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Este suplemento faz parte integrante do Jornal Económico Nº 2098 não pode ser vendido separadamente

18 junho 2021 | ESPECIAL


II | 18 junho 2021

ESPECIAL BANCA DO FUTURO

OPINIÃO

O futuro
começou
há muito

SHRIKESH LAXMIDAS
Diretor Adjunto

A capacidade de antecipação
é uma das chaves para o su-
cesso nos negócios. Essa cer-
teza empresarial é especial-
mente pertinente em perío-
dos nos quais a sociedade
global sofre alterações rápi-
das, abrangentes e profun-
das. A pandemia de Covid-
-19 provocou uma acelera-
ção dessas dinâmicas, mas
elas já existiam e alguns se-
tores já as antecipavam. A
ANÁLISE
banca representa um desses

Banca saltou dos balcões


casos. A chegada da era da
internet ofereceu aos bancos
a oportunidade de multipli-
car os serviços, agilizar os
acessos e aumentar a eficiên-

para os telemóveis
cia. O aproveitamento des-
sas vantagens foi exponen-
ciado pela constante melho-
ria das redes e da integração
do digital nas nossas vidas,
literalmente colocando os-
nossos bancos nas nossas
mãos, através de devices rá-
pidos e potentes. A pande- A banca do futuro é omnicanal e por isso os velhos bancos vão ter de pôr o pé no acelerador
mia, com todo distancia-
mento que provocou, veio da digitalização sem descurar o apoio especializado. São chamados a ter espírito de start-up.
provar que é esse o caminho
a percorrer. Os bancos que ceiros que os clientes adquirem, fa- inovação. Mas agora a banca é cha- para justificar o recente processo de
não investirem para seguir MARIA TEIXEIRA ALVES zem-no já pela via digital. mada a ter espírito de start-up e a ser redução de pessoal, falou da necessi-
esse desígnio irão ser deixa- mtalves@jornaleconomico.pt Os velhos bancos são assim cha- mais ágil. dade de adequar a capacidade à tipo-
dos para trás, perdidos num mados a pôr o pé no acelerador da A alteração definitiva do modelo logia da procura e à evolução e in-
mundo antigo e que já inte- O futuro da banca não está assim tão digitalização e a compatibilizar o de distribuição bancário e das condi- corporação de tecnologia nos mode-
ressa a poucos, conforme longe. A grande maioria das opera- “self-service” com o “apoio especia- ções de prestação dos serviços finan- los e processos de negócio. O presi-
alerta Hélder Rosalino, ad- ções de banca de retalho já são feitas lizado”. Sim, porque continua a ha- ceiros, “através da articulação de dente do BCP invocou ainda “a alte-
ministrador do Banco de nos canais digitais ou ATMs. Isto ver espaço para o atendimento pre- uma profunda mudança tecnológica ração dos hábitos e preferências de
Portugal, neste Especial. E cria enormes desafios para uma ban- sencial, mas numa vertente de hi- com uma alteração radical do com- interação dos clientes, os quais ade-
não serão ultrapassados ape- ca que traz atrás de si pesadas estru- personalização. “Os bancos têm de portamento dos clientes, é mais visí- riram aos canais digitais com a mes-
nas por outros bancos, mas turas criadas para um modelo de ne- evoluir no seu modelo de distribui- vel no retalho, mas atingirá, sem ex- ma naturalidade com que no passa-
também pelos novos players gócio tradicional. ção, construindo relações pessoais, ceção, todos os segmentos”, defende, do incorporaram nas suas rotinas a
ultra-competitivos e inova- Um dia, Jardim Gonçalves, funda- cara a cara, com os clientes nos bal- por sua vez, o responsável pela Ban- utilização das ATMs”; a forte incor-
dores. As ‘fintech’, pela ju- dor e primeiro presidente do BCP, cões (para tudo o que é aconselha- ca Digital do BPI (ver Fórum). “A poração de tecnologia nos modelos e
ventude e ADN de criativi- contou que quando as pessoas co- mento) e oferecer um serviço de banca está a transformar-se para es- processos de negócio no setor finan-
dade, são dotadas de agilida- meçaram a receber o ordenado por excelência em tudo o que é transa- tar ainda mais próxima, mais efi- ceiro, “bem patente nos investimen-
de e rapidez de execução transferência bancária iam ao balcão cional (pagamentos, transferências, ciente e mais rápida, apesar de utili- tos que temos vindo a efetuar de for-
numa altura em que os con- no mesmo dia levantá-lo para sentir consultas) e que é feito via app/net” zar cada vez mais soluções remotas ma continuada de modo a assegurar
sumidores querem cada vez que o tinham mesmo recebido. De- defende o responsável por um dos em detrimento da presença física, a inovação necessária para merecer-
mais funcionalidades, op- pois davam uma volta ao quarteirão bancos portugueses. Têm de “evo- sem perder o essencial da sua função mos a preferência dos clientes em
ções e ao mesmo tempo sim- e voltavam a depositar o ordenado luir na sua oferta, melhorando o de intermediação financeira, basea- contexto de Open Banking na União
plicidade. Representam, por no banco. valor que dão aos seus clientes, a ca- da na confiança”, defende o BPI. Bancária Europeia”; e a “exigência
isso, uma excelente oportu- Se pensarmos que hoje até a moe- minho de uma hiperpersonaliza- No mundo inteiro, e Portugal não pelos clientes de preços que incor-
nidade de parceirias e até de da caminha para ser digital com a ção”, adianta a mesma fonte. é exceção, a banca está a viver um poram margens muito reduzidas,
integração para os bancos. respetiva redução da utilização da A pandemia encurtou o timing período de enorme transformação pela capacidade que hoje dispõem de
Por outro lado, as ‘bigtech’ moeda física, dá para ter uma ideia para a transformação digital que já estrutural que resulta do facto de a utilizar sem custos acrescidos qual-
aparecem mais como uma da disrupção por que passou e passa estava em curso. Basta ver que o co- sociedade estar ela própria em trans- quer banco ou operador de serviços
ameaça, pois têm muscula- o setor bancário. mércio eletrónico (e-commerce) formação. financeiros (Bancos, Fintechs,
tura financeira, tecnológica Um dos presidentes de um dos cresceu em 2020, três vezes mais que A contribuir para a disrupção está BigTechs)”.
e comercial. A única forma grandes bancos – citando um estudo nos anos anteriores. A aposta em ainda o facto de os bancos deixarem A permanente evolução tecnoló-
que os bancos têm para ga- recente que aponta para uma redu- melhorar a experiência do cliente de ser os únicos donos da informa- gica num contexto de digitalização
nhar esta corrida é de serem ção de 50% das idas ao balcão – disse tem caracterizado a banca em Portu- ção sobre a transacionalidade finan- das economias, a mutação dos siste-
rápidos e olharem para a ao Jornal Económico (JE) que a rela- gal, um sector que apesar do pesado ceira dos seus clientes (com o open mas de pagamentos, a entrada de
frente, para o futuro. ● ção do dia-a-dia é feita no telemóvel legado em estruturas de custos, tem banking). novos atores no setor financeiro e a
e 50% dos produtos e serviços finan- estado na dianteira quando toca à O CEO do BCP, Miguel Maya, mais recente discussão sobre o fu-
18 junho 2021 | III

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Cristina Bernardo
mação”, refere fonte da banca que orçamentos anuais”, escreveu recen-
lembra que o “que está em causa é a temente no JE, Diogo Viana, da EY.
sustentabilidade futura dos bancos e Tal como referiu, este ano, numa
o seu papel no futuro para colabora- conferência sobre banca o econo-
dores, clientes e sociedade”. mista e professor da Kellogg School
Ricardo Francisco, market lead da of Management, Sérgio Rebelo, o
Tink em Portugal, citado no comu- “aumento do peso da regulação; as
nicado sobre um estudo que retrata o taxas de juros muitos baixas ou ne-
impacto da pandemia na banca por- gativas, o que dificulta a gestão dos
tuguesa, revelou que “a pandemia bancos; a estratégia habitual de
obrigou muitos executivos a com- transformação de maturidade que dá
pensar a falta de interação pessoal uma rentabilidade muito baixa e é
com os clientes, concentrando-se no difícil extrair uma taxa de lucro ele-
desenvolvimento de serviços e ca- vada; a elevada competição; as ques-
nais digitais. Esta mudança propor- tões de cibersegurança, com custos
cionou mais uma forma de criar va- importantes para os bancos; e a
lor para o cliente, ao mesmo tempo quantidade de agências”, estão entre
que aumentou os insights sobre ris- os desafios que os bancos enfrentam
cos potenciais e novas necessidades”. desde a crise financeira de 2008.
Mesmo com os esforços feitos nos A baixa rentabilidade da banca
últimos anos para a transformação também obriga a acelerar a mudan-
digital, 73% dos executivos financei- ça. “Há bancos a mais, com rentabi-
ros portugueses (a média europeia é lidade a menos pelo que é natural
65%) ainda acreditam que os bancos que se caminhe para haver menos
precisam de aumentar a velocidade bancos, o que pode acontecer de vá-
da inovação, segundo as conclusões rias maneiras: através de fusões e
do estudo da Tink. A plataforma re- aquisições; através da saída de ban-
fere ainda que, durante a pandemia, cos internacionais ou pura e sim-
o interesse no open banking aumen- plesmente fecharem”, alerta fonte
tou para 73% entre os executivos fi- do sector.
nanceiros em Portugal, em compa- A banca vive com taxas negativas
ração com a média europeia de 68%. há 10 anos e, segundo os bancos, “só
em 2025 voltarão a ser positivas”.
Taxas negativas forçam bancos Isto associado a uma economia fra-
turo da moeda “encerram em si no- a mudarem modelo de negócio gilizada que só em 2023 deverá vol-
vos riscos, mas representam tam- Os novos riscos acarretam também tar aos níveis de 2019, empurra a
bém enormes oportunidades de mais custos regulatórios. “O ritmo banca portuguesa para mudanças
criação de valor para as economias”, elevado de digitalização é necessário radicais. Não nos podemos esquecer
defendeu no passado recente, o ex- e particularmente desafiante num que Portugal passou por três crises
-Governador do Banco de Portu- setor em que as matérias de regula- nos últimos 20 anos. Pelo que, além
gal, Carlos Costa. ção consomem parte importante dos da profunda mudança introduzida
A verdade é que a digitalização da pelo processo de digitalização, tam-
sociedade e das relações humanas bém o enquadramento macroeco-
através as redes sociais, criou novos nómico, a crescente regulação e a
hábitos e com eles nasceu um ecos- concorrência, e os elevados custos
sistema financeiro onde competem operacionais criam desafios aos ban-
os bancos tradicionais com os gigan- cos. No entanto, continua a ser ver-
tes Google, a Amazon, a Apple; as dade que não há economias fortes,
plataformas financeiras como a Pay sem Bancos fortes e rentáveis. Basta
Pal; os “novos” bancos digitais como ver o papel que a banca teve na miti-
o N26; e instituições que trabalham gação dos impactos da crise pandé-
com dinheiro eletrónico (fintech), mica: Concedeu 46 mil milhões de
como a Revolut. euros de moratórias e sete mil mi-
FERNANDO CARVALHO
O futuro da banca já está a aconte- Administrador da UNICRE
lhões de euros de linhas com garan-
cer. Uma plataforma digital que tia do Estado. O que compara com o
concede linhas de crédito a PMEs Acreditamos que as apoio estatal através de layoffs de mil
com base nas avaliações (ratings) mudanças que estão a ocorrer milhões de euros.
que os clientes dão aos produtos e no setor financeiro, e em Outra mudança a que estamos a
serviços prestados por estas nessa particular no universo dos assistir, é o papel da banca na defesa
pagamentos, vieram reforçar o
plataforma; uma decisão de conces- de um mundo mais sustentável e no
compromisso de todos os
são crédito baseada na (geo)localiza- players desta área em apoiar
investimento numa sociedade mais
ção, hora e companhia do requeren- consumidores e empresas na equilibrada. A banca é chamada a
te com base na sua atividade nas re- transição para uma sociedade contribuir para melhorar a vida das
des sociais e perfil das suas despesas; cada vez mais cashless. Hoje, pessoas, fazendo evoluir a sociedade.
um ecossistema de gestão financeira e mais do que nunca, o setor E (Environmental), S (Social) e G
em que, com base no histórico de financeiro deverá manter o (Governance) mais do que siglas,
seu foco no acompanhamento
despesas, compras e visualizações são uma filosofia de investimento.
e resposta às tendências e
em lojas online e comportamentos necessidades de consumo O atual Governador do BdP, Má-
nas redes sociais do cliente, lhe são que emergem a par da rio Centeno, já veio defender que
apresentadas, a cada momento, op- inovação tecnológica. Assim, nos próximos anos, os bancos terão
ções (género Netflix), específicas aos do lado dos particulares, aliar de “fazer alterações estruturais subs-
seus padrões de consumo e rendi- a segurança à facilidade. Do tanciais” e entre elas destacou “a di-
mento, de aquisição de bens e servi- lado das empresas, criar gitalização, a evolução tecnológica e
modelos de compra mais
ços que podem ir da poupança à saú- diminuição da pegada carbónica”,
simples que revolucionem a
de, passando por viagens e lazer. Os customer experience. Face à que estão a ser aceleradas e que “con-
exemplos foram dados por Carlos rápida evolução que se tem tinuarão a sê-lo à medida que saímos
Costa. Alguns destes exemplos são já sentido nos últimos anos – e da crise”.
hoje uma realidade. em especial neste período de O economista António Nogueira
O maior desafio da banca provém pandemia – só será Leite defendeu recentemente ao JE
de novos comportamentos e hábitos mensurável se, no futuro, que os desafios dos bancos é “mante-
existir uma maior concertação
dos consumidores. A revolução di- entre as instituições
rem-se eficientes, com a melhor ges-
gital é uma mudança criativa e dis- financeiras tradicionais e as tão de risco que têm evidenciado nos
ruptiva e ao mesmo tempo, que põe fintechs, que permita últimos anos, manterem a transfor-
em causa modelos de negócio histó- desenvolver soluções e mação digital, assim como não po-
ricos cria outros, num curto espaço modelos de negócio que dem descartar as oportunidades de
de tempo. “Nós temos a responsabi- possam aportar maior valor ao M&A (fusões e aquisições) que fa-
lidade de acompanhar essa transfor- ato de pagamento e de çam sentido”. ●
compra.
IV | 18 junho 2021

ESPECIAL BANCA DO FUTURO

RENTABILIDADE

Melhoria do retorno
passa pela redução de pessoal
Com rácios de rentabilidade dos capitais próprios (ROE) abaixo dos 5%, os bancos portugueses não conseguem adiar mais
o corte de custos, o que inclui a redução significativa de pessoal. O Santander, BCP e Montepio já anunciaram cortes de pessoal.
muito difícil”. A CGD é o banco

Cristina Bernardo
MARIA TEIXEIRA ALVES que capta mais depósitos de clien-
mtalves@jornaleconomico.pt tes. “Um depósito que é feito na
CGD tem um custo de 77 pontos
Basta ver a rentabilidade dos capi- base (0,77%)”, disse o CEO da Caixa
tais próprios dos bancos portugue- que lembra que o crédito à habita-
ses para perceber que não têm al- ção, por exemplo, “está a custar 1%
ternativa ao imediato e radical cor- ou menos. Agora vejam o que é que
te de custos, e, numa segunda fase isto significa para a rentabilidade da
talvez não escapem mesmo às fu- banca”. Portanto “isto pode levar a
sões para se tornarem rentáveis. banca à situação de quanto mais
Apenas um banco apresentou um cresce o volume de negócios mais
Return-On-Equity (ROE) de dois prejuízos tem, se não tiver o mix de
dígitos no 1º trimestre, foi o Cré- negócios certo”, disse o CEO da
dito Agrícola que reportou um rá- CGD. Paulo Macedo falou ainda de
cio de lucros sobre capitais pró- um fenómeno europeu, que não
prios de 14,8%. existe nos Estados Unidos: “hoje a
Nos restantes bancos que apresen- CGD paga juros nos Bilhetes do
taram resultados no 1º trimestre a Tesouro, nas aplicações do BCE,
rentabilidade dos capitais próprios nos depósitos, no crédito à habita-
não chega aos 5%. A CGD está ção e paga juros a algumas empre-
com um ROE de 4,2%; o BCP de sas que emitem a taxas negativas”.
4%; o Santander Totta de 2,9% e o Por sua vez, o Banco Montepio
Banco Montepio como teve pre- anunciou este ano que quer redu-
juízos a rentabilidade é negativa. zir 600 a 900 postos de trabalho,
Por sua vez o Novo Banco e o BPI estando prevista a redução de 400
apresentaram um RoTE - Return pessoas até setembro de 2023.
on Tangible Equity, respectiva- A redução de custos como res-
mente de 7,6% e de 4,7%. posta ao desafio da rentabilidade
A rentabilidade é claramente um não é exclusivo da banca portu-
dos quatros desafios estruturais guesa. O El País trazia recente-
com que os bancos se deparam, e mente uma notícia que os maiores
que o ex-presidente da Associação bancos espanhóis preparam de-
Portuguesa de Bancos (Fernando missões em massa com mais de 15
Faria de Oliveira) um dia designou mil saídas de colaboradores.
de “4R”. A saber: o da resposta à O problema de rentabilidade
regulação, o da rentabilidade (uma média de 2% de ROE) tem
(questão da mais crucial importân- sido motivo de alerta por vários
cia), o da reinvenção do modelo de analistas. Foi tema do recente estu-
negócio e o da reputação. Ao mes- do da Roland Berger sobre a banca
mo tempo a pandemia veio trazer portuguesa. A consultora abordou
um quinto “R”, conjuntural e múl- no seu estudo a deterioração da
tiplo, que é “o da resposta à pande- rentabilidade para níveis abaixo do
mia, o contributo para a Retoma, custo de capital, o que cria desafios
Recuperação e Resiliência da Eco- à capitalização do sector. O que, a
nomia”,segundo disse recente- par da desvalorização do sector
mente ao JE Faria de Oliveira. bancário – queda do preço das
A resposta dos bancos à baixa ações em 2020 impulsionado pela
rentabilidade não se fez esperar. desenvolver e reter o talento ne- dução de pessoal que abre a porta à proibição de pagamento de divi-
Todos os bancos preparam expres- cessário para assegurar a inovação, saída de quase 1.000 pessoas. A jus- dendos – se traduz num enorme
sivos planos de corte de custos, in- para investir nas tecnologias que tificar o plano já em curso, Pedro obstáculo à captação de capital pelo
cluindo redução de pessoal e fecho permitem modernizar o Banco Castro e Almeida lembrou que “as sector. “Se a banca precisa de fazer
de balcões que a digitalização dos para competir e vencer”, escreveu taxas de juro mantêm-se e perma- aumentos de capital, como é que os
serviços tornou prescindíveis. há uma semana o CEO do Millen- necerão negativas por muito tem- vai fazer com rentabilidade de 2%?”,
“Um aspecto essencial determi- nium BCP aos colaboradores, para po”. A isto cresce a “adopção acele- disse ao JE, em entrevista, António
nou a decisão agora tomada sobre anunciar um processo de ajusta- rada de canais digitais por parte dos Bernardo, partner da Roland Ber-
a redução do quadro de trabalha- mento do Quadro de Pessoal do clientes e a entrada de novos ger. A consultora perspectiva mes-
dores: a eficiência do modelo de banco a começar este mês. Esta players”; e o “custo de crédito, em- mo que a rendibilidade financeira
negócio do Banco tem de assegu- mensagem é reveladora do impac- bora controlado, irá por certo so- baixa, no contexto do sector euro-
rar uma rendibilidade sustentável A deterioração to que a baixa rentabilidade dos frer os impactos da pandemia e das peu, condicionada pelo ambiente
em patamar superior ao do custo bancos está a ter nas instituições. maiores dificuldades dos clientes”. de taxas de juro baixas e pelas limi-
do capital que utilizamos, pois se da rentabilidade Os sindicatos revelam mesmo Também na apresentação de re- tações à concessão de crédito, pode-
não o conseguirmos, como não es- para níveis abaixo que o BCP tem previsto reduzir sultados, o CEO da CGD alertou rá impactar negativamente ainda
tamos a conseguir (ROE de 3,1%, 1.000 pessoas. Número que Mi- para o difícil contexto de explora- mais a rentabilidade do sector a
5,1% e 5,2% em 2020, 2019 e 2018 do custo de capital guel Maya tem negado. ção da banca. “Hoje quanto mais partir de 2021. Como resposta sur-
respectivamente), não será possí- cria desafios Também o presidente do San- um banco cresce o volume de negó- ge a necessidade de corte de custos.
vel gerar a prosperidade necessária tander Totta, ao mesmo tempo que cios mais prejuízos tem”, disse Pau- A Roland Berger sugere a redução
para remunerar adequadamente os à capitalização apresentou os resultados do 1º tri- lo Macedo que reconheceu que “a de 1.500 agências e 23 mil colabora-
trabalhadores de forma a atrair, do sector bancário mestre, anunciou um plano de re- rentabilidade da banca continua dores em três anos. ●
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VI | 18 junho 2021

ESPECIAL BANCA DO FUTURO

ENTREVISTA HÉLDER ROSALINO Administrador do Banco de Portugal

“Bancos sem base


tecnológica terão
muitas dificuldades”
Quem não aproveitar as oportunidades do Open Banking vai perder, enquanto
as ‘bigtech’ ganham terreno, diz o administrador do Banco de Portugal.
Disrupção obriga a regulação mais proativa, sublinha.
formação tecnológica é central para com cartão em dezembro de 2020 e
SHRIKESH LAXMIDAS os bancos, correspondendo um pou- 16,7% em final de março de 2021.
slaxmidas@jornaleconomico.pt co à ideia que, no futuro, serão cada Em compras presenciais, o con-
vez mais empresas de base tecnoló- tactless (com cartão ou telemóvel)
Qual irá ser a importância gica com licenças bancárias. E os passou a ser muito mais utilizado. As
do desenvolvimento bancos que não seguirem este cami- compras com cartão contactless au-
tecnológico no sector nho, terão muitas dificuldades em mentaram de forma expressiva, re-
da banca pós-pandemia? manter-se no mercado. presentando 32% das transações
É inquestionável que a crescente di- com cartão em dezembro de 2020 e
gitalização da economia com o sur- Que tendências é que 37,2% no final de março de 2021,
gimento de novas tecnologias, como se verificaram durante mais do que triplicando o nível de
a inteligência artificial, o Big Data, o a pandemia e que acredita utilização pré-pandemia.
machine-learning e a cloud compu- irão acelerar nos próximos Estas alterações vieram para ficar e
ting, entre outras, têm vindo a trimestres, nomeadamente devemos criar as condições e as so-
transformar de forma profunda o na área dos sistemas luções para corresponder a estas no-
funcionamento do setor bancário. de pagamento? vas expectativas e potenciar as van-
Se já era assim antes da pandemia, O aparecimento de novas tecnolo- tagens da transformação digital que
mais o será no pós-pandemia, dada a gias e a crescente digitalização da estamos a viver.
aceleração digital a que temos vindo economia têm suscitado um papel
a assistir em todos os domínios. crescente dos pagamentos eletróni- No caso específico de Portugal,
Hoje a experiência digital está no cos e uma diminuição dos pagamen- como classifica o desempenho
centro dos novos modelos de negó- tos em notas e moedas em alguns do sector nesta área e quais
cio. O conceito de experiência digi- países. A pandemia Covid-19, em deverão ser os próximos
tal está intimamente relacionado particular as medidas de distancia- desafios?
com as expetativas do cliente e tem mento social e o receio de transmis- O sistema financeiro tem vários
em vista proporcionar-lhe uma ex- são do vírus através dos instrumen- desafios pela frente, que não são
periência intuitiva, integrada, perso- tos de pagamento, veio acelerar ain- apenas tecnológicos. Desde logo, e
nalizada e segura. da mais a mudança em direção aos no curto prazo, tem o desafio de
A experiência digital nos serviços fi- pagamentos digitais. continuar a apoiar a recuperação
nanceiros caracteriza-se por uma in- No nosso país, é reconhecido que a da economia no período pós-pan-
tegração de serviços e canais, pela pandemia determinou uma rápida démico e ao mesmo tempo ultra-
oferta de soluções personalizadas e alteração de comportamento de passar os efeitos que a pandemia
customizadas, pela prestação de for- consumidores e comerciantes e teve na situação financeira das
te atenção às necessidades indivi- obrigou a uma adaptação excecional empresas e das famílias.
duais do cliente e pela eficiência e dos diferentes intervenientes no Olhando, porém, para o que mais
alta qualidade dos serviços, visando mercado de pagamentos (prestado- pode impactar os modelos de negó-
proporcionar uma experiência res de serviços de pagamentos, pro- cios dos bancos a médio prazo, iden-
atraente, conveniente, consistente e cessadores, sistemas de pagamentos tifico quatro tendências que estarão rização de operações de pagamento maior aposta em Plataformas Tec-
adequada ao quotidiano do cliente. e o próprio Banco de Portugal). No- no centro das preocupações e nos para deteção de fraudes e de tentati- nológicas mais integráveis. Os pres-
Neste quadro, os bancos têm de se vos hábitos de consumo e de paga- processos de transformação do siste- vas de branqueamento de capitais e tadores de serviços financeiros in-
adaptar a uma nova realidade do mento enraizaram-se no nosso quo- ma financeiro nos próximos anos. de financiamento do terrorismo. É cumbentes ainda possuem infraes-
lado da procura, confrontados com tidiano. Em 2020, as compras online A primeira é o Open Banking, que também usada na análise preditiva truturas tecnológicas baseadas em
clientes que procuram soluções fle- cresceram de forma significativa, re- obrigará os bancos a partilhar os da- para apoiar a personalização de in- sistemas centrais, pesados, lentos e
xíveis, personalizadas, imediatas, em presentando 12,8% das transações dos dos seus clientes com entidades vestimentos, no atendimento ao pouco responsivos ao ritmo da ino-
qualquer sítio a qualquer momento, devidamente autorizadas, tornando cliente através da robotização e no vação (os chamados legacy systems).
reformulando a sua própria oferta. as contas bancárias uma espécie de reforço da segurança digital. As ins- Com um ecossistema em crescente
Na verdade, o novo produto bancá- “matéria-prima” acessível a qualquer tituições que não tirem partido da exigência e complexidade, uma evo-
rio será, sobretudo, diferenciado operador, sobre a qual poderão ser Inteligência Artificial na sua cadeia lução para plataformas mais ágeis,
pela experiência digital. desenvolvidos diversos serviços de valor desperdiçarão importantes distribuídas, escaláveis e integráveis
Isto implica, para as instituições, inovadores. Há um universo de no- oportunidades de transformação, é essencial para responder aos desa-
uma constante atenção e análise das vas oportunidades a explorar, e correndo o risco de perder competi- fios atuais e futuros dos bancos (de
expetativas e das tendências dos quem não o fizer corre o risco de fi- tividade e mercado. que os sistemas em cloud são exem-
clientes, bem como uma estreita in- O primeiro car fora do mercado, onde também A terceira tendência passa pela utili- plo). As Fintech terão aqui um papel
tegração tecnológica, do modelo de entram os gigantes tecnológicos, zação crescente de Big Data e de fer- fundamental a desempenhar. São já
negócio e de modelos operativos dos grandes desafios que se preparam para oferecer servi- ramentas de Analytics. Com o ad- muitas as instituições financeiras
ágeis. Não proporcionar a experiên- [dos bancos centrais] ços financeiros no retalho, retirando vento do Open Banking e da Inter- que estão a criar plataformas de co-
cia que os clientes desejam e que vá uma fatia do negócio aos bancos e a net-of-Things, os diversos presta- criação e colaboração com startups
ao encontro das suas expetativas, em é a participação outras entidades financeiras já insta- dores de serviços financeiros, e não financeiras, incorporando, de forma
especial no que diz respeito às gera- no aprofundamento ladas. Os bancos terão que antecipar só, poderão ter acesso a um amplo colaborativa, inovação e diferencia-
ções mais jovens, pode ter como e prevenir estas ameaças. conjunto de dados dos clientes, ção nos seus modelos de negócio.
consequência a quebra da relação, da integração Outra tendência que se adivinha é a combinando informação financeira Por tudo isto, é inevitável que o sis-
porque estas gerações mudam com dos sistemas crescente utilização da Inteligência e pessoal. No futuro, customização tema financeiro venha a sofrer pro-
maior frequência e facilidade de ins- Artificial. Esta tecnologia é já hoje será a palavra-chave para diferenciar fundas alterações nos próximos
tituição. de pagamentos amplamente utilizada pelo sistema serviço e fidelizar clientes. anos. Mas a verdade é que já estão a
Por estas razões, o desafio da trans- europeus financeiro, por exemplo na monito- A quarta tendência centra-se numa desenvolver essas mudanças e a res-
18 junho 2021 | VII

Cristina Bernardo
Estamos a revolucionar
tir da qual múltiplas ofertas vão ser
criadas e outros modelos de negócio
vação e nos modelos de negócios do
futuro. As Fintechs começaram a ser
o sector e somos um
vão florescer, o que constitui uma
oportunidade de evolução para todo
vistas como parceiras para respon-
der às mudanças de comportamento player determinante
no futuro da banca
o sistema financeiro. Os bancos po- dos clientes, às necessidades de atua-
dem eles próprios prestar os novos lização das infraestruturas tecnoló-
serviços regulados pela DSP2, en- gicas, à redução de colaboradores, à
trando, com pleno direito, neste redução das agências. Em suma, à
jogo competitivo com os novos ope- exigência de transformar um banco ca de Credit-as-a-Service
radores. numa verdadeira empresa digital. e de Credit-as-a-Payment.
Há um universo de novas oportuni-
dades a explorar, e quem não o fizer Como é que o papel dos Desta forma, estamos a
corre o risco de ficar fora deste novo bancos centrais muda com revolucionar o sector e a
jogo competitivo, onde também en- o desenvolvimento tecnológico ser um player determinan-
trarão os gigantes tecnológicos, que do setor? Que proteções e te no futuro da banca.
se preparam para oferecer serviços garantias é que têm de ser
financeiros no retalho, tentando dis- asseguradas pelo Banco de Como é que a
putar uma fatia do negócio aos ban- Portugal, num ambiente Younited tem ajudado
cos e outras entidades financeiras já de novos meios de pagamento?
os consumidores
instaladas. São vários os desafios que se colo- Annie Criscenti
As Fintech e Bigtech detêm um ele- cam aos bancos centrais no domínio Younited Credit Deputy CEO Portugal portugueses a concretizar
vado know-how tecnológico, recur- dos pagamentos, muitos deles de ca- os seus objetivos?
sos humanos altamente qualificados ráter disruptivo, que obrigam a uma O que é a Younited Credit? Com a simplificação e a rá-
e uma estrutura de baixo custo, o atuação proactiva crescente para dar A Younited Credit é uma pida resposta ao processo
que lhes permite prestar serviços fi- cumprimento ao seu mandato de empresa tecnológica, fun- de pedido de crédito, alia-
nanceiros com mais flexibilidade. As promoção do bom funcionamento da aos montantes que dis-
dada em 2009, que está
Bigtech, em particular, possuem dos sistemas de pagamento.
a revolucionar o sector fi- ponibilizamos e às taxas
atributos que possibilitam a presta- O primeiro dos grandes desafios é a
ção de serviços mais convenientes e participação no aprofundamento da nanceiro e de pagamen- atrativas que oferecemos,
menos onerosos para os consumi- integração dos sistemas de paga- tos na Europa, que oferece conseguimos ajudar os
dores e que as colocam como os con- mentos europeus. Encontra-se em serviços financeiros tanto nossos clientes portugue-
correntes mais desafiantes para os curso uma profunda renovação tec- a particulares, através da ses a concretizar os seus
bancos no contexto dos serviços de nológica das infraestruturas de pa- concessão de crédito ao objetivos, seja para reali-
pagamento. Por um lado, possuem gamentos do Eurosistema, que su- consumo com prazos e zar obras em casa, seja pa-
uma ampla base de utilizadores, o portam não só a União Económica e ra comprar um carro novo
que lhes confere acesso a uma vasta Monetária, como também a União taxas atrativas, como so-
base de dados sobre estes últimos e dos Mercados de Capitais. Está em luções tecnológicas SaaS ou para necessidades de li-
possibilita a prestação de serviços fi- causa a evolução dos serviços TAR- de Bank-as-a-Service a quidez.
nanceiros mais personalizados. Por GET, um projeto estruturante para instituições financeiras.
outro lado, têm fácil acesso a capital a comunidade bancária Europeia, Além de Portugal, a Youni- Como tem sido a evolução
e a sua marca é, usualmente, reco- que introduz alterações significati- ted está presente em Fran- da atividade em Portugal?
nhecida a nível global, o que aumen- vas na arquitetura operacional e tec- ça, Itália, Espanha, Ale- Desde a nossa entrada no
ta a confiança dos consumidores e nológica do sistema financeiro. mercado português que te-
manha e Áustria, empre-
potencia eventuais investimentos. Em paralelo, desenvolve-se uma es-
ga mais de 430 pessoas e mos vindo a registar uma
As principais motivações da entra- tratégia que incentiva a criação de
da das Bigtech na prestação de ser- uma solução de pagamentos de reta- conta já com mais de 500 forte e crescente procura
viços financeiros são: a diversifica- lho verdadeiramente pan-europeia, mil clientes. pelos nossos serviços e
ção de fontes de receita, o acesso e com uma experiência de cliente har- nas várias categorias de
subsequente utilização de novas monizada, com identidade e gover- De que forma a Younited crédito que atualmente
fontes de dados e, no caso específi- nação europeias, de aceitação global, está a reinventar o sector disponibilizamos.
co dos serviços de pagamento, a eficiente em termos de custos e com
bancário e a fazer parte
subsidiação cruzada, ou seja, pres- garantias de segurança e proteção. E
do futuro da banca? E quais os objetivos
tação de serviços complementares à será baseada nos pagamentos ime-
atividade core (p.ex. atividade co- diatos conta a conta. Com uma plataforma tec- para 2021?
mercial e redes sociais). Ao nível nacional, temos a imple- nológica e operacional Continuar a ajudar os nos-
A minha perceção é que os bancos mentação da Estratégia Nacional única e inovadora da Eu- sos clientes a concretiza-
perceberam esta ameaça, depois de para os Sistemas de Pagamentos que ropa, a Younited permite rem os seus sonhos e ob-
uma primeira fase de negação, e es- nos desafia a construir, em conjunto que os serviços financei- jetivos e queremos conti-
tão a responder adequadamente. com todos os operadores, soluções ros sejam simples, rápi- nuar a crescer no segmen-
ponder às novas exigências de for- São já muitos os bancos que estão a de pagamento seguras, eficientes e to B2B, ajudando institui-
ma, em geral, apropriada. criar plataformas de cocriação e co- inovadoras no mercado português, dos e transparentes. Com
laboração com algumas startups fi- promovendo a sua acessibilidade ge- a sua tecnologia de aná- ções financeiras a lançar
Como é que o fornecimento nanceiras, incorporando, de forma neralizada. A Estratégia tem quatro lise de crédito é possível, ou a modernizar as suas
de alguns destes novos colaborativa, inovação e diferencia- pilares de desenvolvimento, que pas- por exemplo, pedir um em- soluções de crédito e per-
mecanismos de pagamentos ção nos seus modelos de negócio. sam por promover uma sociedade préstimo online, sem ne- mitindo aos retalhistas
por fintech ou bigtech Do mesmo modo, as Fintech veem mais informada, potenciar os benefí- cessidade de garantias, e oferecer crédito aos seus
poderá alterar a estrutura cada vez mais as instituições estabe- cios da transformação digital, contri- ter uma resposta imediata clientes como método de
do sector da banca? lecidas como possíveis parceiras. Os buir para um enquadramento regu- pagamento, disponibili-
a pedidos de crédito entre
Com a adoção do novo enquadra- bancos beneficiam da capacidade de lamentar que promova a inovação e
os 1000 e os 50.000 euros. zando a nossa plataforma
mento regulamentar europeu para inovação e disrupção das Fintech, a eficiência e, não menos importan-
os serviços de pagamento, vertido bem como da flexibilidade e custo te, promover a adoção de soluções de Além das soluções que e a nossa experiência com
na Diretiva de Serviços de Paga- mais reduzido das suas infraestrutu- pagamento cada vez mais seguras. oferecemos aos consumi- mais de uma década. Além
mento revista (DSP2), os bancos ras. As Fintech beneficiam da soli- Por fim, temos os desafios mais re- dores, a Younited também disso, continuar a crescer
passaram a ter que partilhar dados dez, reputação, conhecimento e da levantes e que resultam da acelera- permite às instituições fi- em todos os mercados on-
bancários dos seus clientes com en- escala de negócio que os bancos lhes ção digital que estamos a viver, sem nanceiras e também re- de atuamos, e a inovar e
tidades devidamente autorizadas, as podem oferecer. precedente, e que nos está a condu- a criar mais soluções tec-
talhistas lançar, comple-
chamadas Fintech e também as Em qualquer caso, será um facto que zir rapidamente para um novo pa-
mentar ou modernizar a nológicas para continuar-
Bigtech. Estas entidades, desde que o surgimento destas novas entidades radigma no setor dos pagamentos.
devidamente habilitadas pelas auto- na prestação de serviços financeiros Nesse contexto, o nosso grande de- sua atividade de crédito mos a revolucionar e a ter
ridades, passam a poder aceder às irá alterar o papel e o modelo de ne- safio é estar próximo do mercado e ao consumo, com as suas um papel fundamental na
contas bancárias para iniciar paga- gócio dos bancos tradicionais, que ser um catalisador da inovação e soluções de marca bran- banca do futuro.
mentos e recolher informação, fazer terão de acompanhar estas novas melhoria do sistema de pagamentos
uma leitura do perfil financeiro do tendências e competir num ambien- nacional, em estreita cooperação
cliente e, a partir daí, oferecer-lhe te muito mais complexo e exigente. com todos os operadores e sempre
serviços inovadores, customizados e À medida que os bancos se vão rees- a pensar nos benefícios para o utili- Com o apoio
com valor acrescentado. truturando, a atenção dos gestores zador de sistemas de pagamento e
Esta é a era do Open Banking, a par- tem-se focado cada vez mais na ino- na sua segurança. ●
VIII | 18 junho 2021

ESPECIAL BANCA DO FUTURO

Desmaterialização
permite estar em todo o lado
Digitalização de operações, concorrência e utilização de dados vai transformar a banca tradicional, que já estava sob pressão
das fintech. No futuro, promete aparecer ao consumidor em parceria com agentes de muitos outros sectores e serviços à medida.
trada de novos protagonistas no mos a falar de “open banking, com mente nas áreas de pagamentos, os trilhos para a evolução que, en-
RICARDO SANTOS FERREIRA seu terreno de jogo, com produtos diversidade de acesso a soluções e corretagem, originem de crédito, tretanto, se tornou mais rápida.
rsferreira@jornaleconomico.pt e serviços renovados, pode avan- livre transação, com acesso e com- entre outras”, aponta Fonseca. No relatório que fez sobre o fu-
çar sobre novos mercados, com partilhamento de dados”, diz Luís “Atualmente, existe uma grande turo dos serviços financeiros, já
Os serviços financeiros já se en- toda a experiência e informação Rasquilha, CEO da Inova diversidade de canais de acesso a em plena pandemia, a consultora
contravam num processo de mu- que detém. “O futuro vai trazer Trendsinnovation Ecosystem, em serviços financeiros, nomeada- PwC refere sete grandes macro-
dança quando surgiu o SARS- uma oferta agregada da banca tra- declarações ao JE. Trata-se da uti- mente através de apps digitais e tendências que vão impactar o sec-
-CoV-2 e a pandemia de Covid-19 dicional com produtos e serviços lização de dados para melhor co- plataformas de homebanking, que tor financeiro e todas elas consti-
só veio aprofundar tendências de não financeiros, nomeadamente nhecer clientes e ajustar ofertas, vai ser complementada pela cres- tuem motivo de preocupação para
evolução que já eram marcantes. através de parcerias entre bancos e mas também de “big data para in- cente utilização inteligente dos da- a banca tradicional. Estamos a falar
“Os consumidores já demonstra- empresas de outros sectores”, telligent data”, acrescenta. dos, com recurso à aplicação de de um período continua de baixas
vam uma necessidade de inovação como os seguros, a saúde, o reta- Segundo o estudo “Voice of the técnicas analíticas avançadas (Ma- taxas de juro, de reduzida capaci-
por parte da banca tradicional. lho, o comércio eletrónico, a logís- customer: retail banking experien- chine Learning; Explainable AI) e a dade de acomodar risco (porque a
Com a pandemia, surgiram novos tica, as telecomunicações, o ensi- ce”, da Deloitte, mais de 50% dos obtenção de dados através de novas crise pandémica erodiu balanços),
comportamentos e hábitos do no, mas também a restauração ou clientes bancários entre os 18 e os fontes (smartphones, wearables, de maiores restrições regulatórias,
consumidor, nomeadamente uma o entretenimento, diz João Fonse- 44 anos estão dispostos a partilha- IoT). Para além, prevê-se ainda mas também de crescimento de
necessidade acrescida de realizar as ca, partner da consultora Deloitte. rem a sua informação financeira uma maior facilidade de combina- “fornecedores de capital” alternati-
operações à distância, aumento Vamos “assistir a uma omnipre- com plataformas externas aos ban- ção entre produtos e serviços de di- vos, que passam a ser mais impor-
dos pagamentos contactless, e a sença dos serviços financeiros no cos para receberem ofertas agrega- ferentes entidades financeiros, se- tantes, isto tudo, num quadro em
necessidade do serviço ao cliente dia a dia das pessoas e das empre- das mais direcionadas às suas ne- gundo a melhor conveniência e in- que os serviços financeiros passam
ser realizado de forma remota”, sas, através da integração com os cessidades. teresse do cliente, tirando partido a ser oferecidos através de plata-
afirma ao Jornal Económico (JE) canais de consumo e os pontos de “Podemos esperar a crescente uti- de emergência do Open Banking e formas, de uma forma mais desin-
Inês Pereira da Costa, country ma- interação com os consumidores, lização dos dados como uma base Open Finance”, acrescenta. termediada, como tentam fazer as
nager da Lydia em Portugal. nas cadeias de valor de empresas transformadora da relação com o chamadas fintech.
Porque mudam os serviços fi- não financeiras”, aponta. cliente e do próprio negócio bancá- Business as usual? “A inovação tecnológica e digital
nanceiros, a banca é obrigada a A base deste mundo em que a rio e um mercado cada vez mais glo- Esta perspetiva de evolução não faz com que todo o mercado, de
mudar com eles, mas vai mais lon- banca se entrelaça com outras ati- bal, com players com ofertas diver- surge como uma como uma com- uma forma ou de outra, tenha que
ge e se não consegue limitar a en- vidades é a partilha de dados. Esta- sificadas e sofisticadas, nomeada- pleta novidade, porque se anteviam evoluir e acompanhar essa trans-
18 junho 2021 | IX

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Daniel Araújo

O papel da
CEO da Asseco PST
daniel.araujo@pst.asseco.com

tecnologia
formação”, refere Inês Pereira da

Bloomberg
Costa. “Esta evolução pode refle-
tir-se em novas ferramentas e fea-
tures ou pelo tipo de serviço pres-

no banco
tado aos clientes”, acrescenta a res-
ponsável pela plataforma francesa
de pagamentos digitais que esco-

do futuro
lheu Portugal como o primeiro
país para a sua expansão interna-
cional. Promete menos burocracia,
mais meios de comunicação, novas
ferramentas e uma resposta ime-
diata.
No que se refere ao acesso ao A tecnologia foi essencial no contexto da pan-
mercado e à relação com os clien- demia para permitir que a banca – tal como a
tes, tudo passa pela evolução tec- sociedade em geral – não entrasse em colapso.
nológica. No pós-Covid, a transformação digital no setor
Luís Rasquilha identifica temas bancário manter-se-á em alta face à entrada
que são centrais para a banca e de novos operadores e empresas num espaço
para os consumidores e que têm a anteriormente reservado à banca tradicional.
tecnologia como ponto central: a Quem, no universo financeiro, não quiser partici-
afirmação as criptomoedas; a utili- par neste processo transformador perderá agi-
zação da tecnologia blockchain; os lidade, confiança e, no final, quota de mercado
serviços financeiros descentraliza- e clientes.
dos – “decentralized finance” –, A alteração de paradigma elevou substancial-
“que permitem o acesso a fundos e mente as expetativas dos clientes. A “digitaliza- adesão a canais, subscrição de empréstimo, etc.).
financiamentos sem passar pela ção forçada” multiplicou o universo de clientes No caso da Asseco PST, como especialistas no
cadeia de valor tradicional de ban- digitais e houve uma aceleração clara do pro- desenvolvimento de software bancário, a flexibi-
cos e órgãos reguladores centrais”; cesso de transformação já em curso no sec- lidade e modularidade das nossas soluções per-
e as plataformas digitais financei- tor. Se há 2 anos a grande ameaça dos bancos mitem-nos responder com rapidez aos desafios
ras como agregadoras de serviços eram as fintech e os neobancos, hoje, a princi- atualmente colocados ao sector. Aliás, temos o
assegurados por diferentes agentes pal ameaça é a expetativa da base de clientes privilégio de estar a participar em inúmeros pro-
de mercado, muitas vezes concor- desses mesmos bancos. gramas de transformação digital com soluções
rentes entre si. “Muitos dos con- Para as instituições financeiras não basta con- tecnológicas de última geração.
ceitos misturam-se entre si e são tinuar a investir no aumento da eficiência dos A nossa vasta experiência de mais de 30 anos
um game changer de todo o sector, atuais processos de negócio. Tão ou mais im- no sector permite-nos que hoje consigamos
muitas vezes até tentando tirar ou portante será introduzir a disrupção digital com oferecer e construir soluções específicas para
mudar radicalmente a influência novos processos de negócio e avaliar, em cada cada cliente, seja na banca de retalho, na banca
dos players financeiros ditos tradi- momento, a cobertura digital dos processos de investimento, no microcrédito ou noutro tipo
cionais”, diz Rasquilha. “Os princi- críticos de negócio (ex. criação de novo cliente, de instituições de crédito.
pais serviços do futuro/presente
estão muito alinhados com as
ideias de contactless e digitalização
real time de soluções, para otimi-
zar a velocidade e a intensidade do
relacionamento em transações
com clientes. Isto significa uma
mudança enorme na lógica do ne-
gócio e na cultura dos players
atuais. Novos negócios e novas so-
luções estão aí já para mudar a ló-
gica de mercado e até a própria re-
gulamentação”, acrescenta.
Sem grande surpresa, para João
Fonseca, “vai continuar a haver
uma aposta forte no desenvolvi-
JOÃO FONSECA
Partner da Deloitte
mento digital, focado: na qualida-
de do serviço e da experiência; na
diversificação da oferta aos clien-
tes de retalho; na criação e sofisti-
cação de ofertas e serviços dirigi-
dos a segmentos de clientes especí-
ficos, até agora menos trabalha-
dos”, como affluent, private, PME,
grandes empresas.
No entanto, ainda que a tecnolo-
gia esteja a potenciar a oferta de
novos serviços financeiros, o
partner da Deloitte assegura que “a
LUÍS RASQUILHA relevância dos produtos bancários
CEO do Inova tradicionais (crédito, poupan-
Trendsinnovation
Ecosystem
ça/investimento e pagamentos)
deverá manter-se, uma vez que es-
tão no cerne das necessidades do
ciclo de vida das pessoas e das em-
presas”. A forma como estes pro-
dutos são disponibilizados é que
continuará a evoluir significativa-
mente, muito por força dos avan-
ços tecnológicos, refere. Ou seja,
como escreveram Kander e Ebb,
“money makes the world go
around, the world go around”,
mesmo que, nos novos tempos,
INÊS PEREIRA DA COSTA “the clinking, clanking, clunking
Country manager sound” seja substituído por silen-
da Lydia em Portugal ciosos bits. ● * Com JB e SL
X | 18 junho 2021

ESPECIAL BANCA DO FUTURO

FÓRUM

O FUTURO MODELO DE DISTRIBUIÇÃO


NA BANCA É OMNICANAL
No longo prazo os bancos deverão consolidar serviços para se tornarem competitivos, defende o presidente do CA. Todos
concordam que a pandemia acelerou a digitalização e os números refletem já uma alteração definitiva do modelo de distribuição.

consequência, está fortemente ligada bancos e para as respostas humana na relação da banca com os
QUAIS SÃO à recuperação económica,
dependendo uma da outra,
regulatórias. No longo prazo os
bancos deverão consolidar serviços
clientes, como sinónimo de
segurança e acompanhamento em
OS PRINCIPAIS assumindo-se que a retoma do
pagamento dos créditos e
para se tornarem competitivos e
assistir-se-á a um movimento de
diversos processos. Além disso, a
banca enfrenta também o desafio de
DESAFIOS consequência da retoma do partilha de responsabilidades de melhorar a literacia financeira da

QUE SE COLOCAM
rendimento das pessoas e empresas serviços comuns. Um modelo de população, uma vez que a falta de
que a elas recorreram. Porque se grandes custos fixos e baixos custos conhecimento impede que seja feita

AO DESENVOLVIMENTO
mantém uma incerteza muito grande marginais favorece grandes players. uma correta seleção de
sobre essa realidade, as condições Não prevejo que as bitcoin sejam o investimentos nos produtos ou a

DA BANCA? regulatórias são também elas um


desafio de curto prazo. O cumprimento
futuro ou tenham um largo futuro, a
sua elevada volatilidade compromete-
melhor poupança. É fundamental
para o setor que os consumidores

QUE OPORTUNIDADES adequado e com muita folga dos


indicadores prudenciais são uma
-lhe o futuro quanto à confiança
depositada na mesma. Acredito na
tenham mais e melhores
conhecimentos financeiros.
PODEM SER exigência imediata para salvaguarda
do futuro das instituições.
moeda eletrónica emitida por bancos
centrais. Em resumo, o desafio do
ANABELA FIGUEIREDO

APROVEITADAS?
Responsável pelo Departamento
Em termos de desafios de médio sistema bancário Português está de Estratégia do Novo Banco
prazo, partindo do princípio que os assente num conjunto de
desafios de curto prazo são pressupostos que se deverão realizar
A disrupção no setor bancário já era
ultrapassados, a manutenção das no sentido de acompanhar as
evidente antes da pandemia: taxas de
taxas negativas e as consequências necessidades dos consumidores e
juro em níveis baixos sem sinal de
para a rentabilidade dos bancos são alterar-se-ão na mesma velocidade.
subida, start-ups, em particular
um dos desafios para a gestão
fintechs, a desafiar a cadeia de valor
bancária que deverá ser capaz de
da atividade bancária, e consumidores
acrescentar valor à instituição num
em processo de evolução acelerada
contexto em que a relação bancária se
cada vez mais difícil de acompanhar.
inverteu.
Mudanças que representam sem
Os riscos ligados à sustentabilidade e
dúvida desafios, mas trazem
a consequente alteração dos hábitos
igualmente muitas oportunidades. A
dos consumidores, associados à SÉRGIO SANTOS capacidade das instituições
exigência de se oferecerem produtos Diretor de Banca Digital financeiras para se adaptar será
bancários profundamente ligados à do BPI decisiva neste contexto. Por um lado,
preservação do ambiente e da
a exigência dos clientes para “ir ao
economia circular, acompanhados de
LICINIO PINA Além dos desafios relacionados com o banco” quando e onde mais lhes
uma disponibilização imediata e de
Presidente enquadramento macroeconómico, a convier acelera a corrida à
fácil acesso, desafia os bancos à
do Grupo Crédito Agrícola regulação, o mercado e a digitalização, por outro, esta
inovação digital, tendo o Covid-19 sido
concorrência, assiste-se a uma digitalização acelerada permite aos
um acelerador deste desafio auxiliado PEDRO PIMENTA profunda mudança introduzida pelo bancos ajustarem as suas estruturas
Os desafios que se apresentam pela disponibilização das plataformas Country Head processo de digitalização. Não é novo de custos a margens cada vez mais
actualmente à actividade bancária, são digitais e da internet das coisas. As do Abanca Portugal nem é específico do sector financeiro, comprimidas.
enormes. Desde logo o papel dos transações puramente digitais estão a
mas reflete uma transformação Se a migração para os canais digitais
bancos é em si um desafio essencial colocar de lado as transações com O contexto de crise sem precedentes estrutural da sociedade e da pode levar a uma erosão da relação
para o desenvolvimento económico, cartões de crédito, ou mesmo com que vivemos no último ano, devido economia. Hoje, a grande maioria das com alguns clientes, também é
sendo os bancos os que na sociedade dinheiro. Prevendo-se a médio prazo a ao combate à pandemia da Covid-19, operações de retalho já são feitas nos verdade que a inteligência artificial e
actual assumem o papel de inexistência de transações com moeda reforçou o papel crucial da banca em canais digitais ou ATMs; registamos gestão de dados estão a permitir um
intermediários das transacções e física. As fintech para além de um situações de crise e na recuperação mensalmente 16 milhões de acessos conhecimento tão profundo dos
efectuam o prolongamento de desafio, serão concorrentes para económica. Este setor mostrou, mais às nossas plataformas de banca clientes que é possível antecipar as
maturidades, possibilitando aos algumas transações. Os bancos uma vez, estar preparado para digital. Estes números refletem já hoje suas necessidades financeiras.
consumidores planos de pagamento deverão, assim, criar as suas próprias ultrapassar de forma resistente uma alteração definitiva do modelo de Esta mudança altera não só as
adequados à sua capacidade de APPS para dar resposta à exigência qualquer desafio. Uma das grandes distribuição bancário e das condições escolhas de parte significativa dos
poupança e de aforro, permitindo-lhes de uma classe de consumidores oportunidades que tem vindo a ser de prestação dos serviços financeiros, consumidores, mas todo modo de
adquirir bens que podem liquidar no ávidos de tecnologia, de banco em construída é, sem dúvida, a através da articulação de uma operação da banca. Será necessária
longo prazo e assim dinamizar a casa e transações sem custos. confiança das empresas e famílias profunda mudança tecnológica com uma nova proposta de valor, um maior
economia. É por isso que na Aparece, assim um outro desafio que que se sentiram apoiadas pelo setor uma alteração radical do equilíbrio entre serviços “self-service”
contabilidade bancária, os depósitos não pode ser ignorado e que a meu financeiro, através de uma das mais comportamento dos clientes. É mais versus “apoio especializado” e uma
são um passivo e os créditos são um ver, deve acompanhar esta evolução importantes medidas para a sua visível no retalho, mas atingirá, sem reavaliação do valor acrescentado
activo. Ao mesmo tempo que os do sistema bancário. Trata-se da sobrevivência durante o último ano, exceção, todos os segmentos. A pelos bancos. Este conceito, apesar
bancos transformam os depósitos em cibersegurança. A disponibilização de as moratórias bancárias. Contudo, banca está a transformar-se para estar de emergente na Europa do Sul, não
crédito assumem o risco de os receber produtos bancários a abertura da numa altura em que se perspetiva a ainda mais próxima, mais eficiente e demorará a chegar ao nosso
com proveito, devendo para tal banca à internet, deverá entrada num período de crescimento mais rápida, apesar de utilizar cada mercado, e iremos em breve ver os
proteger os seus activos de obrigatoriamente ser acompanhada da económico, os planos pós-moratórias vez mais soluções remotas em clientes portugueses a exigir uma
incumprimentos. Esta é uma função confiança dos consumidores, são um desafio quase obrigatório de detrimento da presença física, sem troca de valor justa entre os preços da
essencial, para além de outras, dos garantida por sistemas robustos de superar, devido ao aumento da perder o essencial da sua função de banca e o valor que eles próprios
bancos. segurança. possibilidade do crédito malparado e intermediação financeira, baseada na atribuem aos serviços prestados.
Este é um desafio genérico da O que se fizer no curto e médio prazo, do incumprimento dos empréstimos. confiança. O futuro que se prepara é Para a banca tradicional, a chave está
actividade bancária. Gerir o que não é determinará o longo prazo. Assim, É, por isso, imperioso que se prepare um modelo a que chamamos em saber manter a confiança que as
nosso de forma prudente, garantindo para o longo prazo os bancos terão o de forma atempada e adequada o omnicanal, em que o Cliente tem à start-ups estão com dificuldade em
aos que em nós confiam as suas desafio de se adaptarem aos período pós-moratórias. disposição uma plataforma de serviço estabelecer junto dos consumidores,
poupanças, o seu reembolso sempre movimentos demográficos e sociais Por outro lado, a pandemia acelerou comum a todos os canais disponíveis, reequacionando o valor acrescentado
que o necessitarem. que a própria sociedade determina. O o processo de digitalização em todos remotos e presenciais, com um que entregam, não só aos seus
No sistema bancário nacional, trabalho remoto, o e-commerce e a os setores e levou a uma adaptação suporte de tecnologias de inteligência clientes, mas à sociedade em que se
podemos classificar os desafios da evolução da inflação bem como o rápida e ágil às necessidades dos artificial. O previsível desenvolvimento inserem.
banca em curto, médio e longo prazo. comportamento dos consumidores são clientes. Um processo que se refletiu, do open banking criará por outro lado
Assim, no curto prazo, temos em vista desafios de longo prazo aos quais a em 2020, num aumento exponencial uma maior abertura dos serviços
o dia 30 de Setembro de 2021, data inteligência artificial procurará dar das transações digitais e do número bancários, criando novos
do fim da maioria das moratórias de resposta. A biometria e a de clientes com mobile banking. Esta ecossistemas de negócio com
crédito constituídas por força da geolocalização colocará desafios digitalização refletiu-se também na parceiros que serão organizados para
pandemia que assolou o mundo em relacionados com a privacidade dos mudança do comportamento responder às necessidades dos
2020 e se tem prolongado de forma dados, a sua disponibilidade e como relacional, que tornou essencial que Clientes de uma forma cada vez mais
mais consistente que o desejável. De explorá-los, serão desafios para os não seja descurada a vertente completa e integrada.
facto, o fim das moratórias e a sua
18 junho 2021 | XI

Social and Governance) desde a informação, produtos diferenciados, 10.000 execuções diárias, com
sua origem, com quase 2 séculos de conveniência, confiança e grande impacto operacional. Daí
marcos históricos, tem no seu ADN experiências. Exigimos segurança e que +50% das vendas já são
a capacidade de se transformar para ética no tratamento dos dados efetuadas através dos canais
responder à evolução pessoais e da nossa informação digitais e o número de clientes
socioeconómica, muitas vezes financeira. A banca é o setor que digitais tem vindo a aumentar,
fazendo história na inovação dos melhor poderá responder a estas atingindo perto de um milhão. Ainda
serviços bancários - foi, por expetativas numa economia cada com soluções só possíveis com a
exemplo, o primeiro banco a lançar vez mais assente no tratamento de nova diretiva PSD2, os clientes
a primeira rede nacional de dados pessoais. A forma de podem efetuar transferências e
máquinas automáticas (ATM), com o atuarmos, no essencial, tem que consultar contas de outros bancos a
nome Chave24 e em plena mudar… os processos de pré- partir do seu homebanking ou
pandemia lançou uma série de -venda, venda, pós-venda e gestão Mobile APP. Em simultâneo, e tendo
serviços digitais e um apoio têm foco no produto e “tirar do em conta as exigências regulatórias
ALEXANDRA PONCIANO relevante à Economia Social. No papel” a abordagem centrada no ISABEL GUERREIRO de proteção de dados, o Santander
Diretora de Marketing Estratégico último ano, a energia cliente é um enorme desafio, que a Responsável Digital da Europa tem tido uma forte política de
do Banco Montepio transformadora sentida pelas tecnologia facilitará. As vantagens do Grupo Santander sensibilização e formação contínua
equipas, perante o sentido de competitivas surgem quando a quanto às boas práticas de
Antecipando-se o controlo efetivo da urgência de entrega, mostrou que é organização prioriza a melhor cibersegurança, implementando
Nos novos tempos que se
pandemia em 2021, a capacidade possível superar o desafio da experiência de cliente, com uma regularmente novas ferramentas
adivinham de transformações na
de a banca apoiar as empresas e as transformação digital. A velocidade visão clara em toda a organização e tecnológicas de controlo.
sociedade, a banca está cada vez
famílias a saírem da crise é “o com que adotámos a automação, a ganha a confiança dos seus Em termos de capital humano, mais
mais móvel e flexível,
desafio”. A imprevisibilidade e analítica avançada, com que clientes. Com este propósito, do que formação específica nas
desenvolvendo soluções úteis e
volatilidade do futuro exige, a todas implementámos modelos mais estamos a trabalhar para um fluxo áreas, são necessários
criativas adaptáveis à cultura do
as organizações, adaptação e avançados de cybersegurança e continuo de informação e colaboradores que se adaptem,
país onde opera. O consumidor é
nenhuma transformação é fácil. A acelerámos a implementação de transações entre canais físicos e tenham espírito crítico, sejam
exigente e deseja ter um
banca, ao mesmo tempo que se modelos de arquitetura cloud native, digitais que permita colocar o cliente curiosos e ousados. Em Portugal e
atendimento 24 horas por dia em
reinventa para responder à permitiu-nos iniciar a transformação e o propósito da marca Montepio no no nosso caso, temos o desafio de
múltiplos meios. O futuro passa pela
transformação dentro do setor, tem digital efetiva e não um “ajuste centro da nossa resposta, através mudar o “chip” ou seja não apostar
oferta da melhor experiência de
o enorme desafio de saber digital”. Para o Banco Montepio não de personalização em tempo real e apenas em quem vem recomendado
cliente e por isso o Santander criou
responder às necessidades de é um desafio (apenas) tecnológico, recomendações de confiança. ou está em linha com o “status quo”.
o 1º Customer Center da Banca,
financiamento da economia, não é um projeto de modernização Serão grandemente valorizadas as
cujo objetivo máximo passa pela
mitigando os efeitos severos do IT, tem que ser liderado pelas capacidades de trabalhar em
simplificação de produtos e
sentidos em alguns setores e expetativas dos clientes, tem que equipa, a resiliência e a aposta na
serviços.
famílias. suportar as alterações obrigatórias educação ao longo da vida. No
A transformação Digital em curso é
A digitalização, forçada e acelerada do modelo operacional, como fundo, são capacidades do “core”
uma aposta na simplificação de
pelo contexto pandémico, é processos e formas de trabalhar. O institucional e por isso o Santander
processos. Nesse âmbito, os
irreversível, é agnóstica ao setor e digital não é um objetivo em si está focado neste tema e
pagamentos digitais surgem com
alterou a forma como nos mesmo, tem que ser uma forma de empenhado em construir as
soluções cada vez mais
relacionamos com as marcas. Impõe trabalhar, embebida em tudo o que melhores equipas com o adequado
customizadas e rápidas apostando
a mudança nos modelos de negócio, fazemos e guiada pelo propósito da “mindset”.
no automatismo/aceleração dos
dentro e fora do setor bancário e marca Montepio, possibilitando
processos. O Santander tem como
traz desafios, mas também novas ofertas e melhores interações
estratégia apostar continuamente
inúmeras oportunidades. O Banco e ligação aos nossos clientes.
nesta modernização onde, por
Montepio, o mais antigo de Portugal Como consumidores procuramos
exemplo, temos 40 soluções de
com princípios ESG (Environmental, autenticidade, transparência de
automação a correr e mais de
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XII | 18 junho 2021

ESPECIAL BANCA DO FUTURO

JOÃO FREITAS
Diretor de Inovação
e Criação de Valor da Cofidis

1. As instituições financeiras têm


tido um papel central na economia e
na vida privada ao longo dos
séculos, com a inauguração do
Banco de Amsterdão em 1609 a
servir como marco do início da
“banca moderna”. Pela sua
relevância na sociedade, a indústria
financeira é uma equação complexa
e multivariável, influenciando um
largo espectro de eventos (sendo
também influenciada por tantos
outros).
Atualmente vivemos um período
onde várias vagas de mudança
estão a confluir.
De um ponto de vista estrutural, o
mercado está cada vez mais
competitivo, sendo que a
democratização da tecnologia
acelera cada vez mais o grau de
inovação. Existe também um shift
geracional que cria um novo
equilíbrio de comportamentos e
expectativas dos consumidores –
criando pressão sobre a relevância rentabilidade acionista adequada;
de alguns modelos de negócio (2) assegurar a resiliência do
atuais. modelo de negócio; (3) transição
Por outro lado experienciamos, sustentável.
neste preciso momento, mudanças A melhoria da rentabilidade é um
contextuais significativas e um desafio estrutural, apenas
elevado grau de incerteza sobre o acentuado pelo Covid – veja-se a
futuro. O Covid-19 tem sido um média de RoE de 6% a nível
catalisador importante na alteração europeu, abaixo do custo de capital
dos hábitos dos consumidores e tem do sector, fator inibidor da atração
afetado assimetricamente o de novo capital. O sector tem assim
mercado. No horizonte pairam o desafio de, num contexto de
questões sobre as taxas de juro dos baixas taxas de juro, repensar o seu
bancos centrais e as suas modelo de negócio para convergir a
consequências a nível de custo de prazo para níveis de RoE 10%. O
funding e níveis de risco – variáveis atual contexto pandémico ofereceu
chaves no modelo de negócio da aos Bancos o pretexto para efetuar
industria. uma reestruturação profunda que
potencie a melhoria da rentabilidade
2. Os momentos de descontinuidade – é necessário repensar o modelo
têm o potencial de abrir de serviço, otimizar a rede comercial
possibilidades e devem ser e potenciar ganhos de back-office,
encarados com otimismo. ambicionando uma poupança a 2-3
São momentos propícios para anos superiores a 20% da base de
questionar aspetos fundamentais do custos.
negócio – internos e externos. A banca tradicional, se não evoluir, bancários, é preciso continuar a O segundo pilar passa pela
Enquanto organizações, vamos está condenada a desaparecer. investir e trabalhar nas áreas de resiliência do modelo de negócio
querer ser mais ágeis e flexíveis, Além do aparecimento das Fintechs deteção de fraudes, prevenção de face a novos operadores mais ágeis
para nos adaptarmos de forma e da entrada no setor financeiro das ataques e automatização de e sem legado (e.g. estrutura
contínua às necessidades do grandes empresas tecnológicas respostas a eventuais ciberataques. comercial, IT). Esta desafio é
mercado. Teremos também de (como a Apple, Amazon, Google, simultaneamente a oportunidade
desenvolver novas formas de Facebook e Microsoft, entre outras), para os bancos desenvolverem
escutar as necessidades dos temos tecnologias, como machine ecossistemas e acelerarem a
consumidores e rapidamente lançar learning, blockchain e inteligência digitalização transversal das
experiências comerciais, que podem artificial, a impactar fortemente o jornadas de cliente que, pelo menos
ou não vir a ter sucesso. setor financeiro. Para os bancos no negócio de empresas, se
Finalmente, abre-se novamente uma será crucial investirem na encontra atrasada em Portugal e, ao
oportunidade basilar mas muitas tecnologia certa de forma a mesmo tempo, adotarem
vezes relegada para segundo plano manterem-se competitivos, ágeis e organizações mais ágeis, com
– a de verdadeiramente capazes de responder aos clientes. menos níveis e customer-centric. Os
PEDRO LOPES
conhecermos os nossos clientes. bancos que assegurarem de forma
Head of Sales
Sem eles não estaríamos aqui hoje, 2. Num contexto cada vez mais bem-sucedida esta transição, estão
da Asseco PST
e sem eles não estaremos cá competitivo, os bancos anseiam por bem posicionados para reter a
amanhã. Se há algo que nos deve 1. A banca está numa transformação flexibilidade e diferenciação na relação com os clientes, entregando
manter humildes e focados é isto. digital acelerada que provoca disponibilização dos seus produtos. maior valor aos mesmos com um
mudanças disruptivas. O processo Ao mesmo tempo, têm de melhorar menor custo de serviço.
vinha de trás, mas com a atual os circuitos internos, seja ao nível do O último pilar consiste na adaptação
pandemia muitos programas de processo de gestão do crédito, da JOÃO CUNHA da estratégia, matriz de risco e
digitalização que tinham uma gestão de garantias, da Senior Project Manager governance dos Bancos para
execução prevista em anos passaram automatização nos processos de da Roland Berger “finanças sustentáveis”,
a ter o objetivo de serem executados trade finance ou outros. A isto junta- assegurando a otimização da
em meses. Em muitos casos, os -se a questão da segurança, que é Os próximos anos serão cruciais pegada ambiental induzida das suas
canais digitais deixaram de ser canais crítica para manter a credibilidade e a para a Banca, que na nossa visão operações – nomeadamente, dos
complementares para serem a forma confiança dos clientes. Além de enfrentará três desafios chave, que clientes, da carteira de crédito, e
possível de interação com os clientes garantir a integridade e são simultaneamente espaços de dos serviços de aconselhamento e
e concretização de negócio. confidencialidade dos ativos e dados oportunidade: (1) garantir investimento.

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