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Casa da ISSN 0100-6541

Ano 14 - Nº 1

Agricultura
Jan./fev./mar. 2011

ORGANIZAÇÃO
RURAL
Evolução do Associativismo e do
Cooperativismo e a Contribuição
da CATI

Breve Panorama sobre o


Cooperativismo

Cooperativismo Mais Perto do


Cidadão

Associação se Fortalece e Surge


um Novo Modelo de Cooperativa
em Artur Nogueira

Dracena Revigora Associações


para Participar de Programas
Governamentais
Editorial
A Força da União
Governador do Estado
Geraldo Alckmin

Secretário de Agricultura e Abastecimento


João Sampaio

Secretário-Adjunto
Antônio Junqueira
E sta edição da Revista Casa da Agricultura se propõe a convidar nossos leitores a se debruçarem sobre as discussões de um
tema primordial para a sobrevivência e inserção dos pequenos e médios produtores rurais no competitivo mercado da oferta
de produtos agropecuários. São abordadas nesta edição, com entrevistas e artigos, as opiniões dos principais envolvidos, nas últimas
décadas, no fortalecimento da agricultura paulista, especialmente no associativismo e cooperativismo.
Chefe de Gabinete
É, também, a forma de a CATI colocar a público o seu novo e desafiador compromisso com a agricultura paulista, o da inserção dos
Omar Cassim Neto
pequenos e médios produtores rurais nesse mercado. Desafio que começa a tocar neste início de ano com a assinatura do Projeto de
Desenvolvimento Rural Sustentável (Microbacias II – Acesso ao Mercado), mas que já vinha se desenhando e consolidando nos últimos
Coordenador/Assistência Técnica Integral
anos com o fortalecimento das associações dos produtores rurais das microbacias hidrográficas do Estado de São Paulo. Um trabalho
José Luiz Fontes
que rendeu a formação e/ou fortalecimento de 520 novas associações de produtores rurais e se firmou com a criação da Federação das
Associações das Microbacias Hidrográficas do Estado de São Paulo (Famhesp), em outubro de 2005.
Diretor/Departamento de Comunicação e Treinamento
Ypujucan Caramuru Pinto A CATI, por mais de quatro décadas, vem investindo naqueles que, com o seu trabalho, promovem a alimentação rica e diversificada,
produzida, com qualidade e eficiência reconhecidas, pelos produtores rurais do Estado de São Paulo e que chega não só à mesa dos
Diretor/Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes brasileiros, mas também a vários cantos do mundo. Ao trabalhar com produtores, tem fortalecido as parcerias, o trabalho conjunto com
Edson Luiz Coutinho instituições como a Famhesp, o Instituto de Cooperativismo e Associativismo (ICA), a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios
(Apta). Ainda, coloca-se à disposição de instituições, como a Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo e, por intermédio
Diretor/Divisão de Extensão Rural desta, com todas as cooperativas espalhadas pelo Estado.

José Alberto Martins Com esta edição da Revista Casa da Agricultura, esperamos fortalecer os vínculos criados ao longo do tempo e, com este tema
específico, Cooperativismo e Associativismo, compartilhar com os leitores a atual discussão sobre os rumos da produção e comercialização
de produtos agrícolas para o mundo. Então, eu o convido a se associar e a cooperar conosco em mais esta empreitada e no desafio que
temos pela frente.

Boa Leitura!
José Luiz Fontes
Coordenador da CATI
Espaço do Leitor Sumário
Agradecimentos 4 Entrevista

Agradezo a usted por el envio de la publicación Casa da Agricultura, 7 As Organizações de Produtores Rurais e o Microbacias II - Acesso ao
material que contiene temas de interés y hemos dado difusión. Mercado
Ing. Pablo Ângulo
Director de Relaciones Institucionales
Escuela Politécnica Nacional 9 Evolução do Associativismo e do Cooperativismo no Estado de São Paulo
Quito – Ecuador e a Contribuição da CATI na Organização Rural

13
Recebemos exemplar da Revista Casa da Agricultura, a qual teve
boa avaliação por parte da área de agronegócios do BDMG. Marcos Legais e Boas Práticas para o Desenvolvimento de Associações
Rodrigo Marques Quintas
Departamento de Planejamento e Estudos Econômicos
Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A. (BDMG) 15 Famhesp: na Defesa do Pequeno Agricultor
Belo Horizonte (MG)

Recebemos e agradecemos o envio da Revista Casa da Agricultura. 16 Breve Panorama sobre o Cooperativismo

19
Bibliotecária Vanessa Christiane Alves de Souza
Universidade Federal Rural do Semi-Árido Instituto de Cooperativismo e Associativismo
Mossoró (RN)

Não deixe de nos escrever, por carta, ou e-mail


Nosso endereço: CATI – Centro de Comunicação Rural
20 Casa da Agricultura de São Miguel Arcanjo

22
Av. Brasil, 2.340 – CEP 13070-178 – C.P.960 – CEP 13001-970 – Campinas, SP
Tel.: (19) 3743-3858
espacoleitor@cati.sp.gov.br
Cooperativismo Mais Perto do Cidadão
www.cati.sp.gov.br

24 Cooperativas de Crédito: o Sucesso da Sicoob Credicitrus

25 Compras Públicas - Políticas de Incentivo à Organização de Agricultores


Familiares

Expediente 27 Associações de Botucatu Recebem Apoio para Desenvolver Projetos

Edição e Publicação - CECOR/CATI 28 Coopermota: uma Empresa com Vários Sócios

Departamento de Comunicação e Treinamento - DCT Supervisão Técnica dos Textos: Engenheiros Agrônomos Carlos 30 Associação se Fortalece Enquanto Surge um Novo Modelo de Cooperativa
Diretor: Ypujucan Caramuru Pinto Eduardo Knippel Galletta e Diogenes Kassaoka em Artur Nogueira
Centro de Comunicação Rural - CECOR Designer Gráfico: Lilian Cerveira

Diretora: Maria Rita Pizol G. Godoy Distribuição: Carmen Ivani Garcez


Impressão e acabamento: Contgraf Impressos Gráficos Ltda.
32 A Região de Votuporanga Respira Cooperativismo
Editora-chefe: Jorn. Maria Rita Pizol G. Godoy (MTB 24.675-SP)
Revisora: Marlene M. Almeida Rabello 34 Dracena Revigora Associações para Participar de Programas
Fotografias: Banco de Imagens CATI Governamentais
Reportagens: Jornalistas Cleusa Pinheiro (MTB 28.487-SP), Graça

36
Os artigos técnicos são de inteira responsabilidade dos autores.
D’Auria (MTB 18.760-RJ), Nathália Vulto Sena (MTB 58.934-SP), É permitida a reprodução parcial, desde que citada a fonte. Organização Rural em São Paulo: um Pouco da História do Trabalho da
Roberta Lage (MTB 43.382-SP) e Suzete Rodrigues (MTB 57.378-SP). A reprodução total depende de autorização expressa da CATI
Secretaria de Agricultura e Abastecimento

40 Aconteceu
6 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫׀‬7

Montamos 16 cooperativas em um espaço as eleições) de divulgação da nossa causa e tem uma história de grande contribuição
Entrevista
de pouco mais de três anos, o que chamou sensibilização de parlamentares e assessores, acadêmica com o cooperativismo, porque

Organização Rural: Fundamental a atenção do presidente da OCB na época,


José Pereira Campos, que a partir da
experiência paulista criou uma comissão
tínhamos 217 deputados comprometidos.
RCA – Podemos dizer que todo esse
o ICA teve uma relação muito estreita com
a USP, onde havia uma luminar, a dr.ª Diva
Benevides Pinho, que deu a linha doutrinária

para o Avanço do Produtor Rural


trabalho foi fundamental para o avanço
nacional, presidida por mim e orientada pelo do cooperativismo paulista, juntamente
do cooperativismo no Brasil?
Mário Kruell, para montar cooperativas de com Valdir Bulgarelli e Maria Henriqueta
crédito por todo o País. RR – Com certeza. Acabamos inserindo Magalhães, e outras pessoas notáveis que
Por Cleusa Pinheiro – Jornalista – CECOR/CATI quatro dos cinco artigos, só não entrou o formaram os ideais cooperativistas do
RCA – Como foi o trabalho para a inclusão de educação. Além desses, entraram mais Estado, e que o Brasil inteiro adotou. Então,
de artigos sobre o sistema cooperativista dois relacionados à questão de saúde e às o ICA tem realmente uma contribuição
na Constituição Brasileira de 1988? cooperativas de garimpeiros, indicados relevante na história cooperativista e
O movimento cooperativista tem origem simbólica, em 1844, com a fundação da
RR – No período da Assembleia Nacional por outros segmentos. Portanto, hoje, a continua a ter com publicações, apostilas,
Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale, bairro de Manchester, Inglaterra, por
Constituinte, entre 1987 e 1988, vivíamos Constituição Brasileira tem seis artigos que cartilhas e livros, fomentando a criação de
um grupo de tecelões. O cooperativismo evoluiu e conquistou um espaço próprio, cooperativas e associações em todas as
um momento crucial da história do apoiam o cooperativismo, o que transformou
definido por uma nova forma de conciliar o homem e as relações de trabalho, visando o Brasil numa referência mundial, razão regiões do Estado.
cooperativismo no Brasil. Nessa época,
ao bem-estar socioeconômico dos envolvidos. Por seus princípios democráticos, o eu era presidente da OCB e montei pela qual a OCB foi aceita como membro
RCA – Em relação ao associativismo, no
cooperativismo é aceito por todos os governos. lobby consistente. Solicitei ao nosso da Aliança Cooperativa Internacional (ACI),
âmbito do Programa de Microbacias,
consultor jurídico, José de Campos Mello, em 1989. No ano seguinte, 1990, fui eleito
Desse momento histórico até os dias atuais, o movimento cooperativista ganha executado pela CATI, foram criadas e/
um advogado muito competente, que presidente do Comitê Agrícola da ACI, em
ou fortalecidas mais de 500 associações
força a cada dia. No Brasil, segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), escrevesse uma cartilha sobre o que 1992 fui eleito presidente do Conselho da
e formada uma Federação para
são mais de oito milhões de cooperados em quase oito mil cooperativas. O leque de era Assembleia Constituinte e o que era ACI para o Continente Americano e, em
que os produtores tenham maior
atividades econômicas abrangidas por esse ramo é muito grande, envolvendo toda a Constituição. A partir dessa publicação, 1997, fui eleito presidente da ACI mundial.
representatividade. Como o senhor vê
solicitamos às cooperativas brasileiras que Quando saí da presidência, em 2001, deixei
cadeia produtiva. essa iniciativa?
apontassem temas que desejariam ver o Américo Utumi (que atua na Ocesp) como
Para falar sobre o assunto e também sobre a organização de produtores rurais em inseridos na Constituição. Foram meses de membro do Conselho Mundial. RR – Acho importantíssimo esse trabalho
associações entrevistamos o engenheiro agrônomo Roberto Rodrigues – ex-ministro trabalho intenso, recebemos as propostas de da CATI. Aliás, a CATI sempre foi um braço
Portanto, por termos feito essa mobilização
da Agricultura, ex-secretário de Agricultura de São Paulo, ex-presidente da Aliança cada Estado, para então redigir as demandas fundamental do associativismo em São
intensa, criando uma visão integrada
do cooperativismo brasileiro. Isso que estou Paulo. Na minha visão, o que diferencia um
Cooperativa Internacional e atual coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação do cooperativismo, que culminou com
contando não está escrito em lugar nenhum país desenvolvido de um não desenvolvido
Getúlio Vargas e presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Federação das a inserção dos artigos na Constituinte,
e é fundamental para entender a história é o grau de organização da sua sociedade.
Indústrias do Estado de São Paulo — que tem sua trajetória permeada pelos princípios conseguimos mudar a história do
do cooperativismo brasileiro. As propostas A organização da sociedade é fundamental
cooperativismo brasileiro, consolidando a
cooperativistas. foram analisadas por um comitê de juristas, para desenvolver um país. No campo, o
OCB e o sistema cooperativista integrado
que eliminou 90% dos temas, por serem associativismo é a base da organização
nacionalmente e com acesso ao movimento
inadequados para a visão constitucionalista e aqui é preciso entender a gênese do
internacional.
RCA – Por favor, fale um pouco sobre a cooperativas, sob liderança da Monte Pio da OCB e também da Organização das que tínhamos. Elencamos, após muitos processo organizacional. Normalmente um
história da organização cooperativista no Cooperativista, estavam organizando outra Cooperativas do Estado de São Paulo (Ocesp). debates, cinco artigos que representariam RCA – Qual o papel do poder público grupo de pessoas se organiza a partir de um
Brasil e em São Paulo. entidade. Esses dois movimentos foram A história do movimento, institucionalmente a desiderata do cooperativismo brasileiro. na expansão do cooperativismo e do interesse comum: cria-se uma associação
crescendo separadamente e, até em certo falando, tem essa caminhada. associativismo? para defender os interesses da comunidade,
RR – Vou falar pela ótica política e econômica. O primeiro tema era relacionado com a
momento de forma antagônica, disputando e já temos uma organização política,
O cooperativismo tem uma história muito RCA – Como tiveram início as cooperativas autogestão, para acabar com a dependência RR – Muito importante. Em nível nacional
espaço político na conquista da filiação de que pode acabar convergindo para o
de crédito em São Paulo e no Brasil? do Estado, pois, até então, uma cooperativa existe o Departamento Nacional do
interessante em São Paulo, porque o cooperativas até que, durante o regime sindicalismo (braço constitucional e legal da
para ser constituída precisava de autorização Cooperativismo (Denacoop) do Ministério
grande start, o alavancar do processo foi militar, entre o final da década de 1960 e RR – Eu já era presidente de uma cooperativa representação), de modo que a relação entre
do Ministério da Agricultura e podia sofrer da Agricultura com a função de acompanhar
a imigração japonesa, exatamente há 102 início de 1970, teve início um trabalho para associação e sindicato é muito próxima e
em Guariba (região de Barretos), quando, intervenção a qualquer momento. O
anos. Quando os japoneses vieram para o a unificação. O então ministro da Agricultura, e estimular o cooperativismo nos moldes
em 1974, montei uma cooperativa de segundo estava relacionado à necessidade positiva. O cooperativismo é o outro degrau
Brasil, trouxeram duas coisas importantes: Luis Fernando Cirne Lima, conhecia o da Constituição Brasileira, o que é feito por
crédito rural, época em que o movimento de o Estado estimular e fomentar o da escala da organização, porque é a versão
uma foi a ideia de abastecimento integrado cooperativismo no Rio Grande do Sul, meio de convênios com a OCB, sobretudo na
ainda era incipiente, com apenas duas ou cooperativismo, ou seja, autogestão de um econômica, pois permite que os cooperados
inclusive o de crédito, portanto, decidiu área de treinamentos, formação de recursos
de hortifrutigranjeiros, incluindo variedades três unidades no Estado. Tive a sorte de passem a comprar e vender em comum,
trabalhar pela unificação do movimento lado e apoio do outro lado. O terceiro era humanos, e que depois ganhou a dimensão
que não tínhamos, daí montaram cinturões montar essa cooperativa com uma equipe ligado ao cooperativismo de crédito que, sob o mecanismo de proteção econômica
cooperativista e criou um grupo de trabalho maior com a criação do Setor Produtivo
verdes nas cidades, abastecendo de hortifruti; liderado por um agrônomo de São Paulo, de bancários experientes, que tornou o naquela época, era marginalizado com da doutrina cooperativista, cujo objetivo
das Cooperativas Agropecuárias do Estado
e fizeram isso a partir de cooperativas, Antônio José Rodrigues Filho que, ao lado trabalho profissional, o que garantiu o é corrigir o social por meio do econômico.
regras do Banco Central. Queríamos uma de São Paulo (Sescoop). Em nível estadual,
porque eram pequenos produtores. Duas de uma equipe muito interessante, da qual sucesso. Nessa época, o presidente da Por isso, a constituição de associações
isonomia com o sistema nacional. O quarto alguns estados têm institutos ou organismos
grandes cooperativas, Cotia e Sul Brasil, faziam parte dois técnicos da Secretaria Ocesp, Américo Utumi, conheceu a nossa é fundamental para que a sociedade se
reivindicava que a educação cooperativista que cumprem a Constituição Nacional,
tiveram origem na imigração japonesa. cooperativa e entusiasmado pediu para que organize, de modo que esse trabalho da
da Agricultura, Mário Decourt Homem de fosse uma disciplina obrigatória no ensino apoiando as cooperativas. Em São Paulo é o
Desde então, esse processo se estendeu, eu coordenasse um programa de criação de CATI tem um papel essencial na inserção do
Mello, diretor do PDV, e Victor Argollo Ferrão de 1.º grau, e o quinto tinha a ver com a Instituto de Cooperativismo e Associativismo
e o interessante é que não houve um cooperativas agrícolas de crédito em todo pequeno produtor no mercado.
Neto (ex-coordenador da CATI), trabalharam isenção tributária sobre o Ato Cooperativo. (ICA), órgão da Secretaria de Agricultura
sentido organizacional do movimento a legislação e a base para a montagem do o Estado. Para realizar o trabalho me fiei no e Abastecimento, [antigo Departamento RCA – Então podemos dizer que a
cooperativista desde o começo. A partir sistema de cooperativismo brasileiro. A exemplo de um grande líder cooperativista, Com essas definições, criamos uma de Assistência ao Cooperativismo-DAC], organização viabiliza a produção familiar?
de um certo momento, sob importante partir desse trabalho surgiu a Organização Mário Kruell Guimarães, que havia montado frente parlamentar do cooperativismo. que presta esse apoio ao cooperativismo,
liderança da cooperativa Cotia, algumas das Cooperativas Brasileiras (OCB) e também o sistema de crédito cooperativo no Rio Conseguimos eleger 47 deputados fazendo um trabalho articulado com a RR – Na economia globalizada, os pequenos
cooperativas começaram a estruturar uma da que congrega 27 organizações estaduais. Grande do Sul e, também, contei com uma comprometidos com os cinco artigos. Ocesp e os movimentos cooperativistas. e médios produtores vivem uma situação
entidade nacional. De outro lado, outras Antônio Rodrigues foi o primeiro presidente equipe experiente. Depois de um mês de trabalho intenso (após É importante ressaltar que São Paulo complicada, tendo em vista o fato de que
8 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫׀‬9

a margem unitária de renda rural é muito progresso recente do cooperativismo sistema se mostrou forte diante das crises
pequena e tende a diminuir mais ainda.
A competição leva à redução da margem
unitária, de tal forma que só é possível
foi exatamente o conjunto de vitórias da
Constituinte, sobretudo a autogestão,
que fez com que se investisse em gestão,
da economia globalizada. Com os aspectos
de defesa estabelecidos na Constituição
Brasileira, o cenário futuro evidencia uma
As Organizações de Produtores Rurais
acabando com o amadorismo que quebrou

e o Microbacias II – Acesso ao Mercado


ser competitivo na escala. Por isso, eu não presença mais forte do cooperativismo na
vejo outra forma de inserção do pequeno grandes cooperativas. E a OCB, sob moderna economia nacional. E todo esse processo
produtor familiar no mercado, incluindo o liderança, vem construindo esse movimento tem sido muito bem conduzido pela direção
global, que não seja de forma associativa, sério. Hoje é preciso investir no profissional, da OCB.
especialmente em cooperativas, por razões na gestão, nas áreas de administração e
essenciais: as cooperativas proporcionam a marketing, em tecnologia para aumentar RCA – Como o senhor analisa a formação
escala no conjunto, permitem industrializar a produtividade dos cooperados. As dos profissionais que atuarão no meio João Brunelli Junior - Assessor Técnico da CATI
cooperativas ganharam dimensão rural, como articuladores do processo de brunelli@cati.sp.gov.br
o produto e trabalhar com o valor agregado
mais alto. Além disso, as cooperativas diferenciada e destaque contemporâneo, organização dos produtores?
favorecem acesso às tecnologias e ao crédito por causa de recursos humanos treinados.
para que os pequenos possam crescer na RR – Na vida temos que ter princípios,
RCA – As cooperativas têm um importante valores, conceitos e filosofias. Decidi
mesma condição dos grandes. Sendo assim,
papel no crescimento econômico do País.

D
as cooperativas têm representado uma construir a história da minha como se fosse
Qual o seu papel social? urante o período recente de preparação do agricultores conhecem o preço de mercado do que produzem?
solução viável para todos. um trem correndo sobre dois trilhos, o
Microbacias II – Acesso ao Mercado, uma equipe de Quantos sabem o custo para produzir? Quantos decidem o que
RR – Esse papel está explicitado pelo sétimo amor e a justiça. Esse trem é movido pelo
RCA – Qual o impacto da crise econômica combustível da esperança para fazer que técnicos da CATI, de diversas regiões do Estado, coletou e avaliou plantar, levando em consideração as informações de cenários de
princípio do cooperativismo: a preocupação informações para elaborar um diagnóstico da agricultura familiar. demanda do mercado? Quantos têm a segurança de um contrato
mundial nas cooperativas e no a vida tenha sentido, agindo de forma a
com a comunidade. O cooperativismo tem
agronegócio brasileiro? contribuir para um mundo melhor. De que Entre outras constatações, esse diagnóstico apontou para a baixa de venda? Quantos direcionam sua produção para atender ao
um papel que transcende o atendimento a
maneira? Um ensinando ao outro tudo que competitividade mercadológica da agricultura familiar paulista gosto do consumidor?
seu cooperado para se inserir na comunidade
RR– Nós tivemos uma crise asiática no final da sabe, pois assim o conhecimento cresce. como entrave para o crescimento do setor.
de maneira mais abrangente, seja por conta Quando tiverem respostas a essas questões poderão usufruir
década de 1980. Na época observamos que Portanto, educar é o caminho para construir
de seus princípios, seja por interesse de um A falta de competitividade é devida a um conjunto de fatores de melhores resultados econômicos, com o direcionamento
os bancos cooperativos asiáticos sofreram um mundo melhor coletivamente, por meio
governo democrático em todas as esferas. complexos que passam pelo baixo nível de escolaridade na área de sua produção para atender à demanda do mercado para
menos do que os convencionais. No banco do cooperativismo e associativismo. E esse
Então, cabe aos governos se aproximarem rural, pela falta de comunicação, infraestrutura de transporte e obtenção de preços mais compensadores para seus produtos.
cooperativo, o cooperado é investidor, é o papel dos técnicos. É preciso que os
do cooperativismo para que o País seja armazenamento de produtos que se somam ao acesso limitado Além dessas questões, os produtores rurais necessitam, cada vez
dono e usuário, então o banco tem que ter articuladores da organização em qualquer
social, economica e ambientalmente melhor.
uma outra condição de responsabilidade. atividade econômica, social e política ao crédito. Juntos, esses fatores acarretam fraca organização mais, se adequar para atender às exigências dos mercados no
Na crise de 2008/2009, não foi diferente. O RCA – Qual o papel das políticas públicas tenham esse conceito. comunitária e capacidade gerencial dos produtores, incipiente que se refere aos aspectos de produção de alimentos seguros e
sistema financeiro global sofreu um grande para as organizações de produtores? conhecimento sobre as demandas de mercado, levando ao baixo com respeito às normas ambientais e sociais. A percepção dessas
abalo, principalmente nos Estados Unidos RCA – Por favor, deixe uma mensagem poder de negociação com grandes empresas de agronegócios. novas exigências é essencial para os produtores acessarem
e na Europa, e o cooperativismo de crédito para os produtores rurais. O processo de degradação ambiental ainda agrava as barreiras ou permanecerem nos mercados que atuam ou terem a
RR – Na economia globalizada, o comércio
sofreu pouco e ficou fortalecido. Essa é uma agrícola é muito prejudicado pelo socioeconômicas enfrentadas pelo pequeno agricultor, possibilidade de alcançar novos mercados.
RR – A cada dia cresce a demanda de
história importante para ressaltar como o protecionismo agrícola que os países ricos contribuindo para a dificuldade de inserção e sustentabilidade
produtos agrícolas: alimentos, fibras, A diversificação de explorações apresentada pela agricultura
cooperativismo é resistente às crises. E isso oferecem a seus agricultores com subsídios das pequenas propriedades nas cadeias produtivas.
energia, pois a população e a renda têm familiar é determinante para a sustentabilidade socioeconômica,
não aconteceu só com as cooperativas de
em três níveis: apoio direto, subsídio às crescido nos países emergentes. A oferta
créditos, mas também com as dos segmentos Um dos desafios enfrentados por grande parcela da ambiental, política e cultural da região em que está estruturada.
exportações e barreiras que impedem o não tem acompanhado essa demanda, por
agrícola e industrial. agricultura familiar é o desconhecimento do agronegócio De forma semelhante, o gerenciamento do empreendimento
acesso ao mercado. Esses mecanismos isso os preços subiram, o que gera crise e além do processo produtivo, ou seja, nos outros segmentos rural familiar, com a visão de cadeia produtiva, favorece a
RCA – Qual o cenário atual do cooperati- não favorecem o comércio livre e exigem inflação. O mundo todo deposita no Brasil localizados a jusante e a montante da propriedade. Quantos quebra do paradigma do processo de tomada de decisão por
vismo brasileiro? dos países que não oferecem subsídios, a esperança de resolver isso no longo prazo, parte desses produtores. Alguns agricultores familiares já estão
como é o caso do Brasil, compensações na pois o País tem terra disponível, tecnologia modernizando sua agricultura em relação aos aspectos técnicos
RR – Às vezes me pergunto: como está o forma de políticas públicas que estimulem tropical excelente e agricultores muito bons
cooperativismo no Brasil? Mas existe um a organização dos produtores, que levem e sérios. Então, minha mensagem é: há um
Brasil só? Existem vários Brasis, determinados assistência técnica, ofereçam crédito rural cenário muito favorável para os produtores
por comissões étnicas, culturais, climáticas, adequado e que permitam a produção brasileiros, mas para que isso se transforme
tecnológicas, fundiárias. Não se pode de insumos agrícolas selecionados e em realidade é preciso que existam políticas
comparar uma agricultura fundiária na fiscalizados. As políticas públicas são públicas que os apoiem para que possam
Serra Gaúcha com um agricultor do Ceará. essenciais em qualquer país do mundo avançar. É necessário que o produtor faça a
São mundos diferentes, não há só uma para mitigar a perturbação do mercado lição de casa, que passa pela organização para
agricultura brasileira, como não há só um global determinada pelo protecionismo que possa ter tecnologia, gestão de recursos
cooperativismo. A cooperativa é um reflexo
dos países desenvolvidos. É absolutamente humanos, bem como gestão ambiental,
da realidade regional onde está inserida;
inviável competir sem políticas públicas sanitária, tributária fiscal. Também, porque
onde existe cultura associativa, visão de
compensatórias. por meio das cooperativas, das associações
integração e conhecimento do papel
solidário, as cooperativas vão bem; onde e dos sindicatos, os produtores se colocam
RCA – Quais as perspectivas para o
não há, vão mal e sem paternalismo estatal na discussão para a formulação de políticas
cooperativismo brasileiro?
não funciona. Se a realidade regional se essenciais. Estamos recebendo da história
reflete na cooperativa, é evidente que uma RR – As perspectivas são crescentes uma chance notável e não podemos mais
diversificação também acabe refletindo. e favoráveis. Na medida em que as uma vez desperdiçá-la. É preciso assumi-la, No Projeto Microbacias II - Acesso ao mercado, a CATI tem como foco as cadeias produtivas e atuará por intermédio das associações e cooperativas, visando melhorar a
cooperativas investiram em gestão, o vencê-la e construir um mundo melhor. renda do produtor rural.
Eu penso que o grande responsável pelo
10 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬11

e econômicos por meio de uma maior eficiência produtiva, O Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável –
gerencial e organizacional, mas é preciso que muitos mais o
façam.
Microbacias II – Acesso ao Mercado pretende atuar de maneira
incisiva na formação e capacitação dessas organizações, na busca
Evolução do Associativismo e do
Mesmo com a criação de algumas políticas públicas, que
têm oferecido às organizações de agricultores familiares
dessa profissionalização. Aquelas associações ou cooperativas
de produtores rurais devidamente regularizadas que tenham
o objetivo de vender melhor sua produção agropecuária,
Cooperativismo no Estado de São Paulo e a
oportunidades de acesso ao mercado, a exemplo do Programa
Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e do Programa de
Aquisição de Alimentos (PAA), as dificuldades de acesso a essas
introduzindo inovações mercadológicas que agreguem valor à
sua matéria-prima, terão apoio técnico, gerencial e financeiro do
Projeto para implantar seus empreendimentos.
Contribuição da CATI na Organização Rural
políticas são evidentes e somente uma minoria tem sucesso.
Para tanto, as organizações de produtores rurais que têm Carlos Eduardo Knippel Galletta – engenheiro agrônomo – Divisão de Extensão Rural (Dextru) - CATI
A organização dos pequenos e médios produtores rurais é o
claramente definida alguma ação voltada ao mercado, seja galletta@cati.sp.gov.br
caminho para buscar a resposta para a maioria dessas questões.
para começar um empreendimento, seja para ampliar o que já
Esse é um mecanismo viável e, em muitos casos, a única saída para
existe, poderão expressar essa proposta de iniciativa de negócio,
se inserirem no processo contínuo e acelerado de globalização
consolidada em um Plano de Negócio a ser apresentado ao

O
pelo qual o mundo passa.
Projeto. associativismo rural, apesar de Da década de 1940 a 1960, proliferaram alguns casos, a corrupção interna, levaram
A união de produtores, formando as associações e/ possuir uma longa trajetória no as chamadas associações rurais¹. Em o cooperativismo ao descrédito em muitas
O processo começa quando essas organizações de
ou cooperativas, permite enfrentar os problemas e garantir Brasil e especificamente no Estado de São geral lideradas por grandes fazendeiros, regiões do Brasil e do Estado de São Paulo.
produtores atendem à chamada do Projeto para apresentação de
a sobrevivência da propriedade familiar. Além do mais, Paulo, só recentemente assumiu maior congregavam todos os segmentos de
Manifestação de Interesse, identificando a iniciativa de negócio Todo esse quadro reforçou, principal-
proporciona o desenvolvimento da região onde estão inseridas. importância no cenário da representação agricultores, incluindo os pequenos
pretendida e definindo claramente o grupo de produtores mente entre os agricultores familiares, a
Os agricultores, quando organizados, adquirem condições de política dos agricultores familiares. proprietários rurais.
envolvido na proposta. As organizações de produtores, busca de outras alternativas de organiza-
participar do contínuo processo de transformação pelo qual Excetuando-se situações particulares
cujas manifestações de interesse atendam aos critérios de Nos 20 anos do período autoritário ção, representação perante as autoridades
passa a agricultura e de acompanhar cada mudança, ficando elegibilidade, serão autorizadas a elaborar a proposta de iniciativa e localizadas, no geral a organização
(1964-1984), a liberdade de organização e luta por melhor renda e condições de
em condição de igualdade quanto aos outros sistemas agrícolas de negócio. Para tanto, as organizações de produtores deverão rural entre pequenos produtores é um
era bastante restrita e os sindicatos e as vida. Isso se constituiu em outro fator fa-
mais organizados. buscar uma consultoria para elaboração do Plano de Negócio, fenômeno que adquire maior visibilidade
cooperativas sofriam muitas vezes inter- vorável ao crescimento do número de as-
o qual deve detalhar tecnicamente a iniciativa. Posteriormente, apenas na segunda metade do século XX.
Entretanto, falamos de organizações que tenham de venções do Governo em suas direções, pois
essas propostas de iniciativas de negócio serão avaliadas e serão sociações.
fato o espírito comunitário e que seus participantes estejam As primeiras iniciativas de a legislação vigente subordinava essas or-
conscientizados de que unidos poderão resolver seus problemas, apoiadas financeiramente aquelas que demonstrarem maior associativismo rural em nosso país, ganizações a terem seus funcionamentos Com o processo de redemocratização
principalmente pelo fato de estes serem comuns, que sejam viabilidade mercadológica, técnica e ambiental. do País, no início da década de 1980, e com
partiram de grandes produtores que controlados.² Paralelamente, o associati-
despojados do individualismo e que tenham clareza de objetivos Assim, antes que se proceda à Manifestação de Interesse, é se mobilizavam para fazer valer seus vismo rural também ficou bastante tolhido as eleições diretas de governadores em
e foco nas suas ações, caracterizadas pelo apelo à participação e à fundamental que as organizações de produtores tenham como interesses, influenciando na determinação pela conjuntura política vigente, inclusive 1982, em muitos estados brasileiros passa a
cogestão. Não há espaco para aquelas organizações oportunistas, estratégia a identificação e definição de quais negócios pretendem das políticas agrícolas. Assim, tem-se em termos de representação dos interesses ocorrer um movimento inverso ao período
que se formam apenas para pedir algo que está sendo oferecido implementar. Para a equipe de gestão do Projeto, ou seja, para a notícia do primeiro Congresso Agrícola, dos pequenos produtores. anterior, com muitos estímulos à participa-
por alguma política pública, normalmente para beneficiar uma CATI fica o grande desafio de assegurar a efetiva participação das ainda no período colonial, em 1878, no ção da sociedade civil, incluindo todas as
minoria de seus membros, o que serve apenas para denegrir os organizações de produtores rurais e a emancipação econômica e Nessa época de grande expansão
Rio de Janeiro. No entanto, apenas a partir formas de organizações sociais: associa-
propósitos do associativismo e do cooperativismo. social desses novos empreendimentos. econômica, principalmente na década
da década de 1940 é que as organizações ções, sindicatos, cooperativas, entidades
de 1970, ocorreu um grande crescimento
rurais passam a ter maior significado. profissionais, movimentos populares. No
das cooperativas, seja em número, seja
No período do Governo Vargas, quando na dimensão de suas estruturas. Visando bojo dessa revitalização política, os seg-
o Estado passa a regulamentar (e também enfrentar o poderio das grandes empresas mentos rurais também começam a buscar
a controlar) os sindicatos de trabalhadores industriais e comerciais, atuantes no novas formas de participação.
urbanos, é que as associações e agribusiness, estimulou-se o gigantismo de
cooperativas agrícolas começam a algumas cooperativas.
Dificuldades e contradições do estímulo
ganhar corpo. Percebemos, por meio do Os ideais do cooperativismo foram associativista
cadastramento de organizações rurais desvirtuados em muitas situações, nas
realizado recentemente pela CATI, que as Nesse processo cometeram-se alguns
quais o comando de administradores
primeiras associações e cooperativas em e técnicos subjugou a vontade e a equívocos. O Estado, por intermédio de
nosso Estado datam do início da década de participação dos cooperados, passando a seus agentes, muitas vezes favoreceram
1930 e estão localizadas, principalmente, cooperativa a atuar na mesma lógica das condições de manipulação política
nas Regionais de Mogi das Cruzes, grandes empresas capitalistas, tornando- dos pequenos produtores, retomando
Guaratinguetá, Pindamonhangaba, São se corriqueiro o comentário de seus procedimentos clientelistas entre o poder
Paulo, Piracicaba e Tupã. Nota-se que tais associados de que “a cooperativa vai bem, local e as associações. Dessa forma criaram-
organizações estão vinculadas, sobretudo, mas o cooperado vai mal”. O distanciamento se diversos programas de incentivos que
à colonização de imigrantes japoneses e às das direções em relação aos seus sócios, a exigiam a formalização de associações para
produções de leite, cana, café e olerícolas. falta de transparência, a má gestão e, em acesso aos benefícios.

¹ No Estado de São Paulo, a FARESP - Federação das Associações Rurais do Estado de São Paulo, fundada após a crise do café em 1929 e precursora da atual FAESP, representava em âmbito estadual essa
forma de organização do meio rural..
² Os sindicatos tinham suas autorizações de funcionamento obtidas junto ao Ministério do Trabalho e as Cooperativas junto ao INCRA
12 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬13

do Programa ao transformar, ao longo do para a evolução do próprio Programa Políticas Públicas para Comercialização
processo, os agricultores e suas famílias em governamental, assumindo-o como seu e Fortalecimento da Organização dos
agentes de seu próprio desenvolvimento. e, até mesmo, extrapolando os marcos Agricultores Familiares
inicialmente previstos. Deve ser ressaltado também o
O Programa de Microbacias imaginou,
inicialmente, a criação de associações Foi dessa forma que em 2005, ao final surgimento de novos programas em
em cada área trabalhada. No entanto, do PEMH, por iniciativa de cerca de 80 nível federal, de apoio à comercialização
de produtos da agricultura familiar, que
Fonte: www.nikkeypedia.org.br

ao se verificar que já existiam em muitos das entidades envolvidas, se consolidou


municípios entidades representativas dos a ideia da criação de uma Federação vêm impulsionando, nos últimos anos,
pequenos produtores, no âmbito municipal Estadual das Associações das Microbacias ainda mais a organização dos pequenos
ou como atuantes nos bairros rurais, o – a Famhesp, que representasse produtores.
Programa estimulou não apenas a criação os interesses das organizações de
Em 2003 foi criado o Programa de
de novas organizações, como também o produtores rurais comprometidas com
Aquisição de Alimentos (PAA), que
o desenvolvimento sustentável e o
fortalecimento das existentes, desde que se propôs, desde o início, a servir
fortalecimento da agricultura familiar. Foi
comprometidas com o desenvolvimento como instrumento de geração de
também essa Federação que, assumindo
dos trabalhos na área geográfica de cada renda e sustentação de preços aos
seu protagonismo, se movimentou em
microbacia. agricultores familiares; fortalecimento
2007 manifestando junto ao Secretário
Foi dessa forma que a Extensão Rural, da Agricultura e aos representantes do do associativismo e do cooperativismo
unindo CATI e ICA, apoiou com muitas Banco Mundial, sua reivindicação pela e promoção da segurança alimentar e
ações o associativismo, como nunca havia continuidade do Programa de Microbacias, nutricional. O programa vem contribuindo
sido feito em todo Estado. incorporando aspectos econômicos não para acelerar e fortalecer a organização
trabalhados até então, como o apoio à dos agricultores familiares. Por meio de
Desse processo, ocorreu um grande comercialização e à agroindústria familiar. associações e cooperativas ficou facilitada
crescimento do número de associações nas a entrega de produtos diversificados
diversas regiões paulistas. O PEMH, que em Após longa negociação entre o
Sede da Cooperativa Cotia fundada em 1927 (já extinta). para o atendimento às necessidades de
seus primórdios, em 2002, contava com Governo de São Paulo e o Banco Mundial,
entidades assistenciais dos municípios
Essa indução ao associativismo, outros estados brasileiros com uma longa que culmina com uma revisão de seus 175 entidades atuantes, chegou em 2009 a no presente ano de 2011, inicia-se o Projeto
paulistas. Abriu-se um novo e interessante
realizada por exigência legal e aparente tradição de atuação em Extensão Rural, caminhos e a explicitação da missão da CATI cadastrar 520 organizações de produtores Microbacias II – Acesso ao Mercado, que
mercado para os pequenos produtores
vontade de ajudar o pequeno produtor, em São Paulo prevaleceu, pelo menos até em 1997: “Promover o desenvolvimento rurais envolvidas no trabalho junto às deverá aumentar ainda mais a atuação da
que recebem preços mais compensadores,
levou, em muitas situações, à formação 1982, a visão do trabalho da CATI como rural sustentável, por meio de programas comunidades. Ou seja, o número total de CATI junto às organizações rurais.
diversificam suas produções e aprendem
artificial de entidades, sem haver sendo quase exclusivamente de assistência e ações participativas, com o envolvimento entidades quase triplicou em um período Esse novo trabalho extensionista a se organizar e estruturar suas entidades
um processo mínimo de discussão e tecnológica ao processo produtivo, com da comunidade, de entidades parceiras de sete anos. vai exigir a participação ativa e para o gerenciamento da comercialização
conscientização sobre a importância da ênfase em produção e produtividade. e de todos os segmentos dos negócios responsabilização de associações e
Muitos encontros, oficinas e cursos fo- de seus produtos.
participação e responsabilização dos agrícolas”. É nessa fase que o trabalho de
A metodologia predominante ram realizados com dirigentes e membros cooperativas para viabilização de planos de
associados. Em 2009, outro Programa muito
Defesa Agropecuária se separa da CATI, negócios apoiados pelo novo Projeto. Um
então utilizada era marcada pelo dessas associações, fortalecendo a consci- importante foi criado pela Lei Federal
Muitas dessas associações criadas “a delimitando mais claramente o campo de enorme esforço vai ser necessário para a
acompanhamento individualizado aos ência associativista e a responsabilização n.º 11.947, o Programa Nacional de
toque de caixa”, assim que tiveram a posse atuação da instituição. capacitação em gerenciamento, análise de
produtores que tivessem condições mais de todos na conquista de um desenvolvi- Alimentação Escolar (Pnae), que em seu
dos bens cedidos pelo estado, enfrentaram mercado, comercialização e agroindústria
adequadas à absorção das modernas Nos anos seguintes, a CATI veio se mento realmente sustentável nos aspectos Art. 14 assegura que “do total dos recursos
grandes problemas de gestão e conflitos — tanto dos dirigentes e membros das
tecnologias, com expectativa de que por consolidando como órgão de Extensão sociais, econômicos, ambientais, culturais e financeiros repassados pelo FNDE, no
internos que levaram à subutilização de organizações, quanto dos próprios técnicos
meio deles o processo de disseminação Rural e se aproximando cada vez mais tecnológicos. âmbito do Pnae, no mínimo 30% deverão
equipamentos, sua não manutenção e — para que se concretizem os objetivos de
de novas práticas nas culturas e criações das organizações rurais, em especial dos ser utilizados na aquisição de gêneros
chegando mesmo até à dissolução da As entidades deram vazão a uma aumento de renda familiar, incremento na
pudesse ocorrer naturalmente. agricultores familiares. alimentícios diretamente da agricultura
entidade, após a conclusão do convênio. grande diversidade de iniciativas e ocupação da mão de obra e fortalecimento familiar e do empreendedor familiar rural
Felizmente, o processo de avaliação Com a abertura democrática, a CATI Não se pode deixar de registrar a atividades, de forma criativa, contribuindo da organização rural. ou de suas organizações”.
crítica das ações de apoio ao associativismo passa a receber novas demandas, tanto atuação da CATI a partir do ano 2000, em
todo Estado de São Paulo, apoiando o Em diversas regiões do Estado, o Pnae
tem levado à superação de tais erros e a nos aspectos sociais, quanto ambientais
– a partir dos novos atores da sociedade associativismo de pequenos produtores EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE ASSOCIAÇÕES ATUANTES NO PEMH aproxima os gestores públicos municipais
manter uma atenção permanente, para
rurais por intermédio do Programa Estadual e as organizações da agricultura familiar,
que não se repitam tais desvios. - organizações dos agricultores, gestores 2002 – 175 associações
de Microbacias Hidrográficas (PEMH), que melhorando a qualidade da merenda e
A evolução da Extensão Rural em São públicos municipais, consumidores, 2003 – 212 associações – 37 novas (21,14% de aumento) beneficiando os pequenos produtores.
movimentos ambientalistas e outros. A propunha, por meio do associativismo,
Paulo
instituição começa a se abrir também para promover o fortalecimento da organização 2004 – 274 associações – 62 novas (29,24% de aumento) Algumas dificuldades na operacionali-
A mudança de atitude da CATI em
dos produtores, estimulando a participação zação das vendas para o Pnae, por meio das
relação ao trabalho com associativismo, uma maior aproximação e relacionamento 2005 – 376 associações – 102 novas (37,22% de aumento)
de toda a comunidade, visando assegurar a associações, têm levado os agricultores fa-
principalmente após os anos de 1980, com a rede de extensão rural pública de
transparência, descentralização e eficácia 2006 – 421 associações – 45 novas (11,97% de aumento) miliares, em algumas situações, a partirem
merece uma análise mais aprofundada. outros estados.
das ações implementadas. Essa visão tinha 2007 – 491 associações – 70 novas (16,63% de aumento) para a organização de cooperativas, bus-
Ao estudar a história de nossa institui- Começa-se a construir um novo como perspectiva garantir a continuidade cando maior agilidade nos procedimentos
ção, percebemos que, diferentemente de paradigma de atendimento aos agricultores das ações após o período de intervenção 2009 – 520 associações – 26 novas (5,29% de aumento) comerciais.
14 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬15

Marcos Legais e Boas Práticas para o


Desenvolvimento de Associações
Carlos Eduardo Knippel Galletta – engenheiro agrônomo – Divisão de Extensão Rural (Dextru) - CATI - galletta@cati.sp.gov.br

“A ssociações de Produtores Rurais


são entidades constituídas pela
união de produtores rurais e suas famílias
que a distinção entre
atividade e finalidade
é então fundamental.
com o objetivo de integrar esforços e ações Segundo esse parecer
em benefício da melhoria do processo jurídico, “em nenhum
produtivo e da própria comunidade a qual momento o novo
pertencem”¹ (ICA, 2007). Código Civil indica que a
associação não pode ter
Tais organizações, ao longo da história
“atividade” econômica.
e nas condições de diferenciação existen-
Apenas mencionam-se
tes entre os agricultores, têm desenvolvido
“fins” econômicos. Por
atividades as mais variadas para consecu-
isso, faz sentido o critério
ção de seus objetivos, como: representação
de que, mesmo havendo
política perante autoridades, capacitação
atividade econômica, a
técnica de seus sócios, prestação de ser-
associação não perderá
viços de máquinas, aquisição de insumos,
sua natureza se não tiver
processamento e beneficiamento da pro-
Por outro lado, ocorrem casos em desenvolvidas, parcerias e produtos Números significativos do por objeto a partilha
cadastramento dução, assessoria à comercialização de
que as cooperativas não conseguem a comercializados. dos resultados”. Ou Representantes de associações de todo o Estado se reúnem com técnicos da CATI em
produtos, armazenagem, transporte, orga-
Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP) dito de outro modo, congresso
Em levantamento que antecedeu Regionais – As Regionais da CATI que mais nização de trabalhos comunitários, gestão
jurídica por não possuírem em seu na sistemática do - decidam com liberdade se querem se
aos cadastramentos, a CATI constatou a se destacaram em número de organizações e educação ambiental, formação de grupos
quadro pelo menos 70% de agricultores novo Código Civil, “associações seriam organizar; e
existência de 1.243 organizações rurais cadastradas foram: Presidente Venceslau de mulheres e jovens, lazer e recreação,
familiares, o que tem levado à discussão organizadas por pessoas interessadas em - discutam qual é a melhor forma de
em atividade em nosso Estado. Em junho (74), Itapetininga (65), Jales (51), Presidente apoio a carentes sociais e outras.
da necessidade da constituição de perseguir finalidades que não tivessem por organização e representação de seus
organizações mais homogêneas, onde os de 2009 esta Coordenadoria concluiu Prudente (49), Itapeva (47), Andradina (46), O Código Civil de 2002, em seu Artigo objetivo a partilha futura de lucros”². interesses.
pequenos agricultores sejam amplamente o cadastramento das 520 organizações Bragança Paulista (41), Registro (40), Mogi 44, considera as associações, as sociedades,
majoritários, favorecendo o acesso aos que atuaram junto às comunidades das Cruzes (39). Ourinhos (38), Assis (37), as fundações, as organizações religiosas e Gestão e Participação — Boas Práticas
atingidas pelo Programa de Microbacias³ General Salgado (33) e Avaré (30). os partidos políticos como pessoas jurídi- Caminhos para a formalização de
programas governamentais voltados a esse para o fortalecimento da gestão e da
e, no mês de fevereiro de 2011, finalizou o Produtos – Em termos de cadeias produ- cas de direito privado. Associações
público. participação nas associações
cadastramento de mais 567 organizações tivas representadas, os destaques ficaram Pessoas se unem quando percebem
Panorama Atual da Organização Rural A diferenciação mais importante a ser
rurais atuantes nas diversas regiões do para: leite (57), orgânicos/agroecológicos a existência de problemas em comum e Criar associações, apesar de todas exi-
no Estado de São Paulo feita aqui é entre associações e sociedades.
Estado de São Paulo e que não haviam sido (34), frutas (28), verduras e legumes (23), tomam consciência de que apenas juntas gências burocráticas, é relativamente mui-
Preparando-se para fazer avançar mais o Segundo o Código Civil, sociedades sem-
abrangidas no cadastramento anterior. apicultura (23), café (17), cana (16), capri- podem resolvê-los e melhorar suas vidas. to fácil. A grande dificuldade é que seja
associativismo e o cooperativismo paulista, pre têm por objetivo o exercício de ativida-
nos-ovinos (12), piscicultura-aquicultura Sendo assim, pode-se dizer que ninguém
Dessa forma, a CATI obteve informa- de econômica para partilha de resultados despertado nelas o ideal associativista, a
a CATI vem implantando um sistema de (11).
entre os sócios (Art. 981), enquanto asso- organiza ninguém, ninguém forma asso- prática da gestão democrática, o dinamis-
acompanhamento da Organização Rural ções detalhadas de 1.087 organizações, Segmentos Sociais – entidades de
ciações são uniões de pessoas para fins não ciação exceto os próprios interessados. mo para aproveitar as oportunidades e mo-
cadastrando as entidades de produtores ou seja, 87,45% do universo de entidades Agricultores Familiares e pequenos
rurais que estão em funcionamento. representativas dos produtores rurais pau- econômicos (Art. 53). Nesse processo, nosso papel como ex- tivar o conjunto dos associados, a renova-
produtores (188), assentados (63),
listas. Entre as organizações cadastradas remanescentes quilombolas (15), Na prática, verifica-se que muitas tensionistas é contribuir para que: ção constante de suas lideranças, a busca
Nesse Cadastramento das Organizações
constaram 971 associações, 107 cooperati- pescadores (10), mulheres (9), indígenas associações realizam atividades - os agricultores identifiquem seus prin- permanente de autonomia, a participação
Rurais Atuantes no Estado de São Paulo,
vas e 8 entidades diversas (sindicatos, co- (7). econômicas sem terem fins lucrativos, de cipais problemas e a melhor forma de en- ativa na determinação dos rumos da socie-
foram levantadas informações das mais
lônias de pescadores, ONGs), estando seus Abrangência – entidades de bairros/co- onde surgem questionamentos sobre a frentá-los; dade onde está inserida, a comunicação
diversas entidades, abrangendo dados
dados disponíveis para análise e planeja- munidades rurais (717), específicas de mi- legalidade dessas atividades. Os juristas - conheçam os meios legais de se organiza- intensa com possíveis aliados e parceiros
sobre: suas condições legais, infraestrutura,
serviços prestados, recursos humanos, mento das ações de apoio ao associativis- crobacias em sua denominação (96), carac- Syllas Tozzini e Renato Berger esclarecem rem; para projetos inovadores.
participação dos sócios, atividades mo e ao cooperativismo. terizadas como associações de produtores
rurais (382). ¹ Parecer - Associação de produtores rurais. Código Civil de 2002, Sistema Tributário e as Associações. Pessoa Jurídica de direito privado de fins não econômicos. Comercialização dos produtos dos associa-
dos. Luiza Assis Fleming, advogada, Diretora Técnica de Divisão, e Davi Rogério de Moura Costa, Diretor Técnico do Instituto. São Paulo: p. 3 . ICA, 2007.
³ Citado no tópico anterior “A evolução da Extensão Rural em São Paulo”. ² TOZZINI, Syllas e BERGER, Renato. A finalidade das associações no novo Código Civil. Jus Navigandi, jun. 2003. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/4126>. Acesso em: 19 fev. 2011.
16 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬17

FAMHESP: na Defesa do Pequeno


O trabalho desenvolvido pela CATI
Procedimentos básicos para viabilização do processo de
nos últimos anos, de apoio à Organização formação de uma associação
Rural, principalmente no Programa de
Microbacias Hidrográficas, trouxe muitos
ensinamentos. Embora inserido no con-
texto de um programa governamental, a
• Identificação de grupo de pessoas interessadas na possível organização formal – nesse
aspecto, técnicos e outros agentes sociais podem ajudar por meio dos contatos pessoais
e vínculos criados a partir da implantação de possíveis projetos, ações, movimentos da
Agricultor Fernando Franco – Jornalista da Famhesp
ênfase dada foi sempre no sentido da va- sociedade civil ou de órgãos governamentais. fernandopiraju@hotmail.com
lorização do desenvolvimento autônomo
dessas associações. Dessa forma, os tópicos • Convocação, mobilização e motivação da comunidade – realizadas pelo grupo de

D
interessados, convidando para reunião de identificação dos problemas e objetivos comuns esde sua fundação, em 6 de do Banco Mundial em relação ao Projeto
a serem destacados, apontarão sempre ca-
e de realização de palestra de sensibilização com exposição de informações sobre o
minhos de sucessos obtidos nessa direção. outubro de 2005, em Avaré (SP), a Microbacias II – Acesso ao Mercado.
associativismo.
1. Identificação de interesses Federação das Associações de Produtores
Novas Metas – Com a transferência
Homogeneidade do grupo: problemas co- Rurais das Microbacias Hidrográficas do
• Discussão da proposta de Associação – por meio de uma reunião e palestra motivacional, da sede da Famhesp de Rancharia (SP)
muns facilitam a mobilização. Proximidade Estado de São Paulo (Famhesp) luta para
deve-se esclarecer a todos sobre o modo de funcionamento de uma associação, suas para o município de Arandu (SP), na região
espacial gera identidade e facilita integra- possibilidades de atuação, o que tem de ser feito para formá-la e debater em profundidade defender os interesses dos pequenos
de Avaré, e a posse da nova Diretoria
ção. quais seriam os objetivos de uma associação para essas pessoas e a disposição e as condições produtores rurais e agricultores familiares
Executiva e dos Conselhos Deliberativo
2. Ter objetivos claros delas em assumir esse compromisso. Ficando evidenciado o interesse pela formação da paulistas reunidos em associações. Com
e Fiscal, a Federação elaborou seu Plano
Saber aonde se quer chegar. Objetivos que entidade, os procedimentos necessários são a preparação do estatuto e uma assembleia de mais de 100 instituições filiadas e com a
de Trabalho 2010-2011, submetendo à
unam a maioria dos interesses comuns. Ob- constituição. Os presentes poderão indicar uma comissão de representantes que, junto com criação de 10 Núcleos Regionais (NRs) da
Assembleia Geral para sua discussão,
jetivos devem estar acima dos interesses uma assessoria técnica/jurídica, irão elaborar a proposta de estatuto e preparar a assembleia. Federação, visando à descentralização
aprimoramento e votação das filiadas.
pessoais. e maior contato com os produtores e
• Elaboração dos Estatutos – a comissão indicada pela comunidade se reúne com apoio Entre as metas estão: criação de um Plano
3. Saber administrar os conflitos suas organizações, a Famhesp já obteve
de assessores (extensionistas, técnicos da área social, educadores, administradores ou da Saúde Rural; obtenção de financiamento
Papéis das lideranças: mediação, negocia- uma série de conquistas para o setor, Fidelis - A Famhesp luta pela valorização
área jurídica) disponíveis no município/região e estuda um modelo de estatuto, fazendo para fossas sépticas e tratamento de água;
ção, capacidade de ouvir, respeito às di- principalmente, no que se refere à do pequeno produtor rural e agricultores
as adequações necessárias à sua realidade. Quando alcançar o formato final do projeto de elaboração de um plano telefonia rural/ familiares
ferenças, valorização dos talentos de cada representatividade política.
estatuto, a comissão poderá se concentrar em preparar a assembleia de fundação e eleição internet banda larga; firmar parcerias com
um. da primeira diretoria ou diretoria provisória. O grupo poderá identificar possíveis pontos desenvolvimento rural sustentável com
4. Autonomia Como exemplo, podemos citar a CATI, MDA, Ministério da Agricultura,
polêmicos no projeto de estatuto, para debater com toda comunidade, seja previamente à práticas agroecológicas, além de garantir
A organização deve caminhar com as a parceria com a Coordenadoria de Pesca e Abastecimento (MAPA) e iniciativa
fundação, seja na própria assembleia de constituição. a representação política dos agricultores
próprias “pernas”: buscar recursos huma- Assistência Técnica Integral (CATI), a privada. “Temos ainda a intenção de
nas instâncias superiores dos setores rural
nos e materiais próprios. participação no Programa Estadual de estruturar a sede social e administrativa
• Preparação da Assembleia de Constituição – a comissão deve convocar todos interessados paulista e brasileiro. “Vamos retomar o
5. Parcerias Microbacias Hidrográficas (PEMH), espaço da instituição para melhor atender nossas
para a Assembleia Geral de fundação da associação, em hora e local determinados com recadastramento das associações filiadas
Independência não significa isolamento: e voz na Assembleia Legislativa do Estado filiadas e pleitear assento e voz nos Comitês
antecedência, afixando-se edital de convocação em locais frequentados pelos interessados, e fazer uma ampla campanha para filiação
parcerias e alianças com órgãos públicos e podendo ser, também, veiculado por meio de imprensa e rádio. Paralelamente aos de São Paulo e nas Secretarias Estaduais de Bacias Hidrográficas (CBHs)”, explicou
de novas associações e trabalhar para a
privados em trabalhos de interesse da as- procedimentos de divulgação, a comissão poderá, de alguma forma, promover consulta de Agricultura e Abastecimento (SAA) João Fidelis, atual presidente da Famhesp.
valorização do pequeno agronegócio,
sociação. prévia para a montagem da chapa (ou chapas) que concorrerá na Assembleia de fundação, e do Meio Ambiente (SMA), direito à
Associativismo – Fidelis ressalta que pois ele é responsável pela produção
6. Gestão e planejamento democráticos para eleição da primeira Diretoria e dos Conselhos. Dessa maneira, pode conseguir maior voz e ao voto no Conselho Estadual de
fazem parte da missão da Federação: básica de alimentos que estão na mesa do
Respeito à opinião da maioria dos associa- representatividade e consenso entre os interessados. Desenvolvimento da Agricultura Familiar
o fortalecimento da organização dos consumidor brasileiro”, apontou Fidelis.
dos; divisão de responsabilidades: confiar (Cedaf ) e no Conselho de Orientação
no outro; estímulo às novas lideranças; li- • Realização da Assembleia Geral de Constituição da Associação – para realização da do Fundo de Expansão do Agronegócio pequenos produtores rurais e agricultores Com o trabalho da Secretaria da
mites à reeleições; transparência. Assembleia, recomenda-se uma minuta do que será a Ata de Constituição, a ser concluída ao Familiar (Feap Banagro) – crédito e seguro familiares, por meio do associativismo e/ Agricultura e Abastecimento do Estado
7. Participação término dos trabalhos. Duas pessoas deverão assumir as funções de presidente e secretário rural. Além disso, aumento no número ou do cooperativismo, promovendo a de São Paulo, por meio da CATI, no Projeto
Não limitar a sua ação apenas à questão da assembleia, as quais poderão ser escolhidas entre os futuros sócios ou entre apoiadores de associações filiadas, presença nos melhoria da renda e da qualidade de vida do de Desenvolvimento Rural Sustentável
econômica ou de produção; organização da comunidade. Também será necessária a presença de advogado com registro na OAB, para agricultor e de sua família; e o incentivo ao – Microbacias II – Acesso ao Mercado, a
encontros com a Comissão e representantes
tem de ser abrangente e diversificada em assessorar os trabalhos. Ao final, ele deverá assinar a Ata, com o presidente e o secretário
nova Diretoria da Famhesp acredita que
suas atividades; organização de grupos de da assembleia. O presidente fará cumprir a pauta que constará basicamente de: a) Leitura,
o pequeno produtor rural e agricultores
discussão e aprovação do Estatuto; b) Eleição da Diretoria e do Conselho Fiscal; c) Posse
interesse, como de mulheres, jovens, café familiares e suas organizações poderão
da Diretoria e do Conselho (opcional). Ao término, deverá ser lida a Ata de Constituição e
etc. alcançar eficiência e competitividade e
solicitadas as assinaturas dos associados fundadores.
8. Responsabilidade ambiental e social ampliar a compreensão da propriedade
Busca do desenvolvimento sustentável e como um organismo que pode dar
• Oficialização e documentação para a formalização de associações – o Instituto de
do fortalecimento da agricultura familiar. bons resultados econômicos, aliando
Cooperativismo e Associativismo (ICA) recomenda os procedimentos básicos para essa
9. Ousadia tecnologias de baixo custo e reduzido
formalização:
Nem sempre é possível contar com
- registro do Estatuto e da Ata da Assembleia Geral de Constituição em Cartório Civil de impacto ambiental com preservação dos
condições favoráveis, porém é preciso
Títulos e Documentos; recursos naturais e fixação do homem no
nunca se acomodar, lutar sempre, manter
campo.
a confiança e a autoestima elevadas, ser - inscrição na Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo (Receita Estadual/Posto Fiscal);
ousado, acreditar sempre. Independente- - inscrição estadual só quando for movimentar mercadorias; Mais informações:
mente de apoios ou de dificuldades ex- - inscrição no Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS); www.famhesp.org.br
ternas, é indispensável ter consciência da imprensa@famhesp.org.br
- registro na Prefeitura Municipal – Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN).
própria força e da força da organização dos
pequenos agricultores. Agricultores reunidos – união de esforços em defesa do pequeno agronegócio paulista
18 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬19

Breve Panorama sobre o


apenas a rentabilidade monetária dos seus Já uma terceira e importante definição por graus sucessivos de autoridade e
acionistas (donos). Como o que impera é de cooperativa é aquela que diz que essa hierarquia. Como são organizações de
o lucro, possuirá maior poder de decisão é uma forma de organização econômica capital e não de pessoas, o foco dessas
aquele que tiver mais recursos financeiros, e social constituída para fazer frente organizações não são as pessoas e suas

Cooperativismo
propriedades ou ações. Isso significa às mazelas provocadas pelo sistema
necessidades, mas sim o lucro dos seus
que não há espaço para democracia e econômico vigente, promovendo aos
donos ou acionistas.
ajuda mútua, pois não são organizações cooperados formas alternativas de trabalho
democraticamente controladas. e renda, principalmente à população de Essa é uma realidade impraticável
baixa renda, mais sensível aos problemas em sociedades cooperativas, pois estas
Todas as empresas necessitam de
do sistema econômico vigente.
Diogenes Kassaoka – engenheiro agrônomo, diretor do Instituto de Cooperativismo e Associativismo/Codeagro/SAA - diogenes@codeagro.sp.gov.br um planejamento bem executado e são empresas que praticam outra forma
Thiago Lisboa – cientista social do Instituto de Cooperativismo e Associativismo/Codeagro/SAA - tlisboa@codeagro.sp.gov.br com sócios conscientes de seu papel, Numa empresa privada, a forma de de gestão, à qual as pessoas não estão
Flávia Bigai – cientista social do Instituto de Cooperativismo e Associativismo/Codeagro/SAA - fbigai@codeagro.sp.gov.br no entanto, as cooperativas devem administração e controle dos processos acostumadas. Diferentemente das
buscar, incessantemente, a educação cotidianos e das pessoas é determinada organizações privadas, cooperativas são
cooperativista e a profissionalização na
gestão, lembrando que, mesmo adotando

E m 2009 existiam, no Estado de São Tabela 1 – Principais produtos exportados pelas cooperativas agrope- Quadro 1 – Diferenças fundamentais das cooperativas em relação às empresas comuns e
essa postura, não é garantia de sucesso,
tradicionais
Paulo, 905 cooperativas de todos os cuárias do Estado de São Paulo nos anos de 2008 e 2009 (em milhões US$). mas que a ausência desses procedimentos
segmentos, representando 12,46% do total é certeza de fracasso. COOPERATIVAS NÃO-COOPERATIVAS
Produtos 2008 2009
de cooperativas em todo o Brasil. Objetivo Prestação de serviços e Objetivo principal: lucro
Fatores externos, como o clima e o
Óleo de soja 12 4 bem-estar dos sócios
O número de sócios das cooperativas mercado, por exemplo, também interferem
Café em grão 7 5 Forma coletiva e Forma privada e
nos resultados desses empreendimentos,
paulistas somou 2.822.202, corresponden- homogênea de administrar hierárquica de administrar
Extrato de óleo de soja 48 23 mas ainda assim, em uma cooperativa, os
do a 34,20% dos cooperados existentes no uma organização uma organização
Álcool 430 218 responsáveis pelo seu sucesso ou fracasso
País (8.252.410). são, em grande parte, os próprios donos, os Coletiva porque é Privada porque é
Açúcar 70 264
sócios cooperados. Por isso, a administração uma organização de uma organização de
Em relação aos empregados, as coope- Outros açúcares 346 556 Gestão propriedade conjunta ou propriedade individual, de
rativas do Estado de São Paulo emprega- de uma empresa desse tipo ganha maior
Fonte: Secretaria de Comércio Exterior; Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (2010). coletiva (de todos) uma pessoa (o dono) ou
atenção por se tratar de uma sociedade
ram diretamente 59.126 funcionários, ou Elaboração: OCB/Gemerc (2010) de um grupo restrito de
cujos associados são, simultaneamente, pessoas (os acionistas)
seja, 21,56%, diante de 274.190 funcioná-
donos e clientes, produtores agropecuários
rios das cooperativas em todo o território Tabela 2 – Exportação das Cooperativas Brasileiras Coletiva porque é uma Privada porque é uma
e consumidores de insumos. Toda essa
jan. a dez. 2009 jan. a dez. 2008 sociedade de pessoas sociedade de capital
nacional (OCB, 2009). complexidade justifica porque se exige
US$ FOB kg US$ FOB kg a profissionalização da gestão das Defesa / Representação Defendem os interesses de Defendem os interesses
Em 2009, só as cooperativas todos os sócios cooperados de uma pessoa ou de um
São Paulo 1.097.804.067 2.910.387.175 951.457.635 2.409.525.700 cooperativas, uma profissionalização da
agropecuárias brasileiras tiveram uma grupo restrito de pessoas
gestão que passa não só pela especialização
participação de 37,2% no PIB agropecuário Brasil 3.627.658.264 7.094.667.139 4.010.536.267 7.077.782.883 Hierarquia Não têm graus sucessivos Têm graus e níveis
técnica e instrumental dos cooperados
nacional (total de riquezas geradas na Fonte: Secretaria de Comércio Exterior; Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. de autoridade, todos sucessivos de hierarquia e
e de sua Diretoria, como também de
são iguais, decidem na autoridade
agropecuária) e 47% no PIB cooperativo conhecimentos teóricos e conceituais, por
Com essa pujança, não há como desejado, sem que seja previamente Assembleia Geral
(total de riquezas geradas por todas as exemplo, sobre o que é e para que serve
negar a importância das cooperativas realizado um planejamento consciente e Informações As informações fluem de As informações fluem de
cooperativas do País). Com relação às esse tipo de empreendimento.
para o crescimento econômico paulista consistente. cima para baixo e as ordens baixo para cima e ordens
exportações diretas, a participação delas Segundo a Aliança Cooperativa de baixo para cima de cima para baixo
e nacional. E não só o crescimento, mas
foi de US$ 3,6 bilhões (OCB, 2009). Cooperativas são sociedades de Internacional (ACI), constituída em
também o desenvolvimento econômico, A Diretoria é inferior aos A Diretoria é superior aos
pessoas e não de capital, empreendimentos 1895 e com sede em Genebra, na Suíça, cooperados reunidos em empregados, aqueles que
De acordo com a Tabela 2, em 2008 pois as cooperativas são empresas que, por
de propriedade coletiva que exigem cooperativa é uma associação autônoma Assembléia Geral; trabalham
o Estado de São Paulo exportou US$ princípio e lei, devem valorizar seus sócios,
controle democrático, pois em sua de pessoas unidas voluntariamente para Diretoria
destinando parte de suas sobras (5% das A Diretoria tem de se Os empregados têm de se
951.457.635 por meio das cooperativas estrutura existem instâncias para tomadas satisfazer suas necessidades e interesses
receitas líquidas) a Fundos de Educação e submeter às ordens e às submeter às ordens e às
agropecuárias; em 2009, esse valor passou de decisão conjuntas. Basicamente, elas comuns nos campos econômico e social, decisões dos cooperados decisões da Diretoria
Profissionalização dos cooperados.
para US$ 1.097.804.067, representando um são constituídas para prestar serviços aos por intermédio de uma empresa de em Assembleia Geral
Pelos dados relatados, cooperativas seus sócios, por isso seu planejamento propriedade coletiva e democraticamente
acréscimo de 15,38%. No mesmo período, Controle Existe um órgão formado Não há um órgão interno
são empreendimentos consideráveis e é diferente das formas adotadas por administrada/controlada.
em 2008, a exportação das cooperativas pelos cooperados que ou um Departamento que
tão importantes quanto outras formas empresas comuns, cujas decisões têm fiscaliza as ações da monitore ou fiscalize as
agropecuárias paulistas (US$ 951.457.635) base no capital e não no ser humano. A Formalmente, cooperativa é uma
de sociedade econômica. No entanto, Diretoria, que é o Conselho ações da Diretoria
representou 23,72% do total nacional prática cooperativista recomenda que os empresa de dupla natureza, que contempla Fiscal
apesar de os números apresentados
(US$ 4.010.536.267). Já, em 2009, a expor- contradizerem aqueles que não acreditam indivíduos que desejarem constituir uma o lado econômico e o social, no qual os Finalidade Sua finalidade é o Sua finalidade é a
tação das cooperativas agropecuárias do no sistema cooperativista, ainda persiste o cooperativa se acostumem a trabalhar e cooperados são, ao mesmo tempo, donos e desenvolvimento humano maximização dos lucros
Estado somou US$ 1.097.804.067, corres- resolver em grupo os seus problemas. usuários da cooperativa: como donos, eles e o seu meio é a própria e o meio é a eficiência
grande engano daqueles que pensam que
pondendo a 30,26% do total do País (US$ todo o investimento em uma cooperativa vão administrar a empresa e como usuários organização, constituída econômica
Empresas privadas são sociedades
para isso
3.627.658.264). resultará (ou deve resultar) em retorno de capital e não de pessoas, valorizam vão utilizar seus serviços.
20 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬21

organizações coletivas e de propriedade


conjunta. Por serem coletivas e de
de gestão democrática, formados livre e
voluntariamente por seus interessados
produtos, tanto na compra de insumos
utilizados na produção, quanto na venda Instituto de Cooperativismo e Associativismo
propriedade comum, elas precisam ser com necessidades em comum, o controle de produtos agropecuários. Ademais,
Thiago Lisboa - cientista social do Instituto de Cooperativismo e Associativismo -tlisboa@codeagro.sp.gov.br
solidárias e democraticamente controladas, depende, exclusivamente, desses coope- esse ganho de escala na comercialização Paulo Florêncio - administrador do Instituto de Cooperativismo e Associativismo - paulofs@codeagro.sp.gov.br
com limites e até inexistência de graus rados. torna viável para muitas cooperativas a Diogenes Kassaoka - engenheiro agrônomo, diretor do Instituto de Cooperativismo e Associativismo - diogenes@codeagro.sp.gov.br
sucessivos de hierarquia e autoridade instalação de unidades de beneficiamento
Assim, as cooperativas assumem uma
pessoal ou individual. do produto, o que permite um acréscimo de
forma de gestão diferenciada de outros

F
valor ao mesmo, pois produtos que passam undado em 1933, o Instituto de Na reestruturação do instituto, por aumento e diversificação da produção e,
Seus princípios dizem que cooperativas empreendimentos, pois são entidades
por algum tipo de processamento têm Cooperativismo e Associativismo meio da criação das Células Regionais consequentemente, garantia de trabalho
são organizações democráticas, porque organizadas e controladas pelos próprios
valor de mercado superior aos produtos in (ICA) é um órgão vinculado à Coordenadoria — além de adequá-lo às novas formas e renda.
representam a vontade comum de todos cooperados, que se organizam livre e
natura. de Desenvolvimento dos Agronegócios de gestão do poder público e à nova
os cooperados, que é garantida pelo voluntariamente para fundá-la, aprovando No ano de 2010, essas diretrizes
Dessa forma, ao possibilitar aos (Codeagro), da Secretaria de Agricultura realidade da agricultura paulista —
órgão máximo de poder e tomada de seu estatuto, elegendo democraticamente aproximaram o ICA à Coordenadoria de
agricultores adquirirem insumos por um e Abastecimento do Estado de São Paulo inseriu-se o poder público estadual na
decisão da organização: as Assembleias a sua Diretoria e o Conselho Fiscal, Assistência Técnica Integral (CATI) e ao
(SAA) que promove a organização de pro-
Gerais dos cooperados, espaço altamente decidindo suas atividades, que devem preço menor e venderem sua produção a Instituto de Terras do
dutores rurais em empreendimentos eco-
democrático onde os sócios participam, ser subordinadas à vontade coletiva, um preço mais favorável (devido tanto ao Estado de São Paulo
nômicos e sociais, coletivos e solidários,
de forma direta e por meio de voto aprovadas em Assembleia Geral dos sócios. ganho de escala quanto ao processamento), (Itesp), que abriram
por meio de palestras e assistência técnica.
das decisões da empresa, garantindo, o cooperativismo tem se mostrado uma caminho para realiza-
Justamente por suas características alternativa adequada aos agricultores Fomentando a união de produtores ru- ção de ações em par-
assim, uma gestão verdadeiramente
societárias e por ser uma organização familiares, pois proporciona a interação rais em cooperativas e associações como ceria.
democrática. Nas Assembleias, homens
de pessoas – e não de capital com os demais agentes do mercado instrumento para o desenvolvimento eco-
e mulheres, independentes de qualquer Com o Itesp, o ICA
– que se unem para formar um agroindustrial, eliminando ou diminuindo nômico e social, o ICA atinge sua missão:
distinção social, podem ser eleitos como desenvolve trabalhos
empreendimento econômico visando desse modo, dois dos principais entraves: ser um órgão de referência em organização
representantes, sendo responsáveis em assentamentos e
atender às necessidades de seus sócios, a questão da escala na comercialização social e economia da cooperação, contri-
pela mesma e para com todos os outros a grupos quilombolas
as cooperativas se apresentam como e a coordenação dos agricultores na buindo, dessa forma, para o desenvolvi-
cooperados. localizados no pon-
alternativas, especialmente, atraentes para negociação com outros atores no mercado, mento do agronegócio paulista.
tal do Paranapanema
Se todos são responsáveis, então to- os agricultores familiares, pois permitem ganhando, assim, poder de barganha. e no Vale do Ribeira,
Ao longo de 78 anos de existência, o
dos têm por dever zelar pela organização ingressar em mercados aos quais não instituto orgulha-se de ter auxiliado a fun- prestando assistência técnica, bem como
Portanto, as cooperativas, mesmo não resolução dos problemas sociais locais
e seus objetivos, construindo Conselhos, teriam acesso individualmente. dação de muitas cooperativas e associa- de forma descentralizada e participativa. desenvolvendo pesquisas socioeconômi-
representando a solução para todos os
mecanismos de controle e fiscalização da A cooperativa, ao unir os agricultores problemas daqueles que individualmente ções de produtores rurais do Estado de São Tal estratégia permitiu ao ICA melhor cas no escopo de traçar um panorama dos
empresa e dos seus dirigentes. Ou seja, por familiares num empreendimento não atingem seus objetivos, apresentam-se Paulo, acumulando experiências e práticas acompanhamento das demandas assentamentos.
serem empreendimentos de propriedade coletivo, possibilita-lhes comercializar, como uma organização que trabalha para para continuar se empenhando no fomen- provenientes da população, refletindo- Em relação à CATI, destaca-se a Portaria
melhorar a vida da população. to à organização desses produtores, seja se em maior e melhor compreensão
conjunta, de responsabilidade coletiva, conjuntamente, quantidades maiores de Conjunta CATI-Codeagro de julho de 2010,
em cooperativas, seja em associações. dos problemas dessas localidades, que oficializou a parceria desses órgãos,
dinamizando suas ações às comunidades estabelecendo linhas de trabalho pautadas
No ano de 2006, visando adequar-se
Cooperativas: organizações que possuem história, valores e princípios próprios rurais. no revigoramento das associações e coo-
à nova realidade do setor, bem como às
novas formas de gestão da esfera pública, Desse modo, estreitando o diálogo perativas ligadas ao Programa Estadual de
• Da livre e aberta adesão dos sócios. As cooperativas são organizações voluntárias, abertas a todas as pessoas interessadas em utilizar seus Microbacias Hidrográficas com ações espe-
o instituto passou por uma profunda com grupos e lideranças rurais locais e
serviços e dispostas a aceitar as responsabilidades da sociedade, sem discriminação social, racial, política, religiosa e sexual (de gênero); cíficas, como:
reestruturação e descentralização de com base na realidade atual dos grupos
• Gestão e controle democrático dos sócios. As cooperativas são organizações democráticas, controladas por seus associados, que
suas ações, ocasião em que foram criadas formais, no ano de 2009 o instituto • capacitação técnica e administrativa dos
participam ativamente na fixação de suas políticas e nas tomadas de decisões, nas quais os sócios têm direitos iguais de voto (um sócio,
um voto); as Células Regionais de Apoio Técnico, passou por um realinhamento de suas associados de cooperativas e associações
• Participação econômica do sócio. Os cooperados contribuem equitativamente e controlam democraticamente o capital de sua localizadas nas cidades de Assis, Bragança diretrizes e dos planos de ação. Esse paulistas;
cooperativa. Ao menos parte desse capital é, geralmente, de propriedade comum da cooperativa. Os associados, geralmente, recebem Paulista, Colina, Capão Bonito, Catanduva, realinhamento culminou em um Plano • elaboração de um banco de dados das
benefícios limitados pelo capital subscrito, quando houver, como condição de associação. Os sócios destinam as sobras para algumas Jales, Jaú, Mococa, Pindamonhangaba, de Desenvolvimento Estratégico para o organizações sociais rurais (cooperativas e
das seguintes finalidades: desenvolver sua cooperativa, possibilitando a formação de reservas, das quais ao menos parte das quais seja Piracicaba, Presidente Venceslau, Registro, setor, pautado em dois grandes nortes: associações de produtores rurais), com in-
indivisível; beneficiar os associados na proporção de suas transações com a cooperativa; e sustentar outras atividades aprovadas pela Ribeirão Preto, Santos e Tupã, com o intuito formações relevantes;
desenvolvimento da economia da
sociedade; • desenvolvimento de ações voltadas à
de assistir os produtores rurais de forma cooperação e geração de trabalho e renda
• Autonomia e independência. As cooperativas são autônomas, organizações de autoajuda, controladas por seus membros. Nas relações melhor atuação e à maior integração do
mais dinâmica e eficiente. por meio de empreendimentos coletivos.
com outras organizações, inclusive governos, ou quando obtêm capital de fontes externas, o fazem de modo que garantam o controle Conselho Regional de Desenvolvimento
democrático pelos seus associados e mantenham a autonomia da cooperativa; Essas Células Regionais contam com Essas novas diretrizes têm por objetivo Rural (CRDR) e do Conselho Municipal de
• Educação, treinamento e informação. As cooperativas fornecem educação e treinamento a seus sócios, aos representantes eleitos, aos um corpo multidisciplinar de assistentes fomentar os sistemas cooperativista e Desenvolvimento Rural (CMDR).
administradores e empregados, para que eles possam contribuir efetivamente para o desenvolvimento de sua cooperativa. Eles informam agropecuários, graduados em Ciências associativista no Estado de São Paulo, É inserido nesse contexto de parcerias
ao público em geral, particularmente aos jovens e líderes de opinião, sobre a natureza e os benefícios da cooperação;
Sociais, Engenharia Agronômica, Zootecnia reconhecendo-os como instrumentos institucionais em prol do desenvolvimento
• Cooperação entre as cooperativas. As cooperativas servem seus associados mais efetivamente e fortalecem o movimento cooperativista,
trabalhando juntas por meio de estruturas locais, regionais, nacionais e internacionais; e Veterinária, os quais realizam palestras, de geração de trabalho e renda às do agronegócio e empreendedorismo
• Interesse pela comunidade. As cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentável de suas comunidades por meio de políticas prestam assistência técnica e fornecem comunidades rurais pouco integradas coletivo paulista que o Instituto de
aprovadas por seus sócios. orientações gerais na área de organização na dinâmica econômica local, pois sabe- Cooperativismo e Associativismo está
rural, formação e gestão de cooperativas e se que a união de agricultores nesses revigorado e pronto para atender os
associações. empreendimentos contribui para o produtores rurais do Estado de São Paulo.
22 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬23

CASA DA AGRICULTURA DE SÃO MIGUEL ARCANJO


Apoio à formação de associações e cooperativas contribui para a permanência do homem no campo
Roberta Lage – Jornalista - CECOR/CATI

A organização rural se faz cada vez


mais presente entre os agricul-
tores de São Miguel Arcanjo, cidade com
direcionado para as necessidades de
cada grupo de produtores”, explica a
engenheira agrônoma Cláudia Carvalho
crédito, melhorias de estrada e outros
recursos do Microbacias I. Hoje, nossa
organização se estabeleceu e caminha
aumentou e os produtos ficaram com mais
qualidade, inclusive por causa dos maqui-
nários e implementos conquistados pela
intenção, com o Microbacias II, é construir
uma vinícola comunitária, que irá facilitar a
produção de vinho, sucos e geleias. Quem
para criar um grupo de comercialização e
uma central de negócios, que objetivam
investir na comercialização dos produtos
mais de 31 mil habitantes, localizada a 45 Mendes, diretora substituta da Regional com as próprias pernas”, afirma Francisco associação, graças ao Microbacias I. Hoje está organizado e produz com qualidade, agrícolas de seus associados com varejistas,
km de Itapetininga e a 180 km da Capital Itapetininga. Yamashita, presidente da Cooperativa que comercializamos em feiras, mas pretende- vende. Quem não está, fica para trás”, avalia PAA e Programa Nacional da Alimentação
paulista. Conhecida como a “Capital da uva espera criar, com recursos do Microbacias mos ir mais longe”, entusiasma-se Maria Zafalon. Escolar (Pnae).
De acordo com Átila e Cláudia, os agri-
Itália”, por ser uma das maiores produto- II, um Packing House (casa de embalagens) Luiza. “Sozinho, a gente não consegue
cultores, além das dificuldades advindas Objetivando o acesso ao mercado, a
ras desse tipo de uva no Brasil, São Miguel para melhorar a padronização e a nada. Nossa luta agora é para melhorar a Associação e cooperativa atuantes na
das adversidades climáticas, escassez de Casa da Agricultura organizou uma visita
Arcanjo é essencialmente agrícola, onde qualidade das embalagens de produtos, do comercialização no coletivo e para a cons- comercialização de madeira tratada
mão de obra e aumento dos custos de pro- técnica ao centro de distribuição e às lojas
50% da população reside na área rural e transporte e da comercialização. trução de uma agroindústria de beneficia- Fundada em 1995, a Associação dos
dução, enfrentam o entrave da comerciali- de um grande grupo varejista de São Paulo.
é formada, em sua maioria, por pequenos mento de mel”, afirma Eliseu Alvarenga, Produtores Rurais começou com a ajuda
zação, muitas vezes, precária quando reali- “O objetivo principal foi o de aproximar
agricultores familiares que desenvolvem, Agregação de valores à produção mo- presidente da Associação. dos próprios associados que, com muito
zada pelo produtor de forma individual. “Os as associações do varejo para trocar infor-
com tecnologia e adoção de boas práticas tivou organização esforço, compraram uma máquina de tra-
comerciantes intermediários ofertam o me- mações e conhecer melhor o processo de
agropecuárias, uma agricultura diversifi- Outro exemplo dessa consciência co- Busca por melhores preços e tamento de madeira. O material tratado é
nor preço ao agricultor que, sozinho, não classificação, padronização, embalagens,
cada, destacando-se as culturas de uvas letiva pode ser vista na Associação dos planejamento de construção de vinícola destinado à zona rural para cercas, estufas,
tem escala de produção, nem uma logística logística e qualidade dos produtos horti-
de mesa, caqui, nêspera, pêssego, ameixa, Produtores Orgânicos, mais conhecida comunitária parreiral de uva, entre outros. Como a ne-
olericultura, pecuária de corte e frutigranjeiros, que serão brevemente co-
como Casarão, que foi fundada em 2001 Trabalho e planejamento também cessidade dos associados era comercializar
leite, incluindo um grande po- depois que produtores sentiram necessida- mercializados pelas associações por meio
são os objetivos da família Zafalon, do a madeira tratada, fundaram em 2004 a
tencial para o turismo rural. de de agregar valor aos seus produtos para Sítio Boa Esperança. Nele, a produção de Cooperativa Agroindustrial de São Miguel desse hipermercado”, explica Átila Queiroz
melhor comercializá-los. Participaram de uva sustenta 13 integrantes da família, Arcanjo e Região (Coasma). Atualmente, as que ainda revela as boas expectativas de
Como unidade local de todas as associações e cooperativas de São
capacitações oferecidas pela CATI e, hoje, os duas entidades estão instaladas em sede
assistência técnica e extensão Miguel Arcanjo em relação ao Microbacias
20 associados produzem e vendem, em um própria e administram também uma loja de
rural aos agricultores, a Casa II. “Temos vários grupos organizados espe-
espaço cedido pela Prefeitura Municipal, produtos agropecuários para atendimento
da Agricultura de São Miguel rando por uma política pública que possa,
produtos como geleias, compotas, pães, aos cooperados e um posto de recebimen-
Arcanjo — que conta com uma com recursos e investimentos, potenciali-
bolo, tortas, vinhos e licores, que garantem to de embalagens vazias de agrotóxicos.
equipe de 13 profissionais
um lucro mensal de, aproximadamente, R$ “Em nossos planos estão a aquisição de zar o acesso ao mercado”.
multidisciplinares da CATI,
6 mil, dos quais 20% destinam-se às despe- maquinário maior para o tratamento de “A Casa da Agricultura é importan-
da Prefeitura Municipal e da
sas internas e cada associado recebe pela madeira, a construção de uma fábrica de te para o desenvolvimento rural do
Coordenadoria de Defesa
venda de sua produção. “A partir do mo- ração e de um posto de comercialização Município. Trabalhamos em parceria com
Agropecuária — foi muito importante no de entrega e, quando estão organizados,
mento em que criamos a associação, perce- dos produtos hortifruti que atenda todo a CATI, que visa incentivar a organização
apoio ao surgimento das 11 associações de conseguem melhores preços na compra
bemos todos os benefícios da organização o município”, revela Wilson Neto, diretor- rural. O agricultor que não se unir não terá
produtores rurais e das três cooperativas, de insumos e na venda de seus produtos”,
rural. Muitas famílias sobrevivem da renda -presidente das duas instituições. condições de sobreviver sozinho”, ava-
que estão ativas e atuantes no município. esclarece Átila.
obtida no Casarão e outras até consegui- lia Roberto Furuya, secretário municipal
“Sempre acreditamos na força da união
Pioneirismo: colonização japonesa deu ram abrir o próprio negócio”, conta Tarcila Conquista recente: acesso a novos
entre os produtores e, ao incentivar de Agricultura e Meio Ambiente de São
origem à primeira associação de Souza Carvalho Nunes, presidente da Família Zafalon — planejamento de construção de vinícola mercados
a organização de grupos formais, comunitária junto à Associação de Abaitinga e Guararema
Miguel Arcanjo. Da mesma opinião com-
Associação. A conquista mais recente da organiza-
objetivamos o crescimento da consciência Pioneiros no associativismo de São partilha Waldomiro Nunes, presidente do
coletiva, a resolução de problemas Miguel Arcanjo e influenciados pela que reconhecem a importância da ção rural de São Miguel Arcanjo foi realiza-
De terras improdutivas à Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São
comuns, a geração de emprego e renda colonização japonesa, produtores da Casa da Agricultura para o sucesso da da pela Associação dos Moradores Rurais
comercialização em feiras Miguel Arcanjo e presidente do Conselho
e, sobretudo, o desenvolvimento rural Colônia Pinhal fundaram há cerca de 50 lavoura. “Recebemos respaldo técnico e do Bairro Brejaúva e Vizinhos (Amprubrevi), Municipal de Desenvolvimento Rural. “A
anos uma associação que se transformou No Sítio Coqueiro, no Bairro do Retiro, capacitações que foram fundamentais para que conta com 45 integrantes e funciona
sustentável que possibilita a permanência organização permite mais qualidade no
na Cooperativa Agrícola Sul-Brasil, que hoje o casal José Nunes Vieira e Maria Luiza, foi a melhoria da produção. A motivação por desde 2009. No fim de fevereiro, um peque-
do homem no campo”, avalia o engenheiro campo e, principalmente, que seja feito um
conta com 356 associados, que produzem beneficiado desde que começou a inte- mais qualidade e por melhores preços fez no caminhão com 3.700kg de frutas, verdu-
agrônomo Átila Queiroz de Moura, trabalho além da porteira, por mais acesso
uva, nêspera, caqui e tomate. Com sede grar a Associação dos Produtores Rurais da com que, em 2009, com o apoio da CATI ras e legumes saiu de São Miguel Arcanjo
responsável desde 2009 pela Casa da ao mercado”. De acordo com o prefeito
própria, a cooperativa comercializa Microbacia do Retiro, em 2008. Produtores fundássemos uma associação”, conta João com destino a Diadema, na Grande São
Agricultura de São Miguel Arcanjo, que municipal, Antônio Celso Mossin, a Casa da
insumos e defensivos e oferece assistência de leite e derivados, ovos caipiras, frutas e Roberto Zafalon, produtor e presidente da Paulo, para abastecer o Programa de
pertence à CATI Regional Itapetininga. frango de corte, eles contaram que quase Associação dos Moradores e Produtores Aquisição de Alimentos (PAA). “A conquista Agricultura faz um excelente trabalho de
técnica aos produtores. “Quando a
“Estamos em uma região de municípios abandonaram a área rural. “As dificulda- Rurais de Abaitinga e Guararema, a dos produtores rurais exigiu organização, fomento ao associativismo e cooperativis-
cooperativa foi fundada, o objetivo era
muito grande e é difícil trabalhar alguns unir agricultores para a compra de insumos des eram inúmeras: terras improdutivas, Amprag. Com 110 associados, eles mantêm planejamento, trabalho em equipe e perse- mo. “Estamos otimistas de que, com a nova
assuntos com os agricultores de forma agrícolas. Passamos por crises econômicas mercado sem acesso e estradas sem condi- um fundo próprio a partir do recolhimento verança para concretizar o sonho da venda fase do Microbacias, haverá um incremento
localizada. Por meio das associações e dificuldades, batalhamos bastante e ções. Depois que a Casa da Agricultura nos de pequena mensalidade e eventos coletiva sem atravessador”, anima-se Mário na produção agropecuária, na geração de
e cooperativas conseguimos oferecer recebemos assistência da CATI, bem como prestou assistência e que entramos para a sociais, como jantares, torneios de futebol Shogo, presidente da Amprubrevi, que re- emprego e renda e na qualidade de vida
capacitação constante e atendimento fomos beneficiados pelos programas de associação nossa vida mudou. A produção e vendas de produtos artesanais. “Nossa cebeu orientação da Casa da Agricultura dos nossos agricultores familiares”.
24 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬25

Cooperativismo Mais
Desenvolvimento Econômico (OCDE),
indicando que em dez anos será preciso
aumentar 20% a produção agropecuária Quais os desafios para o setor de agronegócios?
mundial para atender à demanda explosiva
Edivaldo Del Grande – O principal desafio é manter o homem na

Perto do Cidadão
por alimentos. A meta estabelecida para o
Brasil é de um aumento da ordem de 40%. atividade agrícola, evitando, dessa maneira, o êxodo rural. Esse setor
movimenta 140 milhões de toneladas,
Diferentemente do que acontece em mais de US$ 50 bilhões, com enorme
países do primeiro mundo, como Estados potencial de crescimento. No sistema
Edivaldo Del Grande – presidente da Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo (Ocesp) Unidos, Canadá, União Europeia e Japão, cooperativista, buscamos cada vez mais
diretoria@ocesp.org.br em que o cooperativismo responde por a profissionalização do nosso trabalho,
até 50% da movimentação financeira, no formando cooperativas de qualidades
Brasil a participação cooperativista ainda é semelhantes às companhias tradicionais
tímida. Segundo levantamento da Aliança do mercado. É preciso fazer chegar ao
produtor rural o crédito, instituir um
Cooperativa Internacional (ACI), existem

A inda não se conhece suficiente- A presença de nossos representantes no Para garantir o atendimento à seguro rural a preços competitivos, criar
800 milhões de cooperados no mundo. No
o tão sonhado fundo de catástrofe que
mente o papel desempenhado interior permitiu um salto de qualidade no crescente demanda de jovens aprendizes, Brasil, nossa força soma mais de 8 milhões
garanta indenizações provocadas por desastres climáticos e honrar
pelas cooperativas na economia e na qua- atendimento e no trabalho de qualificação o Sescoop/SP firmou parceria com o Centro de pessoas associadas às 7.500 entidades a política de preços estabelecida, com estoques reguladores que
lidade de vida das comunidades que com e treinamento promovidos pelo Sescoop/ de Integração Empresa-Escola (CIEE), que que compõem a OCB. Em São Paulo, são efetivamente equilibrem a relação entre produção e demanda, sem
elas interagem. Isso talvez explique, de SP aos cooperados e funcionários. Quanto permitiu ampliar o alcance do programa 911 cooperativas e quase 3 milhões de falar na infraestrutura.
alguma forma, os sucessivos decretos go- mais perto das cooperativas e das cidades, “Aprendiz Cooperativo”. Destinado a jovens cooperados ligados à Ocesp. Portanto, há
vernamentais inibidores de atividades coo- melhor conhecemos suas peculiaridades e com idade entre 14 e 24 anos, o programa, espaço para crescer e é esse o objetivo
perativas. Nós, que estamos à frente de or- mais facilmente avançamos no estímulo de que estava presente em nove cidades, central do trabalho que desenvolvemos. Como o cooperativismo contribui para o
ganizações que representam o cooperati- novos empreendimentos cooperativistas. chega agora a 318 municípios paulistas, Para isso, prosseguimos empenhados em crescimento do agronegócio?
vismo no Brasil, temos o grande desafio de Regularmente, promovemos em cidades propagando e estimulando os princípios reforçar nosso papel na sociedade e em
fazer chegar a um número cada vez maior do interior de São Paulo a palestra cooperativistas às novas gerações. salientar a importância do cooperativismo Del Grande – É preciso ressaltar que as empresas cooperativas
de pessoas os benefícios que esse sistema “Cooperativismo ao Alcance de Todos”, criaram um modelo de negócio que combina as vantagens da
Outro importante avanço para como uma alternativa ímpar na construção
que orienta como montar um negócio em iniciativa privada, sólidas parcerias com o Poder Público e uma
econômico pode proporcionar. nosso segmento foi a criação do Selo de de uma sociedade mais justa e humana.
vocação histórica para a maior justiça na distribuição de riquezas.
estrutura de cooperativa, quais os deveres
O meio acadêmico já constatou o Conformidade do Cooperativismo — No cooperativismo, não há a concentração do lucro, já que todos
e direitos dos cooperados e que proveito
fenômeno. Uma pesquisa realizada pela certificação conferida às cooperativas seus associados (cooperados) são donos do negócio. Em qualquer
podem tirar desse tipo de empreendimento,
que se integram ao Programa Nacional de Cursos para cooperativas setor cooperativista, os cooperados participam de toda a gestão da
USP de Ribeirão Preto atestou que, em que promove a justa distribuição da renda
Conformidade (PNC), desenvolvido pela agropecuárias empresa. Isso é uma vacina poderosa contra os abusos registrados
municípios onde cooperativas têm uma e permite que pequenos, juntos, se tornem nos mercados financeiros. Um exemplo mundial da importância
Organização das Cooperativas Brasileiras
atividade representativa, os índices de grandes. do cooperativismo foi a crise imobiliária nos Estados Unidos, que
(OCB) em parceria com a Ocesp. O selo
desenvolvimento humano são superiores A Ocesp, em convênio com o Ministério somente não foi mais grave porque figuravam, entre os investidores,
No âmbito da qualificação, o Sescoop/ já se transformou em aval para muitas
aos de outros que não contam com da Agricultura, Pecuária e Abastecimento cooperativas de crédito atuando sem especulações.
SP é incansável na busca de aprimorar sua cooperativas na conquista de novos
essa atuação. Essa realidade precisa ser (Mapa), implantará neste ano o Programa
grade de cursos e treinamentos, com vistas clientes e negócios. Ele funciona como
expandida para todos os cantos do País. de Desenvolvimento do Setor Produtivo
a atender desde o jovem aprendiz até os uma certificação do tipo ISO, garantindo Como o setor cooperativista vê a questão produção
das Cooperativas Agropecuárias do Estado
um importante diferencial para nossos agropecuária x conservação ambiental ?
Com essa certeza é que promovemos dirigentes de cooperativas, passando por de São Paulo. São cursos para capacitar
empreendimentos.
a regionalização das atividades da todo o corpo técnico. Dispomos de uma funcionários e produtores associados de
Mas é no ramo do agronegócio que
Del Grande – A preservação do meio ambiente é uma
Organização das Cooperativas do Estado ampla grade de módulos capaz de gerar cooperativas com temas ligados à toda
responsabilidade de toda a sociedade e, portanto, do governo,
de São Paulo (Ocesp) e do Serviço Nacional cursos específicos para cada necessidade. os benefícios alcançados podem ser cadeia produtiva de vários segmentos.
já que se trata de um bem para toda a sociedade, mas tenho
de Aprendizagem do Cooperativismo em Um trabalho árduo, que precisa contar identificados de maneira mais clara. Foi por
O programa contempla: curso de certeza de que ninguém mais do que o homem do campo quer a
São Paulo (Sescoop/SP), de modo a permitir com a força e o apoio de todos aqueles que intermédio das organizações cooperativas natureza preservada. Porém é preciso tomar cuidado com excessos.
melhoria na qualidade do produto para
que pequenos agricultores tiveram acesso Uma pesquisa desenvolvida pela Embrapa mostrou que, caso
que as ações iniciadas na sede fossem acreditam no potencial do cooperativismo os setores de grãos, café, leite, frutas,
à tecnologia, às práticas gerenciais e aos o Código Florestal seja aprovado em seu texto original, apenas
propagadas no interior do Estado. Dessa para gerar empreendimentos melhores, hortaliças e flores; curso de autogestão
métodos de trabalho que permitiram 23% do território nacional será destinado para uso em atividades
forma, instituímos os núcleos regionais, não apenas focados no lucro, mas no com módulos de administração e controle
competir com grandes produtores rurais. agropecuárias, reduzindo drasticamente nosso potencial produtivo.
dividindo o Estado em cinco macrorregiões: bem-estar de seus associados. No ano da propriedade, economia e mercado,
Assim, o progresso chegou ao campo. E Os demais 77%, incluindo reservas indígenas e de preservação de
Sudeste (região de São Paulo); Leste, passado, estabelecemos uma parceria com legislação e normas, e cooperativismo, alta biodiversidade, ficariam vetadas ao cultivo e à criação. Diante
não há outra saída. Afinal, a agricultura é
(São José dos Campos); Centro Paulista a Universidade Municipal de São Caetano além de palestras técnicas sobre mercado desses dados, é preciso encontrar o caminho possível que combine
a grande responsável pelo abastecimento
(Piracicaba); Nordeste (Ribeirão Preto); e do Sul para promover o MBA em Gestão de agrícola e pecuário. preservação e produtividade.
de alimentos no mundo e a demanda
Oeste, na região de Marília, aumentando Cooperativas, um curso sob medida para deve crescer, como aponta o relatório Mais informações podem ser obtidas
significativamente nosso raio de atuação. dirigentes e administradores. da Organização para a Cooperação e o no site www.ocesp.org.br.
26 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬27

Cooperativas de Crédito: o Compras Públicas – Políticas de Incentivo à


Sucesso da Sicoob Credicitrus Organização de Agricultores Familiares
Nivaldo Maia – gerente de operações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) - email: nivaldo.maia@conab.gov.br
Cleusa Pinheiro – Jornalista – CECOR/CATI

A ntes de falar sobre as possibilidades


que foram criadas nos últimos anos
para que os agricultores familiares possam
pelo desrespeito às culturas locais e
regionais, tudo isso relacionado à falta de
coordenação entre as políticas públicas e
Felizmente, dois programas criados
recentemente estão demonstrando
que é possível promover a inclusão dos
A década de 1980 foi um período em
que o cooperativismo de crédito re-
cebeu grande incentivo governamental no
Estrutura do sucesso. A Sicoob
Credicitrus funciona como uma institui-
ção financeira normal, com a diferença
damental que esses agricultores se be-
neficiem das vantagens oferecidas pelo
cooperativismo de crédito, que acredito
acessar, de forma direta, o mercado de
compras públicas, considero fundamental
seus investimentos. agricultores familiares, com políticas
públicas simples e eficazes.
Aliadas a essas questões, durante
Brasil, principalmente em São Paulo. Esse fundamental de que cada cooperado é ser um instrumento importante para o for- dimensionar esse segmento. A agricultura 1. Programa de Aquisição de Alimentos
muitos anos, as regras da venda de
cenário estimulou um grupo de 24 pionei- seu coproprietário e, assim, desempenha talecimento do segmento da agricultura Familiar no Brasil é responsável por 70% (PAA), em vigor desde 2003, atualmente
alimentos para os governos favoreceram
ros a fundarem, em 1983, no município de um duplo papel: dono e cliente. De um familiar. Há, ainda, um esforço do Banco da produção de alimentos que vão à mesa é desenvolvido com recursos do Ministé-
e são consumidos, diariamente, pelos a ação de intermediários e o acesso às
Bebedouro (pertencente à CATI Regional lado, tem a obrigação de contribuir para Central para fomentar o microcrédito e, as- rio do Desenvolvimento Agrário (MDA) e
Barretos), a Credicitrus, cujo objetivo ini- o fortalecimento da cooperativa, zelando sim, apoiar o segmento”, salienta Raul. brasileiros. Em razão das características, chamadas públicas, a poucos. Diante
do Ministério de Desenvolvimento Social
cial era atuar como braço financeiro dos pela preservação de seu patrimônio, que da diversidade e da forma de produção disso, é importante fazer um exercício de
Aos interessados em formar uma coo- (MDS). Seu principal braço operacional
cooperados da Coopercitrus. “Inicialmente é o bem comum de todos os cooperados. que não permite a massificação da imaginação: em termos econômicos e
perativa de crédito, o presidente da Sicoob tem sido a Companhia Nacional de Abas-
pequena e enfrentando a desconfiança da Nesse sentido, ao associar-se, o coopera- mecanização, garante a crescente geração sociais temos um resultado melhor quando
Credicitrus alerta: “as exigências são mui- tecimento (Conab). Esse programa tirou
do adquire cotas de capital. De outro lado, de empregos e é responsável por sete de um intermediário ganha um milhão de
tas, com o objetivo de proteger o sistema do papel os dados, está demonstrando o
tem o direito de usufruir das vantagens do cada dez empregos que são criados no reais em uma licitação ou 100 produtores
financeiro. Essas exigências estão expressas potencial exuberante da agricultura fa-
sistema, que, no nosso caso, incluem: tarifa faturam 10 mil reais cada um, no mesmo
na Lei 5.764, de 16 de dezembro de 1971, campo. Esse é um dado extremamente miliar e, ainda, direciona grande parte de
zero para todas as operações; taxas de juros
na Lei Complementar 130, de 17 de abril importante porque garante a geração processo? A questão não é discutir se o suas aquisições, sob forma de doação, para
mais baixas; retorno das sobras ao final de
de 2009, e na Resolução 3.859, do Banco de renda e alivia o êxodo para áreas mais setor está ou não preparado para assumir entidades assistenciais. O PAA, executado
cada exercício, proporcionalmente, à movi-
Central, publicada em 27 de maio de 2010. urbanizadas. essa ou outra política similar, mas sim com relativa simplicidade, está amenizan-
mentação durante o ano; atendimento per-
Portanto, recomendamos aos interessados reconhecer que o Estado tem a obrigação
sonalizado, ágil e sem burocracia; e horário Considerando-se volumes de produção do e, em muitos casos, resolvendo vários
que procurem se inteirar dessas normas,
de atendimento estendido (das 8h às 17h, da agricultura familiar, podemos destacar de criar esse ambiente e repavimentar essa problemas socioeconômicos: do lado da
pois o Banco Central é extremamente rigo-
com atendimento também aos sábados). que do total nacional ela responde por estrada de forma vigorosa e urgente. A produção, garante preço justo, renda e or-
roso na concessão de autorizações de fun-
Quanto ao perfil dos cooperados, ini- cionamento às novas cooperativas”, explica 70% do feijão, 84% da mandioca, 54% perpetuação dessa situação está trazendo ganização; na outra ponta, atende popula-
cialmente a Sicoob Credicitrus funcionou Raul. (Mais informações podem ser obtidas do leite, 49% do milho, além de 58% de ônus e prejuízos quase que irreversíveis à ções em situação de insegurança alimentar
como cooperativa de crédito rural, sendo no site do Banco Central www.bcb.gov). suínos e 40% de aves e ovos. Estima-se, ocupação da terra, aos hábitos alimentares, e nutricional. Essa operacionalização pro-
aberta à admissão de produtores agro- ainda, em 4,5 milhões o número dessas ao meio ambiente, à educação, à saúde, à duz ótimos efeitos nas economias locais
Sistema se manteve seguro durante
pecuários em geral. A partir de 2010, com propriedades no Brasil. Esse segmento distribuição de rendas, além de contribuir, (os recursos giram no próprio município),
maioria, ela foi pouco a pouco firmando- o auge da crise econômica. Segundo
autorização do Banco Central, passou a permite e tem desenvolvido sistemas de forma decisiva, para o desequilíbrio na organização da produção, na ocupação
-se até tornar-se não só a maior coopera- o presidente, a gestão conservadora, ou
admitir pessoas físicas de duas categorias: produtivos diversificados que ensejam social e à criminalidade. da terra, na diversidade, na área da saúde,
tiva do sistema Coopercitrus, mas a maior engenheiros agrônomos e correlatos e pro- seja, a atuação dentro de limites mais
e mais segura do País”, esclarece Raul estreitos, aliada ao conhecimento do perfil a real possibilidade do uso correto de
fissionais de saúde (médicos, dentistas, en-
Huss de Almeida, diretor-presidente da dos cooperados, permite a realização de recursos naturais e que concentram as
fermeiros, entre outros); além de também
cooperativa. operações de crédito com mais segurança, maiores tendências de proteção ao meio
admitir, como associados, micros e peque-
nas empresas. tanto que a taxa de inadimplência é ambiente com a crescente migração
Atualmente, a Credicitrus ostenta nú- inferior a 1%, índice mais baixo do que em do cultivo convencional para sistemas
meros expressivos e adota a sigla Sicoob Entre os produtos e serviços financeiros qualquer outra instituição financeira. “Além agroecológicos e orgânicos.
Credicitrus, que indica sua ligação com oferecidos estão conta corrente, depósi- disso, temos trabalhado ao longo dos anos
o Sistema de Cooperativas de Crédito do tos remunerados, poupança, crédito rural, Com relação às compras institucionais,
para fortalecer nosso patrimônio líquido,
Brasil, que reúne em todo o País mais de crédito pessoal, financiamento de veícu- a dificuldade histórica do segmento
que, como já disse antes, pertence a todos
600 organizações similares, de todos os los, transferências, recebimento de contas os cooperados. Pelo volume já alcançado, familiar para participar dos certames
portes. De acordo com o balanço realiza- e distribuição de sobras. Também ofere- caso seja necessário, nossos recursos nos licitatórios é decorrente do baixo
do no final do ano passado, a cooperativa ce facilidades como o internet banking. investimento nas áreas de capacitação
permitem atender às necessidades dos
tem mais de 43 mil cooperados, 44 filiais “Todas essas operações são realizadas por em gestão, da insuficiência de crédito,
cooperados sem depender de repasses de
espalhadas por São Paulo e pelo Triângulo intermédio do Banco Cooperativo do Brasil da descontinuidade e da fragilidade de
outras instituições. Em resumo, pudemos
(Bancoob), que dá sustentação ao sistema”, apoio nas áreas de assistência técnica,
Mineiro, ativos de mais de dois bilhões de manter a normalidade e agilidade
esclarece o presidente.
reais e patrimônio líquido de quase 600 operacionais maiores durante a recente da quase nulidade de investimentos em
milhões de reais. “No ano passado realiza- Apesar do porte, a cooperativa tem crise financeira internacional e, assim, ciência e tecnologia específicas para o
mos operações de crédito superiores a 1,2 em seu quadro de associados um grande foram atendidas todas as solicitações dos setor, pelo pouco interesse em fortalecer as
bilhão de reais”, diz Raul de Almeida. número de pequenos produtores. “É fun- cooperados”, enfatiza. organizações (associações, cooperativas...),
28 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬29

na educação, na erradicação da fome e, seja portador da Declaração de Aptidão de esclarecer eventuais dúvidas para que
principalmente, na cidadania e na digni- ao Pronaf (DAP), documento fornecido os produtores e gestores dessa atividade
dade das pessoas. O programa apresenta
os seguintes instrumentos:
pelas instituições de assistência técnica e
extensão rural e esteja com o CPF regular no
site da Receita Federal. O limite financeiro
implantem o programa com rapidez e
segurança. Participam hoje dessa comissão
membros que representam o Ministério
Associações de Botucatu Recebem
• Compra Direta Local da Agricultura Fa-
miliar – instrumento operado pelo sistema
atual é de R$4.500,00 reais, por ano civil,
por Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP).
do Desenvolvimento Agrário, o Incra, a
CATI, o Itesp, a Conab, a Ação Fome Zero, Apoio para Desenvolver Projetos
de convênio entre o Ministério da Saúde 2. Lei Federal 11.947 – Resolução 38 – o Conselho de Alimentação Escolar (CAE)
com Prefeituras Municipais ou Estados (UF) Fundo Nacional de Desenvolvimento da Guarulhos, o Centro Colaborador de
– Informações de acesso no site www.mds. Alimentação e Nutrição Escolar (Cecane) Nathália Vulto Sena - Jornalista – Assessoria de Imprensa /CATI
Educação (FNDE), em vigor desde janeiro
gov.br de 2009 – e cujos recursos, da ordem de e um consultor da Secretaria de Educação
22 bilhões de reais do Governo Federal aos de São Bernardo. A comissão já se reuniu
• Compra Direta da Agricultura Familiar
– operado pela Conab com recursos do
quais devem ser juntados os investimentos
estaduais e municipais, são oriundos do re-
com mais de 200 Prefeituras e obteve
expressivos resultados naquilo que se
A fim de apoiar o desenvolvimento
de projetos das associações de pro-
dutores rurais do município de Botucatu,
O Fundo de Desenvolvimento Rural
Sustentável é formado por um Conselho
Gestor e um Conselho Fiscal, cujos mem-
possibilidade de as associações receberem
um apoio menor, dando lugar a projetos do
próprio CMDR para o desenvolvimento ru-
MDA e do MDS. Prevê a aquisição direta passe que é feito pelo Programa Nacional propôs e tem hoje o reconhecimento do foi criado, em setembro de 2007, o Fundo bros são eleitos pelos integrantes do ral municipal”.
e imediata de produtos que suportem de Alimentação Escolar (Pnae). Essa Lei, FNDE como um embrião a ser replicado nas de Desenvolvimento Rural Sustentável CMDR. O objetivo é que os próprios repre-
estocagem de médio e longo prazos. A além de redefinir conceitos sobre a alimen- outras Unidades da Federação. (FDRS), vinculado à Secretaria Municipal de sentantes do setor (sindicatos, agricultores,
Conab compra e armazena o produto tação necessária e saudável, prevê e torna Agricultura e Abastecimento. instituições de ensino) decidam em quais
Nesse contexto e para dar continuidade projetos o dinheiro será aplicado.
que, posteriormente, poderá ser doado obrigatório que os gestores desses recur- O Fundo funciona como captador e
aos trabalhos que hão de vir, e comparando
ou vendido, dependendo das condições sos, que na grande maioria são as Prefeitu- aplicador de recursos. Desde sua criação, Rafael Marcelino, engenheiro agrôno-
a capilaridade e o histórico de cada
de mercado. Nessa modalidade, é possível ras Municipais, adquiram, no mínimo, 30% foram abertos três editais para que as as- mo da Casa da Agricultura de Botucatu, ex-
membro participante, vejo a CATI com
comprar de agricultores individuais, bem sociações apresentassem projetos para plica que, para ser beneficiado pelo Fundo,
do valor repassado pelo FNDE em gêneros todas as possibilidades de assumir o papel
como de suas organizações. serem apoiados financeiramente. Ao todo, o projeto deve atender aos requisitos do
alimentícios diretamente da agricultura fa- de principal centralizadora e articuladora sete organizações de produtores foram edital e ser avaliado pelo Conselho Gestor
miliar ou de suas organizações. Nesse caso, desse processo em São Paulo. Com 40 beneficiadas com implementos, assistên- quanto à sua viabilidade. “Caso o parecer
• Compra da Agricultura Familiar com devem ser portadoras da DAP jurídica. cia técnica especializada, recuperação de do Conselho Gestor seja favorável, o proje-
Regionais que agregam em suas áreas
Doação Simultânea – instrumento opera- trechos de estradas rurais, fossas sépticas, to é encaminhado para votação do CMDR”.
Assim como o PAA, o programa dá pouco mais de 15 Prefeituras cada um,
do pela Conab com recursos do MDS. Prevê entre outros, totalizando um investimen- É o caso da Associação de Produtores
prioridade aos agricultores ou às suas basta que haja a devida orientação
a aquisição da maioria dos alimentos, com to aproximado de R$ 320 mil. Em 2010, o Rurais de Botucatu - Koinobori, com 15
organizações locais, seguidas pelas acompanhada de capacitação que Fundo também apoiou uma iniciativa do associados, produtores de frutas, cereais
prioridade para frutas, legumes e verduras
regionais, estaduais ou de outros estados, criaremos 40 mini Ceias Regionais. Nesse Conselho Municipal de Desenvolvimento e legumes. Com a ajuda do Fundo, conse-
com diferencial para orgânicos. Também
bem como instrui para que se dê preferência caso, a proximidade e o conhecimento Rural (CMDR): a compra de aparelhos GPS guiram assistência técnica especializada e
são admitidos produtos processados e/ Henrique Monteferrante e Rafael Marcelino
àqueles que se enquadrem na tipificação dos problemas locais favoreceriam para para georreferenciar as estradas rurais de uma valetadeira. O presidente da associa-
ou de origem animal. O acesso é feito por Botucatu e equipar viaturas de polícia, vi- ção, Mitsuo Hino, garante que “essa ajuda
de assentados, quilombolas, indígenas e uma explosão de implantação e afirmação Sala do Produtor Rural
meio de apresentação de projeto na Conab sando facilitar o acesso às propriedades. é muito importante, pois traz tecnologias e
atingidos por barragens. O limite financeiro do programa. E esse é um jogo que, para Em várias reuniões realizadas
e exige que os agricultores estejam repre- insumos ao alcance do produtor”.
atual é de R$ 9.000,00 por ano civil por DAP ser vencido, não precisa terminar. Mas é Com uma receita média anual de R$ 300 para elaborar o Plano Municipal de
sentados por suas organizações (associa- mil, o FDRS dispõe atualmente de R$400 O engenheiro agrônomo Cláudio Vivan Desenvolvimento Rural de Botucatu, mui-
e pode ser cumulativo com os projetos do necessário que todos entrem em campo e
ções, cooperativas, colônias etc.) mil em caixa. O dinheiro é oriundo do Pinto, diretor da CATI Regional Botucatu, tos produtores manifestaram dificuldade
PAA. Para acesso, os interessados devem se esforcem para cumprir seu papel.
Imposto Territorial Rural (ITR) arrecadado ressalta que a existência do Fundo permi- para elaborar documentos, consultar pre-
ser portadores da DAP, estar com o CPF em no município. Segundo o presidente do te que as associações beneficiadas estejam ços de insumos e produtos e a necessidade
• Formação de Estoque – operado pela
situação regular no site da Receita Federal. CMDR, Henrique Monteferrante, metade mais preparadas para acessar o Microbacias de possuir um endereço fixo para receber
Conab com recursos do MDS e MDA.
Para compras acima de 100 mil reais, o Mais informações podem ser obtidas do valor do ITR vai para o Governo Federal, II. “Para receber apoio do FDRS, as associa- correspondências.
Sua principal característica é dotar as
negócio precisa ser intermediado por uma nos sites ou nas Superintendências os outros 50% a Prefeitura repassa para o ções precisam estar com a documentação
organizações da capacidade de aquisição Uma parceria entre a Prefeitura
organização formal que seja portadora da Regionais dos respectivos órgãos: Fundo. O FDRS pode, também, receber atualizada, além de fazer balanços patrimo-
da produção de seus associados ou Municipal, a CATI, o CMDR, a Faculdade de
contribuição do Governo e de empresas niais e prestação de contas, ou seja, um ní-
DAP jurídica. Detalhes técnicos, bem como Conab: www.conab.gov.br Tecnologia de Botucatu (Fatec) e o Serviço
cooperados no pico da oferta, quando há privadas. “Futuramente, poderemos vel organizacional mais avançado que será
informações sobre a operacionalização, Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
pressão de baixa nos preços, e permitir Ministério do Desenvolvimento Social: ajudar as associações na contrapartida essencial no Projeto”.
podem ser obtidos diretamente nas Empresas (Sebrae) do município possibili-
que esses produtos sejam vendidos em www.mds.gov.br para projetos e parcerias, incluindo o
De acordo com Monteferrante, até o tou criar essa estrutura para as associações,
Prefeituras locais, por meio da Secretaria Microbacias II – Acesso ao Mercado”, afirma.
momento posterior e mais favorável Ministério do Desenvolvimento Agrário: momento a prioridade era ajudar as as- dando origem à Sala do Produtor Rural,
de Educação, Secretaria de Agricultura,
aos preços, podendo haver também www.mda.gov.br sociações na sua inaugurada em maio de 2010.
Conselhos de Alimentação Escolar, ou
a agregação de valor por intermédio Contatos com a Superintendência
criação e no fortale- Segundo o secretário municipal de
em órgãos envolvidos com a articulação cimento, até conse-
de processamento, embalagem ou Agricultura, Márcio Gonçalves Campos, no
desses projetos. Regional da Conab em São Paulo:
industrialização. Acesso apenas para as guirem caminhar so- local as associações podem usar telefone,
sp.sureg@conab.gov.br – sp.geope@ zinhas. “Agora é hora
organizações de produtores. Em São Paulo foi criada a Comissão fax, internet e receber correspondências,
conab.gov.br ou pelos tels: (11) 3264- de pensar em parce- além de contar com a assessoria de dois
Para todos os casos, a contratação Estadual Intersetorial para a Alimentação 4800 – PABX e (11) 3264-4801 – Gerência rias e projetos maio- estagiários disponibilizados pela Fatec.
está sujeita à disponibilidade de recursos. Escolar (Ceia), grupo formado por de Operações – Geope/SP res, a fim de poten- “Essa parceria resultou em um cenário mui-
A condição mínima para que ocorra o técnicos de vários órgãos estatais que cializar os recursos. to favorável para o agricultor de Botucatu”,
acesso a esses programas, é que o produtor assumiu a tarefa de divulgar, bem como Representantes de associações beneficiadas pelo FDRS Em 2011 estuda-se a avalia.
30 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬31

Coopermota: uma
Palmital, que não falta às reuniões mensais mas uma safra reduzida. No entanto, a lavoura. Outra vantagem do pequeno
na Coopermota. ajudava a reduzir os efeitos da quebra dos produtor é a flexibilidade na hora de
cafeicultores que se arrastava por uma procurar alternativas e de diversificar sua

Empresa com Vários


década. produção. Eu recomendo a antiga receita
de não colocar todos os ovos na mesma
Hoje, a região é a maior produtora cesta, a região é boa para fruticultura e o
de milho e referência no Estado. O milho pequeno produtor pode e deve investir

Sócios
safrinha, por sua vez, passou a ser altamente em diversificação. E aconselha: é para o
tecnificado e recompensa produtores não pequeno produtor que a Cooperativa
só do Estado de São Paulo, mas de Goiás, melhor trabalha, juntos eles competem em
Mato Grosso, Paraná e outros. Enfim, o condições de igualdade com os grandes e
plantio do milho na safrinha disseminou- ainda podem oferecer o melhor produto.
Graça D’Auria – Jornalista – CECOR/CATI se pelo País, conta Sylmar Denucci, técnico
da CATI que partilhou da experiência e
acompanhou, da Fazenda Ataliba Leonel
(DSMM/CATI), em Manduri, os avanços. A

E m fevereiro, aconteceu pelo quinto e mulheres, mesma linha adotada pela atuais investidores na cana-de-açúcar, Angélica Briganó Brotto, produtora de Palmital fazenda que fica sob a responsabilidade
ano consecutivo o Coopershow. Organização das Cooperativas do Estado cultura que se torna cada vez mais As reuniões dão continuidade ao do Departamento de Sementes, Mudas e
Evento esperado por agricultores do de São Paulo (Ocesp) para que agricultores presente. Segundo Edson Valmir Fadel, curso que teve a duração de nove meses e Matrizes (DSMM) da CATI é produtora de
noroeste paulista e até do vizinho Estado de todo porte, principalmente os mais conhecido como Branco Fadel, atual capacitou cerca de 100 mulheres. Fátima sementes de milho variedade que levam a
do Paraná, a mostra de tecnologia é uma pequenos, tenham condições de encarar presidente da Coopermota, é esse o papel Aparecida da Silva é produtora de milho sigla AL e são muito utilizadas para plantio
afirmação dos novos rumos adotados pela as exigências dos competitivos mercados da cooperativa: apoiar todos os associados e soja em Campos Novos e faz coro junto na safrinha.
Cooperativa dos Cafeicultores da Média nacional e mundial. Outra medida que em suas decisões e oferecer capacitação às demais. “Antes, quando tentávamos
Sorocabana (Coopermota), localizada em tem contribuído com as cooperativas é para que tomem as decisões mais acertadas
participar, diziam que só vínhamos às
Cândido Mota, pequena cidade de pouco a atuação regionalizada da Organização em seus negócios. Para isso, chamaram
reuniões para vigiar os maridos ou comer
mais de 30 mil habitantes encravada em das Cooperativas do Estado de São profissionais para atuarem na direção e
e isso destruía a nossa autoestima. Hoje
uma região que já passou por muitos Paulo (Ocesp) e do Serviço Nacional de renovam a cada ano a parceria com os
pesquisadores no suporte tecnológico para queremos mais, não só outros cursos,
percalços, mas que hoje firma posição no Aprendizado do Cooperativismo Paulista
que o produtor possa fazer o que mais sabe: mas participar ativamente das decisões e
mercado de grãos, principalmente milho (Sescoop-SP) que permite estar mais Sandro Amadeu também enfatiza a
produzir, mas consciente da importância do gerenciamento da nossa propriedade
e soja, e também trigo, aveia, além de próximo e atento às questões locais, avalia maior necessidade de difusão de tecnologia
da qualidade exigida pelo mercado e com a e, quem sabe, até da cooperativa”, diz a
mandioca e banana. Ayries Lopes, consultor técnico do Núcleo para as culturas de ciclo curto e credita o
sustentabilidade esperada pela sociedade. produtora, afirmando que o resultado dos
Oeste, sediado em Marília. sucesso do Coopershow, que conquista
Os novos rumos têm a ver com a Por sustentabilidade entenderam, também, cursos reflete nos seis filhos, três homens
mais visitantes a cada ano, para essa difusão.
profissionalização, que está presente na No rastro da história da Coopermota, que o envolvimento das mulheres e jovens e três mulheres. “Agora as discussões são
“Estamos investindo na capacitação das
contratação de profissionais reconhecidos construída ao longo de mais de 50 anos, é fundamental e abriram espaço para em família e o que era considerado apenas pessoas; hoje, se for preciso fazer mais
pelo mercado para a Diretoria, com a outras cooperativas da região sucumbiram esses segmentos. E Presidência, Diretoria, palpite passou a ter peso nas decisões”,
Gerência e funcionários estão certos de um silo, é fácil, aumentar a infraestrutura
capacitação constante dos cooperados, e cafeicultores agora são poucos, mas afirma a produtora.
que a sobrevivência e o futuro estão na não é algo difícil para uma Cooperativa
com o incentivo à participação de jovens ainda têm seu espaço, assim como os
união de todos esses fatores. Mas não é de agora que a busca por que tem o porte da nossa, então nosso
alternativas e o pionerismo da Coopermota desafio é investir no cooperado, para que
Nessa linha, foi convidado para O fato de ter produtores cultivando com ele gerencie bem a sua propriedade, e no
assumir a Gerência Executiva Técnico- dão frutos, ou melhor, grãos, aos seus
menor custo devido, entre outros fatores, funcionário para que ele gerencie bem
Comercial, com a responsabilidade pelos cooperados. A tecnologia do milho
ao preço inferior das terras e ao menor a Cooperativa para ser vista como uma
campos de difusão, e a Área de Educação safrinha (segunda safra) é um dos maiores
custo de mão de obra fora do Estado de empresa. “É preciso quebrar o paradigma
Cooperativista, Sandro José Amadeu, motivos de orgulho da Cooperativa, pois
São Paulo, tem feito o pesquisador do IAC, que a cooperativa só serve em momentos
que deu continuidade aos cursos feitos foi desenvolvida por pesquisadores do
Aíldson Pereira Duarte, que acompanha os de crise e que o produtor ora entrega ora
por intermédio da Ocesp e do Sescoop- Instituto Agronômico de Campinas (IAC, cooperados da Coopermota há mais de 26 não entrega a produção. Trabalhamos com
SP e, também, em parceria com o Mapa, hoje pertencente à Agência Paulista de anos, alertar para a garantia de qualidade commodities e é preciso ter segurança e é
como o curso “Desenvolvimento e Tecnologia dos Agronegócios - Apta) junto aliada à alta produtividade. “O produtor isso que a cooperativa faz, trabalha para
capacitação social e econômica para à Coopermota e outras duas cooperativas paulista não pode correr o risco de errar todos ganharem e deve ser pensada e
mulheres cooperativistas”, que aumentou
parceiras, a Cooperativa Agropecuária na época de plantio, nos tratos culturais, gerida como empresa, por esse motivo,
a autoestima e deu o devido valor àquelas
de Pedrinhas Paulista e a Cooperativa no manejo, enfim, nos cuidados com a investimos em gestão, no gerenciamento,
que lutam junto com o marido e os filhos
Riograndense. O intuito era aproveitar uma lavoura, porque a margem de lucro é na capacitação e profissionalização das
no gerenciamento da propriedade.
“Agora o meu marido e os meus filhos me prática comum entre os produtores que muito baixa e, se errar, ele quebra”. Aíldson pessoas e seguimos um calendário que
ouvem, posso dar minha opinião e tenho utilizavam para plantio o “milho de paiol”, afirma, ainda, que é justamente o pequeno tem como foco uma estratégia de formação
argumentos para defender minha posição”, milho que era produzido como grão e não produtor o que está mais apto a ter dessas pessoas. Aqui todos são sócios no
Branco Fadel, presidente da Coopermota. cuidados especiais e maior capricho com negócio”.
diz Angélica Briganó Brotto, produtora de semente, tinha menor custo de produção,
32 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬33

Associação se Fortalece enquanto


Além da cooperativa, os agricultores produção de hortaliças garante uma
também recebem toda a assistência da venda de cerca de três mil pés por
Casa da Agricultura da CATI, que oferece semana. Para ele, integrar uma coo-

surge um Novo Modelo de Cooperativa


treinamentos, organiza seminários e en- perativa e contar com a assistência da
contros, faz a intermediação com orga- Casa da Agricultura trazem muitos be-
nizações de apoio, como o Instituto de nefícios. “Ficamos isolados no campo
Cooperativismo e Associativismo (ICA) e a e, por isso, é importante que haja uma

em Artur Nogueira Organização das Cooperativas do Estado


de São Paulo (Ocesp), participa do proces-
so de regularização e está presente com
equipe que nos ofereça orientações
técnicas, burocráticas e noções de co-
mercialização. Já consegui, por meio
Roberta Lage – Jornalista - CECOR/CATI orientações técnicas no processo de pro- da cooperativa, fornecer a produção
dução. para as escolas da Prefeitura Municipal

“A tuar juntamente com outros ganizar: surgiram os grupos do sabão arte- criaram, com apoio da Casa da Agricultura de Cosmópolis e da região. Quanto
E não faltam exemplos de agricultores
para um fim comum; contribuir sanal, do frango caipira e de produtos para de Artur Nogueira e da Prefeitura Municipal, mais união, mais força, mais conquis-
familiares que se mostram motivados e já
para que algo ocorra”. A definição do verbo a merenda escolar. “Temos a responsabili- a Cooprafan. tas”, avalia Ricardo.
colhem resultados depois que passaram a
“cooperar” não está apenas no dicionário. dade de motivar o produtor a se organizar. integrar a associação e a cooperativa. Uma dessas conquistas é a co-
De forma original, a Cooperativa surgiu Ricardo Kadow - Quanto mais união, mais força e mais conquistas
Ela é colocada em prática em várias regiões e Sozinho a batalha é árdua. Por isso, oferece- mercialização dos produtos dos peque-
da união de grupos informais de agriculto- Sandra Venâncio trabalha com o ma-
situações do Brasil e também na agricultura mos capacitações, orientações, que fazem nos agricultores no Programa Nacional feito municipal de Artur Nogueira, a orga-
res que já vinham atuando no município e rido e com o filho em uma propriedade
paulista. Um exemplo dessa união ocorre com que eles possam ter mecanismos de de Alimentação Escolar (Pnae), como ci- nização rural é fundamental não só para o
que quiseram juntar suas forças numa or- de quatro alqueires, onde têm produção
negociação maior e mais tado pelos entrevistados. “O programa da desenvolvimento rural, como para o cres-
ganização mais forte, mas com um formato de leite, abobrinha, quiabo e milho verde.
qualidade dos produtos”, Merenda veio valorizar a agricultura do cimento econômico, social e político do
diferente das cooperativas convencionais A comercialização, antes realizada com
afirma Roseli. município. Hoje recebemos dos agriculto- município. “A maioria dos pequenos produ-
de nosso Estado, em que se pudesse con- ajuda de atravessadores, hoje é feita por
Exemplos desse investi- ciliar o respeito à autonomia dos empre- res, em média, 2,5 mil kg de laranja e 530kg tores está percebendo a importância de se
Bruno Venâncio, filho de 18 anos, que re-
mento são as organizações endimentos pré-existentes e a articulação de mandioca por semana, que alimentam organizar e, por isso também, está cobran-
passa a mercadoria para a merenda es-
formais, como a Associação dos interesses comuns de melhor acesso cerca de 5 mil alunos das 18 escolas muni- do mais as autoridades.Todos devem fazer
colar de Cosmópolis e para a Companhia
dos Produtores Rurais de ao mercado e processamento de seus pro- cipais e creches e 4 mil alunos nas escolas a sua parte. A Casa da Agricultura oferece
de Entrepostos e Armazéns Gerais de São
Artur Nogueira (Apran), cria- dutos. estaduais”, avalia Amarildo Boer, secretário assistência técnica, a Prefeitura faz a articu-
Paulo (Ceagesp). “A partir do momento em
da em 2003, e a Cooperativa municipal de Educação. lação política para canalização de recursos
Foi assim que se criou uma estrutura que começamos a negociar direto com o
de Produção Agroindustrial e os agricultores trabalham por mais união,
onde a direção da cooperativa é comparti- comprador, conseguimos valorizar o nosso Entre os empreendimentos que com-
Familiar de Artur Nogueira organização e qualidade da produção”,
lhada entre representantes de cada grupo produto”, explica. A família passou a in- põem a cooperativa está o grupo ambiental
(Cooprafan), constituída em afirma Antonio Lopes Cordeiro, secretário
de produção que a compõem e onde cada tegrar a Cooprafan e está animada com o de mulheres que produzem sabão artesa-
2010. de Planejamento, completando este pen-
núcleo de empreendimento mantém rela- trabalho em grupo. “Trabalhar em equipe é nal. Em busca de uma renda extra, esposas
samento ao discorrer sobre a importância
Atualmente com 90 tiva independência para planejar a sua pro- bem melhor e os resultados mais seguros”, dos cooperados se uniram após treinamen-
dos jovens na continuidade do trabalho ru-
associados, a Apran come- dução e comercialização específica. avalia Sandra. to oferecido pela Casa da Agricultura, por
ral feito pelos pais: “A agricultura, no futuro,
çou suas atividades quan- meio do Programa Estadual de Microbacias
“Neste novo modelo, a cooperativa Seu Baldassari Chiste, que produz cana, só existirá se os jovens estiverem envolvi-
Roseli Borges, da CATI, e Rosimaldo Magossi, da Cooprafan, prestam assistência ao produtor Jorge Kushi do, com recursos de seus
Hidrográficas, para produção artesanal de
não precisa concentrar espacialmente a frutas, flores, mel e traba- dos. Há uma preocupação do governo em
fundadores, comprou uma lha com animais exóticos, buscar alternativas e uma delas é a constru-
em Artur Nogueira, município localizado produção, nem centralizar a decisão sobre
máquina agrícola. Posteriormente, em acredita que a união é fun- ção de uma escola técnica rural, para incen-
os procedimentos de comercialização dos
na Região Metropolitana de Campinas, mas parceria com Prefeitura e com a CATI, por damental para a conquista tivar a juventude por meio da tecnologia”.
produtos, dispensando a necessidade da
com o perfil agropecuário forte. São 1.024 meio do Programa Estadual de Microbacias de melhores preços e no-
criação de um corpo de administradores e Os Conselhos Regional e Municipal
pequenas propriedades rurais cadastradas Hidrográficas, os associados adquiriram vos mercados. “A organi-
funcionários desvinculados das famílias de de Desenvolvimento Rural também in-
no Levantamento Censitário das Unidades novos equipamentos e passaram a atender zação é positiva por vários
agricultores – o que normalmente eleva os centivam essa organização. “Além de es-
de Produção Agropecuária do Estado os produtores rurais em suas propriedades. motivos. Um deles, bas-
custos das cooperativas e afasta os sócios paços para a comercialização, buscamos
de São Paulo (Lupa), das quais mais de A associação, que tem sede própria e três tante forte, é a economia
do controle de sua organização”, explica fomentar o turismo rural”, conta Roberto
80% têm áreas inferiores a 50 hectares e funcionários, também assumiu a admi- que conseguimos na com-
Carlos Eduardo Galletta, articulador da CATI Scheneider, presidente dos conselhos.
a organização rural tem chamado, cada nistração da Balança Municipal, que mais pra e o lucro da venda”.
para associativismo e comercialização da
vez mais, a atenção do município que já tarde foi informatizada e se transformou E as expectativas com o Microbacias II
agricultura familiar. Em Cosmópolis, no
conta com 90 agricultores participantes de em Balança Eletrônica. “É muito caro para fazem com que associados e cooperados
o produtor adquirir e manter equipamen- Dessa forma, a cooperativa pretende Sítio Cachoeirinha, de
associações e 32 produtores rurais sócios planejem novos investimentos. “Estamos à
tos. A associação viabiliza prestação de inú- 1,5 alqueire, com 800 pés
de cooperativa. ter como foco o desenvolvimento susten- procura de uma sede e queremos investir
meros serviços e incentiva as boas práticas de goiaba, Jorge Kushi
tável das famílias cooperadas, por meio em uma cozinha industrial, em um extrator
O trabalho em prol da organização agrícolas. O diferencial é que eles pagam produz e comercializa
de investimentos na produção, industria- Alternativa de renda - esposas dos cooperados produzem sabão artesanal de suco e em um abatedouro municipal”,
rural teve início na Casa da Agricultura de pouco pelos serviços recebidos e contam por dia 600kg de goiaba
lização e/ou beneficiamento de cereais, e diz Rosimaldo da Cooprafan. “Estamos en-
com equipe altamente capacitada”, explica de mesa e afirma que produtos de limpeza. O grupo coleta óleo
Artur Nogueira em 2002 junto ao Programa seus derivados, hortaliças e frutas in natu- tre as 10 associações mais organizadas do
Ademir Giroldi, vice-presidente da Apran. participar da cooperativa é uma forma de cozinha usado e trabalha na produção
de Microbacias I. A engenheira agrôno- ra, minimamente processadas e conservas. Estado e pretendemos adquirir novos equi-
de unir forças para objetivos comuns. artesanal de sabão e sua comercialização
ma Roseli Borges, responsável pela Casa “Nossa intenção, com a cooperativa, é a de pamentos”, fala Ademir Giroldi, da Apran. “A
Com o objetivo de melhorar mecanis- “Fiz vários cursos de processamentos e solidária. “Diminuimos o direcionamento
da Agricultura, contou com a parceria do oferecer melhores condições de vida e de intenção é que possamos contribuir para
mos de comercialização de seus produtos, pretendo ajudar na criação de uma cozinha do óleo que iria para os rios, resgatamos a
Sindicato Rural, do Conselho Municipal renda aos agricultores. Por isso, incentiva- que a comercialização seja feita, cada vez
32 famílias de pequenos agricultores, dos industrial já prevista”. cultura da comunidade rural na produção
de Desenvolvimento Rural e da Prefeitura mos a redução de perdas e o melhor apro- mais, sem intermediários, com maior valor
quais 24 são familiares, que trabalham com artesanal e aumentamos a renda das famí-
Municipal na formação de grupos para o veitamento dos produtos agrícolas”, expli- O mesmo entusiasmo pode ser obser- agregado aos produtos, com mais partici-
lias”, conta Avany Ananias Garcia.
desenvolvimento do trabalho de extensão. fruticultura, olericultura, frango caipira, ca Rosimaldo José Magossi, presidente da vado no pequeno produtor Ricardo Kadow. pação nos programas do governo e maior
Os produtores começaram, então, a se or- ovos e leite, uniram-se no fim de 2010 e Cooprafan. No Sítio Milke Junior, de cinco alqueires, a De acordo com Marcelo Capelini, pre- acesso ao mercado”, conclui Roseli.
34 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬35

Quanto a projeto futuro, a Coacavo Osvaldo Carvalho, cria-

A Região de Votuporanga
planeja a construção de uma fábrica de dor da frase “a região de
óleo bruto de soja e farelo de soja, além de Votuporanga respira coope-
uma fábrica de processamento de borracha rativismo”, afirma que o gran-
da seringueira, seguindo os moldes da de diferencial da cidade é a

Respira Cooperativismo
Cooperativa Casul – sediada em Parapuã. parceria entre as cooperati-
vas, a CATI, o Poder Executivo
Iniciado em 1978, o viveiro de mudas da
e o Fundo Social. E não são
cooperativa pretende ampliar a produção
só organizações de produ-
de mudas de seringueira para incentivar
tores rurais, existem outras,
ainda mais essa cadeia produtiva na região.
como, por exemplo, a coope-
Suzete Rodrigues – Jornalista – Assessoria de Imprensa /CATI Além de seringueira, o viveiro disponibiliza
rativa de reciclagem de lixo,
mudas de eucalipto, nativas e café.
o projeto Cooperjovem, que
reúne cerca de mil alunos
Exemplos de Sucesso com apoio da e outros projetos sociais. O

E ssa é a afirmação de pessoas


envolvidas com
na Cooperativa do Agronegócio e
o sistema
referência. A troca de informações entre
produtor e cooperativa é muito importante,
já que o sistema só evolui se for uma via de
armazenagem dos grãos ensacados. Mas,
com a secagem dos grãos na propriedade,
os agricultores perdiam cerca de 30%. A
Coacavo
Osvaldo Carvalho, gerente comercial
mais novo projeto apoia-
do pela Coacavo foi a Casa Família Furlanetto: Hoje sabemos onde colocar nossos produtos
do Agricultor, com recur-
Armazenagem de Votuporanga (Coacavo) mão-dupla”. da Coacavo, destacou que a Diretoria do produtor e o aumento de entidades
tecnologia de armazenagem e secagem sos de R$ 230 mil, aprovado pela Câmara
que, com 47 anos de criação, é uma das da cooperativa percebeu que muitos assistenciais beneficiadas com as doações”.
no silo proporcionou o aproveitamento Municipal.
Caproni conta que o cooperativismo alimentos estavam se perdendo no campo
maiores da região e envolve 42 municípios e de 100% e o produtor ganhou 5% de Já a Codafavo foi criada em junho de
sempre teve altos e baixos. Na década e que faltava organização dos pequenos A Coapinsp, fundada em março de
7.500 cooperados. O trabalho desenvolvido valor agregado. “É isso que significa ser 2005 com 20 associados e, hoje, tem 140 e
de 1960, o café teve uma produção de produtores para melhor distribuição 2005, tem 45 cooperados distribuídos
é focado em silo de armazenamento de ponto de referência para o cooperado”, mais 30 à espera. Também são integrantes
60 milhões de sacas e representava 70% para quem realmente necessitava. Com a nos municípios de Votuporanga, Valentim
grãos, fábrica de ração e viveiro de mudas afirma. “Depois foi montado um esquema do Programa de Doação Simultânea
da exportação brasileira. Com a crise colaboração da CATI, montaram mais duas Gentil, Parisi, Jales, Estrela D´Oeste, Américo
de eucalipto, seringueira, nativas e café. de comercialização, possibilitando mais com cerca de 40 produtos hortifruti,
proveniente da revolução de 1964, a cooperativas: a Cooperativa da Agricultura
Além disso, é considerada a “mãe” de de Campos, Marinópolis e Cardoso. Há
agricultura sofreu muito e os cafeicultores um serviço que foi a capitalização dos que beneficiam 50 entidades em nove
cooperativas menores, como a Cooperativa Familiar de Votuporanga (Codafavo) e a quatro anos fazem parte do Programa
sentiram-se muito fragilizados e se uniram, pequenos produtores, agregando valor municípios.
Agropecuária de Apicultores da Região Cooperativa Agropecuária de Apicultores de Aquisição de Alimentos e doação
por intermédio do cooperativismo. em virtude da qualidade do produto final”. da Região Noroeste de São Paulo
Noroeste de São Paulo (Coapinsp) e simultânea da Conab. No ano passado Para Cláudio Aparecido Giolo, diretor-
Na época foram formadas diversas Hoje são três silos instalados: Votuporanga, (Coapinsp). E entraram para um programa
a Cooperativa da Agricultura Familiar envasaram cinco mil quilos de mel para o presidente da Codafavo, a “cooperativa
cooperativas para apoiar a cultura, mas Buritama e Pereira Barreto. da Conab, do governo federal: o Programa
de Votuporanga (Codafavo), dando a comércio e oito mil para o projeto, que tem mãe” tem ajudado muito os pequenos
poucas sobreviveram, restando no de Aquisição de Alimentos (PAA) e doação
orientação necessária para a formação e Em 2000, com a monocultura da cana- 120 entidades cadastradas. Para este ano, produtores, dando força para crescer. Além
território paulista as de Votuporanga, simultânea.
gestão dessas entidades. de-açúcar, mais um problema surgia. Era 41 entidades serão beneficiadas. disso, a Prefeitura, o Fundo Social e a Conab
Franca e Parapuã, que tiveram que
uma terceira virada nos cenários regional e têm dado muito apoio. “Sinto que tínhamos
diversificar suas atividades. Em Segundo Edna de Lourdes
nacional. A Coacavo optou trabalhar junto pouca informação e, atualmente, somos
Minas Gerais, a de Guaxupé, a maior Gimenez Ribeiro, diretora-pre-
com as três multinacionais implantadas bem vistos por todos os nossos parceiros.
da América Latina. sidente, e Satiko Bordin, vice-
e montou o projeto de um terminal Cheguei a investir dinheiro do próprio bolso
Contudo, não ficou só nisso, -diretora presidente da Coapinsp,
rodoferroviário para transbordo de açúcar para fazer a cooperativa dar certo. Hoje,
a cafeicultura foi praticamente e álcool. No entanto, um grupo chinês todo esse processo de organização
temos onde plantar, onde comercializar
dizimada com a geada de 1975. instalou o projeto sem a cooperativa. começou quando sentiram neces-
e sabemos que vamos receber”. Cláudio
Depois a cadeia produtiva foi sidade de se unir para comercia-
destaca que ainda há muito por fazer.
A Coacavo é forte e partiu para lizar seus produtos, por meio do
revigorada, foi feito zoneamento, Uma das coisas é aumentar a cota de cada
alternativas. Pesquisou regiões ilhadas programa da Conab. Para tanto,
mas na região de Votuporanga não produtor, pois, com certeza, vai beneficiar
pela cana — Piracicaba, Jaboticabal e Jaú contaram com o apoio da Coacavo,
ressurgiu com a mesma força. Na a todos: produtores, entidades e o poder
—, para ver como aguentavam a pressão. que ofereceu diversos cursos da
Diretoria da Coacavo e da CATI Votuporanga – uma parceria de sucesso época chegou a ter 65 milhões de público. “Com mais dinheiro, vamos
Foi então que surgiu a fábrica de ração Organização das Cooperativas do
pés de café e, hoje, não chega a um produzir em quantidade e com qualidade”.
Osvaldo Caproni, presidente com qualidade nutricional, obtendo-se Estado de São Paulo (Ocesp).
milhão. Com essa mudança de cenário a
da Coacavo, está envolvido com resultados positivos. Seus investimentos A Coacavo deu todo o suporte para O produtor Antonio Furlanetto, do Sítio
Coacavo passou a atuar com o agronegócio Edna afirma que isso ajudou muito
cooperativismo desde 1972, sempre em máquinas são constantes, fazendo da que os pequenos agricultores integrassem São Luiz, em Votuporanga, produz laranja,
de grãos e construiu seu primeiro silo. Da na busca de informações para que os
acompanhando o sistema desenvolvido sua marca uma referência regional na área o Programa. Votuporanga foi uma das milho, abóbora e quiabo. É cooperado da
cafeicultura, a cooperativa partiu para pequenos apicultores pudessem crescer.
em níveis mundial e nacional. Segundo de nutrição animal. Isso tem estimulado primeiras cidades a implantar o PAA e Codafavo desde sua fundação. Ele frisou
milho, sorgo e soja.
ele, na Europa, nos EUA e na Ásia, o a produção, já que a grande maioria da reuniu mais de 180 pequenos produtores, “Foi importante também o aconselhamento que o grande problema do agricultor é
cooperativismo é muito eficiente, mas na Como Caproni explica, a terra é boa, matéria-prima utilizada é proveniente das que já estão no projeto há cerca de cinco do presidente da Coacavo, que tem um saber onde colocar seu produto. Com a
América Latina ainda é um pouco retraído. as culturas foram bem estabelecidas, propriedades rurais da região. As rações anos. O primeiro foi de R$ 57 mil e o último histórico de sucesso no cooperativismo cooperativa, isso mudou. “Mas ainda tem
“A nossa ideia é ajudar as pequenas sementes produtivas, defensivos são direcionadas a bovinos de leite e de assinado está em R$ 830 mil. São entregues, no qual temos que nos espelhar”, embora muito a ser feito. Eu perdia muito da minha
cooperativas para que todos se deem adequados e assistência técnica da CATI corte, suínos, frangos, codornas, ovinos e toda terça-feira, de oito a dez toneladas ela destaca que os municípios deviam produção, depois de cooperado nunca
bem e que pequenas propriedades sejam para os produtores, porém, na hora de caprinos. A expectativa é ampliar a fábrica de alimentos para atendimento a mais de fortalecer mais as suas cooperativas. mais perdi nada. Acredito que o próximo
economicamente viáveis. Os agricultores armazenar, não sabiam onde. Foi então com ração peletizada para atender a toda 140 entidades da região, com produtos de “Só assim estaremos agregando mais passo é abrir novos mercados fora dos dias
só procuram a cooperativa para servir de que optaram pela construção do silo para linha pet. qualidade. associados, garantindo o crescimento de entrega na cooperativa”, finaliza.
36 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬37

continuar o trabalho de melhoria da qualidade, cujo controle mozarela, nozinho, manta e queijo fresco e, em maio de 2010, com
zootécnico é feito nos moldes do CATI Leite. “Nós queremos as bebidas lácteas. “Tudo isso só foi possível graças à parceria entre

Dracena Revigora Associações


produzir, envasar e entregar nosso leite, além de montar uma a Associação, a Prefeitura e a CATI”. Das propriedades envolvidas,
agroindústria de derivados visando agregar valor à cadeia 13 fazem parte do CATI Leite e tiveram, via associação, horas-
produtiva,” finaliza Arlinda. máquina gratuitas para formação dos piquetes, inseminação

para Participar de Programas


artificial com sêmen subsidiado e acompanhamento técnico. Se
Outra ação importante da associação dentro do PAA é participarem também do PAA, são pagos dez centavos a mais por
a comercialização de frutas, legumes e verduras, que tem litro.

Governamentais
possibilitado uma produção constante e de qualidade. No primeiro
projeto eram 49 produtores e, hoje, são 137, que beneficiam 22 Valmir espera aumentar
entidades nos municípios de Dracena, Ouro Verde, Panorama e a produção e a qualidade do
Tupi Paulista. produto para que o agricultor
Suzete Rodrigues – Jornalista – Assessoria de Imprensa /CATI tenha uma atividade
Todo esse trabalho possibilitou a venda de produtos autossustentável. “A ideia
também para a merenda escolar. Segundo Danilo, secretário da para a Usina é investir mais
associação, esse sistema é um pouco diferenciado. “É necessário em equipamentos, visando
empreendedorismo. As exigências são diferentes e os produtos ao aumento da produção
específicos, precisando um maior planejamento”. de queijos e bebidas

T odas as 29 associações de produtores rurais


da região de Dracena foram motivadas,
revigoradas ou reorganizadas, pelos técnicos da
Danilo destaca que desse projeto só podem participar
agricultores familiares e o valor recebido é bastante atrativo. “O
lácteas. Para isso, estamos
contando com o apoio da
mercado está garantido, mas precisa ter planejamento e, por esse CATI, por intermédio do
CATI, para participação no Programa Estadual de motivo, ainda temos dificuldade em adesão”. A associação entrega Microbacias II”.
Microbacias Hidrográficas, da Secretaria de Agricultura produtos para a merenda escolar para as cidades de Monte Já a Apprar, fundada em
e Abastecimento, das quais 16 receberam incentivos. Castelo, Paulicéia, Santa Mercedes e Ouro Verde. Só em Dracena setembro de 2004, teve como objetivos: formalizar e fortalecer
Outra política pública que fortaleceu essas associações são 23 unidades (escolas e creches). um grupo de produtores de maracujá para solucionar problemas
foi a comercialização da produção agropecuária, por relacionados à cultura. Com o início da ocorrência de viroses na
Hoje, a associação participa de chamadas públicas, licitações
meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) com e pregões para comercializar os produtos de seus associados. Só lavoura do maracujá, os produtores partiram para a diversificação,
doação simultânea, do governo federal. neste ano chegou a um montante de R$ 300 mil em chamadas Antonio Manzano de Oliveira, presidente da Apprar, declara:
Segundo técnicos da CATI Regional de Dracena, a ca- públicas em cinco cidades diferentes e de R$ 30 mil em licitações. “hoje temos 150 associados e participamos do PAA com 53
pitalização dos agricultores possibilitou a elaboração de A associação tem seis funcionários contratados e mais sete produtos diferentes: hortaliças, frutas, legumes, lácteos, granjeiros
projetos em novas políticas públicas e viabilizou a gera- cedidos pela Prefeitura. O capital de giro está em torno de dois e mel. O primeiro projeto do PAA foi assinado em 2009 no valor
ção de renda e melhoria da qualidade de vida. Em conse- milhões de reais por ano. O próximo passo, segundo a presidente de R$ 118 mil e envolveu 33 produtores. Em 2010, foram 145
maracujá e acerola. O preço varia de R$ 1,50 a 0,50 e o associado
quência disso, o produtor percebeu a necessidade de organizar o e o secretário, é a implantação da cooperativa, cuja documentação produtores e o montante de R$ 524 mil. Para 2011, o projeto será
tem desconto de 50%.
já está em andamento. de R$ 617,5 mil com a participação de 146 produtores”. A sede da
sistema produtivo.
O poder público municipal repassou também a administração Associação e o Posto de Recebimento e Distribuição de Alimentos
A Associação dos Produtores Rurais de Dracena é bastante Na região de Dracena, outro exemplo de sucesso está em funcionam na Casa da Agricultura local.
da patrulha agrícola. Desde então a associação vem reformando
Adamantina
ativa, desde 2003. Dentre as atividades desenvolvidas estão a a frota e já comprou alguns implementos. Os serviços são dispo- A participação do PAA levou a associação a mais um projeto:
mecanização agrícola, o viveiro de mudas, industrialização e nibilizados para todo o município, mas atende prioritariamente Esse município tem duas entidades
o da Merenda Escolar, no qual os
processamento de produtos e a participação de políticas públicas, com trabalhos de sucesso: a Associação
aos associados. São dois arados, duas grades niveladoras, um sub- municípios integrantes são Flórida
como PAA e Merenda Escolar. Passiflora de Produtores Rurais de
solador, uma ensiladeira, uma batedeira de feijão, um aplicador Paulista, Inúbia Paulista, Sagres, Iacri
Adamantina e Região (Apprar) e a
Arlinda Suzuky, presidente, e Danilo de Andrade, secretário, de calcário, uma roçadeira, um gradão e uma máquina de plantio e Adamantina. Mauricio Konrad, chefe
Associação dos Produtores de Leite
contam que a Associação de Produtores Rurais de Dracena foi fun- direto, essa última cedida pelo Programa Estadual de Microbacias do Município de Adamantina e Região da Casa da Agricultura, informou
dada em 23/3/91, mas não havia muita participação dos agriculto- Hidrográficas. (Aplemar). que a Prefeitura está comprando
res. Quando foi reestruturada em 2001, mudou de foco, passando uma máquina móvel de extração
Com relação a adesão às políticas públicas, desde 2005 fazem Os produtores de leite de Adamantina
a ser administrada por produtores rurais. Eles explicam que a Casa de água de coco para inclusão na
parte do PAA. No caso do leite, são seis tanques resfriadores, uti- vendiam seu leite nas ruas. Para regularizar
da Agricultura local promoveu muitos cursos sobre diversos temas merenda escolar. Ele afirma que só
lizados por 45 produtores e que captam 100 mil litros por mês. essa situação a Prefeitura cedeu um
para capacitar os associados e a Diretoria sobre o funcionamento os melhores do PAA participam do
Mais dois tanques já foram disponibilizados para montagem de terreno e montou um laticínio. Em
da associação. Hoje são 150 associados e os produtos são leite, fru- projeto da Merenda Escolar, pois é
dois grupos. O leite é entregue para a associação que repassa aos 2003, para gerenciar essa miniusina, foi
tas, legumes e verduras. montada a associação. No primeiro dia necessário quantidade, qualidade
laticínios. Para diminuir o custo de produção, começaram a fazer e escalonamento da produção. “Por
foram entregues 350 litros de leite, hoje
Por meio de convênio, a Prefeitura Municipal repassou a gestão compra conjunta de insumos e pagam em leite para a associação, esse motivo, criamos o Calendário de Produção da Agricultura
ultrapassa os três mil litros diários. A Aplemar tem, atualmente, 55
do viveiro para a Associação em 2001 que, como contrapartida, faz que comercializa o produto e reverte em recursos. Mais uma faci-
associados. A inauguração da Usina de Leite Jóia aconteceu em Familiar de Adamantina, com a época de produção dos produtos
a doação das mudas para arborização da cidade. São produzidas lidade foi a disponibilização de um zootecnista e um veterinário 15/6/2005. comercializados pela Apprar e Aplemar”.
mudas de espécies nativas em geral, frutíferas, ornamentais e
contratados pela associação.
seringueira. Eles atendem a toda a demanda para arborização Valmir Alcântara Franco, tesoureiro da associação, explica que, Mauricio destaca que já estão no quarto projeto do PAA com
urbana com diversidade. São cerca de 150 mil mudas de nativas A meta, para um futuro próximo, é a industrialização do com o aumento da quantidade do leite, começaram o processo a Apprar, segundo da Aplemar e terceiro da merenda escolar com
por semestre e 60 mil de eucalipto e frutíferas, principalmente leite, que hoje é entregue in natura para os laticínios. Além disso, de pasteurização, depois a industrialização com a confecção de as duas associações.
38 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬39

Organização Rural em São Paulo: um Pouco


município de José Bonifácio. A convite, foi fase dessa publicação) relatou que uma
para Santa Fé do Sul, na região de Jales, das prioridades do trabalho da CATI era
onde desenvolveu um extenso trabalho a organização dos produtores, o que

da História do Trabalho da Secretaria de organizacional. “Desde o meu ingresso


na Secretaria em 1959, entendi que a
culminou com a realização do 1.º Encontro
sobre Organização Rural. “A experiência

Agricultura e Abastecimento
organização dos produtores era fator de trabalho com grupos em organização
preponderante para o desenvolvimento rural tem demonstrado a possibilidade
rural. No início do trabalho em Santa Fé, de alcançar resultados socioeconomicos,
participei do processo de um acordo entre como a valorização do produtor, a busca de
Cleusa Pinheiro – Jornalista – CECOR/CATI mais de 700 arrendatários e proprietários soluções em grupo, com maior eficiência e
de terra, o que pôs fim a um grande benefícios a toda comunidade, mesmo a
conflito na região. Depois disso, percebi grupos não envolvidos diretamente, além
que os sindicatos que representavam os da valorização e da potencialização do
trabalhadores rurais eram muito fechados, trabalho do técnico”, afirmou, na época, a

F acilitadora e apoiadora dos


processos de estruturação das
organizações dos agricultores familiares
Rural do Ministério da Agricultura,
corroborando atividades de assistência e
fiscalização das cooperativas existentes.
engenheiro agrônomo, que trabalhou na
CATI, foi professor universitário e atuou em
diversos projetos e ações de organização
José Cassiano Gomes dos Reis Júnior, coordenador da Codeagro
o que nos levou a apoiar os produtores na
constituição de diversas associações, que
garantiram verdadeira representatividade
coordenadora do Encontro, Josele Paiva
Mendes França, assistente social do Centro
de Socioeconomia Rural do Departamento
cuja gestão foram elaboradas as bases para
e educação para a cooperação. Esses são Nessa ocasião, foram criadas diversas de produtores, sobre os quais destaca dois. a eles, além de outros benefícios. Em São de Extensão Rural.
a unificação do movimento cooperativista
os papéis que a Secretaria de Agricultura cooperativas e as já existentes tiveram seu “Trabalhando em extensão rural, aprendi José do Rio Preto, sempre incentivei a
no Brasil. Ele destaca um fato importante de Na Secretaria da Agricultura, liderada
e Abastecimento vem exercendo há registro regularizado perante as instâncias que temos de ensinar as pessoas a pensar e atuação forte dos técnicos, no sentido de
cooperação interestadual, que demonstra pelo eng.º agr.º José Gomes da Silva, criou-
décadas, em relação ao associativismo e ao estadual e federal, demonstrando uma não apenas no que pensar, por isso sempre organização que desse voz aos produtores.
que a Secretaria também teve visão de se o Plano Agrícola Municipal (PAM), que
cooperativismo em São Paulo, por meio de ação mais incisiva dos governos no setor”, tive o cuidado de, nas ações e nos projetos E como parte importante desse processo,
parceria no apoio à organização rural. “No visava estimular a comunidade rural a
ações, projetos e programas desenvolvidos. relata o cientista social e técnico do ICA, a serem desenvolvidos, procurar envolver como órgão de extensão rural, sempre
final da década de 1970, a Cooperativa manifestar suas necessidades e, de forma
Thiago Lisboa, um dos responsáveis a comunidade de forma organizada. Em fizemos questão de ter um bom
Central Agropecuária do Paraná (Cocap) participativa, influir na priorização das
pelo resgate do histórico do Instituto. 1959, quando ingressei na Secretaria, relacionamento com as demais instituições
tinha o interesse de ampliar as variedades ações das Casas da Agricultura.
participei de um projeto de planejamento da Secretaria e outras entidades, o que
Nas décadas seguintes, o de café que comercializava; para isso, fez
da Bacia Hidrográfica do Rio Ribeirão Preto, auxiliou muito as ações de apoio à Nesse período foram implementados
poder público continuou a ter um contato com técnicos de Franca, no
em que todo o trabalho de mapeamento organização rural na região”, salienta o diversos programas de incentivo à
grande importância no avanço das interior de São Paulo (região importante
e levantamento da capacidade de uso agrônomo que, aos 80 anos, demonstra organização rural, objetivando a melhoria
entidades organizacionais paulistas. de plantio de café na época), visando
do solo foi feito com o envolvimento da muita emoção ao falar do trabalho e da renda dos produtores e também
“Na década de 1960, com a definição estabelecer uma cooperação. Envolvidos
comunidade organizada, em parceria com rememorar os episódios, lembrando ainda a recuperação do solo e da água.
de uma nova política cafeeira, o no processo, técnicos do DAC sugeriram
a Prefeitura e a iniciativa privada. Outro de um fato marcante, resultado do trabalho “Necessidades de toda a sorte motivaram as
trabalho integrado da Secretaria da que se estabelecesse um entreposto da
fato que me marcou foi a participação dos técnicos da CATI na região de Jales. pessoas a participarem, conscientemente,
Agricultura, articulado pelo eng.º Cocap, para que em outro momento fosse
em um projeto da construção da Represa “A criação da Colônia de Pescadores de de associações e empreendimentos
agr.º José Cassiano Gomes dos criada uma cooperativa de café na região.
Paraitinga/Paraíbuna que iria inundar Rubinéia [primeira no Estado a congregar cooperativos. E os técnicos da Secretaria
Reis, diretor do Departamento de Dessa ação foi implementado, pelos
algumas cidades no Vale do Paraíba. pescadores de rio — na época só existiam foram agentes de transformação e
Produção Vegetal (órgão que, em técnicos da Secretaria, o modelo do que
Entendi que, para sensibilizar a população colônias de pescadores marítimos] foi fruto desenvolvimento da consciência
fusão a outros, deu origem à CATI), hoje é a Cocapec”,
sobre as mudanças que iriam ocorrer, era de intensa ação da Secretaria de Agricultura organizacional dos produtores”, relata
e por Benedito Dornelas, técnico
preciso que todos estivessem envolvidos. e serviu de modelo para pescadores de Odilon Soares.
do DAC, junto com uma equipe de Exemplo de ação na linha de frente
Criei, então, em cada cidade, um Conselho outras regiões”.
técnicos e memoráveis lideranças Entre esses programas, a edição de
Eng.º agr.º Vicente de Jesus Carvalho que estabeleceu quatro comissões: cidade O eng.º agr.º Lourival Pires Fraga, foi
rurais, lançou as bases de um novo julho/agosto de 1988 da Revista Casa
nova, saúde, educação e agropecuária, diretor da Divisão Regional Agrícola (Dira)
Em 1933 foi criado, no âmbito da movimento cooperativista, fundamentadas Década de 1980: valorização da da Agricultura apresenta o de armazéns
cujos resultados das discussões eram da CATI de São José do Rio Preto, tendo
Secretaria, o Departamento de Assistência na cafeicultura, na expansão da economia, organização — exemplos da atuação da comunitários, no qual o governo do
passados para toda a comunidade. Com iniciado seu trabalho na Secretaria, no
ao Cooperativismo (DAC) — precursor da renda e do emprego rural e urbano e Secretaria/CATI Estado repassava verbas para as Prefeituras
isso, o processo foi rápido, a população
do atual Instituto de Cooperativismo e da promoção social”, conta Odilon Soares construí-los e serem gerenciados por
entendeu a necessidade da represa e Com o processo de redemocratização
Associativismo (ICA) —, primeiro órgão Ramos, técnico do ICA há mais de 30 anos. associações de produtores. “O ICA tinha
foram criadas três cidades ‘novas’, com toda do País, no início da década de 1980, e
oficial da América do Sul a promover e a responsabilidade de assessorar na
Uma das particularidades que infraestrutura”. com as eleições diretas de governadores
acompanhar o cooperativismo. “A criação constituição das associações comunitárias.
se revela no trabalho de fomento à em 1982, muitos estados estimularam
do DAC e suas propostas iniciais de trabalho Com uma experiência consolidada Já a CATI tinha o papel de divulgar o
organização rural feito em São Paulo é a organização da sociedade civil de
foram inseridas num processo de evolução em mais de 30 anos de atuação junto ao
a integração institucional. “Os projetos diversas formas: associações, sindicatos, programa, orientar tecnicamente e
das cooperativas paulistas, especialmente movimento cooperativista, no Paraná e em
eram desenvolvidos em conjunto com cooperativas, entidades profissionais e fornecer tecnologia de armazenamento
as de produção agrícola, demonstrando São Paulo, o coordenador da Coordenadoria
outras instituições, como a Secretaria diversos movimentos populares. No bojo aos produtores, o que resultou em uma
uma ação do poder público estadual que, de Desenvolvimento dos Agronegócios/
de Educação, a de Promoção Social e a dessa revitalização política, os segmentos capacidade adicional de estocagem da safra
entre outros objetivos, visava combater as SAA (Codeagro), à qual pertencente o
iniciativa privada, o que resultava em rurais também começaram a buscar novas paulista. Tudo isso se refletiu na melhoria
dificuldades de abastecimento estadual. Já ICA, José Cassiano Gomes dos Reis Júnior
beneficios gerais para a população, formas de participação. da infraestrutura de comercialização dos
em 1938, o governo de São Paulo assinou (filho do agrônomo citado anteriormente),
um convênio, no qual o DAC passou a incentivada a participar do processo”, trabalhou diretamente com o ministro Em 1986, uma reportagem da pequenos e médios produtores”, conta
integrar as funções do Serviço de Economia comenta Vicente de Jesus Carvalho, Cirne Lima, no final da década de 1960, em Revista Casa da Agricultura (primeira Odilon, que participou do processo.
40 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬41

Vale do Paraíba — Associação Comunitária do Bairro


Vale do Ribeira — Ações da CATI impulsionaram a
da Vargem Grande e Adjacências
organização rural
participou da assinatura do convênio. Orientados pelas novas diretrizes da Secretaria nesse período, técnicos da
Dira do Litoral Paulista (atual Regional Registro) que, na época, incluía o Vale
O prédio, que se tornou referência na
do Ribeira, a Baixada Santista e o Litoral Norte, começaram a apoiar a criação
comunidade, abriga a Escola, o Posto de
e o fortalecimento de associações e cooperativas na região. “Os problemas dos
Saúde, sedia reuniões e cursos. “Além disso,
agricultores passaram a repercutir mais na sociedade e o elo entre eles e os
temos um tanque comunitário de expansão
técnicos das Casas da Agricultura se fortaleceu”, relembra o eng.º agr.º Carlos
de leite e fazemos compras de insumos”,
Eduardo Knippel Galletta, atual responsável pela área de Organização Rural da
salienta Maria Inês dos Santos, presidente
Divisão de Extensão Rural da CATI, e na época diretor da Dira.
da associação, ressaltando também outras
conquistas. “Estrada, energia elétrica, Outra produtora de leite e uma das Entre os exemplos marcantes da atuação da CATI na região, o agrônomo
telefone, água encanada. Tudo é fruto da primeiras associadas, Paula de Jesus de destaca a criação de Associações de Bananicultores no Vale do Ribeira, que
união na associação, que deu forças aos 70 anos, também fala sobre a importância culminou na formação de uma Federação de Associações de Bananicultores,
moradores para reivindicar”. da associação, para se manter na atividade: para vencer a crise na comercialização do principal produto agrícola da região,
“Antes, o que a gente ganhava com o leite que abateu o setor em 1985. “Promovemos debates regionais entre produtores
José Lourenço dos Santos, vereador
quase não dava para viver, isso quando e autoridades governamentais. Houve uma grande mobilização entre os
e produtor rural, filho de Pedro Santana,
não levávamos calote e ainda tinha que ir municípios produtores de banana, que acarretou a criação das associações,
descreve a emoção do legado associativista. pois todos os envolvidos entenderam que apenas a organização do setor
a cavalo até Natividade da Serra [cerca de
“Se continuamos na terra é porque nos poderia manter a atividade na região. Em apenas três meses foi constituída
45km] para vender. Hoje, ando cerca de
unimos, por isso lutamos muito para que uma dezena de entidades, em vários municípios, articulando os produtores em
uma hora a cavalo para entregar o leite na
a associação cresça. E, nesse sentido, é associação, mas com a garantia de vender suas bases”, conta Galletta, ressaltando que a experiência dos bananicultores
preciso dizer: sem o apoio da Sandra da CA, para a cooperativa. Assim a gente tem uma serviu como exemplo para o segmento dos plantadores de chá formar a
a gente não conseguiria”. vida melhor”. Associação dos Teicultores do Estado de São Paulo para atuar nas negociações
Segundo Ronaldo Alves dos Santos, Novas ações com as indústrias processadoras de chá.
A eng.ª agr.ª Sandra Rezende (3.ª à esq.) comemora o sucesso das ações com associados
produtor de leite, em cuja propriedade Para fortalecer atividade rural e manter Além das associações de produtores, a CATI apoiou a organização de
está sendo instalada uma unidade de as famílias na região, além do investimento associações em vários bairros rurais, as quais tiveram papel proeminente nas
A segunda geração de produtores Outro fator importante para o sucesso da demonstração do CATI Leite, a associação na pecuária de leite e pela localização das lutas pela regularização das terras, antiga reivindicação regional. “Hoje, vemos
rurais do bairro da Vargem Grande, entidade é creditado à integração de ações e o apoio da Casa da Agricultura foram propriedades em uma área de preservação muitos frutos dessas sementes plantadas: numerosas organizações surgiram
encravado no Parque da Serra do Mar, entre vários órgãos, relembra a agrônoma. fundamentais para a tomada de decisão ambiental, segundo a agrônoma da Casa e permanecem levando à frente a busca do desenvolvimento rural com
pertencente ao município de Natividade da “Nessa época existiam as Unidades de se manter na atividade. “Contar com da Agricultura, os produtores estão sendo participação efetiva dos produtores rurais”, salienta Galletta.
Serra (CATI Regional Pindamonhangaba), Escolares de Ação Comunitária (UEACs), em a infraestrutura da associação e o apoio orientados a diversificar as atividades.
está colhendo hoje os resultados do que o professor da localidade era também técnico da CATI foi fundamental para que “Incentivamos a horticultura, o artesanato
trabalho iniciado, há 27 anos, por um grupo com bambu (matéria-prima abundante
um agente social. Além disso, todas ações eu continuasse investindo no leite, como o
de produtores e técnicos da CATI, que na região), a apicultura e, recentemente,
eram realizadas em parceria com outras meu pai, Luiz Marcolino dos Santos, um dos
acreditaram na organização como a única
Secretarias, como a de Promoção Social, o primeiros associados”. alguns produtores estão participando do
saída para a manutenção das famílias.
que possibilitou a elaboração de um plano Projeto Jussara (elaborado pela Diretoria
“Em 1983, o bairro não tinha nenhuma
de desenvolvimento para o bairro”, relata do Parque da Serra do Mar e apoiado por
infraestrutura e a agricultura era de total
Sandra. “Ainda hoje, apesar da extinção uma ONG), que estimula o plantio do
subsistência. O méd. vet. João Mateus
das UEACs, temos uma relação estreita palmito para a retirada do fruto, que rende
Pache de Faria, então delegado agrícola
com a Casa da Agricultura na promoção pratos nutritivos. Inclusive, já começamos
de Taubaté e incentivador da organização
de diversas ações educacionais e de a colocar alguns desses produtos na
rural, reuniu alguns produtores e
apresentou a proposta da associação. Um cidadania”, salienta Lúcia Izabel Rodrigues merenda, por meio do Programa de
deles, Pedro Santana, cuja associação leva Aquisição de Alimentos”, salienta Sandra.
de Morais, diretora da Escola municipal.
o seu nome, se entusiasmou e percorreu
Vinte e sete anos depois, a associação
as casas incentivando os produtores a
participarem”, conta a eng.ª agr.ª Sandra contabiliza muitas lutas e conquistas. De
Tanque de expansão
Regina Santos Rezende, da Casa da meia dúzia de associados, hoje são quase
Agricultura, que participou do processo. 100. “A sede é própria, construída com
“Foi meu primeiro trabalho na CATI, e o recursos conquistados em parceria com
que me fez ter a certeza de que queria ser a Prefeitura”, relata José Raimundo de
extensionista”, diz emocionada. Morais, um dos primeiros associados, que
42 ‫ ׀‬Casa da Agricultura

Aconteceu Suzete Rodrigues – Jornalista – Assessoria de Imprensa /CATI

Recursos financeiros para o agropecuárias, com área inferior a 1.000 hectares, Abastecimento, por meio da Coordenadoria de
Microbacias II são passíveis de dispensa de licenciamento, Assistência Técnica Integral (CATI), com apoio da
desde que atendam à legislação pertinente Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA) e
Em dezembro, a CATI recebeu a cópia ao uso e à conservação do solo, ao manejo de
do Instituto de Zootecnia (IZ).
da “Declaração de Efetividade” do acordo agrotóxicos e à adoção de boas práticas de
de empréstimo entre o Banco Mundial e o produção agropecuária.
Governo do Estado de São Paulo. A partir dis- O convênio consiste em desenvolver ações
Os produtores que quiserem solicitar a
so, a instituição pode iniciar a execução do declaração de conformidade devem procurar específicas voltadas à utilização de boas práticas
Projeto Desenvolvimento Rural Sustentável, o a Casa da Agricultura local e entregar o reque- sanitárias, de acordo com padrões aceitos inter-
Microbacias II – Acesso ao Mercado, junto aos rimento preenchido, munidos de documentos nacionalmente. Essas ações terão base na legis-
agricultores paulistas. pessoais e do imóvel. lação existente, em programas oficiais em vigor
e na experiência científica, que terão suas dire-
O objetivo é promover o desenvolvimento Treinamento: licenciamento ambiental
trizes consolidadas e servirão de indicador para
rural sustentável e a competitividade agrícola
no Estado, aumentando as oportunidades de Uma resolução conjunta das Secretarias avaliar a propriedade rural, ao mesmo tempo em
emprego e renda para pequenos agricultores e do Meio Ambiente e de Agricultura e que orientam os produtores e os prestadores de
suas famílias, além das populações rurais vulne- Abastecimento, publicada em dezembro passa- serviços.
ráveis. A iniciativa vai beneficiar 22 mil pequenos do, lista as atividades agrossilvopastoris que po-
Feap aprova subvenções
agricultores, incluindo cerca de 1.500 famílias de derão ser dispensadas de licenciamento.
comunidades indígenas e quilombolas. O acor- O Conselho de Orientação do Fundo de
Como a Declaração de Conformidade da Expansão do Agronegócio Paulista (Feap-
do envolve quase U$ 130 milhões, sendo U$ 52
Atividade Agropecuária será emitida pela CATI, Banagro) reuniu-se para discutir e votar a pro-
milhões de contrapartida do governo do Estado.
como comprovação de que a atividade é passí- posta para o Projeto Estadual de Subvenção
vel de dispensa do processo de licenciamento, do Prêmio de Seguro Rural para o ano de
Capacitação
foi realizada uma reunião sobre a operacionali- 2011 e a proposta da CATI para o Projeto
zação da emissão da declaração, da qual parti- de Incentivo às Iniciativas de Negócios das
Algumas atividades desenvolvidas no
ciparam cerca de 50 pessoas, entre técnicos e Organizações de Produtores Rurais dentro do
Microbacias II foram consideradas pelo Banco
diretores das 40 Regionais da CATI, onde foram Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável –
Mundial como capazes de causar impactos am-
apresentados e discutidos os procedimentos Microbacias II – Acesso ao Mercado.
bientais adversos, porém localizados, e em sua
desde o requerimento até a emissão da declara-
maioria reversíveis, por meio da adoção de me-
ção e mostrado o sistema informatizado que será Após a Plenária, os conselheiros aprovaram,
didas já existentes ou que podem ser definidas
implantado na próxima semana. por unanimidade, os Balancetes Mensais de
com facilidade. Por esse motivo, é necessário
Receitas e Despesas do Crédito, Fundo de Aval,
que a avaliação ambiental abranja um Plano Convênio entre Secretaria de Subvenção do Prêmio de Seguro Rural e das
de Gestão Ambiental (PGA), elaborado pela Agricultura e Banco do Brasil Subvenções aos produtores rurais referentes ao
Secretaria do Meio Ambiente;
período de maio a novembro de 2010.
Portanto, aconteceu, em dezembro, a ca- Prestar assistência técnica, após a elabora-
pacitação para aplicação dos procedimentos ção de um projeto técnico de desenvolvimento Boas Práticas Agropecuárias
a serem implantados no PGA, da qual partici- rural sustentável, que englobe a necessidade
da utilização de políticas públicas adequadas O Feap e a CATI produziram um guia, que
param 20 técnicos da CATI, que comporão as
para pequenos e médios agricultores paulis- tem o objetivo de difundir o conceito e a aplica-
Assessorias de Gestão Ambiental nas Regionais.
Foram abordados conceitos, tecnologias e as- tas, é o objetivo do despacho do governador ção de boas práticas agropecuárias aos peque-
pectos legais referentes à vegetação e à fauna Geraldo Alckmin, publicado no Diário Oficial em nos e médios produtores do Estado, beneficiá-
brasileira do Estado de São Paulo, além de licen- fevereiro, autorizando o Estado de São Paulo, rios de algum tipo de financiamento ou crédito
ciamento ambiental e avaliação de impactos. por intermédio da Secretaria de Agricultura e agrícola pelo governo.
Abastecimento, a formalizar convênio com o
Essa ação é uma parceria da Secretaria de Banco do Brasil. O guia oferece informações para que os pro-
Agricultura e Abastecimento, por intermédio da dutores rurais desenvolvam suas atividades com
CATI e da Secretaria do Meio Ambiente, por meio A execução do convênio ficará a cargo respeito às exigências de proteção ao ambiente
da Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos da CATI e os técnicos das 40 Regionais serão e de preservação dos recursos naturais. Essas
Naturais. capacitados pelo Banco do Brasil, sobre os orientações mostram os cuidados necessários
modelos e procedimentos para elaboração de na gestão da exploração agrícola, bem como na
projetos de financiamento para linhas de crédito. conservação do solo, da água e dos aquíferos,
Declaração de Conformidade
Na sequência, as informações serão repassadas que caracterizam o correto ordenamento e a pre-
Agropecuária
para as Casas da Agricultura, instaladas na servação do espaço rural. Além disso, apresenta
maioria dos municípios paulistas. detalhes das atividades agropecuárias do Estado
O produtor paulista pode contar com
os técnicos da Secretaria de Agricultura e de São Paulo e dicas de empreendedorismo, que
Convênio entre Secretaria de podem ser seguidas pelas famílias rurais.
Abastecimento para a emissão da Declaração de Agricultura e Unesp
Conformidade Agropecuária, documento exigi- O guia de Boas Práticas Agropecuárias apre-
do nos financiamentos do Banco do Brasil. Esse Criar um sistema padronizado de boas senta modelos de fichas de registro, com infor-
serviço é prestado pela CATI, por meio das Casas práticas sanitárias com controle de riscos à mações sobre a propriedade, os funcionários, os
da Agricultura. saúde bovina, para ser aplicado em unidades animais, entre outros, que podem ser reproduzi-
rurais produtoras, é o objetivo do convênio
A resolução conjunta entre as Secretarias das para uso diário na propriedade. As fichas e o
assinado no final do ano passado entre a
de Agricultura e de Meio Ambiente permitiu Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita guia podem ser baixados no site www.boasprati-
a emissão da declaração de que as atividades Filho (Unesp) e a Secretaria de Agricultura e casnaagricultura.com.br/guia/.

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