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ANÁLISE SOBRE A ÉTICA E A RESPONSABILIDADE SOCIAL DO PROFISSIONAL DE

CONTABILIDADE NA TOMADA DE DECISÃO


Estudos realizados por vários autores indicam que a contabilidade é um instrumento indispensável no
exercício da atividade econômica. Ela intervém na recolha, medição, registo e sumário dos dados económicos
para a determinação do património das organizações e na elaboração de relatórios e outros documentos que
servem de apoio na tomada de decisões. Dada a relevância deste setor para a empresa, o presente estudo tem
como objetivo analisar os princípios da ética e a responsabilidade social do profissional da contabilidade no
auxílio à gestão. Quanto à metodologia, trata-se de uma pesquisa qualitativa, tendo sido usadas as pesquisas
documental e bibliográfica, com recurso a fontes primárias e secundárias para o seu desenvolvimento. As
conclusões, baseadas na literatura e regulamentos da profissão contabilística, indicam que a atuação dos
contabilistas e auditores certificados deve pautar-se por princípios da ética, tais como a integridade,
independência, responsabilidade, competência, confidencialidade e lealdade profissional, e abster-se de atos
antiéticos que ponham em causa a dignidade da profissão. Sendo que a observância destes princípios permite
uma contabilidade alinhada com os princípios e características aceitos quer a nível nacional e internacional e,
por conseguinte, garante informações contabilísticas úteis, corretas que auxiliam a gestão na tomada de
decisões eficientes e eficazes.

PALAVRAS-CHAVE: Ética; Responsabilidade Social; Profissional de Contabilidade; Tomada de Decisão.

ABSTRACT

Studies carried out by various authors indicate that accounting is an essential tool when carrying out any
economic activity. It intervenes in the collection, measurement, registration and summary of economic data
for the determination of the assets of organizations and in the elaboration of reports and other documents that
are used to support decision making. Given the relevance of this sector to the company, this study aims to
analyze the principles of ethics and the social responsibility of the accounting professional in assisting
management. As for the methodology, it is a qualitative research, it adopts documentary and bibliographic
methods for data collection, and uses primary and secondary sources for its development. The conclusions
based on the literature and regulations of the accounting profession, indicate that the performance of certified
accountants and auditors should be guided by ethical principles such as integrity, independence,
responsibility, competence, confidentiality and professional loyalty and refrain from unethical acts that
jeopardize the dignity of the profession. The observance of these principles allows accounting in line with the
principles and characteristics accepted both nationally and internationally and, therefore, ensures useful,
correct accounting information that assists management in making efficient and effective decisions.

KEYWORDS: Ethics; Social responsibility; Accounting professional; Decision making.

1. Contextualização

No exercício das funções, os contabilistas e os auditores certificados devem orientar a sua


atuação pelos princípios da integridade, idoneidade, independência, responsabilidade,
competência, confidencialidade, equidade e lealdade profissional. (OCAM, 2014).

De acordo com este código, chama-se a atenção dos profissionais de Contabilidade e


Auditores no respeito pelas normas que devem reger a sua atuação no dia a dia da empresa.
Não há duvidas de que o profissional de contabilidade é aquele que conhece a saúde
económica e financeira da empresa. Dos vários itens que compõem uma empresa, um dos
mais importantes é o património que é objeto de atuação do contabilista. Deste modo, pode
se afirmar categoricamente que o contabilista é peça chave que contribui para sucesso ou
fracasso das empresas. Por isso este profissional é indispensável nas decisões da empresa.
No entanto, apesar de sua importância, nem todos os contabilistas tem atuado dentro das
normas éticas e deontológicas preconizadas não somente nos Códigos mas também sociais.

Até que ponto os profissionais da contabilidade actuam dentro das balizas preconizadas
pelo código que rege a profissão?

Qual é o nível de perceção que estes profissionais tem em relação a temática de ética e
deontologia profissional?

Qual é a qualidade de pareceres que emitem como condimentos para auxiliar na tomada de
decisão?

Qual é o nível de envolvimento do contabilista no processo de tomada de decisão?

Qual o grau de compromisso e comprometimento do profissional de contabilidade com a


sua profissão?
Estas questões só pode encontrar respostas quando se comparar a realidade empresarial e as
recomendações de várias literaturas e normas existentes.

O estudo pretende fazer uma radiografia da actividade contabilística na realidade


moçambicana comparando o que se sabe, a partir das redes sociais, médias e conversas e o
que está preconizado nos códigos de ética e conduta dos contabilistas a nível nacional e
internacional.

2. Objetivos

Geral

Analisar a ética e responsabilidade social do profissional de contabilidade nos processos de


tomada de decisão.
Específicos
Conceito de contabilidade
O homem sempre teve a premência do controlo sobre os seus pertences como forma de garantir a
sua existência. Segundo o Dicionário Online Priberam, a palavra “controlo” pode assumir vários
significados dentre as quais “exame municioso, fiscalização, verificação”. Assim, o acto de contar
tem como fundamento a verificação do estado do património. Embora os pressupostos originais da
contabilidade se tenham mantido ao longo dos séculos, a sua origem etimológica é contestada, tanto
pela língua Francesa (Contabilidade provém do Francês ‘comptabilité’ ver Ferraz, 2022:2); assim
como no Latim ( Contabilidade provém do Latim ‘computator’ br) ver origemdapalavra.com.
Evidentemente, se por um lado a essência do contar da contabilidade se manteve vincada ao longo
dos tempos, por outro lado, o contexto da sua aplicação esteve sempre por detrás das differentes
formas de definí-la. Para uma melhor compreensão do conceito contabilidade, o presente texto
recorre-se à cronologia de contabilidade avançada pelos proponentes Alexander (2002), Barreto
(--), Paris (2016). Nela, a evolução da contabilidade fica dividida em quatro períodos: Sendo que
nos períodos primitivo e medieval, o principal focus da contabilidade era de produzir informação
de forma genérica relativa ao património para o proprietário. Para os períodos moderno e
contemporâneo ou científico, a contabilidade evolui-se por forma a responder às grandes
transformações económicas motivadas por reformas, novas descobertas, avanços industriais e
tecnológicos.
Assim, segundo Zorzo (2021),
”Conceitualmente a contabilidade é uma ciência social que estuda, controla, administra e acompanha a
evolução do patrimônio de qualquer pessoa, objetivando representá-lo graficamente, evidenciando as suas
mutações, por meio das demonstrações contábeis”.

Neste posicionamento de Zorzo, o destaque está na recolha de informações úteis com enfoque no
património em termos qualitativos e quantitativos. Paralelamente, Aprato (--:2), para além de
salientar a importância de registo das informações referentes ao património, destaca que a
contabilidade tem outras funções tais como a ‘demostração’ou expositiva dos fatos patrimoniais e a
sua interpretação.
Por sua vez, Marion (2009:28), define a contabilidade, dando maior enfoque nos destinatários ou
utilizadores das informações contabilísticas. Ele aponta que,
“A contabilidade é um instrumento que fornece o máximo de informações úteis para a tomada de
decisões dentro e fora da empresa”.

Paralelamente, ACIS em cooperação com GTZ APSP e Deloitte (2010:13) define a contabilidade
Moçambicana como sendo:
“A contabilidade como processo de recolha, registo e interpretação de todas as transacções efectuadas
pelas entidades constitui a base de informação tanto para a gestão como para todos os agentes
económicos”.

Deste modo, das definições acima se pode concluir que a contabilidade é uma ferramenta de coleta
de informações económicas usada pelos contabilistas. Ela se faz por meio de medição monetária,
registos e sumários com a finalidade de auxiliar a tomada de decisões tanto a nível interno assim
como externo.
Outro aspecto importante diz respeito à especificação do tipo de informação produzida pelos
contabilistas e os destinatários desses dados económicos. Barreto (--), destaca que para além de
servir de suporte na tomada de decisões para gestores internos e de suporte das operações diárias da
empresa, a contabilidade, fornece informações para usuários externos e informações úteis para o
cumprimento das normas legais cabíveis.
Constituem gestores internos a administração e seus auxiliares. Os gestores externos (ibid.p.49),
 Investidores: é através dos relatórios contábeis que identifica a situação
econômicofinanceira da empresa.
 Fornecedores de bens e serviços: usam os relatórios para analisar a capacidade de
pagamento da empresa compradora.
 Bancos: utilizam os relatórios para aprovar empréstimos, limite de crédito Etc.
 Governo: não só usa os relatórios com finalidade de arrecadação de impostos, como
também para os dados estatístico, no sentido de melhor redimensionar a economia
(IBGE).
 Sindicatos: utilizam os relatórios para determinar a produtividade do setor, fator
preponderante para reajuste de salários.
 Outros interessados: funcionários (quer saber se a empresa tem condições de pagar seu
salário ou não), órgãos de classe, pessoas e diversos institutos, como CVM (Comissão de
Valores Mobiliários), CRC (Conselho Regional de Contabilidade), concorrentes etc.

A lei No. 70/2009, que estabelece o Plano Geral de contas Moçambicano, no Capítulo 1.2 alínea 5,
para além da periodicidade na apresentação da informação contabilística, especifica:
“As demonstrações financeiras são uma representação estruturada da posição
financeira e do desempenho financeiro de uma entidade.

E, adiante, no mesmo Capítulo alínea 7 faz um arolamento detalhado dos dados económicos
como sendo demostrações financeiras compostas por:
(a) um balanço;

(b) uma demonstração dos resultados durante o período contabilístico;

(c) uma demonstração das variações no capital próprio;

(d) uma demonstração dos fluxos de caixa durante o período contabilístico;

(e) notas explicativas, incluindo um resumo das políticas contabilísticas mais


significativas adoptadas e informação adicional; e

(f) um balanço no início do período comparativo mais antigo, no caso de uma


entidade aplicar uma política contabilística retrospectivamente ou efectuar uma
reexpressão ou reclassificação retrospectiva de itens das suas demonstrações
financeiras.

Na perspectiva Moçambicana, e segundo ACIS em cooperação com GTZ APSP e Deloitte


(2010:13), o quadro legal identifica os usuários de dados económicos nos seguintes termos:
“Fazem parte dos utilizadores das demonstrações financeiras, para satisfação de
diferentes necessidades de informação, os actuais e potenciais investidores,
empregados, financiadores, fornecedores, clientes, governos e seus departamentos e o
público em geral. Os principais requisitos para a apresentação”.
De igual modo a lei No. 70/2009, que estabelece o Plano Geral de contas Moçambicano, no
Capítulo 1.2 alínea 5, clarifica da importância dos referidos dados da seguinte forma:
O objectivo das demonstrações financeiras é o de proporcionar informação sobre a
posição financeira, o desempenho financeiro e os fluxos de caixa de uma entidade que
seja útil a um conjunto alargado de utilizadores quando tomam decisões económicas”.

Depois de analizar os diferentes conceitos atribuidos à contabilidade em diferentes contextos, o tipo


de dados económicos produzidos pelos contabilistas no exercício das suas actividades, a fase
seguinte, procura abordar alguns aspectos éticos que podem interferir na produção dos referidos
dados e compromenter a sua qualidade e consequentemente as decisões daí resultantes.

Ética social
A estabilidade e coesão nas sociedades humanas, das primitivas até as contemporâneas, se deve à
adoção, manutenção e cumprimento de regras de convivência social. São regras que descrevem os
comportamentos humanos ideais como sendo bons e os não desejados como sendo maus. A
compreensão e regulamentação desta dictonomia está em constante evolução, contudo, a sua
essência ‘o bem’ em oposição ‘do mal’ sempre permaneceu. Na vida quotidiana, é comum associar
ética com uma boa conduta. Sendo assim, para uma boa compreensão deste posicionamento, a
discussão sobre ética e suas implicações sociais se torna fundamental.

Segundo a e-Portal Educação (--),


“A palavra ética originou-se do grego “ethos”, que significa modo de ser, costume ou hábito. Esse
termo reflete o caráter e a natureza de cada indivíduo enquanto forma de vida adquirida ou
conquistada”

Desta definição pode-se destacar duas percepções, uma que se refere ao hábito ligado à moral e
outra que se refere a ética como norma. Evidentemente que a distinção entre ética e moral está
sugeita a debate. Por um lado as duas palavras são usadas como sinónimas e por outro outro lado
usadas com significados diferentes. Para Guilhemum (2008:9) as diferenças se derivam das
traduções feitas. Enquanto que em grego existe uma diferença entre ética e moral e a tradução da
ética para o latim dá origem a um significado. Assim, do ponto de vista grego, a moral se distingue
da ética porque ela representa o carácter; orienta as acções e julgamentos dos homens em torno do
bom ou mau, certo ou errado.
Macedo (2016) define a ética como sendo:
“um ramo da filosofia que se ocupa de esclarecer questões acerca da moral. Ética envolve
sistematizar, defender e recomendar os conceitos do que é um comportamento certo ou
errado”.

Neste contexto, a ética assume o carácter teórico. Ela abarca todo um conjunto de conhecimentos
que se pode deduzir da análise do comportamento humano. A ética sistematiza estes conhecimentos
e os transforma em regras morais universalmente aceites.
De igual modo, OCAM (2018:2) refere que “A ética prática é a aplicação da moral a questões
práticas”.
Se por um lado se tem uma reflexão ou um ideal do que deve ser a sociedade e como se deve
manifestar, por outro temos a prática ou seja, a moral. E como refere Andrade (2017:11),
“Moral são as regras que orientam os indivíduos no convívio diário na sociedade, norteando
suas ações e seus julgamentos sobre o que é moral ou imoral, certo ou errado, bom ou
mau”.

Portanto moral como comportamento, é composta por regras do dia a dia e usadas de forma
contínua pelos membros da sociedade. Cada indivíduo usa estas regras no seu quotidiano para
direccionar as suas acções e formular juizes sobre o agir correcto e o agir incorrecto na sociedade
onde está inserido.
A explanação das diferenças entre a ética e a moral é evidente. Neste momento, interessa discernir
os elementos que podem ser usados para se tirar conclusões tais como: o agir bem ou o agir mal.
Por conseguinte, para se encontrar um entendimento nesta matéeria, a discussão que se segue está
em torno dos valores e principios da ética aplicados à profissão.

Ética e deontologia profissional


Carapeto e Fonseca (2019:11) referem que a deontologia, deriva do grego deon ou deontos/logos e
significa o estudo dos deveres. A idéa dos deveres é também expressa por Macedo (2016:21)
quando afirma que a deontologia é a teoria dos deveres ou das obrigações. A ética está presente em
todos os aspectos da vida humana, incluindo as profissões, a seguir faz-se a análise dos deveres e
obrigações aplicados às profissões, em especial à contabilidade.
A terminologia pode variar, ética profissiona Neme e Santos (--:3), deontologia profissional
Macedo (2016:21), Código de ética profissional ou código das profissões, código de conduta
profissional; contudo, a sua essência mantem-se “normas de conduta explícitas e escritas, é uma
ética aplicada ao exercício da sua atividade”. De igual modo, Andrade (2017:31) salienta que a
“Ética profissional é o conjunto de normas éticas que formam a consciência do profissional e
representam imperativos de sua conduta”. A idéia de normas éticas aplicadas à profissão, é
igualmente partilhada pela OCAM (2018:3) que entre as várias acerções, destaca que a deontologia
são:
“Pautas de conduta específicas em assuntos que refletem a responsabilidade de uma profissão
para com a sociedade em geral, para com os clientes e para com os outros membros da
profissão”.

Ciente da falta de uniformidade entre os autores, pois cada autor se posiciona tendo em conta a um
determinado contexto histórico com suas exigências e o significado atribuido ao que se designa por
’certo ou errado’, ‘bem ou mal’, a abordagem a seguir estará centrada em torno dos valores e
princípios da ética aplicados à profissão.
Evidentemente, as normas ora mencionadas tem como finalidade a protecção dos valores sociais e
apresentam alguns valores e princípios éticos universais.
Os valores éticos garantem a harmonia e equilíbrio social pois, segundo Neme e Santos (--) “...
traduzem a existências humanas humanas mais felizes, mais realizadas, com mais bem-estar e
qualidade de vida”. A seguir, estas autoras (ibid. p.2), salientam dentre os vários valores da ética a
“dignidade, liberdade, autonomia e cidadania”.
O gersonmartins.jor.br (--:5) também apresenta uma lista de valores éticos sob ponto de vista de
Aristóteles composto por “Coragem, Temperança, Liberalidade, Magnanimidade, Mansidão,
Franqueza e Justiça”. Estes e tantos outros como a caridade, familia, pátria...pertencem à ética de
valores.
Se por um lado temos os valores éticos, por outro estamos em presença de comportamentos
antiéticos. O comportamento antiético não respeita as regras, os valores e princípios da ética da
sociedade onde ele ocorre. Andrade (2017:25) adianta que a origem destes comportamentos
antiéticos são os “vícios”(excessos ou ausência) em seguida, enumera os seguintes vícios: orgulho,
avareza, gula, luxúria, inveja, preguiça e ira. Estes vícios manifestam-se por meio de mentira,
ofensas, dishonra, violação, falsificação, desrespeito ao próximo ou de propriedade de uso comum.
Estas manifestações ferem de alguma maneira a integridade de pessoas da sociedade e suas
organizações. É, como foi discutido em parágraphos anteriores, tarefa da ética como ciência
identificar e sistematizar normas e códigos de conduta que protejam os valores e princípios éticos
das vicitudes.
Sendo a ética profissional constituida por normas de conduta que regulam as actividades de
profissionais das diversas actividades, a seguir são identificados e analisados alguns instrumentos
no contexto da contabilidade que contêm as referidas regras. Assim, salientam-se, dentre vários
instrumentos contabilísticos normativos, IFAC (2016), Código de Ética para Contabilistas
Profissionais, Resolução n.º 5/GB/2014- Código de Ética e Deontologia Profissional da Ordem dos
Contabilistas e Auditores de Moçambique (CDOCAM), OCAM (2018) Ética-5ª Edição,
International Ethics Standard Board for Accountants IESBA (2018) um Manual do Código
Internacional da Ética para Contabilistas Profissionais incluindo normas internacionais de
Independência, Soto (--) Código de Auditoria.
Todos estes códigos e normas de conduta profissional visam defender o interesse público adoptando
práticas comuns de âmbito nacional, regional e internacional. Numa era de economias
desenvolvidas e globalizadas,
“ A convergência para um único conjunto de normas pode melhorar a qualidade e a
coerência dos serviços prestados pelos contabilistas profissionais em todo o mundo e pode
melhorar a eficiência dos mercados de capitais globais”(IESBA, 2018:6).

A coerência dos serviços prestados pelos contabilistas proporciona um ambiente de confiança entre
os utilizadores de informação contabilística. Ela evita disparidades na compilação, medição, análise
e interpretação de dados contabilísticos. Outrossim, os mercados tornam-se mais eficientes dado
que os gestores e outros utilizadores de informação contabilística podem gerir, planificar e projectar
as suas actividades económicas para a obtenção dos melhores resultados.
Obviamente, a padronização de códigos de conduta profissional não é arbitrária, ela obedece a
critérios da ética por razões óbvias. A ética visa o homem como um ser social e de igual modo,
deontologia profissional visa interesse público, a sociedade. Assim sendo, a questão que se levanta
é: Quais são os princípios e valores da ética das profissões?
A IFAC (2016:21), OCAM (2018:7) e a IESBA (2018:7) apontam cinco princípios de conduta
profissional requeridos a um profissional de contabilidade nomeadamente: integridade,
objectividade, competência profissional e zelo, confidencialidade e comportamento profissional.
Segundo estes autores, a integridade profissional está ligada ao agir recto e honestamente.
Objectividade – requere, não deve permitir que juízos prévios, conflitos de interesse ou indevida
influência de outrem se sobreponham aos julgamentos profissionais ou empresariais. A competência
se relaciona com eficácia em termos de produtividade. Confidencialidade significa respeitar a
confidencialidade da informação que recolheu em consequência dos relacionamentos pessoais e de
empresa de serviços profissionais. Por fim Comportamento Profissional é cumprir com as leis e
regulamentos relevantes e deve evitar qualquer acção que desacredite a profissão.
Outros autores como Andrade (2017:23) defendem que a disposição do indivíduo de praticar o bem
está intrinsecamente ligada à virtude pois o ético é virtuoso. Esses autores apresentam algumas
virtudes tais como: paciência, coragem, a eficácia ou integridade, prudência, justiça, fortaleza,
temperança. Obviamente, estas virtudes oferecem a garantia de que o profissional de contabilidade
vai comportar-se em conformidade com as normas e códigos de ética da profissão. Só desta forma,
é que o contabilísta irá disponibilizar o que a sociedade valoriza desta classe, nomeadamente,
segundo Andrade (2017:33):
 Honestidade enquanto ser humano e profissional.
 Perseverança na busca de seus objetivos e metas.
 Conhecimento Geral e Profissional para oferecer segurança na execução das atividades
profissionais.
 Responsabilidade na execução de qualquer tarefa.
 Iniciativa para buscar solucionar as questões apresentadas.
 Imparcialidade na execução do trabalho e na apresentação de resultados e sugestões.
 Atualização constante e contínua.
 Trabalho em Grupo de modo que seja construído um espírito de equipe.
 Eficiência na execução das tarefas, buscando aprimorar a qualidade.
 Eficácia ao fazer o trabalho, visando atingir o resultado esperado.
 Ambição na busca de crescimento pessoal e profi ssional.
 Controle emocional nos relacionamentos pessoais e profi ssionais, visando a administração de
conflitos.
 Relacionamento Interpessoal baseado na compreensão, ajuda mútua, respeito e consideração.
 Postura Profissional, privilegiando as boas maneiras, a boa educação, a comunicação
adequada, os bons hábitos e a boa aparência. O que é um Compromisso ético profi ssional.

Do exposto, é notório o carácter normativo dos princípios da ética profissional e a sua manifestação
como um acto moral. Igualmente notória é a sua correlação em prol do agir ético. Por conseguinte, é
suposto que a cultura e prática destes principios contribuam para o agir socialmente “bom” como
garantias de um ambiente harmonioso, alegre, do bem-estar na comunidade.
De igual modo, a noção do “bom” ético e moral de um contabilísta é fundamental porque garante
que no exercício das suas obrigações como profissional, equipe ou organização cumpra ou forneça
informação contabilística que respondam às exigências da responsabilidade social corporativa.
Andrade (2017:41) designa por responsabilidade corporativa ao:
“Conjunto de ações adotadas pelas empresas, que beneficiam a sociedade e as corporações,
levando em consideração a economia, educação, meio-ambiente, saúde, transporte,
moradia, atividade locais e governo”.
Não obstante, a ética profissional em contabilidade tem enfrentado alguns desafios resultantes da
disjunção entre o certo e o errado, o justo e injusto. Estudos recentes, Terra (2018), Costa, Alves,
Santana e Silva (2022), Bonotto (2010), Batitucci (2007) entre vários apontam para uma
emergência de condutas antiéticas nas organizações.
Bonotto (2010) fez um estudo envolvendo emprezas Americanas no perríodo de 2000-2005. Este
período trouxe à tona problemas de qualidade de informações contabilística repleta de práticas
fraudulentas. Outro estudo levado a cabo pela Terra (2018) sobre o comportamento antiético nas
organizações. A amostra do estudo constatou uma ocorrência significativa de comportamentos
ilícitos no ambiente corporativo, constatando-se a necessidade educar os indivíduos através de
cursos e treinamentos e implementar meios mais efetivos de controle. Noutra dimensão, Costa,
Alves, Santana e Silva (2022) demostram em seu estudo, o aproveitamento de técnicas e práticas
contabilísticas ao serviço do crime. A seguir, faz-se uma breve apresentação de alguns
comportamentos antiéticos.
Medeiros (2020) pesquisou os seguintes comportamentos antiéticos: violação de normas,
desrespeito aos padrões morais, conflitos organizacionais, desrespeito, exposição de informações
falsas, interesses privados... e constatou existência de padrões antiéticos.

Ética do contabilista
A ética e a responsabilidade desempenham um papel fundamental na profissão contabilística. Os
contabilistas, como profissionais que lidam com informações financeiras e contábeis, têm a
responsabilidade de manter altos padrões éticos e agir com integridade em todas as suas atividades.
A ética na contabilidade envolve princípios como integridade, independência, responsabilidade,
competência, confidencialidade e lealdade profissional. A integridade requer que os contabilistas
sejam honestos e transparentes em seu trabalho, evitando qualquer manipulação de dados
financeiros. A independência é essencial para garantir que os contabilistas não estejam sujeitos a
influências externas que possam comprometer sua objetividade. A responsabilidade implica em
assumir a responsabilidade pelas ações e decisões contábeis, garantindo que elas estejam em
conformidade com as leis e regulamentos aplicáveis.
A competência é vital para garantir que os contabilistas tenham o conhecimento e as habilidades
necessárias para desempenhar suas funções com precisão e profissionalismo. A confidencialidade é
crucial, pois os contabilistas frequentemente lidam com informações confidenciais das empresas e
devem proteger esses dados contra divulgação não autorizada. Por fim, a lealdade profissional
envolve agir no melhor interesse da empresa ou cliente, evitando qualquer conflito de interesse.
Além disso, os contabilistas têm uma responsabilidade social mais ampla. Eles desempenham um
papel na garantia da transparência financeira das organizações, contribuindo para a confiança do
público e dos investidores no mercado. Também têm a responsabilidade de informar sobre possíveis
irregularidades financeiras, evitando práticas antiéticas que possam prejudicar a integridade das
informações contábeis. A ética e a responsabilidade são pilares essenciais da profissão
contabilística. Os contabilistas devem aderir a princípios éticos rigorosos e assumir sua
responsabilidade social para garantir a integridade das informações financeiras e o bom
funcionamento do mercado financeiro e empresarial.
Conclusão
Este estudo, na sua abordagem sobre a ética realça que ela constitui um tema transversal que
atravessa todos os domínios de uma sociedade, estabelecndo códigos de conduta propício para
harminia e equilíbrio social. O estudo adianta que a prática do ‘bem’, ‘certo’, ‘justo’ em
contraposição com ou rejeição do ‘mal’, errado’, ‘ínjusto’ tem sido ensejo do homem desde a sua
existência.
De igual modo, salienta que as profissões devem adotar normas e códigos de conduta profissionais
voltadas ao agir ético profissional. Sendo a contabilidade uma ferramenta essencial na vida das
organizações, ela deve pautar por criar normas de conduta que incorporem princípios da ética geral
nomeadamente, a integridade, idoneidade, independência, responsabilidade, competência,
confidencialidade, equidade e lealdade profissional. Estes princípios deverão, por sua vez, estarem
em consonância com as práticas do âmbito comunitário, nacional, regional e internacional.
A harmonização de princípios facilita a interação das diferentes entidades económicas, evita
disparidades no sistema de tratamento, análise e utilização dos dados contabilísticos. Os dados
contabilísticos harmonizados tendem a ser úteis, precisos e fiáveis para os gestores e demais
utilizadores para a tmada de decisões eficientes.
Por fim, o estudo alerta para urgência novos estudos que possam explicar a nova tendência antiética
provavelmente provocada por novas tendências económicas mundiais.

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