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Constituicao americana: moderna aos 200 anos Ricardo ARNALDO MALHEIROS Fruza Professor de Direito Constitucional da Fa- culdade de Direito “Milton Campos” Hoje, 17 de setembro, é um dia importante no mundo do Direlto Constitucional e da Cién- cia Politica: a Constituicdo dos Estados Unidos da América esté comemorando 0 seu dicente- nério de vigéncia. Pioneira em varios assuntos, ela integra a Revolugdo Anglo-Franco-Ameri- cana que mudou os destinos do mundo. © n2 94, correspondente a abril/junho 1987, da Revista de Informagao Legislativa, do Senado Federal, publicou, em suas paginas 69 a 78, attigo de minha autoria sobre o inicio das comemoragées do bicentendrio da Cons- Uituigdo dos Estados Unidos da América. Naquele trabalho, jé transcrito em revistas juridicas do Brasil e de Portugal e apresentado em Seminério de que participei em agosto ultimo na New York University, focalizei trés aspectos de realce no estudo da Suprema Lei dos ameticanos, a saber: a) sua importéncia no estudo do Direito Constitucional Geral, por ser a primeira Constituigio orgdnica (ou escrita) do mundo, por ser a primeira Constituigio a consagrar, na prética, a Doutrina de Montesquieu, com a separagdo clara dos trés érgios do Poder do Estado ¢ por ter sido a criadora do primeiro Estado Federal do mundo; 6) a sua classificacdo como organica sintética, legitima ¢ rigida; e c) os destaques de seu texto enxuto € bésico. Re Inf. legisl. Brasilia a. 24 n, 96 out./dex. 1987 7 Hoje, 17 de setembro de 1987, dia exato do 200° aniversirio da Cons- tituigao americana, quando todas as cidades dos Estados Unidos comemoram efusivamente a grande data, pretendo dizer, em linguagem simples, algo da hist6ria, do significado e do desenvolvimento daquele documento que os “Founding Fathers” elaboraram e assinaram na Conveneao de Philadelphia, encerrada em 17 de setembro de 1787. A sintética Constituigao dos Estados Unidos tem um curto preambuto, sete artigos e vinte e seis emendas. Ela estabelece um sistema federal, divi- dindo 0 Poder do Estado entre o governo nacional e os governos estaduais. Define também um governo bem balanceado no plano nacional, com a auto- tidade distribuida entre trés Srgaos interdependentes e harménicos — o Legislativo, 0 Executivo ¢ 0 Judiciério, representados, respectivamente, pelo Congtesso, pelo Presidente ¢ pela Suprema Corte. Os poderes federais enumerados na Constituigdo incluem 0 direito de arrecadar impostos, declarar a guerra e regular o comércio. Além desses poderes delegados e expressos na Constituigdo, a Unido tem poderes impli- citos, capazes de possibilitar ao governo atender as mudangas das necessida- des do pais. J. W. PELTASON, autor de Understanding the Constitution, cita um exemplo desses poderes implicitos: 0 Congresso néo tem o poder explicito de imprimir papelmoeda, mas tal poder “esté implicito no poder explicito de contrait empréstimos e cunhar a moeda”. Hi ainda os poderes que a Constituigdo nao dé a0 Governo federal nem proibe aos Estados-Membros. Estes poderes reservados pertencem a0 povo ou aos Estados. Os poderes estaduais incluem o direito de legislar sobre casamento, divércio e ensino piblico. Os poderes reservados ao povo incluem 05 direitos de propriedade e de julgamento por um jiri. Em alguns casos, os Governos federal e estaduais tém poderes concor- rentes, prevalecendo @ autoridade federal em caso de conflito. A Suprema Corte dos Estados Unidos tem a competéncia final para interpretar a Constituicao, Ela pode declarar a inconstitucionalidade de qualquer lei — federal, estadual ou municipal — que ferir qualquer parte da Constitui A necessidade de uma Constituigao Desde a proclamagio da Independéncia em 4 de julho de 1776, as treze antigas col6nias briténicas da América do Norte (Delaware, Maryland, Virginia, North Carolina, South Carolina, Georgia, New Hampshire, Massi- ve R. Inf. lepisl, Brosilia @. 24 9, 96 out./dex, 1987 chusetts, Connecticut, New York, New Jerscy, Pennsylvania e Rhode Island), transformadas em treze Estados soberanos, passaram a viver sob os “Artigos da Confederagdo”. Em 1783, quando terminou completamente a guerra con- tra a antiga metrépole, os novos Estados enfrentavam grandes problemas de sobrevivéncia interna e de reconhecimento externa, Cada Estado, como pais independente, cuidava de seus proprivs negé- cios sem se preocupar com os outros; havia doze moedas diferentes em circulaggo na Confederagiio, todas de pouco valor; Estados vizinkos taxavam as mercadorias um dos outros; a Gra-Bretanha se recusava a reabrir os canais de comércio de que necessitavam as unidades confederadas; 0s go- vernos dos novos Estados, com o apoio de seus Legislativos, recusavanrse a pagar as dividas contraidas durante a Guerra da Independéncia; ¢ 0 pior de tudo: as pessoas jé comecavam a pensat em pegar em atmas novamente para resolver seus problemas. Os lideres da Revolugdo imaginavam se a Juta contra os britinicos tinha sido em vao. Sentiam que era hora de acabar com a confusio reinante e tentar trazer a paz e a ordem, através da organizagao de um governo nacional. Um noyo tipo de governo suficiente- mente forte para conquistar a obediéneia interna ¢ ganhar o respeito externa, Representantes de cinco Estados encontraramse em Annapolis (Mary- land) em 1786 e propuseram que todos os Estados nomeassem delegados para uma reuniéio em Philadelphia a fim de reverem os “Artigos da Confe- deragio”, Congreso da Confederacao aceitou a proposta e sugeriu que cada Estado selecionasse delegados para uma “Convenciio Constitucional”. A convengéo constitucional ‘A data mareada para a abertura dos trabalhos da Convengio era 14 de maio de 1787, mas poucos dos 55 delegados chegaram a Philadelphia naquele dia. Finalmente, em 25 de maio, a Convengdo inaugurou seus traba- Ihos no prédio chamado “Independence Hall”. Doze Estados haviam respon- dido a convocacdo, Rhode Island nfo mandou representantes porque nio queria a criago de um governo nacional que viessc a intervir nos negocios do Estado. Durante 116 dias, cm reunides altamente secretas, os “constituintes” trabalharam arduamente ¢, ao invés de se limitarem a rever os “Artigos da Confederacéo”, elaboraram novo texto em que se ctiava o primeiro Estado Federal do mundo, forma inédita em que os Estados-Membros cederam a soberania & Unido, conservando para si grande dose de autonomia politico- administrativa. R. Inf. legisl. Brosilia a. 24 0, 96 out./de. 1967 9 Os delegados da “Constitutional Convention”, como a chamov ARTHUR SUTHERLAND, em seu excelente livro Constitutionalism in America, ao trabatharem no novo texto, basearam-se bastante na experiéncia adquirida pelos britanicos em séculos de histéria, e por eles prdprios nos duros anos da colénia. Em suas reunides, eles estudaram os decumentos que compunham a Constituigao inorganica da Gra-Bretanha, a comecar pela Magna Charta, de 1215, que limitou o poder do Rei Jodo-Sem-Terta e con- sagtou direitos individuais, As Constituigses dos Estados Confederados também foram examinadas ¢ discutidas. Os textos das Constituigdes de New York (1777) ¢ de Massachusetts (1780), que, em sua elaboragdo, con- taram, respectivamente, com o concurso de John Jay e John Adams, foram usadas como modelos em muitos pontos. Benjamin Franklin trouxe seu projeto de unido das antigas colénias sob um governo central, tado no Congreso de Albany, em 1754, Washington, que falou muit durante a ConvengGo, relatou seus préprios problemas durante a Guerra, quando, como comandante-em-chefe das tropas americanas, teve que traba- Ihar com 0 governo fraco da Confederacio. Os delegados, quase todos carregando em si a experiéncia de militar ou de administrador, discordavam entre si em muitos detalhes, mas se uniram firmemente em torno do propésito de criar uma nova administra- so, capaz de “governar” a nagdo americana como um todo, respeitando, ao mesmo tempo, as liberdades dos Estados-Membros ¢ do povo. As grandes discussdes A tarefa de criar um novo Estado nao foi facil de se realizar. Alguns temas geraram grondes controvérsias. Pelos anais da Convengao, compilados € mantidos por MADISON (¢ estudados com profundidade no Semindrio de que participei na New York University), vé-se que, por varias vezes, deyido a pontos de vista arraigadamente defendidos, a Assembléia quase se dissotveu. Podemos dizer que cinco foram os principais assuntos polé- micos discutidos ¢ resolvidos na Convengio. O primeiro deles referia-se 4 representagdo dos Estados-Membros no Congresso dos Estados Unidos. Os grandes Estados, tais como Massachusetts ¢ Virginia, queriam a representagfio nas duas Casas baseada na populagdo. JA os Estados menores, como New Jersey ¢ Connecticut, defendiam repre- sentagdo igualitéria. Foi entio que os constituintes de Connecticut sugeriram uma terceira opgo, consistindo em representagdo igualitéria no Senado ¢ representagao proporcional & populaczo na Camara dos Representantes. No 100 Re Inf. legisl. Brasilio o. 24 0, 96 out./dex. 1967 dia 16 de julho, a ConvencGo votou a matéria e, por cince votos @ favor (Connecticut, New Jersey, Delaware, Maryland ¢ North Carolina) ¢ quatro contra (Pennsylvania, Virginia, South Carolina e Georgia), foi criado o Legislativo bicameral federal da Unitio, com um Senado conservador e igua- litério © a CAmara proporcional as populagdes dos Estados-Membros. A delegacio de Massachusetts dividiuse ao meio; os delegados de New Hampshire ainda nao haviam chegado a Philadelphia; os representantes de New York haviam partido; ¢ Rhode Island, como jé foi dito, ndo enviara delegagao. Outro assunto que gerou muitos debates foi a regulamentagaio do comércio exterior, Os Estados do Norte defendiam a regulamentagao pelo Governo federal e os sulistas, cuja prosperidade dependia das exportagdes, receavam a tributagao, pela Unido, dos produtos exportados. Ficou assentado que a Unido teria o poder de arrecadar tributos nas importagdes ¢ nao nas exportagdes, © terceiro ponto de debates girou em torno de se contar ou ndo os escravos na populagao dos Estados a fim de se calcular 0 minimo de repre- sentantes na Camara Baixa. Os Estados do Sul, onde 90% dos escravos viviam, queriam que cada escravo fosse contado, Os do Norte, com poucos escravos, tinham opinido contrétia. Um acordo foi feito, ficando assentado que somente trés quintos dos escravos de cada Estado poderiam ser con- tados como populagio para efeito de representagao proporcional na Cama- ra dos Deputados. Sem diivida uma estranha solugio, mas que ficou cons- tando do artigo I, Segao 2, n° 3, da Constituicao. © quarto tema polémico foi a escravidio, Os delegados dos Estados nortistas no podiam accitar a idéia de escravidio em uma sociedade livre e democtatica, Os sulistas, a0 contrdrio, sabendo que seus Estados depen- diam vitalmente do trabalho escravo, insistiam na manutengao do comércio de escravos. Os convencionais decidiram, que 0 novo Congresso s6 poderia Timitar tal atividade apés 0 ano de 1808. A aboligéo da escravatura 36 viria ocorrer pela Emenda n2 XIII, de 1865. Uma quinta questo bem discutida referia-se a0 Grgdo exccutivo do governo. Varios representantes defendiam a criagao de um Fxecutivo cole- giado com um mandato de quatro, sete ou dez anos. Alexander Hamilton chegou a sugerit 0 mandato vitalicio com sucessor hereditério! Houve quem defendesse a idéia de um chefe de Executivo eleito pelo Congreso para um termo de sete anos, sem reeleigdo. Finalmente chegou-se & decisao: um Presidente eleito por quatro anos com direito a reeleicao. E sua eleigao deveria ser feita por um colégio de eleitores escolhidos nos Estados-Mem- R. inf, fegist, Brasilia a. 24 n. 96 out./dex. 1967 101 bros. Tal principio esté contido no artigo II, Seco 1, n° 3, da Constitui- go, alterado, em parte, pela Emenda XII, de 1804. Os signatdrios No dia 12 de sctembro de 1787, 0 projeto da nova Constituigéo, redigido por uma comissdo especial, estava pronto ¢ foi apresentado ao plendrio da Conveneao. No dia 15, 0 texto foi aprovado e alguns consti- tuintes manifestaram sua apreenso no tocante A reagdo do povo. No dia 17, a Constituigao dos Estados Unidos da América foi solenemente assinada por 39 dos 55 delegados freqiientes, dos quais 34 eram formados em Direi- to. Vale a pena registrar aqui algumas curiosidades a respeito da elaboragZo e da assinatura da Constituigao: a maior delegacdo de signatdrios foi a da Pennsylvania, com oito representantes, ¢ a menor foi a de New York, com um S6 signatério (0 grande Alexander Hamilton); um dos nomes constantes das assinaturas € 0 de John Dickinson, de Delaware, que, na verdade, j& partira de Philadelphia, mas deixara “procuragdo” com George Read para assinar em seu lugar; George Washington assinou como Presidente da Con- vengaio e deputado por Virginia; Benjamin Franklin, 0 mais idoso dos con- vencionais (81 anos), embora fosse de Massachusetis, representou a Pennsyl- vania na assembléia (segundo VICENT WILSON, em The Book of the Founding Fathers, seu papel foi vital como moderador de conflitos e sua declaragdo final foi decisiva para que delegados relutantes concordassem em assinat o texto); James Madison, da Virginia, recebeu o titulo de “Pai da Constituigdo” por sen papel brilhante nos debates ¢ por ter sido o autor dos minuciosos anais da Convenc&o; os principais redatores do texto foram John Dickinson, Gouverneur Morris, Edmund Randolph, Roger Sherman, James Wilson e George Wythe; Gouverneur Morris teve a honra de “esere- yer" © original (preservado e exposto perenemente a visitagdo publica no National Archives em Washington); John Adams e Thomas Jefferson, embo- ta considerados entre os ““Fundadores dos Estados Unidos”, nao compare- ceram & Convengéo por estarem exercendo cargos importantes no governo da Confederagdo; Samuel Adams e John Jay, também merecedores do titulo de “Founding Fathers”, nao conseguiram ser eleitos para a Convengéo em seus Estados de origem; Elbridge Gerry, George Mason e Edmund Ran- dolph, trés dos maiores expoentes da Convengao, embora presentes no encerramento dos trabalhos, recusaram-se a assinar a Constituigéo porque nao concordavam com a quantidade de poder dado ao Governo federal: William Jackson, secretario da Convengao, assinou abaixo de todos 08 no- mes, autenticando as assinaturas dos 39 delegados; seis dos signatdrios da Constitui¢éo haviam assinado a Declaragéo de Independéncia, em 1776: Benjamin Franklin, George Clymer, Robert Morris, George Read, Roger Sherman ¢ James Wilson; dois dos signatarios da Constituicao viriam a ser Presidentes dos Estados Unidos: George Washington e James Madison. 102 Re int. legisl. Brasilia. 24 on. 96 owr./dex. 1987 A ratificagao da Constituigao Os convencionais-constituintes de Philadelphia estabeleceram que cada Estado-Membro da proposta “Federacao” deveria convocar sua prépria con- vengao para ratificar a nova Constituigao. O artigo VII do texto original ficou, entdo, assim redigido: “A ratificagio por parte das convengées de nove Estados serd suficiente para a adogdo desta Constituicao nos Estados que a tiverem ratificado”. E comegou a grande Campanha da Ratificagao. Surgiram dois partidos no cenario politico da nova naga: os Federalisias ¢ os Antifederalistas. Alexander Hamilton, James Madison e John Jay lideravam os defensores da Constituigdio; ¢ Elbridge Gerry, Patrick Henry e George Mason, trés dos convencionais n&o signatérios, comandavam a oposigao. As amas tsa- das na luta, no mais alto nivel, foram os artigos de jornal, os panfletos ¢ os debates nas convengdes. Por fim, comecaram a sutgir as aprovagies: Delaware foi o primeiro Estado a ratificar a nova Constituicao, em 7 de dezembro de 1787 (em sua bandeira, este Estado ostenta hoje, orgulhosa- mente, o titulo de “The First State”), Seguiram-se as aprovagées da Pennsyl- vania (12-12-1787), de New Jersey (18-12-1787), da Georgia (2-1-1788), de Connecticut (9-1-1788), de South Carolina (23-5-1788), de New Hampshire (21-6-1788), da Virginia (25-6-1788), de New York (26-7-1788), de North Carolina (21-11-1789) e, por diltimo, de Rhode Island (29-5-1790). Os dois ultimos Estados sé concordaram em aprovar a Constituigho com a condi- lio de que o Congresso Federal elaborasse ¢ promulgasse uma Declaragdo de Direitos Individuais, a ser incorporada no texto constitucional, Tal rati- ficagdo realizada pelas convengdes estaduais, expressamente eleitas para tal fim, certamente legitimaram o texto constitucional, elaborado, aprovado e assinado por aqueles 39 homens corajosos convocades originalmente s6 para rever os “artigos da Confederagao”. Segundo J. W. PELTASON, jé citado, os debates travados pela rati- ficagio instituiram um estilo na politica americana que nunca mais mudot “Os americanos muitas vezes se sentem insatisfeitos com a politica e as p ticas daqueles que governam. Mas poucos americanos tém condenado o sistema constitucional ou tém entendido que uma segunda convengaio cons- titucional poderd estabelecer um sistema melhor.” E DICK HOWARD, professor da Universidade da Virginia, afirma: “Esta Constituigio sobrevive — na realidade, floresce — como a carta bési- ca de um Estado moderno cujo tertitério se estende do Atléntico ao Pacifico, cujos habitantes procedem de varias origens, cuja tecnologia enviou homens ¢ mulheres ao espago ¢ & Lua, cujo governo executa fungdes impensaveis pata os fundadores da Nagao”, Ro inf, legist, Brasilia a. 24 , 96 our/dex. 1987 103 O desenvolvimento da Constituiggo ‘A Constituigéo dos Estados Unidos da América no se restringe a0 seu predmbulo ¢ aos sete artigos originais. O grande JAMES MADISON declarou profeticamente: “Ao esbocarmos um sistema que desejamos dure através das eras futuras, niio podemos perder de vista as mudangas que essas eras produzirao.” Assim, ao criarem 0 texto organico, sintético bésico da Constituigio, os "Foundings Fathers” nao se esqueceram de deixar uma porta aberta para as emendas que se fizessem necessarias em decorréncia da dindmica da vida politica americana. Mas, em sinal de prudéncia e respeito pela idéia original. tal porta, consagrada no artigo V da Constituicdo, se mostra estreita pela rigidez do proceso de reforma ali adotado. Tal dispositive estabelece que as emendas constitucionais s6 terdo viggncia s¢ forem aprovadas por dois tergos dos componentes das duas Casas do Congreso e ratificadas por rés quartos das Assembléias Legislativas ou de Convengdes dos Estados-Mem- bros, hoje, como se sabe, em néimero de cingtienta, Nesses 200 anos de vigéncia da Constituicfo, cerca de 300 emendas foram propostas no Con- gresso, sendo que apenas 32 ali tiveram aprovagio e $6 26 foram ratifica- das pelos Estados-Membros. As dez primeiras emendas (Declaragdo de Direi- tos) sfo de 1789 e a ultima, que garante o direito de voto a partir dos 48 anos de idade, é de 1971. Os constituintes de Philadelphia foram suficientemente sébios para entender que nfo podiam claborar leis para todas as situagées possiveis. Assim, eles deram ao Congresso © direito de fazer feis que fossem “neces- sfrias e apropriadas” ao exercicio dos poderes conferidos ao Presidente, a0 préprio Congresso e aos Tribunais (artigo I, Segdo 8, n.2 18, da Constitui- Go). Este € um dos segredos da longevidade da Constituigéo Americana. As leis federais, as decises da Suprema Corte, os atos presidenciats € os costumes renovam a vide da Lei Suprema dos americanos. E ela se desenvolve em resposta as demandas de uma sociedade sempre crescente. Contudo 0 texto original e 0 espirito da Constituigao permanecem inaltera- dos. Cada geracdo aplica os seus dispositivos, na solugao de seus prépris problemas, da maneira aplicdvel ao entendimento de cada geragio. E € por isso que o notével e saudoso constitucionalista portugués MAR- CELLO CAETANO afirma que “a Constituicao norte-americana € objeto de yerdadeiro culto popular, como simbolo do espirito de independéncia ¢ liberdade nacional, mais do que como um diploma juridico”. oa R. Inf. fegisl. Brosilio o. 24 a. 96 out./dex. 1987

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