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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (UFSCar)


CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS (CECH)
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS (DCSo)

Prof. Dr. Joelson Carvalho


Maria Eugênia Soares de Camargo R.A.:771406

Estudo dirigido de Economia Brasileira

São Carlos
2023
1 – O longo período na economia brasileira que se estende de 1500 a 1930, é conhecido
como primário ou agrário-exportador. Faça uma análise crítica desse período, levando
em consideração que, mesmo em meio a muitas mudanças políticas e sociais, a economia
manteve-se presa à dinâmica rural latifundiária e monocultora, voltada para o mercado
externo.

Para analisar o período mencionado, é importante considerar o contexto de colonização


portuguesa, movida por interesses econômicos sobre recursos naturais e exploração de mão-
de-obra escrava. A renda concentrava-se principalmente na mão de elites mas tinha vazão no
mercado interno através de importações, desestimulando o desenvolvimento de poupanças
internas, não possibilitando o desenvolvimento de uma dinâmica econômica complexa, com
fluxo de renda e efeito multiplicador interno, não permitindo o chamado crescimento
econômico auto sustentado.
Pode-se compreender o período agro-exportador em três grandes ciclos: o do açúcar, da
mineração e do café, que tem destaque no desenvolvimento da economia brasileira por
mobilizar mudanças significativas na dinâmica estrutural econômica. Outras atividades
econômicas também ocorrem nessa delimitação temporal, como a extração de látex, pecuária,
cultivo de algodão, cacau e fumo, porém com uma relevância menor no processo econômico
como um todo.
Havia na atividade econômica açucareira, um alto grau de rentabilidade promovida por uma
série de fatores. A coroa portuguesa já contava com certo conhecimento sobre a produção de
cana pela exploração do produto em outros lugares no processo de colonização. Somado à
isso, já tinham algum domínio sobre a tecnologia e eram beneficiados principalmente pelo
acesso a grande demanda externa propiciada pela criação de um mercado para o açúcar,
sendo essa demanda externa controlada pelo poder do monopólio pela ausência de
concorrência, impedindo a superprodução e a tendência lenta à queda de preços. Cabe
destacar, que embora a Espanha contasse com condições mais apropriadas que a colônia
portuguesa para a produção açucareira, esta preferiu concentrar-se na exploração aurífera, o
que resultou no crescimento do Estado Espanhol, com muitas pessoas vivendo a partir de
subsídios em uma inflação crônica em toda a Europa. As condições climáticas favoráveis da
colônia,são outro aspecto que compõe essa gama de “facilidades” para o desenvolvimento da
economia açucareira no Brasil. Compreende-se tal período como de estabilidade lucrativa e
pouco vazamento de renda. A parcela da população constituída pelos escravos não
participavam das dinâmicas econômicas, não havia fluxo de renda entre esses indivíduos, que
por sua vez viviam no que se chama de economia de subsistência. Essa distribuição de renda
desigual afeta o efeito multiplicador pois a renda gerada fica concentrada em poucas mãos
(elites, donatários de terra) não estimulando a demanda do mercado interno, enfraquecendo a
diversificação. A expansão da atividade açucareira, e da pecuária ligada a ela, tem caráter
exclusivamente extensivo, agregando apenas terra e mão de obra, sem mobilizar
transformações estruturais que refletissem nos custos de produção e consequentemente na
produtividade.
A partir do séc. XVI a economia açucareira entra em reversão econômica, tendo sua
rentabilidade diminuída. A invasão dos holandeses sobre o território contribui fortemente
para essa queda, que perdem progressivamente o monopólio do açúcar. Ademais havia a
presença dos espanhóis o que amplificou a disputa por terras. Há uma série de conflitos nas
terras brasileiras durante esse período, contribuindo para o cenário de crise. A exploração
massiva da mão-de - obra escrava indigena e o aumento nos custos de compra e importação
de escravos africanos, surge como outro fator para a ampliação dessa “recessão”.
Configura-se nesse contexto uma dinâmica econômica dependente de estímulos externos,
sendo a exportação do açúcar a única forma de renda, que por sua vez era fortemente
concentrada. O fluxo de produções internas resumia-se principalmente ao consumo da própria
população. Pode-se nomear o período como “ciclo” pela sua natureza transitória da
capacidade de se auto sustentar , o que pode ser explicado por uma série de fatores aqui já
citados, como a má distribuição de renda, limitando o efeito multiplicador, criando uma
demanda do mercado interno baixa .
Com a decadência da atividade econômica açucareira, nos primeiros anos do século XVIII
observa-se um significativo aumento na exploração do ouro no início do século na região das
Minas Gerais, Mato Grosso e uma parcela de Goiás. Embora tenha tido seu apogeu ( segunda
metade do séc. XVIII) nesta fase da economia brasileira, ela apresentava características
pouco favoráveis no sentido de um contraste muito acentuado entre a alta lucratividade e a
entraves para abastecimento, o que ampliava a dependência de importações. A forma de
exploração do ouro era realizada em sua forma de “aluvião”, o que demandava uma mão de
obra escrava massiva.Ademais , esse aspecto propicia o intenso fluxo migratório advindo da
metrópole, dada certa “facilidade” para realização da atividade. Ao contrário da atividade
açucareira, que demandava certo “capital inicial” para a realização da atividade, a mineração
do ouro permitia que qualquer pessoa sem muitos recursos pudesse se lançar em tal
empreitada. A questão da extrema necessidade de mobilidade, fez com que o sistema de
transporte assumisse um papel fundamental na economia. Celso Furtado enfatiza a
combinação de dois fatores como as marcas da economia mineira , a incerteza e a mobilidade
da empresa. Esse fluxo e mobilidade mais acentuados, foram responsáveis por um processo
de interiorização do país, anteriormente bem menos povoado.
Apesar desse contraste entre lucros exorbitantes e cenário de fome, em que a renda média
estava abaixo do que na economia açucareira, o ciclo do ouro permite uma complexificação
na dinâmica econômica, não evidente na economia açucareira. O funcionamento da atividade
abre espaço para que escravos possam ter uma mobilidade social maior, podendo assim,
participar da economia. Há uma quantidade maior de homens livres, o que fomentava o
desenvolvimento urbano e por sua vez a demanda por produção interna. Nesse sentido,
observa-se uma inclinação da economia mineira para a produção interna.
Embora houvesse esse estímulo, a produção interna ainda era muito pequena. O “vazamento
de renda” ocorreu nesta fase, porém era insuficiente para o processo de industrialização. Por
ser um produto móvel e incerto, demandando o deslocamento de uma região para outra,
torna-se difícil o estabelecimento de centros industriais. A falta de diversidade
econômica( resumia-se praticamente à economia de subsistência e a exploração massiva do
metal ) e a alta dependência externa em consequência de uma atividade econômica focada em
um único produto, a atividade mineira entra em declínio no fim do séc. XVIII.
Devido ao declínio da mineração, o café ganhou importância comercial no país. Isso ocorreu
em razão da desorganização do principal produtor de café da época, o Haiti, e pelos altos
preços no mercado internacional. O café rapidamente se tornou uma das principais
exportações do país no início do século XIX. A produção do produto era concentrada
principalmente no sudeste, com destaque para os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio
de Janeiro, que contava com recursos geológicos favoráveis , mão-de-obra excedente pelo
declínio da exploração mineira e proximidade de portos. Assim, a primeira expansão cafeeira
aproveitou recursos subutilizados em conjunto com vantagens geográficas da região.
Uma expansão na produção do café ocorreu após as altas internacionais de preços no final do
século XVIII, afetando América e Ásia e causando quedas a partir das décadas de 1830 e
1840. Apesar disso, a produção brasileira de café aumentou cinco vezes durante esse período,
conforme observado por Furtado, apesar de cerca de 40% nos preços. Isso pode ser explicado
em parte pela exploração intensa da mão de obra escrava e pela maior necessidade menor de
gastos monetários na produção do café, que envolve instrumentos mais simples e de
fabricação local. Assim, a expansão cafeeira se deu de forma vigorosa, inicialmente valendo-
se da disponibilidade de mão-de-obra escrava e, posteriormente, a partir da segunda metade
do século XIX, quando os preços do café se recuperaram enquanto os do açúcar
permaneceram em declínio. Isso coincidiu com migrações internas do norte ao sul,
movimentando a força de trabalho entre as regiões.
Durante a formação da atividade econômica cafeeira, surgiu uma nova classe empresarial
importante para o futuro do país. Distinguida das elites açucareiras, essa classe era composta
por comerciantes, desde o início. Ao contrário da produção de açúcar, onde a produção e o
comércio eram separados, no setor cafeeiro, eles estavam entrelaçados. A proximidade com a
capital política levou esses empresários a perceber o potencial do governo como instrumento
econômico. Essa nova elite se destacou por sua consciência coletiva e percepção clara de
interesses em grupo.
Após a formação dessa atividade econômica, o Brasil encontrou um novo Produto para
Comércio Internacional e desenvolveu uma economia sustentável que permitiu sua expansão
futura.

2 - Diferentemente dos ciclos econômicos anteriores, a atividade cafeeira se estruturou


como um complexo rural. Dito isso, explique como o complexo cafeeiro contribuiu para
o processo de industrialização nacional, ressaltando os limites encontrados nos outros
ciclos econômicos para cumprir tal função.

A alta lucratividade inicial do cultivo de café na segunda metade do século XIX impulsionou
o seu crescimento em termos de área e produtividade. A expansão resultou na formação de
novas cidades e na necessidade de criar infraestrutura viária, incluindo estradas e ferrovias,
com apoio financeiro do governo. Esse financiamento estratégico para a expansão cafeeira,
permitiu aos cafeicultores investir com poucos riscos, já que poderiam vender sua colheita ao
Estado antes mesmo de plantá-la, protegendo-se de flutuações nos preços de exportação.

A expansão territorial segura gerou atividades comerciais menores, as quais conduziram


mudanças estruturais na economia. Para manter padrões de vida, as elites buscaram explorar
ao máximo a mão de obra escrava, mas tal prática limitou a reprodução interna dos escravos.
A presença do trabalho escravo e a falta de um mercado interno no Brasil prejudicaram os
interesses do capitalismo internacional, particularmente da Inglaterra. A suspensão do tráfico
de escravos pela Inglaterraelevou o preço da mão de obra escrava e estimulou a busca por
imigrantes europeus com mão de obra especializada.
A interrupção do tráfico de escravos reduziu a eficiência do trabalho escravo, permitindo a
entrada de trabalho assalariado. Isso diversificou a circulação do dinheiro, fortalecendo o
mercado interno. O Estado desempenhou papel fundamental ao favorecer o trabalho livre e ao
financiar a atração de trabalhadores. Em um contexto de expansão do cultivo do café, o
Estado regulamentou o estoque nacional, comprando o excedente não exportado. A crise de
superprodução dos Estados Unidos em 1929 afetou o Brasil, mas a base do trabalho
assalariado e do multiplicador econômico permitiu uma maior resiliência.
No período de 1930 a 1956 marcou a industrialização restringida no Brasil, com a atuação
estatal como financiador e empresário em setores estratégicos como siderurgia, energia e
mineração. Essa Política, iniciada por Getúlio Vargas e consolidada por Juscelino
Kubitschek, promoveu projetos de longo prazo, essenciais para o desenvolvimento industrial
do país.

3 – O Programa de Substituição de Importações (PSI) se valeu de um conjunto de


medidas econômicas para a proteção à indústria nacional. Explique-as associando, em
sua resposta, à tendência desse modelo ao desequilíbrio e ao estrangulamento externo.

O Programa de Substituição de importações (PSI) foi uma estratégia de industrialização


implementada pelos governos brasileiros a partir de 1930. Essa abordagem evoluiu em
diferentes fases, com continuidade entre governos brasileiros a partir de 1930. Essa
abordagem evoluiu em diferentes fases, com continuidade entre governos, tornando-se mais
do que um simples programa. Seu objetivo central era reduzir a dependência de importações
e consolidar a autonomia econômica, o que levou a uma transformação profunda no papel do
Estado brasileiro após 1930. Esse novo papel estatal envolveu a regulação de diversos setores
da atividade econômica e social, com participação direta no processo no processo de
acumulação de capital, caracterizando um forte viés nacionalista.
A característica inicial da industrialização por PSI é a sua orientação para o mercado interno.
Isso a tornou uma industrialização fechada, não diretamente ligada à lógica exportadora.
Além disso, ela dependia fortemente de medidas de proteção contra a concorrência
internacional, principalmente do capital estrangeiro. O processo de PSI começava em
resposta ao estrangulamento externo, como a diminuição do valor das exportações e a
manutenção de parte da demanda, que gerava escassez de divisas estrangeiras. O governo
respondia a essa crise cambial com medidas que protegiam a indústria nacional já existente,
aumentando sua competitividade e rentabilidade.

Isso estimula ondas de investimento, em setores de expansão, resultando na produção interna


de bens de consumo. Esse processo impulsionava a renda nacional e a demanda agregada ,
dinamizando a economia. No entanto, essa expansão levava a um novo estrangulamento, já
que o crescimento da demanda resultava em aumento dos investimentos em matérias-primas
e equipamentos importados, o que muitas vezes superava o ritmo de crescimento das
exportações. Assim, os estrangulamentos atuavam como estímulos e limites para o
investimento industrial.
À medida que um setor se desenvolvia, a demanda por seus produtos gerava estrangulamento
de outros. Inicialmente, essa demanda era suprida por importações,mas com o tempo, esses
bens passaram a ser produzidos nacionalmente em novos setores de investimento. Essa
abordagem por etapas definia a sequência dos setores a serem alvo de investimento industrial.
No caso do Brasil, o setor de bens de consumo não duráveis foi o primeiro a se desenvolver.
Isso gerou demanda por produtos produzidos em subsetores de bens de capital e
intermediários que ainda não tinham se desenvolvido no país, resultando em importações.
Para proteger a indústria nacional, o PSI emprego empregou mecanismos como a
desvalorização real da moeda, o controle de câmbio, taxas múltiplas de câmbio e aumento das
tarifas aduaneiras. Essas ações favoreceram a indústria interna, porém algumas desvantagens
também surgiram, como o aumento dos preços de equipamentos e matérias-primas
importadas. Apesar disso, o PSI gerava efeitos positivos no setor exportador. O programa
passou por várias fases e enfrentou dificuldades, incluindo o desequilíbrio externo, a falta de
competitividade da indústria no mercado internacional e a demanda crescente por
importações. A viabilidade do PSI muitas vezes dependia de recursos estrangeiros , como
endividamento externo e investimentos diretos para suprir a falta de divisas estrangeiras.

4 – Sobre o Plano de Metas, disserte sobre seus objetivos, instrumentos e estratégias


adotadas pelo governo, em sua implementação. Em sua resposta destaque os papéis
desempenhados pelo Estado, pelo capital privado nacional e pelo capital internacional.

O Plano de Metas surgiu durante o governo Juscelino Kubitschek (1956-1961), auge da


industrialização brasileira, marcado pela ênfase no desenvolvimento pelo populismo político
que enfraqueceu o nacionalismo. Esse plano ia além do PSI, pois buscava criar uma estrutura
industrial integrada ao invés de apenas responder a problemas externos específicos.

Seu principal objetivo era estabelecer uma economia industrial madura no Brasil, e para isso,
promovia uma colaboração entre Estado, Capital Privado Nacional e Internacional, conhecida
como “ Tripé Econômico”. Essa colaboração resultou em uma participação significativa de
recursos estrangeiros na implementação de um padrão de industrialização.
O Plano de Metas via a industrialização como solução para superar a pobreza e o
subdesenvolvimento. Acreditava-se que as forças de mercado não eram suficientes para uma
industrialização eficaz e racional, sendo necessário planejamento estatal. O Estado assumiu a
responsabilidade de expandir, captar recursos e investir em setores insuficientemente
atendidos pelo setor privado, combinando planejamento e protecionismo.
O plano era dividido em três partes principais: 1) Investimentos Estatais em infraestrutura,
especialmente transporte e energia; 2) estímulo à produção de bens intermediários como aço,
carvão e cimento; 3) incentivo à introdução de setores de bens de consumo duráveis e de
capital.
A implementação do Plano ocorreu por meio de comissões setoriais que criavam incentivos
para atingir metas específicas de cada setor. O governo empregou uma série de ferramentas-
chave para alcançar tais metas, além de investir em empresas estatais. Esse movimento
contou com disponibilização de crédito com baixas taxas de juros e prazos de reembolso
entendidos por meio do Banco do Brasil e do BNDE, a adoção de uma política de proteção do
mercado e o fornecimento de apoio para a obtenção de empréstimos internacionais. O
incentivo ao investimento estrangeiro variou desde a permissão para investimento direto
estrangeiro sem exigência de cobertura cambial até isenções fiscais e garantias de mercado
( proteção para setores em crescimento), o que atraiu muitas empresas multinacionais para o
país.
Pode-se afirmar que o plano obteve certo grau de sucesso em sua execução, evidenciado pelo
rápido crescimento econômico no período e por mudanças estruturais significativas,
especialmente na base produtiva. Esse período foi caracterizado por um crescimento
industrial acelerado e a consolidação de uma integração nacional parcial, com o
desenvolvimento se espalhando pelo interior do país. Houve uma mudança perceptível na
direção da produção industrial, onde os setores de bens de consumo não duráveis, que já
estavam presentes no período anterior, foram suplantados pelos bens de consumo duráveis
como protagonistas e força motriz.
Contudo, o Plano de Metas deixou questões problemáticas em seu rastro. Os investimentos
públicos tiveram de ser financiados por emissão de moeda ( devido à ausência de uma
reforma fiscal alinhada com metas e gastos), resultando em uma aceleração da inflação
durante o período. Além disso, houve concentração de renda devido à diminuição do estímulo
à agricultura e ao direcionamento de investimentos industriais para setores intensivos em
tecnologia e capital.
Portanto, é possível observar que, apesar das transformações rápidas que ampliaram e
diversificaram a base industrial brasileira, o Plano de Metas acentuou as contradições que
surgiram no processo de industrialização por substituição de importações, expondo as
limitações do modelo dentro do contexto institucional existente.

5 – O início dos anos 1960 foi marcado, segundo alguns autores, por crises políticas e
econômicas, ambas com caráter conjuntural e estrutural. Descreva essas crises,
contextualizando o processo e associando, em sua resposta, o diagnóstico e as propostas
do PAEG no enfrentamento dos problemas apontados.

Na primeira metade da década de 60, tanto no Brasil quanto no contexto internacional, houve
instabilidades políticas que se entrelaçam com a dinâmica da Guerra Fria e os conflitos pela
independência de diversas antigas colônias europeias. Esse período foi marcado pela cisão
global entre EUA e URSS, conforme disputavam zonas de influência, representando os
modelos capitalista e soviético, respectivamente.
Os anos iniciais da década de 60 no Brasil foram caracterizados pelo agravamento da crise
econômica. Duas razões foram preponderantes para o cenário de crise: a queda nos
investimentos e no crescimento da renda nacional; e o aumento acentuado da inflação, que
chegou a ultrapassar 90% em 1964. Tais elementos críticos da crise, especialmente a inflação,
refletiam questões herdadas do governo JK, e, em certa medida, eram consequências diretas
dos desequilíbrios presentes no Plano de Metas. Essa crise marcou o declínio do modelo de
substituição de importações.
Durante essa época, surgiram diversas interpretações e abordagens para lidar com a crise dos
anos 60, abordagens estas que variavam entre as perspectivas econômicas e políticas, sendo
analisadas como conjunturais e estruturais. No âmbito político, a crise conjuntural era visível
por meio da instabilidade política, enquanto no plano estrutural, o foco estava na crise do
populismo. Na esfera econômica, a dimensão conjuntural envolvia uma política econômica
recessiva para combater a inflação, enquanto a perspectiva estrutural destacava o
esgotamento do modelo de substituição de importações, bem como a crise cíclica endógena
de uma economia industrial e as inadequações institucionais.
Um dos principais desafios do país nesse período era o déficit público, o excesso de
demanda, a falta de controle na expansão de crédito e a necessidade de reformas
institucionais, incluindo reformas tributárias e monetárias.
Em resposta a tais desafios foi implementado o Plano de Ação Econômica do governo
(PAEG) visando a redução da inflação e a retomada do crescimento. Em relação ao controle
de crédito , houve um aumento nas taxas de juros reais, resultando em uma reestruturação
econômica concentradora. O excesso de demanda, apontado como causa da inflação, foi
combatido por meio de medidas de contenção salarial. Além disso, reformas institucionais
foram introduzidas, incluindo a correção monetária, a criação de impostos como IPI, ICMS,
ISS, entre outros, a implementação de fundos parafiscais como FGTS e PIS.
O PAEG obteve um certo grau de sucesso, pois conseguiu reduzir a taxa de inflação
consideravelmente de 1964 a 1967, caindo 60% durante tal período. No entanto, o aspecto
mais notável desse plano foi uma série de transformações institucionais que ele impôs no
país. Isso se refletiu nas reformas tributária e bancária, bem como na concentração autoritária
do poder político e econômico, com controle de emissão monetária e do crédito, além de uma
política de contenção salarial rígida, que é geralmente viável em regimes autoritários.
A reforma bancária de 1965 se estabeleceu como a estrutura fundamental do sistema
financeiro nacional, introduzido pelo Banco Central e o Conselho Monetário Nacional. Isso
resultou na segmentação do sistema em instituições financeiras, bancos comerciais e bancos
de investimento. A introdução das Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional (ORTN)
levou à correção monetária, permitindo a convivência com altas taxas de inflação ao longo
dos anos. Com o tempo, o governo passou a financiar-se por meio da emissão de dívida
pública baseada no ORTN e, posteriormente, em Letras do Tesouro Nacional (LTN).
Entre as críticas ao período do PAEG, além do autoritarismo da Ditadura Militar no âmbito
político, estão os equívocos diagnósticos sobre a causa da inflação, que levavam políticas
recessivas com consequências sociais significativas. Também é criticado por fortalecer
grandes oligopólios e aprofundar a desnacionalização da economia.

6 – O “Milagre Econômico” é o nome dado ao período compreendido entre 1968 e 1973,


período esse caracterizado por um expressivo crescimento econômico. Discorra sobre
esse período associando, em sua resposta, o contexto interno e internacional e como esse
contexto impactou a economia. Ao final de sua resposta, faça uma análise crítica dos
impactos do “Milagre” sobre a massa assalariada.

No período de 1968 a 1973, é considerado o período do “milagre econômico” brasileiro.


Durante tal período o país experimentou um crescimento econômico notável, com taxas mais
altas de expansão do PIB na sua história recente. Esse crescimento ocorreu em um contexto
de relativa estabilidade de preços, sob o regime da Ditadura militar. Esse sucesso foi fruto de
diversas mudanças institucionais e também foi influenciado pela recessão que o precedeu, o
que resultou em capacidade ociosa da indústria. Isso, juntamente com as condições favoráveis
para o aumento da demanda e o crescimento da economia global, possibilitou a superação das
taxas de crescimento históricas.

Já em 1967, o governo tinha como objetivo primordial alcançar o crescimento econômico


enquanto controlava a inflação. Durante o período do “milagre” houve uma mudança na
interpretação das causas da inflação. Inicialmente atribuída à demanda, a inflação passou a
ser vista como resultado de pressões de custos. Isso levou a uma flexibilização das políticas
de contenção da demanda, abrangendo políticas monetárias, fiscais e de crédito, exceto em
relação aos salários, considerados um fator de alto custo.

O crescimento pretendido foi buscado por meio do investimento em diversos setores, com
destaque para a participação da iniciativa privada. Esse crescimento também era visto como
fundamental para legitimar o regime militar, que justificava sua intervenção como resposta à
necessidade de restaurar a estabilidade política e econômica, além de promover o
desenvolvimento nacional. Vários fatores contribuíram para o crescimento durante o milagre
como:

1. Aumento de investimentos públicos em infraestrutura, resultando na melhoria da


situação financeira do setor público após reformas fiscais e mudanças na dívida
interna.
2. Expansão dos investimentos em empresas estatais, com o surgimento de 231 estatais
durante o período.
3. Crescimento de demanda por bens duráveis, impulsionado pela expansão do crédito
para consumo após reformas financeiras.
4. Aumento no setor de construção civil devido aos investimentos públicos na área e à
alta demanda por habitações, estimulada pelo aumento de crédito.
5. Crescimento das exportações, beneficiado pelo crescimento do comércio global,
melhoria nos termos de troca, transformações na política externa e incentivos fiscais.

Em 1974, o setor privado captava mais recursos externos do que o setor público,
especialmente o capital estrangeiro. No entanto, após o término do período do “milagre”, o
setor privado reduziu suas captações pelo setor público. Esse processo de endividamento
público ficou conhecido como “ estatização da dívida esterna”.
Um dos principais pontos críticos do período do “milagre” é a significativa concentração de
renda que ocorreu, resultando em um aumento notável da desigualdade social. Isso foi
justificado pela chamada “teoria do bolo”, atribuída ao economista Roberto Campos, figura
proeminente no governo durante o período. A metáfora do bolo era usada para explicar que
era necessário primeiro aumentar o tamanho do bolo ( crescimento econômico) antes de
pensar em dividir os pedaços (equidade e distribuição de renda). Devido à escassez de mão-
de- obra especializada, os profissionais qualificados perceberam um aumento em seus
rendimentos em comparação com os não especializados, cuja oferta era abundante.

7 – O ano de 1973 é marcado pelo choque do petróleo e seus impactos nas diversas
economias do mundo. No Brasil, como estratégia de enfrentamento da crise, adotou-se o
II Plano Nacional de Desenvolvimento (IIPND), que sustentou, pelo menos em tese, o
crescimento econômico nacional até 1979, quando ocorreu o segundo choque do
petróleo.Disserte sobre os sobressaltos da dinâmica econômica nesse período,
destacando em sua reposta, os impactos internos dos problemas econômicos
internacionais bem como a lógica de enfrentamento desses problemas no plano
doméstico.

Como mencionado anteriormente, o período do “milagre” foi viabilizado através de um


notável aumento na dependência externa, impulsionado pela entrada massiva de capital
estrangeiro no país. A continuidade desse ciclo expansivo com altas taxas de crescimento
tornou-se cada vez mais dependente de uma conjuntura internacional favorável. No entanto,
esse período foi marcado pelo primeiro choque do petróleo em 1973, quando os países da
OPEP aumentaram o preço do barril, resultando em uma crise global.
Nesse contexto, um debate central emergiu entre as abordagens de “ ajustamento” e
“financiamento”. A primeira envolvia a desvalorização da moeda, contenção de demanda
interna para evitar uma inflação persistente e correção dos desequilíbrios externos. A segunda
buscava manter o crescimento enquanto gradualmente ajustava os preços relativos, desde que
houvesse financiamento abundante. A maioria dos países reagiu à crise de maneira recessiva ,
mas o Brasil seguiu uma direção distinta. No início de 1974, o governo considerou a opção
do ajustamento, mas devido à crise financeira questões políticas, abandonou a contenção e
adotou a estratégia de crescimento. Algumas das questões políticas que contribuíram para
optassem por essa via foram:

1. Legitimidade do regime militar: Durante o período do milagre econômico o Brasil


estava sob o regime militar. O governo tinha como objetivo não apenas promover o
crescimento econômico, mas também legitimar o regime perante a população. O
crescimento econômico era visto como uma maneira de demonstrar a eficácia do
governo e de melhorar sua imagem.
2. Estabilidade política: O governo militar estava interessado em manter estabilidade
políticas e evitar agitações sociais (greves, por exemplo) A adoção de uma estratégia
de crescimento poderia contribuir para manter a população empregada, reduzindo o
risco de protestos ou movimentos de oposição.
3. Investimentos em infraestrutura e Indústria: O governo via o crescimento econômico
como uma forma de fortalecer a infraestrutura do país e promover a industrialização.
Essa estratégia estava alinhada com a visão de modernização e desenvolvimento do
Brasil propagada pelo regime militar.
4. Ampliação e base de apoio: O governo buscava construir uma ampla base de apoio
político e econômico. O crescimento econômico poderia atrair investidores nacionais
e estrangeiros, além de fortalecer a coalizão que sustentava o regime.
5. Avaliação das alternativas: A estratégia de ajustamento recessivo poderia levar a
consequências sociais negativas, como desemprego e instabilidade. O governo pode
ter avaliado que uma abordagem de crescimento gradual poderia minimizar tais
impactos e manter a coesão social..
6. Contexto Internacional: A estratégia de crescimento foi adotada em um momento em
que havia liquidez internacional e financiamento externo disponível. O Brasil
aproveitou essa conjuntura para sustentar seus planos de crescimento e investimento.
7. Mantendo o apoio empresarial: O governo militar tinha apoio de setores empresariais
que beneficiaram-se do ambiente favorável de crescimento. Esses setores tinham um
papel fundamental na coalizão que sustentava o regime.

Essa estratégia culminou no lançamento do II Plano Nacional de Desenvolvimento No final


de 1974, que visava ajustar a estrutura de oferta de longo prazo ao mesmo tempo em que
mantinha o crescimento, apoiado pelo endividamento externo. Esse ajuste na estrutura da
oferta envolveu modificações na produção nacional para reduzir a dependência de
importações e fortalecer a capacidade de exportação de longo prazo.
Embora as metas de crescimento econômico em torno de 10% ao ano não tenham sido
plenamente alcançadas, o crescimento econômico permaneceu elevado. As prioridades na
industrialização foram revistas, resultando na diminuição da participação das importações no
setor de bens de capital, bem como na criação de um excedente exportável de 200 milhões de
dólares. Nesse período, os setores de produção de aço, alumínio, zinco, minério de ferro,
energia hidrelétrica, energia nuclear, exploração de petróleo e incentivos a ferrovias e
hidrovias tiveram destaque.
As empresas estatais desempenharam um papel crucial nessas transformações econômicas,
gerando uma demanda que incentivava os investimentos do setor privado. Uma estratégia
notável do II PND foi descentralizar os projetos de investimento para atender à modernização
de regiões anteriormente não industrializadas.
Nesse contexto, o Estado buscou garantir apoio ao plano, embora as empresas estatais tenham
enfrentado restrições de crédito interno e contenção tarifária, levando ao endividamento
externo para cobrir a lacuna de divisas. Foi assim que começou o processo de estatização da
dívida externa, crescendo rapidamente durante esse período.
O final dos anos 70 trouxe mais transformações no cenário internacional e aprofundou a
vulnerabilidade econômica do Brasil. Em 1979, ocorreu o segundo choque do petróleo,
juntamente com aumento nas taxas de juros internacionais e início da crise cambial brasileira.
Além disso, a situação fiscal do Estado deteriorou-se devido à redução da carga
tributária,aumento das transferências e déficits nas empresas estatais. A pressão inflacionária
também voltou, atingindo cerca de 77% ao ano. Todos esses fatores são as raízes da chamada
“década perdida” do Brasil nos anos 80, ao menos em termos econômicos.
8– A década de 1980 é conhecida na historiografia econômica como “Década Perdida”.
Em grande medida isso se deveu às dívidas interna e externa e à inflação. Explique,
sucintamente, como esses três problemas afetaram a economia brasileira nessa década.

Desde o período nacional desenvolvimentista com J. K. houve um aumento significativo do


investimento estrangeirona economia brasileira. Durante os anos de Ditadura Militar, esse
investimento foi essencial para impulsionar as altas taxas de crescimento do “ Milagre”
econômico, mas também resultou em muita dependência externa. No entanto, essa
dependência começou a ter impactos negativos nos anos 70 devido aos choques do petróleo e
às mudanças na política econômica dos EUA.
Os choques do petróleo elevaram os preços internacionais do petróleo, forçando o Brasil a
buscar empréstimos internacionais para sustentar suas próprias importações de petróleo. Isso
coincidiu com a mudança econômica dos EUA, que adotou medidas para conter a
desvalorização do dólar, resultando em taxas de juros internacionais mais altas. Essa
conjuntura levou muitos países “em desenvolvimento” , incluindo o Brasil, a enfrentarem
problemas com dívidas externas, dificultando o acesso a empréstimos internacionais.
Diante desse cenário, esses países tiveram que buscar geração de superávits externos e
acumulação de reservas internacionais para lidar com suas dívidas. No Brasil, o desafio era
equilibrar as contas internas, o que não poderia ser resolvido apenas através dos superávits
externos.
No Brasil, a maior parte da dívida externa era do setor público devido ao processo de
estatização da dívida externa, enquanto a geração de superávits ocorria principalmente no
setor privado. Isso deixou o governo com 3 opções para obter divisas: gerar superávit
compatível com as transferências externas, emitir moeda ou contrair dívidas internas. A
primeira opção era inviável devido à situação fiscal do setor público, a segunda conflitava
com a política de controle interno e altas taxas de juros, restando apenas o endividamento
interno através da emissão de títulos públicos sob condições desfavoráveis.
Esse processo transformou a dívida externa em dívida interna, agravando as contas públicas e
aumentando a indexação da economia. A inflação, que estava “estabilizada” em torno de
100% em 1981 e 1982, acelerou em 1982 em razão dos choques de oferta e da deterioração
da situação financeira do Estado. Isso contribuiu para um cenário econômico e político na
segunda metade da década de 1980.
9– Especificamente sobre a inflação brasileira, faça uma análise crítica dos planos
econômicos da década de 1980, apresentando os motivos de seus fracassos.

A Inflação pode ser entendida de forma ampla como um processo no qual os preços de bens e
serviços em uma economia aumentam de maneira contínua e generalizada ao longo de um
determinado período. Esse processo não deve ser considerado isoladamente, pois é mais
apropriado considerá-lo como um sintoma, não um problema econômico em si.
Em linhas gerais, a teoria identifica cinco tipos principais de inflação, cada uma com suas
próprias razões subjacentes:
A) Inflação de demanda ocorre quando a demanda por bens e serviços supera a oferta,
levando a um aumento geral nos preços.
B) Inflação de custos- decorreu de aumentos nos custos de produção, como matérias-
primas e energia.
C) Inflação de conflito distributivo- envolve o repasse de aumentos salariais aos produtos
dos bens e serviços.
D) Inflação estrutural- originada por problemas na infraestrutura econômica, causando
desequilíbrios e aumento de preços.
E) Inflação inercial- tem raízes na psicologia dos agentes e na memória de experiências
passadas, resultando em reajustes de preços para proteger contra perdas futuras.

Assim, as abordagens para lidar com a inflação se dividem em duas correntes principais:
ortodoxa e heterodoxa. A perspectiva ortodoxa envolve medidas de cunho liberale neoliberal,
como o aumento das taxas de juros e políticas monetárias restritivas. Por outro lado, a
abordagem heterodoxa, frequentemente influenciada pelo pensamento keynesiano, incorpora
uma participação mais ativa do Estado na economia.
A experiência brasileira nas décadas de 80 e 90 ilustra a complexidade do combate à inflação.
O Plano Cruzado (1986), buscou congelar preços e desindexar a economia, inicialmente
obtendo sucesso na queda da taxa de inflação e crescimento econômico. Entretanto, o
congelamento de preços mostrou-se instável, com efeitos prejudiciais a longo prazo, levando
à inflação posterior.
Outros planos, como o Plano Bresser e o Plano Verão, incorporaram elementos tanto
ortodoxos quanto heterodoxos, mas também enfrentaram dificuldades em controlar a
inflação. Foi somente com o Plano Real, lançado no governo Fernando Henrique Cardoso,
que o Brasil finalmente conseguiu estabilizar sua economia e reduzir drasticamente sua
inflação. O Plano envolveu um conjunto de medidas , incluindo reformas monetárias,
controles rigorosos de demanda, redução dos gastos públicos e aumento da taxa de juros.
Em resumo, a luta contra a inflação é um desafio complexo que exige abordagens
abrangentes e adaptativas. Os exemplos da história econômica do Brasil destacam a
importância de compreender as diversas causas da inflação e adotar políticas consistentes
para combater suas raízes subjacentes.

10– Tanto o acordo de Bretton Woods como o Consenso de Washington foram


determinantes para se entender os caminhos trilhados pela economia brasileira. Assim,
explique a influência deles na trajetória econômica nacional.

A conferência de Bretton Woods foi convocada em 1944 ao final da 2° Guerra Mundial,


reunindo 44 nações. Seu propósito era estabelecer um conjunto de normas , instituições e
procedimentos para regular a economia global pós-guerra, com o objetivo geral de reerguer o
sistema capitalista mundial.
O foco principal de um sistema monetário internacional é facilitar as transações entre países
através de regras e convenções que regulam as relações monetárias e financeiras, sem
prejudicar o desenvolvimento global. Isso envolve definir a moeda de reserva internacional,
sua supervisão, o regime de câmbio, ou seja, como a moeda global se relaciona com as
diversas moedas nacionais, além dos mecanismos de financiamento e ajuste dos
desequilíbrios das balanças de pagamento, assim como as políticas de fluxo de capitais. Tudo
isso é respaldado por instituições que garantam o funcionamento do sistema.
O Acordo de Bretton Woods buscou uma abordagem mais flexível em relação ao padrão-
ouro, que havia sido base do sistema monetário internacional pré-Primeira Guerra.O acordo
estabeleceu o padrão dólar-ouro, com dólar norte-americano sendo a única moeda conversível
em ouro. Outras moedas nacionais tinham sua convertibilidade fixada em dólares,
estabelecendo, de forma resumida, uma em relação entre dólar e ouro, e entres as outras
moedas e o dólar. O sistema previa taxas de câmbio fixas, mas sujeitas a ajustes através do
acordo entre países.
Após a Segunda Guerra Mundial, a economia global experimentou um período de rápido
crescimento, em grande parte impulsionado pelo comércio internacional liderado pelos
Estados Unidos. Esse país emergiu como uma potência militar econômica, desempenhando
um papel crucial na reconstrução pós-guerra por meio do Plano Marshall. No entanto, já na
década de 1950, surgiram preocupações com as limitações do sistema de Bretton Woods. Um
dilema se formou: para que a economia crescesse, era necessário um aumento nas reservas
mundiais em dólares, o que dependia dos déficits comerciais dos EUA. Entretanto, déficits
persistentes minaram a confiança na conversibilidade do dólar.
A crescente instabilidade e uma série de eventos econômicos políticos culminaram no
colapso do sistema em 1971, quando o presidente norte-americano Richard Nixon suspendeu
a covertibilidade do dólar em ouro. Essa decisão antecipou a tendência dos EUA em tomar
ações unilaterais, colocando seus interesses nacionais à frente das responsabilidades globais.
Esse rompimento teve impacto significativo na América Latina, resultando em um aumento
das taxas de juros dos EUA que prejudicou os países emergentes.
Essa realidade afetou particularmente o Brasil, combinada com os choques do petróleo na
década de 1970, contribuindo para uma vulnerabilidade econômica que culminou na chamada
“década perdida” dos anos 80. O Brasil aderiu ao Consenso de Washington, uma série de
políticas neoliberais apoiadas por organizações como Banco Mundial e o FMI, que buscavam
reformas de mercado para enfrentar desafios econômicos
O país passou por um período de intensas reformas no final dos anos de 1980 e início dos
anos 90, incluindo abertura comercial, privatização e reformas fiscais e administrativas. A
adesão parcial às diretrizes do consenso de Washington influenciou o subsequente Plano
Real, um marco na economia brasileira.

11 – O Plano Real logrou resultados ao reduzir a inflação brasileira a patamares baixos.


Isso se deu por meio de um conjunto de medidas econômicas associadas, em especial, a
URV, a âncora cambial (dólar), a âncora monetária (juros). Explique a funcionalidade
dessas medidas no controle dos preços internos no Brasil.

O Plano Real representou o último esforço de estabilização econômica no Brasil, com o


objetivo de combater a hiperinflação. Distinguiu-se dos planos anteriores ao incorporar lições
de seus fracassos, resultando em uma estratégia complexa e engenhosa. Embora tenha
alcançado sucesso em reduzir significativamente a inflação e restaurar a estabilidade
econômica do país, também gerou efeitos colaterais significativos.
O Plano Real adotou uma abordagem gradual em contraste com os planos anteriores, que
frequentemente eram lançados de forma abrupta e surpreendente. Ao invés de congelamentos
diretos, o plano introduziu uma “substituição natural” da moeda. Além disso, houve um
acompanhamento e correção de desequilíbrios existentes. É crucial observar que o contexto
da implementação do Plano Real diferiu notavelmente dos momentos anteriores, já que o
Brasil estava novamente atraindo recursos internacionais. Isso, aliado a uma maior exposição
à ocorrência internacional, limitou a capacidade de agentes econômicos repassarem choques
de preços.
O Plano Real pode ter sido dividido em três fases principais para enfrentar a inflação:
1) Ajuste Fiscal: Concentrou-se em equilibrar o orçamento para evitar pressões
inflacionárias futuras. Isso envolve cortes de gastos , aumento de impostos e redução
das transferências do governo federal.
2) Indexação Completa da Economia: Introduziu um novo sistema de indexação usando
a Unidade Real de Valor (URV) como indexador. A URV simulava efeitos da
hiperinflação, permitindo a correção de desequilíbrio de preços relativos.
3) Reforma Monetária: Quando a maioria dos preços já estava expressa em URV, o Real
foi introduzido como uma nova moeda, com valor igrual à URV. Embora tenha
havido uma breve aceleração inflacionária após a conversão, essa tendência foi
rapidamente revertida.
A abordagem pós-plano real focou em controlar a demanda e desestimular processos
especulativos, mantendo altas taxas de juros para limitar o repasse de custos para preços. A
manutenção da alta de juros atuou como âncora monetária, atraindo capital especulativo
estrangeito. A valorização da taxa de câmbio também contribuiu para conter os repasses de
preços, ao permitir maior entrada de produtos estrangeiros e limitar a propagação de choques
inflacionários.

12 – Avalie os impactos do Plano Real sobre a balança comercial, o emprego e a


autonomia nacional sobre a determinação do câmbio.

Conforme mencionado, o Plano Real atingiu com sucesso o objetivo de conter a hiperinflação
e reintroduzir alguma estabilidade econômica no Brasil, após a turbulenta década perdida”
dos anos 80. No entanto, o saldo não foi exclusivamente positivo em relação às medidas
tomadas no plano.
Primeiramente, a combinação de apreciação cambial e demanda interna aquecida resultou em
déficits na balança comercial. O aumento acentuado das importações, especialmente nos
setores de automóveis (208%) e bens de consumo (185%), chamou a atenção. Notavelmente,
o influxo de recursos concentrou-se predominantemente no financiamento do consumo, ou
seja, em itens que não contribuíram significativamente para o pagamento da dívida externa
contraída no processo. Além disso, esse fluxo de capital, predominantemente na forma de
“investimento de portfólio” ( como ações, fundos de investimento, fundos de privatização),
caracterizam-se por sua volatilidade e sensibilidade às incertezas, resultando em um cenário
insustentável ao longo prazo. Esse panorama envolveu a manutenção de um déficit nas
transações correntes financiado por recursos voláteis que frequentemente eram direcionados
ao consumo.
Além disso, a manutenção de uma taxa de juros básica excessivamente alta revelou-se
insustentável a longo prazo, pois restringia os investimentos internos. Isso, combinado com a
competição desfavorável dos bens de consumo estrangeiros devido à baixa competitividade
do pequeno e médio capital nacional, bem como o programa de privatizações, levou a uma
taxa de desemprego extremamente elevada no Brasil (12,1%). Além disso, as crises externas
nos anos 90 ( México, ásia, Rússia) que demandam ajustes internos, como pacotes fiscais,
agravaram certos efeitos do Plano. Esses impactos foram evidentes no aumento do
desemprego e, em especial, nas pressões favoráveis à correção monetária.
O câmbio valorizado ao longo desse período contribuiu para o aumento do endividamento
externo e interno, atrasando o crescimento. A dinâmica resultante do Plano Real, apesar de
bem sucedida em sua missão de combater a inflação, desencadeou um cenário recessivo com
alta taxa de desemprego, deterioração do saldo em conta-corrente, aumento da relação divída
pública/PIB e perda substancial de reservas, principalmente durante a crise russa. Essas
pressões levaram à perda da autonomia nacional na determinação na taxa de câmbio,
movendo-se de um regime de câmbio fixo, controlado pelo Banco Central, para um regime de
câmbio flutuante, ditado pelas forças do mercado. Esse desenvolvimento, em uma análise
mais ampla, representou a consolidação da dinâmica macroeconômica neoliberal no país,
marcando a implementação do tripé econômico e dos princípios fundamentais da política
econômica do Consenso de Washington.

13 – Desde o fim da década de 1990, a economia brasileira convive com o regime de


metas inflacionárias de câmbio flutuante e com a necessidade de geração de superávit
primário. Essas três características formam o que se entende por “tripé
macroeconômico”. Disserte sobre esse tripé, apresentando suas funcionalidades e
problemas.

Conforme discutido, no final dos anos 90, o Brasil adotou o sistema de câmbio flutuante
aviso a pressões tanto internas quanto externas. Esse sistema implica que o valor das moedas
estrangeiras em relação à moeda nacional varia de acordo com a oferta e demanda do
mercado financeiro.
O câmbio flutuante é um dos pilares centrais do que ficou conhecido como “tripé
macroeconômico”. Em uma análise abrangente, ele reflete uma maior independência do
mercado em relação às decisões das autoridades nacionais. Isso, por sua vez, aumenta a
vulnerabilidade interna às influências do capital estrangeiro.
Outro componente fundamental desse tripé é a necessidade de alcançar um superávit
primário, o que significa que o Estado deve manter suas receitas correntes maiores do que
suas despesas correntes no balanço de pagamentos. Isso se traduz em um imperativo de
disciplina fiscal, onde há uma ênfase na redução das despesas estatais e na manutenção de
uma arrecadação robusta. Essa busca por um superávit primário é motivada, mais uma vez,
pelos interesses predominantes no mercado financeiro. Geralmente, o excedente gerado nas
receitas nas receitas é direcionado, em grande parte, para pagar a dívida pública, cujos
principais credores são agentes do sistema financeiro.
O terceiro pilar do tripé é o regime de metas inflacionárias, que está estreitamente ligado à
disciplina fiscal. Isso implica na definição explícita da taxa de inflação objetivo pelas
autoridades monetárias, que assumem a responsabilidade de alcançar essa meta. No contexto
brasileiro, o índice de Preços ao Consumidor Amplo ( IPCA) é adotado como indicador
principal para essa política, e a taxa de juros da economia, a SELIC, é utilizada como
ferramenta de controle. O gerenciamento da inflação desempenha um papel crucial na
coordenação das expectativas dos agentes econômicos, reduzindo incertezas e mantendo a
estabilidade econômica, especialmente após a instabilidade vivenciada na década anterior, em
grande parte causada pela inflação.
Portanto, ao analisarmos de maneira crítica, o tripé econômico, também conhecido como o “
ambiente macroeconômico favorável” que supostamente promove crescimento, pode ser visto
como a consolidação da predominância da financeirização estatal de políticas neoliberais
dentro do âmbito estatal. Em outras palavras, esse tripé representa uma abertura significativa
para o fluxo global de capitais e a influência das forças financeiras.

14 – No período compreendido entre 2003 e 2014, surgiu, na economia brasileira, uma


ideia- força sintetizada no termo “novo-desenvolvimentismo”. Em tese, ele materializa o
binômio “crescimento econômico” com “distribuição de renda”. A partir do que foi
dito, faça uma análise crítica desse termo, apresentando os alcances e limites
encontrados em sua operacionalização na economia brasileira.
Durante os governos do PT, liderados pelo Presidente Lula (2003-2010) e Dilma ( 2011-
2014), foi adotada uma abordagem chamada “novo desenvolvimentista” ou “social-
desenvolvimentista”, que retomou a ideia de o Estado desempenhar um papel ativo na
promoção econômica, similar a períodos passados como os governos Vargas e JK. O foco
principal em 2002, por exemplo, foi criar um mercado interno amplo, redistribuindo a renda
para estratos mais vulneráveis por meio de políticas sociais como o Bolsa Família e
fortalecendo grupos sociais representativos dessas camadas
A estratégia visava também a “reindustrialização”, aproveitando o crescimento do mercado
interno para impulsionar a produção nacional, com o apoio de políticas setoriais e
desenvolvimento tecnológico. A ideia era que a expansão do mercado interno aumentaria os
investimentos, elevando a produtividade e salários, o que, por sua vez, reduziria a
dependência de importâncias e impulsionaria as exportações.
No entanto, a segunda parte do programa, relacionada à reindustrialização, não foi
implementada durante o governo Lula, que se comprometeu a manter certas instituições
neoliberais. Em 2010, alguns economistas, incluídos ligados ao “social-
desenvolvimentismo”, já previam o esgotamento do modelo devido ao alto endividamento
das camadas recém-incluídas e à capacidade ociosa gerada por investimentos descontínuos.
No governo Dilma, houveram esforços iniciais para controlar a inflação e posteriormente
estimular o setor privado como motor de crescimento. No entanto, essas medidas não
conseguiram evitar a desaceleração econômica, o governo enfrentou dificuldades em aplicar
políticas ortodoxas de austeridade, levando ao impeachment de Dilma em 2016.
Seu vice, Michel Temer, adotou uma abordagem econômica mais alinhada com as visões da
oposição em 2014 e interesses internacionais, marcando mudanças significativas na política e
na economia do país.

15 – Apresente os argumentos econômicos presentes no documento “Ponte para o


Futuro” que contribuíram para reorientar a lógica da economia brasileira a partir de
2016.

O documento “Ponte para o futuro”, escrito em 2015 pelo então vice-presidente Michel
Temer, pode ser considerado um impulso para o impeachment é um passo inicial na
reconfiguração das elites políticas e econômicas do Brasil. Embora a crise já fosse evidente
desde 2013, com a piora da inflação, balança comercial e desemprego, a abordagem de
Temer para lidar com isso impactou severamente a base social. Seu governo implementou
mudanças políticas e econômicas que visavam enfrentar a crise mantendo as margens de
lucro, adotando uma estratégia de oferta em vez de demanda ( ao contrário de Keynes, por
exemplo).
Essa abordagem envolve enfrentar a Constituição Federal e os direitos sociais garantidos por
ela, justificando que o crescimento econômico exigia redução de papel do Estado. Isso
culminou no que chamamos de “ultra-liberalismo”,que, embora compartilhem alguns
princípios com o neoliberalismo, vai além ao buscar a desregulamentação completa das
instituições democráticas que restringiam a lógica econômica. Os pontos-chave da estratégia
foram a flexibilização trabalhista, reforma da previdência e reforma fiscal.
Além disso, o plano enfatizou a iniciativa privada, as interrupções de gastos sociais,
enfraquecimento do Mercosul e busca por acordos comerciais com regiões como Ásia, União
Europeia e , notavelmente, EUA. Esta abordagem, enquanto buscava resolver a crise, trouxe
consequências significativas para direitos sociais e a dinâmica econômica no Brasil.

Referência bibliográficas:

BELLUZZO, L. G; BASTOS, P. P. Z. (orgs.) Austeridade para quem? Balanço e


Perspectivas do Governo Dilma Rousseff. São Paulo: Carta Maior, 2015.

CARVALHO, J; CUNHA S; MOLINA, W. Notas Sobre Inflação

FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. Cia. Editora Nacional 32ª edição, 2005.

GREMAUD, A. P. et al. Economia Brasileira Contemporânea. Editora Atlas, 4ª edição, 2002.

GUIMARÃES, Fundação U. Uma Ponte para o Futuro. 2015.

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