédios santos, uma terra santa e símbolos
santos?”. Sim, de fato os tinham, e Jesus os aboliu. Por isso é crucial que a
natureza simbólica, tipológica e temporária da adoração do Antigo
Testamento seja compreendida. A Israel foram dadas imagens visuais das
realidades espirituais que seriam cumpridas em Cristo. Cordeiros eram
sacrificados. Incenso era queimado. Sangue, aspergido. Vestes sacerdotais
eram vestidas. Rituais de purificação, exigidos. Sendo anterior à
encarnação, a adoração do Antigo Testamento era proeminentemente
simbólica. Jerusalém, o templo, os sacerdotes, os altares, o incenso, as pias
e os sacrifícios fora, outrora, a questão central, porque por meio deles Deus
fornecia imagens do Cristo que viria. Contudo, esses tipos estimuladores
ou sensibilizadores foram superados pelo Antítipo, Cristo, o qual, tendo
vindo, é apreendido não por tipos permanentes, mas pela fé através de seu
retrato no evangelho. Os tipos, em outras palavras, eram por concepção
temporários e por necessidade inferiores à revelação do Antítipo no
evangelho.
Novamente, devemos ser cuidadosos para não exagerar. A diferença
está na ênfase. Os sacramentos do Novo Testamento também são
apresentações simbólicas do evangelho. São “sinais sensíveis” pelos quais
“Cristo e as bênçãos do novo pacto são representados” (Breve catecismo,
92). Não há nada de inerentemente errado com símbolos. Da mesma forma,
o Antigo Testamento não era privado de “espírito” e “verdade”. Defender o
contrário seria absurdo. É claro que havia grande preocupação com espírito
e verdade na adoração do Antigo Testamento. Os símbolos do Antigo
Testamento nunca foram fins em si mesmos, mas sempre foram designados
para apontar para o interno e o espiritual. O templo físico apontava para o
corpo de Cristo e para o templo espiritual, a igreja (João 2.21). Os
cordeiros sacrificais apontavam para o Cordeiro de Deus (João 1.29). O
sangue de touros e de bodes (que jamais poderiam remover o pecado)
apontavam adiante para o precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e
sem mácula, o sangue de Cristo (Hebreus 10.4, 1 Pedro 1.19). Os
sacerdotes e suas vestes apontavam para Cristo, nosso grande Sumo
Sacerdote (Hebreus 2.17,18). Os sacrifícios a Deus sempre têm
representado um coração compungido e contrito (Salmos 51.17).[46] As
várias ordenanças de purificação apontam para Cristo que nos purifica de
todos os nossos pecados (1 João 1.7,9). O adorador do Antigo Testamento
almeja que “tudo o que há em mim bendiga ao seu santo nome” (Salmos
103.1). Havia verdade e espírito no Antigo Testamento, mas não na escala
ou com a clareza do Novo.
Então, qual a diferença? É uma diferença de ênfase e proporção. O
Antigo Testamento estava repleto de símbolos em antecipação a Cristo.
Esses símbolos, por natureza, eram temporários. O Novo Testamento tem
apenas dois, o batismo e a Ceia do Senhor. A adoração do Novo
Testamento é em espírito, uma vez que não tem a ênfase em símbolos e
tipos como tinha a adoração do Antigo Testamento.
Os comentários de Calvino em João 4 são pertinentes:
Por essas palavras (isto é, em espírito) ele não pretende declarar que
Deus não foi adorado pelos patriarcas desse modo espiritual, mas
somente destacar uma distinção na forma externa, a saber, que
embora eles tivessem o Espírito vagamente representado por tantas
figuras, nós o temos em simplicidade.[47]
Jesus, então, está enfatizando a simplicidade e espiritualidade da
adoração do Novo Testamento em oposição à natureza simbólica e
tipológica do Antigo.
Às vezes, a igreja tem sucumbido à tentação de retornar à adoração
tipológica e tem concebido seus ministros como sacerdotes, seus prédios
como templos, a Mesa do Senhor como um altar e a Ceia do Senhor como
um sacrifício. Tem acrescentado lavagens, incenso, procissões e trajes
clericais. Por meio de rituais, cerimônias, arte, pompa, teatro, dança e, às
vezes, música, a igreja tem procurado estimular e inspirar a fé. Essa foi
exatamente a mentalidade da igreja medieval, para quem as imagens eram
“os livros dos ignorantes”. De acordo com Philip Schaff, o “drama
sagrado” era “promovido pelo clero e realizado primeiro na igreja ou nos
recintos da igreja”, tornando-se “em certa medida, um substituto medieval
para o sermão e a Escola Dominical”.[48] Essa substituição do papel
central que o sermão desempenhava na igreja primitiva foi um evento
desastroso na história da igreja, como toda tentativa de externar a adoração
cristã. Foi um passo em falso que as reformas de adoração do século XVI
foram concebidas para corrigir.
Vamos resumir nossa convicção. Por que se deve resistir a qualquer
movimento no rumo de volta à externalização da adoração cristã?
1. Os símbolos do Antigo Testamento eram temporários por
natureza. O templo e tudo ligado a ele pretendiam somente
preencher uma necessidade transitória. Eram figuras pouco
distintas do Messias até que sua glória fosse vista em Jesus Cristo
(João 1.14).
2. Símbolos, por natureza, são inferiores à revelação verbal. É por
isso que a igreja não tem “sacramentos mudos”, como J.A.
Motyer colocou. Os sacramentos sempre são acompanhados de
uma palavra de explicação. Não são autointerpretáveis.
Dependem da palavra sob aspectos em que a palavra não depende
deles. A lei cerimonial, diferente da revelação de Deus em Cristo,
é apenas uma sombra e não a imagem real das coisas (Hebreus
10.1). Cristo é a imagem real das coisas. O argumento do livro
de Hebreus é que a igreja não retorna aos símbolos e títulos de
Arão (Hebreus 3.12-4.13; 6.1-8; 7-10, esp. 10.26-31; 11.1-3).
Temos a substância, não precisamos da sombra. Não perca
tempo observando a sombra do nosso bendito Salvador quando
ele mesmo está diante de nós.
3. O acréscimo de símbolos aos dois instituídos por Cristo é uma
distração dos meios ordenados de graça. O que Hughes Old disse
sobre a atitude dos reformadores quanto ao batismo é válido para
todo o culto em geral: “Foi porque valorizaram tanto os sinais
divinamente dados que os reformadores tinham tal desdém por
aqueles símbolos de intervenção meramente humana que os
obscureciam”.[49]
4. Cultos dominados por símbolos e rituais anexos tenderão ao
formalismo. A ênfase nos símbolos e rituais externos em
adoração dirige a atenção do aspecto interno, o coração e suas
motivações, abrindo a porta para uma adoração rotineira, sem
alma e sem coração.
Símbolos, cerimônias e movimentos estranhos, inofensivos em si
mesmos, talvez até simbolicamente significativos aos olhos de muitos,
devem ser evitados se não são exigidos pela Escritura ou imediatamente
pertinentes ao próprio culto. Um cenário “visualmente elaborado”, diz
Godfrey, “interferiria em nossa elevação espiritual prendendo demais
nossas mentes à terra”.[50] O apóstolo Paulo fala de Jesus Cristo sendo
publicamente exposto como crucificado diante dos olhos dos gálatas
(Gálatas 3.1). Isso só poderia ser uma referência metafórica à pregação. O
evangelho lido e pregado é um retrato melhor de Cristo que qualquer
símbolo físico. Símbolos desautorizados desviam a atenção e o tempo
daqueles meios (inclusive dos símbolos ordenados) que Deus prometeu
abençoar. Lembre-se: a fé é a convicção das coisas que se não veem
(Hebreus 11.1)! Verdadeira fé vem por meio da palavra (Romanos 10.17).
Portanto, a verdadeira adoração deve ser primariamente (embora não
absolutamente) não material, não sensual e não simbólica. Na verdadeira
adoração, ascendemos a Deus no céu pela fé. Pela fé, apreendemos Deus
em seu trono de graça e o adoramos ali. Pela fé, vemos Cristo em seu
evangelho.
Adoração que é em espírito vem do coração. Como temos
observado, aqueles entre nós que mais se preocupam com a correção na
adoração nunca devem perder de vista o alvo da adoração: comunhão com
Deus Pai, Filho e Espírito Santo. O que estamos fazendo na adoração?
Estamos “achegando-nos” a Deus (Hebreus 4.15,16; 10.16-22). Estamos
entrando em sua presença (Tiago 4.8-10). Estamos buscando-o e
invocando-o (Isaías 55.6). Nossa grande paixão é encontrar-nos com nosso
Deus. Nossa perspectiva deve ser a do salmista:
Uma coisa peço ao SENHOR, e a buscarei: que eu possa morar na
Casa do SENHOR todos os dias da minha vida, para contemplar a
beleza do SENHOR e meditar no seu templo. (Salmos 27.4)
O que o salmista busca acima de tudo? Que possa morar na Casa
do SENHOR e contemplar a beleza do SENHOR. Escute outra vez:
Ao meu coração me ocorre: Buscai a minha presença; buscarei, pois,
SENHOR, a tua presença. (Salmos 27.8)
É ao próprio Deus que o salmista busca por meio das formas de
adoração do Antigo Testamento. Os santos do Antigo Testamento ansiavam
pela presença pessoal de Deus mesmo em e através de seu sistema
tipológico.
Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó
Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do
Deus vivo. (Salmos 42.1,2)
Ó Deus, tu és o meu Deus forte; eu te busco ansiosamente; a minha
alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, como terra árida, exausta,
sem água. Assim, eu te contemplo no santuário, para ver a tua força
e a tua glória. Porque a tua graça é melhor do que a vida; os meus
lábios te louvam. Assim, cumpre-me bendizer-te enquanto eu viver;
em teu nome, levanto as mãos. Como de banha e de gordura farta-se
a minha alma; e, com júbilo nos lábios, a minha boca te louva, no
meu leito, quando de ti me recordo e em ti medito, durante a vigília
da noite. Porque tu me tens sido auxílio; à sombra das tuas asas, eu
canto jubiloso. A minha alma apega-se a ti; a tua destra me ampara.
(Salmos 63.1-8)
Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza
na terra. Ainda que a minha carne e o meu coração desfaleçam,
Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança para sempre.
Os que se afastam de ti, eis que perecem; tu destróis todos os que são
infiéis para contigo. Quanto a mim, bom é estar junto a Deus; no
SENHOR Deus ponho o meu refúgio, para proclamar todos os seus
feitos. (Salmos 73.25-28)
Quão amáveis são os teus tabernáculos, SENHOR dos Exércitos! A
minha alma suspira e desfalece pelos átrios do SENHOR; o meu
coração e a minha carne exultam pelo Deus vivo! Bem-aventurados
os que habitam em tua casa; louvam-te perpetuamente. Pois um dia
nos teus átrios vale mais que mil; prefiro estar à porta da casa do
meu Deus, a permanecer nas tendas da perversidade. Porque o
SENHOR Deus é sol e escudo; o SENHOR dá graça e glória; nenhum
bem sonega aos que andam retamente. Ó SENHOR dos Exércitos, feliz
o homem que em ti confia. (Salmos 84.1,2,4,10-12)
Observe a paixão com que o salmista busca por Deus,
particularmente na adoração pública e por meio dela (cada um dos salmos
acima faz referência ao local da adoração pública). O salmista tem sede,
busca ansiosamente, almeja e apega-se. A graça de Deus para ele é melhor
do que a vida. Além de Deus, não há outro em quem ele se compraza na
terra. Estar junto a Deus para ele é bom. Os tabernáculos de Deus são
amáveis e ele suspira e desfalece por eles. Saboreie essa linguagem
profundamente experiencial e não se contente com menos. Venha a Deus
em Cristo e alimente-se do Pão da Vida; sacie a sede da alma com a Água
Viva (João 6.35; 7.37).
Esse é o nosso alvo semana após semana em nossos cultos de
adoração. Estamos adorando a Deus no céu a quem, pelos olhos da fé,
vemos ali em toda a sua glória. É por isso que enfatizamos a preparação
para o culto. Nossos corações devem ser retos. A fé tem importância
crítica. Não vá para o culto no último minuto. Não pense que tudo que
alguém precisa fazer é colocar seu corpo no prédio certo, na hora certa e
onde se está cumprindo o ritual certo. Chegue cedo. Ore para que seu
coração esteja numa condição receptiva. Prepare-se para ver Deus pela fé.
Deus deve ser adorado em espírito, no espírito certo, com a atitude correta.
Simples
Segundo, a adoração que é em espírito é simples. A adoração do
Novo Testamento é destituída de complexidade cerimonial e processual.
Isso segue de perto tudo o que temos visto até agora sobre adoração
espiritual e bíblica. Ela é simples. Nela não há Jerusalém, não há Templo,
nem instruções levíticas. Ao afirmar isso, desejamos esclarecer o que não
queremos dizer. Alguma vezes, argumenta-se que porque não há um Livro
de Levítico, isto é, nenhum conjunto elaborado de instruções processuais
para adoração no Novo Testamento, então Deus concedeu à igreja a
liberdade de adorar conforme ela considerar apropriado. “A resposta de
Calvino” para esse argumento, diz Godfrey, “seria que a ausência de um
livro levítico no Novo Testamento reflete mais a simplicidade da adoração
da igreja em Cristo que a liberdade criativa… o Novo Testamento é pleno
e completo como guia e justificativa para a adoração simples dos filhos de
Deus no Espírito. No Novo Testamento não se dá mais liberdade para
inventar formas de adoração do que foi dada no Antigo”. [51]
Instruções detalhadas no Novo Testamento seriam apropriadas se a
adoração do Novo Testamento pretendesse ser elaborada em ritual, rica em
simbolismo e complexa em procedimento. Isso era válido para as
instruções levíticas do Antigo Testamento que prenunciavam Cristo. Era
exigido dos sacerdotes que cumprissem suas ministrações por meio de
ritual, simbolismo e procedimentos detalhados. Lembremo-nos do que
estava envolvido. O Antigo Testamento exige conformidade precisa a
detalhes extensivos e particulares quanto aos aspectos externos da
adoração. Entre eles, incluem-se os seguintes:
· As dimensões do tabernáculo/templo (Êxodo 26-27; 1 Reis 6-7; 2
Crônicas 3)
· A mobília do tabernáculo/templo, incluindo as cortinas (Êxodo
26.1-14), tábuas e encaixes (Êxodo 26.15-30), a arca da aliança
(Êxodo 25.10-22), a mesa dos pães da proposição (Êxodo 25.23-
30), o candelabro de ouro (Êxodo 25.31-40; Números 8.1-4), o
véu e o reposteiro (Êxodo 26.31-37), o altar de bronze (Êxodo
27.1-8; cf. 1 Reis 6; 2 Crônicas 4).
· Vestes sacerdotais, incluindo peitoral, estola, sobrepeliz, túnica,
mitra e cinto (Êxodo 28,30).
· Detalhes rituais, incluindo a consagração dos sacerdotes (Êxodo
29.1-9; Levítico 8; Números 8.1-22), os sacrifícios (Êxodo 29.10-
30; Levítico 16.1-17.16; Levítico 1-7; Números 28,29), o incenso
(Êxodo 30.1-21, 34-38), os benefícios sacerdotais (Êxodo 29.31-
37), o óleo da unção (Êxodo 30.22-25), os animais sacrificiais
(Levítico 22.17-33) e outra regulações sacerdotais (Levítico 21.1-
22.16).
· Um cronograma de ofertas regulares, incluindo as diárias, pela
manhã e ao pôr do sol (Êxodo 29.38-46; Números 28.1-8), o
Shabbat semanal (Números 28.9,10) e ofertas mensais (Números
28.11-15).
· Um calendário de dias santos, incluindo a Páscoa (Levítico
16.29-34, 23.5; Números 28.16), a Festa dos Pães Asmos
(Levítico 23.6-8; Números 28.17ss), primícias (Levítico 23.9-25;
Números 28.16ss), Dia da Expiação (Levítico 23.26-32; Números
29) e Tabernáculos (Levítico 23.38-44).
Não há nada paralelo a isso em parte nenhuma do Novo Testamento.
As ordenanças neotestamentárias mais próximas que poderíamos apontar
seriam os sacramentos da Ceia do Senhor e do batismo. Mas, ainda assim,
não encontramos nada como os detalhes processuais encontrados no Antigo
Testamento. Escute apenas uma pequena parte do que era exigido de Arão e
dos sacerdotes no oferecimento de sacrifícios expiatórios.
Entrará Arão no santuário com isto: um novilho, para oferta pelo
pecado, e um carneiro, para holocausto. Vestirá ele a túnica de linho,
sagrada, terá as calças de linho sobre a pele, cingir-se-á com o cinto
de linho e se cobrirá com a mitra de linho; são estas as vestes
sagradas. Banhará o seu corpo em água e, então, as vestirá. Da
congregação dos filhos de Israel tomará dois bodes, para a oferta
pelo pecado, e um carneiro, para holocausto. Tomará também, de
sobre o altar, o incensário cheio de brasas de fogo, diante do SENHOR,
e dois punhados de incenso aromático bem moído e o trará para
dentro do véu. Porá o incenso sobre o fogo, perante o SENHOR, para
que a nuvem do incenso cubra o propiciatório, que está sobre o
Testemunho, para que não morra. Tomará do sangue do novilho e,
com o dedo, o aspergirá sobre a frente do propiciatório; e, diante do
propiciatório, aspergirá sete vezes do sangue, com o dedo. (Levítico
16.3-5, 12-14, etc.)
Então entrará… e vestirá… banhará… tomará…, etc. Seria possível
dar instruções semelhantes no Novo Testamento. Seria possível ordenar aos
ministros que começassem os cultos aspergindo água benta, acendendo
incenso, ajoelhando-se três vezes para o oriente enquanto fazem o sinal da
cruz e falam o “Pai Nosso”. Todo um calendário de festivais e dias santos
paralelo ao do Antigo Testamento poderia ter sido dado. Em outras
palavras, um ritual para achegar-se a Deus, com procedimento definido,
rico em simbolismo, ligado ao calendário, poderia ter sido entregue. No
entanto, não há nada disso. Por outro lado, isso não significa que a igreja é
livre para fazer da adoração o que quiser. Significa que nossa adoração
deve ser simples, direta, sem rituais elaborados, desprovida de
procedimentos complexos, livre do calendário e dos ciclos da natureza, e
limitada somente ao uso daqueles símbolos instituídos por Cristo, a Ceia do
Senhor e o batismo.
A invenção de um culto sobrecarregado de ritual, simbolismo e
procedimentos por parte da igreja é um assalto à intenção de Deus de que a
nossa adoração seja simples; e é retornar às sombras do Antigo Testamento.
Não siga esse rumo. Não reviva pompa e circunstância das liturgias
medievais. Nem abrace as extravagâncias de alta voltagem da adoração
contemporânea. Não crie um sacerdócio de técnicos, artistas e atores.
Nossa adoração é simples e, portanto, universalmente válida. Pode ser
conduzida e desfrutada em qualquer lugar, a qualquer tempo, qualquer que
seja a renda, educação ou avanço tecnológico dos envolvidos. Pode ocorrer
num iglu no Alaska, numa cabana de palha no Congo ou numa grande
catedral em Paris. Deus pode não ser adorado em Samaria ou Jerusalém.
Repetimos a implicação de Hebreus 8-10. As ordenanças levíticas eram
figura e sombra das coisas celestes, mas Cristo obteve ministério tanto
mais excelente (8.5,6). A própria entrada de Cristo no céu, e não no templo
terreno, figura do verdadeiro, necessariamente significa a abolição da
antiga figura (9.23ss). A Lei, diz o autor de Hebreus, tem sombra dos bens
vindouros, os quais vieram em Cristo (10.1):
Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo
sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou
pelo véu, isto é, pela sua carne, e tendo grande sacerdote sobre a
casa de Deus, aproximemo-nos, com sincero coração, em plena
certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e lavado
o corpo com água pura. (Hebreus 10.19-22)
Seu argumento é que não devemos retornar aos símbolos, rituais e
procedimentos complexos pelos quais o povo de Deus se achegava a Deus
no Antigo Testamento. Essa forma de adoração foi abolida em Cristo, que
executou todas as tarefas sacerdotais e sacrificiais em nosso favor, de uma
vez por todas. Nosso caminho é um novo e vivo caminho de achegar-se.
Nossos sacrifícios são sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que
confessam o seu nome, não um sacrifício material seguindo o procedimento
prescrito sobre um altar (Hebreus 13.15). Os vislumbres da adoração da
igreja que o Novo Testamento fornece apoiam esse ponto. Os cristãos
primitivos perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no
partir do pão e nas orações (Atos 2.42). Não tentavam imitar os cultos
elaborados do templo. “Não se apropriaram do cerimonial rico e suntuoso
do Templo”, destaca Hughes Old, “mas de um culto da sinagoga, mais
simples, com sua leitura da Escritura, seu sermão, suas orações e sua
salmodia”.[52] Seus cultos eram simples cultos da palavra, sacramentos e
oração. Assim devem ser os nossos.
Um dos “estilos” de pregação fornece um estudo de caso sobre
como a igreja primitiva entendia o princípio da simplicidade. Abordando os
gregos do primeiro século por seus floreios retóricos excessivos, o apóstolo
Paulo argumenta que a simplicidade do evangelho exige embalagem
simples, para que os meios de apresentação não contradigam a mensagem.
Porque não me enviou Cristo para batizar, mas para pregar o
evangelho; não com sabedoria de palavra, para que se não anule a
cruz de Cristo. (1 Coríntios 1.17)
“Sabedoria” de palavra, isto é, a mensagem vestida de técnicas
sofisticadas dos oradores gregos que “anulariam” a cruz. Pense em
versículos bíblicos colados em máquinas de caça níqueis de Las Vegas ou
um pedido de casamento enviado por e-mail. Marshall McLuhan está certo:
o meio é a mensagem. O meio pode gritar tão alto que a mensagem é
ocultada. O apóstolo Paulo empregou um estilo simples apropriado a uma
mensagem simples:
Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho
de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. E
foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós. (1
Coríntios 2.1,3)
Seu estilo simples de proclamação era apropriado à mensagem
simples do “Cristo crucificado”:
Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este
crucificado. (1 Coríntios 2.2)
Ele era cuidadoso na pregação simplesmente porque só um estilo
simples de palavra realçaria a simplicidade da mensagem, enquanto um
estilo sofisticado a enfraqueceria:
A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem
persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de
poder… (1 Coríntios 2.4)
Quando os incrédulos viessem ao arrependimento e à fé, não seria
porque o pregador fosse teoricamente sábio, nem porque pregasse com
ostentação de linguagem ou de sabedoria ou em linguagem persuasiva de
sabedoria. Pelo contrário, seu estilo simples deixava a demonstração do
Espírito e de poder à vista de todos.
… para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim
no poder de Deus. (1 Coríntios 2.5)
Quando o estilo de pregação é simples, a resposta positiva da fé não
é resposta a um homem e a seus dons, seu charme, seu poder de persuasão
terreno, mas ao Espírito.
Escute o apóstolo Paulo mais uma vez contrastar astúcia e a clara
manifestação da verdade à consciência de todo homem:
Pelo que, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi
feita, não desfalecemos; pelo contrário, rejeitamos as coisas que, por
vergonhosas, se ocultam, não andando com astúcia, nem adulterando
a palavra de Deus; antes, nos recomendamos à consciência de todo
homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade. (2
Coríntios 4.1,2)
A pregação do evangelho não exige truques. É a simples
manifestação da verdade à consciência dos ouvintes. Se estamos certos em
citar a pregação como um estudo de caso em simplicidade, então é possível
observar as implicações para cada elemento da adoração e para todo o
culto. Tudo na nossa adoração deve ser simples. Nada deve ser “sábio”.
Nada deve chamar atenção para a erudição, a sabedoria, a sofisticação, a
beleza, a complexidade do meio. Leituras simples (não melodramáticas),
pregações diretas (não extravagantes), oração sem adornos e canto
congregacional caloroso (não performances profissionais) são a
necessidade do dia.
Ironicamente, a necessidade de simplicidade torna tudo da liderança
do culto e da participação nele não menos, porém mais difícil. Os líderes
não podem ceder a processionais, incenso, liturgia, cerimônia e ritual ou a
shows de luzes, teatro, dança, bandas e apresentações multimídia. Os
participantes não podem sentar-se e aproveitar o “show” como uma
audiência perante a qual esses liturgistas ou técnicos apresentam-se.
Homens com profundidade de caráter e piedade são os únicos vasos por
meio dos quais adoração espiritual e simples fluirá. Mentes abertas e
corações espiritualmente sintonizados são o único tipo no qual ela será
recebida.
Reverente
Terceiro, a adoração em espírito é reverente. O espírito de adoração
é o espírito de reverência. Os santos devem adorar a Deus de forma que lhe
seja agradável, com reverência e temor (Hebreus 12.28, A21). A adoração
nunca deve ser conduzida em tom leviano ou frívolo. Quando oramos, não
oramos meramente Pai Nosso, mas Pai Nosso que estás nos céus,
santificado seja o teu nome. Nossa preocupação na oração e em todo o
nosso culto é que o nome de Deus seja honrado e reverenciado, ou
santificado, porque ele é o Pai nos céus. Verdadeira adoração sempre deve
ser séria, substancial, sólida, sóbria e reverente.
O que é reverência? A Bíblia não nos permite colocar nessa palavra
o conteúdo que quisermos. Reverência é temor justo. O que está faltando
em toda a atual discussão sobre adoração é uma avaliação do conceito
bíblico de “temor de Deus”. Sem dúvida, isso é central na espiritualidade
do Antigo Testamento. “É o fator religioso decisivo na piedade do Antigo
Testamento”, diz um acadêmico.[53] No Antigo Testamento, “a verdadeira
religião geralmente é considerada sinônimo de temor de Deus”, diz outro.
[54] O temor (hebraico yare) do Senhor é o primeiro sinal da verdadeira fé
(Êxodo 14.31) e é o princípio da sabedoria (hebr. yirah; Provérbios 1.7;
Salmos 111.10). Os olhos do Senhor estão sobre aqueles que o temem
(Salmos 33.18); ele acampa ao redor deles e nada lhes falta (Salmos
34.7,9); sua misericórdia é grande para com eles (Salmos 103.11); ele se
compadece deles (Salmos 103.13); abençoa-os (Salmos 128.1); acode à
vontade deles (Salmos 145.19); e agrada-se deles (Salmos 147.11). Embora
não seja terror, esse temor também não é uma apreciação meiga. Há um
temor que é “devido” a Deus (Salmos 90.11). Então, aqueles que temem a
Deus com temor justo também devem “tremer”. O homem aprovado por
Deus é o aflito e abatido de espírito e que treme da [sua] palavra (Isaías
66.2). Ouvi a palavra do SENHOR, vós que tremeis diante da sua palavra
(Isaías 66.5, A21). No Salmo 96.9, Adorai o SENHOR na beleza da sua
santidade é paralelo de tremei diante dele, todas as terras. Adoração e
tremor andam lado a lado. Toda a terra é chamada para tremer diante do
nosso Deus (Salmos 77.18; 99.1; 104.32; Isaías 64.2; Jeremias 33.9).
Mesmo nossa alegria é com tremor.
Servi ao SENHOR com temor e alegrai-vos nele com tremor. (Salmos
2.11)
Outras expressões físicas de reverência também são descritas. Elas
também nos ajudam a entender seu significado. O salmista diz:
… e me prostrarei diante do teu santo templo, no teu temor. (Salmos
5.7b)
Porque o salmista teme (hebr. yirah) a Deus, ele se prostra.
Novamente, o salmista diz:
Vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do SENHOR, que
nos criou. (Salmos 95.6)
Prostrar-se e ajoelhar-se são respostas apropriadas para quem está
na presença de Deus (Salmos 138.2). Quando Deus passou diante de
Moisés, Curvando-se Moisés para a terra, o adorou (Êxodo 34.8).
Salomão prostrou-se quando orou (2 Crônicas 6.13), e todos os filhos de
Israel se encurvaram quando adoraram e louvaram o SENHOR (2 Crônicas
7.3). Da mesma forma, Esdras se pôs de joelhos em confissão, chorou
prostrado e, mais tarde, todos do povo inclinaram-se e adoraram o SENHOR,
com o rosto em terra (Esdras 9.5,6; 10.1 e Neemias 8.6).
Quando passamos para o Novo Testamento, há alguma mudança
significativa? Não. A piedade do Antigo Testamento, a piedade dos Salmos,
dos profetas e de Provérbios é a piedade do Novo Testamento, porém mais
intensa. Jesus assumiu essa continuidade ao dizer:
Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei,
antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o
corpo. (Mateus 10.28)
Embora isso não seja terror, o que Jesus recomendou é um temor
poderoso (gr. phobos). Ele também assumiu a continuidade ao Antigo
Testamento em sua parábola da viúva persistente, a qual interpelou um juiz
que não temia a Deus, nem respeitava homem algum (Lucas 18.1,2,4). O
Novo Testamento define o ímpio como o que não teme a Deus (Romanos
3.18), enquanto os cristãos são os que estão caminhando no temor do
Senhor (At os 9.31). O temor de Deus é regularmente invocado como uma
motivação para a vida cristã. Os cristãos estão aperfeiçoando a… santidade
no temor de Deus (2 Coríntios 7.1), sujeitando-vos uns aos outros no temor
de Cristo (Efésios 5.21) e portam-se com temor durante o tempo da [sua]
peregrinação. A última referência merece um exame:
Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga
segundo as obras de cada um, portai-vos com temor durante o tempo
da vossa peregrinação. (1 Pedro 1.17)
Aqui, os temas de filiação e temor são reunidos. Se o juiz é nosso
Pai, devemos conduzir-nos com temor (cf. Romanos 11.20; Colossenses
3.22; Hebreus 4.1; 1 Pedro 2.17)! De acordo com o último livro da Bíblia,
o céu é povoado por aqueles que temem a Deus (Apocalipse 11.18). O
chamado do evangelho e o chamado a adoração em Apocalipse são
chamados a temer a Deus (Apocalipse 14.7; 15.4; 19.5).
No Novo Testamento não há temor sem tremor, prostração e
genuflexão. O apóstolo Paulo diz:
Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na
minha presença, porém, muito mais agora, na minha ausência,
desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor. (Filipenses 2.12)
Temor e tremor estão ligados aqui e em todo o Novo Testamento
assim como no Antigo. Os coríntios são elogiados porque sua obediência
era acompanhada de “temor e tremor” (2 Coríntios 7.15; cf. 1 Coríntios
2.3; Efésios 6.5). Do mesmo modo, quando recebe uma visão de Cristo em
seu trono, o apóstolo João diz: Caí a seus pés como morto (Apocalipse
1.17). Paulo conclui a extensa oração que iniciou sua epístola aos Efésios
dizendo:
Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai. (Efésios 3.14)
Ele também promete que um dia:
… para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na
terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é
Senhor, para glória de Deus Pai. (Filipenses 2.10,11)
Finalmente, lemos que os 24 anciãos de Apocalipse prostrar-se-ão
diante daquele que se encontra sentado no trono e prostraram-se e
adoraram (Apocalipse 4.10; 5.14; cf. 5.8). Reverência no Antigo e no
Novo Testamentos é um temor piedoso, que pode ser expresso pelo tremor
e ao nos inclinarmos, nos prostrarmos e ajoelharmos.
Se não está preocupado com a postura, certamente Deus preocupa-
se com atitudes de coração que reflitam tais movimentos corporais. Alguns
autores querem evitar palavras como “sério” e “solene”, e defendem uma
atmosfera amigável, leve e informal para a adoração. No entanto, podemos
questionar “como seria possível fazer isso e ainda permanecer fiel ao
conceito bíblico de reverência”.[55] Como alguém descreveria o clima da
reunião quando os adoradores podem estar tremendo, ajoelhados, curvados
e prostrados diante do Todo Poderoso e seu ungido?
Que tal alegria? Isso depende do que se quer dizer por alegria. A
alegria cristã não é alegria de bar ou de campo de futebol, mas dos que
temem o Deus a quem amam. Novamente, pode ser útil fazer algumas
distinções. Mesmo no mundo dos esportes há uma diferença entre a alegria
demonstrada quando um gol é marcado e a expressada num banquete de
premiação dois meses depois. Nos dois casos, a emoção é alegria, mas a
maneira de expressá-la difere quando se passa de um contexto para o outro.
Da mesma forma, a alegria da adoração não é como a de uma arena. Não é
uma alegria expressa com “Toca aqui”, com pulos para cima e para baixo,
com gritos e urros. Certa ocasião, ouvi um pregador perguntar por que não
ficamos tão empolgados na igreja quanto ficamos em um estádio de
futebol. A resposta é que esse tipo de empolgação é inapropriada para o
culto público. Alegria doxológica é um tipo diferente de alegria. Deleite e
temor estão um do lado do outro no Salmo 112.1. Como acabamos de
salientar, a alegria cristã é compatível com o tremor (Salmos 2.11).
Presume-se que os 24 anciãos estavam cheios de alegria mesmo quando se
prostraram diante de Deus. De fato, prostração e alegria estão unidos na
experiência dos magos do oriente, que… alegraram-se com grande e
intenso júbilo. Prostrando-se, o adoraram (Mateus 2.10,11). Nossa alegria
é uma emoção profunda, semelhante à paz, experimentada num plano
desconhecido do mundo. Não é a empolgação barulhenta dos estádios, mas
alegria indizível e cheia de glória (1 Pedro 1.8). John Newton expressou-o
desta forma:
Salvador, se da cidade de Sião
Pela graça, um membro sou
Que o mundo zombe ou tenha dó
Em teu nome, me gloriarei:
Passageiro é o prazer do mundano
Toda sua pompa e ostentação;
Firme alegria e tesouro eterno
Só conhecem os filhos de Sião.[56]
“Pompa e ostentação” é o “prazer do mundano”. Ela desvanece
rapidamente. O mundo conhece apenas o prazer passageiro da empolgação
temporária. É experimentado por um momento e, então, desaparece.
Nossas alegrias são “firme alegria” que somente “os filhos de Sião”
experimentam. Em Liturgies of the Western Church [Liturgias da Igreja
Ocidental], Bard Thompson explica sobre a liturgia de Calvino que ela “era
dirigida soli Deo gloria, no mesmo estilo comedido e austero que moldou
toda a piedade calvinista”.[57] Nossa alegria é uma alegria reverente e
publicamente expressa com sobriedade. Demonstrações ostentosas de zelo
— seja gritando, levantando as mãos, pulando ou outras manifestações —
têm sido contidas em círculos reformados tanto por um senso do que é
apropriado em um culto público de adoração quanto pelo desejo de não
chamar atenção demais para si ou afirmar-se demais. Não oramos para
sermos vistos por homens, seja nas esquinas ou na reunião cristã. Somente
Deus deve ser glorificado (Mateus 6.1-18).
SÁBIA
Quarto, a adoração que é em espírito é sabiamente concluída.
Lamentavelmente, muito do mundo cristão evangélico está dividido entre
pragmatistas, prontos a livrar-se de todos os distintivos da adoração
histórica, pelo “sucesso” no ministério, e puristas, que vêm tentando tirar a
adoração tradicional dos séculos XVI e XVII, pura e inalterada, e
reintroduzi-la no século XXI. O necessário é uma nova geração de
“puristas pragmáticos”, líderes sábios e sensatos que defenderão a adoração
reformada, mas que prosseguirão reformando com sabedoria a adoração de
hoje. Precisamos de prudentes construtores que repudiarão os recursos
ligeiros de madeira, feno, palha e construirão somente a partir de
elementos ricos como ouro, prata, pedras preciosas (1 Coríntios 3.10-15).
Mas como prudentes construtores, procederão com cautela, sensibilidade e
discernimento.
A tolice manifesta-se nos dois lados da questão da adoração,
naqueles que seguem as tendências contemporâneas reduzindo o conteúdo
bíblico dos cultos públicos (com menos leitura, pregação, canto e oração
bíblicas) e naqueles que, em nome da adoração reformada, têm reinstituído
seus distintivos rápido demais e em quantidades indigestas. As
congregações dos primeiros morrem de fome com uma dieta de apenas
leite, enquanto as dos últimos estão engasgando com doses indigestas de
carne vermelha. Reforme a adoração “segundo as Escrituras”. Mas faça-o
com sabedoria.
Ao liderar a adoração, procure o tom e o andamento certo. Não se
apresse. Não se arraste. Seja reverente, não frívolo; alegre, não miserável.
Ao pregar, exponha um texto, não dê apenas uma palestra; ilustre o
sermão, mas não deixe que todo ele se torne narração de histórias; e tenha
como objetivo 30 minutos, não 15 (“sermõezinhos geram cristãozinhos”,
diz John Stott), e não 45 a 60 minutos. Por que não? Porque é insensato
pregar sermões curtos ou longos demais.
Ao orar (pensando aqui na tradicional oração pastoral), não barateie
a oração reduzindo-a a dois minutos, mas também não teste a paciência do
seu povo orando de 10 a 15 minutos.
Ao cantar, não cante músicas leves de acampamento ou encontros
de avivamento, mas também não sobrecarregue a congregação com hinos e
salmos pesados todos de uma vez. Proceda com discernimento e sabedoria.
[58]
4. Questões Finais
***
Então, onde isso nos deixa? Anos atrás, A. W. Tozer escreveu um
panfleto intitulado Adoração: a joia perdida da igreja evangélica. Nesse
panfleto lamentava a irreverência de muito do que se passava por adoração
nas igrejas conservadoras de sua época. Algumas continuam a empregar o
modelo do reavivalismo. Como as igrejas em que cresci, a “adoração”
consiste em cânticos levianos, tagarelice trivial, praticamente nenhuma
oração, nenhuma confissão de pecado, pouca leitura bíblica, um sermão
evangelístico, um apelo e adeus. Não é de fato um culto de adoração — é
um encontro de “avivamento”. Alguns pegaram esse mesmo formato e o
animaram, adicionando solos e produções de coral, e até teatro, esquetes,
shows de luzes e dança. Digo que é uma variação do mesmo tema porque a
audiência está na congregação, não no céu. Não importa o que se diga ao
contrário, a verdadeira intenção é apresentar-se para o povo, os
“interessados” (incluindo os crentes presentes no grupo), não para o
Senhor. Não é por isso que os aplausos tornaram-se lugar comum nesses
cultos? Não é porque nossas igrejas parecem mais teatros que igrejas?
A alternativa carismática é um pouco melhor, se isso for possível.
Ela encoraja as pessoas a buscarem o Senhor e deleitarem-se nele, de modo
que existe nelas uma dinâmica viva ausente nas igrejas conservadoras mais
sérias. No entanto, o estilo carismático pode ser descrito como
substantivamente não cognitivo. É comum que os louvores e as
consequentes reflexões sobre Deus sejam banais, repetitivos e carentes de
conteúdo sério. O que o adorador experimenta tenderá a ser superficial e
autocentrado. O indivíduo não é comovido tanto pela verdade, mas pelo
que sente, com a experiência tornando-se um fim em si mesmo. O que
também, a longo prazo, resultará em falência espiritual. É possível cavar
essa cisterna muitas vezes. Embora maravilhosa enquanto dure, finalmente
ela se seca.
Muitos jovens evangélicos e carismáticos criados nessas igrejas
estão deixando suas congregações e unindo-se a igrejas litúrgicas. O livro
de Colleen Carroll, The New Faithful [Os novos fiéis], documenta o
movimento rumo à ortodoxia religiosa entre um número substancial de
jovens.[60] Alguns estão “na trilha de Cantuária”, nas palavras de Robert
Weber. Outros têm-se unido a igrejas católicas romanas, e alguns até têm
seguido a liderança de um grupo de ex-membros da Cruzada Estudantil e
se juntado à Igreja Ortodoxa Grega, que agora tem uma “Diocese
Evangélica” destinada a acomodar evangélicos que desejam fazer a
transição para a ortodoxia. De fato, adoração como evangelismo, terapia ou
entretenimento é inadequada. Não alimenta a alma. Contudo, nem a
alternativa do ritual, o fará. Os “aromas e sons” das cerimônias da alta
igreja não produzirão fé profunda e, por fim, inibirão um profundo
conhecimento pessoal de Cristo. Num aspecto, é apenas outra forma de
entretenimento, de agradar os sentidos. É mais “religiosa” na forma, mas
tão questionável quanto em seus efeitos.
Qual a resposta? A adoração simples, espiritual e reverente da
herança calvinista; adoração na qual lemos, pregamos, oramos, cantamos e
vemos a Palavra. Só ela pode sustentar e alimentar a fé e a piedade
reformada. Aqui temos ordem sem sufocação, liberdade sem caos,
edificação sem entretenimento, reverência sem rito. O alvo da adoração
reformada é soli Deo gloria e, nisso, ela proporciona um formato no qual a
verdadeira adoração pode acontecer. Deus é o foco, não a humanidade. A
palavra de Deus determina a ordem da adoração, não as invenções e
tradições do homem. A glória então será dada somente a Deus!
5. Leitura Recomendada
Adoração
Davies, Horton. The Worship of the American Puritans. 1990; Morgan, PA:
Soli Deo Gloria Publications, 1999.
Pregação
Baxter, Richard. The Reformed Pastor. 1656, rprt; Edinburgh: The Banner of
Truth Trust, 1974.[62]
Gordon, T. David. Why Johnny Can’t Preach: The Media Have Shaped the
Messengers. Phillipsburg, New Jersey: P&R Publishing, 2009.
Murphy, Thomas. Pastoral Theology: The Pastor and the Various Duties of
His Office. 1977; Audubon, New Jersey: Old Paths Publications, 1996.
Olds, Hughes Oliphant. The Reading and Preaching of the Scriptures in the
Worship of the Christian Church, Volumes 1-7. Grand Rapids: Eerdmans,
1998-2010.
Still, William. The Work of the Pastor. Aberdeen: Didasko Press, 1976.
Leitura da Escritura
Johnson, Terry L. “The Ebb and Flow of Lectio Continua Bible Reading in
the English-Speaking Reformed Churches, 1539–2000” em The Hope
Fulfilled: Essays in Honor of O. Palmer Robertson, Robert L. Penny (ed.).
Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 2008.
Jussley, David. “Lectio Continua: The Best Way to Teach & Preach the
Bible.” The Banner of Truth Magazine. Issue 499, April 2005.
Old, Hughes O. The Reading & Preaching of the Scriptures in the Worship of
the Christian Church (Volumes 1-7). Grand Rapids: Michigan: Eerdmans,
1998–2000.
Oração pública
Henry, Matthew. A Method for Prayer, Duncan, III, J. Ligon (ed.). 1710;
Greenville, SC: Reformed Academic Press, 1994.
Salmodia/Hinódia
Calvin, John. Preface to the Psalter, 1543 in E. A. McKee (Ed.) John Calvin:
Writings on Personal Piety. New York: Paulist Press, 2001.[66]
Gordon, T. David. Why Johnny Can’t Sing Hymns: How Pop Culture
Rewrote the Hymnal. Phillipsburg, New Jersey: P&R Publishing, 2010.
Johnson, Terry L. “The History of Psalm Singing in the Christian Church,”
em Sing A New Song: Recovering Psalm Singing for the Twenty-First
Century, Joel R. Beeke and Anthony T. Selvaggio, eds. Grand Rapids,
Michigan: Reformation Heritage Books, 2010.
Psalms of the Trinity Psalter, Vols. I and II (CD), IPC Press, 1999, 2002.
Sacramentos
Old, Hughes Oliphant. The Shaping of the Reformed Baptismal Rite in the
Sixteenth Century. Grand Rapids: Eerdmans, 1992.
Também disponível:
[20] Frame repetidamente apela para a Grande Comissão como fator determinante para
regular a adoração (Worship, pp. 146-147, 150).
[21] Robert G. Rayburn, O Come Let Us Worship [Ó vinde adoremos] (Grand Rapids:
Baker House Books, 1980), pp. 15, 16.
[22] John Piper, Alegrem-se os povos: a supremacia de Deus em missões (São Paulo:
Cultura Cristã, 2000), p. 13.
[23] Carlos M. N. Eire, War Against the Idols [Guerra contra os ídolos] (Cambridge:
Cambridge University Press, 1986), pp. 2, 85.
[24] Ibid., p. 119.
47.6. O Senhor Jesus Cristo não prescreveu formas fixas para adoração pública mas, no interesse de vida
e poder na adoração, deu a sua igreja uma grande medida de liberdade no assunto. Não se pode esquecer,
contudo, de que só há verdadeira liberdade onde as regras da Palavra de Deus são observadas e o Espírito
do Senhor está; que todas as coisas devem ser feitas com decência e ordem; e que o povo de Deus deveria
servir a ele com reverência e na beleza da santidade.
52-4. Ministros não devem ficar limitados a formas fixas de oração para o culto público. Todavia, é
obrigação do ministro, antes de assumir seu cargo, preparar-se e qualificar-se para essa parte do seu
trabalho, assim como para a pregação.
63-3. A adoração familiar, que deve ser observada por todas as famílias, consiste em oração, leitura das
Escrituras e canto de louvores; ou nalguma forma mais breve de reconhecimento sincero de Deus.
T. David Gordon, “Some Answers Regarding the Regulative Principle”, Westminster Theological Journal, Vol. 55.2,
(outono de 1993), p. 326 n18.
[37] Prefácio ao Saltério em McKee, John Calvin’s Writings on Personal Piety [Escritos
de João Calvino sobre piedade pessoal], 1543.
[38] Os livros de John Frame são particularmente deficientes neste ponto. Ele gasta muito de seus esforços
defendendo essa ou aquela música ou prática, mas nunca investiga o quadro mais amplo. Não considera nunca a
trajetória. De onde viemos no mundo evangélico? Para onde estamos indo? É impossível proporcionar uma avaliação
adequada das partes sem considerar o todo.
[39] David Wells analisou o conteúdo teológico das 406 músicas dos dois mais populares cancioneiros da atualidade,
Worship Songs of the Vineyard [Canções de adoração da Vineyard] e Maranatha! Music Praise Chorus Book [Livro de
músicas de louvor da Maranatha!]. Comparou-as com os 662 hinos do The Covenant Hymnal [O hinário da aliança].
Sintetizou suas descobertas assim: “a grande maioria das músicas de louvor que analisei, 58,9 por cento, não apresenta
base doutrinária ou explicação para o louvor; na hinódia clássica analisada, foi difícil encontrar hinos que não
desenvolvessem e não fossem justificados por algum aspecto da doutrina” (ênfase minha). Ainda: importantes temas
bíblicos são amplamente ignorados. Por exemplo, o tema da igreja é encontrado em 1,2% das músicas; pecado,
arrependimento e desejo por santidade em 3,6%; a santidade de Deus em 4,3%. Losing Our Virtue [Perdendo nossa
virtude] (Grand Rapids: Eerdmans, 1998), p. 44.
[40] Hughes O. Old, Worship [Adoração], pp. 59, 60.
[41]É surpreendente o que Frame escreve: “não há mandamento bíblico específico, até onde sei, para termos
sermões no culto” (Some Questions, Westminster Theological Journal, vol. 54 (1990), p. 366 n 10). É possível
questionar um tipo de “biblicismo” que considera necessário fazer tal declaração. Onde em toda a Bíblia o povo
de Deus reúne-se e não há leitura e exposição da Escritura? (e.g. Dt 26.1ss; Ex 24.1-11; Ne 8.1-8; Lc 4.14-21; At
20.7ss; etc.). Para um esmagador argumento contra Frame neste ponto, veja Hughes O. Old, The Reading and
Preaching of the Scriptures in the Worship of the Christian Church [A leitura e pregação das Escrituras na
adoração da igreja cristã], Volumes 1-7 (Grand Rapids: Eerdmans, 1998-2010).
[42] Matthew Henry’s A Method for Prayer [Um método para oração], J. Ligon Duncan, III (ed.), (Greenville:
Reformed Academic Press, [1710] 1994); A Way to Pray [Uma forma de orar] (Edinburgh: Banner of Truth Trust,
[1710] 2010).
[43] Isaac Watts, A Guide to Prayer [Um guia para a oração] (reimpressão, Edinburgh: The Banner of Truth Trust,
[1715] 2001).
[44] Hughes Old, Leading in Prayer [Liderando em oração] (Grand Rapids: Eerdmans, 1995).
[45] É típico de Robert Webber e John Frame dizer coisas como essas. “Por séculos, o foco do pensamento
protestante sobre adoração tem sido no culto como um ato cerebral”, diz Webber. “O que fez da adoração adoração foi
o sermão” (Robert Webber, “Reaffirming the Arts” [Reafirmando as Artes], Worship Leader [Líder de adoração], vol.
8, nº 6, novembro/dezembro, 1999, p. 10). Também: Frame, Worship, pp. 77-78. Frame está preocupado com o fato de
os hinos tradicionais terem conteúdo bíblico/teológico demais. Por exemplo: “‘Brilha Jesus’ se sai muito bem contra
‘Of the Father’s Love Begotten’ [Gerado do amor do Pai]”, diz Frame, porque este “afirma muitas doutrinas rápido
demais para que chegue a ser de fato edificante” (Contemporary, p. 116). Por esse padrão, é de se supor que os Salmos
nunca pudessem ser cantados ou mesmo o livro de Romanos nunca pudesse ser lido (doutrinas demais passando muito
rápido). Com regularidade Frame enviesa seu argumento ao fazer referência ao “conteúdo intelectual” de músicas e
sermões em vez de referir-se ao conteúdo bíblico, o verdadeiro ponto em questão (Contemporary, p. 98ss).
[46] Talvez, um paralelo possa ajudar. Lemos no evangelho de João que “a lei foi dada por intermédio de Moisés; a
graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo”, não porque o Antigo Testamento fosse todo lei e completamente
destituído de graça e verdade, ou porque o Novo Testamento é todo graça e completamente destituído de lei, mas como
uma questão de ênfase (João 1.17). Evidentemente, havia graça e verdade antes. No entanto, havia mais ênfase sobre a
lei no Antigo Testamento e mais sobre a graça no Novo Testamento. Há mais verdade agora quando a verdade é mais
completa e clara em Cristo.
[47] Calvin, “On The Necessity of Reforming the Church” em Works , p. 128.
[48] Philip Schaff, History of the Christian Church [História da Igreja cristã], vol. 5 (1907; reimpressão, Grand
Rapids: W.B. Eerdman’s, 1947), p. 869.
[49] Hughes O. Old, The Shaping of the Reformed Baptismal Rite in the Sixteenth Century [A formação do rito
batismal reformado no século XVI] (Grand Rapids: Eerdman’s, 1992), p. 286.
[50] Robert W. Godfrey, “Calvin and the Worship of God”, p. 15.
[51] Ibid., p. 38 (ênfase minha).
[52] Old, Worship, p. 43.
[53] Colin Brown (ed.), The New International Dictionary of New Testament Theology [O novo dicionário
internacional de teologia do Novo Testamento], Vol. 1 (Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1975), p. 622.
[54] J. D. Douglas (ed.), The New Bible Dictionary [O novo dicionário bíblico] (Leicester, Inglaterra: InterVarsity
Press, 1962), p. 365.
[55] Frame não encontra “razão bíblica” para crer que os cultos de adoração devam ser conduzidos em uma
“atmosfera solene”. Ele reduz “dignidade” a “código para formalidade” e afirma que “em parte nenhuma, o Novo
Testamento ordena formalidade na adoração”. “Em suma”, ele diz, “parece-me que as considerações relevantes
favorecem um culto informal com uma atmosfera amigável e receptiva e estilos contemporâneos em linguagem e
música” (Worship, pp. 82, 84).
[56] “Glorious Things of Thee are Spoken”, Trinity Hymnal [Hinário Trindade] #345. [N. do T.: No Brasil, este hino
foi parcialmente traduzido e é conhecido como Grandes coisas, mui gloriosas].
[57] Bard Thompson, Liturgies of the Western Church [Liturgias da igreja ocidental] (Filadélfia: Fortress Press,
1961), p. 193.
[58] Para ler mais sobre liderança sábia no culto, veja Leading in Worship, pp. 15-18, 67-70, 103-104; The Pastor’s
Public Ministry [O ministério público do pastor], pp. 1-76.
[59] Frame, Worship, p. 131. Essa nos parece uma forma pouco humilde de referir-se ao ponto de vista de seus
oponentes teológicos.
[60] Colleen Carroll, The New Faithful: Why Young Adults Are Embracing Christian Orthodoxy [Os novos fiéis: por
que jovens adultos estão aceitando a ortodoxia cristã] (Chicago: Loyola Press, 2002); veja também Thomas C. Oden,
The Rebirth of Orthodoxy [O renascimento da ortodoxia] (Harper Collins Publishers, 2002).
[61] Publicado no Brasil sob o título “Entre os gigantes de Deus: uma visão
puritana da vida cristã”, pela Editora Fiel. [N. do E.]
[62] Publicado no Brasil sob o título “O pastor aprovado”, pela Editora. [N.
do E.]
[63] Publicado no Brasil sob o título “Pregação e pregadores”, pela Editora
Fiel. [N. do E.]
[64] Publicado no Brasil sob o título “Lições aos meus alunos”, três volumes,
pela Editora PES. [N. do E.]
[65] Publicado no Brasil sob o título “Eu creio na pregação”, pela Editora
Vida. [N. do E.]
[66] Disponível em http://goo.gl/BNYUgf. [N. do E.]